PROFERIDO PELA CAP. INT. FERNANDA MARIA ANDRADE BITTENCOURT DURANTE JANTAR COMEMORATIVO DA 2ª. TURMA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA DE 2010.
PROFERIDO PELA CAP. INT. FERNANDA MARIA ANDRADE BITTENCOURT DURANTE JANTAR COMEMORATIVO DA 2ª. TURMA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA DE 2010.
PROFERIDO PELA CAP. INT. FERNANDA MARIA ANDRADE BITTENCOURT DURANTE JANTAR COMEMORATIVO DA 2ª. TURMA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA DE 2010.
[PROFERIDO PELA CAP. INT. FERNANDA MARIA ANDRADE BITTENCOURT
DURANTE JANTAR COMEMORATIVO DA 2ª. TURMA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA DE 2010]
Quando aqui cheguei, no dia 2 de agosto, e reconheci vários rostos que
havia muito não encontrava, alguns, amigos que se distanciaram, outros, colegas que, aqui, finalmente, viriam a se tornar amigos, alguns que ficarão, outros que passarão mais uma vez, tive a certeza do quanto essas pessoas são importantes para mim. Há laços que nos unem inexplicavelmente, há uma cumplicidade subjacente em nossas relações. Em cada rosto avistado, homens e mulheres, maridos e esposas, pais e mães, chefes e comandantes, os caminhos percorridos na vida já se desenhavam em tênues linhas. Meus olhos, porém, não conseguiam ver senão o jovem cadete em cada um desses rostos. Aqueles meninos que fomos se reencontraram dez, quinze anos depois, com as malas cheias de histórias para contar. Talvez essa sensação tenha sido compartilhada por muitos que aqui se reencontraram com seus antigos companheiros de formação ou de organizações pelas quais passaram. Muitos de nós nos conhecemos por um tempo que é quase a metade das nossas vidas... Sem sabermos bem a razão, rever-nos faz-nos um bem maior do que poderíamos supor. Então compreendemos que somos como membros de uma grande família, à qual outros se somam em cada nova unidade onde trabalhamos. Quiçá não sejamos todos amigos, mas nos importamos uns com os outros de uma forma tal que só um sentimento como a fraternidade pode explicar. Um sentimento de respeito, consideração e mesmo cumplicidade fortuita, que transcende tempo e espaço. É decerto bem mais que vestir a mesma farda... A fraternidade confunde-se nos dicionários e nas diversas línguas, e não carece mesmo de definição, assim como não se define o amor. Quem nunca a conheceu? Mal se pronuncia essa palavra e vem às mentes o lema da revolução francesa, que ecoou no primeiro artigo da declaração universal dos direitos humanos: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Eis aí, em última instância, a razão de nossa existência. Nós, militares, vivemos para garantir a liberdade, a igualdade e a fraternidade de todos os homens. Pode parecer incoerente pregar a fraternidade entre os profissionais da guerra. Por mais que sejamos fraternos, é difícil não sucumbirmos ao ódio num campo de batalha. No entanto, o bom soldado deve manter a sua razão, a sua consciência e a sua honra e tratar o seu inimigo com a mesma fraternidade com a qual gostaria de ser tratado. A fraternidade não tem pátria... Quanta nobreza! E somos também os profissionais da paz. Devemos dar as nossas vidas para proteger as de outros homens iguais a nós. Iguais-desiguais, já dizia Drummond. Estranhos ímpares, irmãos que sequer nos conhecem, mas ainda assim dignos de receberem de nós o que temos de mais precioso: nossas próprias vidas. Os horrores e sofrimentos inevitáveis da guerra são padecidos por nós para que eles não sejam privados de seus direitos e de sua paz. Não há melhor definição para o termo fraternidade. Segundo Dadi Janki, ioguina indiana que recebeu da ONU o título de Guardiã da Sabedoria do Planeta, ser fraterno é entender que um grito de dor ou um sorriso é igual em todas as línguas. Entender a dor e a alegria alheias e acolhê-las com a mesma intensidade e consideração, com o mesmo amor... Beira ao divino. Coisas de iogues...! Fiquemos, então, com o esforço, se legítimo! Há maior louvor em tentar compreender seu irmão e sorrir junto ou dar-lhe o ombro do que em entendê-lo e não sorrir nem o abraçar. Olhos nos olhos, ouvidos para ouvir, mãos estendidas, e, de repente, voilá, o diferente faz-se irmão. Neste ágape, palavra que, figuradamente, significa banquete entre amigos – por que não irmãos? –, celebramos Ícaro e suas asas de cera, de liberdade, de sonho, de coragem e de curiosidade. Celebramos as asas que nossos mestres, instrutores, orientadores, colegas e amigos nos dão e ajudam a sustentar com sua atenção, seus ensinamenos, seus sorrisos, seus abraços, suas mãos estendidas. Que este ágape a Ícaro seja uma festa em homenagem a cada um destes homens e mulheres aqui presentes, Ícaros e Dédalos, que voam e fazem voar, nas asas dos seus sonhos e ideais ou nas asas de fibra e metal da nossa Força Aérea. A este band of brothers, irmãos na concepção mais sublime desta palavra, aos senhores seja este ágape, e este brinde seja a este laço que nos une. Um brinde à fraternidade!