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1.

Considerações preliminares
Estudaremos a estrutura das normas penais e as técnicas legislativas usadas nelas.

Para Binding, as normas podem ser primárias, proibindo os cidadãos, ou secundárias, guiando os juízes a punir; lei e
norma são diferentes. Normas de Direito Público geral são para cidadãos e leis penais para os juízes, então um infrator
não vai contra à lei e sim a favor do que ela previu que ele faria, portanto contra a norma. Norma gera antijurídico e a
lei gera o crime. A lei se estrutura de pressupostos e penas; a norma se configura proibindo ou permitindo tal ato e por
causa disso ela se dirige ao [comportamento do] povo.

Binding estava errado porque não existe isso de primária e secundária, as normas são só a interpretação das leis, leis
que podem se diferenciar entre si quanto aos conceitos nelas, mas não em relação ao conteúdo, natureza ou a quando
surgiram. O conteúdo de uma lei engloba uma norma que PODE proibir, permitir, explicar, complementar ou impor,
não sendo toda norma incriminadora.

Rocco e Petrocelli classificaram as normas assim:

1. Imperatividade: imperativas/sancionadoras, permissivas/licitadoras e finais/condicionais para aplicação.


2. Criminalização: a) incriminadoras/penalizadoras de proibição ou de omissão = normas penais em sentido estrito. Elas
têm o preceito primário, a descrição clara e direta do ato, e o secundário, a sanção penal. B) não incriminadoras/guias
de interpretação e aplicação das incriminadoras, impõem limites à pena e seleção da pena adequada ao caso concreto.
Elas são garantias procedimentais de responsabilidade jurisdicional, sendo permissivas, complementares ou
explicativas. B.1) permissivas/autorizadoras de conduta proibida, formando exceções justificadas, não revogando
normas incriminadoras. B.2) explicativas e complementares/esclarecedoras, adicionais e limitadoras de preceitos
primários ou secundários(Ex. Partícipe e enfermo mental).

3. Técnica legislativa do Direito Penal: normas incriminadoras e não incriminadoras


Nas normas penais não existe imperativo e sim a descrição da conduta e a sanção correspondente, sendo isso uma
técnica legislativa exclusiva ao direito penal, específica, não genérica como no direito civil. Assim, surgem os preceitos
primários e secundários.

Nas normas penais não incriminadoras existe uma técnica que gera proposições jurídicas, que ajudam a entender o
conteúdo existente nas normas. Isso ajuda a evitar a repetição de palavras no enunciado ou na sanção das regras
incriminadoras.

Binding errou porque lei e norma penal são a mesma coisa, a norma é o direito objetivo e a lei é a fonte da norma, ou
seja, o código penal é onde existem todos os artigos penais e suas sanções. O todo se expressa pelas partes e as partes,
juntas, formam um todo. A teoria de Binding, contudo, repercutiu em questões como tipicidade e culpabilidade.

3. Fontes do Direito Penal


Fonte é lugar de origem, e o único lugar de onde vem o Direito penal é o Estado, de mais canto nenhum. A classificação
das fontes é: materiais(produção), exclusiva estatal, e formal(de cognição), costume, jurisprudência e doutrina. As
fontes formais somente aprimoram interpretações das leis ou expressões, e ajudam a evolução dos diplomas legais,
criticando erros cometidos por legisladores ou juízes. A jurisprudência não cria direito porque ela usa a lei direcionada a
cada caso, só usando o que já existe, o que guia as decisões é a própria lei. Além disso, o costume contra legem não
consegue revogar a lei penal ou qualquer outra lei porque existem princípios como o da adequação social que suprem a
não utilização recorrente da lei, bem como porque uma lei só é revogada por outra lei; a lei continua lá, podendo ser
usada a qualquer momento.

4. Da interpretação das leis penais


A interpretação das leis são várias, existem vários modos de interpretar as leis, dadas as suas ambiguidades e
imperfeições. Devido à impossibilidade de o legislador prever todos os casos concretos possíveis no Código, as regras
são gerais; a adequação ao caso real é feito pela aplicação da lei do magistrado, que irá interpretar a lei antes de
decidir. A interpretação tem que estar ligada ao contexto histórico-cultural e aos princípios do ordenamento jurídico,
observando isso qualquer modo de interpretação pode ser utilizado. Não deve haver seletividade de interpretação mais
ou mais menos rigorosas a certas pessoas e sim uma fidelidade máxima à tradução da vontade da lei mediante tal
interpretação.
4.1 As diversas modalidades de interpretação em matéria penal
Não se deve ser isento de interpretar a lei porque ela é clara e pronto, porque sempre precisamos adequá-la
ao caso concreto, deve-se procurar o sentido verdadeiro da norma porque qualquer afirmação já é
interpretação, mesmo que se diga que a lei tá clara. São 3 tipos de interpretação: quanto às fontes, aos meios
e aos resultados.

4.1.1 Interpretação quanto às fontes: autêntica, jurisprudencial e doutrinária


A autêntica é feita pelo próprio Legislativo, que adiciona algo na lei para esclarecer algum conceito, formando
uma lei interpretativa, a qual não é a mesma que a lei penal, nem é irrefutável ou definitiva; pode retroagir, a
adição de lei interpretativa nova a um caso antigo, para beneficiar o réu.

A jurisprudencial é resultado da interpretação harmônica de juízes, que dá origem à jurisprudência. Não tem
força vinculante, a não ser quando se torna súmula do STF. Os juízes não são obrigados a interpretar de acordo
com a jurisprudência harmônica de qualquer tribunal que seja, mesmo que de juiz superior.

A doutrinária ocorre quando se observa uma uniformidade no entendimento técnico, cultural e amplo dos
estudiosos, ajudando a adequar as condutas sociais às normas vigentes. Não tem força vinculante, e sim de
argumentação, tendo autoridade dependente de méritos científicos doutrinários, como também o grau de
cientificidade e argumentativo deles.

4.1.2 Intepretação quanto aos meios: gramatical, histórica, lógica e sistemática


A gramatical é literal, vê a morfologia das palavras e pensa que o legislador usou as palavras com o significado
contido nela. A formalidade nesse estilo interpretativo busca descobrir o verdadeiro sentido na lei, mas ignora
aspectos técnicos nela; às vezes as palavras colocadas na lei não necessariamente têm o mesmo significado
que no dicionário, há expressões jurídicas que dão precisão maior. Essa interpretação não é nem totalmente
ineficaz nem totalmente eficaz porque até a linguagem técnica é compreensível, não se pode ignorar
totalmente o sentido literal também porque viraria bagunça ao se analisar uma sanção penal.

A histórica busca entender motivos para que a lei seja do jeito que é hoje observando o contexto de hoje, com
as leis de hoje, e comparando com o antigo. Os dados históricos na interpretação vão dar mais clareza ao que
foi exposto pelo legislador, sempre olhando as circunstâncias econômicas, sociais e políticas que os
legisladores tinham quando fizeram a lei. Isso auxilia bastante.

A lógico-sistemática vai derrubar contradições entre os conceitos penais olhando para a harmonia do sistema
penal e pensando: o conceito tal só tá desse jeito porque tem todo um sistema ao redor que é parecido, nesse
sentido isolar um preceito de todo o resto não levaria a uma clareza textual tão boa. Olhando o princípio da
legalidade, todas as interpretações são válidas.

4.1.3 Interpretação quanto aos resultados: declarativa, extensiva e restritiva


A declarativa junta a gramatical com a lógico-sistemática e não acha que o legislador disse mais ou menos do
que escreveu, então a norma e seu conceito convergem para o intérprete, é uma repetição do que está lá.

A restritiva limita o sentido das palavras porque se supõe que o legislador se expressou de forma mais ampla
do que pretendia. Lex dixit plus potius quam voluit.

A extensiva é o contrário da restritiva: Lex minus dixit quam voluit.

5. A analogia e sua aplicação in bonam partem


O direito muda constantemente, assim como a sociedade, e, por isso, é lacunoso. Se novas leis não ocorrem para cobri-
las, é ao juiz que cabe preenchê-las por meio do processo da analogia. Analogia não é interpretação extensiva e sim um
meio de aplicar a norma; são funções diferentes: a analogia integra a norma, enquanto a i.extensiva interpreta ela. A
analogia quer eliminar uma lacuna porque falta uma lei para aquele caso específico, então ela pega emprestada outra
lei de um caso parecido, já a interpretação quer saber o que a lei diz de verdade analisando as palavras.

A analogia pode ser legis ou juris, a legis aplica uma norma em um caso imprevisto antes e a juris aplica princípios gerais
do direito nesses casos. Não se cria lei nova nenhuma, se usa uma que já existe. A analogia, ou seja, o uso de uma lei
em um caso semelhante, não pode ser usada em leis penais incriminadoras, exceto se beneficiar o acusado, porque
pode haver um uso de uma lei que, embora parecida, tenha sanção mais severa. Também não pode ser usada em:
excepcionais ou fiscais.

5.1 Analogia e interpretação analógica: processo integrativo versus processo interpretativo


A interpretação por analogia usa uma lei que já existe, falando que deve ser usada lei X em casos Y e Z de um
jeito A e B. Então tenta ver o que a lei realmente quer dizer usando ela mesma para daí sim aplicar em outro
caso. Já a analogia pega uma lei que já existe e aplica em caso parecido sem que essa aplicação esteja prevista
na lei; um busca ver a vontade da lei, o outro não, só aplica. A interpretação analógica é usada em normas
incriminadoras, a analogia não, só se beneficiar o réu.

5.2 Analogia in bonam partem


Não é por questões humanitárias que se usa a analogia para beneficiar o réu e sim porque isso está de acordo
com os princípios jurídicos, e se isso não ocorresse haveria inevitavelmente um rigor injusto e sem sentido. Na
Alemanha nazista era usada a analogia em situações que não beneficiavam o réu, olhando somente para
opiniões do Fuhrer, uma completa crueldade. Permanece, contudo, a vedação, até por causa do princípio da
legalidade: não se pode criminalizar alguém [a mais, inclusive] por algo que não está nem previsto em lei!

6. Leis penais em branco


Quando uma norma penal incriminadora está incompleta ou vaga, para que haja uma descrição adequada do
comportamento punível ela tem que ser complementada com outra lei, mas não qualquer lei, somente as que ela
autorizar que a complementem(ignorar essa permissão infringe o princípio da legalidade). Essas são chamadas de
normas penais em branco. Elas são classificadas em sentido lato e estrito devido às fontes de onde vem o seu
complemento.

A norma penal em branco se configura em sentido lato quando o seu complemento adequado decorre da mesma fonte
formal de onde ela surgiu, tendo, portanto, fontes legislativas idênticas. Por outro lado, a norma penal em branco se
expressa em sentido estrito quando outra fonte elabora o seu complemento, acabando a lei preenchida por um órgão
legislativo diverso do original mediante atos administrativos.

Nas leis penais em branco não se pode usar analogia ou interpretação analógica justamente porque elas não se
apresentam em plenitude especificando o ato ilícito, o que é exigido pelo princípio nullum crimen nulla poena sine lege.
Além disso, quando uma lei penal em branco não tem perspectiva de que será completada por lei já existente, não tem
validade nem vigência até que se seja preenchida. Em outros termos, a conduta criminosa deve ser expressamente
desautorizada pela lei complementar.

7. Funções e conteúdo da norma penal


Busca proteger bens jurídicos importantes, o bem-estar social, protegendo a convivência e ameaçando quem a
perturba. É norma de valoração entre justo e injusto. Faz o controle social formalizado usando meios drásticos de
coerção. Tem caráter preventivo e motivador de condutas.

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