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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

II TRABALHO DE INTRODUÇÃO A FILOSOFIA


Nelson José da Cunha Amaral
Código: 708211643

Tutor: Bernardo Manual Supainho

Curso: Lic. Em ensino de Ed. Física e Desp


Disciplina: Introdução a Filosofia
Ano de frequência: 2º ano

Nampula, Setembro de 2022


Índice

Introdução .................................................................................................................................. 3
CONVIVENCIA POLITICA EM MOCAMBIQUE, SEGUNDO PENSAMENTO
POLITICO DE SEVERINO NGOENHA
Conceito da política ................................................................................................................... 4
História política de Moçambique: da independência aos nossos dias ....................................... 4
Moçambique completou 47 anos de i ndependência ................................................................. 6
Moçambique: ameaças de insurgentes no norte do pais............................................................ 7
Causas do conflito ..................................................................................................................... 7
Elementos do Estado ................................................................................................................. 7
Pensamento Político de Severino Ngoenha ............................................................................... 8
Em busca da Liberdade Política ................................................................................................ 8
A convivência política em Moçambique ................................................................................. 11
Direitos ao exercício da cidadania........................................................................................... 12
Valores para boa convivência politica..................................................................................... 13
Conclusão ................................................................................................................................ 14
Referências bibliográficas ....................................................................................................... 15
Introdução
O presente trabalho da cadeira de Introdução a Filosofia, que tem como a temática
“convivência política em Moçambique, segundo pensamento político de Severino Ngoenha”.
Os pensadores da Filosofia política africana estão estreitamente ligada ao pan-africanismo. O
pan-africanismo, além de lutar pelo reconhecimento dos negros no mundo, traçou,
principalmente com Du Bois, linhas pala uma Filosofia política africana.

Por Filosofia africana entende-se o conjunto de pensamentos relativos emancipação e ao


reconhecimento do homem negro, quer dentro do seu continente, quer fora dele. A Filosofia
política africana contém o pensamento de vários autores e tem como objectivo a libertação
física e psíquica do jugo colonial do continente africano.

Nas últimas duas décadas, Moçambique conheceu transformações rápidas nas esferas política,
social e econômica. Embora sua economia, agora estagnada, pareceu estar crescendo a um
ritmo agradável por um par de anos.

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CONVIVENCIA POLITICA EM MOCAMBIQUE, SEGUNDO PENSAMENTO
POLITICO DE SEVERINO NGOENHA
1. Conceito da política
O conceito da “Política” tem a sua origem na palavra grega “Polis” que significa “Cidade”.
Assim etimologicamente a política é “a arte de governar a cidade.” Na Antiga Grécia,
“Política” traduzia-se normalmente, por República – para designar a organização, o regime
político, a constituição de uma cidade soberana, de uma comunidade ou Estado com
individualidade e autonomia própria.

Para Aristóteles (384 – 322 a.C.) todo o Homem é político. Para, ele a política – é a arte de
governar, ou seja, é ciência do governo.

Assim, a Política pode-se definir como o conjunto de acções levadas a efeito por indivíduos,
grupos e governantes com vista a resolver os problemas com que depara uma colectividade.

O conceito da política está ligado ao conceito de poder. Tradicionalmente segundo Thomas


Hobbes (1588 -1679), o poder “são os meios adequados a obtenção de qualquer vantagem.”
Para Bertrand Russel, o poder é “o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos
desejados.”

Além do domínio da Natureza, o poder é usado no domínio sobre os outros homens, sendo
assim, não é um fim em si mesmo, mas um meio para obter vantagens, é a posse dos meios. O
poder usa a força, a coerção.

2. História política de Moçambique: da independência aos nossos dias


A FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, foi o movimento que dirigiu a luta de
libertação nacional que culminou com a independência nacional em 25 de Junho de 1975.
Desde então que esse movimento político ou os seus sucessores dirigem a política nacional.
Em 1978, a Frente tornou-se num partido político marxista-leninista, denominado Partido
FRELIMO, e Samora Machel ocupou a presidência do país, num regime de partido único,
desde a independência até à sua morte em 1986.

Em 1990, foi aprovada uma nova constituição que transformou o estado numa democracia
multi-partidária. O Partido FRELIMO permaneceu no poder, tendo ganho por cinco vezes as
eleições legislativas e presidenciais realizadas em 1994, 1999, 2004, 2009 e 2014. A RENAMO
é o principal partido da oposição.

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De acordo com a constituição em vigor, o regime político em Moçambique é presidencialista:
o chefe de Estado é igualmente chefe do governo. No entanto, existe desde 1985 o cargo de
Primeiro Ministro, que tem o papel de coordenador e pode dirigir as sessões do Conselho de
Ministros na ausência do presidente..

Em meados de 1984 até o final de 1989 em Moçambique ocorreu uma guerra que passou a ser
chamada Guerra Civil, nesta época a RENAMO recebia apoio total das populações da região
centro e norte de Moçambique onde se fazia sentir a sua identidade político e a mesma tinha
ligação com o povo local. As ideais divulgadas pela RENAMO eram de consenso na população
e também eram em prol da conservação das culturas idiomas e tradições nacionais. Isso revelou
o compromisso que movimento tinha com a identidade moçambicana e construção de estado
inclusivo e moderno, contrariando o projeto de homem novo do regime de Samora Moises
Machel.

Esse período ficou essencialmente marcado por dois aspectos. Primeiro, a transformação do
movimento desestabilizador patrocinado por estrangeiros à um movimento armado auto -
sustentável, ao nível ideológico/político, funda-se uma RENAMO com programa político que
no quadro da Guerra-fria reclama democracia multipartidária como leit-motiv da sua luta.
“Também é neste período que se intensificou a guerra, depois das forças armadas da África do
Sul terem feito os últimos abastecimentos em material bélico para a RENAMO. A guerra
alastra-se em todo território nacional a RENAMO chega a controlar dois terços do país e o
movimento atingiu 20 mil grelheiros”, num país que tinha cerca de 5 milhões de população e
atingiu o recorde africano em números guerrilheiros em relação aos outros rebeldes africanos,
isso preocupou a FRELIMO e a comunidade internacional e começou a fomentar pressão para
pautar pelo diálogo para chegar ao fim da guerra e também alocar o regime político que o
movimento propunha.

A morte de Samora Machel no dia 19 de outubro de 1986 fez renascer a esperança do diálogo
com governo de Joaquim Alberto Chissano, porque para Samora Machel a guerra para ele se
ganhava na base de combate e não diálogo, o papel das igrejas na busca da Paz consolida-se e
os primeiros contatos para a Paz são encetados, primeiro com a África do Sul e segundo por
intermédio dos religiosos, governo Queniano, Tswana e Malawiano.

Entre final de 1989 a outubro de 1992 também reconhecidos como guerra civil, mas com outra
dinâmica diplomática, nessa época intensificação das ideias da busca da Paz estendeu-se até a

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aprovação da segunda constituição de 1990 e uma transição imediata do socialismo para
capitalismo, esta transição surge em resposta à exigência da RENAMO.

a) Moçambique completou 47 anos de i ndependência


Uma das mais significantes mudanças que ocorreram na política moçambicana foi o
“abandono” do projeto socialista. A guerra civil que eclodiu após a independência e a
introdução, mais tarde, dos Programas de Ajustamento Econômicos, impostos pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, forçaram, em grande medida, esse
abandono.

A instalação do neoliberalismo como quadro político e econômico dominante interrompeu a


industrialização do país. O boom de recursos naturais, nomeadamente o carvão mineral, o gás,
as terras agrícolas e os minérios diversos, foi atraindo a cobiça de investidores estrangeiros
para a extração de matéria-prima. Uma elite oligarca “indígena” emergiu, aliando-se ao capital
internacional, permitindo assim uma nova configuração no balanço de forças entre o Estado, a
sociedade e o capital.

É neste contexto que a mineradora Vale e várias outras corporações transnacionais chegam ao
país. Alguns chamam isto de nova colonização silenciosa da África.

Nas últimas duas décadas, o país conheceu transformações rápidas nas esferas política, social
e econômica. Embora sua economia, agora estagnada, pareceu estar crescendo a um ritmo
agradável por um par de anos, o funcionamento básico das instituições do Estado e a
manutenção dos serviços essenciais nunca deixaram de depender da “boa vontade” da
comunidade doadora internacional, por meio de ajuda externa.

Desde 2016, essa ajuda passou a ficar condicionada quando o FMI e outros doadores
descobriram uma dívida ocultada de mais de 2 bilhões de dólares, contraída nos últimos meses
do mandato do anterior presidente, Armando Guebuza, conhecido pela sua inclinação aos
negócios. Acredita-se que estas dívidas foram contraídas para fins militares para proteger o
governo de uma oposição política militarizada, que pressionava mudanças institucionais
profundas.

Embora muito contestada, o governo de Moçambique logrou tornar essa dívida soberana,
mesmo que a sua contratação não tenha tido o aval do Parlamento. Há consensos entre analistas
de que as dívidas ocultas foram um mau negócio para o país, porém, as autoridades do
Judiciário não conseguem processar os agentes envolvidos.

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Há 4 anos atrás, Moçambique vem atravessando uma crise econômica severa. Esta situação
colocou o país num estado de vulnerabilidade, o que permite ao FMI e à comunidade doadora
internacional se aproveitarem da situação para impor medidas ao Estado Moçambicano.
Alguns chamam isto de interferência e desrespeito à soberania nacional.

b) Moçambique: ameaças de insurgentes no norte do pais


“Pouco se sabe sobre a identidade, objetivos e ideologia do grupo” e isso “torna a resolução da
crise ainda mais difícil”, indica um estudo do ISS África e do Instituto de Formação Judiciária
de Moçambique.

Um novo estudo do Instituto de Estudos de Segurança (ISS África) e do Instituto de Formação


Judiciária de Moçambique alerta que a insurgência armada no norte de Moçambique é "uma
das ameaças menos compreendidas e mais nebulosas de África".

c) Causas do conflito
Tal como sugerido noutros trabalhos, a descoberta de recursos naturais valiosos surge resposta
mais escolhida acerca das causas do conflito.

“Um total de 45% dos entrevistados disseram que a principal causa da insurgência foi a
descoberta de rubis e gás natural”, outros apontaram a disponibilidade de armas ilícitas (13%),
marginalização econômica (6%), ganância da elite (5%) e má governação (4%).

Segundo a opinião do ISS, as respostas sustentam a ideia de que o grupo militante Ahlu-Sunnah
wal Jama'a (ASWJ), apoiado pelo Estado Islâmico em Moçambique, “foram facilitados pela
chamada maldição dos recursos naturais: elevaram-se as expetativas da população, mas
aumentaram as desigualdades”.

“Alguns queixam-se de terem perdido terras e meios de subsistência para as infraestruturas de


gás construídas em terra”, duvidando que os projetos “reduzam a pobreza e melhorem os
serviços públicos”.

Assim, “o que inicialmente era um pequeno grupo radical cresceu para se tornar uma grande
ameaça que afastou grandes multinacionais como a Total Energies”.

3. Elementos do Estado
A política implica o poder e este poder é exercido numa sociedade ou Estado com toda sua
complexidade.

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a) População – é o número de pessoas que habitam num determinado território. É designado
de povo, no sentido natural – a massa popular, multidão; e no sentido político – é a população
de um Estado que obedece as mesmas leis.

b) Governo – é a acção de dirigir um Estado. É o conjunto de pessoas com cargos oficiais no


Estado. Aí encontramos os governantes e os governados.

b.1. Governante – é qualquer funcionário publico que assume cargos de direcção que dirige
uma instituição pública. Segundo Pedro A. Neves (1977), “os governantes são aqueles que
definem a política e linhas de orientação, impõe normalmente a sua vontade como
mandatários legitimados pelo sufrágio universal.”

b.2. Governados - são todos aqueles que são dirigidos, que obedecem as leis traçadas, normas
e lutam para atingir o mesmo fim.

c) Constituição – é a Lei Magna (Lei mãe) de onde derivam as leis particulares de um país, a
lei fundamental de um Estado. É a estrutura de uma comunidade política organizada, é a ordem
necessária que deriva do poder soberano e dos órgãos que o exercem.

d) Território – é o espaço geográfico no qual o Estado exerce seu poder de governo. Um


território é constituído por espaço aéreo, mar territorial, superfície terrestre e pelo subsolo.

4. Pensamento Político de Severino Ngoenha


Severino Elias Ngoenha teve o seu ponto de reflexão filosófica sobre a África a partir dos anos
90, altura em que o filósofo e teólogo camaronês Meinrad Hebga falava da necessidade de
ultrapassar a querela “filosofia-etnofilosofia”, que até então tinha dominado todo o debate em
torno da filosofia africana moderna e contemporânea.

De acordo com Ngoenha, “a nossa participação na vida política para a definição da nossa
própria vida era passiva. O povo estava somente para alimentar e realizar a vontade dos outros,
nós eramos apenas instrumentos nas mãos dos que tinham o direito de programar e escolher o
seu próprio futuro, o nosso futuro definia-se em função do futuro deles” (NGOENHA, 1993,
p.10).

 Em busca da Liberdade Política


Segundo Ngoenha, todo o tipo de desprezo e consequente dominação do Negro tem sua origem
nos evolucionistas que admitiram como cultura apenas a europeia e que as outras sociedades

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eram como estados arcaicos. Por isso, para Ngoenha, os escritos de Tylor, Morgan e Lévy-
Bruhl são resultado desse eurocentrismo.Desta forma, o Evolucionismo inspirou os grandes
impérios coloniais, Grã-Bretanha e França na abertura de institutos para formarem especialistas
em Etnologia, para evitar uma colonização cega. Isto era, para os etnólogos “um esforço para
limitar os desgastos e respeitar as estruturas autóctones” (NGOENHA, 1993:53).

Em reacção aos evolucionistas, surge o Funcionalismo através de Malinowski, segundo o qual,


cada facto social seria determinado por uma ou várias funções, e cada elemento da cultura
destinar-se-ia a cumprir uma determinada função dentro de uma estrutura social mais
abrangente. Isso permitiu o despontar do relativismo cultural que ressalvava a diversidade
cultural e social, considerando o homem como um ser essencialmente social e que impôs como
normas, o respeito pelas diferenças, a tolerância, a crença na pluralidade de valores, a aceitação
da diversidade.

Assim, as outras culturas passaram a considerar-se como culturas independentes da cultura


ocidental, onde os povos da África Negra passaram a designar-se povos sem civilização.

Essa luta pela libertação contou com W.E.B. DuBois como primeiro promotor, em 1903, cujo
objectivo era a integração do negro no contexto americano, lutando por uma igualdade
completa das raças nos EUA, com os surrealistas, em Paris que defendiam que a arte deve
libertar-se das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, com Senghor,
para o qual a política era simplesmente um aspecto da cultura e, com Edward Wilmont Blyden,
considerado o pai do pensamento político africano.

A liberdade constitui em Ngoenha um substrato filosófico e axiológico de Moçambique. Esta


liberdade consiste em vivermos em busca de um desenvolvimento social, e não se trata da
emancipação contra a escravatura, a auto-determinação política, mas de desenvolvimento
económico, político e social num clima de relações de forças com o ocidente. Entretanto,
Ngoenha salienta que a liberdade e a independência não são qualquer coisa de dado, mas sim,
algo que se conquista na existência paciente de descondicionar de um mundo que se estrutura
sobre a dominação em vez de se estruturar sobre as dependências da solidariedade e da
criatividade. Assim, “a independência e a liberdade são a luta por uma interdependência
criadora; e conquistam-se, legitimam-se, afirmam-se da estratégia de solidariedade” (Ibidem,
p.118).

A liberdade e a igualdade são também o pressuposto da forma democrática de organização


social: como estrutura social, a democracia é a associação e, como é óbvio, toda a associação

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pressupõe liberdade igual de todos e de cada um. Nesse contexto, a realidade democrática é
tida como proporcional ao espaço reservado às liberdades e às iniciativas dos cidadãos e dos
grupos.

As liberdades individuais na óptica de Ngoenha, não são simplesmente a reafirmação kantiana


da pessoa fim e da sua dignidade e autonomia, é o ponto de partida para a organização e
funcionamento da política dentro dos Estados. Por isso, as liberdades individuais realizam-se
nas instituições democráticas que são proclamadas e realizadas com base em princípios ideais,
instituições jurídicas e das suas relações sociais (NGOENHA, 1993: p.156).

O paradigma libertário proposto por Ngoenha, perderia a sua razão de ser se não acreditasse
na liberdade do homem. Ela tem como função simplesmente orientar o homem nas suas
escolhas e nas suas políticas. Assim, a perspectiva útil e significativa para Ngoenha, tem que
ser necessariamente libertadora, permitindo desta forma, a construção do futuro à imagem da
nossa vontade (Idem, p.176). Sendo assim, as liberdades dos indivíduos e dos grupos são o
único e exclusivo medium entre o sistema político, social e institucional. Contudo, é necessário
que haja uma boa gestão projectada de direitos, de forma a contribuir e permitir que os
indivíduos e os grupos sociais participem activamente nos assuntos da política, da sociedade e
do Estado, como fautores da sua própria história.

Para Ngoenha (1993), a liberdade não só deve ser compreendida em função da negação
defendida pelos negros afro-americanos acima descritos em relação à escravatura, mas também
defendida por pensadores que a requisitaram no derradeiro momento do colonialismo. Trata-
se do ganês Kwame Nkrumah que defendeu uma identidade geopolítica ligada a novas relações
de tal personalidade com o resto do mundo; o surgimento do consciencismo com o objectivo
de promover o desenvolvimento harmonioso da sociedade africana; Franz Fanon em apoio à
negritude e com escritos de Césaire.

Assim, o objectivo de Ngoenha é reafirmar a liberdade negra tanto na época da escravatura,


bem como durante o colonialismo. O passado, para Ngoenha, é importante somente para
compreendermos o futuro. Esse futuro deve ser segundo aquilo que o povo quer, cuja
consciência de uma neo-colonização lhes permite definir os seus representantes.

Em síntese, o pensamento do autor pode ser compreendido a partir dessas categorias: filosofia
historicista, política, liberdade e democracia. De salientar que a liberdade tem sido o ponto de
fundo de cada categoria aqui descrita como uma Auto libertação, se quisermos parafrasear
Castiano, para podermos compreender o futuro.

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5. A convivência política em Moçambique
Ao longo dos anos, Moçambique tem enfrentado sérias dificuldades no estabelecimento de um
governo estável e democrático no país.

O país conquistou sua independência somente em 1975, quinze anos depois da maioria dos
países africanos, tendo o poder colonial deixado poucos recursos para trás. Na sequência, o
país foi quase imediatamente envolvido numa sangrenta guerra civil, em grande parte
financiada pelos regimes brancos minoritários da Rodésia e, depois, África do Sul. Desde o
final dos anos 1980s, quando as principais forças políticas do país deram início a negociações
para a assinatura de um acordo de paz, e quando iniciou-se um processo de transição em
direcção ao estabelecimento de uma democracia de cariz liberal e uma economia de mercado
no país, Moçambique tem passado por um série de mudanças políticas e económicas de relevo.
Os processos de reconciliação e reconstrução nacional, assim como a transição democrática,
têm trazido consigo imensos desafios, os quais, contudo, não têm impedido o país de obter
considerável sucesso em várias áreas, num esforço que tem sido corretamente elogiado
nacional e internacionalmente: três eleições gerais e três eleições autárquicas foram realizadas
sem maiores conflitos e com poucos (embora houve alguns) incidentes mais sérios que
ameaçassem a sua legitimidade. Mesmo quando se considera o facto de que os partidos
políticos de oposição, alguns analistas de imprensa e académicos levantaram sérias dúvidas
acerca da justeza e transparência de alguns dos aspectos destas eleições, elas foram
reconhecidas por observadores nacionais e internacionais como, no geral, livres e justas.
Ademais, o desempenho económico do país tem sido impressionante, com taxas de
crescimento do PIB atingindo, em média, 7% ao ano na última década, e com os níves de
pobreza –apesar de ainda altos- tendo sido reduzidos de 69% em 1996-7 para 54% da
população do país em 2003. Grandes desafios, contudo, ainda existem. A pobreza continua a
afectar a maioria da população e os níves de desiguldade têm crescido.

No cenário político, a falta de confiança entre as duas forças políticas anteriormente em guerra,
a FRELIMO e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), continua bastante alta.
Entretanto, a FRELIMO tem aumentado o seu domínio da arena política: nos próximos anos,
o multipartidarismo corre o risco de tornar-se em pouco mais que a coexistência entre um
partido dominante e vários outros partidos menores e com pouca força política, a democracia
no país tornando-se bastante vulnerável ao grau de democracia no seio da FRELIMO. Ainda,
se importantes arranjos políticos para a participação popular foram estabelecidos, incluindo
passos para a uma maior descentralização do governo aos níveis locais, assim como o

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envolvimento da sociedade civil em alguns processos governamentais, estes arranjos estão
ainda na sua fase embrionária, muitos deles sendo pouco mais que mecanismos de consulta:
não há nenhum compromisso do Governo em seguir suas recomendações. Adicionalmente, a
participação popular nos processos políticos formais está declinando: há uma tendência
preocupante em direção a um menor número de votantes nas eleições gerais.

 Direitos ao exercício da cidadania


Em termos formais, Moçambique avançou consideravelmente na proteção de direitos da
cidadania. O país tem um dos mais generosos regimes para a aquisição de nacionalidade no
continente, concedendo nacionalidade automaticamente a todas as crianças nascidas no seu
território (com a Excepção de filhos de diplomatas) e, em conformidade com os tratados de
direitos humanos dos quais Moçambique é parte, não há discriminação racial ou de género na
concessão da nacionalidade. O actual texto constitucional, aprovado em 2004, consagra e
promove a igualdade jurídica, proibindo quaisquer formas de discriminação. Em linhas gerais,
todos os cidadãos moçambicanos, tanto os portadores de nacionalidade originária como
adquirida, possuem amplas possibilidades de participação política e de exercício da cidadania.
Existem, contudo, restrições aos direitos políticos para cidadãos naturalizados, os quais não
podem ser membros do parlamento, dos serviços diplomáticos e das forças armadas.

As principais barreiras ao exercício da cidadania em Moçambique estão relacionadas às


desigualdades de género e riqueza, à pobreza, ao analfabetismo, e à falta de acesso às estruturas
formais do Estado. No que concerne à igualdade de género, a proibição à discriminação da
mulher vem desde a aprovação da primeira constituição em 1975, tendo Moçambique
ratificado à Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
Mulher (CEDAW) e seu Protocolo Opcional, assim como o Protocolo à Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África. Em Julho de 2009,
após anos de debate, o parlamento moçambicano finalmente aprovou a Lei contra a violência
doméstica. Na legislação nacional, contudo, ainda restam áreas em que a estrutura normativa
deve avançar para proporcionar salvaguardas legais às mulheres contra condutas abusivas,
principalmente com a reforma tanto do Código Penal como da Lei de Sucessões, as quais
contêm disposições discriminatórias em relação às mulheres.

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6. Valores para boa convivência politica
A política hoje está submetida a um cerco que, antes de tudo, é estrutural. Nós passamos a
viver em contextos cuja organização demole as condições de reprodução da política tal como
nós a conhecemos até então. Refiro-me às bases da democracia representativa.

Democracia representativa ou democracia indireta é uma forma de governo em que o povo


elege representantes que possam defender, gerir, estabelecer e executar todos os interesses da
população.

A principal base da democracia representativa é o voto direto, ou seja, o meio pelo qual a
população pode apreciar todos os candidatos a representantes do povo e escolher aqueles que
consideram mais aptos para representá-los.

Os representantes eleitos através do voto podem ser vereadores, deputados estaduais,


deputados estaduais, senadores, governadores e etc. Teoricamente, a função das pessoas que
foram eleitas é representar os direitos e interesses daqueles que os elegeram, no entanto, muitos
exemplos de sistemas democráticos pelo mundo mostram que a relação entre os representantes
e a população é bastante questionável.

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Conclusão
Terminando o trabalho vale a pena realsar que no âmbito da independência a guerra findou-se
com a assinatura dos “Acordos de Lusaka”, em Setembro de 1974. Nesse período foi
estabelecido um governo provisório composto por representantes da FRELIMO e do governo
português, até que no dia 25 de Junho de 1975, foi proclamada oficialmente a independência
nacional de Moçambique.

Desde então Moçambique é um país democrático baseado num sistema político


multipartidário. A Constituição da República consagra, entre outros, o princípio da liberdade
de associação e organização política dos cidadãos, o princípio da separação dos poderes
legislativo, executivo e judiciário, e a realização de eleições livres.

E de acordo com a constituição em vigor, o regime político em Moçambique é presidencialista:


o chefe de Estado é igualmente chefe do governo. No entanto, existe desde 1985 o cargo de
Primeiro Ministro, que tem o papel de coordenador e pode dirigir as sessões do Conselho de
Ministros na ausência do presidente.

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Referências bibliográficas
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