Você está na página 1de 11

1.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho vamso abordar de forma sucinta sobre a áfrica na I a Guerra


mundial e o Nacionalismo. A Primeira Guerra Mundial foi desencadeada por um
conflito entre a Áustria-Hungria e a Sérvia, iniciado a 28 de julho de 1914 teve
um impacto significativo na África, que na época era em grande parte colonizada
por potências europeias. A maioria dos países africanos foi forçada a participar
da guerra, fornecendo soldados, recursos e outros tipos de apoio. A guerra
também levou a mudanças significativas na política e na sociedade africana,
incluindo o surgimento do nacionalismo africano.

A participação africana na Primeira Guerra Mundial também levou ao


surgimento do nacionalismo africano, que buscava a autodeterminação, a
independência e a unidade das nações africanas. O nacionalismo africano foi
uma resposta direta ao colonialismo europeu e buscava libertar os países
africanos do domínio e da exploração colonial. Líderes carismáticos e
intelectuais africanos, como Kwame Nkrumah em Gana, Jomo Kenyatta no
Quênia e Julius Nyerere na Tanzânia, se tornaram símbolos do nacionalismo
africano, lutando pela autodeterminação e pela construção de Estados africanos
independentes.

1
2. FUNDAMENTO TÉORICO

2.1 África e Ia Guerra Mundial

O envolvimento das potências europeias na Primeira Guerra Mundial


consequentemente envolveu suas colônias africanas no conflito seja com ajuda
de contingente militar ou de suprimentos. A participação da África na guerra teve
várias repercussões no geral, e em específico.

África foi um importante teatro de guerra durante a Primeira Guerra


Mundial, as potências coloniais europeias recrutaram soldados africanos para
lutar em seus exércitos, prometendo-lhes recompensas e benefícios em troca de
seu serviço.

Na década de 1910, praticamente todo território africano estava sob


dominação das potências europeias e com o início da Primeira Guerra Mundial
em 1914 envolvendo estas mesmas potências, a África também se envolveu
direta e indiretamente no conflito, sendo que algumas batalhas foram travadas
em seu território. Entre as repercussões da guerra no continente africano, vale
ressaltar que milhares de africanos foram recrutados voluntariamente ou à força
para participarem das campanhas na Europa ou como carregadores para os
exércitos, sendo que mais de 150 mil perderam suas vidas. Ocorreu também o
êxodo de parte dos europeus em funções administrativas e comerciais na África
para juntarem-se as tropas de seus países, o que provocou parcial ou
completamente a paralização de inúmeros serviços essenciais nas colônias que
eram a cargo dos europeus.

Outra repercussão da guerra foi a necessidade de substituição da mão


de obra na Europa já que os operários estavam mobilizados no combate. Com
isso ocorreu, no exemplo da Argélia, a migração voluntária de mão de obra
argelina para a França.

Além do envolvimento humano dos africanos, a economia africana


também foi prejudicada com a guerra. “De modo geral, provocou a queda dos
preços de produtos básicos e a elevação dos preços de artigos importados, dada
a redução da oferta”. A economia das colônias africanas, dada à necessidade de

2
suprimentos e favorecimento das casas importadoras e exportadoras das
potências governantes, sofreu intervenções dos seus Estados que controlavam
os preços, requeriam colheitas e a obrigação de cultivo de certos produtos além
de recrutar mão de obra para projetos essenciais. Os produtos que já não eram
suficientes na Europa eram buscados, no caso da europa, no norte da África que
estava sob seu controle, servindo então como fonte de suprimentos.

A guerra também teve consequências sociais e políticas no continente


africano quando começaram a se delinear os movimentos nacionalistas e a ideia
de autodeterminação dos africanos. Outra consequência foi que com a
participação africana no conflito, a população esperava uma contrapartida pela
ajuda prestada.

2.2 A origem do nacionalismo africano

Para se proceder à análise do Nacionalismo Africano é necessário


perceber o que se entende por Nação e qual a força impulsionadora que esta
ideia pode ter junto de movimentos de cidadãos que se unem em torno de um
mesmo objetivo comum.

Para começar, é um conceito que surgiu no século XVIII com a Revolução


Francesa. Do ponto de vista etimológico nação provêm da palavra natio que
significa nascimento e faz apelo à origem comum.

Segundo Hobsbawm podemos apoiar-nos na definição apresentada


nalguns dicionários, nomeadamente, o agregado dos habitantes de uma
província, de um país ou reino ou um Estado ou corpo político que reconhece
um centro supremo de governo comum” ou ainda o território constituído por esse
Estado e pelos seus habitantes individuais, considerando um todo. Mais
recentemente, nação também significava a comunidade dos cidadãos de um
Estado que vivem sob o mesmo regime ou governo e têm uma comunhão de
interesses, a coletividade dos habitantes de um território com tradições,
aspirações e interesses em comum e subordinados a um poder central que se
encarrega de manter a unidade de grupo; o povo de um Estado.

3
O principal significado de nação é o político e este está associado à ideia
de “povo”, a “nossa terra comum”, o “público”, o “bem-estar público”. Pode assim
referir-se que se trata afinal de um “corpo de cidadãos cuja soberania coletiva
constituía um Estado”. Porém, para John Stuart Mill a posse do sentimento
nacional não esgota o conceito de nação. Para este filósofo inglês os membros
de uma nacionalidade desejam estar sob o mesmo governo e ser governados
por eles próprios ou por uma parte deles, exclusivamente.

No fundo, o chão moral comum onde estão ancoradas as raízes, em que


se encontram a raça ou a língua, dá consistência à história imaginada das
comunidades. A ligação de um conjunto de cidadãos a uma descendência
comum, normalmente pressupõe a existência de um território. E a terra de onde
as pessoas são originárias conduz ao surgimento da ideia de pátria, ou seja,
local de nascimento, e assenta na combinação da terra e do sangue, no chão
sagrado dos (nossos) mortos. A veneração da pátria e de um conjunto de coisas
materiais e imateriais do passado, presente e futuro reflete-se em patriotismo e
representa sobretudo a total lealdade dos seus membros.

Podemos assim referir que o nacionalismo é uma ideologia política que


defende e exalta a nação, tendo por base sentimentos comuns do grupo numa
lógica identitária que procura, por um lado, a autodeterminação e, por outro,
assenta em sentimentos de lealdade que são partilhados por um conjunto de
indivíduos que têm valores culturais, religiosos, étnicos ou linguísticos comuns
aos restantes membros. Nesta perspetiva, as nações existem enquanto se
mantiverem como entidades espirituais desejadas na cabeça e nos corações dos
indivíduos55. Assim, essa identidade nacional confere aos cidadãos daquela
nação um conjunto de direitos e deveres que os obrigam a respeitar os poderes
soberanos expressos através de uma legalidade reguladora.

De acordo com Hobsbawm, na sua análise aos pequenos estados da


europa pós 1780, nomeadamente a Irlanda, são identificados três critérios para
que um povo fosse classificado como nação. O primeiro era a sua ligação
histórica a um Estado já constituído ou a existência de um Estado com dimensão
considerável e um passado recente. O segundo era que possuíssem uma elite
cultural que possuísse literatura e língua nacional. O terceiro e último critério era
a existência comprovada de uma capacidade para a conquista.
4
Como se pode depreender o papel da língua e da cultura é algo que se
afigura incontornável como fator identitário dos cidadãos de determinado grupo.
Deste modo, o ensino é um dos principais meios para disseminar a língua e
cultura pelos seus membros e até estender a outros cidadãos que se revejam
nos mesmos valores identitários. Porém, nem sempre o ensino está acessível a
toda a população. Por outro lado, a preservação da língua e da cultura é um
aspeto relevante para a manutenção de determinada nação, pelo que é
importante que haja o cuidado em preservar esse património. Neste sentido, e
tendo por referência a dominação colonial, a publicação de jornais ou de livros
sobre temas nativos revestia-se de capital relevância para a disseminação de
certas ideias nacionalistas.

2.2.1 A consciência e a ideologia africanista

No período colonial uma das questões que se levantava para muitos


nativos era a da legitimidade que o Estado soberano tinha para representar o
poder. Este Estado, no exercício da sua autoridade sobre a maioria da
população, detinha o poder que era conferido pela lei que ele mesmo emanava.
Desta forma, sendo este poder “estrangeiro” exercido sobre uma parte
significativa da população indígena e havendo por parte desta população a
memória de sofrimento, colocava-se a questão da aspiração libertacionista e
nacionalista. Esta aspiração parecia justificar-se tendo em conta que os povos
se encontravam sob um governo no qual não se reviam. E pretendiam até um
outro, formado por membros da sua comunidade, em clara alusão ao mito
fundador que acredita que no início é que se encontrava a perfeição, mas que
depois com a colonização foi sujeito à degenerescência e, por essa via, era
necessário refundar pondo fim à opressão.

Como analisámos anteriormente a inspiração iluminista da Revolução


Francesa e da Independência Americana, para além das alterações políticas,
desencadearam condições para que os cidadãos fossem encarados com direitos
pelo simples facto de serem seres humanos. Todavia, só na segunda metade
do século XIX, com a aprovação de emendas à Constituição, foi possível avançar
para a abolição da escravatura nos EUA e para o reconhecimento da igualdade

5
dos direitos civis e políticos dos negros, o que incluía o direito de voto, acesso a
certas profissões, a escolas, universidades e locais públicos até então interditos
à população negra americana.

Ao longo da primeira metade do século XX a mudança da ordem mundial,


em particular no período entre as duas Guerras, foi vital para que fossem criadas
as condições internacionais necessárias ao surgimento e disseminação de ideias
nacionalistas em África. Estas ideias foram essencialmente geradas fora de
África e disseminadas sobretudo nos anos 20 por grupos de intelectuais
descendentes de africanos que se encontravam a viver nos Estados Unidos da
América, Caraíbas ou nas grandes capitais europeias.

2.2.2 Pan- Africanismo

O Pan-Africanismo assumiu-se como a principal ideologia política que


defendia a libertação do poder colonial por parte dos africanos. Esta ideologia
teve em William Edward Burghardt Du Bois o seu principal teórico e
impulsionador. Ele estudou em várias universidades e foi o primeiro negro
americano doutorado na Universidade de Harvard. Dadas as suas reconhecidas
capacidades foi possível sistematizar as ideias que haviam sido anteriormente
transmitidas por Henry Sylvester-Williams.

O Pan-africanismo fazia apelo à consciência dos africanos para que


despertassem da dominação colonial que era exercida pelo Ocidente. Na sua
intervenção política e nacionalista Du Bois reclamava a dignidade africana. Ou
seja, pretendia reivindicar para os povos afro-americanos o livre acesso à
participação na sociedade em situação de igualdade e não subjugação ou
inferioridade racial, defendeu o despertar de consciências para o encontro de
povos e para o contributo do homem negro com toda a sua história e cultura no
avanço da humanidade.

Outro dos nomes incontornáveis na teoria e prática libertadora no mundo


negro foi Malcus Mosiah Garvey, Jr.Nascido na Jamaica, este ativista social
distinguia-se de Du Bois por defender ideias racistas. A contestação quanto à
situação a que estavam sujeitos os negros desencadeou sentimentos de

6
radicalismo nacionalista. Apesar de ser um dos grandes teóricos do Pan-
africanismo as suas posições racistas desviaram-no da ideia inicial do
movimento.

A corrente garveyista era também designada de Sionismo Negro, na


medida em que defendia a separação entre as raças, uma espécie de “Apartheid
entre mundos opostos” a fim de evitar o domínio de uns relativamente aos outros.
A expressão máxima desse pensamento ficou expressa quando Garvey lançou
o apelo: África para os Africanos. Deste modo, pretendia o regresso de muitos
africanos à sua terra natal para que fosse possível construir uma nação negra
num continente negro.

Foi na África Ocidental que o nacionalismo africano ganhou maior


preponderância. O Gana e a Guiné-Conacri foram dos primeiros a acolher as
ideias defendidas por Du Bois. Destaca-se que tal feito foi conseguido pela
aliança entre os dois estadistas Kwame Nkrumah e Sékou Touré. Salienta-se
que Kwame Nkrumah, Sékou Touré e Léopold Sénghor, poeta e primeiro
Presidente do Senegal, foram fundamentais para transpor para a região
ocidental africana o pensamento dos teóricos do Pan-africanismo, assente nas
origens americanas.

Dos diversos teóricos que teorizaram sobre o Pan-africanismo político,


Kwame Nkrumah foi o que mais se destacou no projeto da autonomia de África.
É mesmo considerado o pai do nacionalismo africano.Segundo Santos, ao longo
do século XX os teóricos Pan-africanistas seguiram diversas vertentes para
disseminar as suas ideias. Assumiram a vertente poética, racista, cultural e
política.

Na segunda metade do século XX com o final da II Guerra Mundial sentiu-


se um novo impulso dos movimentos independentistas criados no período entre
as duas guerras. Esta motivação advinha parte do que estava a suceder em todo
o mundo. Na América Latina e na Ásia surgiam novos territórios com autonomia
própria. Por outro lado, a realização da Conferência de Bandung deu também
um reforço positivo à causa independentista africana. Com efeito, a Conferência
de Bandung, realizou-se em Abril de 1955, na cidade de Bandung, na Indonésia
e teve o condão de ser o primeiro evento de política internacional que juntou o

7
então denominado Terceiro Mundo. Tratou-se de um acontecimento histórico
que discutiu aspetos relacionados com os Estados asiáticos e a unidade política
das novas soberanias. Na Conferência foi ainda expressa a solidariedade
política com África no processo de obtenção de emancipação.

A este propósito, é de referir que em 1955, à data da Conferência de


Bandung, a África Subsaariana praticamente não possuía territórios
descolonizados. De facto, o primeiro grupo de países africanos que alcançou a
Independência apenas o conseguiu na década de 50 do século XX. A Etiópia
alcançou em 1952. A independência total do Sudão foi em 1956. A Tunísia e
Marrocos em 1956. O Gana em 1957 e a Guiné-Conacri em 195872. O Chade
em 1960.

O sentimento de unidade nacionalista africana conduziu a que as nações


que tinham obtido as soberanias sobre os seus territórios apoiassem as demais
lutas pela libertação.Neste enquadramento, vale a pena recordar que também
as grandes potências mundiais, em particular, os Estados Unidos da América e
a União Soviética se confrontavam em termos políticos. A Guerra Fria opunha
dois sistemas políticos bem distintos: o Capitalismo e o Socialismo. Se o mundo
Ocidental se identificava com os EUA não é menos verdade que a URSS, além
do denominado Bloco soviético, procurou estender a sua área de influência para
os territórios sob dominação das grandes potências estrangeiras.

A aproximação da URSS às colonias africanas fez-se, nomeadamente,


através de apoio para a Luta de Independência destes territórios. Também a
Europa, após a fase da sua reconstrução e de vulnerabilidade económica,
apresentava uma visão diferente quanto ao modo como encarava as suas
colónias e as reivindicações de autodeterminação estas apresentavam.
Procurava evitar crises que pusessem em risco a sua força. A descolonização
afigurava-se irreversível. A liberdade e a democracia passaram a ser encaradas
como prioridades para a Europa e neste sentido verificou-se uma rápida
evolução da posição face às suas colónias.

Assim, em 1960 um grande número de Estados africanos alcançou a sua


soberania. Nesse ano, 17 dos atuais 53 países africanos tornaram-se soberanos.

8
Segundo Benot, a dominação colonial direta europeia na África Negra
desmoronou praticamente em todo o continente no período entre 1958 e 1963.

A tomada de consciência da ideologia africanista nas Províncias


ultramarinas portuguesas resultou, à semelhança do que aconteceu nos
restantes países africanos, da falta de liberdade e da opressão imposta por um
poder externo àquele território.

Como foi anteriormente referido, o enquadramento jurídico era tal que


permitia o entendimento da parte da potência colonizadora de que poderia
utilizar-se das riquezas naturais ou produzidas nas várias possessões sob a sua
soberania. As administrações coloniais tinham ainda a possibilidade de
estabelecer taxas e impostos junto das populações nativas o que provocava em
alguns casos forte contestação, como foi o “Imposto de palhota” que cobrava por
vezes coercivamente ou a legislação que regulamentava sobre o trabalho
indígena que desencadeou revoltas tanto em São Tomé em 1953 com a
população Forra como em Bissau em 1959 ou mesmo como em Maputo em 1956
com a greve dos estivadores.

Ou seja, para os nativos desses territórios ultramarinos tratava-se na


prática da recusa da liberdade e como tal este comportamento da parte da
metrópole e da sua máquina administrativa era sentido como opressor e inibidor
da obtenção de condições de bem estar para cada um dos indivíduos como
punha em causa os valores e ações pretendidas desenvolver.

9
CONCLUSÃO

Para este trabalho concluimos que a guerra assinalou uma nítida evolução
da opinião internacional no que diz respeito ao colonialismo. Antes do conflito,
as potências coloniais europeias não tinham contas a prestar senão a si próprias.
Depois dele, o passado colonial de uma dessas potências, a Alemanha, foi
examinado pelos membros da Confe-rência de Paz reunidos em Versalhes, e
julgado de acordo com as novas regras de moralidade que deviam reger a
administração dos povos coloniais. Sem dúvida que também poderiam dirigir
equivalente censura à maior parte das demais potências coloniais, se o caso
delas fosse do mesmo modo examinado.

No entanto estes movimentos nacionalistas suportam-se


fundamentalmente na coesão e lealdade dos membros do grupo onde a língua,
a cultura, os valores e os interesses comuns os empurram para a
autodeterminação numa lógica de desobediência relativamente ao poder que
consideram imoral.

10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1. ALEXANDRE, Valentim e DIAS, Jill (Coord.) (1998), O império africano :


1825-1890, Nova história da expansão portuguesa, Editorial Estampa.

2. ALMEIDA, Eugénio C. (2004), África: Trajectos Políticos, Religiosos e


Culturais, Autonomia .

3. ANDRADE, Mário Pinto (1997), Origens do Nacionalismo Africano –


Continuidade e ruptura nos movimentos unitários emergentes da luta
contra a dominação colonial portuguesa: Publicações Dom Quixote.

4. BENOT, Yves (1981), Ideologias das Independências Africanas, Volume


I e II, Livraria Sá da Costa Editora.

11

Você também pode gostar