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Teoria da Poesia

TIPOS DE VERSO
(TRADICIONAIS)
Leve, na boca aflante, esvoaça-lhe um sorriso
(Olavo Bilac)
Contagem das sílabas gramaticais:
Le/ve/, na/ bo/ca/ a/flan/te/, es/vo/a/ça/-lhe/ um/
So/rri/so
Contagem das sílabas métricas:
Le/ve/, na/ bo/ca a/flan/te, es/voa/ça/-lhe um/
So/rri/(so)
Crase (vogais iguais):
Le/ve/, na/ bo/ca a/flan/te, es/voa/ça/-lhe
um/so/rri/(so)

Sinalefa (vogais diferentes):


E/re/vi/ver/de in/tem/si/da/de a/dor [de+in=
din; de+a=iã(uã)]
Elisão
Que eu/ ou/ ço ao/ lon/ ge o o/ rá/ cu/ lo; de
E/ lêu/ (sis)

Sinalefa (tritongo): ue eu (iêu); o ao (uáu)

Elisão: apagou-se o e (de lon-ge), e por


sinafela, nasceu o ditongo uô.
Hiato (a transformação de um ditongo em
Hiato chama-se “diérese”. “Diérese” é a
passagem de uma semi-vogal em vogal):
Na/ to/ a/ lha/ fri/ í/ ssi/ ma/ dos/ la/ (gos) (R.
Correia). Na prosa a palavra “toalha” pode
ter 2 ou 3 Sílabas (to-a-lha). No verso é, em
geral, Dissilábica (toa-lha). Aqui foi contada
Como trissílaba
Sinérese (transformação de um hiato em
ditongo)
Fa/ ri/ a/ tu/ do em/ ruí/ nas,/ aos/ seus/ pés
(Hermes Fontes)
Prosa corrente: ru-í-na
Poesia: dissílabo (ditongo): ruí-na
Espécies de versos
- Agudos (terminados em oxítonas):
“Faria tudo em ruínas, aos seus pés”

- Graves (terminados em paroxítonas):


“Quem foi que viu a minha Dor choran(do)?

Esdrúxulos (terminados em proparoxítonas):


“A noiva cheira a sân(dalo)”
METRO

- É o verso que se submete ou


obedece ao ritmo e à medida
silábica (norma regular).
PAUSA MÉTRICA
“na leitura de um poema, marca-se o final
de cada verso ou final de cada unidade de
verso composto (hemistíquio) com uma
pequena pausa, a chamada pausa métrica.
Esta pausa métrica não passa de uma
pequena interrupção, que não chega a
confundir com a pausa mais demorada,
resultante da entoação da oração, marcada,
em geral, por vírgula ou outro sinal de
pontuação” [pausa semântica].
Pausa métrica: versos de 12 sílabas

Souvenir, souvenir, que me veux-tu? L’automne//


Faisait voler la grive à travers l’air atone.

[Recordação, recordação, que queres de mim? O outono


Fazia a torda voar através do ar parado,]
Pausa semântica

Souvenir/,/ souvenir/,/ que me veux-tu/?/ L’automne


Faisait voler la grive à travers l’air atone/./

Recordação/,/ recordação/,/ que queres de mim/?/ O


outono
Fazia a torda voar através do ar parado.]
Ignorando a pausa métrica

Souvenir, souvenir, que me veux-tu?


L’automne Faisait voler la grive à travers l’air atone.

[Recordação, recordação, que queres de mim?


O outono Fazia a torda voar através do ar parado,]
Ignorando a pausa semântica
Souvenir souvenir que me veux-tu l’automne
Faisait voler la grive à travers l’air atone.

[Recordação recordação que queres de mim o outono


Fazia a torda voar através do ar parado,]
O Exorcismo [verso de 8 sílaba, octossílabo] -
(João Cabral de Melo Neto)
Madrid, novecentos sessenta.
Aconselham-me o Grão-Doutor.
“Sei que escreve: poderei lê-lo?
Se não tudo, o que acha melhor.”

Na outra semana é a resposta.


“Por que da morte tanto escreve?”
“Nunca da minha, que é pessoal,
Mas da morte social, do Nordeste.”
“Certo. Mas além do senhor,
Muitos nordestinos escrevem.
Ouvi contar de sua região.
Já li algum livro de Freyre.

Seu escrever da morte é exorcismo,


Seu discurso assim me parece:
É o pavor da morte, da sua,
Que o faz falar da do Nordeste.”
ENJAMBEMENT (CAVALGAMENTO
OU ENCAVALGAMENTO)

• “Dizemos que um verso cavalga por cima


do outro, quando o sentido da frase se
interrompe no primeiro e se completa no
segundo”. (M. Said Ali)
Os lusíadas (canto 5°)
Luís de Camões

• Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro


(a)
Bramido muito longe o mar soou. (b)
Eu, levantando as mãos ao santo coro (a)
Dos Anjos, que tão longe nos guiou, (b)
A Deus pedi que removesse os duros ©
Casos, que Adamastor contou futuros. ©
Os lusíadas (canto 4°)
Luís de Camões

“Já pelo espesso ar os estridentes


Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaxo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam.
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co’as duras armas tudo atroam.
Recrecem os imigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.”
O grande sonho
(Cruz e Sousa)

Sonho profundo, ó sonho doloroso,


Doloroso e profundo Sentimento!
Vai, vai nas harpas trêmulas do vento
Chorar o teu mistério tenebroso.
RIMAS
- Acredita-se que as rimas foram introduzidas
na literatura ocidental pelo monge
beneditino e poeta Otfried, no século IX.
- As rimas podem estar no fim do verso, a
chamada “rima final, ou no interior do verso,
denominada “rima interna”.
Rima final
• As armas e os Barões assinalados. (a)
• Que, da Ocidental praia Lusitana, (b)
• Por mares nunca dantes navegados, (a)
• Passaram ainda além da Taprobana. (b)
• Em perigos e guerras esforçados, (a)
• Mais do que prometia a força humana, (b)
• E entre gente remota edificaram. (c)
• Novo Reino, que tanto sublimaram (c)
Rima interna
Era na estiva quadra! Intenso meio dia
Pedia um respirar;
No meio do meu peito
Me deito a descansar

Janela entreaberta, esquiva ao sol fogoso,


Repouso ali mantém;
Luz como a de espessura
Escura ao quarto vem.
- A rima perfeita ou com homofonia é quando, a
partir da última vocal tônica, ela completa a
identidade dos fonemas finais

És engraçada e formosa
Como a rosa,
Como a rosa em mês d”abril;
És como a nuvem doirada
deslizada,
Deslizada em céu d”anil (Gonçalves Dias)
- A rima imperfeita quando a identidade de
fonemas finais não é completa. No caso. quando
(a) se rima uma vogal de timbre semi-aberto com
outra de timbre semi-fechado:

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:


-Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme (M. de
Assis)
Ou (b) quando um dos finais tem um som
que o outro não tem:

Nessa vertigem
Amara a virgem

(Casimiro de Abreu)
Segundo Bechara, “muitas vezes a perfeição ou
imperfeição da rima é relativa, conforme a
pronúncia padrão. No Brasil, por exemplo,
cnstituem rimas perfeitas as que se fazem entre
certas vogais e ditongos (desejos com beijos; luz
com azuis; atroz com heróis; vãs com mães;
espirais com Satanás; bondoso com repouso).
Em Portugal é perfeita a rima entre mãe e
também (ou tem).”
- As rimas classificam-se em:
a)
•Toantes
•Consoantes
•Aliteradas
b)
• Masculinas
• Femininas
c)
• ricas
• Pobres
• Raras
• preciosas
d)
• Emparelhadas
• Alternadas
• Cruzadas
• Encadeadas
• Iteradas
• misturadas
-Rimas Toantes ou assonantes é a rima
imperfeita. Quando a sua identidade se dá
nas vogais tônicas: lúcido e dilúculo, árvore
e pálido, boca e boa.

- Rimas consoantes é a rima perfeita, tem


os mesmos fonemas a partir da última vogal
tônica do verso: vaga-lume, ciúme;
destino, pequenino, sino; vejo, desejo.
-Rimas aliteradas são a que tem a mesma
consoante inicial (raras na língua portuguesa):

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. (G. Dias)
Rimas masculinas (rimas das palavras
oxítonas).
Rimas femininas (rimas das palavras
paroxítanas).
Rimas Pobres (rimas de palavras da
mesma classe gramatical, ou constituídas
de palavras pedestres): advérbio “mente”
(docemente, tristemente, pobremente),
terminação em “ão” (coração, irmão), “eza”
(tristeza, natureza, beleza), “or” ou “dor”
(amor, sonhador), “ando” 9dilatando,
devastando), “ado” (criado, celebrado) etc.
Rimas Ricas (rimas de palavras de classes
gramaticais diversas ou que supreendem
pela novidade): “trai” e “xangai”; “fibra” e
“viga”; “esgote” e “sacerdote”; “brilha” e
“maravilha”; “assume” e “vaga-lume”; “dele”
e “aquele”; “saudade” e “nade”.
Rimas Raras (quando obtida entre palavras
para as quais só haja poucas rimas
possíveis): “cisne” e “tisne”; “estirpe” e
“extirpe”; “flórido” e “rórido”; “turco” e
“murc”, “furco”, “urco”.
Rimas Preciosas (rimas artificiais, forjadas
com palavras combinadas): “múmia” com
“resume-a”; “réstias’ com “veste-as”;
“escárnio” com “descarne-o”; “vence-a”
com “sonolência”; “largata” com “amar-ta”;
“pântanos” com “quebranta-nos”.
Rimas Emparelhadas (rimas de dois versos
seguidos: aa; bb; cc):
- Dize, Juca Mulato, o mal que te tortura. (a)
- Roque, eu mesmo não sei se este meu mal tem
cura. (a)
- Sei rezas com que venço a qualquer mau
olhado, (b)
- Breves para deixar todo o corpo fechado. (b)
Rimas Alternadas (rimas em versos
não-consecutivos: 1° com 3°, com 5° etc; 2° com
o 4°, com o 6° etc):
Somos dois. Cada qual mais triste e mais calado. (a)
Anda lá fora o luar garoando no jardim... (b)
Tenho pena da sombra imóvel a meu lado, (a)
Possuída da expressão de um silêncio sem fim. (b)
E recordo, em voz alta, o meu tempo passado, (a)
E a sombra chega mais para perto de mim (b)
(Olegario Mariano)
Rimas Cruzadas (rimas que se intecalam,
em parelhas, num grupo de quatro versos:
abba):
Aqui outrora retumbaram hinos; (a)
muito coche real nestas calçadas (b)
e nestas praças, hoje abandonadas, (b)
rodou por entre os ouropéis mais finos... (a)

(Raimundo Correia)
Rimas Encadeadas (quando a última palavra de
um verso rima com outra no meio do verso
seguinte):

Voai, Zéfiros mimosos,


Vagarosos com cautela;
Glaura bela está dormindo;
Quanto é lindo o meu amor!

Silva Alvarenga)
Rimas Iterada (são as que se repetem no
mesmo verso):

Donzela bela, que me inspira à lira.


Um canto santo de fervente amor,
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrível dor.
(Castro Alves)
Rimas Misturadas (rimas dispostas sem critério
fixo):
Antes pela existência andar à tuna:
Sono, viola e fumo, e ao Deus dará...
O que passou, já lá se foi ─ que importa? ─
E o que há de vir, por sua vez virá!
Para a dor de viver, que nos devasta
E que o beijo nenhum de amor consola,
Os ciganos fizeram-me sentir,
Que, das três coisas, uma só nos basta:
- Tocar viola, fumar cachimbo, ou dormir.
Versos Monorrimos (a estrofe e a rima não
variam)
Ó que lance extraordinário:
aumentou o meu salário
e o custo de vida, vário,
muito acima do ordinário,
por milagre monetário
deu um salto planetário.
Não entendo o noticiário.
Sou um simples operário,
escravo de ponto e horário,
sou caxias voluntário
de rendimento precário,
nível de vida sumário,
para não dizer primário,
e cerzido vestuário.
Não sou nada perdulário,
muito menos salafrário,
é limpo meu prontuário,
jamais avancei no Erário,
não festejo aniversário
e em meu sufoco diário
de emudecido canário,
navegante solitário,
sob o peso tributário,
me falta vocabulário
para um triste comentário.
Mas que lance extraordinário:
com o aumento de salário,
aumentou o meu calvário!
Ritmo
“Remorso” – Olavo Bilac
Sin/to o /que es/per/di/cei/ na /ju/vem/tu/de;
Cho/ro/ nes/te/ co/me/ço/ de/ ve/lhi/ce,
Már/tir/ da/ hi/po/cri/si/a ou/ da/ vir/tu/de.

Os/ bei/jos/ que/ não/ ti/ve/ por/ to/li/ce,


Por/ ti/mi/dez/ o/ que/ so/frer/ não/ pu/de,
E/ por/ pu/dor/ os/ ver/sos/ que eu/ não/dis/se!
- Conta-se as sílabas forte ou acentuadas;
- rima-se os sons:
- juventude, virtude, pude;
- Velhice, tolice, disse
Monossílabos (versos de uma sílaba)

Rua
tor/ta.

Lua
mor/ta.

Tua
por/ta.
(Cassiano Ricardo)
Va/gas,
Pla/gas,
Fra/gas,
Sol/tam,
Can/tos:
Co/brem
Mon/tes,
Fon/tes,
Tí/bios
Man/tos.
(Fagundes Varela)
Dissílabos (versos de duas sílabas)

Quem/ de/ra
Que/ sin/tas
As/ do/res
De a/mo/res
Que/ lou/co
Sen/ti!
Quem/ de/ra
Que/ sin/tas!
- Não/ ne/gues,
Não/ min/tas...
- Eu/ vi!...
(Casimiro de Abreu)
Tu/, on/tem,
na/ dan/ça
que/ can/as
vo/a/vas,
com/ as/ fa/ces
em/ ro/sas
for/mo/sas,
de/ vi/vo
car/mim (Casimiro de Abreu)
Trissílabos (versos de três
sílabas)
Vem/ a au/ ro/ ra
pres/ su/ ro/ sa,
cor/ de/ ro/ sa,
que/ se/ co/ ra
de/ car/ mim;
a/ seus/ rai/ os
as/ es/ tre/ las
que e/ ram/ be/ las
têm / des/ mai/ os
Já/ por/ fim (Gonçalves Dias)
Tetrassílabos (versos de quatro sílabas, que
podem apresentar acentuação na 2° e 4° sílaba,
1° e 4° sílaba e apenas na 4° sílaba)

Na/ Noi/ te/ ne/ gra


Gen/ te/ per/ di/ da
Nos/ co/ ra/ ções

(Antonio Boto)
O in/ ver/ no/ bra/ da
for/ çan/ do as/ por/ tas...
Oh!/ que/ re/ voa/ da
de/ fo/ lhas/ mor/ tas
o/ ven/ to es/ pa/ lha
por/ so/ bre o/ chão...
(Alphonsus de Guimarães)
Pentassílabos (versos de cinco sílabas, conhecido
também como “redondilha menor”, acentuações nas 2°
e 5°; 1°, 3° e 5°; 3° e 5°; e 1° 5° sílabas)

Bo/ni/na/ do/ va/le


Luz/ dos/ o/lhos/ meus!
Ao/ rom/per/ da au/ro/ra
Pé/ro/la/ do/ mar.

(João de Deus)
Meu/ can/ to/ de/ mor/ te,
guer/ rei/ ros/, ou/ vi:
sou/ fi/ lho/ das/ sel/ vas,
nas/ sel/ vas/ cres/ ci;
guer/ rei/ ros/, des/ cen/ do
Da/ tri/ bo/ tu/ pi.
(Gonçalves Dias)
Hexassílabos (verso de seis sílabas, ou
“heroico quebrado”
Ou/ de/sse/ mes/mo e/nig/ma
Pro/pí/cios/ a/ nau/frá/gio
De/ me in/cli/nar/ a/fli/to
De/sse/ ca/la/do i/rreal
Ma/gras/ re/ses,/ ca/mi/nhos
Do/ pri/mei/ro/ re/tra/to

(Carlos Drummond de Andrade)


Heptassílabos (versos de sete sílabas ou
“redondilha maior”)
Ve/lha,/ gran/de,/ tos/ca e/ be/la
O/ lu/ar/ no/ mar/ es/pra/ia
Sin/to os/ o/lhos/ a/ tur/var
Na a/mu/ra/da/ dum/ ve/lei/ro
Que/ me/ di/ria,/ a/fi/nal,
Nas/ ne/gras/ noi/tes/ de in/ver/no
Chou/pos/ tran/si/dos/ de/ má/goa
(José Régio)
Octossílabos (versos de oito sílabas,
podendo ser acentuada qualquer sílaba)

En/tre/va/dos/ de/ mui/tos/ a/nos


Jun/to/ des/te/ cai/xão/ in/for/me

(Alphonsus de Guimarães)
Eneassílabos Anapéstico (versos de nove
sílabas com acentuação na 3°, 6° e 9° sílaba)

Con/tem/plan/do o/ teu/ vul/to/ sa/gra/do,


Com/preen/de/mos/ o/ no/sso/ de/ver;
E o/ Bra/sil,/ por/ seus/ fi/lhos/ a/ma/dos,

(Olavo Bilac)
Eneassílabos (versos de nove sílabas
com acentuação na 4°, 6° e 9° sílabas)
O/ que/ no/ Mun/do/ cá/ o es/pe/ra/va.
A/deus!/ ó/ Lu/a,/ Lu/a/ dos/ me/ses,
Lu/a/ dos/ Ma/res,/ o/ra/ por/ nós!...
A/deus!/ Na au/sên/cia/ me/ses/ são/ a/nos.

(Antonio Nobre)
Eneassílabos (versos de nove sílabas
com acentuação na 4°, 7° e 9° sílabas)

A/deus!/ Que es/tra/nha/ Vi/são/ é a/que/la


Que/ vem/ na/dan/do por/ so/bre o/mar?
To/dos/ ex/cla/mam/ de/ mãos/ pa/ra e/la.
“No/ssa/ Se/nho/ra!/ que/ vens/ a an/dar!”

(Antonio Nobre)
Decassílabo heroico (versos de dez sílabas, acentuado
na 6° e 10° sílaba, mas secundariamente acentuado na
8° ou em uma das quatro primeiras sílabas)

-
As/ mi/nhas/ mãos/ ma/gri/tas,/ a/fi/la/das,
Tão/ bran/cas/ co/mo/ a á/gua/ da/
nas/cen/te,
Lem/bram/ pá/li/das/ ro/sas/ en/tor/na/das
Dum/ re/ga/ço/ de In/fan/ta/ do O/ri/en/te.

(Flobela Espanca)
Decassílabo sáfico (acentuação na 4°, 8° e 10°
sílaba. Pode ter acentuação forte na 1° ou 2°
sílaba)

Quan/do eu/ te/ fu/jo e/ me/ des/vi/o cau/to


Da/ luz/ de/ fo/go/ que/ te/ cer/ca, oh!/ be/la,
Com/ti/go/ di/zes,/ sus/pi/ran/do a/mo/res
“ – Meu/ Deus!/ que/ ge/lo,/ que/ fri/e/za
a/que/la
(Casimiro de Abreu)
- Os versos decassílabos também podem
ser acentuados na 4°, 7° e 10° sílaba (verso
de gaita galega)
-Na 3°, 7° e 10°
-Na 5°, 7° (ou 8°) e 10° sílaba (verso de
Arte-Maior, conhecido como decassílabo
francês)
Hendecassílabo (versos de 11 sílabas,
acentuados na 2°, 5°, 8° e 11° sílaba)

Nas/ ho/ras/ ca/la/das/ das/ noi/tes/ d’es/ti/o


Sen/ta/do/ so/zi/nho/ c’oa/ fa/ce/ na/ mão,
Eu/ cho/ro e/ so/lu/ço/ por/ quem/ me/
cha/ma/va
-“Oh/ fi/lho/ que/ri/do/ do/ meu/ co/ra/ção!”
(Casimiro de Abreu)
- Hendecassílabo com acentuação fixa na
5° e na 11° sílaba

-com acentuação fixa na 3°, 7° e 11°


Dodecassílabo (verso de doze sílabas,
conhecido como verso alexandrino)
Alexandrino francês clássico (doze sílabas, com
divisão no meio do verso 6+6, o chamado
hemistíquios, acentuado na 6° e na 12° sílaba)
Nes/sas/ noi/tes/ de/ luz // mais/ be/las/ do/
que a au/ro/ra,
As/ er/ran/tes/ vi/sões // das/ al/mas/
pe/re/gri/nas
Vão/ vo/an/do a/ can/tar // pe/la/ am/pli/dão
a/fo/ra (Augusto de Lima)
Alexandrino francês clássico tetrâmetro
(quatro acentuações: 3°, 6°, 9° e 12° sílaba)

Co/mo/ len/ços/ de/ lon/ge a/ di/ze/rem/-lhe


a/deus!

(Alberto de Oliveira)
Alexandrino francês romântico (alexandrino
trímetro de ritmo ternário 4+4+4)
A/dor/me/cei. Não/ sus/pi/reis./ Não/
res/pi/reis.
(Camilo Pessanha)
Alexandrino francês romântico (alexandrino
trímetro renovado por Victor Hugo: 3+5+4
ou 4+5+3)
Estrofação

DÍSTICO:
Constituída de dois versos que rimam entre si, é a
menor estrofe existente. Segue o esquema aa-bb-
cc... Etc.

Filho meu, de nome escrito (a)


da minh'alma no infinito. (a)
Escrito a estrelas e sangue (b)
no farol da rua langue... (b)
TERCETO:
- Estrofe de três versos. A mais conhecida é
a terza rima dantesca, constituída de
decasílabos em rima encadeada
(aba-bcb-cdc...).
- Há também tercetos com as combinações
ritmicas: aab-ccb, abc-abc, etc)
• TERZA RIMA (Divina Comédia, de Dante)
A meio caminhar de nossa vida (a)
fui me encontrar em uma selva escura: (b)
estava a reta minha via perdida. (a)

Ah! que a tarefa de narrar é dura (b)


essa selva selvagem, rude e forte, (c)
que volve o medo à mente que a figura. (b)

De tão amarga, pouco mais lhe é a morte, (c)


mas, pra tratar do bem que enfim lá achei, (d)
direi do mais que me guardava a sorte. (c)
QUADRA:
Estrofe de quatro versos. Na poesia erudita,
apresenta-se ora em rima alternada
(abab), ora oposta (abba). Na literatura de
cordel, ela se apresenta, em geral, em
heptassílabo (redondilha maior), rimando
o 2° com o 4° verso:
O pouco que Deus nos deu
Cabe numa mão fechada:
O pouco com Deus é muito,
O muito sem Deus é nada
QUINTILHA:
Estrofe de cinco versos. Geralmente se
apresenta nas disposições: abaab:

Além dos ares, tremulamente, (a)


Que visão branca das nuvens sai! (b)
Luz entre as franças, fria e silente; (a)
Assim nos ares, tremulamente, (a)
Balão aceso subindo vai... (b) (R. Correia)
Na disposição ababa:

O tempo que eu hei sonhado (a)


Quantos anos foi de vida! (b)
Ah, quanto do meu passado (a)
Foi só a vida mentida (b)
De um futuro imaginado! (a)
(Fernando Pessoa)
Na disposição abbab:

Mas em vida tão escassa (a)


Qu’esperança será forte? (b)
Fraqueza da humana sorte, (b)
Que quanto da vida passa (a)
Está recitando a morte! (b)
(Camões)
SEXTILHA:
• Estrofe de seis versos. Permite que as
rimas tenham várias disposições: aabbcc,
aabccb, ababab, abcbdb. Neste caso,
Gonçalves Dias, em seu poema Nas
Sextilhas de Frei Antão, rimou apenas os
versos pares:
Mimoso tempo d’outrora
Qual nunca mais o verei,
Nem tão inteiros sujeitos,
Um ao outro dando a lei:
No Paço o rei ao vassalo,
Na Igreja o vassalo ao rei!
Estrofe de Sete Versos
Na poesia clássica, usa-se o esquema
Abbaacc. A partir do romantismo, poetas
usaram outras combinações rítmicas:
aabcbbc, abababa, aabcddc, abbcddc,
abacbac, aabaaca, abbacbc, abcdefd,
abcdefd, ababcac, abcdbec, abcabbc.
Modelo clássico:
• Leva na cabeça o pote, (a)
O testo nas mãos de prata, (b) (tampa)
Cinta de fina escarlata, (b)
Sainho de chamalote; (a) (tafetá)
Traz a vasquinha de cote, (a) (saia de nó)
Mais branca que neve pura. (c)
Vai fermosa e não segura. (c)
• (Camões)
OITAVA:
• Estrofe de oito versos:
a) oitava heróica (decassilabo. Os seis
primeiros com rima alternada; ou dois
últimos, rimas emparelhadas; abababcc).
b) Oitava lírica se caracteriza pela variedade
de combinações líricas: (ababcdcd,
abbacddc, abbcaddc, ababcccb,
aaabcccb, etc)
Oitava heróica:
De Formião, filósofo elegante, (a)
Vereis como Anibal escarnecia, (b)
Quando das artes bélicas diante (a)
Dele com larga voz tratava e lia. (b)
A disciplina militar prestante (a)
Não se aprende, Senhor, na fantasia (b)
Sonhando, imaginando ou estudando, (c)
Senão vendo, tratando e pelejando. (c)

(Camões, Lusíadas, canto x, verso 153)


Estrofe de Nove Versos
Raro em língua portuguesa (esquema
rítmico diverso).
O mostrengo que está no fim do mar (a)
Na noite de breu ergueu-se a voar; (a)
À roda da nau voou três vezes, (b)
Voou três vezes a chiar, (a)
E disse: «Quem é que ousou entrar (a)
Nas minhas cavernas que não desvendo, (c)
Meus tectos negros do fim do mundo?» (d)
E o homem do leme disse, tremendo: (c)
«El-Rei D. João Segundo!» (d) (Fernando Pesoa)
DÉCIMA
No período clássico foi usado para os
chamados poemas ligeiros: cantigas,
glosa, vilancetes (composição polifônica)
e esparsas. Vários esquemas de rimas
são usados: abbacddccd, abaabcddcd,
abaabcdccd etc.
SONETO
O Soneto italiano é composto de quatorze
versos. Em geral, são versos em
decassílabos ou alexandrinos, agrupados
em duas quadras e dois tercetos. Em via de
regra, as rimas das quadras são as
mesmas: abba-abba, ou abab-abab. Já as
rimas dos tercetos se combinam com duas
ou três rimas: cdc-dcd, ccd-eed, cdc-ede,
cde-cde
O Soneto Inglês é também composto de
quatorze versos. É distribuído em três
quadras e um dístico final, escrito sem
espacejamento. O primeiro tipo de soneto
inglês é chamado Soneto Spenseriano, e
segue as rimas ababbcbccdcd ee. O
segundo tipo de soneto inglês é chamado
Soneto Shakesperiano ou Soneto Inglês, e
segue as rimas: ababcdcdefef gg.
• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova
gramática do português contemporâneo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteiras, 1985, p. 650-692.
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática
portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
• ALI, M. Said. Versificação portuguesa. São
Paulo: Edusp, 1999.
• LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998,
521-550.
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática
portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,
2007, p. 628-629
• ALI, M. Said. Versificação portuguesa.
São Paulo:Edusp, 1999, p. 45-57.
Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,


Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto
Fernandes que não tinha entrado na história.

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