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Faculdade Católica Dom Orione

Antropologia Jurídica

Araguaína-TO
2021
Nome dos integrantes:
° Nathália Sena F. Morais
° Ana Júlia Prudente Barbosa
° Pedro Henrique Leite Santana Sandes
° Thainá Valéria Pereira Silva
° Suzana Pereira da Silva Marinho
° Kyara Rodrigues Ribeiro
° Savanna Rodrigues Ribeiro
° Kemelly Furtado da Silveira
° Alana do Carmo Nascimento
°Kaius Vinícius Barbosa Carvalho
°Jakeline Rodrigues Guimarães
Introdução

O presente artigo é um estudo de campo feito no período entre os anos de 2008 e


2012 no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e possui o intuito de abordar sobre a
imparcialidade judicial, a partir de uma perspectiva empírica, ou seja, não dogmática.

Para contextualizar, autor decide retomar o tema da sua tese de doutorado sobre a
imparcialidade devido o fato da divergência que se instalou no campo jurídico sobre a postura
do ex-Juiz Sergio Moro na condução dos processos da operação Lava Jato, especialmente
após as repercussões do vazamento de suas conversas com o coordenador da força-tarefa,
DeltanDallagnol,divulgadas pelo periódico The Intercept, a partir de junho de 2019.

Por fim, dentre os distintos aspectos do tema da imparcialidade judicial, o autor


sistematiza o texto de forma a tratar, primeiro, do discurso normativo sobre o tema da
imparcialidade judicial e, depois, descrever as falas e representações dos entrevistados acerca
do tema, problematizando, ao final, a partir da “Vaza-Jato”, os sentidos atribuídos pelos
operadores do sistema de justiça ao dever de imparcialidade dos magistrados.

O discurso do "dever-ser": A imparcialidade judicial na legislação

A imparcialidade é incorporada pela doutrina processual, civil e penal. O significado


discursivo do princípio da imparcialidade judicial está ligado a ideia de que as partes têm o
direito ao julgamento da lide por um juiz que seja imparcial, e que possa conduzir o processo
de forma neutra, ou seja, os juízes não podem ter nenhum interesse pessoal em relação ao
resultado do processo.

No código da ética da magistratura é interessante ressaltar que a imparcialidade está


prevista no artigo 8. Sendo assim, o magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a
verdade dos fatos, com objetividade, mantendo ao longo do processo uma distância
equivalente das partes.
Fica claro que o objetivo e ideia central sobre parcialidade na visão doutrinária
significa ao desejo de equidistância do juiz,em relação às partes.

Os diversos sentidos e representações atribuídos à imparcialidade judicial: “a


imparcialidade é um exercício de comportamento...é um mito”

Dizer que a imparcialidade é algo imprescindível para bem exercer a carreira jurídica é
algo que todo estudante de Direito ouve, mas não somente, os demais cidadãos também têm
consciência de que só serão bem julgados por um indivíduo sem parcialidade, conforme a lei,
isso é o que deveria acontecer, mas na prática a realidade é outra.

Baptista em sua pesquisa, salientando o que dissera os magistrados, expõe um cenário


fantasioso sobre a imparcialidade, onde ela se constrói como uma espécie de fábula em que as
pessoas precisam acreditar para se sentirem seguras e terem a certeza de que estarão sendo
julgadas com plena equidade. Ao mesmo passo o Judiciário, sabendo que existe parcialidade,
precisa atuar como imparcial, de forma que seja transmitida essa segurança para a sociedade,
a fim de que ela não se sinta desamparada ou injustiçada e acabe fazendo justiça com suas
próprias mãos. Por um lado é uma falsa segurança, mas por outro acaba impedindo que as
pessoas ajam por si só e coloquem em risco a tranquilidade social. É como o poder simbólico
de Bourdieu, é fazer ver e fazer crer, ou seja, atuar (por parte do judiciário) e acreditar (por
parte dos cidadãos).

O superego da magistratura: entre "ser" e "parecer ser" imparcial

O superego trata-se de um elemento estrutural do nosso psicológico que impõe


sanções, normas e padrões, é como se fosse um "juiz" em nossa mente, que diz o que é moral
ou não.
Primeiramente, comparando ao tema em debate, deve-se destacar a grande
necessidade que o sistema judiciário tem de enfatizar a narrativa de que o judiciário é
"imparcial", pois, como vários interlocutores destacam, não basta apenas ser imparcial
também é necessário que pareça que é imparcial para todos. As opiniões sobre a parcialidade
ou a imparcialidade do judiciário divergem muito entre profissionais do direito. Muitos
acreditam que em certo ponto todos são parciais, sem intenções acabam julgando o modo
como as pessoas falam, se vestem ou se comportam, por isso antes de um julgamento o
advogado sempre prepara o físico do seu cliente, pois a imagem é a primeira julgada. E o
superego funciona como uma ferramenta de sanção desse julgado, ela rapidamente repreende
os magistrados, para que não sejam parciais devido algum elemento que não tem haver com o
caso.

Em sequência a autora traz diversos relatos de magistrados, sobre a importância de ser


e parecer imparcial em toda circunstância. Mais adiante a autora trata do superego, segundo o
texto, o superego vem do dever de parecer imparcial e é uma condição humana. No final do
tópico a autora afirma que os magistrados julgam de maneira imparcial, objetiva e racional,
não acessando seu emocional.

Entre a neutralidade e a imparcialidade

Nesse ponto, surgiu, durante o trabalho de campo, a distinção entre os conceitos de


neutralidade e de imparcialidade, entre os entrevistados. Em primeiro lugar, tal neutralidade é
absolutamente impossível, uma vez que o juiz, como qualquer ser humano, exerce seu
trabalho embasado em razão e emoção. Já na imparcialidade, ressalta que o juiz deve ser
imparcial sem ser neutro. A imparcialidade que se espera é a que resulta da ausência de
qualquer interesse pessoal do juiz na solução da demanda.

Para Barbosa Moreira dizer que o juiz deve ser imparcial é dizer que ele deve conduzir
o processo sem inclinar a balança, ao longo do itinerário, para qualquer uma das partes. Outra
coisa é pretender que o juiz seja neutro, no sentido de indiferente ao êxito do pleito, que o
processo leve a desfecho justo.
Já para Martins, o juiz para ser imparcial deve estar atento ao mundo ao seu redor, a
desumanização seria uma exigência da neutralidade, mas não da imparcialidade, porque o juiz
possui opiniões pré-formadas sobre determinados âmbitos da realidade, que podem constituir-
se objeto de seu julgamento.

A fala de uma juíza, relata que “ falar em imparcialidade é muito complicado porque
todos nós possuímos opiniões diferentes sobre algo. “Você não é um quadro em branco, que
decide só com a argumentação que as partes informam no processo’’.

“Fazer mágica” para “fazer justiça”

As leis são objetivas em seus sentidos, e foram criadas para sanar qualquer lacuna
sobre a problemática trabalhada, porém, existem casos que a lei não consegue suprir sua
verdadeira necessidade, que através da lei não é possível alcançar a justiça devida, e na
verdade, a verdadeira justiça nem sempre se resume em seguir a Lei.

Nesse sentido, surge a dúvida da imparcialidade dos juízes, segundo o texto, baseado
nas entrevistas com profissionais da área com experiência, muitos não acreditam nesta
imparcialidade, mas defendem em isso ser algo bom, o juiz segue a vontade dele diante um
caso, ele vai se esmerar, procurar argumentos para justificar a sentença, que ele queria,
provavelmente desde o início.

Esse tipo de resultado transparece a humanidade que é inevitável, o juiz não pode
ignorar a lei, aliás, deve sempre a seguir, mesmo que não concorde, mas, existe sempre
aqueles que vão “puxar daqui e dali”, para fazer uma justiça que não se expressa na Lei.

A afirmativa de que “os juízes fazem o que eles querem” tem também outro sentido
nesta tese: o de que eles fazem as suas escolhas segundo sua percepção pessoal sobre o que é
justo. E, portanto, pensar em um sistema neutro ou imparcial é idealizar e sublimar o que a
empiria revela ser inviável. É transformar em crença um discurso que não tem
correspondência empírica. “Fazer o que quer” significa decidir segundo uma convicção
pessoal sobre o que parece ser o mais justo diante de determinada situação. E isto é permitido
porque o sistema não está permeado por padrões, protocolos e consensos. Cabe, a cada um,
individualmente, e contraditoriamente, preencher de significados e representações o conteúdo
da lei, da prova, dos fatos, da doutrina, do processo, da verdade.

De acordo com a percepção de cada um, você pode dar uma interpretação diferente. E
tal ato não irá mudar, nem com súmula vinculante, nem com outra normal qualquer, afinal, o
direito é formado através da realidade geral e é durante o caso concreto que o direito se
particulariza . A percepção de quem tá julgando nunca vai ser igual. E esse pluralismo de
ideias é bom. Essa mistura de coisas, divergências de pensamento, tudo isso é muito bom. E
cada caso é um caso, faz parte do sistema.

Considerações finais

Sobre a postura do ex-Juiz Sérgio Moro, comprometida por suas convicções pessoais
e sensos particularizados de justiça, apontando, sua relação pessoal com o ministério público,
que é recorrente no sistema de justiça. Sentenças proferidas por juízes comprometidos por
moralidades e intenções particulares que interferem na jurisdição prestada. As práticas
judiciárias e as decisões são orientadas por percepções subjetivas dos operadores e por suas
interpretações pessoais sobre a lei, os fatos e as provas produzidas. O trabalho revela que os
magistrados transitam em um sistema de crença na sua própria imparcialidade. E que os
resultados dos processos judiciais estão comprometidos com os sensos de justiça particulares
dos profissionais do direito que os conduzem. Os dados comprovam que os juízes conduzem e
decidem os processos judiciais a partir de moralidades que servem mais para justificar a
parcialidade que exercem do que propriamente para reforçar o seu papel de julgador
imparcial.

O comportamento do ex-Juiz Sérgio Moro na condução dos processos da operação


Lava Jato não se apresenta como extraordinário ou incomum, mas sim como revelador de uma
lógica e de uma cultura jurídica que centraliza no Juiz as escolhas sobre fatos, evidências,
verdades, leis, interpretações e sensos particularizados de justiça. O ex-Juiz Sérgio Moro e a
operação "Lava-Jato'' são, portanto, a mais pura explicitação do sistema de justiça brasileiro.
Sugestões de livros e filmes

Falando de imparcialidade, um exemplo de filme muito interessante é “Doze Homens


e uma Sentença”, roteiro de Reginald Rose. Quando se assiste ao filme inicialmente talvez
não fique tão claro o conciliar com a necessidade de ser imparcial, mas quando analisado de
maneira crítica é possível reconhecer a possibilidade de que o réu rapidamente tenha sido
considerado plenamente culpado, por onze dos doze jurados, por ser um jovem imigrante no
país, de pele escura e pouca condição financeira. Se foi realmente isso que ensejou sua culpa,
trata-se de uma atitude parcial por parte do júri, o réu deve ser analisado pelo que fez ou
deixou de fazer, e não por sua etnia, cor ou classe social.

As demais indicações são: “Democracia em Vertigem”, um documentário brasileiro de


Petra Costa; “For Life”, a série de drama jurídico produzida pelo rapper estadunidense 50 cent
e estrelada por Nicholas Pinnock, é inspirada vida de Isaac Wright Jr. Isaac foi acusado
injustamente de ser um traficante de drogas e assim condenado à prisão perpétua. Enquanto
cumpria pena, o ex-presidiário aprendeu sobre Direito para que pudesse provar sua inocência
e anular a condenação; o filme “A Firma”, baseado em “The Firm” de John Grisham, que traz
Tom Cruise como Mitch McDeere, um jovem advogado vai trabalhar com um alto salário e
diversas vantagens em uma firma em Memphis. Por fim, indica-se também o livro “A
Simbologia da Imparcialidade do Juiz”, de Geovany Cardoso Jeveaux.

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