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PONTO 4 - reflexões

Entender o impacto da Segunda Guerra em solo africano não é somente realizar


um processo de reflexão em torno da questão do deslocamento da guerra para outro
continente, mas analisar o que a guerra significou para os africanos no momento de
desencadeamento do próprio conflito e posteriormente a ele.

Influência na luta pela independência via queda dos grandes impérios coloniais e a
ascensão de duas novas potências URSS e EUA. Quebra do mito da invencibilidade do
colonizador traz outra dimensão para a luta dos povos africanos.

“Procurai primeiramente o reino Politico...”Ali A. Mazrui – capítulo 05

“Procurai primeiramente o reino politico e todo o restante vos sera dado em


suplemento.” Quando pronunciou estas palavras, Kwame Nkrumah estava persuadido
que a independencia politica era a chave de todas as melhorias projetadas para a
condicao africana. Esta declaracao derivava da ideia de primazia do politico nos
assuntos humanos − concepcao radicalmente diferente daquela própria ao determinismo
economico. Caso fosse um marxista por completo, Kwame Nkrumah teria proclamado:
“Procurai primeiramente o reino economico e todo o restante vos sera dado em
suplemento.”

O renascimento do nacionalismo
A luta pelo reino politico − ou pela soberania politica − na Africa colonial se
desdobrou em quatro etapas, por vezes entrecruzadas nos fatos mas, nitidamente
passiveis de analise. Antes da Segunda Guerra Mundial, produziu‑
se primeiramente
uma fase de agitacao das elites em favor de uma maior autonomia. A ela
seguiu‑
se um periodo caracterizado pela participacao das massas na luta contra
o nazismo e o fascismo. Adveio, em seguida, apos a Segunda Guerra Mundial, a
luta nao violenta das massas por uma total independencia. Finalmente, sobreveio
o combate armado pelo reino politico: a guerrilha contra os governos de minoria
branca, sobretudo a partir dos anos 1960. Os desdobramentos dessas lutas estao
resumidos, em ordem cronologica, na tabela 5.1.
Em meio as primeiras formas de organizacao da elite, figuraram as associacoes
culturais e os grupos de interesse. O entreguerras viu florescer em varias colonias
todo tipo de associacao, fundadas na etnia ou no parentesco, nascidas quer da
solidariedade
existente no seio da urbanizada mao de obra migrante, quer sob o efeito
do sentimento de alienacao ressentido pelos africanos no sistema de exploracao
colonial. As organizacoes que assim emergiram compunham um leque abrangendo
“Procurai primeiramente o reino politico...” 127

desde a Associacao Central dos Kikuyu, na Africa Oriental, ate a Convencao pelo
Renascimento Urhobo, na Africa Ocidental. Na Africa muculmana, as organizacoes
culturais estavam por vezes ligadas a religiao, muito mais que a etnia. Desta
forma, em 1935, o shaykh ‘Abd al‑Hamid
Badis criou, na Argelia, a Associacao dos
‘ulama’, especialmente dedicada a defesa do isla em uma situacao colonial.
A agitacao tambem tomou outras formas durante os anos do entreguerras.
Em maio de 1935, por exemplo, greves e motins de mineiros africanos eclodiram
na Copper Belt da Rodesia do Norte. Na Nigeria, diversos grupos de
interesse comecaram a se organizar; somente na cidade de Lagos, esta febre de
organizacao levou a criacao das seguintes associacoes2: Sindicato dos Leiloeiros
de Lagos, em 1932; Associacao dos Pescadores de Lagos, em 1937; Associacao
dos Motoristas de Taxi, em 1938; Sindicato dos Abatedores de Lagos, em 1938;
Sindicato dos Jangadeiros de Lagos, em 1939; Sindicato das Mercadoras de
Farinhas, em 1940; Associacao dos Mercadores de Vinho de Palma, em 1942;
Sindicato dos Fosseiros de Lagos, em 1942.
Outras organizacoes culturais ou de interesse da elite instruida se formaram
no estrangeiro entre africanos e afro‑
descendentes. O pan‑
africanismo entrava
em uma nova fase. Na Franca, Leopold Sedar Senghor e Aime Cesaire fundavam
L’Etudiant noir. Por sua parte, Kwane Nkrumah, Jomo Kenyatta e W. E. B.
Du Bois se afirmaram na qualidade de ativos pan‑
africanistas, na Gra‑
Bretanha
e nos Estados Unidos.
Certamente, numerosos destes movimentos do entreguerras eram essencialmente
formados por elites e muitos grupos de interesse possuiam, sobretudo, um
carater urbano mas, a entrada das massas na vida politica comecava a se vislumbrar.
Uma campanha de desobediencia civil, organizada na Tunisia por Habib Bourguiba,
desembocou em levantes na cidade de Tunis. Bourguiba e muitos dos seus
companheiros foram julgados por um tribunal militar. Oficialmente dissolvido, o
seu partido (o Neo‑Destour)
prosseguiu a sua atividade na clandestinidade.
As tecnicas empregadas contra o imperialismo durante esta fase tinham
essencialmente um carater nao violento e fundavam‑
se na agitacao; houve,
entretanto, excecoes, como a luta dos etiopes contra a ocupacao italiana. Em
fevereiro de 1937, um atentado a granada foi executado contra o vice‑
rei em
Adis‑
Abeba. Em 1939, a resistencia conseguira enfrentar por certo tempo um
conjunto de 56 batalhoes italianos. Os rebeldes etiopes combateram sozinhos
ate 1940, quando se uniram a um pequeno contingente de tropas britanicas,
antes mesmo que a Gra‑Bretanha,
em marco de 1941, tivesse invadido a Etiopia,
contando com a anuencia do imperador Haile Selassie.
2 Conferir J. S. COLEMAN, 1963, pp. 212‑
213.

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