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7 de Outubro de 2021

O Juiz e o princípio da imparcialidade

TCC apresentado no 2º semestre de 2017 - Itaboraí /RJ

RESUMO

O objeto de estudo tem como finalidade fazer uma reflexão sobre o


princípio da imparcialidade do juiz, começando por discorrer sobre os
princípios e sua importância, já que estão na base do nosso arcabouço
jurídico, o seu papel no desenvolvimento do processo, a função social do
processo e os reflexos possíveis deste princípio, bem como, as distinções
sobre o princípio da neutralidade e a imparcialidade no ato de julgar. Faz-
se mister, algumas situações que devem ser observadas pelo magistrado
quando utiliza os poderes instrutórios a ele conferidos, bem como se
evidencia que o juiz ativo irá contribuir para a efetividade jurisdicional e
também para concretização do Estado Democrático de Direito. Desse
modo, o objetivo final deste trabalho é analisar até que ponto é utilizado
este princípio na prática, e se o mesmo é exercido, por meio de pesquisas
bibliográficas, documentais e qualitativas através de entrevistas com os
magistrados.

Palavras chave: Imparcialidade. Juiz. Justiça. Princípios. Processo.

ABSTRACT

The object of study aims to reflect on the principle of impartiality of the


judge, starting by talking about the principles and their importance, since
they are the basis of our legal framework. its role in the development of the
process, the social function of the process and the possible reflexes of this
principle, as well as, the distinctions on the principle of neutrality and
impartiality in the act of judging. It is prominent, some situations that must
be met by a magistrate when uses the powers instrutórios him conferred, as
well as evidenced that the judge active will contribute to the effectiveness of
jurisdiction and also to achieve the democratic rule of law. In this way, the
ultimate goal of this work is to analyze to what extent is used this principle
in practice, and whether it is exercised, through research, documentation
and quality through interviews with the judges.

Keywords: Impartiality. Judge. Justice. Principles. Process.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF Constituição Federal

NCPC Novo Código de Processo Civil

CPP Código de Processo Penal

SUMÁRIO

1.
INTRODUÇÃO..............................................................................
...................11

1.1.
JUSTIFICATIVA...............................................................................................
12

1.2.
OBJETIVOS.....................................................................................................1
4

1.2.1. Objetivo Geral


...............................................................................................14

1.2.2. Objetivos Específicos


...................................................................................15
1.3.
METODOLOGIA..............................................................................................
15

1.4. ESTRUTURAÇÃO DO
ESTUDO.....................................................................16

2. REVISÃO DE
LITERATURA...........................................................................17

2.1. PRINCÍPIOS
gerais......................................................................................17

2.2. O
JUIZ..............................................................................................................19

2.3. A FUNÇÃO DO
PROCESSO...........................................................................21

2.4. A IMPARCIALIDADE COMO


REGRA.............................................................25

2.5. A imparcialidade sob a ótica de grandes pensadores............32

2.6. IMPARCIALIDADE E
NEUTRALIDADE..........................................................34

2.7. MEDIDAS GARANTIDORAS DA


IMPARCIALIDADE.....................................36

2.8. PARCIALIDADE POSITIVA DO


JUIZ..............................................................41

3. ESTUDO DE
CASO.........................................................................................4
5
4. RESULTADOS E
DISCUSSÕES....................................................................52

CONSIDERAÇÕES
FINAIS........................................,....................................56

REFERÊNCIAS.............................................................................
...................59

1. INTRODUÇÃO

A decisão judicial correta e justa mostra-se essencial à pacificação social


devendo ter como finalidade precípua a ser alcançada por todos os
operadores do direito e mais especificamente para o juiz. E, para que a
jurisdição prestada seja efetiva, faz-se mister tratar das questões
relacionadas as fases a quem incumbe essa tarefa, o magistrado.

Este trabalho tem o objetivo de abordar a importância do princípio da


imparcialidade para o exercício da atividade jurisdicional, sendo este
princípio um pressuposto essencial de validade do processo, em que o
magistrado é a peça fundamental.

Nessa mesma direção, o termo princípio de modo geral é associado a ideia


de origem, começo, início, o ponto de partida que se deve seguir. Desse
modo, principio no âmbito jurídico significa que todo o ordenamento
jurídico deve servir de base e fundamentos ao direito, são a grosso modo a
“coluna vertebral” do direito, onde tudo parte dele e se encerra nele.

Assim, este trabalho irá tratar dos princípios processuais constitucionais,


garantidos constitucionalmente, tendo em vista, a sua grande relevância.
Desta forma, os princípios, não somente servem de orientação ao juiz, no
momento de proferir sua decisão, mas também constitui um limite ao seu
arbítrio, garantindo que a decisão não está em desacordo com o espírito do
ordenamento jurídico e que suas decisões não violam a consciência social.

Nesse passo, o juiz é um garantidor da efetivação dos princípios devendo as


partes serem tratadas de formas iguais, bem como suas decisões finais
sejam baseadas nas provas contidas no processo e suas fundamentações na
forma da legislação.

Logo, falar em juiz imparcial, significa dizer que o mesmo não deve obter
para si qualquer interesse em relação as partes do processo, preocupando
tão somente com a concretização da justiça. Em sentido contrário está a
neutralidade, que dispõe àquele que se fecha a qualquer influência, seja
ideológica ou subjetiva.

Não obstante, deve-se levar em consideração a parcialidade positiva do juiz,


onde é preciso reconhecer a existência das diferenças, sejam elas, sociais,
econômicas ou culturais das pessoas que compõem a relação jurídica
processual, compreendendo que essas nuances podem em certas
circunstâncias, causar danos efetivos na persecução de um processo
uniforme e justo.

Dessa forma, este estudo tratará sobre os fundamentos da imparcialidade


do juiz, bem como outros princípios ligados a ele como o princípio da
motivação das decisões, do juiz natural e da isonomia, assim como, a
magnitude dos princípios no devido processo legal.

Assim, mostra-se a relevância do presente estudo para o processo


contemporâneo, em todas as áreas, tendo em vista, que não se pode mais
“fechar os olhos” para que a atividade jurisdicional chegue ao final sem se
ter a certeza efetiva acerca da solução encontrada. Diante disso, decorre a
importância da atitude do juiz no processo, agindo com imparcialidade, e
buscando a efetiva justiça.

1.1. JUSTIFICATIVA

O objeto de estudo tem como finalidade fazer uma reflexão sobre o


princípio

da imparcialidade do juiz e seu papel no desenvolvimento do processo, a


função social do processo e a importância deste princípio.

O magistrado, através de suas decisões, tem o papel de dizer o direito,


criando assim uma figura de grande importância social
O Juiz tem como função restabelecer a igualdade rompida pelas partes, a
desigualdade gerada em torno de conflitos, como por exemplo, um acidente
de trânsito, onde as partes deveram recorrer ao judiciário buscando a
solução para seu problema, e o juiz, por sua vez, deverá decidir de acordo
com a legislação, estabelecendo assim a igualdade rompida por ambas as
partes. (SILVA, 2012, p. 01)

Nesse sentido, destacam-se alguns instrumentos legais que ordenam o


princípio da imparcialidade, através de uma abordagem específica
priorizando o exercício da atividade jurisdicional na composição de lides,
explícitos na Constituição Federal, em seu art. 5º, LIV; o Código de
Processo Civil respectivamente em seu art. 139, I; o Código de Ética da
Magistratura Nacional, arts. 8º e 9º.

Para fazer uma análise do princípio da imparcialidade faz-se necessário, um


estudo de alguns temas fundamentais para que se entenda a amplitude do
princípio.

Conforme posicionamento dominante, os princípios que informam o


processo civil que estão previstos constitucionalmente são: o princípio da
ampla defesa, princípio do contraditório, princípio da igualdade das partes
perante a lei, princípio da imparcialidade do juiz, princípio do duplo grau
de jurisdição, princípio da motivação das decisões judiciais e princípio da
publicidade do processo e dos atos judiciais. (NETO, 2002, p. 524).

É primordial, analisar o conceito de princípio, que conforme os


ensinamentos do doutrinador Morvan (2007, pág. 548) o princípio é
sinônimo de começo; e este foi o primeiro significado utilizado. Contudo,
depois, quando colocados em uso, são aplicados por hábito,
mecanicamente, sem agregar ideias, e fazendo com que os princípios não
sejam começo de nada.

Logo, o princípio da imparcialidade é um pressuposto de validade do


processo devendo o juiz colocar-se entre as partes e acima delas, sendo esta
primeira condição para que o magistrado possa exercer sua função
jurisdicional.
Segundo o doutrinador Medina (2015, p. 258) “O processo demanda
solucionar, mediante terceira pessoa, uma lide. Este terceiro é um órgão
instituído pelo Estado para o desempenho da função jurisdicional. O agente
que exerce essa função deve atuar com imparcialidade, não podendo ter
interesse em que o conflito seja solucionado em favor desta ou daquela
parte. Sendo assim, as partes sempre devem ser tratadas isonomicamente
pelo juiz”; ainda acrescenta que: “o juiz deve atuar de modo imparcial e
neutro, o que não significa dizer que o deve o juiz atuar de modo passivo, já
que deve atuar motivado pelos valores sociais e econômicos que refletem
nos princípios que informam o sistema jurídico”.

Com efeito, imparcial é o juiz que não tenha interesse no objeto do


processo, nem queria favorecer uma das partes, assim a imparcialidade
decorre da exigência de igualdade no tratamento dispensado às partes na
relação processual; isto é, o juiz imparcial não é o que se mantém
indiferente ao que ocorre no processo, mas o que, vale-se dos poderes
instrutórios que o ordenamento lhe oferece, empregando-os de modo
imparcial para atingir os conhecimentos fáticos imprescindíveis para a
decisão mais favorável. As provas, mesmo quando produzidas por
determinação do juiz e não por iniciativa de uma das partes, se indicarem
que se deva dar ganho de causa a um dos lados, não podem ser confundidas
com parcialidade, se o contraditório foi respeitado. Não se pode confundir o
juiz ativo, que busca a verdade dos fatos, com o juiz parcial, que
propositalmente se afasta da verdade.

Tradicionalmente a imparcialidade é esculpida por uma mulher com olhos


vendados e com uma espada na mão e a balança equilibrada noutra.
Todavia, não há negar, é temeridade dar uma espada a quem está de olhos
vendados. Ademais, como visto no princípio jurídico, muitas vezes a
balança está desequilibrada. Logo, o mais correto é permanecer com os
olhos da Justiça abertos para ver as desigualdades e igualá-las.
(PORTANOVA, 2013, p. 151)

A discussão acerca da neutralidade e a imparcialidade é extensa, sendo a


ideia de neutralidade judicial, compreendida como insensibilidade ou
indiferença ao resultado do processo, porém, não se justifica de modo
algum com a imparcialidade. Esta exige um juiz atuante, ativo, preocupado
com o desfecho justo do processo, imbuído em buscar uma tutela efetiva
dos direitos subjetivos e não somente a correção formal dos procedimentos.

O caráter de imparcialidade é indivisível do órgão da jurisdição. O juiz


coloca-se entre as partes e acima delas: este é o primeiro requisito para que
possa exercer sua função dentro do processo [...] (GRINOVER, 2002, p. 51)

Desta forma, não pode mais progredir esse mito de que todo juiz neutro, é
indiferente a todos os acontecimentos, é apolítico ou acrítico, pois o juiz
tem sim um engajamento axiológico, acredita em algo, possui princípios;
sendo assim, suas decisões são motivadas por aquilo em que julga
acreditar, pela sua experiência profissional e de vida, portanto, a atividade
do julgador tem um engajamento ideológico, mesmo sendo considerada por
muitos que desejam a manutenção do “status quo”, uma atividade neutra,
em que o julgador não pode levar em consideração os fatos sociais de sua
época e demonstrar valores na motivação de sua sentença.

Assim, esse tema é de grande relevância para o mundo jurídico, traz


consigo a ideia do juiz que tem o dever de zelar por um processo justo.
Deste modo, as partes têm o direito de exigir um juiz imparcial, e o Estado,
em contra partida ao fato de ter reservado para si o exercício da função
jurisdicional, tem o dever de agir com imparcialidade na solução de causas
que lhe são submetidas.

1.2. OBJETIVOS

O princípio da imparcialidade é um meio que garante a isonomia no


processo, com a finalidade de concretização da verdadeira “justiça”.

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar o princípio da imparcialidade em relação as decisões do juiz, com a


realização de entrevistas na Comarca do Município de Itaboraí-RJ.

1.2.2. Objetivos Específicos


· Apresentar os conceitos que envolvem os temas: princípio da
imparcialidade, princípio da neutralidade e o papel do juiz;

· Observar as normas legais existentes sobre o tema, como Leis, Súmulas e


Jurisprudências.

· Comparar os princípios da imparcialidade, neutralidade e juiz natural;

· Compreender qual o real papel do juiz no processo e no paradigma


democrático;

· Compor análise da Comarca da cidade de Itaboraí, nas varas criminais,


civis e de família, através de entrevistas com os juízes.

· Entrevista com os juízes (Criminais, civis e família) da Comarca de


Itaboraí – RJ.

· Fazer uma análise comparativa entre a teoria (doutrinas) do princípio e a


prática, conforme as entrevistas realizadas.

1.3. METODOLOGIA

Primeiramente será realizada uma pesquisa bibliográfica que consiste na


fundamentação de conhecimentos proporcionados pela Biblioteconomia e
Documentação, entre outras ciências e técnicas empregadas de forma
metódica envolvendo a identificação, localização e obtenção da informação,
fichamento e redação do trabalho científico. Esse processo solicita uma
busca planejada de informações bibliográficas para elaborar e documentar
um trabalho de pesquisa científica.” (SALOMON, 2004, p. 13)

Portanto, será realizada diversas pesquisas, principalmente dos


doutrinadores: Rodolfo Pamplona Filho (2012), Pierro Calamandrei
(2000), Theotonio Negrão (2016), Dalmo Dallari (2015), Jorge Mário
Helton (2006), Luiz Paulo Germano (2017), Artur César de Souza (2008)
entre outros.
Em seguida uma pesquisa aplicada, com aplicação prática dirigidos à
solução de problemas, ou seja, uma pesquisa qualitativa, através de
entrevistas com os magistrados da Comarca de Itaboraí. Por fim, serão
realizadas pesquisas documentais em Leis, Códigos, Súmulas e
Jurisprudências, e tudo que permeiam o Princípio da Imparcialidade.

1.4. ESTRUTURAÇÃO DO ESTUDO

No que se refere à organização, o presente estudo se divide em quatro


capítulos distribuídos da seguinte forma:

No capítulo 1, Introdução, são apresentadas as ideias iniciais, além dos


elementos pré-textuais que definem e delimitam o objeto de estudo, tais
como a Justificativa, o Objetivo Geral, os Objetivos Específicos, a
Metodologia e está presente Estruturação do Estudo.

No capítulo 2, Referencial Teórico, são apresentadas as fundamentações


teóricas do tema, utilizadas como base para o desenvolvimento do presente
trabalho, conceituando o juiz, a função do processo, a imparcialidade como
regra, a neutralidade no ato de julgar, medidas garantidoras da
imparcialidade, bem como a parcialidade positiva do juiz

No capítulo 3, Pesquisa aplicada, é demonstrado como o princípio da


imparcialidade se faz presente no diaadia do magistrado, do judiciário e das
partes, e como este princípio é executado na prática nas decisões judiciais
por meio de entrevistas realizadas com os magistrados da Comarca de
Itaboraí.

No capítulo 4, Resultados e Discussões, será apresentado uma análise


comparativa entre as doutrinas referentes ao princípio e a prática de acordo
com o estudo de caso.

Por fim as Conclusões e Recomendações do trabalho buscam objetivar


possíveis contribuições para os trabalhos futuros.

2. REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo será abordado de forma teórica os conceitos referentes ao
princípio da imparcialidade e outros fundamentos relativos ao mesmo.

2.1. PRINCÍPIOS GERAIS

Os princípios jurídicos são preceitos, leis ou pressupostos considerados


universais, que definem regras pela qual uma sociedade deve se orientar.
Os princípios são ordenações que irradiam os sistemas de normas.

Logo, os princípios auxiliam o juiz na apreciação das ações, sendo


utilizados em todas as áreas, seja no momento de sua decisão, ou como
limite ao seu arbítrio, garantindo que a decisão não está em desacordo com
o ordenamento.

É de extrema importância o estudo dos princípios, pois constituem as


fontes primordiais para todos os ramos do direito, abrangendo tanto em
sua formação como em sua aplicação.

No início, os princípios não tinham força de norma jurídica. Eram


exortações de ordem moral ou política (ROTHENBURG, 2003, p.13),
recomendações, ideias de direção. No Brasil, até a chegada da Constituição
Federal de 1988, as normas constitucionais e os princípios jurídicos não
apresentavam efetividade em função do “não reconhecimento de força
normativa aos seus textos e da falta de vontade política de dar-lhes
prestabilidade direta e imediata” (BARROSO; BARCELLOS, 2003, p.142).

Com a evolução do Direito, os princípios foram reconhecidos como normas


de eficácia jurídica e aplicabilidade direta e imediata. Deixaram de ser
simples indicações para se tornarem comandos dotados de juridicidade.
Comandos estes que devem ser obedecidos por todos e que servem de lastro
para a satisfação rápida de direitos subjetivos.

A importância dos princípios é tão grande que o doutrinador MELLO


(2000, p. 748), afirma que violar um princípio é muito mais crítico que
transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio provoca ofensa
não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema
de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade,
consoante o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.
(MELLO, 2000, p 748)

Os princípios, na lição do doutrinador Amaral (2005, p. 445):

[...] são os pensamentos diretores de uma regulamentação jurídica,


critérios para a ação e para a constituição de normas e de institutos
jurídicos; como diretrizes gerais e básicas, servem também para
fundamentar e dar unidade a um sistema ou a uma instituição.

Acrescenta Paulo Bonavides, que os princípios são as normas das normas, a


fonte das fontes e o penhor da constitucionalidade das regras de uma
constituição. (BONAVIDES, 2009, p. 294)

Já a leitura dos princípios como meio de supressão de lacunas legislativas é


feita por Marques, enquanto para Theodoro Júnior, os princípios são
inspirações para a aplicação prática das leis formais.

Para Pinho os princípios são considerados como valores do ordenamento


jurídico na medida em que, representam “o polo legitimador da dogmática
jurídica em um Estado Democrático de Direito, pois traduzem a essência, a
razão última, enfim, os valores a que inspiram um dado ordenamento”.
(PINHO, 2012, p. 130)

Os princípios devem servir de base, como sendo o condutor da justiça,


trazendo para o mundo jurídico valores consagrados pela sociedade, com o
aspecto de norma estruturante e o sentido material que carregam, de modo
distinto de meras regras de conduta, merecem ser vistos sob o ponto de
vista axiológico e transpassando assim todo o Direito.

2.1.2. Princípios processuais constitucionais

Pode-se aferir, que o vínculo entre o processo e a constituição é marcante,


haja vista a existência de vastas garantias e direitos fundamentais previstos
pela constituição. Assim, os princípios processuais foram se tornando
matéria de texto constitucional, resultado de toda uma evolução da era.
Além disso, mesmo os princípios que embora não apareçam no texto
constitucional, vinculam à aplicação da ciência jurídica processual.

Como destaca Bueno (2012, p. 132), os princípios constitucionais do


processo são os rudimentos jurídicos que definem e norteiam o modo como
a atividade processual deverá ser entendida e aplicada. Não são, portanto,
meros limites negativos à atuação do Estado-juiz, proibindo-o de assumir
comportamentos que violem os mencionados princípios; também o são,
sem dúvida, mas há neles algo mais. Tais preceitos vinculam positivamente
a prestação jurisdicional, impondo que ela se paute por seu controle, que
tenha por base os seus valores quando chamada a agir; os princípios
impõem, por fim, uma determinada maneira de ser, um standard
processual que se identifique com o quadro de valores da Constituição.

Outrossim, quando se refere aos princípios processuais constitucionais,


indica as normas de direitos e garantias fundamentais que regem e
fundamentam o modelo único constitucional do processo brasileiro,
podendo, segundo as normas concepções de princípios jurídicos, tratar-se
de princípios ou regras jurídicas aplicáveis, a depender do referencial
teórico que se utilize para analisá-las. (SANTOS, 2016, p. 125 e 126)

Por fim, os princípios constitucionais do processo são um conjunto de


normas de direito processual, porém, não se trata de um ramo autônomo
do direito e sim uma classificação de um conjunto de normas que se
encontram inseridas na constituição. Onde o princípio da imparcialidade, o
ponto central desse estudo, é classificado como princípio processual
constitucional.

2.2. O JUIZ

O juiz através de suas decisões, tem o papel de dizer o direito, tornando-se


assim, uma figura de grande importância. O magistrado representa para a
sociedade, uma pessoa capaz de solucionar os problemas, sendo
considerado um “ícone” da justiça para a sociedade.

2.2.1. A figura do juiz


É indubitável que o juiz não é um mero aplicador da lei, que apenas aplica a
norma e extrai uma solução, mas sim, uma pessoa “comum” que traz
consigo suas experiências, sentimentos, conceitos, opiniões, que refletem
diretamente na hora da decisão.

Juiz no direito é aquele que administra a justiça com a função de aplicar a


lei; é aquele que julga, que tem o poder de julgar alguém ou alguma
situação. (DICIONÁRIO, 2013, p. 01)

“O juiz é um dos sujeitos do processo” (MIRABETE, 2006, p. 236), assim,


ele se situa na relação processual entre as partes e acima delas, de modo
desinteressado, assim, segundo Mirabete (2006, p. 236), o juiz ocupa
posição proeminente na relação processual, sendo o detentor do poder
jurisdicional e presidente do processo.

Assim, o juiz é de fundamental importância para a pacificação dos conflitos,


é ele quem aplica a letra da lei ao caso concreto, visando um resultado
justo.

2.2.2. O papel social do juiz

O papel do magistrado não se limita a aplicação restrita da lei, mas que vai
além dela.

Do ponto de vista de Dallari (2017, p.89), um juiz não pode ser escravo de
ninguém, nem de nada, nem mesmo da lei.

Nesse contexto, ressalta-se também quanto ao papel do juiz na conduta


social, o que engloba tanto a vida pessoal quanto a profissional, pois o cargo
alcança as responsabilidades não só no processo, como também pelo
respeito necessário da função.

Assim, entre tantos critérios com relação a conduta social, o contato com a
sociedade é imprescindível para um bom juiz, já que de modo geral, têm-se
a ideia de um juiz distante, restrito e que aparentemente limita-se apenas o
que é trazido aos autos.
Dallari (2017) diz que, o afastamento do juiz revela uma certa
superioridade quanto às demais pessoas, assim, prejudicando a visão da
sociedade a respeito do judiciário.

Compreende-se que um juiz sobrecarregado de trabalho não tenha muita


disposição para ouvir com paciência ou para traduzir em temos da
linguagem comum as expressões técnicas. Mas em grande parte, essa
dificuldade de compreensão e diálogo está ligada a uma atitude de
superioridade em relação às pessoas comuns e à falta de percepção de que,
muito mais do que um aparato formal, a magistratura bem exercida é um
serviço relevante para o povo. Essa inconsciência de seu papel social influi
para que o juiz fique longe do povo e, em última análise, prejudica a
apuração da verdade e a realização da justiça, reduzindo a utilidade e o
prestígio do Judiciário (DALLARI, 2017, p. 146).

De fato, faz-se necessário, quebrar o padrão, ter uma consciência de um


papel social na conduta do magistrado, que tenha respeito com toda a
coletividade, independente de classes e que diminua a longitude do
judiciário com a sociedade, desmistificando a imagem de um juiz
inacessível e enigmático.

2.2.3. Poderes e deveres do juiz no Novo Código de Processo Civil


de 2015

O NCPC/2015 (BRASIL, LEI 13.105/2015, 2015) trouxe grandes inovações e


o modelo cooperativo, de fato, é promitente, não só para o juiz, mas para
todos os operadores do direito. Dentro desta ótica, é necessário que o
magistrado seja visto como um agente colaborador para a efetiva prestação
jurisdicional, do que uma figura afastada que decide sem qualquer
participação dos demais.

É claramente ressaltado no artigo 139, da Lei 13.105 de 16 de Março de


2015:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;


II - velar pela duração razoável do processo;

III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e


indeferir postulações meramente protelatórias;

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou


sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com


auxílio de conciliadores e mediadores judiciais. [...]

Nesse sentido, o juiz deve estar sempre atento, quanto a eficiência de cada
processo, e mesmo se houver uma limitação de sua atuação, deve o
magistrado ser participativo, ao passo que, chamando a atenção das partes
para as suas obrigações, bem como, cooperando para que ao final, o
resultado seja satisfativo.

2.3. A FUNÇÃO DO PROCESSO

O processo tem como função primordial a tutela plena, efetiva e útil dos
direitos e interesses legalmente resguardados. O direito de impugnar
implica o direito de obter uma decisão que aprecie a pretensão, que só é
possível por meio do processo.

2.3.1. Jurisdição

A jurisdição é uma das incumbências do Estado, mediante a qual, esse se


substitui aos titulares dos interesses, as partes, para de modo imparcial
buscar a solução do conflito, envolvendo assim, também, a justiça, que é
feita em razão da atuação da vontade do direito objetivo, que rege assim o
caso concreto, porventura, por interferência do processo.

Como explica o processualista Chiovenda, definindo jurisdição como a


função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei
por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de
particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da
vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva. (CHIOVENDA, 2005,
p.3)

Dessa forma, entende-se que jurisdição, como atividade executada pelo


Estado que objetiva a aplicação do direito ao caso concreto, que foi trazido
a juízo. Portanto, na teoria processual, a jurisdição é o que oportuniza tanto
a ação quanto o processo, isto é, quando o sujeito procura a autoridade para
a resolução do litígio, caracterizando assim, a ação, já o processo é toda a
estrutura em si.

2.3.2. Processo como meio de pacificação social

O processo tem como fundamental importância trazer a garantia de


legalidade processual, assegurando assim, a igualdade e a liberdade.

Como descrito pelo doutrinador Galeano Lacerda, fala-se muito em


interesse público na preservação do rito, do due process of law, como um
valor absoluto e abstrato, para justificar as devastações concretas que a
injustiça de um decreto de nulidade, de uma falsa preclusão, da frieza de
uma presunção processual desumana, causa à parte inerte. Não. Não é isto
fazer Justiça. Não é para isto que existe o processo. Esquecem, os que assim
pensam e agem, que os valores e os interesses no mundo do direito não
pairam isolados no universo das abstrações; antes, atuam, no dinamismo e
na dialética do real, em permanente conflito com outros valores e
interesses. Certa, sem dúvida, a presença de interesse público na
determinação do rito. Mas, acima dele, se ergue outro, também público, de
maior relevância: o de que o processo sirva, como instrumento, à justiça
humana e concreta, a que se reduz, na verdade, sua única e fundamental
razão de ser. (LACERDA, 1991, p. 174)

Ressalta-se, que o processo é um conjunto de atos essenciais à obtenção da


solução pertinente, por via jurisdicional, de um determinado caso concreto.
Ademais, o processo é um instrumento de pacificação social, pois através
dos meios alternativos de resolução de conflitos, a mediação, conciliação e
arbitragem, possibilitam soluções mais vantajosas e significativas. É
importante salientar também, que esses meios alternativos possuem a
mesma finalidade do processo judicial, que é a solução do litígio, porém,
com mais celeridade e eficácia.

2.3.3. Busca da verdade real e o poder instrutório do juiz

Muito embora, há divergências dos doutrinadores quanto a este tema, não


se pode omitir que o princípio da verdade real tem natureza constitucional,
mesmo sendo implícito, mas extremamente ligado a outros princípios.

No direito processual brasileiro, o juiz deve buscar a verdade real, ou seja,


conhecer dos fatos efetivamente, para assim, dizer a questão posta em
causa, narra mihi factum dabo tibi jus, narra me os fatos e te darei o
direito.

Frisa-se assim, com o artigo 5º, da Lei de Introdução as Normas do Direito


Brasileiro:

Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige
e às exigências do bem comum. (LINDB - Decreto Lei nº 4.657 de 04 de
Setembro de 1942)

Desse modo, o juiz tem o papel ativo no que concerne a produção de


provas, podendo quando for necessário, determinar de ofício a produção
probatória. No âmbito processual, vigora o princípio da livre investigação
das provas em busca da verdade, justiça, que é chamado por muitos
processualistas de ativismo judicial.

Além disso, os poderes instrutórios do juiz são subsidiários, visto que,


primeiramente as partes postulam as provas que pretendem produzir, e o
juiz pode determinar outras provas ou não.

Outrossim, pode-se afirmar que a verdade não é premissa absoluta para


uma decisão justa, como também, é justificável a obtenção de decisões com
base em simples probabilidades, ligados à experiências e vivências.

Luigi Ferajoli (2002, p. 03) anota:


[...] ‘É que ao juiz incumbe velar por um processo justo, havendo de decidir
com base em prova sólida, firme e SEGURA, não podendo decidir apenas
calcado em indícios ou conjecturas. Isto é, deve o Magistrado moderno
largar-se na produção de provas, a fim de que a sua decisão espelhe a
VERDADE do processo! Enfim, que a sua decisão seja obra de justiça!
(FERRAJOLI, 2002, p. 3)

No poder instrutório do juiz, assim como em outros atos, deve-se verificar o


princípio da paridade de armas:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento. [...] (Lei
nº 13.105 de 16 de Março de 2015)

Logo, é assegurado as partes a igualdade de tratamento no processo, sendo


vedadas as decisões surpresas, segundo o artigo 9º:

Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida. (Lei nº 13.105 de 16 de Março de 2015)

2.3.4. Princípio do livre convencimento motivado ou da


persuasão racional

Este princípio diz que o juiz tem liberdade de avaliação e decisão, quanto
aos fatos trazidos e produzidos no processo, tendo a autonomia do seu livre
convencimento. Destaca Portanova que o juiz é livre para basear seu
convencimento tanto naquilo que as partes fazem (ativamente) no
processo, como naquilo que elas deixam de fazer. Sem dúvida, é em relação
à liberdade de examinar as provas e crer ou não no que elas pretendem
provar que a doutrina mais se detém (PORTANOVA, 1999, p. 245).

Do mesmo modo, no princípio do livre convencimento motivado, têm-se a


liberdade de convicção, contudo, há de ser executada de forma motivada, o
que remete a outro princípio, da motivação das decisões, que será abordado
mais a frente.
Nesse sentido, a livre convicção do julgador não vincula-se as regras legais,
e sim, livremente com sua consciência. Esse sistema, é bastante utilizado
nos julgamentos do Júri Popular, pois apenas com as repostas dos quesitos
apresentados são suficientes para a decisão final.

Um exemplo desse sistema está no artigo 479, NCPC:

Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art.
371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a
deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método
utilizado pelo perito. (BRASIL. CPC. Lei nº 13.105/2015)

O princípio na visão da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o


princípio da persuasão racional habilita o magistrado a valer-se do seu
convencimento, a luz dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos
pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto.
(STJ, AgRg no AREesp 399.206/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, j.
19/11/2013.)

Logo, o julgador não está adstrito ao entendimento das partes, nem à


tarifação das provas, tendo a autonomia de apreciá-las, para a interpretação
do direito e na justificação da sua decisão.

No Processo Penal, também é salientado no artigo 155 do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (BRASIL,
CPP, art. 155)

Portanto, este princípio é um instrumento fundamental de efetiva justiça,


tornando-a assim mais célere, sendo que, ao juiz ficará o entendimento da
produção de provas necessárias para o seu convencimento, assim, evitando
em muitos casos, a produção de provas dispensáveis, o que se fosse
concedido, postergariam ainda mais o processo, não podendo haver assim,
o questionamento da tese do cerceamento da defesa, isto é, se o magistrado
decidiu, é porque já existem provas suficientes para a sua decisão final.
2.4. A IMPARCIALIDADE COMO REGRA

Para ser válido e legítimo o exercício da jurisdição, é indispensável que os


operadores do direito em nome do Estado, que exercem atividades
inerentes à jurisdição, atuem com imparcialidade.

Assim, o juiz é a peça principal, pois está diretamente ligado e não pode ter
nenhum relacionamento com as partes do processo e os advogados,
defensores, para que não se envolva de modo a ficar em alguma situação de
dúvida quanto a sua isenção para o julgamento do caso concreto.

Na Declaração dos Direitos Humanos, que foi adotada pelas Nações Unidas
em 1948, em seu artigo 10, já trata de forma objetiva esse relevante tema:

Artigo 10º Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua
causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente
e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de
qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
(BRASIL, DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS)

Para tanto, desde sua formação acadêmica à escola da Magistratura, é


necessário estudar a fundo todos os princípios, em especial o da
imparcialidade, pois ele é pressuposto de validade, devendo assim, o juiz se
colocar entre as partes, para exercer suas funções precípuas, com mais
cautela.

Dada a sua importância, consta também no Código de Ética da


Magistratura, que possui um capítulo próprio, em seu artigo 8º:

Art. 8º. O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade
dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o
processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de
comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou
preconceito.

A imparcialidade do juiz é a garantia de justiça entre as partes, certamente,


o juiz imparcial é aquele que não possua nenhum interesse no processo,
muito menos, que queira favorecer uma das partes.
O doutrinador Artur César de Souza (2008), entende a imparcialidade
como regra, a imparcialidade, no âmbito processual, apresenta a estrutura
de regra jurídica (...), porque diante das hipóteses de impedimento ou
suspeição do juiz, a abstenção ou recusa do magistrado é, de rigor, de
maneira ou-tudo-ou-nada. Não há exceção, ou a regra é válida ou não é.
(SOUZA, 2008, p. 101)

Igualmente, Égon Moreira, é lavado em consideração da qualidade da


imparcialidade também como regra:

“Inexiste imparcialidade enfraquecida, ou que eventualmente incida em


alguns casos e noutros não. Trata-se de valor absoluto.” (MOREIRA, 2000,
p.37)

Desse modo, é fundamental que o juiz seja ativo no processo, para garantir
que se concretize os direitos e garantias fundamentais dispostos na
Constituição Federal (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).

Segundo Michele Taruffo (2009), o juiz imparcial não é o que se mantém


alheio ao que ocorre no processo, mas o que, valendo-se dos poderes
instrutórios que o ordenamento lhe disponibiliza, emprega-se de modo
imparcial para atingir os conhecimentos fáticos necessários para a melhor
decisão. (TARUFFO, 2009, p. 122)

Decerto, o juiz imparcial é aquele que conduz o processo “sem inclinar a


balança”, assegurando às partes igualdade de tratamento.

É sabido, que embora a Constituição Federal não trate expressamente da


imparcialidade, é sim um princípio, pois em seu artigo 5º permite a
existência d e princípios e direitos fundamentais não expressos. Assim, a
origem do princípio da imparcialidade dos juízes está sedimentada no
mandamento constitucional de que “todos são iguais perante a lei”, essa
isonomia não permite que o julgador dê tratamento diferenciado, seja para
favorecer, seja para prejudicar, com o objetivo de aproximar a justiça na
prolação da sentença.
Nesse mesmo sentido, a imparcialidade procura que, antes de proferir a
sentença, o magistrado não tenha prejuízos com relação aos fatos da causa
sub judice. Esse princípio tem como escopo afastar qualquer possibilidade
de influência sobre sua decisão.

Na visão de Piero Calamandrei (2000, p. 126):

Imparcial deve ser o juiz, que está acima dos contendores; mas os
advogados são feitos para serem parciais, não apenas porque a verdade é
mais facilmente alcançada se escalada de dois lados, mas porque a
parcialidade de um é o impulso que gera o contra-impulso do adversário, o
estímulo que suscita a reação do contraditor e que, através de uma série de
oscilações quase pendulares de um extremo a outro, permite ao juiz
apreender, no ponto de equilíbrio, o justo.

Por fim, o princípio da imparcialidade conduz a designar a proibição de


qualquer conduta por parte do julgador, que importe em algum favoritismo
no tratamento a qualquer uma das partes.

2.4.1. Natureza jurídica da imparcialidade do juiz

Como descrito pelo doutrinador Artur César de Souza (2008), a princípio,


que não há na Constituição Federal regra positivada acerca desse princípio.
Contudo, a própria Carta Magna prescreve as vedações e direitos para o
exercício da magistratura, que objetivam assegurar aos jurisdicionados que
o processo será dirigido por um julgador imparcial. Porventura, no Código
de Processo Civil (BRASIL, LEI 13.105/2015, 2015), nos artigos 144-148, há
previsão das hipóteses de suspeição e impedimentos, que serão comentados
em um capítulo próprio mais adiante. É positivado também, no Código de
Ética da Magistratura, tendo um capítulo próprio e também em
jurisprudências e na vasta doutrina.

Dessa forma, a garantia da imparcialidade é consagrada como princípio e


um direito fundamental, portanto, muito embora não haja referência
expressa na Constituição Federal de um princípio ou de um direito
fundamental subjetivo à imparcialidade do juiz, pode-se dizer que essa
incorporação provém dos preceitos contidos em Tratados ou Pacto
Internacionais. (SOUZA, 2008, p. 56)
Este novo alicerce do princípio do direito fundamental ao juiz imparcial
deve refletir as insatisfações sociais com os resultados até então
apresentados por um Poder Judiciário que, apesar de seu ótimo padrão
estrutural tecnológico, ainda fornece resultados pífios representativos de
um país periférico vitimado pela ordem globalizada, perversa e injusta de
um sistema mundo dominante.

2.4.2. Fundamentos valorativos da imparcialidade

São os princípios que valoram, acrescentam, dão base para que em


conjunto, tenham um maior significado para o princípio da imparcialidade.

2.4.2.1. Princípio da motivação das decisões

O princípio da motivação das decisões, está expressamente sedimentado no


artigo 93, IX da Constituição Federal:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,


disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes
princípios:

IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação;

Também é solidificado no Código de Processo Civil em seu artigo 11:

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. (Lei nº
13.105 de 16 de Março de 2015)

A fundamentação é a parte mais importante na decisão, pois nela o juiz


subsumirá os fatos em contraposição às normas, fixando todas as bases
legais. É um procedimento no qual o juiz deve traçar todas as premissas
com intuito de chegar a conclusão.
Além disso, motivar significa fundamentar, explicar as razões de fato e de
direito, fazendo necessário para enriquecer e uniformizar as
jurisprudências, que servem de base para aqueles que colaboram para a
evolução e aplicação do direito.

Assim, a obrigação de motivação, assegura as partes, que suas pretensões


serão devidamente apreciadas, e se surgir alguma divergência, poderão ser
requeridos mediante via recursal.

Segundo Herval Sampaio, essa garantia é uma das mais importantes


hodiernamente se pensarmos na acepção material, pois quando os juízes
têm a obrigação de motivar fática e juridicamente as suas decisões, o
cidadão fica assegurado de que, pelo menos teoricamente, o seu direito será
apreciado com mais vagar e cuidado, sendo possível, inclusive, a
discordância em algumas situações (SAMPAIO, 2008, p. 157).

A motivação da sentença preserva os interesses públicos e particulares,


portanto, verifica em concreto a imparcialidade do juiz e das suas decisões.
A decisão motivada mostra o entendimento dos “porquês” do julgador, que
é imparcial, sendo tal princípio a verdadeira garantia inerente ao Estado de
direito.

O protagonismo judicial colide na garantia fundamental constitucional de


fundamentação das decisões jurídicas, na medida em que a Carta Magna
consagrou em seu artigo 93, IX, o principio segundo o qual é necessário a
fundamentação de toda decisão judicial, onde todos os julgamentos deverão
ser públicos, e que todas as decisões serão fundamentadas, sob pena de
nulidade. Logo, pode-se concluir, que qualquer decisão proferida que assim
não o faça, esbarra nesta garantia, ferindo a autonomia do direito.

Por fim, reafirma-se a necessidade de


motivação, além de se tratar de garantia
de constitucionalidade, caso não for
observada predispõe a nulidade do
processo.
Ademais, não se admite
fundamentações insuficientes, ou
meramente pautadas em noções
políticas ou indefinidas, tendo o juiz o
dever de formar suas decisões nos
elementos de fato e nas razões trazidas
pelas partes ao processo, demonstrando
de forma clara e concisa as justificativas
que o levaram a chegar naquela decisão.
2.4.2.2. Princípio do Juiz natural ou do juízo natural

Este princípio é encontrado na Constituição Federal, em seu artigo 5º, em


dois incisos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção. (BRASIL,
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988)

O princípio do juiz natural é o alicerce essencial para a proteção da


democracia, como também, um restringente para o poder coercitivo do
Estado.

Esse princípio visa a coibir a criação de tribunais de exceção, isto é, a


vedação de constituir juízes para julgar casos específicos, sendo que, terão a
incumbência de julgar sem discriminação toda a coletividade.

O princípio do juiz natural é uma base elementar para a soberania do


Estado Democrático de Direito e ao mesmo tempo, um limitador para o
poder coercitivo estatal. O juiz natural será aquele investido no Poder
Judiciário, sendo de extrema relevância o respeito às garantias
institucionais e pessoais destinadas ao pleno exercício do cargo. Assim, há
três requisitos que estabilizam este princípio segundo Gonçalves (2009, p.
33-34): “primeiro, o julgamento deve ser conduzido por aquele munido de
jurisdição; segundo, o órgão jurisdicional deve ser preexistente ao conflito;
e terceiro, a causa deve ser submetida à apreciação de juiz imparcial
conforme as regras constitucionais.” O mesmo autor ainda destaca que, não
será motivo de ofensa ao princípio do juiz natural a mudança de
competência, pois está possibilidade já está positivada pela Constituição
Federal.

Contudo, essa vedação não alcança a justiça especializada, que é a


atribuição de atividade jurisdicional do Estado entre vários órgãos de poder
judiciário. Sob o viés subjetivo, o princípio do juiz natural encerra a
imparcialidade.

Em suma, o princípio do juiz natural, fundamenta-se na garantia que todas


as partes só serão submetidas a julgamentos imparciais, justos, nos quais
terão a probabilidade de demostrar seus argumentos sem juízos
preliminares ou intervenções, que assim intentem a moldar o resultado do
julgamento.

2.4.2.3. Princípio da Isonomia

Ter isonomia entre as partes significa a igualdade real, uma vez que os
sujeitos processuais são distintos, devendo assim serem respeitados em
suas diferenças. Como já dizia Aristóteles, assegurar a igualdade é tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, como medida da
desigualdade deles.

Consagrado no caput do artigo 5º da CF:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes (...) (BRASIL, Constituição Federal de
1988)

É positivado também no artigo 7º, Código de Processo Civil:


Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos
ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz
zelar pelo efetivo contraditório. (Lei nº 13.105 de 16 de Março de 2015)

Portanto, será através do fundamento isonômico que o magistrado


interpretará o texto da constituição, analisando os princípios ou direitos
fundamentais em conflito na relação jurídica.

De acordo com Cândido Rangel Dinamarco (2008), neutralizar


desigualdades significa promover a igualdade substancial, que nem sempre
coincide com uma formal igualdade de tratamento porque esta pode ser,
quando ocorrente essas fraquezas, fonte de terríveis desigualdades; a tarefa
de preservar a isonomia consiste, portanto, nesse tratamento formalmente
desigual que substancialmente iguala. (DINAMARCO, 2008, p. 209)

Logo, o princípio da isonomia é o direito que tem os litigantes de receberem


idêntico tratamento pelo juiz (NERY, 2016, p.48), porém, o que se objetiva
é a efetiva e potencial igualdade entre as partes, consiste também, em
assegurar a paridade de participação e oportunidades, levando em
consideração as várias desigualdades entre os litigantes.

2.4.2.4. Imparcialidade objetiva e subjetiva

A imparcialidade objetiva do juiz resta comprometida quando o magistrado


realiza pré-juízos ou pré-conceitos sobre o fato do julgamento. Todavia, a
imparcialidade é chamada “objetiva” porque deriva não da relação do juiz
com as partes, mas de sua prévia relação com o objeto do processo. O
subjetivismo do juiz é objeto de estudo da imparcialidade subjetiva, nesta
imparcialidade, tem-se em conta o alheamento do juiz em relação as partes,
quer sejam eles as partes em litígio, quer seja o próprio Judiciário com seus
valores ou, a sociedade que tenta influir na atividade judicial, tudo isto na
ideia de manter o juiz equidistante para não intentar a igualdade. Dessa
forma, a imparcialidade subjetiva está intimamente ligada a uma percepção
centralizada no julgador.
Temos de ter sempre em mente sua diferença essencial: na objetiva,
indaga-se pela relação entre juiz e processo; na subjetiva, entre juiz e as
pessoas processuais ou extraprocessuais, sejam elas, as partes, sociedade e
Judiciário. (OLIVEIRA, 2010, p. 199)

A imparcialidade subjetiva procura reconhecer o nível de alheamento do


juiz no processamento do resultado, isto é, o nível de compatibilidade de
sua ação em relação ao princípio da igualdade, já o fundamento da
imparcialidade objetiva é o de detectar o nível de interesse impessoal da
sociedade no resultado do processamento, ou seja, o nível de
compatibilidade ou conformação do processo em relação ao princípio do
devido processo legal.

2.5. IMPARCIALIDADE DO JUIZ SOB A ÓTICA DE GRANDES


PENSADORES

O direito, seja ele, codificado ou commow law (que é o direito que se


desenvolveu em alguns países, tendo como base, decisões dos tribunais, e
não por atos executivos ou legislativos), vai se desenvolvendo
gradativamente e sofrendo constantes modificações, pois vai se efetivando
de acordo com o tempo e as necessidades. Enquanto a literatura e os
pensamentos dos filósofos vão além do tempo e esclarecem pontos para que
seja possível ministrar a justiça.

Assim, destaca-se a hermenêutica, sendo uma forma de julgar mais


congruente com os dias atuais.

A partir dessa ideia, inúmeros autores passaram a indagar de forma


abstrata, várias situações na área jurídica, analisando assim, o papel do juiz
perante a sociedade, na investigação da lei.

Na concepção de François Ost, há três modelos de juízes:

Segundo Lamas (2014, p.37):

Júpiter seria a “a boca da lei”, encontrando-se vinculado à hierarquia das


normas, ao modo do direito proposto por Hans Kelsen, não se preocupando
com a realidade social de cada indivíduo. Já o modelo Hércules, que
Dworkin denominou seu juiz ideal, está sustentado na figura do juiz “que
faz a lei”, sobrepondo-se à generalidade da lei para dar aos fatos a
possibilidade de solução dos problemas sociais. O juiz Hermes, por sua vez,
assume o papel de um grande mediador e comunicador, capaz de articular o
Direito com os diversos discursos jurídicos e políticos.

O texto de François Ost, denominado “Júpiter, Hércules e Hermes: três


modelos de juiz”, expõe modelos associados a características de deuses da
mitologia, correlacionando-os a paradigmas diferenciados de direito e
jurisdição.

Júpiter é o juiz inteiramente legalista, sendo o foco a lei, que expressa sua
visão de direito, cabendo-lhe procedimentos técnicos e legalistas para seu
fiel cumprimento. Ele aplica literalmente as leis e códigos, adstrito à
hierarquia e pirâmide de normas (Hans Kelsen) sem preocupação com a
realidade social.

Hércules é o juiz assistencialista, típico do estado social. Esse juiz, faz com
que a efetividade seja conquistada na existência de lacunas, via aplicação
dos princípios, é um juiz proativo, não se contenta como o modo positivista.
Ele inverte a pirâmide mostrando-se um operador que transforma a
generalidade e abstração da lei em algo concreto.

Hermes é um novo modelo de juiz que se relaciona com o direito na figura


de uma rede, interligando uma multiplicidade de atores. Sua atuação não se
reduz nem a improvisação, nem a simples determinação de uma regra
superior, conseguindo dialogar com todos as regras e valores da pós-
modernidade.

Ost destaca: “o censo comum como sendo, muitas das vezes, julgador de
nossas atitudes e formador de nossos conceitos enquanto seres atuantes na
sociedade. Vai mais adiante quando diz que as mentes de todos sujeitos
societários são guiados por estes conceitos pré-estabelecidos, não se
excluindo então a figura do juiz, no exercício de sua função. (2013, p. 5)”

Segundo Streck (2015, p.227), a literatura humaniza o direito e contribui


para instituição do mesmo, através dos temas liberdade, igualdade,
diferença, etc.
Sustenta ainda, Streck (2015, p.200), que a literatura tem capacidade de
reforçar e/ou desconstruir conceitos, dando dupla possibilidade,
consolidação e problematização, à análise do Direito:

Esta dupla possibilidade – de consolidação e de problematização -, visto


que tais alternativas não são excludentes, relaciona-se com o fato de as
obras literárias remeterem à visão de mundo da época e da cultura em que
são produzidas e resulta do modo como nelas se encontram imbricados
elementos de automatização e elementos de estranhamento, ou seja, os
textos literários tanto incorporam a tradição cultural quanto fundam novas
compreensões do humano.

A partir daí começa a se observar a exaltação do subjetivismo do sujeito


ativo jurisdicional, que no caso compreende a figura do juiz, levando-o a
construir hermeneuticamente seu posicionamento perante seus julgados.

Streck (2015) se baseia em obras literárias para afirmar este subjetivismo


como em Medida por Medida ou o Mercador de Veneza, ambas de
Shakespeare. Ressalta ainda Ost com seu juiz piramidal, nomeado também
como Juiz Júpiter, que segundo Streck (2015, p.233), é “aquele que
representa o modelo liberal-legal, de feição piramidal-dedutiva, isto é,
sempre dito a partir do alto, de algum “Monte Sinai” [...]”.

E por fim se lembra de Azdak (1992 apud STRECK, 2015, p.234), na peça
de Brecht (2015):

É bom para a justiça funcionar ao ar livre. O vento lhe levanta a saia e pode-
se ver o que está por baixo. [...]Contam a meu respeito que um dia, antes de
pronunciar a sentença, eu saí para respirar o cheiro de uma roseira. [...]Me
traga aquele livro grosso, que eu sempre faço de almofada para sentar!
(Schauva apanha em cima da cadeira de juiz um grande livro, que Azdak se
põe a folhear). Isto aqui é o Código das Leis, e você é testemunha de que eu
sempre fiz uso dele, sentando-se sobre o livro.

Assim, as vertentes e modelos de juiz estabelecidos pelo atuante do Direito


Streck, demonstrando que a imparcialidade se encontra arraigada em um
dos sujeitos mais importantes da relação processual jurisdicional: o juiz.
2.6. IMPARCIALIDADE E NEUTRALIDADE

O magistrado, por força do seu dever de imparcialidade, deve-se colocar


entre as partes, mas equidistante delas, assim, ouvindo uma, e não podendo
deixar de ouvir a outra, dando o direito de expor suas razões, provas e tudo
que possa influenciar acerca do seu convencimento.

A propósito, somente pelo montante da parcialidade dos sujeitos da relação


processual, uma representando sua tese e a outra a antítese, para deste
modo, o juiz corporificar a síntese, em um processo dialético.

Ao passo que, a neutralidade deveria permitir que o magistrado


dispensasse as suas vivências da vida e crenças, sejam elas, filosóficas,
espirituais ou ideológicas, no funcionamento de suas atividades
costumeiras.

A imparcialidade é a condição da atividade jurisdicional que tem por


finalidade afastar qualquer possibilidade de influência sobre a decisão
proferida, pois a principal incumbência de encontrar a verdade e a justiça.

O doutrinador Taruffo (2009), explica que o juiz imparcial não é o que se


mantém alheio ao que ocorre no processo, mas o que, valendo-se dos
poderes instrutórios que o ordenamento lhe disponibiliza, emprega-os de
modo imparcial para atingir os conhecimentos fáticos necessários para a
melhor decisão. As provas, mesmo quando produzidas por determinação do
juiz e não por iniciativa de uma das partes, se indicarem que se deva dar
ganho de causa a um dos lados, não podem ser confundidas com
parcialidade, se o contraditório foi respeitado. Não se pode confundir o juiz
ativo, que busca da verdade dos fatos, com o juiz parcial, que
propositalmente se afasta da verdade, portanto, para ser imparcial, o juiz
não é obrigado a ser passivo e neutral no âmbito do processo: ser imparcial
não significa não tomar posição, isto é: permanecer neutro. (TARUFFO,
2009, p. 122).

O princípio da imparcialidade do juiz é entendido como ideia de um técnico


conhecedor de ordenamento jurídico e neutro na realização de todos os
seus atos, não podendo ser confundida com a neutralidade.
Já a neutralidade, é um atributo que se mostra totalmente distinto, o juiz
neutro é aquele que julga com total isenção, despido de vontade
inconsciente e que não se importa com o resultado da demanda. Uma
conduta neutra, pode ser considerada um tanto quanto perigosa, no sentido
de os julgadores cometerem várias injustiças, apenas declarando o direito
preexistente, um direito proveniente do Estado em que uma minoria,
detém o poder de legislar.

Coelho (2011), afirma uma tese sobre o “princípio da subsunção”, que


determina que as decisões judiciais se apresentem racionalmente como um
silogismo lógico garantidor da neutralidade do juiz”, observa que uma
decisão judicial não é propriamente neutra, pois o juiz é portador de
valores, crenças e preconceitos de toda ordem, conscientes ou não, herdeiro
de um passado teórico que interfere no resultado decisório (COELHO,
2011, p. 77).

O julgador, assim não é alguém afastado da política e não pode desmerecer


as repercussões que sua decisão trará para as partes e, em muitas
condições, também para a sociedade como um todo. Essa “condição
política”, contudo, não o impede de ser imparcial:

O que se procura estabelecer é a diferença entre imparcialidade e


neutralidade do juiz, submetendo- se à evidência de que, nas decisões
judiciais, se o magistrado deve ser imparcial em relação aos interesses sub
judice, ele não deve ser neutro em relação aos problemas que a aplicação
das normas jurídicas sói suscitar no meio social (COELHO, 2011, p. 77-78).

Em obra aplicada à imparcialidade, Isabel Trujillo (2007) explica que:

A imparcialidade implica a posição “ativa” no julgamento, ao contrário da


neutralidade, que comporta a abstenção ou a omissão; o julgamento
consiste precisamente em tomar partido em um conflito de partes, sob
determinadas condições, a favor de uma ou de outra (TRUJILLO, 2007, p.
71).

A imparcialidade, diferentemente da neutralidade, não pode ser rejeitada,


pois é um requisito indispensável para a concretização da justiça. É nesse
sentido, de que é impossível pensar em justiça sem imparcialidade, que
podemos afirmar com Spaemann: chamamos justo a aquele que, nos
conflitos de interesse, examina de que interesses se trata e está disposto a
passar ao largo de quem são os interesses que estão em confronto
(SPAEMANN, 2010, p. 65).

A imparcialidade requer do juiz um esforço para suspender seus


preconceitos e tendências de favorecimento sem se desinteressar pelas
circunstâncias que o caso concreto apresenta, como explicam Garapon,
Allard e Gros (2008, p. 36):

(...) a imparcialidade proíbe o juiz de tomar parte a priori em uma causa


que ele deverá julgar, sem que isso signifique lhe exigir uma posição neutra.
A neutralidade, como a imparcialidade, é o fato de não tomar parte. Mas
enquanto a neutralidade interdita todo julgamento, a imparcialidade, ao
contrário, supõe somente uma suspensão do julgamento, isto é, uma
colocação em condições para julgar em seguida de maneira autônoma. Dito
de outra forma, a virtude da imparcialidade sublinha a responsabilidade do
juiz que se esforça para suspender seus preconceitos e se abrir ao caso
concreto a ser julgado.

Assim, justiça exige sempre imparcialidade. Aquele que tem como tarefa
punir, distribuir, corrigir ou recompensar segundo certas normas precisa
aplicá-las colocando em primeiro plano os interesses que estão em jogo e
não as pessoas que possuem tais interesses. Pode ser que, em um conflito
qualquer, quem julga proteja os meus interesses e não os da outra parte,
mas aí “não será porque sejam meus, mas porque são mais importantes de
acordo com o seu conteúdo”, como diz Spaemann (2010, p. 65), ou seja,
porque naquela situação os meus interesses são mais valiosos que os da
outra pessoa segundo os padrões normativos socialmente válidos.

Portanto, pode-se afirmar que a ideia de neutralidade, é entendida como


insensibilidade ou indiferença ao resultado do processo, não se justificando
dessa maneira e, de modo algum, pode ser confundida com imparcialidade.
A imparcialidade exige um juiz atuante, ativo, temeroso com o desfecho
justo do processo, persuadido em buscar uma tutela efetiva dos direitos
subjetivos e não apenas a correção formal dos procedimentos e preceitos.

2.7. MEDIDAS GARANTIDORAS DA IMPARCIALIDADE


2.7.1. Suspeição e impedimento

O magistrado tem a incumbência de possibilitar a garantia de


imparcialidade aos litigantes, não bastando ao juiz ser imparcial, é preciso
também que as partes não tenham desconfiança ou objeção dessa
imparcialidade. A lei específica traz os motivos que podem afastar o juiz da
demanda, espontaneamente ou por ato das partes. São de duas ordens: os
impedimentos conforme o art. 144, CPC/2015 (BRASIL, LEI 13.105/2015),
de cunho objetivo, peremptório, e a suspeição conforme o art. 145,
CPC/2015 (BRASIL, LEI 13.105/2015), cujo reconhecimento, se não
declarado de ofício pelo juiz, demanda prova.

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções


no processo:

I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,


funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento
como testemunha;

II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;

III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou


membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;

IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,


ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;

V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa


jurídica parte no processo;

VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer


das partes;

VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha
relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
advogado de outro escritório;

IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. [...] (Lei nº


13.105 de 16 de Março de 2015)

O julgador tem o múnus de oferecer a garantia e segurança da


imparcialidade aos litigantes. Não bastando ser imparcial, é necessário que
fique exposto às partes para não restarem dúvidas inerentes a essa
“imparcialidade”. Desta maneira, a suspeição e o impedimento contribuem
para um processo justo e isonômico.

Art. 145. Há suspeição do juiz:

I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;

II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes


ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca
do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do
litígio;

III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu
cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;

IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das


partes. [...] (Lei nº 13.105 de 16 de Março de 2015)

Estão previstas também no artigo 252 e 254 do Código de Processo Penal


(BRASIL, DECRETO LEI 3.689/1941, 1941), as causas de impedimento, que
diz que são vínculos objetivos do juiz com o processo, involuntariamente de
seu ânimo subjetivo, sendo descobertas, geralmente, dentro do processo.
Destarte, prevalece na doutrina que a inobservância das causas de
impedimento tem como efeito a inexistência do ato processual. Já as causas
de suspeição, dispostas no artigo 254, estão ligadas ao animus subjetivo do
juiz quanto às partes, e em regra são encontradas externamente ao
processo. Uma decisão proferida por um juiz suspeito é causa de nulidade
absoluta. Ambas são hipóteses que distanciam a competência do juiz.

O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

Art. 252

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em


linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou
advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da
justiça ou perito;

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido


como testemunha;

III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de


fato ou de direito, sobre a questão;

IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha


reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente
interessado no feito. (BRASIL, DECRETO LEI 3.689/1941, 1941)

O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:

Art. 254

I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a


processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro


grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de
ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;

V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no


processo. (BRASIL, DECRETO LEI 3.689/1941, 1941)

Dessa forma, o impedimento implica na proibição absoluta ao exercício da


jurisdição, cabendo ação rescisória da decisão proferida por juiz impedido.
Já a suspeição autoriza apenas a recusa do juiz, que pode ser aceito pela
parte, o que não impede que o juiz de ofício declare a própria suspeição. A
sentença emitida por juiz suspeito não é nula nem rescindível.

2.7.2. Requisitos retóricos da sentença

Segundo Brum, os requisitos retóricos da sentença pretendem atender a


realização da efetiva segurança jurídica. Por intermédio deles, é dificultado
que o juiz tome atitudes autoritárias, resguardando a imparcialidade do
julgador.

Para Brum (1980, p. 72):

Geralmente chegando o momento de prolatar a sentença penal, o juiz já


decidiu se condenará ou absolverá o réu. Chegou a essa decisão (ou
tendência a decidir) por vários motivos, nem sempre lógicos ou derivados
da lei. Muitas vezes, a tendência a condenar está fortemente influenciada
pela extensão da folha colhida do réu ou em virtude do fato de estar ele
perfeitamente integrado na comunidade, ou, ainda, pelo fato de que o delito
cometido nenhuma repugnância causa ao juiz, o que o faz visualizar tal
figura penal como uma excrescência legislativa ou um anacronismo
jurídico.

Os requisitos, que são considerados núcleos retóricos, dividem-se em


verossimilhança fática, legalidade, adequação axiológica e neutralidade
judicial.
A verossimilhança fática, é a versão eleita pelo juiz como certa para a
solução da lide. Para impedir a perpetuação dos litígios, a coisa julgada
transforma a verossimilhança em uma presunção absoluta de verdade,
muito embora, em alguns casos, o reexame dos fatos por meio de uma
revisão do processo.

Verossimilhança fática para Brum (l980, p.73), expressa-se como um efeito


de verdade:

Costumava-se dizer os processualistas mais antigos que no processo civil


prevalecia a verdade formal, enquanto que no processo penal imperava a
verdade real ou material. Tanto no cível como no crime, somente se pode
chegar à verdade formal, à verdade que é estabelecida por meio do
processo, ou seja, à verossimilhança legitimada.

Para exemplificar, demonstra-se um caso de um crime X, em que o juiz não


o presenciou, mas vai trabalhar no processo. Na fase de instrução, o mesmo
vai acompanhar diversos atos, como a oitiva de testemunhas, em que
geralmente as testemunhas de defesa dizem uma coisa e as da acusação
dizem outra, não esquecendo, além disso, o fato de que as pessoas
esquecem, devido ao nervosismo diante do juiz ou quando são interrogadas
de maneira incorreta. Também na hora de digitar podem ocorrer equívocos.
O advogado tenta mostrar que o Ministério Público está equivocado e vice-
versa. Então o que faz para chegar a verdade? Até que ponto o juiz pode ter
certeza sobre o que está decidindo? Até que ponto os jurados têm certeza
dos fatos? Neste caso, ele tem que se ater às provas para chegar à
verossimilhança dos fatos. O que se deve fazer é confrontá-las com as que
tem ‘a mão. O juiz vai ter que selecionar as provas e os depoimentos para
poder, assim, chegar à verossimilhança, ou seja, chegar o mais perto
possível da verdade (BRUM, l980, p. 81).

Independente de selecionar os fatos e os depoimentos, o julgador vai ter


que tipificar, de uma maneira ou de outra, a sua decisão, pois toda a
sentença deverá ter o efeito de legalidade, a sentença sempre deverá ter
uma vinculação legalista, isto é, não há crime se não houver lei anterior que
o defina. Assim, é fundamental para dar uma solução jurídica ao caso,
aplicar o direito ao caso concreto, dessa maneira, faz-se necessário que a
solução esteja em conformidade com o ordenamento.
De acordo com Brum, “obtida a verossimilhança fática, deve o magistrado
aplicar o Direito ao caso concreto, isto é, deve o juiz demonstrar que a sua
sentença é, por mais inovadora que seja, baseada em um preceito legal. Se o
magistrado não conseguir tal demonstração, a sua sentença será reformada
por ser classificada como arbitrária” (BRUM, l980, p.77-8).

Realizado o requisito da verossimilhança fática e do efeito de legalidade, a


sentença deve ainda ser mostrada como estando de acordo com os valores
predominantes ou emergentes de uma determinada comunidade, ou seja,
deve ser apresentada como uma sentença justa para quem a analisa. “Se o
juiz não conquistar a adequação valorativa de sua sentença, a mesma será
reformada por ser considerada injusta”. (BRUM, l980, pp.81-83).

Destarte, não basta atender a exigência de legalidade, é preciso que a


decisão se justifique na sua dimensão axiológica. Deve o juiz adequar a
solução do litígio com os valores da sociedade a que ele se introduz.
Segundo Brum (l980, pp. 82), “adequação axiológica é aquilo que está
enraizado na sociedade. É a tradição da sociedade, um conjunto de
tradições que uma sociedade tem como conceitos morais”.

A neutralidade, pode ser vista como a não pendência do juiz a qualquer das
partes, devendo julgar e prolatar sua decisão de acordo com o que foi
apresentado no processo, em matéria probatória, com imparcialidade,
embasando a sua decisão no todo lógico evidenciado. Dessa forma, deve o
juiz racionalizar o irracional, dar cientificidade ao sentimento, ou seja, deve
passar a imagem de que julga com racionalidade e cientificidade, mesmo
que seja improvável julgar sem ser influenciado por seu subconsciente.

E assim conclui o autor:

“Disso resulta que todos esses requisitos retóricos podem ser resumidos em
duas linhas de argumentação que têm por fim conciliar os dois valores
máximos entre os quais se situam as ideologias jurídicas: segurança e
equidade.” (1980, p. 87)

Por fim, no momento em que o juiz diz-se neutro, refere-se a todos os


requisitos retóricos (verossimilhança, efeito de legalidade, adequação
axiológica e neutralidade), pois ele buscou e encontrou a verdade do
processo (verossimilhança), deu a ela um efeito de legalidade e fez uma
adequação axiológica. Quando o julgador demonstra estes requisitos em
uma sentença, prova que a mesma não é arbitrária, sem justificativas, mas
sim que existe uma coesão do qual proveio tal decisão.

2.8. PARCIALIDADE POSITIVA DO JUIZ

A parcialidade positiva do juiz é fruto de uma racionalidade crítica que


busca com a totalidade do sistema vigente, com a clausura e delimitação da
vida a partir da mera conservação do sistema.

Afirma Artur Cesar de Souza (2008, p.202) que:

Na verdade o juiz não é neutro e muito menos imparcial, pois, de certa


forma, ele está vinculado às suas concepções sociais, econômicas, culturais,
psicológicas e ideológicas. É um ser histórico e fruto de seu tempo. Ao
mesmo tempo, os poderes disciplinares e biopolítico disseminados
perifericamente num determinado momento histórico da humanidade
sugestionam a sua subjetivação, bem como sua performance no âmbito da
relação jurídica processual.

Assim, parcial é aquele que atua como se fosse parte da disputa ou do


conflito, o que estabelece caráter próprio, individual e subjetivo, por outro
lado, parcial é aquilo que é parte de um todo, e isto enfatiza para um caráter
instrumental.

A imparcialidade do magistrado pode ser conceituada como característica


de alheamento subjetivo em relação às partes e a terceiros, e objetivo em
relação ao processo. Não se pode afirmar, contudo, que imparcialidade
implica ausência de parcialidade. Isto se deve, por exemplo, a situações
onde, tamanha a disparidade de armas entre as partes num conflito, um
tratamento imparcial poderia por à evidencia, ao contrário senso, uma
flagrante parcialidade. Todavia, eventual tratamento parcial somente é
admitido em relação a aspectos objetivos (parcialidade objetiva), vez que o
que se busca, em si, não é privilegiar uma parte em detrimento de outra
(parcialidade subjetiva), e sim garantir critérios de direito previamente
estabelecidos em lei ou resultantes da análise circunstanciada do caso
concreto sob exame. (FIDES, 2010, p. 198)
Observa-se que não é permissível existir um juiz privado de ideias e
preferências políticas e partidárias, pois o julgador será fruto de seus
pensamentos, assim como toda pessoa. Logo, não existirá a neutralidade
utópica pretendida pelos iluministas. As interpretações realizadas pelo juiz
serão frutos de suas ideias e conhecimentos. Assim, complementa Artur
Cesar de Souza (2008):

Tendo em vista inexistir a “neutralidade” ideológica, é utópico o


pensamento idealizador de um juiz super-homem, acima de sua falibilidade
humana, além do bem e do mal. É inegável que o magistrado não pode
permanecer vinculado às ordens ou a um programa partidário político;
contudo, é insustentável pretender que um juiz não pertença a uma
determinada concepção de ideias, que não se vincule a determinados
postulados sociais, que não tenha uma compreensão de mundo, uma visão
da realidade. É impossível, em sã consciência, imaginar alguém assim,
simplesmente porque não há pessoa que não a tenha, por pífia ou errada
que possa ser julgada. (SOUZA, 2008, p. 139)

Por sua vez, a parcialidade positiva expressa a inevitável adequação


circunstancial da imparcialidade subjetiva aos ditames jurídicos e do
ordenamento, assim percebe-se claramente que a sua finalidade de
adequar-se às demandas dos sentimentos e desejos sociais. Destaca-se que
para atuar conforme a parcialidade positiva, o julgador deverá levar em
consideração os aspectos de ordem objetiva cuja racionalidade e
juridicidade possam ser fundamentadas e palpáveis, pois são os que
direcionam a análise para os aspectos processuais jurídicos, ou seja, o mero
subjetivismo fere a imparcialidade. Assim, caracteriza Artur Cesar de Souza
(2008), a parcialidade positiva é uma parcialidade objetiva e não subjetiva:

A “parcialidade positiva do juiz” tem por finalidade a efetivação material


dos princípios fundamentais previstos na Constituição Federal. [...] Se é
dever da República a construção de uma sociedade mais justa, solidária,
erradicando-se a pobreza e as desigualdades sociais, e sendo a atividade
jurisdicional uma atividade proveniente da República Federativa do Brasil,
não há dúvida de que a realização desses fins e a execução dessas tarefas
também há de serem desenvolvidas no âmbito do processo civil ou penal.
(SOUZA, 2008, p. 203)
Na visão do doutrinador Fábio Konder Comparato (1995, p. 283), A
verdadeira justiça, muito ao contrário, é sempre parcialíssima. Ela não se
coaduna com equidistâncias formais nem se contenta com equilíbrio de
circunstância.

O autor quando afirma que a justiça é “parcialíssima”, quer simplesmente


reforçar, com o uso do superlativo, a não neutralidade do juiz ou, ao
contrário, pretende mesmo dizer que o juiz deve ser parcial e preferir uma
das partes na contenda.

No dizer de Artur Cesar de Souza (2008) a “parcialidade positiva” do juiz, é


um “ativismo judicial” baseado no reconhecimento da “alteridade do
outro”, em especial daqueles que são pobres ou socialmente fragilizados
(2008, p. 226).

A função do juiz, afirma, é realizar os princípios fundamentais da


Constituição, espelhos da unidade axiológica que dão sentido à
juridicidade.

Esses princípios, como a dignidade humana e a busca por uma sociedade


livre, justa e solidária, possuem duas funções: uma negativa, que veda
certos comportamentos, e outra positiva, que vincula o Poder Público à
prática de certas ações.

A atuação do magistrado, para o autor, está também informada por essa


função positiva, de modo que, no curso da relação jurídico-processual,
devem ser levados em consideração:

Os aspectos instrumentais necessários para a construção de uma sociedade


mais justa, solidária, erradicando-se a pobreza e as desigualdades sociais,
econômicas, culturais etc. (SOUZA, 2008, pp. 233-234).

Assim, além da parcialidade “negativa” que as leis processuais combatem,


há também a parcialidade “positiva” que os juízes devem assumir como
guia de sua ação, buscando, a todo tempo, favorecer o jurisdicionado cuja
debilidade social seja expressiva, mesmo que, para isso, tenham que
sacrificar as proporcionalidades e as equidistâncias fixadas pela ordem
jurídica.
O juiz que o autor deseja não tem os olhos vendados, pois “quer ver” quem
são as partes e quais são suas carências, elementos que poderão mesmo
levá-lo a “desequilibrar a balança” em prol do litigante socialmente mais
frágil. (LACERDA, 2016, p. 32)

Daí sua proposta de modificação do símbolo da justiça:

A venda da deusa da Justiça necessita ser retirada para que se possa


reconhecer no processo a racionalidade do outro, a sua diferença
sociocultural-político-econômica. A balança, diante da realidade latino-
americana, deve ser desequilibrada, a fim de representar as desigualdades
sociais, econômicas e culturais existentes num continente regrado por
injustiças sociais. E a espada, por fim, deveria ser substituída por uma
“lupa”, para que se possam avistar as concepções ideológicas que existem
por detrás de um determinado ordenamento jurídico de cunho capitalista e
neoglobalizante (SOUZA, 2008, p. 255).

Embora observando-se a profundidade intelectual do autor, esse


pensamento pactua-se com o abandono da imparcialidade. Certamente,
como visto, o juiz não é neutro, pois deve sempre buscar o desfecho justo
para o processo. Um julgador distante, insensível e passivo não mais se
justifica, se é que algum dia se justificou. Esse fato, porém, não possibilita o
juiz a passar ao largo do ordenamento jurídico, “desequilibrando a balança”
e preferindo antecipadamente uma das partes.

Os autores amplamente favoráveis à criatividade ou à discricionariedade do


juiz, como Mauro Cappelletti (1999), têm o cuidado de destacar que: ainda
que se admita que o juiz possa escolher um dos sentidos da lei revelados na
interpretação, esse fato “não deve ser confundido com a afirmação de total
liberdade do intérprete”, pois discricionariedade não é arbitrariedade, e o
juiz não está “completamente livre de vínculos” (CAPPELLETTI, 1999, pp.
23-24).

Entretanto, está sujeito a certas limitações processuais, como uma atitude


processual de imparcialidade, neutralidade e distanciamento” que o
possibilitará manter “um comportamento de equânime tratamento das
partes no processo, no sentido de que deve garantir a todas elas adequada
oportunidade de fazer valer as próprias razões (CAPPELLETTI, 1999, pp.
82-83).

O que implica não beneficiar nenhuma delas, mantendo “a balança


equilibrada”. Seu desequilíbrio proposital, em última análise, seria um
equívoco, porque converteria o juiz em justiceiro, afastando-o de sua nobre
missão:

A busca da justiça não pode ser feita à custa de desequilibrar a balança,


pondo em pior posição uma das partes ou substituindo o papel de
imparcialidade que lhe cabe pelo do ativismo beligerante ou do juiz
justiceiro [...] (URBANO CASTRILLO, 2005, p. 452).

Entende-se que parcialidade do juiz é uma tendência teórica que não


merece prosperar, para o bem das garantias fundamentais de todos os
cidadãos.

Afinal, imparcialidade significa que, para se adquirir o hábito da justiça,


deve-se: aplicar as mesmas normas e regras consistentemente,
independente do interesse pessoal e envolvimento emocional (HELLER,
1998, p. 29-30).

Logo, é fundamental perceber que uma justiça parcial e insensível à


realidade não é justiça no verdadeiro sentido da expressão. Como afirma
Agnes Heller, a justiça, mesmo em seu sentido formal, não é somente a
aplicação de regras a um delimitado agrupamento social, mas uma
aplicação consistente e contínua dessas regras, o que não pode nunca ser
desatrelado da imparcialidade como valor.

3. ESTUDO DE CASO

O objetivo central desta pesquisa é obter uma análise de como o princípio


da imparcialidade é visto e utilizado pelos magistrados, buscando
conhecimentos e informações necessárias para melhor compreensão e
fundamentação do estudo. Um estudo de caso procura descrever e analisar
uma situação onde há diversas variáveis a serem investigadas e é com a
investigação de todas as variáveis que será plausível compilar os resultados
obtidos para a formulação de conclusões sobre aquele tema estudado.

Busca-se com essa entrevista respostas sobre o tema principal, e como é


visto este princípio na realidade dos magistrados, que é na comarca, cada
um em suas áreas distintas, buscando ao final realizar uma comparação a
respeito do que é mostrado nas doutrinas e teorias e se possível ser
totalmente imparcial numa decisão.

3.1. ENTREVISTAS

Foi realizada através de uma pesquisa qualitativa, com roteiro de


entrevistas semiestruturados, com 5 (cinco) juízes da comarca de
Itaboraí/RJ, de áreas distintas, e por uma questão de privacidade, a
identidade dos mesmos foi mantida em sigilo. As perguntas foram divididas
em assuntos conforme o tema principal, quais sejam, o papel do juiz, o
significado da imparcialidade do juiz, a imparcialidade total nas suas
decisões, os institutos do impedimento e suspeição e a diferença da
neutralidade da imparcialidade.

3.1.1. O papel do Juiz

Ao perguntar qual o papel do juiz, foi respondido que o juiz tem um papel
preponderante na sociedade, sendo um pacificador de conflitos, quando as
pessoas não conseguem resolver entre si os seus problemas, como qualquer
pessoa civilizada pode, não resolverem os seus problemas com suas
próprias mãos, então se recorre ao judiciário e no judiciário o juiz é quem
apresenta o poder do estado de julgar.

Então, “o juiz fundamentalmente tem o papel de dirimir aquele conflito, de


julgar, avaliar que tem razão, quem tem razão quem tem razão parcial,
enfim o juiz tem como função não só acabar com o processo, além de
acabar com o processo acabar com o conflito. É muito mais importante do
que fazer volume de papel, deixar as pessoas satisfeitas, é fazer ao máximo
chegar bem perto do que as partes querem” (sic).
Quando questionado, foi dito que o papel do juiz é um instrumento
fundamental, não existindo um estado democrático sem o judiciário, e, bem
como um juiz independente, porque também não irá conseguir fazer isso,
sem ter independência funcional dele, que é decidir de acordo com as
convicções de acordo com a Constituição, de forma fundamentada,
motivada. Sendo o papel do juiz solucionar uma divergência entre as
partes, um conflito de interesses, esse é o principal papel, pacificação
social, solucionando o caso concreto.

Foi dito que, o papel do juiz conforme o princípio da imparcialidade,


atualmente, tem uma boa dose no uso desse princípio, porque em alguns
lugares, como aqui na comarca por exemplo, se for seguir muito arrisca a
imparcialidade, no preto no branco, o juiz acaba sendo parcial em favor de
alguém que tenha mais conhecimento e oportunidade, como, tem mais
facilidade de obtenção de meios, estratégias, conhecimentos, como uma
empresa grande em um dos polos, e o consumidor no outro polo, a
imparcialidade fria acabaria sendo uma violação a própria imparcialidade,
porque no fins das contas o juiz teria que dar muito mais de subsídios ao
hipossuficiente do que a empresa, isso tem sido revisto, até de forma legal,
tem muitos mecanismos hoje existentes que já haviam no Código de
Processo Civil que permitem uma certa maleabilidade, por exemplo a
inversão do ônus da prova, a carga dinâmica dos ônus das provas, são
mecanismos que facilitam a conduta do juiz, para manter uma paridade
entre os dois polos, quando um dos polos é visivelmente o mais fraco.

Assim, o papel do juiz como um instrumento fundamental, não existindo


um estado democrático sem o judiciário, e um juiz independente, porque
ele também não vai conseguir fazer sem isso, é dependência funcional dele
que vai decidir de acordo com as convicções, de acordo com a Constituição,
de forma fundamentada, motivada.

Foi afirmado também, em resumo do tema que: “O juiz é um agente


político, do Poder Judiciário, encarregado de proferir julgamentos,
equidistante das partes.

A jurisdição é uma forma de heterocomposição, o julgamento não fica a


cargo de uma das partes, mas sim de um terceiro, separado das partes, que
visa compor a lide” (sic).
3.1.2. Significado da imparcialidade do juiz

Quando questionado foi dito que, a imparcialidade do juiz significa não ter
interesse na solução pessoal da causa, não ter interesse que o autor saia
vencedor ou que o réu saia vencedor, a busca no processo é de se aproximar
ao máximo da verdade, para dar a quem tem direito, um resultado
favorável, em relação a imparcialidade no momento em que o juiz não é
compatível com a causa, ele se torna parcial.

Assim, “a imparcialidade do juiz é julgar de uma forma equidistante, como


a balança que é o símbolo da Justiça, não pode pesar nem para um lado
nem para o outro, tudo que ele oportuniza para uma parte, deve
oportunizar para o outro, quando o juiz inicia o julgamento de uma causa a
balança tem que ficar “retinha”, é igual para todas as partes. Ela vai perder
de uma parte para outra de acordo com as provas, qual o melhor direito,
quem terá o melhor direito naquele caso concreto e para chegar o melhor
direito o juiz vai ter que colher as provas e chegar a decisão dele, mas na
balança tem que estar equilibrada não pode diante não se inclinar em favor
ou desfavor de outro.” (sic)

Contudo, a análise da imparcialidade tem que seguir um caminho de


interpretação, para não ser um princípio rígido, tem que ser interpretado
de acordo com o caso concreto, para não acabar numa violação a ele
mesmo, pois a intenção dele, é manter o juiz e forma neutro em relação as
partes, imparcial, mas acaba que o juiz neutro, se for seguir a risca acaba
afastando a justiça do caso concreto. A neutralidade e a isenção, tem que
percorrer todo um arcabouço específico num determinando caso, com uma
ponderação de um lado de outro, uma boa dose de razoabilidade, para que,
nos fins das contas, a finalidade é sempre a mesma, só que o princípio é
passado e delineado para uma gama de hipóteses, que se modificaram.

Foi dito também, que a análise da imparcialidade hoje, tem que seguir um
caminho de interpretação, para não se tornar um princípio rígido, tem que
ser interpretado de acordo com o caso concreto, para não acabar numa
violação a ele mesmo, pois o objetivo dele, é manter o juiz e forma neutro
em relação aos pólos, imparcial, “mas acaba que o juiz neutro, se for seguir
a risca muito afasta a justiça para o caso concreto.” (sic)
Logo, a imparcialidade do juiz representa um pressuposto processual, tanto
do ponto de vista moral e ético, quanto do ponto de vista técnico, só existe
justiça se houver a imparcialidade, que pressupõe o distanciamento das
partes, de modo a legitimar o pronunciamento judicial.

3.1.3. Imparcialidade total na decisão

Ao ser indagado, foi respondido que imparcialidade não deve ser fria, tem
que ser vista no caso concreto, se nele for ponderada todas as situações
específicas, “acredito que tenha uma imparcialidade razoável, totalmente
imparcial acho que não, todos usam um pouco da história da vida dele, das
experiências, adaptada a legislação e ao caso concreto; então, totalmente
imparcial não, mas não significa que seja uma decisão injusta ou violadora
da lei, qualquer pessoa que traz um juízo de valor ela traz em si, e acaba
influenciando, mas não acho que isso, de levar em consideração a
experiência, não comprometa a sua decisão” (sic).

Destarte, o magistrado deve respeitar as normas em vigor, ele vai ter que
ter o bom senso, ele vai ter que ter todo o cuidado para analisar, também já
disse cada caso concreto, que é cada um diferente do outro e se todos os
casos fossem tratados de forma igual não se chegaria a soluções justas,
porque são pessoas diferentes que vivenciaram situações diferentes e tem
que ser analisadas de forma diferente, então, o norte dele tem que ser a lei,
principal a constituição, e os princípios que estão nela e muitas vezes o juiz
se ver em saia-justa, sim no sentido de se deparar com casos onde ambos
estão certos ou onde existem conflitos de direitos igualmente relevantes, e
aí é que ela tem o desafio de enfrentar, desafio de ponderar, qual o
interesse que vai prevalecer naquela situação e é interessante que isso
assim, colocar por exemplo, um direito à intimidade de um lado e o direito
à liberdade de informação de outro, são direitos que invariavelmente eles
vão estar em conflito, porque em alguns casos vai responder a qual é a
finalidade, e por que foi feito aquilo então, esse é um exemplo.

O julgador deve estar atento a realidade social, não adiantando selecionar


um caso concreto, analisar friamente pelo processo, em desacordo com o
que está acontecendo ao redor do mesmo.
Ao ser questionado, foi dito que “o juiz já traz consigo uma sobrecarga
ética, moral, subjetiva, de valores, mas isso não pode se tornar um
julgamento arbitrário, o juiz não pode se vestir como um déspota,
soberano, o rei, na verdade ele deve usar o censo coletivo na sua decisão,
sempre tendo em vista também os efeitos coletivos da sua decisão
individual pode acarretar, o custo do que aquela decisão pode acarretar
socialmente” (sic).

Logo, não significa dizer que o juiz não seja sensível as causas que ele está
julgando, a sensibilidade também é um sentimento que juiz tem que ter,
aprende-se dentro de bancos escolares, que se você aplicar cegamente o
direito, as vezes vai cometer injustiça, tanto a doutrina, quanto a
jurisprudência falam muito sobre isso, os estudantes que vão a diante, vão
ver a respeito, que o direito cegamente aplicado não significa justiça.
Justiça é o juiz sopesar os valores morais, valores éticos e colocar isso na
sua decisão, se não fosse assim, com a tecnologia atual, o próprio
computador podia examinar a causa, mas não é assim, o juiz tem que
colocar a sua sensibilidade, a sua experiência, a sua vivência a favor da
Justiça.

Ao ser indagado, disse, que o fato que torna o direito uma ciência, não exata
em constante mutação, em constante aprimoramento, percebe-se isso pelas
próprias decisões dos tribunais superiores, nem decisões de épocas tão
distintas, porque de fato se for pegar um caso da década de 70, o juiz
mesmo com as mesmas normas vigentes, o juiz decidirá de uma maneira,
que não seria a maneira que ele provavelmente decidiria na década de 80,
na década de 90 e por aí adiante.

A lei é uma norma fria e cabe ao juiz dá a interpretação de acordo com os


anseios da sociedade, de acordo com o que ele vivencia de acordo, com a
dinâmica de evolução mesmo de valores da sociedade.

Em algumas situações pode ser que interfiram e não é visto isso de uma
forma ruim, porque é humano, o que não pode é ser parcial, tendencioso
para um lado ou para o outro, para isso é importante ter os institutos do
impedimento e da suspeição para o juiz, inclusive se sentir à vontade, não
se sentir constrangido com a parte, isso vai repercutir na imparcialidade
dele, quando o juiz é parente, amigo ou não gosta, o impedimento vai
isentá-lo de uma decisão. Às vezes as pessoas acham que por ser amigo, vai
dar uma decisão favorável, mas às vezes ele pode ser até mais duro, buscar
uma decisão mais justa, do que se não fosse iria parcial possível, pode ser
que até que vai prejudicar, talvez com outro juiz teria se saído melhor. A
ausência de vínculo ajuda essa imparcialidade, justamente pelo fato de não
ser neutro.

Quando questionado sobre, foi respondido que todo juiz acaba sendo um
pouco parcial, seja por questões culturais, pela família dele, questões
religiosas, pode ser que ele sofra influência por esses tais aspectos,
passando a ser parcial sim, cabe ao juiz, quando ele perceber que está sendo
influenciado e não julgando conforme a lei, mas julgando com as suas
convicções, o que eu acho que é justo, pode ser que outro juiz não ache
justo, o julgamento por equidade pode ser usado apenas por razões
extraordinárias.

3.1.4. Suspeição e Impedimento

Ao perguntar, foi dito: “exatamente para isso que tem a suspeição e o


impedimento do juiz, um juiz suspeito ou impedido já pressupõe que ele
possa ter algum interesse na causa e por isso que ele não pode julgar, tanto
Código de Processo Penal, e no Código de Processo Civil, que consagram as
várias condutas que o juiz tem que evitar para não se tornar suspeito ou
impedido de julgar uma determinada causa e quando ele não se dá por
suspeito ou impedido, a própria parte pode entrar com uma exceção para
provocar” (sic).

E se o juiz não reconheça ligando esse defeito de julgar, o tribunal ao qual é


vinculado pode fazer, o juiz suspeito ou impedido, ele tem a sua
imparcialidade para julgar corretamente, mas aos olhos das partes aquele
que perder vai sempre achar o juiz foi parcial.

3.1.5. Neutralidade e Imparcialidade

Quando questionado, foi dito que o juiz neutro, tem que estar atento, não
isolado do mundo. Antigamente, tinha um brocardo latino, que dizia assim:
“faça justiça pereça o mundo, é uma visão passada, teve a sua razão de ser,
mas não tanto assim, mesmo que pereça o mundo, faça justiça sim, no caso
concreto atendendo o mundo ao seu redor.” (sic)

“Às vezes acabam por essas questões de ideologia e tal, que acaba sendo
levado em consideração, essas questões de formação da pessoa, não quebra
a imparcialidade, é mais uma questão de neutralidade, ele consegue sim ser
imparcial, no sentido que ele vai analisar uma questão de forma técnica,
olhando as partes do mesmo ângulo, com as mesmas condições, aferindo
quem tem mais direito.” (sic)

“E a neutralidade é uma questão curiosa” (sic), todo juiz tem que ser
imparcial, não pode ser neutro, porque o juiz é o guardião da Constituição,
não se refirindo a pessoa, mas ao órgão, o juízo.

Todo juiz tem que ser comprometido com os compromissos constitucionais


e essa é uma grande diferença, uma coisa é ser imparcial em relação às
partes litigantes, nenhum juiz é neutro, ele tem que concretizar em sua
decisão todos os princípios e mandamentos constitucionais, dando a cada
um o que é seu, fazendo um suum cuique tribuere (dar a cada um o que é
seu) e concretizando na prática todas as cláusulas trazidas naconstituiçãoo,
direitos e garantias fundamentais, então a grande diferença é que todo juiz
é Imparcial, mas nenhum juiz é neutro.

Por fim, um magistrado comentou sobre um exemplo prático, que


aconteceu nesta cidade, Itaboraí, onde vem acontecendo muito as rescisões,
entrega de imóvel, onde a pessoa não consegue mais realizar o pagamento.
Toda rescisão pressupõe um inadimplemento, o indivíduo acha que
entregando imóvel de volta, tem direito a receber tudo, como se ficasse
“quite”, porém não é assim, assim, é importante a história do mundo ao
redor, se acontece com uma única pessoa, a incorporadora/construtora não
sai no prejuízo, mas se acontece com a cidade inteira quebra a
incorporadora, porque com a devolução o imóvel acaba parado, sem
conseguir revender.

Logo, faça justiça sim, ele tem direito a devolução, até da maior parte, pois
está devolvendo o imóvel. “A solução é: faça justiça, observando o que está
acontecendo. Para ser atingido um equilíbrio. Assim, decidir com
neutralidade, deve-se observar tudo ao seu redor para atingir um
equilíbrio.” (sic)

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados e discussões obtidas a partir


da análise das entrevistas realizadas sobre o tema principal que é o
princípio da imparcialidade, divididos em 5 (cinco) tópicos sobre o tema.

O princípio da imparcialidade é tratado tanto na Constituição Federal, de


forma implícita e permeada em toda a sua extensão, também encontra-se
positivado na Declaração dos Direitos Humanos, bem como no Código de
Ética da Magistratura.

Constitui-se como a plena garantia de justiça entre as partes, ser imparcial


é conduzir o processo equilibrando a “balança”.

Em relação ao papel do juiz na sociedade é de um verdadeiro pacificador de


conflitos, um terceiro alheio, que tem o condão de julgar, de dizer o direito.
Quando questionados na entrevista, foi exposto que não existe um estado
democrático de direito sem o judiciário e a figura do juiz, sendo o seu
principal papel de um pacificador social.

Segundo Dallari, certos pontos ainda precisam de mudanças, quanto a este


papel e a visão da sociedade quanto ao juiz, por ter uma certa superioridade
em razão a outras pessoas, tais quais, as partes, advogados e funcionários
dos próprios tribunais. Para a grande maioria, o juiz é aquela figura
equidistante, restrito, contribuindo para uma percepção que o juiz é aquele
distante do povo, podendo prejudicar a concretização da justiça. O
magistrado deve-se tornar um aliado, não uma autoridade longe,
inacessível de todas as partes do processo.

Então, conclui-se que o juiz é um ator determinante na efetiva criação do


direito e na dissolução das legítimas pretensões sociais, realizando assim a
democracia e proporcionando a manutenção da ordem social.
No que tange a imparcialidade e o seu significado, foi extraído que ser
imparcial significa não ter um interesse na solução da causa, mais sim
aproximar-se da verdade.

Gomes diz que ser imparcial importa que o juiz conduza o processo de
modo a ser um efetivo instrumento da justiça, para que vença realmente
quem tenha razão, isso é a imparcialidade. Pode-se afirmar que seguir o
princípio da imparcialidade é não deixar as convicções sobrepujarem os
elementos constantes nos autos.

É importante ressaltar acerca das distinções entre a neutralidade e a


imparcialidade, enquanto ser neutro é aquele isento, despido de vontades,
sem se importar com o resultado final do processo, ser imparcial é aquele
que se vale dos poderes instrutórios, sejam eles, normas, provas,
jurisprudências, para atingir uma melhor decisão.

A discussão desses temas é constante, mas pode-se observar que são ideias
totalmente distintas, não dando margens a confusões acerca de seus
significados.

De acordo com a entrevista, a grande maioria expos que todo juiz é


imparcial, mas nenhum é neutro, pois o magistrado deve estra atento a
tudo que acontece ao seu redor para em conjunto com a norma fria
conquistar uma solução justa.

Em relação aos institutos da suspeição e do impedimento, têm-se como


verdadeiras medidas que garantem a imparcialidade, contribuindo para um
processo justo.

A mais importante característica de um julgador é a imparcialidade, a


capacidade subjetiva do juiz, mais do que um princípio de direito
processual, a preservação da imparcialidade do juiz é um dever
constitucional do estado, uma garantia das partes em prol da manutenção
da isonomia (artigo 5º, caput da CF e artigo 139, I do CPC) e contra o
arbítrio judicial.
Afinal, para exercer suas funções em determinada causa, o magistrado deve
ser completamente indiferente aos interesses da disputa, só assim para
assegurar sua independência e seu prestigio, perante aos litigantes e a
própria opinião pública.

Com isso, a lei processual, seja no âmbito cível ou penal, estabelece


pressupostos em que se presume a parcialidade da pessoa física do
julgador, cuja violação, a variar da gravidade, implica em nulidade de todos
ou alguns atos já praticados.

Compete ao próprio juiz, reconhecer a existência de fato que possa


comprometer, ainda que, involuntariamente, sua isenção, se desligar da
causa. E se assim não o fizer, as partes podem apontar o vício, impugnando
a atuação do juiz do processo ou atacando as decisões proferidas como
ofensa a imparcialidade.

No impedimento o juiz fica proibido, em termos objetivos, de exercer a


jurisdição no processo. Uma sentença prolatada por um juiz impedido é
nula, de modo que o vício pode ser indicado pela parte interessada em
qualquer tempo e grau de jurisdição. Assim, é disposto no artigo 144 do
CPC as hipóteses.

Já na suspeição, e recomendado que o juiz se afaste do processo em virtude


de circunstâncias subjetivas, sendo disposto no artigo 145 do CPC.

Tanto no impedimento quanto a suspeição, o Tribunal ao qual está


vinculado, designará um substituto para assumir a causa.

No início da minha pesquisa, o que me motivou foi saber se era possível um


juiz em sua decisão, aplicar o princípio da imparcialidade em sua
totalidade.

Há de se ressaltar, que o princípio da imparcialidade e um instrumento


relevante da efetiva justiça, garantindo entre as partes que o juiz não
possua nenhum interesse na demanda. É indubitável, o essencial papel
social do juiz, aquele que procura na lei as brechas, no esforço de diminuir
as desigualdades sociais, para que possa auxiliar na construção de uma
nova sociedade, com a verdadeira igualdade de condições, entre todos os
cidadãos.

Como bem explanado na Carta Magna em seu artigo 3º onde deve-se


buscar: construir uma sociedade livre, justa e solidária, reduzindo todas as
desigualdades, promovendo o bem todo, sem preconceitos, sexo, cor, raça,
idade, e outras formas de discriminações.

A manifestação do poder estatal é reservada a figura do juiz, o qual deve


exercer sua atividade totalmente de forma desvinculada de qualquer
proveito/interesse pré constituído, devendo ser imparcial. Um magistrado
imparcial é um sujeito alheio às partes, distante dos interesses em litígio e
submetido apenas as normas como sendo seu principal critério de juízo.

Hoje, a figura do juiz neutro não impera, tendo preferência a figura do juiz
ativo, interessado, que busca a verdade, podendo a se dizer “juiz-cidadão”.

Lopes Júnior (2008, p. 403) afirma que ao versar sobre a neutralidade, que
é impossível a produção de um julgamento livre de influências, quais sejam
dos mais diversos fatores, sociais, culturais e psicológicos.

Assim, quando o juiz toma a sua decisão, faz por meio de certas avaliações,
que poderão acabar revelando traços de sua individualidade e
personalidade. A imparcialidade nesse âmbito exprime a busca pelo
julgamento independente, no menor grau possível desse conjunto de traços
do julgador.

Portanova, em sua obra, preceitua que a justiça não é neutra, o direito não é
neutro, revelando por vezes vontades políticas, uma ampla dimensão de
valores. Afirma ainda, que o juiz que se diz neutro e declara que sus decisão
não tem valores pessoais, está assumindo “valores de conservação”.

Destarte, toda sentença traz consigo uma carga valorativa, de modo que é
previsível do juiz como uma “suposta” demonstração e emoções, são
fundamentos próprios da racionalidade, fundamentos próprios da
racionalidade, e sem eles, o ser humano é impossibilitado de raciocinar de
forma coerente.
Conforme as entrevistas, é possível concluir que a imparcialidade total na
decisão é desviada por uma parcialidade positiva, contribuindo para a
resolução justa da demanda, pois o conhecimento do juiz no processo não
se dá por uma atitude totalmente imparcial, mas pela interação do meio
processual, das partes, e de sua própria experiência do mundo, que é
construída por meio de vários fatores em sua formação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, observou-se que a postura que se tinha do julgador, com o


passar do tempo se modificou, devendo agora o juiz assumir uma atitude
diferente, é fato que o juiz tem suas preferencias e inclinações ideológicas,
mas deve assumir um papel pró ativo, inclinado somente a uma resolução
justa do processo. Assim, o processo não existe para a continuidade das
desigualdades, mas sim para a concretização da justiça. O magistrado
possui um papel fundamental, é o que vai “dizer o direito” no caso em
concreto e aplicar a norma para que o resultado seja satisfativo.

A necessidade de um julgamento judicial ser articulado por um julgador


imparcial, vincula-se de modo estreito com diversos preceitos
constitucionais, sendo de total relevância na nossa Carta Magana. Destarte,
o instituto da imparcialidade representa uma condição fundamental para
que o juiz alcance a justiça no caso em concreto.

Por essa necessidade de justiça, o juiz recebeu diversas garantias, poderes e


deveres, agora o julgador possui garantias que servem de proteção para a
busca da justiça e a aplicação das leis, e possui deveres para evitar posturas
autoritárias frente ao processo.

Logo, apenas é possível chegar a uma sentença justa, conforme um


procedimento guiado por um arbitro imparcial. De acordo com a concepção
objetiva da imparcialidade, é imprescindível que o judiciário passe para a
sociedade se sentir confiante. Sim, a aparência de que as decisões são
proferidas por um terceiro equidistante conferem ao poder judiciário toda a
legitimidade e autoridade. Já a concepção subjetiva do instituto da
imparcialidade, funda-se em que por trás de cada julgamento há um ser
humano adstrito às influencias/vivências do seu subconsciente.
Dessa forma, o magistrado deve sentir a contemporaneidade, devendo
sempre estar atento para as desigualdades econômicas, sociais e culturais
que possam comprometer intimamente o acesso a justiça para toda a
sociedade.

Diante das ideias de neutralidade e imparcialidade, conclui-se que são


temas bem distintos e que não devem ser confundidos, a imparcialidade
exige um juiz ativo, preocupado com o fechamento equitativo do processo,
incumbido de buscar a tutela efetiva dos direitos fundamentais. O juiz
imparcial, contudo, não é aquele neutro ou despido de qualquer linha de
personalidade ou de vontade, mas sim o que busca conhecer sua
construção/formação, de forma a distanciar-se deles, se limitando a
comprometer-se com a justiça e a lei.

Restou-se comprovado, que o princípio da imparcialidade, mais do que


uma regra doutrinária, é uma norma que se introduz constantemente num
contexto jurídico e que opera em retorno a uma série de necessidades que
surgem no dia a dia. Pode-se afirmas que o princípio da neutralidade,
apesar de sua origem histórica, encontra-se desatualizado. E um processo
justo, com os valores atuais, não é cabível a imagem de um julgador que
não se importa com o resultado final da demanda.

O magistrado inserido socialmente, deve ser um perseguidor da justiça,


sempre respeitando as normas, assim como todos os princípios
interligados.

O princípio da imparcialidade constitui algo muito almejado no mundo


jurídico, pois é o instituto que possibilita um tratamento isonômico das
partes, sem possuir qualquer interesse na decisão do litígio. A
imparcialidade influi também na maneira que concebe-se a atividade do
juiz ao proferir sua sentença.

O julgador no processo contemporâneo deve participar do processo de


forma a zelar pela justa composição de litígio, tendo somente a busca da
verdade real.
Nesse sentido, a clássica lição de Rudolf Von Ihering (2009, p. 74), que
afirma que “o homem vítima de uma justiça venal ou parcial encontra-se
violentamente arrojado para fora das vias do direito”.

É importante destacar, que a motivação das decisões judiciais, permitem o


controle, e até mesmo de disciplinar a tarefa do juiz, a imposição da
fundamentação sempre representou uma garantia contra o ativismo.

O magistrado respeitando o princípio da imparcialidade estará cumprindo


corretamente o seu dever, compromisso e sua função social, em
observância da Carta Magna a Constituição Federal, e em respeito aos
cidadãos que querem um Poder Judiciário mais zeloso e equânime.

Influi, também, na imparcialidade, a maneira de preparação da sentença, o


juiz não é somente o aplicador da norma e sim aquele que aplica o direito.
Desta maneira, deve o julgador preencher as lacunas, interpretar a lei no
caso concreto, utilizar-se da hermenêutica jurídica, para moldar o direito
com o fim da melhor solução para o processo.

Contudo, pode-se aferir que em uma decisão, não se torna possível ser
totalmente imparcial, o juiz absorve as suas ideologias, experiências,
costumes, não se tornando neutro nem parcial, não se pode afirmar, se
representa um ponto positivo ou negativo para a demanda, sendo avaliado
no caso concreto.

Pode-se afirmar que a necessidade de cumprimento do fim social do


processo impõe ao juiz papel ativo na produção da prova na busca da
verdade processual. Logo, de acordo com o estudo de caso, o princípio da
imparcialidade, deve ser aplicado conforme o caso efetivo, agregado a
outros princípios e valores, observando sempre os acontecimentos em sua
volta.

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