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PROCESSO PENAL
Felipe Martins Pinto
1
G AD AME R, Ha n s - Ge o r g. Ve rd a d e e mé to d o I: t ra ço s fu n d a m en t a is d e u ma
h er mêu t ico f ilo só f ica . o p cit . p . 6 1 3 /6 1 4 .
2
LUH M ANN, Ni k la s . o p cit. p . 3 3 .
3
G AD AM E R, H a ns - Geo r g. o p ci t. p . 5 0 2 .
4
Ib d em . P . 5 0 1 .
5
No o ri g i nal, … ca rg a d e rela ti vi smo y d e in c e rt id u mb re y a mb ig ü ed a d … AND R ÉS
IB ÁÑE Z. Ac e rca d e la mo t iva c ió n d e lo s h ech o s en la sen ten c ia p en a l . P . 1 2 4 .
Os agentes interlocutores estabelecerão no processo uma “fusão de
horizontes” 6 a partir de signos pré -definidos segundo a natureza jurídica
do Estado e construirão através da conversação um novo ponto de vista
fruto das visões e percepções de cada um dos interlocutores e que será
algo comum a todos.
Os signos diante da estrutura especulativa da linguagem estão
escancarados para a infinidade de experiências de mundo presentes e
futuras e virão à fala por indeterminadas vezes, convertidos em sentidos
que serão o fruto da fusão dos horizontes do passado do texto escrito e do
presente de cada intérprete.
O movimento de convers ão dos signos em sentidos, mais que a
expressão de uma singela opinião, oportuniza o surgimento de uma
verdade possível e constitui a essência da compreensão, descortinando o
“verdadeiro sentido hermenêutico” 7, uma vez que propulsiona o leitor a
produzir, a introduzir novos pontos de vista carregados de preconceitos e
a defender uma pretensão de verdade própria.
Só assi m os participantes podem ser mot ivados a
tomarem, eles próprios, os riscos da sua ação, a
cooperarem, sob contr ole, na absorção da incerteza e
dessa for ma a contraírem gradual mente um
compromisso. 8
6
G AD AM E R, H a ns - Geo r g. o p ci t. p . 5 0 3 .
7
Ib d em . p . 5 0 9 .
8
LUH M ANN, Ni k la s. o p cit. p . 6 4 .
9
OST , Fr a nço i, K er c ho ve , Mi c hel va n d e ( Co o rd . ) o p ci t . p . 2 5 9 .
10
LUH M ANN, Ni k la s. o p cit. p . 3 1 .
escolhidos para descrever o objeto investigado e tal seleção guarda
sintonia com a visão de mundo do próprio do intérprete.
Dessa forma, cada um dos sujeitos processuais construirá um
conhecimento a partir da harmonização de dados históricos com as suas
informações, experiências e sentimentos pessoais.
A percepção finita de cada um dos sujeitos processuais avançará
além da limitação interpretativa inicial e individual por meio da linguagem
que propiciará operações hermenêuticas em que se fundirão as
compreensões individuais para a construção da verdade no processo.
Como próxima etapa na evolução do raciocínio, é nece ssário voltar
os olhos para os signos que informam o processo penal e que decorrem da
natureza jurídica do Estado, fruto dos princípios e regras fundamentais
escolhidos como alicerce jurídico do próprio Estado, seus pilares de
soerguimento, para, dessa man eira, identificar -se quais as decorrências
advirão para os jurisdicionados como resultado da proteção à ordem
jurídica.
Nos Estados modernos a Constituição (ou Estatuto ou
Carta fundamental) é o ato legislativo por excelência,
porque nas nor mas das Cartas Constitucionais são
indicadas as diretivas de princípio e os valores que
constituem o caráter e a fisionomia do Estado e que por
isso funcionam como regras de estrutura do ordenamento
j urídico estatal. 11
11
No o ri gi n al, N eg l i S ta t i mo d e rn i la Co s ti tu z io n e (o S ta tu to o Ca rta fo n d a men ta le ) è
l’a t to l eg i sla ti vo p e r ec cel len za , p er ch é n el le n o rm e d e ll e Ca rte Co s ti t u zio n a li so n o
in d ica te le d i re tt iv e d i p rin cip io e i va lo ri g u id a ch e a p p u n to ‘co st itu i s co n o ’ Il
ca ra tte re e la f i sio n o mi a d ello S ta to e ch e p e rc i ò fu n z io n a n o co m e r eg o l e d i s t ru tu ra
d ell’o rd in a m en to g iu rid ico s ta ta le .I n , R AM AC CI, Fab ri zio . Co r so d i d ir it to p e na le.
2 . ed . T ur i m: G. G iap p i c he ll i Ed ito r e. p . 7 0 . (T rad u ção li vr e).
12
C R /8 8 , Ar t. 1 º . A Rep ú b lic a Fed e rat i va d o B ra s il, fo r mad a p e la u ni ão i nd i s so l ú vel
d o s Es tad o s e M u ni cíp io s e d o D i str ito Fed er al, c o n st i ui - se e m E s tad o De mo c rát ico d e
Dire ito e te m co mo f u nd a me nto s.. .
epistemologia garantista, os signos através dos quais se construirá a
verdade no processo, signos estes que preconizam a participação equânime
das partes em contraditório na construção do provimento e o
reconhecimento de limites bem definidos para a intervenção nos direitos
das pessoas.
13
F AZZAL AR I s us te n ta q ue a c ha ma d a p o siç ão s ub j et i va é a p o s ição d o s uj eito e m
fa ce à no r ma , no r ma es t a q ue p o d erá p re ve r u ma f ac u ld ad e, u m d e ver o u u m p o d er . A
p rev i são d e u m p o d er a s se g ur a u ma p o s ição d e p re mê nc ia p ara o s uj ei to q ue p o d e ser
en te nd id a co mo u m d ir ei to s ub j et i vo o u d i reito p o t es ta ti vo . D es sa ma ne ira,
F AZZAL AR I r e c haç a a co n cep ç ão d e d ir ei to s u b j eti vo co mo d irei to d e al g ué m so b re
a co nd u ta d e o ut r e m, p o is o d i r ei to s ub j et i vo é co nc eb id o co mo u ma p o s ição d e
va n ta ge m as se g u r ad a ao s uj e ito , ú ni ca e e xc l u si va me nt e, p el a no r ma. In ,
F AZZAL AR I , El io . Co n o scen za e va lo r i . o p ci t . p . 6 6 -7 1 .
14
T OB EÑ AS, J o se C as ta n. S itu a cio n e s ju rid i ca s su b jet iva s . Mad r id : I n st it u to
Ed ito r ia l Re u s, 1 9 6 3 . p . 7 5 .
15
RO UB I E R, P ab lo . Teo ria g en e ra l Del d er ech o . T rad . J o sé M. C aj ica J r. P ueb l a:
Ed ito r ia l J o s é M. Caj ica J r ., s.d . p . 3 1 .
mas, ao contrário, farão uma opção vidente, com consciência das
decorrências e implicações.
A confiança na poderosa proteção do direito é o
fundamento sobre o qual nos movemos com segurança nos
assuntos da vida cot idiana e nas grandes empreitadas
menos comuns . 16
16
No o ri gi na l, La co n fia n za en la p o d e ro sa p ro te cció n d e l d er e ch o e s el fu n d a men to
so b re e l cu a l n o s mo vem o s co n seg u rid a d to d o s e n lo s a ss u n to s d e la v id a co tid ia n a y
en la s g ra n d e s e mp r e sa s . I n , HE C K, P hi lip p . El p ro b l ema d e la cr ea c io n d el d er ec ho .
B arcelo n a: Ed i cio ne s Ar iel, 1 9 6 1 . p . 3 7 .
17
B OB B I O, No b er to . A e r a d o s d ir ei to s . Rio d e J a ne iro : C a mp u s, 1 9 9 2 . p . 1 4 3 -1 5 9 .
18
VI LANI , Ma r ia Cr is ti n a Se i xa s. Cid a d a n ia mo d ern a : fu n d a men to s d o u tr in á rio s e
d esd o b ra m en to s h i stó r i co s . I n Card e no d e Ci ê nc ia s So c ia is . B e l o Ho r izo n te:
P UC Mi na s. De z 2 0 0 2 . p . 5 7 .
19
C ADE M ART O RI , Se r gio . E sta d o d e d ir ei to e l eg i ti mid a d e : u ma ab o rd a ge m
gar a nt is ta. 2 . Ed . C a mp i na s : M il le ni u m, 2 0 0 7 . p . 2 0 8 -2 0 9 .
Em um modelo de Estado de Direito, ser titular de um direito
fundamental corresponde a possuir um trunfo em um jogo de cartas, pois
o trunfo prepondera tanto sobre as cartas de maior valor facial, quanto
sobre a maior quantidade de cartas que o outro jogador possa portar.
Direitos são mais bem compreendidos como t runfos que se
sobrepõem a j ustificativas de fundo para deci sões políticas
que estabelecem obj etivos para comunidade em geral. 20
20
No o r i gi n al, R ig h t s a re b e s t u n d er s to o d a s t ru mp s o v er so me b a ckg ro u n d
ju s ti fi ca t io n s fo r p o l it ic a l d ec i sio n s th a t sta te s a g o a l fo r th e co mmu n it y a s a wh o le
In , DW OR KI N, Ro na ld . Ri g h t s a s tr u mp s. In : W ALD R ON, J ere m y. Th eo ri es o f Rig h t s.
O x fo rd : O x fo r d U ni v er s it y, 1 9 8 4 , p .1 5 3 -1 6 7 . p . 1 5 3 .
21
P UIG, Sa n tia go Mir . De rech o p en a l – p a r te g en era l . 5 . Ed . B arc elo na : T ec fo to ,
1998. p. 64.
22
O a uto r u ti li za a s e xp r e s sõ e s “go ver no p er leg e ” e “go v er no su b leg e” , ma s ho u v e
a o p ção p ela u ti li zaç ão d e “e xe r cí cio d e P o d er p er leg e ” e “e x ercí cio d e P o d er su b
leg e ”, p o r p r o p ic iar e m u ma co mp re e n são ma i s ex ata d a ir rad i ação d as d eco rrê nc ia s
d as l i mi ta çõ e s le g ai s p ar a to d o s o s P o d ere s co n st it uíd o s. B OB B IO, No b er to . o p ci t. p .
156.
total submissão do Poder estatal, no sentido mais amplo e em todos os
estratos de manifestação, ao direito. Impõe -se uma estrita observância das
previsões normativas, na condição de limites estritos para o exercício de
todos os atos emanados dos órgãos de Poder estatal. A limitação pelas
normas vincula as formas e procedimentos de atuação estatal, mas também
o conteúdo daquilo passível ou não de disposição.
Ambas as noçõe s al udem às exi gências derivadas da
posição i gual de todos frente ao poder polí tico j á que as
pessoas reclamam um tratamento geral e abstrato, como
exigência de i gualdade; em segundo lugar, à defesa frente
à arbitrariedade que suporia a atuação do poder à mar gem
do direito e, por últ imo, ao incremento de segurança
j urídica na relação com o Estado dada a previsibilidade de
suas atuações. 23
23
No o ri g i nal , A mb a s n o c io n e s a lu d en a la s ex ig ê n cia s d e r iva d a s d e la p o si ció n ig u a l
d e to d o s fr en t e a l p o d e r p o lít ico ya q u e lo s p e s s o a s r ecla ma n u n t ra ta mi en to g en e ra l
y a b st ra c to , co mo ex ig ê n cia d e ig u a ld a d ; e m se g u n d o lu g a r, a la d e fen sa f ren t e a la
a rb i t ra r ied a d q u e su p o n d ría la a ctu a cio n d el p o d er a l ma rg en d el d e rech o y, p o r
ú lti mo , a l in c re men to d e la seg u rid a d ju r íd i ca en la rela ció n co n el E s ta d o d a d a la
p rev i sib il i d a d d e su s a ctu a c io n e s. In , P E Ñ A, An to n io . La g a ra n tia e m e l e sta d o
co n s ti tu cio n a l d e d e rech o . Mad r i: T ro t ta, 1 9 9 7 . p . 3 8 . (T rad u ção li vr e)
24
No o ri g i nal , Ma so lta n t o co n I l p en s ie ro i llu mi n is ti co - l ib e ra l e a s su me d eci sa m en t e
q u el d e fin ito s ig n i fi ca to , p o lí ti co p ri ma ch e g iu r i d ico , ch e co s ti tu i sc e I l c o n ten u to d el
p rin cip io d i leg a li tà . I n , R AM AC CI , Fab ri zio . O p cit . p . 7 2 . ( T rad u ção li vre ).
25
MO NT ESQ UI E U. O e sp ír ito d a s le is . S ão P a ulo : Ma rti n s Fo n te s, 2 0 0 5 .
positivação no sistema jurídico insere -o como “critério normativo de ação
para os poderes do Estado ” 26, impedindo que o exercício dos atos oficiais
não se transmute em arbítrio e abuso.
Politicamente o Princípio da Legalidade se constitui em uma
alta limitação ao j us puniendi estatal, servindo para
proteger a pessoa humana em face de um possível uso
arbitrário do Direito Penal pelos detent ores do poder
político. 27
26
No o r i gi n al, c ri te r io n o rma ti vo d i a zio n e p e r i p o t e ri d el lo S ta to . In , R AM AC C I,
Fab r izio . o p c it . p . 7 2 . ( T r ad ução li v re).
27
B R AN D ÃO, Cl á ud io . I n tro d u çã o a o d i re ito p en a l . Rio d e J a ne iro : Fo re n se, 2 0 0 2 . p .
68.
28
No o r i gi n al, s in o su mi s ió n y o b je ti vo . In , H AS S EME R, W i n fri ed . C rí ti c a a l d e r ech o
p en a l d e h o y . T r ad . P atr i cia S. Zi f fer. Co lô mb i a: U ni ver s id ad E x ter nad o d e Co lo mb i a,
1 9 9 7 . p . 2 2 . ( T r ad ução l iv r e) .
29
No o r i gi n al, D el r esp eto d e e llo se esp era u n a es t rech a su je ció n d e la ju r i sp ru d en c ia
a la le y, u n a ma yo r t ra n sp a ren c ia en la a p li ca c i ó n d el d e re ch o y en su j u st if ica c ió n ,
y d e e s te mo d o , u n a m ejo r p rev is ib i lid a d , y a o mi s mo t ie mp o , co n t ro la b il id a d , d e
a q u ello q u e su ced e en l a leg i s la ció n y en la ju ri sp ru d en c ia p en a le s. I b d em . p . 2 2 .
(T rad ução l i vr e) .
30
FE R R AJ O LI . Lu i g i. D i re ito e ra zã o : t eo ri a d o gar a nt is mo p e na l. o p ci t . p . 3 0 .
Neste cenário, os artigos do código tornaram -se verdades
definitivas, tendo -se infundido nestes artigos o mecanismo do silogismo. 31
Repise-se que a positivação é pressuposto do Estado de Direito,
mas o positivismo jurídico não condiz com o atual modelo jurídico -
político est atal, suportado sobre uma base principiológica, ratio essendi
do sistema posto.
31
AR AÚJ O, Sér g io Lu iz So uza . T ext o d id á tico . B elo Ho rizo n te : U F MG, s .d .
32
H ÄB E R LE, P e ter . H er men êu tica co n s ti tu cio n a l . A so cied ad e ab er ta d o s i nt érp re te s
d a co ns ti t ui ção : co ntr i b ui ção p ar a a i nterp r et a ção p l ura li s ta e “p ro ce d i me nt al ” d a
co n s ti t uiç ão . T r ad . Gi l ma r Fer r e ira Me nd e s. P o rto Ale gr e: S er gio An to n io Frab ri s
Ed ito r, 2 0 0 2 .
pessoas enquanto membr os de grupos culturais
específicos. 33
Sublinhe-se que o conceito de Democracia não pode ser restrito à
concepção de democracia política, relegada à simples legi timidade formal
de um governo e nem tão pouco a participação do povo limitada ao voto.
(...) que a democracia participativa, soube t ranscender a
noção obscura, abstrata e irreal de povo nos sistemas
representativos e transcende, por i gual, os horizontes
j urídicos da clássica separação de poderes.
E o faz sem, contudo dissolvê -la. Em ri gor a vincula, numa
fór mula mais clara, positiva e consistente, ao povo real, o
povo que tem a investidura da soberania sem disfarce. 34
33
AV RIT ZER , Leo nar d o . DOM I N GUE S, I va n ( Or g.). Teo ria so c ia l e mo d ern id a d e n o
Bra si l. B e lo Ho r izo n te : UF MG, 2 0 0 0 . p . 2 0 7 .
34
B ON AVI DE S, P a u lo . Teo ria co n st itu c io n a l d a d emo c ra c ia p a rt ic ip a t iva : p o r u m
d irei to co n st it u cio na l d e l uta e re si tê nc ia, p o r u ma no v a h er me n ê ut i ca, p o r u ma
rep o li ti zaç ão d a le g it i mi d ad e.2 . ed . São P a u lo : Mal h eiro s, 2 0 0 3 .p . 2 7 .
35
MÜ LLE R , Fr ied r ic h. Q u em é o p o vo ? A q ue s t ão fu nd a me n tal d a d e m o crac ia. São
P au lo : Ma x Li mo nad , 1 9 9 8 .
36
H ÄB E R LE, P e ter . o p ci t . p . 3 7 .
retórica, é promessa sem arri mo na realidade, sem raiz na
história, sem sentido na doutrina, sem conteúdo nas leis. 37
37
B ON AVI DE S, P a u lo . o p cit .p . 2 8 3 .
38
E m P ar is , a p r i n cip a l p as se ata d e ve te r i n íc io à s 1 4 h3 0 (9 h3 0 d e B ra sí li a). Cer ca d e
4 .0 0 0 p o li cia i s fo r a m mo b il izad o s p a ra e v it ar no vo s a to s d e vio lê n c ia d ura n te o s
p ro te sto s. N a q u i nt a - fe ir a ( 2 3 ) , 2 .0 0 0 j o v e ns q ue mo ra m n o s s ub úrb io s se g ui ra m p ara
P aris e e n fr e ntar a m a p o líc ia. Ve íc ulo s e lo j a s fo ra m d e str u íd a s. Os j o v en s a g red ir a m
vár io s e st ud a nt es em o utr a ma n i fe st ação no ce nt ro da cap ita l.
ht tp : // www1 . fo l ha. uo l.c o m.b r / fo l h a/ mu n d o / ul t9 4 u9 4 1 7 6 . s ht ml , co n s ul ta d o no d ia 0 7
d e fe ver eir o d e 2 0 0 9 , às 0 1 e 3 1 ho ra s.
39
O q u e o co r r e u n a Ar g e nt i na te ve i n gred ie n te s no vo s: u ma reb e li ão e s p o n tâ nea d e
u ma p o p ul ação e mp o b r ecid a e fart a d e s er co b aia d e e xp er iê nc ia s eco nô mi ca s
fra ca s sad a s. A o nd a d e s aq u es i nic iad a no s b a irro s p o b re s d a p eri feri a d e B ue no s Aire s
ala stro u - s e r ap id a me n te p elo p a í s e c u l mi no u co m u ma r u id o sa co n ce ntr ação d e
mi l ha re s d e ma n i fe s ta n te s d ia nt e d a Ca sa Ro sad a na mad r u g ad a d e q u i nt a - fe ira.
En c urra lad o p ela f úr ia d e s e u s co n cid ad ão s e i n c ap az d e ne go ci ar u ma so l uç ão p o lí tic a
co m a o p o s ição , o p r e si d en te F er na nd o d e la R ú a ap re s e nto u s u a re n ú n c ia no fi na l d a
tard e. T e me nd o p el a p r ó p r ia v id a, d e i xo u o p a lác io d e he li có p t ero – l o go el e, q u e
p reza va ta nto o r i t ua l d e r e to r nar a Ol i vo s, a r es id ê nc ia o fi cia l d a p ri me ira - fa mí l ia,
n u m v i sto so co r tej o d e l i mu s i ne s.
O c u sto d a r eb el ião fo i p e sad o : ma is d e u ma ce nt e na d e s up er mer c ad o s, lo j a s e
res id ê nc ia s s aq uead o s, 26 mo rto s e ce nte n as de ferid o s .
ht tp : // v ej a.ab r il. co m.b r / 2 6 1 2 0 1 /p _ 0 2 2 . ht ml , co n s ul ta re al izad a e m 0 7 d e fe ve reiro d e
2 0 0 9 , às 0 2 ho r a s.
previamente, numerus clausus, os meios de participação do povo na
realização dos atos de Poder.
Apesar da pessoa, livremente, poder participar ou interferir na
efetivação dos atos oficiais que bem entender e como bem entender, a
Administração Pública, em todos os seus estratos, é obrigada a oportunizar
a participação daqueles que sofrerão, em suas es feras de direito, as
potenciais consequências de cada ato de Poder, v.g. o proprietário e o
condutor do veículo que for autuado pelos órgãos de fiscalização de
trânsito; a vítima e o acusado em processo criminal, etc.
Diante do raciocínio acima delineado, começa a descortinar o papel
primordial do processo para democracia, uma vez que o processo é o
instrumento indispensável para o Estado sancionar direitos da pessoa.
A partir do pressuposto de que o procedimento é uma seqüência de
“atos previstos e valora dos pelas normas” 40 e de que processo é uma
espécie do gênero procedimento em que a construção do “provimento
final” 41 observa a instrução em contraditório entre as partes, sujeitos que
sofrerão os efeitos da decisão 42, sempre que o ato oficial do Estado impuser
um risco a um interesse da pessoa, ele terá a oportunidade de participar da
construção do ato de Poder, o que se dará através do processo.
Talvez possa causar espécie o fato de que a principal atribuição do
processo não foi vinculada à condição de meio para acesso aos direitos,
mas tal atitude é reflexo da abertura de possibilidades através das quais o
particular pode pleitear os seus interesses, inclusive, mas não
exclusivamente, pelo processo.
40
No o r i gi n al : a t ti, q u a l i p rev is ti e va lu ta t i d a lle n o r me. In , F AZZA L AR I, E lio .
Ist it u zio n i d i d ir it to p r o ces s u ale. o p c it . p . 7 8 .
41
O p ro vi me nto é o a to j u r íd ico me d ia n te o q u al o s ó r gão s d o E st ad o , p ert en ce nt e s ao s
p o d ere s e xec u ti vo , le g is lat i vo o u j ud i ciá rio , e ma na m d i sp o s içõ e s i mp era t iv a s. Ib d em .
p. 7.
42
A co rre n te d o u tr i n ár ia exp o s ta co nte s ta a d i fer en cia ção d e p ro ce sso e p ro ced i me n to
es tab e lec id a so b a é g id e d a r ela ção j uríd ic a, fu nd ad a e m u m cri tério tel eo ló g ico , a
p artir d o q u al o p r o c e ss o d i fer e n cia - s e d o p ro ce d i me nto p o r p o s s ui r fi na lid ad es : me io
d e e xe rcí cio d e p o d er e i n s tr u me n to d e re al iz ação d a j uri sd ição , ao co n trár io d o
p ro ced i me n to q u e co n s is te e m me ra fo r ma e xt rí n sec a p e la q u al s e ma ni fes ta o
p ro ce sso . E m s up er a ção à co n cep ç ão trad icio n a l d a s ep ara ção e ntr e o p ro ce sso e o
p ro ced i me n to , co n ceb e u - se u m ca mi n h o ma is co ere nt e e ló gico , q u e id e nt i fica, a n te s
d a d i fer e nça u ma i n ter a ção e ntr e o s d o i s co nc ei to s, i nt eraç ão e st a d e m es ma n at ur eza
q ue a r ela ção e xi s te nt e e ntr e gê ne ro e e sp éc ie . De s te mo d o , o p ro ce s so d e v e ser
co n ceb id o co mo u ma e s p écie d o gê ne ro p ro ced i me n to .
Trata-se de um rompimento com um discurso de manipulaç ão de
massas que, normalmente empurra a população para lutar por seus direitos
na Jurisdição e, dessa forma, confinadas em regras procedimentais rígidas,
o comportamento domesticado das eventuais vítimas das lesões praticadas
pela máquina estatal permite a manutenção de uma nefasta estrutura
protelatória.