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A IMPLEMENTAÇÃO DO JUIZ DAS GARANTIAS: apontamentos práticos sobre


o princípio da eficiência e o princípio da imparcialidade no combate ao crime
organizado

SAUL FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR1

RESUMO

A figura do juiz das garantias, inserida no Código de Processo Penal – CPP pela Lei
13.964, de 24 de dezembro de 2019, suscitou uma série de polêmicas, e, neste
artigo serão examinados os possíveis impactos decorrentes da implementação
desse instituto no combate ao crime organizado. A análise parte da redação
Constitucional dos princípios da imparcialidade e da eficiência. Após apresentados
conceitos e explanações dos dois princípios, busca-se estabelecer um paralelo da
aplicação prática do instituto do juiz das garantias e as consequências
sistematizadas das vantagens e desvantagens em relação a esses princípios. Como
metodologia, foi utilizada a análise documental e a literatura sobre os fundamentos
constitucionais da atuação estatal no que concerne ao novo instituto para o processo
penal. Na conclusão sustenta-se que a implementação do juiz das garantias para o
processo penal causará impactos intensos na eficiência da atividade judicante que
combate o crime organizado.

Palavras-chave: JUIZ DAS GARANTIAS; IMPARCIALIDADE; EFICIÊNCIA; CRIME


ORGANIZADO;

ABSTRACT

The figure of the judge of guarantees, inserted in the Code of Criminal Procedure -
CPP by the Federal Law n. 13.964, of December 24, 2019, has raised a number of
controversies and this article will examine the possible impacts arising from the
implementation of this institute in the fight against organized crime. The analysis
starts with the Constitution relating to the principles of impartiality and efficiency.
After presenting the concepts and explanations of the two principles, the article seeks
to establish a parallel between the practical application of the institute of the judge of
guarantees and the systematized consequences of the advantages and
disadvantages with regards to these principles. As methodology, this article used the
documental analysis and the literature on the constitutional foundations of state
action regarding this new institute in the criminal process. It concludes by sustaining
that the implementation of the judge of guarantees for the criminal process will cause
intense impacts on the efficiency on the fight against organized crime.

Keywords: JUDGE OF GUARANTEES; IMPARTIALITY; EFFICIENCY;


ORGANIZED CRIME;

1 INTRODUÇÃO
1
Faculdade Venda Nova do Imigrante
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No final de 2019, foi sancionada e publicada a lei apelidada de Lei Anticrime,


dentre as novas alterações trazidas pela legislação estava o já amplamente debatido
pela comunidade acadêmica juiz das garantias. É importante relembrar que o
apelido recebido é homônimo aquele decorrente do pacote de medidas legislativas
de mesmo assunto fomentadas pelo Poder Executivo no mesmo ano.
O juiz das garantias, inserido pela lei supracitada, será responsável pela
instauração do processo-crime, controle de legalidade e salvaguardará os direitos
individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário (art. 3º-B do CPP).
Dada a complexidade e impacto que o novo instituto causará no ordenamento
jurídico brasileiro e a sua brevidade da vacatio legis o instituto foi suspenso em
decorrência de três Ações Diretas de Inconstitucionalidade questionadoras dessas
alterações.
Interessa ao trabalho de modo mais acerto os artigos inseridos no Código de
Processo Penal pela LEI Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2019, no que
concerne a inserção da figura do juiz das garantias e a sua aplicação junto aos
princípios constitucionais da eficiência e da imparcialidade.
Essas alterações trarão, se prosseguirem como estão prescritas, impactos
veementes à eficiência do trâmite processual criminal, em especial no combate ao
crime organizado.
Essa questão será esmiuçada no presente artigo, sem a pretensão de exaurí-
la. Para tanto serão analisados aspectos relacionados aos princípios da
imparcialidade e da eficiência, bem como posicionamentos doutrinários que ajudam
a integrar esses institutos, demonstrando assim o verdadeiro resultado da
implementação do instituto do juiz das garantias nesta fase do Constitucionalismo
brasileiro.

2 A IMPARCIALIDADE: PRESSUPOSTO PARA UM PROCESSO PENAL


DEMOCRÁTICO

Desde o término da 2ª Guerra Mundial, em virtude dos diversos tratados


internacionais os fatores que trouxeram maior imparcialidade judicial tornaram-se
essenciais aos países signatários.
Como veremos esse direito a decisões justas e imparciais, exaradas tanto
pelo juiz monocrático quanto pelos tribunais, ultrapassa legislações nacionais
chegando aos paradigmas internacionais.
Atualmente, garantidas desde até mesmo a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (art. 10), Declaração Americana dos Direitos do Homem (art. 26, 2)
Convenção Americana de Direitos Humano (art. 8.1), Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos (art. 14,I) Convênio Europeu para Proteção dos Direitos Humanos e
Liberdades Fundamentais (art. 6,1), esse valor se mostrou indispensável ao sistema
processual democrático contemporâneo.
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Nas palavras de Antônio Magalhães Gomes Filho imparcialidade se constitui


em:
"um valor que se manifesta sobretudo no âmbito interno do processo,
traduzindo a exigência de que na direção de toda a atividade processual – e
especialmente nos momentos de decisão – o juiz coloque sempre super
partes, conduzindo-se como um terceiro desinteressado, acima portanto dos
interesses em conflito" (GOMES FILHO, 2001, p. 37).
Essa Imparcialidade, construída ao longo dos anos, traz consigo o significado
da negação da parcialidade. Imparcial é aquele que se afasta equidistantemente das
partes a fim de obter um julgamento neutro. Fala-se da ausência de prevenção em
favor ou contra as partes e argumentos envolvidos, como explicado por Gomes Filho
uma posição equidistante das partes pelo juiz da causa.
Trata-se assim dos fundamentos legais do “devido processo legal, do
princípio do contraditório e demais direitos e garantias individuais, inerentes ao
Estado Democrático de Direito, um dos pilares da República" (NEREU JOSÉ, 2006,
p. 102).
Chega-se à compreensão do que é imparcial pelo entendimento avesso da
palavra "parcialidade". A parcialidade é compreendida como parte de um todo, ou
até mesmo como parte de uma disputa ou conflito (SOUZA, 2018, p. 48).
Do outro lado da parcialidade, estaria a imparcialidade, como isenção,
neutralidade e independência. A Tratar, assim, de uma leitura lastreada apenas em
aspectos lógicos e racionais, afastando-se do que é circunstancial.
Para Werner Goldschmidt, fala-se em "colocar entre parênteses todas as
considerações subjetivas do juiz" (LANGE; ORBANEJA, 1950).
Os parênteses a que se refere o autor está contido numa postura que é
esperada de um magistrado, alguém que apesar de humano e suscetível a falhas,
deve-se guiar pela busca objetiva do todo. A interpretação realizada por uma lente
com enfoque nos elementos trazidos sob o crivo da legalidade aos autos.
Doutrinariamente foram cotejados critérios contidos na imparcialidade, sendo
exemplo a objetividade, a isenção e a neutralidade.
No que tange à objetividade, contida na imparcialidade, faz-se necessário que
o juiz atuante proceda de forma objetiva, não alterando seu modo de agir a mercê de
considerações de ordem subjetiva, pessoal e antijurídica.
Há portanto de se interpretar que objetividade equivale à juridicidade, e em
consequência aos preceitos do Estado de Direito.
Sobre a imparcialidade como isenção fala-se em uma atuação livre de
inclinações pessoais negativas. Devendo o juiz ao perceber essa inclinação pessoal
suscitar o mecanismo adequado a proporcionar um julgamento imparcial.
Depreende-se dessa característica o dever do juiz ao perceber uma ligação
direta ou indiretamente consigo ou com seus interesses deverá abster-se de atuar
nesses procedimentos.
No que concerne a imparcialidade como neutralidade, fala-se numa
característica advinda do liberalismo. Rememora-se os tempos em que este
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movimento prescrevia ditames nas sociedades modernas, preocupados em


desvencilharem-se da subordinação do Poder Judiciário ao poder político da época.
Essa neutralidade intimamente se liga à uma estabilidade a que se deve
guiar, e reproduzir de maneira não intervencionista, agnóstica e indiferente perante
os princípios e valores básicos da tradição cultural.
A imparcialidade decorrente de todas essas características, faz com que os
órgãos judiciais, amparados por estas normas forneçam uma jurisdição
transparente. Desta forma, a publicidade faz-se necessária aos atos exarados pelos
juízes togados, salvo nos casos em que haja orientação judicial em contrário.
Essa mesma imparcialidade observada no que tine à transparência aplicada
exige atos judiciais fundamentados e motivados conforme a própria Carta Máxima
do Brasil, em seu artigo 93, IX preconiza (SOUZA, 2018, p. 46).
Noutro vértice ainda é trazido como ferramenta que corrobora com essa
imparcialidade: a motivação das decisões. Sem dúvidas estamos falando da uma
das que trazem maior legitimidade e transparências às decisões garantindo essa
devida imparcialidade.
No entanto, alguns aspectos presentes nas decisões tendem a não ser
objetivos o suficiente para que sejam apreciados e valorados como parciais ou
imparciais.
Ocorre quando estamos, no caso concreto, diante de uma motivação
meramente formal, de maneira que apesar de sanado o aspecto formal não é
possível identificar o teor subjetivo por aspectos.
Outro aspecto interessante a ser ponderado posteriormente será o teor não
preciso da parcialidade ou imparcialidade. Para a definição da acurácia de um
resultado seriam necessários o estabelecimento de parâmetros objetivos para uma
análise mais transparente e clara, todas essas definições ocorridas somente no caso
concreto, durante o julgamento da causa.
Porém como toda ciência humana que aplicada diante das várias situações
possíveis e manejada diante do direito brasileiro fala-se em uma maneira pouco
operacional de se demonstrar a imparcialidade de um juízo, afinal a lei não trará
todas as nuances que fazem a subsunção desse instituto.
Essa busca por mais objetividade sintetiza o anseio da coletividade:
A imparcialidade não pode e não deve ser avaliada somente como um mero
e interior stato spirituale do magistrado; reclama, igualmente, que seja
entendida como um stato que a coletividade possa objetivamente observar.
Esse stato não pode restar isolado no íntimo do sujeito, mas é necessário
conquistar relevância externa (SOUZA, 2018, p. 48).
Dentre os artigos constitucionais que já buscam a execução da imparcialidade
estão: "art. 5º (...) XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; (...) LIII –
ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;"
(Brasil, 1988, com adaptações).
Todos esses aspectos, decorrentes da legislação internacional e nacional,
fundamentam implicitamente o princípio da imparcialidade na nossa Constituição
Federal.
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Para tanto, esses preceitos do artigo 5º da Constituição Federal buscam


garantir que o trâmite processual e o resultado sejam conduzidos pelas autoridades
competentes, além de vedar juízo preestabelecido ou criado especialmente para o
caso, como é o caso do tribunal de exceção.
Noutro vértice se encontra parte das garantias dadas aos juízes para que seja
realizado um juízo mais neutro através da vitaliciedade, inamovibilidade, e
irredutibilidade de subsídio.
Além das garantias que dão aos juízes maior segurança e uma proteção
contra possíveis retaliações, a Constituição em seu parágrafo único do artigo 95 traz
mecanismos de vedação ao juiz para que nem diretamente nem indiretamente por
meio de outras atividades administrativas ou não o juiz seja tendencioso em suas
decisões.
Entre essas vedações está a impossibilidade do exercício de atividade político
partidária, atividade esta que evidentemente traria o reforço de entendimentos e pré
conceitos na atividade judicante diante de situações em que fosse envolvido o tema.
Ainda constam em estruturas infralegais, as vedações constantes no Código
de Processo Penal referentes à suspeição e ao impedimento (art. 252 e 254)
incidentes sobre os magistrados, no que for cabível também aplicáveis aos membros
do Ministério Público (art. 258 do CPP), até mesmo extensíveis aos intérpretes e
serventuários da justiça (art. 112 do CPP).
Nesse sentido, Nereu Giacomoli prevê ainda que:
Ademais desse rol exemplificativo de hipóteses de suspeição e de
impedimento, a garantia constitucional do devido processo e da
convencionalidade internacional permitem uma interpretação ampliativa e a
consideração de outras situações geradoras da perda da imparcialidade
(GIACOMOLLI, 2014, p. 232).
Desta feita, ratificando mais uma vez o caráter não objetivo e de difícil
apuração dos casos de suspeição, sendo até mesmo necessário uma maior
abrangência da norma legal de maneira a manter a eficácia do dispositivo legal
aplicado.
Já na legislação infraconstitucional, consta do Código de Ética da
magistratura o seguinte dizer:
Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade
dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o
processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de
comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito.
(BRASIL, 2008, p. 2)
Depreende-se da letra legal que busca-se a implementação de um juiz que
seja justo e priorize a justiça, que esteja ciente da importância e do poder que o
Estado lhe deu, sendo imprescindível a conscientização deste juiz da busca pela
verdade real, do peso das suas decisões e que resulta em , possíveis, invasões na
vida social e particular dos litigantes. Dando a devida valia à característica da
imparcialidade, dando oportunidades de apresentação dos fatos e do recebimento
de uma decisão equidistante e sem vícios.
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Ademais, somadas às atividades já inerentes a própria figura do juiz, estão


também atuantes as funções e órgãos administrativos instituídos pela lei, como é o
caso das corregedorias, que têm papel orientador e fiscalizador essencial na
atuação dos juízes.
Estão entre as críticas que pairam sobre os critérios da imparcialidade, o
caráter subjetivo a que pode estar sujeita as produções das decisões judiciais
exaradas.
Coaduna com essa posição a observação de que quando estamos falando
dos preceitos que baseiam as decisões dos juízes, condicionados à não influência
externa, então estamos buscando algo não humano, tendo em vista as caraterísticas
conhecidas intrínsecas e fisiológicas aos seres humanos.
A formação de uma decisão tem por preceitos os valores os quais se buscam
preservar por meio das leis. As leis indicam os bens jurídicos a se proteger e o juiz
os pondera diante da situação fática dos judicantes.
Depreende-se assim que somente no caso concreto é que se assenta a
funcionalidade das normas indicadoras da suspeição e do impedimento, adequando-
se aos aspectos trazidos nos autos e ao livre convencimento do juiz competente.
Todas as modalidades prescritas na Constituição da República e nas leis
infraconstitucionais tem sua eficácia comprovada nos anos anteriores à chegada do
dito Pacote Anticrime, e algumas alterações pontuais serão explicadas a seguir.
Com a novel legislação contemplada no Projeto de Lei n 156/2009 do Senado
Federal, de que trata da instituição do novo Código de Processo Penal, teria sido
divulgada a submissão da legislação ao amplo debate conforme alega cartilha do
CNJ, porém não é tão simples a trajetória dessa lei.
A lei 13.964/2019 é derivada do Projeto de Lei da Câmara dos Deputados
10.372/2018, de autoria dos deputados José Rocha (PR-BA), Marcelo Aro (PHS-
MG), Wladimir Costa (SD-PA), Nilson Leitão (PSDB-MT), Baleia Rossi (MDB-SP),
Luis Tibé (AVANTE-MG), Ricardo Teobaldo (PODE-PE), Celso Russomanno (PRB-
SP), Domingos Neto (PSD-CE), Aureo (SD-RJ) e Rodrigo Garcia (DEM-SP), e que
até 4 de dezembro de 2019 não tinha em seu texto a figura do juiz das garantias.
O ponto principal desse instituto que provocou ação de todos os poderes é
também o seu modo de inserção no ordenamento jurídico.
O instituto só veio a surgir nesse texto após a inserção que em sessão
extraordinária, iniciada às 17h57min, em turno único e em apreciação extrapauta. A
proposta do Deputado Lafayette de Andrada quando o PL já se encontrava em
deliberação.
Desde o seu projeto inicial até o momento da sua aprovação não sequer
havia sido mencionado neste conjunto normativo.
Em sessão extraordinária deliberativa, iniciada às 17h 57min, em turno único
e em apreciação extrapauta, foi recebida proposta substitutiva de autoria do
Deputado Lafayette de Andrada, que após ler seu parecer as 19h 44min inseriu o
tema que apesar de ainda não implementado causará a alteração de grande
magnitude no judiciário brasileiro (SUXBERGER, 2019, p. 10-27).
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Antes mesmo de entrar em vigor, nesse ano normativo houveram três ações
diretas de inconstitucionalidade.
Por isso, tendo em vista o caráter robusto das alterações propostas a serem
analisadas pelos questionamentos judiciais a Presidência do Superior Tribunal
Federal suspendeu a eficácia de diversos artigos da chamada "Lei Anticrime",
somado ao recesso judiciário.
Já em 2020, decisão do Ministro Dias Toffoli, cautelarmente, suspende o
prazo para aplicação da lei em 180 dias. (Luiz..., 2020). Posteriormente, ocorrendo a
suspensão pela mesma presidência, agora na figura do ministro Luiz Fux por prazo
indeterminado (Luiz...).
Ressalte-se, ainda, que esse parecer aprovado com tempo surpreendente
possuía 4 páginas com o parecer e 42 páginas com o texto que substituiria a
proposta legislativa anterior. Sendo aprovado com os dizeres do trâmite comum de
uma nova lei analisada e aprovada de acordo a constitucionalidade, técnica
legislativa e juridicidade, além de citar aspectos referentes à adequação financeira e
orçamentária.
De acordo com o professor Antônio Suxberger não houve indicação de estudo
técnico ou mesmo referência a inserção do juiz das garantias no nosso ordenamento
jurídico (SUXBERGER, 2019, p. 13).
Isso reflete diretamente nas reações judiciais ocorridas e já referidas.
Demonstrando uma dificuldade do próprio legislativo e elaborar uma lei que na
prática seja o máximo eficiente possível, atendendo aos critérios do devido processo
legal e da imparcialidade, sem esbarrar em aspectos que impactem a eficiência da
lei penal.
As alterações referentes ao juiz das garantias trazem um caráter ainda mais
evidente de ruptura com o sistema inquisitorial, se trata de uma confirmação desse
viés no sistema acusatório.
No bojo dessas alterações, há ainda em se falar em aspectos que dificultarão
a eficiência do punitivismo Estatal, tendo em vista as dificuldades geradas no
trâmite, especialmente em crimes complexos de organizações criminosas em que a
cognição tanto do juiz das garantias quanto do juízo processual requerem maior
tempo e empenho por parte do operador.
Dentre as razões que trouxeram o instituto a ser incluído no nosso
ordenamento jurídico está a premissa de maior imparcialidade nos julgamentos
criminais nas sentenças do judiciário brasileiro. Essa maior imparcialidade será
destrinchada tomando por base a teoria da dissonância cognitiva.
Para análise desse quesito devemos observar alguns aspectos da decisão
judicial.
Quando nos referimos à uma decisão judicial, estamos diante de diversos
resultados possíveis, tanto de acertos quanto de erros, é plenamente possível a má
interpretação dos fatos, uma avaliação das provas ou até mesmo da lei, que geraria
por si só decisões distanciadas da justiça. Somada a essas características, há ainda
a possibilidade de um defeito resultante da dissonância cognitiva.
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No entendimento de Aury Lopes Jr essa teoria:


analisa as formas de reação de um indivíduo frente a duas ideias, crenças
ou opiniões antagônicas, incompatíveis, geradoras de uma situação
desconfortável, bem como a forma de inserção de elementos de
“consonâncias” que reduzam a dissonância e, por consequência, a
ansiedade e o estresse gerado (AURY, 2020, p. 258) .
No que toca aos aspectos discutidos acima, fala-se em um possível limite
humano a ser entendido e buscado no que tange à imparcialidade. Pois apesar do
estabelecimento de regras cognoscíveis que estabelecem uma postura dos
magistrados, ainda estamos diante de seres humanos que possuem uma bagagem
histórica decorrente da formação da sua imagem e concepções acerca de
determinados temas.
Desta forma, estamos diante de limites internos criados e moldados conforme
o caráter, experiências e escolhas, todas impregnadas e veladas na figura do juiz
sentenciante.
A tensão da tentativa de se apurar essa imparcialidade tem relação com o
juízo advindo da regra do livre convencimento, a construção da decisão do
magistrado tem que ser coerente com o quê ele acredita ser o resultado cabível.
Há, assim, uma necessidade interna em cada uma das pessoas de ser
coerente. Ninguém quer se sentir desconfortável tendo que se posicionar
contraditoriamente, sempre busca-se uma ligação estreita entre as posições e
entendimentos individuais e as atitudes desta mesma pessoa.
Na área da psicologia, a psicologia social é a área que se debruça sobre a
maneira que as influências sociais moldam as atitudes humanas; É, ainda, o ramo
da psicologia que tem como objeto de estudo a investigação de como pensam,
observam e influenciam os indivíduos entre si (ANDRADE, 2019, p. 1654).
Nesse ramo acadêmico-científico, em meados dos anos 50, Leon Festinger,
destinguiu dois tipos de reações referentes às cognições as consonantes, essas que
em tem cunho de correspondência e coerência, e as dissonantes que são
incompatíveis e discordantes (FESTINGER, 1975, p. 12, com adaptações).
O trâmite comum de um processo criminal é diligenciado da seguinte maneira,
primeiramente se desenvolvem as linhas investigativas, podendo ou não ser
decretadas quebras de sigilo, sejam bancárias, de dados ou até mesmo telefônicas
através de informações anteriores que já indiquem indícios suficientes para tal.
Decorrentes das informações analisadas pelos peritos e analistas
serventuários da justiça no Ministério Público ou até mesmo na polícia
administrativa, serão produzidos relatórios que subsidiarão a formação da opinio
delicti possibilitando assim o oferecimento do Ação Penal, a depender do crime
cometido.
Até nessa parte do trâmite, o juiz responsável pelas decisões será o juiz das
garantias, a partir da vigência da nova legislação.
Os artigos instituidores do Juiz das Garantias, apesar de atualmente estarem
suspensos por decisão do Supremo Tribunal Federal nas Ações de
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Inconstitucionalidade nº 6.298, 6.299 e 6.300, pretender oferecer uma figura mais


imparcial para julgamento das demandas processuais a partir da ação penal.
Em sua ideia inicial a figura do novo juiz terá a missão suprir a possível
lacuna decorrente da imparcialidade gerada a partir dos anteriores envolvimentos do
juiz no deferimento de medidas cautelares, que desde já seriam suficientes para
criar na mente do julgador uma corrente decisória à favor dos pleitos

3 IMPARCIALIDADE VERSUS EFICIÊNCIA PROCESSUAL E O COMBATE AO


CRIME ORGANIZADO

Constitucionalmente previsto e incluído pela emenda Constitucional 19 de


1998, o princípio da Eficiência é um dos princípios norteadores que fazem mover
com maior desenvoltura e com o menor número de esforços possíveis o sistema
processual brasileiro.
Com base no Ministro Alexandre de Morais, o princípio da eficiência é:
aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes
a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências
de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem
burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos
critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos
recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma
maior rentabilidade social (MORAIS, 2021, p. 31).
O conceito possui diversas implicações e abrangência dentro do sistema legal
Brasileiros. Inicialmente, fala-se nos sujeitos a quem se destina o princípio, são eles:
a administração Pública direta e indireta, abrangendo parcela significativa da
atuação pública.
De acordo com o conceito não se trata da busca incessante pela tecnicidade
dos atos, mas o princípio busca o fim no Estado, na prestação de serviços à
contento para os seus cidadãos, prezando pela legalidade e moralidade para a
satisfação do bem comum.
Por outro lado, para o ministro uma atuação eficiente abrange ainda aspectos
relacionados até mesmo à imparcialidade, que no Brasil tem atenção requerida dado
os descobertados casos de corrupção nos últimos anos e o poder da influência
monetária dos criminosos de colarinho branco.
Uma atividade administrativa parcial, traz insegurança e desconfiança, tendo
em vista o afastamento das regras vigentes referentes à atuação do servidor
público.
Tanto a imparcialidade, a neutralidade e transparência são concatenadas em
explicação do capítulo 2 e que mostram relação clara com o princípio da eficiência.
Estado então o nosso legislador Constitucional acertado na escolha principiológica,
no que tange à harmonização de conceitos que possibilite o trâmite a contento do
bem comum.
Devemos levar em conta aqui também influências que levaram a elevação
desse princípio a status constitucional. Em 1995, quando Bresser Pereira, a época
ministro do Ministério da Administração e Reforma do Estado, trouxe o Plano Diretor
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de Reforma do Aparelho do Estado houveram grandes implicações administrativas


requeridas pela situação política estabelecida (RIPARI, 2012, p. 3).
Já no âmbito infraconstitucional, até mesmo pela própria construção das
normas e pelos princípios antes já consagrados foi se formando uma cultura do
escritório, em que as atividades são por demais regulamentadas, necessitando de
interpretadores e servidores muito mais eficientes para que a velocidade de
avaliação seja razoável.
Podemos falar que a própria excessividade de normas influem para um
sistema processual ainda mais ineficiente, em razão da normatização excessiva que
tende a regulamentar tudo aquilo que o Estado pode fazer e como pode agir.
Devendo todos aplicadores e interpretadores particulares e serventuários
vincularem-se de forma cogente a todas essas normas, incluindo ainda mais lentidão
nesse sistema, que por sua vez influencia na criação de ainda mais regras para um
melhor funcionamento.
Desta forma, o operador com receio de ser penalizado pelo não cumprimento
dessas regras se coloca estritamente a aplicar o conteúdo legal escrito no caso
concreto que nem sempre foi o motivo da mens leges, tendo cerceado a
possibilidade de soluções inovadoras e possivelmente mais adequadas ao caso
concreto.
Essa demonstração faz com que se reflita sobre o papel da excessiva
regulamentação e sobre o uso que os operadores do direito fazem com as mais
variadas regulamentações, influenciando diretamente na vida dos cidadãos que
estão distantes e não informados sobre essas regulamentações.
Por sua vez, esse fenômeno não pode ser interpretado somente à luz dos
resultados, mas que também observar às necessidades sociais de uma guia legal e
orientadora para incentivar uma conduta, extrapolando até mesmo ao caráter
relativo à integridade dos agentes, às intenções do operador do direito ao tomar as
decisões e às nuances subjetivas, como pode por vezes ser uma decisão judicial.
Em seu artigo 37 a Constituição prevê os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, tendo uma interpretação
constitucional expansiva. Devendo essa interpretação não ser limitada, até mesmo
pela sua previsão Constitucional, interpretação que recusa escalonamento de
princípios e que recusa preceito sem força normativa direta.
O objetivo do artigo não é depreender que os princípios da imparcialidade,
motivador da implementação do juiz das garantias, e o princípio da eficiência são
incompatíveis entre si. Estamos diante da implementação de uma novidade jurídica
que impactará em maior parte negativamente o sistema penal brasileiro. Fala-se,
assim, de uma restrição de amplitude dessa alteração em prol da imparcialidade em
razão do impacto que terá na eficiência do próprio transcorrer do processo criminal,
especialmente nos crimes de colarinho branco.
Quando falamos nos crimes relacionados à lei 12.850/13, a aprovação desse
novo modelo de competências dos juízes fará com que o processo ganhe alto grau
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de lentidão, além de aumentar em grande parcela a chance de nulidades


processuais devido à complexidade das análises requeridas.
De um lado, fala-se em redução da contaminação do julgador do processo
com elementos colhidos ainda em fase de investigação preliminar, ou seja, no
inquérito policial do outro os prejuízos referentes às conclusões dos processos
criminais, iniciados, investigados e ao fim não concluídos devido às possíveis
nulidades ou prescrições.
Nos dizeres de Rui Barbosa, em Oração aos moços, "justiça atrasada não é
justiça, senão injustiça qualificada e manifesta". Essa frase expressa o caráter
preocupante de uma alteração legislativa que quando entrar em vigor trará impactos
consideráveis, de um lado na celeridade de crimes ditos simples, mas a impunidade
de grandes corruptos e corruptores.
É imperioso afirmar que se o juiz que julgar a causa e sentenciar não tiver um
prévio contato com a matéria e não se envolver com decisões cautelares maior será
a chance de cognição imparcial dos elementos de provas angariados no inquérito
policial, sendo evidente essa melhoria no quesito imparcialidade.
Exemplo disso, já em funcionamento está o DIPO - o Departamento de
Inquéritos Policiais - que foi criado com o objetivo de tornar mais célere o
deferimento de medidas cautelares razoáveis, e a atuação do juiz na fase pré
processual, a possibilitar o relaxamento de prisão quando necessário observando a
liberdade jurídica do indivíduo investigado.
Esse instituto já funciona em São Paulo, somente na capital, desde 1984 e é
formado hoje por 13 juízes que desempenham a função do juiz na fase de
investigação. Em 2013, uma lei autorizou a ampliação do Departamento para o
interior, porém não foi efetivada até o momento por falta de recursos (RICHTER,
2020, p. 2).
Dada as informações relativas à data de criação bem como as possíveis
causas que levaram à não implementação desse mecanismo de julgamento no
interior de São Paulo é possível afirmar que dadas as devidas proporções também
não haveria recursos, financeiros nem orgânicos para tal.
Com a novel legislação alega-se que nas comarcas em que há reduzida
quantidade de juízes ou até mesmo um em situação de cumulação seria
inconcebível a utilização do instituto, este que está em estudo pelo CNJ desde a
suspensão da eficácia decidida pelo STF.
Essa alteração mesmo que em algum aspecto prático venha a trazer maior
imparcialidade e alguma celeridade no deferimento e cognição de medidas
cautelares, em favor das investigações ou em favor da liberdade do réu, não deve
ser colocada em prática principalmente pelo quesito celeridade processual, nos
crimes de colarinho branco.
A própria criação do juiz das garantias faz com que seja institucionalizada
mais uma instância de decisão e essa nova instância isso faz com que haja maior
extensão para recursos.
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O Brasil é considerado hoje um dentre os países que a justiça é mais lenta,


posicionado em 30º lugar dentre 133 países, segundo o Banco Mundial. Em estudo
realizado pelo próprio CNJ possibilitou constatar que apenas 27% dos processos
obtiveram sentença, entre 2009 e 2016 (MARQUES, 2018, p. 2).
Chegamos então a um fator relevante, dentre os diversos gargalos que
incidem sobre o sistema processual brasileiro temos a falta de juízes, pois apesar do
índice de processos sentenciados ser pouco, os juízes brasileiros chegam a média
de 7 processos por dia.
Esse fator por si só faz com que seja uma tarefa hercúlea o trabalho
judicante, sendo necessário até mesmo o fomento pelo Conselho Nacional de
Justiça metas e programas com premiações para os juízos mais eficientes.
Até que o processo seja sentenciado, com a criação de uma nova instância
teremos antes mesmo de chegar ao tribunal dois juízos atuantes. Essa nova
dinâmica faz com que haja uma nova extensão para ratificação de atos, ou como já
se conhece do sistema brasileiro, o empenho de muito mais tempo para incidência
de recursos formais e aplicação da prescrição.
Sabendo disso, apontamos os casos de conflito no entendimento, que são
comuns, afinal os tribunais e últimas instâncias tendem a pensar nas repercussões
em âmbito nacional. Essa resposta jurisdicional somada ao tempo necessário para o
trâmite comum entre todas as instâncias, a fila de processos na mesma situação
fática ainda não julgados, será ainda maior com a inclusão dessa nova instância.
Nesse mesmo sentido, quando o assunto é crime organizado, observa-se o
conceito trazido no parágrafo primeiro do artigo 1º da lei 12.850/13:
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos,
ou que sejam de caráter transnacional.

Os crimes dessa natureza têm por sua natureza a complexidade elevada, e


por consequência requer análise pormenorizada de uma extensa quantidade de
documentos, análise de provas, perícias técnicas, depoimentos, audiências
realizadas e o atendimento às defesas dos investigados.
A depender do tamanho da organização criminosa o processo que é resultado
de todo o trabalho terá duração e extensão superior aos processos comuns,
podendo chegar a mais de 10 vezes o tamanho de um processo simples.
Após o recebimento da denúncia o processo seguirá completo, com algumas
exceções para o juiz processual, por exemplo casos de provas irrepetíveis, medidas
de obtenção de provas ou provas antecipadas (SUXBERGER, 2019, p. 22).
Essa nova análise, somada aos fatores já explanados gerará uma demanda
imensa por uma força de trabalho maior, tendo em vista a assessoria e os juízes
necessários para tais análises.
13

Apesar dos argumentos a favor da implementação do juiz das garantias,


temos que estipular uma clara divisão: não se trata o ato de punir como reação
jurídica semelhante à parcialidade.
Fala-se em ato punível quando consequência de ato humano típico,
devidamente julgado sob o crivo do devido processo legal, contraditório e ampla
defesa, respeitando-se os princípios trazidos na Constituição, inclusive a eficiência,
no Código Penal e nas legislações correlatas.
Tal conceito visa esclarecer que injustificadamente se associa o punitivismo à
parcialidade. O sistema processual penal posto possui lacunas, mas nenhuma
dessas lacunas será comparada a essa nova alteração no que tange à celeridade
dos processos.
Possível solução é trazida ainda no âmbito das instituições já conhecidas, no
que concerne à busca pela imparcialidade, sem a implementação do juiz das
garantias.
As Corregedorias têm o propósito de fiscalizar e orientar a atuação dos
servidores da justiça, seja no âmbito do Ministério Público ou no âmbito do
Judiciário.
Cada um desses órgãos são dotados de seus respectivos órgãos internos,
além da participação do Conselho Nacional de Justiça, também atuante na
orientação, coordenação e execução de políticas públicas.
Estão entre as funções da Corregedoria de Justiça orientar, fiscalizar e
disciplinar os magistrados, dentre as suas competências temos: zelar pela
autonomia do poder judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, zelar
pelos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência por parte da
administração pública direta e indireta dos poderes da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, como é o caso do CNJ, além de receber reclamações contra
membros ou órgãos do Judiciário.
A atuação desse órgão administrativo deve estar atento à formulação das
melhores práticas e fornecimento de informações para subsidiar e proporcionar o
melhor desempenho dos sujeitos ativos do judiciário e por consequência da justiça
brasileira.
Decorrente dos princípios elencados o CNJ aprovou o Código de Ética da
Magistratura Nacional, objetivando o cultivo de princípios éticos, além de se ocupar
com a função educativa e exemplar de cidadania que o juiz togado deve ter em face
dos demais grupos sociais, fortalecendo assim a figura do judiciário como instituição
eficiente e dotada de profissionais de excelência moral (NOVO, 2019, p. 2-3, com
adaptações).
No que concerne aos cuidados desse órgão na atuação do magistrado,
busca-se ainda a tão discutida imparcialidade presente na Lei Orgânica da
Magistratura. Que apesar de tão buscada e nos tempos atuais tão questionada,
somente consta no art. 88 da Lei Orgânica da Magistratura como característica
protegida pela inamovibilidade do juiz.
14

Assim, o entendimento alcançado com a pesquisa está no sentido de que há


instituições já em funcionamento que no sistema penal brasileiro realizariam funções
sinônimas e menos dispendiosas que a implementação de uma nova divisão de
competências. A busca por um novo modelo de judiciário faz-se com a renovação de
políticas em favor da transparência e da imparcialidade sem ferir o trâmite e a
celeridade dos processos investigativos e judicantes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão do juiz das garantias no atual sistema penal brasileiro trará


bastante lentidão aos trâmites de processos relacionados ao crime organizado. Isso,
porque, como foi demonstrado a divisão de atribuição advindas dessa nova
alteração fará com que se estenda em muito as possibilidades de anulações,
interpretações diversas de casos julgados com a criação dessa nova instância, além
da possibilidade maior de prescrição, aumentando assim a impunidade dessa classe
raramente tocável no Brasil.
O sistema penal brasileiro carece de alterações, mas de longe essa não seria
uma alteração prioritária. Como demonstrado, houve pouca discussão para sua
apresentação e aprovação. Apesar de já bastante estudado pela área acadêmica e
incentivado há tempos pelo professor Aury Lopes o instituto carece de ponderação
para sua aplicação atual.
A crítica advém não da sua figura em si, pois a imparcialidade é critério
importante judiciário, mas do seu contraponto ao princípio da eficiência, e
implicações advindas da sua criação e das brechas desde já encontradas para uma
ineficiência da atuação investigativa e jurisdicional no combate à criminalidade do
colarinho branco.
O aprimoramento do processo decisório do juiz ocorre mais por intermédio de
ações sistemáticas e simplificadoras, visando desburocratizar a investigação,
visando em tudo segurança jurídica e celeridade e menos por meio de criação de
novas ferramentas em detrimento de tantas outras já criadas e não efetivadas.

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