Você está na página 1de 16

Índice

Introdução........................................................................................................................................5

Objectivo geral:...............................................................................................................................5

Objectivos específicos.....................................................................................................................5

Metodologia.....................................................................................................................................5

1. Contexto histórico da formação da Nação Moçambicana........................................................6

1.1. As zonas libertadas.............................................................................................................12

1.1. A unidade entre o povo e a FRELIMO...............................................................................14

1.1.1. O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural, adoptados pela FRELIMO


………………………………………………………………………………………….15

Conclusão......................................................................................................................................18

Bibliografia....................................................................................................................................19

4
Introdução
A Construção da nação Moçambicana é espelhada em três pontos essenciais, sendo a construção
da Nação no período antes da independência, nas zonas libertadas; no período pós independência
e por fim aborda-se as causas da passagem do monopartidarismo ao multipartidarismo, para
depois analisar-se a construção da nação neste período da democracia.

Portanto, no presente trabalho tem como tema: O Nacionalismo no Contexto do processo da


Construção da Nação moçambicana, onde vamos abordar os seguintes aspectos:

1. Contexto histórico da formação da Nação Moçambicana


1.1. as zonas libertadas.
1.2. O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural, adoptados pela
FRELIMO

Objectivo geral:
Explicar a Construção da Nação Moçambicana antes da independência (1950-1960).

Objectivos específicos
Para facilitar a realização deste trabalho foram traçados três objectivos específicos por alcançar

Explicar o contexto histórico em que surge a Nação moçambicana;


Descrever o processo da construção da Nação moçambicana durante a luta armada, nas
zonas libertadas;
Caracterizar o projecto político da construção da Nação moçambicana no período pós
independência.

Metodologia
Desta feita, na elaboração deste trabalho baseou- se no método de consulta bibliográfico onde se
fez analises e criticas de várias ideias de diferentes defensores concernente ao tema escolhido.

Assim, o trabalho está estruturado da seguinte maneira: Índice; Introdução; Desenvolvimento do


tema; conclusão e Bibliografia.
5
1. Contexto histórico da formação da Nação Moçambicana
A Nação moçambicana, surge no contexto da reivindicação à dominação colonial portuguesa,
cujas bases lançam – se quando três organizações nacionalistas a MANU, UDENAMO e a
UNAMI, decidiram constituir – se numa única frente de libertação de Moçambique (FRELIMO),
a 25 de Junho de 1962, em Dar- es- Salaam (Tanzânia). (MAZULA, 1995, p. 103).

A FRELIMO simbolizava nesse momento o culminar de resistências seculares do povo


moçambicano, conduzidas isoladamente e localmente contra o colonialismo de 500 anos.

No entanto, por outro lado, marca o inicio de novos desafios, uma etapa de contradições de outro
tipo. Não se tratava, apenas, de conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do
colonialismo, mas de iniciar, ao mesmo tempo o processo de construção e consolidação da
unidade nacional, numa dimensão político - cultural mais abrangente para a edificação de um
Estado nação.

Todavia, era preciso eliminar as autoridades que coexistiam no sistema colonial, nomeadamente
à dos chefes tradicionais e a própria administração colonial. No entanto, o poder dos chefes
tradicionais tem a sua origem na sociedade tradicional e no passado baseava – se numa
concepção popular de legitimidade, e não na força. Isto, podia criar problemas de tribalismo e
regionalismo no futuro, contrapondo assim a ideia da construção duma sociedade unitária e
igualitária. Para além destes apoios, regista-se uma solidariedade activa da FRELIMO com a
Tanzânia de Julius Nyerere e a Zâmbia de Kenneth Kaunda, para além da concentração com o
MPLA e o PAIGC por intermédio da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias
Portuguesas (CONCP).

Em síntese, pode-se afirmar, que com a conquista da independência nacional em 1975, e segundo
relatórios da FRELIMO de III e IV Congressos de 1977 e 1983, Moçambique procurava uma
inserção internacional para resolver seu interesse nacional imediato-a luta pelo
subdesenvolvimento e reconhecimento de novo Estado na arena internacional.

De acordo com, Mazula, (1995, p. 103), esta visão é complementada por Sérgio Vieira (1988)
que já havia afirmado que “política externa de Moçambique tem sua raiz na teoria e na prática na
6
luta armada da FRELIMO pela independência de Moçambique”. Por outras palavras, a política
externa era mais de abertura e de conquista de amigos, ou seja, “ganhar mais amigos sem perder
os velhos”, ou como diria Mondlane “amizade com este não deve significar inimizade para com
outrem”

Assim, nas palavras de Sitoe (citado por Mazula, 1995, p. 103), a FRELIMO define uma política
externa (roll Conception) assente fundamentalmente, sobre os seguintes vectores:

Uma orientação geral do Estado baseado no Não-Alinhamento, mais exactamente: Não-


alinhamento-Activo. Isso encerra, nas palavras de Weimer (1989:6) tanto a não adesão a
qualquer bloco militar, como renúncia de pôr a disposição de potências estrangeiras
quaisquer instalações militares.
Conceitualização do papel do Estado assente no anti-imperialismo e na definição de uma
independência activa e da solidariedade activa/militante para com os movimentos de
libertação, sobretudo ao nível da África Austral e dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa e;
Anti-racismo;
Uma enumeração de objectivos que privilegia o combate contra os vestígios do
colonialismo, a dependência neocolonial e a redução à escala planetária da influência das
forças imperialistas. É neste âmbito, que os Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa, incluindo Moçambique condenaram veementemente à Indonésia pela
colonização de Timor-Leste e reafirmaram o seu apoio à FRETILIN (WEIMER, 1989:6).

Enfim, a política externa baseia-se, assim, nos princípios do Direito Internacional contemporâneo
e respeita estritamente a carta das NU.

Estes princípios estão consagrados na então Constituição da RPM.

Até porque os princípios, as prioridades e as características que no seu conjunto constituem a


concepção da política externa da então RPM, no momento presente, representam o seu lado
teórico (Ibid:9).

Mazula, (1995, p. 103), afirma que a prática continua sendo outra, pois ainda há evidências de
postulados da época de partido único, que prevaleceram no pós monopartidarismo.

7
Por exemplo, a sublevação da figura do Presidente (ultra-presidencialismo) e a excessiva
obsessão política; isto é, o Presidente é aclamado e tido como Deus todo poderoso; ele é
omnipotente e omnipresente, mesmo em foras específicos, como demonstraremos depois.

É neste emaranhado que se instala a Primeira República de 1975, após a assinatura dos Acordos
de Lusaka; e sob a égide de Samora Machel e constrói-se um Governo marcadamente militarista.

A subida de Samora Machel como presidente viera confirmar as sábias palavras de VIEIRA
(1990:31) que “ estes primeiros anos de independência e o tempo da luta de libertação estão de
tal modo próximos, que em muitos casos, são os mesmos homens que dirigiram o primeiro
processo, quem comanda o segundo.

Enfim, Moçambique novo parecia estar de regresso ao arbítrio do colonizador, na medida em que
grande parte da sua população maioritariamente analfabeta e rural (cerca de 90%) não percebia
os novos desafios que a própria independência lhes impunha. Não “percebiam” onde terminava
os ditames de um regime opressor, bem como onde iniciava a fúria por uma liberdade
assustadora; mesmo sabendo que já eram homens livres.

Os anos que se seguiram as condições de vida para a maioria das pessoas não melhoraram. Nas
palavras de Mosca (1991:125-126 e 60-61) o autoritarismo- centralismo do Estado, obrigou e
impôs uma nova consciencialização a população.

Com as machambas colectivas ou machambas do povo e trabalho voluntário das populações, o


Partido-Estado acreditava que asselaria o desenvolvimento como se previa.

Paralelamente a trabalho voluntário o novo Estado-Patrão, através de grande mobilização política


foi organizando à sociedade, politizando-a: criaram-se as lojas de povo, cooperativas do povo,
Grupos Dinamizadores, em volta de slogans como:

Estado de operários e camponeses, poder popular, inimigo externo, organizações juvenis e da


mulher, sindicalismo, células do partido, Guias de marcha, comícios populares e nas grandes
empresas estatais havia a figura de Comissário Político como um bem como onde iniciava a fúria
por uma liberdade assustadora; mesmo sabendo que já eram homens livres, (MONDLANE
(1995, p. 129).

8
Os anos que se seguiram as condições de vida para a maioria das pessoas não melhoraram. Nas
palavras de Mosca (1991) o autoritarismo- centralismo do Estado, obrigou e impôs uma nova
consciencialização a população.

Com as “machambas colectivas” ou “machambas do povo” e “trabalho voluntário” das


populações, o “Partido-Estado” acreditava que asselaria o desenvolvimento como se previa.

Paralelamente a “trabalho voluntário” o novo “Estado-Patrão”, através de grande mobilização


política foi organizando à sociedade, politizando-a: criaram-se as lojas de povo, cooperativas do
povo, Grupos Dinamizadores, em volta de slogans como:

Estado de operários e camponeses, poder popular, inimigo externo, organizações juvenis e da


mulher, sindicalismo, células do partido, Guias de marcha, comícios populares e nas grandes
empresas estatais havia a figura de Comissário Político como um dos membros do corpo
directivo, que tinha como funções, a estruturação e organização do partido nas empresas, e a
difusão da linha política do Partido-Patrão.

O partido estava/está institucionalizado nos variados sectores do Estado (Mosca, Ibid.).

O centralismo e o autoritarismo também prevaleciam nas formas e métodos das burocracias,


estabeleceram-se os mecanismos para a instrumentalização da participação das populações
naquilo que se designava por democracia popular, com objectivo fundamental de operacionalizar
a aplicação das decisões das hierarquias, dai que existia um controlo administrativo severo sobre
a população, (Mondlane (1995, p. 129).

Enfim, a obsessão política exagerada levou a coisificação do povo.

As indústrias, o sector de bens e serviços herdados mostraram-se sem pernas para andar, mesmo
com os discursos de politicamente correctos, de construamos o futuro com as próprias mãos,
Moçambique independente não conseguira dar muitos avanços rumo ao desenvolvimento tão
almejado.

De 1977-1987 o factor fracasso sempre esteve evidente nas estratégias de desenvolvimento.


Ainda adicionado a este, os decision-makers cumulativamente convidaram os técnicos do bloco

9
Leste para implementação de tais estratégias, erros políticos e económicos que até fora
reconhecido por Jacinto Veloso no recente livro “Memórias em voo rasante.

Mesmo com adesão ao FMI e Banco Mundial, as expectativas do povo foram renegados ao
segundo. Aliás, este período (década de 1980) em que Moçambique decide assinar Acordos de
Nkomati (1984) e rompe o cerco, expressão muito usada pelos políticos do movimento, as
medidas económicas para limpar as nódoas de um sistema erróneo, não ficaram livre de criticas.
Muito recentemente um Bispo de Nampula afirmara que os patrões de Moçambique são o FMI e
Banco Mundial, (Mondlane (1995, p. 129).

As críticas ao FMI e Banco Mundial não só se devem aos roteiros das suas imposições, como
também em grande medida, deve-se ao pacote de reajustamento estrutural (Terapia de chove),
que primeiro conduziu ao estimulo da economia, e depois à distorções, decline em cadeia até
falência generalizada das indústrias que outrora revelava-se incapazes de andar com próprias
pernas. Joseph E. Stiglizt, Nobel de economia afirmara que no programa de ajustamento
estrutural o factor fracasso sempre foi consequente, pois as hipocrisias sociopolíticas, sob
consideração de factores sócios-culturais e outros são apontados por este académico como causas
do insucesso.

Com a revisão da então Constituição de 1975, no limiar da década de 1990, Moçambique


procurava outras muletas para se locomover das constantes falhas que fora cometendo.

A Constituição de 1990 abre espaço para pluralismo político e abertura económica. Já em 1992,
com a assinatura do Acordo Geral de Paz que encerra cerca de 16 anos de luta entre a Renamo e
a Frelimo, até então no poder, (Mondlane (1995, p. 129).

Em 1994, como estava previsto no AGP realizavam-se as primeiras eleições gerais e


multipartidárias em Moçambique. Com uma participação de 87,9% de eleitores registados para
votar, a Frelimo apareceu como maior partido com 44,3% dos votos, seguido pela Renamo com
37,8%, e a coligação União Democrática (UD) com 5,2% e os restantes doze participantes
ganharam 12,7% entre eles.

O candidato a presidente por parte da Frelimo, Joaquim Chissano, obteve 53,3% dos votos e foi,
portanto, eleito. O candidato da Renamo, Afonso Dhlakama, teve 33,8% dos votos. Nenhum dos

10
outros dez candidatos às eleições presidenciais conseguiu mais de 3% dos votos (NILSSON,
2001:202).

A despeito desse processo eleitoral, as Nações Unidas e outros observadores internacionais


consideraram-nas de justas (Ibid:202), mesmo com muitos problemas manifestados: um
ambiente político tenso e de desconfiança, uma estrutura de recursos económicos e financeiros
fraca, elevada taxa de analfabetismo, movimentos intensivos de refugiados e de deslocados de
regresso a casa e infra-estruturas de comunicação deficientes (Tollenaere, 2006:8).

Mesmo assim, a natureza das mudanças era inquestionável. Dai que, Tollenaere (2002:233)
considerou que as primeiras eleições foram mais de um voto pela paz.

As eleições subsequentes (1999, 2003 e até mesmo as de 2009) não resultaram num ambiente
mais inclusivo. As desconfianças, um ambiente político conturbado, marcaram a corrida ao
poder entre os Big twos (Frelimo e Renamo).

O cenário político moçambicano coabita com existência de instituições ainda enfraquecidas bem
como fraca participação do eleitorado. Por exemplo, nas eleições autárquicas de 2003, o cenário
de um eleitorado fugaz prevaleceu. Somente 24.16% decidiu votar- isso deve ser entendido como
um sinal de alerta de um processo de liberalização e transição política conturbada.

Esta crise alastra-se para outros actores políticos como as Organizações da Sociedade Civil,
Comunicação Social (Media), e outros Partidos Políticos (os chamados partidos não armados).

Em poucas palavras pode-se dizer que estes actores no seu conjunto $$$são subjugados e
colocados na posição de reféns da actual força no poder, mesmo com a emergência dos
chamados independentes (por exemplo, a proliferação da media). Até podemos concordar com
Mazula quando afirma que estes actores até são cooptados pelo actual sistema, (Recama, 2006).

Com efeito, em termos de roll Conception da política externa de Moçambique arriscamos a


afirmar que devido as variáveis de dinâmicas internas-externas como corrupção, pobreza,
doenças endémicas, uma democracia em estágio mais ou menos critico, endividamento externo,
uma rede de infra-estruturas ainda débeis, isso coloca posições um pouco firme de Moçambique
no meio externo, o que nos leva a afirmar categoricamente que Governo de Guebuza com sua

11
política economicista de produza moçambicano, consuma moçambicano e exporte moçambicano
continua a forjar uma política externa de continuidade e com algum resfriamento.

Isso deve ser entendido, não só devido as fraquezas internas, mas também as imposições
externas, que Moçambique é um Estado-âncora, no sentido de que, vem acomodando a sua
política externa para salvaguardar interesses dos doadores e granjear maior apoio. Isso equivale
dizer que, o Partido-Estado hipotecou a sua soberania para garantir maiores fluxos de ajudas e
financiamentos externos.

A despeito dessa retórica, arriscamos a afirmar, que Moçambique possui política externa pária e
desajustada a dinâmica de um SI, que requer que os Estados encontrem muitas chaves para várias
portas no mundo cada vez mais competitivo e globalizado.

Na visão de Mondlane (1995, p. 129), “(...) a sobrevivência dos tais sistemas, constitui
obviamente um impedimento ao avanço da revolução que tem como objectivo a igualdade social
e política(...)”.

Portanto, pretendia – se a criação de uma sociedade nova e de um homem novo, com uma
mentalidade livre da dependência estrangeira, constituindo o desafio da construção
moçambicana.

Entretanto, não tendo sido possível a eliminação do sistema colonial por via de acordos, recorreu
– se a luta armada, a qual teve inicio à 25 de Setembro de 1964.

1.1. As zonas libertadas


A Nação, de acordo com o conceito que finalmente foi consagrado pela orientação de Wilson, no
fim da guerra de 1914-1918, era entendida como uma comunidade na identificação sociológica, e
avaliada como a expressão mais sólida da solidariedade que orienta a decisão de suportar em
comum as adversidades, os desafios, os projectos, mantendo-se assim na sucessão das gerações,
e ambicionando a suficiência de meios, recursos e determinação para gerir politicamente, com
independência, os seus destinos.

Na conclusão de Lord Acton, de regra foi o Estado que deu origem à Nação, e não a Nação que
antecedeu o Estado, reservando assim uma intervenção determinante para a variável do poder

12
político e da relação duradoira entre a dependência da população de uma sede do poder, e o seu
envolvimento longo num projecto estratégico de governo.

Isto com a necessária reserva de reconhecer que a condição comum de submissão a um poder
alienígena também determinou a decisão de um poder rebelde lutar pela libertação,
independentemente de a população ter atingido a definição de solidariedade abrangente do
modelo nacional. Por outro lado, é de considerar também que a realidade nacional não obriga a
que a decisão para a escolha do modelo de governo recuse soluções de soberanias cooperativas,
de serviço, federativas, ou unitárias.

A questão transversal é a de salvaguardar a nação, sempre que este patamar da evolução foi
atingido. Esta importância da nação, frequentemente acrescida de um projecto nacionalista que
tenderá para reprimir internamente discórdias ou dissidências, e para animar expansionismos
agressores de outras comunidades com apelo a uma ideologia de justificação, originou um
trânsito semântico das palavras para as ideologias de libertação dos territórios coloniais.

Tais movimentos declaravam-se nacionalistas, e chegavam ao poder acrescentando


frequentemente a convicção democrática, umas vezes assumindo formalmente o modelo das
democracias ocidentais, outras vezes o modelo das democracias populares. Este percurso de
imagem cobriu a formação de Estados que governa um aglomerado de etnias longe de
corresponder a uma comunidade nacional, e que são Estados autoritários também longe de
qualquer modelo democrático, muito claramente longe dos ocidentais, (Recama, 2006).

O primeiro desvio consolidou-se com a aceitação do critério da própria ONU relativo às


fronteiras geográficas, condicionando as independências pela definição arbitrária que as
potências colonizadoras tinham estabelecido, e que os estatutos da OUA declararam definitivas.

No que toca ao segundo desvio, talvez a primeira referência esteja no facto de que nenhuma das
metrópoles colonizadoras, ainda que sendo democracias estabilizadas como eram a Inglaterra e a
França, organizou qualquer regime de carácter democrático nas respectivas colónias.

Quer o seu representante se chamasse vice-rei, governador, ou alto-comissário, era sempre de um


poder indiviso que se tratava. Este modelo era o mais próximo das tradições locais, e os
movimentos de libertação, sobretudo os que adoptaram a luta armada, foi a apropriação desse

13
poder que tiveram como objectivo estratégico, um alvo apoiado na experiência da cadeia de
comando do período dos combates.

A medida em que a luta de libertação nacional foi avançando, foram surgindo territórios fora do
controlo da administração portuguesa e sendo ocupados pela FRELIMO. Esses territórios
passaram a ser chamados de zonas libertadas, onde e começa a construir o embrião de uma nova
nação, de um novo Estado, com características populares e democráticas.

1.1. A unidade entre o povo e a FRELIMO


A unidade entre o povo e a FRELIMO produziu efeitos positivos na luta:

Até 1971, a luta havia atingido toda a província do Niassa, mais de metade da província de Cabo
Delgado, tinha – se alastrado em toda província de Tete, havia entrado nas províncias de Sofala e
Manica. ( Nyasengo, 1986, citado por Mazula, 1995, p. 104).

Assim, em 10 anos essas zonas estendiam toda a província do Niassa e Cabo Delgado,
aproximadamente entre os paralelos 11,5’ e 14’ e toda a província de Tete. Samora Machel
refere – se à elas como zonas onde administração colonial se retirava, as populações
abandonavam as suas povoações para escapar à repreensão e viver sobre protecção da
FRELIMO:

Progressivamente este processo desenvolvia – se, surgiam as zonas libertadas e semi libertadas,
isto é, zonas onde a totalidade da vida das massas dependia, da orientação da FRELIMO, onde
no quotidiano se aplicavam “ as nossas palavras de ordem”. Assim, uma nova situação
qualitativa era criada com novas exigências. (Machel, 1980, citado por Mazula, 1995, p. 105).

É de referir que, o surgimento das primeiras zonas libertadas foi o ponto de partida ou a
materialização do projecto de criação de uma nação, a nação moçambicana, onde o poder estava
nas mãos da FRELIMO e implementava os seus ideais.

14
1.1.1. O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural, adoptados pela
FRELIMO
O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural bem como a base ideológica,
adoptados pela FRELIMO, assenta na seguinte premissa:

Que o colonialismo, sendo uma modalidade do sistema capitalista, manter este, como o
demonstrava já largamente a experiência da quase totalidade dos países libertados do jugo
colonial, era cair forçosamente na forma neocolonial, portanto, impossibilitar a realização do
objectivo fundamental da luta, libertar a terra e os homens, objectivo que correspondia, sem
dúvida, a vontade da esmagadora maioria do povo moçambicano, e era uma decisão
democraticamente tomada pelos seus membros.(MENDES, 1994, p. 14).

Desta citação compreende – se logicamente que, para que o país e o povo fossem completamente
livres e estes pudessem dispor do direito a uma vida digna, se impunha instaurar um sistema
político económico diferente do capitalismo. E, dado o apoio prestado pelos soviéticos, na luta
de libertação, o socialismo aparecia como a opção mais correcta. A este respeito argumenta
Mondlane:

(...) actualmente, contudo, existe uma transformação qualitativa de pensamento, surgido no


decorrer dos últimos anos, que me leva a concluir que a FRELIMO actual é muito mais
socialista, revolucionária e progressista do que nunca, e que a linha, a tendência é agora cada vez
mais em direcção ao socialismo do tipo marxista – leninista (...) porque as condições de vida em
Moçambique, o tipo de inimigo que temos, não nos deixam outra alternativa (...). (Mondlane,
citado por EGERÖ, 1992, p. 23).

Porém, a organização das zonas libertadas, a nível da estrutura política era o partido. O trabalho
de educação política, o exemplo e as explicações dadas pelos “ responsáveis”, ajudavam a criar
condições para o desaparecimento do poder tradicional – tribal e sua substituição por novas
formas de poder. A vida administrativa baseava – se nos comités populares eleitos por toda a
população.

Mas, o vazio deixado pela destruição do estado colonial colocou um problema prático que não
tinha sido claramente previsto pela direcção: juntamente com a administração portuguesa,
desapareceram uma série de serviços, particularmente de natureza comercial e social. Assim,

15
logo após as primeiras vitórias da guerra uma série de responsabilidades administrativas recaíram
sobre a FRELIMO, era preciso apoiar uma população de cerca de 800.000 pessoas que
necessitavam de abastecimento adequado de alimentos e fornecer outros artigos importantes tais
como: vestuário, sabão e fósforo. Também, era preciso criar serviços de saúde, educação e
sistemas judiciais. A propósito dos problemas, Mondlane escreveu: durante algum tempo os
problemas foram graves. Não estávamos preparados para a amplitude do trabalho que se nos
deparava, e carecíamos de experiência na maioria das áreas onde precisávamos dela.

Nalgumas áreas, as deficiências eram bastante graves. Quando os camponeses não


compreendiam as razões deixavam de apoiar a luta e nalguns casos abandonavam também a
região. Em 1966, a crise tinha passado e criadas estruturas embrionárias para o comércio, saúde e
educação. O novo Moçambique começava a tomar forma, (Mondlane, 1995, p. 131).

Mondlane, permiti – nos perceber que com o surgimento das zonas libertadas estavam a ser
construídas as bases da moçambicanidade, dando assim a luta da libertação nacional uma
dimensão política, económica e sócio – cultural. No entanto, as zonas libertadas deixaram de ser
espaços restritos a um grupo, a uma categoria social e a uma comunidade linhageira, para tornar
– se espaço social mais aberto, não sem contradições, caminhando para relações sociais trans –
étnicas e intra – raciais. A propósito, Mondlane explica que:

a quando da existência das primeiras zonas libertadas, elas iam – se constituindo em lugar,
momento e espaço de perspectivação de um projecto de uma sociedade nova e de exercício de
poder, que por sua vez exigia mudança de mentalidade e vida; de aprendizagem de novos valores
para a formação de uma sociedade não baseada no racismo, tribalismo, regionalismo e outros
tipos de preconceitos, mas sobretudo numa ideologia de unidade nacional a partir de relações
inter - tribais e inter – regionais. (Mondlane, 1995, citado por Mazula, 1995, p. 105,).

Entretanto, para a construção da nação moçambicana era necessário ultrapassar a


heterogeneidade cultural, económica e política que caracterizava os moçambicanos. Em outras
palavras era necessário que as tribos abandonassem a sua coesão, as suas línguas e os seus usos e
costumes e seguirem os ideais de uma sociedade nova e moderna desenhada pelos dirigentes da
FRELIMO. Assim, começavam a cruzarem – se todos os agrupamentos e camadas sociais para a

16
construção da “real” identidade cultural moçambicana e de uma racionalidade colectiva de
desenvolvimento em prol da construção da nação.

É necessário sublinhar que a ideologia da construção da nação moçambicana, é semeada nas


zonas libertadas durante a luta de libertação nacional principalmente nas escolas da FRELIMO,
onde estas exerceram um papel preponderante na construção da consciência nacional.

Deste modo, a construção ideológica da nação sustentava – se nos seguintes princípios políticos:
criar, desenvolver e consolidar uma sociedade para a construção de um Moçambique unitário,
internacionalista, cultural, política e militarmente auto-suficiente, próspero e independente; criar
uma consciência de responsabilidade e solidariedade colectiva livre de todo o individualismo e
corrupção.

Estas ideologias visavam unir as diversas tribos e regiões que estavam integradas dentro das
fronteiras coloniais formando a actual nação moçambicana, (Recama, 2006).

17
Conclusão
A Construção da nação Moçambicana é espelhada em três pontos essenciais, sendo a construção
da Nação no período antes da independência, nas zonas libertadas; no período pós independência
e por fim aborda-se as causas da passagem do monopartidarismo ao multipartidarismo, para
depois analisar-se a construção da nação neste período da democracia.

A Nação moçambicana, surge no contexto da reivindicação à dominação colonial portuguesa,


cujas bases lançam – se quando três organizações nacionalistas a MANU, UDENAMO e a
UNAMI, decidiram constituir – se numa única frente de libertação de Moçambique (FRELIMO),
a 25 de Junho de 1962, em Dar- es- Salaam (Tanzânia).

A FRELIMO simbolizava nesse momento o culminar de resistências seculares do povo


moçambicano, conduzidas isoladamente e localmente contra o colonialismo de 500 anos.

No entanto, por outro lado, marca o inicio de novos desafios, uma etapa de contradições de outro
tipo. Não se tratava, apenas, de conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do
colonialismo, mas de iniciar, ao mesmo tempo o processo de construção e consolidação da
unidade nacional, numa dimensão político - cultural mais abrangente para a edificação de um
Estado nação.

A medida em que a luta de libertação nacional foi avançando, foram surgindo territórios fora do
controlo da administração portuguesa e sendo ocupados pela FRELIMO. Esses territórios
passaram a ser chamados de zonas libertadas, onde e começa a construir o embrião de uma nova
nação, de um novo Estado, com características populares e democráticas.

O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural bem como a base ideológica,


adoptados pela FRELIMO, assenta na seguinte premissa:

Que o colonialismo, sendo uma modalidade do sistema capitalista, manter este, como o
demonstrava já largamente a experiência da quase totalidade dos países libertados do jugo
colonial, era cair forçosamente na forma neocolonial, portanto, impossibilitar a realização do
objectivo fundamental da luta, libertar a terra e os homens, objectivo que correspondia, sem
dúvida, a vontade da esmagadora maioria do povo moçambicano, e era uma decisão
democraticamente tomada pelos seus membros.

18
Bibliografia
EGERO. B. (1992). Moçambique: os Primeiro 10 anos de Construção da Democracia, Maputo:
Arquivo histórico de Moçambique.

MAZULA, B. (1995). Educação, cultura e ideologia em Moçambique: 1975 – 1985, Maputo:


edições afrontamento.

MAZULA, B. (2000). A construção da democracia em África: o caso moçambicano, Maputo:


sociedade editorial Ndjira.

MENDES, J. (1994). A nossa situação, o nosso futuro e o multipartidarismo, Maputo:


Tempografia.

MONDLANE, E. (1995). Lutar por Moçambique, 1ª edição, Maputo: colecção “nosso chão”.

MOSCA, J. S. O. S. (2004). África. 1ª ed. Lisboa: Instituto Piaget, Maputo:

RECAMA, D. C. (2006). História Universal, de África e de Moçambique, Maputo: Faculdade de


Direito – UEM.

19

Você também pode gostar