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PIRES
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Professor de Direito na Faculdade de Direito da UFMG.
Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 60, p. 573 a 597, jan./jun. 2012 573
LEMBRANÇA DE ARIOSVALDO DE CAMPOS PIRES
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In Quorum, Informativo da Livraria e Editora Del Rey. Ano I, nº 1, abril
2004, p. 22.
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Hermes Vilchez Guerrero
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LEMBRANÇA DE ARIOSVALDO DE CAMPOS PIRES
E agora, a agora?
Onde estão os sonhos? E os ideais? Alguns se perderam, não é certo?
Ao cursar da marcha na curva da estrada, nos caminhos do tempo.
Mas, restam sonhos, ideais, esperanças. Eles representam a armadura
indispensável, não só ao desempenho profissional, mas ao próprio
“viver”.
O tempo correu e o dia chegou...
Dia ou noite da formatura? Seria dia ou seria noite?
Talvez dia, pela claridade que invade a alma. Pelo transbordamento das
ânsias e emoções. Pela alegria das cores e o bulício das gentes.
Talvez noite. Pela seriedade da sagração. Pelo encantamento do luar.
Alimiando as cumeadas dos morros, desbordando-se pela encosta,
fazendo-se água, tornando-se rio.
Melhor: dia-noite. Metade dia, metade noite. Reunião dos contrários
para o ideal da harmonia.
Certo: dia-noite da formatura. Marcando o compasso da vida. O fim
da caminhada. O marco da chegada. Que não é bem chegada, pois é o
começo do recomeçar. Início de uma nova partida. Para quê? Para onde?
O tempo correu e o dia chegou...
É hora de pensar. De refletir.
Por que todo o esforço e tanta renúncia?
Para chegar aonde? Ao encontro do quê?
Eis as indagações estonteantes que esta formatura impõe. Que a minha
formatura impôs. Que formatura impõe. Porque todas são iguais. A
ansiedade incontida. O tumulto interior. O deslumbramento da festa. A
alegria contagiante. Transcendendo a tudo isso, lá no fundo, o sentido
da responsabilidade maior.
Dormimos estudantes, acordamos profissionais.
E agora? E agora? O que fazer do diploma?
Ah! O diploma. Um pedaço de papel. Poucos gramas dos milhares de
toneladas que cobririam a terra. Mas quanto representou a sua conquista!
Em sacrifícios e renúncias, exigidos de muita gente. Quantos se realizam,
vendo-o: pais, irmãos, filhos, esposos, amigos.
Muitos aqui não estão para o abraço apertado, que lava a alma. Para o
aperto de mão, que é a linguagem universal da solidariedade humana.
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em algo mais humano, mais fraterno e mais justo. Para tanto cumpre
deixar, por momentos, o calor humano que se irradia nesta sala. Cumpre
abandonar o sentido fraterno da reunião. Lá fora o vento ruge e açoita.
Não o vento-natureza, mas o do egoísmo, do apego aos bens materiais,
da guerra fratricida. Lá fora o vento da incompreensão, que machuca os
sentimentos e fere o coração. [...]”
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“[...] Não sei por força de qual mistério essa instituição exerce tanta
atração aos que dela se aproximam.
Homens sem tempo arranjam tempo para vestirem a sua camisa dando-se
inteiros ao seu ideário, não importam os sacrifícios para a exercitação
de suas funções.
Pobremente vestida, na sua feição material, ostenta, porém um panache
e um charme (dificilmente encontradiços em instituições congêneres)
que a metamorfoseiam em uma instituição rica e poderosa, sendo ela
– em sede institucional – pobre e desvalida. Se todos a amam, porque
a conhecem, muitos a desamam, porque a desconhecem. Já ouvi, de
homens responsáveis, críticas ao seu desempenho. Uma recente, de um
juiz, no sentido de que os seus só beneficiam os requerentes. Afora o
aspecto legal, desconhecem que o parecer do Colegiado – para além dos
aspectos materiais – busca nas razões do coração a força maior a orientar
as decisões. Nelas há sempre uma palavra de conforto, pois o que ali se
julga não é mais o crime, mas o homem que o praticou. É ele um tribunal
de esperança. É curioso ver-se a paulatina transformação que opera no
comportamento intelectivo de homens que provêm do Ministério Público
e passam a julgadores, fazendo-o de modo menos técnico e formal do
que realista e, portanto, humano. [...]”
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“POEMA DE AMOR
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B. Hte. 12/06/91.”
Foi um filho dedicado e amoroso. Suas palavras, ao tomar posse
na Cadeira nº 20 da Academia Mineira de Letras, bem demonstram o
carinho, respeito e amor que tinha por sua família:
“Sem desejar escapar do lugar-comum, mas sincero a mais não poder,
confesso que sinto, neste instante, uma grande honra: a de ingressar na
arcádia maior da Cultura de Minas Gerais, a sua Academia de Letras,
presidida por este extraordinário Vivaldi Moreira. Lamento, e como
lamento, não ver presentes no cenário em que estão tantos rostos queridos
(de familiares e de amigos), o do meu pai especialmente, porque foi
ele quem, tendo ouvido de mim a notícia de que eu fora eleito para a
Academia, já em seu leito de morte, revelou-me, de modo quase inaudível,
que era a alegria maior que lhe poderia ser proporcionada naquela quadra
da vida. Parecia ser ele o agraciado.”
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Ato Primeiro
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In Quorum, Informativo da Livraria e editora Del Rey. Belo Horizonte, p. 22.
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Idéias ...,, cit., p. 35.
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LEMBRANÇA DE ARIOSVALDO DE CAMPOS PIRES
‘Não sei, diz o notável Juiz Eliezer Rosa, de nenhuma outra forma de
advogar mais dolorosa e pungente que a advocacia criminal. Tudo nela é
dor e desespero. Os próprios triunfos têm o seu tanto de amargor, porque
enquanto pende o processo e se prepara a causa, há sofrimentos que a
vitória não apaga completamente’.
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Idéias..., cit., p. 37/38
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Idéias..., cit., p. 38.
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Idéias..., p. 78.
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Como se vê, não é fácil fazer justiça que sequer se confunde com aplicar
bem a lei. Fazer justiça não é fazer exercício de bondade ou de caridade,
mas é também um pouco disso, como dissemos.
E tanto é mais difícil, porque ela depende da contribui,cão de muitos.
É indispensável a participação honrada do magistrado de pé, o RPM.
Necessária a militância vigorosa e presente, mas leal, do advogado,
como garantia do esclarecimento que facilite a solução justa do conflito.
Obrigatória a colaboração dos serventuários, sem a qual ineficazes seriam
os esforços das partes e do julgador.
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OBRIGADO, PROFESSOR.
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