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PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

O princípio da insignificância aplicado pelo Delegado de polícia

Erivone Ribeiro de Araújo 1

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo apresentar o tema sobre o princípio da insignificância aplicado
pelo Delegado de Polícia, que constantemente, tem se colocado em evidência no cenário jurídico
penal brasileiro, como causa excludente de tipicidade dos crimes de bagatela. O princípio da
insignificância, também conhecido como princípio da bagatela, é aplicado pelo delegado de polícia
em seu estágio pré-processual, pois como atribuição, é a primeira guardiã de direitos e garantias
individuais no contexto penal. A metodologia adotada neste artigo será por meio de uma ampla
pesquisa bibliográfica, utilizou-se como método de abordagem qualitativa e efetuando-se as consultas
e pesquisas necessárias na doutrina, jurisprudência e principalmente na legislação de regência. São
explanadas as condições para a aplicação do princípio da insignificância, pelo Delegado de Polícia
que pode deixar de produzir prisão em flagrante, ou iniciar uma investigação policial. Conclui-se que
autoridade policial tem oportunidade de aplicação do princípio da insignificância em casos concretos,
no entanto o princípio da insignificância no campo do direito penal tem a capacidade de afastar a
legislação repressora, uma vez que o tipo penal deve ser analisado nos aspectos formal e material .

PALAVRAS-CHAVE: Princípio da Insignificância; Excludente de Tipicidade; Crimes


de bagatela; Intervenção mínima; Delegado de Polícia.

ABSTRACT

This study aims to present the theme about the principle of insignificance applied by the Police
Delegate, which has constantly been highlighted in the Brazilian criminal legal scenario, as an
exclusionary cause of typicality of trifling crimes. The principle of insignificance, also known as the
trifling principle, is applied by the police chief at his pre-procedural stage, as an assignment he is the
first guardian of individual rights and guarantees in the criminal context. The methodology adopted in
this article will be through a broad bibliographic research, used as a method of qualitative approach
and making the necessary consultations and research in doctrine, jurisprudence and especially in the
governing legislation. The conditions for the application of the principle of insignificance are explained
by the Police Chief who may stop producing a red-handed arrest or initiate a police investigation. It is
concluded that the police authority has the opportunity to apply the principle of insignificance in
specific cases, however the principle of insignificance in the field of criminal law has the ability to
depart from repressive legislation, since the criminal type must be analyzed in the formal aspects. and
material

KEYWORDS: Insignificance Principle; Exclusivity Excluder; Trifle crimes; Minimal in-


tervention; Police Officer.

Graduando
1
do Curso de Direito do Centro Universitário FAMETRO. E-mail:
Dearaujouol@outlook.com
1 INTRODUÇÃO

O princípio da insignificância também reconhecido como o crime de


bagatela, acontece quando uma ação tipificada como crime, elaborada por
determinado indivíduo, é irrelevante, não provocando qualquer prejuízo à sociedade
e ao ordenamento jurídico ou à própria vítima.
A execução do princípio da insignificância pelo delegado de polícia é uma
matéria, ainda discutida na esfera doutrinária e no campo jurisprudencial. A própria
aplicação do referido princípio, independentemente de qual seguimento faça a
análise jurídica, ainda não se encontra um consenso tendo em vista os critérios de
admissibilidade elencados pelos tribunais superiores.
O delegado de polícia é a primeira autoridade da polícia judiciária a garantir
os direitos e das garantias fundamentais, no entanto a aplicação do princípio da
insignificância é um tema ainda polêmico e resistido pelos doutrinadores legalistas,
haja vista ainda não existir previsão legal que legitime o delegado aplicar o princípio.
O princípio da insignificância sendo uma excludente de tipicidade, tendo a
sua aplicação pelos Delegados de Polícia, que diariamente lidam com situações, em
que a aplicação do princípio da insignificância é de utilidade como filtro para o direito
penal, a partir de condutas de não lesão ou que expressa perigo ao bem jurídico
tutelado pela norma penal. Neste contexto temos a seguinte problemática: Quais os
limites da aplicabilidade do princípio da insignificância pelos delegados de polícia?
Com a garantia de garantir a celeridade jurídica e economia de custos
processuais e prisionais, a aplicabilidade do princípio da insignificância pelo
Delegado de Polícia pode representar um ganho no meio jurídico. O Delegado de
Polícia, que em sua grande maioria das vezes, é o primeiro órgão com contato do
receptor do caso em concreto, assim como é a responsável pelos procedimentos
criminais levados ao conhecimento do Ministério Público e, consequentemente, o
Judiciário.
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o princípio da
insignificância aplicado pela autoridade do delgado de polícia.
2 FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA
2.1 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Sob a perspectiva da evolução histórica do princípio da insignificância não há


um tema pacifico no tocante a doutrina. Alguns o relacionam ao Direito Romano,
onde subsiste o brocardo: mínima non curat pretor. Visto que, o protetor não cuidava
de causas ou delitos de bagatela. No entanto há os que negam essa forma da
origem, Maurício A. R. Lopes (2000), enfatiza:

O Direito romano foi notadamente desenvolvido sob a ótica do Direito


Privado e não do Direito Público. Existe naquele brocardo menos do que um
princípio, um mero aforismo. ... a máxima minimis non curat pretor ... serve
como referência, mas não como via de reconhecimento do princípio
(LOPES, 2000. p.44).

Quanto ao seu surgimento origem e a evolução história, ambas


permaneceram continuamente relacionadas ao Princípio da Legalidade,
assegurando assim, a liberdade individual no Estado Democrático de Direito
(LOPES, 2000. p.44).
Santos (2017) descreve a disseminação do interesse particular político e o
progresso do princípio da legalidade em paralelo ao Iluminismo, na qual ouve uma
aprendizagem estruturada do princípio da insignificância, que se originou no ecômio
da delimitação de poder que o Estado detém, em que apenas decorreria ilicitude no
que era proibido em lei, encarregados os juízes de serem condescendentes à lei
penal.
Não possui característica meramente econômica, puramente de distintivo
patrimonial, todavia, se diz respeito a um princípio de direito penal tendo objetivo de
conduzir e definir o conteúdo das diretrizes penais, tendo que ser tencionado de
forma integral às condutas classificadas como crime, certificando que apenas os
atos de definição consideravelmente penal incidem de normas penais (LOPES,
2000. p. 41-42).
Gomes (2017), também evidenciou a menção, do mesmo, feita pela primeira
vez em epigrafe em uma seção de julgamento, localmente, pelo Supremo Tribunal
no Habeas Corpus nº 66.8691/PR em 06.12.1988, sendo o acontecimento de uma
lesão corporal alusivo a um acidente de trânsito, durante o processo de verificação
foi constatado que o fato ocorrido foi irrisório e, por essa razão, foi concluído que o
disposto não tinha sido configuração de crime, havendo assim coibição do início de
um ato penal.
Em 1964 Claus Roxin introduziu no Direito Penal o princípio da
insignificância, com o objetivo de excluir uma ação tipificada considerada irrelevante,
de valoração irrisória.
Os delitos são todos os descritos pela norma penal e extrapenal. O delito
insignificante é o incapaz de gerar agravo à sociedade, ou seja, uma ação inábil.
Assim, destaca-se a concepção de Gomes (2009, p. 15):

Conceito de infração bagatelar: infração bagatelar ou delito de bagatela ou


crime insignificante expressa o fato de ninharia, de pouca relevância (ou
seja: insignificante). Em outras palavras, é uma conduta ou um ataque ao
bem jurídico tão irrelevante que não requer a (ou não necessita da)
intervenção penal. Resulta desproporcional a intervenção penal nesse caso.
O fato insignificante, destarte, deve ficar reservado para outras áreas do
Direito (civil, administrativo, trabalhista etc.). Não se justifica a incidência do
Direito Penal (com todas as suas pesadas armas sancionatórias) sobre o
fato verdadeiramente insignificante (GOMES,2009, p. 15).

Refere-se a uma elaboração de dogma com o objetivo de solucionar temas


de injustiça provenientes da ausência de correlação entre atuação reprovada com
pena cabível, em conformidade a resultados provenientes de ordem político criminal
(REBÊLO, 2000, p. 95). Na percepção de Silva (2010):

O Princípio da Insignificância faz as vezes de mecanismo de controle


quantitativo qualitativo das lesões aos bens jurídicos protegidos penalmente,
objetivando, assim, estabelecer um padrão denominado "mínimo ético" do
Direito Penal. Atua, portanto, como instrumento de interpretação restritiva do
tipo penal para evitar injustiças na aplicação do direito repressivo, uma vez
que o Direito Penal não se deve ocupar com ninharias (SILVA,2010, p. 16)

Quando se ultrapassa limites que são determinados por princípios de


intervenção mínima da lesividade e da conveniência social que o Poder Legislativo,
arriscar-se-á a tipificar os atos humanas em questão, em virtude de o Direito Penal
ser marcado pela interpretação minimalista, equilibrada, com o dever de proteger
bens jurídicos significativos, como quando estes estiverem sob ataques lesivos e
impróprios em concordância com a ótica social (GRECO, 2007, p.94).
Há também a existência de várias bases que fundamentam a não
ocorrência do Direito Penal, quando se trate de infrações bagatelares, como os
princípios: do dano social (somente merece pena a conduta que ultrapasse a esfera
autor-vítima, atingindo, lesando, a coletividade), da ofensividade (reprovável e grave
lesão a bem jurídico), da objetividade jurídica (exclusiva proteção de bens jurídicos
que mereçam efetivamente a tutela do direito penal), da adequação social, princípio
este que ganhou força no Direito Penal com Welzel, sendo estudado dentro da
Teoria do Delito, referindo-se a condutas que são aceitas de um modo geral pela
sociedade, devido a seus costumes, crenças e, portanto, são afastadas da
incidência do ramo mais gravoso do Direito (ZAFFARONI,2011, p. 399).
Nota-se ausência de conceituação expressa do princípio da insignificância
em relação aos códices jurídicos, dado que essa falta de prognostico de
reconhecimento, haja vista que a não determinação de termos confere instabilidade
à segurança jurídica, porquanto ficam à escolha pessoal de quem está aplicando o
Direito aos parâmetros de fixação e de determinação dos feitos considerados
desprezíveis em relação ao princípio, levando em consideração aos padrões
subjetivo e empírico do magistrado e de outros aplicadores do Direito (SILVA, 2005,
p. 93).
Claus Roxin formula o princípio da insignificância, como uma manifestação
contrária ao uso excessivo da sanção criminal. Por ele, devem ser tidas como
atípicas as ações ou omissões que afetem minimamente um bem jurídico penal. A
irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena,
devendo-se excluir a tipicidade em casos de danos de pouca importância, monta ou
relevância. É um critério de interpretação restritiva (correção típica) e como critério
para a determinação do injusto penal. Convém advertir para a grande imprecisão
desse critério, o que pode atingir gravemente a segurança jurídica (PRADO,2005).
O tipo legal é a manifestação de uma norma que é gerada para tutelar a
relação de um sujeito com um ente, chamado bem jurídico. A norma proibitiva que
dá lugar ao tipo não está isolada, mas permanece junto com outras normas também
proibitivas, formando uma ordem normativa, onde não se concebe que uma norma
proíba o que outra ordena ou aquela que outra fomenta. Se isso fosse admitido, não
se poderia falar de ordem normativa e sim de um amontoado caprichoso de normas
arbitrariamente reunidas.
O fenômeno da fórmula legal pode aparentemente abarcar hipóteses que
não são alcançadas pela norma proibitiva, considerada isoladamente, mas que, de
modo algum, podem incluir-se na sua proibição, quando considerada
conglobadamente, isto é, fazendo parte de um universo ordenado de normas. Daí
que a tipicidade penal não se reduz à tipicidade legal, a adequação à norma legal,
mas sim que deva evidenciar uma verdadeira proibição com relevância penal. Para
isso é necessário que esteja proibida à luz da consideração conglobada da norma.
Isto significa que a tipicidade penal implica a tipicidade legal corrigida pela tipicidade
conglobante, que pode reduzir o âmbito da proibição aparente, que surge da
consideração isolada da tipicidade legal (ZAFFARONI, 2004).
Para que o aplicador do Direito pudesse determinar e enquadrar uma
conduta, em relação a natureza jurídica da insignificância, dividiu-se a tipicidade
penal em formal e material. Tornando-se imprescindível uma breve análise e
discriminação destas.
Tipicidade formal é quando o fato é adequado à letra da lei, ou seja, há
conformidade pelo agente à normal penal, enquanto que a tipicidade material
consiste em a conduta típica representar lesão ao bem sob proteção do Direito
Penal. Segundo Cunha, houve adequação de conceitos de tipicidade formal com a
conglobante. Ele destaca:
A tipicidade conglobante, por sua vez, deve ser analisada sob dois
aspectos: (A) se a conduta representa relevante lesão ou perigo de lesão ao
bem jurídico (tipicidade material) e (B) se a conduta é determinada ou
fomentada pelo direito penal (antinormatividade). (CUNHA, 2014, p. 72).

Segundo Bitencourt (2012), A tipicidade formal refere-se a um


comportamento abstrato pelo legislador que descreve uma conduta proibida. É
definido como adequação de fato ocorrido à descrição do tipo penal. Assim, quando
ocorre um comportamento com características insuficientes de adequação à
descrição legal de um crime, ele é considerado formalmente atípico.
No entanto, no que diz à tipicidade conglobante, Zaffaroni (1997) confere à
conjugação da tipicidade formal e da tipicidade conglobante, que, por sua vez, seria
constituída de tipicidade material e antinormatividade. A tipicidade conglobante “é a
comprovação de que a conduta legalmente típica está também proibida pela norma,
o que se obtém desentranhando o alcance da norma proibitiva conglobada com as
restantes normas da ordem normativa”.
2.1.1 Conceito

O princípio da insignificância é baseado em fundamentos do Direito Penal,


por meio das suas características de cárter subsidiário e fragmentário.
É válido destacar que há crimes considerados insignificantes que, na
essência, não chegam a causar danos ao bem protegido, é a partir disso, que surge
o princípio da insignificância (princípio de bagatela), cuja finalidade é a de afastar o
caráter ilícito do fato discriminado pela norma penal. O princípio da insignificância
caracteriza-se pelo afastamento da conduta praticada pelo agente delituoso, não
sendo essa conduta considerada crime, embora típica, por faltar relevância jurídica
entre a conduta (insignificante) e o tipo penal. Para Queiroz (2013), [...] constitui,
portanto, um instrumento por cujo meio o juiz, em razão da manifesta desproporção
entre o crime e castigo, reconhece o caráter não criminoso de um fato que, embora
formalmente típico, não constitui uma lesão digna de proteção penal, por não
produzir uma violação realmente importante ao bem jurídico tutelado. (QUEIROZ,
2013, p. 91).
Levando em consideração a abordagem do princípio da insignificância, não
são imprecisos os atos de mau trato classificados quanto lesão à integridade
corporal, todavia unicamente o que é; sendo assim, exclusivamente a lesão grave. É
necessário considerar a força imposta pelo autor com o empecilho de determinada
importância e que o indicio de ameaça seja sensível o suficiente para exceder a área
da criminalidade (ROXIN, 1972, p. 53).
À luz da função geral – que dá relevância à ordem jurídica – que pode ser
confirmada a insignificância de uma ação que se amolda ao tipo penal, não devendo
se considerar apenas a reflexão legalista da norma (ZAFFARONI, 1991, p. 475).
Segundo Bittencourt (2002), não compete há quem interpreta e aplica o
Direito, a escolha dos bens jurídicos a serem tutelados pelo Estado, também não
compete aos mesmos as diretrizes a serem aplicadas para a escolha triagem dos
mesmos, já que essa função cabe ao legislador. Não é suficiente caracterizar como
insignificante uma transgressão de menor potencial ofensivo, porque em
determinados casos, como por exemplo os delitos de lesão corporal leve, ameaça
ou injuria, foram valorados pelo legislador que estabelece as implicações jurídico-
penais aos infratores, bem como as sanções equivalente. Ainda que sejam de
inferior importância quando comparados a outras infrações, são de relevância social
e penal, tendo que ser julgadas pela dimensão da lesão que foi produzida e não
somente pela consideração do bem.
Lopes (2000), destaca que o bem jurídico de menor pertinência é aquele que
não possui importância suficiente que requer grau mínimo de interferência mínima
do Estado à esfera penal. Não se deve consubstanciar ambas com transgressões
inferiores de menor potencialidade ofensiva como prevista pela Carta Magna, uma
vez que, não há ligação direta entre o que é ofensivo e irrelevante ao bem jurídico.
O potencial ofensivo refere-se à ação lesiva ao bem jurídico sem prejuízo de valor,
mesmo sendo relevante ou não
Embora sem previsão legal expressa, o princípio da insignificância é
reconhecido pela doutrina brasileira10e pelos Tribunais Superiores, tendo o
Supremo Tribunal Federal, inclusive, traçado vetores para a sua aplicação, conforme
será visto no momento oportuno. Pelo princípio da insignificância, o Direito Penal só
deve se preocupar com as condutas mais relevantes e não condutas bagatelares,
ínfimas, ou seja, aquelas condutas incapazes de causar qualquer afetação a bem
jurídico protegido por lei.
“A tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem jurídico protegido,
pois é inconcebível que o legislador tenha imaginado inserir em um tipo penal
condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o interesse protegido”
(CAPEZ, 2015).
Sendo certo que o objetivo dos tipos penais incriminadores é de proteger um
bem jurídico, quando determinado fato for insignificante ou irrelevante, a conduta
não deve ser tida como típica.
“Adotada a teoria da imputação objetiva, que concede relevância à afetação
jurídica como resultado normativo do crime, esse princípio apresenta enorme
importância, permitindo que não ingressem no campo penal fatos de ofensividade
mínima” (JESUS, 2011, p. 54).
Á luz da função geral, que se dá relevância à ordem jurídica que, pode ser
confirmada a insignificância de uma ação que se amolda ao tipo penal, não devendo
se considerar apenas a reflexão legalista da norma (ZAFFARONI, 1991, p. 475).
É de bom alvitre ressaltar que não se deve confundir o referido princípio com
aquele denominado de bagatela impropria, pois aquele possui a natureza jurídica de
exclusão da tipicidade material da conduta, enquanto este exclui a culpabilidade no
comportamento praticado pelo agente. Para o Ministro Celso de Melo, “o princípio da
insignificância qualifica-se como fator de descaracterização material da tipicidade
penal” (BRASIL, 2017).
A infração que é maneada pelo princípio da insignificância é definida por
apresentar insuficiente reprovação, dano a bem jurídico não relevante, habitual,
maior ocorrência em crime contra o patrimônio e em transito por interesse político-
criminal.
Para Bittencourt (2002), a tipicidade penal apenas ocorrerá e acarretará
resultados ao ramo jurídico se houver ofensa que provoque relevante gravidade à
bens jurídicos tutelados, já que, nem toda ofensa é suficiente para se considerada
injusto penal. Assim, o Princípio da Insignificância (ou Princípio da Bagatela) requer
equilíbrio e equivalência entre a gravidade do ato e a necessidade da intervenção do
Estado, ou seja, feitos que representam um tipo penal, no entanto no âmbito formal
não dispõem de importância material para que se requeira o distanciamento da
tipicidade penal, posto que o bem jurídico não foi relevantemente prejudicado.
Segundo Cervini (1995), o sistema penitenciário opta pela ressocialização
como tratamento, descartando, qualquer tipo de sofrimento e castigo sob ótica que
visa a recuperação do delinquente. Uma vez que, para o autor, a maioria dos
indivíduos que cometem crimes principalmente contra a propriedade, o cometem por
reprodução da mídia ou por questões de desemprego, tornando o encarceramento
do mesmo ineficaz a efeitos duradouros.

2.2 AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Para haver a aplicabilidade do princípio da insignificância, é necessário que


aconteça em concomitante ao princípio da proporcionalidade da pena quanto à
gravidade do injusto e os princípios constitucionais restritivos do poder Estatal, tendo
o princípio da Intervenção Mínima, tutelando os bens jurídicos mais relevantes, e o
Princípio da Fragmentariedade, atuando o Direito Penal somente quando a tutela
não puder ser realizada por outros do ramo do Direito.
O princípio da insignificância está relacionado com a infração bagatelar, que
vem a ser aquela cometida com efetiva lesão ao bem jurídico tutelado que, porém, é
de tão pequena monta, em qualidade ou quantidade, que não requer ou não tem
dignidade penal, a ponto de mover a tutela jurisdicional do Estado, em seu ius
puniendi. A doutrina tem estabelecido que a infração bagatelar pode ter duas
dimensões:
Infração bagatelar própria: o delito já nasce sem relevância penal, sem
significância. Seja porque não há desvalor na ação, não há periculosidade na
conduta e a idoneidade ofensiva é irrelevante. Ou ainda porque não há relevância no
resultado, não sendo considerado um ataque ou lesão significativa do bem jurídico
tutelado. Há insignificância na conduta e no resultado. O fato já nasce, de per si,
insignificante. Nesses casos, diante de uma interpretação restritiva do juiz, afasta-se
a tipicidade material do delito, descaracterizando assim a tipicidade e,
consequentemente a sua punibilidade. Torna-se um fato atípico e não há incidência
do Direito Penal. Não a nem mesmo a instauração de processo contra o agente
(GOMES, 2002);
Infração bagatelar imprópria: ocorrência do delito típico, com dignidade
penal, havendo relevante desvalor da conduta e também desvalor do resultado.
Posteriormente se verifica que a aplicação de qualquer pena se torna desnecessária
pelo Princípio da Irrelevância penal do fato, aplicando-se assim o princípio da
desnecessidade da pena. A não aplicação de pena vai resultar da interpretação,
observância e aplicação de diversos fatores: reparação dos danos, reconhecimento
da culpa, colaboração com a justiça e outros fatores. Por ser um Princípio
interpretativo, ocorrerá também no momento da quantificação da pena, a aplicação
dos elementos do artigo 59 do Código Penal. Há a instauração do processo e a
dispensa da pena faz-se semelhante ao que ocorre no perdão judicial (GOMES,
2002).
Por se tratar de um instituto jurídico de natureza supralegal introduzido pela
doutrina no Brasil, para a efetiva aplicação do princípio da insignificância é
necessário que haja no caso concreto a presença de quatro vetores de forma
cumulativa, evitando assim, que haja difusão do mesmo.
Do que trata dos requisitos, O Supremo Tribunal Federal, se manifestou a
acerca da insignificância, tem dito repetidamente que a identificação do mesmo no
caso concreto, demanda da identificação cumulativa destes quatros
elementos/vetores/requisitos, quais sejam: mínima ofensividade da conduta;
ausência de periculosidade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; inexpressividade da lesão jurídica produzida (MORAES;
CHRISTÓFARO, 2009, p. 02).
O Supremo Tribunal Federal também convencionou dizer que a grande
consequência jurídica do reconhecimento de tal instituto é a exclusão do crime. Ou
seja, a consequência jurídica caso entenda que deva ser aplicado a criminalidade de
bagatela no caso concreto (por entender presentes os 04 vetores, é a exclusão do
crime-portanto, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a atipicidade
material da conduta (MORAES; CHRISTÓFARO, 2009, p. 02).
Assim, há reconhecimento do princípio da insignificância incumbindo-se em
caso concreto, na presença de 04 (quatro) vetores legais, que devem ser
cumulativamente preenchidos para sua devida aplicação, como consequência
jurídica há exclusão do crime.
Ressalta-se que, a não observância destes requisitos legais, ocorre
impedimento para aplicação do princípio da insignificância.
Como exemplo, uma o Superior Tribunal de Justiça dispôs:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. 1. WRIT SUBSTITUTIVO


DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES DA
PRIMEIRA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2. CRIME
CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO SIMPLES. CRIMINOSO CONTUMAZ.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES DO STF E STJ.3. RECURSO DESPROVIDO. 1. Os
Tribunais Superiores restringiram o uso do habeas corpus e não mais o
admitem como substitutivo de outros recursos e nem sequer para as
revisões criminais. 2. OSupremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça entendem que, para a configuração do delito de bagatela, devem
estar presentes, de forma concomitante, os seguintes requisitos: 1) conduta
minimamente ofensiva; 2) ausência de periculosidade do agente; 3)
reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e, 4) lesão jurídica
inexpressiva.3. Para a aplicação do princípio da insignificância, além do
aspecto objetivo, a jurisprudência deste Sodalício tem exigido também que
não se trate de criminoso habitual (requisito subjetivo), o que não está
preenchido no caso dos autos. 4. Agravo regimental não provido. (STJ -
AgRg no HC: 276195 RS 2013/0285102-6, Relator: Ministro MOURA
RIBEIRO, Data de Julgamento: 27/05/2014, T5 -QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 30/05/2014) -grifo nosso.

No entanto, ainda que os tribunais tenham entrado em consenso em relação


a aplicação do princípio, há dois pontos discrepantes e um ponto de semelhança. A
semelhança diz respeito a compreensão dos dois tribunais em que nenhum aplica o
Princípio da Insignificância aos crimes contra a fé pública, como o crime de
falsificação de moeda, previsto no artigo 289 do Código Penal. Já os dois pontos
que divergem em jurisprudência são: O Supremo Tribunal Federal que faz a analisa
da insignificância com base na realidade econômica do país. Enquanto o Superior
Tribunal de Justiça, no estudo para a abordagem do que é ou não insignificante, a
análise é feita com base na situação da vítima. Outro ponto divergente é que o
Supremo Tribunal Federal admite que Princípio da Insignificância seja aplicado aos
crimes contra a administração pública, e o Superior Tribunal de Justiça não o aplica
aos crimes praticados contra a administração pública, com base no o argumento de
que o bem jurídico tutelado não é o patrimônio público, mas a sim a moralidade
administrativa.
Em suma, podemos concluir que, embora haja a fixação de critérios para o
uso do Princípio da Insignificância, a jurisprudência ainda possui muitos pontos de
colisão. Nesse diapasão, entendemos que há a necessidade de fixação de algumas
balizas para explicar, com clareza, o significado de cada critério
Dessa forma, não se pode afirmar que o princípio sempre será aplicado às
mesmas situações, pois não há um rol taxativo para tanto. Para a aplicação do
mesmo, deve-se analisar o caso concreto e levar em consideração alguns requisitos
objetivos e subjetivos.

2.3 ATUAÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA PARA APLICAR O PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA

Com base na CRFB/88 constata-se que “[...] o delegado de polícia é, antes


de tudo, um servidor público [...]” (LÉPORE, BRENE,2013,p.15). Compondo a
Polícia Judiciária, a autoridade policial tem a atribuição de chefiar uma delegacia de
polícia, apurando infrações penais e cumprir decisões que emanam do Poder
Judiciário. Pelos termos do art. 144, §1º, da CRFB/88¹, que importa registrar a
distinção realizada pela Carta Maior entre as atribuições do delegado de polícia civil
daquelas reservadas ao delegado de polícia federal, destacando que este deve
efetuar funções de polícia judiciária da União.
O cargo de Delegado foi criado em 1841 pela Lei n.º 261, cujo Decreto
regulamentador n.º 120 de 1842 alterou o Código de Processo Criminal de 1832,
instituindo as funções de Chefe de Polícia, Delegado e Subdelegado de Polícia. O
Imperador nomeava as três funções para a Corte, ao passo que cada Presidente
fazia o mesmo para as Províncias (PERAZONI, 2013).
No Estado Democrático de Direito, o Delegado de Polícia possui função de
proteger os bens jurídicos mais importantes, escolhidos pelo legislador ordinário ao
elaborar as normas penais; apurar as supostas práticas delituosas que lhe são
submetidas, devendo atuar com imparcialidade e equidistância dos interessados,
igualmente em proteger o investigado dos arbítrios cometidos pelo Estado, diante
das garantias fundamentais proclamadas pela Constituição.
A importância da Polícia Judiciária, a cargo do Delegado de Polícia de
carreira, privativo de bacharel em Direito, revela-se como função essencial à justiça,
prevista no artigo 144 da CRFB/88 (BRASIL,2016)
Dentre os mecanismos de segurança de controle social encontra-se a
Polícia Judiciária. É como bem no que salienta o art. 4º do Código de Processo
Penal, é o órgão de segurança do Estado que tem como função apurar as infrações
penais e sua autoria por meio de suas atividades como a investigação policial
exercida conforme os parâmetros constitucionais, penais e processuais penais, além
de exercer outras atividades imprescindíveis na construção da paz social. O termo
polícia vem do grego (politéia) que significa dentre outros, Governo da cidade ou a
arte de governar. Já em Roma, o significado aduz para o que realmente é hoje:
ordem pública e controle da paz social (TOURINHO FILHO, 2013).
Judiciaria da União, a Polícia Federal é Polícia órgão permanente e
estruturado em carreira com objetivos, conforme o Art.144, CF/88, “a”:

I -apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento


de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei; II -prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo
da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência; III -exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras; IV -exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da
União. (BRASIL, 2017).

Enquanto que as atribuições das Polícias Civis dos Estados e do DF são


residuais. Também se trata de órgãos permanentes com estruturação em carreira,
dirigidas por delegados de polícia, bacharéis em Direito. A Constituição descreve as
atribuições no Art. 144, §4, assim: § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto os militares. (BRASIL,
2017).
É no momento que antecede o processo ou na investigação preliminar que
ocorre a participação da autoridade policial, seja na esfera estadual ou federal, na
repressão do suposto delito ocorrido. Todavia, não há impedimento que haja a
participação do órgão ministerial, pela figura do promotor de justiça de forma a
combater, junto ou não à autoridade policial, a infração que contraria o ordenamento
penal.
Segundo o STF, deve haver, nos crimes de bagatela, mínima
ofensividade da conduta do agente, ausência de periculosidade social da ação,
reduzido grau de reprovabilidade da conduta e inexpressividade da lesão jurídica.
Caso contrário, o direito penal não intervirá em desfavor da suposta lesão diminuta
ao bem jurídico.
Sendo o delegado de polícia, na maioria dos fatos de âmbito criminal, o
primeiro operador do direito a entrar em contato com a suposta situação criminosa, é
preciso que o mesmo avalie, esteja ela tratando de lesões pouco significantes ou
não. Havendo assim, de forma natural uma necessidade para o profissional, bem
como uma imposição por parte da sociedade, para que a situação em concreto seja
avaliada por ele, e a autoridade ofereça, assim, uma resposta célere ao caso em
evidência.
Decerto, a Autoridade Policial agirá conforme os ditames da lei, da garantia
integral e dos princípios constitucionais, a começar pelo princípio da dignidade da
pessoa humana. Esse princípio se molda ao da insignificância, pois ao direito penal
é dado agir, somente, em casos de verdadeira relevância na proteção dos bens
jurídicos. Gomes (2013) enfatiza que o judiciário brasileiro está falido no que se
refere ao modelo de justiça criminal e que ainda se vivi os tempos do nascedouro
desse modelo do fim do século XVIII. A ele cabe filtrar a ocorrência em sede de
polícia judiciária analisando os casos juridicamente, uma vez que detém de diploma
de curso superior em direito e possui capacidade técnica para tanto.
Greco (2017), destaca:
Quando se cogita da aplicação do princípio da insignificância, tem-se
entendido, majoritariamente, que a sua aplicação ficaria a cargo do
Ministério Público, que, no caso concreto, emitiria sua opinião delicti,
pugnando, por exemplo, pelo arquivamento do inquérito policial (ou mesmo
o termo circunstanciado, em se tratando de Juizado Especial Criminal),
devendo o juiz exercer o controle do ato [...]. No entanto, poderá a
autoridade policial, que na ausência da autoridade judicial (conforme
preconiza o §2º do art. 48) tomou conhecimento dos fatos, deixar de lavrar o
termo circunstanciado, sob o argumento da aplicação do princípio da
insignificância? Entendemos que não. É bom que se entenda que com essa
resposta não existe qualquer desrespeito para com a autoridade policial,
especificamente falando, tampouco com o seu juízo de valoração sobre o
caso concreto (GRECO, 2017, p. 334).

Cumpre ao delegado de polícia, diante das circunstâncias, analisar a


tipicidade do fato, verificando se a conduta realizada se amolda a uma previsão
normativa (tipicidade formal) e também se há uma relevância no aspecto material
(tipicidade material) de modo que o direito penal incida.
Muitas vezes, apenas pela análise da tipicidade formal, torna-se plenamente
possível, em tese, para o delegado realizar a prisão em flagrante de um suposto
agente delituoso. Acontece que na prática há casos que, embora típicos
formalmente, não são suficientemente importantes para a ação do direito penal, até
mesmo por motivos de razoabilidade e de ordem prática.
Seria desarrazoado que diante de uma evidente atipicidade da conduta de
alguém, o delegado de polícia ainda realizasse o “passo a passo” do procedimento
inerente à instauração do flagrante. Perceba-se que os procedimentos realizados
consistiriam, comumente, nos seguintes: Captura e condução do preso até à
delegacia de polícia; comunicação da prisão à família; lavratura do auto de prisão
em flagrante com oitiva de condutor, testemunhas, vítima e conduzido; despacho
ratificador; nota de culpa; comunicação da prisão ao Poder Judiciário por meio de
ofício; comunicação da prisão ao Ministério Público; possível comunicação da prisão
à Defensoria Pública; ofício encaminhando o preso ao presídio; apreensão dos
objetos arrecadados; requisição pericial; expedição de ordem de serviço; termo de
conclusão; despacho de indiciamento; relatório final; termo de remessa à Justiça
(BRENE, LEPORE, 2013,p.139).
Desse modo, destaca-se que a necessidade da autoridade policial de
reconhecer o princípio da bagatela reside no oferecimento de uma resposta mais
célere à sociedade, uma vez que são de ampla notoriedade os desafios enfrentados
todos os dias nas delegacias de polícia, bem como no Poder Judiciário, no que diz
respeito à quantidade de procedimentos e processos existentes, acumulados e
pendentes de uma maior presteza do Estado. A necessidade se traduz, portanto, no
natural anseio da autoridade policial de prestar um serviço à sociedade, cumprindo
com o seu papel de operador do Direito que contribui para o andamento da justiça
penal.

3 CONCLUSÃO

A análise do princípio da insignificância aplicado pela autoridade do


delegado de polícia possibilitou sua verificação de forma sistemática em sede de
polícia judiciaria com o objetivo de garantir que esse princípio seja observado ainda
na fase policial, garantindo assim, ao cidadão a preservação de sua liberdade,
concomitante a manutenção de seu status da presunção de inocência.
Por meio da metodologia abordado nesta pesquisa, foi possível verificar e
abordar de forma clara e sucinta a notoriedade da dignidade humana, que constitui
princípio normativo constitucional, decorrendo também outros princípios dos direitos
fundamentais do homem.
Com base no que foi abordado, destaca-se que a doutrina e a jurisprudência
pátrias admitem a aplicação do princípio da insignificância ou bagatela, com base no
Direito Penal mínimo, levando em consideração o princípio citado, como causa
supralegal de exclusão da tipicidade penal, sob a pena ótica material. Quando a
conduta que se encaixa no fato típico possui mínima ofensividade, não possui
periculosidade na ação, considerando-se reduzido o grau de reprovabilidade e lesão
jurídica provocada inexpressiva, tal fato será tido como atípico, não cabendo
nenhum tipo de pena ao agente. No entanto, parte da doutrina compreende que a
admissão do princípio da bagatela pode provocar repercussão social negativa,
podendo gerar estabilidade e segurança social.
Ainda que haja resistências e relutâncias por alguns doutrinadores em
relação ao delegado de polícia se manter contíguo ao cumprimento do auto de
prisão em flagrante ou do termo circunstanciado de ocorrência. Quando evidenciada,
a tipicidade formal, obriga o delegado de polícia a indiciar o agente. Ressaltando
também, a confirmação que parte significante da doutrina também leva a autoridade
policial à possível aplicação do princípio da insignificância ainda na fase policial,
evitando que ocorra prisões indiscriminadamente, uma vez que não existe lei ou
qualquer outro dispositivo legal ou a jurisprudência desautorizando essa tomada de
decisão. Sendo o fato atípico para o juiz também o é para o Delegado de Polícia,
sendo profissional possuidor de conhecimento técnico-jurídico e formação em Direito
para desempenhar sua função garantindo as decisões.
Frente a importância dessa temática, acredita-se na necessidade de fomento
ao Delegado de Polícia à aplicação do princípio da insignificância em sede de
Polícia Judiciária, garantindo os direitos, deveres e limites de abordagem do
princípio em questão, uma vez que, o mesmo é indispensável, ainda que possua
apenas natureza doutrinaria não legal, posto que o ordenamento jurídico não é
meramente o que está positivado, e os princípios doutrinários servem de norte para
a aplicação justa e ética do Direito.
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