Você está na página 1de 13

O PAPEL DA MULHER NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX EM

PORTUGAL:

A 1º REPÚBLICA E A TRAIÇÃO DA MULHER REPUBLICANA

Bárbara Oliveira Santos Neto Amaral, nº 158198

Faculdade de Letras

Universidade de Lisboa

2023

1
Índice

1. Introdução...........................................................................................................................2

2. Contextualização: a mulher antes da I República...............................................................3

2.1 O Grupo Português dos Estudos Feministas e a Liga Republicana das Mulheres

Portuguesas.............................................................................................................................7

3. Após implantação da I República.......................................................................................8

3.1 O Conselho Nacional das Mulheres Feministas........................................................10

4. Conclusão..........................................................................................................................14

Bibliografia:.............................................................................................................................16

2
1. Introdução

A conjuntura política de Portugal no início do século XX era caracterizada por mudanças


drásticas, o republicanismo português atinge o seu auge a 5 de outubro de 1910 após a
implantação da I República portuguesa por diversos revolucionários republicanos como
Teófilo Braga, António José de Almeida, Machado Santos, entre muitos outros.

Num ambiente de revolução e incerteza todos os setores da sociedade portuguesa foram


afetados de diversas formas, sendo as mulheres um grupo especialmente interessante de
abordar. A realidade é que as mulheres, seguindo a lógica de modernização e mudança
propostas pelos ideais republicanos, começaram a envolver-se mais nos assuntos políticos e
económicos portugueses, ou pelo menos tentaram. Neste trabalho tenho como objetivo
desenvolver uma pesquisa acerca do papel da mulher na I república, analisar os seus
movimentos e reivindicações e conseguir entender de que forma foram afetadas pela
implantação da república que foi muito contra as expectativas feministas.

Ao escolher este tema espero conseguir integrar a mulher no espaço político dominado por
homens, muitas vezes ao estudarmos determinados eventos históricos esquecemo-nos que a
mulher também era participante ativas da sociedade, principalmente nesta altura em que
começavam cada vez mais a integrar-se no mercado de trabalho e a interessar-se por diversos
movimentos intelectuais.

Para recorrer ao estudo deste tema vou então fazer uso de diversos jornais da altura como o
periódico A Gazeta das Damas (1822), a análise de dois grupos feministas específicos que
são a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908) e do Conselho Nacional das
Mulheres Portuguesas (1914), para além da pesquisa sobre várias figuras simbólicas dentro
do movimento de emancipação feminina na I República.

2. Contextualização: a mulher antes da I República

Foi a partir da Revolução Americana em 1776 e da Revolução Francesa em 1789 que em


Portugal, depois das Revoluções Liberais e da elaboração Constituição de 1822 que se deixou
de usar a palavra súbdito e se passou a usar cidadão para se referir ao povo.

3
“Todos os portugueses são cidadãos […]” Artigo nº 21, Constituição de
1822.

Isto foi um marco extremamente importante para as lutas de nacionalidade incrementadas


nos ideais das revoluções liberais. Ser cidadão significava uma pertença coletiva à Res
Publica que deveria ser abrangente de todas as pessoas portuguesas e as que seguissem as
condições impostas nos artigos nº 21,22,23,24 da Constituição de 1822. No entanto, o
conceito de cidadania dividia-se em dois, por um lado a cidadania civil que era inerente a
todos os cidadãos, significando que todos tinham um papel na sociedade tendo de respeitar
um conjunto de direitos e deveres civis, e por outro lado a cidadania política que representava
o direito de ser um membro ativo no contexto político, de participar em eleições e ser eleito e
também o direito de reunião e de associação.

K. Faulks (2000: 4), «ao contrário dos escravos, dos vassalos e dos
súbditos, cujos estatutos supõem hierarquia e dominação, os cidadãos
gozam formalmente de uma pertença legítima e igual à sociedade» Faulks,
Keith (2000)

É a partir desta cisão no termo cidadão que surgem grandes discrepâncias sendo que direito
de participação política da mulher não estava incluso nesta nova constituição, deixando assim
de fora a discussão do papel da mulher na sociedade portuguesa da monarquia constitucional

Foi, contudo, em 1822, nas Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, numa
discussão relativa à eleição de deputados que Borges de Barros apresenta a primeira proposta
acerca do direito de voto feminino às mães com seis filhos legítimos. Segundo a sua lógica
era incompreensível negar o direito ao voto a representantes da sociedade tão importantes
quanto as mães pois eram elas que davam vida aos homens e que participavam na sua
educação e desenvolvimento. A sua proposta acabou por não ser admitida para discussão pelo
Parlamento devido à posição desfavorável dos restantes principalmente de Borges Carneiro,
que afirma:

“Trata-se do exercício de um direito político e deles são as mulheres


incapazes. Elas não têm voz nas sociedades políticas: mulier in ecclesia
taceat, diz o Apóstolo.”

4
O papel da mulher fica então bastante vago na monarquia constitucional portuguesa, a
imagem da mulher fútil e frágil, desinteressada pelos eventos políticos, sociais e económicos
era perpetuada através de jornais, revistas, panfletos que incentivavam acima de tudo a
existência da mulher num espaço familiar, com interesses que não iam muito além de moda,
receitas culinárias, beleza e cuidados da casa. A primeira revista a fazer frente a esta
realidade foi a Gazeta das Damas, periódico criado em 1822 por Caetano António Lemes, era
publicado duas vezes por semana às terças e sextas-feiras e era redigido por três autoras
anónimas que escreviam com pseudónimos. Foi esta revista um dos primeiros indícios das
vozes femininas a quebrarem as paredes impostas por uma Carta Constitucional que não
previa a sua existência, falava de diversos tópicos desde a educação, o dever das mães e como
deviam exercer um papel fundamental na educação dos filhos, eventos como a abertura das
cortes e ainda assuntos de matéria política não só nacionais como europeus e
transcontinentais.

“Assim condemna o homem o Bello-Sexo a hum esquecimento eterno;


assim priva aquele, que lhe deo, e doirou a existência de gozar ao menos a
doçura da estimação pública.

Ao mesmo tempo o homem, insaciavel, em sua altiva vaidade, levanta


estatuas, grava por toda a parte incripções, e em magestosos, e eternos
monumentos quer, que o seu nome sobranceiro ao tempo se torne
immortal. Que espantoso contraste!” – Gazeta das Damas, Nº1, 29 de
novembro de 1822.

Para além de pequenas convulsões que passavam quase despercebidas não houve
significativas comoções por parte das mulheres portuguesas no início so século XIX, todavia,
é de entender que o espírito feminino não estava apagado. Foi com o surgimento de oposição
política à monarquia portuguesa que algumas mulheres começaram a sentir oportunidade de
fazerem ouvir as suas manifestações e pedidos, o republicanismo em especial parecia
consagrar um real desejo de mudança e de quebra com a monarquia ultrapassada para fundar

5
uma sociedade moderna onde fossem consagrados os principais objetivos de liberdade,
igualdade e fraternidade impostos pela Revolução Francesa.

2.1 O Grupo Português dos Estudos Feministas e a Liga Republicana


das Mulheres Portuguesas

É neste contexto que em 1907, um grupo de mulheres instruídas funda o Grupo Português dos
Estudos Feministas, que tinha como principais objetivos espalhar os ideias de emancipação
feminina, fundando uma série de bibliotecas e estudos destinados a instruir e educar a mulher
portuguesa, com o objetivo de garantir um maior envolvimento das mesmas nos assuntos
políticos, económicos e sociais portugueses. Ana de Castro Osório foi a criadora e principal
figura deste grupo que agregava desde médicas, jornalistas, escritoras e sobretudo
professoras.

Embora o grupo tenha tido uma existência efémera é em torno dele que em 1909 se funda
oficialmente a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP) através da iniciativa de
Ana de Castro Osório e o republicano António José de Almeida. Trata-se então de
movimento de associativismo feminino de cariz feminista com pretensões de participação
política, com o fim de "orientar, educar e instruir, nos princípios democráticos, a mulher
portuguesa, fazer propaganda cívica, inspirando-se no ideal republicano e democrático e
promover a revisão das leis na parte que interessa especialmente à mulher e à criança".

As líderes da Liga eram a jornalista e escritora Ana de Castro Osório e as médicas Carolina
Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete, juntamente com outras figuras importantes como Maria
Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho, Maria Veleda, entre outras. Muitos eram os
assuntos tratados neste grupo desde a importância da educação para as mulheres para garantir
a sua dependência e participação no mercado de trabalho e também discussões acerca de
assuntos político e económicos através de uma fórmula expressivamente republicana. Para
isso as participantes elaboravam artigos e participavam em várias revistas para além de
criarem os seus próprios periódicos, por exemplo, A Mulher e a Criança (1909-1911) e A
Madrugada (1911-1918) que foram uma grande forma de divulgação da doutrina e ideais
feministas da Liga.

6
3. Após implantação da I República

Com a revolução iniciada a 2 de outubro e vitoriosa no dia 5 de outubro de 1910 a república é


implantada em Portugal, o movimento republicano tinha sucedido no seu objetivo de acabar
com a monarquia e agora restava um país por liderar. Os primeiros momentos da república
foram caóticos, com o assassinato de Miguel Bombarda, alguns dias anteriores à implantação,
e a morte de Cândido Reis para além da desistência de diversos outros os objetivos
republicanos ficaram mais complicados de realizar, recorrendo assim à constituição de um
governo provisório.

É nestas circunstâncias que a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas vê a sua


oportunidade de apresentarem as suas reivindicações, no mesmo ano em novembro a Liga
apresenta uma petição ao Governo Provisório, dirigido por Teófilo Braga, em que exigiam
uma revisão do Código Civil para a aprovação da lei de direito e voto às mulheres e da lei do
divórcio em conjunto com algumas outras reivindicações que almejavam a emancipação
feminina. No entanto, foram moderadas nas suas exigências devido à situação de
instabilidade presente, completando que o direito de voto fosse apenas acessível a um
conjunto de mulheres específicas, as que fossem instruídas e pagassem impostos.

Com o passar do tempo e sem resposta por parte das entidades governativas1 foi novamente
organizada uma comitiva chefiada por Carolina Beatriz Ângelo que apresentava a proposta
do direito ao voto das mulheres que fizessem parte da elite intelectual e pagassem impostos.
No entanto, ocorre uma cisão dentro da Liga devido às especificações do direito de voto,
dividiam-se assim entre uma fação mais conservadora liderada por Ana de Castro Osório e
uma fação mais radical liderada por Maria Veleda, esta última defendia que a restrição do
voto apenas às mulheres letradas ia agravar a situação de desigualdade e que ia contra os
ideais pelos quais a Liga lutava.

Alguns meses depois Carolina Beatriz Ângelo acabaria por realizar um feito nunca visto em
Portugal e chocante para o resto da Europa sendo a primeira mulher a exercer o direito de
voto. O código eleitoral da constituição de 1911 atribuía condições necessárias para poder

1
O direito de voto à mulher foi muito contestado dentro da I República embora o republicanismo e o feminismo fossem
movimentos ideologicamente próximos. Isto porque o partido republicano era altamente anticlerical e na altura a figura da
mulher era extremamente ligada à religião e à igreja, havendo então um grande receio que se pudessem votar fossem
refletir os ideais religiosos nas suas decisões, coisa que o PRP queria ao máximo evitar.

7
exercer o direito de voto sendo elas ser maior de vinte e um anos, residentes em território
nacional, que sabiam ler e escrever e que fossem chefes de família. Carolina Beatriz Ângelo,
tirando proveito do facto de que a constituição não especificava o género do possível eleitor,
considerou que reunia todas essas condições por ser viúva, tornando-a no chefe de família, e
porque possuía um curso superior. Depois de ter solicitado que fosse incluída nos cadernos
eleitorais, o seu pedido foi recusado pela Comissão de Recenseamento e pelo Ministério do
Interior, liderado por António José de Almeida que tinha anteriormente mostrado o seu apoio
à Liga. Todavia, com uma decisão judicial (dirigida pelo pai de Ana Castro Osório)
conseguiu então participar na votação para a Assembleia Constituinte.

Depois da demissão de Ana de Castro Osório e da saída de Beatriz Ângelo, Maria Veleda
assumiu a gerência da Liga e dos seus periódicos. Mais tarde, em 1919, a Liga Republicana
das Mulheres Portuguesas viria a terminar devido ao período de instabilidade político vivido
pela república deixando como legado um conjunto de movimentos e lutas em prol da
igualdade da mulher.

3.1 O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas

O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), criado em 1914, foi a associação
feminista mais importante e duradoura em Portugal durante a primeira metade do século XX.
Mesmo existindo num contexto político adverso para o associativismo feminino o CNMP
promoveu diversas atividades em defesa da causa feminista. Este conselho foi fundado em
Lisboa por Adelaide Cabete com o apoio de Magalhães Lima, sendo uma ramificação do
Conselho Internacional das Mulheres fundada em 1888 nos Estados Unidos da América.

Esta associação foi vista como inovadora na história do feminismo português devido ao seu
papel de mudança em relação ao anterior feminismo republicano, isto porque para além de
apresentar muitos novos nomes relevantes na luta pela emancipação feminina também foi o
primeiro grupo a conseguir ter uma projeção internacional significativa criando diversos
eventos e publicações importantes.

8
“Art. 1º - O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas é uma
instituição feminina, não se subordinando a nenhuma escola ou facção
filosófica, política ou religiosa.

Organisada para estar em comunicação por via federativa, com Conselhos


Nacionais femininos dos diversos países, segue, sob o ponto de vista geral,
os princípios que orientam os demais Conselhos.

A sua sede é em Lisboa.

Art. 2º - O seu fim principal é reunir numa vasta associação (federação) as


agremiações femininas portuguesas, que se ocupam da mulher e da
criança, esforçando-se por estabelecer a harmonia e bom entendimento
entre todas, dispensando-lhes o seu apoio moral. E, ainda, defender tudo o
que diga respeito ao melhoramento das condições materiais e morais da
mulher, especialmente a proletária; remuneração equitativa do trabalho,
proteção à creança contra os maus tratos e exigências de trabalho
superior às suas forças; higiéne das grávidas e puérperas; repressão do
tráfico das brancas; protesto contra a prostituição de menores e
investigação dos meios de a evitar.

Pôr, enfim, incondicionalmente o seu esforço ao serviço de todas as ideias


que possam concorrer para o bem estar da mulher em particular, e da
humanidade em geral.” – Documento dos estatutos do Conselho Nacional
das Mulheres Portuguesas.

O Conselho procurou unir várias organizações feministas que se preocupavam com questões
relacionadas com as mulheres e crianças, com o objetivo de evitar divisões no movimento
feminista português e de atrair a adesão de um maior número de mulheres, embora não se
assumisse como uma organização feminista, a linha de atuação do Conselho sempre se
pautou pela defesa dos direitos das mulheres. As ativistas do CNMP lutaram pelo direito à
educação e formação profissional, ao trabalho, à igualdade salarial e ao voto, além de

9
defenderem o pacifismo e o apoio às crianças em situações de mendicidade. Também lutaram
contra a prostituição regulamentada, exigindo a abolição da mesma e a punição de quem a
explorava defendendo sempre a inocência da mulher e apostando em apoios e projetos de
reintegração, entre muitas outras coisas.

“[...] todas as senhoras e coletividades femininas de Portugal dele podem


fazer parte qualquer que seja a classe social a que pertençam, qualquer
que seja a sua fé política ou credo religioso, por isso que o fim desta
associação é, muito simplesmente, trabalhar pelo melhoramento civil,
económico e moral da mulher em particular e da humanidade em geral,
absolutamente afastada da luta das paixões” – Adelaide Cabete, entrevista
ao jornal O Mundo (1914)

Para fazer com que suas reivindicações fossem ouvidas pelos órgãos do poder político,
organizaram conferências e congressos, apresentaram petições e representações, e publicaram
um boletim. Os eventos mais relevantes que contaram com a participação e criação por parte
deste conselho são o I Congresso Feminista e da Educação, em 1924, foi um evento de
grande dimensão tendo tido o envolvimento e apoio de importantes figuras políticas e
intelectuais como Bernardino Machado e Magalhães Lima, para além de ter sido inaugurado
pelo então atual presidente da república Manuel Teixeira Gomes. Este congresso foi
organizado por 10 mulheres, destacando-se os nomes de Adelaide Cabete, Maria O'Neill,
Deolinda Lopes Vieira, Laura Corte Real e Maria Isabel Correia Manso. Neste congresso
foram apresentadas 25 teses sobre várias temáticas, como reivindicações políticas
relacionadas à mulher, como por exemplo na administração dos municípios; a importância do
papel da mulher como educadora e o seu papel fundamental não só na educação dos filhos
como também em cargos de educação pública; a importância da assistência às crianças em
situações desfavoráveis ao seu crescimento e educação; a proteção à mulher grávida e o
direito a uma licença de maternidade; a mulher naturalista; o abolicionismo da prostituição,
entre muitos outros.

10
“Àqueles timoratos que perguntam onde irá o Feminismo parar responder-
lhes-emos: o Feminismo terminará onde acabam todas as ideias de
Progresso e toda a esperança generosa, terminará onde acabam todas as
aspirações justas.” – Adelaide Cabete no seu discurso de abertura do I
Congresso Feminista Português.

Para além disso foram representantes de muitos outros movimentos fora do país, discursando
em vários congressos na europa e fora dela, promoveram também eventos de criação e
exposição artística de modo a valorizar trabalhos feitos por mulheres, como por exemplo na
Exposição Obra Feminina Antiga e Moderna, em 1930, em que é dada visibilidade à criação
artística feminina e a Exposição de Livros Escritos por Mulheres, em 1947, onde foram
expostos livros escritos por centenas de mulher ao redor do mundo celebrando os seus
trabalhos.

Foi apenas com o início da década de 30 e na de 40 que o CNMP começou a deparar-se com
dificuldades expressas ao seu desenvolvimento e existência, com o surgimento do Estado
Novo e das associações femininas a ele associadas, como Obra das Mães para a Educação
Nacional e Mocidade Portuguesa Feminina, o Conselho encontrou problemas com a sua
liberdade de ação e expressão que iam expressamente contra os valores femininos propostos
pela política do Estado Novo. Todavia, independentemente dos obstáculos o CNMP não
deixou de apresentar propostas e combater pelos seus ideais, um dos casos mais significativos
foi a sua posição contra o Decreto-Lei n.º 35426 de 31 de dezembro de 1945, que tirava o
direito de voto às mulheres casadas (que obtiveram apenas em 1931). Foi neste contexto que
em 1947 o Conselho é dado como proibido pelo Estado Novo devendo cessar todas as suas
atividades, no entanto, isso não significou a morte do feminismo português, apesar da
perseguição e da grande repressão as mulheres continuavam a combater pelos seus direitos
juntando-se a outras organizações e associações que lhes permitissem representar a luta
feminista.

A luta destas mulheres foi um marco histórico essencial para as seguintes décadas, sem o
feminismo da I República e a luta e contestação feminina contra a repressão das suas
liberdades nesta altura seria impossível chegar à emancipação e direitos de que desfrutamos
hoje, acima tudo devemos recordar-nos que devemos o nosso presente às mulheres do nosso
passado e ter sempre em consideração o seu papel como revolucionárias.

11
4. Conclusão

Depois da elaboração deste ensaio podemos concluir que a importância das mulheres neste
período da história, e em todos os restantes, é de grande interesse de estudo. Não devemos
prender-nos pelas barreiras históricas desenhadas pelos homens que integraram os governos e
morreram nas revoluções, devemos lembrar-nos das mulheres, e do seu papel como
intelectuais, da sua luta árdua pela sua emancipação e das suas revoluções dentro de uma
sociedade que não previa as suas liberdades. Embora infelizmente tenha sido muito difícil
encontrar dados e informações acerca de todos os grupos e classes sociais, considero que este
trabalho foi uma grande ajuda para o melhor entendimento da história da implantação da
república e do partido republicano ao longo dos anos e da própria história da evolução do
feminismo e do papel da mulher dentro da sociedade política, social e económica portuguesa
e o que representa para as mulheres de hoje.

Em suma considero que o papel das mulheres no republicanismo e na implantação da I


república seja um tema que merece muita mais reflexão e estudo, todavia espero ter
conseguido abordar os pontos fundamentais tendo em conta que há muito mais a ser
explorado dentro desta temática importantíssima.

Bibliografia:

12
 CÂNCIO, Fernanda. “A República traiu as mulheres”, Diário de notícias Acesso:
04/05/2023. Disponível em: https://www.dn.pt/edicao-do-dia/06-set-2020/a-republica-
traiu-as-mulheres-12612560.html
 “O sufrágio feminino no parlamento na 1.ª República (1946)”, Assembleia da
República, Acesso: 04/05/2023. Disponível em:
https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/Sufragio-feminino-IRepublica.aspx
 ESTEVES, João. PRODUÇÃO, “TRANSMISSÃO E REENQUADRAMENTO DO
CONHECIMENTO POR VIA DA HISTÓRIA DAS MULHERES: O CASO DA 1.ª
REPÚBLICA”, Acesso: 04/05/2023. Disponível em: https://exaequo.apem-
estudos.org/files/2016-
08/30_Producao_transmissao_e_reequadramento_do_conhecimento.pdf
 ESTEVES, João. “Da esperança à deceção: a ilusão do sufrágio feminino na
revolução republicana portuguesa de 1910 História Constitucional”, núm. 15, 2014.
Acesso: 04/05/2023. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/2590/259031826016.pdf
 (1946), "Estatutos do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas", Lisboa,
Fundação Mário Soares / Alberto Pedroso, Disponível em:
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=09772.079#!13 (2023-5-4)
 TAVARES DA SILVA, Regina, Mulheres Portuguesas, Vidas e Obras celebradas-
Vidas e Obras ignoradas, Ditos e Escritos, nº1, CIDM, p.76.

13

Você também pode gostar