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TOMO 12
DIREITOS HUMANOS
COORDENAÇÃO DO TOMO 12
Wagner Balera
Carolina Alves de Souza Lima
Editora PUCSP
São Paulo
2022
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
DIRETOR
Vidal Serrano Nunes Júnior
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
DIRETORA ADJUNTA
FACULDADE DE DIREITO
Julcira Maria de Mello Vianna
Lisboa
CONSELHO EDITORIAL
1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
FRATERNIDADE
Océlio de Jesus Carneiro de Morais
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 2
1. Desenvolvimento..................................................................................................... 3
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2. Conclusões ............................................................................................................ 12
Referências ..................................................................................................................... 13
1. DESENVOLVIMENTO
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LEVINAS, Emmanuel. De l’existence and existents.
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diferente sobre humanidade, a partir das virtudes como o amor, a fraternidade, a liberdade,
a responsabilidade. Nas relações com o outro, a pessoa obriga-se a ver os direitos como
direitos dos outros.2
Na obra Humanisme de l’autre homme” (Humanismo do outro homem), Levinas
escreve, explicando como deve ser o sentido de humanidade traduzida na fraternidade, no
amor, na liberdade, na responsabilidade:
“(...) um para o outro como um guardião de um irmão, como um
responsável pelo outro. (...). Sem diferença que é a própria proximidade do
vizinho, pela qual é desenhada apenas um fundo de comunidade entre um
e outro, a unidade da raça humana, em dívida com a irmandade de
homens”.
Assim, fraternidade é uma virtude inerente à gratidão, na qual as pessoas se
sentem responsáveis pela felicidade uma da outra; portanto, a fraternidade como um traço
ou espécie de irmandade universal.
Mas o filósofo francês considera que, para alcançar a desejável fraternidade
universal, como nova sinonímia do sentido para a humanidade, a ética é o pressuposto de
toda a cultura humana (criação e conhecimento humano). “A Ética é pressuposto de toda
cultura e significado”, afirma, acrescentando que, a par do discurso filosófico, a ética se
apresenta como a possibilidade de uma “responsabilidade transbordando de liberdade”:
“A Ética faz aqui sua entrada no discurso filosófico, rigorosamente
ontológico no início, como uma reversão extremo de suas possibilidades.
É de uma passividade radical de subjetividade que se juntou à noção de
"uma responsabilidade transbordando de liberdade "(enquanto apenas a
liberdade deveria ser capaz de justificar e limitar responsabilidades),
obediência antes de receber ordens”.
Para Levinas, o conceito de fraternidade como base da não-indiferença universal
em relação ao semelhante não prescinde da ética como vetor de “uma responsabilidade
transbordando de liberdade”, ao sentido construtivo de comunidade fraterna universal.
Pode-se afirmar, dessa maneira, que o conceito de fraternidade universal na
filosofia de Levinas significa - a partir da ética que garanta o respeito aos direitos
recíprocos – que cada pessoa (responsável em si) é também responsável pela outra. Há
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LEVINAS, Emmanuel. De l’existence and existents.
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Idem.
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cidadãos “são livres” e que “todos os membros do corpo social” – disso deflui o sentido
de fraternidade coletiva que deve prosperar no exercício da liberdade.
Aqui, há uma espécie de fraternidade social, entre todos os membros do corpo
social” – já que todos são iguais em direitos – que impede o arbítrio das leis, dos governos
e das pessoas no exercício dos iguais direitos.
Esse sentido de fraternidade coletiva está implícito também no artigo 6º, quando
afirma que “Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas
as dignidades”.
Nesse dispositivo, o sentido da fraternidade está relacionado ao princípio da
igualdade, que se projeta como necessária “igualmente a todas as dignidades”.
Mas, entende-se que, sob o ponto de vista político, e considerando os ideários da
revolução francesa (1789 a 1799) - assentada nos princípios da princípios de Liberté,
Égalité e da Fraternité (princípios de ordem iluminista) - é ilógico que a declaração
(aprovada em 26 de agosto de 1789) não tenha se referido de modo direto e explícito à
fraternidade como um princípio ou valor da sociedade.
De outro lado, adotando a fraternidade como um dos princípios, a revolução
projeta a edificação de uma nova sociedade francesa com fundamento nos direitos
naturais e inalienáveis – estes, de ordem liberal, é verdade - mas com princípios
humanitários sem iguais, à época.
Esses princípios (Liberté, Égalité, Fraternité) influenciaram a construção dos
direitos e dos princípios na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A declaração de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)
utiliza a palavra fraternidade apenas uma vez. Isso ocorre no primeiro artigo, quando
proclama que todos os cidadãos, indistintamente, “(..) devem agir em relação uns aos
outros com espírito de fraternidade.”
A declaração não atribui de forma explícita um significado à fraternidade, mas
pode-se interpretar e compreender que empresta à fraternidade uma significação ampla e
universal (uma fraternidade universal), essa, tida como a fonte inspiradora ao conceito de
fraternidade de Levinas no livro “Humanisme de l’autre homme”.
O “espírito de fraternidade”, como consta na declaração, quer designar o modo
insubstituível pelo qual a pessoa deve ver e respeitar os direitos e liberdades do outro; o
modo predominante e inarredável como deve se portar e se relacionar com o semelhante.
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1946, e nem a posterior (de 1957) se referem ao “espírito de fraternidade” projetado como
exigência à observância dos direitos e liberdades fundamentais nas relações interpessoais
e nas relações entre os entes de direito público internacional e entre os Estados e os seus
cidadãos.
Nelas, o regime de direitos e liberdades foi editado em meio às crises
institucionais (de ordem política, como golpes de Estado e impeachment) e de ordem
judicial, o problema da absolutização ou relativização dos direitos fundamentais através
das decisões judiciais vinculantes.
No livro Direitos Humanos Fundamentais e a Justiça Constitucional Brasileira
(2017), apontei que as crises institucionais resultaram na “inconsistência constitucional
que acaba por fragilizar a teoria republicana acerca dos direitos fundamentais”.
A Constituição Federativa de 1988 também não adota de forma explícita a
fraternidade como princípio, embora consagre como valores supremos a igualdade e a
justiça para a construção da sociedade fraterna, pluralista e sem discriminação, sociedade
fundada na fundada na harmonia social e com a solução pacífica das controvérsias.
Então, a vontade normativa da Constituição Federativa de 1988, quanto ao
modelo de sociedade que deve ser implementado ao povo brasileiro é balizado pelo
espírito de fraternidade como pressuposto da harmonia social interna e da solução pacífica
dos conflitos internos e externos.
A par disso, pode-se dizer que a escolha desse modelo “sociedade fraterna”, em
si mesmo, já engloba os pressupostos da sociedade pluralista e sem discriminação.
A declaração solene de índole moral, no Preâmbulo, quanto ao modelo de
sociedade brasileira fraterna, é reforçado no inciso I, artigo 3º, à medida que é definida
como um dos objetivos da República, quando também promete “construir uma sociedade
livre, justa e solidária”.
Por certo não há como se compreender a existência de uma “sociedade fraterna”
se, em seu corpo social, houver negação à pluralidade e se essa dita sociedade for prenhe
de discriminações. Contudo, entende-se a opção legislativa (“sociedade fraterna,
pluralista e sem discriminação”) como ênfase à completude teleológica, que é inerente à
aspiração de uma sociedade fraterna.
Em síntese, a percepção do conceito ou espírito de fraternidade na ordem
constitucional de 1988 deve ser compreendido a partir dos valores supremos, dos
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2. CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
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