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Quem quer que se diga católico já foi alguma vez confrontado com as

incontáveis perguntas que os protestantes das mais variadas


denominações costumam lançar-nos à cara. "Não se podem adorar
imagens!" "Por que vocês idolatram o Papa?" "Cristo é o único
Mediador!" Essas são algumas das inúmeras contestações que,
sempre ouvidas e incansavelmente repetidas, fazem titubear a fé de
não poucos católicos.

Embaraçados em meio a tantas interrogações — feitas muitas vezes


com uma indignação pouco favorável ao diálogo franco e sereno —,
os fiéis acabam perdendo a chance de se perguntarem, diante de
Deus e de suas próprias consciências: "Afinal, por que motivo sou
católico, e não protestante? Qual é, enfim, a minha
identidade?"Fazemo-nos reféns de perguntas periféricas e, à busca
de respostas apressadas, deixamos sem solução um problema mais
fundamental, a saber: a razão mesma de nossa pertença a uma Igreja
que, desde suas origens, é por todos rechaçada e de todos os lados
fustigada. É a essa reflexão que queremos dedicar o presente curso.

Com efeito, é curioso notar que, apesar da desunião que lhes é


característica, basicamente todas as igrejas que, por hábito e
simplificação, costumamos chamar "protestantes" parecem fazer coro
e entoar, uníssonas, as mesmas e tão conhecidas objeções; desde
Lutero e Calvino, continuam a ser repetidas contra a Igreja que há dois
milênios se diz fundada por Jesus Cristo as mesmas "ladainhas". De
fato, não há um só ponto de nossa doutrina que, para o espírito
protestante, mereça ficar de pé. Diga ou não respeito ao papado ou ao
Batismo de crianças, tudo quanto cheire a catolicismo é desde logo
rejeitado como mera idolatria e invencionice humana, quer sejam
evangélicos, metodistas, batistas, adventistas ou mórmons os cristãos
com os quais estamos debatendo.

Esse fato por si só já nos deveria despertar para a existência de uma


realidade que, até onde se pode ver, passou despercebida a muitos
teólogos e apologetas, qual seja: o princípio de unidade a que se
podem reduzir todas e quaisquer impugnações que, do lado
protestante, são feitas à Igreja Católica. Referimo-nos, por assim
dizer, a um coração que bombeia sangue a corpos distintos,
ao princípio teológico capital que une "irmãos" há muito separados,
que, enfim, dá um só tom a uma multidão de vozes.

É ainda mais curioso notar, porém, que este trabalho já foi feito. Mas
do lado protestante. À frente do movimento neo-ortodoxo, Karl Barth
buscou condensar num só princípio o motivo por que, para ele, não se
pode ser católico. "Por isso", escreve em sua Dogmática Eclesial,
"sustento que a analogia entis é uma invenção do anticristo, e penso
que exatamente por causa dela não é possível tornar-se católico." [1]
O primado da analogia fidei, por sua vez, encontra em Barth uma tal
radicalidade que, em consonância com a visão luterana de
uma natureza humana essencialmente corrompida, toda teologia
natural — na medida em que se serve de conceitos extraídos do
mundo criado para exprimir a realidade de Deus — se torna uma
verdadeira fábrica de ídolos. "Quero acrescentar ainda", conclui, "que
todas as outras razões que se podem aduzir para não se tornar
católico parecem-me pueris e sem importância." [2]

Ora, se entre os protestantes, como quer que se identifiquem, foi


possível chegar a um denominador comum à luz do qual o catolicismo
se torna inaceitável, não podemos também nós mostrar o porquê de o
protestantismo ser, do ponto de vista da fé católica, radicalmente
inadmissível? Afinal, não podemos nós, na linha do que ensinam o
Magistério Eclesiástico bimilenar e os mais aprovados teólogos,
encontrar um princípio antiprotestante? É em vista disso que o
Padre Paulo Ricardo, num esforço de reflexão pessoal, convida todos
os católicos a considerar as razões fundamentais da nossa esperança
(cf. Pd 3, 15) e as notas distintivas da doutrina da santa mãe Igreja.
Referências

1. Karl Barth, Die kirchliche Dogmatik, I/1, 1993, apud R. Gibellini, A Teologia do
Século XX. Trad. port. de João P. Netto. São Paulo: Loyola, 1998, p. 27.

2. Id., ibid.

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