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HERNANDEZ, Leila Leite; HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves.

A falsa reciprocidade
e os processos revolucionários: República Democrática do Congo, Camarões, Argélia
e Quênia. p- 439. In: A África na sala de aula: visita à história contemporânea. Selo
Negro, 2005.

Leila Leite Fernandez é uma pesquisadora brasileira e docente da USP. Suas


pesquisas estão relacionadas aos temas: movimentos de independência e
nacionalismos, colonialismos e resistências. A autora assume uma perspectiva teórica
oposta ao eurocentrismo, e tenta realizar suas pesquisas através da periodização
específica da África, levando em conta as especificidades locais.

O uso do conceito de reciprocidade é colocado pela autora em relação à ideia de


“missão civilizadora” dos europeus para com os “indígenas bárbaros”, pois esta era
visão dos colonizadores. Está ideia pode ser resumida justificativa colonial de que os
europeus tinham uma missão civilizadora em África e que os crimes e abusos do
colonialismo estavam justificados perante essa “missão”. Essa afirmação carrega em
si noções ocidentais, etnocêntricas e racistas. É possível notar que esse discurso está
presente no modus operandi do colonialismo. Na América, por exemplo, a
classificação dos indígenas como bárbaros e não civilizados foi fundamental para
argumentar a escravidão, o domínio político e religioso dos indígenas.

O texto aborda alguns processos de libertação de quatro países: República


Democrática do Congo, Camarões, Argélia e Quênia. Alguns processos foram
semelhantes, por isso, este repórter, terá foco em processos que ocorreram de forma
concomitante, tendo clara a perspectiva de que, apesar das práticas comuns operadas
pelo colonialismo europeus, cada país tem sua especificidade.

O contexto geopolítico mundial em que esses processos de libertação se desenvolvem


está diretamente ligado ao enfraquecimento das potências europeias, especialmente
depois da alteração de correlação de forças imperialistas causadas pela primeira e
segunda guerra mundial. A ascensão do nacionalismo asiático e africano foi
fundamental para o fortalecimento da unidade pelo objetivo da libertação. A
declaração da ONU sobre a determinação dos povos teve amplitude e foi argumento
jurídico para reafirmar a defesa da soberania nacional dos países. Também ressalta-se
a importância do avanço das ideias e da organização política do pan africanismo nas
suas variadas frentes. Este conjunto de ideias mobilizou muitos líderes populares e
intelectuais africanos. E por fim, destaca-se o contexto da Guerra Fria em que, muitos
países receberam apoio e financiamento da URSS para organizarem guerras civis.
Nos países onde havia uma forte presença da colonização branca foi-se constituindo o
poderio estatal, impedindo a organização das populações originárias nesses espaços
políticos e de poder. A administração colonial da Bélgica no Congo, da Alemanha em
Camarões, da França na Argélia, e da Inglaterra no Quênia, delegou poderio
administrativo local a colonos europeus e, em alguns casos, também cedeu uma
pequena parcela a administradores locais africanos.

A autora destaca como o contexto da crise de 1929 o processo de exploração do


trabalho – incluindo trabalho forçado – e do aumento da cobrança de impostos se
intensificou. Com isso também se intensificaram as revoltas e organização política dos
trabalhadores urbanos e rurais e na mesma medida a repressão do estado. Castigos
públicos eram aplicados, assim como prisões e assassinatos.

As contradições e aumento da exploração e opressão logram diminuir a intensidade de


grupos que lutavam pela libertação. Mas, este não foi um processo linear, muito
menos heterogêneo. As estratégias de lutas foram muitas. Podemos citar as guerras
de guerrilhas, adotadas por grupos políticos de Camarões, Argélia e Quênia. A criação
de partidos políticos e a luta, inclusive constitucional, por plebiscitos e eleições, esteve
presente. As diversas formas de resistência popular, no cotidiano, como greves de
trabalhadores, fugas e a negação ao pagamento de impostos, são exemplos de como
a resistência e o enfrentamento ao colonialismo se manifestaram de diversas formas.

A partir dos anos 60 os processos de independência se intensificam e a impressão


intencional contra o colonialismo também. Por fim, o que é importante frisar é que, os
processos das independências africanas, lograram derrubar um estado colonial e
estremecer a hegemonia global dos países imperialistas. Através de uma produção
teórica e intelectual única e de processos não convencionais de luta. A experiência de
libertação Africana é um exemplo para toda a humanidade.

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