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Democracia em

xeque: paradigmas
do regime
Política Contemporânea e
Relações Internacionais

1
Informações
da disciplina
Curso
Política Contemporânea e Relações
Internacionais

Disciplina
Democracia em xeque: paradigmas do regime

Carga-horária
30 Horas

Professor(a)
Dr. Caio Marcondes Ribeiro Barbosa

Mini currículo
Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo
(USP). Foi pesquisador visitante na Harvard University
(EUA), além de ser Mestre em Ciência Política pela USP
e bacharel em Política e Relações Internacionais pela
University of Essex (Reino Unido). Temas de interesse
incluem: Política Brasileira, Política Internacional,
Populismo e Autoritarismo.

2
Apresentação
da disciplina
A disciplina dedica-se a discutir um tema atual e urgente
da política contemporânea que é a crise global das
democracias. Desde pelo menos 2010, o mundo vem
testemunhando um retrocesso em algumas das principais
democracias globais, com uma ameaça cada vez mais
presente de partidos e políticos extremistas. O objetivo
do curso é apresentar os alunos ao tema, introduzir alguns
dos métodos de pesquisa relevantes, conceitualizar alguns
dos principais elementos e características que formam
uma democracia, e demonstrar algumas das principais
discussões acerca da questão. O curso dirige-se a cientistas
sociais e internacionalistas que buscam se atualizar sobre
uma temática tão crucial, mas também a todos aqueles
de diferentes áreas que querem compreender um desafio
vital da Ciência Política e das Relações Internacionais. Ao
final desta disciplina, espera-se que os alunos tenham as
ferramentas para analisar e trabalhar com o tema, seja na
vida profissional, seja na área acadêmica.

Temas da disciplina
Democracia
em xeque e Sistemas
introdução eleitorais
aos métodos e sistemas
de pesquisa partidários

Tema 01 Tema 02 Tema 03 Tema 04

A democracia Por que crise?


moderna e
seus modelos

3
05 Democracia em xeque e introdução
aos métodos de pesquisa | Tema 01
10 Leituras obrigatórias
10 Referências

11 A democracia moderna e seus


modelos | Tema 02
14 Leituras obrigatórias
15 Referências

16 Sistemas eleitorais e sistemas


partidários | Tema 03
21 Leituras obrigatórias
21 Referências

22 Por que crise?| Tema 04


25 Leituras obrigatórias
26 Referências

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4
Democracia em xeque
e introdução aos
métodos de pesquisa
Tema 01

5
Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa

Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, o mundo parecia progredir cada vez mais no sentido
de coroar a democracia como o sistema político a ser seguido. Com a dissolução da
União Soviética, marcando o fim da Guerra Fria com os Estados Unidos, o filósofo
Francis Fukuyama declarou, em 1992, que estaríamos vivendo “O Fim da História”,
anunciando a vitória do modelo de democracia liberal ocidental como o ápice da
evolução das formas de governo da humanidade. Desnecessário dizer, mas Fukuyama
estava errado.

Diferentes rankings (V-Dem; Índice de Democracia, da The Economist; Freedom House; entre outros) têm apontado
uma crise do regime democrático nos últimos anos. De acordo com dados do V-Dem, embora o número de democracias
no mundo passasse por um processo de expansão quase constante na história recente (com alguns breves períodos de
retrocesso, principalmente nos períodos das Guerras Mundiais), e depois de uma grande expansão no final dos anos 1980 e
início dos anos 1990, os regimes democráticos atingiram o seu ápice em 2010. Desde então, o mundo vem testemunhando
um retrocesso no número de países democráticos, como é possível ver no Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1: Número de democracias e autocracias no mundo (1789-2021)

Número de democracias e autocracias, Mundo


Regimes políticos com base nos critérios de classificação por Lührmann et al.
(2018) e na avaliação de especialistas do V-Dem.
Autocracias
Fechadas

Autocracias
Eleitorais

Democracias
Eleitorais

Democracias
Liberais

Fonte: Our World in Data, com base em Lührmann et al. (2018) e V-Dem (v.12). [Tradução feita pelo
autor]. Nota: O número de autocracias fechadas amenta muito em 1900 porque o V-Dem cobre
muitos mais países desde então, com frequência colônias.

Outra série de gráficos do V-Dem Institute mostra a variação do Índice de Democracia Liberal (LDI) – um dos índices
utilizado pelo instituto para medir a qualidade da democracia – de diferentes países entre 2011 e 2021. O Gráfico 2 mostra
50% dos países melhores posições no índice, e o Gráfico 3 mostra os 50% restantes com os piores índices. Como é possível
ver, há uma tendência geral (com exceções) de um retrocesso na qualidade da democracia de inúmeros países, com a linha
cinza marcando o índice em 2011 e a linha preta apontando o índice em 2021. Aqueles países destacados em azul são os
que tiveram melhorias significativas no processo de democratização. Por outro lado, os países destacados em vermelho
são aqueles que tiveram piora significativa na qualidade de suas democracias. Nesta condição, destacam-se países como
Hungria, Polônia, Índia, Turquia e Brasil.

Gráfico 2: Países com os 50% melhores valores do LDI


de 2011 a 2021

Pontuação e Intervalos de Confiança

Suécia
Dinamarca
Noruega
Costa Rica
Nova Zelândia
Estônia
Suíça
Finlândia
Alemanha
Irlanda
Bélgica
Portugal
Países Baixos
Austrália
Luxemburgo
França
Coreia do Sul
Espanha

Reino Unido
Itália
Chile
Eslováquia
6
Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa

Uruguai
Canadá
Islândia
Áustria
Lituânia
Japão
Estados Unidos da América
Letônia
República Tcheca
Taiwan
Jamaica
Chipre
Barbados
Grécia

Vanuatu
Argentina
Trindade e Tobago
Peru
Israel
Cabo Verde
Suriname
Romênia
Malta
Croácia
Moldávia
Eslovênia
África do Sul
São Tomé e Príncipe
Seicheles
Gana
Panamá
Armênia

Senegal
Bulgária
Malaui
Namíbia
Brasil
Lesoto
Mongólia
Geórgia
Timor-Leste
Botsuana
Butão
Burkina Faso
Ilhas Salomão
República Dominicana
Colômbia
Equador
Nepal
Ilhas Maurício

Libéria
Tunísia
Maldivas
Indonésia
Paraguai
Serra Leoa
Kosovo
Polônia
Gâmbia
Albânia
Quênia
Níger
Macedônia do Norte
Montenegro
México
Sri Lanka
Bolívia
Guiana

Índice de Democracia Liberal

Fonte: Varieties of Democracy Institute, 2022. Disponível em: https://v-dem.net/media/publications/dr_2022.pdf

Gráfico 3: Países com os 50% piores valores


do LDI de 2011 a 2021
Pontuação e Intervalos de Confiança
Hungria
Guiné-Bissau
Índia
Bósnia e Herzegovina
Nigéria
Papua-Nova Guiné
Singapura
Guatemala
Ucrânia
Tanzânia
Zâmbia
Malásia
Líbano
Filipinas
Benim
7
Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa

Kuwait
Fiji

Quirguistão
Somalilândia
Jordânia
Sérvia
Madagascar
Moçambique
Costa do Marfim
Marrocos
Honduras
Paquistão
Iraque
El Salvador
Uganda
Haiti
Gabão
Hong Kong
Zanzibar
Togo

Angola
Zimbábue
Mali
Tailândia
Mauritânia
República Centro-Africana
República Democrática do Congo
Etiópia
Líbia
Argélia
Palestina/Cisjordânia
Omã
Cazaquistão
Comores
Camarões
Vietnã
Irã
Djibuti

Egito
Ruanda
Bangladesh
Turquia
Guiné
Essuatíne
República do Congo
Rússia
Laos
Somália
Uzbequistão
Catar
Mianmar
Sudão
Emirados Árabes Unidos
Cuba
Burundi
Venezuela

Azerbaijão
Chade
Camboja
Palestina/Gaza
Sudão do Sul
Nicarágua
Guiné Equatorial
Bahrein
Tajiquistão
Arábia Saudita
China
Turcomenistão
Síria
Belarus
Iêmen
Afeganistão
Coreia do Norte
Eritreia

Índice de Democracia Liberal


Fonte: Varieties of Democracy Institute, 2022. Disponível em: https://v-dem.net/media/publications/dr_2022.pdf

Como é possível discutir se existe mesmo uma crise das democracias? A crise é de um
ou outro país, ou é uma crise sistêmica? É um fenômeno local, regional ou global? Para
responder a essas perguntas, é preciso realizar pesquisas embasadas em métodos
científicos. E um dos métodos mais apropriados e úteis para este tema é o método
comparativo.

8
Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa

Método comparativo

Quando se pensa em métodos científicos de pesquisa, diferentes métodos podem


ser utilizados, cada qual que se adequa a um diferente propósito. Um dos métodos
científicos mais tradicionais é o método experimental: dois grupos são selecionados,
e o pesquisador expõe um dos grupos a um estímulo, interfere em variáveis, enquanto
mantém o outro grupo estável, o que é chamado de grupo de controle. Por questões
práticas e éticas, este método é mais comum nas ciências naturais, como na pesquisa
de vacinas, na Medicina, por exemplo.

Outro método comum é o método estatístico. Neste método, o objetivo é encontrar


os relacionamentos entre variáveis, encontrando correlações entre uma e outra. Neste
caso, o número de casos envolvidos é grande, e o pesquisador busca compreender a
correlação entre variáveis enquanto tenta controlar o efeito de outras que poderiam
afetar o resultado. Este método é utilizado em diferentes áreas da ciência, podendo
ser utilizado para entender a relação entre o fumo e o desenvolvimento de câncer nos
pulmões, por exemplo, ou entre raça e o número de abordagens policiais.

Ao se tratar do estudo de Estados ou sistemas políticos na Ciência Política e nas


Relações Internacionais, há algumas limitações dos métodos científicos que podemos
utilizar. O método experimental é o mais preciso, mas inviável neste caso. Não é
possível fazer um experimento em um país inteiro e manter outro como controle, até
porque cada um difere muito do outro. O método estatístico pode ser muito útil, mas
ele exige um número significativo de casos, o que dificulta no estudo de sistemas
políticos.

Além disso, Estados possuem muitas variáveis diferentes entre


si, o que torna difícil controlá-las.

O método comparativo surge, então, como um dos mais vantajosos para o tema, porque ele pode ser resumido da
seguinte forma: muitas variáveis, N (número de casos) pequeno. Diferentemente do método estatístico, que faz
uma análise extensiva dos dados, o método comparativo permite uma análise mais intensiva de diferentes variáveis
em poucos casos. Como o método comparativo permite que o número de casos seja a partir de apenas dois, ele se
torna muito útil no estudo de Estados e de sistemas políticos.

É verdade que o método comparativo é mais limitado que os métodos experimental e estatístico. Mesmo assim, há
algumas medidas que podem ser tomadas para reduzir o efeito de suas limitações. Por exemplo:

- Aumentar o número de casos: melhora as chances de se instituir alguma forma de controle, e de que os casos selecionados
para a pesquisa são representativos do universo de casos.

- Reduzir o “espaço-propriedade” da análise: como o número de variáveis envolvidas na pesquisa pode ser grande, agrupá-
las em classes pode facilitar a pesquisa como um todo.

- Enfoque da análise comparativa em casos “comparáveis”: nem todos os casos são comparáveis; afinal, eles podem
apresentar muitas variáveis diferentes. É preciso realizar uma seleção de casos realmente comparáveis; ou seja, que possui
um grande número de características importantes que sejam semelhantes ou constantes de modo a se comparar as
variáveis que se quer relacionar. Nota: proximidade geográfica NÃO é garantia de comparabilidade, como é frequente de se
imaginar. Por conseguinte, é possível realizar pesquisa comparada com países muito distantes geograficamente, mas com
características em comum.

- Enfoque da análise comparativa nas variáveis-chave: dado o possível grande número de variáveis em uma pesquisa
utilizando o método comparativo, torna-se desejável focar em variáveis-chave para o objeto de estudo, deixando de fora
variáveis cuja importância é marginal.

Estudos de casos

Outro método útil para o estudo de sistemas políticos e Estados-


nações é o método de estudo de caso. O método comparativo
possui vantagem com relação ao estudo de caso porque o primeiro
pode almejar ser generalizável e propor uma teoria, enquanto isso
não é possível no segundo. Afinal, não se pode propor nenhuma
generalização ou teoria a partir de apenas um caso. Todavia, como
ressaltado, é um método que ainda pode ser útil.

9
Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa

Acesse o podcast “A
crise na Venezuela” Seguem cinco circunstâncias em que estudos de caso podem
via QR CODE:
contribuir para um campo de pesquisa:

01. Estudo de casos ateoréticos: análises inteiramente descritivas de um país, agindo


em um vácuo teorético. Embora não contribuam para a proposição de teorias, é um
passo inicial para descrever e coletar dados de casos sobre os quais se têm pouco
conhecimento.

02. Estudo de casos geradores de hipóteses: são estudos que apontam uma hipótese
possível que estimula uma investigação maior de número de casos posteriormente
para então testar uma generalização.

03. Estudo de casos interpretativos: estudos em casos em que já há uma


generalização ou teoria, e a pesquisa busca esclarecer ou aperfeiçoar o
Acesse o podcast conhecimento sobre essa generalização, e em particular do caso específico.
“Guerra Rússia x
Ucrânia” via QR CODE:
04. Estudos de casos que confirmam a teoria: como o nome indica, são estudos de
casos em que se busca confirmar uma generalização estabelecida, muitas vezes
em casos que não foram utilizados inicialmente para embasar a teoria. Porém, se é
uma teoria confirmada por um universo grande de casos, uma pesquisa adicional
confirmando a teoria pode ser de pouca relevância.

05. Estudo de casos divergentes: ao contrário do anterior, são estudos que


contrariam generalizações estabelecidas. Podem ser muito úteis para revelar
variáveis antes desconsideradas na formação de uma teoria.

Ambos o método comparativo e o método de estudo de caso podem servir ao propósito de estudar
sistemas políticos, e são utilizados com frequência nas áreas de Ciência Política e Relações Internacionais.
Com o conhecimento destes métodos, os próximos temas da disciplina discutirão o conceito de democracia,
os elementos que o compõem, as eventuais vantagens do regime democrático e, então, retornar à
discussão da crise da democracia.

Convido vocês a assistirem a videoaula “Democracia em xeque e introdução aos métodos de pesquisa” e
para ouvirem os podcasts “A crise na Venezuela” e “Guerra Rússia x Ucrânia”. Acesse via QR Code.

Leituras obrigatórias:

01 LIJPHART, Arend. A política comparativa e o método comparativo. IN: Revista


de Ciência Política, v. 18 n. 14. Rio de Janeiro: 1975. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rcp/article/view/59638/57987. Acesso em: 29 jan.
23. p.1-17

02 VARIETIES OF DEMOCRACY INSTITUTE (V-DEM). Democracy Report 2022: Autocratization


Changing Nature?. University of Gothenburg, 2022. Disponível em: https://v-dem.net/media/
publications/dr_2022.pdf. Acesso em: 29 jan. 2023. p. 9-37

Indicações de filmes/audiobooks:

01 A Revolução Não Será Televisionada, 2003. Disponível em: Youtube.

02 Inverno em Chamas : A Luta da Ucrânia pela Liberdade, 2015. Disponível em: Netflix.

Referências
FUKUYAMA, Francis. The End of History and the Last Man. Free Press, 2006.

LIJPHART, Arend. A política comparativa e o método comparativo. IN:


Revista de Ciência Política, v. 18 n. 14. Rio de Janeiro: 1975. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rcp/article/view/59638/57987. Acesso em: 29 jan. 23.

OUR WORLD IN DATA (OWID). Number of democracies and autocracies, World. Disponível em:
https://ourworldindata.org/grapher/number-democracies-autocracies-row?country=~OWID_WRL.
Acesso em: 29 jan. 2023.

VARIETIES OF DEMOCRACY INSTITUTE (V-DEM). Democracy Report 2022: Autocratization Changing


Nature?. University of Gothenburg, 2022. Disponível em: https://v-dem.net/media/publications/
dr_2022.pdf. Acesso em: 29 jan. 2023.
10
A democracia
moderna e seus
modelos
Tema 02

11
A democracia moderna e seus modelos

Para debater a crise da democracia, é importante discutir, inicialmente, o que é


uma democracia e como se chegou até aqui. O desenvolvimento da democracia
moderna no Ocidente passou por diferentes estágios e evoluções nos últimos
séculos e décadas desde a Revolução Americana e a Revolução Francesa.
Diferentes estudiosos debateram sobre a construção e o desenvolvimento desse
regime político no período. E um dos trabalhos mais influentes foi realizado por
Robert Dahl, com o seu conceito de poliarquia.

O trabalho de Dahl foi fundamental para refutar teorias anteriores sobre a


democratização. Em particular, a teoria de Lipset (1967), de que a modernização
de uma sociedade levaria à democracia, descartando a possibilidade de que países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento poderiam ter democracias funcionais
e estáveis. Dahl reconhece que o desenvolvimento econômico contribui para o
fortalecimento da democracia, mas que este não seria o único critério. O autor
incluiria outros fatores, como os níveis de desigualdade na sociedade, de divisões
(culturais, raciais, religiosas, etc), e também variáveis institucionais (de como são as
relações entre os poderes Executivo e Legislativo e de como se configura o sistema
partidário, por exemplo). Isso explicaria alguns casos dissonantes de sociedades
que, embora não fossem tão desenvolvidas economicamente quanto os países
ricos, poderiam viver também sob regimes democráticos estáveis.

Dahl, de princípio, fornece alguns requisitos para se classificar um regime democrático para um grande
número de pessoas. De acordo com o autor (DAHL, 1997: p. 27), todos os cidadãos plenos de um país devem ter
oportunidades plenas de:

01. Formular suas preferências;


02. Expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governo através da ação individual e coletiva;
03. E ter suas preferências igualmente consideradas na conduta do governo, ou seja, consideradas sem discriminação
decorrente do conteúdo ou da fonte da preferência.

Além disso, Dahl também lista uma série de 8 garantias necessárias que os cidadãos
deveriam ter em uma democracia:

1. Liberdade de formar e aderir a organizações ;


2. Liberdade de expressão;
3. Direito de voto;
4. Elegibilidade para cargos públicos;
5. Direito de líderes políticos disputarem apoio (e votos);
6. Fontes alternativas de informação;
7. Eleições livres e idôneas;
8. Instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferência.

Dahl identificou o processo de democratização como o avanço da sociedade em dois eixos:


competição e inclusão política. Competição significa estar apto a disputar o poder político
enquanto inclusão implica o acesso de diferentes grupos da sociedade aos direitos políticos.
Portanto, uma sociedade sairia de um regime autocrático (o que ele chama de hegemonia)
até chegar a um regime democrático (o que ele chama de poliarquia) conforme ela expande as
possibilidades de contestação e de participação política dos seus cidadãos.

O desenvolvimento dessas dimensões não era concorrente; ou seja, não havia uma expansão
simultânea da competição pelo poder com a inclusão política. Assim, sociedades se
desenvolveriam de diferentes formas de acordo com o grau de avanço nesses dois eixos.

Dahl listou quatro possibilidades de regimes entre um regime autocrático a um regime democrático:
• Hegemonias fechadas: Baixo grau de competitividade política e baixo grau de participação política.

• Hegemonias inclusivas: Baixo grau de competitividade política; alto grau de participação política.

• Oligarquias competitivas: Alto grau de competitividade política; baixo grau de participação política.

• Poliarquias: Alto grau de competitividade política, alto grau de participação política.

Haveria, então, diferentes caminhos para se chegar à poliarquia. Uma sociedade poderia deixar
de ser uma hegemonia fechada ao permitir disputa pelo poder, tornando-se uma oligarquia
competitiva. Ou então poderia permitir maior participação política enquanto impede maior disputa
pelo poder, tornando-se uma hegemonia inclusiva. Por fim, haveria ainda a possibilidade se pegar
um “atalho” e ir direto de uma hegemonia fechada para uma poliarquia.

12
A democracia moderna e seus modelos

Imagem 01 - Quatro possibilidades de regimes para Dahl

Fonte: Material elaborado pelo professor, com base em Dahl, 1997.

Ressalta-se que Dahl não igualava os caminhos para se chegar a uma poliarquia. Para se desenvolver
em uma poliarquia, seria necessário desenvolver as dimensões de competição e inclusão política;
entretanto, para o autor, haveria precedência de qual desses aspectos se desenvolveria primeiro de
modo que trouxesse mais chances de sucesso e de estabilidade após a transição democrática. Nesse
sentido, o autor coloca que a transição ideal para a poliarquia seria a de uma oligarquia competitiva,
cuja expansão da competitividade pela disputa do poder precede a inclusão de participação política.
Porém, em sociedades de democratização tardia, isso seria inviável, porque seria mais difícil abrir a
competição política enquanto se nega direitos de participação política à população geral.

Escrevendo dos anos 1970, Dahl enxergou a processo de democratização moderna como uma série de
transformações históricas amplas. A primeira dessas transformações teria ocorrido com a transição
de hegemonias e oligarquias competitivas em quase-poliarquias, como ocorreu no mundo ocidental
ao longo do século XIX. A segunda transformação significativa foi a transição de quase-poliarquias
para poliarquias plenas na Europa ocidental nas últimas três décadas do século XIX até a 1ª Guerra
Mundial. Por fim, uma terceira transformação que ele identifica foi por um processo ainda maior de
democratização das poliarquias plenas com o advento do Estado de bem-estar social após a Grande
Depressão, interrompido pela 2ª Guerra Mundial, mas retomado posteriormente, em especial a partir
dos anos 1960 (com eventos como Maio de 1968 na França, por exemplo).

Modelos de democracia
Uma vez tornado mais claro como pensar o que significa uma democracia, é importante esmiuçar as
diferentes formas em que ela se apresenta. Afinal, cada regime democrático é muito diferente um
do outro, com regras e formas de organização muito distintas. Um dos trabalhos clássicos a respeito
dos diferentes modelos de democracia foi realizado pelo cientista político Arend Lijphart.

Lijphart estabelece que, se a democracia é um governo “pelo povo e para o povo”, surge a pergunta
de quem irá governar e a quais interesses o governo deve atender quando a sociedade estiver em
desacordo sobre suas preferências. Afinal, numa democracia, como resultado da disputa política de
poder, haverá vitoriosos e derrotados. Haveria, portanto, diferentes formas de se responder a essa
pergunta, estabelecendo modelos diferentes de organização e funcionamento da democracia.

Lijphart apresenta o que ele considera dois possíveis modelos de democracia. Um deles seria
estabelecer que se prevalecesse a vontade da maioria do povo. Esta seria a lógica, de acordo com
o autor, por trás do que ele chama de modelo majoritário de democracia. Se há uma maioria que
é vitória na disputa pelo poder, então é ela que deve ter primazia, e a quem o governo deve ser
comprometido. Outra possibilidade é um modelo de democracia que busque atender a vontade
do maior número de indivíduos e grupos na sociedade, e não apenas uma simples maioria. Essa
dinâmica Lijphart chamou de modelo consensual de democracia.

A diferença fundamental entre os dois modelos de democracia é como


o poder é distribuído no regime político. Assim, enquanto o modelo
majoritário visa concentrar o poder em uma pequena maioria, o modelo
consensual visa dispersar e compartilhá-lo. Como Lijphart coloca, “o
modelo majoritário é exclusivo, competitivo e combativo, enquanto o
modelo consensual se caracteriza pela abrangência, a negociação e a
concessão” (LIJPHART, 2003: p. 18).

13
A democracia moderna e seus modelos

Acesse o podcast “O Para classificar os dois modelos de democracia, Lijphart listou dez características para cada modelo divididas em
despertar da China”
via QR CODE: duas dimensões, com cinco para cada lado. Na primeira dimensão, o autor considerou questões relacionadas
à estrutura do Poder Executivo e Legislativo, além dos sistemas partidários e eleitorais e atuação de grupos
de interesse, classificando-a de dimensão executivo-partidos. Na segunda dimensão, Lijphart considerou as
diferenças entre o que caracterizaria um governo unitário ou um que adota princípios do federalismo, chamando
assim de dimensão federal-unitária. As características de cada modelo estão descritas na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1: Modelos de democracia de Lijphart e suas características

Modelo majoritário de Modelo consensual de democracia


democracia
Concentração do Poder Executivo Distribuição do Poder Executivo em
em gabinetes monopartidários de amplas coalizões multipartidárias
Acesse o podcast “A maioria
ascensão do fascismo
na Itália” via QR CODE: Relações entre Executivo e Relações equilibradas entre ambos os
Dimensão Legislativo em que o Executivo é poderes
executivo-partidos dominante
Sistemas bipartidários Sistemas multipartidários

Sistemas eleitorais majoritários e Representação proporcional


desproporcionais

Sistemas de grupos de interesse Sistemas coordenados e “corporati-


pluralistas, com livre concorrência vistas” visando ao compromisso e à
entre grupos concertação
Governo unitário e centralizado Governo federal e descentralizado
Concentração do Poder Legislati- Divisão do Poder Legislativo entre duas
vo numa legislatura unicameral casas igualmente fortes, porém dife-
rentemente constituídas
Dimensão Constituições flexíveis, que po- Constituições rígidas, que só podem ser
federal-unitária dem receber emendas por simples modificadas por maiorias extraordiná-
maiorias rias
Sistemas em que as legislaturas Sistemas nos quais as leis estão sujeitas
têm a palavra final sobre a consti- à revisão judicial de sua constitucionali-
tucionalidade da legislação dade, por uma corte
suprema ou constitucional

Bancos centrais dependentes do Bancos centrais independentes


Executivo

Fonte: Lijphart, 2003.

Na classificação de Lijphart, não significa que cada país segue estritamente todos os princípios de cada modelo
de democracia. Na verdade, o mais provável é que cada sociedade adote mais alguns pontos de um lado do que
do outro, levando a múltiplas possibilidades, como de essencialmente adotar o modelo majoritário em uma
dimensão, mas o consensual na outra. Considerando os princípios adotados – e que podem se alterar ao longo
do tempo – é que se pode discutir qual é o modelo adotado por cada país e em quais das dimensões.

Analisando os dados de diferentes democracias com base nessa conceitualização, Lijphart busca argumentar
que, ao contrário do que o conhecimento convencional poderia indicar, o modelo majoritário não garante
necessariamente melhor governabilidade. Pelo contrário, Lijphart manifesta clara preferência pelo modelo
consensual de democracia, indicando desempenho melhor em questão da qualidade da democracia, e
especialmente em sociedades de caráter mais plural. Todavia, para entender melhor as divisões dos modelos
de democracia, é importante entender alguns dos aspectos fundamentais que a regem: os sistemas eleitorais e
partidários. Que serão os tópicos do tema seguinte.

Convido vocês a assistirem a videoaula “A democracia moderna e seus modelos” e para ouvirem os podcasts
“O despertar da China” e “A ascensão do fascismo na Itália”. Acesse via QR Code.

Leituras obrigatórias:

01 DAHL, Robert Alan. Poliarquia. São Paulo: Edusp, 1997. Prefácio, p. 11-22
e Capítulos 1 a 3, p. 25-62.

02 LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: Desempenho e padrões de governo


em 36 países. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Capítulos 1 a 3. p. 17-65.
14
A democracia moderna e seus modelos

Indicações de filmes/audiobooks:

01 American Factory, 2019. Disponível em: Netflix.

02 A Onda, 2008. Disponível em: Youtube.

Referências
DAHL, Robert Alan. Poliarquia. São Paulo: Edusp, 1997.

LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: Desempenho e padrões de governo em 36


países. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

LIPSET. Seymour Martin. O Homem Político. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

15
Sistemas eleitorais e
sistemas partidários
Tema 03

16
Sistemas eleitorais e sistemas partidários

Para democracias funcionarem, é necessário haver eleições regularmente para que


o povo possa escolher seus representantes. E para haver eleições, é fundamental
a existência de partidos políticos, que organizam e reúnem os interesses diversos
da sociedade. Embora não sejam aspectos que sintetizem a existência de uma
democracia – como visto na discussão anterior, e até porque regimes autoritários
muitas vezes organizam eleições e também possuem partidos políticos – não há
democracias modernas sem eleições e sem partidos.

Embora esses dois princípios estejam sempre presentes em regimes democráticos,


o formato em que se apresentam costuma variar bastante de um país para o outro.
Eleições podem ser organizadas de diferentes maneiras, inclusive dentro do
mesmo país, e o formato e o tipo do sistema partidário de cada sociedade também
são diversificados não somente, mas especialmente no número de partidos que
participam do jogo eleitoral. Portanto, para seguir compreendendo como as
democracias funcionam, torna-se imperioso apresentar os diferentes formatos de
sistemas eleitorais e de sistemas partidários.

Sistemas Eleitorais
O primeiro dos elementos fundamentais da democracia a ser detalhado neste Tema é o de sistemas eleitorais. A realização
de eleições periódicas para que a população escolha seus representantes para ocuparem os respectivos cargos públicos
é um dos primeiros aspectos a serem lembrados quando se discute a existência de uma democracia. Porém, eleições
precisam de regras que as sistematizem. Em uma das possíveis formas de sistematização (NICOLAU, 2012), é possível listar
três tipos de sistemas eleitorais – e suas variações – que são praticados pelos estados democráticos ao redor do mundo,
como será apresentado adiante: os sistemas majoritários, os sistemas mistos, e os sistemas proporcionais.

Imagem 02 - Tipos de sistemas eleitorais

Fonte: Nicolau, 2004.

01. Sistemas majoritários

Os sistemas majoritários, como indica o nome, envolve a eleição


com base na vontade da maioria dos eleitores. Isso significa que
apenas o(s) candidato(s) mais votado(s) são eleitos, deixando
de fora todos os outros. É um sistema mais comum em eleições
para cargos do Poder Executivo, como prefeitos, governadores
e presidentes, embora também seja utilizado em diferentes
formatos de eleições para o Legislativo.

Seguem alguns dos tipos de sistemas eleitorais majoritários aplicados ao redor do mundo:

• Maioria simples: este formato, também chamado de “first past the post” em inglês, e assim como indica o seu nome,
implica na eleição do candidato mais votado, independentemente deste atingir uma marca superior a 50% dos votos. Se
o candidato A recebe 40% dos votos, o candidato B, 35%, o candidato C, 25%, o candidato A é automaticamente eleito,
sem a necessidade de um novo pleito. É o sistema utilizado no Reino Unido nas eleições para o Parlamento Britânico, e
também nas eleições para Senador da República no Brasil.

• Dois turnos: o sistema de dois turnos surge como forma de corrigir o problema do sistema de maioria simples de não
ter o aval de mais de 50% dos eleitores (embora nem sempre 50% seja o limiar, como é o caso na Argentina). Assim, se, na
primeira eleição, nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, organiza-se uma nova eleição apenas entre os dois
candidatos mais votados. É um sistema muito utilizado em pleitos para cargos do Poder Executivo, como é feito no Brasil
nas eleições para prefeitos (em municípios com mais de 200 mil eleitores), governadores e presidente; mas também é
utilizado em alguns países em eleições para o Legislativo, como é feito na França.
17
Sistemas eleitorais e sistemas partidários

• Voto alternativo: o sistema de voto alternativo é um pouco mais complexo que os outros, e nesta modalidade, o eleitor
não vota em apenas um candidato, mas estabelece um ranking de preferência entre aqueles que concorrem ao cargo.
Em uma eleição com diferentes candidatos, o menos votado é eliminado, e as preferências seguintes de seus eleitores
são distribuídas para os candidatos remanescentes. O sistema prossegue fazendo o mesmo com o seguinte candidato
menos votado, até que um dos candidatos atinja o índice de mais de 50% das preferências dos eleitores. Este sistema é
adotado para as eleições da Câmara dos Deputados na Austrália.

Críticas: em suas diferentes variações, o sistema majoritário tem suas vantagens, mas também seus
problemas, principalmente quando aplicado a cargos do Legislativo. Entre as vantagens, ele favorece
a formação de uma maioria unipartidária no Legislativo, ou pelo menos uma menor fragmentação de
partidos, o que favorece a governabilidade. Todavia, isso significa também que os representantes eleitos
são menos proporcionais com relação ao restante da população, o que facilita a exclusão de minorias
políticas de serem representadas (como mulheres, afrodescendentes, LGBTQIA+, etc).

02. Sistemas proporcionais

Os sistemas proporcionais não almejam estabelecer que apenas o(s) mais votado(s) sejam
representados, como funciona nos sistemas majoritários. Pelo contrário, o objetivo é garantir
que cada partido obtenha a sua representação de acordo com a votação obtida nas eleições.
Naturalmente, é um sistema utilizado em eleições para o Poder Legislativo.

Seguem alguns tipos de sistemas eleitorais proporcionais:

• Voto único transferível: o sistema de voto único transferível se assemelha, de certa forma, ao sistema de voto
alternativo, com a diferença importante de que mais de um candidato é eleito. Sendo assim, também é um sistema
bastante complexo. Aqueles candidatos mais votados que obtiverem um índice de votos acima do coeficiente eleitoral
para ser considerado eleito terão a “sobra” de seus votos redistribuídos proporcionalmente de acordo com as seguintes
preferências de seus eleitores. O mesmo ocorre no caminho inverso, com os candidatos menos votados tendo seus votos
redistribuídos sucessivamente, de acordo com as seguintes preferências de seus eleitores, até que se atinja o índice total
de candidatos eleitos. É o sistema utilizado na Câmara Baixa da Irlanda.

Imagem 03 - Exemplo de eleição de voto único transferível1

Fonte: Wikimedia Commons, 2022. Disponível em:


(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/17/WMF_Board_2022_election_results.svg/640px-WMF_Board_2022_election_results.svg.png)

• Voto em lista: no sistema do voto em lista, cada partido apresenta uma lista com seus candidatos, e um número de
candidatos de cada partido é eleito proporcionalmente de acordo com a sua votação. É o sistema mais comum dos
sistemas proporcionais, embora tenha suas variações.

Lista fechada: neste sistema, o partido determina anteriormente a ordem de candidatos que serão eleitos
de acordo com a votação obtida. Por exemplo, se um partido consegue 10 vagas, elas serão alocadas aos
10 primeiros da lista apresentada pelo partido. É o sistema praticado em muitas democracias mais novas,
como na Argentina e em Portugal.

Lista aberta: o voto em lista aberta é quando o partido apresenta a sua lista de candidatos, mas é o
eleitorado que decide a ordem de preferência dos candidatos a serem eleitos de acordo com a sua
votação. É, por exemplo, o sistema adotado no Brasil nas eleições para Deputado Federal e Estadual.

18
1
Dois candidatos são eleitos: na quarta rodada de distribuição dos votos, o candidato Mike já é considerado eleito, após atingir o coeficiente
mínimo; com a redistribuição da “sobra” de seus votos, estabelece-se que Shani é a segunda candidata também eleita.
Sistemas eleitorais e sistemas partidários

Lista flexível: o sistema de lista flexível é quando o partido apresenta uma lista com a ordem de candidatos
do partido a serem eleitos, mas que a população tem a possibilidade de, ainda assim, alterá-la. É praticado
em países como Holanda e Áustria.

Críticas: assim como nos sistemas majoritários, os sistemas proporcionais têm suas vantagens e
desvantagens. A vantagem é que, ao contrário dos primeiros, a representação política é mais proporcional
aos eleitores, o que favorece a representação de minorias políticas. A desvantagem é que isso favorece
a fragmentação partidária, o que, por sua vez, dificulta a governabilidade e propicia a formação de
governos de coalizão. No Brasil, uma crítica comum, especialmente quando havia a possibilidade de
coligações partidárias, era o chamado “efeito Tiririca”: a população vota em um candidato e, sem saber,
elege junto outros que talvez não gostaria, inclusive de outros partidos.

03. Sistemas mistos

Os sistemas mistos são, como o nome sugere, uma aplicação conjunta de ambos os sistemas majoritário
e proporcional. Não no sentido, como no Brasil, de eleições majoritárias para o Executivo e proporcionais
para o Legislativo (ao menos para deputado), mas ambos os sistemas para os mesmos cargos. Esses
sistemas podem ser de duas formas:

Esses sistemas podem ser de duas formas:

• Sistema misto de superposição: neste sistema, há eleições organizadas de forma majoritária em distritos e, ao mesmo
tempo, eleições de caráter proporcional, porém independentes. Os candidatos de um partido eleitos nas eleições
majoritárias se somam aos candidatos eleitos nas eleições proporcionais para formar a bancada total do partido. Esse
sistema é aplicado, por exemplo, no Japão.

• Sistema misto de correção: ao contrário do anterior, o sistema misto de correção torna uma eleição dependente da
outra. Por exemplo, se um partido elege 15 candidatos nas eleições proporcionais e 5 nas eleições majoritárias para
o Legislativo, o partido mantém apenas 15 cadeiras, subtraindo 5 da lista submetida pelo partido para as eleições
proporcionais, elegendo então os 5 das eleições majoritárias e os 10 primeiros da lista do partido para as eleições
proporcionais. É o sistema aplicado na Alemanha, por exemplo.

Críticas: a complexidade dos sistemas mistos é uma das críticas que se


faz. Além disso, cada eleição – majoritária e proporcional – segue levando
consigo as suas desvantagens específicas, como citadas anteriormente.

Nota: nas discussões sobre reforma política e eleitoral no Brasil, uma das
propostas mais discutidas seria sobre a adoção do sistema distrital misto,
dividindo o processo eleitoral para o Legislativo em eleições majoritárias
em distritos e eleições proporcionais, como funcionam no sistema
vigente.

Seja o sistema que for, não há consenso na literatura qual seria mais
eficiente ou mais saudável para a democracia. Tanto que cada país
adota o seu. Como visto, há vantagens e desvantagens em cada sistema
eleitoral, e muitos países discutem alterações para um sistema ou para
outro, de acordo com a realidade local. Contudo, como apontado, uma
das consequências de cada sistema será no sistema partidário, outro
elemento fundamental em uma democracia.

Sistemas partidários
Diferentes autores apresentaram formas de pensar os sistemas partidários. Entre eles,
o italiano Giovanni Sartori foi um dos mais importantes cientistas políticos a elaborar um
mapeamento dos sistemas partidários. Na concepção do autor, esses sistemas poderiam
ser classificados de acordo com o número de partidos relevantes no sistema, o que então
caracterizaria a sua dispersão de poder.

É importante ressaltar que Sartori não dá uma definição precisa do que seriam partidos
relevantes. Até porque o parâmetro poderia variar de um país para o outro. No entanto,
em geral, significa um partido que tem algum impacto no sistema, um player na disputa
de poder. Por exemplo, os Estados Unidos possuem diversos partidos políticos (além dos
Partidos Democrata e Republicano, há o Partido Verde, o Partido Libertário, o Partido da
Constituição, etc), mas ninguém negaria que o país possui um sistema bipartidário, já que só
há dois partidos relevantes disputando o poder.

19
Sistemas eleitorais e sistemas partidários

Seguem então algumas classes de sistemas partidários


elencados pelo autor:

01. Unipartidarismo: sistema em que há apenas um partido político, comum em


regimes autoritários. Ex: China, antiga URSS.

02. Hegemônico: sistema em que há mais de um partido, mas um deles tem


hegemonia política; ou seja, ele tem preponderância no sistema, e não há
competição real entre os partidos, já que disputam em bases desiguais. Ex: O Partido
Revolucionário Institucional (PRI) no México pela maior parte do século XX.

03. Predominante: sistema em que um partido predomina, mas ao contrário do


sistema partidário hegemônico, os outros partidos competem em bases iguais. Há
competição, mas um partido reiteradamente consegue obter maioria absoluta de
cadeiras no Legislativo. Ex: Partido Liberal Democrata, 1958-1990, no Japão; partidos
social-democratas na Suécia e Noruega, em alguns períodos de predominância
durante o século XX.

04. Bipartidário: como o nome indica, sistema partidário em que dois partidos
disputam o poder, havendo alternância frequente entre quem é governo e oposição.
Ex: Estados Unidos.

05. Pluralismo moderado: sistema partidário com um número maior de partidos


relevantes disputando o poder, cerca de 3 a 5 partidos. Geralmente, esse sistema
não possui partidos antissistema relevantes, e propicia uma competição centrípeta;
ou seja, orienta os partidos o centro, para participar do governo, deixando uma
oposição unilateral do outro lado. Assim, é um sistema que favorece os governos de
coalizão. Ex: Bélgica, Irlanda.

06. Pluralismo polarizado: sistema partidário com um número ainda maior de


partidos relevantes. A diferença com relação ao pluralismo moderado é que, neste
sistema, há a presença de partidos antissistema, gerando uma oposição bilateral
para quem está no governo, fomentando uma competição centrífuga; ou seja,
incitando os partidos a se direcionarem aos extremos. Ex: República de Weimar
(Alemanha), 1920-1933; Chile, 1961-1973.

Sartori dedica especial atenção ao sistema partidário de pluralismo polarizado, pois,


de acordo com o autor, este é um sistema pouco viável, que dificulta a governabilidade
(política de prometer mais do que pode), favorece oposições irresponsáveis (de tentar
inviabilizar o governo), e abre espaço para partidos antissistema tomarem o poder.
Portanto, é um sistema que carrega uma lógica autodestrutiva.

Do unipartidarismo ao pluralismo polarizado, o autor ainda aponta que isso tem impacto
no tipo do sistema partidário, o que implica a sua dispersão de poder. O Gráfico 1 abaixo
exemplifica a trajetória de dispersão de poder conforme se avança entre os sistemas
partidários. Com efeito, Sartori alerta para os riscos de um sistema de pluralismo
polarizado ou extremado devido ao alto grau de polarização gerado nesse sistema e a forte
fragmentação partidária, o que pode trazer diversos malefícios para a democracia.

Gráfico 4: Dispersão de poder em um sistema partidário

Fonte: Sartori, 1982.

20
Sistemas eleitorais e sistemas partidários

Acesse o podcast Convido vocês a assistirem a videoaula “Sistemas eleitorais e sistemas partidários” e
“O sistema eleitoral
americano” via QR para ouvirem os podcasts “O sistema eleitoral americano” e “O presidencialismo de
CODE: coalizão no Brasil”. Acesse via QR Code.

Leituras obrigatórias:

01 NICOLAU, Jairo. Sistemas eleitorais. 5ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:


Editora FGV, 2004. Introdução, Capítulos 1 a 3. p. 9-76

02 SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistemas Partidários. Brasília: Ed. UnB, 1982.


Capítulos 5 e 6. p. 143-244.
Acesse o podcast “O
presidencialismo de
coalizão no Brasil” via
QR CODE:

Indicações de filmes/audiobooks:

01 Recount, 2008. Disponível em: HBO Max.

02 8 Presidentes, 1 Juramento – a História de um Tempo Presente, 2021. Disponível em: Globoplay.

Referências
NICOLAU, Jairo. Sistemas eleitorais. 5ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistemas Partidários. Brasília: Ed. UnB, 1982.

WIKIMEDIA COMMONS. WMF Board 2022 Election Results. 2022. Disponível em:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/17/WMF_Board_2022_election_results.
svg/640px-WMF_Board_2022_election_results.svg.png. Acesso em: 29 jan. 2023.

21
Por que crise?

Tema 04

22
Por que crise?

Nos temas anteriores, foram apresentados os primeiros indícios de uma crise das
democracias, alguns dos possíveis métodos para estudar o tema, o conceito de
democracia, seus modelos, além dos possíveis sistemas eleitorais e partidários.
Ficou evidente que a democracia maximiza a liberdade política dos cidadãos em uma
sociedade. E, mesmo assim, por que o regime democrático está em xeque?

Como descrito anteriormente, o desenvolvimento econômico contribui para o sucesso


de uma democracia (sem ser absolutamente determinante), mas é possível dizer o
contrário, que o regime democrático contribui para o desenvolvimento econômico?
Przeworski e Limongi (1993) analisaram diferentes estudos sobre se a democracia
teria algum impacto sobre o crescimento econômico, e como diversos achados eram
contraditórios, os autores chegaram à conclusão de que não seria possível avaliar
com certeza se o regime político influenciava positivamente ou negativamente. Eles
concordaram que a política praticada pelos governos importava, mas que a relação
disso com os regimes políticos era menos aparente.

Se não é possível afirmar com certeza que um regime político proporciona maior crescimento econômico, é mais fácil
afirmar que as democracias são onde se localizam os países com melhor desenvolvimento econômico e social. Utilizando
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede, além de renda per capita, outros critérios como saúde e educação
da população, fica evidente que os países no topo do ranking são quase todos democracias. A Tabela 1 indica alguns desses
países com os maiores IDH do mundo. O Brasil estaria na 87ª posição.

Tabela 2: Ranking de 30 países com maiores IDH no mundo em 2022

Ranking País IDH Ranking País IDH


1 Suíça 0,962 16 Liechtenstein 0,935
2 Noruega 0,961 17 Luxemburgo 0.93
3 Islândia 0,959 18 Reino Unido 0,929
4 Hong Kong 0,952 19 Coreia do Sul 0,925
5 Austrália 0,951 19 Japão 0,925
6 Dinamarca 0,948 21 Estados Unidos 0,921
7 Suécia 0,947 22 Israel 0,919
8 Irlanda 0,945 23 Malta 0,918
9 Alemanha 0,942 23 Eslovênia 0,918
10 Países Baixos 0,941 25 Áustria 0,916
11 Finlândia 0,940 26 Emirados Árabes 0,911
Unidos
12 Singapura 0,939 27 Espanha 0,905
13 Bélgica 0,937 28 França 0,903
13 Nova Zelândia 0,937 29 Chipre 0,896
15 Canadá 0,936 30 Itália 0,895
Fonte: UNDP, 2022. https://hdr.undp.org/data-center/country-insights#/ranks

E com relação a direitos humanos? Não surpreende


que democracias sejam o regime por excelência
onde há maior proteção de direitos humanos, já que
estes também incluem os direitos políticos, além
dos direitos civis, sociais, econômico e culturais.

Ainda que o universalismo dos direitos humanos seja questionado pelo relativismo cultural (com a ideia de que eles seriam
uma tese ocidental sendo imposta a países de culturas diferentes), muitos dos seus princípios, como a dignidade humana,
são considerados universais. Com base nos dados do Instituto V-Dem, também foi realizado um ranking de sociedades
com mais acesso aos direitos humanos e – sem surpreender –as democracias reinam novamente, como pode se ver na
próxima tabela.

23
Por que crise?

Tabela 3: Ranking de 25 países com maior acesso


a direitos humanos em 2021
Ranking País Índice Ranking País Índice
1 Suécia 0.97 16 Taiwan 0.93
2 Estônia 0.96 17 Luxemburgo 0.93
3 Finlândia 0.96 18 Coreia do Sul 0.93
4 Islândia 0.96 19 Japão 0.93
5 Suíça 0.95 20 França 0.93
6 Irlanda 0.95 21 Austrália 0.93
7 Nova Zelândia 0.95 22 Portugal 0.93
8 Bélgica 0.95 23 Noruega 0.93
9 Alemanha 0.95 24 Barbados 0.92
10 Dinamarca 0.95 25 Estados Unidos 0.91
11 Letônia 0.95 26 Itália 0.91
12 Espanha 0.95 27 Geórgia 0.91
13 Costa Rica 0.95 28 Uruguai 0.91
14 Canadá 0.95 29 República Dominicana 0.91
15 Países Baixos 0.93 30 Chile 0.91
Fonte: HERRE & ROSER (2022). https://ourworldindata.org/human-rights

Com tantas evidências, é difícil questionar a superioridade da democracia com regime político, mesmo com suas
eventuais falhas. Mesmo assim, retorna-se ao ponto inicial, que há uma crise global das democracias. Não há uma única
explicação para o fenômeno, e mesmo as explicações existentes não esgotam o debate, dado que é um problema
contemporâneo. Contudo, a seção seguinte busca expor um pouco do debate para ajudar a elucidar a questão.

Tentando entender a crise

Quando se pensa no fim de uma democracia, a imagem que surge é a de um golpe – geralmente militar – com marchas,
tanques na rua, tiros, assassinatos, etc. Um movimento brusco e violento de ruptura que simboliza o fim de um regime
político e o início de outro. Foi assim em grande parte do século XX, em especial na América Latina, notavelmente com o
Brasil, em 1964, e o Chile, em 1973.

Embora golpes de Estado assim ainda existam, eles deixaram de ser a regra no século XXI. Quando falamos de Venezuela,
Rússia, Hungria, não houve nenhum momento específico de ruptura, nenhum tanque na rua nem qualquer movimento
violento de tomada de poder. Porém, poucos analistas discordariam que estes países já não são mais democracias plenas.

Eis o desafio para as democracias no século XXI. Na ausência de golpes tradicionais, surgem políticos autoritários que
se elegem pela via democrática e, uma vez no governo, agem progressivamente de modo a corroer as instituições
democráticas, curvando-as em seu benefício até consolidar seu poder de forma cada vez mais absoluta; sufocando
as vozes dissonantes da imprensa, da academia, entre outros; impedindo que a oposição tenha chance de disputar as
eleições em bases iguais; e garantindo, assim, a hegemonia do seu bloco político. Esse é o fenômeno que Adam Przeworski
(2020) chamou de “subversão sub-reptícia”.

Ressalta-se que todos esses líderes são eleitos democraticamente. O que significa que, muitas vezes, a população elege
um político de caráter autoritário sem perceber.

Os cientistas políticos americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt foram alguns dos autores a explorar o tema.
Levitsky e Ziblatt (2018) identificaram quatro indicadores de comportamento autoritário por parte de um político:

- Rejeição ou fraco comprometimento com as regras democráticas do jogo


- Negação da legitimidade de oponentes políticos
- Tolerância ou encorajamento a violência política
- Prontidão para cercear liberdade civis de oponentes, incluindo a mídia

É verdade que nem todo político de viés autoritário, mesmo chegando ao governo, concretiza a transição do
seu país para um regime autoritário. O caso mais notável dos últimos anos foi a eleição de Donald Trump, nos
Estados Unidos, em 2016. Derrotado na sua tentativa de reeleição em 2020, Trump não teve escolha a não
ser deixar o poder. Mesmo assim, seus anos de governo tiveram seu impacto, enfraquecendo a democracia
e deixando uma forte polarização na sociedade americana, o que culminou com a invasão do Capitólio no dia
06 de janeiro de 2021, numa tentativa de impedir a certificação da vitória do democrata Joe Biden.
24
Por que crise?

Acesse o podcast O Brasil também entrou na rota da ascensão de políticos autoritários com a vitória de Jair Bolsonaro em
“Religião e a pauta dos
costumes” via QR CODE:
2018. Repetindo uma fórmula semelhante de retórica como a utilizada por Trump, Bolsonaro elevou a
polarização na sociedade brasileira, politizou as Forças Armadas e manteve uma constante ameaça de não
reconhecer uma eventual derrota eleitoral. Essa derrota eleitoral chegou em 2022 por uma estreita margem,
e apesar de ter evitado questionar o resultado diretamente, a desconfiança de seus seguidores mais radicais
levou à invasão dos prédios dos Três Poderes no dia 08 de janeiro de 2023, clamando por uma intervenção
militar que devolvesse Bolsonaro ao poder.

Em ambos os casos, como a democracia seguiu funcionando, apesar da derrota desses políticos, poder-
se-ia afirmar que não houve, então, uma ameaça autoritária. Porém, a democracia vai além do mero
funcionamento das instituições, passando também pela confiança da população nas mesmas. Quando
uma sociedade perde a confiança nas suas instituições, a democracia já se encontra abalada. De acordo
com uma pesquisa da Universidade de Monmouth em setembro de 20222 , cerca de 1/3 dos americanos (e
mais de 60% dos Republicanos) acredita que houve fraude na eleição de Joe Biden, mesmo com mais de
1 ano após a eleição; no Brasil, de acordo com uma pesquisa do Instituto Atlas em janeiro de 20233 , quase
Acesse o podcast “O 8
de janeiro de 2023 no
40% da população acredita que o candidato vitorioso, Lula, não obteve mais votos que seu oponente, e
Brasil” via QR CODE: uma quantidade semelhante se posicionou a favor de uma intervenção militar para invalidar o resultado da
eleição presidencial.

Surge a questão, portanto, sobre o motivo pelo qual os eleitores têm votado em políticos autoritários em
democracias ao redor do mundo. Uma hipótese levantada é a economia. Rodrik (2018) cita uma reação ao
processo de globalização como motivação para a eleição de candidatos que ele chama de populistas (que
podem ser autoritários ou não), especialmente após as políticas de austeridade promovidas no período pós-
crise econômica de 2008.

O ponto fundamental Outra hipótese é de crise institucional das democracias. Levitsky e Ziblatt
é que a crise é real e, (2018) apontam uma perda de confiança da população na democracia, com
o sentimento de que os partidos tradicionais não mais correspondem aos
embora a democracia seus anseios. Com o enfraquecimento desses partidos, isso abriu caminho
tenha obtido vitórias, para políticos “outsiders”, radicais e extremistas ganharem destaque.

sobrevivendo a diferentes
ataques em alguns países, Mais uma perspectiva seria a do “backlash cultural”. Norris e Inglehart
(2019) introduzem essa tese tratando de uma “revolução silenciosa”
a ameaça ainda não foi que teria ocorrido nas últimas décadas, em particular no Ocidente, com
afastada. Cabe a cada relação a valores culturais. Essas mudanças teriam sido com a chegada
de imigrantes nos países ricos, e o rápido avanço de direitos de mulheres,
sociedade seguir lutando de minorias raciais e de LGBTQIA+, ocupando um espaço cada vez mais
contra aqueles que marcante na sociedade. Essas rápidas mudanças não foram assimiladas
pelos eleitores mais velhos e das zonas rurais que ensejaram uma reação
visam o fim do regime conservadora a essas pautas, encontrando em políticos radicais a voz que
democrático. E o papel eles sentem que perderam. Outros trabalhos, como Hochschild (2016) e
Cramer (2016) também reforçam o papel da cultura no posicionamento
dos pesquisadores da político de eleitores mais conservadores.
Ciência Política e das
Relações Internacionais é Haveria ainda outras questões que poderiam ser citadas: a automatização
seguir estudando o tema, na indústria, que tira empregos qualificados; o aumento da desigualdade
em países ricos; a reação de classes médias e altas em países em
buscando compreender desenvolvimento a reformas que beneficiam a classe trabalhadora;
o problema e tentando o aumento de divisões e da polarização dentro das sociedades; etc
(PRZEWORSKI, 2019; BELLO, 2019; entre outros). Uma explicação não
encontrar formas de anula a outra, e muito provavelmente a resposta se encontra em uma
solucioná-lo. combinação delas. Principalmente quando se analisa cada país e seu
processo particular de deterioração da democracia.

Para finalizar, convido vocês a assistirem a videoaula “Por que crise?” e para ouvirem os podcasts “O 8 de
janeiro de 2023 no Brasil” e “Religião e a pauta dos costumes”. Acesse via QR Code.

Leituras obrigatórias:

01 LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
Introdução e Capítulo 1. p. 13-45

02 NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. Cultural backlash: Trump, Brexit and authoritarian
populism. Cambridge: Cambridge University Press, 2019. p. 32-64

2
Murray, 2022. Disponível em:
https://www.nbcnews.com/meet-the-press/meetthepressblog/poll-61-republicans-still-believe-biden-didnt-win-fair-square-2020-rcna49630
3
Pólo, 2023. Disponível em:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2023/01/10/pesquisa-mostra-que-76percent-discordam-de-ataques-de-bolsonaristas-radicais.ghtml
25
Por que crise?

Indicações de filmes/audiobooks:

01 Democracia em Vertigem, 2019. Disponível em: Netflix.

02 Extremistas.br, 2023. Disponível em: Globoplay.

Referências
BELLO, Walden. Counterrevolution: the global rise of the far-right. Rugby: Fernwood Publishing, 2019.

CRAMER, Katherine. J. The politics of resentment: rural consciousness in Wisconsin and the rise of Scott Walker.
Chicago; London: The University of Chicago Press, 2016.

HERRE, Bastian; ROSER, Max. Human Rights. IN: Our World In Data. 2022. Disponível em:
https://ourworldindata.org/human-rights. Acesso em: 29 jan. 2023.

HOCHSCHILD, Arlie Russell. Strangers in their own land: anger and mourning on the American Right. New York: The New
Press, 2016.

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

MURRAY, Mark. Poll: 61% of Republicans still believe Biden didn’t win fair and square in 2020. IN: NBC News, 27 set. 2022.
Disponível em: https://www.nbcnews.com/meet-the-press/meetthepressblog/poll-61-republicans-still-believe-biden-
didnt-win-fair-square-2020-rcna49630. Acesso em: 29 jan. 2023.

NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. Cultural backlash: Trump, Brexit and authoritarian populism. Cambridge:
Cambridge University Press, 2019.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 19ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

PÓLO, Érica. Pesquisa mostra que 76% discordam de ataques de bolsonaristas radicais. IN: Valor Econômico, 10 jan.
2023. Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2023/01/10/pesquisa-mostra-que-76percent-discordam-
de-ataques-de-bolsonaristas-radicais.ghtml. Acesso em: 29 jan. 2023.

PRZEWORSKI, Adam. Crises da democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

PRZEWORSKI, Adam; LIMONGI, Fernando. Regimes Políticos e Crescimento Econômico. IN: Novos Estudos, n. 37, nov.
1993. Disponível em: https://novosestudos.com.br/produto/edicao-37/#5915415584a4f. Acesso em: 29 jan. 2023.

RODRIK, Dani. Populism and the economics of globalization. IN: Journal of International Business Policy, 2018. Disponível
em: https://drodrik.scholar.harvard.edu/files/dani-rodrik/files/populism_and_the_economics_of_globalization.pdf.
Acesso em: 29 jan. 2023.

UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME (UNDP). Human Development Insights. 2022. Disponível em:
https://hdr.undp.org/data-center/country-insights#/ranks. Acesso em: 29 jan. 2023.

Referências Complementares utilizadas nos demais Hubs


Hub Visual:

Vídeo 01:

Figura: Golpe 1964.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Deposi%C3%A7%C3%A3o_do_Governo_Jo%C3%A3o_
Goulart_%E2%80%93_Golpe_de_1964_15.tif

TV Brasil - Há 40 anos, um golpe militar derrubava, no Chile, o presidente Salvador Allende.


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=LoaTHplFKxY

Figura: Jair_Bolsonaro.
Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jair_Bolsonaro_em_24_de_abril_de_2019_(1)_(cropped).jpg

Figura: Rodrigo Duterte.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:President_Rodrigo_Duterte_portrait_(cropped).jpg

Figura: Donald Trump.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Donald_Trump_official_portrait.jpg

Figura: Protestos Chile.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:La_Marcha_M%C3%A1s_Grande_de_Chile_(Chilean_Protests_2019_
Puerto_Montt)_10.jpg 26
Por que crise?

Vídeo 02:

Figura: Revolução Americana.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Declaration_of_Independence_(1819),_by_John_Trumbull.jpg

Figura: Robert A. Dahl.


Fonte: Commons Wikimedia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Robert_A._Dahl_in_the_
Classroom_(cropped).jpg

Vídeo 03:

Figura: Senado Federal.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Senado_Federal_do_Brasil_Plen%C3%A1rio_do_Senado_
(15688581976).jpg

Figura: Assembleia Portugal.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Assembleia_da_Rep%C3%BAblica_-_Elei%C3%A7%C3%B5es_
Legislativas_de_2019.png

Vídeo: Como funciona a eleição proporcional?


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=NpNYeU3wCFM

Figura: Voto UK. The Guardian.


Disponível em: https://www.theguardian.com/politics/ng-interactive/2015/may/07/live-uk-election-results-in-full

Figura: Tiririca.
Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tiririca_na_camara.jpg

Figura: Congresso China.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:People%27s_Republic_of_China_Parliament.jpg

Figura: Bipartidarismo.
Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Donkey_and_elephant_-_democrat_blue_and_republican_
red_-_polygon_rough.jpg

Vídeo 04:

Figura: Churchill.
Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sir_Winston_Churchill_-_19086236948.jpg

Figura: Tanques 1964.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:War_tanks_in_Brasilia,_1964.jpg

Figura: Golpe Chile.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Golpe_de_Estado_1973.jpg

Figura: Capitol.
Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:DC_Capitol_Storming_IMG_7937.jpg

Figura: Unite the Right.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Charlottesville_%27Unite_the_Right%27_Rally_
(35780274914)_crop.jpg

Figura: Ideologia de gênero.


Fonte: Commons Wikimedia.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marcha_contra_la_Ideolog%C3%ADa_de_G%C3%A9nero_
Chile_2018_(7)_invertido.jpg

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