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DO TERCEIRO MUNDO À EMERGÊNCIA DO SUL GLOBAL

ALTERNATIVAS PÓS-LIBERAIS DE DESENVOLVIMENTO

FERNANDO MARCELINO PEREIRA

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO
NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Marcelino, Fernando

Do Terceiro Mundo à Emergência do Sul Global:


Estratégias pós-liberais de desenvolvimento /
Fernando Marcelino Pereira. – Curitiba, 2024.

1. Sul Global 2. Desenvolvimento 3. Liberalismo

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SUMÁRIO

1. Do Terceiro Mundo à emergência do Sul Global 05

2. Alternativas de Desenvolvimento Pós-liberais 14

3. Referências 36

4. Sobre o autor 40

4
1. DO TERCEIRO MUNDO À EMERGENCIA DO SUL GLOBAL

O Sul Global foi o palco de lutas anticoloniais, revoluções nacionais e sociais no


século XX. Em 1914, Lênin denunciou a posição daqueles que fazem pouco caso das
condições dos países periféricos. No texto “Do direito das nações de disporem de si
mesmas”, defende que a formação dos impérios coloniais permitia melhorar a situação
dos operários europeus: o enriquecimento extra das potências coloniais com seus
impérios acabava por beneficiar a situação do conjunto das populações europeias e,
assim, servia para retardar a revolução social na Europa. Consequentemente, a luta
nacional nas colônias contra o imperialismo, deveria passar a ser um elemento
fundamental da luta do proletariado mundial.

Após a Segunda Guerra Mundial, ao constituir-se a ONU, a União Soviética


defendeu a tese de que a nova organização internacional se propusesse, como uma de
suas tarefas mais importantes, a contribuir para que todos os países e povos dependentes
conseguissem, no mais curto prazo, sua completa independência política. Apesar disso,
o ponto de vista soviético não foi apoiado pelas demais grandes potências, pois estavam
preocupadas em manobras para consolidar novas formas, mais maleáveis e habilmente
disfarçadas, de dominação nas colônias por meio de concessões parciais as
reivindicações nacionais dos países coloniais.

Mesmo assim, diversos países periféricos passam por revoluções e governos


populares. No contexto pós-Segunda Guerra, o nascimento do Movimento Não-
Alinhado tem raízes nos resultados oriundos das relações entre a Índia e a China, em
1954, as quais afirmaram os “cinco princípios da coexistência pacífica”, a saber: o
respeito mútuo à soberania e à integridade territorial, a não agressão mútua, a não
ingerência mútua, a igualdade e o benefício mútuo, a coexistência pacífica. Teve sua
primeira significativa expressão política com a realização da Conferência Afro-Asiática,
também conhecida como Conferência de Bandung, em 1955, na qual países africanos e
asiáticos se reuniram e advogaram pela adoção de uma postura comum de não-
alinhamento em relação ao conflito bipolar global que permeou a segunda metade do
século XX. Em 1961, como consequência da Conferência de Bandung, criou-se o
Movimento Não-Alinhado, em Belgrado, cujos critérios para admissão requeriam que o

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país adotasse uma política independente baseada no não-alinhamento e na coexistência
entre diferentes Estados, apoiasse os movimentos por independência nacional, não
fizesse parte de coalizões militares bilaterais ou multilaterais criadas no âmbito do
conflito entre as superpotências e não fosse sede de bases militares de superpotências
cujo propósito servisse ao conflito entre elas.

Com 27 países na sua fundação, o Movimento Não-Alinhado priorizou pela


defesa de um caminho de independência que impedisse que os países do Terceiro
Mundo fossem peões na disputa de poder entre as superpotências, com base no direito a
um juízo independente, na luta contra o imperialismo e o neocolonialismo e no uso da
moderação nas relações com as grandes potências. Participaram representantes do
Afeganistão, Arábia Saudita, Camboja, Ceilão (atual Sri Lanka), China, Costa do Ouro
(atual Gana), Egito, Etiópia, Filipinas, Índia, Indonésia, Iraque, Irã, Japão, Jordânia,
Laos, Líbano, Libéria, Líbia, Nepal, Paquistão, Sião, Síria, Sudão, Tailândia, Turquia,
Vietnã do Norte, Vietnã do Sul e Iêmen.

Cinco anos depois, em 1966, realizou-se, em Havana, a Conferência de


Solidariedade aos Povos da África, Ásia e América Latina, que reuniu representantes de
movimentos anti-imperialistas e anti-coloniais, como guerrilheiros, movimentos de
libertação, governos nacionais. Com um teor político mais radical, a Conferência
Tricontinental bebeu da influência do Movimento Não-Alinhado e prezou pelo combate
ao imperialismo e ao colonialismo e pela solidariedade aos movimentos nacionais
antiimperialistas, como o que ocorria no Vietnã contra os EUA.

A noção de “Terceiro Mundo”, cunhado pelo francês Alfred Sauvy, em 1952, foi
feita em analogia ao Terceiro Estado da época anterior à Revolução Francesa, isto é, o
agrupamento de países pobres e colônias que não pertenciam ao topo da sociedade
internacional, mas continham um potencial de emergência. De então, criou-se a divisão
do Planeta em três seções: o Primeiro Mundo reunia os países capitalistas
industrializados, isto é, os Estados Unidos da América, seus aliados na Europa, o Japão,
a Austrália e a Nova Zelândia; o Segundo Mundo era formado pela União Soviética e
pelos países sob sua direta influência; o Terceiro Mundo era o agrupamento de países
semi-industrializados ou agrícolas, colônias ou ex-colônias.

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Esse conceito ganhou vida política quando Mao Tsé-Tung desenvolveu a teoria
dos Três Mundos. Para Mao, o Terceiro Mundo significava mais do que
desenvolvimento econômico, sendo um termo relacional entre imperialismo e anti-
imperialismo, entre opressor e oprimido. Na época, com “cisma sino-soviético” na
década de 1960, os comunistas chineses queriam distinguir a China da União
Soviética. A chave foi afirmar que a realidade chinesa não é igual à da soviética, nem da
Europa ocidental. Que o mundo era dividido em três mundo, ou três lados, que são
mutuamente relacionados, bem como contraditórios. Os Estados Unidos e a União
Soviética pertencem ao primeiro mundo. Os países em desenvolvimento na Ásia,
África, América Latina e outras regiões pertencem ao terceiro mundo. E os países
desenvolvidos entre os dois pertencem ao segundo mundo.

Na década de 1970, o conceito de Terceiro Mundo começa a sofrer um


desmonte. Vijay Prashad aponta que, em vez de fornecer os meios para criar uma
sociedade inteiramente nova, muitos desses regimes protegiam as classes dominantes
entre as velhas classes sociais ao mesmo tempo que produziam elementos de bem-estar
social para o povo. Nas primeiras décadas de construção estatal, dos anos 1940 aos anos
1970, a consistente pressão dos trabalhadores, o prestígio dos partidos de libertação
nacional e o consenso mundial sobre o uso do Estado para criar demanda restringiu tais
classes dominantes, em certa medida. Eles ainda eram os principais encarregados dos
novos Estados, mas o desejo de lucro irrestrito era dificultado pelo patriotismo
persistente ou pelos tipos de regimes políticos e econômicos estabelecidos pela
libertação nacional (PRASHAD, 2022).

Esse projeto veio com uma falha de origem. A luta contra as forças coloniais e imperiais
impôs uma unidade entre vários partidos políticos e entre as classes sociais.
Movimentos sociais amplamente populares e as composições políticas conquistaram
liberdade para as novas nações, e então tomaram o poder. Uma vez no poder, a unidade
que havia sido preservada a todo custo tornou-se um fardo. A classe trabalhadora e o
campesinato em muitos desses movimentos haviam aderido a uma aliança com os
proprietários de terra e as emergentes elites industriais. Assim que a nova nação caísse
em suas mãos, o povo acreditava, o novo Estado promoveria um programa socialista. O
que eles obtiveram em vez disso foi uma ideologia de compromisso chamada
Socialismo Árabe, Socialismo Africano, Sarvodaya ou Nasakom, que combinava a
promessa de igualdade com a manutenção da hierarquia social.

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Conforme Vijay Prashad

Já na década de 1970, as novas nações já não eram mais novas. Suas debilidades eram
numerosas. As demandas populares por terra, pão e paz foram ignoradas em nome das
necessidades das classes dominantes. Guerra interna, dificuldade em controlar os preços
dos produtos primários, incapacidade para superar a asfixia do capital financeiro, entre
outros fatores, levaram a uma crise nos orçamentos de grande parte do Terceiro Mundo.
Empréstimos de bancos comerciais só poderiam vir se os Estados concordassem com o
“ajuste estrutural” dos pacotes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco
Mundial. O assassinato do Terceiro Mundo levou à desidratação da capacidade do
Estado de agir em prol da população, um fim em defesa de uma nova ordem econômica
internacional, à recusa dos objetivos do socialismo. Classes dominantes que estiveram
anteriormente atadas à agenda do Terceiro Mundo já não encontravam mais freios. Elas
começaram a se ver como elites, e não como parte de um projeto – o patriotismo de base
superou a solidariedade social antes necessária. Um resultado dessa extinção da agenda
do Terceiro Mundo foi o crescimento de formas de nacionalismo cultural nas nações
mais escuras. Atavismos de todos os tipos surgiram para preencher o espaço
anteriormente assumido por várias formas de socialismo. Religião fundamentalista, raça
e formas não reconstruídas de poder de classe surgiram sob os destroços do projeto do
Terceiro Mundo (PRASHAD, 2022).

A grande heterogeneidade do grupo sempre foi um desafio na construção da


coesão necessária para uma atuação mais forte e eficaz e resultou no próprio
esvaziamento da ideia de Terceiro Mundo, apesar da continuidade das disparidades e do
aprofundamento da divisão do mundo em Norte e Sul. Era, pois, um movimento
fundamentado em uma identidade de negação, e não na criação de uma identidade
afirmativa comum, como a construção de um pensamento político e econômico
alternativo ao capitalismo e ao socialismo soviético.

O fim da Guerra Fria, retratado pela queda do Muro de Berlim em 1989,


evidenciou a incoerência em se manter uma divisão teórica do mundo em três partes,
uma vez que se extinguira o Segundo Mundo. Conforme Immanuel Wallerstein, sobre a
noção de Terceiro Mundo:

Seu mérito foi o de lembrar a existência de uma imensa zona do planeta para a qual a
questão primordial não era a do alinhamento em um ou outro campo, mas qual seria a
atitude dos Estados Unidos e da União Soviética em relação a ela. Em 1945, a metade
da Ásia, a quase totalidade da África, bem como o Caribe e a Oceania permaneciam
colônias. Sem falar dos países “semi-colonizados”. Para esse vasto mundo tutelado,
onde a pobreza ultrapassava — e muito — a dos países “industrializados”, a prioridade
era dirigida à “libertação nacional”. Ao englobar todos numa única expressão, “Terceiro
Mundo”, destacavam-se, ao mesmo tempo, as características comuns, próprias a todos
esses países, e também o fato de que eles não estavam necessariamente implicados na

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guerra fria. A fórmula também dizia respeito ao esforço de certos intelectuais em criar
uma “terceira força” entre os partidos e os governos comunistas e anticomunistas1.

Com o surgimento da Teoria do Sistema Mundo, de Immanuel Wallerstein,


criou-se a terminologia de divisão do Planeta em regiões centrais, periféricas e
semiperiféricas. Outros termos foram criados, como “Mundo Pobre”, “Mundo
Subdesenvolvido”, “Mundo Menos Desenvolvido”, “Mundo Majoritário”, “Mundo
Não-Ocidental”, etc. Na América Latina, já se destacava a noção de “Dependência”,
formulada por Ruy Mauro Marini, Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra, entre outros,
abordando a dominação imperialista pela superioridade tecnológica e produtiva das
empresas transnacionais, seu dreno dos lucros e das riquezas locais obrigando as
burguesias locais a superexplorarar para compensar a transferência de riquezas imposta
pelos países imperialistas. Porém, foram as narrativas elaboradas pelo Norte que
ganharam espaço, baseadas no “fim da história”, “choque de civilizações”,
“interdependência”, entre outras, todas pela universalização da democracia-liberal
capitalista.

É nesse contexto de desorganização do Terceiro Mundo que o surge o termo


“Sul Global” para denominar aquele conjunto de Estados localizados no Sul,
primeiramente desenhado pelo Relatório Brandt. Conforme Paulo Vizentini,

Mais do que criar um modismo teórico, a introdução do conceito de Sul Global


representou uma estratégia de despolitizar o significado do terceiro-mundismo. O Sul
Global não se define por uma agenda positiva, mas negativa, pois, afinal, o Norte
também não é Global? Assim, segundo o novo conceito não há sentido para a existência
do Grupo dos 77 ou do Movimento dos Não Alinhados. Todas os Estados do Sul se
diluiriam na globalização, sendo que as maiores nações gozariam do status de
“mercados emergentes”2.

Na literatura sobre o Sul Global, são recorrentes a incerteza e a falta de consenso


sobre a sua definição, com diversos autores criticando o seu uso e apontando para falhas
no termo. Claro que a intenção de agrupar uma miríade de países tão diversos carrega
consigo problemas metodológicos evidentes, dadas as distinções, de naturezas variadas,

1
WALLERSTEIN, Immanuel. O que era mesmo o terceiro mundo? Le Monde Diplomatic, 2000.
Disponível em https://diplomatique.org.br/o-que-era-mesmo-oterceiro-mundo/
2
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Terceiro Mundo ou Sul Global? Austral: Revista Brasileira de Estratégia
e Relações Internacionais v.4, n.8, Jul./Dez. 2015

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entre os países que compõem o Sul Global. Porém, o que nos interessa não são
minúcias, mas a situação comum na composição do Sul Global, levando em conta que
existem países localizados no Hemisfério Sul os quais estão agrupados no Norte Global,
como a Austrália e a Nova Zelândia, assim como há regiões no Sul Global que
partilham as características do Norte Global, como as capitais e grandes cidades dos
países emergentes, assim como há periferias pobres de cidades do Norte Global,
destacadamente nos Estados Unidos e Europa Ocidental.

Camila Jardim (2015) aponta seis características comuns encontradas no Sul


Global: 1) é um conceito não-geográfico, relativo ao empoderamento dos Estados do
Sul Global como sujeitos históricos e atores importantes no cenário internacional; 2) o
termo envolve identidades comuns forjadas por interações entre os atores que compõem
o Sul Global e respaldadas pelas suas similaridades históricas, como o passado colonial,
o anseio por reforma do sistema internacional e a sua inserção internacional político-
econômica periférica, e pelos seus desafios comuns, como o subdesenvolvimento e a
marginalização na construção da agenda internacional; 3) é um grupo bastante
heterogêneo, reunindo desde potências médias, como o Brasil e a Índia, até pequenos
Estados insulares; 4) “Sul Global” carrega consigo um peso político de empoderamento,
o que tem se demonstrado adequado, ante a emergência de atores do Sul na condução do
sistema internacional; 5) o Sul Global não é necessariamente anti-Norte, isto é, ainda
que demandem reformas nas instituições basilares do sistema internacional, como o
Conselho de Segurança e o FMI, a fim de representar a distribuição de poder atual, os
países de maior importância do Sul Global não advogam pela substituição da ordem
internacional vigente; 6) por fim, o Sul Global pode também ser denotado pela
emergência de atores não-estatais, mas de atuação transnacional, como grupos da
sociedade civil em temas relativos à mudança climática, ao combate à fome, etc3.

Pesquisas recentes apontam que os países ricos continuam a depender de uma


grande apropriação líquida do Sul global, incluindo dezenas de bilhões de toneladas de
matérias-primas e centenas de bilhões de horas de trabalho humano por ano –
incorporadas não apenas em commodities primárias, mas também em bens industriais

3
JARDIM, Amorim Camila. Understanding the concept of Global South: an initial framework. 2015.

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de alta tecnologia, como smartphones, laptops, chips de computador e carros, que nas
últimas décadas passaram a ser fabricados predominantemente no sul. Esse fluxo de
apropriação líquida ocorre porque os preços são sistematicamente mais baixos no Sul do
que no Norte. Por exemplo, os salários pagos aos trabalhadores do Sul são, em média,
um quinto do nível dos salários do Norte. Isso significa que, para cada unidade de
trabalho incorporado e recursos que o Sul importa do Norte, eles precisam exportar
muito mais unidades para pagar por isso.

Em um artigo publicado na revista New Political Economy, se quantifica a


escala de drenagem por meio de trocas desiguais na era pós-colonial. Se chega à
conclusão que o dreno aumentou dramaticamente durante as décadas de 1980 e 1990,
quando os programas de ajuste estrutural neoliberal foram impostos em todo o Sul
global. Hoje, o Norte global drena do Sul commodities no valor de US$ 2,2 trilhões por
ano, a preços do Norte. Para se ter uma ideia, essa quantia de dinheiro seria suficiente
para acabar com a pobreza extrema, globalmente, quinze vezes. Durante todo o período
de 1960 até hoje, a fuga totalizou US$ 62 trilhões em termos reais. Se esse valor tivesse
sido retido pelo Sul e contribuído para o crescimento do Sul, acompanhando as taxas de
crescimento do Sul durante esse período, valeria US$ 152 trilhões hoje4.

Ainda neste século XXI, como modo de produção, o capitalismo serve para que
um pequeno grupo de países se desenvolvam ao custo da exclusão de todos demais. O
núcleo central – o Norte – se desenvolve sugando o excedente da periferia – o Sul. O
desenvolvimento de uns é feito às custas do subdesenvolvimento de muitos. O Norte é
puramente capitalista, com os países ditos mais desenvolvidos - explicitamente os
Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Inglaterra -, onde as forças produtivas e a
acumulação de capital alcançaram um grau em que dominam monopólios
transnacionais, com um processo intenso de inovação científica e tecnológica que
agrava a tendência de queda da taxa média de lucro. Diante disso, a saída vem sendo a
especulação financeira e a transferência de plantas industriais para países agrários, onde

4
Hickel, Jason. Pilhagem na era pós-colonial: quantificando o escoamento do sul global por meio de
trocas desiguais, 1960–2018. Nova Economia Política. Volume 26, 2021. Disponível em
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13563467.2021.1899153?journalCode=cnpe20&journalCo
de=cnpe20

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podem debelar as forças do trabalho organizada em seus países e obter lucros pela
extração de mais-valia absoluta em países com força de trabalho barata. Estas medidas
intensificam a desindustrialização interna e o consequente desemprego, levando as
corporações transnacionais a se livrar das medidas econômicas e políticas que visavam
manter a coesão social dos Estados nacionais, bem como o padrão de vida das classes
médias, aumentando a ocorrência de crises financeiras, econômicas e políticas ainda
mais profundas.

O Sul Global é herdeiro da noção de Terceiro Mundo. Só que, hoje, o Primeiro


Mundo não é mais onde as forças produtivas podem se desenvolver melhor, entrando
numa estagnação crônica desde 1970, introduzindo diversos aspectos destrutivos para
conseguir se reproduzir. Ao mesmo tempo, nas últimas décadas, a China passou da
periferia para um dos centros do sistema econômico global deslocando o núcleo
geográfico do processo de acumulação. Diferentemente da URSS que não tinha
condições econômicas e políticas para superar o Império norte-americano na Guerra
Fria, a China avançou decisivamente na construção de uma verdadeira grande indústria
sob um regime de socialismo de mercado, que desenvolve as forças produtivas muito
melhor do que no Ocidente e capitalismos do centro e da periferia, superando diversas
travas do desenvolvimento. Um país que, em 1949, após décadas de guerras civis e
invasões estrangeiras, tinha 80% de analfabetos, chega em meados de 2023 como
segunda potência mundial, numa transformação tectônica da econômica política global.

Mesmo com as fragilidades econômicas enfrentadas por boa parte dos países do
Sul Global na década de 1980 e a hegemonia unipolar estadunidense da década de 1990,
fortalecendo a subordinação plena dos países às instituições, às normas, ao mercado e à
ordem liberais, o Sul Global também ganhou maior espaço no século XXI, sobretudo
pelo maior protagonismo de potências emergentes. As mudanças e realinhamentos na
geopolítica mundial criaram espaço para que potências emergentes como China, Índia e
Brasil expandissem suas áreas de influência e de cooperação para outros países não
industrializados, ao lado da re-emergência da Rússia, países com desenvolvimento
nacional na África e América Latina. Além disso, ao longo das décadas, surgiram
também diversas iniciativas e organismos regionais ou temáticos com o intuito de reunir
países do Sul Global, a fim de facilitar a cooperação e de coordenar posicionamentos,

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como é o caso do G-77, da Liga dos Estados Árabes, da União Africana, da CELAC, da
OCI, da Unasul, da OPEP, entre tantos outros. Também se destacam mudanças nos
padrões comerciais e de investimento, havendo expansão de acordos e realização de
programas de investimentos entre países da América Latina, da África e da Ásia.

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2. ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PÓS-LIBERAIS

Para Samir Amin, o imperialismo atual encontra suas bases econômicas na era
do “capitalismo monopolista generalizado”. Segundo Amin, essa fase se caracteriza
pelo avanço da integração mundial dos mercados monetários e financeiros, assim como
pela centralização do poder dos diretores dos monopólios e seus servidores assalariados.
O avanço da mundialização e liberalização do capital no advento do neoliberalismo se
contrasta com os limites nacionais e locais para a mobilidade da força de trabalho, a fim
de garantir maiores taxas de exploração. Existe hoje um imperialismo comandado por
uma tríade liderada pelos Estados Unidos, que tem como sócios minoritários a Europa e
o Japão, um capital monopolista que tem o controle quase total (e cada vez mais) de a
economia global, e que através do controle de diferentes setores pode dominar “por
cima” e “por baixo” os pequenos produtores e o grosso da população mundial. Exemplo
disso é a subordinação, extração de renda e eventual absorção dos pequenos agricultores
pelo grande capital através de multinacionais de sementes, de um lado, e multinacionais
de comércio e distribuição, de outro.

Amin destaca que o imperialismo contemporâneo se baseia na defesa de cinco


monopólios no mercado mundial: os fluxos financeiros e monetários, as fronteiras
tecnológicas, o acesso aos recursos naturais do planeta, os meios de comunicação e as
armas de destruição em massa. Qualquer medida que vise romper os monopólios e a
dependência tem uma resposta violenta por parte dos monopólios, oligopólios, agentes
que se beneficiam da financeirização e do Departamento de Estados dos EUA, incluindo
sanções criminosas, cooptação, golpes, terrorismo e ameaças de todo tipo para frustrar
qualquer iniciativa transformadora, desencadeando ferozes processo contra-
revolucionários.

Nas perspectivas formuladas no Norte Global, tende-se a apontar a questão da


desigualdade como fruto de uma incapacidade terceiro-mundista em se adequar a
padrões e modelos políticos, econômicos e institucionais notadamente ocidentais. Por
isso, sua dominação se faz por meio da intervenção econômica, política e cultural.

14
Amin considera que é um mito a possibilidade de os países do Sul atingirem os
ricos com políticas de desenvolvimento e é extremamente cético quanto à viabilidade de
projetos nacional-populares que não rompam com a lógica do capitalismo. É neste
contexto que Amin aponta a Grande Comunidade do “Sul Global” que representa 90%
da população mundial, apostando numa outra civilização. A luta por um mundo
multipolar com a China, a Rússia e a Índia como as grandes locomotivas, constitui o
caminho mais provável para fazer a transição para uma nova civilização que consiga
orientar-se para o Bem Comum Mundial. Conforme Amin, o Sul Global deve afirmar
suas próprias posições e distanciar-se da globalização sob o domínio do Norte que
monopoliza tecnologias, acesso a recursos naturais e domínio do sistema financeiro. O
Norte prescinde do Sul, mas o Sul pode prescindir do Norte, pois tem recursos naturais,
meios para desenvolver tecnologia e substituir as exportações com destino ao Norte para
fortalecer as trocas com outros países do Sul. O caminho para emancipação seria por
meio de maior estatismo e soberania, o que se choca com a dominação imperialista em
escala mundial (AMIN, 2014).

André Gunder Frank argumenta que os países do Terceiro Mundo não poderiam
– e não deveriam – reproduzir a trajetória de desenvolvimento econômico do Primeiro
Mundo, uma vez que esse desenvolvimento era produto das relações de exploração
colonial e imperialista. O produto dessas relações de subornação ao centro é o que
Gunder Frank chamou de “desenvolvimento do subdesenvolvimento”. Ele questiona a
“importação” de modelos de modernização econômica etapistas/capitalistas como
solução para a desigualdade e pobreza nos países periféricos. A aplicação destes
modelos no Terceiro Mundo levaria apenas ao enriquecimento das classes dominantes
nacionais e internacionais pela superexploração da mão de obra periférica. Assim,
defende interpretações socio-históricas que gerem soluções coerentes com as
especificidades locais de cada um dos países terceiro-mundistas.

Uma das formas mais hábeis de dominação imperial acontece por meio da
difusão da teoria que os países coloniais atrasados em seu desenvolvimento devem
atravessar paulatinamente diversos estádios de dependência e associação às potências
mais desenvolvidas e avançadas.

15
As políticas de ajuste estrutural desenvolvidas em Washington pelo
Departamento do Tesouro dos EUA e instituições multilaterais como o Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial — e entusiasticamente apoiadas por muitos
países ricos — contribuíram para "os colapsos do desenvolvimento que ocorreram nas
décadas de 1980 e 1990 fora do leste e sul da Ásia. Os poderosos países do Norte
conseguiram "chutar a escada" do desenvolvimento, impedindo que o Sul adotasse
políticas intervencionistas estatais muito necessárias (CHANG, 2002).

O Norte criou uma cartilha para o Sul aplicar dizendo que, desta forma, o Sul
poderia se aproximar do Norte, sintetizada pelo que se chama de “Consenso de
Washington” - CW. Em resumo, o CW exige do Sul Global a aplicação de políticas de
“ajuste fiscal” leva a privatização de empresas estatais, a oligopolização da indústria e o
sucateamento de agências governamentais e a infra-estrutura logística, com a redução da
capacidade de intervenção do Estado no processo de desenvolvimento econômico e
social e maior dependência de produtos tecnológicos produzidos no exterior. Porém, os
que seguiram este receituário, desconsideraram que nenhum país criou condições para o
bem-estar populacional sem construir um sistema industrial sob a coordenação de um
Estado soberano. Se trata de um anti-desenvolvimento, realizado em prol de monopólios
e oligopólios que controlam a economia nacional. O Sul não pode se fundir com o
Norte, pois aí não haveria nem Norte e nem Sul. O Norte só existe pela diferença
duradoura com o Sul. Por isso talvez que no Norte não se pratique o que se prega ao Sul
Global.

Argumentamos que o CW é uma rede de poder inserida no bloco hegemônico


neoliberal. O CW ajuda a implementar o modelo neoliberal de ajuste e reforma que
incluiu a liberalização unilateral do comércio e das finanças, a privatização de empresas
estatais, o mais rápido possível - terapia de choque - a fim de adaptar e disciplinar esses
países no 'caminho certo' da modernidade rumo ao primeiro mundo e a re-
regulamentação de normas e instituições2. Assim, como afirmamos, o CW é antes um
padrão específico de interdependência assimétrica entre atores internacionais e
transnacionais historicamente definidos e mediados por um conjunto de instituições
internacionais. Essa rede de poder caracteriza-se como uma relação Norte-Sul permeada
pela ideologia econômica neoliberal, apresentada como um pacote de políticas para
países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. O caráter consensual desse padrão de
interdependência assimétrica tornou-se mais forte após a Guerra Fria com a retórica do
“fim da história”, o fracasso das experiências econômicas e políticas autoritárias do
“socialismo real” e a perda de confiança na política de planejamento estatal minada pelo
crise fiscal nos países menos desenvolvidos na década de 1980. Na América Latina e na
África, os governos implementaram o CW de acordo com as recomendações de

16
instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Essas
instituições concederam empréstimos e linhas de crédito a países em desenvolvimento
condicionados a políticas drásticas de ajuste econômico baseadas principalmente em: 1)
liberalização financeira; 2) liberalização comercial unilateral; 3) privatização de
empresas públicas; 4) re-regulamentação da economia e; 5) cortes de gastos e ajuste
orçamentário (VADELL, 2014).

Depois de um ciclo apoiando os piores ditadores de direita pelo Sul Global, os


EUA passaram a interferir em outros países dizendo que estão promovendo “a
democracia” e pelos “direitos humanos”, com coação das instituições financeiras
internacionais. O Norte busca assegurar sua supremacia por meios econômicos,
políticos, militares e culturais. Aqueles que agem para realizar seu potencial nacional
fora deste pequeno clube é perseguido por todos meios possíveis para que não realizem
uma transição social, econômica e política que superem efetivamente e de forma
duradoura a dependência e controle externo sobre seu território e instituições, muitas
ditas “democráticas”.

Esse modelo, também denominado de “liberal-dependente”, caracteriza-se pelo


caráter dependente e pela falta de uma estratégia nacional de desenvolvimento. Do
ponto de vista da estrutura social, este modelo se caracteriza pela aliança política entre
uma burguesia industrial nascente e uma burocracia pública e privada também nascente.
Em uma primeira fase, o Estado além de indutor do desenvolvimento econômico, é
produtor, porque se encarrega da poupança forçada e dos investimentos que exigem
grandes capitais e proporcionam retorno lento. Em uma segunda, depois de se formar
um sistema empresarial poderoso, o Estado reduz seus investimentos, mas continua a ter
um papel indutor importante. E, em alguns casos, como o do Brasil, caracterizado por
elevado grau de desigualdade, desenvolve compensatoriamente um sistema de proteção
social amplo.

Na melhor versão, elaborada pelo sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique


Cardoso, se defende a viabilidade de um processo de democratização no interior de um
capitalismo dependente. Haveria sobras do Norte para satisfazer parcialmente as
necessidades na periferia. Para FHC, seria possível amenizar as contradições da
dependência, por meio de políticas sociais, num contexto liberal e democrático. Não

17
seria necessário romper com a dependência para se ter ganhos como “sócio minoritário”
dos países centrais.

Esta linha é defendida pelos “economistas ortodoxos”, guiados pelas teorias do


“livre mercado”, com apoio de organizações internacionais, grupos de pressão, lobistas
de empresas transnacionais, mídia corporativa e forças políticas interessadas na
associação subalterna ao Norte. Essa ideologia econômica faz parte da guerra cultural
para que todos aceitem o capitalismo liberal como única alternativa, apesar de seus
efeitos nefastos sobre as maiorias populares. Além disso, “economistas” liberais
defendem a “especialização” dos países, que consideraram um efeito positivo de uma
economia aberta global. Isso é, países do Sul Global devem ser exportadores de
matérias-primas e alimentos para o Norte, pois esta seria sua vocação na divisão
internacional do trabalho. E o Norte, por sua vez, poderia inundar os mercados do Sul
Global com bens industriais que os fabricantes locais não deveriam produzir, frustrando
assim qualquer iniciativa de desenvolvimento industrial sustentado.

O receiturário de “abrir, privatizar e desnacionalizar” se mostrou ineficaz,


minando a legitimidade dos governos e das classes políticas. Esse tipo de ação do
Estado reduz os vínculos com suas comunidades de origem, enfraquecendo a autoridade
estatal, perdendo a capacidade de coesão social e criando novos problemas, como crime
organizado, grupos armados e terrorismo. Ao perder a substância e a capacidade de ação
na formulação de políticas públicas cotidianas de interesse de sua população, de
políticos se mostrarem incapazes de comprometer o Estado reformas estruturais,
acabando a ficar restrito a políticas públicas emergenciais, muitas vezes insuficientes
para solucionar as grandes questões do desenvolvimento nacional.

Existem duas alternativas para o neoliberalismo: o estado desenvolvimentista e o


socialismo de mercado.

Um estado desenvolvimentista é caracterizado por ter forte intervenção do


estado, bem como extensa regulamentação e planejamento. A ideia de “Estado
desenvolvimentista” (Developmental State) fundamenta- -se na construção de processos
de desenvolvimento alicerçados em políticas setoriais, programas macroeconômicos e
projetos de infraestrutura, com a participação ativa do Estado.

18
Como demonstra Chang (2010), a definição de desenvolvimentismo está
associada à legitimidade social conferida ao Estado para interferir nas trajetórias de
desenvolvimento por meio de instrumentos vários de política pública. Ao longo da
história – ou, no mesmo momento, em distintos contextos sociais –, diversas
modalidades de Estado desenvolvimentista já foram testadas. Elas emergem em
diferentes condições políticas e se adéquam às instituições e aos valores que cada
sociedade estima serem legítimos no respectivo contexto histórico.

Geralmente, a caracterização de um Estado desenvolvimentista compreende,


segundo Bresser-Pereira (2010), (a) um certo nível de nacionalismo econômico; (b) a
proteção ou a sustentação da indústria doméstica; (c) o fortalecimento da burocracia
estatal; (d) o corporativismo fundado em uma aliança entre Estado, trabalho e setor
privado; (d) o incentivo à inovação e à transferência de tecnologia; e (e) a prioridade do
crescimento econômico sobre a estabilidade monetária. Em distintos contextos, porém,
cada uma dessas características se revela mais ou menos evidente.

Chalmers Johnson foi o primeiro a propor o conceito de "estado


desenvolvimentista", usando o termo para descrever fortes políticas intervencionistas
implementadas pelo Japão que levaram a uma industrialização rápida e sustentada e a
um desenvolvimento econômico de longo prazo. O termo tornou-se uma abreviação
para a ascensão bem-sucedida dos países recém-industrializados (NICs) do Leste
Asiático, ou os 'Tigres Asiáticos' – Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura. Este
paradigma afirma o Estado como chave para o processo de desenvolvimento, com
capacidade e intenção de resolver falhas de mercado, escassez de capital e falta de
coordenação entre governos e elites econômicas. Um dos princípios de um estado
desenvolvimentista envolve a elaboração de uma aliança estado-empresa mutuamente
benéfica, por meio da qual o estado implementa uma série de incentivos e recompensas
para persuadir os capitalistas domésticos a realizar investimentos em setores específicos
da economia. Essa relação sustenta parcialmente a justificativa para a propriedade
nacional. A propriedade nacional abre um espaço de desenvolvimento para empresas
domésticas competirem com empresas multinacionais por meio do protecionismo
estatal. Como as empresas estrangeiras podem expulsar as empresas de propriedade
nacional nas indústrias de média e alta tecnologia, as empresas nacionais só podem

19
alcançar o reconhecimento da marca e a sutileza tecnológica das empresas estrangeiras
por meio do protecionismo do mercado em um período de tempo
limitado. Crucialmente, as relações estado-empresas estão inseridas em uma estrutura
política, na qual a gestão centralizada de rendas permite que os estados imponham
estabilidade política, reduzam os custos de transação para atores privados para motivar
o empreendedorismo e criar mais oportunidades para rent-seeking impulsionado pela
produtividade.

O desenvolvimento liderado pelo Estado não é apenas gerar crescimento


econômico ou fornecer serviços sociais. Envolve muito mais do que simplesmente
gerenciar variáveis macroeconômicas como taxas de câmbio, volumes de oferta de
moeda e taxas de juros. Em suas versões mais avançadas, o estado também controla
empresas que vão desde a manufatura até o varejo e as indústrias de turismo. Os
investimentos são feitos por meio de agências governamentais, em vez de depender de
mercados de capitais privados, que são menos inclinados a correr riscos porque carecem
de informações completas. O setor público está no centro de muitas economias por meio
da propriedade pública de serviços públicos, como sistemas de transporte, serviços de
comunicação e instalações de produção de energia, entre outras coisas.

Na década de 1990, um grupo de países, entre os quais Índia, Indonésia,


Cingapura e Coréia do Sul, impressionaram o mundo com altas taxas de crescimento,
melhoria relativa das condições de vida da população e notórios progressos em termos
de infraestrutura e inovação tecnológica. Tudo isso foi obtido graças à vigorosa
intervenção do Estado, sem, no entanto, criar déficits orçamentários ou endividamento
público. Esses países negaram-se a aceitar as “boas instituições” promovidas pelos
países do Norte e continuaram com políticas industriais, comerciais e tecnológicas
fortemente protecionistas. Na prática, como demonstra Chang (2004), o que esses países
fizeram foi adotar o mesmo conjunto de políticas que, em diferentes momentos
históricos, tornaram ricos os países hoje desenvolvidos; depois, passaram a condenar
tais políticas, em uma clara estratégia de “chutar a escada” que lhes propiciou ascender
economicamente.

A terceira estratégia de desenvolvimento no Sul Global é representada pelo


Socialismo de Mercado, pelos países que estão em transição para um modo de produção

20
misto, combinando o modo de produção camponês e o modo de produção socialista
com o modo de produção capitalista. China e Vietnã estão à frente desta vertente, mas
havendo variações dela nos países socialistas remanescentes e experiencias de governos
democráticos na África e América Latina, com resultados variados. O “milagre” da
economia chinesa é uma ilustração de um modelo de desenvolvimento alternativo à
ortodoxia neoliberal promovida por Washington.

O socialismo de mercado não é nem capitalismo e nem socialismo soviético. Ele


remonta as propostas da Nova Política Econômica da Rússia na década de 1920, passa
pelo projeto de reformas socialistas na Hungria e outras Repúblicas do Leste Europeu
na década de 1960 e 1970, ganha dimensão histórica na China com as reformas a partir
de 1978, depois nas reformas de mercado no Vietnam e no Laos na década de 1980, em
medidas aplicadas por Cuba desde a década de 1990, mas especialmente a partir de
2013. Também passa por referência para diversos governos populares pelo mundo.

Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas chinesas, reviveu a máxima de Lênin


para NEP: “Avançada tecnologia capitalista + Estado da ditadura do proletariado”,
defendendo fortemente a inovação, dizendo: “Quanto ao desenvolvimento da ciência e
das tecnologias, quanto mais altas e novas, melhor e mais contentes ficaremos. Em
nosso esforço para concretizar a modernização, o ponto chave é elevar o nível de nossa
ciência e tecnologia. Devemos exigir um estilo de trabalho realista ou
revolucionário. Isso nos ajudará a transformar ideais elevados em realidade, passo a
passo”. Em 1982, ele disse: “No domínio das tecnologias, seremos bons em
aprender; em particular, devemos ser bons em inovar”. As reformas propostas por Deng
consistem na adoção de novos e inexplorados rumos. O Estado deveria ser reorientado
para liderar o esforço de modernização econômica, no sentido específico de favorecer,
com incentivos e proteção, a atração de capitais privados estrangeiros e,
simultaneamente, preservar determinada presença estatal direta na esfera produtiva. A
aposta e a confiança nos efeitos estruturais e positivos da integração com o mercado
mundial levou à política de portas abertas e de estreitamento das relações com o Japão e
o Ocidente, sobretudos os Estados Unidos.

21
No início das mudanças, argumentava-se de que haveria um limite para as
mudanças. Assim, as reformas não poderiam subverter os quatro princípios da
revolução, a saber: socialismo, ditadura democrático-popular, direção do PCC e
marxismo-leninismo-maoísmo. Em 1980, Deng expôs as três principais tarefas
estratégicas para a década que se avizinhava: i) luta contra o hegemonismo das
superpotências; ii) reunificação nacional, sobretudo a volta de Taiwan à China; e iii)
aceleração da construção econômica. Os quatro trabalhos seriam: i) reforma estrutural
da administração e revolucionarização dos quadros, com maior preparação cultural e
profissional; ii) desenvolvimento do espírito socialista; iii) combate aos delitos,
sobretudo na economia; iv) retificação do estilo de trabalho e consolidação orgânica do
PCC, a partir dos novos Estatutos. Dez princípios orientariam a gestão da economia: i)
política de desenvolvimento da agricultura, inclusive contando com avanços científicos;
ii) fortalecimento da indústria leve e reajuste da indústria pesada; iii) consumo eficiente
da energia e fortalecimento das indústrias de energia e de transportes; iv) transformação
técnica nas empresas; v) organização econômica com base em grupos de empresas; vi)
elevação dos investimentos na construção; vii) política de portas abertas para a
economia internacional e reforço da auto-sustentação; viii) reforma da estrutura da
economia e maior iniciativa dos vários setores; ix) elevação cultural e científica dos
trabalhadores e maior progresso da ciência e da tecnologia; x) prevalência da orientação
geral de “tudo para o povo”, vinculando economia e condições de vida das massas
(POMAR, 1987, p. 168-169).

As reformas tiveram início do campo, dando aos 800 milhões de camponeses o


direito de escolher diferentes sistemas de responsabilidade pela produção agrícola, de
forma cooperada, familiar ou individual. O que se precisava para garantir insumos e
alimentos para 1 bilhão de pessoas era ampliar o incentivo aos camponeses com a rápida
expansão da indústria leve, bens de consumo e serviços. A nova linha passou a visar o
crescimento de formas diversificadas de direito de propriedade. Passou a se introduzir
reformas com o objetivo de fortalecer o mecanismo do mercado, sempre com o
pressuposto que a propriedade pública deve permanecer dominante. E o motor deste
processo foram as empresas estatais consideradas de segurança nacional (indústrias
estratégicas ou chaves), como energia, defesa, telecomunicações, máquinas e
equipamentos, automotiva, tecnologias da informação, siderurgia, química, construção

22
naval e aviação, pesquisa e desenvolvimento. Elas começaram a se implantar uma
autonomia para negociar no mercado, para que viessem a se transformar em grandes
conglomerados, que pudessem liderar o processo de modernização.

Os comunistas reformistas chineses liderados por Deng Xiaoping inovaram na


condução da industrialização socialista a partir de 1978. Partindo uma base industrial
sólida e mais ou menos moderna construída entre 1949 e 1977, os chineses passam a
trilhar outro caminho que o soviético em condições de estabilidade interna e externa. Os
chineses concordam que a industrialização socialista cria a base material para o
desenvolvimento das formas socialistas de economia e a liquidação dos elementos
capitalistas, dando as formas socialistas de economia a supremacia técnica necessária
para derrotar inteiramente a formação capitalista. Porém, diferentemente da URSS, os
chineses buscaram um desenvolvimento gradual, partindo consolidar de indústrias leves
para mais complexas. Como um processo gradual – cujas condições para execução
nunca existiram na URSS – as reformas econômicas visaram primordialmente atrair
novas tecnologias e criar divisas por meio do comércio exterior, com processos de
mobilização de meios para o desenvolvimento da indústria que eram vistos como
incompatíveis com os princípios de um regime socialista. Com uma condição interna e
externa mais estável que a URSS, os chineses passaram a se abrir para o mercado de
capitais excedentes das potências capitalistas para solucionar o problema da acumulação
de meios para construção da indústria à custa de fontes externas. Buscam investimentos
externos para financiar os projetos de desenvolvimento industrial com estatais,
cooperativas, empresas privadas e mistas.

Após 14 anos do início das reformas, a viagem de Deng Xiaoping ao Sudeste


chinês desenvolvido, em 1992, após o fim definitivo da União Soviética, exorta à
utilização do mercado e das ferramentas capitalistas na construção do “socialismo de
mercado com características chinesas”. Deng usava a metáfora “vadear o rio, pulando
de pedra em pedra, deslocando-se de uma margem à outra”, a fim de justificar o
gradualismo das reformas de mercado. O certo é que, no decorrer do tempo, as reformas
graduais constituíram um acúmulo de mudanças parciais suficientes para mudar o todo.
As mudanças, de passo em passo, já trilharam mais do que o tempo de uma geração. A
acumulação quantitativa e gradual de reformas regressivas criou, ao longo do tempo, as

23
condições para a emergência de um patamar qualitativo “novo” na formação
econômico-social da China, com a prevalência de tendências e formas socialistas,
cooperadas, capitalistas e mistas.

Desde a reforma e abertura, a China desenvolveu vigorosamente indústrias de


mão-de-obra intensiva, participou do mercado internacional com produtos industriais de
baixa tecnologia, entrou nos elos de baixo valor agregado da cadeia industrial
internacional e, assim, integrou-se ao ciclo econômico internacional A partir de 2010, a
China passou a liderar o mercado mundial em alguns segmentos da indústria, como
máquinas e equipamentos elétricos e na química, e se posicionou como um dos
principais produtores em quase todos os demais segmentos industriais. O desempenho
da China não se restringiu apenas aos setores de média ou baixa intensidade
tecnológica. Ao contrário, progressivamente a China ampliou sua fatia dos chamados
bens de alta intensidade tecnológica (informática, equipamento de telecomunicações,
instrumentos médicos e ótica, aeronáutica e a indústria farmacêutica).

Isso se deve, além do fator político ligado ao Partido Comunista, ao consistente


investimento em tecnologia. Desde o início da década de 1980, o governo chinês vem
elaborando programas nacionais de ciência e tecnologia (C&T) que tem sido executados
ao longo de sucessivos planos qüinqüenais. As áreas prioritárias, objetivos e metas
desses programas foram sendo revistos e reorientados às diretrizes e aos objetivos
estratégicos do plano em vigor. Chama atenção o fato destes programas serem muitas
vezes implementados ao longo de dois, três ou quatro planos qüinqüenais. Apesar da
importância dos programas iniciados ainda nos anos oitenta, os fatos mais marcantes da
nova estratégia chinesa vieram com o 11º Plano Qüinqüenal (2006-2010), quando a
China mudou o foco de sua estratégia de crescimento, priorizando atividades orientadas
à inovação tecnológica no lugar da indústria e agricultura tradicionais. O Programa
Nacional de Médio e Longo Prazo para Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia
(MLP) de 2006, cujo horizonte vai até o ano de 2020, é o grande instrumento desta
mudança, com ênfase na inovação nativa, no salto tecnológico em áreas prioritárias e já
com ambição de alcançar um protagonismo global. Mais recentemente, com o novo
plano qüinqüenal chinês (2011-2015), a ênfase dada a esta dimensão da estratégia
chinesa foi reforçada. Este novo plano qüinqüenal faz a emblemática proposta de passar

24
do 'made in China' para o 'design in China'. A China já é o principal exportador de
produtos manufaturados do mundo e também é o segundo fabricante de bens de alta
tecnologia do mundo. Contudo, apesar dos gastos em P&D da indústria de alta
tecnologia terem triplicado entre 2003 e 2008, o diagnóstico deste novo plano
qüinqüenal é que o país ainda apresenta um atraso quando se trata dos esforços de P&D
das empresas desses setores. Sua meta é deixar de ser uma plataforma de exportação de
grandes empresas multinacionais estrangeiras e, também das empresas nacionais, para
dar um salto qualitativo passando da imitação para a inovação, buscando a liderança
mundial apoiada na inovação.

Vale destacar que durante todo o processo de reformas, de 1978 até nossos dias,
a China manteve a característica leninista-stalinista em torno da natureza sistemática e
continuada do planejamento chinês e a capacidade de fazer políticas efetivas de seu
Estado nacional. A sistemática chinesa de formulação e implementação de planos
qüinqüenais confere ao seu planejamento, quer em termos gerais ou setoriais, uma
eficácia muito maior que países capitalistas. Em primeiro lugar, porque a cultura de
planejamento de longo prazo já está estabelecida e é uma rotina para todos os órgãos de
governo. Em segundo lugar, porque há continuidade nas ações e os novos planos dão
seqüência aos anteriores, sem as rupturas que comumente ocorrem na democracia
liberal. Em terceiro lugar, porque a implementação dos programas é favorecida pelo
grau de comando e controle que o Estado chinês possui sobre muitos dos atores
envolvidos, que em grande parte depende diretamente do governo (empresas estatais,
institutos federais de pesquisa, etc.) ou estão sujeitos a regras bem rígidas.

Ao invés de adotar a cartilha liberal, a China modernizou e reforçou suas


empresas estatais. Manteve o monopólio sobre os ramos econômicos estratégicos
(financeiro, petróleo, energia, etc), mas com a novidade de colocar as diversas estatais
em concorrência, evitando a burocratização e promovendo o desenvolvimento
científico. As estatais também concorrem com as empresas privadas, obrigando-as a
elevar a produtividade, baixar custos e preços. Na China, a economia de mercado é
profundamente conectada com o sistema econômico socialista, cujo fundamento é a
propriedade pública como base da coexistência de uma variedade de propriedades. A
economia de mercado foi implantada sob sistemas capitalistas no ocidente. Na China foi

25
construída a partir de uma economia socialista. O atributo “socialismo” aponta o
objetivo e natureza da economia de mercado. Além disso, a economia de mercado
chinesa tem suas próprias características. Por isso, o socialismo chinês é muito diferente
das economias de mercado dos países capitalistas ocidentais.

Apesar da propaganda negativa, a China vem provendo, segundo alguns


estudiosos, a “maior transformação econômica dos últimos 250 anos” da história
mundial, com relativo sucesso a melhora das condições de vida da população. A
novidade deste modo de produção emergente é sua capacidade de contribuir para o
desenvolvimento das forças produtivas e se subordinar a um processo de constante
redistribuição de renda, de presença da sociedade e do Estado na economia através de
empresas de propriedade cooperativa, pública, estatal e mista.

Para se liberar as forças produtivas, se flexibilizou o controle dos meios de


produção de setores não-estratégicos, favorecendo a formação de empresas privadas e
cooperativas. O crescimento do setor privado se deu em conjunto com o aumento da
competitividade das estatais e cooperativas. O gasto público cresceu significativamente
com as empresas estatais sendo a espinha dorsal da economia, mantendo controle dos
principais meios de produção que atuam no mercado sozinhas e em grupos e servem de
base do planejamento macro-econômico, capaz de dirigir e regular o mercado. Os
chineses abriram sua economia de forma calculada e gradual, apresentando como
atração o baixo custo relativo de mão-de-obra, a boa infra-estrutura de energia,
transporte e comunicação, orientação no processo de investimentos e a estabilidade
social e política. Aproveitando o capital externo para criar e adensar suas cadeias
produtivas, condicionaram os investimentos à associação com empresas chinesas, a
transferência de novas e altas tecnologias e a participação no comércio internacional.
Criaram um sistema monetário soberano. Modernizaram as estatais e descentralizaram o
planejamento. Mantém uma política ativa de distribuição de renda por meio de
aumentos constantes de salários, aposentadorias e serviços públicos. E assim vem
superando a dependência, um caso singular na história.

O ex-presidente Jiang Zemin conta que Margaret Thatcher, em sua visita à


China, falou energicamente que era impossível mesclar socialismo e mercado. Zemin
teria respondido: tarde demais, Sra. Thatcher, já estamos fazendo e está dando certo. O

26
que era uma falta de lógica para o pensamento liberal, para os chineses fazia todo
sentido. Não deveria haver qualquer problema em recriar o socialismo com mercado,
repensar as experiências reformistas, inspirar-se pelo espírito da NEP russa e outras
experiências no Leste Europeu, aproveitar o acúmulo histórico das Quatro
Modernizações propostas por Zhou Enlai. Por outro lado, até por influência do
socialismo soviético, no Ocidente foi se solidificando uma opinião de que planejamento
é socialismo e a economia de mercado é capitalismo. Deng Xiaoping refutava um
pensamento rígido sobre planejamento e economia de mercado. Defendia que era
preciso uma grande e perigosa retirada estratégica, vagarosa e complexa, no ritmo que
consiguisse manter desenvolvimento econômico e estabilidade política, um sistema de
transição socialista, partindo das condições nacionais, combinando regulação do
mercado com medidas globais de planificação, admitindo uma diversidade de formas
produtivas para equilibrar o desenvolvimento econômico e social.

No capitalismo, o foco do Estado é o capital. Interfere para implantar infra-


estrutura para o capital, para apoiar setores do capital e salvar o capital quando entra em
crise. O capital é incapaz de uma perspectiva de longo prazo. E qualquer compensação
para as classes populares é feita à contragosto. No socialismo de mercado, o Estado
planeja e explicita seus projetos, combinando ações de curto, médio e longo prazo. O
papel do Estado é diferente das outras economias de mercado. O Estado mantém o
controle dos principais meios de produção, a maioria do sistema financeiro, o
desenvolvimento tecnológico e os ramos estratégicos da indústria e infra-estrutura. O
Estado interfere no mercado com seus bancos, indústrias, fazendas e órgãos de governo,
evitando desiquilíbrios do mercado em relação a preços e propriedades. O Estado
promove a distribuição de renda de modo a evitar polarização social.

Em um artigo de David Lane intitulado “Porque o socialismo de mercado é uma


alternativa viável ao neoliberalismo?”, debate-se a atualidade da perspectiva socialista
de mercado. Considerada uma alternativa viável ao capitalismo, a ideia-chave, de
acordo com cientistas políticos britânicos como Julian Le Grand e David Miller, é que o
socialismo de mercado retém o mecanismo de mercado enquanto socializa a
propriedade do capital. A “propriedade social” pode assumir muitas formas. A
propriedade cooperativa é altamente favorecida. Os empregados não possuem suas

27
máquinas ou empresas, o que seria considerado uma forma de capitalismo empregado.
Em muitas versões, as empresas têm o direito de usar e obter receita de seus ativos,
enquanto as agências de investimento possuem o capital e tomam decisões de gestão
estratégica. Mas cada empresa tem uma forma democrática e o controle dos
funcionários é uma delas (LANE, 2013). Conforme Lane,

Uma consequência de uma política socialista de mercado é que as empresas que falham
ao público e claramente carecem de responsabilidade pública seriam socializadas.
Atualmente, os setores bancário, de energia e de transporte ferroviário seriam os
principais candidatos. As políticas econômicas poderiam ser realizadas dentro da
estrutura capitalista para restaurar o crescimento e o emprego. Isso permitiria a
introdução de formas de planejamento indicativo que aumentariam ainda mais o
controle público (LANE, 2013).
Lane enfatiza que a maximização do lucro continuaria a ser a motivação do
empresário. A competição de mercado continuaria gerando lucros ou incorrendo em
falência. O objetivo seria alcançar um maior grau de igualdade na distribuição da
propriedade de capital. A renda da propriedade de capital não é obtida e sua distribuição
altamente desigual representa uma “responsabilidade moral”. Essa propriedade seria
“entregue” à propriedade pública. No entanto, os lucros do verdadeiro
empreendedorismo e inovação continuam e atuam como incentivos. E a renda
continuaria sendo usada como as pessoas desejassem – estilos de vida luxuosos e
conspícuos poderiam continuar (LANE, 2013). Nesta transição socialista de mercado:

Os valores capitalistas de competição e incentivo ao lucro ainda existem e


podem derrotar os elementos socialistas introduzidos pela propriedade social. Essas
políticas, pode-se admitir, são formas de capitalismo democrático com características
socialistas. Os níveis de desigualdade, mesmo refletindo uma contribuição positiva para
a economia, não seriam aceitos por muitos na esquerda. Lane aponta que o socialismo
de mercado tem a vantagem não apenas de fortalecer a democracia, mas também de se
mover na direção do socialismo dentro das sociedades capitalistas de mercado. A
socialização da economia, tal como o controle público, poderia ser introduzida de forma
fragmentada, formando um sistema híbrido. E a manutenção de muitos aspectos do
capitalismo, concomitante à introdução da propriedade e do planejamento socializados,
é considerada como tendo mais apelo para o público.

28
Haveria conquistas positivas em termos de alocação de capital e distribuição de
renda. Tem algum apelo até mesmo para os céticos em relação ao planejamento e à
gestão do Estado. Como um programa mínimo, ele reverteria a financeirização e
instalaria a propriedade pública sobre as empresas em falência. Finalmente, estenderia o
muito valorizado bem social da democracia na forma de cooperativas e controle dos
empregados. Lane enfatiza que os socialistas de mercado podem ser culpados por
simplificar demais suas propostas para um sistema econômico híbrido. Empresas
autônomas que buscam eficiência de mercado exigem incentivos e seu sucesso é medido
em termos de lucratividade. Isso, por sua vez, não apenas gera desigualdade, mas mina
os valores socialistas. As forças de mercado, mesmo no contexto de propriedade
pública, acarretariam um nível de anarquia econômica e incerteza. Lane pondera que a
divisão da economia em setores privados, coletivos e estatais e a orientação do
planejamento central e do mercado não tem sido fácil e operacionalmente sem
problemas, nem sempre combinando o melhor dos dois sistemas, ou seja, o mercado
livre e o socialismo planejado centralmente (LANE, 2013). Lane impressiona as mentes
mais utópicas que acreditam num socialismo sem conflitos, erros e contradições. Trata-
se de um sistema de transição essencialmente contraditório, com diversos riscos de
sabotagem e cheio de percalços.

Em um mundo com extrema necessidade de novos modelos, as “economias de


mercado socialistas” asiáticas podem oferecer uma alternativa realista para outros países
em desenvolvimento? O modelo contém importantes lições para outros estados, mas
devido às suas características distintas, bem como às variações locais entre China,
Vietnã e Laos, a economia socialista de mercado não representa um modelo facilmente
transferido e copiado para outros estados. Além disso, a economia de mercado socialista
é produto de um período único, representando estados comunistas moldados pela
Guerra Fria, adaptando-se às forças da globalização e à liberalização do comércio e dos
fluxos de capital. Porém, considerando as dificuldades de transição, todos os modelos
de socialismo de mercado são variações adaptadas às condições nacionais. E
representam um modelo que tem melhor desempenho do que os sistemas econômicos de

29
países com um nível semelhante de renda per capita em uma ampla gama de indicadores
de desenvolvimento5.

Nessa etapa de estágio de desenvolvimento das forças produtivas, o caminho


socialista terá que conviver com uma proporção de ações capitalistas que contribuam
para completar aquele desenvolvimento, conjugando diversas formas de propriedade:
estatal, privada, pública não-estatal, empresas mistas, associações público-privadas,
público-público, público-cooperativas, cooperativo-privadas, empreendimentos de
economia solidária. No socialismo a economia de propriedade pública não se limita às
economias estatais e coletivas, abrangendo em si ainda os componentes de propriedade
estatal e de propriedade coletiva dentro das economias de propriedades mistas.

O socialismo em países atrasados provavelmente deve combinar e promover


diversas formas de propriedade social, desde empresas cooperativas até empresas
estatais e associações destas com capitais privados, passando por um amplo leque de
formas intermediárias nas quais trabalhadores, consumidores e técnicos estatais se
combinem de diversas formas para engendrar novas relações de propriedade sujeitas ao
controle popular. Propriedade estatal, privada, pública não-estatal, empresas mistas,
associações público-privadas, público-público, público-cooperativas, cooperativo-
privadas, empreendimentos de economia solidária Um socialismo que potencialize a
descentralização e a autonomia das empresas e unidades produtivas e, ao mesmo tempo,
faça possível a efetiva coordenação das grandes orientações da política econômica. Um
socialismo com um ordenamento econômico mais flexível e diferenciado, no qual a
propriedade estatal dos recursos estratégicos e dos principais meios de produção –
questão esta não negociável – conviva com outras formas de propriedade pública não
estatal, ou com empresas mistas nas quais alguns setores do capital privado se associem
com corporações públicas ou estatais, ou com companhias controladas por seus
funcionários em associação com os consumidores, ou com cooperativas ou formas de
“propriedade social” fora da lógica da acumulação capitalista.
O setor público deve apoiar e desenvolver a área socialista da economia,
industrialização sobre a base de relações de produção socialistas, introdução de

5
Hansen, Arve (org.) A economia socialista de mercado na Ásia. Desenvolvimento na China, Vietnã e
Laos

30
elementos de planificação econômica e gestão socialista. As formas de propriedade
social, tais como autogestão, comunal e a propriedade estatal devem passar a jogar um
papel crescente no sistema econômico. A formação de novas estatais também pode
contribuir para o aceleramento de setores de ponta e a transformação de todas as estatais
em indutoras de industrialização. Consórcios estatais-privados também deveriam atuar
para o desenvolvimento das micros, pequenas e médias empresas capitalistas,
industriais e agrícolas, na perspectiva de romper os oligopólios das grandes burguesias,
estrangeiros e nacionais, reforçar a pequena e a média burguesia e, portanto, incentivar a
competição entre elas. O mesmo em relação às cooperativas e empresas solidárias. O
desenvolvimento das economias não-estatais sob as condições de predominação da
economia de propriedade pública é a exigência objetiva do desenvolvimento da força
produtiva na fase inicial do socialismo, e desempenha importante papel para satisfazer
as necessidades diversificadas da população para a vida material e cultural, ampliar os
empregos e promover a expansão de toda a economia nacional.

Nessa etapa de estágio de desenvolvimento das forças produtivas, o caminho


socialista terá que conviver com uma proporção de ações capitalistas que contribuam
para completar aquele desenvolvimento, conjugando diversas formas de propriedade:
estatal, privada, pública não-estatal, empresas mistas, associações público-privadas,
público-público, público-cooperativas, cooperativo-privadas, empreendimentos de
economia solidária. No socialismo a economia de propriedade pública não se limita às
economias estatais e coletivas, abrangendo em si ainda os componentes de propriedade
estatal e de propriedade coletiva dentro das economias de propriedades mistas.

Tensões e contradições num processo de construção deste modo de produção


socialista de mercado, guardada as características nacionais, são geradas
inevitavelmente. É evidente que o socialismo não é a erradicação da discórdia, a criação
de unanimidades em torno do “bem comum” ou a geração espontânea e permanente de
consensos. Se o socialismo fosse sem conflitos, defeitos e contradições, se está no reino
na utopia, no pior sentido do termo. Por isso, o socialismo de mercado, apesar das
contradições, supera a perda do escopo e a pureza da agenda socialista, colocando mais
concreto onde reinam boas intenções. Diante do capitalismo senil, o socialismo de
mercado oferece uma saída. Quanto mais povos e países iniciarem transições socialistas

31
fortalecendo este modo de produção emergente, podendo desafiar o capitalismo
financeiro e transnacional, inibir suas tendências mais destrutivas, como guerras, fome,
miséria, desemprego, crise climática, colonialismo, etc, mais rápido poderá uma
ofensiva socialista conter as inerentes tendências destrutivas do capital. Não se sabe se o
socialismo de mercado será a formação social de transição em todos os países do Sul
Global, para ter soberania, realizar o crescimento econômico, técnico e científico, tendo
a indústria como principal instrumento, que os levará a uma sociedade superior ao
capitalismo. Apesar disso, a experiência até agora exitosa demonstra que o socialismo
de mercado é uma poderosa estratégia cujos paradigmas podem ser utilizados por
qualquer país para seu desenvolvimento.

Olhando para os últimas 40 anos de dominância liberal, a taxa de crescimento


econômico geral foi menor do que o keynesianismo da Segunda Guerra Mundial
período. Nem os principais países capitalistas centrais e nem os menos
desenvolvidos (também conhecidos como o Quarto Mundo) ficaram ricos e fortes com a
globalização econômica neoliberal. Alguns até ficaram mais pobres. Com pandemia de
COVID-19, se escancarou as mazelas do capitalismo, como falta de coordenação
estatal, privatização e controle político em favor dos mais ricos, polarização e aumento
da desigualdade social, crescimento e produtividade em declínio, farra nos mercados
financeiros, insegurança alimentar e até casos de piratagem, como no caso do governo
Trump confiscando produtos médicos. Nesta situação, paralelamente, o mundo avança
para a fase de dominação socialista da globalização econômica liderada pela China com
o “socialismo de mercado” como alternativa realista ao Consenso de Washington e Wall
Street.

Enquanto a estratégia do Consenso de Washington leva ao anti-desenvolvimento


das nações do Sul, tanto o Capitalismo de Estado como o Socialismo de Mercado visam
o desenvolvimento socioeconômico como uma dinâmica de diversificação da estrutura
produtiva, inovação e controle nacional sobre a economia e maior posição mais central
no sistema mundial. Ambos levam que conta que o desenvolvimento envolve
simultaneamente processos internos e alterações do poder relativo dos países na esfera
internacional. Nesse sentido, desenvolvimento se refere tanto aos aspectos qualitativos
do processo de acumulação de capital e crescimento econômico quanto ao aumento do

32
poder nacional para se proteger do Norte. Se os países do Sul Global seguirem a linha
associada ao Norte, pouco deve-se esperar de resultados consistentes quanto ao
desenvolvimento nacional com a instauração de reformas voltadas a “aprofundar” a
ideia de transnacionalização desnacionalizadora das economias de estado.

O (sub)desenvolvimento do Sul Global também é em grande parte moldado,


controlado, monitorado, penalizado e incentivado por entidades do Norte. Ao se adotar
as linhas do Norte, é comum que, no Sul Global, se enfrente uma ausência de
ferramentas e estruturas de conhecimento, com formuladores de políticas que não
podem elaborar políticas relevantes sem assistência técnica externa projetada para
salvaguardar os interesses hegemônicos.

É verdade que, muitas ex-colônias permanecem limitadas pelo domínio colonial


em suas formas de conhecer, ver e visualizar o mundo. Foram bestializadas pela
repressão terrorista das classes dominantes locais em conluio com o Norte. Na academia
e na mídia, baseiam o desenvolvimento em indicadores, índices e teorias pré-fabricados
a estadistas que equiparam o progresso com assistência exógena e reconhecimento.

Apesar de existir uma falta de alternativas disponíveis ao capitalismo


monopolista no Ocidente, estamos vendo (com diferentes reações) a ascensão global da
China e outras experiências socialistas remanescentes sob um novo paradigma que se
pode denominar de forma ampla como “socialismo de mercado”, um sistema que
engloba diferentes cadeias produtivas e territórios e já apresenta uma superioridade ao
capitalismo em diversos quesitos. O socialismo tornou-se (novamente) possível e
factível com este novo modo de produção híbrido construído na China e alguns outros
países, em maior ou menor grau, como Vietnã, Laos, Cuba, Angola e Namíbia. Aqueles
que dizem que socialismo com mercado é impossível, um paradoxo, um oximoro ou
simplesmente indesejável, adotam uma posição negacionista da realidade histórica
construída nas últimas décadas na China e outros países socialistas.

É evidente que o capitalismo e as grandes potências fazem de tudo para não dar
espaço para que outro modo de produção se consolide, coexista e compita com ele. Com
o fim da URSS, muito se alardeou sobre a superioridade do capitalismo, porém hoje a
situação é substancialmente diferente, com o socialismo de mercado colocando novos

33
paradigmas ao Sul Global. Tensões e contradições num processo de construção deste
modo de produção socialista de mercado, guardadas as características nacionais, são
geradas inevitavelmente. Diante do capitalismo senil, o socialismo de mercado oferece
uma saída. Quanto mais povos e países iniciarem transições socialistas fortalecendo este
modo de produção emergente, podendo desafiar o capitalismo financeiro e
transnacional, inibir suas tendências mais destrutivas, como guerras, fome, miséria,
desemprego, crise climática, colonialismo, etc., mais rápido poderá uma ofensiva
socialista conter as inerentes tendências destrutivas do capital.

De forma geral, o socialismo de mercado é um sistema de transição socialista,


partindo das condições nacionais, combinando regulação do mercado com medidas
globais de planificação, admitindo uma diversidade de formas produtivas para equilibrar
o desenvolvimento econômico e social. Ainda existe um longo caminho para o processo
de desenvolvimento socialista com mercado nestes países, porém, pode ser que um
socialismo que conjugue desenvolvimento nacional, com estabilidade política e
crescimento econômico – como o socialismo de mercado – venha a despontar durante o
século XXI como um sistema social mais dinâmico, eficaz e justo que o capitalismo.

Poderia ser dito que, estrategicamente, o que está em jogo hoje é a transição de
países do Sul Global que estão na linha liberal-associada para um capitalismo de Estado
ou formas nacionais de socialismo de mercado. Um primeiro passo para a transição da
linha liberal para um capitalismo de Estado é garantir que os países tenham o direito de
usar tarifas, subsídios e outras políticas industriais para construir capacidade econômica
soberana. Com isso, uma institucionalidade política que submeta os interesses
monopolistas e se submeta ao planejamento dos recursos ociosos e ao plano de
desenvolvimento nacional delineado. Está transição hoje é boicotada e atacada em
diversos países pela capacidade de ação do Norte em criar golpes e rupturas de
processos de desenvolvimento nacional. Para o socialismo de mercado, é preciso
implantar enclaves estatais e socialistas na economia, competindo com o capitalismo.

O Sul Global é o único realmente interessado na superação do capitalismo


liberal. Por isso, uma nova ordem mundial liderada pelo Sul Global só é benéfica se for
feita com base na cooperação mútua, na consulta e respeito a forma com que cada nação

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encontra para melhor se desenvolver. O processo de emancipação do Sul Global
começou no século XX e ainda está longe da sua conclusão. Podem ser atrasados pelo
controle financeiro e ideológico, por guerras e guerras, mas não se consegue acabar com
toda capacidade de resistência. As transições de países liberal-dependente para
capitalismo de estado ou socialismos de mercado podem ser derrotadas, com a
intensificação da luta de classes e do cerco imperialista. Estes regimes passam a ser
acusados de “ditaduras corruptas”, “fracassos econômicos”, “populismos”, etc, e tem
que resistir as tentativas de desestabilização, penúria induzida, sanções e isolamento do
sistema financeiro dominado pelo Norte. O Norte se dá ao direito privilegiado e
exclusivo de apontar quais são as civilizações a serem defendidas e atacadas, com
eterno primado moral e político sobre o resto, isso é, o Sul Global. Todos os
movimentos estratégicos do Norte visam impedir a emergência de atores competitivos e
independentes, inclusive minando alianças Sul-Norte, como entre China e Japão, Rússia
e Alemanha, China e Austrália, Brasil e União Europeia. O Sul Global está em
contradição com os interesses das potencias do Norte. Atua-se para bloquear a ascensão
de Estados que possam competir com a estrutura de poder dominante. A estratégia do
Norte é a contenção de potencias emergentes e bloqueio de projetos nacionais com
política externa e segurança autônoma. A estratégia dos Estados Unidos para conter a
China e considerar ameaças Rússia e Irã, entre outros, representa uma estratégia de
contenção do Sul Global. Essa estratégia de contenção do Sul pode ser bem sucedida e
inviabilizar no século XXI a formação de uma nova ordem mundial, resultando na
recolonização conduzida pelo Norte.

Os pilares da dominação do Norte – poder militar, político, econômico e


ideológico – são desafios pelo Sul Global que passa a reinvidicar um papel mais
significativo no sistema internacional, o que inclui a não-intervenção política-militar,
diversificação comercial, transferência de tecnologia e competição em indústrias
monopolizadas pelos Norte. O que está em jogo, neste contexto, é se os países do Sul
Global conseguirão adotar políticas mais apropriadas para sua emancipação e
desenvolvimento.

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4. SOBRE O AUTOR

Fernando Marcelino Pereira nasceu em Curitiba (1987), graduado em Relações


Internacionais pela UNICURITIBA, Mestre em Ciência Política e Doutor em
Sociologia pela UFPR. Realiza o pós-doutorado no programa de Política Públicas e
Planejamento Urbano, na UFPR, comparando a urbanização chinesa e brasileira.
Especializado em China, tendo atuado no Escritório Paraná-China junto ao IPARDES.
Membro do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), produzindo diversas pesquisas
sobre genealogias de famílias ligadas ao poder econômico, político, judiciário, midiático
e do tribunal de contas no Paraná e no Brasil. Militante do Movimento Popular por
Moradia (MPM) no Paraná. Membro do Mimesis Conexões Artísticas e do Samba da
Resistência.

Autor dos livros: Classes Dominantes no Paraná Contemporâneo: Família, Poder


e Riqueza (2019, genealogia política), COVID-19 e a nova geopolítica global (2020,
relações internacionais), China: novos ensaios (2023, sinologia), Marx no século XXI:
valor, crise e capitalismo financeiro (2023, economia política), Guerra Civil Brasileira:
1891-1894 (2023, história), Em Defesa do Projetamento: Ignácio Rangel e os desafios
do desenvolvimento brasileiro (2023, economia política), Geopolítica Hídrica Global:
energia e hidro-hegemonia em disputa (2023, relações internacionais), Estratégias de
Desenvolvimento no Sul Global: capitalismo liberal, capitalismo de estado ou
socialismo de mercado? (2023, economia política), Introdução ao Planejamento na
China: Planos Quinquenais e Desenvolvimento Urbano (2023, sinologia e urbanismo),
A Revolução das Cidades Inteligentes na China: Perspectivas do Desenvolvimento
Urbano no Século XXI (2024, urbanismo).

Na literatura, é autor dos livros Desencontros e seus golpes (2016, poesia),


Revolta Paraná (2022, conto), Profeta Joel: vivendo no fim dos tempos (2022, teatro),
93 Haikais (2022, poesia), Oito breves amorosidades (2022, poesia) e Última hora
(2022, poesia).

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