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TEMA:
NACIONALISMO AFRICANO E DEFESA DA PAZ
Mestrandos:
Morílio Nério Urgente
Docente:
Prof. Dr. António Caetano Lourenço
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
4. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 15
REFERENCIAS ............................................................................................................. 16
1. INTRODUÇÃO
Tal como pode se acompanhar nos dispostos de Andrade (S/D: 140) que em 1962, a
Assembleia Geral das Nações Unidas instaurou o Comité Especial sobre a
Descolonização, com a finalidade de fazer valer a Declaração sobre a Concessão da
Independência aos Países e Povos Coloniais (ou simplesmente Declaração sobre a
Descolonização), proferida através daresolução nº1514 de dezembro de 1960.
Entretanto, é nesse contexto que o nacionalismo africano ganha um grande marco, que é
o apoio da ONU sobre a concessão das independências aos países colonizados.
Portanto, o período pós-independências é caracterizado por conflitos entre países
africanos assim como conflitos internos dos mesmos, dai que apos as independências,
os países africanos preocupam com a paz na região e por conseguinte várias iniciativas
são levadas a cabo no âmbito da OUA assim como a UA com o objectivo de promover
relações pacificas entre os países da região.
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2. NACIONALISMO AFRICANO
2.1. História do Nacionalismo Africano
Para abordar sobre a história do nacionalismo africano é imperioso que discuta se sobre
a ideia de nação. Não existe consenso no que se refere a este conceito no seio da
academia ou literatura, ou seja, existem vários conceitos de nação, contudo, é
importante notar que o conceito de nação é meramente político. De acordo com Sousa Jr
(2013: 13), O principal significado de nação é o político e este está associado à ideia de
“povo”, a “nossa terra comum”, o “público”, o “bem-estar público”. Pode assim referir-
se que se trata afinal de um “corpo de cidadãos cuja soberania colectiva constituí um
Estado”. Entretanto, no contexto africano a nação pode ser entendida como uma luta ou
engajamento por parte de um corpo de cidadãos africanos com o objectivo de constituir
uma soberania coletiva sobre um Estado.
Ademais, importa referir que movimentos do nacionalismo africano tem suas origens no
período depois da primeira guerra mundial, concretamente nos anos de 1920, na
diáspora por parte de um grupo de intelectuais negros. Segundo Sousa Jr (2013: 15) a
mudança da ordem mundial, em particular no período entre as duas Guerras, foi vital
para que fossem criadas as condições internacionais necessárias ao surgimento e
disseminação de ideias nacionalistas em África. Estas ideias foram essencialmente
geradas fora de África e disseminadas sobretudo nos anos 20 por grupos de intelectuais
descendentes de africanos que se encontravam a viver nos Estados Unidos da América,
Caraíbas e nas grandes capitais europeias.
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Entretanto, os movimentos nacionalistas africanos resultaram na criação de uma
ideologia africana denominada Pan-africanismo. Segundo Sousa Jr (2013: 14), O Pan-
Africanismo assumiu-se como a principal ideologia política que defendia alibertação do
poder colonial por parte dos africanos. Esta ideologia teve em William Edward
Burghardt Du Bois1 o seu principal teórico e impulsionador. O Pan-africanismo fazia
apelo à consciência dos africanos para que despertassem dadominação colonial que era
exercida pelo Ocidente. Na sua intervenção política e nacionalista Du Bois reclamava a
dignidade africana. Ou seja, pretendia reivindicar para os povos afro-americanos o livre
acesso à participação na sociedade em situação de igualdade e não subjugação ou
inferioridade racial, como por exemplo, ele defendeu o despertar de consciências para o
encontro de povos e para o contributo do homem negro com toda a sua história e cultura
no avanço da humanidade.
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Du Bois nasceu no estado norte-americano do Massachusetts, descente do continente africano, teveuma
vida prestigiada vida académica. Foi sociólogo, historiador e o iniciador do Congresso Pan-africanode
Paris, em 1919 (Benot, 1981 (Vol I): 195).
2
ConférenceDesOrganisationsNationalistesDesColoniesPortugaises. Lisboa: Fundação Mário Soares,
1961. Disponível em: <http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04357.009.001#!1>. Acesso em: 25
Abril 2019.
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2.2. Nacionalismo Africano no Período Pós-independência
Ademais, foi nessa conferência que se proclamou a data de 25 de Maio como dia de
libertação de África, marcando o reconhecimento da legitimidade da OUA. Outrossim,
nessa conferência foi criada e aprovada a Carta da Organização da Unidade Africana
(OUA), a primeira instituição representativa do continente com objetivos de unir,
fortalecer e defender a soberania dos países africanos, bem como erradicar todas as
formas de colonialismo (Langa, 2020: 212). A Organização da Unida Africana trazia
consigo um cuno nacionalista, mas não só vista em assuntos da descolonização, também
em assuntos económicos e políticos numa fase em que o continente tinha que procurar
se inserir na sociedade internacional. Cardoso e Oliveira (2018:337) refere que os países
africanos independentes criaram a Organização da Unidade Africana (OUA), baseada
em ideais pan-africanistas de criar uma estrutura forte unificada para combater o jugo
colonial e o racismo, e para promover o desenvolvimento econômico e a estabilização
política dos Estados membros.
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turbulência política e social, caracterizados por movimentos de contestação popular,
golpes militares, guerras civis, rebeliões de grupos mais ou menos organizados que ora
estabilizam ora desencadeiam hostilidades no âmbito da luta de guerrilha, por vezes
culminando em massacres e confrontos de grande violência (Medeiros, 2010: 182).
De acordo com Cardoso e Oliveira (2018: 337), o período que se seguiu às primeiras
independências africanas foi marcado pela eclosão de intensas disputas por poder e
recursos em diversos países recém-independentes. Essas disputas fizeram com que
alguns desses novos Estados passassem a vivenciar sangrentos conflitos, que tiveram
significativas consequências internas e claras implicações regionais e continentais.
Entretanto, esta evidente a importância da OUA para a defesa da paz em África.
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Artigo 3: alínea F) Promover a paz, a segurança e a estabilidade no continente;
no Artigo 4: alínea e) Resolução pacifica dos conflitos entre membros da união
através dos meios apropriados que sejam decididos pela conferência da união;
alínea f) Proibição do uso da força ou da ameaça do uso da força entre os
Estados membros da união; alínea g) não ingerência de qualquer de qualquer
Estado membro união nos assuntos internos de outro; alínea h) Direito da União
intervir num Estado membro em conformidade com uma decisão da conferência
em situações graves, nomeadamente, crises de guerra, genocídio e crimes contra
a humanidade; alínea i) Coexistência pacífica dos Estados membros da União e
seu direito de viver em paz e segurança; alínea j) Direito dos Estados membros
de pedirem a intervenção da união, com vista à restauração da paz e segurança.
Portanto, vê-se aqui uma organização africana comprometida com paz da região,
preocupada com a resolução de conflitos por meios pacíficos e o respeito à soberania
entre os Estados membros. Porem, essa organização não foi eficaz no que se refere a
resolução de conflitos, devido ao seu princípio da não interferência em assuntos internos
dos Estados, tal como afirma Silva (2013: 50) que entre os anos de 1999 a 2002, quando
oficialmente, propuseram a dissolução da OUA, em 1999, devido à sua pouca
funcionalidade nas resoluções dos problemas dos países membros da região. Problemas
como a paz, a segurança e o desenvolvimento económico tão almejados pelas
populações, sendo efectivada a atualização da organização internacional de Estados
africanos passando de OUA para UA, em Durban, no ano de 2002.
O caso das disputas transfronteiriças entre a Líbia e o Chade pode ser tomado em conta
como um exemplo prático da pouca funcionalidade na resolução de problemas entre os
países membros da OUA. Como por exemplo, “a cooperação entre Muammar Gaddafi e
Gukuni era imensa, mas há uma reviravolta nesta parceria tão intensa. Dois
comandantes militares chadienses foram enviados à Líbia e foram mortos por
dissidentes. Era um recado claro: não abandone o acordo com a Líbia. Com uma
insatisfação crescente com Gaddafi, o presidente Gukuni decide se virar contra os líbios.
As forças da Líbia saem da capital N’djamena em Novembro de 1981, substituídas
pelas Forças Intra-Africanas da Organização da Unidade Africana (OUA). Agora
avançamos para o ano de 1986. A Líbia ainda ocupa a Faixa de Aouzou, e faz uma
investida cruzando a RedLine, delimitação terrestre feita pela França para conter o
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avanço tanto do Chade quanto da Líbia em território alheio. Porém, mesmo com uma
superioridade militar, a Líbia perde o conflito”3.
Não só, tem-se também como exemplo do fracasso da OUA na defesa da paz o caso das
disputas transfronteiriças entre a Etiópia e Eritreia. Segundo Aquino (2020: 4), em
Fevereiro do ano de 1999 a Etiópia reocupou a área de Badme ao romper as linhas
defensivas das tropas eritreias. Em resposta, a Eritreia armou uma ofensiva contra
Tsorona-Zalambessa. As tentativas de desenvolvimento de um plano de paz apresentado
pela Organização da Unidade Africana (OUA) foram falhas e apesar da “Operação Pôr-
do-sol” ter demonstrado um retorno ao status quo e uma hegemonia militar etíope,
ocorreram diversas batalhas terrestres, lutas aéreas e perdas humanas.
Entretanto, em 1986 e 1999 mesmo com a actuação da OUA nos dois casos de conflitos
transfronteiriços, a defesa da paz não foi eficiente, ou seja, o conflito voltou a tomar
lugar.
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Constitutivo de 2001 como aspirações da UA. As aspirações recém-introduzidas
incluem a determinação de buscar o desenvolvimento socioeconômico para enfrentar
mais efetivamente os desafios colocados pela globalização, construindo parceria entre
governos e sociedade civil, prevenção de conflitos como pré-requisito para a
implementação da agenda de desenvolvimento e integração, a determinação de proteger
os direitos humanos e dos povos e a necessidade de consolidar as instituições
democráticas e a cultura foram destacadas como aspirações centrais (Yihdego, 2011:
576).
Objectivo estratégico 4:
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➢ Objectivo 4A: Melhorar a cooperação Intra serviços nos organismos de
fronteiras;
➢ Objectivo 4B: Melhorar a cooperação inter-serviços entre os organismos de
fronteiras;
➢ Objectivo 4C: Reforçar a cooperação bilateral e internacional entre os agentes
das fronteiras;
➢ Objectivo 4D: Reforçar a cooperação com o sector privado e as comunidades de
fronteiras.
Entretanto, a NBI, para colocar a estratégia em prática, procura identificar situações que
terá de ultrapassar e quais os objectivos que pretende alcançar, como instituição, de
modo mais eficaz (Ibid: 24-25). Os objetivos traçados para o futuro são em parte a
continuidade dotrabalho feito pela NBI no passado, como pode ser notado nos seguintes
objetivos:
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➢ reforçar a capacidade de lidar com os impactos das alterações climáticas nabacia
hidrográfica;
➢ estabelecer uma governança mais eficaz nas questões de cooperação em tornoda
gestão dos recursos hídricos.
No entanto, verificam-se esforços a nível da África em defesa da paz onde são criadas
instituições para regular as relações entre os países africanos de modo a reduzir os
conflitos latentes. No âmbito da criação de tais instituições, são estabelecidas normas de
conduta a luz do direito internacional africano.
De modo geral, de acordo com Almeida (S/D: 131) África atravessou décadas de
dificuldades, após as independências, para consolidar a soberania, com carência de
mecanismos de alerta precoce, bem como a difícil articulação de meios militares e os
limites de aptidões da maior parte das instituições africanas, permitiram a existência de
um cenário de desadequação de actuações e carência de meios para combater os
emergentes fenómenos de conflito, progressivamente mais complexos. Já para a UA
usando de experiências acumuladas, ensaiou consolidar o seu papel na esfera económica
no sentido de uma maior articulação de sensibilidades, por vezes divergentes, visando
uma capacitação institucional em matéria de defesa e segurança materializando a ideia
segundo a qual “Soluções Africanas para problemas Africanos”, conduzindo para a
criação do Conselho de Paz e Segurança.
O conselho de paz e segurança da união africana foi constituído adoptado pela 1ª sessão
ordinária da conferência da unidade africana em Durban a 9 de Julho de 2002 através de
um protocolo constitutivo “Protocolo sobre o estabelecimento do conselho de Paz e
Segurança da União Africana” um documento exaustivo com 22 artigos dos quais
importa destacar: art. 2 que cria o conselho, art. 3 define objectivos do conselho e o art.
4 indica os princípios orientadores, art. 5 indica a composição deste conselho e o
processo de indicação para o órgão e o art. 6 descreve as funções do conselho.
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a) Promoção da Paz, Segurança e estabilidade em África para garantir a protecção e
preservação da vida e da propriedade, e bem-estar das populações africanas e
seu meio ambiente bem como a criação de condições favoráveis ao
desenvolvimento sustentável,
b) Antecipação e prevenção de conflitos. Em circunstância onde tenha ocorrido
conflito, o Conselho de Segurança tem responsabilidade de desempenhar as
funções de edificação e manutenção da paz com vista a resolver esses conflitos.
c) A promoção e execução de Actividades de Edificação da Paz e reconstrução
Pós-conflitos de modo a consolidar a Paz e impedir o ressurgimento da
violência.
d) A coordenação e harmonização dos esforços a nível continental para a prevenção
e o combate ao terrorismo internacional em todos seus aspectos.
e) Desenvolvimento de uma política de defesa colectiva da união, em
conformidade com artigo 4 (d) do acto constitutivo.
f) A promoção e o encorajamento de práticas democráticas, boa governação, e o
estado de direito, protecção dos direitos humanos e liberdades fundamentais,
respeito pela santidade da vida humana e direitos humanitários internacionais,
como parte de esforços em prol da prevenção dos conflitos.
Por sua vez o art. 4 estabelece os princípios que norteiam o conselho na sua árdua
missão de garantir a Paz e segurança continental nos seguintes termos:
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j) O direito da União de intervir num Estado membro em conformidade com a
decisão da conferência, caso ocorra circunstâncias graves, nomeadamente crimes
de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade de acordo com artigo 4 (1)
do acto constitutivo.
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Diversos actos insurrecionais, extremismos militantes e religiosos, variados tipos de
terrorismos, a maioria assentes em dogmas religiosos ou secessionistas, são alguns dos
casos que colocam em causa a Paz e a Segurança no Continente africano: seja a norte,
junto às margens do Mediterrâneo, seja no Sahel, seja no Corno de África, seja na
região dos Grandes Lagos, ou no Golfo da Guiné. Naturalmente não só nestas regiões
onde pontuam os maiores conflitos e as maiores preocupações quanto à Paz e Segurança
em África e que mantém em constante alerta a CPSUA (Almeida, S/D: 137)
Portanto, pode-se dizer que África continua mergulhada nas diversas categorias de
conflitos entre os quais se destacam os económicos, político, e militares com potencial
para causar dano a arquitectura da Paz e segurança. Segundo Silva (S/D: 6) São
principais causas de conflitos em África as diferenças culturais das populações, disputas
territoriais, subdesenvolvimento e causas ambientais. Para este autor, estes factores são
geradores de conflitos que podem colocar em causa toda uma arquitectura criada para
manutenção e sustentação de uma Paz e Segurança africana.
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4. CONCLUSÃO
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REFERENCIAS
Belo, Manuel (2021), Escassez de Água: Uma Razão para fazer Guerra ou uma
Oportunidade para Cooperar? Estudo de Caso: Bacia Hidrográfica do Nilo.
LisbornSchoolofEconomics&Managment. Lisboa-Portugal.
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https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/2805/1/NeD29_VictorAugustoNunesSaMac
hado.pdf. Acessado as 17:18 de 08/10/2022.
Yihdego, Zeray (2011), The African Union: Founding Principles, Frameworks and
Prospects. EuropeanLawJournal. Volume 17. United Kingdom.
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