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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS | DEPARTAMENTO DE DIREITO | FORMULÁRIO PARA FICHA DE LEITURA

Álvaro José Pereira Neto, Anna Luísa Braz Rodrigues e Gabriel Pinheiro
Estudantes:
Cayres Pinto.
201520940 Data da Elaboração da Ficha de Leitura: 09/08/2020
Registros
Acadêmicos: 201520932
201520935

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Teoria dos Jogos no Processo Penal – Alexandre Morais da Rosa


Capítulo 5: A decisão – O Resultado do Jogo

SÍNTESE E PRINCIPAIS CONCEITOS

Capítulo 5: A decisão – O Resultado do Jogo


5.1 Decisão como bricolage.
 A decisão no processo penal é ato de compreensão e os jogadores realizam uma fusão de
horizontes para influenciar a sentença;
 Diante dos fatos, procede-se a um debate em contraditório;
 As garantias são: o processo em contraditório com garantias legais; o jogo com os devidos
jogadores e mediado pelo julgador, que não exerce atividade probatória; e uma decisão
fundamentada por parte dos órgãos julgadores;
 A legitimidade da decisão advém do devido processo legal substancial;
 A atividade de reconstrução da verdade no processo é um mecanismo de “bricolagem singular”,
que se traduz em “fazer o possível”, ao revés do ideal;
 Uma instrução processual sempre autoriza diversas narrativas;
 É pelo encadeamento dos significantes que se pode verificar a legitimidade e democracia da
decisão;
 O princípio escolhido para o estabelecimento da cadeia de significantes muda o resultado;
 A decisão sempre terá uma pitada pessoal, mesmo dotada de validade;
 Os protagonistas do processo são os jogadores, que lançarão suas pretensões de validade e o
julgador que profere a decisão;
 O coágulo da verdade deve considerar o velamento ou desvelamento do discurso jurídico e seus
diversos fatores, de modo que, destruído o mundo das essências, se descortina uma nova
maneira de ver as coisas, fundada na linguagem e nos jogos;
 A análise da construção das decisões jurídicas exige perceber condições fora do discurso que o
determinam, a exemplo da política, ideologia e pessoais, as ditas inconscientes;
 Desse jogo processual emana a decisão; Veyne chamará de evento semântico, um acontecer no
tempo, espaço e lugar, em que ocorre um acertamento de significantes e demanda uma
congruência narrativa;
 Mesmo existindo narrativas diversas, cabe ao julgador a compreensão adequada, na sua função
catalisadora, correndo os riscos do solipsismo; a trama discursiva deve aderir à democracia;
 A língua é uma das facetas do poder emanado pelo espaço social e pode servir tanto a discursos
revolucionários quanto a totalitários, a depender dos atores jurídicos;
 A língua e a sua dominação são uma poderosa ferramenta de poder;
 Só pela visão literária pode-se enganar a língua e readequar os significados, tarefa típica de um
bricoler;
 Deslocar os significantes e suspender a significância é o que se pode dizer ser a bricolagem;
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 A exatidão, na busca da realidade, fica em segundo plano;


 Realidade e linguagem são corpos que jamais se encontram;
 O real não é representável, somente demonstrável (Lacan);

5.2 O Paradoxo da Reconstrução


 O processo penal somente permite narrações retrospectivas;
 A narrativa é estabelecida por um terceiro alheio aos fatos;
 O julgador conhece as narrativas e acrescenta um predicado, ainda não provado;
 O paradoxo advém do fato de que o crime é um evento passado, porém contado no presente;
 O crime é um evento único e o processo penal prospectivo, futuro;
 Se o julgador não estiver cooptado, o processo penal é uma aventura;
 A instrução processual tem a finalidade de reconstrução do evento passado;
 Quem diz se o fato existiu não o presenciou de fato, o faz pela autoridade;
 A função do magistrado é dizer que o fato está comprovado pois o discurso presente sobre o
fato pretérito se verificou (no presente); assim, conforma-se a narrativa sobre o fato;
 Os relatos são complementos, modificados, suturados ou extintos pela memória passível de
traição;

5.3 Decisão no Processo Penal: Requisitos e Congruência


 Formalidades da decisão: relatório, fundamentação e dispositivo, mantida a correlação entre a
acusação e o dispositivo;
 O artigo 385 do CPP não é compatível com o processo entre jogadores, vez que se o acusador
requerer a absolvição, não pode o julgador condenar;
 Em caso de absolvição, deve-se indicar o inciso (art. 386 do CPP);
 Com o trânsito em julgado aos jogadores, opera-se a coisa julgada, vedada a reabertura do caso
ao Ministério Público;
 A decisão deve ser congruente com a acusação;
 Se as elementares do tipo forem diversas, não se pode afirmar a equivalência de condutas em
face de denúncia por verbo diverso;
 A conduta descrita na acusação baliza os limites do caso penal, de modo que se exige dos
jogadores a carga probatória da comprovação, decorrente do sistema acusatório;
 No que tange à equivoca aproximação da vítima ao processo penal, foi inserido o art. 387, IV do
CPP, segundo o qual o juiz deve fixar limite mínimo de indenização em caso de sentença
condenatória; foi nitidamente inserida uma questão civil no âmbito da decisão penal;
 A vítima deve ser resgatada, em observância à justiça restaurativa, mas prescrever um montante
surpresa, sem pedido, nem contraditório, fere o devido processo legal;
 Caso haja pedido expresso na denúncia ou queixa, aliado à produção probatória, ao
contraditório, aí a decisão pode e deve analisar a questão, em conformidade com o devido
processo legal substancial;
 Reconhecida a responsabilidade penal, a sentença penal condenatória poderá ser executada no
cível pelo legitimado – ofendido, representante legal e herdeiros –, de forma a se apurar o valor
da obrigação e executá-la;
 Somente o acusado poderá figurar no pólo passivo da execução cível.

5.4 Os julgadores
 Um sujeito que passou no concurso e possui um lugar de exceção na estrutura do Estado.
 As informações sobre ele devem ser buscadas e, para tanto, é preciso saber quem ele é
singularmente, ou seja, suas preferências ideológicas, sociais, criminológicas, religiosas,
processuais, etc, bem assim o grau de autonomia e reputação, dentre outras.
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 Há fatos relevantes sobre o julgador acessíveis e que simplesmente não são verificados.
 Para que se possa ter mais êxito nos jogos processuais a maior amplitude do diagnóstico e das
táticas a se utilizar melhoram a possibilidade de desempenho.
 No jogo processual penal quanto mais informações sobre quem é ou pode ser o julgador melhor.
 Embora se construa todo um semblante de racionalidade e naturalidade, o momento em que o
julgador se convence é muitas vezes um golpe de sorte.
 Evitar os erros de julgamento e ter uma postura mais realista sobre as expectativas de
comportamento do julgador no processo penal é algo possível.
 E o fator sorte faz parte do jogo processual.
 A sorte está presente nos jogos processuais penais.
 E a incerteza preside sempre.
 O fator sorte precisa ser levado a sério.
 Dada a importância de se saber quem é o julgador, entende-se, muitas vezes, a interposição de
recursos ou mesmo ações impugnativas autônomas sem qualquer perspectiva de sucesso.
 Então o sujeito julgador, diferente do indivíduo, se congrega a possibilidade de enunciar, o
exerce pela decisão.
 Devemos ser ensinados a desejar, a ensinar, a julgar, dado que nada é natural.
 A questão é saber sobre que base se está decidindo, ou seja, qual o contexto em que sabemos
que decidimos.
 O critério, pois, de uma decisão judicial é artificial, a saber, culturalmente condicionado. Não há
nada de natural nas decisões.
 Uma decisão judicial é proferida em face de uma perspectiva e de um lugar, e aparentemente de
um espectador que pode, mas não interfere, dado que colocado na condição de Deus.
 Nada escapa ao juiz ao dizer a Verdade, reparem que esta verdade não é qualquer uma, mas
Toda a Verdade.
 Topar-se com um julgador que acredita em Verdade Real é diferente de um que já superou essa
fantasia. As táticas serão diversas.
 O mecanismo mental sempre alerta é intuitivo e não exige reflexão para responder.

5.5 Os limites humanos da decisão


 A decisão comportamental é uma novidade nos cursos de Direito e a pretensão dessa mediação
foi a de proporcionar maiores informações – qualificar – os agentes jurídicos em novas
tecnologias da compreensão capazes de melhorar o processo de decisão.
 A pretensão é a de mostrar o que outras áreas do conhecimento estão estudando e, quem sabe,
aproveitar alguns de seus insights no campo jurídico.
 Os neurocientistas querem saber como os neurônios, as células individuais, operam para nos
produzir consciência.
 Os ilusionistas do Direito se valem da retórica e do silêncio. Em ambos os casos podemos
desmascará-los.
 Os pintores e a perspectiva foram os primeiros a manipular a nossa capacidade de atenção e
cognição. A ilusão de ótica é uma percepção visual dissociada da realidade observada, dada a
capacidade de deslocar a atenção e obrigar a ver algo que não existe ou está manipulado.
 São os mecanismos cerebrais que irão definir quem somos e o grau de capacidade de
compreensão da realidade, dado que – se formos humanos – dispomos de aptidões sensoriais,
motoras e cognitivas capazes de fazer previsões e nos fazer enfrentar o mundo e sua
complexidade.
 Não precisamos nos tornar neurocientistas para entender que o aparelho visual na realidade não
vê nada e que apenas promove uma série de inferências das quais o resultado é uma redução de
complexidade que chamamos de percepção.
 Os contextos de percepção modificarão o sentido.
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 O mecanismo de decisão apresenta diversos atalhos capazes de nos fazer decidir muitas coisas
no dia-a-dia.
 A partir do desvelamento desse instrumental, especialmente os vieses (erros) cognitivos,
poderemos compreender melhor como lidamos com pequenos e grandes problemas.
 O jogo processual é sempre uma aventura.
 Este livro procurou demonstrar que a ingenuidade da idealização pode ser um erro grave, bem
assim que se pode apenas prever as expectativas de comportamento, sem que nunca se possa
afirmar, antes de acontecer, o resultado de um processo penal.

CONCLUSÃO: O REI ESTÁ NU

 Piergiorgio aponta que: os autores de literatura podem descrever a visão de mundo vigente em
sua época; é inútil tentar, compulsivamente, apelar para figurar anacrônicas na tentativa de
compreender o mundo atual.
 A melhor opção para atores talvez seja o fingimento da sinceridade.
 A decisão é baseada em diversos fatores para além do racional.
 O livro guarda semelhança com realismo e pragmatismo ao apelar para metáfora do jogo e da
guerra.
 O mundo é singular e complexo, de modo que tentamos simplificar e acabamos retirando o
direito do mundo da vida.
 O livro busca não reconhecer o platonismo.
 Apesar das várias lições, é preciso entender que o contexto alterará o momento do
acontecimento hermenêutico.
 A decisão é um evento singular e incerto, mas sem preparação e treinamento se torna uma
verdadeira incógnita sem sentido.
 É preciso atenção aos fundamentos das decisões.
 O livro aposta em: devido processo legal substancial baseado numa perspectiva constitucional
no processo pena; singularidade do jogo processual, do caso fático, dos jogadores e do julgador.
 O jogador deve: buscar o máximo de informações possíveis; se atualizar constantemente sobre
as informações; testar a credibilidade das informações; entender que existirão informações
desfavoráveis e refletir sobre estratégias acerca delas; evitar saídas ilusórias.
 Mais que informações, é preciso conhecer os interesses envolvidos e os personagens do jogo.
 O jogador sempre terá um gap de informações e precisa se preocupar com isso.
 O treinamento e a preparação teórica contrapõem preguiça, facilidade e fatalidade.
 Informações internas ao processo em específicos, como padrão tático dos jogadores, padrão de
decisão do julgador, etc.
 Informações externas ao processo em específico, como a mídia, jurisprudência, etc.
 O sujeito possui um pano de fundo emocional, ou seja, um inconsciente que precisa ser levado
em conta porque se apresenta no jogo processual penal.

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