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Glossário
As divisões cronológicas da História:
1) Pré-história (todo o período que antecede a invenção da escrita
em 3 mil a.C.)
2) Período antigo (da invenção da escrita, em cerca de 3 mil a.C.,
até a queda do Império Romano no Ocidente, no século V d.C.)
3) Período medieval (da queda do Império Romano no Ocidente
até o fim do Império Romano no Oriente, no século XV, quando em
1453 os muçulmanos tomaram a cidade Constantinopla (capital do
referido Império)
4) Período moderno (desde a tomada de Constantinopla até a
Revolução Francesa, em 1789)
5) Período contemporâneo (da Revolução Francesa aos dias atuais)
Exercício de aplicação
Ao ler o texto bíblico de Lucas 1:1-4, que características podem ser
aplicadas ao trabalho do historiador na produção do conhecimento
histórico?
a) a busca de fontes históricas, independentemente de sua
confiabilidade, que servem para o historiador buscar evidências
em sua análise e relato.
b)a busca de fontes históricas diversas, sem uma grande
preocupação com a confiabilidade dos materiais, pois dependendo
do assunto a ser pesquisado sempre há uma variedade de
materiais disponíveis, mas sim que servem para o historiador
buscar evidências em sua análise e relato.
c) fazer um recorte cronológico para situar a produção do
conhecimento histórico, dentro das temporalidades históricas
propostas por marcos ou acontecimentos representativos.
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Siglas que identificam temporalidades:
a.C: antes de Cristo
d.C: depois de Cristo
a.D: anno domini (termo que significa “ano do Senhor”, em referência à
era de Cristo)
Glossário
Sinagoga: etimologicamente significa “casa do livro”, ou seja, lugar
de ensino da Lei e dos costumes judaicos; as sinagogas surgiram
no período do exílio babilônico sofrido pelos judeus, passando a ter
um papel importante na diáspora subsequente para, na ausência do
templo de Jerusalém, manter a identidade das tradições judaicas.
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Cultos de mistério: A expressão decorre do fato de a comunidade
reunida para determinados atos cultuais guardar silêncio absoluto sobre
tais atos, nada podendo revelar a não-iniciados. Os iniciados recebiam
fórmulas sagradas e sinais simbólicos, que ajudavam na identificação
mútua. Participavam libertos e escravos; homens e mulheres. Celebrava-
se ali o renascimento da pessoa para a eternidade; acreditava que os
deuses sofriam, morriam e ressuscitavam. Estes elementos criaram
aproximações entre os adeptos e a mensagem que ouviram sobre Jesus.
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Exemplo de um rito de iniciação nos cultos de mistério
Um dos rituais que envolvia os cultos de Ísis e Apolo dava-se
geralmente da seguinte forma: o iniciante fazia votos de ablução
(não comer carne por um determinado tempo, por exemplo, 10 dias);
logo após, o noviço vestia uma roupa específica, ao pôr-do-sol, e era
levado ao salão de culto, sendo que ali, repetia palavras como: “eu
cheguei às proximidades da morte e com a ajuda da divindade estou
agora alcançando a luz verdadeira”; no dia seguinte, ao clarear do dia,
terminada a celebração, o iniciado apresentava-se ao povo, vestido
com uma estola adornada com a figura do deus Sol. Isto significava
que, através da consagração, nasceu agora como ser divino, cheio
de força e rodeado por brilhante luz; estava agora preparado para um
dia se apresentar a Osíris, o juiz dos mortos.
Glossário
Diáspora: Significa dispersão. Dá-se o nome de diáspora às duas
grandes dispersões que envolveram o povo hebreu: a primeira
ocorrida por ocasião do cativeiro babilônico, no século VI a.C.; e
a segunda quando da destruição do templo de Jerusalém pelos
romanos, no ano 70 d.C. Para o judeu que vivia fora da Palestina,
Jerusalém permaneceu sendo o centro da sua fé e referencial de
vida. Lá era o local de sacrifícios ou peregrinações. A Palestina
continuava sendo a sua terra, herança dada por Deus. Fora do país,
o povo hebreu estava em terra alheia ou impura.
Por que os judeus foram para países estrangeiros? Por vários motivos:
devido aos exílios a que foram submetidos; para seguir as grandes
rotas comerciais, estabelecendo-se nas cidades mercantes ou portos;
em razão dos pesados tributos impostos pela dominação estrangeira à
agricultura, cresceu a pobreza e muitos preferiram outra sorte, por isso
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Társis: região da atual Turquia, com uma população de 300 mil
habitantes à época de Paulo. Era considerada o terceiro mais
importante centro da filosofia antiga, ficando atrás somente de
Atenas e Alexandria. Por essa razão, nela circulavam diferentes
correntes de pensamento; uma cidade cosmopolita, ou seja, nela
estavam representados diferentes mundos culturais.
Jesus viveu 90% de sua existência terrena nas regiões rurais da Galileia;
não tendo condições financeiras para a obtenção de títulos nas escolas
rabínicas da Cidade Santa; Saulo era cidadão romano; Jesus, para
sobreviver, trabalhava na carpintaria ou no campo; Saulo, posteriormente,
irá elaborar todo o seu ensino tendo como pano de fundo a vida urbana;
suas ilustrações e metáforas têm origem naquilo que é próprio do seu
contexto de formação; em seus escritos, encontram-se reflexos de vistas
e cenários de Tarso de quando era ainda jovem, de ser conduzido em
“triunfo”, de jogos olímpicos, compara o “tabernáculo terrestre” desta
vida a um edifício de Deus, destaca as correntes filosóficas circulantes
nas pólis gregas; procurou também formar líderes nos grandes centros
– especialmente com a criação da Escola Paulina de Éfeso - para que
os mesmos dessem continuidade à missão de proclamar o evangelho,
principalmente entre os gentios.
22 | História do cristianismo I | FTSA
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Escola Paulina de Éfeso: Criada por Paulo, na cidade de Éfeso,
provavelmente no lugar onde funcionara anteriormente a Escola de
Tirano (At 19:9). A Escola Paulina teve três importantes funções: 1)
treinar e preparar líderes para a expansão missionária (Tito, Timóteo
e Silas são exemplos destas lideranças); produzir cópias das cartas
paulinas para envio circular a diferentes comunidades paulinas; 3)
preservar a teologia paulina, voltada aos gentios, fazendo frente às
ideias judaizantes que influenciavam o cristianismo nascente.
Exercício de fixação
Em que medida Paulo é responsável pelo êxito de introduzir a
mensagem cristã nos espaços da pólis grega e de construir elos de
aproximação entre povos e mundos tão distintos?
a) Paulo utilizou apenas a língua grega, não efetivando a passagem do
cristianismo da cultura semítica judaica para a cultura grega;
b) Uma das principais dificuldades de Paulo foi que, assim como Jesus, a
sua mensagem permaneceu tendo como pano de fundo as regiões rurais
da Galileia;
c) Paulo efetivamente conseguiu traduzir a mensagem do Cristo, o Messias
judaico, de uma cultura para outra: da cultura semítica dos judeus para a
cultura grega.
Em relação aos soldados, a guerra era uma das sinas do Império Romano,
expondo precocemente a vida dos combatentes; desse modo, uma mensagem
que falava de um mundo novo no qual não mais haveria a guerra e a violência
exercia grande fascínio sobre tais personagens e suas respectivas famílias,
que ansiavam por novos valores de preservação da vida.
Glossário
Androcentrismo: comportamentos, sociedades ou situações em
que o foco é o homem, ou que são controlados por uma perspectiva
masculina.
Exercício de reflexão
Com base no texto de João 4:1-42, no qual ocorre o diálogo de Jesus
com a mulher samaritana, os estudiosos do Novo Testamento
interpretam esta passagem como sendo uma das ações inclusivas
da pregação do Messias. Trata-se da elevação do papel feminino
na sociedade da época. Abaixo, encontra-se o recorte entre os
versos 5 a 19 deste diálogo:
26 | História do cristianismo I | FTSA
Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das
terras que Jacó dera a seu filho José. Estava ali a fonte de Jacó.
Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da
hora sexta. Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe
Jesus: Dá-me de beber.
8 Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos.
Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes
de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se
dão com os samaritanos)? Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom
de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele
te daria água viva. Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a
tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura,
maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele
mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado? Afirmou-lhe
Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que
beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a
água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais
tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la. Disse-lhe Jesus: Vai,
chama teu marido e vem cá; ao que lhe respondeu a mulher: Não
tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido;
porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu
marido; isto disseste com verdade. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo
que tu és profeta.
No ano 67, quando da perseguição movida por Nero, Paulo foi preso e
levado a Roma, onde recebera o martírio. Pelo fato de possuir cidadania
romana, este apóstolo não poderia ser crucificado (algo humilhante para
o cidadão romano), por isso deram-lhe como sentença a decapitação
(morte instantânea). A tradição conservou de forma reverente o lugar
da execução deste apóstolo, juntamente com Pedro: “Desde a mais alta
antiguidade, a igreja romana celebrou juntos os martírios de Pedro e de
Paulo no dia 29 de junho” (Comblin, 1993, p. 169,170).
Saiba mais
Santiago de Compostela:
Os Caminhos de Santiago são os percursos dos peregrinos que
afluem a Santiago de Compostela, na região noroeste da Espanha,
desde o século IX para venerar as relíquias do apóstolo Tiago, cujo
suposto sepulcro se encontra na catedral de Santiago de Compostela.
A peregrinação foi uma das mais concorridas da Europa medieval,
sendo concedida indulgência plena a quem a fizesse.
Exercício de Fixação
Com base nos conteúdos lidos e na videoaula assistida, assinale
a alternativa que indicam as opções que constituíram os motivos
pelos quais os cristãos foram perseguidos no Império Romano.
I - Negação do culto ao imperador romano.
II - A pregação cristã não interferia nas festividades religiosas, não
constituindo um motivo para perseguição.
III - O anúncio de outro reino a ser instaurado com o advento de
Jesus.
IV - A presença de pestes compreendida como falta de culto
oferecida por parte da população.
a) I, III, IV b) I, II, III c) II, III, IV
Para melhor traçar o perfil religioso aqui referido, faremos breve menção
do caso de um bispo e pastor da igreja de Roma no século III, Hipólito de
Roma (160-235). Exímio escritor e erudito, Hipólito intentara com seus
escritos recuperar para a vida da igreja a “verdadeira tradição apostólica”,
difundindo seus comentários e lembranças dos costumes legados pelos
apóstolos, mas que aos poucos vinham sendo deixados de lado.
Exercício de aplicação
Com base no conteúdo lido e na videoaula 7, que apontam algumas
características litúrgicas da igreja antiga, qual dos elementos
abaixo ainda permanece central para a maioria das igrejas cristãs
de vertente protestante:
a) Papel importante da ceia litúrgica;
b) Ausência de templos, sendo utilizadas exclusivamente casas
domésticas;
c) Demorada preparação para o batismo.
Ário dizia que o Verbo (Cristo) não era Deus, mas somente a primeira
dentre as criaturas. Alexandre, valendo-se da visão do Evangelho de
João, afirmava que o Verbo sempre tinha existido com o Pai e que,
junto com o Pai, ele também era Deus, isto é, tinham a mesma essência
divina, embora não fossem uma e a mesma pessoa. Interessante notar
que ambos os partidos tinham textos bíblicos em que se embasavam e
razões lógicas que faziam a posição do oponente parecer insustentável
(Gonzalez, 1990, p. 91).
Exercício de reflexão
Glossário
Patrística: filosofia cristã formulada pelos pais da igreja nos
primeiros cinco séculos da era cristã, buscando combater a
descrença e o paganismo por meio de uma apologética da nova
religião, calcando-se em argumentos e conceitos procedentes
da filosofia grega. Algumas das principais ênfases ou marcas
teológicas da “teologia patrística” são: as “duas naturezas de
Cristo” (humanidade e divindade); formulação da doutrina da
trindade; concílios ecumênicos (formulação dos Credos Niceno e
Calcedônio); combate às heresias do gnosticismo e da religiosidade
e cultura helênica (grega).
b) Jerônimo (347-420)
“A vida de Jerônimo é um admirável exemplo da graça de Deus operando
por meio das ambiguidades humanas” (Hall, 2000, p. 106). Possuía
uma personalidade áspera e contraditória: extremamente sensível às
críticas, capaz de atacar alguém com uma mão, e acariciar com a outra.
É geralmente reconhecido como o erudito mais eminente entre os pais.
Reconhecido tradutor da Bíblia, dos textos hebraicos e parte do NT em
grego para o Latim, uma versão que ficou conhecida como vulgata.
Seu pensamento também é rico por tocar em termos não muito usuais
na época (como a relação entre sexo, Deus e teologia), e pelo fato de
interagir com os grandes escritores de sua época e cultural. Por isso,
como afirma Hall, relacionar nossa experiência a de Jerônimo pode
abrir novos caminhos de reflexão sobre a vida cristã e o chamado ao
discipulado no século XXI.
c) Agostinho (354-430)
Um dos mais brilhantes pensadores cristãos de todos os séculos. Seu
pensamento situa-se na transição entre a antiguidade e a medievalidade.
Foi um grande “divisor de águas”, visto que influenciou todo o pensamento
teológico posterior na igreja cristã (medieval e moderna). Teve uma
trajetória longa e conflitiva, passando por diversas crenças e movimentos
(que influenciaram a formação de seu pensamento), antes de se converter
definitivamente ao cristianismo: maniqueísmo, ceticismo, astrologia,
neoplatonismo. Suas principais ênfases teológicas foram: Graça, Livre-
Exercício de aplicação
Os pais da Igreja tiveram um papel relevante para a formação e
estruturação da teologia cristã. Porém, não apenas o conteúdo,
mas a forma como fizeram teologia trouxe implicações para o fazer
teológico hoje. Dentre as características apontadas na unidade,
qual delas abaixo tem relevância atual?
a) A reflexão teológica como algo perene e imutável, isenta de
divergências.
b) A reprodução de dogmas sem considerar os conflitos da época,
pois a reflexão teológica é atemporal.
c) A matéria da reflexão é o chão da vida e sua história, e o caminho
de construção deve ser dialogal com os problemas de sua época.
Mas é preciso ponderar que, mesmo não sendo majoritário, sempre houve
um grupo que resistiu e buscou vias alternativas para preservar as origens
apostólicas da mensagem e da missão cristãs, lutando por um reino de
Deus que não se rendia ao reino do poder político e do dinheiro. A voz
profética voltada para o mundo e em favor da vida em sua integralidade,
resistiu, como o veremos em discussões subsequentes deste curso.
Exercício de fixação
Referências
ANGLIN, W.; KNIGHT, A. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Casa
Editora Evangélica, 1947.
GONZALEZ, Justo. A era dos mártires. São Paulo: Vida Nova, 1989.
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A relação entre o poder da Igreja e o poder do Império
A relação entre imperador e papa, durante o início da Idade Média,
jamais foi livre de tensão; havia quase constantemente uma
silenciosa contenda pela supremacia. Ao mesmo tempo, sabiam
que se necessitavam mutuamente. O que valia para a esfera mais
alta também valia no nível local; cada bispo ou sacerdote dependia
da boa vontade e apoio das autoridades, e todo governante local
requeria a aprovação da igreja. A dependência da igreja em relação
ao poder imperial, também no trabalho missionário, constituía
tanto uma necessidade quanto um ônus (BOSCH, David. Missão
Transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão.
São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 273)
Glossário
Exercício de aplicação
Já nos primeiros séculos começou-se a delimitar uma distinção
acentuada entre clero e laicato. Ao longo da história da igreja,
as tensões surgiram devido a esta separação. Dentre as causas
indicadas na unidade, quais características abaixo podem ser
apontadas como fatores desse processo de separação?
I) A concentração de funções nas mãos de poucos e sua
consequente distorcida legitimação teológica.
II) Uma aplicação clara das diretrizes bíblicas sob a instituição
de uma hierarquia para controle e submissão da igreja sob as
diretrizes divinas.
III) Uma deturpação de funções vinculadas ao serviço da
comunidade, fazendo do ministério ordenado um fator de distinção
e separação.
a) I e II b) I e III c) II e III
Acesse o AVA para fazer o exercício!
Outro encontro entre piedade popular e clerical está no culto dos santos
e anjos. Segundo Vauchez, a imagem de um Deus-Juiz, implacável,
onisciente e distante, que estava incutida no imaginário dos fiéis,
fazia com que o desamparo desses só aumentasse. Havia, assim,
Outra pratica que só crescia em vigor e prestígio era o culto das relíquias.
Relíquias eram os objetos, ou até supostas partes do corpo, dos santos
do passado (apóstolos, mártires), que passaram a ser veneradas ao
representarem o contato desses fiéis com o “outro mundo”, também
pelo “dinamismo benéfico” delas emanado, tornando possíveis vitórias e
curas nas mais diferentes áreas da vida. Desse modo, a espiritualidade
medieval assumia contornos cada vez mais definidos: o contato com o
sobrenatural se dava por meio de gestos, expressões da alma e sacrifícios
feitos pelos fiéis.
De acordo com Hilário Franco Jr. (2006, p. 69), estas eram produto do
sincretismo que fazia a força, mas também a fraqueza do cristianismo.
De fato, ao reunir e harmonizar componentes de várias crenças da época,
a religião cristã tornava-se mais facilmente assimilável, porém passível
de interpretações discordantes do pensamento oficial do clero cristão.
Do ponto de vista deste, heresia era, portanto, um desvio dogmático que
colocava em perigo a unidade da fé.
História do crist | FTSA | 67
Saiba mais
Importantes concílios da igreja antiga:
A forma mais usual de debate e combate às heresias foi, desde o
século II, a realização de grandes concílios ecumênicos (universais),
como os de Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e
Calcedônia (451). Porém, com o estabelecimento da cristandade
a partir da Idade Média, foi necessário, em certos momentos, fazer
“vistas grossas” frente a rebelião de crenças populares que se
uniram ao catolicismo.
Nesse tempo, a vida litúrgica toma lugar crescente na vida dos fiéis. Os
paramentos da missa evoluem e, com a constante clericalização, há uma
exclusão dos fiéis da comunhão, que se evidenciava por diversas razões
práticas (Vauchez, 1995, p. 16-17):
• Primeiro, o culto e seus ritos tornaram-se um “apanágio de
especialistas”;
Glossário
Magia: prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso
dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da
intervenção de seres sobrenaturais e da manipulação de algum
princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio
de fórmulas rituais ou de ações simbólicas.
Considerações finais
Retomando de maneira breve o conteúdo das duas últimas unidades,
dada sua interligação: vimos, em primeiro lugar, que o desenvolvimento
do papado foi extremamente relevante para o fortalecimento institucional
do cristianismo em meio a um império em ruínas e as facetas de um novo
mundo (medieval), cheio de “armadilhas” e desafios, que requereria novas
posturas e adaptações por parte da igreja. Em um segundo momento,
a clericalização dos ministérios e a exclusão do povo de Deus à mera
passividade (pelo menos em tese) foi outra forma que a igreja encontrou
para se articular e se firmar frente às mudanças políticas e sociais na
Idade Média.
Exercício de reflexão
Referências
BOUREAU, Alain. Fé. In: LE GOFF, J. & SCHIMITT, J. C. Dicionário Temático
do Ocidente Medieval. Vol. 1. São Paulo: EDUSC, 2002.
Introdução
Nos próximos tópicos, vamos estudar outro fenômeno religioso
importante da Idade Média: o monasticismo. Buscamos compreender,
em linhas gerais, o que se entende por monasticismo? Onde ele surgiu
e com que proposta? Em que medida ele se diferenciava do modelo de
igreja vigente, e/ou em que medida apenas lhe servia de apoio? Quais
são os desdobramentos possíveis desse movimento? Em que medida
o monasticismo pode ser considerado um “agente missionário” durante
esse período? Que tipo de influência exerceu na história do cristianismo,
não apenas na Idade Média, mas também em seu futuro? Em linhas
gerais, compreender o que foi o monasticismo, suas principais correntes e
influências no mundo medieval; entender em que medida o monasticismo
pode ser considerado um “agente missionário” durante esse período.
Neste aspecto, cabe destacar seu papel voltado à integralidade da missão:
cuidado social de desvalidos, doentes, órfãos, idosos e viúvas; trabalho
educacional oferecido a quem não podia pagar por ele; produção de livros
e formação de bibliotecas, assegurando a preservação e transmissão
de conhecimentos e saberes às gerações futuras; o conhecimento de
plantas, responsável por assegurar tratamento e cura das vítimas mais
expostas a um tempo de epidemias coletivas, salvando assim os que se
encontravam mais alijados do amparo social.
Também veremos sobre o Islamismo. Este tem sido, nos dias atuais,
assunto recorrente nos meios de comunicação, assim como tema cada
vez mais desafiador nos campos de estudo que tratam do cenário religioso
contemporâneo. O movimento islâmico tem suas raízes históricas na
Idade Média, sendo, já em sua gênese, protagonista de tensões e embates
envolvendo cristianismo e judaísmo, especialmente pelas disputas e
controle de territórios sagrados. Objetivamos conhecer o surgimento do
Islamismo; analisar a relação do Islã com o cristianismo e o judaísmo
História do crist | FTSA | 77
no contexto medieval; trazer reflexões para o cenário religioso atual que
envolve as religiões monoteístas.
Veremos por que uma reforma passou a ser vista como necessária na
Igreja, ainda no período medieval, culminando na ruptura protestante
configurada no século XVI? Por que muitos cristãos, por diferentes
motivos, especialmente a partir do século X, passaram a ver a necessidade
de reforma? Buscaremos conhecer os motivos que levaram cristãos
em diferentes momentos e lugares do contexto medieval a desejarem
uma reforma na igreja; identificar e caracterizar alguns dos aspectos
teológico-doutrinários que são vistos como preponderantes para a busca
por reformas; estabelecer noções preparatórias para compreensão dos
movimentos denominados de “pré-reformadores” no período medieval, a
serem analisados na próxima unidade. Diante disto, ainda analisar: O que
foram os chamados movimentos pré-reformadores e por que assim são
denominados? Qual a importância deles nesse período de transição? No
que de fato avançaram em relação ao status quo religioso de seu tempo?
Começamos a estudar aqui um período importante na história da igreja,
pois os personagens e acontecimentos desse período precederam e
abriram passagem para aquilo que tempos depois se passou a denominar
Reforma Protestante.
Foi a partir daí que começou então a se preocupar com as crenças do seu
povo, fato que o levava a se retirar sistematicamente para as montanhas
nas proximidades de Meca, onde, por volta do ano 610, afirmara ter
tido visões e audições nas quais ouvia a voz de Deus e via o arcanjo
Gabriel. Passou a estar convicto de ser um escolhido de Deus (nome
que em árabe significa Alá) para ser o profeta que iria reconduzir o seu
povo à verdadeira fé no verdadeiro Deus. Suas primeiras pregações, em
que descrevia em cores vivas o fim do mundo, os castigos do inferno e
as alegrias do paraíso, não obtiveram muito êxito. Conflitos de ordem
econômica levaram-no a fugir para Medina, em 622, onde viria a conquistar
muitos seguidores. Como um líder messiânico, acreditava ser o escolhido
para restaurar a verdadeira religião de Abraão; objetivava aperfeiçoar o
Judaísmo e Cristianismo, nos quais via distorções. Tornou-se ferrenho
adversário dos judeus quando estes rejeitaram suas pregações. Por
ocasião da sua morte, em 632, Meca já havia sido por ele conquistada
tornando-se a cidade sagrada do Islã e quase toda a Arábia já seguia
seus ensinamentos. O Alcorão (ou Corão), que registra seus ensinos e
revelações, veio a ser escrito algum tempo depois, tornando-se a verdade
absoluta a ser obedecida e o fundamento do Islamismo (“islã” significa
“submissão à vontade de Deus”).
História do crist | FTSA | 83
Glossário
Monoteísmo: Fé professada em um único Deus.
Alá: Palavra árabe que significa “Deus”.
Alcorão (ou Corão): Termo da língua árabe Al-qurã, que significa “A
leitura” (leitura sagrada).
Islã (Islamismo): Significa “submissão à vontade de Alá”.
Israelenses: Judeus que atualmente vivem no Estado de Israel (na
Palestina).
Muçulmano: Vocábulo do árabe Muslim, que significa “aquele que
se entrega ao Islã”.
Palestina: Região geográfica da Ásia, atualmente ocupada por
judeus, cristãos e muçulmanos.
Palestino: Termo usado para identificar os muçulmanos que
atualmente vivem na Palestina.
Com o controle das regiões que haviam sido o berço da fé cristã, a partir
do século VIII, cristãos e judeus passaram a ter cada vez mais dificuldades
para realizarem peregrinações à Terra Santa. Por isso, a partir do século
XI, os cristãos passaram a organizar movimentos conhecidos como
“Cruzadas”, que duraram dois séculos (1096-1291), visando a libertação
daqueles territórios. A organização da primeira cruzada se deu no ano de
1096, por convocação do Papa Urbano II. Foi constituída por um exército
de cristãos que totalizou 20 mil homens e mulheres, os quais marcharam
para Jerusalém, em uma caminhada que durou mais de dois anos. O
historiador Martin Dreher descreve os episódios e as mobilizações que
marcaram algumas das cruzadas:
Assista ao vídeo:
a. ( ) I e II estão corretas
Henri Nouwen (2004, p. 12-13) relata que a fuga para o deserto era o meio
de evitar a tentadora conformidade ao mundo. Antão, Agatão, Macário,
Poemen, Teodora, Sara e Sinclética foram líderes espirituais no deserto.
Ali se tornaram um novo tipo de mártires: testemunhas contra os poderes
destrutivos do mal, testemunhas do poder salvífico de Jesus Cristo. Desta
forma, seu objetivo principal era: viver sempre em pureza e morrer em paz!
Não restam dúvidas de que a Idade Média foi um período em que a igreja
e os cristãos se viram envoltos em uma série de problemas das mais
diversas ordens, como já vimos até aqui. E talvez esses problemas (e os
julgamentos a eles correspondentes) sejam muito mais evidentes para
nós, mesmo enxergando a séculos de distância, que para os cristãos
daquela época. A avaliação sobre este contexto, não pode ser de todo
negativa, como ressalta Bosch:
História do crist | FTSA | 97
Havia algo errado com a ideia de tentar criar uma
civilização cristã, de moldar as leis de acordo com o
ensinamento bíblico, de submeter reis e imperadores à
obrigação explícita do discipulado cristão? É indubitável
que o paradigma analisado neste capítulo tem seu
lado obscuro, mas ele também ofereceu contribuições
positivas. Além disso, precisa-se entender que era lógico
as coisas se desenvolverem dessa maneira após a
vitória de Constantino; ademais, era inevitável, dadas
as circunstâncias, que assim evoluíssem. Portanto,
ao criticarmos nossos antecedentes espirituais, e o
fazemos incansavelmente, lembremos que não nos
teríamos havido melhor que eles (2002, p. 291).
Exercício de Fixação
Diante desse quadro, alguns dos fatores podem ser destacados como
preponderantes para um anseio por mudanças ou reformas, que prepararam,
inclusive, o advento da Reforma Protestante do século XVI.
Exercício de Fixação
Considere o texto a seguir:
“No contexto da Idade Média as relíquias sagradas tornaram-
se fetiches milagrosos, tidos como dotados do poder de curar
enfermidades e proteger contra perigos; atribuía-se igualmente uma
eficácia miraculosa às imagens. A representação de são Cristóvão, que
com tanta frequência ornamentava as paredes das igrejas das aldeias
inglesas, supostamente concedia um dia de imunidade à doença ou à
morte a todos os que a fitassem” (Proença, 2019).
Este trecho permite considerar o estilo de igreja do período
medieval, inclusive sendo motivo para a necessidade de reformas
doutrinárias. A partir disto, é correto afirmar:
a) ( ) que a eclesiologia medieval, fundamentada na liturgia ritualista
ficava distante do povo, a ponto de o poder de curar pessoas já não
existia mais;
b) ( ) que o estilo de vida cristão do período medieval proporcionava
a busca pela espiritualidade transcendente e, sendo assim, não
havia necessidade de ir até a igreja local para cultuar a Deus;
c) ( ) que devido à busca pela prática religiosa, os fiéis entendiam
a força miraculosa e mágica dos objetos que pertenceram aos
líderes e personagens bíblicos;
d) ( ) que a teologia da igreja medieval era pautada em
conhecimentos científicos e, por isto, a espiritualidade foi
racionalista e politicamente ativa;
3.2.2. Os Valdenses
Em 1176, Pedro Valdo, um rico comerciante de Lyon perguntou a um
mestre de teologia: “Qual o melhor caminho para Deus?”. O mestre, por
sua vez, citou-lhe um venerado texto monástico: “Se queres ser perfeito,
vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu”. Valdo
obedeceu ao “chamado”. Vendeu tudo que tinha, deixando uma quantia
razoável para sua mulher e filhos, e o restante doou aos pobres.
3.2.3. Os Dominicanos
Na mesma atmosfera de “pobreza apostólica” e literal cumprimento dos
mandamentos de Cristo, surge a ordem dos dominicanos. Foi fundada
por Domingos (1170-1221).
3.2.4. Os Franciscanos
Se grande foi o prestígio dos dominicanos, maior ainda talvez tenha sido
a honra e aceitação popular alcançada pelos franciscanos e, de modo
especial, pelo seu fundador Francisco (1182-1226).
Ele não era monge, nem clérigo; era um leigo, que fazia questão de assim
permanecer para evangelizar os leigos abandonados pastoralmente, em
especial, os pobres (Boff, 2002, p. 136).
Uma de suas petições mais frequentes era para que: “No nosso gênero
de vida, ninguém seja prior, mas todos sejam designados indistintamente
como irmãos menores e se lavem os pés uns dos outros” (apud Boff, 2002,
p. 141). Sua contestação se firmava principalmente contra as formas de
poder e controle clerical, e contra as riquezas e benesses usurpadas pela
igreja, em sua associação com os poderes seculares.
Glossário
Prior: No contexto da Idade Média, prior designava o chefe, o
comandante ou, literalmente, “aquele que está à frente” de uma
organização religiosa ou militar. No caso da Igreja, o prior era um
padre, e o conjunto de seus domínios era chamado de priorado.
Respeitou até a morte esse princípio. Tanto que em seu leito de morte
recomendou: “Conservar a pobreza e a fidelidade à Igreja romana, mas
pondo acima de todas as normas o santo evangelho”. Ou seja, para
Francisco era importante a persistência na igreja e obediência a seus
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líderes. Mas, acima de qualquer estrutura temporal, religiosa, política e
ideológica, estava a submissão ao Evangelho. Ele seguia os vestígios da madre
igreja, mas, principalmente, os vestígios de Jesus Cristo e do Evangelho.
Glossário
Lolardos: terminologia que significa “cantores”; ou “perseguidos”.
Mas também é verdade que todos foram homens e mulheres (visto que
alguns movimentos, como o dos franciscanos, acolheram mulheres)
de seu tempo, atendendo a demandas muito peculiares. E, como tais,
tiveram suas limitações, que nos impedem de os associar diretamente à
Reforma do século XVI. Indiretamente, porém, plantou-se uma semente,
preparou-se um terreno.
Exercício de reflexão
Considerações finais
Diante de um quadro religioso e teológico que não mais se fundamentavam
nas escrituras bíblicas como única regra de fé e prática, surgiram
movimentos de reforma dentro da própria igreja medieval, antes mesmo
da Reforma Protestante que viria a ocorrer no século XVI.
Referências
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DREHER, Martin N. A Igreja no mundo medieval. S. Leopoldo: Sinodal, 1994.
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VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média Ocidental. Séculos VIII a
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