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TOMO 1
COORDENAÇÃO DO TOMO 2
Celso Fernandes Campilongo
Alvaro de Azevedo Gonzaga
André Luiz Freire
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
DIRETOR
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
Pedro Paulo Teixeira Manus
DE SÃO PAULO
DIRETOR ADJUNTO
FACULDADE DE DIREITO Vidal Serrano Nunes Júnior
CONSELHO EDITORIAL
1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
1
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
PACHUKANIS
Camilo Onoda Caldas
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 2
1. Grafia do nome........................................................................................................ 3
2
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TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
3. Método .................................................................................................................... 7
Referências ..................................................................................................................... 14
1. GRAFIA DO NOME
2. VIDA E OBRA
2.1. Biografia1
1
Vide: NAVES, Márcio Bilharinho (org.). O discreto charme do direito burguês: ensaios sobre
Pachukanis.
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2.2. Obras3
2
Cf. NAVES, Márcio Bilharinho. Marxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis, p. 126.
3
Vide: KASHIURA JR., Celso Naoto; NAVES, Márcio Bilharinho. Pachukanis e a teoria geral do direito
e o marxismo.
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4
Vide CERRONI, Umberto. O pensamento jurídico soviético.
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5
Vide CALDAS, Camilo Onoda. A teoria da derivação do Estado e do direito.
6
Vide CALDAS, Camilo Onoda. Perspectivas para o direito e para cidadania: o pensamento jurídico de
Cerroni e o marxismo.
7
CERRONI, Umberto. O pensamento jurídico soviético, p. 63.
8
REALE, Miguel. Teoria do direito e do Estado, p. 27.
6
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3. MÉTODO
9
Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2013/05/10/a-obra-mais-importante-do-pensamento-
politico-marxista-nas-ultimas-decadas-slavoj-zizek-escreve-sobre-estado-e-forma-politica/>. Acesso em:
08.02.2017.
10
Cf. MASCARO, Alysson. Filosofia do direito.
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TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
11
CERRONI, Umberto. Il pensiero giuridico sovietico. Tradução nossa. Em português: CERRONI,
Umberto. O pensamento jurídico soviético, pp. 64-65.
12
PACHUKANIS, Evgeni B. Teoria geral do direito e marxismo, p. 35.
13
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
14
Idem, pp. 30-31.
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Segundo Pachukanis,16 não era possível se obter uma teoria materialista do Estado
e do Direito inserindo simplesmente na reflexão político-jurídica o conceito de “luta de
classes”, pois, tal inserção não era suficiente para explicar porque o modo de produção
capitalista funciona necessariamente por meio da forma jurídica, mediada pelo Estado
(núcleo de poder público e impessoal), e não sob outra forma qualquer (por exemplo,
coerção física imposta diretamente por uma classe sobre a outra, existente na sociedade
escravagista). Essa pergunta ficou expressa em uma de suas mais célebres passagens:
“Porque que é que o domínio da classe não se mantém naquilo que é, a saber,
a subordinação de uma parte da população a outra? Porque é que ele reveste a
forma de um domínio estatal oficial, ou, o que significa o mesmo, por que é
que o aparelho de coação estatal não se impõe como aparelho privado da
classe dominante, por que é que ele separa desta última e reveste a forma de
um aparelho de poder público impessoal, deslocado da sociedade?”
O questionamento pachukaniano se confrontava com a tradição marxista –
abrangendo Engels, Lênin e Stálin – que acabavam por descrever o Estado e o Direito
como meros instrumentos da classe dominante, razão pela qual, se o proletariado
predominasse enquanto força política, tanto o Direito, quanto o Estado, iriam refletir, por
conseguinte, os interesses da classe trabalhadora. Essa foi justamente a premissa
assumida pelos Estados “socialistas” do século XX, cuja experiência histórica
demonstrou estarem longe daquilo que Marx havia projetado como comunismo:
sociedades horizontalizadas, sem a exploração do trabalho e sem a produção orientada
pelo processo de valorização do valor (voltado para acumulação perpétua do capital por
uma minoria). Pachukanis, justamente, criticava a concepção “instrumentalista” do
Estado e do Direito e procurou demonstrar que sem uma alteração substancial no campo
das relações econômicas e de organização do trabalho, não haveria possibilidade de se
alcançar uma organização social democrática e verdadeiramente comunista.
Pachukanis parte de um ponto comum a outros marxistas: afirma que Estado e
Direito possuem um caráter de classe e estão ligados ao processo da exploração do
15
Vide MASCARO, Alysson. Filosofia do direito.
16
Idem, p. 95.
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trabalho. Contudo, para o jurista soviético, Estado e Direito não são instrumentos
genéricos de domínio classista, pelo contrário, são específicos do modo de produção
capitalista. Neste ponto, talvez resida a maior dificuldade para se entender a teoria
pachukaniana. Para o jurista soviético, a forma jurídica é resultado de uma sociabilidade
própria – de uma relação social específica – e não apenas de uma normatividade. Portanto,
a mera existência de normas nos modos de produção pré-capitalistas não significa que
existam relações jurídicas – tampouco do Direito – pois, somente com a generalização e
predomínio real de um tipo específico de relações sociais é que se pode afirmar a
existência da forma jurídica, ou seja, do Direito propriamente (ainda que a palavra seja
empregada antes do capitalismo, a exemplo do que ocorre com a palavra mercadoria). E
qual é essa relação social tão significativa? A de troca de mercadorias (no sentido
marxiano). Assim, a existência de sujeito de direito, subjetividade jurídica, relações
jurídicas e de todo arcabouço jurídico contemporâneo decorre do processo histórico de
generalização das trocas mercantis, que só se verifica com o advento do capitalismo. Por
essa razão, em Pachukanis, forma mercadoria e forma jurídica são indissociáveis e, ao
mesmo tempo, apenas surgem em certo momento da história.
Para se compreender melhor a teoria de Pachukanis, nota-se que é preciso
resgatar alguns dos conceitos apresentados por Marx em O Capital.
No capitalismo, conforme descreve Marx,17 as relações sociais predominantes
são as de trocas mercantis. A própria força de trabalho é convertida numa mercadoria a
ser trocada por dinheiro. O dinheiro, por sua vez, assume outra função: torna-se capital.
O dinheiro, enquanto capital, é um meio para acumulação de mais dinheiro, ou seja, é um
instrumento que integra o processo de valorização do valor. Marx tratou assim de explicar
como tais trocas de mercadorias e dinheiro, somadas à venda da força de trabalho como
mercadoria especial (capaz de alterar o valor de outras mercadorias e nelas se incorporar),
estão objetivamente imbricadas no processo de valorização do valor e de acumulação de
capital pela burguesia, mostrando, por consequência, que tais elementos caracterizam
exatamente o modo de produção capitalista.
No modo de produção capitalista, todos realizam operações de troca mercantil.
17
Cf. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo da circulação do capital,
pp. 230-231.
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Seja de mercadorias (coisas, força de trabalho etc) por dinheiro, seja de dinheiro por
mercadoria. A existência desse circuito marca uma diferença profunda com os modos de
produção anteriores: a relação de troca implica no reconhecimento da liberdade,
igualdade e propriedade do outro (seja sobre um bem separado do sujeito, seja sobre si
mesmo). O processo de troca mercantil é resultado de um ato “voluntário”18 de um sujeito
em relação a outro. Tais relações sociais são descritas por Marx em uma célebre passagem
que é apropriada por Pachukanis:19
“As mercadorias não podem ir por si próprias para o mercado nem trocar-se a
si próprias. Temos, portanto, de olhar à volta em busca dos seus guardiães, os
possuidores de mercadorias. As mercadorias são coisas e, por isso, não
oferecem resistência ao homem. Se elas não forem dóceis, ele pode usar de
violência, por outras palavras, apoderar-se delas. Para ligar essas coisas entre
si como mercadorias os guardiães têm de se comportar entre si como pessoas
cujas vontades residem nessas coisas, de tal forma que cada um só de acordo
com a vontade do outro, ou seja, cada um só por meio de um acto de vontade
comum a ambos, se apropria da mercadoria alheia, alienando a sua própria.
Eles têm, por isso, de se reconhecer mutuamente como proprietários privados.
Esta relação jurídica, cuja forma é o contrato, quer este se desenvolva
legalmente quer não, é uma relação de vontades em que se reflecte a relação
económica. O conteúdo dessa relação jurídica ou de vontades é dado pela
própria relação económica. As pessoas apenas existem aí umas para as outras
como representantes da mercadoria e, portanto, como possuidores de
mercadorias. Veremos, em geral, na continuação do desenvolvimento, que as
máscaras económicas das pessoas são apenas as personificações das relações
económicas, enfrentando-se elas como portadores destas”.
A partir destes conceitos apresentados por Marx, Pachukanis explica que a
expansão da sociabilidade capitalista consiste exatamente no desenvolvimento deste
18
Evidentemente, Marx não deixa de explicar qual o sentido exato dessa voluntariedade. O sujeito não é
contrangido diretamente por outro sujeito, mas está submetido a outro por sua condição de classe, uma vez
que no capitalismo o sujeito se encontra livre em um duplo sentido: livre para contratar e despojado dos
meios de produção, daquilo que é necessário para produzir suas condições de existência. Marx descreve,
por consequência, todo processo histórico social para que o novo sujeito livre que emergia no capitalismo
fosse conduzido a aceitar as novas condições sociais de produção (paradoxalmente, o constrangimento do
indivíduo livre poderia exigir, em última instância, o uso da violência direta contra o trabalhador). Vide:
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital, pp. 805-
813.
19
Idem, pp. 159-160.
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Nesse sentido, Márcio Naves explica que o processo de subsunção real do trabalho ao capital é a fase
final desse processo, pois nesta etapa do capitalismo a força de trabalho se torna mero apêndice da máquina
e, portanto, toda individualidade concreta se apaga nas relações de produção. (Cf. NAVES, Márcio
Bilharinho. A questão do direito em Marx, pp. 86-87).
21
PACHUKANIS, Evgeni B. Teoria geral do direito e marxismo, pp. 97-98.
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REFERÊNCIAS
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HIRSCH, Joachim. Tote Hunde wecken: Interview mit Joachim Hirsch zur Staatstheorie und
Staatsableitung.
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