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Apostila

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

APRESENTAÇÃO

A inda me lembro um pouco envergonhado da minha primeira aula de catequese


na Igreja. Tinha pouco mais de catorze anos, prestes a completar quinze, e
pouco conhecia de Deus (verdade que ainda hoje, quase nada sei sobre Ele,
mas naquela época era bem menos). A primeira pergunta de minha catequista à turma
ainda ressoa vividamente em meus ouvidos: ―quem não tem Bíblia em casa?‖. Eu fui o
único a levantar a mão – pensava que isso era normal – mas, ao perceber quem ninguém
mais havia se manifestado, senti-me constrangido. Quando cheguei à minha casa, contei
o episódio aos meus pais e, imediatamente, na segunda-feira, mandaram comprar uma
Bíblia para mim. Hoje, percebo que esse foi o maior presente que recebi de meu pai.

Recordo também com carinho que minhas primeiras noções de fé devo muito
à minha mãe. Todos os dias ela se sentava para ler a Sagrada Escritura em voz alta e
assim passava horas. Curioso como eu era (e ainda sou), me aproximava para escutar.
Foi durante essas leituras que conheci as histórias de Abraão, Moisés, Davi e tantos
outros personagens fascinantes da Sagrada Escritura. Com um tempo, deixei de ser
mero ouvinte e passei a mergulhar no estudo da Palavra.

Tenho um amor especial pela Sagrada Escritura: quantas lições valiosas


aprendi com Ela! Não conto as vezes que, lendo um ou outro trecho, senti Deus falando
tão fortemente ao meu coração que mal podia conter as lágrimas de felicidade.

Minha história e a Sagrada Escritura a partir daquele ano se entrelaçaram de


tal forma que ainda hoje caminham juntas. E quando a gente ama, também deseja que os
outros amem aquilo que amamos.

Dos meus anos de serviço a Deus, através da Comunidade Filhos da


Misericórdia, sempre procurei suscitar nos outros esse amor à Palavra de Deus, seja
através da catequese de crisma, dos grupos de estudo que coordenei ou através de
minhas pregações.

Essa apostila que você tem em mãos é fruto de minhas reflexões pessoais,
estudos e leituras que empreendi ao longo de todo esse tempo de caminhada cristã.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Procurei ser o mais didático possível. Aqui você encontra sínteses dos principais temas
introdutórios sobre a Sagrada Escritura. O objetivo é fornecer uma explanação desde os
temas mais simples aos mais complexos relacionados às Bíblia e os modos de
interpretação.

O material foi dividido em quatro partes: informações introdutórias; a


transmissão da Sagrada Escritura; as línguas bíblicas e, por fim, um resumo da História
da Salvação narrada na Bíblia. No final desta apostila, temos dois apêndices que tratam
sobre dicas pra melhor interpretar os textos sagrados e como estudá-los.

Gostaria de agradecer também a todos aqueles que durante toda minha


vivência cristã contribuíram para minha formação.

Não poderia também deixar de ser grato à Nossa Senhora, ela que como
ninguém foi verdadeira ouvinte da Palavra e ―guardava tudo em seu coração‖.
Aprendamos dela o dom da escuta atenciosa daquilo que o Mestre da Vida pronuncia e
percebamos que não existe lugar para onde podemos fugir, visto que só Ele tem
palavras de Vida.

Sérgio Gleiston Nicolete


Fortaleza, 30 de maio de 2011

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Sumário
1 Informações introdutórias sobre a Bíblia.................................................................. 5
1.1 O nome ............................................................................................................... 5
1.2 Os Livros ............................................................................................................ 6
1.3 Divisão dos Livros ............................................................................................. 8
1.4 Como encontrar uma passagem na Bíblia? ........................................................ 9
2 Transmissão da Palavra .......................................................................................... 10
2.1 Alguns Documentos da Igreja importantes para o estudo bíblico ................... 10
2.2 Como a Bíblia chegou até nós? ........................................................................ 10
2.3 Como se escreveu os originais ......................................................................... 14
2.4 O acesso ao texto bíblico ................................................................................. 16
2.4.1 Testemunhas diretas do Antigo Testamento ............................................. 16
2.4.2 Testemunhas indiretas do Antigo Testamento.......................................... 17
2.4.3 Testemunhas diretas do Novo Testamento ............................................... 19
2.4.4 Testemunhas indiretas do Novo Testamento ............................................ 19
3 As línguas bíblicas .................................................................................................. 20
3.1 Hebraico ........................................................................................................... 20
3.2 Aramaico .......................................................................................................... 21
3.3 Grego ............................................................................................................... 22
3.4 Grego e hebraico: duas mentalidades distintas ................................................ 23
3.5 As traduções bíblicas ....................................................................................... 24
4 A História da Salvação ........................................................................................... 28
5 Apêndice I: Como Ler & Estudar ........................................................................... 34
6 Apêndice II: modelos de leitura.............................................................................. 37
7 Algumas palavras sobre mim... .............................................................................. 41

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1 Informações introdutórias sobre a Bíblia


1.1 O nome

Você sabe de onde vem o nome Bíblia?

A palavra Bíblia veio do latim, através do grego biblia, plural de biblion que é
o diminutivo de biblos, termo que designa uma planta conhecida por nós como papiro,
utilizada na época, dentre outras coisas, na fabricação de papel. Era também o nome de
uma grande cidade portuária do século II a.C. de origem fenícia, um grande centro
comercial desse produto. Com o tempo, o termo passou a designar livro e, a partir do
século IV, o conjunto de Livros da fé cristã, seus Livros Sagrados.

A Bíblia se refere a ela mesma de diversas formas:

Escritura (Mt 21,42), principalmente, no Novo Testamento (95 ocorrências). Refere-


se, sobretudo, ao Antigo Testamento.
Escrituras (Mc 14,49) só consta no Novo Testamento (26 ocorrências), referindo-se,
principalmente, ao caráter profético do Antigo Testamento.
Sagradas Escrituras (2Tm 3,15) apenas uma ocorrência, mas que se tornou a forma
mais usual de se referir a Bíblia.
Santas Escrituras (Rm 1,2): também apenas uma ocorrência.
Livro de Javé (Is 34,16)
Livro da Aliança (Ex 24,7) seis ocorrências. Expressão que se refere, principalmente
ao código deuteronomista (Dt 12-26), encontrado no Templo (2Rs 22,1-10).
Livros Sagrados (1Mc 12,9).
Livro da Lei (Dt 28,61) com mais de 20 ocorrências, refere-se aos códigos de leis.
Ora se denomina como as Leis de Moisés (Js 8,31), ora como as Leis de Deus (Js
24,26).

Mas, sem dúvidas, a forma mais freqüente de se referir a Bíblia é como Palavra
de Deus (Hb 4,12). Em 242 casos nos quais o Antigo Testamento usa a expressão a
Palavra de Deus, ao menos, 214 isto significa uma comunicação feita por Deus a um
profeta ou dirigida por meio de um profeta, geralmente, uma transmissão oral.

Na Bíblia, consta ainda outras formas de se referir à Palavra de Deus:

Palavra do Deus Santo (Br 4,37);


Palavra do Deus Vivo (Jr 23,36);
Palavra do Pai (Jo 14,24);
Palavra Sagrada (Sl 105,42);
Palavra Divina (Eclo 6,35);
Santas Palavras (Jr 23,9);
Palavra do Reino (Mt 13,19)
Palavra do Senhor (1Pd 1,25)que no Novo Testamento se refere, sobretudo, aos
ensinamentos de Jesus;
Palavra da Verdade (2Tm 2,15);
Palavras de Vida (At 7,38);

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Façamos uma observação bastante pertinente: na mentalidade bíblica, o termo


"palavra" pode tanto ser escrita como, principalmente, a transmissão oral dos
ensinamentos.

Por fim, devemos destacar que o termo Palavra, no Novo Testamento, ganha
um sentido todo especial: refere-se ao próprio Jesus, ―o Verbo divino que se fez carne e
habitou entre nós‖ (Jo 1,14).

1.2 Os Livros

Já dissemos que a palavra ―bíblia‖ significa ―livros‖, ou seja, a Sagrada


Escritura é formada por um conjunto de livros e cada um deles possui uma abreviatura
que facilita a sua citação. Observe abaixo a ordem em que eles aparecem.

OBSERVAÇÃO:
A ordem em que se encontram os escritos não é a mesma ordem em que
foram compostos, encontram-se ordenados segundo o tema e os gêneros literários.
Originalmente, nenhum escrito trazia um título como o que tem hoje. Os
títulos foram colocados mais tarde por razões práticas.

A Bíblia católica contém 73 escritos, agrupados em dois grandes blocos:


Antigo e Novo Testamento ou ainda Primeira e Segunda Aliança. A rigor, o termo
―testamento‖ é uma tradução equivocada do original hebraico (―berit‖) que significa

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―aliança‖, pacto, um compromisso bilateral, tal qual feita com Moisés no Monte Sinai
ou aquela selada com a Morte de Jesus (Lc 22,20). No grego, traduziu-se a expressão
hebraica com o termo para ―diatheke‖: última disposição dos bens próprios, vontade
legalmente expressa, testamento, um compromisso unilateral (leia: Gl 3,15; Hb 9,15-
17).

O Antigo Testamento, como se encontra nas bíblias católicas, é composto por


46 livros (nas bíblias judaicas e de origem protestante, possui 39) e o Novo Testamento
é formado por um conjunto de 27 escritos (comuns a todas as denominações cristãs).

Os Livros bíblicos estão distribuídos da seguinte forma:

Podemos perceber que os Livros Bíblicos estão agrupados em dois grandes


blocos: Antigo e o Novo Testamento e separando em prateleiras de acordo com o
gênero literário de cada um, como se faz nas bibliotecas.

Originalmente, nenhum escrito trazia um título como o que tem hoje. Os títulos
foram colocados mais tarde por razões práticas.

O A.T. é dividido em quatro grupos: o Pentateuco ou Torah (Gn, Ex, Lv, Nm,
Dt), os Livros históricos (Js, Jz, Rt, 1 e 2Sm, 1 e 2Rs, 1 e 2Cr, Esd, Ne, Tb, Jt, Est, 1 e
2Mc), os Livros sapienciais (Jó, Sl, Pr, Ecl ou Coélet, Ct, Sb, Eclo ou Sirácida) e os
Livros proféticos. O escrito mais recente do A.T. é o Livro da Sabedoria escrito no séc.
I a.C. O N.T. se subdivide em evangelho, onde se narra os feitos e ensinamentos de
Jesus (Mt, Mc, Lc, Jo), os Atos dos Apóstolos, as cartas paulinas (Rm, 1 e 2Cor, Gl, Ef,
Fl, Cl, 1 e 2Ts, 1 e 2Tm, Fm, Hb), as cartas católicas ou universais (Tg, 1 e 2Pd, 1, 2 e
3Jo) e o Apocalipse. Os primeiros escritos do N.T. foram as cartas de Tessalonicenses
redigidas nos anos 50 d.C. Mas, podemos dizer que o ―coração da Sagrada Escritura‖ é
o Evangelho.

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1.3 Divisão dos Livros

Cada Livro é dividido em capítulos, são cerca de 1328, sendo que 260
pertencem ao N.T. Esta divisão não é original dos textos bíblicos, foi feita por Stephen
Langton, em 1214. O maior Livro bíblico é o Livro dos Salmos, possui 150 capítulos.

Existe uma diferença entre a numeração dos capítulos no Livro dos Salmos,
devido uma questão de tradução e interpretação:

BÍBLIA BÍBLIA
HEBRAICA GREGA
1-8 1-8
9 (9A)
10 (9B)
11 (10)
113 (112)
114 (113A)
115 (113B)
116 (114 e 115)
117 (116)
156 (145)
147 (146 e 147)
148 148
149 149
150 150

Outros Livros como Ester e Daniel, apresentam quantidades diferentes de


capítulos quando lemos uma tradução católica ou uma protestante. O motivo é que os
católicos adotaram a versão grega e os protestantes a versão hebraica, um pouco mais
curta.

Cada capítulo é subdividido em versículos, são cerca de 40.000, dos quais


cerca 7959 pertencem ao Novo Testamento. Tampouco essa divisão é original. Foram
feitas algumas tentativas para se chegar ao que se tem hoje: em meados do séc. XV,
Isaac Nathan dividiu cada capítulo em versículos para facilitar a referência às passagens
bíblicas. Depois, em 1528, foi impressa a Bíblia completa em latim, dividida em
capítulos e versículos por Sanctes Pagius. Atribui-se a Robert Stephenson (Etiene), no
ano de 1551, a numeração atual.

O menor Livro da Bíblia é a segunda carta de João com apenas 13 versículos.

A divisão em capítulos e versículos foi feita baseada nos manuscritos que se


conhecia naquele tempo, seguindo basicamente a tradução feita por São Jerônimo para o
latim, a chamada Vulgata. A Bíblia que usamos hoje, em contrapartida, é baseada nos
originais gregos e hebraicos conhecidos até então. Isso explica porque, ocasionalmente,
nos surpreende a falta de um versículo: este não estava no original, por exemplo, Mt
17,21; 18,11; Mc 9,46; 11,26; 15,28; Lc 23,17.

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O Livro de Ester possui versículos divididos em várias letras, chegando até ―z‖,
na Bíblia Edição Pastoral, da Paulus (ver, por exemplo, o capítulo 4, versículo 17). Na
Bíblia Ave-Maria, não existe essa divisão. Já, na Bíblia do Peregrino, o capítulo 4 segue
ininterrupto até o versículo 8, onde é separado pelo capítulo 15, versículos do 1 ao 3 e
depois continua no capítulo 4, versículo 9 até o 17, mas sem as subdivisões. Essas
diferenças se referem a forma como os editores e estudioso compreenderam como o
livro teria sido formado e, posteriormente, organizado.

1.4 Como encontrar uma passagem na Bíblia?

Nos tempos de Jesus, as citações bíblicas eram muito vagas (ainda não existia os
capítulos e versículos). Um exemplo claro de como se fazia é a passagem de Mc 12,26,
quando Jesus fala aos saduceus: ―não leram no Livro de Moisés (= Êxodo), no da sarça
ardente (= capítulo terceiro) como Deus lhe disse...‖ (segue a citação textual de Ex 3,6).

Os capítulos e versículos surgiram para facilitar a citação. Para fazermos uma


citação mais completa de um determinado trecho da Escritura se padronizou o uso de
determinados sinais de pontuação (que podem variar, por exemplo, entre o modo
católico e o protestante):

 Cada Livro tem uma abreviação (veja quadro abaixo), p.ex., o Evangelho
segundo São Mateus se abrevia com Mt.
 O número que segue o nome do Livro se refere ao capítulo (os números
grandes escritos nos textos), p.ex, Mt 16 significa Evangelho segundo São Mateus,
capítulo 16 (completo);
 A vírgula separa capítulo de versículo (os número pequenos no interior dos
textos), p.ex., Mt 16,1 = Evangelho segundo São Mateus, capítulo 16, versículo 1
(somente);
 O hífen apresenta uma seqüência de capítulos ou de versículos, p.ex., Mt 16-
18 = Evangelho segundo São Mateus do capítulo 16 ao 18 (completo); ou Mt 16,1-10 =
Evangelho segundo São Mateus, capítulo 16, do versículo 1 ao versículo 10;
 O ponto apresenta capítulos e/ou versículos citados isoladamente (representa
um salto na leitura), p.ex., Mt 16,1.10 = Evangelho segundo São Mateus, capítulo 16,
versículo 1 e o versículo 10 (sem os outros);
 O ponto e vírgula serve para fazer citações de várias passagens de um mesmo
Livro (quando não se cita a abreviação) ou de Livros diferentes (quando apresenta mais
de uma abreviação), p.ex., Mt 16,1-10; 20,1-5; Lc 2,1-3 = Evangelho segundo São
Mateus, capítulo 16, do versículo 1 ao versículo 10, mais o capítulo 20, do versículo 1
ao 5; e ainda o Evangelho segundo São Lucas, capítulo 2, do versículo 1 ao versículo 3;

Algumas vezes, pode se o utilizar ―s‖ (seguinte) e ―ss‖ (os dois seguintes), para
se referir a capítulos e versículos em seqüência, p.ex., Mt 16ss = Evangelho segundo
São Mateus do capítulo 16 ao 18 (completo) ou capítulo 16 e os dois seguintes; Lc 2,1s
= Evangelho segundo São Lucas, capítulo 2, do versículo 1 ao versículo 2 ou versículo
um e o seguinte;

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2 Transmissão da Palavra

2.1 Alguns Documentos da Igreja importantes para o estudo bíblico

Listamos abaixo uma série de documentos importantes que a Igreja Católica


Apostólica Romana emitiu acerca da Sagrada Escritura. Eles são bastante úteis ao
estudo.

Os Livros Sagrados e as Tradições dos Apóstolos. Concílio de Trento - Sessão


IV (8-4-1546). Definição do cânon e aprovação da Vulgata.
Constituição Dogmática Dei Filius. Concílio do Vaticano I -Sessão III (24-4-
1870). Sobre a fé católica e a revelação divina.
Providentissimus Deus. Carta Encíclica do Papa Leão XIII (1893), sobre o
estudo da Sagrada Escritura;
Spiritus Paraclitus. Carta Encíclica do Papa Bento XV (1920), por ocasião do
XV centenário da morte de São Jerônimo, doutor da Igreja e tradutor da Bíblia
para o latim;
Divino Afflante Spiritu. Carta Encíclica do Papa Pio XII (1943), sobre os
modos mais oportunos de promover os estudos da Sagrada Escritura;
Constituição Dogmática Dei Verbum. Concílio do Vaticano II (1965) sobre a
Revelação Divina;
A Interpretação da Bíblia na Igreja. Documento da Pontifícia Comissão
Bíblica (1993).
O povo hebraico e as suas Sagradas Escrituras na Bíblia cristã. Comissão
Pontifícia Bíblica (24 de maio de 2001).
A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. Sínodo dos Bispos - XII
Assembléia Geral Ordinária (2007).
Bíblia e moral - Raízes bíblicas do agir cristão. Comissão Pontifícia Bíblica (11
de maio de 2008).
Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-sinodal sobre a Palavra de Deus na
vida e na missão da Igreja. Papa Bento XVI (30 de setembro de 2010).

2.2 Como a Bíblia chegou até nós?

Uma grande proporção dos escritos da Bíblia foi redigida depois de mais ou
menos longa transmissão oral que ocupa o tempo que transcorre entre o fato acontecido
do qual se fala (o ―tema‖) e a comunicação escrita que narra esse fato acontecido. As
histórias dos patriarcas (Abraão, Issaac e Jacó), de Davi, de Jesus, foram narradas
oralmente durante algum tempo, às vezes séculos, antes de serem fixadas por escrito.
Com poucas exceções (por exemplo, as cartas e o apocalipse), os escritos da Bíblia não
se originaram com aquele que escreveu, mas se devem a tradições orais. Além do mais,
muitos escritos passaram por mais de uma redação.

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Em geral, os escritos bíblicos seguem o seguinte esquema de composição:

1) De um modo ou de outro, o que está escrito na Bíblia teve seu ponto de


partida em ―algo acontecido‖, sobre o qual se falava, e um dia se colocou por escrito.
Este ―algo‖ que ocorreu já era ou um acontecimento público ou presenciado por um
grupo (por exemplo, o Êxodo), ou uma experiência pessoal (por exemplo, uma visão).
Se não tivesse havido uma batalha de Gelboé e a morte de Saul nela, não teríamos um
relato sobre isso (a menos que fosse um conto) (1Sm 31). Se não tivesse havido
necessidade de assegurar ordem na comunidade hebraica, não haveria código de leis
sociais. E se os judeus não tivessem sido deportados para a Babilônia, o profeta
Ezequiel não teria falado de um retorno. Deus revela-se (dá-se a conhecer) na história
humana mediante acontecimentos ou experiência vividas por pessoas.

Não necessita de explicação o fato de que os escritos de gêneros históricos têm


sua origem nos acontecimentos que eles narram. Os profetas também falaram a partir de
experiências, de seus contatos com Deus e de suas observações sobre o que estava em
seu tempo em Israel. Os salmos e cânticos diversos exultam em agradecida alegria ou
imploram ajuda com relação ao que seus autores viviam. Os escritos sapienciais
expressam poeticamente experiências vividas e entesouradas, refletidas e formuladas
como conselhos e ensinamentos. As leis e mandamentos surgiram como necessidade de
fixar ordem na comunidade a partir de experiências ou da comprovação do caos. Os
Evangelhos, por sua parte, são produtos da fé em Jesus Cristo, fé vivida concretamente
pelos primeiros cristãos além de remontar-se ao histórico acontecimento-Jesus Cristo.
As epístolas ou cartas foram escritas como respostas a diversos problemas e
necessidades para os quais foram compostas. Os apocalipses foram escritos com base
nas situações de hostilidades e perseguições das quais os fiéis de Deus eram vítimas.

Certamente, alguns gêneros literários não foram produtos de acontecimentos


reais, como é o caso dos mitos e das fábulas, mas o processo de comunicação seguiu a
mesma seqüência que estamos descrevendo. Devem-se à necessidade de comunicar
realidades ou comportamentos observáveis na vida humana.

Em síntese, o que encontramos na Bíblia, de uma ou de outra forma


(com poucas exceções), teve sua origem em experiências ou em
acontecimentos humanos reais. Não são escritos maquinados por mentes
criativas ou pela imaginação de seus autores.

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Ilustrando o que se disse, temos que o Novo Testamento é o fruto de uma árvore,
cujo tronco é Jesus e cujas raízes afundam no Antigo Testamento, os ramos são
as comunidades cristãs, edificadas pelos apóstolos

2) Toda experiência ou acontecimento é interpretada pelo indivíduo ou pelo


grupo que o viveu ou presenciou. Não há experiência consciente ou acontecimento
contemplado que não seja interpretado. Interpretar é responder à pergunta pelo
significado, pelo valor ou importância de algo. Toda interpretação é pessoal, subjetiva: é
a minha interpretação. Em termos populares, qualificamos de ―meu ponto de vista‖. Isso
significa que a interpretação de um mesmo acontecimento pode variar (e de fato varia)
de uma pessoa para outra.

Os escritos Bíblicos oferecem-nos determinada interpretação do que relatam.


Seu ponto de vista é o da fé. Isso quer dizer que, na Bíblia, os diversos acontecimentos e
experiências não estão relados de maneira neutra e imparcial, mas que são interpretados.
O ponto de vista é substancialmente religioso, não político, social ou econômico.
Assim, por exemplo, o êxodo do Egito está interpretado na Bíblia como resultado da
ação libertadora de Deus e não como resultado da astúcia ou da sorte dos hebreus ou da
inabilidade estratégica dos egípcios.

Se tomarmos consciência de que alguns acontecimentos foram relatados


oralmente durante muito tempo, de uma geração a outra, antes de serem fixados por
escrito, e de que cada um que o relatou e cada um que o escutou o interpretou segundo
―seu ponto de vista‖, segundo sua maneira de compreendê-lo, segundo seu nível
cultural, segundo suas experiências de vida, podemos ter uma idéia das mudanças que
podia sofrer o relato através do tempo.

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3) Toda experiência ou acontecimento considerado importante é transmitido a


outra pessoa ou grupo. Para transmiti-lo, obviamente, deve ser formulado em uma
linguagem que possa ser compreendida pelo destinatário, pois, do contrário, não o
entenderá e não haverá comunicação. A linguagem empregada é linguagem humana,
não divina. Isto significa que é linguagem própria de determinada cultura, de um povo,
em um determinado tempo, que não é igual em todos os lugares e em todos os tempos.

4) A experiência interpretada e formulada foi transmitida a outra pessoa. A


transmissão, em geral, é oral ou escrita. O resultado da contínua comunicação oral nos é
bastante conhecido. O que acontece, quando A diz algo a B, e B o diz a C, e assim
sucessivamente? O comunicado é primeiramente compreendido e interpretado de certa
maneira pelo que recebe a informação, e quando este a comunica a outro, já terá
modificado alguma coisa – acrescenta, tira, atenua elementos ou elabora de outro modo
que fique alterado. Só o que é importante é transmitido, o que não tem (ou perde)
importância não se transmite ou se perde no esquecimento. Isso significa que o que está
preservado na Bíblia foi transmitido, porque era considerado importante e significativo,
porque continha uma mensagem válida no momento de escrevê-lo. Além disso, segundo
o tema que tratava a mensagem que queria comunicar, o autor se expressou em um ou
em outro gênero literário (histórico, hínico, profético, legislativo etc.).

5) Eventualmente, um autor literário, o último na cadeia da transmissão oral,


colocou por escrito aquelas tradições orais importantes. Muitos escritos da Bíblia são,
então, coleções de tradições orais (ou as empregaram). A forma escrita não é mais dos
que outra maneira ou modalidade de comunicar o que se transmitia oralmente. Em vez
de o receptor receber a mensagem mediante a palavra sonora daquele que a transmite,
recebe-a através da palavra escrita: é a transmissão da mesma mensagem.

Nem tudo foi relatado, nem tudo o que foi relatado foi escrito. Preservou-se
somente aquilo que tinha importância para eles. O escritor escolheu as tradições que lhe
pareceram mais importantes e colocou-as em certa ordem, até retocou-as para que
fossem mais uniformes e expressassem melhor a mensagem que ele queria comunicar.
Isso se observa facilmente quando se compara um Evangelho com outro. Além disso,
não poucas vezes as obras escritas foram revisadas, e foram-lhes acrescentados
esclarecimentos ou, ainda, outras tradições. Assim, o Evangelho original segundo João
foi enriquecido logo com a introdução do Prólogo (1,1-18), com a cena da mulher
colhida em adultério (7,53-8,11) e com o capítulo 21. No Prólogo, é fácil observar
inserções posteriores (Jo 1,6-8,15).
Os gêneros carta e apocalipse, e algumas composições poéticas longas e
elaboradas (por exemplo, Jó), não passaram por uma tradição oral, mas foram
comunicados diretamente em forma escrita. Mas tiveram sua origem em algum
acontecimento ou experiência sobre o qual seus autores trataram.

Cada livro foi composto independente dos outros. Nenhum autor escreveu
pensando que seria lido milênios mais tarde, em outros continentes, e que sua obra faria
parte de uma coleção de ―livros sagrados‖. Alguns, certamente, utilizaram obras escritas
como parte de suas fontes. Mateus e Lucas usaram o Evangelho segundo Marcos; o
autor da carta aos Efésios usou a carta aos Colossenses.

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6) Em um momento da história de Israel, o judaísmo se viu obrigado a decidir


quais, dentre todos os escritos existentes, podiam realmente ser ―chamados‖ inspirados
por Deus e que poderiam ser considerados como normativos. O que havia acontecido
era que o número de escritos com pretensões de ―inspiração divina‖ ia crescendo, alguns
dos quais eram de origem e de conteúdo duvidosos, até sectário. Algo semelhante
ocorreu no cristianismo, quando o número de escritos foi crescendo e começaram a
aparecer alguns que eram antes coleções de lendas piedosas e outros que apresentavam
uma doutrina diferente daquela que remontava confiavelmente a Jesus e aos apóstolos.
Em ambos os casos, para o judaísmo e par o cristianismo, a decisão sobre o cânon era
uma questão de preservar a unidade e a identidade da comunidade. A partir de então,
podemos afirmar que temos ―Bíblia‖: coleção de escritos normativa.

7) Quando os idiomas em que os escritos da Bíblia foram redigidos (hebraico e


grego) não eram os idiomas dos lugares onde se queria ler a Bíblia, então se tornou
necessário traduzi-los para os idiomas dos novos leitores. Toda tradução também é uma
interpretação.

2.3 Como se escreveu os originais

Quando a Bíblia começou a ser escrita, há mais de 3 mil anos atrás, o papel ainda
não existia. Porém, havia muitas outras maneiras de registrar os acontecimentos.

Jó 19,23s faz referência de escrever com buril (―pena de ferro‖) inscrições sobre
as pedras. As ―tábuas da Lei‖ eram dois blocos de pedra escritas frente e verso (Ex
32,15). Em Roma e entre os judeus, os tabletes e tabuinhas recebiam uma fina camada
de cera, Zacarias, pai de João Batista, provavelmente usou uma dessas para escrever o
nome do recém-nascido (Lc 1,63). Escrevia-se com uma caneta de aço, de ouro ou de
outro material duro.

Porém, para escrever, se utilizou, principalmente, dois tipos de material: o papiro


ou o pergaminho. Só no séc. VIII d.C. os sírios começaram a fabricar o papel (mas os
chineses e indianos já o faziam desde o séc. II), porém só a partir do séc. XIII é que esse
material se populariza.

O papiro, cujo nome científico é Cyperus papyrus, é uma planta perene,


encontrada em abundância no delta do rio Nilo ou em lugares pantanosos (Jó 8,11). As
Escrituras mencionam três usos diferentes para essa planta: fabricação de cestas (Ex
2,3.5), embarcações (Jó 9,26; Is 18,2) e material para a escrita (1Sm 10,25; Tb 7,13).

Foi por volta de 2200 a.C. que os egípcios desenvolveram a técnica do papiro para
a escrita (ver figura na página seguinte).

O papiro era caro, mas depois de lavado e raspado, podia ser reutilisado, chama-se
palimpsesto (uma página manuscrita, cujo conteúdo foi apagado e escrito novamente,
normalmente nas linhas intermediárias ao primeiro texto ou em sentido transversal). O
termo deriva do grego antigo παλίμψηστος, ou seja, "riscar de novo" (πάλιν, "de novo"
e ψάω, "riscar")

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Muito possivelmente o fragmento de papiro mais antigo descoberto até agora do


Novo Testamento é o ―fragmento de John Rylands‖, escrito, em grego, por volta de 130
d.C. Trata-se de um trecho do Evangelho de João (Jo 18,31-33.37s), de apenas 6cm por
9cm, descoberto no ano de 1935 no Egito.

Pergaminho é o nome dado à pele de animal, geralmente de cabra, carneiro,


cordeiro ou ovelha, seca ao sol, raspada e limpa, depois a pele era esticada e batida até
ficar chata e pronta para nela se escrever.

Pergaminho designa também o documento escrito nesse meio.

O nome lembra ainda a cidade grega de Pérgamo, na Ásia Menor, onde se acredita
que possa ter se originado ou distribuído esse tipo de material.

O Capítulo 36 de Jeremias narra a situação dramática do profeta que impedido de


falar publicamente, recorre à palavra escrita em um pergaminho por seu secretário,
Baruc, e dirigida ao rei da Bablilônia.

Para se escrever no papiro ou no pergaminho usava-se um caniço talhado com


canivete e uma tinta preta, conservada em um tinteiro (Jr 36,18; Ez 9,2s; 3Jo 13). A
tinta era feita de fuligem, resina, óleo de oliva e água.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Inicialmente, os livros bíblicos tinham forma de rolos que podiam chegar até dez
metros de comprimento. Cada extremidade era enrolada em volta de uma vara de
madeira que o leitor desenrolava. Ainda hoje, nas sinagogas judaicas os textos sagrados
para leitura têm esse formato. Quando não estavam em uso, os rolos eram embrulhados
em panos e armazenados em jarros altos para serem preservados.

O texto era disposto em várias colunas verticais. É a elas que se refere Jr 36,23.

Só no final do primeiro século da era cristã, surgiu o formato de livro, que os


estudiosos chamam códex, que podia ser confeccionado tanto com papiro quanto com
pergaminho, com as folhas costuradas. Isso facilitava a consulta e possibilitava reunir
em um único volume toda a Bíblia.

A primeira cópia completa do Novo Testamento foi escrita por volta do século IV.
É chamada de Códice Sinaítico porque foi encontrada ao pé do Monte Sinai, no
mosteiro de Santa Catarina, em 1844, pelo estudioso alemão Constantine Tischendorf
em uma de suas visitas ao lugar. Hoje, esse documento encontra-se no Museu Britânico
em Londres.

Atualmente, temos mais de 80 papiros do Novo Testamento (datados entre os


séc. II-IV), mais de 260 códices maiúsculos (séc. IV-X) e mais de 2750 códices
minúsculos (séc. X-XVI).

2.4 O acesso ao texto bíblico

Podemos ter acesso ao texto bíblico por intermédio dos manuscritos, dos quais se
diz serem testemunhas diretas quando escritos na língua original ou indiretas quando se
trata de traduções.

2.4.1 Testemunhas diretas do Antigo Testamento

a) Texto Massorético (TM). Durante o período do Segundo Templo (séc. VI


a.C.) um texto de forma consonantal oriundo de uma corrente judaica particular
(fariseus?) impõe-se gradativa mente, ultrapassando seu círculo de origem. A queda de
Jerusalém (70 d.C.) provoca a reorganização do judaísmo o que contribuiu para o
estabelecimento do cânon (texto proto-massorético).

A partir daí não se poupou esforços para a conservação integral. Os escribas


estavam submetidos a uma série de regras extremamente rígidas que não toleravm
nenhuma modificação ou acréscimo ou exclusão de palavras.

Com o tempo, porém, o hebraico tornou-se língua morta e já não se sabia a


pronúncia precisa do texto sagrado. A fim de preservar a boa pronúncia, um grupo de
especialistas chamados massoretas, introduziram um sistema de vocalização no texto
por vota do séc. X d.C.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

A primeira edição completa da Bíblia Hebraica a ser impressa (já com as


―vogais‖) foi feita em Socino em 1488. O códex de Leningrado que data de 1009 é o
mais antigo manuscrito ainda existente do texto massorético e se encontra em São
Petersburgo, antiga Leningrado (Rússia).

b) Pentateuco Samaritano. É um texto consonântico constando somente a


Torah, que representa uma forma antiga da escrita hebraica e que foi conservado pela
comunidade samaritana desde que rompeu com o mundo judaico no período asmoneu
(167-63 a.C.). Os textos foram descobertos em Damasco no ano de 1616 e os seus
escritos mais antigos datam da Idade Média, sendo raros os que são anteriores ao séc.
XIII.

c) Os Manuscritos de Qumrã (Mar Morto). A partir de 1947, foram encontrados


em onze grutas de Qumrã cerca de 800 papiros e pergaminhos pertencentes à
comunidade dos essênios (seita que havia se isolado do judaísmo do Templo). Trata-se
de cópias de todos os livros do Antigo Testamento (exceto Ester) – Isaías é o único
completo – livros apócrifos, comentários bíblicos, tratados de liturgia e regras daquela
comunidade. São o testemunho mais antigo dos textos bíblicos, datados entre o séc. II
a.C. e o ano 70 d.C.

d) Papiro de Nash. Descoberto, em 1902, no Egito, por WL Nash, data entre os


séc. I e II d.C. Ele contem o decálogo, cuja formação segue principalmente o texto de
Ex 20, mas também, parcialmente, Dt 5 e apresenta ainda o Shemá Israel (Dt 6,4). Era,
provavelmente, um texto destinado à liturgia.

e) Fragmentos de Gueniza do Cairo. São mais de 200 mil fragmentos, dentre os


quais algumas dezenas de milhares referem-se ao texto bíblico. Foram descobertos por
acaso, em 1890, num cômodo de uma antiga sinagoga do Cairo. Alguns fragmentos
propriamente ditos remetem ao séc. IX.

2.4.2 Testemunhas indiretas do Antigo Testamento

Os textos bíblicos foram bem cedo traduzidos em várias línguas, mas nem todas
as traduções basearam-se no Texto Massorético.

a) As traduções gregas
Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Realizada entre os séc. III e II a.C.,
em Alexandria. Não foi obra de um único autor, por isso a qualidade das traduções pode
variar de um texto para outro. Para o Cristianismo, a LXX foi considerada, por quase
oitocentos anos, como texto normativo e inspirado do Antigo Testamento.

Théodotion (ou Teodocião). É uma versão atribuída a um personagem com esse


nome do séc. II d.C. que partindo do texto hebraico fez a revisão de uma versão grega
distinta da LXX.

Áquila. É uma versão que data aproximadamente do ano 125 d.C. é a mais literal
de todas. Conhecida apenas através do escritor cristão Orígenes e pelos fragmentos de
Gueniza do Cairo.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Símaco. Data do final do séc. II. Chegou até nós também por intermédio de
Orígenes e citações de outros Padres da Igreja e autores judeus.

Héxapla. Texto redigido no séc. II d.C. Orígenes fez uma edição em seis colunas
paralelas do Antigo Testamento, apresentando diferentes traduções na seguinte ordem:
texto hebraico, transliteração do texto hebraico em caracteres gregos, Áquila, Símaco,
Septuaginta e Teodocião.

b) Targumim aramaico. Após a volta dos judeus do cativeiro da Babilônia, a


grande maioria havia perdido o contato com a própria língua hebraica, sendo-lhes
necessário não só ler as Escrituras como interpretá-las. Dessa forma era feita a tradução
parafraseada (targum) na língua aramaica. Os targumim eram numerosos. Os mais
antigos são interpretações da Torah.

c) Tradução siríaca. Língua semítica antiga (dialeto do aramaico) utilizada nas


Igrejas sírias

Peshita. É a tradução do Antigo Testamento hebraico e do Novo Testamento


grego feita no séc. II. Seu nome significa ―simples‖. Ela foi preservada em alguns
manuscritos, dos quais os mais antigos datam do séc. V.

d) Traduções latinas.

Vetus latina. Feita a partir da LXX, séc. II, no norte da África. É um testemunho
importante, pois parece aparece antes das diferentes recessões da LXX, mas do ponto de
vista da crítica textual seu valor é limitado porque só uma parte dele foi conservada.

Vulgata. É obra de São Jerônimo, feita entre os anos de 390-405, a pedido do


papa Dâmaso I. em geral, é fiel ao Texto Massorético. É a versão oficial do Catolicismo
desde o Concílio de Trento (1546). O mais importante e célebre manuscrito da Vulgata
que possuímos é o Codex Amiatinus, do séc. VIII, que está em Florência (Itália), na
Biblioteca Laurentiana.

e) Outras traduções.

Cóptica. A língua copta (egípcio antigo) comporta vários dialetos, dentre os mais
importantes são o saídico e o boárico. As traduções cópticas foram feitas a partir da
LXX.

Góticas. Datam do séc. IV, feitas pelos godos a partir da LXX. Dela só temos
fragmentos.

Armênica (séc. IV). Tradução baseada na Peshitta. Também restam apenas


fragmentos.

Etiópica (séc. IV). Utiliza, provavelmente, a LXX.

Outras traduções de menor importância: geórgica, arábica, eslávica.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

2.4.3 Testemunhas diretas do Novo Testamento

Os livros do Novo Testamento foram escritos em grego comum, chamado koiné.


A uncial (ou maiúscula) é o caractere gráfico mais usado, somente a partir do séc. IX é
que se começa a utilizar o caractere minúsculo cursivo. A escrita do texto é apresentada
de forma contínua (escriptio continua), ou seja, sem espaço entre as palavras e frases.

Ao que parece os autores cristãos teriam preferido o códex e não o rolo,


contrariando ao costume do mundo judaico e do pagão. Todos os papiros (à exceção de
quatro) estão reunidos em códices o que favorece a utilização da escrita opistográfica,
isto é, escrita de ambos os lados, ou frente e verso do material. O rolo opistográfico era
bem mais raro.

Os testemunhos diretos do Novo Testamento temos:


a) papiros: estão entre as mais antigas testemunhas do Novo Testamento. São
pouco mais de uma centena, pois acabaram não resistindo às condições climáticas do
Egito, de onde são originários. Estão fragmentados. Datam do séc. II em diante.

b) Unciais. Uncial significa duodécimo do pé ou uma polegada. Trata-se da


escrita maiúscula em pergaminho. Mais ou menos uns trezentos manuscritos. Os mais
antigos são do séc. IV.

c) Lecionários. Manuncritos que contém partes selecionados dos Evangelhos,


utilizadas para a leitura de acordo com o calendário litúrgico. São mais de dois mil. O
mais antigo que se conhece é do séc. V.

d) Citações dos Padres da Igreja. São milhares de citações bíblicas encontradas


nas publicações dos Pais da Igreja, chamadas de citações patrísticas. Encontram-se em
grego e em latim.

Quadro comparativo de citações patrísticas


Atos dos Epístolas Epístolas
Cristão Evangelho Apocalipse Total
Apóstolos Católicas Paulinas
Justino
268 10 63 43 3 387
Mártir
Irineu 1.038 194 23 499 65 1.819
Clemente
de 1.017 44 207 1.127 11 2.406
Alexandria.
Orígenes 9.231 349 399 7.778 165 17.922
total geral 11.554 597 692 9.447 244 22.534

2.4.4 Testemunhas indiretas do Novo Testamento

Muito rapidamente as exigências missionárias fizeram com que a Bíblia fosse


traduzida para diferentes línguas. As versões latinas, cópticas e siríacas parecem
remontar ao ano 180. As principais versões são aquelas indicadas na lista das
testemunhas indiretas do Antigo Testamento.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

3 As línguas bíblicas
A terra de Israel onde se formou grande parte dos livros bíblicos faz parte do
Oriente Médio, na Ásia. Essa região foi dominada por diversos povos, culturas e
civilizações, desde as épocas mais remotas. Por isso, muitas línguas foram faladas e
usadas na escrita, no decorrer da história, entre elas se destacam o grupo das línguas
semíticas. Desse grupo fazem parte o acádio, o assírio, o cananeu, o fenício, o hebraico,
o aramaico, o árabe dentre outras. Essas línguas possuem semelhança na fala, na escrita
e no modo de construir o pensamento e as frases. São como a língua portuguesa que tem
semelhança com o espanhol, o italiano e o francês.

Existe outro grupo lingüístico, o indo-europeu que abrange outras áreas da Ásia
e da Europa, do qual faz parte o grego e do qual, deriva também o português.

O Antigo Testamento foi composto sob duas formas. A mais antiga, escrita em
hebraico – com raras exceções em aramaico (Est 4,8-6,18; 7,12-26; Dn 2,46-7,28; Jr
10,11) e a mais recente, escrita em grego: além da tradução dos 39 livros da Bíblia
Hebraica, contém mais sete escritos originalmente em grego (Tobias, Judite,
Eclesiástico, Sabedoria, Baruc e os dois Livros dos Macabeus), chamados de
deuterocanônicos no meio católico e apócrifos no ambiente protestante, em cuja bíblia
eles não se encontra.

3.1 Hebraico

A língua hebraica faz parte das línguas semíticas. Ela nasceu no Oriente
Próximo e Médio. O primeiro documento conhecido nessa língua é o calendário de
Gazer, escrito por volta do séc. X a.C., encontrado em 1928, próximo a Jerusalém. Esse
calendário surgiu na época em que o hebraico ainda estava em fase de formação. A
língua sofreu mudanças gradativas que se refletiram no texto da Bíblia Hebraica.

A 1ª fase vai aproximadamente de 1000 a.C ao ano 100 a.C. As palavras eram
escritas só com consoantes. E estas eram escritas do mesmo jeito em todos os lugares.
Depois do exílio da Babilônia (538 a.C.) a escrita das consoantes começou a tomar
forma quadrática, como é até hoje o hebraico bíblico.

A 2ª fase vai do ano 100 a.C. ao 500 d.C., na qual é fixada uma forma única de
escrever as consoantes.

A 3ª e última fase, do ano 500 d.C. ao 900 d.C., o hebraico chega a adquirir sua
estabilidade com o acréscimo das vogais. O trabalho de unificar as consoantes e
acrescentar as vogais foi definitivamente realizado no séc. IX por um grupo de judeus
de Tiberíades, estudiosos da Bíblia. Eles são chamados de massoretas (que significa
―tradicionalistas‖) porque colocaram por escrito todas as tradições orais que diziam
respeito ao texto bíblico e, em particular, ao modo de lê-lo e escrevê-lo.

O hebraico possui 22 consonantes quadráticas. Sua escrita é feita da direita


para a esquerda. As vogais são pontos e outros sinais gráficos colocados acima ou
abaixo das consoantes.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

A título de ilustração, vejamos como é o salmo 134 em hebraico com sua


transliteração.

3.2 Aramaico

O aramaico é a língua-irmã do hebraico, muito parecida com este na escrita e


na pronúncia. Começou a ser falado pelo povo da Bíblia no tempo do Exílio da
Babilônia, quando muitos judeus, fora de sua própria terra, começaram a falar com a
língua dos babilônicos. Mesmo assim, o hebraico continuou (e continua) a ser usado na
leitura dos textos bíblicos, nas leituras das sinagogas e como língua falada de Israel.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

A sinagoga, na tradição judaica, é o lugar privilegiado de oração e estudo dos


escritos sagrados, assim como é a Igreja para os cristão e a mesquita para os
muçulmanos.

Poucos são os escritos bíblicos na língua aramaica: apenas alguns capítulos de


Esdras (4,8-6,18; 7,12-26), alguns capítulos de Daniel (2,4b-7,28) e um versículo em
Jeremias (Jr 10,11). No entanto, acharam-se em Qumrã não poucos textos em aramaico
e existe outra literatura judaica em aramaico (targumim, midrashim, Talmud). Quanto
ao Segundo Testamento, alguns Padres da Igreja afirmam que o Evangelho de Mateus
teria sido escrito em aramaico e que fora traduzido para o grego, chegando até nós nessa
versão. Hoje, tal hipótese é bastante discutida.

3.3 Grego

O grego é a terceira língua em que foram escritos alguns livros do Antigo


Testamento e todos do Novo. Do primeiro, chegaram até nós os Livros de Tobias,
Judite, 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico (ou Sirácida) e Sabedoria, além de partes do Livro
de Daniel (3,24-25.52-90; 13-14) e de Ester (10,4-16,24).

A língua e a cultura grega já eram conhecidas no Oriente mesmo antes de sua


dominação sobre Israel. A partir de Alexandre Magno (333 a.C.), a língua e cultura
helenística se impuseram em todo território dominado.

O grego era, principalmente, falado nas cidades. Daí surgiu a necessidade de


traduzir a bíblia do hebraico para essa língua, a fim de ser utilizada no culto religioso,
sobretudo, dos judeus da diáspora.

O grego bíblico não é o grego clássico dos filósofos, mas o popular chamado
koiné.

Nas terras bíblicas, havia uma mistura de línguas por causa das sucessivas
dominações ocorridas na região. Por isso, o povo falava o aramaico em casa, usava o
hebraico na liturgia e o grego no comércio e na política.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

A título de ilustração, colocamos abaixo o Pai-Nosso, em grego,


juntamente com sua transliteração, extraído de Mt 6,9-13.

3.4 Grego e hebraico: duas mentalidades distintas

Existem diferenças entre o hebraico e o grego na forma como cada uma dessas
culturas interpretam o mundo a sua volta e como o expressam na linguagem escrita.

O hebraico é um idioma criado com base na experiência com o mundo e não na


reflexão como o grego. Por isso, predomina a ação. Não conhece tempos verbais como
o passado, presente e futuro, mas modos de realização da ação: totalmente concluída ou
em curso de realização. Alguém não "é", mas "está" ou "esteve". Deus não "é", mas se
dá a conhecer por suas ações; por isso, a famosa apresentação de Deus em Ex 3,14 deve
ser entendida neste sentido dinâmico ("eu sou Aquele que devém sem seu agir"), não no
sentido ontológico grego ("eu sou Aquele que sou").

No hebraico, a linguagem expressa o sentido concreto. Há poucos vocábulos


para abstrações e generalidades, por isso, não há palavras para dizer "nada", "eterno",
"todos", "pessoa", "falsidade", "universo". Aproxima-se delas usando metáforas,
símbolos, hipérboles, tomadas do mundo sensível. O conceito de universo é expresso
por "céus e terra". O ser humano designa-se "filho do homem". A pessoa é "corpo". A
eternidade é "sempre"; todos é "muitos" e para referir-se a sentimentos fala de
"entranhas".

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

O grego, ao contrário, é um idioma polido, com gramática refinada e muitas


abstrações. É o idioma da reflexão. Para o grego, o idioma é arte; para o hebreu, um
instrumento. O grego está preocupado em definir, analisar, compreender. Possui
mentalidade lógica, pergunta-se pela origem e sentido de ser das coisas. O hebreu tende
a exagerar, o grego à objetividade.

Não raro encontramos nos textos bíblico escritos em grego, expressões que são
semíticas (semitismo), tais como "fazer a verdade", "filho da mentira" (da perdição, do
homem), "ter acepção de pessoas", e até vocábulos hebraicos (ou aramaicos)
transliterados, como "amém", "satanás", "geena" dentre outros.

É nesse contexto cultural e lingüístico que a Palavra de Deus toma forma e na


limitação da linguagem nos transmite a Verdade que salva. Não podemos ignorar.

Para ampliarmos o nosso conhecimento, vamos exercitar um pouco as línguas


bíblicas. Abaixo está uma lista de palavras escrita em hebraico, use os códigos-chave
para transliterar. Não se esqueça que, nesse idioma, escreve-se da direita para à
esquerda (colocamos uma seta para facilitar). Dica: ponha nos quadrado, em branco,
primeiro as consoantes.

3.5 As traduções bíblicas

Desde muito cedo procurou-se fazer traduções da Sagrada Escritura, assim


temos a LXX do séc. III a.C. que traduziu os livros hebraicos para o grego. Esta foi a
versão usada pelos apóstolos de Jesus em suas pregações: das 350 citações que o Novo
Testamento faz do Antigo, 300 concordam perfeitamente com a LXX, inclusive com
relação às diferenças do hebraico.

Uma outra tradução importante é a Vulgata. Foi o papa São Dâmaso I (séc.IV)
que ordenou a São Jerônimo que elaborasse uma versão padrão, em latim, esta feita a
partir do hebraico (exceto, é claro, para os textos gregos da LXX).

Entretanto, uma reverência supersticiosa à Septuaginta, fez com que muitos


não aceitassem a obra de São Jerônimo, mas a tradução foi conquistando espaço e
ganhando destaque. No tempo do papa Gregório Magno (séc. VII), ela já tinha igual
autoridade e estava em uso em toda a Igreja do Ocidente, e, mais tarde durante a época
de Carlos Magno (séc. IX). A Vulgata triunfaria definitivamente sobre outras versões
antigas do latim.

Com o passar do tempo o texto da Vulgata perdeu um pouco de sua pureza,


devido às cópias e introduções de antigas versões, porém nobres doutores revisaram o
texto reconduzindo-o à primitiva integridade.

Novamente surgiram vários outros textos latinos de valores discutíveis e em


outras línguas, principalmente, após a Reforma Protestante. Assim sendo, a Sessão IV
de 8 de abril de 1546, do Concílio de Trento, após definir o cânon das Sagradas
Escrituras, decretou que a Vulgata seria a versão autêntica (oficial) da Igreja Católica e
que fosse impressa com a máxima correção. A Igreja a utilizou até o Concílio do
Vaticano II (1962-1965), quando foi substituída pela Nova Vulgata.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

A primeira tradução portuguesa de alguns textos bíblicos foi feita a pedido do


rei Dinis em 1320 (Atos dos Apóstolos e uma história abreviada do A.T.). Já no século
XV foram traduzidos os evangelhos, a pedido do rei Dom João I (uma versão historiada
do A.T., os evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo). No século XVIII,
completou-se a primeira tradução portuguesa da Bíblia feita a partir dos originais
hebraicos e gregos da mão do pastor protestante João Ferreira de Almeida (entre 1644-
1691), tradução ainda em voga no meio protestante, embora ―revista e atualizada‖. Do
lado católico, destacam-se as traduções de Antônio de Figueredo (entre os anos de
1772-1790) e de Matos Soares (início do séc. XX), ambas derivadas da Vulgata e
impressas até hoje.

As livrarias no Brasil oferecem, hoje, uma gama enorme de traduções da bíblia


em português, vejamos algumas:

Bíblias católicas

Bíblia Sagrada. Traduzida da Vulgata pelo padre Matos Soares (Ed.


Paulinas).
Bíblia Mensagem de Deus. É a primeira tradução católica, em
português, a partir dos originais (Ed. Loyola).
Bíblia de Jerusalém. Adaptação da tradução francesa dos monges
belgas de Meredsous (Ed. Paulinas).
Bíblia Sagrada. Traduzida a partir dos originais (Ed. Vozes).
Bíblia Edição Pastoral. Tradução popular a partir dos originais (Ed.
Paulus).
Bíblia Sagrada. Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil. Destinada a ser a Bíblia padrão da Igreja Católica no Brasil.
Traduzido a partir dos originais, com considerações da Nova Vulgata.
Bíblia do Peregrino. Traduzida do espanhol. Privilegia o texto bíblico
na sua riqueza lingüística. É rica em notas-de-roda-pé. (Ed. Paulus).

Bíblias Protestantes

Bíblia Sagrada. Traduzida por João Ferreira de Almeida (Sociedade


Bíblica do Brasil).
Bíblia na Linguagem de Hoje. Adaptada de uma edição internacional
em linguagem popular (SBB).
A Nova Versão Internacional. Linguagem atualizada com forte
literalidade na tradução (SBB).
Bíblia Mundo Novo. Dos Testemunhas de Jeová. Com opções
interpretativas próprias dessa associação religiosa.

Bíblias Ecumênicas. Uma tradução ecumênica da Bíblia é uma tradução


realizada em comum acordo entre exegetas de diferentes confissões, como os católicos,
protestantes e ortodoxos.

Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB). Adaptação da tradução francesa (TOB)


feita pelas Ed. Loyola e Paulinas.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Em geral, todas as traduções que hoje estão ao nosso alcance são boas. Haverá
diferentes razões pelas quais se escolhe uma em lugar de outra. A qualidade e
compreensividade é maior em uma do que em outras. Uma tradução literal (para o
estudo) será geralmente menos compreensível para o comum das pessoas do que uma
tradução popular.

Os católicos tendem a pensar que somente as traduções feitas por católicos são
boas e que não devem usar aquelas feitas por protestantes porque são ―malfeitas‖. É um
preconceito sem fundamento, exceto para o caso de traduções abertamente sectárias,
sendo o único caso notório a tradução dos Testemunhas de Jeová. O problema não é
tanto a tradução da Bíblia que se usa, mas a interpretação do texto. Cabe, porém, o
alerta: as bíblias protestantes não possuem os sete livros deuterocanônicos do Antigo
Testamento.

A Bíblia de Jerusalém e, sobretudo, a TEB destacam-se pelas notas eruditas


que as tornam indispensáveis para o estudo. É também o caso da Bíblia do Peregrino.
Para o dia-a-dia, porém escolha-se a tradução que mais ajuda para a meditação e o uso
na comunidade à qual pertence. A Bíblia Sagrada de CNBB oferece, além de uma
linguagem ao mesmo tempo simples e proclamável, excelentes introduções e notas
concisas. A Bíblia Edição Pastoral também traz uma linguagem bastante acessível.

Diante de tantas versões da Bíblia, alguém pode se perguntar: o texto bíblico


não é o mesmo? Por que tantas bíblias diferentes?

Primeiro porque a língua não é fixa, ela muda segundo a época, e o grupo
sociológico ou cultural. Não falamos, hoje, do mesmo modo que na época de nossos
bisavôs. A linguagem jurídica ou da informática, para os não iniciados nessas ciências,
é quase incompreensível. Um jovem da cidade fala de forma diferente de um jovem do
campo. Um cearense usa expressões que para alguém do sul podem ter outro sentido.

O mesmo acontece com a Bíblia, um livro escrito em outra época, em outra


cultura, em outras línguas que não a nossa. A tradução tem por finalidade tornar a obra
acessível a um público que não pode lê-la no original. Há assim bíblias para crianças
(com coloridas ilustrações), bíblias em quadrinho e em mangá para adolescentes,
Bíblias para mulheres etc.

Verdade que em busca da adaptação ao público-alvo de leitores há alguns


exageros: o lingüista Eugene Nida, na década de sessenta, chegou ao extremo de
traduzir a palavra ―sestércios‖ (antiga moeda romana) por ―dólares‖. Em 2008, duas
versões igualmente ousadas surgiram: a Green Bible (―Bíblia Verde‖) que destaca umas
mil passagens relacionadas à ecologia e a Bible Iluminated (―Bíblia Iluminada‖) com
design ultramoderno e fotos de celebridade como Nelson Mandela e Angelina Jolie.

Existe uma série de dificuldade para traduzir as línguas originais na qual a


Bíblia foi escrita.

O hebraico é um idioma do qual não temos outro meio que a Bíblia mesma
para conhecer o significado de muitos vocábulos, pois é escassa a literatura da época.
Quando certos vocábulos aparecem uma ou poucas vezes, se o contexto não é claro, é
necessário determinar o sentido exato, como é freqüente no Livro de Jó.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Outro problema é que o hebraico se escrevia sem consoantes até a Idade


Média. Dependendo da vocalização (não escrita), as mesmas consoantes podem
designar coisas distintas.

Temos também que toda tradução já é uma interpretação, pois o tradutor faz
escolhas de acordo com seus conhecimento do idioma, da cultura, do pensamento do
escritor e de sua época, ao mesmo tempo que corre o risco de projetar suas crenças e
valores pessoas no texto. Por exemplo, no séc. XV, os monges espanhóis trocaram o
termo ―babilônico‖ por ―infiéis‖, no Antigo Testamento – um artifício que remetia aos
muçulmanos durante a disputa com os espanhóis pela Península Ibérica.

Quando se traduz se dão alterações lingüísticas. Por um lado é praticamente


impossível reproduzir os jogos de palavras, particularmente, nos textos poéticos. Jesus
Bem Sirácida sentiu na pele essa dificuldade ao traduzir a obra de seu avô para o grego:
―as coisas em hebraico – reconhece ele – perdem sua força quando traduzidas para outra
língua‖ (Eclo – prólogo). Assim, por exemplo, é impossível recolher o jogo de palavras,
no hebraico, em Ecl 7,1 literalmente: ―melhor bom nome (shem) do que perfume
(shemen). Ou em Jó 42,6: ―por isso, me aborreço e me arrependo no pó (‗afar) e cinza
(‗efer)‖.

Por outro lado, a mesma idéia se expressa diferentemente em idiomas


diferentes. Por exemplo, quando, literalmente, se lê ―filho da mentira‖, o equivalente em
português é ―mentiroso‖; ―não te fize no rosto das pessoas‖ é ―não discrimine‖.

Além do mais, algumas palavras podem ter mais de um significado,


dependendo do contexto em que se usa ou do preconceito do tradutor/ leitor. Por
exemplo, o termo ―dikaiosune‖ pode significar tanto justificação, libertação quanto
salvação.

A incompreensão do idioma levou a absurdos como a tradução ―descida ao


sheol‖ por ―descida aos infernos‖ (sheol era o lugar para onde vão os mortos, não o
lugar de castigo). Em Ex 34,30, lemos literalmente ―todos viram Moisés com a pele de
seu rosto radiante (qaran)‖, mas São Jerônimo traduziu este vocábulo, na Vulgata
(mudando o tempo verbal de qrn) como ―seu rosto tinha chifres‖ (quod cornuta esset).
Com base na qual Michelangelo esculpiu o Moisés em São Pedro in Vinculis (Roma).

Como exemplo, veja as traduções comparadas abaixo do trecho de Mt 5,32:

• Almeida Revista e Atualizada. Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar
sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e
aquele que casar com a repudiada comete adultério.
• Almeida Revista e Corrigida. Eu, porém, vos digo que qualquer que
repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e
qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
• Nova Tradução da Linguagem de Hoje. Mas eu lhes digo: todo homem
que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, será culpado de fazer
com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo. E o homem que casar com ela
também cometerá adultério.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

• Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. No entanto, eu vos


digo que todo aquele que se divorciar de sua esposa, a não ser por causa de fornicação,
expõe-na ao adultério, e quem se casar com uma mulher divorciada comete adultério.
• Ave-Maria. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz
tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa
uma mulher rejeitada comete um adultério.
• CNBB. Ora, eu vos digo: todo aquele que despedir sua mulher — fora o
caso de união ilícita — faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher
que foi despedida comete adultério.
• Edição Pastoral. Eu, porém, lhes digo: todo aquele que se divorcia de sua
mulher, a não ser por causa de fornicação, faz com que ela se torne adúltera; e quem se
casa com a mulher divorciada, comete adultério.
• Bíblia do Peregrino. Pois, eu vos digo: quem repudia sua mulher – exceto
em caso de concubinato – a induz a adultério; e quem se casa com uma com divorciada
comete adultério.

4 A História da Salvação
Quando vivemos uma experiência que julgamos importante, tentamos registrá-
la de alguma forma: tiramos uma foto, filmamos ou, simplesmente, escrevemos. É mais
ou menos isso que aconteceu com a Sagrada Escritura, as pessoas vivenciaram algo
importante e sentiram a necessidade de transmiti-lo para as gerações futuras. Porém, a
dificuldade que eles tinham de registrar tais eventos era bem maior que a nossa.
Imagine: como você faria para registrar determinados acontecimentos de sua vida se não
soubesse escrever e não conhecesse os recursos da tecnologia? Difícil, né?

Essa era a dificuldade que o Povo bíblico enfrentou para registrar as


experiências que tiveram com Deus. A maioria da população dos hebreus era analfabeta
ou semi-analfabeta nos tempos mais remotos de sua história. A primeira forma que eles
encontraram para conservar essa memória foi a transmissão oral. Quando a maioria da
população começa a ser alfabetizada, durante o período monárquico (séc.X a.C.), então
uma história do Povo hebreu começa a ser escrita.

Porém, tenhamos em mente que o sentido de história que os hebreus tinham


não era o mesmo que nós entendemos hoje (pesquisa científica que busca explicar os
acontecimentos de forma secular). A história é invenção dos gregos, no século V a.C.,
ou seja, muito depois que os hebreus começaram a registrar suas experiências. Para os
hebreus a história, era antes de tudo História da Salvação que procurava mostrar a ação
de Deus nos acontecimentos, uma história preocupada com a conservação da memória
(Ex 17,14; Lc 22,19), história como ―Mestra da vida‖ que ensina e educa. Há nessa
forma de narrar os eventos uma preocupação constante com a beleza e com o prazeroso,
não é, simplesmente narrar o fato, mas proporcionar uma leitura agradável (2Mc
2,25.28.30).

Mas, não pensemos que na Bíblia não haja história propriamente dita. Para
compor a História dos Hebreus, o Povo da Bíblia fez uma pesquisa, relativamente,
minuciosa sobre os acontecimentos. Lucas, por exemplo, para escrever seu Evangelho
afirma ter feito ―um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu‖ (Lc 1,3). Muitos

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

documentos mais antigos foram pesquisados pelos escritores para redigir os Textos
Sagrados: o Livro da História de Salomão (1Rs 11,41), os Anais dos Reis de Israel (1Rs
14,19; 16,5) e de Judá (1Rs 14,29; 15,7), a obra de Jasão de Cirene em cinco volumes
(2Mc 2,19-32) entre outros. Se esses documentos não chegaram até nós é porque não
fazia parte do que a comunidade julgava essencial conservar para as gerações vindouras.
Temos também outros documentos das épocas bíblicas que fazem menção a alguns
eventos narrados na Escritura.

O fato é que história, literatura, mitologia, teologia e narrativas populares se


misturam na Sagrada Escritura de tal forma que nem sempre fica fácil de separar. Não
nos esqueçamos também da dimensão simbólica e profética que a Palavra de Deus
também alcança.

Enquanto escrita podemos dizer que a história do Povo hebreu começa durante
a monarquia, mas enquanto evento se inicia com Abraão, pois é o primeiro personagem
sobre o qual podemos identificar um ―fundo histórico‖.

Tradicionalmente, costuma-se a datar a existência de Abraão por volta do


século XX a.C. Não há referência direta a qualquer um dos patriarcas, mas os costumes
narrados no Livro do Gênesis refletem comportamentos autênticos desse período -
muitas vezes apresentados com um retoque da época de autoria.

Segundo a Bíblia, Abrão morava em Ur dos caldeus (Gn 11,27-32), era um


pastor itinerante, até que Deus muda seu nome para Abraão (Gn 17,5) – que significa
―pai das nações‖. Na cidade de Harã, aos setenta e cinco anos de idade, Deus lhe
aparece e ordena que ele saia de sua terra em busca da Terra Prometida (Gn 12,1-3),
localizada atualmente na região da Palestina, e que na época bíblica era chamada Canaã.
Deus promete a ele uma descendência numerosa, entretanto, sua mulher Sara (antes
chamada de Sarai) era estéril e lhe oferece sua escrava Agar para que Abraão tenha um
filho com ela. O nome do menino era Ismael (Gn 16). Mas, Deus promete que o filho
herdeiro de Abraão virá através de Sara (Gn 17), esta, aos noventa anos, dá à luz uma
criança cujo nome era Isaac. Deus fez uma Aliança com Abraão através da circuncisão.

Observação:
A menção às idades dos patriarcas deve ser lidos não como quantitativos, mas
como simbólico, indicando uma vida longa e abençoada, visto que a expectativa de
vida na época era muito curta. Portanto, ter uma vida centenária, como
Matusalém, Noé, Abraão e outros é indício que Deus estava ao lado desses
personagens.

Certa vez, Deus aparece a Abraão e pede para que ele ofereça em sacrifício o
seu filho Isaac. Abraão, com o coração aflito, obedece e no momento em que ia matar
Isaac aparece um anjo que lhe diz que isso não será necessário porque ele havia provado
que amava a Deus acima de tudo (Gn 22). Na época em que foi escrita essa história,
pretendia-se criticar os sacrifícios humanos (principalmente, de crianças) feitos pelas
nações rivais de Israel: Deus não quer esse tipo de sacrifício (Lv 20,1-5). Em uma
dimensão profética, lida sob a ótica cristã, essa passagem remota ao sacrifício definitivo
de Jesus.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Tempos mais tarde Isaac se casa com Rebeca, com quem tem dois filhos
gêmeos: Esaú (também chamado de Edom), o primogênito, e Jacó (mais tarde Deus o
chamará de Israel, que significa ―aquele que lutou com Deus‖, cf. Gn 32,23-33). Esaú
transfere para Jacó o direito de primogenitura (Gn 25,29-34) e, quando Isaac estava no
leito de morte, o abençoa no lugar de seu primogênito (Gn 27). Esaú fica com tanto ódio
que deseja matar o irmão que acaba fugindo para a casa de seu tio Labão. Lá se
apaixona por Raquel e, para pagar o dote, trabalha sete anos a fim de se casar com ela.
Mas, na noite de núpcias, Labão manda sua filha mais velha, Lia; Jacó dorme com ela,
mas só percebe no outro dia que não era a pessoa que ele amava. Então, trabalha mais
sete anos por Raquel até que eles se casam (Gn 29,1-30).

Jacó tem 13 filhos: Rúben, seu primogênito com Lia, Simeão, Levi, Judá (para
quem a bênção é transferida); Dã e Nefiteli (com a escrava de Raquel, Bala); Gad e
Aser (com Zelfa, escrava de Lia); Isacar, Zabulon, Dina (filhos de Lia); José e Benjamin
(os únicos filhos de Raquel). Os filhos homens vão dá origem mais tarde as Doze Tribos
de Israel, cada qual corresponderá a uma região da Terra Prometida - a excessão de Levi
e José.

Acontece que um deles, José, é vendido como escravo pelos irmãos (Gn 37,12-
36) e vai parar no Egito, onde acaba sendo preso e depois se torna administrador do
Egito, uma espécie de vice-rei (Gn 39ss). É através dele que o povo de Israel, entra
nessa terra. Muitos estudiosos relacionam a entrada dos hebreus no Egito à invasão dos
hicsos (1730 a.C. – 1550 a.C.), momento em que facilmente um não egípcio poderia
ganhar um cargo importante como o de José.

Quando subiu ao trono um faraó que não conhecia José, começou a


perseguição ao povo, ordenando que se matassem todos os meninos (Ex 1,15-22). Fato
que deve ter acontecido logo depois da expulsão dos hicsos, quando se criou uma
verdadeira repulsa pelos estrangeiros.

Durante essa perseguição, uma mulher coloca seu filho em uma cesta à
margem do rio e a criança vai ser cuidada pela filha do faraó, o nome do menino era
Moisés (Ex 2,1-10). Verdade que não existem provas concretas da existência de Moisés,
mas a narrativa do Êxodo é tão cheia de detalhes que certamente nos levam a acreditar
na existência de algum um núcleo histórico.

Passaram-se os anos, Moisés acaba fugindo do Egito para o deserto, onde se


casa com Séfora, filha do sacerdote de Madiã, Jetro, e se torna pastor de ovelhas. Certo
dia, Moisés levou as ovelhas para além do deserto e chegou ao monte Horeb (o mesmo
Sinai). Lá, Deus lhe aparece e lhe ordena que liberte seu povo (Ex 3) e como sinal para
obrigar o faraó, envia as chamadas ―Dez Pragas‖ (Ex 7,14-13,22): transformação das
águas em sangue, infestação das rãs, de mosquitos, de moscas, a peste nos animais, as
úlceras em homens e animais, a chuva de granizo, os gafanhotos, as trevas que cobrem o
território do Egito e a morte dos primogênitos.

Muitos especialistas analisam as ―Dez Pragas‖ como uma catástrofe ecológica


de grandes proporções. Mas devemos destacar dois fatos: o primeiro, é que o texto que
chegou a nós, foi composto em duas épocas distintas que só mais tarde foram unificados
em uma narrativa coerente, isso elimina a possibilidade de uma catástrofe em cadeia;

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

segundo, os eventos ocorriam e cessavam no mesmo instante que Moisés ordenava, o


que mostra a ação miraculosa de Deus. As ―Dez Pragas‖ simbolizam, portanto, o
domínio de Deus sobre a natureza: Javé que é mais forte que as divindades egípcias.

Ao final da última ―praga‖, o faraó deixa os hebreus partirem – um evento


conhecido como Êxodo ou Páscoa, todos os anos celebrado pelos judeus como sinal da
libertação (Ex 12) e que para o cristão ganha um sentido muito maior com Cristo:
salvação escatológica. O faraó logo volta atrás em sua decisão, é aí que se dá a
passagem do Mar Vermelho (Ex 14), por onde o povo passa a pé enxuto.

Alguns cientistas têm observado que existe a possibilidade desse evento ter
ocorrido realmente, pois há um fenômeno no qual o vento sopra sobre as águas do mar
fazendo com que elas recuem e formem uma espécie de barreira d‘água, permitindo a
travessia. Devido à imediaticidade desse fenômeno natural em atender a ordem de
Moisés, podemos ver nele a ação providencial de Deus.

É no monte Sinai que o Povo de Deus recebe as tábuas da Lei que contêm os
Dez Mandamentos (Ex 19s), aí Deus sela com o Povo uma Aliança. Após a morte de
Moisés, depois de quarenta anos vagando no deserto, o Povo de Deus chega a Terra
Prometida (acredita-se que por volta de 1200 a.C.) conduzido por Josué. O Povo
atravessa o Jordão a pé enxuto (Js 4) – fato varias vezes observado, inclusive em época
recente – depois derrubam de forma miraculosa as muralhas de Jericó (Js 6) e vencem a
batalha em Gabaon, onde o sol parou por um dia até que o Povo pudesse vencer (Js 10).
Se não existem indícios históricos e/ou arqueológicos dessa conquista violenta da Terra
Prometida, podemos interpretá-los como símbolos de que Deus está ao lado do Povo: no
período em que essas narrativas foram escritas, durante a monarquia, tentava-se
construir uma identidade nacional, daí o épico das origens.

Depois disso, Josué distribui a terra para cada tribo, exceto para tribo de Levi,
cujos membros tinham função sacerdotal. Verdade também que não existiu um território
chamado José, mas sim dois territórios com os nomes de seus filhos: Efraim e Manasés.

No período seguinte, o Povo tinha que defender seu território das nações que o
cercavam, foi aí que Deus suscita chefes carismáticos que unem o Povo nas lutas, eles
passaram a ser conhecidos como Juízes. Dentre eles os mais conhecidos estão Gedão (Jz
6-8) e Sansão (Jz 13-15), o primeiro luta contra os madianitas e o outro contra os
filisteus. Essas histórias são espécies de lendas sobre os heróis nacionais com a
finalidade de mostrar que Deus está sempre ao lado do Povo e que, se permanecerem
fiéis, as bênçãos de Deus estarão com eles.

Com o tempo, o Povo sente a necessidade de um governo centralizado e


instituem a monarquia por volta do séc. X a.C. Na Bíblia, temos duas versões desse
mesmo evento: uma contra (1Sm 8; 10,17-27) e outra a favor (1Sm 9,1-10,16; 11). Seja
como for, todas reconhecem Saul como o primeiro governante, porém, ele nunca
chegou de fato a unificar todo o Israel. Cabe a Davi tal feito. Existem documentos
históricos que provam a existência de uma dinastia davídica - muito embora se
questione as dimensões de seu reino.

Davi era pastor de ovelhas, era o mais jovem dos filhos de Jessé e natural da
cidade de Belém. Ficou famoso por derrotar o gigante Golias (1Sm 17) – símbolo da

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

grande opressão filistéia – e isso faz com que ele entre em contato com a coorte. Pouco
a pouco, se torna chefe militar e sua fama se torna tão grande que Saul passa a persegui-
lo. Após a morte de Saul, é Davi que lhe sucede ao trono. É Davi quem conquista a
cidade de Jerusalém e faz dela a capital do reino (2Sm 5,6-16). A ele, Deus promete que
sua descendência reinará para sempre (2Sm 7,1-16), uma profecia, interpretada pelos
cristãos como se referindo ao reino messiânico de Jesus.

Seu filho Salomão lhe sucede ao trono, este é conhecido pela sua grande
sabedoria e pela construção do Templo de Jerusalém (1Rs 6), o qual era o lugar da
presença física de Deus, Sua Morada e centro da religião. É época de paz e
prosperidade, de construções, evolução política, econômica, administrativa e tributária,
período de busca da construção de uma ―identidade nacional‖: seleção de memória,
costumes, lendas de nascimento de povos e nações, tradições de santuários, sagas de
heróis etc., é provável que os primeiros escritos da Bíblia tenham sido compostos nessa
época.

Após a morte de Salomão, começa uma disputa pela sucessão do trono (1Rs
12-14): Jeroboão tenta tomar o poder e divide o reino, levando consigo dez tribos,
fundando o reino de Israel (reino do Norte) e que é destruído pelos assírios em 722 a.C.;
já o reino do Sul (chamado de Judá) era governado por Roboão, filho de Salomão. Este
reino só conhecerá uma dinastia – a davídica – e uma capital – Jerusalém – e só será
destruído em 586 a.C. pelos babilônicos, quando a população é exilada. Época em que o
povo se sente abandonado por Deus e se perguntavam se os deuses estrangeiros eram
mais fortes que o Deus de Israel. É no Exílio que acontece uma grande mudança de
perspectiva teológica: não é que Javé tenha abandonado o Povo e revogado sua Aliança,
foi o Povo que pecou e se afastou de Deus, mas se eles se arrependerem então voltaram
para a Terra da Promessa.

Após a queda do império babilônico (538 a.C.), Ciro, o persa, autoriza o


retorno dos judeus à sua terra – Ciro é interpretado como sendo instrumento da ação de
Deus (Is 44,24-28). Então a comunidade judaica se organiza para construir um segundo
Templo. Esdras, como doutor da Lei, e Neemias, como governador, desempenham a
função de restauradores dessa comunidade. Em 515 a.C., faz-se a dedicação do Templo
(Esd 6). Nessa fase, começa-se toda uma renovação da religião, tanto cúltica quanto
moral.

Em 333 a.C., Alexandre Magno derrota os persas, um ano depois ele morre e
seu império é dividido entre seus generais: Ptolomeu Lagos (e seu general, Seleuco)
ficam com o Egito e sul da Síria, em 302 a.C., a Palestina se encontra em poder dos
ptolomeus, então Seleuco IV tenta se apoderar dos fundos depositados no Templo (2Mc
3). Mas é com Antíoco IV Epifanes (175-163 a.C.) que se inicia a política de
helenização dos judeus: saqueia o tesouro do Templo (1Mc1,16-28; 2Mc 5,15-21),
proibiu o culto, os sacrifícios, a circuncisão, a observância do sábado, as dietas
alimentares, decretou sentenças de morte para quem os praticasse; mandou oferecer
sacrifício aos deuses no Templo (1Mc 1,59; 2Mc 10,5;6,2); ergueu um altar dedicado a
Zeus no Templo. Todos esses fatos desencadeiam uma luta armada contra os helenistas,
que ficou conhecida como ―Revolta dos Macabeus‖. Então, os judeus conseguem sua
independência, mas por um curto período de tempo, pois os romanos logo sucedem os
gregos em 63 a.C.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

É sob o domínio romano que Jesus nasce e que se desenrola toda a história do
Novo Testamento. Não há certeza quanto a data exata de seu nascimento: Lucas (Lc
2,1s) nos informa que o imperador Augusto (31 a.C. – 14 d.C) havia ordenado um
recenseamento quando Quirino era governador da Síria (6 – 9 a.C.), porém o citado
recenseamento ocorreu nove anos antes de Quirino na região. E para que Jesus tenha
sido perseguido por Herodes (Mt 2), Ele deveria ter nascido até o ano 4 a.C., quando o
rei morre. O ministério e a Morte de Jesus se deram durante o governo do imperador
Tibério (14-37 a.C.). Porém, nenhum historiador sério, hoje, parece negar a existência
de um Jesus histórico. É através de Jesus que Deus estabelece a Nova Aliança (Lc
22,19-20), uma aliança eucarística selada na Cruz.

Após Sua Morte, seus discípulos deram continuidade ao seu trabalho e se inicia
a expansão da Igreja, foi em Antioquia que eles receberam pela primeira vez o nome de
cristãos (At 11,26).

De início, judeus e cristãos eram confundidos, mas logo os judeus passam a


persegui-los. Saulo era um desses perseguidores, mas na estrada de Damasco, teve uma
visão de Jesus que lhe tocou profundamente (At 9), a ponto de ele mudar seu nome para
Paulo e se tornar um dos maiores divulgadores do Cristianismo dos tempos apostólicos,
por isso, ele é conhecido como ―apóstolo dos Gentios‖ por evangelizar os pagãos.

No ano 65 de nossa era, Nero põe fogo em Roma e acusa aos cristãos, o que
serve de pretexto para persegui-los, essa é a primeira grande perseguição. É nessa época
que Pedro e Paulo são executados em Roma. Mais ou menos nesse período é que o
Evangelho de Marcos recebe sua forma final – compilando e ordenando tradições orais
antigas contemporâneas a Jesus.

No ano 70, o Templo de Jerusalém é destruído pelos romanos, isso


desencadeará uma profunda transformação da religião dos judeus. Enquanto isso, os
Evangelhos de Mateus e Lucas (e os Atos dos Apóstolos) recebem sua forma final.

Na década de 80, sobe ao trono romano Domiciano, quem irá promover a


segunda grande perseguição aos cristãos. Muito provavelmente é sobre ele que o Livro
do Apocalipse se refere ao falar da Besta (Ap 13). No final do primeiro século, todo o
Novo Testamento já havia sido composto e o cristianismo já era uma religião firme.

Refletindo sobre a longa história bíblica, podemos perceber que a história do


Povo de Deus e a história de Deus se entrelaçam e é nessa história, de lutas,
sofrimentos, lágrimas, (in)fidelidades, pecado e graça que a Palavra de Deus se
manifesta a tal ponto que ―o Eterno entra no tempo, o tudo se esconde no fragmento,
Deus assume o rosto do homem‖ (papa João Paulo II) e o extraordinário se faz presente
no ordinário da vida, simplesmente como mostra do amor radical de um Deus que nos
―amou de tal forma que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita
não morra, mas tenha a vida eterna... para que o mundo seja salvo por meio Dele‖ (Jo
3,16s).

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

5 Apêndice I: Como Ler & Estudar*

Existem várias maneiras de métodos para ler e estudar a Sagrada Escritura.


Propomos alguns modelos para que você possa fazê-lo da melhor forma possível.
Obviamente, cada pessoa tem seu ritmo próprio, uns gostam mais de ler, outros tem
mais dificuldade em compreender a mensagem escrita, outros tem mais preguiça, uns
começam empolgados e logo desistem e assim por diante. O importante é ter
perseverança e encontrar seu próprio andamento.

Primeiro, vejamos nosso material de estudo: a Sagrada Escritura. Vou comprar


uma Bíblia, qual a melhor? Depende. Qual seu objetivo? É apenas leitura? É estudo?
Muitas pessoas têm dificuldade com a linguagem de sua Bíblia, o ideal é comprar uma
com uma linguagem mais popular. A ―Bíblia – edição pastoral‖ da Paulus tem essa
vantagem. Mas se seu objetivo é estudar mais profundamente a Sagrada Escritura, então
é indispensável uma Bíblia com notas de rodapé bem ricas e boas introduções: a ―Bíblia
de Jerusalém‖ e a ―Tradução Ecumênica da Bíblia‖ (TEB) têm essa característica –
porém têm uma linguagem mais rebuscada. Já a ―Bíblia Sagrada da CNBB‖ tem
linguagem acessível e excelentes introduções e notas concisas.

Algumas dicas importantes:

Leia a Bíblia todos os dias;


Tenha sempre uma hora marcada: isso faz com que você pegue hábito;
Marque a duração do tempo;
Escolha um lugar tranqüilo, de preferência sempre ao mesmo, pois ajuda a criar
hábito;
Leia com caneta na mão. Faça anotações, pode marcar as partes mais importantes na
sua Bíblia mesmo, escrever etc. Se preferir anote num caderninho;
Faça tudo em um ambiente de oração;
Faça um pequeno diário de oração.

Algumas dicas práticas de interpretação:

1ª etapa: compreensão
Vocabulário: o que cada uma das palavras significa?

Para isso, você pode verificar nas notas de roda pé (algumas Bíblias trazem esse
recurso) ou adquirir um dicionário bíblico.

Forma: a que gênero literário o texto pertence?

Aqui vai algumas dicas para interpretação de alguns gêneros literários:


História/biografia: livros históricos veterotestamentários.
Qual o contexto histórico do texto?
O que aconteceu de fato? Onde? Quais os personagens?

*
Esse breve resumo foi extraído dos livros: ABIB, Jonas. A Bíblia foi escrita para você. São Paulo:
Loyola/ Canção Nova, 2007 (36ª ed.); LAHAYE, Tim. Como estudar a Bíblia sozinho. Minas Gerais:
Ed. Betânia,1984 (5ª ed.); SILVA, Sérgio Luiz e. A Bíblia em 365 Dias – Guia Prático de Leitura. São
Paulo: Ed. Santuário,2001; VV.AA. O mundo da Bíblia. São Paulo: Ed. Paulinas,1985 p.58-59.

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Muitas vezes o material foi selecionado propositalmente: pode-se estabelecê-lo de


modo explícito ou implícito?

Direito (Ex, Lv, Nm, Dt)


Trata-se de: lei moral, comportamento ético? Leis civis? Costumes familiares,
assuntos de higiene? Normas religiosas, culturais, sacrificais?
Que objetivo visava à lei naquele tempo?
Foi modificada pelo Novo Testamento? Com base em que princípio?

Poesia (Jó, Sl, Ct, os Livros Proféticos etc.)


Trata-se de uma obra dramática, com personagens? Ou poesia lírica, que exprime
sentimentos de que podemos compartilhar?
Ou de uma obra eminentemente simbólica? Toma seu vocabulário do culto ou da
história de Israel? De onde?
As circunstâncias históricas ajudam-nos a entender o poema? Ou não depende
delas e foi escrito unicamente para o culto?
Usa o método da repetição ou do contraste para fins poéticos?

Aforismos (Pr, Ecl)


Trata-se de um provérbio ou ditado original, ou de um tema comum?
É um comentário espirituoso sobre a vida? Uma afirmação de uma regra geral? Ou
exprime a situação do homem sem Deus?

Profecia (profetas veterotestamentários e Ap)


Qual era o contexto histórico?
Está escrita em forma poética?
Usa linguagem simbólica? De onde as tira?
Qual o objetivo original da profecia no seu tempo? Para qual princípio geral
apela?
O Novo Testamento afirma explicitamente seu cumprimento?

Parábola (Evangelhos, livros históricos e profetas)


Foi pronunciada para responder a uma pergunta ou para ilustrar um tema?
Qual seu ensinamento principal?
Os detalhes têm significados ou servem apenas para ilustrar?

Cartas (Novo Testamento)


Qual o objetivo da Carta? Quem a escreveu? A quem?
Qual o assunto ou tema do livro no seu conjunto?
Como determinado texto se liga ao tema principal?

Contexto: de que trata o Livro no seu conjunto?

Para isso, você pode começar lendo a introdução à cada Livro já contida em sua
própria Bíblia, o que já dá uma pequena noção. Algumas perguntas podem também
ajudar na identificação do ambiente em que o Livro ou passagem surgiu:

a) Quem toma iniciativa?


b) A iniciativa é tomada visando a quem?
c) Em que situação?

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

d) De que maneira? (gestos ou palavras)


e) Qual a conseqüência?
f) Qual a intenção que o autor poderia ter ao narra esse fato?
g) A quem o texto poderia servir? (grupo ou indivíduo)
h) Em que contexto o escrito melhor se enquadraria?
i) Qual a função que ele poderia ter para quem o utiliza?

Intenção: por que foi escrito?

Geralmente, nas próprias Bíblias já se traz notas introdutórias sobre isso. Você
pode também procurar uma literatura mais especializada sobre o assunto. Há muitas
coleções populares no mercado.

Situação: quando e onde o livro ou o trecho foi escrito?

Há muitos livros populares no mercado sobre o assunto, uns do que indicaria seria
os livrinhos do Serviço de Animação Bíblica (SAB), da Paulinas, da coleção Bíblia em
Comunidade – visão global. São 15 pequenos volumes, com preços bastante acessíveis.
E, sempre, ao final de cada um, traz uma tabela que contextualiza os Livros e a história
da época em que surgiram.

2ª etapa: explicação

Para essa fase, você pode utilizar um livro mais especializado no assunto. Há pela
Paulus a coleção ―Como ler a Bíblia‖ que tem um livro para cada Escrito bíblico, em
vários preços e de linguagem bem acessível.
Mas, as perguntas abaixo podem ser úteis:

Que sentido tinha o texto para seus primeiros leitores?

Qual é o ponto em que insiste ou qual o ensinamento principal do texto?

Que se deduz do confronto com outros textos bíblicos talvez mais claros?
Uma dica interessante seria você pegar palavras ou frases importantes do texto
bíblico e comparar com outras passagens. Algumas Bíblias trazem esse recurso. Você
pode utilizar também uma ―chave-bíblica‖. Mas se preferir, pode utilizar um site de
busca de passagens bíblicas, como por exemplo, o Bíblia católica on-line:
http://www.bibliacatolica.com.br ou o da Bíblia Pastoral on-line
http://www.paulus.com.br/BP/_INDEX.HTM (a vantagem deste site é que mostra
quantas vezes determinada palavra aparece na Bíblia)

Se foi escrito em razão de necessidades particulares do momento, que princípio


geral ele sublinha?

3ª etapa: aplicação
A mensagem bíblica não foi algo ―congelado‖ no tempo escrita apenas para o
momento em que ela surgiu, mas é sempre atual, ―viva e eficaz‖ como diria São Paulo.
Por tanto, a etapa seguinte seria, justamente, trazer essa mensagem para os dias atuais.
Há muitos livros populares que trabalham nessa perspectiva.
As perguntas abaixo podem ajudar você nessa atualização da Palavra de Deus:

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Que situação atual corresponde àquela dos primeiros leitores?

O texto contém algum ensinamento específico sobre Deus, o homem, o mundo, a


Igreja etc?

Apresenta um exemplo, uma advertência, uma promessa?

Sugere e inspira uma determinada ação?

Induz à oração ou ao louvor? Conseguimos fazer nossas as palavras ou


ensinamentos do autor?

6 Apêndice II: modelos de leitura


Muitas pessoas não sabem por onde e nem como começar a ler e estudar a Sagrada
Escritura. Indicaremos alguns meios que podem ser utilizados.

Comecemos partindo de uma lógica matemática: se sabemos que a Bíblia tem


1318 capítulos e que um ano tem 365 dias, basta dividir um pelo outro e chegaremos a
uma média de 3,6 capítulos por dia. Para ficarmos no saldo, podemos estabelecer uma
média de 4 capítulos por dia, assim em um ano dá pra ler a Bíblia toda. Se quiser ler em
menos tempo é só aumentar o número de capítulos por dia.

Do mesmo modo, se você ler um capítulo por dia, em, aproximadamente, três anos
e meio conseguirá terminar a Bíblia toda.

Você é quem deve ditar seu próprio ritmo, mas o importante é nunca desistir ou
deixar de ler.

O autor protestante Tim LaHaye, desenvolveu um método para se estudar a Bíblia


sozinho com instruções bem ricas. Em apenas 35 minutos diários, você lê, estuda e
memoriza textos da Sagrada Escritura e, em pouco mais de três anos, adquire um bom
conhecimento bíblico. Esse modelo é protestante, por isso, consta de sete livros a
menos, mas iremos adaptá-lo. Um estudo da Bíblia católica, seguindo suas diretrizes,
levará, obviamente um pouco mais de tempo. O esquema é o seguinte:

Leitura Diária (15 min) + Estudo Bíblico (15 min diários ou 30 min, 3 vezes por
semana) + Memorização (30 min por semana e depois nos momentos de folga) = 35
minutos (Por dia ou 4 horas e 5 min por semana).

Qual seria o caminho a percorrer?

Primeiro ano: 1Jo (leia sete vezes); Jo (leia duas vezes) Mc (duas vezes) Gl Ef
Filipenses; Cl;1Ts; 2Ts; 1Tm; 2Tm; Tt; Filemon; Lc; At; Rm; Todo o Novo Testamento
(duas vezes

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

Segundo ano: Um capítulo de Provérbios por dia, durante quatro meses; Dois
capítulos de outro livro de sabedoria diariamente (Jó, Sl, Ecl, Ct, Sb, Eclo); Ler várias
vezes durante um mês: 1Jo, Ef, Filipenses, Cl, 1Ts, Tg, Rm 5-8; Jo 14-17.

Terceiro ano:
De segunda a sábado: um capítulo do Novo Testamento e dois do Antigo;
Aos domingos: cinco capítulos do Antigo Testamento.

O padre Jonas Abib, quase que copiando e, ao mesmo tempo, complementando, o


modelo de Tim LaHaye, indica um caminho para a leitura do Antigo Testamento: Gn
Ex Nm Js Jz 1Sm 2Sm 1Rs 2Rs Am Os Is 1-39 Mq Na Sf Hab Jr Lm Ez Ab Is 40-55
1Cr 2Cr Esd Ne Ag Zc Is 56-66 Ml Jl Jn Rt Tb Jt Est Eclo Ct Jó Ecl 1Mc 2Mc Br Dn
Sb Lv Dt.

Há ainda umas dicas para a memorização das passagens bíblicas:

Decorar apenas três passagens por semana;


Escreve a passagem num cartão. Copie a mão, pois facilita a memorização;
Dê um título à passagem;
Marque a data em que começou a memorizar;
Leia o cartão em voz alta, desde o título até a citação (10 vezes);
Depois da décima vez, feche os olhos e diga em alta voz o que você leu;
Revisão diária durante uma semana;
Revisar durante sete semanas. Na semana seguinte pegue mais três cartões, mas
revise os três primeiros. Só depois de sete semanas, você deixará os três primeiros
cartões de lado.

Gostaria de acrescentar ainda o modelo desenvolvido pelo padre Sérgio Luiz e


Silva (C.Ss.R.), que permita a leitura da bíblia em um ano, o qual procurei adaptar ao
modelos precedentes:

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

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Apostila de Estudo Sobre a Bíblia

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7 Algumas palavras sobre mim...


Meu nome é Sérgio Gleiston Nicolete de Freitas. Dizem que
nasci no dia 25 de fevereiro de 1982. Mas, tenho certeza que meu
verdadeiro nascimento aconteceu quando me encontrei com Jesus
Sacramentado em 7 de dezembro de 1997: tinha quinze anos de idade,
mas, na fé, ainda ensaiava meus primeiros passos. De alguma forma, a
mão bondosa de Deus, conduzia meus caminhos rumo à contemplação
da verdade salvífica... foi quando me descobri um apaixonado pela
Sagrada Escritura, essa vasta janela que me faz vislumbrar a Beleza da
Vida Divina e da minha...
Entre medos e coragens, desde 1997, sou católico por opção:
decidi-me pela Igreja porque, através dela, Cristo se decidiu por
mim...
Há catorze anos pertenço à Comunidade Filhos da
Misericórdia, através da qual desempenhei serviço de catequese de
Crisma nos anos de 98, 2003, 2004, 2005 e 2007.
Também fui coordenador do Grupo de Crescimento em 99,
2000, 2001, 2004, um grupo de formação bíblico-doutrinal.
Em 2004, participei do projeto Escola de Maria, no qual era responsável pela parte de estudo
bíblico.
Em 2006, trabalhei com a formação bíblica da Comunidade de Vida dos Filhos da Misericórdia.
Em dezembro de 2007, ministrei curso de estudo bíblico-doutrinal para minha Comunidade e
elaborei os textos-base para as formações de Crisma.
No início de 2009, organizei um grupo de estudos sobre os documentos da Igreja.
Apesar de minha timidez e introspecção, fui impulsionado pelo amor a Deus a evangelizar, com o
pouco que tenho e que sou...
Curioso como sou, sempre gostei muito de ler – foi Santo Agostinho que certa vez escreveu que
―quanto mais ignorante, mais curioso‖, acho que é por isso que não paro de buscar... minha infinita
ignorância só pôde ser saciada pela infinitude de Cristo, no qual estão escondidos os tesouros da
sabedoria.
Talvez, e estou quase certo disso, Deus não precise de mim para evangelizar, mas trago em meu
peito a convicção de que falar de Deus e transmitir o pouco da experiência que adquiri é uma necessidade
profunda de minha alma.
Estudei História na Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde já apresentei alguns trabalhos
acadêmicos sobre Religião e História.
Atualmente, sou formado em Processos Gerenciais na Faculdade Tecnológica Darcy Ribeiro
(FTDR) e curso MBA em Gestão Estratégica de Pessoas.
Gosto muito de escrever. Amo a maneira como as palavras se casam com o papel e daí, geram
vida: imagino que toda palavra seria vã, se não suscitasse algo profundo no coração de alguém.
Atualmente, tenho um Blog:
http://sergiogleiston.blogspot.com/
No qual abordo temas diversos: Teologia, Bíblia, História, Artes, Música, Cinema, Filosofia,
Literatura.
Escrevo também para outros dois sites: Tema-livre e Recanto das letras, no qual deposito algumas
de minhas crônicas mais intimistas.
Gosto sempre de aprender coisas novas e ensiná-las. Sou um apaixonado pela boa música, pelas
artes e por meus amigos... e amo, incondicionalmente, minha mãe e minha irmã: santuário de Deus em
todos os momentos de minha vida. Pessoas com as quais aprendi a ler o sorriso divino no olhar e nas
atitudes humanas.
A Deus, só tenho que agradecer por ser filho de Sua Misericórdia infinita.

Fortaleza, 30 de maio de 2011.

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