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O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL

Maurício Rodrigues Oliveira1

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo discutir sobre a temática: O princípio da


insignificância na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Oferecendo ao leitor uma
análise da importância deste princípio atinente ao direito penal na jurisprudência brasileira. O
trabalho foi organizado utilizando-se o método dedutivo, haja vista que parte, em um primeiro
momento, do conceito geral sobre princípios e as diferenças entre eles e as normas para em
seguida especificar a análise do princípio da insignificância e da sua ocorrência em casos
concretos que pautaram as decisões de ministros do STF. Verificou-se que o entendimento da
relação principiológica no direito é imprescindível para a doutrina jurídica, pois em muitas
situações tais princípios têm sido suficientes para garantir o direito adquirido.
Palavras-chave: princípios, normas, regras, jurisprudência.

1 INTRODUÇÃO

Neste artigo discutiremos sobre um dos mais importantes princípios do Direito Penal,
a saber: o Princípio da Insignificância. Tal abordagem apresenta demasiada importância uma
vez que tal princípio funcionará em diversas ocasiões, como fonte do direito, corroborando
para a tomada de decisões e criando jurisprudência a respeito do assunto.
Objetivamos com isso estimular o leitor a discutir esta temática que, indubitavelmente,
é imprescindível para a análise jurídica penalista.

2 ANÁLISE DA TEORIA DO PRINCÍPIO DA INSGNIFICÂNCIA NA ÓTICA DA


JURISPRUDÊNCIA DO STF

Grande parte dos princípios da doutrina jurídica brasileiras podem ser encontrados em
nossa Carta Magna no seu Título II “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, contudo a
própria Constituição destaca no § 2º, Art. 5º que estes direitos e garantias “não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte”
Estes princípios (explícitos na constituição ou não) abrangem todos os ramos do
direito, inclusive o Direito Penal. Os princípios constitucionais do direito são: legalidade,
1
Aluno da graduação de Bacharelado em Direito da Faculdade Integrada em Pernambuco – P. E. – e-mail
<mauriciophd@gmail.com>
taxatividade, insignificância, proporcionalidade, intervenção mínima, fragmentariedade,
subsidiaridade, adequação social, culpabilidade, humanidade, exclusiva proteção dos bens
jurídicos, pessoalidade da pena e individualização da pena (LOPES apud SILVA, 2006, p. 76)
Partindo desta enumeração, iremos nos ater ao princípio da insignificância, pelo qual o
crime praticado por um determinado agente pode deixar de ser punido em razão de o ato
praticado estar revestido por um caráter de pequena relevância, de acordo com os aspectos
morais da sociedade. Para uma melhor sistematização veremos o assunto detalhadamente
partindo do conceito de princípios, até chegarmos ao princípio da insignificância e sua
aplicabilidade no caso concreto.

2.1CONCEITUANDO PRINCÍPIOS

O Dicionário Aurélio básico apresenta três definições para princípios, quais sejam:
rudimentos, primeira época da vida e proposições diretoras de uma ciência, às quais todo o
desenvolvimento posterior dessa ciência está subordinado. Podemos perceber claramente por
estas definições que o sentido usual do vocábulo apresentado está sempre relacionado ao
início, a formação de uma determinada coisa.
Na área jurídica, todavia, os princípios encontram valor semântico diverso do ora
apresentado, neste caso os “princípios são mandamentos nucleares e fundamentais de um
sistema. Na seara jurídica significam a base fundamental do ordenamento normativo, atuando
como critérios de direção na elaboração e aplicação das outras normas” (SILVA, 2006, p. 23):
Pelo exposto fica evidente que os princípios são normas basilares que fundamentam o
ordenamento jurídico de uma determinada nação.
O jus-filósofo alemão Robert Alexy aprofunda a discussão em seu livro “Teoria dos
Direitos fundamentais” discutindo a diferenciação entre regras e princípios.
Para ele as normas ou direitos fundamentais dividem-se em regras e princípios, que se
distinguem por diversos aspectos, o primeiro deles é generalidade, segundo a qual os
princípios possuem um grau de generalidade relativamente alto, enquanto o das regras é
baixo, a seguir temos os demais aspectos distintivos enumerados por Alexy (1993, p. 83-84):

“Como otros criterios de distinción se discuten la ‘determinabilidad de los


casos de aplicación’, la forma de su génesis – por ejemplo, la distinción entre normas
‘creadas’ y ‘desarrolladas’ – el carácter explícito del contenido valorativo, la
referencia a la idea del derecho o a una ley jurídica suprema y la importancia para el
ordenamiento jurídico. Además, las reglas y los principios son diferenciados según
que sean fundamentos de reglas o reglas ellos mismos o según se trate de normas de
argumentación o de compartamiento”

Os critérios apresentados por Alexy demonstram que os princípios possuem uma


amplitude e uma abrangência maiores que as regras, haja vista que estas últimas estão
voltadas para direitos mais específicos ou individuais, enquanto que os primeiros abordam a
totalidade dos indivíduos. Além disso, os princípios têm uma abstração mais elevada, já que
não se dirigem a nenhum caso específico.

2.2 DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


O Direito Penal tem sua existência fundamentada na preservação dos bens jurídicos,
desta forma o princípio da insignificância está assentado na irrelevância do ato na lesão aos
bens protegidos pela Lei Penal, ou seja, o ato praticado por um determinado agente tornar-se-
á atípico pelo caráter irrelevante que apresenta.
Essa irrelevância poderá ser representada por uma conduta que a sociedade, baseada
no aspecto da moralidade, considere irrelevante ou ainda, quando envolver tipos penais que
teoricamente estejam revestidos pela gravidade, mas que quando avaliadas no caso concreto
assumem um caráter de irrelevância.
O princípio da insignificância está intimamente ligado aos crimes de bagatela, que são
aqueles que apresentam uma lesão mínima.

2.3 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL DO PRINCÍPIO DA INSIGINIFICÂNCIA NO


STF
A lei penal adjetiva brasileira prevê que estes crimes de bagatela importam em causas
de diminuição da pena, todavia, a doutrina já admite que em determinados casos não é
atingido aspecto objetivo do tipo penal, devido a sua inexpressividade.
Alguns teóricos são bastante relutantes em validar o princípio da insignificância, para
eles essa validação corroboraria para estimular a prática de pequenos delitos.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vai de encontro a estes teóricos,
reconhecendo o princípio da insignificância, inclusive considerando-o para tornar atípica
conduta de agentes. Neste trecho de uma decisão do ministro Marco Aurélio, fica clara a
tendência do STF, com relação ao princípio da insignificância: “Uma vez verificada a
insignificância jurídica do ato apontado como delituoso, impõe-se o trancamento da ação
penal, por falta de justa causa”.2

3 CONCLUSÃO

É importantíssimo que o aplicador do direito esteja preparado para avaliar a


aplicabilidade dos princípios constitucionais penais no caso concreto. As decisões do STF têm
demonstrado que o princípio da insignificância está ganhando credibilidade, daí o aumento da
sua atualização.
É preciso destacar ainda que a insignificância deva repousar em quatro fatores: o
pequeno valor do bem jurídico atingido, ao caráter irrelevante da conduta do agente, a falta de
ambição em querer algo mais valioso e no agente em si.
Em suma, devemos analisar cada caso isoladamente, para uma aplicabilidade correta
do princípio da insignificância, é indubitável a aceitação deste princípio na jurisprudência,
porém ele só será bem utilizado se estiver completamente adequado ao caso fático a que
estiver relacionado.
REFERÊNCIAS

2
RTJ 178/310, Rel. Min. MARCO AURÉLIO apud http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/documentos-e-
publicacoes/docs_decisoes_trib/stf/principio_insignificancia.pdf
ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales, trad. Ernesto Garzón Valdés.
Madrid : Centro de Estudios Constitucionales, 1993

BRASIL. Constituição, 1988.

SILVA, I. L. Princípio da insignificância no Direito Penal. Curitiba: Juruá, 2006.

FILHO, W.S.G. Processo constitucional e direitos fundamentais. 2 ed. São Paulo: Celso
Bastos. 2001.

SILVA, R. P. M. O princípio da insignificância no Direito Penal. Disponível em:


http://www.uff.br/direito/artigos/perling5.htm Acesso em: 17 out. 2008.

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