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Caikue Bacar
Ernesto Xavier Lássimo
Janeiro Hermínio
Juvêncio Abel António
Lima Orlando Fernando
Zacarias Júlio Mariano
Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2021
A multiplicidade cultural na metade oriental da África Austral tem origem a partir de contactos
entre povos causados por migrações. Estas migrações foram internas e externas.
Entre as migrações internas destacam-se a migração dos povos bantu, do centro de África para a
região Sul (no caso de Moçambique, chegaram os San e os Khoi-Khoi, que depois se uniram
formando os Khoisan), o Nfecan, migração do povo Nguni por motivos de guerras (1880)
internas. E entre as migrações externas destacam-se as dos comerciantes asiáticos (indianos,
árabes, persas, chineses), séc. XII, e colonos europeus (ingleses, portugueses, alemães), séc. XV-
XVI.
Após a independência, os moçambicanos vão também adquirir valores culturais, éticos e morais
que nos vão ser transmitidos pela política socialista e pelo contacto com cooperantes russos,
cubanos, búlgaros, norte-coreanos, chineses, alemães [RDA].
A cultura socialista vem a ser amplamente difundida nas escolas por meio do Sistema Nacional
de Educação que tinha como objectivo formar um Homem Novo que significava um homem
livre do obscurantismo, da superstição e da mentalidade burguesa e colonial, um homem que
assume os valores da sociedade socialista (MINED, 1985, p.113).
Todos esses contactos com povos diferentes proporcionam em Moçambique formas diferentes e
diversificadas de ser e estar.
É o fenómeno que se deu durante o contacto entre povos durante as guerras de dominação de
reinos e impérios, durante as guerras religiosas (cruzadas), durante o colonialismo, durante a
escravatura, etc.
Como foi dito, o processo de aculturação se dá pelo contacto de culturas diferentes e pela
adopção mútua de costumes pertencentes a outra cultura. Pelo que não há total destruição da
culturas, embora alguns autores considerem a aculturação como responsável pela destruição ou o
desgaste de culturas vistas como originais. Na verdade, as duas culturas em contacto ganham/
perdem elementos e, por conseguinte, ambas sofrem transformações.
Os modelos societais endógenos (culturas originais) podem destruir-se não pela aculturação,
mas por outros factores com assimilação. Sendo assim, as culturas tidas originais permanecem,
não de forma cristalizada ou estática, mas num processo de contínua renovação.
Porém, é preciso salientar que a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto
de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a colectividade da qual ele faz parte. Pelo
contrário, o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e a construção
das identidades. Segundo teorias recentes, a identidade cultural se constrói de forma múltipla e
dinâmica.
Antes de tudo tentemos definir os conceitos de etnia, tribo e nação. Segundo Mercier, uma etnia
é um grupo fechado, descendendo de um mesmo antepassado ou mais geralmente, tendo a
mesma origem, passando uma cultura homogénea e falando uma língua comum . (Apud
CHICHAVA, 2008)
Por isso, no processo de construção da nação moçambicana podemos distinguir dois momentos,
cada um caracterizado por discursos sobre a tribo/ nação diferentes (CHICHAVA, 2008, p.8-13).
O primeiro período, vai desde a independência (1975) até a introdução da Democracia, com a
Constituição de 1990. Neste período, a Frelimo no seu discurso de identidade nacional confundia
a unidade e a igualdade com o igualitarismo combatendo todo o tipo de diversidade: cultura,
linguística, política, religiosa, tribal). Nesse contexto a tribo era vista como contrária à nação: era
preciso matar a tribo para construir a nação, dizia Samora Machel.
O discurso da Frelimo sobre a identidade nacional mudou a partir de 1990, período considerado
democrático, em que começa a haver reconhecimento e promoção, pelo menos sob ponto de vista
discursiva, da diversidade cultural, o que pressupõe o respeito pelas tradições de cada grupo
étnico ou tribal, daí o lema de hoje ser:
Em conclusão, podemos afirmar com Chichava que o problema não é a multiplicidade étnica ou
a a etnicidade em si, mas o uso que dela se faz, a sua instrumentação, que pode conduzir ao seu
aspecto negativo (tribalismo). Torna-se problema quando se usa a origem étnica como critério de
selecção e execução de uns pelos outros no acesso aos recursos e postos do Estado.
Trata-se de um fenómeno originado pela quebra das referências sociais tradicionais por causa
da modernização da sociedade. É propriamente um momento de crise e desordem social.
Mas, assim como firma em suas obras, Dukheim diz que a anomia social permanece activa
temporariamente, apenas durante o período de transacção entre as transformações sociais.
A partir deste cenário anômico, a sensação de incerteza, ansiedade e frustração se configura entre
as pessoas, que buscam por satisfações e novos sentidos para as suas vidas; intensificam-se os
comportamentos desviantes tais como: o suicídio, a criminalidade, os roubos, a corrupção, etc.
Para sair do estado de anomia, as pessoas precisam de uma liderança carismática que lhes
indique novos valores e que, de um modo geral, o líder personifica. Às pessoas se identificam
com a liderança e juntos começam a definir as suas novas identidades. Às vezes, estas lideranças
podem tornar-se ditadoras e totalitaristas, recorrendo à força para impor os novos valores e
normas que orientarão a sociedade.
De acordo com o autor citado, há três tipos de diversidade cultural: genética, linguística e
cultural propriamente dita. A diversidade cultural genética refere-se, de acordo com o mesmo
autor, às variações e similaridades genéticas entre as pessoas (TAKAHASHI, 2006).
O tema da diversidade, de acordo com Sacristán (2002, p. 14-15), deve ser encarado com
naturalidade pela escola visto que, para o autor:
A diversidade, assim como a desigualdade, são manifestações normais dos seres humanos, dos
fatos sociais, das culturas e das respostas dos indivíduos frente à educação nas salas de aula. A
diversidade poderá aparecer mais ou menos acentuada, mas é tão normal quanto a própria vida,
e devemos acostumar-nos a viver com ela e a trabalhar a partir dela. (SACRISTÁN, 2002:15).
Uma das características mais preciosas de Moçambique é a sua diversidade cultural que, por
coincidência, acompanha também a sua diversidade biológica.
De acordo com dados do INE/ NELIMO (2000, p. 108) estão presentes no país 30 agrupamentos
linguísticos. A maior parte das línguas são de origem bantu, mas também se fala, para além do
Português, línguas europeias (Inglês, Francês, Espanhol, Italiano, Russo, Alemão), outras
línguas africanas (Árabe, Sutho) e línguas asiáticas (Hindi, Gujurati e Chinês).
O Português é falado, como língua materna, por 6% da população, enquanto as línguas bantu são
faladas por 93%. Da população que reside das zonas urbanas, 55% conhece o
Português, contra 45% nas zonas rurais. Dos falantes do Português, 61% são homens (a maior
parte). As línguas bantu são as que são faladas com mais frequência (90%) relativamente ao
Português.
Laço de parentesco por afinidade; traduz a relação de parentesco estabelecida entre dois grupos
sociais distintos, através de casamento de um homem com uma mulher, sendo um de cada grupo.
Laço de parentesco fictício essa categoria é usada para criar ligações entre pessoas que não
sejam nem afins nem consanguíneas (inclui a adopção e o compadrio e o parentesco ritual).
Segundo Marconi e Presotto o sistema de parentesco é um dos universais da cultura, o seu
estudo, a partir do final do século XVIII, tornou-se o centro de preocupações da antropologia,
quando esta começou a ser encarada cientificamente. Mesmo nas comunidades humanas de
terminologia simples, as categorias básicas da relação biológica são importantes meios para o
reconhecimento e a ordenação das relações sociais. As genealogias oferecem algumas categorias
que permitem distinguir as relações existentes entre uma pessoa e o grupo a que ela pertence.
Talvez este o tópico mais estudado pela antropologia, por oferecer aspectos mais reguladores e
recorrentes permitindo a construção, o teste de generalização e o entendimento da estrutura
social das sociedades tribais.
Morgan, por sua vez, enfatizou a validade cientifica do estudo dos sistemas de parentesco,
concentrouse nos estudos evolutivos do parentesco e tentou demonstrar que os diferentes
costumes, relacionados ao casamento, é que determinavam os vários sistemas de parentescos.
Morgan não só deu grande importância á terminologia do parentesco como deixou bases sólidas
sobre a mesma, através de suas próprias observações e de um conjunto de questionários.
As culturas, em geral, possuem uma terminologia própria que indica as diversas relações de
parentesco. A compreensão da maioria da sociedade, passadas ou presentes, requerem o
conhecimento do sistema parentesco pelo antropólogo. Ele é importante porque:
Parentes primários: são todos aqueles que pertencem a mesma família nuclear: pai, mãe, e irmãos
de ego (família de orientação); esposa e filhos (família de procriação);
Parentes secundários: partindo de um ego, refere-se ao pai do pai, pai da mãe (avós); irmão do
pai, irmão da mãe (tios);
Parentes terciários: tomando o ego como referencia, seriam: bisavó, esposas dos tios e outros
parentes mais remotos (Marconi e Presotto, 2006:104 a 105).
Primário: aplicado aos que pertencem à mesma família nuclear; pai, mãe, irmãos de Ego
(família de orientação); marido, esposa e filhos.
Secundário: partido do Ego, refere-se ao pai do pai, irmão da mãe (avós); irmãos do pai, irmãos
da mãe.
Terciário: tomando o Ego como referencia, seriam, bisavô, esposas dos tios e outros parentes
mais remotos.
Por uma questão operatória, a Antropologia usa diferentes símbolos e esquemas para o
Parentesco, os quais permitem, a qualquer leitor, identificar as relações com diferentes membros
do grupo social em referência ou representado. Assim, os símbolos temm o significado que estaa
logo a seguir.
A simbologia adoptada inclui um triângulo para o homem e um círculo para a mulher. Estes
símbolos não possuem nenhum preenchimento. Entretanto, o gráfico sempre analisa os laços de
parentesco a partir de um EGO (masculino ou feminino).
Indivíduo falecido
Para alem dos símbolos, na Antropologia é usado um conjunto de abreviaturas para designar os
parentes primários, (aqueles cuja ligação não precisa de intermediário), secundários, (aqueles
cuja ligação tem um intermediário), terciários (os que precisam dois intermediários para a sua
ligação) e os afins.
Abreviatura dos parentes primários e secundários
Pai Pa
Mãe Ma
Filho Fo
Filha Fa
Irmão Io
Irmã Ia
Marido Eo
Esposa Es
Tio To
Tia Ta
Sobrinho So
Sobrinha Sa
Na maioria dos contextos culturais conhecidos na terra as pessoas traçam a sua descendência ou
filiação a partir de dois princípios ou sistemas: unilinear e cognático (ou não linear). A
descendência unilinear reconhece apenas uma linha de antepassados, do lado masculino ou do
lado feminino. Ela ocorre de duas formas: patrilinear, quando segue a linha masculina, e
matrilinear, quando segue a linha feminina. A forma mais comum é a patrilinear. Na
descendência cognática são considerados de iguais modos os dois lados, materno e paterno, e
ocorrem em quatro formas: bilinear, paralela, ambilinear e bilateral.
Sistema de aliança
O matrimónio ou casamento é um tipo de aliança que caracteriza o parentesco. O casamento é
um universal cultural e, segundo alguns antropólogos, pode ter formado a base de todas as
organizações sociais humanas.
Sistema de residência
Este diz respeito ao padrão de residência adoptado pelos indivíduos após o casamento. O referido
padrão é determinado por uma série de regras, as regras de residência pós-casamento.
O termo residência aqui empregue corresponde ao termo quintal ou muti, comummente utilizado
pelos investigadores moçambicanos. Assim, segundo Negrão "a mutié a mais pequena unidade
espacial de habitação, produção e consumo da família rural. É composta por um conjunto
interligado de elementos como limites, casas, cozinhas, curais, sombras, locais sagrados, casa de
banho e espaços de acesso à água, à lenha e demais recursos".
Terminologia
Funções
Sexuais: dar o marido ao monopólio sobre a vida sexual da esposa e vice-versa, a não ser
nos casos previstos pelas as leis tradicionais (relações rituais, relações de hospitalidade e
relações em caso de esterilidade.
Forma
Poligamia, admite geralmente como factor e sinal de poder, grandeza e riqueza e igualmente em
caso de esterilidade ou doença grave permanente da esposa.
Filiação