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BANQUETE
Uma história ilustrada da culinária,
dos costumes e da fartura à mesa
Tradução:
Sergio Goes de Paula
com a colaboração de Viviane De Lamare
Título original:
Feast
(A history of grand eating)
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Strong, Roy C.
S916b Banquete: uma história ilustrada da culinária dos costumes e da
fartura à mesa / Roy Strong; tradução, Sergio Goes de Paula; com
a colaboração de Viviane De Lamare. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2004
il.;
Tradução de: Feast: (a history of grand eating)
Apêndice
ISBN: 85-7110-818-8
1. Banquetes – História. 2. Hábitos alimentares – História. I. Título.
CDD 394.1
04-2325 CDU 394.1
Sumário
Prefácio 7
1. CONVIVIUM: EM ROMA... 11
A herança grega 15
A idade de Apício 23
Cena e convivium 28
Banquetes públicos e banquetes imperiais 38
Desintegração e sobrevivência 40
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banquete
tempos esse tópico aparecia nas exposições. Em 1970 minha esposa, a designer
Julia Trevelyan Oman, projetou uma exposição sobre Samuel Pepys na National
Portrait Gallery, onde recriou a mesa de jantar completa de Pepys, inclusive com
uma torta de carne de caça. Em meu último ano como diretor do V&A pensei em
fazer uma grande exposição sobre o tema, e lembro-me de ter tido o privilégio
de discutir o assunto com Elizabeth David e Jane Grigson, também já falecidas.
Infelizmente após o meu afastamento o projeto foi esquecido.
Mas na década de 1990 comecei a perceber um interesse cada vez maior
pelo assunto. Houve uma esplêndida exposição em Versalhes sobre as mesas
reais da Europa no século XVIII, outra sobre tema semelhante dedicada à corte
dinamarquesa (que foi remontada em Kensington Palace), sem falar nas exposi-
ções inovadoras e pioneiras no Bowes Museum, no Barnard Castle e em Farfaix
House, em York. Nessa época comecei a escrever uma série de artigos a respeito
da história da culinária para a revista Country Life.
Tudo isso me traz a este livro, que nasceu da percepção de que não há qual-
quer literatura que resuma o enorme volume de trabalhos acadêmicos sobre comida
e festejos publicados nos últimos anos por dúzias de historiadores de diferentes
países. As informações reunidas nestas páginas estão contidas em centenas de
artigos especializados, principalmente em francês, italiano e inglês, apresentados
em conferências e colóquios nas duas últimas décadas. A probabilidade de que o
leitor comum pesquise e leia esse material é muito remota, e no entanto o tema
tem um apelo universal.
O problema básico é que os trabalhos acadêmicos tendem a ser comparti-
mentados, tratando de aspectos particulares do que ocorreu na história em torno
da mesa, e não do fenômeno como um todo. Afinal, o tema abarca não apenas
a culinária, mas também etiqueta, mobiliário, tecidos, cerâmica, vidro, metal, ar-
quitetura, decoração e música, para mencionar apenas uma parte. Tentei reunir
aqui informações sobre todos esses campos díspares — e muitas vezes obscuros.
É preciso admitir que alguns aspectos da pesquisa receberam maior atenção dos
estudiosos. O symposion grego, a festa medieval e o banquete renascentista, por
exemplo, deram origem a pequenas indústrias acadêmicas.
Comer é um tópico que com muita facilidade pode se fragmentar e seguir em
várias direções. Portanto vale a pena traçar os limites deste livro. Seu foco básico
é a mesa e a principal refeição do dia. Cada período apresenta o que podemos
considerar uma refeição arquetípica da época. Assim, os capítulos têm início com a
descrição dessa refeição e analisam as forças políticas, sociais e de outras naturezas
que a moldaram. Embora eu trate do desenvolvimento da culinária, em geral não
me refiro à produção e à oferta de alimentos, nem tampouco ao desenvolvimento
da cozinha e dos métodos de cozinhar, limitando-me ao necessário para explicar
a refeição apresentada à mesa. Hoje existem inúmeros livros sobre a história da
culinária, com reinterpretações de receitas de todos os períodos para os cozinheiros
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prefácio
atuais. Não procure nada disso aqui. A escolha da palavra “banquete” no título
mostra que nosso interesse básico é a culinária das classes altas. Porém, como o
poder transita na sociedade, uma parte bastante representativa do povo aparece
exatamente na época em que o livro termina, em 1914. Trata-se portanto da
história vista de cima, um pouco fora de moda nos dias de hoje, mas central para
um dos temas deste livro: a interconexão entre o que ocorre na mesa e aquilo
que se transforma em termos de poder e classe.
Escrever este livro me trouxe de volta ao Warburg Institute, uma grande
instituição que me ensinou a pensar e a defender a idéia de que um espírito
educado pode voltar-se na direção que desejar. Como Frances Yates sempre me
dizia: “Você tem uma mente educada. Pegue o livro na estante e leia.” E foi exa-
tamente o que fiz. Em seguida vem o principal esteio de muitos de meus livros,
a Biblioteca de Londres. Sou mais do que grato a Guy Penman e a seus colegas,
que atenderam com prazer às minhas muitas requisições de empréstimos entre
bibliotecas. E também ao responsável pela edição de texto, Charles Elliott, capaz
de tolerar um autor com o hábito de começar pelo capítulo três e só escrever os
capítulos um e dois ao final. Quero expressar minha gratidão a Richard Barber
no que diz respeito ao período medieval, e ao professor Ken Albala, que leu todo
o texto e fez várias sugestões úteis. Quaisquer erros, claro, são meus. Mais uma
vez agradeço a Juliet Brightmore por reunir as ilustrações para o livro. Gostaria de
mencionar minha agente, Felicity Bryan, que tem uma noção muito clara da direção
que minha pena deve tomar. Finalmente agradeço a inspiração e o entusiasmo
de meus editores, Will Sulkin e seu colega Jörg Hensgen. A despeito de todas as
pressões que caracterizam seu campo de trabalho hoje, continuam lutando para
manter viva a tradição, muitas vezes ausente, de agradar aos criadores. Afinal de
contas, não haveria livros se não houvesse autores.
ROY STRONG
The Laskett, Much Birch, Herefordshire
setembro de 2001
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Banquete romano, de um afresco em Pompéia. Um escravo tira a sandália de um convidado
enquanto outro lhe oferece bebida. Um convidado, muito bêbado, é levado para fora.
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Convivium: em Roma...
11
banquete
Segue-se um novo excesso: as mãos dos convidados não são lavadas com água,
mas com vinho, por dois etíopes de cabelos compridos. Surgem jarras de vidro
com vinho de Falerno de “cem anos de idade”. Ocorre então uma coisa estranha:
um escravo traz um esqueleto de prata, e Trimálquio arruma-o à mesa numa
série de posições diferentes. O primeiro prato da cena propriamente dita é uma
travessa circular com iguarias para cada signo do Zodíaco — rins para Gêmeos,
carne para Touro, grão-de-bico para Capricórnio, e assim por diante. No centro,
um quadrado de turfa sustenta um favo de mel. Um escravo egípcio serve pão,
aparentemente ainda cantando, pois Trimálquio o acompanha “com uma canção
estridente”. Encólpio e Ascilto, que são aristocratas e todo o tempo zombam
da vulgaridade de tudo, lamentam a perspectiva de terem de se alimentar com
comida plebéia. Mas subitamente quatro escravos dão um salto e revelam que
o Zodíaco é apenas uma tampa, que eles abrem:
Vimos aí galinhas, úberes de porcas e no centro uma lebre com asas, um verdadeiro
Pégaso. Vimos também quatro representações de Marsias nos cantos do prato; de
seus odres perfurados jorrava vinho sobre os peixes que, por assim dizer, nadavam
num canal.
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CONVIVIUM: em roma...
... uma bandeja com um poderoso javali, usando o boné da liberdade. De seus dentes
pendiam duas pequenas cestas de folhas de palmeira, uma cheia de tâmaras frescas
e a outra com a variedade egípcia seca. O javali estava cercado de porquinhos feitos
de massa, amontoados em suas tetas...
* Sala de refeições com três leitos inclinados dispostos em redor de uma mesa. (N.T.)
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banquete
14
CONVIVIUM: em roma...
refeição e tudo o que a ela se ligava era, e em larga medida ainda é, um veículo
determinante de status e hierarquia — e também aspiração —, qualquer que seja
o padrão dominante da sociedade. Isso era bem claro na época da Cena Trimal-
chionis, quando já tinha alcançado uma forma de expressão muito sofisticada. No
entanto, constituía uma tradição que os romanos haviam tomado dos gregos e,
antes deles, das antigas civilizações do Oriente Próximo. É com estas culturas mais
antigas que devemos começar.
A HERANÇA GREGA
15
banquete
Quanto a mim, digo que não existe alegria mais completa do que o povo tomado de
contentamento, e os comensais nos salões, sentados na ordem estabelecida, escutando
um menestrel, à sua frente as mesas supridas com pão e carne, o vinho despejado
dos vasos e servido nos copos em várias rodadas. Isso parece, para meu espírito, a
mais bela coisa que existe.3
16
CONVIVIUM: em roma...
O pouco que sabemos sobre a culinária grega vem de uma obra de Ateneu de
Naucratis, no Egito, intitulada Os Deipnosofistas (O banquete dos sofistas). Foi
provavelmente concluída no ano seguinte à morte do imperador Cômodo, em
192 d.C. Inclui 15 livros e tem a forma de uma série de conversas ficcionais que
aconteciam durante os jantares em Roma, onde eram discutidos inúmeros tópicos,
inclusive gastronomia na Grécia Antiga. Graças ao hábito do autor de incorporar
grandes trechos dos escritos de outras pessoas, Os Deipnosofistas nos dá muitas
informações sobre uma época que de outro modo estaria envolta em obscuridade.
Em particular, incorpora passagens do mais antigo autor que se conhece sobre
comida e culinária, Arquestrato, um grego nascido na Sicília no século IV a.C.
A gastronomia grega desenvolveu-se a partir da prática do sacrifício. A carne,
como já observei, era relativamente escassa e disponível principalmente após o
sacrifício de um animal doméstico aos deuses. Em tais ocasiões, era dividida em
porções iguais e assada. (O fato de ser dividida em porções iguais e distribuída
por sorteio significava que não existia a profissão de açougueiro. Mas a paixão dos
gregos, certamente a dos atenienses, eram os frutos do mar, que, como não faziam
parte do ritual religioso, eram uma comida totalmente profana.) Com a invenção
do fundamento da gastronomia — o caldeirão —, a carne ou o peixe podiam ser
cozidos ou guisados. Então os mais sofisticados começaram a adicionar outros
ingredientes à panela, como sal para intensificar o gosto, ou mel para adoçar, ou
a fragrância de ervas e especiarias. Desta maneira nasceu a arte culinária, que, no
caso dos gregos, rapidamente se tornou bastante sofisticada. O texto de Ateneu
contém nada menos que 30 referências a livros de cozinha gregos, sendo que o
primeiro pode ser datado do século V a.C. Grande parte das habilidades culinárias
que registra parece ter chegado à Grécia com cozinheiros da Sicília, nos séculos IV
e III. Também nesse período o comércio de vinho havia se desenvolvido comple-
tamente, com diferenças geográficas já reconhecidas. A culinária de então incluía
um grande número de pratos de carne e de peixe bastante complexos, bem como
um repertório de biscoitos, pães e bolos.
O objetivo era alcançar um equilíbrio entre o doce e o amargo, entre o ácido
e os sabores bastante fora do comum. Isso envolvia o uso de um vasto conjunto
de ervas e especiarias frescas ou desidratadas, juntamente com mel e vinagre, e
um ingrediente que também seria básico nas cozinhas subseqüentes de Roma e
de Bizâncio — o molho de peixe chamado garos em grego, e garum em latim.5 No
garos o peixe era misturado com sal, fermentava por até três meses, depois era
coado, e o líquido engarrafado. Desde tempos remotos sua produção já era feita
segundo uma linha de montagem.
Apenas alguns fragmentos desses livros de culinária do século V e IV sobre-
viveram, mas eles deixam claro que ao final do século V a.C. a civilização grega
havia dado nascimento a uma literatura completa e interconectada, englobando
dieta, saúde, exercício e higiene, bem como culinária. Além do mais, os gregos
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banquete
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CONVIVIUM: em roma...
Jantar na Grécia Antiga. A comida está na mesa do comensal, e ele pede bebida.
Pintura de vaso, c.480 a.C.
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banquete
Até aqui apenas esbocei o papel da refeição na sociedade grega. Seu significado
interno era profundo e fundamental para a operação da pólis.10 Na Grécia antiga,
comer e beber em conjunto eram expressões de igualdade — igualdade entre
membros de um grupo distinto que partilhava os mesmos valores e também o
poder político. Tanto na fase oligárquica como na democrática, as cidades gregas
eram governadas por círculos maiores ou menores, compostos exclusivamente
por cidadãos masculinos. Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não tinham
lugar nesse esquema. Dentro da estrutura de poder, o banquete cívico surgiu
numa data remota, como uma forte expressão comunitária da unidade entre os
cidadãos da pólis. Esse acontecimento tinha como elemento central um sacrifício
sangrento feito para os deuses, após o qual a carne era dividida igualmente entre
os cidadãos, cozida e comida em conjunto. A admissão no banquete garantia a
cidadania, e embora a festividade assumisse a natureza de uma liturgia de Estado,
era extremamente agradável para os que nela tomavam parte. Realmente ninguém,
até o advento dos moralistas clássicos e mais tarde dos primeiros pais da Igreja,
escreveu uma única palavra de condenação. Os banquetes cívicos eram vistos
como uma necessidade, um meio de sustentação da ordem política da cidade-
estado. Portanto, comer em conjunto tornou-se uma atividade tão importante das
classes governantes que em Atenas, c.480-460 a.C., foi construído um edifício
especial onde a comissão formada pelos 58 governantes da cidade comia junto
todos os dias.
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CONVIVIUM: em roma...
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banquete
Cena de symposion com meninos escravos servindo os convidados. Pintura de vaso, c.420 a.C.
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CONVIVIUM: em roma...
A IDADE DE APÍCIO
A dieta romana também era mediterrânea, mas com uma diferença.14 Enquanto a
base da culinária grega havia sido o mar, os romanos olhavam para a terra, e sua
atitude em relação à comida e ao ato de comer era dominada por uma dualidade.
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banquete
... estas são as variedades e os nomes das iguarias que ultrapassam todas as outras,
que uma goela sem fundo caçou e que Varro analisou em sua sátira, com os lugares
onde são encontradas: pavão de Samos, pica-pau da Frígia, garças de Média, cabritos
de Ambrácia, ostras de Tarento, amêijoas da Sicília, peixe-espada de Rodes, lúcio de
Cilícia, nozes de Tassos, tâmaras do Egito, bolotas de carvalho da Espanha.15
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banquete
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CONVIVIUM: em roma...
receberam seu nome, em sua homenagem. Sabemos que Apício escreveu dois
livros de receitas que não sobreviveram e que fundou uma escola de culinária. É
compreensível, portanto, que seu nome seja ligado ao De re coquinaria.
Essa coleção de receitas chegou até nós, em sua maior parte através de dois
manuscritos do século IX, um deles escrito em Tours, entre 844 e 851, e o outro
em Fulda, no mesmo século. Ambos remontam a outros anteriores, perdidos, e o
que restou está longe de ser completo. Há pouquíssimas receitas de pratos doces
e nenhuma de pastelaria, e ambos são aspectos essenciais da cozinha romana.
Aos dois manuscritos deve-se acrescentar um terceiro, com muito menos receitas,
compilado por um certo Vinidário, um ostrogodo que viveu no norte da Itália no
começo do século V. A cópia existente desta versão foi escrita no século VIII. O
latim de Apício sugere que o original data de uma fonte do final do século IV ou V,
embora já tenha sido situado até no século III.
De re coquinaria contém 470 receitas no total, divididas em 11 livros com
títulos como “O jardineiro”, “Sobre os pássaros” e “O mar”. Como a maioria dos
livros de receitas, é uma compilação e recorre a uma tradição que se estende
por séculos, até a culinária da Grécia clássica. O livro 10, “O pescador”, que fala
principalmente de molhos de peixe, é tão diferente dos livros de 1 a 8 que pare-
ce constituir uma versão romana para um tratado grego sobre molhos de peixe
(Ateneu informa que havia muitos). Certas receitas tinham claramente em vista
um grupo específico de usuários, como fazendeiros que desejavam aprender como
conservar alimentos. Havia também um núcleo de receitas derivadas de fontes
médicas. No geral, o quadro apresentado não é, de maneira alguma, de excessos,
embora inclua o infame arganaz recheado. Até hoje Apício continua sendo um
documento confiante e alegre, de leitura agradável.
O livro parte do pressuposto de que tudo dava uma enorme trabalheira.
Galinhas, caças e animais domésticos eram principalmente recheados e semi-co-
zidos, e então mergulhados em molho, para serem lentamente impregnados por
ele. Os sucos da carne cozida eram engrossados com amido ou farinha de trigo,
ragu com ovo, miolo de pão ou farelo de pastéis. O que Apício revela é que, a
despeito de sua preferência teórica pela simplicidade, os romanos não gostavam
de ingrediente algum em sua forma pura. Não há quase receita sem um molho
que mude de modo radical o gosto dos principais ingredientes.
O objetivo dos molhos variava. Podiam disfarçar ou aumentar o sabor, colorir
ou descolorir, adoçar ou azedar, engrossar ou afinar a mistura. Molhos doces predo-
minavam nos pratos de carne; agridoces nos de peixe. Um único prato podia exigir
até dez ervas e temperos diferentes, enquanto 90% das receitas pediam caras espe-
ciarias importadas. Como no caso dos gregos, a pimenta encabeçava a lista, seguida
de canela, gengibre, noz-moscada e cravo vindos da Índia, Ceilão, baía de Bengala
e China. Essa obsessão por especiarias importadas seria na verdade o maior legado
romano à Idade Média. Sabe-se que Apício era lido na corte de Carlos Magno.
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banquete
CENA E CONVIVIUM
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CONVIVIUM: em roma...
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banquete
quem tinha uma posição senatorial ou militar, ou quem era conselheiro local ou
magistrado, desfrutava uma posição que os que eram apenas ricos não alcançavam.31
O imperador Augusto oferecia os chamados cenae rectae (jantares formais) “com
atenção estrita à posição social e aos indivíduos”. Os romanos eram obcecados por
hierarquia, profundamente preocupados com conceitos como dignitas e existimatio,
liberalitas e munificentia, todos virtudes patrícias. O imperador Domiciano pode ter
convidado diferentes ordines (categorias) a seus cenae rectae e até a seus cenae publicae
(banquetes oficiais), mas é claro que havia uma rígida segregação de convidados em
termos de posição, e também uma distinção no que era servido à mesa. Mesmo
antes do final da era republicana ofereciam-se pratos diversificados a convidados de
diferentes categorias.32 Quando Cícero recebeu Júlio César em Puteoli durante a
Saturnália de 45 a.C., os convivas jantaram em três mesas separadas. Todos comeram
bem, mas os convivas da segunda e da terceira mesas não tão bem como os da pri-
meira.33 Plínio é mordaz quanto a esse comportamento e envia uma descrição de um
jantar como um “exemplo de alerta” a um jovem amigo: “Os melhores pratos eram
postos diante dele mesmo e de alguns escolhidos, e comida barata diante do resto
do grupo. Até mesmo pôs vinho em garrafas pequenas, divididas em três categorias.
... Um lote destinado a ele e a nós, outro aos menos amigos (todos os seus amigos
são classificados em categorias) e um terceiro aos seus e aos nossos libertos.”34
A organização de uma festa era calculada, mas ainda assim o resultado tor-
nava-se imprevisível. Homens de posição superior, por exemplo, não hesitavam
em aparecer com um amigo que não estava na lista de convidados. Também
havia sempre um punhado de pessoas convidadas para preencher as ausências,
as chamadas umbrae (sombras). Dependentes ou clientes, como eram chamados,
compareciam como hóspedes pagos.
Em jantares opulentos a diferença de alimentos de uma mesa para outra podia
ser bem considerável. Marcial fala da angústia de um convidado rebaixado:
Já que não sou mais convidado a jantar por um preço, como antes [isto é, como con-
vidado pago], por que não ganho o mesmo que você? Você ganha ostras engordadas
no poço de Lucrine, eu corto a boca chupando um marisco. Você ganha cogumelos
frescos, eu ganho cogumelos de porcos. Você se serve de linguado, eu de brema.
Uma rola dourada enche o seu prato com seu traseiro descomunal, e a mim servem
uma pega que morreu na gaiola.35
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CONVIVIUM: em roma...
exército de escravos à disposição de cada um. Uma única casa chegava a ter 400
escravos, e um convivium podia exigir os serviços de cada um deles.36 O cardápio
muitas vezes era escolhido por um escravo liberto, um obsonator, que conhecia
tanto o gosto de seu senhor como o dos convidados. Escravos conhecidos como
nomenclatores organizavam e entregavam presentes aos convidados quando eles
partiam. O vocator ficava de olho na equipe durante o evento e provavelmente
também supervisionava os escravos da sala de jantar. A equipe incluía os ministri
ou pueri a cyatho, escolhidos por sua bela aparência, que tinham permissão de
manter os cabelos compridos. Esplendidamente vestidos, sua tarefa era servir vinho
e cortar a comida em pedaços que coubessem na boca. (Criados particularmente
bonitos também podiam ser empregados para satisfazer as necessidades sexuais
dos comensais.) Um escravo especialmente treinado atuava como trinchante ou
structor. Numa posição inferior vinham os scoparii, de cabeça raspada e roupa
grosseira, que limpavam o chão.
Os escravos viam tudo, mas exigia-se deles que se mantivessem em silêncio.
Eram subalimentados, reprimidos e sujeitos à mais brutal repressão pela mais leve
falta. Por duas vezes no banquete de Trimálquio ocorreram ameaças de castigos
selvagens. Esta era a norma. Se o assado estava malpassado ou se o peixe estava
mal temperado, o cozinheiro (que na verdade tinha uma posição bastante alta na
hierarquia dos escravos) podia ser despido e espancado. Qualquer escravo que
roubasse ou destruísse um objeto de valor era morto, mutilado ou acorrentado.
A crueldade da época é exemplificada no famoso caso de uma cena dada por
P. Vedio Pólio, amigo do imperador Augusto, durante a qual um escanção que
quebrou uma taça de cristal teve as mãos cortadas e penduradas no pescoço.
Depois foi obrigado a desfilar entre os comensais antes de ser jogado para as
lampreias num poço.
O cenário da cena ou convivium era o triclinium.37 No início do período
romano as refeições eram servidas no atrium, e mais tarde numa sala chamada
cenaculum; mas quando veio a moda de comer reclinado, foi desenvolvida essa
sala especial. Muitos triclinia sobrevivem nas ruínas de Pompéia e Herculano. As
salas eram projetadas para três divãs, cada um deles acomodando três comensais
em volta de uma mesa central redonda ou retangular. Nas grandes casas e vilas
podia haver vários triclinia, uns mais quentes para o inverno e outros situados de
maneira a aproveitar as frescas brisas e a sombra do verão. Alguns eram feitos
para jantares ao ar livre nos jardins.
31
banquete
Planta de um triclinium
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CONVIVIUM: em roma...
No atrium de toda casa romana havia um altar para os deuses, os lares; num
determinado momento da cena os deuses eram carregados e colocados na mesa.
As naturezas-mortas que aparecem com destaque nas paredes de tantos triclinia
em Pompéia e Herculano são na verdade alimentos para os mortos. Não que isso
fosse uma barreira para as festividades. Ali também se encontram conselhos fran-
cos e diretos que sugerem tudo, menos melancolia: “Poupe a mulher do vizinho
de olhares lascivos e requebros amorosos, e deixe que a modéstia viva em sua
boca”; “Seja amigável e evite bravatas raivosas, se puder. Se não, deixe que seus
passos o levem de volta para casa”.40
Ao chegar a um jantar, o conviva tirava as sandálias ou os sapatos de andar
na rua, passava-os para o escravo que o servia e calçava chinelos fornecidos pelo
anfitrião. Então se juntava aos outros no atrium ou em alguma outra sala próxima à
sala de jantar. Era uma ocasião de conversa; só no período de Tibério, no começo do
33
banquete
século I d.C., é que beber antes do jantar tornou-se norma. Casas opulentas tinham
um mestre-de-cerimônias que controlava a coreografia desse entretenimento.
A um sinal todos entravam no triclinium e tomavam seus lugares nos divãs,
tirando os chinelos. Nesse momento os escravos lavavam os pés dos convidados,
ritual expresso em outra inscrição em Pompéia: “Deixe que o escravo lave e seque
os pés dos convidados, e faça com que tenha o cuidado de estender uma toalha
de linho nas almofadas dos divãs”.41 No período pré-stibadium os três divãs eram
chamados de lectus summus, lectus medius e lectus imus. O anfitrião reclinava-se no
último, geralmente com membros da família. O lugar de honra, ou consularis locus,
podia variar, mas em geral situava-se no meio do lectus medius — imus in medio —,
aparentemente indicado para falar de negócios, caso necessário. No stibadium o
lugar de honra era no centro, mas ao final do Império passou a ser à esquerda. Os
divãs eram inclinados, com a cabeceira mais alta, e os comensais ficavam separados
uns dos outros por muros de almofadas. Todos tinham uma coberta.
O direito de um homem a reclinar-se vinha com o uso da toga virilis, aos 17
anos.42 Com os direitos, é claro, surgiam os perigos. Aos olhos dos moralistas pagãos
e cristãos, essa passagem à idade adulta abria para os jovens uma trindade de vícios:
comida, bebida e sexo. O perigo da sedução homossexual era particularmente
grave. Quintiliano, uma autoridade em retórica, levantava as mãos em horror. O
que se poderia esperar, escreveu, diante de tudo a que os jovens estavam expostos
antes mesmo de ter idade para se reclinar ao jantar? “Nós ensinamos: eles nos
ouvem usar tais palavras, vêem nossas amantes e nossos concubinos; em todos
os jantares ouvem-se canções indecentes e apresentam-se a seus olhos coisas das
quais deveríamos corar simplesmente ao falar delas.”
Basta isso para as tentações não palatáveis do divã. À mesa, diante de cada
comensal ficava um saleiro, salinum, e uma garrafa de vinagre, acetabulum. Perto
havia dois aparadores, um para vinho, o cilibantium, e outro para comida e para
as travessas, o repositorium. Havia jarras para vinho, o oenophorus, vasos para água
quente, caldarium, e vasilhas para misturar, cratera — os romanos bebiam vinho
misturado com água quente. A sala era iluminada por candelabros e lâmpadas
penduradas do teto em correntes. A fumaça de óleos aromáticos desprendia-se
de turíbulos, pois parte do prazer do jantar estava no olfato. O chão de mosaico
era coberto de folhagens aromáticas — ancusa, verbena e avenca — e vasos de
flores, especialmente rosas, decoravam a sala. Os convivas recebiam guirlandas
de flores e óleos perfumados para o corpo e o cabelo.
O comensal ficava reclinado de lado, com o braço esquerdo apoiado numa
almofada e os pés virados para a direita. Qualquer refeição começava com a ablução
das mãos, e o ritual repetia-se a intervalos regulares. A todo momento os escravos
traziam água perfumada e toalhas para os convivas. No século I um guardanapo,
mappa, era oferecido pelo anfitrião, embora alguns convidados trouxessem os seus,
que eram grandes o suficiente para levar para casa qualquer iguaria não consumida.
34
CONVIVIUM: em roma...
Os alimentos eram comidos num prato (patina, patella ou, se fundo, catinus) que
o comensal segurava com a mão esquerda. Os escravos cortavam os alimentos
maiores em pedaços pequenos para facilitar. Em geral os convivas comiam com
a ponta dos dedos, tomando muito cuidado para não sujar as mãos ou o rosto. A
comida também podia ser levada à boca na ponta de uma faca, e havia colheres,
de várias formas, desde a concha, trulla, à cochlea ou ligula, para alimentos pequenos
como ovos ou mariscos. Só no fim da era imperial surgiram os garfos. Distribuíam-
se palitos. Os pratos individuais e as travessas em que os alimentos eram servidos
podiam ser incrivelmente ricos e luxuosos, como testemunham as numerosas
pratarias desenterradas por toda a Europa. As taças eram de cristal, ouro, eletro
(uma liga de ouro e prata) e murra, uma rica pedra opaca que melhorava o buquê
do vinho, ou pelo menos assim se pensava. Podiam ser de vários formatos, com
ou sem asas, estampadas ou incrustadas com pedras preciosas.
A refeição começava com o gustus ou gustatio, uma espécie de hors d’oeuvre
que consistia principalmente de vegetais e ervas, azeitonas, fatias de ovos cozidos,
caramujos e mariscos, tudo regado a vinho adoçado com mel, conhecido como
mulsum.43 Nas refeições mais opulentas podia haver outros pratos, como ostras,
tordos e arganazes recheados. Seguia-se então a cena propriamente dita, em geral
com três serviços — cena prima ou ferculum, secunda e tertia —, mas podia haver
Mosaico romano com o lixo típico do chão de um triclinium, antes de ser varrido.
35
banquete
muitos outros. O prato mais importante era sempre feito com carne de sacrifí-
cio, possivelmente de porco ou vaca prenha. Cabritos novos eram considerados
uma grande iguaria. Podia haver faisão ou ganso, presunto ou lebre, junto com
uma variedade de peixes, sendo os preferidos o linguado e a lampreia. Os convi-
dados escolhiam o que queriam dentre o que lhes era oferecido. Após o último
serviço limpava-se a mesa e varria-se o chão. (Nas casas mais importantes esse
processo podia envolver serragem colorida.) Vinha então a sobremesa, secundae
mensae ou bellaria, que consistia de maçãs, pêras, nozes, uvas e figos, algumas
vezes acompanhados de mariscos e passarinhos.
Sobreviveram muito poucos cardápios de uma refeição romana. Macróbio,
em Saturnalia, nos dá o relato de uma cena opulenta oferecida entre 74 e 69 a.C.
pelo colégio de pontifices (“sacerdotes”) de Roma, na estréia de um flamen martialis.
Havia 11 sacerdotes presentes, inclusive Júlio César, bem como a esposa e a sogra
do novo flamen e quatro virgens vestais. Os homens foram distribuídos em dois
grupos, as mulheres em um, e o jantar deu-se como se segue:
No caso dos romanos, a bebida que se seguia à cena, a comissatio, não tinha
as complexas ressonâncias da época grega, mas envolvia um certo grau de forma-
lidade ritual. Antes que ela começasse, os lares eram trazidos e postos na mesa.
Vertiam-se as libações e pronunciavam-se as palavras de bom agouro. O grupo
escolhia um rex convivii, ou magister ou arbiter para decidir, como fazia seu protótipo
grego, a proporção de água e vinho. Durante a comissatio os convivas punham
guirlandas de flores e se perfumavam. A principal atividade era oferecer brindes
— aos ausentes, às mulheres, aos exércitos imperiais. A maneira mais comum de
brindar um outro convidado era encher o copo, esvaziá-lo, enchê-lo de novo e
passá-lo para que ele bebesse.
Macróbio fala, sobre esta parte da noite, que “a conversa à mesa vai natural-
mente assumir um aspecto mais jovial, buscando o prazer pelo prazer, e não um
outro propósito mais sério”.45 Cícero, em seu De officis, aconselha o convidado a
não falar muito de si mesmo e a não passar adiante os tipos errados de mexericos,
mas concentrar-se em questões domésticas, política, artes e ciências, e nunca se
entregar à paixão ou à raiva.46 “O imperador nos convidava para jantar todos os
dias”, escreve Plínio o Moço numa carta, “e era tudo muito simples, consideran-
do a posição dele. Algumas vezes recitavam-se poesias, e em outras a noite se
prolongava com conversas agradáveis”.47 Os jantares romanos envolviam tanto
36
CONVIVIUM: em roma...
Esta, e nenhuma outra, é a razão pela qual você me convidou para jantar, Ligurino:
para recitar seus versos. Eu tiro meus chinelos e imediatamente um enorme volume é
trazido entre as alfaces e o molho picante. Outro é lido durante o primeiro serviço. Vem
um terceiro e a sobremesa ainda não chegou. E você recita um quarto e finalmente um
quinto rolo. Se você não me servir javali tantas vezes, ele vai cheirar mal. Mas se não
limitar seus detestáveis poemas à cavala, Ligurino, no futuro vai jantar sozinho.50
37
banquete
Os banquetes públicos eram quase tão importantes para os romanos quanto para
os gregos. Em ambos os casos aconteciam numa estrutura de referência profana e
sagrada.53 Em Roma, o patrocínio privado de tais acontecimentos começou durante
as festas públicas no século II a.C., quando os ricos, aflitos com possíveis inquietações
populares, passaram a achar que os banquetes seriam uma maneira de aplacar e
pacificar as massas. As festas públicas pontuavam o ano romano. Dezessete de março,
por exemplo, era a festa do pai Liber (equivalente a Baco ou Dioniso), quando toda
a população se banqueteava nas ruas. Outras festas celebravam o nascimento de uma
criança, o aniversário de 17 anos de um jovem, um matrimônio. O casamento na
verdade envolvia duas festas — uma cena no dia das núpcias, que acontecia na casa da
noiva, e a chamada repotia, no dia seguinte, já na nova casa conjugal. A cena funebris
era consumida no túmulo dos mortos antes dos últimos ritos de purificação.
Tais refeições faziam parte da própria tessitura social da vida romana. Mas nada
se comparava aos espetaculares banquetes realizados pelos imperadores, que se
tornaram uma parte da lenda culinária. Esses convivia publica reuniam pessoas-chave
de todos os níveis da sociedade romana. O imperador Cláudio chegou a convidar
600 pessoas de uma só vez, e em outro de seus jantares havia mil mesas.54 No
entanto, não foi apenas a escala imperial que deixou uma impressão indelével na
imaginação das eras subseqüentes, mas os freqüentes excessos.
No caso do imperador Heliogábalo, por exemplo, os banquetes realizados
no verão tinham de mudar de cor em cada ocasião. Ele foi o primeiro a realizar
exibições maciças de pratarias, a mandar fazer salsichas de peixe e de moluscos,
ostras, polvo e caranguejo. Seus convidados jantavam iguarias exóticas, como pés
de camelo, cristas de galinhas, pavões vivos e línguas de rouxinóis. Vastas travessas
cheias de fígados de tainha, miolos de tordos e de flamingos, cabeças de papa-
gaio, faisões e pavões podiam enriquecer um banquete; nos divãs espalhavam-se
violetas, lírios, jacintos e narcisos, enquanto mecanismos suspensos despejavam
sobre os comensais violetas e outras flores, em tal quantidade que algumas vezes
os convidados ficavam sufocados.55
A ambição do imperador Vitélio era alcançar proporções épicas, como
conta Suetônio:
Ele banqueteava-se três ou quatro vezes por dia, ou seja, de manhã, ao meio-dia, de
tarde e à noite — a última refeição era principalmente uma bebedeira —, e sobrevivia
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CONVIVIUM: em roma...
a este ordálio tomando eméticos com freqüência. O pior é que costumava se convi-
dar para esses banquetes nas casas de várias pessoas diferentes no mesmo dia; e eles
nunca custavam a seus vários anfitriões menos que quatro mil peças de ouro cada. A
festa mais famosa da série lhe foi oferecida pelo irmão, quando ele entrou em Roma;
diz-se que foram servidos dois mil peixes magníficos e sete mil pássaros selvagens. No
entanto, mesmo isto dificilmente se compara em matéria de luxo a um único prato
imenso que Vitélio dedicou à deusa Minerva e que chamou de “Escudo de Minerva,
a Protetora da Cidade”. A receita incluía fígado de lúcio, miolo de pavão, língua de
flamingo e vesícula de lampreia; e os ingredientes, reunidos de todos os cantos do
Império, da fronteira de Pártia aos estreitos da Espanha, foram levados a Roma por
capitães das trirremes.56
Nero foi o mais teatral de todos os imperadores romanos, e por isso a plebe o
adorava. Seu comportamento era muito menos admirável. Em 54, num banquete por
ocasião de seus 17 anos, tentou gracejar com Britânico, filho natural do imperador
Tibério, pedindo-lhe que cantasse para as pessoas reunidas. Britânico, no entanto, não
apenas cantou bem como escolheu uma canção que falava de sua própria expulsão
da casa do pai e do trono. Na festa seguinte Nero envenenou-o à mesa.
Talvez o mais estranho de todos os banquetes imperiais tenha sido encenado
pelo imperador Domiciano, com o tema do inferno. Pediu-se aos convidados que
não se fizessem acompanhar pelo habitual escravo. Ao lado de cada comensal
havia uma pedra tumular com o nome do convidado. O banquete era iluminado
por lâmpadas votivas, do tipo que se pendurava nos túmulos, e a comida, toda
preta, assemelhava-se aos pratos sacrificais oferecidos aos manes dos mortos nos
funerais. Os escravos serviam e dançavam pintados de preto, e durante todo o
macabro evento apenas Domiciano tinha permissão de falar. Seu tema era a morte.
Em certo momento do jantar os convivas foram subitamente mandados embora
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banquete
e escoltados para casa por escravos desconhecidos, o que os fez suspeitar que
haviam sido escolhidos para se tornarem as novas vítimas da sede de sangue do
imperador. Em vez disso, no entanto, foram chamados de volta para um segundo
banquete, ao término do qual receberam presentes caros.58
O esplendor dos banquetes imperiais de Roma seriam lembrados. Fica-se
tentado a sugerir que, quando os textos que os descreviam foram descobertos e
passaram a ser conhecidos, nos séculos XV e XVI, aquela extravagância e senso de
espetáculo tiveram alguma influência nas refeições festivas das cortes renascentis-
tas. Porém, por incrível que pareça, iriam se passar mil anos antes que qualquer
coisa remotamente parecida aos espetáculos romanos fosse reencenada nas cortes
humanistas de Mântua e Ferrara.
DESINTEGRAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA
O império romano provou que era mortal. Átila, o Huno, saqueou Roma em 410 e
após essa catástrofe a sede do poder mudou-se para a capital do Império Oriental,
Constantinopla. O último soberano no Ocidente, Rômulo Augusto, foi deposto
em 476 pelo alemão Odoacer, que então se proclamou rei da Itália.
Tal acontecimento é geralmente tomado como o fim do Império Romano na
Europa Ocidental, mas na verdade a estrutura diária da vida romana, inclusive a
que cercava cena e convivium, iriam continuar até o século XV e, de maneira mais
tênue, até o século VIII.59 Nas pequenas aldeias gaulesas a vida continuava mais ou
menos como antes. Em meados da década de 460, por exemplo, o patrício Sidônio
Apolinário, mais tarde bispo de Avernus, visitou o amigo Tonantio Ferreolo em
sua villa perto de Nîmes, ao sul da Gália. Sidônio descreve que os convidados se
reuniram na biblioteca, com as mulheres sentadas de um lado e os homens em pé
do outro, todos posicionados ao alcance de livros cujos assuntos eram considerados
apropriados: as mulheres, dos livros religiosos, e os homens, “de obras conhecidas
pela grandeza da eloqüência latina”. Passaram o tempo conversando e jogando até
que um escravo entrou e anunciou o almoço. Em outro lugar Sidônio descreve a
sala de jantar na vila de um amigo chamado Leôncio. As portas eram dobráveis
e se abriam para uma vista do pátio emoldurada por colunatas e para um sorti-
do lago de peixes. A distância, os comensais podiam contemplar um panorama
do vale do Garona. Assim, pelo menos em algumas partes do velho Império, a
vida civilizada continuava. No geral, entretanto, os escritos de Sidônio refletem o
conflito entre o tradicional modo de vida romano e as novas realidades impostas
pela presença das tribos germânicas.
Quando Sidônio visitou Teodorico, o Ostrogodo (morto em 466), observou
com surpresa que seu anfitrião sentava-se à mesa, mas não se reclinava. Era um
símbolo de mudança — e de resistência à mudança. No final do século VI, outro
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CONVIVIUM: em roma...
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banquete
Ao levantar uma cortina e entrar no palácio, vê-se um vasto pátio quadrado, com
400 passos de lado, pavimentado de mármore verde. As paredes são decoradas
com vários mosaicos e pinturas. ... À esquerda da entrada há uma sala com 200
passos de comprimento e 50 de largura. Nessa sala há uma mesa de madeira, uma
de mármore e, em frente à porta, uma de ouro. Após as festividades, quando sai
da igreja, o imperador entra ali e senta-se à mesa de ouro. É isto o que acontece
no Natal. Manda buscar os cativos muçulmanos e eles sentam-se a essas mesas.
Quando o imperador se acomoda na mesa de ouro, eles lhe trazem quatro pratos
de ouro, cada um em seu próprio carro.
Um desses pratos, incrustado de pérolas e rubis, dizem que pertenceu a Salomão.
... o segundo, também incrustado, a Davi. ... o terceiro, a Alexandre; e o quarto a
Constantino. Os pratos são colocados diante do imperador, e pode-se comer neles.
Ali permanecem enquanto o imperador estiver à mesa: quando ele se levanta, são
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CONVIVIUM: em roma...
levados embora. Então, para os muçulmanos, são colocados muitos pratos quentes e
frios nas outras mesas, e o arauto imperial anuncia: “Juro pela cabeça do imperador
que não há porco em nenhum destes alimentos!” Os pratos, sobre grandes travessas
de prata e ouro, são então servidos aos convidados do imperador.
Eles então trazem um órgão. É um notável objeto de madeira como uma prensa
de azeite, coberto de couro sólido. Nele estão colocados 60 tubos de cobre, ... e cada
tubo, segundo o tom e o desempenho do mestre, soa louvores ao imperador. Enquanto
isso os convidados estão sentados às suas mesas, e 20 homens entram com címbalos
nas mãos, A música continua enquanto os convidados aproveitam a refeição.63
43
Freiras jantando num refeitório de convento enquanto uma delas lê ao púlpito.
Cena de Beata umilitas, Pietro Lorenzetti, 1380.
2
Interlúdio: Banquete e Jejum
Ele notou duas coisas: a multidão de pratos e a excessiva superfluidade de sinais que
os monges faziam uns para os outros. Havia o prior, que passava os pratos aos monges
que serviam, e estes, por sua vez, levavam-nos como presentes às mesas mais baixas; e
havia aqueles para quem esses presentes eram dados, que faziam seus agradecimentos, e
todos gesticulavam com dedos, mãos e braços, e assobiavam uns para os outros em vez
de falar, comportando-se de maneira extravagante, com modos mais liberais e frívolos
do que decorosos; de modo que Giraldo parecia estar sentado num palco ou entre
atores e bufões. ... E quanto ao número de pratos, devo dizer apenas que muitas vezes
ouvi o próprio Giraldo declarar que 16 ou mais, muito caros, tinham sido postos à mesa
em ordem, para não dizer de modo contrário a toda ordem [isto é, à regra monástica].
Finalmente foram levadas verduras a todas as mesas, embora pouco provadas. Havia
muitos tipos de peixes, assados e cozidos, recheados e fritos, muitos pratos feitos com
ovos e pimenta por hábeis cozinheiros, diversos temperos e condimentos compostos
com a mesma habilidade para estimular a gula e despertar o apetite. Além disso podia-se
ver em meio àquela abundância “vinhos e bebidas fortes”, hidromel e clarete, mosto e
suco de amoras, e tudo que pode embebedar, bebidas tão finas que a cerveja, tal como
é feita na Inglaterra e acima de tudo em Kent, não tinha lugar entre elas.1
45
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interlúdio: banquete e jejum
entre as tribos bárbaras, embora se passassem sete séculos antes que reaparecesse
algo remotamente parecido com os excessos descritos por Petrônio.
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judiciais. Eles usaram essas prerrogativas para promulgar legislações que excluíam
cada vez mais as classes camponesas de qualquer acesso à carne selvagem, por
meio da imposição de leis restritivas de caça. À medida que passava o tempo,
as economias auto-suficientes dos séculos IX e X davam lugar a uma economia
orientada para o mercado, com o cultivo de terras voltado para a oferta de ali-
mentos a um número cada vez maior de moradores das cidades. Assim, no pe-
ríodo aproximadamente entre 1050 e 1280, a dieta real e aristocrática tornou-se
firmemente baseada em carne de boi e aves domésticas. A carne era cozida com
temperos, ervas aromáticas e outros condimentos para tornar-se macia e saborosa.
Era também feita na brasa, frita e acima de tudo assada no espeto. A bebida das
classes altas eram o vinho e seus derivados.
A mais antiga evidência do surgimento de uma culinária sofisticada ocorreu
no século XIII.5 As rotas de comércio pelo Mediterrâneo ficaram mais uma vez
ativas. As Cruzadas haviam feito contato direto com a culinária do islã. No século
VIII os árabes estavam estabelecidos na Sicília, e no século IX tinham um pé no
sul da Itália. Além disso ocupavam a maior parte da península Ibérica. Eles não
apenas tinham sua própria cozinha altamente elaborada, com uso abundante de
especiarias, como também serviam de transmissores, por meio dos escritos do
filósofo árabe Avicena (Ibn Sina), do final do século X, das tradições médicas e
dietéticas greco-romanas de Galeno e Hipócrates. Nessas tradições, açúcar, pimenta
e açafrão eram tidos como possuidores de virtudes médicas fundamentais, dando
alívio à melancolia e outros males. Um dos mais curtos tratados de Avicena, De
viribus cordis (Poderes do coração), por exemplo, prescrevia cordiais exóticos para
fortalecer o coração e gerar alimento para o spiritus, evitando assim a melancolia.
Nesses cordiais entravam não apenas pimenta, romã, água de rosas, gema de ovo,
açafrão, sândalo, casca de limão e vinho, mas também ouro, prata, pedras preciosas,
corais, pérolas e até mesmo seda. O açúcar era particularmente louvado por seus
efeitos salutares, um prenúncio de muito do que estava por vir.
Tais considerações precipitaram uma revolução culinária com base apenas na
saúde. Outra influência era a vinculação entre alimentos, alquimia e magia astral.
Segundo um tratado árabe do século XII, Picatrix, cada substância terrestre estava
ligada a alguma divindade planetária. Esses princípios e crenças criaram o cenário
para a comida de cores brilhantes e docemente aromática que encontramos nos
primeiros livros de receitas surgidos no século XIV.
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interlúdio: banquete e jejum
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banquete
Aquele que não vier à mesa antes do verso [ou seja, das Graças], de modo que todos
possam dizê-lo, que possam rezar juntos e sentar-se à mesa ao mesmo tempo, deve
ser corrigido uma ou duas vezes, se isso decorrer de sua própria falta ou de um mau
hábito. Se ele, após isto, não se emendar, não lhe será permitido partilhar a mesa
comum; deve ser separado da companhia e de todo o resto e comer sozinho. Até ele
dar satisfação e consertar seus modos, sua porção de vinho deve ser retirada.
O que temos aqui é a construção das boas maneiras à mesa. A Regra definia
um certo número de coisas permitidas e proibidas. O monge não devia ser um
“bebedor de vinho” nem “um grande comedor”. Cabia que fizesse as refeições em
silêncio para ouvir o que estava sendo lido, e aqueles que se encarregavam da mesa
deviam cuidar para que nada faltasse a cada monge; se precisasse se comunicar,
que fosse apenas por sinais. Deveriam ser servidas duas refeições por dia: “Em
todas as estações do ano haverá dois pratos cozidos, de modo que aquele que
não puder comer um, possa fazer a refeição com o outro. ... se houver frutas ou
vegetais frescos, podem ser acrescentados como terceiro prato.” Cada monge tinha
uma ração diária de meio quilo de pão e um quartilho de vinho. Todos, exceto
os fracos e doentes, deveriam abster-se totalmente da carne de quadrúpedes. Da
Páscoa ao Pentecostes, a primeira refeição deveria ser servida na sexta hora (a
contar do nascer do sol), portanto, cerca de meio-dia; a segunda, a ceia, pouco
antes do cair da noite, pois não se deveriam acender velas. De 13 de setembro
até a Quaresma a refeição principal era feita na nona hora após o nascer do sol,
e da Quaresma até a Páscoa, ao anoitecer.
Os registros monásticos são os únicos relatos detalhados sobre a comida e
a mesa nesses séculos. De certa forma vemos o mosteiro continuar o que a vila
interrompera. O famoso projeto de um complexo ideal em Santo Galo, de cerca
de 820, assemelha-se ao de uma vila antiga, com o pátio interno confinando
com a igreja e os lados acomodando uma adega, armazéns de alimentos, padaria,
cozinha e refeitório. Mais adiante passou a haver uma série de outras edificações
necessárias para o sustento dos monges e as atividades agrícolas de que dependiam.
Esse arranjo foi adotado nos mosteiros carolíngios durante os séculos VIII e IX.
Chama a atenção o fato de que o mosteiro preservou, na Idade Média e na Idade
das Trevas, uma característica que só deveria reaparecer com a vila renascentista:
uma sala usada apenas para as refeições.8
De muitas maneiras o grande mosteiro beneditino de Cluny, na Borgonha,
sob o comando de Odilo (abade de 994 a 1048), assemelhava-se a uma casa
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Abade jantando. Diante dele, peixe, pão, uma faca, uma jarra de vinho e um copo.
Detalhe de A ceia de são Guido, 1318.
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A Última Ceia era muitas vezes pintada nas paredes dos refeitórios. Esta é de Domenico Ghirlandaio,
datada de 1480; encontra-se no refeitório da igreja dos Umiliati, em Florença.
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A Última Ceia, com o Cristo no tradicional lugar de honra romano no stibadium, à esquerda.
Mosaico, século VI.
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Um banquete tal como aparece na tapeçaria de Bayeux, do século XI. Um servo ajoelha-se oferecendo água
e uma toalha para as abluções do bispo Odo e de Guilherme, o Conquistador, sentados à mesa redonda.
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Ele era moderado no comer e no beber, mas especialmente no beber; pois tinha um
ódio feroz à embriaguez em qualquer homem, especialmente em si mesmo e seus
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Nessa narrativa parece que estamos presenciando uma síntese cultural: leitura
durante as refeições, como num refeitório monástico e na Antigüidade clássica, e can-
ções ou histórias de feitos heróicos, como nas sagas cantadas nas festas bárbaras.
A dinastia carolíngia multiplicou os dias de festa nos mosteiros e catedrais
em homenagem aos membros da família reinante.18 Menção alguma a festas no
sentido de consumo lascivo de comida e bebida ocorria na Regra de São Bento,
mas uma corrente contínua de decretos reais da metade do século VIII à metade
do século X registra uma longa série de tais festas em memória aos membros da
dinastia. Às festas da Igreja, como Natal e Páscoa, agregaram-se a comemoração de
um abade importante e os aniversários de membros da família real. Cinco gerações
de imperadores e reis acumularam dias de festa com tamanho zelo que, no caso
de um grande mosteiro, como Saint-Denis, havia 88 no total. Comemorações
desse tipo constituíam uma tradição originada do costume germânico pré-cristão
e transferida para a nova estrutura cristã. Seriam eliminadas na maré da reforma
monástica emanada de Cluny no século X. Mais notável é a premissa subjacente
a esses banquetes de monges: festejar sob a égide do rei significava a vitória dos
exércitos reais e o bem do reino. Assim, o estômago cheio do monge tornou-se
uma forma de oração.
Por todos os séculos XI e XII a festa foi parte essencial da tessitura social, um
importante evento culinário periódico que celebrava a relação entre um senhor e
seus vassalos — e o poder que esta relação engendrava. Mas à medida que o século
XII dava lugar ao XIII, aconteceu uma mudança de ambiente. A embriaguez deixou
de ser o principal objetivo das reuniões. Pressentimos os primeiros movimentos
da cortesia que iria transformar um ritual de dependência feudal em manifestação
de amizade. A estrutura senhorial que havia começado sua existência na corte
carolíngia encontrava imitadores em toda a classe aristocrática. Na corte de Carlos
Magno havia três grandes oficiais: o senescal-mor, o mordomo-mor e o camarista-
mor. Os dois primeiros serviam no salão, o terceiro, nos aposentos privados. Tais
arranjos obviamente afetavam a maneira pela qual as refeições eram organizadas;
existem documentos que tornam possível, em duas instâncias, acompanhar até
que ponto eles haviam evoluído no século XIII. O primeiro descreve a prática na
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interlúdio: banquete e jejum
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presentes. Na ceia havia um prato substancial, juntamente com outros mais leves,
seguidos por queijos. Grosseteste insiste no papel crucial desempenhado pela
refeição pública, muitas vezes encenada para manter a harmonia e a ordem da
casa: “Tantas vezes quantas forem permitidas pela doença ou fadiga, obrigai-vos
a comer diante de vossa gente, pois isto trar-vos-á grande benefício e honra.” O
fato de enfatizar tanto a questão da presença da condessa sugere fortemente que
os senhores e senhoras deviam estar se retirando para fazer as refeições em seus
próprios aposentos.
À medida que a encenação e a estrutura das refeições medievais profanas
tomavam forma, as maneiras à mesa começaram a aparecer.21 As raízes do bom
comportamento à mesa estavam, como vimos, no refeitório monacal, mas seu
surgimento no mundo profano muito deveu à tradição cortesã. Esta compreendia
uma série de ideais baseados na religião, incluindo o cavalheirismo e sua expressão
em termos de amor cortês, benevolência, gentileza e alegria de disposição. No
século XII deve ter existido algum tipo de etiqueta, mas até que alguém colocasse
as regras no papel não tínhamos qualquer maneira de conhecê-las. No entanto,
o fato de terem sido escritas demonstra sua importância e a demanda por tais
orientações. O mais antigo tratado sobre as maneiras à mesa data de cerca de
1215 e é chamado Der Wälsche Gast (O convidado italiano). Tem a forma de um
poema didático com cerca de 15 mil linhas, da autoria de Tomasino de Zerclaere
(Tommasino di Circlaria), um italiano de Trieste que escreveu para os germânicos.
Sobrevivem muitos manuscritos desse tipo redigidos nos anos seguintes, testemu-
nhando a demanda por eles.
Tomasino dirige-se a jovens cavalheiros, e em seus versos vemos a fonte de
uma tradição que percorre os séculos até nossa época:
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interlúdio: banquete e jejum
E assim vai. Mas Tomasino não foi o único. Outro autor, desta vez de meados
do século XIII, também apresenta regras em seu tratado sobre Courtly Breeding. O
que Tannhäuser escreve lança alguma luz sobre o que o novo comportamento
cortês pretendia substituir:
Abri este capítulo com uma visão de duas mesas e de duas maneiras de comer, uma
dentro do refeitório de um mosteiro, outra na sala de um castelo ou grande casa.
Em termos morais, o primeiro era claramente mais aceitável, enquanto o consumo
profano estava longe do ideal — podia levar ao pecado, inicialmente à gula e depois
a quem sabe onde. Será que as duas maneiras de viver poderiam se conciliar? Uma
pessoa tentou fazer isto, Luís IX da França, são Luís, canonizado pelo papa Bonifácio
VIII em 1297. A vida de Luís IX abarcou grande parte do século XIII. Ele subiu ao
trono aos 12 anos, em 1226, e morreu 44 anos depois, em 1270. Foi o rei medieval
arquetípico. Teve uma vida privada exemplar, de austeridade e orações, chefiou uma
cruzada à Terra Santa em 1248 e construiu a Sainte-Chapelle para abrigar a coroa
de espinhos que adquiriu do imperador Balduíno II, em 1239.
A mesa real francesa era limitada por regras, tanto as da abstinência, ditadas
pela Igreja, como as das convenções do cerimonial.24 Luís abstinha-se de carne
às quartas e sextas-feiras, e depois, ainda, às segundas-feiras. Limitava-se a pão e
água nas principais vigílias da Virgem e também na Sexta-Feira Santa, na véspera
de Todos os Santos e em outros dias santos. Nas sextas-feiras do Advento e da
Quaresma, abria mão tanto de peixe como de frutas, até que sua saúde piorou e
65
banquete
Eu estava presente e posso testemunhar que os arranjos foram os mais finos que jamais
vi. ... Diante do rei, seu irmão, o conde de Artois, servia-o de carne, e o bom conde
João de Soissons trinchava com a faca. Como guarda da mesa real estavam meu senhor
Humbert de Beaujeu, mais tarde condestável de França, meu senhor Enguerrand de
Coucy e meu senhor Archambaud de Bourbon. Atrás desses três barões havia pelo
menos 30 cavaleiros vestidos de túnicas de veludo, assim como os guardas que os
assistiam; e atrás deles estava um grande número de homens de armas usando o
brasão do conde de Poitiers bordado em cetim. O rei vestia uma túnica de cetim azul
escuro, uma capa de veludo escarlate com franja de arminho e um gorro de algodão
que não lhe ia nada bem, pois na época era um homem jovem.25
A festa era um grande espetáculo, com mesas à volta do claustro, uma para a
rainha mãe e outra em que se sentavam 20 arcebispos e bispos. “Muitas pessoas”,
escreve Joinville, “disseram nunca ter visto tantas capas e roupas de seda e ouro
numa festa; havia pelo menos três mil cavaleiros presentes.”
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interlúdio: banquete e jejum
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A escalada do esplendor ao jantar. João, duque de Berry, à mesa. Acima do duque flutua um dossel,
e à sua frente são colocados pratos de comida mordiscados por cachorros de estimação e uma naveta
cerimonial. Um criado trincha, outro corta a comida, enquanto um terceiro, perto de uma mesa
carregada de pratos, cuida do vinho. Tudo acontece sob a direção de um homem com uma vara de
comando, à esquerda do duque. Iluminura de Les très riches heures, 1416.
3
Aos Olhos do Espectador
69
banquete
70
aos olhos do espectador
Uma descrição desse tipo subitamente nos coloca pela primeira vez diante
da extrema complexidade da mesa no final do período medieval, pelo menos nas
grandes ocasiões. Certos aspectos já são familiares: o cenário, o arranjo das mesas, a
ênfase na hierarquia, a presença da música e a associação entre festa e acontecimento
político. Mas pouca coisa no final do século XIII parecia assinalar uma escalada sem
precedentes em termos de comida, riqueza de apresentação e espetáculo dramá-
tico. Assim, essa festa em Tours constitui um inestimável ponto de partida para os
acontecimentos que, por vezes, deixarão o leitor quase perplexo.
Em primeiro lugar a comida certamente era muito mais elaborada do que
antes. Uma das seqüências de pratos era toda dourada, enquanto outra tinha a
forma de um jardim zoológico feito de açúcar, indicadores decisivos de um inte-
resse cada vez maior na aparência, cor e apresentação figurativa dos alimentos.
E a prata era usada em grande quantidade, numa escala que deixava a louça e
os talheres dos séculos anteriores positivamente mesquinhos. Comer tornara-se
parte de uma vasta apresentação teatral. As simples chansons, os prestidigitadores
e os acrobatas que animavam os festejos de antes parecem primitivos quando
Um banquete real. O rei e seus convidados principais estão situados na extrema esquerda,
e os demais se apinham no resto da mesa, coberta de pratos, copos e jarros. Trata-se de
um intervalo entre os serviços durante o qual um anão e músicos entretêm os convivas.
Iluminura, Alemanha, final do século XIV.
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Ainda mais impressionante que isso tudo foi o desejo de dotar os alimen-
tos de forma e cor. De repente passou-se a exigir que a comida assumisse uma
forma que não apenas valorizasse o status do comensal, mas o afirmasse. Os
cozinheiros passaram a transformar os alimentos que cozinhavam num espelho
de tudo o que era mais admirado na sociedade do final do período medieval,
convertendo-os por meio de forma, cor e padrão numa visão de superabundante
riqueza, beleza e aristocracia. Tal aspiração está contida no Ménagier. Sempre
que qualifica um prato como bonne ou belle, refere-se não a seu gosto, mas à
aparência. Testemunhamos aqui uma das maiores revoluções na história da
alimentação, na qual o lado físico do comer é deslocado pelo prazer estético do
olhar. Em suma, a ênfase desloca-se da boca para os olhos.21
A cor assim fez sua entrada espetacular.22 Na versão mais antiga do Viandier,
de cerca de 1300, há 40 referências a cores, entre as quais 14 ao amarelo, quatro
ao branco, duas ao verde e três ao dourado. A versão do começo do século XV que
se encontra na biblioteca do Vaticano tem nada menos que 97 referências a cores,
sendo 22 apenas ao dourado. O amarelo foi a cor mais favorecida no século XIV,
e o dourado no século que se seguiu, ambas refletindo a mesma busca: a comida
como indicação de status social, pois, de acordo com a legislação suntuária, o ouro
era reservado às classes superiores. O ouro era igualmente a cor do paraíso, refletido
em todos os aspectos da arte religiosa gótica. No século XIV o verde vinha a seguir
em popularidade, e em terceiro lugar — de maneira surpreendente — o marrom
ou castanho, cor associada ao campesinato (e, simbolicamente, à duplicidade). O
amarelo era obtido do açafrão ou da gema de ovo; o verde, de ervas como salsa;
e o castanho, de brotos de uva ou de groselha. Apenas os ingleses tinham paixão
pelo vermelho, extraído do sândalo, que eles juntavam ao amarelo, combinando
na mesa as duas cores dominantes na heráldica do fim do período medieval. A
apresentação de cores nos alimentos remonta à cozinha árabe, originando-se na
tradição médica e alquímica. De acordo com o costume médico árabe, o ouro
prolongava a vida; portanto, era desejável comer o próprio ouro ou seu equiva-
lente visual mais próximo, o açafrão amarelo. Vermelho e branco estavam ligados
ao cinábrio, sulfeto de mercúrio e ao próprio mercúrio. Esses elementos, aliás,
tinham associações alquímicas, sendo o cinábrio o material primitivo na busca de
produzir ouro. O mercúrio era primeiro extraído do cinábrio, depois, com a ajuda
do enxofre, transformado em ouro — pelo menos teoricamente.
Na verdade a cozinha do fim do período medieval tinha, como se nota, fortes
vínculos com a medicina alquímica e astral, que derivava de fontes árabes. Os cordiais,
seu foco principal, empregavam uma extraordinária variedade de ingredientes pouco
usuais e muitas vezes caros para fortalecer o coração e evitar a melancolia saturnina,
entre outros males corporais. Da mesma forma, consumir alimentos coloridos ou de
fragrâncias doces tinha valor medicinal. Colorir a comida de amarelo tornava-a tão
“nobre” quanto o ouro, e quem a comia tinha a esperança de evitar a decadência
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aos olhos do espectador
física, como se estivesse comendo ouro de verdade. Alimentos dourados e com ouro
tornaram-se uma obsessão medieval, por razões de saúde e para atrair as influên-
cias astrais corretas em grandes ocasiões, tais como um banquete de casamento.
Assim, as iguarias douradas servidas por Gaston de Foix à embaixada húngara
não foram uma manifestação isolada. A 15 de junho de 1368, por exemplo, Ga-
leazzo II Visconti ofereceu um jantar por ocasião do casamento da sua filha, Violante.
Começava com dois leitões dourados cuspindo fogo e seguia com lebres, um bezerro
e uma carpa, todos dourados.23 No banquete de coroação de Henrique VI, em 1429,
havia uma Viaunde Royal decorada com losangos dourados, um “creme real” com
um leopardo dourado sentado em cima, cabeças de javali em castelos de ouro e
uma carne ao forno cortada em forma de escudo dividido em campos vermelhos e
brancos e decorado com losangos dourados. O segundo serviço incluía “um cervo
branco plantado [sic] com um antílope vermelho; uma coroa na cabeça, com uma
corrente de ouro, polvilhada [decorada] com leopardos e flores de lis de ouro. Filhós
guarnecidos com uma cabeça de leopardo e três penas de avestruz”. Como estes
pratos devem ter brilhado e cintilado na mesa à luz das tochas e das velas!24
Tais pratos apontam para outro deslocamento significativo, a passagem para a
escultura dos alimentos. O banquete de Gaston de Foix terminou com uma revoada
de pássaros heráldicos e animais esculpidos em açúcar. Como veremos, essa forma
de alimento logo se transformaria no serviço doce. Mas em todos os lugares, à pro-
porção que o século XV avançava, multiplicava-se a comida representativa. No início
do século seguinte ela já dominava os banquetes. Era uma obsessão que se impunha,
como mostra o inesquecível relato de George Cavendish sobre a festa oferecida pelo
cardeal Wosley em outubro de 1527 aos embaixadores franceses em Hampton Court:
Logo veio o segundo serviço, com mais de cem pratos, sutilezas e artifícios curiosos,
de tão grandes proporções e tão custosos que creio que os franceses jamais tinham
visto nada parecido. O espanto era grande e realmente merecido. Havia castelos
com imagens; a igreja de Paulo e o campanário. ... animais, pássaros, ovos de diversos
tipos e personagens muito bem-feitos e imitados nos pratos; alguns lutavam como se
tivessem espadas, outros empunhavam pistolas e adagas, alguns saltavam e pulavam,
outros dançavam com as damas, alguns completamente vestidos, até mesmo com
esporas, com muito mais coisas do que sou capaz de descrever.25
Ao final do século XIV a corte francesa empregava entre 700 e 800 pessoas na tarefa
de alimentar os membros de sua vasta casa.27 À mesma época Ricardo II alimentava
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cerca de mil pessoas por dia com uma equipe de 300 criados.28 As casas nobres
quase rivalizavam com as casas reais em termos de números. O duque de Guyenne,
por exemplo, alimentava 250 pessoas por dia. As ordenanças de Eduardo IV em
1470 apresentavam o número de bocas que deveriam ser alimentadas pelas diversas
casas: cerca de 250 para um duque, 200 para um conde, 70 para um barão e 23
para um cavaleiro. Comparados a estes, temos os dados reais — 299 para o duque
de Clarence em 1468, mas apenas cem para o duque de Norfolk, 15 anos depois.29
Fazer comida em tal escala exigia quase um pequeno exército para garantir quanti-
dades suficientes de alimentos e bebidas, sem mencionar a tarefa de cozinhar e servir.
O que isso significava para os vários departamentos de uma casa da nobreza
pode ser claramente captado nos relatos de grandes festas, embora se deva ter
em mente que estes eram acontecimentos excepcionais. Chiquart, o mestre-cuca
saboiano, apresentava as espantosas quantidades exigidas para uma festa de dois
dias realizada em 1420. Para cada dia foram necessários cem bois gordos, 130
carneiros, 120 porcos, 200 leitões, 60 porcos gordos (para lardear), 200 cabri-
tos e duas mil galinhas. Tudo era produzido localmente. Quanto à caça, foram
necessários 400 cavalos para o transporte pelos domínios ducais. Foram usados
seis mil ovos. As encomendas de gengibre, grãos do paraíso, canela e pimenta
eram imensas. Mesmo no caso dos chamados temperos menores, a encomenda
tornava-se enorme: três quilos de noz-moscada, cravo e macis, e pantagruélicos
12 quilos de açafrão. Refletindo plenamente a obsessão do século de tudo dourar,
Chiquart, além do açafrão, pediu nove quilos de folhas de ouro. Foram usados
1.800 quilos de trigo e queijo, sem mencionar 200 caixas de amêndoas modeladas
(dragées) para enfeite. O equipamento de cozinha utilizado ia de duas grandes
chaleiras e pás de forno até mil carregamentos de madeira e um celeiro cheio de
carvão. Nada menos que quatro mil pratos em ouro, prata, estanho e madeira
foram necessários para servir a mesa.30
Relatos desse tipo tendem a deixar o leitor com uma sensação de fadiga
numérica. Devem ser citados, contudo, para que se visualize a escala grandiosa de
tais espetáculos. Voltando no tempo até na festa de coroação do papa Clemente
VI em Avignon, a 19 de maio de 1344, os dados são igualmente de tirar o fôle-
go. Desta feita incluíam 80 saumées (conjunto de 500 fatias) de pão, 180 vacas,
1.023 carneiros, 914 cabritos, 60 porcos, 68 barris de toicinho e carne salgada, 15
esturjões, 300 lúcios, 1.500 capões, 3.043 galinhas (poulets), 7.428 frangos, 1.446
gansos e 50 mil tortas que usaram 3.250 ovos. Para o mesmo acontecimento, 300
jarros, 5.500 canecas, 2.500 garrafas de vidro, 5 mil copos e 2.600 écuelles (tigelas
para beber) foram alugados. Além disso o papa requisitou todos os cozinheiros
dos cardeais e 80 meninos para pegar água e servir.31
A festa de Chiquart tomou-lhe seis semanas de trabalho. Tratava-se, é claro, de
um acontecimento excepcional, mas mesmo em dias comuns o fornecimento e a
preparação da comida eram uma preocupação em qualquer casa importante. Todos
os grandes estabelecimentos tinham seções dedicadas à produção ou aquisição de
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aos olhos do espectador
Para falar do ordenamento de sua casa e de seus ofícios, é preciso lembrar primeiro
que o cardeal tinha em seu salão diariamente três mesas especiais guarnecidas pelos
três funcionários principais. Ou seja, o despenseiro, que era sempre um doutor ou um
sacerdote; o tesoureiro, um cavaleiro; e o mordomo, um escudeiro. Tinha também
um contador, dois porteiros, três mestres-de-cerimônias, dois valetes e um esmoler.
Na despensa, dois encarregados, um apontador, um responsável pelo aparador, um
encarregado dos temperos. E na cozinha do salão, dois mestres-cucas e mais 12
trabalhadores e crianças, como eram chamados; um oficial da lavanderia, com dois
outros encarregados de polir a prataria; dois oficiais da copa e dois criados.
Em sua cozinha particular ele tinha um mestre-cuca, que todo dia se vestia em
damasco, cetim ou veludo, com uma corrente de ouro ao pescoço; dois criados com
seis empregados e crianças para servir; na despensa, um oficial e criados; na lavanderia,
duas pessoas; na garrafeira, dois oficiais e dois criados, além de dois pajens; na despen-
sa, dois oficiais, dois criados e dois pajens; e na aguada [departamento encarregado
de apresentar água para as abluções] o mesmo; na adega, três oficiais, dois criados e
dois pajens — além de um cavalheiro a cada mês; na sala das velas, três pessoas; na
biscoitaria [onde se faziam bolos e biscoitos], duas.
Em seus aposentos, as seguintes pessoas: o camareiro-mor; o vice-camareiro; 12
cavaleiros-escudeiros, porteiros de dia — além de dois em seu quarto privado; e quanto
a cavaleiros-porteiros, em seu quarto privado ele tinha seis; tinha nove ou dez mo-
res... E entre os cavaleiros, como copeiros, trinchantes, mordomos [encarregados de
indicar os lugares aos convidados] e criados de mesa, tinha 40 pessoas; entre oficiais
escudeiros tinha seis; entre valetes em seus aposentos, oito; entre oficiais em seus
aposentos, 46 diariamente para atender a sua pessoa; e também um sacerdote, que
era seu esmoler, para sentar à sua mesa para jantar...33
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Festejo na corte da Borgonha. A mesa em “L” reserva o lugar de honra para a noiva na extrema
esquerda; entre os hóspedes é possível reconhecer vários membros da família ducal. A humilde
fatia de pão foi aqui promovida ao formato de pequenos pratos retangulares, decorados com bordas
de prata dourada. Detalhe de As bodas de Caná, c.1500.
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da Inglaterra eram festejados pelo duque de Alençon, e numa terceira, bem maior,
onde mais tarde deveria acontecer música e dança, havia um banquete público.
Enquanto isso, Francisco I jantava no palácio temporário erigido pelos ingleses em
Guisnes. Sentou-se diante da rainha inglesa, enquanto o cardeal Wolsey e a irmã de
Henrique VIII, Mary, duquesa de Suffolk, sentava-se na ponta da mesa. No salão 20
cavalheiros faziam companhia a 130 damas, e em outro salão na cidade de Guisnes,
200 cavalheiros festejavam.40 Em todos estes arranjos a principal preocupação era
a afirmação visual da hierarquia por meio de atos de separação.
O palácio temporário erigido pelos ingleses em 1520 é um lembrete de ou-
tro desenvolvimento, a criação de elaborados e efêmeros cenários para grandes
banquetes. Isso podia se dar como uma mise-en-scène sobreposta a um salão já
existente, ou num salão especial construído para a ocasião. Quando Filipe, o Bom,
casou-se com Isabel de Portugal, em 1430, o pátio foi transformado num salão de
banquetes completo, com uma galeria de menestréis para 60 pessoas, hipocraz e
água de rosas saindo da boca de um veado e de um unicórnio, e árvores douradas
com os escudos das terras dominadas pelo duque.41 Quase quatro décadas depois,
em 1468, essa mesma arrumação foi repetida quando Carlos, o Audaz, se casou
com Margarida de York, acrescentando-se uma galeria de onde as senhoras podiam
observar a festa. O teto era de seda azul, e das paredes pendiam tapeçarias com
a história de Jasão e o velocino de ouro, e tanto acima como atrás da mesa alta
havia um rico tecido em ouro bordado com as armas ducais.42
Os adornos das paredes eram um cenário para exibições mais pomposas e
ricas. O século XIV viu o surgimento dos dressoirs de parement — aparadores cujo
único propósito era a exibição de pratos — que já haviam se tornado uma carac-
terística na França no segundo quarto de século.43 Esses aparadores — que inicial-
mente tinham o simples propósito de servir de lugar para as bebidas colocadas em
grandes jarros, para a comida antes de ir para a mesa e para guardar os utensílios
— começou a ter vida própria. Em casas menos luxuosas, o aparador continuou
sendo funcional. Le ménagier de Paris recomendava que os escuiers ficassem no
dessouer de sale, de onde iam e voltavam as colheres, hanaps (taças enfeitadas) e
outros pratos. Ao mesmo tempo o vinho deveria ser despejado e servido ali. Mas
no palácio o aparador realmente tinha se tornado uma coisa muito diferente,
basicamente um veículo para exibir a prataria. No banquete que Carlos V ofe-
receu ao imperador Carlos IV, em 1378, havia nada menos que três aparadores
carregados de baixelas. Cada um deles tinha uma barreira em volta e uma guarda
protegendo a exposição. No século seguinte essa tendência à exibição ofuscante
continuou irrefreada. No casamento borgonhês de 1429 havia um aparador de
cada lado da sala, todos com seis metros de comprimento e as baixelas expostas
em cinco prateleiras.44 No casamento de 1468, o aparador tinha a forma de um
losango erguendo-se em diversos níveis; as prateleiras mais baixas, carregadas de
grandes peças de ouro e prata, subiam gradualmente e culminavam com peças
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status e podiam ser simples malgas de madeira, feitas do cecídio do bordo, com
engastes de prata ou prata dourada. Eram usadas em grandes ocasiões, enquanto
copos baixos e largos eram empregados nas refeições comuns. De todas as vasilhas
de beber a sobrevivência mais espetacular é o Copo Real de Ouro, enfeitado com
um desenho em esmalte com a história de santa Agnes e sua irmã postiça, santa
Emerenciana. Registrado num inventário da prataria de Carlos VI, em 1391, é
pesado demais para ter servido a outros propósitos que não os cerimoniais.50
Ao final do século XIII surgiram outros itens na baixela — o pot à vin e o pot à
eau, que ficavam na mesa ou no aparador. Aos poucos tais recipientes passaram a
ser feitos de prata ou de ouro, particularmente no caso conhecido como temprier
(isto é, temperança). Na verdade, para aqueles que podiam pagar, muitos pertences
de mesa anteriormente de madeira ou argila serviram de transição para os metais
preciosos. No século XV a fatia de pão universal começou a ser feita de ouro e prata
nas mesas reais e principescas. Com isso já estamos muito perto dos pratos de comer.
Até mesmo o oveiro já existia em 1363, pois o inventário de Carlos V, então ainda
duque da Normandia, registra “uma pequena vasilha de prata para comer ovos”. Em
1403 essas peças haviam adquirido tampas para manter quente o conteúdo.51
A baixela do fim do período medieval era uma orgia de imagens, muitas de-
las humorísticas e espirituosas, destinadas a divertir e ensinar: pássaros e animais,
figuras de romanças e de lendas, camponeses e sereias, flores e escudos de armas
— e toda a gama do simbolismo cristão. Usavam-se jaspe, calcedônia, vidro e cristal,
bem como conchas exóticas, cascas de nozes e de ovos de avestruz, enfeitados de
ouro, prata, esmalte e pedras preciosas.
Na Europa continental o elemento mais importante entre todas essas peças
novas era a naveta — recipiente associado apenas a reis, cardeais e grandes se-
nhores.52 Assim como a tendência a comer em lugar separado, seu surgimento
reforçou a nova ênfase na gradação hierárquica, pois na mesa a naveta era sempre
colocada na vizinhança de seu proprietário. Sua forma (cujo nome, como a palavra
nave, vem do equivalente francês para “navio”) origina-se do recipiente usado para
guardar incenso. Era em geral empregada apenas com propósitos ostentatórios,
mas às vezes continha elementos necessários. A naveta de Carlos V guardava
uma língua de serpente (usada para detectar veneno), uma colher, uma faquinha
e — coisa muito rara — um garfo pequeno. Algumas vezes as placas de cortar
carne, feitas de metal, eram guardadas nela; em 1484, na festa de coroação de
Carlos VIII, a naveta continha guardanapos. Um século antes, em 1395, a naveta
de ouro de Luís de Orléans mostrava um quadro da Anunciação no castelo de
proa, com os 12 apóstolos no convés e os quatro evangelistas na ponte. Uma
vela tinha uma cruz de esmalte azul com flores-de-lis douradas cercadas por oito
anjos, com Deus Pai adejando acima. Nas águas salpicadas de jóias que cercavam
o navio, estavam mais duas figuras de Deus Pai e oito de Adão e Eva, bem como
o papa e o imperador! Havia navetas em todas as partes, não apenas na França,
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mas também na Espanha, Alemanha, Itália e Países Baixos. Apesar disso, poucas
restaram — como a naveta que pertenceu a Ana da Bretanha, que foi dada por
Henrique II à cidade de Rheims e transformada em relicário.
Na Inglaterra, o papel que a naveta desempenhara no continente europeu
foi assumido pelo grande saleiro.53 Este também era um elemento de fantasia dis-
pendioso, mas raramente usava imagens marítimas (embora se afirme que Eduar-
do II possuía um saleiro com o formato de um navio sobre quatro rodas). Um
dos saleiros de Ricardo II tinha a forma de um falcão coroado e ao pescoço uma
corrente com elos em forma de “s”; outro representava um dragão saindo de um
búzio. Henrique VI possuía um na forma de castelo, com recipientes para sal em
cada uma das quatro torres, e outro representando um homem com um gorro de
lã. Tratava-se de saleiros grandiosos, atributos de soberania e poder, marcadores
do lugar à mesa indicando que a pessoa ali sentada estava no ápice da hierarquia
do jantar. Provavelmente esses saleiros grandiosos não eram muito usados, pois
crescia o número deles feito em ouro ou prata, menores e obviamente mais prá-
ticos. Piers Gaveston, notório favorito de Eduardo II, tinha nada menos que 30 na
bagagem quando foi capturado em 1313.
Ironicamente, a maior de todas as peças de exibição não era o saleiro, mas a
fonte de mesa.54 Constituíam não apenas chefs d’oeuvre da ourivesaria, mas também
elementos de extrema engenhosidade, com líquidos, vinho e água perfumada
espirrando e borrifando, e, quando pressionados, mostravam figuras movendo-se
e sinos tocando. Sabemos que essas fontes já existiam no século XIII e começaram
a aparecer nos inventários durante o século XIV. Em 1311, Luís, conde de Flandres,
tinha várias, e também a rainha Jeanne de Borgonha. Ela morreu em 1348, legando
diversas fontes, inclusive uma “na forma de um castelo, com pilares de alvenaria
e homens de armas em torno...”. Dezessete anos depois Luís d’Anjou também
tinha uma fonte em forma de castelo, desta vez um Château d’Amour apoiado
nos ombros de 12 homenzinhos. A fortaleza era atacada por seis cavaleiros e
defendida por senhoras que guarneciam as ameias, enquanto menestréis trombe-
teavam nos portões. O exemplar sobrevivente no museu de Cleveland (Ohio),
embora sem o reservatório e os pés, mostra bem a magnificência dessas peças,
cujo único propósito era provocar espanto. Neste exemplar, oito colunas servem
de apoio a muros de ameias das quais se projetam gárgulas, onde se encontram
quatro homens nus carregando esferas enfeitadas com sinos e esguichos. Acima,
numa segunda fileira, dois dragões empurram uma roda enfeitada com sinos,
tendo no cume um grupo de dragões e leões deitados. Embora os estudiosos não
estejam certos da data exata no século XIV em que este extraordinário brinquedo
aristocrático foi feito, não há dúvida sobre sua capacidade de impressionar num
banquete, borbulhando e brilhando.
Este tour de force resume os novos extremos de luxo sofisticado que estratifi-
cava as classes, pois mesmo bem abaixo na escala social a mesa era abarrotada de
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banquete
artefatos como nunca acontecera antes. Nos níveis mais inferiores, as vasilhas eram
de estanho, cobre, ferro ou madeira. Porém, cada vez mais qualquer pessoa com
pretensões a status devia ter algumas colheres de prata ou uma taça de prata. E a
exibição não se fazia apenas com objetos de metal, pois à medida que a produção
de cerâmica na Europa se desenvolvia no século XIII, surgiram pela primeira vez
vasilhas de luxe, peças dignas de serem exibidas no aparador.55 Como no caso da
baixela, novas formas foram criadas em resposta à crescente elaboração do ato
de comer. Surgiram os esmaltes, refletindo não apenas as variações regionais,
mas também as funções. No Franco-Condado ou no Nord-de-Pas-de-Calais, por
exemplo, o cinzento era para a cozinha e vermelho ou branco para a mesa. Mas
a cerâmica iria perder prestígio quando a faience de cores brilhantes, originalmente
de origem espanhola, se impôs a partir de 1450. Eram peças de luxe, para exibição,
e não para uso. As vasilhas de beber e os jarros continuaram sendo feitos de vidro,
é claro. Na base da pirâmide social os camponeses descobriram que objetos de
madeira torneada lhes ofereciam tudo o que precisavam no que dizia respeito a
pratos, tigelas, colheres e facas. No entanto, mesmo isso representava um avanço
em relação ao que usavam antes.
Juntos, todos esses artefatos significaram uma revolução no consumo, desti-
nada a definir a posição do comensal na escala social. Isso ocorria até mesmo no
caso da realeza. Quando Francisco I foi pela primeira vez festejado no Campo do
Tecido de Ouro, serviram-lhe num prato de ouro. Catarina de Aragão, a duquesa
de Suffolk — respectivamente mulher e irmã do rei da Inglaterra — e o cardeal
Wosley tiveram de se satisfazer com prata dourada.56 Isso pode parecer uma dis-
tinção clara para os olhos modernos, mas não para os da época.
O festejo iria crescer de importância nos dois séculos anteriores a 1500, no papel
de imagem ideal da sociedade, ampliado pelo cerimonial ainda mais elaborado
que isso implicava. Nas romanças cavalheirescas do final do período medieval o
festejo sempre figura como símbolo de alegria e harmonia, ocasião para exibição das
virtudes decorrentes do bom nascimento e do exercício da cortesia. Pela primeira
vez temos abundância de descrições visuais das refeições seculares baseadas em
protótipos bíblicos, como o banquete de Herodes, as bodas de Caná e a Última
Ceia. Tais associações sagradas serviam para aumentar o poder de outros simbo-
lismos não-religiosos ligados ao jantar. A ofensa mais séria que se podia infligir a
um cavaleiro, por exemplo, era cortar a toalha de mesa à sua esquerda e à sua
direita, querendo com isso dizer que ele fora falso com a honra e, portanto, estava
apartado da sociedade. Esse tratamento foi instituído por aquele que foi a flor da
cavalaria do final do período medieval, Bertrand du Guesclin, no reino de Carlos V.58
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Jantar cotidiano num salão da Inglaterra no século XV. No centro está sentado o senhor da casa e sua
mulher, à direita dois sacerdotes, à esquerda dois filhos e uma filha. Um criado ajoelha-se para servir.
Iluminura de Luttrell Psalter, c.1420-40.
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Cerimonial de ablução das mãos. Os convivas entram pela direita, e um servo derrama água
em suas mãos. À mesa a mesma ação acontece com um personagem real servido de joelhos.
Iluminura italiana, c.1320-50.
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tão fora de controle que uma proclamação tentou dar ordem à situação. Decretava
que o número de serviços deveria “ser regulado segundo a posição da pessoa mais
importante entre os presentes”: nove serviços para um cardeal, seis para um lorde
do Parlamento e três para um cidadão com uma renda anual de 500 libras.72
Em qualquer casa, a norma continuava sendo de duas refeições por dia — jantar e
ceia, uma refeição mais leve, logo após o crepúsculo. No entanto, ao longo do século
XV começaram a acontecer pequenas mudanças. A ceia passou para mais tarde, às
sete ou oito horas, e apareceu o desjejum, ainda raro.73 No Black Book de 1478, da
casa de Eduardo IV, o desjejum era permitido apenas aos proprietários de terra ou
superiores. A mesma fonte também informa que o jantar era às dez da manhã e a
ceia às quatro da tarde, caso o rei e a rainha fizessem as refeições no salão; quando
eles comiam privadamente em seus aposentos — o que ia se tornando cada vez mais
comum — ambas as refeições eram servidas uma hora mais tarde.74
O ritual do comer era mais ou menos o mesmo por toda a Europa, depen-
dendo da posição hierárquica dos comensais e da grandeza da ocasião. Todas as
refeições começavam com a ablução das mãos (embora em geral com muito menos
formalidades que as abluções de Carlos, o Audaz, descritas anteriormente). O rito
da prova — testar praticamente tudo para verificar a presença de veneno — era
padrão apenas para monarcas e outros nobres, até os que tinham o título de conde
(pelo menos na Inglaterra).75 Vários funcionários domésticos eram encarregados
de realizar essa tarefa, mas quase sempre o mordomo testava a bebida, e o des-
penseiro a comida.76 Chifres de unicórnio (normalmente dentes de narval) tinham
sua função em tais testes, mas eram muito mais comuns os dentes fossilizados de
tubarão — que se acreditava ser “línguas de serpente” — que muitas vezes vinham
amarrados com pequenas correntes à taça ou ao saleiro. Pedras de bezoar, um
nódulo calcáreo que se forma no estômago ou intestinos de certos animais, também
eram usadas como antídoto contra veneno. Tais objetos eram raros e altamente
valorizados, portanto tidos como bons presentes. Em 1318 Felipe, o Longo, deu
ao papa João XXII um “belo languier de ouro, entremeado de rubis, esmeraldas e
belas pérolas, contendo seis línguas de serpente”.77
Nos grandes banquetes, os pratos entravam em procissão. Em 1490, nas festas
de casamento de Afonso, filho de João II de Portugal, um toque de trombetas,
tambores, charamelas e sacabuxas assinalou a entrada dos reis de armas, arautos e
passavantes, todos de cabeças descobertas, exceto o principal membro da procissão,
o camareiro-mor. Ao chegar ao centro do salão, todos se curvaram profundamente
em frente à mesa do rei. Assim cada serviço era trazido, inclusive um que consistia
de um carro dourado com um boi e carneiros assados, ambos com chifres e cascos
dourados.78 Numa festa dada na Bastilha, em 1518, a procissão começou com oito
trombeteiros, seguidos por 12 arqueiros e seu capitão, cinco arautos, oito oficiais
e finalmente o grande mestre. Vinte e quatro pajens de honra levaram os pratos
para a mesa alta, enquanto os arqueiros carregavam o resto.79 A comida, como
revela as iluminuras dos manuscritos, era servida de joelhos.
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Um despenseiro em ação numa festa de casamento, com a noiva entronizada sob um pálio
e suas damas de honra ao lado. Terminado seu trabalho, ele entrega um prato ao trinchante.
À sua frente estão as três facas que usou para cortar os pães em fatias, algumas diante dos
comensais e outras arrumadas à esquerda. Iluminura flamenga, final do século XV.
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aos olhos do espectador
Jantando ao ar livre numa caçada. O senhor e seus convidados estão sentados a uma mesa alta,
e o resto come em toalhas estendidas na grama. Iluminura francesa, começo do século XV.
97
banquete
Cabeça de javali armada, caldo de Almain como sopa, depois marreco assado e galinhola,
faisão e maçarico. O segundo, perdiz, coelho, pato selvagem [todos presumivelmente
assados] com blandesire [um manjar branco com pedaços de galinha], caudel ferre [vinho
adocicado e engrossado, aquecido com gema de ovo batida] com flampoyntes [empadão
com recheio de carne de porco decorado com massa frita] de creme e tortas. A terceira
rodada, calhandra, tarambola e galinha recheada, depois mawmene [neste caso, um prato
de carne ou galinha picada num molho de vinho e amêndoas moídas].
98
aos olhos do espectador
harpista; mas a grande maioria de seus convidados diários vinha para negócios
— eram equipes de outros domínios, bailios, auditores, arrendatários.86 O almoço
de negócios certamente não é uma invenção do século XX.
Os tratados sobre boas maneiras multiplicaram-se nesse período, demonstrando
não só o crescimento do número de leigos alfabetizados como também o agudo
desejo de ascender socialmente. Um dos mais influentes livros de etiqueta do século
XIV foi Cinque volgari, de Bonvesin de la Riva. Não era dirigido a um público aristo-
crata, mas à emergente burguesia italiana. Cinque volgari trata de tudo. O comensal
devia entrar no salão bem-vestido, alerta, alegre e afável o tempo todo. Cumpria ser
gracioso em sua conversa tanto antes como durante a refeição. À mesa, não devia
ficar relaxado, nem se torcer, nem apoiar-se nos cotovelos, cruzar as pernas, encher
demais a boca, criticar a comida ou a bebida, ou molhar o pão no vinho. Cabia
lembrar-se de virar para o lado quando espirrasse ou tossisse e de cortar a carne para
as senhoras. Tais regras estritas — e estas são apenas algumas delas — apareciam pela
primeira vez e seriam reiteradas durante os séculos até os nossos tempos.
Livros e versos sobre o tema apareceram mais cedo na Itália e na França do
que na Inglaterra. Na Inglaterra e no norte da Europa havia muito mais ênfase na
hierarquia, um aspecto resumido no título de um livro inglês do século XV: “Para
ensinar todos homens que desejarem servir um senhor ou mestre em tudo o que lhe
agrade.” Era de se esperar que a maioria dos jovens de classe alta, como o proprie-
tário de terras de Chaucer, que fazia as vezes de trinchante para o pai, aprendesse a
etiqueta cortesã. Na corte de Eduardo IV era tarefa do mestre de Henchmen ensinar
aos jovens uma ampla gama de habilidades sociais, inclusive “a maneira masculina
de comer e beber”. The Babes Boke, escrito por volta de 1475, é típico no gênero.
Começa com a chegada do senhor, ao meio-dia. Esteja pronto, diz o livro, com a
água para ele se lavar e uma toalha. Espere que sejam dadas graças, mas não se sente
até que o senhor permita. Então fique quieto e não conte histórias.
O poema continua com uma longa lista. Não inclinar a cabeça para a mesa,
não beber com a boca cheia, não mexer no nariz, nos dentes ou nas unhas, não
encher demais a boca, não pegar na parte superior do copo (eles eram partilhados),
não passar a carne no sal, não colocar carne na boca com a faca e, mais importante,
não comer feito um camponês. Falar apenas quando lhe dirigirem a palavra, limpar a
99
banquete
boca antes de beber, dividir qualquer pedaço bom com os outros convivas, manter-se
sentado até a ablução final das mãos e ajudar as senhoras que estiverem perto.
No relato de Gentile Sermini, de Siena, a respeito de um cozinheiro urbano
que se queixava da conduta nada refinada de uma pessoa do campo, podemos
ver quanto os bons modos acentuam a divisão social:
Ele enche a tigela com pedaços compridos de pão, que corta segurando-o contra o
peito. ... Quando as mãos estão engorduradas, não sabe o que fazer, pois está acos-
tumado a limpá-las no peito ou nos lados, para não sujar a roupa ou a toalha branca.
Qualquer um que não fosse um aldeão ficaria desgostoso com seus modos.
É costume seu devorar tudo em sua grande tigela, antes mesmo de comer o
primeiro bocado de carne; então ele mistura tudo: carne e molho e grandes pedaços
de pão. Não lambe os dedos, simplesmente, parece que está chupando fiedoni [uma
massa com recheio mole].88
100
aos olhos do espectador
de ir à missa; jantava em seguida e ceava às seis. Além disso, as ceias reais não se
realizavam no palácio, mas no Hôtel St. Paul, para onde Carlos convidava seus
favoritos. Esperava-se que cada um fosse mais extravagante que o outro, no que
dizia respeito à indumentária. Ali a hierarquia à mesa era ignorada, a conversa era
leviana e educada, os folguedos corteses entre os sexos muitas vezes iam longe
demais e comia-se e bebia-se muito. O que é pior, ao pecado da gula acrescentava-
se o do jogo, estritamente proibido pela Igreja, com o luxo e a luxúria espreitando.
Um comportamento desses num monarca provocava críticas acerbas, e a culpa
caía sobre os cortesãos malvados, parvenus que haviam levado o rei para o mau
caminho. Os protestos, no entanto, decorriam de algo mais profundo que a mera
repulsa ao pecado. O rei era visto como a cabeça do corpo político, os camponeses
eram seus pés. Constituía dever do rei desempenhar o papel de governante, dei-
xando-se ver comendo, sentado de maneira a refletir seu significado hierárquico,
a comida que os “pés” haviam produzido. Ao deixar de fazer isso, Carlos estava
violando a ordem estabelecida e abdicava de sua responsabilidade.
Jantar burguês. Um mercador e sua mulher comendo no quarto de dormir, com um banco e
uma mesa de cavaletes montados em frente ao fogo. Iluminura flamenga, c.1440.
101
banquete
EM CENA O ENTREMET
102
aos olhos do espectador
culo XII inclui um prato de carne bem temperada, adoçada com mel e misturada
a queijo e amêndoas, chamada teste de tourk. Seria feita à feição de uma cabeça
[tête] de turco? A primeira versão do Viandier, de cerca de 1300, apresenta vários
pratos que nas versões posteriores do manuscrito são chamados de entrèmes.
Um deles é bastante elementar, feito de carne moída com especiarias, cozida e
engrossada com pão e misturada com açafrão, para ganhar tom amarelo. Depois
polvilhava-se a carne com canela e adicionava-se agraço, para ficar com um sabor
ácido. Exceto pela cor, no entanto, é difícil ver esse tipo de prato como ancestral
do que veio a se tornar uma grande produção teatral.
No começo do século XIV, os entremets começaram a se transformar em algo
muito mais exótico. O Liber de coquina daquela data dá a receita de um capite mona-
chi (cabeça de monge) feito de massa, frutas e especiarias que tinha uma coroa em
forma de ameias; o livro também fornece receitas das estatuetas de um músico e de
um prestidigitador feitas em massa. Para o mesmo período, as receitas mais antigas
ensinavam como cozinhar um pavão e servi-lo recomposto com as penas. No final do
século, no Viandier, o pássaro era dourado e servido com a cauda aberta. No entanto,
quando cruzamos o século XV, no manuscrito do Vaticano do Viandier aparece um
Pratos figurativos como entremet. Um pavão com as penas abertas é servido num banquete.
Iluminura francesa, século XV.
103
banquete
novo tipo de entremet que em tese nada tem a ver com o cozinheiro e tudo a ver
com o equivalente medieval do aderecista e pintor de cenários. Incluí um castelo,
são Jorge, santa Marta e um cavaleiro montando um cisne. Trata-se, aparentemente,
de uma série de préstitos que deveriam entrar na arena do jantar.
Com isso fica claro que por volta de 1400 a palavra entremet referia-se a vá-
rias manifestações que tinham lugar nos intervalos entre os serviços nos grandes
banquetes. Havia, por exemplo, o prato solitário trazido em triunfo, e também
coleções de pratos, reunidos como parte de um carro triunfal sobre rodas que às
vezes incluía cantores e atores. E finalmente um evento puramente teatral, em
que a comida desempenhava um papel pequeno, ou mesmo papel algum. E esses
tipos de entremets se misturavam e sobrepunham.
Em setembro de 1317, o papa João XXII deu uma festa em Avignon para o
sobrinho. Nela aconteceu um entremet feito com 20 capões e outras aves misturadas
com farinha de trigo, açúcar, confeitos e mel, no formato de um castelo.97 A obra
claramente destinava-se a ser comida. Quase 30 anos depois, em 1343, o cardeal
Annibale de Ceccano deu uma recepção para o papa Clemente VI, também em
Avignon. Desta vez o castelo não se destinava a ser comido, mas era muito maior,
suficientemente grande para conter um veado adulto, um javali, algumas corças,
lebres e coelhos (que devem ter sido comidos). Após o quinto serviço apareceu
uma fonte, acima da qual havia uma torre e uma coluna. Delas jorravam cinco
tipos de vinho, e, assim como o castelo, o conjunto era enfeitado com esculturas
comestíveis: pavões, faisões, perdizes, garças e outras aves de caça. Entre o sétimo
e o oitavo serviços foram trazidas duas árvores, uma delas prateada, com maçãs,
pêras, figos e ameixas douradas, e outra verde e cintilante, com doces de frutas
multicoloridas. Eram claramente sobremesas.98
Na corte papal em Avignon, o entremet já havia percorrido um longo caminho
desde o simples prato com um cisne ou um faisão em suas próprias penas, ou —
outro favorito — o javali cuspindo fogo. Mas uma corte longínqua como a escocesa
estava bem atrasada. O javali era ainda visto como o máximo da sofisticação em
1449, quando uma filha do duque de Guelders casou-se com Jaime II: “O primeiro
prato a ser trazido e apresentado a eles [ao rei e à rainha] foi uma cabeça de javali
num prato imenso. Em volta da cabeça havia bem umas 32 bandeiras com as armas
do rei e de outros senhores do país. Então o recheio foi consumido em chamas,
para grande alegria de todos na sala.”99 Em outros lugares, como por exemplo a
corte da Sabóia, tais coisas eram estritamente passées. Vinte anos antes mestre Chi-
quart havia descrito como fazer uma cabeça flamejante de javali, antes de passar
rapidamente para uma construção muito mais interessante e complicada, à maneira
de Avignon: “um castelo, no meio do qual havia uma Fonte do Amor”, carregado
numa liteira por quatro homens. De acordo com a sua descrição, as muralhas do
castelo eram de massa feita de carne pintada, rodeadas por ondas; galeras e navios
cheios de soldados aproximavam-se para atacar a fortaleza. Dentro dele, três ou
quatro jovens deviam estar sentados, “tocando muito bem uma rabeca, um alaúde,
104
aos olhos do espectador
um saltério e uma harpa; e eles deveriam ter boas vozes e cantar canções suaves
e agradáveis”. O interior do castelo deveria ter quatro torres repletas de modelos
de arqueiros e balesteiros. Em cada torre haveria uma árvore com flores, frutos e
pássaros. E então vinha o que mostra claramente a ligação entre os elementos: ao
pé das torres viria um verdadeiro zoológico de animais comestíveis — a cabeça de
javali cuspindo fogo, um lúcio grande cozido de três maneiras diferentes, um leitão
confeitado e um cisne com suas penas (também cuspindo fogo). Antes (e mesmo
então nas lonjuras como a Escócia) cada um destes últimos itens teria aparecido
separadamente. E havia mais: da Fonte do Amor, no interior do castelo, deveria
jorrar água de rosas e vinho quente, e gaiolas de pombos e outros pássaros vivos
ficavam penduradas acima dela; um pavão com a cauda aberta e recheado com
carne de ganso assada (possivelmente uma prova de como era ruim a carne de
pavão) ficava perto da fonte; o pátio do castelo deveria estar cheio de bonecos
feitos de pasta de carne — lebres, cachorros, veados, porcos selvagens e caçadores
—, bem como de itens comestíveis, como perdizes, galinhas disfarçadas de ouriços,
lagostas e bolas de carne com geléia espalhada em cima. No ponto mais alto do
castelo, uma floresta de bandeiras heráldicas, galhardetes e flâmulas. Um peso
considerável para quatro homens e uma liteira.100
A corte borgonhesa iria levar tudo isso ainda mais longe, coreografando os
alimentos num espetáculo esmagador, destinado a exaltar a dinastia ducal. Quando
em 1435 o duque promoveu uma festa, pouco depois do tratado de Arras, para
o rei René de Anjou, a decoração consistia de duas grandes mesas; em cada uma
delas foi colocado um pilriteiro coberto de flores de ouro e prata, com a folhagem
enriquecida com ouropel e adornada com as armas heráldicas da França e dos ou-
tros convidados. Dezoito árvores menores tinham as armas ducais. Essa decoração
compunha a entrada do entremet, em que havia um pavão cercado por dez leões
dourados, cada qual com uma bandeira figurando as armas de todas as terras du-
cais.101 Tal composição é o exemplo máximo da superimposição da heráldica sobre os
alimentos com propósitos políticos, um leitmotiv de todos os banquetes borgonheses
— e que as outras cortes logo iriam copiar. Na realidade os duques não governavam
reino algum, mas um grupo de domínios espalhados; ao ostentar as cotas d’armas
assim reunidas, tentavam forjar uma unidade que nunca existiu.
O movimento de transformar o banquete de Estado num cenário político deve
ter atingido seu apogeu nos festivais que marcaram o casamento de Carlos, o Audaz,
com a princesa Margaret de York, em 1468. Nessa ocasião, duas festas tentaram
alcançar a apoteose dinástica por meio da comida metamorfoseada. Na primeira
ocasião, os convivas encontraram, ao entrar, 15 cisnes dourados e seis prateados,
cada um com o colar da Ordem do Velocino de Ouro e as armas de cada cavaleiro.
A mesa estava abarrotada de elefantes carregando castelos, camelos com cestas,
veados e unicórnios em ouro, prata e azul, cheios de confeitos. Cada figura levava
uma bandeira com as armas de uma província do duque.102 Poucos dias depois houve
uma reprise no banquete final. Desta vez havia 30 pratos nas mesas, cada um com
105
banquete
jardins em miniatura cercados por sebes douradas. No meio do salão, uma árvore
dourada tinha carnes empilhadas à sua volta; a árvore propriamente dita era ornada
com frutos, flores e as armas das 30 abadias dos domínios ducais. Perto do lugar do
duque, um modelo de palácio exibia figuras mecânicas e uma fonte jorrava água de
rosas, como se estivesse regando os jardins em miniatura.103
Na Inglaterra do século XV, a comida como alegoria seguiu uma direção
muito diferente daquela da Europa continental. O fenômeno, aí, veio a ser
conhecido como sutileza.104 É difícil saber se as sutilezas eram comestíveis, mas
certamente eram feitas para se colocar à mesa de jantar. Já as vimos menciona-
das no relato de George Cavendish sobre os alimentos figurativos apresentados
pelo cardeal Wosley aos embaixadores franceses em Hampton Court, em 1527.
Porém a referência mais antiga às sutilezas aparece na descrição de um banquete
dado pelo bispo de Durham a 23 de setembro de 1387. Ao final de cada servi-
ço, aparecia a frase “E uma sutileza”. Mas só em 1417 encontramos a descrição
de uma delas, numa festa celebrando a entronização de John Chaundler como
bispo de Salisbury. Na ocasião, foi apresentada ao bispo uma série de sutilezas
— um Agnus Dei, um leopardo e uma águia. Quatro anos depois temos uma
descrição levemente ampliada no banquete de coroação da noiva de Henrique
V, Catarina de Valois. A primeira sutileza era um pelicano alimentando os filhos
com o sangue do peito, uma figura heráldica clássica; a segunda era a homônima
da rainha, santa Catarina, padroeira do conhecimento, discutindo com doutores
letrados; e a terceira figurava novamente santa Catarina, desta vez com sua
roca. A sutileza final representava um tigre heráldico segurando um espelho e
um homem fugindo a cavalo, carregando os filhotes do animal e jogando pelo
chão outros espelhos. Acreditava-se que um tigre não resistia ao olhar o próprio
reflexo no espelho, de modo que certamente tratava-se de uma alegoria para
Henrique V carregando sua noiva Valois.105
Tudo isso pretendia ser mais que uma mera adulação cortesã. Eram declara-
ções profundas, expressas nos termos do final do período medieval. As sutilezas
que foram criadas para a coroação da filha do rei Henrique VI em 1432 tentavam
estabelecer uma iconografia real inteiramente nova para a esperada monarquia
dual de França e Inglaterra. Cada sutileza tinha seu significado expresso em versos
de John Lydgate. A série culminava com os santos patronos dos dois países, são
Jorge e são Denis, apresentando o jovem monarca à Virgem, que lhe oferecia uma
coroa. Os versos eram como uma invocação:
106
aos olhos do espectador
107
banquete
Paris, o assunto foi o cerco de Tróia. Esse entremet incluía um castelo em miniatura,
Tróia, um pavilhão para os gregos e um navio, mas tudo terminou em desastre,
porque a pressão das pessoas foi tão grande que uma mesa virou, e o grupo real
teve de se retirar para seus aposentos.111
Esses intervalos dramáticos logo se tornaram padrão, pois a idéia se espalhou
com notável rapidez. Já havia alcançado Barcelona em 1399, quando uma série
deles foi encenada na coroação da esposa de Pedro IV de Aragão. Dessa vez cada
serviço era precedido por um pequeno drama — soldados matando um dragão,
músicos numa rocha sustentando um leão ferido, atores aprisionados num castelo.112
Em 1434, no casamento do filho do duque de Sabóia, em Cambéry, um navio
com velas abertas e cercado de sereias cantando avançou até a mesa alta, onde
descarregou os pratos de peixe. Na ceia, um cavalo disfarçado de elefante carre-
gando um castelo entrou a passo marcado. Cupido, vestido com penas de pavão,
surgiu do castelo e atirou rosas brancas e vermelhas para os convivas. Em outra
festa, uma grande torta foi levada num carro e dela saltou um homem fantasiado
de águia, batendo as asas e soltando um bando de pombos brancos.113
Embora Lydgate escrevesse cenários para mímicas modestas no começo do
século XV,114 só em 1502 os espetáculos do tipo borgonhês enfeitaram os salões
de banquetes dos reis da Inglaterra. As fêtes encenadas em novembro daquele
ano duraram uma semana e marcaram um triunfo político do início da era Tudor,
o casamento do filho de Henrique VII com Catarina de Aragão. Foi usado todo
o repertório do entremet: castelos, montanhas e fontes. Mas o que mais chama
a atenção é a participação de membros da corte. Músicos profissionais, atores e
cantores tocaram, declamaram e cantaram, mas os papéis centrais nos interlúdios
dramáticos couberam aos senhores e senhoras. Num entremet, dois montes, um
verde, simbolizando a Inglaterra, o outro crestado pelo sol, simbolizando a Espa-
nha, eram ligados por uma corrente dourada. No monte inglês sentavam-se 12
cavalheiros, no espanhol, 12 damas — uma delas vestida como a infanta —, que
desceram e dançaram o que deve ter sido uma coreografia especial.115 Tal espetá-
culo levaria, no devido tempo, às mascaradas da corte dos Stuart.
Nenhuma discussão sobre os banquetes do final do período medieval esta-
ria completa sem o relato do mais famoso de todos, a Festa do Faisão, realizada
pelo duque Felipe, o Bom, em 17 de fevereiro de 1454, em seu castelo de Lille.
Aconteceu um ano depois da tomada de Constantinopla pelos turcos, sendo seu
propósito lançar uma cruzada européia. Reunidos no salão para testemunhar o
acontecimento estavam não apenas 500 convivas, inclusive membros da família
ducal, a aristocracia e representantes do comércio e dos negócios, mas também
espectadores acomodados em cinco plataformas especialmente construídas, co-
nhecidas como estrades. Era uma exibição de hierarquia em grande escala, com o
duque vestido de negro e prata, adornado com jóias no valor de um milhão de
écus d’or, e os criados vestidos de maneira a combinar com seu senhor. A festa
durou até as quatro horas da manhã do dia seguinte, e toda a casa colaborou com
108
aos olhos do espectador
Entremet realizado num banquete dado por Carlos V da França em honra ao imperador Carlos IV,
1378. Um navio sobre rodas entra pela esquerda, enquanto, à direita, cruzados liderados por
Godofredo de Bouillon atacam e capturam Jerusalém. Iluminura francesa, final do século XIV.
109
banquete
ela — poetas, artistas, músicos e artesãos, para não falar dos cozinheiros ducais, já
que cada serviço tinha nada menos que 48 pratos.116
O efeito avassalador do acontecimento é resumido numa carta escrita por
um dos participantes:
Os pratos eram tais que precisavam ser servidos em carrinhos e pareciam infinitos
em número. Havia tantos e tão curiosos que é difícil descrevê-los. Havia até mesmo
uma capela na mesa, e nela um coro, um pastel de carne cheio de flautistas e um
torreão emitindo o som de órgão e outras músicas. Encostada a um pilar, a figura de
uma moça bastante despida. Hipocraz jorrava de seu seio direito, e guardava-a um
leão vivo, sentado perto dela, numa mesa diante do duque meu senhor. A história
de Jasão foi representada, num palco elevado, por atores que não falavam. Meu se-
nhor o duque foi servido por um cavalo de duas cabeças montado por dois homens
sentados de costas um para o outro, cada qual com uma trombeta tocada o mais
alto possível, e depois por um monstro, consistindo de um homem montado num
elefante, com outro homem nos ombros e os pés escondidos. Em seguida veio um vea-
do branco montado por um menino que cantava maravilhosamente, enquanto o veado
acompanhava-o com a parte do tenor. Em seguida surgiu um elefante ... carregando
um castelo no qual estava a Santa Igreja, que fazia piedosos lamentos pelos cristãos
O jantar real torna-se ritual. A mesa real é elevada, e a ela se chega subindo alguns degraus.
O rei está em solitário esplendor sob um pálio. Os criados sobem e o trinchante serve o rei.
Iluminura francesa, século XV.
110
aos olhos do espectador
perseguidos pelos turcos e pedia ajuda. Então dois cavaleiros da Ordem do Velocino
de Ouro trouxeram duas damas, junto com um faisão que tinha no pescoço um colar
de ouro cravejado de rubis e grandes pérolas. Essas senhoras pediram ao meu senhor
o duque que fizesse o voto ... de que, se o rei [da França] partisse numa cruzada, o
duque em pessoa iria segui-lo ... Todos ficaram espantados com isso, mas a Santa Igreja
ficou extremamente feliz e convidou os outros príncipes e cavaleiros a fazerem o voto
... Não creio que nada tão sublime e esplêndido tenha sido feito antes.117
111
Um novo ideal de jantar. O criado põe a mesa sob uma pérgola sombreada nos jardins
de elegante vila paladínica. Pintura de Benedetto Caliari, final do século XVI.
4
O Ritual Renascentista
113
banquete
114
o ritual renascentista
O que coloca essa ceia à parte é o fato de que se tratava de uma ocasião
privada, informal. Encontramos preocupações semelhantes com a decoração e as
iguarias esculpidas na corte borgonhesa, mas apenas em festas de grande significado
político. E tais acontecimentos eram realizados no interior do palácio. Ali, no calor
do sul, com o tempo tão favorável e previsível, um jantar podia ser realizado num
pavilhão ao ar livre. Já tínhamos encontrado esculturas de açúcar antes, mas não
como enfeites de mesa na abertura de um banquete. Além disso, tratava-se aqui
de figuras da mitologia clássica esculpidas, sem dúvida em imitação às antigas. Os
guardanapos dobrados com grande cuidado também eram novidade, e a descri-
ção da entrada e do primeiro serviço sugere que estamos diante de uma cozinha
muito mais refinada. Acima de tudo, fica claro que testemunhamos um banquete
concebido como uma experiência a ser desfrutada por todos os sentidos, sem
qualquer sentimento de culpa. O olhar fica maravilhado com todos os aspectos,
da decoração ao arranjo dos pratos. O olfato pode apreciar o delicado odor da
água perfumada oferecida para as abluções, bem como o aroma dos alimentos
que, ao serem comidos com a mão, também satisfazem o sentido do tato. E todo
o tempo a audição se delicia com os doces sons da música. Em suma, o simples
ato de comer transformou-se numa expressão de arte sensual.
O ducado de Ferrara iria desempenhar um papel-chave nessa transmutação.3
Os Este haviam se estabelecido como governantes desta cidade-estado no século
XIII, mas apenas na primeira metade do Quattrocento é que começaram a assumir
pretensões dinásticas e a desenvolver o aparato de uma corte. Isso se acelerou
durante os reinados sucessivos de três irmãos, Borso, Lionello e Ercole I d’Este, e
o domínio da família iria continuar até 1598, quando, com a morte de Afonso II
sem deixar herdeiros masculinos diretos, a cidade reverteu para o papado. Mas
durante dois séculos, até essa catástrofe, Ferrara seria um importante e inovador
centro da civilização renascentista, uma corte cujos artistas incluíam Francesco Cossa
e Ercole Roberti, juntamente com o arquiteto Biagio Rossetti. A estes podemos
acrescentar, como visitantes que lá trabalharam, Pisanello, Mantegna, Jacopo Bellini
e Roger van der Weyden. Estava também na linha de frente da inovação musical,
importando dos Países Baixos, como músico da corte, o famoso Josquin Du Prez.
A essa corte deve-se o renascimento da comédia clássica e algumas das primeiras
tentativas de recriar o palco da Antigüidade. A cultura de Ferrara era única, ao
fundir o humanismo greco-romano antigas ao culto dos valores cavalheirescos do
norte, que deu nascimento às suas duas grandes obras-primas literárias, Orlando
furioso, de Ariosto, e Jerusalém libertada, de Tasso.
A corte de Este tinha como modelo a de Borgonha. Ambas se constituíam
de dinastias novas que lutavam para provar sua importância e empenharam-se
em fazê-lo por meio do esplendor e do cerimonial de suas cortes. Comer era um
aspecto central desse empreendimento, e foi na corte de Ferrara que a forma
mais característica do consumo renascentista de alimentos — o banquete — se
115
banquete
A refeição era magnífica, servida em pratos de prata sobre as mais finas toalhas.
Incluía esturjão preparado de diferentes maneiras, bem como outros peixes, acom-
panhados de vinhos brancos. Havia uma seqüência de assados, inclusive porco-
do-mato e outras carnes servidas com vinho tinto. Após a festa todos se dirigiram
para outro salão, onde a família Este, encabeçada pelo duque, no papel de Cristo,
lavou os pés dos pobres. O público foi admitido para assistir ao espetáculo.
Essa crescente ritualização também pode ser observada nos festejos de
casamento dos Este no final do Quattrocento, que serviam, em escala ainda mais
grandiosa, para exaltar a dinastia por meio de uma exibição ostentatória. Em 1472,
por exemplo, depois de um torneio comemorativo do casamento de Ercole com
Eleonora, uma procissão levou à duquesa e às suas damas “cem pratos muito
grandes cheios de confeitos de açúcar, todos diferentes, na forma de castelos,
colunas de Hércules, pássaros, animais de quatro patas, os emblemas do senhor
e outros artefatos...”.5 Nesse caso, as esculturas de açúcar não faziam parte de
um banquete e antecipavam o que viria a ser uma importante característica do
século XVI, o banquete só de açúcar.
Num casamento posterior na família Este, em 1491, o efeito foi repetido
com uma procissão de 103 homens carregando “tigres, unicórnios, bucentau-
ros, raposas, leões ... montanhas, dromedários, lagostas [?], castelos, sarracenos,
crianças, as colunas de Hércules, este mesmo herói matando o dragão, linces,
116
o ritual renascentista
ovelhas, cervos, elefantes, homens em armas, grandes lírios, águias, cães acor-
rentados, vasos e muitas outras coisas ... todas pintadas e feitas de açúcar sólido,
em tamanho real”.6 Dessa vez cada confecção destinava-se a uma pessoa em
particular, e o tema era tanto heráldico como emblemático. As esculturas não
se destinavam à boca, ou, pelo menos, apenas em parte; além de açúcar, os
ingredientes incluíam goma arábica, laca, cera branca, incenso, terebentina e
cinábrio. Na verdade o cronista faz uma clara distinção entre essas peças para
exibição e as salvas de prata carregadas de doces para serem consumidos. Vieram
escultores de Mântua, Pádua e Veneza para fazê-los, a partir de desenhos dos
pintores da corte. Para coroar o evento, o próprio duque, de bastão na mão,
se pôs no topo da escadaria que levava ao salão de banquete “para que tudo
corresse na devida ordem”. Desta vez, infelizmente, a audiência saiu do controle,
derrubando e quebrando as esculturas, para grande fúria do duque.
À medida que o Quattrocento se aproximava do Cinquecento, surgiam os ele-
mentos para que a corte de Este transformasse o banquete medieval no banquete
renascentista: o ritual altamente organizado, a exaltação do governante, o papel dos
músicos da corte e a presença do público como espectador. No entanto, a maior
inovação foi o aparecimento de um novo importante funcionário da corte para
supervisionar todos os aspectos de tais eventos — a escolha do lugar, a decoração
do salão e da mesa, o cardápio, a mecânica da apresentação das iguarias e a seleção
da música e outras formas de entretenimento para animar a refeição. Em Ferrara
esse homem era o scalco, ou mordomo. Seus olhos viam tudo, dos grandes efeitos
aos menores detalhes — os formatos em que os guardanapos eram dobrados, as
roupas dos criados, a escolha das travessas, os presentes para os convivas. Embora
a primeira obra curta sobre o papel do scalco — Opera nova che insegna apparechiar
uma mensa a uno convito, de Eustachio Celebrino da Udine — só tivesse aparecido
em 1526, em Veneza, Ferrara é reconhecida como talvez a primeira corte com
um funcionário dedicado à orquestração de grandes festejos. O scalco já estava
estabelecido como um dos três grandes funcionários domésticos ao tempo de
Ercole I, o primeiro duque a admitir o público para assistir aos banquetes. O scalco
de Ercole era Sotio Bonleo, e pouco sabemos a seu respeito. Mas o homem a
quem ele ensinou e que o sucedeu alcançou fama considerável.7 Cristoforo da
Messisbugo era de uma antiga e nobre família de Ferrara, com tal status que por
duas vezes recebeu o duque em sua própria casa. A serviço de Afonso I desde
1515, quatro anos depois Messisbugo tornou-se sottospenditore ducale, e em 1539,
provveditore ducale. Pode-se avaliar seu grau de confiança e de proximidade com
o duque pelo papel que desempenhou nas negociações com os franceses, os
venezianos e em particular com o imperador Carlos V, que visitou Ferrara em
1529. Em 1533 o imperador fez de Messisbugo conde palatino. Embora Ercole
morresse em 1534, nada afastaria Messisbugo de sua posição na corte dos Este
até sua morte, em novembro de 1548.
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banquete
Nem Messisbugo nem seu livro foram fenômenos isolados. Ele teve dois sucessores
notáveis. O primeiro foi Giacomo Grana, scalco de Luigi d’Este, cardeal de Ferrara.
Em 1565 Grana foi responsável pelo banquete que o cardeal deu em homenagem
ao casamento do irmão Afonso I com Bárbara da Áustria.8 Foi encenado no palácio
urbano do cardeal, o palácio Diamante, e é um marco de como, na segunda metade
do século XVI, os banquetes das cortes haviam se tornado produções ainda mais
complexas, destinadas a surpreender os convivas e a siderar os meros assistentes.
Para sua produção, o salão foi transformado em jardim, com galhos suspensos do
teto, luzes penduradas e paredes cobertas de tapeçarias com as armas das famílias
reais da Europa a quem os Este estavam ligados. Figuras de estuque portavam
tochas, e nas laterais do salão, fora da cena propriamente dita, havia camarotes
para espectadores. Sobre um estrado atapetado, a que se chegava por três degraus,
ficava uma mesa coberta com veludo carmesim franjada de dourado. Duas ricas
toalhas vinham por cima, e, nelas, um painel de guardanapos arranjados na forma
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o ritual renascentista
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banquete
era um fenômeno novo. Constituía uma cidade dentro da cidade, articulada por
seus próprios rituais, cerimônias e etiquetas. Dependia de uma multidão de novos
funcionários — inclusive o scalco — para manter sua categoria e era habitada por
um novo personagem, o cortesão profissional. Todos os aspectos de tal instituição
desenvolveram-se com um único fim: exaltar o governante como um ser à parte,
o representante de Deus na Terra, presidindo um paraíso terreal, ou talvez um
Júpiter terrestre num Olimpo pagão. O ato de comer não poderia deixar de ser
incorporado a esse mundo de estupendo artifício. A comida de verdade às vezes
quase ficava ofuscada sob o peso da cerimônia. No entanto, é claro, isso jamais
acontecia. E é para uma reflexão sobre o que era a comida e como havia mudado
em relação à do século anterior que devemos voltar nossa atenção agora.
O REQUINTE DA CULINÁRIA
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o ritual renascentista
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banquete
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Com seu livro, Scappi buscava status social para o cozinheiro, mas a obsessão
pelo cerimonial faria com que, no Renascimento, o scalco e o trinciante fossem mais
prestigiados. Pouco menor que o livro de Scappi, com cerca de 800 páginas, La
singolare dottrina dell’ufficio dello scalco (1560) é obra de um mordomo florentino,20
Domenico Romoli, ou Il Pununto, como era conhecido. Romoli também havia
sido “cozinheiro secreto” a serviço de aristocratas e cardeais. Seu livro registra a
cozinha da cúria romana em meados do século XVI, com centenas de receitas e
uma parte dedicada às dietas. Também descreve os papéis do scalco, do trinciante
e do credenziere (o encarregado da credenza). Dos dois últimos, o trinciante, ou
trinchante, era de longe o mais importante e buscava ultrapassar o scalco como
funcionário que controlava a comida cerimonial da classe alta.
As origens do aparecimento do trinciante estão na Espanha, numa obra sobre
a arte de trinchar, por don Enrique de Aragão, marquês de Villena, compilada em
1423. Sua premissa de que trinchar era uma arte à altura dos nascidos com sangue
nobre foi exportada para a corte napolitana, onde o trinciante do rei sempre era
selecionado na aristocracia. Na Itália o trinciante fez o seu début no Libro de cocina,
de Roberto di Nola, que foi cozinheiro de Fernando I de Aragão, rei de Nápoles.
Em seu livro, compilado na década de 1490,21 descreve os papéis do cozinheiro,
do despenseiro e do trinciante. Este último iria se transformar, de um homem que
simplesmente servia e punha comida no prato das pessoas, num alto funcionário
da corte, responsável pela transformação do que era uma operação comum num
ritual elaborado, uma exposição pirotécnica de força e destreza. Roberto di Nola
faz do trinciante uma espécie de scalco, um coreógrafo de banquetes. A descrição
de uma festa promovida em Nápoles em 1517, pela coroação de Bona de Sabóia
como rainha da Polônia, presta tributo à precisa e delicada arte de trinchar a carne
“por um trinchante cheio de destreza e pose”. Surgia em cena o trinciante.
Não é de surpreender que em seguida ele tenha aparecido na corte dos Este,
como mostra um livro de Francesco Colle intitulado Refugio del povero gentilhuomo
(1520) e dedicado ao duque Afonso I.22 É um tratado que exalta o trabalho do
trinchante à mesa como um aspecto da magnificência principesca, atividade que só
poderia ser exercida por um homem que, embora empobrecido, fosse de nascimento
nobre. Uma abordagem muito mais importante seria Il trinciante (1581), de Vincenzo
Cervio. Ele esteve a serviço de Guidobaldo II, duque de Urbino, e, após 1540, do
cardeal Farnese, em Roma.23 Também viajou bastante pelo norte da Europa, onde
não se impressionou com a habilidade dos trinchantes. Seus modelos estavam na
Espanha, em Nápoles e, mais do que em qualquer outro lugar, em Roma (embora,
é preciso que se diga, alguns deles estivessem ficando sem trabalho, graças ao asce-
tismo renovado pela Contra-Reforma). Como em Scappi e Colle, trata-se de uma
busca de status social numa sociedade hierarquizada e também de uma tentativa
de assumir o papel do scalco, ou pelo menos de desafiá-lo. A preocupação do livro
com as classes sociais reflete-se na descrição do estilo do cavalheiro trinciante, que
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o ritual renascentista
retira seu chapéu antes de iniciar os trabalhos, mas depois o coloca novamente na
cabeça, para demonstrar sua igualdade com relação aos que estão à mesa.
O trinchante, segundo Cervio, deveria ser um cavalheiro de bela presença,
bem vestido (surpreendentemente, de branco), pronto a agradar seu senhor, mas
cuidadoso em distinguir-se, por seu comportamento, dos criados circundantes. O
catálogo sobre trinchamento é intimidador, abrangendo tudo, da caça ao melão,
e todos os gestos a serem executados no processo. Depois vem a distribuição,
que deve obedecer estritamente à ordem hierárquica, tanto no que diz respeito
à prioridade como no que se refere à parte servida. Todo o exercício de destreza
manual é deliberadamente destinado a divertir e a surpreender os comensais.
“Trinchar o ar”, dizia-se.
Em 1593 houve outra edição do livro de Cervio atualizado por Fusorito da
Narni. A ascensão do trinciante com relação ao scalco já estava então estabelecida,
pois o livro inclui descrições da decoração e dos pratos de uma série de banque-
tes elaborados. É desnecessário dizer que o trinchamento, ao norte dos Alpes,
manteve-se pouco sofisticado. Na Inglaterra, em 1508, Wynken de Worde publi-
cou o velho The Boke of Kervynge, dos tempos medievais, que continuou sendo
reimpresso até 1613. A revolução da imprensa permitiu a publicação de antigos
livros de receitas que já existiam em manuscrito.24 O resultado foi que a culinária
do fim do período medieval tornou-se acessível a uma burguesia crescente. Em-
bora o primeiro livro de receitas impresso depois do de Platina tenha aparecido
em 1485, o verdadeiro aumento de produção se deu apenas após 1530, numa
clara resposta a um mercado muito mais vasto e ansioso para aprender os modos
aristocráticos. O primeiro livro foi Kuchenmeisterei, publicado em Nuremberg e
que teria 56 edições. Na França, o Viandier teve 15 edições entre 1490 e 1520. O
livro de Roberto di Nola foi traduzido para o catalão em 1520, teve sete edições
e depois foi traduzido para o castelhano, com mais 12. Na Inglaterra, cerca de 20
livros de culinária foram publicados entre 1500 e 1620.
O que fica claro é que os progressos na culinária e nos grandes jantares
que já haviam ocorrido na Itália renascentista se infiltraram lentamente rumo ao
norte, onde seus efeitos se fizeram sentir apenas na segunda metade do século.
Certamente este é o caso da França. A história ali é de estagnação, e a única
mudança foi o aumento no número de pratos doces e o uso de laticínios.25
O livro de Platina foi traduzido para o francês em 1505, passando por muitas
edições e transmitindo aquilo que na verdade era a cozinha italiana meio século
antes. Em 1542 apareceu o que mais tarde seria chamado de Le grand cuisinier
de toute cuisine, no qual apenas um terço era de receitas medievais. Tratava-se
de um livro de receitas bem estruturado, com um capítulo para cada serviço e
uma seção separada para banquetes.
Há muito é vista com reservas a antiga concepção de que a cozinha fran-
cesa ganhou vida quando Catarina de Médici levou cozinheiros italianos para
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banquete
a corte de Valois em seu casamento com Henrique II, em 1533. A única indi-
cação de que o novo estilo cortesão a la Scappi havia chegado ali só apareceu
mais tarde, em 1604, com Ouverture de cuisine, de Lancelot de Casteau.26 Mas é
preciso considerar que o autor era cozinheiro do bispo de Liège, cuja sé ficava
na jurisdição do império dos Habsburgo. Na obra figuram todos os velhos pra-
tos favoritos da época medieval, como cisne assado e pavão, junto com coisas
que certamente faziam parte do novo repertório cortesão internacional, como
salsichas de Bolonha e queijo parmesão, gelatinas multicoloridas e esculturas
de açúcar. No geral havia o que só pode ser descrito como um abismo norte-
sul. No entanto, deve-se dar um desconto aos fatores climáticos, pois mesmo
hoje eles continuam a influenciar o que é consumido no ensolarado sul e no
gelado norte. E tais fatores também iriam desempenhar um papel importante
na determinação de onde cada povo comeria.
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o ritual renascentista
“o lago serve de mesa, com os pratos maiores colocados nas bordas, enquanto os
menores flutuam como pequenos barcos ou plantas aquáticas.”28
Os arqueólogos renascentistas tiveram mais informações por intermédio
de Vitrúvio, que viveu no século I e escreveu sobre arquitetura. Este dizia que o
comprimento da sala de jantar deveria ter o dobro da largura; que deveria haver
duas salas, uma para a primavera e outra para o outono, a primeira voltada para
o leste, a última para o norte, de acordo com o movimento do sol. Vitrúvio acon-
selhava que não se decorasse a abóbada da sala de jantar do inverno, porque
ficaria enegrecida com a fumaça da lareira.29
Com tais fontes a que recorrer, o desejo de recriar a vila antiga e seu modo de
viver deve ter sido acentuado. Ela evocava um mundo diferente, agradavelmente
distante do castelo com ameias ou da claustrofóbica casa de cidade da Idade Média,
com sua grande sala comunal e salões senhoriais. Nas vilas, em vez disso, havia
salas dedicadas apenas às alegrias do jantar, concebidas para serem confortáveis
no verão e no inverno, ou situadas em jardins, salas com lindas vistas que ligavam
a vida civilizada às belezas naturais. Elas podiam ser fechadas para aquecer no
inverno ou ficar abertas à brisas refrescantes — afinal de contas, era a Itália.
Assim, o que ocorreu durante os séculos XV e XVI, graças em parte à inspiração
dos textos antigos, mas também pelo desejo de espaço privado, em oposição ao
espaço comunal, foi o aparecimento da sala de jantar usada pela família e pelos
amigos. Era chamada de saletta ou salotto, ou mais raramente triclinio, e representou
o primeiro passo para o abandono de um estilo de vida que garantia privacidade
apenas no quarto ou camera, sendo o outro aposento a sala pública, um espaço
compartilhado de estar e de jantar. Foi também o passo inicial na direção do
sistema de apartamentos que está no centro do planejamento arquitetônico para
interiores domésticos no Renascimento. Passava a existir uma nova seqüência de
aposentos: a sala, que deveria acomodar a família e seus convidados em recepções,
jantares e entretenimentos; a saletta abrindo-se para ela, de uso privado; e, para
cada membro da família, uma camera, precedida por uma antecâmara.30
O livro De re aedificatoria, do grande arquiteto renascentista Alberti, foi escrito
por volta de 1450. É o primeiro tratado sobre arquitetura desde a Antigüidade e foi
publicado em 1486, traduzido para o italiano em 1546 e para o francês em 1553.
O estabelecimento da vila como novo tipo arquitetônico durante o Quattrocento
pode em grande parte ser atribuído à sua influência. Nele a sala de jantar fez seu
début na seguinte passagem:
O acesso à sala de jantar deve ser pelo interior da casa. Como exige o uso, cumpre
haver uma para o verão, outra para o inverno e uma para as estações intermediárias,
digamos assim. As principais exigências de uma sala de jantar de verão são água e
vegetação; de uma sala de inverno, o calor de uma lareira. Ambas devem, preferen-
cialmente, ser espaçosas, alegres e esplêndidas.31
129
banquete
Deve-se pôr a mesa de acordo com a época do ano: no inverno, em lugares fechados
e quentes; no verão, em lugares frescos e abertos. Na primavera, devem-se arrumar
flores na sala de jantar e na mesa; no inverno, o ar deve estar impregnado de perfumes;
no verão, o chão deve estar coberto de brotos perfumados de árvores, de parreiras
e de salgueiros, que refrescam a sala de jantar; no outono, deve-se ter uvas, pêras e
maçãs maduras penduradas ao teto.32
... no ponto situado bem ao meio, ... os homens descem por um par de escadas para
um lugar de comer muito belo, no qual o rei e seus senhores costumavam banquetear-
se e comer agradavelmente; ali ele fazia com que certos lugares secretos se abrissem,
e assim, num piscar de olhos, o lugar se enchia de água: e também, ao prazer do rei,
toda a água era esvaziada da sala, mas não havia mudas de roupas para serem usadas,
nem ricas e custosas camas para deitar-se, onde pudessem descansar.34
130
o ritual renascentista
Todos os tipos de iguarias foram levados à mesa. Um jovem se adiantou e foi apre-
sentado ao senhor Federico, ... e recitou alguns versos para todos os serviços. ... Após
o jantar apresentou-se outro, que tocou o monocórdio muito bem; veio então um
músico, e tocaram violino e cantaram. Após essa adorável diversão ergueram-se da
mesa — e foram para fora, para aproveitar os agradáveis gramados.37
Ainda mais impressionante que a Vila Belvedere foi sua sucessora, a Vila
Farnesina, construída pelo banqueiro papal Agostino Chigi a partir de desenhos
de Baldassare Peruzzi.38 Ficava às margens do Tigre, e sua construção se deu entre
1505-8 e 1510. Dinheiro não era problema. Também ali havia uma varanda para
jantar, desta vez no lado nordeste do jardim e separada da casa. Em alguns aspectos,
lembrava uma varanda construída nas proximidades pelo cardeal Farnese uma
década antes, também um pavilhão em arcos e aberto. Mas havia uma diferença.
131
banquete
Agora o cenário antigo destinado aos jantares situava-se no topo de outra recriação
do passado clássico, uma gruta. Em 1520 Chigi recebeu nela o papa Leão X e os
cardeais, exibindo sua riqueza de maneira ostensiva. Ao fim de cada serviço as
travessas de prata eram jogadas no rio. (Ele não revelou que debaixo d’água havia
redes escondidas para recolhê-las.)
A vila, propriamente, tinha uma varanda que era parte da entrada principal,
muitas vezes também usada para jantares — sua decoração conta a história de
Cupido e Psiché, culminando no banquete nupcial. A Vila Farnesina foi cenário de
muitos dos mais extravagantes festejos de Roma nos anos que precederam o saque
de 1527. Em agosto de 1512, por exemplo, Leão X e 12 cardeais foram recebidos
na Sala delle Prospettive, e ao final o papa casou o anfitrião com sua amante. Em
outra ocasião o papa e sua comitiva foram recebidos num salão coberto de tape-
çarias que, ao final do evento, soube-se que eram os novos estábulos desenhados
por Rafael. (Nessa ocasião, algumas travessas de prata desapareceram durante a
festa. Chigi deu ordens para que não se mencionasse o assunto.)
Em meados do Cinquecento, a varanda de jantar havia se tornado parte essen-
cial de todas as vilas. Está presente, por exemplo, em edificações notáveis tanto
em Roma como no norte da Itália, como a Vila Madama (1516-27), desenhada
por Rafael e Giulio Romano, no Palazzo del Tè, em Mântua (1525-32), também
desenhado por Giulio Romano, e na Vila Giulia (1550-9), construída por Vignola
e Ammanati para o papa Júlio II.39 Em alguns casos, no entanto, as instalações para
o jantar eram tão mais elaboradas que merecem consideração em separado.
A Vila Farnese, em Caprarola, é um desses casos.40 Em 1556, o cardeal
Alessandro III Farnese encarregou Vignola de retomar os trabalhos no palazzo.
Profusamente decorado com afrescos pela família Zuccari, ele foi terminado
em 1573. Aqui, o que era especificamente uma varanda de jantar ocupava o
centro da fachada no primeiro andar — o piano nobile —, de onde os comensais
podiam avistar abaixo, através de cinco grandes arcos, a pequena cidade e o
campo até o horizonte. A parede interna tinha um conjunto de arcos pintados
que emolduravam as paisagens das quatro estações; as outras paredes, mais
uma vez seguindo o Belvedere de Bramanti, mostravam vistas topográficas dos
territórios dos Farnese, com as cidades de Parma e Piacenza como pontos focais.
Numa das extremidades da varanda havia um elemento tirado inspirado nos
refeitórios de mosteiro, o lavabo ou pia de água, mas este era cercado por crianças
e um Cupido adormecido. Acima dele, um relevo de estuque retratava Enéas
e Roma, através da qual corria o rio Tibre. É interessante observar que, quando
visitou a vila em setembro de 1578, o papa Gregório XIII jantou na Salla della
Cosmografia imediatamente adjacente, e não na varanda. Sem dúvida o tempo
não era favorável — o dia foi marcado por pancadas de chuva.
O formato decorativo de Caprarola foi repetido pouco depois, na década de
1560, na Vila Lante, em Bagnaia, também desenhada por Vignola. O proprietário
132
o ritual renascentista
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banquete
entanto, um desenho datado de 1604 mostra uma mesa dentro desta sala, com
um homem comendo, enquanto a um canto um músico toca alaúde. Trata-se,
na verdade, de um lugar para jantar que deve ter oferecido uma extraordinária
combinação de estímulos psicológicos contrastantes, horror externo com delícias
sensuais internas. Havia uma gruta de jantar semelhante na vila florentina de Pra-
tolino, criada por Bernardo Buontalenti para o grão-duque Francesco na década
de 1570.46 Nela, uma mesa octogonal tinha orifícios por onde copos e garrafas
eram mergulhados na água fria da fonte que borbulhava por baixo. (Infelizmente
para os comensais, o borbulhar não parava aí. Enquanto estavam distraídos com
uma apresentação de autômatos, jatos ocultos vindos de baixo os encharcavam
com a mesma água da fonte.)
Plínio o Velho, em sua Historia naturalis, descreve o nidium, ou ninho do
imperador Calígula, construído nos galhos de um plátano, que podia acomodar
15 convidados e os servos necessários. Na Vila di Castello dos Médici, na década
de 1540, o arquiteto Niccolò Tribolo duplicou essa maravilha num carvalho ao
qual se chegava por uma escada coberta de hera. Os assentos no interior eram
feitos de folhagens vivas. Mais tarde, em 1570, Buontalenti criou outro nidium em
Pratolino, desta vez equipado com uma escada dupla que levava a um aposento
com uma mesa de jantar, bancos e “brincadeiras aquáticas”.47
As vilas de Andrea Palladio no Vêneto não ofereciam tais excessos fantás-
ticos.48 Na verdade refletiam a preocupação dominante com a hierarquia e os
postos. Isso se representava no salão central, ou sala, um grande espaço concebido
para entretenimentos como casamentos e banquetes. Não faltavam varandas nas
vilas de Palladio, mas o ambiente de jantar assumia outras formas, uma das quais
foi evocada num óleo de Benedetto Caliari, da década de 1570 ou 1580. No
primeiro plano vê-se um ancoradouro num canal. Nele uma senhora está prestes
a entrar numa gôndola. Outra está sentada num banco, pescando. O ancoradouro
fecha uma perspectiva que se estende por uma pérgola enfeitada com folhagens
a um jardim, e daí a uma vila clássica. A pérgola destinada aos jantares é aberta
dos lados para atrair as mais leves brisas e protegida do calor do sol por um teto
coberto de plantas e uma cortina num dos lados, que pode ser erguida ou abai-
xada, conforme a hora do dia. Nela vê-se uma mesa coberta com uma toalha
branca e um servo arrumando-a. Nenhum outro quadro condensa tão vivamente
a revolução no jantar provocada pela vila renascentista.
Infelizmente ao norte dos Alpes a história era muito diferente. Afinal, o clima ali
não favorecia tais delícias ao ar livre. Além disso, países como a Holanda e a França,
devastados pelas guerras religiosas no final do século XVI, dificilmente teriam condições
para uma vida à maneira das vilas italianas. Os castelos franceses do Renascimen-
to foram construídos com uma salle haute, na qual só as pessoas do mesmo nível
aristocrático tinham permissão para comer. Chegava-se a ela diretamente por uma
escada externa. Embaixo havia uma copa, onde os criados comiam, a salle basse.49
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O CONVIVIUM REVIVIDO
... a festa como lugar de prazer e de plenitude tem uma multidão de ressonâncias
no simbolismo da Renascença. Pela festa se expressa a confiança de uma época na
qual se acreditava que, com a graça de Deus, era possível para as pessoas crescer em
harmonia com a natureza, mesmo vivendo no coração da sociedade.54
136
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Sempre há debates durante esses banquetes, ou são proferidos discursos sobre assuntos
honrados ou prazerosos, ou cantam-se poemas. Há também tocadores de cítara (citho-
roedi) que narram em sua língua nativa os feitos dos heróis, cantando à lira na mesa de
jantar. Este era o costume dos romanos, que de nós se propagou até os húngaros.60
Essa nova ênfase na arte da conversa inevitavelmente fez com que a comida
passasse a segundo plano. O extenso relato sobre as maneiras clássicas à mesa
apresentado por Plutarco em Conversa à mesa e O jantar dos sete homens sábios
insistia em que o prazer dos comensais não deveria derivar do comer e do beber,
mas apenas da conversa séria e do cerimonial da festa. Em Conversa à mesa, por
exemplo, Plutarco se concentra em tópicos como “os tipos de entretenimento mais
apropriados” para banquetes.61 Esses precedentes antigos podem explicar por que
os relatos das festas renascentistas raramente descrevem a comida. É uma atitude
que já podemos perceber em 1539, na festa nupcial de Cosimo I de Médici com
Eleonora de Toledo: “O número de pratos no banquete foi infinito, assim como
muitos tipos de iguarias em cada serviço. Não descrevo os particulares para não
perder tempo com uma coisa tão sem importância...”62
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banquete
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Durante três séculos De civilitate morum puerilium reinou como manual clás-
sico. No ano em que apareceu em separado pela primeira vez, em 1530, teve
12 edições. Sua influência por toda a Europa pode ser avaliada pelas traduções:
inglês (1532), alemão (1536), francês e checo (1537), neerlandês (1559), sueco
(1620), holandês (1660) e finlandês (1670). O imenso sucesso dessa obra menor
mostra como as boas maneiras eram uma preocupação urgente não apenas para
Erasmo, mas para a sociedade contemporânea. Seu capítulo mais longo é dedicado
ao comportamento adequado ao comer.
Junto com muitos outros, o livro de Erasmo chegou num momento que
testemunhou a dissolução da velha sociedade feudal e o surgimento das cortes
absolutistas.67 Assim, essas cortes tornaram-se os berçários das boas maneiras. Numa
visão mais ampla, o refinamento ali promulgado era um aspecto do surgimento
de uma nova figura, o cortesão, ele também filho do movimento humanista na
Itália.68 Esse fenômeno foi institucionalizado num livro famoso, O cortesão (1528),
de Castiglione, que estabelece os atributos esperados em tal personagem: urbani-
dade, cultura, versatilidade, destreza na arte da conversa e prática inconsciente de
todas as graças sociais, inclusive maneiras impecáveis à mesa. As boas maneiras
também aparecem em outro manual famoso, Galateo (1555), de Giovanni della
Casa. Neste livro descreve-se como o bispo de Verona entreteve um certo conde
Ricciardo, “gentilissime cavaliere e di bellissime maniere” que — coitado! — mostrara-se
inadequado à mesa. (Estalava os lábios ruidosamente.) O bom bispo, ansioso em
corrigir a falha social, enviou Galateo para instruir o conde.
Tais publicações eram devoradas por toda a Europa, pois incentivavam o pro-
gresso pessoal por meio da prática do auto-aprimoramento. De repente despertou
uma consciência aguda de que as boas maneiras realmente tinham importância.
Ao mesmo tempo tornou-se cada vez mais difícil saber o que desagradava, ou o
que fazer e o que não fazer, à medida que a corte desenvolvia formas de etiqueta
cada vez mais complexas. Podemos ver tal processo de auto-aprimoramento numa
descrição de Cosimo, o primeiro duque de Florença, comendo em público. Sentado
sob um pálio à cabeceira da mesa, ele comia pouquíssimo, mas exibia ao mesmo
tempo as mais sofisticadas maneiras.69 Os Médici eram banqueiros, mas em seu
novo papel como governantes autocráticos da Toscana cultivavam ansiosamente
qualquer coisa que os colocasse à parte dos meros mortais.
O BANQUETE DO RENASCIMENTO
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banquete
de devia ser ator-espectador num tipo particular de ritual, governado por regras
específicas e com um único propósito: glorificar o anfitrião. Grandes acontecimen-
tos, como a visita de um governante a outro ou um casamento dinástico, eram
marcados primeiro pelo espetáculo público de uma parada triunfal, e depois pelo
espetáculo privado de um banquete no palácio, programa que ainda sobrevive na
Grã-Bretanha de hoje. Inicialmente mantinha-se a privacidade do banquete, mas
aos poucos, à medida que se evidenciou o seu poder de impressionar, tornou-se
costume admitir espectadores.
Em meados do século XVII, Giacomo Colorsi, mordomo do cardeal degli Al-
bizi, escreveu que “o homem que prepara um banquete tem tanto a fazer quanto
aquele que comanda um exército...”.71 Práticas que já vimos surgir na corte de
Este espalharam-se não apenas para outras cortes italianas, mas também para o
norte dos Alpes. Cada corte agora devia ter algum tipo de mestre-de-cerimônias,
responsável (como Messisbugo em Ferrara) por todos os aspectos da festa, da
decoração ao cardápio. Tal funcionário variava — podia ser o mordomo, o maestro
della casa, o scalco ou mesmo o trinciante. Em qualquer dos casos ele era como
o maestro de uma orquestra, com autoridade sobre todos, dos fornecedores de
ingredientes à equipe da cozinha e aos moços que levavam os pratos — os scu-
dieri ou camarieri, ajudados pelos incontri e paggi. O acontecimento final era uma
coreografia em grande estilo.
Independentemente do revestimento alegórico superposto à festa, suas
partes componentes permaneciam constantes. Agora é tempo de analisá-las.
Elas começavam com a seleção de um local e sua decoração. Os materiais sobre
esse assunto são abundantes nos arquivos da corte de Gonzaga, que, como a de
Este, mais do que tudo desejava impressionar.72 Quem visita o palácio ducal em
Mântua logo percebe que não se tratava apenas de decorar um único grande
salão para a ocasião; havia um conjunto bastante extraordinário de salas capazes
de acomodar acontecimentos importantes. A família interessava-se vivamente
por todos os detalhes, afinal, era com tais ostentações que ela apresentava uma
imagem de si própria aos convivas. Francisco II, por exemplo, escolheu tapeçarias
com a história de Tróia para a sala que abrigou o banquete nupcial para o casa-
mento da irmã Elizabeth com Guidobaldo di Montefeltro, duque de Urbino. A
mulher de Francisco, Isabella d’Este, que poderia ser apropriadamente definida
como uma vítima da moda renascentista, era obcecada pelos menores detalhes de
todas as festas. Por ocasião de uma homenagem à duquesa de Ferrara e Prospero
Colonna, em 1513, ela não só quis ver a descrição completa da decoração, mas
também uma demonstração do que seria tocado e cantado, a exata distribuição
dos lugares e o cardápio. Para os Gonzaga, tratava-se de ocasiões de prestígio,
administradas, no caso, pelo maestro della casa. A maior de todas foi o banquete
dado pelo marquês Federico em 1530, pouco depois de ter sido feito duque
por Carlos V. A morada clássica dos Gonzaga, o palácio do Tè, concebida e
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o ritual renascentista
construída como um grande cenário dinástico, foi palco de uma opulência tão
esplêndida que deixou sem fôlego os que dela tomaram parte.
Naquele período, ainda mais do que no final da Idade Média, as festas eram
pretexto para uma exposição estonteante de objetos valiosos, expostos no que,
dependendo do país, era chamado de credenza — aparador — ou dressoir.73 Esse
tipo de decoração já altamente desenvolvido na corte borgonhesa seria adotado
e adaptado em termos de sua própria arte pela Itália renascentista. O historiador
Vasari descreve a credenza no afresco de Giulio Romano no palácio do Tè, retra-
tando o banquete de Cupido e Psiché, como carregada de “bizarros vasos, bacias,
jarras, taças ... em várias formas e estilos fantásticos”. A pintura de fato transmite
uma viva impressão de como eram arrumados aqueles aparadores para uma
festa ao ar livre. Uma mesa com prateleiras, coberta por toalha de linho branco,
aparece emoldurada por uma latada com folhagens artificiais. Os elementos sobre
a mesa são combinações extremamente exóticas de motivos clássicos, vegetação
e monstros fantásticos. Sabemos que os objetos não são puramente imaginários,
porque sobreviveram desenhos de Giulio Romano para a família Gonzaga, e eles
são exatamente do mesmo tipo.74
Um exemplo extremo de tal exibição foi o casamento de Maria de Médici,
sobrinha do grão-duque da Toscana, com Henrique IV, em 1600. O banquete
foi encenado na Sala del Cinquecento do antigo palácio da Signoria. Uma vasta
credenza na forma de um lírio carregado de jóias —referência tanto ao lírio da
cidade de Florença como à flor-de-lis francesa — tinha por cima um pálio de
tecido de prata, coroando uma exibição de cerca de dois mil pratos de ouro,
prata e prata dourada. Havia também pratos de pietre dure, bem como parte da
coleção ducal de peças em bronze, em particular o conjunto de Giambologna
dos 12 trabalhos de Hércules.75
Tais exibições nunca tinham função utilitária, embora isso seja difícil de pro-
var. Benvenuto Cellini lembra em sua autobiografia uma encomenda do cardeal
de Salamanca, um jarro para água, descrevendo-o como do tipo usado apenas
para decoração em aparadores.76 O fato de que conjuntos de pratos fossem feitos
especialmente para exibição, e não simples conjuntos desencontrados de peças
valiosas, sustenta tal afirmativa. A cidade de Paris presenteou duas rainhas da
França, Catarina de Médici, em 1549, e Elizabeth da Áustria, em 1571, com tais
conjuntos por ocasião de sua chegada triunfal. O de Catarina consistia de 27
peças de prata dourada salpicada de flores-de-lis.77 Um inventário dos pratos de
Felipe II de Espanha feito em 1554 traça uma clara distinção entre peças para
uso e peças para exibição.
A moda dos conjuntos combinados de pratos para exibição refletiu-se em
outra novidade revolucionária, a introdução de novas e muito mais luxuosas
formas de cerâmica. Elas não apenas mudaram radicalmente a aparência da
mesa, mas também implicaram a produção de serviços feitos apenas para se-
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banquete
rem exibidos. O mais antigo foi encomendado por Isabella d’Este, duquesa de
Mântua, em 1524: um imenso serviço de faiança pintado por Nicolò da Urbino
com as armas e divisas da duquesa e outros temas escolhidos por ela.78 Um
serviço desses era muito mais caro que os de prata e destinava-se a ser exposto
no aparador, de maneira a ser visto pelos convivas como quadros numa galeria.
Os temas de tais conjuntos eram quase sempre pictóricos e geralmente tirados
de textos clássicos, particularmente as Metamorfoses, de Ovídio.
Isabella ditou a moda. À medida que o século avançava, serviços desse tipo
passaram a ser um dos presentes mais requintados que um príncipe italiano podia
dar a um estrangeiro importante. Um serviço — do qual ainda sobrevivem várias
peças — parece ter sido encomendado pelo papa Paulo III como presente para Anne
de Montmorency em 1553, em gratidão pela ajuda na eleição papal. Decorado
com cenas das Metamorfoses, incluía pratos, travessas, castiçais e jarras, e era uma
obra importante da oficina de Guido Durantini de Urbino. Outro serviço do mesmo
artista foi para o chanceler da França, cardeal Antoine Duprat. Mais tarde Felipe
II foi presenteado com um serviço ainda mais grandioso, adornado com cenas da
vida de Júlio César desenhadas pelo pintor Taddeo Zuccaro. Na França, ao final
do século XVI, Bernard Palissy produzia elaboradas peças de cerâmica apenas para
serem exibidas no aparador. E serviços semelhantes eram feitos em vidro.
A produção italiana de cerâmica iria mudar a aparência da mesa, e a traves-
sa substituiu o prato de trinchar como recipiente para a comida no jantar. Isso
aconteceu primeiro na Itália, onde, durante o século XV, a técnica da faiança
decorada de azul cobalto e com brilho metálico foi importada da Espanha. Essa
técnica foi transmitida pelos árabes durante a ocupação do sul da península
Ibérica e difundiu-se para o norte até alcançar a ilha de Majorca (daí o outro
nome comum para a cerâmica, maiólica).79 Os italianos rapidamente aprenderam
a produzi-la, e por volta de 1480 haviam criado um estilo próprio. Este incluía
tanto os serviços suntuosamente decorados, para serem exibidos, como cerâmicas
para uso comum. Sua maior disponibilidade na Itália fez com que a prática de
partilhar vasilhas à mesa desaparecesse gradualmente; quando viajavam para os
territórios ao norte dos Alpes, os italianos mostravam-se horrorizados ao deparar
com o que passaram a encarar como uma barbárie social.
No final do Quattrocento, Lorenzo de Médici tinha um serviço de viagem
com cerca de 40 peças em sua vila de Correggio. Em 1518 Clarissa Strozzi en-
comendou um serviço de 48 peças alla porcellana. Os dois casos nos indicam a
multiplicação das vasilhas à mesa. Faenza, que iria se tornar um grande centro de
produção, desempenhou papel fundamental na constante elaboração de objetos
de mesa promovida pela corte de Este. Em uma das festas de casamento de
1565, por exemplo, foram usados 12 mil pratos de maiólica decorados com as
cores da duquesa.80 Um inventário do palácio paladiano de Montano Barbaran,
em 1592, mostra que a coleção de maiólica desse aristocrata veneziano incluía
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o ritual renascentista
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banquete
Aqui mencionarei uma coisa ... que não é usada em qualquer outro país que eu
tenha conhecido em minhas viagens, nem creio que em qualquer outra nação da
cristandade se use, mas apenas na Itália. Os italianos, e também a maioria dos es-
trangeiros que estão na Itália, sempre, em suas refeições, usam um pequeno forcado
quando cortam a carne. Pois enquanto com a faca, que seguram com uma mão,
eles cortam a carne no prato, enfiam o forcado que seguram com a outra mão no
mesmo prato, de modo que qualquer um que, sentado na companhia de outros na
refeição, toque com os dedos a carne, de que toda a mesa vai cortar, dará motivo
de ofensa à companhia, por ter transgredido as leis das boas maneiras, de tal forma
que, por seu erro, todos farão caras feias, se não o repreenderem com palavras.
Essa forma de comer eu entendo que é geralmente usada em todos os lugares
da Itália. ... A razão para isso é sua curiosidade, porque o italiano não suporta de
maneira alguma que seu prato seja tocado com os dedos, posto que os dedos dos
homens não são todos igualmente limpos. Dessa forma julguei de minha parte que
seria bom imitar a moda desta maneira de cortar a carne com a ajuda do forcado,
não apenas quando estava na Itália, mas também na Alemanha, e muitas vezes na
Inglaterra, desde que vim para casa... 83
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o ritual renascentista
iguarias especiais, como saladas e doces, em particular para frutas em calda. Seu
aparecimento mais espetacular num quadro foi registrado numa pintura feita por
Botticelli de um banquete nupcial, num dos painéis casone para o casamento de
um parente da família Médici, Giannozzo Pucci, com Lucrezia Piero di Giovanni
Bini, em 1483. Baseada numa história de Boccaccio, a cena mostra duas mesas,
uma para as damas, outra para os cavalheiros. São as mulheres que elegantemente
têm garfos entre os dedos. Uma referência explícita a seu uso aparece em 1536, no
grande banquete de boas-vindas para o imperador Carlos V. Cada conviva — está
registrado — tinha faca, colher e garfo. Só em 1563 os garfos aparecem de novo,
desta vez na grande tela de Veronese, Bodas de Caná (no Louvre). Representa uma
grande e principesca festa renascentista no estágio da sobremesa. À esquerda, a um
canto da mesa, uma senhora chupa o garfo pensativamente. No entanto, em 1549,
Messisbugo, no Banchetti, já falava deles como se fossem comuns. Tal aumento
de uso talvez tenha um pouco a ver com o aparecimento da massa como parte
da culinária italiana durante o Cinquecento. Henrique III descobriu o garfo quando
voltava da Polônia para a França pela Itália, e introduziu-o na corte francesa; mais
tarde os garfos seriam citados como símbolo da decadência dos Valois.85
Outra inovação italiana foi a cadena de prata. Michel de Montaigne, em
seu diário italiano, afirma haver visto cadenas num jantar dado pelo cardeal de
Sens, em Roma, em 1580:
... em frente àqueles a quem se desejava prestar honras especiais, e que estavam sen-
tados diante do senhor, colocam-se grandes quadrados [isto é, cadenas] de prata, nos
quais ficavam seus saleiros, do mesmo tipo dos que são postos diante dos grandes na
França. Por cima coloca-se um guardanapo dobrado em quatro, e sobre este guardana-
po, pão, faca, garfo e colher. No topo há outro guardanapo, que é para seu uso.86
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A chegada do garfo. As damas da mesa à esquerda estão usando garfos de sobremesa. Banquete
nupcial de Storia de Nastagio degli Onesti, celebrando o casamento de Giannozzo Pucci com
Lucrezia Piero di Giovanni Bini em 1483. Pintura atribuída a Sandro Botticelli.
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nas demais. Em geral os tratados do século XVI especificam três cobertas de mesa
sobrepostas: uma que se encontrava ao chegar, a segunda revelada no meio da
refeição e uma terceira para a sobremesa. Na edição de Fusoritto de Il trinciante
(1593), aprendemos que havia uma camada de couro entre as toalhas para evitar
que qualquer líquido as atravessasse e manchasse. No relato da festa de casamento
de Giulio Thiene, conde de Scandiano, há uma referência à troca de toalhas: “Logo
que as pessoas lavaram as mãos, e a toalha de cima, que era bordada de flores, foi
retirada, revelou-se outra toalha, trabalhada com flores e pássaros”.89
Se as toalhas de mesa tiveram um papel no espetáculo visual e na surpresa,
maior ainda foi o dos guardanapos. Eles passaram a ser engomados e exibidos
como uma forma de arte próxima à escultura de papel. Uma referência antiga a
essa prática aparece na descrição de um banquete dado em Roma em 1513, em
honra de Giuliano e Lorenzo de Médici, em que os guardanapos foram dobrados
de maneira a engaiolar um passarinho. Quando a peça era aberta pelo conviva, o
pássaro saía voando. Messisbugo sempre se refere aos guardanapos “divinamente
feitos” (divinamente fatte), em formatos variados, como chamas e pássaros. Fusoritto
descreve um banquete em 1581, pelo casamento de Guglielmo Gonzaga, duque
de Mântua, e Margherita Farnese, em que “os guardanapos ... eram deliciosamente
esculpidos, dobrando-se em colunas, arcos e troféus muito belos de se ver, assim
como a multidão de bandeiras com as armas de todos os senhores presentes à
festa”.90 Em 1639, Mattia Giegher estava em condições de publicar um Trattato
ilustrado sobre a arte.
Os guardanapos acabaram por se tornar puramente decorativos e não eram
usados de modo algum, mas durante o Renascimento passaram a ser constan-
temente empregados para limpar colher, garfo ou taça. Em geral os cavalheiros
colocavam o guardanapo sobre o ombro esquerdo. Um retrato que hoje está na
National Portrait Gallery, em Londres — celebrando a vida de sir Henry Unton,
diplomata elisabetano e pintado em data próxima à sua morte, em 1596 —, mostra
uma festa em que alguns dos comensais do sexo masculino (todos de chapéu) têm
guardanapos jogados no ombro esquerdo. Muitas outras fontes visuais comprovam
esse costume. Não obstante, tanto no quadro de Unton como nos demais, não há
sinal de guardanapo em muitos outros comensais masculinos. Devemos concluir
que em tais casos estava posto no colo, como acontecia com as senhoras.
Aparadores, utensílios de mesa, toalhas e guardanapos definem a cena para a
ação da festa, que não devia variar muito de corte para corte, embora os italianos
estivessem na vanguarda de qualquer apresentação nova. Na verdade o ritual era
padronizado. Para ilustrar esse fato não conheço descrições mais informativas dos
banquetes de corte em ação que os desenhos feitos por ocasião do casamento
de Alexandre, duque de Parma, filho da filha do imperador Carlos V, Margaret,
regente da Holanda, com Maria de Portugal.91 A regente promoveu as núpcias
em Bruxelas, no ano de 1565, numa escala magnífica, e a revivescência dos
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e num dos lados ficava a mesa alta sobre uma plataforma a que se chegava por
três degraus. Ali, sob um pálio, ao centro, sentaram-se a noiva e o noivo, ladeados
pela mãe do noivo, a regente e, do outro lado, o embaixador espanhol, represen-
tando Felipe II. O elevado status de cada figurante daquela mesa é confirmado
pelo fato de que estavam sentados em cadeiras. Três mordomos, junto com 30
cavaleiros e muitos outros mais, atendem às necessidades dos comensais da mesa
alta. Embaixo, no corpo do salão e no nível do chão, sentaram-se 112 senhoras e
40 cavalheiros. A ilustração mostra uma mesa em forma de “L” ocupada apenas
por homens, de modo que, nesse sentido, seu registro do festejo deve ser consi-
derado apenas aproximado. Mas eles são mostrados — com precisão, percebe-se
— sentados em bancos, indicação de sua inferioridade social. Perto da mesa alta,
à esquerda, há um cercado onde foram colocados os músicos da corte para tocar
durante o banquete. No primeiro plano vê-se um mordomo segurando o bastão
de ofício e supervisionando a entrada do serviço, precedido por trombetas e
tambores, num cortejo que passa ao lado do aparador, colocado sob um pálio e
carregado de travessas.
Nosso observador italiano anotou vários detalhes interessantes não captados
pelo desenho. Um deles foi a presença do que estimou em pelo menos dois mil
espectadores. Outro foi o fato de que os guardanapos haviam sido dobrados pelo
“maestro Giovanni Milanese”, prova da migração desse requinte italiano para o norte
da Europa. Giovanni dobrou os guardanapos da mesa alta de maneira a formar
dois castelos completos, com artilharia, infantaria e fogos de artifício (o noivo
era um importante comandante militar), e desfraldando as costumeiras flâmulas
heráldicas. Finalmente De Marchi observa que cada um dos oito serviços consistia
de pratos vindos de províncias específicas dos Países Baixos, como Flandres ou
Brabante, o que dava ao banquete uma conotação política, além de culinária. Antes
de deixarem a mesa, os convivas assistiram a uma mascarada com oito crianças
da nobreza escoltadas por músicos e tocheiros. A apresentação terminou com a
distribuição de ramalhetes de flores artificiais contendo sonetos em várias línguas
para os personagens mais importantes. Depois o salão foi esvaziado e seguiu-se
o costumeiro baile da corte.
Nesse relato podemos reconhecer elementos familiares das fêtes dos duques
de Borgonha no século anterior, mas eles estão fundidos sob uma nova feição
italiana. Além disso há uma deliberada ênfase na internacionalidade da ocasião,
em termos da comida e das línguas usadas. Espanhóis, italianos, flamengos e por-
tugueses estão lado a lado. É evidente nesse banquete a maneira como as modas
na culinária e no estilo cerimonial migraram de corte para corte, particularmente
as direta ou indiretamente ligadas aos Habsburgo.
Tais banquetes eram claramente o microcosmo da sociedade. O governante
e os principais convidados ficavam em estrados elevados. O assento de honra
podia ficar no centro da mesa alta ou numa extremidade (como no desenho da
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banquete
primeira das três festas de Bruxelas), mas a hierarquia sempre era observada tanto
nos lugares como nas diferenças de nível. Algumas vezes havia uma sala separa-
da. Na Itália empregava-se uma sala chamada tinello para acomodar aqueles cuja
posição era considerada muito inferior na escala social para estarem presentes na
reunião principal. Ser indicado para essa sala podia ser considerado uma afronta
séria. Quando alguns dos franceses que acompanhavam Henrique III em Ferrara,
em 1574, foram rebaixados ao tinello, reclamaram amargamente. Foram obrigados
a comer em serviços rústicos de cerâmica, sem facas ou garfos, “servidos por vilões
que puxavam e jogavam os pratos, e não por criados”.92
O status também se refletia no assento destinado ao conviva. Cadeiras estofa-
das e de braços eram reservadas aos príncipes, grandes senhores e, ocasionalmente,
às senhoras. A seqüência descia a uma cadeira com encosto mas sem braços, ao
tamborete e finalmente ao banco, muito inferior. As sutilezas dos assentos e as gra-
dações da hierarquia se tornaram cada vez mais complexas. Bastam dois exemplos.
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o ritual renascentista
O grão-duque [seu tio] sentou-se a dois braços de distâncias da rainha, à sua direita,
com a grão-duquesa do outro lado; abaixo dele vinha a duquesa de Bracciano, numa
cadeira, depois o marido desta, signor don Virgínio. Em frente a eles estavam o exce-
lentíssimo signor Giovanni e o signor Antonio de Médici, tio e irmão, respectivamente,
da rainha. Mas eles sentavam-se em tamboretes e eram servidos em pratos abertos
[diferente dos pratos cobertos para os de posição mais elevada, uma proteção contra
a contaminação] e suas taças não estavam em sotto coppe [nas bandejas que os outros
tinham]. Como na França, ninguém bebia se a rainha não o fizesse...93
Desta maneira, Carlos I e Henrietta Maria ficaram isolados do resto do grupo, de tal
maneira que a conversação, na melhor das hipóteses, deve ter sido bastante difícil.
O surgimento do scalco e do trinciante apenas serviu para acentuar todas as nuances
da gradação social. O papel do mordomo era manter olho vivo sobre os pratos que
chegavam e garantir que sua quantidade fosse adequada à posição dos comensais. A
função do trinchante era trinchar e servir a carne também de acordo com a hierar-
quia, sendo que as partes melhores deveriam ser reservadas para os que estivessem
na mesa alta, enquanto pedaços como miúdos eram encaminhados para as de baixo.
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Banquete dado em honra de Cristiano III, rei da Dinamarca, por Bartolomeo Colleoni. O rei está
sentado sozinho à cabeceira da mesa, com seu trinchante servindo-o. Em deferência à sua posição,
está isolado dos outros comensais pela distância. Pintura de Marcello Fogolino, década de 1530.
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(uma forma de macarrão), ganso e capão recheado. Era nessa estrutura que se
encontrava a enorme elaboração da culinária registrada em Opera, de Bartolomeo
Scappi. Ela é muitas vezes quase opressiva por sua riqueza e pela tendência para
coisas que hoje acharíamos profundamente repugnantes, como crostate de olhos
e orelhas de cabrito ou testículos assados de carneiro. Depois disso vinha outro
serviço da credenza, com legumes crus ou cozidos, tortas e pastéis, queijos, ostras
e cremes à base de leite. Finalmente (se eram servidos na mesa, e não em outro
lugar) candite confettioni, coisas doces como frutas em calda e sementes açucaradas.
A seqüência não era imutável. Romoli, Il Pununto, por exemplo, não alternava se-
qüências quentes e frias, mas organizava a refeição — como uma que ele preparou
para dias de peixe — com duas seqüências frias e duas quentes entre elas.
De maneira geral, o que era visto como servizio al’italiana alternava serviços
quentes e frios — frios da credenza, quentes da cucina. É uma seqüência que já
está clara em Platina, em meados do século XV. Mesmo quando os serviços se
multiplicavam, como ocorria nas grandes ocasiões, o ritmo era mantido. Basta
um único exemplo como ilustração. Em maio de 1583 o papa Clemente VII deu
uma festa em honra aos três filhos de Guilherme V, duque da Bavária, no castelo
de Santo Ângelo.97 Com muito destaque, o cardápio incorporou todas as fixa-
ções alimentares do banquete renascentista. Entre os pratos que consideraríamos
repugnantes estava o segundo serviço, que tinha um pintinho para cada conviva
acompanhado por um pastel com recheio de crista de galo, testículos e groselha,
grandes tortas recheadas com olhos, orelhas e testículos de cabritos, e cabeças de
bezerro desossadas e recheadas. No quarto serviço, os maiores destaques eram
um prato de testículos de capão e uma salada de pés de cabra.
Ainda mais típica era a maneira como se exibiam todas essas iguarias. A qua-
lidade dos ingredientes e o gosto cediam lugar à necessidade de ostentação como
parte da infindável ladainha de homenagens à coroa. (A procissão de apresentação
dos pratos num desfile deslumbrante tinha como resultado, é claro, que eles in-
variavelmente estavam tépidos ou frios ao chegar à mesa.) As mais espetaculares
peças de exibição, no caso do banquete papal para os bávaros, incluíam “pavões
brancos em suas penas, adornados com pérolas, corais e folhas de ouro e prata,
com brincos nas orelhas e perfume no bico”, um Hércules de marzipã brandindo
sua clava contra uma hidra de massa recheada de vitela picada, gemas de ovos
cozidas, pinhões, e “leões compostos de carne de lebre em grandes tortas”. O finale
foi um modelo do próprio castelo de Santo Ângelo, de onde saíam “faisões com
o bico vermelho, vestidos de roupas de ouro e prata, pequenas lebres e coelhos
brancos com colares de pequenos sinos em volta do pescoço e corais nas patas
perfumadas”. Havia um rei mouro montado num elefante com um castelo nas
costas cheio de pássaros vivos, uma hidra que vomitava arganazes e toupeiras
vermelhas, um cavalo de cuja boca voavam pintassilgos em tranças de prata, um
touro enfeitado de flores que era um autômato e andava pela mesa, e um navio de
156
o ritual renascentista
* Pieter Brueghel III (1568-1625), conhecido como Brueghel de Veludo, era o segundo filho de
Brueghel, o Velho.
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banquete
num tom abaixo do normal, [junto com] seis flautas e um instrumento de teclado.
Com o sexto serviço ... os instrumentos, que soavam da maneira mais agradável,
eram um clavicêmbalo, uma sacabuxa, uma flauta, um alaúde — tocado magistral-
mente por um virtuoso, ... uma gaita de foles, um cornetim, uma viola da gamba,
e um pífano. ... O sétimo serviço: o conjunto consistia de 12 músicos, divididos
em três coros, ou seja, quatro violas da gamba no primeiro, quatro grandes flautas
no segundo [e] um dulzino, uma gaita de foles, um pífano e uma trompa doce
[em surdina] no terceiro.99
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DA FESTA À FANTASIA
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montanha sobre rodas entrou em cena, e dela surgiu um homem que se dirigiu
aos espectadores, seguido por Vênus, deusa do amor, num carro puxado por
dois cisnes. Isso levou a uma reencenação da história de Hércules e o dragão no
Jardim das Hespérides. O finale foi uma dança por oito casais mitológicos rude-
mente interrompida por centauros carregando escudos e clavas. Foi o pretexto
(mais uma vez em homenagem ao duque) para uma encenação da batalha entre
Hércules e os centauros — que, é claro, Hércules venceu.
Essa festa parece ter estabelecido o estilo para toda uma série de outras
similares no final do Quattrocento, criando assim o que só pode ser descrito como
um novo gênero, o banquete alegórico. Dois anos mais tarde, no casamento
de Costanzo Sforza com Camila de Aragão, em Pesaro, o banquete nupcial foi
supervisionado pelos habitantes do Olimpo, e os serviços quentes foram servi-
dos sob a égide do deus do sol, Apolo, e os frios sob a deusa da lua, Diana.102
Em 1489, no casamento de Isabel de Aragão com Gian Galeazao Sforza, Jasão
estendeu seu velocino de ouro sobre a mesa nupcial, Mercúrio apresentou um
bezerro e Diana, um veado.103
Um manuscrito na Pierpont Morgan Library, em Nova York, compilado por
um cozinheiro napolitano em algum momento da última década do século XV,
registra em detalhes toda uma série de banquetes. De longe o mais importante
foi o dado por Ascanio Sforza, nomeado cardeal em 1484, em honra ao príncipe
de Cápua.104 Consistiu de oito serviços, cada um dos quais apresentado por um
membro da hierarquia do Olimpo: Vênus, Júpiter e Juno trouxeram o serviço dos
assados; Diana e suas ninfas, o da caça; Netuno, num carro marinho, o dos peixes;
Jasão e três sereias, as geléias; Pan, o de coalhadas e laticínios, em cestas douradas;
e Pomona, o de frutas e doces com hipocraz. Vassouras douradas limpavam o que
havia sido jogado aos cães.
Há uma clara ligação entre essas festas tão extremamente organizadas e o tipo
de ceia imaginada por Messisbugo e seus sucessores com que abri este capítulo.
Já vimos como, ao longo do século, aquele formato passou a ser o padrão para as
grandes ocasiões na corte de Este. Mas tais espetáculos não se limitavam a Ferra-
ra. Dois outros exemplos mostram como a festa alegórica difundiu-se nas cortes
italianas à medida que a era renascentista dava lugar ao barroco. O primeiro foi
talvez o banquete mais espetacular desse tipo jamais dado. Realizou-se em 1600,
por ocasião das núpcias de Maria de Médici e Henrique IV.105 A festa marcou
um triunfo diplomático da mais alta ordem, o casamento do rei da França com a
jovem de uma família que, um século antes, formava um mero clã de banqueiros.
A máquina publicitária sempre funcionou nos festivais dos Médici, produzindo
livros e gravuras comemorativos. O ano de 1600 não foi exceção. Já descrevi a
gigantesca credenza, mas na ocasião foi criada em torno dela, na Sala del Cinquecento,
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banquete
uma decoração arquitetônica. Era composta por estátuas douradas e exibia retratos
da noiva e do noivo, bem como de seus predecessores e protótipos, Henrique II
e Catarina de Médici. Duas grutas também tiveram seu lugar. A nova rainha e a
família, juntamente com os principais hóspedes, sentavam-se no alto, numa das
extremidades da sala; abaixo deles, três mesas, cada uma com cem damas, eram
servidas por cavaleiros. Os alimentos abarcavam todas as fantasias maneiristas. Na
mesa alta havia dois carvalhos aparentemente feitos de neve com folhas brancas e
guirlandas prateadas. Sob seus ramos acontecia uma caçada. Na mesa central das
damas, um leão rampante arrancava lírios do peito, enquanto, simultaneamente,
se metamorfoseava em águia imperial. Em certo momento da festa a mesa alta
dividiu-se em duas, que se separaram e transformaram em vasos. Enquanto isso,
do chão emergiu uma mesa com a sobremesa sob a forma de uma paisagem de
inverno. Um conviva deixou registrado que, nesse ponto, a iluminação diminuiu,
enfatizando dramaticamente o efeito do que estava por acontecer. Duas nuvens
brotaram lentamente das grutas laterais, pairando sobre a cabeça dos comensais, e
ao se abrirem revelaram os carros dourados e cravejados de jóias das deusas Juno
e Minerva, que compareceram para agraciar aquele “sobre-humano banquete dos
deuses”. Essas aparições aéreas debateram então sobre qual seria a presença mais
representativa, resolvendo-se finalmente a contenda com a eleição do próprio
casamento, quando um imenso arco-íris arqueou-se na sala. Depois disso a rainha
e suas damas dirigiram-se para a mesa do centro, que mais uma vez foi objeto de
uma transformação milagrosa. Usando horizontalmente e com destreza o periaktoi
(molduras giratórias empregadas verticalmente no palco para mudanças de cena), a
superfície da mesa girou, revelando primeiro espelhos que refletiam as pinturas do
teto glorificando os Médici, e depois um jardim de açúcar com pássaros canoros e
outras criaturas. A rainha presenteou suas damas com eles, enquanto os cavaleiros
ofereciam-lhes frutas e flores do jardim de açúcar.
A festa utilizou todos os recursos da corte dos Médici. Giovan Battista Guarino
escreveu os poemas para o debate das deusas, Emilio Cavalieri, a música. O resto
coube aos talentos combinados do multifacetado arquiteto e desenhista Bernardo
Buontalenti, o pintor Jacopo Ligozzi e o escultor Giambologna. Este último, junto
com seus assistentes, até mesmo desenhou a escultura de açúcar para as mesas
O segundo exemplo é bem mais tardio, de 1645. A 10 de fevereiro daque-
le ano, madame Reali, filha de Henrique IV e duquesa de Sabóia, celebrou seu
aniversário no castelo de Rivoli com um banquete alegórico.106 O acontecimento
também estava carregado de significado político: celebrava a restauração do equi-
líbrio político do ducado após anos de dissensão interna. Como todos os festivais
da corte de Sabóia, foi dirigido por um homem, um cortesão e conselheiro de
Estado chamado Filippo d’Aglié, que por 30 anos projetou os cenários para torneios,
balés e festejos. O banquete foi oferecido pelo filho da duquesa Cristina, o jovem
duque Carlos Emanuel, em honra à mãe e encenado em quatro salas diferentes,
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o ritual renascentista
uma após a outra. Cada sala representava uma diferente província do ducado,
com as paredes adornadas com painéis e os tetos com os brasões pertinentes. Para
enfatizar a natureza patriótica da festa, como no caso da festa de casamento de
Alexandre Farnese em Bruxelas, em cada uma das salas foram servidas iguarias
associadas à respectiva província.
Para nossa sorte, um notável registro visual de todas as festas de Sabóia
sobreviveu nas pinturas de um certo Tommaso Borgonio. Basta olhar para a que
descreve a província de Sabóia para sentir todo o sabor do acontecimento. A
duquesa, com seus véus negros de viúva, está sentada entre as duas filhas, Ade-
laide e Margherita. Elas ocupam um camarote ou pavilhão elevado ao qual se
chega por uma escada dupla. São servidas, entre outros, pelo scalco, o trinciante e
o coppiere (escanção) da duquesa. Abaixo 20 convidados sentam-se a uma mesa
que se estende até a credenza, com sua exibição de pratarias. Há dois conjuntos
de servos, um de libré marrom escuro e carmesim com franjas douradas, e um se-
gundo de preto com meias vermelhas. O primeiro parece tratar da bebida, e o
segundo, da comida. Atrás do bufê ergue-se uma decoração em forma de mon-
tanha, encimada por uma estátua de Sabóia, enquanto na parede mais comprida
há uma vista da fortaleza de Mommeliano. Esta, é claro, é apenas a primeira
sala; seguem-se mais três, dedicadas sucessivamente a Turim e Piemonte, Nice e
163
banquete
finalmente Monferrato. Após a refeição, todos foram para a sala del balletto, onde
dançarinos vestidos com as roupas típicas das diferentes províncias apresentaram
uma dança. No texto que acompanha suas pinturas, Borgonio enfatiza o tema da
festa — que os presentes se unam em defesa do ducado com suas armas e suas
artes, e também com devoção de mente e espírito.
Os festejos alegóricos eram em geral mais característicos das cortes italianas
do que da aristocracia do norte dos Alpes. Ali as tradições da Borgonha con-
tinuaram sendo observadas por todo o século XVI, e os festejos eram seguidos
por uma invasão de mascarados, como os presentes no banquete nupcial de
Alexandre Farnese em 1565. Um raro registro inglês desse tipo de acontecimento
aparece no retrato de sir Henry Unton, na National Portrait Gallery, em Lon-
dres. Sir Henry, a mulher e convidados estão sentados em volta de uma mesa,
enquanto no primeiro plano vemos avançarem a deusa Diana e um grupo de
ninfas. Mercúrio, o mensageiro dos deuses, parece estar declamando para lady
Unton, a uma extremidade da mesa. Esse tipo de conjunção íntima entre festejo
e entretenimento de corte deveria ser rompido no século seguinte, quando a
mascarada precisou dispor de uma sala própria e um palco. Comida e fête, tão
intimamente aliadas por toda a Idade Média, finalmente se separaram.
Há uma exceção. Não é de surpreender que tenha sido francesa e ocorri-
do sob a égide de uma Médici, Catarina. Aconteceu em Bayonne, na fronteira
franco-espanhola, a 24 de junho de 1565,107 como parte de uma estonteante
série de festividades envolvendo membros de ambas as cortes. No caso, era a
rainha quem convidava. Os convivas embarcaram num navio construído como
um castelo e desceram o rio Adour, onde passaram por várias deidades mari-
nhas, até desembarcar numa ilha. Ali foram saudados por dois músicos vestidos
como Lino e Orfeu. Três ninfas cantaram a paz entre os reinos, enquanto o
grupo caminhava por uma aléa verde até um pavilhão de banquetes octogonal,
construído em torno de um carvalho. Ao pé do carvalho, uma fonte borbulhava
numa gruta. O pavilhão era dividido em oito alcovas, cada uma com uma mesa
para oito pessoas. Uma mesa oval elevada destinava-se ao grupo real. Seguiu-se
a festa, exatamente à maneira italiana, acompanhada por músicos colocados nas
entradas do serviço. Cinco pastores e dez pastoras vestidos com roupas de ouro
e prata serviam os comensais. Uma vez terminada a festa, nove ninfas dançaram
ao som de música tocada por sátiros mascarados.
A filha de Catarina, Margarida de Valois, futura primeira esposa de Henrique IV,
descreve a ocasião em suas memórias. Ela se refere a detalhes não registrados
em outras partes, como por exemplo o fato de que os pastores estavam vestidos
com roupas das diferentes províncias da França — uma alusão política — e que
caiu uma tempestade. Mas mencionar o acontecimento em suas memórias sugere
exatamente que o considerou incomum. E na verdade era. Uma manifestação tão
rigorosamente coordenada não era típica do Renascimento no norte da Europa.
164
o ritual renascentista
Uma majestosa mascarada encabeçada por Mercúrio e Diana faz sua entrada num banquete
do final da era elisabetana. Detalhe de Memorial Picture of sir Henry Unton, c.1596.
165
banquete
Existem evidências de que nem todos eram tão facilmente seduzidos pelo
dramático crescimento de prodigalidade em tais espetáculos culinários. Na penín-
sula Ibérica ocorreu uma forte reação contra a adesão do imperador Carlos V aos
excessos e espetáculos borgonheses. O grande inquisidor Torquemada, em seus
Coloquios satiricos (1553), elogia a “antiga frugalidade e a simplicidade espanhola”,
em contraste com as mesas servidas à la flamande. Quando estava na Espanha, o
imperador tinha o cuidado de não exibir qualquer ostentação.108
Giorgio Vasari, em sua biografia do escultor florentino Giovan Francesco
Rustico, nos apresenta um outro ponto de vista crítico.109 Rustico formou um
grupo que se autodenominava Companhia do Caldeirão e que encenava ban-
quetes. Cada membro podia convidar quatro pessoas e deveria levar um prato.
O resultado parece ser uma paródia deliberada da decoração e da comida de
um grande banquete da corte dos Médici. Numa dessas reuniões, os comensais
foram colocados em volta do que parecia ser um enorme caldeirão, de tal maneira
que pareciam estar sobre a água fervendo. Os pratos eram versões infames das
comidas figurativas da corte:
Na sua vez, Rustico apresentou um caldeirão feito de massa, em que Ulisses assava o
pai para rejuvenescê-lo, sendo que as duas figuras eram capões em forma de gente.
... Andrea del Sarto [o pintor] apresentou uma igreja octogonal como a de são João,
mas apoiada em colunas. O pavimento era feito de gelatina, parecendo um mosaico
multicolorido; as colunas, que pareciam de porfírio, eram salsichões; as bases e capitéis,
queijo parmesão; as cornijas eram de massa e açúcar, e os aposentos, de marzipã.
No meio havia uma estante de música feita de vitela fria, com um livro de massa,
sendo as letras constituídas de grãos de pimenta. Os cantores eram tordos assados
com os bicos abertos, usando sobrepelizes de redanho de porco, e atrás deles havia
dois grandes pombos como base e seis cotovias como soprano...
... e se encontraram numa sala redonda iluminada por uma luz fraca ao meio, de modo
que mal podiam reconhecer um ao outro. Um demônio horrível com um tridente
levou-os a seus lugares na mesa coberta de negro, e Plutão ordenou que, em honra ao
casamento, os sofrimentos do inferno cessassem enquanto eles estivessem ali. Havia
pinturas descrevendo os defeitos dos condenados e seus tormentos; quando uma luz
166
o ritual renascentista
lhes era dirigida, surgiam chamas que mostravam a natureza do tormento. As viandas
tinham a forma de animais com a mais repulsiva aparência, mas por debaixo eram
feitas de carnes delicadas de vários tipos. Os exteriores eram serpentes, sapos, lagartos,
aranhas, rãs, escorpiões, morcegos e coisas assim, com as mais deliciosas viandas por
dentro. Eram colocadas diante de cada conviva com uma pá, e um demônio servia
vinhos escolhidos, mas de um feio chifre feito de vidro. ... Em vez de frutas, seguiram-
se ossos de gente, ... mas eram de açúcar.
E assim continuou a encenação até que, em certo momento, tudo isso foi
levado: “Foram trazidas luzes, e uma cena régia tomou o lugar, com servos de-
centes trazendo o restante de um banquete magnífico.” É difícil não acreditar
que os artistas responsáveis por essas paródias eram os mesmos que criaram os
maravilhosos eventos cortesãos ali caricaturados. Poderiam eles ignorar à custa de
quem estavam tendo noitadas tão agradáveis?
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o ritual renascentista
O banquete de açúcar na salle enchantée, em Binche, 1549. Desenho, meados do século XVI.
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o ritual renascentista
Refeição de açúcar por ocasião do casamento de Johann Wilhelm, herdeiro do duque de Jülich-Cleve,
1587. As pessoas no primeiro plano foram reduzidas ao tamanho de pigmeus.
Gravura, final do século XVI.
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Entre 1549 e 1553, sir William Sharington construiu uma torre com duas
salas de banquetes, cada qual com uma mesa para sete pessoas, em Lacock Abbey,
Wiltshire. Perto dali, em Longleat House, no começo do período elizabetiano, sir
John Thynne pontilhou o telhado de sua mansão com pequenos quartos como
vasos de pimenta. Ali os hóspedes podiam combinar os prazeres do próprio
banquete com os do ar fresco e a paisagem do campo.
No reinado de Elisabeth essas características arquitetônicas eram de dois
tipos: salas de perspectiva, como as contruídas em Hardwick Hall, Derbyshire,
pela condessa de Shrewsbury na década de 1590, ou edifícios completamente
separados no terreno da propriedade, como a casa de banquetes desenhada por
Robert Lyminge para Blicking Hall, Norfolk, no período jacobiano. Francis Bacon,
filósofo e chanceler, tinha “uma curiosa casa de banquetes em arquitetura romana,
com chão de mármore preto e branco”, numa ilha. Como uma edícula comum às
grandes mansões, tais casas de banquetes deveriam durar até o século XVIII.
A palavra banquet passou a ser usada na Inglaterra na década de 1530,
para estabelecer a diferença com o termo feast.118 Ela conota também o desejo
humanista de reviver a arte da conversação. Em 1539 sir Thomas Elyot publicou
The Bankette of Sapience, um compêndio de ditos espirituosos e aforismos que
associava a forma de banquetear entre os Tudor com a arte revivida do discur-
so. Quanto às iguarias, embora o banquete tenha se iniciado com elementos
importados, como cascas de frutas cítricas em conserva, geléias de marmelo
e conservas de frutas macias, logo seriam acrescentadas, como era típico do
norte da Europa com seus laticínios, alimentos como leite com canela, gelatinas
cremosas e água de rosas com queijo. Eram servidos com vinhos doces do sul
da Europa e uma elaborada variedade de biscoitos. Gervase Markham, em seu
The English Huswife (1615), explica como preparar uma dessas refeições com
“um prato de exibição apenas”, de tipo figurativo, e todos os outros pratos
arranjados em volta.
O mais completo relato de um banquete de açúcar elizabetiano, capaz
de rivalizar com os das cortes italianas, descreve a recepção oferecida à rainha
Elizabeth I em Elvetham, em 1591, pelo conde de Hertford, que estava ansioso
por cair em suas graças.119 Enquanto a rainha e seu séquito, ocultos numa galeria
construída para a ocasião numa colina, admiravam um lago artificial iluminado
por fogos de artifício, 200 cavalheiros escoltados por cem tocheiros lentamente
encaminhavam-se em procissão, colina acima, levando o banquete. A procissão
tinha à frente as armas da rainha e da nobreza e era seguida por uma variedade
de objetos associados com a guerra — castelos, canhões e soldados. (Naquele
momento os ingleses estavam em guerra com a França.) Depois vinham “qua-
drúpedes”, “tudo o que pode voar”, “todos os tipos de vermes” e “todos os tipos
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o ritual renascentista
A resposta é que o amor havia realizado esse banquete: “o Amor vai festejar
o Amor!”, num verdadeiro banquete para os sentidos, lembrando os quadros
de Brueghel de Veludo que evocavam a opulência das iguarias renascentistas.
Depois, terminado o primeiro banquete, o rei e a rainha retiravam-se, para ainda
serem entretidos com um diálogo irônico que satirizava o arquiteto da corte,
Inigo Jones, como coronel Vitruvius, e uma dança de autômatos. Em seguida
vinha o segundo banquete, muito mais ambicioso, pois era “trazido das Nuvens,
por dois Amores”.
Loue’s Welcome to Bolsover usa uma refeição como veículo para celebrar a divindade
da realeza numa época em que se acreditava no direito divino dos reis. Durante a
Idade Média e o Renascimento, os monarcas raramente apareciam em público e
menos ainda comiam em público. Quando o faziam, num banquete de coroação,
por exemplo, aquele era um acontecimento tão importante para os que tinham o
privilégio de presenciá-lo quanto uma liturgia esotérica, embora ainda mais raro.
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banquete
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o ritual renascentista
(um grande aristocrata) dirigia os trabalhos; seu privilégio mais zelosamente guar-
dado era apresentar o guardanapo ao rei. O principal mordomo de Felipe era um
grande soldado, o duque de Alba. Quando Felipe foi à Inglaterra em 1554 para
se casar com Mary Tudor, os ingleses rapidamente arranjaram uma festividade do
tipo borgonhês, mas cometeram o erro de designar outra pessoa para apresentar
o guardanapo ao rei. Alba ficou mortalmente ofendido. Os jarros de vinho e de
água assumiam um significado especial na cerimônia espanhola. O escanção devia
fazer uma genuflexão cada vez que punha vinho na taça do rei.
Os paralelos com a missa são muito claros aqui. Vistos no contexto da Ingla-
terra pós-Reforma, onde o cerimonial eclesiástico quase havia sido abolido, eles
ficam ainda mais evidente.125 A etiqueta estabelecida por Henrique VIII para o
jantar real sobreviveu até o século XVIII. No reino de Henrique, qualquer forma
de jantar público se dava na Câmara da Presença, também conhecida como a
Henrique VIII jantando em seu gabinete privado. Desenho atribuído a Hans Holbein, c.1540.
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banquete
Um cavaleiro entrou na sala levando uma vara e junto com ele um outro, com uma
toalha de mesa; depois que os dois se ajoelharam três vezes com a mais profunda
veneração, a toalha foi estendida na mesa; ajoelhando-se outra vez, ambos se reti-
raram. Então vieram outros dois, um, mais uma vez, com a vara, o outro com um
saleiro, um prato e pão; e após se ajoelharem como os anteriores, e colocarem na
mesa o que traziam, também se retiraram com as mesmas cerimônias realizadas pelos
primeiros. Finalmente entrou uma dama solteira (disseram-nos que era uma condessa)
e junto com ela outra dama casada, trazendo uma faca de prova; a primeira estava
vestida de seda branca; depois de se prostrar três vezes da maneira mais graciosa,
aproximou-se da mesa e esfregou os pratos com pão e sal com tanto cuidado como
se a rainha estivesse presente. Após algum tempo de espera, o comandante da
guarda entrou, de cabeça descoberta, vestido de escarlate, com uma rosa dourada
nas costas, trazendo de cada vez um serviço de 24 pratos servidos em travessas em
sua maioria douradas; estes pratos foram descobertos por um cavaleiro na mesma
ordem em que foram trazidos e colocados na mesa, enquanto a dama encarregada
de provar dava a cada guarda um bocado do prato que ele havia trazido, por medo
de veneno. Enquanto estes guardas traziam o jantar, 12 trombetas e dois timbales
faziam o salão tremer por meia hora.126
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o ritual renascentista
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banquete
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o ritual renascentista
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As classes aristocráticas descobrem as alegrias da informalidade.
O jantar de ostras, de Jean-François de Troy, 1735.
5
Da Corte para a Sala Particular
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banquete
Ficamos duas horas na ceia, tranqüilos e à vontade, mas sem qualquer excesso. Então
o rei se dirigiu para o petit salon, onde coou café; não havia criados, de modo que nós
mesmos nos servimos. Ele organizou uma mesa de comete [um jogo]. ... o rei gostava
bastante daquele joguinho, mas madame de Pompadour parecia odiar jogos, e tentou
afastá-lo da mesa. ... finalmente, às duas horas, ele se levantou e lhe disse, de maneira
um pouco disfarçada, e, me pareceu, bem alegre: “Venha, vamos para a cama.” As
mulheres fizeram uma reverência e saíram, ele cumprimentou e foi para seus petits
cabinets. O resto de nós saiu pela escada de madame de Pompadour e deu a volta pelos
salões para presenciar o coucher público do rei, que aconteceu imediatamente.
O relato feito por de Croÿ deixa claro que estamos a séculos de distância
da alegoria e da coreografia do banquete do Renascimento. A refeição ainda era
um exercício de discriminação social, mas de tipo muito diferente. Ter o nome
marcado pelo rei era o ápice da aspiração social, permitindo entrar em outro
mundo e deixar os que não eram premiados com inveja e possivelmente com
bastante ressentimento.
Mas entrar em outro mundo pressupõe um mundo existente. Percebemos
que a esfera pública permanecia intacta e funcionando quando somos informados
de que, depois da ceia, o rei dirigia-se a seu quarto de dormir oficial para o ritual
público do coucher. Os grands appartements não foram substituídos pelos aposen-
tos conhecidos como petits cabinets ou petits appartements, onde em geral tinham
lugar os soupers intimes; pelo contrário, estes foram deliberadamente construídos
para que o rei pudesse escapar ao rígido protocolo da vida em público. Ele se
mudara para lá em 1738. O formato das ceias não cerimoniosas fora introduzi-
do três anos antes sob a égide do cardeal Fleury, ministro do rei, que com elas
queria ajudar o monarca a vencer a timidez. Ceias semelhantes só haviam sido
dadas pelo tio de Luís, Felipe, duque d’Orléans, no Palais Royal em Paris. Neste
caso, o objetivo tinha sido em grande parte a gula (Orléans havia aprendido a
cozinhar na Espanha) e a sedução (apareceram os afrodisíacos). Esta também se
tornou parte do cenário de Luís XV quando duas de suas primas, mademoiselle
de Charolais e a condessa de Toulouse, promoveram petits soupers aos quais as
damas eram convidadas. Foi num destes eventos que o rei encontrou sua primeira
amante, madame de Mailly, uma ligação que precipitou diretamente a criação
dos petits appartements e também as petits voyages que começou a fazer para os
castelos de La Muette e Choisy, cenários dos outros jantares informais. Ali ele
podia deleitar-se na caça e depois entregar-se a festas íntimas com os camaradas
de caçada e um grupo seleto de mulheres encabeçadas pela Pompadour.
Estes soupers intimes não se pareciam nada com o que encontramos até agora.
São na verdade a refeição arquetípica do século XVIII, que buscava banir o ritual e
era destituída de mensagens simbólicas. Tratava-se de uma atmosfera de alta moda,
flertes, agudeza de espírito e mexerico. O uso da mesa redonda poupava os co-
mensais das complicações de precedência. A ausência de criados em grande parte
da refeição não apenas desinibia a conversa como também o livre fluxo de vinho;
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da corte para a sala particular
este era colocado, junto com os copos, diretamente sobre a mesa. O jantar de ostras
(1735), de Jean François de Troy, que foi pintado para a première salle à manger de
Versalhes, embora desprovido do frisson da companhia feminina, sugere o ambiente
jovial de tais reuniões. Ali a mesa redonda está coberta com uma toalha branca.
Sobre ela podemos ver os pequenos seaux (potes) chineses ou japoneses cheios
de água, nos quais as taças estão emborcadas para serem lavadas. Um comensal se
inclina para pegar uma garrafa de vinho. Enormes guardanapos estão dobrados no
colo dos convidados. No primeiro plano há um esfriador de vinho com garrafas no
gelo e prateleiras para pratos. Todo mundo está se divertindo a valer.
Em Choisy a privacidade era levada ao extremo. Os criados podiam ser vir-
tualmente eliminados, porque um mecanismo especial fazia com que o centro da
mesa de jantar se abaixasse e depois subisse trazendo a nova seqüência.3 Na sala
propriamente dita, quatro aparadores permitiam que pratos e taças ficassem à mão,
e também tinham penas, tinta e papel para que os convivas escrevessem o que que-
riam beber. O toque de um sino minúsculo produzia as mudanças milagrosas.
A tendência à privacidade acarretou outra inovação, o cardápio, uma lista-
gem por escrito da seqüência dos pratos a serem servidos. Os únicos cardápios
do século XVIII que sobreviveram são de ceias acontecidas em Choisy, 67 no
total (32 em 1751 e 35 em 1757).4 Alguns são retangulares, outros redondos;
como existem duplicatas, pode ser que várias cópias fossem colocadas à mesa.
Descrevem pratos para algo como 31 ou 36 convivas, de espécies muito dife-
rentes daqueles da mesa renascentista. Em primeiro lugar havia menos serviços,
apenas quatro, mais a sobremesa. No entanto, é bem claro que tais cardápios
marcavam um intenso interesse dos convidados pelo que iam efetivamente
comendo. Estava começando a idade do gourmet. A refeição iniciava-se com
sopas e ragus ou oilles, passava para uma imensa variedade de entradas, depois
para os assados e finalmente para os petits entremets. Nessa estrutura havia uma
nova progressão, do picante ao doce. E também, o que é notável, incluíam-se
pratos atribuídos a certas pessoas, ou que lhes levavam o nome, como Dindon
du mareschal de Richelieu ou Pâté de madame la Marquise de Pompadour. O que isso
quer dizer? Será que esses importantes personagens realmente cozinhavam tais
pratos, ou eles eram a spécialité de suas maisons? O que certamente podemos ver
é que refletem uma culinária de complexidade até então desconhecida.
Um caminho extraordinário foi percorrido desde o início do século XVII. Chega-
mos a refeições nas quais a hierarquia era posta de lado, os convidados se serviam, o
foco estava nos discursos e nas inter-relações sociais descuidadas e elegantes. Nessas
refeições, a arte da culinária tornou-se um interesse tão central que os convidados
queriam saber por escrito o que lhes seria servido. Parece que estamos bem perto
de nossa própria experiência à mesa. Como isso aconteceu? O simples fato de ter
ocorrido sugere que foi meramente uma violenta reação ao sufocante e antigo estilo
de comer das classes altas, por parte daqueles aprisionados em suas formalidades.
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banquete
O TRIUNFO DA ILUSÃO
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da corte para a sala particular
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banquete
o clímax em Lo scalco moderno (1692), de Antonio Latini, com uma vasta seção
dedicada aos trionfi do tipo que encontramos no banquete de Castlemaine. Isso
incluía guardanapos dobrados em formatos ainda mais complexos, esculturas de
manteiga e composições arquitetônicas e figurativas feitas de marzipã, massa fo-
lheada e açúcar. No entanto, a despeito de sua perversão, a forma alcançava um
certo nível estético. Em nenhum outro momento da história da mesa a comida
foi capaz de assumir seu lugar, para pior ou para melhor, junto às grandes artes
decorativas de uma época, em particular pequenas composições esculturais em
bronze e prata.7 Os contemporâneos estavam bem cientes do fato; uma das crí-
ticas levantadas contra a grande estátua eqüestre do imperador Constantino, de
Bernini, era que “o cavalo parecia um trionfo de marzipã e merengue”. Tal acusação
é compreensível quando levamos em conta que a cozinha do Vaticano incluía
uma sala chamada stanza dei trionfi, dedicada exclusivamente à manufatura de tais
peças. Elas podiam muito bem ser desenhadas pelos principais artistas da época.
Sabemos com certeza que o próprio Giovanni Lorenzo Bernini desenhou uma
série de trionfi para um banquete dado pela princesa Aldobrandini em homenagem
ao cardeal de Médici em 1668.
Além das gravuras de Castlemaine, há dois outros conjuntos de desenhos
de Pierre Paul Sevin, um pensionista da Academia Francesa, reproduzindo me-
sas de banquetes em Roma ao final da década de 1660.8 Um grupo registra o
extraordinário quadro da Quinta-Feira Santa, montado todos os anos, em que
o papa lavava os pés de 12 padres pobres, imitando Cristo. Após esse ritual era
costume dar aos padres um jantar que, em 1675, nas palavras de um relato,
incluía “trionfi, esculturas de açúcar e guardanapos elegantemente dobrados”.9
O bizarro para os olhos modernos é ver mesas de jantar exibindo esculturas
de alimentos sob a forma de Cristo carregando a cruz, a agonia no Jardim de
Getsemani e anjos com os instrumentos da Paixão nas mãos. Entremeados a
isso há vasos de flores, árvores com frutos e um tempietto sustentando as armas
da família do papa. Criações como estas podem ser perturbadoras, mas não se
pode descartá-las; nelas grandes artistas experimentavam temas que jamais eram
encomendados de forma mais permanente.
Os desenhos de Sevin vão além e registram a notável aparência de diversas
festas mais seculares. Um em particular nos dá uma incomparável vista aérea de
uma dessas ocasiões. A festa não foi identificada, mas deve datar, como os outros
desenhos, do final da década de 1660. O anfitrião é um cardeal, e a figura à sua
esquerda deve ser a rainha Cristina da Suécia, com suas famosas roupas mas-
culinizadas. Num dos lados da sala, o anfitrião e os principais convidados estão
sentados a uma mesa semicircular sobre um estrado, e nas duas extremidades
há um trinciante ocupado em sua função, enquanto um criado, carregando um
prato, aproxima-se do centro. Por trás das cadeiras dos convidados estão o que
parecem ser criados pessoais. Abaixo, no corpo principal do salão, outros convivas
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Festa na Quinta-Feira Santa no Vaticano, com trionfi figurativos. Desenho de Pierre Paul Sevin, 1668.
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Banquete encenado para a rainha Cristina da Suécia. Desenho de Pierre Paul Sevin,
final da década de 1660.
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A rainha Cristina janta com o papa Clemente IX. Desenho de Pierre Paul Sevin, 1668.
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* O service à la française não significa o nosso “servir à francesa”, mas, como se verá adiante, um
modo de se dispor a comida à mesa, bem como sua apresentação. (N.T.)
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que os vegetais ocuparam o lugar de honra, como entremet. As saladas, que tiveram
seu epítome no ensaio de John Evelyn, Acetaria (1699), tornaram-se imensamente
populares, servidas simplesmente com um molho vinagrete, um pouco de ervas
aromáticas e algumas vezes violetas e borago.
Quanto ao vinho, no último quarto do século XVII foi inventado o méthode
champenoise, e o consumo de champanhe decolou. Por volta de 1784 eram for-
necidas anualmente a Luís XIV 1.735 garrafas de champanhe e 5.230 garrafas
de borgonha. Champanhe e borgonha, os vinhos preferidos pelas classes aristo-
cráticas, eram chamados vins de table (os consumidos pelas classes mais baixas
chamavam-se vins de suite). No século XVII também entraram em moda todos
os tipos de licores, águas perfumadas e bebidas geladas.
A isso podemos acrescentar três novidades de significado ainda maior: cho-
colate, chá e café.13 O chocolate vinha da América do Sul e já era uma bebida
popular na Espanha no século XVI. Tal popularidade espraiou-se no século seguinte,
chegando à corte francesa junto com a noiva espanhola de Luís XIV, cuja serviçal
tinha como tarefa mais importante preparar o chocolate da rainha. A bebida foi
adaptada ao gosto europeu, acrescentando-se um adoçante, mel ou açúcar, além
de baunilha, canela e algumas vezes pimenta-do-reino para realçar o sabor. Na
década de 1670 o cultivo do cacau foi introduzido na colônia francesa da Marti-
nica, o que fez seu preço cair; em 1682 o jornal Mercure Galant registrava que se
servira chocolate em todas as grandes festas de Versalhes.
Mas o chocolate jamais teve o mesmo impacto que o café, responsável até
pela criação de um novo cenário de convívio para a sociedade cortês emergente, a
casa de café. Os holandeses foram os primeiros a iniciar a exploração comercial do
produto, que chegou à Europa a partir de 1637. Na década de 1660 já havia um
grande comércio de grãos de café. Como o chá, a bebida “pegou” inicialmente por-
que se acreditava que ela tivesse propriedades medicinais. Em termos de alta moda,
o hábito foi estabelecido em Versalhes pela embaixada do sultão turco Maomé IV,
que serviu café à corte à maneira oriental. O fato de em meados do século seguinte
Luís XV preparar seu próprio café fala muito sobre o status desse produto.
O chá, que chegou à Europa também introduzido pelos holandeses, em 1610,
jamais alcançaria na França a popularidade que obteve na Inglaterra. Embora na
década de 1650 se tomasse chá em Londres, e na década de 1680 sua ampla
aceitação houvesse levado ao uso de mesas especiais, foi no século XVIII que tomar
chá iria se tornar um ritual das classes altas. Ele passou a simbolizar a sociedade
elegante, a família e os amigos reunidos em torno de uma mesa bem provida, com
um bule e uma vasilha de chá feitos de prata e xícaras de porcelana.
Todas essas novidades foram significativas, mas ficaram eclipsadas pelo que
representou uma reinvenção do método culinário na França durante a década de
1650.14 As raízes da mudança provavelmente se estendem muito mais longe no
passado, mas em meados do século apareceu subitamente uma variedade de livros
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da corte para a sala particular
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Idade Média, mas nunca com tal destaque. Agora assumiam seu lugar numa culinária
cujo uso de ingredientes aparentemente simples era tão sofisticado que se tornava
inacessível fora de um espectro bastante restrito da sociedade. Outras ervas — como
cerefólio, estragão, manjericão, tomilho, louro, cebolinha — vinham na mistura, com
o objetivo de dar um sutil realce ao sabor. No geral o movimento era da quantidade
para a qualidade, como a nova expressão da hierarquia.
O livro que marcou a época foi Le cuisinier françois (1651), de François Pierre
La Varenne. Tornou-se o primeiro livro de cozinha a romper definitivamente com
a Idade Média, começando com receitas do bouillon, caldo de carne ou peixe que
servia como base ou fonds para o repertório de pratos que se seguiam e era o
alicerce do novo sistema. A publicação foi complementada por um segundo livro
que geralmente se atribui a La Varenne, Le pâtissier françois (1654), sobre pratos de
massa e ovos — para tortas, wafers, waffles, bolos, omeletes e biscoitos. Um terceiro
volume intitulado Le parfaict confiturier (1667) tratava dos trabalhos do office.
Le cuisinier françois foi reimpresso ao longo do século XVIII, mas na década de
1660 já se fazia acompanhar de outros livros de Nicolas Bonnefons — premier valet
du roi —, de Pierre de Lune e vários outros escritores anônimos. O movimento era
sempre em direção a uma complexidade maior. Após um intervalo apareceu um
livro de um autor não identificado L.S.R., L’Art de bien traiter, ouvrage nouveau, curieus
et fort galant (1674), especificamente dirigido à aristocracia. Inspirado pelas magníficas
fêtes em Versalhes, nas quais a comida desempenhava papel importante, ensinava o
leitor a se abastecer para as colations d’hyver, os bailes, as assemblées et galanteries de
Carnival, sociétés, régales e outras. A decoração era bem analisada, juntamente com
uma seleção sofisticada de pratos e sua elegante apresentação aos convidados.
Em 1691 La Varenne foi finalmente substituído por François Massialot, com
seu Le cuisinier roial et bourgeois (embora pouco houvesse sobre este último, apenas
algumas frases de desprezo). Era um livro escrito para os cozinheiros da aristocracia
e o primeiro a organizar as receitas em ordem alfabética. Foi reimpresso em nova
edição com dois volumes em 1712 e 1714, e a partir daí tornou-se o grande clássico
da culinária no século XVIII. Todos esses livros tinham como objetivo criar uma
culinária para os aristocratas, colocando-os em outro mundo em termos de deco-
ração, ambiente e serviço — e encorajando a pura extravagância na comida.
À medida que o século avançava, no entanto, essa prodigalidade passou a
contrariar o âmago do Iluminismo e levou a uma reação. Podemos ver isto na
atitude de Émile, no livro homônimo de Rousseau. Ele não apreciava pratos caros,
mas “gosta de boas frutas, bons legumes, bom creme e boas pessoas”. No entanto,
embora a nouvelle cuisine pregasse austeridade, a verdade era muito diferente. O
livro que resume a realidade contemporânea é Les dons de Comus ou les délices de
la table (1739 e 1740), de François Marin, que diferenciava a cuisine moderne da
cuisine ancienne. Para Marin, a moderna culinária era parente da química, mas uma
química que podia empregar, por exemplo, mais de dois quilos de vitela, um quarto
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de presunto, mais uma galinha, tutano de boi, cebolas e cenouras brancas — sem
mencionar o trabalho de muitos cozinheiros — para produzir com precisão o supra-
sumo de quintessência. Dificilmente se pode dizer que isso é simplicidade.
Assim, não é de surpreender o sucesso instantâneo de um livro que respondia
ao desejo de simplicidade: La cuisine bourgeoise (1746), de Menon — era precisamente
o que o título diz, um livro de receitas para a esposa burguesa. Suas indicações, por
um lado, evitavam os excessos aristocráticos; por outro, iam além da rude vulgaridade
camponesa. Um de seus princípios básicos era a economia. Com efeito, a edição de
1774 afirmava que o livro se destinava àqueles d’une condition ou d’une fortune médio-
cre. Dessa forma, lá por 1789, os clássicos elementos centrais da culinária francesa
estavam firmemente no lugar: haute cuisine e cuisine bourgeoise.
Assim como na Renascença os cozinheiros e os livros de cozinha italianos
haviam sido responsáveis por divulgar o novo estilo, no final do século XVII e no
século XVIII foi a vez dos franceses.16 Na Inglaterra, que tinha uma culinária ba-
seada no campo, e não na corte, a tradição medieval continuava. La Varenne foi
traduzido para o inglês em 1653, e seguiram-se outras traduções, compensadas
por uma torrente constante de livros produzidos domesticamente. Começaram
com The Accomplisht Cook, or the Art and Mystery of Cooking (1660), de Robert
May, que resolutamente impulsionou a “boa comida do campo inglês” ao longo
do século XVIII. (Ela ainda estava sendo servida na corte de Jorge II em 1740.) Os
escritores ingleses recusaram-se firmemente a abrir mão de sua comida e apenas
assimilaram o que consideravam apropriado. Na verdade a existência de tal sen-
timento culinário antifrancês sugere que havia considerável interesse pela nova
culinária entre algumas parcelas da classe alta. Se não, por que a famosa diatribe
de Hannah Glasse em The Art of Cookery Made Plain and Easy (1747): “É tanta a
loucura desta era o fato de que as pessoas preferiam sofrer a imposição de um
palerma francês que encorajar um bom cozinheiro inglês!?”. Na Inglaterra, ao con-
trário da França, o estilo culinário não expressava uma casta. Era partilhado por
aristocracia, pequena nobreza e classe média, e baseava-se em ingredientes que a
propriedade rural média produzia. Mas apesar disso as idéias culinárias francesas
ganharam terreno. William Verrall, que aprendera seu ofício com o cozinheiro
francês do duque de Newscastle, “monsieur de St. Clouet”, baseava seu A Complete
System of Cookewry (1759) em princípios franceses.
O livro de Verrall revela o que acontecia em outros países onde a culinária
francesa fora modificada e introduzida no interior do que era consuetudinário.
Os cozinheiros franceses viajavam por todos os lugares. Há registros deles tra-
balhando nas cortes de Hanover, Prússia e Saxônia, na Alemanha e também na
Itália, onde a nova cozinha foi adotada pela aristocracia e pelas classes médias
no século XVIII. Em 1724 o livro de Massialot apareceu com o título Il cuoco reale
e cittadino; o famoso volume de Menon foi traduzido no primeiro ano de sua
publicação como Cuoco piemontese perfezionato a Parigi e teve 22 edições até o
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Podemos avançar um pouco mais com esses arranjos básicos num segundo
quadro, desta vez uma ceia, un repas nocturne à luz de velas, oferecida pelo príncipe
Nicolas-Léopold de Salm-Salm na década de 1770.20 Estão sentadas em volta da
mesa 17 pessoas, o anfitrião no tradicional lugar de honra medieval, de costas para
a lareira, embora seja verão. Entre os convidados há duas senhoras, mas os demais
são clérigos ou oficiais. Grandes guardanapos estão enfiados nas gravatas ou numa
casa de botão dos homens e no decote das senhoras, caindo em amplas dobras sobre
o colo. A refeição está em andamento, e os assados acabaram de ser colocados na
mesa. Podemos notar que nessa época a prata já havia dado lugar à porcelana. Facas e
garfos estão em ação (supõe-se que as colheres foram retiradas junto com o primeiro
serviço de sopas e oilles). Mais uma vez tudo está disposto num padrão cuidadoso,
com dois candelabros funcionando como âncoras. O ponto central do serviço é um
leitãozinho ladeado por um galheteiro e uma molheira, quatro saleiros e mais quatro
pratos, dois de caça e dois de verduras, um dos quais certamente uma salada. O maître
d’hôtel está ao lado da chaminé, no papel de supervisor, e os criados servem bebidas.
Não se colocavam copos nas mesas do século XVII e XVIII. Quando um comensal
queria beber, chamava um criado (como vemos aqui), que trazia uma bandeja com
uma garrafa de vinho e um jarro de água, caso se quisesse diluir a bebida. Ao pé de
algumas cadeiras há baldes de porcelana para refrescar o vinho, e um maior com
seis garrafas no primeiro plano. À esquerda está uma mesa de servir, com pilhas de
pratos e uma variedade de copos. A sobremesa que ainda está por vir fica em outra
mesa, pronta para ser trazida no momento apropriado; inclui um extraordinário ar-
ranjo floral em forma de templo, à maneira do mestre dos pasteleiros, Joseph Gilliers.
Os homens que servem são criados, o que marca outra mudança. Na Idade
Média e no Renascimento muitos papéis domésticos eram desempenhados por
homens de bom nascimento, ansiosos para garantir um lugar próximo ao príncipe
ou ao senhor. Na França de 1700, não apenas essa prática havia terminado, como a
criadagem se reduzira em 50 %.21 A equipe média de um castelo francês do século
XVIII era de 15 a 20 pessoas, supervisionadas pelo maître d’hôtel ou cuisinier. Mais
ou menos o mesmo aconteceu do outro lado do Canal da Mancha, na Inglater-
ra.22 Ali o antigo ritual de procissão havia desaparecido quase inteiramente. Onde
ainda continuava em uso, como na casa do duque de Chando, em Cannons, na
década de 1720, era encenado apenas aos domingos, e cada serviço entrava com o
principal mordomo à frente, carregando o bastão de ofício. Quase todos os outros
lugares haviam acabado com os serviços desempenhados por cavaleiros e nobres
— o trabalho era considerado degradante. O século XVIII assistiu à sua substituição
por um novo tipo de criado, o lacaio. Inicialmente o lacaio tinha por obrigação
correr ao lado do cavalo ou carruagem do senhor ou senhora, mas aos poucos
passou a servir a mesa. Nas últimas décadas do século XVIII, o grande espetáculo
para impressionar os convidados era o aparecimento do primeiro ou segundo
mordomo chefiando um pequeno exército de lacaios com librés imaculadas.
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superior da mesa, que na França é reservada aos estranhos; se somos muitos à mesa,
não temos escrúpulos de beber todos de um copo ou caneca, o que os franceses não
costumam fazer; e se um criado lhes oferecer um copo sem ser lavado a cada vez
que bebem, eles ficam muito aborrecidos.
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O ato de comer inseria-se na própria estrutura das cortes absolutistas dos séculos
XVII e XVIII. Essa foi uma era que testemunhou intensa elaboração do cerimonial,
das maneiras, do gosto e da conversação, tudo originado na corte e apresentado
com um propósito — impor a existência de uma estrutura imutável de poder. Tal
objetivo foi alcançado pela criação de um complexo sistema que governava os
graus de admissão à presença do monarca.47 Versalhes, à medida que evoluía em
torno do Rei Sol, de 1660 em diante apresentava ao mundo externo um espetá-
culo de magnificência sem paralelo, no qual comer em público passou a ser um
ritual indispensável, encenado diariamente pelo rei.48
De três a cinco mil pessoas alimentavam-se diariamente em Versalhes, numa
hierarquia de mesas.49 Toda a operação era responsabilidade da chamada maison-
bouche, que englobava sete diferentes departamentos, com uma equipe de cerca
de 500 pessoas, mais 160 garçons. Todos obedeciam ao grand maistre de France,
cargo que era privilégio hereditário de um membro da casa de Condé. A essa
época os outros cargos medievais ligados ao comer real, o grand panetier e o grand
échanson, haviam se tornado sinecuras cerimoniais, mas os príncipes de Condé
presidiram a maison-bouche até a queda da monarquia. Abaixo do maistre vinha o
premier maître d’hôtel, com um delegado e uma equipe que seguiam uma escala
de serviço. Essa organização era responsável pelas mesas do rei e dos príncipes de
sangue, bem como dos soberanos ou embaixadores em visita.
A produção da maison-bouche era encabeçada pelo contrôleur général, que
administrava as finanças e se encontrava com os outros funcionários três vezes por
semana para examinar as despesas. Dos sete departamentos, apenas dois, o gobelet
e a cuisine, efetivamente proviam a mesa real. Dos outros cinco, três proviam os
funcionários da corte. O próprio gobelet era subdividido em duas seções, cada qual
com seu próprio chef e 12 chefs assistentes. Uma das seções cuidava de pão, sal,
toalhas e frutas, a outra da água, dos vinhos, licores, café, gelados e refrescos. A
cuisine-bouche, que preparava apenas a comida da família real, tinha uma equipe
rotativa de 55 pessoas. A ela também pertenciam todas as baixelas, tanto as de
ouro como de prata, e mais tarde as de porcelana.
No começo Luís XIV jantava e ceava em público, ação encerrada na expres-
são au grand couvert. Na década de 1690, o jantar ao meio-dia deixou de ser um
evento público, exceto para os grandes dias de festa, como Páscoa, Pentecostes,
Ano-Novo e alguns domingos. O jantar passou a acontecer privadamente, au
petit couvert. Isso, por sua vez, foi mais tarde desdobrado em duas outras formas
distintas, le très petit couvert e les jours de médecine. Le petit couvert significava que o
rei comia sozinho numa mesa posta em seus aposentos de gala.50 Após a morte
da rainha, algumas vezes comia na antecâmara dos aposentos da delfina. Mas
depois que ela também morreu, voltou a seus próprios apartamentos. Durante o
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petit lever o rei, cujo apetite era grande, como o de todos os Bourbon, dizia o que
queria comer. Quando chegava a hora de jantar ele era chamado pelo primeiro
cavalheiro da Câmara, que também o servia na ausência do grande camarista.
Sentar-se sozinho à mesa não significava que o rei estivesse literalmente só; além
dos criados, um grupo de nobres e funcionários da corte sempre ficava de pé, a
alguma distância, assistindo a tudo.
Tampouco havia qualquer sugestão de informalidade na refeição. Nada me-
nos de 15 pessoas eram necessárias para carregar a carne do rei em procissão, do
grand commun, onde a comida era feita, até os aposentos reais. “Primeiro entravam
dois guardas. Seguiam-se então o porteiro da sala, o mordomo com seu bastão, o
cavalheiro encarregado da despensa real, o contrôleur général, seu ajudante, e então
os funcionários carregando a carne, o camarista da cozinha e o encarregado da
porcelana real. Dois guardas reais fechavam a procissão.”
A palavra couvert significava que os pratos eram cobertos, numa tentativa de
mantê-los quentes. O termo sobrevive até hoje, designando um lugar preparado
numa mesa de refeições.
Caso o rei desejasse beber, o cavalheiro que estivesse agindo como escanção
gritava “À boire pour le roi! ”, curvava-se e dirigia-se ao aparador, onde o copeiro-chefe
lhe entregava uma bandeja de ouro com duas garrafas de cristal, uma com vinho
e outra com água, e uma taça coberta com um guardanapo. O copeiro-chefe, seu
assistente e o cavalheiro que estivesse atuando como copeiro iam então até a mesa
real e curvavam-se profundamente, antes de provar os conteúdos das garrafas em
copos de prata dourada. Curvando-se mais uma vez, o cavalheiro copeiro devolvia
a bandeja ao copeiro-chefe, que a levava de volta ao aparador.
A ceia era sempre au grand couvert às dez horas da noite.51 No começo do
reinado de Luís XIV, seguia o ritual que fora estabelecido para Henrique III, em
que funcionários hereditários desempenhavam seus papéis cerimoniais sob a di-
reção do maître d’hôtel, e a grande naveta era colocada sobre a mesa.52 Em 1674 o
ritual mudou. Os nobres passaram a servir no lugar dos funcionários hereditários,
e a naveta — que àquela altura havia adquirido um status quase místico, como
símbolo da soberania — desapareceu da mesa. Daí em diante, quando não era
colocada num dos aparadores existentes na sala da guarda, era posta num armário
envidraçado. Todos que passavam diante dela tinham de se ajoelhar.
Até a morte da delfina da Baviera em 1690, a ceia au grand couvert acontecia
na antecâmara dos aposentos da rainha. Depois disso passou para a antecâmara do
rei, e até 1789 acontecia num desses dois aposentos. A essa refeição compareciam
não apenas o rei, mas também a rainha e outros príncipes e princesas da família
real. Dependendo de onde a refeição fosse realizada, a cozinha variava. Se fosse na
antecâmara do rei, a comida vinha da bouche du roi. Se fosse na da rainha, o rei e
seus convidados sentavam-se num dos lados da mesa, a rainha e seus convidados
no outro, e cada lado era servido com comida de sua própria bouche.
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de um lado, tendo seis outros membros da família real, um de frente para o outro,
à sua direita e à sua esquerda. Dois candelabros com dois saleiros eram colocados
no centro, emoldurando a pessoa do rei. Na própria mesa, o primeiro serviço era
arrumado num padrão simétrico, à maneira do service à la française. Os príncipes e
princesas tinham apenas um prato à frente, presumivelmente os talheres e o pão
dentro do guardanapo. No caso do rei os arranjos eram mais complexos. À sua
frente ficava “o guardanapo real”, à esquerda, dois outros pratos, um denominado “a
porcelana do rei, onde ele molha o pão na sopa”, e outro “o prato pequeno especial
do rei”. À direita ficava um objeto retangular chamado “cadenas”.
Já havia cadenas na mesa do cardeal arcebispo de Sens em Roma, na dé-
cada de 1580.56 Tais objetos parecem ter sido uma invenção especificamente
francesa, um meio adicional para evitar envenenamento. Substituíram a naveta,
pois combinavam uma área retangular em que a faca e a colher reais, no caso
de Luís XIV, eram colocadas, junto com uma pequena caixa com sal e pimenta.
Originalmente deviam ficar trancadas, para evitar que qualquer substância en-
venenada fosse acrescentada a seus conteúdos (a palavra cadenas atualmente
quer dizer cadeado em francês). A primeira menção a uma peça dessas na França
ocorreu no reinado de Henrique II. Não era um objeto tão exclusivo quanto a
naveta, pois no século XVII não apenas o rei e a rainha as tinham, mas também
príncipes de sangue e duques.
Quando a mesa estava posta, o porteiro batia à porta da sala dos guardas
mais uma vez e gritava: “Messieurs, à la viande du roi!”. Então o rei descia, acompa-
nhado de três guardas, ao office-bouche, onde encontrava o maître d’hôtel do dia e
o controlador à sua espera, com o primeiro serviço já testado. Formava-se outra
procissão (eram mais de 500 metros da cozinha até a mesa real) encabeçada por
um porteiro carregando uma tocha, o maître d’hôtel levando o bastão de ofício, dois
gardes du corps com rifles ao ombro, dois outros levando a comida e finalmente
mais dois guardas. Ao chegar à sala da guarda a comida era posta na table du prêt
e provada uma segunda vez, levada para a antecâmara e colocada à mesa real. O
ritual era repetido a cada serviço.
Logo que o primeiro serviço era posto, o maître d’hotel avisava ao rei, enquanto
um escudeiro prevenia príncipes e princesas. Dependendo de onde o rei estivesse,
podia levar até 15 minutos para chegar à mesa. Um bom tempo antes, às nove
horas, os que já haviam sido formalmente reconhecidos ou tinham a forma correta
de recomendação já começavam a se reunir, na esperança de serem admitidos à
câmara. Na verdade não era difícil entrar; existem relatos que expressam um certo
espanto com a composição da assembléia. As princesas, duquesas e outras damas
com direito ao tabouret sentavam-se em semicírculo, tendo atrás outras damas e os
cavalheiros. As mulheres deviam usar vestidos de corte com cauda. A precedência
era estritamente observada até mesmo na mesa real; o rei usava uma cadeira de
braços, e os príncipes e princesas sentavam-se em tabourets.
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Quando se levantava da mesa, o rei costumava ficar por menos um quarto de hora
com as costas na balaustrada do quarto de dormir, onde todas as damas que haviam
estado presentes à ceia esperavam de pé, em semicírculo; todas exceto as que tinham
tamboretes. As damas de tamborete saíam da sala da ceia atrás dos príncipes e princesas
de sangue [que haviam estado na mesa com o rei], avançavam uma a uma para fazer
um profundo cumprimento e então completavam o semicírculo de damas de pé com
os homens atrás delas. O rei se divertia por algum tempo admirando vestidos, rostos e
as cortesias mais graciosas; dizia uma ou duas palavras aos príncipes e princesas e então,
curvando-se à direita e à esquerda para as outras damas e repetindo o gesto uma ou
duas vezes com uma majestade inigualável, dirigia-se para o gabinete de fora. Ficava
ali durante um tempo para dar suas ordens e então seguia para o gabinete de dentro.
Ali, com todas as portas escancaradas, sentava-se numa cadeira de braços...58
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À medida que o século XVIII avançava, esse tipo de ritual tornou-se cada vez
mais anacrônico e desconfortável para seus participantes. Em alguns países caiu
em desuso. A Inglaterra é um exemplo disso.62 Carlos II, após a restauração
em 1660, reviveu a prática. John Evelyn anotou em seu diário a 17 de agosto
de 1667: “Agora sua majestade janta na Câmara de Presença, segundo os ritos
antigos, com música e todas as cerimônias da corte que haviam sido interrom-
pidas desde a última guerra.” Mas o renascimento teve curta duração, sendo
logo suspenso durante o reinado da sobrinha de Carlos II, a rainha Ana, que,
após a morte do marido, o príncipe Jorge da Dinamarca, retirou-se do olhar
público. Seu sucessor, o hanoveriano Jorge I, opôs-se frontalmente a isso, mas
o filho, o futuro Jorge II, tentou restabelecer o jantar em público, numa busca
deliberada de popularidade. Jorge I, como sempre às turras com o príncipe, por
algum tempo foi forçado a reviver a prática. Mas isto também não durou, pois
não foi visto com boa vontade pela monarquia constitucional. Jorge III e a rainha
Carlota, famosos pela frugalidade, jantavam a sós.
Mais ou menos o mesmo aconteceu na Dinamarca, onde por um breve
período houve uma tentativa de instituir o jantar real após uma visita de Cris-
tiano VII a Versalhes.63 Quando ele voltou, em 1769, o formato da mesa real
mudou para retangular, no centro foi instalado um aparato de confeitaria à
maneira de Gilliers e os pratos passaram a ser levados em procissão. Mas isso
acabou em 1771, e o jantar real tornou-se puramente pessoal.
Um quadro, mais que qualquer outro, evoca como devia ser o jantar real
em alto estilo público, embora numa corte menor, a de Gustavo III da Suécia.64
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tenham sido realocados, pois normalmente estariam de pé, onde está o pintor. Todos
vestem-se com a libré da corte, e algumas damas que têm o privilégio do tabouret,
esposas de conselheiros e embaixadores, encontram-se sentadas. É difícil acreditar
que faltava apenas uma década para a Revolução Francesa.
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A mais deliciosa dessas refeições no jardim talvez tenha sido a que acon-
teceu em Chantilly, em agosto de 1688, quando o príncipe de Condé recebeu
o delfim, conhecido como Monseigneur.68 O desenhista Jean Bérain criou um
terraço de frutas no meio de um labirinto. Paredes arquitetônicas de folhagem
formavam o segundo plano dos costumeiros pares de aparadores, um diante do
outro, desta vez carregados de melões e pratos de porcelana, e outros aparadores
menores nos cantos, com baixelas e vasos de porcelana cheios de flores. No
centro havia uma mesa com um parterre simétrico, formado de cestas de prata
cheias de frutos, uma laranjeira coberta de flores, frutos e pequenos vasos de
flores. A ausência de qualquer forma de luz indica que esses deliciosos refrescos
foram consumidos à luz do dia.
Por volta de 1688 a opressiva rotina de Versalhes começava a cobrar seu preço
até mesmo de Luís XIV, que primeiro tentou escapar dela no Trianon de Porcelana.
Mais significativo ainda para a história da mesa seria o castelo de Marly.
A BUSCA DE INFORMALIDADE
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gonha, jantava em público com a mãe desde os quatro anos de idade. Mas as
coisas mudaram com Luís XV. Durante a Regência ele morou em Paris. Embora
restabelecesse o antigo cerimonial quando retornou a Versalhes, em 1722, aos 12
anos, e até mesmo o ampliasse quando se casou em 1725, com a chegada das
amantes e especialmente de madame de Pompadour, o movimento se inverteu.
O grand couvert passou a ser encenado apenas duas vezes por semana, às terças-
feiras e domingos. Cabia à rainha e ao delfim manter vivo o ritual. Com Luís XVI
e Maria Antonieta o espetáculo era feito apenas uma vez por semana; o costume
de comer em público aos domingos e dias de festa reduziu-se ao casal real, com
uma cerimônica bastante simplificada.
A busca de um novo estilo de comer mais informal é visto claramente nas
inúmeras telas do século XVIII mostrando piqueniques realizados em geral durante
as caçadas, da autoria de artistas como Nicolas Lancret, Carel van Loo e Jean-
François de Troy. O desjejum de caça, de De Troy, por exemplo, faz parte de uma
série encomendada para decorar a sala de jantar de Luís XV nos petits appartements.
Homens e mulheres misturam-se em volta de uma mesa comendo e bebendo em
alegre informalidade. Na tela de Van Loo retratando um piquenique de caça, os
cavalheiros servem as damas e os casais sentam-se ao chão em volta de uma toalha
coberta de travessas cheias de presunto, caça e garrafas de vinho. Um homem e
uma mulher olham-se nos olhos. O espírito é nitidamente amoroso, sensual, um
mundo distante da época em que a refeição era uma expressão de poder.
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Jantar de gala vitoriano. Uma convidada míope procura seu lugar. Gravura, c.1870.
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O Jantar Está Servido
O akly Park é uma bela casa neoclássica bem ao norte de Ludlow, Shropshire,
na fronteira entre Inglaterra e País de Gales.1 Em 1852 nela moravam
Robert Henry Clive, descendente direto do famoso Clive da Índia, e a esposa,
lady Harriet Windsor, filha mais nova do conde de Plymouth. No dia de Ano-
Novo de 1852 eles deram um jantar para uma família norte-americana que havia
alugado a mansão de Moor Park, perto de lá. Um dos membros dessa família
era Anna Maria Fay, jovem muito observadora de 23 anos que, nas cartas que
escrevia, tinha o hábito de fazer relatos muito vívidos de suas experiências na
sociedade rural vitoriana. Sua descrição do jantar talvez seja única, pois enumera
os costumes de um país para seus correspondentes do outro lado do oceano.
Anna Maria esperara o acontecimento com alguma ansiedade. Tinha ouvido
dizer que lady Harriet era uma “grande personagem, muito alta, digna, e fria como
o oceano Ártico”. Mas vamos deixar que a jovem fale por si mesma:
... Portanto, foi com o coração disparado que me encontrei na porta do salão. Dois
lacaios de libré — calças vermelhas, casaco azul e botões de prata — e o mordomo
de preto receberam-nos no vestíbulo, onde tiramos as capas. O dignitário de preto
precedeu-nos pelo salão e, abrindo a porta, anunciou o sr. e sra. Fay, as srtas. Fay e
o sr. Fay. Entramos numa grande e bela biblioteca, e um elegante círculo de damas
e cavalheiros levantou-se para nos receber. Lady Harriet recebeu-nos com grande
dignidade, e embora ninguém fosse apresentado todos falaram conosco. Só no final
da noite soubemos quem compunha o grupo, e vocês não imaginam em que com-
panhia distinta jantamos. Quando a refeição foi anunciada, o sr. Clive levantou-se e
ofereceu o braço à viúva, condessa de Powis, uma mulher muito bonita. ... Claro que
sua posição lhe dava precedência sobre tia Catherine, e lady Harriet solicitou ao sr.
Robert Clive, herdeiro da casa, que a conduzisse à mesa. ... Então tio Richard seguiu-os,
com lady Lucy Herbert. ... Ela precedeu lady Harriet Herbert e um certo sr. Clive.
… Elas são filhas da condessa de Powis e irmãs do marquês de Powis. Depois deles
seguiu Maria com o honorável sr. Herbert. … Lady Harriet solicitou que o honorável
William Herbert me levasse; veio então a srta. Clive e o sr. Longworth, vigário de
Bromfield [a aldeia local]; depois Richard e a srta. Mary Clive; e finalmente lady
Harriet e o marquês de Powis...
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Passamos agora para uma grande sala de jantar coberta de quadros. ... Sentamos a
uma bela mesa num círculo familiar, o que torna a cortesia ainda maior. À cabeceira
da mesa, comprida e larga, sentaram-se o sr. Clive e lady Powis. À direita tia Catherine
e ao lado dela o sr. Robert Clive; depois Maria e o sr. Herbert; depois o sr. Clive e lady
Harriet Herbert; então Richard e a srta. Mary Clive. Do outro lado da mesa estavam
o conde de Powis e lady Harriet. Tio Richard ficou à esquerda de lady Harriet e ao
lado dele lady Lucy Herbert; depois uma moça tímida cujo nome não sei; depois o
jovem filho dos Clives, o honorável sr. William e eu. A srta. Clive sentou-se perto de
mim e o sr. Longworth à esquerda da condessa. Foi assim que nos distribuímos na
mesa depois da ação de graças proferida pelo sr. Longworth.
Agora vou descrever a arrumação da hospitaleira mesa. No centro havia um prato
dourado e em cima dele dois imensos candelabros ornamentados de figuras de porce-
lana. Nas duas extremidades estavam dois candelabros de formato semelhante, porém
menores que os do prato. O efeito produzido pelos quatro candelabros cheios de velas
de cera e a luz que eles lançavam sobre todos eram muito agradáveis. O imponente
mordomo de calças brancas e casaco e gravata pretos, o porteiro e mais meia dúzia
de criados de libré, calças vermelhas e casacos azuis davam grande elegância a todo o
conjunto. Não lembro quantos tipos de sopa havia, só sei que a minha era deliciosa.
Seguiram-se então diversas variedades de peixe. O linguado foi colocado diante do sr.
Clive. Depois vieram pequenas entrées, patês deliciosos e costeletas de cordeiro, bem
servidos. Na mesa auxiliar havia todas as espécies de carnes — peru, galinha, qualquer
coisa que se imaginasse. Passados esses pratos vieram as caças. Devo dizer que os
vegetais eram pepinos e aspargos. O serviço era inteiramente de prata. O aparelho
de sobremesa, de porcelana, bonita, mas nada excepcional. Gelados, geléias e outros
pratos, muito bem arranjados e deliciosos, foram colocados na mesa. A sobremesa
era composta de frutas, laranjas, pêras, uvas etc. ...
Ficamos sentadas algum tempo depois da sobremesa, até que lady Harriet deu o
sinal para nos levantarmos e deixarmos a sala, com lady Powis à frente do seu lado
da mesa e tia Catherine do outro. Passando pelo salão entramos na grande e elegante
sala de visitas. Veio o café, e as senhoras distribuíram-se em volta da sala. ... Eu disse à
srta. Clive que havia ouvido falar muito bem de seus desenhos e que estava ansiosa
para vê-los, e ela, de maneira muito gentil, trouxe sua pasta.
Quando os cavalheiros entraram, lady Harriet Herbert tocou uma bela peça de
Blumenthal. ... Maria e Richard cantaram umas canções alemãs. Depois disso, o que
vocês acham que pediram nesse círculo aristocrático? Músicas de Negro!!!! ...
Esqueci de mencionar a cerimônia de passar uma grande taça pelos cavalheiros no
final do jantar. Foi trazida uma caneca grande com duas asas, cheia de cerveja preta,
e o cavalheiro a quem foi passada tomou um longo gole, depois o lacaio passou-a
para o cavalheiro seguinte, e assim por diante.2
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Mesa de jantar posta em Attingham Park, Shropshire. Aquarela de lady Hester Leeke,
entre 1848 e 1861.
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sobre os costumes à mesa poderia ter tido um resultado muito diferente. Nenhum
outro acontecimento na história moderna, nem mesmo a Revolução Russa de 1917,
teve repercussões tão grandes quanto a Revolução Francesa. Ela redefiniu todas
as aspirações e atos humanos, inclusive aqueles ligados à comida. Na verdade,
durante os vertiginosos dias em que o fervor revolucionário alcançou seu apogeu,
qualquer coisa que remotamente se parecesse com um jantar de gala do tipo
descrito por Anna Maria teria sido vista como inaceitável e contra-revolucionária.
No alvorecer da era da liberdade, igualdade e fraternidade, a refeição deveria ser
algo completamente diferente da anterior presunção cerimonial.
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Banquete nas Tulherias por ocasião do casamento de Napoleão com Maria Luiza, 1810.
Quadro de Alexandre Dufay, chamado Casanova, 1812.
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O SÉCULO DE CARÊME
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Carême foi de grande importância, pois não apenas elevou a profissão de chef
a novas alturas — sendo cortejado tanto pela realeza como pelos novos ricos —,
como também criou inúmeros livros ilustrados que colocaram em forma impressa
os primeiros relatos detalhados da cuisine classique. O mais importante é o livro
em cinco volumes L’Art de la cuisine française au dix-neuvième siècle (1833), cujos
dois últimos volumes (1843-44) foram escritos por um discípulo, Plumery, chef
do conde de Pahler. Entre outras coisas Carême reformou a feitura dos molhos,
estabelecendo três tipos básicos como fundamento de um grande número de
variações. Esses volumes seriam as bíblias da cuisine classique até sua substituição
pela obra de Escoffier no início do século XX.
Na cozinha, o século XIX foi uma era de grandes mudanças técnicas e pro-
gressos significativos. Já no final do século anterior os fornos haviam se desenvol-
vido, de modo que era possível controlar a temperatura, questão de importância
fundamental para os suflês, sautés e molhos mais complicados. Na década de
1840 o gás tornou-se disponível em restaurantes, clubes e casas maiores, embora
grande parte da população continuasse usando combustíveis sólidos, com todos
os problemas que eles traziam. Por volta de 1900 os refrigeradores começaram
a proliferar. Todos esses progressos, no entanto, não devem disfarçar o fato de
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e teve 65 edições.13 Os livros italianos de receitas, escritos tanto por um dos chefs
das muitas cortes italianas como por um cozinheiro que se dirigisse à classe média,
tinham seu modelo no norte dos Alpes. Isso mudou com a unificação do país,
quando a busca de uma nova identidade coletiva afetou até mesmo a culinária. O
livro de Pellegrino Artusi, La scienza in cucina e l’arte di mangiar bene (1891) é uma
publicação marcante, na qual aquilo que constituía essencialmente uma série de
culinárias regionais foi reunido numa única publicação. Artusi jamais poderia prever
que em menos de um século a culinária italiana, ajudada por sua adequação às
modernas descobertas dietéticas, iria ameaçar o domínio da França.
Na Grã-Bretanha a história foi muito diferente.14 A unidade política da ilha
havia se completado já em 1707, de modo que não era necesário amalgamar
uma culinária nativa. Na verdade, a que existia no século XVIII passou por um
declínio radical no século XIX por duas razões. Uma delas foi a urbanização, fe-
nômeno com o qual as pessoas perderam a ligação direta com o solo, e portanto
com uma tradição culinária que havia sido expressão da propriedade da terra. A
outra razão, tão ou mais poderosa, foi o fato de que as classes altas adotaram a
culinária francesa. O século principiou com a tradição inglesa ainda intacta em
publicações como A New System of Domestic Cookery (1806), de Maria Rundall,
e The Cook’s Oracle (1817), do dr. William Kitchiner. Mas já em 1813 os ingleses
foram apresentados à culinária da corte de Luís XVI com The French Cook, de
Louis Eustache Ude. Este, que havia sido chef em Versalhes, tornou-se mestre-cuca
do conde de Sefton e mais tarde chefiou as cozinhas de Crockford, um clube
de jogo em St. James. Em 1835 o gourmet Abraham Howard podia apresentar
uma longa lista de cozinheiros franceses que trabalhavam para aristocratas na
Inglaterra. Por volta de 1850 a hegemonia gaulesa sobre as mesas reais e da
classe alta era completa, com Charles Esmé Francatelli a serviço de ninguém
menos que a própria rainha Vitória. O livro de Francatelli, The Modern Cook
(1845), ensinava as classes altas a comer elegantemente à francesa. O domínio
da França era igualmente ilustrado pela carreira de Aléxis Soyer, um chef na
tradição de Carême que trabalhava em Londres, especializado em banquetes. Ele
iria produzir um fluxo constante de livros, inclusive The Gastronomic Regenerator
(1846), “adequado à renda de todas as classes” e, refletindo o zelo reformista
da época, A Shilling Cookery Book for the People (1854).
Os livros de Soyer são aborrecidos e prosaicos, exemplos do triste estado
da culinária inglesa. A comida tornou-se enfaticamente igual à classe, sendo os
escalões superiores da sociedade uma categoria à parte, graças ao seu hábito de
empregar cozinheiros franceses. Até mesmo os cardápios eram em francês. A
grande maioria da classe média alta e média baixa praticava uma versão adul-
terada da tradição nacional. Os livros que supriam esse grande segmento da
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banquete
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Como vimos, quase nada, nem mesmo comer, foi poupado na tentativa dos revo-
lucionários franceses de reverter a ordem aceita das coisas, de obliterar as posições
sociais e a deferência e de questionar os papéis seculares dos sexos. Muito do que
aconteceu foi precisamente uma reação a essa tentativa. No caso das mulheres,
a Revolução simplesmente acelerou um processo que havia começado antes de
1789 — sua limitação à esfera privada, ao lar, em contraste com o papel masculino
no mundo público.
Em lugar algum esse esquema foi mais evidente que na Inglaterra. A indus-
trialização e a urbanização criaram novas camadas sociais que substituíram para
sempre a velha divisão dual da sociedade.17 Aos antigos profissionais liberais da
classe média, tais como advogados e médicos, somou-se uma série de outros
— industriais, banqueiros, corretores, engenheiros, arquitetos e muitos mais. Eles
abriram caminho na década de 1830 e 1840, e na década de 1850 formavam um
grupo tão grande que a classe média se subdividiu em categorias internas.
Essa profunda mudança na estrutura da sociedade caminhou lado a lado com
a exaltação das virtudes domésticas encerradas na vida privada e na descoberta da
felicidade no interior da família. Quem orquestrava o novo esquema de coisas era a
dona-de-casa, e a definição de seu papel e deveres deu origem à literatura européia
exemplificada em Manuel de la maîtresse de la maison (1821), da sra. Pariset, e na obra
da sra. Beeton. Nesse novo padrão da existência cotidiana, a refeição familiar e o
jantar festivo viriam a ser as expressões máximas das bênçãos domésticas e também
do status social. A pintura do século XIX, tipificada pela obra dos impressionistas,
por exemplo, celebra sem cessar a centralidade da mesa de jantar.
O novo significado atribuído às refeições familiares explica a rápida adoção,
por parte de amplas camadas da sociedade (que previamente não haviam se
preocupado com o lugar onde comiam), de uma sala separada para o jantar.
No século XVIII, mesmo entre as classes altas, um ambiente destinado apenas às
refeições ainda constituía certa novidade. Na verdade a mesa ainda era montada
e desmontada a cada refeição, e as cadeiras encostadas de novo nas paredes da
sala, de frente para o espaço vazio ao centro. Na década de 1850, no entanto,
quem tivesse pretensões a algum cachet social devia possuir uma sala de jantar.
Os livros de arquitetura voltados para as classes emergentes descrevem essas salas
com detalhes luxuriantes — e nos dão uma riqueza de informações inexistentes
em períodos anteriores.
Na Inglaterra, John Claudius Loudon, em The Suburban Gardener and Villa
Companion (1838), afirma que a sala de jantar “tem de ser ... de importância mas-
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banquete
culina”, com um aparador para exibir a prataria aos convidados de honra, cadeiras
forradas de couro carmesim, uma mesa quadrada, redonda ou extensível, papel de
parede vermelho e cortinas escarlate ou cor de gerânio. A essa época a mesa havia
se tornado um elemento permanente no meio da sala; Loudon refere-se à nova
moda de “colocar as cadeiras, ou algumas delas, mesmo quando não estiverem
em uso, em volta da mesa, e não mais encostadas nas paredes”.18 Já em 1820 a
lâmpada Argand a óleo estava sendo substituída pelo gás, e na década de 1830
os lustres a gás haviam surgido, gerando uma claridade cada vez maior depois
que escurecia. As velas nunca desapareceram, mas aos poucos a possibilidade de
iluminar bem um aposento à noite deixou de ser prerrogativa dos ricos. Além
disso, tornou possível um jantar cada vez mais tardio.
Na década de 1850, o número de salas para refeições multiplicou-se ainda
mais, num processo que havia começado no final do século XVIII. O livro de
Robert Kerr, The Gentleman House (1864), fala de uma sala de jantar, uma sala de
almoço e até mesmo uma sala para jantares de gala. “As salas de jantar”, escreve
ele, “devem estar voltadas para o norte ou para o nordeste, ser espaçosas e sempre
relativamente luxuosas”, com um belo aparador e mesas laterais, portas para os
convidados e para os criados. Na verdade, a essa época a coreografia do jantar
festivo havia se tornado uma grande preocupação para os arquitetos, que tinham
consciência da necessidade de criar um caminho para a procissão que ia da sala
de visitas à sala de jantar sem cruzar com os criados.19 À medida que o século se
aproximava do fim houve uma reação à escuridão pomposa do período vitoriano,
com um movimento na direção do novo culto da moda, “a doçura e a luz”.20 Mas
nem isso afetou o planejamento básico dos aposentos.
Na França a ênfase sempre esteve no salão, mais do que na salle à manger, mas
também ali as salas de jantar proliferaram, como parte da nova mise-en-scène essencial
ao status da burguesia. Anastase Garnier, em Tapissier décorateur (1830), descreve
uma sala de jantar parisiense equipada com uma mesa redonda que podia ser re-
baixada, cadeiras com assentos de palhinha ou estofados de crina, um aquecedor,
mesas laterais chamadas servantes, um aparador, um relógio e uma campanhia para
chamar os criados.21 Na Alemanha, a idéia de uma sala de jantar separada chegou
às classes médias vinda da Inglaterra e da França, na década de 1850. Ali também a
sala devia estar voltada para o norte e devia incluir uma mesa retangular de dobrar,
um aparador lateral, luz de lâmpadas de petróleo e, mais tarde, bicos de gás.22
A sala de jantar era um símbolo claro de distinção de classe, da separação entre
a família dos proprietários e os criados. Tornava-se um ambiente para a ostentação
e continuaria a reinar nas casas suburbanas de classe média até o terceiro quarto
do século XX, quando as mudanças nos hábitos de comer e as reduções no espaço
de moradia mostraram o absurdo que era dedicar um aposento inteiro ao uso de
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o jantar está servido
algumas horas por dia. Mas no século XIX a sala de jantar tinha todo o entusias-
mo dos novos fenômenos. Comer finalmente deixara de ser um ato migratório e
encontrara o seu pouso numa sala que lhe era especialmente dedicada.
Essa circunstância não foi a única a particularizar o século XIX. Os horários
das refeições também mudaram muito. A principal refeição do dia foi ficando
cada vez mais tardia. Até então sempre houvera uma distinção clara das horas
de refeição entre as classes ociosas e os que trabalhavam para viver. Tal diferença
começou a dissolver-se em decorrência da urbanização e do aparecimento de
horas fixas de trabalho. Em 1914 os horários de comer até mesmo das classes
altas refletiam as novas regras de organização da produção.23
Na Inglaterra do século XVIII fazia-se o desjejum entre 10 e 11 horas, uma
refeição leve após o trabalho já realizado. Aos poucos, na década de 1820 e
1830, ele começou a se adiantar, primeiro para as 9 horas, e cerca de 1860
para as 8 ou 8:15. Sua característica também mudou, tornando-se uma refeição
que se fazia antes de sair para o trabalho — chá, bolinhos, um prato quente.
Ao mesmo tempo, na década de 1830, uma outra refeição surgiu: o almoço. A
própria palavra era nova, embora Samuel Johnson já se referisse a ela em seu
Dictionary (1755) como “algumas vitualhas comidas entre as refeições”. Era a
princípio uma refeição informal, composta de pratos frios, feita pela dona da
casa e por quem estivesse com ela. Em 1859 encontramos uma referência a um
“almoço festivo”. Tal forma de entretenimento normalmente acontecia na cidade
às 14 horas, e no campo às 13:30. As senhoras mantinham-se de chapéu à mesa
(prática que persistiu até depois da Segunda Guerra Mundial), e os cavalheiros
levavam os chapéus até a sala de visitas. Um livro de etiqueta de 1885 descreve o
almoço como uma “refeição sem cerimônia, inconseqüente”. O chá, um repasto
separado, chegou na década de 1840, e 40 anos depois assumiu vida própria,
particularmente nas grandes casas no campo, onde era servido às 17 horas.
Mas a refeição do dia par excellence era o jantar. Em sociedade, observou a
sra. Beeton, a ceia desaparecera, “já que as pessoas jantam numa hora que afasta
a possibilidade de uma ceia”. No final do século XVIII o jantar acontecia entre 15 e
17 horas; anfitrião e convidados trocavam os trajes habituais da primeira parte do
dia por uma roupa mais formal. Na década de 1820 e 1830, no entanto, a hora
do jantar estava ainda se adaptando aos padrões do dia médio, que mudavam
rapidamente. Algumas pessoas prenderam-se ao horário anterior, outras atrasaram-
no. Finalmente, na década de 1850, com o dia de negócios estabelecido entre 9
horas às 17:30, o horário do jantar ficou entre 19 e 20 horas. Em 1900 os convites
para um jantar informal tranqüilo indicavam 19:30 ou 19:45, e para um jantar
mais solene, 19:45 ou 20 horas. No século XX, nos círculos mais sofisticados, o
horário atrasou-se mais, porém não muito, geralmente entre 20 e 20:30.
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banquete
O JANTAR FESTIVO
Que o número de convidados não exceda uma dúzia, para que a conversa possa se
generalizar o tempo todo.
Que eles sejam escolhidos com muito cuidado, que suas profissões sejam diferen-
tes mas os gostos semelhantes, e com tais pontos de contato que ninguém tenha de
recorrer à odiosa formalidade das apresentações. ...
Que a sala de jantar esteja luxuosamente iluminada, a toalha esteja na mais perfeita
limpeza, e a temperatura entre 18 e 20 graus.
Que os homens sejam inteligentes mas não pretensiosos, e as mulheres encanta-
doras mas não vulgares.
Que a escolha dos pratos seja refinada mas restrita em número, e os vinhos de
primeira qualidade, os melhores de seu tipo.
Que a ordem dos pratos vá dos mais substanciais para os mais leves, e dos vinhos,
dos mais leves aos de bouquet mais forte.
Que a velocidade no comer seja moderada, uma vez que o jantar é a última ati-
vidade do dia, e que os convivas se comportem como viajantes que desejam chegar
juntos ao mesmo destino. ...
Que os convidados se prendam pelo prazer da companhia e sejam estimulados
pela esperança de que a noite não termine sem outros prazeres.24
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res.” Daí Manners and Tone of Good Society and Solecisms to be Avoided, by a Member
of the Aristocracy (1885).28 Ou, para citar a sra. Humphry, a ubíqüa “Madge” da
revista Truth: “A dona-de-casa que dá bons jantares seguramente terá sucesso
na vida social, e quase certamente casará as filhas bem.”29 Os motivos para dar
jantares são quase explícitos ou, no caso de Etiquette for Ladies (1894), são explíci-
tos. O autor escreve que receber um convite para jantar é um “reconhecimento
inequívoco de que você pertence à mesma classe que seus anfitriões. Todo país
tem um teste particular desse tipo, e na Inglaterra o convite para jantar é a marca
da igualdade social”.30
Se na classe média o jantar significava um modo de abrir o mundo privado
da família e do lar para estranhos considerados de igual posição social, para as
classes altas era muito mais. No final do século, em conseqüência das pressões
sociais vindas de baixo, as classes estabelecidas haviam cerrado fileiras e formado
o que era conhecido como “sociedade”. Imensamente ampliada no decurso do
século, na Inglaterra consistia de cerca de quatro mil famílias. (Na Alemanha seu
equivalente compunha 1,5% da população.) Tratava-se de um novo corpo social
criado e preservado por sua própria e imensa riqueza. Era competitiva, pretensiosa,
parvenue, orgulhosa, algumas vezes vulgar e media as coisas pelo dinheiro. Uma
vez admitido em seu exclusivo recinto, a tarefa de cada um era manter a vigilância
sobre os futuros candidatos. Isso envolvia a criação — por meio de rituais, detalhes
de estilo, maneiras e gosto — de uma série de obstáculos que todos os aspirantes
deveriam transpor. Receber um convite para jantar era uma barreira tão grande
quanto dar um jantar. E ainda é.
Ao final do século XVIII o tradicional serviço à francesa, tal como evoluíra no período
barroco, já se encontrava sob pressão.31 Quando começou a ser adotado, esse
modo de servir era bastante razoável. Punha-se um conjunto de pratos na mesa, e
as pessoas se serviam deles sozinhas ou auxiliadas por criados. Tudo se organizava
em perfeita simetria: quando terminava um serviço os pratos eram retirados e
substituídos pelos próximos, arranjados igualmente de forma simétrica. A regra
de que os pratos deveriam ser multiplicados por 12 de acordo com o número de
convidados significava que uma mesa podia acabar com cem pratos de cada vez,
mas apenas de dois tipos, terrinas e pot d’oille, ovais ou redondos. Em 1800, no
entanto, a variedade de recipientes e outros utensílios de mesa havia aumentado
consideravelmente, de modo que a mesa parecia uma floresta de baldes para refr-
escar vinhos e taças, molheiras, galheteiros para azeite e vinagre, potes de mostarda,
creme e açúcar, colheres para açucareiros, tigelas de sorvete, cestas de pão, pratos
para entremets, réchauds, caixas de temperos e também uma quantidade infinda
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de cutelaria. E tudo isso era orquestrado para formar um serviço que combinasse.
Uma boa quantidade de pratos voltava portanto intocada; ou, pior ainda para os
comensais, a comida chegava inevitavelmente fria ou na melhor das hipóteses morna.
Isso quanto aos jantares de gala, mas mesmo numa escala muito mais modesta
o sistema era igual. Uma aquarelista amadora chamada Ellen Mary Best registrou o
primeiro serviço de um jantar, antes da chegada dos convidados, na casa de um
cirurgião de York, em 1838.32 Toda a comida já está posta na mesa. Trata-se de
uma versão do sistema francês conhecida como service à l’anglaise, em que a anfitriã
serve a sopa e o anfitrião trincha o pernil. A terrina de sopa pode ser vista numa
das extremidades, com uma pilha de pratos ao lado. A anfitriã serve a sopa e o
prato é entregue ao comensal por um criado. Depois que todos tomam a sopa,
retira-se a tampa do assado, na outra extremidade da mesa, e o anfitrião começa
a trinchar. Nesse ponto as tampas são removidas simultaneamente das outras
terrinas. Mais uma vez os criados ajudam a servir. Pratos quentes são trazidos da
cozinha ou servidos num aquecedor de pratos na lareira. A aquarela mostra as
terrinas e travessas quentes sobre descansos de mesa, para não marcar o tampo,
e cada couvert com pão e um guardanapo, ladeado por uma faca e um garfo ape-
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Num dinner à la russe os pratos são cortados no aparador e apresentados aos convida-
dos, e cada prato pode ser considerado um serviço. A mesa para um dinner à la russe
deve ter flores [1861 já eram naturais] e plantas em belos vasos no centro, juntamente
com alguns dos pratos da sobremesa. Um menu ou bill of fare deve ser posto ao lado
de cada comensal.34
O efeito do service à la russe, afora a comida quente, foi multiplicar os pratos, mas
ele resultou numa bem-vinda redução do tempo gasto à mesa. No sistema antigo a
refeição podia durar horas. O jantar à la russe durava uma hora e meia no máximo.
Na Inglaterra das décadas de 1870 e 1880, a seqüência era a seguinte: hors d’oeuvre
na mesa, ao entrar, duas sopas, uma leve e outra espessa, peixe, a entrée, o pernil
ou pièce de résistance, um sorbet, o assado e uma salada, verduras, um doce quente,
sorvete, sobremesa, café e licor. Isso significava 12 serviços, mas já na década de
1890, em resposta às novas idéias sobre a dieta, este número foi reduzido a oito.
Como tudo o mais que tenha a ver com o jantar festivo do século XIX, o estilo
de serviço era levado em conta. “O jantar à la russe”, escreveu a sra. Beeton, “rara-
mente é apropriado para pequenos estabelecimentos, pois exige um grande número
de criados para trinchar e servir os convidados.” E também exigia uma fartura em
faqueiros e porcelanas. The Habits of Good Society, sem data, mas provavelmente
da década de 1850, referia-se a isso como “um costume estrangeiro recentemente
introduzido neste país...”.35 Seu triunfo também estava ligado ao surgimento de uma
nova classe média extremamente rica. A oportunidade de uma exibição ostentatória
e a necessidade de um pequeno exército de criados tornaram o service à la russe uma
escolha possível apenas para os que podiam pagar. Além disso, ao utilizar empregados
domésticos para trinchar e servir, esse estilo deixava mais claras as distinções sociais
— ninguém na mesa tinha qualquer coisa a ver com a manipulação da comida. E
também possibilitava o renascimento da arte de pôr a mesa e decorá-la, ou melhor,
o retorno às glórias do secular aparador. Como antes, tudo girava em torno da
exibição — mostrar as riquezas do proprietário em objets como centros de mesa e
candelabros de prata, sofisticados arranjos de flores, frutas e doces arrumados como
naturezas-mortas... Em suma, exercícios de riqueza e bom gosto.
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colocavam cartões com os nomes. O uso deste recurso ia e vinha com a moda.
“Madge” observou: “É constrangedor, nestes dias de vista fraca e salas pequenas,
ver vários casais andando para lá e para cá tentando decifrar seus nomes nos
pequeninos cartões.”
Gwen Raverat, ao relatar sua infância em Cambridge no final do período
vitoriano, nos dá uma descrição muito viva da imbecilizante formalidade dos
jantares governados pela precedência:
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A ida para o jantar. Do livro English Society at Home, 1880, de George du Maurier.
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era considerado um “hábito imundo”.44 Nessa data ainda era aceitável na França,
e na Alemanha continuou sendo até a década de 1860. Por volta de 1900 essa
prática, junto com os palitos, havia sido banida das mesas educadas dos três países.
Os costumes também mudaram. Na Inglaterra, por exemplo, o velho costume de
o anfitrião ou um convidado tomar vinho com outro comensal, uma espécie de
brinde mútuo, caiu em desuso na década de 1850.
Como se os talheres não fossem desafio suficiente, o comensal inexperiente
encontrava à esquerda um prato lateral com um guardanapo dobrado embrulhando
uma fatia de pão, e à direita um pequeno exército de taças. À frente havia um
cardápio e, próximo, um saleiro. Tratar dessas coisas era simples, exceto talvez as
taças.45 Geralmente eram três, uma para o xerez, outra para o hock (como o vinho
branco alemão era chamado) e uma terceira para champanhe. Copos sem pé para
água ficavam no aparador e eram trazidos por um criado, quando pedidos. No
século XVIII as taças não ficavam na mesa; um criado trazia-as e depois levava-as de
volta para serem lavadas. Mas o vidro tornara-se tão farto que os copos passaram
a fazer parte dos adereços da mesa na Inglaterra desde 1800, e na França a partir
de 1820. À medida que o século avançava, as taças desenvolveram seus próprios
tamanhos e formatos particulares para cada tipo de bebida. Em alguns casos — o
hock, por exemplo — podiam ser de vidro colorido.
O número de criados necessários para um jantar dependia inevitavelmente do
tamanho do evento. Uma refeição para dez exigia mordomo e dois copeiros. Todos
os criados eram homens; criadas à mesa eram vistas como prática totalmente déclas-
sé. Dessa forma, quem tinha poucos criados era obrigado a promover o jardineiro
ou até mesmo a contratar o verdureiro da vizinhança (como sugere Thackeray). O
serviço em si percorria toda a mesa, começando pelas pessoas sentadas à direita
do anfitrião e anfitriã. As senhoras, ao sentar, tiravam as luvas.
A essência do jantar era a conversa. Funcionava segundo um princípio pen-
dular, iniciando com o anfitrião a falar com a senhora à sua esquerda. Um tópico
era absolutamente proibido: qualquer comentário sobre a comida era considerado
além dos limites. Mas conversar bem era considerado vital, e todos os livros de
etiqueta tratam disso extensivamente. Na verdade o jantar festivo deu nascimento
a uma nova figura, o conversador. O poeta Robert Browning, por exemplo, era
considerado “uma das mais instrutivas e interessantes conversas ao jantar em toda a
Londres”. Assim, o culto ao jantar inaugurou uma nova arena de competição social,
em que o sucesso dependia de recrutar os melhores conversadores — convidados
educados, informados e inteligentes, mas que em hipótese alguma falariam de
coisas como religião e darwinismo, capazes de provocar dissensões.46
O jantar seguia com uma sucessão de pratos e vinhos de maneira fixa e
previsível: xerez após sentar à mesa, vinho branco com o peixe e champanhe
após a primeira entrée (e até a sobremesa). A essa altura retiravam-se os pratos,
e um prato de sobremesa era colocado diante de cada comensal. (Se fossem
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Pós-escrito: O eclipse da mesa
É pouco provável que um banquete desses seja realizado outra vez, e pelos padrões
atuais [após o racionamento de alimentos da Segunda Guerra Mundial], parece muito
extravagante e esbanjador. O linguado que servimos foi cozido no Chablis e guarne-
cido com ostras, camarões e outros tipos de frutos do mar. Servimos uma codorna
por pessoa e um terço de galinha assada muito gorda, além dos aspargos ao molho
holandês, rosbife e narcejas que também compunham o cardápio. Um banquete como
este sempre deve terminar com algo saboroso, como o soufflé parmesan servido em
1902. Usamos 40 gemas de ovo para 250 convidados, um quilo de farinha de trigo
e meio de queijo ralado, acrescentando as claras bem batidas. E não existe sobremesa
mais atrativa para um banquete de coroação do que a caisse de fraises Miramare [um
doce de cerejas que Tschumi descrevera antes e que exigiu dos confeiteiros três dias
para fazer as cestas de açúcar que continham o doce, e dos cozinheiros, mais três para
preparar a mistura de geléia de cerejas e o creme de baunilha] ... Muitas decorações da
mesa também eram de açúcar. Havia laços e flores de açúcar, e os confeiteiros fizeram
uma grande placa de açúcar com o timbre real que o rei Eduardo adotou. Todos os
convidados ao banquete ganharam de lembrança uma pequena coroa de açúcar.1
Sem dúvida alguma isso está mais próximo do espírito das festas da Renascença
e do período barroco que de qualquer aspecto da vida do século XX. Mas a
eclosão da Primeira Guerra Mundial e o advento do racionamento universal
de alimentos efetivamente decretaram o fim da cuisine classique e da tradição
gloriosa dos banquetes de corte.
O fim da guerra e a abolição da monarquia na Alemanha, Áustria e Rússia
apenas acentuaram a mudança. A tradição secular de grandeza e opulência já
havia desaparecido na França. A Inglaterra era exceção, mas mesmo aí podemos
ver seu triste declínio. Em 1914 a rainha Mary, esposa de Jorge V, havia limitado
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seu desjejum de oito pratos a dois. Após 1918 o jantar foi reduzido de 14 para
dez pratos. Em 1932, com o colapso do padrão ouro, grande parte da equipe da
cozinha real tornou-se redundante. Em 1947, após outra guerra mundial — que
deixou a Inglaterra arruinada —, o desjejum comemorativo do casamento da atual
rainha Elizabeth teve apenas quatro pratos modestos: filet de sole Mountbatten,
perdreau en casserole com haricots verts, pommes noisettes e salade royale, seguida
de bombe glacée princesse Elizabeth e sobremesa. Em meio século uma grande
história havia praticamente acabado.2
Outros fatores também iriam abalar os padrões das refeições das classes
alta e média.3 Depois de 1918, aos poucos os criados foram se tornando coisa
do passado. Depois de 1945 quase deixaram de existir. Um grande benefício
ocorreu no entanto: a mecanização da cozinha. Ao avanço cada vez maior da
geladeira, após a metade do século XX, juntaram-se o fogão a gás e elétrico, a
lavadora de pratos e uma grande variedade de implementos que trituram, pi-
cam, moem e misturam ingredientes. A estes podemos acrescentar o freezer e o
forno de microondas. Novas formas de comércio e de transporte internacional
passaram a oferecer as frutas mais exóticas no auge do inverno. As estações
foram banidas, é possível obter aspargos e cerejas tanto em dezembro como em
junho. Comer fora passou a ser uma opção para todas as classes da sociedade,
à medida que aumentou o número de restaurantes e se multiplicaram as redes,
primeiro nacionais e depois internacionais. A culinária, que no passado havia sido
puramente local, tornou-se global, com restaurantes indianos, chineses, malaios,
libaneses, japoneses e outros surgindo em todas as grandes cidades.
O século XX foi uma era de grande variedade (ou mesmo cacofonia)
alimentar, mas também de temores culinários. Já em 1900 a nutrição havia
começado a surgir como questão de interesse, passando a ser levada a sério na
década de 1920 — e daí em diante cada vez mais obsessivamente. A conexão
entre dieta e saúde continua a ser uma fixação, para não falar na obsessão com
o emagrecimento, que se transformou em indústria. O século encerrou-se com
as doenças produzidas pela dieta, como obesidade e anorexia, pressionando-nos
de um modo que teria assustado nossos antepassados.
A história da comida no século XX é confusa, falta-lhe a clareza dos séculos
anteriores e talvez esteja próxima demais para que possamos ter qualquer grau
de objetividade com relação a ela. O próprio termo “festejo” não parece mais ser
pertinente. A mesa, este ícone que acompanhamos ao longo de dois mil anos de
história, tem hoje um significado muito reduzido. No ritual da missa e da comu-
nhão, nas igrejas cristãs, ela ainda é central como reencenação da ceia do século I.
Nas comunidades religiosas percebemos ecos de uma maneira de comer que
remonta ao final da Antigüidade e à Idade das Trevas. Comunidades seculares,
como empresas urbanas e antigas universidades, ainda mantêm a estrutura do
jantar medieval, com uma mesa alta, exibição maciça de travessas no aparador e
264
pós-escrito
rituais como a passagem de uma vasilha com água de rosas para as abluções. E
em qualquer grande banquete formal ainda assistimos à entrada processional em
ordem de precedência e revivemos muitas cerimônias das cortes absolutistas.
Mas tudo isso é uma sobrevivência de outras eras que perdura inseguramente
no que vou chamar de sociedade pós-mesa. Na década de 1980 diminuiu drasti-
camente o número de ocasiões em que duas ou mais pessoas sentavam-se juntas
à mesa para fazer uma refeição. Na década de 1990 entramos na era da comida
rápida. Tudo indica que, para a grande maioria da população, se foi para sempre a
idéia de que pelo menos uma refeição por dia é uma experiência compartilhada.
A mesa não desempenha mais o papel sociocultural determinante que teve na
evolução da sociedade ocidental. Para todos os propósitos e intenções, os rituais
seculares das refeições foram desconstruídos e substituídos pelo espetáculo de uma
figura solitária mastigando diante de uma tela de TV. Pelo menos entre as classes
mais requintadas o jantar festivo ainda vive. Devemos ser gratos a isso.
Porém, na maioria das vezes, hoje ele acontece num restaurante, tirando
dos anfitriões todo o trabalho de receber em casa. O jantar numa casa particular,
pedra de toque da aceitabilidade social pelos séculos XIX e XX, na verdade foi
substituído por um tipo diferente de filtragem social, exercida pelo restaurante.
Essas instituições determinam quem pode e quem não pode reservar uma mesa
em reuniões que incluem os considerados gliterati da época. E assim vemos a me-
ritocracia substituir a aristocracia, numa mistura dos nascidos na idade da mídia,
estrelas do palco e das telas, ídolos pop, estilistas de moda e jogadores de futebol.
Ser visto jantando em tal companhia é outro marco na longa história da admissão
à mesa. Assim, num certo sentido, transportada do palácio, da casa aristocrática e
da mansão burguesa, a mesa que se partilha continua a exercer, mesmo hoje, seu
poder como indício de aspiração, privilégio e aceitação sociais.
265
Notas
1. As citações são de Petrônio, Satyricon, P. G. Walsh, Clarendon (org.), Oxford, 1993, p.12-66. Para
as discussões sobre o texto e sobre o festejo, ibid, “Introdução”; Eugenia Salza Prina Ricotti, L’arte del
convito nella Roma antica, Bretschneider, 1983, p.117-50; Antoinetta Dosi e François Schnell, A tavola
con i romani antichi, Edizioni Quasar, 1984, p.275-80; dos mesmos autores, I romani in cucina, vita e
costumi dei romani antichi, Museo della Civiltà Romana, 1992, p.85-90; Andrew Dalby e Sally Grainger,
The Classical Cookbook, British Museum Press, 1996, p.97-100.
2. Ricotti, p.11-18; Heleen Sancisi-Weerdenburg, “Persian Food. Stereotypes and Political Identity”, in
John Willeins, David Harley e Mike Dobson (orgs.), Food in Antiquity, University of Exeter Press, 1993,
p.286-302; Francis Joannes, “The Social Function of Banquets in Earliest Civilisations”, in Jean-Louis
Flandrin e Massimo Montanari, (orgs.), Food. A Culinary History, Columbia UP, 1999, p.32-45.
3. Homero, The Odyssey, Loeb Classical Library, 1919, I, p.303.
4. A pesquisa mais importante sobre comida e vinho na Grécia Antiga, a que este relato muito
deve, é Siren Feasts. A History of Food and Gastronomy in Greece, de Andrew Dalby, Routledge, 1996.
Ver também Massimo Montanari, “Food Systems and Models of Civilisation”, in Flandrin and Monta-
nari (orgs.), p.69-78; Marie-Claire Amoureti, “Urban and Rural Diets in Greece”, ibid, p.79-89; James
Davidson, Courtesans and Fishcakes. The Consuming Passions of Classical Athens, Fontana Press, 1997,
p.3-35; Gianni Race, La cucina nel mondo classico, Edizioni Scientifiche Italiane, 1999, parte I; e os artigos
in Willeins, Harley e Dobson (orgs.).
5. Dalby e Grainger, p.19-21; Dosi e Schnell, I Romani in cucina, p.22-5.
6. Elizabeth Craik, “Hippokratic Diaita”, in Willeins, Harley e Dobson (orgs.), p.343-50; Vivian
Nutton, “Galen and the Travellers”, ibid, p.359-70; Innocenzo Mazzini, “Diet and Medicine in the
Ancient World”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.141-52; Mark Grant, Galen on Food and Diet, Rout-
ledge, 2000.
7. Andrew Dalby, “The Banquet of Philoxenus: A New Translation with Culinary Notes”, Petits
propos culinaires, 26, 1987, p.28-36; Dalby e Grainger, p.42-55.
8. Andrew Dalby, “The Wedding Feast of Caranus the Macedonian”, Petits propos culinaires, 29,
1988, p.37-45.
9. Dalby e Grainger, p.11-13.
10. A obra definitiva sobre o banquete cívico é de Pauline Schmitt Pantel, La cité au banquet. Histoire
des repas publics dans les cités grecques, Écoles Françaises de Rome, 1992. Ver também Louise Bruit, “The
Meal at the Hyakinthjia: Ritual consumption and Offering”, in Oswyn Murray (org.), Sympotica. A Sym-
posion on the Symposion, Oxford, 1994, p.162-74; Pauline Schmitt Pantel, “A Civic Ritual”, in Flandrin e
Montanari (orgs.), p.90-5; da mesma autora, “Sacrificial Meal and the Symposion: Two Models of Civic
Institutions in the Archaic City?”, in Murray (org.), p.14-33; da mesma autora, “Symposion: banquets,
orgies et transgressions. Introductions au débat sur l’Antiquité”, in Martin Aurell, Olivier Dumoulin e
François Thélamon (orgs.), La sociabilité à table. Commensalité et convivialité à travers les âges, Actes du
Colloque de Rouen, Publications de l’Université de Rouen, 178, p.49-53; Peter Garnsey, Food and
Society in Classical Antiquity, CUP, 1999, p.131-6.
11. Eurípides, Íon, Allen & Unwin, 1954, p.85-6.
12. O relato sobre o symposion é de Oswyn Murray, “Sympotic History”, in Murray (org.), p.3-13;
Birgitta Bergquist, “Sympotic Space: A Functional Aspect of Greek Dining-Rooms”, ibid, p.37-65; Fre-
267
banquete
derick Cooper e Sarah Morris, “Dining in Round Buildings”, ibid, p.66-85; R.A. Tomlinson, “The Chro-
nology of the Perachora Hestiatorium and its Significance”, ibid, p.95-101; John Boardman, “Symposion
Furniture”, ibid, p.122-31; Jan N. Bremmer, “Adolescents, Symposion, and Pederasty”, ibid, p.135-48;
Ezio Pellizer, “Outlines of a Morphology of Sympotic Entertainemnent”, ibid, p.177-84; Burkhard Fehr,
“Entertainers at the Symposion”, ibid, p.185-95; François Lassarague, “Around the Krater: An Aspect of
Banquet Imagery”, ibid, p.196-209; do mesmo autor, The Aesthetics of the Greek Banquet. Images of Wine
and Ritual, Princeton UP, 1990, esp. p.3-18 e 123-39; Massimo Vetta, “The Culture of the Symposion”,
in Flandrin e Montanari (orgs.), p.96-105; Oswyn Murray, “Les Règles du Symposion ou comment
problématiser le plaisir”, in La Sociabilité à table, p.65-9; Davidson, p.43-9.
13. Xenofonte, Anabasis ... and Symposion and Apology, Loeb Classical Library, 1922, p.373ss.
14. A obra fundamental é de Jacques André, L’Alimentation et la cuisine à Rome, Les Belles Lettres,
Paris, 1981. Ver também Ricotti, p.219-34; Dosi e Schnell, A tavola con i romani antichi, p.18ss; dos
mesmos autores, I romani in cucina; Garnsey, p.122ss.
15. The Attic Nights of Aulus Gellius, Loeb Classical Library, 1927, II, p.65-67.
16. Race, p.172-3.
17. J.P.V.D. Balsdon, Life and Leisure in Ancient Rome, The Bodley Head, 1969, p.44.
18. Florence Dupont, “La consommation du pourri et la sociabilité alimentaire à Rome", in Aurell,
Dumoulin e Thélanom (orgs.), p.29-32.
19. Balsdon, p.39-40; Ugo Enrico Paoli, Rome. Its People, Life and Customs, Longmans, 1963, p.97;
Apício, Cookery and Dining in Imperial Rome, Joseph Dommers Vehling (org.), Dover, 1977, p.24-6; Dosi
e Schnell, A tavola com i romani antichi, p.291-6; dos mesmo autores, I Romani in cucina, p.32ss.
20. Para edições de Apício, ver Barbara Flower e Elisabeth Rosenbaum, The Roman Cookery Book,
Harrap, 1958; John Edwards, The Roman Cookery of Apicius, Rider Books, 1988; Apício, Cookery and
Dining in Imperial Rome. Para estudos sobre ele, ver Race, p.191-229; Ricotti, p.207-18; Carol A. Dery,
“The Art of Apicius”, in Cooks and Other People, Proceedings of the Oxford Symposium on Food and
Cookery, 1995, Prospect Books, 1966, p.11-17; Dalby e Grainger, p.13-16; Jon Solomon, “The Apician
Sauce: Ius Apicianum”, in Willeins, Harley e Dobson (orgs.), p.115-31.
21. Sobre a estrutura das refeições diárias em Roma, ver Paoli, p.92-6.
22. Sobre a frugalidade, ver Emily Gowers, The Loaded Table. Representations of Food in Roman Lite-
rature, Clarendon, 1993, p.16-19.
23. Cicero, Two Essays on Old Age and Friendship, Londres, Mackmillan & Co., 1927, p.69.
24. Dupont, in Aurell, Dumoulin e Thélamon (orgs.), p.29-32. Sobre o convivium em geral, ver
Georges Duby e Philippe Ariès (orgs.). A History of Private Life, I, Paul Beyne (org.), From Pagan Rome to
Byzantium, Harvard UP, 1987, p.186-9. (Ed. bras.: História da vida privada 1, Do Império Romano ao ano
mil, São Paulo, Companhia das Letras, 1990.)
25. Sobre origem e desenvolvimento, ver Annette Rathje, “The Adoption of the Homeric Banquet
in Central Italy in the Orientalising Period“, in Murray (org.), p.279-88; Garnsey, p.136-8.
26. Lilian M. Wilson, The Clothing of the Ancient Romans, Johns Hopkins UP, Baltimore, 1938, p.78-
83 e 169.
27. Marcial, Epigrams, D.R. Shackleton Bailey (org.), Loeb Classical Library, 1993, I, p.423(7).
28. The Roman History of Ammianus Marcellinus, Bohn’s Classical Library, 1894, p.489.
29. Plínio o Moço, Letters and Panegyricus, Loeb Classical Library, 1969, I, p.97.
30. Citado em Gowers, p.26.
31. Ver John d’Arms, “The Roman Convivium and the Idea of Equality”, in Murray (org.), p.308-20.
32. Sobre hierarquia na comida, ver Mireille Corbier, “The Broad Bean and the Moray: Social
Hierarchies in Food in Rome”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.128-40.
33. Cícero, Letters to Atticus, Loeb Classical Library, 1918, III, p.214.
34. Plínio, Letters and Panegyricus, ed. cit., I, p.96-7.
35. Marcial, Epigrams, ed. cit., I, p.245.
36. John d’Arms, “Slaves at Roman Convivia”, in W.J. Slater (org.), Dining in a Classical Context,
Ann Arbor, 1991, p.171-83.
37. Sobre o triclinium, ver Rave, p.151-4; Paoli, p.64-5; Dosi e Schnell, A tavola com i romani antichi,
p.48-9; Katherine M.D. Dunhabin, “Triclinium and Stibadium”, in Slater (org.), p.121-48.
38. Dosi e Schnell, A tavola com i romani antichi, p.314-22.
39. Suetônio, The Twelve Caesars, Penguin, 1957, p.229.
40. J. Carcopino, Daily Life in Ancient Rome, Routledge, 1941, p.272-3.
268
notas
41. Idem.
42. Alan Booth, “The Age for Reclining and its Attendant Perils”, in Slater (org.), p.105-20.
43. Para a cena, ver W. Warde Flower, Social Life in Rome in the Age of Cicero, Macmillan, Londres,
1909, p.2.276-82; Carcopino, p.263-76; Race, p.170-2; Ricotti, p.18-25; Paoli, p.92-6; Florence Dupont,
“The Grammar of Roman Dining”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.113-27; Gowers, cap. 1; Andrew
Dalby, Empire of Pleasures: Luxury and Indulgence in the Roman World, Routledge, 2000, p.243-57; Dosi
e Schnell, A tavola com i romani antichi, p.43-7 e 52-69; Balsdon, p.632-41.
44. Macróbio, The Saturnalia, Columbia UP, 1969, p.229 e 248.
45. Ibid, p.55.
46. Cícero, De officiis, Loeb Classical Library, 1913, p.135-41.
47. Plínio, Letters, op. cit. I, p.473.
48. Cícero, Letters to Friends, Loeb Classical Library, 2000, III, p.196-7.
49. The Attic Nights of Aulus Gellius, op.cit., I, p.99.
50. Marcial, Epigrams, op.cit., I, p.237 (50).
51. Em geral ver Balsdon, p.46-7; Richard C. Beacham, Spectacle Entertainments of Early Imperial
Rome, Yale UP, 1990, p.197ss.
52. Christopher P. Jones, “Dinner Theater”, in Slater (org.), p.185-98.
53. Dosi e Schnell, A tavola con i romani antichi, p.299-328; Paul Veyne, Bread and Circuses. Historical
Sociology and Political Pluralism, Penguin, 1990, p.220-1.
54. Stanislaus Mrozek, “Caractère hiérarchique des repas officiels dans les villes romaines du Haut-
Empire”, in Aurell, Dumoulin e Thélamon (orgs.), p.181-5.
55. Race, p.393ss.
56. Suetônio, p.273-4.
57. Beacham, p.221-2; Tácito, The Annals of Imperial Rome, Penguin, 1959, p.351; Dio’s Roman
History, Loeb Classical Library, 1961, VIII, p.109-10.
58. Ibid, VIII, p.335-6; Phyllis P. Brober, “The Black or Hell Banquet”, in Fasting and Feasting, Oxford
Symposium on Food and Cookery, 1990, Prospect Books, 1990, p.55-7.
59. Jeremy Rossiter, “Convivium and Villa in Late Antiquity”, in Slater (org.), p.199-214. Para os
textos, ver Sidônio, Poems and Letters, Loeb Classical Library, 1936, I, p.427 e 453-7.
60. Antimo, On the Observance of Foods, Mark Grant (org.), Prospect Books, 1996.
61. The Works of Luitprand of Cremona, Routledge, 1930, p.241, 247 e 254; para a tradição bizantina,
ver Ewald Kislinger, “Christians of the East. Rules and Realities of the Byzantine Diet”, in Flandrin e
Montanari (orgs.), p.194-206.
62. Citado em Andrew Dalby, “Christmas Dinner in Byzantium”, in Food on the Move, Proceedings of the
Oxford Symposium on Food and Cookery, 1996, Prospect Books, 1997, Harlan Walker (org.), p.75-83.
63. Ibid, p.80.
1. H.E. Butler (org.), The Autobiography of Giraldus Cambrensis, Cidade do Cabo, 1937, p.70-2.
2. Ibid, p.72.
3. Massimo Montanari, “Romans, Barbarians, Christians. The Dawn of European Food Culture”, in
Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari (orgs.), Food. A Culinary History, Columbia UP, 1999, p.165-7.
4. Dos mesmos autores, “Production Structures and Food Systems in the Early Middle Ages”,
“Peasants, Warriors, Priests. Images of Society and Styles of Diet” e “Toward a New Dietary Balan-
ce”, ibid, p.168-75, 178-85 e 247-50. Também Antoni Riera-Melis, “Society, Food and Feudalism”,
ibid, p.251-60.
5. T. Sarah Peterson, Acquired Taste. The French Origins of Modern Cooking, Cornell UP, 1994, cap.1.
6. Para o que se segue, ver Robin Lane Fox, Pagans and Christians, Viking, 1986, p.395-6; es-
pecialmente Veronika E. Grimm, From Feasting to Fasting. The Evolution of a Sin. Attitudes to Food in
Late Antiquity, Routledge, 1996; e também Bridget Henisch, Fast and Feast. Food in Medieval Society,
Pennsylvania State UP, 1976, cap.1, passim.
7. Cardeal Casquet, The Rule of St. Benedict, Chatto & Windus, 1925. Para o monasticismo e o
surgimento das boas maneiras, ver Leo Moulin, Les liturgies de la table. Une histoire culturelle du manger
et du boire, Fonds Mercator, Albin Michel, 1989, p.187-90.
269
banquete
8. Wolfgang Braunfels, Monasteries of Western Europe. The Architecture of the Orders, Thames
& Hudson, 1972, p.12-19 e 147-51.
9. Ver Riera-Melis, “Society, Food and Feudalism”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.260s; Philippe
Ariès e Georges Duby (orgs.), A History of Private Life, II, Georges Duby (org.), Revelations of the Medieval
World, Harvard UP, 1988, p.44-55. (Ed. bras.: A história da vida privada 2, Da Europa feudal à Renascença,
São Paulo, Companhia das Letras, 1990.)
10. John Goodall, “How the Monks of Fountains Sat Down to Eat”, Country Life, 29 de novembro
de 2001, p.58-61.
11. Henisch, cap.1.
12. Marjorie A. Brown, “The Feast-Hall in Anglo-Saxon Society”, in Martha Carlin e Joel T. Rosenthal
(orgs.), Food and Eating in Medieval Europe, The Hambledon Press, 1998, p.1-13.
13. Régis Boyer, “‘Dans Upsal ou les Jarls boivent la bonne bière’: rites de boisson chez les vikings”, in
Martin Aurell, Olivier Moulin e François Thélemon (orgs.), La Sociabilité à table. Commensalité et convivialité
à travers les ages, Actes du Colloque de Rouen, Publications de l’Université de Rouen, no 178, 1994, p.83-9.
14. P.E. Schramm, A History of the English Coronation, Clarendon, 1937, p.3, 62-3; Zeer Gourarier,
“Modèles de cour et usages de table: les origins”, in Versailles et les tables royals en Europe XVII e-XIXe siècle,
Musée National des Châteaux des Versailles et de Trianon, catálogo de exposição, 1993-4, p.16-17.
15. Ver Elisa Acanfora, “La tavola”, in Sergio Bertelli e Giuliano Crifo (orgs.), Rituale, cerimoniale,
etichetta, Bompiani, 1985, p.53-66.
16. Gerd Althoff, “Obbligatorio mangiare: pranzi, banchetti e feste nella vita sociale del Medioeveo",
in Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari (orgs.), Storia del’alimentazione, Laterza, 1997, p.234-42.
17. A. J. Grant (org.), Early Lives of Charlemagne by Einhard and the Monk of St Gall, De la More
Press, 1905, p.39.
18. Janet L. Nelson, “The Lord’s Anointed and the People’s Choice: Carolingian Royal Ritual”, in
David Cannadine e Simon Price (orgs.), Rituals of Royalty. Power and Cerimonial in Traditional Societies,
CUP, 1987, p.172-5; M. Rouche, “Le repas de fête à l’époque carolingienne”, in Denis Menjot (org.),
Manger et boire au Moyen Age, Actes du Colloque de Nice, 1982, Publications de la Faculté des Lettres
et Sciences Humaines de Nice, no 27, 1a série, Les Belles Lettres, 1984, p.265-96.
19. Ariès e Duby (orgs.), II, p.71-5.
20. Elizabeth Lamond, Walter of Henley’s Husbandry, Longmans, Green & Co., 1890, p.121ss.
21. William Michael Rossetti, Italian Courtesy Books, EETS, 1869.
22. Ibid, p.112.
23. Ibid, p.144-5.
24. Jacques le Goff, “Saint Louis à table: entre commensalité royale et humilité alimentaire”, in Aurell,
Dumoulin e Thélemon (orgs.), p.133-44.
25. Natalis de Wailly (org.), The Life of Saint Louis by John of Joinville, Sheed & Ward, 1955, p.47-8.
26. Ibid, p.196-7.
1. O texto está publicado tanto no catalão original como numa tradução em Plaisirs et manières de
table aux XIVe et XVe siècles, catálogo de exposição, Toulouse, Musée des Augustins, 1992, p.308-9.
2. Sobre o surgimento dos livros de receita, ver Stephen Mennell, All Manners of Food. Eating and
Taste in England and France from de Middle Ages to the Present, Basil Blackwell, 1986, p.49-54; Bruno
Laurioux, Le Moyen Age à table, Paris, Adam Biro, 1989, p.110-12; do mesmo autor, “Entre savoirs et
pratiques: le livre de cuisine à la fin du Moyen Age”, Médiévales, XIV, 1988, p.60-9; Carole Lambert
(org.), Du manuscrit à la table, University of Montreal Press, 1992; Odile Redon, Françoise Sabban e
Silvano Serventi, A tavola nel medioevo con 150 ricette dalla Francia e dall’Italia, Editori Laterza, 1995,
p.7-11; Terence Scully, The Art of Cookery in the Middle Ages, Woodbridge, Boydell Press, 1995, p.4-6.
Para a contribuição italiana, ver Emilio Faccioli (org.), Arte della cucina. Libri di Ricette. Testi sopra lo scalco
il Trinciante e i vini, Milão, Il Polifilo, 1966.
3. Terence Scully (org.), The Viandier of Taillevent. An Edition of all Extant Manuscripts, University of
Ottawa Press, 1988; Plaisirs et manières de table, p.13-15; Terence Scully, The Viandier. A Critical Edition
with English Translation, Prospect Books, 1997; Bruno Laurioux, Le Règne de Taillevent. Livres et pratiques
culinaires à la fin du Moyen Age, Publications de la Sorbonne, 1997; A.S. Weber, “Queu du Roi, Roi
270
notas
des Queux: Taillevent and the Profession of Medieval Cooking”, in Martha Carlin e Joel T. Rosenthal
(orgs.), Food and Eating in Medieval Europe, Hambledon Press, 1998, p.145-6.
4. Eileen Power, The Goodman of Paris (Le ménagier de Paris), George Routledge & Sons, 1928; Ge-
orgina Brereton e Janet Ferrier (orgs.), Le ménagier de Paris, Clarendon, 1981; Plaisirs et manières de table,
p.9-11; Nicole Grossley-Holland, Living and Dining in Medieval Paris, University of Wales Press, Cardiff,
1996; Alan Davidson, The Oxford Companion to Food, OUP, 1999, Ménagier de Paris.
5. Constance B. Hiett e Sharon Butler (orgs.), Curye on Inglysche. English Culinary Manuscripts of the
Fourteenth Century, EETS, 1985, p.20-1. Ver também Lorna Sass, To the King’s Taste. Richard II’s Book of Feasts
and Recipes Adapted for Modern Cooking, John Murray, 1976. Para manuscritos ingleses de receitas do final
do período medieval, ver Constance B. Hieatt, “Listing and Analysing the Medieval English Culinary Recipe
Collections: A Project and its Problems”, in Du Manuscrit à la table, pp.15-26; Thomas Austin (org.), Two
Fifteenth-Century Cookery Books, EETS, 1888, e Constance B. Hieatt, An Ordinance of Pottage, Prospect Books, 1988.
6. Terence Scully (org.), Chiquart’s “On Cookery”. A Fifteenth-Century Savoyard Culinary Treatise,
American University Studies, série IX, History, 22, Peter Lang, 1986.
7. Ibid, p.XVIII-XXV; Scully (org.), The Viandier of Taillevent, p.204; Scully, Art of Cookery, p.40ss.
8. O que se segue sobre alimentos e bebidas medievais é uma destilação do que já se tornou uma
literatura considerável, da qual as seguintes referências são as mais pertinentes: Redon, Sabban e Serventi,
Plaisirs et manières de table; Scully, Art of Cookery; Laurioux, Le Moyen Age à table, p.35-50; Laurioux, “Les
menus de banquet dans les livres de cuisine de la fin du Moyen Age”, in Martin Aurell, Olivier Dumoulin
e Françoiose Thélemon (orgs.), La Sociabilité à table. Commensalité et convivialité à travers les ages, Actes du
Colloque de Rouen, Publications de l’Université de Rouen, 1990, p.273-9; Laurioux, “Cucine medievali
(secoli XIV e XV)”, in Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari (orgs.), Storia dell’alimentazione, Roma-Bari,
Editori Laterza, 1996, p.356-70; P.W. Hammond, Food and Feast in Medieval England, Alan Sutton, 1993;
Barbara Ketcham Wheaton, Savoring the Past. The french Kitchen and Table from 1300 to 1789, Simon &
Schuster, 1996, p.1-26; Claudio Benporat, Storia della gastronomia italiana, Mursia, Milão, 1990, p.13-81;
Bruno Laurioux, Le règne de Taillevent, Publications de la Sorbonne, 1997; D. Eleanor Scully e Terence
Scully, Early French Cookery. Sources, History, Original Recipes and Adaptations, Ann Arbor, 1995; Jean-Louis
Flandrin e Carol Lambert, Fêtes gourmands au Moyen Age, Paris, Imprimerie Nationale, 1998; Phyllis Bray
Bober, Art, Culture and Cuisine, University of Chicago Press, 1999, p.230-7.
9. Plaisirs et manières de table, p.21-5.
10. Ibid, p.27-31.
11. Scully, Art of Cookery, p.207-17. Ver também Constance B. Hieatt, “Sorting through the Titles of
Medieval Dishes: What Is, or Is Not, a “Blanc Manger”, in Melitta Weiss Adamson (org.), Food in the
Middle Ages. A Book of Essays, Garland Publishing, 1995, p.25-43.
12. Scully, Art of Cookery, cap.6; Redon, Sabban and Serventi, p.22-4.
13. Hieatt, An Ordinance of Pottage, p15-16.
14. Weber, in Carlin e Rosenthal (orgs.), p.156.
15. Johann Maria van Winter, “Interregional Influences in Medieval Cooking”, in Adamson (org.), p.61-81.
16. Hall, Chronicle, citada in William Edward Mead, The English Medieval Feast, Londres, Allen &
Unwin, 1967, p.203.
17. Benporat, p.56-9.
18. Barbara Santich, “The Evolution of Culinary Technique in the Medieval Era”, in Adamson (org.),
p.61-81.
19. Laurioux, “Cucine medievali”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.36-61; Plaisirs et manières de
table, p.63-5; Scully, Art of Cookery, p.28ss.
20. Hieatt e Buttler (orgs.), Forme of Cury, p.10-12; Laurioux, “Cucine medievali”, p.362; Jocelyn
Gledhill Russell, The Field of the Cloth of Gold, Nova York, Barnes & Noble Inc., 1969, p.146.
21. Brenda S. Rose, “Aspects of Visual Art in the Gastronomy of Fifteenth-Century France”, in Harlan
Walker (org.), Look and Feel. Studies in Texture, Appearance and Incidental Characteristics of Food, Proceedings of the
Oxford Symposium on Food and Cookery, 1993, Prospect Books, 1994, p.174-80; Mireille Vincent-Cassy,
“La vue et les mangeurs: couleurs et simulacres dans la cuisine médiévales", in Banquets et manières de table
au Moyen Age, Centre Universitaire d’Études et de Recherches Médiévales d’Aix, Sénéfiance, no 38, 1996,
p.161-72; ver também, sobre as cores, Plaisirs et manières de table, p.67-8; Scully, Art of Cookery, p.104-5.
22. C. Anne Wilson, “Ritual, Form and Colour in the Medieval Food Tradition”, in The Appetite
and the Eye, Food and Society, no 2, University of Edimburgh Press, 1991, p.16-26; T. Sarah Peterson,
Acquired taste: The French Origins of Modern Cooking, Cornell UP, 1994, cap. 1 e 2.
271
banquete
23. Ver o relato em L’Historia de Milano (1557), de Corio, publicado em Benporat, p.39-40.
24. R. Fabyan, The New Chronicles of England, Londres, 1811, p.599-601; Austin (org.), p.XIV.
25. George Cavendish, in Roger Lockyer (org.), Thomas Wolsey, late Cardinal, his Life and Death,
Londres, Folio Society, 1962, p.102-3.
26. O que aparece nesta seção e na próxima é tratado de maneira geral nas seguintes obras: Bridget
Ann Henisch, Fast and Feast. Food in Medieval Society, Pennsylvania State UP, 1976, cap.6; Madeleine
Pelner Cosman, Fabulous Feasts. Medieval Cookery and Ceremony, Nova York, George Braziller, 1976,
p.12-17; Mark Girouard, Life in the English Country House, Yale UP, 1978, p.22ss.; Laurioux, Le Moyen
Age à table, p.95-105 e 119-40; Redon, Sabban e Serventi, p.19ss; C. Anne Wilson, “From Medieval
Great Hall to Country-House Dining Room”, in The Appetite and the Eye, p.28-37; Zeev Gouranier, “Le
‘banquet’ medieval (XIVe-XVI e siècles)”, in Les Français et la table, catálogo de exposição, Musée National
des Arts et Traditions Populaires, 1985-86, p.149-61.
27. Plaisirs et manières de table, p.52-3.
28. Scully, Art of Cookery, p.66.
29. Hammond, p.120-2.
30. Scully (org.), Chiquart’s “On Cookery”, pp.1-6.
31. Plaisirs et manières de table, p.277. Outros casos em que as quantidades de alimentos são listadas
em detalhe são os da festa dada em 1467 por ocasião da posse de George Neville como arcebispo de
York, J. Leland, in T. Hearne (org.), Collectanea, 1744, VI, p.2ss.; Richard Warner, Antiquitates Culinariae,
Londres, 1791, p.93-101; Mead, p.33; a festa da entronização de William Warham como arcebispo de
Canterbury, Warner, Antiquitates, p.107-24; o banquete do prefeito de 1505, The Babees Boke ... The Bokes
of Nurture of Hugh Rhodes and John Russell, Frederick Furnivall (org.), Londres, EETS, 1868, p.378-80.
32. Scully, Art of Cookery, p.236ss.
33. Cavendish, p.46-8.
34. The Babees Boke, p.310ss.
35. Ver Olivier de la Marche, L’Estat de la Maison du duc Charles de Bourgogne, dit le Hardy (1474),
in Richard e Poujoulat (orgs.), Nouvelles collections des mémoires pour servir à l’histoire de France, 1a série,
III, Paris e Lyon, 1850.
36. The Babees Boke, p.61-73; ver também John Russell, The Bokes of Nurture, p.129-30, e Wynken
de Worde, The Boke of Kervynge, p.266. Ver também R.W. Chambers (org.), A Fifteenth-Century Courtesy
Book, EETS, 1914, p.11.
37. Piers Langland, Piers Plowman, Texto B, Passus X, p.97-101.
38. Mark Girouard, Life in the French Country House, Cassell, 2000, p.53ss.
39. Leland, Colectanea, VI, p.2ss.
40. Russell, p.160-3.
41. R. Vaughan, Philip the Good, Longmans, 1970, p.56-7.
42. Ibid, p.49-50.
43. Para a evolução do dressoir, ver R. W. Lightbown, Secular Goldsmith’s Work in Medieval France:
A History, Reports of the Research Committee of the Society of Antiquaries of London, no XXXVI,
1978, p.16-17 e 39ss.
44. Ibid, p.40.
45. Mémoires d’Olivier de la Marche, in Richard e Poujoulat (orgs.), Nouvelles collections des mémoires
pour servir à l’histoire de France, 1a série, III, Paris e Lyon, 1850, p.521.
46. Lightbown, p.40.
47. Sydney Anglo, Spetacle, Pageantry and Early Tudor Policy, Clarendon Press, 1969, p.130.
48. Para o que se segue a respeito de baixelas, ver Charles Oman, English Domestic Silver, A & C.
Black, 1934, p.18ss.; Françoise Robin, “Le luxe de la table dans les cours princières (1360-1480)”, Gazette
des Beaux-Arts, 86 (1975), p.1-16; Les fastes du gothique. Le siècle de Charles V, catálogo de exposição, Paris,
Grand Palais, 1981-2, p.204-6 e 220-4; Lightbown, passim; Plaisirs et manières de table, p.216-21.
49. Lightbown, p.37.
50. Ibid, p.78ss.
51. Lightbown, p.19.
52. Ver Charles Oman, Medieval Silver Nefs, Victoria & Albert Museum, HMSO, 1963.
53. Oman, Domestic Silver, p.29-32; Lightbown, p.29.
54. Ibid, p.11 e 43-5; Les fastes du gothique, p.236.
272
notas
273
banquete
Hammond, p.103-4; Jean de la Croix, “Un art des belles manières de table en Lombardie au XIII e siècle:
De quinquaginta curialitatibus ad mensam (1288) de Bonvensin de la Riva”, in Banquets et manières de table,
p.71-91; Marie-Geneviève Grossel, “La table comme pierre de touche de la courtoisie: à propos de
quelques Chastoiements, ensenhamen et autres contenances de table”, ibid, p.181-95; Daniela Romagnoli,
“‘Guardano sil vilan’. La buone maniere a tavola”, in Flandrin e Montanari (orgs.), p.396-408; Jonathan
Nicholls, The Matter of Courtesy. Medieval Courtesy Books and the Gawain Poet, D.S. Brewer, 1998, p.7.
86. Ffiona Swabey, “The Household of Alice de Breyne, 1412-13”, in Carlin e Rosenthal (orgs.),
p.33-44.
87. The Babes Boke, p.6.
88. Citado em Redon, Sabban e Serventi, p.9.
89. Le livre du fais et bonnes moeurs du sage roy Charles, citado em Franklin, La Civilité, p.306.
90. Citado em Henisch, Fast and Feast, p.217.
91. The Babees Boke, p.373.
92. H. Aliquot, “Les epices à la table des papes d’Avignon au XVe siècle”, in Manger et boire, I, p.132-44.
93. Lightbown, p.18-19.
94. Mireille Vincent-Cassy, “La Gula Curiale ou les débordements des banquets au début du règne
de Charles VI”, in Aurell, Dumoulin e Thélemon (orgs.), p.91-102.
95. Mennell, p.41-42; Benporat, p.37.
96. Para o que se segue sobre o desenvolvimento do entremet, ver Benporat, p.38-9; Cosman, p.31-
5; Henisch, cap.8; Agathe Lafortune-Martel, Fête noble em Bourgogne au XVe siècle. Le Banquet du Faisan
(1454): Aspects publiques, sociaux et culturels, Montreal, Institut d’Etudes Médiévales, Universidade de
Montreal, 1984, p.25-54; da mesma autora, “De l’entremets culinaires aux pièces montées d’un menu
de propagande”, in Du manuscrit à table, p.121-9; Terence Scully, “The Medieval French Entremets”,
Petits propos culinaires, 17, 1984, p.44-56; Danielle Queruel, “Des entremets aux intermèdes dans les
banquets bourguignons”, in Banquets et manières de table, p.143-57; Scully, Art of Cookery, p.104-9;
Wilson, “Ritual, Form and Colour in the Medieval Food Tradition”, p.13-16.
97. Lightbown, p.44.
98. Lafortune-Martel, p.45ss.
99. Vaughan, p.111-12.
100. Chiquart’s “On Cookery”, p.30-7.
101. Vaughan, p.143.
102. Mémoires d’Olivier de la Marche, p.526ss.
103. Ibid, p.548-9. Ver também “Account of the Ceremonial of the Marriage of the Princess Margaret,
Sister of King Edward de Fourth to Charles, Duke of Burgundy...”, Archeologia, 31, 1846, p.336-7.
104. Sobre as sutilezas, ver Two Fifteenth-Century Cookery Books, p.67-9; Hammond, p.142-3; Glynne
Wickham, Early English Stages 1300-1660, I, 1300 to 1576, Routledge & Kegan Paul, 1980, p.211, 381.
105. Robert Fabyan, The New Chronicles of England and France, Londres, 1811, p.586.
106. Ver Bertram Wolffe, Henry VI, Eyre Methuen, 1981, p.50-1; The Minor Poems of John Lydgate,
H.N. MacCracken (org.), EETS, 1934, II, p.623-4. Para as sutilezas na entronização de George Neville,
1465, e de William Warham, 1504, ver Warner, Antiquitates, p.97-8, 113ss.
107. The Babes Boke, p.376-7.
108. Hammond, p.144-8.
109. Reinhard Strohm, The Rise of European Music 1380-1500, CUP, 1993, p.7-13, 313-19; do mesmo
autor, Music in Late Medieval Bruges, Clarendon Press, 1985, p.92-101.
110. Wickham, I, p.213.
111. The Chronicles of Froissart translated … by … Lord Berners, Londres, David Nott, 1902, p.281-2.
112. Palla, “Manger et boire au Portugal”, p.107-8.
113. Vaughan, p.143.
114. Minor Poems of John Lydgate, II, p.668-701.
115. Anglo, p.101-3; Gordon Kipling, The Triumph of Honour. Burgundian Origins of Elizabethan Re-
naissance, Sir Thomas Browne Institute, Universidade de Leiden, 1977, p.102ss.
116. Para a Festa do Faisão, ver Mémoires d’Olivier de La Marche, p.478-88; Lafortune-Martel; F.
Alberto Gallo, Music of the Middle Ages, II, CUP, 1985, p.102-27; M. Santucci, “Nourritures et symbols
dans le Banquet du Faisan et dans Jehan de Sainté”, in Manger et boire, I, p.429-40.
117. Vaughan, p.144-5.
274
notas
1. Cristoforo Messisbugo, Banchetti, composizioni di vivende e apparecchio, Neri Pozza, Veneza, 1960, p.31-42;
Adriano Cavicchi, “Nel Parnasso dei sensi tra spettaculo, simbolo e storia”, in Jadranka Bentini, Alessandra
Chiappini, Giovanni Battista Panatta e Anna Maria Visser Travagli (orgs.), A tavola con il principe, catálogo de
exposição, Castello Estense, Ferrara, Gabriele Gorbo, 1988-9, p.387-400; Michel Jeanneret, A Feast of Words.
Banquets and Table Talk in the Renaissance, Polity Press, 1991, p.52-4. Para o cardeal Ippolito d’Este, ver Mary
Hollingsworth, “Ippolito d’Este: A Cardinal and his Household”, The Court Historian, 5, 2, 2000, p.105-26.
2. Uma das mais citadas é a festa dada por ocasião da primeira apresentação de La cassaria, de
Ariosto, em 24 de janeiro de 1529; ver Susan Weiss, “Medieval and Renaissance Weddings and Other
Feasts”, in Martha Carlin e Joel T. Rosenthal (orgs.), Food and Eating in Medieval Europe, Hambledon
Press, 1998, p.172.
3. Esse relato de Ferrara baseia-se em Werner L. Gundersheimer, Ferrara. The Style of a Despotism,
Princeton UP, 1973; Sergio Bertelli, Franco Cardini e Elvira Garbero Zorzi, Italian Renaissance Courts,
Sidgwick & Jackson, 1986, p.65-73; Le muse e il principe. Arte de corte nel Rinascimento padano, catá-
logo de exposição, Franco Cosimo Panini, 1991. Sobre os aspectos culinários e festivos da cultura
renascentista de Ferrara, ver Luigi Alberto Gandini, Tavola, cantina e cucina della corte di Ferrara nel
Quattrocento, Módena, 1889; Angelo Solerti, Ferrara e la corte estense, Citta di Castello, 1891, p.lXXIX-
lXXXI; Emilio Faccioli, “Scenita dei banchetti estensi”, in Il Rinascimento nelle corti padane. Società e
cultura, De Donato, 1977, p.597-606; Giuseppe Montovano, “Il banchetto rinascimentale: arte,
magnificenza, potere”, in A tavola con il principe, p.46-63; Jadranka Bentini, “Per ricostruzione del
banchetti del principe. Documenti figurativi e fonti manuscritti e a stampa”, ibid, p.269-82; Anna
Maria Fioravanti Baraldi, “Gli ‘apparamenti’ del banchetto”, ibid, p.321-32.
4. Citado in Gundersheimer, p.188.
5. Thomas Tuohy, Herculean Ferrara. Ercole d’Este, 1471-1505, and the Invention of a Ducal Capital,
CUP, 1996, p.272, nota 215.
6. Ibid, p.273, nota 219.
7. Para esse tema, ver Messisbugo, Banchetti; Luciano Chiappini, La corte estense alla meta del Cinque-
cento. I compendi di Cristoforo di Messisbugo, Belriguardo, 1984, p.39-80; Giovanni Battista Panatta, “La
mensa del principe”, in A tavola con il principe, p.89-91; Luciano Chiappini, “Lo scalco ideale: Cristoforo
da Messisbugo”, ibid, p.311-13; Claudio Benporat, Storia della gastronomia italiana, Mursia, 1990, p.113-
20; “Les banquets princiers de Christoforo di Messisbugo”, in Adelin Charles Fiorato e Anna Fontes
Baratto (orgs.), La table et ses dessous. Culture, alimentation et convivialité en Italie (XIVe-XVI e siècles), Cahiers
de la Renaissance Italienne, 4, Presses Sorbonne Nouvelle, 1999, p.223-37.
8. Giacomo Grana, Descrizione del banchetto nuziale per Alfonso II duca di Ferrara e Barbara principessa
d’Austria..., Domenico Taddei, Ferrara, 1869.
9. Benporat, p.124-31.
10. F. Sabban e S. Serventi, A tavola nel Rinascimento, Laterza, 1991, p.7; June de Schino, “The Triumph
of Sugar Sculpture in Italy, 1500-1700”, in Harlan Walker (org.), Look and Feel, Studies in Texture,
Appearance and Incidental Characteristics of Food, Proceedings of the Oxford Symposium on Food and
Cookery, Prospect Books, 1994, p.205.
11. Para o que se segue, ver Luigi Firpo (org.), Gastronomia del Renascimento, Turim, Unione Tipografico,
1974; Jeanneret, p.78-88; Benporat, p.53-148; The Splendours of the Table. The Art and Pleasure of the
Renaissance Banquet, Seville Universal Exhib., Ragione Lazio, 1992, p.15-24 e 31-8; T. Sarah Peterson,
Acquired Taste: The French Origins of Modern Cooking, Cornell University Press, 1994, caps. 3-8; Bruno
Laurioux, “Les livres de cuisine italiens à la fin du XVe et au début du XVI e siècle: expressions d’un
syncrétisme culinaire méditerranéen”, in La Mediterrania area de convergencia de systemes alimentari (sigees
V-XVIII), XIV, Journades d’Estudis Historics Locals, Palma, l996, p.73-8; Sabban e Serventi.
275
banquete
12. Ver Benporat, p.56-60; do mesmo autor, Cucina italiana del Quattrocento, Leo. S. Olschi, 1996;
Maestro Martino, in Luigi Ballerini e Jeremy Parzen (orgs.), Libro de arte coquinaria, Milão, Guido
Tommasi, 2001.
13. Ibid, p.60-4; Gillian Riley, “Platina, Martino and their Circle”, in Cooks and Other People, Pro-
ceedings of the Oxford Symposium on Food and Cookery, 1995, Prospect Books, 1996, p.214-19;
Platina, On Right Pleasure and Good Health, Mary Ella Milham (org.), Medieval and Renaissance Texts and
Studies, 168, Arizona, Tempe, 1998.
14. Ver nota 8.
15. Ver Sabban e Serventi, p.8.
16. Ver K.T. Butler, “An Italian’s Message to England in 1614: Eat More Fruit and Vegetables”,
Italian Studies, II, 1938, p.1-18; Firpo (org.), p.32-3 e 131-76; Giacomo Castelvetro, The Fruit, Herbs and
Vegetables of Italy, Viking, B.M. Natural History, 1989.
17. Ver Sabban e Serventi, p.42-4.
18. Para estas idiossincrasias, ibid, p.22-8; Benporat, p.89ss.
19. Ver Firpo, p.21-6 e 39-92; Bartolomeo Scappi, in Giancarlo Roversi, Arnoldo Forni Editori
(orgs.), Opera [dell’arte del cucinare]; Testi Antichi di Gastronomia, 12, 1981; Benporat, p.93-106; Sabban
e Serventi, p.28-32.
20. Benporat, p.120-3.
21. Sobre isso, ver Arte della cucina, Emilio Faccioli, Il Polifilo, Milão, 1975, p.345ss; Benporat, p.120-3.
Sobre toda a evolução do trinchante, ver Cristiano Grotanelli, “Cibo, instinti, divieti”, in Sergio Bertelli e
Giuliano Crifo (orgs.), Rituale, ceremoniale, etichetta, Bompiani, 1985, p.37-40; Giuseppe Montovano, “Il
banchetto rinascimentale: arte, magnificenza, potere”, in A tavola con il principe, p.48-50; Benporat, p.133ss.
22. Benporat, p.120-3.
23. Firpo, p.26-9 e 98-129; Benporat, p.133-6.
24. Barbara Ketcham Wheaton, Savoring the Past. The French Kitchen and Table from 1300 to 1789,
Simon & Schuster, 1996, p.27-34; Alain Girard, “Du manuscript à l’imprime: le livre de cuisine en
Europe aux XVe et XVI e siècles”, in Jean-Claude Margolin e Robert Sauzet (orgs.), Pratiques et discours
alimentaires à la Renaissance, Actes du Colloque de Tours, março de 1979, Centre d’Études Supérieures
de la Renaissance, p.197-27.
25. Philip Hyman e Mary Hyman, “Printing the Kitchen: French Cookbooks, 1480-1800”, in Jean-
Louis Flandrin e Massimo Montanari (orgs.), Food: A Culinary History, Columbia UP, 1999, p.394-6;
Jacqueline Boucher, “L’Alimentation en milieu de cour sous les derniers Valois”, in Margolin e Sauzet
(orgs.), p.161-76.
26. Launcelot de Casteau, Overture de cuisine, De Schutter, Antuérpia/ Bruxelas, 1983, reimpressão.
27. The Letters of Pliny the Consul, Londres, 1810, p.85-95.
28. Ibid, p.210-24.
29. Vitrúvio, The Ten Books on Archicteture, Nova York, Dover Pub., s.d., p.179, 181 e 209.
30. Peter Thornton, The Italian Renaissance Interior, 1400-1600, Weindenfeld & Nicolson, 1991,
p.285ss.
31. Leon Battista Alberti, On the Art of Building in Ten Books, Cambridge, Mass., MIT Press, 1988, p.147.
32. Platina, On Right Pleasure and Good Health, p.115.
33. Margherita Azzi Visentini, La villa in Italia. Quattrocento e Cinquecento, Electa, 1995, p.71-2.
34. Sebastiano Serlio, The Five Books of Archicteture, Nova York, Dover Pub., 1982, p.70-1.
35. Existe uma vasta literatura sobre as vilas italianas. Para os presentes propósitos usei Visentini,
p.74ss; e David Coffin, The Villa in the Life of Renaissance Rome, Princeton UP, 1974, p.73ss.
36. Vitrúvio, p.211; Alberti, p.299.
37. Coffin, p.83.
38. Ibid, p.87ss; Visentini, p.87-92.
39. Coffin, p.150-74 e 244-56; Visentini, p.95ss, 116ss e 159ss.
40. Coffin, p.281ss; Visentini, p.185ss.
41. Coffin, p.340ss; Visentini, p.195ss; Claudia Lazzaro, The Italian Renaissance Garden, Yale UP,
1990, p.243ss.
42. Coffin, p.311ss; Visentini, p.173ss; Lazzaro, p.215ss.
43. Coffin, p.267ss; Lazzaro, p.106-8.
44. Ibid, p.142 e fig.137.
276
notas
277
banquete
75. L. Zorzi, M. Fabbri, E. Garbero Zorzi e A. M. Tofani (orgs.), Il luogo teatrale a Firenze, catálogo
de exposição, Florença/Milão, Tofani/Electa, 1975, p.102-3.
76. Autobiography of Benvenuto Cellini, Everyman, 1907, p.29-30.
77. I.D. McFarlane, The Entry of Henry II into Paris 16 June 1549, Medieval and Renaissance Texts
and Studies, 7. Binghamton, 1982, no texto de L’Entrée de la royne à Paris, p.35; Victor E. Graham e W.
McAllister Johnson, The Paris Entries of Charles IX and Elizabeth of Austria 1571, University of Toronto,
1971, p.83-5.
78. Splendours of Gonzaga, p.175-8.
79. Sobre maiólica, ver Timothy Wilson, Ceramic Art of the Italian Renaissance, B.M. Pubs, 1987; Le
dressoir du prince, p.23-4.
80. Ver Elena Corradini, “I servizi nell’‘apparecchio della tavola’ del principe”, in A tavola con il
principe, p.345-54.
81. Howard Burns, Andre a Palladio 1508-1580, catálogo de exposição, Arts Council, 1975, p.49.
82. Sobre o garfo, ver Pasquale Marchese, L’invenzione della forchetta, Rubbertino Editore, 1989, p.72ss.
83. Thomas Coryat, Coryat’s Crudities …, Glasgow, Maclehose & Sons, 1905, I, p.236-7.
84. Malacarne, p.59-66.
85. Wheaton, p.52-6, citando Description de l’isle des Hermaphrodytes, de Thomas Artus.
86. The Complete Works of Montaigne, p.940.
87. Thornton, p.205-6.
88. Sobre o ritual da toalha de mesa, ver Elvira Gerbero Zorzi, “Ceremoniale e spettacolitá. Il
tovagliolo sulla tavola del principe”, in Bertelli e Crifò (orgs.), p.6-83.
89. Burns, Andrea Palladio, p.51.
90. O texto aparece em Benporat, p.140.
91. Para o tema, ver Giuseppe Bertini, Le nozze di Alessandro Farnese. Feste alle corti Lisboa e Bruxelles,
Skira, 1997. Para o relato de Marchi, ver p.106-8.
92. Bertelli, Cardini e Zorzi, Italian Renaissance Courts, p.196.
93. Ibid, p.197-8.
94. Albert J. Loomie (org.), Ceremonies of Charles I. The Note Books of John Finet 1628-41, Fordham
UP, 1987, p.75
95. Benporat, p.73.
96. Ibid, p.102-3; Sabban e Serventi, p.46.
97. Para isto, ver The Splendours of the Table, p.7-14, em que é apresentada uma tradução do texto
de Fusoritto.
98. Jeanneret, p.20.
99. Edmund A. Bowles, Musical Ensembles in Festival Books 1500-1800. An Iconographical & Do
cumentary Survey, UMI Research Press, Ann Arbor, 1989, p.59-61.
100. Hypnerotomachia Poliphili, Thames & Hudson, 1999, p.106-19.
101. Fabrizio Cruciani, Teatro nel Rinascimento. Roma 1450-1550, Bulzoni Editore, 1983, p.151-64;
Benporat, p.74-8.
102. Bertelli, Cardini e Zorzi, p.166.
103. A descrição aparece em L’ordine de la imbandisone se hanno a dare a cena, Milão, Il Collizionista, 1983.
104. Benporat, p.64-8.
105. Angelo Solerti, Musica, ballo e drammatica alla corte medicea dal 1600 al 1637, Florença, 1905,
p.235-8; A.M. Nagler, Theater Festivals of the Medici, Yale UP, 1964, p.94; Feste e apparati medicei da
Cosimo I a Cosimo II, catálogo de exposição, Giovanna Gaeta Bertela e Annamaria Petrioli Tofani, Leo
S. Olschki. Florença, 1969, p.96ss: Il luogo teatrale a Firenze, p.102-3; Sara Marmone, “Feste e spettacoli
a Firenze e in Francia per le nozze di Maria de Medici e Enrico IV”, in Il teatro dei Medici, Quaderni di
Teatro II, no 7, 1980, p.206-28.
106. Mercedes Viale Ferrero, Feste delle Madame Reali di Savoia, Istituto Bancario San Paolo di Torino,
1965, pranchas VI e VII.
107. Victor E. Graham e W. McAllister Johnson, The Royal Tour of France by Charles IX and Catherine
de Medici. Festivals and Entries 1564-66, University of Toronto Press, 1979, p.44, 317-18 e 378-9.
108. Jeanne Allard, “Les grands banquets à la cour de Charles Quint”, in La sociabilité à la table, p.145-53.
109. As citações que se seguem são de Giorgio Vasari, in William Gaunt (org.), The Lives of the
Painters, Sculptors and Architects, Everyman, 1963, II, p.32-7.
278
notas
110. Para o açúcar, ver Alan Davidson, The Oxford Companion to Food, OUP, 1999, verbete sugar; J.
Materne, “Anvers comme centre de distribution et d’affinage d’épices et du sucre depuis la fin du XVème
jusqu’au XVII ème siècle”, in L’Europe à table, catálogo de exposição, Antuérpia, 1993, p.49-60.
111. A melhor história é a de Katharine J. Watson, “Sugar Sculpture for Grand Ducal Weddings from
the Giambologna Workshop”, Connoisseur, CIC, 1978, p.20-6. Ver também Tuohy, p.274.
112. Bowles, p.23-5.
113. A. van de Put, “Two Drawings of the Fêtes at Binche for Charles V and Philip (II)”, Journal of
the Warburg and Courtland Institutes, III, 1939-40, p.49-55; Calvete de Estrella, Le très-Heureux Voyage
fait par très-haut et très-puissant prince Don Philippe, Bruxelas, Olivier, 1883, IV, p.151-3.
114. Bertini, Le nozze di Alessandro Farnese, p.110-12.
115. Graham e McAllister Johnson, p.83-5 e 391-5; Frances A. Yates, Astraea. The Imperial Theme
in the Sixteenth Century, Routledge & Kegan Paul, 1975, p.140-4; Wheaton, p.51-2.
116. C. Anne Wilson, “The Evolution of the Banquet Course: Some Medicinal, Culinary and Social
Aspects”, in C. Anne Wilson (org.), Banquetting Stuffe. The Fare and Social Background of the Tudor and
Stuart Banquet, Edinburgh UP, 1986, p.9-35.
117. Ver Girouard, Life in the English Country House, p.104-16.
118. Ver Jennifer Stead, “Bowers of Bliss: The Banquet Setting”, in Wilson (org.), p.115-57; Peter Brears,
“Rare Conceites and Strange Delights: The Practical Aspects of Culinary Sculpture”, ibid, p.60-114;
Lynette Hunter, “‘Sweet Secrets’ from Occasional Receipts to Specialised Books: the Growth of a Genre”,
ibid, p.36-59. Há também um relato confuso, no qual festa e banquete nem sempre são diferenciados,
em Alison Sim, Food and Feast in Tudor England, St Martin’s Press, Nova York, 1997, p.134-57.
119. Jean Wilson, Entertainments for Elizabeth I, D.S. Brewer, 1980, p.114-15, 165.
120. E.K. Chambers, The Elizabethan Stage, Clarendon Press, 1923, I, p.206-7, III, p.235.
121. Ben Jonson, C.H. Herford, Percy e Evelyn Simpson (org.), Clarendon Press, 1941, VII, p.805-14.
122. Werner Paravicini, “The Court of the Dukes of Burgundy: A Model for Europe”, in Ronald
Asch e Adolf Birke (orgs.), Princes, Patronage and Nobility. The Court at the Beginning of the Modern Age
c.1450-1650, OUP, 1991, p.69-102.
123. Bertelli, Cardini e Zorzi, p.21-2 e 28-30; Sergio Bertelli, Il corpo del re. Sacralità nell’Europa
medievale e moderna, Ponte alle Grazie, 1995, p.167-88; Sergio Bertelli, “Rex et Sacerdos: The Holiness
of the King in European Civilisation”, in Alan Ellenius (org.), Iconography, Propaganda and Legitimation,
European Science Foundation, Clarendon Press, 1998, p.141.
124. Bertelli, “Rex et Sacerdos”, p.141; The Princely Courts of Europe. Ritual, Politics and Culture under
the Ancien Regime 1500-1750, John Adamson (org.), Weidenfeld & Nicolson, 1999, p.46-7.
125. Simon Thurley, The Royal Palaces of Tudor England. Architecture and Court Life 1460-1547, Yale,
UP, 1993, p.122-5; Peter Brears, All the Kings Cooks. The Tudor Kitchens of King Henry VIII at Hampton
Court Palace, Souvenir Press, 1999, p.163ss; Adamson (org.), p.104-5.
126. Paul Hentzner, Travels in England during the Reign of Queen Elizabeth, Cassell & Son, 1899,
p.49-51; ver também os relatos em Clare Williams (org.), Thomas Platter’s Travels in England, Cidade
do Cabo, 1937, p.193-4; G.W. Roos, The Diary of Baron Waldstein. A Traveller in Elizabethan England,
Thames & Hudson, 1981, p.80-1.
127. Eat, Drink and Be Merry. The British at Table 1600-2000, Philip Wilson, 2000, p.52-3, fig.34.
128. Ralph E. Giesey, The Royal Funeral Ceremony in Renaissance France, Travaux d’Humanisme et
Renaissance, XXXVII, Genebra, Libraire E. Droz, 1960, p.145-6 e 164-74; do mesmo autor, Le Roi ne
meurt jamais, Flammarion, 1987, p.240-3 e 254-6.
1. Sobre o aparecimento do souper intime, ver Béatrix Saule, “Tables à Versalhes 1682-1789”, in
Versalhes et les tables royales en Europe XVII ème-XIXème siècle, Musée National des Châteaux de Versailles et
de Trianon, catálogo de exposição, 1993-4, p.58-60.
2. Ver De Grouchy e Paul Cottin (orgs.), Journal inédit du duc de Croÿ (1718-1784), Flammarion,
1906, I, p.71-2. Ver também Jacques Levron, Daily Life at Versailles in the Seventeenth and Eighteenth
Centuries, Allen & Unwin, Londres 1968, p.157-61; Nancy Mitford, Madame de Pompadour, Londres,
Hamish Hamilton, 1968, p.109.
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banquete
280
notas
“Vincent La Chapelle”, ibid, 8, 1981, p.35-40; Stephen Mennell, All Manners of Food. Eating and Taste in
England and France from the Middle Ages to the Present, Basil Blackwell, 1986, p.64-82; T. Sarah Peterson,
Acquired Taste. The French Origins of Modern Cookery, Cornell UP, 1994, p.163ss, 183ss; La Varenne, in
Jean-Louis Flandrin e Philip e Mary Hyman (orgs.), Le Cuisinier français, Montalba, Paris, 1995, p.12-99;
Wheaton, caps. 6 e 8; Jean-Louis Flandrin, “Dietary Choices and Culinary Technique 1500-1800”, in
Flandrin e Montanari (orgs.), p.403-417; do mesmo autor, “The Early Modern Period”, ibid, p.349-73;
Philip e Mary Hyman, “Printing the Kitchen. French Cookbooks 1480-1800”, ibid, p.394-402.
15. Sobre isso e sobre o desenvolvimento de gelados e confeitaria, ver Wheaton, p.180-5, 192-33.
16. Sobre a disseminação e a resistência ao estilo francês, ibid, p.160-6; Mennell, p.83-133; Ben-
porat, p.184-9 e 248-54; Stephen Mennell, “Food at the Late Stuart and Early Hanoverian Courts”,
Petits propos culinaires, 17, 1984, p.22-9; Sara Paston-Williams, The Art of Dining. A History of Cooking
and Eating, National Trust, 1993, p.163ss, 231-2.
17. Para o service à la française, ver Wheaton, p.138-48; Noël-Waldteuffel, in Versailles et les tables
royales, 74-6; Claudine Marenco, Manières de table. Modèles de moeurs 17ème-20ème siècle, Éditions de
L’E.N.S., Cachan, 1992, p.41-56; Peter Brears, "À la française ...", in C. Anne Wilson, Alan Sutton (orgs.),
Luncheon, Nuncheon, and Other Meals, Stroud, 1994, p.91-116; Alan Davidson, Oxford Companion to
Food, OUP, 1999, “service à la française”.
18. Wheaton, p.140.
19. Alain Gruber, “Le cérémonial de table dans les cours européennes”, in Versailles et les tables
royales, p.150 e 300 (no 141).
20. Ibid, p.300-1 (no 40).
21. Mark Girouard, Life in French Country House, Cassel, 2000, p.248.
22. Do mesmo autor, Life in the English Country House, Yale UP, 1978, p.136-48.
23. A história da prata é um tema em si. O que se segue são apenas alguns elementos que encon-
trei nas sínteses que fiz: Carl Hernmarck , The Art of the European Silversmith 1430-1830, Nova York e
Londres, Sotheby Parke Bernet, 1977, I, p.176ss; James Lomax, “Silver for the English Dining Room
1700-1800”, in A King’s Feast. The Goldsmith’s Art and Royal Banqueting in the 18th Century, catálogo de
exposição, Kensington Palace, 1991, p.118-33; Gerard Mabille, “Germain, Duran, Auguste: The Art
of the French Gold- and Silversmith in the Age of the Enlightenment”, ibid, p.78-9; do mesmo autor,
“Orfèvrerie de table royale sous Louis XIV et Louis XV”, in Versailles et les tables royales, p.94-105; Yves
Cartier, “L’Orfèvrerie de table de Louis XVI”, ibid, p.106-9; Léonor d’Orey, “L’Histoire des services
d’orfèvrerie française à la cour du Portugal”, ibid, p.165-70.
24. Para o surtout, ver Hernmarck, I, p.182-5; Brown e Day, p.15-25.
25. A história da cerâmica, como a da prata, é vasta e está fora do âmbito deste livro. No contexto
dos grandes aparelhos de jantar de porcelana cuja moda foi lançada pelos reis franceses ver David
Peters, “Les services de porcelaine de Louis XV et Louis XVI”, in Versailles et les tables royales, p.110-23;
Dorothée Guillème Brulon, “Les services de porcelaine de Sèvres, présents des rois Louis XV et Louis
XVI aux souverains étrangers”, ibid, p.184-7.
26. Peter Wilhelm Meister e Horst Reber, European Porcelain of the 18th Century, Oxford, Phaidon,
1993, p.101-11.
27. Para a evolução da decoração da mesa, ver Georgiana Reynolds Smith, Table Decoration Yesterday,
Today & Tomorrow, Charles E. Tuttle Co., 1968; Stefan Burrsche, Tafelzier des Barock, Munique, Editions
Schneider, 1974; Alain Charles Gruber, “Le décor de table éphémère aux XVII e et XVIII e siècles”, Gazette
des Beaux-Arts 73, 1974, p.285-300; Brown e Day, p.26-35; Joop Witteveen, “Of Sugar and Porcelain.
Table Decoration in the Netherlands in the 18th Century”, in Feasting and Fasting, Proceedings of the
Oxford Symposium on Food and Cookery, 1990, Prospect Books, 1990, p.212-21.
28. Ibid, p.30-1; Oleg Villumsen Krog, “Usages et objets de table à la cour du Danemarck”, Versailles
et les tables royales, p.173; Meister e Reber, p.111-13.
29. James Woodforde, The Diary of a Country Parson 1758-1802, OUP, 1972, p.212.
30. Para o desenvolvimento da sala de jantar na França ver Peter Thornton, Seventeenth-Century
Interior Decoration in England, France and Holland, Yale UP, 1978, p.282-93; do mesmo autor, Authentic
Decor. The Domestic Interior 1620-1920, Weidenfeld & Nicolson, 1984, p.18-25, 50-60 e 93-4; Jean-
Pierre Babelon, Demeures parisiennes sous Henri IV et Louis XIII, Hazan, 1991, p.199-200; Girouard, Life
in the French Country House, p.92-101, 120-44 e 191ss.
31. Thorton, Seventeenth-Century Interior Decoration, pp.238-43.
281
banquete
32. Girouard, Life in the English Country House, p.136ss; do mesmo autor, Life in the French Country
House, p.250.
33. Para a sala de jantar na Inglaterra, ver Charles Saumarez Smith, Eighteenth-Century Interior
Decoration. Design and Domestic Interior in England, Harry N. Abrams Inc., 1993, p.39ss, 76 e 215ss.
34. Willian Sanderson, Graphice, Londres, 1658, p.26-7. Devo esta referência a Ann Buddle.
35. Girouard, Life in the English Country House, p.204-5.
36. Thorton, Authentic Decor, p.39 e nota 29.
37. Robert Adam, Works, I, V, citação de John Fowler e John Cornforth, English Decoration in the 18th
Century, Barrie & Jenkins, 1974, p.67.
38. Fowler e Cornforth, p.68-8.
39. Saumarez Smith, p.234.
40. Para mesas, ver Thornton, Seventeenth-Century Interior Decoration, p.226-3; Fowler e Cornforth, p.68.
41. Thornton, Seventeenth-Century Interior Decoration, p.183 e 187.
42. Para o que se segue sobre boas maneiras, ver Algred Franklin, La vie privée d’autrefois, Paris, 1889,
p.214-83 (para os textos); Esther B. Aresty, The Best Behavior, Nova York, Simon & Schuster, 1970, p.101ss;
Norbert Elias, The Civilising Process. The History of Manners, Basil Blackwell, Oxford, 1978, p.92-7 para os
textos (ed. bras.: O processo civilizador, v.1, História dos costumes, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1995); Jean-
Louis Flandrin, “Distinction through Taste”, in Philippe Ariès e Georges Duby (orgs.), A History of Private
Life, III, Roger Chartier (org.), Passions of the Renaissance, Harvard UP, 1989, p.265-307 (ed. bras.: História da
vida privada 3, Da Renascença ao século das Luzes, São Paulo, Companhia das Letras, 1991); Zeer Gouranier,
“Modèles de cour et usages de table: les origines”, in Versailles et les tables royales, p.28-9; Marenco, p.31-9.
43. C. Terryn, “Simplicité et délicatesse: norme et réalité des bonnes manières à la table gantoise
du XVIII ème siècle", in L’Europe à la table, p.74-82.
44. “‘The John Trot Fault’: An English Dinner Table in the 1750s”, Petits propos culinaires, 15, 1983,
p.55-9; The Art of Carving Excepted from a Work Entitled The Honours of the Table (1788), Cambridge
University Press, 1932, p.1-8.
45. Fowler e Cornforth, p.67.
46. Beatrix Saule, “Tables royales à Versailles 1682-1789”, in Versailles et les tables royales, p.60-1.
47. Ver John Adamson, “The Making of the Ancien-Regime Court 1500-1700”, in John Adamson
(org.), The Princely Courts of Europe. Ritual, Politics and Culture Under the Ancien Regime 1500-1750,
Weidenfeld & Nicolson, 1999, p.7-41.
48. Para a corte francesa, ver Jacques Levron, Daily Life at Versailles in the Seventeenth and Eighteenth
Centuries, Allen & Unwin, 1968; Olivier Chaline, “The Valois and Bourbon Courts“, in Adamson
(org.), p.67-93.
49. Saule, "Tables Royales à Versailles”, p.41-6.
50. Levron, p.46-8.
51. Para le grand couvert, ver Wheaton, p.135-7; Saule, “Tables royales à Versailles”, p.47-52; Versailles
et les tables royales, p.255ss (nos 13-15); Samuel John Klingensmith, The Utility of Splendor. Ceremony, Social
Life, and Architecture at the Court of Bavaria 1600-1800, University of Chicago Press, 1993, p.122-5.
52. Ver Hernmarck, The Art of the European Silversmith, I, p.172-3; Versailles et les tables royales, p.97.
53. Citação de Levron, p.39.
54. Para a seqüência das salas, ver Hugh Murray Baillie, “Etiquette and the Planning of the State
Apartments of Baroque Palaces”, Archaeologia, CI, 1967, p.169-99; Klingensmith, p.11-12, 115ss e 125-44.
55. Les tables royals en Europe, p.255 (no 14).
56. Para as cadenas, ver Hernmarck, The Art of the European Silversmith, p.173-4; Versailles et les tables
royales, p.257 (nos 18-20), 262 (no 30), 269-70 (nos 44-5), 289 (no 94).
57. Jérôme La Gorge, “Musiques de table à Versailles”, in Versailles et les tables royales, p.91-3, 255 (no 13).
58. Saint-Simon, in Lucy Norton (org.), Memoirs, II, 1710-1715, Prion Books, 2000, p.40.
59. Para a corte imperial, ver Jeroen Duindam, “The Court of the Austrian Habsburgs c.1500-1750”,
in Adamson (org.), p.165-87.
60. Para a Espanha, ver Maria del Carmen Sinon, “La théâtricalité des repas dans l’Espagne des XVI e
et XVII e siècles”, in Aurell, Dumoulin e Thélamon (orgs.), p.159-68; Glyn Redworth e Fernando Chesa,
“The Courts of the Spanish Habsburgs 1500-1700”, in Adamson (org.), p.43-65.
61. Klingensmith, p.159-69.
62. Para a Inglaterra, ver John M. Beattie, The English Court in the Reign of George I, CUP, 1967, p.26ss;
Philippa Glanville, “Dining at Court, from George I to George IV”, in A King’s Feast: The Goldsmith’s Art
282
notas
and Royal Banqueting in the Eighteenth Century, catálogo de exposição, Kensington Palace, 1991, p.106-17;
da mesma autora, “Protocole et usages de table à la cour d’Angleterre”, in Versailles et les tables royales,
p.159-69; John Adamson, “The Tudor and Stuart Courts 1509-1714”, in Adamson (org.), p.95-117.
63. Para a Dinamarca, ver Ole Villumzsen Krog, “The Royal Table in the 18th Century”, in A King’s
Feast, p.134-44; do mesmo autor, “Usages et objets de table à la cour du Danemarck”, in Versailles et
les tables royales, p.171-9.
64. Para a Suécia, ver Gruber, in Versailles et les tables royales, p.150; Bo Vahlne, “La table du Palais
Royale de Stockholm”, ibid, p.180-7 e 301 (no 142).
65. Para o festival de 1664, ver Wheaton, p.129-32; Sabine du Crest, Les fêtes à Versailles. Les diver-
tissements de Louis XIV, Aux Amateurs de Livres, 1990, p.4-21; Versailles et les tables royales, p.250 (I).
66. Sobre 1668, ver Bursches, p.66-9 (para o texto); du Crest, p.22-37; Versailles et les tables royales,
p.250-1 (nos 2-4).
67. Sobre 1674, ver Bursches, p.69-71 (para o texto); Versailles et les tables royales, p.251 (no 5).
68. Versailles et les tables royales, p.352 (no 8).
69. Saule, “Manger à la cour”, p.60-1.
70. Thorton, Authentic Decor, p.171 (215); Maria Attilia Fabbri All’Oglio e Alessandro Fortis, Il gas-
tronomio errante Giacomo Casanova, Ricciardi & Associati, 1998.
71. Klingensmith, p.165-6.
72. Saule, “Tables royales à Versailles”, p.60-1.
73. Ibid, p.35-40.
1. Christopher Hussey, “Oakly Park, Shropshire”, Country Life, 1o mar 1956, p.380-3 e 426-9; John
Cornforth, English Interiors 1790-1848, Barrie & Jenkins, 1978, p.20.
2. Ana Maria Fay, Victorian Days in England. Letters of an American Girl 1851-1852, Cambridge,
Houghton Mifflin, Riverside Press, 1923, p.79-84.
3. Ver Emmett Kenedy, A Cultural History of the French Revolution, Yale UP, 1989, p.336; Marcel
David, Fraternité et la Révolution Française 1789-1799, Aubier, 1987, p.157-9.
4. Rebecca Spang, The Invention of the Restaurant. Paris and Modern Gastronomic Culture, Harvard
UP, 2000, p.94-105.
5. Para Napoleão, ver Philip Mansel, The Eagle in Splendour, Napoleon I and his Court, George Philip,
1987, p.50 e 59; do mesmo autor, The Court of France 1789-1830, CUP, 1988, p.67-8; Jean-Pierre
Samoyault, "La table impériale", in Versailles et les tables royales en Europe aux XVII e-XIXe siècles, Musée
National des Châteaux de Versailles et de Trianon, catálogo de exposição, 1993, p.199-206; do mesmo
autor, "L’Orfèvrerie de table de la couronne sous le Premier Empire", ibid, p.207-15.
6. Mansel, The Court of France, p.150ss.
7. Daniel Meyer, “La table royale sous le règne de Louis-Philippe”, in Versailles et les tables royales, p.225-9.
8. Elizabeth Suddaby e P.J. Yarrow (orgs.), Lady Morgan in France, Oriel Press, 1971, p.228-39.
9. Ibid, p.237.
10. Para Carême, ver L’Art culinaire au XIXe siècle. Antonin Carême, Delégation à l’Action Artistique
de la Ville de Paris, 1784-1984, Mairie du III e Arrondissement, Orangerie de Bagatelle, 1984; Stephen
Mennell, All Manners of Food. Eating and Taste in England and France from the Middle Ages to the Present,
Basil Blackwell, 1986, p.144-9; Barbara Ketcham Wheaton, “Antonin Carême: The Food, the Bad, the
Useful”, in Harlan Walker (org.), Cooks and Other People, Proceedings of the Oxford Symposium on
Food and Cookery, 1995, Prospect Books, 1966, p.290-5.
11. Sobre o efeito desse retorno à comida vitoriana, ver Valerie Mars, “Kitsch Culinary Icons: The
Cultural Roots of Changes in Nineteenth-Century Dinner Cuisine”, in Harlan Walker (org.), Look
and Feel. Studies in Texture, Appearance and Incidental Characteristics of Food, Proceedings of the Oxford
Symposium on Food and Cookery, 1993, Prospect Books, 1994, p.108-18.
12. Esther B. Aresty, The Delectable Past, Allen & Unwin, 1965, p.126-59; L’Art culinaire au XIXe siècle,
p.71ss; Mennell, p.149-77.
13. Claudio Benporat, Storia della gastronomia italiana, Mursia, 1990, p.319ss.
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14. Aresty, p.160-80; Mennell, p.150-6 e 213ss; Sarah Freeman, Mutton and Oysters. The Victorians
and Their Food, Victor Gollancz, 1989, p.110-77; Dena Attar, “Keeping up Appearances: The Genteel
Art of Dining in Middle-Class Victorian Britain”, in C. Anne Wilson (org.), “The Apetoite and the Eye.”
Visual Aspects of Food and Its Presentation within Their Historic Context, Edimburgo UP, 1991, p.12-40; Peter
Brears, Maggie Black, Gill Corbishley, Jane Renfrew e Jennifer Stead, A Taste of History. 10.000 Years
of Food in Britain, English Heritage, 1993, p.263ss. Sobre Francatelli, ver Ann M. Currah (org.), Chef
to Queen Victoria. The Recipes of Charles Esmé Francatelli, William Kimber, 1973. Sobre Isabella Beeton,
ver Sarah Freeman, Isabella and Sam. The Story of Mrs. Beeton, Victor Gollancz, 1977, p.186-217; sobre
Alexis Soyer, F. Volant e J.R. Warren (orgs.), Memoirs of Alexis Soyer, Cooks Books, Rottingdean, 1985;
Helen Morris, Portrait of a Chef. The Life of Alexis Soyer, CUP, 1938; Elizabeth Ray, Alexis Soyer. Cook
Extraordinary, Southover Press, 1991.
15. Sobre o aparecimento do restaurante e suas conseqüências, ver Pierre Andrieu, Fine Bouche. A
History of the Restaurant in France, Cassel, 1956; L’Art culinaire au XIXe siècle, p.38-9, 47-54; Mennell, p.135-
44; Jean-Robert Pitte, “The Rise of the Restaurant”, in Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari, Food. A
Culinary History from Antiquity to the Present Day, Colúmbia UP, 1999, p.471-80; e especialmente Spang.
16. Mennell, p.266-90; Giles MacDonogh, Brillat-Savarin. The Judge and His Stomach, John Murray, 1992.
17. Anne Martin-Fugier, “Bourgeois Rituals”, in Philippe Ariès e Georges Duby (orgs.), A History
of Private Life, IV; Michelle Pivrot (org.), From the Fires of Revolution to the Great War, Harvard UP, 1990,
p.261-337 (ed. bras.: A história da vida privada 4, Da Revolução Francesa à Primeira Guerra, São Paulo,
Companhia das Letras, 1995).
18. J.C. Loudon, The Suburban Garden and Villa Companion, Londres, 1838, pp.86-95.
19. Robert Kerr, The Gentleman’s House, Londres, 1864, p.101-18 e 201-2.
20. Mrs. Loftie, The Dining-Room, Londres, Macmillan, 1878.
21. Peter Thornton, Authentic Decor. The Domestic Interior 1620-1920, Londres, Weidenfeld & Ni-
colson, 1985, p.145, 151, 157 e 210ss.
22. Hans-Jurgen Teuteberg, “The German Bourgeois Family at the Dining Table: Structural Changes
of Meal Manners 1880-1930”, in Food and Material Culture, 4th Symposium on Food History, Prospect
Books, 1991, p.133-70.
23. Sobre o horário das refeições, ver Jean-Paul Aron, Le mangeur du XIXe siècle, Éditions Robert
Laffont, Paris, 1973, p.207-16; Arnold Palmer, Moveable Feasts. Changes in English Eating Habits, OUP,
1984; Freeman, p.178ss; John Bennett, “Time, Place and Content: The Changing Structure of Meals
in Britain in the Nineteenth and Twentieth Centuries”, in Food and Material Culture, p.116-31.
24. Brillat-Savarin, La Physiologie du goût, Paris, Pierre Waleffe, 1967, p.149-50.
25. Ver John Burnett, Plenty and Want. A Social History of Diet in England from 1815 to the Present
Day, Thomas Nelson & Sons, 1966, p.186-7; Claudine Marenco, Manières de table, modèles de moeurs
XVII ème-XXème siècles, Édition de l’E.N.S..-Cachan 1992, p.106-38.
26. W.M. Thackeray, The Book of Snobs (1847), in Works, Londres, Smith, Elder & Co., 1889, XIX, p.79.
27. Mrs. Beeton’s Book of Household Management, Londres, 1861, Chancellor Press Reprint, 1986, p.904.
28. Manners and Tone of Good Society and Solecisms to be Avoided, by a Member of the Aristocracy, 12a
ed., Frederick Warne & Co., 1885, p.77-103.
29. Mrs. Humphry (“Madge” of Truth), Manners for Womem, s.d., Pryor Publications, 1993, p.71.
30. Citado por Valerie Mars, “À la Russe: The New Way of Dining”, in Luncheon, Nuncheon and
Other Meals, 7th Symposium on Food History, Prospect Books, 1994, p.117-44.
31. Hans Ottomeyer, “Service à la française and Service à la russe: or the Evolution of the table in the
Eighteenth and Nineteenth Centuries”, in Food and Material Culture, 4th Symposium on Food History,
1991, p.107-83; Peter Brears, “À la française: The Waning of a Long Dining Tradition”, in Luncheon,
Nuncheon and Other Meals, p.91-116.
32. Caroline Davidson, The World of Mary Ellen Best, Londres, Chatto & Windus, 1985, p.107 (no 103).
33. Para toda a questão da mudança para o serviço à la russe, ver L’Art culinaire au XIXe siècle, p.59-60;
Mars, in Luncheon, Nuncheon and Other Meals; Burnett, p.176ss; D.J. Oddy, “Food, Drink and Nutrition”,
in F.M.L. Thompson (org.), The Cambridge History of Britain 1750-1950, 2, People and their Environnment,
CUP, 1990, p.258-9; Freeman, p.184ss.
34. Mrs Beeton’s Book of Household Management, p.954.
35. The Habits of Good Society (década de 1850), p.220.
36. Esther B. Aresty, The Best Behavior, Nova York, Simon & Schuster, 1970, p.129ss; Mennell, p.206-11;
Leonore Davidoff e Catherine Hall, Family Fortunes: Men and Women of the English Middle Class 1780-1850,
284
notas
Hutchinson, 1987, p.399-400; Teuteberg, in Food and Material Culture; Leonore Davidoff, The Best Circles.
Society, Etiquette and the Season, Londres, Croom Helm, 1973, p.13ss; Andrew St George, The Descent of
Manners. Etiquette, Rules and the Victorians, Chatto & Windus, Londres, 1993, caps. 1 e 2.
37. A seleção aqui utilizada é: The Habits of Good Society: A Handbook of Etiquette for Ladies and
Gentlemen, Londres, James Hogg & Sons, (s.d., década de 1850), p.300ss; Cassell’s Household Guide,
Cassell (década de 1860), III, p.243ss; ed. De 1911, Londres, Waverly Press, p.447-51; Manners and
Tone of Good Society, cap. V; Mrs. Humphry (“Madge”of Truth), Manner for Men, James Bowden, 1897,
Pryor Publications, reedição 1994, p.55-82; da mesma autora, Manners for Women, Pryor Publications,
reedição 1993, p.71ss; Etiquette of Good Society, edited and revised by Lady Colin Campbell, Cornell & Co.
Ltd., 1902, cap. XI (primeira edição 1872). Ver também Freeman, p.184ss; Sara Paston-Williams, The
Art of Dining. A History of Cooking and Eating, National Trust, 1993, p.244ss.
38. Ver Davidoff, p.107 e nota 54; Farid Chenoune, A History of Men’s Fashion, Flammarion, 1993,
p.95 e 109-12.
39. Gwen Raverat, Period Piece. A Cambridge Childhood, Faber & Faber, s.d., p.78.
40. Humphry, Manners for Women, p.80.
41. H.C. Davidson (org.), The Book of the Home, Londres, Gresham Publishing Co., 1904, VI, p.251ss.
42. Loftie, p.84ss.
43. Thomas Shurrmann, “Cutlery at the fine Table: Innovations and Use in the Nineteenth Century”,
in Food and Material Culture, p.171-83.
44. Aresty, The Best Behavior, p.174-8.
45. Fabienne de Sèze e Dany Sautot, “Du verre au cristal: une noblesse acquise”, in Versalhes et
les tables royales, p.230-1.
46. St. George, p.49.
1. Gabriel Tschumi, Royal Chef. Recollections of Life in Royal Households from Queen Victoria to
Queen Mary, William Kimber, 1954, p.97.
2. Ibid, cap.VIII.
3. Para o século XX, ver Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari, Food. A Culinary History from
Antiquity to the Present, Colúmbia UP, 1999, p.435ss; Hans-Jürgen Teyteberg, “The German Bourgeois
Family at the Dining Table: Structural Changes of Meal Manners, 1880-1930”, in Food and Material
Culture, 4th Symposium on Food History, 1991, p.13-70; Claudine Marenco, Manières de table, modèles
de moeurs XVII ème-XXème siècles, Éditions l’E.N.S.-Cachan,1992, p.139ss.
285
Lista das ilustrações
287
banquete
Fontes fotográficas
Bridgeman Art Library, Londres, p.58, 59, 68, 83, 146-7, 148, 152, 180, 200, 206, 222, 225,
226, 236-7, 240, 251. Angelo Hornak Library, p.231. Hulton Archive / Getty Images, p.228,
257. Photothèque des Musées de la Ville de Paris, p.103, 110. Scala, Florença, p.10, 35, 44, 51,
54-5, 56, 57, 60, 61, 112, 154-5. Studio Fotografico Giovetti, Mântua, p.143.
288
Índice remissivo
289
banquete
290
índice remissivo
291
banquete
Dinamarca, jantar público real na, 218-19, 219 etiqueta, desenvolvimento das boas maneiras,
Dio Cássio, 39 212-13;
Dioniso (divindade), 22, 38 dos jantares de gala, 254;
direito divino dos reis, 173-4, 176, 177 e códigos de vestimenta, 247;
Domiciano, imperador romano, 30, 39-40 e monarquias, 173-4;
Dorat, Jean, 170 livros de, 98;
Dubois, Urbain e Emile Bernard, La cuisine classi- livros vitorianos de, 249-50;
que, 240 medieval, 64-5;
Duccio di Buoninsegna, As bodas de Caná, 60; mudanças no século XV, 90-4;
A Última Ceia, 59 na corte borgonhesa, 82, 83, 84-5, 87, 91;
Du Maurier, George, English Society at Home, no Renascimento, 139-40, 155-6;
257 sob Napoleão, 234-5;
Duprat, cardeal Antoine, 142 ver também boas maneiras; maneiras à mesa
Du Prez, Josquin, 115 Etiquette for Ladies (1894), 250
etruscos, 26
eucaristia, 137
Eurípides, Íon, 21
E Evelyn, John, 218;
Eduardo I, rei da Inglaterra, 107 Acetaria, 193
Eduardo II, rei da Inglaterra, 89 exibição e ostentação, de Carême, 238-41, 240;
Eduardo III, rei da Inglaterra, 107 medieval, 79-90;
Eduardo IV, rei da Inglaterra, 80, 91, 94, 99 no Renascimento, 115-20, 136-7, 139-42, 143;
Eduardo VII, rei da Inglaterra, 263 ver também entremets
Egito Antigo, 15
Einhard, 61
Eleanor de Toledo, 137
Elizabeth, princesa, 173 F
Elizabeth I, rainha da Inglaterra, 172, 176 facas (de mesa), 35, 52, 90, 99, 144, 145, 194,
Elizabeth II, rainha da Inglaterra, desjejum de 211, 212, 251, 252, 258
casamento, 264 Farnese, Alexandre, 164, 170
Elizabeth da Áustria, rainha da França, 141, 170 Farnese, cardeal Alessandro III, 126, 131-3
Elyot, sir Thomas, The Bankette of Sapience, 172 Farnesina, Vila, 131-3
Emereciana, santa, 88 Fay, Anna Maria, 229, 231-2, 233
entremets, 69-70, 102-5, 103, 107-8, 109 Fedele, Luigi, 187
Epicuro, 195 Felipe II, rei da Espanha, 141-2, 168, 174-5
Erasmo, De civilitate morum puerilium, 138-9, Felipe III, rei da Espanha, 204
211, 254 Felipe IV, o Belo, rei da França, 87
ervas, aromáticas, 195-6; Felipe V, o Longo, rei da França, 94
na Itália renascentista, 122 Feltre, Vittorino da, 122
na Roma Antiga, 28; Ferdinando I de Aragão, rei de Nápoles, 126
Escócia, 104 Ferrante, rei de Nápoles, 121
Escoffier, Georges Auguste, 240-1, 253; Ferrara, Afonso I d’Este, duque de, 118, 126
Guide culinaire, 241 Ferrara, Afonso II d’Este, duque de, 123, 119
escravos, na Roma Antiga, 31-2, 33-5 Ferrara, ducado de, 40
Espanha, objetos de mesa na, 204 Ferrara, Eleanora de Aragão, duquesa de, 116, 160
Este, Borso d’, 115 Ferrara, Ercole I d’Este, duque de, 115-18, 167-8
Este, cardeal Ipolito d’, 113, 137 Ferrara, Ercole II d’Este, duque de, 113
Este, cardeal Ipolito II d’, 133 Ferri, Ciro, 184
Este, cardeal Luigi d’, 118 festas sagradas (cristãs), 46-7
Este, família e corte de, 113-18, 119, 130, 140, festas seculares, 46-7, 65-7, 87
142, 160; feudalismo, 62-3
ver também Ferrara Ficino, Marsílio, De sufficientia, 136
Este, Lionello d’, 115 Filoxeno de Leucas, “O banquete”, 18
Este, Lucrezia, d’, 119 Flanders, Luís, conde de, 89
Este, Vila d’, 113, 133 Fleury, cardeal André Hercule, 182
Estrades, condessa de, 181 flores, como decoração de mesa, 252, 256
292
índice remissivo
293
banquete
L
I L.S.R., L’Art de bien traiter, ouvrage nouveau, cu-
Ilíada, 16 rieus et fort gallant, 196
Iluminismo francês, 184, 196 La Chapelle, Vincent, Le cuisinier Moderne, 198,
informalidade, ver soupers intimes 199
Inglaterra, arrumações de jantar, 135-6; La Marche, Olivier de, 82
declínio culinário no século XIX, 242-3; La Riva, Bonvesin de, Cinque volgari, 99
industrialização e urbanização, 232, 245; la Vallière, Louise de, 220
livros de receitas, 197, 241-3; La Varenne, François Pierre, Le cuisinier françois,
resistência à culinária francesa, 196-7 192, 196;
salas de jantar, 209-10; Le parfaict confiturier, 196;
salões de banquete na, 171-3, 171; Le pâtissier françois, 196
Inocêncio VIII, papa, 131 lacaios, 201-2
Inocêncio X, papa, 187 Lacock, abadia, Wiltshire, 172
Itália, 241-2 Lafayette, Marie Joseph Paul du Motier, mar-
quês de, general, 233
Lancerio, Sante, 124
J Lancret, Nicolas, 227
Lando, Ortensio, Commentario delle piu notabili e
Jaime I, rei da Inglaterra (Jaime vii da Escócia), mostruose cose d’Italia e altri lughi, 123
135, 173, 177 Langland, William, Vision of Piers Plowman, 85
Jaime II, rei da Escócia, 104
Lante, Vila, 132-3
Jaime II, rei da Inglaterra, 184-5
Lasso, Orlando di, 157
jantar, como refeição principal, 147-8
laticínios, 77, 195
jantar festivo, boas maneiras e etiqueta dos,
Latini, Antonio,, Lo scalco moderno, 86
254-61, 257;
Le Nôtre, André, 220
desenvolvimento do, 228, 229-32, 231,
Leão III, papa, 41
245-6, 248-52, 251;
Leão X, papa, 132
sobrevivência moderna, 265
jantares de gala, 228, 229-32, 231, 245-6, 248-50 leis suntuárias, 92-3
Jeanne, rainha da Borgonha, 89 Lenardi (ajudante de Ferri), 184
Jeanne de Bourbon, esposa de Carlos V, 100 Leonardo da Vinci, 53
Jeanneret, Michel, 136 Leôncio, bispo, 40
jejum e jejuar, na tradição cristã, 48-50, 65-6, 120 Leto, Giulio Pomponio, 122
jentaculum, 28 Ligorio, Pirro, 133
João XXII, papa, 94, 104 Ligozzi, Jacopo, 162
João da Napoli, 116 livros de receita, gregos, 17-18;
Johann Wilhelm de Jülich-Cleve, 170, 171 medievais, 47-8, 72-5, 76-7;
Johnson, Samuel, 209, 247 na França, século XIX, 240-1;
Joinville, João de, 66-7 na França dos séculos XVII e XVIII, 194, 196-7;
Jones, Inigo, 171 na Inglaterra, 242-3;
Jonson, Ben, 171 no Renascimento, 121-3, 124-7;
Jorge, príncipe da Dinamarca, 218 romanos, 26-8
Jorge I, rei da Inglaterra, 218 Loftie, sra., The Dining Room, 257
Jorge III, rei da Inglaterra, 218 Longleat House, Wiltshire, 172
Jorge IV, rei da Inglaterra, 239 Loo, Carel van, 227
José, rei dos romanos, 199 Lorenzetti, Pietro, Beata umilitas, 44
judeus e judaísmo, e o jejum, 49 Loudon, John Claudius, The Suburban Gardener
Júlio II, papa, 132 and Villa Companion, 245-6
294
índice remissivo
295
banquete
Meytens, Martin van, Feast on the Occasion of the office, 195-6, 198, 205, 241
Coronation of the King of the Romans, 199, 200 Opimius, 25
molhos, de Carême, 240 Orléans, Felipe, duque de, 182
na Roma Antiga, 27-8; Orléans, Ferdinand-Philippe, duque de, 238
Molière, Jean-Baptiste Poquelin, 220-1 Orléans, Luís, duque de (1372-1407), 88
monarquia, mistério e rituais da, 173-9; Os estatutos da ordem napolitana do Espírito Santo, 91
ver também comer em público Oto III, imperador, 41
Monmouth, James Scott, duque de, 185 Ovídio, Metamorfoses, 142
Montaigne, Michel Eyquem, seigneur de, 136,
138, 145
Montefeltro, Guidobaldo da, 168
Montigny, Guy de, 73
P
Montmorency, Anne de, 142 Países Baixos, edificações nos, 134-5;
Moreau, Jan Michel, o Jovem, A ceia elegante, introduzem o café e o chá, 193
224, 225 Palissy, Bernard, 142
Morgan, Sydney, lady, 238 palitos, na Roma antiga, 35
mosteiros e abadias, 45-7, 49-52, 51, 53, 62-3 Palladio, Andrea, 134
mulheres, e a mesa de Luís XIV, 223-4; Pamphili, palácio ver Roma (moderna)
efeito da Revolução Francesa sobre, 245; Panton, J. E., From Kitchen to Garret, 249
em banquetes medievais, 69-70; papas, cerimônia de consagração, 91;
em orgias romanas, 39; comendo sozinhos em banquetes de gala, 174
em refeições romanas, 28-9; papoula, óleo de, 77
e o salão, 207-8; Pariset, madame, Manuel de la maîtresse de la
posição na mesa, 91-2, 95, 255; maison, 245
separadas dos homens após as refeições, 21, Parma, Alexandre, duque de, 149-50, 152
260 Parrega, Sebastian Gutierrez de, Etiquetas de
música, em banquetes medievais, 70-1, 71, 107; corte, 174-5
em Versalhes, 217, 222; Páscoa, como festa da Igreja, 343
na Renascença, 113, 115, 157-8, 162 pastelaria (massa), 77
Paulo, são, 30
Paulo III, papa, 124, 125, 142
Paulo IV, papa, 133
N Pedro IV, rei de Aragão, 108
Napoleão Bonaparte, imperador, 234-5, 236-7, Perretti, Niccolò, 188
244 Persa, Império, 15
Nápoles, 121, 126 Peruzzi, Baldassare, 131
Narford Hall, Norfolk, 209 Petrônio Arbiter, Satyricon, 11-14, 47
Narni, Fusorito da, 127 philosophes, 184
Natal, como festa da Igreja, 62 Picatrix (tratado árabe), 48
navetas, 88, 145, 215-16, 223, 235 Pilon, Germain, 170
neoplatonismo, 121 Pinturicchio (Bernardino di Betto de Biagio), 131
Nero, imperador romano, 13, 32, 39, 42 Pio V, papa, 125
Neville, George, arcebispo de York, 85 Pisanello (Vittorio Pisano), 115
Nicéforas Focas, imperador bizantino, 41 Platão, 137;
Nola, Robert di, Libro de cocina, 126-7 Leis, 136;
Norfolk, John Howard, 1o duque de, 80 Simpósio, 23, 137
Northumberland, Henry Percy, 5o marquês de, 93 Platina, Bartolomeo, De honesta voluptate,122,
nouvelle cuisine, 239 127, 130, 136, 145
Plínio, o Moço, 29-30, 36, 128-9
Plínio, o Velho, Historia naturalis, 134
Plumerey (chef), 240
O Plutarco, Conversa à mesa, 137
Oakly Park, Shropshire, 229 O jantar dos sete homens sábios, 136-7;
Odilo, abade de Cluny, 50-2 Pollio, P. Veddius, 31
Odisséia, 16 Pompadour, Jeanne Antoinette Poisson, mar-
Odoacer, rei da Itália, 49 quesa de, 181-3, 224
296
índice remissivo
297
banquete
298
da corte para a sala particular
Vinidário, 27
V Visconti, Violante, 79
Varro, Marcus, 24 Visonti, Galeazzo II, 29
Vasari, Giorgio, 131, 141, 166 Vitélio, imperador romano, 38-9
Vaticano, 186 vitorianos, livros de cozinha, 242-4;
vegetais, em Versalhes, 192-3
Vitrúvio, 129, 131
no Renascimento, 155;
Venâncio Fortunato, bispo, 41
Venceslau, rei da Boêmia, 61 W
veneno, prova de, 94 Warwick, Thomas de Beauchamp, marquês de, 91
Veronese, Paolo, Bodas de Caná, 145, 148, 157 Weyden, Roger van der, 113
Verrall, William, A Complete System of Cookery, 197 Whitehall, palácio, Londres, 171
Versalhes, comida e festival em, 136-40, 222, 222; Wimbledon, William Cecil, visconde, 135
imitação de, 202;
Winchester, 46
jardins de frutas e de vegetais, 192-3;
Windsor, lady Harriet (lady Harriet Clive), 229-30
Marie Antonieta em, 224;
Wolsey, Thomas, cardeal, 79, 81, 85, 86, 87, 90, 106
organização e protocolo em, 181-2, 213-18
Woodforde, rev. James, 207
vesperna, 28
Worcester, John Tiptoft, marquês de, 91
viandier de Taillevent ver Tirel, Guillaume de
Worde, Wynken de, 127
Viard, A., Le Cuisinier impérial, 241
Wright, John Michael, 184-5
Vignola (Giacomo Barocchio), 132
vikings, 57
vilas, na Itália renascentista, 128-34
Villette, marquês Charles de, 233 X
vinho, alemão, 76; Xenofonte, O banquete, 23
comércio de, 75; Xisto III, 121
doce, 77;
em refeições medievais, 76;
francês, 175, 193;
na Grécia Antiga, 22; Z
na Itália renascentista, 124; Zeus Soter (divindidade), 22
na Roma Antiga, 25, 34; Zólio, 29
refrescadores de, 208; Zuccari, família, 132
vocabulário de, 124 Zuccaro, Taddeo, 142
299