Você está na página 1de 4

1.

Princípios dominantes
É interesse do Estado proteger os bens jurídicos, mesmo se forem lesados além de seu território soberano. Para regular
situações desse tipo existem os princípios da lei penal do espaço, dentre os quais temos:
1. Territorialidade - é aplicada a lei nacional aos crimes praticados no Brasil, não importando a origem do réu, da vítima
ou do bem jurídico afetado. Tal princípio delimita até onde a lei penal tem vigência.
2. Real/de defesa/de proteção - devido à globalização, crimes ocorridos em outros países são regulados pelo país de
origem do bem jurídico afetado, sem importar de onde veio o réu ou onde especificamente o crime foi realizado.
3. Da nacionalidade/da personalidade - é aplicada a lei de origem do autor ou da vítima para fatos ocorridos fora do
território nacional; o Estado nacional pode exigir o comportamento do cidadão mesmo estando fora de seu território.
Tal princípio se divide em personalidade ativa(observando-se a nacionalidade do autor do crime) e passiva(a
nacionalidade da vítima do crime), para que sejam aplicadas as leis adequadas, com o objetivo de evitar impunidades.
4. Da universidade/cosmopolita - diz que as leis penais devem ser aplicadas a todos os humanos no mundo que violem
matérias contidas em tratados e convenções internacionais, se baseando no critério da prevenção de crimes e no fato
de o crime ser um mal universal. Todos os Estados podem punir.
5. Da representação/da bandeira - quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir,
aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação, a aeronave ou da bandeira presente no meio de
transporte onde ocorreram os crimes.

Para o CP brasileiro a regra é o princípio 1, e exceções os outros.

2. Conceito de território nacional


É o espaço tutelado pelo poder soberano do Estado, incluindo solo e subsolo, águas territoriais e o espaço aéreo, além
de embarcações e aeronaves(ficção jurídica).

Limites de território por montanhas podem ser divididos entre Estados por meio da linha mais alta ou da linha que
divide as águas naquela montanha. Além disso, quando os Estados forem divididos por um rio, pode acontecer de 1. o
rio ser de um deles, então o território do outro só começa na outra margem ou 2. o rio ser dos dois; quando 2., pode
ser dividido na linha do meio, com uma equidistância ou na linha do ponto mais profundo do rio. Observações: pode
acontecer de a mesma situação dos rios acontecer com lagos, lagoas e rios indivisos, mas a regra geral é a
equidistância.

O mar territorial inclui a faixa da costa do território, com leito e subsolo, e mais 12 milhas marítimas.

Navios podem ser públicos ou privados, sendo os públicos os militares, de guerra, Chefes de Estado, representantes
diplomáticos etc, e os privados os mercantes e de turismo. Os públicos SÃO território nacional, os privados não. Então,
crimes cometidos dentro de navio militar são julgados pela justiça daquele país, mas se o marinheiro descer do navio
em um porto e somente lá cometer o crime será julgado pela justiça dona na superfície terrestre.

“Os navios privados têm um tratamento diferente: a) quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam; b)
quando estiverem em portos ou mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do país em que se encontrem.” O mesmo
vale para aeronaves privadas, sendo adotado pelo Código Brasileiro de Aeronáutica o conceito de espaço aéreo de
linhas perpendiculares(verticais) ao território nacional, incluindo o mar territorial.

3. Lugar do crime
Foram feitas teorias para melhor aplicar o princípio da territorialidade, definir competências e jurisdição. 1. da ação - é
lugar do crime onde ocorreu a ação; 2. do resultado - onde ocorreu o resultado; 3. da intenção - onde o agente queria
que o resultado acontecesse; 4. do efeito intermédio - onde a energia movimentada pelo autor alcança a vítima ou bem
jurídico; 5. da distância - aquele onde se verificou a execução da conduta; 6. limitada da ubiquidade- onde se verificou
tanto a ação como o resultado; 6. pura da ubiquidade/mista/unitária - pode ser tanto o da ação, quanto do resultado,
ou local onde o bem jurídico foi atingido.

Uma teoria foi complementando a outra, sendo a última a adotada pelo CP brasileiro no art. 6: “Considera-se praticado
o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado”. Para Bitencourt há uma lacuna porque não se fala em ação culposa internacional com
resultado produzido parcialmente no território nacional.
“Com a doutrina mista evita-se o inconveniente dos conflitos negativos de jurisdição (o Estado em que ocorreu o
resultado adota a teoria da ação e vice--versa) e soluciona-se a questão do crime a distância, em que a ação e o
resultado realizam-se em lugares diversos. A eventual duplicidade de julgamento é superada pela regra constante do
art. 8º do Código Penal, que estabelece a compensação de penas, uma modalidade especial de detração penal.”

4. Extraterritorialidade
É a aplicação da lei fora do território nacional, a qual é exceção do princípio geral da territorialidade.

Pode ser incondicionada, ou seja, será aplicada a lei brasileira de qualquer forma, quando se ofenda qualquer tipo de
Poder Público, incluindo a vida e a liberdade presidenciais, incluindo Administração Pública e patrimônios ou fé
governamentais, além de genocídio praticado por brasileiro. Tal aplicação é funamentada nos princípios da
universalidade e da defesa. O Poder Jurisdicional brasileiro é exercido independentemente: 1. da concordância do país
onde o crime ocorreu, 2. do ingresso posterior do criminoso no Brasil, 3. do fato ser lícito no país onde ocorreu. Ao
contrário do art. 7, é confirmado pelo art. 8 do CP que “nenhum Estado Democrático de Direito pode ignorar o
provimento jurisdicional de outro Estado Democrático de Direito, devendo, no mínimo, compensar a sanção
internacional.”

Pode ser condicionada, sob certos requisitos, aplicada a crimes que por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a
reprimir(devido à cooperação penal internacional e à supralegalidade de tratados e convenções internacionais); 2)
praticados por brasileiros(princípio da nacionalidade); 3) praticados em aeronaves ou em embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e lá não sejam julgados(cabe ao Brasil julgar
em caso de deficiência legislativa estrangeira, ainda que tenha soberania sobre o fato ocorrido em seu território) ; 4)
praticados por estrangeiros contra brasileiro fora do Brasil. Tal aplicação tem base nos princípios da universalidade,
personalidade, da bandeira e da defesa. Como o brasileiro não é extraditado, aplica-se a lei brasileira.

5. Lei penal em relação às pessoas


Existe imunidade diplomática e imunidade parlamentar, as quais não são decorrentes de privilégio à pessoa que
conseguiu o cargo por mérito ou algo do tipo, mas sim ao exercício de suas funções porque disposição contrária
conflitaria com o princípio constitucional da igualdade.

1. Um diplomata não pode ser preso no país no qual está em missão diplomática, sendo ele imune durante sua missão
de prisão etc; é um direito que o diplomata não pode renunciar, somente o Estado que o concede esse benefício pode;
só pode ser julgado pelo país o qual ele representa; funcionários de organizações internacionais como a ONU tb têm
imunidade, quando em serviço, bem como seus familiares. Os empregados de diplomatas não têm imunidade.
Diplomatas têm apenas imunidade de jurisdição administrativa e judiciária pelos atos realizados no exercício das
funções consulares.

2. A imunidade legislativa passou por diversas transformações devido a Emenda Constitucional 35/01. A imunidade tem
o objetivo de permitir um exercício efetivo e pleno, seguro, das atividades legislativas. É um direito irrenunciável e de
Direito público interno.

Divide-se em imunidade material/inviolável(penal, civil, administrativa, permitindo a manifestação de pensamento


exercendo suas funções tanto no Congresso quanto na mídia) e formal(processual, de prisão). Deputados estaduais
possuem imunidade formal, mas somente na jurisdição estadual, analogamente vereadores à jurisdição municipal. A
material tira a possibilidade de incidência penal por causa de OPINIÕES, PALAVRAS E VOTOS, enquanto a formal tirava a
possibilidade do parlamentar ser processado criminalmente sem prévia autorização da Casa Legislativa.

No entanto, a EC 35 restringiu a imunidade formal no sentido de que o STF pode sim abrir processo contra
parlamentar, e a Casa Legislativa somente dará andamento,somente podendo interromper processos criminais em
andamento, mas não impedindo a instauração de um novo. Além disso, vale ressaltar que a EC estendeu a
inviolabilidade penal ao campo civil, bem como assegurou a imunidade prisional de crimes fiançáveis, que porém não
encobre crimes inafiançáveis em flagrante mediante mandado judicial.

6. Extradição
É uma obrigação solidária internacional no combate ao crime, um instrumento de cooperação, globalizado antes da
economia e regulado pelo Direito das Gentes.
1. O conceito de extradição é simples: é um ato pelo qual alguém acusado ou condenado é entregue a outro para que
seja também julgado e punido. Os tipos de extradição são: 1. ativa(quando o Estado que pede), 2. passiva(quando o
Estado solicita), 3. voluntária(quando o Estado envia sem ninguém solicitar), 4. imposta(quando o Estado que vai
receber se opõe ao que envia), 5. reextradição(quando o Estado que pediu a extradição é solicitado que envie para um
terceiro Estado).

Antigamente se achava que sem lei não poderia haver extradição, mesmo com o direito costumeiro e a reciprocidade.
Hoje em dia somente o princípio da reciprocidade, sem lei, é suficiente. A punição deve acontecer no local onde o
crime foi praticado.

2. A extradição depende de certos princípios e condições, chamados de princípios informadores: 1. quanto ao delito, 2.
quanto à pena e à ação penal.
Quanto ao delito:
1. Princípio da legalidade, segundo o qual não pode ser extraditado o indivíduo se não existir lei ou convenção entre os
dois países; princípio prejudicado pelo princípio da reciprocidade, que diz que basta o país que pediu a extradição
garantir que vai julgar igualmente ao outro.
2. Da especialidade, diz que a pessoa que vai ser extraditada não poderá ser julgada por algo além do que foi o motivo
do pedido de extraditar. É um princípio de difícil controle porque não há muitas formas de garantir que isso aconteça,
devendo os países se apoiarem na confiança mútua ou no ato de adicionar fundamentos ao pedido. “O país requerente
pode ampliar o fundamento do pedido de extradição para abranger outros crimes que não integram o pedido original.
Neste caso, o pedido original pode surgir como uma armadilha, facilitando a extradição e, depois que esta já se
concretizou, o país requerente toma a iniciativa de pedir a extensão dos seus efeitos para investigar, processar e julgar,
por outros crimes que não estavam incluídos no pedido inicial.”
3. Da identidade da norma/dupla incriminação, diz que o fato que é crime no país no qual o réu está deve também ser
crime no país no qual o Estado solicita sua vinda. É um pressuposto do pedido de extradição, requer a tipificação mútua
da conduta e na capacidade de punir.

Quanto à pena e à ação penal:


1. Da comutação, define que o tipo de pena deve ser semelhante entre os países, não podendo o país que pede a
extradição exercer um tipo de pena mais severo que o que existe no país onde o réu está. Tem de haver uma
adequação penal, então a pena de morte ou perpétua seria traduzida em privativa de liberdade.
2. Da jurisdicionalidade, busca garantir que o réu não será julgado por Tribunal de exceção, sendo garantido o direito ao
juiz natural.
3. Non bis in idem, que se apresenta tanto no aspecto de que não haverá extradição para outro país se o Brasil for
igualmente competente para julgar, quanto no de que a pena de prisão deverá ser comutada.
4. Da reciprocidade, conveniente aos dois Estados, uma vez que o crime deve ser punido no território onde foi
praticado e que o país que extradita tira das suas costas um criminoso.

4. Requisitos para conceder a extradição


1. Julgamento do STF, independentemente da vontade do Presidente e da aceitação do criminoso.
2. Existência de tratado ou convenção internacional entre os países e, faltando isso, reconhecimento da reciprocidade;
em caso de conflito entre tratado e lei interna prevalece lei interna se mais atual.
3. Sentença condenatória privativa de liberdade ou provisória, sendo vedadas penas alternativas.
4. A pessoa que vai ser extraditada tem que ser estrangeiro ou brasileiro naturalizado(quando foi naturalizado depois
da conduta criminosa ou quando tem relação com tráfico de drogas). A proibição da extradição de brasileiros natos não
tem nada a ver com impunidade porque quando o brasileiro comete crime fora do país é julgado mesmo sendo nato.
5. O crime deve ser crime nos dois países, não bastando ser contravenção penal em qualquer um deles. O Brasil tem
cláusulas limitadoras para garantir que o princípio da dupla criminalidade seja assegurado - garantias fundamentais e
princípio da especialidade.

4. Procedimento do processo de extradição


O delinquente deve ser preso e julgado com prioridade pelo STF, que julgará sua defesa, e dará uma pena privativa de
liberdade obrigatória, que não pode ser domiciliar nem nada menos que prisão, a qual funcionará como um tipo de
prisão provisória(podendo ser pedida de novo pelo país que requer a extradição, extendendo o prazo para postular o
pedido em 90 dias, com exceção do caso Brasil-Argentina que é de 45 dias). A defesa do réu é limitada a dizer que
“pegaram o cara errado”, que há defeito nos documentos ou que o pedido é ilegal.
5. Limitações à extradição
Nacional não pode ser extraditado em nenhuma hipótese, só brasileiros naturalizados, como já foi dito. Sobre delitos
religiosos, de imprensa, fiscais e puramente militares, a lei brasileira não é precisa. Já sobre crimes políticos, só será
permitida a extradição de crimes políticos relativos, os quais não são puramente políticos, mas têm motivação política;
caso forem somente políticos, sem acarretar nenhum dano às pessoas, bens, interesses, o indivíduo não pode ser
extraditado. Terrorismo é passível de extradição, pois gera insegurança na sociedade, sendo caracterizado por
apoderamento de aeronave, tomada de reféns, uso de bombas e granadas etc. Genocídio tbm.

7. Deportação e expulsão
A deportação é quando o cara é estrangeiro e tenta entrar e ficar no país sem permissão, devendo ir para seu país de
origem ou para outro que o aceite; pode voltar sob algumas condições.

Expulsão é quando o indivíduo atenta contra a segurança nacional, pratica fraude para entrar no país, entra
irregularmente e não sai no prazo estabelecido, vira mendigo do nada etc. A expulsão se caracteriza não como pena,
mas medida preventiva de polícia na asseguração da soberania nacional.

8. Tribunal Penal Internacional


Principalmente nos períodos de guerra foi necessário julgar penalmente os responsáveis por crimes que violaram
diversos bens jurídicos à sua época, e embora houvesse sim julgamento, não existiam garantias adequadas como a
presunção de inocência, dada a parcialidade extrema dos países vencedores da guerra em relação aos vencidos. Nesse
sentido, com o fortalecimento de órgãos como a ONU foi criado um Tribunal Penal Internacional com o objetivo de
punir “crimes de genocídio, contra a humanidade, crimes de guerra e os crimes de agressão”, assegurar a paz,
complementarmente, e erradicar a “falta de interesse interno do próprio Estado em responsabilizar penalmente as
ações de seus mandatários”. O Estatuto desse tribunal foi incorporado ao sistema jurídico nacional com equivalência às
emendas constitucionais em casos de aprovação no Congresso Nacional, conforme a EC 45. No entanto, surgem
problemas no tocante à adequação desse Estatuto às cláusulas pétreas presentes em nossa Constituição.

1. Tribunal Penal Internacional, prisão perpétua e princípio da humanidade


A CF brasileira não admite prisão perpétua, sendo assim vai contra a previsão do TPI, o qual diz que em casos de
genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade deve haver esse tipo de pena. No entanto, tal pena foi inserida com
o objetivo de evitar que se impusesse a pena de morte. Devido ao princípio da humanidade, cláusula pétrea, é proibida
a sanção de penas degradantes aos seres humanos. É mais fácil reformar o Estatuto internacional que as várias
constituições divergentes dele. O direito penal não é “pau pra toda obra”, como pensam os governantes, e não está
pronto para retroceder em suas conquistas iluministas para resolver a criminalidade moderna internacional. “É
indispensável que os direitos fundamentais do cidadão sejam considerados indisponíveis, afastados da livre disposição
do Estado, que, além de respeitá- los, deve garanti-los.”

9. Controle jurisdicional de convencionalidade das leis


Quando uma norma é contrária à constituição se tem um controle de constitucionalidade, e quando contrária aos
tratados de direitos humanos incorporados pela constituição, controle de convencionalidade, o qual buscará adequar a
norma produzida no país às disposições do referido tratado. O controle de convencionalidade, quando aprovado por
um procedimento no Congresso(formalmente constitucional), acontece por via de ação/concetrado porque ele tem o
mesmo impacto que uma Emenda Constitucional, e por via de exceção/difuso quando não aprovado, tendo status de
norma(materialmente constitucional). Se uma lei vai contra um tratado de direitos humanos ela se torna inválida,
mesmo vigente, e portanto inaplicável. Além disso, tratados incorporados à CF que não sejam de direitos humanos
estão acima das leis ordinárias e abaixo da Constituição, sendo supralegais.

Quando uma lei ordinária CONFLITA com tratado internacional de direitos humanos temos controle de
CONVENCIONALIDADE, não de constitucionalidade. O controle de constitucionalidade SÓ ACONTECE quando temos
divergência à CONSTITUIÇÃO EM SI.

Você também pode gostar