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GLEYSON PERSIO

VOLUME I
DESCORTINANDO O ADVENTISMO
VOLUME I
Gleyson Persio
Primeira edição – Agosto de 2020

revisão editoração e impressão:


Adriana Ferreira EDITORA JOCUM BRASIL
Rúbia Campos Guimarães Cruz www.editorajocum.com.br
editorajocum@gmail.com
capa & imagens 55 41 3657 2708
Matheus Cezar Gomes
Todos os direitos reservados. Nenhu-
diagramação ma parte da edição deste livro deve
ser reproduzida de forma alguma
Ligia Marquardt Pesch
sem a autorização, por escrito, do
autor, exceto em casos de citações
curtas em artigos ou resenhas.

As opiniões aqui expressas são do autor e não necessariamente refletem as opiniões da Jocum.

dados internacionais de catalogação na publicação (cip)

© PERSIO, Gleyson
Descortinando o Adventismo - Volume I
Almirante Tamandaré, PR: Editora Jocum Brasil, 2020.
480 páginas; 26cm.
ISBN: 978-65-990437-4-1
1. Seita; Adventista; Desmascarando.
I. PERSIO, Gleyson - 1ª edição. Descortinando o Adventismo - Volume I.
cdd 280

Índice para catálogo sistemático:


1. Denominações e seitas cristãs - 280
Dedicatória

Este livro é dedicado à minha esposa


Maria Malva Damico Torterolo, aos meus filhos
Nicolas Levi Torterolo Persio, Franco Luis Torterolo Persio
e a todos os adventistas sinceros que estão em busca
da verdade. Que o Senhor os conceda
graça, cura e libertação.
Agradecimentos

Maria Malva D'amico Torterolo, Nicolas Persio, Franco Persio,


Devanir Persio, Luiz Carlos Silva, Anna Cruz Persio, Renan Persio
Martini, Kellyn Persio Silva, José Rivelino dos Santos, Malva Torterolo
Dalia, Edgar Martini Jr, João Cruz Persio, Tiago Francisco,
Pamela Kerryn, Ketryn Glaciele, Rafael Persio, Sonny Persio,
João Vitor e Meyre Augusta por serem FAMÍLIA.

Marcelo Carneiro, Tim Heath, Lucas Mercer, Zack Elfaizi,


Maurício França, Pr. Vanderlei Bibá, Luiz Gustavo Souza,
Luis Eduardo Vaz e Cezar Oliveira por serem AMIGOS.

Pr. Vinicius Iracet, Pra. Tania Tereza, Márcia Stakowiak, Pr. Rafael
Conrado, Pr. Ubaldo Borges e Pra. Rita Fernandes por serem PROFETAS.

Léo Vieira, Eliezer Nogueira, Leila Ramos, Suely Persio,


Maisa Martins, Paula Mello, Roni Timoteo, Elizabete Nascimento,
Luis Casarin e Lidia Deoliver por serem INTERCESSORES.

Jonas Santos, Pr. David Pires, Ricardo Martins, Joyce Macedo,


Nelcy Macedo, Jany Macedo, Osmar Persio, Divonzir Ferelli,
Madalena Ferelli, Samuel Ramos, Cirlene Cardoso e Alexandre Percio
por terem me ensinado de maneira sincera ao longo dos
anos o que é o ADVENTISMO.
G H
O autor da Carta aos Hebreus, no final do capítulo 5, ensina que
os maduros espirituais não são aqueles que vivem mais tempo. Mas, sim,
aqueles que desenvolvem suas faculdades espirituais para discernir bem e
mal, luz e trevas, verdade e mentira.

Um ser espiritual da maldade pode se manifestar como um anjo de luz,


e enganar aqueles que não conhecem a VERDADEIRA LUZ.

Somente os que andam na luz conhecem A VERDADE.

Assim como notas falsas são muito semelhantes às verdadeiras, as


heresias são mentiras apresentadas como verdades e levam muitos ao engano.

Assim como somente experts podem identificar uma nota falsa,


somente conhecedores da Palavra de Deus podem desmascarar uma heresia.

Com grande zelo pela VERDADE, o autor deste livro, Gleyson Persio,
desvenda os falsos fundamentos da heresia do adventismo com experiência
pessoal, com conhecimento teológico e, melhor ainda, com a direção do
Espírito Santo.

Excelente obra!

— Pastora Tânia Tereza

Juíza Federal, Escritora, Palestrante e Conferencista Internacional.


Fundadora no Ministério SILC de Libertação e Cura.
G H
O Cristianismo Bíblico, que não é uma Religião, muito menos uma
Seita, não admite Remendos Doutrinários. Esse modo de vida social,
moral e espiritual é fundamentado unicamente na Bíblia Sagrada.

É extremamente notório que, ao longo de muitos séculos, o mundo foi


assolado por doutrinas de homens e de demônios. E especialmente a partir
do século XIX, têm se proliferado uma enxurrada de segmentos religiosos,
derivados de ensinamentos absolutamente avessos à Palavra de Deus.

Todavia, não é de se assustar, já que o Livro da Sã Doutrina adverte,


que os últimos dias da Igreja de Jesus Cristo sobre a face da terra, seriam
marcados por muitos sinais do Fim dos Tempos. E um dos maiores deles é
exatamente a “Apostasia dos Últimos Dias” (1 Tm 4:1,2; 2 Tm 4:1-5; 2 Pe
2:1-3).

Tem havido na humanidade, desde sempre, um acentuadíssimo


contraste entre João 8:32 e João 8:44. Diz-se popularmente que: “a
mentira só vale, enquanto a verdade não chega”. Assim, as religiões e seitas
agem sempre com o intuito maléfico de retirar Jesus Cristo do centro da
adoração, substituindo a Doutrina Cristocêntrica por uma falida doutrina
antropocêntrica, procuram desacreditar a Bíblia Sagrada, substituindo-a
por “revelações” e achismos que afrontam a Deus.

A obra literária, Descortinando o Adventismo Vol. 1, chega, em tempo


mais que oportuno, em um universo espiritual extremamente carente de
12

conhecimento, para alertar aos mais de vinte milhões de seguidores da


IASD, que às escuras, seguem doutrinas de homens, que não suportam o
menor confronto com os textos da Bíblia Sagrada.

Fiel ao Princípio Protestante da Sola Scriptura, Gleyson Persio refuta


veementemente os principais ensinos antibíblicos usados pela IASD;
iniciado por William Miller, com a data marcada para o “advento da vinda
de Jesus Cristo”, que culmina com o dia do Grande Desapontamento, o que
enseja o principal Remendo Doutrinário de Ellen G. White, a “profetisa
remendeira”, que juntamente com outros, iniciam uma absurda sequência
de doutrinas que levaram os membros da IASD, aos desatinos que perduram
até hoje, tendo seu início com o desastroso “Juízo Investigativo”.

O amor de Deus, estampado no coração e mente do autor desta obra


de resgate de incautos, vai muito mais longe do que atingir os membros
da IASD. Pois com a sabedoria peculiar de um filho de Deus, e com
toda certeza guiado pelo Espírito Santo, ele traz à luz conhecimentos
das Sagradas Escrituras, que não se prestam tão somente à libertação dos
membros dessa seita. Já que seus ensinos, na amplitude das abordagens
doutrinárias, também alcançam uma infinidade de criaturas de Deus, que
se deixaram envolver por dogmas, mandamentos, preceitos, ensinamentos,
que não são perenes, já que não têm respaldo bíblico, e por isso necessitam,
constantemente, de remendos doutrinários.

Como pastor evangélico e professor de Teologia, com um ministério


especialmente marcado por ministrar Heresiologia, constato que hoje
dispomos dessa obra literária de grande valor, não somente para capacitar
professores e alunos de teologia, mas também a todos os que desejam sair
da ignorância espiritual, que assolam as almas de muitos cristãos sedentos
do conhecimento da Sã Doutrina.

Glorifico a Deus pela existência de servos tão especiais como o autor


de Descortinando o Adventismo vol. 1. No momento rogo a Ele, para que
Descortinando o Adventismo – Volume I 13

levante outros atalaias, dentre os Seus filhos; considerando que Religiões


e Seitas, tanto pseudo cristãs, como outras das mais diferentes visões
espirituais, existem para mutilar a Palavra de Deus, criando óbices para
que todos cheguem ao conhecimento da Verdade.

Porque isso é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer
que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo homem.
1 Timóteo 2:3-5

— Pr. Vanderlei Torres Bibá

Pastor, Advogado e Professor de Teologia na área de Seitas e Heresias da


IEAD (IBE, COM, COLFEM).
Prefácio

Creio ser de grande relevância uma experiência vivida com tamanha


intensidade. Descortinando o Adventismo Vol. 1 é um abrir de olhos para
todo aquele que está em busca de respostas. Infelizmente, o medo de alguns
de estarem pecando, os leva a não investigar os sinais do Espírito Santo
em seu interior. Neste livro, o autor aponta falhas teológicas em dogmas
da intitulada Igreja Adventista do Sétimo Dia, pois segundo ele, a IASD se
utiliza da distorção e manipulação de textos bíblicos aplicados de forma
descontextualizada para convencer os seus membros de suas doutrinas.

Assim, o livro Descortinando o Adventismo Vol. 1 se dedica a


combater o espírito de engano que, tem cegado a muitos, os impedindo de
viver o evangelho pleno.

Vale destacar que este livro é fruto de extensa e séria pesquisa, por
isso carrega muitos ensinamentos preciosos e esclarecedores. Além
disso, embasa-se em experiências e influências pessoais e familiares do
Adventismo na vida do autor, o que por vezes é feito em tom biográfico.
Tudo isso confrontando os ensinamentos de fundadores e seguidores desta
religião com a Bíblia.

Entre muitos pontos das doutrinas adventistas apontadas por esta obra
literária, um contraste que merece destaque diz respeito à religiosidade e
o Reino de Deus (uma vez que isso permeia a obra), e como a intercessão
lhe ajudou a romper em seu entendimento. Quando o Espírito entra
16 Prefácio

em ação na vida de alguém toda a inteligência humana, que combate ao


sobrenatural, fica para trás. Não há como ficar cegado depois de provar
uma experiência viva com Deus.

O autor destaca também o agir de Deus para que ele próprio viesse
a entender o verdadeiro Evangelho, pois “somente através de uma ação
sobrenatural de Deus, aqueles que estão presos em seitas religiosas,
conseguem se libertar”. Nesse sentido, ele intenta compartilhar tudo aquilo
que o Espírito Santo lhe revelou.

Sem dúvida, esta é uma obra densa e intensa que merece apreciação.
Em especial por aqueles que desejam e necessitam compreender melhor a
essência e a plenitude do Evangelho do Senhor Jesus, sem os acréscimos ou
desvios aqui elencados, desvendados e desmistificados. O autor teve uma
experiência com Deus na madrugada muito além da religiosidade com a
qual estava familiarizado, isto é incrível.

— Profeta Vinícius Iracet

Escritor, Profeta e Pastor da IEJN.


Índice

Introdução 21
Capítulo 1 – A Unção que Despedaça o Jugo 29
Capítulo 2 – O Grande Conflito é Entre o Reino 41
de Deus e a Religiosidade
Capítulo 3 – As Origens da IASD e a Farsa do 61
Juízo Investigativo
William “Guilherme” Miller 62
Contexto Histórico 66
O Grande Despertar 68
Ellen White endossa Guilherme Miller 73
As 15 Teses de Guilherme Miller 77
O Doloroso e Confuso Caminho até a Chegada da Doutrina do 102
Juízo Investigativo
O Pequeno Desapontamento 108
O Grande Desapontamento de 22 de Outubro de 1844 111
Os Efeitos Devastadores de um Falso Profeta sobre uma 115
Comunidade
A Volta dos que não Foram e o Surgimento do Juízo Investigativo 125
A Doutrina do Santuário Celestial e do Juízo Investigativo 134
Erros Teológicos a Respeito da Doutrina do Juízo Investigativo 155
É impossível que o Chifre Pequeno de Daniel 8 seja Roma 166
Problemas na Interpretação Adventista de Daniel 9 190
Os Juízos de Daniel 7, 8 e de Apocalipse 14 são para os 216
Ímpios e não para os Justos
Uma Madrugada Reveladora – A Luz que veio Através 219
do Livro de Hebreus
Uma Expiação Incompleta 231
É Satanás quem carregará os nossos Pecados? 234
O Calendário Judeu Caraíta e a Gafe sobre a 241
data de 22 de Outubro de 1844
O Abre e Fecha da Porta da Graça Adventista 251
A Porta da Graça Adventista se Abre Novamente 270
O Problema da Falta de Credibilidade de um Profeta 276
O Comitê de Daniel e a Controvérsia de Glacier View 282
Se a Doutrina não se Encaixa na Palavra, Alteremos a Palavra 287

Capítulo 4 – A IASD Apresenta uma Imagem 299


Distorcida de Jesus
Capítulo 5 – As Características de Uma Seita 321
Característica número 1: Seitas Idolatram o seu Líder terreno 323
Característica número 2: Seitas criam doutrinas em cima de 324
revelações extrabíblicas, que alegam terem sido dadas por Deus
exclusivamente a elas
Característica número 3: Seitas se autointitulam como 326
“O povo escolhido” ou “A Igreja Remanescente”
Característica número 4: Abuso Emocional, Espiritual, 329
Financeiro e em algumas situações, Sexual
Característica número 5: Não se sustentam com o princípio 333
da Sola Scriptura
Característica número 6: Mania de perseguição – 334
“O mundo nos persegue porque nós possuímos a verdade”
Característica número 7: Um Falso Evangelho e um 338
Cristianismo Defeituoso
Característica número 8: Seitas Invariavelmente possuem um 342
falso profeta que se diz falar diretamente com Deus, e que por sua
vez revela segredos exclusivos e completamente novos a ele (a)
Característica número 9: “Nunca questione os nossos Ensinamentos” 343
Característica número 10: Uma intepretação segmentada das 346
Escrituras
Característica número 11: Complexo Messiânico: “Nós somos a 348
última esperança para esse mundo caído”
Característica número 12: Uma imagem distorcida e muitas vezes 350
diminuída de Jesus Cristo
Característica número 13: Membros de seitas inicialmente forçam 351
uma amizade artificial para segurar o novo membro naquele local
Característica número 14: Legalismo e a Hipocrisia de uma 352
Imagem perfeccionista Religiosa Institucional
Análise Geral 359

Capítulo 6 – A Tricotomia do Ser e o Estado 365


dos Mortos
As Origens da Doutrina do Sono da Alma e 368
do Aniquilacionismo na IASD
Poderia a Doutrina do Sono da Alma ser Sustentada 376
Unicamente pela Bíblia?
A Tricotomia do Ser: Somos Feitos de Corpo, Alma e Espírito? 377
O Espírito do Homem não é o seu Fôlego de Vida 380
A Tricotomia do Ser: Conceito, Divisão e Resumo 387
Demais Consequências de não Sabermos o 395
Verdadeiro Conceito de “espírito”
Uma Visão Equivocada sobre o Estado dos Mortos 415
Podemos dizer que estamos salvos? 422
Os Medos e Traumas Adventistas em Torno do 424
Ensino da Imortalidade da Alma
Entendendo a Palavra “Dormir” em seu Contexto Bíblico 434
A Maior Heresia Criada pela Doutrina do Sono da Alma 437
A Problemática de Moisés no Monte da Transfiguração 438
O Estado Intermediário entre Morte e Ressurreição 443
A Transição do Antigo “Seio de Abraão” para o Terceiro Céu 460
Análise Contextual dos Textos Usados Pela IASD 464
para defender o Sono da Alma
Análise Geral 476
Introdução

Por que eu decidi escrever esse livro?

“Eu assumo a posição de que os escritos de Ellen White (também


chamados de “Testemunhos”) não são verbalmente inspirados e que
foram elaborados por suas secretárias e colocados em forma gramatical
adequada. (...) Nós sabemos, e não adianta ninguém se levantar e falar
sobre a inspiração verbal dos Testemunhos, porque todo mundo que já
viu o trabalho realizado sabe bem disso, portanto o melhor a fazer
seria descartá-los!” A. G. Daniells – Presidente da Conferência Geral,
Conferência Bíblica Adventista de 1919.

“Conheço há muitos anos como as obras da irmã White foram feitas e


seus livros compilados. Nunca acreditei na inspiração verbal dos
Testemunhos (escritos de Ellen White).” F. M. Wilcox – Editor da
Review & Herald, Conferência Bíblica Adventista de 1919.

“Eles não são verbalmente inspirados – sabemos disso – e por que


então devemos ensinar que eles são?” G. B. Thompson – Secretário da
Conferência Geral, Conferência Bíblica Adventista de 1919.1

1 Citações retiradas do livro de Sydney Cleveland, White Washed, págs. 15-16.


22 Introdução

Em 1919, quatro anos após a morte de Ellen White, a Igreja Adventista


do Sétimo Dia reuniu toda a sua liderança mais importante da época. Desde os
maiores nomes da área de Teologia passando pelos dirigentes da Conferência
Geral, até os editores da Review & Herald2, com o objetivo de chegarem a
um acordo mútuo com relação à validade do ministério da Sra. White.

Esse encontro foi realizado na sede da igreja em Takoma Park/


Washington D.C. durante uma conferência Bíblica que ocorreu em julho/
agosto desse ano. Entre os dias 30 de julho e 1 de agosto o foco da reunião
era sobre se os escritos de Ellen White eram ou não divinamente inspirados.
Durantes esses dias, a minuta oficial da IASD registrou que por 11 vezes
os maiores oficiais da igreja foram publicamente intimados a emitirem uma
opinião oficial sobre a inspiração dos escritos da Sra. White. E nessas 11 vezes
tais oficiais se recusaram a emitir uma declaração oficial sobre o assunto.

O diálogo acima faz parte dos registros do que aconteceu nesse dia.
Essa é apenas uma pequena parte do que foi dito durante a polêmica
conversa realizada nessa conferência. O teor desse debate foi tão delicado
que o Presidente da Associação Geral da época, A.G. Daniells, pediu que a
minuta oficial que continha todo o registro dessa reunião fosse trancada a
sete chaves pelos próximos 50 anos.

Em dezembro de 1974, o Dr. F Donald Yost encontrou esses registros


dentro de um pacote guardado num cofre da sede da Conferência Geral
Adventista. O pacote continha 2.400 páginas datilografadas com todos os
diálogos daqueles dias. A revista Spectrum3, número 1, volume 10 publicou
o inteiro teor da conversa. E desde então, ela se tornou pública e foi

2 Review & Herald é uma editora americana oficial adventista.


3 Spectrum é uma revista oficial de Fóruns Adventistas e uma publicação não oficial da Igreja Adventista
do Sétimo Dia, a qual é impressa quatro vezes por ano. Ela foi criada “para incentivar a participação
adventista do sétimo dia na discussão de questões contemporâneas do ponto de vista cristão, para
olhar sem preconceitos para todos os lados de um assunto, com o objetivo de avaliar os méritos de
diversas visões e para promover o crescimento intelectual e cultural da comunidade adventista”. Ela
apresenta um ponto de vista teológico adventista progressista liberal.
Descortinando o Adventismo – Volume I 23

publicada também em alguns livros e artigos de ex-pastores e ex-membros


adventistas, apesar de constantes tentativas da igreja de encobrir o caso.

A ausência de inspiração divina nos escritos de Ellen White não é


novidade. Muitos dirigentes da igreja sabem, há muito tempo, de seus plágios,
declarações conflitantes com a Bíblia e também dos “grandes conflitos”
entre os seus próprios escritos. Contudo, a grande parte dos membros (e
dos pastores) ainda não sabem nada a respeito dessas informações. Alguns
deles, já até “ouviram falar”, mas por direção de seus pastores ou superiores,
decidem imediatamente julgar esse tipo de informação como sendo mais
uma forma de como “o inimigo ataca a igreja verdadeira de Deus”, através de
membros de outras igrejas, as quais eles chamam de “Babilônia”4.

A IASD julga ser a única igreja a guardar todos os 10 mandamentos


de Deus (incluindo o Sábado como dia sagrado) e por isso ela acredita ser a
única igreja verdadeira na Terra. Sendo assim, ela crê que o inimigo se levanta
“com grande ira” contra ela, em virtude do seu zelo pela guarda do Sábado.

Devido a essa visão institucional, uma “bolha religiosa” se formou


em torno dos membros dessa igreja, os quais vivem completamente
desconectados da realidade do Cristianismo e do resto do corpo de Cristo.

Eu sou/fui quarta geração de uma família extremamente tradicional


adventista. Tanto do lado de meu pai quanto da minha mãe, praticamente
toda a longa linhagem de tios, primos, avós e avôs são adventistas. Basicamente
tudo o que eu sabia a respeito do cristianismo era oriundo de doutrinas e
dogmas adventistas. Entre os meus 16 e 32 anos, contudo, eu estive afastado
da Igreja Adventista e de também do Cristianismo como um todo.

Em 2009 aos 32 anos, eu resolvi voltar para a IASD e em 2010 eu


fui batizado. Imediatamente eu me “joguei de cabeça” e assumi um papel

4 Segundo a IASD, qualquer igreja que não guarde o Sábado como dia sagrado faz parte do Cristianismo
apostatado.
24 Introdução

de membro extremamente ativo na igreja. Eu acreditava totalmente que


essa era a igreja verdadeira de Deus neste mundo, e que ela era detentora
de importantes verdades para os tempos do fim. Eu passei por diversos
cargos de liderança e conheci praticamente tudo o que eu poderia conhecer
dentro da instituição. Eu tinha um excelente relacionamento com pessoas
de grande relevância da Igreja Adventista brasileira e americana e isso me
proporcionava cada vez mais acesso e portas abertas dentro da IASD. Antes
de sair da igreja em 2018 eu comecei a pregar nas igrejas da Flórida e eu
estava gostando muito de liberar a palavra de Deus no púlpito. Contudo,
Deus tinha outros planos...

Este livro não tem a intenção de atacar absolutamente nenhum


membro adventista. Pelo contrário, ele é uma carta de amor a todos os
membros sinceros da IASD. O propósito dele é o de despertar e trazer
conhecimento às pessoas dessa denominação para que elas possam ter
uma visão geral da origem de suas crenças, de como a sua igreja nasceu e
se desenvolveu, e se as suas doutrinas passam ou não no teste de fogo das
Escrituras Sagradas. O intuito é o de trazermos à luz informações que por
anos foram escondidas dos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Para que depois que tudo estiver transparente ao membro, ele então possa
fazer uma decisão consciente a respeito da vontade de continuar ou não
fazendo parte dessa denominação.

A ideia é a de equalizarmos a balança que, por enquanto, pende muito


para o lado da instituição através de um jogo de manipulação e segredo de
informações importantíssimas sobre a sua própria história.

Este livro possui um conjunto de dados que nunca antes foi disponível
para os adventistas no Brasil. Tanto do lado histórico, quanto teológico.
Portanto, o que será mostrado poderá surpreender o leitor, que será
definitivamente confrontado em suas crenças, mesmo aquelas mais
enraizadas em suas mentes.
Descortinando o Adventismo – Volume I 25

Queremos munir o corpo de Cristo com soldados de guerra maduros,


forjados no fogo. Mas para que isso seja possível, muitos falsos dogmas que
foram pregados durante anos devem ser derrubados, a fim de que o Espírito
Santo possa entrar nessas vidas e usá-las como vasos de honra, para a glória
do Senhor Jesus Cristo. Essa batalha não será fácil. O leitor que é adventista
muitas vezes sentirá vontade de abandonar a leitura deste livro, ou até mesmo
de buscar a ajuda de seu pastor para que ele possa realinhá-lo nos “trilhos
adventistas”. Essa será antes de tudo, uma guerra espiritual, portanto siga a
leitura com muita oração e com o coração aberto à voz do Espírito Santo.

Eu peço ao amigo adventista que ele busque somente a Deus e a sua


palavra nesse momento. Não caia na tentação de buscar ajuda em locais
adventistas, pois tudo o que existe nesses locais já é de seu conhecimento.
Dê espaço para que o Espírito Santo aja em sua vida de uma maneira que
Ele ainda não agiu, e veja o poder dEle em ação de uma maneira que você
nunca presenciou antes.

Eu passei mais de 25 anos nessa igreja (15 quando criança e 10 como


membro ativo), possuo todos os livros de Ellen White, já dei centenas de
estudos bíblicos e levei várias pessoas aos tanques batismais da IASD. Não
falo isso para me exaltar, pelo contrário, eu não me glorio em absolutamente
nada disso. Eu menciono isso apenas como uma forma de me identificar
com o leitor adventista que estará lendo essas páginas. Eu sei exatamente
como você se sente agora e como você irá se sentir ao ler este livro. Haja
o que houver, não desista. Permaneça até o fim da leitura. Você será
recompensado grandemente e a sua vida espiritual irá disparar para níveis
que você nunca imaginou ser possível.

Estamos vivendo um momento profético no calendário divino, em


que tudo que pode ser abalado será abalado. Aquilo que não foi construído
na base sólida da Rocha Divina, mas sim na areia do engano e nos falsos
ensinos, será abalado. Esse é o tempo em que o que foi dito “às escuras, será
26 Introdução

ouvido em plena luz; e o que disseram ao pé do ouvido no interior da casa será


proclamado dos telhados.” Lucas 12:3.

Muitas vezes ao longo deste livro os termos usados contra a IASD


serão de certa forma, pesados. Palavras como “seita” e “grupo sectário” farão
parte dos adjetivos utilizados para caracterizar essa instituição. Isso não é
direcionado ao membro adventista, mas sim ao espírito de engano que está
por trás dela e que, como hábil estrategista de guerra, usa covardemente os
membros dessa igreja como escudo de defesa.

Que fique claro o papel de cada um nesse jogo. Os membros e pastores


sinceros são vítimas, a instituição, através de dirigentes conscientes dos
erros, é a responsável pela manipulação. Mas o espírito de engano por trás
da igreja é o nosso verdadeiro alvo de ataque no âmbito espiritual.

Esta série terá dois volumes para que seja possível ao leitor absorver,
de uma maneira mais palatável, todos os assuntos relevantes que envolvem
os problemas da IASD. Um livro único, de 700 páginas, inviabilizaria a
leitura.

O conteúdo desta série foi escrito debaixo de muita oração, jejum,


direcionamento de Deus, ajuda de colegas Ph.D’s em teologia, intercessão
de pastores e profetas de Deus, além de extensa pesquisa sobre os maiores
especialistas do mundo nos assuntos em tela.

Os primeiros capítulos do volume 1 estabelecem uma base inicial,


para entrarmos logo em seguida mais a fundo dentro da história da igreja,
e em sua claramente falha teologia. Até mesmo o leitor mais leigo em
hermenêutica e exegese poderá facilmente comprovar tais falhas, após
identificar como funciona o modus operandi da IASD que, basicamente, se
utiliza da distorção e manipulação de textos bíblicos aplicados fora de seu
contexto para convencer os seus membros de suas doutrinas.
Aliado a isso, a instituição ainda se utiliza, habilmente, de uma forte
ajuda de Ellen White e a sua imagem de “mensageira do Senhor” para
convencer os membros de que essa é a igreja verdadeira do Senhor na Terra.
O volume 2 trará um capítulo específico sobre Ellen White, que irá trazer
luz ao que por muitos anos foi mantido nas sombras, no Brasil, a respeito
de como funcionava de fato o seu ministério.

A verdade invariavelmente nos confronta. E nessa luta, ao arrancar as


nossas correntes, ela muitas vezes nos machuca, mas no final ela sempre nos
liberta.

Que a graça, a paz, a misericórdia e a bênção do Senhor Jesus estejam


com vocês.

“Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há


liberdade.” 2 Cor 3:17

— Gleyson Persio
Capítulo 1
A Unção que Despedaça o Jugo

“E acontecerá, naquele dia, que a sua carga será tirada


do teu ombro, e o seu jugo, do teu pescoço; e o jugo será
despedaçado por causa da unção.” Isaías 10:27

E
stávamos entrando na segunda semana de maio do ano de 2018 e
definitivamente havia algo de diferente no ar. A atmosfera espiritual
do meu lar, das minhas empresas, até mesmo da minha igreja havia
mudado. Porque eu havia mudado. Era notório que algo de muito relevante
estava pra acontecer. Um “Novo Tempo” havia chegado em minha vida.
Um novo ciclo estava para se iniciar. Mas nada poderia verdadeiramente
me preparar para o que estava para acontecer.

Eu havia acabado de sair de uma jornada espiritual com Deus de 60


dias de oração durante a madrugada. Sendo assim, eu acordava durante
esses 60 dias, todos os dias, às 3 horas da manhã para orar por no mínimo
uma hora.
30 A Unção que Despedaça o Jugo

Esse propósito de orações da madrugada veio através de uma direção do


Espírito Santo, transmitida por uma palavra de Deus liberada por um grande
amigo, Edgar Martini Jr, após acontecimentos sobrenaturais que ocorreram
em minha vida. Como o contexto deste livro é outro, eu não irei me deter
nos pormenores desses acontecimentos, pois os mesmos farão parte de um
outro projeto literário chamado “Descortinando o Mundo Espiritual”. Por
enquanto, basta dizer que tais ocorridos foram usados por Deus para que eu
acordasse para a realidade do mundo espiritual a minha volta, o que me fez
buscar a Deus de uma maneira como eu nunca havia buscado antes.

Essa jornada de oração me levou a ter uma intimidade muito maior


com Deus, algo que eu nunca havia experimentado. Em apenas três dessas
sessenta madrugadas de oração, o Espírito Santo me deu um sermão para
entregar na minha igreja local com o tema: “Autoridade Espiritual e
Intimidade com Deus”.

Com uma semana dentro desse propósito, eu comecei a ver que havia
muito mais dentro da vida cristã do que eu imaginava. Eu pude notar de
forma tangível que Deus era real e que o maior propósito dEle ao nos criar
era exatamente o de ter um relacionamento íntimo conosco, pois desde o
início da criação o nosso Pai tinha por intenção ter uma família humana,
uma relação de Pai para filhos.

Um forte mover de Deus se instaurou em minha vida durante esses


60 dias. O Espírito Santo passou a falar claramente comigo, já logo nos
primeiros dias de oração da madrugada, pois há algo de especial na oração
das 3 da manhã. Eu irei falar sobre esse tema mais profundamente no volume
2 dessa série, mas se você quer despertar o novo de Deus em sua vida, se você
se sente estagnado em sua vida espiritual, definitivamente inclua a oração
das 3 da manhã na sua lista de propósitos. Deus não faz acepção de pessoas.
Se Ele revolucionou a minha vida depois desse propósito, sem dúvida Ele
irá revolucionar a sua vida também.
Descortinando o Adventismo – Volume I 31

Mas eu não parei por aí. A minha fome e sede de Deus eram grandes,
e eu estava disposto a mergulhar de cabeça e a abraçar tudo que viesse dEle.
Eu resolvi, então, adicionar às minhas madrugadas de oração (e adoração), o
jejum. Essa talvez seja a melhor receita para que você se torne uma fortaleza
armada a favor de Deus contra Satanás e a suas hostes malignas.

Jejum + oração + adoração + estudo da palavra =


Bomba atômica espiritual.

Eu fazia parte de uma grande família adventista. Meus bisavós, avós,


pais, tios e primos eram praticamente todos Adventistas do Sétimo Dia.
Portanto, a influência dessa igreja sobre a minha vida foi sempre muito
marcante. Praticamente tudo o que eu sabia a respeito do Cristianismo
advinha das doutrinas adventistas.

Grande parte da minha escolaridade se passou em colégios adventistas,


logo a doutrinação mental foi muito forte desde… sempre.

Somente através de uma ação sobrenatural de Deus, aqueles que


estão presos em seitas religiosas, conseguem se libertar. Não há estudo ou
argumentação por mais forte que seja que consiga sobreviver a uma lavagem
cerebral religiosa, especialmente se ela é passada de pai pra filho.

Porém, eu acredito que estamos vivendo um novo momento no


calendário divino, em que tudo que é falso está sendo exposto. Não somente
na área religiosa, como também na esfera política, na saúde e em outros
âmbitos da nossa esfera social. Basta que você dê o primeiro passo, e saia da
religiosidade fria de regrinhas de “não podes” que absolutamente não tem o
poder de te salvar, e avance para um relacionamento verdadeiro com Deus.
O resto virá como uma bola de neve. E se você fizer o que eu te aconselhar
32 A Unção que Despedaça o Jugo

a fazer no volume 2 dessa série5 (através de um direcionamento do Espírito


Santo) se prepare para uma avalanche espiritual.

Como exemplo a respeito do que o Espírito Santo é capaz de fazer em


nossas vidas quando nos entregamos a Ele, segue o breve relato:

Logo na segunda semana de oração da madrugada o Espírito Santo me


deu uma direção de reunir toda a minha família para renovarmos a nossa
aliança com Ele. Quando eu digo toda a minha família eu literalmente quero
dizer toda a minha família. Primos, tios, sobrinhos, pais, esposa, irmãos,
praticamente toda a família Persio e Silva aderiram a esse grupo criado no
aplicativo WhatsApp. Parentes que se encontravam em diferentes países
atenderam ao chamado.

O Espírito Santo deu uma direção muito clara sobre o dia em que
deveríamos fazer, e sobre quando deveríamos fazer essa reunião. Nos
encontraríamos virtualmente no dia 27 de janeiro às 6 da manhã, cada um
em seu fuso horário de cada país (eu moro nos EUA e a minha família está
espalhada pela Europa, Brasil e América do Norte). E entraríamos em oração
ao mesmo tempo simbolizando um ato familiar em conjunto, intercedendo
por uma hora (muitos estariam em jejum), e fazendo os seguintes pedidos
e propósitos com Deus:

• Consagração pessoal e da nossa família (abandono de pecados


acariciados);

• Oração intercessória por nossos pais, avós, bisavós e tios por


pecados geracionais não confessados e não arrependidos (quebra
de maldição geracional);

• Renovação da nossa aliança com Deus em família.

5 Em Descortinando o Adventismo Volume 2 existe um capítulo com o título “Intimidade com Deus”
onde ensinaremos o passo a passo para se ter uma intimidade maior com o Pai.
Descortinando o Adventismo – Volume I 33

Ocorre que adventistas não acreditam em maldições geracionais. Os


mais tradicionais resistem demais a tudo àquilo que foge do escopo “Ellen-
Whiteano”. Sendo assim, o fato de nossa família concordar em fazer parte
dessa vigília, já foi por si só um milagre.

A realidade é que toda a família compareceu à vigília no horário


correto, e o que aconteceu a partir dali foi uma sucessão de testemunhos
poderosíssimos. Quebra de vícios alcoólicos, restauração de casamentos,
liberação de perdão, enfim, uma chuva de bênçãos e de quebra de jugos foi
derramada sobre a nossa família após esse propósito realizado!

Eu mesmo sofria há anos de um terrível vício em pornografia que pra


mim parecia ser impossível de me libertar. Mesmo fazendo tudo o que a
igreja me mandava fazer, nada dava certo. Eu não conseguia entender o
porquê desse jugo em minha vida não ser quebrado. Muitas vezes eu passava
dois ou três meses no máximo sem cair, mas sempre depois disso eu voltava
a ser escravo desse mal que havia se originado em minha vida desde muito
jovem. Nesse dia eu descobri duas chaves espirituais muito importantes.

A primeira era que a religiosidade da Igreja Adventista nunca seria


capaz de me fortalecer espiritualmente, pois a única coisa capaz de quebrar
jugos em minha vida era o meu nível de relacionamento pessoal com
Deus. A segunda chave importante que me foi dada nesse dia foi a de que
decretos espirituais realizados em grupos de pessoas possuem muito poder,
principalmente em família. Depois desse dia, o meu relacionamento com
o Espírito Santo se intensificou ainda mais e com o tempo Ele me libertou
completamente do vício da pornografia.

Toda honra, glória e adoração a Deus por tudo o que Ele fez nesse dia
e vem fazendo até hoje em nossas vidas. Que mover! Que poder!

A repercussão do que ocorreu nesse dia nós sentimos até hoje de


diversas formas. Porém, logo em seguida, para ser mais pontual, o Espírito
Santo deu uma nova direção. Esse grupo que foi criado no WhatsApp
34 A Unção que Despedaça o Jugo

para a minha família continuou em ação por mais 15 dias de oração da


madrugada. Para cada um dos 15 dias Ele me deu um devocional com um
propósito específico para cada dia. E Ele não parou por aí. Um segundo
grupo com mais 30 pessoas foi criado com o mesmo propósito de oração da
madrugada durante os mesmos 15 dias. Ou seja, durante 15 dias, havia 60
pessoas orando pelos mesmos propósitos no mesmo horário (3 da manhã),
em diversos locais do mundo.

Esse segundo grupo era formado por amigos, clientes, parceiros, etc. A
presença de Deus foi muito marcante durante esses 15 dias quando eu pude
ter a companhia de outras pessoas orando comigo nessa jornada de oração
da madrugada. É difícil me lembrar de madrugadas tão enriquecedoras,
intensas e espiritualmente realizadoras quanto essas.

Logo em seguida, os grupos foram desfeitos e um terceiro grupo de


intercessores (Guerreiros de Oração) foi criado e permanece ativo até
hoje. O grupo conta com 15 intercessores que foram escolhidos a dedo
pelo Espírito. São pessoas que eu particularmente tenho um carinho muito
grande, e que adoram se colocar na brecha e à disposição do Espírito Santo
para interceder pelas vidas de outras pessoas.

Todo esse testemunho somente ocorreu devido a um alinhamento e


uma disposição de se ter uma intimidade maior com Deus vinda por parte
dessas pessoas.

Como dito anteriormente, ainda dentro dos 60 dias de oração, em


literalmente 3 madrugadas o sermão “Autoridade Espiritual e Intimidade
com Deus” foi escrito. Era algo que estava queimando dentro de mim e
que precisava ser liberado para a congregação que eu frequentava. Eu havia
visto e sentido na pele o que uma vida de oração, adoração e jejum poderia
fazer na vida de uma pessoa, ou até mesmo de uma família toda, mesmo que
a distância. Como não divulgar tudo isso para os meus irmãos da igreja que
eu tanto amava? Impossível. Isso deveria ser feito o quanto antes.
Descortinando o Adventismo – Volume I 35

Ao subir no púlpito eu imediatamente senti o Espírito Santo tomando


conta daquele local, e a presença de Deus desceu forte naquele lugar. Ao
mesmo tempo, eu pude notar que o espírito de religiosidade rangia os
dentes e se manifestava através dos mais tradicionais da igreja, os quais
não gostaram muito de ouvir coisas fora do script adventista. De qualquer
forma, o feedback das pessoas em geral foi muito bom, e imediatamente
vieram novos convites para pregar em outras igrejas da cidade.

Logo ao sair da igreja naquele dia, eu senti uma forte direção do


Espírito Santo para que eu entrasse num jejum de 5 dias só de água. Eu
obedeci e iniciei o jejum no sábado à noite. Na quinta-feira eu finalizei
o jejum e na madrugada de quinta pra sexta-feira ao estudar a Bíblia, aos
mesmos moldes do apóstolo Paulo, escamas espirituais caíram de meus
olhos e eu pude ver que todas as doutrinas adventistas estavam erradas.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo comigo. Porém, o


livro de Hebreus era muito claro. Hebreus 10:19 diz que nós precisamos
ter “intrepidez para entrar no Santo dos Santos”. Se isso era possível desde
a época de Paulo, como que a doutrina adventista do juízo investigativo
diz que essa porta entre o lugar Santo e o lugar Santíssimo só foi aberta em
1844? Muito mais detalhes sobre isso falaremos no capítulo “A Farsa do
Juízo Investigativo”.

Eu comecei a ver claramente que a doutrina do juízo investigativo


não poderia ser verdadeira e que não só ela não existia na Bíblia, mas ela
era totalmente antibíblica! Imediatamente eu notei que muitas doutrinas
estavam ligadas entre si e que quando uma caía, acabava derrubando as
demais que eram conectadas a ela.

Enfim, eu decidi proceder em estudo a madrugada toda e fui verificando


que uma doutrina após outra, todas elas, estavam bastante equivocadas.
Que soco no estômago! Tudo que eu havia aprendido estava errado. Eu
ainda não tinha tido tempo de ir a fundo no estudo do grego e do hebraico
36 A Unção que Despedaça o Jugo

de cada versículo mais polêmico, porém, algo dentro do meu espírito havia
despertado. Eu já tinha a convicção dentro de mim de que todas aquelas
doutrinas estavam erradas.

A última doutrina a cair, e a mais difícil, foi a do Sábado. “Não podia


ser!” Eu pensava. “Isso deve ser o inimigo querendo me enganar! O que
está acontecendo aqui?”. Uma mistura de indignação com uma sensação de
liberdade era o que eu estava sentindo. Eu estava feliz por Deus ter aberto
meus os olhos espirituais, mas ao mesmo tempo triste e inconformado
por ter sido “enganado” por doutrinas legalistas e tão fora do verdadeiro
evangelho da graça.

Imediatamente eu já sabia o que deveria ser feito. Eu deveria em


primeiro lugar, me informar ao máximo possível sobre todas as falhas das
doutrinas adventistas, para ter certeza de que realmente eu não estaria
cometendo um erro teológico grave e uma injustiça contra uma instituição
a qual servi com afinco por quase 10 anos. E depois disso, se o erro se
comprovasse, eu teria que oficialmente me desligar dessa igreja e tentar
alertar a minha família e amigos do problema em que eles se encontravam.

Pois assim se sucedeu. Depois de 3 meses de estudo profundo, os erros


doutrinários adventistas se confirmaram e a minha carta pedindo o meu
desligamento oficial da igreja foi redigida por mim e entregue ao pastor
da igreja local, imediatamente após isso. A minha família direta, esposa
e filhos me acompanharam em minha decisão, sem titubear. Contudo,
os meus pais inicialmente resistiram. Somente depois de quase um ano,
depois de muita intercessão e provas apresentadas, eles também acabaram
se desligando da IASD junto com todos os meus irmãos.

É importante que fique claro que eu não tive qualquer tipo de


desentendimento com nenhuma pessoa da minha igreja, pastor ou membro,
pelo contrário, eu ainda sou amigo de todos eles. Sob um ponto de vista
racional, eu não tinha absolutamente nada a ganhar saindo da IASD.
Descortinando o Adventismo – Volume I 37

Diversos contatos comerciais foram perdidos, portas abertas para pregar


e tocar em diversas igrejas (eu também sou músico e fazia parte do grupo
de louvor da igreja) foram obviamente fechadas e parte da minha própria
família abruptamente interrompeu qualquer contato que tinham comigo.

Entretanto, ao mesmo tempo em que isso aconteceu, uma imensa


paz invadiu totalmente o meu ser. Algo que eu nunca havia sentido antes
quando era membro da IASD. O meu relacionamento com a minha esposa
e filhos foi exponencialmente melhorado. Meus negócios não sofreram
nenhum impacto financeiro negativo, Deus continuou cuidando de mim.
Mas o mais importante foi o que aconteceu em minha vida espiritual. Eu
não diria somente que ela cresceu após isso, mas que de fato, ela somente se
iniciou de verdade após o meu desligamento da IASD. A triste verdade
é que eu ainda não conhecia o evangelho de Cristo enquanto estava por lá,
pois o Adventismo (como veremos ao longo desse livro) prega um outro
evangelho. Realmente, um “Novo Tempo” havia se iniciado em minha vida,
agora dentro do Reino de Deus por ter nascido de novo em “Espírito” e não
apenas nas águas do batismo.

“Jesus respondeu: — Em verdade, em verdade lhe digo: quem não


nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.”
João 3:5.

E assim surgiu a ideia de escrever esse livro. Eu não podia mais negar
que havia algo de sobrenatural sobre o que havia ocorrido em minha
vida. Afinal, nenhum homem havia tentado me convencer de que as
doutrinas nas quais eu acreditava estavam erradas. Doutrinas essas que
foram “marteladas” em mim durante toda a minha vida. Claramente, Deus
interveio e de uma hora pra outra me “arrancou” dessa igreja que de fato
está ensinando falsas doutrinas a milhões de pessoas há décadas.
38 A Unção que Despedaça o Jugo

Não era como se eu fosse apenas um “esquentador de bancos” nessa


igreja. Eu era um membro extremamente ativo dentro da minha igreja
local. Eu tinha as doutrinas adventistas verdadeiramente como regra de fé
em minha vida. Além disso, eu me alimentava continuamente dos escritos
de Ellen White e possuía dentro de meu círculo de amizades, e dentro de
toda a minha família, praticamente somente pessoas adventistas. Um dos
meus hobbies era “evangelizar” cristãos de outras igrejas (hoje eu vejo que
eu era adepto do proselitismo, sem estar consciente disso).

Quem conhece o mundo adventista sabe que levando em consideração


todo o contexto em que eu me encontrava, somente uma intervenção
sobrenatural de Deus para que eu pudesse enxergar e depois compartilhar
com outros adventistas as verdades que constam neste livro.

Sendo assim, este livro é direcionado a todos aqueles que sentem sede
de Deus e não têm medo de encarar a verdade, mesmo que ela muitas vezes
venha acompanhada por uma grande dose de dor e indignação. Muitos
utilizam o chavão de estarem falando a verdade em nome de sua instituição.
Porém, os argumentos aqui apresentados serão de tal maneira fortes e
incontestáveis que mesmo o mais ferrenho defensor de Ellen White não
poderá negar que há algo de errado em seus escritos. E que infelizmente toda
a história da igreja não passou de uma grande sucessão de erros perpetuados
e defendidos de geração em geração por um grupo sectário através de forte
manipulação religiosa; que ao mesmo tempo – e aí é que está o grande
perigo – se apresenta muito sutilmente, enganando a muitos.

A minha oração é para que a partir desse ponto o Espírito Santo possa
trabalhar em sua vida como trabalhou na minha, e que Ele possa te levar
a lugares profundos em Deus, assim como Ele fez comigo. Uma coisa eu
posso te garantir meu irmão e minha irmã: você não está sozinho(a) nessa
caminhada. Existe uma multidão de pessoas acordando para essas verdades.
Que uma unção de revelação e conhecimento recaia sobre você nesse
Descortinando o Adventismo – Volume I 39

momento, e que o Senhor lhe traga paz e segurança nEle, para que você
possa descobrir verdades que por anos lhe foram escondidas.

“O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto


sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz.”
Números 6:24-26
Capítulo 2
O Grande Conflito é entre o
Reino de Deus e a Religiosidade

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido


no campo, que um homem, ao descobri-lo, esconde;
então, movido de gozo, vai, vende tudo quanto tem, e
compra aquele campo.” Mateus 13:44

A
ntes de darmos sequência a análise das doutrinas adventistas, é
importante apresentarmos uma pedra preciosa que está “escondida
no campo”. Religiosos não encontram essa joia. Ela foi guardada
para os filhos, somente.

Quando o jugo da religiosidade é quebrado na vida de uma pessoa,


a represa que retinha as revelações e bênçãos sobre o Reino de Deus é
quebrada e como um vaso de alabastro, aquelas verdades começam a banhar
e perfumar a vida de um filho de Deus. Ao mesmo tempo, essa unção
também prepara o filho para ser morto por religiosos. Foi exatamente isso
que ocorreu com o Filho de Deus, o Cristo.

Toda vez que um filho de Deus entende quem é e se manifesta, o


espírito de religiosidade se levanta contra ele e tenta matá-lo. Sempre que o
42 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

Reino de Deus entra em um ambiente religioso, ele confronta diretamente


a religião daquele local.

Ao longo dos evangelhos, fica claro esse choque. Jesus entrava em


conflito quase que diariamente contra os religiosos da época. Fariseus,
Saduceus, Zelotes, Essênios, eram alguns dos grupos religiosos que em sua
esmagadora maioria não suportavam ouvir as palavras de Jesus. Porque o
religioso basicamente não se importa com o conteúdo. Ele se importa
com a forma. A religiosidade carrega em seu cerne uma grande carga de
hipocrisia e falsidade.

Nós fomos ensinados a pensar que a religiosidade é algo bom, e que ela
veio para nos ajudar a nos conectarmos com Deus. Porém, a verdade não é
bem essa.

Querido irmão(a), isso talvez seja um choque para você, mas a


religiosidade é o maior inimigo do Espírito Santo! É muito mais fácil que
um pecador se converta do que um religioso assuma que está errado. Do
Egito (pecado) Deus nos tira, mas da Babilônia (religiosidade fria sem
relacionamento com Deus) nós é que temos que sair!

A Igreja Adventista ensina aos seus membros que a Babilônia é a Igreja


Católica e o protestantismo apostatado. O protestantismo apostatado é, no
ponto de vista deles, basicamente todas as igrejas evangélicas com exceção
da própria igreja Adventista. Ou seja, qualquer igreja que não guarde todos
os 10 mandamentos incluindo o sábado (Shabbat) judaico.

Acontece que esse ensinamento está absurdamente equivocado. A ideia


de Deus sempre foi ter um relacionamento direto com seus filhos. Qualquer
tipo de religiosidade, que imponha um conjunto de regras de “não podes”
na frente de um relacionamento íntimo com o Pai, faz parte da Babilônia.

A palavra “Babilônia” na Bíblia se originou da palavra “Babel” do verbo


hebraico ‫( לַ֥לָּב‬bālal), que significa “confusão”. Essa “confusão” se remete à
mescla de diferentes línguas criadas por Deus sobre um povo, que liderado
Descortinando o Adventismo – Volume I 43

por Ninrode, construía uma alta torre na planície de Sinear, logo após o
dilúvio. A Bíblia em Gênesis 11:1-9 relata o ocorrido:

“No mundo todo havia apenas uma língua, um só modo de falar. Saindo os
homens do Oriente, encontraram uma planície em Sinear e ali se fixaram.

Disseram uns aos outros: ‘Vamos fazer tijolos e queimá-los bem’. Usavam
tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa. Depois disseram:
‘Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim
nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra’.

O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam


construindo. E disse o Senhor: ‘Eles são um só povo e falam uma só
língua, e começaram a construir isso.

Em breve nada poderá impedir o que planejam fazer.

Venham, desçamos e confundamos a língua que falam, para que não


entendam mais uns aos outros’. Assim o Senhor os dispersou dali por
toda a terra, e pararam de construir a cidade. Por isso foi chamada
Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de todo o mundo.
Dali o Senhor os espalhou por toda a terra.” Gênesis 11:1-9

O projeto de Ninrode e seu grupo era o de levantar uma torre alta o


suficiente para que o seu nome ficasse “famoso” e para que eles não fossem
“espalhados pela terra”. A religiosidade institucional exclusivista, baseada
em regras dogmáticas e não no relacionamento com Deus, funciona
exatamente da mesma forma. Ela não busca elevar o nome de Deus, mas
sim o nome da sua própria instituição. As igrejas que agem dessa forma
são extremamente exclusivistas, e têm como marca assumirem um papel de
“igreja verdadeira de Deus” enquanto apontam o dedo para todas as outras
igrejas acusando-as de serem falsas. É essa divisão exclusivista religiosa que
carrega a marca Babilônica.
44 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

Deus não se agradou disso, e imediatamente confundiu as suas línguas.


As doutrinas de igrejas babilônicas são confusas e não se alinham com as
Escrituras. Sempre surgem de “Grandes Desapontamentos” que geram
erros e confusão, assim como ocorreu em sua origem. Interessante notar que
o contraponto bíblico para a Torre de Babel é o dia de Pentecostes citado
em Atos 2. Enquanto na Torre de Babel, aqueles que estavam realizando
um projeto contra vontade de Deus foram confundidos em suas línguas,
no Pentecostes, com a aprovação de Deus, os que falavam línguas diferentes
conseguiram entender perfeitamente uns aos outros.

Sendo assim, podemos chegar a seguinte conclusão:

A Babilônia (religiosidade) divide, é exclusivista e busca elevar o seu


próprio nome e não o nome de Deus.

Já o Pentecostes (Reino de Deus) unifica os filhos de Deus, é inclusivo


e sempre busca elevar o nome de Deus acima de qualquer dogma, doutrina
ou nome institucional.

Pense comigo. Se você fosse o general de um exército, você iria ter a


intenção de dividir esse exército entre si e colocá-lo um contra o outro?
Essa tática favoreceria você ou os seus inimigos? Pois é exatamente o que a
religiosidade faz com o exército de Deus. Ela coloca um filho contra outro
filho. Ou melhor, um servo contra outro servo. Porque filhos se manifestam
em unidade!

Na oração sacerdotal, Jesus, no jardim do Getsêmani profere as


seguintes palavras:

“E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou


para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que
sejam um, assim como nós.” João 17:11

“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti;
que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me
Descortinando o Adventismo – Volume I 45

enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um,
como nós somos um.

Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e


para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado
a eles como me tens amado a mim.” João 17:21-23

Note quantas vezes Jesus enfatiza a necessidade de unidade no corpo


da igreja. Que essa “unidade entre os filhos de Deus” não se confunda com
o “Ecumenismo” que é a mistura de falsas religiões com o evangelho de
Cristo. Tais termos têm conceitos completamente distintos um do outro,
apesar de que a IASD tente te vender o contrário. Para ela, o ecumenismo
serve como desculpa para o exclusivismo, criado por ela contra irmãos
cristãos que carregam a legítima verdade do evangelho de Jesus para o
mundo caído.

Se a igreja da qual você faz parte possui doutrinas exclusivistas, usa


termos como “povo escolhido”, “portadores exclusivos da verdade” e cria
preconceitos contra irmãos de outras igrejas protestantes, tudo indica que
você faz parte de um grupo sectário.

Se, unindo a isso, essa igreja possui doutrinas que não fazem parte das
Escrituras, possui um profeta ou uma profetisa com uma “luz nova, diferente
e exclusiva” e mantém dentro de suas crenças uma ideia constante de mania
de perseguição (I.E. Decreto dominical), infelizmente a porcentagem de
probabilidade de você estar numa seita sobe para 100%. Falaremos mais
sobre isso no capítulo “Características de uma Seita”.

Essa é uma realidade dura de falar e muito mais de ouvir. Mas é muito
importante que os membros dessas igrejas saibam que nada disso é culpa
deles. Psicologicamente falando, é muito fácil uma pessoa ser enganada por
um grupo sectário. Mas as presas mais fáceis são aqueles que têm problema
de baixa autoestima (o que, sejamos sinceros, hoje em dia são basicamente
quase todas as pessoas do planeta). E assim, quando um grupo o convida
46 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

para fazer parte de algo tão especial como o “povo escolhido” essas pessoas
se entregam muito facilmente, e defendem essa religião com unhas e dentes.

Porque agora já não se trata mais de se estar “teologicamente correto”


e seguindo sólidas doutrinas bíblicas, não. A defesa agora passa a ser contra
o fato de essa pessoa ser ou não mais “especial” ou “escolhida”. E para piorar
ainda mais toda essa situação, acrescenta-se a tudo isso, mais uma verdade:
quem faz parte de uma seita, nunca sabe que faz parte de uma seita.

A religiosidade está espalhada em várias denominações, porém, grupos


sectários apresentam essa religiosidade de forma ainda mais acentuada. Essa
capa de santidade misturada com hipocrisia é muito comum nesses lugares,
o que torna as pessoas ainda mais cegas. Pois elas pensam que enxergam.
Acreditam com todas as suas forças que os seus dogmas estão corretos e que
todos os outros estão errados, e ainda que todos os outros se “perderão” por
não seguirem as mesmas “regrinhas” que eles seguem.

Quando Jesus curou o cego de nascença temos ali um perfeito relato


de como o sistema religioso funciona. Analisemos o ocorrido no evangelho
de João, capítulo 9, versículo 10 em diante:

“Por esse motivo, indagaram-lhe: ‘Como te foram abertos os olhos?’ Ele


respondeu: ‘Um homem chamado Jesus misturou terra com saliva, ungiu
meus olhos e disse-me: ‘vai, lava-te no tanque de Siloé.’ Então eu fui,
lavei-me, e recebi a visão.’ Em seguida lhe perguntaram: ‘Onde está Ele?’
Ao que respondeu: ‘Não sei.’ O homem curado é expulso.

Então, levaram o homem que fora cego à presença dos fariseus. E era sábado,
quando Jesus fez aquela mistura de barro e abriu os olhos do homem
cego. Então, os fariseus também lhe inquiriram como recebera a visão. E o
homem tornou a explicar: ‘Ele aplicou barro aos meus olhos, lavei-me e vejo.’

Por esse motivo, alguns dos fariseus alegavam: ‘Esse homem não é de
Deus, porque não guarda o sábado.’ Outros murmuravam: ‘Como
Descortinando o Adventismo – Volume I 47

pode um homem, sendo pecador, realizar milagres como esses?’ E,


novamente, houve divisão entre eles. Uma vez mais, perguntaram ao
homem que fora cego: ‘Que dizes tu a respeito dele, pelo fato de que abriu
os teus olhos?’ O homem asseverou-lhes: ‘Ele é um profeta’.” João 9:10-17

Nesse confronto inicial dos fariseus com o cego curado no tanque de


Siloé, nós podemos fazer uma analogia do que ocorre quando um filho de
Deus abre os olhos, ao ser curado por Jesus, da cegueira da religiosidade.
Essa pessoa imediatamente começa a entrar em conflito com os religiosos
do local onde está.

Note que a religião não se importa se alguém é cego e continua cego,


mas quando alguém abre os olhos e desperta, aí os problemas começam.
Aqui temos um exemplo clássico legalista adventista. “Esse homem não
é de Deus porque não guarda o sábado”. Nem mesmo se o próprio Jesus
aparecesse hoje na terra, Ele não só não seria reconhecido como o Messias
pelos adventistas por “não guardar o sábado direito”, mas não seria nem
chamado como alguém “de Deus”. Pelo contrário. Seria chamado de um
pecador que “não pode realizar milagres” vindos da parte de Deus.

Eu, como sendo parte de uma longa linhagem de adventistas e tendo


trabalhado praticamente em todas as áreas da igreja com intensidade, por
quase uma década, principalmente na área evangelista, sei muito bem dos
argumentos adventistas contra os fariseus. Segundo a linha de raciocínio
teológico da IASD o que ocorria ali era que os fariseus não sabiam a
maneira certa de guardar o sábado e Jesus veio, portanto, tentar consertar
esse erro. Essa é a forma com que eles tentam (e muitas vezes conseguem)
se desviar da imagem de fariseus. Ou seja, Cristo segundo eles, veio para
ensinar até mesmo os fariseus sobre a maneira correta de guardar o sábado,
sem exageros. Ocorre que não é bem assim que as coisas acontecem no caso
concreto de uma vida diária como adventista.

Certa feita recebi um pastor famoso adventista em minha casa. Ele


era um conhecido meu da época do ensino médio. Havíamos estudado na
48 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

mesma época no Colégio Curitibano Adventista e tínhamos vários amigos


em comum. Quando ele veio pregar num evento aqui na Flórida, já muitos
anos depois dessa nossa época de infância, eu o convidei para passar um
tempo aqui em casa com a minha família.

Nesse período de tempo, algo muito interessante aconteceu. Em uma


de nossas interações eu resolvi testar o nível de religiosidade do nosso amigo;
até porque eu mesmo tinha dúvidas sobre alguns assuntos doutrinários e
quem melhor pra me responder essas dúvidas senão esse “grande homem
de Deus”?

Pois a dúvida era: se alguém da minha casa ficasse doente no sábado,


poderia eu comprar um remédio em uma farmácia durante o Shabbat? Ou
isso seria pecado? A resposta desse meu colega veio sem titubear. Com
muita convicção e assertividade, qualidades comuns de grandes pastores
evangelísticos, principalmente daqueles que trabalham em programas
televisivos, veio a resposta: “Isso é PECADO! Nunca compre nada ao
sábado, não importa a situação! Ou será que você não confia em Deus? Será
que não podemos esperar nem mesmo 24 horas para comprar um remédio?
Estamos falando aqui da santa lei do Sábado!”.

“Entendi”, repliquei eu. Porém, mesmo que meio sem jeito, continuei a
indagar. “E se meu carro estiver acabando a gasolina e eu tiver que abastecer
no dia de sábado? Como eu faço?”. Parecia que ao fazer essa pergunta eu
havia rasgado a página da Bíblia onde se encontram os 10 mandamentos
em Êxodo capítulo 20. Já com os olhos meio vermelhos e sem tentar
esconder a sua indignação ao ouvir aquela sequência de perguntas, o pastor
respondeu mais uma vez com muita convicção: “O nosso dever é de nos
prepararmos para o santo Sábado no dia anterior! Na sexta-feira antes do
pôr do sol, abasteça o seu veículo. Se caso você se esqueceu de fazer isso,
não é culpa de Deus. Espere até o pôr do sol de sábado para abastecer o seu
carro novamente. Caso contrário estará quebrando o quarto mandamento.
Você como um líder de sua igreja local deve dar o exemplo aos demais!”.
Descortinando o Adventismo – Volume I 49

“Ok”, disse eu. Mudamos de assunto. Eu havia entendido o recado.


Alguns anos depois esse mesmo pastor foi pego em um grande escândalo,
talvez o maior escândalo da Igreja Adventista no Brasil, por estar adulterando
com a sua assistente de trabalho por mais de dois anos. Uma conversa entre
ele a sua amante foi gravada e lançada na internet para o desespero da igreja.
Esse é um grande exemplo de como funciona o sistema religioso. A máscara
de religiosidade apresenta uma boa aparência, mas não possui conteúdo. A
religião é a figueira sem frutos que Jesus amaldiçoou (Lucas 21:29-33). Pois
ela engana aqueles que a veem de longe. Ela atrai, pela bela forma, mas não
gera frutos. Assim como essa árvore emudeceu e morreu após Jesus tê-la
amaldiçoado, assim será com a religiosidade dos nossos tempos. Estamos
num momento profético no calendário divino onde Deus está expondo
tudo que não é verdadeiro.

“Porque tudo o que dissestes nas trevas será ouvido em plena luz, e o
que sussurrastes ao pé do ouvido, no interior de quartos fechados, será
proclamado do alto das casas.” Lucas 12:3.

Ao mesmo tempo em que devemos expor alguns fatos, não podemos


cair na armadilha de julgar a quem quer que seja. “Quem está de pé que
cuide para que não caia (...)” 1 Cor 10:12. Por mais que um sacerdote de
Deus no auge de sua hipocrisia tenha enganado a muitos, tanto ele quanto
qualquer outro pecador, carecem da graça divina e merecem o perdão do
Senhor. Deus é o único capaz de julgar a quem quer que seja, porém, nós
como cristãos não podemos nos abster de exercermos o nosso discernimento
espiritual para evitar sermos enganados por falsos mestres e falsos profetas.
Nesse sentido o “julgar” é válido. Devemos aprender a discernir sim entre
o certo e o errado. Que o Senhor nos ajude a evitarmos tanto a armadilha
do julgamento que só cabe a Ele como O Verdadeiro Juiz, quanto a cilada
da cegueira espiritual e ausência de sabedoria e prudência aconselhada pelo
próprio Cristo em Mateus 10:16.
50 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

Dando continuidade a cura do cego de nascença. Vejamos o que ocorre


nos versos seguintes:

“Os judeus, porém, não acreditaram que ele tivesse sido cego e recebido a vista,
enquanto não chamaram os pais do que fora curado, e lhes perguntaram:
‘É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?’

Responderam seus pais: ‘Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu
cego; mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos, nós
não sabemos; perguntai a ele mesmo; tem idade; ele falará por si mesmo’.
Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já tinham
estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso
da sinagoga. Por isso é que seus pais disseram: ‘Tem idade, perguntai-lho
a ele mesmo’.” João 9:18-23

Quando um filho de Deus é curado e ele passa a enxergar, os problemas


que ele enfrentará não se limitarão aos religiosos locais. Ele também terá
problemas com a sua família. Nesse caso, a família do cego curado não o
defendeu, pois “temiam os judeus”. A família de um religioso se também
for religiosa, invariavelmente irá se posicionar a favor da sua religião em
detrimento da sua família, não importando se esses são filhos, pais, primos,
sobrinhos, etc. Seja lá quem for, não poderá ir contra algo que formou a sua
própria identidade. É quase que um mecanismo de autodefesa.

Ninguém quer perder a sua própria identidade sob pena de não saber
como funcionar nesse mundo. Porém, nós como filhos de Deus fomos
chamados para morrer junto com Seu Filho, Jesus. Morrer para tudo aquilo
que nos impede de ter uma comunhão mais íntima com Ele. E a religiosidade
é mais nociva a isso do que o próprio pecado. Note o que ocorre na oração
do pecador e do publicano:

“Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro,


publicano. O fariseu, em pé, orava em seu íntimo: ‘Deus, eu te agradeço
Descortinando o Adventismo – Volume I 51

porque não sou como os outros homens: roubadores, corruptos, adúlteros;


nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana
e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.

Entretanto, o publicano ficou à distância. Ele sequer ousava olhar para


o céu, mas batendo no peito, confessava: ‘Ó Deus, sê benevolente para
comigo, pois sou pecador’. Eu vos asseguro que este homem, e não o
outro, foi para sua casa justificado diante de Deus.” Lucas 18:10-14

Esse é mais um perfeito exemplo de como Jesus enxerga a religiosidade. A


religião nos deixa cegos e engessa o trabalho do Espírito Santo em nossas vidas.

Deus Pai não é religioso. Jesus não é religioso. O Espírito Santo não é
religioso. As pessoas é que criaram a religiosidade como uma forma de colocar
regras aonde não existe relacionamento. Deus não quer a sua religiosidade.
Ele quer que você flua num relacionamento íntimo e diário com Ele.

A fórmula matemática é essa: quanto mais regras, menos


relacionamento; e quanto mais relacionamento, menos regras. Se você já
conhece quem é o seu Pai, e o que Ele quer de você pelo fato de você manter
um relacionamento diário com Ele, não há necessidade de você manter
uma lista das coisas que Ele gosta e que quer que você faça, pendurada na
geladeira da sua casa.

Agora, se você não possui um relacionamento íntimo com Ele e só o vê


uma vez ao ano, provavelmente Ele irá deixar um conjunto de regras grudado
na parede de sua casa, para que quando por fim Ele venha, esteja tudo em
ordem e de Seu agrado. Religiosos trocaram o relacionamento com Deus,
por regrinhas dogmáticas, porque eles não possuem intimidade com o Pai.
E foi exatamente isso que aconteceu no Sinai quando Deus deu as tábuas
de pedra para Israel. A princípio Deus queria ter um relacionamento direto
com o povo, mas eles tiveram medo e não quiseram essa relação direta com
o Pai. Ao invés disso preferiram que Deus falasse com Moisés para que ele,
por sua vez, falasse com o povo. Veja o que a Bíblia diz a respeito:
52 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

“Vendo-se o povo diante dos trovões e dos relâmpagos, e do som da


trombeta e do monte fumegando, todos tremeram assustados. Ficaram à
distância e disseram a Moisés: ‘Fala tu mesmo conosco, e ouviremos.
Mas que Deus não fale conosco, para que não morramos’.

Moisés disse ao povo: ‘Não tenham medo! Deus veio prová-los, para que o
temor de Deus esteja em vocês e os livre de pecar’. Mas o povo permaneceu
à distância, ao passo que Moisés aproximou-se da nuvem escura em
que Deus se encontrava.” Êxodo 20:18-21

O povo de Israel preferiu permanecer à distância, ao invés de falar


diretamente com Deus. Por isso foi necessário dar 613 “regrinhas” a eles.
Quanto menos relacionamento, mais regras. Pare um minuto pra pensar
quantas “regrinhas” exclusivas existem em sua igreja. Pode usar joias? Pode
abastecer o carro no Sábado? Pode comer carne vermelha? Pode tocar
bateria na igreja? As mulheres podem usar maquiagem?

Enfim, é verdade que Deus espera um determinado comportamento de


Seus filhos. Contudo, tal comportamento será algo que surgirá naturalmente
depois que um relacionamento íntimo com Ele for estabelecido.

Continuando a sequência da história do cego de nascença, sigamos


lendo o que João relatou:

“Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego, e lhe disseram:
‘Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador’. Respondeu ele:
‘Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo’. Perguntaram-
lhe pois: ‘Que foi que te fez? Como te abriu os olhos?’ Respondeu-lhes: ‘Já
vo-lo disse, e não atendestes; para que o quereis tornar a ouvir?

Acaso também vós quereis tornar-vos discípulos dele?’ Então o


injuriaram, e disseram: ‘Discípulo dele és tu; nós, porém, somos
discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto
a este, não sabemos donde é’. Respondeu-lhes o homem: ‘Nisto, pois, está
Descortinando o Adventismo – Volume I 53

a maravilha: não sabeis donde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos;


sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém for temente a
Deus, e fizer a sua vontade, a esse ele ouve.

Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos


a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer’.
Replicaram-lhe eles: ‘Tu nasceste todo em pecados, e vens nos ensinar a
nós?’ E expulsaram-no.” João 9:24-34

Existem muitas coisas ocorrendo ao mesmo tempo nesses versos. Em


primeiro lugar, fica claro que o ex-cego depois que passa a enxergar, fica
cada vez mais autoconfiante ao confrontar os religiosos de seu ambiente.
Ele já não só não respeita mais os fariseus locais, mas passa da defesa
ao ataque muito rapidamente. “Acaso também vós quereis tornar-vos
discípulos dele?”. Mais interessante ainda é a resposta que os fariseus dão a
ele: “discípulo dele és tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés.”. Aqui
temos uma das melhores definições da religiosidade adventista. Eles ainda
são discípulos de Moisés e não de Jesus. Estão presos à velha aliança que não
foi dada a eles, mas sim ao povo de Israel, somente.

Os adventistas ainda estão no monte Sinai recebendo as tábuas da lei


de Moisés e seu ministério da morte (2 Cor 3:7-9), enquanto deveriam
estar no monte Sião recebendo as instruções do Espírito Santo a respeito
da vida que há na Nova Aliança. Eles agem como Marta que está atarefada
com “muitos afazeres” quando deveriam estar aos pés de Cristo, como
Maria, recebendo as instruções diretamente dEle, passando assim a ter
um relacionamento mais íntimo com Jesus. Por fim, os adventistas são
ensinados a serem servos e não… filhos.

Eles ainda não foram ensinados que não precisam de obras da lei para
se salvarem, pois ainda não conhecem o evangelho da graça. E esse é um dos
pontos intrinsicamente mais perigosos de suas doutrinas. O evangelho da
graça nunca pode ser apresentado aos seus membros em sua plenitude, por
ser diretamente contra o cerne da própria razão de existir dessa denominação.
54 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

Infelizmente, se tirarmos o legalismo da Igreja Adventista, ela se torna tão


descaracterizada que simplesmente não há muita saída, teologicamente
falando, para a igreja se posicionar contra essas falsas doutrinas. Uma reforma
geral teria que ser feita de uma maneira tão transparente e pública que
francamente a instituição não sobreviveria a um opróbrio dessa magnitude.

O fato é que eu pessoalmente já tive essa conversa com vários teólogos


adventistas, amigos pessoais meus que me confessaram “off the record”, que
várias bases doutrinárias adventistas já não são mais levadas a sério no meio
acadêmico atual nem mesmo em suas próprias universidades. Contudo, a
instituição se encontra em uma “sinuca de bico” em âmbito teológico por
assim dizer, e que a ordem no momento é a de defender publicamente tais
doutrinas a todo custo.

As consequências são essas que podemos tristemente presenciar na


realidade atual da IASD:

• Um evangelho diluído com uma teologia cheia de buracos


e unanimemente desrespeitada entre todas as outras igrejas
protestantes;
• Seus membros estão desconectados da realidade cristã, pois foram
mentalmente e espiritualmente manipulados muitas vezes dentro
de suas próprias casas por gerações familiares em erro, reforçado
ainda por um forte investimento midiático de rádio, TV, revistas e
distribuição de livros, que terminam por enredar essas pessoas no
engano;
• Membros com um constante sentimento de desespero, ora por não
poderem atingir o nível de perfeição estabelecido pela liderança da
igreja, ora por terem como parte de suas crenças fundamentais a
ideia de nunca poderem ter certeza de sua própria salvação;
• Ausência nítida dos dons do Espírito Santo em suas congregações,
pois como parte de seu entendimento doutrinário, muitas
Descortinando o Adventismo – Volume I 55

das ditas manifestações do Espírito apresentadas por outras


denominações são caracterizadas como sendo “obras do diabo”. O
que por falta de discernimento espiritual acaba anulando tudo que
aparenta ser sobrenatural, engessando assim completamente a ação
do Espírito Santo na vida de seus membros.

A lista de problemas e consequências espirituais de se fazer parte de


uma seita é longa e elas serão apresentadas em momento oportuno nos
próximos capítulos. Porém finalizando os versos a respeito do cego de
nascença, temos ainda algumas lições dentro desse rico contexto:

“Soube Jesus que o haviam expulsado; e achando-o perguntou-lhe: Crês


tu no Filho do homem? Respondeu ele: Quem é, senhor, para que nele
creia? Disse-lhe Jesus: Já o viste, e é ele quem fala contigo. Disse o homem:
Creio, Senhor! E o adorou. Prosseguiu então Jesus: Eu vim a este
mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem
se tornem cegos. Alguns fariseus que ali estavam com ele, ouvindo isso,
perguntaram-lhe: Porventura somos nós também cegos? Respondeu-
lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis:
Nós vemos, permanece o vosso pecado.” João 9:35-41

Mais uma vez vemos claramente um perfeito exemplo da religiosidade


em ação. Jesus pode curar qualquer que seja o nosso defeito de caráter ou
até mesmo a nossa cegueira espiritual, mas, para que isso ocorra, há algo que
deve acontecer primeiro. O nosso orgulho deve ser quebrado! É necessário
que nós assumamos que temos um problema para que o Senhor nos cure.
Ocorre que dentro da religiosidade de uma seita o nível de orgulho é
altíssimo! “Mas agora como dizeis: “Nós vemos”, permanece o vosso pecado.”.
Quem pode querer consertar um erro que não acredita que exista? Ou
melhor, que insiste em acreditar que não exista? A religiosidade não pode
dar margem ao erro sob pena de perder o controle sobre os seus membros.
E o que é uma religião sectária sem o fator “poder” sobre os seus membros?
Absolutamente nada!
56 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

É exatamente por isso que os religiosos da época resolveram matar


Jesus. Pois eles não exerciam nenhum poder sobre Ele e ainda pior do que
isso: Ele libertava as pessoas de sua cegueira religiosa! Além dos claros
exemplos de Jesus a Bíblia deixa evidente o posicionamento de Deus a
respeito disso:

“O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade.”


2 Cor 3:17

E é isso que os filhos de Deus farão nesse tempo em que estamos


vivendo. Assim como Cristo, eles também libertarão muitas pessoas
sinceras da religiosidade fria, sem sentido. Glória a Deus por isso!

“Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras


que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu
estou indo para o Pai.” João 14:12

O Senhor veio para nos libertar do pecado, mas também para nos
mostrar e nos libertar das amarras e do jugo imposto sobre nós pela
religião sectária. Porém, nesse segundo ponto é necessário que haja um
despertamento por parte daqueles que caíram nesse laço religioso. Uma
renovação de mentalidade (Rom 12:2) deve ser realizada com a ajuda do
Espírito Santo, para que esse “despertar” seja completo. E essa transição é a
parte mais difícil do processo. Mas o bom Pastor nunca desampara as suas
ovelhas e sempre deixa um caminho aberto para que o Seu rebanho encontre
pastos verdejantes. Falaremos mais sobre isso no capítulo: “Intimidade com
Deus”, no volume 2 dessa série.

O Pastor Luiz Hermínio do Ministério MEVAM de Itajaí/SC resumiu


brilhantemente a diferença entre a Religião e o Reino de Deus:

“A religião produz hipocrisia, o reino produz verdade;


A religião produz pedintes, o reino produz intercessores;
Descortinando o Adventismo – Volume I 57

A religião produz líderes, o reino produz pais;


A religião produz conceitos, o reino produz conhecimento e convicção;
A religião produz empolgação, o reino produz decisão;
A religião produz competidores, o reino produz colaboradores;
A religião funciona por hábitos, o reino se desenvolve e flui por natureza;
A religião funciona pelo ter, o reino pelo ser;
A religião se preocupa com reputação, o reino se preocupa com a
integridade.”

Expandiremos um pouco mais essa diferenciação e contraste entre a


Religião e o Reino de Deus no quadro comparativo abaixo:

RELIGIÃO REINO DE DEUS

Focado na forma Focado no conteúdo


Estabelece regrinhas de Estabelece um relacionamento
“não-podes” com o Criador
Preocupada com a
Preocupado com a integridade
reputação
Produz pedintes Produz intercessores
Gera líderes em Gera pais em
suas comunidades suas comunidades
Desperta a manifestação da
Molda servos para Deus
identidade dos filhos de Deus
Produz conceitos na alma Produz convicção no espírito
Gera competidores Gera colaboradores
58 O Grande Conflito é entre o Reino de Deus e a Religiosidade

RELIGIÃO REINO DE DEUS

Funciona por hábitos Flui por natureza


Produz hipocrisia Produz verdade
É representada por Marta É representada por Maria (escolheu
(ocupada com muitos afazeres) a boa parte e ficou aos pés de Jesus)
Está no Sinai recebendo as Está em Sião recebendo a graça de
leis de Moisés Cristo e a direção do Espírito Santo
Ainda está no leite Está recebendo alimento sólido
(o servo é como criança) (o filho é maduro)
Exala julgamento Exala amor (perfume de Cristo)
Quem domina é o Quem domina é o
espírito de religiosidade Espírito Santo
É saudável e produz igrejas que
É legalista e abre margem para a
pregam o evangelho verdadeiro
criação e proliferação de seitas
de Jesus Cristo
Gera paz e alegria no espírito e
Gera um pesado jugo e prende
liberta as pessoas do pecado e da
as pessoas em jaulas religiosas
própria religiosidade
É exclusivista e gera divisão É inclusiva e prega a unidade
É representada pela igreja
É representada por Babilônia
primitiva e o Pentecostes que
e surgiu na confusão da
surgiu num alinhamento e
Torre de Babel
entendimento de diferentes povos
Busca elevar e divulgar o seu Busca elevar e divulgar o nome
próprio nome ou o nome da insti- de Deus, e a Ele é dada toda a
tuição a quem quer deixar “famosa” honra e glória
Descortinando o Adventismo – Volume I 59

Em todas as palestras, cursos, pregações e seminários adventistas, o


sábado, o decreto dominical, Ellen White e a reforma de saúde, por exemplo,
são muito mais pregados e ensinados do que o evangelho de Cristo. A
bandeira da IASD é levantada exponencialmente acima de qualquer outra
coisa, e isso é inegável. É a “Torre” que busca estar famosa nos dias de hoje.
Apesar de isso não ser admitido publicamente, esse é um fato incontestável.
Existe um “orgulho velado” em ser Adventista do Sétimo Dia, exatamente
por causa do exclusivismo criado em torno dessa igreja, que insiste em
acreditar que é a igreja verdadeira de Deus nessa terra. Vendo hoje, com
mais perspectiva, é algo muito triste na verdade. É toda uma igreja em um
estado de negação psicológica e espiritual em um jogo de xadrez muito bem
arquitetado por Satanás, que exulta em colocar essas pessoas nessa cegueira
espiritual.

Sendo assim, a conclusão sobre esse importante tópico é que os


evangelhos claramente descrevem o confronto existente entre o Reino de
Deus e a hipocrisia da religiosidade. As mesmas situações são encontradas
hoje em dia em várias denominações, mas principalmente, nas mais
legalistas, sendo uma das mais perigosas e influentes a Igreja Adventista do
Sétimo Dia.

Nela podemos ver nitidamente as palavras de Jesus se materializarem


diante dos nossos olhos:

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens
o Reino dos céus; e nem vós entrais, nem deixais entrar aos que estão
entrando.” Mateus 23:13
Capítulo 3
As Origens da Igreja Adventista do Sétimo
Dia e a Farsa do Juízo Investigativo

“E surgirão muitos falsos profetas,


e enganarão a muitos.”
Mateus 24:11

A
Igreja Adventista do Sétimo Dia ao mesmo tempo em que possui
várias características comuns a outros grupos sectários, apresenta
também algumas peculiaridades bastante sui generis e diria que
quase que exclusivas ao seu grupo religioso. Uma dessas particularidades é
o fato de que uma de suas mais importantes doutrinas (e espinha dorsal de
sua história) é também a doutrina mais obscura e menos conhecida pela
grande maioria de seus membros.

A doutrina do Juízo Investigativo (também chamada de doutrina do


santuário celestial) se inquirida a um membro médio, muito provavelmente
será respondida com reticências ou total ignorância do que se trata. Isso se
deve a vários motivos.
62 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Primeiro, porque ela é uma doutrina inexistente na Bíblia e não se


sustenta sem os escritos de Ellen White. E segundo, porque ela é uma
doutrina tão confusa que poucos pastores ou membros sabem destrinchá-
la com maestria e convencimento. E terceiro (e talvez o pior motivo) é que
quando essa doutrina é explicada e entendida em sua inteireza, ela deixa
o membro em total desespero. Pois basicamente, a sua linha de raciocínio
impõe um nível de perfeição tão absurdo ao membro adventista, que
nenhum ser humano seria capaz de passar em tal teste “investigativo”.

Contudo, antes de falarmos sobre o que exatamente fala essa doutrina,


é necessário viajarmos no túnel do tempo da história para entendermos
todo o contexto que gerou essa doutrina, assim como sabermos como que a
própria Igreja Adventista do Sétimo Dia foi criada.

William “Guilherme” Miller

Em 15 de fevereiro de 1782, na cidade de Pittsfield, Massachussetts,


nascia William Miller, uma figura que mais a frente iria se tornar o pivô
de toda a origem da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em 1803 William
Miller se casou com Lucy P. Smith e se mudou para Poultney, Vermont
onde se tornou agricultor. 6

Miller teve pouca educação formal, aprendeu a ler com a mãe e


frequentou a escola local por apenas 18 meses. Apesar da pouca escolaridade,
Miller tinha muito prazer pela leitura e em pouco tempo “devorou” tudo
que havia disponível na pequena biblioteca de sua casa. Um livro de oração,
um saltério e uma Bíblia.7 Seu pai foi um soldado da guerra revolucionária
americana.

6 Bliss, Sylvester. Memoirs of William Miller. Boston: Joshua V. Himes, 1853.


7 White, James. Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller. Steam Press of the
Seventh-Day Adventist Publishing Association, 1875
Descortinando o Adventismo – Volume I 63

Já em sua vida adulta, Miller teve diversas profissões, sendo xerife, juiz
de paz, alcaide e militar. Em 1810 ele recebe o posto de tenente de milícia,
passou a capitão voluntário em 1812 no começo da guerra entre os EUA e
Reino Unido, e mais tarde ingressou no exército regular com a posição de
primeiro-tenente.8

Miller, extremamente envolvido em sua comunidade local, acabou se


tornando maçom ocupando o alto cargo de grão-mestre da loja Morning
Star, no 27 9 10 11, entretanto mais a frente em 1831 renunciaria ao cargo por
acreditar não ser compatível com suas ideias evangelísticas.12

Desde sua juventude, Miller cria na Bíblia como um livro inspirado


e logo após seu casamento adotou o deísmo como visão religiosa.13 Certa
feita em 1816, após um apelo comovente de um pregador na igreja batista
local, Miller se volta com afinco ao estudo da Bíblia e passa dois anos lendo
intensamente as Escrituras, usando apenas uma concordância bíblica de
Cruden. Começando no livro de Gênesis, ele não passava ao próximo
versículo sem antes ter a certeza de que havia entendido completamente o
versículo anterior.

Até que um dia ele se deparou com um texto que deveria marcá-lo
para o resto de sua vida. Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes
e manhãs; e o santuário será purificado”. Usando outros textos como

8 Dick, Everett, Fundadores da Mensagem, pág. 17


9 Bliss 1853, pág. 21, 22.
10 Organizada em Poultney antes de 1800” David L. Rowe’s recent Miller biography God’s Strange
Work: William Miller and the End of the World.
11 Rowe, David L., God’s Strange Work: William Miller and the End of the World (Eerdmans: 2008)
apresenta extensa documentação das conexões maçônicas de Miller, comprovando a sua apresentação
como Demolay em 4 de março de 1798; Tornou-se membro da Morning Star Lodge em Poultney e mais
a frente se tornou Grão Mestre. Rowe, David L., God’s Strange Work: William Miller and the End of the
World (Eerdmans: 2008), pág. 27.
12 God’s Strange Work: William Miller and the End of the World William Miller letter dated April
10, 1833 quoted in Rowe, David L., God’s Strange Work: William Miller and the End of the World
(Eerdmans: 2008), pág. 94.
13 Maxwell, C. Mervyn, História do Adventismo (Santo Andre, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), pág. 9-14
64 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Ezequiel 4:6-7 e 2 Pedro 3:8, Miller entendeu que essas 2.300 tardes e
manhãs se referiam a 2.300 anos literais que teriam início em 457 A.C. e
terminariam em 1843 D.C.

Tais estudos, tendo sido iniciados desde 1818, foram examinados


e reexaminados e dentro de sua mente, Miller alimentava dia após dia a
certeza de que eles estavam corretos. Finalmente em 1831, depois de um
início tímido, Miller toma coragem e começa a pregar suas ideias de um fim
do mundo iminente, primeiramente em fazendas, depois em vilas e mais a
frente nas grandes cidades.

Em 13 de Novembro de 1833 houve uma chuva de meteoros, o


que despertou na população local a ideia de que William Miller poderia
realmente estar falando a verdade.14 Em 1838, Miller prediz que o império
Otomano que na época era muito poderoso, seria desintegrado em apenas
dois anos. Essa predição teria como base o estudo dos capítulos 8 e 9 do
livro de Apocalipse.

Um amigo seu da época, pastor Josias Litch, publicou tais ideias num
periódico local. Em 11 de agosto de 1840 o império Otomano realmente
passa por uma crise política, que apesar de não culminar em sua desintegração,
acabou sendo chamada a atenção quando uma pessoa da mídia secular
atentou para a lembrança do periódico publicado pelo Sr. Litch.

Isso fez com que várias pessoas e líderes de diversas denominações


religiosas aderissem ao então chamado “Movimento Millerita” ou
“Adventismo”, pois esse grupo passou a aguardar uma breve volta de Jesus.

Esse é um breve resumo da vida de William Miller. Iremos analisar


mais pormenorizadamente a sua vida mais adiante. Antes disso é necessário,
contudo, que façamos a seguir uma análise ainda mais profunda do contexto

14 Carta escrita a mão, 13 de dezembro de 1844, como citada em Paul A. Gordon, Herald of The Midnight Cry:
William Miller and the 1844 Movement (Boise, ID: Pacific Press, 1990), pág. 103, conforme referência de
artigo de Joan Francis publicado em Joan Francis. Guilherme Miller:O Homem por trás da História de 1844.
Descortinando o Adventismo – Volume I 65

histórico mundial e local da época. Para entendermos em que tipo de solo


fértil sociológico, político e psicológico, todo esse movimento Millerita/
Adventista foi gerado.

Somente explorando a dinâmica do ambiente que deu origem a esse


movimento, é que nós poderemos entender a razão de existir dessa igreja
tão peculiar chamada “Igreja Adventista do Sétimo Dia”. E bem como,
os motivos de suas doutrinas serem tão controversas/combatidas, porém
muitas vezes ao mesmo tempo tão “magnéticas” e atraentes a tantas pessoas.

A IASD hoje em dia (julho/2019) possui mais de 20 milhões de


membros com igrejas em 235 países e territórios. Ela é o décimo segundo
maior corpo religioso do mundo. Esse é um movimento bastante considerável
que merece a devida atenção. É exatamente por isso que todo membro
consciente, que faz parte dessa instituição, merece saber a verdade sobre a
história de sua igreja e de onde surgiram as crenças a que ele se submete.

O estudo do movimento Millerita é tão importante que podemos


asseverar com grande certeza que, se for comprovado que a data de 22 de
outubro de 1844 não possui nenhuma significância espiritual relevante e,
consequentemente, se a doutrina do santuário celestial/juízo investigativo
não apresenta suporte nas Escrituras, então toda a base doutrinária dessa
igreja desmorona como um frágil castelo de areia.

Caro leitor, esse assunto é tão sério que arrisco a dizer que se você faz
parte dessa denominação, e, portanto confiou a sua vida atual (e eterna)
ao que ela trouxe como “verdade” a você, então toda a sua espiritualidade
e (provavelmente) a da sua família, depende da veracidade e comprovação
bíblica do que lhe foi apresentado até hoje.

Fica claro o motivo pelo qual muitos adventistas entram em choque


ao se deparar com as verdades históricas e bíblicas que apresentaremos
a seguir. Apesar disso, não podemos ser tão inocentes em crer que todos
aceitarão fatos históricos e estudos exegéticos e hermenêuticos sérios. Seria
66 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

deveras ingênuo de nossa parte subestimar o poder que a religião sectária


exerce sobre o indivíduo.

Contudo, visando expor mentiras e libertar pessoas, iremos prosseguir


com a apresentação da verdade sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Contexto Histórico
Durante um período de 50 anos no início do século XIX, o estado
de New England nos EUA deu origem a várias facções religiosas. Os
Campbelitas, Adventistas do Sétimo Dia, Cristãos Adventistas, Mórmons,
Cristãos Científicos (Ciência Cristã) e Transcendentalistas, foram somente
algumas delas.

Mas o que será que estava ocorrendo dentro desse período nessa cidade
(e no mundo) que acabou originando grupos religiosos tão excêntricos?

Em 27 de fevereiro de 1782 o Parlamento Inglês decretou a suspensão


da guerra contra os “rebeldes do novo mundo” (EUA), sinalizando uma
nova era para o povo americano que havia declarado a sua independência
em 1776. Esse espírito de encorajamento criado pela vitória da revolução
aliado as ideias do iluminismo, imbuiu os americanos com forte zelo para
serem donos de seu próprio destino e mestres de suas próprias vidas.

Esse “ar de invencibilidade” fez com que houvesse uma explosão


filosófica, científica, social e espiritual no país. Uma era de novas invenções
e de revolução industrial trouxe consigo, além de uma maior qualidade de
vida, um sem número de editoriais e casas publicadoras de jornais, panfletos
e revistas que ventilavam as ideias e pensamentos de todos aqueles dispostos
a ter a coragem de expressar suas “revelações” mais recentes.

Todo esse ambiente fértil naturalmente deu vazão a um encorajamento


de estudo individual das Escrituras, o que acabou por criar novas e estranhas
Descortinando o Adventismo – Volume I 67

doutrinas bíblicas. O líder do Transcendentalismo, Ralph Waldo Emerson


declarou em seu artigo “Self-Reliance”:

“Acreditar nas suas próprias ideias e pensamentos, acreditar que o que é


verdade pra você, individualmente, é ao mesmo tempo, verdade pra todos
– é genial... Acredite em você mesmo e todas as outras pessoas vibrarão
nessas mesmas cordas de ferro.”

O homem agora poderia confiar em si mesmo e em suas próprias


experiências para guiar a sua luz interior.

E assim se sucedeu também com análises escatológicas e um sem número


de profecias Bíblicas. Tanto o Empirismo quanto o Transcendentalismo,
convenceram a muitos de que os dons divinos atribuídos por Deus ao
homem, os capacitava para navegar seguramente através de interpretações de
profecias bíblicas, sem qualquer tipo de estudo Teológico mais aprofundado.

Interessante notar também que esse período foi marcado por uma
constante ideia de perfeccionismo. Ao homem seria necessário chegar a
um nível perfeito de disciplina espiritual que se traduziria numa conduta
alimentar e sexual “sem qualquer defeito”. De acordo com alguns médicos
do século XVIII e XIX, (que mais a frente seriam considerados gurus
de saúde) o ser humano só iria chegar ao céu se conseguisse se conter
sexualmente e recusar determinados tipos de alimentos.

Em 1830, Dr. Graham, inventor da bolacha Cracker, promoveu uma


dieta restrita a frutas, vegetais, grãos e a proibição de temperos, café e chá.
Mas ele não parou aí. Aconselhou também a respeito de vestuário, indicava
moradia em casas que fossem altamente arejadas e também era a favor de
banhos gelados. Totalmente contra a masturbação e a uma atividade sexual
constante mesmo dentro do casamento, pois segundo ele, tais atividades
seriam prejudiciais a saúde e um desperdício de energia vital.
68 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

É muito fácil traçar um paralelo entre esses gurus nutricionais da época


e a reforma de saúde introduzida por Ellen White poucos anos depois. A
IASD por muitos anos tratou o assunto como algo exclusivo revelado por
Deus a “Mensageira do Senhor” através de visões e visitações angelicais;
contudo analisaremos esse assunto com mais profundidade no volume 2
dessa série. Nele ficará claro que tais revelações nada mais foram que uma
compilação de plágios de vários autores da época, algo que muitos da
própria igreja adventista hoje em dia admitem ser verdade. A realidade é
que o fanatismo religioso que dominava o cenário local incorreu em vários
exageros e proibições, que ecoam até aos dias de hoje na mente de muitos
adventistas.

O ambiente espiritual da época estava tão desancorado e caótico que


muitos líderes chegaram a fundar diversas comunidades utópicas, em
que famílias inteiras abandonavam os seus lares para viver nesses locais
excêntricos. A ideia continuava sendo a de alcançar o perfeccionismo
através de uma rígida disciplina alimentar e sexual. A Oneida Company
de NY, Amana Colonies em Iowa e mais ao sul a Fairhope, foram algumas
dessas comunidades “estranhas”.

O Grande Despertar
Na década de 1830 os EUA tinham alcançado o auge do segundo
“Grande Despertar”. A classe média americana tinha capital para investir
amplamente em divulgação a respeito do grande avivamento que estava
acontecendo no país, e isso fez com que muitas pessoas despertassem para
as verdades do evangelho. Contudo, no meio desse avivamento outras
ramificações espirituais estranhas foram tomando corpo e crescendo
desenfreadamente. Tudo acontecia muito rápido e fora de controle.

Em 1835 a aparição do cometa Halley fez com que grande parte da


sociedade americana se preocupasse com um fim do mundo iminente.
A cavalaria veio em forma de pastores pregando a necessidade de
Descortinando o Adventismo – Volume I 69

arrependimento em grande escala. Tendas de evangelismo se espalhavam


ao redor do país, onde eventualmente as reuniões acabavam se tornando
altamente emotivas e exageradamente carismáticas. Pessoas tremiam e
caiam tanto nessas reuniões que se tornou necessário estofar os pisos com
almofadas, a fim de evitar acidentes mais sérios.

O Pêndulo emocional da época balançava violentamente entre o


racional e a demência, e a sociedade entrava num misto de reavivamento
evangelístico sério e necessário e bolsões de loucura caótica desgovernada.

Dentro desse contexto histórico, vários autoproclamados “profetas”


surgiram no cenário espiritual da época. Essa onda profética se deu início em
Stockholm na Suécia com Emmanuel Swedenborg que se dizia comunicar
com anjos e recebia várias visões de Deus. Segundo ele: “o Senhor me deu
um chamado especial aonde ele abriu meus olhos para o mundo espiritual e
me concedeu o privilégio de conversar com anjos ministradores.”.

Casos assim podem mais uma vez nos lembrar do ministério de Ellen
G. White que a princípio teria tido um chamado exclusivo da parte de
Deus nessa época. Uma verdadeira “Mensageira do Senhor” que haveria
de trazer conselhos e diretrizes especiais para o “povo remanescente” dos
últimos dias, a “verdadeira igreja” de Deus na terra. Porém, uma visão mais
ampla da época nos mostra que não foi exatamente assim. Ellen White não
estava sozinha em suas divagações e experiências sobrenaturais. Ela tinha a
companhia de vários outros “profetas” da época.15

Vejamos alguns exemplos:

• Mrs. Joanna Southcott da Inglaterra, mais uma autoproclamada


profetisa publicou vários artigos e panfletos, contendo doutrinas a

15 Não é o objetivo desse livro investigar a fundo a vida de todos esses outros profetas aqui mencionados.
Não estamos julgando qual deles seria falso ou verdadeiro, mas sim estabelecendo o fato de que Ellen
White não estava sozinha como uma profetisa do Senhor para aqueles dias, como muitos adventistas
creem. Sendo assim, alguns desses profetas poderiam ser de fato, legítimos diante de Deus.
70 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

respeito da observância do Sábado como dia sagrado e sobre uma


iminente volta de Cristo;

• Catherine Emmerich, era uma frágil freira que recebia visões e


possuía estranhos superpoderes. Enquanto entrava em transe ela
corretamente previa os resultados das guerras em que Napoleão
Bonaparte fazia parte, além de receber instruções sobre como curar
doenças usando remédios da natureza;

• Bernadette Soubirous recebia aparições da virgem Maria enquanto


entrava em longos transes que muitas vezes duravam mais de uma
hora. Durante tais transes ela podia se mexer e caminhar, porém, se
ela resolvesse parar, nenhuma força humana era capaz de movê-la
do lugar onde estava. (Segundo alguns relatos Ellen White muitas
vezes fazia o mesmo);

• A Madre Ann Lee (profetisa Quaker) dizia ter recebido o mesmo


espírito que Jesus recebeu enquanto esteve na terra, porém ela
se considerava uma luz menor que apontava para uma luz maior
(qualquer semelhança com Ellen White não é mera coincidência).
Ann Lee em seguida se separou dos Quakers e fundou os Shakers
(United Society of Believers) e como sua líder ela pregava a
abstenção de ingestão de carne de porco, roupas modestas, pacifismo
militar e o distanciamento de qualquer outro grupo religioso. Ela
convenceu os seus liderados que eles faziam parte de um grupo
especial escolhido por Deus, e que esse movimento havia recebido
uma “nova luz” do Senhor para aqueles dias;

• John Alexander Dowie, fundador da Cidade de Sião, acreditava ser


um segundo Elias e requeria que seus seguidores aderissem as suas
regras como abstenção de ingestão de carne de porco, qualquer tipo
de bebida alcóolica, remédios, tabaco, etc.;

• A “vidente de Poughkeesie” de NY aos 18 anos de idade escreveu


centenas de páginas de suas visões enquanto se achava em transe;
Descortinando o Adventismo – Volume I 71

• Mary Grove Nichols dizia ter curado centenas de pessoas através de


seus ensinamentos de reforma de saúde;

• O Professor Andreas Bernardus Smolnikar pregava que Jesus


havia aparecido a ele em 1836 e o havia proclamado “Embaixador
Extraordinário do Reino de Deus”;

• George Rapp, um fazendeiro de 33 anos se declarava profeta e dizia


que o Reino de Deus estava próximo e que, portanto, Deus havia
dito a ele que todos deveriam transferir as suas propriedades em seu
nome como uma demonstração de fé. 16

Esses são apenas alguns exemplos de autoproclamados profetas de Deus


que surgiram durante esse período. Alguns outros que se tornariam mais
conhecidos foram: John Starkweather, Charles Taze Russel, Mary Baker
Eddy, Joseph Smith, Martha Macdonald, Guilherme (Wiliam) Miller, a
própria Ellen G. White e seus amigos William Foy e a irmã Clemmons
(esposa de Israel Dammon).

Dentro de todo esse caos religioso surge o protagonista desse capítulo,


Guilherme (William) Miller, que arrebatava multidões com a sua previsão
de fim do mundo marcado para o ano de 1843, através de estranhas
combinações e fórmulas matemáticas incorporadas em textos bíblicos
dentre os quais figuram Daniel 7:25, Daniel 8:14, Apocalipse 13:5, 6, entre
outros. Essas combinações são hoje risíveis do ponto de vista teológico. Mais
adiante analisaremos tal doutrina em maior profundidade e mostraremos
por que ela não pode ser exegética e hermeneuticamente levada a sério.

Após revisão do contexto histórico da época, fica evidente que a


instituição adventista tenta retratar uma história muito diferente da
verdadeira. Segundo a literatura adventista, Ellen White havia surgido como
uma luz especial num período de trevas espirituais, em que ela aparecia como

16 Beem, Teresa & Arthur, Its okay not to be a Seventh-Day Adventist, págs. 25-29.
72 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

uma única mensageira de Deus trazendo verdades divinamente inspiradas e


muito a frente de seu tempo. Ocorre que a sociedade desse período gerava
praticamente “um profeta por dia”. O movimento Adventista era apenas
mais um entre tantos outros, como as Testemunhas de Jeová, Mórmons,
Ciência Cristã, etc., que surgiram no estado de New England.

Não somente isso, mas os Adventistas também não eram a única seita
a advogar em defesa da guarda do Sábado como dia sagrado, e também não
eram os únicos a falarem a respeito de reforma de saúde. Em todo lugar
pipocavam novos movimentos perfeccionistas reformadores.

Ellen não só não criou esse movimento como também descaradamente


plagiou diversos livros a respeito do assunto, como veremos no volume
2 dessa série. Toda a raiz adventista cresceu a partir de um solo fértil de
fanatismo religioso da época em que eram pregadas divagações escatológicas
sem nenhuma base teológica séria. Isso era anunciado a um público sincero,
porém, ingênuo o bastante que recebia e acreditava em tudo, a ponto de
colocarem todas as suas fichas espirituais e emocionais em torno delas.
Apostavam seu crédito social inclusive, para somente mais a frente, serem
ridicularizados por suas crenças sem fundamento, o que gerou profundo
ressentimento e amargura e que, de alguma forma, dura até os dias de hoje.

Veremos mais adiante como esse movimento lidou com o “Grande


Desapontamento” de 1844 e quais as ramificações psicológicas que são
sentidas, mesmo que inconscientemente, por mais de 20 milhões de
pessoas ao redor do mundo. Muitos deles são nossos amigos, colegas de
trabalho, parentes e até mesmo você caro leitor que está lendo essas linhas
nesse momento. É preciso desconstruir muitas informações que nos foram
passadas de maneira equivocada para que sejamos libertos do legalismo e do
falso evangelho anunciado pela IASD. Esse é um processo difícil e muitas
vezes lento e doloroso, porém, extremamente necessário para que possamos
entender o verdadeiro evangelho da graça de Deus, o qual é muito simples
e ao mesmo tempo infinitamente mais poderoso.
Descortinando o Adventismo – Volume I 73

Ellen White endossa Guilherme Miller


No início desse capítulo nós fizemos um breve resumo da vida de
Guilherme (William) Miller. Após entendermos o contexto histórico em
que ele viveu vamos nos demorar no estudo que levou ao ensinamento da
volta de Cristo marcada para 1843 (depois 1844) e por fim como essa ideia
se transformou, como um camaleão, na doutrina do Juízo Investigativo/
Santuário Celestial.

Vários contemporâneos de Guilherme Miller pregavam a respeito


da proximidade do fim do mundo. Havia um total de 54 teorias que
relacionavam datas para a volta de Cristo. 1847 e 1866 eram datas
recorrentes nessas teorias.17 Contudo, Miller se destacava porque a sua
pregação girava em torno de uma volta iminente de Cristo que, contudo
só ocorreria após a destruição dessa terra por fogo. Enquanto que as outras
teorias que circulavam na época eram a respeito de uma volta espiritual
(não real) de Cristo, e que após disso o Milênio ocorreria nesse planeta (mil
anos de paraíso na terra para somente depois disso o juízo final de Cristo e
a sua vinda física e visível).18

Pois bem, o fator medo é realmente algo incontestavelmente poderoso


sobre a mente humana. O elemento de terror, por não haver muito tempo
para que a destruição da Terra ocorresse, somado a convicção com que
Miller apresentava as suas ideias, aliadas, além disso, aos sinais da natureza
desse período (Aurora Borealis, cometas, meteoros, eclipse do sol, fortes
nevascas, etc.)19 mexeu muito com o psicológico do público ingênuo e
temente a Deus que ouviam as suas ideias.

Os Milleritas, como ficaram conhecidos na época, assim como o seu


líder, não se preocupavam muito em estudar a fundo a teologia associada

17 Knight, George R, Millenial Fever and the end of the World. Pacific Press, Idaho, 1993 pág. 44.
18 Doan, Ruth Alden, The Millerite Heresy and American Culture. Temple University Press, Philadelphia,
1987, pág. 14.
19 Beem, Teresa & Arthur, It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist, pág 32.
74 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

a tais doutrinas. Tomados de empolgação pelo movimento carismático e


fanático de então, nada mais importava a eles. Somente pregar a todos a
iminente volta de Cristo, aliada a uma rápida conversão e arrependimento
de pecados. Caso contrário, fogo cairia do céu e queimaria aqueles que
desdenhassem da mensagem.

De acordo com a “revelação” das Escrituras que Guilherme Miller


possuía, ele criou 15 provas bíblicas para corroborar a sua teoria de que
Cristo retornaria a terra em 1843. Antes de apresentarmos as 15 provas
de Miller, vejamos o que Ellen White escreveu a respeito dele e de suas
interpretações bíblicas:

“Deus mandou Seu anjo mover o coração de um lavrador, que não havia
crido na Bíblia, a fim de o levar a examinar as profecias. Anjos de Deus
repetidamente visitavam aquele escolhido, para guiar seu espírito e abrir
à sua compreensão profecias que sempre tinham sido obscuras para* o
povo de Deus.

Foi-lhe dado o início da cadeia de verdade, e ele foi levado a examinar elo
após elo, até que olhou maravilhado e admirado para a Palavra de Deus.
Viu ali uma perfeita cadeia de verdades.

A Palavra que ele havia considerado como não inspirada, abria-se-lhe


agora ante a visão, em sua beleza e glória. Viu que uma parte das Escrituras
explica outra, e, quando uma passagem estava fechada à sua compreensão,
encontrava em outra parte da Palavra aquilo que a explicava.

Deus o chamou para deixar sua lavoura, assim como chamara Eliseu
para deixar seus bois e o campo de seu trabalho a fim de seguir Elias. Com
tremor, Guilherme Miller começou a desvendar ao povo os mistérios
do reino de Deus, transportando seus ouvintes através das profecias até
o segundo advento de Cristo. Com cada esforço que fazia adquiria força.
Descortinando o Adventismo – Volume I 75

Assim como João Batista anunciou o primeiro advento de Jesus e


preparou o caminho para a Sua vinda, Guilherme Miller e os que com
ele se ajuntaram proclamaram o segundo advento do Filho de Deus.” 20

“Deus encaminhou a mente de Guilherme Miller para as profecias, e


deu-lhe grande luz quanto ao livro do Apocalipse.

Se as visões de Daniel tivessem sido compreendidas, o povo poderia


melhor ter entendido as visões de João. Mas, no tempo devido, Deus
moveu o Seu servo escolhido, que, com clareza e no poder do Espírito
Santo, desvendou as profecias e mostrou a harmonia das profecias
de Daniel e de João, e outras partes da Bíblia, e fez falar ao coração do
povo as advertências sagradas e terríveis da Palavra, para se preparar
para a vinda do Filho do homem. Profunda e solene convicção repousou
sobre a mente dos que o ouviam, e ministros e povo, pecadores e ateus
voltavam-se ao Senhor e buscavam preparar-se para estar em pé no juízo.

Anjos de Deus acompanhavam Guilherme Miller em sua missão.


Ele era firme e denodado, proclamando destemidamente a mensagem a
ele confiada. Um mundo que jazia na impiedade, e uma igreja fria e
mundana eram bastante para suscitar à atividade todas as suas energias,
e levá-lo voluntariamente a suportar trabalhos, privações e sofrimento.
Embora a ele se opusessem cristãos professos e o mundo, e rudemente o
atacassem Satanás e os seus anjos, não cessou de pregar o evangelho eterno
às multidões, onde quer que era convidado, fazendo repercutir longe e
perto o clamor: ‘Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do
Seu juízo.’ Apocalipse 14:7”. 21

“Tenho visto que o diagrama de 1843 foi dirigido pela mão do


Senhor, e que ele não deve ser alterado; que as figurações eram o que
Ele desejava que fossem, e que Sua mão estava presente e ocultou um

20 White, Ellen G., Primeiros Escritos, pág. 235.


21 White, Ellen G., Ibid, pág 236.
76 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

engano em alguma figuração, de maneira que ninguém pudesse vê-


lo, até que Sua mão fosse removida.” 22

“O Sr. Miller apresentou as profecias com uma precisão que convencia


o coração dos ouvintes. Detinha-se a tratar dos períodos proféticos, e
apresentava muitas provas para confirmar seu ponto de vista.” 23

Fica nítido nessas passagens o endosso de mais alta ordem de Ellen


White a capacidade de interpretação profética de Guilherme Miller. Note
como em diversas ocasiões a “profetisa” adventista enfatiza o poder de Deus
ao abrir a visão de Guilherme Miller para criar uma “perfeita cadeia de
verdades” de compreensão dos livros proféticos do Cânon.

Segundo Ellen, Deus havia confiado a Guilherme Miller uma missão


importantíssima, o que o havia levado a deixar a fazenda em que vivia,
inspirado por ações de anjos em sua vida, a fim de sair mundo afora
pregando as verdades das mensagens angélicas e da descoberta da data que
Cristo haveria de retornar a esse mundo.

O Espírito Santo havia aberto a sua mente para as verdades do livro de


Daniel e de Apocalipse, e o imbuiu de coragem para levar essa mensagem
adiante. Miller é comparado a grandes nomes da Bíblia como João Batista
e Eliseu, e o diagrama de 1843 que Deus havia dado a ele não deveria
ser alterado.

Ellen White chega a chama-lo de “o Seu servo escolhido” que


havia harmonizado os livros de Daniel, Apocalipse e outros da Bíblia,
desvendando assim as suas profecias. Após tal carta de recomendação,
vejamos a seguir quais foram as 15 teses de Guilherme Miller, as quais Ellen
White chamava de uma “perfeita cadeia de verdades”.

22 White, Ellen G., Ibid, pág 74.


23 White, Ellen G., Testemunhos para a Igreja, Vol 1, pág 14.
Descortinando o Adventismo – Volume I 77

As 15 teses de Guilherme Miller


Aqueles poucos membros da IASD que conhecem um pouco da
história de Guilherme Miller e em que ele baseou a segunda vinda de Cristo
para 1843, remetem a sua previsão ao estudo de Daniel 8:14:

“Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o


santuário será purificado.”

Todavia, Guilherme Miller baseava a sua predição não somente nesse


verso bíblico, mas sim em outras 14 teses. É de vital importância que
analisemos tais teorias, para que o leitor entenda a disparidade teológica de
Miller quando comparada a qualquer teólogo contemporâneo (até mesmo
adventista) sério que se preze.

Além disso, é necessário apresentar como seria impossível que


Deus pudesse ser avalista de qualquer uma dessas bizarras teses, a fim de
que fique comprovado também o início de uma desmistificação dessa
chamada “Mensageira do Senhor”, Ellen G. White, que há muitos anos
vem enganando milhões de fiéis ao redor do mundo. Afinal, que profeta
verdadeiro endossaria um falso mestre (Guilherme Miller)?

Por mais que tenhamos que ser gentis com a pessoa de Guilherme
Miller, que era alguém sincero em seus erros escatológicos, ao mesmo tempo,
precisamos ser críticos justos de sua falsa teologia. Com o estudo expositivo
de suas teses, ficará claro ao leitor qual é base em que a Igreja Adventista foi
alicerçada, e o motivo pelo qual os seus membros estão com um problema
espiritual sério, ao basear as suas crenças em algo que mesmo o fiel mais
ingênuo não conseguirá achar mais motivo para continuar acreditando.

A exegese de Miller era tão pobre que os seus críticos acharam nele um
alvo muito fácil. Daí o fato de a grande maioria dos líderes evangélicos de
sua época terem rejeitado a teoria de Miller sobre uma iminente volta de
Cristo.
78 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

As 15 teses a seguir foram tiradas dos livros “The End of Historicism”


de Kai Arasola, e “The Cultic Doctrine of SDA’s” de Dale Ratzlaff.

O Ano da Volta de Cristo Provado em 15 Diferentes Formas:


por Guilherme Miller

Prova 1: “Eu o comprovo pelo tempo dado a Moisés, no capítulo 26


de Levítico, sendo sete tempos o período em que o povo de Deus deve
estar sob servidão dos reinos deste mundo; ou seja em Babilônia, literal e
mística; tais sete tempos devem ser entendidos como sete tempos vezes 360
revoluções da Terra em sua órbita, totalizando 2520 anos. Creio que isso
começou, segundo Jeremias 15:4: “E farei com que sejam removidos para
todos os reinos da Terra, por causa de Manassés, o filho de Ezequias, filho
de Judá, pelo que ele fez em Jerusalém”.

E também em Isaías 7:8: “Pois a cabeça da Síria é Damasco, e a


cabeça de Damasco é Resim: e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será
despedaçado, para não mais ser um povo”, – quando Manassés foi levado
cativo para Babilônia, e Israel não mais era uma nação, – ver cronologia, 2
Crôn. 33:9 “Assim, Manassés fez Judá e os habitantes de Jerusalém errar, e
a agir pior do que os pagãos, a quem o Senhor havia destruído perante os
filhos de Israel” – o 677º ano A.C. Daí, subtrai-se 677 de 2.520, totalizando
1843 A.D, quando a punição do povo de Deus cessará.”.24

Análise

Tudo indica que Miller era alguém sincero e de bom coração que
realmente acreditava naquilo que pregava, contudo, ficam claros os erros
crassos em sua linha de raciocínio exegética. O método que Miller utilizava
era de textos-prova, muito comumente usados nesse período por religiosos

24 Miller’s Lectures, pág. 251.


Descortinando o Adventismo – Volume I 79

leigos. Embora, até os dias de hoje muitos adventistas ainda se utilizem desse
método para justificar a sua teologia falha. Nesse tipo de interpretação o
contexto em que o texto está inserido é ignorado assim como a intepretação
de sua língua original.

Vejamos o que diz o texto de Levítico 26:18, citado por Miller:

“Se nem ainda com isto me ouvirdes, prosseguirei em castigar-vos sete


vezes mais, por causa dos vossos pecados.”

Esse texto nada tem a ver com o período em que povo seria castigado,
mas sim com a severidade desse castigo. Obviamente nada disso está ligado
a segunda vinda de Cristo. Alguns teólogos da época tentaram alertar
Miller a respeito disso, para tentar evitar um fiasco de grandes proporções
(que foi exatamente o que acabou acontecendo), porém Miller não quis dar
ouvidos.

Sendo assim, vemos que logo em sua primeira tese a “perfeita cadeia
de verdades” como foi chamada por Ellen White se apresenta com defeito e
quebrada, e chega a ser um insulto a qualquer estudioso sério das Escrituras
Sagradas.

*Atenção!

As “provas” apresentadas por Miller podem ser um tanto quanto


cansativas de serem lidas pelo leitor que não tem por objetivo analisá-las
mais a fundo. Caso esse seja o caso de quem lê essas linhas, favor seguir
diretamente para a prova de número 15, onde faremos ao final dela uma
análise geral de todas as provas de Miller. Para quem tem curiosidade
em analisar pormenorizadamente cada uma de suas provas, as próximas
páginas serão um “prato cheio” para críticas de ordem teológica. De
fato, a única prova que conseguiu permanecer com alguma relevância
após o “Grande Desapontamento” foi a prova de número 7, a qual se
refere a Daniel 8:14.
80 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Prova 2: “Fica provado, assim, pelo ano da remissão. Ver Deut. 15:1,
2: ‘No final de cada sete anos as dívidas deverão ser canceladas. Isso deverá
ser feito da seguinte forma: todo credor cancelará o empréstimo que fez ao
seu próximo. Nenhum israelita exigirá pagamento de seu próximo ou de seu
parente, porque foi proclamado o tempo do Senhor para o cancelamento
das dívidas’.

Ver também Jer. 34:14: ‘No fim de sete anos cada um de vós libertará
seu compatriota hebreu que tenha se vendido a vós por qualquer motivo.
Depois de te servir durante seis anos, tu o libertarás. Mas vossos pais não
me ouviram nem prestaram atenção’.

Sendo assim, aprendemos que o povo de Deus será libertado de


sua servidão e jugo quando for cumprido seus 7 anos proféticos, 7 vezes
360 anos é 2520. Começando com o cativeiro de Israel e do rei de Judá,
Manassés, 677 a.C., esse período se conclui em 1843, quando os filhos de
Deus serão libertados de toda servidão e escravidão.” 25

Análise

Mais uma vez fica claro que Miller insistia em achar significado
simbólico para a volta de Cristo em textos que simplesmente não falavam
desse tema. Esse tipo de interpretação era por vezes usado no período da
idade média, mas depois da reforma protestante, esse método foi descartado
e considerado totalmente inválido. A “perfeita cadeia de verdades” passa a
ficar cada vez mais fraca.

Prova 3: “A próxima prova se dá pela guerra de sete anos de Sião com


seus inimigos, que nos foi mostrada em Ez 39:9,10: ‘Os habitantes das
cidades de Israel sairão e usarão armas como combustível para acenderem

25 Second Advent Library, Núm 14.


Descortinando o Adventismo – Volume I 81

fogo: os escudos, pequenos e grandes, os arcos e flechas, os porretes de guerra


e as lanças. Durante 7 anos eles as utilizarão para fazer fogo. Não terão a
menor necessidade de ajuntar lenha nos campos, tampouco sair para cortá-
las nas florestas, porquanto todo o povo usará armas como madeira para
o fogo. E eles despojarão aqueles que os saquearam! Palavra de Yahweh, o
Eterno Soberano Deus’.

Os Filhos de Deus lutarão contra os seus inimigos, despojando


aqueles que os despojaram e roubando os que os roubaram durante 7 anos
proféticos, que se traduzem em 2520 anos literais. Assim como em tempos
atrás, quando a Babilônia passou a arruinar e a saquear o povo de Deus, e
quando eles pelo fogo da verdade começaram a queimar as armas de seus
inimigos, nesta batalha moral; isso se encerrará em 1843”.26

Análise

Aparentemente, toda vez que um texto bíblico apresentava o número


sete, envolvendo algo de aparência “apocalíptica”, Miller interpretava como
sendo uma referência a segunda vinda de Cristo, e ele de alguma forma,
forçava uma justificação para essa vinda ocorrendo em 1843. Miller aqui se
utiliza de um texto obscuro de Ezequiel para mais uma vez apresentar um
desconectado simbolismo para a volta de Cristo. Além disso, nesse caso,
ele novamente se ancora no seu principal princípio hermenêutico: dias
proféticos. Significando que um dia profético representava um ano literal.
Não há como levá-lo a sério em seu raciocínio exegético.

Prova 4: “Provamos, também, pelo simbolismo do sábado. Ex. 31: 13-


17: ‘Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus
sábados, porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para
que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o

26 Miller’s Life and Views, pág. 69.


82 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá;
porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do
meio do seu povo.

Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso,


santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente
morrerá. Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado
nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre mim e os filhos de Israel será
um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e,
ao sétimo dia, descansou, e tomou alento’.

Hb 4: 4, 9-11: ‘Porque em certo lugar disse assim do dia sétimo: E


repousou Deus de todas as suas obras no sétimo dia’. ‘Sendo assim, ainda
resta um descanso sabático para o povo de Deus; pois toda pessoa que entra
no repouso de Deus, também descansa de suas obras, como Deus descansou
das suas. Diante disso, esforcemo-nos por entrar naquele descanso, para
que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência’. Como Deus em
seis dias foi criando os antigos céus e terra, e descansou no sétimo; então,
é um sinal de que Cristo também trabalhará seis dias na criação dos novos
céus e da nova terra, e descansará no sétimo.

Quanto tempo dura um dia com o Senhor? Pedro nos diz em sua 2
Epístola 3: 8: ‘Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia é para o Senhor
como mil anos e mil anos como um dia’. Se, então, mil anos é um dia para o
Senhor, há quanto tempo Cristo tem trabalhado para criar o novo céu e a
nova terra? Eu respondo, se permitirmos que a Bíblia nos faça uma cronologia,
descobriremos que neste ano de 1843, os 6.000 anos da queda de Adão estarão
completos. Então o sábado antitípico de 1000 anos terá seu início.

Apocalipse 20:6: ‘Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na


primeira ressurreição: sobre estes não tem poder a segunda morte, mas
serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos’.”27

27 Ver Life and Views, pág. 157.


Descortinando o Adventismo – Volume I 83

Análise
É possível mais uma vez desenhar um padrão de comportamento nas
análises interpretativas de Guilherme Miller. O absurdo exegético chega a
níveis estratosféricos. Nenhum desses textos fala sobre a segunda vinda de
Cristo. Novamente o método de textos-prova foi aplicado, chegando a um
resultado incoerente e insatisfatório. A corrente se quebra mais uma vez.

Prova 5: “Agora, iremos provar a vinda de Cristo através do simbolismo


do Jubileu. Lev. 25: 8-13: ‘Também contarás sete sábados de anos, sete vezes
sete anos; de maneira que os dias dos sete sábados de anos serão quarenta
e nove anos. Então, no décimo dia do sétimo mês, farás soar fortemente a
trombeta; no dia da expiação fareis soar a trombeta por toda a vossa terra.

E santificareis o ano quinquagésimo, e apregoareis liberdade na terra a


todos os seus habitantes; ano de jubileu será para vós; pois tornareis, cada
um à sua possessão, e cada um à sua família. Esse ano quinquagésimo será
para vós jubileu; não semeareis, nem segareis o que nele nascer de si mesmo,
nem nele vindimareis as uvas das vides não tratadas. Porque é jubileu; santo
será para vós; diretamente do campo comereis o seu produto. Nesse ano do
jubileu tornareis, cada um à sua possessão’.

Os sábados judaicos foram:


1. O sétimo dia. Ex. 31:15
2. O 50o dia. Lev. 23: 15, 16.
3. A sétima semana. Dt. 16: 9
4. O 7o mês. Lev. 23: 24, 25.
5. O sétimo ano. Lev. 25: 3, 4.
6. 7 X 7 anos X o 50o ano do Jubileu.
7. 7 X 7 Jubileus X o 50o Jubileu irá nos trazer a um sábado
completo ou perfeito, o grande Jubileu dos Jubileus.
Assim, 7 X 7 X 50 anos é 49 vezes 50 = 2450 anos.
84 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

É muito evidente que nenhum ano de libertação ou jubileu jamais foi


mantido após o reinado de Josias, o último rei de Jerusalém que obedeceu
aos mandamentos do Senhor, ou manteve seus estatutos. O reinado deste
rei terminou em A.C. 607. Veja 2 Reis capítulo 23; 2 Crônicas capítulos
35, 36 e Jeremias capítulo 22. Depois que os judeus nunca mantiveram,
nem podiam manter, um ano de libertação, ou jubileu; porque nem seus
reis, nem seus nobres, nem seu povo nem suas terras poderiam ter sido
redimidos depois disso; Jer 44: 20-23 terminaram aqui os Jubileus Judaicos,
quando eles tinham guardado somente 21 Jubileus, faltando ainda 28 para
vir o grande Jubileu.

A terra, portanto, estava desolada, enquanto o povo de Deus ainda


estava no país de seus inimigos. Lev. 26:34. Quanto tempo dura o Jubileu
dos Jubileus? 49 vezes 50 anos = 2450 anos. Quando esses anos começaram?
Quando os judeus cessaram a guarda dos sábados e jubileus, no final do
reinado de Josias, a.C. 607. Subtraindo 607 de 2450, temos o total de 1843;
que é quando o Jubileu dos Jubileus chegará”.28

Análise

Novamente Miller procurava achar sentido em sua data marcada para a


volta de Cristo para o ano de 1843, sendo que claramente tais textos não se
referem a isso. O segundo e o terceiro Shabbat eram celebrados no mesmo
festival do Pentecostes. 29

Com relação ao sétimo Shabbat, Miller não apresenta a referência


bíblica para isso, simplesmente por que ela não existe.

O Jubileu apontava para uma liberação de perdão aos pecados de toda


a raça humana que viria mais a frente com a morte de Cristo, e nunca para
uma segunda vinda dEle em 1843.

28 Second Advent Library, num. 14.


29 Arasola, The End of Historicism, pág. 116, 117.
Descortinando o Adventismo – Volume I 85

Podemos asseverar isso com muita certeza já que a data marcada


por Miller para o segundo advento não ocorreu. Portanto, o endosso de
Ellen White a Miller era falso, assim como a data marcada para o segundo
advento foi falso. Um clássico exemplo de uma falsa profetisa enaltecendo
um falso mestre.

A quinta prova dentro da “grande cadeia de verdades” está quebrada!

Prova 6: “Provamos também pelo texto de Oséias 6:1 a 3:

E Israel exclamará: ‘Vinde e voltemos para Yahweh, porquanto ele nos


arrebentou, mas haverá de nos curar; ele nos feriu, mas cuidará de nossas
chagas. Passados dois dias, ele nos revivificará; ao terceiro dia nos erguerá
e restaurará, a fim de que possamos viver em sua presença. Conheçamos
e prossigamos firmemente adorando e conhecendo Yahweh, o SENHOR.
Tão certo como nasce o sol, sua vinda ocorrerá sobre todos nós como as
boas chuvas que vivificam a terra nos tempos apropriados!’.

Essa profecia fala de dois dias proféticos do Império Romano, em


sua forma imperial e papal, com seus grandes dentes de ferro, rasgando e
perseguindo o povo de Deus; o terceiro dia é o mesmo de Apocalipse 20:6:
‘Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição:
sobre esses a segunda morte não tem poder, mas eles serão sacerdotes de
Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos’, quando o povo de Deus
viverá à vista dele, ‘vivendo e reinando com ele por mil anos’.

Se, então, o terceiro dia são mil anos, então os dois dias serão de igual
duração. Quando os dois dias começaram? Quando os judeus fizeram
uma aliança com os romanos. Veja Oseias 5:13: ‘Quando Efraim viu a sua
enfermidade, e Judá viu a sua ferida, então foi Efraim, para a Assíria, e enviou
ao rei Jarebe; todavia não pôde curar-te, nem curar a vossa ferida’. Dan. 11:23:
‘Depois desse acordo firmado, ele agirá traiçoeiramente, e com apenas um
pequeno grupo de homens conseguirá chegar ao poder’. 1 Macabeus 8, 9.
86 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Essa aliança foi confirmada e ratificada, e o reino grego deixou de


governar o povo de Deus em 158 A.C. Sendo assim, somemos 158 a 1842
e teremos 2000 anos ou dois dias proféticos; como Pedro diz em 2 Pedro 3:
8: ‘Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia é para o Senhor como
mil anos e mil anos como um dia’. O ano de 1843 é o primeiro ano literal
do terceiro milênio, ou o início do dia 3 de Deus. O mundo ficou desde a
queda do homem no jardim do Éden, 2000 anos sob os patriarcas; 2000
anos sob o reino assírio, babilônico, medo-persa e grego; e 2000 anos sob o
paganismo romano, papal e imperial.”.30

Análise

O padrão pelo qual Miller interpretava as profecias da Bíblia destaca-


se mais uma vez como uma mera tolice exegética. Basicamente o seu modus
operandi era o de se basear em dois ou mais textos bíblicos desconexos, e
uni-los formando uma somatória de números que de alguma maneira ele
forçava a ter como resultado o ano de 1843.

A ingenuidade e falta de base teológica tomam forma novamente


tornando evidente a forma simplista de Miller em interpretar textos
bíblicos. Infelizmente, muitos o seguiram em suas interpretações e o pior,
mostraremos mais a frente que de certa forma, ainda o seguem.

Prova 7: “Podemos provar também pela visão que Daniel teve (8:1-
14) do carneiro, bode e do chifre, na qual Daniel foi informado sobre os
2300 dias de duração. Dan 8:13, 14:

‘Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que
falava: Até quando durará a visão relativamente ao holocausto contínuo e
à transgressão assoladora, e à entrega do santuário e do exército, para serem

30 Second Advent Library, num. 3, pág. 45.


Descortinando o Adventismo – Volume I 87

pisados? Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então
o santuário será purificado’.

Sendo que essas 70 semanas foram subtraídas e cumpridas, no ano da


morte de Cristo. Dan 9: 20-27. Assim, se transformarmos 70 semanas em
anos, e subtraindo-as de 2300 dias (contando dias proféticos como anos);
e sendo ainda que 490 anos se cumpriram em 33 d.C., isso faz com que
ainda faltem 1810 anos para o cumprimento da visão. Somando esses 33
anos com 1810 anos chegamos ao ano de 1843, quando o Santuário será
purificado, e o povo de Deus justificado.”.31

Análise

Chegamos agora no texto mais importante das provas de Miller. Não


porque possua alguma legitimidade em poder provar o segundo advento
para o ano de 1843, mas sim porque é o único texto que ainda reverbera
dentro da denominação adventista. Note que assim como nos outros textos,
Miller empurra uma escatologia fraca, “goela abaixo” de seus seguidores,
mais uma vez sem nenhuma base exegética.

A esmagadora maioria dos teólogos concorda que os textos acima se


referem a Antíoco Epifânio IV (chifre pequeno), que profanou o templo
judaico da época sacrificando um porco em seu santuário e colocando ali,
pendurada, uma imagem de Zeus.

A purificação do santuário se refere ao santuário literal judaico e não a


uma limpeza de toda a terra através do fogo como ensinava Miller. Esse foi
o texto mais usado por ele e seus seguidores, e também o texto que “salvou”,
por assim dizer, o movimento Millerita/Adventista de uma extinção
completa após o “Grande Desapontamento” de 1844.

31 Miller’s Lectures, pág. 73.


88 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Veremos mais a frente, como ocorreu a transformação camaleônica


desse texto na doutrina do Juízo Investigativo/Santuário Celestial, e ainda
como tal doutrina rouba os membros adventistas do verdadeiro significado
do evangelho da graça e da doutrina da justificação pela fé em Cristo Jesus.

Mostraremos também como a interpretação errônea desses versos faz


com que a instituição adventista entre em conflito direto com diversos
textos bíblicos neotestamentários. E ainda que a IASD está sozinha em
sua exegese, o que faz dela um grupo sectário perigoso pelas consequências
espirituais que ela imputa aos seus membros, ao fazerem com que eles
acreditem nessa e em outras doutrinas que não possui qualquer base bíblica.

Prova 8: “Isso pode ser provado por Daniel 12: 6,7:

‘Então um deles falou ao homem vestido de linho, que estava rio


acima: ‘Quanto tempo passará antes que se cumpram todos estes eventos
extraordinários?’ O homem vestido de linho, que estava acima das águas
do rio, levantou ao céu a mão direita e a mão esquerda, e eu o ouvi jurar
por Aquele que vive para sempre, e acrescentou: ‘Haverá, pois, um tempo,
tempos e metade de um tempo! Quando a fragmentação do poder que está
nas mãos do povo sagrado for completada, como está determinado, então,
em seguida, tudo se cumprirá e estará terminado!’.

A pergunta é: Quanto tempo até o fim dessas maravilhas? Essas


maravilhas são para a ressurreição. Vejamos os versos 2 e 3 deste mesmo
capítulo:

‘Multidões e multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns


para a vida eterna, outros para a vergonha, humilhação e para o desprezo
eterno. Os que têm o entendimento e são sábios resplandecerão com
o fulgor do firmamento; e todos quantos se dedicam a conduzir muitas
pessoas à verdade e à prática da justiça, serão como as estrelas: brilharão
para sempre, por toda a eternidade!’.
Descortinando o Adventismo – Volume I 89

A resposta é dada pelo anjo, que informa a Daniel que será por
um tempo, dois tempos e metade de um tempo, e quando ele cumprir a
dispersão do poder do povo santo, então tudo chegará ao fim.

Ez 12:10-15:

‘Pois então dize-lhe: Assim diz Yahweh, o Soberano SENHOR: Este


oráculo e advertência se referem ao príncipe que hoje governa em Jerusalém
e para todo o povo que vive naquela cidade. Dize-lhe mais: Eis que Eu Sou
o vosso sinal: Assim como eu agi, assim vos será feito e acontecerá. Ireis
cativos para o exílio!

E o príncipe que agora vos governa colocará a sua bagagem nos ombros
ao entardecer e sairá por um buraco que será escavado no muro para que ele
possa escapar. Ele cobrirá o rosto para que não enxergue com os próprios
olhos o chão da terra que está abandonando.

Eis que estenderei também a minha rede sobre este príncipe, e ele
será apanhado em meu laço; então o trarei a Babilônia, terra dos caldeus;
todavia esse príncipe ali morrerá antes mesmo de poder contemplá-la.

Então Eu espalharei aos ventos todos os que estão ao seu redor, os seus
oficiais e todo o seu exército, e os perseguirei pessoalmente com minha
espada em punho. Assim saberão que Eu Sou Yahweh, o SENHOR, quando
Eu vos dispersar entre as nações e vos espalhar por muitas terras’.

Jr 15: 4:

‘Entregá-los-ei para serem um espetáculo horrendo perante todos os


reinos da terra, por causa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por
tudo quanto fez em Jerusalém.’

Esta dispersão começou, quando Israel foi disperso por Esar-Hadom,


e quando o rei de Judá, Manassés, foi levado para Babilônia, em 677 A.C.
Sendo assim eles continuaram a ser um povo disperso, pelos reis da terra, até
90 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

que eles fugiram para o deserto em 538 D.C., o que totalizaria 1215 anos.
Lá eles permaneceram no deserto por um tempo, dois tempos e metade
de um tempo - que começou em 538 D.C e continuou até 1798 D.C. Os
reis da terra então tinham poder, e o tempo, dois tempos e a metade de
um tempo da dispersão do povo santo é preenchido por 45 anos, sendo o
restante dos 1215, chegando a um total de 1260 anos, sob as nações ou reis,
e terminando no ano de 1843, – que é a plenitude dos tempos.

Ef 1: 7,10: ‘Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção


dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar
para conosco em toda a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o
mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para
a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas
as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra’. Quando
o povo de Deus, tanto entre judeus como entre os gentios, não for mais
disperso, mas reunido em um só corpo em Cristo.”.

Análise

A vontade que Miller possuía de provar a sua tese, se tornou muito


maior que a sua sensatez e lógica textual. Notamos aqui explícito o seu
padrão de comportamento direcionado a mais uma análise exegética
falha. Os versos do livro de Efésios não possuem conexão alguma com os
de Jeremias ou Daniel. Neles, Paulo se refere ao sacrifício feito por Cristo
na cruz do calvário, para a redenção de Seu povo. Além disso, o ano de
538 D.C. que ele tanto insiste em usar, não apresenta nenhum evento
significativo nem mesmo nos anais da história secular.

A bela “cadeia de verdades” de Miller está novamente comprometida.


Descortinando o Adventismo – Volume I 91

Prova 9: “Podemos provar também pelo texto em Daniel 12:11-


13: ‘Concluindo, depois de abolido o culto contínuo que mediante a
apresentação do holocausto diário, e a abominação assoladora, o terrível
sacrilégio, for estabelecido no Templo, transcorrerão ainda mil duzentos
e noventa dias. Bem-aventurado o que aguarda e chega aos mil trezentos
e trinta e cinco dias! Tu, porém, vai-te em paz e segui o teu caminho até o
fim. Eis que descansarás e, então, no final do yom, dos tempos, te levantarás
para receber a tua herança perpétua!’.

O número de 1335 dias, desde a tomada de Roma Pagã, AD 508, para


estabelecer Roma Papal, e o reinado do Papado, são 1290 dias, o que foi
realizado de maneira exata em 1290 anos, sendo cumprido no ano de 1798.
Isto prova que os 1335 dias são anos literais, e que Daniel receberá a sua
herança perpétua no ano de 1843. Ver também o texto-prova Dn 11:31:
‘Seu poderio militar se levantará ferozmente a fim de profanar a fortaleza e
o Templo, acabará com o culto do holocausto diário e instalará no Templo
a abominação, o sacrilégio terrível’.

E também 2 Tess 2:6-8: ‘No entanto, vós sabeis o que o está detendo
nesse momento, para que ele seja manifestado no seu devido tempo. Na
realidade, o mistério da iniquidade já está em ação, restando tão somente
que seja afastado aquele que agora o detém. Então, será plenamente
revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca
e destruirá pela gloriosa manifestação da sua vinda’.

Ver também Jó 19:25: ‘Contudo, eu sei que meu Redentor vive, e que
no fim se levantará para me defender e vindicar ainda que eu esteja no pó
do meu túmulo’.” 32

32 Miller’s Lectures, pág 100.


92 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Análise

O leitor talvez já esteja cansado de ler as “provas” de Miller. Porém é


necessário que tais provas sejam expostas à luz para que não haja dúvidas
de que Miller não possuía nenhuma habilidade interpretativa das profecias
bíblicas (o que já é evidente devido ao que ocorreu no dia do Grande
Desapontamento). Mas também para que fique claro que o endosso de
Ellen White, a inspiração divina recebida por Miller, foi tão equivocada e
frágil quanto foram as suas próprias profecias.

Ao expor Ellen White em seu endosso de um falso mestre, expomos


também a sua própria falsidade como profetisa. E assim, aos poucos,
iremos retirando a sua máscara de “mensageira do Senhor” como ela se
autointitulou.

Para argumentar que esses versos eram uma prova de que Cristo
voltaria em 1843, Miller usou o ano de 1798 como início dos “tempos do
fim” (o que é usado até hoje pela IASD) e subtraiu 1290 anos chegando ao
número de 508. A seguir, ele procurou algum evento significativo que teria
ocorrido nesse ano. Porém, ao nos aprofundarmos nos anais da história,
iremos verificar que em literalmente todos os anos algum evento “relevante”
acontece no mundo, cabe ao indivíduo interessado aplicar ou não a devida
importância necessária para enfatizar o seu argumento. No caso de Miller
ele encontrou que no ano de 508: “Anastasias enviou ao papa o título de
patrício e cônsul e o conferiu também a insígnia de Augustus”.33

Tal evento pareceu ser importante o suficiente para Miller que após
isso subtraiu 1290 de 1335 chegando ao número de 45, e consequentemente
somou esse número de anos ao ano de 1798 chegando ao ano de 1843.
Pronto, mais uma “prova” estava formada.

33 Arasola, The End of Historicism, pág 135.


Descortinando o Adventismo – Volume I 93

Prova 10: “Também pode ser provado pelas palavras de Cristo em


Lc 13:32: ‘E ele lhes disse: Ide e dizei a essa raposa: Eis que eu expulso
demônios, e faço curas hoje e amanhã, e no terceiro dia eu serei aperfeiçoado.’
Estes dois dias, no qual Cristo expulsa demônios e cura, são os mesmos dois
dias de Oseias, ao final dos quais, o diabo será acorrentado, e lançado fora
da terra para o abismo, e lá ficará preso. Isso levará 2000 anos de poder
romano. Apocalipse 12:9: ‘E foi lançado o grande dragão, a antiga serpente,
que se chama o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele e os seus
anjos foram lançados a terra’. E então o povo de Deus será aperfeiçoado.
Apocalipse 20:6: ‘Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição: de tal a segunda morte não tem poder, mas serão
sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos’.

Esse tempo começou com o “grande dragão”, Apocalipse 12:3: ‘E


apareceu outra maravilha no céu; e eis que um grande dragão vermelho
tinha sete cabeças e dez chifres e sete coroas sobre suas cabeças. E a sua
cauda arrastou consigo a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a
terra; O Dragão posicionou-se diante da mulher que estava para dar à luz,
a fim de devorar o seu filho assim que nascesse’.

Este governo atrairá depois dele uma terça parte do tempo, que os
ímpios têm poder na terra, 6000 anos; e o 7000 será o ano em que Cristo
tomará posse e reinará com seus santos, em perfeito gozo.

Este poder do dragão começou sobre os santos quando a aliança foi


feita com ele, 158 A.C, e terminará em 1842. Então o terceiro dia começará
em 1843”.

Análise

Miller aqui se embaraça num sem número de suposições. A cauda do


dragão referida em Apocalipse 12:3 arrastou a terça parte dos anjos e não
do tempo. Não há nenhuma ligação entre os dois dias que Cristo menciona
94 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

no livro de Lucas com os dois dias mencionados no livro do profeta Oseias,


e muito menos que esse período teria se iniciado no ano de 158 A.C.

Baseado em que Miller interpretou esses números proféticos? Toda essa


confusão mental não pode ser características de alguém sendo totalmente
guiado por Deus para revelar verdades escondidas nas profecias bíblicas
como Ellen White afirmou. Será mesmo que o Espírito Santo trabalha
dessa forma? Com certeza, não. Mais uma peça com defeito na grande
“cadeia de verdades” de Miller.

Prova 11: “A interpretação das trombetas do Apocalipse, também revela


o tempo do fim. Vejamos Apocalipse 9:5: ‘Não lhes foi concedido poder
para matá-los, mas para provocar-lhes tormentos durante cinco meses. E a
aflição que eles sofreram era como a causada pela picada do escorpião’. Os 5
meses começaram quando os turcos fizeram incursões nos territórios gregos,
segundo Gibbon, no ano de 1299, no dia 27 de julho. 5 meses é 150 anos, 5
x 30 = 150. Esta trombeta terminou em 1449. E a sexta trombeta começou a
soar, e tem que soar por 391 anos e 15 dias, como dito em Apocalipse 9:15:
‘Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para aquele
exato momento, dia, mês e ano, a fim de que matassem um terço de toda a
humanidade’; esse período terminou em 1840 no dia 11 de agosto.

Então a sétima trombeta começa a soar e terminará com a plenitude


dos tempos. Ap 10:5, 7: ‘O anjo, que vi em pé sobre o mar e a terra,
levantou a mão direita em direção ao céu, e jurou, por Aquele que vive
pelos séculos dos séculos e que criou o céu, a terra e tudo o que neles existe,
exclamando: Eis que não haverá mais demora! E, que nos dias da voz do
sétimo anjo, quando ele estiver para soar a sua trombeta, o mistério de
Deus se completará, exatamente da maneira como Ele anunciou aos seus
servos, os profetas’. Esse verso sincroniza com Daniel 12:7. Veja a seção 7,
onde é mostrado que termina no ano 1843.”.34

34 Ver Miller’s Lectures, pág. 190.


Descortinando o Adventismo – Volume I 95

Análise

Nessa “prova”, Miller simplesmente decidiu por si próprio que os tais


5 meses de Apocalipse 9:5 se iniciaram no ano de 1299 para poder “fechar
a conta” partindo dos tempos do fim (1843 segundo ele) para o início. A
sua estratégia aqui foi mais uma vez tentar achar algo de “relevante” na
história no ano de 1299, para poder marcá-lo como ponto de partida de
sua interpretação profética.

O verso “... exato momento, dia, mês e ano (...)” de Apocalipse 9:15
não representa uma duração de tempo em que os anjos seriam soltos, mas
sim, um determinado e preciso momento na história em que isso ocorreria.

A essa altura da análise das provas de Miller, a sua “perfeita cadeia de


verdades” dada divinamente por Deus, conforme declarou Ellen White,
está completamente despedaçada.

Prova 12: “Podemos provar também pelas duas testemunhas sendo


vestidas de pano de saco por 1260 anos. Vejamos o verso de Apocalipse 11:3:
‘Concederei poder às minhas duas testemunhas, a fim de que profetizem
durante mil duzentos e sessenta dias em trajes escuros de pano de saco’.
Desta vez, esse período começou com o Papado, no ano 538, e terminou
no ano de 1798.

Durante esse período a Bíblia foi suprimida ao cidadão comum, em


todos os países onde o papado tinha poder, até que as leis da hierarquia
papal foram abolidas e a tolerância livre foi concedida aos estados papais
em 1798. A partir daí o restante se harmoniza com as trombetas de Ap
11:14, 15: ‘O segundo é passado; e eis que o terceiro vem rapidamente. E
o sétimo anjo soou; e havia grandes vozes no céu, dizendo: Os reinos deste
mundo são os reinos de nosso Senhor e do seu Cristo; e ele reinará para
todo o sempre’. E isso tudo acabará em 1843”.35

35 Ver Miller’s Lectures, pág. 190.


96 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Análise

Como dito anteriormente, o ano de 1798 é um ano chave para os


adventistas até os dias de hoje. Toda essa influência adveio de Miller, que
também acreditava esse ser um ano muito relevante para a interpretação das
profecias do Apocalipse. Contudo, Miller aqui não explica como ele faria a
ligação entre 1798 e 1843. Acredito que até ele mesmo já estava cansado de
suas piruetas teológicas e deixou essa prova ainda mais solta que as demais.

Prova 13: Podemos também provar por Apocalipse 12:6, 14: “A


mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por
Deus, para que ali a sustentassem pelo período de mil duzentos e sessenta
dias. Então, foram entregues à mulher as duas asas da grande águia, a fim
de que pudesse voar até o local que lhe havia sido planejado no deserto,
onde seria sustentada pelo período de um tempo, tempos e meio tempo,
absolutamente fora do alcance da serpente.”.

É evidente que a igreja não está agora no deserto. Ela provavelmente


esteve por lá nos dias dos apóstolos, pois ela goza de muito mais liberdade
hoje em dia entre as nações, do que em qualquer tempo anterior desde que
o evangelho foi pregado; e é muito evidente, analisando eras passadas, que
a verdadeira igreja tem sido como que uma “fora da lei” entre os reinos que
surgiram do Império Romano. A igreja foi levada para o deserto, onde foi
entregue ao poder do Papa.

Daniel 7:25: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, e consumirá os


santos do Altíssimo; cuidará em mudar os tempos e a lei; os santos lhe serão
entregues na mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo.”. No ano
538 D.C.; e ficou no deserto por 1260 anos, até 1798, quando a tolerância
livre foi concedida nos reinos no território papal. Esses versos também se
harmonizam com as testemunhas e a trombeta. Compare Ap 11:15: “E o
sétimo anjo soou; e havia grandes vozes no céu, dizendo: Os reinos deste
mundo são os reinos de nosso Senhor e do seu Cristo; e ele reinará para
Descortinando o Adventismo – Volume I 97

todo o sempre.”, com Apocalipse 12:10: “Então, ouvi uma grande voz no
céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e o poder, e o reino do nosso
Deus, e a autoridade do seu Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de
nossos irmãos, o qual diante do nosso Deus os acusava dia e noite.”.36

Análise

Nessa “prova”, Miller apenas mistura e repete “provas” anteriores.


Ocorre que como já explicado anteriormente, o público da época ficava
muito impressionado quando diversas datas eram apresentadas em conjunto
com uma análise de versículos bíblicos apocalípticos.

Poucos realmente pararam para analisar se aquilo, de fato, fazia algum


sentido. De certa forma, essa mesma estratégia é replicada nos dias de hoje
pela IASD. E assim, como uma espécie de herança espiritual maldita, a
grande maioria de seus membros continua hipnotizada por essa tática
religiosa manipuladora. De consistente, contudo, não há nada nesse outro
fraco argumento probatório de Miller.

Prova 14: Podemos provar também em Apocalipse 13:5: “Foi-lhe dada


uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias; e deu-se-lhe autoridade para
atuar por quarenta e dois meses.”. Este tempo começou ao mesmo tempo em
que o anterior, quando o poder foi dado ao papa por Justiniano, 538 D.C., e
durou até que o papa foi levado em cativeiro, e seu poder foi abolido, no ano
de 1798. Veja o versículo 10: “Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá;
se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a
perseverança e a fé dos santos.”. Esta besta é o mesmo que o chifre pequeno
em Daniel 7, e sincroniza com a “abominação desoladora” de Daniel, ou
“aquela maravilha”. Compare Daniel 11:31 e 12:11, com Apocalipse 13:3-
8; e, claro, seu poder é abolido com o fim de sua “estrutura” e os 1290 anos.

36 Ver Miller’s Lectures, pág.20.


98 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Assim, Daniel 12:12, “Bem-aventurado é o que espera e chega aos mil


trezentos e trinta e cinco dias”, nos leva ao ano de 1843.37

Análise

Versículos apocalípticos ligados a versos aleatórios do livro de Daniel,


somados a um forte desejo de encaixar o tão sonhado ano de 1843 faz mais
uma vez parte do confuso processo mental de Guilherme Miller, a fim de
provar o impossível: que Cristo voltaria em 1843.

Lembrando ainda que nada realmente de profeticamente significativo


ocorreu no ano de 538 D.C. Essa foi apenas mais uma fantasia de Miller.

Prova 15: Podemos provar também pelos números encontrados em


Apocalipse 13:18: “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento,
calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu
número é seiscentos e sessenta e seis.” conectado com Daniel 7:12, como
antes citado. Este texto mostra o número de anos que Roma existiria sob
a liderança blasfema do paganismo, depois de ter sido ligado ao povo de
Deus por uma aliança; Começando em 158 A.C., adicionando 666 anos,
isso nos levará a 508 D.C., quando o sacrifício diário foi retirado.

Em seguida, acrescente Daniel 12:12, os 1335 anos, a 508 D.C.,


totalizando o ano de 1843. Quando a besta e sua imagem serão atormentadas
na presença dos santos anjos e do Cordeiro. Analise Ap 14:9-12: “Seguiu-
os ainda um terceiro anjo, alertando a todos em alta voz: Se alguém adorar
a Besta e a sua imagem, e receber sua marca na testa ou na mão; da mesma
maneira, beberá o vinho da justiça severa de Deus, que foi derramado sem
misturas atenuantes no cálice da sua ira. E será atormentado com enxofre
incandescente diante dos santos anjos do Cordeiro. E a fumaça da sua
aflição será exalada para todo o sempre. Para todos aqueles que adoram a

37 Ver Miller’s Lectures, pág. 77.


Descortinando o Adventismo – Volume I 99

Besta e a sua imagem, e para quem recebe a marca do seu nome, não haverá
repouso algum, dia e noite sem cessar. Aqui está a perseverança dos santos,
daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”.

Análise

Infelizmente, é triste analisar a que ponto chegou o devaneio de Miller.


Até mesmo o número da besta 666, foi inserido por ele como prova de anos
proféticos que culminariam com a volta de Cristo em 1843. O número
da besta não representa 666 anos, mas sim o número de homem (6),
enfatizado de forma tríplice, representando um poder maligno vindouro
que irá guerrear contra o povo de Deus. Querer ligar esse número (666)
a um evento tão maravilhoso e divino como será a volta de Cristo, é no
mínimo herético e irresponsável.

Análise Geral sobre as 15 provas de Miller

Miller se equivocou completamente em suas interpretações proféticas.


O que se demonstra evidente já que Cristo não retornou a Terra na primavera
de 1843, ou na primavera de 1844 (quando a profecia foi ajustada por um
ano) ou em 22 de outubro de 1844, quando a profecia foi uma terceira vez
recalculada por uma “revelação” de Samuel Snow.

Seus métodos hermenêuticos não encontram viabilidade lógica, visto


que os textos usados por ele não levavam em consideração o contexto de
cada passagem analisada. Um dos métodos mais usados por Miller era o de
numerologia simbólica. Aparentemente todas as vezes que ele encontrava
o número 7 em um texto bíblico, aquele verso automaticamente se tornava
uma representação profética para a volta de Cristo.

Além disso, em sua “perfeita cadeia de verdades” Miller incluiu


uma série de suposições e nada além de suposições. Muito menos do que
uma forte base bíblica, o que vemos é um constante desejo de encontrar
100 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

significados proféticos em textos que simplesmente nada falam a respeito


da volta de Cristo. Outro método comumente usado por ele era o de
transformar números aleatórios encontrados em versículos dispersos, em
uma somatória de anos que culminavam no ano de 1843.

Guilherme Miller também nunca levou em consideração o significado


original das Escrituras em suas línguas grega e hebraica. Para alguém que
pretendia encontrar e revelar ao público o grande mistério do dia da volta
de Cristo, essas concordâncias bíblicas teriam que ter sido analisadas
profundamente.

Ele também se apoiou grandemente na prática de interpretar dias


que encontrava em versos bíblicos, como anos literais. Essa prática não
é válida para simplesmente toda e qualquer profecia bíblica. A falta de
conhecimento dessa verdade implicou em muitos problemas e frustrações,
não só para Miller como também para muitos de seus seguidores; muitos
deles chegando a fins trágicos.

O forte fanatismo religioso da época, aliado a exposição do público


a bons e convincentes (contudo muito equivocados) oradores e pastores,
acabou culminando com a tragédia de um Grande Desapontamento.

Pouco disso é negado pela instituição adventista nos dias de hoje. Mas
então, por que devemos revelar tantos detalhes sobre Miller e o contexto
histórico em que todo esse movimento aconteceu? Porque são nos detalhes
que podemos deixar claras as artimanhas da instituição em esconder a fraca
base doutrinária da igreja e como a sua fundadora e profetisa, Ellen White,
endossou falsos mestres e profetizou eventos que nunca se tornaram
realidade.

Uma das melhores maneiras de se enganar alguém é aquiescendo com


alguns erros (não todos) apenas para esconder os principais, maquiando
assim uma grande mentira como apenas meros equívocos humanos
normais. Dessa forma o grande público, que raramente se aprofunda em
Descortinando o Adventismo – Volume I 101

seus questionamentos, volta a dormir na sua cama de alienação, tornando


muito mais fácil o trabalho de exímios manipuladores.

Querido leitor, pare um momento, analise as provas de Miller e se


pergunte: é realmente possível que Deus, através do Espírito Santo e de
anjos, tenha guiado a mente desse homem? Deus realmente opera dessa
forma? Ele propositadamente inspira homens a interpretar a sua palavra de
maneira errônea a fim de arrebatar multidões somente para depois frustrá-
los, levando muitos a insanidade e a mortes trágicas, como veremos a seguir?

Se a resposta para essas perguntas foram “não” como é possível que


uma “mensageira do Senhor” tenha recebido essas mesmas afirmações a
respeito de Miller diretamente de Deus? Seria possível que tudo que nos
foi passado através de gerações tenha sido apenas um grande equívoco, que
se perpetuou como uma forma de tradição religiosa sem uma base mais
profunda nas Escrituras?

Não podemos nos esquecer também do ponto principal de termos


trazido essas 15 provas apresentadas por Miller. Uma dessas provas
(que da mesma forma que todas as outras 14 não possui qualquer base
exegética e hermenêutica válida) foi a base sustentadora para a criação
oficial do movimento adventista, e ela continua até hoje ainda sustentando
praticamente toda a base de doutrinas adventistas.

Essa é a prova de número 7 que tem como fundamento Daniel 8:13,


14:

“Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que
falava: Até quando durará a visão relativamente ao holocausto
contínuo e à transgressão assoladora, e à entrega do santuário e
do exército, para serem pisados? Ele me respondeu: Até duas mil e
trezentas tardes e manhãs; então o santuário será purificado.”.
102 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Mais a frente nós iremos destrinchar todo esse verso e essa doutrina
em detalhes. Porém, percebam que Miller se utilizou dos mesmos métodos
em todas as suas outras 14 provas para chegar a mesma conclusão que
ele chegou analisando esses versos do livro de Daniel. Acredito estar claro
ao leitor que se nas outras provas Deus claramente não o guiou em suas
interpretações, da mesma maneira não foi o Espírito Santo que o fez com
relação aos versos acima.

Se a própria Instituição Adventista concorda que não há base bíblica


nenhuma para as outras provas apresentadas por Miller, por que deveríamos
acreditar somente na prova de número 7? Sendo que o intuito do próprio
autor dessa prova era o de comprovar a segunda volta de Cristo, e não de
criar uma doutrina de um “juízo investigativo”?

Iremos mostrar mais a frente uma análise completa da doutrina do


juízo investigativo, porém, antes iremos mostrar quão confuso e cheio
de aberrações foi o caminho que levou a “revelação” dessa doutrina pelo
movimento adventista da época.

“Deus encaminhou a mente de Guilherme Miller para as profecias, e


deu-lhe grande luz quanto ao livro do Apocalipse.”

“Foi-lhe dado o início da cadeia de verdade, e ele foi levado a examinar


elo após elo, até que olhou maravilhado e admirado para a Palavra de
Deus. Viu ali uma perfeita cadeia de verdades.” Ellen G. White.

O Doloroso e Confuso Caminho até a Chegada


da Doutrina do Juízo Investigativo

“Entretanto, a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos


dos céus, nem o Filho, senão exclusivamente o Pai.” Mateus 24:36.
Descortinando o Adventismo – Volume I 103

Guilherme Miller nasceu num momento mundial bastante


conturbado.38 O patriotismo da independência americana, as ideias e
invenções borbulhando na mente de seus conterrâneos, aventuras militares
e desastres naturais, excitavam a alma dos americanos.39

O terremoto de Lisboa de 1755 e um inexplicável dia de escuridão em


New England foram vistos como os sinais do fim, apresentados em Mateus
capítulo 24. Já adulto e estudando os livros de Apocalipse e Daniel, Miller
trouxe toda essa bagagem de uma mente impressionável com ele, e assim
chegou a conclusões que trouxeram muita dor e desapontamento a muitos.

Vejamos qual foi a conclusão de Guilherme Miller ao estudar a Bíblia


com afinco (porém com uma fraca base teológica) por vários anos:

“Eu acredito que o dia da volta de Cristo pode ser conhecido por todo
aquele que desejar entender os sinais dos tempos, assim como todo aquele
que anseia estar pronto para a Sua vinda. E eu estou totalmente
convencido que entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844 de
acordo com o método judeu de análise dos tempos proféticos bíblicos,
Cristo irá retornar a Terra trazendo com Ele todos os Seus santos, e
então Ele recompensará cada um de acordo com as suas obras.” Periódico
Sinal dos Tempos, 25 de janeiro de 1843

Tendo essa incrível revelação em mente, o fazendeiro de New England


acreditou que ele possuía a responsabilidade divina de pregar essas
“verdades” ao maior número de pessoas possível antes que viesse o fim.
Começou assim a saga de Guilherme Miller, dando uma série de palestras a
qualquer local que o recebesse. Ele também publicou suas teorias em vários

38 White, James, Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, pág. 13.
39 Beem, Teresa & Arthur, It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist, pág 31.
104 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

jornais, revistas e periódicos, começando pelo Vermont Telegram com uma


matéria chamada: “Profecias Bíblicas e o Advento Próximo.”40

Suas palestras não consistiam em encontros de reavivamento focados


em Cristo e no evangelho, mas sim na apresentação de complexos e estranhos
cálculos matemáticos explicando profecias bíblicas para a volta do Messias.
Em alguns anos ele já havia se tornado um palestrante muito requisitado,
e já havia convencido um número suficiente de pessoas para chamar o que
estava ocorrendo ali de um movimento, o chamado “Movimento Millerita”.

Como já mostrado aqui, Miller chegou as suas conclusões através de


bizarras interpretações de diversos textos bíblicos, porém, o texto mais
usado por ele era o de Daniel 8:9-14 em conjunto com Daniel 9:24-26.
Ele erroneamente acreditou que os 1260 e 2300 dias/anos proféticos se
iniciaram em conjunto e que cada dia representava um ano literal. Ele ainda
equivocadamente traduziu a ideia de purificação do santuário como o
planeta Terra sendo remido e expurgado por fogo. Após cálculos complexos
ele chegou ao ano de 1843 como o ano da volta de Cristo.

Contudo, devemos ser justos com Miller ao dizer que ele nunca se
autoproclamou como um profeta de Deus que recebeu tais datas através
de visões ou uma revelação inspirada particular. De acordo com ele tal data
veio através de um profundo estudo das profecias bíblicas.

Vários movimentos evangélicos discordavam de seus estudos e teses


não só nesse ponto, como também, por exemplo, a respeito do retorno do
povo de Israel a Palestina.41 Segundo Miller isso nunca ocorreria. Não só
ele como também, Ellen White, ficariam surpresos ao ver como Israel não
somente voltou a Palestina como se tornou novamente uma nação oficial
reconhecida pela ONU e militarmente e tecnologicamente falando, uma
das mais fortes do mundo hoje em dia.

40 “Like the Leaves of Autumm:” The Utilzation of the Press to Maintain Millenialism Expectations in the
Wake of Prophetic Failure. Ginger Hanks Harkwood, La Sierra University.
41 White, James, Life Incidents, pág. 149.
Descortinando o Adventismo – Volume I 105

Surgiram nesse período, vários críticos às teorias de Miller que


publicavam suas divergências através dos meios de comunicação da época.
Porém, Miller não se deixou abater e continuou a defender o seu trabalho
assim como defendia também os seguidores de seu movimento:

“Em todo lugar que eu passo, aqueles que são mais piedosos, humildes
e devotos de suas igrejas, aceitam prontamente a minha mensagem.
Contudo, geralmente, os mais mundanos, os fariseus, os orgulhosos,
os intolerantes, os altivos e os egoístas, vociferam e ridicularizam a
minha tese sobre a volta de Cristo.”42

Vejamos o que Ellen White escreveu a respeito:

“Os que amavam sua comodidade e estavam contentes com se acharem


distantes de Deus, não queriam despertar-se de sua segurança carnal. Vi
que anjos de Deus notavam tudo isto; as vestes daqueles pastores sem
consagração estavam cobertas com o sangue das almas.

Ministros que não queriam aceitar para si mesmos esta mensagem


salvadora, embaraçavam aqueles que a queriam receber. O sangue
das almas estava sobre eles.”43

Discordâncias legítimas baseadas no estudo das Escrituras, vindo de


diversos grupos evangélicos, eram recebidas com escárnio e imediatamente
dispensadas pelos Adventistas Milleritas:

“Eles resistem e objetam a vinda de Cristo. O olho que tudo vê de Deus


perscruta os seus corações. Eles não querem que a volta de Cristo ocorra
logo. Eles sabem que as suas vidas mundanas não resistem ao teste final,
pois eles não estão andando dentro do reto caminho proposto por Deus.”44

42 Himes, Joshua V., Views of the Prophecies and Prophetic Chronology of William Miller, Moses Dow,
Boston 1841, pág. 3.
43 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 238, 239.
44 Ibid.
106 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Contudo, as Escrituras eram claramente contra a doutrina pregada pelos


Adventistas Milleritas. Jesus já havia avisado em diversas circunstâncias que
o dia da sua segunda vinda ninguém saberia, e que não caberia ao homem
tentar especular a respeito disso:

“Entretanto, a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos


dos céus, nem o Filho, senão exclusivamente o Pai.” Mateus 24:36
“Ele lhes afirmou: “Não vos compete saber as épocas ou as datas que o
Pai estabeleceu por sua exclusiva autoridade.” Atos 1:7
“Por isso, vigiai, porquanto não sabeis em que dia virá o vosso
Senhor.” Mateus 24:42

Mesmo com a clareza das Escrituras a respeito desse e de vários outros


assuntos, todo o movimento adventista foi formado e marcado pela teimosia
e insistência em se firmar em bases antibíblicas. Vemos que da mesma
forma que a Instituição Adventista dos dias de hoje se sente perseguida
por “proclamar a verdade”, Guilherme Miller e seus seguidores da época, se
sentiam da mesma forma. O espírito da igreja de hoje é o mesmo espírito
da época de Miller. O que presenciamos é a chamada “Herança Espiritual”
de um movimento baseado no erro.

Uma herança espiritual pode perseguir um indivíduo ou um movimento


por toda a sua vida, ou até o momento em que esse indivíduo (ou instituição,
dependendo das circunstâncias) se arrepende e reconhece publicamente os
seus equívocos. Todavia, o que vemos no caso do movimento adventista, é
uma série de remendos doutrinários realizados, a fim de evitar o escárnio
público como veremos a seguir.

Miller se sentia perseguido por aqueles que criticavam as suas teorias.


Chamava-os de “Babilônia” e de “Igreja Apostatada” (alguma semelhança
com o que vemos hoje na IASD?). Os adventistas até hoje tentam passar uma
impressão de que eles foram (e ainda são) perseguidos por suas convicções
religiosas, contudo, historiadores pintam um outro quadro da época:
Descortinando o Adventismo – Volume I 107

“Eram os Milleritas que agrediam verbalmente o público discordante e


tentavam forçar uma aceitação de suas teorias sobre as outras pessoas.”45

Os adventistas se autopersuadiram enganosamente sobre o que estava


acontecendo. Segundo eles, forças do mal estavam fechando os olhos dos
crentes:

“Vi que, se os professos cristãos tivessem amado o aparecimento de seu


Salvador, se nEle houvessem posto suas afeições e tivessem sentido não
haver na Terra ninguém a ser com Ele comparado, teriam saudado com
alegria a primeira indicação a respeito de Sua vinda. Mas o desgosto que
manifestaram, ouvindo falar da vinda de seu Senhor, foi uma prova
decidida de que não O amavam. Satanás e seus anjos triunfaram, e
exprobraram a Cristo e Seus santos anjos que o Seu povo professo
tinha tão pouco amor a Jesus que não desejavam Seu segundo
aparecimento.”46

“Os santos esperaram ansiosamente pelo seu Senhor, com jejuns, vigílias,
e oração quase constante. Mesmo alguns pecadores olhavam para aquele
tempo com terror; mas a grande maioria manifestou o espírito de
Satanás em sua oposição à mensagem. Zombavam e caçoavam,
repetindo em toda a parte: “Ninguém sabe o dia nem a hora.” Anjos
maus com eles insistiam para que endurecessem o coração e rejeitassem
todo raio de luz do Céu, a fim de ficarem seguros na cilada de Satanás.”47

Notamos nessas afirmações um alto grau do que a psicologia chama de


“negação da realidade”. Essas frases de Ellen White, foram escritas depois
do “Grande Desapontamento”, porém ainda assim, mesmo depois de ter
ficado claro o erro de se marcar uma data para a segunda vinda de Cristo, a

45 Arthur, David Talmage, Come out of Babylon: A Study of Millerite Separation and Denominationalism,
1844-1865, Doctorate Dissertation, Department of History University of Rochester, NY, 1970,
Chan Shun Library, Ellen White Research Room, Keen Texas, abstract p. IV.
46 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 239.
47 Ibid, Primeiros Escritos, pág. 243.
108 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

líder adventista se negava a reconhecer o erro do movimento Adventista/


Millerita.

Além disso, fica claro aqui que tal movimento não exibia o amor e os
frutos do espírito que são marcantes em um autêntico movimento de Deus na
Terra. Para eles o “Clamor da Meia-Noite” foi um momento de “separação dos
verdadeiros crentes daqueles que eram do mundo, a fim de serem purificados
e deixados prontos para a segunda vinda do Senhor Jesus.”48

Todavia, em toda essa empolgação de proclamar o juízo de Deus


sobre o mundo, o movimento adventista havia se esquecido do mais
importante: a proclamação do evangelho de Jesus. Esse havia sido esquecido
completamente pelo “verdadeiro povo de Deus”.

O Pequeno Desapontamento
O ano de 1843 chegou e passou e nada da vinda de Cristo. A confusão
se instaurou entre os Milleritas que não entendiam por que o sol ainda
nascia e a terra ainda girava. O ano de 1844 nem era pra acontecer! Eles
se perguntavam, por que Deus havia falhado em cumprir sua promessa.49
Todavia, mal sabiam eles que essa não haveria de ser a última vez que esse
sentimento ocorreria e essas perguntas seriam feitas em seu meio.

Para esse primeiro momento de angústia e dúvida, quem veio para


salvar os adventistas foi o amigo e pregador Millerita, Josiah Litch. Ele havia
tido uma “visão de Deus” que o mostrou o porquê do não aparecimento de
Jesus na primeira data marcada. Foram os pecados e falhas deles mesmos,
os Milleritas, sua falta de pureza e de consagração como um todo que havia
impedido que Cristo viesse. Após uma autoanálise, os Milleritas aceitaram
a correção disciplinadora.

48 White, James, “Life Incidents”, pág. 302.


49 Beem, Teresa & Arthur, “It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist”, pág 36.
Descortinando o Adventismo – Volume I 109

Embora, secretamente eles devem ter pensado quanto mais Deus


iria pedir deles? Afinal, todo o foco de suas vidas até o momento era o
de proclamar a Sua vinda. Muitos deles haviam deixado família e trabalho
de lado para se focarem completamente na divulgação dessa data tão
importante.50 Talvez eles simplesmente não haviam avisado um número
suficiente de pessoas. Um número mínimo que agradasse a Deus.

Sim, esse era um dos problemas. Além disso, em seus cálculos, Miller
havia se esquecido de computar o ano Zero. Claro! Agora, sim, tudo fazia
sentido. A nova data seria marcada para a primavera de 1844. Pronto,
era tudo que precisavam para alimentar as suas almas com uma renovada
empolgação. Então partiram eles para mais uma onda de pregações e
proclamações, agora com muito mais energia. Novas publicações, novos
panfletos e novos seminários marcados.

Ocorreu que mesmo com toda essa excelente explicação, uma parte
considerável do movimento debandou incrédulo. Simplesmente desistiram
e voltaram aos seus antigos afazeres. Aqueles que permaneceram, contudo,
não tinham coisas boas a falar a respeito dos desistentes:

“Os mais fracos e covardes acabaram sendo vencidos pela falta de


resiliência e se uniram ao lado adversário.”51

Curioso notar que o mesmo tipo de sentimento é visto nos dias de


hoje, quando algum membro adventista entende o evangelho e se liberta
do jugo sectário. Esses são chamados de “apóstatas” ou “dissidentes”, e aos
sussurros nos corredores das igrejas são comentados como sendo “mais um
que foi enganado por satanás no fim dos tempos”.

O fato é que a primavera de 1844 chegou e nada do Messias aparecer


nas nuvens dos céus. Dessa vez era necessário que uma explicação um

50 Knight, George, “Millenial Fever”, pág. 252.


51 White, Ellen: The Early Years Vol. 1, 1844 “The Year of Expectation and Disappointment” 52.2.
110 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

pouco mais complexa fosse formulada para manter o movimento unido.


E “voilá” essa explicação veio. Samuel Snow, outro pregador Millerita disse
ter tido uma visão de Deus (sim, mais uma visão) que o fez entender o que
estava acontecendo dessa vez. Segundo Snow, os Milleritas haviam falhado
em entender que a segunda vinda de Cristo viria no dia da Expiação do
calendário Judaico Caraíta do ano de 1844.

Vamos tentar entender melhor o que Snow quis justificar. Expiação quer
dizer: cobrir, expiar, reconciliar, pacificar. No sentido de cobrir, a expiação
significava, no antigo Israel, tomar um cordeiro e sacrificá-lo para cobrir o
pecado (Lv 4:13-21). A expiação em Israel começava pelo sacerdote e sua
casa, que oferecia um novilho em sacrifício pelo pecado. Em seguida, eram
tomados dois bodes, e um deles seria enviado para o deserto como emissário,
no intuito de levar o pecado do povo. O outro bode era sacrificado e seu
sangue aspergido no propiciatório, cobrindo o pecado do povo (Lv 16).
Esses acontecimentos ocorriam uma vez por ano, no dia 10 do sétimo mês no
calendário israelita que era o grande Dia do Juízo, no qual o Sumo Sacerdote
entrava no Santo dos Santos para a expiação. Até hoje, é comemorado o
‘’Yom Kippur” pelos judeus, o Dia da Expiação, ou Dia do Perdão.

Sendo assim, segundo o entendimento de Snow, a “purificação” do


santuário conforme Daniel 8:14, ocorreria no dia da Expiação do calendário
Judaico daquele ano, que de acordo com Snow cairia no dia 22 de outubro
de 1844. Porém, por algum motivo, Samuel Snow escolheu o calendário
Judaico Caraíta (uma obscura seita judaica) para definir a data do dia da
expiação do ano de 1844.

É necessário agora que façamos um importante parêntese a respeito


dessa data. Todos sabemos que Cristo também não voltou no dia 22 de
outubro de 1844 e falaremos mais a seguir a respeito dos efeitos devastadores
desse desapontamento sobre o movimento Millerita da época, efeitos
esses sentidos até os dias de hoje sobre o que acabou se tornando a Igreja
Adventista do Sétimo Dia.
Descortinando o Adventismo – Volume I 111

Porém, o que poucos sabem é que Samuel Snow se equivocou não somente
a respeito da data da volta de Cristo, mas também a respeito da própria data
do dia da expiação do calendário Caraíta de 1844. É isso mesmo que o leitor
está pensando. A tão aclamada data do dia 22 de outubro de 1844 não coincide
com o dia da expiação do calendário Caraíta daquele ano. Samuel Snow, não
se aprofundou o suficiente na pesquisa da data que ele próprio marcou para
a volta de Cristo. Iremos falar em detalhes sobre isso mais a frente. Porém
antes disso, analisaremos mais profundamente o que ocorreu nessa data que
continua a causar grandes desapontamentos entre os Adventistas.

O Grande Desapontamento de 22 de outubro


de 1844
A princípio, quando Samuel Snow trouxe essa nova “revelação” ao
desesperado grupo Millerita, o próprio Guilherme Miller não “comprou a
ideia”. Contudo, após uma empolgação geral ter tomado conta (novamente)
de seus seguidores, Miller decidiu ver no que tudo aquilo daria, e embarcou
numa nova série de palestras a respeito do grande dia da purificação do
santuário (o planeta Terra sendo queimado com fogo), o fim do mundo
literal, e a segunda vinda de Cristo.

O nobre leitor deve estar se perguntando* sobre como seria possível


que esse público fosse tão ingênuo a ponto de acreditar mais uma vez numa
nova data para a volta do Messias. Ocorre que os seguidores Milleritas
já estavam tão envolvidos emocionalmente no movimento que qualquer
explicação que surgisse, com um certo grau de elaboração e principalmente
se trouxesse algum elemento sobrenatural divino, já era suficiente para que
eles se agarrassem com todas as suas forças. O medo de estarem errados e
serem ridicularizados publicamente deveria ser, a qualquer custo, adiado.

Esse mesmo padrão de comportamento se repetiu diversas vezes


no movimento e reflete toda a estrutura adventista até os dias de hoje.
De uma certa forma, esse adiamento foi bem-sucedido visto o grande
112 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

número de membros da IASD nos dias atuais. Todavia, não sem deixar
sequelas profundas e consequências abismalmente negativas na mente e
personalidade de quem faz parte desse grupo religioso sectário.

Enfim, a nova data escolhida, portanto, seria o dia 22 de outubro


de 1844, a data que ficaria conhecida como “O Clamor da meia-noite” e
também como “O dia do grande desapontamento”. Salões e galpões foram
alugados para a realização de palestras, centenas de milhares de folhetos
distribuídos, reuniões e mais reuniões foram realizadas, e novamente o
movimento incendiou o público americano.

Os seguidores de Miller estavam tão convencidos de que tal data


era correta que muitos deles venderam tudo o que tinham para apoiar
financeiramente o movimento, e espalhar a palavra de arrependimento
diante da iminente destruição do planeta. Novos recrutas abandonaram
seus ofícios remunerados para se dedicar a pregar a palavra apocalíptica
Millerita. O ritmo ensandecido entre março e outubro de 1844 levou a
exaustão física e emocional muitos daqueles que faziam parte do movimento.

De fato, muitos não só chegaram à exaustão emocional, mas tiveram


fins muito mais trágicos. Como veremos a seguir muitos Milleritas se
suicidaram, foram internados em manicômios, assassinaram familiares, se
automutilaram, enfim, um terrível espetáculo de horrores. Contudo, você
não lerá a respeito disso em nenhum livro da Sra. White. Pelo contrário. A
líder adventista romantizou o acontecimento, como de costume, de forma
quase hipnótica:

“Comércios seculares permaneceram fechados por algumas semanas. Nós


cuidadosamente analisamos cada pensamento e emoção de nossos corações
como se estivéssemos em nosso leito de morte e em poucas horas fossemos
fechar os nossos olhos para sempre.”52

52 White, Ellen, “Testemunhos para a Igreja, Vol. 1”, pág 53.


Descortinando o Adventismo – Volume I 113

O grupo Adventista/Millerita buscava em seus corações algum


pecado pessoal que poderia impedi-los de serem salvos nesse momento de
confusão de um fim iminente. Esse também seria um padrão legalista de
comportamento perpetuado mais a frente pela Instituição Adventista. Eles,
assim como vários outros grupos que possuem uma ideia de autossuficiência
perfeccionista, acreditam que qualquer pecado não arrependido, até mesmo
aqueles que o indivíduo não tenha consciência de que existiu, pode fazer
com que seja motivo para a perda da salvação eterna.

Está aqui um dos maiores problemas daqueles que fazem parte dessa
instituição. A ignorância sobre as boas novas do evangelho faz com que haja
uma falta de segurança a respeito da própria salvação eterna, já garantida
por Cristo na cruz para aqueles que nasceram de novo em espírito. Porém,
nenhum adventista é aconselhado a ter certeza da sua própria salvação em
Cristo. Pelo contrário. Pastores adventistas abertamente falam em seus
sermões que a maior surpresa que teremos no céu será a nossa própria
presença naquele lugar.

De acordo com suas doutrinas, eles creem que o pecado deve ser
extirpado de dentro de nós através de um esforço próprio descomunal
para impedi-los de serem manifestados, ou através de um arrependimento
detalhado feito pela lembrança de cada um deles. Pecados esquecidos não
podem ser perdoados com um simples pedido genérico de perdão. De
acordo com a doutrina do juízo investigativo/santuário celestial, cada
pecado deve ser confessado individualmente para poder ser perdoado por
Cristo durante o seu processo de investigação. Veremos mais sobre isso a
seguir.

Análise Histórica

O fatídico dia 22 de outubro de 1844 chegou e nada aconteceu. Para


Guilherme Miller aquilo seria o fim de uma longa e extenuante jornada. O
que ele acreditou que seria o seu chamado não passou de um grande erro
114 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

escatológico. As consequências de seus atos foram profundas e devastadoras


para muitas pessoas, porém, não podemos deixar de afirmar que Miller era
um homem sincero.

Ele não ganhou absolutamente nada com todo o movimento que


criou. Somente perdeu tempo, dinheiro e reputação. O seu grande erro foi
não acreditar no que o próprio Cristo havia dito:

“Entretanto, a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos


dos céus, nem o Filho, senão exclusivamente o Pai.” Mateus 24:36

Assim como ele, muitos Milleritas ficaram absortos na tentação de


estar entre o “povo escolhido” por Deus para proclamar tão importante
acontecimento universal – a segunda vinda de Jesus. Além disso, quem não
gostaria de ter tamanha honra de estar vivo para ver tal evento com o bônus
de nunca passar pela morte? A falta de informação e o fanatismo religioso
da época aliados a excelente oratória de alguns pastores do movimento
Millerita, somado ainda as catástrofes e fenômenos naturais manifestadas
naquele período, foram fortes demais para que os incautos religiosos locais
pudessem suportar.

Porém, não pensem que tudo isso ficou no passado. Os adventistas de


hoje também são ensinados a pensar que fazem parte de um grupo religioso
especial. Um movimento particular escolhido por Deus para o fim dos
tempos, o qual está anunciando mais uma vez a iminente vinda de Cristo.
Eles são doutrinados a ver uma conspiração mundial em cada esquina. Pois
a qualquer momento virá o famigerado “Decreto Dominical”.

Qualquer movimentação mais abrupta no trono papal pode significar


mais uma prova de que “o fim está próximo” e de que “a porta da graça está
prestes a se fechar”. A adrenalina corre nas veias adventistas sempre que há
um acontecimento político relevante nos EUA ou no Vaticano e ainda em
dose dupla, se esses dois se unem de alguma forma. Olhares se cruzam nos
corredores das igrejas, numa atitude de que “nós sabemos de algo que eles lá
Descortinando o Adventismo – Volume I 115

de fora não sabem, não é mesmo?”. Sociedades secretas teriam inveja do que
ocorre nos bastidores adventistas. Quem sabe um dia eles terão um aperto
de mão próprio para simbolizar a fé adventista? Analisando a história dessa
igreja, tudo é possível.

Os Efeitos Devastadores de um Falso


Profeta Sobre uma Comunidade

“Deus não pode mentir”. Tito 1:2.

O dia do fim estava próximo. A data marcada para o fim do mundo


(22 de outubro de 1844) estava prestes a acontecer e os adventistas estavam
extremamente entusiasmados com tudo aquilo. O mundo haveria de se
dobrar diante da sabedoria Millerita/Adventista. Em breve, eles todos
(ímpios e igreja apostatada) haveriam de ver a verdade.

Dias antes, grande parte dos Milleritas, que eram comerciantes,


fecharam as suas portas “para sempre”. Muitos deles jogaram todos os
seus pertences nas ruas como prova de convicção de sua fé.53 O caos da
crença fanática de que algo terrível estava para acontecer gerou uma histeria
coletiva em diversas áreas onde o movimento se encontrava. A polícia local
teve que ser chamada diversas vezes para manter a ordem.54

Jornais e periódicos da época reportaram que alguns adventistas


montaram acampamentos nas colinas aguardando o arrebatamento, sem
levar qualquer alimento ou água. Gritos e lamentações eram ouvidos a
longas distâncias.55 Porém, por mais ridículo que pudesse parecer para
o mundo toda aquela confusão, ao se aproximar o momento do evento,

53 Neal’s Saturday Cabinet reimpresso em New-Hamphsire Patriot e State Gazette, 11 de outubro de


1844 “Millerism at its Climax” pág.2 Acessado dos “Early American Newspaper”, Série 1 da Biblioteca
do Congresso Americano.
54 Ibid.
55 “The Millerites” The Farmer’s Cabinet, 31-10-1844 pág. 2.
116 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

muitos daqueles que escarneciam o movimento Millerita ficaram em


silêncio.56 A atmosfera do ambiente havia ficado tão tensa que talvez algo
realmente poderia estar prestes a acontecer...

O dia havia chegado e o sol nasceu naquele dia, da mesma maneira que
em todos os outros dias antes dele. Porém, “esse haveria de ser o último”,
pensavam os adventistas Milleritas. Muitos passaram o dia de joelhos em
oração pelos familiares e amigos que não aceitaram a mensagem. Outros
em intercessão desesperada por suas próprias vidas. Jovens e idosos corriam
para fora de suas casas e fixavam atentamente os olhos nos céus toda vez
que ouviam algum ruído ou som mais abrupto perto de suas casas.

Os batimentos cardíacos se aceleravam com o passar de cada segundo


que os aproximava daquele evento apocalíptico. Palavras deixaram de ser
ditas até mesmo pelos próprios adventistas, que simplesmente davam as
mãos entre si e clamavam por misericórdia. Aos poucos o sol foi pousando
no horizonte dando lugar ao crepúsculo mais aguardado de suas vidas.

A escuridão os contornou e com ela a lembrança do “Clamor da Meia-


Noite”. Sim, não somente a data havia sido revelada a eles, mas também o
exato momento do arrebatamento: meia-noite. Com o passar dos minutos,
o medo e a antecipação do que estava prestes a acontecer levou muitos à
exaustão, e tantos outros a se esquecerem de suas necessidades mais básicas
como as de se agasalharem ou mesmo de se alimentarem.

Crianças pequenas infelizmente foram as mais prejudicadas em sua


falta de cuidados específicos para alguém de sua idade. O frio já era intenso
nessa época do ano, mas muitos insistiam em permanecer fora de suas casas,
acompanhados de seus esgotados e enfraquecidos filhos, que mal podiam
sentir as extremidades de seus pequeninos corpos.

A cada minuto que se passava algum Millerita entrava em sua casa a


fim de conferir os ponteiros do relógio. Finalmente, alguém teve a ideia

56 Beem, Teresa & Arthur, “It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist”, pág. 42.
Descortinando o Adventismo – Volume I 117

de permanecer em frente ao relógio e anunciar a chegada da meia-noite.


O anúncio veio. Silêncio. Talvez aquele relógio estivesse adiantado alguns
minutos. Melhor esperar. E esperar foi o que eles fizeram, até a aurora
do dia seguinte. Quando os pais resolveram tirar os olhos dos céus e os
voltaram aos seus familiares, todos eles já sabiam. As lágrimas escorriam
em desespero e cansaço. Cristo não havia voltado. As crianças procuravam
abrigo nos braços de seus pais, porém a confusão que havia se instaurado
impedia a todos de falar ou pensar claramente.57

O dia seguinte veio como um soco no estômago. A angústia de viver


e encarar a realidade era maior do que qualquer outro sentimento. “Por
favor, Deus, que tudo isso seja apenas um pesadelo”. “Não nos deixe viver
assim!” pensavam os adventistas Milleritas. Mas nada poderia removê-los
da amarga realidade que havia se instaurado. Não somente isso, mas agora
eles deveriam encarar cada “ímpio” e “apóstata” que os havia ridicularizado
por tanto tempo. Por que Deus os havia abandonado dessa forma? E
pior ainda, muitos haviam abandonado todos os seus pertences e posses
materiais. Plantações inteiras haviam apodrecido. Oh! Não, tudo isso era
terrível demais para se suportar.

Pânico e desespero tomaram conta de suas ingênuas almas. Pais


tentavam explicar aos seus filhos o que havia acontecido, sem muito
sucesso. Mães buscavam alimentos para dar aos seus filhos. Choro, aflição
e vergonha tomaram conta do movimento Millerita, contudo o pior ainda
estava por vir. Mas o que poderia ser pior do que isso?

Loucura e morte estavam prestes a bater em suas portas.

Em todo o país as manchetes dos jornais rompiam com as frias manhãs


de inverno:58

57 Ibid, pág 43.


58 “Early American Newspaper”, Biblioteca do Congresso Americano, Washington D.C. e Beem, Teresa
& Arthur, “It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist”, pág. 44.
118 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

• Brooklyn Daily Eagle: Morte nos acampamentos Milleritas –


Tratamento desumano de crianças. A reportagem dizia: “Milleritas
de Philadelphia permaneceram encampados perto de Phoenix
durante toda a noite de segunda e terça-feira. Na quarta-feira duas
crianças foram encontradas geladas e mortas. O cruel e desumano
tratamento de seus pais fez com que isso acontecesse. Quem sabe
agora eles acordem para a realidade.”;59

• The New Hampshire Patriot reportou que idosos e crianças faleceram


após intensa exposição ao frio e humidade das noites anteriores;60

• Daily Argus: 25 de outubro de 1844, homem em Boston corta a


própria garganta e em seguida é internado em hospital psiquiátrico
em virtude do grande desapontamento Millerita;

• A esposa do Capitão Chase de Ohio, possuída pela onda Millerita


tentou assassinar seus próprios filhos;

• Adolescente comete suicídio se jogando no rio Niagara após


insanidade o ter acometido em virtude do desapontamento
Millerita;

• Sra. Abigail Shepard foi internada no Hospital Psiquiátrico do


Worschester. Ela era uma Millerita que estava devastada pelo grande
desapontamento e de acordo com relatórios oficiais do Hospital
havia ficado completamente demente.61

Muitos outros jornais reportaram a respeito de diversos outros casos


parecidos envolvendo suicídios e pais assassinando filhos ou maridos
assassinando esposas, em virtude dos traumas sofridos pelas falsas
profecias de Miller. Alguns desses jornais foram: Rochester Daily Democrat,

59 Brooklyn Daily Eagle, 25 de outubro, 1844 pág. 2.


60 New Hampshire Patriot and State Gazette, 7 de novembro, 1844.
61 The Daily Argus, cortesia de Lynda Foster, Portland, Biblioteca de Maine.
Descortinando o Adventismo – Volume I 119

Springfield Republican, Zion’s Herald, Christian Reflector, Liberator e o


Niles National Register.

Samuel B Woodard, o superintendente do Hospital Psiquiátrico


Worchester State Lunatic Hospital relatou que muitos adventistas
desapontados, “mergulharam em profunda e infeliz melancolia”. Os
números de admissão eram tão altos que o acontecimento foi considerado
uma ameaça de saúde pública maior que a febre amarela e a cólera.62

Um outro número incontável de pessoas que não apresentavam sinais


visíveis o suficiente para serem internados em Hospitais Psiquiátricos,
viveram o resto de suas vidas em um “desespero silencioso” de acordo
com um historiador do século 19.63 Outros incontáveis casos de doença
mental relacionados ao movimento Millerita continuaram aparecendo
anos depois de 1844.

Em seu livro “Three years in a Madhouse” Isaac Hunt descreveu como


foi a sua experiência com alguns Adventistas Milleritas:

Se as pessoas pudessem ver o que eu vi, a ausência total de controle


mental e razão humana produzida integralmente pelas consequências
do Millerismo que tomou conta da nossa região alguns anos atrás,
elas iriam tomar muito mais cuidado ao entrarem em qualquer
reunião ou movimento/seita religiosa, somente por empolgação. Eu
passei um tempo confinado com um Millerita que havia ficado insano
devido ao “Grande Desapontamento”. Antes disso, ele era um homem
bastante inteligente que inclusive foi professor por 14 anos.

A agonia mental desse homem era indescritível. Ele gemia e suspirava de


uma maneira que perfuraria a alma de qualquer ouvinte. Ele acreditava
que havia cometido o “pecado imperdoável” e que também havia vivido

62 Brigham, Amariah, “Millerism”, American Journal of Insanity, 1844-45 I: 249-253.


63 Rubin, Julius H., “Mental Illness in Early Nineteenth Century New England”, (Ph. D. dissertation)
New School for Social Research, NY, 1979. Pág. 77.
120 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

uma vida toda de pecado. Ele cria que o inferno seria o seu destino
inevitável para sempre.

Um outro Millerita se apresentava num estado completamente


diferente de loucura. Ele se encontrava complemente feliz, pois
acreditava ser Deus e que não havia ninguém acima dele. Ele dizia:
“Eu sou Deus, pois eu posso atravessar a parede dessa casa sem fazer
nenhum buraco nela, e somente Deus pode fazer isso.”64

Uma mulher Millerita que havia sido internada no Hospício de New


Hampshire era vista nos corredores do hospital batendo palmas, dançando
e cantando músicas que ela havia aprendido a respeito do dia do juízo final.
Uma outra jovem, mãe de três filhos foi internada no Hospício de Utica
com mais 38 pessoas.65 Um pregador Millerita chamado Reuben Brown
foi internado no Hospital Psiquiátrico de South Boston e pulou do quarto
andar ao tentar escapar.66

Muitos outros, simplesmente ficavam sentados olhando para o


nada.67 Centenas de Milleritas foram internados em hospícios segundo
relatórios oficiais.68 Imagina-se que milhares de outros casos ocorreram,
mas que contudo, não foram registrados oficialmente ou simplesmente não
chegaram a ser devidamente internados em hospitais psiquiátricos, porém
sofreram de doenças mentais em suas próprias casas até o fim de suas vidas.

Uma outra consequência devastadora do movimento Millerita foi a


crise financeira gerada logo após o Grande Desapontamento. O Sr. Charles
Lyell de Plymouth, por exemplo, vendeu todas as suas propriedades e
deu todo o seu dinheiro ao movimento Millerita. Ele acreditava que seria

64 Hunt, Isaac H., Three Years in a Madhouse, Isaac H Hunt Publishers 1851, Patricia Deegan Collection,
Making of America, pág. 37. www.disabilitymuseum.org
65 Numbers, The Disappointed, p. 101 and Barre-Gazette 3-12-1847.
66 Barre Patriot, 10 de julho de 1846.
67 Ibid. Numbers pág. 105.
68 Ibid, Numbers pág. 92-117.
Descortinando o Adventismo – Volume I 121

pecado possuir qualquer posse ou dinheiro na hora do arrebatamento.


Muitos adventistas da época não plantaram nem colheram nada por um
grande período de tempo, e acabaram morrendo de fome.69

A opinião majoritária entre os adventistas da época era de que os


suicídios, assassinatos e os casos de insanidade mental recaíram sobre
as pessoas que não haviam se preparado espiritualmente para o dia do
juízo final. Mas a verdade era exatamente o oposto. Aqueles que mais se
envolveram com o movimento foram os que sofreram as consequências mais
pesadas. É notório que fatos (sejam eles históricos ou bíblico-teológicos)
nunca foram suficientemente fortes para mudar a ideia dos adventistas já
desde esse período.

A verdade é que pouca ou nenhuma compaixão foi concedida para


aqueles que não se recuperaram imediatamente do choque do Grande
Desapontamento e seguiram adiante firmes na fé adventista, seja lá ela qual
fosse para aquele momento.

Havia agora um problema de ordem pública a ser resolvido e foi aí que


comunidades locais tiveram que “arregaçar as mangas” para ajudar a consertar
o problema Millerita. Além dos óbvios “Eu te disse” que os Adventistas/
Milleritas tiveram que ouvir dos vizinhos, algumas igrejas lançaram notas
oficiais a respeito do caso. A igreja Batista de Low Hampton, por exemplo, que
inclusive foi a igreja onde Guilherme Miller foi membro por muito tempo,
publicou uma nota rejeitando oficialmente o movimento Millerita. Parte do
documento mostrava as seguintes razões para a igreja ser contra o movimento:

1. Eles pressionavam os membros a abandonarem suas igrejas locais;

2. Eles fizeram do dia 22 de outubro um teste de fé para aqueles


que aderiram ao movimento, sendo que tal data e teste não se
encontram na Bíblia;

69 Doan, Ruth Alden, The Miller Heresy, Millennialism and the American Culture, Temple Univ. Press,
Philadelphia, 1987, pág 158 - 159.
122 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

3. Todas as igrejas que discordassem da interpretação de Miller


sobre a Bíblia eram chamadas de apostatadas e, portanto, eram
difamadas entre os membros do movimento;

4. Os Milleritas batizavam as pessoas baseados em seu dogma


particular e não numa autêntica experiência cristã.70

Querido leitor, analisemos por um minuto as declarações acima.


Remova-mos o nome “Miller” ou “Millerita” e substituamo-lo por:
Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ao fazermos isso nos deparamos com a
realidade atual da igreja, que na verdade não mudou muito desde a época do
movimento Millerita. A base continua sendo o dia 22 de outubro de 1844,
agora remodelado como Juízo Investigativo. Todas as igrejas protestantes
que não possuem a mesma fé adventista continuam, segundo eles, sendo
parte do Cristianismo apostatado. O proselitismo continua mais forte do
que nunca dentro da denominação Adventista, sendo uma das suas maiores
armas de crescimento estratégico.

E finalmente, os membros da IASD também são batizados de acordo


com o dogma exclusivo adventista, visto que um dos 28 princípios
fundamentais da igreja, recitados na hora do batismo, é exatamente a
aceitação de Ellen White como profetisa verdadeira e seus livros sendo
fonte primária de regra de fé da igreja. Por mais que os adventistas atuais
tentem se distanciar a todo custo do movimento Millerita, a base
continua a mesma até os dias de hoje.

Após registrarmos todo o sofrimento, dor, morte, falência financeira (e


espiritual) e insanidade que surgiram como consequência desse movimento
baseado em uma falsa profecia de Guilherme Miller, é imprescindível que
revisitemos o que a profetisa oficial adventista, Ellen White, disse a respeito
desse mesmo movimento:

70 Knight, George, Millenial Fever. Pág 293.


Descortinando o Adventismo – Volume I 123

“De todos os grandes movimentos religiosos desde os dias dos


apóstolos, nenhum foi mais livre de imperfeições humanas e dos
enganos de Satanás do que o do outono de 1844. Mesmo hoje,
depois de transcorridos muitos anos, todos os que participaram do
movimento e que permanecem firmes na plataforma da verdade,
ainda sentem a santa influência daquela obra abençoada, e dão
testemunho de que ela foi de Deus.”71

Mesmo o mais ferrenho defensor de Ellen White não pode negar o


absurdo de tal afirmação. É bem verdade que os tentáculos espirituais de
uma seita se aprofundam a tal ponto em nossa alma que fica muito difícil de
enxergar elementos óbvios de um embuste. Contudo, não há como negar
que o movimento Millerita não trouxe absolutamente nenhum benefício
para aqueles que aderiram a sua causa. Pelo contrário, as consequências
foram devastadoras chegando aos mais altos níveis trágicos imagináveis!

Como é possível creditar tal escritora como sendo uma autêntica


profetisa de Deus? Não houve nenhuma “imperfeição humana” em tal
movimento? Literalmente, todo o movimento foi marcado em sua inteireza
por erros bíblicos grotescos! Ellen chega a comparar o movimento Millerita
com o movimento da igreja primitiva em sua pureza e legitimidade!

Mas Ellen White não parou por aí. Ao se deparar com o problema dos
erros referentes a datas marcadas para a vinda de Cristo, vejamos como ela
lidou com o assunto a fim de manter os seus fiéis dentro do aprisco adventista:

“Tenho visto que o diagrama de 1843 foi dirigido pela mão do


Senhor, e que ele não deve ser alterado; que as figurações eram o que
Ele desejava que fossem, e que Sua mão estava presente e ocultou um
engano em alguma figuração, de maneira que ninguém pudesse vê-
lo, até que Sua mão fosse removida.”72

71 White, Ellen. O Grande Conflito, pág. 351.


72 White, Ellen. Primeiros Escritos, pág. 94.
124 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Para prosseguirem de alguma forma unidos, o movimento adventista


necessitava de uma resposta ao problema de que a sua profetisa oficial havia
endossado todo o movimento Millerita e suas datas escatológicas. Mas
como poderiam eles resolver esse dilema sem perderem a sua credibilidade?
Afinal, sem o elemento sobrenatural de uma profetisa verdadeira em seu
meio, o Adventismo tinha muito pouco ou quase nada. O “diferencial” que
dava sabor e combustível ao movimento, era alguém que falava e recebia
revelações diretamente de Deus.

Pois bem, a “saída” foi encontrada pela própria Ellen White que, em
seu instinto de sobrevivência e para manter a sua reputação como profetisa
verdadeira, fez assim como Adão no Éden, e culpou o próprio Deus pelos
seus problemas. Aliás, Ellen foi mais ousada. Ela acusou Deus de mentir!
Ou seja, Deus que “não pode mentir” segundo as Escrituras (Tito 1:2)
teve que ir contra a sua própria natureza e “ocultou” segundo Ellen, “um
engano e alguma figuração para que ninguém pudesse vê-lo”! Tudo isso
para manter a reputação de Ellen White como profetisa infalível e assim,
manter as portas abertas para uma manipulação religiosa sem limites.

Temos aqui, portanto, um problema. De um lado as Escrituras Sagradas


afirmam que Deus não pode mentir. De outro lado, temos Ellen White
dizendo que Deus foi contra a sua própria natureza e enganou o seu povo.

Caro leitor, sejamos honestos diante dos fatos. Será que esse é
realmente o modus operandi de Deus? Será que Deus trabalha dessa forma,
enganando os seus filhos? E não, só enganando, mas tendo consciência de
que tal engano ocasionará suicídios, assassinatos, internações em hospitais
psiquiátricos e todo tipo de tragédia? Seria o Deus de Ellen White o mesmo
Deus amoroso e Pai cuidadoso apresentado por Jesus nos evangelhos?
Ou seria esse exatamente o modo de operar do inimigo da humanidade,
Satanás que, além de mentir, enganar e ocultar, é o originador de todo tipo
de tragédia e morte no planeta?
Descortinando o Adventismo – Volume I 125

Vejamos o que o próprio Deus tem a dizer na Sua palavra sobre os


falsos profetas:

“Seus profetas fazem como reboco de argamassa: branco e fraco, e


disfarçam suas práticas ignóbeis; enganando o povo com visões falsas e
adivinhações fraudulentas. Chegam ao ponto de afirmarem: ‘Assim diz
o Soberano, o SENHOR quando Yahweh não falou absolutamente
nada com eles.” Ez 22:28

“Porquanto todos os ídolos são fraudulentos e mentirosos; os adivinhadores


têm falsas visões e falam de sonhos enganadores; qualquer consolo
que possam trazer é vão. E, por esse motivo, o povo vagueia como ovelhas
desesperadas pela falta de um bom pastor!” Zc 10:2

Fica muito difícil levar a sério uma escritora que se autoproclamou


“Mensageira de Deus” lendo afirmações como essa. Poderíamos encerrar
nossos argumentos contra o ministério profético de Ellen White agora
mesmo, e já teríamos material suficiente para dispensá-la totalmente
como uma profetisa verdadeira e desconfiar de quem verdadeiramente
a estaria usando como instrumento espiritual. Contudo, estamos apenas
começando a arranhar a superfície do problema do ministério de Ellen
White. Sigamos adiante analisando ainda o problema do juízo investigativo.

A Volta dos que não foram e o surgimento


do Juízo Investigativo
Antes de analisarmos a maneira impressionante com que os pioneiros
adventistas conseguiram convencer mais uma vez seus seguidores de que
eles possuíam a verdade de Deus, reunindo novamente o movimento,
mesmo depois de tanto constrangimento e tragédia, é necessário relatar o
que aconteceu com aqueles que não seguiram adiante dentro do chamado
Adventismo do Sétimo Dia.
126 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Os dias que vieram logo após o Grande Desapontamento foram


sombrios para os Milleritas. Além de todas as tragédias descritas
anteriormente, havia também a questão de que muitos apoiadores do
Millerismo eram figuras públicas que precisavam se posicionar sobre o fato.
Nós já apontamos como Ellen White lidou com o problema. Vejamos o que
fizeram e que fim levaram outros apoiadores de Miller.

Joshua Himes, um dos maiores apoiadores de Miller e um de seus


principais publicitários, a princípio denunciou o movimento como
falso e declarou que havia sido engando por uma espécie de hipnose ou
mesmerismo em massa. George Storrs seguiu o mesmo caminho, contudo
nos anos seguintes acabou caindo novamente no fanatismo religioso
inclusive tendo o próprio Himes como seu líder.

Certa feita o jornal Boston Post acusou Himes de ter enganado


financeiramente os seus fiéis seguidores em grandes quantias de dinheiro
para o seu próprio benefício.73 Após tal controvérsia, Himes se mudou
para Rhode Island onde continuou prevendo o fim do mundo para aqueles
dias. Himes, surpreendentemente arrebatou uma legião considerável de
seguidores depois da morte de Miller.74 Depois de diversos escândalos
sexuais Himes deixa totalmente o movimento adventista e retorna para a
sua igreja Episcopal.75

Josiah Litch que se autoproclamava profeta, eventualmente negou


Miller e todo o movimento.76 O.R. Crosier também eventualmente
abandonou sua visão inicial sobre o movimento. Em 1845 Samuel Snow,
que foi quem surgiu inicialmente com a data exata de 22 de outubro de 1844,
acreditou que ele era o profeta Elias, mencionado no livro de Malaquias. Ele

73 Berkshire County Whig 21-11-1844 pág. 2.


74 First Century of Natonal Existence, The United States as they were and are. 1875, pág. 662, MOA,
Michigan website.
75 Ibid, Knight, pág. 190-191.
76 Ibid, Knight, pág. 289.
Descortinando o Adventismo – Volume I 127

passou a anunciar que se o mundo não aceitasse as suas mensagens, guerra,


pestilência e fome cairiam sobre a Terra. Sua vida acabou em insanidade.77

Enoch Jacobs, editor da Day Star Magazine, também ficou insano depois
do desapontamento. Ele acreditava que o Reino de Deus havia vindo em
1844 de uma maneira espiritual e acabou por ter várias esposas “espirituais”
de maneira ilícita.78 Aqueles que teimosamente afirmavam que algo de
espiritual havia realmente acontecido em 22 de outubro de 1844 acabaram
desenvolvendo manias bizarras de comportamento. Houve rumores de
adventistas se arrastando nos chãos, se engatinhando, latindo ou agindo
como crianças para se humilharem e entrarem no Reino de Deus dessa forma.

Muitos acreditaram que Deus havia fechado a porta da Graça para os


infiéis e, portanto, não havia necessidade de se preocuparem em evangelizar
mais ninguém. Alguns, novamente diziam ter tido visões e muitas outras
novas datas para o fim do mundo foram marcadas. Em 1845 o jornal Vermont
Phoenix reportou que alguns adventistas/milleritas “exibiram cenas grotescas
e vergonhosas de fanatismo, como nunca antes visto”. Em uma ocasião, numa
reunião religiosa, um grupo usou um bode como expiação para os seus pecados
e o espancaram brutalmente. “Outras extravagâncias absurdas e loucuras foram
realizadas, mas as mesmas seriam muito horríveis para serem descritas”.79

Em 1854, anos depois da morte de Miller, seus seguidores novamente


começaram a anunciar o fim do mundo. O jornal Brooklyn Daily Eagle
reportou que quarenta fiéis se reuniram no sul de Boston em vestes brancas,
aguardando a “Grande Ascenção”.80

O próprio Miller denunciou essas variações de seu movimento como


insanidades. Além disso, Miller fez publicamente a sua admissão de mea culpa,
assumindo o erro a respeito de suas previsões anteriores: “Eu prontamente

77 Beem, Teresa & Arthur, It’s okay not to be a Seventh-Day Adventist, pág 52.
78 Ibid, Knight, pág 259.
79 Barre Patriot, “Mllerism-Miserable Delusion-Gross Wickedness", Nov 7, 1845 pág. 3.
80 Brooklyn Daily Eagle, November 6, 1854.
128 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

confesso que estive enganado a respeito de meus cálculos...”. Contudo, a sua


confissão também foi marcada por imputar culpa a outras pessoas.

“Eu confesso que estive equivocado quanto ao tempo exato, mas a


situação não foi tão simples assim. Eu errei quanto às datas, mas e quanto
àqueles que me enganaram com relação ao seu caráter? Fiquei muito
decepcionado ao ver que muitas pessoas sem qualquer tipo de estudo ou
argumento lógico rejeitaram (a mim pelo menos) a gloriosa vinda do nosso
Salvador. Eu sou grato a Deus, apesar de profundamente desapontado, que ao
menos eu nunca pretendi ser divinamente inspirado em minhas previsões”.81

A confissão pública de Miller pareceu não carregar o devido peso


levando em consideração o sem número de calamidades, assassinatos,
suicídios e desastres que o seu movimento ocasionou. Ele ainda tentou
continuar pregando sobre um juízo final próximo, porém a sua saúde ficou
rapidamente comprometida, o impedindo de qualquer tipo de atividade
mais intensa. Miller rejeitou todas as variações de seu movimento, incluindo
todos os grupos sectários adventistas. A sua morte veio em 1848, apenas
quatro anos depois de sua catastrófica falsa profecia.

Entretanto, poucos esperavam o que haveria de ocorrer logo após o dia


do Grande Desapontamento. Hiram Edson, um fazendeiro nova-iorquino,
foi um dos ardentes seguidores de Guilherme Miller e de sua mensagem
apocalíptica. Ele esteve entre aqueles que passaram a noite toda chorando
após a decepção da malfadada profecia.

Na manhã do dia 23 de outubro, Edson e seu amigo O.L. Crosier,


decidiram confortar alguns outros irmãos que também haviam crido na
mensagem de Miller. Porém, em vez de seguirem pela rua principal onde
seriam vistos por vizinhos escarnecedores que zombariam cruelmente de
seu fracassado movimento profético, Edson e seu amigo resolveram pegar
um atalho atravessando um milharal próximo de sua casa.

81 Bliss, Sylvester. Memoirs of William Miller, Joshua Himes Publishers, 1853 pág. 350-351, MOA website.
Descortinando o Adventismo – Volume I 129

Em um estado emocional debilitado devido a uma alta carga de stress,


aliado a uma noite inteira sem dormir, e provavelmente fisicamente fraco
por não ter tido nenhum tipo de alimento no dia anterior, Edson para no
meio do campo de milho, olha para os céus e ali enxerga no meio das nuvens
o que ele chamou de uma visão (mais a frente Edson mudaria essa estória
dizendo que foi apenas uma convicção):

“Subitamente ali veio a sua mente o pensamento de que haveria duas


fases dentro do ministério de Cristo no santuário celestial, assim como
ocorria no santuário terreno. Em suas próprias palavras, uma convicção
avassaladora veio sobre ele de que em vez de nosso Sumo Sacerdote sair
do Santíssimo Lugar e ir diretamente para a terra no décimo dia do sétimo
mês ao fim dos 2300 dias, Ele pela primeira vez estaria entrando nesse
segundo compartimento do santuário celestial, e estaria então iniciando
Seu trabalho no Santíssimo antes de vir até essa terra.”82

Quando Edson começou a verbalizar o que havia ocorrido com ele e


suas ideias sobre o santuário, ele encontrou nos adventistas uma plateia fácil
e desesperada. Esse era o bote de salvação que o movimento tanto precisava.
Mais uma vez, não havia necessidade de se aprofundar muito no assunto.
Somente o fato de que Deus não poderia ter errado em selecioná-los como
povo escolhido já era o suficiente para aceitar essa “revelação”. Um a um,
o povo do advento passou a abraçar a nova doutrina, afinal, eles somente
haviam mal interpretado a profecia de Miller.

Agora sim fazia sentido por que Cristo não havia voltado! O santuário
não era o planeta Terra, mas sim um santuário literal no céu! O alívio foi
imenso. Ninguém mais poderia zombar de suas crenças! Afinal de contas,
eles sempre estiveram corretos. Eles realmente eram o povo escolhido para
carregar uma verdade que fora somente confiada a eles.

82 Froom, Leroy E., The Prophetic Faith of our Fathers, IV, Review and Herald 1946, pág. 881.
130 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Hiram Edson passou a divulgar a sua descoberta através de sua revista


“Day Dawn” onde ele explicava em detalhes o que havia ocorrido em 22
de outubro de 1844, a “Doutrina do Santuário”. Além disso, ele com o
tempo adicionou uma extensão a tal doutrina, o que ele descreveu como
“Juízo Investigativo”. Nelas ele explicava que a expiação não foi completa
na cruz. Cristo não quis ser literal ao dizer “Está consumado” na cruz, não.
Na verdade, aquele foi só o primeiro passo.

O segundo passo foi revelado a princípio somente a Edson (depois a


Ellen White através de visões). Nele Cristo estaria revisando os livros que
estão nos céus, os livros em que mostram tudo o que cada um de nós fez
ou deixou de fazer durante nossas vidas, julgando assim cada indivíduo
separadamente, começando dos mortos desde Adão e chegando até aos
vivos de hoje em dia. Esse processo se iniciou em 22 de outubro de 1844
dentro do lugar Santíssimo. Cristo então deixa o lugar Santo e entra no
lugar Santíssimo somente a partir desse dia, e passa a nos analisar fria e
calculadamente (mesmo que a Bíblia seja clara ao dizer que o véu foi rasgado
de cima a baixo no momento da morte de Jesus).

Caso houvesse em nossas vidas algum pecado não confessado ou não


arrependido, ou até mesmo algo que deveríamos ter feito, porém falhamos
em fazer (pecado por omissão) então, infelizmente não seríamos dignos
de entrar no Reino dos Céus e o nosso destino seria assim, infelizmente, o
temido Lago de Fogo.

Para os pioneiros adventistas a visão de Edson os salvou da vergonha


pública e os inseriu novamente “no jogo”. Agora eles estavam com seus
espíritos revigorados, com uma nova teologia, novas doutrinas, novas
ideias e o mais importante, muita gente continuaria acreditando neles.
Não havia necessidade de debandar o movimento e direcionar aquele povo
todo novamente para as suas antigas denominações. Pra quê? Não. Um
desdobramento do movimento Millerita passou a tomar forma.
Descortinando o Adventismo – Volume I 131

Ellen White passava a se destacar mais e mais como uma profetisa


de Deus. Alguém que tinha visões e falava diretamente com Deus e
anjos (mesmo que laudos médicos comprovassem que os motivos de suas
visões teriam sido o resultado de um dano cerebral ocasionado por uma
pedrada que ela havia levado na cabeça durante tenra infância). Ou seja, o
movimento tinha a sua própria profetisa. Profetisa: check!

Novas doutrinas explicavam o Grande Desapontamento de 1844.


Doutrinas exclusivas: check!

Um grande número de pessoas que precisavam de alguém pra liderá-


los, desesperados por algo que pudesse salvá-los da vergonha pública.
Multidão de seguidores: check!

Mídias jornalísticas que pudessem divulgar as suas convicções ao


público de maneira eficiente, a fim de guiar seus seguidores mais facilmente
e proclamar com confiança ao mundo ímpio (ou protestantes apostatados)
que eles nunca estiveram errados quanto a sua exclusividade como povo
escolhido por Deus. Meios de comunicação: check!

Eles só precisariam mesmo se organizar oficialmente como forma


de instituição e de um nome particular registrado (que os afastasse do
fracassado movimento Millerita) para que pudessem oficialmente ter o seu
movimento religioso próprio. E isso viria a acontecer mais a frente em 1863.

Todavia, antes de chegarmos nisso iremos analisar com calma toda a


doutrina do santuário celestial e do juízo investigativo. Ambas apresentam
erros teológicos crassos e um grande perigo de cunho espiritual para os
adventistas. Na angústia de querer fugir do escárnio público, o movimento
do advento acabou por reparar um erro com outro erro. O equívoco de
ter marcado data para a volta de Cristo foi remendado com um erro ainda
maior. Agora todo o conceito do evangelho e também da expiação de Jesus
na cruz foi distorcido. A ideia de um Deus amoroso que nos salva através de
sua maravilhosa graça, foi alterada pela imagem de um Deus frio e calculista
132 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

que observa e analisa cada passo em falso dado por seus servos e os castiga
de acordo com suas falhas mesmo que não intencionais.

O sacrifício de Cristo na cruz fora diminuído e praticamente anulado.


Pois aquilo teria sido somente um primeiro passo para algo muito maior
que foi confiado aos adventistas, com exclusividade, proclamar ao mundo:
O JUÍZO INVESTIGATIVO.

Além da distorção do evangelho e de proclamarem algo que não


somente não se encontra nas Escrituras, mas que está diretamente contra o
que está escrito na palavra de Deus, o movimento adventista deveria achar
um culpado pelo grande desapontamento sofrido por eles. Adivinhem quem
acabou pagando essa conta? Deus, claro. Afinal, quem melhor para assumir
as consequências catastróficas de suicídios, homicídios e internações em
manicômios do que o próprio Deus acusador e calculista que Ellen White
e os pioneiros adventistas acabaram desenhando para os seus seguidores.

Vejamos o que a Sra. White disse a respeito do erro de 1844:

“Foi plano de Deus que o seu povo passasse por um grande


desapontamento”.83
“Deus intentará provar o Seu povo. Sua mão ocultou um erro no
cômputo dos períodos proféticos.”84
“Os que proclamaram esta advertência deram a mensagem devida
no devido tempo.”85

O movimento adventista, portanto, se sentiu revigorado ao entender


via explicação da Sra. White, que Deus havia planejado e esquematizado
contra o seu próprio povo a fim de que eles sofressem um grande
desapontamento com consequências catastróficas. Querido irmão. Pare por

83 White, Ellen. Spiritual Gifts Vol. 1, pág. 137/138.


84 White, Ellen. O Grande Conflito, pág. 326.
85 White, Ellen. O Grande Conflito, pág. 308.
Descortinando o Adventismo – Volume I 133

um momento e analise com calma o que acabamos de ler, vindo da própria


profetisa fundadora e pioneira adventista. Toda a base e estrutura da Igreja
Adventista foi levantada sobre uma afirmação de que Deus enganou o seu
próprio povo escolhido. E que agora Ele os observa atentamente em cada um
de seus atos, como um professor perverso, corrigindo uma prova, esperando
por um escorregão, por menor que seja de seu aluno, a fim de reprová-lo.

Ou seja, Deus mentiu, mas mentiu por uma boa causa e agora... Ele
está furioso! Contudo, as Escrituras dizem que Deus nos ama, que Ele não
nos engana e que na verdade Ele não pode mentir (Tito 1:2). Quem mente
é o nosso adversário, o diabo que é o pai da mentira.

Sendo assim, nos deparamos com as seguintes questões: como é possível


que uma mensageira de Deus fale tão frequentemente contra a própria
palavra de Deus? Como é possível que um movimento que se declara como
povo exclusivo de Deus, a única igreja verdadeira, tenha baseado a sua
doutrina principal totalmente contra o evangelho de Jesus Cristo? Como
podemos admitir que o único movimento que possui a verdade anule o
sacrifício de Cristo na cruz como único e completo (“Está consumado”)?
Como poderíamos aceitar como profetisa verdadeira alguém que chama o
nosso próprio Deus de mentiroso e enganador?

É verdade que a luz das Escrituras é progressiva e que muitos do


movimento adventista da época estavam extremamente frágeis e vulneráveis
emocional e espiritualmente, sendo assim, passíveis de serem enganados por
qualquer vento de doutrina que aliviasse as suas dores e vergonha pública
momentânea. Contudo, isso não exime os líderes da instituição e muito
menos os atuais pastores e estudiosos da palavra. Mais de um século e meio
se passaram, nos dando tempo suficiente para analisar e comprovar as falsas
profecias de Miller e o vergonhoso endosso de Ellen White a elas.

Além disso, teologicamente falando, a doutrina do santuário não se


sustenta, pois apresenta diversos furos e erros colossais que inclusive já estão
disseminados e admitidos entre muitos teólogos sérios do próprio meio
134 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

adventista. Contudo, muitos teólogos ainda possuem receio de anunciar


suas opiniões publicamente, por medo de represália e de perderem os
seus empregos. Outros, mais corajosos, já se posicionaram contra as falsas
doutrinas de sua própria instituição. A cada dia que passa, presenciamos
mais e mais pastores e “scholars” sérios se apresentando publicamente
contra essa que já é chamada de “A grande farsa do juízo investigativo”.

Vejamos a seguir uma análise teológica mais aprofundada sobre os


erros dessa doutrina que é a base da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

A Doutrina do Santuário Celestial e


do Juízo Investigativo

“Essa esperança é para nós como âncora da alma, firme e segura, a


qual tem pleno acesso ao santuário interior, por trás do véu, onde Jesus
adentrou por nós, como precursor, tornando-se sumo sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.” Hebreus 6:19, 20

No subcapítulo anterior deixamos claro que o surgimento da doutrina


do santuário celestial foi um mecanismo de defesa psicológica, criada pelo
“pequeno rebanho” adventista como forma de autopreservação social/
religiosa. Sendo essa, a única maneira encontrada por eles de sobreviver
ao escárnio público e traumas ocorridos com a falsa profecia não realizada
sobre a segunda vinda do Messias em 22 de outubro de 1844.

Nesse subcapítulo trataremos a respeito de como foi consolidada


essa doutrina entre os adventistas. E também sobre o seu consequente
desdobramento na doutrina do juízo investigativo, doutrinas essas que
colocam a IASD numa posição teológica extremamente frágil entre as
denominações cristãs, visto que não possuem base bíblica alguma, inserindo
a igreja, obrigatoriamente, na categoria de seita religiosa, diante do alto
nível herético de seu conteúdo.
Descortinando o Adventismo – Volume I 135

Examinaremos também as falhas teológicas dessas doutrinas, e por


que elas desabilitam a IASD como uma autêntica denominação cristã.

A seguir veremos um trecho do manuscrito redigido por Hiram


Edson, o fazendeiro que teve a visão do santuário celestial, num campo de
milharal, um dia após o Grande Desapontamento:

“Enquanto eu estava no meio do campo, meu companheiro se distanciou


a ponto de não poder ouvir-me até que viu que eu não estava mais ao seu
lado. Ele perguntou por que eu estava parado ali por tanto tempo. Eu
respondi: ‘O Senhor estava respondendo à nossa oração que fizemos de
manhã, dando luz em relação ao nosso grande desapontamento’. Eu falei
sobre isso com os nossos companheiros...

Br. Hahn e eu, realizamos uma consulta com relação à conveniência de enviar
a luz sobre o assunto do santuário. Decidimos que era exatamente o que o
restante que estava disperso precisava; pois isso explicaria nossa decepção,
(não importando que não concordasse com as Escrituras) e colocaria os
irmãos no caminho certo. Concordamos em dividir as despesas entre nós e
dissemos a Crosier: ‘Escreva o assunto do santuário. Publique outro número
do Day Dawn, e tentaremos cobrir as despesas’. Ele fez isso, e o Day Dawn foi
publicado com a luz a respeito do santuário. Ele caiu nas mãos dos anciãos
James White e Joseph Bates, que prontamente endossaram a visão; e foi
mostrado, em visão, à EGW como a luz para o remanescente.”86

Algum tempo depois, O.L.R. Crosier publicou um longo artigo a


respeito do santuário celestial no The Day Star Extra de 7 de fevereiro de 1846,
chamado, “The Law of Moses”. Sobre esse artigo nos interessa mostrar o que
ele disse a respeito do ministério de Cristo no lugar santíssimo do santuário,
e as suas ideias e ensinamentos a respeito do bode expiatório. Todo o seu
ensinamento é recheado de imensos erros teológicos que saltam aos olhos.

86 Edson, Hiram, undated, handwritten Manuscript Fragment, reproduzido no livro de George Knight,
Rise of Sabbatarian Adventism, p. 126.
136 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“Mas, novamente, eles dizem que a expiação foi feita e terminada


no Calvário quando o cordeiro de Deus expirou. Assim, os homens
nos ensinaram, e assim as igrejas e o mundo creem; mas isso não é
mais verdadeiro ou sagrado por causa disso, se não houver o apoio da
autoridade divina. Talvez alguns ou nenhuma pessoa que tenha essa
opinião já tenha testado o fundamento sobre o qual ela repousa.”

1. Se a expiação foi feita no Calvário, por quem foi feita? A realização


da expiação é obra de um sacerdote; mas quem a oficiou no Calvário?
Soldados romanos e Judeus perversos.

2. O assassinato da vítima não estava fazendo a expiação; o pecador


matou a vítima. Levítico 4: 1-4, 13-15, etc., depois disso o sacerdote
pegou o sangue e fez a expiação. Levítico 4: 5-12, 16-21.

3. Cristo foi o Sumo Sacerdote designado para fazer a expiação, e ele


certamente não poderia ter agido nessa capacidade até depois de sua
ressurreição, e não temos registro de que ele tenha feito alguma coisa na
terra depois de sua ressurreição, que poderia ser chamada de expiação.

4. A expiação foi feita no santuário, mas o Calvário não era esse lugar.

5. Ele não podia, de acordo com Hebreus 8: 4, fazer a expiação enquanto


estava na terra. “Se ele estivesse na terra, ele não poderia ser um
sacerdote”. O levítico era o sacerdócio terrestre, o divino, o celestial.

6. Portanto, ele não iniciou o trabalho de fazer a expiação, qualquer que


seja a natureza desse trabalho, até depois de sua ascensão, quando
por seu próprio sangue ele entrou em seu santuário celestial por nós.

Todos podem ver que a eliminação dos pecados não ocorre no


arrependimento e na conversão; mas segue, e deve necessariamente ser
precedido por eles. O arrependimento, a conversão e o batismo tornaram-
se deveres imperativos no tempo presente; e quando executados, aqueles
que os praticavam “lavavam”, (Atos 22:16) remetiam ou expulsavam
Descortinando o Adventismo – Volume I 137

deles seus pecados. (Atos 2:28); e, é claro, são perdoados e “receberam a


expiação”; mas eles não o receberam inteiro naquele tempo, porque seus
pecados ainda não haviam sido apagados.” 87

Crosier também ensinava que o bode expiatório era um tipo de Satanás.


Essa é a origem da interpretação adventista de que Satanás é representado pelo
bode expiatório que aparece no capítulo 16 do livro de Levítico. Para fins de
praticidade não iremos reproduzir aqui completamente o artigo de Crosier.
Contudo faremos um breve resumo do que foi publicado por ele logo após a
visão do Edson, para podermos entender como tudo isso acabou formando
parte do corpo de doutrinas oficiais da Igreja Adventista do Sétimo Dia:

• Cristo entrou pela primeira vez no lugar santíssimo do santuário


celestial em 22 de outubro de 1844;
• Nenhuma expiação foi feita na cruz do calvário;
• A verdadeira expiação é feita pelo Sumo Sacerdote no santuário
celestial;
• A eliminação dos pecados NÃO ocorre no momento da conversão
e do arrependimento dos pecados;
• A expiação dos pecados não será completa até que Cristo coloque
todos os pecados sobre Satanás, que é representado pelo bode
expiatório do dia da Expiação Levítica;
• A expiação só será completa depois da purificação total do santuário
celestial que apenas começou em 22 de outubro de 1844.

Literalmente, TODAS essas afirmações estão teologicamente


equivocadas e não possuem nenhuma base bíblica sólida. Nenhuma
outra igreja cristã corrobora qualquer uma dessas afirmações. Veremos
mais a frente também que diversos teólogos adventistas discordam desses
conceitos teológicos. Contudo, todas elas fazem parte do corpo de doutrinas

87 O.R.L. Crosier, “The Law of Moses”, publicado no The Day-Star Extra, 7 de fevereiro, 1846, pág. 41.
138 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

adventistas atual e possuem o carimbo de autoridade confirmativo da


profetisa adventista Ellen White. Vejamos o que ela diz a respeito:

“O Senhor me mostrou em visão que Jesus se levantou, fechou a porta e


entrou no Santo dos Santos, no sétimo mês ( Judaico) de 1844...”

“Eu acredito que o Santuário a ser purificado no final dos 2300 dias, é
o Novo Templo de Jerusalém, do qual Cristo é um ministro. O Senhor
me mostrou em visão, há mais de um ano, que o irmão Crosier tinha
a verdadeira luz sobre a purificação do santuário, etc. e que era Sua
vontade que o irmão C. escrevesse o ponto de vista que nos deu no The
Day-Star Extra, de 7 de fevereiro de 1846. Sinto-me plenamente
autorizada pelo Senhor a recomendar esse Extra a todo santo.”88

Interessante notar que mesmo com a corroboração de Ellen White, o


próprio criador dessas doutrinas (O.R.L. Crosier) mudou de ideia logo
em seguida e repudiou completamente a sua própria linha teológica a
respeito do santuário e até mesmo quanto à guarda do sábado. P. G.
Damsteegt apresenta esse fato em seu livro “Foundations of the Seventh
Day Adventist Message and Mission” onde diz:

“Em 1846 ele (Crosier) aceitou a doutrina do sábado, mas logo em seguida
a repudiou completamente juntamente com os seus ensinamentos a
respeito do Santuário”.

O conceituado escritor D.M. Canright também afirma o mesmo, em


seu livro “Life of Mrs. E. G. White” pág. 66, onde diz:

“A teoria do Santuário Celestial eles receberam do ancião O.R.L. Crosier,


que logo em seguida ele mesmo repudiou.”

88 Uma palavra ao “Pequeno Rebanho”, reproduzida por George Knight, Rise of Sabbatarian Adventism,
pág. 171.
Descortinando o Adventismo – Volume I 139

A “verdade” revelada aos adventistas a respeito do santuário celestial


como forma de cumprimento profético de Daniel 8:14 é a base de sustentação
e a razão de ser, por assim dizer, do surgimento da Igreja Adventista do Sétimo
Dia no cenário mundial. Contudo, essa verdade não veio de um estudo
profundo e diligente da Bíblia, mas sim de uma “visão” de Hiram Edson.

Da mesma maneira que a interpretação da vinda de Cristo em 1844 veio


de erros grosseiros teológicos apresentados por Guilherme Miller dentro de
suas 15 “provas” (que, aliás, também teve o carimbo de aprovação de Ellen
White), a doutrina do santuário celestial apresenta erros ainda maiores.

Todavia, mesmo estando clara a falta de base bíblica para tal doutrina
e também a real motivação para a sua criação, a afirmação sobre o santuário
celestial e o juízo investigativo, continuam firmes dentro do corpo de doutrinas
da IASD. Vejamos o que diz a crença fundamental adventista de número 24:

“24. O Ministério de Cristo no Santuário Celestial


Há um santuário no Céu. Nele Cristo ministra em nosso favor, tornando
acessíveis aos crentes os benefícios do Seu sacrifício expiatório oferecido
uma vez por todas, na cruz. Ele foi empossado como nosso grande Sumo
Sacerdote e começou Seu ministério intercessório por ocasião da Sua
ascensão. Em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Ele
iniciou a segunda e última etapa de Seu ministério expiatório. O juízo
investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos será digno
de ter parte na primeira ressurreição. Também torna manifesto quem,
dentre os vivos, está preparado para a trasladação ao Seu reino eterno. A
terminação do ministério de Cristo assinalará o fim do tempo da graça
para os seres humanos, antes do Segundo advento. (Hebreus 1:3; 8:1-5;
9:11-28; Daniel 7:9-27; 8:13 e 14; 9:24-27; Números 14:34; Ezequiel
4:6; Malaquias 3:1; Levíticos 16; Apocalipse 14:12; 20:12; 22:12).”89

89 Retirado do site adventista www.biblia.com.br, seção “As 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista
do Sétimo Dia”.
140 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Ao longo dos anos, devido ao grande número de críticas a essa doutrina,


a IASD tem tentado realizar um contorcionismo teológico aliado a uma
polidez quase que poética de seus textos, a fim de “esconder” os grosseiros
erros teológicos de seus membros mais incautos.

Note como que estrategicamente nesse texto acima, o sacrifício


expiatório de Cristo é colocado como: “(...) oferecido uma vez por todas na
cruz”. Porém, logo em seguida, sutilmente, uma outra linha de raciocínio
a respeito do santuário é colocada: “(...) Ele iniciou a segunda e última
etapa de Seu ministério expiatório”. Quando analisado com calma o texto
fica nitidamente contraditório. Mas uma leitura rápida faz com que os
adventistas se “protejam” dos críticos dizendo que o sacrifício expiatório na
cruz foi completo sem, contudo, abandonar a sua crença base do santuário
dizendo que ainda há uma segunda fase desse ministério expiatório sendo
realizado no céu!

Esse é e sempre foi o modus operandi teológico adventista. Como


um hábil ilusionista, que possui as mãos mais rápidas que os olhos de seu
público, a IASD ilude a esmagadora maioria de seus membros com essa
estratégia. Termos contraditórios, porém, em textos longos e bem escritos
que acabam se camuflando nas entrelinhas de suas páginas que, por sua
vez, embotecem as mentes de seus seguidores. Pois a bem verdade é:
quem realmente lê todas as letras pequenas dos contratos que assinam? É
exatamente nessas letras pequenas, nas entrelinhas, nos detalhes sutis que
estão os maiores perigos e ciladas contratuais. No caso da IASD, aí é que
mora o perigo espiritual que irá permear literalmente toda a vida daqueles
que decidem serem membros de sua instituição.

Querido leitor, essas páginas não estão sendo escritas apenas para
apontar erros teológicos de uma instituição religiosa. O intuito aqui é
alertar o maior número de pessoas possível, a respeito de quais são as
consequências e jugos espirituais imputados àqueles que são manipulados
a se ligar a um grupo sectário. Todas essas consequências serão expostas
Descortinando o Adventismo – Volume I 141

num capítulo específico, porém de antemão, fica ao leitor a ideia de que um


dos maiores problemas de um membro de uma seita é o de não conseguir
entender o evangelho da graça, corretamente, e consequentemente, não
conseguir compreender o verdadeiro caráter do nosso Pai celestial.

Quando uma igreja impõe uma doutrina herética como é a do juízo


investigativo, a um membro, a sua visão de Deus e por consequência, de si
mesmo e do mundo a sua volta, se tornam totalmente distorcidas. Mas
não seria essa afirmação um tanto quanto exagerada? Eu peço ao leitor que
acompanhe toda a linha de raciocínio desse capítulo, até o fim. Para que
todas as armadilhas e prisões espirituais possam ser expostas e colocadas na
luz a fim de impedir que você seja mais uma vítima dessa cilada espiritual,
ou caso você faça parte dessa igreja, que isso possa servir como uma chave
de libertação para a sua vida de uma vez por todas. Até o fim desse livro, o
leitor irá entender o porquê de muitos problemas espirituais se repetirem
em sua vida, e como esses problemas estão diretamente ligados a cobertura
espiritual falha e distorcida que vem sido recebida da instituição a qual
você porventura está conectado.

Como praticamente toda a história e desenvolvimento teológico da


IASD é muito confuso e contraditório, é necessário pra fins didáticos
recapitular e resumir o entendimento do juízo investigativo.

Sequência dos fatos:

1830-1843 – William Miller prediz o retorno de Cristo para o ano de


1843 baseado em 15 teses sendo que a tese central teria como pilar o
texto de Daniel 8:14;

1843 – Cristo não vem e, portanto, William Miller decide mudar


a data do retorno de Cristo para a primavera de 1844 acatando o
conselho de seu amigo, Josiah Litch;
142 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Primavera de 1844 – Cristo não aparece novamente. Samuel Snow


apresenta a data de 22 de outubro de 1844 como o dia da vinda de Cristo
baseada no dia da expiação do calendário judaico Caraíta. William
Miller aceita relutantemente que a nova data poderia ser a correta e
avança para mais uma série de palestras e sermões apocalípticos em
conjunto com seus seguidores;

22 de outubro de 1844 – O dia do Grande Desapontamento. Cristo


não volta à terra e muitas tragédias, suicídios, assassinatos e internações
em hospícios passam a ocorrer dentre o povo adventista/millerita.
Miller admite o seu erro e se aposenta;

23 de outubro de 1844 – Hiram Edson após sofrer grande escárnio de


vizinhos a respeito de sua crença e passar muito tempo sem dormir ou
se alimentar, devido à ansiedade da expectativa sobre o dia da segunda
vinda de Jesus, tem uma “visão” num campo de milho e entende que a
data do evento divino estava correta, porém o evento em si é que não
havia sido entendido corretamente por Miller. Edson convence o seu
amigo O.R.L Crosier de que Cristo havia saído do Lugar Santo no
Templo celestial e entrado no Lugar Santíssimo no dia 22 de outubro
de 1844 e iniciado a segunda parte da expiação dos pecados, que não
havia sido finalizada na cruz. E o aconselha a escrever tal “revelação”
no periódico “The Day Dawn” a fim de explicar o desapontamento
sofrido por todos que haviam crido em Miller.

7 de fevereiro de 1846 – Após algum tempo alinhando as ideias


e concatenando textos bíblicos esparsos, Crosier publica o artigo
chamado “A Lei de Moisés” sobre o santuário celestial e o juízo
investigativo no jornal “The Day Dawn”. Logo em seguida, porém, o
próprio Crosier se arrepende do que escreveu e ele mesmo renuncia a
crença em tal doutrina, assim como a ideia da guarda do sábado, ambas
defendidas em seu artigo publicado;
Descortinando o Adventismo – Volume I 143

Maio de 1847 – Ellen White em seu manuscrito “A Word to the Little


Flock” endossa o artigo publicado por Crosier em 1846. E diz ter tido
uma visão a respeito do santuário celestial, onde Deus teria confirmado
que realmente Cristo havia saído do Lugar Santo e entrado no Lugar
Santíssimo em 22 de outubro de 1844, consolidando assim a teoria
de Edson que foi escrita e desenvolvida “teologicamente” por Crosier
mesmo que o próprio Crosier tivesse em seguida renunciado tal crença.

Além de ficar evidente a grande confusão e o caos criado pelo fanatismo


religioso do povo Millerita apresentada nessa sequência de fatos, outras
contradições devem ser apontadas para que possamos ter a real dimensão
de como Ellen White manipulava os seus seguidores e os fazia crer em
suas falsas doutrinas, mesmo depois de ficar óbvio que suas profecias não
haviam se cumprido.
Notem como as verdades apresentadas por Ellen, vão aos poucos se
transformando em outras realidades completamente diferentes com o
passar do tempo e com o descortinar de suas falsas predições:

• A primeira mensagem angélica, a princípio, era de que Cristo voltaria


em 1843, já que a Sra. White endossou totalmente a predição de
Miller como verdadeira;

• A segunda mensagem angélica também era diferente do que é


hoje. Na época de sua inicial interpretação, ela falava a respeito do
chamado de Deus para que seu povo saísse da Babilônia que era
formada por todas as igrejas que rejeitassem a data marcada por
Miller para o retorno de Cristo em 1843 (depois primavera de
1844, depois 22 de outubro de 1844);

• Agora, em maio de 1847, em seu livro “A Word to the Little Flock”


a verdade de Deus muda novamente. Cristo não haveria de voltar
em 1843 ou 1844, mas sim saiu do Lugar Santo e entrou no Lugar
Santíssimo em 22 de outubro de 1844 e quem não recebesse essa
144 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

nova verdade estaria em total rebelião contra o próprio Deus.


Afinal de contas a voz de Ellen White era a voz do próprio Deus
não é mesmo?

• Anteriormente, nesse mesmo capítulo, foi registrado como Ellen


White afirmou que os pastores que rejeitaram a mensagem da volta
de Cristo em 1843, pregado por Miller, estariam sendo usados
por Satanás e como eles teriam suas mãos manchadas com sangue
das almas que foram perdidas devido a sua falta de fé nas teorias
de Miller. Ela também havia chamado esses pastores e igrejas de
Babilônia. Agora, essa “verdade” anteriormente afirmada por ela já
não era mais a mesma. Cristo não mais viria a terra nesse momento,
mas sim teria saído do Lugar Santo e entrado no Lugar Santíssimo
no dia do Grande Desapontamento.

Nesta altura dos acontecimentos, muitos Milleritas e mesmo o


próprio Guilherme Miller já havia desistido de acreditar em qualquer
marcação de data ou nova teoria fantasiosa do que estava acontecendo no
céu e sido revelado, exclusivamente em visão, a Ellen White. Isso de fato
é compreensível, afinal, qualquer ser humano com um pouco de sensatez
faria o mesmo. Mas o fanatismo religioso não se prolifera na sensatez. Se nos
tempos de hoje ainda vemos muita ingenuidade, desequilíbrio emocional/
espiritual e falta de conhecimento bíblico, quanto mais isso era presente na
época de Miller/White.

Tendo isso em mente, Ellen White, sem nenhum constrangimento,


passou a ditar as novas regras do jogo. Mesmo sendo elas totalmente
contrárias as antigas regras ditadas por ela própria. E pasmem, sua estratégia
funcionou maravilhosamente bem. E, aliás, continua funcionando. Afinal,
a igreja possui mais de 20 milhões de membros na atualidade!

Vejamos como que a própria Ellen contornou seus fracassos proféticos


proclamados até aqui:
Descortinando o Adventismo – Volume I 145

“Vi que a decepção daqueles que creram na vinda do Senhor em 1844 não
foi igual à decepção dos discípulos da época de Cristo. A profecia foi cumprida
concernente a primeira e segunda mensagens angélicas. Elas foram dadas
no momento certo e realizaram o trabalho que Deus havia planejado.”90

“Foi-me mostrado então o grande desapontamento do povo de Deus. Eles não


viram Jesus no tempo esperado. Eles não sabiam por que o Salvador não veio.
Eles não viam evidências de por que o tempo profético não havia terminado.
Disse um anjo: a palavra de Deus falhou? Deus falhou em cumprir suas
promessas? Não: ele cumpriu tudo o que prometeu. Jesus ressuscitou e fechou
a porta do Lugar Santo do Santuário Celestial, abriu uma porta ao Lugar
Santíssimo e entrou para purificar o Santuário. Disse o anjo: todos os que
esperarem pacientemente entenderão o mistério. O homem errou; mas não
houve falha por parte de Deus. Tudo que Deus prometeu, foi cumprido;
mas o homem olhou erroneamente para a terra, acreditando que era o
santuário a ser purificado no final dos períodos proféticos. As expectativas
do homem falharam; mas a promessa de Deus não falha jamais. Jesus
enviou seus anjos para orientar os desapontados, a levar suas mentes ao
lugar santíssimo onde ele havia ido para purificar o santuário e fazer uma
expiação especial por Israel. Jesus disse aos anjos que todos que o encontrassem
entenderiam o trabalho que ele deveria realizar.” 91

Ellen White nessas passagens, aparentemente resolve culpar “o


homem” pelo erro. Sua tentativa de se justificar seria nobre caso ela assumisse
publicamente que tal “homem” fosse ela mesmo. Mas isso nunca de fato foi
dito. Contudo, quem seria então esse “homem”?

A realidade é que ela mesma havia dito anteriormente que os próprios


anjos de Deus revelaram essa verdade a Guilherme Miller. Afinal, o diagrama
de Miller não representava exatamente o que Deus queria que fosse dito?
Não teria sido essa mesma “verdade” revelada a Miller que vários pastores

90 White, Ellen, Spiritual Gifts, Vol 1, pág 150.


91 White, Ellen, Spiritual Gifts, Vol 1, pág 158.
146 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“babilônicos” rejeitaram e por isso estavam sendo usados por satanás e


tinham em suas mãos o sangue de muitas almas perdidas? O que havia
acontecido com a “perfeita cadeia de verdades” revelada por Deus a Miller?

“Foi-me mostrado o que aconteceu no céu quando os períodos proféticos


terminaram em 1844. Vi que, quando o ministério de Jesus no lugar Santo
terminou, e ele fechou a porta daquele apartamento, uma grande escuridão
se instalou sobre aqueles que tinham ouvido, mas, contudo, rejeitaram
as mensagens da vinda de Cristo, e eles O perderam de vista.”92

“As mentes de todos que abraçam esta mensagem são direcionadas


para o Lugar Santíssimo, onde Jesus está diante da arca, fazendo sua
intercessão final por todos aqueles por quem a misericórdia ainda persiste
e por aqueles que violaram a lei de Deus por ignorância. Essa expiação
é feita tanto para os justos mortos quanto para os justos que vivem. Jesus
faz expiação por aqueles que morreram, não recebendo a luz sobre os
mandamentos de Deus, que pecaram por ignorância.”93

Nota-se aqui mais um padrão adventista criado pela sua fundadora,


Ellen White. Aparentemente, todas as verdades bíblicas sempre giram em
torno do “pequeno rebanho” adventista de acordo com a revelação exclusiva
dada por Deus a sua profetisa. E logo em seguida, o mundo todo se torna
responsável por essas verdades e ai de quem não segui-las a partir de agora!
Ou seja, o que era verdade anteriormente passa a não ser mais verdade de
acordo com a vontade de Ellen. O que é certo ou errado para o mundo todo
depende agora das visões de Ellen White e não da própria palavra de Deus!

Nesse caso, “(...) uma grande escuridão se instalou sobre aqueles que
tinham ouvido, mas, contudo, rejeitaram as mensagens da vinda de Cristo” se
refere a todos aqueles que não acreditaram na mensagem apocalíptica com
data marcada pregada por Miller. Mesmo que a mensagem tenha sido falsa!

92 White, Ellen, Spiritual Gifts, Vol 1, págs 158, 159.


93 White, Ellen, Spiritual Gifts, Vol 1, pág 163.
Descortinando o Adventismo – Volume I 147

E já nesse outro contexto, “Jesus faz expiação por aqueles que morreram, não
recebendo a luz sobre os mandamentos de Deus, que pecaram por ignorância.”,
aparentemente tem a ver com aqueles que não guardaram o sábado, por
não saberem que era necessário fazê-lo. Contudo, da mesma forma que o
ensino e a profecia de Miller foram equivocados (porém corroborados por
Ellen White), assim também é o caso do ensino da necessidade da guarda
do sábado, como será explicado no capítulo do volume 2 dessa série: “O
Sábado era uma sombra de Cristo”.

Além disso, Ellen deixava muito claro que ninguém deveria ousar
contestar essas “verdades” reveladas a ela. Essa sempre foi uma estratégia
de controle mental muito eficiente empregada pela Sra. White. Vejamos os
exemplos abaixo:

“Vi um grupo que permanecia bem guardado e firme, não dando atenção
aos que faziam vacilar a estabelecida fé da comunidade. Deus olhava para
eles com aprovação. Foram-me mostrados três degraus — a primeira, a
segunda e a terceira mensagens angélicas. Disse o meu anjo assistente: ‘Ai
de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens.
A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O
destino das almas depende da maneira em que são elas recebidas.’

De novo fui conduzida às três mensagens angélicas, e vi a que alto preço havia
o povo de Deus adquirido a sua experiência. Esta, fora alcançada através de
muito sofrimento e severo conflito. Deus os havia conduzido passo a passo,
até que os pusera sobre uma sólida plataforma inamovível. Vi pessoas
aproximarem-se da plataforma e examinar-lhe o fundamento. Alguns com
alegria imediatamente subiram para ela. Outros começaram a encontrar
defeito no fundamento. Achavam que se deviam fazer melhoramentos, e
então a plataforma seria mais perfeita e o povo muito mais feliz.

Alguns desceram da plataforma para examiná-la, e declararam ter sido


ela colocada erradamente. Mas eu vi que quase todos permaneciam firmes
148 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

sobre a plataforma e exortavam os que tinham descido a cessar com suas


queixas; pois Deus fora o Mestre Construtor, e eles estavam lutando
contra Ele. Eles reconsideravam a maravilhosa obra de Deus, que os
conduzira à firme plataforma, e em união levantaram os olhos ao céu e
com alta voz glorificaram a Deus. Isto afetou alguns dos que se tinham
queixado e deixado a plataforma, e contritos subiram de novo para ela.”.94

Fica evidente aqui a imposição de um alto nível de controle religioso


através do medo e de ameaças nada sutis. Segundo Ellen, ninguém deveria
ousar nem ao menos questionar seus ensinamentos. Pois refutar tais
doutrinas, seria o mesmo que refutar o próprio Deus, ou em suas palavras:
“eles estavam lutando com Ele (Deus)”. Tais doutrinas teriam um peso
muito maior que o próprio evangelho, afinal de contas “O destino das almas
depende da maneira em que são elas recebidas.”.

Interessante notar que a Bíblia nos ensina exatamente o contrário.


Note o que as Escrituras nos apresentam em Atos 17:11: “Os bereanos eram
mais nobres do que os tessalonicenses, porquanto, receberam a mensagem
com vívido interesse, e dedicaram-se ao estudo diário das Escrituras, com o
propósito de avaliar se tudo correspondia à verdade.”.

De um lado temos Ellen White dizendo que não deveríamos questionar


os seus ensinamentos. De outro temos a própria Bíblia chamando aqueles
que avaliam o que lhes é apresentado como pessoas mais nobres. Esse
padrão de confronto direto com as Escrituras se repetirá muitas vezes ao
longo do ministério da Sra. White. Porém, o fanatismo em torno de líderes
de grupos sectários chega a tal ponto de muitos, sem qualquer tipo de
constrangimento, preferirem ficar com as palavras de seu líder do que com
a própria Bíblia.

Numa conta rápida fica claro chegarmos a seguinte conclusão: Ellen


White = ou > Deus. Mexer com Ellen White é o mesmo que mexer com

94 White, Ellen, História da Redenção, pág 386.


Descortinando o Adventismo – Volume I 149

o próprio Deus. Logo, obedecer a Ellen White é fundamental, seja lá qual


seja a sua ordem ou ensino.

Se o nobre leitor ainda não estiver estarrecido com tais passagens, não se
preocupe. Esse é apenas o começo de uma longa série de remoção de máscaras
e exposição de mentiras e vergonhosas táticas de controle religioso. Teremos
um capítulo específico falando somente a respeito de Ellen White no volume 2
dessa série. Por enquanto, fiquemos com apenas mais um exemplo de controle
mental/lavagem cerebral impostos por Ellen White aos seus seguidores:

“Não devemos receber as palavras daqueles que vêm com uma mensagem
que contradiz os pontos especiais de nossa fé. Eles reúnem uma pilha de
versos bíblicos e a acumulam como prova em torno de suas teorias. Isso foi
feito repetidamente nos últimos cinquenta anos. E enquanto as Escrituras
são a palavra de Deus e devem ser respeitadas, a aplicação delas, se essa
aplicação afastar um pilar do fundamento que Deus sustentou nesses
cinquenta anos, é um grande erro. Quem faz tal aplicação não conhece
a maravilhosa demonstração do Espírito Santo que deu poder e força às
mensagens passadas que chegaram ao povo de Deus.”.95

Ou seja, basicamente, caso uma interpretação bíblica saia um pouco


das doutrinas impostas pela denominação Adventista, elas devem ser
descartadas. Mais uma vez, na luta entre Bíblia e Ellen White, a Sra. White
sai novamente vitoriosa. Infelizmente, a luta é desproporcional. A Bíblia
nunca terá chances contra as falsas doutrinas de uma seita. Isso ocorre,
porque é exatamente na anulação da Palavra de Deus em detrimento da
palavra do falso profeta que as seitas subsistem. Fora desse modelo grupos
sectários não se desenvolvem.

Quando Deus criou o mundo natural, Ele usou a Sua palavra criadora
para fazê-lo. E a primeira coisa que Ele criou foi a luz. “Disse Deus: Haja
luz, e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e

95 White, Ellen, Counsels to Writers and Editors, págs. 31, 32.


150 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

as trevas.”. Antes de organizar algo, o próprio Deus criou a luz. Sem luz, nós
não podemos enxergar se algo está fora do lugar. Ao organizarmos os nossos
quartos, não há como fazer nada no escuro. O primeiro passo é acender a
luz, para depois colocar tudo em ordem.

Quando um grupo religioso retira a luz do ambiente, nesse caso a


Palavra de Deus, fica impossível que seus membros possam enxergar o que
está fora do lugar. Ellen White, de forma muito sagaz, impôs aos poucos a
sua soberania sobre a própria palavra de Deus. Eliminando assim qualquer
tipo de concorrência, o seu domínio ficou muito mais fácil.

É possível que seu pastor ou você mesmo tenha conhecimento de


passagens em que a própria Ellen White diz que ela seria apenas uma luz menor
(seus livros), apontando para uma luz maior (a Bíblia), e que a palavra de Deus
possui primazia sobre qualquer outro livro. É bem verdade que ela também
escreveu tais frases. Contudo, devemos salientar que primeiro, Ellen White,
entrava em contradição constantemente, sem embora perder o controle
sobre os seus membros, pois a confusão era uma de suas armas; e segundo,
nenhum manipulador experiente possui algum sucesso sem saber habilmente
navegar em águas turvas. É necessário deixar uma válvula de escape, uma saída
nobre, por assim dizer, para que ele/ela não se encurrale num beco sem saída.
Afirmando em um determinado momento que a Bíblia é superior aos seus
livros, abre-se brilhantemente o caminho para que ela, agora, diga o que bem
entender sobre qualquer assunto. Afinal de contas, está registrado que ela
defende a Bíblia a qualquer custo não é mesmo? Pois bem, uma das maiores
estratégias do inimigo é a de não “bater de frente”, mas, pelo contrário, se
apresentar de uma maneira habilmente enganosa. Aliás, a Bíblia diz que “Não
é de se admirar que o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz”.

O fato é que Ellen White sabia que sem a veracidade imposta sobre a
doutrina do Juízo Investigativo não existiria a Igreja Adventista do Sétimo
Dia. Por isso a importância em quebrar qualquer resistência a respeito de
tal doutrina. Doesse a quem doesse, custasse o que custasse, essa seria a sua
Descortinando o Adventismo – Volume I 151

prioridade. Esmagar qualquer voz que falasse contra tal “fundamento”.


Mesmo que essa voz viesse diretamente da Bíblia, como veremos a seguir.

Um resumo da doutrina do Santuário

Para fins didáticos e para apontarmos os erros teológicos dessa


doutrina, é necessário explicá-la mais uma vez, resumidamente:

Essa doutrina, que é exclusiva da Igreja Adventista do Sétimo Dia,


apresenta uma ideia de purificação do santuário celestial, e de um juízo
investigativo que basicamente se iniciou na ascensão de Cristo ao céu
logo após a sua ressurreição. Ele teria, então, entrado no Lugar Santo do
santuário no céu e ficado por lá até 22 de outubro de 1844. Durante esse
período Jesus realizou o ministério de intercessão e perdão dos pecados,
semelhante ao que era feito pelo sacerdote no santuário terrestre.

Ellen White no livro “O Grande Conflito” fala a respeito dessa


primeira fase da doutrina:

“O ministério do sacerdote, durante o ano todo, no primeiro compartimento


do santuário, ‘para dentro do véu’ que formava a porta e separava o lugar
santo do pátio externo, representa o ministério em que entrou Cristo ao
ascender ao Céu. Era a obra do sacerdote no ministério diário, a fim de
apresentar perante Deus o sangue da oferta pelo pecado, bem como o incenso
que ascendia com as orações de Israel. Assim pleiteava Cristo com Seu
sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores, apresentando também, com
o precioso aroma de Sua justiça, as orações dos crentes arrependidos. Esta
era a obra ministerial no primeiro compartimento do santuário celeste.”96

Depois disso, somente em 1844, Jesus teria entrado no Lugar


Santíssimo do Santuário Celestial pela primeira vez, iniciando então
o trabalho de Juízo investigativo. Esse processo de investigação se refere

96 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 421.


152 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

somente as pessoas que professam ser crentes. Os ímpios só terão a sua vez
de serem julgados durante os 1000 anos do reinado dos justos com Cristo
no céu. A execução da sentença deles então virá no fim desses 1000 anos.
Tudo isso, claro, de acordo com a exclusiva doutrina adventista.

Ellen White fala a respeito dessa segunda fase da doutrina, assim:

“Durante dezoito séculos este ministério continuou no primeiro


compartimento do santuário. O sangue de Cristo, oferecido em favor dos
crentes arrependidos, assegurava-lhes perdão e aceitação perante o Pai;
contudo, ainda permaneciam seus pecados nos livros de registro. Como no
serviço típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes
que se complete a obra de Cristo para redenção do homem, há também uma
expiação para tirar o pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando
terminaram os 2.300 dias. Naquela ocasião, conforme fora predito pelo
profeta Daniel, nosso Sumo Sacerdote entrou no lugar santíssimo para
efetuar a última parte de Sua solene obra — purificar o santuário.

(...) Destarte, os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em


vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2.300 dias, entrou
Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito
a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda.”97

“Assim, quando Cristo entrou no lugar santíssimo para efetuar a obra final
da expiação, terminou Seu ministério no primeiro compartimento. Mas,
quando o ministério no primeiro compartimento terminou, iniciou-se o do
segundo compartimento. Quando, no cerimonial típico, o sumo sacerdote
deixava o lugar santo no dia da expiação, entrava perante Deus para
apresentar o sangue da oferta pelo pecado, em favor de todos os israelitas que
verdadeiramente se arrependiam de suas transgressões. Assim Cristo apenas
completara uma parte de Sua obra como nosso intercessor para iniciar outra,
e ainda pleiteia com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores.”98

97 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 421, 422.


98 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 429, 430.
Descortinando o Adventismo – Volume I 153

“Ao fim dos mil anos, Cristo volta novamente à Terra. É acompanhado
pelo exército dos remidos, e seguido por um cortejo de anjos. Descendo com
grande majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber
a condenação. Surgem estes como um grande exército, inumerável como
a areia do mar. Que contraste com aqueles que ressurgiram na primeira
ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal juventude e beleza.
Os ímpios trazem os traços da doença e da morte.”99

Pois bem, o tal processo investigativo se dá então, primeiramente,


a todos aqueles que já morreram e professaram fé em Deus desde Adão
até aqueles que estão morrendo nos tempos atuais. O livro de registros de
cada pessoa é analisado em detalhes minuciosos. Geração após geração é
cuidadosamente analisada e julgada. Com um detalhe. Ninguém sabe ao
certo quando Cristo irá terminar o trabalho de investigação daqueles que
já morreram e irá iniciar o processo relacionado aos que estão vivos. Sendo
assim, aqueles que estão vivos devem viver em constante alerta vermelho.
Todos os pecados devem ser confessados!

Aliás, de acordo com essa doutrina, caso algum pecado tenha sido
esquecido no meio do caminho, e por esse motivo não foi confessado,
infelizmente não há o que fazer. Lago de fogo e enxofre será o destino dessa
alma infeliz.

Ellen White ataca novamente:

“Quão solene é esta consideração! Dia após dia que passa para a
eternidade, traz a sua enorme porção de relatos para os livros do Céu.
Palavras, uma vez faladas, e ações, uma vez praticadas, nunca mais se
podem retirar. Os anjos têm registrado tanto as boas como as más. Nem
o mais poderoso guerreiro pode revogar a relação dos acontecimentos de
um único dia sequer. Nossos atos, palavras, e mesmo nossos intuitos mais
secretos, tudo tem o seu peso ao decidir-se nosso destino para a felicidade ou

99 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 664.


154 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

para a desdita. Ainda que esquecidos por nós, darão o seu testemunho
para justificar ou condenar.”100

O caráter do justo deverá, portanto, apresentar perfeita obediência aos


10 mandamentos de Deus, especialmente quanto ao quarto mandamento,
à guarda do sábado. Ao analisar os registros, Cristo então aceitará alguns
nomes e outros Ele rejeitará, por não terem alcançado o nível de perfeição
imposto pela doutrina do juízo investigativo. E para o Gran Finale, aqueles
que estiverem vivos, caso tenham o seu nome aprovado, terão que viver por
um período de tempo diante do olhar crítico de Deus, sem um intercessor.
Como Ellen White, descreve a seguir:

“Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra.


Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo,
sem intercessor.”101

Jesus, então, finaliza a obra da expiação lançando todos os pecados do


povo de Deus sobre Satanás, que é representado pelo bode expiatório Azazel
de Levítico 16. O diabo é então lançado no Lago de Fogo e queimará até
deixar de existir. Todo esse processo de investigação é realizado diante de
todos os seres do universo (aliens, etc.). Isso, portanto, irá redimir o caráter
de Deus diante de todos. Aí, então, todos conhecerão a imutabilidade da lei
de Deus e como Ele é justo.

Esse é o resumo da doutrina que é considerada o pilar da IASD, a sua


razão histórica de existir e ao mesmo tempo, o seu calcanhar de Aquiles,
diante dos inúmeros furos teológicos e graves consequências espirituais e
psicológicas impostas sobre os seus membros.

A seguir analisaremos os seus problemas teológicos.

100 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 486.


101 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 614.
Descortinando o Adventismo – Volume I 155

Erros teológicos a respeito da Doutrina


do Juízo Investigativo
Muito foi dito a respeito da doutrina do Juízo investigativo até agora.
Descrevemos grande parte do contexto histórico e cultural da época.
Analisamos pormenorizadamente a motivação por trás da criação dessa
doutrina. E como ela foi também, um mecanismo de sobrevivência para
que o pequeno rebanho adventista pudesse lidar com a profunda dor e
vergonha pública que culminou com o dia do Grande Desapontamento.

Porém, um estudo teológico sério é necessário para demonstrar os


erros crassos dessa doutrina e também as graves consequências espirituais e
psicológicas, sofridas por aqueles que aderem a tal crença. Diversos outros
livros já foram escritos a respeito do assunto, vários deles inclusive de
autoria de ex-pastores adventistas dissidentes. Alguns deles passam de 700
páginas de estudo e análise. Sendo assim, não temos a intenção aqui de nos
aprofundarmos demasiadamente nos quesitos teológicos do tema, sob pena
de tornar a leitura sobremaneira maçante e entediada, além de repetitiva.

Torna-se necessário, contudo, apontarmos os erros mais salientes e


de fácil acesso ao leitor interessado no assunto. A fim de nos fixarmos em
base firme e sólida do ponto de vista cristão reformador da Sola Scriptura
apresentaremos a seguir, tais argumentos objetivos e claros. De tal modo
que possa esclarecer ao máximo possível aquilo que já é bastante óbvio ao
restante do mundo cristão evangélico: a qualidade herética e antibíblica
dessa doutrina adventista.

Para um estudo teológico mais aprofundado, recomendamos o livro


de 750 páginas do ex-pastor adventista, Dr. Desmond Ford, “Daniel 8:14,
The Day of Atonement and the Investigative Judgement.”.

O texto-chave dessa doutrina é o de Daniel 8:14. Segundo a própria


Ellen White, esse é o texto principal e o pilar central do adventismo do sétimo
dia. Vejamos o que ela escreveu a respeito em seu livro “O Grande Conflito”:
156 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“A passagem que, mais que todas as outras, havia sido tanto a base como
a coluna central da fé do advento, foi: “Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs; e o santuário será purificado.” Daniel 8:14.”.102

O capítulo 8 do livro de Daniel apresenta simbolicamente, alguns


poderes que surgiram num determinado período relevante da história
desse mundo. Esses poderes são representados por um carneiro, um bode
e chifres em uma visão tida pelo profeta Daniel. Acompanhe comigo o
contexto desses versos:

“No ano terceiro do reinado do rei Belsazar apareceu-me uma visão, a


mim, Daniel, depois daquela que me apareceu no princípio. E na visão
que tive, parecia-me que eu estava na cidadela de Susã, na província de
Elão; e conforme a visão, eu estava junto ao rio Ulai.

Levantei os olhos, e olhei, e eis que estava em pé diante do rio um


carneiro, que tinha dois chifres; e os dois chifres eram altos; mas um era
mais alto do que o outro, e o mais alto subiu por último. Vi que o carneiro
dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o sul; e nenhum
dos animais lhe podia resistir, nem havia quem pudesse livrar-se do seu
poder; ele, porém, fazia conforme a sua vontade, e se engrandecia.

E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre a


face de toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha um chifre
notável entre os olhos. E dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres,
ao qual eu tinha visto em pé diante do rio, e correu contra ele no furor da
sua força.

Vi-o chegar perto do carneiro; e, movido de cólera contra ele, o feriu, e


lhe quebrou os dois chifres; não havia força no carneiro para lhe resistir,
e o bode o lançou por terra, e o pisou aos pés; também não havia quem
pudesse livrar o carneiro do seu poder.

102 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 409.


Descortinando o Adventismo – Volume I 157

O bode, pois, se engrandeceu sobremaneira; e estando ele forte, aquele


grande chifre foi quebrado, e no seu lugar outros quatro também notáveis
nasceram para os quatro ventos do céu.

Ainda de um deles saiu um chifre pequeno, o qual cresceu muito para o


sul, e para o oriente, e para a terra formosa; e se engrandeceu até o exército
do céu; e lançou por terra algumas das estrelas desse exército, e as pisou.
Sim, ele se engrandeceu até o príncipe do exército; e lhe tirou o holocausto
contínuo, e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo.

E o exército lhe foi entregue, juntamente com o holocausto contínuo,


por causa da transgressão; lançou a verdade por terra; e fez o que era do
seu agrado, e prosperou. Depois ouvi um santo que falava; e disse outro
santo àquele que falava: Até quando durará a visão relativamente ao
holocausto contínuo e à transgressão assoladora, e à entrega do santuário
e do exército, para serem pisados?

Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o


santuário será reconsagrado.” Daniel 8:1-14.

Daniel 8:15-27, explica quem são na realidade esses símbolos


proféticos. O carneiro representa os reis da Medo-Pérsia (Dan 8:20).
O bode representa a Grécia (Dan 8:21). O grande chifre representa o
primeiro rei da Grécia, Alexandre o Grande (Dan 8:21). Os quatro chifres
representam os quatro generais que assumiram o poder após a morte de
Alexandre o Grande, assim como os seus respectivos reinados (Dan 8:22).
Até aqui há um consenso geral entre todas as denominações evangélicas e a
própria IASD a respeito dessas intepretações. Até por que ninguém menos
que o próprio anjo Gabriel, explica a visão. Porém, quando partimos para a
análise da identidade do chifre pequeno, a divisão denominacional se torna
instransponível.

Vejamos o que dizem os versos 23 a 25 do capítulo 8 de Daniel:


158 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“Mas, no fim do reinado deles, quando os transgressores tiverem chegado ao


cúmulo, levantar-se-á um rei, feroz de semblante e que entende enigmas.
Grande será o seu poder, mas não de si mesmo; e destruirá terrivelmente, e
prosperará, e fará o que lhe aprouver; e destruirá os poderosos e o povo santo.

Pela sua sutileza fará prosperar o engano na sua mão; no seu coração
se engrandecerá, e destruirá a muitos que vivem em segurança; e se
levantará contra o príncipe dos príncipes; mas será quebrado sem intervir
mão de homem”. Dan 8:23-25.

Existe um consenso geral entre praticamente todos os teólogos sérios


da atualidade de que o rei, representado pelo chifre pequeno de Dan 8:9,
se refere a Antíoco Epifânio IV.103 A IASD interpreta esse chifre pequeno
como Roma, contudo, as evidências apontam em peso para outra direção.

Existe, inclusive, curiosamente uma ala de teólogos liberais que não


acreditam em profecias bíblicas, e que ensinam que o livro de Daniel só
pode ter sido escrito após o ano de 165 A.C; devido ao grande número
de detalhes descritos pelo profeta Daniel a respeito da perseguição que
Antíoco Epifânio IV realmente impôs (no futuro) sobre o povo Judeu.104

Logo após a descrição do chifre pequeno pelo profeta Daniel e sobre


como seria o seu reinado (Dan 8:11, 12) uma pergunta é feita a respeito das
ações malignas desse rei. Vejamos novamente qual foi essa pergunta:

“Até quando durará a visão relativamente ao holocausto contínuo e


à transgressão assoladora, e à entrega do santuário e do exército, para
serem pisados?” Daniel 8:13

Notamos aqui que a questão relativa ao período que se refere a pergunta


“Até quando durará (...)” não se remete a um ponto específico futuro, uma

103 Desmond Ford, Daniel 8:14, pág 69-75; Flávio Josefo, Antiquities of the Jews, X,11,7; Keil-Delitzch,
Commentary on the Old Testament, Vol 9, pág 295-319; The Expositor’s Bible Commentary, Vol 7, pág 96-108.
104 The Expositor’s Bible Commentary, Vol 7, pág 20f.
Descortinando o Adventismo – Volume I 159

data marcada, por assim dizer, mas sim por quanto tempo essa transgressão
permaneceria ocorrendo.

Ou seja, a preocupação de Deus aqui seria assegurar ao seu povo, de


que essa perseguição imposta por Antíoco não duraria muito tempo. Além
disso, fica claro também que a pergunta se refere a transgressão desoladora
imposta por esse chifre pequeno ao santuário Judeu literal. Essa transgressão
ocorreu quando Antíoco profanou o templo ao sacrificar um porco em seu
altar e erigiu ali uma imagem de Zeus, conforme descrito nos livros de 1
Macabeus 1-4 e 2 Macabeus 4-10.

Pois bem, a própria Bíblia responde a essa pergunta no versículo


seguinte:

“Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o


santuário será reconsagrado.” Daniel 8:14.

Ou seja, a resposta é tão clara quanto a pergunta. Por quanto tempo


duraria essa profanação ao templo Judeu? 2.300 tardes e manhãs. A
pergunta se refere ao chifre pequeno, assim como logicamente a resposta
também se refere a ele.

Nós iremos um pouco mais a fundo no original hebraico desse texto.


Porém, antes disso, apenas para fins de demonstrar o contraste criado pela
absurdamente equivocada interpretação adventista, vejamos o que eles
fizeram com o entendimento a respeito desse verso.

A IASD inicia o momento profético desse período em 457 A.C., muito


antes de Antíoco ter iniciado a profanação do templo Judeu. Contudo, a
profecia fala sobre um período durante o qual o santuário seria profanado
(pisado). Além disso, os adventistas envolveram o santuário celestial
nessa profecia que nada fala a respeito desse santuário ser celestial. Pelo
contrário, quando lida em seu contexto, as Escrituras revelam claramente
que essa profecia se refere ao santuário terrestre.
160 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

A Igreja Adventista leva ainda mais longe a sua interpretação ao não


identificar a restauração ou purificação do santuário como o que de fato
foi, a reconsagração do templo feita por Judas Macabeus105, que inclusive é
celebrada até os dias de hoje como um dia de festa (Hanukkah) pelo povo
Judeu. Pelo contrário, insistem numa insustentável ideia de purificação de
um santuário celestial que se iniciou no dia 22 de outubro de 1844. Para
finalizar e tentar justificar a insólita teoria, eles incluem nesse pacote algo
que por muitos é considerada a parte mais herética desse dogma.

É evidente que em Daniel 8 é o “chifre pequeno” quem profana o


santuário terrestre. Os adventistas dizem que Daniel 8:14 fala sobre a
contaminação do santuário celestial feita pelos pecados dos justos que foi
levada até ao céu pelo sangue de Cristo. Ou seja, o sangue de Jesus, talvez
o que existe de símbolo mais poderoso e purificador em todo o Universo,
é representado aqui como o veículo de poluição do santuário celestial!
Além do que, dentro desse contexto adventista, o chifre pequeno de Daniel
8 só pode ser identificado pelo próprio Jesus! Notem o tamanho dessa heresia!

É claro que nenhum teólogo adventista irá admitir algo assim. Porém,
não há como dividir as duas coisas. Esse é o pacote completo dentro do
contexto dessa interpretação. Fica aqui, subentendido, a marca do inimigo
de Deus, Satanás, que deprecia e desonra o nome de Jesus cuidadosamente
camuflado por uma falsa religião/doutrina.

Fica mais do que claro, portanto, mesmo que tendo sido feita somente
essa análise superficial do capítulo 8 do livro de Daniel, a falta de suporte
bíblico para tal doutrina bíblica. Porém, a fim de nos protegermos um
pouco mais teologicamente, nós iremos nos aprofundar um pouco mais
nos textos de Daniel. Dessa vez, na sua raiz hebraica.

Como já demonstrado, a premissa básica da interpretação adventista


sobre as profecias de Daniel 8 está totalmente equivocada. Porém, além

105 1 Macabeus 1-4 e 2 Macabeus 4-10.


Descortinando o Adventismo – Volume I 161

disso, os pioneiros adventistas da época se equivocaram também, quanto à


tradução do hebraico para o inglês de diversas passagens desse livro profético.

Por exemplo, quando Daniel 8:14 na tradução da KJV diz: “Até dois
mil e trezentos dias; então o santuário será purificado”, a KJV não traduz
corretamente algumas palavras. A NVI, por exemplo, reflete muito mais
acertadamente esse texto. Note a diferença da sua versão de Daniel 8:14:

“Ele me disse: Isso tudo levará duas mil e trezentas tardes e manhãs;
então o santuário será reconsagrado”.

Outra versão mais corretamente traduzida é a da NRSV, onde se lê:

“Por duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será


restaurado ao seu estado legítimo”.

Note como a KJV traduz erroneamente a palavra hebraica nitsdaq


para purificar. Nitsdaq é a forma passiva do verbo tsadaq, “estar justificado”
e significa ser “restaurado” ou como a versão NRSV lê “ser restaurado ao
seu estado legítimo” ou segundo a NVI, “reconsagrado”. Se Daniel quisesse
ter dito “purificado” ele teria usado a palavra taher, que significa “limpo”
e sempre se refere à limpeza ritual em contraste com tsadaq, que sempre
apresenta a conotação de um direito moral. 106

Vejamos a tradução feita pela concordância Strong:

Tsadaq:
‫ קדצ‬tsadaq uma raiz primitiva; DITAT - 1879; v. 1) ser justo, ser correto
1a) (Qal) 1a1) ter uma causa justa, ter razão 1a2) ser justificado 1a3)
ser justo (referindo-se a Deus) 1a4) ser justo, ser correto (na conduta
e no caráter) 1b) (Nifal) ser feito certo, ser justificado 1c) (Piel)
justificar, fazer parecer justo, fazer alguém justo 1d) (Hifil) 1d1) fazer

106 Cottrell, Raymond, A Doutrina Adventista do Santuário: Patrimônio ou Risco? Pág. 11.
162 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

ou promover justiça (na administração da lei) 1d2) declarar justo,


justificar 1d3) justificar, vindicar a causa de, salvar 1d4) tornar justo,
voltar para a justiça 1e) (Hitpael) justificar-se.

Toda a doutrina do santuário se apoia numa conotação equivocada ao


traduzir a palavra nitsdaq como “purificado”. Ocorre que ao entendermos a
tradução correta deste termo, toda a doutrina adventista perde o seu sentido.

A Vulgata Latina apresenta essa palavra como “mundabitur” e a


Septuaginta lê “katharisthesetai” ambas denotando uma limpeza ritual,
refletindo a limpeza ritual do templo após a profanação imposta por
Antíoco Epifânio IV em 167 A.C. 107

Outro grande equívoco de tradução se deu em relação às palavras


“tardes e manhãs”. A interpretação adventista entende essas palavras como
sendo “dias”, porém não como literais, mas sim proféticos. Contudo, o
fato é que “tardes e manhãs” não se referem a “dias” e muito menos, dias
proféticos “adventistas” que se traduziriam em anos literais. Quando Daniel
queria dizer “dias” ele usava a palavra adequada para isso, no caso “yamin”.
Nesse verso o termo usado foi “ereb” e “boqer”.

Onde quer que as palavras “ereb” e “boqer” ocorram num contexto de


santuário (como em Daniel 8:14), sem exceção, elas se referem a adoração
sacrificial da tarde e da manhã ou a algum outro aspecto do santuário e
seus rituais. Estes sacrifícios diários eram oferecidos “tamid”, ou seja,
“continuamente”, no final de cada tarde, antes do pôr do sol e no início de
cada manhã, depois do nascer do sol. “Ereb” as vezes precede “boqer” em
vista do fato de que pelo costume hebraico, o dia começava ao pôr do sol,
com “ereb” se referindo especificamente a luz minguante do dia associada
ao pôr do sol e “boqer” a luz crescente do dia associada ao nascer do sol e
não as porções escuras e claras de um dia de 24 horas.108

107 Cottrell, Raymond, A Doutrina Adventista do Santuário: Patrimônio ou Risco? Pág. 12.
108 Cottrell, Raymond, A Doutrina Adventista do Santuário: Patrimônio ou Risco? Pág. 11.
Descortinando o Adventismo – Volume I 163

Vejamos como a concordância Strong traduz esses termos no original


hebraico:

Tamid:
‫ דימת‬tamiyd procedente de uma raiz não utilizada significando
estender; DITAT – 1157a; n. m. 1) continuidade, perpetuidade,
estender 1a) continuamente, continuadamente (como advérbio) 1b)
continuidade (subst.).

Ereb:
‫` ברע‬ereb procedente de 06150; DITAT - 1689a; n. m. 1) o anoitecer,
noite, o pôr do sol 1a) o anoitecer, o pôr do sol 1b) noite.

Boqer:
‫ רקב‬boqer procedente de 01239 ; DITAT - 274c; n m 1) manhã, romper
do dia 1a) manhã 1a1) referindo-se ao fim da noite 1a2) referindo-se
à chegada da aurora 1a3) referindo-se ao início do nascer do sol 1a4)
referindo-se ao início do dia 1a5) referindo-se a grande alegria depois de
uma noite de sofrimento (fig.) 1b) amanhã, próximo dia, próxima manhã.

É bem verdade que a interpretação tradicional por vezes considera ereb


boqer, “tarde e manhã” como um termo composto que se traduz num dia de
24 horas. Contudo, nesse caso assim como em Daniel 8:26, haereb we’haboqer
“a tarde e a manhã” são entidades distintas, como o artigo definido “ha” exige
que seja. Tanto a pergunta do versículo 13 quanto a resposta do versículo 14
se focam no santuário e no tempo durante o qual o “sacrifício diário” (tamid)
foi suspenso. Assim, ereb boqer nesses versos, devem ser entendidos em um
contexto cúltico do santuário relacionados ao sacrifício contínuo (tamid).

Ademais é interessante apontar que a palavra (tamid), “continuamente”,


ocorre 104 vezes no Velho Testamento, 51 vezes em conexão com o ritual
164 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

do santuário e 53 em outros contextos. Mais da metade das 51 vezes (32)


ela tem a ver com o “sacrifício diário” e 19 vezes com o pão da proposição, o
candelabro, a oferta de cereais e outros aspectos do santuário e seu ritual.109

Notem como fica agora os versos 13 e 14 de Daniel 8 analisando os


termos no original hebraico:

Então ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro:


“Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por essa visão?
Até quando será suprimido o TAMID (sacrifício contínuo, diário) e
a rebelião devastadora prevalecerá? Até quando o santuário e o exército
ficarão entregues ao poder do chifre e serão pisoteados?” (v. 13)

Ele me disse: “Isso tudo levará duas mil e trezentas EREB (sacrifício
da tarde) e BOQER (sacrifício da manhã) (Dois sacrifícios diários
no templo ou 1150 dias literais); então o santuário será NITSDAQ
(restaurado, justificado)”. (v. 14)

Ou seja, não há nenhuma evidência ou indicação, por mínima que seja,


que tire essa palavra da interpretação que aponta para Antíoco Epifânio IV
e se remeta a interpretação adventista do santuário celestial. Simplesmente,
ao tentarmos aplicar a interpretação adventista nesse texto, ele perde todo
o sentido. Seja, pela falta de contexto bíblico ou histórico, ou mesmo pela
tradução do hebraico de “tardes e manhãs” (ereb boqer), “reconsagrado”
(nitsdaq) ou “continuamente” (tamid).

Além disso, Guilherme Miller e os pioneiros adventistas necessitavam


da ajuda de um outro princípio equivocado para apoiar as suas conjecturas
teológicas. O princípio dia-a-ano de interpretação profética foi usado aqui sem
nenhuma base bíblica. Esse fraco rudimento causou e ainda causa bastante
confusão entre os adventistas. Essa forma de interpretação profética foi criada
no século IX pelo erudita judeu Nahawendi como um dispositivo para tornar

109 Cottrell, Raymond, A Doutrina Adventista do Santuário: Patrimônio ou Risco? Pág. 11.
Descortinando o Adventismo – Volume I 165

as profecias de Daniel relevantes para o seu tempo. Alguns estudiosos católicos


também adotaram esse princípio, mas somente durante um curto período. Em
nenhum local na Bíblia existe esse ensino de que dias proféticos significam anos.
Em Números 14:34 por exemplo, o futuro é predito em anos mesmo e não dias,
e em Ezequiel 4:6, dias do passado significam dias literais. Além dos adventistas
somente as Testemunhas de Jeová ainda se apegam a essa tradição sem muito
sentido. De qualquer forma, mesmo que esse princípio estivesse correto, a
palavra “dias” ou “yamin” ou “yom” nem aparece nesses textos de Daniel.

Notem a diferença da tradução do hebraico para a palavra dia ou


“Yom” pelo Strong, que deveria ser usado por Daniel caso ele quisesse se
referir a um dia literal ou “profético”, como os adventistas gostariam que
fosse para que a sua doutrina pudesse ter algum sentido:

Yom:
‫ מּוי‬yowm procedente de uma raiz não utilizada significando ser quente;
DITAT - 852; n m 1) dia, tempo, ano 1a) dia (em oposição a noite)
1b) dia (período de 24 horas) 1b1) como determinado pela tarde e
pela manhã em Gênesis 1 1b2) como uma divisão de tempo 1b2a) um
dia de trabalho, jornada de um dia 1c) dias, período de vida (pl.) 1d)
tempo, período (geral) 1e) ano 1f ) referências temporais 1f1) hoje
1f2) ontem 1f3) amanhã.

Essas “2300 tardes e manhãs” são, portanto, 1150 dias literais, já que os
2300 sacrifícios eram oferecidos duas vezes por dia no templo judaico. Uma
de tarde e outra de manhã, continuamente (tamid). Sendo assim, fica claro
que toda essa doutrina adventista foi fundamentada em cima de uma errônea
tradução bíblica da KJV, sem estar dentro do devido contexto histórico ou
bíblico, causando um terrível dano à fé de milhões de pessoas até os dias de hoje.
Essa gafe de proporções históricas deve ser exposta, não a fim de destruir fé
alheia, mas, pelo contrário, com o propósito de endireitar a verdade dentro
dos corações desses fiéis e alinhá-las ao verdadeiro evangelho de Cristo.
166 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

É impossível que o Chifre pequeno de


Daniel 8 seja Roma
Dando continuidade ao exame doutrinário do santuário, nós nos
deparamos ainda com outros erros grosseiros de interpretação. Poderíamos
falar, por exemplo, que os 2300 “anos” adventistas começam muito tempo
antes (457 A.C.) do verdadeiro “chifre pequeno” aparecer no cenário
histórico, quando claramente o texto coloca essas 2300 tardes e manhãs
diretamente ligadas ao tempo de profanação do templo realizada por esse
insolente poder. Ou seja, tal chifre deve estar obrigatoriamente presente
durante todo o período em que o templo está sendo pisoteado.

Além desse motivo, existem inúmeros outros que impedem que o


chifre pequeno de Daniel 8 seja como ensinam os adventistas. Antes de
provarmos isso de forma teológica e histórica, iremos provar que o chifre
pequeno de Daniel 7 também não pode ser o mesmo chifre pequeno de
Daniel 8, como ensinam os adventistas. A única semelhança entre eles é a
de que ambos são chamados de “chifres pequenos”.

Vejamos:

Para entendermos toda essa interpretação do livro de Daniel a respeito


das 2300 tardes e manhãs, primeiro devemos entender a identidade dos
chifres pequenos de Daniel 7 e de Daniel 8. Façamos, portanto, uma
comparação transparente entre eles a fim de encontrarmos a identidade de
cada um desses chifres.

O capítulo 7 de Daniel analisa e profetiza sobre situações diversas


do que é feito no capítulo 8. O capítulo 7 fala sobre potências mundiais
representadas por bestas imundas e sua ênfase profética se dirige ao
mundo inteiro. Além disso, o capítulo 7 foi escrito em aramaico, um
idioma gentio, o que provavelmente representa que ele foi direcionado
para o mundo gentio e não judeu.
Descortinando o Adventismo – Volume I 167

Já o capítulo 8 de Daniel fala sobre potências mundiais representadas


pelos animais que eram sacrificados no santuário, com uma ênfase
profética direcionada ao povo Judeu. Escrito em hebraico, o que
provavelmente indica que ele deveria ser lido pelo povo judeu, pois era
algo de seu interesse.

Para fins didáticos, iremos transcrever ambos os capítulos em sua


inteireza para que o leitor faça a comparação entre os dois. Analisaremos
após isso, alguns pormenores sobre eles.110

Daniel capítulo 7
No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, Daniel teve um sonho, e
certas visões passaram por sua mente, estando ele deitado em sua cama.
Ele escreveu o resumo do seu sonho. (v. 1)
Daniel disse: “Na minha visão à noite, eu vi os quatro ventos do céu
agitando o grande mar. (v. 2)
Quatro grandes animais, cada um diferente dos outros, subiram do mar. (v. 3)
O primeiro parecia um leão, e tinha as asas de águia. Eu o observei até que
as suas asas foram arrancadas, e ele foi erguido do chão de modo que levantou-
se sobre dois pés como um homem, e recebeu coração de homem. (v. 4)
A seguir vi um segundo animal, que tinha a aparência de um urso.
Ele foi erguido por um dos seus lados, e na boca, entre os dentes, tinha
três costelas. E lhe foi dito: ‘Levante-se e coma quanta carne puder!’ (v. 5)
Depois disso, vi um outro animal, que se parecia com um leopardo. E
nas costas tinha quatro asas, como asas de uma ave. Esse animal tinha
quatro cabeças, e recebeu autoridade para governar. (v. 6)
Na minha visão à noite, vi ainda um quarto animal, aterrorizante,
assustador e muito poderoso. Tinha grandes dentes de ferro, com as

110 A tradução usada é a da Nova Versão Internacional.


168 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

quais despedaçava e devorava suas vítimas, e pisoteava tudo o que sobrava.


Era diferente de todos os animais anteriores, e tinha dez chifres. (v. 7)
Enquanto eu estava refletindo nos chifres, vi um outro chifre, pequeno,
que surgiu entre eles; e três dos primeiros chifres foram arrancados
para dar lugar a ele. Esse chifre possuía olhos como os olhos de um homem
e uma boca que falava com arrogância. (v. 8)
Enquanto eu olhava, tronos foram postos no lugar, e um ancião se assentou.
Sua veste era branca como a neve; o cabelo era branco como a lã. Seu trono
ardia em fogo, e as rodas do trono estavam todas incandescentes. (v. 9)
E saía um rio de fogo, de diante dele. Milhares de milhares o serviam;
milhões e milhões estavam diante dele. O tribunal iniciou o julgamento,
e os livros foram abertos. (v. 10)
Continuei a observar por causa das palavras arrogantes que o chifre
falava. Fiquei olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo foi
destruído e atirado no fogo. (v. 11)
E foi tirada a autoridade dos outros animais, mas eles tiveram permissão
para viver por um período de tempo. (v. 12)
Na minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de um homem,
vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido
à sua presença. (v. 13)
A ele foram dados autoridade, glória e reino; todos os povos, nações e
homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio
eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído”. (v. 14)
Eu, Daniel, fiquei agitado em meu espírito, e as visões que passaram pela
minha mente me aterrorizaram. (v. 15)
Então me aproximei de um dos que ali estavam e lhe perguntei o significado
disso tudo. E ele me respondeu, dando-me a interpretação: (v. 16)
‘Os quatro grandes animais são quatro reinos que se levantarão na
terra. (v. 17)
Descortinando o Adventismo – Volume I 169

Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre;


sim, para todo o sempre’. (v. 18)
Então eu quis saber o significado do quarto animal, diferente de todos os
outros e o mais aterrorizante, com seus dentes de ferro e garras de bronze,
o animal que despedaçava e devorava suas vítimas, e pisoteava tudo o que
sobrava. (v. 19)
E também quis saber sobre os dez chifres da sua cabeça e sobre o outro
chifre que surgiu para ocupar o lugar dos três chifres que caíram, o chifre
que era maior do que os demais e que tinha olhos e uma boca que falava
com arrogância. (v. 20)
Enquanto eu observava, esse chifre guerreava contra os santos e os
derrotava, (v. 21)
até que o ancião veio e pronunciou a sentença a favor dos santos do
Altíssimo, e chegou a hora de eles tomarem posse do reino. (v. 22)
Ele me deu a seguinte explicação: ‘O quarto animal é um quarto reino
que aparecerá na terra. Será diferente de todos os outros reinos e devorará
a terra inteira, despedaçando-a e pisoteando-a. (v. 23)
Os dez chifres são dez reis que sairão desse reino. Depois deles um
outro rei se levantará, e será diferente dos primeiros reis. (v. 24)
Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará mudar os
tempos e as leis. Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo,
tempos e meio tempo’. (v. 25)
Mas o tribunal o julgará, e o seu poder será tirado e totalmente destruído
para sempre. (v. 26)
Então a soberania, o poder e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu
serão entregues nas mãos dos santos, o povo do Altíssimo. O reino dele será
um reino eterno, e todos os governantes o adorarão e lhe obedecerão. (v. 27)
“Esse é o fim da visão. Eu, Daniel, fiquei aterrorizado por causa de meus
pensamentos, e meu rosto empalideceu, mas guardei essas coisas comigo”. (v. 28)
170 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

O importante para nós aqui é analisarmos as características e a


identidade do chifre pequeno de Daniel 7. Veremos as suas características e
as compararemos em seguida com o chifre pequeno de Daniel 8:

Características do chifre pequeno de Daniel 7:

• Está ligado a uma besta que representa o quarto império ou reino


(v. 23);
• Surge diretamente da cabeça desse animal (v. 8 e 20);
• Aparece entre os 10 chifres já existentes (v. 8 e 20);
• Ele arranca três chifres quando surge (v. 8 e 20);
• Ele é diferente dos outros 10 chifres, indicando ser um poder novo
e diferente (v. 24);
• No aramaico, esse chifre pequeno se traduz como “outro chifre,
um pequeno” (v. 8);
• Apesar de ser pequeno ele é mais forte que os outros chifres, ou
seja, um poder mais forte que os outros poderes (v. 20);
• Sua área de influência é referente a totalidade da extensão do
quarto reino, pois surge da cabeça desse estranho animal e se torna
o chifre dominante entre os outros chifres (v. 20, 21e 24);
• Por não ter nascido de nenhum chifre, mas sim entre um dos 10
chifres, ele é um poder diferente e novo (v. 8);
• Ele guerreia contra os “Santos do Altíssimo” e o próprio
“Altíssimo”. Esses santos são os santos que fazem parte do período
do reinado desse quarto império (v. 25).

Conclusão resumida: O chifre pequeno de Daniel 7 se remete a figura


do anticristo que aparecerá no fim dos tempos, na época da tribulação que
precederá a volta de Cristo.111

111 A intenção deste livro não é a de estudarmos a escatologia dos tempos do fim, portanto não
iremos nos aprofundar no estudo a respeito da figura do anticristo.
Descortinando o Adventismo – Volume I 171

Daniel capítulo 8
“No terceiro ano do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive outra visão,
depois da primeira. (v. 1)
Na minha visão eu me vi na cidadela de Susã, na província de Elão; na
visão eu estava junto do canal de Ulai. (v. 2)
Olhei para cima, e diante de mim, junto ao canal, estava um carneiro,
seus dois chifres eram compridos, um mais que o outro, mas o mais
comprido cresceu depois do outro. (v. 3)
Observei o carneiro enquanto ele avançava para o oeste, para o norte e para
o sul. Nenhum animal conseguia resistir-lhe, e ninguém podia livrar-se do
seu poder. Ele fazia o que bem queria e foi ficando cada vez maior. (v. 4)
Enquanto eu estava considerando isso, de repente um bode, com um chifre
enorme entre os olhos, veio do oeste, percorrendo toda a extensão da terra
sem encostar no chão. (v. 5)
Ele veio na direção do carneiro de dois chifres que eu tinha visto ao lado do
canal, e avançou contra ele com grande fúria. (v. 6)
Eu o vi atacar furiosamente o carneiro, atingi-lo e quebrar os seus dois
chifres. O carneiro não teve forças para resistir-lhe; o bode o derrubou no
chão e o pisoteou, e ninguém foi capaz de livrar o carneiro do seu poder. (v. 7)
O bode tornou-se muito grande, mas no auge da sua força o seu
grande chifre foi quebrado, e em seu lugar cresceram quatro chifres
enormes, na direção dos quatro ventos da terra. (v. 8)
De um deles saiu um outro chifre, que começou pequeno, mas cresceu
em poder na direção do sul, do leste e da Terra Magnífica. (v. 9)
Cresceu até alcançar o exército dos céus, e atirou na terra alguns
componentes do exército das estrelas e os pisoteou. (v. 10)
Tanto cresceu que chegou a desafiar o príncipe do exército; suprimiu
o sacrifício diário oferecido ao príncipe, e o local do santuário foi
destruído. (v. 11)
172 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Por causa da rebelião, o exército dos santos e o sacrifício diário foram


dados ao chifre. Ele tinha êxito em tudo o que fazia, e a verdade foi
lançada por terra. (v. 12)
Então ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro:
‘Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por essa visão?
Até quando será suprimido o sacrifício diário e a rebelião devastadora
prevalecerá? Até quando o santuário e o exército ficarão entregues ao
poder do chifre e serão pisoteados?’ (v. 13)
Ele me disse: ‘Isso tudo levará duas mil e trezentas tardes e manhãs;
então o santuário será reconsagrado’. (v. 14)
Enquanto eu, Daniel, observava a visão e tentava entendê-la, diante de
mim apareceu um ser que parecia homem. (v. 15)
E ouvi a voz de um homem que vinha do Ulai: ‘Gabriel, dê a esse homem
o significado da visão’. (v. 16)
Quando ele se aproximou de mim, fiquei aterrorizado e caí prostrado. E
ele me disse: ‘Filho do homem, saiba que a visão refere-se aos tempos do
fim’. (v. 17)
Enquanto ele falava comigo, caí prostrado, rosto em terra, e perdi os
sentidos. Então ele tocou em mim e me pôs de pé. (v. 18)
E disse: ‘Vou contar-lhe o que acontecerá depois, no tempo da ira, pois a
visão se refere ao tempo do fim. (v. 19)
O carneiro de dois chifres que você viu representa os reis da Média e
da Pérsia. (v. 20)
O bode peludo é o rei da Grécia, e o grande chifre entre os seus olhos
é o primeiro rei. (v. 21)
Os quatro chifres que tomaram o lugar do chifre que foi quebrado são quatro
reinos que surgirão da nação daquele rei, mas não terão o mesmo poder. (v. 22)
No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado ao
máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em astúcias. (v. 23)
Descortinando o Adventismo – Volume I 173

Ele se tornará muito forte, mas não pelo seu próprio poder. Provocará
devastações terríveis e será bem-sucedido em tudo o que fizer. Destruirá
os homens poderosos e o povo santo. (v. 24)
Com o intuito de prosperar, ele enganará a muitos, e se considerará
superior aos outros. Destruirá muitos que nele confiam e se insurgirá
contra o Príncipe dos príncipes. Apesar disso, ele será destruído, mas não
pelo poder dos homens’. (v. 25)
‘A visão das tardes e das manhãs que você recebeu é verdadeira; sela,
porém a visão, pois refere-se ao futuro distante’. (v. 26)
Eu, Daniel, fiquei exausto e doente por vários dias. Depois levantei-me
e voltei a cuidar dos negócios do rei. Fiquei assustado com a visão; estava
além da compreensão.” (v. 27)

Características do chifre pequeno de Daniel 8:

• Está ligado a um animal que representa o terceiro reino (v. 9, 21,


22 e 23);
• Nasce de um chifre que já existia (v. 9);
• Não nasce diretamente da cabeça do animal (v. 9);
• Não arranca nenhum chifre quando ele surge (v.9);
• No original hebraico é traduzido como “um chifre de pequeno
tamanho” (v. 9);
• É um chifre que sai de outro chifre, e comparado ao grande chifre
que representa Alexandre, e aos outros 4 chifres notáveis, ele
parece ser muito menor em poder (v. 8 e 9);
• Por ter saído de um dos chifres ele pertence somente a uma divisão
do império do bode, e a sua atenção é direcionada a uma parte
da província do império do bode mais especificadamente à terra
gloriosa, a Palestina (v. 9);
174 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

• A guerra desse chifre pequeno é direcionada ao povo judeu, o seu


santuário, os seus sacerdotes e os sacrifícios do santuário. Ou seja,
a ira desse chifre é contra algo bem local e específico (v. 11, 12, 13
e 14).

Conclusão resumida: O chifre pequeno de Daniel 8 remete a figura


de Antíoco Epifânio IV que preenche todas as características listadas
acima.

Além das claras diferenças entre as características de cada um


desses chifres pequenos, o período em que eles surgiram também são
completamente diferentes um do outro.

O chifre pequeno de Daniel 8 surgiu de um dos chifres ou reinados


(ou poderes) que saíram de Alexandre o Grande (Daniel 8:9), e ele aparece
em cena no fim do reinado desses 4 chifres (Daniel 8:23).

Isso faz com que esse poder (um dos 4 chifres do qual veio o pequeno
chifre) tenha surgido somente por volta de 300 A.C. Roma nunca foi
parte do império de Alexandre, nem se originou de nenhuma de suas 4
subdivisões após a sua morte, por isso ela nunca poderia ter surgido de
um de seus chifres. Roma surgiu na Itália e foi formada no ano de 750 A.C.
e se converteu em república em 509 A.C.

Já o chifre pequeno de Daniel 7 somente surge depois que a besta se


divide em 10 reinos, o que somente teria ocorrido 476 anos DEPOIS de
Cristo com a divisão do império Romano, segundo a própria interpretação
adventista a respeito da quarta besta112. Sendo assim, o chifre pequeno de
Daniel 8 teria surgido por volta de seis séculos ANTES do chifre pequeno
de Daniel 7.

112 A quarta besta é identificada como o Império Romano segundo o próprio entendimento adventista.
O nosso entendimento escatológico, contudo, entende que essa besta só surgirá no fim dos tempos na
época em que o anticristo se manifestar.
Descortinando o Adventismo – Volume I 175

COMPARAÇÃO ENTRE O CHIFRE PEQUENO DE


DANIEL 7 E O CHIFRE PEQUENO DE DANIEL 8

Chifre pequeno de Daniel 7 Chifre pequeno de Daniel 8


Ligado a um animal que Ligado a um animal que
representa o 4o Reino representa o 3o Reino
Aparece entre os 10 chifres
Nasce de um chifre que já existia
já existentes
Nasce diretamente da Não nasce diretamente da
cabeça desse animal cabeça do animal
Ele arranca três chifres quando Não arranca nenhum chifre
surge quando ele surge
Em Aramaico, se traduz: Em Hebraico, se traduz: “um
“outro chifre, um pequeno” chifre de pequeno tamanho”
Apesar de se tornar forte ele é
Apesar de ser pequeno ele é mais
mais fraco que o grande chifre
forte que os outros chifres
e que os outros 4 chifres
Nasceu entre um dos 10 chifres Saiu de um dos chifres por isso
e é diferente deles, por isso pertence a esse poder, não é um
representa um poder novo poder novo
Sua área de influência é sobre Sua área de influência é somente
toda a extensão do 4o império ligada a uma divisão do império
ou reino, pois ele se torna o do bode, a Terra Gloriosa ou
chifre dominante sobre os Palestina, pois ele não domina os
outros outros chifres
Ele guerreia contra os “Santos
Ele guerreia localmente e
do Altíssimo” que representam
especificamente contra o povo
todos os santos através de todo
judeu e seu santuário
o 4o império
176 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Como pudemos analisar, o chifre pequeno de Daniel 7 e o chifre


pequeno de Daniel 8 não podem ser o mesmo chifre, pois possuem
características completamente diferentes uma das outras.

Ainda segundo a interpretação adventista, os 2300 anos ou dias


proféticos se iniciaram em 457 A.C. e terminaram em 22 de outubro de
1844. Segundo eles, Roma Imperial pisoteou o santuário terrestre no início
desses anos e Roma papal pisoteou o santuário celestial após isso. Mais uma
vez essa informação não procede. Vejamos as incongruências dessa asserção
adventista:

• Como pode ser Roma o chifre pequeno de Daniel 8 se Roma não


teve nenhum contato com o povo judeu até 161 A.C.?

• Como Roma teria pisoteado o santuário terrestre desde 457 A.C.


se esse poder só teve contato com os judeus 296 anos depois?

• Mesmo tendo contato com os judeus em 161 A.C., Roma só


começa a causar transtorno a eles em 63 A.C. Como poderia esse
poder ter pisoteado o santuário judeu durante todo esse período
se Roma só os importunou 400 anos depois do início da profecia?

• Se Roma realmente fosse o chifre pequeno de Daniel 8, não


deveria haver algo de relevante na história de Roma papal no fim
desses 2300 anos (segundo os adventistas em 22 de outubro de
1844)? Contudo a história mostra que nada ocorreu relativo a
Roma papal nessa data.

Ademais, seguindo o raciocínio e interpretação do capítulo 8 de


Daniel, nós vemos a seguinte sequência dos fatos:
Descortinando o Adventismo – Volume I 177

Surgimento do chifre grande (Império Alexandrino)

Governa por um tempo e depois ele é destruído

Esse império se divide em 4 novos impérios

Depois disso surge o chifre pequeno.

Vejamos quando cada um desses fatos ocorreu:

• Império de Alexandre se inicia em 336 A.C.;


• Alexandre o Grande morre em 323 A.C.;
• Império de Alexandre é dividido em quatro em 301 A.C.;
• O chifre pequeno surge em cena após 301 A.C.

Podemos assim facilmente concluir que o chifre pequeno nunca


poderia ter surgido em 457 A.C. visto que tal chifre pequeno somente
entra em cena após 301 A.C.

Além disso, ao analisarmos o texto em seu original hebraico, notamos


que o chifre pequeno de Daniel 8 não pode ser um império, mas sim,
necessariamente, ele deve ser um rei. Analisemos, por exemplo, Daniel 8:23:

“No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado
ao máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em astúcias.”

A palavra “reinado” vem do hebraico “malkuth”. Já a palavra “rei” vem


do original hebraico “melek”.

A concordância Strong traduz essas palavras dessa forma:


178 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Malkuth:
‫ תוכלמ‬malkuwth ou ‫ תכלמ‬malkuth ou (no pl.) ‫ היכלמ‬malkuyah
procedente de 04427; DITAT - 1199e; n f 1) realeza, poder real,
reino, reinado, poder soberano 1a) poder real, domínio 1b) reino 1c)
reinado, domínio.

Melek:
‫ ְךלמ‬melek procedente de 04427, grego 3197 Μελχι; DITAT - 1199a;
n m 1) rei – 2) rei real.

Sendo assim, o anjo Gabriel está dizendo o seguinte no versículo 23


de Daniel 8:

“No final do malkuth (domínio, reinado, império, reino), quando a


rebelião dos ímpios tiver chegado ao máximo, surgirá um melek (rei, rei
real) de duro semblante, mestre em astúcias.”

Após o verso 23 as referências a esse “melek” ocorrem de forma pessoal


no original hebraico como “seu” ou “ele”, 10 vezes, nos versos 24 e 25. O
que implica que tais referências estão ligadas a um indivíduo e não a um
reino ou império.

Sendo assim, ao analisarmos as características da identidade do chifre


pequeno de Daniel 8 e ao compararmos com os registros históricos, o peso
das evidências aponta fortemente para que esse chifre seja Antíoco Epifânio
IV, pois ele preenche com exatidão todas as características desse chifre.
Teólogos evangélicos em massa concordam com essa linha interpretativa.
Vejamos as evidências.

Segundo Daniel 8:9, esse chifre ataca primeiro ao sul, logo ao leste e
em seu caminho ataca a Terra Magnífica (Gloriosa):
Descortinando o Adventismo – Volume I 179

“De um deles saiu um outro chifre, que começou pequeno, mas cresceu em
poder na direção do sul, do leste e da Terra Magnífica.” Daniel 8:9

O reino de Antíoco Epifânio ficava ao norte de Israel, na Síria, e


durante o seu reinado ele somente atacou ao sul e ao leste do seu reino.

Ataque ao Sul:
“Os guardiões do rei Ptolomeu VI exigiram a retirada da Síria em
170 A.C., mas em vez disso Antíoco lançou um ataque contra o Egito,
conquistando toda a região, exceto Alexandria, e capturando o rei
Ptolomeu. Para evitar alarmar Roma, Antíoco permitiu que Ptolomeu
VI continuasse governando como uma espécie de “rei fantoche”. Após a
retirada de Antíoco, a cidade de Alexandria escolheu um novo rei, um
dos irmãos de Ptolomeu, também chamado Ptolomeu (VIII Euergetes).
Os “irmãos Ptolomeu” concordaram em governar o Egito em conjunto,
em vez de travar uma guerra civil.”113

Ataque ao Leste:
O livro de I Macabeus descreve claramente os ataques ao Leste da
Síria, na Pérsia, perpetuados por Antíoco:

“Profundamente consternado, resolveu ir à Pérsia cobrar os tributos


dessas regiões e recolher muito dinheiro.” I Macabeus 3:31

“Enquanto percorria as províncias superiores, soube o rei Antíoco que na


Pérsia, em Elimaida, havia uma cidade famosa por suas riquezas a sua prata
e o seu ouro. Seu templo, extremamente rico, possuía véus de ouro, escudos,
couraças e armas, abandonados ali por Alexandre, filho de Filipe, rei da
Macedônia que foi o primeiro a reinar sobre a Grécia.” I Macabeus 6:1, 2

113 Polybius, The Histories, Fragments of the Book XXIX.


180 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

A Terra Magnífica ou Gloriosa (Palestina)


“Devido a esse contexto, Antíoco IV voltou suas atenções inicialmente para
a província da Judeia, onde pretendia arrecadar dinheiro e assegurar o
domínio da região, arbitrando disputas internas para espantar qualquer
pretensão egípcia de reconquista.

Dentre as medidas tomadas pelo rei, ele ‘pilhou o templo, interrompeu


os sacrifícios do culto, em seguida, proibiu os ritos tradicionais, a
circuncisão, a observância da Lei, perseguindo e massacrando os que
continuavam a praticá-los’ (BENOIT; SIMON, 1987, p. 52). Por fim,
instaurou o culto a Zeus dentro do templo judaico. Essa política imposta
gerou descontentamento do povo judeu, sobretudo entre os setores mais
tradicionais do judaísmo, o que acabou por ser o estopim da chamada
Revolta dos Macabeus (167 a.C.).”114

Dessa forma, fica evidente que Roma em hipótese alguma pode ser
considerada como o chifre pequeno de Daniel 8, enquanto Antíoco Epifânio
IV se encaixa perfeitamente nas profecias de Daniel. O escritor Dirk
Anderson, analisa brilhantemente a comparação entre Roma e Antíoco:

“Antíoco atacou inesperadamente a terra de Israel, matando dezenas de


milhões de judeus, na tentativa de esmagar a religião judaica.

O campo de operações de Antíoco estava precisamente nas três áreas


que Daniel menciona. Isto não ocorre com Roma. Muitas das maiores
conquistas de Roma foram ao norte e ao oeste dela.

Roma conquistou grandes regiões do noroeste da Europa, as áreas


que agora ocupam Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Espanha
e Portugal. Os romanos conquistaram as regiões noroestes da
África, que agora estão ocupadas por Marrocos, Argélia e Túnis.

114 Santos, Dominique V. C.; Plautz, Daniel, Antíoco IV Epífanes e a Intervenção Selêucida em Jerusalém:
Breves considerações a partir do Livro de Daniel, pág. 62 e 63.
Descortinando o Adventismo – Volume I 181

Roma foi definidamente um poder que cresceu muito em direção ao


norte e em direção ao oeste. Portanto, Roma não pode ajustar-se às
especificações desta profecia.

Em seu livro 1844 Made Simple (1844 Simplificado), o escritor adventista


Clifford Goldstein argumenta que, em comparação com a Pérsia e Grécia,
Antíoco não “se engrandeceu sobremaneira”, e que, portanto, não pode
haver sido o chifre pequeno de Daniel 8:9. Uma leitura cuidadosa de
Daniel 8:9 revela que a profecia nunca o compara com outros poderes,
mas somente diz que “se engrandeceu muito” nas três direções: em direção
ao sul, em direção ao leste, e em direção à terra gloriosa. Antíoco não foi
um chifre grande em um cenário grande.

Foi um chifre pequeno que desempenhou um grande papel em um cenário


pequeno. Sua conquista do Egito e seu ataque contra o judaísmo podem
certamente descrever-se como que “extremadamente grande” no cenário
da história do Oriente Médio durante este período. Pode-se argumentar
que, de todos os inimigos do judaísmo, Antíoco Epífanes foi o que
esteve mais perto de extirpar a religião. Seu ataque contra o judaísmo
somente pode descrever-se como ‘extremadamente grande’.”115

Esse ataque ao povo judeu e a tudo que representava a religião judaica


acabou culminando com o que ficou conhecida como “A revolta dos
Macabeus” que foi liderada por Judas Macabeus que, por pouco mais de
três anos, lutou fortemente contra o exército de Antíoco. Finalmente, entre
168 e 167 A.C, os Macabeus saíram vitoriosos da guerra, e ao encontrar
o Santuário Judaico “desolado” (abominação desoladora, Daniel 11:31)
eles o reconstruíram e o purificaram (restaurou, Daniel 8:14) para que o
mesmo voltasse a ser usado para os sacrifícios diários. O período em que
Antíoco pisoteou o Santuário foi o de exatamente 2300 tardes e manhãs
ou 1150 dias.

115 Anderson, Dirk, Refutação do livro de Clifford Goldstein 1844 Made Simple (1844 Simplificado).
182 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

O primeiro livro de Macabeus descreve a restauração do templo e dos


ritos judaicos que ocorreram nesse período:

“Nisto Judas ordenou que alguns dos seus homens atacassem a cidadela
enquanto ele purificava o templo. Escolheu sacerdotes irrepreensíveis,
dedicados à lei de Deus, e eles purificaram o templo levando para um
lugar impuro as pedras que o profanavam. O altar onde eram queimados
os sacrifícios tinha sido profanado; então eles discutiram o que deviam
fazer com ele.

Tiveram a boa ideia de desmontá-lo a fim de que não ficasse ali para
os envergonhar; pois os pagãos tinham-no profanado. Desmontaram o
altar e puseram as pedras num lugar próprio, no monte do templo, onde
ficariam guardadas até que aparecesse um profeta e lhes dissesse o que
deveriam fazer com elas. Depois conforme a lei prescreve, construíram um
altar novo, com pedras não lavradas, igual ao primeiro. Reconstruíram
o templo e reformaram a parte de dentro, dedicaram os pátios e fizeram
novos utensílios sagrados.

Puseram o candelabro, o altar do incenso e a mesa onde eram colocados


os pães consagrados nos respetivos lugares no templo. Queimaram incenso
no altar e acenderam as lamparinas do candelabro; e o templo encheu-
se de luz. Colocaram os pães na mesa e penduraram as cortinas. Assim
completaram tudo o que se propuseram fazer.” 1 Macabeus 4:41-51

O povo judeu até hoje comemora a vitória sobre Antíoco Epifânio


em um feriado chamado Hanukkah ou “Festival das Luzes”, um de seus
festivais mais importantes. Até mesmo Jesus prestigiava esse festival com a
sua presença ( Jo 10:22).

Nenhum teólogo evangélico sério possui qualquer dúvida a respeito


da identidade do chifre pequeno de Daniel 8. O consenso geral aponta
para Antíoco Epifânio IV, e inclui até mesmo teólogos adventistas muito
Descortinando o Adventismo – Volume I 183

respeitados por seu conhecimento teológico e coragem de assumir uma


posição contrária a instituição. Dentre eles podemos citar: Raymond
Cottrell, Dale Ratzlaff, Desmond Ford, D. M. Canright, Sydney Cleveland
e Jerry Gladson.

Como dito anteriormente, a descrição do chifre pequeno reflete tão


claramente a identidade de Antíoco, que muitos historiadores não judaico/
cristãos acreditam que o livro de Daniel só pode ter sido redigido depois
que os fatos descritos sobre a invasão de Jerusalém por Epifânio, tivessem
efetivamente ocorrido. Segundo eles, somente assim alguém poderia
descrever com tamanha exatidão e detalhes a respeito dessa história. Isso,
além de trazer uma maior credibilidade para as profecias bíblicas, solidifica
ainda mais a identidade do chifre pequeno de Daniel 8 como sendo Antíoco
Epifânio IV.

Contudo, para que fique ainda mais claro ao leitor, elaboramos uma
tabela comparativa entre Roma (interpretação adventista) e Antíoco
Epifânio IV (o resto do mundo cristão), sobre a identidade do chifre
pequeno de Daniel 8:
184 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

QUADRO DESCRITIVO DO CHIFRE PEQUENO DE DANIEL 8


E COMPARATIVO ENTRE ROMA E ANTÍOCO EPIFÂNIO IV

Características do
Antíoco Epifânio
Chifre Pequeno de Roma
IV
Daniel 8
NÃO – Surge como
Surge depois de SIM – Nasceu em 215 Reino muito antes,
Alexandre Magno A.C. e morreu em 164 em 750 A.C. e como
(Daniel 8:21-23 A.C. República em 509 A.C. e
como Império em 27 A.C.
SIM – Foi um rei NÃO – Roma nunca
Nasce de um dos 4
da dinastia Selêucida, fez parte do Império
reinos que vieram de
império que assumiu Grego por isso nunca
Alexandre Magno
uma das 4 divisões do “surgiu” de nenhum
(Daniel 8:8, 9, 21-23)
reino Alexandrino de seus reinos
SIM – Antíoco NÃO – Roma só veio a
Profanou o santuário
profanou o santuário ter contato com os Judeus
terrestre e suprimiu
sacrificando um porco em 168 A.C. e ainda assim
o sacrifício diário do
no altar do templo, somente os oprimiu a
templo no início das
impediu os sacrifícios partir de 63 A.C. quando
2300 tardes e manhãs
diários e todos os a Palestina se tornou parte
(“eveb” e “boqer” dois
rituais judeus na época do Império Romano, além
sacrifícios diários
em que dominou sobre disso, as 2300 tardes e
ou 1150 dias literais –
eles, 167 A.C. e 164 manhãs não são dias,
Daniel 8:11, 13-14)
A.C. nem anos literais
SIM – Antíoco foi
É um Rei “Melek” NÃO – Roma foi um
um rei da dinastia
e não um Império Reino 750 A.C., uma
Selêucida e governou a
“Malkuth” (Daniel República 509 A.C. e um
Síria entre 175 A.C. e
8:23) Império em 27 A.C.
164 A.C.
SIM – Antíoco NÃO NÃO – Roma foi
Foi destruído NÃO morreu por mãos de derrotada pelas mãos
por mãos de homens homens, mas devido a de homens Bárbaros e
(Daniel 8:25) uma espécie de câncer Germanos (Hérulos)
no intestino em 476 D.C.
Descortinando o Adventismo – Volume I 185

Após a vitoriosa revolta dos Macabeus, liderada por Judas Macabeus,


o templo finalmente foi purificado e restaurado por ele da Abominação
Desoladora que afligiu o templo durante as 2300 tardes e manhãs.

Tal Abominação Desoladora e profanação do templo (Daniel 8:13 e


11:31) ocorreu claramente quando Antíoco pisoteou o templo judaico ao
sacrificar porcos a ídolos sobre o santo altar de Deus. Vejamos o que diz o
livro de Macabeus a respeito dessa “Abominação Desoladora” dentro do
contexto de Antíoco Epifânio e a sua profanação ao altar judaico:

“Puseram sobre o altar a abominação desoladora. Ofereceram sacrifícios


sobre o altar dos ídolos, que estava sobre o altar de Deus”. I Macabeus
1:54, 59

Jesus também fala a respeito da “Abominação Desoladora” conforme


descrito em Mateus 24:15, 16:

“Assim, quando vocês virem ‘a Abominação Desoladora’, do qual falou o


profeta Daniel, no lugar santo (quem lê, entenda) então, os que estiverem
na Judeia fujam para os montes.”

Os acontecimentos ligados a Antíoco Epifânio ainda estavam frescos


na mente dos judeus, portanto Jesus pôde usar o exemplo do que havia
acontecido recentemente para avisar os cristãos que quando algo parecido
ocorresse novamente no Templo, eles deveriam fugir de Jerusalém.

Essa outra “Abominação” ocorreu novamente em 68 D.C. quando o


exército Romano cercou Jerusalém e colocou os seus estandartes dentro da
área sagrada do Templo, profanando-o mais uma vez.116 Os cristãos da época
se lembraram do que Jesus havia dito e quando viram esse sinal, fugiram da

116 Essa abominação desoladora provavelmente também é um tipo profético do que ocorrerá quando o
anticristo, que aparecerá no fim dos tempos, invadir o terceiro templo que será construído em Jerusalém
e que servirá como palco para a grande tribulação mencionada no livro do Apocalipse.
186 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

cidade fazendo com que nenhum deles morresse quando a destruição de


Jerusalém ocorreu pelo então General Tito em 70 D.C.

Até mesmo o talvez maior e mais renomado historiador da nação


judaica, Flávio Josefo, descreve a profecia de Daniel como uma legítima
antecipação do que ocorreria 408 anos depois na figura de Antíoco117:

“E esta desolação ocorreu de acordo com a profecia de Daniel, que havia


sido pronunciada 408 anos antes; porque declarou que os macedônios
dissolveriam esse culto por algum tempo.”118

Interessante apontar também que os adventistas erroneamente


interpretam os versículos 17 e 19 de Daniel 8 com o intuito de poder
encaixar a sua combalida doutrina. A expressão “tempo do fim” nesses dois
versos, não tem o mesmo significado de “fim do tempo” como quer impor
a doutrina adventista.

“Fim do tempo” e “tempo do fim” querem dizer duas coisas


completamente diferentes. O “tempo do fim” aqui se refere ao fim do
período ligado aos acontecimentos dessa profecia específica. Ou seja, a
visão teria como propósito explicar quando acabaria a ira que viria sobre o
povo judeu durante esse período. Vejamos o que dizem os versos:

Quando ele se aproximou de mim, fiquei aterrorizado e caí prostrado.


E ele me disse: “Filho do homem, saiba que a visão refere-se ao tempo do
fim”. (v. 17)

E disse: “Vou contar-lhe o que acontecerá depois, no tempo da ira, pois a


visão se refere ao tempo do fim.” (v. 19)

117 Antíoco Epifânio IV também é um tipo profético do anticristo, que ainda há de surgir no cenário
mundial pouco tempo antes da volta de Jesus.
118 Josefo, Flávio, “Antiquities of the Jews”, pág. 260.
Descortinando o Adventismo – Volume I 187

Mas qual seria esse “tempo do fim”? O “tempo do fim” da abominação


desoladora e de tudo de ruim que aconteceu com o povo judeu nesse
período. Vale lembrar que todas essas calamidades ocorreram como forma
de juízo de Deus sobre o povo judeu, que atraiu tais acontecimentos sobre
si mesmo em virtude dos pecados e da desobediência deles.

Porém, mesmo assim, Deus com toda a Sua misericórdia e graça, teve
por intuito informar de antemão que mesmo que todos esses acontecimentos
ruins tivessem ocorrido devido às iniquidades praticadas pelo povo de
Israel, Ele viria ao socorro deles em um determinado momento da história,
avisando, através de seu profeta Daniel, quando todo esse infortúnio
chegaria ao seu fim.

Pode-se notar, portanto, que em cada mínimo detalhe, a profecia se


encaixa perfeitamente com esse rei Sírio. Notemos essa mesma comprovação
no que diz respeito aos versos seguintes:

“Os quatro chifres que tomaram o lugar do chifre que foi quebrado são
quatro reinos que surgirão da nação daquele rei, mas não terão o
mesmo poder.” (v. 22)

“No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado
ao máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em astúcias.”
(v. 23)

Ao analisarmos o verso 23 de Daniel 8, vemos que esse rei, deveria surgir


“No final do reinado deles”, ou seja, no final do reinado dos 4 generais que
assumiram o reino de Alexandre, o Grande. Esses 4 reinados se iniciaram
na batalha de Ipso em 301 A.C., sendo que o reino da Macedônia (uma
das 4 divisões do império de Alexandre) caiu em 168 A.C., fazendo com
que o surgimento desse rei devesse ocorrer um pouco antes disso. Antíoco
Epifânio IV surgiu em cena como rei em 175 A.C. preenchendo mais uma
vez, assombrosamente, as características da profecia.
188 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Passemos a analisar agora o versículo 25:

Com o intuito de prosperar, ele enganará a muitos, e se considerará


superior aos outros. Destruirá muitos que nele confiam e se insurgirá
contra o Príncipe dos príncipes. Apesar disso, ele será destruído, mas
não pelo poder dos homens. (v. 25)

Uma das estratégias políticas de Antíoco era trazer pra perto dele os
seus inimigos e os destruir através do engano. Muitos deles acreditavam,
erroneamente, que Antíoco era de fato seu aliado. Ele, portanto, destruiria
“muitos que nele confiam”. Vejamos como o teólogo Albert Barnes
descreveu o modus operandi de Antíoco:

“A profecia diz que Antíoco ‘destruirá muitos que nele confiam’. Isto se
refere a sua política de conservar sempre a aparência de amizade em
direção aos que queria destruir. Desta maneira, podia levar a cabo melhor
seus propósitos, enquanto seus inimigos estavam confiantes.” 119

Ele, além disso, se levantou “contra o Príncipe dos príncipes”. Antíoco


era um rei insolente que não respeitava outras culturas e principalmente
a religião judaica. Ele se levantou contra o próprio Deus ao profanar o
templo judeu levantado a Ele, e também se autointitulou “Theo Antíoco”, o
que significa algo como “reflexo radiante do esplendor divino” ou o próprio
Deus em carne.120 Mal sabia ele que esse cargo, contudo, já tinha dono.
Jesus, o próprio Deus encarnado, viria a Terra pouco tempo depois.

O restante do verso 25 diz que ele seria destruído, “mas não pelo
poder de homens”. Aparentemente o próprio Deus resolveu, pessoalmente,
trazer juízo e justiça a vida de Antíoco. Vejamos o que o livro de Macabeus
relata sobre a morte desse nefasto rei Sírio:

119 Barnes, Albert, “Notes on Daniel”, págs 354-355.


120 Bevan, Edwin, “The House of Seleucus”, tomo 2, pág. 154.
Descortinando o Adventismo – Volume I 189

“Mas o Senhor Todo Poderoso, o Deus de Israel, lhe castigou com uma
peste incurável e invisível; pois, tão logo como houve pronunciado estas
palavras, lhe sobreveio uma dor nas entranhas que não lhe saía e um
penoso tormento de suas partes internas. Tudo isso era o mais justo,
porque ele havia atormentado as entranhas de outros homens com
muitos e estranhos tormentos. Sem demora, não cessava de vangloriar-se,
e estava, todavia, cheio de orgulho, respirando fogo em sua ira contra os
judeus e ordenando-lhes apressar a viagem: porque sucedeu que caiu da
carruagem que sacudia violentamente; caindo, pois, todos os membros de
seu corpo ficaram muito doloridos.

E assim, o que pouco antes pensava que podia dar ordens a beira mar
(era orgulhoso mais além de sua condição) e pesar as altas montanhas em
uma balança, foi lançado ao solo, e levado em uma bicama ao lombo de
um cavalo, mostrando a todos o manifesto poder de Deus. De tal maneira
que os vermes saíam do corpo deste homem ímpio, e enquanto vivia em
aflição e dor, sua carne caía, e a imundícia de seu fedor era repulsiva a
todo seu exército.

E a causa de seu fedor intolerável, ninguém podia suportar transportar ao


homem que pouco tempo antes pensava que podia alcançar as estrelas do
céu. Então, infectado, começou a abandonar seu grande orgulho, e vir ao
conhecimento de si mesmo por meio do chicote de Deus, enquanto sua dor
aumentava a cada momento. E quando já não podia suportar seu próprio
fedor, disse estas palavras: ‘Há que submeter-se a Deus, um homem mortal
não deve considerar-se a si mesmo, orgulhosamente, como se fosse Deus…’
Assim, o assassino e blasfemo, havendo sofrido mais dolorosamente,
enquanto suplicava a outros homens, morreu uma morte miserável em
um país estranho nas montanhas.” II Macabeus 9:5-12, 28

A terrível maneira em que ocorreu a morte de Antíoco Epifânio denota


um terrível juízo de Deus sobre a sua vida, não tendo, portanto, a “mão de
homem” nenhum sobre a sua causa, exatamente como previu a profecia.
190 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Problemas na interpretação adventista de Daniel 9


Além de todos os problemas de interpretação apresentados até aqui,
os pioneiros adventistas tiveram outro grande obstáculo em seu caminho
que os desviou mais uma vez da verdade. A versão bíblica usada por eles
para estudar as profecias do livro de Daniel foi a KJV, que por uma infeliz
causalidade traduziu vários textos bíblicos de maneira equivocada. Já
mostramos parte desses erros no capítulo 7 e 8 de Daniel, e agora entraremos
um pouco mais a fundo no capítulo 9 desse mesmo livro.

Contudo, mesmo com todos esses erros de tradução, nós não podemos
eximir os dirigentes dessa instituição de sua responsabilidade em levar
milhões de pessoas ao erro. Visto que registros históricos mostram que já
em 1919, numa conferência bíblica realizada na época, diretores e dirigentes
da conferência já estavam cientes desses erros e mesmo assim resolveram
abafá-los do grande público.

Reproduziremos parte desse diálogo aqui:

Wirth: Parece-me que Antíoco Epifanes era realmente a grande figura


neste capítulo (Daniel 8).

W. C. Lacey: Paráfrases de Daniel 11 vrs. 21. “E em seu tempo (o de Seleuco


Filopáter) se levantará (reinará) uma pessoa desprezível (Antíoco Epifanes
176-164) ao qual não darão (não oferecerão) a honra do reino (a soberania,
porque Teliostarnes fazia um complô para obtê-lo; também Demétrio; outro
partido favorecia a Ptolomeu Filométor), mas tomou o reino (acendeu
ao trono da Síria por cima dos outros) com adulações (Euménides, rei
de Pérgamo, e Átalo, os sírios, os romanos): assim, ele (Antíoco Epifanes)
chegou sem aviso, e se apoderou do reino mediante adulações.

Versículos 22, 23. E como uma inundação, as forças inimigas (Hiliodoro,


Ptolomeu, Filométor) serão varridas diante dele. (Antíoco Epifanes) e serão
destruídos (derrotados) junto com o príncipe do pacto (Onías III, deposto do
Descortinando o Adventismo – Volume I 191

sumo sacerdócio no ano 176 A.C., e mais tarde assassinado). E depois do


pacto com ele (entre Antíoco Epifanes e Jasón, o novo sumo sacerdote) (Jasón)
ele (Antíoco) enganará (depondo a Jason e elevando a seu irmão Menelau
a posição de sumo sacerdote), e ele (Antíoco) subirá (acenderá a soberania)
e sairá vencedor com pouca gente (seus poucos colaboradores) versículo 24.
Estando a província (as regiões altas, também Sele-Síria e Palestina) em paz
e abundância, ele (Antíoco Epifanes) entrará e fará o que não fizeram seus
pais, nem os pais de seus pais (despojar altares e templos); despojos e riquezas
(dos altares, templos, amigos e inimigos etc.) repartirá a seus soldados.

Versículo 25. E ele (Antíoco Epifanes) despertará suas forças (171 A.C.)
e seu ardor contra o rei do sul (Ptolomeu Filométor) com grande exército
(“uma grande multidão”); e o rei do sul (Ptolomeu Filométor) se empenhará
na guerra com grande e exército muito forte (“muitos, e extremamente
fortes” Newton) mas ele (Ptolomeu Filométor) não prevalecerá (“teve medo
e fugiu”): porque lhe trairão (Eulaco, seu ministro, Macrón, um premier).

Versículo 26. Ainda os que comam de seus manjares (os de Ptolomeu) (seus
ministros, Eulaco, Macrón) lhe quebrantariam (por meio da traição), e seu
exército (o de Ptolomeu) será destruído, e cairão muitos mortos”.

A. G. Daniells: Que significa esta destruição?

H. C. Lacey: Dispersaram-se e foram derrotados. Esta é a linguagem em


I Macabeus 1:16-19. (Leia). A linguagem em Daniel e em Macabeus se
parecem muito. (continue lendo em Daniel): Versículo 27: O coração destes
dois reis será para fazer mal, e em uma mesma mesa falarão mentira; mas
não servirá de nada, porque o prazo ainda não haverá chegado.

Chegando a Memphis, Antíoco Epifanes e Ptolomeu Filopátor comeram e


conversaram juntos “em uma mesma mesa”, fazendo ver Antíoco que favoreceria
a causa de Ptolomeu contra a usurpação de seu irmão Fisón. Assim, Antíoco
simula aderir à causa de seu sobrinho mais velho contra seu irmão, Ptolomeu
culpa da campanha inteira a Eulaso – que lhe havia traído – e professa uma
192 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

grande obrigação a seu tio Antíoco. Mas estas demonstrações de amizade eram
“mentiras”. Tão logo Antíoco se retirou, os dois irmãos, Ptolomeu e Fisón,
fizeram as pazes e se puseram de acordo para reinar conjuntamente.

Agora leiamos nas Escrituras os nomes destes reis: o coração destes dois reis
(Antíoco Epifanes e Ptolomeu Filopátor) será para fazer mal (cada um
deles esperando enganar um ao outro), e em uma mesma mesa falaram
mentira (em aparente amizade), mas (essa paz sobrecarregada entre
eles) não servirá de nada.

Versículo 28: E voltará a sua terra com grande riqueza, e seu coração será
contra o pacto santo; fará sua vontade, e voltará a sua terra. Essa é a profecia.
Antíoco, esperando que os irmãos egípcios se destruíssem mutuamente em
uma guerra civil, regressou para a Síria. Levou com ele imensos tesouros
dos povos egípcios capturados. Daniel diz: “voltará . . . com grande riqueza”.

A história diz que se apoderou de todos os despojos dos povos egípcios


capturados. Em I Macabeus 1:19, 20 é dito: “Capturaram as cidades fortes
na terra do Egito, e tomou os despojos deles”. Isso é história.

Note-se que Daniel diz que “seu coração será contra o pacto santo”. O
versículo seguinte em Macabeus diz: “E depois de que Antíoco houvesse
esmagado ao Egito, voltou no ano 143 (que é o ano 169 A.C.) e subiu contra
Israel e Jerusalém com grande multidão, e se apoderou do altar de ouro, e do
candelabro, e de todos os copos, e da mesa dos pães da propiciação, e dos copos
das libações, e dos utensílios, e dos incensários de ouro, e o véu, e as coroas, e os
ornamentos de ouro que estavam diante do templo, todos os quais arrancou.

Tomou também a prata e o ouro e os copos preciosos; também tomou os


tesouros escondidos que encontrou. E quando os levou, entrou à sua própria
terra, havendo feito um grande massacre e falou com muito orgulho”.

Esta é a história. A profecia diz: “E seu coração será contra o pacto santo”.
Enquanto estava no Egito, circulou um falso rumor sobre sua morte.
Descortinando o Adventismo – Volume I 193

Imediatamente depois, Jasón, o ex-sumo sacerdote – ao qual Antíoco havia


deposto – regressou a Jerusalém e expulsou seu irmão Menelau do posto.

Antíoco, crendo que a nação se havia rebelado, e ouvindo que se


regozijavam pela notícia de sua morte, tomou Jerusalém com um grande
exército, tomou por assalto a cidade e descarregou sua ira contra os judeus.
Matou 40.000 deles, e vendeu 40.000 mais, profanou o templo, ofereceu
carne de porco sobre o altar de Deus, restaurou Menelau ao sacerdócio e
nomeou governador a Felipe, um bárbaro. “Fará sua vontade, e voltará a
sua terra”, tal como se havia predito.

Prof. Anderson: A que versículo o senhor cita quando fala da profanação


do templo, como diz a história?

Prof. Lacey: No capítulo 11. O versículo 30 fala da profanação do


templo. Mas chegaremos a isso um pouco mais adiante. A carreira de
Antíoco Epifanes é muito semelhante ao que se predisse do chifre
pequeno (Daniel 8). Somente para ilustrar: As coisas que se dizem do
chifre pequeno podem aplicar-se a Antíoco Epifanes.

Ele é o undécimo da linha, três foram arrancados, matou aos santos


do Santíssimo, mudou a lei do Altíssimo; lhe foram entregues coisas
em sua mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, que
são três anos e meio. Assim que, suponhamos que o senhor e eu
houvéssemos vivido nesse tempo.

Haveríamos pensado que a profecia se estava cumprindo. Mais tarde,


Antíoco descarregou seu desprezo sobre os desafortunados judeus,
despachando a Apolônio com 20.000 homens a Jerusalém, os quais
mataram grandes multidões, saquearam a cidade, derrubaram casas
e muros, assassinaram aos que atendiam aos serviços no templo,
e profanaram o Lugar Santo, de maneira que o serviço inteiro se
interrompeu, a cidade ficou vazia de judeus, e somente ficaram
estrangeiros.
194 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

À sua chegada em Antióquia, publicou um decreto obrigando todos


a conformar-se com a religião grega, sob pena de morte. Assim foi
abolida a lei judaica, e no templo mesmo se estabeleceu o culto pagão.

Pergunta: Em que data foi isso?

Resposta: No ano 168 A.C.

Prof. Lacey: “Puseram sobre o altar a abominação desoladora.


‘Ofereceram sacrifícios sobre o altar dos ídolos, que estava sobre o
altar de Deus’. I Macabeus 1:54, 59. Os senhores notem que eles
puseram a abominação desoladora no Lugar Santo. A mesma
linguagem da Bíblia diz: ‘A abominação desoladora’ é posta no
templo; e isto é história.”121

Eles já sabiam da verdade. Aliás, todos os dirigentes e diretores de


alto escalão da IASD, sabem. Só quem não sabe são os membros, obreiros,
diáconos, anciãos que trabalham com afinco defendendo a igreja que
amam, sem saber de toda a sujeira que ocorre nos bastidores da instituição
que eles tanto defendem.

Sendo assim, todas as provas apontam para uma grande missão de


encobrir e mascarar a todo o custo as verdades teológicas e históricas, que
enganam milhões de membros da IASD há muitas décadas.

Erros de Tradução da KJV (Bíblia King James Version)

Transcreveremos aqui agora, o capítulo integral de Daniel 9,


primeiramente na versão KJV. Deixaremos em negrito as partes mais
relevantes e na sequência, apontaremos os seus equívocos de tradução, que
inclusive já são públicos e reconhecidos teologicamente há muitos anos.

121 The 1919 SDA Bible Conference Minutes.


Descortinando o Adventismo – Volume I 195

Pedimos ao leitor adventista que tente colocar de lado as lentes de sua


instituição e que leia o texto sem nenhum tipo de viés denominacional, mas
sim de maneira neutra e honesta. A fim de podermos analisá-lo da maneira
mais clara e contextualmente coerente possível, para que possamos retirar
dele o máximo de sua real exegese.

Daniel 9 (KJV)

No primeiro ano de Dario, o filho de Assuero, da semente dos medos, o


qual foi feito rei sobre o reino dos Caldeus; (v. 1)

no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que
o número dos anos, a respeito dos quais a palavra do SENHOR veio
ao profeta Jeremias, era de setenta anos, quando se completariam as
desolações de Jerusalém, (v. 2)

E coloquei a minha face diante do Senhor Deus, para buscá-lo com oração
e súplicas, com jejum, e vestimenta de pano de saco e cinzas; (v. 3)

e eu orei ao SENHOR meu Deus, e fiz minha confissão, e disse: Ó


Senhor, o grande e temível Deus, que mantém o pacto e a misericórdia
para com aqueles que o amam, e para com aqueles que guardam os seus
mandamentos; (v. 4)

nós pecamos e cometemos iniquidade, e nos portamos impiamente, e nos


rebelamos, e até nos afastamos de teus preceitos e dos teus juízos; (v. 5)

nem escutamos teus servos, os profetas, que falaram em teu nome aos
nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, e para todo o povo da terra. (v. 6)

Ó Senhor, justiça pertence a ti, porém a nós confusão de faces, como neste
dia, para os homens de Judá, e para os habitantes de Jerusalém, e para
todo Israel, aqueles que estão próximos e aqueles que estão distantes, em
todas as nações para onde tu os conduziste, por causa da transgressão que
cometeram contra ti. (v. 7)
196 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Ó Senhor, a nós pertence a confusão de face, aos nossos reis, aos nossos
príncipes e aos nossos pais, porque pecamos contra ti. (v. 8)

Ao Senhor nosso Deus pertencem as misericórdias e o perdão, embora


tenhamos nos rebelado contra ele; (v. 9)

e não tenhamos obedecido a voz do SENHOR nosso Deus, para andar nas
suas leis, que ele colocou diante de nós pelos seus servos, os profetas. (v. 10)

Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, afastando-se para não obedecerem
a tua voz; portanto a maldição está derramada sobre nós, e o juramento
que está escrito na lei de Moisés, o servo de Deus, porque nós pecamos
contra ele. (v. 11)

E ele confirmou as suas palavras, que falou contra nós, e contra os nossos
juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós um grande mal; pois sob todo
o céu não se tem feito como se fez sobre Jerusalém. (v. 12)

Como está escrito na lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio; contudo
não fizemos nós nossa oração perante o SENHOR nosso Deus, para que
nos desviássemos de nossas iniquidades, e entendêssemos a tua verdade.
(v. 13)

Portanto o SENHOR vigiou sobre o mal, e o trouxe sobre nós, pois o


SENHOR nosso Deus é justo em todas as obras que faz, pois nós não
obedecemos a sua voz. (v. 14)

E agora, ó Senhor nosso Deus, que tiraste o teu povo da terra do Egito com
mão poderosa, e trouxeste renome para ti, como neste dia; nós pecamos,
nós nos portamos impiamente. (v. 15)

Ó Senhor, conforme toda a tua justiça, suplico-te, desvia a tua ira e a tua
fúria da tua cidade Jerusalém, teu santo monte; porque por nossos pecados
e pelas iniquidades de nossos pais, Jerusalém e teu povo tornaram-se uma
desonra para todos os que estão ao nosso redor. (v. 16)
Descortinando o Adventismo – Volume I 197

Agora, portanto, ó nosso Deus, ouve a oração de teu servo, e as suas


súplicas, e faz a tua face brilhar sobre o teu santuário, que está desolado,
por causa do Senhor. (v. 17)

Ó meu Deus, inclina teus ouvidos e ouve; abre teus olhos, e observa
nossas desolações, e a cidade que é chamada pelo teu nome; pois nós não
apresentamos nossas súplicas perante a ti por nossas justiças, mas por tuas
grandes misericórdias. (v. 18)

Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, escuta e faz, não retardes,


por causa de ti mesmo, ó meu Deus; pois a tua cidade e o teu povo são
chamados pelo teu nome. (v. 19)

E enquanto eu estava falando, e orando, e confessando meu pecado, e


o pecado do meu povo Israel, e apresentando minha súplica perante o
SENHOR meu Deus, pelo santo monte do meu Deus; (v. 20)

sim, enquanto eu estava falando em oração, o homem Gabriel, a


quem eu tinha visto na visão no princípio, impelido a voar rapidamente,
tocou-me por volta da oblação da tarde. (v. 21)

E ele informou-me, e falou comigo, e disse: Ó Daniel, eu saio agora


para dar-te habilidade e entendimento. (v. 22)

No início de tuas súplicas veio a ordem, e eu venho para mostrar-te; pois


tu és grandemente amado; portanto entende a questão, e considera a visão. (v. 23)

Setenta semanas são determinadas sobre o teu povo e sobre a tua


santa cidade, para terminar a transgressão, e pôr um fim nos pecados,
e fazer reconciliação por causa da iniquidade, e trazer a justiça
eterna, e selar a visão e profecia, e para ungir o Santíssimo. (v. 24)

Sabe portanto e entende que desde a saída da ordem do restaurar e


construir Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, serão sete semanas, e
198 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

sessenta e duas semanas; a rua será construída novamente, e o muro,


mesmo em tempos tenebrosos. (v. 25)

E após sessenta e duas semanas o Messias será cortado, porém não


por si mesmo; e o povo do príncipe que virá, destruirá a cidade e o
santuário; e o seu fim será com uma inundação, e até o final da guerra
desolações estão determinadas. (v. 26)

E ele confirmará o pacto com muitos por uma semana, e no meio da


semana ele fará cessar o sacrifício e a oblação, e pela disseminação das
abominações ele a desolará, até a consumação; e aquilo determinado
será derramado sobre o desolado. (v. 27)

Primeiro erro de tradução da KJV nesse texto:

Sabe, portanto, e entende que desde a saída da ordem do restaurar e


construir Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, serão sete semanas, e
sessenta e duas semanas; a rua será construída novamente, e o muro,
mesmo em tempos tenebrosos. (v. 25)

Os tradutores da KJV entenderam que a palavra “mashiach” do verso


25 se referia a Jesus Cristo e por isso a traduziram com letra maiúscula e com
o artigo definido “o” o que simplesmente trouxe uma conotação equivocada
ao contexto da passagem. O hebraico não possui letras maiúsculas e o
Antigo Testamento está repleto de textos que incluem a palavra “maschiach”
que não se referem a Jesus Cristo.

A palavra “maschiach” significa “ungido”, e tal termo foi usado para


identificar vários desses ungidos ao longo da história bíblica. Entre eles
podemos citar:

Davi: “Ó Senhor Deus, não faças virar o rosto do teu ungido (mashiach);
lembra-te das misericórdias de Davi teu servo” 2 Crônicas 6:42
Descortinando o Adventismo – Volume I 199

Saul: “E disse aos seus homens: O SENHOR me guarde de que eu faça tal
coisa ao meu senhor, ao ungido (maschiach) do SENHOR, estendendo
eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do SENHOR.” 1 Samuel 24:6

Ciro: “Assim diz o SENHOR a seu ungido (maschiach), a Ciro, cuja


mão direita eu tenho sustentado, para subjugar nações perante ele. E eu
afrouxarei os lombos de reis, para abrir perante ele os portões duplos. E os
portões não estarão fechados.” Isaías 45:1

Sumo Sacerdote Israelita: “se o sacerdote que é ungido (maschiach),


pecar conforme o pecado do povo, então deixai-o trazer pelo seu pecado,
que ele pecou, um novilho sem defeito ao SENHOR, por oferta pelo
pecado.” Levítico 4:3

Analisemos como o texto foi traduzido posteriormente por uma


melhor tradução, mais fiel à original (Nova Versão Padrão Revisada):

“Saiba, portanto e entenda: desde o momento em que a palavra saiu para


restaurar e reconstruir Jerusalém até o tempo de um príncipe ungido
(maschiach nagid), haverá sete semanas; e por sessenta e duas semanas
será novamente construída com ruas e fossos, mas em um período
conturbado.” (v. 25)

Segundo erro de tradução da KJV:

O texto original de Daniel 9 apresenta dois ungidos (maschiachs)


distintos. Porém a KJV entendeu como se esses dois ungidos fossem um só,
já que o interpretaram como se tal ungido fosse Jesus Cristo. Isso tornou a
confusão ainda maior sobre a já difícil interpretação desse texto.

Vejamos os versos que falam a respeito disso na versão King James:

Sabe, portanto, e entende que desde a saída da ordem de restaurar e


construir Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, serão sete semanas, e
200 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

sessenta e duas semanas; a rua será construída novamente, e o muro,


mesmo em tempos tenebrosos. (v. 25)

E após sessenta e duas semanas o Messias será cortado, porém não por
si mesmo; e o povo do príncipe que virá, destruirá a cidade e o santuário;
e o seu fim será com uma inundação, e até o final da guerra desolações
estão determinadas. (v. 26)

O primeiro ungido surge após as sete semanas iniciais e o segundo


ungido após as sessenta e duas semanas. É impossível que o texto estivesse
falando de um só ungido visto que entre um e outro ungido se passam 62
semanas de anos ou 434 anos. Ocorre que a KJV traduziu o texto do verso
25 como “sete semanas, e sessenta e duas semanas” emaranhando o texto e
confundindo algo que deveria ser de muito mais simples entendimento.
Além de traduzir o artigo definido “o” antes da palavra “Ungido” e a
colocando em letra maiúscula, quando a tradução correta deveria ser “um
ungido” tanto no verso 25 quanto no verso 26.

Vejamos novamente a tradução da Nova Versão Padrão Revisada,


mais atual e muito melhor traduzida do hebraico original e analisemos a
diferença gritante entre as duas versões:

“Saiba, portanto, e entenda: desde o momento em que a palavra saiu


para restaurar e reconstruir Jerusalém até o tempo de um príncipe
ungido (maschiach nagid), haverá sete semanas; e por sessenta e duas
semanas será novamente construída com ruas e fossos, mas em um
período conturbado.”(v. 25)

“Após sessenta e duas semanas, um messias/ungido (maschiach) será


exterminado e não terá nada, e as tropas do príncipe que virá destruirão
a cidade e o santuário. Seu fim virá com uma inundação, e até o fim
haverá guerra. Desolações estão decretadas.”(v. 26)
Descortinando o Adventismo – Volume I 201

Mas quem, então, foram esses dois ungidos?

Alguns teólogos, como o Dr. André Reis, por exemplo, PhD em Novo
Testamento pela Universidade Adventista de Avondale, define-os assim:

“Como Daniel 8 e 9 tratam do santuário em Jerusalém, sua profanação,


a interrupção do sacrifício diário e sua restauração, os dois ungidos/
messias em Dan 9:24–27 se referem a dois Sumos Sacerdotes: um
aparece dentro de 7 semanas de anos (49 anos) desde o decreto de Ciro –
quando o templo houvesse sido completo (520 AC) – e outro dentro das
62 semanas de anos, durante as profanações do chifre pequeno Grego de
Daniel 8 = o príncipe que virá (9:27), que faz cessar o sacrifício contínuo
por meia semana e instala a abominação assoladora no santuário.
De acordo com essa interpretação, o primeiro “ungido” de Daniel
9 seria o primeiro Sumo Sacerdote após o cativeiro, Josué, filho de
Jozadaque (Zacarias 6:9–14; Esdras 3) que serviu de 515–490 AC e o
segundo “ungido” seria o Sumo Sacerdote Onias III anti-Helenista
assassinado em 175 AC, o que acabou dando abertura as abominações de
Antíoco no santuário por meia semana (cf. 2 Macabeus 9:26).”122
Interessante notar que muitos teólogos adventistas se unem hoje em
dia a teólogos evangélicos em número cada vez maior ao denunciar as falsas
doutrinas dessa instituição123. Oramos para que mais homens sinceros e
com um espírito reformador sejam levantados por Deus nessa geração para
retirar as escamas espirituais dos olhos dos membros dessa igreja.

Terceiro erro de tradução da KJV:

Os adventistas novamente erram ao interpretar o “ele” do verso 27,


como sendo Jesus. “E ele confirmará o pacto com muitos por uma semana, e

122 André Reis Ph.D, “Dois Messias em Daniel 9?”, artigo online.
123 Alguns teólogos evangélicos de fato creem que o segundo ungido de Daniel 9 é Jesus Cristo, contudo
absolutamente nenhum teólogo evangélico crê na doutrina do juízo investigativo, deixando a IASD
completamente isolada nesse entendimento doutrinário.
202 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

no meio da semana ele fará cessar o sacrifício e a oblação (...)”. A IASD ensina
que Jesus Cristo seria esse “ele” que teria feito o pacto da “nova aliança” com
muitos, tal aliança que, aliás, também não é ensinada corretamente por eles.
Estudaremos sobre isso mais a frente no vol. 2 no capítulo “O Sábado era
uma sombra de Cristo”, onde falamos sobre a velha e a nova aliança. Por
enquanto, vejamos por que esse “ele” não pode estar se referindo a Jesus.
Analisemos o contexto do verso 27, verificando em conjunto o versículo
imediatamente anterior a ele:

“E após sessenta e duas semanas o Messias será cortado, porém não


por si mesmo; e o povo do príncipe que virá, destruirá a cidade e o
santuário; e o seu fim será com uma inundação, e até o final da guerra
desolações estão determinadas.” (v. 26)

“E ele confirmará o pacto com muitos por uma semana, e no meio da


semana ele fará cessar o sacrifício e a oblação, e pela disseminação das
abominações ele a desolará, até a consumação; e aquilo determinado
será derramado sobre o desolado.” (v. 27)

Esse “ele” a que se refere o versículo 27 está imediatamente ligado


ao príncipe que viria com o seu povo e destruiria a cidade e o santuário,
pois esse é o último sujeito a quem o texto se refere e não ao segundo, nem
muito menos ao primeiro ungido. A frase: “porém não por si mesmo” do
verso 26 também foi erroneamente traduzida. O original hebraico “v’ein
lo” significa: “não será mais” ou “não terá mais nada” no sentido de que esse
ungido, sumiria totalmente de cena.

Vejamos mais uma vez o texto, agora na Nova Versão Padrão Revisada:

“Após sessenta e duas semanas, um messias/ungido (maschiach)


será exterminado e não terá nada, e as tropas do príncipe que virá
destruirão a cidade e o santuário. Seu fim virá com uma inundação, e
até o fim haverá guerra. Desolações estão decretadas.” (v. 26)
Descortinando o Adventismo – Volume I 203

“Ele fará um pacto forte com muitos por uma semana e, durante
metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta; e em seu lugar
haverá uma abominação que desolará, até que o fim decretado seja
derramado sobre o desolador.” (v. 27)

Mas afinal com quem Antíoco havia feito esse pacto forte com muitos
por uma semana? O livro pseudoepígrafo de 1 Macabeus, embora não esteja
no Cânon sagrado, nos apresenta corretamente mais uma vez a história
relativa a esse período:

“Por aqueles dias, saíram de Israel homens iníquos, que persuadiam


a muitos, dizendo: Vamos fazer aliança com as nações que estão ao
nosso redor …” 1 Macabeus 1:11

E ainda:

“(...) porque, depois que nos afastamos delas, muitos males nos
aconteceram. Essa proposta agradou a muita gente. Alguns do povo
tomaram a iniciativa e foram até o rei, que lhes deu permissão para
introduzir os costumes pagãos. Foi assim que construíram em Jerusalém
uma praça de esportes de acordo com os usos pagãos. Disfarçaram a
circuncisão e renegaram a aliança sagrada. Associaram-se às nações
pagãs e se venderam para praticar o mal” 1 Macabeus 1:11-15

Esse pacto, portanto, foi feito com Judeus Helenistas da época que
traíram a nação e a lei judaica em troca de favores do Rei Sírio.

Quarto erro de tradução da KJV:

Um erro muito comum nas interpretações proféticas de Guilherme


Miller, de quem a IASD acabou por herdar muitos de seus equívocos
interpretativos, era o de pontuar eventos proféticos erroneamente
204 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

exatamente por se basear na tradução da KJV para os seus estudos. Daniel


9:27 é um exemplo clássico desse problema.

Quando aqui o verso se refere ao cessar de sacrifícios por “uma metade


de semana”, o original hebraico se refere ao período contínuo de tempo em
que esse cessar ocorreria. Ou seja, durante 3 anos e meio (metade de uma
semana) os sacrifícios no templo cessariam. A KJV traduz esse termo de uma
forma em que se entende erroneamente que o evento de cessar os sacrifícios,
ocorreria exatamente na metade da semana mencionada anteriormente no
mesmo verso. Contudo, esse não é o caso.

Vejamos como a KJV traduz o texto:

“Esse governante, pois, com sagacidade firmará com muitos um pacto que
durará uma semana. Mas na metade da semana ele ordenará o fim do
sacrifício e das ofertas de manjares. E, em uma das principais alas do Templo
será colocado o sacrilégio terrível, a grande abominação, até a consumação,
o fim que já está decretado para alcançar e exterminar o assolador!” (v. 27)

Vejamos agora o texto que mais se aproxima do original hebraico,


nesse caso, com a versão Hebraica-Inglesa NJPS (1999):

“Durante uma semana, ele fará um pacto firme com muitos. Durante
meia semana, ele interromperá o sacrifício e a oferta de manjares.
No canto [do altar] haverá uma abominação terrível até que a destruição
decretada seja derramada sobre a coisa abominável.” (v. 27)

Além de errarem na interpretação desse período a que se refere o cessar


dos sacrifícios no templo, os adventistas ainda conectam esse “cessar” com
o ungido (messiasch/messias) – que eles interpretam erroneamente como
sendo Jesus – mas que já havia “desaparecido” ou “sido exterminado”
claramente no versículo anterior. Quando na verdade, o cessar de sacrifícios
seria feito pelo príncipe que invadiria a cidade no verso 26.
Descortinando o Adventismo – Volume I 205

Após analisarmos esses erros da KJV na tradução desses versos de seu


original hebraico, fica claro que toda a doutrina adventista fica dependente
de ser apresentada somente nessa versão bíblica e mesmo assim, necessitando
de muita miopia exegética para poder permanecer de pé.

Como é possível que a doutrina mais importante de uma instituição,


sobre a qual pende toda a sua credibilidade e razão de existir, fique
dependente de ser estudada somente através de uma versão bíblica,
versão essa cheia de equívocos de tradução, já publicamente constatada e
desaprovada por um consenso geral de teólogos no mundo inteiro?

Caro leitor, se a fé de 20 milhões de pessoas depende de uma versão


equivocada da tradução original do cânon sagrado, o que pode se dizer,
verdadeiramente, a respeito dessa instituição?

Demais erros exegéticos de Daniel 9

Contudo, os erros exegéticos e históricos de Daniel 9 não param por


aí. Outra inverdade é a assertiva de que os 2300 dias (proféticos ou anos
literais) de Daniel 8:14 começaram em conjunto com as 70 semanas de
Daniel 9:24, quando em nenhum momento as Escrituras apresentam isso.
Porém, vamos presumir por agora, que essa interpretação esteja correta e
sigamos essa linha de raciocínio teológico adventista.

De acordo com esse pensamento adventista, que inclusive foi absorvido


pela já comprovadamente equivocada teologia de Guilherme Miller, essas
70 semanas teriam tido início em 457 A.C.

Contudo, quando nos aprofundamos nos estudos das Escrituras, nós


podemos notar claramente que nenhuma dessas assertivas pode ser verdade.

Primeiramente, a ideia de que as 70 semanas de Daniel devem ser


interpretadas como “cortadas de dentro” das 2300 tardes e manhãs é
simplesmente absurda e sem nenhum fundamento exegético. Segundo o
pensamento adventista, essa ideia pode ser tirada de Daniel 9:24:
206 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“Setenta semanas estão determinadas para o teu povo e a tua santa


Cidade, a fim de fazer cessar toda a transgressão, dar fim à pratica do
pecado, expiar a iniquidade e as culpas, implantar a justiça eterna,
cumprir a visão e a profecia, e ungir o Kodesh, o Lugar Santíssimo,
reconsagrando o Templo.” (v. 24)

Afirma-se que a palavra “determinadas” no texto, que se referem as


70 semanas (490 anos), deve ser entendida como cortadas de um período
muito mais longo, no caso, de 2300 anos “adventistas”. Vejamos como o a
concordância Strong, traduz essa palavra:

Determinar (chathak):

‫ ְךתח‬chathak uma raiz primitiva; DITAT - 778; v 1) dividir, determinar


1a) (Nifal) estar determinado, estar decretado, estar estabelecido,
estar separado.

Podemos observar como sendo uma fraca exegese considerar


somente um significado de uma palavra num esforço por estabelecer um
fundamento doutrinário, quando fica bem claro, nessa situação, que a
palavra “determinadas” possui diversos significados. Sendo que a definição
mais evidente e provável é a de que Deus “decretou” ou “determinou” um
período de tempo, mais a frente, no qual a nação judaica deixaria de ser
reconhecida como o seu povo santo.

Se os 490 anos serão cortados de algum período, então por que


devemos definir que tal período seja das 2300 tardes e manhãs? Por que
não cortá-los da profecia dos 1260 dias, ou da profecia dos 1290 dias, ou da
profecia de 1335 dias? Como podemos saber que a profecia das 70 semanas
não deveria ser cortada do meio ou do fim da profecia dos 2300 anos?

O motivo pelo qual Guilherme Miller decidiu cortar as 70 semanas da


profecia dos 2300 dias é porque ele precisava de um ponto inicial para sua
profecia dos 2300 anos, para poder dar sentido a ideia da volta de Cristo
Descortinando o Adventismo – Volume I 207

em 1843 (depois 1844). Como as Escrituras não apresentam nenhuma data


inicial para essa interpretação, Miller decidiu que essa data teria que ser
cortada de seu início, marcando assim o ano de 457 A.C. Contudo, não
existe nenhuma base exegética que apresenta o início dessa profecia dos
2300 dias no ano 457 A.C., mesmo porque o santuário judaico não foi
pisoteado senão centenas de anos mais tarde.

Além disso, de acordo com Daniel 9:24, 25, o santuário é restaurado e


fica em pleno funcionamento durante as 69 semanas das 70 semanas.

Vejamos novamente o que diz o texto da Nova Versão Padrão Revisada:

“Setenta semanas estão determinadas para o teu povo e a tua santa Cidade,
a fim de fazer cessar toda a transgressão, dar fim à prática do pecado, expiar a
iniqüidade e as culpas, implantar a justiça eterna, cumprir a visão e a profecia,
e ungir o Kodesh, o Lugar Santíssimo, reconsagrando o Templo.” (v. 24)

“Saiba, portanto, e entenda: desde o momento em que a palavra saiu


para restaurar e reconstruir Jerusalém até o tempo de um príncipe
ungido (maschiach nagid), haverá sete semanas; e por sessenta e duas
semanas será novamente construída com ruas e fossos, mas em um
período conturbado.”(v. 25)

Sendo assim, como poderia o santuário estar sendo pisoteado e


restaurado ao mesmo tempo? Essa interpretação apresenta uma contradição
paradoxal insolúvel ao texto.

Um outro problema sem resposta, criado pela tese adventista, é a


ideia de que a “palavra” ou “ordem” que foi dada (do hebraico davar) para
construir e restaurar Jerusalém (Daniel 9:25), seja identificada como tendo
sido dada por decreto pelo Rei Artaxerxes Longimano em 457 A.C. Ocorre
que a sua ordem não diz absolutamente nada a respeito da reconstrução de
Jerusalém ou do templo, pois esse já havia sido reconstruído e estava em
pleno funcionamento há 59 anos!
208 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Vejamos o que relatam os anais da história:

“O Segundo Templo foi reconstruído após o retorno do cativeiro na


Babilônia, sob orientação de Zorobabel. O templo começou com um
altar, feito no local onde havia o antigo templo, e suas fundações foram
lançadas em 535 A.C. Sua construção foi interrompida durante o
reinado de Ciro, e retomada em 521 A.C. no segundo ano de Dario I.
O templo foi consagrado em 516 A.C.”124

O próprio livro de Esdras no capítulo 6 nos relata que a construção do


templo foi realizada muito tempo antes do decreto de Artaxerxes (que só
veio décadas depois como apresentado em Esdras 7:11-28).

O início da reconstrução da cidade de Jerusalém havia sido iniciado


pouco tempo antes, em 538 A.C. quando Ciro decretou a repatriação do
povo Judeu ao seu território, incumbido, segundo ele, pelo próprio Deus
a realizar tal tarefa (Isaias 45, Esdras 1). Contudo, os muros da cidade só
foram finalizados por Neemias em 445 A.C. Ou seja, mesmo que usássemos
a teoria adventista para uma ordem de reconstrução da cidade de Jerusalém,
por um rei e não por Deus (como veremos a seguir), as datas também não
correspondem ao raciocínio adventista. Neemias finalizou a obra em 52
dias e isso não ocorreu em 457 A.C., mas sim em 444 A.C.

Mas qual foi então o primeiro decreto que o Rei Artaxerxes deu
(Esdras 7:11-26), que tipo de autorização ele liberou a Esdras e quando
isso aconteceu?

Ao contrário do que dizem os adventistas, esse decreto não foi dado


para a reconstrução de Jerusalém, mas sim para uma passagem segura que foi
liberada a Esdras e seus companheiros para que ele pudesse levar e restituir
os utensílios pertencentes ao Templo de Jerusalém, além de ouro, prata
e mantimentos para os sacerdotes e animais que serviriam de sacrifícios
para o Templo. Em nenhum momento esse decreto está promovendo a
reconstrução da cidade ou dos muros de Jerusalém.

124 Easton Bible Dictionary.


Descortinando o Adventismo – Volume I 209

Vejamos o que diz a passagem bíblica e façamos uma análise neutra do


texto:

“Esta é a cópia da epístola, escrita em aramaico, que o rei Artaxerxes,


entregou ao sacerdote e escriba Esdras, conhecedor dos mandamentos e
estatutos de Yahweh, o SENHOR, para todo o povo de Israel: (v. 11)

Eu, Artaxerxes, rei dos reis, ao sacerdote Esdras, mestre da Torá, Lei
do Deus dos Céus: ‘Paz e prosperidade! (v. 12)

Decreto, pois, que todo israelita, inclusive sacerdotes e levitas, que


quiserem ir a Jerusalém, têm a minha permissão para seguir contigo.
(v. 13)

Pois tu estás em missão, enviado pelo rei e por seus sete conselheiros, a
fim de realizar uma investigação em Judá e em Jerusalém com respeito
à Torá, Lei do teu Deus, que está nas tuas mãos. (v. 14)

Também serás portador da prata, do ouro que o rei e os seus


conselheiros ofertaram generosamente ao Deus de Israel, cuja
habitação está em Jerusalém, (v. 15)

além de toda a prata e o ouro que receberes em toda a província da


Babilônia e também as contribuições que o povo e os sacerdotes derem
voluntariamente para o templo do seu Deus em Jerusalém. (v. 16)

Sendo assim, diligentemente comprarás com esse dinheiro novilhos,


carneiros e cordeiros, e as suas ofertas de manjares, e as suas libações,
e as oferecerás sobre o altar da Casa de teu Deus, a qual estabeleceu-
se em Jerusalém. (v. 17)

Também o que a ti e a teus irmãos bem parecer fazerdes do resto da prata


e do ouro, faze-o, de acordo com a vontade do vosso Deus. (v. 18)

E os utensílios que foram entregues para o serviço religioso no templo


de teu Deus, restitui-os perante o Deus de Jerusalém. (v. 19)
210 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

E tudo mais que for necessário para a Casa de teu Deus, que te convenha
dar, assim procede por conta do tesouro do rei. (v. 20)

Eu mesmo, o rei Artaxerxes, promulgo um edito a todos os tesoureiros da


província do Eufrates-Oeste: tudo quanto vos solicitar o sacerdote Esdras,
escriba da Torá, Lei do Deus dos Céus, prontamente lhe atendei, (v. 21)

até três toneladas e meia de prata, cem tonéis de trigo, dez barris de vinho,
dez barris de azeite puro de oliva, e sal à vontade. (v. 22)

Tudo o que o Deus dos céus tenha prescrito, que se faça com presteza para
a Casa do Deus dos Céus, a fim de que a sua ira não caia sobre o império
deste rei e dos seus descendentes. (v. 23)

Também vos notificamos que não é permitido cobrar impostos, tributos


ou taxas de nenhum dos sacerdotes, levitas, cantores, porteiros, servidores
do templo e de nenhum dos obreiros desta Casa de Deus. (v. 24)

E tu, Esdras, com a sabedoria que o teu Deus te outorgou, nomeia


magistrados e juízes, que julguem todo o povo que está na região a Oeste
do Eufrates, a todos o que conhecem as leis do teu Deus. E ensina-as aos
que sobre elas ainda não foram informados. (v. 25)

E toda pessoa que não obedecer à Torá, Lei do teu Deus e à lei do rei, que
seja castigado com a morte, ou mediante o exílio, ou o confisco dos bens,
ou com a prisão!’ (v. 26)

Bendito seja o Eterno SENHOR Deus de nossos pais, que colocou


no coração do rei o desejo de honrar deste modo a Casa de Yahweh, o
SENHOR, em Jerusalém, (v. 27)

e que, por sua misericórdia, favoreceu-me diante do rei seus conselheiros


e todos os seus altos oficiais. Assim, fui grandemente encorajado, segundo
a boa mão do SENHOR, meu Deus, sobre mim, e reuni alguns chefes de
Israel que se dispuseram a subir comigo.” (v. 28)
Descortinando o Adventismo – Volume I 211

Desafiamos algum adventista a nos mostrar em que lugar nesse texto é


dito algo a respeito da reconstrução ou reedificação dos muros de Jerusalém!
É possível, portanto, mais uma vez notar o “jeitinho” adventista de querer
encaixar os acontecimentos bíblicos e históricos às suas doutrinas para que
elas funcionem. Contudo, novamente elas não passam em um teste mais
aprofundado das Escrituras.

Analisemos agora o texto de Neemias 2:1-8, onde ele fala a respeito da


reedificação dos muros de Jerusalém:

“No mês de Nissan, Abibe, isto é, entre março e abril, do vigésimo ano do
rei Artaxerxes, na hora de servir-lhe o vinho, levei-o ao rei. Nunca antes
eu havia me apresentado com o semblante triste na presença dele; por
esse motivo me indagou: ‘Por que o teu rosto está entristecido, se não estás
enfermo? Isso só pode ser tristeza da alma!’ Então, neste momento, tive
muito medo, e justifiquei ao rei:

‘Que o rei viva para sempre! Como meu rosto não estaria triste, se
a cidade em que está o sepulcro dos meus pais está completamente
destruída e as suas portas consumidas pelo fogo?’ Então, o rei me
perguntou: ‘O que estás desejando me pedir?’ E, neste instante fiz uma
rápida oração ao Deus dos céus, e respondi: ‘Se for do teu agrado, e se o
teu servo puder contar com a tua bondade, rogo-te que me permitas ir
a Judá, a cidade do sepulcro de meus pais, para que eu a reconstrua’.

Então o rei, tendo a rainha assentada ao seu lado, me perguntou: ‘Quanto


tempo levará esta tua viagem? E quando regressarás?’ Depois de informá-
lo sobre a duração da missão, ele concordou em liberar-me. Diante da
anuência do rei, eu lhe solicitei: ‘Se for do teu agrado, eu poderia levar
cartas do rei aos governadores da Transeufratênia, a província do Eufrates-
Oeste, a fim de que me deixem passar até chegar a Judá.

E também uma carta para Asafe, guarda da floresta do rei, para que ele me
forneça madeira para construir as vigas das portas da fortaleza que
212 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

fica junto à Casa, e para os muros da cidade, assim como para levantar
a residência que irei ocupar’. Visto que a generosa mão de Deus estava me
abençoando neste sentido, o rei atendeu todos os meus pedidos.”

Caro irmão, sejamos honestos diante do texto bíblico. Quais textos


se referem a reconstrução dos muros de Jerusalém? O texto de Esdras ou o
texto de Neemias?

Vejamos a linha do tempo de decretos e a comparação com a


interpretação adventista:

LINHA DO TEMPO BÍBLICA/HISTÓRICA

2300
tardes/
manhãs

538 457 444 168/167 164


a.c. a.c. a.c. a.c. a.c.

Decreto de Artaxerxes - Judas


Ciro Neemias Macabeus
Reconstrução Rec. Muros de Santuário
Templo Jerusalém Purificado
Artaxerxes - Antíoco
Esdras Epifânio
Utensílios no Profana o
Templo Templo
Descortinando o Adventismo – Volume I 213

LINHA DO TEMPO ADVENTISTA

2300 TARDES E MANHÃS/DANIEL 8

69 semanas Uma semana

CRISTO

Batismo Morte

457 34 22 de outubro
a.c. 27 d.c. 31 d.c. d.c. de 1844

Artaxerxes - Esdras Morte de Estêvão Santuário


Reconstrução de (Fim das 70 semanas) Purificado
Jerusalém Fim das 2300
(Início das 70 tardes e manhãs
semanas/Daniel 9) (Início do Juízo
Investigativo)
214 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Para deixar ainda mais claro que esse gráfico adventista é inviável,
analisemos abaixo as datas mencionadas:

• 457 A.C: Esse decreto não foi dado para a reconstrução de


Jerusalém, mas sim para a restituição de utensílios do templo. O
texto bíblico (Esdras 7:11-26) deixa isso claro;

• 27 D.C: Cristo não foi batizado esse ano. Eruditos, historiadores


e teólogos concordam que Jesus foi batizado em 29/30 D.C;

• 31 D.C: Jesus não foi crucificado em 31 D.C., mas em 33 D.C.


Mais um “equívoco” adventista, inserido propositalmente para
poder fazer funcionar a doutrina do santuário e dar continuidade
a máquina institucional adventista.125

• 34 D.C: Há controvérsias quanto a esse ano sendo o ano da morte


de Estevão. Contudo, entre as datas adventistas essa é a única que
possui algum embasamento histórico;

• 22/10/1844: O santuário terrestre (ou celestial) não foi


purificado nessa data. Na verdade, nada ocorreu de relevante
nesse ano, profeticamente falando, a não ser um grande
desapontamento de um grupo de Mileritas/Adventistas que
infelizmente foram cegados pelo seu próprio fanatismo religioso.

Caro leitor, note as discrepâncias dos textos bíblicos corroborados


pelos registros históricos, comparados com a interpretação adventista. Seria
isso uma forma de desonestidade institucional ou de cegueira espiritual

125 Paul Maier, “Sejanus, Pilate and the Date of the Crucifixion,” Church History 37/1 (1968): 3–13;
Richard W. Husband, “The Year of the Crucifixion,” Transactions and Proceedings of the American
Philological Association 46 (1915): 26; Massey Shepherd Jr., “Are Both the Synoptics and John
Correct about the Date of Jesus’ Death?” Journal of Biblical Literature (1961): 123–132; Veja Livro
dos Jubileos, 49:1, 2, 10–12.
Descortinando o Adventismo – Volume I 215

causada pelo espírito que rege essa seita? Qualquer uma dessas opções
coloca a IASD numa posição extremamente comprometedora e deixa seus
membros com uma difícil escolha. Entrar em negação e fingir que nada
está errado? Ou assumir a verdade e as suas consequências? Ambas serão
traumatizantes, porém a última opção levará eventualmente a cura.

Dando sequência ao nosso estudo, nós vemos também que de qualquer


forma a palavra de ordem para a reconstrução do templo relatada em Daniel
9:24 veio logo em seguida ao clamor de Daniel por uma resposta de Deus.
Daniel passa grande parte do capítulo 9 clamando por uma resposta para
as suas preces. O Anjo Gabriel, então, aparece em cena para assegurá-lo
de que a ordem já havia sido dada dos céus como forma de resposta ao seu
clamor!

Contextualmente, a “palavra” ou “ordem” (dabar) que “saiu (motsa)


para restaurar e reconstruir Jerusalém” (v. 25) é a própria “palavra” (dabar)
que “saiu” (yatsa) em resposta a oração do profeta Daniel (v. 23). Gabriel,
portanto, assegura-o de que o próprio Deus já tinha respondido a sua oração.
Seria, no mínimo, uma grande falta de respeito ao Criador, acreditar que
quem responderia a oração de Daniel poderia ser um mero mortal (mesmo
que esse seja um monarca), quando na verdade somente quem poderia fazê-
lo seria o próprio Deus!

Até que ponto pode chegar o orgulho e os interesses de uma instituição


para que não conceda o óbvio? Que toda essa doutrina não passa de uma
grande farsa para encobrir o vergonhoso início dessa igreja e a simples
ausência de veracidade de Ellen White em seu ministério profético?

É preciso entender que todos esses erros precisam obrigatoriamente


estar “tortamente” alinhados para que a teoria adventista funcione e
mantenha o seu castelo de areia de pé. É matematicamente impossível que
esse seja o caso. Nenhuma dessas teorias é suportada por nenhum teólogo
fora da igreja adventista, e como já mostrado aqui, vários de seus próprios
teólogos já se tornaram dissidentes ao enxergar a verdade.
216 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

O Juízo de Daniel 7, 8 e de Apocalipse 14 são


para Ímpios e não para os Justos
Como vimos anteriormente, a doutrina adventista do juízo
investigativo foi inspirada por uma “visão” de Hiram Edson, logo em
seguida escrita e publicada por O.R.L. Crosier. Porém, ela foi somente
solidificada pelas “visões” e escritos de Ellen White que serviram para
corroborar e sedimentar toda essa doutrina.

Em seus escritos a Sra. White deixa claro que de acordo com o que
foi mostrado a ela, Daniel 7 e 8, e Apocalipse 14 tratam de um juízo de
investigação no santuário celestial e uma continuação da obra expiatória de
Cristo, que não havia de nenhuma forma, sido terminada na cruz. Mesmo
que a Bíblia, e os princípios do evangelho de Cristo sejam diretamente
contrários a esse ensinamento, essa é a base da doutrina adventista do
santuário celestial.

Esse juízo investigativo, portanto, estaria ligado somente aos justos e


não aos ímpios. Vejamos o que a Sra. White escreveu a respeito disso:

“Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo


cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença
do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de
pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio
esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal.

Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto


os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do
santuário, deve haver uma obra especial de purificação, ou de afastamento
de pecado, entre o povo de Deus na Terra. Esta obra é mais claramente
apresentada nas mensagens do Capítulo 14 de Apocalipse.”126

126 White, Ellen, O Grande Conflito, págs. 371 e 372.


Descortinando o Adventismo – Volume I 217

“E, eis que vinha nas nuvens do céu Um como o Filho do homem; e dirigiu-
Se ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele. E foi-Lhe dado o domínio
e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem;
o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará.” Daniel 7:13, 14.

“A vinda de Cristo aqui descrita não é a Sua segunda vinda à Terra. Ele
vem ao Ancião de Dias, no Céu, para receber o domínio, a honra, e o reino,
os quais Lhe serão dados no final de Sua obra de mediador. É esta vinda,
e não o seu segundo advento à Terra, que foi predita na profecia como
devendo ocorrer ao terminarem os 2.300 dias, em 1844.

Assistido por anjos celestiais, nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar
santíssimo, e ali comparece à presença de Deus a fim de Se entregar aos
últimos atos de Seu ministério em prol do homem, a saber: realizar a
obra do juízo de investigação e fazer expiação por todos os que se
verificarem com direito aos benefícios da mesma.”127

“No cerimonial típico, somente os que tinham vindo perante Deus com
confissão e arrependimento, e cujos pecados, por meio do sangue da oferta
para o pecado, eram transferidos para o santuário, é que tinham parte na
cerimônia do dia da expiação.

Assim, no grande dia da expiação final e do juízo de investigação, os


únicos casos a serem considerados são os do povo professo de Deus. O
julgamento dos ímpios constitui obra distinta e separada, e ocorre em
ocasião posterior. ‘É tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e,
se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes
ao evangelho?’ 1 Pedro 4:17.”128

Ellen White deixa claro, portanto, que quem está sendo julgado nesse
juízo de investigação são somente os justos ou “crentes arrependidos”. Contudo,
mais uma vez, essa assertiva não passa no teste bíblico da Sola Scriptura.

127 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 418.


128 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 419.
218 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Vejamos com atenção o que diz o texto bíblico de Daniel 7:25, 26:

“E ele proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do


Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues
na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.” (v. 25)

“Mas o juízo será estabelecido, e eles tirarão o seu domínio, para o


destruir e para o desfazer até ao fim.” (v. 26)

O profeta Daniel deixa claro aqui que o juízo que foi referenciado
nesse mesmo capítulo, não está ligado a nenhum justo, mas sim ao pequeno
chifre ímpio que se levanta contra o Altíssimo e os santos do Altíssimo.

Da mesma forma, o julgamento ou juízo anunciado em Apocalipse 14,


também não se refere aos justos, mas sim, novamente, ele tem ligação ao
povo ímpio ali mencionado. Nesse caso, contudo, o símbolo mencionado
nesse livro é a “Babilônia” e aqueles que adoram a besta.

Vejamos o que diz o texto de Apocalipse 14:7-10:

“Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda
a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as
fontes das águas.” (v. 7)

“E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade,
que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua fornicação.” (v. 8)

“E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a


besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão,” (v. 9)

“Também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não


misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e
enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro.” (v. 10)

Paralelamente a esses versos, vejamos o que diz Apocalipse 18:19, 20:


Descortinando o Adventismo – Volume I 219

“E lançaram pó sobre as suas cabeças, e clamaram, chorando, e


lamentando, e dizendo: Ai, ai daquela grande cidade! Na qual todos
os que tinham naus no mar se enriqueceram em razão da sua opulência;
porque numa hora foi assolada.” (v. 19)

“Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas; porque já


Deus julgou a vossa causa quanto a ela.” (v. 20)

Mais uma vez, portanto, Ellen White se põe em direta contradição


com o texto bíblico. Ellen diz que o juízo é feito com relação ao povo de
Deus, a Bíblia, pelo contrário, diz que o juízo é somente contra o povo
ímpio. E agora, amigo leitor? Quem você escolherá seguir e depositar a sua
crença? Na Bíblia ou nos ensinos de Ellen White?

Uma Madrugada Reveladora – A Luz que veio


Através do Livro de Hebreus
No início desse livro eu sinalizei resumidamente como se deu o meu
despertar de consciência espiritual de que eu estava fazendo parte de uma
seita. Contudo, eu não entrei em maiores detalhes a respeito de quais versos
inicialmente chamaram a minha atenção. A análise dos próximos versículos
serão exatamente a respeito do que eu finalmente enxerguei na madrugada
do dia 25 de maio de 2018.

A doutrina da purificação do santuário celestial, juntamente com a


teoria do juízo investigativo ensinam que Cristo ministrou no Lugar Santo
até o ano de 1844, e somente depois disso Ele entrou pela primeira vez no
Lugar Santíssimo, a fim de finalmente realizar a continuação da expiação
que se iniciou na cruz do calvário.

Ocorre que o livro de Hebreus desmonta totalmente essa narrativa


adventista. E foi exatamente isso que me chamou a atenção na madrugada
do dia 25 de maio de 2018. Não há como enfatizar suficientemente aqui a
220 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

força que possui o jejum na vida de um cristão. Eu tenho plena certeza de


que o fato de ter acabado de sair de um jejum de cinco dias foi essencial
para que eu pudesse enxergar essas verdades espirituais. Existem alguns
jugos que somente o jejum quebra em nossas vidas.

Iremos entrar em maiores detalhes a respeito de jejum mais adiante, por


enquanto nos concentraremos no que me foi revelado esse dia. Notem que
nenhuma pessoa, ou melhor, nenhum ser humano tentou me convencer de
absolutamente nada. Até porque, se eu me conheço bem seria inconcebível
que qualquer homem pudesse me convencer de que as doutrinas da igreja
que eu tanto amava estavam equivocadas. Isso seria de fato, impossível. O
Espírito Santo já sabia disso. Por isso, Ele mesmo resolveu fazer o trabalho.
Nesse dia eu estava sozinho, ou seja, somente eu e Deus no meu quarto,
estudando e meditando sobre a Palavra, quando li Hebreus 10:19:

“Sendo assim, irmãos, temos plena ousadia para entrar no Santo dos
Santos mediante o sangue de Jesus”.

Imediatamente, esse verso me chamou atenção. Um verso que eu


já tinha lido tantas vezes no passado, agora me chamava muita atenção.
Mas por que agora? Por que não antes? Analisando hoje com mais frieza,
no mundo espiritual isso foi como se o Espírito Santo me chacoalhasse e
praticamente sublinhasse esse verso na minha frente quase que esfregando
a Bíblia na minha cara. E isso não é um exagero. Foi exatamente assim que
eu me senti. Mas eu ainda assim, resisti. Procurei achar sentido para aquilo.
Pensei comigo: “como pode Paulo estar falando sobre entrar no Lugar
Santíssimo com ousadia se essa porta só se abriu em 1844? Deve existir
alguma explicação plausível pra isso!”.

E ali começou uma longa madrugada, quem sabe a mais longa da


minha vida. Achei outros trechos em Hebreus que corroboravam esse
verso. Hebreus 6:19, 20:
Descortinando o Adventismo – Volume I 221

“Essa esperança é para nós como âncora da alma, firme e segura, a qual
tem pleno acesso ao santuário interior, por trás do véu, onde Jesus
adentrou por nós, como precursor, tornando-se sumo sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”

E ainda em Hebreus 9:8:

“Dessa maneira, o Espírito Santo estava revelando que, enquanto


continuasse erguido o primeiro tabernáculo, o Caminho para o
Santo dos Santos ainda não havia sido manifestado.”

E o clássico verso de Hebreus 9:12:

“Não por intermédio de sangue de bodes e novilhos, porém mediante


seu próprio sangue, Ele entrou no Santo dos Santos, de uma vez por
todas, conquistando a eterna redenção.”

Pra mim, aquilo se tornou algo muito difícil de resistir. As 4 gerações


de adventistas da minha família, toda essa bagagem, as incontáveis horas de
serviço a favor dessa igreja, o proselitismo a que eu tanto me engajava (mas
que eu na época chamava de “evangelismo”), todas as pessoas que eu levei
pra igreja, todos os debates, as defesas a que eu me submetia em favor dessa
instituição, tudo isso, não foi forte o suficiente para apresentar resistência
à força e ao poder da verdade apresentada nas Escrituras. E glória a Deus
por isso!

Eu já “suando frio” buscava em livros e agora também na internet uma


resposta sólida da instituição a respeito desses versos. Enfim, não demorou
muito e eu vi que sim, a IASD habilmente, através de seus excelentes
“advogados”, quero dizer, “teólogos”, apresentam sim, muitas desculpas em
torno desses versos. Afinal, foram anos e anos ouvindo críticas (que, aliás,
são absolutamente corretamente fundamentadas) por parte de teólogos de
outras denominações.
222 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Entretanto, agora eu passava a ver, através de vários artigos e debates


na internet, que essas críticas também advinham surpreendentemente de
muitos teólogos adventistas.

Aliás, abrindo um breve parêntese a respeito desse assunto, sempre


haverá dentro das instituições religiosas quem irá se vender pelas famosas
“30 moedas de ouro”. Há muitos pastores adventistas que não se desligam
da instituição somente por não querer perder o seu salário, ou para não
perder a plataforma que demoraram tanto tempo para conseguir. Afinal,
que outra igreja daria o púlpito a eles depois de anos pregando em outra
denominação? E mesmo que dessem, como ficaria o seu orgulho em ter que
aceitar que durante todo esse tempo eles estavam errados? E seus amigos,
parentes, colegas de trabalho? Conseguiriam eles suportar tamanho desafio
de mudar completamente de vida, rotina, credo, igreja e teologia?

Liturgias diferentes, doutrinas completamente diversas aliadas a


comodidade e anos de costumes e hábitos culturais religiosos impedem
esses pastores de com coragem, abraçar a verdade e saírem do engano.

Há tantos outros, contudo, que beberam da água envenenada do


evangelho adulterado e simplesmente não conseguem enxergar as mentiras
da instituição. Esses tiveram seu pensamento condicionado a agir e defender
a igreja como soldados cegos, do mesmo jeito que eu mesmo fazia.

Pois bem, voltando a reveladora madrugada do dia 25 de Maio de 2018,


ao buscar respostas adventistas a respeito desses versos do livro de Hebreus,
eu pude notar que uma das únicas defesas da Igreja Adventista a respeito
desses versos (porque mesmo os teólogos adventistas mais contorcionistas
têm muita dificuldade em apresentar alguma defesa contra isso) é de que
o lugar santíssimo nesses versos foi erroneamente traduzido. Eles usam
o argumento do “Hagia Hagion” basicamente dizendo que Paulo não se
referiu ao Lugar Santíssimo nesse verso, mas sim, ao Lugar Santo.

Ocorre que pelo princípio da Sola Scriptura esse argumento não se


sustenta biblicamente. Isso se dá por diversos motivos.
Descortinando o Adventismo – Volume I 223

Motivo 1: Todas as vezes que o Antigo Testamento menciona “através


do véu” ou “atrás do véu” ele se refere a separação entre o Lugar Santo e o
Lugar Santíssimo.

Vejamos alguns exemplos:

“Pendurarás o véu pelos colchetes e colocarás atrás do véu a Arca da


Aliança. Esse véu separará o Lugar Santo e o Santo dos Santos.” Ex
26:33.

“Ele disse: Fala a Arão, teu irmão, que não é a qualquer momento que
ele pode entrar no Lugar Santíssimo, que fica atrás do véu, diante do
propiciatório, a tampa da arca que está sobre a arca. Poderá morrer, pois
aparecerei na nuvem, logo acima da tampa.” Lev 16:2.

“Encherá então o incensório com brasas ardentes tiradas do altar, de


diante de Yahweh, e tomará dois punhados de incenso aromático em pó,
e os levará para trás do véu.” Lev 16:12.

“Imolará então o bode destinado ao sacrifício pelo pecado do povo e levará


seu sangue também para detrás da cortina. Fará com esse sangue o mesmo
que fez com o sangue do novilho, aspergindo-o sobre o propiciatório e
diante deste. Cumprirá assim o rito de expiação pelo Lugar Santíssimo,
pelas impurezas dos filhos de Israel, por suas transgressões e por todos
os seus pecados. Assim procederá para com a Tenda do Encontro que
permanece com eles, no meio de suas impurezas.” Lev 16:15, 16.

“Contudo, somente tu e teus filhos assumireis as funções sacerdotais em


tudo o que se refere ao altar e ao que se encontra além do véu sagrado.
Vós realizareis o serviço do culto, cujo ofício concedo ao vosso sacerdócio.
Entretanto, qualquer pessoa não autorizada ou profana que se aproximar
do santuário será sumariamente condenada à morte!” Num 18:7.
224 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Motivo 2: Não existe nenhum tipo de representação no Antigo


Testamento que corrobore a entrada de Cristo no Lugar Santo no céu. Pelo
contrário, no dia da expiação (representada pela morte de Cristo na cruz) o
sumo sacerdote entrava direto no Lugar Santíssimo!

O capítulo 16 de Levítico tem como tema o dia da expiação. Vejamos


o que diz, Levítico 16:15:

“Imolará então o bode destinado ao sacrifício pelo pecado do povo e


levará seu sangue também para detrás da cortina. Fará com esse
sangue o mesmo que fez com o sangue do novilho, aspergindo-o sobre o
propiciatório e diante deste.”

Caro leitor, é necessário entender que com o intuito de se perpetuar


como instituição religiosa, a IASD não possui nenhum limite moral ou
espiritual. Vale tudo para defender o seu dogma. Note que até mesmo o
ritual do santuário terreno foi distorcido para que essa doutrina pudesse
permanecer de pé. Mas você pode estar se perguntando o motivo pelo
qual estamos nos detendo tanto tempo nesse capítulo, explicando em
seus pormenores os erros da doutrina do juízo investigativo. Exatamente
pelo mesmo motivo pelo qual a Igreja Adventista se desdobra e não mede
esforços até hoje para defendê-la a todo custo. Porque ela sabe que precisa
dessa doutrina para poder justificar a sua razão de existir. Sendo assim, nós
frisamos mais uma vez o que talvez os membros desconheçam, mas que
todos os dirigentes de alto escalão da IASD sabem muito bem: sem juízo
investigativo não há Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Sigamos adiante.
Descortinando o Adventismo – Volume I 225

Motivo 3: O livro de Hebreus deixa claro que ao ascender ao céu


Cristo não entrou no Lugar Santo do santuário celestial, mas sim, se
assentou a direita do Pai.

Note o que se lê em Hebreus 1:3:

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando


tudo o que há pela Palavra do seu poder. Depois de haver realizado a
purificação dos pecados, Ele se assentou à direita da Majestade nas alturas,”

E Hebreus 10:12:

“Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício


pelos pecados, assentou-se à direita de Deus,”

Enquanto estava sendo apedrejado pelos religiosos da época, Estevão


também confirma o local oficial de Cristo no céu após a sua ascensão:

“Ouvindo isso, ficaram furiosos e rangeram os dentes contra ele. Mas


Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a
glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus, e disse: ‘Vejo os céus
abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus’.” Atos 7:54-58.

Querido leitor, faça a si mesmo essa pergunta e responda com


sinceridade: existe algum lugar mais Santíssimo do que “ao lado do Pai”?
Se sim, que lugar seria esse? É preciso acabar de uma vez por todas com
esse embuste chamado “Juízo Investigativo”. Ellen White teve a capacidade
de colocar o Filho de Deus, sentado, em um lugar imaginário, até o ano
de 1844, e depois disso, em um outro lugar imaginário (porém dessa vez
um pouco mais santo) com o único intuito de perpetuar o seu próprio
ministério adventista. Tudo por que ela não teve a humildade suficiente
para admitir que estava completamente errada ao endossar o dia da vinda
de Cristo marcada para o dia 22 de outubro de 1844.
226 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Notem agora o que se lê em Hebreus 1:13:

“Ora, a qual dos anjos Deus alguma vez declarou: ‘Senta-te à minha
direita, até que Eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés’?”.

Se Cristo deve ficar à direita do Pai até que “Ele faça de seus inimigos
estrados para os seus pés” isso quer dizer que desde a sua ascensão até ao
presente momento, Cristo não saiu da destra do Pai como sua posição
oficial no céu. Afinal de contas os inimigos de Cristo ainda não foram
totalmente derrotados. E contra esse fato não existe argumento.

Os adventistas insistem em utilizar o texto bíblico localizado em


Hebreus 9:24 para confirmar a sua doutrina do santuário celestial.
Analisemos, portanto, esse verso a fim de avaliar se há algum sentido na
defesa adventista:

“Pois Cristo não adentrou a um santuário erguido por mãos


humanas, uma simples ilustração do que é verdadeiro; Ele entrou
nos céus, para agora se apresentar diante de Deus em nosso benefício;”

De fato, esse verso de Hebreus, assim como o livro do Apocalipse,


falam de um santuário no céu. Contudo, não podemos afirmar com absoluta
certeza que essa figura seja literal, visto que o livro do Apocalipse apresenta
conteúdo altamente simbólico e o livro de Hebreus possa também estar
se referindo a outra coisa. Mas mesmo que exista um santuário literal no
céu, há um abismo entre essa afirmação e a doutrina do juízo investigativo
adventista. As Escrituras em nenhum momento mencionam ou deixam
claro se há qualquer tipo de atividade remotamente parecida com o que
ocorria no santuário terrestre, mas apenas que Cristo “agora se apresenta
diante de Deus em nosso benefício”. Esse verso não pressupõe uma atividade
corrente semelhante ao que ocorria no santuário terrestre, até por que todo
o sacrifício já foi feito por Cristo na cruz! O cordeiro já foi imolado!
Descortinando o Adventismo – Volume I 227

E o principal: Cristo “(...) entrou no Santo dos Santos, de uma vez


por todas, conquistando a eterna redenção” na ocasião de sua ascensão aos
céus após a sua ressurreição. E isso é um fato incontestável!

Ademais, o que os adventistas ainda não entenderam é que o próprio


céu já é por si só um Lugar Santíssimo! O templo terrestre era apenas
“uma ilustração do que é verdadeiro”, e o mesmo pode possuir o sentido
de um cenário muito mais amplo do que pressupõe o adventismo. O átrio
exterior representava o trabalho do Espírito Santo – Parakletos ou Outro
Consolador – que quando viesse nos levaria para Cristo (Lugar Santo) que,
por conseguinte nos leva para o Pai (Lugar Santíssimo). Note que tudo
que se encontrava no Lugar Santo do santuário terrestre era um símbolo
de Cristo.

Ainda existem outros simbolismos importantes relacionados as três


partes do Templo Judaico, como por exemplo a representação do próprio
ser humano (que hoje em dia é o próprio Templo onde Deus habita).
O átrio exterior é um símbolo do nosso corpo, o Lugar Santo da nossa
alma e o Lugar Santíssimo do nosso espírito. O Templo terrestre era uma
representação da tricotomia do ser.

Ele também tipificava os três níveis de profundidade de relacionamento


e adoração a Deus. Esse, contudo, é um assunto para um outro livro.

Por hora, façamos uma breve análise dos três principais itens que se
encontravam no Lugar Santo:

1. A mesa dos pães da proposição (Ex 25:23-30):

São chamados de pães da proposição ou da presença, porque eram


mantidos continuamente na presença de Deus no tabernáculo, simbolizando
a dependência que os hebreus tinham do Senhor, que supre as necessidades
físicas e espirituais do seu povo.
228 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Tipologicamente, aqueles pães prefiguravam Cristo, “o pão vivo que


desceu do céu” ( Jo 6.51), aquele que ofertou sua própria carne pela vida do
mundo que vagava para a destruição eterna.

Aos que padeciam de inanição espiritual, Cristo trouxe o alimento


que não perece ( Jo 6:27) que não envelhece e que, a semelhança dos pães
da proposição, não tem fermento – o fermento do pecado! Sua promessa
é: “quem comer este pão viverá para sempre” ( Jo 6:58). Por isso, ele disse a
seus discípulos o que comemoramos e relembramos em toda celebração da
Ceia do Senhor: “tomai e comei, isto é o meu corpo que é partido por vós” (Lc
22:19; 1 Co 11:24).

2. O candelabro de ouro (Ex 25:31-40):

Tipologicamente, o castiçal de ouro também aponta para Cristo, que


é “a luz do mundo” que dissipa as trevas da ignorância e do pecado ( Jo
8:12), e que é também a “testemunha fiel e verdadeira” (Ap. 3:14). Jesus
é tanto a luz que nos direciona para Deus e que nos tira da obscuridade
maligna, como é também aquele que julga perfeitamente as intenções do
nosso coração, que esquadrinha nosso interior com riqueza de detalhes, e
que faz avaliações precisas sobre quem somos. “Eu sou aquele que sonda os
rins e os corações” (Ap 2:23).

3. O altar do incenso (Ex 30:1-10):

O incenso queimado nesse altar exalava um aroma doce, agradável,


simbolizando o prazer de Deus em receber a adoração do seu povo quando
este se propõe a obedecê-lo.

Tipologicamente, este altar de ouro também era um tipo de Cristo,


aquele cujo sacrifício exalou para Deus um aroma agradável, e que agora
vive para interceder por nós (Hb 7:25). As orações do Filho são sempre
Descortinando o Adventismo – Volume I 229

agradáveis ao Pai – “Eu bem sei que sempre me ouves”, disse Jesus em
oração ao Pai, diante do túmulo de seu amigo Lázaro ( Jo 11:42).

Em seu ministério sacerdotal, Cristo oferece constantemente ao Pai


preces em favor de sua Igreja. Na verdade, mesmo antes de voltar para a sua
casa celestial, Cristo já oferecia intercessões ao nosso favor, sim, por nós
crentes do século 21, quando dizia na famosa oração sacerdotal: “E não rogo
somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer
em mim” ( Jo 17:20).

Já a arca da aliança que se encontrava no Lugar Santíssimo do templo


representa a presença de Deus Pai que aparecia naquele lugar, mas que hoje
se encontra somente no céu (Apoc 11:19). Não existe nenhum suporte
bíblico para afirmarmos que exista um santuário celestial literal! Mais uma
vez, o próprio céu é o Lugar Santíssimo! Note o que diz o texto de Hebreus
4:14-16:

“Concluindo, tendo em vista que temos um grande sumo sacerdote que


foi capaz de adentrar os céus, Jesus, o Filho de Deus, mantenhamos
com firmeza nossa declaração pública de fé. Pois não temos um sumo
sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas fraquezas, mas
temos o Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi tentado de todas
as formas, porém sem pecado algum. Portanto, acheguemo-nos com
toda a confiança ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e
encontremos o poder que nos socorre no momento da necessidade.”

Cristo como nosso real Sumo Sacerdote, no dia da expiação que foi
a sua morte na cruz, nos abriu caminho para o Lugar Santíssimo, para o
trono da graça, onde podemos nos achegar com confiança (Hebreus 10:19)
e ter acesso direto ao Pai.

Para finalizar, gostaríamos de usar as palavras do próprio Cristo para


enterrar de uma vez por toda essa insólita ideia da existência de um juízo
investigativo que perturba os membros adventistas há décadas, e ao mesmo
230 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

tempo distorce completamente o evangelho do Reino e o caráter de Jesus


e de Deus Pai:

“Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e


crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida.” Jo 5:24.

Caso nada do que eu tenha apresentado até agora foi capaz de convencer
você, caro leitor, desse embuste criado pelos pioneiros adventistas, fique
apenas com as palavras do próprio Deus encarnado, Jesus Cristo: crentes
não entram em juízo! Nenhum juízo! Não existe nada, nem próximo
relacionado a isso, acontecendo no céu. O juízo de Deus é ligado aos ímpios
e aos anjos caídos somente, e a ninguém mais. Haverá sim, recompensas ou
os chamados galardões para o povo de Deus, mas isso não tem a ver com
nenhuma espécie de juízo investigativo.

Sendo assim, fica claro que não existe nenhuma base bíblica para essa
doutrina. Se tirarmos os livros de Ellen White e a teoria de Hiram Edson, não
existe doutrina do santuário celestial/juízo investigativo. Tal doutrina, assim
como tantas outras doutrinas adventistas, não existem na Bíblia. Essa foi
uma invenção criada por essas pessoas para sobreviverem em seu ministério
religioso, “ganharem tempo” por assim dizer, para poderem permanecer
relevantes e simultaneamente, não sucumbir ao vexame público do dia do
Grande Desapontamento.

Essa é a verdade mais dura que você estará lendo hoje, caso você seja um
adventista do sétimo dia. E por mais que eu tenha adotado um tom muitas
vezes não tão gentil durante as linhas desse livro, acredite, eu escrevo essas
linhas com uma tremenda dor no coração e ao mesmo tempo muito amor
pelos meus irmãos adventistas que ainda estão presos a esse engano.

O fato é que a IASD viola claramente aqui o princípio da Sola Scriptura.


Somente o uso da Bíblia não só não suporta tal ensinamento, como é
diretamente contra ele. Entretanto, ainda não acabamos de expor todos
Descortinando o Adventismo – Volume I 231

os falsos argumentos desse falso ensino. O que apresentaremos no próximo


subcapítulo, deixará o nobre leitor em um estado de no mínimo frustração,
revolta e indignação. Se o que foi mostrado até aqui incrivelmente não foi
suficiente para acordá-lo, talvez a próxima exposição, fará o seu sangue
correr mais quente em suas veias. Aquele que possui algum senso de
dignidade não poderá suportar tal nível de descarado engano imposto aos
membros dessa instituição.

Uma Expiação Incompleta


Já comprovamos, teologicamente falando, a inviabilidade bíblica
do Juízo Investigativo de ser uma doutrina cristã legítima. Contudo, as
consequências dessa doutrina levam os adventistas a águas ainda mais turvas.

Uma dessas consequências é a necessidade de se declarar a não


completude da expiação dos nossos pecados feitos por Cristo em seu
sacrifício na cruz. Hoje em dia a grande maioria dos teólogos adventistas
creem que a expiação foi de fato completa na cruz. Contudo, o endosso de
Ellen White permanece contra essa afirmação. O que coloca a instituição
mais uma vez num terrível dilema. Afinal de contas um de seus 28 princípios
fundamentais é a crença em Ellen White e em seus escritos como uma
“contínua e autorizada fonte de verdade”.129

Ao longo dos anos, a igreja adventista como instituição, foi mudando


várias de suas crenças como uma forma de sobrevivência. Várias dessas
mudanças já foram apontadas por nós nesse livro. A expiação incompleta
na cruz foi uma dessas crenças. Aliás, na primeira promulgação pública de
crenças fundamentais adventistas, publicada em 1872, a igreja negava que a
expiação dos pecados havia sequer começado na cruz!130

129 Crença fundamental adventista de no 18.


130 Bull, Malcom; Lockhart, Keith, Seeking a Sanctuary, Seventh-day Adventism and the American Dream,
(San Francisco, CA: Harper & Row, 1989), p. 70.
232 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Hoje em dia, apesar de não apresentarem de forma explícita e pública


essa crença, ela permanece presente como parte de toda a doutrina do juízo
investigativo, delineada pela “pena inspirada” de Ellen White:

“Destarte, os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez


de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2300 dias, entrou Ele
então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito a
obra final da expiação, preparatória à Sua vinda.”131

“Portanto, o anúncio de que o templo de Deus se abrirá no Céu, e de que


fora vista a arca de Seu concerto, indica a abertura do lugar santíssimo
do santuário celestial, em 1844, ao entrar Cristo ali para efetuar a obra
finalizadora da expiação. Os que pela fé seguiram seu Sumo Sacerdote,
ao iniciar Ele o ministério no lugar santíssimo, contemplaram a arca
de Seu concerto. Como houvessem estudado o assunto do santuário,
chegaram a compreender a mudança operada no ministério do Salvador,
e viram que Ele agora oficiava diante da arca de Deus, pleiteando
com Seu sangue em favor dos pecadores.”132

“Foram-me então de novo apresentados aqueles que não se dispunham


a sacrificar bens deste mundo a fim de salvar as almas que pereciam,
enviando-se-lhes a verdade enquanto Jesus permanece diante do Pai
alegando por eles Seu sangue...”133

Notamos que além de Jesus, segundo Ellen, estar permanente e


continuamente apresentando ao Pai o seu sangue como forma contínua de
expiação (quantas vezes o Pai precisaria ver o sangue do Filho para poder
aceitar Seu sacrifício?), Cristo, além disso, permanece de pé diante do Pai,
como uma forma de trabalho e clamor contínuo, por perdão pelos pecados
da humanidade.

131 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 369.


132 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 378.
133 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 70.
Descortinando o Adventismo – Volume I 233

Vejamos, em contraste, o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto:

“Então, assim que experimentou o vinagre, exclamou Jesus: ‘Está


consumado!’ E, inclinando a cabeça, entregou seu espírito.” João 19:30

E ainda:

“Porquanto, com uma única oferta, aperfeiçoou por toda a eternidade


todos quantos estão sendo santificados.” Hebreus 10:14

“Ele também não se ofereceu muitas vezes, como procede o sumo


sacerdote que entra no Santo dos Santos de ano em ano portando sangue
alheio. Ora, se assim fosse, seria necessário que Cristo sofresse muitas
vezes, desde o início do mundo. Mas agora Ele manifestou-se de uma
vez por todas, no final dos tempos, para aniquilar o pecado por
intermédio do sacrifício de si mesmo.” Hebreus 9:25, 26

Evidentemente, o sangue de Cristo já pagou de uma vez por todas


pelos nossos pecados, em um processo de expiação que já foi totalmente
consumado. E quanto à questão de Cristo ainda permanecer de pé, clamando
junto ao Pai pelo perdão dos justos, segue o que dizem as Escrituras Sagradas:

“Então, completou: ‘Aqui estou; vim para fazer a tua vontade’. E assim,
Ele cancela o primeiro padrão, para estabelecer o segundo. E por essa
determinação, fomos santificados por meio da oferta do corpo de Jesus
Cristo, feita de uma vez por todas.

Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, para exercer seus deveres
religiosos, que nunca podem remover os pecados. Jesus, no entanto,
havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à direita de Deus, aguardando, daí em diante, até que seus
inimigos sejam submetidos por estrado de seus pés. Porquanto, com uma
única oferta, aperfeiçoou por toda a eternidade todos quantos estão
sendo santificados.” Hebreus 10: 9-14
234 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Quão mais clara deve ser a Palavra de Deus a respeito desse assunto? Se
os próprios teólogos e mestres adventistas em sua grande maioria admitem
ter sido feita a expiação completa na cruz, por que eles ainda se agarram
a essa obsoleta e herética doutrina, e nos escritos de uma evidente falsa
profetisa?

A resposta nós já sabemos. Abandonar essa doutrina demandaria


muita coragem e honestidade intelectual e espiritual, algo que raramente
se vê entre os dirigentes de seitas religiosas. Ademais, o preço a ser pago
talvez seja demasiado alto para a instituição. Muito mais do que eles estão
dispostos a pagar. Arriscar perder anos de proselitismo, além da provável
perda de grande renda financeira sobre as vendas dos livros de Ellen White
aliada a mais um grande desapontamento e opróbrio público, não parece ser
uma opção muito viável para os dirigentes da IASD. É bem possível que se
tudo isso acontecesse, contudo, as almas desses dirigentes estariam seguras
em Deus e as suas consciências tranquilas. Como essas pessoas poderão
encarar o Pai em seu trono branco, e o Messias na sua segunda vinda?

É Satanás quem carregará os nossos pecados?


Como se todos esses falsos ensinamentos ainda não fossem suficientes,
quando achamos que ainda nada de muito mais chocante pudesse surgir no
horizonte doutrinário adventista, nós nos deparamos com mais uma pérola
doutrinária.

Nos antigos rituais hebraicos, o Lugar Santíssimo era purificado uma


vez por ano pelo sacrifício de um bode chamado “Para Yahweh” (Levítico
16). Um segundo bode chamado de “Para Azazel”, mas mais comumente
chamado de “bode expiatório”, era deixado vivo (Lev 16:10). O Sumo
Sacerdote então impunha as mãos sobre a cabeça desse bode e confessava
os pecados de Israel. Esse bode era, então, direcionado para o deserto,
carregando toda a culpa de Israel, para se encontrar com um demônio
chamado “Azazel”.
Descortinando o Adventismo – Volume I 235

Esse simbolismo profético lembra muito o episódio de Cristo ser


levado pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado por Satanás,
logo depois do seu batismo. Cristo, como todos sabemos, saiu vitorioso
desse encontro. Contudo, na teologia adventista, tal bode expiatório não
representa Jesus, mas sim, Satanás. Teólogos adventistas defendem essa
tese ao dizer que tal bode não poderia representar Jesus, pois ele já havia
sido representado pelo primeiro bode, além desse segundo bode não ter
o seu sangue derramado, portanto ele não poderia ter parte no processo
de expiação. Satanás, portanto, deve finalmente pagar por tudo o que fez,
carregando todos os pecados da humanidade, já que ele foi responsável pela
origem desses pecados.

“Visto que Satanás é o originador do pecado, o instigador direto de todos


os pecados que ocasionaram a morte do Filho de Deus, exige a justiça que
Satanás sofra a punição final. A obra de Cristo para a redenção dos
homens e purificação do Universo da contaminação do pecado, encerrar-
se-á pela remoção dos pecados do santuário celestial e deposição dos
mesmos sobre Satanás, que cumprirá a pena final.”134

Temos alguns problemas com relação a essa afirmação. Uma teológica,


uma cultural e uma que invade o campo da heresia bíblica (mais uma vez).

O problema cultural é que segundo a literatura judaica, Azazel não era


Satanás, mas sim um outro anjo caído:

“No livro de Enoque, Azazel (citado como Azazyel) é um dos anjos


caídos, chamados de Vigilantes, que se sentiram atraídos pelas
mulheres e vieram na terra para ter relações sexuais com elas. Destas
relações nasceram os Sentinelas ou Gigantes.

Azazel e outros anjos caídos passaram conhecimentos a humanidade,


ensinaram a humanidade a fazer armas, espadas, armaduras, agricultura,

134 White, Ellen, Patriarcas e Profetas, pág. 315.


236 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

astronomia. Deus viu isso como uma traição e eliminou-os da terra com
um Dilúvio (citado também em Gênesis). Ainda de acordo com o Livro
de Enoque, Azazel foi julgado e condenado pelo Arcanjo Miguel.

Os Santos Vigias foram depois enviados por Deus para castigar e tentar
reorganizar o caos que os Nephilim, filhos dos Grigori com as filhas dos
homens, causaram na terra. Na verdade, os Nephilins eram os filhos que
nasceram da união entre os humanos e os anjos rebelados.”135

Somente esse fato sobre a cultura judaica já descartaria a teoria


adventista, mas os problemas não param aí. Temos também um problema
técnico/teológico. Se nos utilizarmos de mais esse ponto de vista, nós não
podemos inferir pela Bíblia somente (Sola Scriptura), que Azazel seja uma
representação de Satanás.

Vejamos o que diz o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo


Testamento sobre o assunto:

O Texto Massorético indica um nome próprio que, à parte dessa menção,


é inteiramente desconhecido [nas Escrituras]: Azazel, que os rabinos
da Idade Média explicavam ser designação de um demônio peludo do
deserto. Então, Arão lançaria sortes por um demônio. Ora, não se faz
inclusão do culto ou adoração de demônios em parte alguma da Torá, e
não pode existir a mínima possibilidade de que tal culto surja aqui (e nos
versículos seguintes deste capítulo [Lv16]).

A óbvia solução desse enigma encontra-se na separação das duas


partes da palavra ‘Azazel’, de modo que fique ez azel, isto é, ‘o bode da
partida ou da demissão’. Noutras palavras, como o versículo 10 deixa
bem claro, esse segundo bode deve ser conduzido para fora, ao deserto,
para onde deverá encaminhar-se, e de modo simbólico, levar embora
os pecados do povo de Israel, retirando-os do acampamento do povo.

135 Cohn-Sherbok, Dan (2003). Breve enciclopedia del judaísmo (em espanhol). Madrid: Istmo. Pág. 56.
Descortinando o Adventismo – Volume I 237

É inquestionável que a LXX entendeu o versículo e o nome Azazel dessa


forma, ao apresentar a grafia “to apopompaio” (para o que for enviado
para longe). De forma semelhante, a Vulgata traz “capro emissário” (para
o bode que deve ser despedido). Assim, ao separarmos as duas palavras que
foram indevidamente fundidas numa só no hebraico, passamos a ter um
texto que faz sentido perfeito no contexto, sem fazer concessão a demônios,
cujo exemplo não existe nas Escrituras. Noutras palavras, ‘bode emissário’
(KJV, NASB, NIV) é a verdadeira tradução a ser empregada, em vez de
“para Azazel”(ASV, RSV) (Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, 1998,
2ª impressão, p. 39 ) “azazel, palavra que talvez devesse ser vocalizada
como ez azel (um bode de partida).

É preciso que se entenda que o registro dos documentos do Antigo Testamento


era escrito só com as consoantes; os pontos representativos das vogais só
passaram a ser colocados no texto a partir de 800 d.C [Texto Massorético]. A
tradição, segundo a qual, o bode emissário era o nome de um demônio
do deserto originar-se-ia muito tempo depois, e estaria totalmente em
desacordo como os princípios da redenção ensinados na Torá.

Portanto, é inteiramente errado imaginar que esse cabrito representava


o próprio Satanás, visto que nem o diabo nem seus demônios jamais
são mencionados desempenhando funções expiatórias em prol da
humanidade – que é a implicação dessa interpretação (Idem p. 137)
“A palavra tem sido entendida e traduzida de diversas maneiras. As
versões antigas (LXX, Símaco, Teodócio e Vulgata) entenderam que a
palavra indica o ‘bode que se vai’, considerando como derivada de duas
palavras hebraicas: ez= bode, e azal= virar-se.”

Essa análise técnica final nos leva ao terceiro problema, qual seja, um
de ordem herética, que seria colocar Satanás no lugar de Jesus como uma
espécie de “redentor final” pelos nossos pecados!

As Escrituras novamente se defendem contra esse tipo de absurdo


interpretativo da seguinte forma:
238 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha caminhando em sua
direção, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”
João 1:29

“Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que,
nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” 2 Coríntios 5:21

“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores


levou sobre si; e nós o considerávamos como aflito, ferido de Deus e
oprimido.

Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por
causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele,
e pelas suas feridas fomos sarados.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava


pelo seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade
de todos nós.” Isaías 53:4-6

“Todavia, ao Senhor agradou esmagá-lo, fazendo-o sofrer. Quando


ele der a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e
prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.

Ele verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito. O meu


Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque as
iniquidades deles levará sobre si.

Por isso, eu lhe darei a sua parte com os grandes, e com os poderosos ele
repartirá o despojo, pois derramou a sua alma na morte e foi contado com
os transgressores. Contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos
transgressores intercedeu.” Isaías 53:10-12

E ainda:

“Carregando ele mesmo, em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos


pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça.
Pelas feridas dele vocês foram sarados.” 1 Pedro 2:24
Descortinando o Adventismo – Volume I 239

Não existe absolutamente nenhum espaço para mais de um ser carregar


os pecados da humanidade. Se Cristo já os carregou, qual é o motivo de se
colocar Satanás como mais um “carregador” de pecados? O motivo é esse:
essa é uma doutrina satânica que se infiltrou nessa igreja como mais uma
forma de afronta a Jesus, pois Satanás sempre quis ocupar o lugar dEle!
Com o engano de Ellen White e o Adventismo ele conseguiu fazer isso,
sem qualquer tipo de resistência.

Ou seja, além de a IASD direta ou indiretamente corroborar a ideia


da expiação dos pecados não ter sido completa na cruz, ela ainda desfere
mais um golpe no já combalido sangue de Cristo ao dizer que ele não foi/é
suficiente para apagar totalmente esses pecados, mas que, efetivamente,
aquele que irá nos redimir será o próprio Satanás!

Dentro desse raciocínio temos a seguinte construção teológica:

• Primeiro veio a cruz que não fez muito, a não ser atrasar o
processo de eliminação dos pecados;

• Após isso o sangue de Cristo levou os pecados ao santuário


celestial que o poluiu (!) e postergou o início do juízo para o ano
de 1844;

• Em seguida, o sangue de Cristo cobriu, mas não purificou


completamente as pessoas de seus pecados, basicamente,
colocando um “band-aid” em cima das transgressões, mas não
resolvendo efetivamente o problema;

• Finalmente, após o retorno de Cristo, os pecados da humanidade


recaem sobre Satanás que foi o originador deles;

Afinal de contas, para que serviu o sangue de Cristo mesmo? Dentro


dessa tese adventista, qual foi o resultado efetivo de todo o sacrifício de
Cristo na cruz? Existe alguma forma de deixar o sangue de Jesus com
uma aparência ainda mais fraca do que essa? Como é possível que cristãos
240 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

possam acreditar em tamanha heresia e ainda possam permitir que ela seja
continuamente ensinada em suas comunidades? Que espírito estaria por
detrás de tamanha afronta contra o sangue de Cristo, a ponto de querer
desmerecê-lo e rebaixá-lo a tamanha insignificância?

Analisemos, portanto na página a seguir, as discrepâncias entre o texto


bíblico e esse que é o mais importante pilar doutrinário adventista:

ENSINAMENTOS DO JUÍZO INVESTIGATIVO


VS ENSINAMENTOS BÍBLICOS

Juízo Investigativo Bíblia Sagrada

Juízo é para os ímpios


O Juízo é para os justos
(Dn 7, 8, Ap 14, Jo 5:24)

A Expiação não foi A Expiação foi completa na cruz


completa na cruz (Jo 19:30, Hb 10:14, 9:25, 26)

Cristo está de pé diante do


Cristo está sentado à
Pai, clamando pelos justos
direita do Pai, com um
com o seu sangue, sem ainda
ministério já vitorioso
ter obtido vitória em Seu
(Hb 10:9-14)
ministério

Necessidade de perfeição do Necessidade de confiança no


nosso caráter para a salvação caráter perfeito de Cristo que
(nosso caráter não será nunca pecou e que cobre as nossas
mudado)136 imperfeições (1 Pe 2:22, Gal 3:13)

Ênfase na fé em Cristo para


Ênfase nas nossas obras a salvação. Boas obras nos trarão
para a salvação galardões e não salvação
(Ef 2:8, 9, Rm 2:6, Ap 22:12)

136 White, Ellen, Spirit of Prophecy, Vol. 4, pág. 311, 314, 315. Ver também: Review and Herald, 22/03/1887.
Descortinando o Adventismo – Volume I 241

Juízo Investigativo Bíblia Sagrada

O sangue de Cristo poluiu o


O sangue de Cristo purifica
Santuário Celestial ao levar
e nos limpa de nossos pecados
os pecados da humanidade
(1 Jo 1:7)
para lá

Os pecados da humanidade Os pecados da humanidade


ocorridos até então só foram são apagados quando nos
apagados em 1844 quando arrependemos pela eficácia do
o santuário celestial foi sangue de Cristo derramado na
purificado cruz (1 Jo 1:9)

Cristo já carregou e expiou os


Satanás carregará todos os pecados da humanidade, salvando
pecados da humanidade todo aquele que nEle crê e se
arrepende (Is 53:4, 5)

Cristo entrou no Lugar Santíssimo


Cristo só entrou no Lugar quando ressuscitou e ascendeu aos
Santíssimo em 22/10/1844 ceús (Hb 1:3, Hb 6:19, 20, Hb
9:12, Hb 9:24, Hb 10:19)

O Calendário Judeu Caraíta e a Gafe sobre a


data do dia 22 de outubro de 1844

“No sistema cerimonial mosaico... o grande dia da expiação, ocorria


no décimo dia do sétimo mês judaico (Levítico 16:29-34), ... O décimo
dia do sétimo mês, o grande dia da expiação, tempo da purificação do
santuário, que no ano 1844 caía no dia vinte e dois de outubro...”
Ellen White, O Grande Conflito, pág. 400.

Após toda essa longa exposição e remoção de máscaras tanto bíblicas


como históricas que argumentamos em favor da verdade e contra as
242 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

invenções, ciladas e embustes perpetuados pela instituição Adventista do


Sétimo Dia (que por enquanto foram aqui apresentadas somente dentro
do âmbito do juízo investigativo) trazemos a luz agora, talvez a mais
vergonhosa de todas as gafes cometidas por essa igreja.

Como já dito, e corroborado pela própria profetisa e pioneira


adventista, Ellen White, e até mesmo pela esmagadora maioria dos
formadores de opinião, dirigentes e pastores da instituição adventista,
sem a veracidade do juízo investigativo não existe Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Toda a premissa de sua existência está ligada a ideia de que
essa é a igreja remanescente de Deus, a quem foi dada uma “nova e mais
verdadeira luz”, que trouxe ao mundo a importância das três mensagens
angélicas, da restauração da guarda do sábado e de antigos costumes judeus
como, por exemplo, a sua forma kosher de alimentação, e a quem foi revelado
que no dia 22 de outubro de 1844 se iniciou um juízo investigativo no céu.
Mas o mais importante fator, a espinha dorsal central por assim dizer, e
aquilo que liga todas as bases da igreja entre si é sem sombra de dúvidas, a
doutrina do santuário celestial e do juízo investigativo.

Caso o caro leitor não se lembre, nós apresentamos em algumas


páginas anteriores desse livro que o descobridor dessa data, ou melhor,
aquele a quem Deus “revelou” esse dia tão importante foi o pioneiro
adventista Samuel Snow. Aquele que logo após o fiasco do dia do Grande
Desapontamento apresentou alto nível de insanidade mental e teve que
ser internado num hospital psiquiátrico. Pois ele passou a acreditar ser a
própria reencarnação do espírito do profeta Elias a quem Cristo disse que
haveria de voltar a terra – mesmo sem saber que, biblicamente, essa pessoa
já havia vindo, pois Cristo havia se referido, no caso, ao profeta João Batista
que teria vindo com o mesmo caráter e poder de Elias.

Enfim, os próprios pioneiros adventistas da época resolveram afastar


a imagem deles, e da igreja, da figura de Samuel Snow, pois realmente
qualquer ligação com Snow não seria muito proveitosa para a instituição
Descortinando o Adventismo – Volume I 243

do ponto de vista de marketing e de relações públicas. Afinal de contas


quem gostaria de dizer que uma pessoa com esse nível de desequilíbrio
mental foi o responsável pela descoberta da data mais importante da
história de sua igreja?

De fato, essa estratégia acabou sendo algo bom, pois o passar do


tempo se mostrou ser ainda mais cruel com a participação de Samuel Snow
como sendo um dos pioneiros adventistas. Ocorre que os anais da história
simplesmente não têm como apagar tal conexão.

Mas o que aconteceu de tão pior assim com a imagem de Samuel Snow?

Vejamos:

Samuel Snow foi o responsável por iniciar o chamado “movimento dos


sete meses” que se deu em março de 1844, após convencer Guilherme Miller
que Cristo haveria de voltar no “dia da expiação” ou Yom Kippur daquele
ano, que deveria cair no décimo dia do sétimo mês do calendário judaico e
que por isso ele não teria vindo até então. A teoria fazia sentido para muitos,
afinal de contas estava ligada a purificação do santuário e, ademais, essa seria
uma forma de estender um pouco mais a validade da imagem pública do
“pequeno rebanho” adventista. Sendo assim, Miller topou a ideia e iniciou
mais uma cruzada de seminários apocalípticos e incendiou ainda mais todo
aquele caos social e religioso que nós já apresentamos anteriormente.

Nós já sabemos que Cristo não veio também em 22 de outubro de


1844, e sabemos também de todas as desastrosas consequências na vida de
várias pessoas em virtude desse fiasco profético. Sabemos ainda do remendo
doutrinário chamado “juízo investigativo”, e de como a Igreja Adventista
conseguiu reverter parte do revés criado através do sagaz engenho dessa
doutrina.

Muito bem. O que ninguém esperava é que a data de 22 de outubro


não é a data correta no calendário judaico no ano de 1844 para o dia
da expiação desse ano! É isso mesmo. Essa data está totalmente incorreta
244 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

de acordo com o calendário rabínico judeu. A data correta para o dia da


expiação desse ano caiu, na verdade, no dia 23 de setembro! Ou seja,
talvez por um relapso mental ou por falta de estudo mais aprofundado (ou
seria uma intervenção divina para nos deixar uma pista?) Samuel Snow
simplesmente errou a data do dia da expiação. E ninguém que fazia parte do
movimento Millerita daquela época se deu o trabalho de checar para ver se
realmente a data estava correta!

Mas como nós podemos afirmar com tanta certeza que a data correta
não caiu em 22 de outubro, mas sim em 23 de setembro, no ano de 1844?
Simples. Enciclopédias Judaicas, Almanaques do século XIX, programas
modernos computadorizados que verificam calendários do passado,
cálculos astronômicos, documentação histórica e até mesmo datas em
lápides de cemitérios judeus concordam entre si, e estabelecem sem sombras
de dúvidas que a data no calendário rabínico judaico para o dia da expiação
no ano de 1844 caiu no dia 23 de setembro!

O fato é que essa descoberta pegou a comunidade de teólogos


adventistas de surpresa, muita surpresa. Nenhum deles esperava por esse
golpe do destino. Imediatamente os “advogados” da igreja passaram a se
ocupar, dia e noite, a fim de encontrar uma forma decente de defesa para
tamanho problema. Infelizmente, ao invés de admitirem os seus erros, mais
uma vez um outro erro teve de ser levantado para tapar mais esse outro
falso ensino. Esse é o “looping” eterno criado pela instituição adventista. O
modus operandi já culturalmente estabelecido pela igreja com o objetivo de
manter a máquina rodando.

Contudo, dessa vez, a sua base de defesa realmente não conseguiu criar
nada muito engenhoso. A sua fraca tentativa de defesa apresenta apenas
duas “cortinas de fumaça”.
Descortinando o Adventismo – Volume I 245

Cortina de fumaça número 1:

Primeiramente, a IASD afirma que o calendário usado por Samuel


Snow para determinar a data do dia da expiação daquele ano, não foi o
calendário Rabínico Judaico, mas sim o calendário Caraíta Judeu. Sendo
assim, o dia correto não seria 23 de setembro, mas sim 22 de outubro.

Façamos um breve parêntese para explicar rapidamente quem eram os


judeus Caraítas.

Os judeus Caraítas são uma ramificação obscura do judaísmo, pouco


conhecida. A palavra caraíta (do hebraico ‫םיארק‬, qaraim ou bnei mikra,
“Seguidores das Escrituras”), designa uma das ramificações do judaísmo
que defende unicamente a autoridade das Escrituras Hebraicas como fonte
de Revelação Divina.

Eles rejeitam livros do judaísmo rabínico como, por exemplo, o


Talmude e a Mishná. Não seguem costumes judaicos rabínicos como o uso
de peiot, tefilin e afins.

Por que cargas d’agua teria Samuel Snow escolhido essa tribo para
utilizar de seu calendário específico para a data do dia da expiação do ano de
1844? Ninguém sabe. Até porque não faria nenhum sentido que essa tribo
poderia ter seu calendário mais corretamente alinhado com o calendário
divino que o calendário dos Judeus Rabínicos.

Enfim, mesmo que esse fosse o caso, veremos mais a frente que mesmo
assim a data não seria correta.

Continuando.
246 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Cortina de fumaça número 2:

Se a primeira não funcionar (e não funciona), a segunda teoria é de


que um calendário babilônico pode comprovar que a data de 22 de outubro
é a data correta para o dia da expiação de 1844.

Sobre essas duas defesas, temos o seguinte a apresentar:

Em primeiro lugar, Ellen White em nenhum momento afirmou que


tal data estaria ligada a um calendário Caraíta Judeu ou a um calendário
Babilônico. Lembrando que todo esse esforço empregado pela Igreja
Adventista se dá exatamente para defender a reputação de Ellen White,
a profetisa oficial da igreja. Vejamos novamente então, o que foi que ela
escreveu a respeito:

“No sistema cerimonial mosaico... o grande dia da expiação, ocorria


no décimo dia do sétimo mês judaico (Levítico 16:29-34), ... O décimo
dia do sétimo mês, o grande dia da expiação, tempo da purificação do
santuário, que no ano 1844 caía no dia vinte e dois de outubro...”
Ellen White, O Grande Conflito, pág. 400.

Note que ela menciona o “sistema cerimonial mosaico”. Esse sistema


foi o sistema que o próprio Jesus utilizou em sua época para guardar as
cerimônias e festas judaicas. Esses cálculos de datas foram formulados,
precisamente, pelos Judeus Rabínicos em harmonia com as leis mosaicas. E
foram exatamente eles que taxativamente declararam que o dia da expiação
do ano de 1844 caiu no dia 23 de setembro.

Contudo, com o intuito de derrubar qualquer tentativa de “enrolação”


por parte da Instituição Adventista a respeito do assunto, nós iremos,
graciosamente, presumir por um momento que esse argumento do
calendário Caraíta possa ser válido. E analisaremos, então, mais a fundo
qual seria a data do dia da expiação de acordo com o calendário dessa
desconhecida seita judaica.
Descortinando o Adventismo – Volume I 247

Vejamos o que dizem os experts no assunto, no caso, Judeus Rabínicos


modernos:

“Se os Adventistas do Sétimo Dia querem afirmar que todas as autoridades


judaicas estão erradas e que somente uma micro-seita caraíta possui o único
verdadeiro e correto calendário Judaico, eu gostaria de ver um certificado
com a assinatura de Deus atestando tal argumento!” Will Linden

“É impossível que o Yom Kippur (O dia da expiação/Dia 10 do mês Tishri)


tenha caído no dia 22 de outubro do calendário Hillel.” Tracey Rich

“O Dia da Expiação nunca caiu tão tardiamente durante o ano, nunca


nem perto do dia 22 de outubro.” Susan Prohofsky, Professora da Purdue
University de Lafayette, Indiana.137

Para que o leitor possa ter uma ideia melhor da pouquíssima diferença
entre o calendário Judeu Rabínico e o Judeu Caraíta, segue uma demonstração
de suas datas de acordo com as fases da lua. Fazemos questão de apresentar
toda e qualquer evidência para que não haja qualquer dúvida quanto a esse
assunto, afinal de contas o que está em jogo aqui é toda a credibilidade de
uma instituição que possui mais de 20 milhões de membros.

Cálculos das fases da Lua para o ano de 1844:

Datas Caraítas Datas Rabínicas

Lua Nova 12 de setembro de 1844 14 de setembro de 1844

Lua Cheia 28 de agosto de 1844 28 de agosto de 1844

Ou seja, caso houvesse algum tipo de discrepância entre um calendário


e outro, essa seria no máximo de alguns poucos dias, não de 29 dias como
alega a IASD.

137 Cleveland, Sydney, White Washed, pág. 166.


248 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

A situação ainda fica pior para a IASD quando nós analisamos a opinião
dos próprios Judeus Caraítas a respeito do assunto. Uma carta escrita por
um Rabino Caraíta, Yusuf Ibrahim Marzuk ao pesquisador e escritor E.S.
Ballenger foi publicada em seu livro The Gathering Call. Bellenger introduz
a carta do Rabino Marzuk com os seguintes comentários:

“22 de outubro de 1844 foi um dia crucial para os Adventistas do


Sétimo Dia pelo fato de que seus pioneiros acreditavam piamente que
seria o dia da segunda vinda do Senhor Jesus; e eles ainda se seguram
firmemente nessa data mesmo com todas as evidências contrárias a ela.
O dia da expiação caiu no dia 23 de setembro em 1844 e não no dia 22
de outubro. Isso pode ser facilmente demonstrado consultando qualquer
almanaque judeu da época ou qualquer autoridade ortodoxa judaica.
Eles celebraram o dia da expiação no dia 23 de setembro no ano de 1844.”

Ele continua:

“Os defensores da fé adventista declaram que mesmo que os Judeus


Rabínicos talvez tivessem celebrado o dia da expiação no dia 23 de
setembro, os Judeus Caraítas teriam observado a data do dia 22 de
outubro. Nós fizemos uma cuidadosa investigação a respeito do assunto e
nós descobrimos que essa assertiva é falsa. O Rabino líder dos Caraítas
de Cairo, Egito, Yusuf Ibrahim Marzuk respondendo a nossa
pergunta a respeito do dia da expiação do ano de 1844, escreveu:

Sobre as datas da Páscoa e do Dia da Expiação (Yom Kippur) elas foram


as seguintes:

No ano de 1843 o Yom Kippur caiu numa Quarta-Feira dia 4 de outubro,


no mesmo dia que o calendário Rabínico. Já no ano de 1844 o dia da
expiação caiu no dia 23 de setembro, uma Segunda-Feira, tanto no
calendário Caraíta quanto no calendário Rabínico.”138

138 Cleveland, Sydney, White Washed, pág. 168.


Descortinando o Adventismo – Volume I 249

Carta redigida pelo Rabino


Yusuf Ibrahim Marzuk
para o Sr. C.L. Price em
30 de Março de 1939,
confirmando que tanto no
calendário Rabínico como
no calendário Caraíta,
o dia da expiação (10o dia
do mês Tishiri) caiu no dia
23 de Setembro no ano de
1844 e não no dia 22 de
outubro. Assim sendo, a
alegação de Samuel Snow
sobre a celebração Caraíta
do dia da expiação ter
caído em 22 de outubro
de 1844 é falsa. Ellen
White confirmou a data
apresentada por Samuel
Snow diversas vezes em seus
escritos, confirmando-a
mais uma vez como uma
falsa profetisa. A IASD
mesmo sabendo do
erro, nunca o expôs
publicamente, pois
eliminaria completamente
o grande pilar doutrinário
da igreja.
250 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Note que tanto em 1843 quanto em 1844 as datas relacionadas ao


dia da expiação são exatamente as mesmas em ambos os calendários. Mas
vamos admitir por um momento que o calendário Caraíta pudesse estar
absurdamente discrepante em 29 dias. Ellen White em nenhum momento
falou absolutamente nada a respeito do calendário Caraíta! O Calendário
mencionado por ela foi o sistema Moisaco/Rabínico! Ou seja, não importa
para que lado olhamos, as evidências são incontestáveis.

O fato é que não houve discrepância nenhuma entre esses calendários.


Ellen White errou o ano, errou o mês, errou o dia, errou a doutrina,
errou a profecia, errou tudo! Mais a frente veremos, aliás, em um capítulo
específico, que Ellen White nunca acertou nenhuma de suas profecias!

Mas o que dizer a respeito da segunda teoria adventista que defende


que o calendário correto seria o babilônico? Simplesmente, não há como
levar a sério uma argumentação como essa.

O calendário babilônico nunca fez parte do sistema mosaico


judaico para determinar feriados anuais. Nem os Judeus Rabínicos nem
os Caraítas se utilizaram sequer uma vez do calendário babilônico. O
calendário Judaico criado por Deus através de Moisés nunca teve nada
relacionado com o calendário babilônico. Ele somente soa importante por
ser “Babilônico” e isso engana aqueles que não se aprofundam no assunto.
Nada mais do que isso. Sendo assim dispensaremos por falta de mérito,
qualquer aprofundamento maior a respeito dessa teoria.

Para finalizar o assunto fica claro, portanto, que a gafe criada em cima
dessa data é um vergonhoso fato histórico que mancha ainda mais a já
combalida imagem da IASD. A data de 22 de outubro de 1844 nada mais é
do que aquilo a que foi publicamente taxada: um Grande Desapontamento
que acabou se desdobrando num enorme e contínuo embuste doutrinário,
histórico, religioso, financeiro, espiritual e social que gera até os dias de hoje,
graves consequências, com fiéis acorrentados em fortes cadeias espirituais
e psicológicas. Apelamos, assim, a consciência dos líderes e pastores dessa
Descortinando o Adventismo – Volume I 251

igreja que se levantem contra toda essa mentira e esse mal que já prejudicou
e continua prejudicando, tantas almas incautas.

O “Abre e Fecha” da Porta da Graça Adventista


Após o Grande Desapontamento de 1844 o movimento Milerita
se dividiu em dois grupos. O primeiro grupo, ao qual o próprio Miller
se uniu posteriormente, reconheceu que nada de relevante realmente
havia ocorrido em 22 de outubro de 1844 e seguiram as suas vidas
aguardando normalmente o retorno de Cristo. Esses adventistas rejeitaram
completamente a ideia da doutrina do santuário celestial como forma de
reinterpretação da vinda de Cristo em 1844 e ficaram conhecidos como os
“Adventistas da Porta-Aberta”.

O segundo grupo reinterpretou a profecia dos 2.300 dias de Daniel


8:14 como a doutrina do santuário celestial e do juízo investigativo,
e acreditou que a porta da graça havia sido fechada nesse dia. Esses se
tornaram conhecidos como os “Adventistas da Porta-Fechada”. Desse
segundo grupo surgiram os fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Até os dias de hoje os adventistas acreditam que haverá uma época não
muito distante em que a “Porta da Graça” será fechada e que não haverá
mais chance para salvação para quem quer que seja. É interessante, contudo,
que apresentemos a evolução dessa teoria ao longo dos anos, a fim de que
possamos conscientizar o leitor da constante mudança de pensamento
doutrinário dessa igreja, que sempre teve que se adaptar as caprichosas e
pitorescas mudanças de pensamento da sua “profetisa” e líder, Ellen White.

Os Mileritas criam que a parábola das 10 virgens de Mateus 25:1-12


falava da experiência que eles haveriam de ter com a vinda de Cristo em 1844.
Os “Adventistas da Porta-Fechada”, que continuaram acreditando que o
dia 22 de outubro de 1844 foi uma data profética relevante, acrescentaram
um pouco mais de fanatismo à parábola das 10 virgens. Nessa parábola, as
252 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

virgens prudentes entraram com o noivo na festa da celebração das bodas e


então “a porta foi fechada”. Esses adventistas acreditavam que eles eram as
“únicas noivas” que estavam preparadas. Eles passaram a ensinar, portanto,
que todos aqueles que rejeitaram a mensagem de 22 de outubro de 1844
representavam as virgens néscias que ao baterem na porta do noivo,
ouviram: “Em verdade vos digo que não vos conheço”.

Em outras palavras, o “pequeno rebanho” adventista era o único povo


a quem a “porta da graça” ainda estava aberta. Para todos os outros, a porta
havia se fechado.

Simultaneamente ao fechamento da porta da graça a todos aqueles


que não aceitaram a mensagem de 1844, os “Adventistas da Porta-Fechada”
acreditavam também que Cristo havia fechado a porta do Lugar Santo
do santuário celestial. A própria Ellen White disse que viu tudo isso
acontecendo no céu. Vejamos:

“Foi-me mostrado o que teve lugar no Céu, no final do período profético, em


1844. Terminando Jesus Seu ministério no lugar santo, e fechando a porta
daquele compartimento, grande treva baixou sobre aqueles que tinham
ouvido e rejeitado as mensagens de Sua vinda; e O perderam de vista.
Jesus então envergou vestes preciosas. Na extremidade inferior de Suas vestes
havia uma campainha e uma romã, uma campainha e uma romã.

Um peitoral de confecção curiosa estava suspenso de Seus ombros.


Movendo-Se Ele, luzia como diamantes, avolumando letras que pareciam
semelhantes a nomes escritos ou gravados no peitoral. Sobre a cabeça trazia
algo que tinha a aparência de uma coroa. Quando ficou completamente
ataviado, achou-Se rodeado pelos anjos, e em um carro chamejante passou
para dentro do segundo véu.

Foi-me então ordenado que observasse os dois compartimentos do santuário


celestial. A cortina, ou porta, foi aberta, e foi-me permitido entrar.”139

139 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 252.


Descortinando o Adventismo – Volume I 253

Ou seja, para todos os efeitos, a porta da graça havia se fechado para


qualquer um que não fizesse parte do movimento adventista nessa época.
É bem provável que a raiz da mentalidade exclusivista que ainda permeia a
IASD nos dias atuais, tenha surgido nessa época, com a ideia da porta da
graça fechada.

Contudo, logo em seguida, entre outubro de 1844 e dezembro do


mesmo ano muitos adventistas desistiram desse ensinamento. Como
podemos ver a seguir:

“Quando ela recebeu sua primeira visão, entre 22 de outubro de 1844 e o fim
de dezembro de 1844, ela (EGW) e todo o grupo de Portland, Maine (onde
seus pais moravam) desistiram da teoria do Clamor da Meia-Noite e do
ensino da doutrina da Porta Fechada, como se tivesse ficado no passado.”140

Esse texto deixa claro que Ellen White havia abandonado os


ensinamentos da doutrina da porta fechada nesse período. Porém, como
nada relacionado a Igreja Adventista do Sétimo Dia é tão simples assim,
logo em seguida os pioneiros adventistas mudaram de ideia novamente e
resolveram fechar a tal porta da graça de novo.

Até o momento nós já documentamos em diversos locais a


inconsistência da “profetisa” adventista em diversos textos, assim como a
sua mudança de pensamento quando assim lhe fosse conveniente. Desde o
endosso de Miller em relação as suas predições iniciais para a volta de Cristo
em 1843 para uma mudança de data da vinda do Messias para a primavera
de 1844, logo em seguida uma nova mudança para 22 de outubro de 1844
e finalmente uma nova revelação para transformar essa data numa doutrina
de Juízo Investigativo/Santuário Celestial.

Vimos também que a data de 22 de outubro de 1844, não bate com


o calendário oficial Judaico ou Caraíta para o dia da expiação desse ano.

140 White, James, A Word to the “Little Flock”, 30 de maio de 1847, pág 22.
254 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Vimos que todos os erros relacionados as suas falsas profecias, todas as


tragédias, suicídios, mortes e transtornos mentais causados pelo Grande
Desapontamento acabaram caindo na conta de Deus e de sua mão que
“ocultou” o erro. E agora, mais uma vez, uma nova mudança de ideia,
transformando, como um camaleão, a sua antiga doutrina em uma outra
diretamente oposta aquilo que havia sido recentemente ensinado.

Iremos mostrar agora, mais uma remoção de máscara dos anais da


história adventista, algo que muitos defensores da igreja desconhecem,
e os poucos que estão cientes temem sobremaneira que tal “segredo” seja
revelado. Isso porque esse recôndito da alma da Igreja Adventista ataca
diretamente (e derruba) qualquer argumento a favor do ministério profético
de Ellen White. Não que realmente precisássemos de mais um argumento,
vide as inúmeras provas já apresentadas. Contudo, os próximos versos
demonstrarão, sem sombra de dúvidas, que James e Ellen White, além de
diversos outros pioneiros adventistas da época, voltaram a aderir a doutrina
da Porta Fechada no período entre dezembro de 1844 até outubro de 1851.

“Tinham uma luz brilhante colocada por trás deles no começo do


caminho, a qual um anjo me disse ser o “clamor da meia-noite”. Essa luz
brilhava em toda extensão do caminho, e proporcionava claridade para
seus pés, para que assim não tropeçassem. Se conservavam o olhar fixo em
Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guiando-os para a cidade,
estavam seguros.

Mas logo alguns ficaram cansados, e disseram que a cidade estava muito
longe e esperavam ter entrado nela antes. Então Jesus os animava,
levantando Seu glorioso braço direito; e de Seu braço saía uma luz que
incidia sobre o povo do advento, e eles clamavam: “Aleluia!” Outros
temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e diziam que
não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desaparecia,
deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropeçavam e,
perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para baixo,
Descortinando o Adventismo – Volume I 255

no mundo tenebroso e ímpio. Era tão impossível para eles [os que
abandonaram a fé no movimento de 1844] voltarem ao caminho e
irem para a cidade, como para todo o mundo ímpio que Deus havia
rejeitado. Eles caíram ao longo de todo o caminho um após outro.

Logo ouvimos a voz de Deus semelhante a muitas águas, a qual nos


anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em
número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os
ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus o tempo,
verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com esplendor
da glória de Deus como aconteceu com Moisés, na descida do Monte
Sinai.”141 Ellen G White.

Esse texto é parte da famosa primeira visão de Ellen White, reproduzida


em diversos livros que foram traduzidos para o português como “Primeiros
Escritos”, “Vida e Ensinos” e “Mensagens Escolhidas Vol. 1”. Contudo, note
que os tradutores, não foram completamente honestos em sua tradução do
original escrito por Ellen White. O primeiro texto em negrito colocado
por nós mostra a frase mais importante em relação à doutrina da Porta
Fechada, que foi deixada completamente de fora dos livros brasileiros! O
motivo dessa remoção ficará bem claro a seguir.

“Era tão impossível para eles voltarem ao caminho e irem para a


cidade, como para todo o mundo ímpio que Deus havia rejeitado.
Eles caíram ao longo de todo o caminho um após outro.”

Essa frase é crucial para a interpretação correta dessa visão. Ellen


White deixa claro aqui duas coisas:

141 White, Ellen, “To the Remnant Scattered Abroad,” em A Word to the “Little Flock”, 30 de maio de
1847, pág. 14. Reproduzido por George Knight em The Rise of Sabbatarian Adventism, pág. 172 e
Dale Ratzlaff em Cultic Doctrine of Seventh Day Adventists, pág 122.
256 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

1. Seria impossível para todos aqueles que haviam negado a


mensagem Milerita, ou a sua reinterpretação (juízo investigativo)
que houvesse qualquer tipo de salvação;
2. Deus havia rejeitado todos os ímpios.

Além disso, nós também deixamos em negrito alguns outros pontos


importantes dessa visão que não iremos entrar em maiores detalhes agora.
Haverá um capítulo específico para lidar com os devaneios e heresias
de Ellen White. Contudo, é importante ao leitor que seja feito uma
anotação mental do segundo e terceiro negrito efetuado no texto acima.
Reproduzimos eles aqui novamente:

“Logo ouvimos a voz de Deus semelhante a muitas águas, a qual nos


anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em
número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz (...)”

Pois bem, dando sequência a essa problemática da porta fechada segue


mais um texto que corrobora o ensinamento dessa doutrina dada por Ellen
White após dezembro de 1844. Em uma carta escrita para Joseph Bates,
Ellen afirma que foi uma de suas visões (a segunda) a respeito da porta
fechada que fez com que um grupo de fiéis em Portland abandonasse o erro
de não aceitar a doutrina da Porta Fechada:

“Por fim, minha alma parecia estar em agonia e, enquanto ela falava, caí
da cadeira no chão. Foi então que tive uma visão de Jesus subindo de Seu
trono mediador e indo Santíssimo como Noivo para receber Seu reino.
Todos estavam profundamente interessados n ​​ a visão. Todos eles disseram
que tudo aquilo era totalmente novo para eles. O Senhor trabalhou com
grande poder, colocando a verdade em seus corações.
A maioria deles recebeu a visão e aceitaram o ensino sobre a porta
fechada.”142

142 A.L. White, Ellen G White and the Shut Door Question, Letter 3, 1847, pág. 49-51. Publicado também
no livro de Desmond Ford, Daniel 8:14, pág. 417-419.
Descortinando o Adventismo – Volume I 257

As duas primeiras visões de Ellen White mostram que apesar de que


ela tenha abandonado esse ensino por um curto período, ela o retomou
logo em seguida com tal convicção que chegou a publicar suas visões a
respeito do assunto. Pois tais visões, aparentemente, haviam corrigido o erro
de abandonar tal doutrina.

Agora, na próxima carta que iremos parcialmente reproduzir aqui


em português, endereçada a Joseph Bates e escrita pela Sra. White, notem
que não apenas nós concluímos que a remetente deixa claro que ela havia
solidificado a sua posição a favor da doutrina da Porta Fechada, como
também alguns outros detalhes muito interessantes que sem sombra de
dúvida saltarão aos olhos do leitor.

Veja a seguir parte da carta de Ellen White a Joseph Bates:

“Talvez você queira que eu faça uma declaração a respeito das duas visões
que eu tive. Na época, que eu tive a visão sobre o Clamor da Meia-Noite,
eu havia desistido (de ensino da porta fechada) porém a repensei na
sequência, assim como também a maioria do grupo. Não sei a que
horas J. Turner escreveu seu artigo. Eu sabia que ele tinha uma cópia fora
de casa e outra dentro de casa, mas eu não sabia o que havia nele, pois
não li nenhuma palavra dele.

Eu ainda estava muito doente. Não me interessei em ler, pois me dava


dor de cabeça e me deixava nervosa. Depois que eu tive a visão e Deus
me deu luz, Ele me pediu para entregá-la ao grupo, mas eu me esquivei
da responsabilidade. Eu era jovem e pensei que eles não receberiam bem
essa visão, vinda de mim. Desobedeci ao Senhor e, em vez de ficar em casa,
onde seria a reunião naquela noite, eu fui de trenó na parte da manhã
viajando cinco ou seis quilômetros e lá encontrei J. T. [Joseph Turner].

Ele apenas perguntou como eu estava e se estava no caminho de meu


trabalho. Eu não disse nada, porque sabia que eu não estava no caminho
do meu trabalho. Passei [para] a câmara [quarto] e não o vi novamente
258 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

por duas horas, quando ele apareceu, perguntou se eu iria para a reunião
naquela noite. Eu disse a ele: Não. Ele disse que queria ouvir minha
visão e achou que era meu dever ir para casa.

Eu disse a ele que não deveria ir pra casa. Ele não disse mais nada, e
foi embora. Eu pensei, e disse aos que estavam ao meu redor, se eu fosse,
teria que me opor a seus pontos de vista, pensando que ele acreditava nas
mesmas coisas que o resto do grupo. Eu não tinha dito a nenhum deles
o que Deus havia me mostrado, e não contei a eles em quais pontos eu
haveria de discordar dele. Durante todo o dia sofri muito no corpo e na
mente. Parecia que Deus havia me abandonado completamente.

Orei ao Senhor para que Ele me desse forças para voltar para casa
naquela noite, e na primeira oportunidade eu entregaria a mensagem
que Ele havia me dado. Ele me deu forças e eu voltei para casa naquela
noite. A reunião já havia sido realizada há algum tempo e ninguém da
minha família me disse uma palavra sobre o que havia acontecido
na reunião.

Muito cedo, na manhã seguinte, J. T. ligou, disse que estava com pressa
saindo da cidade em pouco tempo e queria que eu contasse tudo o que Deus
havia me mostrado em visão. Foi com medo e tremor que contei tudo a
ele. Depois que eu terminei, ele disse que havia contado exatamente a
mesma coisa na reunião da noite passada. Fiquei alegre, pois esperava
que ele se manifestasse contra mim, pois em nenhum momento eu ouvi
alguém dizer algo a respeito do que ele acreditava.”143

Pois bem, após análise do texto acima, podemos concluir o seguinte:

• A Sra. White entrou na casa do Sr. Turner e ali ficou, por duas
horas no mínimo, aparentemente sozinha;

143 A.L. White, Ellen G White and the Shut Door Question, Letter 3, 1847, pág. 49-51. Publicado também
no livro de Desmond Ford, Daniel 8:14, pág. 417-419.
Descortinando o Adventismo – Volume I 259

• Ela sabia que o artigo escrito pelo Sr. Turner estava dentro da
casa dele. Ou ela viu o artigo ali, ou alguém havia contado a ela
sobre isso;

• Ela teve o tempo necessário e a oportunidade de ler o artigo


caso assim quisesse;

• Nós sabemos que ela possuía um grande interesse a respeito do


assunto escrito no artigo pelo Sr. Turner;

• Apesar do profundo interesse que ela tinha a respeito do


assunto, ela alega que não leu o artigo porque isso dava a ela
“dor de cabeça”;

• Como ela sabia que ler tal artigo lhe daria “dor de cabeça” se
de fato em nenhum momento ela efetivamente leu tal artigo?

• Naquela mesma noite Ellen chegou a sua própria casa onde a


reunião com o Sr. Turner, já havia acontecido;

• Ela alega que ninguém de sua própria família, comentou


absolutamente nada a respeito do que foi dito na reunião pelo
Sr. Turner, apesar do profundo interesse que ela e sua família
tinham sobre o assunto;

• Quando ela finalmente relata ao Sr. Turner, a visão que havia


recebido “de Deus”, ele responde dizendo a ela que tal visão foi
exatamente o que ele havia apresentado na reunião que havia
ocorrido na noite passada na casa da família de Ellen White,
minutos antes dela chegar.

Nós iremos apresentar um capítulo inteiramente dedicado a Ellen


White e seus plágios, heresias e devaneios, contudo deixamos aqui apenas
esse pequeno exemplo de como funcionava o modus operandi de Ellen
White. É extremamente difícil de acreditar que Ellen não deu ao menos uma
olhada no artigo escrito por Turner tendo estado em sua casa, sozinha por
260 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

duas horas, visto o tamanho do interesse que ela tinha sobre o assunto. Fica
ainda mais difícil de acreditar que nenhum de seus familiares relatou nem
ao menos uma palavra a respeito da reunião que havia sido realizada em sua
própria casa, sobre um assunto que era tão polêmico entre os adventistas
da época e que muito interessava tanto a ela quanto aos seus familiares.
Além disso, o próprio Sr. Turner, logo após esse incidente se tornou um
grande inimigo e opositor de Ellen White e não dava a ela nenhum crédito
a respeito de suas alegações de inspiração divina. Teria sido pelo plágio
tácito sofrido por ele e perpetrado pela Sra. White?

Não há absolutamente nenhuma dúvida a respeito dos plágios


cometidos por Ellen White. Isso ficou muito claro no clássico livro do ex-
pastor adventista Walter Rea “A Mentira Branca”. Aqui existem grandes
sinais de que a mesma coisa provavelmente aconteceu com a visão em
questão. Com o histórico de Ellen White, tudo aponta para isso. Mas
iremos nos demorar a respeito do assunto dos plágios mais adiante.

Por enquanto, voltemos ao assunto da Porta Fechada. Nós já vimos


pela carta acima que Ellen concordava com J. Turner. Contudo, como
podemos ter certeza que J. Turner realmente acreditava nesse ensino da
Porta Fechada? Temos certeza, exatamente por termos acesso a um artigo
escrito por J. Turner e A. Hale no periódico The Advent Mirror em janeiro
de 1845, que tenta explicar a parábola das dez virgens argumentando em
favor da doutrina da Porta Fechada. Vejamos a seguir parte do artigo:

“Mas algum pecador pode ser convertido se a porta da graça estiver


fechada? É claro que não podem, embora possam ocorrer mudanças
que possam parecer conversões. O estado da humanidade diante de
Deus seria o mesmo dos casos em que comunidades foram entregues
a Deus para a destruição... Mas pensar em trabalhar para converter as
grandes massas do mundo naquele momento seria tão inútil quanto teria
Descortinando o Adventismo – Volume I 261

sido quando os israelitas, quando estavam no mar vermelho, se voltaram


para converter os egípcios.”144

Não somente Ellen White concordava com a afirmação acima de J.


Turner (ao ponto de copiá-la) como também o seu marido, James White,
veementemente compartilhava dos mesmos sentimentos que ela, o que
deixou muito evidente no texto escrito por ele e transcrito abaixo:

“Quando chegamos nesse período do tempo (após 22 de outubro de 1844),


toda a nossa simpatia, fardo e orações pelos pecadores terminaram,
e o sentimento e testemunho unânime era de que o nosso trabalho pelo
mundo havia terminado para sempre. ‘Pois, assim como Ele é, nós
semelhantemente somos nesse mundo’. 1 João 4:17.

Os ramos vivos na terra simpatizarão e se moverão em conjunto com a


videira verdadeira no céu. A razão pela qual os ramos vivos sentiram
que seu trabalho foi realizado pelo mundo, foi porque os 2300 dias
haviam terminado e havia chegado a hora para Jesus fechar a porta do
Lugar Santo e passar para o Lugar Santíssimo, a fim de receber o Reino
e purificar o santuário. Essa mudança, tão maravilhosamente descrita
em Daniel 7:13, 14, responde à vinda do noivo e da porta fechada, na
parábola (das dez virgens de Mateus 25).

Ele ainda é misericordioso com seus santos, e sempre será; e Jesus ainda é
seu advogado e sacerdote. Mas o pecador, a quem Jesus estendeu os braços
todo esse tempo, e que rejeitou as ofertas de salvação, ficou sem advogado,
quando Jesus saiu do Santo Lugar e fechou a porta em 1844. A igreja
apostatada, que rejeitou a verdade [essa verdade sendo o clamor da
meia noite de 1844 e depois a sua reinterpretação sobre a doutrina do
santuário], também foram rejeitados e feridos pela cegueira, e agora,

144 A. Hale; J. Turner, The Advent Mirror, Vol. 1, Num. 1, jan. 1845, como também foi reproduzido no
livro de George Knight, Rise of Sabbatarian Adventism, pág. 133-136 e no livro de Dale Ratzlaff, The
Cultic Doctrine of the Seventh Day Adventists, pág. 125.
262 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

‘com seus grupos e com os seus rebanhos’, vão ‘buscar o Senhor’ como ainda
um defensor dos pecadores; mas, diz o profeta: [Oséias 6, 7] eles não
O encontrarão; Ele SE RETIROU deles. Eles agiram traiçoeiramente
contra o Senhor; porque eles tiveram filhos estranhos. A razão pela qual
eles não encontram o Senhor é simplesmente por isso: eles O procuram
onde Ele não está; ‘Ele se retirou’ para o Lugar Santíssimo. O profeta de
Deus chama seus convertidos criados pelo homem de ‘Estranhos Filhos’;
agora uma boca os devorará e as suas porções.

Diz o opositor: ‘Eu acredito que Jesus ainda está no propiciatório’.


Em resposta a essa afirmação, deixe-me dizer; Jesus nunca esteve
no propiciatório, e nunca estará. O propiciatório está no Lugar
Santíssimo, onde Jesus entrou no final dos 2300 dias. Sua posição
está sobre a arca dos dez mandamentos; e sobre ela estão os querubins da
glória. Diante do propiciatório, nosso Grande Sumo Sacerdote apresenta
Seu sangue por Israel”.145

Além das provas já destacadas anteriormente que evidenciam a


posição de Ellen White a respeito desse assunto, gostaríamos de apresentar
mais uma (dentre várias outras disponíveis) que iremos, particularmente,
analisar com um pouco mais de detalhe. Mas por que seria tão necessário
nos aprofundarmos tanto nesse tópico? Porque ao demonstrar tamanha
aberração que foi ensinada por Ellen White por diversos anos (no mínimo
entre 1844 e 1851), deixaremos claro, mais uma vez que essa senhora nunca
foi boca de Deus nessa terra. Seria impossível que uma profetisa verdadeira
de Deus pudesse ensinar que o mundo todo estava perdido nessa época
(incluindo os cristãos que não aceitaram a mensagem de 1844). Como é
possível que ainda existam seguidores de alguém que ensinou tamanha
heresia por tanto tempo? Analisemos o texto a seguir:

145 White, James. The presente Truth, maio de 1850, publicado por Desmond Ford em seu livro Daniel
8:14, pág. 351, 352.
Descortinando o Adventismo – Volume I 263

“Eu vi a verdadeira luz sobre esses textos. Vi que essa repreensão foi
dada por Jesus aos fariseus e judeus, que estavam cheios de justiça própria
e só cumprimentavam ou falavam com aqueles que estavam tão cheios
de justiça própria e hipocrisia quanto eles mesmos; e negligenciavam
completamente e passavam direto por aqueles que não ganhavam tanto
quanto eles, e que não recebiam as mesmas saudações nas praças como
eles recebiam. Vi que o que Cristo fazia por eles não se aplicava de forma
alguma ao nosso tempo - no qual estamos vivendo agora.

Depois, vi que Jesus orou por seus inimigos; mas isso não deve nos
levar a orar pelo mundo iníquo, que Deus havia rejeitado – quando
ele orou por seus inimigos, havia esperança para eles, e eles poderiam ser
beneficiados e salvos por suas orações, e também depois quando ele foi
um mediador no pátio externo para o mundo inteiro; mas agora seu
espírito e simpatia foram retirados do mundo; a nossa simpatia deve
estar com Jesus e deve ser da mesma forma retirada dos ímpios.

Vi que Deus amava seu povo – e, em resposta às orações, choveria sobre


justos e injustos – vi que, em outro tempo, ele regava a terra e fazia o sol
brilhar para os santos e os iníquos. Pelas nossas orações, o nosso Pai enviava
chuva sobre os injustos, enquanto ele também enviava sobre os justos.
Contudo, eu vi que, agora, os ímpios não podiam ser beneficiados por
nossas orações – e, embora ele tenha enviado isso aos injustos, ainda
assim o dia deles estava chegando.

Vi então que as escrituras não ensinavam que devemos amar os


ímpios a quem Deus havia rejeitado, mas sim, o que ele quis dizer é
que “nosso próximo” significa “aqueles da nossa própria casa”, e nada além
disso; no entanto, vi que não deveríamos praticar nenhuma injustiça aos
ímpios ao nosso redor; – Mas nossos vizinhos a quem devemos amar eram
aqueles que amavam a Deus e o serviam.”146

146 Canright, The Life of Mrs. E. G. White, pág 127.


264 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Após análise desse texto, chegamos às seguintes conclusões:

1. Ellen White estava ensinando os seus seguidores a não interceder


pelos ímpios, pois Deus os havia rejeitado. Apesar de Jesus ensinar
que nós devemos orar pelos nossos inimigos, Ellen diz exatamente
o contrário. Pois, segundo ela, Deus já não daria mais nenhuma
chance para essas pessoas. Ocorre que Deus não rejeitou esse
mundo. Na verdade, Ele enviou Seu Filho, para morrer por nós,
pecadores, para que pudéssemos ser salvos. Cristo não veio para os
santos perfeitos, mas sim para os pecadores, cheios de erros como
eu e você. Ou seja, basicamente, Ellen White ensina aqui que o
seu grupo não deveria seguir o exemplo de Jesus de orar por seus
inimigos, mas sim o exemplo dela que era contrário ao de Cristo.
Essa foi uma das “revelações de luz” que ela disse haver recebido
sobre o texto bíblico, nesse caso o de Mateus 5:44: “Eu, porém,
vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.

2. Outra pérola deixada por Ellen nesse texto é a de que o “espírito (de
Cristo) e sua simpatia foram retirados do mundo” e que “a nossa
simpatia deve estar com Jesus e deve ser da mesma forma retirada
dos ímpios”. Aonde mesmo na Bíblia é dito que Deus retirou o Seu
Espírito do mundo? Não somente isso, mas que nós deveríamos fazer
o mesmo que Ele? Imaginem vocês se todos os cristãos seguissem o
conselho de Ellen White? Não existiria mais nenhum intercessor
nesse planeta! Não só isso, como ninguém mais sentiria a presença
de Deus nessa Terra. Será que essa mulher era realmente uma
“Mensageira do Senhor”? Se essas “grandes revelações” não vieram
de Deus, de quem será que elas podem ter vindo?

3. “Contudo, eu vi que, agora, os ímpios não podiam ser beneficiados


por nossas orações”. Se você caro amigo, acredita em Ellen
White, por favor, pare de orar imediatamente por seus amigos,
colegas e parentes que ainda não estão salvos. De que adiantaria?
Descortinando o Adventismo – Volume I 265

Interessante notar que mais uma vez ela diretamente contradiz a


Palavra do Senhor. Vejamos o que diz Rom 5:10: “Ora, se quando
éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com Ele mediante
a morte de seu Filho, quanto mais no presente, havendo sido
feitos amigos de Deus, seremos salvos por sua vida.”

4. “Vi então que as escrituras não ensinavam que devemos amar


os ímpios a quem Deus havia rejeitado, mas sim, o que ele quis
dizer é que “nosso próximo” significa “aqueles da nossa própria
casa”, e nada além disso”. Imaginem a alegria de Satanás ao ler esse
texto escrito por uma autoproclamada “Mensageira do Senhor”. O
ensinamento, portanto, era o de não mais pregar o evangelho pra
ninguém! Depois do fiasco de 1844, Ellen White e os pioneiros
adventistas, ensinavam que a porta da graça havia se fechado para o
mundo todo, menos aqueles que aderiram ao movimento de 1844.
Sendo assim, eles não perdiam mais tempo pregando o evangelho
aos ímpios que estavam no mundo, mas sim com os Mileritas,
a quem a todo o custo eles tentavam trazer para dentro do seu
movimento da “porta fechada”.

Ocorre que William Miller reconheceu que nada de profético havia


acontecido em 1844 e ao invés de se meter em outras peripécias
apocalípticas ou devaneios escatológicos sem sentido, ele e seu
pequeno grupo Batista passaram a pregar o evangelho simples ao
mundo. Pobre Miller. Ele não passou no teste de Ellen White que
o acusou de ser um falso reformista por não adotar a sua teoria da
“porta fechada”.

5. A Sra. White adotou o termo “Eu vi” ou “Vi”, dez vezes durante
essa narrativa de sua “visão”. Essa era uma tática muito utilizada
por ela para impressionar aqueles que leriam tais textos no futuro.
Contudo, absolutamente nenhuma parte dessa visão foi verdadeira.
Fazendo dela, mais uma vez, uma notória falsa profetisa.
266 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Joseph Bates, um dos pioneiros da IASD - por quem, aliás, veio a ideia
da guarda do sábado como dia sagrado – também deixou o seu selo de
aprovação quanto a doutrina da porta fechada. Em 1850 ele publicou um
artigo a respeito do santuário que dizia o seguinte:

“Os 2300 anos se completaram no outono de 1844 (...). Ali o Seu (Cristo)
trabalho terminou com relação a sua ministração de intercessão pelo
mundo todo, para sempre (...). Ali a porta foi fechada.”147

Não contente em fechar a porta da redenção para o mundo todo,


com exceção do pequeno rebanho adventista, Bates decide também
quanto tempo levará o tempo da expiação dos pecados que estão no céu,
daqueles que foram escolhidos por Jesus (os adventistas que acreditaram na
mensagem de 1844 e do santuário). Segundo ele (corroborado pelo casal
White), a expiação duraria 7 anos:

“As sete manchas de sangue no Altar de Ouro e diante do propiciatório,


creio com convicção, representam a duração dos procedimentos judiciais
contra os santos vivos no Santíssimo, que durante todo esse tempo estarão
em aflição, sim, durante esses sete anos. Deus por sua voz os libertará:
‘Porque é o sangue que faz expiação pela alma’. Levítico 17, 11. Então o
número sete encerrará o dia da expiação, (não redenção). Esse é o período
de duração da terceira mensagem angélica. E nos seis últimos meses deste
período de tempo, eu entendo, Jesus irá realizar a sua colheita com a sua
foice, na nuvem branca.”148

Mas como sabemos que Ellen White concordava com Joseph Bates
sobre o período da expiação ser realizado em 7 anos? Vejamos a sequência
dos textos escritos por ela, abaixo:

147 Ver Canright, The Life of Mrs. E. G. White, pág. 112.


148 Bates, Joseph, “The Typical And Anti-typical Sanctuary,” pág. 10-13, 15. Publicado por Canright em
“The Life of Mrs. E. G. White", pág. 113, 114 e por Dale Ratzlaff em “The Cultic Doctrine of the Seventh
Day Adventists” pág. 132.
Descortinando o Adventismo – Volume I 267

“Numa visão dada em 27 de junho de 1850, meu anjo acompanhante


disse: ‘O tempo está quase terminado. Refletis, como deveis, a amorável
imagem de Jesus?’ Foi-me indicada então a Terra e vi que tinha de haver
uma preparação da parte daqueles que nos últimos tempos abraçaram
a terceira mensagem angélica. Disse o anjo: ‘Preparai-vos, preparai-vos,
preparai-vos. Tereis de experimentar uma morte para o mundo, maior do
que jamais experimentastes antes’. Vi que havia grande obra a ser feita
por eles e pouco tempo para fazê-la.”149

“Mas agora o tempo está quase findo, e o que durante anos temos
estado aprendendo, eles terão de aprender em poucos meses.”150

Em outra visão que ela teve em setembro de 1850 ela “viu” o seguinte:

“Vi que o tempo para Jesus permanecer no lugar santíssimo estava quase
terminado e esse tempo podia durar apenas um pouquinho mais.”151

Numa carta escrita para o casal Loveland, em 1 de novembro de 1850,


a Sra. White relatou o seguinte:

“Minha visão vem à minha frente e as palavras do anjo agora parecem


ecoar em meus ouvidos: Prepare-se, prepare-se, prepare-se. O tempo está
quase terminando, quase terminando, quase terminando. Chore, chore,
para que o braço do Senhor seja revelado, para que o braço do Senhor seja
revelado. O tempo está quase terminando. O que você faz, você deve
fazer rapidamente!”.152

Numa outra carta escrita por sua irmã, Sarah B. Harmon, para a Sra. P.
D. Lawrence, em 29 de julho de 1850 havia o seguinte texto:

149 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 64.


150 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 67.
151 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág 57.
152 White, Ellen, Carta 26, 1850, pág 2, Manuscript Releases, Vol. 8, pag. 222, 223.
268 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“Eu creio que esse será o último inverno que veremos antes que
Cristo, o nosso Sumo Sacerdote, volte. Oh, vamos viver para Deus em
fiel sacrifício para Ele.”153

Fica claro nesses últimos textos qual era o pensamento do grupo


adventista em relação à doutrina da porta fechada. Eles não só criam nela,
como ensinavam a todos que podiam, tal heresia. Além disso, uma visão
totalmente distorcida do evangelho e do caráter de Deus e de Jesus era
passada para o já combalido “pequeno rebanho”. Quanto mais de abuso
espiritual esse povo conseguiria suportar?

Note que Ellen diz em vários de seus textos que o povo adventista
deveria “correr” ou “se apressar” para realizar trabalhos de aperfeiçoamento
de caráter que levaram anos para outros adventistas serem lapidados. O
evangelho de Jesus não nos ensina nada do tipo. O ladrão que estava na cruz
e se arrependeu no último momento de sua vida, foi salvo. Não precisou
se apressar para aprimorar o seu caráter. O evangelho de Cristo não nos
impõe jugos pesados, pelo contrário. Ele nos retira o peso do pecado, e
também da ansiedade de “termos que fazer isso e aquilo” para recebermos a
nossa recompensa da salvação e nos concede um fardo leve, através do qual
recebemos de graça a água da vida que jorra dEle. O resumo de evangelho
é esse:

“Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e


crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida.” João 5:24.

O aperfeiçoamento de caráter ocorre depois disso, naturalmente, pelo


trabalho do Espírito Santo em nossas vidas. Em nenhum momento Deus
coloca tal aperfeiçoamento como condição de salvação.

153 Canright, The Life of Mrs. E. G. White, pág. 117.


Descortinando o Adventismo – Volume I 269

“Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não vem por intermédio das obras, a fim de que ninguém
venha a se orgulhar por esse motivo.” Efésios 2:8, 9.

“Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós,
como não nos concederá juntamente com Ele, gratuitamente, todas as
demais coisas?” Romanos 8:32.

Mas então, que evangelho é esse que Ellen White pregava ao seu fiel
grupo de seguidores e que ainda é pregado nas Igrejas Adventistas ao redor
do mundo? Seria esse evangelho aquele a que Paulo se referiu em sua carta
aos Gálatas:

“Estou chocado de que estejais vos desviando tão depressa daquele que
vos chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho, que
na verdade, não é o Evangelho. O que acontece é que algumas pessoas vos
estão confundindo, com o objetivo de corromper o Evangelho de Cristo.
Contudo, ainda que nós ou mesmo um anjo dos céus vos anuncie um
evangelho diferente do que já vos pregamos, seja considerado maldito!
Conforme já vos revelei antes, declaro uma vez mais: qualquer pessoa
que vos pregar um evangelho diferente daquele que já recebestes, seja
amaldiçoado!”. Gálatas 1:6-9.

O brilhante ex-pastor adventista, D. M. Canright em seu livro sobre a


vida de Ellen White no capítulo “Porta Fechada” faz as seguintes poderações:

Será que foi realmente Cristo e o Espírito Santo que levaram esses
fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia a perder por anos todo
o seu fardo e simpatia pelos pecadores a ponto de deixar de orar por eles?
Será que Cristo estava os guiando quando eles ensinaram que Ele não era
mais um amigo dos pecadores? Será que Jesus estava os guiando quando
eles ensinavam que ele não era mais um defensor dos pecadores, e que
o mundo inteiro havia sido rejeitado por Deus, deixado sem o Espírito
270 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Santo, entregue a Satanás, e que todas as igrejas, exceto as suas, eram a


sinagoga de Satanás, castelos do diabo, de fato? Será que foi realmente
um anjo vindo de Deus que contou a Sra. White toda essa mensagem
inteiramente falsa? Tal teoria parece blasfêmia. Se Deus não os
guiou com relação a isso, será que Ele os guiou depois disso? Será que
Ele está os guiando agora?154

A Porta Da Graça Adventista Se Abre Novamente


Mas depois de tantas visões e revelações “vindas de Deus” para a Sra.
White, qual foi o motivo que levou a uma nova abertura dessa porta da
graça? E principalmente, como eles conseguiram fazer isso e ainda assim
manter a credibilidade e autoridade profética da Sra. White?

Tentaremos a princípio responder a segunda pergunta.

Querido leitor, acredito que com o que foi apresentado até aqui, fica
claro que nós nunca devemos subestimar o poder da autonegação psicológica
que um ser humano pode impor a si mesmo. Aquele que quer ser enganado
será enganado. Além disso, fica claro que Ellen White possuía um alto
poder de persuasão sobre os seus liderados. É possível afirmar até mesmo
que havia algum poder sobrenatural que a impulsionava e a ajudava em suas
peripécias religiosas.

Claramente, esse poder não vinha do Deus verdadeiro. Isso ocorreu


não só com ela, mas com a grande maioria de líderes de seitas religiosas
ao longo do tempo. Além disso, o grupo adventista estava se tornando
cada vez mais exclusivista e orgulhoso, por terem sido tão traumatizados
no passado. E quanto mais eles se enfiavam na toca do coelho que Ellen
havia criado, mais difícil se tornava para que eles pudessem voltar para a
superfície da realidade e abraçar a luz da verdade. Sendo assim, o “pequeno

154 Como também transcrito por Dale Ratzlaff em seu livro “The Cultic Doctrine of Seventh-Day Adventists”,
págs. 134-135.
Descortinando o Adventismo – Volume I 271

rebanho” se tornava a cada dia que se passava, mais cego espiritualmente.


Eles passaram então a serem movidos puramente pelas interpretações
bíblicas e visões de Ellen White que, invariavelmente, encontravam algum
muro de concreto fático e teológico. Porém, quando isso ocorria, suas
visões davam uma volta de 180 graus e se autocontradiziam sem qualquer
tipo de pudor moral e ético.

Mas então, qual foi o fator que os levou a abrirem a porta da graça
novamente?

A Porta Se Abre Sutilmente Para As Crianças Adventistas

Nós mostramos que a princípio, os pioneiros adventistas não


acreditavam que ninguém poderia se converter ou ser salvo após 1844, com
exceção daqueles que aceitaram as mensagens dos adventistas. Ninguém
mais poderia se salvar, pois a porta da graça estava fechada pelo próprio
Deus.

Ocorre que os adventistas começaram a se deparar com um dilema.


Crianças adventistas começaram a nascer e a crescer. E agora, como resolver
essa questão? Esses pequeninos estariam então perdidos? Além disso, os
7 anos da expiação que havia se iniciado em 1844 já haviam passado. E
Cristo não havia voltado novamente. Então, como ficariam essas crianças?
Estariam elas condenadas? Não somente isso, mas os líderes adventistas
notaram que tal ensino havia sido um grande “tiro no pé”. Afinal de contas,
como eles poderiam fazer com que o grupo de fiéis crescesse dessa forma?
Essa foi uma espécie de “evangelismo às avessas”.

Bem, nada como um dia após o outro e uma “profetisa” com acesso
direto a Deus para resolver mais esse dilema.

Ellen White, no livro “The Spirit of Prophecy” Vol. 4, tentou resolver a


questão, ao menos para as crianças. Vejamos como ela conseguiu sair dessa
difícil situação:
272 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

“Após o tempo de expectativa, em 1844, os adventistas ainda acreditavam


que o Salvador viria muito em breve; eles entenderam que estavam vivendo
um momento muito importante e que a obra de Cristo como intercessor
do homem diante de Deus havia cessado. Tendo dado o aviso de que o
dia do Julgamento estava próximo, eles entenderam que o seu trabalho de
intercessão pelo mundo havia terminado e perderam seu fardo de alma
pela salvação dos pecadores, enquanto a zombaria ousada e blasfema dos
ímpios lhes parecia outra evidência de que o Espírito de Deus havia sido
retirado dos rejeitadores de sua misericórdia. Tudo isso os confirmou na
crença de que o período da expiação havia terminado ou, como eles a
expressavam, ‘a porta da graça estava fechada’.”155

“Mas uma luz mais clara veio com a investigação da questão do santuário.
Agora foi vista a aplicação daquelas palavras de Cristo no Apocalipse,
dirigidas à igreja exatamente neste momento: ‘Estas coisas dizem quem é
santo, quem é verdadeiro, quem tem a chave de Davi, quem abre e nenhum
homem fecha, fecha, e ninguém abre; Eu conheço as tuas obras; eis que pus
diante de ti uma porta aberta, e ninguém pode fechá-la’. [Apocalipse 3:
7, 8.] Aqui uma porta aberta e uma porta fechada é vista. No final
dos 2300 dias proféticos em 1844, Cristo mudou seu ministério do santo
para o santíssimo. Quando, no ministério do santuário terrestre, o sumo
sacerdote no dia da expiação entrou no lugar mais sagrado, a porta do
lugar sagrado foi fechada e a porta do santíssimo foi aberta. Portanto,
quando Cristo passou do santuário para o santuário celestial, a porta ou
ministério do antigo apartamento foi fechada e a porta ou ministério
do último foi aberta. Cristo havia encerrado uma parte de sua obra
como nosso intercessor, para entrar em outra parte da obra; e ele ainda
apresentou seu sangue perante o Pai em favor dos pecadores. ‘Eis que ele
põe diante de ti uma porta aberta, e ninguém pode fechá-la’.

155 White, Ellen, The Spirit of Prophecy, Vol. 4, pág. 268.


Descortinando o Adventismo – Volume I 273

Aqueles que pela fé seguem Jesus na grande obra da expiação, recebem os


benefícios de sua mediação em favor deles; mas aqueles que rejeitam a luz
que há nesse trabalho de Seu ministério, não são beneficiados por ele.”156

Mais uma vez, a hábil pena de escrita de Ellen White, resolve como
em um passe de mágica, ao menos o problema das crianças adventistas.
A Sra. White se utiliza de um verso fora de contexto (Ap 3:7, 8) para
abrir uma porta onde ela não existia. Contudo, outro problema surgiria.
O que poderia ser feito a respeito daqueles que não eram mais crianças,
mas queriam fazer parte do movimento? Isso começou a acontecer, pois
mulheres e homens estavam se casando e queriam trazer os seus cônjuges
para a fé adventista. Somente uma pessoa poderia resolver essa questão. O
Espírito Santo? Jesus? Deus Pai através de sua Palavra escrita? Negativo.
Ellen White viria novamente para salvar os seus seguidores dos problemas
que ela mesma havia criado.

“Olhando para os últimos dias, o mesmo infinito poder declara, com


relação aos que ‘não receberam o amor da verdade para serem salvos’:
‘É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para
darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não
deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a
injustiça.’ Como rejeitassem os ensinos de Sua Palavra, Deus retirou o
Seu Espírito, e deixou-os entregues aos enganos que amavam.
Mas Cristo ainda intercede em favor do homem, e luz será dada aos
que a procuram.”157

“Por um curto período, os adventistas se uniram na crença de que a porta


da graça estava fechada. Esta posição foi logo abandonada”.158

156 White, Ellen, The Spirit of Prophecy, Vol. 4, pág. 269.


157 White, Ellen, The Spirit of Prophecy, Vol. 4, pág. 271.
158 White, Ellen, The Present Truth, Agosto de 1849, pág. 22. Publicado por Desmond Ford, Daniel 8:14,
pág. 356.
274 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Alguns pontos a serem analisados com relação a esse texto:

1. Ellen White confirma a ideia de que por um período de tempo os


adventistas estavam unidos a respeito da doutrina da porta fechada,
concordando entre si de que tal ensino era verdadeiro;

2. Ellen passou a redefinir completamente o conceito da “porta” a qual


ela se referia. O primeiro conceito aplicado por ela teria a ver com
a porta da graça que constava na parábola das 10 virgens, que
havia sido fechada, simultaneamente, com a porta do Lugar Santo
do santuário celestial. Agora, ela já nem mais toca no assunto das 10
virgens ou da porta do Lugar Santo do santuário celestial. O conceito
de “porta” muda de verso, e se remete ao livro do Apocalipse, onde
ela conseguiu achar uma “porta aberta”. Mesmo que o contexto desse
texto bíblico seja completamente diferente até mesmo do assunto em
tela. De maneira muito sagaz, ela se aproveita da grande subjetividade
de interpretações e simbolismos do livro de Apocalipse, e cria em
torno desses versos (Ap 3:7, 8) uma saída para o seu problema;

3. Depois de 1844, os adventistas decidiram que a porta da graça havia


sido fechada, inclusive através da corroboração de duas “visões”
da Sra. White. As suas palavras sobre aqueles que buscassem a
misericórdia de Deus foram: “aqueles que professarem uma
mudança de caráter, tal mudança na realidade seria somente de
‘mal’ para pior”. Tais supostos convertidos, eram “parte do trabalho
de satanás para enganar o povo verdadeiro de Deus”159. Contudo,
agora que era de seu interesse que tal porta se abrisse novamente, ela
estaria disponível “para aqueles que procurassem a luz”;

4. Para que tal porta fosse aberta para os novos convertidos, seria
necessário, contudo, que eles acreditassem na mensagem do juízo

159 White, Ellen, The Present Truth, Aug. 1849, p. 22. Publicado por Desmond Ford em Daniel 8:14, pág. 356.
Descortinando o Adventismo – Volume I 275

investigativo/santuário celestial: “mas aqueles que rejeitam a luz que


há nesse trabalho de Seu ministério, não são beneficiados por ele”;160

5. A Sra. White diz que os adventistas não haviam entendido


completamente a noção da porta da graça estar parcialmente aberta,
parcialmente fechada. Ocorre que ela nunca deixa claro que o
motivo pelo qual os adventistas não compreendiam corretamente tal
conceito, era porque ela mesma havia ensinado que tal porta estava
completamente fechada e que não somente isso, mas que Deus havia
dado visões a ela para corroborar divinamente tal ensino;161

Caro leitor, fazendo um paralelo com os profetas bíblicos, existe algum


profeta que teve a sua história relatada dentro do cânon, apenas um sequer,
que apresente um paralelo, mesmo que remotamente parecido com o que
nós pudemos presenciar no ministério de Ellen White até aqui?

Que profeta teve visões de Deus que mais a frente, tiveram


interpretações completamente opostas aos seus entendimentos iniciais?
Que profeta bíblico, citou textos das Escrituras que depois tiveram
que ser descartados por ele, por não mais terem uma aplicação válida
dentro de sua atual realidade? Quantos profetas verdadeiros de Deus
fracassaram em todas as suas predições, erraram em seus ensinos, e ainda
assim continuaram sendo chamados de profetas verdadeiros de Deus?

Pelo contrário, o que vemos na Bíblia a respeito desse tipo de profeta


é o seguinte:

“Talvez venhas a questionar em teu coração: ‘Como vamos saber se tal


palavra não é uma Palavra do SENHOR?’ Se o profeta fala em o Nome
de Yahweh, mas a palavra não se cumpre, não se torna realidade, trata-
se então de uma palavra falsa, que o SENHOR jamais pronunciou.
Tal pessoa falou com arrogância. Não o temas!” Deut 18:21, 22.

160 White, Ellen, The Spirit of Prophecy, Vol. 4, pág. 269.


161 Conforme inferido por Dale Ratzlaff em “The Cultic Doctrine of The Seventh-Day Adventists”, págs. 141, 142.
276 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

O Problema da Falta de Credibilidade de um


Profeta
Fica claro até aqui que Ellen White e os adventistas recém-saídos
do Grande Desapontamento de 1844 que seguiam e acreditavam no
dom profético da Sra. White, criam na doutrina da porta fechada até no
mínimo de 1844 até 1851. Isso fica evidente pela visão de Camden a qual
transcrevemos aqui parte de seu conteúdo.

Mostramos também que há motivos para crer que tanto Ellen quanto
James White criam na teoria de Joseph Bates, que dizia que o período da
segunda fase da expiação (que estaria ocorrendo no céu, dentro do Lugar
Santíssimo e sendo ministrado por Jesus Cristo) teria o período de 7 anos
de duração, o que culminaria na data de 22 de outubro de 1844.

Pudemos notar similarmente que a teoria da porta fechada foi sendo


aos poucos lentamente alterada. Para que primeiro, deixasse espaço para as
crianças adventistas entrarem e serem salvas, e depois para que os cônjuges
dos adventistas recém-casados pudessem ter a opção de se converterem e
passarem apertadamente por entre a fresta da porta da graça, sem muito
alarde.

Após 1851, essa crença foi abandonada completamente pelo fato


de Cristo mais uma vez não ter voltado como predito por Joseph Bates,
em sua teoria do período de 7 anos para o término da expiação no Lugar
Santíssimo. Além de ter sido um grande “tiro no pé” no ponto de vista de
estratégia de evangelismo adventista. Afinal, ninguém poderia se unir ao
“pequeno rebanho” adventista se essa porta não se abrisse de alguma forma.

Contudo, toda essa confusão criou muito desgaste em torno da figura


profética de Ellen White e sobre a sua aura de “Mensageira do Senhor”, a
qual ela tentava manter a todo custo. Como seria possível que ela tivesse tido
tantas visões do Senhor, alegando categoricamente a autenticidade de seus
dons proféticos através de frases como: “Então eu vi...” ou “O Senhor me
Descortinando o Adventismo – Volume I 277

mostrou que...” e “O meu anjo assistente me disse que...”, e depois de tantos


relatos supostamente “divinos” ela simplesmente mudar totalmente de ideia
e crença, sem qualquer pudor ou explicação minimamente convincente?
Tais problemas não foram casos isolados, mas sim, repetidamente ocorriam
a ponto de deixar todos muito confusos.

Não somente o que ela dizia era encontrado com uma contradição
futura por ela mesma, mas o que ela escrevia e era impresso, publicado e
distribuído para a população local, por diversas vezes não ocorria, ou tinha
como resultado exatamente o contrário do que ela teria previsto. Seus
ensinamentos, portanto, eram repetidamente, inconsistentes e cheios de
furos teológicos, escatológicos e práticos.

A data de 22 de outubro de 1844, predita por Miller para o fim do


mundo e corroborada por Ellen, não ocorreu. De acordo com a Sra. White,
a culpa era do próprio Deus que havia colocado a mão por cima dos cálculos
matemáticos, propositadamente, a fim de “testar” seus mais fiéis seguidores.
Após a remoção da mão de Deus, eles teriam imediatamente reconhecido e
corrigido seus erros162.

Logo em seguida eles viram que essa data deveria ser reinterpretada
pela entrada de Cristo no Lugar Santíssimo e não por sua vinda à Terra. Tal
teoria incluía também o fechamento da porta da graça para todos aqueles
que não haviam recebido a mensagem de 1844. Agora tal ensino deveria
ser descartado para que crianças e recém-convertidos pudessem entrar. Tais
mensagens que teriam vindo diretamente do céu, mudavam tão rápido
que estava sendo difícil de acompanhar e entender o que Deus realmente
queria deles. E agora? Como manter a credibilidade depois de tantas gafes
e desencontros de ideias e ensinos?

A princípio o remédio foi adicionar mais uma porta teológica. E nada


melhor do que um livro profético, de difícil interpretação como o livro do

162 White, Ellen, Spiritual Gifts, Vol. 1, pág 137, 138.


278 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Apocalipse para que eles pudessem sair desse problema sem causar muitos
questionamentos. Apocalipse 3:7, 8, resolveu paliativamente o problema.
Mas e o que fazer com tudo que eles já haviam escrito a respeito do assunto,
que agora mudaria totalmente de direção? De acordo com o Dr. Desmond
Ford em seu livro Daniel 8:14, James White quando republicou seus
antigos artigos, omitiu ou mudou um sem número de declarações a respeito
da porta fechada.

Mas o caso de James White era mais simples, pois ele não era profeta
e não afirmava ter tido visões de Deus. O difícil mesmo seria o que fazer
com as declarações contraditórias de Ellen White, que se autointitulava
uma “Mensageira do Senhor”. Alguém que tinha uma linha direta com
Deus e também, com um amigo chegado, um divino anjo assistente que
“conversava” com ela, quase que diariamente.

Bem, como apresentado durante todo o capítulo sobre o juízo


investigativo, os Adventistas (como instituição) possuem vasta experiência
em remendos doutrinários e distorções textuais. Porém, a maneira
inicial com que eles lidaram com os problemas da porta fechada foi a
de simplesmente tentar apagar alguns arquivos sobre antigos escritos de
Ellen White. O livro “Primeiros Escritos”, em seu prefácio, reivindica a
ideia de que todas as primeiras visões da Sra. White foram incluídas no
livro. Contudo, isso não reflete a veracidade dos fatos. A visão de Camden,
que nós já transcrevemos em grande parte por aqui, está completamente
ausente das publicações dos livros de Ellen White. Seria pelo fato de ser a
mais comprometedora visão relacionada à doutrina da porta fechada?

Uma outra estratégia empregada foi a de alterar os conteúdos de suas


visões. Note o que é dito em uma nota no livro “Primeiros Escritos” a
respeito da autenticidade e preservação das visões e escritos da Sra. White:

“Notas de rodapé dando datas e fazendo explanações, e um apêndice


dando dois sonhos muito interessantes mencionados na obra original mas
não relatados, aumentarão o valor desta edição. Além disto, mudança
Descortinando o Adventismo – Volume I 279

alguma da obra original foi introduzida na presente edição, salvo o


emprego ocasional de alguma palavra nova ou mudança na construção de
uma sentença, visando melhor expressar a ideia, não tendo sido omitida
parte alguma da obra. Nenhuma sombra de mudança foi feita em
qualquer ideia ou intenção da obra original, e as mudanças verbais
foram feitas sob as vistas da autora e com sua plena aprovação.” 163

Agora, deixaremos mais uma vez clara, a má fé da instituição, ao


suprimir o texto original de Ellen White em sua inteireza ao publicar o
livro “Primeiros Escritos”. Iremos transcrever o texto original retirado do
livro “Uma Palavra ao Pequeno Rebanho” e o compararemos ao texto
transcrito no livro “Primeiros Escritos”. Sublinharemos e deixaremos em
negrito a parte que foi retirada do texto original:

Texto alterado sobre a primeira visão de Ellen White publicada no


livro “Primeiros Escritos”:

“Outros temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e diziam


que não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desaparecia,
deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropeçavam e,
perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para baixo, no
mundo tenebroso e ímpio. Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a
muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus.”164

Texto original sobre a primeira visão de Ellen White publicada no


livro “Uma Palavra ao Pequeno Rebanho”:

“Outros temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e


diziam que não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles
desaparecia, deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que

163 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 4.


164 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 39.
280 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

tropeçavam e, perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para


baixo, no mundo tenebroso e ímpio.

Era tão impossível para eles [os que abandonaram a fé no movimento
de 1844] voltarem ao caminho e irem para a cidade, como para todo
o mundo ímpio que Deus havia rejeitado. Eles caíram ao longo de
todo o caminho um após outro. Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante
a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus.”165

Apesar de nós já termos feito essa referência anteriormente em


algumas páginas anteriores, é importante colocarmos os textos lado a lado
e compará-los, a fim de tentar entender qual seria o verdadeiro motivo desse
texto não ter sido publicado em sua inteireza em publicações posteriores.
É bem verdade e precisamos ser justos em dizer que tal texto foi publicado
no livro “Mensagens Escolhidas Vol. 1”, porém somente após severas
críticas feitas pelo ex-pastor adventista D. M. Canright sobre a falta de
transparência e má-fé deliberada da autora em tentar simplesmente alterar
e suprimir textos antigos extremamente comprometedores a sua causa
e imagem. Contudo, mesmo tendo publicado tal passagem a Sra. White
falha em não apresentar qualquer embasamento lógico por ter suprimido
tais frases anteriormente.

Dale Ratzlaff com seu peculiar olhar clínico, em sua obra intitulada
“The Cultic Doctrine of SDA’s” faz a seguinte brilhante análise sobre a
supressão desse texto específico:

“Ao considerarmos as evidências acima, podemos justificadamente


concluir que:
1. A mudança a respeito da visão foi uma mudança proposital;
2. A mudança a respeito da visão foi uma mudança doutrinária;

165 White, Ellen, Mensagens Escolhidas, pág. 65 e também transcrito por Dale Ratzlaff em “The Cultic
Doctrine of Seventh Day Adventists” pág. 148.
Descortinando o Adventismo – Volume I 281

3. A mudança a respeito da visão foi uma mudança substancial;


4. A mudança a respeito da visão foi negada pelos editores;
5. A mudança a respeito da visão foi feita “sob as vistas da autora e
com sua plena aprovação”.”166

Uma última forma de lidar com os problemas causados pela defesa da


doutrina da porta fechada feita por Ellen White no passado, foi a de alterar
o significado dos termos empregados a ideia da porta fechada. Como já
mostrado, a princípio aquilo a que Ellen White e os pioneiros adventistas
chamavam de “porta fechada” tinha a ver com a “porta da graça divina” e
o encerramento do período de provação dos justos a fim de ver quem era
merecedor de ser salvo ou não. A parábola das 10 virgens de Mateus 25 foi
exaustivamente utilizada por Ellen White para evidenciar que Cristo havia
fechado tal porta em 1844, simultaneamente ao fechamento da porta do
Lugar Santo.

Contudo, mais a frente, ao ser colocada “contra a parede” pelos motivos


já apresentados anteriormente, Ellen foi obrigada a mudar o significado e
teor dos termos empregados por ela. Note no texto infra como a “porta
fechada” da parábola já possui uma outra conotação, completamente
diferente da inicial:

“Quando a obra de investigação se encerrar, examinados e decididos


os casos dos que em todos os séculos professaram ser seguidores de Cristo,
então, e somente então, se encerrará o tempo da graça, fechando-se
a porta da misericórdia. Assim, esta breve sentença — ‘As que estavam
preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta’ — nos
conduz através do ministério final do Salvador, ao tempo em que se
completará a grande obra para salvação do homem.”167

166 Ratzlaff, Dale, The Cultic Doctrine of Seventh Day Adventists, pág. 149.
167 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 428.
282 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Foi feita agora por Ellen White uma dissociação de seus conceitos
anteriores relacionados a porta fechada. Tal porta já não está mais ligada
ao fechamento da porta do Lugar Santo “feito” em 1844 por Cristo. Uma
nova roupagem foi dada ao termo que agora está conectado ao fechamento
da porta do Lugar Santíssimo que só ocorrerá ao fim da investigação de
todos os santos, sabe-se lá quando. Essa é uma contradição direta aos seus
ensinamentos iniciais sobre a porta fechada.168

Qual seria, portanto, o escrito inspirado por Deus à mente de Ellen? O


primeiro ou segundo? Como saber quando Deus estava realmente falando
sério com ela sobre qualquer assunto? Ou se Ele logo em seguida mudaria
de ideia novamente ou “retiraria a sua mão” sobre um texto? Ou quem sabe
quando iríamos descobrir que a luz que ela havia recebido anteriormente
não teria sido completa, ou mal interpretada? Como poder confiar em
absolutamente qualquer ensino ou visão liberada por ela, se mais a frente
tudo poderia mudar de significado? Mais uma vez propomos a ideia de
querer saber qual profeta bíblico agia da mesma forma que Ellen? Qual
escrito bíblico precisou ser remendado, distorcido ou apagado por algum
profeta pelas críticas legítimas de claras contradições que ele/ela havia
sofrido durante seus anos de ministério? Que tipo de profeta verdadeiro
agiria a favor da ideia de que o mundo todo em tempos passados, não teria
mais chance de arrependimento e acesso a graça divina?

O Comitê de Daniel e a Controvérsia de


Glacier View
Ao longo dos anos a doutrina do juízo investigativo tem causado
muitos atritos e dissidências entre pastores e teólogos adventistas. Muitos
deles, ao enxergar que estavam ensinando heresias aos seus membros e
alunos, passaram a refutar tal doutrina e a questionar os reais motivos de
ela ainda ser um pilar teológico dentro da igreja do advento.

168 Ratzlaff, Dale, The Cultic Doctrine of Seventh Day Adventists, pág. 150.
Descortinando o Adventismo – Volume I 283

A verdade é que para os teólogos não adventistas, essa doutrina é uma


grande aberração teológica de proporções colossais, e que fazem atingir os
níveis máximos do radar sectário/herético de qualquer estudo mais sério.
Não mais estranho é notar que dentro da própria denominação tenham
surgido homens corajosos e de espíritos intrépidos que não se acovardaram
ao contestarem publicamente tais ensinos estultos.

Ao analisarmos a história notamos que nomes como D. M. Canright,


Raymond Cottrell, W. W. Fletcher, Desmond Ford e Dale Ratzlaff,
foram peças-chave para a exposição pública desse falso ensino. Ocorre
que o sistema adventista não costuma apreciar muito aqueles que gostam
de questionar e fazer perguntas que sejam contra a ordem dominante da
instituição, mesmo que possuam total embasamento bíblico.

Dr. Ford, por exemplo, que por muitos anos foi considerado uma
das mentes teológicas mais brilhantes da igreja adventista, passou a se
tornar persona non grata dentro da igreja a partir do momento em que sua
consciência não mais permitiu que ele se calasse diante dos erros teológicos
da doutrina do juízo investigativo. Porém, um pouco antes de ele ser expulso
da igreja após o comitê de Glacier View, que havia sido criado para discutir
o seu posicionamento doutrinário contrário a igreja, outro homem-chave
adventista resolveu levantar a sua voz e dizer que algo estava errado.

Dr. Raymond Cottrell ao ser convidado por Francis D. Nichol em


setembro de 1952 para escrever o comentário bíblico, passou mais de 15.000
horas estudando a Bíblia com o intuito de se aprofundar devidamente
em cada um de seus versos. Ao chegar no livro de Daniel, Cottrell se
deparou com um problema. A exegese de Daniel 8:14 simplesmente não
apresentava nenhuma base para a interpretação doutrinária adventista
do juízo investigativo. Ao se deparar com esse imbróglio, o Dr. Cottrell
resolveu acionar 27 teólogos adventistas especialistas em hebraico e chefes
de departamento da instituição, para que eles pudessem elucidar essa difícil
284 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

questão com a qual ele havia se deparado. No entanto, para seu desespero,
todos os teólogos, em uníssono responderam o seguinte:

“Não existe nenhuma base linguística ou contextual para a


interpretação tradicional adventista de Daniel 8:14”. 169

Ao informar a conferência geral adventista a respeito do ocorrido, o


presidente entendeu por bem formar um comitê “secreto” que seria, então,
formado pelas mentes mais brilhantes do adventismo da época, tendo como
missão anular qualquer tipo de pensamento dissidente com relação a essa
doutrina que é a espinha dorsal da IASD. O grupo se reuniu entre 1961 a
1966, e por não ter conseguido convencer os presentes a escreverem um
relatório favorável à doutrina do juízo investigativo, resolveu não tornar
público o que foi dito ali. Ou seja, para fins oficiais da igreja, tal reunião
nunca havia ocorrido.

Tudo isso não caiu bem aos olhos do Dr. Cottrell que passou a
publicamente denunciar tal doutrina, apesar de nunca ter sido oficialmente
desligado da Igreja Adventista (talvez porque ele sabia demais, e a igreja
temia a sua represália?).

A mesma sorte não ocorreu com o Dr. Ford que após um seminário
na Pacific Union College em que publicamente se posicionou contra a
doutrina do juízo investigativo foi levado a “corte adventista” uma espécie
de santa inquisição psicológica, num comitê que ficou conhecido como o
“Sanctuary Review Committee” ou “Comitê de Glacier View”.

Ford se preparou bem para o encontro ao escrever quase mil páginas


a respeito do assunto em seu livro “Daniel 8:14, the Day of Atonement and
the Investigative Judgement”. Contudo, praticamente nenhum membro
do comitê realmente leu todo o livro escrito por Ford. Um de seus únicos
defensores dentro do comitê foi exatamente o Dr. Cottrell que tentou

169 Raymond F. Cottrell, The Sanctuary Doctrine – Asset or Liability?, part 6.


Descortinando o Adventismo – Volume I 285

argumentar em favor do Dr. Ford, porém não obteve sucesso. O comitê


acabou decidindo por retirar as credenciais de Desmond Ford, e assim
fizeram um mês depois do encontro. De acordo com o Dr. Milton Hook,
o Dr. Ford teria sido pressionado a abdicar de suas ideias publicamente ou
entregar as suas credenciais. 170

De acordo com o próprio Ford e outros presentes, vários colegas


de comitê, concordavam secretamente com as ideias de Ford, porém,
publicamente por medo de represália, não se pronunciaram em seu favor.
As consequências da demissão de Ford foram catastróficas. 182 pastores
da divisão adventista Australiana e da Nova Zelândia, pediram demissão
de seus empregos e entregaram as suas credenciais. No total, 40% de toda
a comunidade pastoral desses países se posicionou em favor de Desmond
Ford e se demitiu.171

De acordo com Dr. Cottrell, Ford foi a maior sumidade teológica


sobre o assunto da doutrina do santuário, tendo escrito mais a respeito
dela do que qualquer outra pessoa na história. Após o seu desligamento
da IASD, o Dr. Ford criou um ministério independente chamado “Good
News Unlimited”. Ele continuou ensinando sobre o assunto até a sua morte
recente em 2019.

Presentemente, os críticos vocais mais atuantes sobre a doutrina do


santuário apresentam nomes como: Dale Ratzlaff, Jerry Gladson e Sydney
Cleveland. Esses são grandes nomes atuais que decidiram continuar a
expor as mentiras e falsas doutrinas da IASD, sem medo de perderem os
seus empregos e a plataforma que eles demoraram anos para construir. São
homens como esses que fazem a diferença no mundo cristão. Guerreiros
destemidos que enfrentam instituições poderosas sem receio de represália
de homens ou de demônios. Infelizmente, tais personalidades são a exceção

170 Dr. Milton Hook, ex-presidente do Sydney Adventist Forum, Report: Sydney Australia Adventist
Forum Remembers Glacier View Twenty-Five Years Later Archived 2007-09-30 at the Wayback Machine,
January 16, 2006.
171 Ballis, Peter H (1999), Leaving the Adventist Ministry: A Study of the Process of Exiting, Praeger.
286 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

a regra. É necessário que cada vez mais pessoas passem a vocalizar essas
verdades aos membros da IASD. Não com um espírito de combate a eles,
mas de compaixão e revelação do amor do Pai a esses filhinhos que estão
presos nesse jugo sectário. Aos mestres e diretores da instituição que sabem
das mentiras e enganos nós não devemos ter o mesmo comportamento.
Esses devem ser confrontados publicamente, assim como Cristo fazia com
os fariseus. Lembrem-se:

Quando o Reino de Deus entra em um ambiente


ele imediatamente confronta a falsa religião e a
hipocrisia dos falsos mestres.

Como demonstramos na história adventista em “Glacier View” e


no “Comitê de Daniel”, vários outros pastores adventistas têm sido, até
os dias de hoje, vítimas de demissões arbitrárias por parte da instituição,
simplesmente por denunciarem as heresias doutrinárias da igreja. Não
podemos nos calar diante de tais injustiças. Esse tipo de controle religioso
demoníaco deve ser quebrado em nome de Jesus! Caro leitor, levante a
sua voz. Ao nos depararmos com a verdade, não podemos mais ficar em
silêncio diante da mentira. Mesmo que custe relacionamentos, dinheiro,
plataformas ministeriais; seja corajoso! Fale a verdade! Quem cuida de
você, da sua família e de suas finanças é o teu Pai que está nos céus e não
uma instituição religiosa.

“Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore,
nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde
você andar”. Josué 1:9.
Descortinando o Adventismo – Volume I 287

Se a Doutrina Não se Encaixa na Palavra,


Alteremos a Palavra
Um dos maiores pontos de argumentação por parte da Igreja Adventista
contra os ensinos da Igreja Católica é a acusação de adulteração do texto
bíblico em Êxodo 20, onde a guarda do sábado teria sido alterada para a
guarda do domingo e a idolatria de imagens de escultura teria sido apagada
completamente, eliminando assim o segundo mandamento e dividindo
o último mandamento que fala contra a cobiça, em dois diferentes
mandamentos extras, a fim de completar o número de dez mandamentos
no total. Mantendo assim a aparência de ainda estarem cumprindo todos
os 10 mandamentos, mesmo que eles não sejam os originais dados por Deus
no Sinai ao povo de Israel.

Esse argumento é válido até determinado ponto, visto que realmente


a idolatria a imagens de escultura foi de fato sancionada pelos católicos
através dessa alteração. Porém quanto ao sábado, não haveria absolutamente
necessidade nenhuma de alteração desses versos bíblicos. Visto que o Novo
Testamento torna clara a distinção entre velha e nova aliança e a ausência
de necessidade de guarda de dias (Rom 14:5, Gal 4:10), principalmente do
sábado (Col 2:16), uma vez que essa era apenas uma das sombras e símbolos
dados por Deus ao povo de Israel que apontavam para Cristo em formas de
rituais e ordenanças que foram pregadas na cruz (Col 2:14-16). Falaremos
em detalhes a respeito disso no segundo volume da série, num capítulo
específico chamado: “O Sábado era uma sombra de Cristo”.

Por enquanto é suficiente dizer que sim, a ICAR errou em alterar tais
textos, contudo, notamos que tal costume não foi exclusivo dos católicos. A
esmagadora maioria das seitas cristãs tem por prática alterar textos bíblicos
e publicar as suas próprias Bíblias editadas para que tais textos-chave se
encaixem em suas doutrinas. Isso foi feito pelos Mórmons, pelos Católicos,
pelas Testemunhas de Jeová e adivinhem quem mais? Isso mesmo, pelos
próprios Adventistas do Sétimo Dia!
288 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Nós não estamos aqui falando de Bíblias com estudos bíblicos anexados
a elas, ou de Bíblias com comentários bíblicos de Ellen White. Apesar de que
tais Bíblias realmente existam e são no mínimo muito mal-intencionadas em
querer enganar o membro leigo adventista, visto que elas controlam muito
fortemente a narrativa do leitor através de seus comentários e estudos. Eu
mesmo utilizei por muitos anos a Bíblia do missionário Adventista que
possuía um estudo bíblico de 28 semanas, uma semana para cada doutrina
adventista. Visitei dezenas, senão centenas de pessoas com essa Bíblia em
punho, e devo dizer que o poder de convencimento dela é muito alto. A
maneira com que esse estudo foi diagramado, utilizando-se de textos esparsos
e fora de seu contexto, manipula fortemente a mente do ouvinte a tal ponto
de convencê-lo de que realmente a Igreja Adventista é a igreja verdadeira.

Recordo-me que levei diversas pessoas ao batismo na IASD através


desses estudos. Infelizmente na época, eu mesmo acreditava cegamente nas
mentiras pregadas por essa igreja.

Contudo, a Instituição Adventista não se contentou em manter o


controle mental das pessoas apenas através de comentários e estudos bíblicos.
Como uma das frentes de ataque adventista mais fortes, estão apoiadas nas
estratégias do proselitismo desenfreado, nenhuma arma pode ser descartada
nesse jogo do pesca-membro religioso. A estratégia do resultado a qualquer
custo e do Maquiavélico modus operandi de “os fins justificam os meios” foi
absolutamente adotado aqui pela IASD. Infelizmente, nesse caso, os fins
não justificam os meios. Pois o fim dessa estratégia leva os incautos fiéis, aos
mais terríveis enganos.

O que foi publicado no ano de 1994, portanto, foi uma Bíblia de


tradução ou “paráfrase” adventista chamada “The Clear Word Bible” que
alterou completamente textos-chave originais bíblicos, mutilando-os
completamente a fim de moldá-los aos ensinamentos de Ellen White. Na
tentativa de eliminar qualquer resistência daqueles que quisessem estudar a
Palavra de Deus através dessa versão bíblica.
Descortinando o Adventismo – Volume I 289

Essa versão foi escrita pelo ThD. Jack Blanco, chefe do Departamento
de Religião da Faculdade Adventista Sul de Chattanooga no Tennessee.
Notem que tal Bíblia foi impressa pela Casa Publicadora americana oficial
adventista, Review and Herald Publishing Association e até o momento
ela continua sendo vendida nas mais diversas livrarias adventistas ao redor
do mundo. Além de estar também a venda na Amazon, E-bay, Thrifty
Books e em outros diversos sites na internet. Na época em que foi lançada,
ela recebeu grande exaltação por muitos oficiais adventistas e o endosso
público do pastor Robert Folkenberg, ex-presidente da Conferência Geral
Adventista e de Malcom D. Gordon, presidente da União Sul Adventista
Americana.

Após o seu lançamento inicial em 1994, a “The Clear Word Bible”


ganhou outras 7 edições ao longo dos anos. Seguem aqui todos os nomes
de suas edições e os respectivos anos em que elas foram lançadas: 1- The
Clear Word Bible, ©1994, 2 - The Clear Word, ©1994, 3 - The Clear Word,
©2003, 4 - The Clear Word, ©2004 (Pocket edition), 5 - The Easy English
Clear Word, ©2005, 6 - The Clear Word for Kids, ©2005, 7 and Savior (The
Clear Word version of the gospels, combined into one narrative), © 2008 e
8 - The Clear Word Bible, original edition © 2009.

Apesar de terem sido lançadas diversas edições com pequenos ajustes


esparsos, em nenhum momento a IASD decidiu tirar nenhuma de suas
versões de circulação pública. Todas elas possuem aberrações textuais de
proporções épicas, que deixariam vermelhos de vergonha até mesmo os
editores da Bíblia Novo Mundo das Testemunhas de Jeová, por exemplo.

Selecionamos alguns textos pontuais para que o leitor possa decidir


por si mesmo, se o que apresentamos aqui é algo normal. Ou seja, um
exagero crítico devido a uma possível parcialidade da nossa parte, ou se de
fato esse trabalho adventista apresenta heresias de grandes proporções com
terríveis consequências negativas para aqueles que estudam a Bíblia através
dessa versão.
290 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Compararemos os textos da paráfrase adventista “The Clear Word


Bible” com a nomenclatura infra “TCW”, com uma versão tradicional
brasileira, a “Nova Versão Internacional” ou “NVI”:

Êxodo 16:5
NVI: “No sexto dia trarão para ser preparado o dobro do que recolhem
nos outros dias.”

TCW: “No sexto dia eles deverão colher o dobro do que os outros dias
para ter o bastante para o sétimo dia, o qual é o Sábado, o dia que eu
assinalei para adoração e descanso.”

Análise

Nesse texto fica clara a intenção do autor em começar a martelar a


ideia de que o Sábado já havia sido dado por Deus ao povo de Israel como
dia oficial de adoração e descanso, quando o texto bíblico original em
nenhum momento apresenta tal ideia. Isso somente vem ocorrer mais a
frente em Êxodo 20. O que parece ser apenas um detalhe acaba fazendo
grande diferença no impacto que é causado ao leitor leigo. Leitor este, que
apenas quer aprender mais a respeito da palavra de Deus e sobre o que Ele
espera de nós, e acaba sendo manipulado por essa instituição a seguir os
seus dogmas e doutrinas particulares que em nenhum momento foram
descritas na Bíblia.

Daniel 8:12-14
NVI: “Por causa da rebelião, o exército dos santos e o sacrifício diário
foram dados ao chifre. Ele tinha êxito em tudo o que fazia, e a verdade
foi lançada por terra.
Descortinando o Adventismo – Volume I 291

Então ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro:


‘Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por esta visão?
Até quando será suprimido o sacrifício diário e a rebelião devastadora
prevalecerá? Até quando o santuário e o exército ficarão entregues ao
poder do chifre e serão pisoteados?’
Ele me disse: ‘Isso tudo levará duas mil e trezentas tardes e manhãs;
então o santuário será reconsagrado’.”

TCW: “Por causa de seus pecados, o povo de Deus foi entregue a esse
poder, e os serviços do templo cessaram. Então vi o pequeno chifre mudar
sua aparência e atacar a verdade sobre o Santuário de Deus e a intercessão
diária no céu. O pequeno chifre agiu e prosperou.
Agora, um dos anjos disse algo ao meu anjo e meu anjo fez as mesmas
perguntas que eu queria fazer. Ele disse: ‘Por quanto tempo Deus deixará
o chifre tentar tomar o lugar de Deus? Por quanto tempo mais Deus o
deixará perverter a verdade sobre Si mesmo e também o santuário no céu
e permitir que ele continue perseguindo o Seu povo?’
Ele disse a ele, ‘Depois de dois mil e trezentos dias proféticos (ou dois
mil e trezentos anos), Deus intervirá e proclamará a verdade sobre Si
mesmo e restaurará o ministério do santuário celestial para o seu lugar
correto então o processo de julgamento terá seu início, do qual a
purificação do santuário terrestre era apenas um tipo’.”

Análise

Esse talvez seja um dos textos mais problemáticos e heréticos realizados


pelo Dr. Jack Blanco. Realmente, a que ponto pode chegar alguém que
deseja, a qualquer custo, incutir uma falsa ideia na mente de fiéis seguidores
de uma instituição religiosa. Como nós já fizemos uma profunda análise
desse texto anteriormente, não há necessidade de se aprofundar novamente
no hebraico original desse texto. Porém, analisando a “paráfrase” criada pelo
Sr. Blanco, fica novamente evidente que o grande sonho dessa instituição
292 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

era o de realmente ter suas falsas doutrinas incluídas no Cânon. Como isso
nunca seria possível de ser lido na palavra original de Deus, um “jeitinho”
foi dado para que os pobres leitores dessa versão bíblica caíssem facilmente
nesse golpe religioso da pior espécie. Notem em negrito a disparidade do
texto original para o texto adulterado por Blanco. Qualquer seguidor de
Cristo, deveria se indignar com tamanha heresia publicada e endossada
pela IASD.

Judas 9
NVI: “Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava
disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer
acusação injuriosa contra ele, mas disse: O Senhor o repreenda!”

TCW: “Em contraste com esses homens ímpios está o Senhor Jesus,
também chamado Miguel, o Arcanjo, pois está sobre todo o exército
angélico. Quando Ele foi desafiado por Satanás sobre Suas intenções
de ressuscitar Moisés, Ele não veio a Satanás com um ataque devastador,
nem o condenou com escárnio. Ele simplesmente disse: Deus te repreenda
por reivindicar o corpo de Moisés.”

Análise

As Escrituras nunca se referem a Jesus como um arcanjo. Além disso,


em nenhum lugar da Bíblia há uma referência sequer ao corpo de Moisés
sendo ressuscitado. Isso vem diretamente da caneta de Ellen White. As
Testemunhas de Jeová usam esse mesmo argumento para negar a divindade
de Jesus. Se Miguel realmente fosse Jesus, por que ele não repreendeu o
diabo da mesma maneira que Ele o fez quando esteve pela terra? (Ver Mt.
17:18; Lc. 4:25, 9:42). Falaremos mais a respeito disso no capítulo “A IASD
apresenta uma imagem distorcida de Jesus”.
Descortinando o Adventismo – Volume I 293

2 Pedro 2:9
NVI: “Vemos, portanto, que o Senhor sabe livrar os piedosos da provação
e manter em castigo os ímpios para o dia do juízo.”

TCW: “Pela experiência de Ló, você pode ver que o Senhor sabe como
resgatar Seu povo, mas também levar os ímpios ao julgamento para
enfrentar o que eles fizeram.”

Análise

Ao longo dos próximos capítulos, nós mostraremos como a falsa


doutrina do “Juízo Investigativo” forçou a Igreja Adventista a adotar outras
falsas doutrinas e equivocadas visões escatológicas a fim de poder sustentar
esse pilar doutrinário sobre o “Santuário Celestial”. Uma dessas outras
doutrinas é a ideia de que todos os mortos estão nesse momento “dormindo”
e não conscientes em nenhum outro ambiente espiritual, seja ele o céu ou o
inferno. É o chamado “Sono da Alma”. Esse verso de 2 Pedro, portanto, deve
ser obrigatoriamente mutilado, no intuito de poder incorporar a ideia de
que não existe ninguém já falecido que esteja em qualquer tipo de castigo.

Colossensses 2:16, 17
NVI: “Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês
comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à
celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são
sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em
Cristo.”

TCW: “Não deixe ninguém controlar sua vida, dando-lhe um conjunto


de regras cerimoniais sobre o que comer, o que beber e quais festivais
mensais ou sábados especiais devem ser mantidos. Todas essas regras
sobre os dias cerimoniais foram dadas como uma sombra da realidade
por vir e essa realidade é Jesus.”
294 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Análise

Essa passagem é um dos exemplos mais claros da “heregese” de Blanco,


indicando que a manutenção do sábado semanal (não um sábado “especial”)
é algo que deve ser observado por aqueles que estão salvos em Cristo. Esse
requisito do sábado é o tipo de legalismo com o qual Jesus constantemente
confrontava os fariseus. É o tipo de legalismo que os cristãos devem evitar,
particularmente devido ao severo aviso de Paulo aos gentios da Galácia que
haviam sido “enfeitiçados” e que os estavam levando a práticas judaicas
arcaicas e desnecessárias, como as ensinadas pela IASD e aqui, de maneira
desonesta e ultrajante, enfatizadas por Blanco.

Apocalipse 1:10
NVI: “No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim
(...)”

TCW: “No Sábado do Senhor eu estava (...)”

Análise

A sabadolatria adventista mais uma vez fica clara nessa alteração


textual feita por Blanco. Além de clara manipulação e adulteração da
Palavra, outro problema chama aqui a nossa atenção. Blanco talvez não
tenha prestado muita atenção no aviso dado no final do livro de Apocalipse,
e por isso não saiba o grande risco que ele está correndo. Em Apocalipse
22:18 o Espírito Santo através de João adverte:

“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro:


se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas
descritas neste livro.”

Talvez ainda haja tempo para que o Dr. Blanco se arrependa


desse grande desserviço realizado por ele (e endossado pela IASD), e
Descortinando o Adventismo – Volume I 295

publicamente declare o grande erro cometido. Fazemos um apelo para que


ele também peça a remoção imediata desses livros, que podem causar graves
consequências espirituais a milhões de pessoas desavisadas.

Análise Geral

Esses são apenas alguns exemplos das aberrações heréticas publicadas


por essa Bíblia adventista. Poderíamos escrever um livro inteiro somente
a respeito das alterações bíblicas feitas por esse doutor em teologia, Jack
Blanco, e publicadas pela editora oficial adventista americana, Review and
Herald Publishing.

No entanto, esses exemplos são suficientes para apresentar o tamanho


do problema de manipulação que temos dentro dessa instituição. Se
realmente a única regra de fé adventista é a Bíblia, qual seria o motivo de
tantas alterações de textos originais bíblicos? Seria talvez com o intuito
de convencer mais facilmente o leitor de que as suas doutrinas estão
corretamente alinhadas com a Bíblia, quando de fato a verdade é exatamente
o contrário disso?

Como é possível que uma pessoa com doutorado em teologia se preste


a esse tipo de exposição de seu nome, assinando a autoria de tamanha
heresia e profanação da Palavra de Deus? Notem como esse trabalho foi
descrito pelo seu autor na contra capa:

“A “The Clear Word” permite que o grande poder de textos antigos seja
apresentado claramente na linguagem de hoje. À medida que o significado
das Escrituras se torna mais claro, você entende mais a respeito da graça de
Deus. Seu amor transparece mesmo em passagens de difícil entendimento
do Antigo Testamento.”172

172 Jack J. Blanco, The Clear Word, contra capa do hardcover edition, © 2003, Review and Herald® Publishing
Association.
296 As Origens da IASD e a Farsa do Juízo Investigativo

Depois de duras críticas, a editora que publicou esse trabalho resolveu


tirar o nome “Bíblia” de sua descrição e a substituiu por “Paráfrase
expandida”. Contudo, se formos verificar o que o dicionário Aurélio
classifica como “paráfrase” nem mesmo esse termo se sustenta:

Paráfrase

[Do gr. paráphrasis, pelo lat. paraphrase.]


S. f.
1. Desenvolvimento do texto de um livro ou de um documento
conservando-se as ideias originais; metáfrase.

2. E. Ling. Modo diverso de expressar frase ou texto, sem que se altere


o significado da primeira versão.

3. Tradução livre ou desenvolvida.

Ou seja, de acordo com o significado apresentado acima, esse trabalho


não pode ser considerado uma paráfrase. Mas sim uma falsificação do texto
original, com no mínimo uma extrema má-fé por parte da instituição a qual
o endossou e o publicou.

Uma palavra que melhor descreveria tal livro seria:

Sacrilégio

Sacrilégio = uma injúria intencional a algo sagrado


(do latim – sacrilegiu) S.m.
1. Uso profano de pessoa, lugar ou objeto sagrado; profanação.

2. Ato de impiedade; profanação: &

3. Ultraje feito a pessoa sagrada ou venerável.

4. P. ext. Ação digna de censura ou reparação; ato condenável.


Capítulo 4
A Igreja Adventista apresenta uma
Imagem Distorcida de Jesus

“A qual dos anjos Deus alguma vez disse: ‘Senta-te à


minha direita, até que eu faça dos teus inimigos um
estrado para os teus pés’?” Hebreus 1:13

U
ma das maiores consequências das falsas doutrinas adventistas,
principalmente a doutrina do juízo investigativo, é apresentar
uma imagem totalmente distorcida de Jesus Cristo. Além de
colocá-lo numa falsa posição de constante “detetive de atitudes e pecados”,
que nos aponta constantemente o dedo por pecarmos nos mínimos detalhes
ou deixarmos de fazer algo que Ele próprio faria, essa doutrina ainda gera
um outro grande problema.

Ela deve, obrigatoriamente, fazer com que o Arcanjo Miguel, seja a


mesma pessoa que Jesus Cristo. Essa grande heresia é compartilhada pelas
Testemunhas de Jeová, outra seita cristã. 173

173 Charlez Taze Russell, o líder fundador das Testemunhas de Jeová, fez parte da equipe editorial do
periódico adventista The Midnight Cry and Herald of the Morning. Porém, esse grupo "adventista" não
pode ser classificado como Adventista do Sétimo Dia. São grupos distintos.
300 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

Mas por que a IASD insiste tanto nessa falsa doutrina de fazer com
que Cristo seja, de fato, o anjo Miguel? Essa era uma pergunta que eu de
vez em quando fazia a mim mesmo na época em que eu era adventista, e era
obrigado a ensinar essa crença nos inúmeros estudos bíblicos que eu forneci
durante os 8 anos em que fiz parte dessa igreja como membro oficial. Nessa
época eu não havia encontrado o motivo real para tamanha importância
que era dada a esse ensino. Contudo, quando eu descobri os erros do juízo
investigativo, eu finalmente entendi as verdadeiras razões escondidas por
trás dessa doutrina.

Ocorre que no início do adventismo, ainda durante o movimento


Milerita e antes da necessidade de criação da doutrina do juízo investigativo
como forma de sobrevivência do movimento, os pioneiros adventistas não
criam que Jesus e o Arcanjo Miguel fossem a mesma pessoa. Essa crença
apareceu como consequência do surgimento de uma outra necessidade de
crença doutrinária: a da “alma que dorme” ou “Sono da Alma”.

O surgimento do juízo investigativo criou imediatamente um dilema


para os adventistas. Como poderiam as pessoas irem direto para o céu ou
para o inferno, se a vida delas ainda não havia sido investigada por Cristo,
já que essa investigação teria tido seu início somente em 22 de outubro
de 1844? Se Adão, por exemplo, estivesse no céu, mas Jesus, em 1844,
encontrasse algum pecado na vida dele, que não tivesse sido passado pelo
devido processo de arrependimento e pedido de perdão, ele infelizmente
estaria no lugar errado, criando um sério problema de logística para o
Criador e Seus anjos. Seria no mínimo constrangedor, retirar Adão de um
local tão bom como o céu e enviá-lo agora para o inferno, após uma pesquisa
mais apurada de sua vida aqui na Terra. Além do que, os argumentos
bíblicos para tal doutrina são de tal maneira distantes da realidade, que
seriam demasiadamente difíceis de serem distorcidos a ponto de tentar
convencer mesmo que o mais ingênuo dos fiéis.
Descortinando o Adventismo – Volume I 301

Sendo assim, Ellen White, James White e Joseph Bates resolveram


(por necessidade) abraçar essa estranha doutrina do “Sono da Alma” que
havia sido divulgada há alguns anos antes dentro do movimento Milerita,
por um pregador Metodista chamado George Storrs. Ele por sua vez havia
aprendido sobre isso com um pregador Batista chamado Henry Grew.
Grew foi obrigado a deixar a Igreja Batista a partir do momento que passou
a ensinar essa estranha doutrina a outras pessoas, já que a Igreja Batista não
corrobora tal ensino.

Mas do que se trata esta doutrina? A doutrina do “Sono da Alma”


basicamente ensina que quando morremos não vamos nem para o céu,
nem para o inferno, mas sim ficamos em um estado intermediário de “sono
da alma”. Essa tese apresenta diversos furos teológicos que iremos apontar
mais adiante.

Um outro desdobramento criado por essa falsa doutrina é o ensino de


que não somos feitos de corpo, alma e espírito, mas sim de corpo e alma,
somente. Ou seja, somos seres dicotômicos e não tricotômicos, segundo o
adventismo. Nesse viés, o espírito do homem é completamente deletado e
reputado como sendo somente um “sopro” dado por Deus ou um “fôlego
de vida” e nada além disso. Todas as passagens bíblicas que falam sobre
o “espírito” do homem são distorcidas ou simplesmente descartadas.
Refutaremos essa ideia e falaremos mais a respeito disso no capítulo: “A
Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos”.

Além disso, no pacote adventista do “Sono da Alma” ainda recebemos


a doutrina do Aniquilacionismo e o ensino herético de que Jesus é o Arcanjo
Miguel. O Aniquilacionismo ensina que o inferno (ou melhor, o “Lago
de Fogo”, pois os adventistas não creem na existência do inferno) não será
eterno, mas pelo contrário, temporário, e durará para cada um de acordo
com as suas más obras realizadas na Terra. Logo que o ímpio em questão
terminar de sofrer de acordo com as suas más ações realizadas enquanto era
vivo, ele simplesmente deixa de existir.
302 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

Toda a sua existência, portanto, é “aniquilada” e ninguém mais se


lembrará dele. Todas as memórias a respeito dele, deixam de existir. Essa
“aniquilação” incluiria Satanás e seus anjos caídos, contudo, o ensino não
deixa claro se as memórias a respeito de Satanás e seus comparsas seriam
deletadas ou não. Apesar de ser um “prato cheio” teologicamente falando,
não iremos lidar com o problema do “Aniquilacionismo” nesse livro.
Contudo, nos focaremos no ensino que apresenta consequências teológicas
e espirituais mais graves, qual seja, o de que o Arcanjo Miguel é Cristo.

Mas qual, então, foi o motivo que levou os adventistas a ver a


necessidade de implementar esse ensino em seu pacote de novas heresias?
Ocorre que toda a doutrina do juízo investigativo, em conjunto com
a doutrina do “Sono da Alma” mais a doutrina do “Aniquilacionismo”
foi costurada com grande maestria pelos adventistas. Eles amarraram
cada doutrina e tamparam cada furo, com seus devidos contorcionismos
teológicos. Contudo, havia algo faltando. Aliás, sempre haverá algo
faltando quando o ensino é falso. O cobertor herético, quando cobre a
cabeça, sempre descobre os pés e vice-versa.

Mas afinal, o que estava faltando?

No monte da transfiguração (Mt 17:1-13, Lc 9:28-36), Moisés e Elias


aparecem para conversar com Jesus. Elias foi arrebatado vivo segundo
as Escrituras, porém Moisés não. Ele claramente faleceu e em nenhum
momento a Bíblia apresenta qualquer evidência de sua ressurreição. Ou
seja, se Moisés morreu e apareceu vivo no monte da transfiguração, esse fato
joga por terra como um dominó teológico, todas as doutrinas adventistas
que acabamos de mencionar, incluindo o próprio Juízo Investigativo, a
espinha dorsal da IASD.

Sendo assim, os adventistas passaram a se agarrar, desesperadamente,


a uma obscura passagem do livro de Judas, onde essa epístola apresenta
um breve encontro do Arcanjo Miguel com Satanás e a disputa entre
eles pelo corpo de Moisés. Nesse encontro a desesperada e mirabolante
Descortinando o Adventismo – Volume I 303

tese adventista é a de que o Arcanjo Miguel, sendo Jesus, disputou com


Satanás o corpo de Moisés para ressuscitá-lo. Somente dessa forma, a IASD
conseguiu manter todas as suas doutrinas vivas até hoje. É por isso que é
necessário fazermos uma análise um pouco mais apurada sobre esse ensino,
e é isso que faremos agora.

Jesus Cristo não é o Arcanjo Miguel

Primeiramente iremos transcrever alguns dos textos de Ellen White,


onde ela claramente ensina que Jesus Cristo e o Arcanjo Miguel são a
mesma pessoa:

“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes
que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo,
pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao
Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por
permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu
a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus
houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: ‘O Senhor
te repreenda’.” 174

É curioso notar que particularmente nesse texto, não existe nenhuma,


nem sequer uma verdade bíblica. Absolutamente tudo que foi escrito aqui
foi distorcido ou fabricado pela mente fantasiosa da Sra. White.

No momento iremos nos focar somente na primeira frase, e mais a


frente provaremos por que o restante também é falso:

“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes
que seu corpo visse a corrupção”.

174 White, Ellen, Primeiros Escritos, págs. 174, 175.


304 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

Em primeiro lugar, em nenhuma passagem bíblica existe nada que


corrobore que Moisés ressuscitou, muito menos que Cristo “desceu” e lhe
deu vida, como diz a frase acima. Agora, em especial, o final dessa frase
assombra ainda mais. Ellen White deixa claro que o corpo de Moisés, não
viu “corrupção”, ou seja, não se deteriorou.

Como sabemos que essa frase é mais uma criação de Ellen White?
Simples. Vamos analisar os dois casos de ressurreição mais famosos da Bíblia.
O de Lázaro e o de Jesus Cristo. Nós sabemos que Lázaro ficou morto por
4 dias e o seu corpo já cheirava mal ( Jo 11:39). Ou seja, de acordo com a
própria Bíblia (e de qualquer laudo pericial médico) se um corpo fica mais
de 3 dias morto, ele já começa a se deteriorar ou ver “corrupção”.

As profecias sobre Cristo diziam que o seu corpo não veria corrupção
(Sl 16:9, 10). Portanto, Seu corpo não passou mais do que 3 dias na
sepultura. Agora vejamos o que dizem as Escrituras a respeito do corpo de
Moisés:

“Sendo assim, Moisés, o servo do SENHOR, morreu ali, em Moabe,


como Yahweh ordenara. Deus mesmo o sepultou em Moabe, em um vale
que fica em frente à cidade de Bete-Peor, mas até estes dias ninguém sabe
onde está localizada sua sepultura. Moisés tinha cento e vinte anos de
idade quando morreu; no entanto, nem seus olhos nem seu vigor físico
haviam desvanecido. Os filhos de Israel prantearam a morte de Moisés
ali mesmo, nas planícies de Moabe, durante trinta dias, até passar o
período tradicionalmente dedicado ao luto.” Deuteronômio 34:5-8

De acordo com este texto nós sabemos que por pelo menos 30 dias,
o corpo de Moisés foi pranteado. Ou seja, se Moisés não ressuscitou antes
desses 30 dias, o corpo dele, sem dúvida alguma, se deteriorou, e de fato
viu “corrupção”. Pois, se nem mesmo o corpo de Cristo, que era o Messias,
o próprio Deus encarnado, ficou sujeito a permanecer dentro da sepultura
por mais de 3 dias para que não se deteriorasse, obviamente o corpo de
Descortinando o Adventismo – Volume I 305

Moisés não teria um tratamento mais especial do que o do próprio Deus,


o Filho. Mas como ter certeza que ele não ressuscitou antes desses 30 dias?

Mais uma vez, a própria palavra de Deus nos ajuda nesse sentido.
Vejamos o que diz o livro de Josué 1:2:

“Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo
preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou
para dar aos israelitas.”

O livro de Josué aparece logo na sequência do livro de Deuteronômio,


assim como os seus fatos estão da mesma forma em ordem cronológica.
Podemos, portanto, concluir que o Senhor Deus falou com Josué logo após
o luto do povo que durou 30 dias pela morte de Moisés. Para podermos ter
ainda mais certeza de que isso é verdade, vejamos o que diz Josué 1:10, 11
que aparece logo após as palavras de encorajamento que Deus dá a Josué no
início do capítulo:

“Assim Josué ordenou aos oficiais do povo: Percorram o acampamento


e ordenem ao povo que prepare as provisões. Daqui a três dias vocês
atravessarão o Jordão neste ponto, para entrar e tomar posse da terra
que o Senhor, o seu Deus, lhes dá”.

Isso só poderia ter ocorrido após a fase de luto passada pelo povo de
Israel pela morte de Moisés, pois Josué não teria ordenado que o povo
atravessasse o Jordão para tomar posse de Canaã durante os 30 dias de
pranto. Sendo assim, não importa o ângulo pelo qual olhamos esses versos,
todos eles apontam para o mesmo sentido:

• Moisés morreu e permaneceu morto;


• Não há nenhuma evidência bíblica para a sua ressurreição;
• Mesmo que presumamos que houve uma suposta ressurreição, o
seu corpo definitivamente entrou em fase de decomposição e de
306 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

fato viu “corrupção”, pois o texto bíblico nos deixa claro que havia
se passado mais de 30 dias quando o Senhor disse a Josué que
Moisés ainda estava morto;
• Ellen White mais uma vez entra em contradição direta com as
Escrituras;

Essa análise anterior foi apenas um pequeno parêntese para mostrarmos


a que ponto vai a afronta literária de Ellen White contra a palavra de Deus.
Não poderíamos deixar tamanho desapreço pelas Escrituras passar em
branco. Daremos agora sequência na transcrição dos outros textos que
comprovam o ensino a respeito de Miguel e Cristo serem a mesma pessoa:

“Quando Cristo e os anjos se aproximaram, Satanás e seus anjos


apareceram na sepultura e guardavam o corpo de Moisés, para que ele
não fosse removido. Quando Cristo e seus anjos se aproximaram, Satanás
resistiu à aproximação deles, mas foi obrigado, pela glória e poder de
Cristo e seus anjos a retroceder. Satanás reivindicou o corpo de Moisés,
por causa de sua única transgressão; mas Cristo humildemente o
encaminhou a seu Pai, dizendo: ‘O Senhor te repreende’.” 175

“Pouco antes de entrar na reunião, tive uma lembrança de algumas cenas


interessantes que passaram diante de mim em visão ... Pareceu-me que os
anjos estavam fazendo uma fenda na nuvem e deixando entrar os raios de
luz do céu. O assunto que foi apresentado de maneira tão impressionante
foi o caso de Moisés. ... Os anjos o sepultaram, mas o Filho de Deus logo
desceu e o ressuscitou dentre os mortos e o levou para o céu.”176

“Como povo, devemos permanecer como o Redentor do mundo. Quando


em controvérsia com Satanás, em relação ao corpo de Moisés, Cristo
não levou contra ele uma acusação severa.”177

175 White, Ellen, Spiritual Gifts, vol. 4a, pág. 58.


176 White, Ellen, Testimonies for the Church, vol. 1, pág. 659.
177 White, Ellen, Testimonies for the Church, vol. 9, pág. 239.
Descortinando o Adventismo – Volume I 307

E, novamente, o primeiro texto que apontamos aqui:

“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes
que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo,
pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao
Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por
permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu
a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus
houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: ‘O Senhor
te repreenda’.”178

Façamos a análise agora dos motivos pelos quais a afirmação de que


Jesus é Miguel, é completamente absurda:

Em toda a Bíblia, apenas 5 passagens mencionam o Arcanjo Miguel.


São elas:

“Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias.


Então Miguel, um dos primeiros príncipes, veio me ajudar a vencer o
inimigo, porquanto não pude mais continuar ali com os reis da Pérsia.”
Daniel 10:13

“Antes, porém, eu te declararei o que está escrito no Livro da Verdade. E


nessa batalha ninguém me ajuda contra eles, senão Miguel, o príncipe
celeste de Israel.” Daniel 10:21

“Naquela época, Miguel, o grande príncipe que protege o povo de


Deus, se erguerá em benefício dos filhos do teu povo; e haverá um período
de tribulação, opressão e aflição como nunca houve desde o início das
nações até então. Contudo, naquela época, o teu povo, toda pessoa cujo
nome está escrito no Sêfer, Livro, será liberto.” Daniel 12:1

178 White, Ellen, Primeiros Escritos, págs. 174, 175.


308 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

“No entanto, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando argumentava


com o Diabo, e batalhava a respeito do corpo de Moisés, se atreveu a
fazer qualquer acusação injuriosa contra o inimigo, limitando-se a
declarar: ‘O Senhor te repreenda’!” Judas 1:9

“Houve, então, uma guerra nos céus. Miguel e seu exército de anjos
lutaram contra o Dragão, ao que o Dragão com seus anjos revidaram.”
Apocalipse 12:7

Notamos que em absolutamente nenhum desses versos há sequer uma


alusão a pessoa de Miguel ser a mesma pessoa de Jesus Cristo. Se a Bíblia
não nos fala claramente que Jesus Cristo é o arcanjo Miguel, devemos
nos perguntar qual seria o verdadeiro motivo secreto por trás de tamanha
insistência nesse erro teológico! Nós já apresentamos o real motivo dessa
insistência anteriormente. Agora mostraremos todos os motivos que
evidenciam porque Jesus e Miguel não podem ser a mesma pessoa.

Motivo 1 – A carta de Judas identifica duas pessoas distintas

O livro de Judas identifica claramente Jesus Cristo como “Senhor”


e não como um anjo, nem muito menos, “Miguel”. Ou seja, se o escritor
dessa epístola quisesse ligar a pessoa de Cristo a Miguel, qual seria a razão
de diferenciar essas duas pessoas identificando Cristo como “Senhor” e
não como um Arcanjo? Quão confuso seria o entendimento desse texto se
confundirmos a pessoa de Cristo com Miguel!

Notem o que diz Judas 1:4:

“Porquanto, certos indivíduos, cuja condenação já estava sentenciada há


muito tempo, infiltraram-se em vossa congregação com toda espécie de
falsidades. Essas pessoas são ímpias e adulteraram a graça de nosso Deus
em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor.”
Descortinando o Adventismo – Volume I 309

A carta de Judas menciona o nome de Jesus 5 vezes. Não seria muito


estranho e inusitado que o escritor dessa carta, sem qualquer aviso ao leitor,
alterasse a identificação de Jesus, chamando-o de Miguel? Não há dúvida
de que essas duas pessoas ( Jesus Cristo e Miguel) são duas pessoas distintas
identificadas no texto como tal. Visto que o autor da epístola não apresenta
em nenhum momento, qualquer esforço de apresentá-las como a mesma
pessoa, porque elas de fato não são!

O texto de Judas 9 ainda apresenta Miguel delegando a repreensão


de Satanás, para o Senhor: “que o Senhor te repreenda!”. Por que Jesus,
sendo Ele mesmo o próprio Senhor, inclusive identificado dessa forma
por Judas, delegaria a autoridade de repreensão de Satanás para si mesmo?
Quão confusa e contraditória seria essa carta e ainda assim ser inspirada
pelo próprio Espírito Santo? Quais são as chances de o Espírito Santo ser
mais confuso e contraditório do que Ellen White?

Além disso, o livro de Judas utiliza em parte de seu texto (versos 14


e 15) uma passagem do livro pseudoepígrafo de Enoque. Livro esse que
era muito conhecido e usado por judeus e cristãos desse período. Tal livro
apresenta claramente o Arcanjo Miguel como um dos sete arcanjos de
Deus. Ele fala a respeito de Miguel e outros arcanjos, assim:

“XX. 5. Miguel, um dos santos anjos, (...)

XXIV 6. Então respondeu Miguel, um dos santos (e honrados) anjos


que estava comigo e era o líder deles, XXV. I., 3. E ele (Miguel) me disse
... Este monte alto que você viu, cujo cume é como o trono de Deus, é o Seu
trono, onde o Santo Grande, o Senhor da Glória, o Rei Eterno o fará.
sente-se, quando Ele descer para visitar a terra com bondade.

XL. 9. E ele me disse: Este primeiro é Miguel, ... e o segundo, é Rafael,


e o terceiro ... é Gabriel, ... e o quarto, é Fanuel 10. E estes são os quatro
anjos do Senhor dos Espíritos e as quatro vozes que ouvi naqueles dias.
310 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

LXXI. 3. E o anjo Miguel [um dos arcanjos] me agarrou pela minha


mão direita ... 8. ... E Miguel, e Rafael, e Gabriel, e Fanuel, e os santos
anjos que estão acima dos céus, entram e saem daquela casa.”

Não entraremos na questão sobre a inspiração ou não de Deus sobre


esse livro pseudoepígrafo. O que queremos evidenciar aqui é a comprovação
da utilização do texto de Enoque no livro de Judas – “Enoque, o sétimo
depois de Adão” Jd 1:14 é uma citação de 1 Enoque 60:8 e “Eis que é vindo o
Senhor com milhares de seus santos (...)”, e Jd 1:15 de 1 Enoque 1:9 – e o fato
de o livro de Enoque claramente apresentar Miguel como um dos Arcanjos
e príncipes, porém nunca como Jesus. Se Judas utiliza textos do livro de
Enoque em sua carta, não seria correto aproveitar o ensejo para corrigi-
lo em tamanho equívoco de não identificar Miguel como sendo o próprio
Jesus? Porém em nenhum momento Judas age nesse sentido.

Motivo 2 – Jesus repreendia a Satanás diretamente

Podemos notar na epístola de Judas que Miguel não ousou repreender


Satanás diretamente, e delegou isso ao “Senhor” a quem o próprio escritor
da carta identifica como sendo Jesus, conforme já comprovamos. Ora, se
Jesus fosse mesmo Miguel, por que não repreender a satanás diretamente,
visto que a própria Bíblia nos apresenta diversos textos em que Cristo de
fato o fez?

Vejamos:

“E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de


tempo todos os reinos do mundo.

E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a


mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares,
tudo será teu.
Descortinando o Adventismo – Volume I 311

E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás;


porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.” Lucas
4:5-8

“Em seguida o Diabo o levou para Jerusalém, e o colocou sobre a parte


mais alta do templo e o desafiou: ‘Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui
para baixo’.

Pois, como está escrito: ‘Aos seus anjos ordenará a teu respeito, para que
te protejam; eles te sustentarão sobre suas mãos para que não batas com
teu pé contra alguma pedra’. Repreendeu-lhe Jesus: ‘Dito está! Não
tentarás o Senhor teu Deus’.” Lucas 4:9-12

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que
me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de
Deus, mas sim nas que são dos homens.” Mateus 16:23

Esses versos tornam claro o poder que Cristo tem de repreender a


Satanás diretamente. Não havendo necessidade nenhuma de Miguel,
portanto, delegar essa responsabilidade ao “Senhor” se ele mesmo fosse o
Senhor Jesus.

Um dos argumentos usados pela IASD é de que o termo “Anjo do


Senhor”, utilizado no Velho Testamento, é na realidade o próprio Jesus
Cristo e que, portanto, Miguel também poderia ser um outro nome de
Cristo. Essa linha de raciocínio não procede pelo seguinte motivo. Ainda
que concordemos que o termo “Anjo do Senhor” é usado em diversos
locais no Antigo Testamento em momentos que o próprio Cristo aparecia
na Terra, isso não significa que automaticamente Miguel e Cristo são a
mesma pessoa.

O termo “Anjo do Senhor” é uma Teofania, ou seja, uma manifestação


visível de Deus, que nesse caso se manifestou muito provavelmente na
pessoa de Jesus. Contudo, nós também podemos apontar que em nenhum
312 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

momento a Bíblia conecta o termo “Anjo do Senhor” com o Arcanjo


Miguel. Tentar forçar uma conexão direta entre esses dois seres é eliminar
completamente o contexto bíblico, com o único intuito de defesa dogmática
institucional sem base nenhuma nas Escrituras. É no mínimo uma
desonestidade intelectual e grande ignorância exegética querer apresentar
tamanho contorcionismo teológico. Em nenhum dos cinco versos em que
Miguel é mencionado, o termo “Anjo do Senhor” aparece como qualquer
tipo de referência, eliminando assim toda e qualquer base hermenêutica
para essa tentativa de estabelecimento doutrinário.

Um outro pobre argumento usado pela IASD é o significado do nome


Miguel no original hebraico. Segundo eles defendem, o nome “Miguel” se
traduz por uma frase: “quem é como Deus?”, portanto, significando que
Miguel seria o próprio Deus.

Vejamos o que diz o dicionário Strong:

Μιχαηλ Michael de origem hebraica 04317 ‫ ; לאכימ‬n pr m Miguel =


“quem é semelhante a Deus?” 1) o primeiro dos príncipes ou arcanjos
que supõe-se ser o anjo guardião dos israelitas

Pois bem, realmente, o nome Miguel se traduz pela frase “quem é


semelhante a Deus?”, contudo em nenhum momento há uma inferência de
que o próprio Miguel seja Deus. Pelo contrário. A conotação da frase aqui
está muito mais para um desafio aos inimigos de Deus. Visto que Miguel
é um Arcanjo de guerra (como denota o livro de Daniel e Apocalipse),
ele em suas batalhas presta honra ao seu Deus, ao dizer, inclusive com seu
próprio nome, que não há ninguém que se compare a Deus em Seu poder
e magnitude!

Além disso, o próprio Strong pressupõe que Miguel é apenas um dos


vários arcanjos existentes. Como já vimos, na tradição hebraica rabínica,
Descortinando o Adventismo – Volume I 313

Miguel é “um dos sete arcanjos”. Esses arcanjos aparecem na literatura


rabínica apocalíptica, e seus nomes são apresentados no livro apócrifo de
Enoque: Uriel, Rafael, Fanuel, Miguel, Salatiel, Gabriel e Baraquiel (1
Enoque 20.2-8; Tobias 12:15).

Em nenhum momento podemos confundir qualquer um desses


arcanjos com o Senhor Jesus Cristo!

Agora, vamos supor por um instante que a teoria adventista está correta
e que o nome de Miguel seja uma referência a Jesus. Cristo é “semelhante a
Deus”? Ou É Ele de fato o próprio Deus?!

Vejamos os nomes efetivamente dados a Jesus pela Bíblia, versus o


nome que a IASD tenta dar a Cristo:

Como Jesus Cristo é visto e chamado de acordo com a Bíblia

“Afinal, um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido, e o governo


está sobre os seus ombros. Ele será chamado Conselheiro-Maravilhoso,
Deus Todo Poderoso, Pai-Eterno; Sar-Shalom, Príncipe-da-paz.”
Isaías 9:6

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus.” João 1:1

“Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu!” João 20:28

“Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era,
e que há de vir, o Todo-Poderoso.” Apocalipse 1:8
314 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

Como Jesus Cristo é visto e chamado de acordo com a IASD


(Ellen White)

“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes
que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo,
pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao
Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por
permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu
a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus
houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: ‘O Senhor
te repreenda’.”179

“Durante três semanas, Gabriel lutou com os poderes das trevas,


procurando neutralizar as influências em ação na mente de Cyrus; e
antes do encerramento da batalha, o próprio Cristo veio em auxílio de
Gabriel.”180 Ellen White

*Miguel = Quem é semelhante a Deus?

“O ministério do anjo no altar do incenso é representativo da


intercessão de Cristo.” Ellen White, comentário sobre Apocalipse 8:3.181

“O anjo poderoso que instruiu João não era ninguém menos que a própria
pessoa de Cristo.” Ellen White, comentário sobre Apocalipse 1:1. 182

“O homem Cristo Jesus não era o Senhor Deus Todo-Poderoso.”183


Ellen White.

“Ao jurar pelo criador, o anjo que é Cristo, jurou por si mesmo.”184 Ellen
White, comentário sobre Apocalipse 10:6.

179 White, Ellen, Primeiros Escritos, págs. 174, 175.


180 White, Ellen, Profetas e Reis, pág. 572.
181 White, Ellen, MS 15, 1897.
182 White, Ellen, MS 59, 1900.
183 White, Ellen, Letter 32, MS 140, 1903 SDA Bible Commentary Vol. 5 pág. 1129.
184 White, Ellen, Testemunhos para a Igreja Vol. 8, pág. 798.
Descortinando o Adventismo – Volume I 315

Em diversas ocasiões, como pudemos notar, Ellen liga a imagem de


Cristo não somente a Miguel, mas também ao anjo que se apresenta a João
no livro de Apocalipse. Contudo, como veremos em maiores detalhes mais
adiante, o anjo de Apocalipse rejeita a adoração de João por ser um servo
como ele! (Ap. 22:8-9)

Muitos adventistas ficarão chocados ao ler esses textos, pois o fato é


que a posição oficial da IASD hoje é de que Jesus sim é Deus e faz parte da
Trindade como Deus “Filho”. Contudo, isso não anula a história da igreja
no passado e principalmente a opinião e influência Ariana185 de Ellen
White sobre toda a igreja. A própria Conferência Bíblica Adventista de
1919 admitiu esse posicionamento oficial da igreja no passado:

“Por muito tempo, nós cremos ... que Cristo foi criado, apesar do que as
Escrituras dizem.”186

É de conhecimento público que os pioneiros adventistas possuíam uma


crença Ariana, negando a divindade de Cristo e a existência da Trindade. O
artigo “The Doctrine of the Trinity Among Adventists” de Gerhard Pfandl,
do Biblical Research Institute diz na página 1:

“Dois dos principais fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia,


Joseph Bates e James White, eram originalmente membros da Igreja
Conexão Cristã que rejeitavam a doutrina da Trindade (...). Outros
adventistas de destaque que se manifestaram contra a Trindade foram
J.N. Loughborough, R.F. Cottrell, J.N. Andrews e Uriah Smith.”

Joseph Bates, criado na Igreja Congregacional, repudiou a doutrina da


Trindade ao ingressar na Igreja Conexão Cristã. Bates aprendeu a doutrina

185 Doutrina de Ário 250-336, padre cristão de Alexandria (Egito), que afirmava ser Cristo a essência
intermediária entre a divindade e a humanidade, negava-lhe o caráter divino e ainda desacreditava a
Santíssima Trindade.
186 1919 SDA Bible Conference, pág. 62.
316 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

do sábado com Rachel Oakes, uma Batista do Sétimo Dia. Contudo, Bates
não aceitou a doutrina dessa mesma igreja a respeito da Trindade.

Assim, os primeiros adventistas tinham mais em comum com os


Shakers, que não somente guardavam o sábado e tinham profetas do estilo
de Ellen White, mas também acreditavam no Arianismo. Somente na
virada do século, o adventismo começou a sair do Arianismo para defender
a divindade de Jesus e, posteriormente, a Trindade. Essa foi uma tarefa
difícil de fazer à luz das declarações de Ellen, que duraram mais de 50 anos,
defendendo o Arianismo.

Uma outra pérola que o escritor D.M. Canright expôs publicamente foi
como Ellen White entendia que após a sua ressurreição, Jesus não somente
aparecia na forma do Arcanjo Miguel, mas Ele também não possuía mais
um corpo físico de fato. No livro Life of Mrs. White, capítulo 17, página
31, ele fala sobre a teoria do Dr. Kelloggs de que o corpo uma vez morto
não seria mais ressuscitado, mas tudo o que restava daquela pessoa após
sua morte, era o registro de sua vida nos livros dos céus. Depois disso um
novo corpo, formado por uma nova matéria seria levantado, abrigando algo
como a essência da antiga pessoa, sem nenhum resquício da matéria antiga.

Ellen White, quando perguntada se ela tinha alguma luz a respeito


do assunto, declarou que o Senhor Deus teria revelado a ela que nunca
mais uma partícula do antigo corpo seria levantada, mas um novo corpo de
um material novo seria formado. Canright, então perguntou: “E o corpo
de Cristo que foi ressuscitado?” Ela respondeu “Ele largou tudo quando
subiu”.

Ellen White mais uma vez contradiz a palavra de Deus que assim diz:

“Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”


Colossensses 2:9
Descortinando o Adventismo – Volume I 317

Motivo 3 – Deus não chamou nenhum anjo de Filho e a nenhum


anjo Deus deu o poder de redimir o mundo

O autor do livro de Hebreus deixa evidente a sua preocupação em


eliminar qualquer dúvida a respeito da identidade de Jesus e de como
todo o poder foi dado pelo Pai a Ele, e não a qualquer outro anjo. Além
disso, existe também uma grande ênfase sobre a direção de Deus de não
adorarmos nenhum anjo, mas somente a Deus.

Satanás era um anjo caído que queria de qualquer maneira ser adorado.
Seria essa confusão criada em torno da identidade de Jesus, mais uma
tentativa do diabo de querer envergonhar o reino de Deus ao fazer com que
discípulos de Cristo confundam a imagem dEle com a de um anjo, a fim de
adorar uma criatura ao invés do próprio Criador?

Vejamos o que dizem os textos de Hebreus a respeito do assunto:

Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei?
E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho? Hebreus 1:5

Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até
que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? Hebreus 1:13

Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual
estamos falando. Hebreus 2:5

Pois Ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência


de Abraão. Hebreus 2:16

O Espírito Santo causou grande impressão ao autor de Hebreus para


que ele deixasse claro essa grande distinção entre Jesus e os anjos. Estaria
Ele já antecipando heresias vindouras como essa?
318 A Igreja Adventista apresenta uma Imagem Distorcida de Jesus

Ademais, as Escrituras estão repletas de situações em que anjos ao


encontrarem pessoas na Terra, faziam questão de não serem adorados
por elas. Esse tipo de desejo foi o que causou grande confusão no céu, e
precipitou a queda de Lúcifer. Não seria muito suspeito termos uma igreja
hoje em dia que levante fortemente a bandeira de confundir a imagem de
Jesus com a de um outro anjo?

“Eu, João, sou quem ouviu e anteviu todos esses acontecimentos. Quando
os vi e ouvi, prostrei-me aos pés do anjo que os revelava a mim, a fim
de adorá-lo. Entretanto, ele me admoestou: Olha, não faças isso; eu sou
conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e de todos os que guardam
as palavras deste livro. Adora, pois, a Deus!” Apocalipse 22:8-9

Motivo 4 – Os pais da Igreja Cristã já refutavam essa Tese

Os primeiros teólogos apologistas, que surgiram durante e logo após a


era da igreja primitiva, também falaram sobre esse assunto:

“Mas Ele não deve, por esse motivo, ser considerado um anjo, como
Gabriel ou Miguel (...) Ele é verdadeiramente Deus, e o Filho de Deus.”
Tertuliano 230 D.C. sobre a carne de Cristo, capítulo 14.

“Portanto, não foram os anjos que nos criaram, nem nos formaram, nem
tinham o poder dos anjos para criar uma imagem de Deus, nem mais
ninguém, exceto a Palavra do Senhor, nem qualquer Poder remotamente
distante do Pai de todas as coisas. Pois Deus não precisava desses [seres],
a fim de realizar previamente o que Ele próprio determinara consigo
mesmo, como se não possuísse as próprias mãos. Pois com ele sempre estava
presente a Palavra e a Sabedoria, o Filho e o Espírito, por quem e em
quem, livre e espontaneamente, fez todas as coisas, a quem também fala,
dizendo: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.” Irineu, 200
dC, contra as heresias 4: 20: 1.
Descortinando o Adventismo – Volume I 319

Desde a época da Igreja primitiva já havia seitas que procuravam


fazer de Cristo um anjo e não o próprio Deus. Contudo, nenhuma seita
dos dias de hoje tem tanto interesse em fazer de Cristo a mesma pessoa
que o Arcanjo Miguel, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Como já
mostrado, toda a sua credibilidade como instituição depende da veracidade
histórico/teológica da doutrina do Juízo Investigativo, que por sua vez
depende da doutrina do “Sono da Alma”, que por consequência depende de
que Miguel seja Cristo para poder ressuscitar Moisés e manter o castelo de
areia religioso de pé.

Contudo, devemos ouvir os conselhos dos pais da fé e não deixar que


essa heresia seja propagada dentro do cristianismo atual.

Sendo assim, notamos com espanto, a capacidade da IASD de criar uma


teologia inteira em cima de suposições e sem nenhuma base bíblica, sendo
essa uma marca característica de seitas não cristãs, e que fere novamente,
diretamente, o princípio protestante da Sola Scriptura. A Bíblia não menciona
que Moisés ressuscitou em nenhum momento, assim como também não faz
a menor referência em nenhum de seus versos, de que Miguel é Cristo!
Capítulo 5
Características de uma Seita

“Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com


histórias que inventaram. Há muito tempo a sua
condenação paira sobre eles, e a sua destruição
não tarda.” 2 Pedro 2:3

D
urante esse livro nós temos por diversas vezes apontado a
IASD como um grupo sectário. Reconhecemos que essa é uma
acusação séria que não pode ser imputada a uma instituição
sem um estudo diligente e bastante aprofundado. Contudo, se após tal
estudo ficar claro que essa instituição possui as características que de fato
identificam uma igreja como seita, os membros dessa igreja estarão correndo
sérios riscos espirituais e emocionais por não atentarem a essa importante
revelação e aviso.

Mas quais são essas características que podem realmente identificar


um grupo religioso a ponto de chamá-lo de “seita”?
322 Características de uma Seita

Provavelmente não há uma definição que possa ser aceita


universalmente, pois sociólogos e psicólogos diferem parcialmente
em suas definições. A própria IASD, por já ter sido ao longo dos anos,
constantemente acusada de ser uma seita, chegou a usar a estratégia
de assumir tal alcunha de fato. Se caso a definição dessa palavra fosse
apresentada como o que diz o “Wikcionário”, por exemplo:

“Um grupo que professa uma doutrina, ideologia, sistema filosófico,


religioso ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema
dominantes.”

Nesse caso, a IASD até mesmo chega ao ponto de se orgulhar


ser chamada de uma “seita”. Ou ao menos, é como alguns apologistas
estrategicamente, se defendem dessas acusações. Pois alegam ser um
povo “diferente” e “escolhido” por Deus e, portanto, possuem regrinhas
diferenciadas dos outros cristãos que por sua vez estariam equivocados
em suas crenças. O fato é que há uma conotação popular extremamente
negativa em torno da etimologia da palavra “seita”. E os membros e
dirigentes adventistas em geral, não reconhecem tal epíteto e se irritam
profundamente ao serem chamados desse adjetivo tão pejorativo.

Para fins didáticos, nós utilizaremos as listas mais comumente aceitas


no meio cristão para definir as características gerais de uma seita. Tais
características foram escolhidas e enumeradas com base em um amplo
estudo realizado187, assim como por observação pessoal de padrões de
comportamento de grupos sectários desde a antiguidade até os dias de hoje.

A seguir veremos as 14 características que identificam uma igreja como


uma seita:

187 Alguns livros utilizados para esse estudo foram, “Kingdom of the Cults” de Walter Martin, “The
Cultic Doctrine of the SDA’s” de Dale Ratzlaff, “Combating Cult Mind Control” de Steven Hassan e
“Christianity Cults & Religions” de Paul Carden.
Descortinando o Adventismo – Volume I 323

Característica número 1:
Seitas Idolatram o seu Líder terreno
Essa é uma das características mais marcantes de uma seita. O seu líder
invariavelmente se apresenta com uma forte aura de divindade em torno de
si mesmo, com o intuito de ser adorado pelos seus seguidores. Mesmo que
tal líder não se apresente abertamente com esse desejo e negue publicamente
essa intenção, a maneira como ele age e se posiciona acaba atraindo para si,
uma assustadora forma de idolatria.

Como já apresentado anteriormente, líderes de seitas não se deixam ser


questionados e “forçam” uma obediência cega aos seus ensinamentos. Essa
cultura de obediência inquestionável, quando é absorvida por uma geração,
acaba sendo transmitida de pai pra filho e se espalhando pelas gerações
subsequentes, consolidando o poder desse grupo sectário por muitos anos.

Esse jugo, portanto, só começa a ser quebrado quando defensores da


verdadeira fé cristã se levantam e denunciam esses impostores religiosos
como sanguessugas espirituais que são, e de como eles se alimentam da
energia, finanças e da confusa fé de seus liderados por décadas e décadas
a fio.

Mas para que esse grupo possua uma força extra, é necessário que haja
uma figura especial que o represente. Alguém que se mostre com poderes
especiais, quase que como semideuses andando sobre a terra. Ellen White
com seus esquemas engenhosos e a sua confiante autoproclamação de ser
a “Mensageira de Deus” do fim dos tempos, conseguiu vender bem a sua
imagem profética e preencher a vaga que foi aberta em 1844. Visto que
a figura de Guilherme Miller já estava muito desgastada por tantos erros
públicos, e pelo fato de que ele mesmo resolveu se aposentar logo após o
“Grande Desapontamento”.

Eu me lembro de por diversas vezes ter encontrado inconsistências


de textos de Ellen White quando comparados com o que a Bíblia dizia.
324 Características de uma Seita

E quando eu interpelava algum líder da IASD a respeito, o que me era


respondido era, de fato, assustador. Todos eles, sem exceção, se posicionavam
a favor de Ellen White em detrimento das Escrituras!

As mais variadas desculpas eram dadas. Algo como: “o livro de


Tiago não era para estar no Cânon”, ou “Paulo ainda não havia recebido
a luz que Ellen White receberia somente anos mais tarde. Ele não havia
compreendido o que ela compreendeu”! E ainda: “os livros de Ellen White
possuem o mesmo nível de inspiração que os livros da Bíblia, contudo com
uma clareza ainda maior porque foram escritos para nós, nos tempos de
hoje. Portanto, entre o texto da Bíblia que você não entendeu e os de Ellen,
fique com os dela”.

Essas palavras doíam demais no meu espírito. Ao recordar essas


situações hoje, eu vejo como o Espírito Santo estava acendendo todas as
luzes vermelhas e sirenes de aviso na minha cara. Mas eu ainda não queria
acreditar e me recolhia em negação a respeito da triste verdade: eu e minha
família fazíamos parte de uma perigosa seita.

Característica número 2:
Seitas criam doutrinas em cima de revelações
extrabíblicas, que alegam terem sido dadas por
Deus exclusivamente a elas

“Nós temos uma mensagem especial de Deus para esse tempo que foi
confiada somente a nós”

Pra quem conhece um pouco da IASD sabe que essa característica se


encaixa como uma luva nessa instituição. O exclusivismo criado em torno
dessa igreja é algo que impressiona pelo fato de ser evidente, porém ao
mesmo tempo eles tentam não assustar muito aqueles que visitam a igreja
pela primeira vez.
Descortinando o Adventismo – Volume I 325

O espírito por trás de uma seita cristã só vai conseguir atuar dentro
de uma igreja se ela se deixar levar por escritos extrabíblicos. É exatamente
por isso que é tão importante para esses grupos que o princípio da Sola
Scriptura seja colocado por terra. Enquanto esse muro protetor permanecer
de pé, os espíritos por detrás dessas seitas não conseguem agir livremente.

A revelação extrabíblica foi claramente personificada na figura de Ellen


White que se autointitulava uma “luz menor” (Ellen White e seus escritos)
que apontava para uma “luz maior” ( Jesus e a Bíblia). Eu me lembro que
quando eu era membro dessa igreja esse argumento soava muito bem aos
ouvidos, contudo hoje, ao rever esse conceito eu me pergunto: “qual seria
a necessidade de apontar uma lanterna para o sol?”

Quando analisamos as crenças fundamentais da IASD, notamos que


a crença de número 17 preenche perfeitamente esse primeiro requisito de
uma seita:

“Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Esse dom é uma característica
da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G.
White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua
e autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação,
instrução e correção à Igreja. ( Joel 2:28 e 29; Atos 2:14-21; Hebreus
1:1-3; Apocalipse 12-17; 19:10).”188

Acredito que nós já conseguimos comprovar ao longo desse livro, sem


qualquer sombra de dúvida que os escritos de Ellen White, após analisados
com um pouco mais de profundidade, não podem ser considerados nem ao
menos perto de serem uma “autorizada fonte de verdade”. Pelo contrário,
contradizem diretamente as Escrituras, se autocontradizem e desafiam até
mesmo o bom senso da razão humana.

188 Fonte: https://biblia.com.br/perguntas-biblicasas-28-crencas-fundamentais-da-igreja-adventista-do-


setimo-dia/
326 Características de uma Seita

Ocorre que por mais que tentemos, seria impossível de separar a


teologia adventista dos escritos de Ellen White. Portanto, infelizmente a
IASD está “casada” com uma escritora que traz uma característica sectária
de grande peso e jugo, para dentro de suas portas.

Característica número 3:
Seitas se autointitulam como “O povo escolhido”
ou “A Igreja Remanescente”
Essa é uma das características que mais mexem com o psicológico dos
membros de um grupo religioso. Por ter sido membro dessa igreja por 25
anos, eu posso atestar, sem sombra de dúvida, que a IASD martela essa ideia
constantemente na cabeça de seus membros.

Vejamos o que diz a crença fundamental da IASD de número 12:

“A Igreja universal compõe-se de todos os que verdadeiramente creem em


Cristo; mas, nos últimos dias, um remanescente tem sido chamado
para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de
Jesus. Esse remanescente anuncia a chegada da hora do Juízo, proclama
a salvação por meio de Cristo e prediz a aproximação de Seu segundo
advento.”189

Esse fator exclusivista é determinante na IASD como estratégia de


dominação do intelecto do indivíduo, que começa a frequentar os cultos
da igreja, assim como também apresenta excelentes resultados de um
crescimento proselitista frente a membros de outras denominações cristãs.

Isso ocorre, porque a grande parte da população ainda não sabe quem
realmente é em Deus. Não possui identidade própria e frequentemente
sofre de sérios problemas de baixa autoestima. A ausência de uma figura

189 Fonte: https://biblia.com.br/perguntas-biblicas/as-28-crencas-fundamentais-da-igreja-adventista-


do-setimo-dia/
Descortinando o Adventismo – Volume I 327

paterna saudável, na vida de milhões de brasileiros, faz com que se abra


uma enorme brecha no psicológico de grande parte da população. Esse é
o motivo, aliás, que faz com que o Brasil seja o país em que a IASD mais
cresce no mundo.

Quando uma instituição religiosa (que representa uma forma de


autoridade) do porte da IASD surge nas frágeis vidas dessas pessoas, com
pastores que possuem uma linda oratória, e diversos membros simpáticos
(que também estão sendo manipulados) que o abraçam e resolvem incluí-
lo em seu grupo “seleto”, essas pessoas não resistem. Definitivamente se
deixam levar e topam tudo para defender a sua nova “gangue”.

E, além disso, passam a atacar com unhas e dentes qualquer um que


queira tirar isso delas. Pois agora, já não se trata mais de estar do lado da
verdade. Muito mais importante para essas pessoas é estar do lado daqueles
que os chamam de “o escolhido” de Deus, ou de membro da “verdadeira
igreja remanescente”! O que está em jogo agora é essa “falsa identidade”
que foi dada a elas. Que, apesar de falsa, traz alento a sua alma já muito
machucada e combalida ao longo dos anos.

Essa tática é algo que vem sendo usado por seitas de maneira muito
bem-sucedida há séculos e sempre apresentam um excelente resultado. E
não se deixem enganar, essa estratégia é usada de maneira 100% consciente
pela direção dessas instituições! É um golpe muito baixo empregado as
pobres almas que não possuem um bom mecanismo de defesa contra esse
tipo de ataque mental. E que infelizmente cedem não somente as suas vidas
como também fazem tudo para envolver as vidas de outras pessoas, como
familiares, amigos e conhecidos para fazerem parte desse mesmo jogo
diabólico engenhado de antemão por esses grupos sectários.

O pior de tudo é que esse terrível “durante” é muitas vezes melhor que
“o depois”. Ou seja, muitas pessoas quando descobrem que foram enganadas
por esses grupos, resolvem simplesmente abandonar completamente a vida
cristã, por achar que absolutamente tudo que for ligado a Cristo seja uma
328 Características de uma Seita

farsa. Muitos deles acabam indo para um ponto ainda mais extremo e se
aliam a grupos místicos da Nova Era ou se afiliam ao Satanismo, ou ainda
abraçam o completo ceticismo e viram ateus, agnósticos, etc. E é assim que
esse plano das trevas acaba sendo muito bem amarrado. Uma vez dentro da
seita, o indivíduo tem praticamente duas opções: ou fica preso ali para o
resto da vida, sem conhecer o verdadeiro evangelho e a pessoa de Jesus, ou
acaba saindo e abandonando tudo que é relacionado a Deus pela frustração
e trauma de ter sido enganado por essas pessoas por todos esses anos. E esse
plano satânico é tão bem arquitetado que muitas vezes aqueles que estão
ativamente enganando essas pessoas (pastores, obreiros, etc.) também não
sabem da verdade!

Mas existe uma terceira opção. Não se deixar amargurar pelo que
ocorreu e passar a ter um relacionamento verdadeiro e íntimo com Deus.
Sem a religiosidade criada por homens, mas sim se abrindo e aceitando
aquilo que Ele havia nos chamado para sermos desde o princípio: Seus
filhos.

Dessa forma podemos ter acesso ao Reino dEle que foi nos dado por
herança. E quando nós descobrimos quem Ele É de verdade (o nosso Pai),
aí então nós descobrimos quem nós somos. Descobrimos a nossa verdadeira
identidade, e a partir daí um rio de vida passa a fluir de dentro de nós,
os rios de água viva do Espírito Santo e tudo começa a ser destravado em
nossas vidas. Esse processo de libertação nos leva a sermos verdadeiramente
livres nessa Terra, livres de cadeias, jugos e prisões mentais causadas por
seitas e falsos mestres, livres dos julgamentos e opiniões de outras pessoas,
pois “onde está o Espírito de Deus, ali há liberdade” 2 Cor 3:17. Assim é, e
assim vive o homem livre que está em Deus e em quem Deus vive!
Descortinando o Adventismo – Volume I 329

Característica número 4:
Abuso Emocional, Espiritual, Financeiro
e em algumas situações, Sexual
O abuso cometido pelas seitas é o que causa o maior dano em seus
membros. Esses abusos muitas vezes não são claramente detectados, outras
vezes, sim. O maior abuso é o espiritual, pois esse é sofrido por todos os
membros, sem exceção. Quando a nossa fé em Cristo é adulterada por um
falso evangelho e por uma imagem distorcida de quem Ele de fato É, ela
sofre danos que a grande maioria das pessoas demora anos para curar.

A lavagem cerebral a respeito de doutrinas que não são suportadas


pela Bíblia, nos coloca num nível de condicionamento tão abusivo que
mesmo após muito tempo fora dessa igreja, o nosso comportamento ainda
é marcado por esses traumas espirituais sofridos no passado. É exatamente
por isso que Paulo com tanta veemência lutava contra ensinos desse tipo
em suas epístolas. Note o que ele diz aos Gálatas (que seriam considerados
como os adventistas de hoje em dia):

“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou


à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há
alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.

Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro
evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim,
como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos
anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.”
Gálatas 1:6-9

No volume 2 dessa série, nós iremos nos aprofundar bastante nesse


livro de Gálatas, e sobre toda a questão da distorção do evangelho que foi
feita pelos Adventistas do Sétimo Dia em seus ensinos. No momento, é
importante salientarmos que as consequências dos abusos sofridos pelos
membros nessas seitas, é algo que deve ser levado muito a sério. Tais abusos
330 Características de uma Seita

invadem todas as áreas das vidas dessas pessoas. Casamento, filhos, amigos,
trabalho, enfim, absolutamente tudo na vida de uma pessoa é permeado por
suas crenças espirituais. E se essas crenças são abusivas e distantes daquilo
que a Bíblia de fato nos quer mostrar e ensinar, tudo que está dentro de nós
e a nossa volta sofre muito com isso.

Muitas vezes o abuso espiritual passa a ser emocional também. Muitos


pastores de seitas gostam de abusar de sua autoridade com relação aos
membros, e fazem questão de dominá-los de uma maneira a qual eles não
foram chamados por Deus para fazer. Nós precisamos entender de uma vez
por todas qual é o espírito que está por trás desses grupos sectários. Esse
espírito não é o mesmo Espírito Santo de Deus! A posição que um pastor
ocupa em uma igreja cristã legítima é a de cuidar das ovelhas de Jesus. Já
a posição que um pastor ocupa em uma seita é a de tosquiar e abusar das
ovelhas de Cristo! Portanto, não se assuste quando observar atos abusivos
de pastores nesses locais. O espírito por detrás deles e de outras instituições
como essas é o do inimigo de Deus e exatamente por isso, o seu prazer está
em humilhar a abusar dos servos dEle.

Esses abusos vão desde vexames públicos aos quais esses membros
são submetidos, até a estratégia de imputar grande medo a eles, caso eles
não dizimem ou ofertem um valor significativo a determinados projetos
realizados pela igreja. Abusos financeiros desse tipo são constantemente
presenciados nesses locais. E assim o nome de Deus é usado das mais
diversas formas para satisfazer o apetite dos “cães gulosos” institucionais.

A IASD gosta de apontar o dedo as igrejas que pregam o evangelho


da prosperidade, como sendo as únicas abusivas com relação às finanças
de seus membros. É bem verdade que muitas delas agem dessa forma. A
IASD, contudo, utiliza isso apenas como mais uma estratégia para desviar a
atenção de seus membros. Como um bom ilusionista, eles nos fazem olhar
para uma mão, enquanto é a outra mão que está agindo. E quando menos
Descortinando o Adventismo – Volume I 331

esperamos, voilá, o nosso dinheiro passou para as mãos deles da mesma


forma que passaria para as igrejas do evangelho da prosperidade.

A quarta forma de abuso, e de fato a mais rara de ser comprovada,


é o abuso sexual. Antigamente esses abusos eram mais denunciados na
Igreja Católica pelo fato de que essa instituição impõe o celibato aos seus
líderes. Isso, obviamente, causou e ainda causa diversos problemas de abuso
sexual dentro da igreja. Contudo, esse fenômeno não é exclusivo da igreja
católica. Cada vez mais é possível notar que todas as seitas possuem muitos
predadores sexuais em seu meio. Isso se dá porque o espírito de abuso já é
fortemente presente nesse local.

Eu mesmo já recebi diversos relatos de abusos sexuais dentro da Igreja


Adventista. Alguns deles, em acampamentos de desbravadores que foram
em sua grande maioria abafados pela igreja. Outros, incestuosos, passados
de geração a geração dentro de famílias tradicionais da IASD. A escritora
Hazel Holland em seu livro “The Naked Truth: Exposing the Deception of
Adventism” faz um interessante paralelo entre o abuso espiritual sofrido
por ela dentro da IASD e o abuso sexual incestuoso também sofrido por
ela, porém dentro de sua casa quando criança:

“Assim como o incesto era um pecado geracional, transmitido pelos genes


geracionais dos dois lados da minha família biológica, o incesto espiritual
é um pecado geracional transmitido pelos genes denominacionais da
IASD. Como o incesto é o abuso da autoridade parental sobre a
criança, o incesto espiritual é o abuso da autoridade espiritual
exercido por pais espirituais e por aqueles que têm autoridade sobre
nós na igreja.

Outra maneira de dizer isso é: O abuso espiritual é o uso indevido


e abusivo da autoridade espiritual por líderes da igreja que se
estabelecem como guardiões de portais, usando desempenho
332 Características de uma Seita

religioso em vez de fé em Jesus como critério para aceitar ou rejeitar


seus seguidores.”190

O que Hazel explica em seu interessante livro é como uma cultura de


abuso espiritual geracional foi criada dentro da IASD. Isso ocorreu porque
a porta do “Grande Desapontamento” não foi corretamente fechada
como deveria. Os líderes da IASD ao invés de confessarem os seus erros
de terem acreditado em uma falsa data para a volta de Cristo e terem dessa
forma continuado a sua caminhada cristã, humildemente aceitando os seus
equívocos publicamente, resolveram, pelo contrário, varrer esses problemas
para debaixo do tapete das próximas gerações, maquiando uma falsa
profecia com uma outra falsa profecia.

Tal problema apresenta uma correlação com praticamente 100% dos


casos de abuso sexual incestuoso. Da mesma forma que os erros doutrinários
da IASD são públicos e notórios por todas as igrejas evangélicas e por
muitos de seus próprios dirigentes e teólogos; nos casos de incesto sexual,
toda a família geralmente fica sabendo a respeito do caso, mas por vergonha
e culpa ninguém fala nada a respeito, fazendo com que todos entrem em
negação perpetuando esse ciclo de abuso por diversas gerações futuras.
Isso se dá porque a criança que é abusada tende a se tornar um abusador
quando crescer. Assim também ocorre com as seitas. Crianças abusadas
espiritualmente tendem a crescer e a passar esse abuso espiritual adiante,
ensinando as suas falsas doutrinas a outras pessoas e aprisionando-as na
mesma jaula espiritual em que elas foram aprisionadas por outros abusadores
e assim por diante.

Sendo assim, aqueles que sabem a respeito desses abusos e de todos os


erros ensinados por esses grupos, devem se levantar e em alta voz, denunciar
esses problemas ao mundo todo. Para que cada vez menos pessoas sejam
afetadas por esses falsos mestres e falsos profetas sectários.

190 Holland, Hazel, The Naked Truth: Exposing the Deception of Adventism, pág. 31.
Descortinando o Adventismo – Volume I 333

Característica número 5:
Não se sustentam com o princípio da
Sola Scriptura
Toda seita precisa adicionar textos de fora da Bíblia, ou alterá-la para
que consiga transmitir a sua falsa mensagem ao seu público. Os textos de
Ellen White são essenciais para o entendimento das doutrinas extrabíblicas
da IASD. Sem eles fica simplesmente impossível de encontrá-las na Bíblia.

É preciso que façamos um exercício muito simples para sabermos se


essa característica realmente se encaixa na igreja em que estamos em dúvida,
se é ou não uma legítima denominação cristã. Ao analisarmos as doutrinas
peculiares e exclusivas dessa igreja, devemos procurá-las nas Escrituras e
nas Escrituras somente. Se conseguirmos achá-las com facilidade e sem a
necessidade de usarmos as lentes dessa denominação, então tal igreja não
é uma seita. Porém, se ela não se sustentar após isso, estamos diante de um
grupo sectário.

Tendo isso em mente eu peço que o leitor vá até a sua Bíblia e com
toda a honestidade faça esse exercício. Procure nas Escrituras somente, toda
a doutrina do juízo investigativo e veja se essa doutrina é clara a você ou
qualquer um que lesse a Bíblia, sem antes ter acesso a um livro da Ellen
White ou uma outra literatura adventista.

E o mesmo deve ser feito com todas as outras doutrinas exclusivamente


adventistas como:

• O Sono da Alma;
• Miguel é Cristo;
• A Necessidade da guarda do Sábado para os Gentios;
• A Necessidade do Rebatismo;
• O Decreto Dominical;
334 Características de uma Seita

• A Necessidade de uma alimentação Kosher e/ou vegetariana para os


gentios;
• A guarda do Sábado sendo feita por algum patriarca antes de
Moisés;
• A Lei de Deus (seja os 10 mandamentos ou as 613 leis da Torá)
dada no céu, no Éden, ou ao homem antes do Sinai;
• A guarda do Sábado depois da segunda vinda de Cristo;
• A Dicotomia (corpo e alma) e não a Tricotomia (corpo, alma e
espírito) do Ser.

Ao fazer tal exercício o leitor irá verificar que é impossível que ele
consiga confirmar essas doutrinas sem a ajuda de algum livro extrabíblico.
E essa é mais uma das formas de verificar as falsas doutrinas da IASD. Se
elas não se sustentam com a Bíblia somente (Sola Scriptura), devem ser
sumariamente descartadas.

Algumas seitas chegam ao ponto de alterar a própria Bíblia para que


ela se encaixe em suas doutrinas. Esse é o caso das Testemunhas de Jeová,
da Igreja Católica e da própria IASD (Clear Word Bible) como já provamos
nas páginas anteriores.

Característica número 6:
Mania de perseguição – “O mundo nos persegue
porque nós possuímos a verdade”
Essa é uma característica bastante interessante que denota que os
seus líderes possuíam esse tipo de distúrbio psicológico em comum.
Todos acreditavam que estavam sendo perseguidos. No caso da IASD essa
paranoia é elevada exponencialmente em seu entendimento escatológico.

Desde praticamente o seu início, a Igreja Adventista ensina aos seus


membros que no fim dos tempos, o sábado será a marca de lealdade que
Descortinando o Adventismo – Volume I 335

distinguirá o verdadeiro povo de Deus daqueles que receberão a marca da


besta, que segundo eles será a guarda do domingo como dia sagrado. Eles
acreditam que os EUA se unirão ao poder papal e ao Espiritismo (sim, o
Espiritismo) e então debaixo da influência desses três poderes um decreto
dominical será implementado. E por fim chegará o tempo em que a pena
de morte será instaurada pelo governo mundial contra todos aqueles que
decidirem guardar o sábado como dia sagrado.

Eu fico aqui imaginando como os muçulmanos encarariam esse tal


“decreto dominical”, mas isso é um assunto para o volume 2 dessa série.

Continuando.

Esse teste, segundo Ellen White, irá ocorrer quando Cristo finalizar
a expiação no santuário celestial, e os justos estarão vivendo sem qualquer
tipo de intercessão ou intercessor diante do Deus vivo. E por isso devem
viver uma vida absolutamente perfeita, sem pecado, para que finalmente
possam ser salvos, após passarem por todos esses testes.

Fácil, não é mesmo? Pra você que não é adventista e acha que eu estou
exagerando, seguem os escritos da pioneira adventista que falam a respeito
disso:

“Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra.


Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus
santo, sem intercessor. Removeu-se a restrição que estivera sobre
os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os que finalmente se
encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus: O mundo
rejeitou a Sua misericórdia, desprezou-Lhe o amor, pisando Sua lei. Os
ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o Espírito de Deus,
persistentemente resistido, foi, por fim, retirado. Desabrigados da graça
divina, não têm proteção contra o maligno.”191

191 White, Ellen, O Grande Conflito, págs. 535, 536.


336 Características de uma Seita

“Como o sábado se tornou o ponto especial de controvérsia por toda


a cristandade, e as autoridades religiosas e seculares se combinaram
para impor a observância do domingo, a recusa persistente de uma
pequena minoria em ceder à exigência popular, fará com que esta
minoria seja objeto de ódio universal. Insistir-se-á em que os poucos que
permanecem em oposição a uma instituição da igreja e lei do Estado, não
devem ser tolerados; que é melhor que eles sofram do que nações inteiras
sejam lançadas em confusão e ilegalidade. O mesmo argumento, há
mil e oitocentos anos, foi aduzido contra Cristo pelos ‘príncipes do povo’.
‘Convém’, disse o astucioso Caifás, ‘que um homem morra pelo povo, e que
não pereça toda a nação’. João 11:50. Este argumento parecerá conclusivo;
e expedir-se-á, por fim, um decreto contra os que santificam o sábado
do quarto mandamento, denunciando-os como merecedores do
mais severo castigo, e dando ao povo liberdade para, depois de certo
tempo, matá-los.”192

“Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por
nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo.”193

“Estes são os que vieram de grande tribulação” (Apocalipse 7:14);


passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve
nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram
sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de Deus.
Mas foram livres, pois “lavaram os seus vestidos, e os branquearam no
sangue do Cordeiro.” “Na sua boca não se achou engano; porque são
irrepreensíveis” diante de Deus.”194

Essas são apenas algumas das dezenas de textos escritos por Ellen
White a respeito do assunto.

192 White, Ellen, O Grande Conflito, págs. 536, 537.


193 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 543.
194 White, Ellen, O Grande Conflito, págs. 565, 566.
Descortinando o Adventismo – Volume I 337

Às vezes me pergunto se quando era adventista, eu realmente


acreditava nessas loucuras de Ellen White. Ou seja, caso Deus quisesse
de fato abandonar tudo o que foi dito por Jesus sobre a Sua maravilhosa
graça nos evangelhos ( Jo 3:16, Jo 5:24) e resolvesse testar os seus Filhos nos
tempos do fim colocando em jogo a vida eterna de cada um, ele não usaria
como forma de teste a nossa capacidade de união ( Jo 17:11), muito menos
a misericórdia e ajuda que damos aos Seus pequeninos (Mt 25:35-45) ou
quem sabe a nossa capacidade de amadurecimento no Reino e busca de um
relacionamento mais íntimo com Ele (Mt 6:6). Não! O que Ele usaria seria
o dia da semana no qual decidimos ir a um prédio ouvir um outro homem
falar em cima do púlpito! E diante, dessa escolha, deveríamos suportar
até o fim, todo o tipo de tortura até a morte. Não por amor a Cristo, não
absolutamente não! Mas por amor ao santo dia do Sábado!

Iremos nos aprofundar na questão do Sábado e do Decreto Dominical


em outro momento, contudo, realmente fica aqui a indagação: que tipo de
encantamento é esse que cega pessoas inteligentes, bem-educadas, e as fazem
acreditar nesse tipo de raciocínio antibíblico? Será que essas pessoas também
acreditam que realmente é possível viver sem pecado, de maneira perfeita,
sem um intercessor nesse corpo corruptível em que vivemos, principalmente
sob os olhos irados do Terrível Deus Juiz, pintado por Ellen White?

Não somente isso, mas por todo esse período em que o adventista vive
dentro da igreja, seja nos tempos atuais ou nos tempos do fim, Ellen White
faz questão de enfatizar que eles nunca devem ter certeza de sua salvação.
Ou seja, toda essa angústia e ansiedade de viver dessa forma, sem ao menos
ter a certeza de que está salvo? Será que os membros dessa igreja realmente
pararam pra pensar no tamanho do stress mental diário a que são submetidos
quando sinceramente e completamente acreditam nessas doutrinas?

O fato é que não existe perseguição ao povo adventista. O que


ocorre é o contrário. Os adventistas perseguem, julgam e apontam o dedo
para outras denominações evangélicas, simplesmente pelo fato de elas
338 Características de uma Seita

irem as suas respectivas igrejas aos domingos. E, por isso, as chamam de


“protestantismo apostatado” e parte da Babilônia e da prostituta do livro
do Apocalipse.

Ocorre que, como uma impressionante reviravolta num filme de


suspense, é bem mais provável que a própria IASD, e não as outras igrejas
protestantes, seja parte dessa “Babilônia”. Todo o sistema religioso que
coloca as suas regrinhas e dogmas antes de um relacionamento íntimo com
Deus, é chamado de “Babilônia”. Toda instituição religiosa que, assim como
Ninrode, levantou a sua magnífica torre, exclusiva, imponente, buscando
poder e os seus próprios interesses em detrimento da verdade, e acreditando
serem altas e poderosas o suficiente para escaparem do alcance e juízo de
Deus, faz parte da Babilônia. E esse sistema que se prostituiu, mentiu, fez
comércio do povo de Deus e distorceu o evangelho de Cristo, um dia irá cair.

Característica número 7:
Um Falso Evangelho e um Cristianismo
Defeituoso
No pacote vendido pelas seitas aos seus membros, existe um jugo
especial guardado. Um falso evangelho que ao invés de trazer alento ao
cristão, traz mais peso e fardo. Isso também é muito claro nos dogmas
adventistas. A Cristologia195 e a Soteriologia196 adventista, produz a ideia
de que Cristo veio a terra para dar uma segunda chance à humanidade de
ser aprovada em um grande novo teste de lealdade e obediência a fim de que
possam, dessa forma, serem salvos.

Isso parece mais inocente do que realmente é, pois distorce toda a


noção do evangelho de Cristo. O legalismo entra em jogo ao fazer com

195 Cristologia é o estudo sobre Cristo. É uma parte da teologia cristã que estuda e define a natureza
de Jesus, a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo, com uma particular atenção à relação com
Deus pai, às origens e ao modo de vida de Jesus Cristo.
196 A Soteriologia é o estudo da salvação humana.
Descortinando o Adventismo – Volume I 339

que o membro pense que ele deve viver uma vida perfeita, assim como
Cristo viveu e, com a ajuda do Espírito Santo aliado ao seu próprio esforço,
guardar perfeitamente a lei de Deus.

O Adventismo diminui todo o processo de expiação dos pecados


feitos por Cristo na cruz, e enfatiza a necessidade de perfeccionismo do ser
humano para que ele possa ser salvo. Mais uma vez, a salvação é apresentada
como sendo obtida pela “força do braço” humano e não pelo sangue de
Cristo na cruz. É muito salientada a ideia de que Jesus tinha uma natureza
caída, assim como qualquer ser humano tem, mas que Ele mesmo assim,
conseguiu obter a vitória sobre todo o tipo de pecado, conseguindo algo
que nós também deveríamos conseguir: nunca pecar!

Vejamos o que Ellen White diz a respeito:

“O Senhor agora exige de sua igreja perfeita obediência a todos os seus


mandamentos. Ele não aceitará menos do que o devido. O homem pode
receber graça e verdade para obedecer a todos os seus mandamentos,
que são razoáveis ​​e justos. Todas as suas justas exigências devem ser
plenamente atendidas; pois esta segunda provação concedida à raça
caída custa um preço infinito, a vida do Filho de Deus.”197

Estaria Ellen White falando de todas as 613 leis da Torá? Ou dos 10


mandamentos? De qualquer maneira, sendo um ou outro, será que ela
conseguiu obedecer a todos esses mandamentos, durante toda a sua vida?
Abaixemos um pouco o teto da exigência. Será que ela conseguiria obedecer
a todos esses mandamentos, por apenas uma semana? Será que eu e você,
conseguiríamos? Note que segundo ela Deus não aceitará menos do que
isso. Seria essa a nossa passagem para a salvação, anulando por completo
passagens como: Efésios 2:8, 9 “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé;
e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém
se glorie”?

197 White, Ellen, Review and Herald, 13/09/1898, parág. 9.


340 Características de uma Seita

Continuemos analisando outros textos de Ellen sobre o assunto:

“Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça já havia sido


enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como todo filho de Adão,
ele aceitou os resultados e consequências da grande lei da hereditariedade.
Esses resultados foram mostrados na história de Seus ancestrais terrestres.
Ele absorveu essa hereditariedade para poder compartilhar de nossas
tristezas e tentações e nos dar o exemplo de uma vida sem pecado.”

“(...) No entanto, no mundo em que Satanás reivindicou domínio, Deus


permitiu que Seu Filho viesse, um bebê indefeso, sujeito à fraqueza da
humanidade. Ele permitiu que Ele enfrentasse o perigo da vida em
comum com toda alma humana, para combater a batalha, como todo
filho da humanidade deve combatê-la, correndo o risco de fracassar
e perder eternamente.”198

“Vestido com as vestes da humanidade, o Filho de Deus desceu ao


nível daqueles que desejava salvar. Nele não havia dolo ou pecado;
ele sempre foi puro e imaculado; todavia, ele levou sobre ele nossa
natureza pecaminosa. Vestindo sua divindade com a humanidade, a
fim de associar-se à humanidade decaída, procurou recuperar para o
homem aquilo que, por desobediência, Adão havia perdido para si e para
o mundo.”199

“Pense na humilhação de Cristo. Ele recebeu sobre si mesmo a natureza


humana decaída e sofredora, degradada e contaminada pelo pecado.
Ele levou nossas tristezas, carregando nossa dor e vergonha. Ele suportou
todas as tentações com as quais o homem é atormentado. Ele uniu a
humanidade à divindade: um espírito divino habitava um templo de
carne. Ele se uniu ao templo. ‘A Palavra se fez carne e habitou entre nós’,

198 White, Ellen, O Desejado de Todas as Nações, pág. 48.


199 White, Ellen, Review and Herald, 15/12/1896, parág. 7.
Descortinando o Adventismo – Volume I 341

porque, ao fazer isso, ele pôde se associar aos filhos e filhas pecadores e
tristes de Adão.”200

Ellen White deixa clara aqui, a sua posição quanto à natureza


pecaminosa de Cristo. Lembrando que isso só confirma a posição Ariana da
IASD mantida por quase 50 anos nos escritos de Ellen. Notamos, portanto,
que toda a ideia da salvação e do evangelho de Cristo, fica completamente
corrompido e distorcido. Enquanto a Bíblia fala que devemos nos apoiar
na graça divina que fez com que Deus Filho, com uma natureza sem
pecado, se fizesse oferta por nós e por nossos pecados, a fim de nos salvar,
como uma forma de substituição do pagamento da dívida; a IASD, por
sua vez, indica que Cristo possuía uma natureza caída, mas que mesmo
assim conseguiu vencer todo e qualquer tipo de pecado, e que nós, para
que possamos ser salvos, devemos seguir o seu exemplo de superação da
nossa natureza pecaminosa, sendo assim salvos por nosso próprio esforço
de termos seguido uma vida com o máximo de perfeição possível.

Essas diferenças, apesar de não estarem claras nas suas crenças


fundamentais, são comumente ensinadas nas escolas sabatinas e cultos
semanais, devido a grande influência de Ellen White sobre a igreja até os
dias de hoje.

O que tudo isso acarreta é um grande peso de hipocrisia sobre os


membros da IASD, que passam a incorporar um personagem religioso
que é perfeito aos olhos do povo nos cultos de sábado, mas que durante a
semana, passam a se afundar em grandes problemas de culpa e vergonha,
por não conseguirem alcançar aquilo que é proposto pela igreja para que
sejam salvos.

A comunhão e o relacionamento com Deus dão espaço as rotinas


religiosas sem unção dessa instituição. As quais acabam tirando o poder do

200 White, Ellen, Youth’s Instructor, 20/12/1900, parág. 6.


342 Características de uma Seita

crente de vencer o pecado, gerando problemas de vida dupla nas vidas da


esmagadora maioria dos membros dessa igreja.

E esse ciclo vicioso vai extraindo toda a vida, beleza e graça da vida
espiritual dessas pessoas, tornando-as secas, repetitivas e fracas contra
os ataques do inimigo. E com isso, Satanás exulta em sua vitória sobre
esse grupo que, destituído de qualquer poder do Espírito Santo, acredita
piamente ser a igreja remanescente de Deus na Terra, permanecendo assim
embriagada pelo seu próprio orgulho, levando ao erro, por sua vez, a sua
grande fileira de membros que carregam sobre seus rostos o grosso véu de
sua hipnótica cegueira religiosa.

Característica número 8:
Seitas Invariavelmente possuem um falso
profeta que se diz falar diretamente com Deus,
e que por sua vez revela segredos exclusivos e
completamente novos a ele (a)

“O Senhor me mostrou que (...)” “Então eu vi que (...)”

Mais uma vez a IASD preenche perfeitamente esse quesito. Quando


analisamos hoje os escritos de Ellen White, observamos o assombroso
número de visões que ela alega ter tido no passado. Ela diz ter recebido
mais de 2000 (duas mil) visões de Deus! Sendo que um legítimo profeta
bíblico registrou no máximo 7 visões (Ezequiel). Aliás, todos os profetas
bíblicos em conjunto registraram o total de 42 visões! Ellen chega
a desgastar a imagem de profetas verdadeiros nos dias de hoje, com suas
fantasiosas jornadas intergalácticas repletas de nonsense e devaneios.

Além disso, praticamente tudo que ela viu em suas visões, possuíam
elementos novos e na sua maior parte antibíblicos. Na verdade, quando
eles não eram antibíblicos, eram plagiados ou simplesmente falavam de
Descortinando o Adventismo – Volume I 343

coisas mirabolantes que beiravam a loucura. Iremos falar mais sobre isso no
volume 2 dessa série, no capítulo chamado: “Ellen White: Plágios, Heresias
e Devaneios”.

Interessante notar que, geralmente, quando essas “revelações” e


“visões” ocorrem para os falsos profetas, não existe nenhuma outra pessoa
ou outro profeta de Deus para corroborá-las, pois Deus falou em segredo
exclusivo para esse profeta em particular.

É importante salientar, contudo, que o dom de profecia é algo verdadeiro


e continua atuante em profetas legítimos nos dias de hoje. Precisamos de
muito discernimento para identificar e recusar os ensinamentos dos falsos
profetas e recebermos as instruções reais que veem de Deus dos profetas
verdadeiros que Ele ainda possui na Terra.

Uma das maneiras de separarmos os falsos dos verdadeiros é testando


as suas profecias para ver se elas realmente se cumprem. É o que a própria
Bíblia nos ensina (Dt 18:22). Uma outra forma é comparando os ensinos
desse profeta com a palavra de Deus. Se eles não forem congruentes,
descarte-os sumariamente. Ao longo desse livro nós já expomos inúmeras
situações em que Ellen White falhou miseravelmente em ambos os testes.
O mundo evangélico inteiro e grande parte da diretoria da IASD já sabem
dessa verdade. Só quem falta abrir os olhos para isso são os membros. Até
quando esse povo de Deus se deixará continuar sendo enganado?

Característica número 9:
“Nunca questione os nossos Ensinamentos”
Quão perigoso é cair num grupo religioso que te impede de questionar
aquilo que está sendo ensinado. Contudo, é exatamente isso que Ellen White
constantemente declarou em seus livros. Mesmo que (e especialmente
quando) os seus ensinamentos não faziam o menor sentido, a Sra. White
fazia questão de impor as suas crenças sobre os membros da igreja, como
344 Características de uma Seita

uma ditadora implacável que não deveria nunca ser contestada, pois a sua
voz era a própria voz de Deus.

Vejamos alguns exemplos:

“Vi um grupo que permanecia bem guardado e firme, não dando atenção
aos que faziam vacilar a estabelecida fé da comunidade. Deus olhava para
eles com aprovação. Foram-me mostrados três degraus — a primeira, a
segunda e a terceira mensagens angélicas. Disse o meu anjo assistente: ‘Ai
de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens.
A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O
destino das almas depende da maneira em que são elas recebidas’.

De novo fui conduzida às três mensagens angélicas, e vi a que alto preço
havia o povo de Deus adquirido a sua experiência. Esta, fora alcançada
através de muito sofrimento e severo conflito. Deus os havia conduzido
passo a passo, até que os pusera sobre uma sólida plataforma inamovível.
Vi pessoas aproximarem-se da plataforma e examinar-lhe o fundamento.
Alguns com alegria imediatamente subiram para ela. Outros começaram
a encontrar defeito no fundamento. Achavam que se deviam fazer
melhoramentos, e então a plataforma seria mais perfeita e o povo muito
mais feliz.

Alguns desceram da plataforma para examiná-la, e declararam ter sido


ela colocada erradamente. Mas eu vi que quase todos permaneciam firmes
sobre a plataforma e exortavam os que tinham descido a cessar com suas
queixas; pois Deus fora o Mestre Construtor, e eles estavam lutando
contra Ele. Eles reconsideravam a maravilhosa obra de Deus, que os
conduzira à firme plataforma, e em união levantaram os olhos ao céu e
com alta voz glorificaram a Deus. Isto afetou alguns dos que se tinham
queixado e deixado a plataforma, e contritos subiram de novo para ela.”.201

201 White, Ellen, História da Redenção, pág 386.


Descortinando o Adventismo – Volume I 345

E ainda:

“Não devemos receber as palavras daqueles que vêm com uma


mensagem que contradiz os pontos especiais de nossa fé. Eles reúnem
uma pilha de versos bíblicos e a acumulam como prova em torno de suas
teorias. Isso foi feito repetidamente nos últimos cinquenta anos. E enquanto
as Escrituras são a palavra de Deus e devem ser respeitadas, a aplicação
delas, se essa aplicação afastar um pilar do fundamento que Deus sustentou
nesses cinquenta anos, é um grande erro. Quem faz tal aplicação não
conhece a maravilhosa demonstração do Espírito Santo que deu poder e
força às mensagens passadas que chegaram ao povo de Deus.”.202

Ao estudarmos em grande profundidade neste livro até aqui a falsa


doutrina do juízo investigativo e todos os seus erros proféticos, exegéticos
e até mesmo de simples raciocínio lógico, fica aqui a dúvida. E se ninguém
– por seguir e obedecer aos conselhos da Sra. White acima descritos –
nunca tivesse tido a coragem de um dia questionar e contestar tais ensinos,
o que seria de nós? Somente pela doutrina da porta fechada, nós teríamos
a ideia de que após a morte dos pioneiros adventistas, nunca ninguém mais
poderia ser salvo. Estaríamos vivendo em profunda angústia e sem rumo
existencial. O cristianismo em si, estaria morto, para todos nós que estamos
vivos agora, ou para qualquer um que tivesse nascido depois de 1844 ou
que mesmo que nascido antes disso não tivesse aceitado a mensagem de
1844. Aliás, nem a própria IASD existiria mais!

Graças a Deus pela Bíblia que nos ensina exatamente o contrário:

“Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, porquanto,


receberam a mensagem com vívido interesse, e dedicaram-se ao estudo
diário das Escrituras, com o propósito de avaliar se tudo correspondia
à verdade.” Atos 17:11

202 White, Ellen, Counsels to Writers and Editors, págs. 31, 32.
346 Características de uma Seita

Inúmeros ensinamentos de Ellen White não faziam e não fazem o


menor sentido até os dias de hoje. E sobre muitos deles, a grande maioria
dos membros, simplesmente não questiona absolutamente nada. E assim,
as mentiras vão se perpetuando, e os membros padecendo nesse grande
jogo de enganos e mentiras.

Nunca a palavra escrita pelo profeta Oseias fez tanto sentido como hoje:

“O meu povo perece por falta de conhecimento.” Oseias 4:6

Característica número 10:


Uma intepretação segmentada das Escrituras
Se um pastor for um hábil orador e tiver o talento do convencimento,
ele pode distorcer as Escrituras a ponto de fazer o que ele quiser com os
membros de sua igreja. Agora, imagine o que pôde fazer alguém como
Ellen White, que obviamente possuía uma grande capacidade de liderança
e convencimento na sua geração. Esses tipos de líderes distorcem a Bíblia ao
seu bel prazer e se focam somente nos segmentos que lhe aprazem.

Por exemplo, Ellen White escreveu algo em torno de 49 livros. Neles


ela falou sobre os mais variados assuntos. Contudo, de seu especial interesse
era a guarda do dia de sábado. Ela por diversas vezes diz ter tido visões que
mostraram a ela que o quarto mandamento possuía uma auréola dourada
em sua volta, o que tornava esse mandamento muito mais importante do
que qualquer outro, apesar de isso em nenhum momento aparecer na Bíblia.

Para termos uma ideia de sua ênfase nesse assunto, a Bíblia menciona
a palavra sábado 116 vezes. Ellen White usou a essa mesma palavra 3.315
vezes. Um outro tópico muito importante para a Sra. White era: Satanás.
A Bíblia, por sua vez, não compartilhou do mesmo interesse que ela sobre o
diabo. As Escrituras registraram a palavra Satanás 47 vezes, enquanto Ellen
White a usou 9.956 vezes!
Descortinando o Adventismo – Volume I 347

Além disso, Ellen White possuía uma grande preocupação em pintar


uma imagem de Cristo e de Deus Pai, constantemente descontentes e
irados com o Seu povo. Principalmente contra o próprio povo adventista!
Nós podemos constatar que a frase em inglês “Frown of God” e “Frown
of Christ” algo que se traduziria como “Carranca” ou “Rosto franzido de
Deus” e “Carranca” ou “Rosto franzido de Cristo”, no livro “Spiritual Gifts”
de Ellen White, é usada 147 vezes!

E essas imagens distorcidas de Deus foram sendo marteladas nas


mentes de seus membros por anos e anos, e gerações e gerações. Eu lembro
que há algum tempo atrás, mesmo após mais de um ano fora da IASD,
e mesmo tendo uma comunhão constante e íntima com Deus, eu ainda
tinha dificuldade de me livrar de certas imagens distorcidas que eu havia
absorvido ao longo dos anos nessa instituição.

E é exatamente esse tipo de problema que uma seita causa na vida de


uma pessoa. Um falso entendimento de Deus, de Cristo, do evangelho, de
si mesmo, das pessoas e do mundo a sua volta. É uma tragédia de grandes
proporções porque você não se dá conta de onde você está e do que está
acontecendo até ser tarde demais.

Eu por exemplo, não consigo me lembrar, de alguma vez que alguém


tenha chegado a citar Colossenses 2:16 num culto adventista. Nunca. Zero
vezes, em mais de 25 anos de igreja. A verdade é que eu nem sabia que esse
verso existia. Muito menos, Romanos 14:5, ou Gálatas 4:10, 11.

Contudo, nós por aqui não cometeremos os mesmos erros. Transcre-


veremos esses versos para o caso de algum adventista nunca tê-los visto antes:

“Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis, ou


pelo que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa religiosa,
celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Esses rituais são
apenas sombra do que haveria de vir; a realidade, todavia, encontra-
se em Cristo.” Colossenses 2:16, 17.
348 Características de uma Seita

“Há quem considere um dia mais sagrado do que outro; outra pessoa
pode entender que todos os dias são iguais. Cada um deve estar
absolutamente convicto em sua própria mente. Aquele que guarda um
dia especial, para o Senhor assim o considera. Aquele que se alimenta de
carne, o faz para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém,
para o Senhor se priva, e também dá graças a Deus.” Romanos 4:15, 16

“Guardais dias, meses, tempos e anos. Temo que eu talvez tenha


ministrado inutilmente para convosco.” Gálatas 4:10, 11

Nós não iremos abordar o tema do sábado nesse volume. Porém, fica
aqui registrado para ponderação e uma futura análise mais aprofundada a
respeito de mais esse falso ensino adventista.

Característica número 11:


Complexo Messiânico: “Nós somos a última
esperança para esse mundo caído”
Um grupo sectário invariavelmente precisa adicionar um elemento
dramático ao seu arsenal a fim de despertar o sentimento de urgência, medo
e dependência daqueles a quem ele pretende atrair como seus seguidores.

Por isso, eles devem tentar ocupar o lugar do próprio Deus como peça-
chave para a salvação do perdido. Não, não seria somente Deus que salva o
aflito de suas mazelas e da própria perdição eterna, mas sim, as informações
que esse grupo seleto possui que irá trazer conforto, alento e salvação aos
seus membros. E não adianta esperar o próximo “ônibus” espiritual na
estação central da sua vida, porque esse é o último a passar por aqui! Ou
seja, ou eles, ou a perdição.

A IASD, mais uma vez preenche muito bem esse quesito, pois a sua
própria origem foi baseada numa informação exclusiva dada aos pioneiros.
Nenhuma outra igreja possui a doutrina do juízo investigativo, por exemplo;
Descortinando o Adventismo – Volume I 349

e as três mensagens angélicas, a reforma de saúde, decreto dominical, entre


outras, são dogmas exclusivos desse grupo religioso que, portanto, só
podem ser acessados através deles.

Vejamos o que a Sra. White teve a dizer a respeito:

“Eles (IASD) devem permanecer como súditos do reino de Cristo,


ostentando a bandeira na qual está inscrita: ‘Os mandamentos de Deus
e a fé de Jesus’. Eles devem carregar o fardo de uma obra especial, uma
mensagem especial. Temos uma responsabilidade pessoal, e isso deve ser
revelado diante do universo celestial, diante dos anjos e diante dos homens.
Deus não nos chama a ampliar nossa influência, misturando-nos
à sociedade, vinculando-nos aos homens em questões políticas, mas
permanecendo como partes individuais de Seu grande todo, com Cristo
como nossa cabeça. Cristo é nosso príncipe, e como Seus súditos devemos
fazer o trabalho que nos foi designado por Deus.”203

“O Senhor tem uma mensagem especial para levarmos ao mundo,


incluindo a mensagem do terceiro anjo. A primeira e a segunda mensagens
angélicas estão ligadas à terceira.”204

“Senti o profundo movimento do Espírito de Deus sobre mim e sei que o Senhor
me deu uma mensagem especial para Seu povo nesse momento.”205

“O Senhor me deu uma mensagem especial para as igrejas que


afirmam acreditar na verdade nestes últimos dias.”206

Esses são apenas alguns dos inúmeros textos em que Ellen White
alega ser portadora de uma mensagem especial para as igrejas e o mundo. A
compreensão correta dessas mensagens seria imprescindível para a salvação
das pessoas da nossa era. Mais uma vez o princípio da Sola Scriptura é

203 White, Ellen, Fundamentals of Chrisian Education, pág. 478.3.


204 White, Ellen, The General Conference Bulletin, January 1st, 1900, Art. A, parag 2.
205 White, Ellen, The Review and Herald, 11 de março de 1909.
206 White, Ellen, The Review and Herald, 23 de setembro de 1909, parág. 1.
350 Características de uma Seita

pisoteado pela IASD, que eleva a autoridade de sua “profetisa” a níveis tão
altos (e muitas vezes ainda maior) que o da própria Bíblia, apesar de terem
o cuidado de nunca expressarem isso de maneira tão direta.

Característica número 12:


Uma imagem distorcida e muitas vezes diminuída
de Jesus Cristo

Por algum motivo a grande maioria dos grupos sectários ama fazer
esse tipo de declaração. Seria uma coincidência que uma outra grande seita,
as Testemunhas de Jeová, também apresentem Jesus com uma imagem
altamente distorcida? Teriam eles o mesmo espírito que impulsiona ambos
os grupos?

Apesar da IASD hoje em dia apresentar Jesus como sendo Deus, nós
pudemos constatar no capítulo anterior que os escritos de Ellen White por
muito tempo (por volta de 50 anos) não concordavam com isso. Pela grande
influência Ariana que essa igreja sofreu no princípio de sua formação, nós
podemos notar os resquícios dessa ingerência até os dias de hoje.

Como já demonstrado anteriormente, a IASD ainda insiste em


vincular a pessoa de Miguel com a de Cristo, o que é uma heresia da mais
alta ordem. Além disso, o fato de tornar o sangue de Jesus ineficaz na cruz
do calvário, devido a toda lógica criada pela doutrina do juízo investigativo
aliada ao fato da ideia de termos como “redentor”207 final de nossos pecados
o próprio Satanás chamado de bode “Azazel” ou “bode expiatório” pela
própria IASD, tira praticamente todo o mérito do sacrifício que foi feito
por Cristo na cruz.

207 A IASD não utiliza esse termo, porém só podemos chegar a essa conclusão devido ao raciocínio criado
em torno dessa doutrina que coloca o peso final de todos os pecados da humanidade em cima de Lúcifer.
Descortinando o Adventismo – Volume I 351

Característica número 13:


Membros de seitas inicialmente forçam uma
amizade artificial para segurar o novo membro
naquele local

Existe uma linha fina nessa característica. É claro que todas as igrejas
devem ser cordiais com novos membros e fazer o possível para fazê-los se
sentir bem em suas congregações. Contudo, nos casos das seitas, existe um
elemento um tanto quanto “sinistro” nessas amizades propostas aos novos
membros.

Geralmente, o termo “família” é usado. “Bem-vindo a sua nova família”.


Isso soa muito bem aos ouvidos. Porém, como esse processo é todo feito de
uma maneira muito rápida a fim de “prender” os visitantes, algo de estranho
é claramente sentido “no ar”. É tudo muito forçado. Os relacionamentos
não se desenvolvem naturalmente e toda essa ligação é baseada na fé
denominacional em comum. Se por um acaso, um dia, o membro decide
não acreditar mais naquelas crenças específicas, toda aquela “amizade” e
“família” já não existem mais.

O objetivo desses grupos é de acelerar o processo de relacionamento


o máximo possível, com a intenção de primeiro, batizá-lo e após isso
imputar cargos oficiais da igreja a ele, o que irá colocá-lo numa posição
de responsabilidade dentro da instituição. Isso irá prendê-lo ainda mais
naquele lugar, agora por no mínimo um ano, que é o tempo de duração para
as novas indicações feitas pelo conselho da igreja local. E nesse período de
12 meses o membro já teve o tempo suficiente para criar ainda mais raízes
no local onde está, prendendo-o ali principalmente pelo fator social. Agora,
doutrinas e amizades se misturam, formando um grande emaranhado
emocional que faz com que o membro receba todo o conjunto da obra
como uma nova e grande verdade a ser defendida, custe o que custar.
352 Características de uma Seita

Característica número 14:


Legalismo e a Hipocrisia de uma Imagem
perfeccionista Religiosa Institucional
Grupos sectários possuem regras legalistas que, ou não estão na Bíblia,
ou não servem mais para os nossos dias. O legalismo religioso é fácil de ser
constatado. Esses locais se prendem muito mais as regras de “não podes”
do que ao relacionamento íntimo com o Espírito Santo. Tais regras podem
ser diversas. Desde a guarda de dias, até o controle sobre o que as pessoas
devem comer, de tudo um pouco é visto nessas seitas. A criatividade legalista
desses grupos é infinita.

A IASD possui várias regras absurdas e também leis que não foram
dadas para nós, gentios.

Entre as suas proibições estão:


• Tomar café;
• Usar joias;
• Usar maquiagem;
• Usar calça comprida nos cultos (mulheres);
• Ir ao cinema;
• Dançar;
• Assistir TV aos sábados;
• Trabalhar aos sábados;
• Viajar aos sábados;
• Abastecer o seu veículo aos sábados;
• Fazer qualquer tipo de transação comercial, incluindo comprar
remédio aos sábados;
• Cozinhar aos sábados;
• Fazer praticamente qualquer coisa aos sábados com a exceção de
dormir, ir à igreja ou participar de algum evento evangelístico
Descortinando o Adventismo – Volume I 353

da IASD (antigamente até mesmo fazer a barba, tomar banho e


engraxar os sapatos era proibido nos dias de sábado);
• Ouvir músicas seculares;
• Tocar bateria na igreja (em alguns locais essa regra tem sido
abolida aos poucos);
• Comer qualquer tipo de frutos do mar com a exceção de alguns
tipos de peixe;
• Comer carne de porco (alimentação deve ser kosher);
• Jogar Baralho.

É altamente recomendado que não se faça e é muito malvisto pela


liderança caso ela fique sabendo que algum membro está fazendo, porém
não são regras oficiais:
• Comer carne vermelha (Ellen White diz que no fim dos tempos
quem comer carne vermelha não terá forças para agir de acordo
com o que Deus quer e, portanto, irá se perder)208;
• Ter um estilo de alimentação que não seja vegana (algo ainda
mais extremo do que não comer carne vermelha), reforçando a
proibição de ingestão de qualquer derivado de animal (manteiga,
leite, ovos, etc.);
• Assistir jogos de futebol;
• Assistir filmes e TV em geral, com exceção de documentários ou
programas religiosos;
• Ter relação sexual, mesmo que lícitas (com o cônjuge), aos sábados.

208 “Devem ser vistas maiores reformas entre o povo que pretende aguardar o breve aparecimento de Cristo. Uma
reforma de saúde deve realizar uma obra entre nosso povo que ainda não foi executada. Há aqueles que devem
estar atentos ao perigo de comer carne, pois eles ainda estão ingerindo carne de animais, arriscando assim
a saúde física, mental e espiritual. Muitos que agora estão apenas meio convertidos em questão de comer
carne, se afastam do povo de Deus para não andar mais com eles.” White, Ellen, Eventos Finais, pág. 65.
354 Características de uma Seita

No volume 2 dessa série nós teremos um capítulo específico somente


falando a respeito dos devaneios de Ellen White. Todavia, no momento,
além do que foi mostrado acima, é interessante lembrar que a Sra. White,
assim como Joseph Smith fez com os Mórmons209, defendeu o uso de vestes
específicas para mulheres.

Tal roupa, chamada de “vestido reformador” para mulheres cristãs foi


inventada em 1850 por Elizabeth Smith Miller, porém inicialmente, a Sra.
White reagiu negativamente a essa moda:

“Deus não gostaria que o Seu povo adotasse o chamado ‘vestido


reformador’.” 210 Ellen White

Porém, um ano depois observando que ela poderia lucrar em cima de


vendas com a sua própria versão desse mesmo vestido, ela alegou que havia
recebido uma nova mensagem de Deus que contradizia o que Ele próprio
havia dito anteriormente:

“Deus agora gostaria que o Seu povo adotasse o uso do ‘vestido refor-
mador’.”211 Ellen White

Ela, então, iniciou uma cruzada de 10 anos a favor do uso desse tipo de
vestimenta para todas as mulheres da igreja.

Numa outra situação bastante curiosa, Ellen que havia advogado


ferrenhamente pela reforma da saúde de seus seguidores que incluiria
o abandono total de carne vermelha e de frutos do mar, foi pega não só
encomendando caixas de ostras em uma de suas cartas, como também
comendo grandes porções de frutos do mar, escondida na parte de trás de um

209 Os Mórmons recomendam o uso de uma vestimenta especial que deve ser usada debaixo da roupa,
algo como uma roupa de baixo “mágica” que os protege contra os ataques de espíritos maus. Muitos
ensinos de Ellen White lembram muito os ensinos de Joseph Smith.
210 White, Ellen, “Testemunhos para a Igreja”, Vol. 1, pág. 421.
211 White, Ellen, “Testemunhos para a Igreja”, Vol. 1, pág. 525.
Descortinando o Adventismo – Volume I 355

restaurante em Chicago, e porções de carne vermelha e produtos derivados de


animal em outras diversas ocasiões. Tudo isso foi amplamente documentado.

Vejamos aqui somente alguns desses exemplos.

Após a reunião de acampamento de 1887 em Springfield, Illinois,


Ellen White conheceu Fannie Bolton e queria contratá-la como assistente
literária. Ellen White combinou de encontrá-la em Chicago no caminho
de volta para a Califórnia. De Chicago, elas deveriam viajar juntas.

“Quando Ellen saiu do circuito de reunião para voltar para sua casa na
Califórnia, ela organizou um encontro para Fannie e seus companheiros
no Chicago Depot, para que pudessem viajar juntos. Ellen não estava com
o grupo, então o ancião Starr a procurou até que ‘finalmente a encontrou
na parte detrás de um restaurante muito satisfeita ao comer grandes
ostras cruas brancas com vinagre, pimenta e sal’, escreveu Fannie.

E na mesma viagem, Willie White trouxe para o carro um ‘pedaço grosso


de bife sangrento’ para Sara McEnterfer, uma das valiosas funcionárias
de Ellen, para cozinhar em um pequeno forno a óleo. Esses incidentes
foram chocantes para Fannie, que ‘vivia fielmente os ensinamentos de
reforma de saúde pregados por Ellen, com toda fidelidade descartando
carne, manteiga, peixe, galinha e janta’, acreditando que, como os seus
escritos diziam, ‘nenhum comedor de carne será salvo’.” 212

E ainda em uma carta escrita em 31 de maio de 1882, Ellen White disse:

“Mary, se você puder me trazer boa caixa de arenques, por favor, faça-o.
Estes últimos que Willie ganhou são amargos e velhos. Se você pode comprar
latas, digamos, meia dúzia de latas, de bons tomates, por favor faça-o. Vamos
precisar deles. Se conseguir algumas latas de boas ostras, pegue-as.”213

212 Carta, Fannie Bolton à Sra. E. C. Slawson, 30 de dezembro de 1914; págs. 108-9. A história de Fannie
Bolton: uma coleção de documentos - fonte, Ellen G. White Estate, 1982.
213 Carta 16, 1882, à sua nora, Mary Kelsey White.
356 Características de uma Seita

Como dito, não entraremos ainda muito a fundo nessas exposições,


porém é válido transcrevermos algumas outras provas.

Sobre o alimento cárneo que ela veemente proibia, vejamos o que ela
escreveu a respeito. Ellen recebeu sua chamada “visão” sobre uma necessária
reforma da saúde em 1863. O objetivo dessa visão era mostrar os perigos do
consumo do alimento cárneo:

“Mas desde que o Senhor apresentou diante de mim, em junho de 1863, o


assunto de comer carne em relação à saúde, deixei o uso de carne. Por um
tempo, foi bastante difícil trazer meu apetite ao pão, pelo qual, antigamente,
tive pouco prazer. Mas, perseverando, consegui fazer isso. Vivi quase um
ano sem carne”. Ellen White, Spiritual Gifts, vol. 4a, p. 153. (1864).

Cinco anos depois, Ellen White escreveu:

“Não recuei um passo desde que a luz do céu sobre esse assunto
brilhou pela primeira vez no meu caminho. Afastei-me de tudo de
uma só vez - da carne e da manteiga e de três refeições... Eu assumi minha
posição sobre a reforma da saúde a partir de princípios.”. Ellen White,
Testemunhos para a Igreja, vol. 2, págs. 371-372 (1869).

No ano seguinte, ela escreveu,

“Aqueles que divagam ocasionalmente para gratificar o gosto de comer


um peru engordado ou outras carnes, pervertem o apetite e não são os que
julgam os benefícios do sistema de reforma da saúde. Eles são controlados
pelo sabor, não por princípio. (…) Nenhuma manteiga ou carne de
qualquer espécie vem à minha mesa.” Ellen White, Testemunhos para
a Igreja, vol. 2. p. 487 (1870).

Porém, mais a frente Ellen White, como todo religioso, acabaria sendo
desmascarada. O Dr. Ronald Numbers depois de muito esforço conseguiu
obter junto ao White Estate cópias de cartas e outros materiais como forma
Descortinando o Adventismo – Volume I 357

de prova documental para o seu livro “Prophetess of Health” de 1976, com


exceção das duas cartas que Arthur White não quis liberar (provavelmente
porque elas seriam prejudiciais para a santa imagem de Ellen G. White). Uma
dessas cartas foi datada de 1873, apenas dois anos depois do testemunho
acima, de 1870. Nesta carta de 1873, Ellen White descreve uma viagem
de férias às Montanhas Rochosas, onde ela e sua família comiam caldo de
veado e patos selvagens:

“Um jovem da Nova Escócia havia chegado da caça. Ele tinha um quarto
de veado. Ele viajou 32 quilômetros com este veado nas costas. Ele nos
deu um pequeno pedaço de carne, que transformamos em caldo e
Willie atirou em um pato que veio em um momento de necessidade, pois
nossos suprimentos estavam diminuindo, rapidamente.” Ellen White,
Manuscrito 11, 1873; Manuscript Release 14, p. 353.

O caro leitor pode achar que nós estamos sendo muito duros com
Ellen White, por ela talvez estar passando por um momento de necessidade
e somente por isso teria se utilizado do alimento cárneo, se apresentando
assim, como uma pessoa equilibrada.

Contudo, vejamos o que diz o relatório da Conferência Bíblica


Adventistas de 1919. Que mais uma vez registrou uma das importantes
falas de A.G. Daniels, o presidente da Conferência Geral da época:

“Eu comi libras de manteiga na mesa dela e dezenas de ovos. Eu não


consigo explicar como isso acontecia em sua própria casa, e nem se
eu acredito que ela realmente acreditava que essas eram as palavras
do próprio Senhor para o mundo.” (Declaração de A.G. Daniells,
Conferência Bíblica de 1919).

A.G. Daniells conviveu com Ellen White por mais de 40 anos.

Querido leitor, essas são apenas algumas das centenas de exemplos


que mostraremos no próximo volume dessa série. Esses poucos exemplos
358 Características de uma Seita

trouxemos somente para mostrar como a própria pioneira e líder dessa


igreja não vivia o que pregava, e servia como um belo exemplo de farisaísmo
hipócrita da era cristã moderna.

Pedro, como apresentado no livro de Atos, poderia praticamente estar


falando diretamente a ela, quando disse:

“Agora, pois, por que quereis tentar a Deus, colocando sobre as costas
dos discípulos uma carga que nem nossos antepassados nem nós
mesmos conseguimos suportar?” Atos 15:10.

E ainda o próprio Jesus Cristo:

“Contudo, não façais o que eles fazem, porquanto não praticam o que
ensinam. Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos
homens. No entanto, eles próprios não se dispõem a levantar um só dedo
para movê-los. Tudo o que realizam tem como alvo serem observados
pelas pessoas.” Mateus 23:3-5

Como já deve ter ficado claro ao longo desse livro, essas regras absurdas
não são e nunca foram algo pedido por Deus ao seu povo (gentio). ELE
NÃO SE IMPORTA COM REGRINHAS DE “NÃO PODES”! Deus
quer misericórdia e não sacrifícios! (Os 6:6, Mt 9:13). Ou seja, Ele quer
que amemos uns aos outros como Ele nos amou.

Quem impõe jugos pesados as pessoas são homens religiosos inspirados


pelo diabo e não por Cristo! Pois o jugo dEle é leve e o Seu fardo é suave
(Mt 11:28-30). O que Ele busca é um relacionamento íntimo conosco e o
amor ao próximo. Nada mais do que isso! Quando se ama, não se pratica
o adultério, não se furta, etc. Mas não adianta em nada querer colocar as
regras antes do relacionamento com Ele, pois assim iremos produzir mais
uma geração de crentes frustrados, hipócritas e sem poder para resistir
ao pecado. A religiosidade de um grupo sectário, nada mais é do que
Descortinando o Adventismo – Volume I 359

uma estratégia satânica para esconder as pessoas de Deus, dentro de


suas próprias igrejas (prédios) com aparência religiosa, mas que não
possuem nenhuma essência e não ensinam o mais importante: como ter
um relacionamento verdadeiro com Deus.

Que a religiosidade caia e o Reino venha em nome de Jesus!

Análise Geral
Como pudemos ver, ao menos 14 características de uma seita podem
ser direta e claramente imputadas a IASD, e isso é incontestável. Lembrando
que não é necessário que uma igreja possua todas essas 14 características
para que possa ser oficialmente denominada “seita”. Em minha opinião se
uma congregação ou instituição religiosa apresenta uma ou mais dessas
características apresentadas, o membro que ali congrega deve apertar
imediatamente o botão do alarme de despertar, pois é bem provável que
ele esteja debaixo de um encantamento de um grupo sectário. Contudo,
devemos ser justos e aquiescer que existem algumas outras características
que muitas seitas carregam que a IASD não possui. Como por exemplo:

1. Negação da existência da pessoa do Espírito Santo como um ser


individual;

2. Negação da existência da Trindade;

3. Descrença na ressurreição corporal de Jesus;

4. Descrença na divindade de Jesus.

Os itens 3 e 4 podem ser debatidos, visto que os escritos de Ellen


White muitas vezes conflitam com a ideia de que Jesus não é o Senhor Todo
Poderoso e também o chamam de Arcanjo Miguel. O item 3 é contradito
com pelo menos um texto de Ellen White que diz que Jesus não possui
nenhuma partícula do corpo que possuía na terra, e por chamá-lo de Arcanjo,
360 Características de uma Seita

talvez possamos inferir que Ellen White acreditava que Jesus não possuía
um corpo físico, pois anjos são espíritos ministradores (Hb 1:14). É bem
provável, contudo, que ela tenha mudado de ideia sobre isso mais a frente em
seu ministério, devido à pressão pública sofrida com esse tipo de declaração.

Após uma análise mais aprofundada, portanto, concluímos que a


IASD possui características suficientes de uma seita a ponto de podermos
sem sombra de dúvidas, incluí-la nessa categoria. Muitos adventistas gostam
de citar Walter Martin (autor de Kingdom of the Cults) como fonte segura
de que eles não são um grupo sectário.

Todavia, é público que Martin mudou de posição a respeito da IASD


antes de morrer. Até por que a visita e entrevista feita por ele a um grupo
adventista, realizada em prol de coletar dados para a redação de seu livro
sobre seitas, foi invalidada por ele após a publicação de seu livro. Visto que
foi descoberto que em tal entrevista, muitas informações foram retidas
ou declaradas erroneamente de maneira proposital a fim de deter uma má
publicidade que certamente viria com a divulgação de seu livro.

Outro fator determinante para um retrato distante da realidade foi


o fato de que o grupo entrevistado na época, liderado por Le Roy Edwin
Froom, fazia parte de uma facção mais liberal da igreja. Além de não ter
sido totalmente franco com Martin nessas reuniões, Froom encabeçou um
projeto de um livro chamado “Questions on Doctrines”. O qual apresentou
uma Igreja Adventista cheia de concessões sobre as suas crenças, com o
intuito de impressionar positivamente Walter Martin e seu colega escritor
Donald Barnhouse com o intuito de receber boas críticas deles.

A estratégia da IASD era a de pintar a Igreja Adventista como uma


“igreja evangélica normal” o máximo possível, para que o mundo cristão
pudesse abrir as portas a ela e para que o seu estigma de seita cristã pudesse
ser apagado de uma vez por todas. A estratégia funcionou pelo menos por
um tempo. O problema é que a publicação do livro “Questions on Doctrines”
causou inúmeros problemas para a igreja. Isso por que o seu conteúdo foi
Descortinando o Adventismo – Volume I 361

tão distante da realidade, que gerou furor entre os membros e pastores da


igreja, os quais diziam não ter essa visão mais “evangelicalizada” de suas
crenças conforme o livro apresentou. Devido a grande repercussão negativa
dos adventistas sobre o livro, a IASD resolveu tirá-lo de circulação, contudo
somente depois da publicação do livro de Martin.

Isso deixou Martin furioso, pois provou que ele havia caído num
“golpe” religioso muito bem engenhado. Essa não foi a primeira vez que
algo do tipo ocorreu com a Igreja Adventista. Um outro respeitadíssimo
teólogo evangélico, Anthony Hoekma, já havia classificado a IASD como
seita cristã na década de 1950 com a publicação de seu livro “Four Major
Cults”. O qual incluía a IASD como uma das quatro maiores seitas não
cristãs do mundo. Diante da má publicidade desse período, os adventistas
na época decidiram reformular grande parte de suas crenças que nesse
tempo incluíam o antitrinitarianismo que era ensinado aos membros,
porém de uma forma quase que “não oficial” dentro da igreja. Mais uma vez
nessa época, grande parte de seus membros passou a acusá-los de terem se
vendido ao “Concílio das Igrejas de Cristo”, por terem se livrado de várias
de suas doutrinas mais tradicionais. Sim, a Igreja Adventista foi claramente
ariana por um longo período de tempo.

Vejamos mais uma vez o que foi dito na “SDA Bible Conference de
1919”:

“Por muito tempo, nós cremos... que Cristo foi criado, apesar do que as
Escrituras dizem.”214

E ainda Ellen White:

“O homem Cristo Jesus não era o Senhor Deus Todo-Poderoso.”215


Ellen White.

214 1919 SDA Bible Conference, pág. 62.


215 White, Ellen, Letter 32, MS 140, 1903 and SDA Bible Commentary Vol. 5 pág. 1129.
362 Características de uma Seita

Além de Anthony Hoekma, outros grandes nomes da apologética


como John Gerstner, Walter Rea, Dale Ratzlaff, Steven Hassan, Sydney
Cleveland, e o próprio assistente pessoal de Walter Martin, Paul Carden,
entre diversos outros mantêm a mesma posição de classificar a IASD como
uma seita não cristã.

Paul Carden, inclusive, recentemente uniu forças com Dale Ratzlaff


em denunciar a IASD como uma das mais maléficas seitas do mundo.
Segundo ele: “A IASD, perverte ou distorce praticamente todas as
doutrinas fundamentais do Cristianismo”.216

Diante de todas as evidências apresentadas, nós reafirmamos e


confirmamos que a IASD não somente é um grupo sectário, como também
um dos mais perigosos dentre todos eles. Isso se dá devido ao fato de que
muitas de suas doutrinas não bíblicas são sutilmente mescladas com algumas
doutrinas que de fato são biblicamente corretas, como a da trindade, a
divindade de Cristo (atualmente), etc.

Essa mescla de doutrinas e conceitos certos e errados causa grande


confusão entre os membros e até mesmo aqueles que veem a igreja de fora.
Toda essa névoa em volta da igreja encobre os grandes perigos que estão
por trás dela, tornando-a muito mais difícil de ser identificada como uma
seita por um cristão que não se aprofunda em suas pesquisas e estudos
bíblicos. Sendo assim, a nossa luta deve ser a de divulgar o máximo possível
as verdades sobre esse grupo, a fim de proteger aqueles que porventura
possam estar caindo nessa terrível armadilha satânica.

Enumeramos aqui para fins didáticos, todas as 14 características


sectárias que são preenchidas pela IASD:

216 Seminário “The Apostolic Imperative and International Adventist Challenge” no Former Adventist
Fellowship Conference em Redland, California em 24 de Julho de 2012.
Descortinando o Adventismo – Volume I 363

1. Seitas Idolatram o seu Líder terreno;

2. Seitas criam doutrinas em cima de revelações extrabíblicas que


alegam terem sido dadas por Deus exclusivamente a elas;

3. Seitas se autointitulam como “O povo escolhido” ou “A Igreja


Remanescente”;

4. Abuso Espiritual, Emocional, Financeiro e em algumas


situações, Sexual;

5. Não se sustentam no princípio da Sola Scriptura;

6. Mania de perseguição – “O mundo nos persegue porque nós


possuímos a verdade”;

7. Um Falso Evangelho e um Cristianismo Defeituoso;

8. Seitas invariavelmente possuem um falso profeta que se diz


falar diretamente com Deus, e que por Sua vez revela segredos
exclusivos e completamente novos a ele (a);

9. Proíbem Questionamentos: “Não questione os nossos


Ensinamentos”;

10. Uma intepretação segmentada das Escrituras;

11. Complexo Messiânico: “Nós somos a última esperança para esse


mundo caído”;

12. Uma imagem distorcida e muitas vezes diminuída de Jesus


Cristo;

13. Membros de seitas inicialmente forçam uma amizade artificial


para segurar o novo membro naquele local;

14. Legalismo e a Hipocrisia de uma Imagem perfeccionista


Religiosa.
Capítulo 6
A Tricotomia do Ser e
o Estado dos Mortos

“Jesus lhe respondeu: Eu lhe garanto:


Hoje você estará comigo no paraíso”.
Lucas 23:43

E
sse último e importante capítulo provavelmente irá assustar o
leitor, seja ele quem for. Explico. Caso o caro leitor seja adventista,
ele será confrontado com verdades bíblicas que provavelmente
nunca passaram em seu radar. Exatamente porque a IASD, após anos de
experiência, aprendeu como habilmente manipular os seus membros em
fazê-los se focar em apenas alguns versos que sustentam as suas doutrinas.
Enquanto outros textos importantíssimos são deixados de lado, ou então
lidos de uma forma tão rápida e desinteressante que fogem a atenção do
hipnotizado coletivo adventista.

Agora, caso o leitor seja um cristão evangélico, ou mesmo alguém de


alguma outra religião, se prepare para conhecer algumas das doutrinas mais
estranhas do Adventismo. Entre elas estão a chamada doutrina do “Sono da
366 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Alma” que é diretamente ligada a outras duas crenças muito sui generis. A
crença do chamado “Aniquilacionismo” e a da “Dicotomia do Ser”. Tudo isso
também está diretamente ligado a visão de “Céu” e “Inferno” dessa instituição.

Ao longo desse interessante capítulo, iremos primeiro estabelecer


claramente as características e pontos principais dessas doutrinas. Na
sequência iremos dissecá-las, rastreando as suas origens e explicando os
motivos pessoais que levaram esse grupo a crer dessa forma. E, por último,
verificar se elas possuem ou não base bíblica sólida para se sustentarem no
princípio protestante da Sola Scriptura.

Crença fundamental adventista 26: Morte e Ressurreição

“O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é imortal,


concederá vida eterna a Seus remidos. Até aquele dia, a morte é um
estado inconsciente para todas as pessoas.”217

Vamos tentar explicar em maiores detalhes o que exatamente diz essa


doutrina adventista:

A crença fundamental de número 26 da IASD define que o corpo e a


alma humana são indivisíveis. O corpo não pode existir sem uma alma e uma
alma não pode existir sem um corpo. Eles são inseparáveis e completamente
interdependentes. O espírito nada mais é do que um “sopro” que veio de
Deus. Portanto o homem seria formado apenas de corpo e alma (Doutrina
da Dicotomia do ser). Logo, quando alguém morre, o seu fôlego de vida (o
que dá animação ou vida ao corpo) se esvai e “volta para Deus”. O espírito
e a alma, portanto, já não existem mais, a não ser na memória de Deus,
até que venha a ressurreição. Essa pessoa, então, espera como se estivesse
“dormindo” (Doutrina do “Sono da Alma”) até que Deus o ressuscite.

217 Ver: https://biblia.com.br/perguntas-biblicas/as-28-crencas-fundamentais-da-igreja-adventista-do-setimo-dia/


Descortinando o Adventismo – Volume I 367

No momento da ressurreição, os adventistas ensinam que Deus recria


o indivíduo com um corpo imortal e o anima novamente com o fôlego de
vida (que é o conceito adventista de “espírito”). Ele, então, coloca nesse
corpo a mesma mente e personalidade que a pessoa tinha antes de morrer, e
ela volta a vida. Basicamente, o molde da pessoa que morreu e que após isso
só existia na mente de Deus, é colocada novamente nesse novo corpo e por
isso os mesmos pensamentos e também o seu caráter, são recriados.

A teologia adventista ainda afirma, conforme já vimos extensivamente


no capítulo sobre o “juízo investigativo”, que antes da segunda vinda de
Cristo (porém somente a partir de 22 de outubro de 1844) aqueles que
já morreram entram em juízo (investigativo) a fim de definir se eles serão
salvos ou se irão se perder. Finalmente, aqueles que estão vivos serão
também julgados a respeito do seu destino final. Quando o destino de
todos é determinado, a “porta da graça” se fecha e a partir daí ninguém mais
pode se salvar. Os salvos ficarão então, por algum tempo, “sem nenhum
intercessor” diante dos perscrutadores olhos divinos do Deus vivo! E para
tanto, precisarão ser perfeitos, sem nenhum pecado, seja em pensamento,
ato ou omissão (imaginemos por um minuto como de fato isso seria)!

Jesus, então, volta à Terra e os justos que estão mortos são ressuscitados
na chamada “primeira ressurreição”. Juntamente com os justos vivos eles
receberão corpos imortais, que por sua vez receberão almas imortais
(imortalidade condicional), que então são levados ao céu. Eles ficarão lá
com Cristo por mil anos e nesse momento se juntarão a Ele com o intuito
de julgar os ímpios. E nesse período, a Terra estará desolada e ocupada
somente por Satanás e seus anjos.

No fim do milênio, os justos voltam à Terra junto com a Cidade Santa.


Aqui, os ímpios ressuscitarão com os seus antigos corpos e se unirão a
Satanás e seus demônios que cercarão a Cidade Santa com a finalidade de
atacá-la e conquistá-la. Mas fogo descerá do céu e impedirá os planos do
inimigo que então será lançado no lago de fogo, junto com todos os ímpios.
368 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Finalmente, os pecados de toda a humanidade são lançados em cima de


Satanás que queimará no lago de fogo mais do que todos os outros ímpios.
Cada indivíduo queimará de acordo com os seus pecados cometidos na
terra, contudo, no fim, todos os ímpios serão aniquilados (doutrina do
Aniquilacionismo).

Origens da doutrina do “Sono da Alma” e do


“Aniquilacionismo” na IASD
Interessante notarmos que há apenas três grupos cristãos de uma certa
relevância que acreditam na doutrina da “Mortalidade da Alma” ou “Sono
da Alma” como chamam alguns. São eles: os “Adventistas do Sétimo Dia”,
as “Testemunhas de Jeová” e a “Congregação Cristã no Brasil”.

Já a doutrina do “Aniquilacionismo” surgiu primeiramente no quarto


século num livro de Arnóbio de Sica que foi condenado como herético
no Segundo Concílio de Constantinopla em 553 D.C. No século XIX
os EUA viram essa ideia ressurgir em pequenos grupos religiosos com os
“Adventistas do Sétimo Dia” e as “Testemunhas de Jeová”. 218

Os Mórmons e os Menonitas também acreditam nessa doutrina.


Podemos notar com isso que todos os grupos que foram mencionados até
agora, estão interligados por um certo “ar sectário”.

Mas como foi, então, que essas doutrinas do “Sono da Alma” e do


“Aniquilacionismo” adentraram de fato na IASD? Como já mencionado
brevemente num capítulo anterior, tudo começou através de um pregador
Metodista chamado George Storrs que, após ler um panfleto escrito por
outro pregador chamado Henry Grew, acabou convencido de que essa
doutrina fazia sentido. Henry era um pregador Batista que acabou tendo
que sair de sua igreja por ela não concordar com as suas novas ideias.

218 Zondervan, Morgan & others, Hell Under Fire: Modern Scholarship Reinvents Eternal Punishment,
pág. 197.
Descortinando o Adventismo – Volume I 369

Storrs foi atraído por essas doutrinas por achar que elas melhor
refletiam o conceito da misericórdia de Deus. Ele, então, decidiu escrever o
seu próprio informativo, acompanhado por outros seis sermões publicados
em 1841. George resolveu, após isso, distribuir mais de 200 mil cópias de
seu panfleto e logo em seguida se uniu ao movimento Millerita, onde serviu
como pregador e colaborador do movimento. Ele tinha muito poder de
convencimento e, portanto, converteu diversos Mileritas a essas suas ideias.

Um fato interessante é que o próprio William Miller nunca aceitou a


doutrina da mortalidade da alma e publicamente a rechaçou. Contudo Ellen
White, James White e Joseph Bates quando racharam com o grupo de Miller,
obrigatoriamente abraçaram a ideia do “Sono da Alma”, exatamente por
precisarem dela a fim de fazer funcionar a doutrina do “Juízo Investigativo”.

Afinal de contas era necessário que as pessoas ficassem em um estado


intermediário (nesse caso de “sono” profundo) para que Deus não tivesse
um sério problema de logística no céu. Seria no mínimo constrangedor,
retirar Adão de um local tão bom como o céu e enviá-lo para o inferno após
uma pesquisa mais apurada de sua vida feita por Jesus em sua “Investigação”
iniciada em 1844. Após terem assimilado e vendido a doutrina do “Sono da
Alma” para os seus seguidores, a doutrina do “Aniquilacionismo” foi fácil
de ser incluída no pacote. Se um indivíduo poderia ficar num ínterim de
“não existência” entre a morte e a ressurreição, por que não poderiam deixar
de existir mais uma vez (e definitivamente) depois da segunda morte?

O fato é que Ellen White e os pioneiros adventistas acreditavam em


céu, inferno e na imortalidade da alma até se virem obrigados a mudarem
de ideia, com o objetivo de implementar a sua estranha nova cadeia de
doutrinas sobre os seus seguidores. Uma das provas de que ela tinha outras
crenças sobre isso está em um de seus próprios livros:

“Eu ouvi essas novas ideias com um intenso e doloroso interesse. Quando
estava sozinha com minha mãe, perguntei se ela realmente acreditava
370 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

que a alma não era imortal. Sua resposta foi que ela temia que tivéssemos
cometido um erro nesse assunto, assim como em alguns outros.

‘Mas, mãe’, disse eu, ‘você realmente acredita que a alma dorme na
sepultura até a ressurreição? Você acha que o cristão, quando morre,
não vai imediatamente para o céu, nem o pecador para o inferno’?”

Ela respondeu: “A Bíblia não nos dá nenhuma prova de que existe um


inferno eternamente ardente. Se existe um lugar assim, isso deve ser
mencionado no Livro Sagrado”.

“Ora mãe! gritei eu, espantada: ‘Isso é uma conversa estranha para você! Se
você acredita nessa teoria estranha, não deixe ninguém saber disso’.” 219

Ellen White não somente conseguiu incorporar essa doutrina entre


os adventistas sem levantar suspeitas de que ela o fez para poder amarrar
as pontas soltas da doutrina do “Juízo Investigativo”, ela ainda conseguiu
vendê-la com um ar de superioridade imputada aos Adventistas pelo
próprio Deus. Como se Ele tivesse feito essa revelação especial a eles, por
tê-los em Seu coração como um povo separado por Ele para receber tal luz!
Definitivamente, o Adventismo não é para amadores! Nós estamos falando
aqui de um jogo de xadrez, de alto nível, criado pelo inimigo e aceito por
muitos como verdade absoluta, com uma roupagem de “nova revelação”
dada a Ellen White, para os nossos dias.

**Uma pequena pausa**

Ao escrever as linhas desse último capítulo do livro, eu confesso ao


leitor que é palpável a luta diária e a opressão que sinto ao redigir esses
textos. Todo esse livro foi feito debaixo de muita oração, jejum, suor e grande
batalha espiritual. Contudo, nesse capítulo em específico a luta foi elevada
exponencialmente. Isso ocorre, certamente, pelo fato de que estamos prestes

219 White, Ellen, Life Sketches, págs. 49, 50.


Descortinando o Adventismo – Volume I 371

a desmascarar algo de grande importância dentro dessa falsa religião. Nas


próximas páginas nós iremos mostrar por que esse ensino em particular,
impede milhões de pessoas de ter um relacionamento mais íntimo com o
Espírito Santo. Se você é adventista, se prepare para uma guerra que será
travada no seu ambiente espiritual e na sua vida a partir de agora.

O seu telefone vai tocar, o sono vai bater, a tua capacidade de foco vai
diminuir, enfim, a guerra vai aumentar de nível. Aconselho o irmão adventista
que pare e ore por no mínimo 10 minutos e somente depois dê sequência
nos textos que iremos apresentar a você. Ore por clareza de pensamento e
por uma proteção especial do Senhor, para que nós possamos descortinar
mais um grande falso ensinamento que foi passado a você até os dias de hoje.
Prepare-se pra guerra, e para grandes surpresas que te levarão a outros lugares
em Deus que até então você não sabia (ou não acreditava) que existiam!

**Fim da pausa**

A seguir mostraremos alguns exemplos de como Ellen White,


estrategicamente, incutia grande medo em seus seguidores. Com o intuito
de fazê-los descartar imediatamente qualquer tipo de pensamento ou
influência que pudesse levantar a mínima suspeita a respeito da veracidade
do ensino da doutrina do “Sono” ou “Mortalidade da Alma”:

“Todas as espécies de ilusões estão agora sendo trazidas. As verdades mais


claras da Palavra de Deus são cobertas por uma massa de teorias feitas pelo
homem. Erros mortais são apresentados como a verdade à qual todos devem
se curvar. A simplicidade da verdadeira piedade está enterrada sob tradições.

A doutrina da imortalidade da alma é um erro com o qual o inimigo


está enganando o homem. Este erro é quase universal.

Essa é uma das mentiras forjadas na sinagoga do inimigo, um dos


rascunhos venenosos da Babilônia.”220

220 White, Ellen, Evangelismo, pág. 247.


372 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“Mediante os dois grandes erros – a imortalidade da alma e a santidade


do domingo – Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto
o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço
de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão
os primeiros a estender as mãos através do abismo para apanhar a
mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao
poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as
pegadas de Roma, desprezando os direitos da consciência.”

“Imitando mais de perto o cristianismo nominal da época, o espiritismo


tem maior poder para enganar e enredar. O próprio Satanás está
convertido, conforme a nova ordem de coisas. Ele aparecerá no aspecto
de anjo de luz. Mediante a agência do espiritismo, operar-se-ão
prodígios, os doentes serão curados, e se efetuarão muitas e inegáveis
maravilhas. E, como os espíritos professarão fé na Escritura Sagrada,
e demonstrarão respeito pelas instituições da igreja, sua obra será
aceita como manifestação do poder divino.” 221

Esse tipo de ensinamento lançou a Igreja Adventista para a Idade


Média da era cristã. Sem acesso aos dons do Espírito Santo, principalmente
ao dom de discernimento de espíritos, o ingênuo povo adventista foi
forçado a lançar fora o “bebê junto com a água suja da bacia” como diz um
ditado americano. Pelo medo de ser enganado pelo diabo, qualquer tipo de
manifestação sobrenatural foi relegada como sendo algo do “inimigo”. O
que fez com que toda a congregação mundial adventista ficasse “nivelada por
baixo”, como eternos bebês espirituais, sendo alimentados continuamente
no leite, numa eterna marcha lenta cristã, sem a esperança de crescer como
varões adultos no Reino de Deus.

Podemos notar também como Ellen, de maneira muito sagaz, confunde


o membro adventista misturando os conceitos de manifestações sobrenaturais

221 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 588.


Descortinando o Adventismo – Volume I 373

com o “espiritismo” e com a noção da “Imortalidade da Alma”. Ou seja, se


houvesse alguma manifestação de cura ou qualquer tipo de ação sobrenatural
numa igreja, mesmo que ela tivesse sido feita legitimamente pelo Espírito
Santo, o crente adventista havia passado tanto tempo sendo martelado pelos
falsos ensinamentos de Ellen White que ele imediatamente iria configurar
tal acontecimento como sendo “do diabo”. E esse é um fato incontestável,
pois foi assim que eu fui ensinado e era exatamente assim que eu pensava.

Eu passei muitos anos, todos os que eu estive dentro da IASD, sem


conhecer absolutamente nada do poder de Deus. Das maravilhosas e
impressionantes operações dos dons do Espírito Santo, de curas, revelações,
profecias, etc. Tudo por que eu havia sido ensinado a pensar que tudo isso
vinha do diabo. Afinal, todas as outras igrejas protestantes eram “apóstatas”,
pois os seus membros “guardavam o domingo” (na verdade só iam na igreja
no domingo, nenhuma delas de fato guardava o domingo como dia sagrado)
e acreditavam na “Imortalidade da Alma” logo, era o próprio Satanás que as
comandava. E ai de quem quisesse refutar isso (pensava eu)! Estava sendo
usado pelo inimigo para me enganar! E é exatamente assim que todos os
membros dessa instituição são manipulados a pensar.

Essas doutrinas, portanto, são umas das maiores responsáveis pela


grande bolha de ignorância religiosa que se tornou a Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Contudo, note caro leitor, como a igreja alega que esses mesmos
dons do Espírito Santo que ela denunciava como sendo manifestações do
inimigo, “atuavam fortemente” na vida da própria Ellen White. Ou seja, até
Ellen White os dons funcionavam. Depois dela, tudo era do inimigo.
Interessante não? Ellen conseguiu até mesmo eliminar qualquer tipo de
concorrência interna dentro de sua igreja. Vejam como nenhum outro
“profeta” surgiu depois dela na IASD. A maneira com que ela subjugou
espiritualmente, milhões de adeptos, é de fato muito impressionante.

Contudo, esse tipo de caso é muito comum em seitas, como vimos no


capítulo anterior. O falso profeta primeiro lança o medo em seus membros.
374 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Depois, os isola de qualquer contato com pessoas de fora. E finalmente,


elimina qualquer concorrência interna. É uma estratégia brilhantemente
satânica. E funciona muito bem. Vejamos no próximo texto, como ela
conseguiu aliar a essa sopa de heresias, a doutrina do sábado:

“Vi que os santos precisam alcançar completa compreensão da verdade


presente, a qual serão obrigados a sustentar pelas Escrituras. Precisam
compreender o estado dos mortos; pois os espíritos de demônios lhes
aparecerão, pretendendo ser amigos e parentes amados, os quais lhes
declararão que o sábado foi mudado, bem como outras doutrinas não
escriturísticas. Eles farão tudo ao seu alcance para despertar simpatia e
operarão milagres diante deles para confirmar o que declaram.

O povo de Deus deve estar preparado para enfrentar esses espíritos com
a verdade bíblica, segundo a qual, os mortos não sabem coisa nenhuma,
e que aqueles que lhes aparecem são espíritos de demônios. Não deve a
nossa mente ser absorvida com as coisas ao nosso redor, mas ocupar-se com
a verdade presente e o preparo para dar a razão de nossa esperança com
mansidão e temor. Devemos buscar sabedoria do alto a fim de podermos
estar firmes nestes dias de erro e engano.

Vi a rapidez com que este engano se propagava. Foi-me mostrado um


comboio, avançando com a velocidade do relâmpago. O anjo ordenou-me
olhar cuidadosamente. Fixei os olhos nesse trem. Parecia que o mundo
inteiro ia embarcado nele, que não faltava ninguém. Disse o anjo: ‘Eles
estão se reunindo em feixes, prontos para serem queimados’.

Mostrou-me então o chefe do trem, uma pessoa formosa e imponente,


para quem todos os passageiros olhavam e a quem reverenciavam. Fiquei
perplexa e perguntei a meu anjo assistente quem era. Disse ele: ‘É Satanás.
Ele é o chefe na forma de um anjo de luz. Ele leva cativo o mundo. Eles
se entregaram à operação do erro a fim de crerem na mentira e serem
condenados. O seu mais elevado agente abaixo dele, pela sua categoria,
é o maquinista, e outros dos seus agentes estão empregados em diferentes
Descortinando o Adventismo – Volume I 375

cargos conforme deles necessita, e todos vão indo para a perdição, com
a velocidade do relâmpago’.”222

Querido leitor, a partir de agora nós entraremos no estudo a respeito


do estado dos mortos de uma maneira mais aprofundada. Até agora, o que
foi mostrado aqui para o tradicional membro adventista, nada mais é do
que a mais profunda verdade bíblica, que foi apenas mais “mastigada” por
Ellen White para que pudéssemos entender com mais clareza. Já para o
cristão evangélico de qualquer outra denominação (com exceção das já
universalmente classificadas como seitas) todos esses ensinos teológicos da
Sra. White são heresias tão absurdas a ponto de não serem nem ao menos
levadas a sério. Nós já havíamos apontado que esse contraste de reações
entre os leitores existiria, como existiu ao longo de praticamente todo o
conteúdo exposto neste livro.

Porém, como o nosso objetivo é expor e desmentir histórica e


biblicamente todas as falsas doutrinas dessa igreja – e pelo fato de termos
o maior respeito e amor por todos os sinceros membros adventistas que
vem sendo, por anos, enganados por essa instituição, como eu mesmo fui
– nós iremos dar sequência a um detalhado estudo a respeito do estado dos
mortos e sobre a tricotomia (ou dicotomia?) do ser.

Agora, se por um acaso, nós formos bem-sucedidos em desmentir o


que foi dito por Ellen White nas declarações acima, isso irá acarretar sérias
implicações sobre essas visões que ela alega ter tido como vindas de Deus (ou
um anjo?). Se, de fato, tudo isso não passa de um grande engano ensinado
por ela, e perpetuado ao longo dos anos por gerações de dirigentes, pastores e
por consequência, gerações de membros adventistas, quem foi o verdadeiro
responsável por mostrar essa visão a Ellen? Qual seria o real espírito por
detrás de tudo isso? Quem teria tanto interesse em fazer com que todas
essas pessoas descartassem legítimas manifestações do poder do Espírito

222 White, Ellen, Primeiros Escritos, págs. 263, 264.


376 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Santo como sendo algo demoníaco? Nós pedimos ao leitor que guarde esse
pensamento para depois refletir sobre ele, após o término de nosso estudo.

Para fins didáticos, iremos nos referir a doutrina da “Mortalidade da


Alma” ou “Sono da Alma”, apenas como “Sono da Alma” por ser um termo
mais aceito mundialmente.

Poderia a doutrina do “Sono da Alma” ser


sustentada unicamente pela Bíblia (Sola Scriptura)?
De acordo com o que vimos até o momento nesse capítulo a respeito
do estado dos mortos, iremos resumir abaixo, os conceitos de “Sono da
Alma” ensinados pela IASD. E a partir daí entraremos num estudo bíblico
sobre a imortalidade da alma e a tricotomia do ser:

• O sono da alma, a imortalidade condicional, a dicotomia do ser


e o aniquilacionismo são quatro doutrinas adventistas que estão
diretamente conectadas e interligadas;
• O “Sono da Alma” é uma crença adventista que diz que entre a morte
e a ressurreição de um indivíduo, seja ele ímpio ou justo, tal pessoa não
possui qualquer tipo de consciência e vive numa espécie de “limbo”
intermediário, num estranho estado de “não existência” dormente;
• A “Imortalidade Condicional” é uma crença adventista que diz que
aqueles que forem salvos alcançarão a vida eterna somente após a
ressurreição (com exceção dos justos que estiverem vivos na volta de
Cristo). Enquanto que os ímpios serão queimados no lago de fogo
e após um tempo (que irá variar de acordo com cada ímpio), eles
serão exterminados permanentemente e eternamente, assim como
o diabo e os seus anjos;
• Os três (principais) grupos religiosos que pregam a respeito do
“Sono da Alma” são: Adventistas do Sétimo Dia, Testemunhas de
Jeová e Congregação Cristã do Brasil (Igreja “do véu”);
Descortinando o Adventismo – Volume I 377

• George Storss leu a respeito da doutrina do sono da alma em um


panfleto escrito pelo então diácono batista, Henry Grew, e a partir
daí escreveu e divulgou de uma forma mais ampliada esse ensino;
• Storss se tornou um Milerita, e com grande capacidade de
convencimento converteu a muitos Mileritas, que passaram a crer
nessa doutrina;
• William Miller não aceitou tal doutrina, contudo Joseph Bates,
Ellen White, James White e Charles Taze Russel decidiram
incorporá-la em seu repertório de crenças;
• Ellen White acreditava que a guarda do Domingo e a crença na
imortalidade da alma seriam os dois grandes erros, pelos quais
Satanás iria atrair e enganar grande parte da população mundial;
• A IASD ensina que aqueles, que não acreditarem na doutrina do
“Sono da Alma”, serão conduzidos pelo inimigo ao ocultismo e ao
espiritismo;
• Um dos grandes medos produzidos por Ellen White no povo
adventista, é que aquele que não acreditasse na doutrina do “Sono
da Alma” seria enganado por demônios que personificariam
parentes falecidos que tentariam convencê-los de que a guarda do
sábado havia sido mudada para o domingo;
• A IASD possui a doutrina do “Sono da Alma” como uma de suas 28
doutrinas fundamentais.

A Tricotomia do Ser – Somos feitos de


Corpo, Alma e Espírito?
Ao longo dos quase 10 anos em que estive dentro da IASD como
membro ativo – na verdade quase 25 anos se eu contar a minha época de
criança indo à igreja, estudando em colégio adventista, internato (sim, fui
brevemente aluno interno do IASP), adolescente acompanhando meus
378 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

avós aos cultos, etc. – eu constantemente ouvia versículos bíblicos que,


juntamente com os escritos de Ellen White, haviam colocado para mim um
ponto final quanto a questão do estado dos mortos.

São eles:

“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a
sua memória ficou entregue ao esquecimento.” Eclesiastes 9:5

“E o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o


deu.” Eclesiastes 12:7

“Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim
também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.”
Ezequiel 18:4

Com todo o medo constantemente aplicado por hábeis pregadores e


por aqueles a quem eu mais confiava (a minha própria família), eu é que
não me atreveria a desafiar tais ensinos. Uma vez que esses eram ensinos
apresentados pela própria “Mensageira do Senhor”, a boca de Deus nessa
terra! Quem era eu para refutar essas doutrinas? De qualquer maneira eu não
tinha a menor habilidade com a Bíblia. O máximo que fazia era memorizar
um versículo para recitar nos cultos familiares no pôr do sol de sexta para
sábado e de sábado para domingo, para deixar meus parentes orgulhosos de
meu desempenho religioso. Fora isso, meu foco estava em outras coisas.

A parte espiritual já estava mais do que resolvida em minha mente.


Afinal, eu havia dado a tremenda sorte de ter nascido numa família que fazia
parte da “Igreja Verdadeira” ou “Remanescente” de Deus nesse mundo!
Que sorte a minha não é mesmo? Assim como os meus parentes eu deveria
ter sido escolhido a dedo por Deus para ser salvo! Confesso que era um
pensamento (Calvinista?) que às vezes me passava pela cabeça. Talvez pelo
orgulho exclusivista que é reiteradamente pregado na IASD. Esse é, aliás,
Descortinando o Adventismo – Volume I 379

um dos grandes “anzóis” que fisgam e prendem as pessoas nessa igreja. Todo
mundo que está lá, ama ser chamado de “escolhido por Deus” e parte da
“igreja remanescente”. Essas pessoas, ingenuamente nem notam que estão
sendo manipuladas por antigas estratégias sectárias. E assim, doam a sua
vida, o seu tempo, e tudo o que tem, para permanecer ouvindo palavras
lindas e... falsas.

Não que Deus não escolha e chame pessoas para trabalhar pra Ele. Isso
de fato ocorre. O problema está na tática do orgulho exclusivista de “única
igreja verdadeira de Deus”, a “Igreja Remanescente”, etc. Essas são estratégias
comumente usadas por seitas como já apresentado extensivamente no
capítulo anterior.

Voltando aos versos bíblicos usados pela IASD para sustentar a sua
doutrina do sono da alma, algo que eu não havia me dado conta na época
era de que todos esses versos faziam parte do Antigo Testamento, escritos
antes da revelação do evangelho e da vida de Jesus Cristo, sua ressurreição
e a demonstração da salvação da humanidade através dEle. Além disso, as
cartas de Paulo ainda não haviam sido escritas, de onde grande parte do
que sabemos hoje a respeito do mundo espiritual, a estrutura do nosso ser
e do nosso papel como gentios, veio à tona. Como sabemos, a luz bíblica
é progressiva. E é exatamente por isso que o Senhor nos Deus 66 livros e
não 39 (Antigo Testamento) para podermos entender melhor quem somos,
para onde vamos, e qual é o nosso papel e propósito aqui nessa Terra.

Além de tudo isso, eu nunca havia tentado entender o contexto de


cada um desses versos. Será que eles realmente diziam o que essa igreja me
levava a crer?

A estratégia de grupos sectários é sempre a mesma. Escolher somente


alguns esparsos textos bíblicos fora de contexto, para sustentar as suas teses
extrabíblicas, e ignorar ou distorcer os demais textos das Escrituras que
os confrontam. Dessa forma, eles conservam a sua máquina religiosa viva
e os seus discípulos “na linha”, sem muitos problemas. Não só isso, como
380 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

colocam esses mesmos membros para defender as suas falsas doutrinas, os


quais o fazem de forma gratuita.

O religioso sectário é normalmente um dos mais impiedosos, cruéis


e ferozes críticos daqueles que atacam a sua religiosidade. São os fariseus
dos nossos dias. Quando visto de fora, pelo não crente, os ataques verbais
ad hominem feitos por esses membros a pessoas de outras igrejas, saltam
aos olhos como sendo algo terrivelmente diabólico (porque de fato é!). As
consequências disso, além de serem bastante graves no mundo espiritual,
no mundo natural fazem com que os que estão de fora decidam por nunca
almejarem fazer parte desse ambiente de total ignorância e de grandes trevas
espirituais. É algo, definitivamente, triste e maléfico para praticamente
todos os envolvidos. Só quem ganha nesse jogo é o diabo.

O espírito do homem não é o seu “fôlego de vida”

Para que o castelo de areia doutrinário da IASD funcione, ela precisa


convencer os seus membros de que toda vez que a Bíblia utiliza a palavra
“espírito” referente ao homem, ela obrigatoriamente significa “fôlego de
vida”. Essa fraca teoria, contudo, carece de base bíblica e simplesmente não
apresenta qualquer sentido lógico/hermenêutico.

A palavra hebraica utilizada para “espírito” é “ruach”, e no grego ela


se traduz por “pneuma”. Em algumas outras vezes, no Velho Testamento, a
palavra “nashama” também é usada com o significado de “espírito”. Assim
como na língua portuguesa, o contexto da frase irá denotar o significado de
uma palavra específica.

Peguemos, por exemplo, a palavra “luz” no português. O contexto da


frase servirá para sabermos qual significado o autor da frase quis aplicar a
palavra em questão:
Descortinando o Adventismo – Volume I 381

Exemplo 1: Cortaram a luz do vizinho;


Significado da palavra “luz”: energia elétrica.

Exemplo 2: Minha irmã acabou de dar à luz e está aguardando,


no hospital, a visita da nossa família;
Significado da palavra “luz”: parir.

Exemplo 3: A investigação policial trouxe luz ao caso;


Significado da palavra “luz”: esclarecimento.

O hebraico e o grego, assim como o português, também necessitam


de uma análise de contexto para que o significado correto de cada palavra
seja aplicado. E quando o estudante da Bíblia não se aprofunda no
contexto bíblico de cada verso apresentado por seu pastor ou mestre, ele
invariavelmente será enganado.

Lembrando que muitas vezes, nem mesmo os próprios pastores ou


professores sabem que foram enganados no passado e ignoram que estejam,
mesmo que de maneira inconsciente, repassando esse mesmo engano
a outras pessoas. Eu diria que um número de algo em torno de 90% das
pessoas que estão em uma seita, não tem a menor ideia de que de fato estão
perpetuando um engano. Os outros 10% ou fazem parte da diretoria que
sabe que estão no erro, mas conscientemente por ganância ou por poder
permanecem em suas posições, ou são pastores que apesar de saberem que
estão errados não querem abrir mão de seu emprego e da sua plataforma
religiosa, evitam arranjar problemas com amigos e parentes, enfim,
continuam ensinando o erro por comodidade.

Vejamos o contexto de alguns versos que falam sobre o “espírito” do


homem. Primeiramente em hebraico, no Antigo Testamento:

“A luz do Senhor penetra o espírito humano e revela todas as intenções


ocultas”. Provérbios 20:27
382 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

A palavra hebraica utilizada aqui por Salomão foi “nashama” que em


algumas vezes pode de fato ser traduzida por “fôlego de vida” no hebraico,
dependendo de seu contexto. Contudo, nesse caso, ela definitivamente não
faria qualquer sentido, caso fosse traduzida dessa forma.

Façamos a prova:

“A luz do Senhor penetra o fôlego de vida humano e revela todas as


intenções ocultas”. Provérbios 20:27

Essa obviamente, não foi a intenção do autor ao escrever esse verso. A luz
do Senhor penetra muito mais do que um simples “ar” que se encontra nos
pulmões do ser humano, para que possa revelar todas as suas intenções ocultas.

Analisemos mais um exemplo do Velho Testamento:

“Contudo, há um espírito dentro de cada um, o sopro do Todo-


poderoso, que lhe dá entendimento.” Jó 32:8

Esse verso foi selecionado propositalmente, pois ele nos ajudará a


entender um outro verso comumente usado pelo Adventismo. Gênesis 2:7:
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o
fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.”.

No caso do versículo do livro de Jó, o autor nos traz mais luz ao conceito
de “espírito” do homem, sendo a parte mais profunda do ser humano, a que
nos dá sabedoria, entendimento e discernimento espiritual. Jó deixa claro
que quando Deus sopra algo dentro de nós, Ele esta nos trazendo algo muito
maior do que apenas oxigênio, fôlego, ar ou vento. O que Ele nos transfere é a
nossa camada mais profunda, a espiritual, e que quando nós nos convertemos,
é a parte responsável por se comunicar diretamente com o Espírito Santo.

Analisemos agora, com um pouco mais de entendimento, o que diz


Gênesis 2:7:
Descortinando o Adventismo – Volume I 383

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas


narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.”

Nós agora já sabemos que quando Deus soprou nas narinas de Adão,
algo muito maior e mais complexo do que um simples “fôlego de vida”,
adentrou o corpo de Adão. O espírito de Adão, que já existia dentro do
Pai, passou a existir agora dentro de um corpo físico, fora do Pai, e Adão se
tornou uma “alma vivente”.

Talvez tudo isso que está sendo revelado seja um pouco demais para
o irmão adventista que está lendo essas linhas. Eu peço ao amigo leitor
que tenha muita paciência e permaneça firme nessa leitura até o fim. No
final desse capítulo, tudo irá fazer muito mais sentido a você. Nesse exato
momento o caro leitor deve estar já se lembrando das ameaças de Ellen
White, e de como nenhum adventista deveria dar ouvidos a nenhuma
doutrina que desafiasse o argumento do “Sono da Alma”, pois seria uma
tática do inimigo, etc. Eu sei exatamente pelo que você está passando
porque eu também já passei por isso.

Contudo, como já fizemos ao longo de todo esse livro, e creio eu que,


pelo poder do Espírito Santo, com certo grau de competência, nós iremos
desmascarar mais uma vez uma outra grande mentira perpetuada por Ellen
White e sua trupe. Mentira essa que tem impedido você de entender quem
você é, e por consequência, quem o nosso próprio Deus seja. Porque quando
nós entendemos melhor quem somos, nós entendemos melhor quem é o
nosso Criador e vice-versa.

Continuando a análise de Gênesis 2:7.

Mas afinal, o adventista está certo ou não ao utilizar esse verso para
dizer que somos apenas “alma vivente” e não “corpo, alma e espírito”?

A resposta é: uma definição não elimina a outra. Adão se tornou alma


vivente quando Deus lhe soprou o Seu “sopro divino” de vida – “espírito”
384 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

ou “nashama” – e então Adão se tornou alma vivente, sim. Mas isso em


nenhum momento anula o fato de Adão ser também, nesse momento, um
espírito que tinha uma “alma vivente” dentro de um corpo “vivo”. Ambas
as definições estão corretas. O autor de Gênesis apenas enfatizou o fato de
que Adão acabara de nascer nesse mundo físico, e pra isso utilizou o termo
“alma (nephesh) vivente”.

Vamos tentar explicar isso um pouco melhor, para que não haja mais
dúvidas com relação a esse versículo. Quando o “sopro” de Deus entrou
no corpo do homem, ele se tornou o “espírito” do homem. Mas quando
o espírito reagiu com o corpo, a alma foi produzida. A expressão usada
“formou o homem do pó da Terra” refere-se ao corpo do homem; “soprou
em suas narinas o fôlego de vida” refere-se ao espírito do homem conforme
ele veio de Deus; e o “homem tornou-se alma vivente” refere-se a alma do
homem reagindo ao corpo que foi vivificado pelo espírito e levado a ser um
homem vivo e consciente de si mesmo.

O homem completo é uma trindade, composto de corpo, alma e


espírito. E isso é um simbolismo da própria Trindade Divina. O corpo
sendo representado por Cristo, a alma sendo representada pelo Espírito
Santo e o espírito que representa o Pai que é Espírito, e também o Ser que
representa a parte mais profunda do nosso relacionamento com a Trindade.
A estrutura do homem também é um simbolismo das divisões do santuário
terrestre. O pátio externo representa a parte mais externa do nosso ser,
o corpo. O Lugar Santo, a alma e o Lugar Santíssimo, o nosso espírito.
De acordo com Gênesis 2:7 o homem foi feito apenas de dois elementos
independentes: o corpóreo e o espiritual. Contudo, quando Deus colocou
o elemento espiritual dentro do revestimento da terra, a alma foi produzida.
E é a alma que faz a intermediação entre o corpo e o espírito.

O homem foi denominado “alma vivente” porque foi ali que o espírito
e o corpo se encontraram. O ser humano, então, passou a ter, não apenas um
corpo com um “fôlego de vida”, ele se tornou uma “alma vivente” também,
Descortinando o Adventismo – Volume I 385

porque é isso que denota a sua personalidade como indivíduo. Afinal é


nessa camada que se encontram os nossos pensamentos, emoções, decisões,
etc. É nessa camada que recebemos as maiores influências do mundo físico
a nossa volta. Filmes, livros, músicas, elogios, xingamentos, lembranças,
sentimentos, tudo isso é absorvido pela nossa “alma vivente”.

Por isso que mais tarde, vemos nas Escrituras, Deus frequentemente
referindo-se aos homens como “almas”. Porque aquilo que o homem
é depende de como a sua alma é. Sua alma representa e expressa a sua
individualidade. É a camada onde o “livre-arbítrio” habita no homem. É
onde o espírito e o corpo estão completamente unidos. Se a alma do homem
deseja obedecer a Deus, ela permitirá que o espírito a governe, e não os seus
desejos carnais. Todavia, o homem também pode reprimir o seu espírito
e aceitar que apenas os prazeres da carne o dominem. E é exatamente por
isso que devemos tomar cuidado com o que alimentamos a nossa alma. Os
nossos sentidos, principalmente os olhos e ouvidos, são as nossas entradas
da alma. Tudo aquilo que penetra a nossa alma tem o poder de ser influência
dominante em nossas vidas. Se alimentarmos a nossa alma com elementos
que fortalecem o nosso espírito, teremos mais discernimento e poder
espiritual. Caso nos alimentemos mais de elementos carnais, não teremos
poder para nos defender dos ataques de Satanás e assim por diante.

Devemos saber também, como uma esperança futura, que enquanto


nessa vida a nossa alma é o ponto de encontro do elemento do nosso ser,
no porvir, em nosso estado ressurreto com um novo corpo glorificado, e
espiritual, o nosso espírito será o nosso poder governante. Vejamos o que
Paulo diz em 1 Cor 15:44:

“é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo


natural, há também corpo espiritual.”

Aqui está um outro ponto de suma importância. Nós que fomos


unidos ao Senhor, ao nascermos de novo quando convertidos, recebemos a
386 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

própria vida de Deus dentro de nós (tipificada pelo simbolismo da árvore


da vida no Éden). Portanto, unidos a Ele, desde agora, podemos ter o nosso
espírito no governo de todo o nosso ser. Pois nós não estamos mais unidos
ao primeiro Adão, que era “alma vivente”, mas ao segundo Adão que é
“espírito vivificante”.

Nós podemos observar aqui, portanto, uma grande ironia dentro do


Adventismo. Ellen White que era uma grande defensora do perfeccionismo
humano, alguém que propunha que estivéssemos por um período de tempo
sem intercessor diante do Pai, uma das escritoras mais legalistas que o sistema
religioso já produziu, elimina de todo o seu grupo de doutrinas aquilo que
mais nos ajuda a viver no controle de nossas vidas, evitando assim ao máximo
o pecado, quando ligado ao Espírito de Deus: o espírito do homem. Essa é a
nossa camada mais importante, pois é a parte pela qual nós temos comunhão
com Deus e somente pela qual podemos compreendê-Lo e adorá-Lo.

Diante disso, podemos indagar:

Caso Ellen White fosse uma profetisa verdadeira, como seria possível
que ela não só não tivesse tido uma revelação de Deus a respeito disso, mas
pelo contrário, ensinou aos seus discípulos o total oposto?

Qual seria o seu interesse por trás desse direto bloqueio de um


conhecimento extremamente importante e necessário ao corpo de Cristo?

Além disso, qual seria a verdadeira identidade desse “anjo assistente”


que a ajudava e sussurrava esses ensinamentos em seu ouvido?

Quem seria o real interessado em fazer com que os cristãos ficassem no


escuro quanto a parte mais importante de seu ser, exatamente a parte que
se conecta com o seu Criador e gera força espiritual para evitar o pecado?

Deixaremos que o leitor medite um pouco a respeito dessas questões, e


na sequência daremos continuidade ao nosso estudo sobre a tricotomia do ser.
Descortinando o Adventismo – Volume I 387

A Tricotomia do Ser – Conceito, divisão e resumo

“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito,


e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. “1 Tessalonicenses 5:23

É bem possível que esse verso de 1 Tessalonicenses nunca tenha sido


lido, ou se lido, nunca devidamente analisado, pelo leitor adventista que
agora lê essas linhas. Isso se deu, pelo fato de que a IASD nunca quis que
você desse atenção a esse texto. Pra eles versos assim são como “Criptonita”
ou um “antídoto” para os seus falsos ensinamentos.

Analisemos esse outro verso, ainda mais revelador, a respeito de como


de fato nós possuímos sim, tanto “alma” como “espírito”:

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer


espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma (psuchê) e
espírito (pneuma), juntas e medulas (representação do corpo), e julga
os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4:12

É interessante notar como Deus ama tanto os seus filhos que Ele
nunca os deixa no escuro com relação a assuntos tão importantes como
esse. O escritor de Hebreus aqui, nitidamente faz uma visível divisão entre
corpo (juntas e medulas), alma (psuchê – no grego transliterado) e espírito
(pneuma). Essa é uma revelação que é coesa com o restante da Bíblia, e para
praticamente todo cristão é algo de fácil entendimento.

Contudo, dentro da IASD, os membros só enxergam o que a igreja quer


que eles enxerguem. Esse verso não é ensinado, muito menos enfatizado ou
explicado. Se por acaso algum membro levanta uma indagação mais séria a
respeito disso, imediatamente ele é levado a crer que o verso não tem esse
significado e logo em seguida o pastor já desvia a sua atenção para outro
assunto. Se o questionador insiste, ele começa a ficar “marcado” em sua
388 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

igreja local como um “rebelde” ou um cara meio “maluco”. Com o tempo


essa pessoa pode ainda ser rebaixada ao nível de estar sendo “usada pelo
diabo”, e começa a correr o risco de ser disciplinada ou até mesmo expulsa
da igreja. Infelizmente essa é a realidade de praticamente todas as seitas.

Iremos entrar agora num resumo mais técnico de como funciona a


divisão de nosso ser. E mais a frente, voltaremos a analisar textos bíblicos
que falam sobre o assunto.

Enquanto podemos classificar o corpo como a parte que tem contato


com o mundo físico, ou seja, a parte que nos dá consciência de mundo, e a
alma como aquela parte que possui o nosso intelecto e as nossas emoções
absorvidas pelos nossos sentidos, o espírito, todavia, é o meio pelo qual o
homem mantém contato com o mundo espiritual.

Deus habita no nosso espírito, enquanto o meu “eu” (ego), habita na


alma e os nossos sentidos habitam no corpo.

Por meio do nosso espírito, portanto, o homem mantém comunicação


com o mundo espiritual e com o Espírito de Deus, recebendo e expressando
o poder e a vida da esfera espiritual. Através do seu corpo o homem está em
contato com o mundo material e ligado ao prazer carnal, afetando-o e sendo
afetado por ele. A alma permanece entre esses dois mundos e ao mesmo
tempo, pertence a ambos. Ela está ligada ao mundo espiritual através do
espírito e ao mundo material através do corpo. A alma possui também o
poder do livre-arbítrio sendo, portanto, capaz de escolher dentro de seu
ambiente e esfera de atuação.223

O espírito não pode atuar diretamente no corpo, ele precisa de um


intermediário e esse intermediário é a alma produzida pelo contato do
espírito com o corpo (na criação do homem). Portanto a alma fica entre o
espírito e o corpo, unindo-os. O espírito pode subjugar o corpo através da

223 Como descreve Fabiano Mesquita no “Projeto Semear da Palavra – Bacharelado em Teologia”, pág. 230.
Descortinando o Adventismo – Volume I 389

mediação da alma para que ele obedeça a Deus. Da mesma forma o corpo,
através da alma, pode atrair o espírito para amar o mundo.

Jesus faz uma pequena alusão a essa divisão, aqui:

“Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto,
mas a carne é fraca.” Marcos 14:38

Dessas três camadas a mais nobre é o espírito, pois ela se une com
Deus. O corpo é a mais inferior, pois ela tem contato com a matéria e a alma
estando entre elas, recebe o caráter de ambas como sendo sua.

O trabalho da alma é manter os outros dois elementos em


funcionamento correto, colocando o mais inferior (corpo) como sendo
subjugado pelo mais superior (espírito). Dessa forma ao espírito seria
possibilitado governar todo o ser através da alma.

O espírito por ser a parte mais nobre do homem ocupa a parte mais
interior do ser. O corpo é a parte mais inferior por isso ocupa o local
externo e entre eles habita a alma como intermediária. O corpo é o abrigo
externo da alma, enquanto a alma é o revestimento exterior do espírito. O
espírito, quando fortalecido por comunhão com Deus, jejum e estudo das
Escrituras transmite o seu pensamento à alma, e a alma comunica ao corpo
que obedeça a ordem do espírito.

Vejamos como Paulo em Gálatas 5:16-23 classifica as obras do nosso


espírito (quando fortalecido pelo Espírito Santo) versus as obras da carne
(carne = alma dominada pelo corpo ou “alma carnal”):

“Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os


desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e
o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o
outro, de modo que vocês não fazem o que desejam.”
390 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Ou seja, o Espírito Santo atuando em nosso “espírito” luta contra


os desejos do corpo, que ainda está em processo de ser “domado” por ele
através da alma.

“Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei.”

Quando nos deixamos ser guiados pelo Espírito Santo, o nosso espírito
comanda o nosso ser, e contra isso não existe “lei” ou “condenação” nenhuma.

“Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza


e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira,
egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas
semelhantes.”

Se vivermos sem comunhão e relacionamento com o Espírito Santo,


por mais que tentemos colocar uma máscara religiosa sobre a nossa face,
nunca iremos conseguir dominar os desejos da carne (alma dominada pelo
corpo = alma carnal) e esses serão os nossos frutos.

“Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas


coisas não herdarão o Reino de Deus.”

Sem relacionamento com Deus, é impossível acessarmos o Reino de


Deus, pois iremos continuar praticando as obras da carne. É por isso que a
religiosidade não funciona.

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,


bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas
coisas não há lei.”

Esses frutos só se apresentam naqueles que possuem um relacionamento


com Deus e são guiados por Ele. O grande engano de Satanás é fazer com
que o religioso pense que somente ao tentar seguir um conjunto de regras
Descortinando o Adventismo – Volume I 391

impostas por sua igreja, ele será bem-sucedido em apresentar tais frutos.
Infelizmente, dessa maneira ele irá sempre fracassar e estabelecer uma vida
de hipocrisia e culpa constante, além de não apresentar qualquer tipo de
frutos do Espírito Santo.

Esse é um breve resumo, porém suficiente para que entendamos as três


divisões (camadas) do ser. Para uma melhor análise visual, vejamos a seguir
um organograma sobre a tricotomia do ser.

ORGANOGRAMA SOBRE A TRICOTOMIA DO SER


392 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Agora que entendemos um pouco mais a respeito da divisão desses


três elementos, nós podemos continuar o nosso estudo a respeito dos
significados e contextos de versículos bíblicos, que por muitos anos foram
distorcidos e aplicados com uma interpretação contrária aquela que o
Espírito Santo tinha por intenção passar a você.

Vejamos:

“Pois, quem dentre os homens conhece as coisas do homem, a não ser o espírito
(pneuma) do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece as
coisas de Deus, a não ser o Espírito (pneuma) de Deus.” 1 Coríntios 2:11

Esse verso apresenta o nosso “espírito” como sendo o elemento que


acessa a parte mais profunda dos nossos pensamentos. Usemos agora o
conceito usado pelos adventistas para a palavra “espírito”, e vejamos se ela
faz algum sentido no contexto do verso:

“Pois, quem dentre os homens conhece as coisas do homem, a não ser o


“fôlego de vida” (pneuma) do homem que nele está? Da mesma forma,
ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o “fôlego de vida” de Deus.”
1 Coríntios 2:11

Não é preciso deliberar muito a respeito para podermos chegar à


conclusão de que o conceito adventista de “espírito” não faz absolutamente
nenhum sentido. Chega a ser ridículo e francamente um insulto a
inteligência de um ser humano querer empurrar esse conceito, somente para
manter vivo um falso dogma doutrinário. Como poderia ser possível que
um “fôlego” conheça os nossos pensamentos mais profundos? Se o nosso
“espírito” (pneuma) é somente um “fôlego”, então o que seria o “Espírito”
(pneuma) de Deus que gerou o nosso espírito? Mais um “fôlego”, apenas?

A verdade é que somos feitos a imagem e semelhança do nosso


Criador e por isso, o Seu Espírito, gerou o nosso espírito. E como explicado
anteriormente, esse elemento é muito mais do que um simples “fôlego”.
Descortinando o Adventismo – Volume I 393

Vejamos alguns outros exemplos:

“Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os


respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos
(pneuma), para assim vivermos!” Hebreus 12:9

“Também vou dar a minha opinião, também vou dizer o que sei, pois não
me faltam palavras, e dentro de mim o espírito (ruach) me impulsiona.”
Jó 32:17, 18

Como é possível que um “fôlego de vida” “impulsione” alguém a dar a


sua opinião?

“Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito
(pneuma) de vocês. Amém.” Gálatas 6:18

Faria algum sentido que Paulo orasse para que a graça de Cristo
estivesse com o “fôlego de vida” dos Gálatas?

“Ao ver chorando Maria e os judeus que a acompanhavam, Jesus agitou-se


no espírito (pneuma) e perturbou-se.” João 11:33

Nesse versículo achamos uma outra chave importante sobre como o


nosso espírito age. É ele que é tocado pelo Espírito Santo de Deus e é a
parte que nos faz sentir “agitados” quando há algo errado ao nosso redor.
Da mesma forma que Jesus se sentiu quando notou que havia algo de errado
no ambiente, é como nós agimos por sermos tocados pelo Espírito Santo
em nosso “espírito”.

“de noite recordo minhas canções. O meu coração medita, e o meu espírito
(ruach) pergunta: Irá o Senhor rejeitar-nos para sempre? Jamais tornará
a mostrar-nos o seu favor?” Salmos 77:6-7
394 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

E ainda o apóstolo João, ao receber as revelações do livro do Apocalipse,


diz o seguinte:

“Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e
a primeira voz, que como de trombeta ouvira falar comigo, disse: Sobe
aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.

E logo fui arrebatado em espírito (pneumatikos), e eis que um trono


estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.” Apocalipse 4:1-2

Teria sido João arrebatado em “fôlego de vida”? Qual seria o sentido


disso?

E talvez o verso que mais concretize indubitavelmente o conceito de


“espírito” do nosso ser:

“Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente


temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do
qual clamamos: ‘Aba, Pai’. O próprio Espírito (pneuma) testemunha ao
nosso espírito (pneuma) que somos filhos de Deus.” Romanos 8:15

Se é possível que o caro leitor ainda não tivesse totalmente convencido


sobre o falso conceito de “espírito” que a IASD promove, esse verso encerra
qualquer tipo de discussão sobre o assunto. Aqui a Bíblia mostra claramente
que o Espírito de Deus se comunica com o nosso espírito, e Ele o faz a
fim de transmitir importantes verdades espirituais; como, por exemplo,
estabelecer o fato de que nós somos “filhos de Deus”.

Segundo as Escrituras, portanto, o nosso espírito: pergunta, agita-se,


nos impulsiona, conhece os nossos mais profundos pensamentos, recebe
graça, testemunha e dá entendimento ao homem! Relegar tal elemento do
nosso ser, como sendo apenas um “fôlego de vida”, é o mesmo que negar a
existência da nossa parte mais pura e nobre, a que reflete a própria essência
do nosso Criador!
Descortinando o Adventismo – Volume I 395

O fato é que Satanás é o verdadeiro espírito por trás dessa engenhosa


obra “religiosa”, que impede que mais de 20 milhões de cristãos conheça
o seu verdadeiro canal de comunicação com Deus. Mantendo toda essa
grande massa ignorante a respeito de tão importante, e francamente, básico
conhecimento bíblico sobre como funciona o nosso ser. Isso faz com que
ele enfraqueça todo esse povo, anulando-o completamente na sua esfera
de alcance e batalha espiritual. Essa artimanha enganosa colocou grande
medo nesse grupo religioso, a ponto de mantê-los completamente isolados
de todos os seus irmãos evangélicos, com doutrinas autodestrutivas e
paranoicas, minando-os diariamente e fazendo-os ficar cada vez mais longe
do verdadeiro evangelho, do restante do corpo de Cristo e do poderoso
Reino de Deus.

Demais Consequências de não Sabermos o


Verdadeiro Conceito de “espírito”
Nós já apontamos aqui, diversos motivos em razão dos quais o diabo
tenta fazer o máximo possível para anular o poder dos filhos de Deus aqui
nessa Terra. Fazendo com que muitos ignorem quem são e como funcionam
todas as camadas de nosso ser.

Contudo, existem outras consequências graves, imputadas àqueles que


são mantidos no escuro a respeito desse assunto. São elas:

Pessoas sem Identidade e sem Propósito no Reino

Os membros da IASD, não conseguem entender, devido ao falso


ensino apresentado a eles, que nós fomos feitos a imagem e semelhança de
nosso Pai. E assim como Ele, nós também somos “espíritos”:

Vejamos o que a Palavra dEle tem a dizer sobre o assunto:


396 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os


verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São
estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que
os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” João 4:23,24

E ainda:
“Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os
respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos,
para assim vivermos!” Hebreus 12:9

Encontramos aqui, duas grandes chaves para que possamos entender


quem nós somos e como nós devemos nos comunicar com Deus. No
primeiro verso, Jesus deixa claro que o Pai É espírito, e que é necessário que
nós o adoremos em espírito para que Ele possa devidamente receber essa
adoração.

É como se você quisesse falar com um amigo seu que mora em um


outro país e está aguardando que você o chame em seu telefone celular,
mas ao invés disso você abre a sua janela e começa a gritar esperando que o
seu amigo te escute. O meio de comunicação que você está usando não é o
correto, por isso o seu amigo não irá “receber” devidamente a informação
que você deseja transmitir.

Chave número 1: Deus quer que você O adore através do seu espírito,
pois Ele É espírito.

Como você pode adorá-Lo em espírito se você nem acredita que exista
isso em você? Entendeu o motivo para que o inimigo insista tanto nesse
falso ensino?

Chave número 2: Deus é o Pai dos espíritos. Ele é o seu Pai e você é
feito à imagem dEle!
Descortinando o Adventismo – Volume I 397

Essa segunda chave é de suma importância. Deus quer que você saiba
quem Ele é, para que você saiba quem você é! Quando uma pessoa descobre
quem ela é, ela descobre o seu propósito e a partir daí ninguém mais segura
essa pessoa na Terra. Uma pessoa que sabe quem é em Deus, faz o mundo
tremer! Isso acontece porque ela descobre a sua identidade e propósito. E a
partir daí ela consegue se focar em sua missão aqui nesse mundo.

Quando Jesus foi batizado por João Batista, Deus Pai liberou a
identidade dEle, para que Ele e todos a sua volta soubessem quem Ele era:
“Esse é o meu filho amado, em quem a minha alma se compraz” (Mat 3:17).
Logo em seguida, Cristo foi ao deserto levado pelo Espírito Santo, e lá,
Satanás o tentou desafiando a sua identidade:

“Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito:
‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão,
para que você não tropece em alguma pedra’.” Mateus 4:6

Ao que Cristo, prontamente respondeu:

“Jesus lhe respondeu: Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor,
o seu Deus’.” Mateus 4:7

Jesus respondeu o diabo com autoridade e sem hesitar porque ele sabia
quem ele era. A identidade de Jesus estava muito sólida e segura, não somente
porque ele sabia exatamente quem era, mas porque ele também sabia quem
o seu Pai era. Afinal, Deus Pai tinha acabado de liberar a identidade de Seu
Filho logo após o seu batismo no Jordão.

Da mesma forma, Pedro ao conversar com Cristo, obteve revelação


a respeito de quem ele era, quando ele identificou quem de fato era Jesus:

“Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus


discípulos: ‘Quem os homens dizem que o Filho do homem é?’ Eles
398 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

responderam: ‘Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda


outros, Jeremias ou um dos profetas’.

‘E vocês?’, perguntou ele. ‘Quem vocês dizem que eu sou?’

Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’.


Respondeu Jesus: ‘Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe
foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus.

E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.

Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra
terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido
desligado nos céus’.” Mateus 16:13-19

Quando Pedro identificou a identidade de Jesus (Cristo, o Filho do


Deus vivo), que foi revelada diretamente pelo Pai a ele, Cristo (Petra,
Rocha) libera não só a identidade de Pedro (Petrus, pedrinha), mas também
o seu propósito e missão nessa terra.224 Até mesmo as armas que ele poderia
usar como igreja, foram liberadas a Pedro através dessa revelação “o que
você ligar na terra será ligado nos céus...”. Note quão importante é sabermos
quem nós somos em Deus, e como nós podemos operar nesse mundo em
favor do seu Reino.

Pouco ou nenhum poder espiritual

“Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de
Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são
discernidas espiritualmente. Mas quem é espiritual discerne todas as
coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido.” 1 Coríntios 2:14-15

224 A Pedra (Petra, Rocha) sobre a qual Jesus edificou a Sua igreja, foi Ele mesmo, o próprio Cristo, porém
à Pedro (Petrus, pedrinha) assim como à toda igreja que conhece a sua verdadeira identidade, foram
dadas as chaves que ligam e desligam o que está nos céus e na terra.
Descortinando o Adventismo – Volume I 399

Eu me lembro que durante muito tempo enquanto eu estava na IASD,


esse termo “espiritual” e também o termo “espírito” era algo que nunca tinha
um sentido muito claro pra mim. Eu entendia isso como sendo um termo
um tanto quanto abstrato, ora ligando o termo “espiritual” a pessoas que
eram mais consagradas, ou seja, que pecavam menos, ora sendo alguém que
tinha mais contato com o Espírito Santo através de oração. Mas os efeitos
disso em forma de frutos nas pessoas era algo que ficava muito difícil de ser
percebido.

Seriam “espirituais” aquelas pessoas que haviam obtido forças para


abandonarem o alimento cárneo e também o café, como Ellen White
ensinava que deveriam ser os santos no final dos tempos? Ou talvez aqueles
que trabalhassem com mais afinco na igreja? Talvez aqueles que levassem
mais pessoas para serem batizadas? Ou então aqueles que falassem com
mais mansidão contra aqueles que os atacavam e os tratassem mal? Seriam
essas as pessoas mais espirituais? Porventura seriam aqueles que fizessem
belas orações no púlpito? Era difícil de achar um conceito claro.

E para o termo “espírito”, então ficava ainda um pouco mais difícil.


Enquanto o significado “fôlego de vida” até que “passava” em algumas
situações, em outras aquilo não fazia muito sentido pra mim. Eu lembro
claramente de cantar a música “Em espírito e em verdade” sem saber do
que exatamente eu estava falando. Estaria eu adorando “Em espírito” no
sentido de cantar com todo o meu “fôlego”, ou seria algo mais misterioso
como cantar com a força do Espírito Santo? Bem, como eu não tinha uma
resposta para aquilo eu resolvi deixar o assunto de lado. Talvez esse assunto
deveria estar fora da minha alçada naquele momento. Quem sabe um dia
eu faria teologia na Andrews University e descobriria o real significado do
termo. Até lá, era melhor me focar em outras coisas como em ler mais livros
de Ellen White e trazer mais pessoas pra IASD.

Hoje em dia, olhando para trás eu vejo quão longe eu estava de


entender o real significado desses termos e desses versos. E também vejo
400 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

o quanto o meu espírito era raquítico. Porque eu não sabia nem que ele
existia, quanto mais edificá-lo! O nosso espírito funciona quase que como
um músculo do nosso corpo. Se nós não o exercitamos, ele vai perdendo
a força e a sensibilidade. Existem várias formas de exercitarmos o nosso
espírito. Eu falarei em detalhes a respeito disso no capítulo “Intimidade
com Deus” no volume 2 dessa série, contudo eu posso adiantar que os
maiores responsáveis para o fortalecimento do nosso espírito são:

• A oração prolongada de no mínimo uma hora (momento em que


falamos e paramos para ouvir a voz do Espírito Santo);

• O jejum (uma bomba atômica espiritual quando sabemos como


utilizá-lo);

• A adoração (se unida a oração prolongada apresenta efeitos ainda


mais fortes no nosso espírito);

• O estudo e a meditação na Palavra (o nosso pão espiritual diário,


“nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da
boca de Deus” Mateus 4:4);

• A intercessão que fazemos em favor de outras pessoas (Deus


muitas vezes faz por nós aquilo que nós pedimos que seja feito a
outras pessoas);

• A oração em línguas estranhas (oração no espírito).

Esse último é o ponto que eu irei expandir um pouco mais nesse


subcapítulo.

A oração em línguas estranhas é um dos assuntos mais tabus dentro da


IASD. Qualquer adventista que se preze não só não ora em línguas estranhas,
como ainda, se ele se deparar com alguém que ore, imediatamente irá julgá-
lo como alguém que está sendo possuído por um demônio ou como sendo
apenas mais um pentecostal psicologicamente “desequilibrado” que inventa
Descortinando o Adventismo – Volume I 401

palavras estranhas aleatórias apenas para se encaixar no seu grupo religioso.


Uma terceira opção seria que essa pessoa está fazendo parte de uma espécie
de “transe” ou “catarse” coletivo.

Os adventistas se prezam por serem extremamente racionais em seus


cultos. Afinal, o próprio Paulo havia dito que nós deveríamos nos apresentar
em forma de “culto racional”. Na verdade, o que ele disse não foi exatamente
isso, e definitivamente, a intepretação adventista do que é “culto racional”
está bem fora do alvo (novamente). Façamos um pequeno parêntese para
que possamos analisar esse verso:

“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam


em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de
vocês.” Romanos 12:1

Podemos ver que a conotação de “culto racional” não é a de irmos aos


sábados nos templos e nos portarmos religiosamente “bem”; ficando em
silêncio quando o pastor fala ou quando há algum anúncio no púlpito,
nos levantando na hora em que devemos nos levantar, nos ajoelhando na
hora certa de nos ajoelharmos e definitivamente não falando em línguas
estranhas na igreja ou em casa, ou em qualquer lugar.

A conotação usada por Paulo no verso é a de que nós temos que ter
consciência de que devemos oferecer a nossa própria a vida a Deus, vivendo
de uma forma reta e santa, nos esquivando assim do pecado, ao invés de
fazermos sacrifícios de animais como eram feitos no passado no Templo
Judaico. Os nossos próprios corpos são os sacrifícios agora, o qual nós
entregamos a Deus racional e deliberadamente. Essa é a correta interpretação
de “culto racional”, e não a de termos que observar uma liturgia nas igrejas,
onde o dom de línguas estranhas não possa ser manifestado.

Como dito, o nosso intuito aqui não é o de esgotar o assunto do dom


de línguas. Mas iremos ao menos, esclarecê-lo o suficiente para que o leitor
comece a abrir um pouco mais a sua percepção a respeito do tema, e aos
402 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

poucos consiga quebrar esse tabu que eu mesmo confesso que foi um dos
mais difíceis para mim de ser quebrado.

Mais uma vez eu peço paciência ao leitor adventista que chegou até
aqui comigo, para que não “abandone o barco” agora e para que tente abrir
a sua mente para esse assunto. O Espírito Santo irá lhe recompensar de uma
maneira sem precedentes, caso você seja corajoso o suficiente para continuar
e dar esse passo a frente. Ore para que Deus segure a sua mão e te abra o
entendimento ainda mais. Um novo mundo (do Reino) irá se abrir a você
de maneiras que talvez você nunca tivesse imaginado que estivesse ao seu
alcance. E finalmente, você irá provar em sua vida o poder sobrenatural que
existe no Reino de Deus, e que Ele deixou ao alcance de todos os seus filhos.

“Pois o Reino de Deus não consiste de palavras, mas de poder.” 1


Coríntios 4:20

O dom de línguas e a oração “no espírito”

Querido leitor, você já parou pra pensar um pouco a respeito dos


dons espirituais que Paulo tanto fala em 1 Coríntios 12? Vejamos o que diz
alguns versos desse capítulo:

“Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo.


Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo
em todos.
A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem
comum.
Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de
conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a
outro, dons de cura, pelo único Espírito;
Descortinando o Adventismo – Volume I 403

a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro,


discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a
outro, interpretação de línguas.
Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e
ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer.
Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros,
e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim
também com respeito a Cristo.

Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito:


quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado
beber de um único Espírito.”

Temos algumas coisas a considerar aqui antes que possamos falar


diretamente sobre o dom de línguas. O primeiro fator a ser considerado
é este: você já presenciou algum dom do Espírito Santo, qualquer
um deles, em operação dentro de um culto da IASD? Seja sincero. E
isso é válido tanto para o leitor adventista quanto para aquele que não é
adventista, mas que já visitou uma igreja adventista alguma vez na vida. Se
o caro amigo for sincero a resposta será um retumbante NÃO.

Mas você pode querer inferir que esses dons não são para o nosso
tempo, ou que o dom de línguas não se refere a esse dom de línguas que
os pentecostais e neopentecostais alegam possuir ao balbuciar uns sons
aleatórios e sem sentido, mas sim que tal dom se refere ao dom de outros
“idiomas”. Calma, iremos falar do dom de línguas em breve. Sobre os dons
espirituais não serem para o nosso tempo, contudo, isso definitivamente não
procede. Se há um tempo em que a igreja precisa se utilizar desses dons, esse
tempo é agora. Qual seria a lógica de o Espírito Santo ter ferramentalizado
a igreja primitiva com esses dons, mas deixado a igreja dos últimos dias sem
esse “poder de fogo” tão importante? Além disso, Joel 2:28-31, deixa claro
o seguinte:
404 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus
filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens
terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito
naqueles dias.

Mostrarei maravilhas no céu e na terra, sangue, fogo e nuvens de fumaça.


O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue; antes que venha o grande
e terrível dia do Senhor.”

Nós vemos aqui claramente a promessa dos dons sobrenaturais do


Espírito Santo em ação no fim dos dias. O fato é que logo depois que eu me
desliguei da IASD, eu presenciei diversas vezes o poder do Espírito Santo
em ação através de seus dons sendo praticados por vasos escolhidos por
Ele. Dons de cura, dons de línguas estranhas, de conhecimento e revelação,
de profecia, dons de operação de milagres e maravilhas, enfim, o poder de
Deus em ação literalmente na minha frente e também direcionado a mim!
É algo simplesmente impossível de se negar. De fato, Deus ainda fala através
de seus profetas e de pessoas que carregam os seus dons. Eu tenho amigos
pessoais que fluem nos dons do Espírito e eu mesmo já fui usado algumas
vezes em alguns desses dons.

Eu não posso negar que isso foi algo que causou profundo impacto
em mim. Mas por que a IASD não manifesta esses mesmos dons em suas
igrejas? A resposta é simples: eles engessaram o Espírito Santo de Deus.
Ellen White colocou tanto medo e preconceito em suas mentes que o
Espírito Santo não possui liberdade para se mover em seu meio. Os cultos
são travados, engessados, muitas vezes “carnais” e sem a livre atuação do
Espírito Santo. É como se um exército carregasse um canhão de um tanque
de guerra com balas de chumbinho. Pelo fato de eu nunca ter presenciado
isso na IASD, eu não tinha a menor ideia de que cultos em igrejas pudessem
apresentar tanto poder e manifestações sobrenaturais do Espírito, como
acontecem nos dias de hoje em muitas congregações ao redor do mundo.
Descortinando o Adventismo – Volume I 405

Isso é algo tão diferente e forte para um adventista que quando ele
presencia algo assim, ele simplesmente não crê que isso seja algo de Deus.
O membro adventista está tão acostumado com os seus cultos sem poder,
que ele imediatamente conecta isso a algo que deve ser “do diabo”. Ou seja,
o que ele está dizendo em outras palavras é: “o diabo possui mais poder do
que o próprio Deus”. E ainda que indiretamente, ele comunica ao Espírito
Santo que, por favor, não faça nada desse tipo em sua igreja, pois ele não
irá crer que seja Ele atuando, mas sim o inimigo. O Espírito Santo é um
cavalheiro e não força nada a ninguém, por isso ele dá a cada um de acordo
com o que é pedido e de acordo com o que cada um pode suportar. Por isso,
ele fica muitas vezes “só olhando” e não age de maneira sobrenatural para
não assustar ninguém daquele local. Isso quando de fato Ele está presente
nessas reuniões, o que pode ser (e muito) debatido. Eu posso contar nos
dedos de uma mão as vezes que realmente senti a presença de Deus em um
culto adventista. É triste, mas é a realidade.

Após essa dura análise sobre os cultos adventistas nós temos que,
contudo, concordar que nem sempre as manifestações aparentemente
sobrenaturais que ocorrem em algumas igrejas, são:

• Primeiro: realmente de Deus;

• Segundo: legítimas manifestações sobrenaturais.

O nosso intuito não é o de nos aprofundarmos muito nessa questão,


a fim de não nos distanciarmos muito do tópico. Porém, basta dizer que
sim, o diabo às vezes faz milagres e curas. E que também muitas aparentes
manifestações sobrenaturais são forjadas por estelionatários religiosos, com
a intenção de impressionar e enganar os membros de suas “igrejas”. Essas
armadilhas estão aí fora, de verdade, e o crente ao navegar através dessas
águas terá que aprender a ter discernimento espiritual para diferenciar o
falso, do verdadeiro.
406 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

O intuito desse livro sempre foi o de libertar cristãos que estão


aprisionados em uma seita (nesse caso, a adventista), para que ele possa
encontrar liberdade e poder no Reino de Deus. Mas para isso nós nos
utilizamos e nos utilizaremos sempre da verdade e nada além da verdade.
Pois é ela que liberta. Por isso, nós não iremos mascarar, nem maquiar nada
para que se pareça melhor ou pior do que de fato é. Por isso deixaremos
bem claro mais uma vez: armadilhas e falcatruas existem fora da IASD,
não se iluda quanto a isso. Caberá ao cristão maduro, discernir o certo do
errado, o bem do mal, o falso do verdadeiro.

Esse conteúdo foi feito para libertá-lo de um jugo e equipá-lo com


conhecimento para que você possa crescer e seguir adiante com seus próprios
pés. Agora, definitivamente, depois de 3 anos fora da IASD eu posso
garantir com todas as minhas forças que, sem sombra de dúvida, vale a pena
sim ser liberto! Vale a pena sim conhecer o poder de Deus e o evangelho
verdadeiro de Cristo! Vale a pena sim finalmente entender o que Deus quis
nos transmitir em sua Palavra! E vale a pena sim finalmente conhecer quem
sou e qual é a estrutura do meu ser, ter identidade própria, um propósito e
ter um poder verdadeiro que me dá forças para me libertar do pecado!

Mas afinal de contas, e o dom de línguas? Como funciona?

Bem, em primeiro lugar é preciso deixar claro que aquele cristão que
fala em línguas está tão salvo quanto aquele que não fala em línguas. O
“falar em línguas” não é um sinal de estar salvo e também não é algo pelo
qual o cristão deva se vangloriar sobre outros cristãos, porque ele o recebeu
de Deus e outros, não. Contudo, aquele que fala em línguas possui de fato
uma ferramenta extremamente poderosa no mundo espiritual. Mas o dom
de línguas não é o dom de idiomas? Se não é o dom de idiomas, para que
ele serve?

É preciso dizer que não é somente a IASD que não crê no dom de
línguas. Diversas igrejas mais tradicionais não acreditam que o dom de
línguas estranhas seja algo verdadeiro. Mas então, qual é o motivo de eu
Descortinando o Adventismo – Volume I 407

estar trazendo esse assunto, mais “escorregadio” do ponto de vista teológico


e denominacional para dentro desse livro? Eu trago esse assunto porque eu
prometi a Deus e a mim mesmo que eu não esconderia nada daquilo que eu
descobri após a minha saída da IASD. Tudo que eu puder fazer para expor
os planos das trevas e para munir o corpo de Cristo de armas espirituais, eu
farei. E o dom de línguas é uma arma poderosíssima para a igreja de Cristo.

Então, a princípio, vamos classificar e dividir a “manifestação” ou


“dom” de línguas em 5 tipos diferentes. São eles:

1. O dom de idiomas (Xenoglossia ou Xenolalia): esse é o dom que


apareceu em Atos 2:1-11:

“E ao completar-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só


lugar. De repente, veio do céu um barulho, semelhante a um vento soprando
muito forte, e esse som tomou conta de toda a Casa onde estavam assentados.
Então, todos viram distribuídas entre eles línguas como que de fogo, e pousou
uma sobre cada um deles. E todas as pessoas ali reunidas ficaram cheias do
Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, de acordo com o
poder que o próprio Espírito lhes concedia que falassem.

Ora, estavam morando em Jerusalém, judeus, tementes a Deus, vindos de


todas as partes do mundo. Ao ouvirem aquele estrondo, ajuntou-se um
grande número de pessoas; e ficaram maravilhados, pois cada um ouvia
falar em sua própria língua. Perplexos e admirados comentavam uns
com os outros: Porventura, não são galileus todos esses que estão falando?
Como, então, cada um de nós os ouve falar em nossa própria língua
materna? Nós que somos partos, medos e elamitas; habitantes da
Mesopotâmia, Judeia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia,
Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene, e
romanos que estão morando aqui, tanto judeus como convertidos ao
judaísmo; cretenses e árabes, todos nós os ouvimos discursar sobre as
grandes realizações de Deus em nossa própria língua!”
408 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Esse dom de idiomas serviu para um determinado propósito nesse


período inicial da igreja Cristã. Ele foi necessário para que o evangelho
fosse espalhado a outras nações, além de mostrar o poder de Deus na terra.
Um outro motivo pelo qual ele foi dado foi para fazer um contraponto
simbólico e profético à Torre de Babel – representada hoje pela “Babilônia”
mencionada no livro de Apocalipse, ou seja, pelo sistema religioso que
possui os seus próprios interesses, que distorce o evangelho e que tem
por trás dela um outro espírito que não é o Espírito Santo de Deus – em
Gênesis 11:1-9. Na Torre de Babel, Deus confundiu a língua daquele povo
que, liderado por Ninrode, se rebelou contra Deus e seguiu os seus próprios
interesses. No Pentecostes, Deus fez com que pessoas que falavam línguas
diferentes pudessem se entender como se falassem uma só língua, a fim de
se unirem em um mesmo propósito, o de levar o evangelho do Reino a
todos os povos e nações da Terra.

Ou seja, o sistema religioso é Babel (confusão, divisão) ou “Babilônia”.


Ele busca os seus próprios interesses erguendo grandes torres (templos,
igrejas) e achando que com isso fugirá da ira de Deus. Esses buscam
a divisão e o exclusivismo. Eles não falam a mesma língua, e acham que
possuem a verdade exclusiva dada a eles diretamente por Deus. Para eles,
todos os outros estão apostatados e perdidos, então eles não se “misturam”
com membros de outras denominações, dividindo assim o corpo de Cristo.
Todas as finanças recebidas são acumuladas para si, a fim de deixar a sua
“Torre” cada vez mais alta.

Já o Reino de Deus é representado pelo Pentecostes e pela igreja


primitiva. Ao invés de caminharem divididos, eles cooperam entre si e
caminham juntos. Falam a mesma língua e não estão preocupados com
grandes templos, mas sim com a comunhão deles com Deus e deles com
os santos. Ao invés de acumular as finanças eles dividiam tudo entre si,
conforme a necessidade de cada um.
Descortinando o Adventismo – Volume I 409

2. O dom de línguas estranhas (Glossolalia): esse é o dom de


línguas estranhas que aparece em diversos locais do Novo Testamento,
entre os crentes que eram batizados no Espírito Santo. Ele não é o dom
de idiomas, mas sim uma língua estranha usada para se comunicar no
espírito diretamente com Deus (dom de línguas usado verticalmente) ou
até mesmo – porém com bem menos frequência - com outras pessoas (dom
de línguas usado horizontalmente). Nesse segundo caso, as palavras vêm
de Deus para o cristão de maneira sobrenatural, e ele por sua vez, deve
“passar o recado” para outra pessoa, e para isso é importante que alguém
que possua o dom de interpretação de línguas esteja presente para poder
traduzir a mensagem. A mente natural muitas vezes não entende o que
é falado através do dom de línguas estranhas (com exceção daqueles que
possuem o dom de interpretação de línguas), mas Deus e o espírito do
homem entendem o que é dito.

Ela edifica (fortalece) a parte mais importante do nosso ser, o espírito.


Muitas pessoas que fluem nos dons espirituais dizem que esse dom, quando
usado devidamente, “vivifica” ou “destrava” outros dons que já foram dados
pelo Espírito Santo, mas que ainda estão adormecidos.

Vejamos alguns versos que falam a respeito desse dom, e analisemos


por que não faz sentido que ele seja o mesmo dom de idiomas (xenoglassia)
de Atos 2:

“Pois quem fala em língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato,
ninguém o entende; em espírito fala mistérios.” 1 Coríntios 14: 2

Esse verso traz uma chave muito importante para entendermos o dom
de línguas. Note bem o que Paulo diz aqui: “pois quem fala em língua não
fala aos homens, mas a Deus”. Ora, eu te pergunto caro amigo adventista ou
ao leitor que não crê no dom de línguas estranhas: quem é brasileiro e fala
um outro idioma dado pelo Espírito Santo, como o italiano por exemplo,
fala ou não fala a homens? Se ele for até a Itália e falar com algum homem
410 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

por lá, ou mesmo que ele esteja no Brasil e comece a falar com um italiano
em sua língua natal, provavelmente com o propósito de evangelização, essa
pessoa não estaria falando diretamente a um homem?

Analisemos o próprio evento ocorrido no Pentecostes, onde de fato


o dom apresentado ali foi o de idiomas. Aqueles varões estavam ou não
falando a homens? Ora, foi exatamente com esse propósito que o Espírito
Santo concedeu a eles o dom de idiomas, para que eles pudessem falar com
outros homens.

O texto de Paulo vai ainda mais longe ao dizer que “ninguém o entende,
mas a Deus fala mistérios”! Essa afirmação exclui completamente o dom de
idiomas daquilo a que Paulo se refere. Se ninguém o entende, definitivamente
ele não poderia estar falando do dom de idiomas, pelo qual pessoas de nações
inteiras o entenderiam! Não só isso, como o autor da carta aos Coríntios
deixa claro quem é o alvo da conversa. O próprio Deus! E pra finalizar ele
apresenta de qual parte do nosso ser essa comunicação é emitida: “em espírito
fala mistérios”. A parte nossa que emite essa comunicação é o nosso espírito!
Exatamente a parte que a IASD não quer que você saiba que existe!

Vejamos um outro verso ainda mais revelador:

“Quem fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica


a igreja.”1 Coríntios 14:4

Note bem, aqui Paulo libera um outro importante código à igreja:


“quem fala em língua a si mesmo se edifica”. Tremendo! Paulo deixa claro
que o dom de línguas edifica o ser, mas que parte do ser? O espírito!
Vejamos a seguir:

“Pois, se oro em língua, meu espírito ora, mas a minha mente fica
infrutífera. Então, que farei? Orarei com o espírito, mas também orarei
com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei
com o entendimento.” 1 Coríntios 14:14, 15
Descortinando o Adventismo – Volume I 411

A igreja de Corinto era uma igreja que orava muito em línguas, porque
ela sabia do poder e da edificação que isso os trazia. Eles oravam tanto em
línguas estranhas que Paulo teve que frear um pouco essa prática, pois um
desequilíbrio estava sendo criado nessa igreja. É por isso que ele admoesta
os Coríntios a orarem não só no espírito, mas também na mente. Corinto
era uma cidade portuária que recebia muitos visitantes. Quando esses
visitantes frequentavam os cultos nesse local, eles acabavam achando que
aquela prática deles de constantemente estar falando em línguas estranhas
era um tanto quanto excêntrica demais. Pois pouco ou nada do que era dito
era compreendido. Daí, então, a repreensão de Paulo a eles, para que eles
não deixassem de orar também na mente. Contudo, no verso acima, Paulo
esclarece que essa oração em línguas ocorre de fato no espírito: “se oro em
língua, meu espírito ora”.

Ainda nesse capítulo, Paulo entrega mais uma chave que desmonta
qualquer teoria de que esse dom é o dom de idiomas. Vejamos o que ele diz
no verso 13:

“Por isso, quem fala em língua, ore para que a possa interpretar.” 1
Coríntios 14:13

Analisemos bem o que é dito aqui por Paulo e nos coloquemos no


cenário da época. Digamos que Paulo estivesse falando sobre o dom de
idiomas nesse capítulo. Por que Paulo diria que quem fala em idiomas
deveria orar para que alguém pudesse interpretar tal idioma? Note que isso
não faz qualquer sentido. Vamos criar um exemplo, para que o leitor possa
compreender o que estamos falando um pouco melhor.

A cidade de Corinto ficava na Grécia, portanto os Coríntios falavam


grego. Vamos pressupor por um minuto que a tese adventista esteja correta,
e que o Espírito Santo concedeu o dom de idiomas aos Coríntios para que
eles pudessem evangelizar visitantes de outros países que viajavam até a sua
cidade. Então pegaremos um exemplo hipotético de “João”, um membro da
412 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

igreja de Corinto, que recebeu o dom do idioma do Espírito Santo. A sua


língua original é o grego. Mas em um determinado dia um italiano, vamos
chamá-lo de “Giuseppe”, vai até a sua igreja. João, cheio do Espírito Santo
começa a pregar para Giuseppe em italiano, e Giuseppe é convertido!
Agora, por que Paulo pediria para alguém interpretar o que João disse a
Giuseppe, se Giuseppe já entendeu o recado? O intérprete seria o próprio
Giuseppe que é o mais interessado da história!

Outro exemplo: João, cheio do Espírito Santo começa a pregar


para a sua própria congregação em italiano, contudo os membros da sua
congregação não falam italiano, mas sim, grego que é a própria língua natal
de João. Contudo, os Coríntios seguiram o conselho de Paulo e oraram
para que alguém pudesse interpretar o que João estava falando. Um outro
membro da igreja, vamos chamá-lo de “José”, se levanta e cheio do Espírito
Santo interpreta o que foi dito por João à congregação e traduz a todos
eles, do italiano para o grego, tudo aquilo que foi dito. Ora, mas que tipo
de retrabalho seria esse dado pelo Espírito Santo? Primeiro ele dá a João o
dom de falar em italiano, somente para que depois José o interprete/traduza
novamente para o grego? Não seria mais fácil que João falasse diretamente
em grego à sua própria congregação? Esse verso, entre outros, torna a teoria
adventista completamente inviável e sem nexo algum.

Mas será que realmente devemos falar em línguas? Será que Paulo nos
encorajaria a isso? Vejamos mais uma chave liberada por Paulo:

“Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês.” 1
Coríntios 14:18

É claro que Paulo falava em línguas estranhas. Não só ele falava, como
falava mais do que todos os Coríntios. Note a forma como ele coloca essa
frase: “dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês”.
Se ele quisesse dizer que ele falava mais idiomas do que qualquer um deles,
ele teria colocado as palavras dessa frase de uma maneira diferente. Algo
Descortinando o Adventismo – Volume I 413

como: “dou graças a Deus por falar mais línguas do que todos vocês”.
O advérbio usado por ele no verso, não foi de “quantidade”, mas sim de
“intensidade”, o que torna o sentido da frase completamente diferente do
que os adventistas querem que você entenda.

É bem provável que Paulo falasse em línguas estranhas mais do que


qualquer outra pessoa no mundo, nessa época. Pois ele havia descoberto
esse grande tesouro e código de Deus. O dom de línguas fortalece e edifica
o espírito do cristão, porque quem fala não é somente ele, mas o Espírito
Santo através dele! O que ocorre aqui é uma operação conjunta entre o
cristão e o Espírito Santo que o ajuda a orar da maneira que deve. Pois
nós não sabemos direito como orar! Sendo assim, Ele “endireita” as nossas
orações para que nelas as palavras, os pedidos e as intercessões corretas
sejam enviadas a Deus.

Veja o que diz o verso a seguir que comprova e esclarece definitivamente


o assunto:

“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas;


porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.” Romanos 8:26

Esses “gemidos inexprimíveis” é o que recebemos do Espírito Santo e


repassamos a Deus Pai, através da oração em línguas estranhas, pois nós não
sabemos pedir as coisas certas a Deus. É por isso que a oração em línguas,
por mais estranha que possa parecer ao adventista, é a oração perfeita! Pois
ela vem de Deus (Espírito Santo) e vai para Deus (Pai)! Que maravilha
sabermos que temos um Deus que se preocupa tanto conosco, que até
mesmo a oração ideal Ele prepara para nós! Eu espero que tenha ficado claro
ao leitor a importância desse assunto, e por que nos demoramos em algumas
páginas para esclarecer um pouco a respeito desse tema fundamental para
o cristão da atualidade.
414 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Mas acima nós dizemos que havia 5 tipos de classificação de línguas


estranhas. Então, quais seriam esses outros três tipos?

3. O falso dom de línguas (psicológico): esse tipo de dom ocorre


muito em cristãos que ainda não foram batizados pelo Espírito Santo, mas
na angústia de quererem fazer parte do grupo eles falam em falsas línguas.
Apesar de isso ocorrer com uma certa frequência, essa prática não deve
ser recriminada, pois pode gerar uma trava real no cristão caso ele se sinta
ofendido por isso. Até porque somente quem tem o dom de discernimento
de espíritos, muito aguçado, consegue perceber a diferença entre o dom de
línguas verdadeiro e o falso.

4. O dom de línguas satânico: esse dom de línguas também é algo real


e eu mesmo já presenciei algumas vezes em pessoas possessas por demônios.
O diabo também muitas vezes se comunica através de línguas estranhas.
Ainda não é muito claro se essa língua é uma língua única dita entre ele e
seus demônios, ou se é um idioma antigo como o aramaico, por exemplo.
De qualquer forma essa língua é facilmente detectada por um cristão que
já foi apresentado aos dons do Espírito Santo. Os dons que são de Deus
sempre trazem paz, alegria e esperança ao corpo de Cristo. Já os milagres e
manifestações do inimigo sempre trazem confusão, brigas, desencontros, etc.

5. A língua dos Anjos: essa língua é mencionada somente uma vez


na Bíblia em 1 Coríntios 13:1: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e
dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que
retine”. Como não podemos criar doutrina em cima de apenas um verso,
nós não podemos dizer com certeza se de fato há uma língua especial que é
falada apenas por anjos, ou se Paulo se utilizou de uma figura de linguagem
aqui para poder enfatizar a importância do amor na vida do cristão.
Contudo, faria muito sentido se realmente os anjos tivessem uma língua
própria pela qual eles se comunicam entre si.
Descortinando o Adventismo – Volume I 415

Para finalizar esse assunto, nós podemos verificar que a Bíblia


claramente nos diz que o dom de línguas seria um dos sinais entre aqueles
que cressem em Cristo:

“Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão


demônios; falarão novas línguas;” Marcos 16:17

É muito interessante notar que nenhum dos sinais mencionados acima


por Cristo são presentes na IASD. Aliás, como já frisado anteriormente,
nenhum dom do Espírito Santo é observado na Igreja Adventista. Somente
esse fato já deveria servir de um grande sinal vermelho para que os membros
dessa igreja repensassem o local em que eles optaram para congregar com
as suas famílias.

Adiante continuaremos listando as demais consequências negativas


que sofremos por ignorarmos a existência do nosso espírito.

Uma Visão Equivocada sobre o Estado dos


Mortos

Ellen White não se contentou em fazer com que os seus seguidores


(enquanto vivos) nunca pudessem ter a certeza de sua salvação, como
já devidamente evidenciado em seus textos anteriormente. A tortura
emocional resultando em constante ansiedade e paranoia, aplicada por ela
através de seus ensinos, não parou por aí. Ela também conseguiu distorcer
completamente os ensinamentos bíblicos a respeito do que ocorre com
o cristão salvo após a sua morte. Aliás, ela foi muito bem-sucedida em
perverter completamente o estado de todos os mortos, tanto dos justos
quanto dos ímpios!

E é sobre esse assunto que falaremos em maior profundidade, agora.


416 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

O Estado dos Mortos

Até aqui nós tivemos como objetivo mostrar ao leitor a clara evidência
bíblica de que somos seres tricotômicos e não dicotômicos como a IASD
quer que você acredite. Nós também mostramos como e por que essa
instituição passou a “crer” e a ensinar a respeito do “Sono da Alma” aos seus
membros. E também como essa doutrina foi uma peça-chave necessária
para que as suas outras doutrinas apresentassem uma base um pouco menos
débil no cenário religioso geral da época e também entre os seus seguidores.

Nós também explicamos a importância de termos a consciência e de


sabermos como funciona essa camada do nosso ser chamada “espírito”, e
sobre as consequências espirituais de ficarmos ignorantes a respeito desse
assunto.

Nesse capítulo, nós iremos voltar até os versos bíblicos usados pelos
adventistas para corroborar a doutrina do “Sono da Alma”, analisando-
os dentro de seu contexto. Assim como, também iremos trazer evidência
sólida de que quando morremos nós imediatamente vamos direto para o
céu ou para o inferno, e de que não há nenhum estado intermediário de
“sono” entre a nossa morte e ressurreição.

Faremos também uma análise teológica mais aprofundada a respeito


das diferenças etimológicas entre as palavras: Sheol, Geena, Hades, Tártaro,
Lago de Fogo, etc.

Presentes no corpo, ausentes no Senhor – Ausentes no corpo,


presentes no Senhor

A Bíblia é repleta de textos que nos mostram que realmente nós


não ficamos em nenhum tipo de estado intermediário entre a morte e a
ressurreição. Mas que ao contrário, imediatamente após a nossa morte,
iremos para um outro local em espírito e que durante todo esse processo
nós estaremos totalmente conscientes do que estará acontecendo.
Descortinando o Adventismo – Volume I 417

Vamos analisar alguns desses versos que falam a respeito disso:

“Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque


não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial,
para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida.

Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no


corpo, estamos longe do Senhor. Temos, pois, confiança e preferimos
estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor.” 2 Coríntios 5:4, 6, 8.

E Paulo novamente diz:

“Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue


vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher!

Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que
é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu
permaneça no corpo.

Convencido disso, sei que vou permanecer e continuar com todos vocês,
para o seu progresso e alegria na fé…” Filipenses 1: 21-25

Paulo deixa claro nesse segundo texto, que ele não tem absolutamente
nenhum medo da morte, porque morrer pra ele seria lucro, já que ele
imediatamente estaria com Cristo! Contudo, pelo trabalho que ele deveria
ainda ter que realizar nessa terra ele preferiria “permanecer no corpo”.

A única maneira lógica de que a morte parecesse lucro para ele é se ele
tivesse absoluta certeza de que de imediato ele estaria com Cristo após a
sua morte. Se Paulo cresse e ensinasse a respeito do “Sono da Alma” como
a IASD quer que você acredite, ele teria que pensar com muito cuidado
e colocar na balança se seria melhor morrer e esperar séculos em uma
espécie de limbo intermediário de não existência até a sua ressurreição para
finalmente ter um encontro com Cristo, ou ficar com a igreja de Corinto
que ele tanto amava a fim de ajudá-los a se estabelecer de uma maneira mais
418 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

firme e madura em Cristo! Entre essas duas opções, Paulo com certeza
acharia a segunda muito melhor e mais viável, e não teria apresentado a
primeira opção como sendo “lucro” para ele.

Se não bastasse a sua clara intenção nesse texto, Paulo em 2 Coríntios


capítulo 5, solidifica sem qualquer sombra de dúvidas de que enquanto ele
estivesse no corpo estaria ausente no Senhor. Mas quando pelo contrário ele
morresse e se ausentasse desse corpo, ele de imediato estaria com o Senhor!

É possível notar nas entrelinhas desses textos, que esse ensino era algo
de conhecimento comum entre os cristãos da época. Pois ele não se deteve
em enfatizar tais coisas como algo novo e surpreendente para os membros
das igrejas tanto de Filipos quanto de Corinto.

Em uma outra situação Paulo deixa clara a possibilidade inclusive de


ser tomado em espírito, fora do corpo, até o terceiro céu:

“Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao


terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe.

E sei que esse homem – se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus
o sabe – foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que
ao homem não é permitido falar.” 2 Coríntios 12:2-4

Que esse homem a que Paulo se refere é ele mesmo, não há dúvida. Isso
é ponto pacífico dentro da teologia. O que ele deixa absolutamente claro
aqui é que ele foi ao terceiro céu dentro ou fora do corpo. Se ele foi em
espírito somente ou não nós não sabemos, mas Paulo deixa evidente aqui
a possibilidade de poder ir até ao céu, mesmo em vida, fora do corpo. Nos
versos anteriores, ele solidifica a doutrina de que quando morresse estaria
imediatamente com Cristo do contrário qual seria o seu “lucro” em morrer?

Todos esses textos não só apontam como deixam transparente que ao


morrermos o nosso espírito não só permanece vivo, como imediatamente
Descortinando o Adventismo – Volume I 419

está com o Senhor. Paulo era extremamente detalhista e cuidadoso em suas


cartas, especialmente em tentar evitar doutrinas de demônios e heresias
que muitas vezes adentravam as igrejas que ele havia plantado ao longo dos
anos. Se houvesse algum perigo em ele fazer essas declarações ou alusões
a respeito da imortalidade da alma (e espírito), com certeza ele iria fazer
questão de alertar os seus discípulos em suas cartas. Nós vemos que, pelo
contrário, não existe qualquer reticência dele nesses versos ou aviso para
que eles tenham cuidado sobre o que ele está se referindo nesses textos.

Na carta aos Romanos, ele novamente diferencia a morte do corpo, da


morte do espírito:

“Mas se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado,
mas o espírito está vivo por causa da justiça.” Romanos 8:10

O nosso corpo corruptivo, pela entrada do pecado nesse mundo, é


mortal. Ele na verdade já está morrendo a cada segundo que passa. Contudo,
por causa de Cristo e seu sacrifício na cruz, o destino de nossos espíritos já
está assegurado. O nosso espírito está cada vez mais vivo e nunca morrerá.

Note como Pedro, de maneira muito parecida com o que Paulo falou
aos Coríntios, fala a respeito de seu corpo:

“Considero importante, enquanto estiver no tabernáculo deste corpo,


despertar a memória de vocês, porque sei que em breve deixarei este
tabernáculo, como o nosso Senhor Jesus Cristo já me revelou.

Eu me empenharei para que, também depois da minha partida, vocês


sejam sempre capazes de lembrar-se destas coisas.” 2 Pedro 1:13-15

Podemos notar claramente que o tom empregado por Pedro nessa


carta relega o corpo dele a algo com uma casa, templo ou tabernáculo que
em breve será deixado para trás. Ao mesmo tempo ele imprime uma ideia
420 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

de continuidade de existência imediata após a sua partida, que permanecerá


fora do corpo, assim como Paulo também se referiu no tocante a sua morte.

Vejamos a dica que Tiago nos dá a respeito do tema:

“Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras
está morta.” Tiago 2:26

O espírito consegue deixar o corpo e permanecer intacto, contudo, o


corpo não consegue fazer mais absolutamente nada sem o espírito dentro
dele. É o que Tiago deixa claro aqui. Se o espírito não permanecesse vivo e
consciente após a morte, Tiago deveria ter mencionado a reciprocidade de
sua declaração a respeito tanto do espírito quanto com relação ao corpo,
como do corpo com relação ao espírito. Mas ele não o fez.

Note como nesse exemplo em que Jesus ressuscita a filha de Jairo, o que
ocorre com o espírito da criança:

“Mas ele a tomou pela mão e disse: ‘Menina, levante-se!’


O espírito dela voltou, e ela se levantou imediatamente. Então Jesus lhes
ordenou que lhe dessem de comer.” Lucas 8:54-55

O corpo sem o espírito está morto. Mas o espírito da menina nesse


caso voltou ao corpo que foi ressuscitado pela ordem de Jesus.

Como se não bastasse todos esses claros exemplos de tantos personagens


bíblicos, que tal usarmos o exemplo do próprio Jesus Cristo com relação ao
seu espírito? Afinal nós fomos feitos a Sua própria imagem e semelhança:

“Jesus bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’.
Tendo dito isso, expirou.” Lucas 23:46

Cristo entregou muito mais dEle ao Pai, do que o seu mero “fôlego
de vida”. O que Ele entregou ao Pai foi o Seu Espírito. Segundo a tese
Descortinando o Adventismo – Volume I 421

adventista, Jesus Cristo, o próprio Deus encarnado, teria ficado três dias
sem existir! Não há absolutamente nenhuma chance de isso ter acontecido.
O Seu corpo morreu, mas o Seu Eterno Espírito nunca poderia ter morrido,
ou ficado num estado intermediário. Essa é uma das maiores heresias já
ensinadas dentro da IASD! E olhe que a concorrência entre as suas próprias
heresias para ver qual é a mais ultrajante contra Deus é muito grande.

Jesus disse em João 2:19 que Ele mesmo reergueria o seu próprio corpo
em sua ressurreição. Isso seria impossível se Ele estivesse em um estado de
“Sono da Alma”. Foi o Seu próprio Espírito que comandou o seu corpo para
que voltasse a viver.

O livro de Atos relata a morte de Estevão, e o texto se utiliza das


mesmas palavras para descrever a forma que Estevão pede para que Cristo
recebesse o seu espírito. Apresentamos esse texto para mostrar que não há
nenhuma diferença entre o que houve com o espírito de Cristo comparado
ao espírito de Estevão, no que diz respeito ao espírito de Estevão também
estar vivo após a sua morte.

O autor de ambos os textos é Lucas e ele se utiliza das mesmas palavras


que indicam urgência e imediatismo nos pedidos tanto de Jesus quanto de
Estevão, e não uma esperança distante. Se Estevão estivesse pedindo que
Jesus recebesse o seu “fôlego de vida” esse texto não faria o menor sentido.
Estevão estava contemplando os céus abertos diante dele e também Jesus
de pé a direita do Pai, enquanto ele estava sendo morto por apedrejamento:

“Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu
a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: ‘Vejo o céu aberto
e o Filho do homem de pé, à direita de Deus’.

Mas eles taparam os ouvidos e, gritando bem alto, lançaram-se todos


juntos contra ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a
apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem
422 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

chamado Saulo. Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: ‘Senhor


Jesus, recebe o meu espírito’.” Atos 7: 55-59

Estevão estava ansioso para que Jesus recebesse o seu espírito no céu,
para que ele pudesse finalmente estar presente com Cristo. Daí a razão da
sua fala.

Podemos dizer que estamos Salvos?


Uma das minhas grandes surpresas ao sair do Adventismo foi descobrir
que a maioria dos cristãos já tinha a segurança da sua salvação e de sua vida
eterna em Cristo Jesus. No tempo presente eles já sabem disso, enquanto
ainda estão vivos! Pra mim isso era algo surpreendente e impensável até
então. Contudo, esse é um dos grandes pilares do evangelho de Cristo que
eu não conhecia.

Você, amigo evangélico, consegue imaginar o que é termos mais de 20


milhões de cristãos hoje em dia que não sabem que já estão salvos? Vivendo
uma vida cristã ansiosa e incerta sobre o que há de vir? Pois é exatamente
isso que é ensinado por Ellen White e consequentemente pela IASD. E essa
é uma das consequências das teses doutrinárias do “Juízo Investigativo” e
do “Sono da Alma”. Inúmeras vezes eu ouvi o meu pastor local me dizer
que: “uma das nossas maiores surpresas quando chegarmos ao céu é
descobrirmos que nós estamos ali!”.

Ellen White escreve a respeito do tema, assim:

“Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador conquanto sincera


sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos.”225

“Ninguém pode dizer “eu estou salvo” até que ele tenha sofrido provas
e provações, até que ele tenha mostrado que pode vencer a tentação.”226

225 White, Ellen, Parábolas de Jesus, pág. 155.


226 White, Ellen, The Kress Colection, pág. 120.
Descortinando o Adventismo – Volume I 423

E ainda:

“Nunca devemos descansar em uma condição satisfeita e deixar de


avançar, dizendo: ‘Eu estou salvo’(...). Nenhuma língua santificada
será encontrada pronunciando essas palavras até que Cristo venha,
e nós entremos pelas portas na cidade de Deus. Então, com a maior
propriedade, podemos dar glória a Deus e ao Cordeiro pela libertação
eterna. Enquanto o homem estiver cheio de fraqueza, por si mesmo não
pode salvar sua alma, ele nunca deve ousar dizer: ‘Eu estou salvo’.”227

Todavia, as Escrituras, muitas vezes através das próprias palavras


de Jesus, nos ensinam o contrário. Isso ocorre porque Deus gostaria que
soubéssemos que nós já possuímos, nesse exato momento, a salvação e a vida
eterna. Pois o nosso espírito é imortal e ele vive e viverá, independentemente
do nosso corpo:

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da
morte para a vida.” João 5:24

“Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim,


ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais
morrerá. Crês nisto?” João 11:25-26

“Asseguro-lhes que aquele que crê tem a vida eterna.” João 6:47

Podemos notar que esses versos, que são uns dos grandes pilares do
evangelho de Jesus, nos asseguram que nós temos a vida eterna agora, no
tempo presente e não num futuro distante. Eles nos dizem que se crermos

227 White, Ellen, The Review and Herald, June 17, 1890.
424 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

nas palavras de Jesus, jamais morreremos, porque o nosso espírito não morre!
Quão distante estão os ensinos de Ellen White das palavras de Cristo!

João em uma de suas cartas, ainda ensina o seguinte:

“Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus,


para que vocês saibam que têm a vida eterna.” 1 João 5:13

De onde teria tirado João tanta confiança para declarar com tamanha
convicção que nós já possuímos desde já a vida eterna?

A Bíblia é muito clara e coerente. Ela não deixa dúvidas a respeito do


que irá ocorrer conosco após a morte. Cabe a nós escolhermos se preferimos
acreditar nos ensinamentos de Ellen White/IASD e vivermos em constante
ansiedade e incerteza. Ou se escolheremos a Bíblia que nos dá a garantia,
através das próprias palavras de Cristo, de que já estamos salvos e possuímos
a vida eterna mesmo antes do nosso corpo estar morto.

Os Medos e Traumas Adventistas em Torno do


Ensino da Imortalidade da Alma
Os tentáculos dos falsos ensinos de uma seita são tão fortes e longos,
que eu confesso que até hoje é difícil usar o termo “Imortalidade da Alma”
de uma maneira totalmente natural. A lavagem cerebral foi tão grande ao
longo dos anos que mesmo sabendo de toda a verdade que eu sei hoje a
respeito desse tema nas Escrituras, eu às vezes ainda sinto o dedo religioso
acusador de Ellen White apontado diretamente contra mim por usar esse
termo e ensinar essa verdade bíblica.

Não poderia ser por menos. Ao pesquisar novamente os textos em que


ela fala sobre o assunto para a elaboração desse capítulo, eu pude notar
que de fato a sua pena “inspirada” fez questão de implantar esse medo de
até mesmo questionarmos a respeito do tema, quanto mais crermos nisso.
Descortinando o Adventismo – Volume I 425

Vejamos a estratégia do medo novamente em ação aplicada com maestria


por Ellen:

“Você está dando fortes golpes contra a tradição e os erros que estão no
fundamento de uma heresia que destruirá as almas daqueles que
a recebem. Uma porta larga para a destruição está aberta a todos
aqueles que acreditam na imortalidade da alma (...).”228

“Satanás começou com o seu engano no Éden. Disse a Eva:


‘Certamente não morrereis.’ Esta foi a primeira lição de Satanás
sobre a imortalidade da alma, e ele tem prosseguido com este engano
desde aquele tempo até o presente, e o conservará até que termine o
cativeiro dos filhos de Deus. Foram-me indicados Adão e Eva no Éden”.

“Participaram da árvore proibida, e então a espada inflamada foi


colocada em redor da árvore da vida, e eles foram expulsos do jardim,
para que não participassem da árvore da vida e fossem pecadores
imortais. O fruto desta árvore deveria perpetuar a imortalidade. Ouvi
um anjo perguntar: ‘Quem da família de Adão passou pela espada
inflamada, e participou da árvore da vida?’ Ouvi outro anjo responder:
‘Nenhum da família de Adão passou por aquela espada inflamada, e
participou da árvore; portanto não há pecador imortal.’ A alma que
pecar morrerá morte eterna, morte esta de que não haverá esperança de
ressurreição; e então se aplacará a ira de Deus.”229

“É incrível que Satanás tenha conseguido tão bem fazer os homens


acreditarem que as palavras de Deus: ‘A alma que pecar morrerá’ significa
que a alma que pecar não morrerá, mas viverá eternamente na miséria.
A vida é vida, seja na dor ou na felicidade. A morte é sem dor, sem
alegria, sem ódio.”230

228 White, Ellen, Christian Worker, pág. 156.2.


229 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 223.
230 White, Ellen, Bible Echo, 10 de Agosto, 1896. Parág. 3.
426 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Ellen aqui utiliza muito bem o psicológico de seus seguidores,


atribuindo a Satanás todo e qualquer ensinamento a respeito da imortalidade
da alma. E mais do que isso, ela classifica qualquer um que tenha esse tipo
de crença como um traidor do governo de Deus sobre a terra e que está
caminhando a passos largos para a destruição!

Além disso, ela usa o termo “a alma que pecar morrerá” completamente
fora de seu contexto e significado bíblico, conforme nós iremos mostrar
mais a frente. Ela ainda ensina que se Adão e Eva comessem do fruto da
árvore da vida, mesmo depois de pecadores, eles se tornariam “pecadores
imortais” como se a “árvore mágica” e não o próprio Deus todo-poderoso
fosse quem concedesse a vida eterna às pessoas. Deus é quem controla todas
as coisas e não uma “árvore mágica”! Ou seja, segundo a sua teoria, ninguém
até hoje é imortal, pois ninguém ainda comeu do fruto da árvore da vida.

Ela se utiliza do medo para causar ainda mais divisão no corpo de Cristo,
pois segundo os seus ensinos todos que creem nessa doutrina estão perdidos.
De uma maneira francamente bastante infantil, porém incrivelmente
eficaz, ela conseguiu convencer milhões de pessoas de que acreditar na
imortalidade da alma é o mesmo que crer no “Espiritismo” quando isso
está completamente desconectado da realidade. Eu namorei uma menina
espírita por 5 anos em minha adolescência, e sei muito bem como funciona a
doutrina espírita. Nessa época eu li o “Livro dos Espíritos” de Allan Kardec,
e posso garantir a vocês que a crença cristã a respeito da imortalidade da
alma está a mil anos luz de distância dos ensinamentos espíritas.

Ellen White deveria ver os seus seguidores como pessoas extremamente


ingênuas e de pouca capacidade de discernimento. Só isso pode explicar o
fato de ela ter advertido a eles que quem não cresse na doutrina adventista
do “Sono da Alma” falaria com espíritos de pessoas mortas acreditando que
eles fossem os seus falecidos parentes (?). Ela ainda diz que esses espíritos os
convenceriam de que o domingo deveria ser guardado no lugar do Sábado!
Vejamos a seguir:
Descortinando o Adventismo – Volume I 427

“Os santos precisam alcançar completa compreensão da verdade presente, a


qual serão obrigados a sustentar pelas Escrituras.

Precisam compreender o estado dos mortos; pois os espíritos de demônios


lhes aparecerão, pretendendo ser amigos e parentes amados, os quais
lhes declararão que o sábado foi mudado, bem como outras doutrinas
não escriturísticas.” 231

Absolutamente nenhum cristão que crê na imortalidade da alma de fato


acredita que possa falar com espíritos de pessoas mortas! Essa possibilidade
de engano só existiu na mente fértil de Ellen White. Na verdade, cristãos
que creem na imortalidade da alma e fluem nos dons do Espírito Santo,
estão muito mais conscientes de como os demônios agem na terra do que os
adventistas, e portanto, são presas muito menos fáceis do que eles.

Não é a crença na doutrina do “Sono da Alma” que nos resguarda de


enganos das trevas. Mas sim a presença do Espírito Santo em nossas vidas,
que nos concede o dom de discernimento de espíritos para nos alertar sobre
“quem é quem” no mundo físico e espiritual.

Aqueles que creem nos escritos de Ellen White e nas crenças


adventistas são desviados do importantíssimo batismo do Espírito Santo,
sendo substituído então, por interpretações falhas das Escrituras feitas por
uma falsa profetisa que se dizia possuir uma “revelação especial” de Deus.

Além disso, a Bíblia nos dá amplo conhecimento e proteção contra


a ideia de consultarmos os espíritos dos mortos. Cristãos em geral sabem
muito bem disso:

“Quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, não
procurem imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam.

231 White, Ellen, Primeiros Escritos, pág. 87.


428 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o
seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou dedique-se à magia,
ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja
médium ou espírita ou que consulte os mortos.

O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa
dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações
da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o Senhor, o seu
Deus.” Deuteronômio 18: 9-13

“Não recorram aos médiuns, nem busquem os espíritas, pois vocês


serão contaminados por eles. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês.” Levítico
19:31

“Saul morreu porque foi infiel ao Senhor; não guardou a palavra do


Senhor e chegou a consultar uma médium em busca de orientação,
em vez de consultar o Senhor. Por isso o Senhor o entregou à morte e
deu o reino a Davi, filho de Jessé.” 1 Crônicas 10:13-14

Esses versos não são propriedade exclusiva dos adventistas. Pelo


contrário, cristãos que creem na imortalidade da alma não só conhecem
tais versos, como de fato possuem uma armadura espiritual infinitamente
mais forte e segura do que os adventistas, porque eles estão em constante
uso dos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo. A atitude tomada
por Paulo nos versos a seguir, representam bem as igrejas evangélicas atuais
que fluem nos dons do Espírito Santo:

“Certo dia, indo nós para o lugar de oração, encontramos uma escrava
que tinha um espírito pelo qual predizia o futuro. Ela ganhava muito
dinheiro para os seus senhores com adivinhações.

Essa moça seguia a Paulo e a nós, gritando: ‘Estes homens são servos do
Deus Altíssimo e lhes anunciam o caminho da salvação’.
Descortinando o Adventismo – Volume I 429

Ela continuou fazendo isso por muitos dias. Finalmente, Paulo ficou
indignado, voltou-se e disse ao espírito: ‘Em nome de Jesus Cristo eu
lhe ordeno que saia dela!’ No mesmo instante o espírito a deixou.”
Atos 16:16-18

A prática de expulsar demônios é muito comum em igrejas evangélicas.


Note quão diferente é o nível de discernimento e batalha espiritual de Paulo
e dos evangélicos em geral, comparado às práticas adventistas. Enquanto
que a IASD vive em sua bolha religiosa, acreditando nos escritos de Ellen
White e crendo que possuem uma luz maior das Escrituras (e por isso
acham que tem direito de andar com grande ar de superioridade em relação
aos evangélicos); os crentes das outras denominações enfrentam o diabo
cara a cara quase que diariamente, expulsando demônios, levando palavras
de conhecimento ao corpo de Cristo, profetizando, realizando curas e
vivendo num nível do sobrenatural tão alto, que fazem as falsas e estranhas
manifestações/visões de Ellen White parecerem um passeio no parque.

O que os adventistas ainda não entenderam é que eles estão sendo


o grande motivo de chacota e piada em toda essa história, e quem está
rindo é o diabo. Os outros cristãos evangélicos caminham em humildade e
quando escutam as sandices adventistas, e notam o seu ar de superioridade,
eles simplesmente ignoram as suas ofensas e oram por eles. Ellen White
conseguiu arquitetar um plano muito bem bolado, em que ela e o seu “anjo
assistente” ergueram uma muralha do medo e do preconceito entre a IASD
e o restante do povo cristão.

Interessante notar que com isso, ela isolou completamente os seus


seguidores do restante do corpo de Cristo, que em sua esmagadora maioria
creem na doutrina da imortalidade da alma. Isso faz com que os membros
adventistas desconfiem de todo e qualquer evangélico, imaginando que ele
esteja sendo enganado por Satanás por não acreditar na crença adventista
do “Sono da Alma”. E o pior, quando alguém descobre a verdade e tenta
alertá-los sobre isso, tal pessoa é taxada como mais uma que foi “enganada
430 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

pelo inimigo”. Como já vimos anteriormente, esse é um exemplo clássico do


modus operandi de uma seita.

Com alegações tão fortes como essas apresentadas pela Sra. White
cabe a nós investigarmos as Escrituras de uma maneira séria, a fim
concluirmos se ela de fato estava falando a verdade sobre isso. Se ela estiver
certa, nenhum de nós deve dar ouvidos a doutrina da imortalidade da alma.
Contudo, se ela estiver errada e a Bíblia corroborar esse ensino, é preciso
que nós conheçamos e estudemos o máximo possível sobre isso, com o
intuito de sabermos quais seriam as implicações dessas verdades em nossa
vida presente e futura.

Definindo o termo “Imortalidade da Alma”

Se Ellen White e a IASD se referem ao termo “Imortalidade da Alma”


com relação aos seres humanos, como sendo uma “Imortalidade Absoluta”
sem princípio e nem fim, aí de fato essa afirmação estaria sendo completamente
falsa. Somente quem possui essa imortalidade absoluta é Deus:

“Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o
único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem
pode ver. A Ele sejam honra e poder para sempre. Amém.” 1 Timóteo 6:15-16

Contudo, o ponto que ela e a IASD combatem não é a imortalidade


absoluta. O que é defendido por eles é a “Imortalidade Condicional da Alma”.
Ellen, portanto, crê na imortalidade da alma “do jeito dela”, como vemos aqui:

“Os justos vivos são transformados ‘num momento, num abrir e fechar de
olhos’. À voz de Deus foram eles glorificados; agora tornam-se imortais,
e com os santos ressuscitados, são arrebatados para encontrar seu Senhor
nos ares.” 232

232 White, Ellen, O Grande Conflito, pág. 645.


Descortinando o Adventismo – Volume I 431

Sendo assim, o ponto de discussão aqui gira em torno da “Imortalidade


Condicional” dos salvos. Que ocorre somente a partir da ressurreição
do corpo, a qual ocorrerá no evento da volta de Jesus ou “Imortalidade
Incondicional” dos salvos, que acontece a partir do momento que cremos
em Jesus ou “nascemos de novo” no nosso espírito. Nenhuma vertente
cristã defende a “Imortalidade Absoluta” do ser humano. E é essa defesa,
a favor da imortalidade incondicional, que apresentaremos agora. Paulo
discorre a respeito, aqui:

“Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que


vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não
construída por mãos humanas.

Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação


celestial, porque, estando vestidos, não seremos encontrados nus.

Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque


não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial,
para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida.” 2 Coríntios 5:1-4

Aos poucos iremos dissecar o que Paulo fala nesse texto:

“Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que


vivemos”: essa temporária habitação é o nosso corpo corruptível, aquele
que possuímos agora;

“(...) temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu,


não construída por mãos humanas”: esse “edifício” ou “casa eterna no céu”
é o próprio céu, no qual nós viveremos em “espírito” sem o nosso corpo
corruptível, imediatamente após morrermos;

“Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação


celestial, porque, estando vestidos, não seremos encontrados nus.”: Paulo
aqui diz que enquanto estivermos no céu “em espírito”, nós “gememos”,
432 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

pois desejamos estar “revestidos da nossa habitação celestial “que é o que


receberemos na nossa ressurreição, o corpo “incorruptível”. Porque estando
“vestidos”, ou com um “novo corpo”, não estaremos mais “nus”, ou seja,
somente no “espírito” sem um corpo físico.

O ser humano nunca foi criado para viver sem um corpo. Nós fomos
criados à imagem e semelhança de Deus, seres tricotômicos que representam
a Trindade, como já dito anteriormente. Quando estivermos vivendo no
céu em espírito, apesar de estarmos num lugar maravilhoso, nós ainda não
estaremos completos do ponto de vista do nosso ser. Ainda necessitaremos
de um corpo, especialmente por que a nossa vida após o retorno de Cristo
será aqui nessa Terra mesmo. E para vivermos num mundo físico, nós
precisaremos de um corpo físico, porém dessa vez “divino” ou “incorruptível”.
É por isso que Paulo diz que nós ainda estaremos “gemendo” desejando ser
revestido do nosso corpo incorruptível;

“Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque


não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para
que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida.”: essa “casa” é o nosso corpo
atual, corruptível, que possuímos. Do qual nós “não queremos ser despidos”,
pois todos temos medo e receio de morrer porque não queremos ficar sem
um corpo, já que nós não fomos criados para viver sem ele (como os anjos
que são espíritos, por exemplo). O que nós almejamos é sermos revestidos
da nossa “habitação celestial”. Ou seja, do nosso corpo incorruptível, “para
que aquilo que é mortal” que é o nosso corpo corruptível atual que um dia
morrerá, seja finalmente “absorvido pela vida”, e portanto, “encapado” por
um corpo incorruptível que nunca morrerá.

O autor da carta aos Coríntios consolida esse mesmo pensamento aqui:

“Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na


corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita
em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo
Descortinando o Adventismo – Volume I 433

natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também


corpo espiritual.” 1 Coríntios 15:42-44

Note que quem ressuscita é o corpo e não o espírito. Em nenhum


momento a Bíblia fala de espíritos ressuscitando, somente de corpos. O
corpo desce à sepultura e volta ao pó de onde veio. E o espírito volta a Deus
que o deu. E a seguir nós veremos como os espíritos (nus ou sem uma casa
como Paulo diz) que estão com Deus, voltam com Jesus para receber os
seus corpos incorruptíveis que serão levantados da sepultura. Vejam como
Paulo descreve o evento:

“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que
dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm
esperança.

Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará,
mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram.

Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos,
os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os
que dormem.

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de


Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro.

Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com


eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos
com o Senhor para sempre.” 1 Tessalonicenses 4:13-17

Note como Paulo é extremamente claro a respeito da vinda dos


espíritos daqueles que estão no céu juntamente com Cristo! Quando eu
era adventista esse texto não fazia nenhum sentido pra mim. Agora, ele faz
absoluto sentido.
434 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Veja como Judas também cita esse evento:

“Enoque, o sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles: “Vejam, o


Senhor vem com milhares de milhares de seus santos, para julgar a
todos e convencer a todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade
que eles cometeram impiamente e acerca de todas as palavras insolentes
que os pecadores ímpios falaram contra ele”.” Judas 1:14-15

Esses “santos” são os justos que se encontram no céu em “espírito” após


a morte. Em absolutamente nenhum lugar da Bíblia, anjos são chamados
de “santos”. Portanto, só podemos conectar esse termo aos salvos que virão
junto com Cristo do céu, da mesma maneira que Paulo descreve o evento
em 1 Tessalonicenses 4:14!

Entendendo a palavra “Dormir” em seu contexto


Bíblico
Outro argumento muito usado pela IASD em favor da doutrina
do “Sono da Alma” é o fato de que em várias ocasiões a Bíblia usa esse
termo para descrever pessoas que morreram. Contudo, essa interpretação
adventista é muito rasa e, como nós mostraremos a seguir, carece de uma
leitura contextual mais sóbria.

Todas as vezes que a Bíblia utiliza o termo “dormir” relacionado a


morte de alguém, ela nunca o faz em relação a alma ou ao espírito dessa
pessoa, mas sempre com relação ao corpo dela. Quando o corpo morre,
ele se torna imediatamente “inativo” ou “inanimado”, daí o termo “dormir”
usado pelas Escrituras. Como já vimos e comprovamos anteriormente,
o nosso espírito definitivamente não fica inconsciente ou inativo após a
morte do corpo.

Um outro fato interessante é que toda vez que esse termo “dormir” é
usado pela Bíblia, ela se refere aos justos e não aos ímpios. A palavra usada
Descortinando o Adventismo – Volume I 435

para o falecimento do ímpio é sempre “morte” mesmo, como se o Espírito


Santo colocasse um fim definitivo a uma vida “cheia” ou “completa”
daquele ser humano que escolheu conscientemente estar separado de Deus.
Principalmente por que ele nunca terá um corpo “glorificado” ou “celestial”
e, além disso, ele nunca irá “nascer de novo” em seu espírito.

Ou seja, o termo “dormir” usado nos textos bíblicos para os justos


que haviam morrido é um eufemismo da palavra “morte”, do ponto de
vista daqueles que ainda estavam vivos com relação àqueles que já haviam
morrido. Pois um dia, eles levantariam de seus túmulos de volta à vida, da
mesma forma que uma pessoa que dorme durante a noite, acorda no outro
dia. Esse eufemismo tinha por objetivo, impor um limite de tempo a morte
corpórea do indivíduo, e não a de colocá-lo num estado de “Sono da Alma”
como insistem os adventistas.

Vejamos alguns exemplos em que a Bíblia usa o termo “dormir” e o seu


real contexto:

“Depois de dizer isso, prosseguiu dizendo-lhes: ‘Nosso amigo Lázaro


adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo’. Seus discípulos responderam:
‘Senhor, se ele dorme, vai melhorar’.

Jesus tinha falado de sua morte, mas os seus discípulos pensaram que
ele estava falando simplesmente do sono. Então lhes disse claramente:
‘Lázaro morreu, e para o bem de vocês estou contente por não ter estado
lá, para que vocês creiam. Mas, vamos até ele’.” João 11:11-15

Durante os estudos bíblicos da IASD, os professores param esse texto


por aqui e encerram assim o assunto do “Sono da Alma” aos seus alunos. E
dessa forma conseguem corroborar a sua doutrina do “Juízo Investigativo”
mais facilmente. Tudo isso, aliado aos grandes medos colocados nos
membros por Ellen White a respeito da doutrina da “Imortalidade da
Alma”, o que faz com que o novo convertido sofra esse “golpe religioso”
roubando-o de uma importante verdade cristã.
436 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Ocorre que se o professor adventista fosse mais honesto, ele daria


continuidade no texto bíblico que mais a frente revela, através das palavras
de Jesus, o real contexto do que está acontecendo com Lázaro e o que ocorre
quando um cristão salvo morre. Vejamos o diálogo que se dá entre Jesus e
Marta, logo depois dos versos acima citados:

“Disse-lhe Jesus: ‘O seu irmão vai ressuscitar’. Marta respondeu: ‘Eu sei
que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia’.

Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim,


ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais
morrerá. Crês nisto?” João 11:23-26

Quando Jesus apareceu no cenário judaico, os judeus viviam, em


sua grande maioria, muito confusos espiritualmente, principalmente
por estarem sem receber fortes revelações proféticas há centenas de anos.
O seu entendimento a respeito de vida após a morte era muito vago e
distorcido. Os Saduceus haviam desistido de crer em qualquer tipo de vida
após a morte e através da sua má influência, haviam infectado a nação com
a sua falta de conhecimento e sua pequena fé. Jesus, então, com grande
autoridade em suas palavras, revoluciona os ensinos da época com um
grande alinhamento de entendimento das Escrituras sobre vários assuntos,
inclusive sobre a vida após a morte.

As palavras acima ditas por Jesus a Marta, são novamente consolidadas


por Ele em um encontro com os Saduceus. Onde eles tentam, em vão, fazê-
lo cair em uma cilada a respeito de Seus ensinos sobre vida após a morte que
eram contrários às crenças deles.

Vejamos a seguir o que disse Jesus a respeito disso:

“Jesus respondeu: ‘Vocês estão enganados porque não conhecem as


Escrituras nem o poder de Deus! (...) E quanto à ressurreição dos
mortos, vocês não leram o que Deus lhes disse’:
Descortinando o Adventismo – Volume I 437

‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? ‘Ele


não é Deus de mortos, mas de vivos!’ Ouvindo isso, a multidão ficou
admirada com o seu ensino.

Ao ouvirem dizer que Jesus havia deixado os saduceus sem resposta, os


fariseus se reuniram.” Mateus 22:29-33

Se Jesus estivesse andando e ensinando entre nós nos dias de hoje, como
ele fazia naquela época, no lugar dos Saduceus ele deixaria os Adventistas
sem resposta com os seus ensinos! O que Ele disse aos Saduceus e a Marta é
muito claro. Todos que morreram em Cristo, mesmo antes da ressurreição
que ocorrerá no evento da Sua segunda vinda, não estão mortos, mas sim
vivos nesse exato momento! Abraão, Isaque e Jacó já haviam descido à
sepultura séculos antes de Jesus declarar que eles estavam de fato, vivos!

A Maior Heresia criada pela Doutrina do


“Sono da Alma”
Nós não podemos deixar de comentar, mesmo que rapidamente,
que a doutrina do “Sono da Alma” gera uma enorme heresia dentro do
Cristianismo. É a problemática das implicações geradas por esse ensino a
respeito do que ocorreu entre a morte de Cristo e a sua ressurreição, três
dias depois.

Se a alma “dorme” e permanece em um estado de limbo “dormente”


até a ressurreição de seu corpo, como e aonde teria ficado a “alma” da
segunda pessoa da Trindade, Jesus Cristo, durante os três dias que seu
corpo permaneceu na sepultura? Durante esse período o universo teria
sido relegado a ficar sob domínio de uma Divindade Binária (Deus Pai +
Espírito Santo) no lugar de um Deus Triúno (Deus Pai + Deus Filho +
Deus Espírito Santo)? Se Ele foi “reconstruído” como ensina Ellen White,
isso o transformaria em um ser criado daquele ponto em diante, eliminando
assim a Sua natureza divina dali pra frente.
438 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Se por um acaso, aceitássemos a tese de que somente a parte humana


de Cristo entrou no “Sono da Alma”, enquanto a divina permaneceu
acordada, então dessa forma destruiríamos a unidade da natureza de Cristo
o que obrigatoriamente requereria uma segunda encarnação da parte dele.
Seja qual for o ângulo que olharmos para a questão, a doutrina do “Sono
da Alma” se torna uma impossibilidade para Jesus Cristo, o que termina de
invalidar a já combalida tese adventista.

A Problemática de Moisés no Monte da


Transfiguração
Apesar de nós já termos falado muito a respeito da ausência de um
relato da ressurreição de Moisés na Bíblia (no capítulo em que falamos
sobre o Arcanjo Miguel), é importante enfatizarmos que esse fato também
impossibilita a doutrina do “Sono da Alma”.

Essa é uma das maiores pedras nos sapatos dos adventistas com relação
a esse tema. Se ao menos Moisés não tivesse aparecido vivo no Monte da
Transfiguração, talvez o grande trabalho de engano de Ellen White tivesse
ficado um pouco mais fácil para ela. Felizmente, esse é um fato incontestável
na Bíblia. Vejamos mais uma vez o que Mateus escreveu a respeito do
ocorrido:

“Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e
suas roupas se tornaram brancas como a luz. Naquele mesmo momento
apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus.”
Mateus 17:2-3

Na passagem que trouxemos à luz algumas páginas atrás, em Mateus


22:29-33, Jesus diz aos Saduceus que Abraão, Isaque e Jacó estão vivos,
pois Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos. No verso acima, Jesus
comprova na prática o que havia dito anteriormente, mostrando a Pedro,
João e Tiago, Moisés vivo falando com Ele no monte da transfiguração.
Descortinando o Adventismo – Volume I 439

Os adventistas ensinam que Elias estava no monte porque ele


representava os vivos que serão transladados sem ver a morte e Moisés,
por sua vez, estava ali porque representava os que iriam ao céu após serem
ressuscitados na volta de Cristo. Moisés, portanto, seria “as primícias dos
que dormem” e não Jesus Cristo como relatam as Escrituras.

Acredito ser essa uma representação da vontade inconsciente de Ellen


e da IASD de substituir a lei de Cristo e a Nova Aliança, pela lei de Moisés e
de nos colocar, novamente, debaixo do jugo da Antiga Aliança. Eu digo isso,
porque a Bíblia é muito clara em dizer que “as primícias dos que dormem”
é Jesus Cristo e não Moisés. Vejamos:

“Mas tenho contado com a ajuda de Deus até o dia de hoje, e, por este
motivo, estou aqui e dou testemunho tanto a gente simples como a gente
importante. Não estou dizendo nada além do que os profetas e Moisés
disseram que haveria de acontecer:

que o Cristo haveria de sofrer e, sendo o primeiro a ressuscitar dentre


os mortos, proclamaria luz para o seu próprio povo e para os gentios”.”
Atos 26:22-23

É interessante nessa passagem ver que o Espírito Santo, através da


caneta de Lucas e das palavras de Paulo, coloca o próprio Moisés para
desmentir Ellen White a respeito de sua ressurreição! Deus definitivamente
possui um ótimo senso de humor.

Somente esse texto já seria suficiente, mas a Bíblia é taxativa:

“Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias


dentre aqueles que dormiram.” 1 Coríntios 15:20

“Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito


dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.” Colossenses 1:18
440 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“E de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os


mortos e o soberano dos reis da terra.” Apocalipse 1:5

Um dos argumentos adventistas usados contra isso é tentar descreditar


a própria Bíblia e assim confundir os seus membros ao dizer que antes de
Jesus, outros haviam ressuscitado, como o próprio Lázaro, o morto que caiu
sobre o corpo de Eliseu e reviveu, etc.

Já é algo “comum”, infelizmente, presenciar a IASD querendo anular


as Escrituras, com o intuito de elevar os falsos ensinos de Ellen White.
Mas como esse livro tem o intuito principal de expor as falsas doutrinas
adventistas e de libertar os seus membros desses falsos ensinos, nós não
poderíamos deixar essa tese passar sem darmos a ela uma resposta.

A Bíblia não se contradiz. São os seus intérpretes mal-intencionados


que tentam colocá-la sob essa luz para poderem continuar ensinando as suas
heresias livremente. Mais uma vez, Ellen White e a IASD tentam rebaixar a
imagem de Cristo, mesmo que de uma maneira muito sutil, retirando dEle
as honrarias de ser as primícias dos que ressuscitarão um dia.

O argumento de que outras pessoas ressuscitaram antes de Cristo e por


isso nós não poderíamos levar tão ao pé da letra o termo “primícias dos que
dormem”, não procede porque esse termo se refere àqueles que ressuscitarão
com um corpo glorificado “incorruptível”. E não os que ressuscitaram com
um corpo corruptível, e morreram novamente após a sua ressurreição como
foi o caso de Lázaro e de outros que haviam ressuscitado antes de Jesus.
Essas pessoas reviveram por um tempo limitado e não como Cristo, que
ressuscitou e vive para sempre! Assim como Ele, nós seremos!

Como é possível essa instituição querer rebaixar mais uma vez a imagem
de Cristo, elevando Moisés acima dEle? Se Moisés de fato ressuscitou antes
de Cristo e vive para sempre no céu, ele é “as primícias dos que dormem” e
não Jesus como diz a Bíblia, e isso é indiscutível. Mais uma vez Ellen e sua
trupe rasgam o texto bíblico em favor de suas falsas doutrinas.
Descortinando o Adventismo – Volume I 441

Um outro problema é que em nenhum momento a Bíblia nos diz que


Moisés ressuscitou. Quem diz que ele ressuscitou é Ellen White em seus
escritos, contradizendo mais uma vez as Escrituras.

Há apenas três menções sobre a morte de Moisés nas Escrituras. Em


nenhuma delas há nem sequer uma menção ou qualquer tipo de alusão a
ideia de que Moisés ressuscitou. Analisemos juntos tais textos seguir:

“Moisés, o servo do Senhor, morreu ali em Moabe, como o Senhor dissera.


Ele o sepultou em Moabe, no vale que fica diante de Bete-Peor, mas até
hoje ninguém sabe onde está o seu túmulo.

Moisés tinha cento e vinte anos de idade quando morreu; todavia,


nem os seus olhos nem o seu vigor se enfraqueceram.

Os israelitas choraram Moisés nas campinas de Moabe durante trinta


dias, até passar o período de pranto e luto.” Deuteronômio 34:5-8

“Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho


de Num, auxiliar de Moisés:

Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo,
preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou
para dar aos israelitas.” Josué 1:1-2

E por fim:

“Contudo, nem mesmo o Arcanjo Miguel, quando estava disputando


com o diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa
contra ele, mas disse: O Senhor o repreenda!” Judas 1:9

Novamente apontamos um dos textos em que Ellen White afirma


não somente que Moisés havia ressuscitado, como que o seu corpo não viu
corrupção:
442 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes
que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo,
pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao
Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por
permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu
a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus
houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: ‘O Senhor
te repreenda’.”233

Por já termos exaustivamente analisado a questão de que é impossível


que Miguel e Cristo sejam a mesma pessoa, nós não iremos nos ater a essa
parte do texto. Somente iremos, uma vez mais, notar a contradição do texto
de Ellen White em relação à Bíblia, ao dizer que o corpo de Moisés foi
ressuscitado sem ver corrupção.

Ora, se depois de 3 dias de morte qualquer corpo humano entra em estado


de decomposição/putrefação, e se ao comparar os textos de Deuteronômio
e Josué acima nós vemos que Deus assegurou a Josué, depois de no mínimo
30 dias da morte de Moisés que ele ainda estava morto, então só nos resta a
conclusão de que Ellen White mentiu mais uma vez em seus escritos.

Há ainda uma última problemática enfrentada pelos adventistas nessa


questão da ressurreição de Moisés, sendo essa uma das mais profundas
teologicamente falando.

É de concordância praticamente geral entre os teólogos evangélicos (e


adventistas) de que sempre existiu a possiblidade de Cristo não conseguir
levar a cabo a sua missão na Terra e por esse motivo, tudo que existe no
universo estava em jogo durante a vida, morte até finalmente a ressurreição
do Messias. Caso Ele não tivesse conseguido alcançar a vitória de nunca ter
pecado e de se oferecer como sacrifício por nós, pecadores, através de morte
e morte de cruz, toda a raça humana estaria perdida.

233 White, Ellen, Primeiros Escritos, págs. 174, 175.


Descortinando o Adventismo – Volume I 443

Pois bem, tendo isso como verdade, analisemos agora a tese adventista
de que Moisés ressuscitou e apareceu no monte da transfiguração com
corpo já glorificado e portanto, imortal. Ora, caso Jesus não tivesse
obtido vitória na cruz, e a raça humana inteira estivesse perdida, como teria
ficado a situação de Moisés diante desse celeuma divino/universal? Como
ficaria a justiça de Deus diante do universo, colocando toda a raça humana
em um estado de perdição eterna, contudo tendo Moisés ao mesmo tempo
vivo e com um corpo já glorificado e imortal?

Isso seria impossível de solucionar, deixando mais uma vez a verdade


de que Moisés não ressuscitou, não é “as primícias do que dormem” e
de que ao aparecer no monte da transfiguração ele teria aparecido não
com um corpo glorificado e imortal, mas em espírito e como forma de
visão para aqueles que estavam ali presentes.

O Estado Intermediário entre Morte e


Ressurreição

Até aqui nós pudemos comprovar em nosso estudo neste capítulo,


entre outras coisas, o seguinte:

• As origens históricas e os interesses que existiram por trás do


estabelecimento da doutrina do “Sono da Alma” dentro da IASD;

• O ser humano é um ser tricotômico, divido em corpo, alma e espírito;

• O espírito do homem é muito mais do que um simples “fôlego de vida”;

• Quais são as graves consequências de não termos consciência do


nosso espírito;

• Os reais motivos por trás das fortes ameaças de Ellen White contra
aqueles que acreditam na doutrina da “Imortalidade da Alma”;
444 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

• O contexto bíblico sobre o eufemismo usado na palavra “dormir”


dentro do contexto da morte na Bíblia;

• A confusão espiritual e as heresias geradas a partir da aceitação da


doutrina do “Sono da Alma”.

Nesse subcapítulo nós iremos falar um pouco mais a respeito do estado


intermediário que o espírito/alma do ser humano entra após a sua morte,
e os diferentes termos usados pela Bíblia (tanto no Antigo como no Novo
Testamento) para identificar os locais que esses espíritos são direcionados de
acordo com as escolhas que eles fizeram em vida.

“Sheol”, “Alma” e “Sepultura” no Antigo Testamento

A palavra “Sheol” em hebraico é usada no Antigo Testamento para


identificar o destino daqueles que morreram naquele período testamentário.
Enquanto o corpo era sempre referido com indo para a sepultura, o espírito
era sempre dito que iria ao “Sheol”.

Existe um consenso geral entre teólogos judeus e não judeus de que


“Sheol” era o local de habitação dos espíritos e almas das pessoas que haviam
morrido. Vejamos alguns comentários a respeito do tema:

“A literatura rabínica atual e passada concorda que a alma está


consciente após a morte: “O Talmud reconhece um tipo de estado
intermediário da alma entre morte e ressurreição (...)” Ensaios na
literatura greco-romana e em literatura talmúdica p. 36 de Guttman.

O renomado estudioso de Princeton, BB Warfield, afirma que não há


“hesitação em entender com toda a convicção que Israel, desde o início
de sua história registrada tenha acalentado a posição mais firme da
persistência da alma na vida após a morte… O corpo está deitado
na sepultura e a alma parte para o Sheol.” Escritos mais curtos
selecionados de Benjamin B. Warfield, págs. 339, 345.
Descortinando o Adventismo – Volume I 445

“No Antigo Testamento, o homem não deixa de existir na morte, mas


sua alma desce ao Sheol.” O Novo Dicionário da Bíblia pág. 380

“Sheol denota o lugar onde as almas que partiram são reunidas após a
morte.” Comentários Sobre o Antigo Testamento de Keil e Delitzsch.

“Charles Hodge diz: Que os judeus acreditavam em uma vida consciente


após a morte está fora de questão.” Teologia Sistemática pág. 770

Ou seja, que os escritores do Antigo Testamento tinham essa crença


está fora de questão e mais do que comprovado do ponto de vista teológico/
histórico. O que devemos fazer agora é tentar reverter algumas distorções
que foram feitas pelas falhas de tradução da KJV, o que causou e ainda
causa muita confusão em torno desse assunto.

A KJV traduziu a palavra “Sheol” como “sepultura” 31 vezes no


Antigo Testamento, e outras 31 vezes como a palavra “inferno”, o que fez
com que muitas pessoas confundissem grandemente esse assunto na Bíblia.
Isso acabou fazendo com que alguns teólogos adventistas insistissem que a
palavra “Sheol” deveria ser traduzida sempre como “sepultura”, para que as
suas doutrinas pudessem fazer sentido. Todavia, traduções mais modernas
e mais apuradas, consertaram estes erros da KJV (como, por exemplo, a
NASB) fazendo total diferença entre os termos “Sheol” e “sepultura”. Agora,
toda a vez que a palavra “Sheol” é encontrada no AT ela fica mantida como
sendo “Sheol” mesmo, enquanto a palavra “sepultura” só é traduzida dessa
forma quando a palavra “kever” em hebraico for utilizada. Dessa maneira,
o entendimento sobre esse assunto fica muito mais claro.

Vejamos alguns exemplos:

“Pois tu não deixarás minha alma no Sheol (Sheol), nem permitirás


que teu santo apodreça na sepultura (kever).” Salmos 16:10
446 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“Sobre a sepultura (kever) de Raquel, Jacó levantou um monumento de


pedra, que está lá até hoje.” Gênesis 35:20

“O Sheol (Sheol) se empolga com a sua chegada. Líderes e reis mortos


há muito tempo se levantam para vê-lo.” Isaías 14:9

“Lá embaixo, no Sheol (Sheol), líderes poderosos receberão o Egito e


seus aliados com zombaria, dizendo: ‘Eles desceram; estão entre os
rejeitados, entre as multidões mortas à espada’.” Ezequiel 32:21

Devemos fazer algumas considerações e diferenciações importantes a


respeito desses dois termos:

• Sheol é identificado como um local espiritual debaixo ou dentro


da terra, numa espécie de outra dimensão, para onde os espíritos/
almas dos mortos eram levados;
• As sepulturas (kever) eram locais acima da terra onde corpos eram
enterrados, nunca nas profundezas ou submundos espirituais da
Terra. Essas sepulturas não eram iguais as covas debaixo da terra
que temos hoje. Explicaremos sobre isso mais à frente;
• As almas enquanto estão no Sheol são sempre apresentadas com
consciência, conversando entre elas, ou sofrendo. Enquanto os
corpos dos mortos que estão na sepultura estão sempre inconscientes
não apresentando qualquer tipo de atividade;
• A palavra kever ou sepultura/túmulo/cova é muitas vezes usada no
plural;
• A palavra Sheol é sempre usada no singular;
• Uma sepultura (kever) poderia ser comprada ou vendida, mas
nunca o mesmo ocorria com o Sheol;
• Um corpo poderia ser colocado numa sepultura (kever), mas
nunca no Sheol;
Descortinando o Adventismo – Volume I 447

• Um monumento poderia ser levantado sobre uma sepultura


(kever), o mesmo não ocorre com o Sheol;
• Uma sepultura (kever) poderia ser aberta ou fechada por um ser
humano o que era impossível ocorrer com o Sheol;
• Encostar numa sepultura (kever) fazia com que essa pessoa fosse
considerada como “contaminada” ou “impura”, o mesmo não
acontecia com o Sheol;
• Uma sepultura (kever) poderia ser escolhida, enquanto no Sheol
não havia poder de escolha;
• Uma sepultura poderia ser visitada, decorada, destruída e até
mesmo saqueada, enquanto nada disso ocorria com o Sheol.

Essas distinções eram sempre muito claras, pois os escritores do AT


nunca deixaram dúvidas entre elas. Contudo, algumas traduções foram
infelizes ao transcreverem esses termos do hebraico para os seus idiomas.

Chegamos, portanto, a clara conclusão de que no Antigo Testamento


os corpos dos mortos eram sempre colocados nas sepulturas (kever), e os
espíritos/almas sempre eram dirigidos ao Sheol.

Havia dois lugares diferentes no Sheol

Nos termos do Antigo Testamento quando alguém morria, ele se


despedia dos que estavam vivos, porém se reunia novamente com aqueles que
já haviam morrido, se de fato o local para onde eles haviam ido era o mesmo.

É interessante notar que existiam dois locais diferentes no Sheol. Havia


um local mais alto e outro local mais baixo, o que provavelmente repartia os
ímpios dos justos. O Talmud descreve os ímpios em constante tormento no
Sheol, enquanto os justos ocupavam um outro local onde viviam em total
harmonia e felicidade.
448 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Vejamos algumas citações bíblicas que mostram esse local “mais baixo”
do Sheol:

“Pois um fogo foi aceso pela minha ira, fogo que queimará até as partes
mais baixas do Sheol.” Deuteronômio 32:22

“Nas profundezas o Sheol estão todos agitados para recebê-lo quando


chegar. Por sua causa ele desperta os espíritos dos mortos, todos os
governantes da terra. Ele os faz levantar-se dos seus tronos, todos os reis
dos povos.

Todos responderão e lhe dirão: Você também perdeu as forças como nós, e
tornou-se como um de nós.” Isaías 14:9-10

“As cordas da morte me envolveram, as angústias do Sheol vieram sobre


mim; aflição e tristeza me dominaram.” Salmos 116:3

Os espíritos quando iam ao Sheol não podiam mais realizar as


atividades que antes eram feitas enquanto possuíam corpos físicos como,
por exemplo: se casar, realizar negócios, fazer planejamentos, comer ou
beber. Como na história do Rico e de Lázaro que é contada por Jesus (que
é uma mistura de parábola e fatos reais como explicaremos mais adiante)
havia um “grande abismo” entre o Sheol e o mundo dos vivos que ninguém
podia atravessar. Sendo assim, esses espíritos não podiam realizar mais nada
no mundo físico ou “debaixo do sol”, conforme descrito no tão famoso
texto entre os adventistas de Eclesiastes 9:5 (iremos dissecar esse verso em
seu contexto mais adiante).

Porém, mesmo com toda essa diferenciação apresentada no Antigo


Testamento, fica claro que aquelas pessoas não possuíam uma revelação
tão boa quanto os autores do Novo Testamento sobre o pós-morte. Após
a vida, morte e ressurreição de Cristo, os apóstolos, principalmente Paulo,
tiveram uma luz muito maior a respeito do tema e escreveram muito mais
Descortinando o Adventismo – Volume I 449

sobre esse assunto tão importante para todos nós. Enquanto os personagens
do Antigo Testamento temiam sobremaneira a morte, os autores do Novo
Testamento faziam questão de quebrar esse tabu, sempre que podiam pela
luz que receberam de Jesus.

Vejamos como o autor do livro de Hebreus descreve essa quebra de


paradigma:

“Portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também
participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse
aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse aqueles
que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte.”
Hebreus 2:14-15

A morte de Cristo na cruz não só nos trouxe a possibilidade de uma


vida eterna com Ele, mas entre outras coisas também serviu para nos
libertar da ignorância e do medo da morte. Ocorre que mesmo após termos
a capacidade de estarmos libertos, alguns grupos sectários como a IASD,
sob liderança de Ellen White, insistem em nos colocar novamente debaixo
de um “jugo de ignorância” sobre um tema tão vital para a nossa segurança
e discernimento espiritual.

Como o caro leitor gostaria de se imaginar após a morte?

Opcão 1: A resposta bíblica para o que acontece após a morte é que


nós já temos a vida eterna em Cristo Jesus, e quando morrermos estaremos
imediatamente com Ele no céu:

“Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue


vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher!
Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o
que é muito melhor;” Filipenses 1:21-23
450 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Opção 2: A resposta adventista para o que acontece após a morte é


que entraremos numa espécie de escuridão espiritual ou “Sono da Alma”
que a Bíblia não corrobora. Além disso, como Ellen White condena todo
aquele que pensa estar seguro em sua salvação, todo adventista vive uma
vida extremamente ansiosa, sem nenhuma segurança de saber o que irá
ocorrer quando ele abrir os olhos depois desse “limbo da alma” após a sua
morte. A grande surpresa será se ele se achar entre os escolhidos no céu!

Senhoras e senhores façam as suas escolhas.

O Significado da Palavra “Hades” no Novo Testamento

A palavra “Hades” é a palavra grega utilizada no Novo Testamento para


o equivalente de “Sheol” no Antigo Testamento. O Antigo Testamento foi
traduzido para o dialeto Grego “Koine” um ou dois séculos antes de Cristo.
Nós conhecemos essa tradução como “Septuaginta”, e ela nos traz informações
muito importantes sobre os significados e também sobre as escolhas das
palavras usadas no Novo Testamento, que foi todo escrito em Grego.

A Septuaginta nunca traduziu a palavra Sheol como “sepultura”,


“túmulo”, “cova” ou nenhum equivalente na língua grega. Da mesma
forma a palavra Hades também nunca foi usada para empregar o mesmo
significado de “sepultura”, “túmulo” ou “cova”. Além disso, das 71 vezes que
a palavra Hades aparece no Antigo Testamento, 64 vezes é para traduzir a
palavra Sheol. Das outras 7 vezes ela é aplicada a outras palavras hebraicas.
Uma delas é a palavra “Rapha” que aparece em Provérbios 2:18:

“Ela se dirige para morte, que é a sua casa, e os seus caminhos levam às
sombras (Rapha ou Hades).” Provérbios 2:18

Concordância Strong:
‫ אפר‬rapha: 1) espíritos dos mortos, sombras, espíritos.
Descortinando o Adventismo – Volume I 451

Isso é importante porque comprova que os tradutores da Septuaginta


não levaram em consideração nenhum tipo de influência platônica
grega (ensinos de Platão) para realizar as suas traduções, como tentam
erroneamente afirmar os teólogos adventistas. Mas sim se utilizaram do
próprio significado da palavra hebraica “Sheol” dentro de seu coerente
contexto bíblico.

Tanto a palavra Sheol, quanto a palavra Hades não se referem a um


local de não existência inconsciente. Quem alega o contrário, ou o faz por
ignorância, ou por uma clara posição tendenciosa a fim de defender os
erros doutrinários de sua instituição sem se preocupar com a honestidade
teológica/intelectual devida.

Vejamos o que dizem alguns teólogos especialistas que dedicaram


grande parte de suas vidas estudando o assunto:

• O Greek-English Lexicon do Novo Testamento na página 16 define


a palavra Hades como “o submundo dos mortos” ou “o lugar dos
mortos”;

• O Greek-English Lexicon de Thayer na página 11, explica


que Hades deriva de duas palavras que significam invisível ou
incorpóreo. Assim, refere-se ao “receptáculo comum dos espíritos
desencarnados”;

• Mais uma vez, o teólogo de Princeton AA Hodge, em Teologia


Evangélica nas páginas 372, 373, escreve: “Os modernos estudiosos do
hebraico e do grego (...) se unem em unanimidade em afirmar que essas
palavras (Sheol e Hades) nunca, em absolutamente nenhuma ocasião
na Bíblia, significam nem “inferno” ou “sepultura”, mas sempre e
somente o mundo espiritual invisível para onde vão os mortos.”.

Como já vimos anteriormente, a KJV traduziu a palavra “Sheol” de


maneira equivocada e seguiu a fazer o mesmo com a palavra “Hades” no
452 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Novo Testamento aplicando a ela ora a palavra “sepultura”, ora a palavra


“morte” e às vezes até mesmo a palavra “inferno”. O problema é que
praticamente todas as doutrinas da IASD foram baseadas na tradução
da KJV. Como se já não bastasse ter uma falsa profetisa como guia e um
início bastante turbulento e confuso com o “Grande Desapontamento”,
os adventistas ainda tiveram a má sorte de usar uma tradução falha das
Escrituras para basear as suas crenças.

Vejamos a seguir como é simples provarmos, com alguns exemplos,


que a KJV se equivocou na tradução dessa palavra:

A palavra grega “Hades” não quer dizer “Morte”, nem


“Sepultura”, nem “Inferno”

1. A palavra grega para “morte” no Novo Testamento é “Thanatos” e não


“Hades”. Vejamos a grande diferença que isso traz para o sentido de um verso:

“Quando o vi, caí aos seus pés como morto. Então ele colocou sua mão
direita sobre mim e disse: Não tenha medo. Eu sou o primeiro e o último.

Sou aquele que vive. Estive morto mas agora estou vivo para todo o
sempre! E tenho as chaves da morte (Thanatos) e do Hades (Hades).”
Apocalipse 1:17-18

Conclusão número 1: Hades não significa “morte”.

2. A palavra grega para “sepultura” no Novo Testamento é “Mneema”


ou “Mnemeion”. Vejamos um exemplo bíblico que comprove o que estamos
falando:

“Ao chegar, Jesus verificou que Lázaro já estava no sepulcro (Mnemeion)


havia quatro dias.” João 11:17
Descortinando o Adventismo – Volume I 453

Concordância Strong:
μνημειον mnemeion ou mneema: 1) objeto visível para preservar ou
recordar a memória de alguém ou algo 1a) memorial, monumento,
especificamente, um monumento sepulcral;
2) sepúlcro, tumba.

Conclusão número 2: Hades não significa “sepultura”.

3. A palavra grega para “inferno” no Novo Testamento é “Gehenna” e


não “Hades”. Vejamos mais um exemplo que mostre na prática e no contexto
bíblico, esse termo em ação:

“Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor
perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno
(Gehenna).” Mateus 5:29

Concordância Strong:
γεεννα geenna: 1) “Geena” ou “Geena de fogo” traduz-se como inferno,
isto é, o lugar da punição futura. Designava, originalmente, o vale do
Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o lixo e os animais mortos da cidade
eram jogados e queimados. É um símbolo apropriado para descrever o
perverso e sua destruição futura.

Apesar de ser usada uma única vez no Novo Testamento, a palavra


“Tartaro” usada por Pedro também foi empregada para representar o “inferno”:

“Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno
(Tartaro), prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados
para o juízo.” 2 Pedro 2:4

Concordância Strong:
ταρταροω tartaroo de Tártaro (o abismo mais profundo do inferno):
454 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

1) nome da região subterrânea, sombria e escura, considerada pelos


antigos gregos como a habitação dos ímpios mortos, onde sofrem
punição pelas suas más obras; corresponde ao “Geena” dos judeus;
2) lançar ao Tártaro, manter cativo no Tártaro.

Conclusão número 3: Hades não significa “inferno”.

4. A palavra grega para “paraíso” no Novo Testamento é “Paradeisos” e


não “Hades”, e ela aparece somente 3 vezes no Novo Testamento. Vejamos
um exemplo que mostre que “Hades” também não é “paraíso”:

“Jesus lhe respondeu: Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso
(paradeisos)”. Lucas 23:43

Concordância Strong:
παραδεισος paradeisos: 1) entre os persas, um grande cercado ou
reserva, região de caça, parque, sombreado e bem irrigado, no qual os
animais silvestres eram mantidos para a caça; era fechado por muros e
guarnecido com torres para os caçadores;
2) jardim, parque de recreação; 2a) bosque, parque;
3) parte do Hades que os judeus pensavam ser a habitação das almas dos
piedosos até a ressurreição: alguns entendiam ser este o paraíso celeste;
4) as regiões superiores dos céus. De acordo com os pais da igreja primitiva,
o paraíso no qual nossos primeiros pais habitaram antes da queda ainda
existe, não sobre a terra ou nos céus, mas acima e além do mundo;
5) céu, paraíso.

Conclusão número 4: Hades não significa “paraíso”.


Descortinando o Adventismo – Volume I 455

Sendo assim, nós pudemos estabelecer com grande certeza o que a


palavra “Hades” não significa. O que já é um grande passo para eliminar
uma enorme confusão feita sobre esse assunto. Mas afinal, o que de fato a
palavra “Hades” quer dizer?

Como vimos anteriormente, a palavra “Hades” foi usada pelos


tradutores do Antigo Testamento, do idioma Hebraico para o Grego
(Septuaginta), como substituto da palavra “Sheol”. Sendo assim ela
incorpora o significado de Sheol, porém expande esse conceito ainda mais
devido ao fato de que Jesus trouxe muito mais revelação a respeito desse
tema, para os escritores do Novo Testamento.

Lembrem-se que os autores do Antigo Testamento tinham muito


medo desse lugar, ao contrário dos autores do Novo Testamento que tinham
quase que um anseio de irem para esse local o quanto antes, sem apresentar
qualquer tipo de medo da morte.

Entre o Antigo e o Novo Testamento a literatura rabínica mostra


que havia um consenso de que existia uma separação dentro do “Sheol”
ou “Hades”. Um local mais “baixo” onde os ímpios eram castigados, e um
local mais “alto” onde os justos ficavam e havia plena felicidade e harmonia.
Esse primeiro lugar o Novo Testamento chama de “inferno” ou “gehenna”,
enquanto o segundo lugar é chamado de “paraíso” (paradeisos) ou “Seio de
Abraão”. E entre eles havia um “abismo” que evitava que uma alma/espírito
passasse para o outro local. Note que essa estrutura só existiu até a ressurreição
de Cristo. Depois disso algumas mudanças significativas ocorreram.

Iremos falar sobre elas mais à frente.

Eu tenho plena consciência da resistência espiritual e intelectual adventista


que existente em torno desse assunto. Contudo creio que já conseguimos
amadurecer esse tópico o suficiente, quebrando diversos tabus e erros de
entendimento contextual e etimológico bíblico, para podermos enfim analisar
o polêmico texto do Novo Testamento que corrobora todo esse entendimento
do pós-morte. A estória de Lázaro e o homem rico, contada por Jesus:
456 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia


no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo
chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da
mesa do rico. Em vez disso, os cães vinham lamber as suas feridas.

Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto


de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado.

No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e


viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado.

Então, chamou-o: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que


Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua,
porque estou sofrendo muito neste fogo’.

Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você
recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora,
porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento.

E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que


os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para
o nosso, não conseguem’.

Ele respondeu: ‘Então eu lhe suplico, pai: manda Lázaro ir à casa de


meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles
não venham também para este lugar de tormento’.

Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’.

‘Não, pai Abraão’, disse ele, ‘mas se alguém dentre os mortos fosse até eles,
eles se arrependeriam’.

Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco


se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’ “.
Lucas 16:19-31
Descortinando o Adventismo – Volume I 457

Os adventistas insistem em dizer que esse texto é uma parábola,


enquanto seus opositores defendem que essa é uma história real. A razão,
contudo, parece estar num equilíbrio entre os dois conceitos. Jesus se utiliza
aqui de uma prática bastante comum entre os rabinos da época, que era a de
contar estórias com nomes de pessoas conhecidas (Abraão) para poderem
ilustrar princípios e verdades espirituais.

Uma das verdades que Cristo se propõe a ensinar é a de que, depois da


morte, existe uma dimensão espiritual onde o ímpio sofre castigos enquanto
o justo encontra prazer e conforto. Todavia, existe claramente dentro dessa
estória um teor parabólico, que aparece quando Jesus descreve a pessoa que
está no inferno como sentindo sede e pedindo água para Abraão.

Também não creio que Cristo estivesse ensinando que os espíritos que
estavam no inferno pudessem se comunicar com quem estivesse no paraíso,
afinal ele mesmo havia dito que existia um grande abismo entre esses locais.
Porém em nenhum momento ele corrige ou faz alusão a algo contrário,
contra a ideia de que exista de fato consciência no pós-morte.

Sendo assim, antes da morte de Jesus, todos os ensinamentos bíblicos


concordam que tanto os justos quanto os ímpios tinham como destino
o Sheol (Antigo Testamento) ou Hades (Novo Testamento). Agora,
finalmente, podemos juntar mais uma peça do quebra-cabeça: o relato do
ladrão na cruz.

“Então ele disse: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”.

Jesus lhe respondeu: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no
paraíso (paradeisos)”. Lucas 23:42-43

Por favor, caro leitor, não deixe que o seu pastor ou professor adventista
te engane com a anedota de que existia uma vírgula na fala (?) de Jesus, mas
que essa vírgula não foi colocada no texto e Jesus, portanto, quis dizer: “Eu
te digo hoje, estarás comigo no paraíso!”.
458 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Em primeiro lugar, que redundância absurda seria essa?

Imaginemos a cena: Jesus pendurado no madeiro, todo o tipo de


sofrimento e dor passando pelo seu corpo. Angústia, grande sofrimento
físico e tremenda dor espiritual por se sentir pela primeira vez, separado
de Seu Pai. O peso do pecado de todo o mundo sobre Ele! Mas, Cristo
em meio a tudo isso, teria tido o trabalho extra de expressar essa tremenda
redundância gramatical? “Eu te digo hoje!”. Mas é claro que Cristo disse
“hoje”, ou seja, naquele mesmo dia! Teria sido quando?

Além de ninguém, nunca ter tido esse costume naquela época de falar
dessa forma e de em nenhum outro momento a Bíblia apresentar esse tipo
de expressão, por que o relator do evento teria o cuidado de escrever algo
tão redundante assim, num momento tão dramático como esse? Essa tese
não tem absolutamente nenhum sentido! Chega a ser vergonhoso o nível
de apelação que alguns apologistas, teólogos e apresentadores se submetem
para poder amparar tal tese.

Por outro lado, veja como tudo se encaixa harmoniosamente bem se


entendermos o texto, da maneira com que ele foi escrito e da maneira que a
absoluta maioria dos cristãos do mundo, compreende:

“Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso.”

A garantia que Cristo dá é enfatizada pelo momento de urgência e


imediatismo que Ele próprio traz ao ladrão na cruz. Nas entrelinhas Jesus
está dizendo:

“Pela tua fé demonstrada, hoje mesmo você estará comigo no


paraíso. Você pode estar sofrendo agora, porém logo em seguida você irá
experimentar coisas maravilhosas no paraíso, onde estaremos juntos! A sua
morte física é certa, porém a vitória espiritual virá imediatamente após ela!”.

Essa é a segurança que Ele quer trazer para nós hoje, mas crenças
limitadoras como a do “Sono da Alma” fazem com que promessas tão
Descortinando o Adventismo – Volume I 459

lindas como essa, sejam completamente desperdiçadas através de distorções


bíblicas que não fazem absolutamente nenhum sentido. A única pessoa que
teria interesse em fazer com que cristãos acreditassem nisso, seria o grande
inimigo de Deus, Satanás.

Dando continuidade a nossa análise sobre o Hades, Cristo, quando


morreu, morreu sob as condições e estruturas de todos os seres humanos que
haviam morrido antes dele. Sendo assim, o seu corpo morto, permaneceu
na sepultura, enquanto o seu espírito/alma, foi para o Hades. O local do
Hades ao qual Jesus foi destinado foi o paraíso ou “Seio de Abraão”, onde
imediatamente Ele se viu em companhia do ladrão da cruz, conforme Ele
mesmo havia prometido.

Existem diversas menções bíblicas ao fato de que Cristo foi ao Hades


depois de sua morte.

Vejamos alguns exemplos:

“Prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma


não foi deixada no Hades (dimensão espiritual dos mortos), nem a sua
carne viu a corrupção (na sepultura).” Atos 2:31234

Se a alma de Jesus não foi deixada/abandonada no Hades, isso quer


dizer que Ele foi até lá, porém não permaneceu por lá.

“Pois Cristo também sofreu por nossos pecados, de uma vez por todas.
Embora nunca tenha pecado, morreu pelos pecadores a fim de conduzi-los
a Deus. Sofreu morte física, mas foi ressuscitado pelo Espírito, por meio
do qual pregou aos espíritos em prisão, àqueles que, muito tempo
atrás, desobedeceram a Deus quando ele esperou pacientemente
enquanto Noé construía sua embarcação.” 1 Pedro 3:18-20

234 Anotação e ênfase minha.


460 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Podemos notar que Pedro deixa claro que Jesus sofreu uma morte física
e em seguida foi pregar aos “espíritos em prisão” que se encontravam no
Hades, e que haviam desobedecido a ordem de Deus com relação ao dilúvio.
Se após a sua pregação houve arrependimento da parte desses espíritos que
desobedeceram e se houve um consequente perdão da parte de Deus, nós
não podemos afirmar com certeza. Porém, o texto torna evidente que Jesus
foi até esse local chamado “Hades”, onde eles estavam.

Vejamos como Pedro no capítulo seguinte da mesma carta, consolida


ainda mais esse fato de que Cristo pregou para os mortos que estavam no
“Hades”:

“Por isso as boas novas foram anunciadas até mesmo aos mortos, pois,
embora estivessem destinados a morrer como todo ser humano, agora
vivem para sempre com Deus pelo Espírito.”1 Pedro 4:6

O que a junção desses textos indica é que muitos daqueles que estavam
no “Hades” eram ignorantes a respeito de muitas das verdades de Deus,
principalmente as boas novas do evangelho. Por isso Jesus levou essas boas
novas a eles para que pudessem tomar uma decisão consciente a respeito de
seu eterno destino, e agora eles vivem para sempre com Deus no céu!

A Transição do antigo “Seio de Abraão” para o


“Terceiro Céu”
A transição entre o “Seio de Abraão” ou “antigo Paraíso” que se
encontrava no “Hades” (submundo espiritual que se encontrava nas
profundezas da Terra), para o “atual Paraíso” que se encontra no terceiro
céu, é claramente relatada em Efésios 4:8-9 e tem seu conceito delineado
em alguns outros textos bíblicos:

“Por isso é que foi dito: ‘Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou
cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens’.
Descortinando o Adventismo – Volume I 461

(Que significa ‘ele subiu’, senão que também descera às profundezas


da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os
céus, a fim de encher todas as coisas.)” Efésios 4:8-9

Algumas correntes adventistas tentam explicar o verso de Efésios


4:9, na parte em que diz: “... senão que também descera às profundezas da
terra?”, como tendo uma conotação de que Cristo teria descido somente à
sepultura. Todavia, qualquer mínimo conhecedor da história judaica sabe
que os túmulos da época, incluindo o de Jesus, ficavam acima da Terra e não
nas profundezas como diz o texto. O local de sepultamento de Cristo foi
numa bancada interna na parte lateral de uma montanha/rochedo, onde na
parte de fora havia uma pedra que depois de rolada na frente do sepulcro,
servia como uma porta que lacrava a entrada.

O texto todo de Efésios acima é tão claro que parece que o comentário
feito entre parênteses é de algum apologista atual e não do próprio Paulo,
autor da carta. Ele explica com total exatidão o que houve com Cristo após
a sua morte e também após a sua ressurreição. Além de evidenciar que ele
levou junto com ele, muitos “prisioneiros”, ou seja, aqueles espíritos em
prisão que comentamos anteriormente na primeira carta de Pedro; e que
muitos pastores adventistas insistem em dizer que eram os antediluvianos
enquanto ainda estavam vivos sendo tocados pelo Espírito Santo na época
de Noé para um chamado de arrependimento.

Note como é impossível que isso seja verdade quando incluímos todas
as partes do quebra-cabeça. A carta de Paulo não deixa nenhuma dúvida
de que esses espíritos foram levados com Cristo para o céu no momento de
sua ascensão!

Paulo ainda entrega uma outra chave para o nosso entendimento, onde
fica o local atual do “paraíso”, que antes ficava no Hades:

“Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado


ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe.
462 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

E sei que esse homem – se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o
sabe – foi arrebatado ao paraíso (Paraseidos) e ouviu coisas indizíveis,
coisas que ao homem não é permitido falar.” 2 Coríntios 12:2-4

O apóstolo Paulo, portanto, esclarece aqui que o “paraíso” agora fica


no “terceiro céu”. O que faz com que nós cheguemos à conclusão de que
esse local foi transportado por Deus do “Hades” para esse outro ambiente
espiritual chamado “terceiro céu”.

A Bíblia deixa claro que após a ressurreição e ascensão de Cristo aos


céus, aqueles que estão salvos vão diretamente para o céu viver com Jesus:

“Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro.

Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não


sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar
com Cristo, o que é muito melhor;” Filipenses 1:21-23

“Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no


corpo, estamos longe do Senhor.

Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos. Temos, pois, confiança e prefe-
rimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor.” 2 Coríntios 5:6-8

“Mas vocês chegaram ao monte Sião, à Jerusalém celestial, à cidade


do Deus vivo. Chegaram aos milhares de milhares de anjos em alegre
reunião, à igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus.

Vocês chegaram a Deus, juiz de todos os homens, aos espíritos dos


justos aperfeiçoados, a Jesus, mediador de uma nova aliança, e ao sangue
aspergido, que fala melhor do que o sangue de Abel.” Hebreus 12:22-24

“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles


que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho
que deram.” Apocalipse 6:9
Descortinando o Adventismo – Volume I 463

“Vi tronos em que se assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade
para julgar. Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemu-
nho de Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem
a sua imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos.
Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos.” Apocalipse 20:4

Absolutamente nenhuma dessas verdades que foram apresentadas


neste capítulo a vocês é ensinada pelos adventistas. Muitos adventistas
nunca nem ouviram falar a respeito destes ensinos bíblicos. Entretanto,
tais ensinamentos fazem parte das crenças básicas cristãs há mais de dois
mil anos. Notem como esse conhecimento é de suma importância para
entendermos muito mais a respeito de Deus, a respeito do céu, do inferno,
do evangelho de Cristo e da maravilhosa graça de Deus.

TABELA DE TERMOS RELEVANTES USADOS PARA


DESCREVER O ESTADO DOS MORTOS:

Antigo
Novo Testamento
Testamento
(Grego)
(Hebraico)
Local espiritual para
onde iam os espíritos/ Sheol Hades
almas dos mortos

Túmulo/Sepultura Kever Mnemeion

Morte Maveth Thanatos

Inferno Parte baixa do Sheol Gehenna, Tartaro

Paraíso Parte alta do Sheol Paraseidos


464 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Análise contextual dos Textos usados pela


IASD para defender o “Sono da Alma”
Por muitos anos, a IASD me convenceu através de versos bíblicos de
que a doutrina do “Sono da Alma” deveria ser a verdadeira doutrina bíblica
sobre o estado dos mortos. Eu mesmo repassei esse ensino a várias outras
pessoas, com pouca ou nenhuma resistência da parte de quem recebia essas
informações.

Isso acontecia porque a maneira com que tais textos são apresentados,
totalmente fora de seu contexto, convence qualquer pessoa que não tem muito
conhecimento bíblico. E mesmo aquele que depois de batizado na IASD, se
propõe a estudar as Escrituras com mais afinco, já teve a sua mente cauterizada
a respeito de vários assuntos. Portanto, tudo que esse indivíduo aprender com
o tempo será analisado a partir desses “filtros” adventistas, colocando-o num
eterno círculo vicioso de interpretações distorcidas da palavra de Deus que o
impedirão de desvendar grandes maravilhas da Sua palavra.

Nesse subcapítulo iremos finalmente analisar esses textos em seu


contexto bíblico. E o resultado poderá trazer várias surpresas ao leitor
adventista:

Verso 1 – Eclesiastes 9:5

“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para
eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles.”

Análise

Esse é provavelmente o texto bíblico mais usado pela IASD para


defender a doutrina do “Sono da Alma”. Um adventista com mais de 2
anos de igreja geralmente já sabe recitar esse verso de memória, sem ter
que buscar na Bíblia. E isso é verdade em qualquer local do mundo onde
Descortinando o Adventismo – Volume I 465

existe uma igreja adventista. Isso se dá porque a instituição pressiona


demasiadamente os seus pastores a insistirem muito nesse ensino, pois
sem ele não há juízo investigativo e sem juízo investigativo não há Igreja
Adventista do Sétimo Dia. O resultado é que provavelmente um membro
adventista acaba memorizando esse verso antes mesmo de João 3:16, a base
do evangelho.

Porém, o que a IASD nunca faz é explicar o contexto desse verso aos
seus membros. Se o caro leitor for adventista, ele sabe que isso é verdade.
Quantas vezes o seu pastor/professor adventista, leu a você os versos
anteriores e posteriores a esse verso enquanto ele o ensinava a respeito desse
assunto?

Pois é o que faremos agora. Iremos transcrever os versos anteriores e


posteriores a esse, e comentaremos um pouco sobre cada um deles, para
que juntos possamos entender o que o autor do livro realmente quis dizer
ao escrever o verso acima. Levará um pouco de tempo, porém no final tudo
ficará claro ao leitor que nos acompanha.

“Todos partilham um destino comum: o justo e o ímpio, o bom e o mau,


o puro e o impuro, o que oferece sacrifícios e o que não oferece. O que
acontece com o homem bom, acontece com o pecador; o que acontece
com quem faz juramentos, acontece com quem teme fazê-los.

Este é o mal que há em tudo o que acontece debaixo do sol: O destino


de todos é o mesmo. O coração dos homens, além do mais, está cheio de
maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos
mortos.” Eclesiastes 9:2-3

Os livros de Salmos, Eclesiastes, Jó, Provérbios e Cânticos são


considerados livros poéticos ou também chamados de “livros de sabedoria”.
E apesar de possuírem importantes informações proféticas e grandes
verdades sobre o coração de Deus, eles não são considerados como fontes
seguras para se estabelecer doutrinas bíblicas. Se atentássemos ao livro
466 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

inteiro de Eclesiastes, para usarmos de suporte para doutrinas bíblicas, nós


teríamos que ter uma visão bem “depressiva” e injusta de nossa vida nesse
mundo e do que Deus tem reservado para nós no porvir, por exemplo.

Pois segundo Salomão, nos versos citados acima, não importa se você
é ímpio ou justo, puro ou impuro, bom ou mau, pois você irá terminar
no mesmo local, de qualquer forma. Entendem como o contexto é
importante? O que Salomão se refere aqui é a morte física do homem, que
irá chegar a todos e não ao que ocorre depois da morte. Vamos continuar a
análise para poder entender ainda mais o contexto.

“Quem está entre os vivos tem esperança; até um cachorro vivo é


melhor do que um leão morto!” Eclesiastes 9:4

Aqui nós podemos confirmar que Salomão não sabe exatamente o


que ocorrerá com ele ou com qualquer pessoa depois da morte. Esse verso
reflete o coração de alguém inseguro a respeito do futuro. E esse tipo de
sentimento é consistente com o restante dos livros do Antigo Testamento,
pois as pessoas que viviam naquela época ainda não tinham muita revelação
a respeito do que ocorreria depois da morte, já que eles não sabiam
praticamente nada a respeito do evangelho e do plano da salvação pelo
sacrifício de Cristo na cruz.

Como já enfatizamos em algumas páginas anteriores, Paulo, por


exemplo, diferentemente dos autores dos livros do Antigo Testamento, não
tinha absolutamente nenhum receio de morrer. Pelo contrário, para ele a
morte era lucro, pois ele sabia que se encontraria imediatamente com Cristo,
justamente porque ele teve uma visão panorâmica do plano da redenção:

“Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue


vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher!

Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o
que é muito melhor.” Filipenses 1:21-23
Descortinando o Adventismo – Volume I 467

Paulo não somente não tinha medo de morrer, como ele praticamente
ansiava por isso.

Voltemos ao livro de Eclesiastes, e ao contexto que mostra o que


Salomão pretendeu transmitir aos seus leitores:

“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para
eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles.

Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais


terão parte em nada do que acontece debaixo do sol.” Eclesiastes 9:5-6

Chegamos ao verso em questão. Com o que vimos até aqui, já nos


é possível asseverar que Salomão fala somente a respeito do que ele tem
certeza que acontece nesse mundo físico (debaixo do sol).

Vejamos o que ele diz particularmente na metade do verso 5: “... para


eles não haverá mais recompensa (...)”. Será que o cristão salvo não terá mais
nenhuma recompensa depois que morrer? Nem mesmo os adventistas creem
nisso. O que Salomão propõe aqui é que aquele que morrer não terá mais
nenhuma recompensa nessa terra, pois o seu corpo físico morreu, portanto
ele não consegue interagir com mais ninguém nessa dimensão física.

Agora vejamos se faz algum sentido que a IASD coloque toda uma base
doutrinária sobre o estado dos mortos em cima de um verso completamente
isolado de seu contexto, a fim de afirmar categoricamente que após a morte
nós não teremos mais consciência alguma? Não, isso não faz qualquer
sentido.

Fica absolutamente claro, quando estudamos esse verso dentro de


seu contexto, que Salomão está se referindo aqui somente as recompensas
terrenas que não mais existirão para aqueles que morreram. Essa é apenas,
uma “viagem” filosófica depressiva de um autor que relativiza a importância
que cada um possui de fato nessa vida, já que todos teremos o mesmo destino
468 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

imediato: a sepultura. O que viria depois disso, ele não sabia (ao menos não
totalmente) e por isso ponderava sobre a importância de se aproveitar ao
máximo a vida presente.

Continuemos na nossa análise:

“Portanto, vá, coma com prazer a sua comida, e beba o seu vinho de
coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz.

Esteja sempre vestido com roupas de festa, e unja sempre a sua cabeça
com óleo. Desfrute a vida com a mulher a quem você ama, todos os dias
desta vida sem sentido que Deus dá a você debaixo do sol; todos os
seus dias sem sentido!

Pois essa é a sua recompensa na vida pelo seu árduo trabalho debaixo do
sol.” Eclesiastes 9:7-9

Definitivamente não é de interesse da IASD que o leitor leia o que


vem depois do verso 5 desse capítulo. Salomão aqui basicamente incita as
pessoas a se embriagarem de vinho para que possam se alegrar numa vida
sem sentido! O que muitos não sabem é que Salomão durante esse período
não estava exatamente muito próximo de Deus. Muitas das coisas que ele
fala aqui não podem ser tomadas como exemplo para o cristão de hoje,
e muito menos que isso seja adotado como doutrina. Se esse fosse o caso
teríamos cristãos embriagados de vinho todos os dias.

O fato é que nesse livro, ele nos passa uma visão depressiva sobre a
vida, chamando-a 15 vezes de “sem sentido” algum. Vejamos alguns outros
desses exemplos:

“Por isso desprezei a vida, pois o trabalho que se faz debaixo do sol
pareceu-me muito pesado. Tudo era sem sentido, era correr atrás do
vento.” Eclesiastes 2:17
Descortinando o Adventismo – Volume I 469

“Nesta vida sem sentido eu já vi de tudo: um justo que morreu apesar


da sua justiça, e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade.
Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que
destruir-se a si mesmo?” Eclesiastes 7:15-16

A visão negativa a respeito da vida é demonstrada ao longo de


praticamente todo o livro de Eclesiastes. O argumento defendido por ele é
de que nada adianta ser muito bom ou muito justo, pois no fim, todos nós
morreremos. Ele chega até a nos aconselhar a não sermos “justos demais”!
Para quê? Se a morte viria de qualquer jeito?

Sendo assim, o tema central de Eclesiastes 9:5 não é, de maneira


alguma, a consciência ou não das pessoas após a morte, mas sim a sua
ausência de atuação nesse mundo físico, e também, como essa tal morte
física é inevitável para todos. Dessa forma, é bastante plausível que nós
cheguemos à conclusão de que, após essa análise, é inviável que alguém possa
querer usar o texto de Eclesiastes 9:5 como tentativa de provar a doutrina
do “Sono da Alma”. É absolutamente sem lógica que alguém queira fazer
isso depois de entender o contexto do verso.

Além disso, já que estamos analisando o livro de Eclesiastes, nós


podemos aproveitar o estudo anterior a respeito de como nós somos feitos
de corpo, alma e espírito. E aliarmos o conceito de “espírito” a um outro
verso que a IASD tenta distorcer para que você acredite na doutrina do
“Sono da Alma”:

“Quando você tiver medo de altura, e dos perigos das ruas; quando florir a
amendoeira, o gafanhoto for um peso e o desejo já não se despertar. Então o
homem se vai para o seu lar eterno, e os pranteadores já vagueiam pelas ruas.

Sim, lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre


a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se
quebre junto ao poço, o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a
Deus, que o deu.” Eclesiastes 12:5-7
470 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Agora que nós sabemos que o nosso espírito não é um mero “fôlego de
vida” essa passagem finalmente faz sentido. Um texto que a priori é muito
usado por adventistas para defender a doutrina do “Sono da Alma”, agora
não mais enganará aqueles que passaram por esse estudo e viram que, de
fato, o pó volta a terra de onde veio, e o espírito consciente volta a sua
morada eterna, para junto do próprio Deus, de onde todos nós saímos. Um
verso que era usado a favor de uma falsa doutrina agora passa a ser usado
para anulá-la! Glória a Deus!

Verso 2 – Ezequiel 18:4

“Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim
também a alma do filho é minha: a alma (“Nephesh” e não “Ruach”)
que pecar, essa morrerá.” Ezequiel 18:4 ( JFA)

Análise

Antes de entrarmos no contexto mais amplo desse texto, vejamos o


que diz a tradução da NVI sobre esse mesmo texto, iniciando no verso 2:

“Que é que vocês querem dizer quando citam este provérbio sobre Israel:
‘Os pais comem uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotam’?

Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que vocês não citarão
mais esse provérbio em Israel.

Pois todos me pertencem. Tanto o pai como o filho me pertencem. Aquele


(Nephesh) que pecar é que morrerá.” Ezequiel 18:2-4 (NVI)

A palavra hebraica “Nephesh” era muito usada no Antigo Testamento


para indicar o “todo” de uma pessoa e não somente a sua “alma”. Seria o
equivalente de usarmos hoje em dia o termo “ganhar almas pra Jesus”. Essa
Descortinando o Adventismo – Volume I 471

“alma” seria o “Nephesh” hebraico aplicado a esse texto. O tradutor da NVI


entendeu que esse era o contexto da frase e “eliminou” a palavra “alma” dali,
deixando o texto com uma melhor compreensão.

Nós veremos a seguir, ao longo da análise textual, que esse verso não tem
como intenção indicar o destino final do espírito/alma humana, mas sim
sobre o que deveria ser feito com a pessoa que cometesse um determinado
tipo de pecado. A questão era que se essa pessoa fosse morta em razão de
seu pecado, seus filhos deveriam ou não sofrer as consequências e morrer
junto com ele. A conclusão foi a de que se o filho não tivesse cometido
o mesmo pecado que o pai havia cometido, tal filho não precisaria
morrer, pois ele não deveria responder pelo pecado de seu pai. Ao
lermos o contexto do capítulo, nós chegamos facilmente a essa conclusão:

“Mas suponhamos que esse filho tenha ele mesmo um filho que vê
todos os pecados que seu pai comete e, embora os veja, não os comete.

Ele não come nos santuários que há nos montes e nem olha para os ídolos
da nação de Israel. Não contamina a mulher do próximo.

Ele não oprime a ninguém, nem exige garantia para um empréstimo.


Não comete roubos, mas dá comida aos famintos e fornece roupas aos
despidos.

Ele retém a mão para não pecar e não empresta visando lucro nem cobra
juros. Guarda as minhas leis e age segundo os meus decretos. Ele não
morrerá por causa da iniquidade do seu pai; certamente viverá.

Mas seu pai morrerá por causa de sua própria iniquidade, pois
praticou extorsão, roubou seu compatriota e fez o que era errado no meio
de seu povo.
472 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Contudo, vocês perguntam: ‘Por que o filho não partilha da culpa


de seu pai?’ Uma vez que o filho fez o que é justo e direito e teve o
cuidado de guardar todos os meus decretos, com certeza ele viverá.

Aquele (Nephesh) que pecar é que morrerá. O filho não levará a culpa
do pai, nem o pai levará a culpa do filho. A justiça do justo lhe será
creditada, e a impiedade do ímpio lhe será cobrada.” Ezequiel 18:14-20

De fato, fica difícil não enxergar após uma análise mais ampla, o
real significado do texto. Um dos maiores problemas das equivocadas
interpretações adventistas estão na ausência de estudo contextual e em
muitas vezes, o embasamento em traduções bíblicas falhas. Ambas aliadas
as falsas profecias e ensinos de Ellen White, causaram um grande estrago na
vida espiritual dos membros dessa igreja.

Não que seja exatamente necessário, mas para alicerçar ainda mais esse
argumento, iremos mostrar de onde surgiu a origem dessa lei judaica de não
responsabilizar o filho pelo pecado do pai. Está em Deuteronômio 24:16:

“Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos
pais; cada um morrerá pelo seu próprio pecado.”

Esses textos são muito claros e não possuem base para a interpretação
adventista do “Sono da Alma”. Pensar dessa forma seria apenas mais uma
arbitrariedade dogmática, motivada apenas por motivos ideológicos
denominacionais sem demonstrar nenhuma honestidade e honra ao texto
bíblico.
Descortinando o Adventismo – Volume I 473

Verso 3 – Salmos 146:4

“Sai-lhe o espírito, e ele volta para a terra; naquele mesmo dia


perecem os seus pensamentos.” Salmos 146:4 ( JFA)

Análise

Uma avaliação mais apurada desse texto pode ser feita simplesmente
por se utilizar de traduções mais recentes que fazem mais jus a intenção do
autor em seu texto original.

“Quando o espírito deles se vai, voltam ao pó; naquele mesmo dia


acabam-se os seus planos.” Salmos 146:4 (NVI)

“Quando sua vida se vai, voltam ao pó, e todos os seus planos morrem
com eles.” Salmos 146:4 (NVT)

“Sai-lhes o espírito, e eles voltam ao pó; nesse mesmo dia, acabam todos
os seus planos.” Salmos 146:4 (NAA)

Esse verso trata daquilo que nós já observamos no texto de Eclesiastes


12:7, onde é dito que o corpo físico volta ao pó de onde veio, e o espírito
volta a viver com Deus que o deu. A ideia de que os seus planos já não
existem mais nesse mundo é a mesma que já foi explicada a respeito de
Eclesiastes 9:5.

Um texto corrobora o outro, até porque Salomão deve ter tido muito
contato com o livro de Salmos, visto que grande parte dele teve como
autor o seu próprio pai. Assim como em Eclesiastes 9:5, Salomão fala
que até mesmo a memória daqueles que morreram se esvanece, o mesmo
ocorre em Salmos que discorre sobre os planos daqueles que já morreram.
Praticamente toda a influência de uma pessoa sobre a Terra é esvanecida
após a sua morte. A grande maioria das pessoas é esquecida rapidamente e
o mesmo ocorre com os seus planos.
474 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Verso 4 – Salmos 6:4, 5

“Volta-te, Senhor, livra a minha alma; salva-me por tua misericórdia.


Pois na morte não há lembrança de ti; no Sheol quem te louvará”
Salmos 6:4-5 ( JFA)

Análise

Esse verso segue a mesma ideia do verso analisado anteriormente.


Davi aqui pede a Deus para não morrer, pois Ele quer que o seu louvor seja
ouvido pelas pessoas que estão vivas na Terra.

Verso 5 – Salmos 115:17

“Os céus são os céus do Senhor, mas a terra ele deu aos filhos dos
homens. Os mortos não louvam o Senhor, nem os que descem à região
do silêncio podem fazer isso. Nós, porém, bendiremos o Senhor,
desde agora e para sempre. Aleluia!” Salmos 115:16-18 (NAA)

Análise

Basicamente, sob a perspectiva de quem está vivo, os mortos não


podem mais glorificar a Deus para outras pessoas que estão na Terra os
ouvirem. Porém, aqueles que estão vivos ainda podem louvar a Deus nesse
mundo físico.
Descortinando o Adventismo – Volume I 475

Verso 6 – Salmos 88:10

“Mostrarás tu maravilhas aos mortos? Ou levantam-se os mortos


para te louvar?” Salmos 88:10 ( JFAA)

Análise

Nesse texto assim como nos dois textos anteriores, a palavra hebraica
para “louvar” é “yadah” que sempre se refere a uma adoração pública vinda
de uma congregação de pessoas, ou diz respeito a um testemunho público.

Concordância Strong:
‫ הדי‬yadah:
1) jogar, atirar, lançar 1a) (Qal) atirar (flechas) 1b) (Piel) lançar, lançar
ao chão, derrubar 1c) (Hifil) 1c1) dar graças, louvar, agradecer 1c2)
confessar, confessar (o nome de Deus) 1d) (Hitpael) 1d1) confessar
(pecado) 1d2) dar graças.

O erudito teólogo especialista em língua Hebraica e no Judaísmo,


John Gill, diz o seguinte a respeito desses últimos 3 versos:

“Essas passagens somente dizem respeito ao louvor que é dado a Deus


na presença dos homens e na presença da igreja militante, como só poderia
ser feito no mundo dos vivos.”235

235 Gill, John, Complete Body of Practical and Doctrinal Divinity, pág. 414.
476 A Tricotomia do Ser e o Estado dos Mortos

Análise Geral

Como pudemos ver, absolutamente nenhum texto utilizado pela


IASD para justificar a doutrina do “Sono da Alma” permanece de pé após
uma análise um pouco mais detalhada. Não foi preciso nos aprofundarmos
demais tecnicamente nesses textos, mas somente colocá-los em seus devidos
contextos que, imediatamente, a luz da própria Bíblia nos remete à verdade.

Definitivamente não precisamos da “luz menor” de Ellen White para


entendermos a palavra de Deus. Tal “luz” são somente trevas para quem as
utiliza. Para esse tipo de luz, Jesus tinha uma palavra:

“(...) Portanto, se a luz que existe em você são trevas, que grandes
trevas serão!” Mateus 6:23

O entendimento a respeito de quem somos, como somos formados e


sobre o que virá após a morte é de extrema importância para que possamos
viver uma vida sem ansiedade sobre o que virá no futuro. E ao mesmo tempo
saibamos o máximo possível sobre o funcionamento correto de todas as
nossas armas espirituais durante a nossa jornada de vida, enquanto estamos
vivendo agora, nesse mundo físico.

Durante a leitura desse primeiro volume nós pudemos ter uma boa
ideia a respeito de como funciona a manipulação religiosa de uma igreja
que coloca os seus próprios interesses dogmáticos institucionais muito mais
a frente do que qualquer verdade bíblica, pondo em grave perigo a vida
espiritual de milhões de seres humanos, destituindo-os completamente
de armas espirituais extremamente importantes, concedidas pelo próprio
Deus aos seus filhos. E tudo isso, em troca de poder e controle.
Descortinando o Adventismo – Volume I 477

É preciso dar um basta a esse ciclo de mentiras, manipulações e jugos


espirituais, perpetuados de geração a geração, desde os pioneiros da igreja
até os dirigentes atuais da IASD.

Em nenhum momento, nós escolhemos nos utilizar de ataques ad


hominem nesse livro, por mais que exista muito conteúdo a respeito de
diversos escândalos da igreja a serem explorados.

A nossa luta é limpa, e dedicada exclusivamente a expor as falsas


doutrinas e os falsos ensinos bíblicos que não se sustentam quando
confrontados com as Escrituras.

No volume 2 desta série entraremos em assuntos polêmicos e de


extrema importância para o leitor adventista. Dissecaremos a doutrina
do Sábado, falaremos sobre a paranoia criada em cima de um suposto
“Decreto Dominical”, apresentaremos provas irrefutáveis sobre os plágios
de Ellen White, suas heresias e devaneios literários. E ainda, relataremos
em detalhes um passo a passo de como devemos fazer para estabelecermos
um relacionamento íntimo com Deus.

Prepare-se para embarcar numa jornada literária que descortinará


todos esses assuntos que por anos nos foram encobertos. Ao fim desse
trajeto, o véu que foi colocado sobre nossas faces cairá, e poderemos
finalmente entender o significado do que Paulo quis nos transmitir em 2
Coríntios 3:14-17:

“Na verdade as mentes deles se fecharam, pois até hoje o mesmo véu
permanece quando é lida a antiga aliança. Não foi retirado, porque
é somente em Cristo que ele é removido.De fato, até o dia de hoje,
quando Moisés é lido, um véu cobre os seus corações.
Mas quando alguém se converte ao Senhor, o véu é retirado.

Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há


liberdade.”

Que o Senhor te liberte, te guarde e te abençoe. E que tudo aquilo que


pode ser abalado, que foi construído na areia de mentiras institucionais,
seja abalado e caia por terra, em nome de Jesus.

* FIM DO PRIMEIRO VOLUME *


Sobre o autor
Gleyson Persio é formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná e atualmente cursa o último ano da faculdade de Teologia na
Florida Christian University. CEO e proprietário de 3 empresas na região
de Orlando na Flórida onde mora desde 2006, Gleyson é casado com Maria
Malva Damico Torterolo e é pai de Nicolas Persio e Franco Persio.

O autor, que era quarta geração de uma família tradicional adventista, foi
liberto dessa seita de maneira sobrenatural. E após tal ocorrido sentiu o
chamado de Deus para munir de conhecimento os adventistas, e também
o corpo de Cristo, a respeito dos problemas espirituais em que eles se
encontram, das falhas teológicas de suas doutrinas e também sobre as
mentiras institucionais que a IASD esconde de seus membros há décadas.
Impressão, Acabamento e Distribuição:
Gráfica e Editora Jocum Brasil
+55 41 3657 2708 | +55 41 99148-7658
editorajocum@gmail.com
www.editorajocum.com.br

Este livro foi editado e impresso pela Editora Jocum Brasil,


na fonte Garamond Pro, em papel Lux Cream 70 g/m2

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