Você está na página 1de 201

S C X E N C I A

COLONISAÇAO
POR

LOURENÇOCAYOLLA
Professor da Esoola Oolonint

LISBOA,
-
lIP~~b~~rn ph
I€B Uooperntlva
!~ lilitgl
30 Riia de S. José,42
A 1 ~ 0 ~ 0DAS
x 1 C~O ~ O B ~ A S i

o ttigo rendia na Prussia quatro ou cinco sementes, w que contribue ainda pata dar ao desein-olbimento
na França cinco ou seis ern média, no ,Slexico de- 9s colonias uma rapidez que assombra, e que todas
zassete, no Peru dezoito e no Mexico equinoiial vinte as forças do, homem são ali consagradas exclusiva-
e quatro. mente i produção e a 'capitalisação e que todas as
Comparando a quantidade do valor de troca pro- faculdades, a s mais variadas e antagonicas, en-
duzida por um agricultor na Europa com o que pro- contram um campo de aplicação sem egual. A mão
duz nos tropior>s um trabalhadoi de plantações de &obra é IarSmente retribuida nas sociedades nascen-
a s m a r , ou n a Australia um 6astor de carneiros, a porque, devido a extensão e produtividade do
diferença e ainda mais frizante. d o , a sua utilidade é muito maior. A elevaçáo dos
O que ha de especial nas colonias é que essa pro- çalarios permite a cada trabalhador sair rapidamente
dutividade excecional dos sólos virgens, maravilho- do proletariado em que, nos povos antigos, jazem
samente dotados para o fornecimento de determina- toda a vida. 'A possibilidade de zvançar sem demora
dos generos, e aproveitada desde a oiigem por popu- ~a sua carreira e 4 grandeza dos beneficias a alcança+
lações d'uma alta cultura e na posse ~á de todos os redobram-lhe a actividade do trabalho e a energia
recursos das mais adeantadas civihsações, ao passg dos esforços.
que a historia da Europa, ao contrario, nos mostra as
forçds inexgotadas do solo entregues no inicio a po- V eapítal e a população nas mesmas colo-
pulações barbaras, desprovidas dos meios necessarios niàs. O juro dos capitaes é tambem muito maiùr
para tirarem d'ellas toda a utilidade poçsivel. pelas mesmas razões que manteem a elevação dos
Nso so nos estados cobniaes todas as terras fertek salarios. D'este modo sucede exigir-se muitas vezes
podem, durante muitos annos ainda, ser consideradas nas colonias um juro-egual ao que se obtinha na
como ilimitadas e os colonos as exploram com todos Edade-Méaia. Mas n'esta, este facto provinha só do
os recursos da cimlisagáo, mas tambem os primeiros risco do estado social e politico e nas colonias a causa
emigiantes possuem, nasuagrande maio~ia,capac~dades printipal d'elle consiste na produtividade dos capi-
moraes e recursos rntelectuaes Superiores aos da mé- taes, na sua utilidade multipla e na sua forga crea-
dia dos habitantes dos países d'onde elles saíram. Os dota. '
que deixam a patria paiã procurar fortuna nas s o c i e Nos bom tempos de São Domingos, uma plantaqão
dades nascentes são geralmente os mais energicos e vulgar rendia, logo no primeiro anno, 2 0 O / o do seu
os mais empreendedores, os espíritos mais audazes e capital de instalação. Na Australia do Sul o juro era,
activos.
Alem d'sso, tem-se notado, com razão, que um
ainda ha sessenta a n n q , de r j
garantias de seguranp.
v,
com as maiores
grande numera.de tendencias, que se consideram como Vê-se bem quanto esta elevqão dos ~uros,prove-
defeitos nas velhas sociedades, se anulam nos povos niente n5o da extensão d e risco mas da produtivi-
que começam e transformam-se a miudo em faculda- riade dos capitaes, é propicia á capitaliação. Por isso
des irtds. Esta é enorme nas colonias em relação ás receitas.
NOS povos antigos o consumo e quasi em toda a parte
proximamente egual á jirodugão e gasta-se yuasi
tudo o que se ganha. Nas colonías, *ao coiitrario,
e especialmente nos primeiros tempos, a acumuiaqão
é, com raras excepções, o objeto exclusiro do capi-
talista, e até mesmo, em grande paite, do trabalha-
Ihador, O amor ás despezas, a necessidade de osten-
tapão, as prediIeções do luxo, os habitos de soiie-
dade, que tanto contrafiam as economias, mal existem
nos estabelecimentos em inicio. A s tendencias para
os gastos superflusç e para o luxo d~senvolvem-se
depors com o maxirno incremento nas coionias muito
adeantads, ilssim como todas as forças phy-'

A copulagão cresce tambem em proporr;ão maior do


sicaç e
intelectuaes corívergem ali para n produção material,
todas as forças moraes se aplicam á capitalisação.

que nas regiões ha muito tempo habitadas, não só-


mente porque a emigraçãa Ihe leva todos-os dias no-
vos contingentes, mas porque o inovimento interior
de rniiltiplim$ão se acelera muito,
Nos paizes já formados militas classes da sociedade
receiam o casamento como um encargo. Familias nu-
merosisrimas, para nao dizer toda a nação, temem o
grande numero de filhos como uma mina. Nas colo-
ajas o casamento precoce é quasi uma necessidade,
porque ahi, a mulher e a unica companheira que pode
distrair o trabalhador, a familia a unica-alegria que
esta ao alcance, d'csaes pionefros bas florestas. Os
filhos são uma fonte de receita e de bcm estar. Entre
os boers do Cabo, uma famika com seis ou sete filhos
é considerada uma famiiia pequena. As viuvas com
muitos filhos encontram facilmente novo marido, por-
que o trabalho dos rapazes e raparigas semi-adultos
compensam largamente as despezas de educagão.
Segundo Tucker, o costume nos Estados-Unidos, no
O+
&*rem
@Ygona
A E-OXOnLA DAS COLCtXIAS

seculo mx, era os homens estabeiecerem-se


annos. Depont, afirma espirituasa-
3 0 s 21
p que na America do Rorte os rapazes que aos
ngo estavam casados eram já considerados
*o,impenitentes celibatarios.
,g~Weçtascondiqões não admira que o desenvolvi-
bm seja rapido. Mas o aumento de riqueza, espe-
nas colonias de generos de exportação,
f@pde. ainda o aumento da populaçao. A Nova Jer-
w n d o Roscher, produziu em 1795 o quintuplo
'& que produzia ante5 da rev01iis;ão. A exportação
& A@ão dos Estados Unidas,. qrie em 1792 era
Apenas de sessenta e dois mit kilos, scbia em 1834
a rT3 milhões de kilos. Em 1352 e em 1843 essa ex-
porta@~rendia já mais de ~ c milhõesg de dollars.
Depois J'isso tem crcscido ininterriiptamente. Em dez
stadosda União Americana a populaqão temaumentado
sm cada dez annos 31 O/Q; o valor das terras 68 o/o.
3; progressos da Australia ainda teem sido mais ex-
cmo~dinarios.Que prodigiosa riqueza não se crçoir ali,
devido aos oito carneiros merinos, aos trez carneiros
iulgares e as cinco ovelhas mandadas para lá h a pouco
nais d'um seculo.

Analogias entrè as colonias nascentes e a s


sociedades primitivas. Sob o ponto de vista
eccrnomico a sociedade coIc>aialapresenta alguns dos
carateres das sociedades que esiko n'um estado infe-
rior de cultura. Distinguem-se realmente umas das

mento
em que nas primeiras o espirito de empreendi-
+muito ousado e persistente, sendo exagera-
damente fraco e intermitente nas segundas. Mas esse
eçpirito de jniciativa, consagrando-se especidmeilte as
operagões agricolas ou ás empresas ,industriaes de
abstaculos importantes, não consegue mudar o estado
A ECOSOXIA DAS 00WN1AB 1%

Hurnboldt ter chegado ao Mexico o preço do fewo viogstane e Braza, generaes, como Servjeri e Gallieni,
por tonelada subira de 2 0 francos a z40, e o do aç'o e entre nós os da quasi todos que nas colonjas tanto.
d e 80 a I:300. NOS Estados Unidos, em 1836, a ex- teern conseguido honrar a obra de Portugal e q u e
portação apenas alcangou r07 milhões de doilas e a souberam inspirar confiaqça e respeito ás populações
importação subiu a 1% milhões. D'aqui proveiu uma indigcnas, sem recorrer á insolencia brutal e cega,
&rise monetãria. que SQ gera o terror, a desconfiang, o odio e a falta
Estas especies de crises, repetimol-o de novo, sso de segurança.
muito,frequentes nas colonias. A desegualdade enorme 0s verdadeiros inimigos do indigena, OS que OS-
q u e se dá muitãs-vezes entre a s exportagões è impor- perseguem sem cessar e que é precisp reduzir á im-
tações e :as variagões frequentes e consideraveis que potencia, são os agiotas que espreitam o momento
sofrem umas e, outras são a sua causa mais vulgar. em que podem oferecer os seus se~vigose, sem se-
Sã? ha duvidi que muitas ddtesçacdificuldades e ca- preocupar com as consequencias lvnginquas dos seus
tastrophes teem resultacio do mau regirnen que as processos abominaveis, violentam por todos os meios-
nações colonisadoras tem irhposto á s suas possessões, os seus devedores, extorquindo-lhes o mais breve;
corno o da escravaturare o pacto colonial. Mas, mesmo possivel tudo o que elles possuem.
;com institui~õeseconomicaç mais perfeitas, ellas não As dividas dos. indigenas, está isso hoje confirmado,
.poderiam esquivar-se 5s 6onsequencias naturaes da com numerosos exemplos, teem sido a causa principal
s u a constituigio e do seu modo de ser. de numerosas revoltas e da ruiria d e muitas tribus-
Na questão de credito nas colonias nã6 devemos Para o pravar, basta recordar os factos que precede-
preocupar-nos exclusicramente com os interesses do ram a grande revolta dos Herreros na Africa sui-oci-
colono, despresando aç dos indigenas. 'O credito, Cujo dental alemã. Depois da fixagão dos aiemães n'esta.
u s o racional e prudente assegura o çucesso de todo região os indigenas costumaram-se a comprar a c r e ~
.o genero de emprezas, póde, ao contrario, conduzir 5 dito a s mercadorias europêas, armas, munições, -agua~
mina dos devedores, que não sabem aproveital-o, s%o ardente, bebidas espirituosas, etc,, e para se pagar:m,.
vitimas do seu. uso excessivo, ou se deixam explorar os comrnerci~ntesapoderavam-se d e cabecas de gado,
;gelos usuranos sem escrupulos. op de porções de terras cultivaveis. Se não conse-
Tem-se acusado os chefes militares d3expedi@es guiam indemnisar-se, queixavam-se á administração
coioniaes e os funcionatios ali em serviço, principal- e as suas feclama~õesatingiam tribus inteiras, qitando
mente em Africa; de nÊlo respeitatem sempre @ pes- 0s Seus devedores, membros d'essas tribus, não tinham
soas e os costumes d e indigenas e de pmticarem bens pessoaes.
muitas vezes revoltantes abrisós de poder. Esta c.& O governo alemão viu-se em luta com enormes-di-
s u r a é exagerada e apenas atinge com razão urna ficuldades entre os indigenas e os colonos, Depois de
fraçZio infirna do pessoal dos exploradores, dos ccrm'ãn- ter publicado numerosas circulares, promulgou un
dantes de tropas e dos agentes d'administra$30 colo- decreto,.em I de janeiro de 1899%declarando sem va-
?iiajti.Podem-se citar nomes de exploradores como Le lidade .os emprestimos que haviam sidq Bitos aos in-
A ECONOMIA DAS CDLONIAS 15

digerias. Mas o Ofice coIonial não se atreveu a man- repente a propriedade individal á propriedade wle-
tel-o, em face das reckrnagões das casas de cornrner- ti\-a, porque os indigenaç, que se encontram iia passe
cio interessadas. 0 s comerciantes continuaram a abrir d'algumas geiras de terra, começam logo a individar-
-creditas e quando, m 1903,a administragão decretou se. -4 lei de 1882 na Algeria foi sobre tudo proficua
de novo a prescfi~ãodos pedidos realisados nos dois aos agiotas e teve de ser substituida pela de t 897
-anQos anteriores, os credores alarmados tentaram re- que tornou mais dificil a delimitação e a repartição
ceber o seu dinheiro pela força. Foi este o motivo das propriedades indigenas.
d a revoIta. A repressão d'essa revolta custou 500 mi- Seja comó fòr, hoje em quasi todas as colonias,
-Ihões de francos. como siicede nas metropoles, teem-se constituido so-
A governo alemão prevenira as funestas cmç& ciedades locaes de credito agricola, protegidas e sub-
.quencias dBestesabusos de credito nas outras p ~ ~ e s - vencionadas pelos governos. 0 s metodos usados para
sões do imperio, nas ilhas Caroiinas e na. Ai%& Oci- fornecer adeaniamentos aos indigenas e pòl-os ao
dental, subordinando, em rgoo, a validade dos em- abrigo dos usurarios variam conforme as regiões. Por
pestimos á autorisagio administrativa. Precau$ões exemplo em Java, onde aos agricultores indigenas
-analogas foram tomadas por quasi todos os governos faltam sementes para semearem os seus campos d'ar-
nas grandes colonias de enrplom@a. roz e dinheiro para pagar aos trabalhadores, os agiu-
Estes factos provam bem quanto a questão do cre- tas arabes e. chinezes faziam d'antes emprestimos so-
dito e dificil de reço-Wer. Por exemplo, nas coloniaç bre as colheitas, ao juro exorbitante de 50 */o. Para
tropicaes, em que o numero dos colonos b-ncos é se por cobro n este abuso, a administrac;ão em 1892
sempre muito restrito, os indigenas são os unicos concedeu credito aos plantadares. Depois crearam-se
agricultores e precisam recorrer ao credito para acudir
á s despe- das suas explora@es. E' preciso, por isso,
os bancos agricolas e o governo subvencionou os de-
posito~de cereaes e arroz e as granjas, que fazem di-
par á sua disposigo,. os meios de obterem os empres-
retamente adeantamentos em especie, principalmente
timps a longo prazo, ou a prazo curto, segundo as
aos indigenas. Estes recebem Cesses depositos, no
+circunstanciase era condições razoaveis. As bases do
tempo seco, isto é na epocha das sementeiras, uma
credito são em toda a parte a s mesmas e as còndi-
certa quantidade de arroz que reembolsam findas as
@es são tanto melhores quanto as seguranças dadas colheitas, juntando-lhe um premio em especie, e como
;pelos devedores são d'uma reaIisação mais rapida e ha uma grande diferensa no prego, antes e depois da
mais faci!. Mas o credito agricola não póde existir colheita, o deposito recebe um acrescimo importante,
emquanto não houver a propriedade individual. A le- que lhe permite libertar-se-egualmente das suas obri-
gislaqão inspirada no acto Torrens, que, como se sabe, gagões para com a administração central, ou para
$está em vigor em muitas colonias, supõe a existencia com os bancos agratios que lhe abonaram o capital
da propriedade individuâl, sem a qual a inscriqão nos originario, e continuarem as suas transagões. As al-
4vros de registo é materialmeate irnpossivel. E, ao
deias indigenas figuram como personalidades juridicas
mesmo tempa, é bastante perigoso substituir-se de
I EOOROlbId RAS COLONIAE)
17

em condições de tomar compromissos e com a ,res-


ponsakdlidade dos creditos abertos aos seus membros, colonos, oferecendo-lhes garaneas, que elies não en-
Na Algeria crearam-se, desde o princjpio da ocu- contram nos seus credores do costyme. Infelizmente
pagão franceza, em I 847, depositos.para fornecerem ce- '&. agiotas teem sobre os brancos a vantagem de po-
reaes aos habitantes, na epoca das sementeiras. Mais der actuar á vontade em relação aos devedores, con-
tarde, em 1869, o general Liébert estabeleceu algu- cedendo-lhe demoras e tomando para com elles os
mas sociedades de socorros, que concedi ar.^ subren- mais diversos compromissos. A obrigação do paga-
gões aos indigenas mais pobres e emprestimos em di- mento n'uma data fixa é muitas vezes muito mais
nheiro, ou em especie, aos pequenos proprietarios. paada para os devedores, do que a de reembolsarem
u ,, quantia embora mais importante, á medida que
Estas sociedades teem adquirido excecional desen-
tenha reciirsos para o fazer. .4ssim ein muitas colonias,
volvimento desde a sua creagãão. Em 1887 havia 44
e por exemplo na Tndia Irigieza, os uzurarios sabem
com um capital de 1.7oo:ooo francos e em 1906,I g r
com um capital de 15 milhões. A rnedía dos empres- exploarir habilmente os indigeilas, esperando o mo-
timos excede 5 milhões por ailno. .
Na Tunlsia ha sociedades analogas de previdencia,
mento propicio para os perseguirem, ou obterem o
bagamen to das importancias emprestadas. Se o go-
, verno intervêm para proteger o indigena, arrisca-se a
de socorros e emprestimos mutuos. Estas sociedades
recebem subsidios e adeantamentos do governo, mas matar o credito. Foi o que sucedeu em Punjab, em
auxiliam apenas os indigenas e cultivadores. Os indi- que uma lei prohibiu a venda for~adados immoveis
genas industriaes ou comerciantes nãó podem tran- e a hypotheca dos bens dos agricultores, exceto em
sacionar com-elias para se evitar que "taes sociedades proveito d'estes agricultores. Essa lei produziu peççimo
degenerem em verdadeiros bancos. Os eknprestimos efeito e abalou consideravelmente o credito.
que se realisam são a curto prazo, ao juro de 5 %, e O credito hypothecario só é pratico em regioes de
utilisados duas vezes por anno, na epoca das semen- populagão densa e em que a terra é um capital que
teiras e antes das colheitas. possue um valor de transação. Nas colonias, em que
Na Indo-China as comunas são autorisadas a con- a popirIac;ão é dispersa, e em que o indigena aban-
tratar .e a garantir emprestimos, por conta dos seus dona voluntariamente uma terra para cultivar uma
habitantes. Para esse fim o banco d'aquella cdonia outra a sua escolha, a hypotheca não teria razão de
faz adeantarhentos ás cornunas, adeantamentos cau- ser e o credito só pode ser pessoal.
cionados pela administração central. Os resuItados Entre os bancos coloniaes de credito pode-se citar
não teem sido felizes, preferindo os indigenas dirigir- para exekplo o .Agricuitural Bank do Egypto. Em
se aos uzurarios. Hoje aconselha-se para ali o esta- 1894, Loid Cromer, o representante da Inglaterra no
belecimento de sociedades de credito mutuo, corno, Egypto e de facto o governador d'esse paiz, tentou
existem na Algeria e na Tunisia. atrahir os capitalistas para os emprestimos agricolas.
Para isso o governo consentiu diretamente que se fi-
Tem-se fundado tambem poderosos bancos coIo-
niaes para facilitarem o credito aos indigenas e aos zessem aos agricultores emprestimos de sementes, ou
de pequenas quantias indispençaveis ás suas explora-
2
ções. Os egycios, apesar da sua reputa~ãode descui-
' dados, negligentes e imprevidentes, reembolsaram as
suas dividas e o systema dos emprestimos feitos pela
administração propagou-se rapidamente. Em 1799 a CAPITULO XI
sua importancia ascendia a 3 7 : m dolars. Dois annos
depois essa quantia elevava-se a ;oo:ooo. Em face O imposto nas colonias
de resultados tão lisongeiros, fundou-se em 1902 o
Agricultural Bank do Egypto com um capital de 12 Considera~õesgcracs. - Direitos de importação. -Direitos
milhões e meio de dollars, capital que depois se elevou de exportação. -Receita da venda das terras. - Outros
a 3 j milhões. O Banco autorisou 50 miihões de dol- impostos a estabelecer nas colonias.
lars de emprestimos, que foram restituidos até ao uf-
timo ceitil. O juro dos emprestirnos nunca deveria ir Considerações geraes. Temos visto, apreciando,
alêrn de g O / o ao anno. Os emprestimos a longo pra- sob diversos pontos de vista, a situação das colonias
zo não exwdem 100 dollars por quinze mezes e 5 0 0 no primeiro periodo da sua existencia, cómo ellas
por vinte annos e meio, garantidos por hypothecas, n'essa situação são delicadas, suscetiveis e sujeitas a
A F r a n ~ apossua seis bancos coloniaes, cuja ori- perturbações e a crises. A sca adrninistragão é então
gem vae a r85 I, epocha em que se fixaram as inde- pouco desafogada e reciantam um regimen muito doce,
mnisações aos proprietarios de escravos. Estes ban- para chegarem a consistencia e f o r ~ ade maturaqão,
cos formam dois grupos, o dos bancos da Martinica, vencendo as doenças ec~nomicaçque tanto as per-
Guadalupe, Reunião e Guyanna e o da Indo-China e seguem na sua infancia.
Africa Oriental. Alêm d'estes bancos existe tambem De todos os ramos da administrago colonial, o
uma sociedade de credito predial, fundada em 1860 e mais dificil talvez é o que diz respeito ao lançamento
que goza de previlegios especiaes, sendo por isso fis- e incidencia dos impostos. E' indiscutivel que a me-
calisada pelo Estado. tropoie deve,'em todas as circunstanci~,adeantar os
Entre nós existe o Banco Nacional Ultramarino, gastos do primeiro estabelecimento da colonia e re-
que estende a sua acção a todas as colonías portugue- nunciar em geral a indemnisar-se, por uma maneira
zas. Não tem elle o carater de Eanco Agricola, mas diréta, d'esses gastos, O desenvolvimento do seu co-
sim empresta quantias com hypotheca predial, ser- mercio e da industria cobrir-lhe-ha, em POUCO tempo
vindo tambern de Banco Emissor para as nbssas pro- e com grande largueza, os saclificios que elIa tiver
vincias ultramarinas. Alem d'isso existem tambem na feito, mas é muito raro, que, chegando ao periodo
India sociedades muito rudimentares de credito agri- adulto, a colonia a compense, dando receitas para o-
cola. thesouro da mãe patria. Poucas são as colonias que
tem dado taes rendimentos e basta citar as que cons-
tituem essas exceções para se ver que ellas estão
em circunstancias especialissimas. Entre estas, salien-
tam-se o hlexico no seculo XVIII e, como dissémos, tes- para imporem as taxas ás mercadorias entradas.
ao tratar da sustentação das coloriias, em quasi todo Não ha nenhum dos vexames inquisitoriaes que se dão
o seculo xix, Cuba e lava. Devemos tambem apon- mm o imposto de consumo h entrada das cidades.
tar S. Thome e Macau, a primeira uma magnifica 0 s direitos de importação reoáem quasi todos sobre
fazenda e z segunda com todo o tipo d'uma colonia artigo$ de consumo imediato, porque as colonias não
de comercio. costumam importar rnaterjas primas para as manufa-
Mas se a metropole deve fazer face ás despezas turas.
da fundação, as coionias, concluido esse periodo, de- A analise de alguns dados extraidos da historia das
vein ocorrer ás despezas da sua administração interna. Éolonias inglezas demonstra a verdade d'estas pala-
Os dois impostos coloniaes mals aceitaveis, os que vras. A receita da Nova Galles do Sul, em x836, foi
oprimem menos os colonos, e prejudicam em menor de ~go:ooofibras, das quaes 126:gm provieram do irn-
giau o desenvoivimento da cultura, sendo ao mesmo -pasto dos licores e alcooes importados e 17:ooo da
tempo de percepgão mais facil e menos dispendiosa, taxa sobre o tabaco. O direito de 3 % sobre as rner-
são os direitos de-importagão das mercadorias, isto é cadorias extrangeiras, apenas produziu ro:ooo libras.
os direitos do mar, na expressão coosagrada nas colo- Na Nova Rrunswick, em 58:000 libras de receitas,
nias maritimas e o da venda das terras. São estes 4p.oo resultaram da taxa sobre as bebidas espirituo-
quasi os unicos que tem siiio aplicados nas colonias sas, assucar, café e direitos ad valorem que incidiam
inglezas e tem-se sempre verificado que, desde que a - em diversas mercadorias.
incidencia seja prudente e refletida e as taxzs made- - Muitos economistas reprovam os impostos de inipor-
radas, elles são bem aceites e produzem receitas avul- ta@o aplicados como impostos tfe consumo e prefe-
tadas. rem os impostos directos. Nas colonias, esta ultima
especie de impostos, sao, pelo menos ao principio,
Direitos d e importação. Os direitos de importa- ã'itmà cobranga muito dificil e dispendiosa. E eiles
ção nas colonias precisam ter um caracter essencial- produzem ainda o efeito de demorar as prosperidades
mente fiscal e não um caracter protecionista, porque da a l t u r a . Ao contrario, as taxas de importação re-
d'essa forma poderiam tornar-se muito prejudiciaes. cebem-se facilmente e com pouco gasto á entrada dos
3Ias, estabelecidos sobre todas as mercadorias sem m o s , e- quando são moderadas sâo bem vistas pelos
distincção de proveniencia ou de origem, ~ ã l ras SO- Cglonos.
brecarregando com um onus que vá além de j ou - Tem havido muitas discussões scientificas e theori-
ro O/o, elles não terão nenhum inconveniente econo- W s para se apreciar quem vem a pagar defisitivamente
mico. Os colonos suportam-nos sem ma vontade e a os direitos de importa$o. Cremos bem que a opinião
sua cobrança é de extrema facilidade. mais justa é a de que elles não recáem exclusivamente
Como quasi todas as colonias nascentes çó são ser- w m sobre os trabalhadores, nem sobre os capitalistas,
vidas por um numero muito pequeno de portos, pou- C que se repartem equitativamente por uns e por ou-
cos agentes funcionando n'esses portos são suficien- kms. Vendo-se que as taxas de impoitação devem ser
sempre muito moderadas, conservando-se perto do direitos de importaçfío dão tambem perto de 50 O/O de
ro */O, exceto para os generos como o assucar e o rodas a s receitas.
alcool, que podem ser onerados com 30-ou roo 9/0, e Admitindo meçmo que no Canadá e na Australia
atendendo-se ainda a que nas coionias os salatios e os direitos da alfandega sejam exagerados, não deixa
os lucros são muito elevados, terá de se reconhecer de ser certo que a s colonias, na sua infancia e na sua
a superioridade d'este sistema de impostos em taes adolescencia, podem pedir aos direitos de alfandega
circunstancias. e á venda das terras do Estado, uma parte impor-
4 historia tem demonstrado eloquentemente quanto tante das suas receitas. Ellas são, para sociedades em
elles são produtivos. Merivalle provou que na Nova que a riqueza não assenta ainda em bases sólidas, a s
GaIles do Sul, já em 1840, cada colono pagava ao receitas menos inquisitoriaes, menos dispendiosas de
governo duas a tres Iibras esterlinas por anno, sem cobranga, mais facilmente suportaveis, mais p?opor-
se contar o que produzia a venda das terras, ao passo cionadas ás despezas de .cada um, tendo ainda a van-
que a capitação do imposto na Grã Bretanha e na tagem de não revestirem caracter protecionista, e apro-
Irlanda náo excedia, n'essa epoca, uma libra e I; schel- veitarem por completo ao thesouro, visto que a s
lings por cabeça. colonias, no seu inicia, não possuem industria manu-
Pelos documentos ngo muito antigos (Statiscal factureira.
Abstract for the colonial and other possessions of the 0s direitos de alfandega nas colonias btitanicas,
United Kingdorn~,publicada em lgoo), vè-se que o A que nos temos referido, inoidem em geral sobre
conjunto das receitas publicadas das colonias inglezas mercadorias estrangeiras. Quando não são muito ele-
da Australasia elevou-se em 1899 a mais de 33 mi- vados, não excedendo 10 ou o maximo I j 0/0 sobre
lhões de libras esterlinas, de que tem de se deduzir os artigos de uso comum e de utilidade, podendo
x I milhões do rendimento bruto dos caminhos de ferro essas taxas subir em relação aos artjgos de luxo e ái;
pertencentes aos gevernos mloniaes. Restam assim 22 bebidas espirituosas, não apresentam inconvenientes.
milhões de libras. As alfandegas concorreram para Se algumas vezes essas taxas d'alfandega moderad-as
essa quantia com 8.700:000 libras, isto é com 4 0 % dão uma pequena proteção a algumas industrias
da receita total das colonias. A venda das terras pro- locaes, nâo é isso um facto prejudicial, desde que essa
duziu mais de doia milhões de Iibras, ou r o O/O das proteção não se torne exagerada. Que importa, na
receitas absolutaç. A publicação aDominion of Caiia- ~~erdade, que algumas industrias rudimentares se jun-
dá. dá ainda para esta colonia dados que mais de- tem nas colonias novas & exploração das pastagens,
monstram a importancia das receitas dos impostós de Iavoura e ás industiias extractivas ? Sem as afastar
importação e da venda das terras. Em 9.600:ooo li- do seu caracter natural e da sua vocação principal,
bras, os direitos d'alfandega renderam 5 . 2 0 0 : ~libras
~ que consiste n'estes trez ultimos generos de produção,
e a venda das terras- 3 ro:ooo libras, ou no total quasi uma leve iniciação nos processos industriaes elemen-
b 0 / o nas receitas totaes. Nas Indias Occidentaes os tares é mais vantajosa da que inconveniente para o
conjunto da sua economia.
24 B C X F ~ O I ADE C'OEON~SA~ÃO

Direitos de exportação. Aos direitos de aifan- :m proporpo com os yroventos industriaes do paiz
dega de importação podem juntar-se tambem, em em que se encontra.
muitos casos, e com resultados vantajosos, desde que As cousas passam-se assim com os direitos de con-
não sejam muito crescidos, mas sim bem assentes e de- a m o . O mesmo acontece com os direitos de exporta-
terminados, alguns direitos de exportagão. E' um @o, com a diferença, porbm, de que o consumidor,
grande erro, mesmo sob o ponto de vista geral, con- o que deve pagar o imposto, é estrangeiro e tem liber-
denar estes em absoluto. dade de ir procurar em outros pontos mercadorias
Ha dois casos em que essas taxas são não só analogas o11 equivalentes que sejam isentas de im-
admissiveis, mas muito uteis. posto. Por isso mesmo é que estes direitos só não
Assim, quando uma nação possue grandes vanta- teem inconvenientes para produtos como o guano, o
gens .para a produgão de determinados artigos, so- nitrato, o enxofre, o chá e o opio, de que só um de-
bretudo de produtos naturaes de quantidade limitada, terminado pajz tem o monopolio. Mas, mesmo n'es-
o que sucede em geral com os produtos mineiros, tes c.asos, devem ser moderados para não diminuirem
convêm estabelecer um direito de exportação sobre muito o consumo no estrangeiro. Aos artigos que
esses produtos. Semelhante direito é pago quasi ex- acabamos de apontar, podem-se juntar muitos outros
clusivamente pelo estrangeiro e alivia, na sua irnpor- como o café, os fosfatos, a quina, o marfim, a bor-
tancia, o que devia ser pago pelos contribuintes na- racha e, por vezes, madeiras especiaes. -4 fixação dos
cionaes, direitos sobre esses artigos exige muito tacto- e mo-
Póde-se objetar que, se o direito não existisse, o con- deração para que elles não entravem o progresso da
sumo do artigo de que se trata se tornaria certamente região e não reduzam abusivamente os lucros legiti-
maior e por consequencia o produtor nacional, -o mos dos produtores das colonias.
colono, alcan~ariamaiores lucros. &te raciocinio não Ha um outro caso, mais geral, em que se podem
e rigoroso, porque, na verdade, o que sucede e a estabelecer com vantagem os direitos de exportação.
maior parte dos direitos de exportaqão sobre as mer- Nos paizes novos, de t4rTit01i0 extenso e popula@o dis-
cadorias para a produção das quaes um deierminado persa, como o Brazil, a Republica Argentina, etc.,
paiz tem um privilegio natural, serem, em ultima ins- -direitos limitados que não excedam 2 a 3 O / o ad va-
tancia, pagos pelo consumidor estrangeiro, E' certo ~ ~porm ,
exemplo, podem admitir-se como uma es-
que eIles não formam uma exceqão absoluta-em re- pecie de substituiqão ao imposto predial. Não se esta-
la@o a todos os oufros direitos sobre o consumo e Wece nenhuma taxa de contribuição predial rustica
que o produtor e tambem atingido n'uma certa pro- e-recebe-se, sobre os productos exportados, uma taxa
por*~, visto que o direito restringe o consumo e por muito reduzida, que vae onerar os mercados externos.
consequència tambem a produqiio. Mas é, no fim de Um grande -numero de paizes novos, sobrettido O
tudo, o consumidor que suporta o maior peso da taxa, RraziL a Argentina e o Mexico, tem estabelecido essas
porque o produtor pararia com a sua industria se taxas com magnifico exito. Ellas podem ir mesmo até '
rião tirasse dos seus capitaesnedo seu trabalho lucros 5 a 6 To,mas não dei.em passar d'aí. .iZ Kepublica
Argentina recebeu em ~ g o oaproximadamente 2:800 -da acre, como nos Estados Unidos, ate uma
contos em ouro de direitos de exportação e 36:000 libra, e quinze shellings como na Australia. Mas é
contos de direitos de importação. çempre vantajoso vender as terras em vez de se ce-
Nas colonias equatonaes e tropicaes os direitos de derem gratuitamente e o pre$o d'essa venda fornece
exportaqão tem uma grande importancia. E esses di- lima magnifica receita.
reitos podem ainda desenvolver-se. Os generos mais I'ara se subvencionarem determinados serviços,
onerados são actualmente o marfim e a borracha. Mas como o dos cultos nas colonias inglezas, e o da ins-
muitos outros poderiam receber maior imposto, como
o ébano, e até mesmo madeiras de Construcgão e va-
mie0 na União Ameficana, tem-se recorrido á re-
serva das terras, que umas vezes se tem considerado-
rias mercadorias. Procedendo-se com bom sensb e jna!ienaveis e outras se tem vendido em determinadas.
cir~umspeção desenvolver-se-hão largas fontes de condigões. No Canadá, por exemplo, havia, no prin-
receita. Esses direitos, sobretudo os que recáem no cipio do seculo xlx, vastas extensões de territorios,
marfim, na borracha e nas madeiras. s?io ainda tima que tinham ficado de reserva com o fim exclusivo de
restrição ao exgotaménto desordenado e prèmaturo com o produto da sua venda se acudir ás despezas-
e á exploração e-anjadora d'esses produtos. com a egreja estabelecida. 0 s Estados Unidos da
Como os impostos internos, quer directos quer in- America teern sempre resiervado, em cada milha qua-
directos, são muito-dificeis de se estabelecer e ainda drada, 640 acres para a respetiva escoia e necessi-
mais de se cobrarem, n'uma região em que a popu- dades de instrução.
lagão está muito disseminada, com territorios enormes .- Tem-se por vezes defendido a idéia, e ella tem sido-
e pobres, 'esses diteitoç de exportação são um pro- mesmo adotada em alguns pontos, de se reservarem
cesso economico e equitativo de se obterem para o tambem terras para usofructo dos indigenas e dos pro-
thesouro receitas valiosas e sempre crescentes. prietarios primitivos da colonia, afim de Ihes dar meíos-
\de viver, quando os progressos da cultura reduzirem
Receita da venda das terra. Tratando do prG- as florestas, onde elies costumavam cagar e tambem
duto da venda das terras, iá vimos que o systema para poderem, com esses recursos sempre crescentes,
Wakefielci pretendia reservar todo esse produto para melhorar a sua situação e elevarem-se cada vez mais-
subvenç.ões á emigração. Semelhante generalisaqáo hQ grau de civilisação.
não é util. O governo inglez tem sempre aplicado - ' O Systema da reserva das terras tem algumas san-
uma parte d'elle para ocorrer ás despezas de serviços f-nf. Não estabelece nenhum imposto sobre os co-
publicos indispensaveis. Quanto ao preço por que as l @ $ e~ dá recursos abundantes para os serviços aos
terras devem ser vendidas tambem já vimos que elle WW3 essas reservas são destinadas. A' rcedida que-
náo póde ser fixado em theoria. Depende das circuns- a Cultura nos arredores se vae desenvolvendo, a terra
tancias da colonia e das vantagens que ella póde ofe- çeseníou vae numentando de valor. No fim de.
recer para a cultura dos produtos d'alto valor, Esses a&m tempo esse valor chega a ser consideravel. Pó--
preços teem oscilado desde um dollar e um quarto de-se e n a o alugar e tirar dreIIa uma renda que, cres--
.tendo com o desenvolvimento da pspulação na região, aplicar a essas reservas o systema que acabâmos de-
.permite que os meios de instruqão e de moralisação expòr.
aumentem proporcionalmente ás necessidades e aos
-progressos da riqueza, sem ter de se recorrer para isso Outros impostos a estabelecer nas colonias..
aos impostos. Tem-se estiidado muito se se poderiam adorar naç-
Mas os inconvenientes são ainda talvez superiores colonias a maior parte dos impostos que se aplicam
ás vantagens. Essa terra inculta, e que deve ficar nos estados europeus. Tudo isso depende ;ia oportu-
assim durante muito tempo pela forqa das circunstan- nidade e do bom senso. Um dos impostos mais pro-
cias, é um obstacuto ao desenvolvimento da cuItura dutivos, o do registo, póde-se, sem duvida, aclimatar
das terras contiguas. Sobretudo, quando as reservas nas cofonias, com a condição de ser muito moderado.
-são inalienaveis, produzem todos os abusos da m l o Que o Estado exija uma certa remuneraqão pelos actos
srnorta. Taes inconvenientes são tão importantes que de que elle garante a publicidade e a cuja execução
a Inglaterra se viu obrigad? a renunciar, nas suas dá toda a forc;a, nada de mais justo. Essa remunera-
ieolonias, ás reservas para a Corôa e para a Egreja. @o não deve ser proporcional ao serviço prestado, c-
Um homem de espirito excecionalrnente engenhoso qgal é inapreciavel, mas ás despezas e ao trabalho
o arcebispo VCrhately, inventou um piano para afastar que custou n prestar.
os males do referido systerna e aproveitar-lhe os bens. Tudo o que importe dar garantias soiidas á pro-
Todo o comprador de terras teria direito, alêm dos -priedade e necessario nas colonias novas. Se a pro-
-terrenos que tivesse adquirido, ao goso gratuito, du- priedade não estiver perfeitamente segura e ao abrigo
-rante certo tempo, d'uma outra porção de só10 con- de todas as contestações injustas, a exploraqlo do
tiguo. Assim, o comprador de 80 acres poderia usu- solo não progredirá e coiiseyuentemente a população
fruir roo. Passado um certo periodo seria obrigado a conservar-se-ha estacionaria. E' por isso utilissimo
entregar os 20 acres que tinha exy1orado a mais, e que os sen-iços de registo e hypoteca- estejam mode-
-que já estavam valorisados, a escola, ao municipio, lamente organisados. Mas é. preciso tambem que a
.á comuna, ou ao Estado, como lhe fosse determi- sua execução não seja muito dispendiosa.
nado. A . separação far-se-ia da maneira seguinte: Nas sociedades europêas esse imposto tem atingido
6 0proprietario escolheria para si 40 acres dos ~ o o poporçjões enormissimas. E' da natureza das colo-
-que constituiam a propriedade e depois o agente ofi- R&, sobretudo na origem, que as transações da pro-
cial respetivo apartaria 20 dos sessenta restantes, priedade sejam ali mriito frequentes. O só10 passa. %
E' um systema habil e de facil aplicação que faz des- rmudo, de mão em mão por venda ou por troca. Não
,aparecer os principaes inconvenientes das reservas das ha o sentimento da tradição, que no velho mundo,
terras. Nas colonias ,de expIoração é indispensavei impede tantas vezes as vendas. Nos Estados Unidos
.constituirem-se reservas de terras para a população. tem-se verificado que 110 Far West cada porção de
-indigena crescente. E' um dever imposto çimultanea- terreno tem passado em media por ires proprietarios
mente pela humanidade -e pela politica. Poder-se-ia sucessivos antes de chegar a um certo grau de cul--
tura. Executa-se assim uma divisão de trabalho agri- avaiiação. Cometer-se-iam graves injustiças, porque
.cola que seria xuito inconveniente impedir. O primeiro escasseariam' e seriam incertas as base5 de avaliaqão.
que ocupa a terra faz as explorações iniciaes, a s obra3 Se se dever estabelecer a contribuição predial, con-
-mais importantes, e vende-a depois. O seu sucessor vêm que seja muito rnodesacla e é de desejar que,
realisa já uma cultura mais ordenada, mas é quaçi .durante alguns annos depois do.Estado as vender, as
sempre detido por falta de capital. Desde que melho- terras sejam isentas d'esse imposto.
rou um pouco a propriedade pelo seu trabalho, ven- Seriam preferiveis, a esse imposto, as contribuições
.de-a então a um lavrador com capitaes que a cuItiva loeaes, como as usam os Estados Unidos, porque o seu
por sua vez com todas as regras. Essas tres opera- produto seria empregado em estradas e em trabalhos
.qÕes são distintas e dificilmente poderiam ser realisa- indispensaveis, á vista de todos e em proveito ime-
das pelo mesmo individuo, havendo, portanto, só des- diato dos que as pagam, e a sua cobrança seria por
vantagem em as impedir ou contrariar. isso mais facil e aceite com mais resign-50.
Tem-se estudado tambem se não se poderia adotar Tudo o que temos dito se refere ás coloniaç no seu
nas colonias a contribuição predial. Esta contribuição primeiro periodo, porque é então que ellas se diferen-
Levanta grandes resistencias pela sua incidencia, e .ceiam muito das velhas regiões. Essa diferença vae
'
pelos seus efeitos economicos. Ella póde ser uma diminuindo dia a dia e chega o momento em que os
taxa fixa por cada hectare de terra, sem se atender primeiros terrenos cultivados não diferem em coisa
a qualidade d'esta ou. ao contrario, uma taxa pro- alguma dos da Europa. Assim não somente a Nova
'
porcional 6 qualidade da terra e á renda que dá OU Inglaterra e o Baixo Canadá, mas tambem muitas
é suscetivel de dar. O primeiro processo seria o pre- provincias da Australia são hoje bastante semelhantes
ferivel. a s regiões europgas para que todos os impostos que
Nas colonias nascentes ou pelo menas nas que não n'estas sk adotam possam ali ser aplicados com bom
,oferecem vantagens especiaes para a produção de ge- resultado.
neros de exportação, não ha grandes diferenças ao Ha porêm uma observagão a fazer. E' que na Eu-
principio no valor das terras. Vendem-se geralmente ropa está-se muitas vezes ligado por habitos secula-
todas ao mesmo preço, como nos Estados Unidos. res a impostos maus e vexatorios em si mesmo, mas
A diversidade dos valores surge mais tarde pelo pro- que estão bastante enraizados nos costumes, para .
gresso e extensão das culturas. Uma contribuição pre- que não devam ser substituidos por outros sem pe-
dial proporcional á renda de cada terra poderia ser rigo. Uma colonia, ao contrario, é uma tabua raza,
considerada, n'esse primeiro periodo da vida colonial, onde a inovação é facil, porque tudo ali tambem é
como um imposto sobre o emprego dos capitaes pasa novo e onde seria insensato transportar para essas
a melhoria das terras. E, alêm d'isso, é muito dificil terras novas, não estando n'ellas estabelecido nenhum
determinar com precisão e por uma fórma equitativa Precedente mau, taxas que só esistem nos paizes
a renda das terras, sobretudo nos primeiros tempos antigos pela força da tradição, apezar de todos as re-
.de colonisação, quando faltam todos os factores de conhecerem inconvenientes e perniciosas.
As considerações que temos feito, exceto as que maior pretensão a incidirern sobre a receita liquida
aplicamos aos- direitos de exportagão, referem-se es- 40s individuos.
pecialmente ás colonias de populaqão. A s de explora- Aiguns monopolios, como o dos tabacos, ou o dos
ção formam um caso particular. Sendo ahi indigena fosfoi-os, pcderão tambem ser aceitaveis. Com os di-
a massa da populaqão, o systema fiscal tem de ateri-, reitos de alfandega na importa~ãoe na exportação e
der muito aos habitos e á situação dos povos primi- alguns impostos sobre a população europèa devem-se
tivos. colher receitas suficientes para uma administração
Entre os impostos directos, as capitações muito. eficaz e econornica. 0s produtos dominiaes ou rendas
moderadas, ou uma taxa pequena sobre as palhotas dominiaes das florestas, das minas e as vezes tam-
são as que os indigenas suportam com mais facili- bem das terras concedidas ou alugadas, mais do que
dade. A contribuipo sobre as palhotas nos Achantis exploradas directamente, podem tambem produzir re-
e em outras colonias inglezas tem provocado desor- ceitas valiosas.
dens passageiras porque são exageradas. Os colonos Algumas vezes poder-se-ha ainda recorrer a pres-
. britanicos, especialmente na Africa do Sul, teem que- tações indigenas, isto é, á mão d'obra gratuita, ou
rido sempre que a s taxas sobre as palhotas, ou a ca- modicamente remunerada. Alas este processo degenera
pitação sobre os negros, seja muito elevada, como quasi sempre em abusos. O sistema de trabalho forgado
meio de se obrigarem os indigenas ao trabalho assa- é, em geral, detestavel, e dá maus resultados. Elle faz
lariado. com que o indigena odeie o trabalho. E' conveniente,
Pelo que diz respeito á propriedade rural indigena, por isso, renuncier a semelhante processo, ou, pelo
é muito dificil, especialmente com as populações em menos, restringii-o quanto possivel. Só a impossibili-
mediocre estado de desenvolvimento, estabelecer-se dade absoluta de encontrar, para obras de necessi-
um imposto proporcional á renda liquida dis terras.. dade inadiavel, mão d'ubra voiuntaria com remunera-
Mas pode-se recorrer a u m a taxa moderada sobre o s ção suficiente, póde justificar, e excecionalmente, um
terrenos cultivados, como o achoar na Algeria ou na regimen tão defeituoso. E quando tenha de se ado-
Tunisia, ou a direitos uniformes sobre cada especie tas, deve-se sempre fazel-o de fórma que os coagidos
de gado, como o zekkab algeriano.~Algunsdireitos d e não tenham de trabalhar muito longe das suas resi-
mercado, sempre modicos, ou taxas de consumo, a dencias.
entrada das povoações importantes, são tambem m u i t ~ Os administradores europeus teem sempre tenden-
acceitaveis. cia para exagerar as faculdades contribuintes dos indi-
E' preciso comprehender que o regirnen fiscal, assim genas. Por isso convêm limitarem-se muito as obras
como o regimen alimentar, não pode ser uniforme de ostentação e puramente decorativas. Com os re-
para todas as populaqões do globo e para rodos os cursos reduzidos que comporta o meio e adotando-se
periodos de desenvolvimento. As populagões indigenas uma adrninistragão pouco opressiva, póde-se levar, por
suportam muito melhor os impostos que temos enu- graus e com tempo, um paiz novo e uma sociedade
merado do que os directos, mais scientificos e com primitiva a um elevado ponto de desenvolvimento e
As pautas de 1892 são symetricas com as do con-
tinente, no que diz respeito á proteção h industria e
552 contos, Angola com 631, hZopmbique com goo,
a India com rgg e Timor com 84,
á agricultura nacional e na reciproca aos produtos de
origem colonial. O imposto do alcool. Peta sua importançia e
X base economica d'essas pautas é a seguinte: as forma como este imposto se reflete em algu-
pautas sáo especificas para um certo numero de arti- mas questões, que mais afetarn uma boa obra de co-
gos, designadamente, generos alimenticios, fios e te- 1onisagã.0,referir-nos-hemos em especial á sua inciden-
cidos, metaes e generos de primeira necessidade. 0 s tia nas principaes colonias portuguezas. Desde muito
outros produtos teem a designação de mercadorias não que tem engrossado cada vez mais a corrente desti-
especificadas, com o tratamento de 10 e 20 O/o ad va- nada a combater entre os pretos o vieio do alcoolisino.
Z o ~ e m ,conforme as colonias. As mercadorias importa- Tem-se procurado acabar com o consumo d'esse ge-
das diretamente do estrangeiro para as colonias pa- nero, fechando os portos á sua importaqão e prohibin-
gam integralmente os direitos da pauta ; as reexportadas do-lhe a fabricagão. Mas teem surgido, ao mesmo
da metropole e ilhas, consideradas como mercadorias tempo, o contrabando e a fabricação ilegal a anularem
estrangeiras nacionalisadas, 80 O / o dos direitos; as na- essas disposições hurnanitarias.
cionaes 10O/ci dos direitos. , Em 1 8 9 reuniu-se a primeira conferencia de Bru-
-E7,.portanto, de go O / o o favor concedido aos arti- - xellas, em que tomámos parte, a convife da Inglaterra
gos e generos da mãe patria. X doutrina do decreto - e da Belgica. Essa conferencia adotou medidas relati-
de 16 de abiil de 2892 foi tornada extensiva, com vas á repressão do comercio da polvora e armas, ao
ligeiras modificagões, A provincia de Mogambique, por trafico dos escravos e á importação, produção e con-
decreto de 2 9 de dezembro do mesmo anno. Depois sumo do alcool. 0 s direitos aduaneiros sobre o alcool
da publicagão d'estas diplomas, algumas das disposi- " hram ahi fixados no minimo de I 5 francos por hecto-
ções das pautas de 1892 teem sido alteradas e modi- &to, nos trez primeiros annos, e de 25 francos nos
licadas por diversas disposigões governativas, especial- a m o s Seguintes. Para o aícool de produgão local
mente as que se referiam ao Estado da India..O alcooI, creou-se um droit d'accise, que entre nós foi interpre-
as armas, polvora e miinições, os vinhos nacionaes e tado como um direito de consumo. As pautas de 1892,
os tabacos ficaram tendb um regimen especial. seguindo a orientápo estabelecida na referida Confe-
As receitas das alfandegaç das nossas coloriias atin- ferencia, elevaram os direitos d'entrada do alcool a
giram, no anno economico de 1go8-rg~g, ao qual nos 12$ooo réis por hectolitro ate 24' Cartier, e a 40$000
reportamos por t e r m sido já publicados, em relação reis para o de graduagão superior. Em 1895 julgou-se
a todas as nossas possessl>es de alem-mar, as contas ainda insuficiente esta protqão ao alcool produzido
de cobrança d'esse snno, a importancia de 2:736 con- em AngoIa, e por isso o decreto de 2; de abril d'esse
tos, para que concorreram Cabo Verde com 231 con- ann0 aumentou em 5 0 os dlreitos de entrada so-
tos, Guiné com I56 contos, S. Thome e Principe com bre o alcool importado. Os efeitos d'este decreto fo-
ram tão rapidos que a importaqão, que atingira um
IMPOSTO NAS COLOh'IdS POBTL.GCEZAS 34
38 ecrEh'cra DE COLON~SAÇIO
8 de Junho, a acta da segunda conferencia, em que
milhão e 40:000 litros no anno anterior, baixou logo se estipulava que, na zona especificada na mesma
no armo immediato a 78:000 litros. acta, 0 direito de entrada sobre as bebidas espirituo-
-ingola adquiriu, por essas providencias, uma grande Sas seria, durante seis annos, de 70 francos por hecto-
prosperidade Simultaneamente ekvara-se o preço da litro a 59 graus centessimaes. Correspondia isto a um
borracha, aumentara o numero das caravanas, 0s ar- direito de r26 .reis por litro com f ~ g alcooiica
a não
mazenç encheram-se de algodão e de pipas de aguar- superior aquella graduaqãu.
dente, a tal ponto que O consumo d'este eenero atin- Para se cobrarem OS direitos de entrada e de con-
em 1899 a cifra de 1 3 . 3 W : W litros- das bebidas espirituosas, 110stermos da confe-
Mas a tendencia para se transformar a industria do i-encia, hesitou-se em se adotar a avença ou o mani-
alcool na industria do ~ S S U C ~nãoK esmorecia- festa, como 0 melhor sistema,de se harmonisarenl as
A esse fim obedeceriam a~ propostas do ministro das disposi$ões da referida conferencia com o antigo es-
coloniaç da epoca, o sr. Eduardo Viltaga, que Pouas tado de cousas.
ejperapps tinha de se poder acabar Com 0 vicio do Pelo decreto de 7 de julho de 1900, dispòz-se que,
alcoolismo, vicio que tanto prejudica as P ~ P ~ ~ ~'10s distritos
Ç ~ do~ C0ng0
~ e de Am$riz, o direito de im-
indigenas. Porta$ão do alc00l e aguardente, até jo graus cen-
Para concorier para o fim a que Se aspirava, a carta tessimaes, seria elevado a 1 2 6 réis por cada litro, au-
de lei de 18 de agosto de 1899 estabelecia para Q mentando 0 direito 2 , 5 2 réis por cada grau a mais, e
alcool em Loanda, Eenguella, Mossamedes e Lunda, que Para. 0s distritos de Loanda, Benguelia e >íosça-
o imposto mie0 de 80 reis por cada litro de liquido 0 mesmo direito subisse respetivamente a 2 jo,
fabricado com a força alc00li~ang0 superior a 24' 578 e 461 i.éis. Egualmente se estabeleceu que o im-
~ a r t i e r ,sendo esse imposto aumentado em 10 réis 'Posto de produsão em toda a provincia seria de 126
por cada grau alem d'esse limite. A im?o*$áo Por litro, aiimentando 2,52 réis por cada grau su-
trangeira deveria diminuir, mercê d'ests p r o ~ i d ~ ~ c ~ ~ * perior a 50 centessimae~até O ;, e cinco réiç por cada
e ao mesmo tempo aumentar a produção nacional. grau acima de 70. OS impostos de importação eram
A carta de lei citada visara ainda a roduzir 0 acresci-
?
mo da receita do imposto do ~ ~ C O eOda amardente
inteiramente prohibitivos e destinad-os a compençarem
maus efeitos d'um tão grande aumento no impoçto
da provincia, a egualdade d'esse imposto Para todos de produção. Para 0 mesmo fim se estabeleceu que a
0s produtores e a adotar processos de cobrmfa muito cobran$a d'este imposto se fizesse por uma especie
mais pratico5 e perfeitos. Assim, a produçbo do a1coo1 de monopolio, e que elle só incidisse no alcool e
em vez de chegar a termos que excedesse 0 consumo, aguardente entrados no mercado e já transacionadoç
ficaria no equilibrado meio termo que é preciso man- e não sobre os que Se encontrassem ainda nas disti-
ter. E eram tão poderosas as forças da industna da' Iações e depositas.
alcool, que estas providencias foram recebidas sem a Eram sem duvida perniciosas para os interesses eco-
menor reclamaqão ou protesto.
N'esse mesmo armo, assinara-se, em Bruxellas, a
IMPOS PO PIAS COLONIIS P3RTUGGE Z AS 41

nomicos da provincia de Angola as deliberagões da vembro de 1906 vieram estabelecer um regimen novo.
Conferencia de Bruxellas. Por esses diplomas a taxa de 70 francos por hectoli-
O poder central ainda mais agravou essa influencia tro foi aumentada a IOO francos, elevando-se d'este
determinando, no decreto de 23 de dezembro de 1901, modo o imposto a r80 reis por litro de aicool até 50
medidas as mais apertadas e vexatorias para a cobran- centessimaes e um acrescimo de 3,6 réis por iitro e
ça do droit d'accise, interpretado como um direito de por grau acima d'aquella graduagão. as
a o passo
produção e não como um direito de consumo, como que em 1899 as regiões excetuadas foram o Togo e
se fizera até ahi. O mal de taes providencias sentiu- Dahomey, em 1906 a colonia beneficiada foi a de
s e não só em Angola, mas tambem em Moçambique, Angola, onde, á taxa de 100francos por hectolitro,
onde, na Zambezia, teve de fechar uma fabrica, que se retira a quantia de 30 francos, destinada a auxiliar
custára I 50 contos, resentindo-se d'esse mal a pro- a cultura da canna sacarina na sua transformação
pria industria do assucac por se ter prohibido o apro- em asçucar em vez da sua distilação em alcool. O
veitamento dos melagos para a distilação. Mais tarde, direito fixado será valido durante dez annos. Em vir-
em 7 de maio de 1902, promulgou-se um novo de- tude das deliberaqões desta conferencia tentáram-se
creto em que se prohibia o fabrico e o consumo ao importantes trabaihos para a adoção do regimen do
sul do rio Save, não- só de bebidas distiladns, mas de grernio.
fermentadas, abragendo assim essa prohibisão todas N ' e ~ esentido elaborou-se o decreto de 28 de no-
as conhecidas bebidas indigenas ou cafreaes. Pensá- vembro de 1907 em que se permitia a fundação d'um
mos em alargar d'este modo o mercado dos vinhos grernio de fabricantes, para o pagamento do imposto,
de pasto da metropole, mas demos um golpe profundo mediante uma renda a satisfazer a o Estado, sobre a
na agricultura de Inhambane, visto que nenhuma com- base de 300 contos e pelo prazo de dez annos, findo
pensagão se concedeu aos interesses valiosos que o qual se deverá realisar a nova conferencia. N'esse
estavam ligados aos machombos de canna e ao fabrico decreto dava-se de novo fóros de direito de consumo
do sbpe. a o droit d'accise.
As provincias de São Thomé, Principe e Cabo Tem sido muito dificii a transferencia em Angola
Verde não foram incluidas na área estabelecida pela da industria do alcool na industria do assucar. São
conferencia de Bruxellas. Em São Thomé o alcool numerosissimas as fabricas de aicoo1 que existem n'essa
nacional paga 900 réis por decalitro e o importado provincia. O annuario de Angola de 1899 mencionava
6'$ooo réis. E em Cabo Verde a aguardente simples 234 fabricas e alambiques, espalhados por tão larga
de menos de 24 graus Cartier paga 1$8oo réis o de- região. Existiam pois mais de duzentos fabricantes
calitro, o alcool e aguardente simples de 24 graus ou que, d'um momento para o outro,-se o imposto fosse
mais 6$ooo réis e a aguardente preparada 4$joo réis, logo cobrado na sua verdadeira impot-tancia, teriam
tudo isto para se combater e dificultar o consumo do de deixar de produzir alcool ou aguardente, mas sem
alcool. estarem preparados para o exercicio de qualquer outra
As actas da conferencia de Bruselias de 3 de no- industria. Ha ainda a atender á sorte dos pequenos
SCIENCEd DE C O L O N I S A Ç ~ O
IIPOSTO NAS OOLONIIS PORTUGUEZAS 45
proprietarios que aproveitam a cama levando-a a um
alambique proximo para a venderem, ou trocarem por que haveria a resolver, elia resaltava nitidamente,
uma parte do que ella possa produzir. vendo-se que os cereaes para o consumo local pou-
Para se realisar a transformação a que nos obrigá- cos ganhos poderiam oferecer, que as especies ameri-
mos assinando a acta da ultima conferencia de Bru- canas de borracha, de grande rendimento, degeneram
xellas, transformação que deverá ser completa no dia facilmznte em Africa, que o café teria de lutar com a
em que se reunir a futura conferencia, temos de con- concorrencia esmagadora do do Brazil e que o algo-
tar que não se transformam por milagre 300 campos dão ainda não se sabia com rigor se poderia ser real-
de canila em 300 fabricas de assucar, que não teriani mente uma cultura compensadora. Esse problema só
onde colocar os seus produtos. Desde o principio se poderia pois ser resolvido com muito método e sem
recoi-iheceu que se devia comepr por fazer uma se- precipitações.
leção inteligente, indernnisai~do-se com justiça os Foi atendendo a todas estas considerações e a ou-
proprietarios que fossem obrigados a mudar de cui- tras que poderiamos ainda referir, como as que se re-
tura. X'essa selecgão teria de se atender ao locaf e lacionam com a mão d'obra e com o aspeto pauta1
irnportancia das p~opriedadese ainda á qualidade da da questão, que se procedeu ininterruptamente ao es-
canna que ellas protluzissem, porque se e verdade que' tudo d'este assunto de tão alto interesse para a vida
de toda a 'canna se fabrica alcool, nem toda eiIa serve futura d'uma das nossas mais bellas possessões. Em
para dar uma remuneradora produção de assucar. rgro apresentou-se um projeto, pelo qual a transfor-
A consideração do Iocal era tambem das mais irn- masão se faria indemnisando-se os donos aas proprie-
portantes, porque o assucar que se viesse a produzir dades que tivessem de mudar de cultura por meio de
etn Angola seria quasi n a totalidade um genero de obriga~õesd'um emprestimo de 3:500 contos tomado
exportação, não podendo assim servir para base de pelo poder central. Os encargos d'esse emprestimo
fornecimento das grandes fabricas que haveria a mon- sahiriam dos direita cobrados sobre os vinhos da me-
tar, para o que teriam de se formar poderosas emprezas tropole, cujo mercado se alargaria decerto devido á
ou companhias em propriedades muito longe da costa prohibição, ou, pelo mefíos, a importante redução d@
e desprovidas de faceis meios de comunicação. fabrico e consumo do alcool.
Xlêm de todas estas dificuldades existiam ainda a Ess.e projeto foi apreciado pelas estações e-corpo-
do valor dos capitaes necessarios para se montarem rações de maior autoridade e mereceu mesmo o aplause
fabricas p-oderosas e a do embaraço de se aplicarem de todos os interessados, não chegando porém a vin-
os recursos e a actividade dos que tivessem de mu- gar, devido aos acontecimentos politicos que se de-
dar de cultura aos seus campos, pa:â outras culturas ram pouco depois da sua elaborasão.
lucrativas par2 elies. Emquanto ao custo das fabricas
bastará dizer que. as de Mopeia e Caia, na Zambezia, A resolução da questão do alcool em Angola..
exigiram mais de SCQ contos na sua construção e ins- Em 27 de maio de i911 o Governo Provisorio publi-
talagão e emquanto a gravidade do problema agricola cou um decreto sobre este assunto determinando que
esse diploma entrasse desde logo em execução, sendo
IMPOSTO N A S COLONIAS FOICTUGCEZAS 45.

' eIle quaai que a reprodução d'aquelie a que nos aca- na ocasiao da entrega dos titulos correspondentes a
bârnos de referir e baseado nos seguintes principioç: essa indemnisação.
Ficou prohibido, salvo licença do Estado, impen- Prohibiu-se na referida provincia de Angola a cul-
dendo sobre os transgressores penas e multas muito tura da canna sacarina e outras plantas utilisaveis para
graves, em toda a provincia de Angola, o fabrico de o fabrico do alcool e similares, excetuando-se a canna
alcool, aguardente e bebidas similares distiladas. Para sacarina destinada ao assucar mediante Jicenp espe-
assim se cumprir, cessava, dois meses depois da lei cial gratuita, a canna em cada arimo a t e 25 metros
ser publicada no Boletim Oficial da Provincia, a la- quadrados e nas fazendas agricolas ate 100 metros
boração dos alambiques e outros aparelhos distilato- quadrados em cada uma e com aplicagão exclusiva
rios, os quaes seriam desmontados no praso de no- na aiimentação do pessoal e prohibiu-se tarnbem n
venta dias pelos seus possuidores e á custa d'estes, importação quer pela fronteira terrestre quer pela ma-
O decreto estabeleceu ainda as penas para os que não ritima, de alcool, aguardente e similares, permitindo-
cumprissem essa determinagão e a fórma de se ex- se apenas a de aguardentes preparadas, cognacs, ge-
portarem para fóra da provincia, dentro do periodo neros e productos engarrafados, a cuja introdução se
rnaxirno de ires annos, todos os alambiques e outros poderia marcar sempre um limite maximo e quando,
aparelhos de distilação. Com o mesmo intuito prohi- se julgasse conveniente impedil-a por completo, pa-
biu-se que, sem licenca do Governo, se importassem gando taes artigos, o direito de importação de 1600
o u construissem na Provincia os referidos aparelhos réis por litro e nos districtos de Loanda, Benguela e
, ou quaesquer materias primas destinadas ao fabrico Mossamedes os nacionaes o de 600 réis.
.do alcool e aguardente. Permitiu-se a exportasão e importasão na metro-
O alcool que existia na Provincia, dois meses de- pole livre de direitos dos melaços resultantes do fa-
pois da Iei ser publiczda no Boletim Oficial, pagava brico do assucar já filtrado.
9 impbsto de 180 réis por litro até jo graus centessi- Aos vinhos importados em Angola marcaram-se os
maes acrescido de 3,6 por litro e por grau em exceso. seguintes direitos :
Quando se fizesse a liquidação essa importancia seria Vinhos comuns-nacionaes : por' litro ate 14'- 38
paga em 3 0 dias ou garantida por Ietras aifandegarias. reis ; de 1 4 ~a 1 7 ~ - 70 réis ; acima de 17'- 200 réis.
.O a l c o ~ lsonegado a estas operagões seria apreendido. Estrangeiros ou reexportados por litro joo réis.
O seu possuidor sofreria prisão de um a dois annos Vinhos generosos e licorosos ate azo, engarrafados:
não remivel e sendo agricultor perderia direito á in- Nacionaes: por garrafa de meio litro, 35 réis; por
demnisação concedida pelo proprio decreto. A s quan- garrafa de um litro, 70 réis. Estrangeiros ou reexpor-
tias e as letras a pagar pelos possuidores ou deten- tados : por garrafa de meio litro, 2 j o réis; por gar-
tores do a1mol poderiam ser satisfeitas com titulos rafa de um litro, 500 réis.
da dívida provincial creados nesta mesma lei e, quando Vinhos espumosos de gradriação normal. Nacisnaes:
-os detentores fossem os agricultores com direito á in- por garrafa de meio litro, jo réis; por garrafa de iim
demnisagão, a importancia em divida seria descontada litro, ~ c mreis. Estrangeiros ou reexportados : por gar-
rafa de meio litro, 500 réis ; por garrafas de um iitro,
porção se se reconhecesse que o numero de hectares
rooo réis,
de cultura de canna para alcool era inferior a 3:000.
Haveria a maior fiscalisa~ão,estabelecendo-se para
0 s referidos titulos seriam ao portador, de \-iiicii-
isso o principio da analyse nos portos de entrada,
para que não se introduzissem alcooes tintos e outras n o ~ i n a lde roo:ooo riis, isentos de imposto, de juro
misturas que prejudicassem o indigena sem beneficio de 3 O/o ao anno pago aos semestres e amortisados
para a vinicultura nacional. em 30 annos por sorteio e compra no mercado.
O decreto estabeleceu tambern a forma de se arre-
A exportação do vasilhame e mais recipientes que cadarem as receitas de que hão de sahir os juros
houvessem servido para o vinho far-se-hia livre de
direitos, e egualmente se tornava livre a importação destes titulos, o modo como estes seriam redigidos, a
forma de fazer o pagamento dos seus juros e a orga-
do mesmo vasilhame no continente.
nisa~ãoduma cComissão da Divida de AngoIa, para
A cobrança dos direitos de importagão sobre os vi-
nhos e aguardentes ngo poderia ser delegada pelo dirigir o serviqo da mesma divida.
Estada em qualquer individuo, grupo ou entidade at- Logo que se concluisse o cadastrò das proprjeda-
des cultivadas com canna sacarina e cará o Boletim
rematante ou interrnediaria.
Oficial publicaria uma relação pormenorisada aas suas
Os vinhos já existentes na provincia passavam
a pagar um novo direito de importação calculado pela áreas e especie de cultura, situaqão, nomes dos agri-
diferenga entre o que já houvessem pago e o determi- cultores e outras indicações que podessem servir para
nado por esta lei. a identificação d'essas propriedades e assegurarem o
A cerveja, a cidra e outras bebidas fermentadas
calculo, a distribuição e o pagamento das indemnisa-
pagariam de direito de importa~ão200 réis por Iitro ~ õ e s ,Do que constasse n'essa relação poderia haver
sendo estrangeiras ou reexportadas e ~ o réis o sendo reclamações para o conselho provisorio. Resolvidas as
nacionaes. reclamações publicar-se-hia a rela~ãodefinitiva a qual
Para se indemnisarem os agricultores de cana ça- serviria de base para o calculo, distribuição e paga-
carina e de cará por não poderem continuar a fabii- mento das indemnisações.
car alcool e para os habilitar á transformação dessas A lei indica depois com todos os seus pormenores
culturas, o Governador Geral emitiria titulos de divida as regras que haverá a obsewar para se fazer o pa-
provincial até á quantia de 3:om contos, arbitrando- gamento das indemnisações, de modo a não poder
se a indemnisaçáo de um conto de réis por cada hectar, dar-se a menor desegualdade ou injustiça. Fixado o
garantidos pela receita do imposto do alcool e dos numero de titulos que correspondessem a cada agri-
vinhos existentes a data de publicação da lei e dos cultor, 30 O/o ser-lhes-hiam entregues desde logo e
direitos de importação cobrados sobre os mesmos ge- dos 70 O/o restantes elle receberá 25 O/o em cada um
neros e aguardentes preparadas e mais bebidas aIcooIi- dos dois annos seguintes se se provasse que tinha ern-
-cas que depois viessem a entrar, preendido e em andamento as transformações das duas
O valor dos titulos seria reduzido na respetiva pro- culturas n'uma área egual áquella pela qual recebera
a indemnisação sem a redução á canna alcool. Os
IMPOSTO BAS CULOYIAS FORTUGCXZAS 49
200,'~ultimos só lhe poderiam sei-dados quando provas- campos de cultura onde trabalhem todos os condena-
se que tinna emes tado de cultura permanente e con- dos da metropole.
tinua uma área egual á que se refere na totalidade a Aletade, peio menos, das cuituras a que os agi-icul-
indemnisagão concedida, egualmente sem a redução tores ficariam obrigados seriam de plantas vivazes ou
da canna alcool. arboreas, taes como o algodão, a borracha, o den-
O diploma a que nos referimos determina ainda que dem, etc.
o Governador Geral de Angola proponha em conselho
o auxilio a dar á agricultura na transformago das Se até rgr 5 se provar que alguma propriedade foi
culturas da canna. abandonada e o abandonante não arroteou e cultivou
Além d'isso poder-se-ha auxiliar os agricultores com Area de terreno eguaI aquelle sobre que ineidiu a in-
consultas agronomicas gratuitas, verbaes ou por es- demnisagão, o Estado tornará conta d'essa proprie-
crito; com a distribtriqão de folhetos com instruções dade com todas as construções e anexos e poderá
praticas sobre culturas tropicaes e industriaes, agri- executar os bens do abandonante até se cobrar do
valor da indemnisação que lhe fora entregue. .
colas e conesas; com a distribuição de sementes para
ensaios de culturas; com a distribuição gratuita d'um O Gover,lo poderá conceder licença para se estabe-
boletim ou jornal de agricultura pratica; com o ser- Iecer, em Loanda, uma fabrica d'alcool dos melaços
vigo de anaiises e ensaios de que careçam no Labo- provenientes das fabricas de assucar, sendo fiscalisada
ratorio-Chimico Agricola de b a n d a ; com a inspec- a respectiva Iaboração. Mas o alcool fabricado será
são ás suas propriedades do pessoal agronomico da logo desnaturado para se utilisar para combustivel ou
provincia para este indicar o melhor plano de explo- outros fins industriaes.
ra@o a adotar-se e fornecer toaos os esclarecimentos Aos agricultores que substituirem as anteriores cul-
para a sua melhor execução; com o fornecimento de turas de canna e .de cará por outras de generos d e
sementes, inséticidas, fungicidas e alfaias agricoIas exportação, exceto o assucar, conceder-se ha um -
pelo preço do custo e aluguei- de machinas a preço premio de exportaçátl calculado sobre as q~antidades
muito réduzidos, facilitando-se-lhes os pagamentos em exportadas. O Governador, em conselho de Governo,
prestações ou por meio de letras; com o fornecimento é que lhe cumpre indicar as especies vegetaes com
de trabalhadores indigenas, com passagens de carni- direito a este premio, a importancia d'elle e o numero
nho ae ferro a pregos muito reduzidos; com a con- de annos em que o mesmo será concedido.
.cessão de passagens gratuitas da rnetropole para a No orçamento da provincia inscrever-se-hão, todos
provincia a trabalhadores rui-aes, technicos agricolas os annos, as verbas necessarias á constru~ãodo ca-
e a animaes reprodutores com destino b proprieda- minho de ferro de Malange e ao subsidio ás munici-
des, e ainda com o estabelecimento de pistas experi- palidades. Quando as receitas destinadas a servirem
rnentaes de cultura, de oficinas de desgranar e enfar- de garantia aos encargos da divida excederem estes
dar o algodão, de descascar e branquear o arroz, de em quantia egual ou superior a zoo contos de réis,
debulhar e moer o milho, de preparar s café e de 2 0 O/o do que sobrar d'esta cifra seriio destinados a
IMP08TO X b S COLOBIAS PORTZTGUEZAS 51

subsidios aos municipios sendo a distribuição feita de Macau, nem vale a pena falar, tão diminuta é a
pelo Governador Geral em conselho de Governo. sua receita. O mesmo se deve dizer dos direitos da
Quando os infractores d'algumas das disposições pesca das ostras em Macau, O imposto das licenças
da lei de que tratâmos forem indigenas. e não dispo- para venda de petroleo tambem existe na mesma pro-
zerein de meios para o págamento das muitas, serao vincia, tendo sido cobrado por arremataqão até 1902
estas substituidas pela pena de trabalho correcioi~al e transformando-se então em imposto de licença so-
até noventa dias. bre a importaçgo, venda e exportação e rendendo
verba aproximada de cinco contos de réis. Ainda ali
Impostos de consumo. Alem do imposto do RI- se adota o imposto de licença sobre a venda, impor-
cool, -que entra n'esta categoria, outrosexistem i-ias tação e exportação da polvora, salitre, enxofre, muni-
nossas coIonias que se incluem na classe dos impos- + ções d'armas de fogo e fabrico de polvora, produzindo
tos de consumo, figurando no. 01-çamento os se&in- a receita de dois contos de réis.
tes: imposto do real d'agua, iinpoçto sobre o peixe, O abkary é um conjunto de impostos que se apB-
direitos do assucar indigena, direitos da venda do sal, cam na India. Compreende essa organisação um im-
licença para pesce no litoral da cidade, direitos da posto direto, ta1 é o da licença .para lavra de palmei-
pesca das ostras, licenças para a venda de petroleo, ras á sura, cuja receita foi, em 1908-09, de 121 con-
ticenças para a venda, fabsico, importayão e exporta- tos, e varios impostos indiretos, como as taxas de dis-
qão de polvora e o abkasy. tila~ão do esyirito do cajh, o imposto de montagem
O imposto do leal d'agua, qiie ainda incide na dos alambiques e a renda da distilação e venda de
venda de generos alimenticios, vigora em Angoia espiritos nativos nas tabernas de vinhos não india-
desde 1872, embora tenha sempre produzido uma nos, etc., o que produziu no anno referido um pouco
quantia relativamente pequena, que mal vae alêm de mais de Bc contos. 0 s dados que ahi deixâmos apon-
seis contos de reis. O imposto sobre o peixe tambem tados são muito summarios e reduzidos. Mas não os
se cobra em Angoia desde 1883, com reduzido ren- podemos desenvolver, para não prejudicar as restan-
dimento. O do anno economico de 1908-09, ultimo tes doutrinas de que precisârnos tratar n'este livro
em que está publicada a nota da cobi-ança da receita
de todas as provincias uitran-iarinas, poiico excedeu Impostos direios. 0 s impostos iliretos lançados
quatro coi~tosde réis. 0 s direitos do assucar indigena nas nossas colonias são os seguintes: contribuiçilo
começaram a cobrar-se em 1901, sendo ainda muito predial, contribuição industrial, contribuiqáo indus-
pouco produtivos. Os direitos da venda do sai co- trial sobre emolumentos, imposto das mercés ultra;
bram-se em Macau desde 1S5 r. Até 1905-1906, em marinas, imposto do selo, contribuição de registo,
que renderam quantia supetior a 16 contos de rêis, multas diversas, 6 o/o dos juros de móra, 3 o/o de di-
foram administrados por exclusivo, o qual terminou vidas, emolumentos sanitarios, emolumentos diversos
n'essa epoca. Em 1908-09 apenas produziram réis emolumentos cobrados nas capitanias dos portos e
r:8oo$ooo. Da licenga para pesca no litorai da cidade delegasões marítimas, contribui$ão das carriaras para
a conseri*ação das estradas, imposto sobre o salario tribuição predial rustica. Em Angola a contribuigão
dos indigenas sujeitos á tiiteIa publica, emolumentos predial vem desde 1852. O decreto de 1880 tem ali
de secretaria, emolumentos de polvora, emolumentos sido muitas vezes alterado. 0 s terrenos cultivados em
de licenças a condenados, imposto de palhotas e cuba- Loanda e suburbios da cidade e as cubatas existentes
tas, licengas para feiras nos prasos, licengas para a n'essa parte da provincia pagam a contribuição pre-
venda d'armas, polvora, bebidas alcoolicas e tabaco, dial de 5 O/o. Na India a contribuição predial é de quo-
licenga para lavra das palmeiras á sura, loterias e jó- tidade, com a quota de I 2 */o sobre a renda dos yre-
gos em Macau, imposto sobre os coqueiros e palmei- dios rusticos e urbanos. Só em Timor e que não existe
ras e ainda outros de menor irnportancia. a -contribui@o predial. No anno economico de 1906-
i907 essa contribuição rendeu nas nossas colonias
A contribuição da renda de casas. Foi supri- 489 contos de réis. Eduardo Costa elogiava este im-
mida quando o Sr. Ayres d70rnellas era ministro da posto, mas notava-lhe o defeito do seu lançamento
marinha e colonias pelas razões de que estão muito ser feito pelas juntas, co~npostasdo administrador ou
pouro desenvolvidas as construções urbanas nas nos- chefe do concelho e por dois vogaes contribuintes.
sas colonias, d'esse imposto abranger tambem contri- Contra esse processo de Iançamento formulam-se to-
buintes menos abastados e pobres, e d'eile não cor- dos os annos centenas e centenas de reclamaçces, Em
responder á importancia da fortuna ou do rendimento 'Lourenço Marques o Iançamento é feito pelo escrivão
dos respectives contribuintes. No anno economico de de fazenda, que pode ser auxiliado por um perito.
1904-1905a contribui$áo a que nos referimos produ- Para essa cidade, Antonio Ennes elaborou o nota-
zira perto de 23 contos de réis. vei decreto de r4 de agosto de 1895,dividindo todos
os predios em duas classes, segundo a importancia
Contribuição predial? Este imposto foi aplicado dos predios. A taxa é por metro quadrado de super-
para todas as nossas colonias pelo decreto de 20 de ficie, aplicada a cada pavimento; mas havendo mais
outubro de 1880. O referido decreto tem sofrido varias do que um andar, só incide metade da taxa nos su-
modificações conforme as colonias. Em S. Thome a con- periores. A segunda parte d'esse diploma consagra-se
tribuição predial está separada em contribuição urbana á contribuigão predial rustica.
e rustica. 4 urbana foi ali primitivamente de 10 O/o. Nas colonias é imperfeitissima a organisação das
Foi substituida depois por uma percentagem de 50 O,/ matrizes. Na Guiné, devido á decadencia d7estanossa
adiciona: aos direitos de exporta@o dos produtos possessão, a contribuigão predial rende muito pouco
agricolas e novamente restabelecida por decreto de 4 e a sua taxa tem de ser muito reduzida, não devendo
de dezembro de 1902. X rustica era de 10 O/o em ir a l h de 2 %. Em Angola a receita d'esta contri-,
S. Thomé e de 5 O / o n a ilha do Príncipe e depois tam- buiFo é insignificante em relação á vastidão e rique-
bem substituida por 50 O/o de adicional aos direitos d e za da provincia. Em 1908-1909,de que já dissemos
exportação, cobrados nas alfandegas, mas separados mais uma vez a razão porque o mencionâmos, a receita
da receita aduaneira e escriturados com o titulo : con- que se cobrou d'essa pro~eniencia,na referida provin-
IMPOBTO NAS COLONIAS PORTUGCEZAS 55

cia, foi de 26 contos e, em todos os nossos dominios lamento qrie abrange tambem o imposto de ilumina-
ultramarinos, de 5 10 contos. Mas não convêm aumen- ção dos estabelecimentos chinezes.
tar de repente a sua taxa e antes cuidar-se do des- No orçamento de 1906-1907. a contribui~ãoindus-
envolvimefito da economia geral da colonia. O que trial nas colonias portuguezas figurava com a verba
urge é aperf~isoaro systerna de registo, constituindo- total de 507 contos. Este calculo era tão exagerado
çe bem as corriissões organisadoras, que devem ser que, dois annos depois, em 1908-1909, eila rendia
remuneradas'e fiscalisadas e tratar-se, ainda que len- realmente apenas 207 contos.
tamente, do cadastro da propriedade. Como dissémos, foi o decreto de 30 de setembro
Para esse fim elaborou o Sr. Teixeira de Sousa uma de 1880 que mandou aplicar ao uitramar a contri-
proposta que não chegou a ser lei, reunindo o serviço bui~-ãoindustrial em vigor no reino, como imposto de
do cadastro e do registo, proposta que deveria ter quotidade sobre os rendimentos provenientes do exer-
dado bons resultados, se esse servigo fosse sucessiva- cicio de profissões comerciaes ou industriaes, sendo
mente aperfeiçoado na pratica, a qual não podia dzi- os rendimentos coletaveis avaliados pela junta de
xar de ser longa, e tanto que em França o cadastro de lançamento. Eduardo Costa pronunciou-se aberta-
levou j O annos a completar-se. inente contra tal systerna, considerando viciosos os
tres processos que se podem adotar: vexatorio e vio-
Contribuigáo industrial. Este imposto foi gene- lento o do exame e investigação direta nos livros e
ralisado nas nossas colonias pelo decreto de 30 de negocios do contribuinte : immoral o baseado nas suas
setembro de 1880. Em Cabo Verde foi regulamentado declarações; injusto e imperfeito o fiindado em pre-
em março de 1889, tornando-se tão extensivo que sumções e conjeturas. O ilustre colonial preferia o im-
abrangeu até a agencia do cabo submarino em S. Vi- posto das licenças, isto e uma contribuição fixa pelo
cente e os respectivos empregados. Na Guiné, a con- exercicio de cada genero de negocio, de industria, ou
tribuição industrial incide apenas sobre os emolumen- de profissão liberal. Desde que este imposto se torne
tos. Em S. Thomé e frincipe essa contribuição existe mais proporcional aos beneficios dos contribuintes,
desde 1867. Uma portaria de i879 isentou do seu não ha duvida que é preferivel á contribùiqão indus-
pagamento os escrivães do juizo da comarca de trial. E' o adotado nas colonias francezas. Entre nós
S. Thomé. E m Angola a contribui~ãoindustrial está pode-se estabelecer, modificando-se para esse fim a
actualmente fixada pelo regulamento de maio de 1904. Legislagão.
Em 1882 deixou elia de se aplicar ás quotas dos su- N'esse intuito publicaram Antonio Ennes e Mousi-
bditos inglezes e á West African Telegraph Company :lho de Albuquerque, em Moçambique, dois irnpor-
pela exploração das suas esta~õesna provincia. Em tantes diplomas. O decreto de Antonio Ennes adotava
hloçambique está dividida em fixa e variavel. Na In- n fórma de licenças fixas para todo o comercio e in-
dia e em Timor só existe contribuigão industrial sobre dustria de fóra da cidade de Lourenqo Marques, como
os emolumentos, como sucede na Guiné. Em Macau se usa na Conchinchina, Senegal e Annam. Xa cidade
essa contribuição cobra-se actualmente por um regu- haveria a contribuisão fixa na maioria das profissões
IldPDSTO NAS COLONIAB POBTDGUEÚAS 5.7

e variavel para algumas industrias. O comercio im- gaes que os fixaram e regulamentaram. -4penas dire-
portador sofreria uma contribuiqão comercial paga na mos que elles todos reunidos dão uma receita apro-
alfandegã, de taxa muito reduzida, r e r O/o. Eduar- ximadamente de go contos de réis, sendo os mais
do Costa manifestou-se contra este decreto porque produtivos os emolurnentos sanitarios, estabelecidos
elle se fundava na declaragão do contribuinte e esta- por decreto de 4 de junho de 1902 para.os navios
belecia os gremios. O decreto de Mousinho de Albu- nos portos de entrada, que produziram no citado a m o
querque preferia o regimen mixto de iicengas fixas e 14 contos, os emoíumentos cobrados nas capitanias
contribuições variaveís lançadas nas alfandegas não dos portos, que deram quantia superior a 48 contos,
só aos importadores, mas tambem aos exportadores. e a contribuição industrial sobre os ernolumentos, que
Como sucede em Madagascar, as licenças variariam vae sobrecarregar com uma série infinita de tributos o
conforme a s terras, decuplicando as taxas para os ne- funciondilismo já mal retribuido, sendo s ó defensavel
gociantes estabelecidos no sertão, fóra dos pontos quando aplicada a empregados publicos de venci-
ocupados, havendo classes para certo numero de pro- mentos superiores a 1:5oo$ooo réis e de que se tirou a
fissões. receita de 23 contos.
E m Manica e Sofala esta contribui~ãotem o cara-
cter de um imposto de Ucenças, que recáe no corner- imposto do selfo. Em todas as nossas colonias
cio, industria e profissões, formando diversas classes existe ha muitos annos este imposto, sendo innume-
e estas divididas em ordens com diferentes taxas. raveis as disposii$.5es legaes que se tem promulgado,
alterando as rsspectivas taxas, as verbas de inciden-
Decima de juros. Regula realmente por ro O / o so- cia e a sua regulamentação. A receita d'elle prove-
bre os juros e está em vigor em todas as possessões, niente foi, em 1908-09, de 363 contos, sendo Mo-
com exceção da Guiné e Timor. O seu rendimento ~ambiquee AngoIa as provincias que mais concorreni
foi, em I Q O ~ - I Q O ~de, 58 contos. Pode tornar-se efe- para essa receita.
tiva ou por lançamento, ou por estampilhas. Esta Uma tal complexidade de leis tem tornado cada
contribuiqão é muito dificil de se aplicar nas colonias, vez mszis cahoticos os regulamentos d'esta contribui-
havendo Muitos meios dos contribuintes se eximirem ção.
ao seu pagamento. Por isso a sua receita é tão dimi- Eduardo Costa considera o imposto do sello, tal
i-tuta, sendo apenas apreciavel na India e em S. Thomé. corno está estabelecido, de dificil execução, enten-
E m Angola rende uma importancia inferior a seis dendo que se deveria estudar uma nova lei para todas
contos de réis. a s colonias e melhor seria ainda uma para cada colo-
nia, reduzindo-se o numero dos actos e objectos su-
Emofumentos. São numerosiçsimos os onus tribu- leitos ao sello, embora com taxas superiores ás que
tarios designados por este titulo generico. Seria muito je aplicam actualmente, Assim é na verdade. Convi-
longo enumeral-os um a utn, apontando as possess6es 'ia muito isentarem-se do imposto do sello todos os
em que cada um d'elles é aplicado e os diplomas le- ictos cujo objecto consiste n'urna quantia diminuta
IYPOBTO I A S COÚONIAS POBTFGUEZAS 59

e quando os interessados sejam pobres. -4 lei do selio màs ainda porque os sellos não sáo sempre propor-
precisa de ser de extrema simplicidade e clareza e cionaes ás sommas que constituem o objecto das
sujeita a uma revisão bienal ou tdenal. transações e o registo mantêm, sem exceções, essa
Por outro lado o referido imposto deve ser muito proporcionalidadè, Tudo aconselha, pois, a que não
- moderado, porque o seu exagero produz graves per- se suprima este imposto, a que elle náo tenha adi-
turbações economicas. cionaes, a que as taxas sejam moderadas, a que nas
transmissões por titrilo gratuito se atenda ao grau de
Contribuição de registo. Este imposto é o que parentesco entre o herdeiro e o testador e ao vaIor
incide sobre todas as transmissões de propriedade e da herança e a que, ainda nas transmissões por titulo
actos de caracter judicial ou civil. Em todos os povos oneroso, sejam modicos os direitos de registo.
elle tem aumentado sucessivamente, a medida que
as theorias socialistas tem adquirido maior numero Imposto de mercês ultramarinas. Este imposto
de adeptos, porque se entende que o proprietario deve aplica-se nas colonias aos funcionarios pela aceita-
fazer uma partilha cada vez mais larga com o Estado. $0 dos seus cargos, Foi creado por decreto de 24
A contribuição de registo foi aplicada, por diçposi- de dezembro de 1902 e comprehende os direitos de
gões de diversas epochas, em Cabo Verde, S. Thomé mercè, ,sellos e ernolumentos creadoç em r 880 e 1894.
e Principe, Angola, Moçambique e RJacau, vingando Em 1908-1909 produziu a quantia de 47 contos. De-
sempre a taxa de 10 O/*, para as transmissõeç de pro- ve-se conservar, mas facilitando-se o seu pagamento,
priedade immobiliaria por tituio oneroso, taxa egual dividindo-o em prestaqões mensaes ou trisrnestraes e
a estabelecida no reino. Em Louren~oMarques foi essa tornando o variavel conforme as condições das colo-
taxa reduzida provisoriamente a 5 O/o e em I de abril nias, isentando-se ainda do seri encargo os pequenos
de 1 9 5 apenas a 2 [/z %. Na India tambem ella foi vencimentos.
reduzida, em r5 de junho de 1906, a 8 O/o. Pelo orça-
mento de 1908-I~OQa taxa de 6 O/o foi generaliçada Impostos aplicados a uma só colonia. Em
a toaas as colonias referidas, á exceção do districto Angola só existe de especial O imposto de licenp para
de Lourenço Marques, onde continúa a vigorar a pesca estabelecido pelo regulamento provincial de 25
de 2 O/o. de setembro de 1885, tendo'rendido em 1908-1909
Em 1908-1909 a contribuição de registo produzíii 1:778$ooo réis. Em Moçambique existe a licenga para
nas nossas possessões a quantia de 120 contos de feiras nos prazos, de receita de um conto de réis, a
réis. licença para a venda d'arrnas, depositos e venda de-
Esta contribui~âoé facil de cobrar e nada aconse- polvora, creada em 1892 e cuja receita é apenas de
lha a que eIla seja substituida pela do sello, como o trezegtos mil réis, a licença para córte de madeiras,
propunha o General Galieni para Madagascar, não só existente desde 1889, com o produto avaliado em
porque o sello tem um caracter essencialmente fiscal um conto de- réis e a Iicenga para o fabrico e venda
e o registo garante a autenticidade da propriedade, de bebidas alcoolicas, regulamentada em 1892 e 1896
IMPOSTO N A S COLOSXAS POETUGUEZAS 61
e-cuja receita foi em 1908-1909 de perto de nove rgro renderam 108 contos e para 1910-191 I .foram
contos de réis. arrematadas por r67 contos. Ha ainda na mesma
Na India, aIOm do abkary, ha a contribuição das coIonia o rendimento do jogo do Fantan em Macau,
Novas Conquistas, que incide nos fóros das commu- que esteve arrendado por 248 contos até 1907 e hoje
- nidades agricolas da região, e que se irá extinguindo está contratado por 271 contos e o jogo do Fantam
á, medida que se fôr aplicando a contribuigão predial, da Taipa, arrematado em 1906 por 1:566$ooo réis,
4endo rendido em 1908- I goo aproximadamente dois For ultimo cobra-se em Macau o rendimento do ex-
contos de réis; o subsidio literario, que incide sobre clusivo do opio cosido contratado desde 1903 a rgrg
a. carne verde de porco ou de vacca que se vende e por 180:360$ooo reis por anno, contrato que, em vir-
é cobrado por meio de arremataçáo, imposto que se tude da recente prohibi~ãoda importação do alcool,
deve considerar como um verdadeiro imposto indi- foi rescindido, sofrendo d'esse modo uma valiosa que-
feto e de pequenissimo rendimento, e a licença para bra essa receita e tão grande que, em 1908-1909, ella
venda de tabaco, creada em 1840 e remodelada em baixou a 120 còntos.
1899, dando o rendimento de quatro contos e cem Em Timor faram extintas as antigas fintas e sub-
mil réis. stituidas por uma capitação de 500 réis annuaes exi-
Em Macau existe a renda de carne de porco, co- gida aos indigenas. São isentos d'essa capitação o s
brada até rgo; por contrato e que em 1908-1409 contratados como trabalhadores agricoIas que pro-
produziu um pouco mais de cinco contos de réis e a duzam determinado trabalho e vivam dentro das res-
renda do exclusivo do peixe, contratada desde r g o ~ petivas propriedades e os que habitarem nos reinoç
a 1911, por importancia aproximada de 1 5 contos. indigenaç, ao serviso de emprezas agricolas europkas,
E m 18 de janeiro de 1906 foi declarado livre o corn- Ha tambem na mesma colonia o rendimento de Iicen-
mercio de peixe, logo que termine o referido con- gas para casas de jogo, que funcionam durante seis
trato, Cobra-se ainda n'essa colonia a receita das mezes, exclusivo que produz menos de dois contos d e
doterias. A loteria Vae Seng, existe desde 1847, foi réis e o imposto sobre os coqueiros e sobre as pal-
-contratada de 1902 a IgOj por 3~:6oo$ooo réis por meiras.
-amo. Essa loteria foi extinta, quando já se realisara Cobram-se ainda nas nossas possessões ultramari-
um novo contrato, de' 1905 a 1910 pela renda an- nas multas diversas, impostas como na metropole por
nua1 de 33:500$000 réis, deixando a fazenda de re- falta de pagamentos ao Estado nos prazos legaes e
ceber esta receita. Em substituisão da referida loteria por dividas, devendo n'essas multas estabelecer-se.
foi creada a de Chiu-Pu-Piu, que deve render atual- uma graduação determinada pelo espirito de justi~a.
.mente perto de dezenove contos. Ha ainda as loterias
de Paca-piu e Sem-piu que fôram arrematâdas em 1905 O imposto indigena. Este imposto é de grande
por 152:280$000 réis por anno. Rescindido esse con- importancia nas coIonias, porque constitue a retribui-
trato fôram mais d'uma vez á praga por preços infe- $20 dos ser57iços prestados pelo Estado á popula~ão.
siores, sem que aparecessem arrematantes. Em ~ g o g -
indigegia, para desenvolver as suas faculdades para já ella ali funcionava pelo menos desde o periodo do
,uma maior civilisação e progresso. dorninio dos mocaranguas, cujos regulos dividiam a
Em algumas colonias francezas, como o Senegal, a terra pelos seus fgmos ou vassalos e tribiitarios, como
Reunião e Mayotte o referido imposto atinge todos recompensa dos servigos que elies lhes haviam pres-
os habitantes, sem distincção de nac'ionalidade. N'ou- tado na conquista. 0 s fumos pagavam tributo aos
tras, como o Annam, Tonkin, Cambogde, Laos e Nova chefes e davam-lhes auxilio nas suas emprezas mili-
Caledonia incide apenas nos indigenas, variando a tares.
taxa conforme a idade dos contribuintes e podendo Foi esta instituição que os primeiros governado-
ser paga em generos ou em moeda. No Congo fran- res que Portugal teve n'squeíla provincia proveit ta-
cez o imposto indigena toma a fórma d'urna presta- ram, modificando-a apenas em pontos secundarios, de
são paga pelos chefes de tribu ou povoação, o que harmonia com o que se afigurava melhor aos interes-
facilita muito a cobranp, sobretudo n'um paiz avas- ses da região e aos direitos da metropole.
safado de novo. Nas colonias inglezas cobra-se um D'este modo no antigo regimen, os territorios ul-
importante rendimento do imposto de palhota, com o tramarinos doados á Corôa ou conqiiistados por qual-
nome de hut fax. Na Argelia ha quatro impostos ara- quer forma, foram divididos em prazos, para serem
bes: Hockor, Achour, Zekkat e Lezma, incidindo o pri- dados gratuitamente, em tres vidas, a pessoas do sexo
meirb sobre a propriedade collectiva, o segundo sobre femenino descendentes de portuguezes do continente,
a cultura com a unidade de 10hectares, o terceiro com obrigação de casarem com portuguezes da mesma
-sobre os rebanhos e tendo o quarto o duplo aspeto origem, sendo na sucessão o varão excluido pela mu-
d'uma taxa sobre as palmeiras e d'uma capitagão. Iher. O donataiio ou emphiteuta ficava com todos os
Entre nós o imposto indjgena equivale a uma capi- atributos da soberania feudal, senhor da terra e da
tasão, com o nome de mussoco, na Zambezia e ulti- gente.
mamente em Angola e Timor, e a uma contribuição E assim já no seculo xvir o regimen dos prazos \-i-
predial, imposto de palhota, na Guiné, Lourengo Mar- gorava na colonia de hiloçambique estando a terra par-
ques, Inhambane e Gaza. celada em áreas distinctas e bem delimitadas, per-
Para se ver como nas nossas colonias se aplica o tencendo cada uma d'ellas ao seu emphyteuta, que
imposto de capitação denominado mussoco, torna-se muitas vezes se confundia com o primitivo conquis-
conveniente expor antes como se fundaram e tem tador. O senhorio cobra dos indigenas um imposto de
funcionado os prazos, denominados desde a sua ori- capitação e utilisa-lhe o trabaIho, dispõe tambem das
gem, prazos da coroa e de que o referido imposto foi ensacas ou corpos de indigenas para serviço de trans-
uma consequencia. portes, de comercio de guerra, administra a justiça
nas suas terras e conserva a propriedade de determi-
Prazos da Coroa. Esta instituição existe, na pro- nados artigos de comercio e o direito a uma percen-
vincia de Mo~ambique,desde os primeiros tempos da tagem na caga apanhada.
nossa colonisação, ou antes, mais rigorosamente ainda, Quando na sucessão não houvesse filhas, podia
I
IMPOSTO NAS COLOSIAS PDRTUGUEZAS 65

entiio um doç filhos ficar com O usofructo do prazo se fizesse nenhuma nova concessão de prazos. Novos
e no caso de faltarem por completo herdeiros Iegiti- decretos se for~nularam ainda n'esse anno para
mos, o sucessor do emphyteute seria nomeado @O que de futuro as terras se aforaçsem em lotes de me-
governo. O Estado tinha direito pleno para crear no- nos d'uma legua, com a obrigação de serem,cultiva-
vos prazos, por isso que, tendo as terras sido adqui- driç no prazo d'um anno e para que, se se fizesse al-
ridas pela conquista, todas eflas !he pertenciam. guma nova concessão de prazos, esta ficasse nulla,
Este regirnen foi ofigem dos maiores abusos. Muitos respondendo por ella a pessoa e bens da autoridade
dos prazos eram dados a indigenas em condições que outorgante. Não obstante todas estas medidas o re-
contrariavam o pensamento e a letra da lei. Os se- gime; dos prazos continuou a subsistir até que o de-
nhores dos prazos não se preocupavam com a cultura creto de 22 de dezembro de 1854 tentou abolil-os de
das terras e só tratavam de dominar os colonos e de novo. Pelo referido decreto os zntigos terrenos afora-
traficar com elles. A pouco e pouco iam-se enfraque- dos reverteram para o Estado com o caracter de
cendo os vinculos entre a Coroa e os donatarios. alodiaes, ficando os coIonoç e os habitantes. livres
Em virtude das queixas formuladas contra esses d'esses terrenos sujeitos ás leis geraes. Em 21 de
abusas e para as atender, a previsão do Conselho agosto de 1856 estabeleceu-se de novo que os baldioç
Ultramarino de 3 de abrit de 1760 limitou a extensáo pertencentes âo Estado pudessem ser alheados por
dos prazos no maximo a tres leguas de comprimento compra e venda, ernprazamento ou aforamento ficando
por uma de largura e a meia lema nos distritos de o emphiteuta com a possibilidade de se tornar pro-
terras de mineraes, ou situadas a beira mar ou de rios prietario perfeito pagando quatorze vezes 0 fòro. Esta
navegaveis, Uma outra do mesmo Conselho, de 25 lei foi depois modificada por varias disposições. O
de fevereiro de 1779, obrigava os donatarios a residi- termo prazo é que se conservou sempre na nossa le-
rem nos seus prazos. Ambas na pratica ficaram sendo gislação.
letra morta. 0 ç defeitos do systema avolumararn-se Em 1888foi nomeada uma commissão para estudar
sucessivamente. Nas regiões do interjor os donatarios definitivamente a melhor solução d'um problema que
iam-se tornando quasi independentes do poder da tanto interessava a riqueza agricola especialmente
metropole e a sua escolha dependia cadavez mais do d'urna das mais bellas regiões da província de N O -
favoritismo, chegando-se até a nomeár indigenas. A sambiqiie e que tantas medidas governativas haviam
tudo isso quiz obstar o decreto de 13 de agosto d e procurado encaminhar, sem maior resultado. Essa
1832 abolindo os prazos da Coroa e determinando Commissão trabalhou com o maior zelo e dedicasão.
que as respetivas terras ficassem pertencendo aos Foi seu relatos Oliveira Martins. As sus conclusões fô-
donatarios, como propriedade Iivre e alodial. Mas este r.%n aproveitadas por Antonio Ennes, então ministro
diploma tambem não teve execução nas colonias. da marinha e ultramar, o qual referendou o decreto de
Por isso em I d e junho de 1838 publicava-se umá 18 de novembro de 1890, que manteve os prazos d a
portaria estabelecendo que não se provessem d'ahi CorGa, procedendo-se á sua medição e delimitago e
por deante os prazos que fossem vagando e que não dividindo-se os que fossem excessivamente extensos.
IMPO5TO NAS COLONIAS PORTUGUEZAB 67

Os prazos classficar-se-iam em dois grupos, conforme :os para que não houvesse arrendatario do mussoco
estivessem ou não sugeitos ás incursões dos indige- icariam sob a administração direta do Estado.
nas. Nos do r.' grupo a cobrança do mussoco seria D'este modo o decreto a que nss acabiimos de re-
recebida-por arrendamento particular e nos do 2 . O em èrir mantinha temporariamente a servidão dos colo-
hasta publica. A renda cresceria de cinco em cinco ?os dos prazos para se conseguir o fomento agricola
annos proyorcionaImente ao aumento da poyuIação ia Zambezía, mas preparava o desaparecimento d'esse
do prazo, mas nunca menos de 5 % em cada periodo. jystema, tornando-se o arrendatario proprietario do
O arrendatario ficava obrigado a aforar uma extensão jo10 e substituindo-se o mussoco pelos impostos a
de terreno bmbem proporcional ao numero de colo- que estão sugeitos todos os outros territorios. Alêm -
nos disponiveis para a cultura. O arrendatario receberia d'isso o Estado conseguia aumentar o rendimento dos
dos indigenas metade do mussoco em trabalho e alem prazos e readquirir, no fim de vinte e cinco annos,
d'isso trabalho remunerado nas condições que se com- tetritorios jA muito valorisados. A renda nunca pode-
binassem, devendo defender-lhes as suas culturas e ria ser inferior a 50 "/o do imposto cobrado e o tra-
dar-lhes agua e lenha e auxilio nas crises alimenti- balho do indigena era computado em 400 réis por
cias. A terça parte das terras aforadas seriam culti- semana para os adultos e em 200 reis para os meno-
vadas dentro de tres annos e os dois terços restantes res. O regulamento de 7 de julho de 1892 veiu pôr
em vinte e cinco annos. O arrendatario poderia sub- em execugão as disposigões do decreto de 1890, que
arrendar a cobrança do mussoco, mas não lhe seria gnda não se haviam tornado efetivas e destazer todas
licito, sem concessão especial, explorar minas, pe- qs duvidas que dle pr~ivocára.O miissoco que fòra
dreiras ou outras riquezas naturaes, nem impedir que prirneiro fixado em 800 réis por cabeça, foi elevado
os indigenas vendessem livremente os seus generos,
creando-se para esse fim feiras permanentes, como
a zoo réis pela portaria provincial de 6 de novem-
bro de 1899.
meio de se evitar a venda ambulante. Qs arrendata- A lei de concessões de g de maio de 1901 manteve
rios portuguezes seriam agentes de autoridade, equi- q regimen dos prazos da Corda, aplicando-o a toda a
parados aos regedores e poderiam armar cipaes até a provincia de Moçarnbique, á excegão do distrito de
um numero fixado, ficando sempre á disposição do b u r e n ç o Marques, distrito militar de Gaza e terras
governo para a defeza e manutenção da ordem. Crear- W que houvesse contrato com o Estado. ALêm d'isso
se-iam uma Inspeção Geral dos Prazos e Curadoria ~ ~ o d u z í r a m - salgumas
e alterações nas disposiçôes
dos Colonos para a fiscalisação das disposiqóes Iegaes em vigor e outras lhe foram feitas pelo regulamento
e um serviço de agrimensura para se organisar o ca-
dastro dos prazos. No fim do arrendamento bo mus-
a- mesma data. Posteriormente, a portaria provincial
de I de maio de r908 e o decreto de g de julho de
soco, a s terras apropriadas pelos colonos ficariam su- I999 tambem modificaram artigos e clausulas dos di-
jeitas ás leis geraes e se excedessem metade do prazo, anteriores.
todo eile sofreria egual mudanga de regimen. Os pra- :NOSterritorios da Companhia de Moçarnbique é que
essas alterações fòram mais profunde. Grande nu-
Ngo tem sido só na Zarnbezia que teem existido os
mero dos respetivos prazos ficaram sob a administra-
ção direta da Companhia. Eliminou-se a entidade, prasos da Coroa. Na India, nos primeiros tempos da
nossa c~lonisagão,Affonso dlAlbuquerque estabele-
muitas vezes pouco conveniente, do arrendatario
ceu-os ali, depois de haver confiscado as terras das
agente de autoridade e o imposto passou a ser pago
todo em dinheiro. Esta dtima modificação trouxe aldeias, que desde epocas muito remotas existiam no
importantes desvantagens. regimen do comunismo agrario, doando-as aos portu-
Não obstante tantos esforços para se tornar perfeito tuguezes casados com mulheres indigenas, para x e -
um regimen que altos interesses politicos e economi- !hor facilirar a união das duas raças. Depois d'isso,
em varias ocasiões se doaram mais prasos com as
cos aconselhavam que se mantivesse, muitos abusos
se feem continuado a praticar. 0 s mais frequentes tertas de novo conquistadas. A instituição dos pra-
teem sido: pagamento em aguardente do trabalho dos sos n'aquella colonia vigorou quasi até os nossos
indígenas; trabalho excessivo que lhe teni sido im- dias, havendo desaparecido por completo só ha pou-
posto; insuficiente e ilegal remuneragão pelo trabalho cos annos. No Brazil existiram tambem as capitanias
dos mesmos; exigencia do pagamento completo do geraes, em que o donatario era proprietario da terra e
mussoco em dinheiro; injustigas e explorações no jul- ao mesmo tempo administrador, chefe militar e juiz,
exercendo assim uma verdadeira soberania e sendo
gamento das demandas cafres; exigencia do mussoco
por isso essa instituição muito parecida com a dos
a invalidos; trabalho por conta do mussoco superior
ao fixado pela lei; desiriteligencias graves entre os prasos, embora com um caracter ainda mais feudal.
N a Guiné e Tirnor egualmente a lei de g de maio
brancos dos prasos; recusa de se receber parte d o
rnussoco em generos; fraudes nas medidas e preços de 1901autorisou a creação dos prasos, que não de-
viam ter de área mais de 25:ooo hectares e incumbin-
por que se compram os generos aos indigenas; pa-
gamento do trabalho em generos exagerando-se o va- do aos governadores elaborar os regulamentos neces-
lor d'estes; imposicão aos indigenas de realisarem de- =rios para a execugão ali do decreto de 1890, não
terminadas cuIturas, desvalorisando-se-lhes depois os tendo tido porém até agora realisagão essas disposi-
.gõeç.
respetivos produtos; imposipão aos indigenas de ven-
derem todos os seus gerleros ao arrendatario e- de A existencia dos prasos tem sido defendida por co-
comprarem a este tudo o que carecem; prohibição de loMaes eminentes, como rnagnifico instrumento de
irem vender os seus generos fora dos prasos; ausen- ocupago, sendo a sua instituição muito util para se
i3ia ou grande atraso nas culturas; falta de aforamen- .&ter a submissão dos povos belicosos da Africa
to de terras exigido pela lei; dificuldades a concessbu at5e?tal, tantas vezes instigados por agentes estran-
de licenças para o exercicio do comercio nos prasos geiros e que o governo tem mais dificuldade em do-
minar diretamente por falta de recursos. E' ella tam-
e falta de capital suficiente para se explorarem as ter?
ras, Q que !eva muitcis arrendatarios a sub-arrendal-as, -bem preconisada pelos seus efeitos economicos, visto
para lucrarem a.diferença entre a renda que pagam e -constituir um meio facil de se apressar o desenvoivi-
mento agricola, de que os proprietarios não se podem
a que recebem.
IMPOSTO NAS COLONIAS POBTCGUEZAB 71

esqiltecer, visto ser em trabalho que recebem a parte isso que não bastava a sua abolição no papel para
do mussoco que Ihes cabe. A aliança que o regimen que elIa desaparecesse.
dos prasos estabeleceu entre o capital e o trabalho é Outros, porém, atacam o referido systema porque,
uma condição magnifica para o alargamento das cu1- em seu entender, os indigenas nos prasos são veída-
turas. Por isso Mousinho dYAlbuqueque sustentava deiros servos medievaes, a mercê, como elles, dos seus
que só por meio do regimen dos prasos se podia con- senhores; porque um ta1 regimen estimula a emigra-
seguir que os portuguezes se fixassem na Zarnbezia e são dos indigenas para os territorios onde não está
ahi tentassem explorações agricolas. Responde-se a em vigor, e muitas vezes até para as colonias estran-
este argumento dizefido-se que, na realidade, o que geiras; porque contra os vexames e arbitrariedades
sucede é o arrendatario viver indolentemente á custa dos arrendatarios não tem os indigenas recurso algum,
da cobrança do mussoco, o indigena cultivar POUCO, cofiseguindo quando muito, e só excepionalmente, a
não só porque é ignorante, mas porque o arrendata- sua substituigão; porque esses arrendatarios regulam
rio o defrauda por todos os meios, conseguindo d'esçe o exercicio do comercio, conforme thes apraz e con-
modo que elle fuja em grande humero e assim sedes- vêm; porque ha prasos tão excessivamente extensos
povòem os prasos e eiles não prosperem como devia que exigiriam, para o aproveitamento das suas rique-
acontecer. Isto resulta, evidentemente, não do regimen zas, de capitaes que os arrendatarios .não possuem;
em si, mas dos abusos que etle facilita. porque é muito minguada a receita que o Estado
Ainda. os apologistas d'este systema mostram que d'elles obtêm; porque baseando-se o regimen no ar-
elIe assegura aos europeus a mão d'obra necessaria rendamento a praso fixo, o arrendatario não lhe con-
para a valorisação dos seus esforços e energias, o que vém dispender muitos capitaes de que poderia náo
é contestado com a alegação de que hoje o preto tirar o devido resultado; porque muitos dos arrenda-
trabalha desde que se lhe pague regularmente; que é tarios vivem permanentemente fóra dos. respetivoç
preferivel ao das grandes concessões pGr abrir campo prasos; porque a lei Ihes confere direitos sobre a
para todas as iniciativas; que oferece todas as garan- administração da justiça, fonte dos maiores arbitrios
tias pela obrigação em que coloca o arrendatario de e vioIencias e, finalmente, porque a visinhança da
cultivar a terra, podendo-se montar uma fisealisação fronteira e a falta de fiscalisagão fazem com que os
que cohibs todos as faltas e evite todos os sophisrns prazos sejam um factor importantissimo para o des-
e que tem a seu favor profundas raizes bistwkas, as envolvimento do contrabando.
quaes resistiram as tentativas feitas para o abolirem, O Sr. dr. Ruy Ultrich, que trata no seu livro Eco-
baseando-se na confusão entre a propriedade e a so- *mia Colanial da instituição dos prazos com grande
berania comprehendida e admitida pelos indigenas e+ desenvolvimento e profunda erudição, pronuncia-se
harmonisando-se com os seus costumes e estado so- favoravelmente á sua existencia, entendendo, porêrn,
ciaI, o que levou Oliveira Martins a chamar-lhe uma que ella carece d'algumas alterações.
organisagão constitucional historica, entendendo por Sustenta o illustre professor a necessidade do Es-
tado, por meio de inspetores sérios e energicos, fazer
IMPOSTO IiAS COLONIAS PGBTUGUEZAS 'i3

cumprir rigorosamente o regimen de prazos que se s ~nspetores da elaboração dos recenseamentos dos
decretar; a urgencia tambem de elle regulamentar a olonos dos prazos e das attibuigões judiciaes actug-
emigração dos indigenas da Zarnbezia; a conveniencia lente a cargo dos arrendatarios e finalmente que se
de se conceder o monopolio dd comercio aos arren- lermita a venda dos terrenos dos prazos, sugeitan-
datarios desde que se lhes imponham obrigações no- lo-se o comprador ao regimen especial que n'elles
vas designadamente á realisagilo de culturas ricas, rigore.
mas de exito dem'orado, que Ihes sejam indicadas; a Com estas alterações julga o referido pubficista que
justiça de só se obrigar o indigena, para pagamento ;era util a conservação do regimen dos prazos na
do rnussoco, ao trabalho rural e não ao trabalho de xovincia de Mo~ambique, não o aconsell~andopara
carregador e de se evitarem abusos no aproveitamento Iutras colonias, porque ahi Ihes faitará o apoio da
excessivo do trabalho dos menores, fixando-se clara- tradição secular, o qiiai constitue a mais forte razão
mente na lei quaes os indigenas que assim devem ser para elle se manter na Zambezia.
considerados e a equidade de se pagarem os salarios
dos indigenas em dinheiro e não em generos. Mussoco. Da organisrição que acabiimos pormeno-
AIêm d'estas idéias ainda o Sr. dr. Ruy Ulrich advoga risadamente de descrever, derivou naturalmente, como
a utilidade de se modificar a iegislaçáo relativa aos mosttámos, o mussoco, capitago que traduz a sobe-
prazos no sentido de se conseguir que o arrendatario rania aliada a propriedade para quem o cobra e a de-
intervenha mais eficazmente na direção do trabalho pendencia, resultante do direito da expropriação das
dos indigenas, levando-os a tornarem-se proprietarios, terras, para quetr. o paga. O mussoco era d'este modo
a melhorar as terras e a dedicarem-se a determinadas o imposto cobrado do indigena servo, assim como o
culturas; que eile Ihes forneça alimentação, de que se imposto de pa1hota é o tributo exigido do indigena
indemnise por uma prestação suplementar de traba- livre.
lho; que os arrendamentos sejam prorogados como O Systema dos prazos tem por fim transformar as
um premio aos bons arrendatarios; que se reduza terras em fazendas ngricolas pelo trabalho e pelo afo-
quanto possivef o numero de prazos concedidos á ramento. O meio de obrigar os indigenas ao trabalho
Companhia da Zambezia 5 não se arrendem novos é o mussoco. Este imposto consiste assim n'uma ca-
prazos a companhias privilegiadas; que se promova a pitação em moeda, que o donatario propõe ao indi-
fixação nos prazos de emigrantes portuguezes, conce- gena que o resgate, no todó ou em parte em trabalho.
dendo-se-lhes terras e uma parte do mussoco pago Pelo seu caracter e pela força da sua tradição, o
em trabalho pelos indigenas, de que elles indernnisa- referido imposto é aceite resignadamente. Convêm
riam os arrendatarios; que se reveja a delimitaqão - que a cobrai1l;a do mussoco fique nas mãos de quem
dos prazos para que s e corrijam os exageros das suas se proponha explorar a terra e para isso precise de
áreas n'um ou n'outro sentido; que os sub-arrenda- d'obra. O arrendatario que perdesse o direito de
mentos se façam sempre na presenga e sob a fiscaIi- cobrar o mussoco teria de abandonar a terra e a cul-
sagão dos inspetores dos prazos; que se encarreguem tura.
IMPOSTO l l S COLONIAS PORTUGUEZAS 75

Como o mussoco não se pode cobrar em todas a s Em Angola foi primeiro restringido ao Congo. Em
colonias e o regimen dos prazos é impossivel n'aquel- goó fixou-se o imposto sobre todas as cubatas. A
Ia$ em que elle se não cobra, deve ahi preferir-se o nportancia d'esse imposto poderá ser alterada trien-
systema puro e simples do arrendamento, como su- alrnénte pelo governador geral, ouvidos os governa-
cede na India. ores dos distritos e o conselho do governo. No pri-
A terra classica do mussoco, entre as'nossas co- íeiro triennio marcou-se a taxa de 600 réis por
lonias, é, já o dissémos, a Zambezia. Esse imposto ubata, excéto nas cidades de Loanda, Benguella e
foi elevado, em 1899, no referido distrito, a 1:200réis. ~ossamedese vilas de Ambriz, Novo Redondo, Ca-
Eduardo Costa entendia que elle podia ainda atingir umbella e Porto Alexandre, onde poderia ser elevada
a taxa de 2:om réis. O Estado recebe 50 O/o do im- , r:soo réis por cubata. O seu pagamento pode fazer-
posto cobrado, sendo o lanqamento correspondente á e em dinheiro, gado, ou generos, conforme as cir-
popula$ão recenseada de cada prazo. Nos uitimos unstancias de cada povoação.
annos tem produzido em media 160contos, não de- Em Mogambique esse tributo foi reduzido em rgor,
vendo praticar-se, na sua cobrança, excessos ou uio- ,rovisoriamente de 2:500 réis a 2:000 réis, excéto n o
lencias, para se evitar a desergão dos contribuintes. Iistrito de Inhambane, onde era, já desde I 896, de
Em Timor, as antigas fintas foram substituidas em t:350 réis. Em 1908-rgog este imposto deu, em to-
1go5, como já referimos, por uma capitaçâo annual los os pontos onde está aplicado, a importante quan-
de j O O réis e na Guiné o mussoco foi substituido ul- :ia de 1:302 contos, a qual tem toda a tendencia para
timamente pelo imposto de palhota, que ali é de mais 3inda se desenvolver muito mais. Nos territorios d a
facil e segura cobranp. Companhia de Moçambique a sua taxa era desde 1893,
de 2.250 réis. Em 1909 elevou-se a uma libra, po-
Imposto de palhota. Este imposto é uma espe- dendo no primeiro anno o contribuinte pagar de im-
cie de contribuição predial, uma taxa fixa paga por ,
posto 4:joo réis, imposto ainda Znferior ao dos terri-
cada cubata. Eduardo Costa sustentou que tal tributo torios inglezes, em que é de libra e meia por cubata,
não deveria ir alêm de 2:5m réis por palhota, devendo Alem de todos os impostos que temos rapidamente
ser isentas as que servissem de habitagão comum a enumerado, em uso nas nossas colonias, existe em
invalidos, ou ás creangas pequenas das povoações, Cabo Verde uma contribuição municipal, cujo pro-
bem como as dos reguIoç e as dos grandes, para os duto é destinado á conservação das estradas e que
tornar favoraveis á cobrança. consiste no aumento das percentagens que as ca-
O imposto de palhota está estabelecido na Guiné, maras cobram sobre a s contrib~içõesdirectas, com a
em Mogambique .e hoje não só no Congo, mas em taxa de 5 O/o. .'lcontribuição municipal rende aproxi-
toda a provincia de ilngola. Na Guiné produz quantia 'madamente 2: 500$000 réis.
superior a 70 contos de réis e deve ser mais rendoso
quando a ordem e a soberania nacional ali estiverem
solidamente asseguradas.
T R B T A Y E ~ ~ F DOS
O INDIGENAB 77

iirigente de -pequena importancia numerica, não se


acreditava que- podesse haver regras positivas, tiradas
da abservação das sociedades primitivas e das civili-
CAPITULO XIII sasóes não ocidentaes, que houvesse conveniencia de
se estudarem e aplicarem. Acontecia o mesmo com as
Tratamento dos indigenas colonias mixtas em que os europeus se podem esta-
belecer em grupos importantes, embora o predorninio
Evolugão das ideias a respeito dos indigenas e principios numerico, por circunstancias locaes ou ethiiicas, p+er-
modernos. -Esforços dos portuguezes para acabar a es- Bença aos indigenas.
cravatura e a servidão. - Regulamentação d a lei do co- Procedia-se por isso ao acaso na maneira de se
lonato e do trabalho indigena nas colonias portuguezas. tratarem essas populações, que jazem n'um estado de
- Politica indigena. - Questão indigena na Africa do desenvolvimento inferior ao nosso, ou que, tendo al-
S u l . - União da ~ f r i c ad o Sul. - Processos a adotar-se cançado um grau de civilisa~ãobastante elevado tem
para com os indigenas. -A a d m i n i s t r a ~ ã oda justiça. - pontos de partida diversos dos dos europeus, tradi-
Educação e lingua dos indigenas. - A imprensa nas co- góes e um modo de ver social completamente diferen-
lonias. -Os vicios dos indigenas. - Os indigenas e a tes e uma base de mentalidade Inteiramente propria.
-
administrasão local. A religião d o s indigenas, A ideia que dominou toda a conceção social, muito-
superficial sem duvida, do seculo XV'III foi a de que
Evolução das ideias a respeito dos indige- todos os homens tem uma mentalidade senão com-
nas. Ha meio seculo ainda e mesmo ha um quarto pletamente semelhante, pelo menas suscetivel de o
de seculo, raros Iegisladores e ainda mais raros admi- ser, depois d'uma rapida educação, que todas se po-
nistradores das colonias se lembrariam de que se pu- dem guiar pelas mesmas leis e que ha um typo unico
desse reunir um conjunto de regras referentes ao tra- e superior de civilisação, que se deve irnpjantar em
tamen to dos- indigenas. toda a parte e atravez de tudo. Essa ideía errada pre--
Yão estava n'esse tempo feita a classifiqção dos valeceu ainda durante tres quartas partes do secufo
-estabelecimentos coloniaes nem se pensava então que, XIX,
-segundo a diversidade dos seus caracteres, se lhes de- L--Umpensador. original, cujas obras, atravez das-
vessem aplicar regimens diversos. Muitos só conside- maiores extravaganciaç e incoherenciaç, encerram
mvam como verdadeiras colonias as de populagão, sbservqões iriteligentes e justas, Fourier, entre as
-em que os indigenas são em menor percentagem, en- acWqões que dirige á civilisa~áoe á insuficiencia das
tendendo-se que para elles não havia deveres de hu- b~encias,incertas a respeito de todos os problemas que
manidade nem mesmo de elementar piedade a ado- nacem do mecanismo civilisado, exprime-se assim :
rarem-se. A respeito das colonias de exploragão, nas 4 s ' saisios e os pensadores caíram n'um erro deplo.-
.quaes os europeus só podem constituir o elemento avel: -Esque~eramem cada sciencia -o problema
damental,. aqelie -que constitite o eixo da propria-
TRATAMELITU DOB SNJIGEXAS 7Y

siencia. Se tratam da felicidade geral, desprezam, por eiologia colonial, isto é, uma reuniáo de observa~ões
exemplo, as medídas que podem promover a cultura e preceitos para o tratamento equitativo e eficaz das
bdos barbaros e dos selvagens, povos bem dignos de raps indigenas nas coíonias.
serem contados nos calculos philantropicos, visto Na Exposição Universal de Paris de 1900, um dos
que formam cínco sextas partes da população doglo- internacionaes mais interessantes dos que
%o.D Encerram uma grande verdade estas palavras. então se realisaram foi, sem duvida, o Congresso In-
&4maioria dos philosophos nem se dignaram definir ternacional de Sociologia Colonial. '

.asignificação dos termos seIvagens e barbaros, tanto Apresentaram-se ahi numerosissimas memorias, que
a miudo empregados. Os primeiros são os que vivem foram objecto de discussões instructivas e demoradas.
da caga e da pesca. 0 s segundos, os que se encon- Para se v6r a orientação d'essas memoriaç basta
tram no estado pastoril ou, pelo menos, que não pas- dizer-se que algumas d'elias terminavam por conclu-
saram ainda da primeira étape agricola, isto é, d'aquela sões como estas: c 0 bem estar dos indigenas, o seu
e m que a propriedade se conserva colectiva e em que desenvolvimento fisico, intelectual e moral, deve ser
só o usofructo do só10 e individual ou de famiiia, mas o fim supremo de roda a politica colonial^; a aprospe-
muito precario e sem garantias. peridade das colonias tropicaes está ligada á manu-
Não se devem considerar como barbaros os povos tengão e ao desenvolvimento da populagão indigena,
do sul ou do oriente da Asia, como os hindus, os e a organisação da higiena publica é um dos meios
chinezes e os da Indo-China, povos ha seculos em mais eficazes para manter essa população e perser-
plena civilisa@o, embora não conhegam as artes me- val-a da degenerescencia,. e finalmente esta: a 0 co-
'canicas modernas, os nossos methodos scientificos e nhecimento das instituições juridicas dos indigenas
as nossas instituições politicas. apresenta um grande interesse, tanto sob o ponto de
vista politico, como sob o ponto de vista scientifico.
Principias modernos. O contacto dos povos ci- E' para desejar que os governos provoquem e animem
vilisados com os selvagens e os barbaros é cheio de o estudo d'essas instituições, feito por homens com-
dificuldades, de perigos e tentagões. Teern sido pre- petentes..
cisos, em geral, muitos seculos para que um povo Os anglo-saxonios mostram-se tambem muito de-
barbaro passe ao estado civilisado. Conviria muito que dicados a estes assumtos. Um interessantissimo do-
uma iniciação doce e habil diminuisse a duração d'esse cumento americano, CoZoxial Adntinistmtiotz, que
periodo para os selvagens e barbaros das ilhas do Pa- apareceu publicado em Igor no Mozltly Sommary of
cifico e do interior da Africa e da America, unicos C..nsmce ond 3iaaw:e o j tb United States, e que
que restam por civilisar. Mas não se deve supçir nunca constitue a revisão oficial e compIeta de todos os
glte, mesmo passados seculos, as diferentes raças hu- systemas coloniaes, tr%ta d'urna forma superior as di-
manas e em todos os climas, se possam acomodar ás versas questões indigenas. Alguns capituIos do re-
mesmas leis. Do reconhecimento d'esça verdade tem ferido trabalho são assim intituíados:
resultado o ir-se formando a pouco e pouco uma SO-2
como os mstumes dos indigenas devem ser respeitados gerar ainda mais O orgulho da raga sirperior e crear
Medidas a adotar para se melhorar a situação a questão indigena, de dificilima resoluqão. Contra
dos indigenas taes processos tem-se levantado uma viva reaçáo,
O segredo do exito nas relações Com os indigenas havendo já por isso quem pergunte se não tem sido
um erro educar-se o indigena em grau tão elevado.
Por isso se pode afirmar que, em todas as coloniaç
de exploração e mesmo nas colonias mixtas, o pro- Esforços dos portuguezes para acabar a es-
blema do tratamento dos indigenas ocupa hoje o cravatura e a servidão. Pela nossa parte, podemos
primeiro plano. orgulhar-nos de ter sido ,os primeiros que nos preo-
Este probIema tão delicado e çompIexo pode redu- cupámos com O estado moral dos indigenas. Já no
zir-se a trez factores principaes: a condição moral dos seculo XVIII, se publicava em Portugal um afvará de
indigenas, a sua condição 'juridica e a sua condi~ão julho de 175 j libertando de todo o serviço forçado OS
polica, indios do Rrazil. Na mesma orier.taç20 humanjtaria
Para a resolução do mesmo problema não se pou- promulgaram-se, em 1758, 1761 e 1/74, alvarás me-
pam esforfos. Tem-se procurado melhorar por todos lhorando a dolorosa situação dos escravcs.
os meios 8s condições moraes, materiaes e até as condi- E m quasi todas as nossas possessões, mas sobre-
qões intelectuaes do indigena. Prepara-se-lhe o seu bem tudo em Angola os europeus julgam-se no direito de
estar, fazem-se todos os sacrificios para o cercar dos fazer trabalhar os indigenas em seu proprio proveito
maximos cuidados, d'uma constante previdencia, ado- sem Ihes pagar. Nos territorios d'aquela extensa pro-
tam-se regras e preceitos paia o obrigar a instruir-se, vincia persistiram durante largos annos dois regimens:
na preocupação exclusiva de se obter a sua egualdade O de Benguela, onde estava em vigor o regimento de
e nivelamento com o branco. N'este sentido teem-se 17@, regimento que se generajisou com algumzs mo-
distinguido principalmente os missionarios inglezes e dificações ao Ainbriz, Bembe, e Duque de Rragan~a,
as mas associações filantropicas. Outros, mais mo- de modo que os coiiierciantes não podiam tirar os
destos ou menos exagerados, conduzem-no d e pre- carregadores aos sobas e só lh'os podiam pedir con-
ferencia para a sua utilisaçáo pratica, sem o obriga- vencionando-se o preso das cargas, e o de Loanda,
rem a dificeis trabalhos de inteligencia, como teem Golungo Alto, Pungo Andongo e Cassange, onde os
feito os holandezes e os alemães, ou deligenceiam levar negros chamados livres eram obrigados a levar gra-
o fndigena ao aproveitamento mais intenso dos pro- tuitamente ás costas as cargas de fazenda pertencen-
dutos do seu meio, cam um visivel intuito comercial, tes ao Estado e aos riegociantes. D'essa variedade d e
conforme o processo seguido pelos belgas. regimens resulta que nos distritos primeiro citados,
- Os inglezes teem levado tão longe os desejos de Je- a mão d'obra negra era abundante, recebendo OS in-
sranta~os- negros da situação ém que.durante secuIos digerias salarios bem modestos que regrilavam de 5 0
permaneceram, que não teem trepidado em Ihes con- a 60 -réis diarios, ao passo que n'aqueles em que o
ceder direitos politicos, conseguindo com isso exa- trabalha era forcado os naturaes os abandonaram, como
o atestaram, em 1760, o governador Antonio de Vas- g l o n o s e dos governadores geraes a mais viva opo-
concelos e, em 1767, D. Francisco de Sousa Coutinho, g g o e resistencia, porque U:IS e oritros acredita1 arn
então governador da provincia, condenando um e ou- que a adoção de taes providencias determinaria a
tro as opressões que se exerciam e pondo em relevo baralisasão da riqueza e a ruina das respectivas pro-
as graves consequencias que d'ellas advinham para a yincias.
riqueza ecoriomia de tão importante possessão. %
O codigo da nação coi~sideravacomo cidadãos por-
A s redamagões e protestos contra a servidão dos 'tuflezes todos os qUi houvessem nascido em Por-
negros, causa psincipal da ruina da provincia, conti- - u ou seus dorninios e a todos elles indístinta-
+tuna1
nuaramsempre e d'ellas se fazia tambem écho em 1814, mente conferira direitos eguaes. Alas, apesar das suas
Antonio Saldanha da Gama, ao tempo seu capitão 'disposiSÕes, os pretos das posszssões: africanas con-
generaf. As providencias promulgadas em I 839, para tinuaram a sei vendidos como coisas ou como ani-
s e cohibirem tão perniciosos habitos, provocaram maes, incapazes de regular as suas a c ~ õ e es destituidos
desde logo a afluencia dos negros, especialmente dos de razão.
sertões do Libolo, do Bailundo e do Bihé, oferecendo- Os traficantes acudiam gananciosos aos mercados
se para o serviço, ajustando-se para isso voluntaria- a comerciar em carne humana, sem lei que Ihes
mente com os iiegociantes. impedisse eficazmente aç repugnantes transações, e
A pouco e pouco, porem, a cubiga dos interessa- apontando-se até como benerneritos pela salutar.i~~-
dos dominou OS desejos dos governadores de fazer fluencía que diziam exercer na economia das colo-
respeitar esses principias t2o sãos, os abusos reapa- nias. O espirito de Sá da Bandeira revoltou-se contra
receram e tornou-se indispençavel a intervenção ener- semelban~es processos e por isso, no relatorio que
gica do governo da rnetropole que a exerceu por meio apresentou ás cortes, em 14 de fevereiro de 1836,
d o decreto de 3 de novembro de 1856, o qual aboiiu ,afirmava, cheio de convicção, que, sem se abolir o
e prohibiu pela forma mais terminante, em todos os comercio da escra\ratiira, não se poderia legislar
territorios da provincia de Angola e sem excessáo al- par& as coionias, porque os indigenas contiriu2yarn a
guma, o ser\-iço forçado, chamado ali serviso de car- ser arrebatados para longe, a s colonias não deixariam
regadores, dando-se, assim, finalmente execução ao de consagrar toda a sua actividade a esse comrnercio
que dispunha O artigo 143." da Carta Constitucional, emquanto elle existisse e os capitaes f~igiriam de
então em vigor, a qual conferira a todos os portu- todas as industrias, visto que nenhuma outra Ihes
guezes, de qualquer raça que elles fossem, direito a poderia ser mais lucrativa do que a do traAco dos
disporem como quizessem e com absoluta liberdade .escravos. E logo a seguir, em 26 de março do mesmo
do seu proprio trabalho. anno, apresentava uma proposta de lei visando a ex-
Ao mesmo tempo e posteriormerite, varios minis- ' tinção do referido trafico. Como essa proposta não
tros sustentavam uma campanha porfiada para se pôr chegasse a obter a sanção parlamentar, o energico
termo a escravatura, elaborando diversas medidas e ' ministro e eminente colonial aproveitou-se da dita-
providencias que sempre encontraram da parte dos dura, mezes depois, para promulgar em 10 de dezem-
bro um decreto abalindo por cornpleto.~trafico da %declarando livres, em todas as C O ~ O I I ~ portuguezas,
C L ~S
escravatiira em todos os dominioç portuguezes. Tão 0s filhos das mulheres escravas.
arrojada medida provocou os mais ardentes protestos fio anno seguinte foi renovada a iniciativa d:ecte
etn .Angola e mais ainda em Mogamblqiie. -mesmo projeto, mas já então perfilhado pelo Duque
Os respetivos governadores, interpretando o sentir de PaImela. h4ais uma tentativa foi feita em 1849,
d'esças provincias, pretenderam fazer recuar o go17erno, a apreciação do parlamento um pro-
afirmando que o decreto dictatorial as lanpria na mais jeto para a abo!ição gradual c10 estado de escrava-
negra das miserias. hlas os ministros não cederam tura, assinado, como os anteriores, peio paiadino en-
nem se aterrorisaram com o quadro de horrores tra- tre nós .da liberdade dos negros, o honrado Alarquez
qado como consequencia do srri acto de humanidade. de Sá da Bandeira e por nove das mais respeitaveis
A0 contrario, empenharam-se em lhe dar plena exe- figuras politicss da epoca, entre os quaes o hlarquez
c u ~ ã oe, para isso, ainda o mesmo hdarquez de Sá da do Lavradio, companheiro fiel d'aquelle na gererosa
Bandeira negociou em 1838 um tratado com a In- campanha, O cardeal patriarcha, o Duqcie de t)a!rnrla,
gIaterra para a repressão do trafico, tratado que, por K~drigoda Fonseca e o hlarquez de Loulé.
demoras supervenientes, só veiu a ser assinado em O mesmo projeto, sem a mais leve alteração, foi
1842 e referendado pelo Duque de Palmela. sujeito de novo ás Camhras, em i 6 de janeii.0 de
Tão enraizado estava o deshumano comercio, tan- 1851, sendo então seus sinatarios o Maryuez de Sá
t a s e tão poderosas eram as influencias que o ser- da Bandeira, o Alarq~iez do Lavradio e Rodrigo da
viam e os interesses que elle alimentava, que em toda Fonseca hiagalbães. hlas só tres annos depois é que
n parte se erguiam contra a sua extinção protestos a este respeito se come$ou a entrar no terreno pra-
os mais veheinentes e apaixonados. tico. Em 1 4 de dezembro de 1854, o Visconde da
Nâo era só ein Angola e Moçambique que pediam Atouguia, então xinistro da marinha e ultramar, pu-
a conserva.ação d'um tal systema. Nas colonias ingle- blicava um decreto em que ordenava o registo dos
zas surgia um movimento egual com reflexo intenso escravos, em que se dava a liberdade aos que per-
na propria metropole e a tal ponto que em Liverpool se tenciam a o Estado, em que se facilitavam as emari-
deu unia verdadeira revolta, que só por rima repressão cipagoes e se definiam os direitos e as obrigações dos
efiesgica e pelo uso da força poride ser sufocada. libertos. Era já bastarite, i-ia causa em que s e empe-
Desaparecendo o trafico d a escravatura, restava nhavam tantos espiritos clieios de piedade e amor
abolir o estado de escravidão. pelos seus semelhantes, mas airida não era tudo. Os
N'esse sentido foi ainda em Portugal ÇA da Ban- traficantes não se resignavam a dispensar OS lucros
deira que abriu caminho, apresentando na Camara da sua industria. Acoitaram-se em Xmbriz, ao norte
dos Pares, conjuntamente c o a o Marquez de Lavra- de Loanda, onde o dominio portuguez não estava fir-
dio, uma proposta de lei, em 16 de agosto de 1842. mado, e ahi abiiratn, c o n ~o maximo irnpudor, mes-
Essa proposta não vingou, mas os seus a ~ t o r e sn ã o cados escanda:osos, onde a rniudo eram vendidos, em
esmoreceram, e em r845 ~edigiran~ um novo projecto ignobil leilão, levas e levas de escravos.
seu trabalho, uin traramento f ~ n d a d oein regras Iiii- Regulamentação da lei do Colonato e do tra-
manitarias e acção das auctoridades para a salva- balho indigena nas Colonias portuguezas. O ul-
guarda dos seus direitos e para a defeza contra to- ti;no diploma promulgado entre n h s no sentido de
das a s violencias e extorsões com que os pretendam instigar os indigenas ao tiabalho, não uzando pala
fet-ir. com elles de vioiencias nem de opressões hoje geral-
Na !uta de interesses qtre se degIadizm em torno lnente condernnadas, antes da mridanga das insti-
das coloniss, irita que em cada hora se torna mais tuições paliticas, fhrâ o regulamento aprovado por
aspera e mais envenenada de cubiças e I-ancòres, te- decreto de g de novembro de 1899. Em 13 de maio
mos sido alvejados por abives e ataques injuçtissimos de 191r esse regulamenro foi radicalmente alterado e
e acusados de adotar processos de espoliação e ci ~iet- substituido por um outro que hoje vigora coino lei
dade, para com os negros, que em tudo se asseme- em todas as provinciss ultraxarinas portuguezas. Pela
lham a % da condenada esci-avatiira. Contra taes acu- sua im2ortanria e pelo valor dos principios em que
sações ergue-se felizmente infiesivel e triunfante a se baseia, semelhante decreto bem merece uma refe-
verdade dos factos. Vozes insuspeitas, das mais auto- rencia especial.
risadas nas sciencias c no inundo coloiiial, libertas de Estabelece eile a obrigação moral e legal dos indi-
toda a emulação mercantil, se teem erguido a exaltar genas procurarem adquirir, pelo trabalho, os meios
a nossa obra e a invalidar as falsidades que nos teem que Ihes faltem para subsistirein e ,melhorarem a pi-o-
sido atribuidas. yria condiçáo social. X nutoridarIe publica poderi itn-
No passado, como já dissénios, nunca praticámos pôr O cumprimento d'essa obrigação, que só não
barbaridades que se comparen-i 6s cometidas pelos yo- incumbe aos que possusm capital ou propriedade
vos colonisadores de que então fômos rivaes. No pre- suficiente para Ihes assegurarem a existencia; aos que
sente, a vida intima das nossas ~ossesçcies,a harrno- exerçam qualquer arte, oficio ou mister, de que tirem
nia que n'ellas existe entre os e l e ~ ~ e n t odas
s ragas oç necessarios proventos; aos que cultivem seguidz-
branca e negra e a fórrna como aos indigenas é asse- mente, por conta propria, parcelas de terreno de .de-
gurada a sua iibetdada e é utilisado o seii trabail-io, terminada estensão; aos que trabalharem por soldada
demonstram bem que tambem não devemos ieceiar ou saiario pelo menos um certo niimero de mezes em
conspirações. cada anno; ás mulheres, aos homens de mais de 60
A legislagão patiia tem procurado, em varias epo- annos e aos menores de 14;aos doentes e jnvalidos;
cas, respeitar os Iegitiinos dlreitos dos naturaes das aos cipaes do Estado ou de particu!ares a isso auto-
nossas colonías, regulamentar-lhe o t!-abal!lo, de forma rizados e aos alistados em qualquer corpo regular,
a convencei-os que este cot~stitueilma obrigação e incumbido de serviços de policia e de seguranSa, e
não uma faculdzde absolutamente Iiirre e independente aos chefes e grandes indigenas como taes reccuilieci-
de toda a tutela. Mas, para se ~ ê oi espíiito que tem ~ Q pela
S autoridade publica. Para se f~cilitaro cum-
presidido á elaboração d'essas leis, a seguir damos a primento da obrigação de trabalho, o Estado permitirá
ultima : que em todas as p~~ovii~cias, onde haja terrenos publi-
T R I T A ~ I E X T O DCS I X D I G B K A S

cos devolutos e intuitos, os indigenas possam ocupar rirá a propriedade piena do psedio. 0 s colorios, em--
e iisufruir parcelas d'esses terrenos, cultivando-os e quanto estiverem n'esta s i t u a ~ ã o ,ou quando passa-
estabelecendo n'elles residencia. A área d'esses terre- rem a pro~rietariosdos terrenos que ocupavam, serão
nos será, no inaximo, de irm hectare para o indigena e isei-itos do serviço cbrigatorio nos corpos militares OL:
de meio I-iectare para câda pessoa da sua fainilia, A policiaes, do tixbntho compelido. do servico de n-ia-
sua o c u p a ~ ã oserá coiisiderada como legitima, quando chileiros, barqiieiros, carregadores oir escoteiros, mas
elles não estiverem destinados a aplicação especial e não ficarão dispensados de acompanhar os chefes indi-
qriarido essa ociipagão 1x30 fôr interrompida por mais genas de que dependam, ou os seus cabos de guerra,
d'um anno e fòr assinalada pela cultura de não me- nas operações de guerra realizadas por ordem das
nos de ,;$' d a área dos referidos terrenos e pela re- autoridades competerites.
sidencia habitiial n'elles do ocspante. .Para a esecu- Emyuanto a ocupação dos terrenos estiver consi-.
ção d'este preceito, na lei a que nos referimos, esta- derada válida, o Estado não poderá alienar o respe-
beiecv-se, corno. dissémos, que o Estado permitirá, tivo dotninio ulil, mesmo quando alienar a proprie-
em todas as pioviiicias uitramarinas, onde houver dade dor mesmos terrenos, se o indigena quizer pagar
terrenos publicos devolutos e sem aplicação especial, o foro que lhe fòr arbitrado.
que os indigenas ocupem e usiifruam parcelas d'esses '
S e o indigeiia não quizer satisfazer esse encargo,
teri-enos, cultivando-os e fixando n'elles residencia. O novo senhor da propriedade só poder& desapossaI-o
A cultura, para a ocupaqão se tornar legitima, de- pagando-Ihe o valor de todas as bemfeitorias. .Ao
verá estender-se a dois terqos, peIo menos, do terreno coiono qiie perder a posse dos terrenos que estava
ocupado e não ser interrompida por mais d'um anno. cultivand~, o Estado assegurara outros da mesma
O colono não poderá alienar o predio nem dispor, extensão.
a seu respeito, de qualquer direito de propriedade Em todas a s coIonias portuguezas da Africa será
plena ou transmitir esta a não ser por usufruto, n o permitido o contracto da sub-emfiteuse.
caso da sua morte, aos seus herdeiros descendentes Os proprietarios que consentirem que nos seus pre-
ou ascendentes, se estes se prestarem a cultival-os e a dios se estabeleçam indigenas e estes cultivem parce-
residir n'esses terrenos. Xos primeiros cinco annos d e . las do solo, não os poderão expulsar sem Ihes pagar
ocupagão, o colono não pagerá qualquer pensão, como as bemfeitorias feitas por etles e reconhecer-lbes-hão
não pagara contribuigão predial, emquanto durar a o dominio utii dos trrrenos, mediante um fòro annual
ocupação. Decorrido aquelle periodo a pensão será fixado pelo curador, que os mvsmos indigenas hajam
flsada pelos i.egulamentos locaes e poderá sempre ser plstntado de arvores ou plantas vi\lazes. 0 s adminis-
paga em generos, se a iserição não fòr prorogada por tradores dos conceIhos e chefes das circcinsci-igõesci-
mais cinco annos, como o poderá ser principalmente vis farão todas as deiigencias para conseguirem que
nas regices onde os indigenas pagarem imposto de pa- 0s indigenas se convertam eni colonos e cultivem
Ihota oir de mussoco. Se o colono, durante vinte annos, terras.
cumprir interruptamente os deveres do coionato, adqui- O decreto a que nos referimos estipula ainda a
TllnTIYLNTO DOS I N T I G E S I S 93
forma como se passam aos colonos os iitulos com- ,ará o contracto com a impressão ds dedo polegar.
provativos da posse ou dos dominios dos terrenos e 0 s poderes de que ficam dispondo os curadoies, não
das enfiteuses e sub-enfiteiises. impedem que os patrões disponham tambern dos po-
Em relação aos contratos de trabalho. o mesmo deres indispensaveis para assegurarem o c u m p r i m e ~ t o
diploma d á aos indigenas das nossas possessões di- das obrigações aceites pelos serviçaes, ou a repressão
reito a contratarem os seus serviços como entende- legitima da falta d'esse cumprimerito, quando e ern-
rem, seguindo-se esses contratos pelas uisposições do quanto a autoridade não O possa fazer por si propria,
Codigo civil e da lei de que falâmos, sendo nulos, Para isso O decreto especifica todos os meios a que
porem, os que estipularem prestação d e servigo por os mesmos patrões podem recorrer n'essas condiqões,
mais de dois annos, os que dispensarem o patrão ou Isto não quer dizer que aos mesmos patrões seja per-
o amo de dar a o serviçal uma retribuição certa em mitido maltratar os servigaes, conserval-os em logares
dinheiro, os que autorisarem o patrão a aplicar ao insalubres, pòr-Ihes algêmas, griihetas, gargalheiras
servi@ castigos corporaes, cs que inibirem o ser\-iça1 ou quaesquer outros instrumentos que tolham a li-
d o exercicio de direitos e faculdades legaes ou o obri- berdade de movimentos, prival-OS de comida, ou apli-
garem a actos piohibidos pela lei e os que irnpozerern car-lties multas pecriniarias, descontando-lh'as n o s
serviqos em que haja perigo maniiesto ou damno vençirnrntos. Os poderes que esta lei especial concede
con~idera\~el para quem os prestar. aos patrões n2o podem ser utilizados pelos que hajam
Se o contracto se fizer sem a intervengão da au- contractado indigenas sem íntervenqão e nprovaqão
toridade, o contractante que quizer impòr ao outro as da autoridade, os quaes s6 poderão uzar das garantias
condições ajustadas sí, o poderá fazer nos termos da insertas no Codigo Penal. Os pagamentos serão feitos
legislaqão geral. Nst hypothese contraria a autoridacle, aos mezes e adiantadamente, depositando os patrões
que será sempre o curador dos serviçaes ou o seu o dinheiro nos cofres do Curador QU dos setis agen-
agente, intervirá para assegurar o cumprimelito ou pu- tes. Quando, até ao dia 28 de cada mez, esse deposito
nir o i-ião cumprimento das cIausulas, nos termos d'esta não estiver feito, considerar-se-ha anillado o contra-
lei especial. Para afguem poder recrutar indigenas para cto, seiido os indigenas mandados retirar pela autori-
prestarem serviço a outrem, precisa ter para isso uma dade. Se o indigena o desejar, poderá receber direta-
licença passada pelo Governador geiai. O decreto fix3 mente do patrão uma quantia semanal que, no fim
os deveres dos curadores para a redação dos contra- do mez, não exceda um terço 30 salario mensal. Ter-
ctos, as condições a que estes devem obedecer de minado o contracto, o indigena receberá o que lhe
previdencia e proteção para os indigenas e os de- pertence, entregue pelo Curador è deante de testemu-
veres a que se obrigam os que contractam indigenas nhas, podendo ser essa entrega realisada na séde d a
para seri7igo domestico ou assalariado. respectiva circumçcrição.
Para se substituir a assinatura dos contractados, Um grande numero de faltas cometidas, por parte
quasi na totalidade analfabetos, pela primeira vvz Se dos patrões ou dos serviçaeç, podem ser julgadas e
estabeleceu ila nossa legislação que o indigenz fir- punidas, mediante processo sumario pelos curado-
res, quando os contractos tenham sida celebrados com comarcas. Os transportes de ida e regresso dos servi-
i1;tervenr;ão das autoridades publicas, havendo das q e s , contractados para fóra das suas terras, efetuar-
suas decisões recurso para os governadores, em con- se-Mo sempre em condisões regulares de seguranga,'
selho de governo. Quando a s faltas cometidas, quer hqrgiene e comodidade.
pelos patrões quer pelos seivjçaes, excedam a jurisdi- 0 s emolumentos dos contractos, que constituirão
ção dos curadores, estes promoverão a repressão d'es- receita d a fazenda, serão para os contractos até 6
ses factos pelos ti-ibunaes ordinarios. mezes, de 600 réis por rnez, até 9 mezes, de 160 réis,
O serviqal que se evadir será obrigado a voltar ao até 1 2 mezes, de 4c0 réis, até 18 mezes, de 350 réis,
serviço do patrão. S e este o não quizer aceitar, elie, e até 31 mezes, de p o réis, tudo por rnez.
alêm de sofrer a pena a que fòr condenado, ficará su- Terminados os contractos, os patrões deverão pns-
jeito a um trabalho compeljdo, por tanto tempo quanto s a r gratuitamente aos servigaes, certificados de traba-
lhe faltar para cumprir o contracto que fizera com o lho, em que se dirá quanto tempo elies prestaram ser-
patrão. O governo poderá prohibir, tempoiariamei~te, v i e ~as ~datas em que corneqou e findou o contracto.
a emigra~ãodos servisaes indigenas de deteirninadas Os indigenas, que sejam sujeitos á obrigação do tsa-
regiões das provincias ultramarinas, quando assim o balho e não a cumprirem voIuntariamente, deverão
aconselhem razdes politicas ou econornicas, Para tal s e r iritimados, pela autoridade administrativa, a traba-
se poder conseguir, os indigenas só poderão sahir dâs lho no serviso do Estado, dos rnunicipios ou dos par-
regiões em que tal se determinar, levando passaporte ticulares, sempre que se lhes possa proporcionar tra-
que apenas será passado aos que exerçam artes ou balho para o que, a s referidas autoridades, receberão
profissões liberaes, desempenhem fungões publicas ou as respectivas requisiqões de servi~aesdos funciona-
rnunicipaes, paguem contribuição predial ou ir-idustrial, rios que dirigem serviços publicos ou municipaes, ou
tenham. licença para estabeiecimento mercantil ou pre- dos particulares. S e não obedecerem á. intimaçã? serão
cisem auzentar-se por motivo justo. compelidos. 0 s meios de compulsão cifram-se em se-
Santo os agentes de emigragão nas regiões assim rem chamados á autoridade para esta os adinoestar
isoladas como os indigenas que d'elIas emigrem, são pela suâ falta e mandõl-os, depois, conduzir de modo
sijeitos a pesadas multas e penas. Todos os contra- a não se poderem evadir, aos pontos onde Ilies estava
ctos da prestação de servigo que obriguem os indige- destinado o trabalho, 0 s que sesistirem a estes meios
nas a sahir da cornarca judicial onde residem, teen; de OU se evadirem serão entregiies ao Curador da comarca
ser ce!ebrados com a intervenção dos curadores Ou ou a algum dos seus delegados, para serem condena-
seus agentes. Os patrões que infi-ingirem esta regra dos a trabalho correcional.
serão punidos, e os indigenas considerados como emi- O decreto a que nos referimos especifica muito de-
grantes vindos de regiões d'onde se não pode sahir ialhadamente, o modo como se devem fazer a s sequi-
sem passaporte. Os curadores das comarcas vigiarão sigóes de serviqaes e quaes os fuilcionarios e pnrticu-
especialmente para que, findos os contractos, se asse- lares que podem firmar estas i-equisiçires.
gure a repatriação aos indigenas de fora das mesmas Tambem o mesmo diploma estabelece numerosas
96 scrancr~DE COLONLSAÇZO TSATAHENTO DOS LüDXGEXdS 97

clausulas sobre os ineios que as autoiidades admi- -4 pena do trabalho correciona1 será sempre m m -
nistrativas ou chefes de circut:scrições devein adotar dada aplicar por um certo numero de dias uteis d e
para averiguarem, em cada povoado, os indigenas que , trabalho e só se considerará cumprida quando o con-
esistem, os que já cumpriram a obrigaçso de traha- denado tiver trabalhado esses dias todos.
lho, ou os que ainda precisam desonerar-se d'esse de- Essa pena poderá ser aplicada gelos tribunaes ore
ver. Os sen-içaes compelidos s6 poderão ir satisfazer .dinarios, juizas municipaes, curadores e seus agentes.
reyuisiges para fora da respetiva provincia quando, 0ç indigenas, condenados a trabalha correcional,
n'aqilella em que residirem. não houver trabalho para
empregar os braços indigenas. -
Todas a s despezits de transporte dos indigem, bem
ficarao entregues á autoridade administrativa que to-
mará as precauções necessarias para que elles não fu-
jam ao trabalho, sendo este prestado n a provincia e,
como o das pessoas que os acompanharem, correrão sempre que seja yossivel, no districto em que furrcio-
por conta dos requisitantes. Estes, ao receberem os nar o tribunal ou a autoridade que tiver aplictrdo o
serrigaes, passarão um termo em que se comprome- -castigo.
terão a cumprir os encargos a que ficam obrigados e - Os indigenas condenados á referida pena e que per-
que estão registados um a um n'este diploma, cifran- tinazmente se recusarem a tsabdhar e os que se eva-
do-se estes no pagamento regular das soldadas, n o direm e fôrem capturados, serão postos á disposição
fornecimento d'urna alimentação saudavel e hg g.ienicn do governador da provincia que poderá alistal-10s nos
e de alojamento ou de matetiaes para o proprio in- corpos militares, empregal-os em trabalhos internos
digeria construir a paIhota em que deve habitar; n o Zalgurn presidia, ou rnandal-os para outra provincia
socòrro em caso de doenga; em os conservar ao seu para ali lhes darem algum d'eçtes destinos.
serviço durante um tempo determinado, o qual, se o ser- Os ifidigenas, condenados a trabalha correcional, se-
viço for particular, não poderá set de menos de trez me- i-ão sustentados e alojados pelo Estado o u pelo mu-
zes e de mais de 2 annos; em os apresentar a auto- nicipio que os empregar e receberão, em dinheiro, um
ridade que.os tiver fornecido ao terminar-se o contracto; terço do salario dos indigenaç contractados. Se o ES-
em não obstar que as familias os acompanhem e vi- tado e os municipios não poderem enviar para fbra
vam c o r eller; ein Ihes adeantar, por conta das sol- os indigenas colocados n'esta sitwgáo; poderão &l:Zle
dadas, para as familias, uma quantia cujos limitesos re- ser obrigados a, servir particulares que-os requisitarem
gclamentos locaes fixarão; em não cederem a outrérn para ser\'- aes.
71

os trabalhos dos indigenas que lhes tenham sido dis- - OS patrões dos indigenas condenados a trabalho
tiibuidos e em Ihes dar toda a proteção, exercend~ correcional terão sobre elles os mesmos direitos e os
sobre eiles uma tutela bemfazeja e corregindo-os mesmos deveres que teriam se esses trabalhadores
rnodendamente, como se fossem menores. A regula- fossem contratados, exceto no que diz respeito ao
rnentagão do decreto em relação aos serviqaes com- vencimento,
pelidos, e yuasi egual á que se refere aos serviçaea Deverão guarda-los, padendo fazel-os recolher a
con tractados. eadeia- fóra das horas de trabalho mediante conven-
7
'ERATAXEITO DOS IP3DIGBNh8 99

são especial com os aritor~dades,e abrigar-se-hão a que ocupavam as regiões que elia colocou sob a sua
eiitregal-os a estas no fim do tempo do serviço ou dependemia e aos quaes deve toda a protegão.
sempre que assim Ihes seja exigido. 0 s processos de politica indigena teem de variar
Em cada provjncia haverá uin curador geral de ser- ~ a f i f o m eas circumstancias e, sobretudo, conforme as
17içaese colonos e, cm cada comarca, um curador de condi@es dos povos a que eHa se aplica. NO inicio
serviçaes e colot~os.O regulamento marca detalhada- da colonisac,ão, nas duas Americas e nas Antilhas,
mente os deveres d'um e d'outros. prevaleceu o sistema do recalcamento e do exterminio
O Curador da comarca terá delegados em todas as brutal, 0 s colonos d'esse continente pf-aticaram as
circunscrições administrativas, onde funcionar a au- maiores crueldades para abrir u m vazio nos territo-
toridade civil ou militar. rkç que ocuparam. Não precisavam que os indigenas
O Curador geral será o chefe de todos os serviços &ali naturaes lhe fmnecessem trabalho, porque dis-
d a s curadorias das provincias, podendo o governador punham de toda a mão d'obra de que careciam, irn-
urdenar por despacho sru que quaesquer negocios portando escravos da Africa. Este systema foi pouco
resolvidos,por aquela autoridade venham ao seu conhe- a pouco abondonado, mas inda hoje se verifica que
cimento. A resolução que sobre elles tomar será sem- as msas indigenas da America e da Oceania conti-
pre em conselho. nuam com acentuada tendencia para desaparecer.
O conjunto dos principias que se teem ido apurando Assim, na Polynesia, nas ilhas Sandwich, em que a
corno os mais praticos e eficazes para se conseguir a -populaqão dos naturaes era, em 1778, de g jO:OOO al-
tranformação moral e material das sociedades consti- mas, um seculo depois ella encontrava-se reduzida a
tuidas por individuos das raças inferiores coilverten- pouco mais d'um decirno.
do-os em elernei~lopoderoso de traabalhoe de civili-.. Já não sucede o mesmo na Asia e na Africa. Na
sação, constitue hoje uma parte das mais valiosas da vimeira d'estaç partes do mundo, especialmente na
sciencia de colonisação, parte dei-iomiriada pel6s pu- fndia e na Indo-China, encontra-se uma numerosa
blicistas: variedade de raçtis e de religióes, com um conjunto
de costumes e habito3 muito definidos e determina-
PoIitica indigena, Para se apreciar a irnportancia dos pelo clima tropical. Tanto isto é assim, que O
dos
?. diversos aspétos por que deve ser encarada a po- clima, que é o regulador do regirnen de aKmentaçCio,
irticn para coní os indigenas, basta considerar que a impõe ali o regirnen vegetariano. I;;' o arroz que faz
colonisação não visa simylesinente a conseguir a va- a base principal d'essa alimentação.
lorisa~ãodas tei-ras novas e a abrir mercados para os Na Africa tambem a situação é diversa, embora com
capitaes e para o trabalho disponiveis nas sociedades outras caraccteristicas. Não existem Iá costumes, tra-
antigas, mas tambem a obter resultados moraes e so- diçaes ou regras pditicas tão solidamente estabeIeci-
ciaes e a estreitar as relações entre os europeus e os das. A maior parte das tribus indigenas vivem em
indigenas. D'aqui resulta que é indispensavel estudar plena barbaria. A alimentação é constituida por milho,
a situa@o que á rnetropole convêm estabelecer aos feijão, bananas e tubercnlos farinaceos. Admitia-se até
ha pouco, como uma verdade incontesinvel. qiie c
negro tinha uma tendencia acentuada para viver in- instituições são muitas vezes consideradas por
diferente a qualquer ideia de conforto e bem estar, e a-lles que as adotam não só como necessarias,
seguir até a morte, sem tentar mesmo melhorar a sua &as de origem divina. Por isso é que os povos coio-
sorte. Hoje reconhece-se que não é assim, mas é ponto Maes se devem limitar a exercer influencia sobre os
assente que não é util modificar, a não ser por uma b t o ç de que provem a civilisa$ão indigena, supri-
lenta evoIugão, os habitos estabelecidos, nem convêm -=indo depois os obçtacuIos que se oppõem a que as
provocar a fusão das rasas dos colonos e dos indige- &çtifxi@es respetivas, evolutam norrnaimente. A pri-
nas asiaticos ou africanos, devendo os governos das meira necessidade que, n'este objetivo, se impõe a
metropoies limitar-se a assegurar-lhes a sua coopera- esses povos é a de assegurar na sociedade indigena a
@o economic3 e moral, no interesse geral da paz e j u s t i p , a paz, e a segurança de pessoas e bens. Logo
da eivilisagão. Do mesmo modo tem-se reconhecido a que se alcança este resultado, as institliições indige-
conveniencia de se respeitar a organisap,~da fami- nas ficam colocadas nas condi~õesmais favoraveis
lia e da propriedade nas sociedades indigenas e de se para se transformarem facilmente, sendo sempre indis-
aclimatarem quanto possivel os seus organismos po- pwsavel utilisar os organismos politicos da região
liticos á administraçao das colonias. Os congressos d e .para a administração das colonias inter-tropicaes e
socioIogia colonial ultimamente celebrados não se teem deixar aos poderes iocaes uma grande independencia
cançado de apreciar, em todos os seus aspétos, a si- na direcção dos seus nego cios.^
tuação dos indigenas. Estas palavras do eminente jurisconsulto belga re-
Seria urna chimera querer tsansplantar de repente e sumem os melhores principias d'uma inteligente po-
em conjunto a osganisação das sociedades do mundo litica indigena. A prova é que ellas teem sido brilhan-
culto, a separação dos poderes, como entre ellas temente consagradas na pratica pelo exito alcançado
se cornprehends, o caracter civil do governo e da pela Holanda na administraçgo da sua magestosa co-
administração que ahi prepondera, para sociedades lonia de Java. Ahr os indigensls teem continuado sob
indigenas, estabelecidas em bases ribsoiutamente di- a auctoridacie direta dos chefes da sua raça e não
ferentes. E' preciso comprehendrr, como Mr. Cattiep se. lhes tem perturbado as leis e os costumes, a não
diz com absoluto fundamento, .que as instituições ser em casos muito excecionaes. Por isso em Java tla
politicas, juridicas e economicas dos indigenas n8o Utn exercito Q. 10:ooo europeus e apenás 200 fun-
são combinagões arbitrarias, devidas ao acaso e á, cionaiios da metropde para uma população de 36
phantasia de cada um, mas o resultado de uma reu- Yilhões de habitantes de trez raças muito diversas,
niZo de oircumstancias locaeç, naturaes e psycholo- costumes e religiões inteiramente distintas.
gicas. D'aqui resulta que essas ímtituigáes s5o h?s- A mesma politica tem sido seguida pela Inglaterra
monicas com as necessidades dos indigenas, ou, pelo na India, e em outras coIoniaç ou protetorados, em
menos, com a conceção que eUes teem d'essas ne- que os indígenas formam populagão importante. Na
cessidades. Convêm ainda refletir em que as referi- h d i a existe, no meio de uma grande populagão,
analfabeta, uma classe ilustrada e inteligente, bastante
102 s c x ~ n c ~DE
a co~onre~ção

numerosa, recrutada na maior parte na seita saceld0- gara ani se debaterem problemas especiaes, ern que
tal dos brahmanes. 0s restantes que constituem esta psncipalmenre se distinguem a seleçgo dos emigran-
classe.saem das massas que sofreram a influencia dos r e ~ ,a apropria~ãodas terras proprias pata a cultiira,
missionarios, dos descendentes dos musulmanos que, a organisaçáo da propriedade e o agrupamento d a s
em epocas passadas, governaram a India, e dos filhos colonias. Has colonias inglezas da Africa do Sul a
dos comerciantes e agricuItores ricos. Estas cama- raça branca encontra-se, desdk o pri-meiro dia, em face
das intelectuaes acham-se impregnadas das ideias in- de raças indigenas muito presas a terra, e de qualida-
glezas e europêas de liberdade e independencia poli- des phisicas e inteiectuaes, como os zulus e os ba-
tica. Desejam realisar n'aquelle continente, que é por sutos, que Ihes davam fortes condições de resistencia
ora apenas uma expressão geographica, uma verda- e os colocavam em circumstanciaç de não serem fa-
deira patria, em que se fundem todas a s diferenças d s silmente esterminados ou repelidos pelos novos ocu-
raças, religiões, lingua e população. Foi com esses pante?. Por isso essas regiões teem, como o Canadâ
elementos que se constituiu o congresso indiano que, e a Australia, questões privativas, referentes a me-
desde 1885, reaIisa ses* annuaes, e se tem tornado lhor administração a adotar para os agruyamen-
n'um especie de parlamento oficioso, onde se discutem tos indigenas, e á fórrna de se conseguir o contacto
todos os assuntos que interessam aos indigenas. O das duas raças, diferentes na còr, nos habitos e nas
congresso transmite os seus votos ao governo da me- ideias.
tropole. Virá takez o dia em que esta tenha de tomas Em Portugal, onde sempre tem prevalecido O priii-
esses votos na maior consideração. cipio da assimilação pela egualdade de direitos e d e
Todos os estados indigenas da India, de Zenito, de legisla@es, considera-se meio pratico e admissivel o
Bechuanaland e da Ouganda da Africa, que dependem cruzamento com as raças indigenas, mas os inglezeç
da Inglaterra, teem os seus principes e os seus minis- possuem um modo de vêr inteiramente diverso, s ã o
tros e gosam Q'rrrna autonomia completa, salvo nas essencialmente imperialistas, pretendem manter, atra-
suas relações c m as n a ç k s estangeiras. vez de tudo, o dominio 30 mundo por individuos d a
O problema da plitica indigena tem assumido nos sua raça, a supremacia do colono branco, sein se de-
ultimos annos uma importancia capital, especialmente primir ein ligações que reputam degradantes, e que,
na Africa do Sul. Ahi elle c o n s t i t ~ i epreocupaqáu
~ na verdade, a pratica tem demonstrado serem muito
dominante de todos os que se interessam pelo pro- prejudiciaes e inconvenientes.
gresso e desenvolvime~toda referida região. Justo é, A opinião ingleza admite como axioma que não
pois, que façâmos uma referenda especial á: ha ramos da humanidade mais profundameate sepa-
rados em ideias e maneiras de que O branco e O ne-
Questão indigena na Africa do Sul. Os terri- gro, e que o abysrno é de tal ordem que a sua mis-
torios situados n'este ponto do globo são adequados tura deve ser antes condemnada do (que protegida.
ao estabelecimento da r a p branca, á constituifão de Teem, por isso, de se agrupar, sob um mesmo go-
novas nacionalidades e possuem por isso condigões verno, duas sociedades absolutamente diferentes e d e
TR~TAYEITO DOS IHDIGhpi43 105

se «arranjar logar na mesma casa para dois habitan- A colonia do Cabo tem pretendido ainda resolver
tes, cujas maneiras de viver são incompativeisv. a questão indigena suprimindo a distingão entre as
Da mesma fórma estão pensando os allernaes, e duas raças pela educagão intensiva dos negros e pela
tanto que, em dezembro de 1908,a Sociedade Colo- concessão de direitos politicos. Mas no Natal a luta
nial Allemã emitia um voto afirmando a necessidade entre os brancos e os indigenas não esmorece, porque
da população branca coiiservar nas colonias, de uma ali a raga zulu, forte e prolifica, cada dia exige maior
maneira absoluta, o predoninio em face do indigena, área, para o seu desenvolvimento, contrariando assim
sem prejuízo de-o elevar R um grau mais elevado de a fixaqiio da raça dominadosa. Essa luta é tão ir,-
civilisação. Para isso, a referida Sociedacie reputava tensa que para elIa só se vê solução, embora esta
indispensavel continuar a negar aos indigenas os di- contrarie gravemente o problema da m5o d'obra, con-
reitos e deveres inherentes aos cidadãos de sua na- seguindo-se a transporta~ãodos negros para regices
çionaiidadr e advogava a conveniei~ciade se lutar tropicaes, onde as disponibilidad~da terra e a escas-
por todos os meios contra a formação d'urna raqa de sez da população propria, os tornem uteis e aprovei?
sangue mestiço, que comprometeria o elemento allemão aveis. -
da popuiagão. E terminava o seu vato apelando para os . Entre as duas correntes tão diversas, a do Cabo e
seus compatriotas nas colonias para que reagissem con- a d e Nata4 a constituição unioriista teve de adotar o
tra a infiltração do elemento de cor e evitassem tudo o meio-temo e de estabelecer que a futuro parlamento
que podesse prejudica a pureza da raça alIemã. da União fio-poderia -privar de direitos eleitoraes;
Pódem os inglezes e os boers unir-se, como se estão sob pretexto de cor o u de raça, os que, á data do eç-
unindo, para sealisar a federasão da Africa do Sui. ~abelecimentod3eçça'Uniãa, estivessein registados, ou
Esquecem-se os velhas odim, apagam-se as recrimi- em condi@es- legaes de o vir a ser, como eleitores,
nações da guerra, reconhece-se mesmo que essa guerra exceto se ambas as casas do referido parlamento
foi necessaria á união que se pretende consolidar, por- assim o votassem por uma maioria de dois terços do
que foi por ella que cada um dos dois povos apren- seu numero total, não' podendo aitzda essa delibera-
deu a conhecer as qualidades do outro e ambos a $30 ter efeito retroactivo. Fsta concessão não agra-
respeitarem-se mutuamente. Mas nem inglezes nem dou por completo 6s gentes de côr. -4 questão con-
boers atendem nas suas combinações aos negros ou tinúa de pé, E o , futuro parlament? é que terá de
aos mestiqos. Para os colonos de raça branca estes proceder de modo a transformar essa tena temperada
só deveriam servir para fornecer mão d'obra certa e no berço d'uma nacionalidade forte, pura de sangue,
abundante. Consente-se que elles já elejam represen- com as soiidas qualidades do anglo-saxão aliadas ás
tantes seus, mas «sempre de fórma qrie não se Ihes dos boers e trabalhando a terra pelas suas proprias
~ e r m i t aatitudes agressivas, nem o enfraquecerem, mãos, ou a manter o sfatzl p o tornando a solução
por qualquer maneira, a supremacia e a auctoridade do problema cada dia mais dificil pelo agravamento
d a raça dominante, que é responsavel pelo paiz e cada vez maior da antiyathia existente, ou finalmente
suporta o-encargo de o governar». a obter o cruzamento gera1 e a aquisi$ão d'utn typo
PRATAMEBTV DQS INDIGEXAS 107
rnedio de rnestigo, com qualidades suficientes para antes separava os brancos dos negros. Já não é raro.
seguir a civilisação dos brancos. encontrar-se gente de cór em condiqões de tomar o-
Exemplos da maior eloquencia contrariam esta ul- logar dos brancos, na direção das culturas e das in-
tima solução. O estado negro da Liberia falhou por dustrias. A colocação que um branco regeita, por ella
completo. 0 s negros do sul da America do Norte ser de limitado rendimento, é disputada por mestiços,.
continuam a mostrar-se rebeldes á assimilação, oç eguaImente habilitados e com exigencias muito mais
mestiços da America do centro e do sul vivem ainda reduzidas, Isto faz com que a antypathia das r a p ç -
na r.~aior immoraIidade e anarchia. Como dado Ira- aumente de dia para dia. E faz tambem com que se
lioso para mostrar quanto o problema varia de im- dé a anomalia de crescer cada vez mais uma classe"
portancia de estado para estado devemos dizer que a de desempregados em centros que pedem insistente-
proporção dos jndividuos brancos para os de côr é. mente bragos e de existirem numerosos colonos, vindos.
de um para dois no Orange, de um para quatro n o d'outros paizes na idéia de se estabelecerem de vez
'Transwaai, de um para cinco no Cabo e de um pai& n'essa terra de adoção e que se veem privados de
dez no Natal. recursos, sem poderem aplicar as suas energias e-
O facto da terra da Africa do Sul ser temperada e actividade.
apta para a fixaqão da raga branca, existindo ao mesmD Essa anomalia da-se tanto na industria, como na
tempo n'ella uma outra raça numerosa e forte, torna cultura das terras. A exploração agricola aproveita o-
muito difficii resolver a questao do regimen do tra- negro para os misteres mais rudes. Precisa produzir-
balho, Se este se baseasse sobre o elemento branco, barato, não póde substituir os baixos salarios, com,
o progresso da região seria mais moroso, mas mais que se contenta o indigew, por outros mais elevados.
estavel, dispondo-se tiido harmonicamente para a D'este modo o regimen de trabalho na -4frica do.
constituição d'uma sociedade civilisada. Nas, em vez Sul esta tomando uma direçgo, bem diversa da das-
d'isso, tem-se recorrido ao aproveitamento do indi- colonias temperadas de povoação, e sem seme-
gena, utilisando-o como produtor, tornando-o indis- lhança tambem com a das colonias tropicaes, de es-
pensaveI como elemento de trabalho. D'este modo a ploragão. O problema economico vem assim conju-
utilidade do branco diminue consideravelmente, a emi- gar-se com o problema poIitico, dependendo aind%-
gração não tem as mesmas causas de iiicitamento, a mais talvez do primeiro do que do segundo a possi-
colonia toma os caracteristicos d'urna colonia tropical bilidade ou impossibilidade de se fundar n'aquelle
e o colono, preocupado pela superioridade da raqa, continente uma nacionalidade de sangue branco. Em-
nega-se a irmanar-se pelo trabalho com o negro e quanto o progresso econornico do paiz repousar n@
reserva para si esclirsivamente as funções da classe esforgo da camada indigena, subsistira a feigão colo-
dirigente, para as quaes nem todos teem competencia nial que durante gerações se manteve no Brazil. Nã@
e habilitaçòeg será uma nacionalidade que se forme, mas uma ex-
A questão agrava-se cada vez mais, porque vae ploração que se organisará e installará.
sucessivamente diminuindo o abysmo intelectual que O general Botha, em fins de 1908,constatava este
T~ZATA~EXTO
DOS IXDIGERAS 109-

"facto dizendo: tCom grande suipreza encontrei as para a Africa do Sul, para cultivarem o soIo, dirigi-
xegiões que visitei n'um estado ainda mais agudo do rem as jur~zs,desenvoI1-erem as minas e constituirem
que imaginava. Apenas desembarcado logo me per- ali familia. Uma parte da opinião publica do TranswaaY
guntaram o qtie haviam de fazer dosjoor mhites, e reclama tambem a substitui~ão, nas minas, d a mão
durante milhares de milhas ouvi repetir a pergunta. negra pela branca. Mas ahi, onde o numero de braços
O indigena está invadindo o logar do branco. Traba- é sempre inferior ás necessidades, ainda por muito
Ilia por salários menores e o branco recusa competir tempo os brancos desempenharão só os logares diri-
com elle trabalhando mais barato. Ha casos recentes gentes. O emprego dos brancos nas funções mais hu--
-de operarios mineiros fazerem gréve, e serem substi- miIdes lutaria tambem com a opc>siçãodos que já ali-
tuidos por negros, e observei, algumas vezes, indivi- se encontram, receosos de verem diminuir os seus
duos ganhando 1.200 libras por anca procederem por honorarios pela concorrencia,
aquella fórrna no intuito de obterem maiores renci- Vê-se de tudo isto o profundo antagonismo que ha
mentosp. Para se combater o emprego dos negros em entre o regimen de mão d'ubra branca e os interesses-
todos os mistéres, Iord Crewe, actual ministro das da colonia, do mesmo modo que existe rim outro não-
colonias, recomendava a substituição dos indigenas, menos acentuado entre esses interesses de momento
empregados em servigos domesticas, por mulheres e a constituigão da nacionalidade.
idas de Inglaterra. Na que acabâmos de escrever sobre este iniportante
A questão é das mais complexas e só poderia ser assunto, um dos mais interessantes da co2onisação -
resolvida por medidas de escegão, que brigam com moderna, reportámo-nos quasi por completo ás con-
os sentimentos humanitarios da opinião ingleza da siderações e cuiiosas informações que a seu respeito
rnetropole. E dá-se o contrasenso dos colonos detes- dá o distincto colonial, o Sr. Ernesto de Vilhena, n e -
tarem os indigei~as, querel-os banir d o seu'seio, ao seu rnagnifico livro : Qztestáes CoZoniaes, com que veiu
mesmo tempo que procuram instruil-os e reforqal-os enriquecer a nossa Iitter-atura, referente a estudos de
physica e moralmente. tanto interesse e de tão palpitante actuaIidade.
Para diminuir a intensidade do problema procura-se, Já depois da publicação do livro d'este ilustre a-
por todos os meios, alargar a esphera d'acçào dos critor, novos trabalhos se teem feito e novas orientz-
trabalhadores brancos d'amboç os sexos. Nos ultimos $ões se teem desenhado para a melhor solução d 0 5 ~
annos tem-se proporcionado trabalho em caminhos problemas resriitbntes da concorrencia das ra$as branca
dG feri-o do Transwaal a mais de dois mil brancos, e negra nos territorios inglezes da Africa do SuJ. Ainda
dando-lhes um vencimento egual ao dos cafres e o em outubro de ~ g2,r o general Hertzog, um dos mem-
facto foi celebrado, com o maior elogio, por toda a bros do governo da União, falando aos seus eleitores
imprensa inglezâ. Faz-se intensa propaganda para se do Orange, acentuava as dificuIdades do problema e
desviarem cada vez mais brancos para aqiiella região. da regularnentagão das reIações f ~ ~ t u r entre
as os eu-
Lord Cuison, tambem não ha muito, n'urn banquete, Eopeus e os naiuraes por meio d'uma IegisIzção ba-
dizia. qiie se deviam mandar homens, muitos homens seada n'um espirito pratico de equidade. Dizia esse
TRATAYEXTO DOS INDIGENAS 111

-estadista que as relagões entre as duas raças não eram Ao europeu seria prohibido possuir terrenos nos terri-
satisfatorias pata os indigenas e muito menos para .torios indigenas, e os u ~ i c o sbrancos que entrariam
.os europeus e que, se ellas ngo se modificassem, em n'essas áreas seriam aquelles de que os indigenas
breve aqueltas regiões se tornariam inacessiveis para tivessem precisão. O iridigena teria então a oportuni-
.os brancos. Todos concordam nos inconvenientes da dade de provar o seu valor. I'OP outro lado, no terri-
mistura das raças e da exclusão dos europeus nos torio resewado ao branco, o indigena não poderia
trabalhos a fazer para a transforma@o do paiz. E to- fazer o que agora ameaca levar a efeito, a saber, ex-
- dos reconhecem egualmente que a a d o @ ~d'uma po- pulsar o branco da Africa do Sul. Ao indigena não
litica de repressão, ou, pelo menos, de pouca equi- seria permitido possuir terras na parte do paiz reser-
.dade para com os indigenas, se viria a refletir no cada ao branco, e assim por-se-ia ponto a expansão
caracter do europeu e prejudicaria o futuro dlaqueUes d a agricultura indigena onde ella agora ameaça arrui-
territorios. Um dos factos que mais tem concorrido nar o branco. O generaI Hertzog mostrou que as suas
-para o agravamento da situação é o resultante da idéias não implicavam uma questão de força. Mas,
-expznsão sempre crescente da pequena agricultura s e se desejava atingir o ideal porque todos anceiam,
indigena, provocada pelo erro praticado pelos jarmers era necessario que nesse sentido fossem tomadas me-
boeis, arrendando as suas propriedades aos-da raça didas imediatamente. Convinha escolherem-se as re-
-negra em vez de as cultivarem diretamente com o giões onde se deveriam estabelecer os indigenas, e
ausiiio dos braqos brancos. Mas, apesar de tudo, é tarnbem as que ficariam reservadas aos brancos,
e incontestaveI que o desaparecimento d'estes determi- Procurar-se-ia fazer convergir os indigenas para os
naria a mina dos indigenas. Por isso cada vez se im- pontos onde é já hoje mais densa a popuIar;ão preta,
põe mais um regimeri que defenda a esistencia das Gcando como actualmente, até que se lhe pudesse
duas raças e que deixe ao indigena a oportunidade dar o destino julgado mais conveniente, as áreas hoje
de desenvolvimento em condiqões naturaes para que da1:gament.e habitadas por brancos e pretos. O sei1
possa obter os seus direitos como liornem. O systema ptojeto tiniia em vista nada mais nem nada menos
-seguido no Cabo é o que o general Hertzog considera do que a definição àas respetivas esferas das duas
preferivel, pronunciando-se por uma potitica de segre- raças.
,gagão, com separagão de brancos e pretos, como su- Continuando disse o ministro que, par esse projeto,
.cede em Transkei, n'aquella coloilia Esta é, em seu -os indigenas não seriam excluidos dos centros de tra-
,entender, a unica soIução do problema iridigena na balho onde pudessem ser ritil e legalmente utilisados
Africa do Sul. o s seus serviços, mas não se devia cair em escesso
Não se tratclria de adotar um regimen de compul- rio emprego d'esça mão d'obra. Aos indigenas seria
-são, mas sim de oferecer ao indigena a facilidade concedido o direito de entrada nos tersitorios euro-
de se ir Iocalisar n'urna parte do paiz onde poderia peus n fim de ahi ganharem meios de subsistencia.
-desenvolver-se na proporçLo das suas aptidões natu- Era mister tomar em consideração as necessidades
rraes e sob a chefia dos homens da sua propria raça. economicas do paiz.
- A opinião de tão proeminente auctoridade nas q e s :
;&o á população negra e csmo essa diversidade con-
tões que se relacionam com a politica da Africa d a :erre para a gravidade da questão indigena, existindo
Sul resume-se em querer que esta seja governada tssirn uma origem de dificuldades p a s i insuperaveis,
pelos af~ikanders,entendendo-se por esta desjgnação lue nunca se dera, por enempIo, no Canaãá, ou na
os brancos nascidos no paiz, descendentes de inglezeç 4ustralia.
ou de hoflat-idezes e ainda os que, embora nascidos Foi o tratado de Vereeniging, de 3 1 .de maio de
em outros paizes, se estabelecem na Africa do Sul, rgoz, que pòz termo á guerra entre a Inglaterra e as
com o firme proposito de serem uteis á região que .epublicas do Trai~swaale de Orange. A grande na-
adotarn como sua e de por ella se sacrificarem em ;ão coionial não aspirava a impòr aos novos territa-
tudo, Os que procuram os referidos territorios só parn ias, annexados aos seus dominios coioniaes, um re-
servirem os seus interesses pessoaes, náo teem, em ;irnen opressivo, F, assim o artigo 7.' d'esse tratado
seu parecer, direito a quaIquer ingerencia nos nego- iizia textualtnente o seguinte : c A administração mi-
cios bublicos. itar nas colonias do Transwaal e Orange será substi-
Foi esta a primeira vez que uma semelhante dou- uida logo que seja possivel por u m governo de cara-
trina foi exposta por um homem da cathegoria d o :ter civil e, quando as circunstancias o permitam, por
ininistro da justiça do gabinete Botta, A segregá- nstituiqões representativas, comportando o exercicio
ção de brancos e indigenas na Africa do Sul é um l'um governo livre*.
alvitre que já em tempos foi defendido pelo Raizd Afirmava-se d'este modo o principio da emancipa-
Dai& iVaiZ, de Johannesburg. Ella encontrará.dificul- ;ão das colonias britanicaç, -em que éstão de acordo
dades enormes para triumphar. Mas, se tal projeto- 3s grandes partidos inglezes, o liberal e o conserva-
conseguir vingar, a raça branca encontrará n a Xfrica ior. A promessa formulada no artigo que transcre-
do Sul irm campo vasto para a utilisação dos seus rrernos não tardou a realisar-se em factos.
serviços como o tem encontrado no Canadá e n a E m 1906 o governo liberal, que ainda está no FO-
Australia, paizes por assim dizer abertos exclusiva- ies, então sob a presidencia de Campbell Bannerman,
mente a actividade dos individuos da referida raça, Jutorgava, ás coloniaç anexadas liberdades identicas
A questão indigena na Africa do Sul relaciona-se i s que o Cabo disfruta desde 1872 e O Natal desde
iiltirnamente com a forma como se tem procurado 1893. Primeiro essas colonias tinham ficado sob a
~ealisara reunião dos estadas d'essa parte do globo ~dministraçáo autocratica do Alto Cornissario do
sujeitos a soberania de Iiiglaterra e por isso daremos Cabo. Graças aos esforços d'esse elevado funciona-
aqui rapidas indicações sob a constituição da .
rio, então Lord Milner, de I902 a 1906, assegurara-se
s ordem, levantara-se o credito, haviam recomeçado
União da Africa do SUE. 0 s estados a que nos 3s exploragões agricolas e pastoris e tinham-se re-
referimos ocupam uma área quaçi egual á dos Esta- parado e melhorado as vias de comunicação. .4 sua
das Unidos. Já dissémos quanto é variavel nos -us ~ b r aencontrara resistencias, mas estas haviam sido
diversos pontos a percentagem dos brancos em rela- vencidas. 8
Já e:n IgQj, o governo conservador i.ecoilhecera h v o r das idéias federalistas. E m maio de 1908, ao
que chegara a hora de se concederem algumas liber- a conferencia intercolonial-das alfandegas e
dades ao Transwaal. N'esçe sentido, elle trans-r- caminhos de ferro, esta adotou o principio d'uma
mara o conselho legislatiuo n'uma assembléia legis- união mais estreita e prosima entre as quatro colo-
lativa, em que só um quarto dos seus membros seriam niaç, sob a autoridaáe da Coròa britanica.
funcionarios da Corba. Para o Orange nenhuma me- A respetiva resolução dizia textualmente assim:
dida se adotou então, esperando-se os result-d a OS da ~ 0 interesses
s vitaes e a prosperidade permanente da
experiencia do Trans\vaal. Os transwalianos não fics- i\frica do Sui só poderão ser szlvaguardados pela sua
ram satisfeitos, porque a s concessões que ihes haviam união mais estreita e proxima, sob a autoridade da
sido feitas tinham sido reguladas de modo que o ele- Coròa britaiiica. A Elhodesia poderá ser ulteriormente
mento inglez ficasse em tudo com a direção da admi- admitida nesta reunião. Essa resolução será subme-
nistraqão. O governo reservava para si toda a inicia- tida ás legislaturas das quatro colonias, afim de que
tiva ein materia 0rçarnental.q assembléia legislativa possam ser tomadas ai medidas necessariaç para a
náda tinha com os l-iegocios indigenas, nem com a norneaqão dos delegados a uma Convengão nacional
organisação da policia e dos caminhos de ferro. Par encarregada de examinar qual será a melhor fórma
outro lado a fixaqão das circunscrições eleitoraes era da União e de prêparar um projecto de Constitui-
desfavorr.vel aos boeis. @O."
A constituição do anno imediato atendeu todas as -
Combinori-se desde logo reunir uma conferencia
reclamações e satisfez .os mais exige~it<s.A união constituida por trinta delegados: doze do Cabo, oito
das quatro colonias sob um mesmo governo fez des- do Trailswaal, cinco do Orange e cinco do Natal.
aparecer as constituições privativas de cada uma As camaras aprovaram que se iealisasse essa Confe-
d'ellas. Mas novas aspirasões surgiram. Em 29 de rencia. Elia veiu efetivamenta a inaugurar os seus
novembro de 1 9 ~ 6Mrs.
, Ja~neson,primeiro ministro trabalhos em 1 2 de o u t ~ ~ b rd'aqueile
o anno. As opi-
d o Cabo, dirigiu-se a Lord Selborne, então alto Co- niões ali emitidas dit-ergiam radicalmente. Ui-is advo-
missario, pedindo-lhe para examinar no seu conjunto gavam a federa$%, outros a unificação. No caso da
o problema sul africano. A esse pedido associaram-se federação poder-se-iam manter os quatro parlamen-
as outras colonias. O alto comisçario respondeu-lhes tos. No da unificação, teriam de desaparecer. Esta
com um memorandum, entregue em 7 de janeiro de era um regimen mais simples e mais economico.
1907, em que se punham em relevo todos os motivos O Cabo e o 'Ti-answaal apresentaram-se como seus
de Iuta e de divergencia existentes nas colonias e se partidarios. O Orange era forçado a seguir o Trans-
acentuava a necessidade d'eiles serem resofvidos pela waal. Só o Natal resistia. X4as algiimas objeções se
intervenção d'uma autoridade superior, que só o po- levantaram ainda, pelo receio de que a União desse
dia ser o governo da mãe patria, para não se ferir o lagar e que se reacendesse o sentimento de antago-
principio de seg-governnz@~t, que ali se quizera adotar. nisixo das duas raças.
D'aqui surgiu um vivo movimento de opitiião a A' escolha dos delegados á Coiiferenci? presidira o
TRATA>!EE;TO DOS IEDIGESAS 117

melhor criterio. Em cada colonia, o chefe da oposi- dos da CoiicençBo e lord Crewe, combinando-se ahi
ção fòrn inscrito com o primeiro ministro respetivo uma nova em&ida, pela quai se reservava á autori-
na lista- dos candidatos propostos e cada partido ha- dade executiva da União os regiilarneiitos relativos
via sido representado n'essa lista em proporção com aos asiaticos e aos natui'aes emigrados dos proteto-
a sua importancia numerica. As sessões fòrarn çecre- rados e se il-ie davam poderes para estabelecer a ex-
tas. Para presidente da Conferencia foi escolhido H, tenyão eventrial da União para além das quatro colo-
de Villierç, o presidente do Alto Tribunal do Cabo. niaç, que se haviam agremiado.
Conferencia que se reunira primeiio em Durban D'este modo a Uiiião estava reali~ada de facko.
mudou depois para o Cabo. Ella terminou os seus Ella foi inaugurada em 3 r de maio de 1910,presi-
trabalhos em 2 de fevereiro de rçog. O acordo a que dindo a esse acto, tão solemne e tão decisivo na hiç-
se chegou foi logo aceite sem emendas pelo Trar-is- toria da colonisação, não o Prlncipe de Gailes, como
waal e pelo Orange. O Natal propòz algr~rnasaltera- primeiro fóra resolvido, porque no eiitretatlto subira
ções para garantir os seus interesses particulares e a este a o tl-irono, mas seu tio, o duque de Connaiight.
sua liberdade dJac$ão. O Cabo, ou antes o Afrikander
Bond, o partido transivaliano, reclamou importantes Processos a adotar-se para com os indige-
modificagõeç. O referido partido pertendia sobretudo nas. E' uma chimera acreditar-se que a acção dos
manter ás populações dos campos, ein qiie o elemento rnissionarios b~st*21.apara transformar brusca e radi-
ingfez esth em minoria, as vantagens eleitoraes que calmente o estado moral è intelectual dos indiger~as
ellas gozavam no antigo regimen e suprimir o prin- nas colonias. Recorrendo-se excIusivamente a esse
cipio da representação proporcional, que a Convenção meio apenas se alcançaria um insuceçso e os resul-
adotara. A primeira parte foi considerada inaceitavel, tados seriam perturbadores. Distruiy-se-ia o equiiibrio
porque era necessario proclamas a egualdade abso- da mentalidade do indigena e d'aqui resultaria o
luta -de direitos para todos os habitantes d a sa$a cahos.
branca, do campo ou das cidades. Resol~-eir-seque a Aos coIoniçadores inteligentes cumpre respeitar os
Conven~Bo se reunisse de novo em Bloemfontejn, costumes das populações nativas e todos os seus lla-
para apreciar as emendas apresentadas. Fôram apro- bitos, que não atentem contrn a s leis da humanidade.
vadas as do Natal e em relação as do Cabo aceite a Deirem esforçar-se pGr as fazer evolucionar doce e
primeira, não obstante a ~posigãoque ella despertara progressivatnente, com muita paciencia e tempo para
e regeitada a relativa a representacão proporcional, um ideal moral e social mais elevado.
Os parlamentos do Cabo, Transwaal e Orange vo- Do mesmo modo, pelo que diz respeito á s condi-
taram a Convenção quasi por unanimidade. O d o ções materiaes, não coni-Srn modifica[-as de chofre
Nata1 resolveu sugeital-a a um referendam popular ou substitui!-as, sem garantia de bom resultado, pelas
que a aceitou por grande maioria. Para se ultimarem normas ali desconnecidas da civilisa~ão ocidental.
os trabaIhos da União Sul Africana, efetuou-se por Onde exista a propriedade coletiva é de boa politica
iiltirno uma conferencia em Londres entre os delega- respeital-a, diiigenciando-se, com os dominios, 5em
cultivo, do Estado o11 dos chefes, e com os terrenos corno processo normal ou vulgar, quer em proveito
conquistados ao deserto, forn;ar pai-a os colonos e do colonos, quer do Estado.
para os indigenas, que revelem uma natureza activa, S e , se puderem adotar itnpostos pagos em presta-
terras mais libertas da sei.vidão e que possam ser de trabalho, devem-se estas cobrar com a maior
possuidas e exploradas corno na Europa. d o ~ u r a ,fazerido-se que o trabail-io se realiçe yroximo
Exige-se muito cuidado, benevolencia, tacto e tempo da residencia d'aqueIle que o tem-de prestar, que seja
para. se combinarem e conciliaiem a s duas especies de utilidade publica, bem visivel 20s olhos de todos,
de propriedade, a nova, á moda etrropêa e a antiga, que não exceda uma. diizia de dias por snno e que
á , d a tribu ou da região. Alas esta, onde ella for o se conceda, aos que o executem, alèm do susterito,
regimen 'habitual, deve persistir por largo peiiodo. uma reinuileração pecuniaria embora reduzida. Onde
Não é util extorquir quasi todas a s terias aos indi- essas prestações sejam pelo habito mais longas, con-
genas, e ao contrario convii+á assegiirar-lhes re- vem i eduzil-as, tornando-as quanto possivei menos
da terra para o acrescimo possivel da sua popiila$ãr>. duras para a população e mais uteis para o Estado,
Só onde i ~ ã ose conseguili, por trabalhos publicos em E m resumo, toda a obra de coionisa~ãodeve tender
beiieficio das terras coletivas da trib:~, por irrigações, a aim beneficia para os indigenas em 1elai;ãc á sua
esgotameritos, estradas, etc., ou pelo ei~sinoaos cul- situação anterior.
tivadores indigenas dos melhores rnethodos, aumentar E' d o mzlI-ior efeito 1120 destiuii entre eiies a classe
consideraveimente a p r o d u ~ ã o ,é que se poder.a, com superior e a classe média, onde estas existirem. E m
moderação, pi-iidencia e espirito de justi~a, obter a tal se basêa uma das razões mais valiosas a favor do
cessão diaIgumas partes dos terrenos, ou por meio de protetorado, eni relaqão a adininisti'aç&o diréta. A so-
troca, ou oferecendo-se como conti a partida novos ciedade indigena deve ~onser\~ar-seuma sociedade
melnoramentos e vantagens. Mas, é preciso que, em completa, orrdz se notein graus diversos, desde o
nenhum caso, elles vejam os seus meios de existen- mais hutniIde até aos icais elevados.
cia restringidos, ou que da sira situação de proprie-
tarios caiam na de pi.ofetarios e dependentes. A administração da Justiça.Sob o ponto as vista
Nas regiões onde existam, consagradas pela tradição, da situaçbo jutidica e politica dos indigenas é uma IOU-
a escravatiira ou a servidão, impõe-se a necessidade cura querer submetei. individuos n'um estado rudimen-
de não se modificar radicalmente esse regimen. Ape- tar de civilisação ao Codigo Civil, ao Codigo Penal e a@
i?aS, para priilcipio, se de\~eria procurar adoça!-o e Codigo de Processo da respectiva nação colonisadora.
ternpesal-o, reprimindo-se os abusos. -4csbando-se NO secuio xwrr entendia-se geralmente que todos
com o recrutamento de escravcs ou de servos con- 0s homens eram dotados d'uina mentalidade seme-
seguir-se-ha, em periodo rapido, fazer desaparecer, lhante, oii que, pelo menos, a poderiam adquirir de-
sem abalos nem peiturbações politicas oii sociaes, a pois d'uma breve educação, e por isso se julgava não
sujeição absoluta do homem a o 11omem. Por isso 56 legitimo mas convei-tiente substituir a s institiiiçõeç
mesmo será um erro introduzir-se o trabalho forçado indigenas pelas leis dos respetivos povos dominadores,
Esse criterio orientoii ainda a coionisação em qiia.si Egualrnente teni de se considesar absurdo fazer
todo o seculo xix e d'elie i.esi~ltaramperniciosos re- jul'gar os indigenas por um jusy de coionos. As suas
sultados para a obra colonial. causas deyein ser dirimidas por juizes de profissão,
As leis das n a ~ õ e sjá formadas e civilisadas são a o s quaes se poderao agregar, quando o seu estadc
improprias para o rileio indigena das colonias. Umas me~ltalo permitir., alguns assessores iiidigenas.
nunca se aplicarão, .outras ac!lar-se-hão àeslocaiias e 0 s julgamentos convêm qiie sejam rapidos, profe-
todas ellas serão insuficientes para.05 casos especiavs ridos no local do criine ou tnuito pi-osimo e pouco
que ali haverá a resolver, por existirem n'aquelle tneio tempo depois d'este ter sido praticado. O indigena
rela~õesjuridicas Iiovas, qiie os nossos codigos nunca avaiia pela rapidez do juigarnento e pela j u s t i ~ ad a
teriam podido prever. Demais a verdade e que as sentença, o valor e a superioridade dos juizes, ou dos
iilstiti~içõesjuridicas teem apenas iim valor relativo. funcionarios que teem de se pronunciar sobre OS seus
O que é esseilcial é que eilas estejam em harrnoiiia litigios. E' esse um dos factores mais decisivos do
com as condições de existencia e desenvolviniento prestigio que aos seus olhos podem aciqiiii-ir os repre-
dos"povos a que se aplicam. Usos e habitos de certas sentantes da metropole. Pelo que diz respeito á s penas,
regiões são criminosos ou immoraes vistos ao ciiterio os trabaihos forçados em obras publicas e por vezes
seguido il'outras. -4 unifòrmidade jiiridica é um erro a s indemnrsações, são RS mais aplica~eisás pessoas
e h i g a com a piopria natureza do direito, o qual deve, n'este estado de civilisagão.
acima d e tudo, refletir as particularidades do meio em O regimen politico dos indigei~asmerece os rnaio-
que evolute: Determinadas instituições são boas ou más xes cuidadas, devendo presidir a elle um espirito de
conforme estão ou não d'zcordo com a s condi~ões justiça e até mesma de benevolencia. Em neni~uim
sociaes d o meio a que se aplicam. caso se deve proceder de forma a saciifical-OS aos
E' por isso que não se deve, sein garantias e sem colonos. Tanto quanto possivel se procederá de modo
s e assegurar a convenieiite'pr-oteçáo, entregarem-se que elles fiquem sob a. acção dos seus adiniiiistrado-
popula~õesprimitivas, tantas vezes infantis, ao regi- res e juizes naturaes, isto é dos da sua raça, fiscali-
men da liberdade abso!uta dos contratos, espondo-as zando-se eficazmente estes ultitnos para que não se
ás astucias e a ~apacidade dos usurarios. Convêrn originem, pela indiferenp das auto:.idades coloiliaes,
mais colocai os indige~iassob ilma especie de tutela, verdadeiras tiranias. A's autoridades representantes da
analoga á que se adota nas sociedades civilisadas para metropole cumpre-ilies vigiar que os inciigenas, incum-
os menores, ou pelo menos, para a s pessoas dirigidas bidos de funções de julgamento ou :~dministrativas,
por uin conselho jxidiciai.io. Pode-se regulamentar o sejam escolhidos entre os mais integros e os niais ca-
que diz respeito as vendas a praso, e atlulaiem-se pazes e que, mediante uma i-etribiiição regular, dles
mesmo essas vendas, quando se verificar que a outrã s e desempenhem dos seus deveies com equidade e
parte abusou da ignorancia do indigena, da sua po- sem odios nem opressões.
breza de espirito, ou da sita fraqueza perante ac; se- A maniitenção, debaixo d'essa fiscalisaçilo efetiva,
dugões com que foi deslumbrado. dos organisn~osadministrativos indigenas, alêm de sa-
tisfazer a necessidade de se assegurar a esistencia gal a soberania e a conservação do imperio qciasi
d'urna classe media e mesmo d'urna classe superior ilimitado, que se estendta desde Orrnuz e i 2 d e ~ate ~
n'aqueIle meio, facilita muito, não s ó no piincipio, Golcirnda e a o cabo Camorim, na India, e ainda mais
mas durante todo O seu curso e desenvolvimento, a longe até Ceylão, a peninsula de Alalaca e ás restan-
obra de colai~isação.A sociedade indigena conserva tes ilhas da canela, pimenta, e especiarias, já na Ocea-
d'este modo os seus laços, as s ~ ~ condiçõss
aç de fun- nia, devemos aqui dizer que o seu plano de organisa-
cionamento normal e de respoiisabilidade. Os elemet?- @o do governo interno dos povos indianos- plano
tos não se dissociam, nem se entregam, sem direção, depois seguido pelos monghoes, francezes e inglezes,
a todos os auasos, tentaçôes e aventuras. -se f u i i d z ~ aem tiez pensamentos :
Xão é excessivo todo o interesse que o povo colo- (a) A adtninistração dos negocios indigenas me-
nisador consagre á prosperidade dos indigenas, e a diante m a n u t e n ~ ã odos seus organismos e jnstituiç5ts-
conserva$ão das condições materiaes e moraes da sua sociaes ;
existencia. (6) X coionisação portugueza ,ror meio d a fixagão
Do que temos dito não se infira que se devem dei- da sua raça na Ii-idia;
xar os indigenas entregues a si mesmo. Ao coi-itrário. (c) X assimilação ienta das sociedades indianas
Os i~espanhoescometeram um eri-o grave querendo aos costumes e ao regirnen social da metropote.
isolar, por co;n~leto,os iiicilios dos europeus. Racta Bastou ~ U Pa Inglaterra, ttez secclos mais tarde,
tomar as precauções indispençaveis para que o ele- adotaçse intensamente a primeira d'essas trez ideias,
mento primitivo e ir-ifei-ior não se-ia peIn violencia e para conseguir fixar o seu dominio n'iima regiao que
pela fraude esplorado pelo outro. contém mais de dazeritos milhões de habitantes. -4
Os principios que acabâmos de espòr foram como sua 05:-a teria sido muito mais sólida ainda e sobi-e-
que adivinhados, n'uma época em que air-ida nem esis- t ~ r ~ lmuito
o mais valiosa se tivesse podido pôr em
tiam sequer as bases da sciencia da colonisa~ão,pela prática os outros dsis principios de Albuquerque.
figura de mais alto reIevo de toda a epopeia colonial,
por Afonso d'-\lb:~queryue. Esse insigne capitão e Educação e lingua dos indigenas. E' esta de-
ainda mais eminente horneni de Estado estabelecia, certo irma das questões que mais convem resolver em-
no alvorecer do seculo xvr, os aIicerces do imperio condições práticas e sensatas, porque d'ella depende
das Indias, adotando a s mesinas regras seguidas dois o maior ou menor ex-ito da infliiencia do povo metro-
seculos mais tarde por Dupleis, com ciijaç glorias a poiitano.
França tão legitimamente se envaidece, e executada? Devem fazer-se adotar nas colonias os systemaç
aindà depois pela Inglaterra e a que esta grande na- e processos de ensino usados nas metropoleç, instrui-
ção deve, incontestavelmei~te, o predorninio que tem 10s na lingua do povo colonisacior e obrigal-os mesmo
mantido n'aquella parte do mundo. Sem nos referir- ao seu uso ?
mos n'este momento á forma como Afonso d7A1bu- X este respeito ha duas opinióes, que nos parecem
querque pretendia assegurar para a Coròa de Portu- ambas exageradas. Segundo uns a insiruçgo dos in-
TIlnTAXLSTO DOS LX3IGEh'AS 125

digenas n50 deve obedecer a nenhuma direção ou ins- naç &ias ideias, nas suas concepções, nos seus habi-
piração europga. Convém que eiles se eduquem e des- tos.
.en,votvain só no sentido das suas ti.adis;óes e da sua Não é porém no periodo d'urna ou duas g e r a ~ õ e s
historia. Dar-se-lhes-ha a cuitura intelectual arabe ou que se aIcan~arão,sob este ponto de vista, resulta-
annamita, por esernpl,~,e evitar-se-i-ia níinistras-lhes dos vaIiosos e sim durante :xuitas geia~ões.N'esta
a cultura intelectual das nações colonisadorâs. N a opi- obra de educação 6 preciso procede1.-%e com muito
nião d'outros, a o contrário, haverá utilidade em se tacto e c a ~ t e l n .E m menos d'um seculo é dificil obte-
eliminar tanto quanto possivel, e extirpar mssmc, rem-se, sobre o estado moral e mental das popula-
s e r ã o d'uma vez pelo menos graduslinente, todos ~ õ e sprimitivas, efeitos geraeç e profundos.
o s vestigios de desenvolvimento nacional ou étnico Em relagão aos conhecimentos ou ao uso habitual
yroprio do povo coionisado, empregando-se todos os da lingua do povo colonisador, sem se procurar in-
esforços para se espalhar pelo meio d'elle, em todas troduzil-o abruptamente, e bom estendel-o, pelo me-
a s camadas da população e até nos pontos mais afas- nos, a uma parte d a classe superior e media e a o s
tados da região, os métodos e os matei iaes de iiistru- artistas das cidades. Gradualmente e sem precipita-
são, bem como o conhecimento e o uso iia lingua d c qões, esse conhecimento e esse uso alastrar-se-hão
povo colonisador. pelas outras camadas. Foi introduzindo a siia lingua
Ambas estas teorias são erroneas a nosso ver, e, nos povos por elfes domicados e dirigidos que os ro-
como já dissémos, exageradas, a segunda ainda mais manos e os gregos asseguraram ás suas civiIisações
do que a primeira. Não I-ia duvida que a volonisação, o mais vasto dominio e uma duraqão bem prolon-
especiálmente no periodo do inicio, o qual abrange gada.
dezenas d'annos e algumas vezes um e dois seculos, Ha em tudo isto normas de bom senso e de pru-
deve consagrar-se a valorisar uma região abandonada dencia a seguir, derivadas dos processos já em pratica
o u pouco explorada ainda, e o5ter para o povo colo- e dos modelos .e livros por onde se aprende. Mas a
nisador o concurso economico do povo colonisadu. abstenção abçoiura, defendida por alguns sociologistas
Mas, para que esse concurso econornico se alcance coIoniaes, se fôsse muito prolongada, combateria o
em condições vantajosas, é preciso tainbem esercer proprio obiecto da colonisação.
u m a certa influencia no estado mental e morai das
populações indigenas, meihorar a s suas noções e pro- A imprensa nas colonias. Para se evitar a acgão
cessos tecnicos, siiscitar ou desenvolver as siias cípti- perniciosa de theorias extravagantes e condemnadas
dôes ao trabaliio regular e á economia, cornuzicai em individuos de limitado desenvolvimento intelectual
á s camadas superiores e rcedias d'ersas populaçGes conviria tomar algumas precauqões a respeito d a im-
-algum gosto pelas sciencias e pelas suas aplica- prensa, que não pode nas coionias regular-se por prin-
qões. D'este modo o simples concurso economico dos c i p i o ~tão largos, como os que se adotam nas socie-
povos indigenaç, que é o primeiro objetivo da coloni- dades completamente civilisadas, visto a necessidade
sação, não se pode obter sem alguma modificação que ha de se manter nas mesmas colonias, uma ri-
TRATAYENYO DOS 1 I D I G f l X d S 127

.gorosa disciplina e de se robustecer, pela forma mais bem que ndo sejam tratados com rigores esagei'a-
solida, o princípio da autoridade. , dos.
Nas coionias de exploração e nas coIoilias mixtas, A este respeito, em rgor, o tribunal de Tunis to-
:sto é n'aquellas ein que é mais numerosa a popula~ão mou uma deliberação muito curiosa. Arabes das clas-
indiger-ia, por mais util que a imprensa podesse ser na ses superiores e media foram eilcontrados n'uma casa
siia acgão e em muitas das suas aplicações, coiiviria d'aqu;l;lia cidade em companhia de mulheres europêas
impor sua inteira liberdade deterrninadss coodi$ões de costumes ligeiros e em atitudes imoraes com mu-
-de responsabilidade e de seguranga. Foi por isso que lheres da ra$a dominadora e reclamoti-se o seu castigo.
na Tutiisia se sugeitaram os jornaes a uma c a u ~ ã o O tribunal sofismando a lei, condenou-os a alguns
d e scis mil francos, o que tem feito liesitar os aven- dias de prisão, concedendo-lhes, porém, o beneficio
tureiros da penna, desejosos de se fazerem temer pela da lei de suspensão (lei Beranger).
ameaça e pelo escandalo. A imprensa indigena pode- Tal proceder revela pudores excessivos e preten-
ria ser sujeita a mesma prescrição. Leroy Beaiilieu e sões muito exageradas d a parte dos colonos, que de-
de opinião que esta restriçâo se devia genei-aliszr á sejam que os indigenas não possam frequentar rnu-
Algeria e a todas as colonias fra~lcezas. lheres faceis e n r o ~ ê a s ,com o pretexto de que elles
perdem assim o respeito á raça dominadosa. E' pre-
Os vicios d o s indigenas. Os poderes oficiaes, ciso não se cahir em tnes exageros, mas nenl por isso
especialmente nas coionias de exploraqão e mistas, se deve deixar d2 evitar o alastramento do vicio.
devem tambein exercer rima fiscalisa@o iigoi-osa nos Em relaqão ao flagelo da embriaguez, este deve ser
jogares piibiicos e nos estabelecimentos de prazer, combatido pelos meios, mais sevei-os, quer recorren-
como cafés cantantes, casinor, etc., de modo que a do-se ao sistema de Gothemburg, que limita o nu-
coi-iução europea não desmoraliçe a populaçffo indi- mero de casas de venda, e proliibindo-as mesm'o por
gena. compIeto nos logares quasi esc!usivamente habitados
E' um erro, poréin, supor alue as popula$ões piimi- por indigenas, quer impondo direitos mitito pesados
tisas vivem sem esceção em estado de inocencia. 0 s sobre o aIcoo1 e absintho e outras bebidas nocivas,
habitos das muiheres da tribu Ouled h'rtil, qiie prece- como ultimamente se tem feito n a mais larga escala.
deu os francezes na ocupação algeriana, as descrig6es E' preciso tambem cohibir-se 'o jogo. Uma casa de
feitas por Loti das mr:lheres Uanakils ou Soina!is em jogo é uma pessima e vergonhosa insígnia pai-a-urna
Obock e nos logares de distra~ãode todas as esca- coIor;ia.
las orientaes, as proprias narrações da Riblia provam
que ha vicios que estão espalhados em todas as agIo- Os indigenas e a administraçiio local: Todos
merações hiimanas, y:Iaesquer que sejam a rasa, a os esforços da administração central devem convergir
lingua e o grau de desenvolvimento dos Iiomens. Xão para se elevar o nivel material e moral dos indigenas.
s e devem perverter mais esses individrios destituirios Nas cooinias de explorzqão e mistas deve ser esta n
das mais s i m ~ l e sn o ~ õ e smoiaes, mas coilvèm tam- sua principal preocupagão. O aumento da população
TRITIXE&TO DOS IXWQENAS 129

indigena e o <lesenvolvir,~entodo seu bem estar, são qualquer tentativa n'esse sentido. O mahometano faz
condições icdispenraveis para o progresso das coio- da religião a principal cwdi@o do seu modo de ser
nias d'estes dois typos. e é precisamente pelo antagonismo entre essa religiSo
Se as noçsas possessÔes de Angola e Moçambique e a dos povos da Europa que elle continua a odiar a
conseguissem duplicar ou triplicar a sua população civilisagão do ocidente. As religiões do leste e cto srrl
indigena, isso bastaria para que a nossa obra de colo- da Asia, em que predomina o brahrnanismo, não serão
riisação alli recebesse uiri prodigioso impulso. -4s ques- tão refratarias, mas poums esperanps poderá haver
tões da mão d'obra, de transportes e até a propria de se alcançarein, á custa d'eilas, victorias para o
questão orçamental se resolveriam por si mesmo. christianisrno. hlas essas religiões oferecem um as-,
O problema que domina sobre todos os outros nas pécto especial. KlIas harrnonisam-se com o desenvol-
colonias de exploração e nas colonias mistas e o do vimento das nossas obras de benificencia e de cari-
aumeiito do numero e do bem estar dos indigenas. dade.
Tudo n'ellas está subordinado a solução d'esse pro- Em relação aoç povos pagiios e fetichistas convêm
blema. 0 s naturaes da colonia, da raça dos que pri- que se empreguem todos os esforços para os conqiiiç-
meiro a ocuparam, devem ter uma certa participação tar ao christi~nismo,ainda que mais não seja do que
na administra;ão local e fazerem parte dos consell-ios para os preçervar do mahomet&nnismo, que ha muito
municipal e proviricial. Tratando-se de povos no es- ambiciona chamal-os ao seu g r e m i ~'.
tado completamente primitivo, claro é que não pode N'eçtes povos as missões religiosas podem ter arna
suceder assim. Convêm poréin procurar inicial-os gra- influencia util. Tendo adquirido uma grande nomeada
dualmente na arte de administraçgo. Teremos ensejo ha tres seculos, bastante desacreditadas na amalidade,
de desenvolver, com maior amplitiide estas ideias, as missões religiosas teem, a'pezar de tudo, ainda
quando tratarmos dos systernas coloniaes e da admi- uma obra importante a realisar.
nistração das colonias. Hoje qrte aç naq6es civilisadas comprehendem que
é do SEU interesse ngo exterminar as tiibus das rasas
A religião dos indigenas. A questão das crenças que primeiro ocuparam aç terras por civilbar e a o
religiosas é tambem das de maior importancia. E' contrario trabalharem Feio ser1 desenvduirnento e es-
evidente que, se se pudessem aproximar as crenSas d 3 treitarem cada vez mais as relaqões com ellas, a im-
povo colonisado das do povo colonisador, haveria portancia e a influencia dos mhsionarios avulta d e
maiores probabilidades de se chegar a um concurso novo com maior destaque. A colonisação demasiada-
harmonico, não só economico, maslrnoral d'esses dois mente positiva dos anglo saxões só soube, nos Esta-
e Iementos. dos Unidos, na AustraIia, e um pouco menos na s o v a
Quando o povo colonisado possue uma religião ni- Zelandia, combater até á extinqão os povos indigerrac.
tidamente definida e espiritualist'a, como é o maho- Ajudados pelas missões os hespanhoes c6nseguirarn
metanjsmo, todos os esforços para a substituir por em parte, r~oMexico, no Perú e no Paraguay e nós,
' uma outra serão inuteis e é preferi\-e1 renunciar-se a em todo o vasto dominio colonial de que nos apas-
TGATAUERTO DOS INDIGESAS 131
sámos, fazer atravessar aos povos se!vagens e barba- No interior raro excedia o de 200. A mais florescente
ros algumas das etapes que'os separa\-am do estado missão da California, Cão Gabriel, tinha, em 1834,
agricola e civilisado. Heeren sr?slenta que a autoridade tres mil indios e possuia IOj,OOO cabegas de gado
d2 Hespanha se fundou sempre essencialmente no grosso, 20.000 cavalos, e mais de 40.000 cabeças de
sucesso das suas missóes. iado miudo,
O trabalho dos jesuitas no Paiaguay orientou-se na Hurnùoldt qualificou estes estabelecimentos de es-
ideia exclusiVa de se obter a conversão dos indige- tados intermedios entre a s verdadeiras coionias e o
nas. deserto. Eram mais acampamentos de nomadas do
A maioria das missões foram fundadas no secuio que residencias de tribus sedentarias. E,ctavam sem-
XVII e algumas no seculo XVIII, como as da CaIifor- pre prontas a deslocar-se á vontade do rnissionario.
nia, O Estado pagava apenas as despezas da organi- ,Todos os esforços dos missionarios convergiani em
sação. Logo que se formavam, sustentavam-se com preservar o indigena do contacto com os europeus,
o s proprios i-ecrrrsos. As palhoças eram todas eguaes, geazte de razão, como eíles lhe chamavam.
a s riras traqâdas a cordel e em angulo recto, de har- Era n'estas missões que se esecutavam integral-
monia com as ideias estéticas dos jesuitas. Cada in- mente a s leis que separam os brancos d9s indios. Era
bio adulto era obrigado a trabalhar em cada dia uma raro que se concedesse aos comerciantes ou v i a j a ~ t e s
hora de manhã e uma hora de tarde nas terras da licença para ali se demorarem mais d'urna noite. O
comunidade. O padre dividia o produto d'este ti-aba- missionario que se ocupava? elle mesmo, e com muita
lho, sendo urna parte destinada á s necessi9ades do habilidade e inteligencia, de todos os negocios secu-
culto e outra ás dos indigenas. Perto dizs costss cul- lares, sobretudo do comercio, era o unico inter1r.e-
tivava-se o assucar, o'ai-li1 e o linho. diario entre a missão e o mundo civilisado.
No centro da missão, n'uma praça, construiam-se Essas pequenas sociedades produziam muito mais
a egreja, a escola, a casa do missionario e a Casa do do que o que era exigido peio consumo pessoai dos
Rei, uma especie de aibergue para os viajantes indi- seus membros. Faziam Um comercio importante quer
gentes. Nos arredores, até uma distancia de 40 leguas de substancias alimenticias, quer de generos de ex-
quadradas, estendiam-se as fazendas alirgadaç para a portação. Trocavam esse excesso de produ5ão por or-
crenção do gado em ponto grande. namentos de egreja, Realisavam assim, embora por
Essas missões apoiavam-se militarmente nospresi- uma forma limitada, os dois fins mercantis da colo-
dius, pequenos fortes guarnecidos cada um coni oito nisacão. Forneciam á Europa materias primas e adqui-
peças e setenta homens bem armados e montados em riam n'ellas objectos rnanufaturados. Eram ao mesmo
bons cavalos. Seis ou oito d'estes homens achavam- tempo um mercado e um local de venda.
s e sempre destacados junto das missões. 0 s jesuitas francezeç e os padres franco-canadianos
A vida dos indios era reçuIada pelos missionarios, alcançaram os mesmos resu:tados.
.O iIrrmero dos habitantes por cada missão variava A iniciativa .moral e material, n tutela benevolente,
Pias proximidades do mar de 500 a 2.900 individuos. a e d u c a ~ ã operseverante d'esses FOI-os,ou antes d'essas
tribus não podem fazer-se só peIa acção dos nossos A religião, que tem sido a primeira educadora do
comerciantes, administradores, ou professores de ins- genero humano, adquire, junto d'eçtes homens, tão'pro-
trrição primaria. E' preciso que esses homens atra- ximos da natureza, uma influencia consideravel. Ella
vessem, em poucas gerações, as etapes que os nossos póde, actuando sobre o estado moral daç tribus selva-
antepassados percorreram com lentidão em seculos, gens, transformal-as gradualmente em tribus agricolas,
X religião, especialmente a religião christã, com a sua como o fizeram as miçsôes do alto Mexico e as do
doçura, a sua elevação, o seu amor pelos humildes e Paraguay.
com q gosto que algumas ordens religiosas, sobretudo Tem-se ridicularisado muito a obra dos jesuitas no
a dos jesuitas, teem manifestado pelos progressos ma- Paraguay, mas injustamente, porque é esse o unico
teriaes, é a melhor educadora que pode facilitar o exemplo bem constatado da educação d'um povo sel-
contacto entre os europeus e os selvagens e barbzros, vagem, isto é cagador e da sua transformação n'um
e conseguir por processos abreviados, em algumas povo no primeiro grau da cultura agricola. O erro
geraçôes apenas, levar esses povos a comprehenderem dos jesuitas consistiu em prolongarem demasiadamente
o nossa civilisaqão e a concorrerem parà o seu des- esse exodo e em não o considerarem como uma phase
envolvimento. transitoria, indo pouco a pouco alargando as ideias,
4 sorte dos selvagens e dos barbaros, em presengs desenvolvendo o mercado e creando a industria. Mas,
da civiiisação europêa, não é a mesma; Os selvagens apezar de incomyIeta, essa obra foi consideravel e
desaparecem, como sucedeu nos Estados Unidos e na merece o registo da sciencia e o reconhecimento dos
Australia, porque se lhes reduz pouco a pouco os phi!antropicos. 0 s jesuitas do Canadá e os seus su-
territorios de caça e se Ihes inoculam certos vicios, cessores, os padres canadianoç, alcangaram tarnbem,
especialmente o da embriaguez. E se sobrevivem, como com o concurso dos mestiços francezes, resultados
são pouco numerosos, acabam com o tempo por dei- apreciaveis. Devido aos seus esforqos, aç tribus sel-
xar de formar grupos distintos e fundem-se por unií5es vagens do noroeste americano comegaram a entregar-
mixtas com a população imigrada que os absorve, s e á cultura e não cahiram de todo no estiolamento
perdendo elles o seu carater proprio. 0s barbaros, ao e na miçeria em que se encontram as tribus sujeitas
contrario, pelo contacto com a nossa civilisagão, em aos Estados Unidos.
pouco tempo começam a pulular, como tem aconte- Junto dos povos barbaros, especialmente da Africa
ido com os arabes na Algeria' e com a s diversas va- do centro, a acção dos rnissionarios póde egualrnente
riedades J e cafres ou de indigenas na Africa Austral, ser muito util. As missões religiosas terao meios de
porque se Ihes oferece um regimen de paz e, habitua- combater eficazmente e já assim o tem feito, a antro-
dos ao trabalho muscular, vencem salarios elevedos pophagia, os sacríficios humanos, a caça aos cativos,
e conseguem melhorar a vida material. Se é um dever adoçarem a escravatura e mais tarde suprimirem-na,
de humanidade educar os selvagens, é de prudencia iniciando mesmo aç tribuç africanas n'uma cultura
pratica que os povos coloniçadores se concilie= com mais aperfei~oada, n'uma industria mais rudimentar.
os barbaros. Um fim que convêm realisar é o de se facilitar o
TRiTAJIESTO DCS IXDIGENAS 135
contacto intelectual eftre os futuros subditos da Eu- modo diverso. Assim, um explorador muito conhecido,
ropa .e os europeus. .A comunidade da religião, ainda o capitão Binger, emitiu ainda não h a muito a opinião
qiie essa comunidade se baseasse mais nos ritos do de que os francezes devism auxitiar os progressos do
que nos sentimentos, não deixaria de ter influencia mahometanismo na Africa. Fundava-se elie em que
para se conseguir esse fim.D'este modo as potencias coni~acera nas margens do Niger, especialmefite -na
colonisadoras não se tem prejudicado protegendo os cidade de I<ong, a i g ~ n sgrupos de mahometanos inte-
rnissionarios e facilitando-lhes a sua acção junto dos ligentes, benevoios e desprovidos de fanatismo. hias
p o ~ o sselvagens ou barbaros, sobretudo nos que ainda esse mesmo capitão Binger expõe no seu trabalho a
n2o estão dominados pelo islamismo. Mas é bom que ferocidade, os massacres e a horrenda e devastador&
essas missões juntem á sua obra de propaganda reli- adrninistragiio de Samory. .. -
+

gjosa alguns esforços para a iniciação dos seus con- Tão grande erro praticaria qualquer nação coloni-
ve~tidosri'uma agricultura um pouco aperfeigoada e sadora declarando guerra a Islam como não 3jligen-
na industria e que eIIas sejam de nacionaes, para não ciaildo, por todos os meios, converter os pagãos a o
se transformarem em elementos poderosos de propa- christianismo. Os missionarios francezes que têm exer-
ganda e de influencia extrangeira. cido uma acção muito intensa na Cochinchina Orien-
O que deixamos dito refere-se especialmente aos tctl, em Rnnoy, Ceylão e em outros pontos da Asia,
povos pagãos e fetichistas. Convêm muito diçputal-os teem abandonado bastante a evangelisaqão na Africa,
ao mahometanisn~oe contrariar-se a acgão e os pro; com exceção de Dahomey. O Senegal, o Niger, o
gressos d'esta religião. O mahometanismo nunca aban- Coligo, o Oubanghi e toda a ilha de Madagascar, es-
dona a sua preza e todos os esforços da propaganda tavam, ainda ha poucos annòs, quasi desprezados pela
christã se malogram perante elle. Os seus crentes são
acção religioça.
absolutamente irredutiveis. E' trabalho baldado pro- I'eio que nos diz respeito, nós tambem não temos
curar-se evangelisal-os. E havendo Iia Africa oitenta dado as nossas missões, de elementos verdadeiramente
a cem milhões de habitantes que são ainda pagãos,
portuguezes que unam á ideia d a patria o desejo de
não se comprehende que, no interese da sua segu- concorrerem para se alcançar o desenvolvimento de-
r a n p futura, as potencias colonisadoras não empre- vido aos nossos interesses e harrnonico com O LI-
guem os esforços mais eficazes para o s conquistar á tui.:, do grande imperio colonial, que ainda disfru-
chiistandade. Metade d'estas tribus que se convertam tàrnos, o necessario incitameilto e proteção. Seria
á religião musulniana serão outros tantos inimigos d a s
vanta.joso anima-las quanto o podessemos fazer, por-
ideias de civilisação, ou pelo menos refrataiios a essas
que as missões, aiém de substituirem, nos povos in-
ideias. Toinando-as christãs poderão fundir-se com os ciigenas, as grosseiras superstições do paganismo e do
que a s colonisem, como sucedeu aos indios do Mexico- fetichismo por uma fé mais pura e um ideal mais ele-
e do Perú, que se assimilaram inteiramente com os
17ado e de lhe darem regras de conduta mais seguras
hespanhoes.
c proprias para o seu sem estar, alcançam grandes
Como em tudo, ha, a este respeito, quem pense de vantagens materiaes no principio da coloriisagão, isto
é durante dezenas e dezenas d'annos. São elias que
melhor iniciam os indigenas nas artes agricolas e te-
chnicas mais rudimentares, que Ihes dão o sentimento
d a disciplina, que ensinam a alguns d'eiles o conhe-
cimento da lingua da nietropole e d'alguns dos seus CAPITULO XIV,
usos e costumes.
Essas misções preparam, pelos seus esforços, cola- ~ompankiasde Co'lonisação
boradores magnificos, guias, interpretes, creados, as
vezes mesmo contramestres, artistas e auxiliares bem Razões politicas a que obedeceu a organisação das antigas
precisos na epocha tão penosa e dificil em que come- companhias. -Razões economicas. - Compachias mo-
fam a' desenvoiver-se os estabelecimentos europeus dernas. - Vantagens d'eçsas modernas companhias. -
nas solidôes quasi ilimitadas do sertão. E ellas des- -
0s direitos das Companhias de carta. Condições a
empenham tão util mijsão quasi gratuitamente, ou que devem satisfazer a s Companhias d e colonisação. -
cQm insignificante dispendio. Companhias portuguezas. - Nova Companhia da India.
- No periodo de infancia colonial, que se prolonga Companhia do Grão Pará e Maranhão. - Companhia d e
por muitas geragões, em vez de se temerem ou com- Pernarnbuco. - A s actuaes Compznhias portuguezas.-
baterem as missões, deve-se, fiscaiizando-as benevo- Companhia da Zambezia. -Companhia de Mo~arnbique.
lamente, anima-las e mesmo subvenciona-las. Aiais
tarde quando as coloniaç chegam a idade adulta, con-
Companhia do Nyassa. - Companhia de Mossamedes.

vém, por gratidão e mesmo por interesse, conservar Razões politias a que obedeceu a organisa-
para com essas missoes, cujo concu~sojá 1120 é en- @o das antigas companhias. Durante parte do
tão necessario, processos amigaveis e delicados, por- seculo XIX prevaleceu a opinião de que as grandes
que, ainda n'esse tempo, com medida e prudencia, companhias privilegiadas constituiam um organismo
elias podem continuar a ser um elemento de grande pertencente ao passado e que nenhum papel poderiam
@lidade. desempenhar na colonisação moderna. A iiquida~ão
d a companhia ingleza das Indias Orientaes, que de
tão larga influencia e poderio dispuzera, depois da re-
volta dos cypaes em 1S58, lançára um descredito, -
que parecia definitivo, na administraqão d'estas so-
ciedades de comerciantes.
Foi uma injustiga atribuir-se á Companhia das In-
dias a responsabilidade dar revoltas, de resto muito
raras, ou das fomes bem mais frequentes, que se de-
IXm nos seus territorios.
Essa companhia, na sua existencia agitada e glo-
135 SCIEBCIA DE COLOX~S~ÇXO

riosa de mais de dois secrilos e meio, teve ao seu ser- dados como de marinheiros, tanto de objetos de troca
~ , administradores, militares, politicos e tam-
v i ~ como como de munições de guerrz. De mais a mais essas
bem pensadores de primeira ordem. Entre estes ultimos emprezas tinham de lutar com os terriveis galeões di-
basta citar James hIi!l, que foi o seu historiador e o rigidos pelos nossos marinlieiros.
Filho d'este, que pela ilustração suplantou o nome de S'essas coridiqões tornava-se necessario submetel-
seu pae, Stuart hiill. A opinião frivola e faci: de des- as a uma organisagão rigida e quasi militar. Supondo
vairar, ignorante da historia e rebelde a todas a s obser- mearno que conseguiain evitar os galeões portugue-
v a ~ õ e sphilosophicas, tem a maior facilidade em con- zes ou vencel-os, outras dificuldades lhes surgiam do
siderar como mortos orgãoi que muitas vezes se lado da Açia. O comercio não se podia fazer ali çem-
reconstituern, onde tem a s suas funções apropriadas, a condescendencia dos principes serni-barbaros, infieis
desde que se Ihe introduzam leves modifica~ões, muitas vezes á sua palavra e que só á força obede-
N'urna obra notavel, Roscher expóz todas as razões ciam. Comerciantes isolados teriam sido impotentes
que levaram a Hollanda e a Inglaterra a fundar as para resistir aos vexames e ás exigencias arbitrarias
Companhias privilegiadas para a exploração do comer- ou tyranicas d'esses soberanos.
cio do Oriente. Foi da conservagão muito demorada Nos tempos actuaes, e em analogas condições, o
dos monapolios d'essas Companhias que resultaram comercio particular e livre saberia bem o que deveria
as mais desastradas conçequencias para o desenvoI- fazer. 0 s goveriios modernos tem-se aperfeiçoado
vimento das riquezas e para a situação politica tanto muito çobre o potito de vista das suas relações es-
da Europa como das Indias' Mas isso não itxpede q u e ternas. E m todos os centros importantes ha consules
tenha de se reçonl-iecer que houve AO principia mo- o u encarregados de negocios. E m todos OS mares h a
tivos muito fundadas para a crea~ão,-atitulo terrrpo- navios ou esquadras prontas a proteger os seus na-
rario, d'essas grandes corpora~ões. cionaes.
O famoso principio da iiberdade dos mares, q u e Os- estados europeus do corneGo do secuio xvir
Grotius reivindicou e fez prevalecer, era então univer- não possuiam essa extensão e variedade de recursos.
salmente desconhecido. Admitia-se que a s aguas, assim Estavam encerrados em si mesmo e a acção externa
corno a terra, pertenciam ao primeiro que as ocupasse era muito fraca. Não sabiam ainda proteger os seus
e que os mares deviam ser fechados para os que n'eI- compatriotas no estrangeiro e muito menos nos paizeç
' Ies primeiro s e houvessem aventurado. longinquos, A organiçação consular não existia. 0 s
Por isso se consideravam a s primeiras emprezas governos não se encarrègavam da proteçáo do corner-
dos hoilandezes e dos inglezes nas Indias Orientaes cio para longe, exceto quando negociavam por sua
como deroga~ãoao direiro publico da epoca e mani- conta, ou ainda por meio de navios registados, que
festas violações a o direito de propriedade que nós, os haviam obtido licenças a peso d'ouro. Fóra d'estas
pottuguezes, haviamos conquistado. Semelhantes ten- condições especiaes, os comerciantes não tinham pro-
tativas só se podiam realizar com navios numerosos, teção e viam-se forgados a cuidar da propria defeza.
navegando conjuntamente, carregados tanto de sol- E a situação da marinha partículas agravava-se ainds*
pelo facto das diveisas nações da Europa se guerrea-
rem nos paizes distantes com uma concorrencia sem qiie v50 de xórr a 1634, houve treze em que a Com-
escrupulos, armando-se reciprocamente I a ~ o terríveis,
s panhia ffolandeza das Indias Orientaes não poude d a r
excitando os indigenas contra os seus rivaes e recor- dividendos.
rendo a todos os estratagemas que a avidez e a inveja Cornprehende-se que, com tão grandes probabilida-
des de prejuizos, com regressos tão demorados e ca-
podem inventar.
pitaes tão escassos, era dificilimo que o comercio par-
Hoje, ao contrario, os diferentes povos da Europa
tratam-se nos mares afastados com processos corte- ticular das Indias pudesse prosperar. Teria permane-
cido durante muitos annos e talvez mais d'um seculo
zes, sustentam-se uns aos outros e prestam-se, em
caso de perigo, o socorro das suas esquadras e o em estado de infancia. Por essas circunstancias a
creagão das companhias priveligiadas tinha absoluta
apoio dos seus consutes. Na ausencia d'essas insti-
razão de ser.
tuições tutelares e d'essas regras de confraternidade,
O monupolio d'urna companhia justifica-se, diz.
que fazem com que, em todos os pontos do globo, os
João Baptista Say, qiiando só por esse meio se póde
negociantes de hoje tenham a certeza de ser protegi-
iniciar um comercio novo com os povos afastados ou
dos,' comprehende-se que os armadores de ha dois ou
barbaros. Torna-se então uma especie de patente de
tres seculos experimentassem a necessidade de cons-
tituir uma companhia que tivesse bastante riqueza e invenção, cuja vantagem cobre os perigos d'urna em-
poderio para fazer respeitar o. seu pavilhão. preza atrevida e as despezss d'uma primeira tectativa,
mas, como sucede ás patentes de invenção, esse mo-
nopulio não deve durar hais do que o tempo neces-
Razões economicas. Além d'estas razões yoliti- jario para ilidemnisar por completo os emprehende-
cas que interessam especialmente aos governos e ás
dores dos seus adeantamentos e riscos.
instituições, havia razões economicas que se prendiam
com o estado das sociedades europeas n'aquelas epo- Ao passo que os cayitaes particulares não se aven-
iuravam senão em pequena quantidade e a prazo longo.
cas e justificavam a creação das grandescompznhias. ?o comercio das Iildiaç, o capital das companhias,
Os capitaes eram então pouco numerosos e d'uma iividido em acções d'um valor ao alcance de todas
excessiva timidez. Só raras vezes elles se aplicavam
no extrangeiro. Durante todo o seculo XSTI, os co- 1s bolças, reunia-se com facilidade. Adquiria-se uma
merciantes de Londres, que faziam trança~õescom a icção corno um bilhete de loteria e foi assim que se
Alemanha e os Paizes Baixos, eram conhecidos pelo ilcangou o capitâl necessario para se iniciar o comer-
sjgnificativo nome de comerciantes aventureiros. -4s :io longinquo, o mais adquado ao desenvolvimento
primeiras viagens ás Indias .constituiam temeridades ia civilisa~%oe da riqueza da Europa. N'aqueIIes
ainda maiores e assustavam bem mais, senão os ma- :empos todos os povos civilisados eram inesperientes
? não ha-via ainda as grandes casas comerciaes ricas
rinheiros, pelo menos os comerciantes. Um navio le-
vava dois ou tres anos a ir e vir das Indias e os ris- i.m capitaes, em reputa~ão,credito e tradipões. O CO-
cos de perda eram enormes. Noç vinte e quatro anos nercio de comissões e corretagem não existia. O es-
)ortador para as Indias devia cuidar elle mesmo das-
encomendas. O comerciante acumuláva em si as fun- '%ater Portugal e a Ir-iglaturra nas relações comerciaes
~ õ de~ quatro
s ou cinco ocupações diversas. As ir>- a India, e teve portanto de recorrer a uma conr-
suficíencias dos conhecimentos geographicos, a falta p r i h i a privilegiada.
de capitaes e de educagão comercia1 fizeram com que E m resumo : a hostilidade das nagões europeas po-
a aprendizagem demorasse seculos. derosas e já est8belecidas nas Indias Orieritaes; o facto
Os holandezeç, nas primeiras expedições á India, de só pela forga se poderem dominar os principes in-
sofreram perdas importantes. Unias vezes os navios digerias; a ausencia de tuda a proteção nacional, ou
chegavam muito tarde, outras encontravam-se aa por meio de esquadras, ou pela acqão de agentes di-
mesmo tempo 170 mesmo porto, excedendo por isso a plornati~os permanentes; os importantes riscos de
procura em muito a oferta dos produtos indigenas, o perda; a demora das viagens e a escassez dos capi-
que fazla com que o preso d'estes aumentasse des- %es; a insuficiencia de indicações geographicas e
pi'oporcionalmeilte. Como as fontes de informação cornerciaes; a auzencia de toda a divisão de trabalho
eram raras, era dificilimo ao comercio particular obter no cornerc:io de exportação; a falta de todos os ramos
a regularidade tRo necessaria á sua prosperidade. acess~riosa esse comercio e o facto de não se terem
Ainda uma outra vantagem se conseguia com o ainda fundado casas comerciaes importantes, fòrarn
estabeíecirnento aas grandes companhias. No comer- as multiplas razões que levaram os holandezes e os
cio de exyortaqao e em todo o comercio que se faz a inglezes a constituir corporações privilegiadas, n8o se
grande? distancias com os povos semi-barbaras, é raro podendo nsgnr que essas razões justificam cabalmente
que os pequenos comerciantes tenham escrupulo em a organisação de taes companhias.
defraudar os clientes, separados d'elleç por milhares de - 0 s que hoje tanto criticam as companhias mono-
leguas, ignorando até o seu nome e com muitos dos ~olisadot-asdo secrito xvrr, esquecem-se de que, apesar
-quaes nunca mais terão de tratar. Com isso colhem do desenvolvimento da iniciativa particular e dos pro-
lucros imediatos e ilicitoç, sem comprehenderem o mal gressos da sciencia economica, ainda agora os povos
que fazem ao comercio do seu paiz e até certo ponto .mais cultos mantêen~ companhias subvencionridas
.aos seus proprios interesses permanentes. Essas frau- como, por exemplo, as coinpanhias de navegagão e
.des repetidas arruinam com o tempo o comercio d'uma que a Alemanha e a propria Inglaterra, em pleno se-
nasão. Por isso o comercio de exportação a grandes c ~ l oXIX, não duvidaram organisar na Africa, na Novz
distancias, e especialmente com povos d'uma civilisa- Zuiné e em Borneu, companhias que disfrutam não
ção infetior, su é possivel ou com uma intensa vigilan- só privilegios territoriaes, mas tarnbem direitos admi-
cia sobre as mercadorias que se exportam, como o fia nistrativos e politicos, sendo em tudo uma inteira
zeram durante muito tempo os Estados Unidos, ou pela reprodiigão das companhias priviiegiadas do passado.
concentração da major parte do trafico em casas po- Alem d'isso as companhias primitivas não ofereciam
derosas, universalmente conhecidas e que necessitam 6 caracter de cohesão que alcançaram mais tarde.
conservar a sua respeitabilidade e bom nome. ,4 Ho- Havia no seu organismo uma grande liberdade de
.]anda, ao principio, não possuia essas casas, precisava acgão e uma acentu2.da independencia entre os que
as constituiarn. A Companhia Holandeza, tal como foi .
Tem sido nos paizes ainda rudimentares, nos povos
otganiiada em 1602, não era um corpo uno e homo-
geneo, mas antes uma reunião e um syndicato de di- a, dispersa e desorganisada. na Africa do
Centro e do Sul e nas grandes ilhas tropicaes da
ferentes sociedades similares. A s pequenas sociedades
Oceania, existentes até agora sem do~inadoresefe-
comerciaes que, pela sua agregação, formaram essa t i ~ o ç , que se tem constituido, com a boa vontade e
Companhia, ficaram durante muito tempo distintas
cedencia das diversas potenciaç europêas, estas so-
com o nome de cumgras e dentro de cada camara
todas a s cidades ou prorincias, que haviam contri- ciedade~privilegiadas de colonisagão.
A Inglaterra, embora contra a opinião de muitos
buido com 5 n : w florins, pelo menos, para o capital dos seus publicistas, reçuscitou, com muito agrado,
social, constituiam uma especie de unidade de 3.* or- o seu velho instrumento de invasão e de t7alorisai;ão
dem que tinha, em alguns pontos, interesses diversos de regiões completamente barbaras.' Entre I 880 e
dos d a respetiva camara e até mesmo dos da Com- 1890 concedeu cartas a muitas sociedades de merca-
panhia. Cada um d'eçtes grupos provia elle mesmo, dores, como se dizia antes, ori de capitalistas, na lin-
e For sua conta, ao equipamento dos navios e ás guagem xtual. Quatro d'estas tem excecional im-
compras necessarias, por intermedio dos seus proprros portancia e estendem a sua acção em verdadeiros inl-
diretores. 0 s negocios comuns a todos os grupos, perios. São ellas a Companhia d i ~Niger, a Compannia
isto é, os que diziam. respeito 6 administra~ãod a s do norte do Borriéo, a Companhia do Este d'Africst e
colonias, ás reIagÕes politicas com os principes e o s
por ultimo a Companhia do Sul da Africa (South
povos orientaes, aos tratados de comercio ou de
Africa Cornpany) cuja carta, representando o ultimo
alianqa, á sustentação do exercito e dos portos e'&
estado do método inglês a este respeito, tem a data
superior e geral orientação impressa ao comercio, de 29 de outubro de 1889.
isso é que pertencia a Companhia. A Alemanha seguiri-lhe o exemplo. Por isso conce-
Havia assim uma distinção completa entre os ne- deu cartas a muitas companhias, especialmente a So-
gocio~comuns e os negocios particulares de cada ciedade da Africa Oriental, á Sociedade da Africa
membro, ou de cada grupo. Vê-se por aqui que a
Ocidental e á Companhia da Nova Guiné, todas com
organisação primitiva estava bem longe de se parecer
-direitos de soberania, alêrn de ter animado a organi-
com a centraIisação rigida e absorvente que acabou sagão d'um grande numero de outras sociedades de
por dominar e abafar todas as iniciativas individuzes, colonisação que não gosam de privilégios politicos.
Na Franga a ideia de se constituir tambem uma
Companhias modernas. Nos tempos modernos grande Companhia conta muitos enthusiaçtas. A co-
resurgiram, em todas as nafões Companhias privile-
Ionia belga do Congo, por sua vez, não foi mais d o
giadas que pouco dilerem das antigas Companhias
que uma poderosa Companhia privilegiada e foi ella
das Indias. A s u a organisagio obedeceu a muitas das
raGes politicas e economicas que tinham suscitado a que conseguiu restaurar os creditos diurna instituição
creagão d3s antigas. que todos reputavam inteiramente condeemnada.
10
Vantagens d'essa~modernas Companhias,-
O fim das Companhias de colonisação, com direitos preciso que a região que lhe e concedida esteja de-
privilegiados, e duplo. Primeiro a posse, em nome da sorganisada, povoada de tribus diversas, no estado
sua nação, depois a valorisação dos terrenos que lhe .rudimentar, sem sentimento nacioriai, constituida por
são confiados. -4 Companhia ingleza do" Niger alcan- federações de pequena importancia. As companhias
çou por completo esses dois resultados. A Companhia assim só carecem de forças de policia muito restritas
allemã do Leste d'Africa não conseguiu valorisar a e podem facimente dominar o paiz. 318s se tem de lu-
vasta região e n t r e . 0 ~grandes lagos e a costa de Zan- tar com os povos baibaros que gosain já d'uma certa
zibar, esgotatido iniltiimente os seus recursos, mas cohesão e .;ao g~iiadospor hoinens em estado mais
serviu realmente os interesses politicos da sua nação. avangado de civilisagão, como aconteceu a Compa-
E isto apesar do Sultão lhe ter feito concessões e fa- nhia allemã do Leste d'Africa, que se viu deante dos
cilidades que não faria ao ptoprio governo da Alle- e Arabes, as piobabiiidades de sucesso são menores.
manha.
Estas companhias não podem ser só .apieciadas Os direitos das Companhias de carta. O di-
pelo seu aspéto financeiro. Para a obra de penetra. reito de outorgar cartas é em Inglaterra atribui~ão
s;ão e de posse as grandes companhias são uma ar- essencial da Coròa. O soberano tem direito 4e inse-
ma incornparavel. Ellas teem uma notavel çimplici- rir n'essas cartas todas as clausulas que julga conve-
dade e perfeição de mechanismo. Conseguem muito nientes. E' só o ministro dos eãtrangeiros, sem a me-
com pouca cousa ou quasi nada. Insinuam-se silen- nor intervenção do parlamento, que confere ás gran-
ciosamente, sem que aos parlamentos se peçam cre- des companhias coloniaes as cartas de que ellas go-
ditos e sem que portanto n'elles se travem as discus- sam. E e perante elle que essas companhias são res-
sões que acompanham inevitavelmente esses pedidos ponsaveis.
e que tanto alarme causam muitas vezes entre os que Os governos das colonias mais importantes, inciu-
mais convinha que se conservassem ignorantes do sisé a Sova Zelandia, foram instituidos por cartas
que se passa. Se o seu proceder provoca reclamaq6es da Coroa. Isto deu-se porque as colonias em Ingla-
d'outras potencias, o respetivo governo desauctorisa- terra formaram desde o seu inizio, tres classes: as
a s ou alega falta de informa@es, ao passo que, as colonias de proprietarios, as colonias de carta e as
escondidas, as anima, ou apenas as modera com do- colonias propriamer-ite d a Coroa. O governo inglez não
$usa. E logo que a obra da posse está adeantada, o tomou uma parte d i s t a na f~~ndagão das suas colonias.
go\-êrno da nação intervem oficialmente declarando Mesmo depois de organisadas, a ingerencia da me-
que esses territorrios lhe pertencem, e declarando o tropole na sua adininistração interna foi, durante
protetorado, como fez a Inglaterra com Bornéo, quan- muito tempo, muito limitada de direito e quasi nula
do n5u chega a annexacão, como usou a Allemanha de facto. E assim constituirarn-se colonias devido á.
com os terribrio: entre os grandes lagos e Zanzibar. a q ã o e energia de proprietarios, pertencentes ás clas-
Para que a acção das companhias seja eficaz, é ses elevadas e que, por dinheiro ou concessão gra-
ciosa, tinham obtido da Coròa o exercício de direitos
de soberania nas regiões onde elles montaram os seus de dez annos, a menos qui, antes de expirarem estes
estabelecimentos. Formaram-se outras, concecerido-as prascs, a Corôa não decida entrar na posse da plena
quasi por compieto, por meio de cartas em que se ou- soberania dos territorios concedidos. O governo re-
torgavam os mais largos direitos, a companhias pri- serva para si direitos de fiscalisagão muito restritos e
vilegiadas de mercadores. E ficaram por ultimo aquel- inais nominaes do sue reaes. O Estado, como sucede
las em que os emigrantes. privados de largos recur- com a British South Africa, fica com o direito de no-
sos, e sem o apoio. dos grandes senhores ou das iceár o diretor gerente, mas nunca fez uso dessa fa-
poderosas companhias, tinham começado a explorar a s culdade e tem procedido assim para não se envoliier
respetivas terras s ó amparados na sua força indiriduál. em responsabiiidades a que lhe convêm conservar-se
Eram estas a s coloniâs da Coròa. Foram, a o prin- extranho, por isso mesmo que um dos fins principaes
cipio, em pequeno numero, mas, em pouco tempo, das Companhias de poderes magestaticos é precisa-
tornaram-se a regra quasi geral, pelo esforço cuns- mente o de deixar aos governos a letitude de susten-
tante d a metropole em reduzir a essa cathegoria as tarem ou condemnsrem, conforme as circilnstancias,
velhas colonias de proprieb-rios e as colonias de carta. ou actos d'essas mesmas Companhias.
As novas companhias, isto é todas as que foram Os poderes das referidas sociedades são muito latos
creadas na Africa do Sul e em Rornéo desde 1880, e indefinidos e apesar de se acentuar nas cartas que
teem as suas cartas analogas ás da Companhia das as Companhias não poderão usufruir monopolios, como
Indias Orientstes. Essas cartas conferem ás mesmas ellas podem fazer livremente comercio, teem assim
companhias personalidade civil e poiitica. Ellas po- meio de conseguir todas as vantagens sobre os seus
dem exercer justiça, adquirir e transmitir propriedade concorrentes. Como precau~õescontra as sociedades
e realisarem todas as operagões financeiras e comer- que não cheguem a realizar recursos necessarios á
ciaes. Governam e administram todos os terrenos que sua missão, estipula-se que, passado um certo periodo
Ihes são concedidos. depois da promulgaçao d a Carta, as Companhias de-
Tem bandeira propria, sustentam um corpo de po- verão indicar a s condições do seu funcionamento, da
licia e é-lhes concedido até realisar tratados. N'este sua organisação financeira e a importaricia dos seus
ponto cabe-lhes o dever de executar as convenções capitaes. Estes raras vezes excedem um milhão ester-
internacionaes concluidas ou a concluir pelo governo lino. O sei! sucesso ecoriomico é, em geral, modesto.
britannico e de submeterem ao primeiro secretario d'Es- A custo poderão distri6irir um dividendo de 5 O/o. Mas
tado a s convengõeç que realiçarem com as potenciaç o espirito aventureiro e o instinto dominador conse-
extrangejras. Langam os impostos que reputam ne- guem que essas vastas associações encontrem sempre
cessarios, especialmente direitos d'alfandega. O seu os capitaes de que carecem.
orçamento é sujeito ao governo que n'elle exerce uma Não ha duvida que a s Companhias Coloniaes teem
fiscalisagão pouco mais do que nominal. prestado importantes servi~os á colonisaqão. Com
A duração da concessão é variavel. 4 , da South pouco dispendio, com um rnecl-ianismo simples, tem
Africa foi de 25 annor com prorogações cucessi~~as conquistado metade do que restava de povos por ci-
e
LOIIPISHIAS DF, COLONISAÇAO 151

vilisar em todo o globo. E' para povos n'essaç con- com prerogativas de s ~ b e r a c i a ,em tudo ~~'rnelbantes
dições que ellas servem. Silo destinadas a. desapare- as grandes Companhias inglezas. A mais conhecida é
cer, pelo menos na sria missão, no fim à'urn perioda a Sociedade da Africa Oriental e fundada pela Sociedade
em geral curto, quasi sempre de 25 annos quando de colonisação para administrar os territorios adqui-
muito de 50 e exc?cionalmente d'iim seculo. ridos desde r884 por trez allemães de grande nome
A s companhias allernãs não tem dado tão bom re- colonial (Dr, Peters, Dr. Wuike e DI. PfeiI). Essa
sultado. 0 s chkques que ellas tem sofrido levaram o Companhia comprou aos indigenas muitos territorios
celebre explorador allemão Gerhardt Rohlfs a escrever situados na esphera aliemã e em i888 o sult8o de
em 30 de setembro de 1888 n a Gamta da CuZo~ziuo Zanzibar cedeu-lhe, por 90 annos, a administração d o
seguinte: <<Passoujá o tempo em que as Companhias litoral. Foi autorisada a elevar o seri capital a dez mi-
colonisavam. As colonias só devem ser governadas lhões de inarcos. A referida Companhia sofreu depois
pelos Estados,. prejuizos importantes e anunciou a sua liquidasão, a
0s agentes allemães teem mostrado mais inhabiii- menos que o Estado não Me acudisse. O governo, por
dade, mais inexperiencia e mais S!utatidade para coin conveniencias politicas, substituiu-a primeiro em parte
os indigenas do que os it~glezes.E' justo dizer-se que e depois por completo.
elles trabalhavam n'irin paiz nuito dificil, nas regiões A Sociedade allemã da Africa Oriental foi, pois,
dos grandes lagos, perturbadas pela escravatura e pe- uma verdadeira i-ède ou biombo a ocuirar a acção do
las incursões dos ai-abes. Estado. Calliu fina.zceiramente, mas alcançori o resul-
As Companhias allemãs modernas reduzem-se a dois tado politico a que aspirava o governo do seu paiz.
typos : Ou sociedades de propaganda e incitamento O sultão de Z~lnzibarteria tido mais dificuldade em ce-
(Deutsche Kolonial Geselischaft, fundada em 1887 peia der os seus direitos'á nação ailema do que teve em os
fusão da Kolonial Verein e da Gesellschaft fui deu- ceder a uma Companhia de colonisação. Sem o poder
tsche Kolonisation) ou sociedades puramente finan- provisorio da Companhia e sem os 25 a 3 0 agentes
ceirzs, sem direitos politicos e com um fim exclusiva- que ella estabeleceu nas estações do litoral e no inte-
mente agi-icola ou comercial. A este modelo pertenceu rior, o governo d'aquelia liasão não teria tido pretexto
a Beutsche Ostafrikanische Platagen Gesellschaft, so- para se justificar perante os seus subditos e perante
ciedade de plantações da Africa Orierital ailemá, fun- os povos extrangeiros de iiitervir como o fez, e não
dada em 1886 com O capital de um milhão de mar- conseguiria, com tanta facilidade, apcssar-se dos ter-
cos pai-a explorar, na região dos grandes lagos, todas ritorios do Este africano, çern resistencia do sultão,
a s culturas dos tiopicos, a Deutsche Afrikanische Mi- nem das outras p~tencias.
nengesellchaft, .socidade mineira alleinã e por ultin-io Uma outra grande Companhia, com carta da AIle-
a Ueutsche West Atrikaniçche Cornpagnie, com o ca- maiih-i, é a Sociedade Colonial da Africa do Sul Oci-
pital de 5oo:coo niarcoç. Todas estas sociedades cão dectai, a cujos corpos gerentes pertencem nomes dos
de caracter particuiar. mais considerados da politica e da banca do Im-
Outras sociedades tinham sido organisadas antes, pério.
Possue importantes territorios na Africa do Sul e exerce iiuilca devam ir alem de quarenta annos, trez quartos
direitos regios nas minas de toda a parte d'e,cta re- de secuío, ou quando muito iIm seculo.
gião que depende da Aiiemíinha. Essa Sociedade não
tem podido prosperar até agora. Condições a que devem satisfazer as Com-
Ainda uma outra Companhia aIlemZi é a da Nova panhias de colonisação. Em França, desde 1888,
Guiné, soberana da. terra do Imperador Guilherme, do tem-se trabaIhado muito para a fundação de compa-
archipelago Bismark e d'uma parte do arcliipelago Sa- nhias privilegiadas de colonisação, mas com pouco
lomâo. Instituiu logo dois tribunfles, i.edigiu um csdigo conhecimento do assufito e numerosas c o n f ~ s k se
aplicavet aos ii-idigenas e creou uma linha de irapores contradições. Sobre esse problema tem-se redigido re-
entre Fruschafeil e a Australia. Os territorios que ella petidos relatorios e projetos e muito tem trabalhado a
explora prestam-se pouco, pelo seu clima, a uma colo- Commissão das Colonias e o Conselho Superior das
nia de planta~ãopara a raça germanica. Nas colonias Colonias,
de Togo e de Camarão tem-se organisado muitas com- Entre as opiniões apresentadas, ha a. de que a essas
panhias, mas sem direitos magestaticoç. As socieda- Companhias 'se deveriam negar todos os direitos de
des soberanas allemãs de coloniçação, tem progredido soberania e, em compensagão, conceder-se-lhes um
milito menos do que as sociedades inglezas similares. monopolio comercial, o que representa um duplo erro,
Mas conseguii-am um dos fins para os quaes o go- contrario á pratica de todos os povos colonisadores.
verno Ihes concederi os privilegias. Tem-se mostrado Se se trata d'uma sociedade séria e fortemente cons-
instrumentos de invasão e de posse. tituida, que deve estabelecer a acção da mãe patria
E' esse hoje o objéto- essencial e fundamental em paizes até ahi desocupados e desprovidos de toda
d'estas Companhias. E' isso que faz com que eilas a organisa~ãosocial, se o fim que se deseja, e que é
tenham uma existencia passageira, pelo que diz res- o de todas as companhias de colonisação de Carta,
peito aos seus direitos politicos e administrativos. consiste em conquistar e iralorisai territorios para a
Funcionando em regiões desorgaoisadas, no meio de sua naçâo, e preciso que a Compr,nhia possua direi-
povoaçóes dispersas e sem laço que as una, dirigidas tos de policia, de imposição de impostos e de admi-
com inteligencia e, economia, e sabendo evitar as nistração, porqrie d'outra forma e!la não ~ o d e r i ater
guerras, podem obter bons resultados economicos e uma constituigão regular. Sempre que tivesse de re-
submeter o s seus territorios a uma iniciação econo- primir um delito, de impòr obrigações para os traba-
mica rudimentar, estabelecerem as primeiras retagões lhos publicas, de castigar contravenções, procederia
comeiciaes, promovei-ern algumas culturas e explora- sem direitos e usurpando frinções que não lhe perten-
@es e ealcan~arempara si, senão lucros consideraveis, ceriam. Por 'outro lado a concessão d'um rnonopolio
pelo menos beneficios compençadores dcis seus esfor- cornerciaI, mesmo temporario, e prejudicial ao futuro
$OS. E' o que sucede ás dilas companhias soberanas
da região. A Companhia dispôs-se-ha a adormecer,
jnglezas, a do Niger e a de Boineu. 'í'estas condisõeç contando com os lucros das suas concessões e privi-
a sua esistencia póde prolongar-se mais, embora elias Iegios, limitando-se a conceder terras respeitando os
direitos dos indigenas e a gosar as vantagens da pri-
meira ociipação, vantagens que resultam da clientela do governo convem que se assegure, não pela no-
adq~iiridae dos tratados já concliridos, ou que possa meaçso OLI confirmação do diretor ou agentes espe-
concluir corn os chefes ou habitantes. ciaes, mas pela faculdade concedida a todos de re-
Ha tambem quem entenda que os diretores d'es- correrem para a administração centrai, para o conseiho
sas companhias devem ser nomeados diretamente pelo das colonias, ou para qualquer tribunal superior da
governo, ou coizi o seu assentimento. E' esse um ou- metropole, contra os actos abusivos e vexatorios pra-
tro erro, não só porque taes nomeações se sesentiriam ticados pelas Companhias, podendo obter a anulaçáo-
assim de influencias eleitoraes ou politicas, mas por- d'eçses actos e, em especial, a respetiva indemnisaçáo.
que aos proprios governos conv$m podesem, muitas N'estas condições entende Leroy Beaulieu que se-
vezes, mostrar-se contrarios aos actos das Compa- ria possivel constituirem-se em Franca uni certo nu-
n hias. mero de Companhias para se obter a exploração de'
Discute-se ainda se a s refei idas companhias devem regiões desorganisadas, situadas na esphera d'influen-
ser fiscalizadas pelo governo da metiopole, ou pelo da cia d'aquella nação. Um anno depois da concessão,.
cclonia mais proxirna. E' Um ponto sobre o quai n ã o a Companhia deveria provar possuir um capital sub-
pode haver Iiaver uma opinião absoluta. Se se trata scrito e satisfeito, anteriormente determiilado. A Com-
d'uma grande conlpanhia, com poderoso capital e panhia teria, além d'isso, de executar alguns traba-
actiiando em vastissimas regiões, não se cornprehende lhos gublicos, como estradas, caminhos de ferro, poc-
que fique sob a acc;ão d'um governo subalterno. hlas tos, cai~aiisaçóes,perdendo a sua esistencia se não
se, P O contrario, é apenas uma sociedade de ~ o u c o s realizasse esses trabalhos n'um praso determinado.
recursos, com um territorio muito limitad3 e ao lado . Por medida de previilencia 1180 se deve conceder a
d'uma colonia de primeira ordem, será inconveniente uma Companhia, senão depois d'ella ter dado as suas
que o iespetivo governador não possa fiscalizar todos provas, mais do que frqões dos territorios por civili-
os actos da mesma sociedade, alguns dos quaes po- sar, reset-vando~çe a maior parte d'esses territorios
deriam ter uma repercussão perigosa na sua coio- para a ac@o livre individual, ou para concessões POS-
nia. teriores.
A constituiçSo de companhias de coloiljsa~ãoem U m exemplo d'uma concessão d'esta especie foi a
paizes desorganisados e ainda por ocupar deve-se ins- que se realisou entre o Estado Independente do Congo
pirar em disposigões muito liberaes. Poder-se-lhe-ha e a Companhia de Comercio e Industria d o Congo.
conceder, por um peiiodo que não exceda z j annos, Essa Companhia fundou-se para construir e explorar
o direito de tratar com os indigenas, de realizar tra- o caminho de ferro do baixo Congo a Stanley-Pool,
baihcs pubiicos, de expIoi.ar e cot~cederminas, de re- Alêm dos Lenenos necessarios para o estabelecimento
ceber tributos, de sustentar policia e de exerces po- da via e suas dependencias, concederam-se-lhe todas
deres administrativos. Deve-se-lhes prohibir todo o a s terras de que eila se quizessz apossar, 6 medida
monopolio coinrscial. O d'ireito de vigilancia da parte que a linha fosse sendo coiistruida, ~i'umazona de
200 metros de profundidade em cada lado da via.
Afóra isto foi-lhe alugada um? estensão de 1.500
hectares de terra por cada kiiometro de linha o n s - nhias pode-se coiiceder, com condições expressas de
truida e entregue á exploração. Essas extensões po- recrutamento e asdevidas garantias, sob a vigilaneia
deriam ser escolliidas pela Companhia em um ou mais da adminisira$ão colonial, uma força de policia, ana-
blócos e em qualquer parte do Estado, mas de terras Ioga no que são em F r a n ~ aas guardas articulares,
vagas, pertencentes ao mesmo bistado e não ocupa- embora com maiores poderes efetiros, mas de forma
das pelos indigenas. Os blócos não podiam ter ma$ que os agentes encarregados de manter a ordem não
de 2.000 metros de margem sobre o Congo e deve- se entreguem a vexames e abusos.
riam ser separados uns dos outros pejo menos por K' conveniente insistir em que o regime11das gran-
4.000 rnetras de margem. AIèm d'isto o Estado do des concessões territoriaes, ou com carta e direitos
Coiigo comprometia-se. ate expirar a concessão de pojiticos e militares, ou sem carta e com meras atri-
99 annos, a conceder anualmente á Companhia, a ti- buiâões economicas só deve ser adotado em paizes
tulo de subsidio, 20 o / ~do prodiito biuto dos direitos primitivos, apenas comegdos a explorar, possuitido
de exporhção recebidos doiante o anno antei.ior, não uma populagão dissemiliada e desprovidos d'adminis-
podendo porem esse subsidio eacedei- j u/o do capital t r a ~ 5 0regular. Tem-se algumas vezes feito OU pedido
dispendido pela Companhia na constr~i$ãoe 110 mri- largas coiicessões territoriaes em colonias costeiras,
a~irnen
nicianlento da linha ferva no alino respetii.0. onde já existiam importantes depositas e um rc,
Sob o ponto de vista de concessões teriitoriaes, a administrativo estavel, como na Costa de llarfim, na
concessão feita entre nós á Companhia dos Caminhos Guiné Franceza e no baixo e rnedio Dahomeg. E' um
de Ferro da Zambezia é muito semelhante a e-cta. Em grave erro deferirem-se esses pedidos em regiões n'um
1890 fundou-se Lima Sociedade Comercial e Industiial grau já elevado de adeantamento. Quando muito e
do Congo Francez do mesmo cwacter e direitos, mas com bastante reserva e prudencia, poder-se-iam con-
esta foi dissolvida pouco depois. ceder direitos fiorestaes, a centenas de kilometros da
Os processos da Britisli Sounh A f r i q Cornpany, que costa, na zona das florestas paralela ao litoral afri-
determinaram a terrivel guerra do Trans~mal, iiho cano. E ainda assim essas concessões só se deven;
podem condenar em absoluto a existencia das gran- . fazer sendo limitadas em extensão e em territorios
des companhias. A tendencia moderna é para se não não explorados, nem pertencentes n casas europêas,.
darem a essas companhias direitos de governo e n'essas ou a indigenas.
condições fundaram-se muitas de i891 a 1900. A con- O que é util é fizerem-se concessões de terrenos a
cessão, por nm periodo de tempo determinado, d'al- companhias que tomem o encargo de reaiisar um
gilmas dezenas de milhares de hectares, ori mesmo, grande melhoramento publico, como jj. referimos em
excecionalmente, d'algiimas centenas de milhares, com relação B Companhia do Caminho de Ferro de Stan-
um caderno de encargos judicioso e liberal, é decerto ley Pool e á dos Caminhos de Ferro da Zambezia.
Lim dos meios mais seguros e proficuos de se fazer Em Franqa tem-se adotaúo o mesmo systema, tanto
prosperar uma região abandonada. A essas compa- com a Compnhia dos Caminhos de Ferro de Daho-
mey, como com a dos caminhos d e ferro e dos yhos--
ghatos de Gafsa, na Tunisia, á quai foram co~icedidos E m 1624, Filipe IIí rsconheceu de novo a necessi-
30.000 hectares de terreno. dade de opôr os esforqos d'uma Companhia, ás po-
E m conclusão diremos que não se deve guerrear derosas Companhias ertrangeiras que cada vez iam
com mesguiiihez, nem favorefer com excesso, as Com- alargando mais a sua esphera d'acpão. Encarregou D.
panhias de Colonisagão, que conduzem çapitaes e acti- Jorge de ?dascai.ei~hasde organisar uma junta que se.
vidades para as colonias. espebialmente quando estas desempenhasse d'essa missão, recomendando ás cida-
estão no primeiro periodo, ou são ainda -d olescentes, des e vilas, que tinham voto nas Curtes, que entras-
Essas compar.hias podem prestar serviqos inestima- sem ~i'essajunta. Foi dificil, pela miseria do reino, a
-<leis. Seria prejudicial e imprevidente combatel-as. O constituição da Companhia que D. Jorge de Yasca-
seu concurso é precioso para activar os progressos renhas prophetisava que viria a ser a maio?-coaxa d~
.&urna colonia e apressarem-se as suas primeiras eta- d
,o e só em 1628 foi aprovado o seu regimento,
.pes, bem lentas e dificeis em geral. Organismo algum vendo-se elIa desde logo em taes dificuldades que em
a s pode substituir. O que é preciso é tomarem-se pre- 1631 a camara de Lisboa tinha de lhe emprestar
çaugões para que ellas não monopolisem toda n região ZOO:OW ducados, O que não evitou que se extinguisse
e n ã conservem
~ em seu poder eterna e esterilmente pouco depois.
grande parte d'essa mesma região. SHo sem duvida Passados annos, já na restauragão, o padre Anto-
um elemento precioso para o desenvolvimento de re- ~ i i oVieira aconselhava a D. João IV a organisação
giões inexploradas, mas não podem assumir exclusi- de companhias coloniaes, como o unico meio de nos
vamente todo o peso da obra da coionisagão. defendermos dos holandezes. Para atrahir os capitaes
propunha elle que se isentassem de confisco os bens
Companhias portuguezas. Data tambern de dos christãos novos por estes aplicados nas compa-
velhos tempos a organisnçâo de companhias de co- nhias. A Inquisição opoz-se-quanto pode ao plano do
lonisação em Portugal, como o melhor meio de con- famoso pregador, mais, apezar d'isso, em 1649, fun-
servarmos relações comerciaes com a India. Foram dara-se a Companhia Geral de Comercio para O Bra-
muito numerosas essas companhias. Apenas nos re- zil, crua durapão foi fixada em io annos. A Cornpa-
leriremos ás mais notaveia. Foi Filipe Il que, vendo nhia obrigou-se a construir e armar 36 navios de
a decadencia cada -dia maior do nosso comercio guerra. Foi-lhe concedido o excl-ivo do comercio de
.com a India, resolveu crear, em i j87, uma Compa- vinhos, farinhas, azeite e bacalhau para O Brazil. Po-
nhia Portugueza das Indias Oricntaes, passando-lhe deria adquirir os vinlios, trigos e azeites onde ~ U I -
o monopolio do comercio até ahi reservado a Corda. zesse em todo o reino , sendo iodos obrigados a for-
Essa organisação não foi bem recebida. Paiticulares necerem-lhe barcos, carretos e cavalgaduras para a
e os proprios governadores alcançaram logo licença sua conduq30, contanto que ella pagasse os fretes.
para continuarem a enviar, pelos navios do Estado, Depois concedeu-se-lhe ainda n adminiitra~ão do
varios artigos de comercio e isso fez com que fosse contrato do pau do Brazil. A Companhia empenhar-
ephemera a dura$ão de h 1 Companhia. se-ia em concorrer para se recuperarem os portos que
então se achavam em poder do inimigo. Muito traba-
os brancos para o Brazil o comercio já importante que
lhou realmente n'esse sentido, colaborando eficaz- faziam no Princi~ee na Guiné.
mente na campanha que terminou em 1654 com a
capitulação de Pernarnbuco. A regente D. Luiza dei-
'xou-se dominar peja Inquisição no seu odio aos chris- Nova Companhia da India. Em 1682 renascia
tãos novos e por isso foi cerceando todos os privile- a ideia de se resuscitar a antiga Campanhia da India.
gios de que gosava a Companhia, que cornegou assim D. Pedro II concedia á nova Companhia, por doze
a lutar com as maiores dificuldades, acabando por annos, o excltisivo no reino do comercio de pano:,
ser extincta em 1720. grãs, cochomilha, coral lavrado e tosco, esmeraldas,
Para as colonias africaqas tambem se creou em 1776 prata, ouro e dinheiro e na India o da canela, pi-
a Companhia de Cacheu e rios da Guiné. Esta Corx- menta, lacre, anil, cravo, noz, incenso e toda a classe
panhia destinava-se a reedificar a praça de Cacheu e de especiarias e drogas. Dava-lhe, por egual petiodo,
a pagar aos funcionarios administrativos e ecIesiasti- o exclusivo do comercio de Moçambique com os rnes-
cos, usufruindo em troca exclusivos importantes. S6 mos privilegias com que até ahi era feito pelo dele-
os seus navios podiam levar fazendas do reino, e s6 gado do Governo. Esses exclu~ivospoderiam ser-lhe
ella podia fazer comercio e trafico nos rios e sertões prorogados e durante a existencia da Companhia não
da Guiné. O capitão mór de Cacheu estava-lhe subor- se autorisaiia a forrnag50 d'outt-a para a India, Morjam-
àinado. Apezar de tudo isto, essa companhia extjn- bique, ou de qualquer paste do Cabo da Boa Espe-
guiu-se pouco depois. Siibstituiu-a em 1090 a Com- rança para deante. Aptzar de tantas concessões, a
panhia de Cacheu e das ilhas de Cabo Verde, desti- gente d a Inùia opõz-se muitos atritos a formação da
nada em especial ao trafico de escravatura para a s Companhia, porque liao queria mandar para o reino
colonias hespanholas. O governo subscreveu para o o capital com que subscrevera. Só em fins de 1694
seu fundo com 200:OOo patacas, ficaiido interessado é que a Companhia definitivamente se formava. Teve
em quatro nonos dos lucros. Teve os priviIegios da ella ao principio um exito magnifico, mas da India
sua antecessora e alêm d'isso os vinhos que ella insistia-se por condig5es que a Corôa considerou ina-
mandasse para Cacheu e Cabo Verde ergm isentos d e ceitaveis, o comercio regular com Mombaça, cercado
direitos. A ilha do Principe era o seu principal depo- pelos arabes, tornou-se deficilimo, por ultimo perdeu-
sito e ahi sustentava uma companhia de infanteria, se essa praga e por isso os proprios interessados opta-
creando ainda ti'essa ilha uma alfandega e cons- ram pela dissolução, por não poderem continuar só
truindo ia uma fortaleza. Afóra as outras concessões, com Q comercio com Moqarnbique dissolvendo-se
tambern não pagava direitos em 4o:ooo cruzado5 de assim a .Companhia em 1969.
mercadorias, desde que expedisse psra os seus portos
o dobro d'essa quantia. Em 1706 foi extinta. -4s for- Companhia do Grão Par& e Dlaranháo. Para
taIezas e praças que tinha construido foram abando- as relações com a Amenca do Sul deve-se á iniciativa
nadas logo no comeqo do seculo XVIII, transportando inteligente - o ousada do Marquez de Pombal a crea-
gão da poderosa Companhia do Grão Pará e Mara-
11
COXrAXAI&S DE COLOXISXÇ~O 163
nháo. Sbbre a coílveniencia d'este acto do grande es-
tadista divergem as opiniões. Adam Smith extranha corpo da frota da Companhia. Tinha o comercio ex-
que Portugal ainda creasse Companhias quando elas clusivo do Grão Pará e Maranhão e o direito abso-
eram repelidas pelos outros povos como processo de luto de resgatar os escravos negros nas costas de
colonisagão. Heeren explica esse acto pelo odio que a Africa para os introduzir e vender n'aquelas provin-
ministro de D. José tinha aos iesuitas, em cujaç mãos tias. A maior parte dos artigos de consumo para a
estava todo o comercio do Brazil. Leroy Beaulieu Companhia eram isentos de direitos. O seu capital era
considera a resoluçilo do Marquez de Pombal inspi- de I:ZOO:OOO cruzados, A duragão dos seus privile-
rada nos magnificos resuItados da Companhia das @os foi fixada em 2 0 annos, podendo prolongar-se
Caracas, fundada peIa Hespanha vinte annos antes. por mais dez. Para se atrahirem capitaeç estabelecia
0 que é facto é que n'aquela epocha ainda existia a se que os negocios da Companhia não prejudicariam
Companhia holandeza das Indias Orientaes, que só a nobreza das pessoas que n'ella entrassem se essa
desapareceu em 18j;. Trinta annos depois de se or- nobreza fosse herdada e ao contrario facilitaria o a1-
ganisar a Companhia do Grão Pará e Maranhão, isto cansarem-se foros de fidalguia. 'Tudo se fez pois para
é ern 1785, creava-se a Companhia franceza das In- se conseguir que a Companhia alcançasse a maior
dias. expansão no comercio e na influencia portugueza no
A nova Companhia foi hostilisada por muitos ne-
Brazil. Para se chegar a esse fim estabeleceram-se
ainda sete feitorias, desde a cidade de Belem até á
gociantes, cujos interesses brigavam com os excecio-
naes privilegias que lhe fòram cotlcedidos. Constituia capital do Rio Negro. De tal nodo se desenvolveti a
ella um corpo político composto d'um provedor, oito Companhia que, em 1759, a frota que elta fez regres-
deputados, um secretario e seis conselheiros. Todos sar ao reino continha 4 r navios carregados de 202
elies deviam ser comerciantes portuguezes, tendo o contos em ouro e 18 contos em prata, afbra assucar,
provedor e os deputados pelo menos dez mil cruza- sola, pau Brazil, madeiras, etc. Nos primeiros qtiatro
d o s no capital da Companhia. A companhia e o seu annos distribuiu rg0/0 de dividendo. Diminuiu-os de-
,governo seriam imediatos a o Rei e independentes dos
pois, mas em 17177, nas vesperas da diçsolugâo, que
tribunaes. Puzeram-se 6 disposição d'ella vanos edi- se efetuou no anno seguinte, pelas hostilidades que
ficios e arrnazens. Concederam-se-íhe tambem terre- provocára, apezar da apinião de Martinho de Mello
se manifestar contra essa dissoIução, ainda dividiu de
nos para os seus estaleiros e depositos e esbncias lucros 8 4/2 6 / ~ .
para guardar tudo o que Ihe pertencesse. Permitíu-se-
lhe construir navios mercantes e de guerra e recrutar
soldad~se marinheiros para as suas frotas e naus. Companhia de Pernambuco. Outrn Companhia
Deu-se-lhe tambem a propriedade das presas que fi- protegida pelo Marquez de Pombal foi a de Pernam-
zesse e a indemnisago de qualquer navio que ella buco e Parahiba, cujos estatutos eram identicos aos
-perdesse em caso de guerra. Nem do reino nem do da do Grão Pará e Marxnhão, O rundo da Companhia
RraPI poderia sahir qualquer erribarca$ão sem ir no era de 31400:000 cnizados. Desenvolveu-se rapida-
mente. Fez construir muitos navios e explorou em
grande escala os terrenos d a capitania de Pernambuco, formar, obrigava-se a alcangar, no praso de dois an-
protegendo muito a agricultura e o comercio. Acom- nos, um capital de 300 contos, elevavel no fim de
panhou, quasi em todo o seu poriodo p'aralelamente, cinco annos, a 500 contos, no fim de dez a r:Sm
a Companhia do hlaranhão e pouco lhe sobreviveu, contos e no fim de doze a 2:jOo contos, para poder
sendo estincta em 1780. ter direito á concessão de 1878.
Foi do nucleo constituido por esta sociedade, re-
for~adaainda por uma companhia ingleza, que sahiu
As actnaes Companhias Portugaesaã
a actual Companhia da Zambezia. A historia da admi-
Compaphia d a Zambezia. São quatro as gran- nistraqáo d'esta companhia abrange tres periodos. O
des Companhias coloniaes portugiiezas na actualidade. primeiro sae desde a sua fulidagao ata 1894,em que
Por decreto de 26 de dezembro de 1878 o sr. Paiva se reoiganisou; o segundo de 1894 a 1897, em que
d'Andrada obteve uma concessão na Zambezia pela começaram verdadeiramente os trabalhos em Africa,
qual ficava com a posse das minas d'ouro conhecidas
e não exploradas, pertencentes ao Estado e situadas rendo. .
e o terceiro de 1897 até ao periodo que vae cor-
A Companhia constituiu-se definitivamente em 1892
nos territorios portuguezes que fazem parte da pro-
vincia de Moçarnbique. Alcançou ainda, por essa con- só com 540 contos, porque esta quantia foi julgada
cessão, o exclusivo, durante 20 annos, da exploração suficiente para os estudos preliminares e era dificil
das minas de carvão de pedra, de ferro, .de cobre e reunir um capital maior, antes de terminarem esses
outros mineraes, o direito de exploração das florestas estudos, As conciusões a que estes chegaram mostra-
pertencentes ao Estado, bem como a concessão d e vam que era preferivel a Companhia o dedicar-se aos
cem mil hectares de terras indultas situadas na mes- trabalhos comerciaes e agricolas de preferencia a em-
m a região. Essa concessão provocou uma violenta e penhar-se nas explorações mineiras. Os prazos da Com-
apaixonada campanha politica. Em r879 constituiu- panhia não eram os mais apropriados para taes ex-
se, em Paris, a Sociedade fundadores da Companhia ~lorapóes e o seu capital era muito exiguo.' Esse
Geral da Zambezia, reconhecida pelo decreto de 2 6 capital foi depois elevado a ~ 8 0 contos,
0 ficando O
de julho do 1880, 0 mesmo decreto estabelecia que Estado com 7 jtwo acções. Periso~i-se em fundir a
a posse da concessão só se tornaria uma realidade Companhia com a Companhia de Moprnbique e por
quando a Companhia provasse ponuir um capital de isso só em iSg6 e que elfa se resolveu a dar a sua
1:8m contos. exploração o incremeilto compativel com os recursos
Como a situagão-da Sociedade era precaria, em 28 de- que dispunha.
de abril de 1888 foi reconhecida valida a cedencia O conselho de administrafio actualmente e composto
feita por eila á Companhia da Moçambique, que então de quinze administradores, sendo dez portuguezes:
se organisára, dos direitos da concessão na região um terço nomeado pelo governo e dois t e r ~ o seleitos
priveligiada d'esta Companhia e ao mesmo tempo a pelos acionistas. Junto da Companhia ha um comis-
empkza em que a referida Sociedade se devia trans- %rio do governo, existindo ainda um comfe em Pa-
fE6 SC1k R ' S A DB C O L O ~ ~ A ; . ~ ~

ris, constituido pelos administradores. que residem no


estrangeiro. mgal-os. A Companhia, n'esses territorios, poderia
A concessão primitiva comprehendia a area limitada constituir novos prazos da CorÔa e recebeu ainda a
pelas semi-circumferencias de dois circuloç, tendo como administração dos prazos Andone e Ang~iaze.
centros a villa de Tete e o fone de Zumbo e raio de Aibra tudo isto a Companhia ficou com importan-
'80 kilometros e por duas linhas parafellas, tangentes tes concess6es, relativamente a linhas te!egraphicas e
ao5 mesmos circulas. Como parte d'este territorio pas- telephonicas, a cortes nas florestas do Estado, á trans-
sou depois para o dorninio inglez, houve a concessão feremia a particulares, sociedades ou companhias, de
feita pela Companhia da Zambezia ii Companhia de pnvilegios mineiros, ao esclusiuo da pesca de perolas,
Aloçambique, e se fizeram novas concessões, os limi- esponjas e coral e da c q s grossa, e em especial de ele-
tes dos seus terrenos modificaram-se profundamente, phantes nos seus territorios, a contrução de caminlios
ficando n Companhia sempre com a posse dos portos de ferro, garantindo-lhe ainda O governo, em troca das
de Quelimare e Chinde. -. . - 7 5 : ma c ~ ó e sliberadas, uma quantia annuai de z i con-
Foram valiosissimos os yriviiegios garantidos á Com- tos, para juro e amortisafão diurna operação financeira
panhia da Zarnliezia. Entre estes salientavam-se os e partilha nos recdimentos das aiíandegas da Zarqbezia
privilegias rniiieii-os, ficando a Companhia com a posse quando esses rendimentos excedessem os de 1893
das minas d'ouio e carvão de pedra e dos jazigos de acrescidos de 200,'o. A p u l h a é de io0/, se o ex-
qualquer natureza, conhecidos e não explorados, exis- cesso fôr de vinte contos, de I j "o se fhr entre 2 0 e
tentes nos seus territorios, com o exclusivo até 1924 30 contos e de- 20 O/* quando exceda esta ultima quan-
dos jazigos de quaiquer natureza, não conhecidos por tia. A' Companliia deu-se-lhe tambem o direito di:
ora e que se venham a descobrir nos mesmos territo- engajar nos prazos da Corda trabalhadores indigenas
rios e com o direito de se substituir ao Estado na para as minas do TI-ansu--al.
concessão de eacliisivos de pesqriizas mineiras, n'uma Por sua vez a Companhia obrigou-se a partilhar
area de I io:ooo hectares, no distrito militar de Tete. os seus lucros com o Estado, cedendo lo0,'odo ca-
Deu-se-lhe tarnbem o direito de explorar as flores- pital acpões e 4 o/o do capital obiigaçues ; a realisar,
tas pertencentes ao Estado na repiso da Zambezia, o em larga escala, trabalhos nas minas d'oiro e,carrião
de obter a concessão de terrenos incultos e baldios de pedra; a pagar de renda, por cada prazo, uma
na niesma região até E área de ~oo:omhectares, e quantia eguai á sua maior renda ou cobrança n'elle
de administrar os prazos da CorBa durante 25 annos efetuada, aumentada de 1o0/0,arbitrando-se uma ren-
ao norte do Zarnbeze e os do si11do Znmbeze e a da para os prazos abando~iados,ou onde o governo
oeste das ribeiras Lue~ihae Mazoe, abandonados oii ainda não exercera acgão nenhuma; a pagar pelos pra-
onde ainda não se exercia a acçáo do governo e bem zos de Aodone e Anguaze respetivamente I 1:319$000
assim o de administrar os prazos que estavam arren- réis e 7:796:ooo reis por anno, aumentados de roQ/o
dados em 24 de setembro de igo2, quando cessarem e da diferenga do imposto do mussoco, reformado
esses arrendamentos e se ao governo não convier Fro- n'essa epocha; a satisfazer as requisições de traba-
lhadores e seruiçaes feitas pelo governador da Zam-
bezia; a ceder terrenos para o ampliamento da villa Em 1896 reorganizaram-se os serviços administra-
de Quelimane; a manter os arrendamentos e afora- tivos da Companhia, e! no anno imediat~,iniciou ella
mentos parciaes já existentes e a pagar ainda aç ren- uma valiosa esploração economicn. Fez esperiencias
das de sete contos e de quatro contos pelos prazos agricotas especialmente de cultura de carina sacarina,
entre Massiqgire e os Picos Namuli e pelo de Ma- çementes oleaginosas e ai roz, cuttivou borracha e cafe
canga. Aiiída a Companhia tomou outros encargos rela- e adquiriu e plantou grande numero de coqueii.os.
tivos ás linhas telegraphicas, a repressão do contraban- Desde logo a Companhia coineçou a colher o Te-
do e á acceitação d'um tribuna1 arbitra! para a decisão sultado dos seus esforços e tanto que nos fins de
de quaesquei. litigios suscitados entre elia e o Governo. 1897, só dos produtos dos coqueiros, coii-ieu lima
30s primeiros tempos a concessão da Zambezia ti- receita de 46 contos liquidas. Em 1399 elevou
ilha pouco valor, visto o estado de revolta dos indi- seu capital a ~ 7 0 0contos, mas esse capital é ainda
genas da região, mas pouco depois conseguia-se a insuficiente para desenvolver terrenos que medem
pacificaçBo, mercê sobretudo de raiva de Andrada. 15 j:oOO kilornetros quadrados. Por isso ella, até hoje,
Só em i894 melhoran a situação financeira da Coin- só tem procrirado esplorar a decima parte dos prazos
panhia. N'esse anno fez ella duas sub-concessões; que possue. N'eiles tem a Companhia espalhado qua-
uma, a uma companhia ingteza, concedendo-lhe o di- renta feitorias. Nos terrenos fora dos prazos tem-se
reito de pesquizar, demarcar e explortar até quinheii- limitado a uma acçSio quasi exclusivamente comer-
tos qriinhões mineiros, não carboniferos e prestando- cial.
se ainda a conceder-lhe, no futuro, mais trez mil A Companhia, em r898 e 1899, foi muito feliz na
quinhões da mesma natureza, recebendo em troca a sua administragão, podendo, por isso, dar dividendos
renda de uma libra por ckaim e 7 </s O/o do capital de gOjo. Mas os annos que se lhe seguiram foram de-
acgões d'essa companhia, alêm de representação no sastrosos petas chuvas prolongadas, uma devastadora
conselho d'adrninistragão da mesma ; e a outra á Com- praga de gafanhotos, a necessidade de se fazer a es-
panhia Fiulheira da Zambezia, para que esta pesqui- pediçao contra o Mataca, uma mortifera epidemia de
zasse e explorasse as minas íle carvão e outros com- besigas e a influencia da crise que n'esse periodo afli-
bustiveis mineraes, recebendo por essa coricessão 2S0h giu toda a Afi-ica do Sul. Os famintos chegaram a.
do capital ãcgões, Lima taxa de roo réis por cada to- saquear os palmares, os impostos não se cobrairatn e
nelada exti-xhida acima de i:ooo toneladas, de I j o apezar d'isso a Companhia, a l h de ter de continuar
réiv alem de 50:om e de 200 réis alèm de ~oo:ooo, a pagar as suas rendas ao Estado, viu-se obrigada a
afóra a representação nos seus corpos dirigentes. Rea- reforçar .a policia e a importar cerenes e arroz para
lisou tambem um acordo com a companhia do Lriabo acudir aos indigenas. Esses contratempos foram-se
e MeIambe, e um outro com a Companhia dos Ca- vencendo, e, em lgo;, já a Companhia liquidava de
minhos de Ferro da Zambezia, para construir linhas novo a sua gerencia com um pequeno saldo positivo.
ferreas nos tei.ritoiioç da concessão e em especial a D'então pata cá a situação d'esta grande empreza
de Quelimane ao Ruo. tem melhorado sucessivamente, apezar dos annos agii-
colas haverem sido maus, embora não tanto como o de Em 12 de fevereiro de ~ g r oremodelou-se a con-
1901. Tem-se acentuado a esperança nas explorações cessão da Companhia, ficando e1la com menos privi-
mineiras, especialmente de jazigos de ouro, cobre e car- legio~e garantias e desistindo da concessão mineira
vão. Algumas d'essas minas já são exploradas. Em iro distrito de Quelimane e dos direitos que lhe haviam
1907 descobriram-se novos jazigos de cobre, piriteç conferido os decretos de 24 de setembro de 1892 e
de ferro, wolfram, chumbo e prata, entrando tarnbern de rg de abril de 1894, mas obtendo em troca a pro-
em exploração novos fiioes e aluviões auriferzs. iogação da concessão mineira ate 1940,sendo-lhe re-
X principal esperança no deçenvolvimento d'esça conhecido o exclusivo da pesquiza e exploração, e a
riqueza está na oi'ganisação, para a qual a Companhia proroga~ão, até 1930, do arrendamento dos prazos
da Zambezin tinha vindo trabalhando ha inuito tempo, .\ndone e Anguaze, fixando-se-lhe definitivamente
da Zambezia hfining Developenent Ltd., cujos estatu- a renda, com importante redução, o que isentou a
tos foram aprovados em r 3 de julho de 1912. Fazem Companhia d'um encargo pezadissirno.
parte d'ella firmas importantes das praças de Paris, No campo agricola tem-se acentuado, nos ultimo5
Londres e Lisboa, e conta essa companhia com a tempos, bastantes progressos. A s explora~õestem-se
apoio de numerosos elementos financeiros. Foi cons- feito inteligentemente conforme a qualidade dos terre-
tituida com o capital de 252:ooo libras, de que I j */o lios e a sua aptidão espesial para determinadas cul-
ficaram pertencendo a Companhia da Zambezia, Para - turas. Assim nos prazos de Andone e Anguaze tem-
o futuro terá esta direito a 20 "0 de tudo o que a Zam- se desei~volvidode preferencia a cultura das palmei-
bezia R'lining receber em titulos, dinheiro, vantagens ras ; no de klaçsingire adosizal e algodão em Bompona a
ou beneficias de qualquer natureza. -4 esta Compa- do algodão e tabaco e nos prazos de Sete a do algo-
nhia sub-concessionaria compete promover o desen- dão e cereaeç. Por este processo combateram-se os pe-
volvimento mineiro de todo o territorio, tendo-se a ~ i g o sda monocirltura e os perniciosos efeitos das irre-
mesma obrigado a organizar sociedades, syndicatos gularidades metereologicas, tão \~ulgares em toda n
ou oiitras companhias para os trabalhos de esplora- Zarnbezia. Tem-se tarnbern feito largas eãperiencias
ção mineira, cujo capital ha de somar ao fim de cinco da cultura do algodão nos prazos Andone e Anguaze,
annos 2oo:ooo libras, no fim de dez 6oo:ooo e no fim intercalando-a com os palmares, cutturade que a Com-
de quatorze annos um milhão. D'este modo a Com- panhia espera auferir magnificos resultndos e da cana
panhia da Zambezia fica ii-rteressada nas explorações de assucar em Bompona, alêm tambem da de algodão
mineiras por uma parte importante dos capitaes n'el- nJs prazos de Tete. Essas experiencias, principal-
!as dispendidos, com uma participação grande nas re- mente as d e algodão em B o m p o ~ ativeram um exite
ceitas que se alcangarern e sem d'ahi lhe advir quat- excecional, produzindo ali 650 kilos de algodão com .
quer onus ou encargo. Com a formação da Zambezia semente por hectare, com um rendimento de 33O/o d e
Mining ha fundadas esperanças de que virá finalmente fibra limpa, serido esse algodão qualificado em 3lat:-
a ser aproveitada a riqrlezã dos ikportantes jazigos chestur como valendo 70 a 80 pontos acima'do hli-
de Tete. diing -4mericano. A principal riqueza agricola da Com-
qanhia- da Zambezia continua ainda a ser s das jial-
=eiras, contando ella só nos prazos de Andone e An- aos prazos principaes. Esta Linha ferreít teve, em r91 I ,
guaze 2873475 d'essas arvores tão pi.odutivas. um rendimento um pouco superior a onze contos de
Tarnbem a Companhia tem feito importantes sa- réis.
crificios em trabalhos de drenagens d'aguas, sendo As suas pnncipaes companhias st~bsidiariassão a
dificeis esses trabalhos porque a configuraglo em geral das minas de hulha da Zar~beziae a dos Caminhos
do terreno não se presta a sahida d a s aguas, sendo de Ferro da Zarnbezia. 'rem ella um largo e prosper-
por isso preciso não só abrir vaias, mas tambem pro- rimo fcituro. Basta para isso que aproveite com capi-
fundar o leito dos mucurros (ribeiros). Apezar d'isso taes efetivos e reaes os feracissimos territorios que
já se construiu o canal de Chipaca a Coloane e o de possue.
Ibrahimo, alem de se terem aberto valas nn extensgo
d e dezenas de kilometios. Os efeitos d'estes irnporian- Companhia de Moçambique, A mais importante
tes trabalhos já se tem acentuado d'uma maneira das nossas compatihias coloniaes é, sem duvida, a de
muito utit. A riqireza dos gados tem egualmente ali- hloqambique, não só pela soma de capitaes n'elln em-
mentado quito, possuiildo a Companhia em 3 1 de pregados, mas ainda pela valia dos terrenos em que
dezembro de igr i j:i i9 cabeças de gado bovino e 130 exerce a sua acção. Pelo decreto de 12 de fevereiro
c a b e ~ a sdas outras especies. de r884 forani concedidas a uma sociedade denomí-
Mas deve-se notar que a agsicuitura na Larnbezia nada Companhia de Ophir as minas $e Manica, Qui-
e muito contingente, pelas influencias riocivas do teve, Blandir e Inhaoxo, na provincia de Moçambique.
clima, pelas irregularidades metereologicas e pelas Esta Companhia comprometeu-se a realizar, no prascr
yragas quasi annuaes dos gafanhotos. As exploragões de seis mezes, um capital dz go contos para efetuar
mineiras dévem dar-lhe, como já dissémos, assinala- trabalhos mineiros n'aquella região. Caducando essa
das vantagens, não só pelas riquezas que d'ellas po- concessão em dezembro de 1888 foi elIa transferida
derão advir, mas ainda porque fornecerão largo tra- em parte, isto é, foi concedido o direito de explora-
balho aos indigenas, habilitando-os assim ao paga- @o das minas do Estado, nas bacias de Aruanga e d o
mento dos impostos, farão crear um inetcado iocal, Busi, para outra sociedade da mesma natureza fun-
provocarão o desenvolvimento da agricultura e de dada em Lisboa, com o nome de Companhia de Mo-
vai-ias iiidustrias e obrigarão a crezr-se meios de trans- ~ambiquee o capital de 180 contos. Em virtude de
porte rapiùos e baratos. reclamages dos novos concessionarios, o seu privi-
Por ora, no que diz respeito a esses meios de tranç- legio estendia->e pouco depois ás regiões entre 0
porte, a Companhia possue um numero grande de car- Aruangua e o Zambeze. A Companhia corne$ou por
1'0s de bois, trez sebocadores, trinta e trez lanchas no arrendar a exploraçãe das minas, o que lhe foi con-
Sambeze, sendo 16 de afo e 17 de madeira, cinco es- cedido mediante varias obrigações e entre estas a de
.caleres?de aqo e 22 de madeira e 37 almadias, afóra construir por sua conta e sem nenhum outro auxilio
rima linha de dezoito kilometros ~ n i n d oQuelimane um caminho de ferro pelo valle do PungOe até Mace-
quece, no distrito de Manica, podendo prolongar-se
I71 3 C;EXCIA DE C O L O ~ ~ S A Ç ~ O C031PANIiS.45 DE C O M N I S A Ç ~ O 175
,esse caminho de ferro á fkoilteii-a oeste do mesmo pertencentes á na$?ío. Ella obriga-se tambem a bro-
distrito. ver á inçtrução dos habitantes dos territorios que
Por uma reclamagão da Companhia, os seiis territo- administrar, a regular O cor.iercio das bebidas âlcoo-
*'os ficaram limitados ao norte pela bacia hydsographicn
licas e a estabelecer nos seus prazos, em cinco annos,
d o Aruangua, ao sul pelo Busi até á confluencia do mil familias de colonos portuguezes, não ficando, por
~Iiissapae por este rio e ao ocidente pela fronteira do
isso, com o exclusivo do comercio, ou de qualquer
distrito de Manica, decde o ponto mais proximo das
industria ou profissão. Tem ainda de respeitar todas
fontes do rio Mussapa, afluente do Biisi, até áquelle a s crengas, cultos religiosos, usos e costumes dos in-
que mais se aproxima das cabeceiras do Aruangua. A
digerias. Será sempre portugueza, portuguezes a maio-
Companhia obrigara-se a transportar todos os a'nnos ria dos seus funcionarios e nos seus edificios será
para as terras da concessão vinte colonos europeus,
hasteada a bandeira nacional, embora com distintivo
aos quaes devia dar habitações, trabalho e terras par2
-cultura. especial, O capital social teria de subir a 4 : j m contos
de que só ficaram.por emitir 300:000 acções. O ca-
Apezar dos maiores esforços e devido aos aconte- pital bem recentemente foi elevado a 6:7 jO contos, ten-
cimentos que se deram no final no anno de 1889 e
do sido emitidas, ainda em r g I O, cem mil ac~ões,com
durante o anno de 1890, a guerra movida pela Bri-
rnagnifico exito. A Companhia comprometia-se, como
tish Soutti Afnca, á invasão da região de hlanica e á
ruina do estabelecimento de Andrada, a Companhia
o fizera a que a antecedera, a construir linhas telegra-
phicas e uma linha ferrea da bahia do vale do Pungue
foi declinando sucessivamente e acabaria de todo se
á fronteira interior de Manica, mas ficava com o di-
-o governo, vendo o exito da companhia ingleza rivai,
não tivesse resolvido fazel-a resuigir, transformando-a reito exclusivo da navegação nos rios interiores, da
"'uma poderosa Companhia de Carta.. industria mineira, da pesca do coral e perolas, da
caça dos elephantes, com o dominio nas terras da
-9a r i a da Companhia e de I I de fevereiro de 1891. concessão, com o direito de cobras o mussoco e de
E' quasi identica 6s das Companhias inglezas, em- irnpôr taxas de licenqa para entrada, sahida, ou
bora mais explicita. Os seus territorios ficaram nhi
expressamente marcados, sendo limitados ao norte e transito de mercadorias, aiêm de lhe ser concedida
a faculdade de praticar todos os actos licitos ne-
ao noroeste pelo Zarnbeze, a oeste pela fronteira da
provincia, ao sul pelo Save e a leste pelo oceano. O cessarios ao exercicio e iisofruto dos ,direitos e in-
teresses conferidos pela carta. Esta poderia ser re-
governo tem direjto a fiscalisar os actos da Compa-
vogada no fim de 25 annos e a partir d'este pesiodo,
nhia e a desaprovar a s e s actos. A Companhia pode
de dez em dez adnos, alem 30 caso em que a Com-
fazer convenções com os chefes indigenas, sempre que
O seu fim principal não. seja regular ou estabelecer re-
panhia não cumprisse os deveres que assumira, por-
que então o Estado ficava com direito a rescindir o
lações de caracter politico, e deverá organisar e sus-
Tentar forças policiaes de terra e mar, sem que o Es- contrato sem indemnisaçáo alguma Em 30 de julho
de 1891 e 17 de maio de r897, a carta da concessão
.tado fique privado do direito de defender os territorios
foi -modificada. O perbdo da concessão foi aumentado
por mais 25 annos e a Companhia passou a substituir 3s te1 I itorios.paralysantlo-se assim a s u a acção e so-
o governo portuguez em tudo o que diz respeito á frendo com isso iinportaritissimos prejiiizos.
adn~inistragãodo territorio que lhe foi concedido. Em E m r8gz e 1593 essa crise ia passando e n'esses
expirando o contrato fica na posse de todos os terre- ailiios a Companhia esecutcu importantes trabalhos
nos que tiver exptorado, pagando determinado fdro, materises. Construiu varios edificios e entre elles um
o qual poder6 ser resgatado por parte d o Estado, e posto inetereologico, oficinas, matadoui'o, egreja, pri-
alêm d'isso a Companhia adquiriu o direito de fazer 520, casas para residencia do governador e emprega-
concess6es de caminhos de ferro por g g annos. Em dos, iniciou no porto da Beira a co~~stsução do caes,
troca o Estado recebeu 10 O/o das acções emitidas e de obras de defeza contra o mar e outros melhora-
tim direito a eguaI percentagem das que de ftituro se rnet!tos e prolongou um caminho de ferro Decauville.
emitissem, cabendo-lhe mais 2 '/2 % dos lucros liqui- Não contente com isto orgi-tnisou os serviços admi-
dos, ou 5 se estes atingissem 10 o o do capital. niçtrativos, o corpo de policia, O5 ser\ iços rnedicos e
Interessando-se assim o Estado nos negocios da Com- de agrimensura, melhoi-ou muito as condições hygie-
panhia, vixiu-se s t?rnar a sua fiscalisação mais activa, nicas e de esistencia ria cidade da Beira e lai~çouuma
para o que o governo é representado no Conselho de ponte sobre o rio Chiveve. E ao mesmo tempo dili-
Administração por tres membros d'esse conselho, genciava atrahi: cofanos, esplorar minas díretamente,
alem de possuir junto d'elle um Comissario espe- piomoi-er explorações mineiras por meio d'oritras en-
cial. A delimitag80 dos territorios da Companhia tidades, organisar a navegaçgo no Pungue e contra-
fez-se então mais uma vez e por uma forma rigorosa. tar com uma empreza estrangeira a construção do
Os produtos dos territorios da Companhia são es- caminho de ferro, a que se obripára.
pecialmente agricolas e mineiros. Dos agricoIas du- Nos a n n o s seguii~tesfoi sempre melhorando os ser-
rante muito tempo pouco cuidou a Companhia, ape- viços e alargando a espiiera d:i sua acção, para o que
zar de, na vastissima região que administra, brota- teve de fazer novas ocupações e sealisar as expedições
rem, no estado selvagem, o café, a borracha e a cana militares, bem sucedidas ao Bussi, ao Save, ao Alori-
d'assucar e poderem tambem produzir-se, com a maior bane e ao Chichegue. -4 derrota do Gungunhana con-
abundancia, a cera, marfim, ebano, arroz, tapioca, correu muito para o zumento da popiilagão dos terri-
batata doce e até as arvores e os frutos da Europa. torios e portanto p i a o acrescimo do imposto de
Desde o principio, mesmo quando a Companhia palhota. Em 1896, apezar da situação da Africa do
não era ainda uma Companhia de Carta,, ella prestou Sul e dos efeitos d'uma peste no gado bovino, a Com-
alguns sei-visos a colonisação. Ocupou bastantes ter- panhia teve lucros no valor de 136 contos. No anno
ritorios, fundou povoações, fez sub-concessões e ini- irnmediato a sua situação financeira ainda mais se con-
ciou as pesquizas mineiras. Pelas circunstancias que solidou, podendo dar um dividendo de 7 O/o, reali-
já enumerámos teve de retrahir os seus trabalhos, de sando n'essa epocba, uma nova emissão de 120:00o
abandonar muitos dos estabeIeciimentos e de ceder ao acções para poder dar maior desenvolvimento á sua
impeto dos agentes da South Airica, que lhe invadiam explora+o.
. Não foi tão prospero o periodo que se seguiu, de- fundagão da colonia de Manica e houve um tetrivel
clinando muito a situaçgo da Beira pela influencia da incendio na Beira. -4pezar d'isso a Companhia come-
guerra do Transwaal e do estado de negocios de toda %ou a realisar obras matei-iaes importantes e no campo
a Africa do Sul. Apezar de haverérn decrescido muito agricola desenvolveu muito a exploração da borracha
os seus rendimentos, a Companliia cornegou a abrir e tentou a cultura da sansivieira e do café. Para atra-
estradas, a construir pontes, a contratar a construgão hir os indigenas a utilisação do sólo comepu-se a
de novas linhas ferreas, a melhorar as condi~desde adotar o sj-stema de se lhe distribuírem sementes e
salubridade de Masequece, a edificar e mobilar casas comprarem-se-lhe os produtos, o que deu rnagnifico
para quarteis e residencia de fui~cionarios,a aterrar resuItado. '4 população preta foi sempre crescendo e a
terrenos inundados e a promover a fundação da co- riqueza da região aumento~l,ensaiando-se a creação
Ionia em hfanica, continuando sempre a trabalhar nas de gado muar e lanigero.
obras de âefeza da Beira contra o mar. N'esse periodo .i situação financeira da Companhia é desafogada.
ainda realisou com exito as expedições á Gorongoza Não deve nada a ninguem, não tem encargos com
a 5 Zambezia e conseguiu concIuir a construção do obrignçóes e possue ainda acções para emitir, tendo
caminho de ferro, que mais util se tornou depÒis pelo uitimarnente aumentado o seu capital, para dar vivo
alargamento da sua via e ligação com a Khodezia incremento á sua vida econornica. A s d e ~ e z a sque
Entrando activamen,te na exploraçáo agricola, irii- em 1901 atingiram 820 contos, desceram em 1 9 ~ 6 a
ciou depois a cultura da barracha, do assucar, do 6 0 3 contos e em Igr I atingiram 733 contos. Em com:
coco .e outros generòs. A partir de 1900as culturas pensaqão n'esse anno as receitas foram no valor de
tomaram maior incremento, estendendo-se a arvores 974 contos. Os melhoramentos materiaes realisados
Trutiferas, cereaes, algodão e tabaco. Levantou-se a pela Companhia até junho de 1908 haviam importado
carta de Manica, desenvolveram-se os serviços de em a:gSo contos, tendo ella entregue ao Estado por
agrimensura, facilitaram-se concessões de tems. diversos titulos quantia superior a mil contos de reis.
creou-se um jardim de ensaios e varioç postos mete- O movimento comercial em 1907 foi o dobto do de
reologicos, deu-se grande impulso á creação de gado 1897 e pelo porto da Beira fizeram-se n'aquelle anno
bovino e azinino e finalmente encaiou-se a exploração 23 @/o das importações da Rhodesia. e quasi a totali-
da lenha e das salinas e a fabricagão da cal. Creou- dade das suas exportações. Esse aumento tem-se
se n'essa epoclia tambem a repartição dos serviços acentuado pode-se dizer ininterruptamente. Assim em
urbanos e fizeram-se numerosas sub-concessões mi- 1go1 foi de 6:300 contos; em 1902 de 7500; 1 p 3
neiras. de 8:Sm; r9a4 de 5x00;1go5 de 7:zoo; 1906 de
A çubmissáo do Barué em rgoi e o termo da guerra g:om; 1907 de 8:roó.; 1908 de 10:6m; igog de
com o Transiuaal abriram um novo periodo de pro- 12:Soo; Igro de 15:gw;e 1911de zo:zoo.
gresso nas condigões da Companhia. bfaç nos a m o s As exportaqões figuram para estes'vaIores da se-
de 1901 a 1905 OS negocios continl~aramainda sem guinte fórma: I@= j51 contos; 1907-567; 1908-
actividade. Malogrou-se n'este tempo a tentativa de r:340;. 1909=1:936;'1g10=2:296 e 1 9 1 1=2:609.
180 S C I P ~ C I AD E C O L O N ~ B A Ç ~ O

Os principaes produtos exportados são borracha,


assucar, amendoim e ceieaes em grão. de L= 20:j85-12-:, tendo sido o numero de pes-
De borracha que é d'estes o principal artigo, vendeti quizas e esploraqõles muito superior ao de qualquer
a Companhia, ein 1907, rg:760 kilos por 7400 libras. dos ai~iiosque o precederanri-i. E m 5911 declinaram
Eni rgog essa venda aumeiitou em iiiais í r o/*. E muito os resriltados da industria mineii'a, tendo sido
em 1910 em mais 15 O/o do que no anno anterior. A egualrnente menor o numero dos novos c l a h s regis-
cultura do algodão está ainda na pliase experiren- tados, bem como o das licenças para pesquizai; Con-
tal, mas tem-se feito largas sementeiras e incitado tribuiu pzra isso o facto da mina de cobre Edn1uildinr-i
os indigenas a produzil-o diretamente. A plantaçHv ter çuspeniiido os seus trabalhos em outubro de 1910
dos coqueiros tem sempre aumentado, tendo a Com- e da mina d'ouro Braganga-Richmond haver deisado
panhia n'acluelle anno mais de 6 5 : o ~ onos viveiros. de produzir desde março de i91 I . R4as isso não si-
Ultimamente descobriu-se n a circunscrição de Seiina gnifica que tenha havido uma suspensão no desnvol-
lima arvore muito curiosa, que produz uma espe- virnento da industria mineira no territorio. E tanto
cie de breu, tendo-se já fabricado algumas tonela- tal-se não deu que no anno referid se riiontaram i 4
das e realisado experiencins muito curiosas. Os ga- pilões para propriedades ausiferaç, o qile elevou O seu
dos tambem têen? crescido muito em numero existin- numero a 85, além de 4 claims tle coure, e se elevou
do no fim de rgr I , em todo o territorio, mais I I / ' : ~ a média mensal do pessoal empregado das minas de
cãbeqas, Para o seu tratamento organisoii ha pouco a ouro, Afóra isso coilstituiu-se tambem em r g I r a
Companhia uni seryiço de veterinaria e procura eila, nova Comparil-iia Andi.rtàa Mines Ltd., con~panhia
por todos o s meios, aperfeiçoar as especies e os ty: que, pelos meios de que diçpoe, metodos'e processos
pos, de trabalho que está seguindo e resultados que já tem
A exploragão mineira continua a constituir a maior obtido das prospeções feitas, deverá constituir em
esperança dos que vivem daqueles territorios ou os breve um explendido reclame para o campo mineiro
dirigem, acreditando-se sempre que a s bacias supe- de Manicã e conta-se como certo yiie a mina de co-
rioies d o Lusiti e do Revué, contêm as i n ~ i o r e sri- bre Edmundian em breve secornegara os seus traba-
quezas auiiferaç do sudeste africano, Não se tem for- lhos e com maior actividade do que anteriormente.
mado companhias com recursos suficientes para essa Ainda no mesmo arino de 1911a Companhia p6z ern
exploração, mas, em 1907,pela primeira vez, a s re- vigor um novo regulamento mineiro, coligido com os
ceitas das minas excederam a s respectivas despezas. ensinamento~d a propria esperieilcia e da dos paizes
O ouro extrahido, que em Igoj fora de 56 kilos, su- visinhoç, iniciou a publicaçáa d'um jornal trimestral
biu em 1909 a 125 kilos, com um valor de 14:6oo de minas, redigido em yortirguez e inglez, para tornar
libras. conhecidas as possibilidades que a região oferece, as
E em i910 o vaiar total da produgão em ouro e riquezas minei-alogicas que eHa possue e di\rulgar en-
prata, atingiu L= 26:02g-I 5 - j, isto é, mais 63 tre o s mineiros indicações m~iito uteis, cornegou o
que no anno anterior e o da produção da prata d o o reconliecimei~to geotogico dos terrenos e adquiriu
uma bateria para a alugar aos pequenos inineiros.
LOYPBNHLAS DE COLOHISAÇÂQ
I83

Um ouhu elemento valiosissimo da riqueza d'aquela riquezas d'algumas das colonias da Africa do Sul, sem
;egião é a sua populagão indigena. Desde 1900 esta que contudo tivesse efetivado ate hoje essa ideia.
tem quasi triplicado. Deve-se isso em grande parte á A forga da Companhia é apenas de 250 homens.
ernigragão dos indigenas das colonias visinhas, airai- Linhas ferreas em serviço ha. so a da Beira á fronteira
dos pela forma protetora e sem vexames como e l l a ingkza, construida pela Beira Railway. Estão duas
ali são tratados. A Companhia não abandona e aptes em estudo, uma partindo de Macequece servindo as
consagra todos os cuidados aos indigenas, mesmo regiões de Chita, Penhalonga, Inhamucara, Andrada
aos que estão ao serviço dos particulares, ou n'outros e o ualle de Chimeze e a outra da Beira a 5ena pela
ernprsgos e concede ao seu comercio ampla liberdade, Gorongoza, passando pelas importantes povoa$ões de
A banevolencia e hurnailidade que a Companhia tem Lacerdonia e 'I'ete. Brevemente deve estar concluida
dispensado aos indigenas dos seus Lertitorios, ou que a linhn de Broken-Will a Kabnga, ligando esta com
os habitam, e os resuItados que cf'esse processo tem a Beira, por onde se exportara toclo o seu riqliissimo
colhido 520 uma nova confii.nia$fio das doutrinas que minerio, até se concluir o caminho de ferro do LO-
aqui temos sustentado. bito.
-4 prova d'isto é que o indigeria vae tomando o N o intuito de desenvolver cada vez mais n sua es-
habito do trabalho, a tal ponto que em Igro o nu- fera d'acção economic:i e de aumentar a rêde ferro-
mero de jor[iaes dos indigenas empregados em tra- viaria dos territorios, constitiiiu a Companhia uin
Salfios da Companhia e trabalhos de particiilares foi grupo de -capitalistas, reunidos para conseguirem a
de 6:974:8sj. E c. populagão tem aumentado inces- cohstrução d'um caminho de ferro, partindo d'um
santemente, tendo tido ainda em 1911 uni acrescimo, ponto da liilha administrada pela Beira Raiiaway até
sobre igro, de 5:6j0 indii iduos, acrescimo que se Port Herald, termo da linha d'esta povoagão a Blan-'
deu quasi na totalidade nos indigenas. Isto mesmo se tyre, constituida pela Shire Highland. Este caminho
confirma tambem pelo rendimento sempre crescente de ferro terá um Iarguissi~~o futliro, porque deverá
do imposto de palliota. Rendera esse em igog= r78 trazer ao porto da Beira o trafego d'rima vasta, fertil
contos, pois em 191r já produziu 189 contos. e prospera região, q~iese estende para o norte até ao
A industria do assucar tem progredido no teriitorio lago Kyassa e ciiinprehende o protetorado de S?;çsa-
por I6ma excecional. Mais d e 4o:ooo homens empre- iand, a pai-te otientai da Rhodezia do Soroeste e a
gam hoje a sua actividade n'essa industria nRs regifes parte sudoeste do Congo Belga. A linha telegraphica
da companhia. i\ produgão em r g g elevou-se a $186 segue a linha ferrea já em expbragão.
toneladas. 4 cidade da Beira tem tido grande desenvolvimerito.
Cúmo dissémos, ein cima, ultimamerite tem-se des- E m i899 yossuia ella i:ioo habitações de madeira,
envolvido muito a apanha da borracha e a cultura zinco e tijolo. Em 1898 as despezas da Companhia
do algodão e do arroz, tendo pensado tambem a Com- foram de 970 contos, dos qiiaes mais d'um. quarto se
panhia, em estabelecer larga escala, a creação dos empregaram na Beira em trabrtlhu-publicas. Construiu-
abectriizes, ciljas penas constituem rima das maiores se uma muralha de defeza contra o mal-, aterraram-se
&
c o l i ~ n u a : ~ni:
s co~orrsa~~o 1P5

os caes, alinharam-se as ruas, melhorou-se a r.ia$ão 30 preqo porqu2 essas acções figuravam iio batan~o
publica, fez-se uiii ilovo edifício para n alfandega e do-ànno anterior.
começaram as obras d'urna ponte caes para poderem --.. Ia1I ., o excesso das receitas sobre as despezas,
F.m a
entrar no porto os maiores narios. Fára das obras foi de 3 5 1 contos. Destinaram-se ~ o r è m9 2 coiitos
feitas n'essa cidade pouco se tem trabalhado, tendo-se para amortisagões. e retificações de invental-ios e por
pol-êm continuado a empregar nos seus melhoramen- isso os lucros liquido5 desceram a 159 contos. A to-
tos valiosas quantias. Para as explorações mineiras talidade das receitas em Africa, excluidas as receitas
tem-se feito concessões a companhias sub-concessio- brutas da esplora~ãoconiercial, foi de 906 contos,
narias. Para a exploi-aqão agricnla tem-se feito sensi- menos 39 contos d o que no anno anterior, devido.
velmente o mesmo, tendo-se de certo abusado um exclusivainente, á baixa que sofreu a receita da venda
pouco d'esse systema, o que não qver dizer que es- de borracha, veia deprecia~ãodo pre$o d'este produto
teja concedido mais do que uma pequena parte do e seca excecional do anno agricola. Quaçí todas as
territorio da Coinpat-ihia, devendo citar-se coiiio sub- outras receitas cresceram sensivelmerite. As das al-
concessionarias, a compailliia do Luabo, a coloriia fandegas produziram 295 contos; a do imposto de pa-
agricola de llanica, a companhia colonial do Busi, e Ihota, 139; a do imposto do rnussoco, 97; a das conces-
compa~ibia dos prazos da Gorongoza. A situa~ãofi- sóes e fóros, 5 2 ; a das capitanias, 3 1 ; a das licenças,
nanceira da companhia é magnifica, tendo dado já 2 2 ; a das receitas eventuaes, 24; a da extraçâo da
no atino de rgo8 um saldo apreciavel, deliido ás eco- borracha e esploi.a~Õesdiversas, 7 5 . As despezas em
nomias realizadas e ao bom aproveitamento de todas Afi=lca montaram a 652 contos, mais j O do que em
as ieceitaç e em 1909um saIdo ainda maior, supe- rgro, o que se explica pelo desenvolvimento progres-
rior a roo contos, apesar de despezas grandes que se sivo d a ndministragão do territorio e da sua expiora-
fizeram n'esse anrio com a instala~ãod'um museu, qáo comercial. Em virtude d'estes lisongeiros resillta-
d'um posto metereologico, de phai-oes, bibiiothecas e dos x Companhia poude manter o dividendo de 5 */o,
escotás. que já distribuira no anno antecedente, depois d'um
E m 1910 os resultados, sob este ponto de vista, largo periodo ern qiie o capitaI das acqões não rece-
escederam todas as previsões. O szlperavit esse anno
bera nenhuma remilneragão. Como contraprova de
foi de 544 contos e o lucro liquido da gei-enciâ, da- quanto é prospera a situagão financeira. da Cornpa-
pois de deduzidas importantes verbas para amortisa- nhia, devemos dizer que as suas disponibilidades na
çôes e valorisaç6es, subiu a 470 contos, a que ainda
Eiiropa, em 3 r de dezembro de 191r eram de 173 f
se poderia juntar a iinpoi-tancia de 63:50o$ooo réis contos e em Africa de 196 contos, o que prefaz O to-
de premio das acgões emitidas em 1909 e 1910, que tal de 1927 contos.
foi lei-ado a um fundo de reserva especial. Inclue-se Assim
.- . ha as inais bem fundamentadas esperangas
n'este Iticro a quantia de 223 contos de réis, da venda
de que o desen~:olvimento dos seus territorios sera
de 5 j:;qO acções da Beira Railway Company, reali- em breve intenso e Ii altura das enormes riquezas que
sada a mlis r7 shiliing e r 0 pences por acção aiêm
i~'ellesfia a esplorar. As emprezas sub-concessionaria5
tambem teem prosperzdo e tanto que a do Busi re-
forqo~iem 1910 o seu capital, pagou todas as suas te5 caminlios de ferro nunca poderiam ser superiores
as que i-igorasseni na linha de Lourenço Marques á
dividas, inclusive a que tiriha á Cornpanl-iia de Mo-
fronteira do Transwal. A Compa~~hia ficou tambem
çarnbique no valor de 30 contos e. distribuiu já o
seu primei0 dividendo. obrigada a construir, alem da linha telegrapbica que
acompanharia o tra~adodo caminho de ferro, urna
Só n'um ponto a Companhia nãó tem podido cum-
prir integralmente os deiveres a que se obrigou pela outra ligando entre si os poi.tos da costa dos seus
siia Carta. E' no que diz respeito h introdução dos territorios.
colonos. Quando eila se empenhar no desempenho Para utilisar tão grande coilcessão, que abrange um
d'esse encargo. e chegar a ctimyril-o, terá dado o territorio de 25O:OOO kilometros quadrado>, oigani-
maior passo para a -reuiisação da obra valiosa que sou-se ektivainente a companhia do Nyassa, com o
tem a seu cargo. capital social de 4:joo contos. A concessão foi feita
por 3 j annos. 4 Companhia, para dominar os territo-
rios que lhe foram concedidos, diligei~ciori,já em,tem-
- Companhia do Nyassa. Por decreto de 26 de pos, organizar uma coluna de operaçóes 'com landiiir,
setembro de 1891 foi autorizada a cr-eação d'uma
companhia para administrar e explorar os territorios de Inhainbaiie e oficiaes do exercito do reino, peiu-
da provincia de Moçambique lirriitados ao norte, leste ?ando em estabeleces postos militares a partir d a bahia
e a oeste pelos limites da provincia, fixados pelos tra- de Pemba e avançando para o interior zté abrir cornu-.
tados internacronaes de 1566 e rS91, e ao sul pelo
'
~icaçõescom o lago Xyassa, estabelecendo linhas te-
rio Lurio, desde a sua nascente ate á sua foz, com- legraphicas e fazendo os estitcios para o carninlio de
prehendendo ainda as iihas adjacentes da zona ma- ferro, cujo inicio se resolveu. qile fosse aquella bahia,
1:itima correspondente. A sua Carca é analoga a da dotada de aiagnificas condiçôes naturaes. UItimamente
Companhia de Mogarnbique e em grande parte ate e pondo em ~ i g o sesforços inteligentes e ininterruptoç
iedigida 120s mesmos termos. e indo, pouco a pouco, rcalisando esse plano e fun-
-4lêrn de deveres çemell-iantes aos que assumiu dando os referidos postos militares, conçegitiu vences
a resistencia do .réçulo da Matala, contra o qual jk
aquelia Conipaiihia, a do Syassa obrigou-se a piocer
der, logo depois de constituida e aprovados os seus se haviam oi&anisado outias ,expedigões, e que sepre-
estatutos, á construção d'um caminho de ferro De- sentava o mais forte obstáculo ao dominio, nos terri-
cauville, ou de outro de via reduzida, entre um dos torios da Companhia, da soberania portugueza e d'eâse
modo tornou efetiva e incnnk-+~~;ela sua ocupa-
portos da costa e a margem oriental do lago Kyassa.
Se esta linha se tornasse insuficiente para as necessi- ção.
dades do- comercio e da esp10raç20mdaregião, a Con- Durante muito tempo a Compatlhla limitou-se a
panhia teria de construir e explorar, durante g g annos, promulgar alguns regulamentqs e a cobrar as receitas
um caminho de ferro com rails d'aço de pézo minimo aduaneiras, iniciando, em 1898, a receqão de impos-
de 20 kilogramas por metro corrente. -4s tarifas d'es: tos indigenas.
-4 primitita capital foi em Zbo, mas n'esse anno de
i898 estabeleceram-se novos coi?ceihos no Lurio e recarsos de que ella tem podido dispòr. Para se rea-
e m I'emba, em cuja bahia se começou o cotistmir a lisar praticamente essa explora@o é iniprescindirel a
cidade de Porto Amelin, para onde, desde logo, se ci>nstriiç80 do caminho de ferro, Que d w e ser um
iniciou n tirnsferoncia da capital. Em 1899, coni o dos ramses do grande t~ans-africano,obra muito dis-
auxilio d a coluna, a que acima nos refeiinios, ieaii- pendiosa e que só em I ~2 Ientrou n'um campo de
soii-se uma vasta ocupapão para o interior. Funda- realisaqão pratica, achando-se entrio a Companhia em
ram-se um forte e cinco postos, comprovo~r-sea sa- condigòes de declarar que ia comepnr a sua constm-
lubridade d a região e a sca riqueza agricola e mineira $80, devendo a referida linha ferrea ter uma extensão
e alai.go~i-seo imposto da cobrança de palhoh. Pouco de 769 I<ilometros. Bastou ter-se conhecimento d'esse
depois organisava-se tinia expedisão de estudo nos facto psra que aparecessem inumeros pedidos de con-
jazigos carboniferos do interior. O comercio cornegou cessòos de terrenos proximos do caminho de ferro
a aumentar e paralelfainente foram crescendo as re- psra exploraçòes agricolas e construção de casas,
ceitas. E m :c03 duplicnva o movimento comercial e concessões que, em futuro proximo, hão de animar
d e então pala cá este tem-se sempre desem701iido. poderosamente 8 economia da região.-
Em 1906 as receitas chegaram qunsi pala fazer face Não se pode negar que algumas disposiqões d o
a todas as despezas em Afiica. A Coinpaiiliin reiili- qouerno central têem concorrido bastante para cercear
SOU tambem um contrato com n Witirafe~sraizd Ng- 1s meios que a Companhia poderia obter. Entre
L a b w dsso~iationpara n irnigra$ãa dos indige- stas devem-se citar a prohibi~ãn durante alguns
nas rara as minas do Transwal e fez \-ariassub-cori- .nos do comercio das armas de fogo, o que não evitou
cessões a emprezas para a cultu~a do algodão, [ue os indigenas as adquirissem pelo contrabando, e
explorações de perolas e fabrico de sal. 4 sua prin- penas fez desviar o comercio pam.as coionias~alemãs.
cipal sub-concess3o foi a que efetiion em favor da desorganisaçâo da ciscula@o monetaria, e as contes-
Search .Tyndicate Li~nitLdpara a esploraqão de mi- a@es aos direitos da Companhia sobre a vila do Ibo.
ileraes carbonosos, fe~rosose metaliferos, pedras pre- A Companhia nAO estabdeceu até ao momento
ciosas, plantas de Iiosrncha, negocios banca~jos,trans- ctual um unico colono, estando por isso qiiasi todo
portes na costa e no lago Kyassa e para a formação comercio na mão dos traficantes arabes, nem dispõe
d'uma Companbiz que desse grand- impulso as obras a força armada de que carece. A sua acção tem sido
da cidade de Porto Amelia. OS isso Ù'uma eficacia muito limitada, o que é para
-4s receitas da Companhia tem-se dese~>voivido Imentar porque ella dispõe de territotios muito
'ernpre e em 1908 chegavam já para pagar as despe- icos, em ferro e ouro, psoprios a m b e m para a cul-
"S feitas em Africa e perto de 17 contos das realisa- a, da borracha e do algod80. atravessados por
das na Eoropa. Os maiores trabalhos da Companhia aravanas indigenas e dotados d'um dos melhores
tem-se consagiado a firmar a ocupação e por isso a ortos da Africa Oriental.
verdadeira erplosaç.?~economica dos territorios est6
ainda no seii periodo rudimentar atentos os limitados
td possuimos, com o caracter de uma grande coinpa- Porico depois de constituida a Companhia organisou
nhia de colonisa~ão,a Companhia de Mossamedes e esta duas expedições de estudos no seu terlitorio,
n'uin sentido mais restricto, por isso que s6 trata da uma de caracter scientifico e outra destinada a estrl-
construção e exploração d'uma linha ferrea, embora dar a regi50 sob o ponto de vista agricola, comercial
d e enornie penetraçiio, a Companhia d o Caminho de e industrial. Descobriram-se logo importantesriquezas
Ferro do Lobito. O decreto que creou a Companhia mineraes que a Companhia cedeu nos territorios efiti-e
de .\,lossamedes é de 28 de fevereiro de iSg4 e foi os paralelos 15" e 16' e os rios Cunene, Cuchi e
esta destinada a explora~ãoagiícota, mineira, flores- Cubango á 7he Cusiqe. Co~zcesrions Linziten, em
tal, comercial e industrial dos terrenos incultos limi- troca de I 2o:ooo acções d'esta empreza e 10 shilings
tados por uma rède fluvial constituida pelos rios mensaes por cada claifn, sendo os technicos que eila
Curoca, Caculovar, Cunene e Cuchi. enviou á região de parecer que a mesma tinha as
A concessão d'esta Companhia difere bastante das maiores analogias com a do Rand e a do 'I'ranswaal,
de Moçambique e Xyassa; acentuando-se-n'efta espe- e nos territorios entre a costa e o Cubango á 7hc
cialmente o caracter agricola, industrial e comercial Sauth African Company LzPnittd, em troca de 3 : m
da Companhia. O seu capital nunca poderia sei inferior Iibras, 2oo:ooo acções da referida Companhia e 12,s
a 500 contos, mas, na verdade elevou-se logo a 2:2 jo francos por mez e por clai~n.
'contos e em I ~ O I foi aumentado ainda para 4:993 - Em rgog esta ultima compachia pediu o alaya-
contos, de que et&ú emitidas 693:7jo acgões, com o mento dos direitos mineiros, que já lhe haviam sido
desembolso de 3: 121:875$0~,réis. cedidos, sobre novos territorios, pedido que foi aten-
A Companhia obrigou-se a explorar, até ao fim de dido medeante a entrega de 15o:cao acções de uma
cinco annos, vinte mif hectares de terreno, e até a o fim libra. inteiramente liberadas, com a condisão de lhe
de r 0 annos, 4 0 : w hectares, ficando o governo com ser dada opção em xoo:ooo d'essas acções a 7 shilings
o direito de dispor d'uma extensão de terrenos, fazende e- 6 pences, ati ao fim de outubro de rgrz.
paite da concessão, egual á que faltar para compieta Em março de rgIo fundou-se a m a nova compa-
àquelle numero, caso esse compromisso nãa fosse nhia denominada The Angola Explpration Syndicate
satisfeito. Tambem a Companhia se comprometeu a Limited, que enviou logo uma.expedição, constituida
receber annualmente 500 famiIiaç de colonosportugue- por nove engenheiros, prospectores e agronomos, para
ees. Pela concessão da companhia, os colonos de examinar os territorios da Còmpa~ihiade Mossamedes
nacionalidade estrangeira, que se estabelecessem nos sob o ponto de vista mineiro e agricola. Em relaçgo
'seus territoiios, seriam sujeitos á s leis yortiiguezas e &s riquezas mineiras, ainda não sLo' conhecidos, acr
considerados como portuguezes para todos os efeitos escrevermos estas linhas, os relatorios da referida
e eila deveria ernprégar todos os esforços para .que expedição.
esses colonos não formassem centros isoIados e sim Ao principio, a Czompnhia viveu apenasdo 'comer-
se disseminascem entre os portuguezes. 0s estatutos . cio com os indigen-, fias a partir de 1901 começou
%oram aprovados em 10 de ,maio d e 1894. - - - a dar- o. cara-cter agicola á sua exploração. Iniciotr a
$orgos de cada um. A conquista da fortuna é o
nkéreçse exclilsivo destas existencias laboriosas.
rodos os homens se entregam a um trabalho inces-
;ante para adquirir a riqueza, e como todos elles teem
,cupagões analogas e rim fim identico, o que conse-
&e tornar-se rico tem a dupIa honra de ser ao
Administração e Governo das Colonias marno tempo o- mais poderoso e de merecer o titulo
do mais habíl da comunidade.
Situação e tendencias dos colonos no primeiro pel-iodo da Na vida do colono, atormentada pelo desejo e pela
colonia. - Creação dos municipios t: intervenção d o Es- esperanp do ganho, não ha logar para pensamentos
tado n'esses organismos:-A acção d o Estado nas eçpeculativos. O seu cerebro está tão cheio de proje-
novas colonias. - Systema representativo nas colonias. tos, e a sua actividade t3o ocupada pelo trabalho,
- Ministerio das coionias. - Creação d o Ministerio das que não fica tempo para a vida publica. Todas as
Colonias e m Portugal. - R e c r u t a m e n t o dos funciona- funções e dignidades diç~utadasnas velhas socieda-
rios coloniaes. -Educação e preparação dos colonos. - des europêas são desdenhadas pelos primeiros colonos
A instrucção nas coloniaq portuguezas. - Tendencias como encargos inuteis, que tiram um tempo precioso
para a emancipagão. -- Proteção aos indigenas. - Pcder e conç;ituem um obstacuIo a formação da riqueza.
legislativo n a s coianias. --Perigos d'uma tutela exage- N'este primeiro estado de colonisação ha entre os
rada e opressiva. - Federalismo das colonias. - Syste- homens uma egualdade que impressiona. A instru~ão
mas a adotar nas colonias mixtas e d e exploração. primaria pode-se dizer commum, a instnig80 superior
é muito rara e d'ahi resulta uma identidade de edu-
Situação e tendencias dos colonos no pri- c a g o que evita toda a distinção de classes. Não existe
meiro periodo d a colonis. O modo de adminis- ali a categoria dos individuos, vulgares nas velhas
trar e governar os estabelecimentos coloziaes consti- sociedades, que nascem já com condições de fortuna,
tue um dos problemas mais dificcis da colonisagão. De iiesdenhando as profissões que só aspiram ao lucro,
todas as napões que tem colonissdo com exito, nem educados em estudos especuIativos e que por isso-
uma só tem seguido a este respeito uma poiitica justa reevindicam a diregão dos negocias publicos como um
e constante e tem podido evitar as perturbações que tiominio natural reservado ii sua actividade e inteli-
a maioria das colonias tem pl-ovocado muitas vezes ieneia. E assim, no primeiro periodo das colonias, a
8s metropotes. mãe patria póde governar sem obstaculoç, exigindo-
NO primeiro periodo de colonisagão todos os esfor- se-lhe apenas que estabelega em toda a parte a segu-
$os dos colonos convergem para n aquisiqão da riqueza. i-anp e não proceda nunca por uma fórma vexatoria
A ancia do lucro e da acumulação, que em toda a para com os interesses particulares.
parte é um dos principaes incitamentos da activiaadr
humana, é, nas coionias, quasi que o unico mobi1 doi
Creação dos municipios e intervenção do rencia incessante e inexperiente dos funcionarios
Estado n'esses organismos. O que deixâmos dito administrativos.
não obsta a que ainda mesmo n'este primeiro periodo N'essa epocha da civilisação, em que O s interesses
da colonisação, haja um limite para a acção metropo- são mais encontrados e menos distintos do que o
litana. Esse limite é determinado pela creação do hão-de de ser mais tarde, as auctoridades, para que
municipio ou da comuna que nasce com o alvorecer s e pode apelar dos erros e faltas dos agentes suba{-
da colonia, pela sir.~plesaproxima~ãod'algumas casas ternos, achando-se muito afastadas, e sendo as com-
ou d'algumas paihotas e que, desde logo, reclama a munica$ies nuito dificeis, nada poderão fazer de util
plenitude das suas atribuiçôes e o respeito da sua e consciente e por isso a tutela 'adminiçtratix-a será
indepeniencia. O municipio, como a familia, é uma singularmente prejudiçial pata as colonias,
instituição tanto d'ordem natural como d'ordern poli- Todas as nações que se aplicam com seriedade á
tica. E' o elemento primordial de toda a civilisação e colci.onisação e que tem a louvavel arnbiqáo de formar,
quanto mais eile se desenvoIve, mais a civilisago n'uma região nova, uma sociedade forte e progressiva,
será forte e activa. devem deixar que a vida municipal se desenvolva
A independencia dos municipios é ainda mais sem entraves, como tem sucedido nas colonias ingIe-
necessaria nas colonias do que nas outras sociedades. zas da America e como ainda hoje sucede nos Esta-
Ali elles teem uma importancia maior do que em dos Unidos. Ahi, em tudo o que diz respeito a eltas
parte alguma, porque, no estado de acrescimo e de proprias, as comunas tem sido sempre corpos inde-
progresso rapido que caracterisa a colonisação, os pendentes. Se se trata de vender, de comprar, de
interesses dos individuos estão mais vezes em jogo intentar uma acção em juizo e de a defender, a co-
com os interesses municipaes do que nas velhas muna tem o direito de o fazer, sem precisar de licenp
sociedades, que já alcançaram um grau de estabili- da abministração superior.
dade compativel com uma certa rotina. A tutela será As relações com o Estado obrigam-na sómente a

-
por isso mais vexatoria nas colonias cio que nos prover aos serviços d'utilidade geral, conformando- se
outros povos, porque a sua acção será mais frequente, com as leis do mesmo Estado. Se este pede contri-
mais intensa e mais sensivel. Essa tutela será, ao buições, a comuna é obrigada a conceder-Ih'as. Se
mesmo tempo, mais dificil de exercer, por causa da pretende abrir uma estrada que atravesse muitas
extensão do territorio, da diversidade das circumstan- cqmunaç, nenhuma d'estas tem direito de impedir
cias, da variedade e mobilidade dos interesses. Será que kd@?ra realíse. Se se elabora um regulamento
tambem mais sujeita ao erro, pela falta de preceden- de póliciá, todas a s comunas devem concordar com
tes, pela insuficiencia e inexperiencia dos funciona- elIe. Se se estabelece que o ensino seja organisado
rios, quasi sempre incompetentes em assuntos colo- em toda a parte pelo mesmo plano, a comuna é
niaes e desprovidos do conhecimento das circumstan- obrigada a crear o numero de escolas marcado na lei.
cias e das condições locaes. Os colonos sentirão mais Como se vê o papel do Estado fica ainda muito
do que os habitantes das velhas re,'"
~ i o e sessa interfe- extenso, mas está nitidamente tragado. As atribuiqões
da cornuna, bem delimitadas, ficam salvas, intactas, trez palavras : segurança, hygiene e viação. 0 s colo-
ao abrigo de ingerencias arbitrárias. E' este o unico nos nada mais teem a esigir-lhe e teem o direito de
meio de se crearem costumes politicos fortes e sãos se queixar, quando ella vae alêm d'esses trez servigos
e de se conservarem costumes privados virís. e invade o circulo da sua vida economica.
Toda a politica contraria amortece a iniciativa dos Muitas vezes a acção do Estado peca pela mania
cidadãos, diminuindo a sua responsabilidade e enfra- de se considerar mais competente para compreender
quece a sua atividade e ardor, sob o peso de reguIa- os interesses da colonia, do que OS proprios coionw.
rnentos inuteis. Essa actividade e ardor são a s molas Os diversos funcionanos que se sucedem tentam sem-
principaes do desenvolvimento e dos progressos d'um pre lutar contra a pretendida rotina dos colonos e pro-
povo. Convêm evitar que nas colonias os municipios curam abrir caminho a o aperfei~oamentoda produ-
sejam excessivamente divididos e fracamente consti- ção. Reputam-se na situação de dirigir diretamente a
tuidos. Para isso se conseguir basta deixar seguir a s vida economica das colonias; recomendam e prescre-
cousas o seu curso natural. 0s municipios fortes e vi- vem certos métodos e determinadas culturas ; impõem
gorosos constituem-se por si mesmo, se não se inter- arbitrariamente obrigações inuteis aos cultivadores;
vier reduzindo-os e dividindo-os. pretendem improvisar por concessões estreitas uma
90 principio, os concelhos nas colonias, visto a produção, recusada pelas condições cia mão d'obra;
pouca densidade da populaqão, hão-de ter sempre fazem grandes despezas em escolas modelos, em ex-
uma extensão consideravei, e, ti medida que uma po- periencias de ncIimatação, em viireiros e em jardins
pulação se desenvolver, elles tornar-se-hão mais po- botanicos. A ausencia completa de toda a ingerencia
pulosos, dotados de maiores recursos e portanto d e rios interesses dos particulares é uma condiqão essen-
maior vitalidade. cial para a bost ordem e progresso nas colonias. O que
A primeira condição do desenvoIvimento das colo- convêm é permitir a esses interesses que se valorisem
nias está pois na constitaição de municipios ou comu- e esclarecel-os por todos os meios que não sejam re-
nas fortes e na sua independencia completa, dentro provados pela moral.
das suas naturaes atribui$ões. E' contrario a essa ins- E' preciso redigirem-se boas leis e sobretudo muito
tituição o estabelecerem-se comissões nomeadas pelo simples sobre os sindicatos e sociedades civis ou co-
governo, para substituirem os que devem ser escolhi- rnerciaes; que o processo para a aiitorisação adminis-
dos pelo voto dos seus concidadãos. O presidente d'es- trativa seja o mais rapido e fácil possivel; que a s des-
ses municipios tambem não deve ser pessoa designada yezas a fazer sejam diminutas e que não haja demo-
ou nomeada pelo poder centraI. ras, nem entraves burocraticos. Tudo o que contraría
o direito de açsociação é um obstaculo a o desenvol-
A acção do Estado nas novas colonias. Em vimento d'essas sociedades nazcenteç.
geral coilvêm evitar tudo o que possa restringir a ini- Urna nação que quer colonisar deve ter sempre pre-
ciativa e a responsabilidade dos particulares. A função sente que uma colonia carece, na origem, d'uma grande
da administragão d'iima colonia resume-se n'esta' facilidade de processos e de expacsão, que é insen-
sato exigir-lhe uma regularidade contínua, uma cor- que Ihes podem ser concedidas. I'or isso muitos es-
régáo de movimentos e de acção, que só se encontra critores e administradores coloniaes entendem que os
nos povos adultos. E' uma verdadeira chimera querer governos devein abster-se, quanto possivel, de publi-
fundar-se uma sociedade velha n'uma regi"50 nova. car decretos ou regulamentos sem a intervengãa do
Ha certas garantias estabelecidas nas nações co!o- poder legislativo da metropoie. Julgam elles irregu!zr
nisadoras, que seria util transportarem-se para as res- que se subtraia ao estudo dos representantes legiti-
petivas colonias, taes como o jury e a inabilidade dos mos da nação o exame de questões que afetam gra-
juizes. Não ha diivida que, quando uma socidade ma1 vemente os interesses nacionaes presentes e futuros.
desponta ainda, aquelles que a compõem estão espa- As providencias promulgadas por aquelle modo passam
lhados a grandes distancias e absorvidos por r;m tra- e m grande parte desapercebidas, sem provocar o es-
balho incessante. Pode então ser verdadeiramente im- tudo e a discussão convenientes e originam com ra-
possivel orgaisar-se o jtiry. Mas isso é apenas um zão a desconfian~ae o descontentamento dos colo-
estado transitorio, que só pode durar alguns annos. nos.
O j~lgamentopelos seus eguaes é para todo o indivi- Esta opinião, porém, não é geral. Contra eila se in-
duo um direito pessoal imprescritivel, cujo exercicio surgem publicistas e funcionarios coloniaes tambem
só deve ser suspenso por circunstancias excecionaes da maior auctoridade. Entre nós, por exemplo, Eduardo
contra as quaes não se possa lutar, mas que não deixa Costa condenou a intervenção do parlamento na re-
de existir como um direito natural, que não convêm solução das questões que dizem respeito aos infeies-
que seja atingido. A Nova Inglaterra nunca renunciou ses das colonias. Advogando abertamente o systema
á instituição sagrada do jury e nunca essa instituição .colonial da aiitonomia, elle entendia que era necessá-
foi prejudicial ao desenvolvimento da referida coio- rio subtrair-se a legislação colonial á acgão do parla-
nia. mento, sem lhe negar, contudo, o direito de fiscalisar
as respetivas leis e de emitir a sua opinião sobre ne-
Systerna representativo nas colonias. Já dis- g o c i o ~de tanta importnncia para a vida da nação.
sémos que, no periodo da sua infancia, as colonias po- Julgava porêm o ilustre colonial que as assembleias
dem ser administradas diretamente pelas metropoles legisiativas serão fatalmente dominadas por tendencias
e que e inconveniente recorrer então ás assemblSias assimiladoras e egualisadoras, prejudiciaes ao desen-
coIoniaes. JIerivale dizia com razão que n'esse periodo volvimento das colonias, cada uma das quaes tem o
o colono precisa, especialmente, de instituigões siín- s e u modo de ser especial. A Inglaterra conseguiu es-
ples e praticas, iiâo estando ainda preparado para o tabelecer tiinta a quarenta formas de governo diferen-
systema representativo. tes para as suas coionias e d'ahi concluis Eduardo
Se a mãe patria tem o direito de dirigir n'essas cir- Costa que um tal trabalho nunca poderia sahir das
cunstancias e sem fiscalisa~ãoos i~egocioscoloniaes. camaras Iegistativaç, compostas na sua maioria de
bom é que ella compense as garantias representativas pessoas que não conhecem nem podem conhecer as
que Íaltam aos colonos com as garantias subsidiárias causas e as necessidades d'uma tal diversidade. Em
E GOVEI~SO DAS COLONIAB
ADMINISTRA~~O 203
reforço da sua opiniáo citava elle a de Cartier, juris-
consulto belga, que entende que as Côrtes não devem eleição de sufragio restrito, o que nao obsta a que os-
legislar para as colonias e a de D. Lucas Alaman, es- interesses do Estado metropolitano, assim como todos
tadista mexicano, que faz o maior elogio ao trabalho os que envolvam assuntos respeitantes á sua sobera-
do antigo Conselho das Indias, na Hespanha, consti- nia, tenham de ser sujeitos á sanqão parlamentar. O
tuido por homens de grande pratica, entendidos n a bsilhante colonial cdncordava em que o sistema que
administração e conhecendo a fundo os individuos e adipogava era o sistema despotico atenuado, mas jul-
as regiõés a que eram destinadas a s leis por elle or- gava que é o iiilico aplicavel áç colonias, e que elle-
ganisadas. não exclue a autonomia local necessaria. Para funda-
Em França só as velhas colonias (Grandes Antiihas mentar a sua dout~inaapontava o exempio da India
e Reunião) são dirigidas pelo parlamento. Todas a s Ingleza, o das coionias do Oeste e Suesta Africano, o
outras tem por lei os decretos do Presidente da Re- das Antilhas e o da Java.
publica a mesmo nas primeiras, os governos, por ctele- Contra as opii~iõesde Eduardo Costa e de Catier
gação do poder legisIativo, decretam muitas medidas ha porèrn a d e publicistas eminentes ccimo Le-
importantes, com o pretexto de que é neceçsario dar roy Beaulieu e os processos que hoje se estão empre-
soluqão rapida a muitos problemas da administração gando pelas nações de maior renome coionial, onde
colonial. 'Era o que sucedia entre nos durante a vi- os parlamentos conservam os mais iatos poderes para
gencia da monarchia, por disposigão constitucional, legislar e intervir sobre todos o s grandes problemas
visto que o art. I 5 . O do primeiro acto adicional á Carta que interessam á s possessões ultramarinas.
Constitucional autorisava o poder executivo a legislar
da maneira mais lata para as coIonias, no interregna Ministerio das colonias. Uma outra indicação
das sessões do parIamento. Essa disposigão foi tam- que hojé é considerada como um principio assente é
bem inserta na atual Constituigão do Estado. a Je que toda a nação que quer sériamente coloiiisar
O jurisconsulto belga já citado, Catier, leva o seri deve ter um ministerio especial para as colonias. Le-
exagero a favor da supremacia do poder executivo roy Reaulieu é de parecer que o fazer depender os
ao ponto de dizer que uma grande concentragão d e negocios coloniaes do ministerio da marinha ou do
poderes é o melher regimen aplicavel as coloriias, da guerra equivale a colocal~osem segundo plano e-
Eduardo Costa, que, pela sua elevada ilustração e su- alem d'isso submetel-os a funcionarios que, domina-
perior critério, nunca nos cançaremos de citar, enten- dos pelos habito5 militares, não possuem muitos
dia ainda que é uma anomalia a existencia dos de- - d'eiles as liizes ecpeciaes e as qualidades neces=rias
putados coloniaes e que o poder legislativo, assim para a boa adrninistraçâo de interesses essencialmente
como o poder executivo, para as coIonias, devem con- civis. A Inglaterra e a Hollanda teem h a niuito um-
centrar-se nas mãos das autoridades respetivas, mi- ministerio das colonias. A Hespanha, em epoca ainda
nistro do uftramar e governadores, com as suas jun- não muito remota, resolveu crear ou antes resuscitar
tas e conselhos, de nomeação do poder central ou d e um rninisterio de egual caracter, que s ó se extinguiu
pela perda do imperio d'além mar d'este paiz. A
Franga, em 1858, fez um ensaio d'egual natureza e danqas dos rninist-erios &o um obstaculo a colonisa-
ha poucos annos ainda creou de novo o ministerio $50, advoga a ideia de se organisar um conselho per-
das colonias, dando-lhe larguissimas atribuições. manente de que o ministro das colonias teria apenas
Quando se entenda que ta1 rninisterio não deve ser a presidencia, constituido pelos homens de Estado,
creado, convirá ao menos fazer dependes as colonias de todas as opiniões politicas, que tenham servido
d'um ministerio civil e não d'um ministerio militar. nas possessões d'alêm mar. Imitar-se-hia assim o ce-
N'esse sentido Garnbetta, em França, em 1881, uniu-o lebre Conselho das Indias da monarchia hespanhola.
ao ministerio do comrnercio, quando organisou o seu Entre nós existia d'antes a Junta Consultiva do U1-
gabinete. tramar a que pertenciam antigos funcionarios ultra-
Entre nós este problema foi sempre muito debatido, marinos da maior respeitabilidade e saber, julgando-se
tendo o falecido estadista e jornalista Emygdio Xa- que assim se assegurava o respeito das tradições e a
varro sustentado a opinião de que, se não podesse- logica e continuidade dos estudos coloniaes. Essa
mos ci-ear um ministerio exclusivamente das colonias, Junta foi, pelo decreto de 27 de maio de 191I , extinta
deveriamos ligar, ao menos, o que trata d'estas ques- e substituida pelo Conselho Colonial.
tões com o dos estrangeiros, o que se justifica no fa-
cto das nossas questões diplomaticas gravitarem yuasi Creação do Ministerio das Colonias em Por-
todas em torno da questão colonial, a tal ponto tugal, 0 s que ha muito defendiam a ideia de se or-
que, pela sua maior ou menor ligasito com ellas, se ganisar no nosso paiz um ministerio que tratasse ex-
pode avaliar a sua maior ou menor importancia. h'a clusivamente dos assuntos e questões que interessam
-4Ilemanha procede-se d'este modo, considerando-se ao vasto imperio colonial que ainda possuimos, viram
o s governos coloniaes como verdadeiros protectorados essa ideia triurnphar ao ser publicado o decreto de 23
sobre paizes extrangeiros e os assumptoç coloniaes de agosto de Igr I. Mas antes d'isso já fôra dada pelo
como negocios interessando a chanceIaria do Impe- decreto d e 27 de maio do mesmo anno uma nova
rio. organisa~ãoaos serviços da Secretaria das Colonias,
Em 1911 separou-se em dois o nosso antigo mi- que ficou dividida em duas direç6es geras: a direção
nisterio da marinha e ultramar, creando-se com in- geral das colonias e a direção geral de fazenda das
teira autonomia o rninisterio das colonias, de cuja orga- colonias. A r." desdobra-se em oito reyartigões que
nisqão daremos em seguida uma nota resumida. são : central, administração, obras publicas, viação,
Não basta fazer depender os assuntos das colo- militar, marinha, regimen monetario, bancos e compa-
nias d'um ministerio civil, que tenha a competencia nhias, e saudé. O decreto especifica detakhadamente
especial necessaria para os comprehender bem e diri- os negocios que ficam a cargo de cada uma das re-
gil-os com acerto. E' preciso tarnbem dar á adminis- parti~ões,negocios indicados na sua generalidade pelo
tração respetiva uma unidade de plano e de pensa- nome que respectivamente lhes foi dado. As admis-
mento que a5 repetidas mudanças de governo tantas sões de empregados para esta disegão geral, dizia o
vezes contrariam. Porter, accentuando quanto as mu- decreto que seriam feitas segundo o regulamento a
,pubIicar 110 futuro, mas tendo-se se:npre eni atenção
especial os indit.iduos-habilitados com o curso da Es- e pautas que estavam a cargo da 2.a repartição da
co!a Colonial. Estabeleceu-se tambem n'este diploma direção geral das colonizs e bem assim a orgaiiisação
o principio de que os empregados da mesma direção d e toda a estatistica aduaneira colonial.
geral poderão ser nomeados etii commissão não infe- O decreto a que nos referimos extinguiu o Corise-
rior a dois annos para desempenharem funções dos li10 de Pautas Ultramarinas, a Juríta Consul:iva das
quadros das colonias para que sejam julgados aptos, Colonias e o Conselho da Magistratura. &h5 creou
-dando-lhes o desempenho d'essas funções preferencia a o mesmo tempo um Conselho Colonial com atribui-
para as pronloções futuras. Quando estes funcionarioç qõeç de consulta sobre assuntos juridicos, de admi-
regressarem das referidas commissões antes dos dois nistragão das colonias e de tribunal de contencioso.
annos contados a partir da nomeação para ellas, ficarão Este conselho é constituido por onze vogaes efecti-
TOS e seis suplentes e por oito vogaes eleitos respe-
adidos ao quadro, sem o vencimento do exercicio, ou
sem a quarta parte do vencimento total, se este não tivamente por cada colonia e por egual numero de
se dividir em categoria e exercicio. substitutos. @ando o conselho funcionar como con-
O Diretor Geral das Colonias e o Secretario Geral selho de pautas farão tambem parte d'elle um funcio-
das Colonias, marcando o decreto os deveres que por nario superior da administração geral das alfandegas,
.esse cargo lhe competem. um empregado superior da direção dos negocios co-
A direção geral de fazenda das colonias é consti- . merciaes e consulares, um representante proposto por
tuidz pela antiga inspecgo de fazenda das colonias, cada uma das associa~õescomerciaes e industriaes
com atribui~õese serviqos mais amplos do que antes e associaâões congeneres de Lisboa e Porto e o chefe
possuia e dividida agora em duas repartições, e peIz da 3.a secqão da z.* repartisão da diregão geral de
' repartição da diregão geral da contabilidade pu-
2
. fazenda das colonias.
blica do Ministerio das Finanças, que ficou consti- O presidente do conselho colonial é o ministro das
tuindo a 3.= repartição da nova direçZio geral. colonisis e o vice-presidente o secretario geral do mi-
O provimento dos logares para esta direção geral nisterio. Os vogaes efectivos serão, alèm do vice-pre-
tarnbem se fará por concurso entre os empregados da sidente, o diretor geral de fazenda das colonias, dois
mesma e da categoria inferior e os funcionarios corres- jurisconsultos, um engeriheiro, um oficial de marinha,
pondentes das repartiqões superiores de fazenda das um medico, o consultor do ministerio, o chefe da 7."
colonias. Egualmente os empregados da direção geral repartição (regimen monetario, bancos e companhias)
de fazenda das coIonias poderão ser nomeados em .e o chefe da 2.& repartição da direção geral de fa-
commissão inferior a dois annos para desempenharem zenda das colonias.
funções nos quadros das repartições superiores de fa- A eIeição dos vogaes e substitutos far-se-ha por
zenda das colonias na categoria que lhes competir. modo indireto em cada provincia pelos vinte maiores
Para a referida dirego geral foram ainda tranferidos contribuintes de cada diçtricto, que escolherão~dois
todos os servi~osrelativos ás alfandegas das colonias representantes que, em assembleia conjunta e sob a
gresidencia do governador da provincia, elegerão esse:
ARMIIPXS'~RAÇÃO
E GOVEíIZiO GAS COLONIAS 209

vogaes. Nas provincias não divididas em distritos a cima J e juros e outros que não sejam aduaneiros ou
eleição será feita pelos trinta maiores contribuintes. municipaes; bem como dos recursos qrie contra actos e
Os vogaes efetivos servem por dez annos, podendo decisões das autoridades admiilistretivas ultramarinas
no fim d'este periodo serem nomeados de novo se, se interpuzerem, por incompetencia e excesso do po-
posteriormente a elle, tiverem servido nas coIonias, em der, violação de lei ou regulamentos, ou ofensas de
commissão administrativa ou judicial, por tempo não direitos adquiiidos, exceto eni questões de proprie-
inferior a dois annos. 0s vogaes eletivos e os extraor- dade ou de posse, ou que estejam sugeitas á compe-
dinarios servirão por tses annos, podendo ser reeleitos tencia de outros tribunaes. As decisões do Conselho
ou reconduzidos. Os dois jurisconsultos, o consultor sobre estes recursos são definitivas.
e quaesquer outros membros do Conselho, bachareis O decreto de 27 de maio de I Q II determinou ainda
em direito, constituirão a secção d a magistratura, que que no orqamento geral do Estado se inscrevam as
substitue o antigo Conselho Superior da Magistra- verbas necessasias para se satisiazerern as despezas
tura. chamadas de suderanin e de civilisaçizo e jO o,'o das
Ao Conselho Colonial fica competindo dar parecer geral, cabendo os outros 50
de czoJnzinist~a~ão ás
sobre o orgamento colonial, não devendo auctorisar colonias e proporcionalmrnte ás sUas receitas, O or-
que n'elle se legisle para aumentar quadros ou venci- çamento geral do Estado tambem dever& inscrever em
mentos, ou para se modificar qualquer legislagão es- cada anno as verbas neces~arias para siibvenções ás
pecial em vigor; sobre a abertura de creditos extraor- colonias com defzcits. Estas importancias serão levan-
dinarios; sobre os projetos de lei de interesse para tadas por duodecimos.
a s colonias e regulamentos dos governadores que ca-
reçam de confirmação do ministro; sobre a s minutas Recrutamento dos funcionarios coloniaes. O
de contractos eguaes ou superiores a dez contos d e recnltamento dos funcionarias coioniaes e o regime11
réis; sobre a procedencia das queixas contra os ma- de promoçGes nos seus quadros tem uma importancia
gistrados administrativos que possam servir de base capital. Todo o paiz que pretend2 coionisar com efi-
a syndicancias; sobre a concessão de medalhas insti- cacia e não por ostentaglo, deve ter um pessoa1 inuito
tuidas pelo decreto de r I de janeiro de 1891; sobre espacial de f ~ ~ n c i o ~ a rultramarinos.
ios A missão d'es-
concessões de terrenos; sobre o orgamento do Colegio ses agentes é muito dificil e exige uma educagão pro-
de Missões Ultramarinas e sobre tudo o que ao minjs- yria, iniciada desde os primeiros tempos de vida pu-
tro das colonias convenha consultal-o, bem como so- blica. Ha diferen~asradicaes na forma de se dirigir
bre o que o mesmo Conselho entenda dever propor. uma sociedade antiga e já organisada, ou uma regi50
Quando o Conselho funcionar como tribunal de nova.
conteilcioso administrativo incumbir-lhe-ha conhecer Tambem não se deve seguir como sistema o en-
dos recursos interpostos das decisões ou acordãos dos carregarem-se, em todos o s casos, os oficíaes de terra
conselhos de provincia ou tribunaes que os subçtitui- ou mar do governo de colonias já adultas. Podem-se
rem em materia de impostos diretos, lei do sêfo, de- . .
encontrar e encontratn-se decerto individuos d'esras
~ D M ~ E I S T R A ~ XEO GOPEREO DAS COLONIAB 211
I
classes com óptimas qualidades para a colonisação, haver o maior escrupulo na nomeação d'aquelleç.
mas não se deve tomar isso como uma regra geral. O valor da influencia do governo deponderá es-
Muitas vezes as tendencias e modos de ver adquiri- dgsiuamente da individualidade dos funcionarios, das
dos na vida militar são contrarios ás ideias exponta- suas qualidades inteletuaes e rnoraes e das suas npti-
neas e livres dos coIonos. Mas, peior do que tudo, dões pesoaes. Tem que se Ihcs exigir sobretudo do-
são as mudanqas continuas no pessoal colonial. As tes moraes, porque só por meio d'estes é que poderão
substituições frequentes dos governadores inutiiisarn oMer ascendente sobre os seus subordinados e o pres-
inteligencias e aptidões, quando estas, pelo conheci- tigio que necessitam possuir. ?.luitas dificulciades dos
mento direto das coisas, estavam melhor preparadas governos metropolitanos teem resultado da falta de
para realisar uma obra util e benelica. probidade e honradez dos seus delegados.
Durante muito tempo ligou-se bem pouca atençso Para o recrutamento dos funciona1ios coloniaes,
á forma de se recrutarem os funcionarios para os di- pode-se recorrer á livre escolha ou aos concursos.
versos serviços nas colonias. Quando muito os gover- Como estes são por sua natureza contingentes, seria
nos preocupavam-se com a escolha dos governadores, preferivel o primeiro processo, se a livre escolha se
acreditando que para as funções subalternas todos po- fizesse sempre sem favoritismo e se inspirasse exclu-
deriam servir e aciiando mesmo legitimo enviarem sivamente nos interesses superiores da colonia. Chaii-
para as provincias ultramarinas, para o desempenho Iey-Bert, defendendo esta doutrina, entende que as
de logares dificeis e de responsabilidade, os que na auctoridades no sistema da escolha nHo se veriam pre-
metropole solicitavam um emprego, sem darem garan- sas pelos obstaculos que o concurso tantas vezes pro-
tias pela inteligencia, saber, ou caracter de que utii- voca. Poderiam guiar-se não só pelos conhecimentos
mente os poderiam exercer. technicos dos candidatos, mas ainda pelos dotes inte-
Não eramos só nos que insistiamos n'esse erro. lecmes, moraes e qualidades phisicas que as provas
Ainda hoje ha pubiicistas que atribuem á escolha dos dos concursos não podem revelar e nomear individuos
funcionarios coloniaes uma influencia muito restrita .que escedessem o limite de idade, ou manifestassem
afirmando que basta haver bons cotonos para se for- @s seus meritos em outras carreiras. ,Mas todas essas
marem bôas colonias. Semelhante opinião não resiste .vantagens desaparecem deante da falta de retidão e
á menor ctitica, por isso que não se pode negar a mesmo der capacidade que tanto a miudo se notam
acção que terão no progresso e desenvolvimento d'urna aoç que exercem os mais altos logares e por isso em
coloiiia a existenvia de agentes do governo com co- &da a parte se preferem os concursos, embora esse
nhecimento profundo das suas necessidades, com apti- ~mcesça 'náo se- siga para todas as nomeagões.
dões para interpretar e executar as leis e ao mesmo Tem-se tarnbem apresentado o alvitre de .se recru-
tempo com prudencia, sabedoria e moderação. Os fun- tarem os funcionarios coloniaes no pessoal dos qua-
cionarios do ultramar estão libertos da fiscaiisagão que dros metropolitnnoç. Grande numero de publicistas
na mecropole se exerce sobre os que desempenham condemnam esse alvitre, e entre elles Lawrence Loweli,
logares do mesmo caracter. Mais uma razão para pre- reconhecendo que se deve fazer do serviço colonial
ADMIX~STRA~
E ~ GOVERXO
O DAS COLOSIAS 213

uma carreira especial, pelos conhecimeiltos e aptidões do seu saber principalmelite do latim. grego, sciencitls,
especiaes que elfã requer. literatura e histoi-ia. Depois d'este exame, elles entram
O funcionario colonial precisa, mais do que ne- no periodo de provação ou de noviciado, qire dura um
nhum outro, de disposições e faculdades excecio- mno, sob a vigilancia dos cbmissarios ciris, seu5
naes. Tem de abandonar a familia, os amigos e os examinadores, preparando-se a o mesmo tempo para
habitos e de ir viver para um paiz de clima em geral o segundo exame, onde tem de mostrar conhecimentos
pouco saridavel e diferente do da nietropole e de se ~ p e c i a e sde historia, linguas, direito i ~ d i g e n aetc.
augeitar a um regimen novo, arrostando muitas vzzes Terminada esia prova, OS que alcançaram boa clas-
com verdadeiras priva~ões. Sob o ponto de vista de çificação são nomeados adjuntos dos fi~ncionarios
conhecimentos carece, aIém da instrugio geral dos superiores, fazendo um outro tirocinio com o nome
empregados da metropole, d'uma instrugão apropriada de imf-ective officers. E' então que se aperfeiqóam n a
A região em que vae residir, e d'um espirito de ~esolu- lingua, direito, historia e geografia do p d z para onde
$50 rapido e oportuno, visto que tem de tomar de!i- vlo servir e sob a direçãio do seu chefe colaboram na
berações graves, sem poder muitas vezes consul- resolugão dos negocios que elte trata, adquirindo
tar as auctoridades superiores. Arrisca a saude, d'essa forma a pratica da administração. Terminado o
sacrifica a vija, desempenha f u n ~ õ e s delicadas e referido tirocinio entram definitivamente no quadro
expõe constantemente o futuro, sendo por isso justo dos funccionarios da India, que tem o nome de cove-
que se lhe dèem compensações, por mei:, de venci- mxtad sdrvice.
mentos elevados, tanto mais que a vida nas colonias Este systema de recrutamento não impede que a
h&&t:rra utilise o concurso e a cooperacjão dos que
e em geral mais exigente e dispendiosa do que nas
sociedades antigas, por ama absoluta seguranga na
se <-sientatnem outras carreiras aproveitando-os para
carreira, tendo a situação garantida, desde que crimpra
nas colonias qor tempo fixo ou mesmo inde-
tqnginadp. E ainda ella admite por vezes nos quadros
os seus deveres e proceaa de harmonia com a lei e
c q e individuos extranhos a o funcionalismo, mas
concedendo-lhe ainJa segurança para o futuro, dando-
.se recorfiendm por conhecimento profundo das
se-lhe direito a uma aposentação mais breve e bem W w -q q e s t Õ e s I ou.da vida e necessidades d'uma
renumerada do que a que se concede aos funcionarios cesta região. Os iildigenas d a India tem hoje larga
ria metropole, %&!&;-egn Ci-erçoç.graus da burocracia d'aquelia
E m 1rigl:iterra o recrutamento d'esta classe de ser- &i& . .+,,@ -porém
-& exclusivamente admitidos no
vidores do Estado varia conforme a s diversas espe- , .-yrite qw qmprehende em cada provincia,
cies das colonias. Na India, por exemplo, onde se qrdem administrativa, de f i n a n p , ou de
segue o systema concebido por Iord Macaulay, elies justiça e na &mdzh@ serviu, que abrange os ramos
~ ã opreviamente sugeitos a provas e investiga~ões de administrago provincial propriamente dita.
apropriadas para se conhecer das suas qualidades Mas não é s ó para a India que a Inglaterra exige
fisicas, moraes e intelectuaes. Ha primeiro um con- uma tão solida-preparasão em todos aqrrelles que
curso de admissão em que os candidatos dáo a prova
214 BCIEBCIA DE COLO>ISAÇAO
-
devem exercer quaIquer emprego publico. Para as narios esemplares e aptos para o desempenho da sua
outras colonias procede com identico escrupulo, missão, pela solida preparação que n'ella receberam.
havendo especialmente cuidado em fazer ministrar o Entre nós, devido á crea~ãodo ensino colonial na
ensino da região, dos seus costumes e da çua lingua hculdade de direito da Universidade de Coimbra,
principal, e até sir Robert Ha.rt, que dirige as aIfan- promulgada pelo decreto de 24 de dezembro de 1901,
degas chiiíezas, não confirma a i.iorneação de nenhum á instituigão da Escola de Medicina Tropical e mais
dos seus empregados, vindos d a Europa, sem os tarde á introdirgão no Instituto de -4gronornia e Vete-
sugeitar a um exame muito set-io. rinaria das cadeiras de technologia e zootechnia colo-
-4 educação e habilitação dos ftincionarios nas niaes e da de geografia economica e culturas colo-
colonias holandezas faz-se por processos muito seme- niaes e á fundaqão da Escola Colonial, cujos decretos
lhantes. Foram extintas as escolas de Delft e d e teem a rcferentta do sr. dr, llanoel Antonio RToreira
Leyde, mas nem por isso é menos rigorosa a seleção Junior, alcan~ai-am-seelementos seguros para se ha-
dos que se destinam a servir o estado nas colonias. bilitar iiin bom funcionalismo para as colonias das
0s concorrentes teem de apresentar carta de curso mais diversas especialidades. Muito ha a fazer para
das escolas medias, dos gymi-iasios, da grande escola chegarmos a resultados completos, mas os alicerces
agricola, ou patentes de oficiaes de terra e mar, para do edificio já esl3o frindados, restando agora forta!e-
se apresentarem ao exame especiaI dirigido por anti- cel-os e levantar o resto da construção.
gos funcionarios de Java, professores da Universidade
e homens de reconhecido valor. Realisada essa prova, Educagão e preparasão dos colonos. A pte-
oç que mais se distinguiram são considerados candi- paração dos coloilos está hoje tarnbem sendo objeto
datos ao serviço coloniaI e sujeitos, dois annos depois; de cuidados especiaes em todas as nações coloniaes.
a iim exame final na Universidade de Leyde, cujas A Inglaterra tem-se mostrado um pouco estranl-ia a
provas versam sobre o javanez, o malaio, a etenogra- essa preocupapo, porque é tão intenso o comercio
fia, e a historia e instituições das colonias neerlande- que ella realiça com os seus dominios, que se esten-
zas, entrando definitivamente na carreira os que saem dem por todos os pontos do globo, que todas as fa-
triumfai-ites d'esse segundo exame, ou não silo elimi- mílias teem, pode-se dizer afoitamente, algum dos
nados por coiiduta irregular. seus membros nas coionias da .4frica, da Asia, da
Em Franga os fuiicionaiios coloniaes recrutam-se, America, ou da Oceania, os quaes veem de annos a
sem concurso, entre os que tem o curso da Escola
Colonial, ou por meio de concurso, entre os que
-
annos & pietropale, e ahi introduzem no espirito das
novas get-açaes o amor por esses paizeç distantes, o
podem apresentar dipIomas e serviços determinados. conhecimento das suas riquezas e o desejo de ali os
Todos reconhecem hoje ali que a Escola Colonial seguirem e imitarem. il educa~ãocolonial faz-se assim
yeiu corrigir um dos erros mais graves da adminis- na familia e para a familia. Mas, apezar d'isso, esis-
tração ultramarina fcanceza e que dos seus bancos tein n'essa nação estabelecimentos, como o King's
tem saliido uma pleiade já hoje niirnerosa de funcio- ~ fornecem uma bella educa~âoaos colo-
C ~ l l é g eque
GOI'EHEO DAS C O L O X I P S
A D W T X I ~ ~ R A ÇE~ O Si7

nos e ainda ha poucos annos a China Association e sarn-se cursos de linguas africanas e de povos orien-
o coilegio Oivens de hlanchester estabeleceram cur- meç em Louvain, .em Liége, em Gand, no Instituto
sos de chinez, especialinente destinados aos comer- superior de comercio de Anvers, no Instituto Comer-
ciantes de Lancashire. ciat dos iildristriaes de Hainaut e nas escolas especiaes
A França, com esse intuito e na rnesma corrente, de engenharia e das artes e manufacturas annexar á
possue, aiêm da Escola Colonial de Paris, os cursos Universidade de Gand.
scientificos e praticos relativos ás colonias, professa- Na AIlemanha ministram-se os estudos coloniaes,
dos na Sai-bonl-ie e estabelecidos por iniciativa da em Berlim, Breslau, Le;ipzig!-ena c Colonia. Sobre o
União Colonial; os cursos das linguas rnalgache, an- ponto de iista que apreciamos, o estabelecimento
namita e do Sitdão, organisados pela Sociedade para mais importante é a .41ta EscoIa Cornerciai de Lei-
o estudo das linguas extrangeiras, fundada sob o pa- pzig- Estas breves indicaqões bastam para comprova!.
trocinio da Camara do Comercio de Paris; os cursos o que afirinamos e para demonstrar quanto a boa e
coloniaes abertos pela camara do comercio de Lgão, pratica preparação. dos que se destinam a trabalhar
com um caracter essencialmente pratico e util; as nas coloriias é hoje realisada com o maxirno escru-
secgões coIoniaes das Escolas de Comercio de Marse- ~~o e o maior amor por todos os povos com posses-
lha e de Bordeus, e muitos outros meios analogos de &es ultramarinas.
dar aos comerciantes e industriaes e a todos aquel!es - Em Portugal, com o fim especial de se prepararem
que desejam emprega1 a sua actividade nas colonias, c6nvenientemente os que desejam ir trabalhar nas
ou com elias mantêem intimas relações, conhecimen- ~ ~ I o n i aempregando
s, a sua actividade em explorações
tos yerdadeiros e solidos, sobre a melhor forma de se &g~ícolas,comerciaes ou industrjaes, não ha infeliz-
apreveitarem e fazer crescer os recursos que eHas tnente nada organisado e estabetecido. Já a essa ne-
contêem. cessidade se tem querido atender, formulando-se va-
A Hollanda, por sua vez, tem a Escola municipal rios' projétos de remodelaqão da Escola Colonial,
de comercio de .4msterdan, onde se educam comer- W M O intuito d'esta ser colocada em condições de
ciantes e industt-iaes para as coloriias e onde se Ihes p e r satisfazer a esse utilissirno fim, Não se passará
ensina especialmente a s linguas malaia e turca e os X&%rfo muito tempo sem que se tenha chegado a uma
cursos orientaes das academias de Utrecht e Gronin- *p drum tão valioso aspeto do problema colo-
gue e da Escola AgricoIa de Wageningen, s s % r '
Na Belgica, com o mesmo fim, ha ume escola de,
sciencias comerciaes e consu!ares, annexa á universi- 5 ' * ~ ~ t a @nas-
í ocolonias portuguezas. Vem
dade catholica de Louvain, para preparar os chetes de':- ?lónge as - deligencias por nós emprega-
e o pessoal graduado das casas e sociedades indus- & @rit.d~voIverrnc>ça instr~qgonas possesçòes
triaes e instruir os mancebos que aspiram á carreira -d'd&A*rnw.-
consular. Na Universidade de Bruxellas ha tainbern 6 :E**I 536 f ~ n d ~ r n o
ums colegio nas colonias.' Em
cursos semelhantes a este, e aMm d'içso estabelece-. 1374 estabeleciamos dm outro i10 fap"a, subvencio-
nado pelas receitas da alfandega de Malaca. Em 1623 Jas esseticialmente praticas de iingua portugueza,
publicava-se um decreto real desenvolveiido uma se- franceza e ingleza, coniprehendendo ainda cursos d e
rie de providencias para que a instru~ãomais apro- contabilidade, operações comerciaes, agricultura, etc.,
priada se ministrasse aos negros da Guiné, Angola, e todas as que, n'esse sentido, formaram parte d a
Cabo Verde e Silo Thomé. E m 1834 creavam-se nu- serie de propostas elaboradas pelo sr. dr. Manoel Mo-
merosas cadeiras de instru~ãoprimaria, sendo o seu reira Junior e a que já aludimos. O decreto que se refere
ensino completado por diversos museus Iocaes, que ao ensino profissional das colonias é um diploma d e
sucessivamente se foram montando em AIacau, Mo- excecional valor e que bastaria para marcar uma
qambique, Loanda e Cabo Verde. nova era no deserivolvimento dos nossos dorninios
E tanto empenho mostravamos em divulgar o en- d'albm mar, se á sua execução se dedicassem todos
sino nos indigenas que, em 1844, organisavamos a os que se vão sucedendo na nobilissima missão d e
instrii~ãoobrigatoria para os de São l'homé. Mas foi dirigir os destinos d'esses vastos territorios. Por esse
em i 869 que se decretou uma organisação geral do decreto estabeleceu-se, na provincia de Cabo Verde,
ensino nas colonias. 0 s professores só poderiam ser uma Escola Elementar de Navega~sto, destinada a
nomeados mediante coi~ciirso. Em cada capital d e habiIitar para o cargo de pilotos da marinha mer-
provincia montava-se uma escola de ensino secunda- cante, escola que foi regulamentada pelo decreto d e
rio, em que se ministrariam noções sobre as protlu- 3 0 de novembro de 1906 e que tendo-se-llie marcado
gões naturaes da colonia e se ensinaria a physica apli- primitivamente a sua séde na cidade da Praia, foi esta
cada á industria e á economia domestica. M ~ ~ i t oou-
s depois transferida para S. Vicente, e uma escola para
tros decretos se publicaram para o desenvolvimento operarios de construção, com aprendizes rernunera-
da instrução dos iiidigenas, como o de I 2 de m a r p dos, dez destinados a carpiiiteiros e dez aos oficios de
de 1891, que creou as estações civiliçadoras nos cen- pedrelro e canteiro, sem distinção de còr e aprendizes
tros de popuIação indigena mais distantes da influen- voluntarioç, quando excederem aquelle numero, po-
cia europeia e o de 3 de outubro do mesmo anno, que deadq a auctoridade administrativa coagir a frequen-
organisou expedições scientificas para todas as colo- eia d'es'te ensino os filhos dos indigenas da localidade,
riias. Mas essas providencias. muitas não chegaram a &k4elle se ministra. O regulamento d'esta Escola
ser executadas e todas el7as se sesentiram de falta d e ~

--
d.+. .a doutrina do decreto de 3 I de dezembro de
unidade e de constituirem partes dispersas d'um plano 31% fim por aqui, em Cabo Verde, a acção
já de si fragmentado e incompleto. ~;o-%&&&F. hstituiu tambem n'essa provincia o ensi-
Só muito recentemente promulgamos medidas d e n o - @ - ~ a e a l d serralheiros
as e ferreiros, para ser mi-
verdadeira utilidade para a instrução, nas colonias, nistrado nãs oficinas de alfaiate, sapateiro e encader-
tanto dos europeus, como dos seus habitantes d a nador, montado no Asylo que tinha o nome da ex-
raça negra. Entre ellas meiecem ser citadas o decreto Rainha D. Amelia, da cidade da Praia, estabelecimento
de 21 de setembro de 1904 que auctorisou o governo em que terão Iarga entrada as creangas indigenas, e em
a crear em Cabo Verde, Angola e hloçambique, esco- que será sempre obrigatorio o uso da lingua portugueza.
O decreto de 18 de janeiro de 1906, de que estâmos
dando uma rapida ideia, foi tambern extensivo a de .%;-te5e Oficios, destinada a ministrar a instr~xçáo
outras pi.ol.iilcins. Em S, Thomé, organisou elle uma profissional pratica para formar oficiaes e mestres aptos
Escola de Artes e Oficios para ministrar as noçoes para diversos oficios e misteres. A sustentação d'esta
teoricas indíspensaveis, compeehendendo os principiou escola importava tambem uin encargo elevado e nunca
geraes de agricultura e os principios gemes de vete- ella deu resultados apreciaveis. Por essa razão foi ex-
rinaria, e para crear artistas e operarios de carpinteiro, tinta em 22 de junho de 1898.
marceneiro, serralheiro, pedreiro, alfaiate, sapateiro, S a provit~cia de lloçambique ha, na ilha ci'este
funileiro, espingardeiro, typographo e encadernadoi., nome, uma Escola de A t e s e Oficios, dirigidã actual-
estabelecimento de ensino absolutamente riecessaiio, mente pelos padres Salesianos, sob a direção do pre-
mas que infelizmente ainda não furiciona por não lado d'aquella diocese. 0 s recursos da Escola não são
haver casa adquada para elle e em ilngola, anexa 5s giandes e por isso eiia i-iunca pode admitir t ~ d a saç
oficinas do Estado ein Loanda, a Escola Profissional creanqas indjgenas que aii pretendem receber instru-
D. Carlos I, tambem para instrução teorica e ensino çáo. O ultimo relatcrio que conhecemos da sua exls-
de artes e oficios, tendentes uma a outra a educarem tencia, datado de 12 de outubro de 1908, mostra que
gerações necessarias de cooperadores valiosissimos a quasi unanimidade dos alunos são mestiços e pre-
para a riqueza d'essas colonias e em que terão larga tos, have17do n'aquelia epocha 23 na oficina de al-
percentagem os alumnos indigenas, ganhando tanto faiate. 12 na de sapateiro, 13 na de tipographo, 5 na
estes como os da raça branca, sem a minima diçtin- de encadernador, 6 na de carpinteiro, 5 na de serra-
são, salarios progressivos, á medida que vão atingindo Iheiro, I na de f~~ndidor, 3 na de torneiro, I na d e
0 s ullimos snnos do curso. funi!eiro e 3 na de telegraphista. A frequencia nas au- -
Na India i-ião existe actualmente o ensino profissio- Ias de instrução, tanto de 1 . O como de 2.' grau, é re-
nal. Em I r de novembro de r871, o Sr. Jayme Rlo- lativamente elevada, sendo tambem de apreciar a das
niz, ministro da marinha e ultramar n'essa epoca, aulas de musica, em que havia 24 na de instrumen-
creou o Instituto I'rofissional de Nova Goa, dividin- tal e I; na de vocal.
do-se o ensjno em iildustrial, agncola e comercial. No fica1 d'esta obra, na synthese do que a coloni-
240 mesmo tempo, fundavam-se cursos pala operarios, sa@o tem realisado no periodo mais moderno da nossa
mestres e contra mestt-es de fabricas, eondutores d'o- histo~ia,que preenche as suas ultimas paginas, dare-
bras publicas, mestres d'obra, mestres chimicos, con- mas uma nota quanto possivel completa dos estabe-
dutores de machinas, chefes de servigo agricola, agri- 'lecimentos de instrugão de variados generos e apiica-
mensores e avalicdores, agronomos e engenheiros @es, muitos d'elles consagrados exclusivamente a@
illdustriaes e agricolas. Organisoii-se tambem rima es- ensino dos indigenas, que actualmente funcionam nos
cola de pilotagem, junto do Instituto: nossos vastos dorninios d'alêm mar.
--
Em 1892, o sr. Ferreira do Amara1 extinguiu esta
faustosa o r g a n i q ã o e s~ibstituio-apor uma escola Tendencias para a emancipação. As conside-
r a ~ õ e sque temos feito n'este capitulo, aplicam-se ape-
~ OGOVERXO DAS COLOHIAS
A D ~ ~ I X I S T R A ÇE 223

nas, na maior parte, ás colonias na infancia e na ado- t7iolenta, cujos resultados se fazem muitas vezes
Iescencia. Por mais que isso custe a tnetropole, esta sentir tanto nas relações de interesse material como
tem de se habituar á ideia de que as colonias de po- _ nas relações moraes dos dois POVOS, d'antes confun-
pulagão se tornarão um dia adultas e reclamarão desde didos e de repente separados.
logo uma independencia cada vez maior, até chegar Corno se poderá evitar essa crise ameaçadora, que
n ser absoluta. A mãe patna só deverá, como mzis parece ser o termo yrovavel de toda a colonisação em
d'uma vez temos dito, conservar u m poder geral de grande escala? Sir Cornexval Lewis, que foi um ho-
d i r q ã o e a sua influencia moral. E precisara de muita mem de Estado do mais alto valor e de solida scien-
moderação, de muita habilidade e tacto para usar por cia, mostra, n'urn livro notabilissimo, como os maio-
uma forma eficaz da simples auctoridade de conselho res -males se evitam muitas vezes por concessões
.que lhe restar. parciaes e sucessivas, que ás metropoles em geral
Sabe-se bem quanto os filhos chegados á maiori- custam muito a fazer. Elle acentua o que lia de cho-
dade Ihes custa ás vezes receber com docilidade e cante e de injurioso para os colonos no recrutamento
condescendencia os avisos de seus Faes. São em ge- exclusivo, entre os metropolitanos, do alto pessoal
ral d'urna grande suscetibilidade a esse respeito e te- que é encarregado de os administrar. Quando, depois
mem todo o efitrave á sua indeyendencia. O que os dos dificeis trabalhos da primeira epoca da vida colo-
conserva- em uma deferencia pelo menos aparente é o nial, se começa a organisar nos centros primeiro ha-
laço de respeito que nunca se quebra nas corações bitados uma cathegoria de coIorios gosando de bem
bem formados e a certeza de que as palavras pater- estia e de fortuna, já menos atormentados pela ancia
nas, mesmo quando sejam erroneas, derivam sempre do .lucro e pela procura de maiores riquezas, nascem -
d e boas e Ieaes intengões. n'essa classe de proprieta~iosou de capitalistas, mais
Mas as colonias adultas, em relação ás metropoies, ou menos ociosos, ambiqões que tomam a energia, a
são filhos mal educados, soberbos e insolentes. Seiia vivacidade e a tenacidade de todos os sentimentos
loucura esperar d'ellas qualquer sentimento de reco- que se desenvolvem n'aquellas regiões.
nhecimento ou de respeito. Os habitos rudes dos colo- Esses homens que se encontram á frente dos seus
nos, a ausencia d'uma fina educação, a falta de ur- concidadãos peia importancia ou antiguidade das suas
banidade apurzda nas relações particulares, dão aos foltrnas, tendo alguns d'elles recebido uma educação
.processos politicos dos coIonos, cheios de arrogancia, os nivela com 9 altas cIasses das sociedades eu-
uma caracteristica especial e um orgulho que não tem rdpdas, sentem-se profundamente feridos no seu or-
paralelo no velho :mundo. Sob este ponto de vista lguEho,vendo-se preteridos na administração da aolo-
ha na sua linguagem e nos seus actos um parte irre- nla por 5n6'iduos da metropole, que nem tem a sua
dutivel de altaneria e de brutalidade. Semelhante as- experiencia, nem o seu conhecimento das necessida-
pereza de caracter pode ser origem de serios perigos. des iocaes, nem a sua actividade e inteligencia, nem o
D'ella podem resultar não só discordias, mas lutas seu espirito de iniciativa. Taeç raneoreç, fermentando
sanguinolentas, que levam geralmente a uma separa- no fundo dos coraçoes, adquirem tanto mais forqa
A D P I S I S ~ K B Ç ~ O E GOPEBh.0 D A S C O L O X I I S 225
\

quanto, pelos habitos de favoritismo que prevalecem co[onos se tem fundido, n ã o restando quasi que tra-
em quasi todas as naçòes da Europa, a s elevadas e $05 das diferenças d'origem. Por isso, sob o ponto d e
medias posições coloniaes recaem a meudo em fun- vista politico, o periodo de adolescencia ou de menor
cionarios sem valor nem relevo pessoal e cujo unico idade das coionias d'rsse typo é muito mais extenso
merito resulta de boas protegões, ou de meros servi- do que o é para aquellas que se constituiram em ter-
60s partidarios. ras por assim dizer desertas, como a Australia.
9 0 s paizes da Europa, em que os costumes faceis
e a condescendencia teem sido afeigoadoy por largos Poder legislativo das colonias. Logo que uma
seculos de regimen administrativo auctoritario, as po- colonia conseguiu atingir O estado adulto, e evidente
pulagões suportam facilmente verem á sua frente pes- que se deve confiar-lhe a administraqão das suas fi-
soas de qualidades insignificant~s.Alas ri'ecssis r:rdes nangas, que convèm .constituir uma carnara eletiva e
sociedades em que tudo, na ordem particular, é o pie- que nenhuma especie de tutela, de caracter financeiro,
tnio do merito pessoal e da inteligencia, em que todas a s pode ultimamente subsistir. Lias isso só não basta.
outras considerações alèm das do valor propric; moral Na obra jit referida de sir Corne\val Lewis ha a
e intelectual, são por completo desconhecidas, a pre- observação sensata de que uma assembleia colonial
s e n p d'um funcionario de alguma importancia, sem ti; eletiva, encarregada de votar os impostos locaes,
tulos que justifiquem a sua escolha, toma as proporções será levada, pela f o r p das circur,stancias, a reclamar
d'um escandalo e torna-se n'uina causa de revolta. ,4 que lhe seja conferida toda a administrasão dos ne-
Inglaterra e a Hollanda não desdenhgm o serviço dos g o c i o ~coloniaes, sem a menor reserva e sem a menor
coIorios que mais se distinguem e teem, ha muito, um fiscalisa@o metropolitana.
corpo coloriia1 administrativo bem aistinto, pelo secru- ,4 mais leve ingerencia do continente, existindo uma
tamento e pela instrução ministrada, do corpo adrni- assembleia representativa, será sempre uma causa de
nistrativo da metropole. discordia e a breve trecho uma causa de sutura. u m a
assembleia representativa tendo o poder de votar os
P r o t e ~ ã oaos indigenas. Um dos pontos de que ippostos, diz o sensato escritor, tem tendencia para
a mãe patria se deve particularmente ocupar, como s e wnsiderar omnipotente em todas as questões in-
tantas vezes temos posto em relevo, é o da proteção k r n s e para proceder em ãarmonia com essa con-
aos indígenas. Em toda a parte o colono considera o ~ ã o Se - se torna necessario fiscalizar a gerencia
indigena como um inimigo. Destruil-o-ia com a me- administrativa, não se lhe pode conservar o poder de
lhor vontade como a um animal damninho. E' a me- VDWOS impostos.
tropole que cabe tomar a defeza do indigena segundo Uma açsembleia, da especie das que existem em
os principias d a justiça. Quando o numero de indige- a&pns paizes dirigidos por um governo absoluto, en-
nas ultrapassar muito o dos colonos, ainda esse dever carregada apenas de repartir as taxas, pode subsistir
é mais imperioso. Uma colonia d'essa eçpecie só pode sem reclamar e exigir as prerogativas d'uma verda-
ser considerada adulta quzndo a rasa indjgena e os deira carnara legislativa. Mas uma assembleia que não
s ó reparta mas vote os impostos, que conceda ou re- .-e maiores dificuldades estão vencidas, em que boas
cuse os creditas, não pode manter-se em taes li- fortunas se acumularam e em que outras considera-
mites. .,sÓes surgem e se apoderam do espirito e do corapão
Não deve haver a ilusão de que baste a metropole do colono.
gerir com habilidade os interesses coloniaes para que 0s sentimentos moraes dos colonos n'esse estado
desapareça todo o anceio de independencia da Farte -foram descritos, h a mais d'um seculo, n'uma fórma
(10s coionos. Supondo mesmo que a mãe patria admi- admiravel por Adam Smith, n'estes termos: <Os 110-
nistre muito melhor e com maior exito os negocios mens desejam inten ir na d i r e ~ ã odos negocios pu-
coloriiaes do que os proprios colonos seriam capazrs blico~,especialmente pela importaricia que isso Ihes
de o fazer, admitindo que a metropole faça sacrificios dá. A estabilidade e a duração de uma constituição
pecuniarios consideraveis para o desenvolvimento das livre dependem em grande parte da necessidade que
suas possessões, aceitando a hypothese de que os teem os dirigentes d'uma nacionalidade de conservar
colonos tivessem um reconhecido interesse material e defender a sua irnportancia respetiva. 0 s ataques
em se confiarem sem reservas á direção da nação que esses dirigentes fazem uns aos outros e os meios
colonisadora, ainda assim, aquelles não se contenta- com que cada um d'elles defende a sua propria si-
riam com esta facil e inerte felicidade. Prefiririam sa- tuagão e predominio, constituem o verdadeiro jogo
crificar uma parte d'estas vantagens para adquirirem das facgEes, 0 s dirigentes d a America, assim como
as moraes da independencia e liberdade. os das outras colonias, querem acima de tuao manter
E' desconhecer a natureza do homem o acreditar a sua importancia pessoal. Sentem, ou pelo menos
que os gozos mateiiaes e o bem estar passivo lhe supõem, que, se as assembleias a que pertencem e
possam bastar. Isso sucederá quando muito no periodo que condecoram corr. o nome de parlurnent?~,desejo-
de infancia, ou em seguida a um estado de crise, mas sos de que sejam eguaes em auctoridade ao proprio
nucca se poderá converter em situação normal e per- parlamento da Grã Bretanha, se degrzdassem a ponto
manente. Vem sempre um dia em que elle, tendo a de se tornarem em meros elementos executivos d'esse
consciencia da sua força e da sua actividade, prefere parlamento, ~erderiamquasi por completo a sua força
confiar-se á sua estrela e engajar-se, atravez de riscos e esplendor.
e de perigos, nos acasos d'um destino obscuro, a dei- Aquelles que preponderam nas resoluções d o que
xar-se continuar, sem protesto, sob uma direção alheia, chamam o seu congresso, reputam-se mais alto do
n'um caminho de tranquilidade e socego. Para honra -que de si mesmo se julgam os subditos da Europa,
da natureza humana, ha sentimentos mais fortes; in- de mais elevadas funcções. Comerciantes, artistas,
venciveis e empolgantes do que essa disposição para procuradores transformaram-se em homens do Estado
'o goso tranquilo e sem trabalho. Ha outras satisfa- e legisladores. Dedicaram-se a fundar uma constitui-
çBes alem das do lucro e se, nos primeiros tempos @o nova para um vasto imperio que julgam fadado
das colonias, a paixão do ganho domina todas as para se tornar n'uma das mais poderosas nações que
mais, chega sempre um yeriodo em que as primeiras %emhavido no mundo.
-if.
~narr~is~ltaçÃc,
E GOPERXO DAS COLORIAS -"1

rante seculos os vestigios d'esses rancores e d'essas diferenciaes para os seus respectivos prod~itos,cotltra
recordações cheias de colera. Pouco impoita que a s os quaes reclamam ou umas ou outras, como se ve-
relações materiaes entre os dois povos se tornem rificou ainda em 1908 na conferencia colonial de Lon-
mais estreitas e continuadas do que d'antes. Subsiste dres, em que a Austi.alia, o Cabo e a Nova Zelandia
sempre um fundo de desconfiança e de irritabilidade. reclamaram o protecionismo, ao passo qire a Ingla-
-4s mais simples divei-gencias envenenam-se, a exces- terra continuou a defender o livre cambjsmo. Estas
siva suscetibilidade +da que foi antiga colonia forp-a considerações aplicam-se especialmente as colonias de
a recorrer facihente a ameaças e apresenta-se assim popula~ão,como a s antigas coionias irtglezas da Ame-
o espectaculo extravagante de duas n a ~ õ e sque pare- rica do Norte, o CanadB, a Australia e a Nova Zelan-
cem formar uma só, cujos interesses se conjugam e dia, Podem-se tambem considerar assim toda a Ame-
que, apesar d'isso, se tratam sempre com aspereza, rica Central e a America do Sul, embora o elemento
ranc6r e arrogancia uma a outra. Não aconselhara tudo indio e no Rrazil o eleinei-ito da rasa preta tenham
isto as metropoles a que procurem evitar uma situa- ahi parte importante, o que não impediu que a raça
ção tão falsa e perigosa? europeia a!cançasse n'essas ~egiõesa maior prepon-
derailcia e conseguisse impòt a sua religião e mesmo
Federalismo das colonias. Póde prevenir-se ou os seus costumes a população aborigena ou impor-
retardar-se a independencia completa das colonias tada, coino os negros da Africa. E11a fundiu-se por
adultas, recorrendo-se a um systema de federatismo completo com o piimeiro elemerito e parcialmente
como o que a Grã Bretanha está pondo em pratica com o segtinilo. Podem entrar na mesma cathegoria
ha annos para. cá. Por muito tempo esse processo a s Antilhas, c0111 Cuba e POIto Rico, onde a raça
póde dar bons reçuItados. Não ha duvida que a Aus- branca alcanqou não só a preponderancia social, mas
tralia, por exemplo, embora tenha atingido o periodo a superioiidacie nurnerica. -
que se harmonisa com a emai~cipação,não tem, nem Systemas a adotar nas colonias mixtas e de
terá, por largos annos o menor interesse moral ou exploração. Já não sucede por esta forma nas colo-
material em se proclamar naçilo independente. Con- nias mixtas e nas colonias de exploração. Semelhan-
tando apenas cinco ou seis milhões de habitantes, tes colonías não podem ser submetidas ao mesmo
quando muito sete a oito, a sua situacão no Pacifico regmen de governo, nem á mesma ei-olução, que
tornar-se-ia precaria e até perigosa se deixasse de ter conduza gradualmente independencia de direito e
a Inglaterra atraz de si. de facto. Nas coiooias mixtas dá-se o que se d á na
O federalismo entre a metropole e as-colonias páde. Alge-ria e na 'Tunisia, oilde a população aborigena, ui-
assim ser uma solução intermedia. Poupa o amor pro- ferindo pelos seus costumes e habitos intelectuaes e
prio da mãe patria e serve o s melhores interesses das rnoraes da de origem europeia, tem sobre esta rima
colonias. Mas esse regimen é d'uma organiszção deli- por vezes enorme prepondei-ancia numerica.
cada e d'um funcionam.ento dificil, sobretudo sob Xão se póde pretender administrar ou governar
ponto de vista d ~ direitos
s d'alfandega e das taxas S*I?i fiscalisação a grande maioria dos habitantes por
uma pequena minoria pertencente a outra rasa e Coroa, como a Nova Guiné, Ceylão, Hong-Kong, etc.
tendo muitas vezes interesses muito opostos. O regi- Oito tem o conselho com Farte milito restrita de elei-
men representativo puro, ou o self govemment é im- @O e com parte mais larga de nomeação do governo,
possivel aplical-os n'esteç casos. Com mais razão como MaIta, Jamaica, Guyanna Ingleza, Mauticia~,
ainda a independencia e absolutamente inaceitavel. SS etc., e outras gosarn do self governr~entcompleto,
se chegaria por elia á opressão legal da grande maio- pertencendo a esta classe as sete colonias australia-
ria dos habitantes, a desordens, a revoltas e em 111- nas, o Canadá, Terra Nova, Cabo, Natal e ultima-
timo caço ao cháos. mente o Transxvctai e Orange.
A metropole não pode, em colonias d'esta ordem, Kas colonias místas não se deve conferir a plenitude
abdicar dos seus direitos de fiscalisa$âo e do seu po- d o poder or~amentala um corpo constituído de repre-
der de direçáo e de tutela. Deve servir de arbitro sentantes dos colonoç, por que d'ahi resultaria para es-
imparcial e constante entre os diversos elementos tes a direqão absoluta dos negocios publicas. Ao que
ethnicos ou sociaes, impedir que algum d'elies oprima essas coloniaç devem aspirar é á autonomia colonial,
os outros e encaminhar-os habilmente para que todos muito diferente do se9 goverfz~zl7rezte que consiste em
colaborexn na mesma obra economica. Isto não quer que as diversas questões e problenias sejam tratados
dizer que convenha privar as colonias mixtas de toda n'essas mesmas colonias, pelo concurso do governador
a representaqão. Entre não existir nenhum corpo deli- e do conselho representativo, composto por alguma das
berativo e organisar-se um parlamento eIeito com po- fórrnas indicadaç. D'este modo a metropole só intervem
deres omnipotentes, h a uma serie de graus, em que diretamente nos casos graves. 0 parlamento metropo-
se póde escolher á vontade. litano não terá que resolver a respeito d'essas colonias
Ya Tunisia ha a conferencia consultiva. Entre nós mixtas autonomas. Apenas terá de apreciar um rela-
existem consell~osde toda n ordem e especie, que, torio annual sobre a situação de cada colonia. E' o
em vez de auxiliarem, paralisam muitas vezes a acyão que sucede actualmente com a Tunisia, em França.
dos governadores. Nas colonias anglo-saxonicas I-ia Estas regras não se podem aplicar, pelo menos com
uma infinidade de typos, todos tendentes a que os co- tanta amplitude, ás colonias de exploração, como as
Ionos sejam consultados e que possam ter acqão nos Indias, a Indo-China, Java, etc., em que o numero
negocios da colonia, sem que se Ihes confiram direitos dos europeus e muito limitado e o grosso da popula-
absolutos de resoluqão. ' -cão é formado pelos aborigenas, com outra lingua,
Aiêm das possessões, como 3 India e diversos pro- outras tradições, outros costumes a outras ideias bem
tetorados, a Inglaterra possue 44 colonias, divididas diversas dtis dos colonos.
em quatro typos priricipaes. Seis d'ellas não tem ne- 0 selfgoverpzwefzt nunca poderia convir a esta es-
nhuma asseinbleia deliberativa, pertencendo ahi o po- pecie de colonias. Só com muita prudencia se pode-
der legislativo apenas ao governador. Entre essas ci- rão introduzir n'ellas alguns elementos representati-
tam-se Gibraltar e Sanfa Helena. Dezesete tem um vos. E' mesmo bom não dar a estes mais do que uin
conselho Iegislativc, nomeado exclusivamente pela caracter local ou de proyincia,
Uma represei-itação geral para toda a colonia, em-
bora elia fosse constituida na maioria ou na totalidade
por pessoas importantes designadas pelo governador,
poderia ter graves inconvenientes politicos. Agruparia
regiões entre as quaes existem laços muito limitados CAPITULO XVI
e contribuiria para suscitar um sentimento nacional,
que a metropole, no interesse da ordem e do f~lturo, Defeza militar exterior e interior das colonias
não tem nenhuma vantagem em despertar. Os conse-
lhos mesmo locaes não devem ser completamente ele- -
Constituição d o exercito colonial. Necessidade d e unida-
tivos e especialmente não devem çaliir do sufragie d e s só d e elementos da metropole.-Recrutamento para
universal n'aquellas regiões tão presunqosas e piepo- o exercito d a s colonias. - Conveniencia d e se utilisar,
tentes. Esses Conselhos serão apenas destinados a q u a n t o possivel, a conservação dos mesmos elementos
assegtírar aos colonos e aos elementos indigenas ins: europeus n o exercito d a s colonias. - Respeito pelos
truidos o meio de se fazerem ouvir e de darem O seu habitos indigenas.-Relações dos soldados com as po-
parecer, permitindo-se assim á opinião publica O exer- puiaçáes indigenns.-Serviços administrativos nas colo-
cer uma fiscalisação ou um incitamento, mas não- -
nias. - Systema adotado no Toukin. Alojamento d a s
colocando nunca nas mãos dos dolonos ou dos indi- tropas.-Os auxiliares indigenas -0rganisação df, exer-
geilas a direcão efectiva e a responsabilidade de go- cito colonial nas colonias portuguezas.-Projeto d e re-
verno. Os typos de organisação para se chegar a esse rnodelaçZo d'esta organisação.-Defeza rnnritima das co-
resultado podem variar immenso, adaptando-se aos lonias. - Creação da marinha colonial em Portugal. -
habitos da região, a o caracter dos indigenas ás suas. A policia nas colonias.
tendencias e maior ou menor estado dr civilisação.
Constituição do exercito colonial. -Em rela-
qão á organisação militar das colonias, tudo aeunselha
as n a ~ õ e scolonisadoras que deixem de empregar n a
defeza d'essas colonias uma parte do exercito metro-
politano. A politica colonial da França tem padecido
do- defeito de não ter querido comprehender esse
principio e por isso se tornou impopular no seu paiz,
Tratando-se sobretudo de regiões longinquas, como
o Tankim e Madagascar, só se deve recorrer a tropas
especiaes, obtidas por um processo de recrutamento-
muito particular e formando um exercito coloriial dis-
tinto do da mãe patria.
.As forgas das colonias devem constituir-se com
dois elementos diversos: em primeiro logar o elemento
colonial composto de indigenas, kabylas ou arabes,
indigena, como os turcos e os spahis da Algeiia, os
senegalezes ou dahorneannos, angoias, ou landins, ou
arinamitas do Tonkin, os laptots do Senegal, ou as
outros negros da Africa, malgaches ou annamitas na
nossas companhias indigenas e os cypaes d a Zam-
Asia, convèm muito reciutal-a tambem por meio d o s
bezia; em segundo logar os europeus, recrutados por
aiiçtameiitos voluntarios. Carece-se de tropas indige-
alistamento voluntario provocado por n-ieio de pre-
nas profissionaes e consistentes, ligadas a rnetropole
m i o ~elevados. Por mais valiosos que sejam esses pre- por t a ~ o sde intesesses muito solidos, muito intimos
mias, representarão sempre uma economia, porque os
e muito vaiiosos. Devem ser, em toda a expressão da
voluntarios fazem um serviço mais demorado, ofere-
palavra, verdadeiros rnercenarios, E' preciso que esses
cem uma resiçtencia fisica maior e ocasionain por isso
alistados voiuntarios indigenas se conservem nas fi-
menos despezas de hospital, repatriamento e substi-
leiras por honorarios convidativos, por cuidados e
tuição, do que sucederia com os rec~utasdebeis de pelo socego garantidos á sua velhice e ás suas fami-
21 ou 2 2 annos enviados para a s coloriias coagidos
lias.
e em nome da discip!ina militar. Hã em todos os
Esses voluntarios, que podem ser divididos em dois
paizes numerosos individuos que não teem o menor exercitos, um movel, destinado por isso mesmo a
amor á vida civil e que se tornariam magnificos sol-
mudar a miudo de guanlição, oiitro sedentario e lo-
dados por dez, quinze, ou vinte annos, se fossem
cai, convêm conserval-os nas fileiras ate proximo da
atrzidos por premios de alistamento. E' um erro não
x-eihice, isto é até aosg52ou 5 5 annos. A partir d'esta
s e utilisarem esses elementos, e esse eiro é a causa idade devem ter a garantia d'alguma pequena pensão,
d e que se multipliquem os crimes de vagabundagem,
d'algum pequeno emprego, ou reduzida dotação de
a s delitos e os casos de reincidencia.
O exercito colonial, pela atração cios premios e da terras, que assegure a o mesmo tempo a sua existen-
cia e a sua felicidade.
vida diaventuras que oferece, pode purificar os refe-
Com essas precaugões e outras que será facil to-
ridos elementos. Composto por essa forma o exercito
marem-se, n%o devera haver nenhum receio de que
colonial não pesa na juventude da mãe pattia. Ao
contrario, liberta-a da parte mais turbulenta, mais as forças assim constituidas se transformem em fócos
de insurreição. Formarão antes para a metropole uma
instavel, da que, encontrando-se pouco á vontade clientela com interesse' manifesto em que a a-uctori-
nos quadros da vida civil, seria para ella uma fonte dade e a soberania rl'esta não sejam enfraquecidas.
d e perigos. Sem se coartarem aos soldados indigenas assim or-
A constituigão d'um exercito colonial por este mo- ganiçados as suas qualidades militares, é preciso po-
delo é a primeira medida que se impõe a um povo rem rzfrearem-se por normas de discipiina as s u a s
colonisador. Se não a emprega a tempo, a poiiticrt tendencias barbaras, para se evitar excessos e crimes
colonial tornar-se-ha em breve impopular na metro- muito condemnaveis. Um chefe energico e justo pode
pole e não se poderá proseguir n'ella com preseve- obter d'esses voluntarios esforgos reaes e persístentes,
Tanga e eficacia. Em relação á parte do exercito
não permitindo que se renovem as barbaries das an-
figas e grandes companhias dos seculos passados e unidade de coinpanhins d'ambas as especies não tem
ainda do começo dos tempos modernos. E' pernicios- senão inconvenientes. 0 s soldados da metropole teem
simo o processo adotado pela F r a n p para a consti- invencivel tendeiicia para abusar da superioridade da
tuigáo do exercito da Tunisia e das milicias da Indo- sua raça, para maltratar os indigenas, para lhes impor
trabalhos os mais pesados, ou então, passando d'um
-China.
Impõe-se ali aos indigenas, pelo recrutamento sys- extremo a outro, para lhes dispensar famiIixridades
tematico, pela conscrição e processos analogos, uma -mais perniciosas ainda.
especie de serviço militar obrigatorio, que concorre Por outro lado ninguem pode duvidar que as tro-
poderosamente para que elles se revoltem. E' essa pas indigenas por si só não bastam para a guarda e
-urna origem das desordens da Indo-China. Na tran- defeza das colonias. Ainda mesmo providas de qua-
quila .Tunisia mesmo tornam-se vulgares as scenas dros euroseus solidos, essas tropas não 'teem resistez-
d e revolta cometidas pelos atiradores da região. O syç- cia suficiente para operar isoladamente. As tropas
tema do recrutamento obrigatorio e do serviço tem- brancas possuem, além de outras vantagens, a de
porario poderia aindá dar á generalidade dos indige- exercerem sobre as populações das colonias uma in-
nas, senão inclinações militares, que elles não teem, fluencia moral, que os batalhões indigenas, por mais
gelo menos uma pratica e aptidões militares que e solidos que sejam, não poderão alcançar. Por isso
.perigoso incutir-lhes, porque elles poderiam um dia é indispensavel organisarern-se, entre as tropas regu-
-ou outro voltarem-se contra a mãe patria. O exercito lares de cada colonia, batalhões o11 regimentos exclu-
colonial deve, tanto no elemento nativo, como no sivamente de europeus, variando porêrn os seus efe-
.elemento europeu, recrutar-se por alistamento a longo tivos segundo as diversas condi~õesde cada colonia.
graso e formar um corpo profissional de mercenarios. Convirá é certo estabelecerem-se tambem unidades
E' essa uma condic;ão essencial para a seguranp da indigenas, enquadradas com chefes e graduados da
-nação colonisadora. .metropole, mas essas devem estar quanto possi~~el
isoladas das tropas da mãe patria e ser e~npregadas
Necessidade de unidades s6 de elementos da .mesmo em serviços diferentes.
-rnetropole. Como acabâmos de dizer, as tropas Em regra, como é facil de conprehender, os efeti-
-encarregues da defeza das colonia~devem ser for- -vos das tropas metropoIitanas devem ser tanto mais
madas por duas categorias que nunca se pode- consideraveis quanto mais incompleta for a pacifica-
.der50 confundir: tropas europeias e tropas indigenas. 90interior da colonia, mais insubrnissas e belicosas
,Tem-se sustentado a opinião de só haver nas colo- a s pepula@es indigenas e mais poderosos e ameaça-
niss tropas indigenas com quadros europeus, ou cor- dores os vismhos do territorio colonial.
pos rnixtos, formados pela união de companhias indf- - .
genas e companhias europeias. Ambas estas opiniões - Recmtamento para o exercito das colonias.
mos parecem erradas. Em rela@o ao recrutamento, este deve ser feito com
- Para a causa da discipIina, a mistura n'uma mesma homens de 25 annos; porque só assim elles oferece-
D E F E Z B MILITAR EXTEBIOR E IXTERIUB DAS COLOXIAS 241

são bastantes condições de resistencia phisica e até indigenas para pontos onde vive uma rasa diferente,
inorai e por meio de alistamento voluntario ou con- Os soidados negros não poderiam, por exemplo, ser-
tratado, como já dissPmos, e n8o tirados do recruta- vir por forma alguma nas popiilaqões asiaticas que
mento ordinario da metropole. d'elles diferem tanto pela raga, costumes, religião e
Os batalhões europeus devem ser constituidos por língua. Quai-ida se vê com que facilidade os soldados
soldados da tnetropole ou por extrangeiros? E' muito da Europa, os mais bondosos e timidos, cometem as
vulgar, especialmente nas colonias francezas, este ul- maiores brutalidades e excessos nas co!onias, com-
timomodo de oiganisação, mas a verdade e que os prehende-se bem o que sucederia se se puzessem em
batalhões extrangeiros são sempre d'uma moralidade contacto soIdados negros coni populações amarelas,
muito duvid~sa.São mais uteis nos postos isolados, ou, ao contrario, soldados amarelos com populações
ondeas tentações são menos numerosas, as lojas de be- negras.
bidas alcoolicas mais raras, e por isso mais facris de Se a metropoie e os governadores procederem com
fiscalisagão e os ilidigenas mais disseminados e assim equidade e justiça não ha perigo de que os soIdados
menos sujeitos a vexames de que os das grandes aglo- fomentem as revottas dos povos onde fazem serviço,
merações. Em relação ao sustento e ao aspeto das ou a ellas se associem. Já vimos os processos a em-
tropas coioniaes é a Inglaterra que dá os melhores -pregar para o rècrutarnento dos soldados indigenas,
exemplos. Nas suas colonias, os soldados apresen- para de todo se evitar esse perigo e a hjstoiia das
tam-se sempre bem vestidos, muito aceiados, elegan- nossas ultinias campanhas coloniaes é mais uma
tes mesmo, inspirando consideração e respeito. Para -prova de quanto elle e chimerico e de phantasia e de
isso se conseguir convêm que elles sejam diretamente como se pode confiar n a fidelidade dos soldados in-
uniformisados pelos seus c ~ e f e se não pelos de~ositos digerias, até mesmo dos provenientes das pruvincias
da rnetropole. revoltadas. Contra a ideia de se expatriarern os sol-
O recrutamento dos soldados indigenas deve-se rea- dados indigenas para populações distantes, ha ainda
Iisar na região onde elleç devem fazer serviço e não $ aconsideração de qus elles são muito pouco aptos
os transportar para um outro ponto, exceto se fôr _para resistir a a c g o d'um clima diverso d'aquelle em
absoiutamente impossivel evital-o. As popula~õesd a que nasceram e se crearam. Quanto mais uma raga é
Africa e da Asia não teem menos amor do que os eu- inferior menos ella se adapta ás rnudangas de clima.
ropeus á terra onde nasceram e onde vivem os seus 0ç elementos europeus do exercito coIonial pode-
paes e parentes. Pode-se mesmo dizer que essas pri- rão sahir da grande massa d o exercito, mas é pre-
sões são ainda mais fortes para os indigenas, porque ciso, como já tantas vezes temos dito, que elles não
quanto mais civilisada é uma n a ~ ã o ,mais n'elia se tenham idade infefior a vinte e cinco annos, não so-
desenvo!vem as ideias de cosrnopolitisrno e maior ten- fram de qualquer doenga organica e satisfaçam ás
dencia tem cada um dos seus habitantes a conside- condições moraes que se devem exigir a um soldado,
rar-se um cidadão do mundo. a um sargento ou a um oficial, destinados a servir em
E' sobretudo inconveniente transportar soldados condigões em que tem de provar muita iniciativa,
242 sc1eNCIA DF: CO:ONISAÇ~O
DEFEZA MILITAR ESrERICiR E ISTXRIOR D A S COLOXIIS 243

quer para o sustento dos homens e seu alojamento, simples mudança d'um funcionario, embora de mo-
quer para a organisaçao dos meios de defeza e pro- desta categoria, d'um ponto das colonias para ou-
tesão, quer ainda par6 a direção de expedições cons- tro, modifica consideraveimente a situação ali esta-
tituidas por um pequeno numero de homens. belecida.
Uma i c s t r u ~ ã omuito especial deve ser ministrada Isto nota-se sobretudo para os oficiaes, porque es-
a essas tropas por oficiaes que tenham permanecido tes, animados quasi sempre de espirito guerreiro e da
muito tempo nas diversas colonias. Precisa ensinar-se- ambiqão de subir, sgo a miudo dominados pela ideia
Ihes a cor,striiir fortificações rudimentares, a levantar de que a energia é a qualidade que mais lhes pode
blokhaus de madeira, de terra e alvenaria, a organisar servir, esquecendo-se por isso de que o principal de-
emboscadas e a defenderem-se contra ella:. E sobre- ver de todo o europeu, em contacto com os indigenas,
é conquistar-lhes a sympathia peia d o ~ u r ae benevo-
tudo convêm que ellas fiquem sendo formadas por
bons atiradores. 0 s seus oficiaes e sargentos teem de lencia, e vencer a sua hostilichde ou resistencia pa-
ser mais numerosos do que os das unidades do exeT- triotica por uma paciencia constante e uma lealdade
cito para enquadrarem as tropas indigenas. N'ellas a nunca desmentida. Arrazar as aldeias e cortar caãe-
cavalaria só póde existir para um limitado numero de ças sãs processos de colonisagão que todos derem
colonias, devendo ser constituida por soldados indi- combater. .4s boas qualidades só podem ser aprecia-
genas recrutados na região. Não ha por isso necessi- das no terreno. Por isso a q ~ e l l e sque provam pos-
dade de constituir para tal fim uma reserva na Eu- suil-as devem ser utilisados pelo maior tempo possi-
ropa. Nos proprios quadros da metropole se encon- vel, não se lhes regateando o acesso e as recompen-
trariam os poucos oficiaes e sargentos necessarios á sas aos meritos que dernoi~strarern.Os oficiaes n'essas
organisa~ãodas companhias montadas nas colonias, condigões aprenderão a lingua dos indigenas, ins-
onde podem ser aproveitadas tropas d'essa natureza. truir-se-hão dos seus habitos e costumes e poderão
assim prestar o maximo de serviços ao seu paiz, em
Conveniencia de se utilisar quanto possivel especial e em geral á causa de civilisaqão.
. A persistencia dos sargentos e dos soldados que
a conservação dos mesmos elementos europeus
no exercito das colonias. Como as tropas coior-iiaes -derem boa prova de si não será menos util. h'íuitos
teem de ser formadas por homens adultos com coii- d'elles criam relações na colonia, contraem l a ~ o sle-
tractoç especiaes serão decerto mais dispendiosas do g i t i m o ~ou morganaticos, constituem uma familia e.
que a s da metropole. Para se realisarem economias expirado o termo do seu serviço, estabelecem-se como
que combatam esse aumento de despeza, convêm re- colonos.
duzir os gastos de transportes, evitando-se quanto Objeta-se que nas coionias menos favorecidas, se-
possivel a subskituigão dos que compõem o exercito r-ia dificil obterem-se tão bons elementos de coloni-
colonial. Sagao. Tal argumento não tem razão de ser, porque
As readmissões devem ser facilitadas e até mesmo ,tudo dependerá daç governos estudarem aç vantagens
promovidas com o maior interesse. Muitas vezes a que devem oferecer de harmonia com as con#gões
das regiões e ainda porque não ha boas ou más colo-
nias, como não ha boa ou má patria. Em t03a a Respeito pelos habitos indigenas. D'acõrdo
parte em que o homem tem vivido largos annos, cria com a s ideias que temos sustentado a respeito d'oir-
prisões e afectos, funda interesses inateriaes e moraes. tros pontos de colonisação, devemos dizer que no
e acaba por estar na terra em que deseja viver. E' recrutamento dos soldados indigenas tem tarnbem de
geral vêr-se cada um elogiar a coionia em que mais se atender a necessidade de acatarem os habitos das
tem permanecido, O cardeal Lavigerie, qiie passára a regiões que os teem de fornecer, embora esses habi-
rnsior parte da vida no norte da Africa, e que habi- tos estejam em contradição com a ideia que temos
tuára a existencia áquella região, dizia que tinha hor- dos deveres militares. Cor-iforme as condições em giie
ror ás arvores, porque lhe cortavam o horisonte e se encontrem a s colonias assim devem ser diversos
mostrava com orgulho a sua propriedade perto de os processos de se realisar esse recrutamento. Y u m a ç
Tunis, onde nunca plantára uma arvore e onde cousa convêm o alistamento voluntario. N'outras é mais
alguma interrompia o azul carregado do céu, ou os util que o recrutamento seja feito pelos chefes Iocaes. -
vastos campos cobertos de vinhds. Em outras ainda serão as povozções que fornecerao
A permanencia nas colonias impõe-se sobretudo os homens que lhe forem pedidos.
aos oficiaes e sargentos europeus das tropas indige- No Tonkin quiz-se substituir este ultimo systema
nas. Conforme a especie e a origem d'esses oficiaes e pelo do alistamento voluntario, 0 s resultados foram
sargentos assim mudam os principios de comando e deploraveis. Os voluritarios acudiam em grande nu-
a s regras de administração e instrução. Para se pro- mero, recebiam o premio do alistamento e depois fir-
ceder com exito é preciso pois conhecerem-se os ho- giam com as at-mzs e munições a fortalecer os piratas.
mens que se comandam e comunicar-se com elles na Por outro lado, onde ha râjas diferentes, convêm
sua propria lingua. Isto evita muitos erros e injusti- organisar tropas indigenas de cada uma d'essas rz-
ças e dá uma preciosa aiictoridade moral. E ainda s e 9 s . E airida ha a atender ás hostilidades que alguns
carece que esses oficiaes e sargentos conheqam pra- povos sentem pela vida militar. A forma de se trata-
ticamente os logares em que teem de operar. Lanes- rem os soldados indigenas tem tarnbem de ser muito
san diz que verificou no Tonkin que OS oficiaes re- variavel. Em muitas partes as suas familias são au-
centemente chegados á colonia eram OS que cahiam ctorisadas a viver nos proprios postos, ou quando
mais facilmente nas emboscadas dos piratas e que menos nas proximidades dos postos, indo os soldados
maior numero de homens perdiam nas expedições, ao comer com ellas. Tem-se reconhecido em muitos pon-
passo que s ó raras vezes surprehendiam u m bando tos a necessidade de se adotar este systema como
de malfeitores. Para se adquirír esse conhecimento é m i c o meio de se evitarem a s desergões.
preciso muito tempo e é esta mais uma razão para s e
aconselhar que se empreguem todos os meios no sen- -Relações dos soldados com as populações
tido de obter a maior permanencia possivel dos ofi- Indígenas. Um ponto muito interessante, que deve
ciaes é sargentos n'uma mesma colonia. preocupar todos os que se dedicam a estés assuntos,
e 0 das relações das tropas com as populações onde
DEFEZA JIILXTdll EETEBTOB E IXTERlOX D A S COl.OXZAS 247

e apenas aos mais importantes caberá ter junto de si


fazern serviço. E' notavel a rapidez e facilidade com
um oficial d'esse serviço. E m todos os outros, a ad-
qiie os soldados indigeiias, em contacto com os gra- ministraqão tem de estar entregue a sargentos que
duados europeus, se impregnam d a ideia de que o
não tem em geral as aptidões e co!ihecirnento para
uniforme é bastante Fata os tornar superiores aos
os serviqos que se Ihes impõem.
seus concidadãos e ate mesmo ás auctoridades, que
X vigilancia e fiscalisação são mesmo impossiveis
ainda na vespera respeitavam submissame~ite.Essa pela multiplicidade dos postos e dificuldades das co-
ideia deve ser combatida insistentemente, por que
municações em paizes onde a s estradas quasi náo
origina muitas djficrifdades.
esistem. 0 s oficiaes da administração estão sobrecar-
Nos povos em que é mais intenso o respeito pelas
regados por pesados deveres nos grandes centros
auctoridades, não é raro verem-se os soldados indi-
geilas roubar os habitantes e bater-lhes, se eIles se
. onde estão ;~quarteladase é-lhes por isso irnpossivel
realisar a s visitas de inspeção que a vigilancia dos
queixam, insui'gindo-se contra os chefes Iocaes que
depositas e dos transportes exigiria. O meio d'essa
antes acatavam. e afrontando-ihes, com processos
falta se corrigir serA estabelecer-se um systema de
emitados dos europeus, os sentiinentos religiosos ou abastècimentos e de transportes inteiramente ada-
sociaes mais respeitaveis. Taes desmandos devem ser
ptado As necessidades.
enerçica e seveiarnente reprimidos peios oficiaes e
(1s seiviços administi-ntivos devem estar sempre
saigeiltos. se estes conhecerem bem a região e ava-
sujeitos ao c o r n a ~ ~ diniiitar,
o porque só assim se po-
liarem por isso as perniciosas consequencIas que eiles d e i % ~creai. resporisã'ùilidades em harmoi-iin com a
podem ter. respetivn aiictosidade. T'or outro lado é preciso esta-
Esta tendencia das tropas indigenas torna em ge- belecer em principio q:ie os q~iadi-oseuropeus das
ral inconveniente o seu estacionamei-ito nas povoa-
tropas indigerias devem receber os viveres segundo
$ões importantes. Ellas devem de preferericia ser colo-
as condições da sua residencia, ou em genei-o, ou por
cadas nos postos afastados, onde a vigilzncia d a re-
meio de iiidemnisação pecririiaria, sendo-lhes entre-
gião exige uma actividade diaria muito fatigante para
gue, n'este caso, o valor dos mesmos viveres, acres-
os soldados da metropole. cido ao do4seu transporte e ao da sua manipulaqão.
O sustento e o alojamento das tsopas indigenas exige
Serviços administrativos nas colonias. -4 or- tambem um regulamento especial. O inelhor seria
ganisação dos serviços administrativos das tropas co-
fornecei--se llies os viveres em dicheíro, sempre que
loniaes é muito dificil e merece as maiores cuidados.
nas localidades em que ellas servem sejam suscetiveis
vela ~nultiplicidadedos postos militares, que é neces-
de ahi se encontrarem os alimentos com que eIIes
sario estabelecer e conservar nas grandes coionias, é teem o habito de se sustentar. O Estado evita assim
impossivel possuir-se um pessoal administrativo siifi- todas a s despezaç de transporte e pn-obabilidader de
ciente para que e!le tenha representantes em todos os perdas.
postos. Por isso só em pequeno numero d'esses pos-
tos podem existir delegados da adminiçtragão niiiitar
. DEFEZA XICITAPEITEB:OE E lNPEI3lOR DAS COLONIAS 2319.

Systema adotado no Tonkin. Lanessar, se- sem grande dispendio, quaiteis de pedra e cal muito
guiu no Tonkin, em 1893, o seguinte: Separou intei- superiores em acomodações e hygiene ás palhotas e
ramente das tropas indigenas a s tropas europeias, que coIhe-se ainda a vantagem de se ocuparem os homens
até ahi estzvax confundidas em grande numero de e m trabalhos phisicos e intelectuaes, que os preser-
postos com ellas, e concentrou estas ultimas n'um vam do abor:ecirnento, do alcootismo e do deboche,
pequeno numero de centros, onde as condições de que são a origem da maior parte das doenças. Este
abastecimento eram muito mais favoraveis. Tudo o resultado convêm obtel-o tanto para as forgas dos
que era guarda de fronteira, que exigia uma vigilan- indigenas como para as tropas da metropoIe. E' con-
cia activa, penosa e em condições hygienicas menos veniente dar-lhes trabalho a umas e a outras. 0 s ofi-
favoraveis, era confiado As forças indigenas. 0 s postos ciaes devem comprehender a vantagem de ocupar os
dos europeris eram providos d'um armazem de vive- seus soldados n'esses misteres. Muitos d'eIles enten-
res e de material, fornecido diretamente pelos arma- dem que e indigno todo o trabalho extranho á sua
zens centraes. Esses armazens ficavam a cargo, supe- vida. E' um precoaceito que deve ser combatido.
riormente, de um delegado do serviço administrativo,
ou d'um sargento, mas sob a auctoridade e a fisca- Os auxiliares indigenas. Ha ainda a estudar os
lisaçáo efetiva do comandante d a região e dos co- processos a seguir com os auxiliares tão necessarios
mandantes dos postos. á s tropas coloniaes para o serviço das casernas, para
Para os graduados das forcas iridigenas, como não o transporte de viveres, rnuni~õese material e para o
se lhes podia montar armazens, dava-se-lhes uma in- abastecimento dos postos ou dos colonos. Em geral,
demnisação em dinheiro. Essa indemnisaqão variava as auctoridades militares e civis das colonias teem uma
conforme o afastamento do posto em que serviam e acentuada teiidencia para abusar dos indigenas. En-
a maior ou menor dificuldade de transportes. D'este tendem que desde que Ihes pagam os serviços, elles
modo os europeus compravam elles mesmo os seus não teem o direito de recusar-se a prestal-os. Atêm
viveres na região, ou adquiriam-nos do armazem mais d'isso a ideia da superioridade da r a p e do poder mi-
proximo, pagando os respetivos transportes. 0 s re- litar de que dispõem, mais as incita a convencerem-se
sultados d'este systema foram tão rapidos e excelen- de que Ihes pertencem todos os poderes e que lhes é
tes que no anno imediato elle era generalisado a quasi licito praticarem'todos as abusos.
todo o Tonkin. Semelhantes abusos manifestam-se especialmente
nó recrutamento dos auxiliares. Se o comandante d'um
Alojamento das tropas. Para o alojamento, o / posto, d'uma companhia, oti d'uma coluna expedicio-
Estado deve atribuir a cada homem quantia annual naria necessita de auxiliares para os transportes, con-
destinada a fazer face ti construção e sustentação dos sidera como o acto mais naturai e legitimo tirar, á von-
alojamentos dos soldados. A mão d'obra torna-se ba- tade ou á força, das povoa~ôes que o cercam, os
ratissima, porque são os proprios soldados os empre- homens, mulheres ou creanças de que carece. Não se
gados na construgão. Por esta forma podem-se obter, preocupa de que isso os contrarie e os lance no de-
DEFEZA 3fiLITdR EXTE!:IOR E INTERIOR DAS COLOSI-iS 2Sr
secpero, ou de que esses indigenas esteiam retidos em especial da provincia de hloçambique, a soberania
por ocupações iri-gentes. Acima de tudo está o seu nacionai, ameaçada por movimentos de revolta, a!guns
desejo oii o seu capricho e tudo deve ceder perante d'eiles cie bastante gravidade, deram a yro17a de que
estes. E muitas vezes, ou quasi sempre, os auxiliares o esercito uitrarnarino, tal como estava organisado,
são deshumanamente tratados, dando-se-lhes menos era izsuficiente para cumprir, em todas as circunstan-
do que o absolutamente necessario. cias, a miçsáo que lhe cumpria desempenhar. Esse
Na guerra que a França teve de fazer no Tonkin exercito, não só não podia então fazer face a rebel-
para reduzir esta colonia á obediencia, aos carrega- liões importantes, mas nem sequer chegava para guar-
dores só se Ihes dava como aiimento arroz ainda envol- necer com solidez os postos militares, necessal-ios á
vido na casca. Elles eram obrigados a descascal-o ao ocupação efectiva dos vastos territoi-ios das nossas
chegarem aos altos. hlortos de fadiga, desmoraiisa- possessões. E, apesar d'isso, a media da despem que
dos pelas crueldades de que eram vitimas, preferiam elte nos cust6ra, nos aniios de 1898-r8gg a 1900-
comel-o assim a terem' o trabalho longo e difici! da rgor, fòra de z:387 contos de reis, sem se contar
limpeza. D'aqrii provieram inflamações dolorosas e a n'esta verba o que tivera de se desprnder com a s ex-
morte, e no fim d'afguns dias o carnini-io da coluna pedições extraordinarias, em que haviamos gasto mui-
juncave-se de cadaveres. Este facto não é infelizmente tos milhares de contos.
unico e de excegão na f-iistoria colonial dcs diversos Em vista d'estes factos impuzera-se a convicção
poros. de que era necessaiio remodelar ?.s forças d o ulti.2-
E' justo prohibir-se o recrutamento forçado dos mar, que devem exercer seinpre ilão só uma acção
cai.regadores. Esse processo produz a fiiga dos indi- militar, mas ainda mais, se é poasivel, uma acção
genas e as revoltas. Desde que se proceda com huma- moral e politica. Para o fazer, em bases que então
niclxde e respeitando-se os costumes dos habitantes e mereceram o aplauso dos mais competentes, prornuI-
a s necessidades da região, o apelo aos carregadoses gou-se o decreto de 14 de i ~ o ~ + t r n bde r o 1901, que
voluntarios não deixará de ser ouvido e a s necessi- tii-iha por fim melhorar as condigóes da ocupação
dades dos europeus serão atendidas, sem violencias territoriai das provincias ultramarinas e evitar, quanto
nem resames contraproducentes. Isto mesmo tem sido possii;eI, o emprego de f o r ~ a sexpedicionarias do exer-
comprovado na grande maioria das riossas uttirnas cito do continente. Julgava o legislador realiçar esse
campanhas coIoniaes, tendo, em muitas d'ellas, os fim escalonai-ido d o litoral para o interior unidades
auxiliares prestado até valiosissimos ser;~iços como táticas independentes, que constituissem centros de
elementos activos de guesra. ocupação e d'onde irradiassem a s forgas destacadas
para os postos militares, formando-se d'esse modo a s
Organisação do exercito colonial nas colo- rnaihas d'urna rède que deveria estender-se por todo
nias portuguezag. -As campanhas que tivérnos o teriitoiio de cada provincia. A s unidades mais pro-
de siistcntar, no ultimo periodo do seculo six, para prias para esse serviço seriam as companhias indige-
manter ein alguns dos ~ o n t o sdas nossas coloniaç, e nas d e infanteria, mais resistentes do que a s europeias
25Y S c i s N C i A DE cor oarslçào
tancias o aconselhassem, se podesse passar de um
aos climas tsopicaes, contai-ito que as praças d'essas para outro efetivo, sem haver necessidade de intro-
comparihins fossem tortemer~teenqriadradas com eu- duzir qualquer alteração organica na guarnição d e
ropeus. Por isso se crearam para as coloi-iias de XII- cada provincia.
gola, 3logarnbique e India trinta e duas unidades Atendia tambem esse decreto ás exigencias do ser-
d'esse caracter. Coxo em alguns pontos haveria ne- viço policial e para esse fim creava seis corpos de
cessidade de apoiar as forças de infantetia com tropas policia com organisa~ãomilitar, destinados ás cidades
d e artilharia, organisavam-se tarnbem compani-iias da Praia, S. Thomé, Loanda, Louren~oMarques, Kova
mistas, compostas d'urna secção de artilharia de Gôa e Macau, modificando-se a organisação de cada
montanha e dois pelotões de infanteria indigena. u n a conforme as coildiqões e popula~ãodas referidas
As secções d'artilharia deviam ser, em regra, consti- cidades.
tuidas por praças europeias, por não convir confiar o Entendendo o legislador que os batalhões discipli-
serviço d'esta arma a pragas indigenas e eram eguai- nares das provincias de Angola e Moqambique são
mente destinadas ás pequenas guarnições de artilha- um elemento indispensavel á regeneraçgo dos depor-
ria. Alêm d'estas unidades, consagradas excltisiva- tados do exercito da metropole e das praGas transfe-
mente a guarnecerem o interior, constituiram-se tam- ridas, por motivo disciplinar, das unidades das guar-
bem os pelotões independentes de dragões para O nições ultramarinas, conservou-lhes a organisação
mesmo intuito e ainda com a missão especial de au- antiga, podendo essas unidades, em caso de guerra,
siliarem a organisagão das pequenas col~irnnasde constituir um valioso auxiliar para as forças em ope-
-operações. rqões.
Af6ra isso, para o robustecimento das forças indi- O recrutamento entre os oficiaes e sargentos aju-
genas e para que os governadores dispuzessem sem- dantes do exercito continental para o servi~odas
pre de elementos de absoluta confiança para a defeza unidades das coIonias tornava-se obrigatorio para
e manutenção da ordem das provincias por elles ad- elles. Mas como estimulo e para os compensar dos
ministradas, montavam-se as unidades europeias de incornodos e perigos d'esse serviço concedia-se-lhes
artilharia, cavalaria e infanteria, que fòram reputadas o posto *de acesso com prejuizo d'aquelles que não
indispensaveis ás necessidades das respetivas colo- tivessem probabilidades de ser promovidos durante
aias. Essas unidades, aquarteladas nos pontos mais- um anno. Entre os que voluntariamente se ofereces-
salubres da provincia, deveriam estar sempre pron- sem, teriam sempre preferencia os mais antigos d e
tas a entrar em campanha, só sendo desviadas para cada classe e arma ou serviso, Além d'essa vantagem
o serviço de guarnição em casos excessionaes, mas seria tambem concedida aos oficiaes promovidos para
podendo ser deslocadas para outra colonia guancio as O uItramar uma subvenção que lhes permitisse deixar
necessidades do serviço assim o exigissem. ás familias uma pensão não superior ao respetiv~
NOS quadros das di\-ersas unidades, o decreto de soldo. Quando n5o houvesse oficiaes a oferecerem-se
14 de novembro de Igor especificava os efetitos voluntariamente seriam nomeados os mais modernos
rninirnos e mzximos, para que, conforme as circunç-
DEREZA MILlTdR ESTEAIOB I: ILVTEhIOB DAS MLOXIAS 255

d a tespetiva classe, sendo a estes prestados os mes- O decreto estabelecia que o recrutamento das pra-
mos Seneficios. ças iridigenas e a organisação das f o r ~ a sde 2." linha
Para se assegurar aos oficiaes inferiores em serviço seriam regulamentados em diplomas especiaes para
-no ultramar, que não possuissem as habilitaqões ne- cada provincia, mas sempre em harmonia com a or-
cessarias para ascender ao posto d'alferes no exercito ganisação promulgada. Ainda esse decreto fixava a
do paiz, O acesso á classe de oficiaes, creou-se um organisação dos quarteis generaes, da iiispeção e fis-
quadro especial só de oficiaes subalternos, mas com calisação das diversas unidades, do servic;o de saude,
direito á reforma no posto de major, depois d'um do serviço de justiça militar e do serviqo de adminis-
certo numero d'annos de serviço. tração militar e atendia ás condições justas em que
Os oficiaes dos quadros existentes comprivati~~os devia ser concedida a reforma ás praças de pret iii-
do ultramar continuariam a ser empregados 110 serviço digerias. Por ultimo determinava que, para que se
das fcrças militares das respetivas provii-idas, ate á provesse á deficiencia dos actuaes aquartelamentos e
completa extinção dos mesmos quadros, gacantindo-se 2 necessidade de se renovar o armamento e mais
a prornogão aos que então eram sargentos ajudantes, material de guerra, se destinassem á reparação dos
sargentos quarteis mestres e primeiros sargentos, con- quarteis e aquisiqão d'esse material, alêm das verbas
forme a legislação até ahi em vigor. inscritas para esse fim nos respetivos orgamentos
0 s quadros dos oficiaes inferiores e equiparados provinciaes, as sobras dos artigos de despeza relati-
seriam preenchidos por individuos da classe imrnedia- vos á força armada de cada provincia e o produto
tamente inferior, já em servigo no ultramar, que tives- das remissões das praças de pret,
sem as habilitações necessarias, por voluntar:10s trans- Por essa organisagão as forqas militares deviam atin-
feridos do exercito da metro~ole com o posto de gir: em Cabo Verde, no minimo, 224 liomens, 110 ma-
acesso, ou por imposição de serviço aos mais moder- ximo, 469; na Guiné, no minirno, 190, no maximo,
nos da respetiva classe do mesmo exercito. 268; em S. Thomé e Principe, no mitiimo, 200, no
Os contingentes de forças europeias formar-se-iam rnaxirno, 366; em Angola, no minimo, 2:682, no ma-
- pelos que voluntariamente se oferecessem do exercito ximo, 4:jS/" ; em Moçambique, no minimo, 2 3 x 3 , 110
do continente ou suas reservas e, na falta d'estes, por maximo, 3:722; na India, no minimo, r:o; j, no ma-
-imposição de servi~o,sendo preferidos os refratarios e ximo, 1:S3e em Macau, no minimo, 47 j, no maximo,
os compelidos. O tempo de serviço no ultramar redu- 707, e em Timor, no minimo, 224 e no maximo, 308,
zia-se a dois ou tres annos, conforme a s circunstan- o u no total, no minimo, ;:263 e no maximo, 12:263.
cias em que se achassem essas pragas e findo esse pe- Da guarnição da provincia de h'loçambique faziam
riodo a s praças ficavam isentas de qualquer outra obri- parte: uma bateria mixta de montanha e guarnição,
,ga@o militar. A's praças 'de pret eiiropeias concedia- uma companhia rnixta de artilharia de montanha e
%-lhes um premio de alistamento na ocasião do em- ,infantaria, uma companhia mixta de artilharia de
barque, uariavei com a provincia onde fossem servir, guarnigZto. e infantaria, dois esquadrões de dragões,
.e uma gratificagão diaria conforme a sua graduação. duas companhias de infantaria e um corpo de policia,
DEFE2.i 3liLiTaR EXTESIOR E 1BTERIOR DAS COLOSI.IS 257

com o efectivo minimo de 877 homens e o rnaxirno çolonizl por ella remodelado ainda coiitinuai-a impo-
de 1:556,alèm de dez companhias indigenas. tente rara poder cumprir- n niiss5o de defezn, ocupa-
A commissão que elaborou o projeto e o ministro são e segurailça, que lhe cun-ipiia Oesemperihar. Por
que referendo~io decreto julgavam que só em casos outro lado o recrutamento dos oiiciaes com posto de
muito estraordinarios, desde que se adotassem os acesso feria o principio da hieiarchia militar, base in-
efetivos maximos, illogambique poderia precisar de dispençavel d a sua harmonia e disciplina. Na intençgo
expedigões do co~tinente, de se corrigirem esses defeitos tem-se concebido
Em relação ás consequencias financeiras da nova dil-ersos proietos de remodelagão, estando n'este mo-
organisqão o seiatorio que precedeu o decreto previa mento sugeito á apreciação dos dirigentes utn que é
que ellas seriam extre~namenteiavoraveis para O the- de presumir que em breve seja convertido em lei d o
souro. E justificava esse modo de ver lembrando que Estado e de que vamos dar uma resumida noticia das
o exercito ultramarino, ta1 como até Igor estivera suas disposições mais importantes.
organisado custava em média 2:387 contos de réis. Por elle a organisa~ãodas forqas militares de que
Juntando a esta quantia a média annual das despezas se compõe o exercito ultramarino é feita de forma a.
com as expedições, incluindo n'estas só a s verbas constituirem-se com ellaç, em caso de mobilisagão,
pagas na rnetropoIe, e não entrando em linha de tres divisões militares, compi-ehendendo a primeira a s
conta nem com O que se gastou para ellas no ultra- guarnições de Angola, Cabo Verde, Guiné e São
mar nem com o que se dispendeu em passagens e 'rhomé, a segunda as de Mo~ambiquee a terceira as
ajudas de custo, média que atingiu o valor de 557 da India, Macau e Tirnor. 0s serviços corresponden-
contos, chega-se á conclusão de que as forças ultra- tes á organisagão d'estas tres divisões militares esta-
marinas nos custavam até 1901 bem mais do que ião concentrados na Direção Geral do filinisterio das
2:g44 contos por anno. Os encargos da nova organi- Colonias, por intermedio da respetiva repartigão mili-
s a p o para os efectivos minimos estavam orçados em tar, manteiido-se, em tempo de paz, os comandos das
1:661 contos: Quando Mopmbique tivesse o efectivo tropas, em cada provincia, independentes e sugeitos á
maxirno elles deviam subir a r:Qg7 contos. E' na hy- auctoridade dos respetivos governadores. Os quarteiç
potliese de isso tambern se dar, e ao mesmo tempo, generaeS das divisões, em caso de rnobilisagão, se-
em Angola, a s despezas subiriam a 2:235 contos, tão os quarteis generaes de Loanda, hlo$arnbique e
ainda menos r jz contos do que a despeza ordinaria Góa.
com o que, no orqamento das colonias havia figurado O projeto é muito minucioso na forma como será
o exercito destinado á sua defeza durante a antiga reaiisada a mobilisação e na organisagão de todos o s
organisa~ão. serviços e parques necessarios a o bom funcionamento
d'um exercito em campanha.
Projeto de aemodelaçáo d'esta organisação. Os commandos em cada provincia estão ,divididos
-Não se passou muito tempo sem que se reconheces- em commandos de distrito, commandos militares
sem os defeitos de que enfeimava esta lei. O exercito principaes e commandos militares subalternos, achando
DEPEZd MILITAR IXTERIOR E ISTEBIOE DAS :OLt)EIAS
239

se detalhados, em todo os seus pormenores, os deveres saude militar colonial, e ainda, em cada provincia, o
e atribuições de cada um d'eçtes coinmandos. numero de oficiaes de 2." linha fiado no orçamento,
A base do recrutamento dos oficiaes da metropole em harmonia com as siias necessidades e provenien-
para o serviço militar ou commissão militar no ultramar tes de 2.'' sargentos indigenas. A carreira dos oficiaes
será o do voluntariado no mesmo posto. Quando fòr que constituen~aquelles quadros será feita no ultra-
insuficiente o numero de oficiaes oferecidos, poderá O mar. O quadro de infanteria contará 6 coroneis, ro
G ~ v e r n odecretar a nomeação pdr imposição, recaindo tenentes coroneis,' 16 majores, 80 capitães e 280 su-
ella no oficial inais moderno do respectivo posto, balternos. O ingresso n'esse quadro far-se-ha no posto
arma ou serviço, podendo c nomeado trocar com de alferes, sendo um terGo das vagas no numero dos
outro do mesmo posto e tambem da mesma arma ou subalternos preenchido por sargentos ajudantes e 1.O'
serviço. Se durante o perioda de servigo ou commis- sargentos do exercito colonial, e os dois terços rec-
são no ultramar coubér ao oficial a promoção ao tantes pelos alferes habilitados com o curso militar
posto immediato e não houver vaga que elie rio seu colonial. 0s I . " ~sargentos cadetes, que possuam este
novo posto possa preencher, regressara á metropole, curso, poderão concorrer a metade das vagas, com
sem dever indemilisaçáo alguma á fazenda. São con- os sargentos ajudantes e I.'$ sargentos do exercito
dições de preterencia para admissão ao serviço colo- colonial. 0 s oficiaes do actual quadro do ultramar,
nial: mais tempo d'esse serviqo, o curso da respe- exceto medicos, farmaceuticos, quarteis mestres e of -
tiva arma ou serviçc, o curso colonia:, ou qualquer ciaes da administração de saude, entrarão no quadro
curso superior e a maior antiguidade miiitar. colonial da infantaria com a antiguidade do seu posto.
Para o desempenho de cornmissôes civis no ultra- 0 s excetuados entrarão em seguida ao mais moderno
mar poderá tarnben-i o governo nomear, com previa da sua patente dos outros quadros. A promoção no
proposta dos governadores, oficiaes da metropole, quadro colonial será feita por antiguidade, sendo a
tendo estes prestado pelo menos um anno de serviço referente ao posto de tenente por diuturnidade depois
no ultramar. Os periodos de serviço militar ou de de dois annos, um dos quaes pelo menos em servi~o
commissão militar nas colonias ser50 de dois annos efetivo nas unidades das guarnições de I." ou 2.'
para São Thome e Guiné, quatro annos para Angola, linha, ou 'unidades disciplinares do exercito colonial.
Moçambique e Timor e cinco annos para Cabo Verde, 0 s oficiaes do exercito da metropoie, com o curso da
India e Macau. Os oficiaes nomeados por imposição sua arma, que passem ao quadro colonial de infanta-
serão apenas obrigados a metade d'estes periodos. ria, entrarão n'este no posto de tenente, quando, pelo
Para o efeito de reforma o tempo de serviço nas colo- Zogar que ficarem ocupando na escala de acesso, Ihes
nias será favorecido cmm percentagens, variaveis con- caiba a promoção ao referido posto.
forme as proviticias em que esse serviço houver sido O Ministro das Colonias concederá annuaimente
prestado. licença para frequentarem em Lisboâ o curso colonial
NO exercito colonial haverá, privativamente, o qua- a subalternos do quadro coIoilia1 d'infantaria em nu-
dro colonial de infantena e o quadro do ser\iip de mero até á média da promoção ao posto de major
DEPEZA MILITAR EXTEEIOB E IXTERIGX DAS C ~ ~ L G ~ T A B
261
do exercito e d a marinha. As de I.' cabo por escolha
durante os ultjmos cinco annos. Estes serão chama- entre os z.+ cabos e soIdados em serviço no ultra-
dos por ordem de antiguidade, a partir dos que se mar, ou por tracsferencia roluntaria dos z . O S cabos no
encontrem, segundo os calculos p!-ovaveis de promo- efetivo ou na reserva do continente, ou da armada,
são, a dois annos do posto ue capitão e receberão, ou por ex-1.'' cabos do exercito e da armada já com
além do soldo e gratificação de exercicio, a ajuda de baixa e que desejem reintegrar-se. As de soldados por
custo por deslocagâo, jndemnisando a fazenda d'eçsa indivíduos de mais de 23 annos e menos de 35, que
ajuda de custo e perdendo ci tempo para a reforma se se alistam para o serviço do ultramar, ou por trans-
não concluirem, exceto em caso de doença, o curso ferencia voluiltaria dos que se encontram em serviço
no praso legal da sua duração. Os candidatos a o ofi- na mãe pairia. O periodo obrigatorio de serviço para
cialato do exercito colonial formarão dois grupos, um as praças de pret é o mesmo do que o dos ofi-' ~~aes.
constituido pelos sargentos ajudantes da wetropole e Quando completem esse periodo serão considerados
outro pelos I ."=sargentos,* ~ , ~ ~ a r g e ncadetes
tos e na reserva territorial do esercito da metropole ou
1 . ~ 5 sargeiitos graduados cadetes, sendo classificados,
colonial, conforme a residencia que escolherem, e terão
medeante as seguintes preferencias: curso colonial, direito a passagem para a terra da sua naturalidade
curso da escola centrai de sargentos, maior antigui- até cinco ailiios depois de terem terminado o tempo
dade do posto, maior numero de habilitações litera- de serviço. Depois de cumprirem metade do periodo
rias, menor idade e maior antiguidade de praça. a que se obrigzram poderão remir-se com o desem-
O quadro dos sargentos ajudantes será preenchido, bolso de 75.6000 reis. A importancia das remissões
em cada provincia, pelas I.OS sargentos mais antigos será exclusivamente destinada a o fundo de instrução.
da respetiva guarnição. ,4s vagas -de 1,'s sargentos, As praças d i pret indigenas poderão ser, conforme
me:ade por promoção dos 2.0S sargentos já em serviso o serviço que desempeilharem, de I.' 011 s . Iinha.~ -;ls
no ultramar e metade pelos I.OS sargentos da mésma de r." linha serão as destinadas á s unidades de
arma da metropole que desejem passar a o s e r v i p linha de inhiitaria, cavalaria e artilharia; as de 2."
co!onial, ou que, achando-se com baixa ha menos Iinha serão destinadas ás tropas de 2,:. linha e conse-
d'um anno, queiram reintegrar-se n'aquelle exercito e quentemente aos serviços de engenharia, de adminis-
ainda pelos 2." sçagentos tambem da metropole que traqão militar e de saude, companhias de explorado-
para ali vão no posto imediato. As de 2."$ sargentos res, sipais e auxiliares e ainda a guarda fiscal e cor-
Metade por promoção dos I .OS cabos já em serviço na pos de policia urbana e rural, com organisaqão mijitar.
ultramar e metade pelos 2.0S sargentos da metropole Em campanhs, emquanto iião estiverem osganisados
em serviço activo oti ccm baixa ha menos d'um anno. OS serviços de reservas e mobilisaqão, poderão ser
As de artifices ou por prorno~ãodos aprendizes de arti- Wihsados os indigenas de r." e 2,a linha e ainda os
fices de 3." classe, ou por contrato oficial nas coionias indigenas levantados de m o m e ~ t o nas povoaqões,
ou na metropole com operarios de classe civil, ou por 90nsti:uinclo grupos chamados de z~?.egulares,os
aprendizes do exercito e da armada em serviso ou já $Waes, sempre que seja possivel, terão chefes euro-
com baixa, ou finalmente por opera!-ios dos arsenaes
peus ou, pelo menos, homens de prestigio entrz os tres e tres e os recei-iceados e co!liratados quatro e
indigenas. Estes irregulares serão pagos por tabellas tses.
especiaes e licenceados logo que termine o servi60 Serão i:istituidos premios de aliçtame.lto aos volun-
para que foram convocados. tarios, contratados e recenceados, com percentagem.
O recrutamento das praças de pret indigenas de r." para os chetes de iildigenas que servirem de interme-
e 2." linha será feito segundo os regulamentos priva- diarios aos contratos, premios aos captores dos deser-
tivos para cada provincia, Esses regulamentos consi- tores e refratarios, que sahirão dos vencimentos d'esteç
derarão a respectitra provincia dividida em trez zonas : e ainda, quando se julgue conveniente, psemios aos
a I .* dos terrenos realmente ocupados e onde se póae engajadores de contratados.
fazer o recenceamento; a zP onde se poderá fazer O tempo de serviso dos indigenas de I." e 2."
uma estimativa mais ou menos aproximada da poyu- linhas decorrerá entre os r8 e 35 anr,os dos mesmos.
lagão e a 3.a em que se não dê nenhum2 d'estas con- Serão permitidas reltdrnissões por treç anrtos, em-
di~ões.Emquanto não se efectuar o recenceamento, quanto os indigenas tiverem aptidão fisica e bom
as duas primeiras zonas serão consideradas como coinportarnento.
constituindo uma só. O alistamento na I." linha será -4s praças de pret indigenas terão as mesmas gra-
feito com voluntarios, recenceados, contratados e duações que as praças europeias do exercito colonial
compeiidos : voluntarios e compelidos em todos as e serão promovidas nas tnesrnas coildições do que es-
zonas, recenceados na I . e~ contratados na 2.". O da tas. -4 graduagão de 2.' cabo indigena de ou
2." !inha realiçar-se-ha com voluntarios das tres, re- linha ser& dsda a todas as praças que tenham eyame
cenceados da I." e contratados da 2.a. S6 na I," linha da I." parte do curso elementar das escolas das uni-
é que servirão os refratarios ou desertores. 0 s volun- dades. A promoção a furriel de 2." linha será feita
tarios de I .a linha farão em regra serviso na região entre os primeiros cabos por concurso, ou na falta d e
em que se oferecerem, os recenceados e contratados habilitados por antiguidade. A promoção a 2.' sar-
onde se julgar mais conveniente e os compelidos no gento será feita por concurso entre os furrieis dos res-
disttito mais afastado da região em que viviam e bem petiros serviqos. Os alferes de 2.' linha sahirão dos
assim os refratarios e desertores, quando não poderem 2.O' sargentos indigenas de I , ~linha, quando estes o
ser mandados para outra provincia, mas ficando sern- desejem, ou dos 2 . O S sargentos da 2." linha, que te-
pre sob uma vigilailcia aturada, pelo menos nos pri- nham uns e outros as habilitações para 1.OS sargen-
meiros mezes do seu novo ~ l i s t a m e ~ t oils
. pragas d a tos europeus do exercito colonial, ou, pelo menos, as
2.' liilha servirão sempre nos locaes onde foi-em alis- de 2.0"argentos europeus do exercito colonial. Esses
tados. alferes poderão ser promovidos, em cada provincia, a
%a I . ~linha os volutltarios servirfio tres annos no capitães da 2.a linha, quando houver vaga e eiles con-
activo e tres na reserva; os recenceados 4 e 3 ; os tem boas informações e dez annos ou mais de anti-
contratados e compelidos o mesmo; os refratarios e guidade como alferes nas unidades da 2.a linha. Serão
desertores sete no activo. Ka 2." linha os voluntarios esses capitães que comandarão as unidades da a.a li-
nha nas companhias de exploradores, sipaiç e auxi- ~ õ c spoderão regressar á siia situação anterior no
liares. exercito da rnet~cpole.ou entrarem na escola dos r.OB
0 curso militar colonial ser6 destinado a prepa- sargentos do exercito colonial.
ração dos itidividuos para a entrada no quadro colo- Durante a matricula do r.' anno do curso colo-
nial da infantaria. Dividir-se-ha e m duas partes: o liia1 os alunos do curso militar colonial que não tive-
ensino ministrado na Escola Colonial e o ensino te- rem o curso de habiiitação para I."~ sargentos fre-
chnico militar professado na escola de sargentos do quentarão no deposito miiitar colonial esse curso, o
exercito da metropole. Para a matricula n'este curso qi:al serh organisado em ~~egulamento especial. Du-
será preciso ter-se o minimo de 20 annos de idade e rante o 2.O anno os alunos do referido curso recebe-
o maximo de 28, ser-se praça do activo ou da reserva ~ ã ona Escola de Guerra o ensino de equitação. 0 s
d o exercito da rnetropole, haver-se tomsdo parte mesmos alunos terão direito a alojamento no quar-
n'uma escola de recrutas e 11'uma escola de repeti650 tel do deposito militar colonial, sendo considerados
e apresentar-se atestado de bom comportamento mi- como adidos a esse deposito e direito tambern a ali-
litar e civil e de aptidão fisica e das habilitações lite- :nrntagão por conta do Estado. Os que não poderem
rarias que hoje se esigein para a matricula na Escola cumprir o curso colonial no tempo legal, por motivo
Colonial. d e doenqa devidamente comprovada, terão um anno
As praças do exercito admitidas á mntriculz. do de tolerancia. Os que durante a frequencia ou no fim
ciirso militar colonial frequentarão, ew- primeiro iogas, c ! curso
~ desistirem da promoção a alferes para o gua-
o curso colonial e depois o dos sargentos, e serão pro- dro colonial de infantaria, iridemnisarão o Ministerio
movidas, feita a matricula na Escola Colonial, a I . ' ~ das Colonias do que d'elle I-iouverem recebido e não
sargentos graduados cadetes do exercito colonial com dhes será contado para a reforma o tempo de frequencia
o vencimento de joo réis diarios, se não ihe compe- d o referido curso. Ser-Ihes-ha dispensado o pagamento
tir outro maior. Findo o I." anno do curso colonial das matriculas na Escola Colonial. Completado o curso,
serão promovidas a I."' sargentos cadetes com o ven- a sua classificação ser& a media da cota de merito
cimento de 500 réis diarios. Completado o curso pas- obtida na frequencia da Escola Central e da media
sarão a vencer Soo réis diarios e assim irão receber- das clqssifica~ões alcançadas nos exames no curso
na Escola Central de Sargentos o ensino technico. coionial.
Os alunos, quando frequentarem esta Kçcoia, serão O projeto a que nos referimos trata tambem desen-
riscados da matricula desde que não tiverem no fim 9'olvidameiite da classificação e divisão das tropas qiie
do I." trimestre media geral superior a 5 valores, n o .coilstituem o exercito colonial, cio serviço que a I . e~
fim do 2." trimestre media superior a 7 valores e no 2-a linha teem respetivamente de deseinpenhar, e da
fim do anno lectivo media superior a g valores, não Preprtra$ão e instcu~ãoa que derem ser sugeitos. X
podendo, por isso, ser admitidos a exame, o que tam- primeira linha é formada por companhias de irifanta-
bem Ihes sucederá desde qxe. hajam dado dez faltas 1.h indigenas, só com os quadros ou parte d'elles eu-
não justificadas. 0 s que se encontrem n'essas condi- ropeus; esquadrões :ie cavallaria, tamtiem com a mesma
divisão das companhias de infantaria, e baterias d e dos distritos de reserva, que receberão as prasas pas-
artilharia, com os quadros europeus e pragas tambem sadas á reserva, para ali se submeterem a um regi-
europeias para os serviços de maior responsabilidade +nen de trabalho remunerado. Estas granjas serão
e p r a p s indigenas para os misteres mais violentos e constituidas por terrenos destinados a plantações e
de menor importancia. culturas, vedados e defendidos de qualquer incuisão
Em capitulos especiaes desenvolve o citado projeto de animaes ferozes e daninhos e por edificações para
grande numero de artigos relativamente ás organisa- crlieiros, curraes, etc. No orçamento da provincia in-
ções dos quarteis generaes, á organjsação e constitui- cluir-se-hão verbas para despezas de sementes, ferra--
$20 das reservas, á maneira te ser aplicada e distri- rnei-itas e vasilhame, despezas que ficarão como debito
buida a justisa e de se fazer respeitar a disciplina, á da granja, o qual será amortisado por desconto sem-
constitui@o dos serviços de administração militar, dos pre superior a ro O/o, obtido depois de deduzidos to-
serviços de saude e veterinario, á classe dos reforma- dos os encargos da mesma granja. Cada granja ter&
dos, á classificação das praças de guerra e pontos for- Lima escrituração especial com receitas e despezas pro-
tificados, ao esta6elecimento das carreiras de tiro e prizis. O agronomo da provincia orientará os estudos.
degositos do material de guerra, a creaçáo das ins- das cultura^ e plantaqões indigenas e exoticas, estu-
peçõeç das unidades e ' serviços technicos, a instru- dará a qualidade dos terrenos, prescreverá para cada.
ção das praças, emfim a todos os assuntos a que se granja a s regras e preceitos que lhe forem mais apro-
tem de referir uma organisação militar, que, embora priados, conforme as informações que houver colhid@
destinada ás colonias, não pode deixar de se confor- diretamente, ou por meio de questionario.
mar nas linhas geraes e na sua estructura com as que O rendimento de cada granja será dividido em qua-
se promulgam para a formaçao dos exercitos mais tro partes. Urna constit~iirareceita do Estado. Outra
perfeitos e adeantados. Não podemos frisar as dispo- hndo da granja. A terceira rernuneração dos traba-
si$Ões mais importantes de cada um d'esses capitulos, lhadores, que lhe será entregue em genero, sempre
para não alongarmos demasiadamente esta referencia que seja possivel, e remuneração do restante passonl,.
nem isso seria proprio da indole do nosso trabalho. dirigente e technico, e a quarta revertera para o fundo
O que quizemos com ella foi mostrar que em Portuga! d'instração militar.
já se encara este probIema, um dos mais importantes
-
para a obra da colonisaqão, a luz dos verdadeiros prin Defeza maritima das colonias. X defeza ma-
ritima das colonias e a sua vigilancia fluvial faz-se
cipios d'esta sciencia e para o provarmos, alem d'al-
gumas das bases que já expuzemos em que se funda com trez elementos: divisões navaes operando ao largo,
o projeto de que falâmos e que em breve, segundo tendo por bases d'operagão os portos das colonias;.
cremos, será lei dc paiz, bastará dizermos que n'elle, navios especiaes para a proteção das costas contra os
com o fim de se complet-rr a educação do indigena inimigos de fora; barcos apropriados a vigi!ancia e B
a!istado no exercito colonial, tambem se instituem as policia dos rios, ribeiras e canaes. Mesmo nos paizes
granjas militares da 2." linha e as granjas militares em que os assuntos coloniaes estão inteiramente se--
-TO s c i i ~ a r c r aDE COLOXXSAÇ~O D1;FEZX bliLiTAR EXTERIOR E INTEEiUB DA6 CGLOBIAS 271

-tencão e custeio. O pessoal d'essa marinha colonial é navai, encarregado da revis8o e ajustamento das cori-
constituido por oficiaes e praças recrutados na inari- tas dos navios da marinha coiorial.
- nha de guerra, observando-se as disposi~õeslegaes De futuro poder-se-hão crear, com prévia consulta
que regulam na mesma marinha as fuii~õesdo pes- das auctoridades superiores coloniaes, outras capita-
soal, conforme as classes a que elle pertença. 0 s Io- nias ou delega~ões,desde que o movimento maritimo
gares de segundos marinheiros e grumetes podem ser assim o exija. 0 s chefes dos departamentos e os capi-
providos par pessoal ùidigena, recrutado e convenien- tães dos portos ficam colocados diretamente sob a s
temente sdecionado, devendo esse pessoal ser recru- ordens dos respetivos governadores das provincias.
tado por periodos de tres annos e nunca por periodos X orgsnisação dos serviços das repartições de ma-
inferiores a um nnno e sendo concedido aos recruta- ~ i n h adas diversas colonias moldou-se pelos da meçma
. dos 10 O/v sobre os seus vencimentos,por cada pe- repartição de Moçambique. Em relaqão aosvencimen-
riodo de rznovagão, até ao terceiro. tos dos oficiaes determinou-se que os chefes de de-
A marinha colonial fica sendo privativa da colonia partamento e os seus adjuntos, bem como os capi-
que a mantem e independente da marinha de guerra, tães de portos e delegados maritimos, sendo oficiaes
á qual continuam a pertencer os servisos de defeza de marinha, e ainda os delegados maritimos, vetlçanl
maritima e de soberania. N'estes termos, os navios sòIdo, gratificação e subsidio de embarque como
d'rima determinada colonia não poderão ser deçloca- comandantes e mais 50 O'o sobre todos esses venci-
dos para outra, a não ser por motivos excecionaes de mentos. O adjunto da capitania do porto de hlacau
socorro ou de campanha. e os sub-diretores de oficinas navaes recebem ou
Quando houver necessidade de se aumentar es- vencimentos como se fossem irnrnediatos e mais 50 ')/o.
traordinariamente o efetivo naval em qualquer colo- Todos o s outros oficiaes em seri7iço vencem como
nia para operações militares, requisitar-se-ha a o Mi- oficiaes de guarnição e mais jO O,'o. A s praças de pret
nisterio d a Marinha o material naval de que se care- teem direito a o que teriam fora dos portos do conti-
cer, regressando este á metropole logo que terminem nente e mais 50 O/o. Afórz isto, todo o pessoal da
as operações. As despezas respetivas ficarão a cargo marinha colonial, em serviço em terra, tem direito a
a da colonia onde fòr prestado esse servi~o. u m subsidio de residencia, quando esta não Ihe foi.
Em Angola e Moçambique e na sede das respeti- brnecida pela pro~incia.
vas capitaes creararn-se dois departamentos mariti- O serviço da marinha colonial é voluntario para os
mos, aos quaes compete a dirqão dos serviços mari- oficiaes e p r a p s da armada, serido preferidos os que
timos das mesmas provincias, incIuindo os das tiverem tirocinio para s posto immediato. 0 s oficiaes
capitanias. Nas outras colonias esses serviços ficaram e praças da armada, que se incorporarem na marinha
a cargo dos capitães dos portos. colonial, tem direito ás ajudas de custo e premios de
Os serviços navaeç das colonias são dirigidos por alistamento que se concedem aos oficiaes e praças do
intermedio da 6." Repartigão do Ministerio, havendo exercito da matropole, quando vão servir em comis-
junto d'essa repartição um oficial da administragão s ã o nas colonias. NXO havendo pessoal voluntario
suficiente, a s nomeações fazem-se por escala pala o que, posteriormente a 30 de jiinho de 19r3, eni'ùarquem
serviço colonial, não podendo n'esse caso o tempo d e para o sei.viço colonial, n8o poderão estabelecer pen-
serviqo exceder dois annos. sões a pagar pei05 coFrzs dos i.i.iir;isteiios da marinha
Alèm d'autras disposiqõeç, por assim dizer de cara- e das colonias.
ter regulamentar, ainda o decreto de 10 de juLho de-
termina que sejam transferidos do orçamento do rni- A policia nas colonias. A . policia só e formada,
nisterio da marinha para o das colonias as verbas mesmo nas colonias mais importantes, por um numero
representativas das quotas partes das importancias limitado de homens, destinados quasi exclusivamente
n'aquelle consignadas ás desyezas com o pessoal, as cidades mais importantes. Resulta isto do facto
material e combustivel dos navios que passarem ao d'ella não ser estimada nem pelas auctoridades civiç
serviso colonial e que se transfiram, tarnbem para a s que lhe notam um caracter acentuadamente militar,
repartiçoes dos serviços de marinha de cada colonia, os liem pelas militares, que a consideram com muito
serviços metereoiogicos e astronomicos, de faróes, ba- pouco espirito de classe. A s primeiras preferem-lhe o s
lisas e semafóros, de docas e oficinas navaes, de fis- agentes civis, especiaimente os indigenas, que são o s
calisayão das pescar, de hidrogt-aphia e de escolas d e mais doceis e maleaveis, podendo ser empregados em
pif otagem. todo o genero de serviços. As segundas desejam ellas
Posteiiorínente a portaria de 31 de outubro de 19x2 mesmo fazer a policia e só a custo toleram a pre-
determinou que passassem á subordinação diréta do sençsi, dos respetivos agentes junto d'ellas. Apezar
governo das provincins ultramarinas os seguintes d'isso não ha duvida de que a policia devia constituir
navios e estabeiecimentos: canhoneira Patria, lancha toda a base da organisação de seguranSa nas colo-
canhoneira Nlacau, canhoneira Chaimite, lancha ca- nias.
iihoneira Sena, lancha canho'leira Tete, canhoneiia As auctoridades militares são, a miudo, de esces-
Sado, vapor Dily, lancha canhoneira Cacheu, lancha siva severidade e de demasiada energia para esse ser-
canhoneira Flexa, lancha canhoneira Zagaia, a esqua- v i ~ X ~ . policia deve mais prevenir os delitos e im-
drilha da Guink, canhoiieira Save e deposito da esta- pedir os crimes do que deixar-se dominar pelo prazer
ção rzaval. pe os castigar. Mais do que a força é necessaria a vi-
Por essa portaria estabeleceu-se ainda que as despe- gilancia activa e constante para se conseguir a ma-
zaç de passagens de oficiaes e prãças nas viagens de nutenção da ordem. Por outro lado os oficiaes do
ida para as colonias e de regresso ri metropole, serão exercito, que não tenham pratica especial dos servi-
pagas pelo ministerio das. caionias as da ida e pelos ços policiaeç, dejxam-se facilmente iltidir nas coIonias
cofres d a s proviilcias as de regresso; que os depositas por informsções falsas e interesseiras. Ao contrario,
de marinha .do continente forneceráo, em conta cor- um agente de policia habil e habituado ao seu mister,
rente, ao ministeria das calonias todos os materiaeç sabe facilmente distinguir as informações que deve
de consumo, de sobresalentes e de material de guerra i-egeitar das que precisa acreditar e prevenir-se con-
que lhe fòrem requisitados e que os oficiaes e pragas tr?. os verdadeiros perigos que o possam ameaçar.
18
Por isso a poiicia nas colonias deve ter bem mon:ado dos m8f'ZCL?2L~'~ e x r x n r ~E
l INFS?IOR cCLoxIAs 275
o serviço de vigilancia, de informaqões e de S V ~ U ~ ~ I I Ç R , povoações pacificas. w
como sucede nos paizes civilisados- dade das fronteiras e em todos 0 ~ p ~ i u s t as j d ~
Nas aldeias e pequenas povoaqõeç as auctorida- mais ameaças ou probabilidades de revolta. Alas não
des indigenas são as mais proprias para manter a or- ccnv$m encarregal-o da policia das povoações indi-
dem, porque teem um conhecimento perfeito dos cos- genas.
tumes e tradições da região, dos detaihes mais miudos Alèm do exercito e da policia pode tarnbem bal-er
da vida individual, familiar e social do povo. 0 indivi- forgas de miiicias indigenas, dirigidas superiormente
duo extranho, por mais inteligente e bem intencionado por europeus. Todos estes elementos de defeza e de
que seja, será sempre improprio para fazer essa espe- segurança devem estar á disposiçZo das adrninistra-
cie de policia e creara muitas vezes dificuldades e $6" locaes, responsaveis pela manutengão da ordem,
atrictos. Sem se conhecer a fundo a lingua, a legisla- e deIegadas do governo da colonia, onde reside a
ção, os costumes, a religião e os habitos locaes, e prs- auctoridade suprema, unica responsavel perante a
judicialissimo destituir as auctoridades indigenas e metropole pela tranquilidade e progresso da mesma
substituil-as por outras. Os chefes indigenas envaide- colonia. Para esta poder desempenhar-se d'esses de-
cem-se muito em que se Ihes conceda um pouco de veres é preciso que a sua auctosidade seja tão grande
auctoridade e, quando assim acontece, são os mais ccmo grande é a sua responsabilidade.
empenhados em manter a tranquilidade na região,
Deve-se porem usar de regras prudentes, obrigan-
do-os, por exemplo, a apresentar as armas de que os
seus homens dispõem para serem esarninadas, em
epochas fixas. Esta processo foi adotado peio general
Gallieni em Madagascar. Encarregando-se os residen-
tes da direção direta das forgas da policia, ha ainda
a inconveniente d'elles se deisarem dominar pela ideia
de a transformar n'uma verdadeira força militar, con-
sagrando-se muito mais A instruçTio technica Cessa
policia e á organisação de colunas do que á adminis-
tração propriamente dita, á aplicação da justiça e a
percegão dos impostos.
A acgáo da policia deve ser inteiramente separada
da do exercito. A este incumbe proteger as colonias
contra os inimigos de fóra, fazer dentro d'ellas o que
se póde chamar a grande policia, combatendo as re-
beliões poderosas, perseguindo os bandos armados
SYSTEMAB COLOBIAES 277

car-lhes indistintamente as mesmas leis e sujeital-as


a um systema commum. X uma colonia na infancia
não convêm as regras complexas que podem sei- uteis
para uma sociedade já formada.
No principio, no inicio d'uma colonia, tudo está
CAPITULO XVII por fazer, tudo se encontra no estado inorganico.
A atictoridade militar ou maritima é que domina por
Systemas coloniaes completo, reunindo todos os e governando
discricionariamente a região. -4lgurnas regras summa-
Systema ccIoizial e systema da sujeição. - Systema da assi- rias e providencias adotadas por essa autoridade
milação.- -
Systema da autonomia. A constituigão co- constituem T, legisiagão da colonia.
lonial. -Influencia dos diversos systemas n o governo e 'Terininado o periodo da conquista, a adoção d'uma
administragão das colonias. - Organização militar e de- administração civil constitue o primeiro progresso.
feza d a s colonias. - Liberdades locaes e direitos dos A auctoridade militar perde então as atribui~õesque
colonos. - Organização financeira. - Regimen corner- não estão na sua missão, Ideias diversas, de caracter
-
cial. - Critica da sujeição. Critica da autonomia. - mais pacifico, começam a inspirar o governo superior
Critica da assimilação.- Poderes nas colonias e exten- d a região, e nasce uma regulamentação mais compli-
são da sua auctoridade. - Organização interna d o rni- cada e mais formalista que serve de base ás primeiras
nisterio das colonias. - Fórmas d e governo nas co- garantias dos habitantes da colonia. X'uma nova
lonias. -Poderes d o Governador. - Conselhos colo- etape, surge o juiz, substituindo-se em grande parte
niaes. - Organisação administrativa da provinciu d e a o administrador; estabelecem-se os tribunaes e rea-
Moçambique. iisa-se s separaSão das auctoridades administrativas
c judiciaes, o que assegura aos que teem de apeIar
Systema colonial é o conjunto de principios, o u para a justiça uma proteção valiosa e indispensavel.
antes o principio essencial que deve presidir á elabo- Mais tarde, quando os europeus são bastante nu-
riiçâo de todas as leis destinadas a regular a vida in- merosos e os indigenas suficientemente civilisados,
terna, aitministrativa e economica das colonias. A tres concedem-se então ás colonias licerdades locaes.
typos absolutos se podem rediizir os systernas colo- 0 s seus habitantes iiomeiam representantes para lbes
niaes: o da sujeição, o da assimilasão e o da auto- defenderem os interesses, para votaram os impostos,
nomia. discutirem o orçamento e terem participaqão na con-
Quando uma nação possue um vasto dorninio co- fecgão das leis. Finalmente, e em ultimo logai; quando
lonial, dispondo assim de colonias com situaçâo a colonia chegar ao estado adulto, poder-se-ha, com
geographica, extensão, cliina, condições ecoiioinicas, as precauções devidas, organisar o jury, instituir a
composição de raças e grau de civilisação muito di- liberdade de imprensa e a liberdade de reunião e
i7ei.sos,a tal ponto que entre essas colonias ha algu- obrjgar a colonia a suprir os encargos financeiros e
mas vezes maiores diferenças do que as que separam
cada uma d'elias da mãe patria, seria iim erro apli-
militares que pezam sobre os estados da Europa e
que elia já tem forças para suportar. Essa ascencão influencia poIitica do seu governo. Os interesses, a s
progressiva para a organisação social dos paizes cul- aspirações e as necessidades das colonias não são
tos exige muito tempo e carece de ser realisada com para atender n'esse systema. A região colonisadora e
muita prudencia e moderagão. esplorada i:iteiisarnente e cein descanço. A colonisa-
Precisa-se, porêm, saber em que sentido convêm á @o converte-se n'um negocio, que se inicia na espe-
rnetropole encaminhar os passos d'essa sociedade rança dos lucros que ella possa dar e que se aban-
nova que ella s e encarregou de educar. E conforme dona se os resultados não correspondem a esta espe-
os dirige para a assimilação, o u para a atrtonornia, rança. Já. a ~ ? f ~ y c ~ o p eresumia
dia um tal systema na
assim os processos e meios d'acção teem de ser di- seguinte phrase : G-4scolonias são feitas pela metro-
versos. Por estas palavras: assimilação e ak~tonornia, yole e para a metropole.~
não se deve entender urn conjunto de regras irnme- SemeIhante modo de ver dominou na Europa,
diatamente aplicaveis, mas sim um fim longinquo quasi sem oposição desde a descoberta do novo
para o qual se tende e que só será atingido quando mundo até ao fim 30 seculo xvur. A exploraqão bru-
se tiver terminado a colonisação da região. Por isso tal dos paizes novos foi durante tres seculos o ideal
quer uma n-ietropole entenda dever encaminhar todas dos aventureiros, das companhias e dos governos. A
as suas colonias n'rirn mesmo sentido, ou em senti- Hespanha, Portugal, Holianda, França. e Inglaterra
dos diversos, é preciso que ells saiba, desde o prin- i ~ ã opensavam mais do que em encher os seus cofres,
cipio, o que pretende para não caminhar ás cegas, cu aumentarem o seu poderio e, se disputavam com
nem mudar a cada instante de objetico, para ter, i?- tanto encarniçamento o comercio das Indias e o irn-
naImente uma politica colonial definida. Comprehen- perio do novo mundo, é porque viam n'esse coinei-
de-se d'este a o d o que uma nação coIoniaI dirija por cio e n'esse imperio uma fonte inesgotavel de rique-
modo diverso colonias que se encontrem em concti- zas, cuja posse lhe detia assegurar a supremacia so-
ções diversas. E' o que tem sucedido á Inglaterra, bre as nações rivaes. A transformação de ideias pro-
que adota nas suas colonias de govertio responsavel, duzidas pela revoiução franceza e já antes creada
como o Canadá e a Australia, o systema da autono- pela luta dos Estados Unidos para a sua emancipa-
mia, e nas colonias da Corôa um spstema muito dife- $0, veiu condenar na opinião publica a politica da
rente, muito parecido com o da sujei~ão.Nas, na si~jeição, que, por isso, comesou a ser abandonada
mesma colonia, a politica d a mãe patria não deve gelos estados europeus.
variar. Durante todo o seculo xrx esse abandono acen-
tuou-se progressivamente. Só a Hollanda conservoir
Systema da sujeição. A politica d'este systema o systema da sujeição, embora atenuasse bastante oç
orirnta-se exclusivamente pelo interesse particular d a seus primitivos rigores. Nos outros paizes pode-se
metropole. A nação coionisadora trabalha só para si. dizer que desapareceu, consen-ando apenas alguns
O seu intuito é aumentar a sua propria riqueza e a traços nas respetis-as organisações coloniaes.
Chegou-se assim a concluir que a mãe patria não
tem só direitos, mas possue tambem de\-eres. Ai-itiga- auctoridade produz o seu enfraquecimento e despres-
mente ella explorava o seu fiiho, hoje entende-se que tigio e o sufragio, em sociedades ainda tão pouco
lhe incumbe edumi-o, trabalhar pelo seu desenvolvi- adquadas para o exercer, é simplesmente uma causa
mento, fazer com que elle se torne prospero e forte. d e L-eiiiagae corriigo.
Mas como é tão dificil educar uma coloniâ como uma
creança, as opiniões são dil-ersas e dois methodos ty- Systema da autonomia. Por este syçtema a s co-
pos de educação disputam a pr!masia: o da autono- donias governam-se a si proprias, regendo-se por leis
mia e o da assimilação. ;feitas ig loco pelos seus habitantes ou representantes
jdoneos, 1130 tendo com a mãe patria mais do que
Systema da assimilação é aquelle em que se relaçoes restritas, tendentes apenas a assegurar a so-
considera uma colonia como uma simples divisão berania politica da metropole e a p r o t e ~ ã oda coIonia
administrativa, embora afastada da nação, regida pe- contra nações extrangeiras. A autonomia alarga estra-
las mesmas leis e em que todos teem eguaes direitos ordinariamente as liberdades Iocaes, entregando aos
e deveres como cidadãos do mesmo -giz. Tende esse colonos o direito de constituirem os seus parIameiltos
systema a separaqão cios poderes do estado, zi dividi: privativos, onde se elaboram todas a s suas !eis e
pelos varios ministesios metropolitanos os difel-cr-iteç d'onde sae a indicação para a constituiçko do seL
serviços coloniaes, diliiindo a auctoridade colonial, re- poder execiitivo.
duzindo os goveriladores a simpies fr:ncionarios civis Os laqos que n'este çysteina preridem a colonia á
e dando a todos os habitantes da colonia, ou apenas mãe patria são muito frousos -e sepresentados pela
a o s descendentes diretos da mãe patria a eguaidade iiomeação d'um ~GI-ernadoi-, chefe de Estado consti-
juridica e civil com oç que c o n t i ~ u a mna metrogoie. tucional, que não governa e pela p r o t e ~ ã omilitar e
4 assimjlação, obra d o espirito de symerria da raça maritima exercida pela mãe patria, que fica com a re-
latina e inspii'ada n'urna conceção cheia de generosi- presentagão da colonia para com os povos extrangei-
dade, não tem dado em muitos casos bom resultado. os. A autonomia, coin os corretivos aplicaveis, con-
Basta a distancia e o clima para tornar irreaIisaveis forme as circumstancias da coloriia, é o regixen que
nas colonias muitas das leis metropolitanas. iirais se harmonisa com o desenvol~.imentodas noi.as
l i a s aIêm d'isto ha ainda a organisaqão das socie- xgiões. hlas esse regirnen tambetn não pode ser apli-
dades coloniaes, que nunca podem ser vazadas nos *.cada a possessões e dependencias, onde não haja OS
moides da mãe patria, para dificuitar immenso essa .elementos necessarios para a coiisti:ilição d'uina so-
homogeneidade de legislação e de principias goveraa- cledalie á europeia.
tivos. E quando se aplica a possessões e dependen- .A 1i:glaterra é a terra classica do piincipic da auto-
cias, em que a raça dominante é representada apenas ,nomia colonial. E' o i~riicopaiz em que elle tem sido
por alguns funcionarios e negociantes, dispersas n'urna admitido com todas a s suas consequencias. K'esta
forte população indigena, a assimilação torna-se não orientaçào a gi-ande nação maritima tem aliotado
só irrealisavei, mas prejudicial, porque a divisno da ideias d'uma largueza e gentrosiàade nota~eiç.Resu-
ridades uma larga iniciativa assim como fortes meios
miu-as John KusseI n'um discurso, proferido em 18jo de acgão e charna:ido, por uma prudente e sucessiva
na camara dos cornmiins, dizendo: <Prevejo como expar-ição, os representantes do seu comercio, da sua
todos 05 bons espiritos que um dia chegara em q u e industria, em rest!mo, dos contrib~intesda raça do-
algumas das nossas colonias se desenvolverão de tal minante, a darem o seu voto e opinião acerca de to-
modo em populaçáo e em riquezas que ellas virão di- das as questões que interessam á adrninistra@io ou a
zer-nos : .Somos bastante fortes para devermos sei- economia da região, que elles fecundam com a siia
independentes da Inglaterra. O laço que nos liga a actividade e com o seu capital. Para melhor firmat
mãe patria tornou-se oneroso e chegou o momento, ideias sòbre este assurnto da maior importancia para
ern que, sem ferirmos a amisade e boa atlian~acom o nosso estudo, comparaiaemos agora os trez syste-
ella, reclamamos a nossa liberdade.. E' possivel que mas sob os pontos de vista da Consfifz6igão CoZoniuZ,,
esse dia ainda não venha muito proximo. Mas façâ- do Governo E AdvzinistragLiO das COIOI~MS, da C,'i.gani-
mos tudo o que estiver em nossas mãos para as tor- saçao IlliZitur e Zlefeza das CoZo~zias,cios Dii-eitos dos
nar aptas a governarem-se por si mesmo. Demos-lhe CoZmos e LiJerdades bcaes, da Orga~zisagão$~za~zcei7*a
tanto quanto seja possivel a faculdade de dirigirem o s t! do Regivten Al,andegario.
seus proprios negocios. Qire ellas cresçam no numero
dos seus habitantes e em bem estar e suceda o que A Constituição Colonial reiine o i-egirnen iegis-.
suceder, nós, membros d'um grande imperio, teremos lativo e a representação das coIonias. Pelo systema
a col-isolação de dizer que contribuimos para a felici- da sujei~i%oa metropole impõe ás co!onias a legisla-
dade do mundo.. - $" que lhe apraz e mais se harmonisa com os s e u s
XSo era esta a opinião d'um homem só, embora proprios interesses. Os colonos não estão representa-
elle fosse do va:or moral e intelectual de lord Russel. daç no parlamento, nem sequer 110sconselhos de go-
Era, ao contrario, a ideia predominante de toda a In- verno, São indiferentes as suas opiniões, visto que-
glaterra até ao momento em que surgiu o ii~peria2;smo; não se atende nem aos seus votos, nem ás suas ae-
Por isso o movimento continuo para a creação de ins- cessidades. X'estes termos, aos colonos POUCO impo~ta.
tituições rept-esentativas, e mais tarde para u m go- saber quem exerce as funções de legislador coloniâl.
verno responsaveI nas grandes colonias inglezas, foi Quer ei!as residam nas mãos d'um governador que as
sempre progressivo. desempenhe por meio de portarias, quer pertençam a o
Nenhum dos tres systemas que temos enunciado poder executivo, que as torne efetivas por decretos,
se aplica hoje em todo o seu rigor, Tocios elles trem quer sejam atribuição d'uma asçembleia encarregada
vantagens e iepresentam defeitos; todos elles se po- de discutir e votar as leis, o resuítado é sempre o
dem seguir em determinadas colonias. O que mais s e meçao para elIes. Xs garantias que possuem são sem-
adota é a combinação da sujeigão, que forma, ainda pre eguaes.
na epoca actual a base do systema a empregar nas Esta ausencia de representação da parte dos colo-
possessões, com uma bem entendida aritonomia da nos para a elaboiaçáo das leis, deu-se no piincipiu
administração colonial, outorgando-se ás suas aucto-
SYSTEYAS COLOSIIES 155-a
-em tadas as nagões colonisadoras. Em Franqa foi sem-
?se o poder metropolitan~que fez a !egislaqáo coIo-
-nial. Do mesmo modo se procedeu em Portugal e ria seja preciso sequer inserir-lhes nenhum artigo espe- -
Hespanha, admitindo-se só no seculo xrx a rep-esen-
L
cial. 0 s representantes das regiões ultramarinas teem-
tação do3 colanos. uma interferencia egual na confecqão das leis a dos -
A Hollanda, mais do que nenhuma outra nação, representantes da mãe patria. -As colonias elegem se-
tem-se conservado fiel aos yrincipios da sujeição. São riadores e deputados ao parlamento nacional tendo
-os Estados Geraes do reino que fixam, por uma lei estes eçuaes poderes aos dos seus colegas. A existen-
organica, a Constituiqão Colonial. Os decretos i eaes cia dos deputados coloniaes nos paizes em que o po-
- e as portarias do Governador Geral cia Baraiia com- der legislativo é exercido por unia ou mais camaras=
é o caracteristico especial do regimen da assimilação.
pletam o resto. Nunca ali se pensou em conceder ás
. colonias representantes nos Estados Geraes.
Este regimen interessa todos os colonos nas questões -
No iegimen da autonomia, ao contraalio, as leis que agitam a nação inteira. Apezar da distancia a que-
.aplicaveis á colonia são elaboradas por um parlameilto
se encontram elles fazem parte da unidade da patria-
iocal, assim como as leis para a mãe patria são vota- e teem voz para se fazerem ouvir quzndo os destinos-
.das pelo parlamento metropolitano. Ha assim duas da colonia estão em jogo. Uma assembleia comu~n;
iegislações, que podem deixar de se diferengar, mas em que cada um dos seus membros representa não esta
ou aquella circumsciição, mas todo o paiz, é O laço-
:que, em todos os casos, são duas legislações distin- moral mais poderoso que pode unir as diversas fra--
tas. A existencia de deputados das colonias no paria-
*mento da rnetropoLe não tem, n'estas condições, a ções do territorio, europeu ou extra-europeu. E' este.
msnor razão de ser. A colonia poderá, quando muito, como já dissémos, o distintivo especial do systema
se assini o julgar conveniente, ter um agente seu na da assimilação.
Europa, para interprete das suas aspirações e de-
-fensor dos seus interesses junto do governo central, Influencia dos diversos systemas no Governo.
E' proximamente este o systema da Inglaterra. As e Administraçáo das colonias. Do principio da
-suas colonias de instituições representativas fazem ellas sujeição resulta que o governo e a adrninistragão das-.
-~nesmasas suas leis, sujeitas ao véto da Corda, o colonias, quer residam na metropoIe, quer em cada
,qual se pode dizer que não é exercido. Os agentes urna das partes do dominio ultramarino, estão sem-
geraes que ellas possuem na rnetropole assemelham-se pre fortemente organisados, As colonias são governa-
.a embaixadores. Nenhuma d'essas colonias é repre-
das com uma mão de ferro, que precisa juntar a força*
sentada no parlamento de Londres
a intimidação. Esse regimen concilia-se por completo .
Ko systerna da assimilagão a mesma IegisIaqão
com uma acentuada centralisação, como se vetificoil
.existe em todas a s partes do territorio nacional. As durante seculos em Portugal? Hespanha e Fran~a.Nâo
leis novas promulgadas para a metropole aplicam-se se opõe á creação d'um mifiisterio das colonias, a an-
.da mesma forma ás colonias, sem que muitas vezes tes esige que todos QS serviços d'essas colonias este-
jam reunidos na metropole na mesma mão. Algumas -
vezes, como çucede na Holtanda, a sujeição é- acom-
-panhada d'uma grande clesc~iicentraç80d a auctori- tante do governo central uma auctoridade que lhe
-dade. permita impòr a obedieilcia a todos. Este é escolhido,
O governo i3ollandez delegou quasi todos os seus por isso, de preferencia pelas suas qualidades milita-
poderes no governador geral da Bntavia, de que o res, mais dp que pelos seus dotes administrativos. Em
ministro das colonias é, por assin-i dizer, apenas o geral sae dos oficiaes do exercito, ou dos oficiaes de
correspondente e representante na Europa. Mas a li- marinha.
berdade nada ganha com essa mudanga. X um senhor S o regimen da autonomia a colonia tend, a go-
afastado e invisivel, substitue-se simplesmente um vernar-se e a administrar-se por si mesma. Organi-
outro mais proximo e cuja auctoridade é por isso sa-se como o julga melllor e segue a politica que
mesmo mais sensivsl. 41Pm d'isso, T e r elle seja o mais lhe convêm. O governador, representante do
-simples agente das vontades da administração cen- poder metropolitano, apenas possue uma auctoridade
tral, quer goze d'rima iniciativa piopria, o governa- muito fraca e quasi sempre nominal. A administraqáo
dor, no regimen da sujeigão, é sempre uma auctori- central exerce simplesmente f u n ~ õ e çmuito restritas
.dade sem egual e de enorme predominio. Tem, tanto de fiscalisação. E' por esse typo que são ,modeladas
sobre os habitantes como sobre os outros funciona- etn Inglaterra as colonias de governo responsavel. O
rios, poderes os mais extensos, que podem ir até ao governador, unico funcionario nomeado pela Coroa,
d a expulsão d a colonia. Uma etiqueta rigorosa saiva- reina sem governar e escoihe, como os reis constitu-
guarda o seri prestigio em todas a s c~rcumstanciasda cionaes, os seus ministros entre os indivíduos ini.es-
vida publica. Honoranos elevados permitem-lhe ter tidos da confianga do parlarneiito da zolonia, assis.
uma vida de luxo, quasi real. Mais d'um d'esses go- titldo irnpassivei e quasi impotente á gerencia dos ile-
-vernadores usa o titulo de vice-rei. Por vezes, o go- g o c i o ~publicas.
vernador possue na colonia poderes ainda mais exten- O principio da assimiIação não consente qualquer
sos dos que o do chefe do Estado na mãe patria. E distingão entre a s diversas partes do territorio. As
se muitas nações coloniaes Ihes prohibem que adqui- divisões administrativas são as mesmas. Os magistra-
ram propriedades na colonia, ou que casem ahi, é para dos e funcionarios são recrutados por eguai processo,
evitar que elles alcancem uma influencia pessoal que usando dos mesmos nomes, possuindo as mesmas atri-
poderia excital-os a transformar-se em soberanos in- buições e formando o mesmo quadro, Poderá haver
dependentes. u m goveniadm militar, mas ao seu lado existirá um
A unidade da auctoridade, ou na metropole, ou na $dncionalisrno civil e judicial egual ao da metropole.
colonia, e sobretudo os poderes do governador são o Portugal realiçou por completo esse systema na Ala-
trago caracteristico do systema da sujeigão e a chaire deita e nos Açores, a Wespanha nas Canarias, mas
da aboboàa de todo o systema. -4 colonia e tratada z a França, apezar das suas tendenciaç para o consti-
como um paiz conquistado, de que se temem a s teii- tuir, ei!e ainda não existe em nenhuma das colonias.
tritivas de rebelião. Julga-se que o melhor meio de as Pela theoria da assimilação não tem razão de ser a
.evitar e reprimir consiste em se darem RO represen- existeacia d'um miniçterio das coloniaç. Só se com-
prehenderia, com um tal systerna, esse ministerio, s e pouco, cada coloi~ia deve ir-se habilitando a prover
a repartição dos negocios pelas diversas secretarias inteiramente á sua defeza. Já e m 1863 a Camara dos
do estado se fizesse não segundo a sua natureza, ri;as Commriris de Inglaterra decidia que ds colonias go-
por provincias e regiões, como a Franpa usou em sando do self governwzent deviam para o futuro cuidar
parte no tempo do antigo regimen. da sua segurança interna com forças de policia e au-
xiliar a rua defeza externa sustentando u m exercito e
Organisação militar e defeza das colonias. Uma marinha. E' claro que, com esta concegão, a
X sujeição, sob este ponto de vista, chega a o seguinte rnetiopola 1120 tem direito de dispor da sua colonia
resultado : a rnetropoIe encarrega-se de defender a s alienando-a. Cada uma das duas partes pbde sómente
colonias com as esquadras e exercitos que Ihes envia, optar pela separa~ão,quando o laço que as une se
Os colonos são aproveitados em tempo de guerra, torna oneroso e a politica da autonomia recebe a sua
mas sem grandes resultados. Não se Ihes confiam, sançno natural. .
sem precauções, armas com que se podiam servir S e g ~ i i d oCJ rcgirnen da as~iinilag20os coloi~osque
contra os seus dominadores. 0 s sacrificios que a me- sirvam n a marinha ou r,o exercito teem as mesmas
tropole faz para defender a eolonia tem por limite a obriga~õesde que os da mãe pati-ia. t'ina so marinha
interesse que eIla liga á conservagão da sua posse. O e um só exercito defendeiri o tei:rtoi.io nacioiial. X
teri?torio colonial não e como o da metropole o soio theoiia da assimilação, em vez de tender á organisa-
sagrado e iiitangivel da patria. Se, como consequen- ção d'urn exercito colonial, chega a seguinte regra:
cia ,d'uma guerra infeliz, é preciso fazer um sacrificio uma parte qualquer das força3 d a nagão pode sempre
empregam-se todos os esforços para que elle incida ser empi egacia na defeza d'uma parte qualquer do seu
no territorio colonial. Antes do que perder-se uma. territorio. Quando as fronteiras, quer d a Europa, quer
provincia ou uma praça forte da Europa preferir-se-ia das colonias, estão ameaçadas para as guardarem de-
a abandono de regiões inteiras no novo mundo. 0. vem corxorrer do mesmo modo os soldados da me-
sentimento patriotico é tão pouco suscetivel a este tropole e os das piovincias ultrarnarinss. A integri-
respeito que, mesmo sem necessidade, não se hesita dade do solo da patiia deve ser mantida ein toda a
em trocar-se ou vender-se uma coloriia se isso repre- parte com a mesma energia, porque é egriaimente
senta uma operação vantajosa. Cede-çe a colonia sagrada em todos os pontos do globo. C'tna colonia
como se cede uma cousa, quando deixa de agradar n$o deve ser trocadz ou vendida, como tambem não
ou a sua posse se recoiihece muito onerosa. O poder se vende ou troca uma provincia continenta!. Ka hy-
metropolitano procede como o pae de familia iiqui- pothese d'uírra campanha desastrosa, se fòr preciso
dando um negocio que se tornou mau, o ~ adminis-
t alienar uma parte do que é da nagão, ainda então
trando o seu patrin;onio pela maneira mais utiI, não deve haver distinções.
No systerna da autonomia a defeza das coionias
conserva-se, sem duvida, a cargo d a metropole, em- Liberdades locaes e direitos dos colonos. Ko
quarito a separação não se compIeta, mas, pouco a systerna da sujeição as liberdades locaes è os direitos
sob o jugo d'um governo despotíco, sem liberdades
nem garantias, os colonos acham-se nas mesmas con- maneira a poupar o mais possivel os recursos da
metropole. Procura-se, pelo menos, equilibral-o de
digões. Se, ao contrario, a s liberdades locaes estão
muito desenvolvidas na mãe patria e os direitos do fórma a que nao se pega nada a metropoie, ou a que
cidadão garantidos pela constitui$ão, os colonos apro-
a colonia Ihe custe um encargo limitado. Muitas vezes
conseguem-se até obter das receitas ultramarinas re-
veitam da mesma forma essas vantagens. Se a s dese-
gualdades sociaes existem d'um lado do Oceano, ellas cilrçoç para o thesouro da mãe patria. Durante muito
tempo Cuba pagou todas as suas despezas e deu so-
tambern se encontram no outro e a inversa tambem
bras annuaes na media de trinta milhões de pesetas.
se dá.
Pelo que toca aos indigenas este principio póde- De 1834 a r877, no periodo das culturas forgadal,
lhe ser benefco ou prejudicial. Se se coilsegue incu- Java entregou á Hollanda a importante somma de
tir-lhes as ideias e os costumes europeus, faz-se 797 milhões de florins, isto é mais de trezentos mil
d'elles cidadãos uteis e no uzo de todos os seus di- contos em ouro da nossa moeda.
reitos. Mas se se encontram taes dificuldades que é S a theoria da autonomia a colonia faz a este res-
impossivel obter-se esse resultado, se elles se mostram peito, como sobre outros pontos de vista, .o que me-
de todo refratarios á civiiisagão, então, para se impe- lhor se afigura aos seus interesses. Procede sem se
dir que elles lancem uma nota discordante na unifor- preocupar com o interesse da metropole. O orgamento
midade geral, é preciso destsuil-os. -4 assimila~ãodos da coionia é votado pelo parlamento metropolitano e
indigenas é assim uma conseqiiencia, mas não a unica estes dois orçamentos são independentes um do outro.
A colonia não é obrigada a entregar os seus saldos
possivel da assimilação das colonias. O que caracterisa
este systema E que por elle os indigenas não ficam orçamentaes á mãe patria; por sim vez esta não tem
nurxa na sua s i t u a ~ á oprimitiva. de lhe saldar os deficits. A inetropole e a colonia
s ã o independentes financeiramente e assim h a uma
diferença absoluta entre uma região ultramarina e
Organisagão financeira. No systema da sujeição uina pi-ovincia do continente. Se a colonia se arruina,
a organisa~âofinanceira estabelece-se toda em favor
do thesouro metropolitano. Os orçamentos locaes das tanto peior para ella. Este systema pode-se resumir
colonias são elaborados pelo poder central ou pelos em breves palavras: a coionia não tira nada nem d á
seus defegados. Em Hespanha eram votados pelas coisa alguma ao orçamento metropoiitano, que é or-
Côrtes, como em i'ortugal tambem o são pelo yarla- ganisado como se ella i-ião existisse. Em Inglaterra
mento d a metropole. Na Hollanda o orçamento das u m tal principio tem sido aplicado por uma fórma
Indias Orientaes é egualrnente votado pelos Estados rigorosa.
Geraes. Na França o poder central teve d'antes e Com o systema da assimilação os impostos são os
retomou nos uftimos tempos a direg80 e a resoiu$ão mesmos da mãe patria e cobrados da mesma maneira.
n'este assunio. Parte d'esses impostos entra no thesouro, que tem a
Em taes termos, o orgarnento local elabora-se d e seu cargo todos os servigos de interesse geral. A colo-
nia constitue assim uma pessoa moral analoga, não
a um estado, como na tlieoria da aiitonomia, mas a camente ella procede como se fosse um estado jnde-
uma provincia, ou a um distrito. Ha tres especies de pendente. Dispõe das suas tarifas fixando-as como o
despezas, as de iqteresse geral, as de interesse coio- julga melhor aos seus interesses. Póde seguir uma
nial e a s de interesse do muriicipio, saldadas respe- politica aduaneira muito diferente da da mãe p t r i a ,
tivatnente por meio do orçamento do Estado, oit do cujos produtos, postos em pé de egualdade com o s
da colonia, ou do da carnara municipal. dos outros povos, não gosam obrigatoriameiite d'um
O que caracterisa especilmeilte este regimen é que tratamento mais favoravei, Na Inglaterra, o acto de
o Estado recebe impostos e efetua derpezas nas colo- 28 de agosto de 1846 deu ás coionias diteito de ciis-
nias, que, pela sua existenciã, aumentam ao mesmo porem livreiliente das suas tarifas e permitiu-lbes fe-
tempo o activo e o passivo da metropole. Esta co2- rirem os produtos extrangeiroç. Os generos coloniaes
sequencia da assimilação tem sido admitida muito não gosam de nenhuma protegáo nas alfandegas in-
poucas vezes, porque sobrecarrega demasiadamente glezas desde 1850. E' por isso que se vê algtimas
os paizes novos e introdtiz compiicações inuteis. Mais coloniaç, corno por exeinplo o Canadá e Victoria,
valeria deixar ás colonias o encargo de fazesem face segriirern uma potitica proteríonista em completa op0-
ás despezas que ocasionam, abandonando-lhes as re- siç5o com o livre cfirnbismo da mãe patria.
ceitas por completo, e concedendo-lhes uma subven- Na doutrina da assimilação a mesma tarifa adua-
ção, em caso de necessidade, para se equilibrar o seu :>eira se aplica a metropole e As colonias. 0 s prodiitos
Grçamento, ou pedindo-lhe em t r o x , um arixiiio para extrangeiroç pagam os mesmos direitos seja qual fòr a
o orçamento metropolitano nos annos de prosperi- paite do territosio onde se introduzam. Por sua \-e2 os
dade. Foi este o systema seguido em Hespanha, Por- geneios coIoriiaes entram francamente no continente,
tugal e França, com a diferença de que os orqamentos do mesmo modo que os generos metropolitai~osnáo
das colonias na nação visinha e entre nós eram vo- pagam o menor oilris d'aífaiidega pela sua entrada na
tados pelas Cortes e na F!-anqa pelos conselhos ge- colonia. Corno já dissémos, nenhuma naqão coioriial
raes. aplica qualquer d'estes systemas na Tua integridade
absoluta e na pratica o que se usâ é a a l i a n ~ adas
Regirnen comercial. As consequencias do prin- diversas regras e processos que eiies preconisam con-
cipio da sujeição a este respeito constituiram o pacto- forme as circilmstancias, a situação das regiões d'alêm
coionial. Foi na Inglaterra que elie primeiro dominou. mar e o fim a qiie tendem.
Viveu durante seculos e ainda hoje, embora coinba-
tido, persiste, em muitas das suas clausulas, em al- Critica da sujeição. A theoria da sujeição, con-
gumas nações coloniaes. ceção eçsencidmente autoritaria e por isso condemna-
A mesma indepvndencia que se d á a respeito d'ou- veI para os espiritos liberaes, contem, apesar d'isso,
tros aupetos ja apreciados, se manifesta. no regirnen uma paste de verdade, Deriva d'uma ideia ji~sta,que
comercial pelo systema da autonomia. A metropole e a seguinte: -4 colonisaçáo é essencialmente uma
trata a colonia como um paiz extrangeiro e recipro- obra patriotica, -4 naqão que coloriísa não procede
.a um estado, como na tlieoria da autonomia, mas a camente ella procede como se fosse um estado inde-
uma provincia, ou a um distrito. Ha tres especies de ~eridente. Dispõe das suas tarifa5 fixado-as como o
despezas, as de interesse geral, as de interesse coio- julga melhor aos seus interesses. Póde seguir uma
niaI e as de interesse do mrinicipio, saldaaas respe- politica aduaneira muito diferente da da mãe p r r i a ,
tivamente por meio do oigrirnento do Estado, ou d o cujos prodgtos, postos eni pé de egualdade com os
da colonia, ou do da carnara m~nicipai. dos otitros povos, 11áo goçam obrigatoriameilte d'um
O qite caracterisa especilmente este regimen é que tratamento mais favoravel, S a hglaterra, o acto de
o Estado recebe impostos e efetua despezas nas colo- 28 de agosto de 1846 deri As coluni~sdireito de dis-
nias, que, pela sua existencia, aumentam ao mesmo porem livremeiite das suas tarifas e permitiu-lhes fe-
tempo o activo e o passivo da metropole. Esta con- rirem os produtos extrangeiros. 0 s generos coloniaes
sequencia da assimilação tem sido admitida muito não gosam de nenhuma proteqão nas alfandegas in-
poucas vezes, porque sobrecarrega demasiadamente glezas desde 1850. E' por isso que se vê algiirnas
o s paizes novos e introduz complica~õesiriuteis. Mais colonias, corno por exemplo o Canadá e Victoria,
valeria deixar ás coloMas o encargo de fazei.em face seguírem uma politica pi'otecionista em completa opo-
as despezas que ocasionam, abandonando-lhes as re- sição com o livre cambismo da mãe patria,
ceitas por completo, e concedendo-lhes uma çubven- Na doutrina da assimilasão a mesma tarifa adua-
cão, em caso de iiecessidade, para se equilibrar o seu neira se apiic.a a mmetropole e ás colonias. 0s prodrrtoç
argamento, ou pedindo-lhe en-i troca, um a~isiliopara extrangeiros pagam os mesmos direitos seja qual fòr a
o orçamento metropolitano i?os annos de prosperi- parte do territorio onde se introduzam. f o r sua vez os
ctade. Foi este o systema seguido em Hespanha, Por- generos coloniaes entram frailcameiite no continente,
tugal e F r a n p , com a diferença de que os orSarnentos do mesmo modo que os geneios metropolitai~osnão
das colonias na nação visinha e entre nós eram vo- pagax o rnenor o i ~ ~d'alfaridega
is pela sua entrada na
tados pelas Cortes e na França pelos conselhos ge- colonia. Como já dissémos, ne,nhuma nasão coloi~ial
mes. aplica qualquer d'estes systemas na sua integridade
absoluta e ila pratica o quc se usa é a aiianqa das
Regn'men comercial. As consequencias do prin- diversas regsas e processos que eiles preconisam con-
cipio da sujeisão a este respeito constituiram o pacto forme as cii-cumstancias, a situação das regióes d'al6m
colonial. Foi na Inglaterra que elle primeiro dominou. mar e o fim a que tendem.
Viveu durante secutos e ainda hoje, embora comba-
tido, persiste, em muitas das suas clausrilas, em al- Critica d a sujeição. A. theoria da sujeição, con-
gumas nações coloi-iiaes. ceção essencialmente autoritaria e por isso coiidemna-
A mesma independencia que se dá a respeito d'ou- vei para os espiritos liberas, contêm, apesar d'isso,
tros aspetos ja apreciados, se manifesta. nu regimen uma parte de verdade. Deriva d'urna ideia justa, que
comercial pelo systema da autonomia. A metropoie é a seguinte: .4 colonisa~ãoé essencialmente uma
trata a colonia como um paiz extrangeiro e recipro- obra patriotica. A nação que coionisa não procede
236 S C I E ~ C J ADE C O L O ~ ~ I S A Ç ~ ~

por um sentimento de quichotismo. Tendo semeado apenas ao que coni~êmá inetiopole sacrificam-se os
é justo que colha o resultado d'essa semefiteiia. O seu interesses das coloriias que muitas vezes estão inaiç
interesse não o deve sacrificar e é razoavel que este ligados do que se julga 20s da mãe patria. A conse-
seja atendido. quencia d'este systema é o regimen dos decretos, a
A administrâqão central e os administradores colo- supressão das liberdades e da representação colonial,
nines defendem, naturalmente por uma ideia de pa- o desconhecimento dos seus direitos, o pacto colonial,
triotismo, os direitos da metropole contra a s preten- a propria alieiiação das colonias sealisada despreoc~i-
ções dos coloi-ios e só cuidam de trabalhar pelo seu padarnente, finaimenie o mais desastroso e condena-
paiz. A corisequencia imediata d'esta orientação e qae vel abandono de regiões, ciija prosperidade e desen-
é preciso dar á rnetropoie os meios de manter o seu volvimento poderiam ter a mais benefica influeilcia
doininio e fazer respeitar a sua auctoridade. E' pre- na felicidade de todo o mundo.
ciso que esteja suficientemente armada para se fazer C m a politica de sujeição modei-ada, que não chegue
obedecer. a cor-istituir urna exploração injusta e ablisivn, pose
Para que essa obediencia se consiga carece-se que ter, em algumas circumstancias, a sua razão de ser.
exista a unidade da auctoridade na metropole e é este E' essa politica a unica que coiii-êin a uma colonia
precisamente o resultado essencial e caracteristico do d e formação recente. N'essas colonias impossivel seria
principio da sujeiqão. D'ahi resulta que -todos os ser- tentar o systema da assimiiação, ou da autonomia.
viços coloniaes teem de depender d'um só mi~iisterio A necessidade de se consolidar um dominio ainda mal
e que os govei.nadores vrecisam possuir- os poderes estabelecido torna absolutamente indispensavel os pro-
mais estensus. E' indisp&iisa\:el liaver um ministro cessas auctoritarios. Nas regiões em que a popula~ão
que superintendn na direção de tudo o que interessa branca se limita a slg~imasdezenas de funcionarios,
á colonia .para que a polirica seguida seja só uma e de oficiaes. de espioradoses, ou de comerciantes, que
d'ella haja alguen-i responsavel. mal se fisam ali, não se pode pensar em se estabele-
A unidade da auctoridade, na propria colonia, não cerem assembleias representativas e garantias consti-
é menos necessaria. Sem isso dar-se-iam constantes tucionaes. O orGarnento local e o regimen aduaneiro
conflitos entre es auctoriciades, coi~flitostanto mais teem de ser fixados pelos ageiltes do governo central.
prejudiciaes qiiaiito mais afastadas da metropole Fii:alrnente, a venda ou a troca d'esses territorios,
fai-em as regiões onde elles se produzirem. Esses que muitas vezes pertencem a metsopole, como ri pelle
coiiilitos podem gerar !utas intestinas que vão até do urso ao cagador da fábula, não podem irritar o seu
campronleter a propria ~ucto~iciade da mãe patria. patriotismo. Este considera-se satisfeito desde que O
E' por isso preciso que o governador possua poderes negocio seja boiu, porque nenhuma questão de senti-
tão Iai-gos que ninguein possa pensar em se lhe opor inento se liga ainda á conservação d'esses territo-
com vantagem e elle disponha de recursos para ven- rics.
cer qualquer resistei~cia. A poiitica de sujeição, ainda que moderada, não
Mas esta medalha tem o seu rei-erso. i'isat~do-se deve iiunca ser considerada como uma soIu$ão defi-
nitiva do problema colonial. Xpezar disso, nas gran- E g u a h e n t e se conclue que a assembleia representa-
des colonias de explora~ão,em que só existem alguns tiva da colonia deve .ter ~ o d e r e smuito maiores d o
milhares de europeus em frente de milhões de indi- que uma assembleia distrital ou provincial, sendo-lhe
genas, refratarios á nossa civilisação e hostis a um concedido poder realisar obra legislati\-a.
dominio de extranhos, carece manter-se esse regimen Os resultados logicos do systema da autonomia,
durante mais tempo do que ern qualquer outra parte. encarados no seu conjunto, são incontestavelmente
ij'essas condições o systema d a autonomia e a t é os mais favoraveis á5 colonias. Alas por outro lado
mesmo o da sssimilação são impraticaveis. E' por isso esta doitiina tem, como consequencia, abandonarem-
que os principias da siijeição doiriinatão ainda por se muito os intei-esses da metropole. Isto é tão ver-
muito tempo em colonias como a Guiné, S. Thomé, dade que se tem perguntado m~iitasvezes se aç colo-
Indo China, Africa Occidental Franceza, hI5dagascar nias que ca Grã Bretenha só conserva com a condição
e nas colonias hoilaildezas da ilha de Sonda. aias a h i de Ihes obedecer* e que taxam com o mesmo rigor
mesmo não poderão ser eternos e de\ei.-se-ha cuidar a importação dos produtos extrai.igeiros e a dos da
cada vez mais dos interesses das possessões e dos res- mãe patria, não são para ella mais um encargo do
petivos i ndigenas. que uin beneficio. O seu iinperio colonial expõe-na
a sucessivas corriplicações diplotnaticas. .4 Inglaterra
Critica da autonomia. A poIitica da autonomia é obrigada a corisagrar a sua defeza tropas nuinero-
é tão libeial como a anterior e at bitraria. Parte d'uma .as e, em tempo de guerra, não poderia assegurar-
ideia justa. Quai-ido as cii'cumstancias são identicas, Ihes a integridade. Por outro lado, as colonias não
os negocios da colonia serão melhor dirigidos pelos coricorrem para as despezas da meti-opole, cuja au-
proprios habitantes do que por fiincionarios residindo ctoridade é illusoria. Stuart hliIt dizia que a siia pa-
na metiopoIe. 0 s colonos são os v a i s it~teressados tria riada colhe das suas colonias a não ser o presti-
em que a s cousas corram bem e são os que melhor gio que ellas Ihe dão, o qual é mais do que contra-
conhecem as condições e necessidades d a legião. A balançado pelos sacrificios que lhe jmp5em e pela
administra@o central enganar-se-ha tanto mais quanto disseminação das forças militares e navaes que exigem,
as colonias estiverem mais afastadas e em circums- acrescentando que só se deve conservar o lago que
tancias mais diversas das da metropole. E' uma regra as une á Inglaterra pelos beneficias que d'ahi veem
hoje confirmada que a descentralisação deve aurnen- para a paz do mundo, para o progresso da civilisação
tal- com a distancia e com a dificuldade de comuni- e para o alargamento das ideias liberaes. Na sua h-
cações. D'aqui resulta que a mãe patria deve deixar, terpretagão Economica da Histeria, Thorold Rogers
quanto possivel, que os colonos dirijam as questões chega cÓm a magua á mesma conclusão. Foi este es-
que diretamente os interessam. critor que, coi-ijuntamente com Goldtvin Smith, em
-4s liberdades locam muito extensas são a conse- 1863, provocou um movimento de opinião que pedia,
quencia imediata d'este principio e s3.o ao mesmo no interesse da mãe patria, a rutura d'utn laço que
tem90 o caracteristico do regimeri da autonomia. se tornava onoroso para esta, isto é, o a b a n d o n ~
d'urna parte do irnperio. -4 politica da autonomia refrear as paixões dos colonos, cu pata lhe dar um
.contêm muito de ingratidãs para a metropole. E' este ponto de apoio, o elemento europeu e o elemento in-
.o seu aspeto iniqtio e antipatico. digena, naturalmente i~iimigos, mover-se-iam uma
E apezar d'isso essa p~liticaé incontestavelmente guerra que só terminaria ou pela eliminação do pri-
conveniente quando,se aplica ás grandes colonias de meiro, ou peto exterininio ou servida0 absoliita do
povoação, que tem uma população de muitos milhões segundo. Os indigenas, sacudindo o jugo, fariam cair
de habitantes e uma extensão egual ou coiisideravel- a região na barbarie, ou o s brancos a transformariam
mente siiperior a da mãe patria. I!m estado europeu n'um deserto.
não pode teimar ein manter para sempre o seu dorni- 3." - e finalmeiite, o regimen da autonomia coil-
nio sobre regiões situadas muito loiige e habitadas vem tanto mais a urna colonia quanto mais ella esta
por iima população bi-anca miiito nuinerosa, com afastada d a metropole. Impõe-çe por exemplo na
todas as condiçoes para se dirigir a si mesmo e coiis- Australia, que esta situada nos antipodas. Mas s e ao
tituir povos indzpendentes. Titcio faz prever que o contrario, a mãe pati-ia e a colonia estão bastante
sec~iloXS não tilidara sein que as colonias ii-iglezas proxirnas, para que se possa efectuar uma fusão com-
de goveriio resporisavcl, o Caiiadií, o Cabo, a .%~isti-a- pleta sem inconvenientes, vale mais preferir o sj-steme.
iasia, etc.! não se ti.ansformern em ilovos estados da assimilação.
soberanos.
Para que o çystema da autoi.iomia se recommende, Critica da assimilacão. X politica da assiniila-
quer dizer seja vantajoso e pratico, teem de se dar $20 parte d'uma ideia tão equitativa como razoavei.
tres condições: A obra dos eiii-oyeus, que seguem para alêm dos
que a coioiiia tenlia eleinentos d'urna vida mares, á conqcrista de territorios novos, ou para au-
proprisr, podendo fazer face ao; seus encargos finan- xiliarem, com a sua actividade e a sua industria, uma
ceiros, militares e maritimos, sem carecer d'um apoio colonia já formada, e uma obra patriotica. Seria por
estranho. Para isso é iiecessario possuir. unia popuia- isso uma grande injustiça não os recompensar e ini-
s ã o de milhões de habitantes que lhe permitam chamar por-lhes ao contrstrio uma especie de capitis dimi-
ás armas, quando precisar, pelo menos cem mil ho- nzltio, extorquindo-lhes qualquer parcela dos direitos,
mens, ter um orçamento importante, um movimento que antes gosavam. Por isso os habitantes das colo-
igricola, comei-cjal e industrial muito desenvolvido, nias devem ter os mesmos direitos, as mesmas garan-
valiosas obras publicas já i-eaiisadas, estradas e linhas tias e as mesmas liberdades que os que vivem na,
íeneas que reunain os 7ontos mais importantes da metropole. E' justo que beneficiem d a mesma legisla-
região. ção civil, quc se conservem ao abrigo de eguaes di-
' - Que a populagão da coionia seja liomogenea.
2
. reitos constitiicionaes, que sejam cidadãos e eleitores
N'urna coionia de explorogão, a poiitica d'autonomia e se far;am representar por modo analogo no parla-
oi.igii~arálutas intestinas e sai-iguinolentas. Desde que mento da nasão. E' este como vimos o traço especial,
o poder moderador da metropole ]ião interviesse para do regirnen da assimilaqáo.
Nas o dizer-se que os colonos de\ em ser tratados tado pelos representantes da nação, se a liberdade e
como os que se conservam na mãe patria e indicar a egriafdade fâzern parte do direito commum, n'esse
uma regra puramente negativa. O principio da assimi- caso, poder-se-ha dizer que a assimilação e a auto-
lação só tem coilsequencias indiretas, porque coi>siste nomia conduzem sençivelmente ao mesmo resultado.
~i'urnasimples devol~!ção á s i~stituiçõesda mãe pa- E' facil, acentuando determinadas faltas ou erros
tria e os seus resultados concretos são tão variaveis cometidos e avolumando-os, criticar-se a polltica de
como pódem ser essas proprías iostituições. assimila$ão. Aias essa politica tem então uni outro
-4 sujeição é uma solução auctoritaria, tanto como nome, de{-e-se-lhe n'esse caso chamar a mania da
a autonomia e uma regra liberal. A assimilação póde uniformidade, deploravel em tal assumpto. As colonias
ter um ou outro d'esses caracteres e d'ahi provêm a s d'um mesmo paiz ligo se parecem e nenhuma d'eilas
apreciagâes tão contraditorias que tem sofrido. Póde é semelhante 5 sua propria metropole. E' insensato
correr toda a escala que vae desde a maior orreçção
, submeter ás mesmas regras regiões que diferem For
a t é á mais ampla liberdade. Tudo depende dos cos- completo, tanto em relagão ao ciin-ia, como 6 compo-
tumes, das leis e da politica d a metropole. Se n'estn sição da população, A extensão e á s produções do
o govgrno se exerce com mão de ferro, se os seus solo.
habitantes são mais servos do que cidadãos livres, ou Uma assimilação prudrnte e bem cornpiehendida
eleitores com direitos garantidos, se a s liberdades deve atender a divei-sidde das condições e á varie-
locaes, municipaes, ou geraes não existem, se cão hâ. dade das necessidades. A prova e que mesmo dentro
assembleias representativas, se o imposto rião é livre- da metropole esistern legisla~õesdiversas. E m França,
tnente consentido, mas um tributo dependente d a por exemplo, Paris não está sujeita zí mesma lei mu-
vontade d'um principe, se as alfandegas interiores nicipal que rege as outi-as cidades. O mesmo sucede
entravam a liberdade do comercio, se os privilegios e entre nós em Lisboa e Porto. Se o principio da uni-
os monopolios existem por toda a parte, m o ha du- dade de Iegislagão não impede que se adotem na me-
vida que a assimilagão pode ainda ser mais opressi1.a tropole distinções que se consideram necessarias, com
d o que a sujeição. Se, a o contrario, a mãe patria dis- mais forte razão o systema da assimifaqáo se pode
põe de institiiições livres em que a descer-itralisagão conciliar nas colonias çom Ieis eçpeciaes, um regimen
irae até ao federalismo, se cada Um dos estados que particular de imposto e uma tarifa aduaneira atenuada.
.a constituem conserva as suas leis particulares e as A politica de assimilação, liberta d'este modo de
suas assembleias legislativas, se o poder central é exageros que a comprometem e de que não devemos
frouxo e sem acgão 110 interior, se os direitos indivi- impôr-lhe responsabilidade, torna-se ao mesmo tempo
duaes são escrirpulosamente respeitados, se as insti- muito eIevada e patriotica. Essa politica não sacrifica
aiiiqões municipaes são muito desenvolvidas, se em nem o interesse das colonias, nem o d a mãe patiia.
toda a parte se manifesta uma vida politica muito Atende, ao contrario, não sómerite ás conveniencias e
intensa, se a maior parte dos magistrados são efeitos á s vantagens materiaes, mas tambem, o que é ainda
.pelos cidadàos, se o imposto tem sempre de ser vo- mais importante, á dignidade e ás legitimas suscetibiii-
dadrs taiito da meti-opole como das colonias. A assimi- liornem sc possa desempeiihar de tão complicado en-
lação é iiina fortnuia muita larga para poder atender cargo. <<O governo executivo da Inòia, dizia Smart Mill,
aos desejos de todos, Politica de concordia patriotica esta e deve estar na Indis. A funpâo principal do go-
e de aberta fi-ateinidade, une os corações elevando-os verno metropolitano não consiste em dirigir os de-
a um ideal cornmum. talhes da administração, mas em examinar com cui-
-4 assin?ilação é u unico regimen poçsivel, quando dado os actos já p;issadrjs do governo da India, em
a autonoinia é impraticavel, ou perigosa, e pode ser indicar os princi~iose zm dar instruções geraes, tenuo
preparada em todos os pontos. Adoçnda por uma por fim guiar n conduta d'este governo e em conce-
larga descentralisação, que chega a ir até ao federa- der ou recusar a sua snriGão ás medidas politicas iin-
lismo, aspira a todas a s vantagens da autonomia, mas portantes que devem ser siibmetidas a sua apiova-
tem sobre esta a siiperioridade moral e incontestavel $%o.,,
de que une, em vez de dividir. Um parlamento unico, E o p~blicistafrances ilar~nand,em 1892, prefa-
corn~ostode homens que falam todos a mesma lin- cimdo a famosa obra de J. Strachey-A India-dizia:
gua, apezar da diferença d a sua origem, e d'isso a Ei-a para desejar que estas palavras de Stuart h'Iill
rnanifestagão eloquente e visivel. fossem erc~ipidasno frontão do nosso futuro Minis-
Se no secuio XVIII a Ingiaterra tivesse concedido, tri io das Ccionias.~
seguindo o c ~ n s e l h ode Adam Smith, á s suas colonias A acção ministerial, como o grande economista
da America o direito de se representarem no psrla- iilgiès tão lucidamente estabeleceu, deve consagrar-se
mento, teria decerto conservado ainda por muito tem- especialmente a ser meramente fiscalisora e regula-
po a posse d'essas colonias. X existencia d'um parla- dora da administração, n qual, por seu turno, se deve
xento federal e talvez o unico meio que lhe resta de desenvolver e decorrer em todos a s suas phazes na
manter, sob o seii domiiiio, o Canadá e a Australia. propria colonia.
Fóra d'uma representação cornmum não ha mais hy-
potheses do que a seiaração forçada ou amigavei, a Organisação interna do minn'sterio das colo-
sujeigão que leva a revo1,ta uma colonia dispondo já nhs. Corno auxiliar, o mais poderoso da iniciativa e
de todos os seus recursos, ou a autonomia cujo ideal d a acg" cio ministro, convêm que exista uma Junta
e a emancipação. Consuf:i\-a, sue deve sempre ser composta de antiqos
funcionarios ~coloniaeçquè teiiham exercido com dis-
Poderes nas coloaias e extensão da sua au- tinção iugares importantes e que ofereçam, alem d'isso,
ctoridade. O ministro das colonias não pode con- suficientes garantias de independencia. O Conselho d e
centrar todos os poderes na sua pessoa. Se quizer ela- AIinistros da India Ingleza é composto de homens que
borar, na sua secretaria, todas a s leis e regulamentos residiram, pelo menos, durante dez annos n'aquella
necessarios para a vida interna das colonias, falseara possessão e estão já relirados do servico activo. Esta
a sua missão e todos os seus esforços hão de ser a ultima condição tem por fim garantir a independencia
iniirdo improdutiveis, pois é impossivel que um sú do seu voto.
A influencia d'um Corpo consultativo assim orga- a direção do ministerio dãs colonias em Franga, quando
nisado e manifesta. E' elle que niaiitêm a tradição e este se constituiu, o qual, no relatorio que precede o
os qrie o constituem são os defensores das lições d a ãecreto orgailico do referido ministeno, dizia «que iião
experiencia contra as inova~õessem fucdamento ou se podem submeter ás mesmas regras administrativas
precipitadas de firncioi~ariosd e pouco tirocinio e sub- e economicas possessões dessernelhantes pelas condi-
stituidos com muita frequencia. @es da sua existencia e dos seus habitantes.>
Os francezes dão uma composição muito diferente No Caluttiab OfJice, que administra todas as colo-
ao seli Conselho Superior das Colonias e n'elle fazem nias britanicas exceto a India, a qual constitue só por
entrar todos os deputados e çenadoreq d'essas coio- si um ministerio, ha seis divisões, uma do serviço ge-
nías, delegados eleitos por elIas, muitos bu~ocratasda ral, outro do serviço financeiro e mais quatro que tra-
metropole e um numero, sem limite, de membros ex- tam dos negocios civis e politicos por grupos de colo-
traordinarios. Este conselho está dividido enz quati o nias. O ministerio hollandez resolve n'uma direção os
secgões, correspondendo a quatro grupos de colonias negocios civis e politicos das Indias Orientaes e n'urna
e é puramente consultivo. outra os que dizem respeito ás Indias Ocidentaes,
Entre n9s existia, como já dissémos, a Junta Con- grupo de colonias cuja irnportancia é incomparavel-
sultiva do Ultramar, i-eoi-ganisada em 30 de junho de mente inferior ao primeiro. E m Portugal já houve um
1898 e melhor constituida do que c Conselho Supe- ministro, José Faicão, nos meados do seculo passado,
rior das CoIonias, estabelecido em França. Mas ape- que reformou o Miniçterio do Ultramar n'este sen-
zar d'isso, as opiniões mais auctorisadas concordavam, tido, mas a sua reforma teve uma vida muito ephe-
já no tempo do antigo regirnen, em que a acgão da mera.
Junta Consultiva deveria ser mais larga e exercer-se
d'um modo mais geral, nBo esaminando artigo por Fórmas de governo nas coloaias. A adminis-
artigo os regulamentos e propostas dos governos das tração das colonias deve basear-se em dois principias
colonias, e limitaildo-se antes a vigiar se eiles intro- fundamentaes: Por um lado a acgão do governo me-
duzem melhoramentos adaptaveis ás regiões a que se tropoiitano regulando e fiscalisando d'uma maneira
destinam e se não ofendem a lei geral. Como já vimos, continua o que se passa nas colonias, mas não inter-
essa Junta veiu tambem a ser extinta e substituida vindo no seri viver intimo, isto é, seguindo-lhe cui-
pelo actual Conselho Colonial. dadosamente a vida administrativa e economica, apre-
E m relação á Secretaria do UItrarnar muitos con- ciando o que está feito, sancionando ou desaprovando
denavam tambem a organisagão que ella tinha entre os actos dos governos das coIonias, mas sem Ihes
nós. Coloniaes de valor, como Eduardo Costa, vinham tirar a precisa e suficiente autonomia. Por outro lado,
aconselhando a que n'ella sr distribuissem os servi- o governo colonial, dirigindo com uma verdadeira au-
tonomia todos os negocios da colonia que administra,
ços por grupos Je colonias e não por categoiins de
negocios. Em abono d'essa doutrina, o referido escri- autonomia que não equivale a uma absoluta liberdade,
tor citava a opinião do senador Borilanger, que tomou mas que significa uma grande iniciativa de acgão para
superintender sobre todos os assuntos, provendo d e ~ ã o é, dificil conseguir-se que esse elemento adquira
remedio, por meio de legislação apropriada e loca!, a suficiente capacidade para se governar por um sys-
todas a s necessidades de momento, tomando, sem de- tema de liberdade politica. As desordens, a corrução
pendencia de outra auctoridade todas as medidas con- e o desleixo parecem ser apanagio d'essas sociedades,
ducentes ao bem estar, progresso e desenvolvimento a tal ponto qce o Conde Grey, antigo ministro das
da colonia. colonias em Inglaterra, de acentuadas sympathias pe-
Essa a~~tonomia, ou antes esse diiplo poder exe- los colonos de cor, declarava, clieio de tristeza, n'um
cutivo e legislatívo, pode ser entregue unicamente a o oficio que dirigira, no exercicio d'aquellas funções, a o
Governador coadjuvado por Corpos de comfetencia administrador da Guyana, que os negros em vrz de
delibei-ativa mas de nomeação governamental, ou dis- terem feito um grande avanGo em civilisagão, como
tribuir-se por assembieias fecaes de eleição. A Ingla- s e esperava nos quinze annos já decorridos depois da
terra possue algumas das suas colonias tropicaes com ernancipagão, tifiham, ao contrario, retrogradado mais
instituições representativas embora sem s e ~ g a v e r n ~ z e ~ t d o que melhorado.
isto é inteiramente sujeitas a fiscaiiçação do governo Entre os escritores coloniaes que se manifestam ein
metropolitano. Instituições da mesma natureza teem maior oposigão ás inçtituigões representativas nas
sido concedidas ás Antiihas, Guyana Ingleza e Ilha dependencias ultramarinas, devemos citar, pela sua
Xauricia, terias onde a raça de cor, dominante pelo auctoridade, Marivale e sir George Le~vis.
numero. tem civiIiçação e cultura muito superiores ás Nas nossas colonias um tal systema prol-ocaria,
das populações inrligenas da nossa Africa. sem duvida, por agora, muitos perigos, até mesmo
As assembleias, que são os instrumentos de tzes em Cabo Verde que é decerto a unica colonia úas
institui;.,ões, criam por vezes dificuldade5 e atritos, que possuimos actualmente com capacidade para re-
corno já o mostrámos com maior desenvolvimento ao ceber um regimen d t absoluta liberdade politica e
estudârqos R administração e governo das colonias, completa descentraiisaqão. Portanto, emquanto não se
arrogando-se o direito absoluto de fazer leis e fixar realisar uma profunda tra~-isíorniaçãon'esses nossos
~rnpnstos, Alèm d'estes males ainda esiste o que re- territorios d'alêm mar, tanto o poder executivo como
sulta do facto da eleição, onde a população e o su- Q legisiativo devem reunir-se 110 Governador, auxi-
fragio r20 necessaiiamente restritos, poder trazer fre- liado por Corpos de nomeação regia, onde estejam re-
quentemente á assembieia Iocal apenas os membros presentadas todas a s classes e iiitererses da colonia e
d a classe preponderante e d'ahi as leis serem feitas c o m funções variando de simples consulta até á delí-
só crn seu proveito e até mesmo muitas vezes em beragã-0 de execução ob!i'gatoria.
manifesto prejuizo das outras ciasses. Ainda uma outra
consideração se dá para que muitos rratadistas con- Poderes do Governador. A Inglsterra dá-nos,
dernnem as assembleias legislativas coioniaes. para reforçar a moderna corrente colonial, pe!z. qual
Kas colonias onde o elemento de còr constitue O se conferem os mais largos poderes aos governadores
maior numero, senão a quasi unanimidade da popuIa- das colonias, um exemplo e!oqueiite com a India,
vem e riomeiam para certos empregos; dispõerr., em
onde o governador, salvo certas leis parlamentares,
geral, dos poderes clipIomaticos necessarios para ne-
relativas á constituição do Governo da India e o que q~ociarerncoin os governos visinhos e para uzarem d o
diz respeito á s prerogativas do Parlamento e da Corda, direito d r estradiqão; tornam executoricro orçamento
tem, para o resto, poderes ilimitados. I_>cale teern a superintendencia sobre todos os servi-
O mesmo sucede em Sava onde o governador é
ços publicos,
quasi um monarcha absoluto: declara a paz ou a O governador do Congo Belga tem, do mesmo
guerra ; provê todos OS empregos ; expulsa da colonia modo, largos poderes sobre todos os funcionarios e
quem quer que julgue perigoso; decreta sobre todos iiomeia para certos empregos, preenchendo provi-
os assumtos não regulados por lei; tem o direito de soriarnei-ite todos que estiverem vagos e despedindo
graça e amnistia e tem a seu cargo a proteqão dos
do serviqo do estado quaesquer funcionarios cuja con-
indigenas. Das suas acções só lhe cabe dar contas a o
servação julgar inconveniente; regulamenta todas a s
Soberano e este s ó pode proceder contra elle por
denuncia, ante a segunda Camara dos Estados ~tribuii;í>ese su~erintendesobre todos os seryigos.
Os governadores geraes exercem ainda o commando
Geraes.
e m chefe das forças de mar e terra em serviço nas
Os governadores das C 9 o ~ wLoh?zies bglêsas teem
i espetivas colonias.
tambern poderes muito latos. Komeiahi para certos
empregos, definitiva OU temporariamente, até confir- S e g u n d ~estes principias, os governadores das colo-
nias extrangeiras exercem por completo o poder exe-
mação da metropole; Suspendem rodos os ernprega-
cutivo, apenas limitado em certos e determinados
dos em determinadas condições e teem ainda um limi-
tado poder de demissão; convocam e prorogam o s casos.
Corpos legislativos; possuem a. iniciativa de todas as Entre nós tambem já se concedeu identico poder a
leis e a faculdade de sancionar ou não as que pas- ~ l t o sfuncionarios coloniaes, a que se deu o nome de
saram nas assemblejas Iegislativas; confirmam todas Commissarios Regios e ultimamente O de Commis-
a s sentenças, até a s de morte e podem conceder per- sarios da Republica. Kas co!onias portuguezas em que
dões; extrsditarn, querendo, os criminosos e provi- se possa adotar o systema d a autonomia, os gover-
denceiam, sob sua responsabilidacie, em todos Qs nadores geraes poderão ficar com a s atribuições de
casos não previstos nas suas instruçôes. nomear, segundo a s prescrigões legaes, todos os em-
Os governadores das colonias fi.ancêças dispõem pregados sabalternos, para os quaes não sejâ exigido
egilalmente de grande auctoridade e iniciativa. Teem concurso ou exame em Lisboa ; de promover emprega-
capacidade administrativa para todos os negocios in- dos dos quadros privativos da possessão ou colonia, se-
ternos. Estão acima da lei, pois em caço algum podem gundo os ~rincipiose leis em vigor; de exercer acgão
ser processados nos ttibunaeç da colonia. Pertence- disciplinar sobre todos os f~~ncionarios e de suspender os
Ihes O direito, sob sua responsabilidade, de suspender membros dos serviqos judiciario e eciesiastico, quando
todos os funcionarios, até mesmo os chefes de admi- qualquer d'elles embarace a acção do Goverrio e não
n i s t r a @ ~e OS membros do serviço judiciario; promo- queira aceder ao convite de vir a o reino expfcar 0 seu
procedimento perante o ministro; de ter o commando q u ~ lfôr O nome que se Ihes dê (ordens, decretos,
em chefe das forças de mar e terra empregadas na etc.) entrarão em execugão logo que o governador as
colonia; de possuir os direitos civis do poder executivo promulgue, sem dependencia da aprovação do Go-
sobre as corporações administrakiras; de executar o or- verno central, exceto nos casos expressamente reser-
Gumento provincial; de dispor de Iarga iniciativa admi- i.ados a essa prévia s a n ~ ã o .A o governo da metro-
nistrativa sobre tnelhorainentos rnateriaes a introdu- poie é que pertencerê mandar suspender qualquer lei
zir na colonia e finalmente de ter a esclusiva d i r e ~ ã o colonial, quando não se conforme com ella e esigir a
sobre a politica indigeria a observar com todos os responsabilidade de actos illegaes e injustos que as-
povos annexados, avassalados ou protegidos, sendo sim se pretendam praticar.
da sua especial competencia a elaboragão das leis
relativas aos indigenas e um dos seus principaes de- Conselhos cofoniaes. Para a sua elevada missão
veres a proteção dos mesmos indigenas. precisa o governador geral de ausilisres diretos e de
A faculdade iegislativa dos governadores geraes conselheiros. 0 s primeiros são naturalmente os che-
não pode deixar de ter limites definidos. Nunca um fss de serviço e os segundos os membros na colonia
governador geral drve poder modificar os codigos especialmente designados pãrz esse fim. 0 s chefes de
fundarnentaes da adrnii?istraç%o colonial e os que serviqo desergpenharão fun-ões semelhantes ás dos
dizem respeito aos direitos civis e poiiticos dos cida- ministros de Estado, mas sem a responsabilidade rni-
dãos portuguezes ali domici!iados. Tambern não lhes iiisterial que peza, por inteiro, no governador. Para
deve ser permitido fazer e assinar tratados com po- aconselharem e auxiliarem os governadores na mis-
tencias extl-angeiras civilisadas, declarar-lhes a guei-ra, são iegislativa, tem-se juigado necessario dar-lhes
concluir a paz, contrahir ernprestimos, fazer conces- um conselho, composto de pessoas experientes. E as-
sões que envolvam direitos de soberania, ou que sim vemos nas C~awizColo~iesinglezas o Conseiho
sejam de ar'ea superior aquella que a lei lhe autorisa Legisiativo; nas Indias Neerlandesas o Conselho das
a fazel-o, Rlas, fóra dies:es assumtos e d'outros reser- IndiRs; nas coionias francezas o Conseil Privé ou
vados a o Governo da metropoie, o Governador nas Conseii d'Administration e n'aigumas o Conseil Gé-
colonias regidas pelo systerna da autonomia, com o iierale; no Congo Belga o Comite Consultatif. Entre
seu Conselho, poderá legislar, devendo pertencer h e , nós ha o Conselho do Governo, o Conselho de Pro-
corno sucede nas Crown CoZuaies inglezas, a iniciativa vincia e em algumas colonias (India e .Angola) a Junta
e a sanção de todas as leis promulgadas na colonia. Geral de Provincia.
Entre as faculdades legislativas, que podem ser O Conselho Legislativo da Iniiia tem atribui~ões
concedidas aos governadores, avultam as que ihes executivas e Iegislativas. Como Conselho executivo
permitam alterar a cobrança dos impostos, sua dis- apenas teem entrada n'elle os grandes chefes de ser-
tnbuiqão e incidencia. Foi este um dos pontos em v i ~ verdadeiros
~ , ministroç de Estado, nomeados pela
que mais utilmente se fez sentir a a c ~ ã odos Cominis- Coroa, entre antigos e experimentados funcionarios.
sarios Regios em Llo~anlbique.Todas estas Ieis, seja Quando actua como Corpo legislativo tem acgão de-
SYSTEJIAS COLOXIAES 31?i

iiberativa, mas como nenhuma lei pode ser publicada é uma assembleia eleita pelo sufragio universal e re-
sem aprova~ãodo governador gera!, este tem na sua presenta um verdadeiro Parlamento local, tendo ac$ão
mão os meios precisos para prevenir os embaraqos sobre a administração da colonja.
que lhe podiam provir d'uma oposição teria2 no seio A nossa Junta Geral da Provincia, apezar de limi-
do Conseiho. Alêm do que nenhum membro pode, tada á Endia e Angola, tem urna organisar;âo defei-
sem previa auctorisação do governador geral, fazer tuosa. Os direitos que lhe são conferidos, cerceando-
qualquer proposta a respeito da divida publica e ren- ou abrangendo parte da iniciativa do governador ge-
dimentos da India, da religião dos subditos do Rei, ral, só poderiam ser entregues a uma assembleia nas-
quaesquer que elles sejam, da disciplina e manuten- cida do sufragio e não a uma corporaçáo composta,.
çáo das tropas de terra e mar e das relações do Im- ma sua maioria, de funcionarios subordinados ac-
perjo com os estados extrangeiros. mesmo governador.
O Conselho das Indias Neerlandezas, composto O Conselho de Provincia, com as suas funções de
de cinco membros, aiêm do governador, não passa, tutela publica sobre .as corporações administrativas e
na realidade, d'um simples Corpo consultivo. E' cert3 de julgamento conteíicioso, não devia ser presidido
que a opinião da maioria deve ser acatada, mas, pelo governador, que, como chefe do executivo, deve-
como o governador pode apelar d'essa decisão para pairar acima de qualquer ùutra auctoridade consti-
o Rei e como, alèm d'isso, pode, no interesse da co- tuida. Tem esse conselho razão de existencia nas pe-
lonia, por elle apreciado, divergir da opinião do Con- quenas colonias, onde deve ficar sob a presidencia.
selho, este não tem a mais pequena acgão delibera- do secretario geral e sob a auctoridade do governa-
tiva. 0 s diretores dos diferentes serviços formam n dor, mas não tem cabimento em provincias como An-
que se chama o Conselho de diretores, que funciona gola, onde as suas atribui@es se repartirão pelos
junto do governador como Corpo consultivo. Conselhos administrativos dos distritos, mais no caso
A Junta consultiva do Congo Belga é composta de de conhecerem e apreciarem os assuntos que são con-
altos funcionarios e d'um certo numero de membros fiados A s u a deliberação.
escolhidos pelo governador, até a o maximo de cinco. O Conselho do Governo, onde dominam os che-
A sua missão é meramente consuitiva. fes ae servi~o,é, no fundo, um corpo consultivo, mas.
0 Conseiho Privsdo francez, composto de todo5 torna-se deiiberativo precisamente nos casos em que
os chefes de administragão e de dois habitantes pro- a lei extrangeira permite aos governadores inglezes e
postos pelo governador e nomeados pelo ministro, é hoIIandezes saltar por cima da opinião do seu Con-
apenas um corpo consuItiuo e obrigatoriamente ou- selho ou deixzr de a ouvir, isto é quando se torna
vido s'um certo numero de casos, sendo a sua opi- preciso tomar providencias urgentes.
nião imperativa para o governador, só quando a maio- 'Todos estes multiplos Conselhos e Juntas pode-
ria vota pela suspensão d'urna pena capital. Este riam, na opinião de Eduardo Costa, ser vantajosa-
mesmo Conselho pode transformar-se em tribunal do mente substituidos por doir denominados Conselho
contencioso, com larga jurisdição. O Conselho Geral de Governo e Conseiho de iidrninistração. O primeir@
SYSTEUAS COLOXIAES 317-

-seria apenas conçultivo e só composto dos chefes dè jeitos h ssua aprecia~ão.O governador teria a facuI-
serviço e Procurador da Coroa e Fazenda. Estudaria dade de não sancionar a lei sahida do Consellio,
a marzha geral dos negocios da colonia, propondo, á apelando para o ministro, que decidiria em ultima
-aprovagão do governador, as medida5 de expediente instancia. Eiri casos de iirgencia o11 perigo, podei-ia,
que exigissem a concorrencia de mais d'um chefe de como sucede aos governadores das colonias hollan-
serviço, consultando sobre concesções, suspensão e dezas e inglezas, prescindir ao voto do Conselho
demissao de empregados, projetos de lei a levar a o para promulgar disposições que teriam forga legal s 6
Conselho de Administra~ão,etc. O governador pode- até seis rnezeç depois. se não fossem expressamente
ria ainda ouvir a opinino do conselho em casos gra- sancioriadas pela metropole.
ves de alteração de ordem ou saude pubiica, etc. O
Conselho de h d m i n i ~ t r a ~ áseria
o composto dos prin- Brganisação administrativa d a provincia d e
cipaes chefes de serviço, d3 Presidente à a Reiagão Moçarnbique. D'acordo com estas ideias, o sr. Liyres
ou comarca da capital da colonia e d i tantos mem- d'ornelias referendou, como ministro da marinha, em
bros extranhos ao funcionalismo quantos fossem os 23 de maio de 1907,um decreto que veiu marcar in-
'chefes de serviço n'elle- representados. Esses mem- contestavelmente um passo importante na nossa adrni-
bros, não funcioilarios, seriam nomeados pelo governo nistração colonial e refoimou por cornpieto o systerna
. da metropole sob proposta dos governadores colo- aciministrativo na provincia de Mogambique. Esse de-
niaes e escolhidos entre os comerciantes, industriaes creto tendeu a realisat n a pratica a s aspirações já for-
e agricultores residentes na colonia, de fórma que to- muladas pelo notai-e1 estadista e escritor Rebeilo da
das as classes tivessem ums representação Fopria. Silva no seu decreto de I de dezembro de 1869, di-
Poder-se-ia, n'algumas colonias, ir dando uma certa ploma que marca o despertar do moderno movimento
representação á opinião local, chamando tambeni coionial do nosso paiz e que muitos consideram como
.para o Conselho delegados das camaras municipaes a carta organicâ do tirnperio ultramarino portuguez.
ou associações comerciaes, industriaes e agricolas, No luminoso relatorio do referido decreto, o seu au-
como se faz em Hong-ICong e Singap~sa.Kas pos- ctor sustenta duas ideias capitaes para a administra-
sessões mais atrasadas, como a Guiné, o referido ção das colonias: (alargar a esphera das atribuições
eConselho limitar-se-ia a tres ou quatro chefes de ser- da auctoridade superior nos ramos que diretamente
viço e a dois ou tres membros do elemento não ofi- lhe incumbem e conceder a mais ampla iniciativa ás
cial. N'estas colonias, o governador carece d'um forte provincias em posição de poderem uzar d'ella util-
poder e como a o conselho pode faltar a necessaria mente, simplificando, ao mesmo tempo, quanto pos-
auctoridade, a s iùncções d'este devem ser meramente sivel, o serviço publico.»
consultivas. O Conselho de Administra~ão deveria Apezar d'esses principios já em 1881, o Sr.
-ser ouvido sobre todas as leis ou regulamentos des- Julio de Vilhena, então ministro da marinha, re-
-tinados á colonia e discutiria e formularia o seu or- conhecia que o decreto de 1869 não cortespondia.
çamento, emitindo voto sobre todos os assuntos su- ás necessidades do nosso dorninio coIonia1. Dez annos
-depois, em 30 de setembro de 1891, o mesmo esta- cerido-se na lei. com precisão, os limites d'esse poier
dista, voltando ao ministerio do ultramar, creava o e ficando reservado para a metropole o orçamento,
Estado d a Africa Oriental e dizia no respectivo rela- como meio essencial d'e!La exercer o poder tutelar.
- torio : 40s governadores das duas provinciás devem
O poder legislativo é conferido a o Conselho do Go-
ter muitas mais atribuisões do que os actuaes gover- verno, organizado por forma semelhante ao Conseil
nadores do distrito, e o comissaiio iegio muitas mais Gerieraale das colonias francezas. Pertencem a esse
d o que o actual governador geral. Co~lseihoo secretario geral da provii-icia, procurador
i\ia mesma ordem de ideias manifestava-se Antonio da Coroa e Fazenda, no antigo regimen e no actual
Ennes, ao apresentar o seu notabilissimo reiatorio so- o magistrado que o substitue, o chefe do Estado Maior,
bre a provincia de Río~ambiq~le em 8 de setembro de o inspetor da fazenda provincial, o inspetoi- das obras
1893. Propunha ahi a creação do Conselho de Go- publicas, o secretario dos negocios indigenas, o chefe
verno e dos Conselhos administrativos dos distritos e dos serciçoç do, marinha, o presidente da carnara mu-
sustentava essas ideias por estas palavras: # o regimen nicipal da capital d a provi~cia,o chefe do serviço de
das relações entre o governo central e provincial pre- salde, o dirator do circulo aduaneiro, O presidente da
cisa ser alterado e alterado em dois sentidos: am- associação comercial ou industriai mais importante da
pliando-se a esphera da acção ordinaria e legal d'este capital d a provincia, dos cidadãos portuguezes ou na-
ukimo governo e restringindo-lhe a esphera da accão turalizado~ portuguezes domiciliados na capital da
extraordinaria e ilegal. Porque em Moçarnbique é que provincia, sem serem funcionarios do Estado e eleitos
se ha-de governar Maçambique.> Eduardo Costa foi pelas irssociações comerciaes e industriaes reunidas da
em seguida o defensor caIoroso e convicto d'essa capital, um cidadão nas mesmas c~ndições,eleito pela
mesma doutrina. associação dos proprietarios e quatro cidadãos, ainda
Dando realidade a uma aspiragáo sustentada por e m identicas condições, eleitos pelas associações co-
tão altas competencias, o Sr. Ayres d'ornellas pro- merciaes ou industriaes reunidas de cada iim dos dis-
mulgou pois uma reorganisação administrativa de tritos de Inhambane, Quelirnane, Tete e Mogarnbique,
34oçambique, em que se conciliam n'um justo equili- ou na falta de taes associa,ões pelos vinte maiores
brio os regimens de sujeição e da autonomia. Ao go-
contribuintes dos respetivos distritos.
vernador geral foram-lhe conferidos larguissimos po- Este Conselho tem por rnissko principalmente votar
deres. EIIe reune em si toda a auctoridade superior da
c aprovar definitivamente providencias e regulamen-
provincia, tanto no ramo administrativo como militar,
tos destinados a provincia, que não tratem do que é
só não se podendo envolver nos negocios judiciaes ou defezo ao governador geral, votar o orçamento pro-
eclesiasticos. Não tem poderes tão Iatos como os do
vincial ate I j de março d e cada anno, votar e apro-
governador geral da Indo-China ou Madagascar. Mas
var definitivamente o imposto indigena e de capitação,
possue os suficientes para exercer, sem peias nem .ou tributario dos asiaticos, votar e aprovar definitiva-
obstaculos, uma intensa e benefica acção administrativa.
Para isso pode elle uzar do poder legisbtivo, estabele- mente a distribuição das verbas orçamentaes a aplicar
5 s obras publicas da provincia, dar parecer em todos
320 r.r,xr~~
s"-- 3~ C O L O X : ~ - I Ç ~ O

os assutntos para que seja consultado pelo governa-


doi geral, que o deve oüvir em todos o; negocios d e tuos, as questões entre os municipios e os ari-ema-
impo;rancia, e cumprir tudo quanto, por leis ou regu- tantes de rendas, obras ou'fornecimentos, as recla-
lamentos especiaes, fòr da sua competencia. rnagões ou recursos sobre lançanlento, repartigão e co-
As suas iesoluções teem poder esecutivo. Cum- brança dos impostos rl-iutíicipaes e qustesquer outras
prem-se desde logo, rendo porêm o governador geral. .questões ou negocios de natureza contenciosa, que
a facrildade d e sobreestar n'essa execuçBo, até reso- lhe sejam cometidas por leis especiaes ou pelo codigo
lução definitiva do ministro da mariilha, hoje das colo- administrativo. Este Conselho funciona tarnbem corno
nias. tribtinal contencioso fiscal e aduaneiro.
Aièm do referido Conseiho, existe pela nova orga- Para auxiliarem o governador geral fia os seguin-
nisação, na série 20 governo da provincia, um tribil- tes chefes de serviço: secretario geral, chefe do estado
na[, denominado Consdho de Psovincia. E' constituido maior, inspétar -da Fazenda provincial, inspetor das
pelo juiz do tribunal da comarca da séde da provin- obras publicas, secretario dòs negocios indigenas e
cial por Um dos chefes de serviço provincisl, nomeado chefe dos servigos de saude. Nos distritos existem, a
anualmente pelo gof7ernador geral, por dois vogiieç auxiliar os respetivos governadores, os chefes de re-
sorteados de entre os advogados, luachareis formados partição e um Conselho de distrito, tarnbem com parte
em diielto, em sessão do tribunai ci;-e! da comarca, eletiva, ao qual cabem atribui~õessemeIhantes, em'bom
por u m vogal eleito pelas assoriações comerciees, in- muito mais reduzidas, As do Conselho de Governo a
dusrriaes e de pi.oprietarios, reunidas, da capital da Goriselho de Provincia, que funcionam junto do gover-
provincia e por dois vogaes sortestdos entre os vinte nador geral.
maiores contribuintes residentes na capital do Estado- Uma das inovações d'esta organisa@o foi a creação
X esse Conselho cabe julgar em 2." instancia todnç da Secretaria dos Megocios Endigenas, t2o necessaria
as qriestões de que os Conselhos do Oistiito, como em todas as colonias e especialmente em Moqambique,
tribrinaes d o conteacioso admiiiistrativo, conhe@rn em snde os nativos, ou pelo seu labutar nos prazos e ou-
primeira instancia e julgar, em primeira instancia, a s tras explora~õesagricolas, ou pelo seu trabalho nas
reclamações contra as deliberações dos conselhos d o minas do Transwaal e da Rhodezia, constituem a
djçtrito por incompetencia, violaqão de leis ou regli- maior riqueza da provincia. 0 s assumtos dos nego-
lamentos, ou For ofensa de direitos. Afóra as funções cios indigenas são tão importantes que na coíonia do
do tribrinal contencioso, o Conselho da Provincia tem 'Cabo constituem um ministerio, do qual por muitos
que julgar as contas das exatores da Fazenda da pro- annos se encarregou Cecil Rhodes, acumulando-o com
vincia, esceto as do thezoureiro geral, sujeitas direta- a presidencia do conselho. .4' nova repartição com-
mente ao tribunal competente d a meti-opole, a& recla- pete a organisaçiio da justip indigena, a regulamen-
magões relativas ás irmandades, confrarias e associa- tação dos deveres'dos regulos e auctoridades indíge-
ções de piedade e beneficencia, as reclama$óes dos nas, a codificação dos usos e costumes cafreaes, dc
socios dos monte-pios e associações de socorros mu- erganisação do registo civil dos indigenas, a deterihi-
nasão das zonas 'de terreno, que devem ser reservadas
exclrisivameilte aos indígenas, a regulamentaqão e fis: deliberativos, ou fazer concessões de caminhos de ferro,
calisa$ãc>.estatistjca dos actos relativoç á sahida dos ou de explorações de portos. Em tudo o mais tem
indigenaç para fóra da provincia, entrada e transito uma acgão ampla e absoluta, possuindo ainda, como
na mesma, a organisação da assistencia aos indigenas já dissérnos, o direito de suspender as deiiberagões do
em tudas as crises e epidemias, a organisação do for- Conselho do Governo até resolugãa definitiva do Mi-
necimento de trabalhadores indigenas tanto para o nisterio de Marinha e Ultramar.
governo como para os particulares, a coadjuvagão ás Esta organisação foi posta em vigor em 1907. Não
arictoridades militares na organisa$ão e recrutamento é ainda muito tarde para se formar juizo seguro do
da policia indigena, tropas de linha e cypaes e a seu exito, ou desastre. Tem-se formulado severas cri-
fiscalisação do trabalho indigena. ticas aos poderes que se tem irrogado o Conselho de
Para se. sr&r a largueza q:ie se deu ás atribuiqoes Governo, que é acusado de tomar deliberagões que
do governador gera[, bastará dizer que elie pode tomar, podem ser nocivas aos interesses geraes da rnetropole.
com o voto do Conselho de Governo, as medidas au- Crêmos, porêm, que esses excessos, se acaso se teem
ctorisadas pelo $ 34.' do art. 145.' da Carta Consti- &do, se devem atribuir aos efeitos d'um regirnen novo,
tucional nos casos de rebelião ou invasão inimiga, que deu largos direitos aos que tiveram de o aplicar,
azar, ouvido o mesmo Conselho, do que autorisa o permitindo assim abusos, que serno corrigido2 na
8 z.* do arr. r8.O do acto addicional; náo esperando pratica.
n'esses casos da decisão do parlamento, nem sequer do
governo, propbr ao poder central alteragões de leis ou
regulamentos sobre os assumtos que náo tem direito a
resolver, podendo porêm pôr essas altera$óes proviso-
riamente em vigor, etc., etc. Só lhe i?ão é permitido
estatuir contra os direiros civis e politicos dos cida-
dãos; fazer e assinar tratados com potencias ou colo-
nias estrangeiras, declarar-lhes a guerra ou concluir
a paz; contrahir ernprestirnos; fazer concessões que
envolvam direitos de soberania; conceder subsidios,
garantias de juros ou esclusivos de qualquer natureza;
prover beneficios eclesiasticoç; conceder beneplacitos;
alterar o regimen monetario, tributario e pautal, exceto
no que se refere ao imposto indigena; alterar a orga-
nisação do poder judicial, a iegisfago mineira, o re-
gimen de concessões de terrenos, a organisação mi- -
de mar e terra, a constituição dos conselhos de
governo e de proviricia e dos mais restantes corpos
mos e tanto urge fazer a demonstracão compIetã e
irrespondivd de que s8o tão sagrados e legitimos os
direitos que temos á posse do nosso imperio ultrama-
sino, como sincéro, intenso e devotado tem-sido e
esforço por nos empregado para- que o progresso-e o
desenvolvimento d'esses territorios se tenha conse-
guido de modo a não Constituir, como injustamente
se tem dito, uma nódoa na civilisação geral do
Esforços e resultados da moderna colonisaqãs mundo. Carecia esse proposito, para se efetivar por um
portugueza modo condigno do elevado intuito que o inspirava, da
colaboração dos mais eiitendidos em cada um dos
aspétos sobre qw o resultado da nossa obra colo-
Não podendo n'este trabaIho fazer a historia yos- nisadma pode ser encarada. Por isso e ilustre diregão
menorisada da colonlsação portugueza desde o seu ds: Sociedade organisou varias comissões para ac

inicio, mas entendendo que alguma cousa deveriamok estudo, em detalhe, do que já temos reatisado e ainda
dizer dos esiorgos realisados por Portugal nos ultimos yrecisârnos realisar, no sentido de acompanhar a tra-
annos para acompanhar o-movimento das mais acti- jetória seguida pelas outras nações coloniaes e de
vas p inteligentes nações colvnisadoras, resOlvemos nos hoi-irarmos, no futuro, presidindo á constituição
trznscrever em seguida o parecer da Commissão de de sociedades em pleno usufruto de todas as suas
Estudos da Sociedade de Geographia de Lisboa sobre riquesas e condições de vida, como nos honrámos no
a moderna acção do nosso paiz para o progresso e passado, dando existencia e vigor, á custa do nosso
fomento dos seus dominios ultramarinos e meios trabalho e do nosso sangue, a essa xdmiravei e hoje
diell¢ assegurar a conservação d'esses dominios, pa- tão progressiva naqáo brasileira.
recer de que foi relator o auctor d'esta obra. A' Comisção, por nós constitiiido, coube o difícil
eiicaigo de-apreciar o estado das colonias portuguesas
Para bem cumprir mais uma vez, no actual momento enr relaçâo ás das outras. nagões, com as quaes por
histórico, a patriótica missão que se irnpbs de pugnar e o n d i g e s de visinhança, de cfirna e constituição do
sempre peta conservação, desenvolvimento e futurs elemento indígeni melhor possam ser comparadas, e
do nosso vasto dominio colonial, resolveu a Sociedade de indicar os meios qtie precisâmos empregar para. a
de Geografia de Lisboa coligir dados e informagões garantia e conservagão do nosso dorninio colonial.
rigorosas sobre a acção do Portugal, como metrópoIe, - E' este tema da maior complexidade e abrange
e sobre o estado politico, social, económico e finan- eUei n'uma syntese completa,- toda a obra da coloni-
ceiro das suas possessões de alêm mar. Esse estudo sação.
era singularmente oportuno neste momento em que S6 podesia ser devidamente tratado apreciando-se
tanto convêm estabelecer na opinião uma intensa e em todas a s suas &tapes e modalidades o nosso es-
poderosa corrente de simpatia e interesse para o pro-
blema fundamental da nacionalidade a que pertence-
minios da pátria, avassaIar territorios, fazer conquistas waíe c l m ~ l r nA pósse dos portos de Orm(~z,Aden,
e criar um imperio á antiga, como o de ~lexandre,ou Maiaca e Calecut, ou qualquer outro porto da costa
o dos romanos. Além disso D. Francisco de Almeida de Malabar, poderia realisar esse dqsideraturn. -
n8o queria que o dominio fosse a apreensão das ri- Mas elIa era insuficiente para assegurar a Portugal
quesas, mas sim a proteção armada a um comercio a conquista e a conservação d'um imperio oriental
destinado a converter-se em monopólio do Estado. Re- organisado, e asçiin teriatnos de 110szugeleiiar i tole-
pugnava-lhe a idéa de que os soldados, os magistra- rancia dos pcrteiitados asiáticos, ou de nos convencer-
dos ou os capitães, podessem exercer esse comercio. mos da i-ieceçsidadq de iutar com a civilisa@o india-
Semell-iaiite modo de vbr n'aquéIla época exigia, da 08, com as suas raças numerosas, as suas religiões,
parte de todos, uma fleugma e qualidades de desin- linguas, códigos e institujções estabelecidas, então no
teresse, que so os l-iolandeseç provaram, n a prática, auge do seu poderío. Só desse modo alcançariamos
possúir, e isso mesmo talvez porque o valor elevado subjugar todo o Oriente, desde Urmuz, no Golfo Per-
dos salários arredava muitas tentzções. sico, a Aden, á entrada do Alar Vermelho, e d a passa-
O sucessor do r .O vice-rei daIn iin, o glorioso Afonso gem das peregrinagijes, em honra de Mahomet, até
de Albuquerque, seguiu uma politica inteiramente Golconda ao Cabo Camorirn, na India, e até Cnfão e
oposta e preconisou um plano a que as geraçoes futu- á peninsula de Malaca e mais ilhas de especiarías.
ras ~ieramdar a mais bela confirrnaçã-0, porque foi Um projeto tão grandioso não chegou a vingar
esse o plano adotado muito mais tar& por Dupleix, o Mas a acção do insigne capitão, estadista e diplomata,
insigne governador de Pondichery, e seguida tambem conseguiu abalar, nos seus fundamentos, a influencia
pelos organisadores do grande império Moghol, na In- musulmana n a Asia e preparar o caminho para a
dia, e o que serviu até de base á politica porque os in- união íntima que liga hoje os p6v.o~orientaes e os
gleses se nortearam n'aquelie tão vasto e cubiçado ocidentaes.
continente. 0 s principios do plano politico de Albuquerque,
Pensavamos em erguer um dique ao dominio dos :
turcos e A invasão dos mahornetanos. Queriamos tam- A adrnmistração dos negocios indigerias, mediante
bem obter o moiiopólio comercial e tinhamos a lutar â manutenção dos seus oi-ganismos e instituições
com a vastidáo do mar, inimigo sempre implacavel, .sociaes.
servedot'o constante de existencias e de energias. A colanisação portuguesa yoc meio da fixação da
Para conseguir essa aç~íração, Albuquer~ue viu st~arasa, na India.
&de logo que, só batendo os comerciantes árabes e A ass-imiia~ãobnta das sociedades indianas aos
juntando as fortalesas as feitorias, 8 que poderiamos costumes e ao regimen social da ,metrópole.
coiíquistar o dominio comercia[ e que,-para isso, era Para o efetuar, pensava elle em conquistar certas e
preciso fecharem-se, os anteriores arninhos pelo Mar &terminadas terras de importancia, soh o ponto de
Vemefho e Golfa Pkrsico, visto não existir, nessa épo- vista comercial, e governa-Ias dicetamecte; construir
ca, a liberdade do comercio c aceitar-se o principio do fortalp.sas nos politos que tião pudesse coriquister
da terra caudacs de niinerios preciosos, eqloi-áramos
rios, que, pela beleza e extensão, se equiparam aos
mais formosos de todo o mundo, e - espaIhárainos pensarmos podemos apresentar com desvanecimento
pela imensidade dosertão miihares e milhares de com- as medidas hurnmitarias cb Marque de Pombal, que
gatriotas nossos que, em g r a ~ d enumero, se enamora- parecem haver sido promulgadas um secuIo mais tar-
~am para sempre pela magia d'aquelle torrão, lá radi- de, desde o alvara de 17.55, que libertou de todo s
caram afétos, que não se extinguiram mais, e deram serviço forçado os indios d'aquella rica e já então
origem a tima raça inteligente, activa e empreende- florescente colonia, até aos dipbmas de I/' 58, 176r
dora, capaz de acompanhar e.de se egualar ás mais e 1774, destinados a suavisar a situação dos escravos,
adeantadas do uni\-erso. O emprego de tantas actividades e recursos de toda
Fui este o mais alto feito por nós praticado, como a ordem71-ia rapida valorisaçZio do Brazii não impedia
nação mlonisadora, em todo o seculo xvi~i.Tinhamos que, ao mesmo tempo, cuidassemos tambem ds
então uma população que pouco excedia a dois mi- deseilvolvimento das colonias africanas.
lbTroes de almas: Tinhamos sangrado sangue das nos- Em Angola, no seculo XVIII, merece registo especiai
sas veias para todas a s partes do globo. Possuiamos o governo de Antonio de Vasconcelos e sobretudo o
no proprio continente provincias quasi desocupadas. de D. Francisco Inocencio de Sousa Coutinho, nete
E, apesar disso, eram tBo fortes as nossas tendencias desse outro Fernão de Sousa Coutinho, que, no final
e predisposi$Ões para afargarmos a acção e a influen- do seculo xvr, dera, como Governador de Angola e
cia do nome português, que não poupavamos os meios Benguela, tEo elevada prova dos seus meritos de
de poder fomentar e desenvolver niicleos de popda- administrador e facuklãdes de inteligencia. Foi aquelle
@O, que foram a genesis das rnagnificaç cidades que que aki combateu- a escravatura, iniciou os trabalhos
&o hoje a legitima vaidade da America do Sul. Qtian- agricolas, regularis3u o comercio, reformou a legisla-
40 se tornava impossivel fornuermos dirétamente os ção fiscal e militar e acabou com os habitos opres-
braços de que careciam aquelias tearas que só pediam sivos e crueis para com os indigenas. Foi ainda na
que as cultivassem papa darem genecosissirna remu- seu governo, tão I ~ C Q de iniciativas e providencias d a
neragão ao esforço n'ellas empregado, iamos busca-los maior utilidade, que se fundaram os celeiros comuns-
a Angola, fazendo assim dos sertões do Brrtzil uma para acudir ás fomes que periodicamente afligiam a
rude mas rnagnifica escola de trabalho. E essa ~ b r a provincia, se construiu um arsenal e uma alfandega e
executamo-la, afastando-nos muito .dos processos se levantou uma fabrica de fundição de ferro em
violentos e até d e exkminio seguidos pela Inglaterra Oeiras, kjunto ás minas do Golungo Alto, estabele-
aa America do Norte e adotados ~ e k iHesganha no cendo-se mais uma de fundição de peqas de ferro,
Mexico e no -Pení. Cometemes é certo alguns erros que existiu até 1846. A-acção de tão benemerito go-
como o das ~ Q R ~ ~e WO dos S &gaasmio.s. Mas esses vernador completou-se com a fundação dos hospitais
srros eram dor menos dignos de censura, em face e mise~icordiasde Loanda e Bengaela e de numerosas
d a s doutrinas aomioantes da ipaca e pata os com; escolas primarias. Teve,elie mais tarde dignos suces-
sores em Antonio Saldanha da Gama e Manuel Vieira
ESPORCCB E RESULTADOS DA U(>DI:RBL <:I)LOX." P O S T C U C E Z A 337

territorios, jamais pisados até então pelo pé do Nos tempos modernos e contemporaneos não es-
morecemos no cumprimento da nossa inissão de nação
branco.
Ao interior- do sertão de Mogarnbique, como a o d e colonizadora. J á no secuio xvIrr, como em cima dis-
.%ngola, como ao do Brasil, a milhares de Ieguas da semos, o largo espirito do mai-que~ de Pombal se
condoera da rniçera situação dos indigenas s~ijeitos
costa, compatriotas nossos se aventuraram cheios de
fé e de arrojo, espalhando palavras da nossa lingua, ao serviso f o r ~ a d oe á escra~aturae concebera me-
procurando a estima e a confianga do indigena, ten- didas que são uma honra para a epoca eiti que foram
promulgadas, pela generosidade e grandeza dos prin-
tando as primeiras e rudimentares explorações, e con-
c i p i o ~em que se fundaram. A partir do estabeleci-
seguindo que durante seculos, para os naturaes dos
mento do regime constitticionai entre nós, uma serie
pontos mais difimis de atingir na Africa, o português
fosse o tipo unico e inconfundivel da raça superior que de homens de governo se afirma, defendendo as idéas
de todos os lados começava a sursir com intuitos d e de igua!dade de todas as rasas e de ernancipaçilo dos
negros, diçtinguindo-se entre elles a figura tão nobre
dominio e civilização.
pela inteiigencia, pela honestidade e pelo heroismo, do
0s exploradores dos contiilentes que os nossos ma-
rinheiros haviam descoberto e ofertado á actividade do maryuez de Sá da Bandeira. A obra d'esse estadista
mundo antigo contaram-se por centenas, fogo nesses na sentido de se acabar com o trafico da escravatura
primeiros tempos, em que mal s e cotnegava a fixar no e depais d'isso com o estado de escravidão, constitue
litoral a ocupqão. Do-que elles conseguiram e da au- uma odisséa de perseverança e de amor aos senti-
dacia quasi sobrehumana de que deram provas pode- mentos mais belos do humanitarisrno. Traduziu-se
ram mais -tarde atesta-lo o s Levingstones, os Came- ella em diplomas que nobilitam a nossa legislação e
rons, os Stanleys, verificando que em todas as etapes que constituem o mais forte escudo que podiamos
dos seus itinerarios, encor?travam padrões a afirmar apresentar as calunias e aleivosias com que nos teem
que muitas geragões atraz já p0.r ali haviam passado pretendido, ferir os que pertencem a nacianalidades
compatriotas nossos, que muito tiveram de aprender comnosco no trata-
Affomo de Paiva, João Fernandes, Gregoeo de Q u e mento dos indigenas e no modo de os transformar, a
dra, Francisco Aivarez, Duarte Eopes, Correia de Sa, ponta de deixarem de ser bestas de carga, como até
Gaspar Bocarro são unidades d'uma legião de heroes, ali sucedia, para passarem a ser considerados coope-
que tanto corno os descobridores sublimaram o nome raclores valiosos, livres e dignos de toda a protegão
d'um povo civilizado. E procedendo assim fizemo-lo
de Portugaf. Os seus feitos mais avultam peta igno-
ca!canc!o interesses importaatissimos, pondo de lado
rancja que-reinava nos tempos em que foram pratica-
dos e pela heroicjdade que havia em se arrostar assim, as reclamações dos agricultores e comerciantes contra
sem interrnitencias, com perigos tanto mais de ame- a s medidas que se haviam adotado e que arneaGavam
drontar o s mais intrepidos e ousados, quanto mais lançá-los na rniseria, reclamações de que se faziam
envolvidos elles se achavam nas nevoas do imprevistir interpretes os proprios governadores. TBo sincero e
e do desconhecido, convicto era o nosso empenho em elevarmos a condi-
' 22
ção social do indigena e concedermos os direitos que desde longos annos seguido u m a politica indige~lade
legitima e humanamente lbes pertenciam ! atraqão e de bondade que não nos envergonha e cujos
Pela sua parte os colonos, conciliado o exercicio beneficias ainda não ha muito tempo algumas das na-
da sua actividade com a nova maneira de ser das ções coloniaes não queriam reconhecer, ou reputavam
sociedades coIoniaes, não formularam mais queixu- inferiores ao valor dos interesses que essa politica po-
mes, nem ergueram novas dificuldades. Entregaram- deria ferir. Os colonos pela sua parte teem sabido tam-
se de alma e coração á empresa a que careciam de bem facilitar a pratica d'essa politica. E para o pro-
dedicar a sua energia e internaram-se ainda mais pelo varmos basta lembrar como nas nossas possessões
sertão, estabelecendo relações com tribus até ali de alêm mar trabalham lado a lado brancos e negros
sempre isoladas do convivio com os povos cultos e e pôr em destaque a transformação agricola que se
aproveitando o produto da sua actividade e trabalho tem operado tanto na provincia de S. Thomé e Piin-
para o acrescimo das transações comerciaes. Outros cipe como em inumeras propriedades de Angola, no
eram guiados nas suas viagens aos pontos mais re- distrito de Inharnbane, nos prazos da Zambezia e nos
conditos do interior, ou nas suas travessias de costa territorios da Companhia de Moçambique, onde a
a costa, por intuitos politicos ou scientificos. E assim populapo indigena tem aumentado' sucessivamente,
se foi formando essa pleiade constituida por Silva mercê da equidade com que é tratada e dos habitos
Porto, Arthur de Paiva, Anchieta, Paiva de Andrade, de trabalho que se Ihe tem incutido.
Capello, Ivens, Serpa Pinto, Victor Cordon, Antonio Tão sincera é a nossa estima pelos que pertencem
e Augusto Cardoso e tantos outros que completaram as ragas primitivas de Africa que não só temos tacili-
o esforqo heroico dos estrangeiros do seculo xvr e tado a muitos dos seus filhos eIementos de instrugo
xvir e mostraram aos negros que os descendentes dos desde os graus mais elementares até aos mais eleva-
que haviam semeado o sertão de atestados da sua dos e a sua admissão por esse modo nas profissões de
passagem e dominio eram bem dignos de ser os con- maior influencia e considerago social, mas até mes-
tinuadores da sua obra civilizadora. Em todas as mo os recebemos no nosso convivio sem sentirmos
viagens e tias relaqões comerciaes que alargainos ou por elles a menor repugnancia, afastando-nos assim
estabelecemos de novo, os nossos exploradores e radicalmente das prevenções e preconceitos que vigo-
colonos procuraram sempre encaminhar os naturaes ram principalmente nzs raças anglo-saxonicas e ger-
das regiões percorridas ou ocupadas para os habitos manicas
d'uma civilisação mais adequada por meios brandos e Os resultados d'esta politica não se teem deixado
suasorios. de sentir. O dominio portuguez, defendido por guar-
Os excessos ou vexames exercidos por alguns de- nições dirnínutas, quasi insignificantes em relação á
legados do Estado, menos conscientes dos principios vastidão das nossas colonias e assegurado mais pelos
da humanidade e das proprias conve~iienciasda mãe meios conciliadores do que peIa violencia e opressão,
pxtria, são exceções que confirmam a regra comum. tem-se mantido com resistencia Iimitadas, vencidas
Na quasi unanimidade dos casos as autoridades teem não sem luta, mas sem exigencia de campanhas de-
EJFOIICOY l.: RESULTADOS D A MODERXA C.Oí.O?I.a PO;<.TI.GCí:%A 341

vis das gerações. Por toda a parte deixaram vestigios


e tormentosas, como as que a Inglaterra teve da sua passagem ou da sua acsão. blas, apesar d'ísso,
de sustentar para firmar a sua soberania na Zu!uiaii- não se deve ocultar que, ate muito 'tarde, houve ter-
dia, ou a que a A l ~ m a n h avem realizando h a tanto ritorios em que não exercemos uma ocupagão efetiva.
tempo, na região fronteira da nossa provincia de A"- E só ultimamente essa obra se realisou por completo,
gola. podendo-se dizer, sem contestação fundamentada, que,
Até nos momentos em que nos temos visto obri- ha annos para cá. a a c p o das autoridades portuguesas
gados a recorrer a o emprego de força não deixámos se exerce e é respeitada em tcda- a área das nossas
jamais de confirmar 0 valor da nossa influencia e dos possescões de além mar, desde a costa até aos pontos
elementos empregados para reprimir e castigar as tri- mais afastados da fronteira, '
bus revoltadas na rapidez e exito com que consegui- A dilimitsção d'esta, em tão iiiimeroses provincias,
mos dominá-las e restabelecer mais alto do que antes e em logares tãc distantes do globo, temo-la conti-
o prestigio da bandeira nacional. nuado com o auxilio e dedicação das patiidticas co-
AS campanhas de Gaza, do Baitundo, do Barué, dos missões de sficiais empregados n'esse delicado e difí-
Dembos e dos Cuanhamas, para só citarmos a s mais cil servi$o. Na Guiné já esta a r o v a d a a f'roiiteira ba-
,aloriosas da época contemporanea, s t o páginas bri- Iisada.
lhantes em que se demonstrar2m, ao mesmo tempo, E m Angola tdmos balisndas as fronteiras da região
as de heroicidade, bravura e resistencia dos de Cabinda, Blolembo e Massabi, e igualmente as que
nossos soldados e as nossas condigões de povo coIo- seguem entre Noqui e o rio Cuango, faltando, a o sul
niçador, disposto a defender e a salvaguardar, por to- de Cabinda. reso!ver uma parte insignificante junto
dos os meios, os seus direitcis e os seus brios. E a ao mar, na região da Lunga, de que o goverrio se
par dessa obra de repressão que temos sabido exercer está actrialmente ocupando.
com a maior dignidade e lustre para o nosso nome, A fronteira, entre n nossa possessão e o Congo
deSpertando, mais duma v&, o entusiasmo dos povos belga, está por balisar para o sul do paralelo Noqui-
mais poderosos, temos realisatlo uma outra, a d a pe- Cuango, até á divisória das aguas Zaire-Zambeze e
netração sucessiva e ocupaçao verdadeira e real das por esta divisória até ao meridiano 2 4 . O E. G.
regiões que, por serem as inais longiqquas e interiores N'essa fronteira estão as negociagoes entaboladas
das nossas cqlonias africanas, s,e achavam antes bas- para a balisagem na região do Diloio até a o meridiano
tante desligadas dá influencia dos delegados da me- 24.'' e igualmente está nomeada a missão para a de-
trópole, como tem acontecido princip?lmente nos dis- marcagão da fronteira luso-inglesa do sueste da nossa
tritos da Lunda, do Humbe e de Mo~ambique. possessão, no Barotze, devendo os trabalhos principiar

-
E: assim temos ido completando ininterruptamente este anno, visto a proposta de adiamento apresentada
a obra iniciada pe-s riossos prinieiros colonisadores. pela Ingfaterra. .A que separa os territórios de Angola
Elles. fixaram, no interior do sertão, as primeiras raíses dos da colónia alemã do sudueste da Africa está
da-influenci~portuguêsa. Divulgárarn o idioma da sm tambern por balisar na parte que vae desde o Cuacgo
nacionalidade, cujos termas tem perpetuado atra-
até ao mar formando a fronteira sul da provincia. Este rápido esboço prova que temos procurado
Entre o Cunene e o Cubango, n'essa parte da fron- cumprir o nosso dever diligenciai-ido fixar definitiva-
teira, não comEçaram ainda a executar-se os traba- mente os limites dos territórios que nos pertencem,
lhos de balisagern, por assim o haver solicitado a para que não possa haver mais contestações sobre os
Alemanha. Finalmente a parte que os divide da Rho- pontos em que podemos exercer iegitimamente a nossa
desia está igualmente por balisar, desde a divisória
das aguas Zaise-Zambeze, para o sul, até ao ponto de
interseqão do Ciiango com a linha Andara-Catima,
soberania, E n'esças diligencias as missòes portugue-
sas teem rzgistado sempse com prazer e orgulho o
desejo expresso pelas popu!ações indigenas fronteiri-
-
Na provincia de R4o~ambiqueestá completa toda a $as de ficarem englobadas no território pertencente
baiisagein da fronteira, faitando apenas pequenos tra- ao nosso dorninio, o que constitue uma nova pro\-a
balhos em pontos onde teem surgido algumas contes- da suavidade e brandura com o que o temos exerci-
tações taes como com o Transvaal entre o Sii-igue- do em toda a parte,
desi e o Pafuri, com a Swazilandia entre o marco Algumas Contestações existem, wmo disçémoç, para
Krogb e Impunduine e com a Alemanha para se pro- se completar de vez a cielimitaqão dos territórios qua
ceder á divisa0 das ilhas do Rovuma, estando sobre nos pertencem. Mas essas contestações são, em geral,
este p011to as negociações já iniciadas. de pouco valor, relativamente á área e á importancia
Na India prosegue regularmente a demarcação sem dos terrenos a que se referem. E assim podemos di-
ter havido quaesquey dificuldades. Em Macau, como zer, quasi em absoluto, que todas as regiôes do nosso
se sabe, não está demarcada a nossa jurisdição. O império de alem mar nos estão reconhecidas pelas
tratado de i887 assegurou-nos a posse dos territórios mais poderosas nações coloniaes nossas visinhas e que
em que sempre exerceramos soberania. Mas depois sobre ellas exercemos urna'soberania indiscutivel e
disso a China, mais diurna. vez, tem pretendido con- uma obra de colonisaqão que, em cada dia, se vai
testar os nossos direitos. Utlirnamente haviam-se ini- afirmando em resuftados mais uteis e eficazes.
ciado negociaqões definitivas ciiretamente na colonia,
mas estas interromperam-se para proseguirem em Possuirnos, pois, um vasto irnpesio colonia1. Essa
Lisboa. posse desiva de havermos descoberto as regiões que
Finalmente em Tirnor tinham começado os trabalhos o constit~lem,de termos iniciado a sua exploração e
de balisagem a leste de Occussi-ilmbane, trabalhos ocupação antes de qualquer outro povo europeu, de
que nos vimos forçados a i~it-eri.ompeipor divergen- contarmos assim a nosso favor com os direitos histo-
cias suscitadas pelos delegados holandezes. Esta fron- ricos que durante seculos foram respeitados e consi-
teira refere-se a da região que fica na costa N. de Ti- deiados suficientes para a constitui@o do dominio de
rnor desligada dos nossos territórios na parte E. da todas as naq6es coIonisadoras e de, nos tempos mo-
iIha.- N'estes ainda não se encetaram os trabalhos de dernos, termos exercido não só uma acção politica e
balisagem, mas a fronteira está ahi determinada por administrativa mas tambem econornica sobre todos
Iinhris naturaes do terreno. esses territorios, indo cada dia tornando mais efetiva
ESFORÇOS E RESCLTADOS D A NODIRNA C0LON.O PORTtíGGEB1 3&5

e intensa essa acgão, este~dei-ido-a ate aos !imites 0 esfurqo dos particulares alixiliav~essa> c;i tentes
mais afastados da fronteira. d e emigração e foimava-as por sua exciusii-a iiiiia-
Logo nos primeiros tempos da colonisa~ãofòi.am tiva para regiões especiaes. sobretudo em Arrgoia.
co:npatiiotas nossos que fundaiam os cei-itios pti- Assim a colonisação de RIossarnedes só a esse esforço
rnitivos de população n&s actunes cololiias poi-ttigue- foi devido. Deu-lhe o primeiro irnpi1tso'Jaco:ne Filipe
sas e corneprarn a penetrar 130 jriterior, estabelecendo Torres, em 1838. Em 1840>1341 e 1843 fiindavnm-se
as yriineii-:is ctiikiras e aproveitando-se do- vrodutos alli ti-ez novas feitorias. e rouco depois rima outra,
expor,isnecis dc rraturezrt para os riidimento:, cio unica que subsisti~i, destinada simuitanea:neiite i
comercio com os indigenas. E durante gerações suces- pesca e a- agi-icuitrii-a. E m 1844 corneçai'am a afluir á
sivas o desenvoii.imento material e ecuncmico de bahia de hIossaniedeç alguns pescadores do Algasre.
todas as nossas possessões e eni especial de Cabo Foi uma paite d'esseç colonos que ma% tarde foram
Verde, S. Tomé, Angola e 3IoçarnSique se fez apenas tentar fortuna iim pouco mais ao sul em Porto Ale-
com o eçforqo, a energia e o capital de portugueses. xandre. A colonia de ~4ossamedesfoi vigorosnmente
O Estado procurou mais d'uma \-ez ausiliai- a ini- reforçada em 1849 pela incorporação de 1/13 coioi-ios
ciativa dos colonos e provocar ilovos nucleos d e portiigueles de Pernambuco, perseguidos pelos maus
coionisrt~ão nos pontos e111 que se ibe afiguravam Tratos dos brasileir-os. E tão forte ella se selith com
mais propicias para a adaptaçâo da raça branca. esse reforço que n'esse rnesrco anno destacou para a
Assim, em 1337, se cor,cedi-,m passageiis gi'atuites. Huillri seis dos seus colonos, com o intuito destes alli
passaportes e socorros de todo o geiiei-o aos operarios estabelecerem as prirniiras bases d'iim novo centro de
mectinicos que embarcassei-i.i eln qualqiier. p o ~ t opor- popula$ão. S ã o foram porêrn felizes os primeiros tem-
tugues para as colonias afiicãiia~.Xo ai-ino imediato, pos para os que tinham ido tentar emprego da sua
em 1838, tentou-se levar para .4ngola mtiitos dos por- actividade e ti-abalho n'aquelie ponto que parecia
tugueses que liaviam emiatado para o Brazil e ali se dotado de tão ia\-oraseis condi~õesda costa africana
encontravam e!n precárias condições. N'essa mesma Sucessivos desastres estiveram quasi a vencer, FOI
data mandavam-se pala Xo$ambique alguns alumnos co~npieto,toda a tenacidade dos C G ~ O ~ O S .
da Casa Pia e outros ii:di~-idrios e importavam-se rle Alguns novos emigrafites que tinham tambvm
Gba, I\lacau, Singapura e iihas de Sonda coionos in- vindo do Brazil i-ião se podeiam lá manter, por ihes
digenas e chinezes que podessem concorrer para o esczssearem de todo os recursos. Mas o período da
desenvolvimento das artes e da agricultura d'aquefla n?á fortuna passori e em 185s já a colonia de AIOS-
vasta provincia. samedes se podia considerar n'uma sltuaqRo de rela-
Ko anno imediato ainda se abonavam passagens tiva pros~eridade.
gratuitas nos navios do Estado aos deportados, aos .4 primeira tentatira de colonisação na HuílIa não
seus filhos e a quaesquer outras pessoas que quizes- 161-9.feliz. 4 pouco e poirco os coionos que para alli
sem ir para a Africa, no intuito de se aumentar a haviam partido tinham mcrrido ou abandonado a re-
populaqão branca das nossas colonias. g i a ~çen? deixar-em i~esfigiosd é valia. Em i857 insis-
ESFORÇOS E RESULTADOS D A 249DERXA COLO?^.^ PdBTC'GULZd 347

tiu-se ria creação d'uma colonia n'aquelle sitio, fadado portante produgão agricola e a sua população tem
para uma intensa exploração agQcoIa, e por isso se crescido constantemente. Está ella dividida em cidade
mandaram para esse sitio 29 colonos allemães e se or- alta e cidade baixa e ligada ás colonias de S. Janria-
ganisou em Lisboa a r." companhia do 3,' batalhão de rio, Coculovar e S. Pedro da Chibia por estradas car-
caçadores de Angola, composta de europeus, homens reteiras.
casados, de preferencia com habitos agricolas, pedrei- X colonia de S. Janirario foi fundada no Humbe por
ros, carpinteiros, serralheiros, na proporgão de dois um grupo de boers em 1879, que depois mudaram
terços de agriciiltores para um tergo de artistas. para a Huilla e para a Humpata. Estes boers vieram
Essa companhia constituiu-se com o fim de ir co- a naturalisar-se mais tarde portuguezes e a elles se
lonisar a Huilta. Como a anterior, a nova colonia mal incorporaram, em r 883, os colonos que haviam consti-
vegetou alguns annos, extinguindo-se por fim, porque tuido a colonia Julio de Vilhena.
os colonos militares não quizeram readmitir-se. A wlonia de Cuculovar foi a que se estabeleceu na
N'esse mesmo anno de 1857 tambem se enviaram margem diseita d'este rio como sucursal da de Sá da
para Loanda alguns alumnos da Casa I'ia. Bandeira.
Fora do distrito de Massamedes e n'esse periodo A coíonia de S. Pedro da Chibia foi a que se f~in-
mais afastado estabeleceram-se ainda na provincia de dou em 18j5, creando-a 44 colonos que vieram da
-4ngola, em 1863, a colonia do Golungo AIto, a her- Hurnpata.
dade modelo de Santo Antonio, em 1857 e a cdonia Ainda outras coIonias se orgacisaram nos \-astos
dos Dembos, em 1862. Na mesma epoca, para os territorios da provincia de Angola, com fortuna bem
territorios de Moçambique, cieou-se em 1857 a colo- diversa. Assim, em 1882, fundava-se a que recebeu o
nia 8 de Dezembro, na bahia de Pemba. que pouco de- nome de Juiio de Vilhena na divisão de Mabela, nos
pois se dispersou e ainda, no mesmo anno, a colonia territorios de Pungo Notungo, a qual, como dissémos,
militar de 'I'ete egualmente sem resultado. se veio a incorporar na de Humpata; em r883 foi
Em epoca mais recente os governos voltaram a in- estabelecida a colonia penal d a Esperança, em Ma-
teressar-se solicitamente pela obra de colonisação. lange, no sitio de Cacola Calando, creada em virtude
X'esse objetivo, a lei de 28 de rnargo de 1877 auto- do decreto de g de Dezembro de 1869, sendo extinta,
risou o poder executivo a dispender as somas neces- em 14 de junho de 1886, por não haver agua neces-
sarias ao transporte para as provincias africanas dos saria para a cultura e pela m á disposição do terreno
individuos que para alli se quizessem dirigir. Esta que para ella iòra escolhido; em 1S8j montava-se a
lei foi annos mais tarde, em 1881, regulamentada, colonia Rebrilo da Silva em Caconda, a qual teve uma
creando-se em cada pi.oivii?ciaa Junta de emigração vida muito dificil e efemera e em 27 de janeiro cie
portugueza. Em 1855 foi f ~ ~ n d a da acolonia de Sá da r894 creou-se no ?iIochico uma cclonia militar a que
Bandeira, no planalto de Mossamedes, quando se esta- serviu de base uma forte companhia de guerra e mon-
beleceu no Lubango um primeiro destacamento de co- tou-se uma granja na Humpata, planalto da Huilla,
lonos madeirenses. Essa cotonia colhe hoje l i m a im- para ser cultivada pelos soldados do esquadrão d e
dragoes instalado na colonia Sá da Bandeira. Esta
tentatii-a não teve eiito porque a granja era muito junto da colonia da Humpata para os manter em res-
afastada do quattel e os soldados, alem de nada sa- peito. -
berem de agricultura, não podiam conciliar o serviço Ultimamente renasceu com a maior intensjJade a
miiitar com a frequencia dos trabalhos agricoias. questão de se saber se convinha ou não fazer-se con-
Ainda no sentido de se facilitar e animar a colani- vergir a nossa emigragão, que deriva na maior parte
sação par a a s nossas possessões africanas abi-iu-se pala as duas Arnericas, para as nossas cotoniss, espe-
em 1891 um credito de 88 contos para o transporte cialmente para a de Angola, que dispóe de grandes
de colonos para essas provincias. Esta disposição teve terrenos proprios para uma colonisação europeia em
depois de ser modificada, coricedendo-se a passagem condigões seguras de exito e ainda bem recenteinente
s ó aos que quizessem trabaIho nos pontos por elles foi votado pelo parlamento u m p~ojectode lei, ba-
preferidos e ocupação em harmonia com os misteies seado n'um notaveI trabalho do Di.. Pereira do Nas-'
que podessem desempenhar. Como, apezai- d'isso, os cimento para se desenvolver consideravelmente a
abusos persistiam, em 13 de Março de 1897 regulou- colonisação do distrito de Benguella de forma a va-
se definitivamente a ernjgragão dos colonos, sendo lorisarem-se eficazmente os planaltos do Bihé, de Ca-
essa :ei completada pela doutrina da portaria de 2; de cpnda e da Hiiilla, c~ijosprodutos não poderão ser
Novembro de r g I I . exploi~ados sem existirem os necessarios meios d e
Mais modernamelite, em igoS, os boers da extinta cumirnicaqão,
colonia Julio Vilhena, que haviam ido estabelecer-se
em Palama, a cinco kilometros da séde d'aquella co- Sob o ponto dé vista da exploração das riquezas do
Ionia, formaram dois nucieos de coloiiisação um en: s ~ l oe do sub-solo náo teem esquecido á inetropoIe o
Caconda e outro na Hanha e já posteriofmente um dever de animar a iniciativa particiilar e proporcionar-
terceiro no Bihé, perto da linha feirea do Lobito á lhe os meios d'elia poder utilisar todas as sua,E ener-
Catanga. Essas colonias contam a;con pessoas e são gias. N'esse sentido já a iei de 10 de Maio de 1840
formadas por indivjduos inteligentes, tiabalhadores, isentava por ro annos do pagamento dos direitos de
sabendo ler e escrever, seguindo costumes pntria~chaes irnportaqão as ferramentas, as machinas e utensilios
e tendo principias religiosos e respeito pela fami:ia. de agricriItui-a que proviessem da industria da metro-
Dedicam-se elles á caça, A creasão de gados e ao co- pole e fossem transportados com pavilhão nacional,
mercio dos traiispot-tes. Teem auxiliado o nosso país Esta lei foi prorogada nos seus efeitos em 1849 e
na pacificação do sertão e aberto numerosas estradas I 864 estendendo-se então a isenção concedida aos
carreteiras para o interior dos distiitos de 1Iossaine- artigos que servissem para a prèparação dos produtos
des, HuElla e Bengueila. destinados a o comercio e aos destinados para trails-
Caractetisam-se porèm por um grande espitito de porte nas provincias ultramarinas.
indepeildencia e acentuada intaleraticia religiosa e por Um pouco antes mesmo d'esta epoca, em 1838,
isso o riosso governo tese de C G I O C ~ I " forças eur-opeias havia-se autorisado a creagão de companhias para a
exploraçãa de minas e o governador de Angola, An-
ESFORÇOB ): BEEULTADOS DA YODEHNA C O L O K . ~PORTUGGISZA 351
tonio Manuel de Noronba, enviara o sabio suisso cia de Angola, em 1866, no Golungo Alto, tambem
Lang á pesquiza de minas de cobre. Analogas provi- na mesma província, e em 1875 na Zambezia,
dencias se tomaram em Quelimane e nas regiões dos Mas, a partir de 1881, é que se deu o mais vigo-
rios de Senna. roso impulso a favor do desenvolvimento das rique-
Pelo que diz respeito especialmente á provincia de zas agricolas nas nossas possessões, procurando utili-
Alopambique, em I 854, concedia-se a distribuiçáo de sarmos a forma de colonisa~áoque começava a ser
dois premios aos melhores produtores de café e algo- restaurada do passado pelas nações que caminham
dão. Em 1858 procurou-se organisar ali uma compa- na vanguarda do aproveitamento das regiões d'alêm
nhia analoga á que, em tempos passados, alguns mou- mar por meio de companhias coloniaes.
. ros e baneanes haviam formado para o fabrico de Esses poderosos elementos de civilisa~ãomodificá-
tecidos de algodão e em 1875 esboçavam-se já os mot-os depois segundo os modeIos mais aperfeiqoa-
primeiros trabalhos para a enploragão da hulha, ferro dos especialmente da Inglaterra e assim, em 1891,
.e outros mineraes da Zambezia. constituirnos definitivamente as companhias do Nyassa
Para Angola, no mesmo periodo, começou em 1877 e de hloçambique, concedendo-lhe cartas rnoidadas,
o governo a iniciar a plantasão de cana do assucar quasi por completo, na da South Africa, cuja influen-
para a produgão do alcool, no sentido de se suprir o cia e importancia tiveramos, nos annos anteriores,
deficit d'este artigo, que atingia 3:ooo pipas por anno. largo ensejo de avaliar em todo o seu valor.
Já então se reconhecia serem os terrenos da pro- Paralelamente instituiarnos outras companhias não
vincia, em muitos sitios, dos mais aptos para a cultura de meios de acç3o tão vastos e quasi ilimitados, mas
em ponto grande do algodão e por isso n'esse mesmo creadas mercè de conceçsbes vafiosissimas corno a s da
anno incluis-se no orçamento da provincia a verba Zambezia e a de Mossamedes, esta na costa ocidental
d e ~.OOO$OOO réis para protegão a essa eultura. E m da Africa e favoreciamos tambem ainda a organisação
1863, começaram-se a conceder muitas terras para de corpora@es de caracter mais restrito, com influen-
a produção do referido genero, afòrando-se por 10 réis cia em territorios mais reduzidos, espalhadas por quasi
por anno por hectare e isentando-se ao mesmo tempo toda a área especiaImente de Moçambique e Angola,
de direitos de importasão os materiais, machinas e mas ainda assim em condições de poderem ser utiliça-
utensilios destinados a essa cultura e á construção das como factores decisivos de fomento e de pro-
dos edificios necesiarios nas fazendas. Em dezembro gresso.
de 1881 o regimen de protqão apontado radicou-se Não é para aqui fazer a historia d'essas companhias,
mais concedendo-se aos exportadores de algodZo, pe- a descrição da obra por ellas realiçada, nem sequer
las alfandegas de Loanda, Benguella e Mossemedes, salientar o grau de prosperidade em que muitas se en-
u m drawback em favor d'esse produto. contram como a de Mogambique, a da Ilha do Prin-
Diligenciou-se tambem animar a s explorações mi- cipe e tantas outras. Todas ellas têem contribuido efi-
neiras e para tal fim legislou-se em 1855 d e maneira cazmente para a valorisação do sol10 das colonias
a facilitarem-se essas explorações nu Dembe, provin- portuguezas, e a seu favor se tem consagrado as
maiores dedicações e esfor~osverdadeiramente bene- çáo de cada possessão de alêm mar e as leis para ga-
rneritos. Todas ellas tbem sempre trabalhado [ião só rantirem o trabalho dos colonos e darem as maiores
para 2 creação e o acrescimo de riquezas d'antes na facilidades á execução dos seus esforços, como o de-
maior parte inesploradas, mas tambem para fortalecer, creto de g de dezembro de 1899 e o de 13 de maio
nos territorios que administram, ou onde exercem a de 1911, que encerram artigos de cnracter esseiicial-
sua acti~idade,a influencia da soberania do seu paiz mente pratico, adotados pelos povos colonisadores que
e o prestigio da metropole n'esses territorios, conver- mais legitimamente se envaidecem com o esta. do
tendo-se assim simultaneamente em elementos eco- progresso dos seus dominios ultramannos, No sentido
i~ornicose politicos de incontestavel valia. O facto que de se dar uma orientação verdadeiramente pratica ao
já apontámos e de que legitrmamente nos envaidece- ensino agricola fundou-se a quinta experimental do,
mos de se achar hoje, definitivamente, firmada a au- Umbeluzi, que está dando optimos resultados e outra
ctoridade de Portugal em todos os seus ainda tão se estk montando em Quelimane. Experjencias feitas
vastos dominios coloniaes, deve-se, em grande parte, recentemente em Lourengo Mdrqueç mostram que nos
á coadjuvagão d'esses vaiiosos instrumentos de civili- terrenos d'aquella região o trigo e a cevada se produ-
sação. zem com uma fertilidade espantosa, chegando esses
Uma - grande parte da nossa Iegislagão ultramarina cereaes a ter colheitas de 35 sementes sem emprego
dos ultimos trinta annos tem sido promulgada com de adubos.
o fim expresso de se animar o progresso da agricul- Todas estas Ieis e medidas representam um traba-
tura, ou das expIora$ões mineiras, de se tornar mais lho irnportantissimo e um esforgo dedicado para nos
produtiva e remuneradora a cultirra da terra, de se desempenharmos do dever de-conseguir o enriqueci-
facilitar e generaIisar o trabalho indigena e de se atrai-
rem para essas regiões, bastante carecidas por agora
de quem as olhe com amor e Ihes consagre os esfor-
. mento e o progresso de regiões dependentes da nossa
soberania e que carecemos desenvolver para bem dos
interesses geraes do universo, E a acção particular
60s da sua energia, os capitaes e os braps necessa- tem correspondido a essas iniciativas e deligencias dos
rios á eclosão das riquezas que ellas dentro de si con- governos, conseguindo aumentar consideravelmente a s
serram acumuladas e ocuitas. culturas das colonias e portanto a sua produgão, e fa-
N'essa orientasao devemos citar, entre outros, o zendo com que esta hoje seja um dos elementos mais
decreto de 1902 sobre o trabalho indigena e fomento preponderantes da economia nacional e do equilibrio
agricofa da provincia de-Angola, os decretos de 1869, da sua balanga de pagamentos.
1898 e 1908 relativos a pesquizas de jazigos mineiros, -4 confirmagão d'estas palavras esta na riqueza ex-
com disposições comuns a todas as coIonias, aIém das cecional das ilhas de S. Thomé e Principe, verdadeiros
medidas especiaes para cada provincia ultramarina, as emporios agricoIas, de que mais adeante daremos da-
providencias regulando as concessões de terras e im- dos demonstrativos do valor sempre crescente das
pedindo o. arbitrio do poder executivo, providencias suas produções, no progresso que se vae acentuando
sucessivamente aperfei~oadasde acordo com a situa- na colonia de Timor, apezar das dificuldades das suas
comunicações com os mercados consumidores, na tros a ~ a r t i rd'este ponto até Llalange, estando já
transformação ininterrupta de muitos prazos da Corôa muitos kilometros longe da estação d'esta vila e indo
das margens do Zambeze e do Chire em magnificas penetrando no coração d'uma das mais ferazes e pro-
fazendas agricolas, na acrescimo excecional das pro- metedoras regiões de toda a Africa. E' assim um ver-
duções das companhias territoriaes d'uma e outra dadeiro caminho de penetraçáo, de larguissimo futuro
costa africana e finalmente no desenvolvimento pro- econornico.
digioso da industria do assucar da provincia de Mo- Ainda na provincia de Angola se deve apontar a
$aínbique, que já conta as fabricas do Incornati, do linha de Mossamedes ao alto da serra do Chela e d'alli
Caia, Morromeu, Mopeia e Boror, alèm da que está ao Lubango, para se proIongar mais tarde ao Hume,
sendo montada pela companhia Incomati States Lt.a, Iinha de via reduzida, mas que veio prestar um im-
possuindo assim capacidade para satisfazer todo o portantissimo serviço vencendo as dificuldades de co-
consumo metropolitano e para carecer de conquistar municagões do distrito de Mossamedes, dificuldades
novos mercados que terão de ser naturalmente os do de comunicações que quasi isolavam esta terra do resto
Trânsvaal. do distrito e tornavam inexploraveis as riquezas agri-
colas em que tão prodigamente se podem desentranhar
LTminstrumento poderosissimo de civilisação quer os territorios do planalto.
nas antigas regiões, quer nas colonias, é, incontesta- Esse caminho de ferro, que conta actualmente 180
velmente, o fornecido pela abertura de novas linhas kilometros, já venceu a encosta em rocha dura e bas-
ferreas, como meios de se estimularem as relaqões tante acidentada da serra da CheIla e encontra-se as-
cornercises e de se d$senvolver a riqueza economica. sim em situagão de ver aumentado, por forma consi-
A esse problema tambem nos temos dedicado, ha- deravel, o seu tráfego. O movimento de passageiros e
vendo dispendido, na sua resolução, quantias do mais mercadorias tem progredido muito e de tal modo que
alto valor. tendo a linha tido de receita, no mez de dezembro de
Na India comprometemo-nos, desde tempos já bas- rgxo, 2:53 ~ $ o o oréis, essa receita çubiu tambem, em
tante afastados, a garantir os juros do capital empre- dezembro do anno seguinte, a mais do dobro, isto é a
gado na construção do caminho de ferro de Morrnugão j:260$000 réis, O valor economico d'este caminho de
6 essa garantia tem-nos custado muitos milhares de ferro tem um largo campo de desenvolvimento e de
contos de réis. O mesmo systema adotámoç em rela- progresso. Assim o comprehende a companhia de
$50 ao caminho de ferro chamado de ,4rnbzca, que Mossamedes e por isso esta companhia tem diligen-
uma companhia construiu desde Loanda até Lucalla ciado obter do Governo a concessão d'elie, embora
e que o Estado depois continuou até Malange e para com o encargo de o transformar, aumentando-Ihe a
alem d'esta povoação, sendo seu propoçito fazel-o largura da via, o que-lhe acarretaria um grande dis-
proseguir de modo a atravessar o distrito da Lunda pendio, mas tornaria o referido caminho de ferro a-to
até á fronteira belga. Hoje a linha conta, alêm d,os para a f u n ~ ã ode riqueza que eile esta destinado a
364 kilometros. entre Idoanda e Lucalla, 140kilome- realisar.
Por ultimo, tambem na provincia de Angola se co- cessidade de ligar Lourenço Marques com o Transuraal,
meçou, ha poucos annos, a realisação d'uma obra de dando sahida para o mar á linha de Johannesburg,
fomento de consideravel alcance, que, levada a cabo, como meio de se estreitarem as rela~õescomerciaes
concorrerá poderosamente para o resurgimento da ri- e economicas com aquella florescente região e de se
queza de toda essa provincia e para aumentar a for- darem condições excecionaes de desenvolvimento ao
tuna mundial com a utilisaçáo dos prodigiosos jazigos melhor porto da nossa vasta colonia. Não carecemos
de cobre da região da Katanga. Referimo-nos á Iinha descrever os trabalhos, os sacrificios e as inquietações
ferrea que sae da magestosa bahia do Lobito e que, que nos custou o assegurarmos definitivamente a posse
dirigindo-se ao Huambo, d'alli seguirá para o Bihé, d'esse caminho de ferro. São factos bem conhecidos
para o Alto Quanza, para o Minhanue e, por ultimo, da nossa historia colonial contemporanea.
a Cangambi na nossa fronteira, d'onde bastará conti- hlas tudo o que passámos se acha generosamente
nuar n'um troço já não muito extenso para atingir a coinpensado com os resultados obtidos. O caminho de
famosa linha do Cabo ao Cairo, que o genio de Ceci1 ferro de Lourenço Marques a Ressano Garcia, de pouco
Rhodes concebeu como um dos mais grandiosos em- mais de 80 kilometros de percurso, é hoje proporcio-
preendimentos de que se pode orgulhar o mundo mo- nalmente dos mais rendosos de todo o mundo. O vaior
derno. No caminho de ferro do Lobito já se tem con- do seu movimento tem dispertado a emulação e a riva-
sumido muitos milhares de contos de réis e a cons- lidade das linhas do Cabo, de Porto Elizabeth e do
truggo está proxima a atingir 400 kilometros, não fal- Natal. D'ahi tem surgido uma luta intensa a que, pelo
tando muito para chegar ao Huambo, dando já, em menos, pôz temporariamente termo, a convengão de
1911, uma receita total de 380 contos, havendo um z de abril de 1909,assegurando á nossa linha ferrea
excesso liquido de mais de 70 contos sobre as despe- 50 O / o a jj O/, do tráfego do Transwaal.
zas de exploração tendo-se ao mesmo tempo realisado Mais ao noite da costa, contâmos ha muito um ou-
estudos de que resultou um ante-projecto até Matola, tro caminho de ferro, o de Pungue, constituido nos
no kilometro 868, e um projeto definitivo com pico- tertitorios administrado's pela companhia de Moçam-
tagem e medição dos voIumes de terras e obras de bique, caminho de ferro que esta, por uma das clau-
arte até ao Alto Cuiva, no kilornetro 783. sulas da sua concessão, ficou com o encargo de cons-
Em breve serão estudadas e começadas outras li- truir.
nhas secundarias que completarão uma importantis- A referida linha j,l hoje esta unida com a de SaIis-
sima rêde de caminhos de ferro em toda a provincia bury a Massequece e tambem com a central de Africa,
de Angola e a que servirão de base os trez longos ca- pelo troço de Salisbury e Bulawayo.
minhos de penetração, de que aca'bâmos de faIar, fi- Afóra estes caminhos da terro acham-se em cons-
cando aquella nossa colonia possuidora d'um elemento trução na provincia de Mogambique, o da Swazilan-
de incalculavel valor para a exploraçEio e aproveita- dia, que parte da estação de Machava na linha de
mento de todos os seis recursos. Ressat-ro Garcia, com j4 kilometros, devendo ainda
Em Moçambiql~ereconheceu-se desde muito a ne- prolongar-se, para facilidade do comercio, por mais
EIFOBÇOS E RESULTADOS D A YODERBA COLOS.' POBTCGUEZA 359

seis kiIometros até Boma, caminho de ferro a que o tração pelos territorios d'esta companhia, mas sim
Transvaal ainda não deu o prolongamento prometido uma linha internacional, que porá em comunicação
nem indicou qual deverá ser o ponto de iigaqão; o oç dorninios portugueses com o Nyassa britanico e
de Gaza, já construido desde a vilIa de Chai-Chai a portanto com a Africa Central.
Ranhine e a Manjacaze, na extensão de 25 kilornetros, Ainda em S. Thomé está jh constr~iidaa linha da
estando em estudo os prolongamentos de Yanjacaze cidade á Trindade, na extensão de 1 3 kilometsos, a
ao Chibuto e de Manjacaze a Jinabai e finalmente o da qual devr depois seguir ate ao Abbade, prolongan-
hlutamba, que fica a duas horas de Inhambarie pela do-se d'ahi a Angra dos Angolares e um ramal da
linha fluvial, até ao Inharrime, o que dá 64 kilome- cidade á alfandega. Encontra-se tarnbem em estudo
tros, de que já se acham consttr~idos30 kilometros. um ramal da Trindade a AIadalena, havendo quem
Outros estão em estudos, podendo porem afirmar-se julgue preferivel fazer-se diretamente uma linha da ci-
que a sua construção não se fará demorar. Taes são dade áquelle ponto.
o da hloamba, no kilometro 53 da linha de Ressano Os dados que deisâmos rapidamente indicados mos-
Garcia, até Xinavane e hfagude, sendo assim a sua tram bem qrie não nos temos recusado a sacsificios
extensão de 90 kilometros, e estando a sua realiçasão para dotar as nossas colonias com os caminhos de
a cargo da ~IncomatiStates Ltd.a, que está montando ferro indispensaveis ao progresso das suas forças eco-
uma fabrica de assucar em Xinsivarie; o de Magude nomicas e que continuâmos no proposito de auxiliar o
ao Bilene e de Bilene ao Chibuto, de comprimento d e desenvolvimento das mesmas colonias com a constru-
180 kilometros, com um ramal para a rica região de são das linhas que o estudo das coi~di$õesagi-icoias,
Guijá; o de N'hamacurra a Villa Durão com 80 kilo- industriaes e comerciaes das diversas regiães tenham
metros, o qual terá todo o caracter d'uma linha d e indicado ou indiquem de segura influencia e valor.
penetragão, confluindo em Villa Durão os ferteis e po- ,40 mesmo tempo que assim temos procurado dar
p ~ ~ l o s ovales
s de Logella e do Licungo na sua zona um tão vigoroso incremento á viação acelerada das
alta, achando-se N'hamacursa ligada a guelimane nossas possessÔes, como meio irnprescindivei de se
pelo canal de Mucello e pelo rio Inhamacurra e egual- conseguir o aproveitamento das suas riquezas, cão
mente pelo caminho de ferro de Maquival de 28 kilo- temos egualrnente descuidado as obras nos rortos
metros; o de Moçambique ao Lago Chirua; o de Que- mais importantes, colocando-os em situaçâo de bem
limane ao Chilomo, na confltiencia do Ruo e do Chire servirem o comercio de vastissimas regiões e de pode-
ligando depois com o distrito de Tete; o da Beira ao rem ser aproveitados para a movimento da importagão
Zarnbeze para se estabelecer uma ligago com o actual e exportação d'essas regiões. A valorisação do porto
caminho de ferro Shire Highlande, de Port HeralJ a de Lourenço >lasques e caminho de ferro -que d'ahi
Blarityre, que a companhia de hloçarnbique já resol- segue para o Transwaal representa cerca de dez mi-
veu construir sem demora e o da bahia de Pemba ao lhões de fibras esterlinas e a do porto e caminho de
lago Nyassa, o qual será realisado pela companhia do ferro da Beira poda cotnput~r-sea~ioximadaii3enteem
Nyassa, não devendo ser apenas uma linha de pene- seis mithões esterlinos.
Desejando, acima de tudo, trabalhar pelo desenvol- esterlinas, os interesses imediatos que da valorisa-
vimento Lias colonias, hai-emos chamado a colaborar qão dos seus portos e caminhos de ferro tem reti-
na nossa obra iniciativas e capitaes estrangeiros. Te- rado ainda não atingiram dez por cento do capital em-
mos d'isso dado p r ~ \ ~eloquentes
as e especialmente ao pregado n'essa valorisação. Portugal não tem pois es-
fazermos a concessão para as obras do porto do Lobito tado inactivo e legitimamente ocupa o seu logar entre
e construgão dã estensissima linha de penetra~ãoque as potencias coloniaes, No actual momento historicu,
parte d'esse pozto e de que já falamos em cima. procurando reconstituis sobre bases solidas o seu or-
Vivendo h a larguissirno periodo a metropole em ganismo politico e social, desenvolvendo toda a sua
condições financeiras bem pouco lisongeiras nunca re- acção economica pelo estudo e solução de todos os
gateamos, apezar d'isso, dispendios consideraveis para grandes problemas modernos, inoculando novas forgaç
curnpiir os deveres de nação metropolitana. Alêm de nos elementos v i t a e ~da nação, decididamente confiado
havermos ocorrido aos deiicits coloniaes, sem jamais nos seus destinos gloriosos-Portugal bem merece da
adotarmos o systema de crear rima divida para as sympathia e do apoio Ieal de todas as nações, se e
colonias, impondo a estas a responsabilidade no futuro que na hora presente, perante o conflito de ambições
dos respetivos eilcargos e de termos sempre satisfeito, que agitam a Europa, ainda é licito aos pequenos po-
pelos cofres do continente, as chamadas despezas de vos livres e independentes fazer apelo á velha e in-
soberania, outras verbas temos gasto para manter os. yuebrantavel lealdade que sempre regdou as relages
nossos incontestaveis direitos. Assim o distinto colo- d e amizade internarional..
nial o sr. Augusto Ribeiro afirma que as despezas d a
acção militar de Portugal nas suas colonias de Africa, Como meio dos mais poderosos de apressarmos o
incluindo as de caracter permanente, se elevam só por progresso das regiões coiifiadas á ilossa auctoridade
si a dezeçseis milhões de libras esterlinas. Por isso esse e dominio tem pi'ocuiado egualmente os $o\-ernos
escritor, no discurso que leu na sessão para a distri- cuidar dedicadamerite do problema da insti-ução. Já
buição de premios aos alumr-iosda EscoIa Colonial da dissémos como no seculo XVI, quando mal se es-
Sociedade de Geographia de I r de dezembro de t g r r, bogava ainda o movimento coloiiisador moderno,
disse, com justiça, estas eloquentes palavras : nos aventriravamos a estabelecer colegios no estremo
+A moderna obre colonial dos portuguezes não os oriente, inciusivé no Japão e como no seculo imediato
envergonna perante a prodigiosa actividade das outras iniciavamos a instsuçao dos indigenas mais selvagens
nações ricas e poderosas, pelo contrario honra-os, das nossas colonias africanas.
porque, no limite dos seus recursos, teem feito o =ais Modernamente não nos esquecemos dos deveres
que poderia ser feito e sempre com a mais absoluta que essa tradicção nos impunha. Com o advento do
Ieaidade e com o mais nobre desprendimento de inte- regimen constitucional, em I 834, ci'eámos numerosas
resses, como O demonstra bem a sua acção na costa escoias de instrução primaria nas possessões de alem
oriental, que produzindo já um movimento comercial mar, sendo o seu ensino completado por diversos
de um valor de cerca de quinze milhões de libras museus locaes, que ~~~~~~~~~amente se foram esta-
belecendo em hiíacau, Mo~ambique,Loanda e Cabo Em S. Thomé funcionam dez escolas primarias
Verde. masculinas, seis femininas e uma escola principal.
Dez annos depois organisavamos a inçttução obri- Em Angola, espalhadas pela enorme area d'essa
gatoria em S. Thomé e em 1869 decretavamos a or- proviilcin, ha cincoenta e duas escolas primarias mas-*
ganisagão geral do ensino das colonias. Posterior- cuiinas e dezesseis femeninas, uma escola priqcipal e
mente muitos outros diplomas teem sido promulgados um seminario lyceu, 01"ganisado como o de Cabo Ver-
no sentidó de se desenvolver a instrução das indige- de. Estão tambem ali estabelecidas em Landana, Luali,
nas, como o decreto de I 89 I , que creou as estagões Cabinda e Lricalla, as escolas das missões do Espirito
civiiisadoraç nos centros de populagão indigena mais Santo, subvencionadas pelo Estado e mais trez esco-
distantes da influencia eriropeia e um outro tambem las das irmas das missões. Atara estas ha as escolas
do mesmo anno que organisoi~expedições scientificas volantes das missões em hiassabi, Xlgouvo, Nuha, Ku-
para todas as colonias, alêm dos que formam parte cabu-tiambi, Barão de Puna, Povo-Grande, &!'pela,
da legislação de 1904 e de 1906,em que tão grande Kyinornbé e Kuidende.
impulso se deu ao ensino colonial, em todas as suas iu'o interior da provincia estão estabeIecidas s s mis-
modalidades e aspetos. Algumas d'essas p:ovidencias, sões escolas em Malange, Ginga e no Cuango. 80
forçoso é confessal-o, rláo chegaram a ser executadas distrito de Benguelfa existem sete missões escolas.
e muitas se resentiram dé falta de cuidado e de cons- -EmCaconda, onde está montada a-missão central, ha
tituirem partes dispersas d'um plano já de si fragmen- duas escolas para rapazes e raparigas. Em Mossarne-
tado e disperso, mas nem por isso se deve concluir des, alêm das escolas -da missão central da Huilla,
que tenhâmos cuidado com menos interesse e amor funcionam escolas missões em Jau, Chicongure, Kihita,
assunto de tanto alcance para o progresso das colo- Mulola dos Garnbos, Moninho e Cuanhama. Propria-
nias e que hajam sido para desprezar os resultados mente na cidade OS padres do Espiiito Santo teern
obtidos. duas escolas de rapazes e raparigas. Ha a mais ainda
Resumidamente daremos a nota das escolas e estabe- uma. missão escola em Kabal, a escola do Asylo D. Pe-
iecimentos de instrupio que existem nas colonias por- dro \-, em Loanda e no Congo Portuguez as escolas
tuguezas para justificarmos a verdade d'estas palavras. do patronato real de São Salvador, uma em hlade-
E m Cabo Verde ha 3s escolas de ensino primaria cii-be e outra em Santo Antonio do Zaire.
do sexo mascuIino e 12 do femenino, al& d'um se- No Estado da Zndia ha sessenta e duas escolas
minario lyceu em que se ministram conhecimentos da masculinas e oito femeninas, ensinando-se n'estas es-
lingua portugueza, latim, francez, filosofia, retorica, colas tambem o systema dos pezos e medidas india-
matematica elementar, theologia, cantico e ritual e nos, sete escolas do ensino complementar bastante de-
d'uma escola principai, desde 1868, tambem annexa senvolvido, cinco escolas de marata, quatro escolas
ao seminario lyceu. municipaeç, em que se aprendem as linguaç franceza,
Na Guiné existem oito escolas primarias pata rapa- -.ingleza e portugueza, uma escda comercial, uma es-
zes e cinco para raparigas. cola experimental agricola, e um parqire florestal e
jardim d'agsic~!ltura, uma escola de artes e oficios, um e uma annexa em Motundo, perto da Beira. N'esta
iyceu, a que está annexo uma escola normal, uma es- cidade ha ainda uma bibliotheca, de que é diretor o
cola principal, uma escola de medicina e um curso de pior da freguezia.
pharmacia, escolas particulares de hindus e mussul- Em Macau existem quatro escolas do sexo mas-
manos muito espalhadas e quatro escolas de lingua culino, quatro do sexo femenino e um lycsu nacional,
guzerrite em Darnão. a que esta annexo um instituto comercial.
Em Mogambique contam-se quarenta e oito escolas Em Timor, finalmente, contam-se seis escolas de
do sexo masculino, dezoito do femenino, uma escola erisino para rapazes, e trez pala raparigas.
de artes e oficios e uma escola principal. A s missões Afóra estes estabelecimentos de ensino crearam-se
catholicas de penetração civilisadora de Boroma, na em 1904,em Cabo Verde, Angola e Mogambiq~re,es-
Zambezia, sustentam um certo numero de escolas de colas essencialmente praticas de linguas portugueza,
instrugão primaria na Costa Oriental d'Africa. Na pro- franceza e ingleza, compreendendo ainda cursos de
vincia funcionam ainda escolas mixtas de missionarios contabilidade, operagões comerciaes e agricultura e
catholicos, sendo dezesseis no distrito da Zambezia, em Cabo Verde, São Thomé e -Angola, pelo decreto
quatro na região de Gaza e oito no distiito de Lou- de 18 de janeiro de r@, foram instituidas escolas
renço Marques, A . missão Romande possue quatro es- de artes e oficios para os filhos dos indigenas, ten-
tações de propaganda e ensino no distrito de Lou- do-se tambem organisado, em 1907, um jardim de
renço Marques: na capital, em Antioka, Teimbe e ensaio no Cazengo e no anno immediako oficinas n a
Ihatuane. A missão de Lourenço Marques tem sucur- fortaleza de São Sebastião de Loanda para os indige-
saes em Khacana, Hikalta, Maçambe, Nanhuane, Zi- nas aprenderem os oficios mais uteis. Em Lhanguéne,
laka e Riacheba, administrando cada uma d'estas onze perto de Louren~oMarques, a missão catholica creou
escolas. No coinando militar do Limpoyo e em Gaza tambem uma escola de ensaios de culturas agricolas.
estão funcionando missões de catachese e ensino. Ha Esta obra não tem sido abandonada de esforços
tambem missões de ensino protestante na provincia e realiçados para que no continente se procure dar n
uma missão religiosa e de propaganda civilisadora em instru~ãoespecial e apropriada aos que se destinam a
.hlacassene, com o nome de Santo Antonio. As com- exercer as suas profissões nas colonias. E assim suces-
panhias territoríaes de Moprnbique, Nyassa e Zam- sivamente se crearam o curso colonial da faculdade-
bezia teein escolas primarias semelhantes ás do Estado de direito da .Universidade de Coimbra e O curso d e
nas regiões que administram. A de Moçambique, por agronomia colonial no Instituto de Agronomia de Lis-
exemplo, estabeleceu quatro escolas pai-a o sexo mas- boa, e se fundaram o instituto de Medicina Tropical
crilino em Sofala, Sena, Chiloane e Macequece. Alêm e a Escola Colonial, onde jurisconsultos, agronomos,
d'isso na cidade da Beira ha mais duas escolas, uma rnedicos e funcionarios de todas as categorias podem
para rapazes e outra para raparigas. Em Sofala existe ilustrar o seu espirito com as noções necessarias para
tambem uma outra escola femenina. A missão reli- bem se desempenharem dos deveres dos seus respeti-
giosa de Chupanga tem uma escola n'esta localidade vos cargos nas possessões de alem mar.
ESFOBÇOS W RESULTADOS DA MODERNA ~ 0 ~ 0 r i . PORTUGC'EZA
O 367

Já tivemos ocasigo de dizer que um dos caracteris- tuguez. São trez datas que devemos registar com de$-
iicos da colonisação portugueza, dos que mais a honra vanecirnento porque marcam trez conquistas valiosis-
e enobrece, deriva da forma como temos sempre tra- simas a favor dos principios humanitarios.
tado o indigena, ~rocurandoafeiçoar-o a uma civili- Pode, depois d'isso, n'um ou n'outro ponto dos
sação sucesrivamente mais adeantada, sem violei.icias nossos vastos territorios ultramarinos, haver-se prati-
nem crueldades, incutindo-lhe o amor do trabalho e cado um ou outro excesso, urna ou outra viotencia.
tornando-o, com aprazimento proprio, elemento activo Mas essas inirações das leis, provocadas por cubigas
e util do progresso das regiões onde nasceu. Partida- ilegitimas ou arbitrariedades de funcionarios, figuram
rios convictos do regimen de assimilação, contando como escegões, náo desmentem o caracter das nossas
na nossa historia colonisadora um exemplo eloquente praticas colonisadoras, ou da nossa legisla~ãoe não
da praticabilidade d'esse regimen pela forma como encontraram jámais aplauso ou sequer aqiiiescencia
transformámos os archipelagos da Madeira e dos Aço- nos altos poderes do Estado, o qual se mostrou sem-
res em distritos administrativos em tudo identicos, pre severissimo na cocreção aos que hajam deiinquido,
pelas leis, lingua, costumes e organisagão politica e como sucedeu em 190.2, abrindo-se um inquerito ri-
civil, aos do continente, achando-nos prestes a alcan- goroso para se ajuizar de abusos praticados por auto-
$ar identico triurnpho na colonisação do archipelago ridades e negociantes do interior de Angola, inquerito
d e Cabo Verde, considerán~ossempre os naturaes das do que resultou terem sido os delinquentes presos,
nossas possessões como legitimas cidadãos da nação processados e condemnados pelos tribunaes portugíie-
portugueza, concedendo-lfzesgarantias e direitos eguaes zes a penas, algumas das quaes atingiram o inaximo
aos da metropole. A transformaç80 material das nos- do estabelecido no nosso Codigo Penal, isto é a de-
sas colonias, o desenvolvimento da sua riqueza agri- gredo por 28 annos para a Costa Oriental, com pri-
cola, a execução das grandes obras de fomento obtive- são temporaria no Logar onde a penalidade seria
mol-as em toda a parte com o auxilio do b r a ~ oindi- cumprida. D'acordo com estes principios tambem ha
gena. Devido a uma politica de persuasão e amparo muita estão completamente abolidos, de direito e de
fizemos d'este, soldado, trabalhador agricola, operario facto, nas colonias, "os castigos corporaes e não ha
de constru~ãode caminhos de ferro, ou carregador de ninguem que ouse violar as respetivas leis, porque se
mercadorias, convencendo-o das vantagens que elle tal acontecesse nada impediria os indigenas de se irem
alcançaria pelo exercicio d'esses misteres e libertando-o queixar ás respetivas autoridades e estas não deixa-
desde velhos tempos das iequidádes da escravatura, riam de cumprir firmemente a lei, castigando os con-
do trabalho forgado e da servídão. Pelo decreto de 10 traventores.
de dezembro de 1836 condegamos de vez o trafico da N'uma orientago bem diversa se tem manifestado
esc:ravatufa. O decreto de 3 de no-vembrq de 1856 poz eçpiritos dos mais cultos como os de Catier, Ireland
termo definitivo ao trabalho forçadq e finalmente o e Mgr. Angpnard, bispo do'AIto ,Congo Francez, O
decreto de 25 de dezembro de ~ 8 6 9fez desaparecer primeiro defendendo a formula do .trabalho livre,. mas
para sempre a existencia de esc-yos no territorio por- constrrntgi&, o segundo a do tra~al,íib.compulsi~~ e
ESFOIIÇOS F: R 3 3 S r L ~ A . 3 0 8 DA MODERNA Ç O L O S . ~ POHTCGÇEZA 369
o terceiro a do trabaiho obr&atorio, entendendo ainda são modelos de equidade e bumanitarismo, não obs-
Irêland que era absolutamente nstural e ligitimo que tante os ataques injustos e perfidos que nos tem sido
para as coionias dos paizes tropjcaes de população in- dirigidos com esse pretexto.
suficiente se pyocurasse a mão d'obra indigena ne- Temos sucessii-amente estirdadú e posto em vigor
cessaria á valorisagão e cultura dos seus teri-itorios diplomas em que se estabeleceram os principios d a
n'aqiiel!as que, pelas condiqões do seu clima e densi- mais desvelada proteção em relação ao recrutamento
dade da sua populaso, a podessern fornecer com a s e noi-mas seguidas drisante a existencia do contrato
aptidões convenientes. para os serviçaes em S. Thomé e Principe. O decreto
Devido aos processos empregados, pode-se afouta- de' 3 1 de dezembro de 1908,em que se fixa o trata-
mente afirmar que o indigena dos dominios portugue- mento dos serviçaes, o reguIameiito gela1 de emigra-
zes é dos mais afeiçoados e já habituados ao traba- ção de trabalhadores.para aquella proviricia e o regu-
lho. Tanto é assim, que, alèm da obra maravilhosa lamento de 27 de maio de 19x1 sobre o trabalho d o
operada em S. Thomé e Principe, do incremento dado indigena, especifickildo os deveres impostos aos pro-
aos territorios das companhias que exercem a sua pietatios, falam, em cada um dos seus artigos, com
acção em Mo~ambique,do impulso recebido pela agri- bzstante etoquencia a favor do nosso intento de cer-
cii1tura da India e de Timor, das explora~õesagricolas car o negro das maximas garantias e concessões, para
sempre crescentes dos distritos de Loanda, Benguella se ver bem a injustiça com que nos'tem procurado
e 3lossamedes na costa ocidental dz Africa e do dis- ferir, acrisando-nss de conservarmos n'aquella c&nia
trito de Inhambane e prazos d a Zambezia na costa ainda uns restos de escravatura. Contra taes acusa-
oriental, tudo efectuado, nos servigos que exigem ções tem-se levantado protestos insuspeitos de colo-
maior esforço phisico, pelos naturaes das nossas co- niaes como o Dr. Augusto Chevalier, Dr. Charles Gra-
lonias, estas dã.0 ainda um contingente numerosissimo vier, Mauricio Montet, Spengler e Strunck, o principe
para as explorações mineiras do Kand, onde perto de Alfredo de Loewenstein-Werthein, Frendenberg e O
cem mif dos naturaes da provincia de Moçambique coronel Wyllie. Os depoimentos expontaneos d'esses
constituem hoje o elemento mais poderoso e efectivo homens da maior autoridade, que tem vindo, n'um
do trabalho. impulso de consciencia, contar o que viram e os factos
O coIono portuguez tem auxiliado com sinceridade que presenciaram, indernnisam-nos largamente dos
os psopositos dos governos e compreendido inteligen- desleaes ataques que nos tem sido dirigidos.
temente que o melhor meio de utilisar e tornar pro- O que elles narraram foi que os servi~aes de
ductivo o esforço do negro, é convencendo-o por S. Thomé e Principe reaIisam os seus contractos com
uma remunera~ãojusta e um tratamento quanto pos- inteira liberdade; tem direito pleno a repatriarem-se
siveI generoso e hurnanitario, da utilidade que elle quando termina o prazo a que se obrigaram, tendo-se
obtêm jibertando-se da vida da ociosidade, até ultimamente estabelecido o principio d a r e p a ~ a -
Os regulamentos de trabalho de S. Thomé e Prin- ção obrigatoria; recebem salarios remuneradores de
cipe, os processos ali empregados com os serviçaes, que uma parte irnpertante fica depositada com abão-
luta garantia para constituir um fundo de repatriaçso, as que se empregam n'aquella nossa colonia. 0 s pro-
que lhe é entregue na totalidade, quando regressam ti prierarioç s o levados pelo estimulo de 1-180se deixa-
terra d'onde .+hirzm; tem bons alojamentos, um tra- rem %-mcern'esta cruzada do bem e por isso cente-
balho moderado e cercado sempre das maximas pre- nas de visitantes das roças têem manifestado entu-
cauções hygienicas e uma alimentação sã e abundan- siasticamente a SUA surprem pelo espectaculo que
te ; quando doentes é-lhes assegurada uma assistencia presenceiam e declarado, com verdade, que bem dese-
medica cuidadosa e isenção absoluta de trabalho, sendo jaria, por exemplo, o trabalhador rural do continente
então recolhidos em enfermarias ou hospitaes monta- poder obter;noS seus contractos de trabalho, as ga-
dos com todo o esmero; e para os seus filhos, quando rantias de remuneração, conforto e cuidados, que alli
pequeninos, podem utiiisar creches, vendo-os, á me- são, sem exce$ão, concedidas a todos os que empre-
dida que elies vão crescendo, iniciarem-se no traba- gam a sua energia na valorisação dos terrenos, tão
lho, mar sempre em harmonia com as siias forps e ricamente dotados pela naturesa.
desenvolvimento e constatando tambem que suas mu-
lheres, no periodo de gravidez, são cercadas da maior Sob um outro ponto de vista ternos demonstrado
solicitude e cuidado. ainda que sabemos seguir a evolugáo das ideias colo-
Em face de Bes medidas, que não figuram apenas nisadoras e que nenhuns preconceitos ou amor a de-
nss paginas do Diapio do Governo, ou dos Boletim terminados systemas nos inhibem de dotar as coIonias
O$ciaes dns Provkncias, mas são executadas religio- com a organisação administrativa e politica harmonica
samente na pratica, não ha direito a lançar a mais ao seu estado social e ás suas manifestações. de pro-
leve acusação aos processos por nós adotados para gresso. Nos primeiros periodos do nosso dominio se-
obter mão de obra para as fazendas agncolas de guimos, como era natural, os principios por assim di-
S. Thomé e Principe e ao modo como ali tratamos os zer absolutos do regimen da sugeiçilo, temperando-os
serviçaes. Bem pelo contrario. E m nenhum dos pontos porêm na India, pelo respeito aos costumes, habitos,&
para onde vão indigenas d'outras regiões para traba- religião e ate organisação politica dos naturaes e fir-
lhar, como na Trindade, que os recebe da India In- mando assim um exemplo que depois a França e a
glezli, em Surinam e na Guyana Hollandeza, .que se Inglaterra seguiram com O maior exito. Esse regirnen
desenvolvem contratando indios e javanezes e no da sugeigão estabeIeciamo1-o como etape preparatoria
Rand, onde se tem experimentado utilisar-se o traba- do systema de assimilação, para que sempre tenderam
lho de operarios de todos os pontos e onde actual- os nossos esforços e opiniões. Mas mesmo no tempo
mente se entregam aos esforgos mais rudes dezenas em que mais imperava a sugeição, já obedeciamos á
e dezenas de milhares de filhos da nossa colonia da orientação de permitir aos elementos locaes das CO!O-
Africa Oriental, as regras de conduta para com os in- nias o direito de zelarem os interesses que diretamente
d i g k n ~ ,a regulamentação do trabalho em uso e a s thes diziam respeito e de serem ouvidos na adoção
msdjdas da.protqão e de assiçtencia que se ihes dis- das providencias que mais podiam influir na vida e
p~riSarfi tem um eçpitito de tantb htlmanltauísrno como futuro d'essas colonias. A carta regia de g de abril $e
ESFORÇOI E RESULTADOS DA YODEXSA COLOX.~ POBTCGUEEA 373

~ 7 7 8 ,creava um conselho legislativo na India aucto- das provincias, análogas ás Juntas geraes dos distritos
r i s d o a alterar a iegisia$ão então vigente e a propòr da metropole, formadas por delegados das diversas cir-
a o governo da metropole o que lhe parecesse conve- cunscrições territoriaes da respetiva provincia e crijas
niente a bem d'aquelles p ~ v o s .E m seguida ao Avo- funções colidiam a meudo com as do conselho de go-
reter do regimen constitucional, em 1836, o decreto verno. 50 respectivo decreto, firmado pelo nome do
de 7 de dezembro d'esse 2nno geceralisou a consti- Marquez de S6 da Bandeira, especificavam-se para
tuição dos conselhos iegislativos ou conselhos de go- cada Junta os a~siiotosa que ella devia dedicar inais
verno para todas as colonias, os quaes os goveinado- especialmente CY seu estudo e zelo, mostrando bem
res teriam sempie de ouvir antes de tomarem quat- esse documento quanto o insigne colonial seguia as
quer deliberagão em assunto de irnportai?ciz, exercendo ideias que mais p d e m facilitar O progresso e o desen-
esses c o n ç e l h ~não
~ só fii~sõespoiiticr.~,mas tambem voivimento das colonias.
outras de caracter adrninist~tii-o. hlas a reforma magna da administrasão das colonias
Xlêm de fazerem d'clles p3:te oç chefes de serviço, foi .a realisada pelo famoso decreto de I de dezembro
eram 0s niesmos coi-istituidos pcr dois vognes escoihi- de I 869, que tanto concorreu para a gloria de esta-
dos pelo governador entre os quatro mernhios mais dista de Rebeilo da Silva. Muitos dos nossos colo-
votados dãs juntas provinriaes. Este decreto era mol- nlaes de maior auctoridade consideram esse diploma
dado n'um acentuado espiiito de iiercecrra!isrição e como a carta organica do imperio ultramarino portu-
apresenta\-a doutrina que, n'essa epoca, as maiores guez. No luminoso relatorio que precedeu o referido
nações coloniaes ainda não ousav::n segr,lr. Quzndo decreto, o brilhantissimo escritor, faliando das nossas
em 1838 se discutiram as atribuisõiç dos go\et.n~do- colonias que então manifestavam maior progresso in-
Tes geraes, estas foram ainda mais alargadas para telectual e economico, exprimia-se d'este modo:
melhor se facilitar o desenvoivimento das possessões provincias assim constituidas a influencia do
ultramarinas. A constituição d'esse anno, na parte re- podei celtral ainda aproveita muito, mas regulada d%
ferente ás colonias, acatava tambem as normas mais modo que a acgão individual e coietiva não seja com-
liberaes e livres para a existencia d'esses organismos piin-iida, ou anulada, e que possa ser empregada com
ainda de moldes tão delicados. vantagem, concorrendo com a inteligemcia e com as
Pouco depois promulgava-se'no continente o Codigo forgas para a creasâo e diregão dos aperfeiçoamentos
administrativo de 1842. E m 1845 era este mandado mais necessários, como são as obras publicas, a instru-
aplicar as colonias, permitindo-se que se lhe introdu- ção, a educagão, a beri,~ficenciae, a saude $ublíca. E'
zissem as alterações que os governadores, com os vo- essencial para os Drogi essas. coloniâes a intervenço
tos dos conselhos de governo, julgassem. conveniente dos interessados tia proposta e deliberação dos meios
fazer-lhe. O referido diploma era menos descentrali- mais oportlinos de melhorar o estado sanitario, de
sador do que a iegisiagão anterior. Os seus defeitos aumentai- o numero de escolas 6 de cortar de vias de
foram bem depressa reconhecidos e em grande parte, comunicação largos tratos de territorio até hoje im- .
annulados pela creação, em 1858,das Juntas geraes penetraveis. Essa intervenção fecunda, que as irá Gos-
nos mesmos casos e em Lloçambique, os usos e cos- Llas, ayezar d'esse retrocesso da nossa legislação,
tumes dos bãneanes. bathiás, parses, mouros, gentios os coloniaes mais eminentes persistiram sempre em
e indigenas, ainda da mesma forma, nas questões en- advogar a s ideias que o progresso das colonias mais
tre elles. adeantadhs recomendavam como a s melhores. Assim,
Xão só nas aplicações do codigo civil, mas tambem Julio de Vilhena codificava etn-18s1 O codigo admi-
em materia pena1 mais de uma vez se tem mandado nistrativo para as provincias ultramarinas de 3 de no-
observar os ~1so.se costumes dos indigenas, como su- vembro d'esse anno, destinado a acabar, FOI- uma vez,
cedeu com o decreto da 2 1 de maio de 1Sg2 que or- com o codigo já Condeinnado de ~ 8 4 2 ,asseiitando-se
ganisou a Guiné e com o de r6 de julho de 1902que, n'aquelle diploma que cada provincia constituiria unia
em- relagão a Angola, determinou que nos crimes de entidade especial com mais ou menos faculdades con-
danino, que não envolvessem qriestões politicas e es- forme as suas coi~diçõespeculiares. A' medida que a
tivessem na ~ l ç a d ado juiz instrutor, sendo os ofen- civilisação e o adeantamento de cada colonia impu-
didos e 9s reus indigenas, estes fossem juigados con- zesse novas necessidades de ordem administrativa
Iornie os seus usoç e costumes pelo referido juiz ins- ir-se-ia aplicando o novo codigo em cada um dos seus
trutor, assistido pelo chefe indigena da terra, e dois capitulas, não declaredos desde logo em vigor. Esse
dos seus sobas ou macotas. diploma não chegou a executar-se,.porque os gover-
Depois d a lei de r 869 tnuitos outros diplomas teem nos que se seguiram ao do seu autor, nunca se utili-
sido promulgados alterando a organisação adminis- saram da respetiva auctoiisagão parlamentar.
trativa das diversas provincias e distritos e entre eHes O mesmo homem de Estado, dez annos mais tarde,
o. decreto de 31 de maiu de 1887 que organisou o sendo novamente ministro da marinha e do ultramar,
distrito do Congo, o de 16 de setembro de 1887 que publicou o decreto de 30 de setembro de r891 em
organisou a administragão do distrito de Lourenqo que a provincia de Noçambique passava a denominar-
llarques, o de rg de dezembro do mesmo anno sobre s e Estado d a Africa Oriental, dividido em duas pro-
a 0rgacisal;Ro administrativa d a provincia de S. Thomé vincias: a de Mopmbique e a de Lourengo h4arques.
e Principe, o de 21 de maio de 1892, que estabeleceu O funcioilario superior seria um comiçsario regio no-
a organisa~ãodo distrito autonomo da Guiné, o de 24 meado por trez annos, havendo um governador pará
de dezembro tambem de 1892 referente a organisagão cada provincia. O comissario regio ficava com atribui-
administrativa da provincia de Cabo Verde, o de 13 ~ õ e smuito mais largas do que o governador geral
de julho de 1895 que formou o distrito da Luiida, o d'esse tempo e os governadores das provincias tam-
de 11 de dezembro de 1896 que creou o de Moçam- bem com yodeces mais amplos do que os govei-nado-
bique de modo análogo a o de L o u r e n ~ oMarques e ou- res dos distritos. Antonio Ennes, pelo seu lado, ao
tros mais recentes como os relativos aos distritos dk apresentar o seu natabilissimo relatoria sobre a pro:
Gaza e a Timor, devendo confessar-se que muitos d'es- vincia de XIoçambique, em 8 de setembro de 1893,
ses decretos foram inspirados n'um espirito maisrepres- propunha a creação do Conselho de Governo e dos
sim e ceiitralisador do qrie o da lei de Rebello da Silva. Conselhos administrativos dos distritos e condensava
scrfhcr* nE -.~~!.osisiiç%o
3SO
nas l.egiÕe~qlle constit~emO dorninio ulti'a- cionaiiçadas, exportadas *pelos distsitas d a mesma
rnarino portiiJu&s. AsGim, a respeito de produções, provincia, atingiu no reterido anno R i ~ n p o r t a ~de ~i:~
bastará lembrar que O "SSUCar, que ainda ha poucos 1:34S - contos. Mas onde n'aq::ei!z raIr::ia ~ s i sse
annoç só em benl pequenas quantidades se fabricava acentuou O desenvoi~ij?e!-:orzonon:icn I:;," . :?nç regiões
ãdministradas pelas c!;inl;:n:;::iiis. .. . - ! i . 5 : : ~ . a : i ~c u e se
em .qngola e ~ o ç a m b i q u e a, ponto de em 1894, por
exemplo, apenas termos importado na rnetropole s c k enconti-sm 50.h 'a 2 ~ ç f i : j L:* ;~!z,.--:-,,~-..-.. : - 3- ~;<,VOZ--
..L
, ;>,
+,<t... L&*,
dí]ç p : - i j i ? , ~ :;i3 :I?/!.! ::>:cz~a em
L .

kiloç da primeira d'aquellas coionias e j67:ooo kiios ~ $ : r . . ...:, ,:..;.-, <,>;-


..-->

da segunda, dez snnos mais tarde, em 1904,jP era 1907 a 363 c!?!:ti, i.:i:ai c.-qt, c:l: 19. : ;i SC con-
importado para O "OSSO mercado na quantidnde de tos e a ;:&; i';.c;'-ii ;-,:.- , ...,:L , ...;S 2 % '
,,c.,:L-%
i' ,~:~?<~~;~l~
ijo:aoo kilos de Angola e na de mais de cinco mi- breve ~ eS2.i : ;i2 z q p- 8-9 c;. ::;~;c.. .
L;23 :cvc? a '

adrnii?ist:.a;F,o 2a E ? c m ~ il:.r:::~-::;-;:i:L . . 2 ::$+:c.:; com


lhões d e kilos de hfoçambique, continuando d'então
para cá, n'esta colonia, a crescer inin-
t e t m p t a m e m a producão e O fabrico d'este genero,
tendo a s suas fabricas hoje capacidade de fabricação
deçvai..e~i--i~i;b.~ 2 2 :)~ ..L..
\:ido n-inis rayi:;:n!s!;:?
c.-;.

,:
phes, ci1:i.c :i: q::::c~ r,<i?.;;::'?:;!::;i,
L.c..l..,:,
? ,,- '
52 ;.i?! ~i2çe!::~ol-
<.::e ;i ...:n .z : .:-:issij;:itro-
'

:L, c - ; ; . ~c;Ggt.esço
para mais de trinta e seis milhões de Miogrnmmas a jf>,?!;ii:;.;a ;1>;..5~. ::<L;l: .: ....<: c > 5 ;.:-:-..::;i-". ,. .
,-

,,
annuaes. -\ esi).~.-,: $-?
,,, y~.:, ::;,.i2; ..
c .?. . .-
:!,x ~ v...:, e, uo::retudo
.
Em relação ao cacau, O pi.ogress0 não tem sido ímpcjr:;ii?te e;n >:?y~.,:cl;i:. ~c.cS,!:- r,,;... !c;t:!] dos
menos intensivo é constante. Foi em 187s e 1876 que ~ro&:c,<j-;ess,i:n.,'.,n-. f:;i 4:22,7 . . .\.:. - . l : : i i ~ i . ; d ~a
a bo;.i.zcha
chegaram a S. Thomé 0s primeiros trabalhadores de
Camarão e Acrá. Era então desconhecida n'estas co-
qiiè s e fez ~.?l:j
f i g u : ' ~ CO!n
~
dj~1i.j:: 6:)C;:i;-.lr.j. J;:L.:;~
0 ~ n l o icie z . ; i g
-
c;.::b,-, i : m3.i~~
íonias a cultura do cacari e em S. Shorné a p r o d u ~ ã o 60 0h. A l i m d ' c s . ~grfizy:, :; es:--.-.tr.i.:. :;vL;\~;$ em r-.-,L:"

d1éSte fmto não excedia u m milhão de kiiogrammas. c&a, caZ, p e i x ~&c.>, c:?c:ji:.;:e7 r.;ir:i:c de paina,
pois passados 40 arlnOS essa produção aiimèntara a 2SSUCar, C3il:.OS SeCOS e gzzc \;;;c:jm. ';'-&a c c l o ~ i a
tal ponto que em calculava-se ellz em 24:193 o acrescimo da p:-oZu$ãa í:ão se tem mn!:ic;:ncio c,om
t«ii-ladas, em I@ em 2S:j00 emem rgug em j0:261. tanta intensidade, devido á crise que a tem ntormen-
hlaz, afora estes dois generos, que sâo hoje os tado e ao regimen Bscal a que h a vii;ee aiinos está
pnncipaes da nossa eXportagã0 ultramarina, outms ha sujeita, mas ainda assim a provinciz tem resistido a
corno a borracha, O café, O milho, a cera, os côcos, o essas influencias e tudo indica que a resoiução d a
amendoim, o feijão cafieal, O md&rfime a farinha de .questão do alcool, o 3umento sempre crescente da
milho, cuja p r o d ~ ~e ~esportagão
ã~ tem aumentado sua rêde ferro-víaria e de ,todas a s outras vias de
sem cessar. Para o comprovar basta dizer que a ex- comunicação e os trabalhos que se estão realisando
poriqão, feita pelas alfandegas do circulo aduaneiro para atraírem fortes correntes de emigração para o s
da provincia de Moçambique, subiu em i p 8 a 1:269 seus feracissimos e salubres plapattos, concorrerão
contos, tendo p s i juplicado da que fora nove annos para a fazer entrar n'um periodo de franco progredi-
antès e que o ?:alar das mercadorias nacionaes 2 na- mento economico,
ESPOB~DBE BBSULTADOS D A MODERNA COLON,~POBTUGWZA 383

de. Assim as exportações e importa$Ões reunidas f6-


Se generalisarmos estas observa~õespara todas as rarn ali em 1 8 p no valor de 13:30o contos, em rgor
.colonias da Africa Ocidental portugueza veremos que no de 20:1o0 contos e em 1909 no de 27:1oo contos.
-a exportação, que em 1890, abrangendo todos os
Um outro factor a que se déve atender para se at-a-
.produtos, dera 6:300 contos, em 1900 já produzia liar a evolução da riqrieza que se tem dado nas pos-
I I : ; ~contos e em 1909concorria para a economia
sessões portuguezas é o da marcha das suas receitas
d o paiz com r j:800 contos. O aumento produzira-se e despezas.
principalmente no cacau, que passou, nlaqueUe I q s o XO quinquenio de 1880-1881 a 1884-1885 a s recei-
d e tempo, de 350 contos a 8:7oo e na borracha que tas de todas as nossas colonias africanas eram avalia-
-subiu de 1:700 contos a 4:Sw. das em I :j80 contos e as despezas em I :goo ; no de
As divisas do movimento comercial confirmam as 1885-1886 a 1889-IW as primeiras em 1:?20 contos
-1isongei1as conclusões a que temos chegado. Basta e as segundas em 2:500 contos; no de 1890-1891 a
dizer-se que pelo porto de Lourenço Marques, em 1894-1895, respetivamente, em 2:Sm contos e 3:300
1895, o valor das mercadorias exportadas e reewor- contos; no de 1895-1896 a 1899-1900, em 5:350 e
.tadas foi de g66 contos e em 1906,apesar de ser dos 5:joo; no de 1900-1gor a 1904-1905, em 5:6m e
annos em que a Afríca do Sul, nos ultirnos tempos, 7:000, e no de 190j-Ig06 à 1909-E~IO,em 9:- e
sofreu uma crise mais dura, esse valor mais do que g:óoo. Em 30 annos, pois, as receitas quasi sextupli-
quintuplicou, tendo subido a 5:274 contos de réis. caram e as despezas aproximaram-se do quintupIo,
Na provincia de Mogambique todo o movimento
consagrando-se uma boa parte d'ellas á realisação de
comercial, compreendendo importação para consumo, importantes obras de fomento.
exportação, reexportaqão, baldeação e transito comer- Muitos outros indicadores poderiamos ainda citar,
cial, que fóra, em 1892, apenas de 2:4m contos, e todos tendentes a mostrar como teem sido notaveI o
dez annos depois, em i 902, chegára a 23:4m contos, progresso economico dos dominios que possuimos
atingiu, em 1909,a enorme somma de 70:400 contos,
alêm-mar, como por exemplo o das notas em cii-cula-
n a qual o transito internacional figurava com valor
$0, que foi, em 191-1902, na media de 2:220 con-
importante, fazendo-se este exclusivamente pelos por- tos e em rgog-1910 chegou a 3:800 contos; o dos
tos de Lourenqo Marques e do Chinde. emprestimos hypotecarios que em 1902-1903 se lize-
Nos territorios da Companhia de Moçambique tam- rarn no valor de x:160 contos e em 1909-1910 no de
.bem esse acrescimo se tem acentuado com a maior 2:r80 contos e o de movimento de carteira, que atin-
intensidade. Em 19x0 clle fora, incluindo tambem a giu no anno civil de 1900 a importancia de 2:41o con-
baldeação e cabotagem, na importancia de I 5:g24 con-
tos e no de 1910a de /:SI? contos.
tos e em 1gr I já chegava a 2o:I 54 contos, tendo sido O movimento dos correios Ieva-nos ás mesmas con-
a baldeação e cabotagem n'esçe anno de 5:864 contos. clusões. Em 1900 a rêde telegraphica das colonias
Nas colonias que constituem os nossos dominios
africanas abrangia 9400 kilometros. Em 1908 eIla
-na Africa Ocidental, o movimento comerci~ltem-se já occupava uma extensão de Ir:Soo kilometros.
egualmente desenvoli~ido,embora com mais morosida: . -
N'zqiie!lv ar?no o numero de estaqões postaes e tele- nial é, ao mesmo tempo, r n ~ i t osirnpIes e muito com-
graphicas era de 160.No ultinio que citámos subia ri plexa. Para assegurarmos esse dominio carecemos de
356. Ai:-ida em 7:goo o moi:i:nerito de objetos que demonstrar ao mundo inteiro que são ainda bem
paçç:ira!g p k s c.s:cçZes f ' i i de treç rni!hÔes e seiscen- valiosos os direitos historicos que possuimos, derii-a-
tos inii c ;.ri; . 192s ;e dez miiiiões e quinheiitos mil. dos do facto de os havermos descoberto e iniciado
H'esee p:i.:vci, c> ;~cci-ii.:ei~tode ;-aieç passou de'qua- n'elles, primeiro do que ninmem, a sua o c u p a ~ ã o ,a
trocrn:.;j c:>;::,>.- F:>-Y~ :;~~;ece!?tcse finalmerite o ren- sua civilisaçãu e a sua exploração economica. l í a s
dimeeto 40s correios variuu de 9 2 CO:I~OS para r 1 5, isto seria insuficiente nos tempos que T--/ao correildo. E'
náo *,e250 i - a l . i d ~maior acreseimo pela gi:inde redu- mister ainda provarmos que temos pelo nosso lado um
ção qc: +z i:?*'; tPe;aS pestaes, ap!ica;?do na coires- direito mais moderno, constituido pela obra de coioni-
pon;s:?=i:i. r:-~:.i'a,he?!:.: 2s calonjaç e a met:-opole a5 sagão reaiisada nas ultimas decadas, em que temos
mesmas esses qce 52 n:.lictim :i,> rui?:inente. demonstrado que o pequeno povo que creou a mara-
C;.e!r.cs i,cn:ij:i::..:i.j>. cv:: fz.::oç inziecutlveis e
. . . . .. , vilhosa nação brazileira não exçotoLi a h i as siras for-
nurr,e:-os &'c:iic.. ::?:-i:~:-.c:a ~,
:?ki..i~i:. 2 ! , ;t i:ei.Jade do que ças e energias e antes estas lhe sobraram para pre-
d i s s g x ~ çc;:-:;;:.,:oL::: ; ? , Z X ~ O Cqee a ~i's!-zde coionisasáo parar a' formagão de novos e estensissimos fócos de
pa:.ti.ig:r:i,n, ~ . . , : ; : : : : 3 .:c:s
, . >s 7s~:i!,i-.3s 'Lernps, se tem civilisação nas regiões de Africa que mais se prestam
&tr7rl;,i ;;-.' ,,s k : ~ ~ 2. .i> ; + 2 L rc e ~ y ~ ~~, ~ n d ~ a- uma grande a c ~ ã od o progresso e nos pontos mais
,,cj:; -:.:. ..-.:.: :.- '; :s L .;.- ;.c;::.J e pi?2eL:cioter afastados d o globo a t é aos confins do Oriente. E,
.. .<. > > ,.,:-.. -
.,*

C . i i :I ;: .s: ,. . r i . r ..)
. .
e~io:?içadores, na finalmente, precisâmos mostrar com factos que estâ-
:. , ::A;> :r::? ~::::z,i.i,ù :;as sacrificios
c,-.
ep . - .~ .- ..'
. . c % .,<. . ;.,
' '
mos dispostos a proseguir no caminho encetado, não
~ ~ i ) ~ : ! g ~ :!a; L~ ~; :>~s; , ~ ~ GS f.;..;cz:i , ) 2:)s d~Illil3i9~ 111- recuando ante quaesquer sacrificios ou responsabili-
tl*am:i:-i.-.~ se ::t:::..:ei.m~s :ivs :c:.ris-s
,G, Ce que elles dades, acompanhando os exemplos das metropoles
teenl . .:',.;3i- e :i:) li!r::?._':i~ d 8 :;QSSÜS
~ forças. que melhor sabem trabalhar n a valorisação das suas
Se descec-:eíl;:\s Lienn ci;c;p?rt~?.o c:::?creta entre as colonias e tendo fé de que não nos será imposçivel
colofii::5 qcir ~occ;ui!l;ose aqi:cil~...-c::m que essas co- invalidar por completo oç ataques tendenciosos que
lonins, peia psteni7.o 62 seu re:rii~rid, cc::ai$ões geo- nos tem sido dirigidos, levando a efeito nas nossas
graphicíis e climatericas e valor das saas riquezas possessões de aIêm-mar uma obra que não receie ser
nnturaeç, podem ser ligitimamente equiparadas, não confrontada com a efectuada pelos povos mais adean-
nos seria dificil provar que uma tal comparação em tados e em tudo digna d a nação que, apesar da exi-
coisa alguma nos é desfavoravel, ou envergonha a guidade dos seus recursos, foi a iniciadora audaz e
nossa acção de naSão civiiisadora. O que acabâmos gloriosa de todas as emprezas da colonisação moderna.
de expôr demonstra-o d'um modo irrefutavel. Como transformar em factos estas patrioticas reso-
luqões? A resposta a esta interrogaçáo resume todo
A indicasão dos meios que precis$mos empregar o nosso problema colonial, e urge encaral-o defrente e
para a garantiae conservação do nosso dominio colo- resolvel-o, porque só quando a s nossas colonias, pelo
25
aventursro, a que deveu militas das glorias e suces-
clima, a maior ou menor facilidade de se conceguir a ea- sos do passado.
lorisaçáo dos seus recursos e as vantagens que elles pó- Convix resolver paralelamente muitos dos proble-
dem oferecer ao emprego das mais variadas actividades. mas nais pódem concot-ser para a prosperidade
Desde que se venha a formar uma sólida confcien- das col~nias. Entre estes sobreleva, pela sua impor-
cia nacional, conhecedora e convicta da influencia tancia, 5 que diz respeito ao recrutamento dos fun-
decisiva que terá, nos destinos da nossa nacionalidade, cionali@ mcarregados de representar e manter nas
a conservação e O progresço, sob a soberania portu- colonias a auctoridacle da metropole e de efectivar
guesa, dos teriitorios que formam o nosso império em t o d ~ u scampos a sua acgão. Muitos dos erros e
ultramarino, todos os esfor~ospara uma rapida e in- desastre. j ~ lnossa obra colonial teem resultado do
tensa obra de colonisaqão seiao bem aceites e ne- - facto df k2verrnos enviado para os dominios ultrama-
rihuns sacrificios que tivermos de realisar se nos rinos, acxercer funcções d?. maior responsabilidade e
afigurarão superiores ás forçz de que dispomos. Dis- das mais ieiindrosas, individuos sem a menor prepa-
ciplinar-se-ha e congregar-se-ha uma energia coletiva ração, korantes por completo da bistona, situação
até agom desperdiçada, realiçar-se-ha a patriotica econom'g e riquezas da cotonia em qire vão servir,
união de todas as boas vontades e os resultados d'essa dos cos:~ies e legislaqão consuetudinariá dos respe-
acção comum serão tão rapidos e eloquentes que pe- tivos in:;$nas, das normas e principias da sciencia
,ante elles .terão de se considerar vencidos todos os de colo-&ção e ainda das linguas dos naturaes, im-
planos de erpoliqão, porque, para estes se poderem possibil&os por isso de se entenderem corr, elles e
efetuar, deixará ate de haver a mascara e o pretexto de des??irerr, o caminho porque devem seguir para
&um iotuito civilisador. A questão colonial devera o mais ~ h ez util deseinrenho da sua missão.
considerar-se então como inteiramente resolvida. 4 Só a xmanencia nos Icgares parwque foram no-
acgo dos govêrnos poderá exercer-se com a maior meadosh pode dar a1g::ns conhecimentos praticas,
largueza e magnitude, certa de que qualquer medida, mas eik~uitasvezes é bcrn limitada e precária e as
por mais rasgada que seja, encontrará a fortalecela respe~~~snbstituiçòes vem inutilisar os conhecimen-
uma intensa corrente de sirnpathias, formada não só tos tãc ~~tosameiite adquiridos. A instituição da
pelo apoio das .classes mais prestimosas, como pelo Escola >onial veio facilitar a resoluqão d'este pro-
auxilio cie todos os individuos, ainda os mais modes- bienza, ~jiução que só se tornará completa estabe-
tos e humildes. Iecend- um ensino mais elementar nas proprias
Conseguido esse trabalho basilar poder-se-háo fa- cd@nia:% que se possam preparar o5 iiidig,.@nasque
cilmiente expandir as mais uteis iniciativas. se d e s h aos cargos mais modestos da adminiçtra-
O capital e o trabalho não deixarão de afluir as Ção, e %ando a s questões coloniaes das influencias
colonias e a raça portuguêsa provara mais uma vez dos Pa%s para que haja continuidade nas medidas
que não estão n'ella obliteradas as qualidades de ener- que c@ dlas se relacionem e os f~~ncionarios de
gia, de sobriedade, de frieza em arrostar com as 9"alquQtegoria saibam que tèem assegurada a sua
maiores inclemencias e perigos e ate mesmo o espirito
390 scrmcra ae c o ~ o a i s ~ ç ~ o
-.

situagão, desde que sejam zelosos, inteligentes e sin- e agricolas de tão vastas regiões, porque só em face
ceramente devotados ao interesse do seu paiz. dos resultados d'esses estudos se poderão efetuar com
Impõe-se tambem com urgencia a organisaçâo das consciencia as explora$Ões a fazer e desenvoiverem-se
cartas orgânicas de cada uma das provincias, de har- as culturtis que forem mais aconselhadas. Assim tem
monia com o seu estado social e o adeantamento in- procedido a Companhia de Xoçambique, que só tem
telectual e moral dos colonos e indigenas que a s tido motivos para se felicitar pela sua iniciativa.
habitam. Mas não bastará que se cuide só d'essa orga- Um outro problema que não podemos, descurar é o
nisação sob o ponto de vista politico e administrativo, da ligação do continente e das provincias de alem-
E' mister eguaimente refundirmos toda a outra legis- mar. As carreiras de navegação naciocaes, não só re-
l a ~ " ~e , em especiai a legislagão fiscal, tirando-lhe a presentam um factor valiosissimo de progresso comer-
uniformidade de protegão que até agora a tem carac- cial, mas estabelecem tambem laços os mais sólidos
terisado para a adaptarmos ás necessidades e ao es- de união e comunidade de interesses entre as colonias
tado de cada uma das colonias. E' um trabalho arduo e a sua mãe patria. AIêm do "feito moral da permuta
e complexo, sem duvida, mss que urge fazer, se qui- dos a r t i p s e produtos se fazer .G sombra da bandeira,
zermos apressar o progresso das coionias e afeigoar que é o syrnbolo da nacionalidade que um e outras
cada vez mais o indigena á soberania portugueza, in- coi~stituem, pelo estabelecimento d'essa navegação
teressando-o sucessivamente na adrninistragão local e poder-se-ha eficazmente tratar dos interesses de cada
habituando-o a influir nos destinos e no desenvolvi- uma das provincias ultramarinas e regularem-se os
mento da região em que vive. fretes de modu a estimular-se o desenvolvimento das
A expansão das riquezas que se acumulam no sub- suas respetivas riquezas. Temos colonias, como Timor,
solo e se podem desentranhar do solo das nossas que devem, em nosso parecer, o seu atrazo principal-
possessões dependerá do exito dos esforços que em- mente ao facto de não terem tido até agora ligaeo
pregarnios para atrahir para ali o seeravit d a popu- direta com os portos da sua metropole e sobretrido
lação da metropole, que procura nas aventuras da d'essa Ligaqão não se ter estabelecido por meio de na-
emigração a resolução das dificuldades com que iuta vios pormguezes, stibsidiados pelo Estado e podendo
e para drenar para essas regiões os capitaes de que este por isso influir por um modo decisivo na orga-
podermos dispôs, bem como do criterio com que atra- nisação das suas tarifas. Todos os sacrificios que se
hirmos individuos e dinheiro d'outros paizes, sem nos façam para se conseguir esse fim serão largamente
comprometermos a resporisabilidades perigosas, nem compensados pelos resultados que se hão de colher.
provocarmos uma obra de desnacionalisação e ainda Muito nos poderiamos alargar na exposigão das
do conhecimento que obtivermos e divulgarmos dos medidas L- providencias de ordem geral e particular a
recursos que todas as iniciativas inteiigentes poderão cada uma das colonias que, no momento presente, as
obter quando se dedicaram a explorações n'aquelles circunstancias nos aconselhtirn a adotar, por serem de
territorios. Para conseguirmos este ultimo intuito de- influencia segura n3 progresso poli~ico,moia1 e erono-
veriamos apressar a realisação dos estudos geológicos mico d'essas colonias e portanto as mais proprias pata
garantivem o nosso dominio, porque desde que os fa-
ctos demonstrasseni que ninguem podia desdeni-iar de
nós acusando-nos de não sabermos aplicar s a c p o
que u m a metropole deve exercer para conseguir reali-
sar a mais fecunda obra coionisadora, desBpareceriatn,
como ja dissémos, os pi.etextos de todas a s campa-
nhas de descredito e os furidamentos tle quaesquer
tentatii as de expoliagão.
Mas pareceu-nos que só nos cabia odever de e>;-
pòr sumadamente os delineamentos principaes do plano
coloniaI que nos cumpre, desde já, pôr em execução, CAPITULO X
com persistencia e espii-ito de coctinuidade, sem re- A ECOSOMIA DAS ço~oiu'lAS
ceiarnios os sacrificios e encargos que elles nos acar-
reterão, nem o deixarmos inquiriar por qualquer senti- O trabalho e a produção nas co]onias novas. - O
mento mesquinho, visto que se trata d'urna obra do capital e a população nas mesmas coloriias -Analogias
mais puro patliotismo, d'urna obra verdadeiramente
nacional. S ã o tivemos por isso a ideia de paiticulari-
.entre a s coionias nascentes e a s sociedades primitivas.
- . ... .
O credito nas colonias.. . . . . , . . . - . - - . - . . - . 3

sar esse plano. CAPITULO XI


1Iuitas das medidas em que elle se deverá desdo-
brar dependerão de circiinstancias e oportunidades O IMPOSTO NAS COLOSIAS
que só os altos poderes do Estado estarão em condi- Considerações geraes. -Direitos d e importaçáo. -
qões de avaliar. O que desejámos, portanto, foi indi- Direitos de exportação.-Receita da venda das terras..
car nos seus tópicos gei-aes o caminho por que pre- - 0 u t ~ o s i r n p ~ s t o sa estabelecer nas c n l o n i a s . . . . . . . . 19
cisamos resolutamei~teenveredar. Afigura-se-nos que
será elle o mais segui-o e o mais rapido para realisar- CAPITULO XII
mos a alta missão que temos a cumprir e que o pode-
IMPOSTOS XAS COZOXMS POSTTUUEZBS
remos percorrer com os meios de que dispomos e com
os brios da nossa raça, que, em todas a s étapes da sua Impostos indirectos. - O imposto d o alcool. A -
histeria, tem sabido realisar emprezas de tal iyagni- ~ q u e s t ã o d o alcool e m Angola-- Impostos
r e s o l u ~ ãda
tude e valor, que, por ellas, temos sabido merecer a -
de consumo. Impostos diretos. -4 contribuição da -
admireção de todo o mundo.
Se acertámos no fitn a que nos propuzémos não
industrial. -Contribuição
-
de juros. -
renda de casas.-Contribuicão pred;lal.- C o n t r i b u i ~ ã a
Emolumentos.
Imposto do sêlo. - Contribuição de registo. -- Im-
p~oderiamos desejar maior recompensa para o esforço p o s t o d e merc&ç ultramarinas. - Impostos a~lic?dos-a
honesto e siilcero com que procurámos corresponder uma s6 colonia. - O imposto indigena -
O'ganlsaçao
do rcgimen d o s P r a s o s d a Coroa e modificações que
á confianga com que fòmos honrados. -
tem soffrido. -Muçsocn. Imposto d e paihota . . .
INDICE '

rigos d'uma tutela exagerada e opressiva.-Federalis-


CAPITULO XIII
TRATAMENTO DOS INDIOEKAS
-
m o das colonias. Systemas a adotar nas colonias
mixtas e de exploração.. ....-..................... , 194-
Evolugão das ideias a respeito dos indigenas e prin-
cipios modernos.-Esfor~os dos portuguezes para aca- CAPITULO XVI
bar a escravatura e a servidão.-Regulamenta* da DEFEIA MILITAR EXTEBIOE E INTERIOR DAS GOLONIAs
lei d o colonato e do trabalho indigena nas colonias p o r
-
tuguezas. Politica indigena. - Questão indigena na Constituição d o exercito colonial.-Necessidade d e
-
Africa d o Sul. União da Africa d o Sul. -Processos unidades só d e elementos da metropole. - Recruta-
a adotar-se para com os i n d i g e n i . - A administração mento para o exercito das colonias. - Conveniencia
da justiça, -Educação e lingua dos indigenas.-A im- d e se utilisar, quanto possivel, a conservação dcs mes-
prensa nas colonias. - 0s vicios dos indigenas.- OS mos elementos europeus no exercito das colonias. -
indigenas e a administração local.-A religião dos in-
digenas .......................................... 76
-
Respeito pelos habitos indigenas. Relações dos sol-
dados com as populações indigenas. - Serviços admi-
nistrativos nas co1onias.-Systema adotado no Toukin.
CAPITULO XIV -Alojamento das tropas.-Os auxiliares indigenas.-
COXPANHUS DE COMXISACÃO - Organisação d o exercito colonial nas colonias portu-
guezas.- Projeto d e remodelação d'esta organisagã0.-
Razões politicas a q u e obedeceu a organisagão das
- - -
Defeza maritimn das cclonias. Creação da marinha
antigas companhias. Razões economicas. Compa-
nhias modernas.-Vantagens d'essas modernas compa-
colonial e m Portugal.- ......
A policia nas colonias.. 235
nhias.-Os direitos das Companhias d e carta.-Con- CAPITULO XVII
diç6es a q u e devem satisfazer a s Companhias d e colo-
nisacão.-Companhias portuguezas.-Nova Companhia SPSTEYAS COLOBIAES
-
da India. Companhia do Grão Pará e Maranhão.-
Companhia d e Pernambuc0.- As actuaes Companhias Systema colonial e systema da sujeição. - Syste-
portuguezas. - Companhia da 2ambezia.- Companhia ma da assimilação. - Systema da autonomia. - A con- -
d e Moçarnbique.-Companhia d o Nyassa.-Companhi? -
stituição colonial. Influencia dos diversos systemas
d e Mossamedes .................................... 137 no governo e administração das colonias. - Organi-
zação militar e defeza das colonias. -Liberdades lo-
CAPITULO XV caes e direitos dos colonos.-Organização financeira.
A D M I N I S T E A ~ ~E
O GOVERNO DAS COLONIAS
- Regimen comercial. - Critica da sujeição. -Critica
da autonomia.- Critica da assimilação.- Poderes nas
Situação e tendencias dos colonos no primeiro pe- colonias e extensão da sua auctoridade.-Organização
riodo da colouia.-Creação dos municipios e interven- interna d o ministerio das colonias. - Fórmas de go-
ção d o Estado n'esses organismos. - A acgão do Es- verno nas colonias. -Poderes d o Governador, - -
tado nas novas colonia~.-Systema representativo nas Conselhos coloniaes. - Organisa~ãoadministrativa da
colonias. - Ministerio das colonias. -
Creaçáo do Pdi-, provincia de Moçambique .......................... 2'76
nisterio das Colonias em Portugal. - Recrutamento
dos funcionarios coloniaes. -Educação e prepara- CAPITULO XVIIP
ção dos colonos. - A instrucção nas colonias portu-
guezas. - Tendencias para a emancipação.- Protegão Esforços e resultados da moderna colonisação por-
aos indigenas. - Poder legislativo nas colonias. - Pe- tuguezas ........................................... 3 2 2
ERRATAS AO 1.' VOLUME

Alem d e inumeráveis erros, provocados na maior parte


pela revisão, q u e variou muito, durante a impressF3 da obra,
a ortografia das palavras, mas q u e não alteram o sentido d o
texto, outros ha que o modificam p o r completo e por isso
aqui os registâmos com a s respétivas erratas.

Yag. Linha Onde se lê : Deve 121-se:

Em seguida descera o astanley, por seu turno,


no.. . encontrando o cami-
nho cortado, tivera .
de descer o rio.. .u
direita, esquerda
71:ooo 72:OOO
não s e faz por simplesnão se faz, em muitas
partes. p o r simples ...
JosC Joaquim Machado Joaquim José Machado
Desde r853 a 1910 D'esde 1853 a 1900
de 1891a i885 de 1891 a 1895
Loanda Loanda e d o Lobito
industrial predial
executar o trafego mo- executar o modz~s vi-
d7ds vivendi, uendi,
assim o d o caminho assim o trafego d o ca-
minho. . .
acumulassem alcan~assem
I 908 1907
1897 1907
acrescimo decrescimo
1899 1909
inferiores superiores
sobre sob
ERRATAS AO 2.' VOLUME

Como fizémos para o i . O volume s6 corrigiremos no 2.O


os erros mais importantes e que alteram mais ou menos o
sentido.

Paz, Linha Onde se 18 : Deve lêr-se :

do trigo em que se con- do trigo q u e se conver-


verte a farinha. te em farinha.
'799. +99.
direitos de importação
dirertos d e importação
e exportapão
só um determinado paiz s6 determinados paizes
rigoroso vigoroso
obedeceriam obedeceram
emes tado em estado
cafres cafreaes
Ultrich Ulrich
economia ecoaomica
bublicos publicos
tem procurado conseguiu
exodo periodo
adosizal e algodão a dosizal e algodão
-comprivativos privativos
aforando-se aforando-as

Você também pode gostar