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No início do século XX, num tempo em que as mulheres não tinham direitos, Ana Castro Osório
tornou-se feminista. A República estava a começar quando escreve e publica o primeiro
manifesto feminista português. Defendia que homens e mulheres deviam ser aliados, ter igual
acesso à escola e ao trabalho, os mesmos salários. Saber ler e escrever eram o princípio da
mudança. Por isso, abraçou outra causa: criou manuais escolares e editou livros para crianças.
Ana, o grande amor do poeta Camilo Pessanha, é considerada a mãe da literatura infantil em
Portugal.
Como as histórias que editou, a vida de Ana de Castro Osório é matéria fantástica para um
livro. Podia começar com “era uma vez” uma mulher corajosa e determinada que acreditava
no poder da fantasia para instruir, formar e divertir os mais pequenos. Queria trazer livros a
um país dominado pelo analfabetismo. Republicana que era, defendia o direito à educação e à
cultura, por isso, a par da luta feminista que desenvolveu, dedicou-se também à causa da
literatura.
Ainda nos últimos anos da monarquia, começa a escrever e a publicar para crianças. Manuais
escolares, mas também histórias de príncipes e princesas, fábulas, adaptações de clássicos,
obras marcantes de autores estrangeiros e contos tradicionais portugueses que ela própria
recolhia junto do povo. Fosse em fascículos ou em livros cada vez mais cuidados, com
ilustrações apelativas, a produção das suas editoras é contínua e relevante. Ana consegue a
proeza de fazer da literatura infantil “um assunto sério” em Portugal. Sem saber, estava a
iniciar a história de um novo género literário.
Criadora de universos infantis, Ana de Castro Osório dedicou-se também à escrita de romances
para adultos. A alfabetização seria sempre uma das grandes preocupações; queria ensinar as
letras às mulheres que, no início do século XX, não podiam sequer votar. Foi em defesa do
direito ao voto, à educação, ao trabalho, a ter um salário igual ao dos homens, que redigiu em
1905 o primeiro Manifesto Feminista Português. Em 1911 escreveu “A Mulher no Casamento e
no Divórcio” e colaborou com Afonso Costa, então ministro da Justiça, na elaboração da Lei do
Divórcio.
Espírito insubmisso, Ana de Castro Osório comungava dos ideais republicanos e fez da sua
intervenção social e política um espaço de consciência para defender e proteger os mais
fracos. Camilo Pessanha declarou-lhe o seu amor, escreveu-lhe poemas, mas os esforços foram
em vão. No entanto, a ela se deve a publicação de “Clepsidra”, único livro do poeta.
Como as histórias que editou, a vida de Ana de Castro Osório também está dentro de um livro.
“A mulher que votou na Literatura”. Conhecemos as suas autoras, Carla Maia Almeida e Marta
Monteiro.