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Temas por tratar

Paciência
Tolerância
Maturidade
Proximidade
Prevenção
Martírio
Novidade/surpresa
Vulnerabilidade
Complementaridade

Temas tratados:
2007
Amizade
Partilha
Somos família

2008
Paz
Amor
Esperança
Respeito pela criação
Verdade
Justiça
Voluntariado
Liberdade
Honestidade
Humildade

2009
Solidariedade
Alegria
Entusiasmo
Compaixão
Dialogo
Responsabilidade
Vida
Ser luz
Esforço e sacrifício
Coerência

2010
Perdão
Serviço
Vida Eterna
Testemunho
Silêncio
Obediência
(Comum)Unidade
Sobriedade
Confiar
Beleza

2011
Igreja
Missão
Amigo
Matrimónio
Sacerdócio
Jornadas Mundiais da Juventude
Santidade
Coragem
Simplicidade
Escutar

2012
Oportunidade
Harmonia
Credibilidade
Convívio
Mãe(ternidade)
Retidão
Lazer
Audácia
Eternidade
Concórdia

2013

Credo
Água
Trindade
Espírito Santo
Creio em Jesus
Maria modelo de fé
Francisco e a JMJ
Hospitalidade

2014
Intimidade
Mansidão
Felicidade
Páscoa
Acolhimento
Diligência
Proteção
O dinheiro como deus
Segurança
Gentileza
2015
Bom humor
Não escravos, mas irmãos
Tolerância
Martírio
Fidelidade
Prevenção
Benevolência
Sacrifício
Generosidade
Festa da misericórdia

2016
Dar de comer a quem tem fome
Dar de beber a quem tem sede
Vestir os nus
Dar pousada aos peregrinos
Assistir os doentes
Visitar os presos
Enterrar os mortos
Dar bom conselho
Ensinar os ignorantes
Corrigir os que erram

2017
Consolar os tristes
Perdoar as injúrias
Suportar as fraquezas do próximo
Rezar por vivos e defuntos
Alunos para o século XXI
Educação humanista
Educação sustentável
Educar com coerência
O valor do saber
Árvores solidárias

2018
O valor da integridade
Educar na curiosidade
Valor da cidadania
Relacionamentos pessoais
Apostas na tua formação cristã?
O que devemos saber antes dos 12 anos
Quatro desafios para toda a vida
Tu e a tecnologia
Tecnologia com segurança
Diferentes e iguais

2019
Nativos digitais: a geração z
Do Homo sapiens ao Homo technologicus
A geração Alpha
Os desafios da geração Alpha
Seres humanos completos
Cidadania digital
Ativistas digitais
Educar as emoções
Medo e coragem
Aprender a lidar com a tristeza

2020
A emoção da alegria

Outubro 2007
Amizade

Estamos a iniciar mais um ano lectivo. Com ele vem uma nova escola, uma nova turma,
novos colegas, novos professores, novas matérias… enfim, vem novidade! Um
sentimento que deve acompanhar-te é a alegria que deves sentir por voltar a encontrar
caras conhecidas – amigos, colegas, professores e funcionários, que já não vias há
algum tempo. É bom poderes partilhar com eles o que fizeste durante as férias e as
aventuras que passaste. Um outro sentimento que deves estar a sentir prende-se com a
novidade que estás a enfrentar: «Como irá ser o meu relacionamento com as novas
pessoas que vão partilhar comigo este ano lectivo? Será que iremos ser amigos?»
Falar de amizade é falar de um valor que todos nós conhecemos e ambicionamos mas
que, muitas vezes, nos esquecemos, ou temos dificuldade, de o pôr em prática…
Falamos de amigos, somos amigos, temos amigos… Mas o que define um amigo?
Como o elegemos? Para reflectirmos sobre este valor, nada melhor do que lembrarmos a
história d’O principezinho:

«Foi então que apareceu a raposa.


– Olá, bom dia! – disse a raposa.
– Quem és tu? – perguntou o principezinho. – És bem bonita…
– Sou uma raposa – disse a raposa.
– Anda brincar comigo – pediu-lhe o principezinho. – Estou tão triste…
– Não posso ir brincar contigo – disse a raposa. – Ainda ninguém me cativou…
– Ah! Então, desculpa – disse o principezinho. Mas pôs-se a pensar, a pensar e acabou
por perguntar:
– «Cativar» quer dizer o quê?
– Vê-se logo que não és de cá – disse a raposa. – De que andas tu à procura?
– Ando à procura de amigos. «Cativar» quer dizer o quê?
– É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer «criar
laços».
– Criar laços?
– Sim, laços. – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um
rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu
também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a
cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro.
Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para
ti…Só se conhecem as coisas que se cativam – disse a raposa –, os homens já não têm
tempo para conhecer o que quer que seja… Se queres ter um amigo, cativa-me!
– O que é que é preciso fazer? – perguntou o principezinho.
– É necessário ser paciente – respondeu a raposa. – Sentas-te primeiro um pouco longe
de mim, assim, na erva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada…
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da partida:
– Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se pode ver bem
com o coração. O essencial é invisível aos olhos… Os homens esqueceram esta verdade
– disse a raposa. – Mas tu não deves esquecer-te. Tornaste-te para sempre responsável
por aquilo que cativaste…»

Criar laços
É uma história simples, mas com muitos pormenores, essenciais e com lições de vida
para todos nós. É uma definição de amizade muito completa a partir da palavra
«cativar», que, por sua vez, significa, tal como refere a raposa, «criar laços». A amizade
é um valor que nos enriquece e nos promove. Ela desponta com a responsabilidade e
leva a uma comunicação de sentimentos e convicções. De facto, quando na vida nós
cativamos e somos cativados, encontramos e elegemos os nossos amigos e, assim,
criamos laços de amizade.

Os olhos do coração
Depois, tal como n´O Principezinho, nós temos uma grande necessidade de diálogo, de
estar com…, porque somos seres de… e em… relação. «Anda brincar comigo» significa
que precisamos de preencher as nossas vidas com os outros, com aquilo que gostamos
de fazer e, se mais vezes usarmos os «olhos do coração», menores serão as dificuldades
em entendermos a razão das opiniões contrárias. Só se vê bem os amigos com o olhar
do coração, porque o essencial é invisível ao olhar quotidiano, tantas vezes contaminado
por preconceitos que nos impedem de ver os outros como eles são – como nossos
irmãos! Só o coração consegue ver os amigos!

Amizade rima com bondade


Este valor usa a linguagem da bondade e da dádiva. Devemos dar mais atenção aos
momentos quotidianos de bondade, se quisermos estabelecer um relacionamento
autêntico de amizade (criar laços), que nos torna pessoas, que nos transcende, que nos
faz ser melhores, que nos faz crescer… A dádiva é a base da amizade. Dar ajuda, dar
conselhos, dar atenção, dar tudo o que o outro necessitar. E como a amizade produz
retorno, dar é receber. Quanto mais formos amigos e mais dermos, mais os outros serão
nossos amigos e mais nos darão. Nós não seremos verdadeiros amigos se dermos a
pensar em receber. Um verdadeiro amigo é aquele que dá sem intenção de receber e que
valoriza a gratuidade.

E com sensibilidade
A amizade é, também, não só partilhar os sorrisos e as alegrias, mas também as
desilusões e as tristezas. «Se me cativares… para mim tu serás único no mundo.» Ela
enriquece-nos, intensifica as alegrias e alivia as tristezas. Torna-nos, igualmente, muito
mais responsáveis para com aqueles que cativámos, os nossos amigos. Como tudo na
vida, também precisa de ser cultivada e preservada. Sempre que encontramos um
amigo, encontramos um pouco mais de nós mesmos. Precisamos de cativar e de criar
laços para sermos felizes! Assim, um amigo é um milagre que Deus opera no nosso
coração…

Propósito final
Tenta, ao longo deste ano escolar, não só cativar, mas, também, deixar-te cativar!
Embarca nesta grande aventura cheia de desafios, que é a verdadeira amizade… aceita o
desafio! … ‘Bora lá!

Hiperligação

Vai à página de Internet da Audácia www.audacia.org e acede à ficha de trabalho sobre a


amizade. Descarrega-a e trabalha-a em casa, na tua turma de EMRC e/ou de catequese.
Também podes descarregar uma apresentação em PowerPoint sobre este valor de
sempre e… para sempre!

Novembro 2007
Partilha

Estamos no mês de Novembro, no qual o frio começa a imperar. Neste mês é comum,
em muitas escolas do nosso país, realizarem-se os famosos magustos. Além de
comermos castanhas ao redor de uma agradável fogueira, temos a oportunidade de
brincar e de nos enfarruscarmos uns aos outros. Enfim, é mais uma ocasião para
estarmos com os amigos e partilharmos a alegria de estar juntos.

Uma personagem associada ao magusto e ao mês de Novembro é São Martinho. À


sombra da memória deste santo, recordado pela Igreja no dia 11 deste mês,
desenvolveu-se a tradição dos magustos, das castanhas e da prova do vinho novo. Mas,
muitas vezes, comemos as castanhas, provamos o vinho, e pouco ou nada conhecemos
deste santo, chamado Martinho. Para muitos, é um eterno desconhecido que está, sem
sabermos como, ligado às castanhas e aos magustos. Com São Martinho vamos
descobrir o valor da partilha.

Da partilha à santidade
Martinho nasceu no início do século iv. O pai era soldado do exército romano e também
ele entrou para o exército, quando fez 15 anos. Chegou a cavaleiro da guarda imperial.
Martinho ouviu falar de Jesus Cristo, mas não era cristão. Em 338, perto de Amiens, na
França, numa noite fria e chuvosa de Inverno, teve uma experiência que o marcou para
toda a vida. Ia ele a cavalo, quando viu um pobre com ar miserável e quase nu, que lhe
pediu esmola. Como não tinha dinheiro consigo, num gesto de partilha, cortou ao meio
a sua capa e entregou-a ao mendigo, para assim se agasalhar.
Segundo a lenda, de imediato a chuva parou e os raios de sol irromperam por entre as
nuvens. Daqui nasceu a expressão «Verão de São Martinho», de que já terás ouvido
falar. No dia seguinte, Martinho teve uma visão e ouviu uma voz que lhe disse: «Cada
vez que fizeres o bem ao mais pequeno dos teus irmãos é a Mim que o fazes.» Era
Cristo que lhe falava. A partir desse dia, Martinho passa a olhar para os cristãos de outro
modo. Converte-se ao Cristianismo e pede o baptismo.
Martinho encontra bastantes dificuldades para praticar a caridade e a partilha, pois a
sociedade do seu tempo não permitia que os grandes senhores, em que se incluía a
classe militar, se misturassem com o povo. Ele, preocupado com o que Deus quer dele,
vai ter com o bispo Hilário – mais tarde Santo Hilário – a Poitiers. Depois de ouvir os
conselhos do prelado, funda um mosteiro. Entretanto a sua fama espalha-se. Muitos
homens seguem-no na vida monástica. E, com o tempo, as suas pregações e o seu
exemplo de despojamento e de simplicidade dão-lhe fama de santo. É aclamado bispo
de Tours em Julho de 371. Morreu a 8 de Novembro de 397.
A veneração de Martinho espalhou-se rapidamente por todo o mundo cristão. Na cidade
francesa de Tours, foi erguida uma enorme basílica entre 458 e 489, a qual foi lugar de
peregrinação durante séculos, e ainda hoje recebe peregrinos.

A cultura da partilha
A vida de Martinho mudou radicalmente com uma experiência de partilha. Repartiu a
sua capa e depois nunca mais deixou de partilhar. Distribuiu os bens, o amor, a fé, e a
vida com todos os que se cruzaram com ele. Deixou-nos a lição de que a partilha é o
caminho para construirmos a nossa felicidade e a felicidade dos outros, companheiros
da longa viagem, que é a vida.
Partilhar é, assim, uma atitude que brota de um coração que é sensível às necessidades
dos seus semelhantes. Aquele que partilha vê os outros como irmãos e não como
adversários ou inimigos.
A partilha não se limita nem se esgota nos bens materiais, mas vai muito mais além.
Aliás, a partilha de bens é bem mais fácil do que a partilha de outras coisas, tais como o
tempo, as emoções, a dor, os sentimentos… Martinho ensina-nos a recuperar e a pôr em
prática a cultura da partilha.

Tipos de partilha
Na cultura da partilha, as pessoas afirmam-se como seres abertos à comunhão, com
Deus, com os outros e com a criação. Mas o valor da partilha pode ser facilmente
contaminado por intenções pouco dignificantes. Há quem partilhe unicamente para
afirmar o desejo do poder. Torna-se, assim, um gesto cheio de desejo de domínio,
quando não de opressão, sobre os outros. Há quem partilhe para receber elogios. É um
partilhar vaidoso, cheio de amor-próprio, de egoísmo e do culto da própria
personalidade. Existe, ainda, quem partilhe, procurando a própria compensação e
retribuição. É um partilhar interesseiro.
Existe, finalmente, um «partilhar» que os cristãos chamam evangélico – inspirado nos
Evangelhos –, caracterizado pela gratuidade, fraternidade, alegria, compaixão e pelo
desinteresse. O denominador comum a todas estas qualidades é o conceito de
fraternidade, isto é, a experiência de que somos todos irmãos em Cristo.
Na cultura da partilha, as relações humanas, vividas num doar-se contínuo, orientam-se
para a comunhão e para a unidade. É por isso que a sociedade resultante da cultura da
partilha se define como comunidade.

Propósito
Durante este mês de Novembro faz o magusto, come as castanhas, celebra o São
Martinho, mas lembra-te de cultivar a partilha. Martinho começou por repartir uma capa
com um homem que se cruzou com ele. Tu podes começar pelos teus colegas de turma,
de escola, da catequese, da tua terra… a partilhar o que tens, um lápis, uma folha, uma
guloseima… mas não fiques por aí, vais mais além e partilha o teu tempo, o teu sorriso,
os teus dons, as tuas capacidades... Fá-lo de forma desinteressada e com o objectivo de
construíres a comunhão. Verás que o mundo, à tua volta, vai mudar e tornar-se mais
feliz, tal como tu.
Dezembro 2007
Somos família

Já te vejo a pensar como é que vais fazer o teu presépio! Que figuras vais usar, como
irás preparar a cabana e todo o ambiente envolvente, como irá ser a decoração da árvore
de Natal! Tens todo o interesse que seja um espaço bonito, pois será lá que irás colocar
os presentes! Todavia, algo me entristece!

Cada Natal invade-me uma certa tristeza ao ver que muitos fazem um esforço enorme
para armar a árvore de Natal, mas não prepararam o presépio. Esquecem-se que nele é
que está o que é importante nesta quadra festiva.
Tu sabes qual é o significado de presépio? Significa o lugar onde se recolhe o gado. É o
mesmo que curral e estábulo. Esta é também a designação dada à representação artística
do nascimento do Menino Jesus, que ocorreu num estábulo, acompanhado pela Virgem
Maria, por S. José, e por uma vaca e um jumento. Por vezes, acrescentam-se outras
figuras, como pastores, ovelhas, os Reis Magos…
Durante séculos, o nascimento de Jesus no seio de uma família era o acontecimento
central do Natal. Ainda é assim para milhões de pessoas em todo o mundo. Para estas, o
resto é acessório e decorre deste acontecimento tão significativo.
Este mês de Dezembro, em que olhamos de forma particular para a família de Jesus, é
uma boa oportunidade para falarmos do valor da família. É uma oportunidade para
interpelarmos a nossa família à luz da família de Jesus.
Nos dias de hoje, a família é vista, por muitos, como um valor em crise. Muitos já não
acreditam nela e outros tentam constantemente desvalorizá-la. Eu acho que devemos
afirmar a sua validade e a sua centralidade na nossa vida pois ela é, essencialmente, uma
escola de valores.
Eu acredito que a família foi, é, e continuará a ser, um valor fundante e primário, no
sentido em que é a fonte e o viveiro de todos os outros valores que iremos afirmar e
viver ao longo da nossa existência. O método usado para a assimilação desses valores é
o do exemplo e do testemunho. Porque vemos a nossa família a afirmar e a viver certos
valores, aprendemos a personalizá-los, a torná-los nossos e a vivê-los também.
É verdade que a família é constantemente confrontada com obstáculos, dificuldades e
desafios que parecem abalá-la, mas nunca conseguirão destruí-la. Os laços de amor –
característica fundamental da verdadeira família – não deixarão que isso aconteça e
saberão protegê-la e fortalecê-la.
Apresento-te algumas características da primeira e principal escola que é a família.

Amor é o denominador comum


O denominador comum a todos os membros da família é o amor. É ele o princípio, o
meio e a finalidade da família. Sem ele, a família torna-se um lugar mesquinho,
conflituoso e interesseiro. As relações familiares devem nascer, crescer e direccionarem-
se para a vivência do amor. A família é, assim, o lugar privilegiado onde eu aprendo a
viver o verdadeiro amor da minha vida. É, igualmente, o lugar onde se pratica e exercita
o amor. Estamos juntos não porque nos convêm, mas porque nos amamos e somos fruto
desse amor.

Aqui vou ser feliz


A família é o lugar privilegiado onde se constrói e experimenta a felicidade. É verdade
que às vezes e, por momentos, gostaríamos que a nossa família fosse outra, que fosse
diferente. Isso pode ser normal, sobretudo se estivermos a passar por momentos de
incompreensão e de conflito. Mas, depois de aclaradas e resolvidas essas dúvidas, deve
surgir em mim o desejo de aceitar e valorizar a minha família. Ela é a única que tenho, e
é no seio dela que devo construir a minha felicidade e ajudar os outros membros da
minha família a encontrá-la também.

Afirmar e praticar o perdão


Viver juntos implica necessariamente conflitos e incompreensões que por vezes trazem
sofrimento. Torna-se então necessário afirmar e praticar o valor do perdão: saber
perdoar e ser perdoado. O perdão é a única forma de ultrapassar os erros e as ofensas
sofridas ou exercidas no seio de uma família. Só o perdão permite voltar a construir um
ambiente de paz e serenidade, tão necessário hoje.

Sinal de unidade e comunhão


A família é essencialmente uma comunidade – comum unidade –, que vive e pratica a
comunhão – comum união – de amor. Em tudo manifestamos a nossa unidade/união:
nos fracassos e nos êxitos, nas alegrias e nas tristezas, na saúde e na doença, na vida e
na morte… Esta unidade/união brota não só dos laços sanguíneos, mas também dos
laços afectivos que se vão estabelecendo. Quando essa unidade/união é autêntica, nada a
poderá separar ou destruir.

Sempre em construção
Há muitos mais valores que só se colhem na família. Reflecte sobre isso, por exemplo,
nestes sítios da Internet: www.portaldafamilia.org, www.espacofamilia.pt,
www.diocesedeviseu.pt/intervencoes/Familia e volores.doc.
Os que te apresento são fundamentais e permitem formar e viver esta comunidade
doméstica. Já pensaste o que seria de nós sem uma família? Alguns têm a infelicidade
de não terem uma e acredito que o seu maior desejo seja o de encontrar, ou então formar
uma família. Apesar de todas as dificuldades e incompreensões, ela continua a ser o
melhor lugar do mundo onde viver. Ela é a rampa de lançamento que nos projecta para a
vida em sociedade, mas é igualmente o porto de abrigo que nos acolhe quando algo não
corre tão bem como desejamos.
Por isso, neste mês de Dezembro, em que vais celebrar o Natal, lembra-te de celebrares
também a alegria de viveres em família. Arma a árvore de Natal, mas prepara também o
presépio. E, acima de tudo, prepara a tua família para viver e afirmar os valores
fundamentais do Natal: o amor, a felicidade, o perdão, a comunhão… e irás ficar
surpreendido com a quantidade de «prendas» que a tua família receberá…

Janeiro 2008
A paz recebe-se e dá-se

Já é habitual, ao iniciarmos mais um ano, celebrarmos o Dia Mundial da Paz. Podemos


correr o risco de o ignorarmos, completamente, ou, então, de o celebrarmos de forma
passageira e superficial, no meio da azáfama dos festejos do Ano Novo. Celebrar o Dia
Mundial da Paz é uma oportunidade para afirmarmos a validade e a necessidade da paz,
para nós e para os outros, num tempo onde cada vez mais experimentamos a sua
ausência ou fragilidade.
Com certeza, várias vezes já desejaste, desesperadamente, a paz; sobretudo, quando
deparaste com situações de conflito e de agressão na tua família, na tua turma, na tua
escola, no bairro, na terra onde vives, no mundo…
A paz é um valor essencial na construção da nossa identidade, da nossa realização
pessoal e da nossa felicidade. Sem ela, a vida tornar-se-ia um contínuo sofrimento — o
medo e o pânico instalar-se-iam e obrigar-nos-iam a ver os outros como inimigos e
adversários a abater.
Na história dos homens nunca se falou tanto de paz e nunca ela foi tão ardentemente
desejada como nos nossos dias. Verifica-se, cada vez mais, entre todos os interlocutores
de uma sociedade altamente mediatizada, uma crescente consciência do absurdo da
guerra como meio para resolver problemas e diferendos e, por conseguinte, considera-se
a paz como uma condição necessária para as relações fraternas entre indivíduos e
nações.
No entanto, nunca a paz foi tão ameaçada, enfraquecida e destruída. Comprovamos,
com tristeza, as atrocidades vividas no Darfur, no Sudão – um conflito armado a
transformar-se em genocídio exterminando, como sempre, os mais frágeis e vulneráveis,
as crianças e os idosos; no Iraque, no Afeganistão… as escaramuças no Médio Oriente,
em vários países da Ásia, na América Latina e em África…
Infelizmente, os conflitos entre pessoas e nações são muitos, e cada vez mais fortes e
destruidores. Herdámos e somos possuidores de uma cultura de guerra, onde «eliminar»
é a palavra de ordem, mesmo que sejam pessoas.
Simultaneamente são, também, inúmeros os encontros e as cimeiras de paz. Nunca
como hoje, chefes de Estado e políticos se sentaram para procurar caminhos de paz.
Porque será, então, que as nossas convicções e desejos não correspondem sempre aos
nossos comportamentos e às nossas atitudes?

Que paz queremos


Será que estaremos todos a procurar a mesma, e verdadeira, paz? Jesus disse-nos
«Deixo-vos a minha paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá»
(Jo.14,27). Que fizemos então desta dádiva? Não será porque preferimos uma paz como
o mundo no-la dá? Uma paz que consiste no silêncio dos oprimidos, na impotência dos
vencidos, na humilhação daqueles, homens e mulheres, que vêem pisados os seus
direitos mais fundamentais?
A paz dos homens e a paz de Cristo têm objectivos e linguagens diferentes.

A verdadeira paz
A verdadeira paz, a paz que Jesus nos deixou, apoia-se na justiça, difunde-se pelo amor
e pela reconciliação e leva à verdadeira felicidade e realização pessoal e social. É o fruto
do Espírito Santo, «que o mundo não pode receber» (Jo 14, 17). São Paulo ensina-nos
que «o fruto do Espírito é o amor, a alegria, e a paz» (Gal. 5,22). Jesus Cristo é a
verdadeira e a única fonte de paz. É essa a convicção de São Paulo, ao dizer que Cristo
«de dois povos fez um só, destruindo o muro da inimizade que os separava […] a fim de
fazer em Si mesmo dos dois um só homem novo estabelecendo a paz» (Ef. 2,14-15).

A paz conquista-se
A paz é um dom mas é, também, uma conquista. É um dom, porque nos é oferecida e
comunicada pelo Espírito de Cristo. Mas é também uma conquista, na medida em que
exige todos os dias, de cada pessoa, uma adesão, um empenho e um esforço para criar
um ambiente pacífico dentro de nós e ao nosso redor. Não são as armas que matam e
destroem; são os homens que as fabricam e que as usam!
Os bispos de todo o mundo, reunidos no segundo concílio do Vaticano (de 1962 a
1965), afirmaram que, para edificar a paz, é preciso, antes de mais, eliminar as causas
das discórdias. Assim se entende que a paz não é a mera ausência de guerra, mas uma
conquista dos homens que respondem ao dom de Deus Criador, que pôs nos seus
corações a capacidade de amarem, de se alegrarem com a felicidade dos outros, de
darem, até, a vida para que os outros vivam mais plenamente.

Como ser pacificador


Que poderemos nós fazer pela paz? Muitas vezes, sentimo-nos impotentes face à
grandiosidade e complexidade dos conflitos. Baixar os braços e observá-los
passivamente é pactuar com a cultura de guerra e morte, que só produz sofrimento e
destruição.
A tradição cristã sempre nos apontou caminhos concretos de paz que estão ao nosso
alcance: o compromisso pessoal e comunitário a favor da paz; a vivência de valores
promotores de uma cultura de paz e a oração humilde mas fervorosa pela paz. Cada
domingo, na conclusão da Missa, somos enviados como missionários pacificadores:
«Ide em Paz, o Senhor vos acompanhe!»
Nunca te sintas impotente nem desistas de aspirar a criar ao teu redor um ambiente de
verdadeira paz. Lembra-te que ela é sempre um dom que nos é oferecido por Deus e é
também uma conquista, fruto do empenho diário em viver comprometido com a
construção da paz, dentro de nós e ao nosso redor. É muito o que podes fazer. Sê
criativo e persistente!

Fevereiro 2008
Amor

No dia 14 de Fevereiro é hábito os jovens celebrarem o dia de S. Valentim, o chamado


Dia dos Namorados. Na ocasião, trocam prendas ou mensagens de amor. No entanto, a
maneira de viver este dia pode ser também uma superficialização, banalização e
comercialização de um valor tão nobre e profundo como é o amor. A partir da minha
experiência com jovens e adolescentes apercebo-me, cada vez mais, da sensação de
frustração e de fracasso que muitas destas experiências provocam. Há que recuperar e
afirmar o valor deste sentimento.

São Valentim
Há várias teorias relativas à origem de São Valentim e à forma como este mártir romano
se tornou o patrono dos apaixonados. Uma delas afirma São Valentim como um mártir
que, em meados do século iii, se recusou a abdicar da fé cristã que professava e,
consequentemente, foi decapitado. Outra sustenta que o imperador romano teria
proibido os casamentos de modo a ter mais homens para as frentes de batalha. Um
sacerdote cristão, de nome Valentim, teria violado este decreto imperial e realizava
casamentos em segredo. Este segredo teria sido descoberto e Valentim teria sido preso,
torturado e condenado à morte.
Ambas as teorias apresentam factores em comum. São Valentim foi um sacerdote
cristão ou um mártir que teria sido morto a 14 de Fevereiro de 269, por não abdicar das
suas convicções: o amor aos homens e a Deus. Foi, podemos dizê-lo, um mártir do
amor.

Amar e ser amado


Cada um de nós tem gravado no seu interior a necessidade de ser amado e de amar. A
pessoa humana foi feita para a relação.
Há diversos tipos e níveis de amor: o amor entre Deus e os homens; o amor entre
esposos; o amor entre pais e filhos; o amor entre amigos… Todos eles revelam a
necessidade de nos entregarmos e de nos darmos a conhecer de uma maneira mais
profunda e total em vista à nossa felicidade.
O maior desafio para cada um de nós é… encontrar o amor da nossa vida. Aquele amor
total, que inclui a pessoa toda, tanto a alma como o corpo. Nesse amor, uma pessoa
pode dizer e exprimir tudo, até ao mais íntimo, porque o outro vai compreendê-la,
aceitá-la e amá-la tal como é. Há uma confiança absoluta e recíproca que permite e
exige transparência e abertura – condições para a relação.
O amor engloba a totalidade da pessoa (corpo e alma) e é uma entrega total e
incondicional.

Amor de Deus e a Deus


Amar! É isto o que Deus faz por nós e é o que Ele quer que nós façamos por Ele. E
amar é a entrega incondicional, que gera vida e felicidade.
«Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo
o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna», escreveu o apóstolo predilecto de
Jesus, João, no capítulo 3, versículo 16 do seu Evangelho. Deus deu-nos o exemplo,
para que nós possamos aprender o verdadeiro sentido do amor que é sempre uma
entrega total e incondicional ao outro. Assim, para nós cristãos, a origem e o
fundamento do amor encontra-se em Deus, que nos amou, que nos convida a amá-l’O, e
que nos apresenta como mandamento fundamental que nos amemos uns aos outros
como Ele nos amou (lê no Evangelho de São Mateus o capítulo 22, versículos 37 a 39).

Amor ao próximo e do próximo


O amor é o princípio que sustenta, qualifica e dignifica as relações humanas. Há vários
tipos de amor, com várias intensidades e tonalidades mas que no fundo revelam um
único sentimento: o carinho, o encanto, a admiração e o respeito pelo outro.
O amor, assim como todos os valores, não é uma coisa concreta e palpável, mas
manifesta-se e expressa-se através de coisas concretas e palpáveis: os gestos.
O amor, por sua própria natureza, jamais se esgota. Podemos sempre amar mais e
melhor. Acima de tudo, o amor cria um norte nas nossas vidas, funciona como uma
bússola para os nossos sentimentos, pondo em ordem o nosso caos emocional. É através
dele que conseguimos discernir o que há de mais importante e o de menos importante.
O amor é o sentimento mais íntimo, profundo e maior que uma pessoa pode sentir, que a
absorve por inteiro, levando-a a entregar-se a outro de forma livre e responsável, com
vista à construção da sua própria felicidade e da felicidade do outro. O amor é, assim,
uma entrega recíproca, incondicional, mas restrita. Quando duas pessoas se amam,
sabem que vão compartilhar toda a sua vida, ao ponto de já não serem dois mas um só:
uma só carne e uma só vida.
Neste espírito, o amor conjugal é um projecto único de felicidade a dois, que pressupõe
adaptações e sacrifícios em vista ao bem comum. Dizer a uma pessoa que a amo é dizer
que me quero entregar e me comprometer incondicionalmente e para sempre num
projecto de felicidade e realização pessoal. Não tem sentido dizer: «Amo-te, mas
provavelmente só durará uns meses, ou uns anos, desde que continues a ser simpática e
agradável, ou eu não encontre uma melhor, ou não fiques feia com a idade.» Um amo-te
que implica «só por algum tempo» não é um amor verdadeiro. É antes um «gosto de ti,
agradas-me, sinto-me bem contigo, mas de modo algum estou disposto a entregar-me
inteiramente, nem a entregar-te a minha vida».

Carta de amor
Caro/a amigo/a, amar alguém (uma pessoa ou Deus) é um sentimento maravilhoso, mas
é igualmente um compromisso sério e exigente.
Neste mês de Fevereiro, se estás a pensar em celebrar o Dia de São Valentim e o valor
do amor, enviando uma carta ou um gesto de amor a alguém, lembra-te que o amor que
levou São Valentim a dar a sua própria vida ao ser martirizado é um sentimento
maravilhoso, mas igualmente exigente e incondicional.
Escreve as tuas cartas de amor, enaltecendo o sentimento, mas nunca o banalizes,
instrumentalizes ou comercializes, pois podes criar grandes frustrações e desilusões,
quer nos outros, quer em ti próprio.
E, já agora, deixo-te um desafio: porque não escreves uma carta de amor a Deus que te
ama e que tu amas. Será que és capaz?

Março 2008
Esperança

Estamos a aproximar-nos, a passos largos, da Páscoa – a celebração central dos cristãos.


Alguns, atarefados e preocupados com as amêndoas, os ovos, os chocolates, os
coelhinhos e os folares, têm dificuldades em entendê-la e em celebrá-la. Ficam, assim,
pelo acessório e pelo superficial e nunca penetram no seu verdadeiro sentido. A Páscoa
é, sobretudo, a festa da esperança e para entendê-la melhor vamos servir-nos da história
dos discípulos de Emaús. Conheces essa história? Se não, lê Lc. 24,13-35.
Temos dois discípulos de Jesus desorientados e abalados pelo acontecimento que
viveram e experimentaram recentemente: a morte de Jesus. Sentindo-se derrotados,
voltam à sua terra natal. As esperanças que tinham foram desfeitas. Os planos de
libertação que haviam sonhado e os projectos que vinham construindo ao longo dos
vários anos que passaram com Jesus de Nazaré já não viriam a ser realidade.
Mas o encontro com o Jesus ressuscitado, que os consolou enquanto caminhava e
partilhava o pão, fá-los recuperar a esperança. O que antes não tinha sentido e era
motivo de tristeza e desalento, agora é a razão do seu alento. O caminho que eles antes
percorriam tristemente em direcção a Emaús, agora é percorrido alegremente e em
direcção a Jerusalém, a fim de poderem partilhar as razões da sua segurança.
Qual foi a razão da mudança de sentimentos e o retomar da esperança? Foi sem dúvida
o terem reconhecido Jesus no meio deles, enquanto partia o pão. Este gesto, tão simples,
e muito comum entre eles, abriu-lhes os olhos, e puderam ver, agora de uma maneira
clara, a presença de Jesus ressuscitado nas suas vidas e no mundo. A certeza de que
Jesus está vivo e que caminha com eles é o segredo da sua esperança.
É, sobretudo, da esperança, do seu valor e do seu significado que te quero falar este
mês.

É como um alicerce
Na sua etimologia latina, esperança vem de «spes» e «sperare», que significa uma
espera aberta, que não assenta em resultados externos (como a expectativa), mas sobre a
realização da pessoa (uma mudança radical da condição humana). Assim, a esperança é
uma tendência para um bem futuro e possível. A esperança é uma energia interna, que
cresce a cada momento e que nos torna capazes de derrubar muros e obstáculos que
considerávamos intransponíveis.
A esperança projecta-se no futuro, uma vez que a pessoa que espera procura
fundamentar e dar as razões dessa esperança e assume-se, consequentemente, não só
como uma pessoa com um passado e um presente, mas, essencialmente, uma pessoa
com um futuro. A vivência da esperança transmite paz e segurança ao dia de hoje e faz,
assim, caminhar, sem medo, rumo a um horizonte futuro.
Para os cristãos, a esperança tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. É Ele a fonte e a
razão da nossa esperança. É Ele que dá sentido e nos dá forças para nos empenharmos a
lutar por um mundo mais humano e mais fraterno e é, igualmente, Ele que nos garante a
Sua presença na nossa vida presente e futura. Essa foi a grande descoberta dos
discípulos de Emaús. Reconheceram a presença de Jesus Cristo nas suas vidas. Esse
reconhecimento redimensionou e reestruturou as suas vidas abatidas e vencidas pelo
desânimo da morte de Jesus.
A certeza de que Jesus está vivo e presente na história da humanidade é o alicerce onde
assenta a esperança cristã. Assim, a esperança cristã não é um antídoto para o desânimo
ou uma pílula para a felicidade baseada numa ilusão construída ou numa utopia
desejada, mas é, essencialmente, uma força, uma energia transformadora do presente,
que nos envolve na construção de um futuro melhor para todos. Assim, a esperança é
uma força transformadora do presente assegurando-lhe um futuro.

Há esperança, há vida
É costume ouvir dizer que «enquanto há vida há esperança». Acredito que o contrário
também é verdade, enquanto há esperança há vida. Se perdermos a esperança, viver
torna-se um fardo pesado e sem sentido. A esperança qualifica e dignifica a vida.
Talvez já tenhas experimentado a perda momentânea da esperança ou já te tenhas
cruzado com alguém que a tenha perdido, momentaneamente ou talvez até
definitivamente. Nessas situações torna-se necessário e urgente recuperá-la e
reencontrar aquela força interior que nos faz lutar por construir um mundo e um futuro
melhores. É essa força interior que dá sentido ao nosso presente e que nos projectará
para o futuro sem ter medo de viver.
Talvez tenhamos de fazer a mesma experiência dos discípulos de Emaús. De, no meio
da nossa caminhada da vida, tantas vezes marcada pelo desânimo, derrota, fracasso,
desorientação, desilusão… reconhecer a presença de Jesus que caminha ao nosso lado,
que nos explica o seu sentido, que nos faz arder o coração… abrir os olhos… e, assim,
recuperar a alegria e a vontade de caminhar em direcção aos nossos irmãos,
companheiros de viagem, para lhes darmos conta das razões da nossa esperança. Assim,
a nossa esperança não é vã ou vazia de sentido, mas é fundamentada na certeza da
ressurreição de Jesus, fonte da nossa esperança.

Sinónimo de Páscoa
Esta é a grande mensagem e definição da Páscoa: a certeza da ressurreição de Jesus.
Esta é a certeza fundante e fundadora da nossa fé cristã. Celebrar a Páscoa é, sobretudo,
celebrar a esperança. É proclamar bem alto que Jesus Cristo está vivo e presente na
nossa vida e na vida do mundo. Que Ele caminha connosco, que nos anima, encoraja e
nos desafia a estarmos também presentes no mundo e nas vidas dos nossos irmãos, para
lhes levarmos uma palavra amiga de fé, esperança e caridade.
Uma Páscoa feliz!
Abril de 2008
Respeito pela criação

Um rápido olhar sobre o mundo depressa nos faz percebê-lo como um maravilhoso
jardim, criado por Deus, que se encontra num processo de destruição. O homem passou
de jardineiro a exterminador: 10 000 espécies são extintas por ano, segundo os cálculos
dos cientistas; desflorestação maciça por efeito da urbanização rápida e da
intensificação agro-industrial; mudanças climáticas de contornos ainda desconhecidos,
mas deveras preocupantes; poluição industrial com ênfase particular na China e na
Índia, onde o crescimento económico galopante não está a ser acompanhado por
medidas de protecção ambiental; erosão do solo e desertificação em largas áreas de
África, América do Sul e China. Eis alguns dos sintomas da destruição a nível
planetário.
Nos últimos anos, a humanidade, com um comportamento altamente marcado pela sede
do lucro fácil e imediato, tem destruído mais o planeta do que todos os seus
antepassados ao longo de milhões de anos. Em algumas zonas geográficas, incluindo
Portugal, já se podem notar os estragos provocados por um sobreaquecimento global
advindo da poluição humana. Se continuarmos a não estimar e cuidar a Criação que
Deus nos confiou, não teremos este planeta por muito tempo.

Biodiversidade, valor a preservar


O património biológico é o resultado de milhões de anos de evolução. Mas,
infelizmente, a diversidade biológica (biodiversidade) tem vindo a decrescer
drasticamente devido à expansão da população humana, atingindo, actualmente, níveis
muito baixos. O homem necessitou, necessita e continuará a necessitar desta
biodiversidade para sobreviver. Os animais e as plantas são riquíssimas reservas
genéticas que devemos preservar e conservar, pois sem elas não conseguiremos
sobreviver. Não podemos prescindir delas sem estarmos a correr riscos ainda nem
sequer calculados, uma vez que, diariamente, desaparecem várias espécies vegetais e
animais que a ciência ainda não estudou nem conhece.

A ética do saber cuidar


Está na altura de invertermos esta situação e mudarmos comportamentos. Como disse
recentemente o Santo Padre, Bento XVI, os seres humanos precisam de ouvir «a voz da
Terra» sob pena de, caso não o façam, destruírem o planeta. Segundo ele, «não podemos
simplesmente fazer o que desejamos com esta nossa Terra, com o que nos foi confiado
por Deus… Precisamos de respeitar as leis internas da criação. Precisamos de as
aprender e de as obedecer se desejamos sobreviver». Torna-se, assim, urgente
desenvolver uma ética (comportamento) do saber cuidar. Cuidar da criação é
desenvolver uma atitude de preocupação, de responsabilidade e de envolvimento
afectivo com a Natureza.
Esta arte de cuidar deve incidir sobre os solos envenenados, os ares contaminados, as
águas poluídas, as florestas dizimadas, as espécies exterminadas… Afinal o planeta
Terra não é algo desconhecido, mas é a nossa casa comum. A tradição cristã é rica de
exemplos de pessoas que viveram a sua vida a cuidar dos outros e do mundo. Todos nos
lembramos do exemplo de Jesus Cristo, Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá,
Luther King, e tantos outros, que, pelo seu exemplo, deixaram o mundo melhor do que
o encontraram. Este é um desafio também para nós. Deixar este planeta um pouco
melhor do que o encontrámos.
O patrono dos ecologistas
Gostaria de te apresentar o exemplo do “pobrezinho de Assis”, São Francisco, que foi
um homem de paz e de bem, terno e amoroso. Francisco nasceu em 1181 em Assis, na
Itália. Depois de uma juventude vivida freneticamente, converteu-se e viveu como
ninguém o valor da pobreza, da simplicidade, do respeito pela Natureza e da humildade.
Amava os animais, as plantas e toda a natureza. Poeta, cantava o Sol, a Lua e as estrelas.
A sua alegria, simplicidade e ternura fizeram dele um dos santos mais populares dos
nossos dias. Ficou conhecido como o protector dos animais e, em 1979, foi proclamado
pelo Papa João Paulo II como o “Santo Patrono dos Ecologistas”.
Francisco deixou-nos o exemplo e o desafio de amar, contemplar e respeitar a Natureza
como o grande presente de Deus aos homens e, assim, tomarmos consciência de que
todos somos herdeiros, guardas e protectores daquilo que Ele nos deu. Dessa forma,
estaremos a perpetuar a memória criadora do nosso Deus ao longo dos tempos e a
permitir que Deus continue a criar e a recriar um lindo jardim para desfrutarmos e
deixarmos, bem cuidado, como herança aos nossos sucessores. Vamos então aprender a
desenvolver a ética do cuidar, cuidar de nós, dos irmãos e do mundo. Essa ética do
cuidar depressa se transformará numa espiritualidade do saber cuidar.
Finalmente, deixo-te aqui um texto de S. Francisco de Assis, que escreveu nos últimos
anos da vida, já bastante debilitado e quase cego. Este maravilhoso texto exalta a beleza
da criação e das criaturas, criando assim uma espiritualidade do saber cuidar:
«…Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão Sol,
que clareia o dia e que, com a sua luz,
nos ilumina. Ele é belo e radiante,
com grande esplendor; de Ti, Altíssimo,
é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras,
preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno e por todo o tempo
em que dás sustento às Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde,
preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo,
com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre,
vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa,
produz frutos diversos,
flores e ervas…»
Maio de 2008
Verdade que nos edifica

Não tem sido fácil a convivência do homem com a verdade. Muitas vezes houve mesmo
uma relação ambígua e tumultuosa com ela. Em nome da razão, muitos foram os
atentados cometidos e os atropelos praticados.
Hoje vivemos um tempo onde damos muita importância à verdade, mas, por outro lado,
facilmente verificamos um certo (e penoso) ofuscamento dela. Às vezes, as pessoas
mentem descaradamente mas juram a pés juntos que estão a ser sinceros.
A verdade, por vezes, é manipulada ao sabor das vontades e conveniências. Este
comportamento, de falta de honestidade, ou manipulação da verdade, invade os mais
recônditos lugares da esfera do individual, social e institucional. Certas atitudes e
comportamentos, assumidos em nome da verdade, levam muitas vezes a desacreditá-la
ou a relativizá-la.

A verdade é proprietária
Há também quem, recorrendo a processos refinados, continue a alimentar a pretensão de
possuir toda a verdade. Aliás, esta parece ser uma tendência comum em algumas
correntes do pensamento contemporâneo. Trata-se da tendência da pessoa para “possuir
verdades” em vez de se deixar possuir pela verdade. De facto, a impressão que
prevalece é a de que a verdade tem muitos possuidores e poucos buscadores
(servidores).
Nesta busca pela verdade, umas vezes falsa, outras vezes autêntica, é necessário
clarificar os métodos e os princípios e ter sempre em mente a convicção de base,
correctamente enunciada pelo Concílio Vaticano II: «A verdade não se impõe de outro
modo senão pela sua própria força, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo
suave e forte.»
A verdade nunca pode ser apresentada como um arremesso contra quem quer que seja,
mas como um impulso para que todos avancemos na sua procura incessante. Por isso
mesmo, a verdade une-nos e dinamiza-nos para sermos fiéis à verdade última: Jesus
Cristo.

Servir a verdade
Disse o Papa João Paulo II: «Desde que recebeu, no mistério pascal, o dom da verdade
última sobre a vida do homem, a Igreja fez-se peregrina pelas estradas do mundo, para
anunciar que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida.» E é por isso também que,
entre os vários serviços que os cristãos devem oferecer à humanidade, o Santo Padre
assinala, em lugar de destaque, a «diaconia (serviço) da verdade». Esta missão torna,
por um lado, a comunidade crente participante do esforço comum que a humanidade
realiza para alcançar a verdade e, por outro lado, obriga-a a empenhar-se no anúncio das
certezas adquiridas, ciente de que cada verdade atingida é só mais uma etapa rumo à
verdade plena.
É importante realçar que a diaconia da verdade implica sempre um profundo respeito
por quem pensa, sente e vive de modo diferente do nosso. Nesta busca pela verdade e no
respeito por quem é diferente, temos de acreditar ser possível manter a firmeza nas
convicções e, ao mesmo tempo, a contenção nas palavras, a moderação nos gestos e a
elevação nas atitudes. Uma verdade que ofendesse, que excluísse e que humilhasse seria
tudo menos verdade; não passaria de uma contradição, de uma humilhação.
Nunca percamos de vista que a verdade tem como (supremo) objectivo edificar a pessoa
humana no seu todo, contribuindo para a revelação do mistério mais fundo que ela
encerra. Por essa razão, ela comporta uma dimensão itinerante: a verdade é de sempre,
mas pode ser descoberta – ou reconhecida – apenas num momento tardio ou até no
momento terminal da existência. O fundamental, no entanto, é que essa descoberta se
verifique, e que esse reconhecimento aconteça. Todos devem ser advertidos para a
urgência da verdade, mas ninguém pode ser penalizado por ainda a não ter vislumbrado.

A verdade pacífica
A verdade que a Igreja proclama não desagrega, antes pacifica e reconcilia.
Consequentemente se infere que verdade e amor são duas magnitudes estreitamente
ligadas entre si, sendo pura insensatez pretender sacrificar uma à outra. A verdade sem
amor torna-se chauvinista, intolerante e totalitária. Pelo contrário, o amor sem verdade é
cego e mudo, indigno do homem, de forma que produz exteriormente a impressão de
uma comunhão que não existe no interior. Só o amor que procura a verdade é autêntico
e duradouro; e só a verdade procurada pelo amor e no amor «nos faz livres».
Para os cristãos a verdade habita em Jesus Cristo. Ele é a “casa da verdade” onde cada
um se pode hospedar e aí recuperar forças para o testemunho que o mundo nos exige.

Deixa-te conduzir
Caro(a) amigo(a), procura ser, no ambiente onde vives, família, escola, paróquia,
sociedade, um buscador e facilitador da verdade. Procura, em tudo o que fazes, colocar
a verdade como prioridade e meta. Deixa que ela seja o valor que marca a tua vida.
Lembra-te que nas montanhas da verdade nunca se faz uma escalada inútil.

Junho de 2008
Justos como Deus

A justiça é um valor fundamental para nós e para o mundo, pois é o caminho mais
sólido, rápido e directo para a paz interior e exterior, individual e colectiva.

Muitas vezes, somos confrontados com a sua ausência ou, então, com a sua demora,
distorção, fragilidade e vulnerabilidade. Como consequência, existe dentro de cada um
de nós uma grande sede de justiça que muitas vezes não é saciada.
Todos nós, com certeza, já experimentámos a revolta quando a injustiça nos atinge ou
atinge outras pessoas que nós estimamos. Não há causa mais geradora de violência nas
pessoas, nas sociedades e entre as nações do que a prática da injustiça. Quantas são as
guerras individuais e colectivas que tiveram origem nas injustiças cometidas! De tal
modo a injustiça é contrária à razão humana, que os homens injustos, para a manterem e
a tornarem admissível, recorrem à mentira, à difamação e à fraude. A injustiça fere os
direitos fundamentais e a dignidade das pessoas e dos povos.

Justiça divina
A justiça é uma das quatro virtudes cardinais (com a prudência, a temperança e a
fortaleza) e consiste, no entender da Igreja, «na constante e firme vontade de dar aos
outros o que lhes é devido» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 381).
Ela é representada por uma estátua, com os olhos vendados e com uma balança na mão,
pretendendo simbolizar que todos são iguais perante a lei. A justiça procura, assim,
buscar a igualdade entre os cidadãos assente na sua inviolável dignidade, dando o
«prémio» (absolvição) ou o «castigo» (pena) apropriado ao acto cometido.
Não se pode ser feliz à custa do sofrimento ou do aniquilamento dos outros, daí que a
justiça deva ser uma preocupação constante na mente e na vida de cada cidadão. Para os
cristãos, este valor assume uma redobrada importância uma vez que somos convidados
a praticá-la diariamente: «Sede vós, pois, perfeitos (justos), como é perfeito (justo) o
vosso Pai celestial», diz Jesus no Evangelho de Mateus, 5, 48.
Deus é justo e quer que os homens imitem esse valor. A palavra «justiça», no sentido
social, pode e deve ser a expressão terrestre do princípio divino, pois, só se o for será
legítimo o seu uso e da sua aplicação resultará a paz e a boa vontade entre os homens.

Justiça, amor e paz


A justiça, quando comandada somente pelo raciocínio frio, requer um sem-número de
condições para se estabelecer e realizar. Mas comandada superiormente pelo amor e
pela verdade, em todas as circunstâncias e ocasiões, toma um aspecto menos rígido e
contundente, pois mais do que o rigor do justo, tem em vista o bem e a harmonia.
Segundo o filósofo italiano Pietro Ubaldi, justiça é cada um receber o que lhe é devido,
não segundo a lei dos homens, mas segundo a lei de Deus. Da mesma forma, caridade é
dar aos outros aquilo que por justiça nos pertence.
É necessário ter presente que a misericórdia não deve servir de cobertura ou de
camuflagem para a injustiça, ou de qualquer coisa que se oponha aos princípios divinos
da verdade, da justiça, da harmonia, da paz e da boa vontade entre os homens. Sem
justiça não há paz e sem amor ao próximo não há justiça. Só amando o próximo, isto é,
fazendo-lhe tudo que gostaríamos que nos fizessem a nós, a justiça será possível e, com
ela, a paz e o verdadeiro bem-estar. Sem o amor ao próximo e a consequente justiça, a
paz não será verdadeira, porque resultará da imposição e repressão, e estas significam
injustiça. De resto, a justiça nunca é compatível com o egoísmo, com regalias especiais,
com desigualdades extremas, com a força bruta e com a opressão.

Ninguém é dono da justiça


Para muitas pessoas, a justiça está consignada nos códigos e leis feitos por homens e
que estipulam o permitido e o proibido, cabendo aos tribunais e outras autoridades velar
e impor o seu cumprimento. Porém, dado que a imparcialidade e rigoroso julgamento
são difíceis, uma tal justiça é sempre relativa, sobretudo porque os julgadores raramente
se mantêm acima do jogo emocional que move as pessoas e também porque o estrato
social a que pertencem os inclina, naturalmente, para a defesa de interesses e privilégios
afins ao seu meio social. A justiça muitas das vezes torna-se um negócio e é facilmente
manipulada por jogos mesquinhos de interesses.
Se alguns, por vezes, ignoram ou mesmo se opõem à concretização da justiça, dando
preferência a inclinações egoístas, privilégios ou prerrogativas, apesar de todos esses
atropelos, a justiça acabará por vir ao de cima, tal como a verdade, pois são princípios
eternos, forças ou leis da Natureza, como se lhes quiser chamar. Mesmo quando
poderosas forças exteriores pretendem impor a injustiça, esta acabará mais cedo ou mais
tarde por revelar os seus erros e incapacidade de conduzir pacificamente os homens para
um mundo de convívio fraterno e harmonioso.
Assim, procura ser, no teu dia-a-dia, onde quer que te encontres, um defensor da justiça.
Nunca te «vendas» ou compactues com a injustiça pois ela, mais cedo ou mais tarde,
sempre produzirá sofrimentos, desigualdades e guerras que impedirão que este mundo
seja um lugar mais justo, pacífico e feliz. Lembra-te que a justiça proporcionar-te-á a
paz, mas, inevitavelmente, proporcionar-te-á também trabalho, dedicação e sacrifício
para a alcançares. Nessa luta pela justiça deixa-te iluminar por Aquele que foi, é e será
absolutamente justo – Jesus Cristo. Não desistas!
Julho de 2008
Disponíveis para o voluntariado

Julho e Agosto, por tradição, são meses para desfrutar as merecidas férias. Estas são um
tempo para descansar e recuperar forças, e, para aqueles que não se empenharam tanto
durante o ano escolar, uma oportunidade para fazerem o balanço do que correu menos
bem, rever matérias e preparar novos métodos de estudo. Enfim, para todos nós, a época
estival é um período para fazer algo de que gostamos e que nos realiza e, em particular,
para aquelas actividades para as quais, devido aos inúmeros afazeres do ano escolar, não
tivemos tempo, como o voluntariado, um valor emergente.
O voluntariado é definido pela lei portuguesa como «um conjunto de acções de interesse
social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de
projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das
famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou
privadas».
É evidente pela análise desta definição que o voluntariado: está ao serviço das pessoas,
das famílias e das comunidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do
bem-estar das populações; traduz-se num conjunto de acções de interesse social e
comunitário, realizadas de forma desinteressada, expressando o trabalho voluntário;
desenvolve-se através de projectos e programas de entidades públicas e privadas com
condições para integrar voluntários, envolvendo as entidades promotoras e corresponde
a uma decisão livre e voluntária apoiada em motivações e opções pessoais que
caracterizam o voluntário.

Motivações para o voluntariado


São várias as motivações que justificam o trabalho voluntário. Partem sempre de uma
dimensão pessoal: o voluntário decide doar tempo e esforço como resposta a uma
inquietação interior que reclama acções concretas. Tem sempre como objectivo uma
dimensão social: o voluntário está consciente e atento aos problemas existentes na
sociedade e decide comprometer-se com a sua resolução. Por fim, o voluntariado
fundamenta-se numa dimensão transcendente, através da qual reafirma a dignidade e o
respeito para com as outras pessoas, especialmente as mais necessitadas. O voluntário
olha para os outros como irmãos e irmãs que partilham a mesma dignidade e que
merecem e justificam o compromisso gratuito para com o seu bem-estar. O voluntário
reconhece o outro como o seu «próximo», ou seja, aquele que necessita da sua ajuda.

Ser e fazer-se próximo


Na parábola do Bom Samaritano (no Evangelho de S. Lucas 10, 25-37, bem retratada
em www.techs.com.br/meimei/historias/historia20.htm, somos convidados a sermos
próximos e fazermo-nos próximos dos outros. E isto consegue-se com a abertura à
dimensão transcendente da condição humana. Ao aproximar-se do outro, ao conhecer a
necessidade que é satisfeita mediante a relação que se estabelece na acção voluntária, o
voluntário reconhece-o como próximo.
O fazer-se próximo é a característica fundamental do voluntário. O verdadeiro próximo
é quem se aproxima do sofrimento e das necessidades do outro. Assim, o voluntariado é
algo mais do que um sentimento, é, sobretudo, uma acção, que implica tanto a quem a
realiza, como àquele a quem ela se destina, uma relação real de fraternidade e
solidariedade. O voluntariado é um instrumento poderoso, ao serviço da sociedade, para
se caminhar em direcção a uma solidariedade generosa e responsável. Nessa caminhada
não se exclui nem se elimina ninguém, mas pelo contrário inclui-se toda a gente.

Solidariedade em acção
A palavra-chave do voluntariado é «solidariedade». Sem a solidariedade, a vida morre e
a convivência reduz-se a uma coabitação forçada onde a solidão, a indiferença, as
tensões e as transgressões prevalecem sobre a sociabilidade e a fraternidade. Hoje,
exige-se uma solidariedade forte que reintegre completamente na sociedade aqueles que
dela são expulsos, que são abandonados na marginalidade, esquecidos, quase
completamente, já que as pessoas estão absorvidas com o seu próprio bem-estar. A
grande preocupação de Jesus foi a de propor aos seus discípulos a necessidade de terem
um comportamento integrador especialmente para com aqueles que estavam e eram
excluídos. A proposta de salvação e comunhão com Deus que Jesus veio trazer é para
todos sem excepção e particularmente para os mais pobres e mais abandonados.

O voluntariado é…
Assim, o voluntário é o cidadão que, livremente, não em virtude de obrigações morais
ou deveres jurídicos específicos, inspira a sua vida – em público e em privado – em fins
de solidariedade. Por isso, cumpridos os seus deveres civis e do seu estado próprio, põe-
se desinteressadamente à disposição da comunidade, promovendo uma resposta criativa
às necessidades emergentes no seu território com atenção prioritária aos pobres, aos
marginalizados e aos carenciados.
O voluntário dedica energias, capacidades, tempo e meios de que dispõe em iniciativas
partilhadas e realizadas, especialmente, em acções de grupo. E estas são abertas a uma
leal colaboração com as instituições públicas e as forças sociais, assumidas com a
adequada preparação específica e continuidade, e orientada para os serviços de
proximidade ou para a indispensável eliminação das causas da injustiça e opressão das
pessoas.

Disponibilidade
Caro(a) amigo(a), neste tempo maravilhoso que são as férias, não te deixes vencer pelo
ócio ou por uma vida dominada pela letargia e pela indiferença. Diverte-te, mas tenta
também viver ao ritmo e ao sabor da solidariedade. Procura informar-te sobre
instituições que necessitam de trabalho de voluntariado e, se puderes, dedica algum
tempo das tuas férias a pôr em prática esse valor. Volta, por exemplo, a verso da capa
desta revista.
Além de sentires as tuas qualidades, verás que és útil a alguém que precisava de ti.
Boas férias e bom voluntariado.

Outubro de 2008
Liberdade

Iniciámos mais um ano escolar e com ele vêm novos amigos, novos professores, novas
matérias… e, espero, também um novo e redobrado empenho que te fará chegar ao fim
com sucesso. Por vezes, somos tentados a viver a escola como nos apetece, a fazer
somente o que queremos e, assim, enveredamos por um caminho que, mais cedo ou
mais tarde, levará ao insucesso e ao fracasso. Várias vezes usamos o argumento de que
somos livres, de que ninguém nos deve dizer o que devemos fazer, para justificar a
nossa apatia e desinteresse pelo estudo e pela aprendizagem.
A liberdade é um valor fundamental da natureza humana. Felizmente, vivemos num
tempo que muito valoriza e defende a liberdade. São várias as vozes que se levantam
para a invocarem e a defenderem a todo o custo. São, também, várias as pessoas que
não se poupam a esforços, muitas das vezes oferecendo a própria vida, para que outras
pessoas a possam experimentar e viver. Mas, paralelamente, existe uma grande confusão
acerca do que é ser livre e do uso que se faz da liberdade. Várias são as pessoas que,
diariamente, violam a liberdade dos outros, escravizando-os ou instrumentalizando-os.
Algumas pessoas identificam a liberdade com a independência de tudo e de todos, em
que simplesmente se faz o que apetece; em que estão livres de responsabilidades, de
obrigações (sociais, familiares e escolares) e até de normas morais ou éticas. Mas será
essa a autêntica liberdade pela qual vale a pena lutar e até dar a vida?
O importante é ser livre de tudo aquilo que nos impede de ser verdadeiramente felizes, é
libertar-se. Isto implica uma aprendizagem contínua e progressiva.
A liberdade é uma tarefa. Exige esforço. É uma conquista de todos os dias. A liberdade,
porque implica escolha e responsabilidade, é a expressão de poder escolher, de se
comprometer, para um ideal de vida, não é um agir ao sabor dos caprichos. Ser livre não
é ser independente de tudo, pois a vida é sempre uma relação de dependências, mas
escolher e seleccionar essas dependências, integrando-as no ideal e no sentido da vida.
Uma liberdade sem orientação nem conteúdo é vazia para nós e perigosa para os outros
e transforma-se, rapidamente, em libertinagem, isto é, uma liberdade que ignora ou
despreza a verdade e a responsabilidade.

Servos em vez de livres


Há jovens que, na sua ânsia de experimentar uma liberdade genuína, se lançam numa
louca procura de toda a espécie de prazer, porque, dizem, só assim é que se sentem
realizados. Mas a resposta não está no prazer, como muitos jovens já estão a descobrir,
pois continuam insatisfeitos. Pior ainda é quando alguém fica escravizado pelas próprias
coisas que, pensava ele, iriam trazer-lhe a liberdade. É o caso de muitos jovens que, na
sua revolta contra a sociedade, pensam encontrar a sua libertação na droga, no álcool, na
moda, no prazer, quando o que realmente encontram é a frustração. Acabam por
descobrir, afinal, que essa liberdade não passa de uma miragem e rapidamente se
transforma em escravidão.

Jesus o verdadeiro libertador


Jesus viveu a sua vida humana como indivíduo profunda e radicalmente livre, criador e
difusor da liberdade.
A grande liberdade de Jesus manifestou-se na vontade firme de ser profundamente fiel à
missão que o Pai lhe confiou. Jesus foi, também, o grande libertador da humanidade ao
exercer o seu ministério, libertando as pessoas do medo, da angústia, do preconceito, da
escravidão, do pecado. Toda a sua missão foi uma profunda libertação. O momento alto
desta libertação operou-se no mistério pascal: a paixão, morte e ressurreição. Por tudo
isto, Jesus Cristo é o verdadeiro modelo de liberdade.

Ser livre e ter liberdade


Como acabamos de dizer, cada um de nós tem pela frente, não só este ano, mas ao longo
de toda a nossa vida, um grande desafio: ser livre e ter liberdade. Somos livres na
medida em que não nos deixamos escravizar por nada, e temos liberdade quando somos
capazes de optar, com verdade e responsabilidade, por um projecto de vida dignificante
e com sentido. Lembra-te que essa é uma tarefa exigente, que implica um esforço diário
para seres autêntico e deixares que os outros também o sejam.
Um homem livre e libertador
Quando os Alemães invadiram a França em 1940, Aristides de Sousa Mendes, o cônsul
português em Bordéus, contrariando as ordens de Salazar, assinou muitos vistos para
judeus que fugiam à perseguição nazi. Assim conseguiu salvar milhares de vidas, antes
de ser afastado do cargo. A 8 de Julho de 1940, já sem mais hipóteses de transgressão,
regressou a Portugal. Tinha salvado milhares de vidas, assinando vistos de dia e de
noite, até à exaustão física. Aristides de Sousa Mendes confessou que agiu comovido
pela aflição de «toda aquela gente» que não «podia deixar de me impressionar
vivamente», como ele disse no seu processo de defesa em Agosto de 1940. Aristides foi
dado como culpado no inquérito disciplinar que o Governo português lhe instaurou e
foi, consequentemente, despromovido. Salazar reformá-lo-ia compulsivamente com
uma pensão mínima. Sem dinheiro, Aristides era socorrido pelo irmão e pela
comunidade judaica portuguesa, terminando os seus dias na miséria mas consciente de
que foi um homem livre e libertador.

Novembro de 2008
Honestidade

Conta-se que na China, por volta do ano 250 a. C., um príncipe estava para ser coroado
imperador, mas, de acordo com a lei, deveria casar antes. Sabendo disso, ele resolveu
fazer uma competição entre as raparigas da corte. Então, o príncipe anunciou que
receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e que lhes lançaria um
desafio.
Uma senhora de idade, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre
os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um amor
profundo pelo príncipe. Ao chegar a casa, e ao relatar o facto à sua filha, espantou-se
por saber que ela pretendia ir à celebração, e disse-lhe:
– Estarão presentes as mais belas e ricas raparigas. Tira esta ideia da cabeça. Sei que tu
estás a sofrer. Não deixes que esse sofrimento se transforme em loucura.
– Não, querida mãe, não estou a sofrer e muito menos louca. Eu sei que jamais poderei
ser a escolhida, mas a oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do
príncipe já me torna feliz – retorquiu a filha.
A jovem dirigiu-se ao palácio, onde estavam, de facto, as mais belas raparigas, com as
mais belas roupas, as mais belas jóias e as mais determinadas intenções. O príncipe
anunciou o desafio:
– Darei a cada uma de vós uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a
mais bela flor, será escolhida para minha esposa e futura imperatriz da China.
O tempo passou e a jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem,
cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que, se a beleza da flor
surgisse na mesma proporção do seu amor, ela não precisaria de se preocupar com o
resultado. Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentava, usando todos os
métodos que conhecia, mas nada nascia. Com o passar do tempo, ela percebia que o seu
sonho estava cada vez mais longe, mas, também, que era cada vez mais profundo o seu
amor.
Os seis meses passaram, e nada brotou. Consciente do seu esforço e dedicação, a jovem
comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, iria ao palácio, na data e
hora combinadas, pois não pretendia mais nada do que mais alguns momentos na
companhia do príncipe. E, na hora marcada, ela foi com o seu vaso vazio.
As outras pretendentes levavam, cada qual, uma flor mais bela do que a outra, das mais
variadas formas e cores. A jovem ficou extasiada, pois nunca tinha presenciado tanta
beleza. Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das
pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele
anuncia o resultado e indica a jovem como a sua futura esposa.
Os presentes tiveram as mais inesperadas reacções. Ninguém compreendeu porque
escolheu ele justamente aquela que nada havia cultivado. O príncipe esclareceu:
– Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A
flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.

Perder para ganhar


A grande lição que podes tirar da história é: se, para venceres na vida, estiver em jogo a
tua honestidade, então perde, pois no final ganharás. A honestidade da jovem foi
apreciada e recompensada, ao contrário, a falta de honestidade das outras foi penalizada.
Assistimos, hoje, a um desejo enorme de honestidade. A maioria das pessoas odeia a
desonestidade e a corrupção, na escola, na política, no futebol, na vida em geral.
Contudo, e apesar disso, alguns acham que um pouco de desonestidade é uma maneira
fácil de ter êxito na vida. Perguntam para quê ser honesto, quando tudo à nossa volta é
corrupto e parece que as pessoas desonestas se saem bem. Mas, como a história, a vida
acaba por comprovar que a honestidade compensa.

Honestidade é…
… uma qualidade humana que consiste em agir e falar com sinceridade e coerência, de
acordo com os valores da verdade e da justiça. Honestidade significa que não há
contradição entre os pensamentos, as palavras e as acções. Somos honestos quando não
estamos a iludir-nos nem a iludir os outros. A pessoa honesta vive aquilo que diz e diz
aquilo que pensa e vive. A prática da honestidade conduz a uma vida de integridade,
porque o nosso interior e exterior são o reflexo um do outro. Esta integridade garante
segurança a nós e às pessoas com as quais contactamos. Ao contrário, a discrepância
entre o exterior e o interior cria barreiras e dificuldades de relacionamento.

Ser honesto…
… é a base do relacionamento interpessoal. Todos precisamos de modelos – pais,
amigos, professores, Igreja, organizações… – a partir dos quais formamos a nossa
personalidade. Se admiramos a sua honestidade, vamos espelhá-la na nossa vida.
Ao vivermos a honestidade, porém, a nossa vida pode, por vezes, tornar-se complicada
e exigente, pois a honestidade não compactua com a facilidade e a superficialidade. Mas
é este conflito que faz avançar as gerações na conquista do verdadeiro bem, da
felicidade autêntica… pois ninguém quer relacionar-se com hipócritas e fingidos, nem
ser encarado como mentiroso, corrompido, indigno de confiança. E pode exigir que,
para sermos fiéis a cada princípio, dever, acordo ou compromisso, tenhamos de perder
dinheiro, amigos ou a própria vida. Então, deixaremos uma marca na História e Deus
também nos recompensará.

Deus é honesto
Deus é verdadeiro. Ele não mente nem engana ninguém. A sua relação connosco
alicerça-se na confiança e na honestidade. O livro bíblico dos Provérbios diz-nos que
«os lábios mentirosos causam repulsa ao Senhor, mas os que praticam a verdade são o
seu encanto» (Prov 12, 22), e ainda: «O Senhor detesta todo o tipo de mentira e
desonestidade» (Prov 20, 23). Deus pede-nos para não furtar, não mentir nem levantar
falsos testemunhos – recorda os dez mandamentos –, pois sabe que essas coisas lesam a
nossa vida. Comecemos, hoje mesmo, a ser honestos connosco, com os outros e com
Deus e a criar ambiente de honestidade ao nosso redor.

Dezembro de 2008
Humildade

A história do bambu
Conta uma lenda chinesa que havia num lindo jardim um bambu, o qual era a planta
mais bonita. Mas, apesar disso, sentia que não era feliz... faltava-lhe alguma coisa.
Um dia, o Senhor, muito preocupado, aproximou-se da sua árvore querida e o bambu
com grande veneração baixou a cabeça. O Senhor disse-lhe:
– Meu querido bambu, vou precisar de ti!
O bambu sentiu que tinha chegado o seu momento, o dia para o qual tinha nascido. Com
grande alegria, mas baixinho, respondeu:
– Estou pronto, Senhor, faz de mim o que quiseres.
– Bambu, para servir-me de ti, é necessário abater-te – disse o Senhor em voz séria.
O bambu ficou assustado e respondeu:
– Abater-me, Senhor, depois de me teres tornado na árvore mais bonita do teu jardim?
Não, por favor, não faças isso! Usa-me para tua alegria, mas, por favor, não me abatas.
– Meu querido bambu, sem abater-te não te poderei usar.
Fez-se um grande silêncio. Então o bambu baixou ainda mais a cabeça e suspirou:
– Senhor, se não me podes usar sem me abater, então faz de mim o que quiseres.
– Meu querido bambu, não devo somente abater-te, mas devo também cortar as tuas
folhas e os ramos – disse-lhe o Senhor.
– O Senhor, não faças isso comigo... deixa-me ao menos as folhas e os ramos.
– Se não queres que os corte, não poderei usar-te.
Então o bambu, já com uma voz muito fraca, disse:
– Senhor, então corta-me as folhas e os ramos, se assim achares necessário.
– Meu querido, tenho ainda que fazer uma outra coisa. Devo rachar-te em duas partes e
arrancar-te o coração. Se não o fizer, não te poderei usar.
O bambu ficou sem palavras e baixou a sua linda cabeleira até ao chão.
O Senhor do jardim abateu o bambu, cortou os ramos, tirou as folhas, rachou-o em duas
partes e arrancou-lhe o coração. Em seguida, levou-o à fonte de água fresca, próxima
dos campos secos. Ali, muito cuidadosamente, o Senhor colocou o bambu no chão. Uma
extremidade do tronco foi ligada à fonte de água, outra foi virada para o campo seco. Da
fonte jorrava água, a água passava através do bambu oco e chegava alegre ao campo
seco que há muito suspirava por aquela água fresca. Em seguida foi plantado o arroz. Os
dias passaram, a semente cresceu e o tempo da colheita chegou. Assim, o maravilhoso
bambu tornou-se uma grande bênção para aqueles campos secos devido à sua grande
generosidade e humildade.

A humildade de Deus
Esta história do bambu pode ajudar-nos a entender o valor da humildade. Com a sua
postura humilde, a cana possibilitou que a sua vida fosse geradora de vida.
Ao ler e meditar nesta história, vem-me à memória o nascimento de Jesus. É a história
de Deus que se faz homem. Também Jesus, com o seu nascimento (incarnação), se
despojou da sua natureza divina e assumiu a nossa condição humana, não para se
vangloriar ou orgulhar, mas, para que tenhamos vida e vida em abundância. Jesus foi o
retrato da humildade e da simplicidade. Na vida de Jesus, desde o nascimento até à
morte, tudo está repleto de humildade. Sendo Ele de condição divina, não reivindicou o
direito de ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, tomando a forma de servo.
Tornando-Se semelhante aos homens humilhou-Se a Si próprio, fazendo-se obediente
até à morte, e morte de cruz! (Cf. Fil 2,6-8). Jesus também foi um canal de vida que nos
atingiu e nos reconciliou com Deus, oferecendo-nos a possibilidade de (re)encontrarmos
o caminho para a felicidade, para a salvação, para Deus.

O valor da humildade
O termo “humildade” vem da palavra latina humus, que quer dizer terra fértil, rica em
nutrientes e preparada para receber as sementes. Assim, uma pessoa humilde está
sempre disposta a aprender e a deixar brotar no solo fértil da sua pessoa as boas
sementes. A verdadeira humildade está sempre acompanhada de outros valores como a
caridade, a misericórdia, o amor, a verdade e a compaixão.
Graças à humildade, não nos pensamos nem julgamos superiores aos outros, mas temos
a noção exacta da nossa fraqueza, modéstia, respeito, pobreza, reverência e submissão.
Todavia, a humildade não é desvalorização de nós mesmos, falta de carácter ou
inferiorização. Consiste em ter consciência, não só das nossas fraquezas e limitações
mas igualmente das nossas potencialidades, valor e virtudes. É reconhecer que as
qualidades que possuímos foram-nos dadas por Deus para as fazermos brotar e colocar
ao serviço dos outros, nossos irmãos. Ao confrontamo-nos com os nossos limites, não
desanimamos, mas esforçamo-nos para sermos melhores.
E, perante Deus, a pessoa humilde descobre a sua finitude e a sua pequenez. Mas esta
condição de criatura limitada e dependente faz-nos capazes de dialogar com o nosso
Criador e de aceitarmos – com completa liberdade – a nossa dependência Dele.

Falsa ou atractiva humildade


É falsa humildade a atitude daquele que se rebaixa perante os outros querendo parecer
humilde, porém está cheio de ressentimentos, inveja ou ambição. O oposto da
humildade é o orgulho e a arrogância. Esta dificuldade de submeter-se a outras vontades
leva também a não aceitar a vontade de Deus.
Os que lutam para ser verdadeiramente humildes adquirem uma personalidade atraente.
Com o seu comportamento habitual, conseguem criar à sua volta um ambiente de paz e
de alegria, porque reconhecem o valor dos outros.
Por isso, caro amigo, ao celebrarmos o Natal – a humildade de Jesus – vamos esforçar-
nos por pôr em prática este valor da humildade com a certeza de que estaremos a
contribuir para a nossa felicidade e para a felicidade daqueles que nos rodeiam.
Por último, e para reflectires, sabes qual é a razão da grandeza, da imensidão e do poder
do mar? É porque foi suficientemente humilde para se colocar alguns centímetros
abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro,
se quisesse ficar acima de todos os rios, não seria mar, seria uma ilha. E certamente
estaria isolado.

Janeiro de 2009
Solidariedade

Ano novo, vida nova. Repetimos esta frase todos os anos aquando da passagem do ano e
dos votos/desejos que nela fazemos. Com certeza que também fizeste os teus… e espero
que te esforces para os cumprires. Eu penso que o mundo também precisa de fazer um
voto: um incentivo à solidariedade. Da sua vivência depende a construção de um mundo
novo, um mundo mais fraterno e humano.

Optimismo
Por natureza, vocação e formação, sou optimista e assim pretendo continuar, mas
confesso que começa a tornar-se difícil. Um olhar rápido pelo mundo e para as relações
que nele existem permite concluir que começam a escassear e, muitas vezes, a
confundir-se e a deteriorarem-se os verdadeiros gestos de solidariedade.
Vivemos num mundo interdependente e globalizado, que favorece mais o domínio do
mais forte do que a prática da solidariedade. Um mundo estruturalmente injusto, em que
vinte por cento da população mundial possui e usufrui de oitenta por cento dos recursos;
no qual a competição é o motor do sucesso e o cuidado pelo outro passa para segundo
plano, quando não para último. Em primeiro lugar está a realização do eu, a satisfação
dos interesses individuais, o bem-estar pessoal.
Continuando assim, vão acentuar-se as desigualdades gritantes, as franjas de pobreza, a
marginalização dos mais fracos, a indiferença perante o outro. Há que recuperar e
afirmar o sentido e a prática da solidariedade.

Conceito de solidariedade
A palavra «solidariedade» deriva das palavras latinas «solidum» (totalidade, total,
segurança), «solidus» (sólido, maciço, inteiro) e «soliditas» (fraternidade). Assim, a
solidariedade apresenta-se como uma unidade que é sólida devido à interdependência e
segurança dos seus componentes.
A palavra «solidariedade» apresenta dois conceitos fundamentais: a interdependência (a
solidez da solidariedade resulta dos laços entre pessoas e colectividades); e a eficácia da
interdependência, em oposição à prática individualista, que não consegue tais
resultados.
O Papa João Paulo II, oriundo da Polónia, onde coabitou com o movimento sindical
chamado Solidariedade, deu a esta palavra uma grande ênfase na sua carta encíclica
sobre a solicitude social da Igreja (Sollicitudo Rei Socialis). Para ele, «a solidariedade
não é um sentimento de compaixão vaga ou de entretimento superficial pelos males
sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação
firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de
cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos».

Abrir os olhos e o coração


A solidariedade consiste em permitir que os outros entrem no nosso espaço pessoal,
acolhendo-os com cordialidade e partilhando com eles o que temos e o que somos. Mais
do que dar algo, a verdadeira solidariedade consiste, como a praticou Jesus, em dar-se a
si mesmo, para que os outros tenham vida e vida em abundância. A solidariedade leva-
nos a abrir bem os olhos e a perceber o que se passa à nossa volta para entendermos a
realidade. E além dos olhos, precisamos de abrir também o coração e deixar vir à
superfície os sentimentos que nos podem levar a partilhar a paixão (compaixão) com os
nossos semelhantes mais carenciados. Um coração solidário vê onde há necessidade de
amor e actua em consequência.
A solidariedade é sobretudo um estilo de vida que nasce do encontro com o mundo da
dor, não através da realidade virtual mediática, mas da realidade concreta à nossa volta,
e não tolera a indiferença.
A ausência da solidariedade mata e reduz a convivência a uma coabitação forçada.
Neste tipo de relacionamento, a solidão, a indiferença, as tensões e as transgressões
prevalecem sobre a sociabilidade e a fraternidade. O mundo precisa de uma
solidariedade forte que reintegre completamente na sociedade aqueles que dela são
expulsos ou por ela são abandonados, marginalizados, esquecidos e ignorados, porque
esta sociedade doente só se preocupa com o seu próprio bem-estar.

Uma história de solidariedade


O nome dele era Fleming e era um pobre fazendeiro escocês. Um dia, enquanto
trabalhava para ganhar a vida e o sustento para a sua família, ouviu um pedido
desesperado de socorro vindo de um pântano nas proximidades. Imediatamente, largou
as suas ferramentas e correu para lá. Ao chegar, encontrou um menino gritando e
tentando livrar-se da morte pois estava enlameado até à cintura. O fazendeiro Fleming
salvou o rapaz de uma morte lenta e terrível. No dia seguinte, uma carruagem riquíssima
chega à humilde casa do escocês. Um nobre saiu e apresentou-se como o pai do menino
que o fazendeiro Fleming havia salvado.
– Eu quero recompensá-lo – disse o nobre. – O senhor salvou a vida do meu filho.
– Não, eu não posso aceitar qualquer pagamento pelo que fiz – respondeu o fazendeiro
escocês, recusando a oferta.
Naquele momento, o filho do fazendeiro veio à porta do casebre.
– É seu filho? – perguntou o nobre.
– Sim – respondeu o fazendeiro com orgulho.
– Então, faço-lhe uma proposta. Deixe-me levá-lo e dar-lhe-ei uma boa educação. Se o
rapaz for como é o seu pai, ele crescerá e será um homem do qual o senhor terá muito
orgulho.
E foi o que ele fez. Tempos depois, o filho do fazendeiro Fleming formou-se no St.
Mary’s Hospital Medical School de Londres e ficou conhecido no mundo como o
notável Senhor Alexander Fleming que descobriu a penicilina.
Anos depois, o filho do nobre estava doente com pneumonia. O que o salvou? A
penicilina. O nome do nobre? Senhor Randolph Churchill. O nome do filho dele?
Senhor Winston Churchill.
É com exemplos e gestos como estes que o mundo se torna um lugar melhor.

Fevereiro de 2009
O perfume da alegria

Era uma vez uma florzinha que ao nascer cortou uma das suas pétalas num espinho.
Como a pétala partida não lhe doía, ela não se preocupou com isso e vivia feliz, muito
feliz… Contudo, certo dia, começou a perceber que as outras flores olhavam para ela
com olhos de espanto! E foi aí que notou que era diferente das outras flores. Os dias
foram passando e ela foi ficando triste, cada vez mais triste, e o jardim ia perdendo a
beleza que tinha antes. Ela não estava triste por causa da pétala partida, mas pela forma
como as outras flores olhavam para ela. E foi justamente por isso que a pequena flor
começou a chorar. Chorou tanto, mas tanto… que a terra molhada, já alagada, ao
perceber que não aguentava nem mais uma lágrima, começou a ficar preocupada e
perguntou: «Porque brota tanta água desses pequeninos olhos?» Mas a florzinha
continuava a chorar…
A terra decidiu pedir socorro à sua amiga árvore, contando-lhe o quanto a florzinha
chorava. E a árvore contou aos pássaros, seus companheiros. E os pássaros voaram,
voaram… e contaram às nuvens sonhadoras. E as nuvens cochicharam aos ouvidos dos
anjos que brincavam no céu. E os anjos, os melhores amigos das nuvens, juntaram-se e
contaram a Deus. E Deus chorou como a florzinha chorava… Não de tristeza pela pétala
partida da florzinha, mas pela indelicadeza e a falta de compaixão das outras flores. E a
partir desse instante, o choro da florzinha transformou-se em chuva, a chuva tornou-se
um rio e o rio um imenso mar.
Num pequeno intervalo de choro, a florzinha abriu os olhos e ficou admirada com todo
o rebuliço à sua volta. Não sabia que era tão querida pela Natureza e por Deus. Naquele
momento, a sua tristeza começou a transformar-se em algo estranho, uma espécie de
tremor que ia e vinha e que, assim que chegou ao coração, o fez bater mais forte. A flor
sentiu a boca repuxar-se levemente para cima como que delineando um riso leve. E ao
sorrir pela primeira vez, um delicioso perfume apoderou-se do seu corpo e alastrou-se
pelas entranhas da Natureza, que nunca mais conseguiu viver sem ele. E esse perfume
chamou muitos, muitos animais… Vieram as abelhas, os beija-flores, as borboletas, as
crianças… e, um a um, começaram a cheirar a florzinha que sabia sorrir e que tinha um
delicioso perfume que parecia sair exactamente da pétala partida.
Essa é a história da florzinha que aprendeu a sorrir e que recebeu de presente o delicioso
perfume que iria permanecer com ela e com todas as outras que viessem depois dela,
desde que soubessem sorrir…

Alegria, precisa-se
Muitos de vós poderão perguntar se haverá motivos para a alegria no mundo em que
vivemos ou, até mesmo, se será possível a alegria? Sobretudo quando verificamos o
aumento da pobreza, o crescimento da insegurança no futuro, a multiplicação das
agressões violentas contra as pessoas e a Natureza e a existência de tantos sofrimentos e
de tantas lágrimas. Talvez seja por estas razões que vemos, constantemente, rostos
tristes quando passeamos pela rua. Talvez muitos de nós já se tenham rendido à tristeza
e fazem dela a sua companheira incómoda, mas constante.
Precisamos de recuperar o segredo e o sentido da alegria, aquela força que nos faz olhar
para o presente e para o futuro com serenidade e confiança. Recuperar o perfume
contagiante do sorriso que afecta e modifica o nosso ambiente e o ambiente daqueles
que nos rodeiam.
O apóstolo São Paulo diz-nos que o desejo de Deus é «Vivei sempre alegres, orai sem
cessar, dai graças em todas as circunstâncias». O cristão não pode viver como se o Deus
da alegria não tivesse vindo para o meio de nós. Ainda há pouco tempo, na liturgia do
Natal, ouvíamos a notícia mais sensacional da história da humanidade: «Anuncio-vos
uma grande alegria, que o será para todo o povo: nasceu-vos um Salvador.» Vivemos na
alegria, porque sabemos donde vimos e para onde caminhamos. Estamos certos de que
no fim da nossa caminhada encontraremos os braços amorosos do Pai que nos acolhe e
nos introduz na felicidade plena. Não nos faltarão dificuldades, incompreensões e
perseguições. Poderemos até parecer derrotados. Mas, nos nossos olhos, deve brilhar
sempre a certeza de que Deus caminha connosco, nunca nos esquece e é fonte da nossa
alegria e serenidade.

A alegria e o coração
No coração de todos nós, no que podemos chamar o nosso «jardim secreto», está a
alegria. Ela é a planta de raízes mais resistentes, que aí é cultivada e colhida. Ela resiste
a todas as intempéries da vida, mesmo quando assolada por tristezas e fracassos. A
alegria está inscrita nos nossos genes cristãos, é a característica que recebemos de Deus,
nosso Pai. A nossa tarefa é, então, a de dar alegria, confiança e esperança ao mundo. Um
coração cristão tem necessariamente de ser um coração alegre. Se eu irradiar alegria, já
anuncio e testemunho o Evangelho. Assim, ao semearmos a alegria no coração do nosso
irmão, rapidamente a veremos florir no nosso. Para Deus conta o que fizermos pelos
outros com alegria para os tornarmos felizes já nesta terra. O nosso querido e saudoso
Papa João Paulo II dizia: «Quando a alegria de um coração cristão se derrama nos
outros homens, ali gera esperança, optimismo, impulsos de generosidade na fadiga
quotidiana, contagiando toda a sociedade.»

Março de 2009
Entusiasmo

Estamos na Quaresma. Tempo de reflexão e de preparação, em que os cristãos, através


da oração, da caridade e da penitência, se preparam para celebrarem e acolherem Cristo
ressuscitado nas suas vidas. Ela deve ser um tempo de esperança e de entusiasmo, pois
preparamo-nos para acolher a mudança positiva que a Páscoa (passagem) pode fazer na
nossa vida, como fez na vida de Cristo. É precisamente sobre o valor do entusiasmo que
quero reflectir contigo este mês.

Definição
A palavra entusiasmo vem do grego, a partir da junção de três palavras: «en», «theos» e
«asm». «Theos» é Deus, «en» é um prefixo que significa dentro e «asm» designa em
acção. Portanto, literalmente, entusiasmo significa Deus dentro de nós em acção.
Assim, o significado para «entusiasmo» era o de exaltação ou arrebatamento
extraordinário daqueles que estavam sob inspiração divina. Para os Gregos (que eram
politeístas), a pessoa entusiasmada era aquela que estava possuída por um dos deuses, e,
por causa disso, poderia transformar a natureza e fazer coisas extraordinárias. Quando é
Deus que inspira as nossas acções, só podemos esperar coisas boas e positivas.

A força do entusiasmo
Vivemos num tempo em que existe um crescente défice de entusiasmo. Mas acontece
que não podemos viver sem ele, sem essa força vital que nos faz levantar cada manhã,
que nos faz sonhar, que nos faz lutar, que nos dá forças para vivermos certos valores,
mesmo em contradição com a realidade, e que dá brilho à nossa vida. No dia em que
perdermos o entusiasmo, começamos a morrer lentamente, a desvitalizarmo-nos.
O entusiasmo é o sinal da presença de Deus dentro de nós, da chama interior que nunca
se apaga. A sociedade tenta apagar essa chama com as cinzas do consumismo, da moda
(e tantos outros pseudodeuses), entretendo as pessoas, para que elas não se encontrem
com elas mesmas. Contudo, a chama continua lá e acesa. De dentro de nós vêm os
sonhos, os bons pensamentos, a generosidade, a compaixão e a compreensão. É Deus
que fala em nós. Se escutarmos a Sua voz, ouviremos o Seu apelo a vivermos com
intensidade e compromisso a Sua vontade.

Uma força positiva


Assim, o entusiasmo é uma força vigorosamente positiva, algo que parte de dentro de
nós como uma energia extraída do nosso íntimo e que nos leva a amar, a crer
efusivamente no que sentimos ou observamos. Esta força do entusiasmo é sempre
benéfica e contribui, em muito, para o nosso êxito, sucesso e felicidade. A decepção, o
desinteresse, a desilusão, o arrefecimento são pensamentos opostos ao entusiasmo e
podem ser altamente negativos à nossa existência assim como à dos outros.
Viver entusiasticamente é viver intensamente. Se compreendêssemos o quanto
representa para a felicidade o estado de espírito impregnado de entusiasmo, certamente
nunca deixaríamos de buscar possuí-lo. Não basta crer, não basta amar, é preciso que o
façamos entusiasticamente, com o uso de toda a energia que nos foi dada e concedida
para ser utilizada em nosso favor e em favor das outras pessoas.

Ela transforma o mundo


Se esperarmos ter as condições ideais para depois nos entusiasmarmos, jamais nos
entusiasmaremos com coisa alguma. Não é a realidade da vida que nos entusiasma, nós
é que temos de entusiasmar a realidade da nossa vida. Não deixes que a falta de
entusiasmo ou o medo de arriscares te impeça de alcançares o que és capaz de realizar
para ti e para os outros.
O entusiasmo é aquela força que torna uma pessoa velha jovem; que transforma a
mediocridade em excelência; que ilumina, com aspecto brilhante, um rosto triste; é o
carisma que atrai pessoas para o nosso lado para absorverem a alegria que brota do
nosso coração.
Sabias que as pessoas que exerceram a mais poderosa influência no mundo (os santos)
não foram tanto pessoas de génio, quanto pessoas de fortes convicções e inesgotável
capacidade de amar, impelidos por um irresistível entusiasmo e uma invencível
determinação?

O vulcão do entusiasmo
Deixo-te uma história, adaptada de António Ramalho:
«Caminhavam, calmamente, um mestre e o seu discípulo, quando por eles passavam
várias pessoas naturalmente entusiasmadas.
– Vamos ao vulcão – diziam elas. E continuavam a caminhar em passo acelerado.
Lá ao longe, avistava-se um vulcão: o vulcão do entusiasmo. Lavas e lavas de
entusiasmo! Lavas de algo que motivava as pessoas, que as entusiasmava ao ponto de
criar uma energia revigorante.
As pessoas sentiam-se vivas quando absorviam as lavas do entusiasmo; sentiam crescer
dentro delas uma energia que as ajudava a vencer todos os obstáculos. O entusiasmo é o
alimento para a persistência. A persistência é um passo essencial para a caminhada, mas
o entusiasmo é a energia necessária para encher esse depósito da persistência na
mochila. E para a caminhada, a mochila que transportamos tem de estar cheia de força
de vontade e persistência. Quem transporta pouca força de vontade e pouca persistência
terá imensas dificuldades para vencer os obstáculos com os quais deparamos ao longo
da caminhada.
– Que lava tão excitante, Mestre! Apetece-me encher totalmente a mochila, pois é uma
energia necessária para a sobrevivência neste mundo competitivo! Mas não é fácil vir ao
vulcão do entusiasmo, pois não, Mestre?
– É necessário desejar. O desejo é o meio de transporte do entusiasmo. Só desejando se
consegue ultrapassar o mar das dificuldades. Muitas pessoas gostariam de vir ao vulcão
do entusiasmo, mas não encontram o barco do desejo.
– Só nele se navega neste mar de dificuldades. Todos os outros barcos naufragam.
– E voltaremos a encontrar o vulcão do entusiasmo?
– Claro que sim. Ao longo do nosso caminho encontraremos frequentemente este
vulcão, para recarregar a mochila de energia. Em todos os projectos, o mais importante
é termos entusiasmo. É a energia para continuarmos a caminhar.

Abril de 2009
Compaixão é sofrer com
Em Abril celebramos a Páscoa, que foi precedida por um período de preparação, a
Quaresma. A semana que antecede a Páscoa – a Semana Santa – é caracterizada pela
reflexão e pela celebração do sofrimento resgatador de Cristo. A presença do sofrimento
na vida de Jesus despontou Nele a capacidade de se compadecer pelos seus
contemporâneos a ponto de dar a sua vida para que todos tenham vida, e vida em
abundância. De igual modo, a presença do sofrimento na nossa vida e na vida dos
nossos irmãos deve despontar em nós o valor da compaixão.
O termo «compaixão» deriva de duas palavras latinas: «cum» e «patire». «Cum»
significa «com» e «patire» designa «sofrer», daí que, pela etimologia da palavra,
poderemos dizer que a compaixão é a capacidade que uma pessoa tem de sofrer com
outra. Ter compaixão significa compartilhar o sofrimento dos outros, é não ser
indiferente ao sofrimento deles.
A compaixão não deve ser confundida com pena (lamento) ou empatia (conhecimento
da dor). Esses são sentimentos passivos que não nos levam ao envolvimento com o
sofrimento dos outros. A pena e a empatia que sentimos pelos outros colocam-nos numa
situação elevada em relação aos outros… olhamo-los de cima para baixo, e isso
diferencia-nos e separa-nos deles, e não nos envolve no alívio do seu sofrimento.
A compaixão, pelo contrário, significa o desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de
outra pessoa, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem. A
compaixão caracteriza-se, assim, pela acção através da qual a pessoa compassiva
procura ajudar aqueles pelos quais se compadece.
Para ser autêntica, a compaixão deve basear-se no respeito pelos outros e na
compreensão de que os outros, tal como nós, têm o direito de serem felizes e de
acabarem com o sofrimento. A partir daí, porque tomamos consciência do seu
sofrimento, desenvolvemos um verdadeiro sentimento de preocupação pelos outros.
Assim, a verdadeira compaixão assenta no reconhecimento de que o direito dos outros à
felicidade é idêntico ao nosso e que, por conseguinte, mesmo um inimigo é um ser
humano que, tal como nós, aspira à felicidade e, tal como nós, tem o direito de ser feliz.
Chamamos compaixão ao sentimento de envolvimento com o sofrimento dos outros
com a intenção de o eliminar. A compaixão é a linguagem do coração.

Jesus, homem compassivo


Jesus ao longo da sua vida foi um homem compassivo e, com as suas palavras, gestos e
atitudes, mostrou-nos o rosto compassivo de Deus. Não se poupou a esforços para
libertar as pessoas do sofrimento que as atormentava. «Ao ver as multidões, Jesus
enchia-se de compaixão por elas, pois estavam cansadas e abatidas, como ovelhas sem
pastor» (Mt 9,36). Deste modo, Jesus mostrou-nos como é Deus, Seu e nosso Pai, e
desafiou-nos a sermos como Ele: «Sede compassivos como o vosso Pai é compassivo»
(Lc 6,36).

Sociedade compassiva, precisa-se


Como no tempo de Jesus, também hoje há muitos gritos de multidões famintas de pão,
de alegria, de paz e de amor. Há pessoas concretas, ao nosso lado, a viver no
desemprego, na instabilidade, na miséria, na solidão ou a sofrer violência. A compaixão,
isto é, a capacidade que temos de sofrer com os outros, deve levar-nos a reflectir: como
poderemos aliviar o seu sofrimento e ajudá-los a serem felizes? Na realidade, se não
houver compaixão, sintonia com o sofrimento dos outros, e caridade fraterna, de pouco
valem as tecnologias e o progresso para a felicidade dos humanos. Mesmo vivendo com
bem-estar material, comodidade e consumismo, o ser humano poderá continuar a sofrer
a angústia, a solidão e o medo. O egoísmo e a indiferença são a natural consequência de
uma sociedade sem compaixão. Todos necessitamos uns dos outros. Não basta dar uma
esmola ou ter um qualquer gesto de filantropia, para desanuviar a consciência. É
necessário ter compaixão, sintonizar com os outros… para sofrer ou alegrarmo-nos com
o outro e, assim, construirmos o «Nós», de que fala este conto de António Ramalho, que
adaptei.

Compaixão: eu, tu e nós


Era uma vez um nome, igual a tantos outros, que vivia numa terra de algures. Sentia o
que tantos sentem. Vivia como muitos vivem e queria e desejava o que tantos
desejavam. Chamava-se Eu. Um dia partiu para a terra da aventura e conheceu Tu. Tu
era alguém como Eu, simples, mas com a palavra «amor» e «compaixão» pintadas no
coração a letras de generosidade e bondade. Eu e Tu conheceram-se, cresceram juntos e
evoluíram mutuamente. Perceberam que o mundo é uma passagem. Eu e Tu aprenderam
a amar, descodificaram a vida na sua simplicidade e perceberam o valor da compaixão.
Mas perceberam que não basta Eu conhecer Tu, é preciso mais, muito mais. Não basta o
amor, a compaixão, não basta serem as pessoas certas, é preciso trabalharem o interior, é
necessário serem inteligentes emocionalmente, é preciso trabalharem a relação, é
preciso flexibilidade e capacidade de adaptação.
A vida é apenas uma curta passagem num tempo muito relativo. Extrair o sumo da vida
num período de Tempo tão pequeno é sentir que mereceu a pena ter vivido e que a nossa
missão está na palavra «compaixão». Eu e Tu aprenderam a ser compassivos. E à sua
volta cresceu a emoção, a compreensão, os afectos e os momentos de felicidade plena.
No ar que respiravam e na compaixão que exalavam, Eu e Tu transformaram-se na mais
bela flor da compaixão... a flor do Nós! A flor do Nós nasceu da união da semente do
físico, emocional, mental e espiritual. A Flor do Nós nasceu da compaixão…

Maio de 2009
Dialogar é dialogar

O mês passado tive a oportunidade de passar a Semana Santa na comunidade ecuménica


de Taizé, na França, com 50 alunos de EMRC.
Taizé é uma comunidade ecuménica fundada pelo irmão Roger e tem como objectivos
proporcionar uma experiência aos jovens de união a Jesus Cristo e aos homens de hoje,
através do estudo e do aprofundamento da mensagem cristã, alimentada pelo diálogo e
pela oração comunitária. Foi uma experiência ecuménica maravilhosa ver tantos jovens,
de diferentes países, unidos ao redor da mensagem e da pessoa de Jesus Cristo. Foram
inúmeros os tempos de silêncio e de oração que permitiram, apesar das diferenças e
dificuldades, sentirmo-nos unidos e em comunhão.
Penso que o segredo desta união está na prática e no valor do diálogo. Quanto mais
escutarmos os outros, mais em comunhão estamos com eles.

Definição
Do ponto de vista etimológico, a palavra «diálogo» resulta da fusão de duas palavras
gregas: «Dia» e «Logos». «Dia» é uma preposição que significa «por meio de», e
«logos», é um vocábulo muito rico na filosofia grega e que pode ser traduzido por
«palavra», «verbo». Assim, o diálogo é uma forma de fazer circular sentidos e
significados entre as pessoas através das palavras. Dialogar significa unir e ligar as
pessoas.
É importante realçar a diferença entre diálogo e debate. Enquanto o debate tem como
finalidade que as pessoas defendam, discutam e mantenham as suas opiniões, o diálogo
está orientado para unir as pessoas através das palavras. A dinâmica do diálogo está
voltada para a aglutinação e a união entre as pessoas, ao passo que o debate está
orientado para a separação e a fragmentação. Daqui, facilmente se conclui que o diálogo
é extremamente necessário e, muitas das vezes, a única solução para tantos conflitos
pessoais, sociais, étnicos, religiosos, políticos, ideológicos, culturais… Penso que, no
mundo pós-moderno, precisamos muito mais de diálogo do que de debate, mais de
união e menos de separação.

A magia do diálogo
No diálogo, ao contrário do que acontece na discussão/debate, não existe a confrontação
através da palavra. Ninguém entra num diálogo para ganhar; participa para completar ou
acompanhar o que foi dito pelo outro. Assim, no diálogo não há confronto ou
competição mas cooperação e união. A finalidade do diálogo é observar e participar para
aprender pela compreensão, enquanto a finalidade do debate é participar e intervir para
aprender pelo confronto e explicação. Daí que o diálogo é um momento mágico, onde
crescemos e fazemos crescer, onde descobrimos e ajudamos a descobrir, onde
derrubamos muros e construímos pontes, onde ninguém perde mas ambos ganham. Por
isso mesmo o diálogo é como que um remédio santo para problemas pessoais, familiares
e sociais. Precisamos, urgentemente, destes momentos mágicos que não só permitem a
(com)vivência, mas serão a base para a construção da verdadeira paz e harmonia.
Dialogar é ter a capacidade de amar, simpatizar e sintonizar com o outro; é ter a
capacidade de respeitar e confiar no outro, sendo autêntico e capaz de ouvir antes de
falar; é ser capaz de dar-se a conhecer e conhecer dizendo a verdade na caridade; é ter a
capacidade de se «pôr» na pele do outro, não impondo, mas propondo o nosso ponto de
vista. Daí que para o diálogo acontecer são necessárias algumas qualidades, como
humildade, paciência, serenidade, sinceridade, lealdade e respeito. Por outro lado, a
falta de confiança e de tempo, a ignorância e as atitudes preconceituosas e prepotentes
apresentam-se como os maiores obstáculos à prática do diálogo.

Diálogo, precisa-se
Com o desenvolvimento acelerado da técnica e da tecnologia, apareceram novas
tecnologias de comunicação (telemóveis, Internet, etc.), todavia, contrariamente ao que
era esperado, elas não favoreceram o aumento do diálogo. Pelo contrário, verificou-se o
aparecimento de diálogos artificiais e de monólogos autoritários. Aumentaram os
blogues e os chats, mas perdeu-se a presença do outro, a identidade e o
comprometimento com a palavra dita. Os diálogos tornaram-se estéreis e ruidosos, para
não dizer esquizofrénicos. Devido a isso, não é de admirar que a sociedade pós-moderna
– uma sociedade bastante sectária e fragmentada muitas das vezes à deriva num mar de
relativismos e desesperadamente à procura de um lugar seguro onde se possa ancorar ou
atracar – acentue o extremar de atitudes, de valores e de ideologias.
A sociedade pós-moderna, marcada por contactos interpessoais, interculturais e inter-
religiosos, clama, mais do que nunca, pelo diálogo como uma exigência da
com(vivência) e da (sobre)vivência de diferentes projectos de vida.
Mas o diálogo é também uma exigência interior e um processo educativo pessoal com
vista à compreensão e ao respeito. Somente com o diálogo, autêntico e verdadeiro, os
indivíduos se conseguem compreender e respeitar e, consequentemente, conhecer e
respeitar.
O silêncio e o diálogo
Pode parecer um pouco contraditório, mas, na verdade, só quem consegue fazer silêncio
e escutar é que consegue realmente dialogar com o(s) outro(s). Quanto mais nos
calamos, mais Deus fala dentro de nós e assim, o diálogo com Ele é possível e frutífero.
Quanto mais soubermos escutar e ouvir os outros, mais os conseguiremos compreender,
aceitar e estabelecer relações de verdadeira irmandade e fraternidade. Por isso, caro(a)
amigo(a), não tenhas medo de fazer silêncio para depois poderes usar a poderosa arma
do diálogo na construção de um mundo mais compreensível e compreendedor.

Junho de 2009
Responsabilidade

Vivemos num tempo onde são muitos os que tentam fugir, como podem, às
responsabilidades. Basta um rápido mas atento olhar para o mundo para nos
apercebermos da quantidade de irresponsabilidades cometidas e assumidas por muitos
de nós. Por vezes até parece existir um certo culto da irresponsabilidade, do deixa andar,
do quero lá saber… Pois é precisamente sobre o valor da responsabilidade e da
necessidade e urgência que temos dele que te quero falar hoje.

Acaso sou responsável pelo meu irmão?


Diz-se no capítulo 4 do Génesis – primeiro livro da Bíblia – que Deus preferiu as
oferendas de Abel às de Caim. Caim ficou cheio de ódio contra Abel e «lançou-se sobre
seu irmão, matando-o». Deus disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Ele
respondeu: «Não sei. Acaso sou eu responsável pelo meu irmão?» (Gn 4, 8-9).
Caim recusa-se a ser responsável pelo irmão e a assumir a responsabilidade que cada
pessoa tem pela outra. Esta é a tendência, tão presente no mundo de hoje, de omitir a
responsabilidade de cada um pelo seu semelhante. Sintomas desta tendência são a falta
de solidariedade com os membros mais débeis da sociedade, como são os idosos, os
doentes, os imigrantes, as crianças e a indiferença que tantas vezes se regista nas
relações entre os povos e nações. Diante do outro, humano como eu, e, no entanto,
totalmente diferente de mim, sou, em primeiro lugar, responsável: responsável não
apenas por aquilo que lhe faço ou deixo de fazer, mas sobretudo responsável por ele,
pelo que ele sofre, pela sua miséria. Diante do outro, sou chamado, sou «pro-vocado»
(ao jeito de uma vocação) e, deste modo, sou posto em causa, no meu projecto de
sujeito livre e autónomo.

Sim sou responsável pelo meu irmão


Caim pergunta: «Serei eu responsável pelo meu irmão?» A resposta é: Sim! Sou
responsável, com uma responsabilidade só minha, na qual ninguém pode substituir-me,
pois sou eu que estou diante do outro e mais ninguém. Ninguém me pode substituir e
todos somos insubstituíveis... Ser responsável é aderir a um estilo de vida que implica a
passagem da indiferença ao interesse pelo outro, a passagem da recusa ao seu
acolhimento. Os outros não são concorrentes de quem temos de nos defender, mas
irmãos e irmãs de quem devemos ser solidários.

Responder por… e responder a…


O dicionário de Língua Portuguesa define «responsabilidade» como «obrigação de
responder pelas acções próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas» e o termo
«responsável» como sendo «aquele que deve responder pelos seus actos e pelos de
outrem». Em termos etimológicos, o vocábulo responsável provém do latim respondere,
que significa apresentar-se garante de uma promessa ou de um compromisso. Assim, a
responsabilidade tem imediatamente duas dimensões: responder por e responder a, isto
é, responder pelos meus actos e responder a alguém que me confiou algo.

És responsável pelo que cativas…


Ao falar de responsabilidade, vêm-me à memória o diálogo do Principezinho com a
raposa, onde é afirmado categoricamente que somos eternamente responsáveis por
aquilo que cativámos. «Os homens já se esqueceram desta verdade – disse a raposa. –
Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que
cativaste» (O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry).
Ser responsável é assim a afirmação da nossa identidade e da nossa integridade nas
relações que estabelecemos com os outros. É reconhecermo-nos nos nossos actos e
compreender que são eles que nos constroem e nos moldam como pessoas. A
responsabilidade implica que sejamos responsáveis antes do acto (ao escolhermos e
decidirmos racionalmente, conhecendo os motivos da nossa acção e ao tentar prever as
consequências desta), durante o acto (na forma como actuamos) e depois do acto (no
assumir das consequências que advêm dos actos praticados). Assim, liberdade e
responsabilidade andam de mãos dadas e caminham juntas visto serem dimensões
importantes da construção da autonomia e da dignidade das pessoas.

Responsabilidade e acção
Num período de profundas mutações, em que a única nota comum parece ser a crise que
envolve a economia mundial, a ecologia mundial e a política mundial, é necessário unir
esforços no sentido de encontrarmos comportamentos responsáveis. Seria desejável que,
a partir de agora, não vivêssemos mais ao lado uns dos outros, em comunidades
distintas e impenetráveis, mas lado a lado, em comunidades que se entreajudam. Face
aos inúmeros problemas e às crescentes desigualdades, não podemos fugir, com frases
egoístas e irresponsáveis, dizendo «que não queremos saber», ou «que tanto nos faz»,
ou «que tanto se me dá como se me deu», que «ninguém tem nada a ver».... Pelo
contrário, devemos assumir a nossa condição de seres-em-relação que são eternamente
responsáveis e comprometidos com o bem-estar. É necessário e urgente colocarmo-nos
no meio dos homens e comprometermo-nos com a sua vida, condição e destino, sendo
assim co-responsáveis pelos nossos irmãos, companheiros de viagem e co-herdeiros da
felicidade e alegria que nos é prometida por Deus.
Por fim, a abertura de uma pessoa às outras e a sua consequente responsabilidade por
eles não se esgota nas relações interpessoais. A minha relação com o outro é uma forma
de relação no mundo e só nele é possível. Por essa razão, da responsabilidade pelo outro
faz parte integrante a responsabilidade pela Natureza e pelo meio ambiente. Quando a
pessoa trabalha para a comunidade, toma-se mais pessoa; quando a comunidade
contribui para o progresso das pessoas torna-se mais comunidade. A solidariedade de
todos os homens e a responsabilidade de cada um condicionam-se reciprocamente.

Julho de 2009
O valor da vida

Na segunda metade do mês de Maio, realizou-se na minha diocese, Viseu, uma série de
iniciativas que tinham como objectivo sensibilizar as pessoas para a necessidade de
preservar e dignificar a vida nas suas mais diversas manifestações: traços, tons e sons…
Relembro as palavras do D. Ilídio a abrir uma exposição intitulada «Arte e Vida... Vida
e Arte»: «Porque há objectivos, há valores, há ideias… Assim, há caminho a percorrer e
há metas a atingir… E é e será sempre a Vida.»
Numa época de manifesta crise como a que se vive actualmente, as dificuldades e as
fragilidades não se têm verificado apenas nas estruturas económicas e sociais, atingem,
também, alguns dos valores fundamentais, nomeadamente os da Vida e da Família,
constantemente questionados e, aparentemente, em processos de (des)estruturação.
Perante essa crise evidente, é necessária uma renovada coragem para demonstrar que há
alternativas, novos modelos sustentados na valorização da Vida, em harmonia com os
problemas socioeconómicos e com a evolução de conceitos e atitudes.

A crise da vida
Olhar para a Vida atribuindo-lhe apenas uma dimensão materialista, economicista ou
utilitarista é pôr em causa a existência a felicidade dos seres humanos. Ao olharmos
para trás, para a história da humanidade, temos de agradecer a Deus os imensos
progressos das ciências e da sociedade em favor da vida, sobretudo a vida humana. Na
verdade, os avanços científicos são uma realidade, mas não é menos verdade que a
humanidade ainda não alcançou o mesmo progresso no campo da ética e do respeito
pela vida de cada pessoa e, em certos casos, fala-se até de um retrocesso no que diz
respeito à dignidade de cada indivíduo.

O tesouro da vida
Sabemos que um dos maiores tesouros da humanidade é o dom da vida, verdadeira
dádiva que nos concede o Criador. Por ser gratuito, nem sempre lhe atribuímos o devido
valor, menosprezando a sua guarda e depreciando a sua preservação.
A saúde física é muito importante. A saúde moral é imprescindível. E a saúde psíquica é
essencial. É importante lembrar que sempre haverá uma forma de superar as
dificuldades, transpor os obstáculos ou atingir os objectivos. Encontrar essa forma é o
desafio de cada um de nós. Por mais árdua que seja a vida, ela merece sempre ser
vivida. Que alegria sabermos valorizar a vida e apreciar o que de melhor ela tem para
nos oferecer.

Ganhar a vida
Nunca nos devemos esquecer que o que a vida tem de mais nobre e de melhor para nos
oferecer é a capacidade de gerar vida. Quem quiser ganhar a vida apenas para si…
perde-a; mas quem quiser perder a vida em favor de outros… acaba por a ganhar e
multiplicar por mil. Não é perder no sentido físico, é porém viver alguns valores que
promovem a vida dos que connosco vivem. Por exemplo: defender um amigo quando
está a ser gozado; ajudar quem está a passar dificuldades; não querer sempre tudo para
si; partilhar e não destruir material dos colegas; recusar trabalhar com alguém só porque
não se gosta; não promover a maldade e a vingança; não recusar ajudar um colega; e
outras tantas situações…

A cultura da vida
A cultura da vida, quer no seu princípio, quer no fim, pressupõe a sua dignificação, a
sua defesa e o seu acompanhamento na saúde e na doença, na plena pujança das suas
faculdades ou na decadência que os anos e as enfermidades trazem, fatalmente, consigo.

Os cristãos devem afirmar-se, perante a vida, como o Povo da Vida e a favor de toda e
qualquer vida, independentemente da idade, do tamanho, da diferença ou deficiência, da
doença ou fragilidade que a vida possua. Todos devemos promover uma cultura de
acolhimento amoroso da vida que urge apoiar com todas as forças e meios. Pormo-nos
ao serviço dos outros é um excelente projecto de conquista da felicidade. É uma riqueza
que se ganha. Todos somos importantes e a nossa vida ganha sentido se elaborarmos o
nosso projecto de vida com este objectivo, sendo essa a grande verdade da história que
aqui te deixo.

Uma vida feliz


Uma vez, uma menina saiu de casa e foi dar um passeio. No caminho encontrou uma
borboleta presa pelas asas numa teia de aranha. A menina, compadecida, tirou com todo
o cuidado a borboleta da teia e deixou-a voar. A borboleta, quando se sentiu livre,
transformou-se em fada e disse à menina:
– Quero agradecer o teu gesto de amor! Diz-me qual é o teu maior desejo e eu o
realizarei.
A menina respondeu com sinceridade:
– Olha, sabes, o que eu quero mesmo é ser feliz. Indica-me o caminho da felicidade!
E a fada sussurrou-lhe ao ouvido e depois seguiu o seu caminho voando pelo céu azul.
Desde aquele momento, a menina começou a ser outra. Ninguém na aldeia era tão feliz
como ela. As pessoas começaram a ficar curiosas e perguntavam-lhe qual o seu segredo.
Porém, ela contornava sempre a resposta dizendo que era segredo, o segredo da fada.
Assim, chegou a velhinha e era ainda a mulher mais feliz da aldeia, apesar das
dificuldades. Com medo que ela morresse e levasse consigo o segredo, as pessoas da
aldeia insistiam ainda mais para que ela o transmitisse. Até que um dia, a velhinha,
sorrindo, consentiu revelar o segredo.
– O que a fada sussurrou ao meu ouvido é muito simples! Ela disse-me: «Mesmo que as
pessoas sejam auto-suficientes, não acredites. Todos necessitam de ti…», porém, para
mim foi o segredo da minha felicidade. E eu vivi sempre com a certeza e a segurança de
que todos necessitavam de mim. Dei-me a todos e esse foi o segredo da minha vida
feliz!

Outubro 2009
Chamados a sermos luz

No dia 18 de Outubro, celebramos o Dia Mundial das Missões. O Papa Bento XVI, na
mensagem que escreveu para este dia, desafia-nos a sermos a luz do mundo e assim
iluminarmos, com a nossa fé, as nações de modo que elas possam caminhar à Luz de
Cristo. O que significa ser Luz? Que tipo de luz somos chamados a ser e como podemos
ser luz para os outros?

São poucos os seres que conseguem viver sem luz. Realmente precisamos de luz para
viver.
Para os seres humanos, a luz é crucial e não nos sentimos muito bem na escuridão. São
muitas as histórias de medo, de insegurança e de confusão que recordamos da nossa
experiência com a escuridão. Quando entramos num compartimento escuro, geralmente
temos medo e andamos devagarinho, às apalpadelas, com medo de chocar contra
alguma coisa e assim nos magoarmos.
A escuridão paralisa-nos e impede-nos de nos movimentarmos à vontade e com
confiança.
Mas, a partir do momento em que acendemos a luz, o medo desaparece e conseguimos
movimentar-nos com rapidez e segurança. A luz simplifica-nos a vida e traz-nos
confiança e segurança. Perante a luz, tudo se torna visível e bem identificado.

CRISTO É A NOSSA LUZ


Ao longo das páginas da Bíblia, a luz é um símbolo poderoso acerca do que é Deus, a
ponto de S. João dizer na sua primeira carta que Deus é a luz: «Deus é luz, nele não há
trevas» (1Jo 1,5).
A identificação de Cristo com a luz, como S. João descreve no Evangelho da sua autoria
– «Eu sou a luz do mundo» (Jo 8,12) –, é a afirmação da sua divindade, da vitória
definitiva da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado.
A pessoa e a mensagem de Jesus têm poder para iluminar as nossas vidas e impedir-nos
de viver nas trevas. Assim, para os cristãos, a nossa luz é Cristo. É Ele que ilumina a
nossa vida, erradicando o medo e a insegurança e acrescentando-lhe sentido e valor.
A presença de Jesus nas nossas vidas permite-nos (re)interpretar e (re)estruturar a nossa
vida à luz da sua palavra, trilhando, assim, o caminho para a felicidade eterna, a
salvação.

UM MUNDO ÀS ESCURAS
O mundo de hoje é cada vez mais um mundo às escuras.
São inúmeras as pessoas, e as situações sombrias – como mentira, corrupção,
infidelidade, roubo, vícios, etc. – que necessitam da luz de Cristo para se poderem
tornar visíveis e identificadas com o bem. O medo, a insegurança, a incerteza, a dúvida,
o sofrimento, características de uma vida às escuras, são cada vez mais frequentes nas
vidas de tantos amigos e contemporâneos nossos, provocando ondas de tristeza, de
frustração e de desespero no mundo pós-moderno.
As trevas, ao longo da Bíblia, significam a ausência de Deus, a ruptura com o seu
projecto salvífico e o consequente afastamento Dele. As trevas presentes no nosso
mundo contemporâneo só poderão ser dissipadas com a presença de Deus e a
valorização da sua mensagem que tranquiliza, dignifica e pacifica a dignidade do ser
humano. A sociedade em que vivemos e de que somos parte activa e comprometida
precisa da luz do Evangelho, da proposta do amor e da esperança que Jesus nos veio
trazer.

A LUZ DO MUNDO
A luz não existe em função de si, não é luz para si mesma, não ilumina a si mesma. A
Luz existe em função do que a rodeia, existe para iluminar a tudo e a todos.
Ao reconhecermos e aceitarmos Jesus como luz do mundo, também nós nos tornamos
luz. Podemos fazer uma comparação simples. Assim como a Lua reflecte a luz do Sol
também nós devemos reflectir a luz de Cristo, o nosso sol.
O mundo precisa que sejamos o reflexo da luz que é Cristo. Jesus também disse que
«não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim em cima do
candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa» (Evangelho de Mateus 5,15).
Assim, a luz que temos dentro de nós não é para esconder timidamente mas para
oferecer aos outros para que também eles possam ser inundados por essa luz. Ser luz
significa mostrar com o nosso testemunho, as nossas palavras e as nossas acções que,
realmente, Cristo faz a diferença e de que uma vida de acordo com os seus
ensinamentos é uma vida mais feliz.

AS NAÇÕES CAMINHARÃO À SUA LUZ


O Papa Bento XVI, na mensagem do Dia Mundial das Missões, lembra: «O objectivo
da missão da Igreja é iluminar com a luz do Evangelho todos os povos no seu caminhar
na História rumo a Deus, para que encontrem Nele a sua plena realização. Devemos
sentir o anseio e a paixão de iluminar todos os povos, com a luz de Cristo, que
resplandece no rosto da Igreja, para que todos se reúnam na única família humana, sob a
amável paternidade de Deus.»

HIPERLIGAÇÃO
Em www.audacia.org carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre a missão de
iluminar.
Neste início de um novo ano escolar também tu, caro(a) amigo(a), és chamado(a) a ser a
luz do mundo, a luz da tua escola, a luz da tua turma, a luz da tua família… a dares o teu
testemunho cristão, a seres missionário(a), a iluminares com a luz de Cristo as diversas
situações que encontrares. Não tenhas medo de te empenhares activamente nessa missão
de seres luz do mundo e verás que, se a desempenhares com humildade e convicção, ela
será apreciada e desejada e tu serás mais feliz.

Novembro 2009
Esforço e sacrifício

Os bons resultados escolares alcançam-se com esforço, empenho e dedicação. Este é um


caminho árduo e difícil, mas é, sem dúvida, a senda do êxito. Não há outro caminho. Tu
já te apercebeste de que precisas empenhares-te e estudares para o bom desenlace dos
trabalhos de casa, da participação nas aulas, das apresentações, dos testes… Se optas
pelo mais fácil e menos trabalhoso, normalmente, o ano corre mal.

Vivemos numa sociedade que valoriza demasiado o facilitismo e despreza o valor do


esforço e do empenho. Diz-se que o que é bom é o que é fácil. Palavras como “esforço”,
“dedicação”, “sacrifício”… não constam na maioria do nosso vocabulário. Paira no ar o
preconceito errado de que a facilidade é sinónimo de felicidade, de que não vale a pena
lutar por um ideal mas sim entregar-se àquilo que nos vai aparecendo no caminho.
Estou convencido de que o estigma do esforço estorva a edificação de uma sociedade
mais justa, mais coerente e mais humana.
São inúmeras as vezes em que os jovens ficam apreensivos com a exigência e o esforço
que a vida lhes apresenta. Hoje, muitos jovens acham que a ideia de que é preciso
sacrifícios e esforços para transpor obstáculos na vida é coisa do passado, ultrapassada.
Por outro lado, somos bombardeados com exemplos de líderes destacados da sociedade
que progrediram, não graças ao esforço e ao trabalho, mas à custa de «cunhas»,
«batotices», «falcatruas»… Quase se generaliza a ideia de que vale a pena escolher o
caminho mais fácil rápido. Porém, continua a ser incontornável – aliás, hoje mais do
que nunca – a ideia de que só com sacrifícios, esforço e empenho se consegue aprender
o suficiente para se crescer como ser humano verdadeiramente consciente do mundo e
verdadeiramente bem preparado para exercer uma actividade profissional realizadora,
pessoal e monetariamente.

RAZÕES A FAVOR DO ESFORÇO


O esforço ajuda-nos a desenvolver as nossas capacidades. Quando os nossos esforços
começam a dar frutos, sentimo-nos estimulados. Então, esforçamo-nos ainda mais, pois
vislumbramos o êxito e novas possibilidades. Isto aumenta a nossa autoconfiança e
possibilita êxitos posteriores. Portanto, o esforço ajuda-nos a enfrentar a vida.
A vida irá ter sempre obstáculos e dificuldades que só poderemos vencer com esforço.
O esforço impede-nos de fugir ou desistir perante as dificuldades, porque dá-nos força e
vigor para as ultrapassarmos.
Com uma vida marcada pelo esforço, ganhamos o respeito e a admiração dos outros.
Quando fazemos o nosso melhor com constância e determinação, suscitamos a
admiração e conquistamos a confiança dos que estão à nossa volta. Simultaneamente,
somos modelos para eles imitarem.
O esforço, apesar de árduo, faz-nos sentir bem.
Não há maior satisfação do que aquela que se experimenta quando concluímos uma
tarefa ou um projecto com a consciência de termos dado o melhor e o máximo de nós
mesmos.
Quando nos empenhamos sem nos pouparmos a esforços, aumentamos a nossa auto-
estima. Quer os nossos esforços sejam coroados de êxito quer não o sejam, cada
tentativa levada a cabo tem em nós um efeito positivo. Trabalhar com empenho,
honestidade e dedicação faz sobressair o melhor há em nós.
O esforço torna-se um hábito, e os bons hábitos fazem parte dos principais ingredientes
do êxito. O hábito do esforço é um hábito salutar. Quando trabalhamos arduamente,
utilizamos o nosso corpo e a nossa mente de modo positivo e isso é extremamente
benéfico. Quem explora a fundo as próprias energias ganha saúde e longevidade.

ESFORÇO E SACRIFÍCIO
Os cristãos tem uma palavra específica e própria para o esforço, chama-se sacrifício.
Esta palavra tem sido muito maltratada e quase se tornou uma palavra não grata. Mas,
realmente, o sacrifício, na mentalidade cristã, é um esforço que se faz quer por nós quer
pelos outros com o objectivo de podermos contribuir favoravelmente para aumentar a
felicidade, tanto a nossa como a dos outros. Torna-se urgente recuperar a palavra
“sacrifício”, purificá-la de algumas interpretações erróneas e radicais e propô-la à
sociedade actual como um projecto de vida ao serviço de uma sociedade mais humana e
mais fraterna.

ARREGAÇAR AS MANGAS
Caro(a) amigo(a), perante este novo ano escolar e perante a tua vida, nas suas mais
variadas vertentes, é altura para arregaçares as mangas e começares a trabalhar de forma
empenhada e decidida.
Há que libertar-se deste império da facilidade e do facilitismo que só nos impede de
lutarmos por algo e nos atira para a esfera da apatia e da frustração.
Um primeiro passo é, precisamente, tomarmos consciência da situação em que nos
encontramos, fazendo um trabalho de conhecimento pessoal. Responde à pergunta:
quais são as minhas características, as minhas capacidades, as minhas qualidades e os
meus defeitos? Depois, analisa o modo como vês o mundo e te relacionas com a
sociedade: tens opinião própria, força própria, e comprometes-te segundo as tuas
convicções? És capaz de escutar os outros, saber se o que dizem e fazem é bom, e
colaborar com eles, ou desinteressas-te, escusando-te com um «não me interessa», «não
gosto»?

HIPERLIGAÇÃO
Em www.audacia.org carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre o valor do
esforço. Usa-os em casa, na tua catequese e/ou no teu grupo.
Dezembro 2009
O valor da coerência

Estamos a chegar ao Natal, época especialmente importante para os cristãos, em que


celebramos, no nascimento do Deus Menino, a prova suprema da coerência de Deus.
Deus tinha prometido, ao longo dos tempos, a vinda do Messias, do Salvador, e cumpriu
a Sua promessa. Por isso se pode dizer que Deus é coerente – as Suas palavras e as Suas
acções complementam-se... e neste Deus pode-se confiar. Ao celebrarmos o Natal,
celebramos a coerência de Deus, um Deus que Se faz Homem de modo que os homens
d’Ele se possam aproximar, mas que apela, também, à coerência dos Homens, isto é, a
que as suas palavras e as suas acções estejam em sintonia.

Vivemos num tempo em que existe uma necessidade e sede de coerência. São muitas as
pessoas e as situações que nos alertam para o défice de coerência na sociedade
portuguesa. «Olha para aquilo que eu digo e não para aquilo que eu faço», é o perfeito
exemplo da falta de coerência do mundo contemporâneo. Vivemos, muitas vezes, ao
sabor do fingimento, do faz-de-conta e da vontade de mentir, de esconder e de
mascarar… Quantas vezes, também nós, não sentimos a tentação de sermos incoerentes:
defendemos com unhas e dentes um determinado valor, mas damos por nós a praticar o
correspondente contravalor!

A COERÊNCIA É UM MODO DE VIDA


A coerência não significa perfeição. Coerência significa olhar com tranquilidade para
tudo o que somos e fazemos e procurar não esconder ou mascarar, de nós mesmos e dos
outros, o que enxergamos. Ser coerente significa reconhecer as falhas de consistência, a
imperfeição, as áreas interiores cinzentas de imobilidade e dificuldades e, aceitando
esses limites, ir procurando mudar, na medida em que nos for possível. A coerência é
exigente, pois apela a uma constante vigilância contra a nossa vontade de pretender, de
mentir, de esconder, de mascarar…

A COERÊNCIA É UMA ESCOLHA


Cada um de nós pode escolher viver de aparências, de forma incoerente, ou viver
coerentemente. Ambas têm ganhos e perdas. Quem vive de aparências, costuma seduzir
mais rapidamente os outros, encontrar os melhores espaços, ganhar visibilidade, mas, a
médio ou longo prazo, em geral, essa construção apresenta inconsistência e,
consequentemente, é desprezada e desvalorizada pelas pessoas mais perspicazes e
atentas. Pelo contrário, a construção da coerência é uma tarefa mais trabalhosa,
silenciosa e dá pouco nas vistas, mas, a longo prazo, é apreciada e valorizada pelas
pessoas que nos rodeiam. Todos cometemos o erro da incoerência ou da contradição em
algum momento da nossa vida, mas nem por isso deixamos de valorizar a coerência em
si. A perda de qualquer valor e, em concreto, o da coerência, dá-se quando, repetidas
vezes, desvalorizamos o apreço e a vivência desse valor. Consequentemente, e com o
tempo, o valor tornar-se-á um contravalor.

AUSÊNCIA DE COERÊNCIA
LEVA À INCOERÊNCIA
Os latinos diziam: «Culpam excusare altera culpa est» (desculpar uma culpa é outra
culpa), e, por isso, a tendência de justificar uma incoerência é ela própria uma
incoerência. Esta tentação está muito presente nos nossos dias, argumentando que todos
temos direito a enganar-nos e, assim, passamos uma vida constantemente a dançar no
caos da incoerência. O problema agrava-se quando se trata das crianças. Nos mais
pequenos, em referência familiar e escolar, é muito comum este comportamento. Assim,
o pior exemplo que podemos dar às crianças é a falta de coerência, nos actos e nas
palavras. Na família, as crianças, por vezes, tentam descoordenar as decisões do pai e da
mãe para conseguir o que querem, provocando, assim, incoerência nas respostas dos
pais. Quando o pai não deixa fazer alguma coisa, estão pergunta-se à mãe, ou o
contrário. Se a consistência e a coordenação do pai e da mãe falharem, então acontece
uma contradição que gera uma falta de coerência.

JESUS, HOMEM COERENTE


E MODELO DE COERÊNCIA
Jesus Cristo foi não só modelo de coerência mas foi, Ele próprio, um homem coerente.
Foram muitas e variadas as ocasiões em que os fariseus O tentavam apanhar em
situações de incoerência, mas Ele resistiu, não só a todas essas armadilhas, como
incentivou e apelou à necessidade de sermos coerentes nos valores e nas acções.
Resistiu, como ninguém, à tentação de escolher o caminho mais fácil e confortável, mas
optou por uma postura e vivência coerente com os valores do Reino de Deus que veio
anunciar. A coerência de Jesus levou-O à própria morte, pois, perante as dificuldades e
ameaças, não renunciou aos valores mas assumiu-os até ao fim, mesmo que esse fim
fosse a morte. Assim, Ele torna-se para todos nós, não só um homem coerente mas um
modelo de coerência e de rectidão.

HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), faço-te o apelo de, nos diversos ambientes que frequentas: a tua
família, a tua escola, a tua turma, o teu grupo de amigos…, tentares ser coerente entre as
tuas ideias, os valores que defendes e as tuas acções. Não caias na tentação de optares
por uma postura incoerente, pois, além de experimentares a infelicidade, mais ou cedo
ou mais tarde, experimentarás o desprezo e a desvalorização das pessoas que amas e
admiras. Pelo contrário, cada vez que te esforçares por ser coerente, irás sentir, mais
cedo ou mais tarde, admiração e reconhecimento por parte dos teus familiares e amigos.
Acede a www.audacia.org, carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre o valor da
coerência e trabalha-as em casa, na escola ou na catequese.

Janeiro 2010
A necessidade do perdão

Ano novo, vida nova! Realmente, acredito que necessitamos de vida nova uma vez que
o ano novo já o temos! Precisamos de uma vida nova, porque vivemos, cada vez mais,
num mundo fragmentado e fragmentador – são várias e inúmeras as experiências de
ruptura aos mais diversos níveis: pessoal, social, escolar, moral, ambiental, económico,
etc. Ao mesmo tempo, nunca como hoje experimentámos uma grande sede de unidade,
de reconciliação e de perdão. À medida que crescem, desmesuradamente, as
experiências de ruptura e de fragmentação cresce, igualmente, a necessidade de
harmonia e unidade connosco, com os outros, com o mundo e com Deus. Acredito que
esta vida nova, cada vez mais desejada, só será possível com a prática e a vivência do
valor do perdão.

A palavra perdoar deriva do latim per + donare. «Per» significa intensidade, aumento,
totalidade ou a fundo. «Donare» é o mesmo que doar. Portanto, perdoar poderia ser
traduzido não só como absolver, desculpar, mas também como «doar intensa e
totalmente» a dívida. Ora, doar significa dar sem querer ou esperar algo em troca, ou
seja, dar gratuitamente. Assim, perdoar pode também ser compreendido como «dar
totalmente» a dívida a alguém. Não em parte, não pela metade, mas «a fundo»,
totalmente. Isso significa dizer que não existe meio perdão nem perdão que guarda
mágoas. Porque se perdoo, ou seja, se dou totalmente a dívida, não me resta nada, não
me sobra nada para que possa exigir depois ou usar como justificativa para acusar a
outra parte. Quando perdoamos alguém, rasgamos totalmente a dívida que aquela
pessoa tinha connosco. Não sobra nada. Não há espaço para afirmações como «Eu já te
perdoei, mas não quero mais falar contigo!», ou «Eu já te pedi perdão, mas ainda acho
que tu estavas errado!».

O DESAFIO DO PERDÃO
Mais do que um acto momentâneo e humano, o perdão é um modo de ser só ao alcance
de Deus, tal como se deu a conhecer em Jesus Cristo: perdão total, definitivo e
incondicional, para quem o queira acolher. Nós, cristãos, somos chamados a aprender de
Deus este modo de ser e a praticá-lo, tanto quanto nos seja possível, dando testemunho
da nossa condição de filhos de Deus, reconciliados pelo dom divino do perdão,
concedido a toda a Humanidade em Jesus Cristo. É um serviço que prestamos ao
mundo, em vistas da unidade e da reconciliação de todos os seres humanos entre si e
com Deus.
O perdão não é, de modo algum, uma dádiva nossa aos outros. A dádiva é de Deus. Nós
somos, apenas, testemunhas dela. E o nosso testemunho acontece pela acção e pela
palavra: agir como gente perdoada, que perdoa e aprende cada dia a perdoar; e falar,
anunciando Aquele que nos perdoa e nos ensina a perdoar.

RAZÕES PARA O PERDÃO


Quando perdoamos, deixamos de estar emocionalmente aprisionados à pessoa que nos
fez mal. Ao princípio, experimentamos sentimentos negativos, como a raiva, a tristeza e
a vergonha. Depois, tentamos compreender o que se passou ou ter em conta as
circunstâncias atenuantes. Ao perdoar, recuperamos o nosso poder de escolha e a nossa
liberdade. Não importa se o outro merece perdão; importa que nós merecemos ser
livres. Outra razão por que poderemos recusar o perdão é o medo de manifestar
fraqueza ou capitularmos. Mas perdoar não é libertar a outra pessoa é, isso sim, tirarmos
o punhal que nos espetaram nas nossas próprias costas. Em muitos casos, a outra pessoa
nem sequer está ciente do nosso descontentamento, enquanto nós nos dilaceramos com
a amargura, a pessoa que nos magoou não sente nada. O passado fere-nos de cada vez
que o revivemos e isso prejudica-nos.

HISTÓRIA DE PERDÃO
O João regressou da escola enfurecido. O seu pai, que estava de saída para o quintal,
chamou-o e perguntou-lhe o que se tinha passado. O João disse-lhe que estava cheio de
raiva por causa de um comportamento menos correcto da parte de um colega que gozou
com ele em frente de toda a turma e que por isso deseja-lhe todo o mal do mundo.
– O Luís humilhou-me na frente dos meus amigos. Não aceito. Gostaria que ele ficasse
doente sem poder ir à escola.
O pai escuta tudo calado, enquanto caminha até um compartimento onde guardava um
saco cheio de carvão. Levou o saco para o fundo do quintal e o João acompanhou-o.
– Filho, faz de conta que aquela camisa branca que a tua mãe pôs a secar é o teu amigo
Luís e que cada pedaço de carvão é um mau pensamento teu, endereçado a ele. Quero
que tu atires todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois voltarei para
ver como ficou.
O João achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra.
O pai, que observava tudo, discretamente, aproximou-se e pergunta-lhe:
– Filho, como te sentes?
– Estou cansado mas alegre, porque, apesar de a camisa estar longe, consegui acertar-
lhe com vários pedaços de carvão.
– Filho, vem comigo ao meu quarto, quero mostrar-te uma coisa.
E o pai colocou o filho em frente de um grande espelho. Que susto! Só conseguia ver os
dentes e os olhos.
– Filho, viste que a camisa quase não se sujou; mas, olha para ti! Desejamos o mal aos
outros, mas a porcaria, a sujidade e os resíduos ficam sempre em nós mesmos. Devemos
perdoar sempre e não nos sujar.

HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), espero que também tu assumas o compromisso do perdão
contribuindo, assim, para a reconciliação e tão desejada e necessária quer a nível
pessoal e social e para seres um sinal vivo da unidade e da paz que advêm do perdão.
Acede a www.audacia.org e carrega a ficha de trabalho e a produção multimédia sobre o
perdão.

Fevereiro 2010
A superioridade do serviço

Recentemente, na minha diocese, quatro jovens foram ordenados diáconos. Ao


participar na celebração, ao ouvir a homília proferida pelo D. Ilídio, bispo de Viseu e, ao
seguir atenciosamente o rito da ordenação, veio-me à memória uma palavra: serviço.
Realmente diácono (do grego diákonos) significa serviço – servir à mesa.

No época em que se desenrolou o que é narrado no Novo Testamento da Bíblia, servir


envolvia sujeição pessoal. A pessoa que servia era considerada indigna e indecorosa
para um homem livre. Mas o serviço também poderia referir-se simplesmente ao cuidar
das necessidades do lar e, às vezes, era igualmente usado para indicar qualquer trabalho
num sentido mais genérico, como prestar serviço a uma causa.
Quando Jesus diz que veio para servir (Mt 20, 28) usa um verbo que tem a mesma raiz
de servir uma causa: diakoneo. É, por isso, que os diáconos, na Igreja, são aqueles que:
1 – servem os outros seus irmãos; 2 – estão atentos às suas necessidades; 3 – tudo fazem
para que nada lhes falte. O diácono está envolvido na tarefa de servir amorosamente a
Igreja, aos irmãos cristãos e às pessoas em geral, seja por meio do serviço da palavra ou
do serviço das acções.
Naquele domingo à tarde, reflecti sobre a necessidade de recuperar e dignificar a alegria
da diaconia (do serviço) no nosso tempo, que, no fundo, é um valor para todas as
pessoas.
VALORIZAR O SERVIÇO
A palavra servir significa: estar ao serviço de; consagrar-se ao serviço de; estar às
ordens de; prestar bons ofícios a, ser útil a; auxiliar; cuidar de.
Servir é, assim, um modo de vida que valoriza as necessidades dos outros e que nos
compromete, activamente, com a sua satisfação.
O mundo de hoje, assim como no tempo de Jesus, considera a arte de servir indigna e
indecorosa, chegando mesmo a desvalorizar e a depreciar o serviço, humilhando e
oprimindo aqueles que por vocação ou necessidade servem. O que é valorizado, na
sociedade actual, é ser servido e, assim, ter gente a satisfazer todas as necessidades e
caprichos.
No mundo de hoje, só serve aquele que não pode ser servido. Porém, ao procedermos
assim, ao não valorizarmos o valor do serviço, criamos barreiras à dignidade de todas as
pessoas, escravizando umas e elevando outras. De modo a criarmos um mundo mais
humano, mais igual e mais digno, torna-se, pois, necessário recuperar o valor e a
dignidade do serviço. Trata-se de imitarmos Jesus que nos diz: «Não vim para ser
servido, mas para servir» (Mt 20, 28). Jesus é aquele que nos serviu da maneira mais
profunda e intensa possível não procurando os Seus interesses, mas dando a Sua vida
pela nossa salvação. Servir é assim, a palavra que caracteriza as acções e as obras de
amor, que brotando do amor de Deus, alcançam os nossos irmãos. O serviço de Jesus
aos homens e mulheres foi a demonstração do amor de Deus. Portanto «servir» é o amor
em acção. «Servir» é ver as necessidades e dar a vida, o tempo, os bens, para suprir a
estas necessidades.

A ALEGRIA DE SERVIR
A vida de serviço não é fácil, pois exige muito mais que entrega e dedicação, exige,
acima de tudo, renúncia constante. Cristo afirma que para sermos seus seguidores temos
de abandonar o nosso próprio «eu», deixar de lado os nossos gostos ou desejos pessoais
e procurar viver em função das necessidades daqueles que nos rodeiam. Viver
valorizando e praticando o serviço, de forma livre, desinteressado, responsável e
dignificante produz uma alegria enorme e muito contribui para a edificação de uma
sociedade mais justa e mais fraterna.
Pessoas como Madre Teresa de Calcutá tornaram-se famosas por serem exemplos vívos
de que a verdadeira importância de um indivíduo está na entrega que faz de si mesmo ao
serviço desinteressado em favor dos outros. Tal procedimento produz uma grande
alegria que enche o nosso coração e contagia aqueles que connosco contactam.
A diaconia é o estilo de vida do cristão. Sendo servidos pelo Senhor, servimos às
pessoas, realizando aquelas obras que Deus preparou para nós e que são a nossa
responsabilidade pessoal.

É TEMPO PARA SERVIR…


Para servir é necessário ter humildade, ter um ego baixo, não ter a expectativa de
receber algo em troca. Infelizmente a maioria encara o «servir» como algo humilhante,
pois não sabem ser servidos e acabam por maltratar aquele que serve. Acham que
aqueles que servem são de classe inferior e que estão lá para tratá-los como reis. A
maioria dos que agem assim são pessoas de egos elevadíssimos e que não conseguem
ver nada mais além dos seus próprios umbigos. Mas, servir é para qualquer um, até para
os poderosos. Dependemos uns dos outros e a vida seria muito mais alegre e agradável
se todos pudessem servir, pelo simples prazer de servir…
HIPERLIGAÇÃO
Caro/a amigo/a é o momento de arregaçarmos as mangas e começarmos a valorizar o
valor do serviço. Acede a www.audacia.org e carrega a ficha de trabalho e vê o vídeo
sobre o valor do serviço.
Os vários ambientes que frequentamos (família, escola, paróquia, sociedade) necessitam
do nosso alegre serviço, um serviço livre e desinteressado. Assim, estaremos a colaborar
na construção de um mundo muito mais humano e cristão que valoriza e incentiva o
serviço como resposta ao crescente individualismo e hedonismo que estão tão
enraizados nos nossos corações e que tanta tristeza e desigualdades produzem.

Março 2010
Vida Eterna

O domingo, 28 de Março, é Dia Mundial da Juventude, e o Papa Bento XVI, na sua


mensagem para este dia, reflecte sobre a pergunta do jovem rico: «Bom mestre, que
devo fazer para herdar a vida eterna?» (Mc 10, 17). É uma pergunta que poderia ser
feita por qualquer um de nós e revela uma preocupação com o futuro. Preparar o futuro
é um desafio que todos temos pela frente.

Que devo fazer?... É uma pergunta que questiona o sentido da vida…


A pergunta que o jovem rico coloca a Jesus não contempla somente o futuro, a vida
eterna, mas o próprio sentido da vida presente. Não se trata, apenas, de uma pergunta
sobre o que acontecerá após a morte, a nossa salvação. A pergunta encerra uma
preocupação e um compromisso com o presente, aqui e agora, que deve garantir
autenticidade e, consequentemente, o futuro. A pergunta poderia desdobrar-se em outras
perguntas: que devo fazer para que minha vida tenha sentido? Como devo viver, para
colher plenamente os frutos da vida? E o que devo fazer para que a minha vida não
passe inutilmente?

O PRESENTE PREPARA O FUTURO


A preocupação com o futuro remete-nos, irremediavelmente, para o presente. Já te deste
conta disto: quanto te interrogas sobre o que vai ser o teu futuro, qual a profissão que
vais exercer ou a pessoa que vais ser, a resposta remete-te para a maneira como o estás a
viver hoje e a preparar o teu futuro.
O futuro não chega até nós caído de céu, de forma ocasional ou acidental, ele constrói-
se no presente.
Mas a própria pergunta nos dá a entender que não basta o presente, o aqui e agora. Isto
é, nós não conseguimos delimitar a nossa vida ao espaço e ao tempo actuais. Sentimos
que a vida é eterna e que é necessário empenharmo-nos para que isto aconteça.
Por outras palavras, a vida presente está nas nossas mãos, e o nosso futuro, a vida
eterna, a nossa salvação dependem das nossas decisões. Esta é a preocupação do jovem
rico: que fazer no presente para garantir a vida eterna…
Neste jovem revemo-nos cada um de nós que corremos ao encontro de Jesus e,
provados pelas dificuldades, medos e tristezas, nos ajoelhamos diante Dele e O
questionamos: que devemos fazer?

SÓ JESUS DÁ A RESPOSTA…
O jovem rico ao fazer a pergunta a Jesus reconhece que Ele é o único capaz de lhe dar a
resposta, porque é o único que pode garantir a vida eterna. Por isso também é o único
que consegue mostrar o sentido da vida presente e dar-lhe um conteúdo de plenitude.
Tenhamos nós, igualmente, a certeza que só Jesus pode, realmente, dar as respostas às
nossas inquietações.
Antes, porém, de responder, Jesus questiona o jovem: «Porque me chamas “bom
mestre”? Nesta pergunta de Jesus encontra-se a chave da resposta. Aquele jovem
percebeu que Jesus é bom e que é mestre, um mestre que não engana.

OS MANDAMENTOS…
Jesus, como bom mestre, não faz outra coisa que «relembrar» os mandamentos de Deus
ao jovem rico, e exorta-o a cumpri-los. Eles conduzem-nos à vida, o mesmo é dizer,
garantem a autenticidade, a felicidade e a salvação. Eles são o GPS que nos aponta o
caminho certo: quem observa os mandamentos está no caminho de Deus. É preciso
conhecê-los e praticá-los.

APOSTA NO FUTURO, VIVE O PRESENTE…


Perante inúmeras dificuldades, é normal os jovens terem medo do futuro, terem medo
de gastar energias em prepará-lo para depois serem frustrados pelo seu incumprimento.
O medo do futuro não pode paralisar o nosso presente e, assim, comprometer a
esperança. Hoje vivemos um grande e enorme défice de esperança. Temos:
– Medo de fracassar e de não encontrar o próprio caminho da realização.
– Medo de estar a mais, e não descobrir a minha vocação e o sentido da minha vida e
medo de ficar desconectado, diante da multiplicidade de redes de comunicação que
mudam constantemente.
Preparar o futuro implica enfrentar e vencer estes medos. Não vamos abdicar ou fugir
da vida mas pelo contrário vivê-la intensamente, consagrada aos elevados ideais da fé
cristã e da solidariedade humana. Vamos ser protagonistas de uma nova sociedade, uma
sociedade que professa, ensina e vive valores que privilegia a dignidade humana.

A PROPOSTA DE JESUS…
Um jovem mal preparado e com uma fraca vivência cristã será presa fácil a todos os
assaltos do materialismo, do hedonismo e do laicismo patentes na sociedade actual.
Jesus, porém, continua a olhar com amor para os jovens, e também hoje lhes faz uma
proposta especial de amor e de entrega. Jesus não admite a mediocridade, ele quer que
sejamos generosos.
A proposta de Jesus é desconcertante, exigente, corajosa e ousada: «Só te falta uma
coisa.» E isso é: vender tudo, dar aos pobres e, depois, livre e sem mais receio, seguir
Jesus autêntico mestre.
O medo, o amor às seguranças terrenas… fazem recuar muitas vezes os que o Senhor
chama. Devemos confiar e entregar-nos.

HIPERLIGAÇÃO
Acede a www.audacia.org. Vê o material multimédia que preparámos para ti. Com ele,
reflecte em casa, em grupo…
Já descobriste que Jesus é bom mestre?
Já descobrimos que Jesus, e os seus mandamentos, são o único e verdadeiro caminho
para a nossa felicidade?
Os anos que estamos a viver são os que nos preparam o futuro. O «amanhã» depende de
como estamos a viver o «hoje». Temos pela frente uma vida, mas é uma só, é única, não
a podemos deixar passar em vão, desperdiçando-a. Aceitemos o desafio de viver com
entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com sentido de responsabilidade para com o
futuro.

Abril 2010
O testemunho

No quarto domingo da Páscoa, dia 25 de Abril, celebra-se o 47.º Dia Mundial de Oração
pelas Vocações. O Papa Bento XVI escreveu uma mensagem para esse dia em que
realça o valor do testemunho no surgimento de vocações. Assim, partindo da mensagem
do papa e da experiência pessoal, gostaria de reflectir contigo sobre o valor e a riqueza
do testemunho cristão e sobre a urgência e necessidade crescente que temos dele.

A palavra “testemunho” é oriunda do vocábulo latino testimonium e significa, entre


outras coisas: prova, vestígio, indício.

TESTEMUNHAR É…
De acordo com o Evangelho, testemunhar não é apenas contar o que Deus fez, mas
também mostrar, através do exemplo pessoal, que realmente somos imitadores de
Cristo. O testemunho cristão refere-se, assim, ao comportamento e às atitudes dos filhos
de Deus com que o cristão demonstra, no seu dia-a-dia, que é um discípulo de Jesus. É
um dever de todo o cristão ter uma vida íntegra, independente das modas e dos modelos
e padrões da sociedade moderna.

SER TESTEMUNHAS É…
Os mártires (do grego martys, significa testemunhas) são o exemplo vivo da prática do
testemunho como modo de vida e da sua resistência aos modelos opressores e
escravizantes de então. Eles não se pouparam a esforços (inclusive o da própria vida)
para demonstrarem a sua fé em Jesus Cristo e a necessidade e o dever de viverem de
acordo com essa fé. Assim sendo, o testemunho cristão diz respeito às provas visíveis,
cabais e plenas, servindo como sinais perante a sociedade na qual estamos inseridos de
que, de facto, acreditamos em Jesus Cristo e que vivemos de acordo com a Sua
mensagem. O que dizemos e o que fazemos estão em sintonia e mostram, por um lado, a
integridade e a autenticidade da mensagem cristã e, por outro, a nossa felicidade e
alegria em sermos seguidores de Cristo.

FECUNDIDADE DO TESTEMUNHO
O Papa Bento XVI na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações diz
que «a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da acção gratuita de
Deus, mas é favorecida também pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e
comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor…, pois o
testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com
generosidade ao apelo de Cristo».
Como podemos ver, a vivência autêntica, humilde e serena do testemunho cristão
interroga e questiona aqueles que connosco contactam e, inevitavelmente, produz neles
o desejo de imitarem o nosso estilo de vida. Assim, os cristãos devem evangelizar
através do seu testemunho pessoal, que passa a ser um testemunho vivo do poder de
Deus nas nossas vidas. Se vivermos um bom testemunho diário, estaremos a anunciar,
com uma enorme eficácia, o poder do Evangelho em transformar as nossas vidas e o
mundo que nos rodeis. Como dizia Tertuliano (155-222), um advogado convertido ao
Cristianismo nos primórdios da Igreja e mais tarde ele próprio catequista, «o sangue dos
mártires é semente de cristãos».

A EXIGÊNCIA DO TESTEMUNHO
A vivência de um testemunho cristão autêntico e coerente não é tarefa fácil nos tempos
de hoje como também não o era no tempo dos primeiros cristãos. O testemunho cristão,
como nos adverte o papa na mensagem, é sobretudo exigente, pois apresenta-se, muitas
das vezes, revestido de “sinais de contradição para o mundo cuja lógica frequente é
inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo”. Já não se trata de dar a
vida, como no tempo dos primeiros cristãos, mas de darmos um testemunho cristão fiel,
credível e forte ao mundo muitas das vezes à deriva e sem lugares seguros onde ancorar.
Isso requererá de nós a capacidade de sermos audazes e de não termos medo de, nos
lugares que frequentamos (grupo de amigos e colegas, escola, família, associações…),
darmos um testemunho das razões da nossa fé. Não o fazemos para nos autogloriarmos
mas para prestarmos um serviço à sociedade de hoje, que, como no passado, precisa da
presença de pessoas comprometidas e empenhadas em serem “sal da terra e luz do
mundo”. O meu silêncio ou a minha indiferença pode ser obstáculo à acção salvífica de
Deus.

A NECESSIDADE DO TESTEMUNHO
Uma das maiores urgências na Igreja e na sociedade em geral é a necessidade de
modelos de referência e de identificação. Pessoas que testemunhem valores cristãos, não
tanto pelo que afirmam ou ensinam, mas mais pelo que são e fazem: pela conduta
concreta que manifestam nas relações com os demais e pela maneira como que
posicionam frente a dilemas e crises civilizacionais.
Estou convencido de que a sociedade pós-moderna de hoje, marcada e acorrentada a um
sério e perigoso relativismo, necessita de pessoas capazes de, na sua simplicidade e
humildade, apresentarem alternativas assentes em modos de vida coerentes e eficazes.
Pessoas capazes de tomarem opções existenciais e vivenciais influenciadas por Cristo e
detentoras de uma visão do mundo com traços cristãos. Só esses serão capazes de
contagiar e «encorajar, por sua vez, os jovens a tomarem decisões empenhadas que
envolvem o próprio futuro», como nos diz o papa.

HIPERLIGAÇÃO
Espero que o próximo Dia Mundial de Oração pelas Vocações que iremos celebrar no
dia 25 de Abril seja uma oportunidade para valorizarmos e olharmos para o testemunho
que muitos cristãos dão, muitas das vezes em situações adversas, e rezarmos para que “o
pequenino gérmen de vocação” que está presente em cada um de nós se torne “uma
árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade”.
Acede a www.audacia.org e descarrega a ficha de trabalho e a produção multimédia que
preparámos para ti.

Maio 2010
O VALOR DO silêncio

Vivemos numa sociedade onde superabunda o barulho e normalmente temos dificuldade


em fazer ou em lidar com o silêncio. Depois de ter estado uma semana em Taizé,
durante o mês de Abril, com 100 alunos e de ter visto a descoberta que muitos fizeram
do silêncio e da oração, gostaria de reflectir contigo sobre o valor do silêncio.
Silêncio, do latim, silentium (verbo silere), significa a abstenção voluntária de falar, de
pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever e de manifestar os seus pensamentos.
Silentium pode também significar estar em repouso, tranquilidade, descanso, ausência
de qualquer estorvo. Assim, da etimologia de silêncio, podemos dizer que silêncio
significa calar-se, omitir-se de pronunciar palavras, ficando, assim, num estado de paz e
tranquilidade que nos permite escutar.

AUSÊNCIA DE SILÊNCIO
O mundo de hoje valoriza muito o som, a música e o ruído, impedindo, de certa forma,
a experiência do silêncio. Talvez ainda não tenhas dado conta, mas uma das coisas mais
preciosas que a sociedade actual está a perder é a capacidade de fazer silêncio. Desde
que acordamos até nos deitarmos estamos constantemente rodeados por algum tipo de
som ou ruído. A ausência de silêncio não é apenas danosa para o descanso ou para a
saúde (a ciência já comprovou que o barulho excessivo causa doenças e stress), mas é-o,
também, para a descoberta da nossa identidade. Os momentos silenciosos são os
melhores para ouvirmos aquilo que não emite som: a nossa voz interior. Face a isto, não
é de estranhar que tantos jovens não encontrem um sentido para as suas vidas. Muitas
vezes temos medo de fazer silêncio, porque descobrimos o quanto o nosso interior é
barulhento, e, porque esse conflito nos incomoda, é melhor permanecer no barulho
constante. Mas a pessoa que não souber fazer silêncio não é conhecedora de si mesma e
da sua realidade.

A RIQUEZA DO SILÊNCIO
Por vezes, calamo-nos exteriormente, mas interiormente discutimos muito,
confrontando-nos com personagens imaginárias ou lutando connosco mesmos. A
manutenção da paz interior pressupõe a simplicidade e o reconhecimento de que as
nossas inquietações não têm muito poder. Fazer silêncio é confiar a Deus o que está fora
do meu alcance e das minhas capacidades. Um momento de silêncio, mesmo que breve,
durante o dia, é como um oásis no deserto da nossa vida. Ao fazermos silêncio, ao
calarmo-nos, deixamos que Deus fale e acalme todas as nossas perturbações e
tempestades. Não foi em vão que Deus nos deus dois ouvidos, dois olhos, mas só uma
boca, privilegiando, assim, a capacidade de ouvir e ver: ouvir mais do que falar é sinal
de sabedoria.

O SILÊNCIO É ORAÇÃO
Deus faz-se presente no silêncio e essa foi a experiência do profeta Elias. Quando os
barulhos pararam, Elias reconheceu e ouviu Deus no «murmúrio de uma brisa suava» (1
Reis 19). A experiência de Elias mostra que Deus não é barulhento, não fala no meio do
barulho. Deus escolheu «o murmúrio de uma brisa suave» para falar. Isto é um
paradoxo: Deus é silencioso e, no entanto, fala. Quando a palavra de Deus emerge «no
murmúrio de uma brisa suave», ela é capaz de transformar os nossos corações. O
silêncio prepara-nos para o encontro com Deus. No silêncio, a palavra de Deus pode
atingir os recantos escondidos dos nossos corações. Fazendo silêncio, deixamos de
esconder-nos diante de Deus, e a luz de Cristo pode atingir, curar e mesmo transformar
aquilo de que temos vergonha.

O SILÊNCIO É AMOR
Precisamos de silêncio para acolher a palavra de Deus que nos desafia a acreditarmos e
a vivermos o amor a Deus e aos nossos irmãos. Quando estamos agitados e inquietos,
temos tantos argumentos e razões para não perdoar e para não amar facilmente. Mas,
quando temos o nosso espírito em paz e em silêncio, essas razões desaparecem. Talvez
por vezes evitemos o silêncio, preferindo qualquer barulho, palavras ou distracções,
porque a paz interior é exigente: torna-nos vazios e pobres, dissolve a amargura e as
revoltas e leva-nos ao dom de nós mesmos. Silenciosos e pobres, os nossos corações são
conquistados pelo Espírito Santo, cheios de um amor incondicional. De forma humilde
mas certa, o silêncio leva a amar.

O SILÊNCIO É ENCONTRO
Fazer silêncio não é simplesmente fechar a boca ou recusar conversar. Fazer silêncio é,
sobretudo, (re)confrontarmo-nos connosco mesmos. O silêncio possibilita o
apaziguamento do coração, a pacificação das emoções e a correcção dos
comportamentos. No silêncio não nos encontramos somente connosco, mas
descobrimos e encontramo-nos profundamente com Deus, que habita no nosso interior.
O silêncio possibilita a liberdade de voar no íntimo de nós mesmos, na presença de
Deus, para buscar soluções que nem sempre as palavras oferecem. Ao fazermos silêncio
amadurecemos e ampliamos o entendimento que o barulho não deixa alcançar.

SERÁ QUE TEMOS MEDO DO SILÊNCIO?


Será que a procura frenética do barulho não esconde o medo e o pânico do silêncio?
Pensa nisso. Sugiro que, em vez de continuares a procurar o barulho, te esforces por
procurares alguns momentos de silêncio e irás descobrir que, mesmo no meio dos ruídos
e do barulho desta vida, podes parar e ouvir o silêncio, ouvires-te a ti próprio e ouvires a
Deus que te fala.
Como sugestão, começa por visitar www.passo-a-rezar.net. É um espaço que pretende
adaptar a proposta do silêncio e da oração às circunstâncias da vida de todos os dias e à
exigência de mobilidade que a caracteriza. A caminho da escola, nos transportes ou a pé,
podes experimentar que o silêncio e a oração não são uma utopia um desejo irrealizável:
o www.passo-a-rezar.net oferece-te a possibilidade de fazeres de cada lugar um lugar de
encontro contigo e com Deus, um «espaço sagrado».

Junho 2010
Obediência

Vivemos numa sociedade em que quase ninguém gosta de obedecer e praticamente


todos gostam de mandar. Existem muitas causas para este fenómeno. É precisamente
sobre essas causas e sobre o valor da obediência, em contexto familiar, que quero
reflectir contigo.

A palavra “obediência”, na sua raiz etimológica, significa ouvir com o coração e escutar
em profundidade, ou seja, escutar com amor. A palavra “obediência” deriva das palavras
latinas ob mais audire, que significam literalmente ouvir aquele que fala em frente a
nós. Então, só poderemos ser obedientes quando nos predispomos a ouvir atentamente
aquele que nos fala e acreditarmos que ele nos fala com amor.

DIFICULDADE EM OBEDECER
A obediência aos pais é uma tarefa difícil para muitas crianças, adolescentes e jovens.
Os filhos das famílias de hoje vivem tempos conturbados, pois pensam que já podem
fazer o que entendem sem escutarem ninguém. Acham que já estão preparados para
decidirem tudo pela sua própria cabeça, muitas vezes influenciada por tantas pessoas e
valores estranhos à família e ao seu projecto educativo.
Quando nascemos, não conhecemos nada nem fazemos nada sozinhos: são os nossos
pais que nos alimentam, que nos vestem, que nos dão banho, enfim, que cuidam de nós.
Aceitamos isso como normal pois confiamos neles. Ao crescermos, vamos descobrindo
coisas importantes e vamos aprendendo pelo que vemos, vivemos e ouvimos.
Começamos a tomar algumas decisões sozinhos, como, por exemplo, que roupa
vestimos, de que comida gostamos, as actividades que nos interessam, etc., mas ainda
não estamos prontos para decidirmos sobre grandes questões, pois ainda não nos deram
todas as indicações básicas.
Na adolescência, achamos que já sabemos tudo e que estamos prontos para a vida e é aí
que começam a surgir os piores momentos, visto querermos a independência e
acharmos que podemos viver com ela. Nesta luta frenética pela independência e
liberdade começam os confrontos com os pais e, muitas das vezes, chegamos mesmo a
contrariá-los, acabando por cair em teias viciantes e comportamentos perigosos que
acabam por nos roubar toda a liberdade.

DIFICULDADE EM MANDAR
Mas também os pais têm dificuldade em mandar.
Por vezes ficamos com a impressão de que os papéis foram trocados: os filhos mandam
e os pais obedecem. Quem não assistiu já a episódios nos quais os filhos, porque
insistem ou até chantageiam os pais com choradeiras histéricas, conseguem o que
querem contrariando assim os pais obrigando-os a ceder e a fazer as suas vontades?
Há em muitos pais um sentimento de culpa (de não serem bons pais) que eles procuram
compensar através do consumismo, comprando tudo às crianças, ou pior ainda,
«comprando as crianças» para compensar as suas ausências ou falhas parentais. Deste
modo desestrutura-se a família. Um exemplo é as crianças e adolescentes dormirem e
fazerem o que querem, à hora que querem e como querem e ai de quem os contrarie.
Por outro lado, a estrutura frágil ou as dificuldades relacionais de muitas famílias levam
a que falte muitas vezes a presença de uma posição forte e concertada por parte dos
pais. Os pais, em vez de darem ordens e de traçarem um caminho seguro para os filhos,
começam a ceder o palmilhar de outros caminhos, muitas vezes duvidosos e pouco
seguros. Os pais devem-se fazer respeitar enquanto pais e enquanto pessoas e,
simultaneamente, respeitar os filhos enquanto pessoas mas também enquanto filhos,
pessoas por quem eles são responsáveis e a quem devem apresentar um percurso
educativo e formativo de acordo com os valores familiares que defendem. Trata-se de
uma missão e desafio para os pais: exercerem o dever e a missão de pais sem complexos
ou medos, tendo consciência de que a sua missão é preparar os filhos para a autonomia.

OBEDIÊNCIA FUNDADA NO AMOR


Segundo a Bíblia, a obediência só tem sentido na relação amorosa que existe entre Deus
e o ser humano: um Deus que chama por amor e um ser humano que responde com
amor. Jesus Cristo fez exactamente o mesmo: ao encontrar-se com alguém, primeiro
falava com eles, olhava para eles com amor, propunha-lhes um caminho de felicidade e
realização e as pessoas ouviam-No atentamente e respondiam-lhe obedecendo, pois Ele
falava como quem tinha autoridade.
Uma autoridade baseada e fundada no amor convida e conduz naturalmente a uma
resposta obediente. Também nas famílias de hoje a obediência têm de estar alicerçada
no amor. Só o amor leva à obediência que não aprisiona mas que liberta.
Obediência Baseada Na Confiança
Jesus, a pouco tempo do seu martírio, no Jardim das Oliveiras, colocou a Sua vontade
em segundo plano e aderiu à vontade do Pai, porque o objectivo era um bem maior:
«Pai, se for possível afasta de mim este cálice; no entanto seja feita a Tua vontade e não
a Minha.» Assim, a obediência dos filhos aos pais só tem sentido enquanto enquadrada
num bem maior, o bem de cada membro, o bem de todos os membros da família e o
bem da sociedade em geral. Mas se cada um procurar o seu próprio interesse e embarcar
na onda do individualismo, não haverá futuro para essa família e a destruição será a
consequência inevitável.

HIPERLIGAÇÃO
É a hora de arregaçarmos as mangas e fazermos a nossa missão de acordo com a nossa
função. Aos pais cabe mandar, exercerem a sua autoridade com amor. Não falo de
autoritarismo! Aos filhos cabe obedecer, isto é, ouvirem aqueles que estão à sua frente,
os mais velhos, que os amam, e que apontam caminhos de realização e felicidade e
porque temos confiança neles e reconhecemos o bem que daí advém, obedecemos com
fé e confiança.
Acede a www.audacia.org e carrega o material multimédia sobre o valor do
OBEDIÊNCIA que preparámos para ti.

Julho 2010
(Comum)Unidade

Com certeza já te encontras em férias… e, se trabalhaste de forma séria e empenhada


durante o ano escolar, é agora tempo de descansar. Espero que desfrutes este tempo e
que cresças em todos os sentidos e dimensões. Uma das experiências que talvez faças,
durante este tempo, é o do contacto com pessoas/culturas/ambientes diferentes daqueles
a que estavas habituado e isso pode ser uma riqueza, mas pode também criar alguma
confusão e até medo. Ora, a pluralidade é um facto inegável, mas que nos remete
inevitavelmente para a (procura da) unidade.

Vivemos, cada vez mais, em grandes metrópoles, cercados de pessoas muito diferentes
de nós. Gente de todo o tipo de perfil profissional, político, cultural e religioso. Vivemos
todos lado a lado, mas de certa forma isolados… Vivemos, assim, agrupados por várias
razões (geográficas, religiosas, ocupacionais…), criando a totalidade da espécie
humana, uma totalidade composta pela diversidade, que, no entanto, clama por unidade.

HÁ ALGO QUE NOS UNE


Na procura por unidade, o respeito pelo outro assume-se como uma etapa fundamental.
Somos diferentes, mas, também, somos todos iguais e há algo que nos une, constituindo
a essência da Humanidade: a dignidade e o respeito que nos merecem os outros.
Perceber quem está ao nosso lado e aceitar a sua expressão individual, dentro dos
limites da cidadania, é fundamental para evitarmos os constantes conflitos entre nós.
No entanto, esta coexistência, muitas vezes, não se assume como colaboração, nem
possibilita que desfrutemos de toda a potencialidade humana. Quanta criatividade e
riqueza poderiam emergir destes encontros se soubéssemos estar uns com os outros
numa perspectiva colaboradora possibilitado, assim, a construção de um mundo melhor!
Assim, como gastamos energias e forças a afirmar a diversidade, também as deveríamos
gastar a afirmarmos a necessidade da unidade.
O QUE SIGNIFICA A UNIDADE
O princípio da unidade na diversidade está intimamente associado ao conceito da
unidade da Humanidade. A apresentação de ambos os conceitos, dentro da proposta de
uma educação formadora de novos hábitos e valores, traz à tona o surgimento de um
novo tipo de cidadão, comprometido com uma visão mais ampla: preocupado não
apenas com o local, mas também com o global; não apenas com a diversidade e a
pluralidade, mas também com a unidade e a comunhão.
A unidade envolve um processo dinâmico de criar harmonia entre diversos povos e é
diferente da uniformidade. Percebermos que, embora diferentes, somos iguais em
dignidade; apesar de vivermos em diversos países, religiões e culturas, somos todos um
só povo: o povo de Deus, a viver a cultura da humanidade, que nos faz iguais.

A CONSTRUÇÃO DA UNIDADE
A unidade pode construir-se mediante a colaboração. Assim, a busca da unidade
pressupõe, de cada um de nós, a capacidade de acolher o outro, igual a nós em
dignidade, mas, inevitavelmente, diferente em personalidade e escolhas, e descobrirmos
o que nos une num laço indissolúvel. O diálogo assume-se, por isso, como o único meio
para o encontro com o outro, diferente de nós e, no entanto, igual. A ausência de
palavras, o virar das costas ou a ameaça ao outro são atitudes de recusa em procurar a
unidade e que nos levam, inevitavelmente, ao isolamento e à separação.

Mas a unidade é também um dom. Na cultura bíblica nós não fazemos a unidade, ela é
fruto do amor de Deus, da acção do Espírito Santo em nós. O amor faz nascer o desejo
de unidade, mesmo naqueles que sempre ignoraram tal exigência. O amor cria
comunhão (comum-união) entre as pessoas e entre as comunidades. Se nos amamos,
buscamos aprofundar a nossa comunhão, e (re)orientamo-la para a perfeição. O amor é
a fonte, a união e a perfeita comunhão da Santíssima Trindade – a unidade do Pai, do
Filho e do Espírito Santo –, que gera, igualmente, a união entre a Humanidade.
Construir a unidade na diversidade é aceitar e reconhecer que as pessoas, diferentes por
suas origens, se se amarem, podem conviver em harmonia e unidade, uma vez
estabelecidos os limites e respeitadas as individualidades.

HIPERLIGAÇÃO
Nestas férias, procura descobrir, afirmar e defender o valor da unidade. A unidade na tua
família, na tua turma, no teu grupo de amigos… pois só ela nos dará a dignidade própria
dos humanos e nos coloca na estrada do diálogo que leva a um verdadeiro entendimento
e união entre aquilo e aqueles que à partida pareciam diferentes e inconciliáveis.
Acede a www.audacia.org e descarrega o material multimédia que preparámos para ti
sobre este valor.

CAIXA:
HINO À UNIDADE
(Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares)

Todos se regozijam com a sua presença,


todos sofrem com a sua ausência.
É paz, alegria, amor, ardor,
atmosfera de heroísmo, de extrema generosidade:
é Jesus entre nós!
Viver para que Ele esteja sempre entre nós, para levá-Lo ao mundo
que desconhece a Sua paz, para termos em nós a Sua Luz!

Queremos doá-la a todos que passarem ao nosso lado,


não podemos conservá-la para nós somente,
já que muitos, muitos tem fome e sede desta paz plena,
deste gáudio infinito.

Se nós permanecermos fiéis à nossa missão – «Que todos sejam um» –


o mundo verá a unidade. Todos serão «um» se nós formos «um»!
E não tenham medo de renunciar a tudo pela unidade:
sem amar, superando toda e qualquer medida,
sem perder o próprio modo de raciocinar,
a própria vontade e os desejos,
jamais seremos «um»!

Sábio é quem morre para deixar Deus viver em si!


A unidade antes de tudo!
Têm pouco valor as discussões ou até as questões mais santas
se não gerarmos Jesus entre nós.

Outubro 2010
Sobriedade, oposto de caprichos

A ONU instituiu, em 1992, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que é


comemorado todos os anos a 17 de Outubro. Por isso, este mês quero chamar a tua
atenção para um problema e uma solução: a pobreza e a sobriedade.

O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza destina-se a incentivar o esforço da


comunidade mundial em debater e procurar soluções planetárias para o flagelo da
pobreza, de tão ampla, flagrante e grave incidência mundial. No mesmo espírito, a
União Europeia declarou o ano de 2010 como Ano Europeu do Combate à Pobreza e
Exclusão Social. Na opinião dos responsáveis, «é uma esperança e uma oportunidade
para alertar a Europa e o mundo para a injustiça social que significa a pobreza e a
exclusão social e para (re)definir caminhos que nos levem à erradicação destes
flagelos».
Lembremo-nos que as pessoas que vivem na pobreza, pela sua condição, não têm poder
e são excluídas da sociedade; a sua capacidade para garantir os seus próprios direitos é
extremamente limitada devido à sua situação. Estou convencido que a solução para este
flagelo passa, sem dúvida, por uma solidariedade activa construída sobre uma
responsável sobriedade.
O valor da sobriedade na gestão dos bens sustenta a necessidade de vivermos sem
esbanjamento nem luxos, tão-somente com o mínimo para sermos felizes. A sobriedade
apela a distinguir entre o que é um capricho e o que é razoável.
E foi precisamente sobre este tema que recebi um texto sobre a fome, escrito por um
leitor da Audácia, Leontino Duarte, a quem agradeço desde já o envio e que aqui
partilho convosco. Fica, também, a porta aberta a outros leitores que queiram partilhar
connosco textos sobre valores de e para sempre.
REFLEXÃO SOBRE A FOME
«Ao longo de séculos e séculos o homem foi desbravando mato, descobrindo e
alargando novos solos para o seu cultivo a par de novas sementes que foi aperfeiçoando.
É no decorrer da Revolução Industrial que se vai extinguindo alguma agricultura de
subsistência. Parte dos agricultores deixam de trabalhar nos campos e passam a
trabalhar na indústria. A agricultura também se industrializou. Ainda há povos que
praticam uma agricultura de subsistência.

SOBRIEDADE SOCIAL
A fome foi sempre presença assídua junto dos homens. Nos tempos mais actuais é
confrangedor vermos o desequilíbrio económico entre países ricos e países pobres. Nos
países ricos, morre-se com a fartura, nos países pobres, morre-se de fome.
Os países mais carenciados nem sempre têm uma boa administração política ou
económica. Os factores políticos são determinantes para o equilíbrio financeiro. Alguns
países com grandes carências económicas são riquíssimos em recursos naturais. Têm
grandes riquezas nos seus solos e subsolos. Ironias das ironias, essas riquezas são
exploradas pelos países poderosos – ditos desenvolvidos. Levam as riquezas desses
países e ainda exploram os seus naturais através da sua mão-de-obra barata.
Os países ricos com rendimentos anuais altíssimos podiam cooperar no
desenvolvimento económico dos países menos desenvolvidos. Podiam oferecer-lhes
infra-estruturas com vista à erradicação da fome.
Esses países não cooperam com os carenciados para não perderem a sua autoridade e
também para os países pobres não ficarem ao nível dos países ricos. Assim, os
poderosos continuarão a ser poderosos.

A MINHA SOBRIEDADE
Deixando de parte o factor político e económico que é do domínio dos Estados,
debrucemo-nos sobre as atitudes particulares:
– Todas as pessoas deviam parar pelo menos um minuto por dia para meditar sobre a
fome no mundo.
– Devíamos deixar de desperdiçar alimentos em solidariedade com os carenciados. Ao
deitarmos a comida que deixamos estragar, ou que sobra no nosso prato, estamo-nos a
esquecer que essa comida poderia estar a saciar alguém.
– A dieta, a ginástica e outras actividades com vista à redução de peso ou diminuição de
gorduras deve-se resolver a montante e não a jusante. Se as pessoas fizerem uma
alimentação correcta e a horas certas, grande parte desses problemas ficam resolvidos.
Coitados dos povos famintos que não conseguem resolver este problema básico.
As práticas atrás mencionadas são uma afronta para estes povos.»

HIPERLIGAÇÃO
A saciedade de alimentos é um direito fundamental que devia constar em todas as
constituições. A fome devia ser erradicada de uma vez para sempre. É uma vergonha
mundial este flagelo.
Reflecte pessoalmente e em grupo sobre as atitudes a desenvolver para sermos uma
sociedade mais sóbria no uso dos bens e mais solidária com quem tem necessidade.
Serve-te do material multimédia que preparámos para ti em www.audacia.org. E,
depois, partilha connosco, comentando este artigo no mesmo sítio ou enviando as vossas
reflexões para audacia@netcabo.pt.
Novembro 2010
Coragem de confiar

O Papa Bento XVI, aquando da sua visita a Portugal, pediu coragem e confiança
dizendo que a fidelidade à vocação cristã exige essa atitude: «A fidelidade à própria
vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer também que saibais unir as
vossas forças; sede solícitos uns pelos outros, sustentando-vos fraternalmente.»

Para reflectir sobre os valores da CORAGEM e da CONFIANÇA, neste mês em que


predomina o sentimento de crise e de desconfiança, gostaria de apresentar uma história:
«Um dia, deflagrou um poderoso incêndio num edifício de três andares. No segundo
piso estava uma menina de 10 anos. O fogo começou no rés-do-chão e foi subindo de tal
modo que quem estava nos andares superiores não podia descer. O fumo foi-se
espalhando a todo o prédio, criando muita confusão. Entretanto, chegou ao local o pai
da menina que estava no segundo andar, à janela. O pai deteve-se, olhou e, ao ver a sua
filha, gritou:
– Filhinha, podes saltar, que nós seguramos-te ao caíres.
Mas a menina não via o pai, por causa do fumo e disse:
– Papá, mas eu não posso saltar porque não te estou a ver.
O pai respondeu:
– Não te preocupes, porque eu vejo-te. Podes saltar, não há problema, podes confiar.
Depois de muito hesitar, a menina saltou e salvou-se. Caiu nos braços do pai.»

É PRECISO SALTAR…
Os momentos que vivemos são de crise. Respira-se essa sensação por todo o lado. É na
família, na Igreja, nas relações interpessoais, na economia, na política, na escola, nos
estudos, nos valores… enfim, ela é inerente à nossa condição humana.
Simultaneamente, são várias as vozes a clamarem pela urgência e necessidade de
ultrapassarmos a crise que se instalou e que teima em ficar e a alastrar-se cada vez mais.
Mas como? Não vemos alternativa, não confiamos em ninguém, e, consequentemente,
sofremos no dia-a-dia as suas consequências.
Pode ser que também a nossa sociedade (a nossa vida) esteja a arder, mas, muitas vezes,
falta-nos a coragem para saltarmos para fora dessas experiências/situações em que
pressentimos o perigo e a destruição ou, então, falta-nos o discernimento, a capacidade
de vermos como poderemos sair (saltar) dessas situações. O pânico e a confusão
instalam-se, começamos a gritar, só que ninguém nos ouve nem nós ouvimos ninguém.
Às vezes até podemos ouvir, mas não conseguimos ver quem nos fala e nos convida a
saltar e, por isso, não saltamos, mas gostaríamos de o fazer… falta-nos a confiança.

TORNA-SE URGENTE SALTAR


MAS PARA ONDE? Para um sítio seguro, um sítio que nos faça experimentar a paz e a
alegria de viver. Um sítio onde nos sintamos bem e nos realizemos como seres humanos
e como filhos de Deus. Para as mãos do pai, como fez aquela menina da história.
No perigo, Deus não nos abandona, mas convida-nos a saltar para os Seus braços e a
procurar n’Ele refúgio. Não nos força a saltar, mas, pelo contrário, permanece
esperando que saltemos para depois nos agarrar.
Mas então, se é para aí que devemos saltar, porque é que não saltamos? É o fumo que
nos impede de ver... de ver que na situação mais difícil da nossa vida há sempre um Pai
de mãos abertas para nos agarrar e nos impedir de cair no chão. Ele já fez isso tantas
vezes na nossa vida e na vida de tantas outras pessoas, mas ainda assim temos
dificuldade em ter confiança n’Ele, muitas vezes, porque não O vemos como
gostaríamos de ver, falta-nos a CORAGEM DE CONFIAR.

VALORES PARADOXAIS…
Na nossa sociedade a CONFIANÇA e a CORAGEM teimam em superabundar ou em
escassear. Sofremos porque confiamos de mais ou de menos. Temos dificuldade em
confiar e falta-nos a coragem para o fazermos porque não encontramos pessoas dignas
de tais sentimentos. Assim, vamos perdendo a coragem de confiar e as nossas relações
transformam-se, ficam mais burocráticas, mais agressivas, mais defensivas e
competitivas.
A falta de confiança torna a vida desgastante, repetitiva, engorda as defesas e os
controlos.
A presença da confiança nas relações, pelo contrário, fortalece o espírito de cooperação,
viabiliza a comunicação e a relação, torna as nossas vidas mais felizes e serenas.
A confiança é a base que une pessoas, crentes, amores, grupos de trabalho, sócios, etc.
Mas é aqui que reside a dificuldade: a confiança não pode ser comprada ou encontrada
facilmente nas pessoas, ela demora para ser construída, e mais grave, ela perde-se
facilmente, e, na maioria das vezes, é enterrada eternamente após a sua perda.
É urgente redescobrirmos a confiança e alicerçarmos nela as nossas relações. É urgente,
como nos diz o Papa, unir as nossas forças; sermos solícitos uns pelos outros,
sustentando-nos fraternalmente.

HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), se atravessas momentos de crise, de perigo, se a tua vida anda a
“arder”, vais ter necessidade de saltar, se ainda o não fizeste. Aconselho que o faças
quanto antes, pois as chamas podem provocar queimaduras graves que levam muito
tempo a cicatrizar e que quase sempre deixam marcas.
Se precisares de saltar, salta, e verás que não vais cair no chão mas pelo contrário,
encontrarás pelo menos uma pessoa, um PAI, em quem poderás confiar e que estará de
braços abertos para te acolher.
Em tempo de crise e crises, resta-nos muitas das vezes só um lugar seguro onde
poderemos experimentar a segurança e o carinho de um Pai que de mãos abertas nos
acolhe e reconforta.
Para continuares a reflexão, acede a www.audacia.org e descarrega o material
multimédia que preparámos para ti.

Dezembro 2010
A Vida como Lugar de beleza

«Tornai as vossas vidas lugares de Beleza» foi uma proposta feita por Bento XVI
aquando da sua visita a Portugal. É uma proposta simples mas exigente, agora também
lançada pelo Secretariado Nacional de Educação Cristã que propôs este tema aos
professores e alunos de EMRC a fim de o aprofundarem ao longo deste ano lectivo.

O que é a beleza? Etimologicamente, a palavra «beleza» deriva do latim vulgar bellitia,


pelo provençal belleza ou pelo italiano bellezza, que tem como significado a
combinação de qualidades que impressionam agradavelmente a visão ou outros
sentidos.
Ou seja, beleza é uma experiência (um processo cognitivo ou espiritual) relacionada
com a percepção de elementos que agradam, de forma singular, àqueles que a
experimentam.
A experiência da beleza, muitas vezes, envolve a ideia de equilíbrio e harmonia com a
Natureza, o que pode levar a sentimentos de atracção, êxtase ou de bem-estar
emocional.
Implícito ao conceito de beleza está sempre um sujeito que a valoriza e a aprecia. Por
isso, costumamos dizer que «a beleza está nos olhos de quem a vê».
No seu mais profundo sentido, a beleza pode dar origem a uma notável experiência de
reflexão positiva sobre o significado da própria vida e existência.

O falso culto da Beleza


É evidente que para o mundo actual, o mundo das dietas, das aeróbicas das academias
de musculação, das lipoaspirações e cirurgias plásticas, a beleza física é fundamental e
sobrevalorizada. Há pessoas que perdem o sono porque têm uma barriguinha a mais e
ficam deprimidas porque as primeiras rugas aparecem! Basta olharmos à nossa volta
para nos darmos conta que há uma mentalidade de culto ao corpo, de excessiva
preocupação com a aparência... algo que não é construtivo nem normal, porque não é
verdadeiramente humano. A imagem passada desta «beleza», pelos meios de
comunicação social, alimenta somente a indústria dos cosméticos, da moda e das
plásticas e em nada favorece as pessoas. Pelo contrário, torna-as escravas de um suposto
perfeccionismo corporal.
O culto do corpo supermagro tem ocasionado uma psicose social colectiva que assassina
a auto-estima e manipula as imagens que temos de nós. A busca desenfreada pela beleza
física tem levado as pessoas a agir sem raciocinar, a ver o outro como uma massa
modelada e manipulada e não na sua totalidade e dignidade. É cada vez mais frequente
ouvirmos falar em casos de bulimia e anorexia entre jovens, que iludidos por uma forma
“perfeita”, sacrificam o próprio corpo e muitas vezes a própria vida.

BELEZA É FUNDAMENTAL
A beleza exterior é importante e necessária, no entanto, ela um dia acabará, ao passo que
a beleza interior crescerá cada dia que passa.
É pela prática dos valores que nós embelezamos a nossa vida e a dos outros, levando-os
a amar a beleza e a virtude, e a querer possuí-la também.
A beleza interior reflecte-se no próprio corpo, especialmente no rosto e nos olhos. Por
isso, se alguém quiser que a luz da beleza brilhe em sua face, é preciso fazer antes que a
chama do verdadeiro amor arda no seu coração, pois a luz da beleza provém da chama
do amor.
Assim, fundamental, é uma outra beleza, a beleza do bem, que se traduz em amor,
doação, entrega e solidariedade.
A beleza bela é aquela que nos abre e nos torna sensíveis para Deus e para os outros.
Beleza que não passa, beleza que constrói, beleza que traz uma alegria profunda, doce e
duradoura. Esta beleza tem como fonte e modelo o próprio Deus que veio a nós em
Jesus Cristo! O belo desta beleza é que ela faz-nos tocar Deus, percebendo que a vida e
a realidade têm um sentido profundo, mesmo quando a dor, a solidão, a tristeza, a
injustiça e a morte ameaçam constantemente a existência humana. Esta sim, é a Beleza
fundamental e, sem ela, a vida tornar-se-ia um deserto de mediocridade, um inferno
insuportável.

A BELEZA DE DEUS
A verdadeira beleza, a beleza interior da alma, provém de ser feita à imagem de Deus,
Beleza absoluta. Assim, cada vez que nos aproximamos de Deus, ficamos mais bonitos,
pois reflectimos o Seu carácter e passamos a ter os frutos do Seu Espírito Santo. O
contrário ocorre quando nos afastamos de Deus e deixamos que o orgulho, os
sentimentos de superioridade, o endurecimento do coração e o ódio nos tirem a beleza
das nossas vidas.
A suma beleza é encontrada pelo homem naquilo que lhe é mais conveniente, naquilo
que é sua razão primeira e última de existir, isto é, em Deus. O Criador de todas as
coisas, é Ele o sumo Bem e a suma Beleza que deve ser amado, e que nos convém
absolutamente. Contemplar Deus com mais profundidade, graça que muitos vão tendo, é
entrar nessa Beleza ímpar, inefável, que concede a graça do êxtase do próprio amor.

HIPERLIGAÇÃO
O DESAFIO DA BELEZA
Assim, caros(as) amigos(as), o desafio é o de descobrirmos os reflexos divinos da
Beleza em toda a criação. Esta fala-nos do Deus da Beleza e faz-nos caminhar da beleza
das criaturas até à Beleza infinita. Do mundo belo e repleto de infinidade de beleza até
Deus. Sejamos, pelo poder da Beleza que levamos em nós, portadores do Deus da
Beleza e da Beleza de Deus, para que o mundo à nossa volta seja mais sorridente, mais
alegre, mais feliz, mais fraterno, mais encantador pelo amor que temos e que colocamos
em todas as coisas, em tudo e em todos.
Acede a www.audacia.org e descarrega o material multimédia que preparámos para ti
sobre a beleza.

Janeiro 2011
O valor da Igreja

As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) terão lugar em Agosto, em Madrid. Será uma
oportunidade para celebrarmos a nossa fé e reafirmarmos a nossa adesão a Jesus Cristo.
O tema escolhido por Bento XVI para estas jornadas é «Enraizados e edificados em
Cristo…».
Em sintonia com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, que preparou 12
catequeses para preparar as JMJ, reflectimos sobre o ser Igreja.

O que é a Igreja? Algumas pessoas usam «igreja» para descrever um belo edifício,
enquanto outras dizem que é uma organização religiosa.
Etimologicamente, «igreja» deriva do grego «ekklesia», que se traduz por «um chamado
para fora».
A palavra «ekklesia» traduz a palavra hebraica «qahal», que designava a congregação
de Israel, uma nova comunidade convocada do cativeiro para adorar e servir a Deus e
demonstrar o Seu poder no meio dos povos.
Ao denominar-se Igreja, a primeira comunidade cristã reconhece-se herdeira dessa
convocação. Assim, a palavra «Igreja» passa a designar o povo que Deus
convoca/chama e reúne de todos os recantos da Terra, para constituir a família dos que,
pela Fé e pelo Baptismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templo do
Espírito Santo. A Igreja é uma comunidade de pessoas chamadas/convocadas a
construírem uma família de crentes, que medita, reza e vive de acordo com o projecto
de vida de Jesus Cristo.
SER IGREJA É SER SAL DA TERRA
Jesus, para explicar a vida da Igreja, usa a imagem do sal, e diz aos discípulos que
devem ser o sal da Terra.
O sal já foi muito importante na conservação dos alimentos. Hoje temos frigoríficos e
arcas congeladoras, mas antigamente as pessoas tinham salgadeiras – caixas ou
depósitos com sal, onde conservavam os alimentos.
Ao descrever a Igreja como o «sal da Terra», Jesus estava a dizer que ela conserva a Sua
mensagem e que preserva tudo quanto é bom numa sociedade.
O sal tem, ainda, outra qualidade: realça o sabor dos alimentos. Como o sal dá sabor à
comida, também a Igreja deve imprimir uma diferença positiva na qualidade e estilo de
vida daqueles que a rodeiam, isto é, na sociedade.
Embora os cristãos não tenham todas as respostas para as dificuldades e problemas da
vida, nós deveríamos ser capazes de levar a paz, a esperança e o amor àqueles que estão
confusos e desesperados, àqueles que são marginalizados e explorados no mundo de
hoje. A mensagem cristã tem poder para transformar a vida e a tornar mais bela, justa e
saborosa.

SER IGREJA É SER FERMENTO


Jesus também faz uma comparação com o fermento que em minoria se mistura com a
massa e a faz crescer. Dizer que a Igreja é fermento é dizer que a sua missão é viver em
função dos outros e no meio dos outros. Por isso, refugiarmo-nos ou isolarmo-nos do
mundo para nos mantermos «puros» não tem sentido na vida da comunidade cristã.
A nossa fé não é para ser vivida em privado, mas é para ser partilhada em comunidade.
E a Igreja, ao ser fermento, aceita ser minoria, sem complexos de inferioridade. Os
cristãos não temos vergonha de dar a cara pelos ideais e valores em que acreditamos.
Foi, aliás, devido ao testemunho minoritário de muitos mártires que hoje podemos
celebrar e viver a nossa fé em comum.

SER IGREJA É (RE)QUESTIONAR-SE…


É comum ouvirmos nas nossas comunidades. «Os jovens não vão à Igreja; os jovens
estão perdidos; a Igreja está velha e é só para os velhos.» Face a estas expressões, é
legítimo perguntar: «Porque é que os jovens já não se interessam pela Igreja?»
Os jovens têm responsabilidade nessa situação: o apego às coisas materiais e
desligamento do espiritual, a opção pelo lado divertido da vida e a recusa de disciplina e
sacrifícios, a falta de horizontes e de valores ainda são características de muitos jovens.
Mas a pergunta pode ser virada ao contrário: «Será que os jovens interessam à Igreja?
Os jovens como eles são, e não como gostaríamos que eles fossem?»
Será que nós, Igreja – incluindo os jovens –, temos feito o esforço suficiente para falar a
linguagem dos mais novos? Será que estamos dispostos a acolher os ventos de futuro
que abanam as estruturas antigas e que muitas vezes põem em causa a nossa maneira de
estar e pensar? Estaremos realmente abertos a uma diferença que ameaça, mas que
pode, igualmente, ser um dom do Espírito?

SER IGREJA É… SER JOVEM…


Os jovens nem sempre entendem o verdadeiro ser e a real missão da Igreja, fruto de
uma má comunicação: os jovens ficam a conhecer, realmente, o Evangelho na Igreja? A
comunicação social interessa-se por informar bem a doutrina da Igreja, ou só fala de
alguns aspectos e, às vezes, até os deturpa? E, perante isto, os jovens são críticos?
É urgente a promoção de verdadeiros espaços de escuta – nos grupos, movimentos,
actos de culto –, em que os jovens partilham as suas dúvidas, esperanças, desacordos e
experiências da beleza da espiritualidade cristã.
A Igreja terá de dialogar, mais que impor-se, nos momentos e espaços de reflexão onde
os jovens aprofundam e debatem questões relacionadas com a juventude. E ser solidária
com os jovens nas iniciativas científicas, artísticas e humanitárias, no trabalho para um
mundo mais justo, solidário, pacífico e humano.

HILERLIGAÇÃO
Disse Bento XVI que a presença dos jovens «renova, rejuvenesce e dá novas forças à
Igreja», no entanto, depende também de ti fazeres e seres a diferença que queres ver na
Igreja.
Para a tua reflexão, pessoal e/ou em grupo, usa o material multimédia que preparámos
para ti no sítio da Audácia: www.audacia.org.

Fevereiro 2011
Uma missão para cada um

Em vista à preparação das Jornadas Mundiais da Juventude, que terão lugar em Madrid,
e em sintonia com o itinerário traçado pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil,
este mês vamos reflectir sobre o tema da missão.

Na sua etimologia, a palavra «missão» vem do latim mittere, que significa mandar,
enviar e missus, que quer dizer enviado. Na Bíblia, refere-se a uma ordem recebida de
Deus, para levar a Sua mensagem a uma pessoa ou a uma nação. Logo, o missionário é
um mensageiro com uma missão, incumbência, tarefa, obrigação, encargo a ser
cumprido. Daí se depreende que ser missionário não é um privilégio nem uma ocupação
que a Igreja oferece a alguém, mas é sua própria razão de ser.

JESUS, O MISSIONÁRIO DO PAI


Jesus é o enviado do Pai com a missão de nos mostrar o caminho da salvação – a
felicidade plena. Jesus, durante o seu ministério público, apelou aos seus discípulos,
para serem cooperantes da sua própria missão, dizendo-lhes: «Como o Pai me enviou
também Eu vos envio a vós» (Jo 20,21). Respondendo a este apelo, os discípulos não se
pouparam a esforços para porem em acção a sua missão e foram constituindo
comunidades de fiéis em diferentes cidades e regiões. Deste modo, desde o início, a
Igreja tornou-se missionária, aberta a todos os homens e empenhada em torná-los
participantes dos dons de que vive.

OS MISSIONÁRIOS DE JESUS
Ao longo da História, o Evangelho foi levado a mais homens e povos, saltando do
Médio Oriente para Roma e irradiando, em várias épocas, por toda a Europa e restantes
continentes. Pouco a pouco, a mensagem cristã foi irradiando-se e chegou a mais
pessoas graças ao empenho e dedicação de muitos homens e mulheres que aceitaram o
desafio de serem enviados por Jesus a todos os povos e nações. A missão não parou mas
continua nos nossos dias. Hoje, fala-se da missão ad extra (exterior) e da missão ad
intra (interior): a primeira refere-se à actividade de levar o Evangelho aos povos e
países sem nenhuma ou com reduzida presença cristã; a segunda, ao empenho na nova
evangelização dos países onde o Cristianismo já foi florescente mas que actualmente
experimenta algum esmorecimento.

A IGREJA É MISSIONÁRIA
Levar o Evangelho a todos é uma vocação, é um dom e responsabilidade inerente à fé
cristã. Por isso, todos os baptizados estão envolvidos, sejam eles bispos, sacerdotes,
religiosos e religiosas, fiéis leigos, casados ou solteiros, jovens ou velhos. O mandado
de Cristo «como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» é dirigido a todos os
membros da Igreja e deve ecoar em cada comunidade cristã. A missão é a vocação de
cada baptizado e, consequentemente, os cristãos não podem permanecer passivos,
limitando-se à sua pertença eclesial ou à participação em momentos rituais.

CHAMAMENTO À MISSÃO
Os apelos não são todos iguais, são diversificados. Mas sempre pessoais. Cada pessoa
recebe um chamamento pessoal para desempenhar uma missão: ser padre, ser
catequista, ou constituir família, ser bom profissional, ser político… Há tantos modos de
ser missionário quantas as pessoas, porque ser missionário é pôr os próprios dons ao
serviço dos outros, e fazê-lo à imagem de Deus, inspirando-se em Deus, e sentindo-se
apoiado por Ele.

PROTAGONISTAS DA MISSÃO
Hoje em dia, são muitas as pessoas que partem, por tempo mais ou menos prolongado, a
fim de testemunharem a beleza da fé e servirem generosamente o seu próximo. São
também várias as famílias que sentem o chamamento à missão e deixam a sua terra para
irem por causa do Evangelho para outras paragens partilhando com quem encontrarem a
fé e os valores cristãos. A missão da Igreja não tem fronteiras de tempo ou de espaço: há
quem vai e quem vem, de longe ou de perto, de qualquer idade ou vocação, por muito
ou por pouco tempo… O importante é que ninguém morra de sede por não lhe ter sido
oferecida a “água viva” do Evangelho, ou de frio por não ter encontrado quem o
aquecesse com o fogo do amor divino, ou sozinho, por não haver quem fosse em nome
de Deus sua companhia. A missão da Igreja vive-se em cada casa, aldeia, vila, cidade,
país e continente, mas não se detém a nenhuma porta, barreira ou fronteira… Cristo não
se pode reter nem se detém. Continua a dizer-nos: “Vamos para outra margem, para aí
pregar também…”

CAMPOS DE MISSÃO
A nobre missão da Igreja concretiza-se na preocupação com todas os âmbitos da vida
das pessoas, do planeta Terra e do Universo. Não é só rezar, é labutar pelo bem-estar
aqui na Terra, prelúdio da felicidade eterna nos Céus.
Ao anúncio do Evangelho associa-se o compromisso com a justiça, a defesa dos direitos
humanos e da dignidade da pessoa, a ecologia: tudo isso é um sinal de fidelidade e de
autenticidade da missão da Igreja. (E os jovens sentem-se verdadeiramente filhos de
Deus ao desempenharem estas tarefas.) O anúncio do Evangelho é, pois, também,
denúncia de todas as formas de opressão e de aniquilamento do próximo.

WWW.AUDACIA.ORG
Caro(a) amigo(a), a tua juventude é um momento de descoberta, de encontrares a tua
vocação, a tua missão, na Igreja, na sociedade, enfim no mundo que tanto necessita de
ti. Olha para ti, descobre os teus dons, e saberás qual é a semente da tua verdadeira
missão e vocação a partir do projecto de amor de Deus. Depois será com a ajuda Dele
que a concretizarás.
Lembremo-nos de uma famosa frase de João Paulo II: «A Igreja será Jovem se os
Jovens se tornarem Igreja.» Descarrega no sítio da Audácia o material que preparámos
para ti.

Março 2011
O amigo é um refúgio

O termo «amizade» deriva do latim amicitia. Refere-se a uma relação afectiva entre
duas pessoas. Em sentido amplo, entendia-se por amizade todo o relacionamento que
supõe conhecimento mútuo e afeição, além de lealdade no altruísmo.
Na Grécia Antiga, era o termo philia que significava amizade. Designava a relação
exterior entre duas pessoas. Esta ligação é distinta da do parentesco, mas caracteriza-se
também por haver laços afectivos entre dois seres humanos, alicerçado na lealdade, na
afeição, na confiança e na aceitação.
Não muito diferente dos Antigos, Carl Rogers, psicólogo dos nossos tempos, define a
amizade como «a aceitação de cada um como realmente ele é».

PARA TI, O QUE É A AMIZADE?


Na Grécia Clássica, a amizade (philía) era uma atitude humana que os filósofos e
escritores apreciavam muito, e sobre a qual reflectiam. Para eles, a amizade é o que
existe de mais fascinante, depois da sabedoria (sophia). Sócrates dizia: «Eu preferiria
um amigo a todos os tesouros, tal é a minha avidez de amizade.»
Platão, discípulo de Sócrates, também medita acerca da amizade. Ele faz uma distinção
entre o amor (eros) e a amizade (philia). Percebe que há uma ligação íntima entre
ambos, mas diz que nem sempre coincidem. Por eros entende a atitude do amor
romântico, do prender-se um ao outro pela beleza; a philia é o amor de familiaridade, de
escolher uma família fora do parentesco.
Aristóteles, herdeiro intelectual de Sócrates e de Platão, afirma que «a amizade é o que
há de mais necessário para a vida», pois ninguém gostaria de viver sem amigos. Para
ele, a amizade perfeita consiste em querer e procurar o bem do amigo pelo amigo em si.
Acrescenta ele que, para ser verdadeira, ela deve atender a três critérios: benevolência
mútua (bondade), desejo do bem (igualdade), manifestação exterior dos sentimentos
(comunidade).
Aristóteles vai ainda mais longe: distingue entre amizades interesseiras e verdadeiras,
dizendo que nas amizades interesseiras (que só buscam o prazer) procura-se aquilo que
o amigo tem ou faz, enquanto as amizades verdadeiras se fundamentam naquilo que o
amigo é. Para Aristóteles, o amigo é como um outro de nós mesmos, uma versão
exemplar de nós mesmos.
Mais tarde, o bispo Santo Agostinho interpretou de forma perfeita o pensamento de
Aristóteles, dizendo que «a amizade é como ter uma única alma em dois corpos».

QUE TIPO DE AMIGO É DEUS?


Na Bíblia, os autores falam da amizade humana tendo como modelo a amizade de Deus,
que experimentam ou que desejam experimentar. Eles apresentam a amizade como uma
sabedoria: amigo é aquele que sabe ser companheiro do seu próximo e percebe como o
seu próximo é companheiro dele.
Para o autor do livro do Eclesiástico, «um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o
descobriu, descobriu um tesouro; um amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu
valor» (Ecl 6,14), e não deve ser trocado por dinheiro nenhum (Ecl 7,18).
Há vários exemplos tocantes de amizade: a dos adolescentes David e Jónatas, que brota
espontaneamente e se mantém nos tempos de prova até à morte, que nunca se esquece,
permanecendo sempre na memória do coração (lê no primeiro livro de Samuel – 1Sam
18, 1-20).
A amizade de David e Jónatas ensina-nos que é preciso estar disposto a correr riscos
para fazer o amigo feliz.
Outro exemplo está descrito no Livro de Rute. Fala da relação de Rute (cujo nome
significa «amizade») e Noemi. Nesta novela bíblica aprende-se que quanto mais
generosos, bondosos, desinteressados, amorosos somos, mais amizades conquistamos.
Ser amigo, porém, isso não significa sermos ingénuos e inocentes, mas pessoas livres,
que amam com liberdade e maturidade, compreendendo que as pessoas não nos
pertencem e que devemos deixá-las livres para escolherem a nossa amizade. É o que
transmite o Livro de Job. Neste, deparamos com três amigos, que vão ter com Job para
partilhar a sua dor e consolá-lo (Job 2,11), no entanto, revelam ser pouco amigos.

AMIZADE MAIOR NÃO HÁ


Jesus não só cultivou a amizade, mas incentivou-a como pilar das relações humanas. Ele
é o modelo do amigo, que tem um coração e um rosto de carne: compadece-se, chora,
alegra-se, corrige, permanece fiel, espera, apesar das dúvidas e da incompreensão dos
seus amigos…
Jesus fez-se amigo de todos e tinha muitos amigos: a pecadora arrependida, o jovem
rico, Marta, Maria e Lázaro, Maria Madalena, os apóstolos. Durante a Última Ceia,
quando recebeu a notícia da morte de Lázaro, ele chorou amargamente a ponto de os
judeus dizerem: «Vede como era seu amigo» (Jo 11,35-36).
A maior prova de amizade, de amor, por parte de Jesus, foi entregar a sua vida por
aqueles a quem tanto tinha amado: «Não há maior amor do que dar a vida pelos seus
amigos» (Jo 15,13).
A nossa resposta a esta amizade de Jesus terá de ser, obrigatoriamente, a sua eleição
como nosso amigo. O Papa Bento XVI, na mensagem para as JMJ de Madrid, escreve:
«A amizade verdadeira com Jesus pode dar a um jovem o que ele precisa para conseguir
enfrentar a vida, a serenidade e a luz interior, a grandeza de coração para com os outros,
a disponibilidade para se entregar pessoalmente pelo bem, pela justiça e pela verdade.»

OS AMIGOS SABEM MATEMÁTICA


Na amizade, multiplicam-se as alegrias e dividem-se as tristezas.
A amizade faz que os duros golpes da vida sejam mais leves e que os êxitos sejam mais
maravilhosos, porque podem ser partilhados com alguém.
A amizade dá optimismo para o futuro; impede a desmoralização.
Retirar a amizade da vida é como retirar o Sol do mundo.
Na amizade encontramos satisfação, descanso, conselho e partilha.
Na verdadeira amizade experimentamos Deus, que é amor a transbordar: Deus é Pai,
Filho e Espírito Santo, e Eles amam-se reciprocamente, e amam cada criatura criada.
Cada amigo é «tipo» o coração de Deus presente no mundo.
És amigo? Comenta este artigo e descarrega o material multimédia que preparámos para
ti em WWW:AUDACIA.ORG.
Abril 2011
As três alianças do matrimónio

Começo com uma pergunta: numa sociedade pós-moderna, marcada pela busca
frenética e ineficaz do prazer momentâneo, pode o matrimónio ser uma relação estável e
duradoura de amor? Este é o tema da sétima catequese de preparação para as Jornadas
Mundiais da Juventude, que o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil propõe.

O matrimónio não é um simples contrato de vidas entre um homem e uma mulher. O


matrimónio é uma opção de vida, em que os noivos consagram seu amor diante de si, de
Deus, da Igreja e da comunidade cristã.
O matrimónio é uma vocação humana e divina. Vocação entendida como um
chamamento de Deus, que se transforma em sacramento de vida, em caminho de
salvação e de santificação para o casal através de todos os dias da vida.

LEVARAM TRÊS ALIANÇAS


Enamoram-se e, depois, ao tomarem a decisão de se casarem, os esposos estão a dar
uma resposta ao apelo e ao dom divino. O matrimónio é, ao mesmo tempo, um acto
humano e livre dos dois seres que se amam, se recebem e se entregam mutuamente, e
um acto divino, pois é Deus que os une.
O sacramento celebrado na Igreja realiza esse acto humano-divino. Os esposos cristãos
vivem o amor conjugal com Deus. Foi por isso que, há dias, um casal amigo levou para
a igreja não duas, mas três alianças. Deus revela-Se e faz experimentar o seu amor nos
afectos, na comunhão mútua e na vida familiar dos esposos e, claro, com os filhos deles.

UM ASSUNTO DE MÃE
A palavra matrimónio tem origem no vocábulo latino mater, que quer dizer mãe, ou
ainda matrimonium, que significa mulher casada ou casamento. Na origem do vocábulo,
influenciado pelo Direito romano, está a grandeza da missão da mãe realçando o valor
da maternidade dentro do conceito de matrimónio. Casamento, outra palavra para
designar matrimónio tem a sua origem na palavra “casa”, focando mais o local de
permanência do casal.

CASA DO AMOR
O matrimónio é uma realidade que se constrói com base no amor: é o amor dos esposos
que a funda; é o amor dos esposos que a faz crescer, como faz crescer a fidelidade
mútua, que tem expressão no amor que ambos derramam pelos filhos e que se completa
quando estes são educados no amor, quando aprendem a amar os seus pais, a amar-se
entre eles e a amar todos os homens.
É claro que os esposos e os filhos são seres humanos, com falhas e defeitos. Podem
surgir dificuldades e mesmo graves, mas a solução não é negar a natureza das coisas,
mas precisamente apoiar-se nela para procurar ultrapassar essas dificuldades. É
importante não confundir o amor com a paixão dos primeiros momentos, que pode
desaparecer.

DAR É A CHAVE DO AMOR


O verdadeiro carinho cresce na medida em que os dois estão mais unidos, porque
partilham mais. Mas para partilhar é preciso dar. Dar é a chave do amor. Amor significa
sempre entrega, dar-se ao outro. Só pelo sacrifício se conserva o amor mútuo, porque é
preciso aprender a relativizar os defeitos, a perdoar uma e outra vez, a não devolver mal
por mal, a não dar importância a uma frase desagradável…

ESCOLA DE AMOR
A vida no matrimónio há-de ser, todos os dias, uma escola de amor, um espaço
acolhedor onde as melhores lições possam ser aprendidas. Deve ser um lugar de repouso
e de tensão, de sossego e de esforço. O fio condutor da convivência, porém, deve ser o
amor. Amar é compreender, desculpar, tomar a vida agradável aos outros em pequenos
gestos, dar o melhor de si para facilitar a convivência. O mais difícil é a convivência
diária, pois é aí que cada um se revela e fica a descoberto.

A ARTE DE VIVER JUNTOS


A vida familiar é uma arte que se pratica cuidando dos pormenores: sabendo ceder,
agradar, passar por cima de atritos e tensões inevitáveis que qualquer convivência
acarreta. A amabilidade, a alegria e o sentido de humor são poderosos instrumentos para
levantar os ânimos. Na escola do amor, a vida é como um bumerangue: colhe-se o que
se semeia.

AMEAÇAS AO MATRIMÓNIO
A cultura contemporânea concentra o seu foco no «aqui e agora», no carpe diem, no
momento em que as necessidades individuais passam a serem respondidas em
velocidades cada vez mais rápidas. Os contemporâneos trocam o esforço, o cuidado e o
trabalho por imediatismos e satisfação a curto prazo.
Vivemos a cultura do mundo soft, líquido, light, zero, ambiente propício ao
desenvolvimento de uma era do narcisismo, no qual o que prevalece é a forma
individual e particular de ser.
Como diria o sociólogo Zygmunt Bauman, vive-se na fantasia de que «o próximo amor
será uma experiência ainda mais estimulante do que a que estamos a viver actualmente,
embora não tão emocionante ou empolgante quanto a que virá depois». É a cultura da
eterna busca, que procura na multiplicidade de relações a confirmação externa da
capacidade de se relacionar.

O DESAFIO DO AMOR
O casamento não acontece no dia da cerimónia, apenas começa nesse dia e necessita de
ser construído diariamente por ambos. É responsabilidade da sociedade, em geral, e do
casal, em particular, construir uma relação sólida, uma relação sobre uma rocha
inabalável (o verdadeiro amor) capaz de resistir a todo o tipo de contrariedades e dias
maus.
Os casais cristãos são chamados a viver segundo a sua vocação a ser imagens de Deus,
num compromisso para toda vida, numa vivência do amor mútuo, da partilha e da
comunhão entre si, com os irmãos e com Deus.
O amor dos casais transforma-se em fonte inesgotável de vida e felicidade na família
que irradia para a Igreja e para a sociedade.
Encontra uma ficha de trabalho e uma apresentação multimédia sobre o matrimónio em
www.audacia.org.

Maio 2011
Sacerdote: servidor do dom sagrado
Na caminhada em direcção às Jornadas Mundiais da Juventude, iremos reflectir, este
mês, no significado e valor do sacerdócio.

«Vivemos, ainda há pouco tempo, a Semana Santa, que teve o seu culminar com a
ressurreição de Jesus Cristo. Ele ressuscitou para subir aos Céus, mas sem deixar de
estar entre nós. A Sua imagem, as Suas palavras e os Seus gestos continuam hoje através
da acção dos sacerdotes. Eles são hoje os continuadores da Boa Nova começada em
Jesus. E, desta perspectiva, se antevê o valor que assumem para a sociedade, despojados
até da sua própria família, numa entrega, em nome de Jesus Cristo, a todos os homens.
É, tantas vezes, através do sacerdote que Cristo Se torna presente, próximo e amigo.
Ser sacerdote é a maior das graças com que Deus me cumulou, pela felicidade que sinto
e transmito, pelo amor que recebe e recolho e pela gratidão com que sou acolhido»,
testemunhou à Audácia o padre Júlio, sacerdote da diocese de Viseu

Ponte entre Deus e as pessoas


A palavra «sacerdote» deriva do termo latino sacer, que quer dizer sagrado, e da palavra
dos, que significa dom. Assim, sacerdote designa uma pessoa que possui um dom
sagrado, um dom de Deus e que depois o administra em função e favor de outras
pessoas.
No Catolicismo, o sacerdote é uma pessoa enamorada de Cristo a ponto de viver com
entusiasmo a sua vida numa entrega constante a Deus e aos irmãos. O sacerdote
considera a sua vocação um dom de Deus e recebe-o com júbilo e gratidão, aceitando
ser mediador entre Deus e os homens.

Sacerdotes ao serviço da reconciliação


A Bíblia diz que, antes da vinda de Jesus Cristo, os sacerdotes judeus eram escolhidos
por Deus com um propósito: servir a Deus com as suas vidas, oferecendo sacrifícios em
nome do povo para obterem o perdão dos pecados. O sacerdote era um mediador, que
ensinava a lei, mas, principalmente, oficiava os cultos religiosos dos Israelitas. Só
podiam ser sacerdotes os membros da tribo de Levi. Os sacerdotes eram consagrados –
o mesmo é dizer separados – por Deus para esse trabalho especial e eram, por
conseguinte, vistos como santos.
Nos livros do Novo Testamento, o termo «sacerdote» é apenas aplicado a Jesus Cristo e
encontra-se particularmente desenvolvido na carta aos Hebreus. Os cristãos hebreus
conheciam Cristo como Redentor, mas conheceram-no, também, como sacerdote, isto é,
aquele que possibilita o acesso a Deus. Todavia, explica São Paulo, enquanto os
sacerdotes do Antigo Testamento ofereciam sacrifícios muitas vezes, para a purificação
dos pecados, Jesus Cristo ofereceu-se a Si mesmo em sacrifício e é através Dele que nos
reconciliamos com Deus.

Cristo, o verdadeiro sacerdote


Jesus não era um sacerdote conforme a tradição judaica: não era da tribo de Levi, mas
de Judá, e a sua pessoa e actividade está mais de acordo com o perfil dos profetas,
vivendo e aplicando o mandamento do amor: «Amar a Deus com todo o coração, com
todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais
do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios» (Evangelho de Marcos, 12,33).
Jesus foi sacerdote no modo como viveu, e na sua paixão, morte e ressurreição,
ofereceu-se a Si mesmo. É um sacrifício pessoal, não ritual, movido por um amor divino
(o Espírito Santo) que transforma, renova e dá vida com os parâmetros de Deus, numa
palavra, que santifica. Esta é a característica do sacerdócio de Cristo que a Igreja herdou
e prolonga na História, na dupla forma do sacerdócio comum dos baptizados e da
ordenação dos presbíteros, para transformar o mundo com o amor de Deus.

O SACERDOTE HOJE
É um homem de fé profunda: ele analisa os acontecimentos, a História e a Humanidade
a partir da perspectiva da eternidade com Deus: Ele pensou em nós antes de existirmos,
acompanha-nos agora e aguarda-nos na vida futura. Com a fé, o padre ajuda a
Humanidade a caminhar lado a lado com Deus. Para isso, é importante a sua capacidade
de liderança, organizadora, e também o seu testemunho de vida cheio de sabedoria.
É um homem de oração: é graças à oração que a fé do padre será cada vez mais firme e
é através da oração que ele estabelecerá um contacto constante com o Senhor. Ser
sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo. Falando com o sacerdote, as pessoas
percebem se ele vive em união com Deus ou na dispersão do coração. Esse
relacionamento de amor com o Senhor nutre-se com a meditação diária da Bíblia, com a
Eucaristia, e com a oração confiante a Maria, Mãe de Jesus. Deste modo, ele ouve,
medita e proclama as palavras essenciais: a Palavra que vem de Deus, a Palavra que é
Deus.
É um homem de alegria e de esperança: o sacerdote deve sentir-se feliz por viver, sentir-
se feliz por ser cristão e membro da Igreja e sentir-se feliz porque o Senhor o chamou ao
sacerdócio e lhe confiou a Sua Palavra de esperança e de compaixão.
O sacerdote deve aproximar-se das alegrias e das esperanças, das tristezas e das
angústias dos homens de hoje, dos pobres e, sobretudo, de todos aqueles que sofrem.
No sacerdote deve prevalecer sempre a certeza de ser imensamente amado, de um amor
eterno e incondicional, que produz alegria, semeia esperança e espalha caridade.

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Os sacerdotes de hoje, à imagem de Jesus Cristo, são homens de Deus – irmãos entre
irmãos – profetas de um mundo novo.
Aprofunda o tema com o material multimédia que preparámos para ti e que podes
descarregar no sítio da Audácia.

Junho 2011
As jornadas mundiais da juventude

Em Agosto, Madrid será o destino de muitos jovens. Mas porque participam os jovens e
qual o significado da sua presença nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ)?

As JMJ foram criadas pelo bem-aventurado Papa João Paulo II em 1985, e consistem
numa reunião mundial de jovens. Elas são celebradas a cada dois ou três anos, numa
cidade escolhida para esse efeito. Nos anos intermédios, as Jornadas são vividas
localmente, no Domingo de Ramos, nas diversas dioceses do mundo.
Cada jornada tem um tema, proposto pelo Santo Padre e que é depois aprofundado pelos
diversos grupos de jovens que participam nas jornadas.
Durante as jornadas existem vários momentos nos quais o tema é reflectido através de
catequeses, adorações, missas, momentos de oração, palestras, partilhas, concertos…
Como dizia João Paulo II, em 1996, «as JMJ nasceram do desejo de oferecer aos jovens
significativos momentos de paragem na constante caminhada da fé, que se alimenta
também através do encontro com os coetâneos doutros países e na partilha de
experiências».
UMA CAMINHADA DE FÉ
Participar nas JMJ é fazer uma caminhada, é tornar-se peregrino, é pôr-se a caminho…
com muitos outros irmãos… na mesma direcção e rumo ao mesmo destino: Jesus
Cristo. Assim, as jornadas são uma caminhada dentro de uma caminhada maior que é a
vida cristã rumo à felicidade.
Fazer uma caminhada é, antes de tudo, “sair” e “pôr-se em marcha” saindo de esquemas
de injustiça, de estruturas de pecado e do comodismo e do egoísmo. Quem se põe ao
caminho aprender a viver só com o essencial.
Numa sociedade cada vez mais consumista como a nossa, esta ideia de caminhada faz-
nos compreender que quantas mais coisas carregarmos, mais dificuldade temos em
andar. Fazer uma caminhada é ter a meta dentro de nós e, cada dia, dar um passo para lá
chegar. Ao predispormo-nos a caminhar, manifestamos a nossa fé e a nossa esperança,
pois Jesus, além de ser a nossa meta, é também o nosso companheiro de caminhada.
Assim, nesta caminhada das JMJ estamos todos a caminhar, não há ninguém melhor que
o outro, somos apenas pessoas do e no Caminho, que é o próprio Jesus.

UMA CAMINHADA, NÃO UMA CORRIDA


Mas cuidado, é uma caminhada, não é uma corrida, o importante é a direcção e
persistência, e não a velocidade. Na caminhada nós vamos mais devagar, contudo, mais
firmes e por isso, vamos mais longe. O desafio é seguir firmemente olhando o destino
mas desfrutando da paisagem e da companhia, e envolver-se com quem caminha
connosco e até convidar para entrar no caminho aqueles que ainda não estão a caminhar.
Assim as jornadas são uma oportunidade para incentivar e sermos incentivados pelos
caminhantes, outros jovens que connosco procuram viver como discípulos de Cristo.
Participar nas JMJ é definir-se como peregrino, caminhante capaz de experimentar as
delícias da caminhada sem se deter por ela. O caminhante não desanima perante os
obstáculos, pois acredita e confia que o Senhor do Caminho, além de nos acompanhar,
já preparou o terreno plano e as águas tranquilas à frente.

A CAMINHADA DE EMAÚS
Quando penso em caminhada, lembro-me logo de Emaús. O relato de dois discípulos de
Jesus desorientados e abalados pela morte de Jesus que regressam tristes à sua terra
natal. Mas o encontro com o Jesus ressuscitado, que os consolou enquanto caminhavam
e que lhes partiu o pão, fá-los recuperar a alegria e a esperança. O que antes não tinha
sentido e era motivo de tristeza e desalento agora é a razão da sua alegria e esperança.

O ENCONTRO COM CRISTO


A descoberta de Jesus no meio deles enquanto partia o pão mudou radicalmente as suas
vidas. Este gesto abriu-lhes os olhos e eles puderam ver agora de uma maneira clara a
presença de Jesus ressuscitado nas suas vidas. Jesus, que antes os tinha desiludido com a
sua morte, agora consola-os e encoraja-os com a sua aparição. A alegria que brota deste
encontro é razão mais que suficiente para partirem a toda a velocidade, alegres e
contentes, a fim de anunciarem aos outros essa alegria.
A finalidade das JMJ é proporcionar o encontro pessoal com Cristo Ressuscitado que dá
sentido à vida e, assim, faz com que não nos deixemos vencer pelo desânimo nem pela
aparente derrota, mas dá-nos força para testemunhar a esperança e a alegria de ser
discípulo de Jesus Cristo. Na opinião do Papa João Paulo II “a finalidade principal das
JMJ é colocar Jesus Cristo no centro da fé e da vida de cada jovem, para que seja o
ponto de referência constante”.
ESTAMOS A CAMINHO
Ao longo dos anos, de Paris a Denver, de Manila a Roma, de Sidney a Colónia, foram
milhões os que responderam ao apelo e se puseram a caminho para se encontrarem em
Igreja, e assim celebrarem o Amor Maior que os une.
Agora, é Bento XVI que nos convoca para um “encontro pessoal com Cristo”, em
Madrid em Agosto de 2011, sob o tema “Enraizados e Edificados em Cristo, firmes na
fé” e nós, firmes na fé, estamos a caminho!
Que realmente as XXIV JMJ sejam uma caminhada com e em direcção a Cristo
Ressuscitado que dá sentido às nossas vidas.

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preparámos para ti.
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Julho/Agosto 2011
Santidade / O vosso Pai é Santo

Estão aí as Jornadas Mundiais da Juventude. De 16 a 21 de Agosto, centenas de


milhares de jovens em Madrid, e milhões em todo o mundo, terão oportunidade para
enraizar e edificar a sua fé em Cristo. Na caminhada de preparação para este evento que
temos vindo a fazer, vamos falar, este mês, do valor e da necessidade da santidade.

A palavra hebraica para «santo», qadôsh, está relacionada com o termo


“separação”,“tirar de algum lugar”. Ou seja, o judeu em processo de santificação é
aquele que é tirado/separado do mundo. É nesta linha que ressoa o grande apelo do livro
do Levítico “Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19, 2).
Jesus reformulou este apelo por «sede misericordiosos como é misericordioso o vosso
Pai» (Lc 6, 36). Ao fazer isso, Ele aponta não só a santidade como objectivo de todo o
cristão, sem excepção, mas afirma a santidade como o envolvimento misericordioso e
compassivo para com os irmãos.
A etimologia latina da palavra «santo», por outro lado, refere-se um estado de vida sadio
e feliz. E os santos não são mais que isso: são pessoas que na sua peregrinação sobre a
terra viveram uma vida sadia e feliz segundo os critérios do reino, tornando-se exemplos
de vida para nós.
Os santos foram aqueles que descobriram e viveram a verdadeira qualidade de Vida,
aquela vida em abundância de que Jesus nos falou, e que, por isso, são exemplos e
intercessores para nós que ainda peregrinamos na terra.
Os santos viveram o grande milagre do Amor. De certa maneira podemos dizer que ser
santo é fazer tudo por Amor a Deus e aos irmãos. O Amor é o grande milagre dos
santos. É o Amor incondicional a Deus e aos irmãos, que os santos viveram, que nós
devemos imitar e venerar. Ser Santos é participar na perfeição de Deus no Amor.

O caminho da santidade
A santidade não pode ser só obra de Deus em nós, aceite de forma passiva. Tem,
também, de ser uma busca e opção. Podemos ser santos porque Cristo é Santo e nos
comunica o seu Espírito Santo, santificador, mas, também, temos de querer ser santos,
lutar por isso com as armas que Deus põe ao nosso dispor.
Ser chamado à santidade é deixarmo-nos tocar por Deus Santo e aceitarmos mergulhar
no amor que Ele é. Deus é amor; ser santo é ser amor. A santidade é um caminho de
cumplicidade com o Espírito Santo, que nos desafia a sermos sempre mais e melhor. A
santidade cristã é uma fidelidade aos mandamentos, ou seja, ao mandamento do amor.
O cristão não se santifica porque cumpre uma lei, mas porque, unido a Jesus Cristo,
mergulha no Seu amor que o impele a envolver-se na sociedade que o rodeia. É neste
sentido que devemos entender o apelo do Papa João Paulo II, pregador incansável da
santidade, que disse: «Não tenhais medo da santidade, porque nela consiste a plena
realização de toda a autêntica aspiração do coração humano.»

O valor da santidade
O mundo de hoje, marcado por um crescente relativismo ético e uma acentuada
desvalorização de valores e referências sólidas, tem sede e necessidade de conhecer o
valor da santidade. A presença do Senhor na vida do cristão é um tesouro de valor
incalculável que a maior parte das vezes não é valorizado ou apreciado na sociedade de
hoje.
Caminhar na santidade significa praticar obras que agradam a Deus e dignificam os
irmãos. Fazer o bem e evitar o mal, com um coração alegre e sincero. A consciência
sincera, o andar com Deus, o agradar ao Senhor, tem um valor incalculável, inestimável
e surpreendente. A santidade é um princípio, um caminho, enfim, é uma banda larga, de
alta velocidade, que liga os nossos corações e as nossas orações aos ouvidos do Senhor
que por sua vez ouve os anseios e as tribulações dos nossos irmãos.
Assim, a santidade não é um luxo, mas uma necessidade, isso é, implica uma adesão
total e absoluta à pessoa de Cristo e à sua práxis. Trata-se de trilhar o caminho que o
próprio Jesus nos ensinou, caminho esse que muitos já trilharam e que continuam a
trilhar.
Na opinião do papa, «é preciso tornar o termo “santidade” uma palavra comum, não
excepcional, que não designa, sobretudo, heroicidades de vida cristã, mas que indica na
realidade todos os dias uma decidida resposta e disponibilidade à acção do Espírito
Santo».

É possível a um jovem ser santo?


Antes de mais relembro as palavras de João Paulo II, que dizia: «Não espereis por ser
mais idosos, para vos empenhardes no caminho da santidade! A santidade é sempre
jovem, como eterna é a juventude de Deus.»
Às vezes confundimos a santidade com as imagens que vemos nas nossas igrejas, santos
velhos, carrancudos, sérios… até, por vezes, pensamos que para ser santos devemos
refugiar-nos do mundo. O mundo em geral e a juventude em particular tem confundido
o sentido da santidade e por isso não a tem buscado.

Hiperligação
Para serem santos, não precisam de deixar de ser jovens. Ser santo não é ter a cara triste,
mas, pelo contrário, ser santo é ser alegre e feliz porque Deus nos fez assim alegres e
felizes e não podemos deixar de espalhar essa alegria e felicidade a quem se encontrar
connosco. Santo é aquele que tem a vida marcada pelas bem-aventuranças de Jesus. É
na santidade que está contida a paz, o amor, a alegria, a mansidão coisas que são
fundamentais para uma vida feliz e alegre.
Aprofunda o tema em www.audacia.org.
Outubro 2011
Geração “à rasca” versus geração coragem

Estamos a iniciar mais um ano escolar num tempo marcado por muita incerteza e por
muita insegurança, um tempo caracterizado por sucessivas crises que teimam em
acentuar-se cada vez mais. É um tempo de desafios que necessitará de muita coragem e
força de vontade. É um tempo que precisa de uma geração coragem que se afirme e se
oponha a uma geração “rasca” ou “à rasca”, que tem medo de enfrentar e vencer
desafios.
Essas foram as palavras de D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, na celebração
litúrgica da Bênção da Fitas dos Universitários de Lisboa, que propôs, em alternativa à
“geração à rasca”, uma desejável “geração coragem”.
Também, Ilídio Vale, treinador da Seleção Nacional de sub-20 (na foto), apelidou esta
equipa de futebol de “geração coragem”, e teve razões para isso. Sem nomes apelativos,
sem vitórias durante a preparação, desconfiança era mesmo a palavra mais ouvida,
porém, Portugal apenas caiu diante do Brasil, numa grande final em Bogotá, mas de
cabeça erguida e com o sentimento de dever cumprido. Foi uma geração coragem que
jogou com o coração e que, por isso, merece a nossa admiração.

GERAÇÃO À RASCA
Realmente existe uma geração (ou mais) à rasca.
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus filhos numa abastança caprichosa,
protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem à rasca são os que mais tiveram
tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada e nunca a sociedade
exigiu tão pouco aos seus jovens. Infelizmente – e durante anos – os pais acreditaram
estarem a fazer o melhor, o dinheiro ia chegando para comprar quase tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e valores de uma educação para a qual não havia
tempo, pois esse era todo para arranjar dinheiro. Depois veio a crise, o aumento do custo
de vida, o desemprego… que deixou tudo à rasca. É urgente o aparecimento de uma
geração coragem.

CORAGEM VEM DO CORAÇÃO


A palavra “coragem” deriva do latim coraticum (cor+aticum). Trata-se de uma
associação entre a palavra latina “cor”, que tem como um dos significados a palavra
coração, e o sufixo latino “aticum”, que é usado para indicar a ação da palavra que o
precede. Assim, coragem é fazer as coisas com o coração. Podemos dizer que a fonte da
coragem não pode estar na audácia dos riscos físicos, mas na pulsação daquele órgão de
onde emana, simbolicamente, a energia vital que possibilita enfrentar os desafios.
Coragem não é desafiar a vida, mas antes, potencializá-la, torná-la mais bela, mais
alegre e mais feliz. Assim coragem é pôr energia e vontade naquilo que se faz, é ter
firmeza de espírito, ânimo, valentia e perseverança. O valor da coragem está em nunca
desistir e acreditar que o que está para vir será sempre melhor. Uma geração coragem é
uma geração que ouve o que lhe diz o coração e que age com coração.

AGIR COM O CORAÇÃO


Agir com o coração é dizer sim a uma verdade maior, realista, alegre, exigente e até
mesmo contracorrente, mas que conduz à felicidade e evita uma vida de “escravidão”
que nos faz servir um poder que não tem rosto e onde em última instância se vive na
amargura, na tristeza e no desespero. Só agindo desse modo poderá emergir uma
geração “coragem” que substitui uma geração “à rasca” ou “rasca”.

OUVIR O CORAÇÃO
A geração coragem terá de ter a capacidade de sintonizar e ouvir o coração.
Recentemente, o Papa Bento XVI, na Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, na
praça Cibeles, falando aos jovens, alertava-os para essa necessidade: «Há palavras que
servem apenas para entreter, e passam como o vento; outras instruem, sob alguns
aspetos, a mente; as palavras de Jesus, ao invés, têm de chegar ao coração, radicar-se
nele e modelar a vida inteira. Sem isso, ficam estéreis e tornam-se efémeras… Queridos
jovens, escutai verdadeiramente as palavras do Senhor, para que sejam em vós “espírito
e vida”, raízes que alimentam o vosso ser… faminto de justiça, misericordioso, puro de
coração, amante da paz. Bem sabeis que, quando não se caminha ao lado de Cristo, que
nos guia, extraviamo-nos por outra sendas como a dos nossos próprios impulsos cegos e
egoístas, a de propostas lisonjeiras mas interesseiras, enganadoras e volúveis, que atrás
de si deixam o vazio e a frustração.»

PEDAGOGIA DO CORAÇÃO
A construção e o aparecimento de uma geração coragem pressupõem uma pedagogia
(um caminho) que retempera e fortifica, que dá coragem e valor, que eleva e dignifica.
Nesta pedagogia todos sabem que a vida é cheia de obstáculos mas, por mais atrozes e
por mais árduos que sejam, devem ser enfrentados com coragem.
Corajoso é aquele que nas suas relações afetivas não busca a fugacidade, mas a
permanência; que faz planos de vida vinculados a um projeto histórico e não à salvação
pessoal; que satisfaz a sua existência com a relação pessoal e não com o consumo
desenfreado.
Corajoso é aquele que recusa pertencer a uma geração rasca ou à rasca, mas que adere a
uma geração coragem, geração que busca superar completamente as suas crises através
de um caminho desconhecido, pavimentado pelo amor e orientado pelo coração.
Corajoso é aquele que, como dizia São João da Cruz, «se aventura por uma senda
escura: para chegar ao que não se sabe, há de ir por onde não se conhece».
Continua a reflexão em www.audacia.org.

Novembro 2011
O fundamental é simples

Vivemos num tempo complexo e cheio de contrastes. Contudo, acredito que existe uma
beleza infinita no valor da simplicidade.

Hoje em dia, sofisticamos relacionamentos e criamos etiquetas para viver em sociedade.


Gastamos horrores em celebrações vazias e extravagantes, estragando comida e
gastamos rios de dinheiro para adquirir bens supérfluos. Buscamos intensamente uma
vida sofisticada que nos proporcione imenso prazer. Queremos estar no topo e buscar
intensamente o prazer pelo prazer. Pagamos qualquer preço para sermos famosos e para
curtir a vida. Paralelamente, a simplicidade de vida atrai-nos e cativa-nos, deixando em
nós o desejo de a vivermos dia a dia.

PALAVRAS E AÇÕES
A palavra «simplicidade» é formada por duas outras de origem latina: sin, que significa
«um só», e plex, que quer dizer «dobra». Ser simples significa ter uma só dobra, ao
contrário do complexo, que tem várias. Simples é o que se dobra só uma vez.
Simplificar significa, então, facilitar o acesso ao que interessa, ao essencial, ao
importante. Da etimologia vem-nos o desafio e a tarefa de buscar a simplicidade
comprovando que a nossa felicidade está, no essencial, nos acontecimentos simples.

ÉS SIMPLES?
Uma pessoa simples é aquela que não simula, que não aparenta (em si, na sua imagem,
na sua reputação), que não calcula, que não tem artimanhas nem segredos, que não tem
segundas intenções, programas ou projetos escondidos.
Viver a simplicidade é o esquecimento de nós, do nosso orgulho e do nosso medo: é
quietude contra inquietude, alegria contra preocupação, ligeireza contra seriedade,
espontaneidade contra reflexão, verdade contra pretensão.
O simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem
falsidade.
O simples vive como respira, sem maiores esforços nem glória, sem maiores efeitos
nem vergonha.
A simplicidade não é uma virtude que se some à existência. É a própria existência,
enquanto nada a ela se soma. Por isso é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a
mais rara.
A simplicidade é o contrário da duplicidade, da complexidade, da pretensão.
A pessoa simples segue o seu caminho, de coração leve e com a alma em paz. O
presente é sua eternidade, e isso o satisfaz. Nada tem a provar, pois não quer parecer
nada; nada tem a buscar, pois tudo está ali.

SIMPLES E NÃO SIMPLÓRIO


Os simples resolvem a complexidade, os simplórios evitam-na. Conheço pessoas
altamente qualificadas, inteligentes, importantes, mas que são pessoas descomplicadas.
Conheço também pessoas simplórias, com pouca profundidade, com poucas ambições,
mas que são pessoas complicadas, para elas tudo é muito difícil, em geral impossível.
Ser simples não significa evitar o complexo, abrir mão da sofisticação, negar a
profundidade e contentar-se com o trivial. Ser simples, pelo contrário, significa olhar
com olhos limpos o enigma da complexidade e decifrá-lo muito antes de correr o risco
de ser por ele devorado.

A SIMPLICIDADE DE JESUS
Jesus foi uma pessoa simples, falou da simplicidade e viveu-a. Completamente diferente
dos líderes religiosos de sua época, Jesus andava no meio do povo, sentia o que o povo
sentia, não falava o nobre grego, ou o colonial latim, nem tampouco o patriótico hebreu.
Ele falava a língua do povo, o desprezado aramaico.
A simplicidade de Jesus era tão marcante que cativava gentes de todas as classes sociais.
Nós precisamos de aprender com Jesus a ser humildes e mansos de coração; a chorar
com os que choram; a levar as cargas e não os cargos uns dos outros; a abençoar os que
nos amaldiçoam; a amar os que nos odeiam; a repartir o pão, o espaço, a fé, a alegria
com os mais necessitados, a verdade com os que vivem no erro, a convicção com quem
vive de opinião.
São Tomás de Aquilo disse que «Deus é infinitamente simples». Acredito, como ele, que
a simplicidade não só é uma virtude e um modo de vida, mas, também, uma
espiritualidade. A simplicidade é a sabedoria dos santos.

UMA ESPIRITUALIDADE DA SIMPLICIDADE


A virtude da simplicidade educa-nos na capacidade de vivermos sintonizados com a
verdade, a sinceridade e a transparência. Ao longo da História foram várias as pessoas
que chegaram à santidade trilhando o caminho da simplicidade. Eis alguns traços dessa
espiritualidade:
– Ser desapegado, não acumular coisas, fazer uso racional das posses, doar o que não se
necessita.
– Ser assertivo: ir direto ao assunto com naturalidade, mesmo que seja para dizer não,
sem medo de dececionar, não enrolar nem sofisticar o vocabulário desnecessariamente.
– Ver a beleza em tudo: numa flor, numa criança, no mar, enfim em toda a criação.
– Ter bom humor: ser capaz de rir-se de si próprio e, mesmo diante das dificuldades,
fazer comentários engraçados, reduzindo os problemas à dimensão do trivial.
– Ser honesto: considerar a verdade acima de tudo, pois ela é sempre simples e, ainda
que possa ser dura, é a maneira mais segura de se relacionar com o mundo.
– Ser confiante: confiar em si, nas pessoas que o rodeiam e, sobretudo, em Deus.

«Simplificar é facilitar o acesso ao que interessa»

«O simples não simula nem aparenta, é, simplesmente»

Dezembro 2011
A arte de escutar

Ao olharmos para a Família de Nazaré, reconhecemos o valor da escuta no modo como


viveram. Neste mês de dezembro, olhamos, de maneira particular, para esta família.

Todos – Jesus, Maria e José –, cada um à sua maneira, se escutaram uns aos outros e,
sobretudo, escutaram Deus. Saber escutar foi realmente uma virtude desta família que
nós devemos imitar. Temos de aprender a escutar Jesus, e escutar Jesus é estar
permanentemente atento à Vontade de Deus, que se manifesta em primeiríssimo lugar
através da sua Palavra, mas também por meio dos acontecimentos, dos conselhos que
recebemos e dos pedidos que nos fazem as pessoas que nos rodeiam.

ESCUTAR É MAIS DO QUE OUVIR


Primeiro que tudo, é importante distinguir estes dois verbos: ouvir e escutar. Há uma
diferença significativa entre ouvir e escutar. Ao ouvirmos uma música, ela entra pelos
nossos sentidos, o nosso corpo vibra, a nossa mente voa e pode, inclusive, focar-se
noutra coisa, ou seja, ouvir permite que a atenção seja dividida. Ora, é nisso que se
diferencia de escutar. Escutar requer atenção concentrada.
Quando escutamos a mesma música, percebemos a riqueza da sua melodia com a
harmonia e, principalmente, a mensagem que o autor comunica.
Ouvir é função natural do aparelho auditivo, os sons entram sem pedir licença. Mas
escutar é outra coisa: a escuta envolve atenção, interesse, disposição, exige silêncio
interior, silenciar as vozes da nossa mente para assimilarmos, entendermos e acolhermos
a mensagem que vem do outro.

«Escutar envolve interesse, exige silêncio interior.»

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1 Powerpoint
e 1 Ficha de Trabalho
sobre a ARTE DE ESCUTAR

ESCUTAR… PRECISA-SE
Na nossa vida agitada é difícil criar tempo para falar e escutar em família. Longe vão os
tempos em que a família se reunia depois do jantar para longos diálogos até à hora de
dormir. Falava-se das ocorrências e das azáfamas do dia, contavam-se histórias e
anedotas, rezava-se e jogava-se em família. Hoje há menos tempo! Liga-se a televisão
ao chegar a casa, janta-se a ouvir as notícias, passa-se tempo infinito ao computador e
ao telemóvel.
Muitos dos problemas relacionais e familiares devem-se à falta de diálogo e de escuta.
Mau humor, nervosismo, irritação, ira e, sobretudo, a necessidade de ter razão a todo o
custo complicam terrivelmente a escuta. Em certos lares fala-se e grita-se demais, mas é
um diálogo de surdos, todos falam, mas ninguém escuta, ninguém percebe o ponto de
vista dos outros. Quase todos queremos «ser escutados» e, provavelmente, este é um
sinal de que quase ninguém sabe escutar.

INCLINAR-SE E APLICAR OS OUVIDOS


Escutar vem do verbo latino auscultare, cujo significado literal é inclinar-se para
aplicar/dar ouvidos. Assim, escutar é ouvir com atenção e estar consciente do que se
está a ouvir. A imagem do que faz um médico ao examinar o paciente pode ajudar-nos a
visualizar muito bem a ideia do que realmente é escutar. Escutar deve ser, então, prestar
a máxima atenção a cada pormenor. É gesto volitivo, isto é, que depende diretamente da
nossa vontade, pelo que requer uma decisão prévia e um esforço consciente e tenaz.

ESCUTAR É OUVIR COM O CORAÇÃO


São Bento usou uma expressão que nos pode ajudar a perceber como se faz uma escuta
autêntica: «Abre o ouvido do teu coração.» São Bento queria dizer que a escuta não se
faz apenas com o ouvido exterior, mas, sobretudo, com o ouvido do coração.
A escuta não é apenas a recolha do discurso verbal. Antes de tudo é atitude, é inclinar-se
para o outro, é confiar-lhe a nossa atenção, é mostrar disponibilidade para acolher o dito
e o não dito, o entusiasmo da história ou a sua dor, mais ou menos sussurrada, o
sentimento de plenitude ou de frustração. E fazer isto sem paternalismos e sem cair na
tentação de se substituir ao outro.
Escutar é oferecer um ombro onde o outro possa pôr a mão para rapidamente se
levantar.
Escutar é colaborar amigavelmente num processo de discernimento cuja palavra
derradeira cabe sempre à liberdade do próprio.
Mas podermos ser escutados, até ao fundo e até ao fim, abre, só por si, horizontes mais
amplos do que aqueles que sozinhos conseguiríamos avistar e relança-nos no caminho
da confiança.

ESCUTAR É ENTREGAR-SE
É muito gratificante sentir-se escutado. Por isso, temos de dar oportunidades ao outro
para se expressar, para se sentir compreendido, e para isso temos de guardar silêncio,
externo e interno. Calar, em algumas ocasiões, não é fácil, e escutar pressupõe sempre
pôr-se no lugar do outro, saber por que se dizem as coisas, captar os seus sentimentos.
Escutar uma pessoa é valorizá-la como ela merece.
Existe em cada um de nós esta necessidade fundamental de sermos acolhidos,
compreendidos, amados, tal como realmente somos, com a nossa história pessoal, com o
nosso ambiente cultural, com os nossos sofrimentos e alegrias. Ser escutado como
pessoa é uma necessidade fundamental para que cada um de nós encontre o seu
equilíbrio emocional, psicológico, espiritual.

«Abre o ouvido do teu coração.»

Janeiro 2012
O valor da oportunidade

Ao iniciar mais um ano, as manifestações da crise bombardeiam-nos constantemente.


Deixam-nos um pouco à deriva no imenso mar das lamentações, sem um porto seguro
onde atracar.

Hoje, talvez nos falte o valor e o sentido da oportunidade, isto é, um porto seguro onde
atracar e, assim, nos abrigarmos das intempéries/crises. Crise refere-se a uma realidade
que está a mudar rapidamente e que nos deixa perplexos e impreparados para enfrentar
o futuro.
A palavra «crise» sugere uma situação trágica, triste e cruel resultado de uma rutura do
equilíbrio e harmonia, provocando um estado de dúvidas e incertezas. Ninguém deseja
passar por uma crise, mas, às vezes, ela é inevitável e, quando aparece, precisa de ser
enfrentada. Mas isto não é nada de novo… Já enfrentámos, ao longo da História, várias
crises, aliás o mundo esteve permanentemente em crise, pois pertence à sua natureza…
Foi o Big-Bang, a evolução das espécies, a conservação do fogo, a invenção da roda, a
teoria heliocêntrica, o computador, a Internet… crises que abriram espaços de acaso, de
incerteza, e perante as quais as pessoas se foram adaptando. Estamos, pois,
constantemente em crise, porque a nossa identidade é dinâmica e narrativa: faz-se,
desfaz-se, refaz-se... Crise – do grego krísis – significa, pela sua etimologia, um
momento decisivo, uma emergência, um risco, mas, simultaneamente, uma
oportunidade de mudança.

A HUMANIDADE E A CRISE
A crise é inerente à condição humana. A primeira crise é a do nascimento. O bebé
praticamente é expulso do ambiente confortável do ventre materno. Fala-se do primeiro
trauma, mas é a condição de possibilidade de conhecer os pais e admirar o mundo e
crescer e construir uma história. A seguir vem a crise da adolescência. Dá-se uma
reconfiguração do cérebro do adolescente, que, perante a turbulência das emoções,
ainda não está maduro para ser seu dono. Já não é criança, mas ainda não é adulto,
constituindo essa crise uma oportunidade para crescer e tornar-se adulto. Depois vem o
casamento e todos já ouvimos falar da crise dos casamentos, momentos que podem
fazer nascer um amor mais maduro… E, por fim, as crises da terceira idade e as
mudanças e limitações inerentes à velhice. O ser humano está permanentemente em
crise e isso é uma oportunidade de mudança.

CRISE A RIMAR COM OPORTUNIDADE


Algumas pessoas usam constantemente a palavra «crise» para mascarar e camuflar a
falta de esforço e perseverança, o comodismo e, principalmente, a resistência em aceitar
mudanças. Fala-se em falta de oportunidades, mas as oportunidades não caem do céu,
elas são, sempre, resultado proveniente do investimento e empenho nas nossas
habilidades e talentos. As oportunidades acontecem para quem procura e investe em si
mesmo.
A origem da palavra «oportunidade» está ligada à arte de navegação, vem do termo
latino opportunus, que significa favorável, adequado, desejável. E a raiz é obportus, que
significa para o porto, o que muitas vezes era mais que necessário em tempos de
navegação precária. Oportunidade é, assim, um momento propício para se rever, crescer
e avançar. Oportunidade é passar por um porto e fazer desse porto, sempre provisório,
uma porta para uma viagem melhor, mais bem sinalizada e mais segura.

OLHAR NUMA NOVA PERSPETIVA


A crise chega de surpresa, nunca a esperamos. Contudo, antes da sua eclosão,
normalmente surgem alguns sintomas, que quase sempre são ignorados.
Instalada a crise, pode trazer desânimo e perda da vontade de prosseguir, mas, também,
pode dar-nos a oportunidade para vermos a realidade numa perspetiva diferente. A crise
desafia-nos a sermos criativos, encontrando novas rotas para ultrapassar os problemas,
por isso, quanto mais vencermos as crises, mais criativos nos tornamos.
Diante das conquistas e triunfos, as pessoas são tentados a esquecer que são frágeis
mortais, sujeitos à queda e ao fracasso a qualquer momento. Somos limitados, somos pó
e esquecer isso é um dos graves erros que não se podem cometer. Quando esquecemos
esta verdade, a crise força-nos a reconhecer a nossa estrutura fragilizada.
Mudar é doloroso e traz insegurança, todavia é necessário. Temos a tendência para nos
acomodar e nos conformar com a situação, e isto não é nada bom. Crescer é o nosso
objetivo e as situações conflituantes são as melhores e eficazes formas para se conseguir
tal objetivo.

CRISE E DEPENDÊNCIA DE DEUS


Fomos criados por e para Deus, e a vida humana não tem sentido longe do Criador.
Diante dos avanços científicos, tecnológicos e económicos em que a inteligência
humana se torna evidente, o ser humano é tentado a afastar-se de Deus, confiando na
força e capacidade humanas. Deus já não faz parte da vida de muitas pessoas e, em
crise, elas viram-se para Deus e reconhecem que sem Ele não podem viver.

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sobre o valor da OPORTUNIDADE

«Crise é, simultaneamente, risco e oportunidade.»

«Quanto mais vencermos as crises, mais criativos nos tornamos.»

Fevereiro 2012
O valor da harmonia

No dicionário, harmonia é «combinação de elementos diferentes e individualizados, mas


ligados por uma relação de pertinência que produz uma sensação agradável e de prazer e
ausência de conflitos».
A harmonia é muito procurada atualmente, sobretudo quando impera em tantos de nós a
dispersão, a fragmentação, a irritação e, em consequência, a infelicidade e o sofrimento.
Frequentemente, quando somos atormentados por estes sofrimentos, não só os
limitamos a nós, mas também os transmitimos (ou passamos) aos outros, aumentando,
assim, a desarmonia à escala mundial. Cientistas da física quântica, como Max Planck,
Niels Bohr, Werner Heisenberg, afirmam que nós, ao observarmos um fenómeno, não
somos só observadores, mas também coparticipantes dele, e que, com a nossa
consciência, podemos influenciar todas as energias do Universo. Acredito que
necessitamos urgentemente de restabelecer a harmonia nos mais variados níveis:
pessoal, social e cósmico, e isso vai necessitar do contributo de cada um de nós.

HARMONIA DO UNIVERSO
Desde muito cedo, os nossos antepassados descobriram a necessidade e a beleza da
harmonia. Na mitologia grega, a harmonia era honrada como a deusa que promovia a
conjunção das forças opostas. Os gregos chamavam à harmonia do Universo kósmos,
cuja ideia fundamental era a da «beleza, ordem, arranjo». Também os romanos
chamavam ao Universo mundus, que quer dizer «puro». Ambos viam o Universo como
uma harmonia cheia de beleza e de pureza. A palavra «cosmos» incorpora ainda a ideia
de «adorno». Daí provém a palavra portuguesa «cosmético»: o que embeleza, e que tem
como antónimo caos, abismo, feio, como era tudo antes de Deus criar as primeiras
coisas, segundo a Bíblia.

DEUS GARANTE A HARMONIA


Einstein, um grande físico quântico e responsável pela teoria da relatividade, dizia:
«Creio em Deus que se revela na harmonia ordenada do Universo.» Na cultura bíblica,
Deus é o garante da harmonia e o foco de onde emana toda a ideia de justiça,
solidariedade e amor, garante da harmonia universal, da comunhão e da fraternidade.
Para sermos realmente irmãos, é necessário um pai comum, e esse pai só pode ser Deus.
Deus criou-nos para a harmonia e para a paz como nos é relatado, de forma mítica, pelo
autor do livro do Génesis, mas a teimosia do homem, a de ontem e a de hoje, continua a
criar desequilíbrios e ruturas…
Exploramos o solo para o sustento de milhões de pessoas e, quando este não é tratado
adequadamente, fica infértil e é abandonado como algo imprestável; fazemos mau uso
dos rios e transforma-los em verdadeiros esgotos a céu aberto, matando toda a forma de
ser vivo que lá exista; disputamos alguns quilómetros de terra com outros povos,
matando-os pela força da destruição e uso inadequado da mente... Enfim, vivemos no
mundo como verdadeiras e perigosas feras em busca de bens terrenos para acumularmos
riquezas e fortunas e esquecemo-nos de viver em harmonia de amor, compreensão e
bondade para com o nosso próximo.

A PERDA DA HARMONIA
Deus criou-nos numa relação harmónica. A harmonia interior de cada pessoa, a
harmonia entre homem e mulher e a harmonia entre toda a criação foi um desígnio de
Deus no ato de criar.
Porém, devido à desobediência humana, a harmonia oferecida foi destruída. Por isso, há
toda a espécie de males no íntimo das pessoas, nas relações interpessoais e na gestão
dos bens da Natureza. Então, tornou-se necessário restabelecer essa harmonia perdida. E
essa foi a missão de Jesus Cristo.
A PROPOSTA DE JESUS
Jesus anunciou e proclamou o Reino de Deus, um novo paradigma de vida enraizado
nos ideais de liberdade, fraternidade, justiça e harmonia. O Reino de Deus anunciado
por Jesus remete-nos para um estado de paz, harmonia e plenitude, como relatado pelo
profeta Isaías: Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado
do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca
pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o
boi. A criancinha brincará na toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na
toca da serpente (Is 11.6-8). O sentido mais profundo desta harmonia e plenitude
encontra-se na relação entre as diferenças de cada indivíduo: será um tempo onde as
diferenças de personalidades, hábitos e princípios não serão motivos de divergências e
desunião, pois a unidade estará na essência e não na forma. Esse reino começa já no
interior de cada um de nós na medida em que o vivemos e o propomos aos outros.

O DESAFIO DA HARMONIA
Criar harmonia no quotidiano é uma tarefa estimulante e motivadora. E criar harmonia
só é possível quando compreendemos que somos sujeitos amorosos, em busca de paz
com os outros, connosco, com o mundo e com a Natureza.

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sobre o valor da HARMONIA

«O antónimo de harmonia é caos, abismo, feio.»

«Creio em Deus que se revela na harmonia ordenada do Universo.»

Março 2012
Credibilidade

Nunca como hoje se falou tanto em credibilidade, crédito, débito, confiança, défice e
dívida… A credibilidade foi sempre um atributo essencial nos mais diversos tipos de
relacionamentos.

Podemos afirmar que uma pessoa é digna de crédito quando ela consegue estabelecer
relações interpessoais que inspiram confiança. Vale a pena lembrar que estes termos
nasceram no interior da Igreja Católica e por analogia à nossa relação com Deus.
A palavra «crédito» vem do latim creditus (do verbo latino credere: crer), e significa
«coisa confiada». Assim, «crédito», na sua origem, significa, entre outras coisas, confiar
ou ter confiança. Credibilidade é definida como qualidade de ser crível, acreditável.

CRÉDITO E DÉBITO
Considera-se crédito o direito que tem uma pessoa (credor) a receber de outra um débito
(devedor). Ter débito ou estar em débito significa estar em dívida; e estar com crédito
significa estar com saldo positivo. Esta teoria dos débitos e créditos nasceu no século
XV. E foi criada por um monge franciscano chamado Luca Pacioli para auxiliar os
comerciantes e negociantes de Veneza, que precisavam de gerir as suas economias
crescentes. A partir daí, o mundo nunca mais deixou de usar estes conceitos.
Aplicando os conceitos de crédito e débito à vida, podemos afirmar que o crédito, ou a
credibilidade, é a capacidade de gerarmos confiança à nossa volta. É sempre bom ter
credibilidade, com os amigos, com a família, com os professores, enfim, com o mundo
que nos rodeia. É sempre bom acumular créditos e ter credibilidade, pois nunca
sabemos quando vamos precisar dela. Contudo, não podemos ignorar o cuidado que
devemos ter no seu uso, pois, para construí-la, é necessário anos de esforço, dedicação e
renúncias; mas, para perdê-la, às vezes, basta um gesto, uma palavra, uma atitude.

DÉFICE DE CRÉDITO
A recente crise financeira global obriga as pessoas a prestarem muita atenção ao crédito.
Quando o crédito era fácil de conseguir, algumas pessoas tornaram-se descuidadas e
abusaram dele, não economizando e considerando ter dívidas como uma coisa normal.
O problema surgiu quando tiveram de as pagar e não conseguiram e lá se foi a
credibilidade. Atualmente, e devido à crise de crédito e credibilidade, ter um bom nome
como credor, ter credibilidade, tornou-se subitamente muito importante. Essa atual crise
de crédito e credibilidade financeira alastra-se, também, ao mundo das relações: quantas
vezes as pessoas que nos rodeiam e, sobretudo, aquelas que exercem responsabilidade,
perdem credibilidade e crédito. Torna-se, assim, urgente recuperar a credibilidade, não
só financeira, mas sobretudo a humana.

REVER AS CONTAS
Ao fim de cada dia, todos devíamos fazer uma análise de como vivemos, daquilo que
fizemos em prejuízo ou benefício do próximo, e em nosso próprio prejuízo ou benefício,
isto é, fazermos um registo, um balanço, entre os débitos e os créditos. Fazer este
balanço (outro nome é exame de consciência) não é fácil, porque, quase sempre,
tentamos ocultar de nós mesmos os nossos débitos. Vamos sempre empurrando para
longe, para os outros, as responsabilidades, os débitos, que são obviamente nossos. Mas
só na medida em que formos transparentes e honestos é que nos podemos conhecer,
assumir as nossas falhas e, consequentemente, fazer os necessários acertos e correções.

PRESTAR CONTAS…
Não foi à toa que Jesus Cristo, um dia, falou da necessidade de o administrador prestar
contas da sua administração. Quando pensamos em administração, não é apenas a
administração de negócios, de dinheiro, mas, num sentido amplo, é a administração da
nossa vida, o dia a dia, na família, na escola, no grupo de amigos, e, se não soubermos
administrá-la bem, certamente contrairemos débitos. Deus concede-nos muitos créditos,
muita credibilidade, mas um dia também nos perguntará como é que a administramos.
Lembra-te que a credibilidade abre muitas portas, inclusive aquelas que, por vezes, o
dinheiro não pode comprar e que a credibilidade é um facilitador de relações,
estreitando relacionamentos e solidificando a confiança. Por fim, a credibilidade traz
resultados a curto, médio e longo prazo, facilita o presente, enobrece o passado, além de
deixar uma bela herança para o futuro.

A NOSSA CREDIBILIDADE
A credibilidade não pode ser comprada nem emprestada. Precisamos de construir a
nossa. A credibilidade resulta da capacidade de gerar confiança. A maneira de ganhar
credibilidade é viver honradamente. É justamente na arte de viver e na esfera dos
relacionamentos que reside o cerne da questão da credibilidade.

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sobre o valor da CREDIBILIDADE

«Credibilidade é a capacidade de gerar confiança.»

«A credibilidade não pode ser comprada.»

Abril 2012
Convívio contra isolamento

Estive com um grupo de 150 alunos na comunidade ecuménica de Taizé, França.


Partilhámos a fé e a alegria com outros jovens de vários países e de outras confissões
cristãs. Vários alunos abordaram-me, dizendo que gostariam de ficar mais algum tempo,
porque «gostavam de conviver com outros jovens».

A palavra «convívio» deriva do latim cum e vivere, e significa «viver com» ou «viver
junto de». Trata-se, assim, da capacidade de vivermos bem na presença uns dos outros
sem termos de perder as nossas especificidades. Convívio é, então, a capacidade de
vivermos lado a lado, cada um satisfatoriamente para si, sem tentar suprimir as
diferenças um do outro, mas onde eu tenho um respeito absoluto pelo outro, um sujeito
como eu de pleno direito e dignidade.
No convívio pode haver interação, desde que não forçada por uma das partes, e pode
acontecer, inclusive, redução das diferenças e/ou assimilação de traços do outro, desde
que voluntária, isto é, que seja do outro a iniciativa de se modificar, jamais forçada ou
induzida por qualquer meio que viole de qualquer modo e em alguma medida a
liberdade e a consciência do outro.

Dificuldades no convívio
O maior obstáculo para o convívio é o isolamento. Este leva, mais cedo ou mais tarde,
ao egoísmo. O ser humano está hoje mais egoísta do que nunca, talvez por não se sentir
bem nesta sociedade altamente materialista. Então, isola-se cada vez mais, e chega,
inevitavelmente, ao egocentrismo e ao egoísmo.
Apesar de vivermos num mundo globalizado, onde tudo é próximo, a solidão aumenta a
olhos vistos. Os homens vivem perto uns dos outros, mas estão sós. É uma estranha
vizinhança. Perante isto, não é de admirar que surja uma necessidade urgente de
convívio, de vivermos juntos, de comunidade, e é para aí que temos, inevitavelmente, de
evoluir, pois só essa atitude produzirá a nossa realização e felicidade, pois, enquanto
humanos, somos seres de e para a relação.

Ânsia de relacionamentos
As relações interpessoais e o convívio evocam em nós a convivência pacífica e fraterna
que marca a história de homens e mulheres de todos os tempos.
Somos espelho uns dos outros. Nesse sentido, o outro tem características semelhantes às
minhas, problemas mais ou menos idênticos, sentimentos, dores e alegrias análogos.
Penso que o sinal de evolução de uma sociedade e de uma civilização passa pela
capacidade e grau de uma sã convivência. Sendo assim, andamos pouco conscientes do
que realmente somos, do que queremos ser, para onde queremos ir… andamos como
perdidos, adormecidos, resumindo, inconscientes da importância do convívio. A viagem
mais importante que podemos fazer na vida é encontrarmos pessoas pelo caminho e
com elas fazermos caminhada. É urgente repetir isto até que seja entendido: o convívio
não é um acréscimo para sermos perfeitos, é a essência do ser humano. O ser humano,
como indivíduo solitário, não é pessoa, mas só quando vive em comunidade e para a
comunidade, quando serve a alguém, quando ama alguém. Só então é que nasce como
ser humano.

A convivência humana
O grande desejo de Jesus Cristo para a humanidade é a capacidade de vivermos em
comum e em harmonia. O cristão é chamado a organizar-se e a viver em comunidades
fraternas. O saudável convívio – a fraternidade – é o grande projeto de Deus para cada
um de nós. A fraternidade é uma vida nova e criativa com Deus que se realiza mediante
uma convivência harmoniosa entre nós, a natureza e Deus. O grande tema de todos os
tempos e de todas as gerações, a ser buscado constantemente, sem nunca ficar resolvido
por completo, é o tema da convivência humana entre as pessoas; por outras palavras, é o
tema das relações fraternas entre os povos. Assim, o convívio é a passagem da
desigualdade à igualdade, da desunião a união, do individualismo à comunhão fraterna.

A valorização do outro
O convívio é também a valorização do outro, enquanto igual em dignidade e respeito.
Posso aperceber-me de que o outro é diferente de todos os que existiram antes e
existirão depois. Com o tempo, chegarei a conhecer também as suas possibilidades mais
recônditas. Conheço-o, não só pelo que é, mas também pelo que pode e deve ser, como
poderia ser a sua perfeição e a sua autêntica autorrealização. Tenho a capacidade de o
amar e, quanto mais crescer o meu amor, mais desejarei que o outro seja o melhor e o
mais perfeito possível, em suma, que se realize ao máximo; e assim estarei preparado
para o ajudar a realizar-se. Vejo, com uma clareza cada vez maior, que a minha
autorrealização pessoal consiste em ajudar o outro a realizar-se. E isso é o convívio.

Maio 2012
Mãe(ternidade)

Dia 6 deste mês é Dia da Mãe. É uma oportunidade para refletirmos sobre o valor e a
dignidade da maternidade na sociedade contemporânea que promove direitos e
liberdades, mas que evita definir as responsabilidades.

O costume de dedicar um dia por ano a honrar a mãe remonta à Antiguidade romana.
Nesse dia, as mães eram levadas ao templo e coroadas de rosas. No século passado, nos
Estados Unidos da América, Anna Jarvis, abalada com a morte da mãe, iniciou um
movimento para comemorar o Dia da Mãe em toda a América. A ideia foi aprovada em
1913 e, depois, inúmeros países, entre eles Portugal, tomaram a mesma decisão. Em
Portugal, durante muitos anos, o Dia da Mãe foi celebrado no dia 8 de dezembro, festa
da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, tendo mudado depois para o primeiro
domingo de maio.

Ser mãe…
A vocação de mãe é uma vocação de serviço e de amor. Pela maternidade, a mulher
participa no poder divino de transmitir a vida. A força do amor materno deve-se, em
parte, à união de sangue entre mãe e filho durante a gravidez e que depois continua na
amamentação. Desde que a mulher se torna mãe, já não espera nada para si; começa
uma vida nova e a sua alma, a partir desse instante, já não vive para o seu próprio amor.
No filho encontra o sentido da sua vida, o seu único tesouro e a sua última plenitude, a
alegria do seu coração, a alma da sua vida e a coroa da sua esperança. Por tudo isso, ser
mãe é algo que só pode ser entendido por quem sabe dar o devido valor para o que
representa gerar vida em amor. Mãe é símbolo de força, dor, sofrimento, alegria, paz,
com uma capacidade especial, dada por Deus, para cuidar dos filhos desde dentro de seu
ventre até o fim de seus dias.

Os valores da maternidade
A mulher possui qualidades que facilitam e incentivam a maternidade: ternura,
suavidade, capacidade de escutar e de mostrar o carinho de maneira imediata e sensível,
o detetar as necessidades do outro, o saber reconhecer aquilo que é peculiar e próprio de
cada pessoa, o aceitá-las como são, o ver as pequenas coisas concretas que fazem a vida
diária agradável, o atender a essas coisas pequenas, que são tão necessárias para que o
lar seja humano e íntimo. O acolhimento ao outro, a misericórdia sem limites, a abertura
a todos, a preferência pelo mais fraco, o servir a cada um como se fosse o único, o amor
incondicional e desinteressado são alguns valores que estão associados, também, à
maternidade.

Obstáculos à maternidade
Em meados do século xx, o feminismo e a revolução sexual, aliada à difusão dos
métodos anticoncetivos e à descriminação do aborto em alguns países, influíram na
construção de uma identidade e condição feminina cada vez mais separada da
maternidade. O filho, para muitas mulheres, transforma-se num obstáculo para a
realização pessoal, impossibilitando ou dificultando o êxito em várias áreas como o
trabalho, o estudo, a participação social, o divertimento, a política, etc. Os conceitos de
mãe e de mulher excluíram-se mutuamente: ou se é mãe ou se é mulher.
Um dos problemas que hoje se observa é que, embora se tenha superado, em grande
parte, a histórica desigualdade entre o homem e a mulher, promove-se a rivalidade entre
ambos, o que, somado ao individualismo predominante, transformam a maternidade em
algo que deve ser retardado ou até mesmo renunciado. Face a esta mentalidade, torna-se
urgente a reconciliação entre estes dois conceitos (mulher e mãe) na sociedade pós-
moderna e a consequente dignificação e valorização da maternidade se quisermos
assegurar o futuro da sociedade.

Valorizar a maternidade
A Bíblia nunca ordena que todas as mulheres devam ser mães. Contudo, diz que aquelas
que o Senhor abençoa e se tornam mães devem tomar seriamente tal responsabilidade.
Deus quer que as mulheres não desprezem o presente que receberam de Suas mãos, mas
que valorizem e se alegrem todos os dias pelo dom da maternidade e trabalhem para que
os seus filhos também sejam motivo de honra e alegria para si e para Deus.
Antigamente ser mãe era «natural», ou seja, a maternidade era vista como a principal
função e identidade a ser desejada pelas mulheres. Contudo, nos nossos dias, ter uma
carreira ou atividade passou a ser esperado das mulheres e pelas mulheres atirando para
segundo plano a maternidade.
É urgente valorizar as mulheres que decidem ser mães, protegendo-as com
comportamentos e leis que permitam simplificar e dignificar a sua missão. Ao fazermos
tal, estamos a valorizar, também, os pais, os filhos, e a sociedade que amanhã vai ser
habitada pelas crianças de hoje – que na família vão encontrar a primeira base para se
tornarem bons cidadãos e cristãos.
Junho 2012
Retidão

Muitas pessoas não norteiam nem orientam as suas ações pela retidão. Pelo contrário,
vivem no reino do vale tudo.

Vivemos numa época em que muitas pessoas vivem no reino onde não existe nem bem
nem mal, onde é tudo igual, no reino onde é melhor parecer do que ser: para muitos
copiar, roubar, fingir, enganar…, desde que não se seja descoberto, compensa. É o reino
onde os fins justificam os meios e onde viver maquiavelicamente até parece rendível e
útil para não dizer premiado. Investe-se mais no parecer do que no ser… reto, íntegro,
honesto. Viver em (e com) retidão já não é um valor ou uma conduta de vida que se veja
por aí e a que se aspire.

Retidão é…
A palavra «retidão» é muito interessante e singular e está relacionada com outras
palavras como «integridade», «consciência», «honradez», «probidade, «seriedade» e é,
sobretudo, um atributo de Deus. Ser reto é levar uma vida sempre buscando o bem,
tanto próprio como do próximo, não cultivar o desejo de fazer o mal, de prejudicar os
outros, nem buscar o benefício pessoal à custa de outrem.

A falta de retidão
Não só o mundo mas também os cristãos são afetados pela falta de retidão. Muitos
cristãos acham que ser cristão se resume a afirmar ter fé em Jesus Cristo, frequentar a
igreja, e «colecionar» sacramentos… A Palavra de Deus mostra-nos que o padrão de
Deus para a vida dos crentes não se resume ao cumprimento de algumas regras, mas,
sim, a uma vida de integridade e retidão. Na Bíblia, Job é o modelo de retidão, pois é
elogiado por ser um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Deus
ama a integridade e a retidão e tem promessas grandiosas para quem cultiva essas
virtudes.

A busca da retidão
A busca da retidão é uma dimensão fundamental e transversal a toda a humanidade. No
Antigo Testamento, Deus sempre desafiou o povo de Israel a um caminho de retidão
para a construção de uma sociedade mais justa. Houve muitos atropelos à retidão, mas
sempre existiram homens capazes de a preservarem e a proporem. Os próprios castigos
eram pedagogia para fazer voltar o povo aos caminhos da retidão. O povo tinha
consciência da precariedade desse esforço humano e esperava, num futuro que a Deus
pertencia, o verdadeiro «reto e justo». Isso cumpriu-se na pessoa e na mensagem de
Jesus Cristo. Jesus não só foi reto como propôs o caminho da retidão para os seus
seguidores.

Retidão: o caminho de Deus


Nas diversas situações com que nos deparamos na vida há um caminho certo e um
caminho errado que podemos seguir. Se escolhermos o caminho certo, sem dúvida o
mais difícil e o mais exigente, seremos fortalecidos pelos princípios da retidão e
experimentaremos a felicidade; se, pelo contrário, escolhermos o caminho errado, o
mais fácil, não teremos as promessas e a força de Deus, ficaremos sozinhos e estaremos
condenados ao fracasso e à infelicidade. Mas como saber qual o caminho certo? O
Espírito Santo ilumina a nossa mente e o nosso entendimento para compreendermos e
agirmos na retidão. Essa é a forma pela qual Deus nos ensina a distinguir o certo do
errado. Se estamos dispostos a aprender os seus caminhos e a segui-los, nunca teremos
de adivinhar, mas sempre saberemos com certeza a diferença entre o certo e o errado.

Retidão aumenta a fé e a esperança


Viver na retidão é construir a esperança. Deus nunca abandona nem desilude os filhos
que trilham os seus caminhos. Podemos enfrentar dificuldades, problemas de saúde,
dificuldades financeiras, dificuldades nos estudos, solidão, angústia, incompreensão…
mas a vivência da retidão é, por incrível que pareça, a solução e o meio para os
ultrapassarmos.
Encontramos muita alegria quando nos esforçamos para viver retamente, não só dentro
de nós como à nossa volta, nos nossos irmãos. Em termos simples, o plano de Deus para
os seus filhos consiste em fazer tudo para que os seus filhos sejam felizes e que estes,
por sua vez, através de uma conduta reta, ajudem também os seus irmãos a serem
felizes. Nenhum outro sentimento pode trazer mais alegria e felicidade à alma do
homem do que a certeza de estar a fazer tudo para ser reto.

Retidão rima com proteção


Num mundo cheio de falsidade, hipocrisia e fingimento, onde podemos ancorar a nossa
segurança e proteção? Não há segurança e proteção a não ser naquilo que é reto. Não há
local de refúgio. Não há paredes que nos mantenham afastados do mal e das suas
consequências. Não há defesa contra o incerto e o desconhecido, a não ser a retidão. A
retidão é o único caminho.
Se quiseres aprofundar o caminho da retidão, lê os seguintes excertos da Bíblia: Salmos
7.10; 11.7; 119.1; Provérbios 14.2; Efésios 4.24.

Julho/Agosto 2012
Lazer

Depois de um ano em que a atividade académica predominou sobre o lazer, chegam as


férias como tempo para inverter essa relação.

Atenção: lazer não é sinónimo de não fazer nada. É, pelo contrário, um tempo
importante e necessário, desde que bem entendido, e, por isso, torna-se importante
refletir sobre o lugar e a importância deste valor para os jovens de hoje, isto é, refletir
acerca da passagem do tempo livre à libertação do tempo.

LAZER: TEMPO SEM RESTRIÇÕES


A palavra «lazer» provém do verbo francês loisir, que, por sua vez, tem origem na forma
verbal latina licere, que significa, à letra, «o permitido».
A partir do sentido etimológico do lazer, detetamos três tendências:
– a primeira caracteriza o lazer com a ideia de permissão para atuar. O lazer seria um
conjunto de atividades nas quais predomina a ausência de restrições, de censuras, de
proibições, de repressão;
– a segunda qualifica o lazer como ausência de impedimentos de ordem temporal. O
lazer seria, antes de tudo, um tempo livre, sem restrições, sem compromissos;
– a terceira tendência faz o lazer radicar numa qualidade de ordem subjetiva. O lazer
seria constituído por uma série de atividades livremente escolhidas, atividades
autónomas e agradáveis, benéficas, física e psicologicamente.
Podemos, então, dizer que o lazer é um conjunto de ocupações às quais o jovem pode
entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para se divertir, recrear e entreter,
ou ainda, para desenvolver uma participação social voluntária pondo em prática a sua
livre capacidade criadora, depois de livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações
profissionais, familiares, educativas e sociais.

LAZER CONSUMISTA OU HUMANISTA


O conceito de lazer é, muitas vezes, entendido somente como descanso ou então como
atividade puramente comercial e consumista, em que o importante é divertir-se, distrair-
se ou evadir-se da realidade. Mas lazer é muito mais que isso, é uma oportunidade para
o desenvolvimento pessoal. Assim entendido, lazer é uma ocupação mais madura que
usa a sociedade de consumo, procurando não ser usado por ela. É um lazer que não
surge espontaneamente, mas que requer preparação e que assenta em pressupostos de
natureza humanista.
Cada vez mais os jovens preferem um tipo de lazer humanista, em favor do bem-estar
social e ecológico. Este tipo de lazer permite-lhes realizar-se e conhecer-se
pessoalmente, e proporciona-lhes a vivência e o desenvolvimento de valores humanos.
A satisfação e o bem-estar que emana deste lazer, enquanto ação gratuita e livremente
escolhida, contribuem para o aumento da qualidade de vida dos cidadãos. É por isso que
o lazer é um direito humano, que não pode ser entendido como um aspeto residual de
vida, um luxo ou algo secundário e dispensável.

EDUCAÇÃO PARA (E PELO) LAZER


O lazer possui virtualidades educativas específicas. Nas horas ou dias em que as
obrigações académicas se interrompem, em maior ou menor medida, o jovem é dono do
seu próprio destino; pode fazer o que realmente quer: estar com os amigos ou com a
família, cultivar passatempos, descansar e divertir-se do modo que mais o satisfaça. Aí
toma decisões que entende como próprias, porque se orientam para hierarquizar os seus
interesses: o que me agradaria fazer, que tarefa deveria recomeçar ou qual poderia
adiar... Pode aprender a conhecer-se melhor, descobrir novas responsabilidades e
administrá-las. Em resumo, põe em jogo a sua própria liberdade de um modo mais
consciente para a construção de uma vida mais feliz e realizada. É evidente que os
momentos de lazer são indispensáveis para o bem-estar e a felicidade dos jovens, pois
nós não vivemos para sobreviver, mas sobrevivemos para viver, ou seja, viver para
gozar a plenitude da vida, para nos realizarmos, constituindo, pois, a felicidade e a
plenitude da nossa vida.
Todavia, é fácil que os jovens se deixem levar pela comodidade, o ócio e a preguiça –
atributos da cultura juvenil dominante –, e que entendam e vivam o lazer de um modo
que lhes exija pouco esforço. Enquanto os jovens não souberem decidir ou decidirem
mal, esse tempo de lazer não terá qualidade e facilmente será aborrecido e secante,
podendo até tornar-se um tempo escravizante. Nesse caso, terá de obrigatoriamente se
passar do tempo livre à libertação do tempo.
O jovem, ao participar em atividades de lazer qualificantes, cresce e desenvolve-se,
individual e socialmente, como ser humano, no seu bem-estar e numa participação mais
ativa para o cumprimento das aspirações de ordem individual, familiar, cultural e
comunitária. Aprende com o lazer quem aproveita o tempo livre para a criação de um
novo trabalho e de uma forma de viver a participação social e religiosa, ou seja, uma
maneira de lazer que reconhece o prazer de se pôr a serviço dos outros. O lazer poderá
ser um tempo preenchido com atividades que levem o jovem a pensar e a agir de forma
mais rica em todos os momentos de sua existência, passando, assim, do tempo livre à
libertação do tempo.

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sobre o valor do LAZER

Os jovens preferem um tipo de lazer humanista.

O lazer contribui para o aumento da qualidade de vida.

Outubro 2012
AUDÁCIA

A Audácia chega este mês ao número 500. É um acontecimento importante na vida


desta publicação, na vida dos Missionários Combonianos e, sobretudo, na vida
missionária da Igreja em Portugal.

A Audácia sempre soube apresentar, de forma clara e audaz, a mensagem cristã. «Ser
audaz», na vivência cristã e missionária, foi sempre a proposta da revista aos
adolescentes e jovens portugueses.

A AUDACIA DE SER
A palavra audácia deriva do latim «audax» (atrevido, bravo), e de «audere» (atrever-se,
empreender). Assim, audácia implica um impulso de alma que leva a cometer ações
extraordinárias, desprezando obstáculos e perigos. Uma pessoa audaz tem no seu
interior uma forte confiança que a faz traçar novos caminhos, menosprezando e
vencendo o medo de falhar, de modo que vislumbre e desfrute de novos e maravilhosos
destinos. A audácia é a capacidade de acreditar que há valores e traços, marcas e
desafios que não podemos ignorar ou menosprezar, mas, pelo contrário, temos de
abraçar e viver para os podermos partilhar e propor aos outros nossos irmãos. Este é um
caminho, uma opção de vida, que nos dignifica como pessoas e cristãos. Muitos te dirão
que não conseguirás, mas a audácia sussurrar-te-á que serás capaz. Giovanni Papini, um
famoso escritor italiano, inicialmente cético, que mais tarde passou a um católico
fervoroso, disse que «a juventude se reconhece por três sinais essenciais: a vontade do
amor, a curiosidade intelectual e o espírito de audácia».

A AUDACIA DE VIVER
A vivência da mensagem cristã implica sempre algumas dúvidas e incertezas que devem
ser combatidas com audácia, coragem e esperança. A vida ao ritmo da audácia implica
lutas e vitórias, exige a capacidade de carregar a própria cruz da responsabilidade de
uma missão, mas também acena para uma vida feliz e uma paz duradoura. O cristão
deve ser audacioso na forma de entender e viver a sua fé e comprometer-se com os
anseios da humanidade: anseios de liberdade interior, de segurança na fé, de defesa dos
direitos humanos e de promoção de uma vida mais digna para os que se encontram à
margem da sociedade. A audácia é a capacidade para voar mais longe e mais alto,
combatendo, assim, a rotina que paralisa e destrói os sonhos.
A AUDACIA DE FAZER
Não vivemos uma época de mudanças, mas numa mudança de época. O que antes era
certeza servindo como referência para viver, tem se mostrado insuficiente para
responder a situações novas e, até certo ponto, inusitadas, deixando as pessoas perplexas
e indecisas nas suas opções religiosas. Perante este cenário só a audácia e a esperança
nos permitem encontrar alternativas eficazes e significativas, garantes de uma
mundividência cristã com significado. Sem audácia, a vida mantêm-se num comodismo,
num medo e numa inércia frustrantes. A falta de audácia mantém-nos aprisionados às
areias movediças do «sempre foi assim e sempre assim será», aprisionados a
«sistemas», a «esquemas», a «trilhos» e a «propostas» que não enchem nem preenchem
o coração! Audácia é a capacidade de acreditar no desafio do «novo», do «diferente» e
do «inseguro».

AUDACIA VENCE O MEDO


A história da humanidade está repleta de pessoas audazes. Se olharmos para trás, para as
gerações que nos antecederam, encontramos ancestrais que viveram de forma audaciosa.
Talvez fossem imigrantes que tiveram a coragem de deixar a segurança da sua casa e da
sua terra, soldados que lutaram na guerra, famílias com dificuldades económicas,
cristãos perseguidos devido à sua fé... Mas o que é viver com audácia? Não é viver sem
medo: porque o medo é parte da nossa experiência humana e é normal, às vezes,
sentirmos medo. É, pelo contrário, não nos transformarmos nos nossos medos, nem nos
deixarmos petrificar ou paralisar por eles, mas seguirmos em frente, confiantes de que a
fé e os valores cristãos conseguem derrotar e vencer os medos. Trata-se de enfrentar o
medo com audácia e coragem, compreender as suas causas e as suas dimensões, de
modo que possamos encontrar uma saída. Assim, destemidos, podemos enfrentar e
ultrapassar o medo. Destemidos, podemos recuperar a nossa vocação de profetas e
contribuir para um mundo onde o amor será mais fácil.

AUDACIA E FUTURO
Para o audaz, o futuro é o caminho e o amanhã é o horizonte. Viver com audácia é
recusar avançar sem as «muletas», que até nos podem sustentar e assegurar que não
caímos, mas que nos impedem de correr. Viver com audácia não é uma falsa ou
prejudicial rebeldia, mas, ao contrário, é uma fecunda e nobre capacitação de talentos,
uma assunção de responsabilidades geradoras de liberdade, um viver ao ritmo da beleza
do inconformismo… Viver com audácia é acreditar na força e na libertação dos sonhos
que pautam o nosso peregrinar e nos impedem de cair no imobilismo, no conformismo
ou no situacionismo. Esta foi a vida da revista Audácia.
A revista Audácia foi sempre audaciosa nas suas propostas, vencendo o medo do
imobilismo e da inércia cristã e conseguindo traduzir, numa linguagem jovem e
atraente, a riqueza da mensagem cristã.

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sobre o valor da AUDÁCIA

Muitos te dirão: «Não conseguirás.»

A audácia sussurrar-te-á: «Serás capaz!»


Novembro 2012
Eternidade
Bem-estar com Deus

No início de novembro, recordámos os antepassados. Rezámos por eles. Talvez


tenhamos ido ao cemitério perpetuar a sua lembrança, depositando flores. Este gesto
faz-nos pensar na eternidade.

Podemos definir a eternidade como o que está fora do tempo. A eternidade é a duração
de um ser que exclui todo o começo e todo o fim, bem como toda a mudança ou
sucessão. Bento XVI diz-nos que a eternidade não é «uma sucessão contínua de dias do
calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos
abraça e nós abraçamos a totalidade» do ser, da verdade e do amor. Deus é eterno e
manifesta o seu amor oferecendo a eternidade a todos os seus filhos.

A ETERNIDADE ESTÁ AÍ…


A eternidade está presente no coração do ser humano, embora muitos de nós façam de
tudo para não o reconhecer. Um olhar atento sobre o passado conclui facilmente que a
crença na eternidade permeia as mais diversas religiões ao longo da História.
Assim, a eternidade é uma dimensão que não devemos ignorar, principalmente hoje em
que impera um materialismo obsessivo e opressivo, que escraviza o homem e lhe rouba
os horizontes para os quais foi criado. Há até quem goze com a esperança de eternidade
dos crentes, outros consideram-na uma ilusão inventada pela religião: um refúgio onde
os fracos se apoiam para se enganarem a si mesmos. Mas é exatamente ao contrário: a
fé na vida eterna aumenta o valor e o significado que atribuímos à vida terrena, pois a
vida eterna depende da vida que levamos neste mundo.

DENTRO DE NÓS…
Deus pôs no nosso coração o anseio pela eternidade. Santo Agostinho dizia: «Criaste-
nos para Vós, Senhor, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar em Vós.»
No entanto, podemos optar pela ótica da eternidade ou da materialidade.
Na ótica da materialidade, a vida tem valor quando se funda nos critérios do ter, do
usufruir, do competir, priorizando o cultivo de critérios apenas temporais: como a
competência, o vigor físico, a aparência, o poder social, político e económico, a posse
de bens materiais.
Na ótica da eternidade, o valor da vida e dos bens da criação parte simplesmente da
consciência de que o fim da vida humana é na verdade o início da eternidade. Por isso
todo o cristão deve pautar a sua vida, as suas escolhas, opções e valores tendo por
critério de vida a dimensão da eternidade. Os valores humanos não são negados, mas
tornam-se relativos diante do valor absoluto que é Deus, a eternidade.

AO RITMO DA ETERNIDADE
Acreditando na eternidade, naturalmente encaramos a morte com realismo e esperança.
Acreditamos que esta vida é como a primeira página de um livro que fica completo na
eternidade. É como se aqui fosse o período que passamos no ventre materno, quando
nascemos, entramos na eternidade. O apóstolo Paulo compara o nosso corpo nesta vida
a uma tenda frágil e temporária, mas afirma que na eternidade receberemos e viveremos
num edifício eterno.
Viver ao ritmo e em função da eternidade muda os nossos valores: os valores mundanos,
embora necessários, tornam-se provisórios. O que era lucro passa a ser considerado
como perda, por causa de Cristo. Assim, devemos viver cada dia preparando-nos para o
último dia. E a única preparação segura para a eternidade com Deus é acreditar e confiar
em Jesus como nosso Salvador, pois somente Ele é o caminho, a verdade e a vida e
ninguém vai ao Pai se não for por Ele. Pelo contrário, quem não acredita nem vive ao
ritmo da eternidade, concentra todas as suas forças, naturalmente, em apegar-se com os
dez dedos ao dinheiro e aos bens materiais; não os repartirá com ninguém e, para os
conseguir, acabará por calcar e atropelar quem se opuser.

JÁ E AINDA NÃO
Uma das tarefas essenciais e prioritárias da Igreja é despertar as pessoas para a sua
imortalidade, ao mesmo tempo que denuncia as amarras do materialismo e confronta os
limites de uma cultura enferma pela ideia de que não existe nada para lá da morte.
A acumulação de bens materiais procura entreter o homem e acaba por roubar-lhe o que
é essencial. Fomos criados para Deus e para viver com Ele e na Sua presença por toda a
eternidade. Se é verdade que no tempo presente estamos confrontados com o mistério da
injustiça, do sofrimento, da dor, da doença, da violência, da agressão, do ódio, do
egoísmo, ao ponto de nos interrogarmos acerca de Deus e da Sua bondade, a Bíblia fala-
nos e chama a atenção para um outro tempo, uma outra era, uma outra dimensão, em
que tudo isso terá o seu termo e em que viveremos para sempre em absoluta bem-
aventurança.

VIAJANTES DA ETERNIDADE
Somos viajantes do tempo e do espaço até à eternidade, onde já não existe tempo nem
espaço! O próprio Criador, que nos fez criaturas, um dia Ele mesmo se fez criatura para
revelar o grande mistério que é a eternidade: o grande encontro com a felicidade plena
onde só reinará a paz, o amor e a plenitude da vida que Deus sonhou para nós nas
origens e que, pelo pecado, impedimos que acontecesse.

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ETERNIDADE

No materialismo, o valor está no ter.

Na eternidade, o valor está no ser.

Dezembro 2012
Concórdia

O Natal está a chegar e com ele chegam também as luzes, as decorações, as compras, as
prendas e tantas outras coisas que são importantes, mas não essenciais.

Todos os anos anseio que os rituais comerciais da quadra do Natal não nos desviem do
essencial que é a vinda do nosso Deus até nós com o seu amor e com a sua ternura,
desejando encontrar-nos e visitar-nos. Ele vem trazer às pessoas, às famílias e aos povos
o dom de uma nova fraternidade, da concórdia e da paz. Vem acender nos nossos
corações a luz de uma nova humanidade, da compaixão pelos pobres, pelos pequenos e
pelos que sofrem. A contemplação do Deus feito menino, com rosto de ternura, faz-nos
sentir um frémito de alegria que se vive em família e, em certa medida, estende-se a
toda a sociedade, predispondo-nos a construirmos e a vivermos a concórdia.
CONCÓRDIA!?... O QUE É ISSO?
A palavra «concórdia» deriva de duas palavras latinas cum e cordis, que, literalmente,
significam «com (um) coração», uma união de corações. A concórdia é, pois, um
encontro de corações e de vontades que produz unidade, paz e harmonia. Concordar
com alguém é partilhar do mesmo coração, isto é, das mesmas ideias e sentimentos;
discordar, por sua vez, é o movimento contrário.
A concórdia não significa consenso, unanimidade ou acordo. Pelo contrário, a concórdia
é a disposição de viver juntos (família, pessoas, religiões, nações) não obstante as
diferenças e discrepâncias dos membros que compõem a sociedade. O essencial da
concórdia é o amor à convivência pacífica, apesar das tensões, dos conflitos e das
diferenças.

EU PRECISO DA CONCÓRDIA?
Existiram e existem discórdias que produziram e produzem uma quantidade infindável
de atrocidades contra pessoas, animais e meio ambiente.
É de realçar que as discórdias em si mesmas não são más, desde que surjam e estejam
ao serviço de um projeto de melhoria da condição humana. O problema é que, na maior
parte das vezes, elas surgem aliadas a interesses mesquinhos e baixos, provocando
injustiças e sofrimento.
No nosso país, nos últimos anos, fruto das discórdias económicas, políticas e sociais,
todos nós assistimos ao mal-estar de uma sociedade afetada pela crise económico-
financeira, pela falta do precioso bem do trabalho para todos, pela insegurança do
futuro, pelo aumento da pobreza e pelo sofrimento de muitos pobres – uma sociedade
psicológica, cultural e espiritualmente cansada, desiludida, esgotada. Falta-nos uma
visão congregadora e mobilizadora de sociedade que, respeitando as diferenças, nos una
e nos torne mais fortes, capazes de construirmos um mundo mais humano, mais
fraterno, mais justo.

DESEJOS DE CONCÓRDIA
Se é um facto a existência de discórdias, também é real o desejo de concórdia. Nunca,
em nenhum outro tempo da nossa história, se debateu, refletiu e defendeu tanto os
direitos fundamentais do ser humano. Em nenhuma outra época se criaram tantas
organizações e instituições capazes de dar respostas às necessidades mais básicas do ser
humano, procurando resolver conflitos e discórdias, tentando alcançar, assim, a
concórdia e a paz entre pessoas e nações. Nunca os países assinaram tantos acordos de
cooperação e entreajuda. A par das discórdias, está inscrito no coração dos homens a
preocupação pela vida, pela paz, pelo bem-estar, numa palavra, pela Concórdia.
Aspiramos pela sintonia e pelo despertar da concórdia que nos permite encontrar a
unidade dentro de nós mesmos e com as pessoas que nos rodeiam. No fundo, é
desejarmos o Natal e a beleza da sua mensagem: a aspiração de paz, o desejo de
concórdia, o anseio de entendimento entre os povos. É desejarmos que o Natal não seja
só um dia, mas um contínuo e diário projeto de vida.

VOU TRABALHAR PELA CONCÓRDIA


Como encontrar o caminho para a concórdia e assim viver a unidade interior consigo
mesmo e com os outros?
O Natal de Cristo deve ajudar-nos a ver o momento atual da nossa história com um
novo olhar de esperança. O Natal de Cristo deve ajudar-nos a ver a crise atual como
uma oportunidade para uma mudança de mentalidade, de critérios e modos de vida,
tanto a nível pessoal, como familiar, educativo, empresarial e político, sem nos
deixarmos abater pelas discórdias e divisões.
O Natal de 2012, vivido em plena emergência social, é um convite a um estilo de vida
mais sábio, através de um consumo mais sóbrio e sustentável, de uma solidariedade com
maior partilha com os necessitados.
Podemos viver o Natal deste ano com uma cidadania social mais consciente e mais forte
da parte de todos: pondo o bem comum acima dos jogos de poder ideológicos;
colocando as carências dos mais pobres no topo das políticas económicas; em síntese,
vivendo a um novo humanismo, com fundamentos espirituais e morais.
Se os nossos corações estiverem unidos nestes desejos, sentimentos e vontades, então a
construção da concórdia será possível e ela será o caminho necessário para enfrentar
com responsabilidade comum os desafios com que nos debatemos.

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CONCÓRDIA.

A concórdia é encontro de corações.

A concórdia produz harmonia e paz.

Janeiro 2013

Reaviva o teu crer

Estamos a celebrar o Ano da Fé instituído pelo Papa Bento XVI. São muitas as
iniciativas que, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, pretenderão
reavivar e valorizar o ato de crer.

A razão do Ano da Fé prende-se com a celebração dos 50 anos da abertura do Concílio


Vaticano II e os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica. Na Audácia
também iremos refletir, ao longo deste ano, sobre alguns temas centrais da nossa fé,
tentando explicá-los de forma simples. Este mês, começaremos por realçar o valor da fé.

A DESVALORIZAÇÃO DA FÉ
Um pouco por todo o lado nota-se uma crescente desvalorização da fé, remetendo-a
para o passado ou para pessoas menos informadas e cultas. Muitos pensam que com os
comprovados avanços da ciência, da técnica e da tecnologia, a fé já não é tão necessária
ou tornou-se mesmo supérflua. Por isso, há um grande número de pessoas que não
frequentam a igreja e vivem como se Deus não existisse. Muitos pais, mesmo católicos,
fazem muitos sacrifícios para arranjarem a melhor escola, as mais variadas atividades
extracurriculares, desportivas e culturais, para proporcionarem o divertimento e
crescimento físico e intelectual aos seus filhos. No entanto, descartam o menor esforço
que vise a dimensão espiritual e religiosa, como seja conhecerem e encontrarem-se com
Deus, rezarem, irem à igreja ou frequentarem a catequese. A fé é, assim, facilmente
banida da educação e formação humanas.

UMA VIDA SEM FÉ


Para muitas pessoas, o seu projeto pessoal passa ao lado ou por cima de toda e qualquer
dimensão espiritual. A fé em Deus é substituída pela fé em múltiplas e variadas
realidades humanas que muito prometem, mas pouco fazem pela verdadeira felicidade
das pessoas, abrindo brechas cada vez mais profundas na dignidade e realização
humanas. É crescente a falta de esperança, o medo de enfrentar o futuro, a angústia
existencial, a fragmentação difusa da existência, a sensação de solidão, as divisões e
oposições e tantas outras mazelas que são consequência da desvalorização da fé e da
ausência de Deus. A sociedade sofre de uma profunda crise de valores, dando a
impressão de não ter coragem para alimentar um projeto comum de sociedade e para
oferecer aos seus cidadãos razões de esperança. Na base de tudo isto está uma tentativa
de prescindir do contributo da fé e de Deus, criando uma antropologia sem referências
transcendentes. Está a instalar-se, pouco a pouco, uma «apostasia silenciosa», com
graves consequências porque o esquecimento de Deus conduz ao abandono dos homens,
a um vazio interior, à perda do sentido da vida.

O QUE É A FÉ?
A palavra «fé» deriva do termo latino fides, que significa a confiança que depositamos
na palavra de alguém. A fé é a firme convicção de que algo é verdade, sem qualquer tipo
de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos
nesta ideia ou fonte de transmissão. Ter fé, portanto, não é acreditar em qualquer coisa;
ter fé é aceitar como verdadeira a Palavra revelada de Deus, é aderir voluntariamente às
verdades que Deus comunicou à humanidade, sem as aumentar nem as diminuir. Nos
evangelhos, em vez de fé, deparamo-nos, frequentemente, com a palavra «acreditar»,
que significa a situação de quem confia, de quem se apoia numa rocha e de quem se
sente seguro por estar apoiado em alguém mais forte do que ele. Ter fé é crer, confiar,
aderir, amar, relacionar-se, dar crédito, desistir de tudo provar racionalmente, dar o
nosso voto de confiança a Deus. A fé não é cega mas também não é de todo racional;
mas sempre razoável e fundada. Não é irracional, mas sobrenatural. Como
humanamente acreditamos nos nossos amigos, supomos que o alimento não está
envenenado, que os pais nos querem bem, e muitos outros atos de fé humana, muito
mais devemos acreditar que Deus não tem interesse em mentir-nos, antes é Deus de
Verdade e de Amor que nos quer bem, a ponto de morrer por nós em Jesus Cristo, cujo
mistério pascal constitui o centro e cume da nossa fé.

A ALEGRIA DA FÉ
A fé não é nem pode ser um meio para alcançarmos qualquer coisa mas tem de ser um
meio para sermos melhores e mais felizes. A fé é indispensável na vida do cristão pois
permite-nos aprofundar a amizade com Jesus Cristo: uma amizade que vale mais do que
tudo o que existe; mais fiel e segura do que aquela que se pode manter com alguém na
terra; e a que mais nos aproxima de Deus, fonte da vida, do conhecimento e da
felicidade. A fé vivida em alegria proporciona saborear uma serenidade profunda que
nasce do encontro com o Senhor, que nos ama. A fé ajuda-nos, também, a resistir às
adversidades da vida. Deus não nos livra dos perigos e dos males, mas dá-nos a força e
a coragem para enfrentá-los. Além disso, a fé é um estímulo para não pensarmos só em
nós e nos empenharmos na construção de um mundo melhor para todos. Com a fé, a
vida não se torna mais fácil, mas fica seguramente mais alegre.

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Os crentes fortificam-se acreditando. (Santo Agostinho).

Ter fé é crer, confiar, aderir, dar crédito.


Fevereiro 2013
O valor do Credo

Conforme prometido na Audácia de janeiro, iremos, neste Ano da Fé, refletir sobre o
valor e a importância da fé na nossa vida. Este mês, falarei do valor e do significado do
Credo.

O Credo é um texto que, com certeza, já aprendeste, e o dizes cada vez que participas na
eucaristia dominical. Ele foi solenemente proclamado no teu batismo. As fórmulas do
Credo foram articuladas pelos apóstolos e pelos seus primeiros sucessores, a fim de que
os cristãos guardassem, de memória, os principais temas da fé revelados por Jesus
Cristo. Importa, agora, não só o proclamar, mas ficar a saber algo mais sobre as suas
origens, o seu conteúdo e significado e suas implicações para a nossa vida.

A FÉ RESUMIDA
O Credo é um dos símbolos mais importantes da nossa fé. A palavra «credo» tem
origem no latim. Credo significa «creio». O Credo é um admirável resumo da fé cristã,
numa fórmula articulada, também chamada «profissão de fé». Através deste texto, a
Igreja, desde as suas origens, exprimiu resumidamente e transmitiu a própria fé, numa
linguagem normativa e comum a todos os fiéis. Os apóstolos compuseram-no e
ensinaram-no para ser o comum denominador de todos os cristãos assim como um
símbolo e sinal, memorável e inviolável, da unidade da fé que nos veio dos apóstolos.
Inicialmente, era usado como proclamação batismal que era enunciada pelos
catecúmenos (novos cristãos), resumindo assim as proposições objeto da fé na qual
estavam a ser batizados. O Credo tem assim, simultaneamente, uma dimensão pessoal e
comunitária.

ORIGEM E NATUREZA DO CREDO


Os apóstolos, instruídos pelo Espírito Santo, acharam que a melhor maneira de ensinar a
religião era através do método histórico narrativo (contar os acontecimentos), e vemos
que eles o seguiram na composição do Credo. Se a nossa fé não tivesse raízes históricas,
ela perderia o seu fundamento e credibilidade: seria uma fé solta no espaço, sem
qualquer ligação com o real. O Credo situa-nos historicamente em pessoas e
acontecimentos, especialmente os relacionados com Jesus Cristo. Por isso pode-se dizer
que o Credo é uma história de salvação do presente, do passado e do futuro.

É UMA HISTÓRIA DO PRESENTE


O Credo é uma história do presente pois ensina-nos grandes coisas sobre Deus, sobre a
Igreja e sobre nós mesmos. Ensina-nos que Deus são três pessoas em um só Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo. Que Deus é todo-poderoso, criador e conservador do céu e da
terra; que o seu filho único, Jesus Cristo Nosso Senhor, está sentado à direita do Pai no
Céu. Sobre a Igreja diz-nos que é católica (universal) e que é santa. E sobre nós diz-nos
que temos por Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, e que por ele entramos na
comunhão dos Santos e encontramos a remissão dos pecados.

É UMA HISTÓRIA DO PASSADO


Sobre o passado ensina-nos tudo aquilo que de mais importante e fundamental nos
interessa saber. Primeiro, ensina-nos que Deus é o nosso criador, já que é o criador do
céu e da terra e depois ensina-nos que o Filho de Deus se fez homem por nós, nasceu da
Virgem Maria, foi crucificado, morto e sepultado, que ressuscitou ao terceiro e subiu ao
Céu.

É UMA HISTÓRIA DO FUTURO


Sobre o futuro o Credo ensina-nos, primeiramente, que Nosso Senhor Jesus Cristo virá
julgar os vivos e os mortos, recompensando a cada um segundo suas obras e que todos
os homens ressuscitarão de carne e osso, antes de se apresentarem para o julgamento de
Nosso Senhor, que conduzirá à vida eterna os que dela forem dignos.

É SIMBOLO DE COMUNHÃO
O Credo é um símbolo de comunhão, porque, ao recitarmos este texto, reconhecemo-
nos cristãos e em comunhão (comum união) com todas as gerações cristãs que nos
precederam. É a expressão de uma fé comum, a fé da Igreja. A proclamação do Credo
deve criar em nós uma adesão interna, um ato interior de fé, uma afirmação destas
verdades divinas, alegrando-nos de possui-las e preferindo-as a todas as coisas, já que
são elas que nos levam a Deus. Santo Ireneu de Lião (135-202 d. C.) disse-nos que o
Credo «resume a fé que a Igreja recebeu; e esta é a fé, que mesmo dispersa pelo mundo
inteiro, a Igreja guarda com zelo e cuidado, como se tivesse a sua sede numa única casa.
E todos são unânimes em crer nela, como se ela tivesse uma só alma e um só coração.
Esta fé (Credo) a Igreja anuncia, ensina e transmite como se falasse uma só língua…»

(RE)CONHECER O CREDO
O Papa Bento XVI, ao anunciar o Ano da Fé, lançou-nos um duplo desafio: por um
lado, a necessidade de ainda encetar esforços para que o Credo seja mais e melhor
conhecido, compreendido e pregado e, sobretudo, por outro lado, o desafio para que o
Credo seja mais «reconhecido» pelos cristãos. «Com efeito, conhecer poderia ser algo
simplesmente intelectual, enquanto “reconhecer” quer significar a necessidade de
descobrir o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa
existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente – como
sempre foram – luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso
caminho, vida que vence certos desertos da vida contemporânea.»

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O Credo é um admirável resumo da fé cristã

O Credo é a História da Salvação

Março 2013
Água, valor vivificador

O ano de 2013 foi proclamado pela ONU como Ano Internacional da Cooperação da
Água. O dia 22 de março é Dia Mundial da Água. Iremos refletir sobre o valor da água
na nossa vida, no contexto da fé e na importância e simbologia que a água tem nas
religiões.

A água tem, pelo menos, duas características: é simples e importante.


A simplicidade da composição química – H20 – parece disfarçar a importância da água
para o desenvolvimento e preservação de todas as formas de vida existente na Terra.
Quimicamente, a água é um elemento relativamente simples. Uma hidromolécula, a
menor unidade do elemento chamado água, compõe-se de duas partículas de hidrogénio
e uma de oxigénio. São essas moléculas que, juntas, formam as gotas, que, por sua vez,
formam as massas de água. À medida que vamos alargando os nossos conhecimentos,
tomamos consciência de que a água não é apenas um sustento, mas um dos
sustentáculos da vida. Por outro lado, há séculos que conhecemos o poder curativo da
água e muitas terapias baseiam-se nesse conhecimento. As ciências ensinam-nos,
também, que as águas foram também o berço da vida, nas suas manifestações mais
primitivas.

A ÁGUA NAS RELIGIÕES


A água tem um papel central na fé e prática de muitas religiões, por duas razões
principais. Primeiro ela purifica e lava não só os objetos, mas principalmente as pessoas,
tornando-as limpas, externamente e espiritualmente. Segundo, a água é essencial à vida,
sem água, não há vida, pelo menos tal como a conhecemos.
A água tem o poder de destruir, tal como o de criar. Estas duas qualidades conferem-lhe
um grande simbolismo, ou mesmo um estatuto sagrado, tornando-se um elemento-chave
em cerimónias e rituais religiosos. No Judaísmo a água é usada para lavagens rituais
obrigatórias com o objetivo de restaurar ou manter um estado de pureza. No Hinduísmo,
a água está associada a poderes de purificação espiritual, sendo a limpeza matinal com
água uma obrigação diária. Os templos situam-se perto de fontes e os crentes têm de se
banhar antes de entrarem. Lugares de peregrinação encontram-se nas margens dos rios
que são considerados sagrados. No Islamismo, a água serve para a purificação antes das
orações e depois de certas práticas humanas. No Cristianismo a água está
intrinsecamente ligada ao Batismo, uma declaração pública de fé e um símbolo de boas-
vindas à igreja cristã, como mais à frente veremos.

ÁGUA NA BÍBLIA
São diversos os excertos bíblicos onde a água é vista como sinal da vida, sinal da
presença de Deus que transforma a existência humana. A água, na teologia bíblica,
reveste-se de dois aspetos que parecem contraditórios: um é vida, bênção, sinal da
presença de Deus, imagem da pessoa que se deixa conduzir por Deus e por sua graça. O
outro é caos, morte, destruição e ausência de Deus. Apesar de parecerem contrários, os
dois decorrem da experiência vital do povo de Israel. Exemplos dessa dicotomia são o
dilúvio (Gn 6, 9-8,22) e o batismo (Mt 3, 13-17). No primeiro, a água inunda, destrói e
configura-se como uma força, frente à qual as criaturas pouco valem. No segundo, ela
lava, purifica, redime, é a visibilidade da graça e da bondade de Deus que,
prodigamente, nos sustenta.

A ÁGUA NO CRISTIANISMO
Praticamente todas as igrejas cristãs têm um rito de iniciação que envolve o uso da água,
o batismo, que é uma declaração pública de fé e um símbolo de boas-vindas à igreja
cristã. Quando batizada, uma pessoa é parcial ou totalmente imersa em água que
alternativamente pode ser vertida ou aspergida sobre a sua cabeça. O sacramento tem as
suas origens na Bíblia, onde está escrito que Jesus foi batizado por João Baptista no rio
Jordão. No batismo, a água simboliza a purificação, a rejeição do pecado original. A
palavra grega para «batismo» é baptisma, que se deriva do verbo baptizō, que
etimologicamente significa «imersão», «ato de imergir», «mergulhar». Assim sendo, a
palavra «batismo» compreende a «imersão», a «submersão» e a «emersão», que
significam a regeneração total, um novo nascimento, uma recriação do sujeito. A água
benta, a água que foi benzida na vigília da Páscoa é usada em vários ritos como
bênçãos, dedicações, exorcismos e funerais.

SEDE DE ÁGUA VIVA


No Cristianismo a «água viva» ou a «água da vida» representa o espírito de Deus, isto é,
a presença de Deus na nossa vida, a vida eterna. Nos dias de hoje, ao mesmo tempo que
existe uma grande sede espiritual, existe também uma procura incansável de fontes de
água viva capazes de saciarem a ânsia de significado e sentido da vida. São muitos os
que implorando por um gole fresco de compreensão e conhecimento que lhes sacie a
alma ressequida. Tenhamos consciência de que só Deus pode fornecer-nos uma água
viva, que sacia a sede ardente daqueles cuja vida está ressequida por uma seca ou
ausência da verdade. Tenhamos a ousadia de, neste Ano da Fé, viver o Evangelho de
Jesus Cristo e desenvolveremos em nós uma fonte de água viva que saciará eternamente
a nossa sede espiritual de felicidade, paz e vida eterna.

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A «água viva» é símbolo de Deus

A água pode criar e destruir a vida

Abril 2013
O valor da Trindade

Em pleno Ano da Fé e tempo pascal, celebramos com alegria a ressurreição de Jesus,


fundamento da nossa fé. Depois, no Pentecostes, a Igreja entoa um grande louvor à
Santíssima Trindade, celebrando, numa síntese, a plenitude do mistério do Deus-Amor.

Desde a criação do universo até os fins dos tempos, a história é dirigida pelo Deus Uno
e Trino, comunhão perfeita do Pai com o Filho e o Espírito Santo. Três pessoas que
estabelecem uma comunhão e união perfeita, formando um só Deus, constituindo,
assim, um perfeito modelo transcendente para as relações interpessoais. As pessoas da
Santíssima Trindade possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, sabedoria,
poder, bondade e santidade, mas certas atividades são mais reconhecidas numa pessoa
do que noutra.

UM MISTÉRIO
Costumamos dizer que a trindade é um mistério. A palavra «mistério» não quer dizer
algo que seja impossível de existir ou de acontecer; mistério é apenas algo que a nossa
inteligência não compreende. Deus é um Mistério, porque a sua grandeza infinita não
cabe na nossa inteligência limitada e finita de criatura. Deus é infinitamente maior do
que nós, por isso não conseguimos compreendê-Lo totalmente. Podemos compreender
alguns factos sobre a relação das diferentes pessoas da Trindade umas com as outras,
porém, no geral, a Trindade é incompreensível à mente humana.

TENTANDO DESVENDAR O MISTÉRIO…


Santo Agostinho e várias pessoas ao longo da História, na tentativa de explicar o
mistério da Trindade, procuraram analogias retiradas da Natureza ou da experiência
humana. Tais analogias são úteis num nível elementar de compreensão, mas todas elas
se revelam inadequadas ou ilusórias numa reflexão mais aprofundada. Algumas dessas
analogias, apesar de interessantes – um trevo de três folhas; a árvore que tem raiz,
tronco e ramos; as três formas de água (vapor, água e gelo) – apresentam limites e
imprecisões, e nenhuma explica adequadamente a Trindade.

UMA EXPLICAÇÃO: O AMOR…


Apesar das limitações das analogias, podemos dizer algo sobre a Trindade. Nós,
cristãos, cremos que o nosso Deus não é alguém solitário, egoísta, fechado no seu
mundo de glória e satisfação, mas que é família de amor, comunhão de vida,
participação de felicidade. O nosso Deus é comunhão-unidade de três pessoas distintas
(Pai, Filho e Espírito Santo) que se amam tanto e tão bem que são um só Deus. Ao
dizermos isto, estamos a falar da Trindade a partir da experiência do Amor que por Ela
nos é transmitida. Como nos dizia Santo Agostinho, «aproximamo-nos do Pai, Amante
Eterno, que se debruça sobre o Filho, o Eterno Amado, pelo elo amoroso do Espírito
Santo, o Amor Eterno!». A distinção das pessoas não as leva a dividirem-se e a
isolarem-se umas das outras, mas, ao contrário, é exatamente nessa distinção que se
encontra a riqueza de sua unidade. Por outro lado, a comunhão das três pessoas não as
leva a confundirem-se e a misturarem-se, mas, ao contrário, é exatamente nessa
comunhão que se encontra a beleza de sua diversidade. Em suma, em Deus-Trindade,
temos união que não é uniformidade, temos diversidade que não é divisão. É comunhão,
mas não confusão.

COMUNHÃO NA DIVERSIDADE…
Só Deus é comunhão na diversidade de três pessoas. Podemos dizer que no mistério da
Santíssima Trindade há unidade na Trindade e Trindade na unidade: unidade na
Trindade, isto é, unidade de natureza, de essência, de ser; por isso: um só Deus;
Trindade na Unidade, isto é, trindade de pessoas; por isso: três modos distintos de ser o
mesmo Deus, de o mesmo Deus ser.
Pai, Filho e Espírito Santo são distintos entre si, numa distinção que não provoca
divisão, mas uma comunhão plena. As três pessoas divinas comungam entre si o mesmo
amor, a mesma liberdade e consciência, o mesmo poder e glória, numa comunhão que
não anula as diferenças e que não reprime as distinções. Também a Igreja, à semelhança
da Trindade, é comunhão, embora imperfeita, na diversidade de povos, línguas e nações,
de carismas e dons, de vocações e ministérios.

UM MISTÉRIO EM NÓS…
Criados que somos à imagem de Deus, todos temos dentro de nós a semente e o impulso
da comunhão, mas, quantas vezes, queremos a comunhão na base da imposição de
nossas ideias que obriga todos a pensar e viver do mesmo modo! Quantas vezes as
distinções e diferenças entre nós nos levam à divisão e à discórdia, brigas e guerras!
Não basta acreditarmos e professarmos o mistério da Trindade. É necessário também
deixarmo-nos envolver e moldar pela Trindade. É preciso viver as consequências de
acreditarmos num Deus Trindade, que é comunhão de Amor. Crer nesta realidade
significa aceitar as diferenças entre as pessoas humanas, em todos os aspetos, ao mesmo
tempo que acreditamos num sonho comum de felicidade e de amor plena para todos.
Acreditar na Trindade significa professar que no Deus Trino está a chave para a
superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão, e vislumbrar uma
sociedade, onde do amor e da comunhão dos diferentes resulta uma harmonia geradora
de Vida.

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TRINDADE

A Trindade é modelo de comunidade

Deus não é alguém solitário

Maio 2013
O valor do Espírito Santo

Depois de termos celebrado o mistério pascal, a Igreja pede a vinda do Espírito Santo.
Em pleno Ano da Fé, importa refletir convosco o valor e o significado do Espírito
Santo.

Todas as vezes que professamos a nossa fé, repetimos: «Creio no Espírito Santo, Senhor
que dá a vida e que procede do Pai e do Filho.» Dizer que acreditamos (cremos) no
Espírito Santo como Senhor e vivificante (Senhor que dá a vida), é dizermos que a vida
que está em Deus Pai e que vem até nós em Jesus Cristo se comunica a cada um de nós
pelo Espírito Santo. E, se repararmos bem nas orações que fazemos, nomeadamente na
Eucaristia, é sempre assim que rezamos: «… ao Pai, no Filho, pelo Espírito»; ou, «ao
Filho, unido ao Pai, na unidade do Espírito Santo». Ao rezarmos assim, estamos a dizer
que o Espírito Santo é a possibilidade da autocomunicação de Deus na nossa história de
todos os dias.

ESPÍRITO SANTO SOPRO DE AMOR


A palavra «espírito» tem a sua origem no termo latino spiritus, que significa «sopro,
alento». Mais ricos semanticamente são tanto o termo grego pneuma, como o termo
hebraico ruach, que, apesar de terem o mesmo significado de «sopro» ou «vento»,
incluem ainda o de «espírito», desfazendo, facilmente, possíveis confusões quanto à sua
personalidade. Os padres da Igreja chamavam ao Espírito Santo o amor eterno que une
o Pai e o Filho no seio da vida trinitária. É esse amor que gera a plena comunhão e que
faz com que três Pessoas sejam um só Deus. A essência do amor gera comunhão e
unidade e a sua atividade divina resulta numa Família trinitária, com três Pessoas, mas
um só Deus.

A DIFICULDADE DE FALAR DO ESPÍRITO SANTO


Das três pessoas da Santíssima Trindade, o Espírito Santo é a de mais difícil reflexão. O
Pai, sentimo-Lo presente em toda a História da Salvação. Jesus viveu como homem,
sujeito à condição humana. Mas falar do Espírito Santo torna-se mais difícil. De certa
forma, no quadro das nossas relações humanas, Ele é quase irrepresentável.

OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO


A Bíblia refere-se ao Espírito Santo como sopro, vento, água, fogo, fonte, rio a jorrar
dentro do coração do crente e descreve de forma riquíssima a maneira como o Espírito
age: Paráclito do Pai, Sabedoria do Alto, Fogo que purifica, Água que lava e purifica,
Mestre interior que ensina as coisas de Deus, Espírito orante que ensina a rezar e que
reza em nós. É o Espírito Santo que age nos sacramentos, é Ele que batiza, que perdoa,
que consagra, que unge, que converte pão e vinho em Corpo e Sangue de Jesus, na
celebração da Eucaristia.
Exploremos alguns dos símbolos que nos podem ajudar a entender a ação do Espírito na
nossa vida.
VENTO: Para percebermos o Espírito podemos pensar no vento que mexe e remexe
com todas as coisas: desloca as nuvens, levanta as poeiras e cria verdadeiras
tempestades. O vento está presente, mas não o vemos... ouvimos portas e janelas a bater,
mas não vemos... O mesmo se passa com o Espírito: é forte e impossível de captar como
o vento.
FONTE: Como uma fonte, o Espírito revela-se onde quer sem ser esperado. É como as
nascentes: irrompem quando menos se espera. E podemos nem saber de onde nasce a
água, mas sabemos que nasce.
FOGO: Quando estamos em redor de uma fogueira olhamos para o fogo. O fogo é
fascinante. Cativa e reúne espontaneamente em seu redor... Tem poder. Queima e
destrói, ilumina e purifica... O mesmo se passa com o Espírito: reúne, aquece, cativa,
purifica e ilumina.
POMBA: A pomba é imagem da fecundidade e do amor. Esta é uma imagem que
encontramos com muita frequência nas nossas Igrejas: o Espírito Santo representado em
forma de pomba. A pomba tem um voo gracioso, nada agressivo como, por exemplo, o
do falcão. É por isso uma imagem perfeitíssima para representar o Espírito.
ÓLEO: O Espírito assemelha-se ou compara-se também a um óleo que cura e perfuma.
Antigamente algumas feridas curavam-se com azeite... A um homem doente não há
nada que alegre mais do que a cura. Curado é-se outro homem, fica-se diferente, fica-se
animado...
ÁGUA: A água é outro símbolo. A imersão – mergulhar – na água representa a imersão
no Espírito. Assim como entrando nas águas existe uma renovação pela dissolução do
velho, assim o Espírito Santo refresca e renova aqueles que nele se deixam imergir.

O DESAFIO DO ESPÍRITO
Crer no Espírito é aderir de alma e coração à terceira Pessoa divina, ao amor eterno
entre o Pai e o Filho, Àquele que veio no Pentecostes e que é a alma da Igreja e a alma
da nossa alma. Crer no Espírito é essencial para crescer na fé, na esperança e na
caridade, para que Ele, agindo em nós, nos dê a sua audácia divina, nos faça amar, nos
ensine os caminhos da vida espiritual, gere comunhão e paz, unidade e partilha, nos
ilumine os olhos da alma e do coração, nos divinize. Só o poder da ação do Espírito
pode gerar Cristo em nós e identificar-nos cada vez mais com Ele, como é pela ação do
Espírito que se pode saborear a Palavra, anunciar o Reino, ser-se uma Igreja purificada,
serva e pobre, verdadeiramente evangelizadora.

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SANTO.

Deus age em nós pelo Espírito Santo

Usamos símbolos para descrever o Espírito

Junho 2013
Creio em Jesus

Na Audácia, temos vindo a refletir sobre a fé e, particularmente, sobre o Credo. O


segundo artigo é dedicado a Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Trindade. Este mês,
vamos refletir sobre Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Na Bíblia, o nome de uma personagem não é dado ao acaso, ele levanta sempre um
pouco o véu sobre a missão dessa pessoa. É o que acontece também com Jesus. A
palavra «Jesus» significa «Deus salva», «Deus é salvação», indicando, assim, a
identidade e a missão: ser o Salvador.
Os discípulos de Jesus, após a Ressurreição, começaram a utilizar com frequência o
título Cristo para se referirem ao Mestre e eles próprios passaram a ser designados
cristãos. A palavra «Cristo» traduz para o grego o título hebraico Messias: pessoa
consagrada por uma unção de óleo para uma missão particular. Assim, ao nome de Jesus
é acrescentado o de Cristo para expressar que Ele é o Ungido, o enviado do Pai, o
cumprimento vivo de todas as profecias.

UMA PROMESSA
São Paulo diz-nos que «ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho,
nascido de uma mulher» (Gl 4, 4). Cumpre-se, assim, a promessa de um Salvador que
Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso.
Ao longo do tempo, Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher o Seu
Filho Unigénito. Deus escolhe e elege o povo israelita, estabelece com ele uma Aliança
e acompanhou-o progressivamente, intervindo na sua história, manifestando-lhe os seus
desígnios através dos patriarcas e dos profetas. E tudo isto, como preparação da nova e
perfeita Aliança que havia de concluir-se em Cristo. A Encarnação tem a sua origem no
amor de Deus pelos homens: Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo, para que,
por Ele, tenhamos a Vida. A Encarnação é a demonstração, por excelência, do Amor de
Deus pelos homens, já que nela é o próprio Deus quem se entrega aos homens, fazendo-
Se participante da natureza humana.

PROMESSA DE SALVAÇÃO
Após a queda de Adão e Eva no Paraíso, a encarnação de Jesus tem uma finalidade
salvadora e redentora, como professamos no Credo: «Por nós homens e para nossa
salvação, desceu do céu e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e Se
fez homem.» Cristo afirmou de Si mesmo que «o Filho do homem veio buscar e salvar
o que estava perdido» e que «Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas
para que o mundo seja salvo por Ele». A Encarnação não só manifesta o infinito amor
de Deus pelos homens, a Sua infinita misericórdia, a Sua justiça, o Seu poder, mas
também a coerência do plano divino de salvação; a profunda sabedoria divina consiste
na forma como Deus decidiu salvar o homem, ou seja, do modo mais conveniente à sua
natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo. Jesus Cristo, o Verbo
encarnado, não é nem um mito, nem uma ideia abstrata qualquer; é um homem que
viveu num contexto concreto e que morreu depois de ter passado a vida a fazer o bem e
a fazer falar do amor incondicional do Pai.

VERDADEIRO
Jesus é verdadeiro homem, pois de acordo com os Evangelhos, Ele podia ser tocado,
ouvido, e muitas pessoas o viram antes e depois da ressurreição. Ele teve fome, comeu,
sentiu cansaço, dormiu, chorou, sofreu e morreu.
Jesus é Deus. Ele próprio afirmou ser Deus. Os seus discípulos reconheceram,
afirmaram e proclamaram a Sua divindade. Por outro lado, as suas ações sobrenaturais
testemunharam que ele é Deus.
A Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja, em parte Deus e em
parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o
humano. A Igreja, ao longo da História, sempre defendeu e aclarou esta verdade de fé
perante as heresias que a falseavam. Na Encarnação, a natureza humana foi assumida,
não absorvida, por isso, a Igreja sempre ensinou a plena realidade da alma humana, com
as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas,
paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de
Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu.

MODELO E DESAFIO
Vivemos dias de procura, nos quais palavras como «indignação», «revolta»,
«manifestação», «insatisfação» possuem uma ressonância especial nos nossos corações
deixando-nos, muitas vezes, à deriva. Apesar do grande desenvolvimento civilizacional,
a sociedade atual não consegue saciar os legítimos desejos e anseios de felicidade.
Nestes tempos difíceis e desafiantes que vivemos, não podemos perder a fé e a coragem.
Temos de acreditar e viver a fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador, que garante a nossa
felicidade.
A vida cristã é um encontro pessoal com Cristo, que nos desafia a assumirmos a nossa
humanidade, sem perdermos de vista a nossa divindade. Assumimos a nossa
humanidade quando nos comprometemos com os nossos irmãos e labutamos por um
mundo humano e fraterno. Assumimos a nossa divindade quando colocamos os olhos e
o coração em Deus, nosso senhor e Salvador. Nas opções que fazemos, não podemos
esquecer que fomos criados para o que é grande, para o infinito, para Deus!

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Assumimos a nossa humanidade…

Sem perdermos de vista a nossa divindade.

Julho/Agosto 2013
Maria modelo de fé

Ao finalizarmos as nossas reflexões sobre o Credo no contexto do Ano da Fé, gostaria


de refletir convosco sobre um modelo de fé – Maria.

Maria foi muito importante na vida de Jesus e deve sê-lo também na nossa vida. Ela é a
cristã autêntica, comprometida com o Reino de Deus, sempre dócil e obediente à
vontade de Deus, modelo de Igreja e modelo para todos os cristãos.

UM MODELO ACESSÍVEL
A vida de Maria não foi fácil, assim como a nossa também não é. Desde que aceitou ser
mãe do menino Jesus, a sua vida tornou-se um mar de surpresas, nem sempre
agradáveis. Começou a andar no fio da navalha entre a aceitação e a rejeição, os
aplausos e a humilhação social. Maria não entendia tudo o que se estava a passar, mas
com uma fé grande, entregou-se nas mãos de Deus, fazendo-se «serva e escrava». Deus
escolheu-a como instrumento ao serviço do seu plano de salvação, uma jovem, virgem,
de origem humilde, porém com um coração puro, repleto de amor e ternura. Razões
pelas quais Maria foi uma mulher de fé e de determinação, um exemplo a ser seguido
por cada um de nós.
FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU
Para todos nós, Maria é modelo de fé e de oração, de contemplação do mistério divino:
é uma mulher obediente à Palavra de Deus, de quem Isabel testemunhou: «Feliz de ti
que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
Maria é modelo de amor e doação: põe-se a caminho para servir a sua prima Isabel que
está prestes a dar à luz.
A Virgem Maria realizou, do modo perfeito, a «obediência da fé», acolhendo a
comunicação e a promessa trazidas pelo anjo Gabriel, acreditando que a Deus nada é
impossível. Durante toda a sua vida a sua fé jamais vacilou. Isabel saudou-a, chamando-
a feliz porque acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor. É
por causa dessa fé que todas as gerações a hão de proclamar bem-aventurada.

ACREDITOU EM JESUS
Maria tem na Bíblia um lugar discreto, mas não menos especial. Ela é sempre vista em
função de Cristo. Maria é a mãe terna que ampara e protege o seu filho e sempre nos
convida a sermos-Lhe fiéis, como referiu nas bodas de Caná: «Fazei tudo o que Ele vos
disser.» Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na
história da salvação, de Belém até o Calvário. Uma presença leve e serena, na maior
parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a
compreender e a servir aos desejos de Deus. A sua presença diante da cruz é sinal que o
amor persevera. Razão pela qual merece dos cristãos um carinho todo especial pelo seu
importante papel na história da salvação. A grandeza de Maria apenas se compreende no
mistério de Cristo e, quanto mais a Igreja o aprofunda, mais compreende a singular
dignidade de Maria e o seu papel na história da salvação.

MARIA – MÃE
Assim como a mãe é, na família, o centro de todo amor, afeto, carinho, bondade, assim
Maria, na Igreja, com sua presença feminina, cria o ambiente de família, o desejo de
acolhimento, o amor, o respeito à vida. A presença de Maria, na Igreja, é uma realidade
tão profundamente humana e santa que desperta nos crentes as preces de ternura, de dor
e de esperança. Assim, Maria é venerada como mãe de Deus, da Igreja e de toda a
humanidade, uma mãe imaculada, pura, santa, mas também uma mãe forte, corajosa,
que assumiu plenamente o seu papel de mulher e de mãe. Maria recebeu de Deus Pai a
missão de gerar, cuidar e educar o Seu Filho até ao dia em que Ele estivesse pronto para
a Missão a que foi destinado. Ela é modelo para todas as mães como exemplo perfeito
de educadora, pois, mesmo sem ter estudado (porque as mulheres da época não podiam
praticar algumas atividades, como, por exemplo, estudar), sem ter conhecimento de
história, geografia, filosofia, ciências, etc., ela tinha em si algo muito mais importante, o
Espírito de Deus, que a fazia a mais sábia de todas as mulheres.

A DEVOÇÃO A MARIA
O carinho do povo por Maria faz com que ela seja louvada de diferentes maneiras e com
diversos títulos. É o cumprimento da profecia que fez no seu cântico do Magnificat:
«Todas as gerações me chamarão bem-aventurada.» O importante é que esse amor não
se reduza a devocionismos ou meras celebrações festivas, mas se concretize na vivência
do evangelho de seu Filho Jesus. A verdadeira devoção a Maria manifesta-se na
imitação das suas virtudes e na vivência dos ensinamentos de Jesus. Venerar Maria
significa, antes de tudo, uma atitude de gratidão, um gesto de carinho e de fé para com
aquela que, numa escuta atenta, soube ouvir a voz de Deus e prontamente se
disponibilizou a acolher o projeto que Deus tinha para ela e para o mundo. Maria é um
modelo de fé para todos nós.

Devoção a Maria é a imitação das suas virtudes

Maria diz-nos: «Fazei o que Jesus vos disser.»

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Outubro 2013
Francisco e as JMJ

Nas Jornadas Mundiais da Juventude, Rio 2013, o Papa Francisco convocou-nos para
sermos revolucionários e rebeldes numa cultura de consumismo e desumanização.

Gostaria de realçar alguns dos apelos feitos pelo Papa Francisco durante as JMJ Rio
2013, mesmo correndo o risco de omitir outros importantes. Ele não se cansou de
desafiar os jovens a serem os protagonistas das mudanças sociais, a participarem na vida
e a não serem meros observadores dos acontecimentos. Apelou ao entusiasmo, à
proximidade e à criatividade na prática e na ação da Igreja: «Por favor, não deixem que
outros sejam os protagonistas das mudanças, vocês são os protagonistas do futuro.»

UM PAPA DE PROXIMIDADE
Um dos maiores apelos do papa foi a maneira como se apresentou aos jovens: a sua
simplicidade, a sua proximidade com as pessoas, os seus atos de solidariedade com os
pobres e excluídos. Francisco apresentou-se como um humilde servidor da fé, despojado
de todo o aparato, tocando e deixando-se tocar, falando a linguagem dos jovens e as
verdades com sinceridade. «Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a
Igreja é mãe, e nem vocês nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá
carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa
proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe
que se comunica com seu filho por carta.»

BATER À PORTA
O papa empregou esta expressão várias vezes, em contextos diferentes, para sublinhar a
sua vontade de se encontrar autenticamente com cada um dos jovens em vez de fazer
uma simples visita. Talvez com isso o papa queira apresentar um sinal de que deseja
exercer o seu ministério de forma próxima e acessível e desafia-nos a fazermos o
mesmo. «Aprendi que para ter acesso a vós, é preciso ingressar pelo portal do vosso
imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a
esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho
ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!»; «Quero
bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um
“cafezinho”, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos
filhos, dos avós...»

SAIR
O Papa Francisco pediu aos jovens que saiam às ruas e lutem pelos verdadeiros valores
católicos. Não ficar dentro do Igreja, foi um dos temas que Francisco mais
insistentemente referiu. «Não podemos ficar enclausurados na paróquia, na nossa
comunidade, na nossa instituição paroquial ou na nossa instituição diocesana, quando
tantas pessoas esperam o Evangelho. [...] Não é um simples abrir a porta para que
venham, para acolher, mas sair pela porta para buscar e encontrar. Encorajemos os
jovens a sair.» O papa tem vindo a insistir na necessidade de os jovens saírem de si
mesmos, de um modo de viver a fé cansado e habitual, da tentação de fechar-se nos
próprios esquemas que acabam por fechar o horizonte da ação criativa de Deus e a
abrirem-se à novidade e à bondade que vem de Deus.

MISSIONÁRIOS
O tema das JMJ, «Ide e fazei discípulos entre todas as nações», foi um dos apelos que
os jovens terão retido melhor, tantas vezes foi repetido. O papa desafiou os jovens a
serem protagonistas da missão e da evangelização e a não se deixarem levar pela cultura
dominante ou pelas estruturas sociais. É a eles que cabe fundar os alicerces de um
mundo e de uma Igreja melhores. «Jovens, por favor, não se ponham na “cauda” da
História. Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um
mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de
fraternidade, de solidariedade. [...] Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta
cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo.
[...] Queridos jovens, por favor, não “olhem da varanda” a vida, entrem nela. Deus quer
que sejamos missionários [...] onde Ele nos colocou.»

ESPERANÇA
Ao apelar para a juventude se comprometer, o papa não ignorou o grande risco de
desânimo, tantas vezes presente nos jovens, perante os fracassos e desilusões que podem
encontrar no mundo, mas também neles próprios. Contra isso, só a esperança cristã pode
ser um remédio. «Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às
injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com
pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício.
Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a
confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem
pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem
ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem
precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio "para que todos tenham vida, e vida em
abundância.»

Jovens, não se ponham na “cauda” da História.

Sejam protagonistas. Construam um mundo melhor.

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Novembro 2013
O valor da hospitalidade

O mundo atual, marcado por um crescente individualismo e isolamento, precisa, cada


vez mais, de valores como a hospitalidade, para criarmos uma sociedade mais humana e
acolhedora, na qual as pessoas se sintam acolhidas e protegidas.

São suas as palavras latinas que deram origem ao termo «hospitalidade», hospitalitate,
para designar o ato de hospedar, de acolher afetuosamente, e hospitate, a qualidade, a
disposição acolhedora de quem oferece hospedagem, de quem bem recebe hóspedes. É
evidente e sugestiva a raiz etimológica de «hospitalidade», já que partilham da
propriedade comum de acolher a outros e atender às suas necessidades. Levando um
pouco mais longe a ideia, talvez possamos associar a hospitalidade com a partilha de
espaços, recursos ou comodidades, com a oferta de segurança, conforto e proteção, com
a generosidade ou carinho a quem precisa.
A nossa cultura de hoje, hedonista e egocêntrica, que busca unicamente a satisfação dos
indivíduos, rejeita tal valor. Necessitamos, urgentemente, de desenvolver e afirmar uma
nova ética e cultura de hospitalidade.

PRESENTE DESDE O INÍCIO


O valor da hospitalidade remete-nos para a essência da estrutura básica da vida do ser
humano. Existimos porque fomos acolhidos: a hospitalidade da mãe, o colo do pai, a
companhia dos amigos… A hospitalidade é um dos mais significativos gestos fraternos,
desde o início da nossa vida, porque pressupõe acolhimento e valorização das pessoas
na sua individualidade. Ela cria relacionamentos e convivências, provoca o diálogo e o
amadurecimento na vida comunitária.

HOSPITALIDADE NA BÍBLIA
A hospitalidade era um costume amplamente observado em Israel e existem na Bíblia
muitos registos históricos com uma ampla variedade de modos e circunstâncias. A
hospitalidade é definida na Bíblia como um dom (1Pe 4, 9). Abraão teve uma
experiência linda de hospitalidade (Gn 18, 1-16). O escritor da epístola aos hebreus
chega a afirmar: «Não vos esqueçais da hospitalidade, pois por ela alguns, sem o saber,
hospedaram anjos» (Hb 13, 2). Isabel e Maria hospedam-se reciprocamente, partilhando
o lar e o alimento, a trepidação e as alegrias, a fragilidade e a coragem. Ser hospitaleiro
é um dom, é pôr-se ao serviço dos outros e o primeiro a servir foi o próprio Deus,
enviando o Seu Filho único para servir, redimindo!

JESUS E A HOSPITALIDADE
Jesus viveu e valorizou a hospitalidade não só com os discípulos, mas também com os
marginalizados e rejeitados do seu tempo. O Evangelho diz-nos que Jesus visitou a casa
de Marta e Maria, irmãs de Lázaro, a quem Ele bem conhecia. As duas irmãs
hospedaram-no e acolheram-no com carinho, tendo cada uma delas comportamentos
próprios. Marta, provavelmente a mais velha, preocupa-se em preparar o necessário,
para o acolhimento e para a hospitalidade, numa correria para cumprir as tarefas nos
momentos certos. Maria fica sentada ao lado de Jesus e vai apreciando as suas palavras
numa atitude de escuta e de contemplação do que estava ouvindo do Mestre. É bom
hospedar e cuidar bem das pessoas, mas isso tem grande valor quando criamos diálogo,
amizade, relacionamento e valorização das palavras. Por essa razão, o Senhor fez
questão de valorizar a atitude de Maria e criticou a agitação de Marta. Jesus diz-nos que
a hospitalidade e o serviço ao próximo não podem ser dissociados da convivência
fraterna.

A ARTE DE ACOLHER
A hospitalidade é o acolhimento afetuoso de uma pessoa, é uma prática de pessoas que
foram regeneradas pelo Espírito Santo e que frutificam esse ato pelo amor que
transborda em suas vidas. E é por causa disso que Pedro exorta a que a hospitalidade
não deva ser exercida juntamente com a murmuração (1Pe 4, 9). Não existe
hospitalidade acompanhada de uma cara carrancuda! A hospitalidade define-se sempre a
favor do outro. Abstraindo-nos das especificidades inerentes a cada exemplo possível de
hospitalidade, poderíamos formulá-la, de forma genérica, como uma arte de acolher,
uma atitude atenta, disponível e aceitante das necessidades alheias e o poder de as
atender, preencher, ou cuidar.

A ÉTICA DA HOSPITALIDADE
Como manter a hospitalidade nas nossas vidas, nas grandes cidades, entre povos e
países? Entre a ingenuidade perigosa e o medo fechado, existe um caminho intermédio
que é a ética da hospitalidade. Um comportamento que inverte a prática policial que
considera todos como suspeitos até que se prove a sua inocência. A ética da
hospitalidade aposta na credibilidade do outro até que ele a negue. Essa atitude primeira
de acolhimento funda-se no valor do outro e estabelece uma confiança de fundo entre os
humanos. Essa atitude autoriza a entrada do outro no espaço próprio sem reservas ou
desconfianças, ajudando-o a sentir-se seguro, algo que somente ocorre quando se sente
acolhido na casa, na vida e na história. Este é o desafio, é preciso criar uma ética da
hospitalidade elevada à instância de dever, que passa pelo cultivo de um respeito
inviolável pela história do outro, da sua identidade, da sua bagagem cultural, política e
religiosa.

A nossa cultura é hedonista e egocêntrica

A hospitalidade é uma dimensão do convívio fraterno

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HOSPITALIDADE.

Dezembro 2013
O(s) valor(es) do Natal

Pedi a um amigo e vizinho meu, o Manuel, um adolescente que frequenta o 8.º ano, que
me dissesse o que é para ele o Natal e o que mais valoriza nesta época.

Gostaria de partilhar convosco uma reflexão sobre este texto do Manuel: «Natal! Que
bem que soa a palavra… se bem que, para algumas pessoas, o termo remeta apenas para
presentes cheios de laçarotes e para a satisfação material. Com sinceridade: desconfio
que em cada um de nós mora a imagem de um Natal farto e feliz, recheado de luzes e
brilhos, embrulhos e abundância. Mas são estes os verdadeiros valores do Natal?
O Natal verdadeiro é aquele que é vivido de mãos dadas com os outros, de forma
fraterna, sem solidão; é aquele que é feito de união, de partilha e de amizade; é aquele
que faz do Menino do presépio o centro da celebração. É sentir que, à nossa mesa
haverá sempre lugar para mais um… é acreditar que o mundo pode e deve ser melhor e
que cada Homem terá direito a trabalho, a paz e dignidade!»

NATAL DE HOJE
Mais uma vez o nascimento de Jesus está diante dos nossos olhos. O Filho de Deus, que
se fez homem, nasce entre nós, torna-se Deus connosco, para nos salvar, num gesto de
espantosa solidariedade e numa lição de paz, amor, concórdia e de fraternidade. Porém,
é triste ver um mito do Pai Natal ocupar o lugar do Menino Deus nos festejos natalinos:
um ícone do consumismo, imposto à nossa cultura, desfasado da verdade histórica e dos
valores do Natal. Hoje, Jesus nasce envolto numa mistura de sentimentos e valores que
podem levar-nos à confusão ou ao desinteresse pela celebração do Natal.
O Natal está a perder o seu verdadeiro significado. Hoje o que vemos é um exagero no
consumo, e o tempo que deveria ser dedicado à reflexão e à união familiar é
transformado em mera troca de presentes. As ruas iluminadas, as casas enfeitadas e as
lojas com decorações exuberantes têm em mente apelar unicamente ao consumismo,
mesmo num tempo de crise económica. É pouco, ou quase nada, aquilo que nos lembra
a simplicidade do primeiro e verdadeiro Natal. O Menino Jesus é substituído pelo Pai
Natal dos centros comerciais, rodeado de crianças a ouvir pedidos que nunca poderá
satisfazer. O que todos querem é o que o dinheiro pode comprar. Torna-se muito difícil
não cairmos nesta armadilha, já que todos somos empurrados a desejar os bons e
grandes presentes no Natal. Como nos diz o papa emérito Bento XVI, «na sociedade
consumista de hoje, a época do Natal é, infelizmente, sujeita a um tipo de poluição
comercial que ameaça alterar o seu verdadeiro espírito, caracterizado pela meditação,
pela sobriedade e por uma alegria que não é externa, mas íntima».

FALSO NATAL
Este Natal consumista só cria e perpetua frustrações. É possível sentirmo-nos
insatisfeitos, sós e cheios de tristeza, ainda que rodeados de pessoas; ainda que a
televisão e a sociedade digam que é uma noite feliz. Num rápido olhar pelo mundo e
pelas pessoas vemos corações amargurados, guerras, ódios, injustiças, egoísmo, miséria,
fome, doenças, drogas, desrespeito pela pessoa humana, e damos conta do longo
caminho que ainda há a percorrer até que a mensagem do Natal seja vitoriosa. Perante
isto apodera-se de nós um profundo vazio existencial, ao percebermos que, nesta
celebração, uma das mais importantes do Cristianismo, não estamos a celebrar o Natal,
mas a celebrar o culto ao «deus» consumismo. É uma constatação que dói muito, pois
damo-nos conta da perda dos verdadeiros valores do Natal: união, amor, família,
solidariedade, alegria... Será que não terá chegado o momento de revermos em que
valores estão assentes a nossa vida e a nossa espiritualidade?

A ESSÊNCIA DO NATAL
O Natal é a festa da vida, uma festa alegre, mas não de uma alegria que depende de
determinados presentes. Não de uma alegria falsa, de uma alegria comprada, mas da
alegria vivida na intimidade e no aconchego de Deus que se faz um de nós. É preciso
voltar às raízes, à génese do Natal, à família de Nazaré. É preciso imitar a humildade, a
fé e a disponibilidade de Maria. Jesus poderia ter nascido com tudo o que a sua
dignidade merecia, mas, em vez disso, escolheu nascer na simplicidade de um estábulo.
Os seus primeiros dias de vida foram caracterizados pela pobreza, pela inquietação e
pela fuga, drama que também hoje assola milhões de pessoas. A maravilhosa história de
Deus feito homem para a salvação da humanidade deve ser refletida e meditada de
modo que nos inspire a viver o verdadeiro Natal.

OS PRESENTES DE NATAL
Jesus Cristo foi o maior presente para a humanidade. É por isso que também hoje, no
Natal, se costumam oferecer presentes. Os nossos presentes podem ser os mais variados,
contudo não deve faltar o nosso testemunho de fé, simplicidade e, sobretudo, muito
amor. Estas devem ser as características dos nossos presentes. Escutem a voz do vosso
coração e dos mais sinceros e profundos sentimentos. Façam tudo para que, na noite de
Natal, além dos presentes, não falte uma oração: uma oração espontânea, sincera,
agradecida! Fortalecidos pela fé, deixemo-nos conduzir pelo brilho e pela beleza da vida
que nos aponta o Menino Jesus.

O Natal consumista cria e perpetua frustrações

O Natal é a festa da Vida, não das prendas.

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NATAL.

JENEIRO 2014
O VALOR DA INTIMIDADE

Existe uma zona profunda no íntimo de cada um de nós, que deve ser preservada, visto
tratar-se do nosso tesouro sentimental: a intimidade. Ela é um valor muito apreciado,
mas também muito maltratado na sociedade.

A palavra «Intimidade» deriva do termo latim intimus, que significa «interior»,


«íntimo», «oculto», «o que está nas entranhas». Tem um conceito de segredo, confiança,
interior, e refere-se ao que está dentro, ao que atua no interior.
Intimidade, como tal, é um conhecimento privilegiado do que é revelado na privacidade
de uma relação interpessoal, enquanto normalmente é ocultado perante o público. Trata-
se de um mundo interior onde habitam e se escondem os sentimentos, desejos, sonhos,
pensamentos, alegrias e sofrimentos, anseios ou vergonhas, atos ou omissões... e que
são o que há de mais nosso e só nosso.
A intimidade situa-se no núcleo oculto de cada pessoa onde se tomam as decisões mais
profundas e próprias. É o que podemos chamar de «lugar sagrado» (santuário), que cada
pessoa possui. Aliás, é a existência desta interioridade que nos possibilita sentirmo-nos
pessoas. Assim, criar intimidade é gerar um elo, um contacto, uma tensão, um
movimento consigo mesmo ou com o outro. Uma ligação entre o interior e o exterior,
entre o passado e o presente, é propiciar proximidade e cumplicidade, sem esquecer que
todos precisamos de processos de abertura e de fechamento que protejam a nossa
interioridade.

INTIMIDADE COM OS OUTROS


Apesar de a intimidade ser algo muito nosso, há pessoas com quem nos sentimos à
vontade para a partilhar. No entanto, uma relação íntima entre duas pessoas exige a
capacidade de se ser independente ou de ter um adequado nível de diferenciação, de
confiança mútua e um nível adequado de amor-própio. Assim, a intimidade sã deve
basear-se numa forte autonomia individual, em que aceder à intimidade significa,
simultaneamente, pôr-se na pele do outro sem perder a noção da própria identidade e
receber o outro no seu próprio território íntimo sem se sentir invadido. O amigo mais
íntimo é aquele que sabe tudo a nosso respeito visto partilhar o mais sagrado que temos
– a intimidade. Este amigo mais íntimo é aquele em que sempre pensamos quando
vamos fazer alguma coisa, ou tomamos uma decisão difícil.

INTIMIDADE E REDES SOCIAS


Uma das maiores ameaças que pesam atualmente sobre o indivíduo é a invasão dessa
zona íntima e pessoal. O homem é um devorador gigantesco de segredos e intimidades.
Gosta de penetrar nessas regiões desconhecidas, descobrir o lado obscuro e misterioso
das pessoas, divulgar o que ninguém sabe. Prova disso são certos tipos de reality shows,
certas revistas e jornais sensacionalistas que expõem sistematicamente e
quotidianamente a vida das personalidades. As informações disponibilizadas na Internet,
muitas vezes, fornecidas ingenuamente pelo próprio usuário, circulam de forma
irrestrita pela Rede. Assistimos, por um lado, à impressionante exposição exagerada da
intimidade e privacidade das pessoas e por outro à sua progressiva invasão e violação.
As fronteiras da nossa intimidade devem estar constantemente vigiadas e só devem
permitir a entrada, se alguma vez a concederem, àqueles a quem desejamos abrir a nossa
própria intimidade. Ninguém tem o direito de exigir este convite e qualquer tentativa de
buscar conhecer e penetrar sem licença prévia será uma profanação do nosso santuário,
que é a intimidade. Perante isso torna-se urgente e fundamental refletirmos sobre o que
significa a valorização das nossas singularidades e o cuidado e respeito pela da nossa
intimidade, assim como avaliar as vulnerabilidades e as fragilidades de um uso
irresponsável desses meios.

INTIMIDADE COM DEUS


Por mais íntimos que sejamos connosco ou com os outros isso não satisfaz a ânsia de
sermos íntimos com Deus. Ter intimidade com Deus é gozar de um relacionamento
profundo, intrínseco e puro com Ele. Ele conhece tudo que se passa nos nossos corações
e mentes, conhece as nossas necessidades e fraquezas, sabe o que está certo e o que está
errado. É impressionante saber que Deus já tinha intimidade connosco, antes de nós
buscarmos uma intimidade com Ele: Deus criou-nos, conhece a nossa estrutura e sabe o
que é melhor para nós em qualquer momento da nossa vida. Deus é omnisciente, ou
seja, Ele sabe tudo e nada está oculto aos seus olhos, por isso não podemos esconder-
nos de Deus, ou ocultar qualquer coisa perante os Seus olhos. É através do nosso
espírito que Deus mantém comunhão connosco e partilha a intimidade no mais profundo
do nosso ser. Para ter intimidade com Deus é preciso aprender a ser dependente de
Deus. E depender do Senhor é compreender que a vontade Dele prevalece sobre a
minha, que o tempo do Senhor é diferente do tempo que desejo, que os pensamentos do
Senhor são mais altos que os meus pensamentos, que ele é Pai e eu sou seu filho por
adoção. Assim, a oração é a forma mais bonita de iniciarmos, alimentarmos e
crescermos na intimidade com Deus.

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valor da INTIMIDADE.

A intimidade garante-nos a estabilidade interior.

O amigo mais íntimo é o que sabe tudo a nosso respeito.

FEVEREIRO 2014
O valor da mansidão

Jesus subiu a um monte. Tomou a palavra e começou a ensinar a multidão, dizendo:


«Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra» (Mateus 5, 5).

Durante a preparação para o sacramento do crisma, que recentemente realizei numa


paróquia da diocese de Viseu, um jovem interrogou-me sobre o valor e o significado da
mansidão e pedia-me para explicar a frase de Mateus. Dizia ele que vemos tantas
guerras por um pedacinho de terra, enquanto Jesus afirmou que somente os mansos
herdarão a terra. Disse-lhe que talvez Jesus nos queira dizer que, no Reino de Deus, as
regras são diferentes das deste mundo, que não é pela força nem pela violência que
tomaremos posse daquilo que nos pertence, mas sim pela mansidão da fé em Deus.
Disse-lhe que a mansidão é, acima de tudo, um fruto do Espírito Santo que parece
perdido na nossa cultura extremamente agressiva e egocêntrica, mas extremamente
necessário para um mundo mais justo.

Como nasceu a palavra mansidão


A palavra «mansidão» vem do latim mansuetudo que, literalmente, quer dizer
«acostumado à mão», referindo-se aos animais domesticados acostumados ao contacto
humano. A etimologia, à primeira vista, parece não ajudar a compreender o valor da
mansidão, visto não nos estarmos a ver como animais domesticados. Mas, se pensarmos
melhor, veremos que não se trata de um animal fraco. Pelo contrário! A questão é que a
sua força foi contida e direcionada. A mansidão é uma força submetida a uma
autoridade apropriada. Em grego, a palavra mansidão é πραυτης (prautes), que significa
«gentileza», «brandura», «humildade». Podemos dizer, então, que mansidão é um
estado de espírito de alguém que tem controlo e domínio sobre o seu temperamento e
atitudes.

A força da mansidão
Atualmente, a mansidão não é um valor muito apreciado. A palavra contém uma ideia
de falta de dinâmica e de ânimo, ou falta de força e virilidade. Embora fraqueza e
mansidão possam parecer semelhantes, não são a mesma coisa. A fraqueza deve-se a
circunstâncias negativas, como a falta de força ou a falta de coragem. Mansidão, pelo
contrário, é o resultado de uma decisão consciente para confiar em Deus e se apoiar
Nele. A mansidão origina-se na força e não na fraqueza. Uma pessoa mansa é serena,
ponderada, prudente e equilibrada; é o contrário de uma pessoa agressiva, ou brava.
Mansidão é saber lidar com o inevitável e construir, com paciência e determinação, uma
ponte entre a guerra e a paz.

Fruto do Espírito
A mansidão, assim como o amor, a alegria, a paz, a paciência, a amabilidade, a bondade,
a fidelidade, o domínio próprio são frutos do Espírito Santo. A mansidão é,
essencialmente, humildade para com Deus e gentileza para com as pessoas. Mansidão é
resultado de uma opção pessoal de confiar na força e poder de Deus – o Espírito Santo –
em vez de pressionar para que as coisas aconteçam ao nosso modo. Ser manso é ser
como Jesus: «Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). O
manso é alguém que espera e confia no Senhor, é alguém que não se entrega à ira, nem
à cólera, é alguém que procura a paz e o bem, e, por isso, será co-herdeiro em Cristo do
reino dos céus.

Modelos de mansidão
A Bíblia apresenta-nos vários modelos de mansidão. Abraão abriu mão dos seus direitos
e deu a Lot a oportunidade de escolher primeiro (Gn 13:8,9). Uma pessoa mansa abre
mão, não briga pelos seus próprios direitos. José, que tinha sido vendido como escravo
pelos próprios irmãos, usou de mansidão quando eles o procuraram, agora como
governante do Egito, para comprar comida (Gn 45). Ainda jovem, David foi ungido para
ser rei de Israel. O rei Saul ficou loucamente ciumento e, por anos, procurou David com
a intenção de o matar. Em duas ocasiões, David teve a oportunidade de matar Saul, mas
a mansidão de David não o permitiu fazer. Moisés é descrito como o homem mais
manso do seu tempo (Nm 12, 3), apesar das inúmeras injúrias que sofreu do seu próprio
povo. Em vez de se irar e revoltar contra o povo, Moisés caía de joelhos em oração pelo
povo. Mas é em Jesus de Nazaré que encontramos o maior modelo de mansidão. Os
Evangelhos são, do início ao fim, a demonstração da sua mansidão. A prova máxima da
mansidão de Cristo é dada no momento da sua paixão.

A visão cristã da mansidão


Mansidão, à luz da perspetiva de Jesus, é a virtude através da qual aprendemos a
entregar a Deus todos os nossos direitos e a confiarmos que Ele nos conduzirá à vitória.
Isto não implica uma passividade diante da vida, mas, sim, uma nova visão da vida,
marcada pela não violência, pelo respeito pelas pessoas, pela não agressividade e pela
não satisfação em vencer à custa da derrota e do aniquilamento dos outros. Aos mansos,
Jesus chamou de bem-aventurados porque herdarão a terra. Se Deus dá tanto valor aos
mansos, sejamos perseverantes em cultivar esse valor tão precioso aos Seus olhos, neste
mundo conturbado e violento, onde a mansidão é tão maltratada e desprezada.

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valor da MANSIDÃO.

A mansidão origina-se na força e não na fraqueza.

Uma pessoa mansa é serena, ponderada, prudente e equilibrada.

Março 2014
A felicidade vem de dentro

Ser feliz é o desejo mais profundo do coração humano. Vivemos numa sociedade que
busca e valoriza desenfreadamente a felicidade. Mas o que é a felicidade? O que é
realmente ser feliz? Onde é que o ser humano está a procurar a felicidade?

Em latim, a palavra felix, que dá origem ao termo «felicidade», quer dizer «fértil»,
«frutuoso», «fecundo». Mais tarde, por evolução metafórica, já que o que é fértil é
também propício e favorável, felix tornou-se sinónimo de afortunado, alegre, satisfeito.
A raiz de felix é indo-europeia e está relacionada com a ideia de amamentar, dar frutos.
Acho interessante esta relação, visto poder revelar aspetos importantes sobre o que é
realmente a felicidade. Para a mãe e para o filho, esse é o momento de maior felicidade:
para o filho é a sensação de conforto, proteção, nutrição e para a mãe é uma sensação de
plenitude e fertilidade. A etimologia faz-nos compreender melhor que a felicidade não
vem de fora, mas de dentro. Assim como a mãe gera dentro de si o seu filho, dá-o à luz
e amamenta-o, também nós geramos a felicidade dentro de nós: ela não depende dos
outros, é gerada em nós, está dentro de nós, alimentamo-la e manifestamo-la aos outros.
A felicidade é um momento durável de satisfação, em que o indivíduo se sente
plenamente satisfeito e realizado.

BUSCA DA FELICIDADE
A felicidade é o nosso destino e vocação. Ela é inerente ao ser humano, todos a
buscamos, todos a queremos. Se, por vezes, não a encontramos, é porque a procuramos
no lugar errado ou de forma errada. Nessa busca muitos trilham caminhos mais «fáceis»
ou alternativos com o intuito de serem felizes, mas acabam por se deparar com a
deceção e o consequente arrependimento. Teimamos em buscar fora de nós o que está
bem dentro nós. Santo Agostinho dizia: «Eis que tu estavas dentro de mim e eu te
procurava do lado de fora.» Se a felicidade tende a ser perene e está no essencial, então
ela não pode estar nas coisas efémeras, passageiras e transitórias. Ser feliz é buscar a
felicidade e não ter medo de para isso renunciar ao supérfluo, ao efémero, para
encontrar o essencial, o eterno. O presente pode não nos agradar, mas pode também não
ser motivo de visível infelicidade pela expectativa e esperança que depositamos na
construção de um estado melhor.

FELICIDADE E PRAZER
Prazer não é sinónimo de felicidade. Em certos casos, pode até ser, mas não
necessariamente e nem para sempre. O prazer que traz felicidade no momento presente
pode ser a causa da infelicidade amanhã. A infelicidade costuma ser o resultado, a curto
ou longo prazo, da busca da felicidade a curto prazo e de qualquer maneira. Mas,
também, momentos felizes não são o mesmo que felicidade. Esta mentalidade errónea já
fez vítimas demais. Somos chamados a cultivar a felicidade como um todo e não viver
apenas momentos felizes. Como nos diz o Papa Francisco, «o dinheiro e o poder podem
oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de ser felizes, mas, no final, dominam-
nos e levam-nos a querer ter cada vez mais, a não estar nunca satisfeitos.»

SER FELIZ É…
Diz o psiquiatra Augusto Cury que ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar
de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima
dos problemas e tornar-se autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas
ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada
manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos e saber
falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um «não» e ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta. Uma pessoa só é realmente feliz quando tem o amor de Deus
no seu coração. A pessoa feliz é satisfeita com o que tem, vive bem com as pessoas à
sua volta e está sempre pronta a ajudar o seu irmão. É feliz aquele que, sobre o alicerce
dos seus valores, é capaz de definir o seu projeto de vida e de o transformar em
realidade.

A VERDADEIRA FELICIDADE
Torna-se urgente educarmos os nossos adolescentes e jovens para a felicidade. Bento
XVI deixou-nos um desafio: «Peço-vos que não busqueis uma felicidade limitada,
ignorando todas as outras. Ter dinheiro torna possível ser generoso e fazer o bem no
mundo, mas só isto não é suficiente para tornar a pessoa feliz. Ser grandemente dotado
em algumas atividades ou profissões é algo positivo, mas jamais poderá satisfazer-nos,
enquanto não apostarmos em algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos
fará felizes. A felicidade é algo que todos nós desejamos, mas uma das grandes tragédias
deste mundo é que muitos não a conseguem encontrar, porque a procuram nos lugares
errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade deve ser procurada em Deus.
Temos necessidade da coragem de depositar as nossas esperanças mais profundas
unicamente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no êxito mundano ou nos nossos
relacionamentos com os outros, mas em Deus. Só Ele pode satisfazer a necessidade
mais profunda do nosso coração!»
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valor da FELICIDADE

A felicidade não vem de fora, mas de dentro.

Não busquem uma felicidade limitada

Abril 2014
O VALOR DA PÁSCOA

A Páscoa cristã comemora a ressurreição de Jesus Cristo. Depois de morrer na cruz, o


corpo de Jesus foi colocado num sepulcro, onde permaneceu durante três dias, até à sua
ressurreição.

Preparada pela longa quaresma – um tempo de oração, caridade e conversão pessoal –,


perpassado pelo mistério do amor presente na dimensão eucarística da Quinta-Feira
Santa, pelo amor crucificado da Sexta-Feira Santa, pelo silêncio expectante de sábado, a
Páscoa resplandece, no domingo, com o amor alegre e vitorioso do Jesus vivo e
ressuscitado, presente na nossa existência e história. Este é o dia mais importante do
calendário cristão, pois nele assenta a fé e a razão de sermos cristãos.

PÁSCOA É MUDANÇA
Páscoa (do hebraico pessach) significa «passagem». Para os judeus, é a passagem da
escravidão para a liberdade. Escravos do faraó no Egito, foram libertados por Moisés,
atravessando o mar Vermelho a pé enxuto, conforme narram as Escrituras. Para nós,
cristãos, a Páscoa também é passagem: da morte à vida, do estado de morte provocado
pelo pecado para o estado de vida, na graça de Deus. Celebramos a Páscoa nesta ótica
da vida nova, a nós trazida pelo próprio Jesus. Ele desejou ardentemente celebrar a
páscoa judaica com os discípulos, pois, nessa páscoa, ele transformaria a figura em
realidade e assumiria um novo conteúdo e significado: é o êxodo de toda a humanidade,
da escravidão do pecado para o perdão e a nova e eterna aliança de amor.

PÁSCOA É VIDA NOVA


Muitos costumes ligados ao período pascal originaram-se nos festivais pagãos da
primavera, enquanto outros vêm da celebração do Pessach, a páscoa judaica, e da nova
Páscoa de Jesus.
Celebrar a Páscoa com Deus – que passa pela história e pela nossa existência – é aceder
a uma fonte de vida que deve ser renovada no nosso dia a dia, é um convite a ser, viver
e gerar a esperança de um mundo melhor; esperança de sermos pessoas melhores. A
ressurreição de Jesus projeta uma luz esclarecedora sobre a nossa realidade, sobre a
razão da nossa vida e sobre os valores que vivemos nas nossas ações. Acreditar na
Páscoa é acreditar na pessoa nova que nasce dentro de nós a partir da ressurreição do
Senhor e movido por um novo sopro de encanto pela vida, pela vida bem vivida:
lutando para vencer o sofrimento, investindo na fraternidade, dizendo «sim» ao amor,
construindo a paz, sendo presença amiga e ajudando as pessoas a ser «pessoa».

PÁSCOA CONSUMISTA
Diante da ditadura do consumismo, a Páscoa tornou-se uma festa comercial que cumpre
uma função imprescindível de aumentar o consumismo e o lucro. São os ovos e os
coelhinhos de chocolate, as amêndoas, os folares, as férias, as viagens… Os símbolos e
o sentido da Páscoa são mercantilizados por uma sociedade materialista e consumista
que olha e reduz tudo a meras trocas de interesse monetário. As reuniões e
confraternizações da família, os alimentos específicos e muitos outros costumes da
páscoa mercantil são importantes e devem ajudar-nos a celebrar a Páscoa, mas não nos
podem desviar do seu principal e essencial sentido.
Hoje, temos uma geração que não entende, nem quer entender, nada do verdadeiro
sentido da Páscoa. Perante isso, devemos comprometer-nos em mantermo-nos fiéis às
nossas origens cristãs e celebrarmos o sentido original, belo e profundo da maravilhosa
celebração que é a ressurreição do Senhor. Que as nossas boas obras e nossas vozes, em
cada canto das nossas cidades, vilas e aldeias, possam levar a alegria do Ressuscitado,
sobretudo aos mais pobres, aos doentes e a todos aqueles que marginalizados pela
sociedade, esperam e necessitam desse anúncio.

PÁSCOA É ALEGRIA
Nesta Páscoa devemos irradiar ao nosso redor a alegria, a esperança e a certeza da
presença de Cristo Ressuscitado na nossa história pessoal. Que se encha o nosso olhar
de luz, como os das mulheres que viram o sepulcro vazio e o Filho de Deus
ressuscitado. Que possamos também nós, numa só fé, exclamar como elas: «O Senhor
Ressuscitou, aleluia!»
Somos testemunhas de ressurreição pela alegria que se expressa num sorriso, numa
consolação, num gesto positivo, numa atitude em favor da vida. Jesus Cristo
ressuscitado é a alegria verdadeira que o mundo não poderá tirar. Vencer a morte,
ressuscitar, abrir as portas do futuro é a máxima alegria de toda a humanidade. A vida
não acaba. O céu não está vazio. Somos esperados pelo Amor. O nosso futuro é a
plenitude da vida, a glória, a eternidade feliz, a visão de Deus, o reencontro de todos que
partiram desta vida. Eis a alegria pascal. Quanta surpresa, quanto arrebatamento, quanta
admiração nos presenteia a festa da Páscoa. A alegria da Páscoa é a alegria da vitória da
vida, do bem, da justiça e do amor. É uma alegria especial porque se refere ao presente e
ao futuro. Uma alegria proveniente da certeza da fé e da esperança que ultrapassa os
horizontes do mundo geográfico e abraça a eternidade.

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valor da PÁSCOA

Páscoa: uma pessoa nova nasce dentro de nós.

Testemunhamos a ressurreição pela alegria

Maio 2014
Acolhimento será um hábito

Como preservar e viver o valor do acolhimento num mundo que parece cada vez mais
egoísta, individualista e violento e onde a desconfiança parece imperar?

Dois acontecimentos levaram-me a refletir sobre o valor e a necessidade do


acolhimento: a estada em Taizé, uma comunidade ecuménica perita em acolhimento, e
uma sessão do sínodo diocesano de Viseu que refletiu sobre a necessidade de
acolhermos. Acolher é um desafio para as sociedades contemporâneas, marcadas e
afetadas por sinais alarmantes e crescentes de isolamento, xenofobia e indiferença que
afetam as relações entre os povos. É preciso reencontrar caminhos e práticas de
acolhimento para esta sociedade de pessoas cada vez mais de costas voltadas.

ACOLHER É…
O termo «acolher», do latim accolligere, significa «receber», «atender», «dar crédito a»,
«dar ouvidos a», «admitir», «aceitar», «tomar em consideração»… Acolher é colocar o
outro mais perto de mim. É receber a pessoa tal qual ela é e se apresenta. O acolhimento
está mais no ouvir e menos no falar, mais no receber e menos no fazer. Acolher é, antes
de mais, uma comunicação entre pessoas que, progressivamente, vão entrando em
sintonia, dialogando, expressando-se em gestos, enfim, estabelecendo elos de união.
Quando acolhemos ou recebemos alguém na nossa casa, a primeira atitude prática que
tomamos é a de abrirmos a porta e deixarmos entrar. É deixarmos entrar a pessoa
inteira, nenhuma parte sua fica do lado de fora.

DIFICULDADES COM O ACOLHIMENTO


Temos muitas dificuldades em acolher verdadeiramente os outros. As correrias e os
ruídos do mundo contribuem para isso e relegam, muitas vezes, o acolhimento para as
coisas que fazemos rara ou ocasionalmente. Com este comportamento marginalizamos e
excluímos muitas pessoas, abrindo espaços para a ansiedade, a revolta, o
enfraquecimento da personalidade e do caráter, dando lugar, muitas vezes, às
depressões. Um aperto de mão, um abraço, um beijo, um sorriso, uma palavra amiga,
coisas tão simples e ao alcance de todos, quando acontecem, celebram o mais sagrado
do ser humano: a capacidade de acolher.

MARIA, MODELO DE ACOLHIMENTO


Como nos dizia João Paulo II: «Maria, ao dar consentimento à Palavra divina que Nela
Se fez carne, torna-se o modelo de acolhimento da graça por parte da criatura humana.»
Maria soube acolher em si a Palavra de Deus e dá-la ao mundo, na pessoa do seu Filho.
Ao visitar a sua prima Isabel, Maria manifesta a capacidade de acolher as preocupações
da sua prima, grávida em idade já avançada. O Anjo, durante a anunciação, falou-lhe da
gravidez da sua prima Isabel. Refletindo sobre esta palavra, Maria entendeu que ela
deveria acolher e assistir a sua prima durante o tempo do parto. Maria é a imagem do
verdadeiro acolhimento, pois sabe acolher e guardar com amor a Palavra de Deus,
transformando-a em serviço de caridade.

JESUS E O ACOLHIMENTO
A atitude permanente de Jesus foi uma prática de inclusão e não de exclusão, uma
prática de acolhimento. O seu acolhimento misericordioso estendeu-se a todo o tipo de
pessoas, o que lhe valeu até incompreensões e antagonismos por parte daqueles que se
surpreenderam e escandalizaram com o seu testemunho. Há três trechos do Evangelho
que falam do acolhimento de Jesus: o encontro com Nicodemos, a conversa com a
mulher adúltera e o jantar em casa de Zaqueu.
Jesus acolheu sempre, à noite (Nicodemos), ao fim da tarde (Zaqueu) ou durante o dia
(mulher adúltera). Jesus acolheu quem o procurou (casos de Nicodemos ou da mulher)
mas também procura quem quer acolher (com Zaqueu, Jesus faz-se acolhido para depois
acolher). Jesus acolheu pessoas fruto de algo previamente combinado (casos de Zaqueu
ou Nicodemos) ou na sequência de algo imprevisto, de surpresa (caso da mulher). Jesus
revela um espírito de inclusão e abertura a todo o tipo de pessoas (diferentes estratos
sociais, diferentes ligações à religião, diferentes participações na cultura, diferentes
géneros), revela uma total disponibilidade (não há quaisquer limites: de tempo, de
lugar), revela, também, um interesse imenso pelo interlocutor (escutando-o, pondo-se ao
seu nível) e, finalmente, mostra sempre um acolhimento compassivo e compreensivo.

O ACOLHIMENTO É UMA ATITUDE


Antes de ser uma tarefa, o acolhimento é uma atitude, que, sendo cultivada dia a dia, se
torna um hábito. Quem acolhe exerce um dos maiores atos de caridade e enobrece o
amor. Quem acolhe dignifica a pessoa e acredita nas infinitas potencialidades inerentes
à condição humana. Acolher é como restaurar no mais íntimo da pessoa acolhida a
confiança e a dignidade. Agindo assim, apercebemo-nos, também, que, à medida que
acolhemos, também estamos a ser acolhidos. É uma relação recíproca que só acontece à
medida que nos sentimos responsáveis uns pelos outros. Só um verdadeiro acolhimento
permitirá formar uma sociedade mais unida e coesa e consequentemente mais feliz.

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valor da PÁSCOA

Acolher é colocar o outro mais perto de mim.

Acolher é um ato nobre de amor

Junho 2014
O valor da diligência

«Diligência» é uma palavra pouco usada e quando é usada, restringe-se, normalmente,


aos meios e ambientes judiciais, todavia encerra em si uma grande riqueza, quer de
conteúdo, quer de valor.

A diligência é uma das sete virtudes do Cristianismo, a virtude humana de seguir e


atingir um objetivo na vida de forma cuidadosa e atenta, esforçando-se na aplicação dos
meios para fazer acontecer o que urge ser feito e da melhor forma possível.
A palavra «diligência» vem do verbo latino diligere, que significa «amar». E diligens
(diligente) significa «aquele que ama».
A pessoa diligente é aquela que age com amor e prontidão (diferente de pressa),
procurando o bem e predispondo-se a atingi-lo. Diligência é a capacidade de combinar
persistência criativa e esforço inteligente com competência e eficácia, para alcançar um
resultado honesto dentro do mais alto nível de excelência e eficácia. Ser diligente é
fazer o que precisa ser feito, é não perder tempo, não acomodar-se ao “mais fácil”, não
buscar desculpas, não adiar. A diligência pressupõe uma atenção esmerada e cuidadosa
para apreciar o valor dos deveres a cumprir e para os escolher conscientemente, como
fruto de uma reflexão atenta e ponderada.

FRUTO DA REFLEXÃO
Uma pessoa diligente é uma pessoa de reflexão. Só quem pensa serenamente nos seus
deveres, na maneira de conjugá-los, nas prioridades que entre eles deve estabelecer, nos
passos necessários para os executar é que possui o controlo da ação e do tempo. Viver
com diligência é saber aproveitar cada dia e não ser uma marioneta puxada aos
solavancos pelas cordas do nervosismo e da imprevidência. A diligência necessita do
solo fecundo da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a
perguntar a nós mesmos: Porque faço isto? Como é que o estou a fazer? Estou a fazer
realmente o que devo e do melhor modo? O homem moderno é pobre em interioridade:
medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que num dado momento
da sua vida, talvez quando já chegou longe demais, se lhe tornem claras, como um soco
na consciência, as palavras de Santo Agostinho: «Corres bem, mas fora do caminho.»

ANTÍDOTO PARA A PREGUIÇA


A diligência é o melhor antídoto para a preguiça. Nos dias de hoje é muita e constante a
tentação da preguiça, de cair na rotina, em vez de ter a coragem de agarrar com firmeza
o leme da vida e controlar energicamente o rumo da navegação. Onde a preguiça cava
um abismo, a diligência ergue uma montanha. O preguiçoso é aquele indivíduo avesso a
atividades que mobilizem esforço físico ou mental, de modo que lhe é conveniente
direcionar a sua vida a fins que não envolvam maiores esforços. Em confronto com a
preguiça, a virtude da diligência consiste precisamente no contrário: na procura com
amor do bem e na constante disponibilidade para fazer o melhor em qualquer
projeto/trabalho/tarefa.

ANTÍDOTO PARA O ATIVISMO


A diligência é, também, um bom antídoto para o ativismo. É comum vermos muitos de
nós num ativismo desenfreado. Não paramos um instante. Vamos de cá para lá,
assoberbados de tarefas, numa incessante corrida atrás do tempo, que sempre nos falta.
As ocupações envolvem-nos como que num remoinho e impedem-nos de sermos donos
de nós mesmos. O “correr” domina-nos como um cavalo sem freio, do qual perdemos
completamente as rédeas. Pelo contrário, uma pessoa diligente aproveita e usa o tempo
para uma reflexão atenta e ponderada, experimentando e afirmando que só há amor
(diligência) quando se sabe apreciar e escolher alguma coisa depois de uma reflexão
esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita mas quem pondera o que fazer
e como fazer.

DILIGÊNCIA E FÉ
São vários os passos bíblicos que nos falam sobre a necessidade de diligência na vida
pessoal. Por exemplo, Abraão e Josué foram chamados a serem uma bênção para eles e
para os outros. Aquilo que eles precisariam de fazer, aquilo que estava em poder de suas
mãos, Deus não iria fazer por eles. Mas o imprevisível estaria nas mãos de um Deus que
jamais é poupado em surpresas. O mesmo se passou com Noé. É óbvio que a fé tem de
estar implícita no ato de acreditar, mas Noé não podia facilitar apesar de saber que Deus
iria cumprir. Ele precisou de se antecipar o suficiente porque um barco daqueles não
poderia ser construído em dois dias de trabalho árduo. Ele precisou de medir a distância
no tempo entre o que precisava fazer e o que Deus prometeu. Imaginemos que Noé
tinha acreditado em Deus mas não tinha sido diligente em obedecer-Lhe. Imaginemos
que ele acreditava que no último minuto Deus lhe enviaria um barco ou pararia a chuva.
Que teria acontecido? Muitas vezes queremos responsabilizar a fé pelo que já devia ter
acontecido e não aconteceu, ou, então, forçar a fé a fazer o que compete à diligência. É
importante crer, mas a fé só resultará se for acompanhada dos atos de diligência. Que
Deus nos ajude a desenvolvê-la e a pô-la em prática na nossa vida.

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valor da DILIGÊNCIA

A diligência é o oposto da preguiça.


O diligente pondera o que deve fazer.

Julho/Agosto 2014
O valor da proteção

Os dias atuais são marcados por várias crises que nos expõem e criam sentimentos de
vulnerabilidade. Sentimo-nos desprotegidos perante os repetidos e constantes ataques
sociais, culturais, económicos, fiscais, religiosos…

É altura de perguntarmos: quem nos protege ou quem nos poderá proteger? Repetimos
as palavras do salmista: «Levanto os meus olhos para os montes: donde me virá o
auxílio?» (Salmo 121) A resposta só poderá ser também a do salmista: «O meu auxílio
vem do Senhor, que fez o céu e a terra. [...] O Senhor é quem te guarda, o Senhor está a
teu lado, Ele é o teu abrigo. [...] O Senhor vela pela tua vida. [...] Ele te protege quando
vais e quando vens agora e para sempre.»

ETIMOLOGIA
A palavra «proteção» vem do latim pro e tegere, que significa, literalmente, «cobrir»,
«tapar (tegere) na frente (pro)». Será, assim, o ato ou efeito de proteger, amparar ou
preservar, a dedicação pessoal àquilo que precisa de auxílio. Poderemos dizer que a
proteção é a garantia de inclusão e abrigo a todos as pessoas que se encontram em
situação de vulnerabilidade e/ou em situação de risco. A proteção poderá assumir várias
vertentes, mas, fundamentalmente, proteger significa prevenir e amparar as pessoas que
correm riscos decorrente das mais variadas situações, tais como a pobreza, a saúde, a
fragilização de vínculos afetivos/relacionais, a discriminação, a guerra, a escravidão, o
analfabetismo, etc.

O PAPA E A PROTEÇÃO
O Papa Francisco tem, por várias vezes, chamado à atenção para a necessidade de
cuidarmos e valorizarmos a proteção. Logo no início do seu pontificado o papa pediu
«respeito por toda a criatura de Deus», «pelo ambiente onde vivemos» e apelou a que se
«proteja carinhosamente» todas as pessoas, «especialmente as crianças, os idosos,
aqueles que são mais frágeis». Dirigiu este pedido essencialmente a quem exerce cargos
de poder: «Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em
âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade:
sejamos “guardiões” da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do
outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o
caminho deste nosso mundo. [...] Quando o homem falha nesta responsabilidade,
quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o
coração fica ressequido.»
Esta preocupação claramente ambiental não é restritiva, mas abrangente, baseando-se
naquilo a que Bento XVI já tinha chamado ecologia humana, ou seja, uma preocupação
ecológica que tem o homem no seu centro. Na opinião do papa, «proteger a criação,
cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da
esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da
esperança».

GUARDIÕES DO OUTRO
No primeiro aniversário do início oficial do seu pontificado, na audiência geral, o papa
voltou a retomar o tema da proteção, apontando S. José como modelo de proteção, de
guardião: «Olhemos para José, que protege e acompanha Jesus no seu caminho de
crescimento “em sabedoria, idade e graça”.» O papa apresentou S. José como modelo
do verdadeiro guardião e protetor, aquele que auxilia o crescimento e o
desenvolvimento sadio do outro.

PROTEGER OS MAIS FRÁGEIS


Recentemente, na visita à Terra Santa, o papa apelou uma vez mais à proteção dos mais
frágeis, salientando, em particular, as crianças. No lugar onde nasceu Jesus, o papa
chamou à atenção para a necessidade de proteger as crianças: «Infelizmente, neste
mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em
condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes
cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas,
escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos. Demasiadas são hoje as crianças
exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do
Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez
Menino.» Talvez seja essa a razão que levou o papa a criar uma comissão para a
proteção das crianças.

A PROTEÇÃO DA NUVEM
Durante a travessia do deserto o povo de Israel acreditou que uma nuvem os protegia.
Não era uma nuvem qualquer, era a presença protetora de Deus. A nuvem era o símbolo
real dessa presença divina. A nuvem protegia-os das adversidades do deserto que
atravessavam, dando sombra e frescor. A nuvem também os orientava, colocavam os
seus olhos fixos na nuvem, esperando o seu mover para poderem prosseguir. E, quando
a nuvem parava, o povo acampava para descansar debaixo da sua sombra. Eis o desafio
para também nós nos colocarmos debaixo da nuvem de Deus durante estes tempos
difíceis e conturbados. Debaixo da nuvem, há proteção, há segurança, há esperança, há
um Deus que tudo pode fazer, basta confiarmos Nele, basta descansarmos Nele.

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valor da PROTEÇÃO

Proteger significa prevenir e amparar

Sejamos guardiões da criação, do próximo.

Outubro 2014
O dinheiro como deus

Acreditar em Deus é confiar Nele, mas nós temos substituído a confiança em Deus pela
confiança no dinheiro.

O filósofo italiano Giorgio Agamben afirmou: «Deus não morreu, Ele tornou-se
dinheiro e os bancos tomaram o lugar das igrejas e manipulam e geram a fé. É no
dinheiro que as pessoas depositam a sua esperança. É a ele que aspiram. É nele que
acreditam que está a felicidade, a saúde, a prosperidade e a beleza.»
O CAPITALISMO COMO RELIGIÃO
O filósofo Agamben é discípulo de Walter Benjamin, filósofo alemão e judeu, que, no
século passado, escreveu um artigo intitulado «Capitalismo como religião». Para ele, o
capitalismo é uma religião apenas de culto: sem dogmas nem moral. Esse culto é
realizado mediante o consumo contínuo, no qual todos os dias são de preceito, cuja
liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.
Agamben faz-nos notar que não apenas as estruturas institucionais são geridas
ideologicamente pelo dinheiro, mas também nós, nas decisões do dia a dia, temos a
crença férrea e uma devoção inquebrável no dinheiro. Quantos valores, sonhos e
projetos pessoais e familiares são sacrificados e relegados para segundo, ou mesmo
último lugar, só para satisfazer religiosamente a ânsia de ter mais e mais dinheiro?

A CRISE E O DINHEIRO
Crise e dinheiro são das palavras mais usadas nos dias de hoje. Muitas vezes não são
usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para
fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum
para aceitar. Crise hoje em dia significa simplesmente «devemos obedecer!».
A chamada «crise» já dura há demasiado tempo, e nada mais é senão o modo normal
como funciona o capitalismo selvagem. Pior ainda é que se apregoa que a solução para
sairmos dessa crise passa necessariamente e exclusivamente pelo dinheiro.

UM DEUS CHAMADO DINHEIRO


Não pensemos que esta problemática com o deus dinheiro é só dos nossos tempos. Já na
antiga Grécia, uma comédia de Aristófanes, chamada Pluto ou Um deus chamado
dinheiro, ironiza sobre a maneira injusta como a riqueza é distribuída entre os homens.
Crémilo, ateniense íntegro, vê o dinheiro concentrado nas mãos dos corruptos, enquanto
os honestos se tornam cada vez mais pobres. Indignado, dirige-se ao oráculo de Apolo,
para saber se, para obter êxito na vida, convém que o filho permaneça bom e justo ou
deve moldar-lhe o caráter para injusto. O oráculo, em resposta, ordena-lhe que siga a
primeira pessoa que encontrar ao sair do templo. Assim, Crémilo vai atrás de um cego
que cruza o seu caminho e, para sua surpresa, descobre que o cego é Pluto, o deus do
dinheiro. Leva-o para casa e cura a sua cegueira. Moral da história: num momento
histórico de decadência da sociedade grega, o filósofo alertava para o risco de se
descuidar o caráter para se dedicar exclusivamente ao dinheiro.

A IDOLATRIA DO DINHEIRO
O Papa Francisco tem atacado a economia global por venerar o deus dinheiro: «O
mundo passou a idolatrar esse deus chamado dinheiro... Mas, como cristãos, não
podemos querer esse sistema económico globalizado que nos faz tão mal. Os homens e
mulheres têm de estar no centro (de um sistema económico) como Deus quer, não o
dinheiro.»
No Brasil, por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude, o papa advertiu: «ter
dinheiro pode oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de serem felizes, mas no
final, acaba por nos dominar e levar-nos a querer ter cada vez mais e nunca estarmos
satisfeitos».

NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E AO DINHEIRO


O Papa Francisco lembra que alguns que «são católicos e até vão à missa, porque assim
têm mais estatuto, mas depois […] fazem as suas negociatas vivendo numa cultura do
dinheiro. […] Escolhem a via do dinheiro e essa sedução leva à corrupção. Jesus foi
claro em relação a este assunto: não se pode servir a Deus e ao dinheiro».
Ninguém se salva com o dinheiro – diz o Santo Padre. A ambição desmedida, ligada ao
ter e não ao ser, torna-se pecado que destrói o próprio e todos aqueles que estão à volta.
A ganância descontrolada conduz à corrupção, ao tráfico de influências, abuso de poder,
prepotência, chantagem, cria assassinos, guerras, violências, desagrega famílias,
fomenta invejas e discórdias. Quando se põe o dinheiro em primeiro lugar, rapidamente
o coração se esvazia. Excessiva preocupação pelo trabalho, pelo dinheiro, é sinónimo de
falta de tempo e espaço para Deus, para a família, para o descanso, para cuidar da saúde,
para a festa, para o lazer, para estar com os amigos, para brincar com os filhos, falta
disposição para amar a esposa… e o dinheiro é sempre insuficiente.
Só Deus é o tesouro da nossa vida. Deus em primeiro lugar para que o nosso semelhante
seja prioridade. Como diz D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa: «Onde Deus é tudo
há lugar para tudo e espaço para todos.»

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valor da do DINHEIRO.

É no dinheiro que depositamos a esperança

A obsessão pela riqueza esvazia o coração

Novembro 2014
O valor da segurança

A violência e a consequente insegurança assumiram proporções inimagináveis em todos


os cantos do nosso planeta.

De todos os lugares do mundo chegam-nos variados relatos de crimes horrendos,


praticados de várias formas e realizados com uma crueldade e barbaridade jamais vistas.
Recentemente, temos assistimos à decapitação de reféns por parte dos jihadistas no
Iraque e na Síria – ações vergonhosas e cobardes que matam inocentes com o único
objetivo de ameaçar e espalhar o terror e a insegurança. Também no nosso país a
violência e a insegurança continuam a abrir telejornais, a encher páginas de jornais e
revistas. Será que existe um lugar e um tempo para a segurança?

CULTURA DO MEDO E DA INSEGURANÇA


Os noticiários sensacionalistas ajudam a consolidar a cultura do medo e da insegurança.
Em virtude da ampla difusão dos meios de comunicação, é possível receber, em tempo
real, notícias de homicídios e sequestros que aconteçam em qualquer parte do país e do
mundo. O número de pessoas com síndrome de insegurança e de pânico tem aumentado
assustadoramente. Falta a paz para trabalhar, para passear com os familiares, para
trabalhar motivado, para estudar com esperança, enfim, para viver com tranquilidade.
Consequentemente, as pessoas vão-se isolando cada vez mais dentro das suas casas,
com grades de ferro e portões fortemente guardados, reféns da própria insegurança e do
medo, vivendo com uma mitigada qualidade de vida.

À PROCURA DA SEGURANÇA
A segurança constitui um direito inalienável cada vez mais ameaçado nas sociedades
globalizadas. Essa é a opinião dos portugueses que reconhecem que a segurança é uma
das chamadas «necessidades de sobrevivência»: conclusão que já se pode retirar da
primeira fase do estudo «O que é necessário para uma pessoa viver com dignidade em
Portugal?», que está a ser desenvolvido por uma equipa de investigadores das
universidades Técnica de Lisboa e Católica. O problema é que nesta busca desenfreada
de segurança viramo-nos muitas vezes para o dinheiro, a saúde, os estudos, a profissão,
a fama, a família… Em tempos conturbados e mutáveis como os que vivemos, esses
lugares deixaram de nos poder oferecer segurança e o que oferecem é, muitas vezes,
precisamente o contrário: a instabilidade e a insegurança. Queremos segurança, mas não
a conseguimos experimentar porque talvez a procuramos em sítios e lugares que não a
têm e, por isso, não a podem dar.

EXPERIÊNCIA DA INSEGURANÇA
Vivemos em tempos difíceis em que a humanidade está cada vez mais focada em si
mesma e confiante na sua força e inteligência. Confia somente em si própria e usa meios
e estratégias para se proteger. Mesmo assim, continua desprotegida e vulnerável. Na
maioria das vezes, a falta de segurança resulta de um sentimento de medo: medo de ser
rejeitado, medo de que as coisas não deem certo, medo de ficar só, medo de ficar pobre,
mede de chumbar, medo de ficar desempregado, medo de ficar doente, desempregado,
medo do futuro. Acredito que a segurança, que tanto procuramos e de que
desesperadamente precisamos, somente a podemos encontrar em Deus.

SEGURANÇA EM DEUS QUE NÃO DESILUDE


Acredito que o mundo nunca esteve tão inseguro e acredito também que um dos
motivos para isso estar a acontecer é a falta de Deus na vida das pessoas e,
consequentemente, a falta de amor nos corações de todos. Só em Deus e com Deus é
que nos podemos sentir seguros e protegidos. O Livro dos Salmos está repleto de
declarações sobre como devemos confiar em Deus, de como Ele auxilia os seus e de
como Ele os protege: «O Senhor é a minha rocha, fortaleza e proteção; o meu Deus é o
abrigo em que me refugio, o meu escudo, o meu baluarte de defesa» (Salmo 18).
O Papa Francisco na sua primeira exortação apostólica diz: «Quem arrisca, o Senhor
não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre
que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.» Recentemente, para a viagem à
Albânia, escolheu como lema «Com Deus, rumo à esperança que não desilude».
Deus é como uma “bengala”, um apoio, uma segurança para muitas pessoas, na
verdade, o mais provável é que Ele seja a única, verdadeira e legítima “bengala” que
podemos ter. Isto porque Deus entregou o próprio filho, perfeito e santo, para morrer em
nosso lugar, para nos conceder o perdão e a salvação, para nos deixar em segurança.
Como não nos sentirmos seguros n’Ele? Em vez de nos deixarmos levar pela sensação
de insegurança e medo predominante na sociedade, ou em vez de procurar a segurança
no sítio errado, voltemo-nos para o Senhor, a fonte de toda a segurança. Para usufruir
desta promessa que não desilude, é preciso que aprendamos a cultivar o amor,
investindo as nossas energias nas coisas que têm valor e que podem dar sentido à vida.
Que as nossas vidas sejam alimentadas não pela cultura do medo e da insegurança, mas
por tudo o que de bom provém do Senhor.

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valor da SEGURANÇA.
Somos reféns da própria insegurança e do medo?

Só em Deus e com Deus é que nos podemos sentir seguros e protegidos.

Dezembro de 2014
O valor da gentileza

Estamos a preparar-nos para celebrar o Natal. Tempo em que celebramos um Deus que
se faz presente na história da humanidade e nos convida a fazermo-nos também
presentes nas vidas dos nossos irmãos.

Uma das formas de nos fazermos presentes na vida dos demais é agirmos com gentileza.
Quem não gosta de ser bem tratado? Quem não se sente bem diante de um sorriso
verdadeiro? Atitudes de gentileza, carinho, respeito e atenção fazem toda a diferença. As
pessoas que agem com gentileza, com respeito e consideração são sempre muito
admiradas e fazem com que Deus renasça cada dia.

GENTILEZA VEM DA FAMÍLIA


Em Roma, gentilis era aquele que pertencia à mesma família ou clã. Estava implícito
que entre pessoas unidas por laços do sangue se tratassem com respeito e gentileza. A
evolução do conceito de gentil fez com que se tornasse a caraterística daquele que trata
todas as pessoas como que fossem da sua família, da família alargada que é a
humanidade. No inglês, a palavra gentleman (que surgiu no século XIII) exprime a ideia
de alguém cuja conduta se caracteriza pela boa educação, pelas palavras adequadas,
pelas virtudes da convivência, pelos modos cavalheirescos e isso aprende-se na família
e depois vive-se no dia a dia, na grande família daqueles que se cruzam connosco. A
gentileza revela o amor nas pequenas coisas, e é fruto de um coração atento ao outro.
Eis alguns exemplos de gentileza: ceder o assento às pessoas idosas ou com deficiência;
cumprimentar as pessoas com um bom dia, boa tarde ou boa noite; dar prioridade ao
carro de outra faixa; elogiar, sempre que possível, os colegas com quem convivemos...

A GENTILEZA DE JESUS
Falar de gentileza, remete-nos claramente para Jesus Cristo. Durante a sua vida praticou
e viveu como ninguém a gentileza: por onde passava atraía as multidões, não porque
falava com autoridade e poder, mas principalmente porque se interessava pelas pessoas
e as tratava com gentileza, suscitando empatia e sobretudo um forte desejo de estarem
junto dele. Jesus manifestou essa gentileza até e sobretudo aos mais marginalizados e
desprezados da sociedade: as prostitutas, os ladrões, os leprosos, as viúvas, as crianças e
as mulheres. Jesus no seu ministério não só viveu a gentileza como nos convidou a vivê-
la no nosso dia a dia. Foi isso que entendeu Paulo e depois escreveu na carta aos
colossenses: revesti-vos de misericórdia, bondade, gentileza e paciência. A gentileza é,
em essência, o reconhecimento de que somos todos filhos de Deus e de que estamos
todos juntos na aventura maravilhosa que é a vida.

A FORÇA DA GENTILEZA
Diz uma lenda que o sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte. O vento
disse: «Provarei que sou o mais forte. Vês aquele velho que vem lá em baixo com um
capote? Aposto como posso fazer com que ele o tire mais depressa do que tu.» O sol,
então, recolheu-se atrás de uma nuvem e o vento soprou até quase se tornar num
furacão, mas, quanto mais soprava, mais o velho segurava o capote. Finalmente o vento
acalmou-se e desistiu. Então o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para o
velho. Imediatamente ele esfregou o rosto e tirou o capote. O sol disse, então, ao vento:
«A gentileza e a amizade são sempre mais fortes que a fúria e a força.» Como diz o
teólogo brasileiro Leonardo Boff: «Não serão os nossos gritos a fazer a diferença mas
sim a força contida nas nossas delicadas e íntegras ações.»

SOBREVIVÊNCIA DO MAIS GENTIL


Uma teoria publicada pelo professor Sam Bowles, do Instituto Santa Fé, nos Estados
Unidos, chamada Sobrevivência do mais gentil, diz que um dos motivos que fez a
espécie humana sobreviver foi a gentileza.
Eu acredito que a gentileza tem o poder de mudar o nosso mundo interior e exterior. Ser
gentil é extremamente benéfico pois a gentileza abre portas, muda o rumo dos conflitos,
facilita negociações, transforma humores, melhora as relações, enfim, propicia inúmeras
vantagens tanto na vida de quem é gentil quanto na de quem se permite receber
gentilezas.
Outro estudo da professora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, chega à
conclusão de que a gentileza nos deixa também mais felizes.
Outros estudos dizem que quem é gentil tem mais saúde mental e menos depressão.
Pessoas solidárias têm menos probabilidade de sofrer de doenças crónicas, pois o seu
sistema imunológico tende a ser melhor, já que existe uma relação direta entre bem-
estar, felicidade e saúde nas pessoas. A gentileza ajuda a educar as emoções, o que causa
impacto positivo sobre a saúde, alivia o stress e acalma o sistema cardiovascular. É
difícil ficar zangado, ressentido ou amedrontado quando se tem amor altruísta aos
outros, em outras palavras, quando se é gentil.
Se assim é, de que estás à espera? Começa a ser gentil e serás muito mais feliz, pois
verás que gentileza gera gentileza!

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valor da GENTILEZA.

Quem é gentil tem mais saúde.

Gentileza é amor nas pequenas coisas.

Janeiro 2015
O valor do (bom) humor

Com o início do novo ano, vêm normalmente os desejos/propósitos, tidos como algo a
conseguir e que promovem uma mudança: amor, êxito profissional, dinheiro,
prosperidade, amizades, saúde normalmente fazem parte dessa lista.

No momento de formular os nossos desejos, não podemos esquecer algo que ajuda, e
muito, a obter cada um deles. É algo simples, fácil e barato: alimentar diariamente o
nosso bom humor.

É UMA QUESTÃO DE ATITUDE


Bom humor é muito mais do que saber contar piadas. É sobretudo um estado emocional
que se caracteriza pela alegria, sensação de contentamento e capacidade de ver o lado
bom das coisas. É uma forma de olhar a realidade, procurando a satisfação pessoal e
comunitária. Pessoas que exercitam o bom humor produzem mais, vivem melhor,
adoecem menos e tendem a gostar do que fazem.
A nossa vida é complicada, dividindo-se em pequenos problemas, e viver é enfrentar e
resolver problemas. Se os problemas são encarados com mau humor, eles tornam-se
difíceis de resolver. Ao contrário, se forem enfrentados com bom humor, já estão meio
resolvidos.
Ter bom humor é ver leveza onde a vida parece pesada, é ver alegria onde a vida parece
triste, é ver graça onde a vida parece séria, é ver doçura onde a vida parece amarga, é
ver sorrisos onde a vida parece rancor, ver amor onde a vida parece só ódio. Ter bom
humor é, principalmente, deixar o riso acontecer onde o choro parece querer imperar. A
pessoa bem-humorada vive de maneira mais leve, cultiva atitudes de cortesia, gentileza,
e é hábil em contagiar emoções positivas, transmitindo serenidade e esperança.

A ARTE DE SABER RIR


Saber rir das situações menos agradáveis liberta-nos de ficar eternamente presos a elas.
Saber rir de nós mesmos é o primeiro passo para nos libertarmos das formas de viver
inadequadas e encontrar formas melhores, mais gratificantes. Como podemos
comprovar, sorrir e estar de bom humor é algo tão fácil que nem sempre é cultivado
com a importância que lhe é merecida, desprezando-se uma importante chave de
renovação de energias que favorecem muitas outras conquistas no campo pessoal e
profissional e que podem contagiar positivamente os outros.
Dizem que a distância mais curta entre as duas pessoas é o humor. Por isso é que o
humor é um aspeto poderoso e maravilhoso da personalidade humana onde o riso é uma
das válvulas de escape contra o stress criando a leveza que precisamos para desfrutar da
vida em plenitude.
Kraft publicou um artigo na revista Mente e Cérebro, em que afirma categoricamente
que o bom humor e o riso não apenas nos protegem das doenças físicas e psíquicas, mas
também podem curá-las. Para ele, encarar a vida com bom humor fortalece a mente e o
corpo, tornando-nos mais aptos para enfrentar situações de crise. O autor cita vários
filósofos, como Kant e Aristóteles, para reforçar a ideia do uso terapêutico do riso. Para
Kant, apenas três coisas podem realmente fortalecer o homem contra as tribulações da
vida: a esperança, o sono e o riso. Para Lambert, o simples esboçar de um sorriso, ou
seja, a contração de 28 músculos faciais, ativa, no centro do prazer do cérebro, a
produção de serotonina e endorfina, neurotransmissores que nos dão prazer. Existem
estudos que mostram que a terapia do riso diminui o tempo de internamento nas mais
variadas doenças em cerca de 20 por cento dos casos. Mas, mesmo que não houvesse
tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o corpo já seriam
suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz.

O HUMOR DE DEUS
Diz o padre Tolentino Mendonça que raramente citamos uma frase bíblica que apela à
alegria e ao bom humor e, no entanto, a Bíblia é uma espécie de gramática do Humor de
Deus. Por incrível que pareça, aquela biblioteca tão séria é também hilariante e está
cheia de risos, embora esta dimensão seja, entre nós, escassamente referida e ensinada.
Há páginas que constituem um puro alfabeto da alegria e muitos momentos que só são
compreendidos por quem soltar uma gargalhada. É pena que o Cristianismo não seja
propriamente conhecido por ser a religião da alegria.
«O Cristianismo seria muito mais credível se os cristãos vivessem em alegria», escreveu
Nietzsche, e não podemos dizer que sem razão. O Evangelho é um convite insistente à
alegria. Por que deveríamos ser ou fazer o contrário? Devemos fazer da alegria e do
bom humor a principal motivação de nossas vidas; uma qualidade espiritual, que vem da
alma e se manifesta nas nossas atitudes, refletindo-se na nossa personalidade.

O BOM HUMOR DO PAPA


O Papa Francisco cultiva o humor em quase todas as suas intervenções, e quebra o gelo
inicial em diversas reuniões, encontros e entrevistas. Tem uma alegria contagiante. Ele
escolheu precisamente esse tema para a sua primeira exortação apostólica: A Alegria do
Evangelho.

Vai a www.audacia.org e descarrega a ficha de trabalho e o material multimédia sobre o


valor do HUMOR.

O bom humor dá saúde.

O bom humor transmite serenidade e esperança.

Fevereiro 2015
Já não escravos, mas irmãos…

Não podemos desviar o olhar dos sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs em
humanidade, privados da liberdade e da dignidade. Se o fazemos, somos cúmplices da
escravidão. Isto nos lembrou o Papa Francisco no Dia Mundial da Paz.

A palavra «escravatura» evoca imagens de tempos passados, dos milhões de pessoas


que foram um dia acorrentadas, despojadas da sua dignidade e tratadas como se não
fossem seres humanos. O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz, a 1
de janeiro passado, diz que o mundo conhece a escravidão há muito tempo, tendo
passado por períodos em que o fenómeno foi admitido e até regulamentado. De seguida,
realça a «evolução positiva da consciência da humanidade», graças à qual a escravidão,
«delito de lesa-humanidade», foi «formalmente abolida no mundo». Para isso muito
contribuíram os períodos seguintes às duas guerras mundiais do século passado; a
corrente humanista conseguiu aprovar, em 1926, a Convenção sobre a Escravatura, a
Convenção para a supressão do tráfico de pessoas e da exploração da prostituição, em
1949 (no dia 2 de dezembro, razão pela qual se celebra nesse dia o Dia Internacional
para a Abolição da Escravatura) e a Convenção Suplementar sobre a abolição da
escravatura, em 1956, nas quais os Estados assumiram compromissos de nunca mais
autorizarem determinadas práticas desumanas nas relações entre as pessoas e nas
instituições.

CONTORNOS ATUAIS…
A escravatura, tal como é apresentada nos livros de História, acabou, mas, infelizmente,
existem hoje novas formas desta realidade que a colocam nos níveis mais altos de todos
os tempos. No século XXI há mais escravos do que em qualquer outra época da história
mundial. É a chamada «escravatura moderna». «Milhões de pessoas – crianças, homens
e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em
condições semelhantes às da escravatura», denuncia o papa. A sociedade de hoje assiste
a novas formas de escravatura e desumanidade que tornam urgente uma reflexão sobre a
injustiça de uns viverem desafogadamente, à custa do sofrimento e da míngua de
recursos de muitos seres humanos. Segundo o relatório «The Global Slavery Index
2013», da organização não governamental Walk Free, estima-se que atualmente 28,9
milhões de pessoas são forçadas a viver em regime de escravidão em todo o mundo. A
mesma organização coloca Portugal próximo do fim da lista dos países com mais casos
de escravatura, em 147.º lugar, entre 162 países. Ainda assim, Portugal tem 1368
escravos, segundo o Índice da Escravatura Moderna.

ESCRAVATURA MODERNA
Segundo o Papa Francisco, a raiz destas novas formas de escravatura radica na «rejeição
da humanidade no outro» que conduz à «conceção da pessoa humana que admite a
possibilidade de a tratar como um objeto», como «meio, e não como fim». Entre os
alvos da exploração do ser humano estão as vítimas do trabalho escravo, os migrantes
privados de liberdade e dos seus bens, vítimas de abusos físicos, detidos de maneira
desumana, dependentes de patrões que condicionam a legalidade da sua permanência ao
contrato de trabalho, os escravos sexuais, em particular as mulheres obrigadas a
prostituir-se ou vendidas para casamento, os menores vítimas de «tráfico e
comercialização para remoção de órgãos», ou convertidos em soldados, ou envolvidos
em «atividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas
de adoção internacional».
A pobreza, a falta de acesso à educação, a inexistência de oportunidades de trabalho, as
«redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos», recorrendo até às
«tecnologias informáticas», os conflitos armados, a violência, a criminalidade, o
terrorismo e a corrupção que passa por «membros das forças da polícia, de outros atores
do Estado ou de variadas instituições, civis e militares» constituem igualmente causas
da escravidão, que se verifica «quando, no centro de um sistema económico, está o deus
dinheiro, e não o homem, a pessoa humana». O papa relembra que há indivíduos e
grupos que se aproveitam vergonhosamente desta escravatura, tirando disso partido e
lucro.

MOBILIZAÇÃO MUNDIAL
Perante a dimensão do problema, o Papa Francisco propõe um compromisso global de
«prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra os responsáveis» pelas formas
de escravatura e tráfico humanos. «Por esta razão, lanço um veemente apelo… para que
não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus
irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a
coragem de tocar a carne sofredora de Cristo».

A escravatura mata a fraternidade universal.

Tens paz quando reconheces no outro um irmão(ã).

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ESCRAVIDÃO.

Março 2015
O valor da tolerância

Os atos terroristas em França, na Nigéria, no Médio Oriente… por fundamentalistas


islâmicos foram de uma barbaridade extrema e deixaram-nos em estado de choque.
Assistimos a um crescendo da intolerância.
A intolerância é um mal que se torna terreno fértil para a violência, o terrorismo, a
xenofobia, a homofobia, o fundamentalismo religioso, entre outros… Os ataques e o
crescendo da intolerância levantam discussões sobre problemas globais que atingem
indivíduos isoladamente ou mesmo populações inteiras. O mundo reagiu com diversas
manifestações, contra e a favor da liberdade e da tolerância.

ETIMOLOGIA
A palavra «tolerância» provém da termo latino tolerare, que significa «suportar, sofrer,
manter, persistir, resistir e combater».
Em termos individuais, a tolerância define o grau de aceitação diante de um elemento
contrário a uma regra moral, cultural, religiosa, civil ou física e corresponde à
capacidade de persistir nas nossas opiniões suportando a diversidade.
Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo
social aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são a
norma no seu próprio grupo.

TOLERÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA


A tolerância teve originariamente um sentido negativo, consistindo na atitude de
suportar o que se considera errado ou desagradável. Na Antiguidade, com o filósofo
Cícero, a tolerância não se referia a uma realidade física, mas evocava uma dimensão
moral – a paciência direcionada a qualquer coisa negativa; na Idade Média, com S.
Tomás de Aquino, a tolerância era considerada apenas como uma atitude de transição
para o acesso desejável a valores superiores; finalmente na Modernidade, com Espinosa,
a tolerância é entendida como a atitude de suportar as diferentes crenças religiosas. É
apenas com Locke, já no século XVII, que a tolerância ganha uma conotação positiva,
como «resistência ao que é adverso», sendo uma condição para o pluralismo de ideias,
motor do desenvolvimento das sociedades; na conceção contemporânea, ela é a atitude
pessoal e comunitária de aceitar valores diferentes dos adotados pelo grupo de pertença
original.

TOLERAR NÃO É ACEITAR TUDO


A tolerância não significa aceitar todas as práticas e opiniões. Pelo contrário, o seu valor
assenta no facto de promover uma maior consciência e respeito pelos direitos humanos
universais e liberdades fundamentais. Ninguém pensa, por exemplo, que se deve tolerar
o roubo, a violação ou o assassínio. A tolerância – como a liberdade – deve ter limites. A
verdadeira tolerância assenta numa firmeza de princípios, que se opõe à exclusão
indevida do diferente.
A tolerância também não é uma atitude de simples neutralidade ou de indiferença. É
uma posição resoluta que faz sentido quando se opõe ao seu limite, que é o intolerável.
Os limites da tolerância residem em primeiro lugar na não aceitação da intolerância,
nem das relações de exploração entre classes e grupos sociais desfavorecidos. Sem
limites, a tolerância seria a própria negação. O dilema dos limites da tolerância pode
resumir-se em dois princípios: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a
ti» e «não deixes que te façam o que não farias a outrem».

TOLERÂNCIA É RESPEITO
A tolerância é uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e de compreensão
para com suas eventuais fraquezas. A tolerância é a base do respeito mútuo entre as
pessoas e comunidades, e é essencial para construir uma sociedade mundial unida em
torno de valores comuns. É uma virtude e uma qualidade, mas, acima de tudo, a
tolerância é um ato – o ato de se aproximar dos outros e ver as diferenças não como
barreiras, mas como um convite ao diálogo e à compreensão. A tolerância é uma parte
da resposta a estes desafios, ao permitir construir pontes entre as pessoas e abrir canais
de comunicação. Viver a tolerância pode contribuir para resolver muitos conflitos e para
erradicar muitas violências.

VIVER E ENSINAR A TOLERÂNCIA


A tolerância não deve ser vista como um dado adquirido. Ela deve ser ensinada,
incentivada e transmitida. Temos de renovar o nosso compromisso de trabalhar pelo
diálogo e a compreensão entre todas as pessoas e comunidades, e assegurarmos que
aqueles que sofrem de discriminação e marginalização estejam presentes nas nossas
orações, mentes e corações. Uma humanidade unida significa vivermos e trabalharmos
juntos, com base no respeito mútuo e para a riqueza que nos traz a diversidade humana.
Tolerar é bom, mas respeitar é melhor. Respeitar é bom, mas amar é melhor.

Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.

Não deixes que te façam o que não farias a outrem.

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TOLERÂNCIA.

Abril 2015
O valor do martírio

O martírio é um tema que tem despertado a minha curiosidade e confusão nesses


últimos tempos em que assistimos a atos terroristas de fundamentalistas que se imolam
para provocarem terror, sofrimento e morte e que afirmam querer morrer como mártires.
Morrem para que outros também morram: vejam-se os acontecimentos recentes de
Paris, Nigéria, Síria, Iraque... Isso não é martírio, mas sim terrorismo e fanatismo puros.
Porque considero que o martírio é um valor que precisa de ser bem entendido e que
nada tem que ver com esses recentes atos terroristas de suicidas bombistas, decidi
refletir convosco sobre o valor do martírio na tradição cristã.

MARTÍRIO É TESTEMUNHO
A palavra «martírio» vem do grego martyria, cujo significado é «testemunho». No
sentido mais cristão ou teológico, «martírio» é o facto de morrer para dar testemunho de
Cristo: por seu sofrimento e por sua morte, a testemunha manifesta a verdade do
testemunho que presta a Cristo e ao Evangelho.
Na Igreja antiga, sujeitar-se ao martírio era dar testemunho público de Jesus Cristo com
o derramamento do sangue. Era seguir a Cristo na radicalidade. Nos períodos de
perseguição, os cristãos eram colocados diante de uma escolha radical: ou negar a fé, ou
perder a vida. Os mártires não tinham dúvida: nenhum bem desta terra, nenhuma
riqueza, nem mesmo a própria vida, valiam mais do que a fé. Cantavam e louvavam a
Deus enquanto eram acusados de «traidores», «criminosos», «antissociais»,
«obstinados», «inimigos de Roma» e «ateus» e atirados às feras, crucificados e
queimados vivos.
Os mártires da história da Igreja tinham muito claro para si que não importava o quanto
sofreriam desde que a fé que professavam fosse conhecida. A morte em si não era o
mais importante no martírio deles, mas as razões que os conduziram a isso. As palavras
de Jesus: «Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-
vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus» (Mt 5, 11-12) ecoaram na mente
de muitos mártires.
O crescimento significativo da Igreja nos primeiros séculos deve-se, em grande parte, à
coragem dos seus mártires. Os mártires eram o orgulho da fé cristã, sendo também um
fator determinante para o crescimento do movimento cristão nos primeiros séculos. A
primitiva comunidade cristã via nos mártires um estímulo à perseverança e novos
intercessores junto com Cristo. A Igreja nasceu e germinou marcada pelo derramamento
do sangue inocente, daqueles que não tiveram medo de dar a vida pela causa da sua fé e
do testemunho de Jesus Cristo. Tanto é verdade que Tertuliano cunhou nesta época a sua
célebre frase: «O sangue dos mártires é a semente da Igreja.»

MARTÍRIO BRANCO
O martírio vermelho dá-se com o derramamento de sangue em nome da fé. No entanto,
a tradição da Igreja também reconhece o martírio branco, que se dá quando alguém
abandona tudo em nome de Cristo porque ama a Deus. É um martírio que não implica
diretamente a morte, mas a mortificação. São fiéis que deixam família, bens, riquezas,
confortos para dedicar a sua vida a Deus; são cristãos que, dia a dia, suam para educar
na fé, enfrentando preconceitos, discriminações e represálias, nas mais variadas partes
do mundo onde ser cristão é incómodo e perigoso. São pessoas, mártires, que entendem
que a vida é gratuidade de Deus e sendo gratuidade, vivem-na como tal. A adesão ao
Evangelho, à pessoa de Jesus Cristo, coloca-nos também diante de uma escolha radical:
concordar com as estruturas e valores da sociedade, que muitas vezes são
antievangélicas, e viver num estado de bem-estar, ou então optar pelo Evangelho e,
assim, opor-se a tudo o que lhe seja contrário. Isso leva, na maioria das vezes e em
muitos países, a um ostracismo social, ou a um martírio branco.

MÁRTIRES PRECISAM-SE
O Cristianismo, portanto, considera os mártires de ontem e de hoje testemunhas fiéis de
Jesus Cristo.
O século XXI necessita de mártires, no sentido etimológico da palavra, isto é,
testemunhas de Jesus Cristo Ressuscitado, o Filho de Deus que encarnou para fazer uma
única revolução: a revolução da cruz e do amor. Este foi o apelo do Papa Francisco aos
jovens, na recente visita à Turquia: «Com a força do Evangelho e o exemplo dos
mártires, sabei dizer não à idolatria do dinheiro, não à falsa liberdade individualista, não
às dependências e à violência; e, pelo contrário, sabei dizer sim à cultura do encontro e
da solidariedade, sim à beleza inseparável do bem e da verdade; sim à vida gasta com
ânimo grande, mas fiel nas pequenas coisas. Deste modo, construireis um mundo
melhor.»

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Martírio é dar testemunho de Cristo.

O mártir dá a vida pela revolução do amor.

Maio 2015
O valor da fidelidade
Os tempos modernos expõem-nos a diversas circunstâncias nas quais é constantemente
posta à prova a nossa capacidade de sermos fiéis.

Ser fiel nos dias de hoje não é tarefa fácil, sobretudo, num mundo sempre em constante
mudança que faz com que as nossas escolhas e compromissos também sofram pressão
para mudar. Vive-se intensamente o momento presente, mas tem-se dificuldade em
manter viva a intensidade nos compromissos e nas escolhas.
A palavra «fidelidade» tem origem no termo latino fidelis, que significa «atitude de
quem é fiel», de quem tem compromisso com aquilo que assume. A fidelidade é um
hábito bom, uma atividade voluntária e permanente, uma força que inclina a cumprir
com sinceridade e valentia os compromissos adquiridos, as promessas feitas e a palavra
dada. Pode-se defini-la como a adesão voluntária, prática e completa de uma pessoa a
uma causa. No campo das relações a fidelidade é o íntimo compromisso que assumimos
de cultivar, proteger e enriquecer a relação com outra pessoa, respeitando a sua
dignidade e integridade, e garantindo uma relação estável, num ambiente seguro e
confiável, o desenvolvimento integral e harmonioso das pessoas.

SER FIEL NUM MUNDO INFIEL


A expressão inglesa wireless fidelity (Wi-Fi), que significa «fidelidade sem fio», é uma
tecnologia que permite o acesso à internet garantindo que o que é reproduzido é fiel ao
original. É também um termo designado para qualificar aparelhos de som com áudio
mais confiável e igual ao original.
O mundo em que vivemos perdeu o sentido de fidelidade. A capacidade de se
comprometer é cada vez mais vulnerável, pois o mundo do prazer instantâneo introduz
ruído e rouba a capacidade do sacrifício e da disciplina, necessários para se honrarem os
compromissos. Além disso, propaga-se cada vez mais a irreverência, que é negar a
reverência a tudo que é tradicionalmente bom e correto. Daí a necessidade de
recuperarmos a capacidade de sermos fiéis ao património ético e moral que nos foi
legado.
Causa, compromisso e liberdade são três palavras diretamente relacionadas com o
conceito de fidelidade: a fidelidade pressupõe uma causa a ser fiel; o compromisso com
essa causa e a liberdade de se comprometer. Sem estas três palavras, a fidelidade não
existe. A pessoa fiel não se limita a seguir os próprios impulsos, mas a viver, de forma
livre e generosa, valores que ultrapassam a temporalidade da pessoa. A pessoa fiel
encontrou a melhor expressão do amor e por isso é feliz com as exigências que a sua
fidelidade lhe impõem.

FIDELIDADE NA BIBLIA
Na Bíblia, fidelidade é o cumprimento de tudo quanto foi estabelecido na aliança
firmada entre Deus e a humanidade. A causa da fidelidade é sempre o amor de Deus:
amor infinito, amor imenso no qual nunca encontraremos um espaço que nos permita
ser infiel. A fidelidade nasce assim da gratidão do amor de Deus. O nosso compromisso
consiste em retribuir esse amor. A fidelidade a Deus não pode ser abstrata ou
desencarnada, mas terá de estar implicada na nossa vida quotidiana. Assim o
compromisso com a vida, os valores morais e éticos, o civismo, a justiça social, a
dignidade no trabalho, a santidade da família, o respeito aos irmãos e, sobretudo, o
louvor a Deus, através da religião, dá verdadeiro significado à fidelidade a Deus. A
fidelidade é um dos aspetos essenciais do carácter cristão, e não é uma tentativa de o
homem se tornar bom aos olhos das pessoas. Antes, é uma essência que só podemos
obter a partir de uma conversão genuína a Cristo, onde o Espírito Santo se faz presente
dando-nos o sentido necessário para todas as áreas da nossa vida. Só assim conseguimos
ser fiéis: é impossível conseguirmos o exercício da plena fidelidade à Deus sem a
intervenção direta do Espírito Santo.

A ALEGRIA DE SER FIEL


Tudo andaria bem melhor e seríamos muito mais felizes se nos propuséssemos conhecer
sempre mais a fundo, para podermos amar mais, essas verdades e essas pessoas às quais
nos vinculamos com laços de responsabilidade permanente. Refletir sobre os deveres
próprios, sobre as circunstâncias que afetam a nossa vida e a paz dos outros, meditar nas
consequências do nosso comportamento, avaliar o mal que a infidelidade pode causar, é
a primeira garantia de fidelidade. Na formação para a fidelidade, deve-se insistir em que
sempre se pode ir mais longe, ser mais fiel. Se queremos ser alguma coisa, não nos
devemos deter diante dos estreitos limites do nosso mundo pessoal, encerrar nos nossos
egoísmos e comodidades. Impõe-se procurar continuamente um ideal mais elevado,
abrir horizontes e aspirar a aventuras audazes.
Não haverá fidelidade, diz o papa, «se não houver na raiz esta busca ardente, paciente e
generosa, se não estiver alojada no coração do homem uma pergunta para a qual só
Deus tem a resposta, ou melhor, só Deus é a resposta».

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Ser fiel é retribuir o amor recebido.

Fidelidade é compromisso livre com uma causa.

Junho 2015
O valor da prevenção

É muito conhecido o ditado que diz mais vale prevenir do que remediar. Certamente até
já foi utilizado por alguns de nós. Apesar de muitos o conhecermos, poucos o pomos em
prática.

O mais comum entre nós é pormos em prática um ditado que diz depois da casa
arrombada trancas à porta. Na prática, a ausência de prevenção pode expor-nos a
consequências nem sempre agradáveis – daí o nosso arrependimento por não termos
prevenido.

PREVENIR É ANTECIPAR
A palavra «prevenção» vem do latim praevenire, que é a junção de duas palavras: prae
(«antes») e venire («vir»), e significa literalmente «chegar antes». Então «prevenir»
quer dizer chegar antes do perigo, antecipar, perceber previamente, para minimizar o
risco.
Ações preventivas são ações defensivas que visam prever e minimizar os danos que
podem ocorrer. Quem «chega antes» tem condições de evitar que algo indesejável
aconteça, tomando as medidas necessárias. A prevenção é, antes de tudo, a mais sensata
das atitudes que um indivíduo pode tomar em todos os situações da vida.

FILOSOFIA DE VIDA
Mais do que ações isoladas, a prevenção deve ser uma filosofia de vida. Como diz
Einstein, «uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio previne-o».
A prevenção é um conceito de vida, uma forma de ver as coisas. Ao atuarmos de forma
preventiva, estamos a acender a luz da responsabilidade para com a própria vida a
buscarmos dentro de nós e a pormos em funcionamento o compromisso mais amplo
com a existência.
A prevenção tem relação direta com a sobrevivência. Conhecer e aprender as práticas da
prevenção deve ser algo que desperte a nossa atenção e interesse. A maior parte dos
acidentes ou problemas pessoais ou sociais poderia ter sido evitado se medidas
preventivas, muitas vezes muito simples, tivessem sido adotadas. Prevenir é sempre
melhor e mais barato do que remediar. Exemplo disso é a medicina preventiva.
Em todas as áreas da vida devemos dar muita atenção à prevenção, mas, quando se trata
da nossa saúde, a prevenção deve ser redobrada. Uma grande conquista para a
prevenção de doenças foi a descoberta de vacinas pois elas permitem evitar futuras
doenças. A medicina preventiva é uma especialidade que tem como objetivo prevenir
doenças ou lesões, ao invés de curá-las ou tratar os seus sintomas, visando melhorar a
qualidade de vida de todos.

EDUCAR PARA A PREVENÇÃO


Como nos dizia Pitágoras, «eduquem as crianças e não será necessário castigar os
homens». Realmente, é melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los mais tarde. O
meio mais seguro, mas, ao mesmo tempo, mais difícil de tornar os homens menos
inclinados a praticar o mal é aperfeiçoar a educação para a prevenção.
A escola, a par da família, é o lugar privilegiado para essa educação, pois ela acolhe
muitos alunos com comportamentos de risco: violência, consumo e abuso de
substâncias, comportamentos sexuais de risco e mesmo comportamentos
autodestrutivos. Face a tudo isto, a escola não pode ser afastada das tarefas de sinalizar,
avaliar e atuar perante situações de risco efetivo e educar visando a prevenção. No
entanto, essa educação não é tarefa fácil em sociedades pós-modernas que apresentam
grandes complexidades, sobretudo as relacionadas com as escolhas morais. São muitos
os que se perdem em escolhas morais e éticas mal formuladas, criando uma sociedade
enovelada e emaranhada numa crise de valores, numa perda de sentido e numa inversão
de valores.
Num mundo cheio de possibilidades, as escolhas morais devem ser bem analisadas,
pautadas com rigor e disciplina. As pessoas não se podem deixar influenciar pelas
propagandas, mas têm de desenvolver, cada vez mais, a sua consciência crítica, fundada
em valores abrangentes que permitam afirmar a prevenção como uma forma de estar.

PREVENÇÃO PRECISA-SE
É necessário adotarmos uma postura preventiva no dia a dia e à nossa volta. Uma vida
feliz não é a que se entrega a paixões passageiras e vazias, mas a uma experiência
existencial centrada no equilíbrio e na dignidade humana. O prazer pelo prazer (o
hedonismo) abre caminho a que nos aventuremos sem precaução e acabemos frustrados
e desiludidos.
Na procura da realização e da felicidade não nos podemos isolar. Por outro lado, muitos
pensam que ser autêntico é assumir tudo, sem medo e sem máscaras ou, então,
identificar-se rapidamente com a onda, a moda ou o momento. Ser autêntico é o
contrário, é ser diferente, é estar ao lado do que é bom e correto, custe o que custar.
Assim, é necessário que fortaleçamos o caráter e a determinação para que, no contacto
com influências desviantes, sejamos mais fortes. Temos muitas das vezes de ter a
coragem de dizer «não». A força de uma pessoa não se mede pela quantidade de
emoções e sentimentos, mas pela capacidade de dominar essas emoções e esses
sentimentos.

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Prevenir é chegar antes do perigo.

Medidas preventivas garantem bem-estar e felicidade.

Julho/agosto 2015
O valor da benevolência

O Papa Francisco publicou no seu Twitter um pensamento que gostaria de aprofundar. O


papa dizia: «Aprendamos a viver com benevolência, amando a todos, incluindo aqueles
que não nos amam.»

Como o papa, também acredito que há falta de benevolência no mundo e que a


benevolência está na raiz, no ADN, do Cristianismo: amar quem não nos ama. É
necessário remexer nos recantos mais escondidos do nosso coração e eliminar a falta de
benevolência, a indiferença, a atitude de superioridade, a negligência, a vingança em
relação a quem quer que passe ou viva ao nosso lado. Há que afirmar o desígnio de
benevolência de Deus.

O QUE DIZ A PALAVRA


Benevolência tem origem no termo latino benevolentia, que é composto por duas
palavras: bene («bem») e velle («querer», «desejar»). Assim, literalmente quer dizer
«aquele que quer o bem, que deseja o bem, aquele que contém o bem, que tem uma
tendência ou inclinação para o que é benigno». A benevolência expressa a qualidade de
alguém que demonstra afeto e estima em relação a alguém, revelando altruísmo e
empatia.
Uma pessoa benevolente tem boas intenções, é amorosa, afável, gentil, generosa,
sincera, compreensiva e tolerante. A benevolência para com o semelhante, fruto do amor
ao próximo, produz a afabilidade e a doçura. O querer o bem do outro, devido àquilo
que ele é, ou seja, um ser humano, é o amor direcionado pela vontade. Não existe
benevolência quando prestamos um bem ao outro por simples dever de reciprocidade,
sem desejar, no entanto, que ela alcance a felicidade.

O DESÍGNIO DE BENEVOLÊNCIA
Deus tem um desígnio de benevolência que não permaneceu no Seu silêncio, mas que o
fez conhecer, entrando em relação com a humanidade, a quem não revelou apenas algo,
mas revelou-se a Si mesmo. Ele não comunicou simplesmente um conjunto de verdades,
mas comunicou-se a Si mesmo. Deus revelou-nos o seu grande desígnio de
benevolência, entrando em relação connosco, a ponto de se fazer Ele mesmo homem.
Para corresponder a esta revelação, não basta a nossa inteligência nem as nossas
capacidades; falta-nos o ato de fé, isto é, a nossa resposta à Revelação de Deus. A
benevolência é o meio com que Deus nos atrai a si, para nos fazer viver em plena
comunhão de alegria e de paz com Ele e entre nós. E, assim, os outros não são, como
afirmava Sartre, o inferno, mas o meio para chegarmos a Deus.
ADN CRISTÃO
No ADN de cada cristão está o amor, na sua forma mais pura, amor em forma de
caridade, de fé e de benevolência. Nós, cristãos, somos chamados a viver no meio de
uma sociedade, em comunidade, estabelecendo relações de dignidade, respeito,
benevolência para com os meus concidadãos, irmãos, cooperando na construção de um
mundo mais fraterno, mais humano, mais justo vivendo e praticando a benevolência. A
nossa identidade é justamente este selo, esta força do Espírito Santo, que todos nós
recebemos no Batismo e que se constitui como o nosso ADN.
Infelizmente em muitos cristãos, que até vão à missa ao domingo, não se vê esta
identidade. Vivemos muitas vezes como pagãos, não obstante sermos cristãos. Somos,
na expressão do Papa Francisco, cristãos mornos, fazendo com que a nossa identidade
se torne opaca e impercetível.

A PRÁTICA DA BENEVOLÊNCIA
A benevolência é o amor não focado no «eu», mas no próximo, no «outro». É um fruto
do Espírito Santo que infunde na alma serenidade, tranquilidade e paz e que nos faz
olhar para os outros com os olhos limpos e descobrir neles muitas coisas belas. É a
atitude que nos torna generosos, que nos ajuda a ir além dos defeitos dos outros,
confiantes de que o bem os supera se soubermos ser pacientes.
O nosso mundo necessita urgentemente de benevolência. Felizmente, com o
desenvolvimento e a afirmação da ciência e da tecnologia, atingimos um nível avançado
de progresso material que não só é útil como necessário. Porém, se comparamos o
progresso material com o nosso progresso interno, ficará bem claro que o nosso
progresso interno é inadequado. Prova disso são os inúmeros exemplos que temos dessa
imaturidade moral: violência, injustiça, guerras, genocídios, etc. É urgente,
desenvolvermo-nos e progredirmos no crescimento interior, humano e espiritual. Os
problemas do mundo, similarmente, não podem ser enfrentados com a raiva ou o ódio
mas devem ser encarados com compaixão, amor e verdadeira benevolência. Cada um de
nós tem responsabilidade por toda a humanidade e por isso é o momento de pensarmos
nos outros como verdadeiros irmãos e irmãs e de nos preocuparmos e querermos o bem-
estar deles. Não uma benevolência financeira mas uma benevolência moral: a
benevolência financeira é muito fácil, basta abrir a carteira, já na benevolência moral
temos de abrir os recônditos da alma, abrir o coração, e entregarmo-nos de corpo e alma
na sua afirmação.

Vai a www.audacia.org e descarrega a ficha de trabalho e o vídeo sobre a


BENEVOLÊNCIA.
Os outros não são o inferno, mas meio para chegarmos a Deus.
Uma pessoa benevolente tem boas intenções.

Outubro 2015
O valor do sacrifício

Refugiados, aos milhares, interpelam a Igreja e o mundo inteiro, tu e eu incluídos. Há


quem se sacrifique por eles.

O mundo vive nos dias de hoje a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial.
Todos os dias vemos imagens de milhares de refugiados que fogem da morte. Vêm do
Iraque, Afeganistão, da Síria, Líbia, Etiópia, Nigéria… São pessoas como nós, são
homens, mulheres e crianças. Estão perdidos. Estão de mãos estendidas. Pedem-nos
ajuda: um espaço, o nosso tempo, o nosso amor… Eles sacrificam-se e pedem-nos
sacrifícios… que muitas vezes não estamos dispostos a fazer! Sacrifício é uma daquelas
palavras a evitar a todo o custo, pois provoca medo e até pânico em muitos de nós.
Sacrifício, aparentemente, não rima com felicidade. Com ela rima «facilidade», apregoa
a sociedade materialista em que vivemos.

TORNAR SAGRADO
Etimologicamente a palavra «sacrifício» deriva do latim sacrificius, que é formado pela
palavra sacer (sagrado), mais a raiz do verbo facere (fazer). A palavra era usada em
ambientes religiosos e ligada aos rituais significando o «ato de fazer/manifestar o
sagrado» – ou seja, o ato de passar da esfera do profano para a esfera do sagrado. A
origem da palavra «sacrifício» revela que o seu verdadeiro significado é santificar ou
tornar sagrado. Sacrificar é o ato de (re)significar alguma coisa, dar um novo valor,
elevar a fim de conseguir alcançar um valor maior.

SACRIFÍCIO E AMOR
Tornar sagrada uma ação leva-nos ao compromisso de sermos um Evangelho vivo e
aberto, que pode ser lido por todos em todas as circunstâncias, como nos relembra o
Papa Francisco. Sacrifício implica uma dinâmica de amor, um amor gratuito, alegre e
fiel… até ao fim, como o de Jesus. Falar de sacrifício significa tornar sagrado cada
momento, cada palavra, cada gesto… Como dizia Cirilo de Alexandria, «aquilo que dá
valor a um sacrifício não é a renúncia que ele exija, mas o grau de amor que inspira a
renúncia».
São assim os sacrifícios do padre Douglas Bazi, que são uma interpelação para cada um
de nós. O padre Douglas Bazi estava numa das avenidas principais da capital iraquiana,
Bagdade, quando um carro que vinha em grande velocidade parou junto dele. Raptaram-
no. No Iraque, o rapto de pessoas é um negócio que vale milhões. Os cristãos são
particularmente visados no tráfico de pessoas», conta Paulo Aido, da Fundação Ajuda à
Igreja que Sofre.

AS ALGEMAS MUDADAS EM TERÇO


O padre Douglas foi torturado durante nove dias, sem comer nem beber água.
Queimaram-no com pontas de cigarro, partiram-lhe dentes e o nariz. Algemaram-no. O
que os algozes nunca imaginariam é que o padre Douglas iria usar essas algemas para
rezar. «Tinham exatamente dez argolas. Foi o mais belo rosário que já rezei em toda a
minha vida.» Os dedos do padre Douglas iam acariciando as argolas das algemas, numa
oração ininterrupta de pai-nossos e ave-marias. Nesta oração encontrou coragem para
sobreviver.
Ele tem 47 anos e vive agora em Ankawa. Forçado a fugir, como milhares de
iraquianos, por causa da guerra, é agora um refugiado entre refugiados. O seu trabalho é
a melhor legenda da missão da Igreja nos dias de hoje. Ele ajuda o povo cristão a
sobreviver a estes dias de provação. «Esta é uma Igreja de sangue», costuma dizer. «No
meu país, se alguém fizer um buraco para procurar petróleo, vai descobrir sangue de
cristãos. Porém, o petróleo é mais caro do que o sangue dos mártires.»

Quem não está disposto a fazer sacrifícios voluntários no presente fará sacrifícios
obrigatórios no futuro. Sacrificamos o bom para ter o melhor.

Novembro 2015
O valor da generosidade
O mundo está a tornar-se mais isolado e egoísta. Apesar dos avanços tecnológicos que
permitem vivermos numa aldeia global, onde tudo se sabe e em tempo real, ainda não
fomos capazes de globalizar em tempo real a generosidade. Esse é um desafio que
teremos de abraçar, convencidos de que não somos pessoas isoladas, mas seres de
relação, que precisamos de estar atentos aos outros, às suas necessidades e anseios.
A atenção aos outros ajuda-nos a desenvolver a virtude da generosidade. Em
contrapartida, o egoísmo fecha-nos em nós próprios e torna-nos insensíveis às
necessidades daqueles que nos rodeiam. O instinto de tudo guardar e acumular é
contrário à vida em sociedade e causa muitos sofrimentos e privações; ao invés, a
generosidade, tendência para uma pessoa ser útil, nobre, desprendida e saber
compartilhar, é fundamental para a criação de um mundo mais justo e fraterno.

Grandeza de alma
A palavra «generosidade» deriva do latim generosus, que designa o homem ou animal
que é de boa raça. Portanto, generoso é, antes de tudo, aquele que é de raça nobre e, no
sentido figurado ou moral, aquele que demonstra grandeza de alma e reparte com
largueza. O generoso é aquele que dá algo ou que se dá a si mesmo sem esperar
recompensa; é uma atitude desinteressada e uma partilha espontânea. Ser generoso é ser
livre de si, das suas pequenas covardias, das suas pequenas posses, das suas pequenas
cóleras e dos seus pequenos ciúmes. A generosidade é a capacidade de oferecer ao outro
o que não é dele, doando o que lhe falta porque acreditamos que pertencemos uns aos
outros e que, por isso, somos chamados a viver para e em função do todo. A
generosidade é a virtude do dom, a virtude da doação.

Generosidade gera generosidade


A generosidade é a virtude que transforma a forma de pensar das pessoas e,
consequentemente, a sua maneira de agir no mundo em que vivem. Precisamente como
acontece com a oração, a música, a beleza… cultivar a generosidade produz mais
efeitos do que aquilo que conseguimos ver e medir – e o mesmo acontece com a não
generosidade, nossa e dos outros. O património de generosidade de uma família, de uma
comunidade, de um povo, é uma espécie de soma das generosidades de cada um. Cada
geração aumenta o valor desse património ou o reduz, como está a acontecer hoje na
Europa, onde a nossa geração, empobrecida de ideais e de grandes valores, está a
delapidar o património de generosidade que herdou. Um país que deixa metade dos seus
jovens sem trabalho ou que permite que eles emigrem não é um país generoso, mas
fechado sobre si mesmo.

Os jovens e a generosidade
O Papa Francisco não se tem cansado de incentivar e promover a generosidade. No
Brasil, nas Jornadas Mundiais da Juventude, afirmou e pediu para que «encorajemos a
generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-os no processo de se tornarem
protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a
Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes
sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a
memória de um povo». É este património da generosidade que necessitamos de
valorizar e cultivar se queremos um mundo mais justo e fraterno.

Ao agirmos com generosidade, estaremos a combater cobiça, a inveja e o egoísmo; a


semear justiça; a criar laços de fraternidade.
Dezembro 2015
A festa da misericórdia

No dia 8 de dezembro, começa o jubileu extraordinário ou o ano santo da misericórdia


que foi proclamado pelo Papa Francisco. O Santo Padre, com este gesto, pretende que,
neste mundo de desunião, individualista e de crueldade estrutural, os cristãos se
lembrem que a misericórdia está no centro da sua fé.
Esta é uma oportunidade para a grande festa da misericórdia em que a Igreja recuperará
esta dimensão fundamental da sua identidade. Eu gostaria de contribuir, refletindo sobre
a maneira como podemos pôr em prática este desafio, servindo-me das obras corporais e
espirituais de misericórdia. Mas, atenção, como alerta o papa, este ano de misericórdia
terá de ter, necessariamente, uma dimensão comunitária e social e não poderá ser visto
unicamente como expressão de uma piedade individualista da misericórdia. Este ano da
misericórdia terá, inevitavelmente, de nos obrigar a sair de nós para irmos ao encontro
de quem sofre e anseia por um encontro misericordioso.

JUBILEU OU ANO SANTO


Desde o século XIV que Igreja chama santo o ano em que os fiéis podem beneficiar de
especiais graças, mediante a conversão e o desejo sincero de progredir na fé, na vida da
comunidade e na prática das boas obras. Porque essas graças devem constituir motivo
de alegria é que se fala em «jubileu», palavra que significa «grito de alegria».

UM CORAÇÃO MISERICORDIOSO
A palavra «misericórdia» é composta por duas outras, latinas, que, em português, dão
«mísero» e «coração». Assim, misericórdia é a capacidade de abrir o coração ao
miserável, ao carente, é orientar o coração pela compaixão (paixão pelos/com outros),
atitude que nos abre aos irmãos e que nos faz sofrer com eles. Neste sentido, o grande
misericordioso é Deus, já que faz da história uma história misericordiosa de salvação:
volta-Se para nós, mesmo sem o merecermos, procura-nos e cativa-nos, olhando
misericordiosamente para cada um de nós. Segundo a Bíblia, Deus ama-nos com o
coração de uma mãe. Jesus não se cansou de dizer que cada um tem de ser «próximo»
do seu irmão, como o bom samaritano: «Sede misericordiosos como o vosso Pai do Céu
é misericordioso» e «Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia».

UMAS MÃOS MISERICORDIOSAS


Ao longo da História, os cristãos nunca esqueceram este apelo de Jesus e, individual ou
coletivamente, deram corpo a gestos e instituições que se esforçaram por assegurar a
prática da misericórdia, sintetizada em catorze grandes âmbitos: sete da ordem do
espírito (dar bons conselhos; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os
tristes; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a
Deus por vivos e defuntos) e outras sete inerentes ao corpo ou à vida biológica (dar de
comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos
peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos).
Ao refletirmos sobre as obras de misericórdia, é preciso ter consciência de que a nossa
sociedade valoriza muito o que tem que ver com o corpo, mas tende a esquecer-se
bastante do espírito. Por isso, devemos estar atentos e sensibilizados para não só nos
esforçarmos e ajudarmos em tudo o que se relaciona com o suporte vital da nossa
existência, mas, igualmente, nos empenharmos nas obras espirituais de misericórdia.
«Deus nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e
deseja partilhar connosco a sua vida.» (Papa Francisco)

Janeiro de 2016
Dar de comer a quem tem fome

A fome é uma ameaça constante às populações humanas. Pode ser o resultado da


escassez dos alimentos provocada por más colheitas: umas vezes, em consequência da
Natureza agreste, outras, das guerras ou das pestes que têm impedido o cultivo dos
campos.
Ao lermos o Antigo Testamento, na Bíblia, deparamos com inúmeros trechos nos quais
a fome ameaçava a sobrevivência de populações inteiras. É esta experiência do Povo de
Israel, e também a denúncia de injustiças, que leva Jesus, no Novo Testamento, a
afirmar que dar de comer a quem tem fome é uma obra de misericórdia. Podes ler, por
exemplo, a parábola que contou do pobre Lázaro e do rico avarento (Lc 16, 19-31).

A FOME DE HOJE
A fome não é um problema sem solução ou um facto a que nos devemos resignar. As
suas causas são políticas e económicas, e a principal é a distribuição desigual das
riquezas. Na maior parte dos casos, a subnutrição não é o resultado da impotência
humana perante a Natureza, mas é fruto da desavergonhada apropriação por alguns
daquilo que deveria ser património de todos.
A fome continua a ser a principal causa de morte no mundo. Segundo os últimos
relatórios da ONU, 18 milhões de pessoas morrem de fome por ano e, destas, a cada
cinco segundos, uma criança; e uma em cada quatro pessoas sofre com os efeitos da
insuficiência de nutrientes.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA


Ao rezarmos o Pai-Nosso, o pedido de pão é dirigido a Deus. Esta petição diz respeito
ao pão material, ao alimento essencial para viver, símbolo de tudo quanto o ser humano
precisa para viver.
Ao pronunciarmos este pedido, não o fazemos só para nós, mas em nome de todos: «O
filho que pede pão ao Nosso Pai não pode esquecer o irmão que dele carece» (Luciano
Manicardi, monge). Pedir o pão a Deus implica assumir a responsabilidade por quem
não tem pão: uma responsabilidade que decorre e está no coração da Eucaristia, onde
Jesus Cristo é pão repartido. Os cristãos fazem-no recordando o que afirma São Tiago
na sua Carta: «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento
quotidiano, e um de vós lhes disser “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a
fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?» (Tg 2,
15-16).

DIGNIFICAR A HUMANIDADE
Nos finais de novembro, participei, mais uma vez, com alunos e colegas professores, na
campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Depois refletimos nas aulas sobre as
origens do flagelo da fome e as formas de a conseguirmos erradicar. Foi unânime a
perceção de que a existência de pessoas com fome é uma das maiores vergonhas da
sociedade contemporânea. E ressoaram as palavras do Papa Francisco, quando recebeu
em audiência os membros da Fundação Banco Alimentar: «Hoje devemo-nos confrontar
com esta injustiça [a fome] e, permito-me dizer, com este pecado: num mundo rico de
recursos alimentares, demasiados são aqueles que não têm o necessário para sobreviver;
e isto não somente nos países pobres, mas sempre mais também nas sociedades ricas e
desenvolvidas… Compartilhar o que temos com aqueles que não têm os meios para
satisfazer uma necessidade tão primária educa-nos à caridade e à misericórdia.» E pediu
que os membros do Banco Alimentar tratem as pessoas não como números, mas como
amigos. «Assim, saberão olhá-los nos olhos, apertar as suas mãos, descobrir neles a
carne de Cristo e a ajudá-los a reconquistar a sua dignidade e recolocá-los em pé.»

Combater a fome é essencial para a segurança e a paz do mundo.

Fevereiro de 2016
Dar de beber a quem tem sede

Dar de beber, nem que seja um copo de água fresca, aos pequeninos, além de ser uma
obra de misericórdia corporal, é também um gesto que não será esquecido por Jesus,
como nos diz o evangelista Mateus. Cada pessoa que se encontra na aflitiva situação de
ter sede torna-se um desafio para cada um de nós e interpela a responsabilidade mundial
de quem tem a possibilidade de o saciar. Lembremo-nos que os pequeninos de que Jesus
falava não são só as crianças, mas todos aqueles que clamam por um copo de água e
cujo valor e dignidade é ignorado e a sede não é só a de água, mas também a sede de
tantas outras coisas como a justiça, a paz, a educação. Com efeito, hoje centremo-nos na
sede de água.

A falta de água
Quando olhamos para a Terra vista do espaço, parece ter muita água. Quase três quartos
do planeta são cobertos por oceanos. Mas haverá assim tanta água na Terra? Na
realidade, a camada de água dos oceanos é fina e, por isso, a quantidade de água é
relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de básquete, toda a
água do planeta caberia dentro de uma bolinha de pingue-pongue. E mais: dessa bolinha
de pingue-pongue, quase tudo, 97,5 %, é água salgada. E, desse pouco que sobra, 70 %
é água congelada nos polos, 30 % está debaixo da terra e apenas 0,3 % é água potável,
acessível à população.

MÁ DISTRIBUIÇÃO
Além da evidente escassez de água potável, a que existe está mal distribuída: sobra em
algumas regiões e falta noutras. Várias regiões do mundo, especialmente na África,
estão a viver secas prolongadas que levam, na opinião do Papa Francisco, «ao
aparecimento de certas epidemias como a diarreia e a cólera que aumentam o
sofrimento e a mortalidade infantil», na encíclica Laudato Si’, na qual dedica quatro
parágrafos a analisar o problema da água (29-31). Esta situação é inadmissível pois,
como diz o papa, «o acesso a água potável e segura é um direito humano essencial,
fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas». Hoje a
escassez de água afeta mais de 40 % da população do nosso planeta, segundo a ONU,
que prevê que, até 2025, ou seja, em apenas oito anos, 1,8 mil milhões de pessoas
viverão em países ou regiões com absoluta escassez de água.

AGUA: FONTE DE VIDA


Na Bíblia, a água é vista como fonte de vida. Na região do Médio Oriente, que constitui
o cenário bíblico em que decorrem as narrativas do povo de Israel, a água é um recurso
particularmente precioso, porque a paisagem é árida ou semiárida, com precipitações de
chuva marginais e sazonais, e muitas páginas bíblicas, bem como vários episódios da
história de Israel, são atravessados pelo terror da seca e das suas consequências
devastadoras. Compreende-se, assim, a abundância de experiências e relatos à volta da
sede, da seca, dos poços, e, sobretudo, compreende-se que dar de beber a quem tem sede
é um dever absoluto, incluído na lei da hospitalidade e, recusar-se a fazê-lo significaria
condenar o sedento à morte. A tortura da sede, não dar de beber a quem tem sede,
conduz a uma morte horrível. Torna-se necessário e urgente reconhecer que a água é um
direito e não uma mercadoria, e que a disponibilidade de água e o acesso à água potável
constitui um direito essencial. Ou é reconhecida como um direito, ou transformar-se-á
cada vez mais num privilégio. Como salientou o Papa Francisco na recente visita ao
Quénia, «negar a água a uma família, sob qualquer pretexto burocrático, é uma grande
injustiça, sobretudo quando se lucra com essa necessidade».

Temos de assumir que a água é um bem precioso que começa a escassear. O desperdício
de água é uma injustiça grave.

Março 2016
Vestir os nus
Vestir os nus é uma obra de misericórdia corporal que visa atender uma necessidade
básica do ser humano que é o vestuário. Desde remotamente que o vestuário faz parte
integrante de um direito mais vasto, o direito a um nível de vida adequado, reconhecido
pelo artigo 25.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O vestuário serve para
cobrimos o exterior do nosso corpo e escondermos aquilo que mais amamos e
protegemos: a nossa dignidade, a nossa interioridade.

A NUDEZ COMO PERDA DE DIGNIDADE


Na Bíblia, a nudez é vista essencialmente como negativa pois retira a identidade e
dignidade ao ser humano. No livro do Génesis, a nudez aparece como consequência do
pecado: Adão e Eva, despidos da graça de Deus, olham-se com vergonha e escondem-se
de Deus. A transgressão do homem no Éden faz com que ele saia do espaço de
comunhão com Deus e se dê conta da sua nudez, ou seja, da sua condição de criatura
limitada e frágil, e que comece a sentir desconfiança, vergonha e temor.
Aparece também na Bíblia o conceito de nudez aliada aos inocentes, humilhados,
pobres e marginais, que necessitam de alguém que lhes dê voz e alguém que lhes mostre
uma compaixão ativa e que os revista com as vestes dignas dos filhos de Deus, como
nos adverte São Tiago (2, 15-16): «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e
precisarem de alimento quotidiano, e um de A nudez não é só a falta de poupa, mas é
também a situação de pobreza e miséria de muitos que foram expostos à humilhação, à
indignidade, à enfermidade, à ausência de defesas e ao perigo.
vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais
o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?»

O REVESTIMENTO DA NUDEZ
O revestimento da nudez não se encontra apenas no início da vida humana e da
passagem da natureza à cultura, mas também tem uma importância significativa na
iniciação cristã, como o denota a antiga prática batismal de colocar uma veste branca
sobre o recém-batizado. A imposição da veste branca no Batismo indica que quem é
batizado recebe a dignidade cristã, recebe a santidade. Esta veste simboliza a prática dos
ensinamentos de Jesus Cristo que devemos fazer para a conservar mais branca do que a
neve e com ela nos apresentemos, um dia, perante Deus. Devem ecoar sempre no nosso
coração as palavras que ouvimos no nosso batismo: «Agora és nova criatura, e estás
revestido de Cristo. Esta veste branca seja para ti símbolo da dignidade cristã. Ajudado
pela palavra e pelo exemplo da tua família, conserva-a imaculada até à vida eterna.»

O QUE PODEMOS FAZER


Não podemos ficar indiferentes diante da necessidade de roupas por que passam muitas
pessoas e muitas famílias. É preciso ter a sensibilidade do coração a fim de que
saibamos fazer alguma coisa para vestir as pessoas carentes, cujos corpos são templos
do Espírito Santo e merecem ser vestidos com dignidade. Esta obra de misericórdia
pode ser realizada pela oferta de roupas que sejam úteis a uma família pobre e
necessitada, oferta que pode ser entregue diretamente para uma determinada família, ou
entregue a uma instituição de caridade que preste essa assistência. Todos nós podemos
doar roupas que já foram usadas, mas estão em bom estado e podem ser bem
aproveitadas.
A roupa que se amontoa e ganha mofo nos nossos armários pertence e faz falta a muitos
pobres. Se assim procedermos, passaremos a fazer parte daquele grupo de pessoas a
quem Jesus diz: «Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está
preparado desde a criação do mundo, porque estava nu e me vestistes... Em verdade eu
vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos,
foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 34).

Abril 2016
Dar pousada aos peregrinos

Está implícito nesta obra de misericórdia o valor do acolhimento do viajante e do


estrangeiro, valor praticado em Israel muito antes do tempo de Jesus, pois era
considerada uma desonra deixar alguém passar a noite na rua. Para os gregos antigos era
até um dever religioso visto o próprio Zeus ser considerado o protetor dos estrangeiros.
Mais tarde, esta obra de misericórdia aludiu à prática de acolher quem está a fazer uma
peregrinação e consistia em dar pousada a peregrinos, a viajantes, aqueles que não têm
como e onde se abrigar. É de realçar que a palavra «hospitalidade» traduz a palavra
grega filoxenía, que significa literalmente «amor», «afeição», «bondade para com
estrangeiros». Este nexo entre hospitalidade e amor (filoxenia e agapé) é o traço
marcante que caracteriza a hospitalidade cristã.

O que diz a Bíblia acerca do acolhimento


Na Bíblia, o povo de Israel é marcado por uma tensão entre o acolhimento ao hóspede e
por uma certa desconfiança em relação ao estrangeiro, enquanto ameaça para a
identidade do povo. No entanto, o acolhimento do estrangeiro foi sempre um valor
incentivado e apreciado. É importante entendermos que a hospitalidade da época não
deve ser entendida, nos termos modernos, como um simples acolhimento ao hóspede,
com cama e mesa, mas antes como uma radical inclusão do hóspede na família de quem
o acolhe.
São muitos os episódios de acolhimento na Bíblia, por exemplo, no livro do Génesis
três peregrinos são acolhidos por Abraão e sua esposa. Também uma viúva de Sarepta
acolheu o profeta Elias. Jesus foi muitas vezes acolhido e incentivou essa prática aos
seus discípulos, como na parábola do Bom Samaritano, onde o estrangeiro e inimigo se
transforma em próximo.

A cultura do acolhimento
No geral, hospitalidade/acolhimento é tratar os estranhos como iguais, criando espaço
para que eles recebam proteção, provisão e cuidado, dando-lhes assistência e guiando-os
para o seu próximo destino.
Mas nós acolhemos porque também somos acolhidos: cada um de nós, mal vem ao
mundo, torna-se hóspede.
O pobre, o sem-abrigo, o vagabundo, o estrangeiro, o refugiado, o mendigo, aquele cuja
humanidade é humilhada pelo peso das faltas e das privações, das rejeições e do
abandono, do desinteresse e da estranheza, começa a ser acolhido quando eu começo a
sentir como minha a sua humilhação, a sua vergonha; quando começo a sentir que a
deterioração/degradação da sua humanidade é, também, a minha própria
deterioração/degradação.
Hospitalidade, portanto, significa, primeiramente, a criação de um espaço livre onde o
estranho possa entrar e tornar-se um amigo, em vez de inimigo. Acolher o estrangeiro é
mais do que abrir a própria casa ao outro é, mais profundamente, fazer de si próprio a
casa, a morada onde o outro é acolhido: acolher é dar tempo e espaço para o outro, e,
escutando-o, escavamos em nós um espaço interior para ele.

O apelo de Taizé
Recentemente, estive em Taizé com 400 alunos de EMRC da diocese de Viseu. Ali
ouvimos o apelo do Irmão Alois, prior da comunidade: «Hoje são os sírios que afluem à
Europa, amanhã serão outros povos. Não permitamos que a rejeição do estrangeiro se
introduza nas nossas mentalidades, pois recusar o outro é o germe da barbárie. Em vez
de ver no estrangeiro uma ameaça para o nosso nível de vida ou a nossa cultura,
acolhamo-lo como membro da mesma família humana. Assim que os encontros pessoais
se tornam possíveis, os medos dão lugar à fraternidade.»

Hospitalidade é oferecer às pessoas um espaço onde possam ficar melhores e nós


mudarmos com elas.

Maio 2016
Assistir os enfermos

A doença é própria da condição humana e mostra o nosso lado mais frágil, os nossos
limites e incapacidades. A doença, a vida e a morte são conceitos que aparecem unidos e
que nos convidam a refletir sobre o passado, o presente e o futuro e, principalmente,
sobre o sentido último da nossa existência. Assistir quem se encontra numa situação de
limite e fragilidade é, não só uma obra de misericórdia, mas também um imperativo
para os cristãos que são chamados a porem em prática a misericórdia.

Doença: experiência de limite


Viver com os limites que qualquer doença nos impõe não é tarefa fácil, nem para o
doente nem para aquele que o assiste. É preciso recuperar a esperança, muitas vezes
também ela afetada, de que a tormenta passará, e a doença não terá a última palavra.
As pessoas doentes precisam de reforçar a autoestima e a vontade de viver. Em horas
difíceis, é muito importante ter alguém com quem desabafar, a quem abraçar, com quem
partilhar a angústia de uma certa derrota perante o sofrimento.
Infelizmente, muitas vezes os doentes são separados do resto do mundo, depositados em
lares ou hospitais, com a desculpa de que aí são bem atendidos (e até pode ser!...).
Escondemo-los das crianças e até dos jovens, visitamo-los à pressa e, quando estamos
na sua presença, não somos capazes de olhá-los nos olhos nem sabemos o que dizer.
A existência de situações limite como é a doença envergonha a sociedade perfeita que a
mentalidade moderna nos quer impor e por isso, diz-se, é melhor ignorar a sua
existência e todos aqueles que dela padecem.

Assistir é encontrar-se…
A assistência aos enfermos é muito mais que uma simples visita caritativa, é, antes de
mais, um encontro. Um encontro entre pessoas que partilham a mesma condição
humana, com potencialidades e limites. Curioso é a língua hebraica, para indicar uma
visita ao doente, usar por vezes o verbo ra’ah, que significa «ver», mas este «ir ver o
doente» significa, em sentido mais profundo, «escutar» o próprio doente, encontrar-se
com ele, deixar que seja ele a guiar o encontro, não fazer nada além do consentido por
ele, ater-se ao quadro relacional que ele apresenta.
Podemos, então, intuir que assistir o doente não é só promover as necessidades
essenciais como alimentação, medicação, higiene, roupa… mas possibilitar um
encontro, mais íntimo e pessoal que promova a dignidade, a paz, a tranquilidade, a
espiritualidade… enfim, um encontro que devolva a confiança e a esperança. O que o
paciente mais deseja é recuperar a saúde, daí que seja fundamental e importe devolver-
lhe a confiança na vida: nas suas energias interiores, físicas, psíquicas e espirituais, pois
elas podem atuar como verdadeiros medicamentos.

Desafio para hoje


A prática da obra de misericórdia de visitar os doentes é um desafio permanente e atual
para cada um de nós. O Papa Francisco não se cansa de nos desafiar a ser o rosto
misericordioso de Deus: «Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na
habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que
destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos
irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu
grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que
sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne
o nosso.»

Ir ver o doente significa escutá-lo, encontrar-se com ele, reavivar-lhe a confiança.

Junho 2016
Misericórdia é visitar os presos

Visitar aqueles que estão privados da sua liberdade e sedentos de uma palavra de
esperança é uma obra de misericórdia. É afirmar e valorizar a esperança cristã, a
esperança de que um novo recomeço é possível.
O Papa Francisco, nas inúmeras visitas que tem feito a reclusos, não só tem tido
palavras de alento como tem convidado os reclusos a aproveitarem o tempo de reclusão
para abrirem as suas vidas a Deus. Numa cadeia da Bolívia, afirmou que «quando Jesus
entra na vida de alguém, essa pessoa não fica detida no seu passado, antes começa a
olhar o presente de outra maneira, com outra esperança. A pessoa começa a olhar-se
com outros olhos a si própria, a sua própria realidade. Não fica presa ao que sucedeu,
pelo contrário, é capaz de chorar e de encontrar aí a força para voltar a começar. […]
Não existe lugar onde a misericórdia divina não chegue e nem há quem não possa ser
por ela tocado». A nossa visita aos reclusos é, acima de tudo, facilitar o encontro e o
toque com Jesus.

A perda da liberdade
A condenação de uma pessoa à prisão e, consequentemente, à perda de liberdade, é o
resultado do julgamento que a sociedade faz de quem cometeu um delito. E visa afastá-
la do convívio social para proteger a sociedade de novos crimes e dar oportunidade à
pessoa condenada de corrigir-se. Acontece que, ao perder a liberdade, muitas vezes, o
preso perde também a sua dignidade e o sentido de vida. Muitas prisões constituem um
dos piores lugares em que o ser humano pode viver. A prometida reeducação não
acontece e o que ocorre é exatamente o contrário. As pessoas saem “instruídas” para
novos delitos, o que nos deve fazer refletir como é que estamos a reeducar e a reintegrar
estas pessoas.
Visitar os presos, ou ajudá-los na sua reinserção social, é servir os que foram afastados
da sociedade. Há que levar a essas pessoas a nossa proximidade, a nossa compreensão,
os nossos conselhos e, acima de tudo, a nossa oração.

Outros tipos de prisões


Mas esta obra de misericórdia não se limita aos presos que foram julgados e condenados
pelo sistema de justiça. Deve ser estendida a todos aqueles que estão aprisionados, não
em celas, mas em redes de outro tipo: álcool, pornografia, drogas e vícios que
mergulham a pessoa num abismo do qual dificilmente poderá sair sozinha. Também a
esses a nossa visita compassiva e misericordiosa deve apontar caminhos de libertação
que passam necessariamente pelo encontro com Cristo Ressuscitado.

É possível ser diferente…


O P.e João Gonçalves, para imitar Jesus Cristo que veio para «proclamar aos
aprisionados a libertação» (Lc 4, 18), passa a vida a visitar os presos. Conta: «Mais do
que um sentimento de solidariedade ou até humanismo, a visita aos presos é obra de
misericórdia, no sentido em que o coração passa a bater a outro ritmo e volta-se de
forma espontânea para rostos que retratam os sentimentos que moldaram o próprio
Jesus: a solidão, o abandono, o medo, a vontade de transformar a realidade presente. E,
no final de cada visita, a lembrança de um sorriso, ou mesmo a lembrança de um rosto
envergonhado e arrependido, alimentam a esperança de que é possível ser diferente.
Vale a pena estar ali todas as semanas, porque, assim, a fé se torna uma fonte
inesgotável de crescimento.»

«Quando me visitam pessoas que não me conhecem e não têm qualquer ligação comigo,
sinto-me pequeno e pergunto-me que força é essa que torna as pessoas capazes destes
gestos?» (Zacarias, recluso)

Julho-agosto 2016
Misericórdia: enterrar os mortos

Num ambiente tradicionalmente cristão, a morte de alguém é suficientemente divulgada


e o acompanhamento do defunto acontece com naturalidade. Acompanhar as famílias
em momentos tão dolorosos e difíceis é uma obra de misericórdia, um momento para
confortar na fé e na amizade.
Nas paróquias há sempre familiares, amigos e outras pessoas que estão presentes e raros
são os funerais sem cerimónia religiosa. Pode, no entanto, acontecer, em ambientes mais
urbanos e menos cristianizados, onde o anonimato facilmente se instala, que alguns
defuntos não sejam acompanhados e honrados. O individualismo, a indiferença e o
isolamento dos dias de hoje tendem a esconder a morte e todos os rituais a ela
associados, a censurar o luto e a delegar noutros as práticas e os ritos de despedida.

Uma questão de humanidade


A consciência da morte existe desde a origem da humanidade e as pessoas
desenvolveram a prática da sepultura dos mortos. Os ritos de inumação (sepultura
debaixo da terra) são os mais antigos que a arqueologia nos permite encontrar.
A sepultura dos mortos revela o grau de civilização de uma sociedade. «Julga-se um
povo pelo modo como sepulta os mortos», dizia Péricles, político e orador grego, pois,
quando não há respeito pelos mortos, também não se espera que o haja pelos vivos.
Curiosamente, o pensamento humano relacionou homo (homem) com humus (terra) e a
imagem bíblica da criação do homem a partir da terra fizeram da inumação a forma de
sepultura privilegiada no Ocidente, embora, atualmente, também se aceite a cremação.
Na tradição bíblica, a sepultura foi sempre tida na máxima consideração, a par dos
cuidados a prestar ao cadáver (lavar o defunto, pentear, vestir, etc.). Como nos diz o
Catecismo da Igreja Católica, «os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito
e caridade, na fé e na esperança da ressurreição».

Presença em vez de flores


O ato de sepultar os mortos revela o respeito por quem chega ao fim da sua caminhada
terrena, pela sua memória, pela sua herança. Trata-se de um último gesto para com o
corpo humano, o mesmo que, em virtude da sua fragilidade, precisou de ser cuidado
desde o seu nascimento. Por outro lado, sepultar é assumir a separação, já que o corpo
do defunto não nos pertence.
Na celebração das exéquias, a Igreja encomenda a Deus os mortos, reanima a esperança
dos fiéis e dá testemunho da fé na futura ressurreição com Cristo. Por isso, sepultar os
mortos é uma obra de misericórdia para com um irmão que chegou ao fim da sua
peregrinação, é um ato de louvor ao Criador e Senhor da vida, é uma oportunidade para
se ver confrontado com a sua própria fragilidade, mas é também uma manifestação de fé
e de esperança na vida que continua.
Por outro lado, não se pode esquecer o acompanhamento e apoio devidos aos que
choram, aos que ficam mais sós e desamparados. Porque não é fácil gerir um
desaparecimento. A proximidade expressa comunhão e manifesta solidariedade nestas
horas difíceis.
As flores que se podem enviar não substituem nunca uma presença amiga e
reconfortante junto de quem chora e sofre, por mais discreta que seja, num momento de
dor e sofrimento como é a morte de um ente querido. E a oração de sufrágio continuará
a ser a mais bela e oportuna homenagem a quem parte, mesmo se marcada pelo silêncio.

Ao acompanharmos os defuntos, acompanhamos as suas famílias e manifestamos o


apreço que lhe tínhamos e a dignidade que eles mantêm.

Outubro 2016
O bom conselho é dado
De janeiro a julho, analisámos as obras de misericórdia corporais. Começamos este mês
a refletir sobre as obras de misericórdia espirituais. Dar bons conselhos a quem hesita
ou duvida e por isso se sente dividido é a primeira obra de misericórdia espiritual.

A arte de aconselhar
Todos nós passámos por momentos em que sentimos necessidade de pedir conselho a
alguém. Outras vezes, somos chamados a dar conselhos àqueles que nos são próximos
ou que estão ao nosso lado. Em ambos os casos, trata-se de procurar uma luz, um
sentido, um significado para decisões importantes e que nos deixam indecisos ou
confusos. Sabemos como é importante nos momentos mais delicados da nossa vida
poder contar com conselhos de pessoas sábias e que nos amam.
O conselho é uma ajuda concreta por parte de quem compreende as dificuldades e as
dúvidas do outro em lidar com os seus sentimentos, opções e decisões de vida.
Aconselhar é, antes de mais, olhar para o outro como um irmão e (re)descobrir a
necessidade de dar sentido, esperança, orientação e plenitude à sua vida. Ao bom
conselheiro pede-se capacidade de compreender a situação do outro, imaginação, uma
grande dose de humildade e um elevado grau de confiança.
Não é preciso ser perito em matérias complicadas para dar um parecer sobre um
problema. Só é preciso ter amor à pessoa a quem aconselhamos. Na relação entre as
pessoas, há muitas formas de aconselhar, porém, o essencial está em saber fazê-lo, para
que as atitudes das pessoas, ajudadas por um conselho, encontrem benefício na decisão
que estão a tomar.

O melhor conselheiro
Por meio do conselho é o próprio Deus, com o seu Espírito, que ilumina o nosso
coração, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos
comportarmos, e o caminho que devemos seguir.
O Espírito Santo é o melhor conselheiro: quando O recebemos e O deixamos atuar, Ele
começa imediatamente a tornar-nos sensíveis à sua voz e a orientar os nossos
pensamentos, sentimentos e intenções segundo o coração de Deus. Ao mesmo tempo e
progressivamente, O Espírito Santo dirige o nosso olhar interior para Jesus, modelo do
nosso modo de agir e de nos relacionarmos com Deus Pai e com os nossos irmãos.
Portanto, o conselho é o dom com o qual o Espírito Santo torna a nossa consciência
capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus, segundo a lógica de
Jesus e do seu Evangelho. Neste contexto, um conselheiro é uma pessoa aberta à ação
do Espírito Santo que o leva a sentir empatia pelo outro, a escutar o outro em
profundidade, a apreender as suas potencialidades e debilidades, podendo assim ajudar a
entrever a melhor opção para o seu irmão em Cristo, disse o Papa Francisco na
catequese de 7 de maio de 2014.
É mediante a oração que ficamos sensíveis ao Espírito Santo, que atua em nós e nos
aconselha sobre o que devemos fazer e dizer. Na intimidade com Deus e na escuta da
sua Palavra, começamos a abandonar a nossa lógica pessoal, ditada muitas vezes pelos
nossos medos, preconceitos e ambições, e podemos experimentar as palavras de Jesus
apresentadas no Evangelho de Mateus: «Não vos preocupeis com o que haveis de falar
nem com o que haveis de dizer; ser-vos-á inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis
vós a falar, é o Espírito do vosso Pai que falará por vós.»
O Senhor fala-nos, também, pela voz e o testemunho dos outros. É um dom poder
contar com homens e mulheres de fé que, sobretudo nos momentos mais complicados e
importantes da nossa vida, nos ajudam a iluminar o nosso coração e a reconhecer a
vontade de Deus!
Antes de dares ou receberes um conselho, escuta atenta e humildemente aquele que to
pede ou aquele a quem o dás.

Novembro 2016
Ensinar os ignorantes

Nos dias de hoje, a expressão “ensinar os ignorantes” é mal compreendida e desprezada.


Primeiro, ninguém gosta de ser chamado ou considerado ignorante e, segundo, ensinar é
uma tarefa cada vez mais desconsiderada, pois toda a gente se considera informada e
conhecedora de tudo. Realmente há mais informação, o que não equivale, por si só, a
uma melhor formação. Saber não é apenas acumulação de informação, conservação ou
recuperação de dados. O verdadeiro conhecimento implica de algum modo “co-nascer”,
voltar a nascer, deixar-se formar e transformar pelo conhecimento adquirido, de modo
que a minha vida se torne outra, com uma nova visão da realidade. Daí que ensinar os
ignorantes é uma obra de misericórdia que importa atualizar, contextualizar e praticar.

Ensinar é deixar uma marca


Ensinar os ignorantes é proporcionar e incentivar um clima de procura da verdade. A
palavra «ensinar» significa instruir sobre, indicar, assinalar, marcar, mostrar algo a
alguém..., é a capacidade de ajudar alguém a construir-se, a encontrar um caminho com
metas, a orientar-se na sua sede de conhecimento para a luz.
Implícito no conceito de ensinar está o verbo “instruir”, que sugere a ideia de que o
conhecimento é uma construção que se faz, por etapas, por níveis, de modo que a pessoa
alicerce e construa o seu próprio projeto de vida.
Ensinar é similarmente orientar, isto é, acender uma chama, ajudar o outro a procurar a
luz e a deixar-se iluminar, de modo que aprenda a situar-se na vida, a ser ele mesmo, a
vir ele próprio à luz. Neste sentido, o ensino é uma espécie de maiêutica, arte de fazer
vir à luz, de abrir os olhos ao cego, de ajudar o outro a ver o mundo com olhos novos,
oferecendo-lhe palavras que iluminam a vida.
No dever de ensinar está também incluído o dever de aprender com aquele que se quer
ensinar. Aquele que ensina reconhece a sua ignorância e, por isso, não se julga dono da
verdade, mas deixa-se possuir pelo desejo de a procurar e conhecer.

Quem são os ignorantes


A palavra «ignorante» tem a sua raiz no latim ignorantia, cujo significado é a falta de
conhecimento em particular ou da cultura em geral. Ignorância pode significar também
imperfeição no conteúdo de conhecimento ou falta de validade das informações
tratadas. Desta forma, o ignorante constrói um mundo falso, com noções erróneas a
respeito dele mesmo e do mundo que o envolve. Esta forma de viver e de pensar
incapacita-o de ver e aceitar as verdades.
Em certa medida todos somos ignorantes, incapazes de abarcar toda a verdade, mas essa
consciência deve transformar-nos em buscadores da verdade e, nesse aspeto, a
ignorância pode ser douta, como lhe chamam os filósofos. Ao reconhecermos a nossa
própria ignorância, temos consciência de que nada sabemos e isso é um começo para
superar as ilusões do falso saber, ou de um saber que, apesar de limitado, se considera
ilimitado.

O verdadeiro mestre
Segundo a Unesco, existem no mundo 743 milhões de adultos analfabetos, cerca de 11
% da população mundial. É uma realidade demasiada dura que se torna um flagelo
vergonhoso para um mundo que se diz moderno. Ensinar os ignorantes tem de significar
alfabetizar tantas pessoas, que nunca foram à escola ou a abandonaram precocemente…
Para nós, cristãos, ensinar os ignorantes é também evangelizar os que desconhecem
Cristo, o verdadeiro mestre, na certeza de que a fé oferece uma nova visão da vida, que
torna possível ao cristão ver tudo de novo e, a partir daí, reinventar-se e renovar todas as
coisas!

Ensinar é acender uma chama, ajudar o outro a procurar a luz da verdade e a deixar-se
iluminar por ela.

Dezembro 2016
Corrigir os que erram

Corrigir os que erram não é uma tarefa fácil. Na sociedade, por um lado, ninguém gosta
de ser chamado à atenção. Por outro, há uma tendência para não corrigir e deixar andar.
No entanto, corrigir os que erram é necessário: ajuda a formar o cérebro e estrutura a
personalidade. Porém, lembremo-nos que a correção para ser fraterna e misericordiosa,
deve sempre ser feita na hora certa, com as palavras corretas, com sentimentos de
caridade e amor, de modo que a pessoa corrigida perceba o bem que lhe queremos.

Correção na caridade
Corrigir, segundo o verbo grego nouthetein, significa «colocar a mente sobre outro, para
o ajudar a descobrir os seus erros e a evitá-los». Trata-se, portanto, de um olhar e
atenção amorosa, de uma vigilância fraterna sobre o outro, a fim de consertar os seus
eventuais erros. Por outro lado, a palavra «corrigir», na sua origem latina, corrigere
significa e implica «dirigir juntos» e mostra a dimensão partilhada e relacional da
correção, em que um ajuda o outro a orientar a sua vida, na humanidade e santidade.
Não existe correção para o mal: o fim último da correção deve ser sempre o bem e o
modo para lá chegar terá de ser através da caridade. A correção deve ser uma realidade
vivida no amor e na misericórdia que brota de uma verdadeira solicitude pelo bem do
irmão. Como nos diz o Papa Francisco, «não se pode corrigir uma pessoa sem amor e
sem caridade. Não se pode fazer uma cirurgia sem anestesia. A caridade é como uma
anestesia, que ajuda a receber o tratamento e aceitar a correção».

Correção com humildade


No ato de corrigir e de ser corrigido, a humildade é uma atitude fundamental, não só de
quem se aproxima para incentivar à correção, mas também de quem é corrigido. A
correção humilde é fruto da atenção e do cuidado, visando denunciar o erro e
salvaguardar a vida e a dignidade daquele que o praticou. Quando corrijo, não me devo
considerar superior ou perfeito, mas, com humildade e humanidade, devo expressar a
caridade (amor e não pena) ao próximo. E o mesmo me é pedido se sou corrigido. A
correção que é fraterna de verdade implica sair do individualismo da minha perfeição
individual, para me tornar (co)responsável pela santidade do meu irmão.

Ganhar um irmão
«Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir,
terás ganho teu irmão» (Mt 18,15). Como nos diz Jesus, a correção fraterna visa ganhar
o irmão e não perdê-lo. A correção fraterna é um impulso para a salvação do outro; é a
capacidade de saber estender-lhe a mão; é emprestar-lhe os olhos para que enxergue a
vontade de Deus, pois, muitas vezes, o erro deixa-nos incapazes de ver, e, na escuridão,
acabamos por magoar-nos nos obstáculos da vida.
Corrigir os que erram, de forma fraternal, é o oposto da indiferença, pois, ao corrigir,
mostro não só que sou responsável pela santidade do meu irmão, mas rompo com o
individualismo que me dissocia do outro e que me leva a pensar apenas em mim e na
minha perfeição individual.
Ao corrigir e ser corrigido, saio da indiferença em que muitas vezes me refugio para me
proteger do duro encontro com o outro. Na missão de corrigir são sábias as palavras do
Apóstolo Paulo: «Corrigi os indisciplinados, encorajai os desanimados, amparai os
fracos e sede pacientes com todos» (1Ts 5, 14).

Ao corrigir e ser corrigido, saio da indiferença.

Janeiro 2017
misericórdia é consolar os tristes

O nosso tempo, marcado pelo progresso e por tantas conquistas, não se livra de ser
também um tempo propício à tristeza e ao desalento. Se estivermos atentos,
encontraremos ao nosso lado muitas pessoas tristes. A vida, por vezes, confronta-nos
com momentos difíceis, em que as lágrimas expressam uma tristeza imensa que nos
pode deixar abalados e desorientados. É precisamente aí que esta obra de misericórdia
se revela muito útil e consoladora.

TRISTEZA
A tristeza é um sentimento caracterizado pela falta da alegria e pode apresentar-se em
diferentes graus de intensidade, variando desde a tristeza passageira, que normalmente
dura alguns minutos ou horas, à tristeza profunda, que pode persistir por vários dias ou
semanas. Vários podem ser os motivos que desencadeiam sentimentos de tristeza, como
a falta de sentido para a vida, uma desilusão amorosa, a perda do emprego, a morte de
um amigo ou familiar e outras situações que nos abalem... A tristeza não é apenas
causada pela sensibilidade e fragilidade humanas, mas, também, pelas injustiças sociais
que nos rodeiam e que nos deixam tristes e desolados.

A ARTE DE CONSOLAR
O verbo grego parakalein, que indica o ato de consolar, significa «chamar para junto de
si», para exortar e consolar. Mediante a consolação tenta-se criar uma proximidade,
fazer «presença junto de» quem está na desolação e na tristeza. Assim, a verdadeira
consolação consiste numa presença capaz de escutar o sofrimento, deixar que seja o
silêncio, o estado de espírito, a sugerir gestos, tempos, movimentos, silêncios, palavras,
olhares, abraços, carícias, distâncias, para poder servir realmente de consolação. Assim
a proximidade, permite a consolação que proporciona conforto em todas as
necessidades, que ajuda a dar sentido ao sofrimento, que contribui para o passo
seguinte, que alerta para a realidade que importa descobrir e viver. Uma tristeza dividida
e partilhada torna-se mais leve e a escuta atenta e a palavra amiga contribuem para o
alívio desejado.

A IGREJA CONSOLADORA
Os cristãos são chamados a olhar as tristezas e mazelas do mundo e entrar nelas com a
ação misericordiosa e consoladora de Deus, a fim de gerar a alegria da salvação. É isso
que pedimos quando na missa, o sacerdote reza em nome de toda a comunidade: «Dai-
nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-
nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo
de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles.»
Não deixemos de consolar aqueles que, perto de nós, trazem um coração entristecido.
Esta obra de misericórdia convida a disponibilizar tempo e vontade para acompanhar
quem experimenta a fragilidade e a tristeza. Por isso, tem gestos misericordiosos para
com os que andam mais tristes à tua volta: algum colega da tua turma, um amigo,
alguém da tua família, um desconhecido com quem te cruzas na rua onde moras e que
precisa do teu sorriso, palavra ou apenas da tua companhia.

Não deixemos de consolar aqueles que, perto de nós, trazem um coração entristecido.

Fevereiro 2017
Misericórdia é perdoar as injúrias

A quinta obra de misericórdia espiritual convida-nos a perdoar as injúrias. O Papa


Francisco disse: «Não se pode viver sem perdão.» O perdão é essencial a cada pessoa.
Perdoar e sentir-se perdoado pode produzir uma grande liberdade e paz interior.
Perdoar constitui uma excelente obra de misericórdia que, além de nos fazer um grande
bem, faz-nos herdeiros da promessa de Jesus: «Bem-aventurados os misericordiosos
porque alcançarão a misericórdia.»

INJÚRIA
A injúria é uma palavra ou ação que leva à indignação e que fere a dignidade da pessoa,
prejudicando a sua reputação e amor-próprio. Todos nós, em algum momento da nossa
vida, já sofremos ofensas, calúnias e injúrias que, não só de feriram gravemente o nosso
coração, provocando feridas emocionais, como produziram também ódios,
ressentimentos e até vinganças. Essas ofensas, além de nos fazerem sofrer, roubam-nos
a serenidade e a paz, interior e exterior. É aí que o perdão pode ter um papel importante.

PERDÃO
Jesus ensina-nos que o perdão não significa atenuar a responsabilidade de quem
cometeu o mal: o perdão absolve, precisamente, aquilo que não é desculpável, aquilo
que é injustificável. O mal cometido permanece como tal, assim como permanecem as
cicatrizes do mal infligido.
O perdão, igualmente, não elimina a irreversibilidade do mal sofrido, mas assume-o
como passado e, fazendo prevalecer uma relação de graça sobre uma relação de
represália, cria as premissas de uma renovação da relação entre ofensor e ofendido.
O perdão não é sinónimo de fraqueza ou ausência de amor-próprio; pelo contrário,
demonstra grandeza de alma e muita coragem. O mais fácil seria «pagar na mesma
moeda», relembrar constantemente o sucedido, mostrar-se continuamente ofendido e
não sair de um registo de vitimização. Mais difícil é fazer um esforço por perdoar e
avançar, mesmo que não se seja capaz de esquecer.
Por tudo isto, o perdão abre um caminho conjunto, de responsabilidade mútua, em que
posso ajudar o outro a emendar-se.

LUGAR DE PERDÃO
Cada um de nós é chamado a ser espaço e lugar de perdão: «Perdoai-vos mutuamente,
como também Deus vos perdoou em Cristo» (Efésios 4, 32). É fundamental que cada
um de nós (re)descubra que foi perdoado por Deus em Jesus Cristo, e isso faz com que o
ato do perdão dado não seja tanto (ou apenas) um ato de vontade, mas a abertura ao dom
da graça do Espírito Santo que nos convida a fazer o mesmo. O perdão, portanto, depois
de concedido, pode (re)abrir a relação, dando lugar à reconciliação. Jesus não se cansa
de nos ensinar a separar o pecado do pecador, a condenar o pecado e a dar novas
oportunidades ao pecador, porque o homem é sempre maior que a sua falha.
O perdão à maneira de Jesus é a possibilidade de um caminho novo que faço, a partir
daí, com aquele a quem perdoo. Quantas pessoas encontramos marcadas por alguém a
quem não querem perdoar e que, por causa desse fardo, continuam presas a uma
situação dolorosa? Ao contrário, na medida em que apaga esses sentimentos vingativos,
o perdão acalma e traz serenidade. Pode demorar tempo a chegar, mas nunca será tarde.

O perdão à maneira de Jesus é a possibilidade de um caminho novo que faço, a partir


daí, com aquele a quem perdoo.

Março 2017
Suportar as fraquezas do próximo

Num mundo que pretende apresentar-se como perfeito, é cada vez mais frequente
existirem dificuldades de relacionamento e aceitação das fraquezas dos irmãos. Não é
por acaso que o Novo Testamento da Bíblia nos exorta, com frequência, a termos
paciência e a suportarmos os outros: «Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos
mutuamente se alguém tiver razão de queixa contra outro» (Carta aos Colossenses 3,
13). O desafio desta obra espiritual é suportar, com mansidão, os que estão próximos de
nós, com todas as suas limitações, fraquezas, defeitos, adversidades e misérias.

Suportar a fraqueza
Esta obra de misericórdia diz respeito a todo o tipo de fraqueza humana: complexos,
vícios, defeitos de carácter, por exemplo. Cada um de nós tem as suas fraquezas,
dificuldades, limites e imperfeições. Alguns destes limites podem ser superados
rapidamente, mas, outros, não. E nem todas as pessoas conseguem lidar com a fraqueza
da mesma forma: algumas são mais lentas e outras possuem limites que não podem ser
facilmente superados e suportados.
A palavra «suportar» parece indicar (negativamente) um peso quando temos de pôr em
prática esta obra de misericórdia. Porém, lembremo-nos que o que deve ser suportado é
a fraqueza do próximo e não a pessoa. Não é nada fácil, especialmente no mundo em
que vivemos, entender que a fraqueza do outro não deve ser considerada um peso, um
obstáculo, mas uma oportunidade para a fraternidade. Quem de nós não se sentiu
incomodado pela debilidade e fraqueza de alguém?
A nossa natureza é limitada, mas pode refletir a força de Deus. Face às fraquezas dos
outros, cada um de nós é chamado a supri-las com as nossas aptidões e qualidades, e,
claro, a superar-se com a ajuda dos outros.

Com paciência e mansidão…


A Bíblia fala de Deus como «lento para a ira», para indicar a sua imensa paciência e
mansidão. A paciência e mansidão são o olhar generoso de Deus fixo em nós, olhar que
não se detém nos pormenores, mas que se foca no essencial, no grande amor que Ele
tem por cada um de nós.
Paciência e mansidão, ao contrário do que se possa pensar, não são passividade, mas
ações gratuitas e amorosas destinadas a que ninguém se perca.
Paciência e mansidão são frutos do Espírito Santo. A paciência exige o cultivo de
algumas qualidades como a calma, a serenidade e, sobretudo, o reconhecimento do
direito do outro ter o seu tempo.
A mansidão é uma obra ativa, inteligente e corajosa, que recusa responder ao mal com o
mal.
Hoje, porém, a paciência perdeu grande parte do seu fascínio: os tempos acelerados
suscitam a impaciência, o não adiamento, o «já» que não dá lugar à espera.
E a falta de mansidão torna-se falta de vontade de espera e de compreensão do outro
que, com demasiada rapidez, corre o risco de se tornar incómodo ou aborrecido, um
verdadeiro empecilho.
Praticar a paciência e a mansidão nesta obra de misericórdia é confirmar a nossa
confiança nos outros e trabalhar a seu lado e em seu favor contra a tentação do
desespero. Então, suportar é também ser suporte: uma pessoa paciente e de mansidão
ajuda os outros a carregar os pesos que a própria vida lhes impõe. Foi isso que Jesus
Cristo fez por nós.

Quem de nós não se sentiu incomodado pela debilidade e fraqueza de alguém?

Abril 2017
Rezar a Deus por vivos e defuntos

Concluímos a série de reflexões sobre as 14 obras de misericórdia com a necessidade de


rezar a Deus por vivos e defuntos. Tal como o amor, a oração também é uma tarefa.
Habitualmente, quando nos aproximamos de Deus, pedimos por nós, pelos nossos
familiares e pelas nossas necessidades. Porém, a oração obriga-nos a não pensar
somente em nós, a orar por outras pessoas e nações, até pelas desconhecidas.

A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
Na oração expressamos a ligação que existe entre a relação com Deus e a
responsabilidade pelos outros, entre o amor a Deus e a solidariedade para com os
irmãos. Assim como nós vivemos com e pelos outros, também rezamos com e pelos
outros.
A oração, elevada a Deus, não nos dispensa de agir, mas ela é uma força da esperança,
uma expressão da fé no poder de Deus, que é amor e não nos abandona.
Etimologicamente, «interceder» significa «dar um passo entre», «interpor-se», «colocar-
se entre duas partes para tentar construir uma ponte, uma comunicação entre elas». Foi
isto que Jesus fez na cruz.

REZAR A DEUS POR VIVOS


Na oração, não pedimos a Deus que se lembre de alguém, mas, diante Dele,
recordamos, a nossa pessoa, outras pessoas, para que a nossa relação com elas seja
iluminada pela Palavra e Presença de Deus. Ao mesmo tempo, enquanto invocamos o
perdão ou a ajuda de Deus para quem deles necessita, empenhamo-nos concretamente e
fazemos tudo o que nos é possível em favor dessas pessoas.
Neste sentido, pela oração, lutamos contra o esquecimento que nos ameaça, purificamos
a nossa relação com os outros e concebemos gestos concretos em favor daqueles pelos
quais rezamos. A oração de intercessão ou de louvor retira-nos da solidão e
compromete-nos na solidariedade. Foi o que aprendemos com Jesus, que, mesmo
rezando num lugar isolado, orou pelos seus discípulos e Ele, agora, também nos pede a
nós, seus discípulos, que rezemos uns pelos outros.
REZAR A DEUS PELOS DEFUNTOS
A oração pelos defuntos é sustentada pela fé na ressurreição. A comunhão
experimentada em vida não é desfeita com a morte, porque os crentes encontram a sua
vida em Cristo. Ou seja, os que vivemos neste mundo, estando em união com Cristo,
permanecemos em comunhão com aqueles que morreram e vivem com Cristo nos Céus.
Deste modo, ao rezarmos pelos defuntos, também rezamos com eles. Rezar pelos outros
e com eles é uma forma de lhes mostrar o bem que lhes queremos, é tê-los presente, é
integrá-los no nosso presente, na nossa vida.

ORAÇÃO NO SILENCIO
Rezar não é simples: o aborrecimento, a preguiça ou a repetição podem torná-la difícil.
A dificuldade aumenta diante do aparente «silêncio» de Deus. Acresce ainda que, com
frequência, o diálogo com Deus é feito de e no silêncio, o que não é muito gratificante.
Mas, como nos lembra Santa Teresa de Ávila, é no silêncio que nos tornamos
disponíveis, nos abandonamos com confiança e nos aproximamos de Deus. Repetir uma
oração, meditá-la, saboreá-la, vibrar com ela, é construir um diálogo com Deus.

«É hora de nos empenharmos a rezar uns pelos outros para que as obras de misericórdia
corporais e espirituais se tornem o estilo da nossa vida» (Papa Francisco).

Maio 2017
Alunos para o século xxi

Inauguramos este mês um novo itinerário temático. Nos próximos meses iremos refletir
sobre o documento recente do Ministério da Educação, Perfil dos alunos à saída da
Escolaridade Obrigatória, em particular no que toca aos valores ali expostos. Propomo-
nos compreender os principais valores e os caminhos educativos sugeridos.
O documento define dez competências em que se pretende que os alunos estejam
habilitados no final do percurso escolar: 1 – Relacionamentos interpessoais. 2 –
Linguagens e textos. 3 – Informação e comunicação. 4 – Raciocínio e resolução de
problemas. 5 – Pensamento crítico e pensamento criativo. 6 – Desenvolvimento pessoal
e autonomia. 7 – Bem-estar e saúde. 8 – Sensibilidade estética e artística. 9 – Saber
técnico e tecnologias. 10 – Consciência e domínio do corpo. Estas competências
deverão capacitá-los para continuar a aprender ao longo da vida e responder aos
desafios do século XXI.
Na apresentação do documento, a 11 de fevereiro passado, o jurista Guilherme
d’Oliveira Martins apontou que uma das consequências práticas, em sala de aula, que se
espera alcançar é «não aos monólogos, sim à interação»!

EDUCAR EM E PARA OS VALORES


O êxito da educação escolar não é possível à margem da ética e dos valores. Educar
consiste em oferecer e transmitir um modo de viver e de entender a vida. Não chega ter
uma escola que instrua e transmita conhecimentos. A escola não é uma fábrica de
alunos. Torna-se urgente ter uma escola que prepare cidadãos a fim de conviverem em
sociedade uns com os outros. Essa convivência só é possível quando as pessoas
assimilam, assumem, defendem e vivem valores fundamentais que permitem a
convivência como fator de realização pessoal e de felicidade.
Se é certo que a educação foi sempre instrução em valores e para os valores, hoje
impõe-se o desenvolvimento das potencialidades dos alunos. Eis quatro princípios em
que assenta o perfil agora proposto: 1 – Contribuir para o desenvolvimento sustentável.
2 – Educar, ensinando com coerência e flexibilidade. 3 – Agir com adaptabilidade e
ousadia. 4 – Valorizar o saber.
O perfil do aluno assenta também na vivência dos seguintes valores: liberdade,
responsabilidade e integridade, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação,
cidadania e participação.
E o objetivo é que os alunos se tornem hábeis na consciência do belo, da verdade, do
bem, do justo e do sustentável, no pensamento crítico e pensamento criativo.

EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO


Iremos analisar este perfil do aluno em conjunto com outros dois documentos emanados
do Ministério de Educação: A educação para o desenvolvimento (de 2016) e Educação
para a Cidadania – linhas orientadoras (de 2013). Falaremos de itinerários educativos
que visam a consciencialização e a compreensão das causas dos problemas do
desenvolvimento e das desigualdades, a nível local e mundial, num contexto de
interdependência e globalização. Refletiremos sobre o direito e o dever de todas as
pessoas e de todos os povos de participarem e contribuírem para um desenvolvimento
integral, inclusivo e sustentável.

Caixa: (com código QR)


Acede ao documento Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória
https://dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_Imagens/perfil_do_aluno.pdf

Junho 2017
Educação humanista

O recente documento, elaborado pelo Ministério da Educação, define o perfil dos alunos
à saída da escolaridade obrigatória, realçando a importância de um perfil de educação de
base humanista. Iremos, pois, analisar o que significa uma educação de base humanista.

Educação em tempos de mudança


Segundo vários pensadores, o mundo atual manifesta um modo de ser repleto de
egoísmo, ganância, arrogância, falta de compreensão, de dignidade, o que faz do
«homem pós-moderno» um homem solitário, doente nos afetos e completamente
indiferente, inclusive a ele mesmo. Um exemplo disso é a aparição do recente jogo
Baleia Azul.
O que caracteriza a sociedade atual é um paradoxo: a tecnologia, que deveria estar ao
serviço das pessoas, está ao serviço de si mesma, e, muitas vezes, contra o interesse das
pessoas. As tecnologias desumanizaram as pessoas. Certamente já reparaste nesta cena:
podem estar dezenas de pessoas no mesmo lugar, mas não estão juntas, pois cada uma
está com o seu aparelho tecnológico. Ora, uma educação humanista pode ajudar a
encontrar soluções para esta doença social.

EDUCAR É… CUIDAR E CONDUZIR


A palavra «educação» deriva do verbo latino educare, que significa «criar, alimentar,
cuidar, formar, instruir». Mas é curiosa a sua proximidade a outro verbo latino
composto: educere – derivado de ducere, que significa «conduzir, ir à frente, guiar» – e
cujo prefixo e- indica movimento de dentro para fora. Esta proximidade confere à
palavra «educação» um significado mais dinâmico, indicando um movimento de
descoberta e de construção pessoal. Assim, da etimologia da palavra, facilmente se
depreende que educar não é simplesmente transmitir conhecimentos, mas é um processo
pelo qual se vai obtendo a realização humana e a construção de um estilo de ser, de
pensar e de atuar, quer a partir de dentro, quer fortalecendo a personalidade a partir do
exterior.
Uma educação humanista, em particular, realça as vertentes do bom e do belo, os
princípios, os valores, as leis, aquilo que estruturas as pessoas e lhes dá dignidade.

A PESSOA NO CENTRO DE TUDO


Uma educação humanista dá valor às relações interpessoais e ao crescimento que destas
resulta. Cada pessoa cresce com as influências dos outros e ela mesma influencia a
sociedade, quando interage e se integra nela.
A escola, ao praticar uma educação humanista, cria condições para que os alunos
possam tornar-se pessoas de iniciativa, responsabilidade, autodeterminação e
discernimento, de modo a aprenderem a solução para os seus problemas e para os
desafios da sociedade, e também a flexibilidade necessária para se adaptarem às
mudanças e soluções propostas pelos outros.

UMA EDUCAÇÃO QUE DÁ SENTIDO


Uma educação humanista valoriza o esforço na procura de conhecimentos que dão
sentido à vida pessoal e de cada concidadão. Neste sentido, cabe a cada um dos
educadores – família, escola, paróquia, associação, meios de comunicação social – dotar
os mais jovens do gosto por aprender e ensinar ao longo da vida, porque, no fim de
contas, a grande finalidade da vida é deixar este mundo melhor do que o encontrámos.

julho/agosto 2017
Desenvolvimento sustentável

Um dos desafios para a educação do presente e do futuro das crianças e dos jovens é o
de os educar treinando as habilidades, as competências e os conhecimentos. Estas três
áreas são necessárias para transmitir valores indispensáveis. O objetivo é promover as
práticas que conduzem ao desenvolvimento sustentável, que trará a erradicação da
pobreza, a equidade e a inclusão. Este desafio foi assumido pelas Nações Unidas,
quando incentivaram os países a adotarem medidas para promover a educação para o
desenvolvimento.

SURGIU UMA NOVA CONSCIÊNCIA


O conceito de desenvolvimento sustentável apareceu e desenvolveu-se nos finais do
século XIX. Conquistou expressão e visibilidade globais no final do século XX, fruto dos
enormes progressos científicos e tecnológicos alcançados.
A humanidade do século XX tomou consciência de que os recursos da Terra são
limitados. Caiu na conta, também, que os humanos têm infligido muitos danos ao
planeta. Esta nova consciência fez surgir o dever moral da proteção do bem tão valioso
– e tão frágil – que é a Natureza. A poluição, os desastres ecológicos e a exploração
desenfreada dos recursos naturais não renováveis do planeta forneceram argumentos
mais do que suficientes para que os movimentos que defendem o desenvolvimento
sustentável crescessem e se expandissem por todo o mundo.

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
A educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) é meio e forma de fazer com que
possamos todos enfrentar os desafios da atualidade: proteção do meio ambiente, respeito
pela biodiversidade, defesa dos direitos humanos e das outras criaturas, por exemplo.
Concretamente em relação aos alunos, a EDS deverá expor e treinar os conhecimentos,
as habilidades e as competências sociais, ambientais, económicos e culturais do
desenvolvimento. A EDS deve sublinhar os conceitos de paz, igualdade e respeito pelos
outros, em que se incluem os ambientes natural e social. Por outras palavras, a EDS
deve incentivar em cada pessoa atitudes sustentáveis, oferecendo conhecimentos,
competências e valores que façam de nós verdadeiros agentes dessa nova mentalidade.

ECOCIDADANIA
A ecocidadania, consequência da EDS, baseia-se numa visão do mundo em que todos
temos a oportunidade de aceder a uma educação e adquirir valores que fomentam
práticas sociais, económicas e políticas de sustentabilidade, contribuindo para um futuro
que compatibilize as necessidades humanas com o uso sustentável dos recursos. Assim,
superamos os efeitos perversos do agir errado, egoísta e consumista, que vão desde a
destruição ambiental até à manutenção ou agravamento da pobreza.

O PAPA FRANCISCO E A EDS


O Papa Francisco, discursando nas Nações Unidas, afirmou que «para que os homens e
mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que
sejam atores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o
pleno exercício da dignidade humana supõe e exige o direito à educação para um
desenvolvimento sustentável».

Outubro 2017
ensinar com coerência

O perfil dos alunos que se pretende ter à saída da escolaridade obrigatória aponta a
necessidade de educarmos com coerência. Este objetivo é um dos maiores desafios para
os educadores e para as instituições de ensino.

O que é «coerência»?
Ser coerente significa olhar com tranquilidade para tudo o que somos e fazemos, e
procurar não esconder ou mascarar, de nós mesmos e dos outros, o que verdadeiramente
somos. Ser coerente significa, por um lado, reconhecer as nossas falhas e imperfeições
e, aceitando esses limites, ir procurando mudar, na medida do possível, e, por outro, ir
promovendo as nossas qualidades.
Isto não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, é exigente, pois apela a uma constante
vigilância contra a nossa vontade de pretender agradar, de mentir e de esconder. Ser
coerente consiste em viver e agir seguindo uma série de princípios e valores, que dão
um rumo, um sentido, estabilidade e unidade à nossa vida.

Uma escola coerente


A escola deve preocupar-se com ensinar num clima coerente, em que não há
discrepância entre o que diz e faz, entre o que ensina e avalia, entre o que propõe e o
que desaconselha. Não o fazendo, a escola estará a criar confusão e dispersão e a
impedir a construção de um conjunto de características distintivas da pessoa humana,
nomeadamente no que diz respeito a atitudes, hábitos e crenças, de acordo com o que de
melhor se crê que as pessoas são ou podem ser. Educando em coerência, a escola está a
construir um sentido para a vida dando força aos valores como fidelidade, honestidade,
sinceridade, credibilidade e a tantos outros valores fundamentais, não só do ato
educativo, mas da sociedade em geral. A escola coerente forma cidadãos coerentes.

Professores e alunos coerentes


Quando se fala da necessidade de educar para e em valores, o segredo do êxito passa
pela vivência da coerência, ou seja, da conformidade entre ser e agir, entre as ideias e a
ações. Daí que os agentes educativos não podem dissociar aquilo que ensinam daquilo
que vivem: um professor de línguas, sabendo que os idiomas servem para criar laços
universais, não pode ser uma pessoa antissocial, xenófoba, por exemplo; um professor
de ciências naturalmente terá paixão ecológica, e assim por diante.
E é preciso que professores e alunos interajam e se integrem nesta coerência. Só
professores coerentes serão continuados por alunos coerentes, que são pessoas
interessantes, abertas, proativas, afetivas e éticas, que expressem nas suas palavras e
ações que estão sempre a evoluir tentando ser mais coerentes.

Credibilidade da educação
A coerência traz e dá credibilidade à educação. Quando os educadores expõem
pensamentos, ideias, valores e os praticam, estão verdadeiramente a educar os alunos, a
ajudá-los a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar o seu caminho intelectual,
emocional, profissional e espiritual, que os realize e que contribua para todos
modificarem a sociedade que temos.
Ao viver a coerência, os educadores ajudam os alunos na construção da sua identidade,
do seu caminho pessoal e profissional, do seu projeto de vida, tornando-se cidadãos
realizados, produtivos e éticos.

Novembro 2017
O valor do saber

A sociedade, e sobretudo a escola, tem de valorizar o saber e utilizar todos os meios ao


seu alcance para conseguir esse objetivo. Não basta ter acesso à informação nem
podemos confundir informação com saber.
Com a Internet, nunca, como nos dias atuais, houve tanto acesso à informação dos mais
variados tipos, em diversos formatos e sobre infinitos assuntos. Mas será que com tudo
isso as pessoas se tornaram mais sábias? Como diz o filósofo e teólogo Mario Sergio
Cortella, «muitas pessoas navegam na Internet, mas a maioria delas naufraga», porque
qualquer informação à deriva não produz, por si só, conhecimento.
Eu acredito que assistimos a um tempo no qual há muita informação, pouco
saber/conhecimento e escassa sabedoria.

SABER E CONHECIMENTO
Usamos a palavra «saber» para designar a sabedoria, o conhecimento que alguém
adquire num assunto, tema ou ciência. Uma pessoa adquire o saber, isto é, o
conhecimento sobre algo, por meio da sua experiência, ou seja, do contacto com aquilo
que se conhece, mas, também, pela educação recebida pelo ensino que alguém
pronuncia com o conhecimento prático e teórico de um tema ou realidade. Mas o saber
é, também, uma atividade persistente, uma busca constante e própria dos indivíduos e,
por isso, em todo o tempo e espaço estamos a absorver e a processar a informação que
obtemos na nossa vida quotidiana de modo a sabermos mais, a conhecermos mais, a
sermos mais.
UM NOVO NASCIMENTO
A palavra «conhecimento» no latim tem um significado muito especial; cognotio ou
cognoscere refere-se, também, a um novo nascimento. O conhecimento produz o
nascimento de uma nova realidade, uma nova maneira de ver e agir no mundo, uma
nova mundividência. Por isso, uma geração sem conhecimento e saber é uma geração
sem poder de transformação e de inovação.
Essa questão reflete-se também no relacionamento das pessoas com Deus. Na pós-
modernidade existe uma abertura para se trocar opiniões sobre o que as pessoas pensam
sobre Deus, mas poucos desfrutam do verdadeiro conhecimento Dele. Então, o maior
obstáculo para a nossa geração é ultrapassar as distrações das opiniões para podermos
criar o nosso conhecimento de Deus, que produz necessariamente uma maior presença e
vivência: um novo relacionamento com Ele.

O PODER DO SABER
Quanto mais sabemos, mais poder temos e mais livres seremos, no sentido que quem
sabe mais escolhe melhor, decide melhor, pois possui mais recursos e meios e não se
deixa levar pela primeira impressão dos factos. Como dizia Francis Bacon, «saber é
poder», e Jesus acrescenta que é um poder que liberta. Jesus Cristo disse aos seus
discípulos: «Conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará» (João 8, 32).
O poder da verdade está no conhecimento e na experiência vivencial dela. O mero saber
sobre a verdade, por si só, não liberta e consequentemente a informação sobre Deus
também não transforma nem liberta pois é um saber que gera expectativa sem
esperança. Foi isso que Jesus demonstrou na ultima ceia com os discípulos. Ao explicar-
lhes o que significava a sua paixão e morte, Ele não mostrou apenas o pão e o vinho,
mas distribuiu-os, comeu e bebeu com eles. Por outras palavras, conhecer a verdade
significa experimentá-la, prová-la, degustá-la e digeri-la para que ela possa produzir
frutos abundantes.
Caixa:
«Nós aprendemos:
10 % quando lemos,
20 % quando ouvimos,
30 % quando vemos,
50 % quando vemos e ouvimos,
70 % quando discutimos/debatemos,
80 % quando vivenciamos
e 95 % quando ensinamos.»
(William Glasser)

Dezembro 2017
Árvores solidárias

Sou natural de uma zona do País que foi terrivelmente fustigada pelos incêndios do
passado dia 15 de outubro. As centenas de incêndios que deflagraram nesse dia – o pior
dia de fogos do ano segundo as autoridades – provocaram 45 mortos, consumiram cerca
de 200 mil hectares de floresta (uma área seis vezes superior à de Lisboa), destruíram
total ou parcialmente cerca de 350 empresas, obrigaram a evacuar localidades e a
realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas do nosso país. Estas
tragédias deixaram-nos numa angústia e impotência brutal. Se este flagelo não nos
tocou à porta ou à porta da nossa família, vizinhos ou conhecidos, tocou-nos, com
certeza, na alma ver o sofrimento e a tristeza de tantos irmãos nossos que, de um
momento para o outro, perderam tudo o que tinham amealhado ao longo de uma vida.

Onda solidária
Foi com orgulho que vi o povo português mobilizar-se numa gigantesca onda de
solidariedade recolhendo roupas, mantimentos, eletrodomésticos, móveis... e centenas
de milhares de euros para ajudar a reconstruir a vida daqueles mais afetados,
minimizando assim os estragos. Valha-nos essa presença amiga, quando tudo o mais nos
falhou ou foi insuficiente! Mas, muito há ainda para fazer não só a nível comunitário,
mas, sobretudo, a nível institucional e governativo. Tem de se passar das promessas às
ações, do abandono ao cuidado, da destruição à construção, do afastamento à
proximidade… tem de se ser perito na arte de cuidar e zelar, das pessoas, das empresas
e da floresta pois esta última foi, também, terrivelmente, dizimada pelas chamas.

A árvore e o Natal
Ao pensarmos e ao celebrarmos o Natal, pensamos obrigatoriamente numa árvore de
Natal. A árvore de Natal é um dos principais símbolos da quadra. Na maioria dos locais
onde o Natal é celebrado, a árvore é muito importante e está quase sempre presente.
Significa uma vida nova e promete a vinda de dias mais claros na primavera cheios de
esperança, paz, vida e alegria pois é uma das poucas árvores que sempre se mantêm
verde, mesmo durante o inverno, quando a maioria das árvores perdem as folhas. O
pinheiro de Natal simboliza que é possível, mesmo em situações adversas, manter a fé e
a esperança de que dias melhores virão.

Presentes com vida


Perante tudo aquilo que disse antes, este Natal poderíamos ter um gesto diferente e
concreto. Porque é que as escolas, câmaras, juntas, igrejas, empresas, instituições não
oferecem a todas as crianças, em vez do tradicional brinquedo de Natal, uma árvore para
plantar? Seria uma oportunidade para prestarmos uma homenagem a todas as vítimas
deste flagelo nacional além de ajudarmos a reconstruir os pulmões (florestas) do nosso
país. Deixo aqui o apelo a todos nós para que este desejo se torne realidade. Existem já
várias associações a proporem este gesto concreto como é o caso de: Plantar Portugal
(www.plantarportugal.org), Quercus e CTT-Uma árvore pela floresta
(http://umaarvorepelafloresta.quercus.pt), Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF) que poderiam ajudar e supervisionar. Não hesitem em as contactar e
em lhes pedirem informações. Fica o desafio! Vamos trocar o brinquedo de Natal por
uma árvore de Natal.

Janeiro 2018
O valor da integridade

Um dos valores presentes no perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória é o da


integridade. Este valor define o caráter. Quando falamos de integridade, estamos a falar
da própria vida, e, sobretudo, de quatro áreas que nela são fundamentais: os nossos
sentimentos, os nossos relacionamentos, as nossas atitudes e os nossos valores.
A integridade é como um eixo de todos os outros valores. Ele salvaguarda que todos os
outros valores sejam traduzidos, vividos e concretizados nas relações interpessoais.

O que é ser íntegro?


A palavra «integridade» significa «qualidade do íntegro, fundamentada pela retidão e
imparcialidade». É sinónimo de lealdade, verdade, fidelidade, sinceridade,
solidariedade, transparência, honestidade, qualidade de uma pessoa firme e constante.
Em sentido figurado, a integridade pode ser descrita como honradez, pureza ou
inocência.
A integridade entende-se a nível moral, física e pessoal: a integridade moral indica a
inteireza moral e dignidade de um indivíduo; a integridade física remete para o bem-
estar ou saúde física de um indivíduo ou grupo; enquanto a integridade pessoal inclui a
integridade moral e física e é um direito previsto na constituição de vários países.

Sê grande, sê inteiro
Ricardo Reis, um heterónimo de Fernando Pessoa, descreveu bem, num belíssimo
poema, o que entende por integridade: «Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou
exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago
a Lua toda brilha, porque alta vive.»
Como conseguimos ser inteiros num mundo que nos desafia constantemente a
desintegrarmo-nos e a fragmentarmo-nos? Assiste-se hoje a uma inversão de valores e
parece que ser honesto e íntegro está fora de moda, no entanto, concordo com Ricardo
Reis e entendo que a integridade é um valor cada vez mais necessário e a sua vivência
terá de fazer parte, obrigatoriamente, da nossa vida quotidiana.
Integridade significa agir e viver da maneira inteira, correta, sejam quais forem as
consequências. Quando somos íntegros, estamos dispostos a viver segundo os nossos
valores e as nossas crenças, mesmo que ninguém esteja a ver ou a recompensar.

Passos para a integridade


1. Admite os teus erros
2. Valoriza o perdão e sê o primeiro a perdoar
3. Levanta-te quando os outros permanecem sentados
4. Faz o correto, mesmo quando ninguém o faz
5. Diz “não” quando tentam forçar-te a fazer algo que é errado
6. Diz e defende a verdade aceitando as consequências
7. Defende algo em que acreditas, mesmo se por isso fores rejeitado ou ridiculizado
8. Defende alguém que é desprezado, rejeitado ou excluído
9. Suporta a dor ou o desconforto quando confrontas uma limitação
10. Enfrenta o medo sem temor e empenha-te em proteger alguém que amas, ou que foi
injustiçado ou que precise de se sentir apoiado

Fevereiro 2018
Educar na curiosidade

As crianças nascem com uma curiosidade enorme e um forte desejo de conhecer. Como
forma de satisfazer essa necessidade, elas fazem muitas perguntas e aprendem rápido. A
curiosidade é o que as mantém interessadas e com vontade de saber mais. Por isso, o
sistema educativo tem o dever de continuar a fomentar e alimentar esse desejo de
conhecimento, estimulando, implícita e explicitamente, a ânsia dos alunos, educando na
e para a curiosidade.

Curiosidade é querer saber


A palavra «curiosidade» deriva do vocábulo latino curiositas, cuja raiz cur significa
«porquê». Curiosidade significa, então, e literalmente, procurar saber o porquê das
coisas, e manifesta-se como um desejo intenso de conhecer ou experimentar algo novo
ou raro. Ela impele-nos a desvendar os mistérios com que deparamos ao longo da vida,
para que formulemos juízos próprios e pessoais.
A curiosidade contribui para a socialização. Ela provoca a interação com os outros e
com o mundo que nos rodeia de modo a poder conhecê-lo melhor. Deste modo, torna-se
um ponto de partida para o desenvolvimento pessoal, artístico e profissional.
A curiosidade, porém, quando ultrapassa um limite preestabelecido pela ética, como,
por exemplo, a invasão de espaço alheio, deve ser reprimida. Neste caso, ela é um
desejo doentio de forçar o conhecimento, e as pessoas que o fazem são apelidadas de
bisbilhoteiras e intriguistas. A prática desta curiosidade pode “matar” a nossa relação
com os outos, como afirma o provérbio «a curiosidade matou o gato», pois não estamos
a respeitar a sua dignidade.

O poder da curiosidade
Somos curiosos desde o momento que começamos a ver, e, depois, a deslocar-nos e a
explorar o mundo ao redor.
Desde crianças, somos exploradores do mundo e sempre vamos querer saber mais e
mais. Por isso, o papel da escola não é, em absoluto, cortar essa curiosidade, mas
conseguir que esse interesse e essa motivação não se percam pelo caminho educativo.
Se se força a aprendizagem, se se leva o aluno pela mão, essa curiosidade deixa de vir
de dentro e desaparece e ele não aprende, porque o desejo de aprender não nasceu dele,
foi-lhe imposto. A escola deve, pois, potencializar esta curiosidade para que no futuro os
alunos sejam eficientes e criativos.

Caixa: Porque alimentar a curiosidade


O avanço que a humanidade alcançou em todos os âmbitos foi graças à curiosidade, aos
questionamentos e à busca dos porquês.
A curiosidade é uma sede que precisa ser saciada, um impulso que tem de ser satisfeito.
«A curiosidade é mais importante que o conhecimento», dizia Albert Einstein. E José
Saramago escreveu: «A velhice começa quando se perde a curiosidade.»
Ao explorar curiosamente as nossas ações perceberemos que há sempre uma maneira de
fazer melhor, de fazer a diferença.
Viver apenas do que já aprendemos estreita a visão e dificulta o processo de
aprendizagem.
Os alunos curiosos desenvolverão uma melhor capacidade de observação, aprenderão
mais na escola, sentir-se-ão motivados a continuar a aprender, e, se em algum momento
erram, verão que o erro é um elemento positivo de aprendizagem.

Março 2018
O valor da cidadania

O perfil desejado para os alunos à saída da escolaridade obrigatória prevê que sejam
capazes de exercitar a cidadania ao longo da vida. Para isso, os educadores apresentam-
lhes princípios e valores universais. E, numa perspetiva prática, habilitam-nos, de modo
a desenvolverem competências para serem cidadãos participativos.

Cidadão e cidadania
As palavras «cidadão» e «cidadania» derivam da palavra latina civitas, que significa
«cidade». Elas indicam o conjunto de direitos e deveres ao qual as pessoas estão sujeitas
em relação à sociedade em que vivem. De facto, o termo civitas evoluiu de civis, nome
dado a todas as pessoas que moravam nas cidades – e que em português se diz
«cidadãos».
A partir desta mesma raiz etimológica, surgiram várias outras palavras na língua
portuguesa, como «civil», «civilização», «civismo»...
Por tudo o dito anteriormente, pode-se dizer que ser cidadão vai além do simples
conceito de ser habitante de uma cidade. Envolve participar ativamente na vida e
organização da sociedade. Ser cidadão ativo é, no ensinamento da Igreja ser «cultos,
pacíficos e benévolos para com todos, em proveito de toda a família humana» (Concílio
Vaticano II, Gaudium et Spes, 74). É, também, não se deixar oprimir ou subjugar a
qualquer interesse mesquinho, mas aceitar o desafio de cumprir os seus deveres e
defender os seus direitos na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Sermos
cidadãos ativos significa estarmos atento aos grandes problemas do mundo e aos
pequenos problemas do quotidiano e dar o nosso contributo, à nossa medida, para a sua
resolução.

Educar para a cidadania


Como se diz no perfil do aluno, «a educação para a cidadania visa contribuir para a
formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os
seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático,
pluralista, crítico e criativo». Deve-se, pois, desenvolver não apenas a educação, mas
também a formação para o exercício pleno da cidadania.
Para isso, a escola, e toda a comunidade educativa, deve incentivar a prática da
cidadania ativa apelando à reflexão e à ação sobre os problemas sentidos por cada um e
pela sociedade, em geral. A escola deve promover atitudes e comportamentos amigos da
cidadania, isto é, uma visão do mundo que tem como referência os direitos humanos,
nomeadamente os valores da igualdade, da democracia e da justiça social.
A preocupação da escola deve ser educar e formar seres humanos livres, responsáveis,
autónomos, solidários, sujeitos de direitos, respeitadores das outras pessoas e das suas
ideias, abertos ao diálogo e à livre troca de opiniões, com um espírito crítico,
democrático, pluralista, criativo e interventivo face à sociedade. É importante capacitar
os alunos a terem posicionamentos esclarecidos e críticos relativamente às questões e
problemas do mundo, evitando a alienação e o desinteresse pela vida da sociedade.

Abril 2018
O valor dos relacionamentos pessoais

O perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória reconhece que, depois do


ambiente familiar, a escola é o local que mais impacto tem na vida e na formação da
personalidade de uma criança. Realmente, o relacionamento interpessoal na escola tem
um papel fundamental, não só na criação de um ambiente de paz e bem-estar, mas,
sobretudo, na criação de um ambiente educativo estimulante e motivador onde se
aprende com gosto. Nesse sentido, o bom relacionamento interpessoal na escola é tão
importante quanto as atividades em si, pois, se um aluno não consegue relacionar-se,
dificilmente desenvolverá todas as suas capacidades ou alcançará bons resultados
escolares.

Relacionamento professores-alunos
Relações interpessoais positivas entre professores e alunos são fundamentais no
processo de aprendizagem pois ambos trocam conhecimentos, impressões, informações,
crescendo com isso.
Por vezes, os professores não conseguem ter uma boa relação com os alunos por
pensarem que demonstrar afetividade e manter a disciplina são atos incompatíveis. No
entanto, isso não é verdade e, por vezes, basta apenas um olhar, um sorriso, para que o
aluno passe a olhar de uma maneira diferente aquele ambiente que lhe poderia parecer
hostil.
Num bom relacionamento o diálogo é a estrada necessária para se chegar ao aluno, pois
só mostrando vontade de o entender e respeitar como pessoa, se é capaz de perceber a
verdadeira identidade do aluno, atrás da sua mascara diária na qual esconde os seus
problemas, ansiedades e preocupações. De facto, o aluno procura demonstrar, através de
palavras e gestos, o que sente e o que necessita naquele momento.
O professor precisa de ter amor ao que faz e a quem ensina. Os alunos, ao sentirem o
amor, o carinho e a confiança que foram depositados pelo professor, esforçar-se-ão para
não o dececionar. Cumprimentar, ter cordialidade e trocar informações são atitudes
diárias muito importantes para a formação e manutenção das relações interpessoais em
ambiente escolar.

Relacionamento entre alunos


Também é papel do professor fazer que os alunos aceitem as diferenças e aprendam a
conviver com elas de forma harmoniosa e respeitosa. O diálogo e a interação entre os
alunos devem existir sempre: trabalhos de grupos nos quais todos tenham a
oportunidade de participar das discussões e decisões são primordiais para o
desenvolvimento cognitivo e argumentativo dos alunos, além de contribuírem para a
socialização e a formação do caráter.
Desde os primeiros anos escolares é importante que os alunos tenham consciência da
importância do companheirismo e da cooperação na construção de relações firmes e
duradouras com os colegas. Aprender a respeitar a opinião dos colegas, dividir tarefas,
discutir sobre metodologias e resultados de pesquisa ajudam o aluno a construir os seus
pontos de vista e a tornar-se, assim, protagonista da sua aprendizagem. Estas práticas,
bem trabalhadas, vão ser importantes não somente na escola, mas nas futuras e mais
diversas situações.

Maio 2018
Apostas na tua formação cristã?

A escola – e, de modo similar, a catequese – são importantes porque são um caminho


que não só te preparam para um trabalho, mas também te aproximam dos outros –
família, sociedade, mundo.
Vais à escola porque a educação tem como missão desenvolver harmoniosamente as
tuas aptidões físicas, intelectuais, morais e espirituais. Quando saíres da escola, tu não
serás o que diz o teu boletim de notas. São as tuas qualidades que te definirão. É por
elas que construirás o teu currículo. E neste assinalarás as marcas que deixas e queres
deixar à tua passagem, as pessoas que influencias e os trabalhos que realizas.
Para que a educação seja completa também existe a disciplina de EMRC. Ela
desenvolve a tua faceta espiritual, a tua mística, propondo-te valores cristãos.

Alargar horizontes
Talvez ao contrário do que muita gente sussurra, a religião é prática. Explico-te
brincando com as palavras, mas creio que é fácil entender este exercício: «or-ação»,
«medit-ação», «contempl-ação»; «ador-ação», «voc-ação», «evangeliz-ação», «capacit-
ação», «realiz-ação», «avali-ação», santific-ação»… É por isso que a religião (a
espiritualidade) nos torna mais humanos, e não nos alheia do mundo.
A educação religiosa dá-te conhecimentos e estratégias que te permitem, de forma
autónoma e livre, relacionar-te com Deus, dialogar com Ele e estabelecer um
compromisso para toda a vida. Não se trata de um conjunto de ensinamentos ou de
normas. É uma espécie de treino para esse encontro com Deus, encontro que é um
diálogo entre pessoas livres, que se estimam, a que chamamos oração. E o compromisso
é ter Deus como o Pai comum e viver como irmãos, na única casa que é o mundo.

Tens perfil espiritual cristão?


– Adotas Cristo como modelo? Esforças-te por conhecer, amar e seguir Jesus Cristo, por
ver na Sua vida um desafio a ser vivido na tua própria vida?
– Vives em constante caminho para (e com) Deus? Aceitas Deus como ponto de partida
e de chegada da tua vida e não te cansas de caminhar, mesmo se por vezes não vês o
caminho? Aceitas as quedas e os tropeções, inerentes ao caminhar, sem perder a vontade
de te levantar e elevar para Deus, aceitando como companheiros as outras pessoas?
– Unes as competências científica, humana e espiritual? Tem consciência de que estas
vertentes, embora em aparente conflito, são importantes para o equilíbrio, crescimento e
realização pessoal e social? Em vez de criar muros entre saberes, consegues construir
pontes? Consegues integrar cultura e ciência na tua vida fé?
– Buscas o bem, a verdade, a justiça e a misericórdia? Procuras constantemente a
excelência e és exigente com o teu desempenho sem excluir outros que tenham mais
dificuldades? Esforças-te por desenvolver o mais possível as tuas capacidades
individuais para as pôr ao serviço dos outros?
– Valorizas a liberdade e a felicidade? És livre, não para fazer o que te apetece, mas para
fazer o bem? Concordas que a regra da felicidade consiste em alicerçares-Te em Deus e
procurá-la e realizá-la com os outros e a pensar neles, e nunca contra os outros?
– Não te cansas aprender? Aceitas a educação como um processo evolutivo e contínuo
ao longo de toda a vida? Usas a criatividade para aplicar os valores proposto pelo
Evangelho?
– Participas na sociedade? Projetas a tua vida como um serviço na construção de um
mundo melhor, em que a paz, misericórdia e a justiça são manifestações do amor a
Deus?

Junho 2018
O que devemos saber antes dos 12 anos

Até completares 12 anos, tu e todas as crianças precisam de muita atenção e carinho,


mas sobretudo de orientação e muitas conversas. Não basta, aos teus pais, zelar somente
pelo teu bem-estar físico, outros fatores podem ser decisivos no teu crescimento e
felicidade. É importante que os pais estejam atentos às aprendizagens que vais fazendo e
aos valores que norteiam as tuas escolhas e vivências. Assim, poderão intervir quer para
(re)forçar comportamentos, (re)orientar situações, antecipar carências, atuar em caso de
emergência e, sobretudo, para impedir a perpetuação de situações negativas que, mais
cedo ou mais tarde, te poderão trazer consequências e danos irreparáveis. Neste sentido,
há algumas aprendizagens que devem ser consolidadas nesta faixa etária. Apresento-te
algumas.
A necessidade de verdadeira amizade
Atualmente, as redes sociais tratam a amizade e os amigos como conceitos efémeros e
banais. Chama-se amigos a pessoas que são meras conhecidas ou às vezes nem isso....
Tu precisas de esclarecer o verdadeiro conceito de amigo e do valor da amizade, de
saber quem é um bom amigo e porquê, quais as suas características, como se
comportam e como manter uma boa e saudável amizade.
Tu necessitas de ter claro que um bom amigo é para sempre, e que para isso é necessário
cultivar e alimentar a amizade, dia após dia, com atitudes e valores potencializadores da
amizade como a sinceridade, a coerência, a interajuda e a lealdade. De facto, com a
ajuda dos verdadeiros amigos, cada criança aprende muito sobre o mundo e sobre si
mesma.

A necessidade de igualdade
A igualdade entre mulheres e homens é uma questão básica dos direitos humanos e uma
condição de justiça social, sendo igualmente um requisito fundamental para o
desenvolvimento e a paz. A igualdade de género exige que, numa sociedade, homens e
mulheres gozem das mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em
todas as áreas: no acesso à educação, nas oportunidades no trabalho e na carreira
profissional, no acesso à saúde e no acesso ao poder e influência. Para isso é
fundamental que os pais saibam dar o exemplo, partilhando as responsabilidades de
cuidado e as tarefas domésticas, tratando-se com respeito e valorizando o trabalho de
cada um.

Respeito pela diferença...


O respeito pela diferença é vital para os relacionamentos humanos. Respeito é a palavra
mágica em torno da qual construímos os relacionamentos pessoais.
Por isso, desde crianças, precisamos de saber o que significa assumir, pacificamente, a
diferença: que outra pessoa possa pensar diferente, mas, mesmo assim, merecer o nosso
respeito. O respeito pelas diferenças é a única maneira de se conseguir conviver de
modo pacífico, buscando a igualdade de direito e deveres para todos.

Poder fazer é diferente de ser bom fazê-lo


Esta é uma das mais difíceis aprendizagens das crianças, mas que elas, aos 12 anos, têm
maturidade suficiente para a entenderem. Os pais não são meros amigos, eles são quem
mais gosta dos filhos, e é com eles que as crianças podem contar sempre e para tudo. No
entanto, os pais devem garantir que os filhos são pessoas autónomas e, por contraditório
que isso possa parecer, isso significa definir uma série de regras e limites. Os mesmos
pais que nos querem ver livres também nos querem ver inteligentes para saber que nem
tudo nos faz bem, e que aliás existem coisas que nos fazem muito mal e fazem mal aos
que nos rodeiam.

Julho/agosto 2018
Quatro desafios para toda a vida

No mês de junho, comecei a mencionar o que devemos saber antes dos 12 anos. Referi
quatro princípios. Acrescento outros quatro.

Autoconhecimento
A adolescência é uma fase marcada por grandes mudanças físicas e psicológicas que
levam, necessariamente, a processos de autoafirmação, autoestima e autoconfiança. Esta
é a idade das infindáveis dúvidas, em que tudo parece confuso e sem sentido. A razão é
que, na adolescência, a vida deixa de ser tão simples como era até então, porque deixas
de ter os pais como quem se preocupa totalmente pelo teu bem-estar e felicidade e
passas a ter de assumir o controlo da tua existência.
Todavia, precisarás sempre da presença e do apoio dos mais adultos, que te
compreendam e ajudem a orientar-te num mundo que parece estar a desabar... E
necessitas de estabelecer algumas certezas, alguns princípios que valem para toda a
gente e por toda a vida.

Dignificar e respeitar a vida


A sociedade atual tende a relativizar o valor da vida. Ela proclama o direito de cada um
agir em conformidade com o seu ponto de vista, desvalorizando, ao mesmo tempo, a
responsabilidade social e comunitária. Esta mentalidade põe o indivíduo em primeiro
lugar. E isso tem consequências, como, por exemplo, a opção pelo aborto ou pela
eutanásia, porque a gravidez ou a doença passam a ser vistas como um problema, como
um obstáculo. Esta visão também legitima as desigualdades sociais. É necessário ter
claro que a humanidade não é um aglomerado de pessoas – não somos uma massa –,
mas que cada pessoa é única e tem dignidade inviolável. Todavia, como podes
comprovar por ti, ninguém nasce só por si nem sobrevive sozinho. Precisamos uns dos
outros e contribuímos todos para o bem-estar e felicidade pessoal e mútua.

Escolher a misericórdia
Aos 12 anos, já sabes que a vida é como um caminho, uma viagem. E que a vida,
porque tem alegrias e tristezas, precisa, basicamente, de uma coisa: amor; o qual se
traduz de infindáveis maneiras: proximidade, compreensão, perdão, etc.
Na gramática cristã, a atitude recomendada por Jesus para marcar a vida dos cristãos é
«misericórdia», como Ele diz no Evangelho de S. Lucas: «Sede misericordiosos como
vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36). Misericórdia evoca um comportamento de
ternura. Para Jesus, é claro que Deus está disposto a amar, a proteger e a ajudar, com um
amor imensurável, dando-Se todo por nós. E, por isso, convida-nos a fazer o mesmo.
Crescer misericordiosos como o Pai foi um desejo expresso pelo Papa Francisco na
mensagem para o jubileu da misericórdia dos adolescentes. Para o papa, crescer na
misericórdia significa aprender a ser corajosos no amor prático e desinteressado,
significa tornar-se grande, tanto no aspeto físico, como no íntimo de cada um.
Tu precisas de saber que pôr-se no lugar do outro torna-o mais tolerante e estimula a sua
inteligência emocional. Assim, o adolescente não deve ter medo de lançar-se na
aventura da misericórdia, construindo pontes e derrubando muros, ao mesmo tempo que
socorre os mais necessitados.

Renunciar à violência
A cada 7 minutos uma criança ou um adolescente, entre 10 e 19 anos, morre em algum
lugar do mundo, vítima de alguma forma de conflito armado ou violência coletiva. É
preciso afirmarmos que a violência nunca resolve nada, mas sim o diálogo e a
cooperação. É assim fundamental informar-se, ouvir, conhecer, para melhor desenvolver
a capacidade de argumentação.

Outubro 2018
Tu e a tecnologia
Este mês, quero refletir contigo sobre como podes usar a tecnologia para não correres
nem riscos nem dissabores, mas, pelo contrário, poderes ter nela um instrumento eficaz
para a tua felicidade e para o teu êxito humano e escolar. Para isso torna-se necessário
aprenderes a estar on e off.

O que é estar off?


O termo inglês off significa «desligado» ou «fora». É um termo universal muito
utilizado em aparelhos eletrónicos para indicar se estão ligados (on) ou desligados (off).
Hoje em dia, passamos muito tempo ligados aos aparelhos tecnológicos e isso impede-
nos de fazer outras atividades, também importantes, como desporto, atividades culturais
ou, simplesmente, brincar e ter conversas em família. O uso intensivo da tecnologia
deve ser analisado e ponderado. A Academia Americana de Pediatria recomenda que o
seu uso seja limitado a duas horas por dia por crianças dos 6 aos 18 anos.
Daí que é preciso aprenderes a estares off, de modo que a quantidade de tempo que
passas à frente das tecnologias não seja maior do que é aconselhável. Ao abusares da
tecnologia, estás a prejudicar, seriamente, a tua saúde, expondo-te a problemas físicos e
emocionais, tais como dores musculares, má postura, dores de cabeça, alteração visual e
perturbações do sono. Podem ainda surgir, em casos mais graves, sintomas de
ansiedade, violência, irritabilidade e isolamento, além de problemas relacionados com o
bullying, sexualidade, privacidade e segurança.

O que é estar on?


Mas nem tudo é negativo na tecnologia. Tu sabes mais a respeito de muitos aparelhos
digitais do que os teus pais. Por vezes, ouço pais a perguntar como é que vocês
aprendem tão rapidamente a usar tais aparelhos, aparentemente complexos, sem que
tenham sido ensinados para isso. A resposta é simples: é a curiosidade e o interesse que
a tecnologia desperta em vocês.
A ciência diz que as crianças que apresentam maior contacto com computadores tendem
a ser mais inteligentes. Estudos revelam que o uso correto da tecnologia, com conta,
peso e medida, oferece benefícios a médio e longo prazo: pode ser uma ótima ligação
entre a escola e a casa, favorece o raciocínio matemático, desperta a curiosidade,
permite o conhecimento e a interação, possibilita o relaxamento e melhora a
concentração.

Dicas para o uso da tecnologia


Estabelece regras claras com os teus pais
Estabelece horários em que é permitido e proibidos o seu uso
Determina que aparelhos usar apenas nas áreas comuns da casa
Pede aos teus pais que deem exemplo, seguindo as regras e limites estabelecidos
Estabelece horários para convívio familiar, trabalhos de casa, brincadeira e descanso
Usa a tecnologia para tornar mais entusiasmantes as atividades ao ar livre
Promove um diálogo sincero com os teus pais e educadores sobre como estás a usar a
tecnologia e sobre privacidade e da segurança na Internet
Presta atenção aos sinais de riscos por uso impróprio, exagerado ou doentio da
tecnologia
Utiliza filtros e sistemas de segurança
Consulta frequentemente sítios como www.seguranet.pt.

Novembro 2018
Tecnologia com segurança

A segurança é um valor que todos devemos promover e salvaguardar. No mundo em que


vivemos, são inúmeros os problemas causados pela falta de proteção.
A tecnologia e o mundo virtual que ela proporciona são, também e cada vez mais, uma
verdadeira ameaça à nossa segurança e integridade. Comprovam isso os inúmeros casos
de violação da integridade física, psicológica e moral que existem por meio da Internet.
A preocupação com a segurança no mundo digital deve ser constante. De facto, se no
teu contacto com o mundo da tecnologia se abrem novos horizontes, desafios,
oportunidades e perspetivas, também podem surgir-te novos riscos e problemas.

Maiores ameaças no mundo digital


Os perigos para ti ao usares de forma insegura a tecnologia para acederes ao mundo
digital são muitos. Enumero apenas alguns conteúdos impróprios: jogos violentos,
pornografia, violência, ódio, racismo, bullying, rapto, roubo, comércio de drogas... Estes
perigos, além de poderem ser prejudiciais para o teu desenvolvimento harmonioso,
também são capazes de ofender os padrões e valores da tua família e da sociedade. Os
potenciais contactos por parte de pessoas mal-intencionadas que usam o correio
eletrónico, as redes sociais, os grupos de discussão, os jogos na Internet e os telemóveis
para terem acesso fácil à tua vida poderão desejar fazer-te mal e enganar-te e, deste
modo, representam uma verdadeira ameaça. Atenção também às práticas comerciais e
publicitárias não-éticas que, ao não distinguirem a informação da publicidade, podem
enganar-te, recolher informações que violam a tua privacidade ou aliciar-te para fazeres
compras não autorizadas.

Dicas de proteção no mundo digital


Baseado em alguns artigos e especialistas na matéria, apresento-te algumas dicas para
poderes usar a tecnologia de forma mais segura para ti e para as pessoas que te rodeiam.
a) Nunca disponibilizes dados pessoais, como morada, telemóvel, endereço de correio
eletrónico, e lembra-te de bloquear a geolocalização automática dos teus dispositivos,
pois podem facilmente saber onde estás.
b) Fala sempre com os teus pais ou educadores quando te acontecem coisas estranhas. O
silêncio e o medo nunca são boa solução.
c) Não utilizes nicknames (alcunhas) sugestivas ou que revelem a tua identidade, e
mantém secretas as tuas palavras-passe.
d) Não abras nem respondas a mensagens estranhas ou de pessoas que não conheces.
Poderão conter anexos fraudulentos e programas autoexecutáveis que pretendem aceder
aos teus dados.
e) Não transfiras ficheiros ou jogos estranhos ou de páginas pouco credíveis.
f) Não marques encontros com amigos virtuais, nem nunca digas onde moras ou onde é
a tua escola. Esses “amigos” podem inventar nomes e histórias para conseguirem o que
querem.
g) Duvida de ofertas boas de mais para serem verdade. Ninguém na Internet, nem, em
geral, na vida real, dá alguma coisa sem querer algo em troca.
h) Pede sempre autorização aos teus pais para fazeres compras na Internet.

Dezembro 2018
Diferentes e iguais
No dia 3 de dezembro, comemora-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
Muitos de nós, no nosso dia a dia, na família, na escola, nas diversas atividades,
contactamos com pessoas que são portadoras de alguma deficiência. Por vezes, sentimo-
nos um pouco constrangidos diante do diferente. Esse mal-estar diminui e pode até
mesmo desaparecer quando começam a surgir oportunidades de convivência entre
pessoas com e sem deficiência. Verificamos, no entanto, que ainda há muitos tabus e até
algum desprezo, comentários impróprios ou desvalorização para com estas pessoas…
Daí que é extremamente importante que saibas como estar e agir perante
crianças/pessoas com deficiência. Deixo-te quatro princípios que considero importantes
para um relacionamento saudável e inclusivo.

Não tenhas pena


Se uma criança é portadora de uma deficiência, não tenhas pena delas. Ela sente-se mal
quando a olhamos de forma diferente, quando não a olhamos com normalidade. Ela
gosta de ser tratada como qualquer outra criança e não como um coitadinho. Ter uma
deficiência não faz com que a pessoa seja melhor ou pior, por isso devemos é ter
carinho e consideração para com ela.

Olha mais para o que temos em comum


Em vez de olharmos para as diferenças e as limitações da deficiência como algo que nos
separa ou afasta, devemos olhar para o que temos em comum. Uma criança em cadeira
de rodas também gosta de ouvir música, ver TV, divertir-se, fazer amigos...
Provavelmente, por causa da deficiência, essa pessoa pode ter dificuldade em realizar
algumas atividades; todavia, por outro lado, poderá ter extrema habilidade para fazer
outras coisas.

Podemos ser amigos


Ser amigo(a) de uma criança especial é bom para ambos. Por vezes assustamo-nos
quando a amizade começa a desabrochar, com medos fundados em tabus e preconceitos.
Há crianças portadoras de deficiência que fazem ruídos muito agudos quando estão
animadas, outras vezes saltam e sacodem os braços... Essas são a forma de
comunicarem e de expressarem sentimentos como alegria, frustração, tristeza ou até
alguma coisa que estão a sentir no seu corpo. Percebemos, muitas vezes, que as crianças
com deficiência se adaptam bem aos ambientes quando se sentem aceites,
compreendidas e conseguem criar amizades. Qualquer ser humano não fica bem quando
se sente excluído, incompreendido e rejeitado. A amizade faz com que todos se sintam
felizes por poderem participar da vida, conviver e brincar com as outras pessoas que os
rodeiam.

Relacionamentos inclusivos
Na sociedade em geral, e na escola em particular, os relacionamentos com as crianças
portadoras de deficiência devem ser inclusivos. Com atitudes inclusivas, todos
ganhamos e aprendemos a compreender e aceitar os outros; a reconhecer as
necessidades e competências dos colegas; a respeitar todas as pessoas; a construir uma
sociedade mais solidária; a desenvolver atitudes de apoio mútuo; e a criar e desenvolver
laços de amizade.

Janeiro 2019
Nativos digitais: a geração z
Atualmente, a geração Z tem entre 5 e 22 anos. Geração Z porque sucede à geração do
milénio, referida como geração Y.

Quando os primeiros jovens da geração Z estavam a completar um ano de vida,


apareceu o Google, aos 6, surgiu a Wikipédia e, aos 9, chegou o Facebook. Se olharmos
para aqueles que nasceram em 2012, e têm agora 6 anos, nunca conheceram a vida sem
redes sociais ou aplicações. Esta geração está a ser influenciada pelo acesso fácil que
têm à informação e pela necessidade de ter respostas rápidas. Já não dependem de
alguém mais velho para aprender algo de novo. Se querem saber, procuram e o YouTube
é o lugar onde procuram e os youtubers são os seus professores. É a geração com a
Internet no bolso.

Hiperligados, mas solitários


Segundo especialistas, o uso (e abuso) da tecnologia pode transformar as crianças em
seres introspetivos em função da exposição precoce às ferramentas tecnológicas. Desde
o seu nascimento as crianças são submetidas, pelas mais variadas razões, a um autêntico
bombardeio digital. Televisores, videojogos, telemóveis, tablets e computadores
ocupam, cada vez mais, o tempo e o espaço da infância, deixando as crianças mais
solitárias. O relacionamento virtual tem tendência a afastar e, por vezes, até evitar os
relacionamentos reais. Em alguns casos, o isolamento social gera traumas que podem
prejudicar a convivência com as pessoas: problemas como o medo de viver em
sociedade e o pânico de relacionamento interpessoal podem surgir no futuro.

Três características desta geração


A geração Z não ouve, tem pressa e é impaciente. Para esta geração tudo se torna
descartável rapidamente. Com o isolamento social e a pouca expressão comunicativa
surge a geração silenciosa: jovens que falam pouco e que não ouvem quase nada. Os
fones no ouvido assumem o papel de protagonistas na vida desta geração, e, como
resultado, agravam a incapacidade de ouvir tornando estes jovens cada vez mais
egocêntricos e individualistas. Paralelamente, esta geração manifesta-se impaciente pois
não aprendeu a saber esperar. Para os jovens desta geração, a velocidade é sinónimo de
qualidade, mas isso pode prejudicar as relações familiares e as amizades, impedindo que
os bons momentos da vida sejam apreciados.

Contributos desta geração


Mas a geração Z é também uma geração irreverente, exploradora, apaixonada,
inovadora e, potencialmente, mais centrada em si própria. É também muito profissional
e empreendedora, composta por jovens envolvidos e informados. A par disso, trata-se de
uma geração que aplica o seu pragmatismo e a procura constante pela inovação em
todas as vertentes da sua vida. São como peixes na água na nova lógica digital e querem
tirar partido disso. Também valorizam e preservam a sua individualidade, dão prioridade
às suas paixões e não querem apenas estabilidade, mas sim sentirem-se realizados.
Perante tudo isto, o papel do educador deve ser ajudar a formar pessoas mais críticas e
criativas em relação ao uso da tecnologia e mais apaixonadas e comprometidas com os
que as rodeiam.

Fevereiro 2019
Do Homo sapiens ao Homo technologicus
O ser humano converteu-se no que é hoje graças à sua capacidade de criar e usar a
tecnologia. Aqueles que aprendem a usufruir das capacidades dos novos equipamentos e
saberes estão a preparar o futuro, que será tecnológico.

A tecnologia faz parte da história humana. Graças à sua capacidade intelectual, aliada à
sua habilidade tecnológica, o Homo sapiens foi capaz de descobrir e desenvolver
técnicas até então inexistentes, alterando o meio em que vivia. Por sua vez, a conexão
entre tecnologia e espécie humana também tem modificado os hominídeos.
Ao longo de milénios, a evolução humana cruzou-se sempre com a evolução
tecnológica. As pessoas têm sido criadoras de tecnologias, usando-as de modo a
facilitar-lhes – e alterar-lhes – a vida e o trabalho. Os nossos antepassados primitivos
utilizavam objetos encontrados na Natureza como instrumentos que lhes garantissem
uma extensão do corpo. Graças a esses recursos, eles puderam garantir a sua
sobrevivência e lutar, sem desvantagem, contra poderosos obstáculos. Nas últimas
décadas, têm vindo a desenvolver-se a um ritmo exponencial as tecnologias da
informação e as eletrónicas.

A tecnologia como solução


A tecnologia, em si, é um bem. O modo como as pessoas usam a tecnologia é que pode
originar efeitos colaterais negativos. Por exemplo, se não conseguimos garantir que
todos tenham acesso a essas incríveis inovações, aumenta a desigualdade; para
viabilizar estilos de vida cada vez mais confortáveis, exploramos os recursos naturais do
planeta de maneira extrema e, muitas vezes, insustentável; as descobertas com bons fins
também costumam ser usadas para fazer o mal, etc.
Desde que bem usada, a tecnologia pode ser a solução para a sobrevivência e a
resolução de obstáculos assim como o foi no passado.

Tecnologia não te mata a curiosidade


Tu já percebeste que o uso correto da tecnologia desde a infância é um benefício e um
desafio para a sociedade. Os chamados nativos digitais têm habilidades natas para lidar
com as diversas ferramentas que a tecnologia traz para o dia a dia.
Na escola, nos grupos, nas famílias, é necessário que te instruas acerca dos poderes das
tecnologias e também precisas de aprender a evitar os seus pontos negativos, de modo
que elas sejam sempre usadas em benefício de um mundo novo, melhor, que
definitivamente, será tecnológico.
As gerações mais jovens têm uma infinidade de ferramentas para pesquisar, podendo
buscar e encontrar respostas para qualquer questão em poucos segundos. O teu desafio
é, não só receber um conteúdo pronto, mas também seres capaz de construir e divulgar
aquilo que é de interesse para ti e para os outros. Ao adquirires e produzires conteúdo
interagindo com ferramentas tecnológicas, a curiosidade que te é natural fará com que
queiras saber cada vez mais e evoluir.
Todos os dias vemos, ouvimos ou lemos notícias acerca de alguém que descobriu, criou,
ou fabricou algo novo que vem melhorar a vida do mundo. E tu, já te imaginaste a fazer
algo do género? Como te sentes nesses momentos? Na verdade, a maioria de nós veio
ao mundo para lhe dar novas vidas – os filhos –, mas todos viemos ao mundo para lhe
dar novos modos de viver!

Março 2019
A geração Alpha
As crianças atualmente com 9 anos pertencem à chamada geração Alpha, a que
pertencem todos os nascidos depois do ano de 2010.

A expressão geração Alpha foi usada pela primeira vez pelo sociólogo australiano Mark
McCrindle e tem origem na primeira letra do alfabeto grego, o alfa: α. Esta geração, de
acordo com o sociólogo, é formada por pessoas muito mais independentes e com um
potencial muito maior para resolver problemas do que os seus pais e avós. É uma
geração que nasceu e cresceu num contexto global totalmente diferente das anteriores e
muito mais exposta a tecnologias avançadas e, sobretudo, a muito mais informação.

Geração superestimulada
Tu que pertences à geração Alpha já ouviste muitas pessoas comentarem que vocês são
uma geração muito inteligente. Ora, esta perceção advém da vossa constante exposição
a um mundo onde superabundam os estímulos. Uma coisa é ter aprendido a usar, ao
longo da vida, os aparelhos tecnológicos, outra é ter nascido onde isso já existe. Vocês,
os Alpha, mais do que as duas gerações que os precederam, é que são os screenagers –
termo inventado na década de 1990, que mistura ecrã e adolescente –, pois mais do que
nativos digitais, são a geração exposta, mesmo ainda com fraldas, a ecrãs
constantemente ligados à Internet, que os pais usam para vos distrair e educar.

Mais diálogo entre pais e filhos


Vocês, os membros da geração Alpha, continuam a considerar os pais como as figuras
de autoridade na sua educação. No entanto, dialogam mais, o relacionamento é mais
horizontal e menos hierárquico.
As gerações anteriores cresceram numa estrutura familiar e escolar muito mais
hierárquica. Agora, o autoritarismo daquelas relações cede lugar a posições cada vez
mais de intercâmbio e de diálogo.
Por isso, vocês são um desafio para a escola e para os agentes educativos. Eles precisam
de se adaptar à mudança de paradigma, isto é, passar de um sistema de educação
centrado em conteúdos didáticos universais (para todos), para um sistema de educação
mais personalizado e mais centrado no aluno.

Mais independentes e adaptadas


Vocês, geração Alpha, são muito mais independente do que as gerações antecessoras e
têm uma especial habilidade para usar as novas tecnologias. Hoje, vocês são
constantemente bombardeados com formas de educação que aceleram o processo de
aprendizagem e desenvolvimento. Têm à disposição uma infinidade de aplicações
personalizadas e à medida das suas necessidades, e, ao mesmo tempo, desde muito
cedo, são criadores de conteúdos, de produtos e de serviços.

Supercuriosidade
Vocês, as crianças da geração Alpha, são muito mais curiosas, espertas e sensíveis a
tudo à sua volta. Esta curiosidade faz com que a mente trabalhe mais, e tentem superar-
se constantemente. Vocês ensinam eficazmente que, quando deixamos de ser curiosos,
apenas sobrevivemos. Vocês terão um nível educacional superior, visto terem começado
a estudar muito mais cedo. E são as primeiras crianças na História a experimentar um
novo sistema escolar, mais personalizado e híbrido (online e offline), com foco na
autonomia do aluno e no seu processo de aprendizagem que ensina por meio da
observação das situações do quotidiano.
Abril 2019
Os desafios da geração Alpha

Muito curiosas, hábeis para aprender idiomas e tecnologias, envolvidas em muitas


atividades, as crianças da geração Alpha pedem aos adultos que olhem para elas como
interlocutoras.

Tu, que tens 8, 9 ou praticamente 10 anos, fazes parte da geração Alfa, uma designação
criada pelo sociólogo australiano Mark McCrindle. São uma geração muito mais
independente que a dos teus pais e, até, dos teus irmãos mais velhos. A tua geração
cresce não só habilitada para usufruir das novas tecnologias, mas já com novos
conceitos acerca da vida. Por exemplo, vocês substituem o reino das fadas pelo mundo
virtual; já não creem em mundos cor-de-rosa, mas não deixam de querer ser princesas e
príncipes e ser venerados, recorrendo à exposição em fotos dos vossos atributos e
habilidades.
Os adultos esperam muito de vocês, porque dispõem de mais informação e tecnologia
do que qualquer outra geração. Serão muito arrojados e produtivos no mercado de
trabalho, graças à conectividade proporcionada pela Internet e em virtude da
informatização da tecnologia. Mesmo os que trabalharão em empresas tradicionais e
com cargos convencionais não dispensarão os computadores, alguma robotização e,
sobretudo, será mais natural aderir a tecnologias limpas e sustentáveis, nem que seja
pela urgência na salvaguarda da vida no planeta. E muitos terão profissões que ainda
nem sequer existem.

Professores e pais tornam-se mentores


Na escola, vocês, alfas, não aceitam um ensino que se limite a transmitir matéria. Vocês
exigem que tenha um sentido, uma utilidade no presente. Também não querem ser
formatados pelos pais e professores, mas que eles dialoguem com vocês, escutem o
vosso parecer, façam conta com as vossas potencialidade, de modo que, tanto uma aula,
como uma atividade ao ar livre, ou aquelas coisas que se fazem no quotidiano em casa,
isto é, cada acontecimento seja uma experiência na qual todos interagem com os seus
saberes e capacidades.
Para vocês, os alphas, a função principal da família, escola, paróquia, coletividade, etc.,
já não é transmitir informação, porque as novas tecnologias podem fazer isso de forma
mais eficiente, mas serem interlocutores. Os adultos tornam-se uma referência, uma
inspiração de valores, se mostram com o seu exemplo que também vocês o podem fazer
à vossa maneira. Os adultos para vocês são os que dizem: «Diante do mesmo desafio, eu
fiz ou faço isto.» Então, vocês projetam o desafio para a vossa vida, imaginando como é
que o enfrentarão com os vossos talentos, limitações e desejos.
Hoje, mais do que nunca, vocês necessitam de tutores, conselheiros, orientadores. Vocês
necessitam que a família, a escola, a religião, as atividades culturais e extracurriculares
vos ajudem a desenvolver habilidades e a pensar em soluções criativas para os
problemas da sociedade atual e do futuro. E bons tutores são aqueles que os ajudam a
usar o saber, o talento, as tecnologias, os meios ao dispor, para mudar o mundo.
O maior desafio que vocês colocam aos adultos é que eles os ajudem a desenvolver
competências socioemocionais. Estas incluem a capacidade de lidar com as emoções, de
relacionar-se com os outros, de ser capazes de colaborar, mediar conflitos e envolverem-
se ativamente na solução dos problemas. Na vossa geração, os outros deixam de ser uns
estranhos, vocês são assertivos a identificar o que é certo ou errado e são capazes de
confrontar os agressores e defender as vítimas.
Maio 2020
Seres humanos completos

Um computador, mesmo se possuir todo o conhecimento que há no mundo, não se


molda a ti, porque não tem sentimentos. Mas tu podes dominar a tecnologia dos
computadores e interagir com todo o mundo, se o teu crescimento for inteiro e
harmonioso.

Imagina a escola como uma comunidade de pessoas em que cada um tem a iniciativa de
se colocar no lugar do outro. Um ambiente onde todos se conhecem a si mesmos, com
os respetivos limites e potencialidades. Uma sociedade onde as pessoas sabem lidar com
as diferenças e estão aptas a compreendê-las e a adaptar-se. Um lugar onde a totalidade
dos intervenientes educativos confia e se compromete empenhadamente com o êxito
pedagógico. Certamente, esta é uma escola que todos gostaríamos de frequentar…
porque leva a sério as competências globais dos alunos.

Aptidões sociais e emocionais


As habilidades socioemocionais incluem a capacidade de lidares com as tuas próprias
emoções, de te conheceres, de te relacionares com os outros, de seres capaz de
colaborar, de mediares conflitos e de solucionares problemas. Naturalmente que para
isto é necessário que desenvolvas uma boa autoconfiança, aprendas a comunicar,
consigas fazer uma avaliação séria da tua atuação, sintas respeito e tolerância pelos
outros (pondo-te até na pele deles para perceberes como pensam e se sentem) e tenhas
sentido de responsabilidade. Sabes que ganhar e perder são as duas partes do processo
de qualquer escolha que faças. Aceitar esta realidade contribui para não desistires dos
teus objetivos e para te sentires e saíres bem em todas as áreas da tua vida.

Educação tecnológica ou humana?


O aproveitamento escolar depende, não só da intelectualidade que permite fazer contas
de cabeça, mas igualmente das competências emocionais e sociais que facultam o
trabalho em parceria, a adaptação a diversas circunstâncias e o relacionamento saudável
contigo e com os que te rodeiam. Os robôs são excelentes no desempeno das tarefas
para as quais foram programados, contudo, não são flexíveis. A tua flexibilidade,
enquanto ser humano, é uma vantagem que tens agora e na preparação para o teu futuro
pessoal e profissional. A escola tem como missão formar bons alunos que sejam, antes
de mais, cidadãos benignos e felizes.

Formação integral
O raciocínio intelectual é apenas uma parte de ti. No entanto, já deves ter visto ou
vivido alguma situação em que, mesmo tirando boas notas, não foi possível controlar a
dimensão emocional; por exemplo, quando alguém fica tão nervoso antes de um teste
que não consegue pensar com clareza, e por isso, lhe corre mal. Trata-se da falta de
inteligência emocional, que muitas vezes não é suficientemente valorizada, embora se
revista da máxima importância. Toda a gente tem de ser despertada física, psicológica,
cognitiva, social e espiritualmente para se realizar como pessoa.

Junho 2019
Cidadania digital
Vivemos numa sociedade em rede. A tecnologia aboliu todas as fronteiras. Qualquer
pessoa em qualquer parte do mundo pode interagir com quaisquer outras pessoas. Há
uma nova noção do tempo e do espaço. Tudo isto caracteriza o novo conceito de
cidadania digital.

A expressão «cidadão digital» – ou «cibercidadão» –, em inglês netizen, foi criada, em


1992, pelo norte-americano Michael Hauben (1973-2001). Ele quis descrever aqueles
que observam os seus direitos e deveres quando desenvolvem algum tipo de atividade
em ambiente digital.
Tu és cidadão digital, porque usas os recursos tecnológicos que tens ao dispor, e
procuras fazê-lo de modo apropriado e responsável.
Exerces a cidadania digital não só quando utilizas uma certa aplicação ou uma nova
tecnologia, mas, e sobretudo, quando pensas acerca do impacto que essas ferramentas
têm na tua vida, na existência dos que te rodeiam e pelo mundo inteiro.

Cidadãos informados e conscientes


Tu, os teus amigos, a tua família, são cidadãos digitais que não se deixam influenciar ou
subjugar por qualquer interesse mesquinho de outras pessoas ou empresas?
Tu e eles aceitam o desafio de cumprir os deveres e defender os seus direitos na busca
de uma sociedade mais justa e respeitadora da dignidade de cada um?
Ser cidadão digital ativo é, por um lado, estar informado, isto é, estar atento às
invenções, às descobertas, aos desafios e aos graves problemas do mundo. Por outro
lado, é dar o teu contributo pessoal ou em equipa, seja para enriquecer o mundo com
algo novo, seja para ajudar a resolver os problemas.

Valores dos cibercidadãos


A tua cidadania digital caracterizar-se-á pelo exercício de boas práticas – ou valores –
no universo digital. Entre os valores que te são pedidos estão: verdade, bondade,
utilidade, compreensão, respeito da dignidade e dos direitos dos outros (direitos de
autor, por exemplo), precaução, responsabilidade…
Ao exerceres a cidadania digital, visarás não só a satisfação das tuas necessidades
individuais, mas, também, a manutenção do bem-estar social dos teus concidadãos
digitais. É neste contexto que se pode falar de ações meritórias e de crimes. Quem usar a
Internet fraudulentamente, ou para ofender, distribuir ou comercializar objetos ou
serviços ilícitos, é claro que está a cometer crimes.
Para que não sejas uma vítima das ações fraudulentas dos outros, é necessário que
aprendas a usar os recursos tecnológicos, a saber as suas vantagens e os seus riscos.
A tua educação para um bom uso do ciberespaço, ao serviço de uma cidadania digital, é
uma responsabilidade, em primeiro lugar, da tua família. Ela, além de ter a função social
de ensinar valores e condutas, é também aquela que te transmite conceitos de ética e de
moral.
A tarefa dos teus pais deve ser completada pela escola e paróquia. A escola tem um
papel crucial e importante a desempenhar, ensinando-te a conhecer e dominar os
aparelhos e os programas tecnológicos. Por sua vez, a paróquia e os espaços onde
aprendes cidadania fornecem-te o que poder-se-ia chamar uma bússola moral que te
oriente sempre que navegas no mundo digital.
Por fim, mas não menos importante, tu és e serás sempre o principal responsável pela
tua formação e pela tua conduta como cidadão digital.

Julho-agosto 2019
Ativistas digitais

A Internet é um espaço privilegiado para a intervenção social, seja para apoiar, seja para
criticar ou censurar pessoas ou organismos.

As plataformas digitais disponíveis, como WhatsApp, Instagram, Snapchat, YouTube,


Skype, Facebook, Twitter, entre outras coisas, dão-te a conhecer causas de ativismo
social, isto é, assuntos que requerem a tua opinião ou uma atitude da tua parte.
Certamente já foste convidado, por exemplo, para limpeza de matas ou mares, para
subscreveres com a tua assinatura cartas a apelar para a defesa de pessoas ou de povos
ameaçados, ou para adotares comportamentos de consumo saudável e sustentável.
Seja, então, quando a plataforma digital te informa, seja quando por tua sensibilidade e
iniciativa queres apoiar uma causa importante, o que fazes normalmente é aceder a uma
dessas plataformas digitais, e reages. As opções vão desde clicar num dos ícones –
gosto, não gosto, choro, raiva, etc. –, até aceder a hiperligações associadas e participar
dentro das possibilidades anunciadas, como assinar uma petição, fazer uma doação,
comparecer num evento. Pelo meio, podes divulgar o tema ou a campanha, assinares
uma petição, ou manifestares a tua concordância ou discordância.
O primeiro registo de ciberativismo aconteceu em meados da década de 1980, quando
ativistas ao redor do mundo faziam parte da PeaceNet, e distribuíam, via correio
eletrónico, mensagens e endereços de páginas com informações sobre direitos humanos.
Com a tua geração, o ciberativismo está em expansão. O objetivo, no passado como
atualmente, é trocar informações e debater, reunir apoio, organizar e mobilizar
indivíduos para ações e protestos, dentro e fora da Internet.

Da rua para a net


Nos últimos anos tens assistido, em diferentes contextos geográficos, ao aparecimento
de formas novas e inesperadas de mobilização coletiva e de ativismo. Em alguns casos,
esse ativismo deixou de ser restrito à rua mas estendeu-se à Internet. Em outros casos,
passou da Internet para a rua.
Um exemplo foi o que se passou com a chamada Primavera Árabe. No ano de 2010,
cidadãos de vários países do Médio Oriente, principalmente Líbia, Tunísia, Iémen e
Egito, foram para as ruas protestar contra os respetivos governos e regimes políticos.
Esses protestos foram divulgados em redes como Facebook, Twitter e YouTube. Por
meio destas plataformas, o povo (dentro e fora daqueles países) informava-se acerca das
repercussões e dos locais e horários dos protestos. Este ciberativismo foi muito
importante, uma vez que os meios de comunicação social tradicionais – jornais, rádios e
televisão – eram censurados. E a dimensão dos protestos expandiu-se até ao ponto de se
tornarem movimentos internacionais.

Ao serviço de um mundo melhor


O ciberativismo dá-te o poder de modificar o presente e o futuro de qualquer parte do
mundo. Se, por exemplo, queres defender povos em risco de extinção, podes apoiar a
ONG Survival International: www.survivalinternational.org; se queres apoiar causas
ambientais, há imensas páginas e aplicações. Qual é a tua causa preferida? Interessa-te,
divulga, participa, mobiliza.

Outubro 2019
Educar as emoções
Se na tua escola te dissessem que iam ensinar-te o alfabeto das emoções, isso soava-te a
estranho ou agradava-te? A Audácia vai falar deste tema ao longo do novo ano letivo.

O que são as emoções? Se o sentimento é o modo como reages interiormente a um


acontecimento, a emoção é tua reação para o exterior. Sabes que estás a emocionar-te
quando sentes um frio no estômago, ou as chamadas “cócegas de borboleta” na barriga,
ou choras ou ris sem parar, os tens taquicardia, tremes, desmaias, perdes a voz, ficas
branco como a cal ou a tender para o vermelho de raiva...
Cientificamente, são quatro as emoções básicas: alegria, medo, raiva e tristeza. A alegria
funciona como uma energia que te ajuda a encarar a vida com gosto e te ajuda a superar
as dificuldades. Pelo medo, prevines-te contra perigos reais ou criados pelo inconsciente
(por exemplo, paras a meio metro de um precipício); pela raiva (não confundas com
ira), enfrentas os medos, vences os obstáculos; com a tristeza, sinalizas o não te faz bem
e dás sinais para que te ajudem a descobrir novas fontes de felicidade.

Alfabetizar as emoções
Alguém já te aconselhou a desprezar as emoções? Pode acontecer em família, quando
criticam mais do que elogiam; quando protegem das dificuldades e não envolvem nas
tarefas e responsabilidades domésticas; quando não sensibilizam para a bondade das
brincadeiras com os outros e a interação com a Natureza, por exemplo.
Ou pode ter sido na escola, que, durante muito tempo, teve tendência para dar mais
importância à razão do que à emoção. O propósito era transmitir e assimilar saberes. E
os alunos procuravam saber a matéria para ter boas notas e passar de ano. Felizmente,
nenhum de nós é só intelecto, e tampouco vivemos um conflito entre cérebro e coração,
como se um apenas pensasse e o outro só sentisse.
Como poderás já ter concluído ou observado, se desenvolveste, desde a infância, as
emoções, és sensível, alegras-te pelo bem que existe e pelo que fazes, preocupas-te com
o mal que afeta os outros, sobretudo com o que causaste (logicamente, é e faz o
contrário quem não as desenvolveu) e procuras soluções em vez de desistir.
A forma como dominas as tuas emoções contribui para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento da tua personalidade. Para isso é fundamental que pratiques com
frequência estes quatro exercícios: autoconhecimento, autodomínio, automotivação e
solidariedade. E, para os praticar cada vez melhor, não hesites de pedir ajuda e
conselhos na família, escola, paróquia e aos amigos.

Novembro 2019
Medo e coragem

Todos temos medo de algo. Isso pode ser doloroso, se o pavor nos faz perder
oportunidades e experiências que poderíamos ter, como os outros têm. Ou pode ser
apenas uma experiência no caminho do êxito.

Ter medo é um sentimento normal, que faz parte da natureza humana. O medo visa a tua
segurança e bem-estar. Ele ajuda a proteger-te, mantém-te alerta para o perigo e prepara-
te para lidar com ele, caso seja necessário.
O medo pode ser muito intenso ou apenas ligeiro, durar mais ou menos tempo. Sentes
medo porque a ideia de que algo possa ameaçar a tua segurança ou a tua vida faz com
que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam
reações que o caracterizam.
O medo é saudável
Durante as aulas ou, sobretudo, antes de um teste, por exemplo, enquanto estudas, tens
medo de não teres uma boa prestação ou de errares. Com estes sentimento, o teu cérebro
alerta-te para que não te distraias nem deixes de ter o estudo em dia.
Outro exemplo: tens medo das alturas, pois, caso contrário, poderias cair e magoar-te.
O medo só se torna um problema quando te sentes ameaçado de modo exagerado ou
irrealista, perante situações ou objetos que não representam ameaça. Sabes que não há
razão para tanto medo, mas, mesmo assim, não consegues evitar. Por exemplo, sabes
que o escuro não te faz mal, todavia, isso não te reduz a ansiedade, pelo contrário,
aumenta-a.

Medos racionais e irracionais


A primeira coisa que deves fazer para enfrentares os teus medos é perceber se se trata de
um medo racional ou de um medo irracional. O medo racional é aquele que sentes
perante uma situação que realmente te está a pôr em perigo, como é o caso das alturas.
Pelo contrário, o medo irracional é aquele que sentes perante uma situação que, na
realidade, não te pode causar perigo, como é o caso da escuridão. Quando identificamos
o tipo de medo que temos, torna-se mais fácil ultrapassá-lo, pois um medo racional pode
ajudar-nos a evitar o perigo, já o medo irracional pode paralisar-nos e impedir que
avancemos, sem que realmente exista um perigo real.

O medo de fracassar
Na escola, um dos medos mais comuns é o de fracassar, de não teres uma boa nota no
teste, de não passares de ano. Muitos alunos, por causa desse medo ou da pressão dos
pais, aos primeiros fracassos, desanimam e desistem. Isso é mau, pois, muitas vezes,
perdes oportunidades e nem tentas o êxito, porque deixas que a tua cabeça fique cheia
de pensamentos negativos. É preciso acreditares e entenderes que o erro é apenas uma
falha momentânea e que terás sempre a oportunidade de acertares da próxima vez.
Outro dos medos muito comuns é o de não conseguires integrar-te, ser aceite e
mereceres a aprovação dos outros.

Coragem para vencer o medo


A coragem não é ausência do medo; é a capacidade de alcançares objetivos, apesar dos
medos. Dou-te um exemplo com uma imagem: vais na estrada e encontras um fosso. Se
te deixas vencer pelo medo, recuas. Se, ao contrário, tens coragem, arriscas descer em
segurança, sabendo que, depois, vais subir e, no outro lado, continuarás a tua viagem.

Dezembro 2019
Aprender a lidar com a tristeza

Todos nós sentimos tristeza de vez em quando. Às vezes estamos apenas um pouco
abatidos, outras vezes, sentimo-nos mesmo angustiados. Isso depende da razão da
tristeza e da forma como estamos a lidar com ela.

A tristeza é uma emoção básica e normal e, como todas as emoções, ela vai e vem,
aparece e desaparece. Já experimentaste como alguns sentimentos de tristeza duram
apenas uns momentos, e outros podem durar mais tempo. Porém, quando a vences,
voltas a sentir-te com renovado alento e contente. Por isso, é importante que aprendas a
lidar com a tristeza.
De onde vem a tristeza?
A tristeza pode manifestar-se em ti por muitas e diversas razões: quando as coisas não te
correm bem, quando não atinges os teus objetivos, quando não obténs a nota que
esperavas no teste, quando a tua equipa perde o jogo ou quando não és escolhido para
um jogo ou missão que muito querias. Ela também pode aparecer quando alguém te
magoa, te deixa de fora, te desilude ou te diz alguma coisa de que não gostas. Por vezes,
ela pode estar associada à vivência de problemas na família, na escola ou na sociedade
em geral.

Não é bom ficarmos tristes


Embora seja completamente normal sentires tristeza, não é bom ficares triste muitas
vezes ou durante muito tempo. A tristeza é um alerta, para que reajas. Se for uma
tristeza mais profunda, então talvez necessites de um acompanhamento mais
especializado, de um psicólogo se as razões da tristeza são comportamentais, ou de um
uma pessoa bem preparada em religião, se os teus temores estão relacionados com
assuntos da fé.

O que fazer quando te sentires tristes?


1 – Reconhece os teus sentimentos de tristeza e como é que o teu corpo se sente quando
estás triste. Procura saber porque é que te sentes assim. De que tens vontade quando
estás triste?
2 – É normal chorar. Chorar um é calmante natural: reduz a ansiedade e o stress, alivia a
dor, melhora o humor. É também uma linguagem (é a nossa primeira forma de
comunicação), é um apelo à empatia.
3 – Procura ultrapassar as tuas falhas e fracassos com atitude positiva e a pensar em
coisas boas. Não cedas à tentação de desistir!
4 – Pensa em soluções para a tristeza ou pede ajuda se não vês nenhuma.
5 – Não te isoles. Ficar a sós é útil para pensares na tua vida, mas para voltares a ser
feliz. Podes sempre tentar fazer coisas que normalmente te faziam sentir bem e contente
como praticar desporto, dançar, passear, desenhar, ouvir música, ler ou passar tempo
com os amigos.
6 – Pede ajuda. As pessoas que se preocupam contigo (familiares, amigos ou
professores) podem confortar-te. Às vezes, só o facto de termos alguém que nos ouça e
compreenda já é muito bom.

Janeiro 2020
A emoção da alegria

A alegria é fundamental na vida e todos a procuramos. Ela é uma experiência de


plenitude e satisfação interior, mas que só acontece verdadeiramente quando é
partilhada com os outros.

O que dirias a quem te perguntasse o que é a alegria? Talvez digas que é uma sensação.
Ou melhor, que é uma experiência, um modo de estar na vida, uma maneira de encarar a
vida.
Sabias que a sensação de alegria não te aparece de maneira misteriosa ou mágica? Ela
resulta do fabrico pelo teu organismo das hormonas chamadas endorfinas. Todavia, o
teu corpo não as fabrica de forma espontânea nem automática. É preciso que o cérebro
dê a ordem. Isto mostra que o ser humano tem a capacidade de realizar aquilo que o
satisfaz e evitar o que lhe desagrada, porque o nosso cérebro está programado para isso.
A alegria é “prima” da felicidade…
A alegria é uma emoção básica e está associada à felicidade. Quando estás alegre,
pensas em coisas boas e positivas e, às vezes, até sentes uma espécie de borboletas ou
formigas no estômago. Mostras um sorriso de orelha a orelha, dás boas e grandes
gargalhadas ou até pulos de alegria... A alegria aparece normalmente quando tens êxito
numa tarefa, obtiveste uma boa nota num teste, ganhaste respeito e admiração,
experimentaste amor e afetos, recebeste uma surpresa agradável... Surge quando
consegues alcançar algo que valorizas e tem a função de te fazer repetir esses
acontecimentos positivos.

A alegria constrói relações


A alegria promove uma sensação de satisfação que te faz gostar de ti mesmo, gera
autoconfiança e lança-te ao encontro dos outros, promovendo e mantendo o convívio e a
socialização. Dessa forma, a alegria cria e fortalece os teus laços sociais, ajuda-te a
reconhecer os outros individualmente ou como grupo e a associar-te ou a integrar-te.
Quando estás alegre, dificilmente passas despercebido, pois a tua maneira de estar, falar
ou tomar decisões reflete o estado de harmonia e felicidade que transportas dentro de ti.

A alegria não te pertence


Uma característica da alegria é que ela não te pertence. É um dom que recebes para
construíres a tua vida numa cultura de hospitalidade e de abertura ao outro. Em vez de
cresceres na severidade, intransigência, indiferença, sarcasmo, maledicência, lamento,
caminha suavemente no sentido contrário. Cresce na simplicidade, gratidão, confiança e
despojamento e, assim, estarás a criar condições para que a alegria brote na tua vida e
contagie os outros.

Caixa: És alegre?
Tu és alegre quando:
– Reconheces que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e
períodos de crise.
– Deixas de ser vítima dos problemas e te tornas autor da tua própria história.
– Atravessas desertos fora de ti e és capaz de encontrar um oásis no recôndito da tua
alma. – Agradeces a Deus o milagre da tua vida.
– Não tens medo dos teus próprios sentimentos, sabes falar de ti mesmo, tens coragem
para ouvir um “não” e recebes uma crítica, mesmo que injusta.

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