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Francisco Banda Cataua

Sumário
O atalaia da liberdade ....................................................................................................... 3

Como seria o mundo se não existissem mulheres ............................................................ 5

Entre títulos e méritos ....................................................................................................... 8

O atalaia do medo ........................................................................................................... 10

Nem todo namoro é para dar em casamento................................................................... 12

Milagres e coincidências: verdades que não cabem nas “ciências” ............................... 14

O medo científico ........................................................................................................... 16

De vidente a curandeira .................................................................................................. 18

Entre o propósito de Deus e a vontade do homem ......................................................... 19

O código ......................................................................................................................... 21

Religião é politização de deus ........................................................................................ 24

A reclusão é uma morte temporária ................................................................................ 27

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O ATALAIA DA LIBERDADE
Francisco Banda Cataua1

É preciso subir muito alto para vislumbrar e perceber o real sentido de liberdade. É mais
fácil dizer o que a liberdade não é que dizer o que ela é. Leva muito tempo para se perceber
a individualidade da liberdade.

Quando pouco investigada, a liberdade se parece com o oposto da necessidade da


privacidade, mas é mesmo na privacidade que as pessoas encontram sua liberdade.
Perguntas como “podemos conversar em particular?” soam tanto quanto necessidade de
se recludir e se privar dos demais, mas na verdade é no particular e no restrito que a pessoa
terá a liberdade para se expressar.

Num observar atento e avantajado, percebe-se em detalhes simples o quanto a liberdade


é algo restrito. Em confissões com Padre, a dois, as pessoas se libertam mais. Ao rezar
em silencio, a pessoa expressa mais. As pessoas dançam mais em festas restritas, cantam
mais em banhos de chuveiro. Isso demonstra o quanto a liberdade é algo restrito.

Sair do publico para chorar diz muito sobre a privatização da minha liberdade, é me
restringindo e me fechando que encontro um espaço para me libertar. É paradoxal que
querendo me libertar eu tento me recludir.

É preciso entender que existe um “eu” sufocado dentro de cada um de nós, quando ele sai
e se manifesta por meio de palavras, escritas, desenhos, cancões e atitudes, a isso se pode
chamar de liberdade.

Tem muita gente que manifestou sua liberdade em restrições, tem também muita gente
que se restringiu em suas “liberdades”. Ao fugir com o parceiro para ficar livre a pessoa
está atribuindo culpa da sua falta de liberdade aos outros, algo expressamente errado.

Quando não se percebe o verdadeiro sentido de liberdade, e que ela reside em nós, as
pessoas chegam a pensar que viajar para o mais distante possível encontrarão a liberdade.

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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No entanto, é preciso perceber que a liberdade e a felicidade não existem fora de mim,
daí que é errado tentar buscar fora de mim.

Eu me liberto porque a liberdade está dentro de mim, eu manifesto minha felicidade pelo
mesmo motivo. Os de fora só podem obstruir minha felicidade e liberdade e nunca me
dar, podem também facilitar e permitir, mas nunca me dar, porque a minha felicidade e
liberdade não está neles nem com eles. Nunca se pode ter uma felicidade e liberdade plena
enquanto esta depender dos outros.

É estranho que as bebidas alcoólicas e certas drogas permitem que o homem se liberte ou
manifeste sua liberdade. Há quem manifesta demais a sua liberdade. Se os malucos são
livres? Este é um assunto para outro dia.

Existem coisas externas que parecem prós a liberdade, mas que inibem a nossa liberdade.
A riqueza e os títulos. Querer ir as multidões sem ser visto é falta de liberdade, não poder
degustar pratos de que se gosta pelo simples facto de estarem em restaurantes baratos é
falta de liberdade.

A liberdade é algo que emerge e sai da pessoa. O termo “ser livre” é que depende de
questões como: “de quem?” ou “de o quê?”. É mais fácil estar livre de várias coisas que
se libertar. Estar livre pressupõe a existência de um acto ou elo culposo, estar livre neste
caso, seria se apartar deste acto ou elo culposo.

Atingir a liberdade e algo pessoal e ser livre pressupõe ausência de obstáculos. Ao querer
saber até onde vai a minha liberdade, é porque entendo que a minha liberdade é algo
pessoal e que os outros também têm suas liberdades e que precisam ser respeitadas. Então
fica claro que a liberdade é a manifestação do “eu” de cada um dentro dos seus limites.

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COMO SERIA O MUNDO SE NÃO EXISTISSEM MULHERES
Francisco Banda Cataua2

“Não haveriam bichos de estimação. É claro que com as mulheres os homens estão levando
leopardos e cobras para casa, é sua versão de gatinhos e ursos.”

Talvez a resposta mais obvia fosse: Jardim do Éden, com homens imortais e que não
fossem envelhecer. No entanto, a resposta sincera que não inclui periodicidade dos factos
é que o mundo seria monótono.

Um mundo monótono não é necessariamente mau, a monotonia em referência é o apagar


da competitividade, da criatividade e da energia de superação em todas actividades que
sirvam para lograr poder.

Parecendo que não, o poder do homem se manifesta inicialmente em mulheres, ou por


outra, o homem vive do feedback feminino, a mulher é um termómetro da hegemonia
masculina no mundo. Nisto, se pode dizer que, não que o homem não desenvolvesse
actividades, mas estaria perdido na medição se a actividade é ou não boa, se vale a pena
potenciar ou não e com que veemência se deveria fazer certas actividades.

Mesmo não existindo mulheres, em um mundo só de homens existiriam sim mulheres.


Existiriam mulheres porque homens não se medem pelo sexo e sim pela força e poder,
nisto, os menos fortes e poderosos seriam as mulheres, aqueles que num mundo com
mulheres não são nem homens e nem mulheres, aqueles que devem fazer esforços para
serem homens de verdade sob pena de virarem mulheres.

Em um mundo sem mulheres existiriam sentenças sem julgamentos, porque a


sensibilidade reduzida dos homens inibe a paciência de escutar quando as coisas parecem
obvias, a teoria de falsas evidencias não teria espaço, é possível verificar isso em nossos
dias, ao que se pode dizer que as sentadas familiares só pode ter sido ideia de uma mulher.

Não haveria perdão, haveria punição em função do erro de cada um, isso demonstra que
a ideia de segunda chance é coisa de uma mulher. A mulher acredita na imperfeição e na
capacidade das pessoas mudar e se converter. Os homens também acreditam nisso, porque

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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aprenderam das mulheres, e para não deixar sem seu contributo, criaram limite de chances
a se tolerar enquanto se aguarda o uso da masculinidade.

Não haveriam objectos de adorno nem decoração, as coisas seriam feitas a imagem do
seu uso apenas. O que é para furar é para furar, o que é para cortar é para cortar. Porque
a beleza, a leveza e a ginga são coisas das mulheres. Basta observar no vestuário, para os
homens o que era para frio era para frio. Hoje, observando quantas vezes evoluídas são
as vestes das mulheres em relação as dos homens, fica claro que o adorno é coisa das
mulheres

Ainda no adorno, a beleza e a ginga, quando os automóveis eram de uso exclusivo dos
homens, pode-se observar a investida de força e robustez neles. Com a introdução de
mulheres nesta efeméride, o luxo, a beleza e a leveza ficaram evidentes e se tornaram
infinitas as criatividades.

Sem mulheres os homens só precisariam do necessário para comer, vestir e se proteger,


com mulheres os homens precisam acumular riquezas de mais de cinco gerações para
usar em uma única geração e mesmo assim ficar ou se sentir insuficientemente preparado.

Não haveriam bichos de estimação. É claro que com as mulheres os homens estão levando
leopardos e cobras para casa, é sua versão de gatinhos e ursos. Em um meio de dez
homens conversando, se controlar atentamente, a tonalidade de voz baixa assim que duas
mulheres passam por eles. Mulher é calmaria. Se acontecer o contrário a tonalidade
aumenta, então sabemos o que são os homens.

A mulher é faca de dois gumes, ela tem capacidade para acalmar e capacidade para agitar,
depende muito dos seus objectivos. Tem alta capacidade para organizar e alta capacidade
para desorganizar, depende dos objectivos. Tem alta capacidade para tornar um homem
poderoso e alta capacidade para torna-lo plebeu, depende dos seus objectivos.

Um mundo sem mulheres é um mundo sem catalisadores. Porque são as mulheres que
aceleram e desaceleram o mundo. Buscar pedras preciosas em escómbulos colocou a vida
do homem mais ariscada. Faz sentido a expressão “quem não arisca não petisca”, é tanto
petisco para pouco risco.

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Alguns homens só melhoraram suas vidas quando conheceram uma mulher, e, outros
homens pioraram pelo mesmo motivo. Então a resposta correcta de como seria o mundo
se não existissem mulheres é que Adão ainda estaria solitário no jardim do Éden.

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ENTRE TÍTULOS E MÉRITOS
(As Vezes, Não É Que Estejam Atras De Você, Você É Quem Anda Na Frente Deles)
Francisco Banda Cataua3

Em um mundo cada vez mais competitivo, é ingenuidade pensar que tantos atributos nos
colocam para além da visibilidade. É um mundo que exige a competir mesmo estando
fora da competição. Um título bom em nossas vidas não vem solitário, vem com
exigências de provas de mérito exigidas por aqueles que admiram o título e não admiram
quem o tenha atingido.

Os títulos têem em si mesmos méritos, mas as pessoas que atingem esses títulos precisam
cuidar por si mesmo dos méritos. Dai que, mesmo tendo o título, a pessoa pode não ter o
mérito, mas também se pode ter méritos sem títulos.

É sempre bom que os títulos andem com os seus méritos. Hoje, é evidente que nem
sempre em boas escolas saiam bons estudantes, e em escolas tidas como más saiam apenas
maus estudantes, dai que, é preciso conciliar os títulos com os seus devidos méritos,
porque ter uma boa educação não é necessariamente ser bem-educado.

Os títulos criam inveja, mas os méritos criam seguidores. Para saber se se está a
coleccionar invejosos ou seguidores, basta entender se se está a potenciar títulos ou
méritos.

Em vida, há quem apenas coleccione títulos e deles não tenha nenhum mérito, e, há quem
se pareça com William Shakespeare, que coleccionando méritos sem ter um nível
académico superior, superou títulos adquiridos por muitos sem mérito e firmou-se na
mente de seus seguidores.

Quando se aceita um cargo profissional, com ele se está a aceitar o desafio de potenciar
o mérito e o convívio com os que almejam o título. É preciso estar consciente disso.
Mesmo que seja boa a relação paralela entre aquele que detém o título e os demais, é
sempre necessária a relação vertical para estratificar e colocar as pessoas em seus lugares.
Porque uma casa que as pessoas não conhecem seus lugares parece sempre cheia e

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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desorganizada. É preciso seguir o exemplo dos mecânicos, cada parafuso no seu fuso, e
o exemplo do semeador, que mesmo não tendo nada contra certas sementes selecciona as
melhores.

Quando se é brilhante no que faz, não faltarão pessoas para ofuscar o brilho. É preciso
que a luz não tenha medo da escuridão, porque não é a escuridão que afasta a luz é sim a
luz que afasta a escuridão. Nisto, quando se tem luz própria, conviver com a escuridão é
mais do que uma obrigação. No entanto, é preciso admitir que sempre existirão luzes
iguais ou superiores a nossa, e que não é problema coabitar com elas.

Pensar sempre que estamos sendo perseguidos pode atrapalhar o entendimento de que
estamos na frente das pessoas que parecem nos perseguir e perder o entendimento da
natureza de superioridade quando se tem títulos exigindo merecimento.

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O ATALAIA DO MEDO
Entre o medo e a coragem: Um intervalo para o Diabo actuar
Francisco Banda Cataua4

O medo é a reacção negativa perante uma ameaça real ou imaginária. Quando o medo se
torna uma manifestação negativa do indivíduo perante uma ameaça, estão dados metade
dos passos em relação a destruição.
O medo é quase inevitável nos seres humanos, dado que é reacção a um estímulo. Perante
uma ameaça o homem pode reagir de forma positiva ou de forma negativa. É o intervalo
de tempo que dura entre a ameaça e a reacção positiva que determina o nível de coragem.
Coragem não é ausência do medo, é a capacidade que o ser humano tem de enfrentar os
seus medos com positividade perante a ameaça. O corajoso tem o medo apenas como uma
curta reacção momentânea a uma ameaça. O medroso é aquele que faz dentro de si
moradia para o medo da ameaça.
Quando a ameaça encontra espaço confortável dentro do indivíduo, ela desenvolve de
forma progressiva. É a progressividade do medo que destrói a coragem. Fica claro então
que o medo e a coragem são dois inimigos que não coabitam, a excessividade de um
justifica a ausência ou infimidade do outro no individuo.
É o indivíduo quem decide o que vai habitar em si, se é o medo ou a coragem. Cada uma
dessas decisões tem suas consequências. É preciso que se esclareça que a decisão de ter
medo ou coragem não é uma mera escolha, é sim a reacção perante a ameaça, ou por
outra, são as atitudes que determinam a decisão e não a decisão que determina as atitudes.
Isso explica o facto de existirem indivíduos que escolhem ser corajosos e continuam
medrosos porque suas atitudes vem em segundo plano.
Não se deve fazer um plano futuro da coragem, ser corajoso é um estilo de vida
imediatista que inibe o comodismo do medo na vida do individuo.
No individuo, tanto o medo como a coragem habitam na mente. O medo e a coragem ao
contrário do que se disse antes, podem até coabitar no mesmo individuo, mas sempre
desconfortáveis e em proporções muito desiguais.
É a desigualdade das proporções que faz com que a excessividade de uma iniba a actuação
da outra, ou por outra, as duas existem, mas só uma pode actuar sobre o indivíduo, neste
caso, a que estiver em excesso.

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “Ciências” e Geociências.

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O excesso do medo cria no indivíduo destruição, e destruição é o principal objectivo do
Diabo. Em muitos casos, não é a ameaça que mata o indivíduo, mas sim o medo. Só para
ter uma ideia, o medo cria má disposição nos indivíduos, má disposição cria falta de
apetite, falta de apetite cria desnutrição, desnutrição cria falência nos principais órgãos
vitais, falência nos principais órgãos cria alucinações que são o último estágio antes da
morte.
Infelizmente todo mundo tem medo da morte, se não tem medo de como será o mundo
depois da sua existência, tem medo de como vai morrer, mas em ambas situações tem a
morte como o vilão.
É claro que o nosso maior vilão é o Diabo. Quando o diabo não consegue atormentar a
vida do individuo, ele atormenta a sua morte. No dia em que o mundo parar de ter medo
da morte o Diabo não terá a mesma actuação sobre os indivíduos.
Antes da morte o medo actua em forma de vergonha ou receio. A vergonha é um dos
produtos do medo que conduz ao fracasso, insucesso e destruição. A vergonha é o medo
da reacção do outro perante uma realidade, ala conduz a investir falsidade e falsidade é
cara.
O medo da pobreza conduz cegamente os indivíduos a combater os pobres e não a
pobreza, daí que a corrupção, tendendo a crescer, com ela vem o advento do
empobrecimento do pobre e enriquecimento do rico. No final existem pobres que não tem
o que comer e ricos que não tem tempo para comer. Enquanto isso, o Diabo encontra o
espaço para matar o pobre de pobreza e o rico de riqueza.
O Diabo não precisa necessariamente destruir a riqueza para destruir os indivíduos, ele
usa o que ambos tem em comum, o medo. O medo do pobre lhe faz perder a esperança e
com a perca da esperança se perde o valor da vida, e com esta última perda o indivíduo
está pronto a se auto destruir. O medo do rico lhe faz querer aumentar a esperança e criar
um império indestrutível de gerações a pós a sua, o que lhe incita a travar lutas contra
seus próprios limites ampliando suas ambições a um nível desastroso e autodestrutivo.
Será que o medo tem alguma importância? Sim, pois tem. O medo em uma pequena dose
é a condição para se precaver das ameaças e ser cuidadoso, desde que só sirva para isso e
seja infimamente momentâneo, pois para alem disso o medo é a maior arma do Diabo.

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NEM TODO NAMORO É PARA DAR EM CASAMENTO
Franciscco Banda Cataua5

Em nossas sociedades, enquanto o homem busca o bem-


estar para garantir o casamento, a mulher busca o
casamento para garantir o bem-estar.

Namorar é, ou pelo menos deveria ser, procedimento para se conhecer melhor. Nem todos
que conhecemos melhor merecem partilhar tudo connosco para o resto das nossas vidas,
e é preciso entender que nem todos que pensamos que amamos são bem-vindos as nossas
vidas.

Na expressão macua existe um ditado “hanthelana ham’mwalana”, que significa não se


casam, mas também não se separam. Explica-se que existe na vida de todos alguém com
estas características, que passe o tempo que passar eles não se casam, mas também não
se separam e não devem forçar. Na vida de cada um deles podem se passar vários amores
e relações sérias.

Há uma verdade a cerca de se conhecer melhor, os homens, não todos, conhecem melhor
tanta gente e tem dificuldades de escolher com quem ir ao casamento, tanto que depois
do casamento continuam conhecendo melhor outras pessoas o que problematiza a sua
escolha anterior. As mulheres, não todas, levam pouco tempo para conhecer melhor
alguém, elas preferem conhecer melhor dentro do casamento, e preferem confiar o tempo
para lhes revelar a verdade sobre suas escolhas.

Então qual seria o limite para conhecer melhor alguém em termos temporais e quantidade
de pessoas a conhecer? A resposta a esta pergunta seria a perfeição explicativa de que
nem todo namoro é para dar em casamento. O normal seria todo mundo entender que
depois que conhece melhor alguém, e escolhe este alguém para o seu casamento, acaba o
seu direito de conhecer melhor outros alguéns.

As vezes as pessoas se casam para responder a exigência normativa da sociedade, e, tudo


que apenas sirva para satisfazer a sociedade não nos pode satisfazer em simultâneo. Não
é mau demonstrar a nossa felicidade conjugal quando é verdadeira, mas é ainda mais

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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terapêutico aos que nos buscam como casal inspirador lhes demonstrar as superações das
quedas que temos tido por ser imperfeitos.

Em nossas sociedades, enquanto o homem busca o bem-estar para garantir o casamento


a mulher busca o casamento para garantir o bem-estar, mesmo assim é difícil encontrar
relações cujo somatório deu em casamento e bem-estar.

Em uma roda de amigos, um homem ao atender uma chamada, a partir do semblante e


tonalidade de voz, fica claro se se trata de namorada ou esposa.

Casar é tentar encontrar qualidades de amiga, amante, namorada e dona de casa na mesma
pessoa. Não é preciso explicar que esta missão é impossível, mas é preciso acrescentar na
explicação que os seres humanos apesar de perfectíveis não são perfeitos.

Perguntas como: porque o namoro foi mais leve e bom que o casamento? Tem resposta
simples. O namoro não vem com tudo, os encontros são limitados, então reservam
saudades, os passeios não são obrigatórios, então minam vontades, o tempo para brigar é
curto que as pessoas preferem aproveitar, e, quando é chegada a hora para aborrecer, os
namorados se despedem com marcação na agenda do próximo encontro que não começa
com o aborrecimento e sim com vontade de matar saudades. Se conseguir fazer todas
essas coisas em casamento a pessoa estará de parabéns, mas se não conseguir, entenda
que nem todo namoro é para dar em casamento.

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MILAGRES E COINCIDÊNCIAS: VERDADES QUE NÃO CABEM NAS
“CIÊNCIAS”
Francisco Banda Cataua6

“O esgotamento da lógica e do pensamento


não pode ser o fim do conhecimento”

Há poderes semiocultos. Mesmo sem saber a fundo como os milagres e coincidências se


operam, os humanos tem diversificados posicionamentos sobre sua existência. A maioria
acredita na existência ou ocorrência destes dois, e, uma ínfima parte é reticente quanto
aos milagres, chegando até a dizer que não existem. Esta última classe, relega tudo que
poderia ser considerado milagre como uma mera coincidência.

No entanto, milagres e coincidências existem sim, ou na expressão mais correcta eles


ocorrem sim, e, há uma clara diferença entre estes dois. Milagre é quando algo improvável
e pouco explicável sucede mediante um autor conhecido e, coincidência é quando nesta
sucessão se desconhece o autor ou pelo menos não se quer atribuir a autoria ao devido
autor. Parece pouco embasado? Vamos simplificar.

Os ateus e darwinistas defendem a geração espontânea, que seria a crença de que quando
as condições se dispõem os fenómenos ocorrem, não é necessário um autor, esta é uma
forma evoluída de expressar coincidência. Quando forçados a expressar que forças
externas intervêm estes dificilmente mencionam ou quando muito atribuem a natureza.

A natureza do homem lhe confere possibilidades e limitações, tem para eles coisas
reveladas e outras ocultas. Perante um milagre, as coisas reveladas são as que são
passiveis de ver, ouvir e sentir, as não reveladas ou ocultas são os procedimentos até se
atingir os factos revelados.

Existem os intermediários para ocorrência de milagres que ganham protagonismo e certas


vezes autoria de obras cujo autor é revelado ou não, mas que muitos sabem existir. E,
existem milagres que não precisam de intermediários, os que muitos chamam de
coincidência ou simplesmente força da natureza. Talvez a questão agora seja: “então
milagres e coincidências são a mesma coisa?” - Não. É verdade que tanto milagres assim

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências” & Geociências.

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como coincidências são fenómenos momentâneos incomuns de um fenómeno
permanentemente cíclico e comumente designado por natureza.

Até aqui parece concordar com os ateus e darwinistas, pois não? – Não. A diferença está
na existência de protagonista, porque a existência e ocorrência é um protagonismo e todo
protagonismo deve ter um protagonista, ignorar o protagonista é atribuir tudo ao acaso.
Isso não é uma fraqueza e nem dureza cognitiva, é decisão compreensiva.

Perante os fenómenos e elementos cognitivos o homem é livre de tomar uma decisão


compreensiva, basta para isso atribuir logica aos fenómenos e razão a conclusão.

Não é preciso provar a ninguém que existem forças para além da nossa compreensão. É
a nossa compreensão que deve ser levada a prova perante a existência de certas forças. O
que não se compreende não significa necessariamente que não existe. O esgotamento da
lógica e do pensamento não pode ser o fim do conhecimento, pois sabemos que nem toda
lógica válida é verdadeira.

“(…) e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Libertará de o quê?
Neste caso, da lógica e do esgotamento do pensamento.

A “ciência” e a escola formal tem um grande medo do que está para além do que tem
domínio e acredita, o medo de perceber sua pequenez perante a vastidão do campo
cognitivo, daí que tenta sem sucesso estabelecer limites do pensamento, padronizando
formas de aprendizagem e aprisionando o saber por níveis académicos e áreas de
conhecimento, fazendo o mundo acreditar que não se pode “saber tudo”.

Infelizmente a escola tem sido o bastião da limitação do pensamento ao ponto de chamar


superdotado ou anormal alguém que pense acima da classe de forma verticalmente e
compreenda além da área de formação de forma horizontalmente.

A negação de que a verdade liberta está levando muitos a evitarem conhecer o autor dos
milagres e coincidências assim como sua existência mesmo convivendo com isso todos
os dias, nisto, se aprisionam a lógica e no padrão do pensamento enquanto desconhecem
a força suprema. Contudo, os milagres e as coincidências são claras demonstrações da
nossa inferioridade cognitiva.

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O MEDO CIENTÍFICO
(A ÁGUA SABE A ÁGUA, TEM COR DE ÁGUA E CHEIRO DE ÁGUA)

Francisco Banda Cataua7

Platão chamou de “excremento académico” a difusão de informações que não levam ao


conhecimento e que até poderiam deturpar o conhecimento. Nós, no entanto, defendemos
a existência de “medo científico”, que é o temor de esclarecimento a infinitude de
questões que podem surgir de certas declarações cientifico-cognitivas.

Ao se abordar as propriedades da água, o medo científico hesitou em expressar a cor, o


sabor e o cheiro da água pelo simples facto desta facilmente se camuflar em outros corpos.

Qual então seria a cor, o sabor e o cheiro da água? Para responder a esta questão é preciso
entender o conceito de propriedade, que é a característica única que um elemento ou
composto possui, podendo ser variável ou invariável. No entanto, é preciso ter muito
cuidado ao abordar a variabilidade das propriedades de um elemento ou composto. A
partir do momento que conseguimos dizer que voltou ao seu estado normal, estamos
assumindo o marco base da variabilidade. Ao afirmar a partir dos órgãos de sentido que
certa água está turva, suja, amarelada ou outra que seja a atribuição, quer dizer que se
conhece o seu normal cromático. Ao estranhar o cheiro e sabor da água, significa que se
conhece o cheiro e sabor da água. Tanto que quando a água está na sua cor, sabor e cheiro
normal, nenhuma ou poucas questões são feitas, porque é consensual que aquele sabor,
cheiro e aquela cor são próprias da água porque elas existem.

É preciso recordar que o normal não é sempre um ponto fixo por vezes é sim intervalar
da aceitação por consenso natural ou padronizado, assim como quando falamos do Ph da
água.

Qual é o sabor e cor da laranja? Esta questão pode soar tanto quanto simples, mas a
complexidade da resposta e seu modo de atribuição é a mesma para água. Quando uma

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Investigador de Culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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laranja não sabe a laranja, ela é estranha, porque conhecemos o gosto da laranja. Quando
uma laranja não tem cor de laranja é estranha porque conhecemos a cor da laranja.

No histórico das cores, a cor de laranja é uma das atribuições recentes em ciclo cromático.
A cor de laranja, que não tinha nome passou a ser cor de laranja quando o medo de
atribuição se foi, isso se pode dizer sobre a tendência da cor de vinho e prevalecer o medo
da cor de água.

Quando o medo científico acaba, a água tem sabor de água, tem cor de água e cheiro de
água. Quando uma cor estranha, um cheiro estranho e um gosto estranho se sobrepõe a
água notamos imediatamente, porque conhecemos o sabor da água, a cor da água e o
cheiro da água.

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DE VIDENTE A CURANDEIRA
Francisco Banda Cataua8

Com o tempo você percebe a imposição de descredito a que se deve passar quando se é
africano. Mesma atitude se atribui adjectivos diferentes, um de mérito e outro pejorativo.

Aqui na minha terra não existem nerdis nem hackers, existem tolos apegados a cálculos
e computadores. Não existem videntes, existem feiticeiros que prevê o futuro e que os
chamamos de curandeiros. Não existem génios, existem meninos que por via de feitiço
escolar roubam a inteligência dos outros e ei-los que tiram sempre notas altas em testes e
exames. Não existem acrobatas, existem mágicos que usam ilusões e feitiços para enganar
a visão da plateia ingénua em circos. Não existem talentosos, existem aqueles que já
nasceram com aquilo porque a avo sabe das coisas.

Até a bunda grande por aqui quando não é artificial é artificial, é proibido ser natural aqui
na minha terra. A pele clara é algo para outro dia, o importante é saber que nada é natural
por aqui.

Para eles garota de programa, para nós só uma prostituta. Para eles vaidade, para nós “está
a se impor que tem”. Para eles auto-estima, para nós orgulho ou simplesmente gabarolice.

Quando se inspira em alguém, para eles títulos como “versão”, “inovação” e “replica”
são chamados a acobertar, para nós? Roubou e prontos.

Aqui as pessoas nunca são, se fazem de ser. Lá se pode encontrar inteligentes, aqui os que
se fazem de inteligentes, se pode encontrar fortes por lá, e aqui os que se fazem de fortes,
e o mesmo vai acontecer com a riqueza, pobreza, entre outros.

Há coisas que não mudam de atribuição na minha terra, os elogios que se profere aos
mortos quando já não podem mais ouvir. O triste é que a atribuição pejorativa não tem
vindo de lá, é de cá. E se nada disso te comove sendo da minha terra, pode ser que foste
tu a transformar a avó africana de vidente a curandeira.

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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ENTRE O PROPÓSITO DE DEUS E A VONTADE DO HOMEM
Francisco Banda Cataua9

O propósito de Deus é, ou pelo menos deveria ser o limite da vontade do homem.


Sabendo, pois, o homem, que Deus não se apressa, mas também não se atrasa, deveria
ficar esclarecido o limite da vontade humana.

Não é que o homem não deva ter vontades e desejos, no entanto, deve perceber que o
propósito de Deus é maior e melhor que todas suas vontades e desejos. A vontade do
homem contem cegueira do futuro, mas o propósito de Deus é a visão clara sobre o futuro.

O homem teme que esteja incompatível a velocidade do tempo quando possui uma
vontade ou desejo, algo que lhe conduz a empreender mecanismos de se apressar, e,
contra todos os cuidados, ignora os riscos de falta de cautela.

O propósito de Deus é consciente que nem sempre a rapidez conduz a eficácia do plano,
daí que há tempo para ir de pressa e tempo para ir de vagar, tempo para ir e tempo para
esperar ou simplesmente não ir.

Relatos há, e são vários, em que a vontade do homem era viajar, e não podendo por algum
constrangimento se frustrou, até que ouviu que todos que seguiam naquela viagem
morreram em um acidente fatal. Outros relatos indicam para atrasos que conduziram a
salvamentos.

O propósito de Deus não é contra a vontade do Homem, é a melhor versão da vontade do


Homem, mesmo que os seus métodos e critérios pareçam dolorosos na face dos homens
que buscam satisfazer suas vontades e desejos.

Para entender o propósito de Deus é preciso esvaziar-se da vontade e desejos humanos e


dar espaço a manifestação de desígnios de Deus em nossas vidas. Há um propósito maior
entre os vários propósitos, o de nos concederem o maior presente que se pode receber, a
vida eterna. Este presente parece pequeno quando a vontade e os desejos carnais falam
mais alto. Para qualquer que seja o presente é preciso merecer, para merecer é preciso

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Investigador de culturas de divindades que não cabem nas “ciências”

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preencher certos requisitos, e, quanto mais difíceis os requisitos para merecer fica claro o
nível de importância do presente.

O homem só pode viver o propósito de Deus quando inferiorizar seus desejos e vontades
e permitir que se manifeste na sua vida a vontade de Deus que é a melhor para si.

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O CÓDIGO
Francisco Banda Cataua10

Você sabia? Na África perdoar uma traição é um código.

O código é uma linguagem restrita a certos usuários, e linguagem é a exteriorização de


pensamento. Na vida, quase tudo é um código, porque sabemos que nem tudo é para
todos, e o uso de um código é uma clara delimitação e restrição de usuários.

Há códigos formais, aqueles que são instituídos por um ou vários usuários e que até
podem ser sistematizados e usados sob um certo padrão. E, há códigos informais, aqueles
que não se sabe quem instituiu, mas existem, são usados e evoluem.

Há códigos regionais, restritos a uma região, e há também códigos universais, que são
usados em mais do que uma região ou espaço delimitado, e, há códigos como os de estrada
que deveriam ser para todos mas quando nem todos conseguem descodificar mante-se a
ideia padrão do código e não se atinge o objectivo.

O código é uma expressão síntese, é um discurso maior menorizado com objectivo de


encurtar a distância entre a informação e o entendimento. No entanto, a flexibilidade
depende do descodificador e a natureza do código.

Em Africa, a pluralidade de tribos, culturas e costumes induziu a existência de vários


códigos. Só para dar alguns exemplos, na Africa homem perdoar uma traição é um código,
significa que existem propósitos maiores em ficar com a mulher, ou por outra, a mulher
vale mais que a razão da traição.

Casamentos prematuros em Africa é um código, casamento prematuro como foi


realmente concebido não conduz a gravidez precoce nem desistência educacional, é
preservação da virgindade com certeza ao seu marido, onde rituais de compromisso são
executados para salvaguardar a pureza da mulher ao homem da sua vida diante de uma
educação com anciãs e mulheres mais experimentadas, o problema com a escola
modernizada está na incompatibilidade dos calendários e objectivos, porque hoje a escola

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências”.

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modernizada acelera a perca da virgindade da meninas africanas (Vede o texto “Bordel
da Ciência”).

A poligamia é um código. É sinal de sinceridade e prontidão para assumir as mulheres da


sua vida. É para os polígamos covardia ter medo de assumir seus amores. Para os
polígamos é um grande risco ter várias relações extra conjugais não assumidas ou
escondidas do que escolher objectos de manifestação do seu amor com ciclo fechado.

Homens irem na frente em última homenagem ao defunto na Africa é um código, basta


observar o que acontece na fase derradeira. O choro de um adulto na África é um código.
O sorriso de uma mulher na Africa é um código. Há tantos códigos no rosto de uma
mulher africana.

Na Africa, ter muitos filhos é um código, não ter também é. Ter muitos parceiros
amorosos é um código, não ter também é. Ter muitos bens é um código, não ter também
é. Chegar sempre atrasado é um código, pontualidade excessiva também é.

Atenção, na Africa há códigos para codificar quando o código habitual se parece vulgar,
e há códigos para descodificar quando se percebe que não há necessidade para codificar,
e, há códigos que servem para confundir os que conhecem o código.

Gradear de mais uma casa é um código, no entanto, há quem não gradea para confundir.
As vestes e calçados são códigos que qualificam o usuário, mas há quem use o vestuário
para confundir as pessoas que as tentam ler. Na Africa, a quantidade de homens andando
juntos é um código, padre não casar é um código, a profissão é um código também.

Há códigos que codificam outros códigos e quando tanto se conhece os códigos se vira
paranóia pensando que tudo é um código. Codificar de mais é uma doença, a doença de
não viver a normalidade e em tudo ver códigos.

Existem códigos que nos conduzem ao passado de alguém. Quando uma mulher diz que
só se sente confortável brincando com homens é um código pretérito, é um código que
faz pensar algo sobre seu passado, é sobre a existência de alguma razão para actual
comportamento.

O estilo de corte de cabelo e o próprio cabelo são códigos. Há códigos que dizem mais de
nós em detalhes simples e complexos e muitas vezes não premeditados. Por exemplo, a

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escolha de que mesa ocupar e como ocupar em um restaurante é um código. A preferência
em habitar em zonas muito ou pouco movimentadas e barrulhentas é um código.

Há códigos individuais e que revelam sonho e ambições. Os detalhes do primeiro carro é


um código, a primeira casa também. A opção religiosa é um código, a profissão é um
código e a quantidade de amigos é um código, o nível académico é também um código.

Há códigos que descrevem a necessidade de mudanças e insatisfação. Amor pelos vientes


é um código, mudar constantemente de cidade é um código. Estar solteiro aos quarenta
anos de idade é um código.

Como se pode ver, há códigos de tudo que é natureza. Há códigos para ajudar e códigos
para prejudicar. Mas há um código eterno ainda por decifrar, o código da vida, e um maior
que este é o código da natureza, aonde tudo começa e tudo termina.

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RELIGIÃO É POLITIZAÇÃO DE DEUS
Francisco Banda Cataua11

Exceptuando ateus, muitos acreditam na existência de um ser supremo que vela pelas
vidas e tudo quanto existe, atribuído nomes para dizer Deus como: YHWY, Jeova, El,
Adonai, Allãh, Yah, Elohim, Theos, Despotes, Kyrios, Elah, Hupsistos, Pontokrator,
Anayah-Asher-Anayah, Dio, entre outros. A maior diferença está nos intermediários e
modos como se alcança a este ser supremo.

Aos que acreditam que este ser supremo é Deus Omnipotente, Omniconsciente,
Omnipresente, entre outras qualidades supremas acreditam-no como um ser eterno com
atributos acima de excepcionais e incríveis.

O problema começa quando as concepções humanas o conduzem a encontrar um


caminho, local, intermediário e formas de chamar atenção do ser supremo para pedir
perdão, agradecer ou orar. Nisto, surgem congregações religiosas que são formas claras
de protestos de uns contra outros nas formas de busca e adoração ao ser supremo.

Há uma verdade pouco comentada, a que nos demonstra que muitos são cristãos porque
nasceram em uma família cristã, islâmicos porque nasceram em família islâmica e de
outra religião pelo mesmo motivo. É claro que com o tempo há quem muda de crenças
por motivos que iremos abordar neste texto.

Afirmar que Jesus Cristo não era “cristão” assim como muitos que vieram antes dele pode
soar tanto quanto blasfémia, no entanto, é claro que Ele, e os que vieram antes dEle
pregavam e adoravam em sinagogas, montes, rios, ou por outra, fica claro que as
principais figuras conhecidas que levaram avante a doutrina não a politizavam de forma
partidária.

A oração era e ainda é para muitos um meio para se comunicar com Deus, que pode ser
individual ou colectivo. As regras para orar e que intermediários usar podem ter fundado
religiões que não são simples congregações religiosas. É a discórdia entre humanos que
partidariza as congregações religiosas. Debates de conhecimento e opiniões sobre o
mesmo Deus acabam em uma destas situações:

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências” & geociências

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i. Os que acreditam que sua congregação está cometendo erros que dificilmente
se pode corrigir se tornam protestantes fundando uma congregação corrigida
dos erros observados;
ii. Os que acreditam num intermediário ou profeta que não seja o que uma certa
congregação segue ou professa, tenta ridicularizar este e elevar o seu;
iii. Mesmo sabendo e aceitando que se trata do mesmo Deus, culturas, povos,
línguas e crenças atribuem nomes diferentes ao Ser Supremo;
iv. Começa a demonstração de que o mesmo Deus, em certas religiões é mais
forte que em outras, daí que certas pessoas buscando o mesmo Deus trocam
de várias religiões até achar onde Ele é mais forte e poderoso.

Enquanto estas diferenças se manifestam, os autores religiosos partidarizados investem


nos seus manifestos para convencer que eles é que estão certos e estão rezando e seguindo
a verdade da forma como Deus quer e demonstram ou tentam demonstrar isso com um
objectivo em comum, o de encontrar vários seguidores.

Há, no entanto, alguns mais cautelosos que tentam entender quem está certo entre várias
religiões, depois que se parece entender, uma confusão surge, parece que todas estão ou
pelo menos convencem estar certos na totalidade ou em parte o que mais uma vez interfere
na decisão de escolha.

Outra questão que inquieta os que tentam buscar a verdade é a observância de existência
de conteúdos acrescidos e conteúdos retirados (livros apócrifos). Por algum motivo, estes
cenários lhes convencem que não sabem que está certo e quem está errado.

Na Nigéria, na cultura Ioruba, estas dúvidas conduziram a uma modalidade de


congregação religiosa que misturou várias cujos intermediários são orixás e que está em
expansão sendo conhecida no Brasil como candomblé com objectivo de rezar na mesma
congregação várias crenças uma vez desconhecida a mais verdadeira.

Se para uns a religião é um movimento para aperfeiçoamento da fé, para outros a religião
pode retirar a fé, e ainda outros, acreditam que tem se usado a religião para fins de
exploração de ingénuos, ou por outra, religião, usa ingenuidade de crentes para os
dominar.

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Religião não seria politização de Deus se os actores buscassem apenas a verdade e a
Deus, e que prioridade fosse salvar os que estão perdidos e não se afastar ou se discriminar
deles, e que diferentes opiniões induzissem ao debate e não a divisão, que unificar o
mundo fosse prioridade e que a fé fosse melhor que a crença. É preciso pensar que Deus
não deve ser visto como propriedade de uns e que é inútil politizar Deus visto que somos
todos suas criaturas.

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A RECLUSÃO É UMA MORTE TEMPORÁRIA
Última rosa do meu sepulcro
Francisco Banda Cataua12

Quando você é detido, você está doente, e a esquadra funciona como uma espécie de
hospital. A notícia do seu estado circula rapidamente entre rodas de conversa de amigos,
familiares e claro, de amigos não verdadeiros.

Há um clima de informação e desinformação, todos sabem que estás hospitalizado, mas


há dúvidas sobre a causa da hospitalização, fora da real causa, várias causas são
levantadas hipoteticamente e os inimigos encontram espaço para fomentar fofocas e
denegrir sua imagem.

Na esquadra todo mundo quer visitar-se, inclusive os amigos não verdadeiros fingem
preocupação, mas na verdade querem ter certeza e bases para difundir a informação. Igual
a um enfermo, você recebe atenção de todos.

A sua saúde se agudiza, nesta fase, apenas os mais próximos se mantem do seu lado, e o
tempo se encarrega de te afastar dos que apenas queriam ter certeza de que o enfermo em
alusão eras tu, se despedem dando falsas forças e esperanças, expressões como “vais sair
dessa” se tornam comuns.

Depois de muitas tentativas, os enfermeiros (policias de protecção), sentem que pouco


podem ajudar e te encaminham aos médicos (polícia de investigação), com teu
diagnostico, e mesmo assim tua situação não parece melhorar. Há cuidados intensivos na
tentativa de te devolver a vida, e quando tudo parece difícil, és submetido a reanimação
(tribunal), porque tua situação só piora e uma decisão deve ser tomada, até que uma voz
suave diz, “não tem como, ele deve ser recluso”, então você percebe que morreu (...). É
transferido da morgue para o cemitério mais próximo (cadeia).

A notícia circula, os teus próximos choram, os inimigos se dão por satisfeitos, mas fingem
estar compadecidos, mesmo assim o sarcasmo é claro. Agora você é novamente objecto
de conversa em todas rodas de amigos. Fala-se um pouco de tudo sobre ti, desde os teus

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Investigador de culturas e divindades que não cabem nas “ciências” e geociências.

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pontos positivos até os menos abonatórios porque todo mundo tem. Há um prazer de se
tocar no assunto entre os amigos não verdadeiros, e, expressões como “eu sabia”
começam a brotar entre estes últimos.

Cemitério é casa do diabo, la moram demónios que tem por tarefa atormentar e atazanar
a sua vida espiritual enquanto vigorar a sua morte ou pelo menos enquanto esperas o juízo
final.

Os mortos mais antigos tiram vantagens sobre os recém-chegados. É regra de cadeia que
os antigos dominem, mas é da capacidade individual evitar ser dominado. O cemitério já
é um purgatório, mas há quem viva um inferno e outro que viva um paraíso enquanto se
aguarda juízo final.

Logo depois do enterro, os dias subsequentes se reservam as visitas do seu tumulo, é aqui
que você percebe o seu ciclo de relações enquanto vivo. Quanto mais rosas, mais
próximos você tinha. Na verdade, as rosas do primeiro dia não contam, estas até o inimigo
dá. A questão é quem continua depositando rosas no seu tumulo quando aos poucos
ninguém mais fala de ti.

As rosas na cadeia são visitas. As que recebemos distante do dia do enterro são as mais
verdadeiras, as rosas que você recebe em segredo são muito mais verdadeiras, e, a última
rosa que você recebe antes da sua ressurreição é angelical.

A cadeia não faz o recluso julgar os amigos, a cadeia, assim como os momentos difíceis
revelam os amigos por categoria de forma natural, ela é estratificadora. Todo mundo devia
ser aprisionado pelo menos uma vez na vida. Não que a cadeia tenha um caracter
rectificador, mas por ter em si mesmo um caracter revelador. Quanto a mim, o bom é que
a reclusão é uma morte temporária.

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