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VERSIFICAÇÃO
Retomando alguns conceitos
➢ Poesia
É a arte de trabalhar a linguagem, explorando-se os sentidos figurados (subjetivos) e os recursos
sonoros e visuais das palavras, em que se manifesta a expressão da subjetividade de um eu lírico
(ser imaginário criado pelo autor ou poeta). Pode-se manifestar em prosa ou verso.
➢ Poema
É um gênero textual constituído por versos, recursos sonoros (rima, métrica, aliteração,
assonância, ritmo), exploração da linguagem figurada e sugestão das imagens.
Versificação
É o conjunto de normas que ensinam a fazer poemas perfeitos. É assim, a técnica ou a arte de
fazer versos. Pode ser também o estudo dos recursos que constituem o poema. Quando os versos
apresentam o mesmo número de sílabas poéticas, tem-se a versificação regular; caso contrário, a
versificação irregular.
Estrofe
É o conjunto de versos de um poema e, conforme o número de versos que a estrofe agrupa, ela
recebe denominações especiais.
Quando tem mais de dez versos, a estrofe recebe o nome do respectivo número de versos: estrofe
de onze versos, de 12 versos etc.
Verso
É cada linha do poema; é uma palavra ou conjunto de palavras com unidade rítmica. Eis um
poema:
“Quem é esse viajante
Quem é esse menestrel
Que espalha esperança
E transforma sal em mel? (Milton Nascimento e Fernando Brant)
a) Tradicionais ou regulares: são os que apresentam o mesmo número de sílabas poéticas (a mesma
extensão) e a mesma sequência rítmica, isto é, as sílabas tônicas aparecem em intervalos regulares
dentro de cada verso. Esses versos são feitos com rima.
Exemplo:
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
(Luís Vaz de Camões)
b) Livres: são aqueles que não apresentam métrica regular, isto é, o mesmo número de sílabas, e o
mesmo ritmo. O poeta dispõe os versos na estrofe livremente ou de maneira intuitiva, de acordo com
a concepção que estabeleceu para o poema. Eventualmente, podem ter rima.
Exemplo:
Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
– a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
(Ferreira Gullar)
Exemplo de antecanto:
O anoitecer
O anoitecer tão brejeiro
Anuncia a despedida
Do dia que passou ligeiro
Colorindo o rotineiro!
Exemplo de estribilho:
"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Quando o verso não finaliza juntamente com um segmento sintático, ocorre o encadeamento,
cavalgamento ou Enjabement, que é a continuação do sentido de um verso no verso seguinte:
Exemplos:
“E entra a saudade... Fiquei
Como assombrado e sem voz!”
a) A vogal final de uma palavra e a vogal inicial da palavra seguinte formarão uma só sílaba métrica, se
forem pronunciadas numa única emissão de voz.
Observe a diferença entre sílabas gramaticais e métricas no seguinte verso de Gregório de Matos.
➢ O verso recebe um nome de acordo com o número de sílabas métricas que apresenta:
a) Monossílabo: verso com apenas uma sílaba.
b) Dissílabo: verso com duas sílabas.
c) Trissílabo: verso com três sílabas.
d) Tetrassílabo: verso com quatro sílabas.
e) Pentassílabo ou redondilha menor: (acentos na 2ª e 5ª): verso com cinco sílabas.
f) Hexassílabo (acentos na 2ª e 6ª sílabas): verso com seis sílabas.
g) Heptassílabo ou redondilha maior: (acentos na 3ª e 5ª): verso com sete sílabas.
h) Octossílabo: verso com oito sílabas.
i) Eneassílabo ou Jâmbico (acentos na 3ª, 6ª e 9ª): verso com nove sílabas.
j) Decassílabo: Heroico (acentos na 6ª e 10ª) ou Sáfico (acentos na 4ª, 8ª e 10ª): verso com dez
sílabas.
k) Hendecassílabo ou Datílico (acentos na 2ª, 5ª, 8ª e 11ª): verso com onze sílabas.
l) Dodecassílabo ou alexandrino (acentos na 6ª e 12ª): verso com doze sílabas.
b) elisão – supressão da vogal átona final de uma palavra, quando a seguinte começa por vogal.
E/la es/ta/va/só/ (e-les-ta-va-só);
Co/mo um/bra/vo (co-mum-bra-vo);
A/mo/-te, ó/ cruz/ no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da (a-mo-tió).
c) ditongação – fusão de uma vogal átona final com a seguinte, formando ditongo.
Es/te a/mor/ (es-tia-mor),
So/bre o/ mar/ (so-briu-mar),
a/que/la i/ma/gem (a-que-lei-ma-gem)
➢ Os decassílabos admitem duas modalidades rítmicas: 6ª e 10ª sílabas (verso heroico) e 4ª, 8ª e
10ª sílabas (verso sáfico):
“Estavas, linda Inês, posta em sossego, “Longe do estéril turbilhão da rua.”
De teus anos colhendo o doce fruto.” (Olavo Bilac)
(Luís de Camões)
A partir do Modernismo (início do século XX), muitas das criações poéticas são destituídas de métrica
(versos livres), bem como de rimas (verso bancos). Mas não há como negar: um poema pode
perfeitamente ser constituído de tais aspectos, a depender da época em que foi construído, mas o que
ele não pode deixar de ter chama-se ritmo – a grande marca desta modalidade textual.
Além de ser determinado pela alternação uniforme de sílabas tônicas (fortes) e átonas (fracas),
dispostas em cada verso de uma composição poética, o ritmo está relacionado aos recursos utilizados
pelo poeta e à forma como ele os organiza dentro de seu texto, com vistas a produzir o efeito desejado
com a mensagem. Assim, podemos dizer que cada poema possui um ritmo próprio, tendo em vista as
intenções a que se deseja obter com a mensagem.
Veja o poema de Manuel Bandeira, chamado Canção do vento e da minha vida:
a) pobres: quando são formadas por palavras da mesma classe gramatical: escura (adjetivo) e pura
(adjetivo).
b) ricas: quando são formadas por classes gramaticais diferentes: vago (adjetivo) e lago (substantivo).
c) raras: quando são formadas por palavras para as quais haja poucas com rimas correspondentes:
mim e mastim (cão para guarda de cavalo), bulício (agitação de muita gente em movimento, agitação)
e vício.
d) preciosas: quando são feitas de forma artificial, para forçar uma aproximação sonora: perdê-lo e
belo, gozo e pouso.
d) mistas ou misturadas: são as que não seguem esquematização regular, apresentam posições
diversas sem seguir necessariamente um padrão.
Exemplo:
“Vou-me embora pra Pasárgada A “Criança pobre A
Vou-me embora pra Pasárgada A de pé no chão B
Aqui eu não sou feliz B Suja, rasgada, despenteada. C
Lá a existência é uma aventura C Desmazelada. C
De tal modo inconsequente D Criada à toa, de roldão. B
Que Joana a Louca de Espanha E Cria de casebre, A
Rainha e falsa demente D Enxerto de galpão.” B (Cora Coralina)
Vem a ser contraparente D
Da nora que nunca tive.” F
(Manuel Bandeira)
Palavras oxítonas
Observação:
➢ Os versos que não têm rima são chamados versos brancos ou soltos.
Exemplo:
“Tristezas”
Na marcha da vida
Que vai a voar
Por esta descida
Caminho do mar João de Deus
Exemplo:
Melancolia
Sobre um fruto cheiroso e bravo (vogal tônica A)
todo pintado de vermelho vivo (vogal tônica I)
uma lagarta verde dorme (vogal tônica O)
O silêncio quente do meio-dia (vogal tônica I)
respira como o papo de uma ave. No ar alvo (vogal tônica A)
a asa de uma cigarra risca um silvo (vogal tônica I)
longo – brilhante – e some. (vogal tônica O)
Melancolia. (vogal tônica I) Guilherme de Almeida: