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Fernanda da Mata Kloh

Kwame Nkrumah: pan-africanismo e união africana.

Rio de Janeiro

2017
KWAME NKRUMAH: Pan-africanismo e União africana.

Fernanda da Mata Kloh

Instituto de História / IFCS

Bacharelado em História

Claudio Pinheiro

Professor de História da África

Instituto de História

Rio de Janeiro

2017
FOLHA DE APROVAÇÃO

KWAME NKRUMAH: Pan-africanismo e união africana.

Fernanda da Mata Kloh.

Monografia submetida ao corpo docente do Instituto de História da


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Bacharel. Aprovada por:

Prof. Dr. Cláudio Pinheiro - Orientador

(titulação)

Prof. Dra. Monica Lima

(titulação)

Prof.Dr. Murilo Bon Mehy

(titulação)

Rio de Janeiro

2017
Agradecimentos

Eu gostaria de agradecer:

 Aos meus pais, Dalva Aparecida e Ivan Kloh, pelo apoio incondicional
por todos esses anos.
 À minha querida irmã Francine, pois este trabalho não seria o mesmo
sem a sua ajuda. E eu não seria a mesma sem a sua amizade.
 À minha avó Conceição, por sua perseverança e sabedoria.
 Ao meu orientador, professor Claudio Pinheiro, por acreditar nesse
projeto e todo o apoio no tempo que trabalhamos juntos.
 Aos professores e funcionários do Instituto de História da UFRJ.
 Aos meus amigos, por fazer essa jornada mais divertida.
Resumo

KLOH, Fernanda. Kwame Nkrumah: Pan-africanismo e união africana.


Orientador: Claudio Pinheiro. Rio de Janeiro: UFRJ / IFCS / Departamento de
História; 2017. Monografia (Bacharelado em História).

Kwame Nkrumah foi um dos maiores líderes do continente africano no período


das independências. Uma de suas principais preocupações, como político e
intelectual, era produzir as condições de uma África unida. Isso fica expresso
em sua participação na idealização do pan-africanismo, na criação da
Organização para Unidade Africana (OUA) e na promoção de diversas
conferências para discutir assuntos mais prementes para o continente (como o
apartheid sul-africano e a crise no Congo). Parte dessas preocupações e
interesses está expresso em “Africa must Unite”, publicado no mesmo ano da
fundação da OUA.
Este trabalho procura analisar o pensamento e o engajamento político de
Nkrumah no contexto das independências, da consolidação de instituições que
lutavam pelo pan-africanismo e que tentavam organizar os países não
alinhados, em um contexto de reação internacional e tensionamento provocado
pela Guerra Fria.

Palavras chave: pan-africanismo, unidade africana, intelectuais africanos,


socialismo africano.
Abstract

KLOH, Fernanda. Kwame Nkrumah: Pan-africanism and african unity.


Orientador: Claudio Pinheiro. Rio de Janeiro: UFRJ / IFCS / Departamento de
História; 2017. Monografia (Bacharelado em História).

Kwame Nkrumah was one of the greatest African independence leaders. One of
his biggest concerns, as a politician and intellectual, was to create the
conditions for a united Africa. That was expressed in his Pan-Africanist actions,
the creation of the Organizations for African Unity (OUA), and the conferences
he organized to discuss topics related to the continent as a whole(such as the
apartheid system in South Africa and the Congo crisis). Some of these
concerns and interests are exposed in “Africa must unite”, a book he published
in the same year as the creation of OUA, 1963.
This paper seeks to analyze the thought and political engagement of Nkrumah
related to the independences, the consolidation of institutions that fought for
Pan-Africanism and attempts to organize the non-aligned countries, in a tense
international context, pressured by the Cold War.

Key-words: Pan-Africanism, African unity, African intellectuals, African


socialism.
Sumário

Introdução.................................................................7

Capítulo 1- Educação e Imperialismo ........................ 12

Capítulo 2- de Costa do Ouro a Gana..........................22

Capítulo 3- Unificação africana....................................33

Conclusão..................................................................47

Bibliografia e fontes...................................................51
7

Introdução

Com fim da segunda guerra mundial, os movimentos pela independência


no continente africano tomam força, e na década de 1960, grande número
dessas independências foi conquistado. Ainda existe grande controvérsia entre
historiadores se o período em que o continente africano foi colonizado por
países europeus foi determinantemente curto demais ou longo o suficiente para
causar uma influência significativa e duradoura no continente (Ilifee 1999: 275).
Entretanto, é difícil negar que os países que surgiram majoritariamente após a
década de 1960 eram completamente diferentes das sociedades africanas
anteriores à invasão colonialista europeia em diversos aspectos, sendo
largamente influenciados por modelos políticos europeus (do liberalismo ao
socialismo), com suas novas fronteiras políticas, para citar apenas alguns
exemplos (Ki-Zerbo 1991: 164).

Este trabalho pretende analisar o caso específico de Gana, primeiro país


da África subsaariana a se tornar independente em 1957, e da consolidação
internacional de seu primeiro presidente, Kwame Nkrumah. Para este novo
país, e para todos os países que se tornavam independentes no restante do
continente, a visão Pan-africanista de Nkrumah resumia-se em uma máxima:
somente a unificação do continente africano, em níveis políticos, econômicos e
sociais, poderia igualar a posição da África no debate com os outros países,
mas principalmente, com as antigas potencias europeias. Discutirei nas
próximas páginas sobre sua perspectiva de unificação africana, desde quando
os Ganenses conquistaram sua independência até a queda de Nkrumah em
1966.

Entretanto, seja por desavenças políticas dentro do continente ou a


heterogeneidade sociocultural, a contínua intervenção das potências europeias
nos assuntos africanos, ou o clima da Guerra Fria no cenário mundial, ou
mesmo por todas essas questões, a visão de Nkrumah de uma África unificada
não se tornou realidade, e a formação da Organização de Unidade Africana em
Maio de 1963 serviu para confirmar isso. Não é coincidência que seu livro,
“Africa must unite”, foi publicado no mesmo ano. Este livro será utilizado como
principal fonte para esta pesquisa, onde se pretende uma análise da
8

perspectiva de Nkrumah para o futuro político do continente africano. Além


deste livro, alguns de seus discursos, mais especificamente o discurso na
cerimônia de comemoração da Independência de Gana em 1957 e na abertura
da Organização para Unificação da África, em 1963, outros trabalhos
contribuíram para a construção desta análise.

O sentimento de uma África unida

O Pan-Africanismo é uma corrente filosófica que surge no continente


americano no século XX (Ralston 2010: 903), concebida por descendentes de
africanos escravizados; foi muito influente tanto na libertação do continente
africano do controle europeu, como após as independências como força de
integração continental. Como o nome sugere, o pan-africanismo acredita na
integração de todos os povos africanos e seus descendentes da diáspora
espalhados pelo mundo, é uma corrente de pensamento cujos primeiros
idealizadores foram intelectuais afro-americanos e caribenhos como Marcus
Garvey, George Padmore e W.E.B. DuBois, que se muda para Gana em 1961,
para trabalhar num projeto de Enciclopédia africana. Os dois últimos eram
amigos pessoais de Nkrumah, que leva as ideias pan-africanistas como
diretrizes principais de sua política, tanto interna quanto externa. (Ralston 2010:
908). Em seu discurso na comemoração da independência de Gana, ele
termina falando que “Our independence is meaningless unless it is linked up
with the total liberation of Africa.” (Nkrumah 1957) E afirma que como
presidente de Gana, estaria disposto a abrir mão da autonomia nacional para
dar lugar a uniões continentais (Nkrumah 1963). O governo de Nkrumah coloca
Gana com líder da expansão do pan-africanismo e sua proposta de unificação,
através de diversas conferências continentais, que serão mencionadas neste
trabalho.

Suas políticas e suas ideias sobre como deveria se dar essa unificação
continental também serão exploradas nos capítulos seguintes, entretanto aqui
cabe explicar a seleção deste objeto e sua relevância para o momento atual.
Muitos intelectuais e políticos africanos poderiam ser escolhidos para análise
9

neste trabalho, mas escolhi estudar Nkrumah por alguns motivos, como a
disponibilidade de fontes. Além disso, esta personagem é membro de um grupo
social novo, que passa por um processo de ocidentalização, principalmente
pela educação ocidental, e que posteriormente teve um papel de real
importância nas negociações de independência. No caso de Gana, a ação
política de Nkrumah obteve sucesso tanto com o governo britânico que acaba
cedendo e o coloca como primeiro ministro da Costa do Ouro em 1951, tanto
com o povo Ganense, em suas políticas de ação direta e mobilização de
massas (Ki-Zerbo 1991: 186-7).
São interessantes as comparações com outros lideres africanos de sua
época, como Julius Nyerere da Tanzânia. Apesar de Nyerere e Nkrumah
apresentarem projetos de “socialismo africano” a política internacional do
primeiro é mais moderada em relação à perspectiva unificadora de Nkrumah, o
que certamente influiu na percepção destes dois lideres africanos na mídia
internacional (Eckert 2011). Uma vez presidente Nkrumah atua como uma
liderança com ideias mais radicais que reforçando a necessidade de unir-se
política economicamente e manter-se não alinhados no contexto de Guerra Fria
para assim evitar os perigos do “neocolonialismo”. Este termo específica as
relações entre a África e as antigas metrópoles europeias, foi cunhado por
Nkrumah na década de 1960 e definido em um livro de mesmo nome publicado
em 1965.

É importante ao se escrever ou falar sobre a África, fazer isso partir da


perspectiva dos africanos. Isto me levou a reescrever esta pesquisa, pois a
primeira versão apresentava uma visão demasiado europeia da construção dos
Estados africanos pós-independência. Nesta segunda versão, pretendo
mobilizar os textos do interlocutor central dessa pesquisa, Kwame Nkrumah,
partindo de suas análises da conjuntura do continente, uma vez que ele
produziu diversos livros sobre teórica política africana. Após décadas de
colonização europeia, a influência política ocidental na África é inegável, mas
pretendo aqui apontar a interpretação de Nkrumah destes fatos, e suas
perspectivas de solução para os problemas de desenvolvimento no continente
africano.
10

Os escritos de Nkrumah

Kwame Nkrumah teve 13 livros publicados. Além de “Africa must unite”,


de 1963, o “Consciencism” e “Neocolonialismo: ultimo estágio do imperialismo”;
de 1964 e 1965, respectivamente, serão mobilizados no decorrer desta
pesquisa. “Consciencism” é um livro onde ele se propõe a elaborar um sistema-
social filosófico africano, que leve em conta seu passado colonial, a influência
islâmica no continente, e as tradições autóctones africanas. Ele começa o livro
com um complexo panorama da filosofia ocidental, para então começar a sua
contribuição filosófica ao desenvolvimento do continente africano. Este é um
livro bastante erudito, no qual Nkrumah apresenta correntes filosóficas
importantes para a África, outrossim construído como tradicional, idílica,
igualitária e essencialmente humanista. Seu ponto de reflexão é o quanto a
África havia sido atormentada pelos problemas do colonialismo, e seus efeitos
duráveis transformados, aquilo que ele denominaria de neocolonialismo.
Nkrumah reconhece que o colonialismo teve primordialmente motivações
econômicas, mas para supera-lo, era necessária ação política ativa. A teoria
filosófica proposta em Consciencism, em seu aspecto político, sustenta que o
socialismo seria a melhor forma para retornar ao passado tradicional africano,
que ele apresenta de forma genérica (sempre se referindo ao povo africano de
forma geral) como sendo humanista, organizar o povo em partidos únicos,
ajudando a apagar a “mentalidade colonial”.

Seu livro sobre Neocolonialismo é um livro essencialmente político, onde


ele enfatiza como isso ameaçava a estabilidade e as independências africanas
e asiáticas. Neste livro, ele reforça pontos já apresentados em “Africa must
unite”, principalmente sobre a questão da balcanização e divisão do continente,
que favorece os interesses internacionais e mantém a África como importador
de matérias primas, subordinando seu desenvolvimento ao capital europeu
mesmo após as independências. Nos três livros mobilizados neste trabalho, ele
aponta os perigos das relações econômicas entre os países independentes e
as potências europeias, relações que geralmente contavam com restrições
políticas, transformando alguns desses Estados e seus líderes da
independência em instrumentos dos interesses neocolonialistas.
11

Como fontes secundárias, muitos capítulos dos volumes 7º e 8º da


Coleção de História Geral da África foram mobilizados, em conjunto com os
livros dos autores africanos Joseph Ki-Zerbo e M’Bokolo, ambos sobre a
história da África Negra. Para criar o contexto internacional do processo
imperialista e de sua queda, me baseei no livro do historiador britânico Eric
Hobsbawn, “A Era dos Impérios”, do também britânico John Iliffe, e no clássico
de Edward Said, “Cultura e imperialismo”. Para pensar o caso de Gana, e
informações mais especificas sobre a vida e trajetória de Nkrumah, eu
pesquisei em artigos online, como o de Angela Haward e Kwadwo Afari-Gyan,
cientista político ganense.
12

Capítulo 1
Educação e Imperialismo

Francis Nwia Kofie Nkrumah nasceu em uma vila rural chamada


Nkrofro, na Costa do Ouro britânica, em 21 de setembro de 1909. Existem
poucas informações disponíveis sobre seus pais, sua mãe era Elizabeth
Nyanibaha, e seu pai era um ourives, chamado Kobina Nkrumah.
Francis Nkrumah inicia sua educação formal numa escola de
missionários católicos (Ki-Zerbo 1991: 185). Nesse sentido, é importante
sopesar o papel central desempenhado pelos missionários cristãos, que foi
fundamental para o processo de colonização. Auxiliaram a entrada efetiva
dos colonizadores nas regiões mais ao interior, onde eram os representantes
não apenas da fé cristã, mas da própria cultura ocidental (OPOKU 2010:
597). Durante o período colonial, tiveram grande importância na formação
dos africanos em escolas missionárias. A maioria dos autores concorda que
as escolas de missões foram apoiadas por governos coloniais – mais no
caso de colônias britânicas que as francesas, por exemplo, tanto
financeiramente como em questões de infraestrutura e segurança; ao
mesmo tempo expandiam a “cultura ocidental”, formando “[…] o pessoal de
que necessitavam para preencher os escalões inferiores da burocracia [...]”
(Afigbo 2010:503).
Hobsbawm e M’Bokolo parecem ter perspectivas complementares a
esse respeito. Hobsbawm afirmando que nem sempre missionários e
autoridades coloniais teriam os mesmos interesses; ainda que não negue que
“o sucesso do Senhor se dava em virtude do avanço imperialista.” (Hobsbawn
2011:120). Por seu lado, M’Bokolo dá exemplos de união de missionários e
nativos contra trabalho forçado e o aumento de impostos em outras colônias
britânicas (M’Bokolo 2011: 506). O contrário também se mostra verdadeiro, e o
advento da alfabetização e da educação formal, em moldes ocidentais foi um
dos mais importantes fatores de transformação da África colonial (AFIGBO
2010:503).

O próprio Nkrumah compreendia a importância da educação para a


sociedade, e como a educação em moldes ocidentais afetou sua experiência
13

africana e moldava a sociedade colonial. Já em seu período como estudante


universitário nos Estados Unidos, escreve artigos muito interessantes sobre
o sistema educacional na África colonial, de uma perspectiva tanto
acadêmica como pessoal. Um artigo de 1941, intitulado "Primitive Education
in West Africa," que fala sobre a educação africana tradicional, focando na
região da África ocidental; e outro artigo publicado em 1943 onde critica
extensamente a educação colonial. Neste segundo artigo, "Education and
Nationalism in Africa," ele aborda pontos muito interessantes e condizentes
com a situação do continente, que na época estava quase inteiramente
dividido por potencias europeias (ele cita a Libéria e Abissínia como únicas
exceções) (Nkrumah 1943: 39). Além de estabelecer comparações entre
colônias de diversos países, explica como funcionava o sistema educacional
na África ocidental britânica, voltado para formação de professores, clérigos
e pessoas para trabalhar na burocracia colonial. Essa educação, na opinião
de Nkrumah, que na época ainda assinava seu nome de batismo, Frances,
não competia às necessidades locais dos africanos, tendo ênfase na
historia, costumes e morais europeias, servia também como uma forma de
aculturação (Nkrumah 1943: 38).
M’Bokolo reafirma o quanto era crucial o papel da educação para a
manutenção e reprodução do sistema colonial, em seu livro “África negra:
história e civilizações”, ele afirma que o ensino na África colonial objetivava que
o:
Indígena assimilasse os fundamentos da cultura ocidental,
os respeitasse e reconhecesse a superioridade. Devia
igualmente propiciar a possibilidade de fornecer à economia
os homens de que esta tinha necessidade: técnicos,
empregados, auxiliares, contramestres etc. (M’Bokolo 2011:
512).

As limitações da educação colonial não eram apenas em relação a


seus objetivos de ocidentalizar os povos africanos, mas também em seu
alcance à população local. Nkrumah escreve no artigo "Education and
Nationalism in Africa” que o ensino não era compulsório em lugar nenhum do
continente, então apenas as famílias que tinham condições poderiam
mandar seus filhos para serem educados nas poucas instituições disponíveis
14

(Nkrumah 1943: 35). As missões procuravam atingir maior quantidade de


africanos em vez de investir em qualidade do ensino, mas isso apenas
quando se tratava de escolas primárias. Até a segunda Guerra Mundial o
ensino secundário era muito restrito no continente, atingindo, na década de
1950, “apenas 1 a 2 por cento dos jovens nas colônias tropicais, contra sete
por cento no Egito” (Iliffe 1999: 289). Havia, entretanto, algumas instituições
secundárias de prestígio dedicadas à formação de alunos africanos que
trabalhariam na burocracia colonial, em cargos que demandavam maior
instrução, sendo o Achimota College, localizado em Acra, capital de Gana,
um exemplo de uma instituição dessas (Ilifee 1999: 289).
Em 1927, o jovem Nkrumah (Nkrumah 1963: 47) se muda para Acra
para estudar na Achimota Government Training College, que abre suas
portas no mesmo ano1. O lema da escola é “Ut Omnes Unum Sint”2 algo
como “que todos sejam um”, um lema que parece interessante num país
onde os nativos e os brancos, filhos dos colonizadores europeus, dificilmente
vinham a dividir uma sala de aula (M’bokolo 2011: 513). Foi uma das escolas
de maior renome da África Ocidental e onde estudaram diversos lideres
políticos não apenas de Gana, mas de outros países africanos, como Robert
Mugabe e Sir Dawda Jawara, de Zimbábue e Gâmbia, respectivamente3. Em
1930, Nkrumah conclui seus estudos na Achimota e durante os próximos
sete anos trabalha como professor em diversas escolas na Costa do Ouro
(Howard 1999: 13).
É interessante considerar como estas escolas, mesmo no caso da
Achimota, que era financiada pela coroa britânica, tiveram papel
importantíssimo na consolidação de uma nova elite africana, que
posteriormente participa de forma ativa na luta pela independência do
continente. Esta é uma ideia central para se entender a colonização e
descolonização africana; e autores como Ki-Zerbo nos explicitam isso de
forma clara; em seu livro “História da África Negra, vol. II”, Ki-Zerbo
questiona:

1
Disponível em < http://www.oldachimotan.net/school/history >acesso em 30/10/2016.
2
Disponível em < http://www.oldachimotan.net/school/history >acesso em 30/10/2016.
3
Disponível em < http://www.oldachimotan.net/school/history >acesso em 30/10/2016.
15

Mas não seria verdade que os próprios princípios coloniais,


inculcados pela educação e pela prática administrativa, iriam
conduzir a reivindicação anticolonialistas quando levados
até o fim de sua lógica?”(Ki-Zerbo 1991: 164)

E continua na página seguinte “Portanto, direta ou indiretamente; por


meio tanto da prática quanto da teoria colonial, a colonização ia conduzir ao
anti-colonialismo e negava-se nele.” (Ki-Zerbo 1991: 165).
Entretanto, esta que Ki-Zerbo classifica como contradição interna do
colonialismo era percebida também por seus contemporâneos. Ainda no
artigo de 1943, "Education and Nationalism in Africa” Nkrumah menciona um
autor, Sir Valentine Chirol, que em um livro chamado “India unrest” critica a
educação colonial britânica, devido a sua política de adaptação nas
localidades, sem um padrão prévio de colonização. De acordo com este
autor imperialista, o ensino que fosse inclusivo da realidade local geraria
insatisfações e desejo de autogoverno (Nkrumah 1943: 37). Para Nkrumah,
a educação africana ideal mobilizaria as melhores partes do ensino e
modernidade ocidentais junto das melhores partes das culturas locais, e que
assim:

“...education in Africa should produce a new class of


educated Africans imbued with the culture of the west but
nevertheless attached to the environment. This new class of
Africans should demand the powers of self determination
and independence to determine the progress and
advancement of their own country. They must combine the
best in Western civilization with the best in African culture.”
(Nkrumah 1943: 38).

Assim, se o autor europeu via na educação colonial uma chance de


os nativos se oporem a colonização, o jovem Nkrumah via isso quase como
uma obrigação da classe instruída africana. Anos mais tarde, já numa Gana
independente ele escreve no nono capítulo de seu livro “Africa must unite”
sobre o que ele denomina “Intelectual vanguard”, que corresponderia
àqueles poucos que na África colonial tiveram acesso ao ensino formal.
Neste capítulo, ele apresenta um panorama de educação colonial
semelhante ao que apresenta o artigo da Universidade da Pensilvânia,
publicado 20 anos antes. As maiores críticas, em ambos os textos seriam a
educação estritamente acadêmica, sem o que ele chama de “Technical
16

training” (Nkrumah 1963: 46) e suas consequências para a força de trabalho


africana, pouco qualificada, mas principalmente a tentativa de aculturação,
no livro ele explicita mais como era a educação britânica na África ocidental:

We were trained to be inferior copies of Englishmen,


caricatures to be laughed at with our pretensions to British
bourgeois gentility, our grammatical faultiness and distorted
standards betraying us at every turn. We were neither fish
nor fowl. We were denied the knowledge of our African past
and informed that we had no present. What future could
there be for us? We were taught to regard our culture and
traditions as barbarous and primitive. Our text-books were
English textbooks, telling us about English history, English
geography, English ways of living, English customs, English
ideas, English weather. ” (Nkrumah 1963: 49)

Este trecho do quinto capítulo de “Africa must unite” apresenta uma


crítica à aculturação promovida no tempo colonial, através do sistema de
ensino britânico, que pouco se relacionava à realidade dos alunos africanos.
No decorrer do capítulo, ele apresenta suas propostas para o novo ensino
em Gana. Ele e muitos de seus parceiros políticos eram professores e
acreditavam na educação para promover mudanças sociais, então quando
ele vira primeiro ministro da Costa do Ouro em 1951, o CPP, sob a liderança
de Nkrumah começa a elaborar um sistema de educação que abrangesse
todo o país, e a matrícula gratuita, para facilitar o acesso a todas as
crianças. Ele aponta que em 1951, haviam 125 alunos matriculados no
ensino primeiro, e que no ano da independência, 1957, esse número já
excedia meio milhão de alunos.
Estabelecemos então que a ascensão social que se apresenta para
os mais diversos grupos sociais africanos através da educação ocidental
fazia com que os estudantes africanos procurassem continuar seus estudos
mesmo depois do ensino secundário terminado, e como havia poucas
Universidades no continente até o final da Segunda Guerra (a primeira
Universidade em moldes ocidentais foi inaugurada no Egito em 1909, porém
outras colônias britânicas, como a própria Costa do Ouro, Nigéria, Uganda,
Sudão e Etiópia só vêm essas instituições em seus territórios entre 1948-51)
(Iliffe 1999: 289), estes estudantes precisavam deixar o continente para fazê-
lo. Entretanto, este crescimento dramático não foi correspondido pelo
17

número de professores disponíveis, então Nkrumah propõe investir em


escola de treinamento de professores, para suprir essa demanda, e também
em ensino técnico, para criar uma força de trabalho qualificada, para auxiliar
na industrialização do país (Nkrumah 1963: 44-9).
Nkrumah foi aceito na Universidade Lincoln, fez um empréstimo para
ir e uma vez que já estava nos Estados Unidos, aceitou diversos trabalhos
para poder se sustentar no país. Este período em que mora nos Estados
Unidos foi extremamente importante para sua formação intelectual. A
Universidade Lincoln, Pensilvânia (fundada em 1854), foi a primeira
instituição de ensino superior para “juventude masculina afrodescendente”
nos Estados Unidos. Lá, Nkrumah conseguiu uma bolsa de estudos em 1935
e se formou em sociologia e economia, em 1939. Também se formou nesta
universidade o futuro primeiro presidente da Nigéria, Nnamdi Azikiwe
(Howard 1999: 13).
Depois disso, continuou seus estudos na Universidade da
Pensilvânia, onde se formou em filosofia em 1943. Mesmo investindo tanto
em sua formação acadêmica, Nkrumah teve tempo para atividades políticas
e militantes, centradas na luta contra o imperialismo na África. Em 1943, ele
retorna à Universidade Lincoln como professor e cofundador da African
Students Association (Associação de estudantes africanos) (M’Bokolo 2011:
592).
Uma vez nos Estados Unidos, Nkrumah entra em contato com textos
ocidentais clássicos, desde a antiguidade à Marx e as ideias pan-africanistas
de C.L.R. James, Marcus Garvey, autores pan-africanistas caribenhos, além
de George Padmore, e W.E.B. DuBois, dos quais se torna amigo pessoal.
Conheceu George Padmore quando se muda para Londres em 1945,
primeiramente com o objetivo de continuar a estudar e acaba se dedicando
ao trabalho político pela libertação da África, e ambos trabalham juntos.
Padmore chega a trabalhar para o ministério de relações exteriores de Gana
no início da presidência de Nkrumah até seu falecimento em 1959. Dois
anos depois, é DuBois que se muda para Gana, e obtém cidadania ganesa
em 1963. Estes relacionamentos foram muito importantes para a formação
acadêmica e política de Nkrumah, e viriam a influir também na formatação
18

do socialismo em Gana, de que falaremos mais tarde. Kwadwo Afari-Gyan,


cientista político ganense, apresenta no artigo “Kwame Nkrumah, George
Padmore and W.E.B. Du Bois” um panorama interessante do relacionamento
entre estes pan-africanistas, apontando a importância desses intelectuais no
pensamento político de Nkrumah (Afari-Gyan 1991).

A força Pan-Africanista

Ainda no artigo de 1943 (Nkrumah 1943), que está sendo mobilizado


neste trabalho para pensarmos na formação intelectual e política do jovem
Nkrumah; ele cita parte de um discurso de Marcus Garvey, como uma
resposta da juventude africana aos desafios do imperialismo; que citarei
aqui:

You may shackle the hands of men; you may shackle the feet
of men; yes, you may even shackle and enslave the bodies of
men, but there is one thing which even the diabolical forces
of fascism and imperialism cannot do; they cannot enslave
forever, the minds of determined men. (Nkrumah 1943: 39)

Este discurso é bem interessante para pensarmos as propostas pan-


africanistas. Por mais que tenha surgido na América, unindo intelectuais
descendentes de africanos da diáspora na defesa dos direitos dos negros, o
continente africano era sempre uma questão muito importante para o
movimento. A invasão italiana à Etiópia em 1937, e a reação ao governo
racista da África do Sul, foram questões que mobilizaram os afro-americanos
e caribenhos. Em outro momento do mesmo discurso de Marcus Garvey,
citado por Nkrumah, ele fala:

Well the Belgians have control over the Belgian


Congo, which they cannot use. They have not the resources
to develop, nor the intelligence. The French have more
territory than they can develop, there's certain parts of Africa
in which they cannot live at all. So, it is for YOU to come
together and give us a United States of Africa. We are not
going to be a race without a country. (Garvey 1924)

Ao criticar as potências imperialistas, Garvey sugere a criação dos


Estados Unidos da África, ideia que será extremamente central no
pensamento político de Nkrumah. Assim, a situação colonial da África era
19

também rechaçada e debatida pelos movimentos negros internacionais. A 5º


conferência pan-africana traz como ponto chave, e maior mudança em
comparação às outras, o número majoritário de africanos, e a aproximação
do pan-africanismo com os movimentos de libertação da África colonial.
A 5º Conferencia Pan-africana, organizada em Manchester em 1945
foi um marco muito importante nesta trajetória. Nkrumah comenta no
capítulo 15 do “Africa must unite” sobre as conferências anteriores,
majoritariamente frequentadas por norte-americanos e caribenhos, e que
focavam suas atenções mais nas questões sociais do que políticas. A
conferência de Manchester representa o ponto da virada, onde Pan-
africanismo se une ao nacionalismo africano e desta conferência surgem
propostas ativas para conquistar a independência política do continente
africano. Tendo Padmore e Nkrumah como secretários, esta reunião marca
um alargamento do debate sobre o fim do colonialismo na África,
principalmente com a inserção de alunos e sindicatos africanos.
Nkrumah apresenta como questões centrais desta conferência a
necessidade de organizar e mobilizar as massas africanas em ações
positivas para se conquistar a independência política, e que estas ações
deveriam seguir o exemplo de das de Ghandi, “of non-violent non-co-
operation, in other words, the withholding of labour, civil disobedience and
economic boycott”, e principalmente a libertação e unificação do continente.
“The fundamental purpose was identical: national independence leading to
African unity. The limited objective was combined with the wider perspective.”
(Nkrumah 1963: 134-5)

Algumas medidas apontadas por esse congresso foram:


1. colonial governments should be replaced with institutions
responsive to the needs and aspirations of the colonized
peoples;
2. racial discrimination in all its forms should be abolished;
3. the principle of self-determination should be applied to all
peoples without exception;
4. in the struggle for independence, unless prevailing
circumstances made violence the only viable option, Positive
Action (defined as the constitutional application of strikes,
boycotts and non-cooperation based on the principle of
absolute nonviolence) should be used;
20

5. finally, the only way to defeat colonialism was for the


participants to return to their respective countries and
organize the masses of people in support of the struggle for
independence. (Afari-Gyan 1991: 3)

Aqui vemos os pontos principais debatidos na conferência de


Manchester; o fim da discriminação e segregação racial, tanto no continente
africano, nas Rodésias e África do Sul, e também nos Estados Unidos; a
necessidade de autodeterminação dos povos africanos, com governos que
atendam aos seus interesses. Para se alcançar esses objetivos, seria
necessário que os africanos presentes na conferência, ao retornar a seus
países de origem, agissem ativamente na política nacional, organizando as
massas de forma pacífica, seguindo princípios de não-violência inspirados
na atuação de Ghandi na Índia (e na África do Sul); boicotando o governo
colonial e criando greves para parar a produção. Também foram analisadas
ideias de integração econômica no continente, e um recado para o povo
africano, clamando a diferentes classes, de camponeses a trabalhadores
urbanos, intelectuais e políticos a se unirem pela independência (KODJO
2010: 898). Dessa forma, o Pan africanismo, que era:

Inicialmente, uma ideologia reformista e protestante em


favor das populações de origem africana, habitantes na
América, o pan-africanismo tornara-se uma ideologia
nacionalista orientada para a libertação do continente
africano. O pan-africanismo mundial de Du Bois, o combate
de Garvey pela autodeterminação e autonomia, o regresso à
cultura africana preconizada por Césaire, pertenciam,
doravante, inteiramente ao nacionalismo africano. (Kodja
2010 : 899)

Nkrumah passa mais dois anos na Inglaterra, antes de voltar à África


e colocar em ação as medidas estipuladas na quinta conferência,
mobilização das massas e desobediência civil para obter a independência.
Esses dois anos na Inglaterra ele trabalha como secretario, e DuBois como
presidente de uma organização de estudantes e intelectuais dedicados a
efetivar as políticas definidas na conferência de Manchester na África
Ocidental, “West African National Secretariat” que tinha uma publicação
chamada “The new African” e realizaram duas conferências de países da
África Ocidental em Londres (Nkrumah 1963: 135). Em 1947, Nkrumah é
21

convidado a retornar a Gana, para servir como secretário-geral do recém-


criado; United Gold Coast Convention (U.G.C.C.), partido autóctone que
atuava na Costa do Ouro (Ki-Zerbo 1991:183). Entretanto, apenas dois anos
depois Nkrumah cria um partido separado, o Conventional People’s Party
(CPP). Uma vez que o partido anterior era mais moderado em suas
negociações; sendo as medidas de ações positivas e mobilização das
massas promovidas por Nkrumah malvistas pelo restante do U.G.C.C. (Ki-
Zerbo 1991:186-7). Como líder do CPP Nkrumah fortalece a luta pela
independência de Gana, e em 1951 o partido chega ao poder, ainda que
continuasse sob o regime colonial. Esta situação que pode parecer estranha
será comentada mais aprofundadamente no capítulo seguinte.
As ideias Pan Africanistas que Nkrumah conhece quando sai de seu
país influenciaram fortemente sua produção intelectual e sua atividade
política quando retorna à África. Mas ainda em seu tempo como aluno, ele já
apresenta esta ideia de unificação africana, quando no artigo disponível no
site da universidade da Pensilvânia, sobre educação na África colonial, ele
conclui com uma crítica a commonwealth britânica e mesmo uma
commonwealth americana, afirmando que deveria existir em vez destas uma
comunidade de nações independentes. Sobre a África, ele escreve: “We are
looking forward to, as a first step, a federated unity of all the countries in
West Africa, where Africans can rule and govern themselves without outside
interference.” (Nkrumah 1943: 40).
22

Capítulo 2
De Costa do Ouro à Gana

A região onde hoje se encontra Gana começa a ter um efetivo contato


com europeus a partir do século XV, com navegadores portugueses. A
região recebeu nas suas praias navegantes holandeses, espanhóis,
dinamarqueses, e franceses, antes de vir a ser uma colônia britânica, em
1874. Antes isso, Nkrumah aponta no capitulo primeiro de “Africa must unite”
contato com fenícios, gregos e possivelmente chineses (Nkrumah 1963: 3).
Quando, no mesmo capítulo, ele escreve sobre os antigos impérios
africanos, como Gana, Mali e Songai na África ocidental, e com o
desenvolvimento do capitalismo baseado na escravidão africana, Nkrumah
consegue estabelecer uma relação entre o trafico de escravos, o racismo
baseado nesse fenômeno econômico, como ele mesmo aponta, e a posterior
partilha da África sob o controle europeu no final do século XIX, período em
que toda esta história africana é negada, escondida. Este capítulo do livro
apresenta uma visão marxista da historia da região da África ocidental e sua
relação com outros povos, entendendo que estes contatos e conflitos tinham
motivações principalmente econômicas. O capitulo consegue criar um
panorama político da região através dos séculos, e então ele começa a falar
sobre a partilha da África e a criação de diversas colônias europeias
(Nkrumah 1963: 1-9).
Sobre estes Estados imperialistas europeus é interessante mencionar
aqui que a maioria não seguia um padrão comum de colonização, o Império
britânico era um grande exemplo disso; sem ter um modelo especifico de
como tratar suas colônias, cada uma apresentava uma situação política e
social diferente. Havia algumas que recebiam maior número de imigrantes
europeus, como as Rodesias, mas Gana, ou Costa do Ouro, como era
chamada na época do controle britânico, não era uma delas. Isso abria mais
espaço para a população autóctone participar do sistema colonial, em
trabalhos burocráticos, e para isso, a educação em moldes europeus foi
essencial (Iliffe 1999: 517).
Como vimos no capitulo anterior, ser educado em moldes ocidentais
se mostrava como uma oportunidade de ascender socialmente neste novo
23

mundo de influência europeia. Porém, esta ascensão era limitada durante o


período colonial, e quem quisesse continuar seus estudos muitas vezes era
forçado a procurar instituições fora da África, como foi o caso de Nkrumah,
Julius Nyerere da Tanzânia, entre outros intelectuais africanos (Ki-Zerbo
1991: 171).
Antes de continuarmos a trajetória de Nkrumah de volta a seu país de
origem, é importante reforçar que a resistência africana a colonização foi
constante desde a entrada dos europeus no continente no século XIX, tendo
diversas formas (Ki-Zerbo 1991: 183). No caso específico de Gana, já em
1897 foi criada uma associação nativa conhecida como ARPS (Aborigenes
Rights Protection Society) (M’Bokolo 2011: 513), que vai a Londres no ano
seguinte e consegue barrar uma lei agrária, Lands Bill, que daria as terras
devolutas diretamente ao governo colonial (Kaniki 2010: 446).Isso nos
mostra que desde cedo havia luta política entre os nativos da Costa do Ouro
e o colonizador britânico, e que os resultados poderiam ser positivos.
Além disso, o impacto da Segunda Guerra Mundial deu força aos
movimentos contra o colonialismo, uma vez que muito se exigiu do
continente africano, em mão de obra, na produção de matérias primas para
provisionar os exércitos, e também em soldados que foram mandados para
outros continentes (Ki-Zerbo 1991: 158), como a Ásia, e os que de lá
retornaram muitas vezes se viam inspirados por suas lutas anticoloniais
(M’Bokolo 2011: 575). Na África Ocidental britânica, além de recrutamentos
forçados e exigência de maior produção para os que ficavam; o governo
colonial passara a interver mais na economia, controlando preços e quotas
de produção, enquanto diminuam as possibilidades comerciais das colônias
e rarearam as manufaturas, e a demanda por bens de subsistência crescia
drasticamente a partir de 1941 (M’Bokolo 2011: 563-4).
M’Bokolo aponta ainda que as ideias racistas envolvidas nessa guerra
colocavam em cheque a suposta superioridade da raça branca como um
todo, com o antissemitismo nazista, brancos e negros lutando lado a lado
contra outros brancos, e as derrotas sofridas por potências como a França,
que é invadida e o avanço japonês na Ásia, em detrimento da Grã-Bretanha,
o que embasava todos os questionamentos em relação a administração
24

desses países e suas colônias também. A eventual destruição das antigas


metrópoles com a guerra dá lugar a emergência de duas novas potências,
os Estados Unidos e a União Socialista Soviética, ambos contrários ao
colonialismo (M’Bokolo 2011: 575). Assim sendo, o povo africano tinha
esperança que o fim da guerra traria consigo mudanças sociais para o
continente, tendo apoio dessas novas potências internacionais e após as
atrocidades cometidas em nome de uma suposta hierarquia racial na
Europa. Nkrumah afirma que durante a guerra surgem varias organizações
políticas nacionais na África (Nkrumah 1963: 51).
Entretanto, demoram anos após o final da guerra até que se vissem
mudanças efetivas no continente. Nas colônias britânicas começa a se falar
em “parceria” e “responsabilidade das populações por elas mesmas”, porém
na Carta do Atlântico, assinada em 1941 entre EUA e Inglaterra, que
garantia o direito de autodeterminação dos povos ignorava a África. Nesse
mesmo quadro, os soldados africanos que retornavam ao continente e sem
receber seus benefícios como seus colegas europeus, começam a se
rebelar; e no caso da Costa do Ouro a nova constituição colonial elaborada
em 1946 pelo governo colonial desagradou a elite local (M’Bokolo 2011:
568/577).

Retornando a África
Em 1947 e aos 38 anos de idade, Nkrumah retorna a uma Costa do
Ouro graduado em ciências sociais, filosofia e pedagogia. Ele encontra a
região em grande efervescência e, ele retorna ao continente devido ao
convite, feito pelo diretor do partido político United Gold Cost Convention
(U.G.C.C.), J.B. Danquah, para ser secretário-geral do partido (Ki-Zerbo
1991: 183). Dr. Joseph Boakye Danquah foi uma figura política muito
importante para a independência de Gana, descendia de uma família da
aristocracia local, sendo formado em direito e filosofia, e um membro
fundador da UGCC. Era comum em vários muitos lugares da África que os
filhos dos lideres tradicionais tivessem uma trajetória educacional diferentes
da maioria do povo (M’Bokolo 2011: 183-4), e que também era recorrente
que estes primeiros partidos políticos fossem organizados por membros da
25

elite tradicional ocidentalizada (M’Bokolo 2011: 584). A despeito de


J.B.Danquah haver inicialmente se aproximado de Nkrumah, com o decorrer
dos anos os dois acabaram se tornando inimigos políticos. Nkrumah ao
escrever sobre os membros do U.G.C.C. reafirma essa “self-style
‘aristocracy’”, que não queria que fosse contestado seu direito de governar;
por mais que buscasse a independência, era mais conservador em suas
propostas (Nkrumah 1963: 54).
Em 1948, com apenas um ano de Nkrumah no cargo de secretário-
geral, a U.G.C.C. promove greves e um boicote a produtos europeus com o
objetivo abaixar os preços destes produtos, além de marchas pacificas na
capital Acra, que acabaram em tumultos com a polícia e Nkrumah e
Danquah na cadeia, sendo libertados alguns meses depois. Quando
Nkrumah sai da cadeia, o governo colonial estava organizando uma
comissão para reformar a constituição da Costa do Ouro, com uma
assembleia composta majoritariamente por africanos e com apenas três
ministros indicados pelo governador colonial. Essa reforma objetivava
controlar o ritmo da situação política na colônia e abrandar as aspirações por
independência da população da Costa do Ouro (Ki-Zerbo 1991: 185).
A maior divergência entre Nkrumah e o resto do U.G.C.C. neste
momento era a relação do partido com as massas da Costa do Ouro. Para
Nkrumah, seguindo as premissas debatidas na conferência Pan-africana de
Manchester e analisadas no capitulo anterior, era essencial envolver a
população, mobilizar as massas para obter a independência política, que
deveria ser o primeiro objetivo. É esse o motivo que o leva a sair do
U.G.C.C. e fundar outro partido, o Conventional People’s Party (CPP) em
1949, com o slogan “Self-rule now”, que apresentava propostas de ação
condizentes com aquelas debatidas na conferencia acima mencionada,
como não cooperação, greves e protestos pacíficos; e a importante
mobilização das massas, com grande participação de jovens, mulheres e
moradores da cidade, contrastando com um apoio numa elite local e
tradicional, como no caso do U.G.C.C. (M’Bokolo 2011: 605). Nkrumah fala
em diversos capítulos sobre a história do CPP, que se torna o partido a
conquistar a independência, mas é interessante aqui se pensar a
26

propaganda política de Nkrumah, que ele menciona no capitulo 6 o jornal


“The Accra Evening News”, publicado pelo C.P.P, entretanto:

“The reach of the press is of course narrower in areas where


there is a high degree of illiteracy; and even in those areas
the people can always be reached by the spoken word. And
frequently written word becomes spoken word.” (Nkrumah
1963: 55)

Ki-Zerbo nos explica como Nkrumah e o CPP faziam para divulgar


suas propostas e ideias para as mais diversas partes da população da Costa
do Ouro: “Os carros de propaganda do CPP; batizados com nomes bem
ressonantes (o recrutador, o militante), metiam-se pelas aldeias do mato até
as regiões mais afastadas” (Ki-Zerbo 1991: 186). Assim Nkrumah e o CPP te
tornam extremamente populares entre o grosso da população de Gana.
O CPP rejeita o relatório da Comissão organizada pelo governo
colonial e exige reformas mais significativas com a “reunião imediata de uma
Assembleia Constituinte que seria encarregada de dotar o país da
autonomia” (Ki-Zerbo 1991: 186), enquanto isso propõe que seja usada
desobediência civil, ainda que não violenta, para se conquistar estas
reformas. O partido ganha apoio dos sindicatos, ainda que pouco
expressivos devido a pouca industrialização do continente, começavam a
ganhar força política no pós-guerra, principalmente nos setores que estavam
crescendo na época, como o de transportes, por exemplo, (M’Bokolo 2011:
586), que organizam junto ao partido uma greve geral em para dia 8 de
janeiro de 1950 (Ki-Zerbo 1991: 186).
A “ação positiva” do CPP dá resultados desestabilizando cada vez
mais a situação política da colônia britânica e mais uma vez o líder do CPP é
preso pelo governo colonial. Tanto M’Bokolo quanto Ki-Zerbo falam de
conflitos sociais e tumultos entre os anos de 1948 e 1950 (M’Bokolo 2011:
577). Entretanto, o Relatório do governo colonial previa eleições para 1951,
e mesmo com Nkrumah preso em Acra, ele recebe 98,5% dos votos, e com
o apoio do povo o CPP se tornou o principal partido da Costa do Ouro (Ki-
Zerbo 1991: 186). A mudança da idade mínima para voto estabelecida em
1950, de 25 anos para 21 foi essencial para essa esmagadora vitória do
27

CPP (M’Bokolo 2011: 617). Mas como um líder nacionalista que pregava o
“Autogoverno já” se torna primeiro ministro sob um regime colonial?
Com o final da guerra, antigas potências imperialistas começam
lentamente a mudar de opinião em relação aos custos de manutenção de
impérios ultramarinos tão vastos (Ki-Zerbo 1991; M’Bokolo 2011). Esse é o
caso do Império Britânico. Alguns motivos levam a isso, como a necessidade
de investir os recursos na reconstrução de suas cidades atingidas pela
guerra e a pressão estadunidense, muito importante para a Inglaterra no
momento em que estava tão dependente de financiamento norte-americano.
Soma-se a isso a crescente atividade política dos nacionalistas, que eram
cada vez mais dificilmente contidas (M’Bokolo 2011: 579).
É certo que isto foi um processo longo, não uma mudança drástica de
ação ou ideologia. M’Bokolo nos apresenta dois trechos de documentos
britânicos falando sobre a independência das coloniais. O trecho de 1947, de
uma conferência dos governadores africanos do império britânico mostra
maior resistência, afirmando que o continente africano ainda demoraria a ser
suficientemente amadurecido em sua política para se autogovernar, e
mesmo a Costa do Ouro, ainda deveria demorar mais uma geração. Já o
relatório de uma Comissão oficial (de 1954) tem o tom bastante diferente:
assume que a Costa do Ouro, país que já tinha antiga atividade política
organizada em moldes europeus em poucos anos ascenderia a sua
independência, e que isso geraria precedentes para outras colônias, em
relação a entrar na Commomwealth britânica ou não, designando máxima
importância na evolução das negociações da independência a atividade e
força dos grupos nacionalistas, assim sendo em certos casos seria melhor o
império ceder autonomia a colônia do que arriscar prejudicar suas relações
comerciais futuras com a região (M’Bokolo 2011: 580-1).
Vinte anos após a segunda guerra, o governo britânico começa a
pensar formas para garantir a independência de suas colônias que a
exigiam, sem perder o controle comercial. Portanto, áreas estratégicas
demorariam mais a conseguir sua independência. No caso da África
Ocidental, sua importância econômica não era tão significativa, portanto
foram as primeiras colônias britânicas na África subsaariana a serem
28

declaradas independentes, como foi o caso de Gana, já na África Austral


(Namíbia, África do Sul e as Rodésias), os conflitos internos eram bastante
distintos, com o maior número de colonos brancos que também exigiam sua
independência, enquanto alienavam e segregavam a maioria da população
autóctone (M’Bokolo 2011: 580).
Assim, a primeira constituição de Gana é publicada como uma “order
in council” do governo britânico em 22 de fevereiro de 1957, e não por uma
assembleia ganense; além de contar com clausulas impostas pelo governo
colonial, como uma divisão regional desigual e pouco democrática, propondo
que líderes regionais sejam eleitos pelos chefes, e que se crie uma
assembleia com esses lideres eleitos, chamada ao estilo britânico, “House of
chiefs”. A única exceção a isso seria na região do império Ashante, que
enviaria o Ashantehene, o monarca desse povo, sem que existisse
necessidade de eleições. Para Nkrumah, obcecado pela unificação africana,
estas clausulas eram uma afronta à independência e liberdade ganense
(Nkrumah. 1963: 59-60). Três anos depois uma nova assembleia constituinte
remove estas clausulas (Nkrumah 1963: 80-1), e logo a necessidade por
uma unificação política cresceria aos olhos de Nkrumah, até Gana se tornar
um Estado de partido único (Nkrumah 1963: 74-7). Sobre isso, ele escreve:

The popularity of the party that brings freedom continues into


the period of full independence and is even enhanced where
improvements in economic and social conditions are
obtained under its government, and its majority grows. Since
this overwhelming majority in parliament carries through the
government’s policy almost without exception, it gives the
appearance of a one-party regime. This is the pattern
which has resulted in the states emerging from colonialism, a
pattern which I have termed a People’s Parliamentary
Democracy and which the people of Ghana have accepted.
(Nkrumah 1963: 70)

Assim, ele ao mesmo tempo em que afirma seu comprometimento


com a democracia, ele não nega que haja apenas um partido político em
29

Gana. Ao afirmar que o partido no poder era o mais popular entre o povo,
portanto representante dos interesses nacionais, ceder a oposição seria
quase como trair a confiança do povo que elegeu o CPP Nkrumah também
compara a situação de Gana recém-independente com o passado de outras
nações ocidentais, que não tiveram seus sistemas democráticos
estabelecidos em um dia, e ainda que:

“In times of national emergency, the Western democracies


have been compelled to limit their citizens’ freedom. We
were facing a time of national emergency. We were engaged
in a kind of war, a war against poverty and disease, against
ignorance, against tribalism and disunity. (Nkrumah 1963:
74)

Ele vai além de apoiar a existência de Estados de partido único, ao


sugerir que todos os países africanos, independentes ou não, adotem esta
ideia:
“It may be that the time has come to have a common political
party with a common aim and programme. For instance,
instead of the Convention People’s Party in Ghana, there
might be the Ghana People’s Party. In Kenya, the
progressive party could be the Kenya People’s Party; in
Guinea, the Guinea People’s Party, and so on; each party
having one common aim and objective, the freedom and
unity of Africa.” .(Nkrumah 1963: 52)

Assim, os países que ainda lutavam para obter sua independência


poderiam obter apoio das organizações nos países ao redor, e os já
independentes poderiam trabalhar juntos para a libertação, unificação e
desenvolvimento do continente. Esta é a única proposta que geraria uma
possibilidade de unificação política, mas se mesmo em Gana que é um país
pequeno, havia dissidências e conflitos internos, como unificar politicamente
o continente inteiro? Eleições diretas entre os diversos “people’s parties”?
Este é um assunto sobre o qual o Nkrumah não se aprofunda em “Africa
must unite”, cabendo fazer um apanhado sobre a necessidade de unificação
política, econômica e militar, ressaltando suas vantagens, como a integração
econômica no continente, tão diverso e com regiões tão desiguais, onde
havia matéria prima abundante, porém pouca infraestrutura e com uma
indústria irrisória. Ele reforça em basicamente todos os capítulos esta ideia,
30

de que se todos os recursos africanos estivessem voltados para o


desenvolvimento do continente por inteiro, propondo um papel de igualdade
no diálogo e comércio entre a África e os países desenvolvidos.
Para Nkrumah, o exemplo a ser seguido era primeiramente o dos
Estados Unidos da América, país que também apresentava dimensões
continentais e diferenças regionais significativas, mas que unificado sob um
governo central se tornou a maior potência internacional após a Segunda
Guerra Mundial (Nkrumah 1963: 150). O exemplo do que acontecia com
Estados independentes, porém separados, era a América Latina, dividida e
constantemente sujeita a intervenções neocolonialistas, tendo seu
desenvolvimento interno comprometido por essas relações (Nkrumah 1963).
Sua estadia nos Estados Unidos foi muito influente na sua formação
acadêmica, mas principalmente política. Foi quando entrou em contato com
ideias marxistas e pan-africanistas que moldam tanto sua política interna
quanto externa, e mesmo seu contato pessoal com grandes nomes do pan-
africanismo americano/caribenho, como George Padmore, presente na
cerimônia de celebração da independência de Gana junto com Martin Luther
King (Kodjio 2010: 898).
Além disso, a primeira metade do livro fala sobre a história de Gana, e
sobre suas políticas e propostas para o desenvolvimento do país, mas tudo
isso tendo em foco a necessidade primeira que era a unificação continental.
Para Gana, ele propunha a implantação de um sistema socialista, sobre o
qual discorre profundamente no décimo segundo capitulo de “Africa must
unite”, falando sobre a acumulação primitiva de capital, que não coube a
particulares, no período colonial cabendo aos países imperialistas à
acumulação de lucro com a produção africana, e agora, independente, o
Estado deveria garantir a produção e divisão dessa produção entre o povo.
(Nkrumah 1963: 118-132). Em “Consciencism” Nkrumah explora mais
profundamente suas perspectivas de socialismo africano, que não seguiria
necessariamente o roteiro marxista, mas surgiria de um contexto africano
tradicional, que Nkrumah apresenta neste livro como essencialmente
humanista e igualitário, onde a exploração do homem pelo homem e a
31

alienação de sua produção seriam aberrações inseridas na África pelo


colonialismo europeu (Nkrumah 1970: 68-9).
Sobre sua política interna, bastante centralizadora, esta organização
dos chefes locais a “House of chiefs” é desmantelada na elaboração da nova
constituição de Gana, três anos após sua independência do governo
britânico. De acordo com Nkrumah, a maior mudança na nova constituição é
o desligamento de Gana com a coroa britânica (Nkrumah 1963: 79-80), e o
presidente como chefe de Estado não apenas simbólico, mas também do
poder executivo e chefe do governo, inspirado no presidencialismo norte-
americano, com as devidas adaptações para a realidade de Gana. (Nkrumah
1963: 82). A figura do presidente saí dessa nova assembleia com cada vez
mais poderes políticos, e sobre isso Nkrumah fala “The reservation of certain
powers to the President was felt to be necessary in order to allow opportunity
for decisive action in pushing forward our development”, e continua:

The increased authority given to the President is to enable


him to exercise the positive leadership that is so vital to a
country seeking to pull itself up by its bootstraps[...]There are
some jobs in the world that can be best done by a
committee, others need a managing director. (Nkrumah
1963: 82-3)

Aqui é possível ver o grande personalismo e mesmo paternalismo no


discurso político de Kwame Nkrumah, que se coloca num lugar muito central,
de presidente com a responsabilidade quase que pessoal, de elevar as
condições de vida e desenvolvimento econômico no novo país.
Ainda sobre as questões mais controversas em sua política interna,
na primeira parte de “Africa must unite” podemos ver uma forte centralização
do seu papel pessoal contra a oposição política em uma Gana
independente, quando afirma que “The U.G.C.C. never forgave me and my
associates for proving the rightness o four policy of ‘Self-government now’ in
the results of the 1951 election.” (Nkrumah 1963: 69). Na verdade, em
diversos momentos do livro ele se coloca como figura central nessa historia,
como quando diz que sua autobiografia detalhava o processo de
independência de Gana (Nkrumah 1963: 54), citando aqui apenas alguns
exemplos. Esta relação entre Nkrumah e os partidos de oposições exposta
32

em “Africa must unite” é bastante complexa, Nkrumah leva as criticas, tanto


da oposição quanto da imprensa para o lado pessoal, o que não é de se
estranhar já que ele era muito personalista. Assim, tanto a liberdade de
imprensa quanto a liberdade de associação política se viram muito
prejudicadas com as propostas para trazer unidade para Gana de Nkrumah,
culminando com o CPP. se tornando o único partido político nacional. Assim,
não surpreende que Nkrumah tenha se tornado uma figura muito polêmica
na mídia internacional de sua época. Um de seus assessores econômicos,
W. Arthur Lewis, que em 1965 publica um livro criticando muitas das políticas
adotadas por Nkrumah, como a de Estado de partido único, a imposição
socialista, e também a paternalizaeção da política, quase como se estes
novos governos independentes das ex-colônias assumissem a posição
autocrata dos antigos poderes coloniais (Eckert 2011).
Nkrumah usa diversos argumentos para basear sua teoria de Estado
com partido único, além da comparação com outros países, a pouca tradição
democrática no continente e como o CPP era o partido majoritário,
extremamente popular por ter levado o país a independência, representava a
maioria da população e com uma oposição sem programa, que buscava
apenas desestabilizar e dividir a nova nação; a existência de um partido
apenas uniria essa oposição a favor do bem comum. Mas pode se perceber
também uma critica voraz a oposição interna, que parece ter sido o motivo
principal desta política de partido único. Certo que, apesar de sua
argumentação, esta medida foi mal vista pela comunidade internacional, e
suas políticas de implantação de socialismo em Gana num contexto de
guerra fria não tornaram seu governo muito popular com os países
ocidentais, o que pode ter influenciado no golpe de Estado que sofre em
1966 (Chinweizu 2010: 935). Entretanto, este trabalho não se propõe a fazer
uma analise profunda da política interna de Nkrumah na presidência de
Gana, mas a pensar sua atividade política a nível continental, e sua
perspectiva de unificação africana, o que será feito no capitulo seguinte.
33

Capítulo 3
Unificação africana

Numa perspectiva continental, Nkrumah via na unificação da África


sob um governo centralizado forte, a única forma de se vencer os problemas
étnicos e regionais, para enfrentar o colonialismo e o neocolonialismo.
Entretanto, os problemas acima mencionados, como a grande diversidade
de grupos étnicos em fronteiras arbitrárias e a tradição autoritária herdada
do regime colonial, não eram exclusivos de Gana, mas semelhante em
muitos dos Estados independentes da África. Isso gerava mais empecilhos à
unificação continental, uma vez que os novos Estados ainda lutavam para
estabelecer suas fronteiras, lutando com movimentos separatistas, além das
dificuldades geradas pela pobreza e a desigualdade.
Para Nkrumah, a solução era a união continental, já que no caso das
fronteiras conflituosas, a unificação: “will render existing boundaries obsolete
and superfluous” (Nkrumah 1963); e ao mesmo tempo traria uma distribuição
mais justa das riquezas do continente. Ele aponta a falta de indústrias e de
mão de obra qualificada como maiores dificuldades a serem superadas, mas
apresenta medidas para investir na qualificação de pessoal (como escolas
técnicas, que ele comenta no capítulo 5 de “Africa must unite”) e
investimentos-chave para industrialização, apontando o caso da hidroelétrica
do rio Volta em Gana (Nkrumah 1963: 114). Entretanto, esses conflitos
internos dificultavam o engajamento de muitos políticos africanos com as
ideias integradoras do Pan-africanismo propagadas por Nkrumah. (Asante e
Chanaiwa 2010: 875)
Sob a liderança de Nkrumah, Gana teve um papel decisivo na historia
africana. Foi o primeiro país da África subsaariana a se tornar politicamente
independente, e desde sua independência, baseado nas ideias pan-
africanistas, propõe auxilio aos movimentos de libertação e unificação do
resto do continente. No discurso de independência de Gana, Nkrumah fala
uma frase emblemática da sua política: “Our independence is meaningless
34

unless it is linked up with the total liberation of Africa.”4 No decorrer do seu


tempo na presidência de Gana, organiza diversas conferencias com esse
propósito, auxiliar os países ainda sob domínio colonial na luta pela
independência, e também na construção de uma África unificada, que
falaremos mais adiante neste capítulo.
Mas antes mesmo da independência de Gana, a primeira conferência
de organização do mundo Afro-asiático ocorreu em Bandung em 1955, já
contou com a participação de representantes da Costa do Ouro. Com
Nkrumah já ocupando a posição de primeiro ministro e em diálogos
adiantados sobre a independência, foi aberta uma exceção para a colônia
britânica participar da conferência. Vinte e dois dos países representados
eram asiáticos, enquanto apenas seis da África: Egito, Libéria, Etiópia,
Sudão, Líbia, e a então colonial Costa do Ouro (Nkrumah 1963: 115). No
decorrer da década de 1960, este cenário mudaria a medida que diversos
países africanos alcançaram suas independências. Além da importância das
independências na Ásia, que fortaleceram a confiança dos nacionalistas no
continente africano, a conferência de Bandung marca um crescimento das
relações entre o continente africano e a Ásia, que passaram por
experiências coloniais semelhantes no século XIX e XX, iniciando uma nova
dinâmica entre as antigas colônias, o que Edmondson (2010: 1003)
apresenta como relações terceiro-mundistas. Nessa conferência ficam
acordados 10 pontos, que incluíam o direito a autodeterminação dos povos,
a igualdade entre todos os povos e raças, cooperação mutua e resolução
pacifica de conflitos, entre outros. Essa aproximação influi também na união
desses grupos na Organização das Nações Unidas, o que aumenta sua
influência numérica dentro da organização.
A ONU, fundada após a Segunda Guerra Mundial foi também
importante para as novas noções independentes terem um espaço para
debater suas questões frente às antigas potencias. Conforme decorria a
década de 1960, a representação africana na organização internacional
crescia devido às independências no continente, o que certamente influi no

4
Discurso de Independência de Gana, 06/03/1957 tradução e grifos meus. Disponível em <
http://www.bbc.co.uk/worldservice/focusonafrica/news/story/2007/02/070129_ghana50_inde
pendence_speech.shtml > Acesso em 30/10/16
35

diálogo e na atuação da Organização. Em 1960, 15 países africanos entram


para a ONU (Gana já fazia parte desde 1957), e, em 1962 é criada nela uma
comissão para países ainda colonizados. Se em sua criação em 1945 havia
apenas quatro países africanos participando, em 1965, 37 eram
representados na Organização (Edmondson 2010: 1007). Assim, assuntos
africanos estavam sempre em pauta, os mais mencionados são: a) a
questão racista (mais especificamente o apartheid na África do Sul, que
gerava grandes impasses entre a ONU e os representantes africanos e
também asiáticos pedissem a expulsão da África do Sul da organização)
(Nkrumah 1963: 139) e, b) a crise do Congo (1960), que comentaremos a
seguir, levando em conta a perspectiva de Nkrumah sobre o tema.

O impacto do conflito no Congo no contexto africano


O dramático conflito separatista no Congo, recém-independente,
começou em 1960, com a tentativa de independência da província de
Katanga, que contava com ajuda da Bélgica. Este é um claro exemplo do
argumento de Nkrumah, de que a intervenção dos países ocidentais na
África independente seguia uma agenda de interesses neocolonialistas, e
separação dos territórios aumentava a interferência das potencias
imperialistas no continente africano. Sobre isso, ele escreve:

Some of the dangers of neo-colonialism and


balkanization, which we had foreseen, now became realities.
Foreign business interests, as well as policies connected
with the cold war, began to dominate the Congo political
scene and prevented early action by the United Nations
which, if it had been used to effect the purpose for which it
had been called in, could well have been decisive in
maintaining the sovereignty of Lumumba’s government.
(Nkrumah 1963: 138)

Lumumba, presidente do Congo eleito para a independência, pede


auxilio as Nações Unidas para remoção de tropas Belgas do Katanga e
reunificação com o território central, entretanto a atuação da ONU foi
extremamente omissa, e o conflito se prolonga por anos. Apesar do envio de
tropas e a suposta neutralidade política da ONU, Lumumba é morto em
janeiro de 1961, o que só agrava a crise. Apesar de vários dos soldados
36

enviados pela ONU serem ganeses (Kouassi 2010: 1066-9), Nkrumah


acredita que se houvesse uma união entre os Estados independentes na
África, um alto comando político ou militar, uma solução africana teria sido
encontrada para o Congo (Nkrumah 1963: 138). A ideia fundamental da
política de Nkrumah era da união como única forma de desenvolver o
continente, e como vimos no capitulo anterior, ele não lidava bem com
separatismos ou dissidências. Certo que as agitações separatistas em Gana
e a crise do Congo em 1960 foram muito distintas, mas sua premissa básica
em relação ao problema separatista é a unificação geral do continente, pois
assim, as fronteiras arbitrárias construídas no período colonial que se
mantém durante o processo de independência seriam mais fluidas, o que
minaria a necessidade de guerras e conflitos para criação de novos Estados,
pois todos estariam no seio da União Africana. Nkrumah menciona uma
reunião de países africanos em agosto de 1960 na capital do Congo, a
pedido de Lumumba, para discutir a crise da perspectiva africana, entretanto
o encontro não alterou a situação do Congo (Nkrumah 1963: 139).

Conferências Pan-Africanas
Diversas reuniões entre líderes africanos acontecem no continente no
decorrer dos anos 1960. E já no ano seguinte à independência de Gana,
1958, o novo governo organiza duas conferências em Acra, a primeira foi em
abril, a Conferência dos Estados Africanos Independentes, com delegações
de todos os países independentes na época, como o Egito, Libéria, Etiópia,
Sudão, Tunísia, Líbia e o país anfitrião Gana (Asante e Chanaiwa 2010: 875)
e a All-African People’s Conference (Conferência dos Povos Africanos) em
Dezembro do mesmo ano, que contou com a participação de líderes
sindicais e nacionalistas de países que ainda lutavam por sua independência
(Nkrumah 1963: 137).
Sobre a primeira conferencia de Estados independentes, apesar de
contar com delegações de apenas oito países se reuniu com objetivo de
discutir formas de garantir a segurança das independências já conquistadas,
as relações entre os Estados independentes, sua posição no contexto
internacional de guerra-fria, e formas de auxiliar na libertação do restante do
37

continente (Nkrumah 1963: 136). De acordo com Edem Kodjo e David


Chanaiwa, esta conferência:

Lançou, sem dúvida, as bases para a Organização


da Unidade Africana (OUA), estabelecendo princípios, tais
como, o primado da independência política, o apoio aos
movimentos de libertação, a formação de uma frente única
no seio da Organização das Nações Unidas e o não
alinhamento. (Kodjio e Chanaiwa 2010: 900)

Para Nkrumah, a reunião representou o momento que o movimento


Pan africanista havia definitivamente se mudado para a África, sendo um
momento histórico onde pela primeira vez africanos livres debatiam as
questões de seu continente e pensavam soluções em conjunto. Ele aponta
ainda uma similaridade entra as propostas apresentadas pelos participantes,
apostando numa sintonia de ideais (Nkrumah 1963: 136).
Já a Conferencia dos Povos Africanos que aconteceu em Acra em
dezembro de 1958 contava com delegados de 62 instituições que lutavam
pela independência em diversos países do continente, onde se debateram
temas como o anti-colonialismo, antirracismo, anti-imperialismo, unidade
africana e não-alinhamento. Essa reunião foi de extrema importância por
aproximar africanos de colônias britânicas, francesas, portuguesas e belgas,
em favor da independência e união do continente, ultrapassando as
barreiras importas pelos anos de colonização, como as diferentes línguas
faladas pelas diferentes colônias (Kodjio e Chanaiwa 2010: 901).
Nkrumah dá grande relevância à essas reuniões entre líderes de
diversos países africanos para a unificação e libertação do continente: “The
total liberation and the unity of the continent at which we aimed were evolving
and gaining reality in the experience of our international gatherings.”
(Nkrumah 1963: 136). E tanto a conferência dos países independentes
quando a Conferência dos Povos Africanos tiveram outras edições nos anos
seguintes. Nkrumah continua então comentando sobre outras reuniões, com
especial ênfase as que aconteceram em Acra, como em 1959, quando foi
criada a All-African Trade Union Federation, com a reunião de líderes
trabalhistas africanos para discutir formas de desenvolver conjuntamente a
economia do continente africano (Adedeji, 2010: 489); e outra conferencia de
38

povos africanos em abril de 1961, que discutiria ação positiva e segurança


na África, a situação na África do Sul e Argélia, testes nucleares no
continente, os movimentos de independência e a unificação continental.
Para Nkrumah isso era fundamental para combater o Neocolonialismo
(Nkrumah 1963: 137-8), entretanto muitos dos presentes nessas reuniões
parecem focado em outras questões (Asante e Chanaiwa 2010: 875-6).
Ele critica constantemente as políticas neocolonialistas, que visam à
manutenção da dependência econômica do continente africano, muitas
vezes apresentadas em forma de “ajuda humanitária”, que carregam consigo
condições e restrições políticas a quem as aceitar. Analisando as relações
entre África e os países socialistas, Thiam e Mulira, sugerem que esse seria
este o principal motivo de Nkrumah se apresentar como um socialista para
assim se aproximar e manter relações econômicas com a U.R.S.S., que era
oposta ao imperialismo em todos os níveis (Thiame Mulira 2010: 969-71).
Haviam de fato relações econômicas próximas entre Gana e a U.R.S.S.
apesar de país não apresentar grandes vantagens econômicas para a
URSS, importava alguns metais e cacau em troca de manufaturas.
Entretanto, uma das criticas dos autores ao governo de Nkrumah é que ele
não teria de fato quebrado com a economia colonial, mantendo se ainda
dependente da Inglaterra (Thiam e Mulira, 2010: 981). O imperialismo é
entendido como uma fase parasitaria do capitalismo, de acordo com a teoria
de Stalin, portanto não é algo incomum que Nkrumah, anti-imperialista, se
aproximasse dos países socialistas.
Houveram tentativas de unificação, como entre Gana-Guiné e Mali:
“Our Union was named The Union of African States (U.A.S.) and was to form
the nucleus of the United States of Africa. It was declared open to every state
or federation of African states…”(Nkrumah 1963: 142). Aqui ele apresenta
propostas concretas dos pontos a se unificar, que seriam: política interna,
externa, defesa, economia e cultura, e como se daria o funcionamento dessa
união política, com a reunião regular de representantes dos três países. Para
Nkrumah, isso poderia ser o ponto de partida para uma união continental
mais ampla. Aqui também apresenta um modelo para união política do
continente, com cada país da união tendo seus chefes de Estado, que se
39

reuniriam para debater questões em comum de política interna e também


para o resto do continente, mas com um exército só e uma política externa
em comum. Os pontos de união propostos para a UAS, são interessantes,
porém vagos, principalmente o em relação a cultura. A união durou apenas
alguns anos. Em poucos parágrafos ele apresenta sua proposta mais
concreta para união continental, mas ainda assim não se aprofunda no tema,
uma vez que além de unidade econômica e militar, ele propunha um governo
centralizado para o continente. Questões da pragmática do exercício politico
não aparecem claras em Africa must unite.
Nkrumah em seus discursos e livros enfatiza a relação entre o
neocolonialismo e a balcanização do continente; a divisão da África em
pequenos Estados aumentaria sua dependência econômica das antigas
metrópoles, além de enfraquecer a política externa desses países (Nkrumah
1963: 138). Nkrumah aponta algumas medidas tomadas pelas antigas
potências para perpetuar essa dependência, quando discorre sobre os
perigos do neocolonialismo. O neocolonialismo seria uma forma de
dominação mais sutil, menos explicita, que se apresentava a estes países
independentes agora como auxilio internacional, mas apresentavam
condições para esse auxilio que restringiam a efetiva liberdade dos países
que o receberiam.
Neste mesmo capítulo Nkrumah critica avidamente os países
africanos que se aliavam ao European Common Market, em vez de voltar
suas atenções para a integração do continente, pois estes países estariam
subordinando suas economias a interesses europeus, acreditando que isso
traria benefícios para suas pequenas economias nacionais. Na interpretação
de Nkrumah, essa união aos interesses internacionais poderia trazer
benefícios em curto prazo, com um preço alto a se pagar: propagação do
neocolonialismo, um falso sentimento de independência e a continua
subordinação da produção africana a interesses europeus, com preços
fixados por estes (Nkrumah 1963: 158-62). Nas questões envolvendo o
neocolonialismo, problemas mais imediatos e particulares as novas nações
se sobrepuseram ao interesse continental, e Kwame Nkrumah aponta isso
40

em “Africa must unite” e também no livro “Neocolonialismo: último estágio do


imperialismo”.

Unificação africana: criação da OUA


Num continente tão heterogêneo quanto à África, existiam
divergências quanto a como deveria ser essa união. Dois grupos com
posições distintas apareceram dessas reuniões que mencionei acima, o
grupo conhecido como Casablanca (composto por Gana, Guiné, Mali,
Marrocos, República Árabe Unida e Governo Provisório da República
Argelina), mais radical em suas propostas de unificação continental, e o
grupo de (composto por Nigéria, da Etiópia, da Libéria e de Serra Leoa e
outras colônias francesas-apesar de Nkrumah apontar as ex-colônias
francesas como um terceiro grupo em Africa Must unite), que era mais
moderado (Asante e Chanaiwa 2010: 877). Este último desejava uma
integração econômica mais flexível entre Estados independentes, que
manteriam sua integridade territorial e política.
Já o grupo Casablanca, tendo Nkrumah como seu porta-voz, defendia
uma a criação efetiva dos Estados Unidos da África, com um planejamento
econômico cooperativo interno, um governo centralizado e um sistema
militar continental (Asante 2010:877). Tanto Gana, quanto a Tunísia, Mali e a
República Árabe Unida teriam clausulas em suas constituições que
permitiram “the surrender of our sovereignty, in whole or in part, in the wider
interests of African unity.” (Nkrumah 1963: 149). Em essência, as propostas
dos dois grupos eram muito semelhantes, até Nkrumah aponta isso,
envolviam basicamente conflitos no contente, como no Congo, Argélia e
Angola, a questão do apartheid na África do Sul, além de ambas proporem a
criação de uma organização africana permanente e um banco africano. A
maior diferença era em suas abordagens, enquanto o grupo Casablanca
acreditava que a unificação política deveria vir primeiro, o grupo de Monróvia
propunha uma união mais voltada para o aspecto econômico. Nkrumah
identifica uma relação entre a “passividade” do grupo de Monróvia, capital da
Libéria, uma vez que este país não precisou lutar para sua independência,
apesar de ter sofrido com conflitos regionais (Nkrumah 1963: 144-7).
41

Nkrumah aponta as direções principais propostas pelo grupo Casablanca: a


unificação do continente deveria se dar em três níveis distintos: política,
econômica e cultural, sendo a primeira a mais importante, e além disso
propõe a criação de um Alto Comando militar para a defesa comum dos
países membros.
Nkrumah comenta mais profundamente sobre como deveria funcionar
governo central em seu discurso em Adis Abeba, Etiópia em 1963. Nesta
conferencia, representantes de 32 países compareceram para debater e
superar as divisões entre Monróvia e Casablanca, e a Organização para
Unidade Africana (OUA) é criada. Em seu discurso, além de apresentar
pontos para uma organização política conjunta, Nkrumah chega a sugerir
algumas cidades que poderiam ser a nova capital dos Estados Unidos da
África, preferencialmente na região central de África. Ele propõe a criação de
um comitê, com membros de todos os países participantes, que se propunha
a organizar e planejar a unificação do continente, e a criação de uma
constituição comum. Para Nkrumah, os líderes que ali se encontravam eram
africanos antes de suas nacionalidades especifica e, portanto, estes
deveriam focar na política no nível continental. Ele apresenta seis pontos
que deveriam servir de base para a atuação deste comitê:

1. A Commission to frame a constitution for a Union government


of African States;
2. A Commission to work out a continent-wide plan for a unified or
common economic and industrial programme for Africa; this
place should include proposals for setting up:
3. a. A common market for Africa
b. An African currency;
c. An African monetary zone;
d. An African central Bank, and
e. A continental communication system.
4. A commission to draw up details for a common foreign policy
and
Diplomacy.
5. A Commission to produce plans for a common system of
defence.
6. A commission to make proposals for a common African
citizenship ((Nkrumah 1963)

Essa conferência dos países independentes que acontece em maio de


1963 foi organizada para resolver as divergências entre os participantes, e criar
42

uma estrutura pan-africana com objetivos em comum. Entretanto, o crescente


número de países independentes, enquanto mostrava a força do Pan-
africanismo como movimento de libertação, dificultava a integração continental.
Acrescentem a isso, num contexto de Guerra-fria, no qual alguns desses novos
Estados tinham tendências pró-capitalistas, outros pró-socialistas, o que
dificultava ainda mais a possibilidade de união política (Asante, Chanaiwa,
2010: 877). No discurso apresentado por Nkrumah em Adis Abeba, ele
reafirma de forma mais objetiva diversos pontos extensamente desenvolvidos
em Africa must unite, como a necessidade de união política para integração
econômica, que só assim elevaria o nível do debate da África no comercio com
os países ocidentais. Sugere, ademais, que uma África unificada também
receberia mais auxilio financeiro para o desenvolvimento de diversos países,
devido a sua infinidade de recursos, utilizados majoritariamente para fornecer
matéria prima para industrialização às potências imperialistas.

“It is said, of course, that we have no capital, no industrial skill,


no communications and no internal markets, and that we
cannot even agree among ourselves how best to utilise our
resources for our own social needs. Yet all stock exchanges in
the world are pre-occupied with Africa’s gold, diamonds,
uranium, platinum, copper and iron ore.” (Nkrumah 1963)

Reforçando seu argumento de que a África era mantida nesse estado


de pobreza pela retirada de seus recursos por esses países ocidentais, que
acumularam diversas riquezas com os anos de pilhagem no continente.
Como superar esta dependência econômica? Nkrumah pergunta qual dos
chefes de Estado ali presentes tinha condições de criar desenvolvimento
econômico em seus países, e reforça sua critica aos políticos africanos que
continuavam buscando auxilio nas potências europeias, pois s perigos do
neocolonialismo poderia ultrapassar as fronteiras desses pequenos Estados
independentes e causar conflito nos países vizinhos também.
Apesar disso, estas conferências focavam ainda na libertação do
restante do continente, e mantiveram em comum o não alinhamento em
nenhum dos blocos econômicos (Kodjo e Chanaiwa2010: 902). Apesar de
suas tendências marxistas e sua proposta de socialismo em Gana, o não-
alinhamento era um ponto central da política de Nkrumah: “Tito, Nehru, al-
-Nasser e Nkrumah foram os promotores e arquitetos de uma estratégia por
43

vezes denominada “neutralismo positivo”, [...] uma das pedras angulares da


política externa dos países africanos libertos.”(Thian e Mulira 2010:997). Tito
era o presidente da Iugoslávia, e este movimento cresce durante os anos da
Guerra Fria, com membros da América Latina e mesmo europeus.
Entretanto, o não-alinhamento foi afirmado em Bandung e adotado pelos
membros nesta conferência pan-africana em Adis Abeba.
Apesar dos esforços de Nkrumah, de seus discursos e livros todos
falando sobre a necessidade de uma união forte para o desenvolvimento e
modernização do continente africano, a Carta Manifesto pera Unidade
Africana, assinada em 25 de maio de 1963 por representantes da Argélia,
Burundi, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Daomé, Etiópia, Gabão, Gana,
Guiné, Alto-Volta, Libéria, Líbia, Madagascar, Mali, Mauritânia, Níger,
Nigéria, Uganda, República Árabe Unida, República Centro-Africana,
Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Tanganyika, Tchade,
Tunísia; previa:
O direito dos povos em disporem de si próprios
(autodeterminação dos povos), o ideal da liberdade, da
justiça e da igualdade, um desejo comum de união e de
ajuda mútua, a preocupação em preservar a independência
e a soberania dos Estados africanos, a fidelidade dos
signatários à Carta das Nações Unidas e à Declaração
Universal dos Direitos Humanos. (Kodjo e Chanaiwa 2010:
903).

A carta apontava como princípios fundamentais:

A igualdade de todos os Estados membros; o princípio da


não ingerência nos assuntos internos dos Estados; o
respeito à soberania dos Estados, à sua integridade
territorial e ao seu direito inalienável a uma existência
independente; o tratamento pacífico das contendas,
através da negociação, da mediação, da conciliação ou da
arbitragem; a condenação sem reservas do assassinato
político e das atividades subversivas, mesmo se praticadas
pelos Estados vizinhos ou por quaisquer outros Estados; um
compromisso sem reservas em favor da libertação
completa dos territórios africanos ainda dependentes; a
asserção de uma política de não alinhamento perante
todos os blocos. (Kodjo e Chanaiwa 2010: 903-4).
44

Vemos assim que a OUA criou uma união entre Estados


independentes, e não um Estado africano único, com moeda comum,
exercito comum, e política externa em comum, ficando muito aquém dos
planos propostos por Nkrumah. Dessa forma, os problemas e obstáculos
para a estabilidade dos novos Estados africanos que surgiram pós-
independência, que foram abordados no inicio do capítulo, foram mais fortes
que a possibilidade de unificação, impedindo que esta se concretizasse
efetivamente. Apesar de tentativas de uniões regionais e comerciais, como o
Tratado de Cooperação na África do Leste ou a união entre Gana, Guine e
Mali, estas não sobrevivem ao tempo e, com a queda de Nkrumah da
presidência de Gana em 1966, a luta pela unificação continental perde
significativamente seu impulso (Asante e Chanaiwa 2010: 877).
Ainda assim, a criação desta organização foi muito importante para
aproximar as relações do continente africano, tanto internamento quando em
relação à política externa, como no envolvimento com a Organização das
Nações Unidas e a política de não-alinhamento adotada diante do sistema de
bipolaridade da Guerra fria, e Kwame Nkrumah foi uma figura importante na
sua criação. Parece-me quase simbólico que “Africa must unite”, livro que foi a
base deste trabalho, tenha sido publicado no mesmo ano, 1963; o livro foi
escrito antes e não há menções a organização, mas apresenta suas ideias
principais em relação à unidade africana, e suas interpretações do Pan-
africanismo, que não chegam a ser aceitas pela maioria dos países fundadores
da OUA, sem a criação de um exercito comum ou um governo central, muito
menos a criação dos Estados Unidos da África.

Como já mencionamos acima, o governo de N krumah sofre um golpe


militar em 1966. Algumas causas apontadas para esse golpe se relacionam
com seu discurso socialista, e atitudes antiocidentais (Chinweizu 2010:935),
além dos problemas internos, como atitudes antidemocráticas e sua crescente
oposição a meios midiáticos que lhe eram críticos, como podemos ver em
“Africa must unite”. O governo de Nkrumah não sobrevive a Guerra Fria, e
Nkrumah falece exilado na Romênia, enquanto lutava contra o câncer de pele
em 1973. Grande expoente do pan-africanismo, no seu tempo em exílio ele
ainda escreve diversos livros sobre a situação africana. Alguns que me
45

chamam a atenção, como sua autobiografia, publicada em 1957, onde a


biografia do autor e de Gana se entrelaçam. Infelizmente, não consegui ter
acesso a sua autobiografia, mas o seu titulo “Ghana: The Autobiography of
Kwame Nkrumah” parece deixar clara essa relação entre presidente/líder da
independência e o pais. Um dos poucos com tradução para português é o
“Neocolonialismo: último estágio do imperialismo”, publicado em 1965, um ano
antes de ele sair do poder. Neste livro, ele expõe os interesses
neocolonialistas, apesar do pouco apelo que este tópico tinha entre a maioria
dos outros lideres africanos de sua época.

Em suas diversas outras publicações enquanto presidente de Gana e


depois no exílio, Nkrumah pensava perspectivas para o futuro africano, mas
infelizmente essas obras não são fáceis de encontrar no Brasil. Entretanto, a
base de sua produção teórica são os livros “Africa must unite”, por ser onde ele
expõe suas ideias de unificação africana, seus motivos e suas possibilidades,
porém apenas esboçando possibilidades de colocar suas teorias em prática; e
um livro filosófico, Consciencism: Philosophy and Ideology for De-Colonisation,
que merece uma explicação a parte.

Consciencism: Philosophy and Ideology for De-Colonisation foi


publicado pela primeira vez em 1964. Neste livro, Nkrumah elabora uma
filosofia/ideologia onde apresenta três pontos que deveriam guiar o
desenvolvimento do continente: a influência africana tradicional e árabe,
aliada a “modernidade técnica e cientifica.”, buscando industrialização para
que os recursos do continente Africano servissem ao continente Africano da
mesma forma que serviam à indústria e comercio europeus (Ki-Zerbo e
Mazrui e Wondji 2010: 581). Dessa forma, novas sociedades africanas
entrariam num contexto de “modernidade”, sem perder a sua autonomia e
sua tradição africana. Esta perspectiva pós-colonial pode ser usada como
uma argumentação para se forjar uma unidade africana, apesar da grande
diversidade de povos e nações dentro do continente. Ele aponta esses três
pontos em comum, a influência da vida tradicional africana, que permanece
forte mesmo durante o auge da repressão colonial; a influência dos Estados
árabes e da religião mulçumana na África, que é anterior a intervenção
46

ocidental; e também o inegável passado colonial, de influência


europeia/ocidental, que deveria ser utilizado para puxar o continente do
atraso para a modernidade, mas nessa filosofia, os três pontos se integram
sem que um supere os outros.
Parece-me que este livro contribui de forma essencial para a
compreensão de sua visão de unidade africana, no plano mais teórico e
ideológico, pois ele estabelece relações em comum entre os diversos povos
da África. Entretanto, em 1970 a figura de Nkrumah já estava politicamente
desgastada e ele sua atuação não era como fora no inicio da década de
1960, quando era um grande líder, uma figura inspiradora para os países
ainda sobre domínio colonial. Gana foi o primeiro país da dita “África negra”
a alcançar a independência, sendo importante não só para dar força aos
países subsaarianos a obtê-la também, mas por alçar um país africano e a
persona pan-africana a novos patamares, e mostrar para a sociedade
essencialmente racista da época que os africanos e seus descendentes da
diáspora na América tinham total capacidade de autogerir seus assuntos.
Gana sob o governo de Nkrumah se torna um centro de expansão do pan-
africanismo, seja sob sua perspectiva libertadora ou unificadora.
47

Conclusão

Neste trabalho procuramos analisar a trajetória de Kwame Nkrumah,


desde sua infância vivida na Costa do Ouro sob o governo colonial Britânico,
sua formação acadêmica nos Estados Unidos e na Inglaterra e sua atividade
política na África, como líder da independência em Gana e propagador das
ideias pan-africanas de união continental. Nkrumah é um exemplo de
vanguarda intelectual africana que obtém sucesso na luta anti-imperialista,
de uma geração de líderes, como Julius Nyerere da Tanzânia, ou Leopold
Senghor do Senegal.
O tempo que Nkrumah passou nos Estados Unidos influenciou
fortemente sua atuação política, pois foi lá que ele entra em contato com as
ideias pan-africanistas pela primeira vez. A formação dos Estados Unidos
como um Estado nacional também foi importante, uma vez que ele via nisso
um exemplo para a África, que poderia uma vez unificada, se tornar uma das
maiores potências mundiais (Nkrumah 1961), devido aos diversos recursos
econômicos (recursos minerais, hídricos e de produção agrícola) espalhados
pelo continente. Entretanto, ainda seguindo o exemplo dos EUA, uma
unidade política era necessária para se alcançar este objetivo: “Only a strong
political union can bring about full and effective development of our natural
resources for the benefit of our people.” (Nkrumah 1961)
Acredito que a trajetória de vida de Kwame Nkrumah nos mostra
algumas das complexidades existentes nessa sociedade colonial e pós-
colonial. Ele exemplifica a dialética colonial explicitada por Ki-Zerbo, de que
o sistema colonial criava as bases para seu próprio fim, principalmente com
a educação formal. Ele foi um dos mais importantes pan-africanistas na
África, usando essa corrente teórica para alcançar a liberdade em seu país
natal e também como força de unificação continental. Em sua perspectiva, a
África e os africanos deveriam ter sua independência econômica, mas essa
só seria possível através de uma união política previa. Ele esboça em “Africa
must unite” e no seu discurso em Adis Abeba como deveria se dar esta
união, ele aponta exemplos, sendo o mais importante o exemplo norte
americano, embora não deixa suficientemente claro o caminho para uma
48

união política continental que efetivamente configurasse os Estados Unidos


da África.
Ainda assim, ele apresenta um caminho para o continente se
desenvolver a partir do auxilio mútuo dos países membros, distribuindo os
recursos a seu favor, sem depender e sem ser dominados pelo capital
europeu. Como foi comentado no capitulo anterior, a união política entre os
países africanos e terceiro-mundistas no geral, fortalece o papel destes
frente aos países ocidentais, principalmente na Organização das Nações
Unidas, onde apesar das tendências pró-ocidente, abria espaço para o
debate entre as diversas nações. Para Nkrumah, essa representação seria
mais forte sob o seio de um governo central.
Entretanto, fatores internos, como a diversidade de povos e línguas
africanas, geravam barreiras culturais a unificação. Acrescido as fronteiras
arbitrárias foram estabelecidas pós-independências e a existência de
aberrações políticas, como o governo racista na África do Sul e nas
Rodésias, e as colônias portuguesas Angola e Moçambique, a situação
interna do continente era longe de homogênea. Quanto a fatores externos,
relacionados à Guerra Fria e a bipolaridade política da época, perpetuam
essa divisão continental. A criação da OUA como um mecanismo de
cooperação continental reafirma a independência e separação dos Estados
africanos; não de um governo centralizado ou uma constituição única, como
era proposto por Nkrumah. Muitos dos novos líderes dos países
independentes tinham muitos problemas internos a resolver, que pareciam
no momento mais importante do que o neoimperialismo de que tanto falava
Nkrumah. Além disso, a divisão entre políticas pró-países capitalistas e pró-
socialistas nesses novos Estados africanos dividia ainda mais as opiniões,
apesar da política de não-alinhamento adotada em Adis-Abeba.
Em “Africa must unite” Nkrumah nos apresenta um livro político que
sugere uma utopia de unificação africana. Ele comenta suas ações em Gana
e propõe uma união continental em níveis políticos e econômicos, apara
afirmar que só assim a África poderia se modernizar e desenvolver, além de
se defender dos interesses do capital estrangeiro, seja por um grande
exercito unificado, seja por acordos internos que favorecessem a circulação
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da produção do continente mudando a posição da África neste debate.


Finalmente, Nkrumah apresenta os perigos do neocolonialismo, que
buscavam dividir para permanecer no controle econômico do continente. Se
dividir era do interesse do imperialista europeu, a solução de Nkrumah era
unir o continente todo.
“Consciencism”, publicado um ano depois, apresenta um panorama
da filosofia ocidental, que Nkrumah estudou na Universidade da Pensilvânia
em 1940, e elabora um sistema filosófico que de base à unidade africana em
termos de uma ideologia em comum. Se a unidade cultural, social e política
não foram alcançadas, Nkrumah propõe com este livro estabelecer pontos
em comum entre a história do continente, dando os alicerces para uma
motivação unificadora, enquanto procura estabelecer uma ideologia que leve
ao desenvolvimento do continente pós-colonial, levando em conta sua
história recente e também a tradição africana. Neste livro, Nkrumah se
permite comentários filosóficos generalizantes ao falar da mentalidade
africana como um todo, um passado em comum e idílico, com sociedades
originalmente comunitárias. Apesar de ser um livro filosófico, ele tem um
propósito político implícito, Nkrumah aqui fala da África como uma unidade,
e me parece então claro que esta teoria em “Consciencism” seja um
prolongamento necessário a “Africa must unite”, como uma defesa filosófica
da unidade continental.
Uma perspectiva interessante para pesquisas futuras seria comparar as
políticas de Nkrumah, tanto de socialismo africano como de unidade africana;
com outros políticos da África ou mesmo da Ásia, como Gandhi. Uma
comparação interessante poderia se dar entre Nkrumah e Julius Nyerere,
presidente da Tanzânia, que já comentamos no decorrer do trabalho. Os dois
políticos africanos apresentam políticas semelhantes, de socialismo africano e
políticas internas centralizadoras (Eckert 2011), porém, enquanto Nkrumah é
uma figura internacional controversa e polêmica, Nyerere é adorado pela mídia
internacional, por sua posição mais moderada. Seria interessantíssimo
estabelecer comparações entre os dois lideres e idealizadores do socialismo
africano, e essa foi de fato minha ideia original para esta pesquisa, que mudou
conforme os limites de um trabalho deste formato foram se apresentando.
50

Assim vemos a construção do Estado ganense, fortemente identificado


com figura de Nkrumah, intelectual e líder político visionário. Mesmo que a
OUA não colocasse em pratica suas ideias de unificação africana, a
importância de Gana e Nkrumah para sua criação é inegável. Além de ser o
primeiro Estado subsaariano independente, Gana se tornou um expoente do
pan-africanismo para o restante do continente, tendo um papel crucial na
organização política e o debate em nível continental.
51

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