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Índice

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 2
II. OBJETIVOS.................................................................................................................................... 3
2.1. Geral ............................................................................................................................................. 3
2.2. Específico ..................................................................................................................................... 3
III. CARTA AFRICANA DOS DIREITOS DO HOMEM E DOS POVOS (1981) ......................... 4
3.1. Preâmbulo.................................................................................................................................... 4
3.2. Dos direitos humanos e dos povos ............................................................................................. 5
3.3. Medidas de salvaguarda ............................................................................................................. 8
3.3.1. Da composição e da organização da comissão africana dos direitos humanos e dos
povos 8
3.4. Das competências da comissão ................................................................................................... 9
3.5. Do processo da comissão............................................................................................................. 9
3.6. Disposições diversas .................................................................................................................. 10
IV. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (1975) .......................................... 11
4.1. Contexto Histórico .................................................................................................................... 11
4.2. República de Moçambique ....................................................................................................... 11
4.3. Soberania e legalidade .............................................................................................................. 11
3.4. Poder Constituinte na formação da Constituição da República Popular de Moçambique de
1975 ........................................................................................................................................................ 12
V. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (1990) .............................................. 14
5.1. Principais mudanças na constituição de 1990 ........................................................................ 14
VI. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (2018) .......................................... 16
6.1. Princípios Constitucionais Estruturantes Não Alterados ...................................................... 17
6.2. Definição Dos Limites Da Descentralização ........................................................................... 17
VII. CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 19
VIII. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 20

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I. INTRODUÇÃO

A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos inclui preâmbulo, 3 partes, 4 capítulos e 63
artigos. A Carta seguiu os passos dos sistemas europeu e interamericano, criando um sistema
regional de direitos humanos para a África. A Carta compartilha muitas características com outros
instrumentos regionais, mas também possui notáveis características únicas em relação às normas
que reconhece e também ao seu mecanismo de supervisão.

O compromisso do preâmbulo com a eliminação do sionismo, que compara com o colonialismo e


o apartheid, fez com que a África do Sul qualificasse sua adesão de 1996 com a ressalva de que a
Carta se alinhasse com as resoluções da ONU "sobre a caracterização do sionismo".

Ela surgiu sob a égide da Organização da Unidade Africana – OUA (sucedida pela União Africana
UA, em 2002), que, na sua Conferência dos Chefes de Estado e de Governo de 1979, aprovou uma
resolução determinando a criação de uma comissão de especialistas para elaborar um instrumento
de direitos humanos de amplitude continental, análogo aos já existentes na Europa (Convenção
Europeia dos Direitos Humanos) e nas Américas (Convenção Americana sobre Direitos
Humanos). Essa comissão foi devidamente instalada e produziu um projeto que foi então aprovado
por unanimidade pela Assembleia da OUA, em 1981.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a carta Africana.

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II. OBJETIVOS
2.1.Geral
 Apresentar a Carta Africana e fazer cruzamento das constituições dos anos 1975, 1990 e
2018.

2.2.Específico
 Apresentar o preâmbulo;
 Descrever a parte e dispositivos legais;
 Apresentar a Constituição da República de Moçambique do ano 1975;
 Apresentar a Constituição da República de Moçambique do ano 1990;
 Apresentar a Constituição da República de Moçambique do ano 2018-

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III. CARTA AFRICANA DOS DIREITOS DO HOMEM E DOS POVOS (1981)
3.1.Preâmbulo
Os Estados africanos membros da Organização da Unidade Africana, partes na presente Carta que
tem o título de "Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos", Lembrando a decisão 115
(XVI) da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, na sua XVI sessão ordinária realizada
em Monróvia (Libéria) de 17 a 20 de julho de 1979, relativa à elaboração de "um anteprojeto de
Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, prevendo nomeadamente a instituição de
órgãos de promoção e de proteção dos Direitos Humanos e dos Povos".

Considerando a Carta da Organização da Unidade Africana, nos termos da qual "a liberdade, a
igualdade, a justiça e a dignidade são objetivos essenciais para a realização das legítimas
aspirações dos povos africanos".

Reafirmando o compromisso que eles solenemente assumiram, no artigo 2º da dita Carta, de


eliminar sob todas as suas formas o colonialismo da África, de coordenar e de intensificar a sua
cooperação e seus esforços para oferecer melhores condições de existência aos povos da África,
de favorecer a cooperação internacional tendo na devida atenção a Carta das Nações Unidas e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Tendo em conta as virtudes das suas tradições históricas e os valores da civilização africana que
devem inspirar e caracterizar as suas reflexões sobre a concepção dos direitos humanos e dos
povos; Reconhecendo que, por um lado, os direitos fundamentais do ser humano se baseiam nos
atributos da pessoa humana, o que justifica a sua proteção internacional, e que, por outro lado, a
realidade e o respeito dos direitos dos povos devem necessariamente garantir os direitos humanos.

Considerando que o gozo dos direitos e liberdades implica o cumprimento dos deveres de cada
um; Convencidos de que, para o futuro, é essencial dedicar uma particular atenção ao direito ao
desenvolvimento, que os direitos civis e políticos são indissociáveis dos direitos econômicos,
sociais e culturais, tanto na sua concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos
direitos econômicos, sociais e culturais garante o gozo dos direitos civis e políticos.

Conscientes do seu dever de libertar totalmente a África cujos povos continuam a lutar pela sua
verdadeira independência e pela sua dignidade, e comprometendo-se a eliminar o colonialismo, o
neocolonialismo, o apartheid, o sionismo, as bases militares estrangeiras de agressão e quaisquer

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formas de discriminação, nomeadamente as que se baseiam na raça, etnia, cor, sexo, língua,
religião ou opinião política.

Reafirmando a sua adesão às liberdades e aos direitos humanos e dos povos contidos nas
declarações, convenções e outros instrumentos adotados no quadro da Organização da Unidade
Africana, do Movimento dos Países Não-Alinhados e da Organização das Nações Unidas.
Firmemente convencidos do seu dever de assegurar a promoção e a proteção dos direitos e
liberdades do homem e dos povos, tendo na devida conta a primordial importância
tradicionalmente reconhecida na África a esses direitos e liberdades.

3.2.Dos direitos humanos e dos povos


Segundo o artigo 1º Os Estados membros da Organização da Unidade Africana, Partes na presente
Carta, reconhecem os direitos, deveres e liberdades enunciados nesta Carta e comprometem-se a
adotar medidas legislativas ou outras para os aplicar.

Segundo o artigo 2º Toda a pessoa tem direito ao gozo dos direitos e liberdades reconhecidos e
garantidos na presente Carta, sem nenhuma distinção, nomeadamente de raça, de etnia, de cor, de
sexo, de língua, de religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de origem nacional
ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

Todas as pessoas beneficiam-se de uma total igualdade perante a lei. 2.Todas as pessoas têm direito
a uma igual proteção da lei. A pessoa humana é inviolável. Todo ser humano tem direito ao respeito
da sua vida e à integridade física e moral da sua pessoa. Ninguém pode ser arbitrariamente privado
desse direito.

Segundo o artigo 5º Todo indivíduo tem direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana
e ao reconhecimento da sua personalidade jurídica. Todas as formas de exploração e de
aviltamento do homem, nomeadamente a escravatura, o tráfico de pessoas, a tortura física ou moral
e as penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes são proibidos.

Segundo o Artigo 6º Todo indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém
pode ser privado da sua liberdade salvo por motivos e nas condições previamente determinados
pela lei. Em particular, ninguém pode ser preso ou detido arbitrariamente.

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Segundo o artigo 7º nº 1.Toda pessoa tem o direito a que sua causa seja apreciada. Esse direito
compreende:

a) o direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes contra qualquer ato que viole os direitos
fundamentais que lhe são reconhecidos e garantidos pelas convenções, leis, regulamentos e
costumes em vigor;

b) o direito de presunção de inocência até que a sua culpabilidade seja reconhecida por um tribunal
competente;

c) o direito de defesa, incluindo o de ser assistido por um defensor de sua livre escolha; d) o direito
de ser julgado em um prazo razoável por um tribunal imparcial.

Segundo o artigo 7º nº 12. Ninguém pode ser condenado por uma ação ou omissão que não
constituía, no momento em que foi cometida, uma infração legalmente punível. Nenhuma pena
pode ser prescrita se não estiver prevista no momento em que a infração foi cometida. A pena é
pessoal e pode atingir apenas o delinquente.

Segundo o artigo A liberdade de consciência, a profissão e a prática livre da religião são garantidas.
Sob reserva da ordem pública, ninguém pode ser objeto de medidas de constrangimento que visem
restringir a manifestação dessas liberdades.

Segundo o artigo 9º 1 e 2. Toda pessoa tem direito à informação. Toda pessoa tem direito de
exprimir e de difundir as suas opiniões no quadro das leis e dos regulamentos.

Toda pessoa tem direito de constituir, livremente, com outras pessoas, associações, sob reserva de
se conformar às regras prescritas na lei. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
associação sob reserva da obrigação de solidariedade prevista no artigo

Toda pessoa tem direito de se reunir livremente com outras pessoas. Este direito exerce-se sob a
única reserva das restrições necessárias estabelecidas pelas leis e regulamentos, nomeadamente no
interesse da segurança nacional, da segurança de outrem, da saúde, da moral ou dos direitos e
liberdades das pessoas.

Segundo o artigo 12º nº 1, 2 e 3.Toda pessoa tem o direito de circular livremente e de escolher a
sua residência no interior de um Estado, sob reserva de se conformar às regras prescritas na lei.
Toda pessoa tem o direito de sair de qualquer país, incluindo o seu, e de regressar ao seu país. Este

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direito só pode ser objeto de restrições previstas na lei, necessárias à proteção da segurança
nacional, da ordem, da saúde ou da moralidade públicas. Toda pessoa tem o direito, em caso de
perseguição, de buscar e de obter asilo em território estrangeiro, em conformidade com a lei de
cada país e as convenções internacionais.

O estrangeiro legalmente admitido no território de um Estado Parte na presente Carta só poderá


ser expulso em virtude de uma decisão legal. A expulsão coletiva de estrangeiros é proibida. A
expulsão coletiva é aquela que visa globalmente grupos nacionais, raciais, étnicos ou religiosos.

Todos os cidadãos têm direito de participar livremente na direção dos assuntos públicos do seu
país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos, isso em
conformidade com as regras prescritas na lei.

Segundo o artigo 18º 1.A família é o elemento natural e a base da sociedade. Ela tem que ser
protegida pelo Estado, que deve zelar pela sua saúde física e moral. O Estado tem a obrigação de
assistir a família na sua missão de guardiã da moral e dos valores tradicionais reconhecidos pela
comunidade. O Estado tem o dever de zelar pela eliminação de toda a discriminação contra a
mulher e de assegurar a proteção dos direitos da mulher e da criança tais como estipulados nas
declarações e convenções internacionais.

As pessoas idosas ou incapacitadas têm igualmente direito a medidas específicas de proteção que
correspondem às suas necessidades físicas ou morais.

Os Estados têm o dever, separadamente ou em cooperação, de assegurar o exercício do direito ao


desenvolvimento. Os povos têm direito à paz e à segurança, tanto no plano nacional como no plano
internacional.

O princípio da solidariedade e das relações amistosas implicitamente afirmado na Carta da


Organização das Nações Unidas e reafirmado na Carta da Organização da Unidade Africana deve
dirigir as relações entre os Estados.

Com o fim de reforçar a paz, a solidariedade e as relações amistosas, os Estados Partes na presente
Carta comprometem-se a proibir:

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a) que uma pessoa gozando do direito de asilo nos termos do artigo 12º da presente Carta
empreenda uma atividade subversiva contra o seu país de origem ou contra qualquer outro Estado
Parte na presente Carta;

b) que os seus territórios sejam utilizados como base de partida de atividades subversivas ou
terroristas dirigidas contra o povo de qualquer outro Estado Parte na presente Carta. Artigo 24º
Todos os povos têm direito a um meio ambiente geral satisfatório, propício ao seu
desenvolvimento.

Segundo o artigo 25º Os Estados Partes na presente Carta têm o dever de promover e assegurar,
pelo ensino, a educação e a difusão, o respeito dos direitos e das liberdades contidos na presente
Carta, e de tomar medidas para que essas liberdades e esses direitos sejam compreendidos, assim
como as obrigações e deveres correspondentes.

3.3.Medidas de salvaguarda
3.3.1. Da composição e da organização da comissão africana dos direitos humanos e
dos povos
Segundo o artigo 30º É criada junto à Organização da Unidade Africana uma Comissão Africana
dos Direitos Humanos e dos Povos, doravante denominada "a Comissão", encarregada de
promover os direitos humanos e dos povos e de assegurar a respectiva proteção na África.

Segundo o artigo 31º nº 1.A Comissão é composta por onze membros que devem ser escolhidos
entre personalidades africanas que gozem da mais alta consideração, conhecidas pela sua alta
moralidade, sua integridade e sua imparcialidade, e que possuam competência em matéria dos
direitos humanos e dos povos, devendo ser reconhecido um interesse particular na participação de
pessoas possuidoras de experiência em matéria de direito.

Os membros da Comissão exercem funções a título pessoal. A Comissão não pode ter mais de um
natural de cada Estado. Artigo 33º Os membros da Comissão são eleitos por escrutínio secreto pela
Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, de uma lista de pessoas apresentadas para esse
efeito pelos Estados Partes na presente Carta.

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3.4.Das competências da comissão
Segundo o artigo 45º A Comissão tem por missão:

1.Promover os direitos humanos e dos povos e nomeadamente:

a) Reunir documentação, fazer estudos e pesquisas sobre problemas africanos no domínio dos
direitos humanos e dos povos, organizar informações, encorajar os organismos nacionais e locais
que se ocupam dos direitos humanos e, se necessário, dar pareceres ou fazer recomendações aos
governos;

b) Formular e elaborar, com vistas a servir de base à adoção de textos legislativos pelos governos
africanos, princípios e regras que permitam resolver os problemas jurídicos relativos ao gozo dos
direitos humanos e dos povos e das liberdades fundamentais;

c) Cooperar com as outras instituições africanas ou internacionais que se dedicam à promoção e à


proteção dos direitos humanos e dos povos;

Assegurar a proteção dos direitos humanos e dos povos nas condições fixadas pela presente Carta.
Intepretar qualquer disposição da presente Carta a pedido de um Estado Parte, de uma instituição
da Organização da Unidade Africana ou de uma organização africana reconhecida pela
Organização da Unidade Africana.

Executar quaisquer outras tarefas que lhe sejam eventualmente confiadas pela Conferência dos
Chefes de Estado e de Governo.

3.5.Do processo da comissão


Artigo 46º A Comissão pode recorrer a qualquer método de investigação apropriado; pode,
nomeadamente, ouvir o Secretário-Geral da OUA e qualquer pessoa que possa esclarecê-la. I- Das
comunicações provenientes dos Estados Partes na presente Carta.

Segundo o artigo 47º Se um Estado Parte na presente Carta tem fundadas razões para crer que um
outro Estado Parte violou disposições desta mesma Carta, pode, mediante comunicação escrita,
chamar a atenção desse Estado sobre a questão.

Esta comunicação será igualmente endereçada ao Secretário-Geral da OUA e ao Presidente da


Comissão. Em um prazo de três meses, a contar da recepção da comunicação, o Estado destinatário
facultará ao Estado que endereçou a comunicação explicações ou declarações escritas que

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elucidem a questão, as quais, na medida do possível, deverão compreender indicações sobre as leis
e os regulamentos processuais aplicados ou aplicáveis e sobre a reparação já concedida ou o curso
de ação disponível.

Segundo o artigo 48º Se em um prazo de três meses, contados da data da recepção pelo Estado
destinatário da comunicação inicial, a questão não estiver solucionada de modo satisfatório para
os dois Estados interessados, por via de negociação bilateral ou por qualquer outro processo
pacífico, qualquer desses Estados tem o direito de submeter a referida questão à Comissão
mediante notificação endereçada ao seu Presidente, ao outro Estado interessado e ao Secretário-
Geral da OUA.

Não obstante as disposições do artigo 47º, se um Estado Parte na presente Carta entende que outro
Estado Parte violou as disposições desta mesma Carta, pode recorrer diretamente à Comissão
mediante comunicação endereçada ao seu Presidente, ao Secretário-Geral da OUA e ao Estado
interessado.

3.6. Disposições diversas


Segundo o artigo 64º 1.Quando da entrada em vigor da presente Carta, proceder-se-á à eleição dos
membros da Comissão nas condições fixadas pelas disposições dos artigos pertinentes da presente
Carta.

O Secretário-Geral da Organização da Unidade Africana convocará a primeira reunião da


Comissão na sede da Organização. Depois, a Comissão será convocada pelo seu Presidente sempre
que necessário e pelo menos uma vez por ano.

Para cada um dos Estados que ratificar a presente Carta ou que a ela aderir depois da sua entrada
em vigor, esta mesma Carta produzirá efeito três meses depois da data do depósito por esse Estado
do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

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IV. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (1975)
4.1.Contexto Histórico
Segundo a CRM 1975 a Luta Armada de Libertação Nacional, respondendo aos anseios seculares
do nosso Povo, aglutinou todas as camadas patrióticas da sociedade moçambicana num mesmo
ideal de liberdade, unidade, justiça e progresso, cujo escopo era libertar a terra e o Homem.
Conquistada a Independência Nacional em 25 de Junho de 1975, devolveram-se ao povo
moçambicano os direitos e as liberdades fundamentais.

A CRM 1975 reafirma, desenvolve e aprofunda os princípios fundamentais do Estado


moçambicano, consagra o carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado no
pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos. A ampla participação dos cidadãos na feitura da Lei Fundamental
traduz o consenso resultante da sabedoria de todos no reforço da democracia e da unidade nacional.

4.2.República de Moçambique
Segundo o artigo 1º da CRM (1975) a República de Moçambique é um Estado independente,
soberano, democrático e de justiça social.

4.3.Soberania e legalidade
Segundo o artigo 2 nº 1, 2, 3, 4 da CRM (1975) A soberania reside no povo. O povo moçambicano
exerce a soberania segundo as formas fixadas na Constituição. O Estado subordina-se à
Constituição e funda-se na legalidade. As normas constitucionais prevalecem sobre todas as
restantes normas do ordenamento jurídico.
Esta constituição é a chave para compreender toda a história da Constituição e um elemento crucial
para a análise do conteúdo das Constituições que vieram a ser promulgadas depois desta.

Nos momentos que se seguiram à independência, o Estado moçambicano optou por uma linha de
orientação socialista, ou seja, democracia socialista. Assim sendo, Moçambique tenta implementar
uma concepção socialista de poder, de Estado e de direito. Neste contexto CRPM dispunha no
artigo 2 o seguinte:

“A República Popular de Moçambique é um Estado de democracia em que todas as camadas


patrióticas se engajam na construção de uma nova sociedade, livre de exploração de homem pelo
homem”

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Este modelo foi adoptado de modelo de Ex-URSS, que é também do tipo ocidental. Desde a sua
independência de Portugal, em 1975, Moçambique teve três constituições (1975, 1990 e 2004).
Em termos cronológicos, a Constituição de 1975 estabeleceu um regime mono partidário que
confirmava o papel destacado do Executivo.

Um dos objetivos fundamentais desta Constituição era a eliminação das estruturas de opressão e
exploração coloniais e a luta contínua contra o colonialismo e o imperialismo, foi instalado na
República Popular de Moçambique (RPM) o regime político socialista e uma economia
marcadamente intervencionista, onde o Estado procurava evitar a acumulação do poderio
económico e garantir uma melhor redistribuição da riqueza, (Ganso, 2006).

O sistema político era caracterizado pela existência de um partido único e a FRELIMO assumia o
papel de dirigente. Eram abundantes as fórmulas ideológicas - proclamatórias e de apelo das
massas, compressão acentuada das liberdades públicas em moldes autoritários, recusa de separação
de poderes a nível da organização política e o primado formal da Assembleia Popular Nacional.

3.4. Poder Constituinte na formação da Constituição da República Popular de


Moçambique de 1975
A entidade que exerceu o poder constituinte formal foi a FRELIMO (Frente de libertação de
Moçambique) que se definia "como uma organização política constituída por Moçambicanos sem
distinção de sexo, origem étnica, crença religiosa ou lugar de domicílio" em nome do povo.

O poder constituinte Fornal, precede logicamente o Poder constituinte Material, medida em que
uma vez estabelecida uma nova Ideia de Direito, exercido o poder constituinte, de decretação da
constitui segue-se a formalização que se traduz ou culmina no acto de decretação da constituição
formal ou acto constituinte.

A FRELIMO em 1975, exerceu quer o poder constituinte material quer o poder constituinte formal
na qualidade de único e legitimo representante do povo moçambicano.

Constituição de 1975, em um raro exercício do poder constituinte surge logo imediatamente,


conexa com a constituição Material, ainda assim não foi possível garantir a entrada em
funcionamento de todos os órgãos nela instituídos tornando necessário elaborar uma organização

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provisória de alguns órgãos do estado até a entrada em funcionamento destes órgãos por ela
instituídos.

Segundo o Professor Jorge Miranda, a feitura da constituição formal definitiva pode dar-se de
diferentes modos, em razão de circunstancialismos históricos inelutáveis e de factores jurídico-
políticos dependentes da forma de Estado, da legitimidade do poder e da participação da
comunidade politica.

Em 1975, o acto constituinte competiu a um único órgão, o Comité Central da FRELIMO, como
acima já foi referido, na qualidade de único e legitimo representante do Povo Moçambicano.

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V. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (1990)
A Constituição de 1990 introduziu o Estado de Direito Democrático, alicerçado na separação e
interdependência dos poderes e no pluralismo, lançando os parâmetros estruturais da
modernização, contribuindo de forma decisiva para a instauração de um clima democrático que
levou o país à realização das primeiras eleições multipartidárias.

A revisão constitucional ocorrida em 1990 trouxe alterações muito profundas em praticamente


todos os campos da vida do País. Estas mudanças que já começavam a manifestar-se na sociedade,
principalmente na área económica, a partir de 1984, encontram a sua concretização formal com a
nova Constituição aprovada. Resumidamente, podemos citar alguns aspetos mais marcantes.

A constituição de 1990 veio a introduzir o Estado de direito democrático, que se funda na


separação de poderes, pluralismo político, liberdade de expressão e respeito pelos direitos
fundamentais.

Ou seja, com esta constituição de 1990, Moçambique pela primeira vez introduz o sistema
multipartidário, onde nas vésperas das primeiras eleições gerais multipartidários haviam sido
legalizados 18 partidos políticos. (MAZULA, 2000).

A Constituição de 1990 foi elaborada no contexto das negociações de paz que culminaram com a
assinatura do Acordo Geral de Paz, e marcou uma ruptura radical com o passado, consagrando a
transição de uma economia centralizada para liberalização da economia, e subsequente início da
extinção das empresas estatais, dando início a um verdadeiro exercício democrático consagrado
no sufrágio universal, da liberdade de expressão, da liberdade de reunião e de associação e,
fundamentalmente, ocorre a passagem de um sistema mono partidário para a democracia
multipartidária, e tendo o cidadão como figura central relativamente ao Estado. (Adelson Rafael,
in Jornal O país: quinta-feira, 26 de Agosto de 2010).

Nesta constituição, a administração é composta por um presidente, primeiro-ministro e do


conselho de ministros, (como atual). E o sistema judiciário é composto por um Tribunal Supremo
e provinciais, distritos e de tribunais municipais.

5.1.Principais mudanças na constituição de 1990


De forma resumida, vêm descriminadas, abaixo, algumas das mudanças que a Constituição da
República trouxe, aquando da sua promulgação, ora vejamos:

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 Introdução de um sistema multipartidário na arena política, deixando o partido Frelimo de
ter um papel dirigente e passando a assumir um papel histórico na conquista da
independência;
 Inserção de regras básicas da democracia representativa e da democracia participativa e o
reconhecimento do papel dos partidos políticos;
 Na área económica, o Estado abandona a sua anterior função basicamente intervencionista
e gestora, para dar lugar a uma função mais reguladora e controladora (previsão de
mecanismos da economia de mercado e pluralismo de sectores de propriedade);
 Os direitos e garantias individuais são reforçados, aumentando o seu âmbito e mecanismos
de responsabilização;
 Várias mudanças ocorreram nos órgãos do Estado, passam a estar melhor definidas as
funções e competências de cada órgão, a forma como são eleitos ou nomeados;
 Preocupação com a garantia da constitucionalidade e da legalidade e consequente criação
do Conselho Constitucional; entre outras.

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VI. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (2018)
Não temos uma nova Constituição. A Assembleia da República não aprovou uma nova
Constituição, aprovou sim uma lei de revisão pontual da Constituição da República. Não tendo
sido aprovada uma nova Constituição da República e não tendo havido uma revisão que mude a
identidade da Constituição, a Constituição de 2004 contínua em vigor.

Em termos de identidade continuaremos a chamar esta Constituição como sendo a Constituição de


2004, pois mantêm-se a sua identidade. Em obediência ao disposto no artigo 296 da Constituição
da República, as alterações feitas foram inseridas no lugar próprio, mediante as substituições,
supressões e os aditamentos necessários.

Assim, foi harmonizada a Constituição no seu novo texto e publicada conjuntamente com a lei de
revisão. No processo de revisão constitucional a Assembleia da república agiu no quadro do poder
constituído, por isso respeitou a forma, procedimentos, regras e limites estabelecidos pela própria
Constituição da República para o exercício do poder constituído, pelo qual o resultado não poderia
dar lugar a uma nova Constituição da República.

Estaríamos em face de uma nova Constituição da República se tivesse acontecido uma das
seguintes situações: -Se a Assembleia da República tivesse assumido poderes constituintes para a
criação de uma nova Constituição da República; -Se tivesse sido aberto um processo ordinário
para uma revisão global da Constituição da República, com ampla participação pública de partidos
políticos, organizações da sociedade civil, instituições académicas, sector privado e dos cidadãos
em geral; -Se tivesse uma situação de dupla revisão, ou preterição dos limites de revisão
constitucional. Portanto.

O Presidente da República submeteu uma Proposta de Revisão Pontual da Constituição da


República e por conseguinte a Assembleia da República aprovou uma lei de revisão pontual da
Constituição da República, e por conseguinte o Presidente da república não promulgou uma nova
Constituição da República, mas sim Lei de Revisão Pontual da Constituição da República. Portanto
houve mudanças na Constituição da República, mas, não mudanças da Constituição da República.
Neste contexto, não tendo havido mudança de Constituição, mantém-se a identidade constitucional
de 2004, pelo que a Constituição em vigor é a Constituição de 2004 e é assim como ela deve ser
designada.

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6.1.Princípios Constitucionais Estruturantes Não Alterados
Não houve uma alteração dos princípios estruturante da Constituição e caracterizadores do Estado
Moçambicano, por isso mantem-se a identidade essencial da Constituição de 2004.

A Assembleia da República, agiu dentro dos limites fixados para uma revisão constitucional, agiu
no quadro de um poder constituído, pelo que houve mudanças na Constituição e não mudança da
Constituição.

A Revisão Constitucional de 2018, respeitou e manteve os princípios estruturantes da Constituição


de 2004, designadamente:

a) Unidade Nacional e Unicidade do Estado

b) O Princípio de Estado de Direito Democrático;

c) Os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos;

d) Princípio da Descentralização Administrativa;

e) A forma republicana do Governo e o atual sistema de Governo;

f) É reafirmado o princípio do sufrágio universal, pessoal, direto e periódico, para a eleição dos
titulares dos órgãos eletivos a todos os níveis;

g) É constitucionalizado o princípio do gradualismo, no processo de descentralização;

h) É reafirmado o princípio da Tutela do Estado sobre os órgãos descentralizados;

i) O carácter pluralista dos Estado;

j) A laicidade do Estado.

6.2.Definição Dos Limites Da Descentralização


São definidos os limites da descentralização não sendo objecto de descentralização as matérias de
exclusiva responsabilidade dos órgãos de soberania, dos órgãos e instituições centrais do Estado,
por exemplo:

(i) a definição e organização do território;

(ii) a defesa nacional, a segurança e ordem pública;

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(iii) a fiscalização das fronteiras;

(iv) a emissão de moeda;

(v) as relações diplomáticas;

(vi) os recursos minerais e energia;

(vii) RJLB, Ano 7 (2021), nº 6________671_ bem como os recursos naturais situados no solo e
no subsolo, nas águas interiores e no mar territorial, na plataforma continental e na zona exclusiva;
(viii) a criação e alteração dos impostos, entre outras.

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VII. CONCLUSÃO
Contudo, os Estados membros da Organização da Unidade Africana, Partes na Carta, reconhecem
os direitos, deveres e liberdades enunciados nesta Carta e comprometem-se a adotar medidas
legislativas ou outras para os aplicar.

Todas as pessoas beneficiam-se de uma total igualdade perante a lei. Todas as pessoas têm direito
a uma igual proteção da lei. A pessoa humana é inviolável. Todo ser humano tem direito ao respeito
da sua vida e à integridade física e moral da sua pessoa. Ninguém pode ser arbitrariamente privado
desse direito.

Todo indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém pode ser privado da
sua liberdade salvo por motivos e nas condições previamente determinados pela lei. Em particular,
ninguém pode ser preso ou detido arbitrariamente.

Após mais de uma década de guerra de libertação contra os Portugueses, os moçambicanos


Criaram, pela primeira vez na história, o documento que ia regular as próprias vidas.
Promulgada em 1975, a primeira Constituição moçambicana seguiu princípios socialistas e
Direitos de base coletiva.

Após o Acordo de Paz de Roma de 1992, que terminou os dezasseis anos de guerra entre a
FRELIMO e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), uma nova Constituição foi
Promulgada. Entretanto, somente a Constituição de 2004 reforçou ainda mais o respeito dos
Direitos individuais; um sistema político multipartidário; uma economia de mercado;
Eleições livres; e de respeito pelo Estado de Direito

A Constituição do Estado moçambicano é suprema, tal como indicado no artigo 2 da


Constituição da República de Moçambique (CRM). O Estado, fundado na legalidade, é
Subordinado à CRM, cujas disposições prevalecem sobre todas as outras leis.
A Constituição é dividida em XVII títulos.

Enquanto a CRM é bastante específica sobre esta matéria, o governo moçambicano tem
sempre preferido resolver situações delicadas através de leis de amnistia, tais como a
Última Lei 17/2014.

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VIII. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CARTA AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS 1981

Legislação

Constituição da República de Moçambique 1975;

Constituição da República de Moçambique 1990;

Constituição da República de Moçambique 2018;

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