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ESPE - Escola Profissional Espinho

Sebenta / Módulo
Turma: ESPE - CP Técnico/a Cozinha/ Pastelaria - 2º Ano - 2019/2020
Disciplina: Área de Integração
Módulo: 4 - A Construção da democracia / De Alexandria à era digital: a difusão do conhecimento através dos
seus suportes
Docente: Suzanna Teixeira Loureiro

Modelo 154-DP
Objetivos

A construção da Democracia

o Reconhecer a coexistência política como facto humano: o Homem é um «animal


político»; 
o Analisar modelos de organização social: tribo, clã, cidade-estado, o feudalismo; 
o Compreender a sociedade humana como constituída por grupos politicamente
organizados; 
o Reconhecer a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos para a
construção da Democracia ao nível das práticas políticas, das leis e das práticas
sociais; 
o Identificar momentos importantes da construção da Democracia em Portugal: a
Primeira República, o Estado Novo; 
o Conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a sua génese e as
instituições internacionais que lhe dão corpo; 

De Alexandria à Era Digital: a difusão do conhecimento através dos seus suportes


o Compreender a importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento; 
o Conhecer alguns dados fundamentais da história da escrita; 
o Reconhecer a importância da imprensa como meio de difusão do Livro: o início da
Galáxia de Gutenberg; 
o Relacionar os meios científico-tecnológicos dos séculos XIX e XX com a difusão da
informação e do conhecimento; 
o Caracterizar a sociedade contemporânea enquanto sociedade de informação; 
o Analisar a problemática das assimetrias sociais face ao acesso aos meios e conteúdos
de informação.

Bibliografia 

o Declaração Universal dos Direitos Humanos, (2002), Lisboa, Edições da Assembleia da


República. 
o HUME, David, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Edições 70, 1989. 

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Índice de Conteúdos

Tema 2.3 – A construção da Democracia 

1. Modelos de organização Social ......................................................................................



1.1.Clãs......................................................................................................................5 
1.2.Cidades-Estado ..................................................................................................5 
1.3.O Feudalismo e a centralização do poder
político ...............................................7 
2. Movimentos Sociais e Políticos nos séculos XVII a XX ................................................ 8 
3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos ............................................................ 9 
4. A Construção da Democracia em Portugal...................................................................10 
4.1.A Primeira República e o Estado
Novo ..............................................................10 
4.2.O 25 de Abril de
1974 ........................................................................................11 

Tema 8.3 – De Alexandria à era digital: a difusão do conhecimento através dos


seus suportes

1. O registo escrito e a fixação do conhecimento .................................................... 11


2. Breve história da escrita: a vida e a escrita .........................................................11
3. Os momentos da evolução da escrita ................................................................. 12
4. A imprensa como meio de difusão do livro: a galáxia de Gutenberg .................. 14
5. A evolução tecnológica e a difusão do conhecimento ........................................ 16
6. A importância do livro.......................................................................................... 18
7. A importância de ler............................................................................................ 20

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Tema/Problema 2.3 – A construção da Democracia

1. Modelos de organização social 

1.1.Clãs 

De facto, o ser humano é um ser social que vive em estado de relação, sendo o
convívio humano necessariamente organizado. No entanto, as sociedades têm conhecido
diversas formas de organização social e política.

Há cerca de cinquenta mil anos, os seres humanos viviam em pequenos grupos designados


por clãs ou tribos. Caçavam, pescavam e recolhiam plantas comestíveis para a
sua subsistência – era a chamada sociedade recolectora. Mais tarde, alguns grupos
passaram a criar animais e a cultivar parcelas fixas de terra, sedentarizando-se. Nasceram
assim as primeiras sociedades pastoris e agrárias. Com a utilização de instrumentos foram
produzindo mais do que aquilo que consumiam, criando excedentes, apropriados por um
reduzido número de pessoas do grupo, originando as diferenças sociais. Em consequência,
este grupo detentor dos excedentes criou os instrumentos necessários à sua legitimação
como grupo detentor do poder do poder, através de leis e de exércitos que utilizava em seu
proveito. Surge, assim, o Estado, ou seja, o poder político, cerca do ano 6000 a.C., na
Suméria. A organização política é, portanto, inerente à vida social. 

Esses Estados tradicionais baseavam a atividade económica fundamentalmente


na agricultura e na criação de animais. Nas poucas cidades existentes concentravam-se o
comércio e as atividades manufatureiras; aí vivia grande parte da população e organizava-
se a vida política, religiosa e cultural. 

A desigual distribuição dos excedentes originou mudanças sociais e o aparecimento


da escravatura, acentuando-se as desigualdades entre os grupos sociais. 

1.2. Cidades-Estado 

Na cidade-Estado de Atenas, no século v a.C., surgiu um embrião de cidadania com


a democracia ateniense, da qual estavam, no entanto, excluídas as mulheres, os escravos

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e os estrangeiros, pois apenas os homens possuíam terras e viviam do trabalho dos
camponeses e dos escravos tinham o direito de participar na polis (cidade) – eram os
cidadãos (homens com direitos políticos). 

Estes Estados eram governados por uma assembleia e por magistrados eleitos, no
caso dos regimes democráticos como o ateniense, ou por um chefe, um rei ou um
imperador, no caso dos regimes autocráticos (autoritários, como o Império Romano). 

As principais características deste tipo de Democracia são: 

o O poder de governar pertence ao povo, isto é, ao conjunto dos cidadãos;


o A igualdade de direitos de todos os cidadãos;
o Qualquer cidadão podia ser eleito ou sorteado para os cargos públicos, para
mandatos anuais;
o A democracia Ateniense era direta, isto é, todos os cidadãos participavam na
Eclésia (Assembleia dos Cidadãos) e todos podiam ser eleitos ou sorteados para as
outras instituições.

No entanto, esta forma de Democracia tinha algumas limitações, nomeadamente:

o Apenas os cidadãos podiam participar na vida política da Pólis;


o Às mulheres dos cidadãos não era permitido participar na vida política e tinham
direitos muito limitados, estando na dependência dos pais ou dos maridos;
o Os metecos (estrangeiros residentes em Atenas), embora tivessem um papel
fundamental na economia, pagassem impostos e cumprissem serviço militar, não
tinham direitos políticos;
o A sociedade ateniense era esclavagista. Os escravos eram considerados objetos.
Eram propriedade dos seus donos e não possuíam quaisquer direitos.
o Praticava-se o ostracismo (exílio), afastando os que pusessem em perigo o regime
democrático.

Como já foi referido, a sociedade ateniense dividia-se em:

o Cidadãos
o Metecos
o Escravos

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Estes grupos tinham direitos e funções diferentes, sendo que estes dependiam do grupo
a que pertenciam.

Os cidadãos eram: homens libvres; com mais de 18 anos e do sexo masculino; nascidos
em Atenas e filhos de pai e mãe atenienses; só tinham direitos políticos, participando nas
Assembleias, Conselhos e Tribunais.

Os Metecos eram: estrangeiros que viviam na cidade- estado de Atenas; homens livres,
mas sem direitos políticos; sujeitos ao serviço militar e ao pagamento de impostos; não
podiam possuir terras; dedicavam-se ao comércio e ao artesanato; não podiam casar com
mulheres atenienses; excecionalmente podiam tornar-se cidadãos, distinguindo-se na
guerra.

Os escravos eram: homens não-livres; prisioneiros de guerra devido à sua naturalidade ou


por não cumprirem as leis; trabalhavam na agricultura, artesanato, comércio, exploração de
minas, trabalhos domésticos, etc; constituíam cerca de 1/3 da população; os mais instruídos
ajudavam na educação dos jovens atenienses.

1.3 O Feudalismo e a centralização do poder político

o O feudalismo foi um sistema político, social e económico que predominou na Europa


após a queda do Império Romano (476) e durante toda a Idade Média, tendo
mantido algumas das suas formas até à Revolução Francesa em 1789. O sistema
feudal organizava-se segundo uma hierarquização social que se baseava na
hereditariedade e nos laços de dependência entre as três ordens ou estados: o
clero, a nobreza e o povo. Os senhores feudais, detentores de grandes extensões
de terras (os feudos), ofereciam proteção aos outros senhores menos poderosos –
os vassalos – que lhes juravam fidelidade. Esta hierarquia entre os grupos sociais
tinha no vértice da pirâmide feudal o rei/ imperador e o papa.
o A economia baseava-se na propriedade fundiária e cada feudo era praticamente
autossuficiente, pois produzia tudo o que necessitava para a subsistência dos seus
habitantes.
o A partir do século XI, as técnicas agrícolas modernizaram-se o que originou o
crescimento da produção, uma maior divisão do trabalho e o incremento das trocas.

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Génova e Veneza foram cidades que se transformaram em centros económicos
ricos, onde existiam mercados que transacionavam diversos tipos de bens.
o Desenvolveu-se, a par do incremento do comércio, a circulação monetária,
originando outras profissões, como por exemplo a de banqueiro e um novo grupo de
homens de negócios, a burguesia mercantil. Estes, detentores de grandes fortunas,
vão até conceder empréstimos aos reis e à nobreza. Com a ascensão da burguesia
dá.se a queda do feudalismo. No século XV, encontramo-nos numa fase inicial do
capitalismo – o capitalismo mercantil, que procura novas rotas comerciais, de forma
a obter mais produtos e novos mercados.
o No século XVI, Maquiavel teoriza sobre a necessidade de centralização do poder e
de um Estado forte. Na sua obra “O Príncipe” este filósofo italiano defende que o
Estado deverá definir a sua finalidade sem se preocupar com os meios para atingir
esse fim, necessitando, para afirmar o seu poder, de possuir um exército
permanente e de âmbito nacional. É a justificação dos regimes autocráticos de que
as monarquias absolutas são um exemplo. Estes regimes estabeleceram a
submissão da nobreza, do clero e da burguesia, além do povo. Por esta altura
(séculos XVI e XVII) os monarcas iniciam um processo de centralização do poder,
passando a deter os três poderes – legislativo, executivo e judicial – dando origem à
era do Absolutismo.

2. Movimentos sociais e políticos nos séculos XVIII a XX

Nos séculos XVII e XVIII, filósofos como Locke, Voltaire, Montesquieu e Rousseau
opuseram-se ao Antigo Regime – assente no absolutismo – e proclamaram os princípios
do liberalismo, como a separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial) e a ideia
de que «todos os homens nascem livres e iguais». Desta forma, abriram perspetivas
às grandes transformações políticas, sociais e económicas de que o século XVIII iria ser
palco:

o Independência dos EUA em 1776


o Revolução Francesa em 1789.

A ideologia liberal vai-se propagando, ao longo dos séculos XIX e XX, através de revoluções
em que a burguesia passa a deter o poder.

Alicerçados nos valores estruturantes da Igualdade, Liberdade e Fraternidade,


proclamados pela Revolução Francesa, surgem os diretos humanos contra os privilégios do
clero e da nobreza, grupos dominantes do feudalismo. A Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão surgida da Revolução Francesa e influenciada pela Declaração da
Independência dos EUA (1776) é proclamada 26 de Agosto de 1789. Esta Declaração
estabelece, pela primeira vez, o direito de associação, a liberdade religiosa, a livre

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expressão do pensamento, a liberdade de imprensa, o direito a resistência e a não sujeição
a castigos cruéis, entre outros avanços.

Porém, estes direitos não foram alargados às mulheres, apesar de muitas terem
participado ao dos homens na Revolução. Olympe de Gouges foi uma dessas mulheres que
lutou pelos valores revolucionários. Inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, redigiu a Declaração dos Direitos da Mulher e da cidadã, em 1791. Em Inglaterra,
Mary Wollostonecraft publicou, em 1792 “Uma Reivindicação dos Direitos da Mulher”, texto
que marca o início dos caminhos do feminismo.

Irá ser ao longo do século XIX e início do século XX que as mulheres (inicialmente nos EUA
e em Inglaterra e depois na Europa continental e restantes continentes) protagonizarão lutas
sufragistas (pelo direito de voto). É de salientar que muitas mulheres sufragistas lutaram
também pela abolição do trabalho escravo.

Este longo caminho pela igualdade de direitos entre os seres humanos vai-se construindo. A
escravatura é abolida em várias regiões do mundo, desde a segunda metade do século XIX,
e as mulheres conquistam o direito de voto em vários países, no final do século XIX e no
início do século XX.

Os socialistas utópicos, como Robert Owen, Charles Fourier, Saint-Simon,


Proudhon e Enfantin¸; os anarquistas, como Bakunine, Kropotkine e Malatesta, e os
socialistas científicos, Como Marx e Engels, constituem exemplos e pensadores sociais que
denunciaram a exploração dos trabalhadores e defenderam a construção das sociedades
mais justas.

Estas correntes de pensamento inspiraram os movimentos sindicais e as revoluções que se


multiplicaram a partir das décadas de 1860 e 1870, como o caso da Comuna de Paris em
1871. Estas lutas vieram tornar possível a conquista de um conjunto de direitos políticos,
económicos e sociais – a liberdade de expressão, de reunião, salário igual para trabalho
igual e segurança social – que mais tarde vieram a ser proclamados pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

Após a II Guerra Mundial, os movimentos nacionalistas (defensores da


independência das nações colonizadas pelos países europeus) expandem-se. Baseados
nos princípios da Carta das Nações Unidas (documento fundador da ONU, em 1945) que
proclamava a autodeterminação dos povos, estes movimentos vão conquistar a
independência política, encetando o processo de descolonização. No caso português, os
Países Africanos de língua oficial Portuguesa – PALOP – tornam-se nações independentes
apenas em 1975.

3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela


Assembleia geral das Nações Unidas – ONU (Organização da

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Nações Unidas) em 1945 – a 10 de Dezembro de 1948, com o
objetivo de nunca mais se voltarem a cometer as atrocidades da II
Guerra Mundial (1939 – 1945) e de as pessoas poderem usufruir de
direitos essenciais, pelo simples facto de serem seres humanos.

Nos trinta artigos da Declaração dos Direitos Humanos surgem consagrados os direitos civis
e políticos (direito à vida, liberdade de expressão e igualdade perante a lei, por exemplo),
económicos, sociais e culturais (direito de participar na cultura, direito a ser tratado com
respeito e dignidade e direito ao trabalho e à educação, por exemplo). Estes direitos são de
aplicação universal, isto é, dizem respeito a todos, devendo ser aplicados na mesma forma
em todos os países e regiões; são indivisíveis, porque todos os direitos têm igual valor e
força, isto é, não é possível considerar que uns sejam mais importantes do que os outros;
são , são inalienáveis, porque pertencem a todos/as, não podendo ser cedidos por ninguém,
isto é, dizem respeito a cada pessoa.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos não tem força jurídica porque não é
um tratado, mas sim uma declaração de intenções e de princípios que os países que a
assinaram se comprometem a cumprir. Porém, ao fim de mais de sessenta anos, já faz
parte dos princípios pelos quais se orientam as constituições de muitos países do mundo,
como é o caso da Constituição da República Portuguesa.

4. A Construção da Democracia em Portugal

 A Primeira República e o Estado Novo

A I República foi proclamada em Portugal a 5 de


Outubro de 1910, perdurando até ao golpe militar de
28 de Maio de 1926. Nesses quase dezasseis anos
de implementação de reformas sociais foram
aprovadas novas leis, além da primeira Constituição
Republicana, em 1911.

Francamente industrializado e deficitário em recursos, a participação de Portugal na I


Guerra Mundial entre 1914 e 1918 acentuou ainda mais as dificuldades no que respeita à
satisfação das necessidades, sendo as lutas sociais e políticas uma constante. As greves,
manifestações e quedas de governos evidenciam o descontentamento social e a falta de
entendimento entre os partidos. Por um lado, as classes médias das grandes cidades, como
Lisboa e Porto, encontravam-se saturadas de tanta agitação e, por outro, o conjunto dos
proprietários rurais, dos grandes comerciantes e das forças mais conservadoras também se
opunham aos segmentos mais progressistas, o que abriu caminho a uma solução
autoritária.

A 28 de maio de 1926, o General Gomes da Costa, com o


apoio de uma importante parte do Exército e a convivência

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de alguns setores sociais, protagonizou um golpe militar,
iniciando o período da Ditadura Militar e, alguns anos
depois, o Estado Novo. Durante cerca de 48 anos as
liberdades democráticas foram abolidas. Oliveira Salazar foi
chamado a assumir o Ministério das Finanças e,
posteriormente, o cargo de primeiro-ministro, até 1968, ano
em que sofre um acidente vascular – cerebral. Após este
acidente ele é substituído por Marcelo Caetano que, por sua
vez, será deposto a 25 de Abril de 1974.

Durante o período do Estado Novo foram proibidos os partidos políticos e as


associações sindicais (só eram permitidos os sindicatos corporativos controlados pelo
Estado); foram vedadas às mulheres várias profissões, como a magistratura e a diplomacia;
o marido, considerado o chefe de família, podia abrir a correspondência da mulher e era ele
que competia decidir em relação à vida comum e aos filhos; foi abolido o ensino misto; foi
instaurada a censura; criou-se a polícia política; organizaram-se associações fascistas,
como a Mocidade Portuguesa e a Legião Nacional.

 O 25 de Abril de 1974

Com a «Revolução dos Cravos» de 25 de Abril


restabelecidas as liberdades democráticas:
o Liberdade de expressão;
o De reunião;
o De manifestação;
o Abolição de censura;
o …
Iniciou-se a descolonização e o processo de
independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP); foram
permitidos os partidos políticos e os sindicatos livres; foi estabelecido o salário mínimo; as
mulheres passar a ter o direito de voto em plena igualdade com os homens, entre muitas
outras reformas que transformaram Portugal num Estado de Direito democrático.

Em 1976 foi aprovada uma nova Constituição 8Constituição da República


Portuguesa), baseada, entre outros documentos, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e que foi alvo de algumas revisões, sendo a última em 2005. Essa revisão
apresentou algumas alterações que visavam o aprofundamento da democracia.

Desde 1974 que a construção de uma sociedade democrática se tem vindo a


cimentar através de um conjunto de medidas, das quais se destacam o estabelecimento da
escolaridade obrigatória para crianças e jovens e a universidade da educação pré-escolar, a

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partir dos 5 anos; a consagração da universalidade dos sistemas de segurança social e de
saúde; a elaboração de orçamentos participativos; a lei da paridade (de 2006) que estipula
que as listas para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as
autarquias locais sejam compostas de forma a assegurar a representação mínima de 33%
de cada um dos sexos; e o direito ao casamento para pessoas do mesmo sexo, entre muitos
outros direitos.

A democracia nunca está completa. É um processo em construção que deve


mobilizar os cidadãos, para que estes exijam os seus direitos, mas cumprindo, também, os
seus deveres da cidadania.

Tema 8.3 – De Alexandra à Era Digital: A Difusão do conhecimento


através dos seus suportes

1. O registo escrito e a difusão do conhecimento

O Homem, desde sempre, escreveu em vários suportes materiais como a pedra, argila,
madeira, em tela, seda, couro, ardósia, osso, tijolo, papiro, pergaminho, papel e no teclado.
Para o fazer, tem usado diferentes tipos de ferramentas: canas cortadas em bisel, calámos
estiletes de metal ou de osso.

A escrita não é apenas um modo de transmitir um significado, pode ser também uma
manifestação artística usada para fins lucrativos (veja-se os casos da escrita chinesa e da
caligrafia árabe, tão valorizada pelo Islamismo, que considera o escrever como uma dádiva
divina). A arte de escrever com perfeição denomina-se caligrafia.

De facto, seria difícil conceber a nossa vida sem o domínio do escrito: códigos de entrada,
leis, regras e normas, informações de alimentos, publicidade, estudos, livros, jornais,
revistas, a internet, o modo como comunicamos na net, a sms, o chat, o Messenger, a
fotocopiadora, a transmissão por fax, os relatórios, as contabilidades, os preços, as
instruções sobre os usos de um medicamento, de eletrodomésticos ou de jogos. Assim, o
escrito permitiu transformar as nossas relações, as trocas económicas, o modo e a
velocidade com que acedemos ao conhecimento e à informação, ultrapassando assim os
limites da memória individual.

2. Breve história da escrita: a vida e a escrita


A história da escrita é inseparável da história da comunicação e do desenvolvimento da
linguagem, com as suas transformações mentais, sociais, religiosas e políticas. Há muitas
escritas antigas que já não são legíveis, por falta de chave interpretativa. Assim, uma escrita
antiga que seja decifrada permite ressuscitar o passado.

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Deste modo, os primeiros homens viviam em pequenos grupos ocupados com a
sobrevivência, a proteção, a alimentação e a caça, para o que necessitavam de alguns
sinais ou sons simples com diferentes significados que permitiam a comunicação. A
melhoria das condições de vida e do seu aparato mental abrem caminho a realidades de
cariz espiritual: assim, a importância atribuída à morte, ao semelhante, aos rituais e relações
com o divino permitiu o surgir de uma nova linguagem ligada a crenças com ritos mágicos –
religiosos, patentes nas paredes de grutas. Tais representações são o início da escrita,
pretendendo fixar no tempo imagens que contam um acontecimento permitia-lhes apropriar-
se dele, dominá-lo, deter a sua memória, torná-la presente, reatualizá-la.
Por volta do IV milénio a. C., na Mesopotâmia, no Egipto e na China – quando diversas
sociedades se desenvolverem, com a domesticação de animais e o cultivo de plantas
nutritivas, permitindo maior sedentarização – começaram a falar-se línguas mais complexas.

3. Momentos de evolução da escrita

O estádio inicial da vida da escrita, há cerca de 40 000 anos,


caracterizou-se pelo uso do desenho – PICTOGRAMA – como
auxiliar de memória. Ele representa coisas, situações, histórias
ou acontecimentos. Representa histórias sem palavras,
compreendidas por todos os membros de uma comunidade,
semelhante às ilustrações dos livros para crianças, que lhes
permitem contar uma história sem saberem ler.

Posteriormente, os pictogramas especializaram-se. Cada um


representa uma palavra, objeto ou noção. Mas os pictogramas têm limitações, pois são de
difícil memorização, pois cada um pode ter vários signos diferentes, não são representáveis
por uma só palavra; a variedade do pensamento não é traduzível num número forçosamente
pequeno de sinais; noções puramente abstratas não são representáveis.

Várias palavras ligadas pelo sentido começam a ser representadas por um só signo, como,
por exemplo, palavra, língua, falar ou representar todos os homónimos pelo mesmo signo. A
preocupação já não é apenas com o sentido, mas com o som e a transcrição gráfica da
linguagem articulada. Passa-se da conceção do objeto à palavra que o designa. Alguns
signos perdem a função de ideogramas (expressão do sentido de uma palavra) e assumem
a dupla função de ideia – fonograma (expressão de sentido, função semântica e expressão
de sons). Os fonogramas levam muitas populações a inventarem sistemas de escrita
(silabários), nos quais os signos já não representam palavras, mas sílabas, que constituem
já letras, suficientes para a escrita completa de uma língua.

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Representar uma sílaba por uma letra é expressar um conjunto sonoro, uma consoante mais
uma vogal. Se cada letra representar apenas uma consoante ou uma vogal e não todas as
combinações possíveis consoante/vogal, o número de letras necessárias à escrita reduz-se
para vinte ou trinta. Encontramos, assim, os alfabetos.

No fim do IV milénio a.C., ocorrem as primeiras tentativas de escrita, em Uruk, na


Mesopotâmia. A sedentarização dos agricultores, os intercâmbios comerciais e o
desenvolvimento da produção transformam as aldeias em cidades-estado. Os comerciantes,
face ao avolumar dos negócios, sentem dificuldade em organizar a contabilidade e os
inventários. Para escrever mais depressa, representam em placas de argila, com picto –
ideogramas, tudo o que é transacionado (peixe, cerveja, cabras, etc.), bem como a sua
qualidade, utilidade e função.

Figura1 Cuneiforme Figura 2 Hieróglifos

Figura 3 Alfabeto Grego

Este sistema evoluiu durante mil anos, diversificando-se os usos que a escrita passou a ter:
leis, contabilidade do Estado, códigos religiosos. Esta escrita, de que os Sumérios foram
inventores, denomina-se cuneiforme (Figura 1), porque se utilizavam pequenos bastões ou
canas cortadas em bisel para escrever em pequenas placas de argila mole, depois de
endurecidas por efeito de cozedura em forno ou calor do sol. Cada traço começa sob a
forma de um prego, ignorando toda a linha curva. Os desenhos de objetos que constituíam,

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de início, os caracteres cuneiformes vão-se estilizando, tornando-se mais abstratos e
semelhantes a letras. O traço em colunas legíveis de alto para baixo e da direita para a
esquerda passa para uma escrita horizontal e legível da esquerda para a direita. Eram
necessários cerca de 500 signos multiplicados pelos diversos valores dos ideogramas ou
fonogramas. Uma escrita tão extensa foi abandonada no início da nossa era. Por volta de
5000 anos antes da nossa era, o Egito elabora o seu sistema de escrita cujos sinais são os
hieróglifos (Figura 2), cuja origem se prende com a comemoração de acontecimentos
militares e rituais religiosos. Nesta escrita encontramos muitos elementos figurativos,
humanos, animais e vegetais, e uma composição gráfica cuidada. Encontramos ideogramas
com a função de fonogramas, e uma direção variável de escrita, colunas legíveis de alto a
baixo e da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, linhas legíveis da direita
para a esquerda ou da esquerda para a direita, sendo a indicação dada pelas figuras de
homens e animais sempre virados para o início da linha. Os egípcios usavam três tipos de
escrita: os hieróglifos que, porque levavam muito tempo a escrever, eram sobretudo
usados nos textos sagrados e esculturas tumulares; a escrita hierática, escrita mais rápida
para textos literários e documentos de negócios; e uma terceira escrita, a demótica. Esta
diversidade explica a dificuldade em descobrir a chave da escrita egípcia. Esta escrita
perdurou até ao século V.

Na china, encontramos outro dos grandes sistemas de escrita e um doa mais antigos.
Razões idênticas às da Mesopotâmia determinaram a necessidade da escrita. As inscrições
mais antigas que chegaram até nós encontram-se em textos divinatórios, em fragmentos de
osso e marfim e carapaças de tartaruga. Este sistema, apesar de ter evoluído de um traçado
figurativo para o abstrato, continuou a representar cada palavra por um signo, com
características muitos específicas um chinês que saiba ler utiliza 2500 signos na linguagem
corrente e até 3000 na linguagem científica ou erudita. A relação escrita / língua é das mais
duradouras: é sempre o mesmo signo que designa o mesmo objeto ou noção,
independentemente do modo de a pronunciar.

O alfabeto usado hoje na maioria do Ocidente foi-nos legado pelos Fenícios. Era uma
escrita composta por 22 consoantes, correspondendo a cada uma um som. Os Gregos, ao
entrarem em contacto comercial com os Fenícios, adicionaram ao alfabeto fenício as vogais,
cabendo depois aos Romanos a sua divulgação. Na história da escrita, encontramos
sempre a adaptação de um instrumento às diferentes necessidades e condições da sua
utilização.

Hoje, as atividades económicas de trocas e transporte, a diplomacia, os laços de


dependências entre países e regiões, os sistemas de informação exigem rapidez e eficácia,
funcionam em tempo real. Nos séculos XVIII e XIX, o uso da estenografia, das pequenas
máquinas com teclado satisfizeram a necessidade de escrever e reproduzir de modo mais
rápido, mas nesse tempo a velocidade e o ritmo eram outros. A escrita serve-se hoje das
nossas tecnologias.

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4. A imprensa como meio de difusão do livro: a Galáxia de Gutenberg

A comunicação e a linguagem são características


fundamentais do humano, mas o modo de nos
expressarmos e os meios usados nem sempre foram os
mesmos.

A necessidade de comunicar, o que comunicamos e como, está


dependente das necessidades com que, em cada época, nos confrontamos e do nosso
desenvolvimento cognitivo e psicológico. Nos últimos séculos, transformámos o modo de
informar e difundir o conhecimento. Da pintura nas cavernas, aos desenhos em ossos até à
utilização da Internet, do WhatsApp e das sms, da oralidade à escrita, encontramos os
pontos axiais desse percurso que têm Gutenberg (1400-1468) um marco simbólico na
democratização do conhecimento que alicerça as sociedades contemporâneas.

A introdução progressiva da escrita nas civilizações transformou a realidade humana, a


memória coletiva que perdurava pela oralidade e as representações simbólicas passadas de
geração em geração. Em apenas 3000 anos, o Homem passou da reprodução manual da
escrita para a reprodução mecânica que nos conduzirá ao presente.

A palavra livro deriva do romano Liber, que significa madeira. Na língua grega, Biblos
significa casca de árvore. Com a prática da escrita linear, os suportes da escrita alteram-
se, deixando de ser as paredes das cavernas ou o corpo. Há que encontrar o material que
registe, transporte e conserve muita informação. O papiro e o pergaminho vêm solucionar
este problema. O papiro (planta parecida com um junco que, depois de cortada, justapostas,
batida e humedecida, os Antigos Egípcios usavam em rolos, como suporte de escrita) e o
pergaminho originário da cidade grega de Pérgamo, no século III a. C., obtido a partir da
pele curtida de vitela, carneiro ou cabrito), cujas folhas vão ser dispostas em caderninhos, o
códex, que tem sobre o papiro a vantagem de ser mais maleável e resistente, permitindo
escrever dos dois lados. Estes materiais são decisivos para o início da indústria do
livro. No século V a.C., surgem em Roma e Atenas os primeiros editores e livrarias no
suporte de pergaminho. No século I d.C., os chineses inventam um tipo de papel, que a
Europa só conhece no século XII através dos Árabes, e surgem as primeiras fábricas de
pasta de papel no sul da Península Ibérica, que se generalizarão em toda a Europa a partir
do século XV.

Produzir dois textos iguais implicava cópias. Escribas no Antigo Egipto e monges
copistas, na Idade Média, cumpriam essa função. O cuidado com a letra e as pinturas dão-
nos uma ideia da dificuldade e minúcia desse trabalho. Na Idade Média com o
desenvolvimento do ensino e das Universidades, o livro, a leitura e o comentário ao texto
eram fundamentais. Havia a necessidade de cópias rigorosas e em maior número, o que era

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difícil com os processos utilizados. Com efeito, a estrutura política, social e económica
transforma-se: as cidades crescem, aumentando as trocas comerciais, as viagens, a
circulação e pessoas, de bens, informações e conhecimentos. É cada vez mais necessário
criar instrumentos rápidos de difusão de informação.

A invenção de Gutenberg transforma a publicação e difusão do livro e cria a


imprensa. Os primeiros livros impressos têm o nome de incunábulos (livros publicados
antes da Páscoa de 1501 e estão geralmente ligados a temas religiosos).

No Ocidente as primeiras impressões realizaram-se em tábuas escavadas à mão, ficando


as letras e figuras em relevo (xilografia).

A reprodução mecânica da escrita criada por Gutenberg revolucionará a produção e difusão


do livro, conduzindo ao advento da imprensa. Fazendo em metal blocos de letras
individuais, as letras necessárias para cada página de texto eram dispostas num caixilho de
madeira e colocadas, de seguida, num prelo. Após serem tintadas, o papel era comprimido
sobre elas, com uma prensa de madeira, produzindo em poucas horas o trabalho
equivalente a meses de trabalho de copistas.

Refere-se que a China conhecia a imprensa há dez séculos, utilizando um sistema


conhecido por impressão tabulária que funcionava através da estampagem do papel,
utilizando pranchas de madeira em relevo. Usavam também caracteres móveis, primeiro em
argila, depois em madeira, cobre e bronze.

A invenção de Gutenberg possibilita imprimir folhas volantes com um conteúdo mais atual
mas menos profundo do que o de um livro. O longo percurso evolutivo da imprensa
implicou muitas transformações: de formatos e conteúdos, de destinatários, no que se diz
e pode dizer, etc. o livro predominou em relação à imprensa. Hoje, essa relação alterou-se.
O sucesso de um livro depende muito do destaque que a imprensa lhe atribui.

5. A evolução tecnológica e a difusão do conhecimento

O grande progresso das descobertas científicas do século XIX e o apoio à


investigação nas novas tecnologias revolucionou o nosso tipo de vida e o modo de
comunicarmos e difundirmos esse conhecimento. Por exemplo, nos transportes, surge o
comboio e o barco a vapor e, mesmo no fim do século, o automóvel. A escrita perde o
privilégio como meio exclusivo de difusão da cultura, os meios de informação transformam-
se e modificam o nosso modo de sentir, falar e pensar.

Diversas experiências levarão, no início do século XX, ao aparecimento do cinema, na


década de vinte, da rádio, e em meados da década de quarenta, da televisão. Surgem os
satélites, as videocassetes, o CD, a internet, em suma, o mundo digital e multimédia,
comparável para alguns autores à invenção da imprensa por Gutenberg.

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Junta-se o telefone, o televisor e o computador numa nova máquina de comunicar,
interativa, alterando as relações interpessoais e económicas. A informatização permite
aceder a grandes quantidades de informação. A rádio, a televisão, a imprensa e o cinema
tornam-se meios de comunicação de massas – mass media – e o mundo uma “aldeia
global”.

Todos os meios de informação e comunicação têm origem na imprensa, e todos tentam


reproduzi-la, mas cada um com as suas especificidades. A rádio conta, a televisão
mostra, o cinema diverte, o jornal explica. O espírito inicial e ainda presente da imprensa
consiste em informar e transmitir notícias. O seu discurso é simples, claro e acessível, com
frases curtas e diretas, fluentes e objetivas. Tenta fazer ver e viver o acontecimento,
procurando envolver o leitor, transformando-o em testemunha indireta dos acontecimentos.
A imprensa torna-se num instrumento importante de consciencialização dos
problemas planetários.

Os meios da comunicação especializam faculdades humanas através de novas tecnologias.


Por exemplo, o Homem utiliza as mãos para comunicar e aumentar a sua potência vocal,
colocando-as à volta da boca ou da orelha para escutar melhor. Este é o princípio do
telefone, inventado por Graham Bell, mas também da T.S.F., telefonia sem fios.

É, também, através dos seus órgãos sensitivos que o Homem inventa a televisão,
semelhante ao sistema que leva as imagens da retina para o cérebro. Como inicialmente
era difícil transmitir imagens na globalidade, os primeiros sistemas de televisão transmitiam
imagens linha por linha. O primeiro sistema público de televisão surge em Londres, em
1925. Nos E.U.A, o engenheiro Wladimir Zworykin inventa o iconoscópio, que consistia
numa ampola, em que se criava o vazio, contendo, no seu interior, uma placa carregada de
pequenos elementos fotoeletroativos, onde as imagens eram projetadas, fazendo incidir
nesses elementos um feixe de raios luminosos. Em 1935, a Marconi utilizava já um sistema
eletrónico com 25 imagens por segundo em 405 linhas, permitindo a venda de recetores de
televisão ao público a partir de 1935.

A rádio, muito posterior à imprensa, mas anterior à televisão, revoluciona o modo de


comunicar e difundir informação, pois permite transmitir a voz humana a longas distâncias,
em direto, chegando mais longe e mais depressa que a imprensa. As usas possibilidades de
passar a música e programas de entretenimento conquistaram, de imediato o público.

A revista ilustrada e o cinema estão na origem da televisão, porque representavam alguns


inconvenientes para o público consumidor. As revistas têm de ser escolhidas, compradas e
folheadas, e o cinema implica a deslocação a um local público. A televisão, pelo contrário,
estando sempre disponível, permite uma economia de esforços, em termos de acesso e de
eficácia operacional. O cinema estava próximo da imprensa, mas oferecia imagens em
movimento. Os primeiros filmes descrevem pequenos episódios do quotidiano, situações de
vida doméstica ou citadina. Evoluiu para a abordagem de temas mais importantes e com

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maior valor e significado. Começou a investigar factos, muitos deles com características
noticiosas, e assumiu, com um certo relevo, o documentário. O som e a cor vieram trazer-
lhe novas perspetivas e transformá-lo numa das mais importantes formas de espetáculo.

A partir de 1945, apareceram as primeiras estações televisivas de natureza privada, que,


devido à sua grande e rápida evolução técnica, obtiveram uma enorme difusão, procurando
cumprir o lema de informar para formar, mostrando. Atualmente, os serviços de
informação têm ao seu dispor meios técnicos muito sofisticados, o que lhes permite
transmissões em direto para qualquer ponto do globo. A comunicação global é uma
realidade que se deve à invenção dos satélites. A informação televisiva mostra-nos o que se
passa em toda a parte, dando-nos uma visão imediata dos factos. As novas plataformas
televisivas fazem com que a passividade frente ao ecrã tenha os seus dias contados.
O consumidor passa a ver o que quer, quando quer e como quer. Os novos serviços
televisivos (como por exemplo, a televisão digital terrestre e o IPTV – Internet Protocol
Television – serviço de televisão digital disponibilizado na linha telefónica através de uma
conexão de banda larga) abrem a porta à bidirecionalidade, isto é, à criação de uma
televisão feita por cada um à sua medida. A experiência de aceder aos conteúdos
televisivos será cada vez mais individualizada, criando uma cada vez maior
regionalização e segmentação televisiva.

Os suportes da escrita mais importantes continuam a ser o livro, pelo seu prestígio, e a
imprensa, pelo seu papel de visão que temos do mundo e pelo contributo para as
transformações políticas e sociais. Fala-nos, hoje, no fim do livro e da sua transformação em
suportes digitais. A criação da blogosfera, a possibilidade de qualquer pessoa publicar a
sua obra na net, muda o percurso tradicional da relação com um editor, a impressão do livro,
o livreiro e a biblioteca. O mesmo sucede com o suporte tradicional da imprensa: hoje, estão
online as principais publicações, havendo até a possibilidade de o leitor interagir com o
jornal, publicando o seu comentário.

Um livro pode condensar a experiência humana, traduz a magia da criação de


mundos imaginados e sonhados, permite-nos exprimir o que pensamos e sentimos, dialogar
com os homens do passado. A imprensa dá-nos o relato escrito, falado ou televisivo do
presente e do imediato. Se o livro e a imprensa têm afinidades, também têm diferenças de
forma, estrutura, objetivos, conteúdos, públicos potenciais e tratamento de informação.

Para compreender o que é um jornal, podemos considerar o critério da administração,


redação e oficinas, o percurso do jornal, desde que a informação chega até ao produto final;
o conteúdo final, a notícia, o percurso do acontecimento à notícia, o papel do jornalista, as
fontes de informação, o repórter, a agência noticiosa, o correspondente, a fotografia, a
redação, a maqueta, a composição, a revisão, montagem e impressão, a expedição, a
importância dos títulos, o marketing e a publicidade.

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Para compreender o que é um livro, é necessário atender ao processo de criatividade do
seu autor, às suas motivações, a um ato por natureza solitário e pessoal, considerar a
viagem da última palavra redigida até ao momento em que o livro chega ao leitor, o seu
conteúdo, a relação com o editor, a impressão e distribuição, o marketing, a sua vida numa
casa, biblioteca ou livraria.

6. A importância do Livro

A propósito da importância do livro, o grande escritor, Jorge Luís Borges, afirmou o


seguinte:

“De todos os instrumentos do Homem, o livro, é sem dúvida alguma, o mais surpreendente.
Os outros são prolongamento do seu corpo. O microscópio e o telescópio são o
prolongamento da sua vista; o telefone um prolongamento da sua voz; temos também a
charrua e a espada, prolongamento do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o Livro é um
prolongamento da memória e a da imaginação…

Os Antigos não tinham o nosso culto do livro – e isso surpreende-me; viam nele um
sucedâneo da palavra. Esta frase que se cita sempre: Scripta manent, verba volant, não
significa que a palavra escrita seja efémera, mas sim que a palavra é qualquer coisa de
permanente e morta. A palavra, pelo contrário, tem qualquer coisa de alado, de ligeiro; de
alado e de sagrado, como diz Platão. Curiosamente, todos os grandes mestres da
humanidade ministraram um ensino oral …. A segunda ideia que se faz do livro, repito-o,
que podia ser uma obra divina. Esta ideia está provavelmente mais próxima da que hoje em
dia nós fazemos do livro que da que faziam os Antigos, considerando-o como um
sucedâneo da palavra…

Tantos escritores escreveram de maneiras tão brilhantes sobre o livro que queria citar
alguns.

Começarei por Montaigne que consagra um dos seus ensaios ao livro. Neste ensaio, há
uma frase memorável: Eu não faço nada sem alegria. Montaigne deixa entender que o
conceito de leitura obrigatória é um conceito errado. Diz que, se encontra uma passagem
difícil num livro, abandona-a porque vê na leitura uma fonte de felicidade…

Continuo a fingir ser cego (J.L. Borges ficou cego na adolescência), continuo a comprar
livros, a encher a minha casa deles. No outro dia, ofereceram-me uma edição de 1966 da
Enciclopédia Brockhaus. Senti a presença desta obra na minha casa, sentia-a como uma
espécie de felicidade. Tinha perto de mim esta vintena de volumes em caracteres góticos
que não posso ler. Com cartas e gravuras que não posso ver; mas, no entanto, a obra
estava lá. Sentia como que a sua atração amigável. Penso que o livro é uma das
felicidades possíveis do homem.

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Fala-se do desaparecimento do livro: creio que tal é impossível. Que diferença, dir-me-ão,
pode haver entre um livro e um jornal ou um disco? A diferença é que um jornal é lido para o
esquecimento, um disco escuta-se também para o esquecimento, é qualquer coisa de
mecânico e, por isso mesmo, é frívolo. Lê-se um livro para nos lembrarmos dele.

O conceito de livro sagrado, quer se trate do Corão, da Bíblia ou dos Vedas – onde é
também dito que os Vedas criaram o mundo – está talvez ultrapassado, mas o livro
conserva, ainda, uma certa santidade que devemos tentar salvaguardar. Pegar num livro e
abri-lo torna ainda possível o feito estético. Que são as palavras deitadas num livro? O que
são os seus símbolos mortos? Absolutamente nada. O que é um livro se não o abrirmos?
Um simples cubo de papel em couro, com folhas; mas, se o lermos, passa-se qualquer coisa
de estranho, creio que ele muda de cada vez que o fazemos…

Quando lemos uma velha obra, é como se percorrêssemos todo tempo que passou entre o
momento em que foi escrito e nós próprios. É por isso que convém manter o culto do livro.
Um livro pode estar cheio de errata, podemos não estar de acordo com as opiniões do seu
autor, mas guarda, no entanto, qualquer coisa de divino, não que os respeitemos por
superstição, mas sim pelo desejo de encontrar nele felicidade, de encontrar nele
sabedoria.

J. L. Borges, O Livro como Mito

7. A Importância de Ler

A importância do livro e do ler é tão grande que é uma prioridade nacional. Neste
contexto, surge o Plano Nacional de Leitura (Ler +), procurando incentivar o gosto pela
leitura com programas variados e atividades permanentes em múltiplos contextos: escolas e
bibliotecas escolares, biblioteca pública, famílias, ocupação dos tempos livres. Ler mais e
melhor é um fator básico do desenvolvimento individual e coletivo, é uma prioridade
nacional porque:

 A leitura é uma das capacidades mais importantes do ser humano. É a condição de


autonomia e sucesso na vida;
 Quem lê bem compreende melhor o mundo contemporâneo, adquire um valor
seguro, que ao longo da vida nunca irá perder;
 Ler bem e depressa torna o estudo mais fácil e produtivo. Permite alcançar o
conhecimento e ir mais longe em todos os domínios;
 Muitos países têm vindo a lançar com êxito planos nacionais de leitura;
 A União Europeia considera que o domínio pleno da leitura por parte da maioria dos
jovens europeus é uma das metas a atingir no ano de 2010;

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A prática política decorre sempre de uma conceção pedagógica e esta, por sua vez,
depende do modo como se pensa o Homem e a sociedade. Que mesmo é dizer, a política
decorre da pedagogia e esta da filosofia.

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