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A Fundação da FRELIMO

A preparação

O I Congresso da FRELIMO, realizado em Dar-es-Salaam, entre 23 e 28 de Setembro de 1962,


apenas três meses após a sua constituição, definiu e legalizou as suas estruturas, discutindo a
estratégia e a táctica da luta contra o ocupante colonial, tendo em vista preservar a unidade de todas
as forças. Assim, um dos grandes sinais dados nesta reunião foi ter-se passado duma perspectiva
meramente regionalista e tribal para uma perspectiva nacional, ainda que este processo tenha
decorrido num ambiente de grande confronto político e ideológico. Objectivo: a libertação de
Moçambique, através da «luta armada», já que todos os meios negociais tinham falhado perante a
intransigência do Governo português, e o estabelecimento da estrutura da organização, com os seus
órgãos fundamentais.

Assim, paralelamente a uma intensa actividade diplomática, no sentido dos outros países
compreenderem e apoiarem a libertação do povo moçambicano, criaram-se as condições para a
organização de um exército, capaz de levar a cabo a luta armada. Foram estabelecidos contactos
com a Argélia e, em Janeiro de 1963, seguia para aquele país o primeiro grupo de moçambicanos
para treinos militares.

No mesmo ano, um segundo grupo seguiria para aquele país. Outros grupos partiriam também para
a antiga URSS e República Popular da China. Foram criados campos de treinos (Bagamoyo e
Kongwa e, mais tarde, Nachingwea) junto das fronteiras moçambicanas, contando-se para isso com
a solidariedade tanzaniana.

Eduardo Chivambo Mondlane

Eduardo Mondlane nasceu em Nwadjahane, na província de Gaza, em 20 de Junho de 1920. Perdeu


os seus pais bastante cedo, tendo passado a sua infância a guardar gado.

Entre 1932 e 1934 frequentou o ensino rudimentar na escola pública, em Coolela, e na escola da
Missão Suíça, em Maússe. Apoiado por André Daniel Clerc, então director das escolas da Missão
Suíça, prosseguiu os seus estudos em Lourenço

Marques (actual Maputo). Em 1938 concluiu a 4ª classe e obteve o diploma de catequista em


Ricatla. No ano seguinte, tornou-se pregador, instrutor e impulsionador dos «Mintlawa» (grupos da
juventude), nos arredores da capital.

Frequentou a Escola Secundária de Lemana, na África do Sul, entre 1944 e 1947, seguindo-se a Jan
H. Hofmeyr School for Social Work, em Joanesburgo e Ciências Sociais, na Universidade de
Witwatersrand, tendo-lhe sido recusada a sua permanência naquele país, após a subida ao poder do
Partido Nacionalista. Em 1950 seguiu para Lisboa, com vista a prosseguir a sua formação
universitária. Em virtude de o curso que pretendia seguir não existir naquele país, o que era
agravado pelo ambiente político. Decidiu sair então daquele pais. Bacharelou-se em Artes pela
Oberlin College, em 15 de Outubro de 1956. Em 1960 doutorou-se pela Northwestern University,
nos cursos de Psicologia Social e Antropologia.
Em Fevereiro de 1961, deslocou-se a Moçambique, tendo visitado várias localidades e diferentes
grupos sociais. No mesmo ano, deixou de trabalhar na Organização das Nações Unidas, tendo
assumido a docência no Departamento de Antropologia da Syracuse University.

O convite dos vários movimentos nacionalistas moçambicanos, foi criada a Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), tendo assumido a presidência da mesma. Em 1963 deixou a
Universidade e regressou à Tanzânia. Sob a sua liderança iniciou-se a pesada tarefa de desencadear
a luta armada de libertação nacional, que passava pela formação dos guerrilheiros moçambicanos e
obtenção de armamentos.

Em Fevereiro e Maio de 1968 visitou as províncias de Cabo Delgado e Niassa Ocidental, tendo sido
reeleito para a presidência da FRELIMO, no decorrer do 2.0 Congresso da organização, realizado
entre 20 e 25 de Julho do mesmo ano.

As divergências vividas no interior da FRELIMO, praticamente desde a sua fundação, levaram ao


assassinato de Eduardo Mondlane, em 3 de Fevereiro de 1969.

Era casado com Janet Mondlane (15 de Outubro de 1956), de quem teve trés filhos.

Campo de treino político-militar de Kongwa

Encontrava-se situado na região de Dodoma, no centro da Tanzânia, tendo sido criado em 4 de


Abril de 1964. O local onde este estava situado era seco e agreste, sem quaisquer condições para a
sua existência. Ali vieram instalar-se os jovens moçambicanos, como foi o caso do segundo grupo
de guerrilheiros treinado na Argélia, a que se seguiriam posteriormente os combatentes da SWAPO
(South West African People's Organization) (Namíbia) e do ANC (Congresso Nacional Africano)
(África do Sul).

O campo foi aberto sob a direcção de Samora Machel, coadjuvado por outros importantes membros
da FRELIMO, como Alberto Chipande e Raimundo Pachinuapa.

Neste campo travaram-se importantes discussões sobre a natureza da guerra a desenvolver e sobre a
verdadeira definição do inimigo a combater.

Desencadeamento e o Desenvolvimento da Luta de Libertação Nacional

O início da luta armada em território moçambicano foi pensada como um levantamento militar a
ocorrer em todo o Moçambique. Os ataques viriam a efectuar-se em várias províncias do pais, como
foi o caso do Niassa, Tete, Zambézia e Cabo Delgado, com pequenas diferenças de horas ou de
dias, em resultado das dificuldades que os guerrilheiros moçambicanos encontraram no terreno.
Simbolicamente, o ataque a Chai, em 25 de Setembro de 1964, foi considerado como o inicio do
desencadeamento da luta armada. Um pequeno grupo de 12 guerrilheiros, liderados por Alberto
Chipande, avançou para aquele posto administrativo português, apos sabotarem as pontes e as vias
de comunicação, com o objectivo de dificultarem o avanço do exército inimigo. Posteriormente, a
acção conjunta das forças guerrilheiras com a população, em Cabo Delgado, viria a permitir a
organização das zonas sob o controlo da FRELIMO e o seu avanço para outras áreas, tendo sido
abertas, posteriormente:
 A frente do Niassa Oriental, em 6 de Novembro de 1965, sob o comando de Samora
Machel.

 A frente de Tete, em 8 de Margo de 1968.

 A frente de Manica e Sofala, em 25 de Julho de 1972, quando as forças guerrilheiras


atravessam o rio Zambeze, no seu avanço para o sul.

 A frente da Zambézia, em 1 de Julho de 1974.


De particular relevância era a organização clandestina na cidade de Lourenço Marques (actual
cidade de Maputo), onde se constituiu a IV Região Militar da FRELIMO, tendo sido enviados
alguns combatentes para apoiar o trabalho que se estava a realizar. A PIDE, polícia política
portuguesa, viria a prender militantes e intelectuais proeminentes como José Craveirinha,
Malangatana Valente, Sansão Mutemba, Rui Nogar, Luís Bernardo Honwana, Domingos Arouca, e
os combatentes vindos de Dar-es-Salaam, como Joel Monteiro, Josefate Machel, Matias Mboa e a
direcção do Centro Associativo dos Negros, então encerrado, entre Dezembro de 1964 e 31 de Julho
de 1965. Estas prisões viriam a inviabilizar a continuidade da existência desta frente, ainda que a
actividade clandestina, apesar de todas as suas fragilidades, se tivesse mantido até à independência
nacional.

O desenvolvimento da luta permitiu o surgimento de novos conflitos nas zonas onde a


administração portuguesa tinha deixado de existir, tornando-se obstáculos continuidade e
desenvolvimento do combate. Um dos conflitos mais graves vividos pela FRELIMO foi aquele que
dividiu «militares» e «políticos», tendo origem no carácter de guerra a desenvolver e no tipo de
sociedade a criar. A Frente considerou que esta era fruto de uma visão conservadora e tribalista,
demonstrando uma falta de compreensão do carácter popular da luta de libertação nacional. Assim,
ao nível militar, foi decidido reestruturar o Departamento de Defesa, já que era na frente militar que
os conflitos se faziam sentir com maior incidência. Na reunião do Comité Central da FRELIMO,
em Outubro de 1966, foi decidida a criação de um Comando político-militar centralizado, sob a
direcção do presidente Eduardo Mondlane, com o objectivo de orientar a frente militar. Em
consequência desta decisão, viria a surgir o Conselho Nacional do Comando, em Abril de 1967,
encabeçado por Samora Machel, então Secretário do Departamento de Defesa, com o objectivo de
coordenar e abastecer as diferentes forças. A nova estrutura permitiu então que:

 As comunicações entre as frentes de combate e os quartéis-generais passassem a


estabelecer-se com maior regularidade.

 As armas e os equipamentos começassem a chegar mais rapidamente as áreas de combate.

 recrutamento de jovens se intensificasse.

 Se desenvolvessem as campanhas militares contra o exército português.


Até 1967, a estrutura do exército da FRELIMO viria a ganhar uma maior complexidade, tendo-se
constituído unidades especiais de artilharia e anti-aérea, para além do efectivo militar ter sido
consideravelmente aumentado, estimado agora em cerca de oito mil guerrilheiros, a que se juntaram
ainda as milícias populares e os recrutas já treinados mas não armados.
Bibliografia

SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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