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Universidade Pedagógica

Delegação de Quelimane
Departamento De Ciências Sociais E Filosóficas
Licenciatura Em Ensino De História Com Habilitação Em Documentação
Cadeira: História De África
Docente: Casimo Jamal
Estudante: Felisberto Pompilio Mucamba

Organização de Unidade Africana (OUA)


A Organização de Unidade Africana (OUA), instituição diplomática internacional, foi fundada a
25 de Maio de 1963, em Addis Abeba, na Etiópia, por trinta chefes de Estado e de Governo
africanos, e substituída pela União Africana (criada a 11 de Julho de 2000).
A Organização de Unidade Africana tinha como objectivos principais a defesa da independência
dos países africanos colonizados, a luta contra toda e qualquer manifestação de colonialismo ou
neocolonialismo, a promoção da paz e da solidariedade entre os países africanos e a defesa dos
interesses políticos, económicos e sociais dos países-membros e da África em geral.
    Os líderes africanos, de então, tinham a consciência que a liberdade, a igualdade, a justiça e a
dignidade, em África, não deveriam ser palavras ocas e vãs, mas aspirações legítimas dos povos
africanos. Pós esses factos deveriam estar consagrados na Carta da OUA, tal como o estavam na
Carta de São Francisco.
Todavia, estes objectivos estiveram sempre longe de ter sido atingidos. Por um lado, os conflitos
que grassaram no Continente foram, não só inúmeros, como as interferências externas, por
Estados vizinhos, levaram à saída da Organização, em 1984, do Reino de Marrocos. Por outro
lado a subserviência a um dos blocos políticos, de então, provocaram um estado de semi-coma
da OUA – só se falava na Organização durante as Cimeiras anuais. – Mesmo as Cimeiras franco-
africanas e as reuniões da Commonwealth eram mais participativas e com maior impacto dos que
as Cimeiras da OUA.
 O Movimento africanista só começou a ter uma maior relevância após a “Pereströika” e a
“queda do Muro” e, mais recentemente, após a reunião de Syrte, Líbia, a 9 de Setembro
de 1999.
Talvez por isso que, nos últimos anos, alguns dos novos dirigentes políticos africanos,
inteligentemente secundados por antigos dirigentes e ditadores africanos, e apoiados em
inúmeros artigos de opinião de académicos e dos media, questionaram a actual Unidade africana
e solicitaram a sua reformulação. A 35ª Cimeira, em Argel, procurou já avançar com algumas
alterações como o veto e boicote a todos os Estados cujo regime seja devido a um qualquer
Golpe de Estado e a veemente crítica às intervenções estrangeiras em Estados africanos,
reforçando uns dos princípios da Carta, a resolução pacífica dos conflitos e a condenação de
assassínios políticos e de actividades subversivas.
    A última, e talvez a mais importante e consistente, surgiu em Syrte, com a proposta do
presidente líbio Kadhaffi para a reformulação e revitalização da Carta da OUA, visando a
constituição de uma efectiva Unidade Africana. O principal objectivo da sua proposta passava
pela criação dos Estados Unidos de África, a sul do Saara. Numa primeira fase os estados
africanos deveriam se juntar num Mercado Económico Comum, na linha da antiga CEE; na
segunda fase numa União Africana (UA), na criação de um Banco Central Africano e na de um
parlamento pan-africano; e, na fase final, nos Estados Unidos de África.
Esta proposta líbia conquistou a posição favorável de alguns líderes africanos, destacando-se, de
entre eles, os senegalês e chadiano, conforme ficou perspectivado na 36ª cimeira anual do
Bureau da OUA, verificada entre 10 e 12 de Julho de 2000, e do Secretário-Geral da ONU, Kofi
Annan, um ganês. Entre os 53 Estados afiliados na Organização, só cerca de 40 Estados
apareceram e, destes, 25 subscreveram e rubricaram o acto constitutivo da União Africana, que
foi ratificada em 2001, na 37ª. Cimeira, realizada em Lusaka, Zâmbia, sob a presidência de
FrederickChiluba, o último presidente, em exercício, da OUA.
Apesar do optimismo que a criação da União Africana colheu junto de uma grande parte dos
líderes e elite africanos, Kofi Annan, Chiluba, Mandela, Kadhaffi, Eduardo dos Santos, etc., a
dúvida quanto à sua exequibilidade manteve-se entre outra parte significativa de dirigentes
africanos. De entre eles se destacam os dirigentes nigerianos e o último Secretário-Geral da
OUA, o tanzaniano Salim Ahmed Salim. Este questionava se a União Africana não seria,
somente, uma Organização de Unidade Africana com um novo nome.
Todavia, no decorrer da 38ª e última cimeira da OUA, que ocorreu em Durban, a 9.Julho.2002, e
sob a presença do Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, foi formalmente instituída a União
Africana.
 O presidente sul-africano, ThaboMbeki, é o primeiro presidente da Organização, e o
antigo Secretariado da OUA manter-se-á em funções até à II Cimeira Ordinária a realizar
em Maputo, em 2003.
Nesta Reunião ficou ainda definido que:
1. A Organização assenta numa estrutura próxima da sua congénere europeia, a União Europeia,
encimada por uma Assembleia (de chefes de Estado e de Governo), um Conselho Executivo
(nível ministerial), um Comité de Representantes Permanentes (nível de embaixadores) e uma
Comissão;
a)A Comissão, novo órgão será constituída por 2 (dois) representantes de cada um das 5 (cinco)
regiões que farão a gestão de 8 (oito) pastas. A(s) região(ões) que nomear(em) o presidente e o
vice-presidente só terão direito a uma pasta;
2. A UA terá, ainda, um Conselho de Segurança e Paz (CSP), análogo ao CS das Nações Unidas
(com a diferença de não ter lugares permanentes), preenchido por três representantes eleitos por
cada uma das regiões africanas;
a)      Dez dos membros do Conselho serão eleitos para mandatos de dois anos e os restantes
cinco para um exercício trienal, de forma a garantir a continuidade e eficácia do órgão mesmo
nos períodos de transição;
b)      O CSP terá acesso imediato a contingentes militares que todos os países se comprometem a
manter em estado de prontidão, para intervenção directa ou destacamento de uma força de paz
continental, em caso de necessidade;
3.O Parlamento Pan-Africano, será constituído por cinco deputados eleitos em cada Estado-
membro da UA para mandatos de quatro anos. Terá a sede em Tripoli, Líbia.
4. A formação de um exército único pan-africano, o Banco Central pan-africano (terá por génese
o actual BafD), a moeda única e o Tribunal Inter-continental, deverão ser analisados numa das
próximas Cimeiras, ou nas reuniões do novo instrumento pan-africano, o Mecanismo de Revisão
por Pares (MRP), o qual põe em causa a regra número um da extinta OUA, o respeito pela
soberania interna de cada país, mas em nome da solidariedade pluricontinental.

A OUA tinha as suas raízes no pan-africanismo, que surgiu, ainda em finais do século XIX,
como manifestação de solidariedade entre intelectuais de origem africana, espalhados pelo
mundo, contra a hegemonia cultural branca. Mas foi essencialmente a partir da Segunda Guerra
Mundial que o pan-africanismo ganhou força, apresentando-se como uma ideologia de defesa
dos valores culturais de África e de contestação à ocupação e repartição geopolítica do continente
efectuadas pelas potências europeias.
Neste contexto, a Carta da OUA proclamava a vontade de salvaguardar a soberania e o respeito
pela integridade territorial dos vários países, bem como a intangibilidade das fronteiras, de uma
maneira geral, resultantes da ocupação colonial. Para além disso, pretendia eliminar todas as
formas de colonialismo em África e fazer respeitar a Carta das Nações Unidas e a Declaração
Universal dos Direitos do Homem.
A OUA tinha como órgão supremo a Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, que
reunia, pelo menos, uma vez por ano. Os outros órgãos que a integravam eram: o Conselho de
Ministros, composto por ministros dos Negócios Estrangeiros ou outros, designados pelos
Governos respectivos, devendo reunir-se, ordinariamente, duas vezes por ano; o Secretariado
Geral; a Comissão de Mediação, Conciliação e Arbitragem, que tinha por missão intervir por
meios pacíficos nos diferendos que surgiam entre os estados-membros (por exemplo, entre a
Argélia e Marrocos, em 1964-1965, e entre a Somália, a Etiópia e o Quénia, em 1965-1967); e as
comissões especializadas para as áreas económico-social, da defesa, da educação e cultura, da
saúde, higiene e nutrição, e da ciência, tecnologia e investigação. Em 1966, foi criado o Comité
de Libertação ou de Descolonização.
Por último, a OUA foi substituída pela União Africana que visa acelerar a integração
socioeconómica do continente africano e promover a solidariedade entre os estados-membros,
tentando assim responder aos novos desafios e desenvolvimentos políticos, económicos e sociais
que se colocam a África e ao Mundo.

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