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LITERATURA – ENSINO MÉDIO – 1º ANO

PROFESSORA: CRISTIANE FALLEIRO GOTTERT

VERSIFICAÇÃO
Retomando alguns conceitos

➢ Poesia
É a arte de trabalhar a linguagem, explorando-se os sentidos figurados (subjetivos) e os recursos
sonoros e visuais das palavras, em que se manifesta a expressão da subjetividade de um eu lírico
(ser imaginário criado pelo autor ou poeta). Pode-se manifestar em prosa ou verso.

➢ Poema
É um gênero textual constituído por versos, recursos sonoros (rima, métrica, aliteração,
assonância, ritmo), exploração da linguagem figurada e sugestão das imagens.

Versificação
É o conjunto de normas que ensinam a fazer poemas perfeitos. É assim, a técnica ou a arte de
fazer versos. Pode ser também o estudo dos recursos que constituem o poema. Quando os versos
apresentam o mesmo número de sílabas poéticas, tem-se a versificação regular; caso contrário, a
versificação irregular.

Estrofe
É o conjunto de versos de um poema e, conforme o número de versos que a estrofe agrupa, ela
recebe denominações especiais.

a) monóstico – um verso; f) sexteto ou sextilha – seis versos;


b) dístico – dois versos; g) septilha ou sétima – sete versos;
c) terceto – três versos; h) oitava – oito versos;
d) quarteto – quatro versos; i) nona – nove versos;
e) quintilha – cinco versos; j) décima – dez versos.

Quando tem mais de dez versos, a estrofe recebe o nome do respectivo número de versos: estrofe
de onze versos, de 12 versos etc.

Verso
É cada linha do poema; é uma palavra ou conjunto de palavras com unidade rítmica. Eis um
poema:
“Quem é esse viajante
Quem é esse menestrel
Que espalha esperança
E transforma sal em mel? (Milton Nascimento e Fernando Brant)

O verso e sua classificação


Considerando a métrica e o ritmo, os versos classificam-se em tradicionais ou regulares e livres.

a) Tradicionais ou regulares: são os que apresentam o mesmo número de sílabas poéticas (a mesma
extensão) e a mesma sequência rítmica, isto é, as sílabas tônicas aparecem em intervalos regulares
dentro de cada verso. Esses versos são feitos com rima.
Exemplo:
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
(Luís Vaz de Camões)

b) Livres: são aqueles que não apresentam métrica regular, isto é, o mesmo número de sílabas, e o
mesmo ritmo. O poeta dispõe os versos na estrofe livremente ou de maneira intuitiva, de acordo com
a concepção que estabeleceu para o poema. Eventualmente, podem ter rima.
Exemplo:
Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
– a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
(Ferreira Gullar)

O verso que se repete no início de todas as estrofes de um poema chama-se antecanto e os


versos que se repetem no final de cada estrofe chama-se estribilho ou refrão.

Exemplo de antecanto:

O anoitecer
O anoitecer tão brejeiro
Anuncia a despedida
Do dia que passou ligeiro
Colorindo o rotineiro!

O anoitecer tão brejeiro


Soma alegria e tristeza
Apaga do seu canteiro
O Sol com delicadeza!

O anoitecer tão brejeiro


Semeia a estrela primeira
No seu cismar igrejeiro!

O anoitecer tão brejeiro


Faz rimas prá sua safira! Edite Rocha Capelo

Exemplo de estribilho:
"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,


se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,


aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,


aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?”
(...) Dom Dinis

Quando o verso não finaliza juntamente com um segmento sintático, ocorre o encadeamento,
cavalgamento ou Enjabement, que é a continuação do sentido de um verso no verso seguinte:
Exemplos:
“E entra a saudade... Fiquei
Como assombrado e sem voz!”

“Se a cólera que espuma, a dor que mora


N’alma, e destrói cada ilusão que nasce
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração no rosto se estampasse.” Raimundo Correia

O metro e a classificação do verso quanto ao número de sílabas


➢ O metro é a extensão do verso, ou seja, trata-se do processo de contabilização das sílabas métricas
de um verso.
➢ O processo de contagem das sílabas métricas é denominado escansão. Isso é feito auditivamente e
não gramaticalmente.
➢ Para escandir um verso, ou seja, contar suas sílabas métricas, devem ser observadas as seguintes
normas:

a) A vogal final de uma palavra e a vogal inicial da palavra seguinte formarão uma só sílaba métrica, se
forem pronunciadas numa única emissão de voz.
Observe a diferença entre sílabas gramaticais e métricas no seguinte verso de Gregório de Matos.

Incêndio em mares de água disfarçado. Número de sílabas gramaticais: 13


Incêndio em mares de água disfarçado. Número de sílabas poéticas: 10

b) Contam-se as sílabas apenas até a última sílaba tônica do verso.

Rio de neve em fogo convertido (Gregório de Matos)

c) Os ditongos crescentes formam, normalmente, uma só sílaba métrica.


Já vigílias passei namorado
Doces horas d’insônia passei,
(Gonçalves Dias)

➢ O verso recebe um nome de acordo com o número de sílabas métricas que apresenta:
a) Monossílabo: verso com apenas uma sílaba.
b) Dissílabo: verso com duas sílabas.
c) Trissílabo: verso com três sílabas.
d) Tetrassílabo: verso com quatro sílabas.
e) Pentassílabo ou redondilha menor: (acentos na 2ª e 5ª): verso com cinco sílabas.
f) Hexassílabo (acentos na 2ª e 6ª sílabas): verso com seis sílabas.
g) Heptassílabo ou redondilha maior: (acentos na 3ª e 5ª): verso com sete sílabas.
h) Octossílabo: verso com oito sílabas.
i) Eneassílabo ou Jâmbico (acentos na 3ª, 6ª e 9ª): verso com nove sílabas.
j) Decassílabo: Heroico (acentos na 6ª e 10ª) ou Sáfico (acentos na 4ª, 8ª e 10ª): verso com dez
sílabas.
k) Hendecassílabo ou Datílico (acentos na 2ª, 5ª, 8ª e 11ª): verso com onze sílabas.
l) Dodecassílabo ou alexandrino (acentos na 6ª e 12ª): verso com doze sílabas.

Os versos com mais de doze sílabas são chamados bárbaros.


Processos para a redução do número de sílabas métricas
Para atender às exigências da métrica, os poetas recorrem aos seguintes processos:
a) crase – fusão de duas vogais iguais numa só.
a al/ma (al-m)];
o ó/dio (ó-dio);
fo/ge e/gri/ta (fo-ge-gri-ta)
Lan/ça a/ po/e/si/a (lan-ça-po-e-si-a)

b) elisão – supressão da vogal átona final de uma palavra, quando a seguinte começa por vogal.
E/la es/ta/va/só/ (e-les-ta-va-só);
Co/mo um/bra/vo (co-mum-bra-vo);
A/mo/-te, ó/ cruz/ no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da (a-mo-tió).

c) ditongação – fusão de uma vogal átona final com a seguinte, formando ditongo.
Es/te a/mor/ (es-tia-mor),
So/bre o/ mar/ (so-briu-mar),
a/que/la i/ma/gem (a-que-lei-ma-gem)

d) sinérese – transformação de um hiato em ditongo, na mesma palavra.


Cruel/da/de (cruel-da-de),
/luar/, (luar)
/fiel/, (fiel)
/ma/goa/do (ma-gua-do)

e) diérese – o inverso da sinérese, ou seja, a dissolução de um ditongo em hiato.


sa/u/da/de (sa-u-da-de),
pi/e/do/so (pi-e-do-so)

f) eclipse – supressão de um fonema nasal final, para possibilitar a crase ou ditongação.


co, cos, coa, coas (por com o, com os, com a, com as)

g) aférese – supressão de sílaba ou fonema inicial.


/té/ (por até),
in/da (por ainda),
’s/ta/mos (por estamos)

Observe a escansão destes versos do poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.

Mi/nha/ ter/ra/ tem/ pal/mei/ras/, (8 sílabas gramaticais)


Mi/nha/ te/rra/ tem/ pal/mei/ras, (7 sílabas poéticas)

On/de/ can/ta/ o/ sa/bi/á/, (8 sílabas gramaticais)


On/de/ can/ta o/ sa/bi/á/, (7 sílabas poéticas)

As/ a/ves/ que/ a/qui/ gor/jei/am/ (9 sílabas gramaticais)


A/s a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am (7 sílabas poéticas)

Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá/ (7 sílabas gramaticais)


Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá/ (7 sílabas poéticas)

✓ Versos heptassílabos ou redondilha maior (sete sílabas poéticas).


Ritmo
O ritmo resulta da regular sucessão de sílabas átonas ou fracas e de sílabas tônicas ou fortes. É o
elemento melódico do verso, tão essencial e indispensável à poesia quanto à música. Juntamente com a
rima e as imagens poéticas transmite aos versos um misterioso poder de emoção e encantamento.
Os acentos tônicos, ou sílabas tônicas, devem repetir-se com intervalos regulares, de modo a
cadenciar o verso e torná-lo melodioso. Não se distribuem arbitrariamente, mas devem, segundo a
espécie do verso, recair em determinadas sílabas.
Exemplos:

➢ Os versos pentassílabos (redondilha menor) podem apresentar as seguintes cadências:


“Já dormiram todos. (1ª, 3ª e 5ª sílabas)
Pássaros celestes (1ª e 5ª)
me virão cantar (3ª e 5ª)
do lado do mar.” (2ª e 5ª) (Cecília Meireles)

➢ Os decassílabos admitem duas modalidades rítmicas: 6ª e 10ª sílabas (verso heroico) e 4ª, 8ª e
10ª sílabas (verso sáfico):
“Estavas, linda Inês, posta em sossego, “Longe do estéril turbilhão da rua.”
De teus anos colhendo o doce fruto.” (Olavo Bilac)
(Luís de Camões)

A partir do Modernismo (início do século XX), muitas das criações poéticas são destituídas de métrica
(versos livres), bem como de rimas (verso bancos). Mas não há como negar: um poema pode
perfeitamente ser constituído de tais aspectos, a depender da época em que foi construído, mas o que
ele não pode deixar de ter chama-se ritmo – a grande marca desta modalidade textual.
Além de ser determinado pela alternação uniforme de sílabas tônicas (fortes) e átonas (fracas),
dispostas em cada verso de uma composição poética, o ritmo está relacionado aos recursos utilizados
pelo poeta e à forma como ele os organiza dentro de seu texto, com vistas a produzir o efeito desejado
com a mensagem. Assim, podemos dizer que cada poema possui um ritmo próprio, tendo em vista as
intenções a que se deseja obter com a mensagem.
Veja o poema de Manuel Bandeira, chamado Canção do vento e da minha vida:

O vento varria as folhas, O vento varria as luzes


O vento varria os frutos, O vento varria as músicas,
O vento varria as flores... O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas. De aromas, de estrelas, de cânticos.

A rima e sua classificação

A rima é a identidade ou a semelhança de sons no final ou no meio de versos diferentes.


As rimas classificam-se quanto ao valor ou à qualidade, quanto à disposição nas estrofes,
quanto à posição da sílaba tônica e quanto à coincidência sonora:

1) Quanto ao valor ou à qualidade, as rimas classificam-se em:

a) pobres: quando são formadas por palavras da mesma classe gramatical: escura (adjetivo) e pura
(adjetivo).
b) ricas: quando são formadas por classes gramaticais diferentes: vago (adjetivo) e lago (substantivo).
c) raras: quando são formadas por palavras para as quais haja poucas com rimas correspondentes:
mim e mastim (cão para guarda de cavalo), bulício (agitação de muita gente em movimento, agitação)
e vício.
d) preciosas: quando são feitas de forma artificial, para forçar uma aproximação sonora: perdê-lo e
belo, gozo e pouso.

2) Quanto à disposição nas estrofes, as rimas são classificadas em:


a) emparelhadas ou paralelas: quando se sucedem duas a duas (AABB).
“Vagueio campos noturnos A
Muros soturnos A
Paredes de solidão B
Sufocam minha canção.” B (Ferreira Gullar)

b) cruzadas ou alternadas: quando ocorrem em versos alternados, rimando, de um lado, os versos


ímpares (1º com o 3º) e, de outro, os versos pares (o 2º com o 4º, etc.), conforme o esquema ABAB.
“O meu amor não tem A
importância nenhuma. B
Não tem o peso nem A
de uma rosa de espuma!” B (Cecília Meireles)

c) interpoladas ou intercaladas ou opostas: ocorrem quando o 1° verso rima com o 4º e o 2º com o


3º (ABBA)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, A
Muda-se o ser, muda-se a confiança; B
Todo o Mundo é composto de mudança, B
Tomando sempre novas qualidades. A (Luís Vaz de Camões)

d) mistas ou misturadas: são as que não seguem esquematização regular, apresentam posições
diversas sem seguir necessariamente um padrão.
Exemplo:
“Vou-me embora pra Pasárgada A “Criança pobre A
Vou-me embora pra Pasárgada A de pé no chão B
Aqui eu não sou feliz B Suja, rasgada, despenteada. C
Lá a existência é uma aventura C Desmazelada. C
De tal modo inconsequente D Criada à toa, de roldão. B
Que Joana a Louca de Espanha E Cria de casebre, A
Rainha e falsa demente D Enxerto de galpão.” B (Cora Coralina)
Vem a ser contraparente D
Da nora que nunca tive.” F
(Manuel Bandeira)

e) Encadeadas: quando ocorrem entre o fim do verso e o interior do verso seguinte.


Exemplo: “E a mangueira já florida
Nos convida a respirar” (Silva Alvarenga)

f) Interna ou Iterada: ocorre no mesmo verso.


Exemplo: “Donzela bela que me inspira à lira.”

g) Continuadas: repetição da mesma rima ao longo do poema.


Exemplo:
Que fazer
Dentro de mim um inferno
e por isso me consterno,
pois é só um problema interno
que parece ser externo.

3) Quanto à posição do acento tônico, as rimas classificam-se em:

a) Agudas ou masculinas: quando o acento tônico se localiza na última sílaba do verso.


Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores
que tais não encontro eu cá
[...] (Gonçalves Dias)

b) Graves ou femininas: quando o acento tônico se localiza na penúltima sílaba do verso.


Meu amor era puro, extremoso,
Era amor que meu peito sentia,
Eram lavas de um fogo teimoso,
Eram notas de meiga harmonia. (Gonçalves Dias)

c) Esdrúluxas: o tônico localiza-se na antepenúltima sílaba.


No ar lento fumam gomas aromáticas
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas. (Eugênio Castro)

RIMAS AGUDAS, GRAVES E ESDRÚXULAS

Palavras oxítonas

Palavras paroxítonas Palavras proparoxítonas

Observação:

➢ Os versos que não têm rima são chamados versos brancos ou soltos.

4) Quanto à coincidência sonora, as rimas classificam-se em:

a) Perfeita ou Consoante ou Soante: rimam consoantes e vogais; há correspondência completa de


sons:
- tento / vento
- vele / sele
- carinho/ sozinho
- celeste/veste.

Exemplo:
“Tristezas”
Na marcha da vida
Que vai a voar
Por esta descida
Caminho do mar João de Deus

b) Imperfeita ou Toante: rima apenas a vogal tônica; há correspondência parcial de sons:


- trouxe / doce
- benfazejo / beijo.

Exemplo:
Melancolia
Sobre um fruto cheiroso e bravo (vogal tônica A)
todo pintado de vermelho vivo (vogal tônica I)
uma lagarta verde dorme (vogal tônica O)
O silêncio quente do meio-dia (vogal tônica I)
respira como o papo de uma ave. No ar alvo (vogal tônica A)
a asa de uma cigarra risca um silvo (vogal tônica I)
longo – brilhante – e some. (vogal tônica O)
Melancolia. (vogal tônica I) Guilherme de Almeida:

Poemas de forma fixa


Existem poemas que têm forma fixa, isto é, obedecem a regras quanto ao número de estrofes e
de versos e quanto à disposição das rimas. Dentre eles temos:
1. Balada: composto por três oitavas ou três décimas, que têm as mesmas rimas, seguidas de uma
quadra e uma quintilha.
2. Haicai: poema de origem japonesa, composto por três versos, sendo o primeiro e o último
pentassílabos e o segundo heptassílabo. Originalmente não possuía rima; no Brasil vem sendo
retomado de maneira rimada.
3. Rondó: formado de três estrofes: uma quintilha, um terceto e outra quintilha, com estribilho
constante.
4. Sextina: composição de seis sextilhas e um terceto, apresenta versos decassílabos.
5. Vilancete: composto por um terceto e duas oitavas.
6. Soneto: poema composto de catorze versos, sendo dois quartetos e dois tercetos, que apresenta,
geralmente, versos decassílabos ou alexandrinos.
7. Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha;

8. Indriso: poema configurado por dois tercetos e dois monósticos.

9. Trova: poema com uma só estrofe e quatro versos heptassilábicos.

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