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1 Reis 20.35-43

O livro de Reis cobre o período histórico que vai desde o final do reinado de Davi (970 a.C.) até a invasão
babilônica (586 a.C.). Tendo em vista uma autoria de Jeremias no período final do reino de Judá durante ou logo
depois da última deportação babilônica em uma data por volta de 562 e 550 a.C. o contexto era basicamente
desolador para Israel, como descrito no livro de Lamentações de Jeremias. O Reino do Norte, Israel, já havia
sido destruído definitivamente em 722 a.C. pelos assírios cerca de 117 anos antes da primeira invasão
babilônica ao reino do sul em 605 a.C., suas terras foram ocupadas por outros povos e os judeus miscigenados
com eles.
No reino do sul, Judá, os reis de Israel se livraram de subsequentes tentativas de invasão através de
pactos melindrosos com seu vizinho Egito e com acordos paralelos e ignóbeis com os invasores assírios. A
idolatria era recorrente e o afastamento das leis de Moisés e por consequência da adoração santa a \YHWH era
uma consequência trágica. Além disso, os reis, os religiosos e o povo de Judá rejeitaram, um por um, os profetas
enviados por Deus para alertá-los, desdenhando de suas profecias e confiando em suas alianças mundanas. Até
que por volta de 605 a.C. Jerusalém também fora saqueada pelos babilônicos, sob Nabucodonosor em uma
série de invasões que culminou com a invasão definitiva em 586 a.C., e a consequente destruição de Jerusalém e
deportação que se seguiu. Segundo o relato em Jeremias 39.1 – 10 o rei Zedequias foi preso, teve os olhos
vazados e foi levado com todos os jovens da corte para o cativeiro na Babilônia. Jerusalém foi saqueada e
completamente incendiada e a pequeníssima parcela de habitantes pobres que não foram mortos nem
deportados, fugiu para o Egito pouco tempo depois, dentre eles, levado à força, o próprio Jeremias (Jeremias
43.1 – 7). Diante da trágica e devastadora perspectiva que Jeremias tinha diante de seus olhos, de reis
insubordinados ao Senhor Deus de Israel e de um povo rebelde e idólatra, Jeremias escreve o livro de Reis
claramente, não com objetivos cronológicos de relatar os grandes feitos dos reis de Israel ou seus atos de
governo, como era o comum em anais reais, mas sim, com um claro objetivo teológico de expor as mazelas
desses reis e suas consequências, culminado com a destruição de ambos os reinos. Sobre isso escreve Schmidt:
“os livros de Reis contam uma história de culpa – juízos teológicos fortes, não oferecendo, portanto, uma versão neutra,
muito menos completa da época monárquica”.1
Desta forma, o propósito do livro de Reis é o de destacar que os Reis de Israel, como representantes do
povo e administradores da soberania mediada, só podem prosperar se estiverem submetidos ao Soberano Rei
de Israel. E que Ele é o verdadeiro governante que domina e conduz a história de seu povo, retribuindo
conforme Sua aliança em benção (paz, prosperidade e segurança) ou maldição (guerra, opressão, escravidão,
etc.). Posição confirmada por Archer:

“O tema destes dois livros é demonstrar, na base da história de Israel, que o bem-
estar da nação depende, em última análise, da sinceridade da sua fidelidade à Aliança com o
Senhor, e que o sucesso de qualquer soberano deve ser medido pelo grau da sua adesão à
constituição mosaica e pela qualidade do seu testemunho perante os pagãos, de pureza e de
honra a Deus. O propósito da narrativa é descrever aqueles eventos que eram importantes
do ponto de vista de Deus e do seu programa de redenção. O autor não tinha nenhuma
intenção de glorificar os heróis de Israel por motivos nacionalistas...”.2

Para atingir tais propósitos o livro de Reis destaca dois tipos de personagens, os reis de Israel, e suas
infames atitudes contra Deus, e os profetas, “A voz profética tem lugar de destaque na história da monarquia
porque os mensageiros designados por Deus agiam como consciência real”.3 Temos no livro de Reis uma
inversão de valores e os atos heroicos são as mensagens proféticas e os heróis, seus mensageiros e não os atos
dos reis, como era o costume dos anais do reis de Israel. Essa inversão de valores tem o propósito de demonstrar
que mesmo quando os que deveriam ser heróis, os reis de Israel, falham, Deus levanta heróis, os profetas, para
salvar seu povo. Ainda que em Reis os heróis de Deus tenham sido rejeitados pelo povo, o registro de suas
mensagens e feitos são um marco das consequências desastrosas dessa rejeição e da rebeldia do povo contra

1
SCHIMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. 3ª Ed. Trad. Annemarie Höhn. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2004. p. 154.
2
ARCHER, Gleason L. Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento? 3ª Ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1984. p. 213.
3
HILL, Andrew E.; WALTON, John H. Panorama do Antigo Testamento. Trad. Lailah de Noronha. São Paulo: Vida, 2006. p. 257.
2
seu Soberano Senhor. O propósito do livro de Reis também pode ser visto de uma maneira interessante através
do paralelo feito pelo autor entre as nações de Israel (Reino do Norte) e Judá (Reino do Sul), sendo que o reino
que teve mais reis que serviram ao Senhor, Judá, prevaleceu e resistiu por mais tempo do que o Reino do Norte
que rapidamente caiu em mãos inimigas, ainda que de dentre ambas Deus sempre preservou um remanescente
fiel, “Deus ainda comandava a história humana e permanecia fiel à aliança com os ‘eleitos’ (cf. Salmo 115.5 – 6)”.4

Estilo Literário e Estrutura

Segundo Von Rad, em seu livro Teologia do Antigo Testamento, o escritor de Reis usa uma estrutura
do tipo moldura “cuja característica principal é a avaliação atribuída a cada um dos reis”.5

“O esquema-padrão inicial dos reis de Judá é o seguinte: ‘No X ano do reino de Y, de Israel, Z
reinou sobre Judá; tinha idade de (...) anos, quando se tornou rei e reinou (...) anos em
Jerusalém; sua mãe chamava-se A, filha de B e ele fez o que era bom (mau) aos olhos de Javé’.
No fim se diz: ‘O resto das ações de Z está escrito no livro das crônicas dos reis de Judá. Z
descansou com os seus pais e enterraram-no na cidade de Davi e (...) reinou em seu lugar”.6

Além desta estrutura que é geral no livro, E. Sellin e G. Fohrer propõem ainda a seguinte divisão do livro:

“O seu conteúdo só pode ser dado em grandes traços, como segue:

1Rs 1-11 História de Salomão


1-2 investidura como rei e garantia do trono,
3-10 o esplendor de seu reinado,
11 os lados sombrios de seu governo,
1Rs 12, 2Rs 17 História dos reis de Judá e de Israel, desde a cisão do reino até a queda do reino
setentrional de Israel,
2Rs 18-25 História dos reis de Judá até à destruição de Jerusalém e o indulto concedido a
Joaquim. Na segunda e terceira parte, a exposição é feita em ordem cronoló
gica, de modo que as informações sobre cada um dos reis seguem a ordem de
acesso ao governo”.7

Esta divisão em três partes também é defendida por Schmidt8 com algumas pequenas alterações e de
forma mais detalhada. É importante notar que a estrutura literária de Reis é simples, mas objetiva e cumpre
com riqueza sua proposta.
Ainda gostaríamos de destacar as formas Quiásticas propostas por Carlos Osvaldo em seu livro, que
contribuem grandemente para a unidade do livro, além de demonstrarem pontos que o autor de Reis quis
destacar como a dinastia Davídica e o Templo de Jerusalém como já comentamos anteriormente, e os juízos e
milagres salvíficos de Deus para com seu povo.

A A dinastia de Davi continua com Salomão: glória de Jerusalém, templo construído (1 Re 1:1−11:43)
B Ascensão do reino do Norte: os primeiros sete reis (1 Re 12:1−16:34)
C O Profeta Elias e a dinastia de Omri (1 Re 17.1 − 2 Re 1:18)
D Centro: Os milagres de juízo e de misericórdia de Eliseu (2 Re 2:1−8:6)
C’ O Profeta Eliseu e a dinastia de Omri (2 Re 8:7−13:25)
B’ A queda do reino do Norte: os últimos sete reis (2 Re 14:1−17:41)
A’ A dinastia Davídica termina: ruína de Jerusalém, templo destruído (2 Re 18:1−25:30)9

4
Idem, p. 258-259.
5
RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento. vol. 1 e 2. 2. ed. Trad. Francisco Catão. São Paulo: Aste e Targumim, 2006. p.
326.
6
Idem, Ibid. nota de rodapé 624.
7
SELLIN, E.; FOHRER, Georg. Introdução ao Antigo Testamento. vol. 1 e 2. Trad. Mateus Rocha. São Paulo: Academia Cristã, 2007. p.
313.
8
SCHIMIDT, Werner H. Op. Cit. p. 153 – 154.
9
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 314.
3
Indo um pouco mais em direção ao texto de nosso foco podemos ver que ele está dentro da secção
que trata da dinastia fracassada de Omri no Reino do Norte de Israel. Mais especificamente Acabe, que é no
capítulo 20 grandemente abençoado por Deus:

“As experiências de Acabe, com a graça e o poder de Yahweh, na batalha não são suficientes
para sobrepujar sua perspectiva de vida humanística e fazê-lo obedecer, já que ele fracassa em
matar o rei arameu (ecos literários do incidente de Saul e Agague, cf. 1 Samuel 15), à luz de um
possível tratado de cooperação contra o crescente poder da Assíria (20:1–34). Assim, um profeta
anônimo anuncia sua condenação vinda de Yahweh (20:35–43).”10

“O ímpeto para os vários emaranhos de Jeosafá veio do reino do norte, começando com Acabe.
Tendo sucedido Omri em 874, Acabe durante os próximos vinte e dois anos presidiu um reino
que gozava de uma certa medida de prosperidade e influência internacional - graças às políticas
energéticas de seu pai, mas isso também foi atrapalhado pela decadência moral e espiritual.
Como se a apostasia interna do Senhor não fosse suficiente, Acabe casou-se com Jezabel, filha
do rei Sidônio, Ethbaal, e trouxe seu culto a Baal e Asherah em Samaria. Pela primeira vez, o
culto de Javé foi oficialmente substituído pelo paganismo e não permitiu coexistir com ele”.11

O texto começa descrevendo um ataque de Ben-Hadad, rei de Damasco (885 a.C. a 865 a.C.), contra a
Samaria que visava obter acesso ao mar a fim de controlar as rotas fenícias, segundo Merrill esse ataque
também poderia ter sido uma resposta à crescente amizade entre Israel e Sidon (Líbano), reino decadente mas
que vinha crescendo de maneira sólida e buscava aliados para se reestabelecer e reconsolidar seu domínio na
região (o que de fato nunca aconteceu e acabou por dar o fim derradeiro à este império).
Além disso, Merrill ainda destaca que se sua proposta cronologia for correta, Shalmaneser III da Assíria
teria começou suas campanhas no Oeste para Aram e Palestina, forçando assim Ben-Haddad a postura
defensiva. O historiador bíblico indica que Ben-Haddad foi acompanhado por trinta e dois outros reis, uma
indicação de que ele já havia forjado alianças para lidar com a iminente ameaça Assíria. Pode ser que ele tenha
solicitado a cooperação de Acabe e, quando ele se recusou a ajudar, Ben-Haddad ficou determinado a levar
Israel a sua coalizão pela força.
O fato é que Ben-Haddad por um motivo ou outro, sitiou Samaria e exigiu o pagamento de um resgate
exorbitante (1 Reis 20.3). Acabe se sentiu coagido e viu-se na obrigatoriedade de pagar. Mas, como é prática
comum à todo opressor, a opressão não terminou no primeiro valor, e valores posteriores foram pedidos, o
que levou Acabe a não pagar mais, principalmente pela falta de recursos.
E é justamente nesta hora que YHWH envia um profeta para, diante do fracasso e sombra de destruição,
encorajar Acabe a confiar em YHWH e levantar suas tropas contra Bem-Haddad. Este é um ponto interessante
a destacar mesmo diante da infidelidade de Acabe, e de suas maneiras atabalhoadas de governar a nação, agora
que Acabe está vulnerável, YHWH se aproxima dele e oferece a vitória. Acabe não tem nenhum mérito aqui, Ele
não obedece ao Senhor voluntariamente e com alegria de coração e logo mais, assim que se vê livre da
obrigação de obedecer à Deus, volta rapidamente à suas velhas estratégias e poupa Ben-Haddad.
O plano de Acabe era contrário à Lei de Deus que exigia a morte dos inimigos de Israel (Deuteronômio
20.10-15). Acabe deu as boas-vindas a Ben-Haddad na sua carruagem (vs. 33) para honrar. O rei arameu foi
rápido para fazer concessões em troca de sua vida (v. 34). Qualquer decisão que pareça melhor e mais
interessante aos homens, mas que seja contrário ou leve a desobedecer uma ordem clara de Deus, terá como
resultado a mais fadada derrota e talvez até mesmo a morte.
Acabe dirigido por YHWH, foi para o campo de batalha improvável, Aphek, localizado na planície de
Golan, a leste do Mar de Kinnereth, o que favorecia os exércitos Arameus que tinham um exército maior e
lutavam com um exercito mais leve e ágil. Além disso, como o texto nos revela, os Arameus estavam confiantes
de que YHWH só daria vitória nas montanhas: “... os arameus pensam que o Senhor é um deus das montanhas
e não um deus dos vales” (20.28b). Pensando racionalmente e humanamente a estratégia que Deus deu a Acabe

10
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2006. p. 323.
11
MERRILL, Eugene H.. Kingdom of priests: a history of Old Testament Israel. Second Edition. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2008.
p. 361
4
era a pior possível em termos militares, não favorecia os exércitos de Israel e era o melhor para os inimigos o
ambiente em que eles lutavam melhor e para o qual estavam melhor preparados e confiantes na vitória, e isso
para que ficasse claro que qualquer vitória foi uma ação sobrenatural de Deus.
E este é o ponto em que nos encontramos, Deus nos dá ordens que olhando da perspectiva humana são
absurdas e impossível, e faz isso para que qualquer obediência seja fruto da confiança na ação sobrenatural e
poderosa dEle em nosso favor.
Outro ponto a destacar é a visão territorial da divindade vinda dos Arameus, eles em seu panteão
provavelmente tivessem um deus para cada situação, para cada ambiente de batalham, somente YHWH é que
se coloca como Senhor de toda a Terra, que domina todos os elementos, céu, terra, mar, etc... todo Universo
atende seu comando.
A vitória que YHWH dá à Acabe é massiva as cidades tomadas de Israel são reconquistadas e Acabe
expande suas fronteiras comerciais até Damasco: “Tu poderás estabelecer os teus próprios mercados em
Damasco, como fez meu pai em Samaria” (vs. 34). Porém, essa última parte é a derrota maior de Acabe, Deus
tinha pedido a morte de Ben-Haddad, ele era para ser morto por Acabe, como um herēm (consagrado) a YHWH,
e isso provavelmente daria à Acabe o domínio completo da região, mas este prefere fazer um acordo espúrio
com Bem-Haddad e preserva sua vida, algo que era o mais comum para Acabe confiar em suas alianças militares
mais do que em YHWH, talvez ele confiasse que preservando Bem-Haddad teria um seguro contra Salmanezer
e comprova que ele somente confiou em YHWH porque não tinham mais outra saída, esta rebelião última leva
à morte do próprio Acaba e a queda de Israel diante da Assíria.
O que fica evidente aqui é que Acabe preferiu o sucesso temporário em seus próprios termos para sua
própria glória do que dar glória à Deus e ter uma vitória definitiva.
Esse texto também nos apresenta vários paralelos no Antigo Testamento:

1. Acabe poupando Ben-Haddad comparado a Saul poupando Aguague rei dos Amalequitas (1 Samuel
15.20);
2. Acabe julgando a história criada pelo Profeta anônimo comparado a Davi julgando seu próprio caso
através da história contada por Natã (2 Samuel 12);
3. O jovem profeta morto por um leão por não querer golpear outro comparado a Acaz que também
não quis pedir um sinal ao Senhor e pagou caro por isso (Isaías 7.10-11).
5
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dj;a,
aybin: @Be vyai 35
Artg. + MP Cons. Prep. + MP Cons. MS Conj. + MS
dos profetas desde dos filhos foi em direção a outro Então um homem

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an: hw:hy“ Ala, rm'a;
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Prep. Imp. Hifil 2ª MS + 1ª CS Nom. Prop. Prep. + MS Cons. MS Cons. + 3ª MS Prep. Perf. Qal 3ª MS
eu rogo! golpeia (tu) a mim (de) YHWH na fala um companheiro dele para (ele) falou

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rk'n: vyai @a'm;
Prep. + Inf. Cons. Hifil + 3ª MS Conj. + MS Waw Consec. + Impf. Piel 3ª MS
a golpear a ele o homem mas (ele) recusou

O texto aqui parece apontar para a existência de uma escola profética bem evoluída e com tradição bem
estabelecida no reino do Norte. Essa escola pode ter sido organizada por Samuel, que acumulava sobre si as
funções de: profeta, sacerdote e Juiz (I Samuel 10.5; 19.20). Elias e Eliseu talvez tenham sido os principais
fortalecedores dessa escola, principalmente no reino do Norte (2 Reis 2.3; 4.38; 6.1).
É visível aqui na história que a escola dos profetas usava as mesmas estratégias de confrontação de
Samuel e também havia manifestações sobrenaturais como revelações futuras e fala em nome de Deus: “assim
diz YHWH”. A escola dos profetas foi estabelecida em Ramá, e provavelmente, em Gibeá (I Samuel. 19.20;
10.5,10). Centros de estudos também estavam espalhados em Gilgal, Betel e Jericó (2 Reis. 4.38; 2.3,5,7,15; 4.1;
9.1). Cerca de cem estudantes faziam parte da escola dos profetas comandada por Eliseu em Gilgal (2 Reis.
4.38,42,43). Quando Elias e Eliseu foram ao rio Jordão encontrava-se com eles cinquenta estudantes da escola
dos profetas (2 Reis 2.7, 16, 17). O estilo de vida deles era em comunidade, em uma casa comum, na companhia
dos profetas (2 Reis 6.1). Alguns deles eram casados e tinham filhos (2 Reis 4.1) e acompanhavam os homens
de Deus, por isso eram chamados de filhos dos profetas. A escola dos profetas dava também aos estudantes
uma formação musical, a fim de que pudessem oferecer ao Senhor música de qualidade para a adoração a Deus
(I Samuel 10.5).
O profetismo em Israel não era oficial, os cultos eram realizados pelos levitas que conduziam todo o
culto e serviço no templo, os reis exerciam uma posição civil, e haviam juízes que julgavam o povo em suas
localidades mais longínquas, houveram profetas que agiram diretamente na corte real, principalmente no Sul,
em Judá, como Isaías por exemplo. Mas, não parece ser o caso aqui, pelo fato do profeta não ter acesso direto
ao rei e ter que bolar uma estratégia para chamar sua atenção. Não que o profetismo da corte tivesse qualquer
comprometimento da mensagem, como vemos com Samuel, Natã e Isaías. Mas, os profetas não oficiais como
Jeremias parecem ter tido um apoio e voz maior entre a população mais simples.
O fato do profeta ser anônimo aqui é extremamente curioso e incomum, mas talvez já esteja
demonstrando o quanto os profetas estavam sendo desprezados e ignorados nos tempos de Acabe. Muitos
profetas foram mortos por ordem de Baal, Elias e Eliseu estão fora de cena aqui.
Aqui também podemos notar outro paralelo sobre o que vinha acontecendo com Acabe e Ben-Haddad,
Israel não iniciou ou ataque contra Ben-Haddad, foi ele que veio até Israel e pediu para apanhar.
6
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l] rm'a; 36
Prep. + 3ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
para ele Então (ele) falou

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lwOq [m'v;
Nom. Prop. Prep. + MS Perf. Qal 2ª MS Part. Neg. Part. Rel. Adver.
(de) YHWH a voz (tu) ouviste não como portanto

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Artg. + MS Conj. + Impf. Qal 3ª MS + 2ª MS Prep. + Prep. + 1ª CS Ptc. Qal 2ª MS Part. Interj. + 2ª MS
o leão Então (ele) golpeará a ti de junto de mim indo uma vez que tu

wOlx]a,me Jl,YEw"
lx,ae Jl'h;
Prep. + Prep. + 3ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
de junto dele Então (ele) foi

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rk'n: hyEra] ' ax'm;
Waw Consec. + Impf. Hifil 3ª MS + 3ª MS Artg. + MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS + 3ª MS
e (ele) golpeou ele o leão e (ele) encontrou ele

A presença de um leão aqui é impressionante,


pois esse primeiro homem representa o próprio
Acabe, que se recusou a golpear Ben-Haddad, e que
morreria pelas mãos da Assíria de Tiglate-Pilezer III,
que tinha como símbolo nacional o leão.
Talvez a ilustração seja uma exortação
também a Judá, que é o que vem depois em termos
de provar sua disposição em obedecer a Deus, e
vendo o que sucedeu à Israel do Norte diante da
Assíria, reagissem com fidelidade.

ax;m]YIw"
tjea' vyai
ax'm; 37
Adj. MS MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
outro um homem Então (ele) achou

vyaih; Whk{eY"w" ynIyKih' rm,aOYw"


an:
vyai rk'n: rk'n: rm'a;
Conj. + MS Waw Consec. + Impf. Hifil 3ª MS + 3ª MS Prep. Imp. Hifil 2ª MS + 1ª CS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
o homem e (ele) golpeou ele eu rogo! golpeia (tu) a mim Então (ele) falou

O segundo homem foi fiel e golpeou o profeta, mas veja que há diferenças entre as passagens, na
primeira passagem o profeta pede para ser golpeado em nome de YHWH, ou seja, ele deixa claro que é
Deus quem o está requerendo. E é justamente por isso que o profeta infiel morre, pois é claro que Ele
deveria obedecer um profeta enviado em nome do Senhor para falar diretamente com ele. Já este segundo
homem, não se sabe se ele viu ou soube o que aconteceu com o primeiro, mas é possível que sim, se
considerarmos que ambos eram membros da mesma escola profética. De qualquer forma, para ele não são
7
precisas maiores justificativas, nem se quer YHWH é mencionado, ele age e golpeia o colega prontamente
assim como requerido. Temos aqui representados o Israel real ante ao Israel ideal, o primeiro, mesmo
diante de toda justificativa não obedece, o segundo sem qualquer justificativa é obediente.

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Al['
Jr,D, Jl,M, dm'[; aybiN: Jl'h; 38
NS Prep. Prep. + Artg. + Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS Artg. + MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
o caminho sobre para o rei e (ele) permaneceu o profeta Então (ele) foi

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Al['
@yI[' rpea} vp'j;
F Dual Cons. + 3ª MS Prep. Prep. + Artg. + MS Waw Consec. + Impf. Hitpael 3ª MS
os seus olhos sobre com a bandagem e (ele) se disfarçou

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Ala, q['x;
Jl,M, aWh rb'[; Jl,M, hy:h; 39
Artg. + MS Prep. Perf. Qal 3ª MS Conj. + Pron. 3ª MS Ptc. Qal MS Artg. + MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
o rei para (ele) gritou então ele passando o rei Então aconteceu que

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ax;y:
hm;jl; M] i br,q, db,[, rm'a;
Artg. + FS Prep. + MS Perf. Qal 3ª MS MS Cons. + 2ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
da batalha do meio (ele) veio teu servo E (ele) falou

yl'ae abeY:w" rs; AhNEhwi “


vyai vyai
lae awOB rWs hNEhi
Conj. + MS Prep. 1ª CS Waw Consec. + Impf. Hifil 3ª MS Perf. Qal 3ª MS MS Conj. + Part. Interj.
um homem para mim e (ele) entregou (ele) apartou-se um homem Veja!

hz{<h' vyaih; rmov] rm,aOYw"


Ata,
hz< vyai rm'v; rm'a;
Artg. + Adj. MS Artg. + MS Obj. Dir. Imp. Qal 2ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
este o homem ao vigia (tu) E (ele) falou

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tj'T' A!ai
vp,n< vp,n< hy:h; dq'p;{ dq'p;{
FS Cons. + 2ª MS Prep. FS Cons. + 2ª MS Perf. Qal 3ª FS Impf. Nifal 3ª MS Nifal Inf. Abs. Adver.
a vida dele por a tua vida então (ela) será (ele) desaparecer procurado se

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¹s,K, ArK'ki wOa
lq'v;
Impf. Qal 2ª MS MS FS Cons. Conj.
(tu) pesarás de prata um talento ou em lugar de
1 talento equivale a algo perto de 35 kg de prata, em valores atualizados, seriam mais de R$ 130.000,00 (cento e
trinta mil reais). Esse normalmente era o preço pago pelo resgate de uma pessoa.

Ser responsável por um prisioneiro de guerra é muito importante, aqui, parece que este prisioneiro
era um prisioneiro importante e estratégico para ser mantido vivo. O soldado que entrega o prisioneiro é
categórico e deixa clara a importância e o cuidado que deveria ser tomado, seria vida por vida ou uma
multa que valeria uma vida.
8
hN:hwe : hce[o òD]b][' yhiy“w"
hN:he
hN:he hc;[; db,[, hy:h; 40
Conj. + Adver. Adver. Ptc. Qal MS MS Cons. + 2ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
e ali aqui trabalhando (ocupado) o teu servo Então aconteceu que

WNn<yae aWhw“
@yIa' aWh
Adver. + Pron. 3ª MS Conj. + Pron. 3ª MS
não há ele então ele

wyl;ae rm,aOYw"
laerc
; y] I AJl,m,
lae rm'a;
Nom. Prop. MS Prep. + 3ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
de Israel o rei para ele Então (ele) falou

.T;x]r{;j; òf,Pv
; m] i
hT;a' @Ke
År'j; fP;vm] i
Perf. Qal 2ª MS Pron. 2ª MS MS Cons. + 2ª MS Adver.
(tu) decidiste (decretaste, definiste) tu mesmo o teu julgamento assim

O verbo usado aqui empregado para a justificativa para ter deixado o prisioneiro escapar é hc;[ ;
(‘āSah – fazer), segundo o DITAT o verbo sempre traz consigo uma conotação ética/moral de obrigação e
dever que acompanha ordens de uma autoridade superior.
Ou seja, o foco da passagem aqui está na displicência, o soldado tinha uma única prioridade que era
cuidar do prisioneiro de guerra, mas decidiu assumir outras coisas que considerava mais prioritárias do que
cuidar do prisioneiro e assim, acabou perdendo o próprio prisioneiro e até a própria vida.

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Atae
@yI[' l[' + @mi rpea} rWs rh'm; 41
F Dual Cons. + 3ª MS Prep. + Prep. Artg. + MS Obj. Dir. Waw Consec. + Impf. Piel 3ª MS Waw Consec. + Impf. Piel 3ª MS
os seus olhos desde sobre a bandagem a e (ele) removeu Então (ele) se apressou

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; y] I Jl,m,
aybin< tae rk'n:
Pron. 3ª MS Prep. + Artg. + MP Prep. Nom. Prop. MS Obj. Dir. + 3ª MS Waw Consec. + Impf. Piel 3ª MS
ele (era) desde os profetas que de Israel o rei a ele Então (ele) reconheceu

wyl;ae rm,aOYw"
hw:hy“ rm'a; hKo
lae rm'a; 42
Nom. Prop. Perf. Qal 3ª MS Adver. Prep. + 3ª MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
YHWH (ele) falou assim para ele Então (ele) falou

dY:mi ymirh] , T;j]l{'vi


Avyai Ata, @['y"
dy: !r,he jl'v;
Prep. + FS MS Cons. + 1ª CS MS Obj. Dir. Perf. Piel 2ª MS Adver.
da mão o que era devotado para mim homem o (tu) deixaste ir porque

.wOm{[' òm{][w' “ wOvp]n" òv]p]n" ht;y“hw; “


tj'T' tj'T'
![' ![' vp,n< vp,n< hy:h;
MS Cons. + 3ª MS Prep. Conj. + MS Cons. + 2ª MS FS Cons. + 2ª MS Prep. FS Cons. + 2ª MS Perf. Qal 3ª FS
o povo dele por e o teu povo a vida dele por a tua vida então (ela) será
9

wOtyBe Jl,YEw"
Al[' laerc
; y] I AJl,m,
tyIB' Jl'h; 43
MS Cons. + 3ª MS Prep. Nom. Prop. MS Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS
a sua casa para de Israel o rei Então (ele) foi

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.hn:wOrm]vo rs'
awOB ¹['z:
Nom. Próp. Waw Consec. + Impf. Qal 3ª MS Conj. + Adj. MS Adj. MS
Shomerônah e irritado ressentido
e (ele) chegou
(Samaria) (triste, de mau humor, com vergonha) (rebelde, teimoso, obstinado)

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