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(Jean Claude Monet, Polícia e Sociedade na Europa, São Paulo, Edusp, 2001, p.130).
É por esse motivo que o estudo em tela se faz inescusável, uma vez que seus efeitos
conferem ao operador de segurança pública a maior segurança jurídica possível, de
forma que nenhum outro fator, que não os presentes no Teatro de Operações,
interfiram nas decisões e ações do policial.
Em toda a história, na crônica das guerras e grandes conflitos, é possível verificar, que,
impreterivelmente, os vitoriosos são os que melhor se prepararam nos tempos de paz.
Neste diapasão, a imersão no conceito do “Operador Cientista” visa incentivar a busca
pela plenitude do desenvolvimento técnico científico, por iniciativa do próprio policial,
motivada por uma livre vontade de se tornar o melhor profissional possível, e, pela
convicção de que o caminho para a excelência é o aperfeiçoamento constante.
Mas eis que surge outra problemática: “Por que o policial deve pensar e agir como
Estado?” Ora, a resposta deveria ser óbvia, e na verdade é, todavia, aos que ainda não
são plenos Operadores Cientistas, se faz necessário explicar. Em algum momento
impossível de precisar na história da humanidade, o homem naturalmente livre passou
a buscar um equilíbrio entre liberdade e segurança através da comunhão com outros
homens. Dessa união harmoniosa surgiu o gérmen da sociedade que se desenvolveu
em torno de um conjunto de regras para os fins de manutenir as relações dentro dos
grupos sociais.
Entretanto, cientificidade e tecnicidade por si só não bastam, haja vista, que, o fator
humano é indissociável, e, portanto, influencia diretamente nas decisões do policial. A
vista disso é preciso diligenciar uma adequação na esfera do pensamento que vise
dissociar as crenças de viés particular do processo decisório, de forma a viabilizar uma
deliberação puramente legal, livre de influências provenientes de fontes alheias ou
diametralmente opostas à estrita legalidade. E surge uma nova problemática: “Como
vislumbrar esses conceitos complexos de maneira prática?” A resposta é simples,
desenvolvendo um novo padrão de tomada de decisão para aplicação na esfera
profissional onde se faz necessário suprimir do processo decisório a representação dos
ideais, e, valores morais e culturais do indivíduo, porquanto, não há que constar na
equação resolutiva qualquer fator ligado ao superego.
Em termos elementares, para se tornar um verdadeiro Operador Cientista, se faz
necessário unir o melhor dos dois mundos, ou seja, é preciso ser um excelente
profissional no que tange às habilidades de aplicação individual e coletiva na esfera
técnica, tática, e, operacional, e ser de fato, um estudioso de toda ciência que permeia
e embasa a atividade policial de forma a ser capaz de executar as ações do escopo com
fluidez e eficácia, e, ao mesmo tempo, decidir com base científica, livre de opiniões de
viés particular.
Ainda no que concerne à linguagem, esta também é uma ferramenta primordial para o
desenvolvimento intelectual, e, respectivamente, por consequência lógica, para o
aprimoramento comportamental, diante do exercício intelectual necessário à cognição
e expansão do vocabulário, e, do emprego de diferentes modelos de comunicação
verbal e escrita em conformidade com a linguagem do Estado. Convém enfatizar, que,
a linguagem do Estado é técnica e formalista, e, mais uma vez, lançando mãos da
filosofia, para buscar o caminho da essência do “Operador Cientista”, se ao policial
cabe personificar o Estado e atuar como sua “longa manus” no plano da realidade,
nada mais apropriado que auferir proveito do mais nobre vernáculo.
O presente estudo é apenas uma humilde síntese sem pretensões amplas, com o
intuito de apresentar e trazer luzes a um inovador modelo de Policial Ideal, que
depende apenas da vontade e da ação do próprio operador e que na realidade merece
um estudo muito mais profundo. Em resumo, tanto a imagem, quanto o teor dos
argumentos, bem como, as capacidades de resolução de problemas através de um
processo decisório pautado puramente em ciência, técnica, e, empirismo, são
produtos de um ciclo virtuoso que demandam muito além do mero estudo e da
eventual prática. Para se tornar um “Operador Cientista” pleno é preciso adotar um
novo paradigma de vida, um verdadeiro sacerdócio de dedicação integral à atividade
policial em todas as suas vertentes. É fundamental se entregar ao aprendizado
constante, ao treinamento sistemático, às operações reais, e ao nobre magistério,
moldar o caráter e elevar a moral através da honra à heráldica, ao lema, ao juramento,
e, à bandeira, levantando templos à virtude e cavando masmorras ao vício.
“A justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa o direito, e na outra, a
espada de que se serve para defendê-lo. A espada sem a balança é a força
brutal; a balança sem a espada é a impotência do direito.”
Rudolf Von Ihering
Policial Penal, Professor, Bacharel em Direito, Tecnólogo em Gestão Pública, Especialista em Direito
Público, Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, MBA em Direito Penal e Processo
Penal, Licenciado ONU em Direito Internacional Humanitário e Direito dos Conflitos Armados.
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