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1.

Considerações introdutórias

Ideias do Iluminismo foram determinantes para limitar o poder estatal diante das liberdades individuais, em
contraposição ao Estado Absolutista.

Todos os princípios são garantias do cidadão na Constituição Federal.

O princípio da dignidade da pessoa humana na CF traz que “toda pessoa tem a legítima pretensão de ser respeitada
pelos demais membros da sociedade e pelo próprio Estado, que não poderá interferir no âmbito da vida privada de seus
súditos, exceto quando esteja expressamente autorizado a fazê-lo. A prevalência dos direitos humanos representa um
inquestionável limite para o exercício do poder punitivo estatal, inclusive contra aqueles delitos que possuem um
caráter transfronteiriço e, especialmente, para o cumprimento das medidas de cooperação internacional em matéria
penal.”

2. Princípio da legalidade e princípio da reserva legal

É necessário excluir toda arbitrariedade e excesso do poder punitivo por causa da já natural gravidade dos meios de
punição, da intervenção nos direitos e da característica ultima ratio dessas intervenções e punições.

O princípio da legalidade nunca foi plenamente reconhecido, teve altos e baixos, alguns Estados, por exemplo, usaram
ele como fachada formal. Feuerbach deu a fórmula: nullum crimen, nulla poena sine lege. Regimes totalitários negam
esse preceito. Tal princípio traz que normas incriminadoras só podem vir da lei e que qualquer fato ou pena deve ser
previsto na legislação que define o crime e a conseguinte sanção. A CF diz, pois, que “não haverá crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação/punição legal”.

O princípio da reserva legal especifica de quem é a responsabilidade de legislar sobre determinados assuntos, sendo um
exemplo disso a CF definir que somente a União legisla sobre Direito Penal.

Ambos os princípios representam uma conquista e garantia jurídica ao indivíduo, que não será punido sem lei.

2.1 Princípio da legalidade e as leis vagas, indeterminadas e imprecisas

Para que os princípios sejam efetivos o legislador precisa evitar o uso de expressões vagas, equivocadas e ambíguas,
pois uma lei pouco clara não protege o cidadão de arbitrariedades e contraria a divisão de poderes porque o juiz pode
interpretar da forma que bem entender.

É preciso que o princípio da legalidade dê segurança jurídica, o que é feito pelo princípio da taxatividade ou
determinação de condutas puníveis pelo legislador. É natural que a ciência jurídica tenha indeterminações por causa
da sua natureza interpretativa, mas o legislador não pode usar termos que precisam de complementação valorativa e,
portanto, não descrevem a conduta proibida. Ele deve, contudo, evitar a proibição total de conceitos gerais e também o
uso exagerado deles. Um meio-termo é necessário para proteger os bens jurídicos, trazer o uso equilibrado das
cláusulas gerais valorativas e garantir a total indeterminação como inconstitucional. Alguns critérios, por Claus Roxin,
são indicados para encontrar o equilíbrio: 1. que a necessidade de determinação aumenta com o grau da pena e a
jurisprudência de uma lei indeterminada ajuda a garantir a determinação(errado porque impõe legalidade só para
crimes mais graves); 2. que é inconstitucional quando o legislador podendo usar termos mais precisos não o usa(critério
que ignora tachamento de leis menos precisas como inconstitucional); 3. que é chamado de princípio da ponderação, o
qual demonstra que conceitos necessitados de complementação valorativa são admitidos se o objetivo da solução do
caso concreto for trazer segurança jurídica(relativiza o princípio da legalidade e da reserva legal e dá importância
demais a concepções judiciais sobre Justiça). Todos esses princípios são insuficientes “para disciplinar os limites da
permissão do uso de conceitos necessitados de complementação mediante juízos valorativos”. Roxin sugere que a
solução correta está em princípios de interpretação, sendo a determinação precisa se há objetivo de proteção do
legislador e se o teor literal limite interp. arbit.
“O princípio de legalidade exige que a norma contenha a descrição hipotética do comportamento proibido e a
determinação da correspondente sanção penal, com alguma precisão”, o que não acontece na Lei 10.792/2003.

3. Princípio da intervenção mínima


Para não haver sanções cruéis e degradantes há a necessidade de eliminar o arbítrio do legislador no que diz respeito
ao conteúdo das normas penais incriminadoras e o ultima ratio/princípio da int. min. serve justamente para isso:
recomendar que a criminalização só aconteça e seja legitimada se prevenir o ataque a bens jurídicos. Contudo, se
outros tipos de controle social como a civil ou administrativa já protegem esse bem, a criminalização penal é
inapropriada. Maurach: “na seleção dos recursos próprios do Estado, o Direito Penal deve representar a ultima ratio
legis, encontrar-se em último lugar e entrar somente quando resulta indispensável para a manutenção da ordem
jurídica”. Seria muito chato se alguém tivesse que sofrer castigo penal e fiscal, por exemplo, causaria um excesso de
medidas penais sem necessidade e Roxin diz: “o castigo penal coloca em perigo a existência social do afetado, se o situa
à margem da sociedade e, com isso, produz também um dano social”. Hoje se fala em inflação legislativa e perda da
força intimidativa do Direito Penal porque os legisladores do mundo moderno estão contradizendo esse princípio ao
fazer diversas leis incriminatórias no D.P.. A proteção subsidiária dos bens jurídicos diz respeito à intervenção coercitiva
que somente terá lugar para prevenir as agressões mais graves aos bens jurídicos protegidos, naqueles casos em que
os meios de proteção de outras áreas do ordenamento forem insuficientes para tal.

3.1 Princípio da fragmentariedade

Não são todos os bens jurídicos ou ações que lesionem eles que são tratados pelo Direito Penal, apenas os mais
relevantes, tendo, portanto, o DP uma proteção seletiva. Esse é o caráter fragmentário do DP, que vem do princípio da
intervenção mínima. Temos que ele aparece em 3 aspectos: defendendo o bem jurídico contra ataque grave e
excluindo a punição de alguns casos, tratando de condutas que outra áreas do direito acham antijurídicas e, por fim,
não regulando atividades imorais(incesto, mentira etc). Esse princípio tem efeitos na determinação da função e na
definição do conteúdo das normas penais.

4. Princípio da irretroatividade da lei penal

Sem esse princípio não haveria segurança nem liberdade na sociedade, está conectado ao princípio da legalidade. Vem
de ideias iluministas e por um tempo ficou incluído no princípio da legalidade. É um princípio tempus regit actum
porque não alcança fatos ocorridos antes de a lei entrar em vigor nem depois que cessa sua vigência. O princípio da
irretroatividade só se liga à lei mais severa em relação a uma menos severa, pois “a lei nova que for mais favorável ao
réu sempre retroage.”. “Cumpre lembrar que as leis temporárias ou excepcionais constituem exceções ao princípio da
irretroatividade da lei penal, e são ultra-ativas. Mesmo esgotado seu período de vigência, terão aplicação aos fatos
ocorridos durante a sua vigência. São leis de vida curta e cujos processos, de regra, estendem-se para além do período
de sua vigência. Retirar-lhes a ultra-atividade afastar--lhes-ia a força intimidativa.”

5. Princípio da adequação social

Para Welzel, o DP só criminaliza condutas que tenham relevância social e não as socialmente adequadas, que não têm
tipicidade. Alguns comportamentos típicos são coerentes no meio social e têm pouca relevância. “Segundo
Stratenwerth, “é incompatível “criminalizar uma conduta só porque se opõe à concepção da maioria ou ao padrão
médio de comportamento”.” É um princípio de interpretação usado em último caso. A tipicidade material é o que lesa o
bem jurídico, enriquecida pelo desvalores da ação e do resultado; a tipicidade é excluída se um comportamento é típico
formalmente/na lei, mas materialmente irrelevante/na realidade(socialmente permitido). A adequação social para
Welzel exclui a tipicidade, é uma causa de justificação, excludente da tipicidade; por fim, concluiu que é um princípio
geral de interpretação. Escamilla: identificar comportamento perigoso adequado, a adequação se dá por juízo de
previsibilidade, observando se o risco era previsível por quem praticou a conduta. A adequação social limita a eficácia e
corrige os excessos da teoria da equivalência das condições, onde há uma adequação entre o resultado posterior e a
conduta(causa). Duplo juízo de valoração é a divisão da adeq. soc.*. “Não passa de um princípio interpretativo, em
grande medida inseguro e relativo, o que explica por que os mais destacados penalistas internacionais não o aceitam
nem como uma autêntica causa excludente da tipicidade nem como causa de justificação”. Pode ser usado como
primeiro filtro normativo de valoração da relevância da tipicidade da conduta perigosa.

6. Princípio da insignificância

Non curat praetor. Princípio da bagatela. Nem todas as ofensas aos bens jurídicos são típicas. Precisa-se de uma
proporcionalidade entre a gravidade da conduta e da necessidade da intervenção estatal, o que quer dizer que
condutas que se encaixam na lei, formalmente típicas, nem sempre são relevantes o suficiente materialmente falando,
o bem jurídico não foi lesado e é afastada a tipicidade e, pois, certas condutas são descriminalizadas. É o Legislativo que
seleciona os bens jurídicos protegidos, não os outros poderes(atacaria o pr. da reserva legal). A relevância social e penal
de certas condutas se sobressai à menor ofensividade quando o legislador legisla sobre tais. “Com efeito, a
insignificância ou irrelevância não é sinônimo de pequenos crimes ou pequenas infrações, mas se refere à gravidade,
extensão ou intensidade da ofensa produzida a determinado bem jurídico.” É uma questão de ofensa ao bem jurídico e
de adequação à sanção. “Se deve considerar materialmente atípicas as condutas de inegável irrelevância
(insignificância) para a sociedade como um todo.”. Não é qualquer lesão que deve ser punida, mas sim as relevantes.
Consideração global do ordenamento jurídico que dá sentido ao princípio.

7. Princípio da ofensividade

Perigo concreto, de risco real e efetivo, ao bem jurídico, não abstrato, é necessário para tipificar um crime. Reflexos:
orientação ao legislador e critério de interpretação. Funções: político-criminal, para a elaboração da lei, e
interpretativa, na aplicação pelo juiz/intérprete final, sendo tais funções complementares(se o legislador falha o juiz
corrige e preenche com o princípio). Limita o iuis puniendi estatal. É constitucional a noção de que a correção de
desvios legislativos ocorra. É diferente do princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos, o qual diz que a moral está
fora da tutela penal. “No princípio da ofensividade, somente se admite a configuração da infração penal quando o
interesse já selecionado (reserva legal) sofre um ataque (ofensa) efetivo, representado por um perigo concreto ou
dano.”.

8. Princípio de culpabilidade

Não há crime sem culpabilidade. Antigamente responsabilidade objetiva. Vige nullum crimen sine culpa. É um
fenômeno social, coletivo, não individual, que determina o que é crime e o que não é: “uma culpabilidade em relação
aos demais membros da sociedade”. Diz respeito ao uso da pena.

1. fundamento da pena: a culpabilidade é juízo de valor, que precisa, para a pena ser aplicada, de: capacidade de
culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade da conduta, que precisam ser valorados para dizer se houve
culpabilidade ou não na conduta.
2. limite da pena: medição da pena conforme a gravidade do fato.
3. conceito contrário à responsabilidade objetiva ou direta

Conseq. materiais desses 3 sentidos: “a) inadmissibilidade da responsabilidade objetiva pelo simples resultado; b)
somente cabe atribuir responsabilidade penal pela prática de um fato típico e antijurídico, sobre o qual recai o juízo de
culpabilidade, de modo que a responsabilidade é pelo fato e não pelo autor; c) a culpabilidade é a medida da pena.”

É uma garantia fundamental. O princípio vem sendo fragmentado por causa de teorias funcionalistas e considerado
insuficiente para Roxin, que leva em consideração a finalidade preventiva da pena. Justificações deontológicas
legitimadoras perdem valor diante do funcionalismo simbólico de aplicação da pena.
9. Princípio da proporcionalidade

É consagração do constitucionalismo moderno. Iluminismo, intervenção estatal mínima na vida privada -> diminuição
do autoritarismo estatal -> recusa de punição desnecessária ou exagerada -> dignidade humana. Não é critério
interpretativo, mas garantia limitadora. Por meio do vínculo constitucional são determinados meios e fins. 3 fatores:
vedação do arbítrio do legislador, não exceder limites de pena para manter legitimidade, legislar usando meios
adequados e proporcionais. O Judiciário questiona a proporcionalidade do legislativo sem lhe retirar a autonomia, faz o
controle de constitucionalidade. A exigência de proporcionalidade se dá por ponderar a coação da pena e o objetivo da
pena, equilíbrios abstrato(legisl.) e concreto(judic.)*. “Ninguém pode ser incomodado ou lesionado em seus direitos
com medidas jurídicas desproporcionadas”. Os princípios de razoabilidade e prop. têm origens diferentes. “Razoável é
aquilo que tem aptidão para atingir os objetivos a que se propõe, sem, contudo, representar excesso algum. A
razoabilidade exerce função controladora na aplicação do princípio da proporcionalidade. É preciso ver se, nas
circunstâncias, é possível adotar outra medida ou outro meio menos desvantajoso e menos grave para o cidadão.”. A
culpabilidade limita a pena junto ao princípio da proporc..

10. Princípio de humanidade

Reflexo do movimento expansionista dos direitos humanos iniciado no período pós-Segunda Guerra. Entrave para a
adoção da pena capital e da prisão perpétua, penas em geral que firam a integridade física, moral e psicológica do
indivíduo. A prisão, contudo, é necessária, pois visa garantir a ordem social mediante punição do culpado. O castigo e a
reintegração social têm que ser complementares, de acordo com a CF. É uma vingança social “o regime disciplinar
diferenciado, que constitui o exemplo mais marcante e mais recente na legislação brasileira de violação do princípio de
humanidade da pena”.

11. Princípio da não culpabilidade ou da presunção de inocência

O STF decidiu que “enquanto houver recurso pendente não poderá ocorrer execução de sentença condenatória”. O STF
faz ativismo judicial e é contraditório, tenta reescrever, desrespeita e reinterpreta a CF -> insegurança jurídica. 1/3 dos
condenados cumprem pena indevidamente. Permitiu a execução antecipada de decisões condenatórias, ignorando que
antes disse: “um acusado só pode ser preso depois de sentença condenatória transitada em julgado. -> conceito
inquestionável e irrelativizável. “A Declaração dos Direitos Humanos, da ONU, em 1948, segundo a qual “toda pessoa
acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com
a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa” (art. 11).”. Devemos
respeitar a CF. “Esse direito-dever de punir do Estado deve conviver e respeitar a liberdade pessoal, um bem jurídico do
qual o cidadão não pode ser privado senão dentro dos limites legais.”. Do reconhecimento de direitos fundamentais
vem a consolidação deles. O STF já adotou o princípio da vedação do retrocesso, mas contrariou ele em uma decisão.

12. Princípio da proibição do retrocesso

Sobre o STF: “a reversão do entendimento leva à “esterilização de uma das principais conquistas do cidadão: de jamais
ser tratado pelo poder público como se culpado fosse”. Lewandowski lembrou que a decisão do tribunal agora agravará
a crise no sistema carcerário brasileiro. O STF tem negado sistematicamente jurisdição a inúmeros cidadãos, pobres ou
ricos, em nome de um simples verbete sumular (691), que resolveu construir para obstaculizar uma das mais sagradas
garantias constitucionais, que é o habeas corpus.”.

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