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Paciência
Tolerância
Maturidade
Proximidade
Prevenção
Martírio
Novidade/surpresa
Vulnerabilidade
Complementaridade
Temas tratados:
2007
Amizade
Partilha
Somos família
2008
Paz
Amor
Esperança
Respeito pela criação
Verdade
Justiça
Voluntariado
Liberdade
Honestidade
Humildade
2009
Solidariedade
Alegria
Entusiasmo
Compaixão
Dialogo
Responsabilidade
Vida
Ser luz
Esforço e sacrifício
Coerência
2010
Perdão
Serviço
Vida Eterna
Testemunho
Silêncio
Obediência
(Comum)Unidade
Sobriedade
Confiar
Beleza
2011
Igreja
Missão
Amigo
Matrimónio
Sacerdócio
Jornadas Mundiais da Juventude
Santidade
Coragem
Simplicidade
Escutar
2012
Oportunidade
Harmonia
Credibilidade
Convívio
Mãe(ternidade)
Retidão
Lazer
Audácia
Eternidade
Concórdia
2013
Fé
Credo
Água
Trindade
Espírito Santo
Creio em Jesus
Maria modelo de fé
Francisco e a JMJ
Hospitalidade
2014
Intimidade
Mansidão
Felicidade
Páscoa
Acolhimento
Diligência
Proteção
O dinheiro como deus
Segurança
Gentileza
2015
Bom humor
Não escravos, mas irmãos
Tolerância
Martírio
Fidelidade
Prevenção
Benevolência
Sacrifício
Generosidade
Festa da misericórdia
2016
Dar de comer a quem tem fome
Dar de beber a quem tem sede
Vestir os nus
Dar pousada aos peregrinos
Assistir os doentes
Visitar os presos
Enterrar os mortos
Dar bom conselho
Ensinar os ignorantes
Corrigir os que erram
2017
Consolar os tristes
Perdoar as injúrias
Suportar as fraquezas do próximo
Rezar por vivos e defuntos
Alunos para o século XXI
Educação humanista
Educação sustentável
Educar com coerência
O valor do saber
Árvores solidárias
2018
O valor da integridade
Educar na curiosidade
Valor da cidadania
Relacionamentos pessoais
Apostas na tua formação cristã?
O que devemos saber antes dos 12 anos
Quatro desafios para toda a vida
Tu e a tecnologia
Tecnologia com segurança
Diferentes e iguais
2019
Nativos digitais: a geração z
Do Homo sapiens ao Homo technologicus
A geração Alpha
Os desafios da geração Alpha
Seres humanos completos
Cidadania digital
Ativistas digitais
Educar as emoções
Medo e coragem
Aprender a lidar com a tristeza
2020
A emoção da alegria
Outubro 2007
Amizade
Estamos a iniciar mais um ano lectivo. Com ele vem uma nova escola, uma nova turma,
novos colegas, novos professores, novas matérias… enfim, vem novidade! Um
sentimento que deve acompanhar-te é a alegria que deves sentir por voltar a encontrar
caras conhecidas – amigos, colegas, professores e funcionários, que já não vias há
algum tempo. É bom poderes partilhar com eles o que fizeste durante as férias e as
aventuras que passaste. Um outro sentimento que deves estar a sentir prende-se com a
novidade que estás a enfrentar: «Como irá ser o meu relacionamento com as novas
pessoas que vão partilhar comigo este ano lectivo? Será que iremos ser amigos?»
Falar de amizade é falar de um valor que todos nós conhecemos e ambicionamos mas
que, muitas vezes, nos esquecemos, ou temos dificuldade, de o pôr em prática…
Falamos de amigos, somos amigos, temos amigos… Mas o que define um amigo?
Como o elegemos? Para reflectirmos sobre este valor, nada melhor do que lembrarmos a
história d’O principezinho:
Criar laços
É uma história simples, mas com muitos pormenores, essenciais e com lições de vida
para todos nós. É uma definição de amizade muito completa a partir da palavra
«cativar», que, por sua vez, significa, tal como refere a raposa, «criar laços». A amizade
é um valor que nos enriquece e nos promove. Ela desponta com a responsabilidade e
leva a uma comunicação de sentimentos e convicções. De facto, quando na vida nós
cativamos e somos cativados, encontramos e elegemos os nossos amigos e, assim,
criamos laços de amizade.
Os olhos do coração
Depois, tal como n´O Principezinho, nós temos uma grande necessidade de diálogo, de
estar com…, porque somos seres de… e em… relação. «Anda brincar comigo» significa
que precisamos de preencher as nossas vidas com os outros, com aquilo que gostamos
de fazer e, se mais vezes usarmos os «olhos do coração», menores serão as dificuldades
em entendermos a razão das opiniões contrárias. Só se vê bem os amigos com o olhar
do coração, porque o essencial é invisível ao olhar quotidiano, tantas vezes contaminado
por preconceitos que nos impedem de ver os outros como eles são – como nossos
irmãos! Só o coração consegue ver os amigos!
E com sensibilidade
A amizade é, também, não só partilhar os sorrisos e as alegrias, mas também as
desilusões e as tristezas. «Se me cativares… para mim tu serás único no mundo.» Ela
enriquece-nos, intensifica as alegrias e alivia as tristezas. Torna-nos, igualmente, muito
mais responsáveis para com aqueles que cativámos, os nossos amigos. Como tudo na
vida, também precisa de ser cultivada e preservada. Sempre que encontramos um
amigo, encontramos um pouco mais de nós mesmos. Precisamos de cativar e de criar
laços para sermos felizes! Assim, um amigo é um milagre que Deus opera no nosso
coração…
Propósito final
Tenta, ao longo deste ano escolar, não só cativar, mas, também, deixar-te cativar!
Embarca nesta grande aventura cheia de desafios, que é a verdadeira amizade… aceita o
desafio! … ‘Bora lá!
Hiperligação
Novembro 2007
Partilha
Estamos no mês de Novembro, no qual o frio começa a imperar. Neste mês é comum,
em muitas escolas do nosso país, realizarem-se os famosos magustos. Além de
comermos castanhas ao redor de uma agradável fogueira, temos a oportunidade de
brincar e de nos enfarruscarmos uns aos outros. Enfim, é mais uma ocasião para
estarmos com os amigos e partilharmos a alegria de estar juntos.
Da partilha à santidade
Martinho nasceu no início do século iv. O pai era soldado do exército romano e também
ele entrou para o exército, quando fez 15 anos. Chegou a cavaleiro da guarda imperial.
Martinho ouviu falar de Jesus Cristo, mas não era cristão. Em 338, perto de Amiens, na
França, numa noite fria e chuvosa de Inverno, teve uma experiência que o marcou para
toda a vida. Ia ele a cavalo, quando viu um pobre com ar miserável e quase nu, que lhe
pediu esmola. Como não tinha dinheiro consigo, num gesto de partilha, cortou ao meio
a sua capa e entregou-a ao mendigo, para assim se agasalhar.
Segundo a lenda, de imediato a chuva parou e os raios de sol irromperam por entre as
nuvens. Daqui nasceu a expressão «Verão de São Martinho», de que já terás ouvido
falar. No dia seguinte, Martinho teve uma visão e ouviu uma voz que lhe disse: «Cada
vez que fizeres o bem ao mais pequeno dos teus irmãos é a Mim que o fazes.» Era
Cristo que lhe falava. A partir desse dia, Martinho passa a olhar para os cristãos de outro
modo. Converte-se ao Cristianismo e pede o baptismo.
Martinho encontra bastantes dificuldades para praticar a caridade e a partilha, pois a
sociedade do seu tempo não permitia que os grandes senhores, em que se incluía a
classe militar, se misturassem com o povo. Ele, preocupado com o que Deus quer dele,
vai ter com o bispo Hilário – mais tarde Santo Hilário – a Poitiers. Depois de ouvir os
conselhos do prelado, funda um mosteiro. Entretanto a sua fama espalha-se. Muitos
homens seguem-no na vida monástica. E, com o tempo, as suas pregações e o seu
exemplo de despojamento e de simplicidade dão-lhe fama de santo. É aclamado bispo
de Tours em Julho de 371. Morreu a 8 de Novembro de 397.
A veneração de Martinho espalhou-se rapidamente por todo o mundo cristão. Na cidade
francesa de Tours, foi erguida uma enorme basílica entre 458 e 489, a qual foi lugar de
peregrinação durante séculos, e ainda hoje recebe peregrinos.
A cultura da partilha
A vida de Martinho mudou radicalmente com uma experiência de partilha. Repartiu a
sua capa e depois nunca mais deixou de partilhar. Distribuiu os bens, o amor, a fé, e a
vida com todos os que se cruzaram com ele. Deixou-nos a lição de que a partilha é o
caminho para construirmos a nossa felicidade e a felicidade dos outros, companheiros
da longa viagem, que é a vida.
Partilhar é, assim, uma atitude que brota de um coração que é sensível às necessidades
dos seus semelhantes. Aquele que partilha vê os outros como irmãos e não como
adversários ou inimigos.
A partilha não se limita nem se esgota nos bens materiais, mas vai muito mais além.
Aliás, a partilha de bens é bem mais fácil do que a partilha de outras coisas, tais como o
tempo, as emoções, a dor, os sentimentos… Martinho ensina-nos a recuperar e a pôr em
prática a cultura da partilha.
Tipos de partilha
Na cultura da partilha, as pessoas afirmam-se como seres abertos à comunhão, com
Deus, com os outros e com a criação. Mas o valor da partilha pode ser facilmente
contaminado por intenções pouco dignificantes. Há quem partilhe unicamente para
afirmar o desejo do poder. Torna-se, assim, um gesto cheio de desejo de domínio,
quando não de opressão, sobre os outros. Há quem partilhe para receber elogios. É um
partilhar vaidoso, cheio de amor-próprio, de egoísmo e do culto da própria
personalidade. Existe, ainda, quem partilhe, procurando a própria compensação e
retribuição. É um partilhar interesseiro.
Existe, finalmente, um «partilhar» que os cristãos chamam evangélico – inspirado nos
Evangelhos –, caracterizado pela gratuidade, fraternidade, alegria, compaixão e pelo
desinteresse. O denominador comum a todas estas qualidades é o conceito de
fraternidade, isto é, a experiência de que somos todos irmãos em Cristo.
Na cultura da partilha, as relações humanas, vividas num doar-se contínuo, orientam-se
para a comunhão e para a unidade. É por isso que a sociedade resultante da cultura da
partilha se define como comunidade.
Propósito
Durante este mês de Novembro faz o magusto, come as castanhas, celebra o São
Martinho, mas lembra-te de cultivar a partilha. Martinho começou por repartir uma capa
com um homem que se cruzou com ele. Tu podes começar pelos teus colegas de turma,
de escola, da catequese, da tua terra… a partilhar o que tens, um lápis, uma folha, uma
guloseima… mas não fiques por aí, vais mais além e partilha o teu tempo, o teu sorriso,
os teus dons, as tuas capacidades... Fá-lo de forma desinteressada e com o objectivo de
construíres a comunhão. Verás que o mundo, à tua volta, vai mudar e tornar-se mais
feliz, tal como tu.
Dezembro 2007
Somos família
Já te vejo a pensar como é que vais fazer o teu presépio! Que figuras vais usar, como
irás preparar a cabana e todo o ambiente envolvente, como irá ser a decoração da árvore
de Natal! Tens todo o interesse que seja um espaço bonito, pois será lá que irás colocar
os presentes! Todavia, algo me entristece!
Cada Natal invade-me uma certa tristeza ao ver que muitos fazem um esforço enorme
para armar a árvore de Natal, mas não prepararam o presépio. Esquecem-se que nele é
que está o que é importante nesta quadra festiva.
Tu sabes qual é o significado de presépio? Significa o lugar onde se recolhe o gado. É o
mesmo que curral e estábulo. Esta é também a designação dada à representação artística
do nascimento do Menino Jesus, que ocorreu num estábulo, acompanhado pela Virgem
Maria, por S. José, e por uma vaca e um jumento. Por vezes, acrescentam-se outras
figuras, como pastores, ovelhas, os Reis Magos…
Durante séculos, o nascimento de Jesus no seio de uma família era o acontecimento
central do Natal. Ainda é assim para milhões de pessoas em todo o mundo. Para estas, o
resto é acessório e decorre deste acontecimento tão significativo.
Este mês de Dezembro, em que olhamos de forma particular para a família de Jesus, é
uma boa oportunidade para falarmos do valor da família. É uma oportunidade para
interpelarmos a nossa família à luz da família de Jesus.
Nos dias de hoje, a família é vista, por muitos, como um valor em crise. Muitos já não
acreditam nela e outros tentam constantemente desvalorizá-la. Eu acho que devemos
afirmar a sua validade e a sua centralidade na nossa vida pois ela é, essencialmente, uma
escola de valores.
Eu acredito que a família foi, é, e continuará a ser, um valor fundante e primário, no
sentido em que é a fonte e o viveiro de todos os outros valores que iremos afirmar e
viver ao longo da nossa existência. O método usado para a assimilação desses valores é
o do exemplo e do testemunho. Porque vemos a nossa família a afirmar e a viver certos
valores, aprendemos a personalizá-los, a torná-los nossos e a vivê-los também.
É verdade que a família é constantemente confrontada com obstáculos, dificuldades e
desafios que parecem abalá-la, mas nunca conseguirão destruí-la. Os laços de amor –
característica fundamental da verdadeira família – não deixarão que isso aconteça e
saberão protegê-la e fortalecê-la.
Apresento-te algumas características da primeira e principal escola que é a família.
Sempre em construção
Há muitos mais valores que só se colhem na família. Reflecte sobre isso, por exemplo,
nestes sítios da Internet: www.portaldafamilia.org, www.espacofamilia.pt,
www.diocesedeviseu.pt/intervencoes/Familia e volores.doc.
Os que te apresento são fundamentais e permitem formar e viver esta comunidade
doméstica. Já pensaste o que seria de nós sem uma família? Alguns têm a infelicidade
de não terem uma e acredito que o seu maior desejo seja o de encontrar, ou então formar
uma família. Apesar de todas as dificuldades e incompreensões, ela continua a ser o
melhor lugar do mundo onde viver. Ela é a rampa de lançamento que nos projecta para a
vida em sociedade, mas é igualmente o porto de abrigo que nos acolhe quando algo não
corre tão bem como desejamos.
Por isso, neste mês de Dezembro, em que vais celebrar o Natal, lembra-te de celebrares
também a alegria de viveres em família. Arma a árvore de Natal, mas prepara também o
presépio. E, acima de tudo, prepara a tua família para viver e afirmar os valores
fundamentais do Natal: o amor, a felicidade, o perdão, a comunhão… e irás ficar
surpreendido com a quantidade de «prendas» que a tua família receberá…
Janeiro 2008
A paz recebe-se e dá-se
A verdadeira paz
A verdadeira paz, a paz que Jesus nos deixou, apoia-se na justiça, difunde-se pelo amor
e pela reconciliação e leva à verdadeira felicidade e realização pessoal e social. É o fruto
do Espírito Santo, «que o mundo não pode receber» (Jo 14, 17). São Paulo ensina-nos
que «o fruto do Espírito é o amor, a alegria, e a paz» (Gal. 5,22). Jesus Cristo é a
verdadeira e a única fonte de paz. É essa a convicção de São Paulo, ao dizer que Cristo
«de dois povos fez um só, destruindo o muro da inimizade que os separava […] a fim de
fazer em Si mesmo dos dois um só homem novo estabelecendo a paz» (Ef. 2,14-15).
A paz conquista-se
A paz é um dom mas é, também, uma conquista. É um dom, porque nos é oferecida e
comunicada pelo Espírito de Cristo. Mas é também uma conquista, na medida em que
exige todos os dias, de cada pessoa, uma adesão, um empenho e um esforço para criar
um ambiente pacífico dentro de nós e ao nosso redor. Não são as armas que matam e
destroem; são os homens que as fabricam e que as usam!
Os bispos de todo o mundo, reunidos no segundo concílio do Vaticano (de 1962 a
1965), afirmaram que, para edificar a paz, é preciso, antes de mais, eliminar as causas
das discórdias. Assim se entende que a paz não é a mera ausência de guerra, mas uma
conquista dos homens que respondem ao dom de Deus Criador, que pôs nos seus
corações a capacidade de amarem, de se alegrarem com a felicidade dos outros, de
darem, até, a vida para que os outros vivam mais plenamente.
Fevereiro 2008
Amor
São Valentim
Há várias teorias relativas à origem de São Valentim e à forma como este mártir romano
se tornou o patrono dos apaixonados. Uma delas afirma São Valentim como um mártir
que, em meados do século iii, se recusou a abdicar da fé cristã que professava e,
consequentemente, foi decapitado. Outra sustenta que o imperador romano teria
proibido os casamentos de modo a ter mais homens para as frentes de batalha. Um
sacerdote cristão, de nome Valentim, teria violado este decreto imperial e realizava
casamentos em segredo. Este segredo teria sido descoberto e Valentim teria sido preso,
torturado e condenado à morte.
Ambas as teorias apresentam factores em comum. São Valentim foi um sacerdote
cristão ou um mártir que teria sido morto a 14 de Fevereiro de 269, por não abdicar das
suas convicções: o amor aos homens e a Deus. Foi, podemos dizê-lo, um mártir do
amor.
Carta de amor
Caro/a amigo/a, amar alguém (uma pessoa ou Deus) é um sentimento maravilhoso, mas
é igualmente um compromisso sério e exigente.
Neste mês de Fevereiro, se estás a pensar em celebrar o Dia de São Valentim e o valor
do amor, enviando uma carta ou um gesto de amor a alguém, lembra-te que o amor que
levou São Valentim a dar a sua própria vida ao ser martirizado é um sentimento
maravilhoso, mas igualmente exigente e incondicional.
Escreve as tuas cartas de amor, enaltecendo o sentimento, mas nunca o banalizes,
instrumentalizes ou comercializes, pois podes criar grandes frustrações e desilusões,
quer nos outros, quer em ti próprio.
E, já agora, deixo-te um desafio: porque não escreves uma carta de amor a Deus que te
ama e que tu amas. Será que és capaz?
Março 2008
Esperança
É como um alicerce
Na sua etimologia latina, esperança vem de «spes» e «sperare», que significa uma
espera aberta, que não assenta em resultados externos (como a expectativa), mas sobre a
realização da pessoa (uma mudança radical da condição humana). Assim, a esperança é
uma tendência para um bem futuro e possível. A esperança é uma energia interna, que
cresce a cada momento e que nos torna capazes de derrubar muros e obstáculos que
considerávamos intransponíveis.
A esperança projecta-se no futuro, uma vez que a pessoa que espera procura
fundamentar e dar as razões dessa esperança e assume-se, consequentemente, não só
como uma pessoa com um passado e um presente, mas, essencialmente, uma pessoa
com um futuro. A vivência da esperança transmite paz e segurança ao dia de hoje e faz,
assim, caminhar, sem medo, rumo a um horizonte futuro.
Para os cristãos, a esperança tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. É Ele a fonte e a
razão da nossa esperança. É Ele que dá sentido e nos dá forças para nos empenharmos a
lutar por um mundo mais humano e mais fraterno e é, igualmente, Ele que nos garante a
Sua presença na nossa vida presente e futura. Essa foi a grande descoberta dos
discípulos de Emaús. Reconheceram a presença de Jesus Cristo nas suas vidas. Esse
reconhecimento redimensionou e reestruturou as suas vidas abatidas e vencidas pelo
desânimo da morte de Jesus.
A certeza de que Jesus está vivo e presente na história da humanidade é o alicerce onde
assenta a esperança cristã. Assim, a esperança cristã não é um antídoto para o desânimo
ou uma pílula para a felicidade baseada numa ilusão construída ou numa utopia
desejada, mas é, essencialmente, uma força, uma energia transformadora do presente,
que nos envolve na construção de um futuro melhor para todos. Assim, a esperança é
uma força transformadora do presente assegurando-lhe um futuro.
Há esperança, há vida
É costume ouvir dizer que «enquanto há vida há esperança». Acredito que o contrário
também é verdade, enquanto há esperança há vida. Se perdermos a esperança, viver
torna-se um fardo pesado e sem sentido. A esperança qualifica e dignifica a vida.
Talvez já tenhas experimentado a perda momentânea da esperança ou já te tenhas
cruzado com alguém que a tenha perdido, momentaneamente ou talvez até
definitivamente. Nessas situações torna-se necessário e urgente recuperá-la e
reencontrar aquela força interior que nos faz lutar por construir um mundo e um futuro
melhores. É essa força interior que dá sentido ao nosso presente e que nos projectará
para o futuro sem ter medo de viver.
Talvez tenhamos de fazer a mesma experiência dos discípulos de Emaús. De, no meio
da nossa caminhada da vida, tantas vezes marcada pelo desânimo, derrota, fracasso,
desorientação, desilusão… reconhecer a presença de Jesus que caminha ao nosso lado,
que nos explica o seu sentido, que nos faz arder o coração… abrir os olhos… e, assim,
recuperar a alegria e a vontade de caminhar em direcção aos nossos irmãos,
companheiros de viagem, para lhes darmos conta das razões da nossa esperança. Assim,
a nossa esperança não é vã ou vazia de sentido, mas é fundamentada na certeza da
ressurreição de Jesus, fonte da nossa esperança.
Sinónimo de Páscoa
Esta é a grande mensagem e definição da Páscoa: a certeza da ressurreição de Jesus.
Esta é a certeza fundante e fundadora da nossa fé cristã. Celebrar a Páscoa é, sobretudo,
celebrar a esperança. É proclamar bem alto que Jesus Cristo está vivo e presente na
nossa vida e na vida do mundo. Que Ele caminha connosco, que nos anima, encoraja e
nos desafia a estarmos também presentes no mundo e nas vidas dos nossos irmãos, para
lhes levarmos uma palavra amiga de fé, esperança e caridade.
Uma Páscoa feliz!
Abril de 2008
Respeito pela criação
Um rápido olhar sobre o mundo depressa nos faz percebê-lo como um maravilhoso
jardim, criado por Deus, que se encontra num processo de destruição. O homem passou
de jardineiro a exterminador: 10 000 espécies são extintas por ano, segundo os cálculos
dos cientistas; desflorestação maciça por efeito da urbanização rápida e da
intensificação agro-industrial; mudanças climáticas de contornos ainda desconhecidos,
mas deveras preocupantes; poluição industrial com ênfase particular na China e na
Índia, onde o crescimento económico galopante não está a ser acompanhado por
medidas de protecção ambiental; erosão do solo e desertificação em largas áreas de
África, América do Sul e China. Eis alguns dos sintomas da destruição a nível
planetário.
Nos últimos anos, a humanidade, com um comportamento altamente marcado pela sede
do lucro fácil e imediato, tem destruído mais o planeta do que todos os seus
antepassados ao longo de milhões de anos. Em algumas zonas geográficas, incluindo
Portugal, já se podem notar os estragos provocados por um sobreaquecimento global
advindo da poluição humana. Se continuarmos a não estimar e cuidar a Criação que
Deus nos confiou, não teremos este planeta por muito tempo.
Não tem sido fácil a convivência do homem com a verdade. Muitas vezes houve mesmo
uma relação ambígua e tumultuosa com ela. Em nome da razão, muitos foram os
atentados cometidos e os atropelos praticados.
Hoje vivemos um tempo onde damos muita importância à verdade, mas, por outro lado,
facilmente verificamos um certo (e penoso) ofuscamento dela. Às vezes, as pessoas
mentem descaradamente mas juram a pés juntos que estão a ser sinceros.
A verdade, por vezes, é manipulada ao sabor das vontades e conveniências. Este
comportamento, de falta de honestidade, ou manipulação da verdade, invade os mais
recônditos lugares da esfera do individual, social e institucional. Certas atitudes e
comportamentos, assumidos em nome da verdade, levam muitas vezes a desacreditá-la
ou a relativizá-la.
A verdade é proprietária
Há também quem, recorrendo a processos refinados, continue a alimentar a pretensão de
possuir toda a verdade. Aliás, esta parece ser uma tendência comum em algumas
correntes do pensamento contemporâneo. Trata-se da tendência da pessoa para “possuir
verdades” em vez de se deixar possuir pela verdade. De facto, a impressão que
prevalece é a de que a verdade tem muitos possuidores e poucos buscadores
(servidores).
Nesta busca pela verdade, umas vezes falsa, outras vezes autêntica, é necessário
clarificar os métodos e os princípios e ter sempre em mente a convicção de base,
correctamente enunciada pelo Concílio Vaticano II: «A verdade não se impõe de outro
modo senão pela sua própria força, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo
suave e forte.»
A verdade nunca pode ser apresentada como um arremesso contra quem quer que seja,
mas como um impulso para que todos avancemos na sua procura incessante. Por isso
mesmo, a verdade une-nos e dinamiza-nos para sermos fiéis à verdade última: Jesus
Cristo.
Servir a verdade
Disse o Papa João Paulo II: «Desde que recebeu, no mistério pascal, o dom da verdade
última sobre a vida do homem, a Igreja fez-se peregrina pelas estradas do mundo, para
anunciar que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida.» E é por isso também que,
entre os vários serviços que os cristãos devem oferecer à humanidade, o Santo Padre
assinala, em lugar de destaque, a «diaconia (serviço) da verdade». Esta missão torna,
por um lado, a comunidade crente participante do esforço comum que a humanidade
realiza para alcançar a verdade e, por outro lado, obriga-a a empenhar-se no anúncio das
certezas adquiridas, ciente de que cada verdade atingida é só mais uma etapa rumo à
verdade plena.
É importante realçar que a diaconia da verdade implica sempre um profundo respeito
por quem pensa, sente e vive de modo diferente do nosso. Nesta busca pela verdade e no
respeito por quem é diferente, temos de acreditar ser possível manter a firmeza nas
convicções e, ao mesmo tempo, a contenção nas palavras, a moderação nos gestos e a
elevação nas atitudes. Uma verdade que ofendesse, que excluísse e que humilhasse seria
tudo menos verdade; não passaria de uma contradição, de uma humilhação.
Nunca percamos de vista que a verdade tem como (supremo) objectivo edificar a pessoa
humana no seu todo, contribuindo para a revelação do mistério mais fundo que ela
encerra. Por essa razão, ela comporta uma dimensão itinerante: a verdade é de sempre,
mas pode ser descoberta – ou reconhecida – apenas num momento tardio ou até no
momento terminal da existência. O fundamental, no entanto, é que essa descoberta se
verifique, e que esse reconhecimento aconteça. Todos devem ser advertidos para a
urgência da verdade, mas ninguém pode ser penalizado por ainda a não ter vislumbrado.
A verdade pacífica
A verdade que a Igreja proclama não desagrega, antes pacifica e reconcilia.
Consequentemente se infere que verdade e amor são duas magnitudes estreitamente
ligadas entre si, sendo pura insensatez pretender sacrificar uma à outra. A verdade sem
amor torna-se chauvinista, intolerante e totalitária. Pelo contrário, o amor sem verdade é
cego e mudo, indigno do homem, de forma que produz exteriormente a impressão de
uma comunhão que não existe no interior. Só o amor que procura a verdade é autêntico
e duradouro; e só a verdade procurada pelo amor e no amor «nos faz livres».
Para os cristãos a verdade habita em Jesus Cristo. Ele é a “casa da verdade” onde cada
um se pode hospedar e aí recuperar forças para o testemunho que o mundo nos exige.
Deixa-te conduzir
Caro(a) amigo(a), procura ser, no ambiente onde vives, família, escola, paróquia,
sociedade, um buscador e facilitador da verdade. Procura, em tudo o que fazes, colocar
a verdade como prioridade e meta. Deixa que ela seja o valor que marca a tua vida.
Lembra-te que nas montanhas da verdade nunca se faz uma escalada inútil.
Junho de 2008
Justos como Deus
A justiça é um valor fundamental para nós e para o mundo, pois é o caminho mais
sólido, rápido e directo para a paz interior e exterior, individual e colectiva.
Muitas vezes, somos confrontados com a sua ausência ou, então, com a sua demora,
distorção, fragilidade e vulnerabilidade. Como consequência, existe dentro de cada um
de nós uma grande sede de justiça que muitas vezes não é saciada.
Todos nós, com certeza, já experimentámos a revolta quando a injustiça nos atinge ou
atinge outras pessoas que nós estimamos. Não há causa mais geradora de violência nas
pessoas, nas sociedades e entre as nações do que a prática da injustiça. Quantas são as
guerras individuais e colectivas que tiveram origem nas injustiças cometidas! De tal
modo a injustiça é contrária à razão humana, que os homens injustos, para a manterem e
a tornarem admissível, recorrem à mentira, à difamação e à fraude. A injustiça fere os
direitos fundamentais e a dignidade das pessoas e dos povos.
Justiça divina
A justiça é uma das quatro virtudes cardinais (com a prudência, a temperança e a
fortaleza) e consiste, no entender da Igreja, «na constante e firme vontade de dar aos
outros o que lhes é devido» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 381).
Ela é representada por uma estátua, com os olhos vendados e com uma balança na mão,
pretendendo simbolizar que todos são iguais perante a lei. A justiça procura, assim,
buscar a igualdade entre os cidadãos assente na sua inviolável dignidade, dando o
«prémio» (absolvição) ou o «castigo» (pena) apropriado ao acto cometido.
Não se pode ser feliz à custa do sofrimento ou do aniquilamento dos outros, daí que a
justiça deva ser uma preocupação constante na mente e na vida de cada cidadão. Para os
cristãos, este valor assume uma redobrada importância uma vez que somos convidados
a praticá-la diariamente: «Sede vós, pois, perfeitos (justos), como é perfeito (justo) o
vosso Pai celestial», diz Jesus no Evangelho de Mateus, 5, 48.
Deus é justo e quer que os homens imitem esse valor. A palavra «justiça», no sentido
social, pode e deve ser a expressão terrestre do princípio divino, pois, só se o for será
legítimo o seu uso e da sua aplicação resultará a paz e a boa vontade entre os homens.
Julho e Agosto, por tradição, são meses para desfrutar as merecidas férias. Estas são um
tempo para descansar e recuperar forças, e, para aqueles que não se empenharam tanto
durante o ano escolar, uma oportunidade para fazerem o balanço do que correu menos
bem, rever matérias e preparar novos métodos de estudo. Enfim, para todos nós, a época
estival é um período para fazer algo de que gostamos e que nos realiza e, em particular,
para aquelas actividades para as quais, devido aos inúmeros afazeres do ano escolar, não
tivemos tempo, como o voluntariado, um valor emergente.
O voluntariado é definido pela lei portuguesa como «um conjunto de acções de interesse
social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de
projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das
famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou
privadas».
É evidente pela análise desta definição que o voluntariado: está ao serviço das pessoas,
das famílias e das comunidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do
bem-estar das populações; traduz-se num conjunto de acções de interesse social e
comunitário, realizadas de forma desinteressada, expressando o trabalho voluntário;
desenvolve-se através de projectos e programas de entidades públicas e privadas com
condições para integrar voluntários, envolvendo as entidades promotoras e corresponde
a uma decisão livre e voluntária apoiada em motivações e opções pessoais que
caracterizam o voluntário.
Solidariedade em acção
A palavra-chave do voluntariado é «solidariedade». Sem a solidariedade, a vida morre e
a convivência reduz-se a uma coabitação forçada onde a solidão, a indiferença, as
tensões e as transgressões prevalecem sobre a sociabilidade e a fraternidade. Hoje,
exige-se uma solidariedade forte que reintegre completamente na sociedade aqueles que
dela são expulsos, que são abandonados na marginalidade, esquecidos, quase
completamente, já que as pessoas estão absorvidas com o seu próprio bem-estar. A
grande preocupação de Jesus foi a de propor aos seus discípulos a necessidade de terem
um comportamento integrador especialmente para com aqueles que estavam e eram
excluídos. A proposta de salvação e comunhão com Deus que Jesus veio trazer é para
todos sem excepção e particularmente para os mais pobres e mais abandonados.
O voluntariado é…
Assim, o voluntário é o cidadão que, livremente, não em virtude de obrigações morais
ou deveres jurídicos específicos, inspira a sua vida – em público e em privado – em fins
de solidariedade. Por isso, cumpridos os seus deveres civis e do seu estado próprio, põe-
se desinteressadamente à disposição da comunidade, promovendo uma resposta criativa
às necessidades emergentes no seu território com atenção prioritária aos pobres, aos
marginalizados e aos carenciados.
O voluntário dedica energias, capacidades, tempo e meios de que dispõe em iniciativas
partilhadas e realizadas, especialmente, em acções de grupo. E estas são abertas a uma
leal colaboração com as instituições públicas e as forças sociais, assumidas com a
adequada preparação específica e continuidade, e orientada para os serviços de
proximidade ou para a indispensável eliminação das causas da injustiça e opressão das
pessoas.
Disponibilidade
Caro(a) amigo(a), neste tempo maravilhoso que são as férias, não te deixes vencer pelo
ócio ou por uma vida dominada pela letargia e pela indiferença. Diverte-te, mas tenta
também viver ao ritmo e ao sabor da solidariedade. Procura informar-te sobre
instituições que necessitam de trabalho de voluntariado e, se puderes, dedica algum
tempo das tuas férias a pôr em prática esse valor. Volta, por exemplo, a verso da capa
desta revista.
Além de sentires as tuas qualidades, verás que és útil a alguém que precisava de ti.
Boas férias e bom voluntariado.
Outubro de 2008
Liberdade
Iniciámos mais um ano escolar e com ele vêm novos amigos, novos professores, novas
matérias… e, espero, também um novo e redobrado empenho que te fará chegar ao fim
com sucesso. Por vezes, somos tentados a viver a escola como nos apetece, a fazer
somente o que queremos e, assim, enveredamos por um caminho que, mais cedo ou
mais tarde, levará ao insucesso e ao fracasso. Várias vezes usamos o argumento de que
somos livres, de que ninguém nos deve dizer o que devemos fazer, para justificar a
nossa apatia e desinteresse pelo estudo e pela aprendizagem.
A liberdade é um valor fundamental da natureza humana. Felizmente, vivemos num
tempo que muito valoriza e defende a liberdade. São várias as vozes que se levantam
para a invocarem e a defenderem a todo o custo. São, também, várias as pessoas que
não se poupam a esforços, muitas das vezes oferecendo a própria vida, para que outras
pessoas a possam experimentar e viver. Mas, paralelamente, existe uma grande confusão
acerca do que é ser livre e do uso que se faz da liberdade. Várias são as pessoas que,
diariamente, violam a liberdade dos outros, escravizando-os ou instrumentalizando-os.
Algumas pessoas identificam a liberdade com a independência de tudo e de todos, em
que simplesmente se faz o que apetece; em que estão livres de responsabilidades, de
obrigações (sociais, familiares e escolares) e até de normas morais ou éticas. Mas será
essa a autêntica liberdade pela qual vale a pena lutar e até dar a vida?
O importante é ser livre de tudo aquilo que nos impede de ser verdadeiramente felizes, é
libertar-se. Isto implica uma aprendizagem contínua e progressiva.
A liberdade é uma tarefa. Exige esforço. É uma conquista de todos os dias. A liberdade,
porque implica escolha e responsabilidade, é a expressão de poder escolher, de se
comprometer, para um ideal de vida, não é um agir ao sabor dos caprichos. Ser livre não
é ser independente de tudo, pois a vida é sempre uma relação de dependências, mas
escolher e seleccionar essas dependências, integrando-as no ideal e no sentido da vida.
Uma liberdade sem orientação nem conteúdo é vazia para nós e perigosa para os outros
e transforma-se, rapidamente, em libertinagem, isto é, uma liberdade que ignora ou
despreza a verdade e a responsabilidade.
Novembro de 2008
Honestidade
Conta-se que na China, por volta do ano 250 a. C., um príncipe estava para ser coroado
imperador, mas, de acordo com a lei, deveria casar antes. Sabendo disso, ele resolveu
fazer uma competição entre as raparigas da corte. Então, o príncipe anunciou que
receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e que lhes lançaria um
desafio.
Uma senhora de idade, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre
os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um amor
profundo pelo príncipe. Ao chegar a casa, e ao relatar o facto à sua filha, espantou-se
por saber que ela pretendia ir à celebração, e disse-lhe:
– Estarão presentes as mais belas e ricas raparigas. Tira esta ideia da cabeça. Sei que tu
estás a sofrer. Não deixes que esse sofrimento se transforme em loucura.
– Não, querida mãe, não estou a sofrer e muito menos louca. Eu sei que jamais poderei
ser a escolhida, mas a oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do
príncipe já me torna feliz – retorquiu a filha.
A jovem dirigiu-se ao palácio, onde estavam, de facto, as mais belas raparigas, com as
mais belas roupas, as mais belas jóias e as mais determinadas intenções. O príncipe
anunciou o desafio:
– Darei a cada uma de vós uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a
mais bela flor, será escolhida para minha esposa e futura imperatriz da China.
O tempo passou e a jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem,
cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que, se a beleza da flor
surgisse na mesma proporção do seu amor, ela não precisaria de se preocupar com o
resultado. Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentava, usando todos os
métodos que conhecia, mas nada nascia. Com o passar do tempo, ela percebia que o seu
sonho estava cada vez mais longe, mas, também, que era cada vez mais profundo o seu
amor.
Os seis meses passaram, e nada brotou. Consciente do seu esforço e dedicação, a jovem
comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, iria ao palácio, na data e
hora combinadas, pois não pretendia mais nada do que mais alguns momentos na
companhia do príncipe. E, na hora marcada, ela foi com o seu vaso vazio.
As outras pretendentes levavam, cada qual, uma flor mais bela do que a outra, das mais
variadas formas e cores. A jovem ficou extasiada, pois nunca tinha presenciado tanta
beleza. Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das
pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele
anuncia o resultado e indica a jovem como a sua futura esposa.
Os presentes tiveram as mais inesperadas reacções. Ninguém compreendeu porque
escolheu ele justamente aquela que nada havia cultivado. O príncipe esclareceu:
– Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A
flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.
Honestidade é…
… uma qualidade humana que consiste em agir e falar com sinceridade e coerência, de
acordo com os valores da verdade e da justiça. Honestidade significa que não há
contradição entre os pensamentos, as palavras e as acções. Somos honestos quando não
estamos a iludir-nos nem a iludir os outros. A pessoa honesta vive aquilo que diz e diz
aquilo que pensa e vive. A prática da honestidade conduz a uma vida de integridade,
porque o nosso interior e exterior são o reflexo um do outro. Esta integridade garante
segurança a nós e às pessoas com as quais contactamos. Ao contrário, a discrepância
entre o exterior e o interior cria barreiras e dificuldades de relacionamento.
Ser honesto…
… é a base do relacionamento interpessoal. Todos precisamos de modelos – pais,
amigos, professores, Igreja, organizações… – a partir dos quais formamos a nossa
personalidade. Se admiramos a sua honestidade, vamos espelhá-la na nossa vida.
Ao vivermos a honestidade, porém, a nossa vida pode, por vezes, tornar-se complicada
e exigente, pois a honestidade não compactua com a facilidade e a superficialidade. Mas
é este conflito que faz avançar as gerações na conquista do verdadeiro bem, da
felicidade autêntica… pois ninguém quer relacionar-se com hipócritas e fingidos, nem
ser encarado como mentiroso, corrompido, indigno de confiança. E pode exigir que,
para sermos fiéis a cada princípio, dever, acordo ou compromisso, tenhamos de perder
dinheiro, amigos ou a própria vida. Então, deixaremos uma marca na História e Deus
também nos recompensará.
Deus é honesto
Deus é verdadeiro. Ele não mente nem engana ninguém. A sua relação connosco
alicerça-se na confiança e na honestidade. O livro bíblico dos Provérbios diz-nos que
«os lábios mentirosos causam repulsa ao Senhor, mas os que praticam a verdade são o
seu encanto» (Prov 12, 22), e ainda: «O Senhor detesta todo o tipo de mentira e
desonestidade» (Prov 20, 23). Deus pede-nos para não furtar, não mentir nem levantar
falsos testemunhos – recorda os dez mandamentos –, pois sabe que essas coisas lesam a
nossa vida. Comecemos, hoje mesmo, a ser honestos connosco, com os outros e com
Deus e a criar ambiente de honestidade ao nosso redor.
Dezembro de 2008
Humildade
A história do bambu
Conta uma lenda chinesa que havia num lindo jardim um bambu, o qual era a planta
mais bonita. Mas, apesar disso, sentia que não era feliz... faltava-lhe alguma coisa.
Um dia, o Senhor, muito preocupado, aproximou-se da sua árvore querida e o bambu
com grande veneração baixou a cabeça. O Senhor disse-lhe:
– Meu querido bambu, vou precisar de ti!
O bambu sentiu que tinha chegado o seu momento, o dia para o qual tinha nascido. Com
grande alegria, mas baixinho, respondeu:
– Estou pronto, Senhor, faz de mim o que quiseres.
– Bambu, para servir-me de ti, é necessário abater-te – disse o Senhor em voz séria.
O bambu ficou assustado e respondeu:
– Abater-me, Senhor, depois de me teres tornado na árvore mais bonita do teu jardim?
Não, por favor, não faças isso! Usa-me para tua alegria, mas, por favor, não me abatas.
– Meu querido bambu, sem abater-te não te poderei usar.
Fez-se um grande silêncio. Então o bambu baixou ainda mais a cabeça e suspirou:
– Senhor, se não me podes usar sem me abater, então faz de mim o que quiseres.
– Meu querido bambu, não devo somente abater-te, mas devo também cortar as tuas
folhas e os ramos – disse-lhe o Senhor.
– O Senhor, não faças isso comigo... deixa-me ao menos as folhas e os ramos.
– Se não queres que os corte, não poderei usar-te.
Então o bambu, já com uma voz muito fraca, disse:
– Senhor, então corta-me as folhas e os ramos, se assim achares necessário.
– Meu querido, tenho ainda que fazer uma outra coisa. Devo rachar-te em duas partes e
arrancar-te o coração. Se não o fizer, não te poderei usar.
O bambu ficou sem palavras e baixou a sua linda cabeleira até ao chão.
O Senhor do jardim abateu o bambu, cortou os ramos, tirou as folhas, rachou-o em duas
partes e arrancou-lhe o coração. Em seguida, levou-o à fonte de água fresca, próxima
dos campos secos. Ali, muito cuidadosamente, o Senhor colocou o bambu no chão. Uma
extremidade do tronco foi ligada à fonte de água, outra foi virada para o campo seco. Da
fonte jorrava água, a água passava através do bambu oco e chegava alegre ao campo
seco que há muito suspirava por aquela água fresca. Em seguida foi plantado o arroz. Os
dias passaram, a semente cresceu e o tempo da colheita chegou. Assim, o maravilhoso
bambu tornou-se uma grande bênção para aqueles campos secos devido à sua grande
generosidade e humildade.
A humildade de Deus
Esta história do bambu pode ajudar-nos a entender o valor da humildade. Com a sua
postura humilde, a cana possibilitou que a sua vida fosse geradora de vida.
Ao ler e meditar nesta história, vem-me à memória o nascimento de Jesus. É a história
de Deus que se faz homem. Também Jesus, com o seu nascimento (incarnação), se
despojou da sua natureza divina e assumiu a nossa condição humana, não para se
vangloriar ou orgulhar, mas, para que tenhamos vida e vida em abundância. Jesus foi o
retrato da humildade e da simplicidade. Na vida de Jesus, desde o nascimento até à
morte, tudo está repleto de humildade. Sendo Ele de condição divina, não reivindicou o
direito de ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, tomando a forma de servo.
Tornando-Se semelhante aos homens humilhou-Se a Si próprio, fazendo-se obediente
até à morte, e morte de cruz! (Cf. Fil 2,6-8). Jesus também foi um canal de vida que nos
atingiu e nos reconciliou com Deus, oferecendo-nos a possibilidade de (re)encontrarmos
o caminho para a felicidade, para a salvação, para Deus.
O valor da humildade
O termo “humildade” vem da palavra latina humus, que quer dizer terra fértil, rica em
nutrientes e preparada para receber as sementes. Assim, uma pessoa humilde está
sempre disposta a aprender e a deixar brotar no solo fértil da sua pessoa as boas
sementes. A verdadeira humildade está sempre acompanhada de outros valores como a
caridade, a misericórdia, o amor, a verdade e a compaixão.
Graças à humildade, não nos pensamos nem julgamos superiores aos outros, mas temos
a noção exacta da nossa fraqueza, modéstia, respeito, pobreza, reverência e submissão.
Todavia, a humildade não é desvalorização de nós mesmos, falta de carácter ou
inferiorização. Consiste em ter consciência, não só das nossas fraquezas e limitações
mas igualmente das nossas potencialidades, valor e virtudes. É reconhecer que as
qualidades que possuímos foram-nos dadas por Deus para as fazermos brotar e colocar
ao serviço dos outros, nossos irmãos. Ao confrontamo-nos com os nossos limites, não
desanimamos, mas esforçamo-nos para sermos melhores.
E, perante Deus, a pessoa humilde descobre a sua finitude e a sua pequenez. Mas esta
condição de criatura limitada e dependente faz-nos capazes de dialogar com o nosso
Criador e de aceitarmos – com completa liberdade – a nossa dependência Dele.
Janeiro de 2009
Solidariedade
Ano novo, vida nova. Repetimos esta frase todos os anos aquando da passagem do ano e
dos votos/desejos que nela fazemos. Com certeza que também fizeste os teus… e espero
que te esforces para os cumprires. Eu penso que o mundo também precisa de fazer um
voto: um incentivo à solidariedade. Da sua vivência depende a construção de um mundo
novo, um mundo mais fraterno e humano.
Optimismo
Por natureza, vocação e formação, sou optimista e assim pretendo continuar, mas
confesso que começa a tornar-se difícil. Um olhar rápido pelo mundo e para as relações
que nele existem permite concluir que começam a escassear e, muitas vezes, a
confundir-se e a deteriorarem-se os verdadeiros gestos de solidariedade.
Vivemos num mundo interdependente e globalizado, que favorece mais o domínio do
mais forte do que a prática da solidariedade. Um mundo estruturalmente injusto, em que
vinte por cento da população mundial possui e usufrui de oitenta por cento dos recursos;
no qual a competição é o motor do sucesso e o cuidado pelo outro passa para segundo
plano, quando não para último. Em primeiro lugar está a realização do eu, a satisfação
dos interesses individuais, o bem-estar pessoal.
Continuando assim, vão acentuar-se as desigualdades gritantes, as franjas de pobreza, a
marginalização dos mais fracos, a indiferença perante o outro. Há que recuperar e
afirmar o sentido e a prática da solidariedade.
Conceito de solidariedade
A palavra «solidariedade» deriva das palavras latinas «solidum» (totalidade, total,
segurança), «solidus» (sólido, maciço, inteiro) e «soliditas» (fraternidade). Assim, a
solidariedade apresenta-se como uma unidade que é sólida devido à interdependência e
segurança dos seus componentes.
A palavra «solidariedade» apresenta dois conceitos fundamentais: a interdependência (a
solidez da solidariedade resulta dos laços entre pessoas e colectividades); e a eficácia da
interdependência, em oposição à prática individualista, que não consegue tais
resultados.
O Papa João Paulo II, oriundo da Polónia, onde coabitou com o movimento sindical
chamado Solidariedade, deu a esta palavra uma grande ênfase na sua carta encíclica
sobre a solicitude social da Igreja (Sollicitudo Rei Socialis). Para ele, «a solidariedade
não é um sentimento de compaixão vaga ou de entretimento superficial pelos males
sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação
firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de
cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos».
Fevereiro de 2009
O perfume da alegria
Era uma vez uma florzinha que ao nascer cortou uma das suas pétalas num espinho.
Como a pétala partida não lhe doía, ela não se preocupou com isso e vivia feliz, muito
feliz… Contudo, certo dia, começou a perceber que as outras flores olhavam para ela
com olhos de espanto! E foi aí que notou que era diferente das outras flores. Os dias
foram passando e ela foi ficando triste, cada vez mais triste, e o jardim ia perdendo a
beleza que tinha antes. Ela não estava triste por causa da pétala partida, mas pela forma
como as outras flores olhavam para ela. E foi justamente por isso que a pequena flor
começou a chorar. Chorou tanto, mas tanto… que a terra molhada, já alagada, ao
perceber que não aguentava nem mais uma lágrima, começou a ficar preocupada e
perguntou: «Porque brota tanta água desses pequeninos olhos?» Mas a florzinha
continuava a chorar…
A terra decidiu pedir socorro à sua amiga árvore, contando-lhe o quanto a florzinha
chorava. E a árvore contou aos pássaros, seus companheiros. E os pássaros voaram,
voaram… e contaram às nuvens sonhadoras. E as nuvens cochicharam aos ouvidos dos
anjos que brincavam no céu. E os anjos, os melhores amigos das nuvens, juntaram-se e
contaram a Deus. E Deus chorou como a florzinha chorava… Não de tristeza pela pétala
partida da florzinha, mas pela indelicadeza e a falta de compaixão das outras flores. E a
partir desse instante, o choro da florzinha transformou-se em chuva, a chuva tornou-se
um rio e o rio um imenso mar.
Num pequeno intervalo de choro, a florzinha abriu os olhos e ficou admirada com todo
o rebuliço à sua volta. Não sabia que era tão querida pela Natureza e por Deus. Naquele
momento, a sua tristeza começou a transformar-se em algo estranho, uma espécie de
tremor que ia e vinha e que, assim que chegou ao coração, o fez bater mais forte. A flor
sentiu a boca repuxar-se levemente para cima como que delineando um riso leve. E ao
sorrir pela primeira vez, um delicioso perfume apoderou-se do seu corpo e alastrou-se
pelas entranhas da Natureza, que nunca mais conseguiu viver sem ele. E esse perfume
chamou muitos, muitos animais… Vieram as abelhas, os beija-flores, as borboletas, as
crianças… e, um a um, começaram a cheirar a florzinha que sabia sorrir e que tinha um
delicioso perfume que parecia sair exactamente da pétala partida.
Essa é a história da florzinha que aprendeu a sorrir e que recebeu de presente o delicioso
perfume que iria permanecer com ela e com todas as outras que viessem depois dela,
desde que soubessem sorrir…
Alegria, precisa-se
Muitos de vós poderão perguntar se haverá motivos para a alegria no mundo em que
vivemos ou, até mesmo, se será possível a alegria? Sobretudo quando verificamos o
aumento da pobreza, o crescimento da insegurança no futuro, a multiplicação das
agressões violentas contra as pessoas e a Natureza e a existência de tantos sofrimentos e
de tantas lágrimas. Talvez seja por estas razões que vemos, constantemente, rostos
tristes quando passeamos pela rua. Talvez muitos de nós já se tenham rendido à tristeza
e fazem dela a sua companheira incómoda, mas constante.
Precisamos de recuperar o segredo e o sentido da alegria, aquela força que nos faz olhar
para o presente e para o futuro com serenidade e confiança. Recuperar o perfume
contagiante do sorriso que afecta e modifica o nosso ambiente e o ambiente daqueles
que nos rodeiam.
O apóstolo São Paulo diz-nos que o desejo de Deus é «Vivei sempre alegres, orai sem
cessar, dai graças em todas as circunstâncias». O cristão não pode viver como se o Deus
da alegria não tivesse vindo para o meio de nós. Ainda há pouco tempo, na liturgia do
Natal, ouvíamos a notícia mais sensacional da história da humanidade: «Anuncio-vos
uma grande alegria, que o será para todo o povo: nasceu-vos um Salvador.» Vivemos na
alegria, porque sabemos donde vimos e para onde caminhamos. Estamos certos de que
no fim da nossa caminhada encontraremos os braços amorosos do Pai que nos acolhe e
nos introduz na felicidade plena. Não nos faltarão dificuldades, incompreensões e
perseguições. Poderemos até parecer derrotados. Mas, nos nossos olhos, deve brilhar
sempre a certeza de que Deus caminha connosco, nunca nos esquece e é fonte da nossa
alegria e serenidade.
A alegria e o coração
No coração de todos nós, no que podemos chamar o nosso «jardim secreto», está a
alegria. Ela é a planta de raízes mais resistentes, que aí é cultivada e colhida. Ela resiste
a todas as intempéries da vida, mesmo quando assolada por tristezas e fracassos. A
alegria está inscrita nos nossos genes cristãos, é a característica que recebemos de Deus,
nosso Pai. A nossa tarefa é, então, a de dar alegria, confiança e esperança ao mundo. Um
coração cristão tem necessariamente de ser um coração alegre. Se eu irradiar alegria, já
anuncio e testemunho o Evangelho. Assim, ao semearmos a alegria no coração do nosso
irmão, rapidamente a veremos florir no nosso. Para Deus conta o que fizermos pelos
outros com alegria para os tornarmos felizes já nesta terra. O nosso querido e saudoso
Papa João Paulo II dizia: «Quando a alegria de um coração cristão se derrama nos
outros homens, ali gera esperança, optimismo, impulsos de generosidade na fadiga
quotidiana, contagiando toda a sociedade.»
Março de 2009
Entusiasmo
Definição
A palavra entusiasmo vem do grego, a partir da junção de três palavras: «en», «theos» e
«asm». «Theos» é Deus, «en» é um prefixo que significa dentro e «asm» designa em
acção. Portanto, literalmente, entusiasmo significa Deus dentro de nós em acção.
Assim, o significado para «entusiasmo» era o de exaltação ou arrebatamento
extraordinário daqueles que estavam sob inspiração divina. Para os Gregos (que eram
politeístas), a pessoa entusiasmada era aquela que estava possuída por um dos deuses, e,
por causa disso, poderia transformar a natureza e fazer coisas extraordinárias. Quando é
Deus que inspira as nossas acções, só podemos esperar coisas boas e positivas.
A força do entusiasmo
Vivemos num tempo em que existe um crescente défice de entusiasmo. Mas acontece
que não podemos viver sem ele, sem essa força vital que nos faz levantar cada manhã,
que nos faz sonhar, que nos faz lutar, que nos dá forças para vivermos certos valores,
mesmo em contradição com a realidade, e que dá brilho à nossa vida. No dia em que
perdermos o entusiasmo, começamos a morrer lentamente, a desvitalizarmo-nos.
O entusiasmo é o sinal da presença de Deus dentro de nós, da chama interior que nunca
se apaga. A sociedade tenta apagar essa chama com as cinzas do consumismo, da moda
(e tantos outros pseudodeuses), entretendo as pessoas, para que elas não se encontrem
com elas mesmas. Contudo, a chama continua lá e acesa. De dentro de nós vêm os
sonhos, os bons pensamentos, a generosidade, a compaixão e a compreensão. É Deus
que fala em nós. Se escutarmos a Sua voz, ouviremos o Seu apelo a vivermos com
intensidade e compromisso a Sua vontade.
O vulcão do entusiasmo
Deixo-te uma história, adaptada de António Ramalho:
«Caminhavam, calmamente, um mestre e o seu discípulo, quando por eles passavam
várias pessoas naturalmente entusiasmadas.
– Vamos ao vulcão – diziam elas. E continuavam a caminhar em passo acelerado.
Lá ao longe, avistava-se um vulcão: o vulcão do entusiasmo. Lavas e lavas de
entusiasmo! Lavas de algo que motivava as pessoas, que as entusiasmava ao ponto de
criar uma energia revigorante.
As pessoas sentiam-se vivas quando absorviam as lavas do entusiasmo; sentiam crescer
dentro delas uma energia que as ajudava a vencer todos os obstáculos. O entusiasmo é o
alimento para a persistência. A persistência é um passo essencial para a caminhada, mas
o entusiasmo é a energia necessária para encher esse depósito da persistência na
mochila. E para a caminhada, a mochila que transportamos tem de estar cheia de força
de vontade e persistência. Quem transporta pouca força de vontade e pouca persistência
terá imensas dificuldades para vencer os obstáculos com os quais deparamos ao longo
da caminhada.
– Que lava tão excitante, Mestre! Apetece-me encher totalmente a mochila, pois é uma
energia necessária para a sobrevivência neste mundo competitivo! Mas não é fácil vir ao
vulcão do entusiasmo, pois não, Mestre?
– É necessário desejar. O desejo é o meio de transporte do entusiasmo. Só desejando se
consegue ultrapassar o mar das dificuldades. Muitas pessoas gostariam de vir ao vulcão
do entusiasmo, mas não encontram o barco do desejo.
– Só nele se navega neste mar de dificuldades. Todos os outros barcos naufragam.
– E voltaremos a encontrar o vulcão do entusiasmo?
– Claro que sim. Ao longo do nosso caminho encontraremos frequentemente este
vulcão, para recarregar a mochila de energia. Em todos os projectos, o mais importante
é termos entusiasmo. É a energia para continuarmos a caminhar.
Abril de 2009
Compaixão é sofrer com
Em Abril celebramos a Páscoa, que foi precedida por um período de preparação, a
Quaresma. A semana que antecede a Páscoa – a Semana Santa – é caracterizada pela
reflexão e pela celebração do sofrimento resgatador de Cristo. A presença do sofrimento
na vida de Jesus despontou Nele a capacidade de se compadecer pelos seus
contemporâneos a ponto de dar a sua vida para que todos tenham vida, e vida em
abundância. De igual modo, a presença do sofrimento na nossa vida e na vida dos
nossos irmãos deve despontar em nós o valor da compaixão.
O termo «compaixão» deriva de duas palavras latinas: «cum» e «patire». «Cum»
significa «com» e «patire» designa «sofrer», daí que, pela etimologia da palavra,
poderemos dizer que a compaixão é a capacidade que uma pessoa tem de sofrer com
outra. Ter compaixão significa compartilhar o sofrimento dos outros, é não ser
indiferente ao sofrimento deles.
A compaixão não deve ser confundida com pena (lamento) ou empatia (conhecimento
da dor). Esses são sentimentos passivos que não nos levam ao envolvimento com o
sofrimento dos outros. A pena e a empatia que sentimos pelos outros colocam-nos numa
situação elevada em relação aos outros… olhamo-los de cima para baixo, e isso
diferencia-nos e separa-nos deles, e não nos envolve no alívio do seu sofrimento.
A compaixão, pelo contrário, significa o desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de
outra pessoa, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem. A
compaixão caracteriza-se, assim, pela acção através da qual a pessoa compassiva
procura ajudar aqueles pelos quais se compadece.
Para ser autêntica, a compaixão deve basear-se no respeito pelos outros e na
compreensão de que os outros, tal como nós, têm o direito de serem felizes e de
acabarem com o sofrimento. A partir daí, porque tomamos consciência do seu
sofrimento, desenvolvemos um verdadeiro sentimento de preocupação pelos outros.
Assim, a verdadeira compaixão assenta no reconhecimento de que o direito dos outros à
felicidade é idêntico ao nosso e que, por conseguinte, mesmo um inimigo é um ser
humano que, tal como nós, aspira à felicidade e, tal como nós, tem o direito de ser feliz.
Chamamos compaixão ao sentimento de envolvimento com o sofrimento dos outros
com a intenção de o eliminar. A compaixão é a linguagem do coração.
Maio de 2009
Dialogar é dialogar
Definição
Do ponto de vista etimológico, a palavra «diálogo» resulta da fusão de duas palavras
gregas: «Dia» e «Logos». «Dia» é uma preposição que significa «por meio de», e
«logos», é um vocábulo muito rico na filosofia grega e que pode ser traduzido por
«palavra», «verbo». Assim, o diálogo é uma forma de fazer circular sentidos e
significados entre as pessoas através das palavras. Dialogar significa unir e ligar as
pessoas.
É importante realçar a diferença entre diálogo e debate. Enquanto o debate tem como
finalidade que as pessoas defendam, discutam e mantenham as suas opiniões, o diálogo
está orientado para unir as pessoas através das palavras. A dinâmica do diálogo está
voltada para a aglutinação e a união entre as pessoas, ao passo que o debate está
orientado para a separação e a fragmentação. Daqui, facilmente se conclui que o diálogo
é extremamente necessário e, muitas das vezes, a única solução para tantos conflitos
pessoais, sociais, étnicos, religiosos, políticos, ideológicos, culturais… Penso que, no
mundo pós-moderno, precisamos muito mais de diálogo do que de debate, mais de
união e menos de separação.
A magia do diálogo
No diálogo, ao contrário do que acontece na discussão/debate, não existe a confrontação
através da palavra. Ninguém entra num diálogo para ganhar; participa para completar ou
acompanhar o que foi dito pelo outro. Assim, no diálogo não há confronto ou
competição mas cooperação e união. A finalidade do diálogo é observar e participar para
aprender pela compreensão, enquanto a finalidade do debate é participar e intervir para
aprender pelo confronto e explicação. Daí que o diálogo é um momento mágico, onde
crescemos e fazemos crescer, onde descobrimos e ajudamos a descobrir, onde
derrubamos muros e construímos pontes, onde ninguém perde mas ambos ganham. Por
isso mesmo o diálogo é como que um remédio santo para problemas pessoais, familiares
e sociais. Precisamos, urgentemente, destes momentos mágicos que não só permitem a
(com)vivência, mas serão a base para a construção da verdadeira paz e harmonia.
Dialogar é ter a capacidade de amar, simpatizar e sintonizar com o outro; é ter a
capacidade de respeitar e confiar no outro, sendo autêntico e capaz de ouvir antes de
falar; é ser capaz de dar-se a conhecer e conhecer dizendo a verdade na caridade; é ter a
capacidade de se «pôr» na pele do outro, não impondo, mas propondo o nosso ponto de
vista. Daí que para o diálogo acontecer são necessárias algumas qualidades, como
humildade, paciência, serenidade, sinceridade, lealdade e respeito. Por outro lado, a
falta de confiança e de tempo, a ignorância e as atitudes preconceituosas e prepotentes
apresentam-se como os maiores obstáculos à prática do diálogo.
Diálogo, precisa-se
Com o desenvolvimento acelerado da técnica e da tecnologia, apareceram novas
tecnologias de comunicação (telemóveis, Internet, etc.), todavia, contrariamente ao que
era esperado, elas não favoreceram o aumento do diálogo. Pelo contrário, verificou-se o
aparecimento de diálogos artificiais e de monólogos autoritários. Aumentaram os
blogues e os chats, mas perdeu-se a presença do outro, a identidade e o
comprometimento com a palavra dita. Os diálogos tornaram-se estéreis e ruidosos, para
não dizer esquizofrénicos. Devido a isso, não é de admirar que a sociedade pós-moderna
– uma sociedade bastante sectária e fragmentada muitas das vezes à deriva num mar de
relativismos e desesperadamente à procura de um lugar seguro onde se possa ancorar ou
atracar – acentue o extremar de atitudes, de valores e de ideologias.
A sociedade pós-moderna, marcada por contactos interpessoais, interculturais e inter-
religiosos, clama, mais do que nunca, pelo diálogo como uma exigência da
com(vivência) e da (sobre)vivência de diferentes projectos de vida.
Mas o diálogo é também uma exigência interior e um processo educativo pessoal com
vista à compreensão e ao respeito. Somente com o diálogo, autêntico e verdadeiro, os
indivíduos se conseguem compreender e respeitar e, consequentemente, conhecer e
respeitar.
O silêncio e o diálogo
Pode parecer um pouco contraditório, mas, na verdade, só quem consegue fazer silêncio
e escutar é que consegue realmente dialogar com o(s) outro(s). Quanto mais nos
calamos, mais Deus fala dentro de nós e assim, o diálogo com Ele é possível e frutífero.
Quanto mais soubermos escutar e ouvir os outros, mais os conseguiremos compreender,
aceitar e estabelecer relações de verdadeira irmandade e fraternidade. Por isso, caro(a)
amigo(a), não tenhas medo de fazer silêncio para depois poderes usar a poderosa arma
do diálogo na construção de um mundo mais compreensível e compreendedor.
Junho de 2009
Responsabilidade
Vivemos num tempo onde são muitos os que tentam fugir, como podem, às
responsabilidades. Basta um rápido mas atento olhar para o mundo para nos
apercebermos da quantidade de irresponsabilidades cometidas e assumidas por muitos
de nós. Por vezes até parece existir um certo culto da irresponsabilidade, do deixa andar,
do quero lá saber… Pois é precisamente sobre o valor da responsabilidade e da
necessidade e urgência que temos dele que te quero falar hoje.
Responsabilidade e acção
Num período de profundas mutações, em que a única nota comum parece ser a crise que
envolve a economia mundial, a ecologia mundial e a política mundial, é necessário unir
esforços no sentido de encontrarmos comportamentos responsáveis. Seria desejável que,
a partir de agora, não vivêssemos mais ao lado uns dos outros, em comunidades
distintas e impenetráveis, mas lado a lado, em comunidades que se entreajudam. Face
aos inúmeros problemas e às crescentes desigualdades, não podemos fugir, com frases
egoístas e irresponsáveis, dizendo «que não queremos saber», ou «que tanto nos faz»,
ou «que tanto se me dá como se me deu», que «ninguém tem nada a ver».... Pelo
contrário, devemos assumir a nossa condição de seres-em-relação que são eternamente
responsáveis e comprometidos com o bem-estar. É necessário e urgente colocarmo-nos
no meio dos homens e comprometermo-nos com a sua vida, condição e destino, sendo
assim co-responsáveis pelos nossos irmãos, companheiros de viagem e co-herdeiros da
felicidade e alegria que nos é prometida por Deus.
Por fim, a abertura de uma pessoa às outras e a sua consequente responsabilidade por
eles não se esgota nas relações interpessoais. A minha relação com o outro é uma forma
de relação no mundo e só nele é possível. Por essa razão, da responsabilidade pelo outro
faz parte integrante a responsabilidade pela Natureza e pelo meio ambiente. Quando a
pessoa trabalha para a comunidade, toma-se mais pessoa; quando a comunidade
contribui para o progresso das pessoas torna-se mais comunidade. A solidariedade de
todos os homens e a responsabilidade de cada um condicionam-se reciprocamente.
Julho de 2009
O valor da vida
Na segunda metade do mês de Maio, realizou-se na minha diocese, Viseu, uma série de
iniciativas que tinham como objectivo sensibilizar as pessoas para a necessidade de
preservar e dignificar a vida nas suas mais diversas manifestações: traços, tons e sons…
Relembro as palavras do D. Ilídio a abrir uma exposição intitulada «Arte e Vida... Vida
e Arte»: «Porque há objectivos, há valores, há ideias… Assim, há caminho a percorrer e
há metas a atingir… E é e será sempre a Vida.»
Numa época de manifesta crise como a que se vive actualmente, as dificuldades e as
fragilidades não se têm verificado apenas nas estruturas económicas e sociais, atingem,
também, alguns dos valores fundamentais, nomeadamente os da Vida e da Família,
constantemente questionados e, aparentemente, em processos de (des)estruturação.
Perante essa crise evidente, é necessária uma renovada coragem para demonstrar que há
alternativas, novos modelos sustentados na valorização da Vida, em harmonia com os
problemas socioeconómicos e com a evolução de conceitos e atitudes.
A crise da vida
Olhar para a Vida atribuindo-lhe apenas uma dimensão materialista, economicista ou
utilitarista é pôr em causa a existência a felicidade dos seres humanos. Ao olharmos
para trás, para a história da humanidade, temos de agradecer a Deus os imensos
progressos das ciências e da sociedade em favor da vida, sobretudo a vida humana. Na
verdade, os avanços científicos são uma realidade, mas não é menos verdade que a
humanidade ainda não alcançou o mesmo progresso no campo da ética e do respeito
pela vida de cada pessoa e, em certos casos, fala-se até de um retrocesso no que diz
respeito à dignidade de cada indivíduo.
O tesouro da vida
Sabemos que um dos maiores tesouros da humanidade é o dom da vida, verdadeira
dádiva que nos concede o Criador. Por ser gratuito, nem sempre lhe atribuímos o devido
valor, menosprezando a sua guarda e depreciando a sua preservação.
A saúde física é muito importante. A saúde moral é imprescindível. E a saúde psíquica é
essencial. É importante lembrar que sempre haverá uma forma de superar as
dificuldades, transpor os obstáculos ou atingir os objectivos. Encontrar essa forma é o
desafio de cada um de nós. Por mais árdua que seja a vida, ela merece sempre ser
vivida. Que alegria sabermos valorizar a vida e apreciar o que de melhor ela tem para
nos oferecer.
Ganhar a vida
Nunca nos devemos esquecer que o que a vida tem de mais nobre e de melhor para nos
oferecer é a capacidade de gerar vida. Quem quiser ganhar a vida apenas para si…
perde-a; mas quem quiser perder a vida em favor de outros… acaba por a ganhar e
multiplicar por mil. Não é perder no sentido físico, é porém viver alguns valores que
promovem a vida dos que connosco vivem. Por exemplo: defender um amigo quando
está a ser gozado; ajudar quem está a passar dificuldades; não querer sempre tudo para
si; partilhar e não destruir material dos colegas; recusar trabalhar com alguém só porque
não se gosta; não promover a maldade e a vingança; não recusar ajudar um colega; e
outras tantas situações…
A cultura da vida
A cultura da vida, quer no seu princípio, quer no fim, pressupõe a sua dignificação, a
sua defesa e o seu acompanhamento na saúde e na doença, na plena pujança das suas
faculdades ou na decadência que os anos e as enfermidades trazem, fatalmente, consigo.
Os cristãos devem afirmar-se, perante a vida, como o Povo da Vida e a favor de toda e
qualquer vida, independentemente da idade, do tamanho, da diferença ou deficiência, da
doença ou fragilidade que a vida possua. Todos devemos promover uma cultura de
acolhimento amoroso da vida que urge apoiar com todas as forças e meios. Pormo-nos
ao serviço dos outros é um excelente projecto de conquista da felicidade. É uma riqueza
que se ganha. Todos somos importantes e a nossa vida ganha sentido se elaborarmos o
nosso projecto de vida com este objectivo, sendo essa a grande verdade da história que
aqui te deixo.
Outubro 2009
Chamados a sermos luz
No dia 18 de Outubro, celebramos o Dia Mundial das Missões. O Papa Bento XVI, na
mensagem que escreveu para este dia, desafia-nos a sermos a luz do mundo e assim
iluminarmos, com a nossa fé, as nações de modo que elas possam caminhar à Luz de
Cristo. O que significa ser Luz? Que tipo de luz somos chamados a ser e como podemos
ser luz para os outros?
São poucos os seres que conseguem viver sem luz. Realmente precisamos de luz para
viver.
Para os seres humanos, a luz é crucial e não nos sentimos muito bem na escuridão. São
muitas as histórias de medo, de insegurança e de confusão que recordamos da nossa
experiência com a escuridão. Quando entramos num compartimento escuro, geralmente
temos medo e andamos devagarinho, às apalpadelas, com medo de chocar contra
alguma coisa e assim nos magoarmos.
A escuridão paralisa-nos e impede-nos de nos movimentarmos à vontade e com
confiança.
Mas, a partir do momento em que acendemos a luz, o medo desaparece e conseguimos
movimentar-nos com rapidez e segurança. A luz simplifica-nos a vida e traz-nos
confiança e segurança. Perante a luz, tudo se torna visível e bem identificado.
UM MUNDO ÀS ESCURAS
O mundo de hoje é cada vez mais um mundo às escuras.
São inúmeras as pessoas, e as situações sombrias – como mentira, corrupção,
infidelidade, roubo, vícios, etc. – que necessitam da luz de Cristo para se poderem
tornar visíveis e identificadas com o bem. O medo, a insegurança, a incerteza, a dúvida,
o sofrimento, características de uma vida às escuras, são cada vez mais frequentes nas
vidas de tantos amigos e contemporâneos nossos, provocando ondas de tristeza, de
frustração e de desespero no mundo pós-moderno.
As trevas, ao longo da Bíblia, significam a ausência de Deus, a ruptura com o seu
projecto salvífico e o consequente afastamento Dele. As trevas presentes no nosso
mundo contemporâneo só poderão ser dissipadas com a presença de Deus e a
valorização da sua mensagem que tranquiliza, dignifica e pacifica a dignidade do ser
humano. A sociedade em que vivemos e de que somos parte activa e comprometida
precisa da luz do Evangelho, da proposta do amor e da esperança que Jesus nos veio
trazer.
A LUZ DO MUNDO
A luz não existe em função de si, não é luz para si mesma, não ilumina a si mesma. A
Luz existe em função do que a rodeia, existe para iluminar a tudo e a todos.
Ao reconhecermos e aceitarmos Jesus como luz do mundo, também nós nos tornamos
luz. Podemos fazer uma comparação simples. Assim como a Lua reflecte a luz do Sol
também nós devemos reflectir a luz de Cristo, o nosso sol.
O mundo precisa que sejamos o reflexo da luz que é Cristo. Jesus também disse que
«não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim em cima do
candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa» (Evangelho de Mateus 5,15).
Assim, a luz que temos dentro de nós não é para esconder timidamente mas para
oferecer aos outros para que também eles possam ser inundados por essa luz. Ser luz
significa mostrar com o nosso testemunho, as nossas palavras e as nossas acções que,
realmente, Cristo faz a diferença e de que uma vida de acordo com os seus
ensinamentos é uma vida mais feliz.
HIPERLIGAÇÃO
Em www.audacia.org carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre a missão de
iluminar.
Neste início de um novo ano escolar também tu, caro(a) amigo(a), és chamado(a) a ser a
luz do mundo, a luz da tua escola, a luz da tua turma, a luz da tua família… a dares o teu
testemunho cristão, a seres missionário(a), a iluminares com a luz de Cristo as diversas
situações que encontrares. Não tenhas medo de te empenhares activamente nessa missão
de seres luz do mundo e verás que, se a desempenhares com humildade e convicção, ela
será apreciada e desejada e tu serás mais feliz.
Novembro 2009
Esforço e sacrifício
ESFORÇO E SACRIFÍCIO
Os cristãos tem uma palavra específica e própria para o esforço, chama-se sacrifício.
Esta palavra tem sido muito maltratada e quase se tornou uma palavra não grata. Mas,
realmente, o sacrifício, na mentalidade cristã, é um esforço que se faz quer por nós quer
pelos outros com o objectivo de podermos contribuir favoravelmente para aumentar a
felicidade, tanto a nossa como a dos outros. Torna-se urgente recuperar a palavra
“sacrifício”, purificá-la de algumas interpretações erróneas e radicais e propô-la à
sociedade actual como um projecto de vida ao serviço de uma sociedade mais humana e
mais fraterna.
ARREGAÇAR AS MANGAS
Caro(a) amigo(a), perante este novo ano escolar e perante a tua vida, nas suas mais
variadas vertentes, é altura para arregaçares as mangas e começares a trabalhar de forma
empenhada e decidida.
Há que libertar-se deste império da facilidade e do facilitismo que só nos impede de
lutarmos por algo e nos atira para a esfera da apatia e da frustração.
Um primeiro passo é, precisamente, tomarmos consciência da situação em que nos
encontramos, fazendo um trabalho de conhecimento pessoal. Responde à pergunta:
quais são as minhas características, as minhas capacidades, as minhas qualidades e os
meus defeitos? Depois, analisa o modo como vês o mundo e te relacionas com a
sociedade: tens opinião própria, força própria, e comprometes-te segundo as tuas
convicções? És capaz de escutar os outros, saber se o que dizem e fazem é bom, e
colaborar com eles, ou desinteressas-te, escusando-te com um «não me interessa», «não
gosto»?
HIPERLIGAÇÃO
Em www.audacia.org carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre o valor do
esforço. Usa-os em casa, na tua catequese e/ou no teu grupo.
Dezembro 2009
O valor da coerência
Vivemos num tempo em que existe uma necessidade e sede de coerência. São muitas as
pessoas e as situações que nos alertam para o défice de coerência na sociedade
portuguesa. «Olha para aquilo que eu digo e não para aquilo que eu faço», é o perfeito
exemplo da falta de coerência do mundo contemporâneo. Vivemos, muitas vezes, ao
sabor do fingimento, do faz-de-conta e da vontade de mentir, de esconder e de
mascarar… Quantas vezes, também nós, não sentimos a tentação de sermos incoerentes:
defendemos com unhas e dentes um determinado valor, mas damos por nós a praticar o
correspondente contravalor!
AUSÊNCIA DE COERÊNCIA
LEVA À INCOERÊNCIA
Os latinos diziam: «Culpam excusare altera culpa est» (desculpar uma culpa é outra
culpa), e, por isso, a tendência de justificar uma incoerência é ela própria uma
incoerência. Esta tentação está muito presente nos nossos dias, argumentando que todos
temos direito a enganar-nos e, assim, passamos uma vida constantemente a dançar no
caos da incoerência. O problema agrava-se quando se trata das crianças. Nos mais
pequenos, em referência familiar e escolar, é muito comum este comportamento. Assim,
o pior exemplo que podemos dar às crianças é a falta de coerência, nos actos e nas
palavras. Na família, as crianças, por vezes, tentam descoordenar as decisões do pai e da
mãe para conseguir o que querem, provocando, assim, incoerência nas respostas dos
pais. Quando o pai não deixa fazer alguma coisa, estão pergunta-se à mãe, ou o
contrário. Se a consistência e a coordenação do pai e da mãe falharem, então acontece
uma contradição que gera uma falta de coerência.
HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), faço-te o apelo de, nos diversos ambientes que frequentas: a tua
família, a tua escola, a tua turma, o teu grupo de amigos…, tentares ser coerente entre as
tuas ideias, os valores que defendes e as tuas acções. Não caias na tentação de optares
por uma postura incoerente, pois, além de experimentares a infelicidade, mais ou cedo
ou mais tarde, experimentarás o desprezo e a desvalorização das pessoas que amas e
admiras. Pelo contrário, cada vez que te esforçares por ser coerente, irás sentir, mais
cedo ou mais tarde, admiração e reconhecimento por parte dos teus familiares e amigos.
Acede a www.audacia.org, carrega o PowerPoint e a ficha de trabalho sobre o valor da
coerência e trabalha-as em casa, na escola ou na catequese.
Janeiro 2010
A necessidade do perdão
Ano novo, vida nova! Realmente, acredito que necessitamos de vida nova uma vez que
o ano novo já o temos! Precisamos de uma vida nova, porque vivemos, cada vez mais,
num mundo fragmentado e fragmentador – são várias e inúmeras as experiências de
ruptura aos mais diversos níveis: pessoal, social, escolar, moral, ambiental, económico,
etc. Ao mesmo tempo, nunca como hoje experimentámos uma grande sede de unidade,
de reconciliação e de perdão. À medida que crescem, desmesuradamente, as
experiências de ruptura e de fragmentação cresce, igualmente, a necessidade de
harmonia e unidade connosco, com os outros, com o mundo e com Deus. Acredito que
esta vida nova, cada vez mais desejada, só será possível com a prática e a vivência do
valor do perdão.
A palavra perdoar deriva do latim per + donare. «Per» significa intensidade, aumento,
totalidade ou a fundo. «Donare» é o mesmo que doar. Portanto, perdoar poderia ser
traduzido não só como absolver, desculpar, mas também como «doar intensa e
totalmente» a dívida. Ora, doar significa dar sem querer ou esperar algo em troca, ou
seja, dar gratuitamente. Assim, perdoar pode também ser compreendido como «dar
totalmente» a dívida a alguém. Não em parte, não pela metade, mas «a fundo»,
totalmente. Isso significa dizer que não existe meio perdão nem perdão que guarda
mágoas. Porque se perdoo, ou seja, se dou totalmente a dívida, não me resta nada, não
me sobra nada para que possa exigir depois ou usar como justificativa para acusar a
outra parte. Quando perdoamos alguém, rasgamos totalmente a dívida que aquela
pessoa tinha connosco. Não sobra nada. Não há espaço para afirmações como «Eu já te
perdoei, mas não quero mais falar contigo!», ou «Eu já te pedi perdão, mas ainda acho
que tu estavas errado!».
O DESAFIO DO PERDÃO
Mais do que um acto momentâneo e humano, o perdão é um modo de ser só ao alcance
de Deus, tal como se deu a conhecer em Jesus Cristo: perdão total, definitivo e
incondicional, para quem o queira acolher. Nós, cristãos, somos chamados a aprender de
Deus este modo de ser e a praticá-lo, tanto quanto nos seja possível, dando testemunho
da nossa condição de filhos de Deus, reconciliados pelo dom divino do perdão,
concedido a toda a Humanidade em Jesus Cristo. É um serviço que prestamos ao
mundo, em vistas da unidade e da reconciliação de todos os seres humanos entre si e
com Deus.
O perdão não é, de modo algum, uma dádiva nossa aos outros. A dádiva é de Deus. Nós
somos, apenas, testemunhas dela. E o nosso testemunho acontece pela acção e pela
palavra: agir como gente perdoada, que perdoa e aprende cada dia a perdoar; e falar,
anunciando Aquele que nos perdoa e nos ensina a perdoar.
HISTÓRIA DE PERDÃO
O João regressou da escola enfurecido. O seu pai, que estava de saída para o quintal,
chamou-o e perguntou-lhe o que se tinha passado. O João disse-lhe que estava cheio de
raiva por causa de um comportamento menos correcto da parte de um colega que gozou
com ele em frente de toda a turma e que por isso deseja-lhe todo o mal do mundo.
– O Luís humilhou-me na frente dos meus amigos. Não aceito. Gostaria que ele ficasse
doente sem poder ir à escola.
O pai escuta tudo calado, enquanto caminha até um compartimento onde guardava um
saco cheio de carvão. Levou o saco para o fundo do quintal e o João acompanhou-o.
– Filho, faz de conta que aquela camisa branca que a tua mãe pôs a secar é o teu amigo
Luís e que cada pedaço de carvão é um mau pensamento teu, endereçado a ele. Quero
que tu atires todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois voltarei para
ver como ficou.
O João achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra.
O pai, que observava tudo, discretamente, aproximou-se e pergunta-lhe:
– Filho, como te sentes?
– Estou cansado mas alegre, porque, apesar de a camisa estar longe, consegui acertar-
lhe com vários pedaços de carvão.
– Filho, vem comigo ao meu quarto, quero mostrar-te uma coisa.
E o pai colocou o filho em frente de um grande espelho. Que susto! Só conseguia ver os
dentes e os olhos.
– Filho, viste que a camisa quase não se sujou; mas, olha para ti! Desejamos o mal aos
outros, mas a porcaria, a sujidade e os resíduos ficam sempre em nós mesmos. Devemos
perdoar sempre e não nos sujar.
HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), espero que também tu assumas o compromisso do perdão
contribuindo, assim, para a reconciliação e tão desejada e necessária quer a nível
pessoal e social e para seres um sinal vivo da unidade e da paz que advêm do perdão.
Acede a www.audacia.org e carrega a ficha de trabalho e a produção multimédia sobre o
perdão.
Fevereiro 2010
A superioridade do serviço
A ALEGRIA DE SERVIR
A vida de serviço não é fácil, pois exige muito mais que entrega e dedicação, exige,
acima de tudo, renúncia constante. Cristo afirma que para sermos seus seguidores temos
de abandonar o nosso próprio «eu», deixar de lado os nossos gostos ou desejos pessoais
e procurar viver em função das necessidades daqueles que nos rodeiam. Viver
valorizando e praticando o serviço, de forma livre, desinteressado, responsável e
dignificante produz uma alegria enorme e muito contribui para a edificação de uma
sociedade mais justa e mais fraterna.
Pessoas como Madre Teresa de Calcutá tornaram-se famosas por serem exemplos vívos
de que a verdadeira importância de um indivíduo está na entrega que faz de si mesmo ao
serviço desinteressado em favor dos outros. Tal procedimento produz uma grande
alegria que enche o nosso coração e contagia aqueles que connosco contactam.
A diaconia é o estilo de vida do cristão. Sendo servidos pelo Senhor, servimos às
pessoas, realizando aquelas obras que Deus preparou para nós e que são a nossa
responsabilidade pessoal.
Março 2010
Vida Eterna
SÓ JESUS DÁ A RESPOSTA…
O jovem rico ao fazer a pergunta a Jesus reconhece que Ele é o único capaz de lhe dar a
resposta, porque é o único que pode garantir a vida eterna. Por isso também é o único
que consegue mostrar o sentido da vida presente e dar-lhe um conteúdo de plenitude.
Tenhamos nós, igualmente, a certeza que só Jesus pode, realmente, dar as respostas às
nossas inquietações.
Antes, porém, de responder, Jesus questiona o jovem: «Porque me chamas “bom
mestre”? Nesta pergunta de Jesus encontra-se a chave da resposta. Aquele jovem
percebeu que Jesus é bom e que é mestre, um mestre que não engana.
OS MANDAMENTOS…
Jesus, como bom mestre, não faz outra coisa que «relembrar» os mandamentos de Deus
ao jovem rico, e exorta-o a cumpri-los. Eles conduzem-nos à vida, o mesmo é dizer,
garantem a autenticidade, a felicidade e a salvação. Eles são o GPS que nos aponta o
caminho certo: quem observa os mandamentos está no caminho de Deus. É preciso
conhecê-los e praticá-los.
A PROPOSTA DE JESUS…
Um jovem mal preparado e com uma fraca vivência cristã será presa fácil a todos os
assaltos do materialismo, do hedonismo e do laicismo patentes na sociedade actual.
Jesus, porém, continua a olhar com amor para os jovens, e também hoje lhes faz uma
proposta especial de amor e de entrega. Jesus não admite a mediocridade, ele quer que
sejamos generosos.
A proposta de Jesus é desconcertante, exigente, corajosa e ousada: «Só te falta uma
coisa.» E isso é: vender tudo, dar aos pobres e, depois, livre e sem mais receio, seguir
Jesus autêntico mestre.
O medo, o amor às seguranças terrenas… fazem recuar muitas vezes os que o Senhor
chama. Devemos confiar e entregar-nos.
HIPERLIGAÇÃO
Acede a www.audacia.org. Vê o material multimédia que preparámos para ti. Com ele,
reflecte em casa, em grupo…
Já descobriste que Jesus é bom mestre?
Já descobrimos que Jesus, e os seus mandamentos, são o único e verdadeiro caminho
para a nossa felicidade?
Os anos que estamos a viver são os que nos preparam o futuro. O «amanhã» depende de
como estamos a viver o «hoje». Temos pela frente uma vida, mas é uma só, é única, não
a podemos deixar passar em vão, desperdiçando-a. Aceitemos o desafio de viver com
entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com sentido de responsabilidade para com o
futuro.
Abril 2010
O testemunho
No quarto domingo da Páscoa, dia 25 de Abril, celebra-se o 47.º Dia Mundial de Oração
pelas Vocações. O Papa Bento XVI escreveu uma mensagem para esse dia em que
realça o valor do testemunho no surgimento de vocações. Assim, partindo da mensagem
do papa e da experiência pessoal, gostaria de reflectir contigo sobre o valor e a riqueza
do testemunho cristão e sobre a urgência e necessidade crescente que temos dele.
TESTEMUNHAR É…
De acordo com o Evangelho, testemunhar não é apenas contar o que Deus fez, mas
também mostrar, através do exemplo pessoal, que realmente somos imitadores de
Cristo. O testemunho cristão refere-se, assim, ao comportamento e às atitudes dos filhos
de Deus com que o cristão demonstra, no seu dia-a-dia, que é um discípulo de Jesus. É
um dever de todo o cristão ter uma vida íntegra, independente das modas e dos modelos
e padrões da sociedade moderna.
SER TESTEMUNHAS É…
Os mártires (do grego martys, significa testemunhas) são o exemplo vivo da prática do
testemunho como modo de vida e da sua resistência aos modelos opressores e
escravizantes de então. Eles não se pouparam a esforços (inclusive o da própria vida)
para demonstrarem a sua fé em Jesus Cristo e a necessidade e o dever de viverem de
acordo com essa fé. Assim sendo, o testemunho cristão diz respeito às provas visíveis,
cabais e plenas, servindo como sinais perante a sociedade na qual estamos inseridos de
que, de facto, acreditamos em Jesus Cristo e que vivemos de acordo com a Sua
mensagem. O que dizemos e o que fazemos estão em sintonia e mostram, por um lado, a
integridade e a autenticidade da mensagem cristã e, por outro, a nossa felicidade e
alegria em sermos seguidores de Cristo.
FECUNDIDADE DO TESTEMUNHO
O Papa Bento XVI na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações diz
que «a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da acção gratuita de
Deus, mas é favorecida também pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e
comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor…, pois o
testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com
generosidade ao apelo de Cristo».
Como podemos ver, a vivência autêntica, humilde e serena do testemunho cristão
interroga e questiona aqueles que connosco contactam e, inevitavelmente, produz neles
o desejo de imitarem o nosso estilo de vida. Assim, os cristãos devem evangelizar
através do seu testemunho pessoal, que passa a ser um testemunho vivo do poder de
Deus nas nossas vidas. Se vivermos um bom testemunho diário, estaremos a anunciar,
com uma enorme eficácia, o poder do Evangelho em transformar as nossas vidas e o
mundo que nos rodeis. Como dizia Tertuliano (155-222), um advogado convertido ao
Cristianismo nos primórdios da Igreja e mais tarde ele próprio catequista, «o sangue dos
mártires é semente de cristãos».
A EXIGÊNCIA DO TESTEMUNHO
A vivência de um testemunho cristão autêntico e coerente não é tarefa fácil nos tempos
de hoje como também não o era no tempo dos primeiros cristãos. O testemunho cristão,
como nos adverte o papa na mensagem, é sobretudo exigente, pois apresenta-se, muitas
das vezes, revestido de “sinais de contradição para o mundo cuja lógica frequente é
inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo”. Já não se trata de dar a
vida, como no tempo dos primeiros cristãos, mas de darmos um testemunho cristão fiel,
credível e forte ao mundo muitas das vezes à deriva e sem lugares seguros onde ancorar.
Isso requererá de nós a capacidade de sermos audazes e de não termos medo de, nos
lugares que frequentamos (grupo de amigos e colegas, escola, família, associações…),
darmos um testemunho das razões da nossa fé. Não o fazemos para nos autogloriarmos
mas para prestarmos um serviço à sociedade de hoje, que, como no passado, precisa da
presença de pessoas comprometidas e empenhadas em serem “sal da terra e luz do
mundo”. O meu silêncio ou a minha indiferença pode ser obstáculo à acção salvífica de
Deus.
A NECESSIDADE DO TESTEMUNHO
Uma das maiores urgências na Igreja e na sociedade em geral é a necessidade de
modelos de referência e de identificação. Pessoas que testemunhem valores cristãos, não
tanto pelo que afirmam ou ensinam, mas mais pelo que são e fazem: pela conduta
concreta que manifestam nas relações com os demais e pela maneira como que
posicionam frente a dilemas e crises civilizacionais.
Estou convencido de que a sociedade pós-moderna de hoje, marcada e acorrentada a um
sério e perigoso relativismo, necessita de pessoas capazes de, na sua simplicidade e
humildade, apresentarem alternativas assentes em modos de vida coerentes e eficazes.
Pessoas capazes de tomarem opções existenciais e vivenciais influenciadas por Cristo e
detentoras de uma visão do mundo com traços cristãos. Só esses serão capazes de
contagiar e «encorajar, por sua vez, os jovens a tomarem decisões empenhadas que
envolvem o próprio futuro», como nos diz o papa.
HIPERLIGAÇÃO
Espero que o próximo Dia Mundial de Oração pelas Vocações que iremos celebrar no
dia 25 de Abril seja uma oportunidade para valorizarmos e olharmos para o testemunho
que muitos cristãos dão, muitas das vezes em situações adversas, e rezarmos para que “o
pequenino gérmen de vocação” que está presente em cada um de nós se torne “uma
árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade”.
Acede a www.audacia.org e descarrega a ficha de trabalho e a produção multimédia que
preparámos para ti.
Maio 2010
O VALOR DO silêncio
AUSÊNCIA DE SILÊNCIO
O mundo de hoje valoriza muito o som, a música e o ruído, impedindo, de certa forma,
a experiência do silêncio. Talvez ainda não tenhas dado conta, mas uma das coisas mais
preciosas que a sociedade actual está a perder é a capacidade de fazer silêncio. Desde
que acordamos até nos deitarmos estamos constantemente rodeados por algum tipo de
som ou ruído. A ausência de silêncio não é apenas danosa para o descanso ou para a
saúde (a ciência já comprovou que o barulho excessivo causa doenças e stress), mas é-o,
também, para a descoberta da nossa identidade. Os momentos silenciosos são os
melhores para ouvirmos aquilo que não emite som: a nossa voz interior. Face a isto, não
é de estranhar que tantos jovens não encontrem um sentido para as suas vidas. Muitas
vezes temos medo de fazer silêncio, porque descobrimos o quanto o nosso interior é
barulhento, e, porque esse conflito nos incomoda, é melhor permanecer no barulho
constante. Mas a pessoa que não souber fazer silêncio não é conhecedora de si mesma e
da sua realidade.
A RIQUEZA DO SILÊNCIO
Por vezes, calamo-nos exteriormente, mas interiormente discutimos muito,
confrontando-nos com personagens imaginárias ou lutando connosco mesmos. A
manutenção da paz interior pressupõe a simplicidade e o reconhecimento de que as
nossas inquietações não têm muito poder. Fazer silêncio é confiar a Deus o que está fora
do meu alcance e das minhas capacidades. Um momento de silêncio, mesmo que breve,
durante o dia, é como um oásis no deserto da nossa vida. Ao fazermos silêncio, ao
calarmo-nos, deixamos que Deus fale e acalme todas as nossas perturbações e
tempestades. Não foi em vão que Deus nos deus dois ouvidos, dois olhos, mas só uma
boca, privilegiando, assim, a capacidade de ouvir e ver: ouvir mais do que falar é sinal
de sabedoria.
O SILÊNCIO É ORAÇÃO
Deus faz-se presente no silêncio e essa foi a experiência do profeta Elias. Quando os
barulhos pararam, Elias reconheceu e ouviu Deus no «murmúrio de uma brisa suava» (1
Reis 19). A experiência de Elias mostra que Deus não é barulhento, não fala no meio do
barulho. Deus escolheu «o murmúrio de uma brisa suave» para falar. Isto é um
paradoxo: Deus é silencioso e, no entanto, fala. Quando a palavra de Deus emerge «no
murmúrio de uma brisa suave», ela é capaz de transformar os nossos corações. O
silêncio prepara-nos para o encontro com Deus. No silêncio, a palavra de Deus pode
atingir os recantos escondidos dos nossos corações. Fazendo silêncio, deixamos de
esconder-nos diante de Deus, e a luz de Cristo pode atingir, curar e mesmo transformar
aquilo de que temos vergonha.
O SILÊNCIO É AMOR
Precisamos de silêncio para acolher a palavra de Deus que nos desafia a acreditarmos e
a vivermos o amor a Deus e aos nossos irmãos. Quando estamos agitados e inquietos,
temos tantos argumentos e razões para não perdoar e para não amar facilmente. Mas,
quando temos o nosso espírito em paz e em silêncio, essas razões desaparecem. Talvez
por vezes evitemos o silêncio, preferindo qualquer barulho, palavras ou distracções,
porque a paz interior é exigente: torna-nos vazios e pobres, dissolve a amargura e as
revoltas e leva-nos ao dom de nós mesmos. Silenciosos e pobres, os nossos corações são
conquistados pelo Espírito Santo, cheios de um amor incondicional. De forma humilde
mas certa, o silêncio leva a amar.
O SILÊNCIO É ENCONTRO
Fazer silêncio não é simplesmente fechar a boca ou recusar conversar. Fazer silêncio é,
sobretudo, (re)confrontarmo-nos connosco mesmos. O silêncio possibilita o
apaziguamento do coração, a pacificação das emoções e a correcção dos
comportamentos. No silêncio não nos encontramos somente connosco, mas
descobrimos e encontramo-nos profundamente com Deus, que habita no nosso interior.
O silêncio possibilita a liberdade de voar no íntimo de nós mesmos, na presença de
Deus, para buscar soluções que nem sempre as palavras oferecem. Ao fazermos silêncio
amadurecemos e ampliamos o entendimento que o barulho não deixa alcançar.
Junho 2010
Obediência
A palavra “obediência”, na sua raiz etimológica, significa ouvir com o coração e escutar
em profundidade, ou seja, escutar com amor. A palavra “obediência” deriva das palavras
latinas ob mais audire, que significam literalmente ouvir aquele que fala em frente a
nós. Então, só poderemos ser obedientes quando nos predispomos a ouvir atentamente
aquele que nos fala e acreditarmos que ele nos fala com amor.
DIFICULDADE EM OBEDECER
A obediência aos pais é uma tarefa difícil para muitas crianças, adolescentes e jovens.
Os filhos das famílias de hoje vivem tempos conturbados, pois pensam que já podem
fazer o que entendem sem escutarem ninguém. Acham que já estão preparados para
decidirem tudo pela sua própria cabeça, muitas vezes influenciada por tantas pessoas e
valores estranhos à família e ao seu projecto educativo.
Quando nascemos, não conhecemos nada nem fazemos nada sozinhos: são os nossos
pais que nos alimentam, que nos vestem, que nos dão banho, enfim, que cuidam de nós.
Aceitamos isso como normal pois confiamos neles. Ao crescermos, vamos descobrindo
coisas importantes e vamos aprendendo pelo que vemos, vivemos e ouvimos.
Começamos a tomar algumas decisões sozinhos, como, por exemplo, que roupa
vestimos, de que comida gostamos, as actividades que nos interessam, etc., mas ainda
não estamos prontos para decidirmos sobre grandes questões, pois ainda não nos deram
todas as indicações básicas.
Na adolescência, achamos que já sabemos tudo e que estamos prontos para a vida e é aí
que começam a surgir os piores momentos, visto querermos a independência e
acharmos que podemos viver com ela. Nesta luta frenética pela independência e
liberdade começam os confrontos com os pais e, muitas das vezes, chegamos mesmo a
contrariá-los, acabando por cair em teias viciantes e comportamentos perigosos que
acabam por nos roubar toda a liberdade.
DIFICULDADE EM MANDAR
Mas também os pais têm dificuldade em mandar.
Por vezes ficamos com a impressão de que os papéis foram trocados: os filhos mandam
e os pais obedecem. Quem não assistiu já a episódios nos quais os filhos, porque
insistem ou até chantageiam os pais com choradeiras histéricas, conseguem o que
querem contrariando assim os pais obrigando-os a ceder e a fazer as suas vontades?
Há em muitos pais um sentimento de culpa (de não serem bons pais) que eles procuram
compensar através do consumismo, comprando tudo às crianças, ou pior ainda,
«comprando as crianças» para compensar as suas ausências ou falhas parentais. Deste
modo desestrutura-se a família. Um exemplo é as crianças e adolescentes dormirem e
fazerem o que querem, à hora que querem e como querem e ai de quem os contrarie.
Por outro lado, a estrutura frágil ou as dificuldades relacionais de muitas famílias levam
a que falte muitas vezes a presença de uma posição forte e concertada por parte dos
pais. Os pais, em vez de darem ordens e de traçarem um caminho seguro para os filhos,
começam a ceder o palmilhar de outros caminhos, muitas vezes duvidosos e pouco
seguros. Os pais devem-se fazer respeitar enquanto pais e enquanto pessoas e,
simultaneamente, respeitar os filhos enquanto pessoas mas também enquanto filhos,
pessoas por quem eles são responsáveis e a quem devem apresentar um percurso
educativo e formativo de acordo com os valores familiares que defendem. Trata-se de
uma missão e desafio para os pais: exercerem o dever e a missão de pais sem complexos
ou medos, tendo consciência de que a sua missão é preparar os filhos para a autonomia.
HIPERLIGAÇÃO
É a hora de arregaçarmos as mangas e fazermos a nossa missão de acordo com a nossa
função. Aos pais cabe mandar, exercerem a sua autoridade com amor. Não falo de
autoritarismo! Aos filhos cabe obedecer, isto é, ouvirem aqueles que estão à sua frente,
os mais velhos, que os amam, e que apontam caminhos de realização e felicidade e
porque temos confiança neles e reconhecemos o bem que daí advém, obedecemos com
fé e confiança.
Acede a www.audacia.org e carrega o material multimédia sobre o valor do
OBEDIÊNCIA que preparámos para ti.
Julho 2010
(Comum)Unidade
Vivemos, cada vez mais, em grandes metrópoles, cercados de pessoas muito diferentes
de nós. Gente de todo o tipo de perfil profissional, político, cultural e religioso. Vivemos
todos lado a lado, mas de certa forma isolados… Vivemos, assim, agrupados por várias
razões (geográficas, religiosas, ocupacionais…), criando a totalidade da espécie
humana, uma totalidade composta pela diversidade, que, no entanto, clama por unidade.
A CONSTRUÇÃO DA UNIDADE
A unidade pode construir-se mediante a colaboração. Assim, a busca da unidade
pressupõe, de cada um de nós, a capacidade de acolher o outro, igual a nós em
dignidade, mas, inevitavelmente, diferente em personalidade e escolhas, e descobrirmos
o que nos une num laço indissolúvel. O diálogo assume-se, por isso, como o único meio
para o encontro com o outro, diferente de nós e, no entanto, igual. A ausência de
palavras, o virar das costas ou a ameaça ao outro são atitudes de recusa em procurar a
unidade e que nos levam, inevitavelmente, ao isolamento e à separação.
Mas a unidade é também um dom. Na cultura bíblica nós não fazemos a unidade, ela é
fruto do amor de Deus, da acção do Espírito Santo em nós. O amor faz nascer o desejo
de unidade, mesmo naqueles que sempre ignoraram tal exigência. O amor cria
comunhão (comum-união) entre as pessoas e entre as comunidades. Se nos amamos,
buscamos aprofundar a nossa comunhão, e (re)orientamo-la para a perfeição. O amor é
a fonte, a união e a perfeita comunhão da Santíssima Trindade – a unidade do Pai, do
Filho e do Espírito Santo –, que gera, igualmente, a união entre a Humanidade.
Construir a unidade na diversidade é aceitar e reconhecer que as pessoas, diferentes por
suas origens, se se amarem, podem conviver em harmonia e unidade, uma vez
estabelecidos os limites e respeitadas as individualidades.
HIPERLIGAÇÃO
Nestas férias, procura descobrir, afirmar e defender o valor da unidade. A unidade na tua
família, na tua turma, no teu grupo de amigos… pois só ela nos dará a dignidade própria
dos humanos e nos coloca na estrada do diálogo que leva a um verdadeiro entendimento
e união entre aquilo e aqueles que à partida pareciam diferentes e inconciliáveis.
Acede a www.audacia.org e descarrega o material multimédia que preparámos para ti
sobre este valor.
CAIXA:
HINO À UNIDADE
(Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares)
Outubro 2010
Sobriedade, oposto de caprichos
SOBRIEDADE SOCIAL
A fome foi sempre presença assídua junto dos homens. Nos tempos mais actuais é
confrangedor vermos o desequilíbrio económico entre países ricos e países pobres. Nos
países ricos, morre-se com a fartura, nos países pobres, morre-se de fome.
Os países mais carenciados nem sempre têm uma boa administração política ou
económica. Os factores políticos são determinantes para o equilíbrio financeiro. Alguns
países com grandes carências económicas são riquíssimos em recursos naturais. Têm
grandes riquezas nos seus solos e subsolos. Ironias das ironias, essas riquezas são
exploradas pelos países poderosos – ditos desenvolvidos. Levam as riquezas desses
países e ainda exploram os seus naturais através da sua mão-de-obra barata.
Os países ricos com rendimentos anuais altíssimos podiam cooperar no
desenvolvimento económico dos países menos desenvolvidos. Podiam oferecer-lhes
infra-estruturas com vista à erradicação da fome.
Esses países não cooperam com os carenciados para não perderem a sua autoridade e
também para os países pobres não ficarem ao nível dos países ricos. Assim, os
poderosos continuarão a ser poderosos.
A MINHA SOBRIEDADE
Deixando de parte o factor político e económico que é do domínio dos Estados,
debrucemo-nos sobre as atitudes particulares:
– Todas as pessoas deviam parar pelo menos um minuto por dia para meditar sobre a
fome no mundo.
– Devíamos deixar de desperdiçar alimentos em solidariedade com os carenciados. Ao
deitarmos a comida que deixamos estragar, ou que sobra no nosso prato, estamo-nos a
esquecer que essa comida poderia estar a saciar alguém.
– A dieta, a ginástica e outras actividades com vista à redução de peso ou diminuição de
gorduras deve-se resolver a montante e não a jusante. Se as pessoas fizerem uma
alimentação correcta e a horas certas, grande parte desses problemas ficam resolvidos.
Coitados dos povos famintos que não conseguem resolver este problema básico.
As práticas atrás mencionadas são uma afronta para estes povos.»
HIPERLIGAÇÃO
A saciedade de alimentos é um direito fundamental que devia constar em todas as
constituições. A fome devia ser erradicada de uma vez para sempre. É uma vergonha
mundial este flagelo.
Reflecte pessoalmente e em grupo sobre as atitudes a desenvolver para sermos uma
sociedade mais sóbria no uso dos bens e mais solidária com quem tem necessidade.
Serve-te do material multimédia que preparámos para ti em www.audacia.org. E,
depois, partilha connosco, comentando este artigo no mesmo sítio ou enviando as vossas
reflexões para audacia@netcabo.pt.
Novembro 2010
Coragem de confiar
O Papa Bento XVI, aquando da sua visita a Portugal, pediu coragem e confiança
dizendo que a fidelidade à vocação cristã exige essa atitude: «A fidelidade à própria
vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer também que saibais unir as
vossas forças; sede solícitos uns pelos outros, sustentando-vos fraternalmente.»
É PRECISO SALTAR…
Os momentos que vivemos são de crise. Respira-se essa sensação por todo o lado. É na
família, na Igreja, nas relações interpessoais, na economia, na política, na escola, nos
estudos, nos valores… enfim, ela é inerente à nossa condição humana.
Simultaneamente, são várias as vozes a clamarem pela urgência e necessidade de
ultrapassarmos a crise que se instalou e que teima em ficar e a alastrar-se cada vez mais.
Mas como? Não vemos alternativa, não confiamos em ninguém, e, consequentemente,
sofremos no dia-a-dia as suas consequências.
Pode ser que também a nossa sociedade (a nossa vida) esteja a arder, mas, muitas vezes,
falta-nos a coragem para saltarmos para fora dessas experiências/situações em que
pressentimos o perigo e a destruição ou, então, falta-nos o discernimento, a capacidade
de vermos como poderemos sair (saltar) dessas situações. O pânico e a confusão
instalam-se, começamos a gritar, só que ninguém nos ouve nem nós ouvimos ninguém.
Às vezes até podemos ouvir, mas não conseguimos ver quem nos fala e nos convida a
saltar e, por isso, não saltamos, mas gostaríamos de o fazer… falta-nos a confiança.
VALORES PARADOXAIS…
Na nossa sociedade a CONFIANÇA e a CORAGEM teimam em superabundar ou em
escassear. Sofremos porque confiamos de mais ou de menos. Temos dificuldade em
confiar e falta-nos a coragem para o fazermos porque não encontramos pessoas dignas
de tais sentimentos. Assim, vamos perdendo a coragem de confiar e as nossas relações
transformam-se, ficam mais burocráticas, mais agressivas, mais defensivas e
competitivas.
A falta de confiança torna a vida desgastante, repetitiva, engorda as defesas e os
controlos.
A presença da confiança nas relações, pelo contrário, fortalece o espírito de cooperação,
viabiliza a comunicação e a relação, torna as nossas vidas mais felizes e serenas.
A confiança é a base que une pessoas, crentes, amores, grupos de trabalho, sócios, etc.
Mas é aqui que reside a dificuldade: a confiança não pode ser comprada ou encontrada
facilmente nas pessoas, ela demora para ser construída, e mais grave, ela perde-se
facilmente, e, na maioria das vezes, é enterrada eternamente após a sua perda.
É urgente redescobrirmos a confiança e alicerçarmos nela as nossas relações. É urgente,
como nos diz o Papa, unir as nossas forças; sermos solícitos uns pelos outros,
sustentando-nos fraternalmente.
HIPERLIGAÇÃO
Caro(a) amigo(a), se atravessas momentos de crise, de perigo, se a tua vida anda a
“arder”, vais ter necessidade de saltar, se ainda o não fizeste. Aconselho que o faças
quanto antes, pois as chamas podem provocar queimaduras graves que levam muito
tempo a cicatrizar e que quase sempre deixam marcas.
Se precisares de saltar, salta, e verás que não vais cair no chão mas pelo contrário,
encontrarás pelo menos uma pessoa, um PAI, em quem poderás confiar e que estará de
braços abertos para te acolher.
Em tempo de crise e crises, resta-nos muitas das vezes só um lugar seguro onde
poderemos experimentar a segurança e o carinho de um Pai que de mãos abertas nos
acolhe e reconforta.
Para continuares a reflexão, acede a www.audacia.org e descarrega o material
multimédia que preparámos para ti.
Dezembro 2010
A Vida como Lugar de beleza
«Tornai as vossas vidas lugares de Beleza» foi uma proposta feita por Bento XVI
aquando da sua visita a Portugal. É uma proposta simples mas exigente, agora também
lançada pelo Secretariado Nacional de Educação Cristã que propôs este tema aos
professores e alunos de EMRC a fim de o aprofundarem ao longo deste ano lectivo.
BELEZA É FUNDAMENTAL
A beleza exterior é importante e necessária, no entanto, ela um dia acabará, ao passo que
a beleza interior crescerá cada dia que passa.
É pela prática dos valores que nós embelezamos a nossa vida e a dos outros, levando-os
a amar a beleza e a virtude, e a querer possuí-la também.
A beleza interior reflecte-se no próprio corpo, especialmente no rosto e nos olhos. Por
isso, se alguém quiser que a luz da beleza brilhe em sua face, é preciso fazer antes que a
chama do verdadeiro amor arda no seu coração, pois a luz da beleza provém da chama
do amor.
Assim, fundamental, é uma outra beleza, a beleza do bem, que se traduz em amor,
doação, entrega e solidariedade.
A beleza bela é aquela que nos abre e nos torna sensíveis para Deus e para os outros.
Beleza que não passa, beleza que constrói, beleza que traz uma alegria profunda, doce e
duradoura. Esta beleza tem como fonte e modelo o próprio Deus que veio a nós em
Jesus Cristo! O belo desta beleza é que ela faz-nos tocar Deus, percebendo que a vida e
a realidade têm um sentido profundo, mesmo quando a dor, a solidão, a tristeza, a
injustiça e a morte ameaçam constantemente a existência humana. Esta sim, é a Beleza
fundamental e, sem ela, a vida tornar-se-ia um deserto de mediocridade, um inferno
insuportável.
A BELEZA DE DEUS
A verdadeira beleza, a beleza interior da alma, provém de ser feita à imagem de Deus,
Beleza absoluta. Assim, cada vez que nos aproximamos de Deus, ficamos mais bonitos,
pois reflectimos o Seu carácter e passamos a ter os frutos do Seu Espírito Santo. O
contrário ocorre quando nos afastamos de Deus e deixamos que o orgulho, os
sentimentos de superioridade, o endurecimento do coração e o ódio nos tirem a beleza
das nossas vidas.
A suma beleza é encontrada pelo homem naquilo que lhe é mais conveniente, naquilo
que é sua razão primeira e última de existir, isto é, em Deus. O Criador de todas as
coisas, é Ele o sumo Bem e a suma Beleza que deve ser amado, e que nos convém
absolutamente. Contemplar Deus com mais profundidade, graça que muitos vão tendo, é
entrar nessa Beleza ímpar, inefável, que concede a graça do êxtase do próprio amor.
HIPERLIGAÇÃO
O DESAFIO DA BELEZA
Assim, caros(as) amigos(as), o desafio é o de descobrirmos os reflexos divinos da
Beleza em toda a criação. Esta fala-nos do Deus da Beleza e faz-nos caminhar da beleza
das criaturas até à Beleza infinita. Do mundo belo e repleto de infinidade de beleza até
Deus. Sejamos, pelo poder da Beleza que levamos em nós, portadores do Deus da
Beleza e da Beleza de Deus, para que o mundo à nossa volta seja mais sorridente, mais
alegre, mais feliz, mais fraterno, mais encantador pelo amor que temos e que colocamos
em todas as coisas, em tudo e em todos.
Acede a www.audacia.org e descarrega o material multimédia que preparámos para ti
sobre a beleza.
Janeiro 2011
O valor da Igreja
As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) terão lugar em Agosto, em Madrid. Será uma
oportunidade para celebrarmos a nossa fé e reafirmarmos a nossa adesão a Jesus Cristo.
O tema escolhido por Bento XVI para estas jornadas é «Enraizados e edificados em
Cristo…».
Em sintonia com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, que preparou 12
catequeses para preparar as JMJ, reflectimos sobre o ser Igreja.
O que é a Igreja? Algumas pessoas usam «igreja» para descrever um belo edifício,
enquanto outras dizem que é uma organização religiosa.
Etimologicamente, «igreja» deriva do grego «ekklesia», que se traduz por «um chamado
para fora».
A palavra «ekklesia» traduz a palavra hebraica «qahal», que designava a congregação
de Israel, uma nova comunidade convocada do cativeiro para adorar e servir a Deus e
demonstrar o Seu poder no meio dos povos.
Ao denominar-se Igreja, a primeira comunidade cristã reconhece-se herdeira dessa
convocação. Assim, a palavra «Igreja» passa a designar o povo que Deus
convoca/chama e reúne de todos os recantos da Terra, para constituir a família dos que,
pela Fé e pelo Baptismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templo do
Espírito Santo. A Igreja é uma comunidade de pessoas chamadas/convocadas a
construírem uma família de crentes, que medita, reza e vive de acordo com o projecto
de vida de Jesus Cristo.
SER IGREJA É SER SAL DA TERRA
Jesus, para explicar a vida da Igreja, usa a imagem do sal, e diz aos discípulos que
devem ser o sal da Terra.
O sal já foi muito importante na conservação dos alimentos. Hoje temos frigoríficos e
arcas congeladoras, mas antigamente as pessoas tinham salgadeiras – caixas ou
depósitos com sal, onde conservavam os alimentos.
Ao descrever a Igreja como o «sal da Terra», Jesus estava a dizer que ela conserva a Sua
mensagem e que preserva tudo quanto é bom numa sociedade.
O sal tem, ainda, outra qualidade: realça o sabor dos alimentos. Como o sal dá sabor à
comida, também a Igreja deve imprimir uma diferença positiva na qualidade e estilo de
vida daqueles que a rodeiam, isto é, na sociedade.
Embora os cristãos não tenham todas as respostas para as dificuldades e problemas da
vida, nós deveríamos ser capazes de levar a paz, a esperança e o amor àqueles que estão
confusos e desesperados, àqueles que são marginalizados e explorados no mundo de
hoje. A mensagem cristã tem poder para transformar a vida e a tornar mais bela, justa e
saborosa.
HILERLIGAÇÃO
Disse Bento XVI que a presença dos jovens «renova, rejuvenesce e dá novas forças à
Igreja», no entanto, depende também de ti fazeres e seres a diferença que queres ver na
Igreja.
Para a tua reflexão, pessoal e/ou em grupo, usa o material multimédia que preparámos
para ti no sítio da Audácia: www.audacia.org.
Fevereiro 2011
Uma missão para cada um
Em vista à preparação das Jornadas Mundiais da Juventude, que terão lugar em Madrid,
e em sintonia com o itinerário traçado pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil,
este mês vamos reflectir sobre o tema da missão.
Na sua etimologia, a palavra «missão» vem do latim mittere, que significa mandar,
enviar e missus, que quer dizer enviado. Na Bíblia, refere-se a uma ordem recebida de
Deus, para levar a Sua mensagem a uma pessoa ou a uma nação. Logo, o missionário é
um mensageiro com uma missão, incumbência, tarefa, obrigação, encargo a ser
cumprido. Daí se depreende que ser missionário não é um privilégio nem uma ocupação
que a Igreja oferece a alguém, mas é sua própria razão de ser.
OS MISSIONÁRIOS DE JESUS
Ao longo da História, o Evangelho foi levado a mais homens e povos, saltando do
Médio Oriente para Roma e irradiando, em várias épocas, por toda a Europa e restantes
continentes. Pouco a pouco, a mensagem cristã foi irradiando-se e chegou a mais
pessoas graças ao empenho e dedicação de muitos homens e mulheres que aceitaram o
desafio de serem enviados por Jesus a todos os povos e nações. A missão não parou mas
continua nos nossos dias. Hoje, fala-se da missão ad extra (exterior) e da missão ad
intra (interior): a primeira refere-se à actividade de levar o Evangelho aos povos e
países sem nenhuma ou com reduzida presença cristã; a segunda, ao empenho na nova
evangelização dos países onde o Cristianismo já foi florescente mas que actualmente
experimenta algum esmorecimento.
A IGREJA É MISSIONÁRIA
Levar o Evangelho a todos é uma vocação, é um dom e responsabilidade inerente à fé
cristã. Por isso, todos os baptizados estão envolvidos, sejam eles bispos, sacerdotes,
religiosos e religiosas, fiéis leigos, casados ou solteiros, jovens ou velhos. O mandado
de Cristo «como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» é dirigido a todos os
membros da Igreja e deve ecoar em cada comunidade cristã. A missão é a vocação de
cada baptizado e, consequentemente, os cristãos não podem permanecer passivos,
limitando-se à sua pertença eclesial ou à participação em momentos rituais.
CHAMAMENTO À MISSÃO
Os apelos não são todos iguais, são diversificados. Mas sempre pessoais. Cada pessoa
recebe um chamamento pessoal para desempenhar uma missão: ser padre, ser
catequista, ou constituir família, ser bom profissional, ser político… Há tantos modos de
ser missionário quantas as pessoas, porque ser missionário é pôr os próprios dons ao
serviço dos outros, e fazê-lo à imagem de Deus, inspirando-se em Deus, e sentindo-se
apoiado por Ele.
PROTAGONISTAS DA MISSÃO
Hoje em dia, são muitas as pessoas que partem, por tempo mais ou menos prolongado, a
fim de testemunharem a beleza da fé e servirem generosamente o seu próximo. São
também várias as famílias que sentem o chamamento à missão e deixam a sua terra para
irem por causa do Evangelho para outras paragens partilhando com quem encontrarem a
fé e os valores cristãos. A missão da Igreja não tem fronteiras de tempo ou de espaço: há
quem vai e quem vem, de longe ou de perto, de qualquer idade ou vocação, por muito
ou por pouco tempo… O importante é que ninguém morra de sede por não lhe ter sido
oferecida a “água viva” do Evangelho, ou de frio por não ter encontrado quem o
aquecesse com o fogo do amor divino, ou sozinho, por não haver quem fosse em nome
de Deus sua companhia. A missão da Igreja vive-se em cada casa, aldeia, vila, cidade,
país e continente, mas não se detém a nenhuma porta, barreira ou fronteira… Cristo não
se pode reter nem se detém. Continua a dizer-nos: “Vamos para outra margem, para aí
pregar também…”
CAMPOS DE MISSÃO
A nobre missão da Igreja concretiza-se na preocupação com todas os âmbitos da vida
das pessoas, do planeta Terra e do Universo. Não é só rezar, é labutar pelo bem-estar
aqui na Terra, prelúdio da felicidade eterna nos Céus.
Ao anúncio do Evangelho associa-se o compromisso com a justiça, a defesa dos direitos
humanos e da dignidade da pessoa, a ecologia: tudo isso é um sinal de fidelidade e de
autenticidade da missão da Igreja. (E os jovens sentem-se verdadeiramente filhos de
Deus ao desempenharem estas tarefas.) O anúncio do Evangelho é, pois, também,
denúncia de todas as formas de opressão e de aniquilamento do próximo.
WWW.AUDACIA.ORG
Caro(a) amigo(a), a tua juventude é um momento de descoberta, de encontrares a tua
vocação, a tua missão, na Igreja, na sociedade, enfim no mundo que tanto necessita de
ti. Olha para ti, descobre os teus dons, e saberás qual é a semente da tua verdadeira
missão e vocação a partir do projecto de amor de Deus. Depois será com a ajuda Dele
que a concretizarás.
Lembremo-nos de uma famosa frase de João Paulo II: «A Igreja será Jovem se os
Jovens se tornarem Igreja.» Descarrega no sítio da Audácia o material que preparámos
para ti.
Março 2011
O amigo é um refúgio
O termo «amizade» deriva do latim amicitia. Refere-se a uma relação afectiva entre
duas pessoas. Em sentido amplo, entendia-se por amizade todo o relacionamento que
supõe conhecimento mútuo e afeição, além de lealdade no altruísmo.
Na Grécia Antiga, era o termo philia que significava amizade. Designava a relação
exterior entre duas pessoas. Esta ligação é distinta da do parentesco, mas caracteriza-se
também por haver laços afectivos entre dois seres humanos, alicerçado na lealdade, na
afeição, na confiança e na aceitação.
Não muito diferente dos Antigos, Carl Rogers, psicólogo dos nossos tempos, define a
amizade como «a aceitação de cada um como realmente ele é».
Começo com uma pergunta: numa sociedade pós-moderna, marcada pela busca
frenética e ineficaz do prazer momentâneo, pode o matrimónio ser uma relação estável e
duradoura de amor? Este é o tema da sétima catequese de preparação para as Jornadas
Mundiais da Juventude, que o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil propõe.
UM ASSUNTO DE MÃE
A palavra matrimónio tem origem no vocábulo latino mater, que quer dizer mãe, ou
ainda matrimonium, que significa mulher casada ou casamento. Na origem do vocábulo,
influenciado pelo Direito romano, está a grandeza da missão da mãe realçando o valor
da maternidade dentro do conceito de matrimónio. Casamento, outra palavra para
designar matrimónio tem a sua origem na palavra “casa”, focando mais o local de
permanência do casal.
CASA DO AMOR
O matrimónio é uma realidade que se constrói com base no amor: é o amor dos esposos
que a funda; é o amor dos esposos que a faz crescer, como faz crescer a fidelidade
mútua, que tem expressão no amor que ambos derramam pelos filhos e que se completa
quando estes são educados no amor, quando aprendem a amar os seus pais, a amar-se
entre eles e a amar todos os homens.
É claro que os esposos e os filhos são seres humanos, com falhas e defeitos. Podem
surgir dificuldades e mesmo graves, mas a solução não é negar a natureza das coisas,
mas precisamente apoiar-se nela para procurar ultrapassar essas dificuldades. É
importante não confundir o amor com a paixão dos primeiros momentos, que pode
desaparecer.
ESCOLA DE AMOR
A vida no matrimónio há-de ser, todos os dias, uma escola de amor, um espaço
acolhedor onde as melhores lições possam ser aprendidas. Deve ser um lugar de repouso
e de tensão, de sossego e de esforço. O fio condutor da convivência, porém, deve ser o
amor. Amar é compreender, desculpar, tomar a vida agradável aos outros em pequenos
gestos, dar o melhor de si para facilitar a convivência. O mais difícil é a convivência
diária, pois é aí que cada um se revela e fica a descoberto.
AMEAÇAS AO MATRIMÓNIO
A cultura contemporânea concentra o seu foco no «aqui e agora», no carpe diem, no
momento em que as necessidades individuais passam a serem respondidas em
velocidades cada vez mais rápidas. Os contemporâneos trocam o esforço, o cuidado e o
trabalho por imediatismos e satisfação a curto prazo.
Vivemos a cultura do mundo soft, líquido, light, zero, ambiente propício ao
desenvolvimento de uma era do narcisismo, no qual o que prevalece é a forma
individual e particular de ser.
Como diria o sociólogo Zygmunt Bauman, vive-se na fantasia de que «o próximo amor
será uma experiência ainda mais estimulante do que a que estamos a viver actualmente,
embora não tão emocionante ou empolgante quanto a que virá depois». É a cultura da
eterna busca, que procura na multiplicidade de relações a confirmação externa da
capacidade de se relacionar.
O DESAFIO DO AMOR
O casamento não acontece no dia da cerimónia, apenas começa nesse dia e necessita de
ser construído diariamente por ambos. É responsabilidade da sociedade, em geral, e do
casal, em particular, construir uma relação sólida, uma relação sobre uma rocha
inabalável (o verdadeiro amor) capaz de resistir a todo o tipo de contrariedades e dias
maus.
Os casais cristãos são chamados a viver segundo a sua vocação a ser imagens de Deus,
num compromisso para toda vida, numa vivência do amor mútuo, da partilha e da
comunhão entre si, com os irmãos e com Deus.
O amor dos casais transforma-se em fonte inesgotável de vida e felicidade na família
que irradia para a Igreja e para a sociedade.
Encontra uma ficha de trabalho e uma apresentação multimédia sobre o matrimónio em
www.audacia.org.
Maio 2011
Sacerdote: servidor do dom sagrado
Na caminhada em direcção às Jornadas Mundiais da Juventude, iremos reflectir, este
mês, no significado e valor do sacerdócio.
«Vivemos, ainda há pouco tempo, a Semana Santa, que teve o seu culminar com a
ressurreição de Jesus Cristo. Ele ressuscitou para subir aos Céus, mas sem deixar de
estar entre nós. A Sua imagem, as Suas palavras e os Seus gestos continuam hoje através
da acção dos sacerdotes. Eles são hoje os continuadores da Boa Nova começada em
Jesus. E, desta perspectiva, se antevê o valor que assumem para a sociedade, despojados
até da sua própria família, numa entrega, em nome de Jesus Cristo, a todos os homens.
É, tantas vezes, através do sacerdote que Cristo Se torna presente, próximo e amigo.
Ser sacerdote é a maior das graças com que Deus me cumulou, pela felicidade que sinto
e transmito, pelo amor que recebe e recolho e pela gratidão com que sou acolhido»,
testemunhou à Audácia o padre Júlio, sacerdote da diocese de Viseu
O SACERDOTE HOJE
É um homem de fé profunda: ele analisa os acontecimentos, a História e a Humanidade
a partir da perspectiva da eternidade com Deus: Ele pensou em nós antes de existirmos,
acompanha-nos agora e aguarda-nos na vida futura. Com a fé, o padre ajuda a
Humanidade a caminhar lado a lado com Deus. Para isso, é importante a sua capacidade
de liderança, organizadora, e também o seu testemunho de vida cheio de sabedoria.
É um homem de oração: é graças à oração que a fé do padre será cada vez mais firme e
é através da oração que ele estabelecerá um contacto constante com o Senhor. Ser
sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo. Falando com o sacerdote, as pessoas
percebem se ele vive em união com Deus ou na dispersão do coração. Esse
relacionamento de amor com o Senhor nutre-se com a meditação diária da Bíblia, com a
Eucaristia, e com a oração confiante a Maria, Mãe de Jesus. Deste modo, ele ouve,
medita e proclama as palavras essenciais: a Palavra que vem de Deus, a Palavra que é
Deus.
É um homem de alegria e de esperança: o sacerdote deve sentir-se feliz por viver, sentir-
se feliz por ser cristão e membro da Igreja e sentir-se feliz porque o Senhor o chamou ao
sacerdócio e lhe confiou a Sua Palavra de esperança e de compaixão.
O sacerdote deve aproximar-se das alegrias e das esperanças, das tristezas e das
angústias dos homens de hoje, dos pobres e, sobretudo, de todos aqueles que sofrem.
No sacerdote deve prevalecer sempre a certeza de ser imensamente amado, de um amor
eterno e incondicional, que produz alegria, semeia esperança e espalha caridade.
WWW.AUDACIA.ORG
Os sacerdotes de hoje, à imagem de Jesus Cristo, são homens de Deus – irmãos entre
irmãos – profetas de um mundo novo.
Aprofunda o tema com o material multimédia que preparámos para ti e que podes
descarregar no sítio da Audácia.
Junho 2011
As jornadas mundiais da juventude
Em Agosto, Madrid será o destino de muitos jovens. Mas porque participam os jovens e
qual o significado da sua presença nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ)?
As JMJ foram criadas pelo bem-aventurado Papa João Paulo II em 1985, e consistem
numa reunião mundial de jovens. Elas são celebradas a cada dois ou três anos, numa
cidade escolhida para esse efeito. Nos anos intermédios, as Jornadas são vividas
localmente, no Domingo de Ramos, nas diversas dioceses do mundo.
Cada jornada tem um tema, proposto pelo Santo Padre e que é depois aprofundado pelos
diversos grupos de jovens que participam nas jornadas.
Durante as jornadas existem vários momentos nos quais o tema é reflectido através de
catequeses, adorações, missas, momentos de oração, palestras, partilhas, concertos…
Como dizia João Paulo II, em 1996, «as JMJ nasceram do desejo de oferecer aos jovens
significativos momentos de paragem na constante caminhada da fé, que se alimenta
também através do encontro com os coetâneos doutros países e na partilha de
experiências».
UMA CAMINHADA DE FÉ
Participar nas JMJ é fazer uma caminhada, é tornar-se peregrino, é pôr-se a caminho…
com muitos outros irmãos… na mesma direcção e rumo ao mesmo destino: Jesus
Cristo. Assim, as jornadas são uma caminhada dentro de uma caminhada maior que é a
vida cristã rumo à felicidade.
Fazer uma caminhada é, antes de tudo, “sair” e “pôr-se em marcha” saindo de esquemas
de injustiça, de estruturas de pecado e do comodismo e do egoísmo. Quem se põe ao
caminho aprender a viver só com o essencial.
Numa sociedade cada vez mais consumista como a nossa, esta ideia de caminhada faz-
nos compreender que quantas mais coisas carregarmos, mais dificuldade temos em
andar. Fazer uma caminhada é ter a meta dentro de nós e, cada dia, dar um passo para lá
chegar. Ao predispormo-nos a caminhar, manifestamos a nossa fé e a nossa esperança,
pois Jesus, além de ser a nossa meta, é também o nosso companheiro de caminhada.
Assim, nesta caminhada das JMJ estamos todos a caminhar, não há ninguém melhor que
o outro, somos apenas pessoas do e no Caminho, que é o próprio Jesus.
A CAMINHADA DE EMAÚS
Quando penso em caminhada, lembro-me logo de Emaús. O relato de dois discípulos de
Jesus desorientados e abalados pela morte de Jesus que regressam tristes à sua terra
natal. Mas o encontro com o Jesus ressuscitado, que os consolou enquanto caminhavam
e que lhes partiu o pão, fá-los recuperar a alegria e a esperança. O que antes não tinha
sentido e era motivo de tristeza e desalento agora é a razão da sua alegria e esperança.
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Descarrega aqui, na entrada «Valores de Sempre», o material multimédia que
preparámos para ti.
Vai ao arquivo e descobre, em cada mês, centenas de textos, powerpoints e até vídeos.
Julho/Agosto 2011
Santidade / O vosso Pai é Santo
O caminho da santidade
A santidade não pode ser só obra de Deus em nós, aceite de forma passiva. Tem,
também, de ser uma busca e opção. Podemos ser santos porque Cristo é Santo e nos
comunica o seu Espírito Santo, santificador, mas, também, temos de querer ser santos,
lutar por isso com as armas que Deus põe ao nosso dispor.
Ser chamado à santidade é deixarmo-nos tocar por Deus Santo e aceitarmos mergulhar
no amor que Ele é. Deus é amor; ser santo é ser amor. A santidade é um caminho de
cumplicidade com o Espírito Santo, que nos desafia a sermos sempre mais e melhor. A
santidade cristã é uma fidelidade aos mandamentos, ou seja, ao mandamento do amor.
O cristão não se santifica porque cumpre uma lei, mas porque, unido a Jesus Cristo,
mergulha no Seu amor que o impele a envolver-se na sociedade que o rodeia. É neste
sentido que devemos entender o apelo do Papa João Paulo II, pregador incansável da
santidade, que disse: «Não tenhais medo da santidade, porque nela consiste a plena
realização de toda a autêntica aspiração do coração humano.»
O valor da santidade
O mundo de hoje, marcado por um crescente relativismo ético e uma acentuada
desvalorização de valores e referências sólidas, tem sede e necessidade de conhecer o
valor da santidade. A presença do Senhor na vida do cristão é um tesouro de valor
incalculável que a maior parte das vezes não é valorizado ou apreciado na sociedade de
hoje.
Caminhar na santidade significa praticar obras que agradam a Deus e dignificam os
irmãos. Fazer o bem e evitar o mal, com um coração alegre e sincero. A consciência
sincera, o andar com Deus, o agradar ao Senhor, tem um valor incalculável, inestimável
e surpreendente. A santidade é um princípio, um caminho, enfim, é uma banda larga, de
alta velocidade, que liga os nossos corações e as nossas orações aos ouvidos do Senhor
que por sua vez ouve os anseios e as tribulações dos nossos irmãos.
Assim, a santidade não é um luxo, mas uma necessidade, isso é, implica uma adesão
total e absoluta à pessoa de Cristo e à sua práxis. Trata-se de trilhar o caminho que o
próprio Jesus nos ensinou, caminho esse que muitos já trilharam e que continuam a
trilhar.
Na opinião do papa, «é preciso tornar o termo “santidade” uma palavra comum, não
excepcional, que não designa, sobretudo, heroicidades de vida cristã, mas que indica na
realidade todos os dias uma decidida resposta e disponibilidade à acção do Espírito
Santo».
Hiperligação
Para serem santos, não precisam de deixar de ser jovens. Ser santo não é ter a cara triste,
mas, pelo contrário, ser santo é ser alegre e feliz porque Deus nos fez assim alegres e
felizes e não podemos deixar de espalhar essa alegria e felicidade a quem se encontrar
connosco. Santo é aquele que tem a vida marcada pelas bem-aventuranças de Jesus. É
na santidade que está contida a paz, o amor, a alegria, a mansidão coisas que são
fundamentais para uma vida feliz e alegre.
Aprofunda o tema em www.audacia.org.
Outubro 2011
Geração “à rasca” versus geração coragem
Estamos a iniciar mais um ano escolar num tempo marcado por muita incerteza e por
muita insegurança, um tempo caracterizado por sucessivas crises que teimam em
acentuar-se cada vez mais. É um tempo de desafios que necessitará de muita coragem e
força de vontade. É um tempo que precisa de uma geração coragem que se afirme e se
oponha a uma geração “rasca” ou “à rasca”, que tem medo de enfrentar e vencer
desafios.
Essas foram as palavras de D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, na celebração
litúrgica da Bênção da Fitas dos Universitários de Lisboa, que propôs, em alternativa à
“geração à rasca”, uma desejável “geração coragem”.
Também, Ilídio Vale, treinador da Seleção Nacional de sub-20 (na foto), apelidou esta
equipa de futebol de “geração coragem”, e teve razões para isso. Sem nomes apelativos,
sem vitórias durante a preparação, desconfiança era mesmo a palavra mais ouvida,
porém, Portugal apenas caiu diante do Brasil, numa grande final em Bogotá, mas de
cabeça erguida e com o sentimento de dever cumprido. Foi uma geração coragem que
jogou com o coração e que, por isso, merece a nossa admiração.
GERAÇÃO À RASCA
Realmente existe uma geração (ou mais) à rasca.
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus filhos numa abastança caprichosa,
protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem à rasca são os que mais tiveram
tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada e nunca a sociedade
exigiu tão pouco aos seus jovens. Infelizmente – e durante anos – os pais acreditaram
estarem a fazer o melhor, o dinheiro ia chegando para comprar quase tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e valores de uma educação para a qual não havia
tempo, pois esse era todo para arranjar dinheiro. Depois veio a crise, o aumento do custo
de vida, o desemprego… que deixou tudo à rasca. É urgente o aparecimento de uma
geração coragem.
OUVIR O CORAÇÃO
A geração coragem terá de ter a capacidade de sintonizar e ouvir o coração.
Recentemente, o Papa Bento XVI, na Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, na
praça Cibeles, falando aos jovens, alertava-os para essa necessidade: «Há palavras que
servem apenas para entreter, e passam como o vento; outras instruem, sob alguns
aspetos, a mente; as palavras de Jesus, ao invés, têm de chegar ao coração, radicar-se
nele e modelar a vida inteira. Sem isso, ficam estéreis e tornam-se efémeras… Queridos
jovens, escutai verdadeiramente as palavras do Senhor, para que sejam em vós “espírito
e vida”, raízes que alimentam o vosso ser… faminto de justiça, misericordioso, puro de
coração, amante da paz. Bem sabeis que, quando não se caminha ao lado de Cristo, que
nos guia, extraviamo-nos por outra sendas como a dos nossos próprios impulsos cegos e
egoístas, a de propostas lisonjeiras mas interesseiras, enganadoras e volúveis, que atrás
de si deixam o vazio e a frustração.»
PEDAGOGIA DO CORAÇÃO
A construção e o aparecimento de uma geração coragem pressupõem uma pedagogia
(um caminho) que retempera e fortifica, que dá coragem e valor, que eleva e dignifica.
Nesta pedagogia todos sabem que a vida é cheia de obstáculos mas, por mais atrozes e
por mais árduos que sejam, devem ser enfrentados com coragem.
Corajoso é aquele que nas suas relações afetivas não busca a fugacidade, mas a
permanência; que faz planos de vida vinculados a um projeto histórico e não à salvação
pessoal; que satisfaz a sua existência com a relação pessoal e não com o consumo
desenfreado.
Corajoso é aquele que recusa pertencer a uma geração rasca ou à rasca, mas que adere a
uma geração coragem, geração que busca superar completamente as suas crises através
de um caminho desconhecido, pavimentado pelo amor e orientado pelo coração.
Corajoso é aquele que, como dizia São João da Cruz, «se aventura por uma senda
escura: para chegar ao que não se sabe, há de ir por onde não se conhece».
Continua a reflexão em www.audacia.org.
Novembro 2011
O fundamental é simples
Vivemos num tempo complexo e cheio de contrastes. Contudo, acredito que existe uma
beleza infinita no valor da simplicidade.
PALAVRAS E AÇÕES
A palavra «simplicidade» é formada por duas outras de origem latina: sin, que significa
«um só», e plex, que quer dizer «dobra». Ser simples significa ter uma só dobra, ao
contrário do complexo, que tem várias. Simples é o que se dobra só uma vez.
Simplificar significa, então, facilitar o acesso ao que interessa, ao essencial, ao
importante. Da etimologia vem-nos o desafio e a tarefa de buscar a simplicidade
comprovando que a nossa felicidade está, no essencial, nos acontecimentos simples.
ÉS SIMPLES?
Uma pessoa simples é aquela que não simula, que não aparenta (em si, na sua imagem,
na sua reputação), que não calcula, que não tem artimanhas nem segredos, que não tem
segundas intenções, programas ou projetos escondidos.
Viver a simplicidade é o esquecimento de nós, do nosso orgulho e do nosso medo: é
quietude contra inquietude, alegria contra preocupação, ligeireza contra seriedade,
espontaneidade contra reflexão, verdade contra pretensão.
O simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem
falsidade.
O simples vive como respira, sem maiores esforços nem glória, sem maiores efeitos
nem vergonha.
A simplicidade não é uma virtude que se some à existência. É a própria existência,
enquanto nada a ela se soma. Por isso é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a
mais rara.
A simplicidade é o contrário da duplicidade, da complexidade, da pretensão.
A pessoa simples segue o seu caminho, de coração leve e com a alma em paz. O
presente é sua eternidade, e isso o satisfaz. Nada tem a provar, pois não quer parecer
nada; nada tem a buscar, pois tudo está ali.
A SIMPLICIDADE DE JESUS
Jesus foi uma pessoa simples, falou da simplicidade e viveu-a. Completamente diferente
dos líderes religiosos de sua época, Jesus andava no meio do povo, sentia o que o povo
sentia, não falava o nobre grego, ou o colonial latim, nem tampouco o patriótico hebreu.
Ele falava a língua do povo, o desprezado aramaico.
A simplicidade de Jesus era tão marcante que cativava gentes de todas as classes sociais.
Nós precisamos de aprender com Jesus a ser humildes e mansos de coração; a chorar
com os que choram; a levar as cargas e não os cargos uns dos outros; a abençoar os que
nos amaldiçoam; a amar os que nos odeiam; a repartir o pão, o espaço, a fé, a alegria
com os mais necessitados, a verdade com os que vivem no erro, a convicção com quem
vive de opinião.
São Tomás de Aquilo disse que «Deus é infinitamente simples». Acredito, como ele, que
a simplicidade não só é uma virtude e um modo de vida, mas, também, uma
espiritualidade. A simplicidade é a sabedoria dos santos.
Dezembro 2011
A arte de escutar
Todos – Jesus, Maria e José –, cada um à sua maneira, se escutaram uns aos outros e,
sobretudo, escutaram Deus. Saber escutar foi realmente uma virtude desta família que
nós devemos imitar. Temos de aprender a escutar Jesus, e escutar Jesus é estar
permanentemente atento à Vontade de Deus, que se manifesta em primeiríssimo lugar
através da sua Palavra, mas também por meio dos acontecimentos, dos conselhos que
recebemos e dos pedidos que nos fazem as pessoas que nos rodeiam.
ESCUTAR… PRECISA-SE
Na nossa vida agitada é difícil criar tempo para falar e escutar em família. Longe vão os
tempos em que a família se reunia depois do jantar para longos diálogos até à hora de
dormir. Falava-se das ocorrências e das azáfamas do dia, contavam-se histórias e
anedotas, rezava-se e jogava-se em família. Hoje há menos tempo! Liga-se a televisão
ao chegar a casa, janta-se a ouvir as notícias, passa-se tempo infinito ao computador e
ao telemóvel.
Muitos dos problemas relacionais e familiares devem-se à falta de diálogo e de escuta.
Mau humor, nervosismo, irritação, ira e, sobretudo, a necessidade de ter razão a todo o
custo complicam terrivelmente a escuta. Em certos lares fala-se e grita-se demais, mas é
um diálogo de surdos, todos falam, mas ninguém escuta, ninguém percebe o ponto de
vista dos outros. Quase todos queremos «ser escutados» e, provavelmente, este é um
sinal de que quase ninguém sabe escutar.
ESCUTAR É ENTREGAR-SE
É muito gratificante sentir-se escutado. Por isso, temos de dar oportunidades ao outro
para se expressar, para se sentir compreendido, e para isso temos de guardar silêncio,
externo e interno. Calar, em algumas ocasiões, não é fácil, e escutar pressupõe sempre
pôr-se no lugar do outro, saber por que se dizem as coisas, captar os seus sentimentos.
Escutar uma pessoa é valorizá-la como ela merece.
Existe em cada um de nós esta necessidade fundamental de sermos acolhidos,
compreendidos, amados, tal como realmente somos, com a nossa história pessoal, com o
nosso ambiente cultural, com os nossos sofrimentos e alegrias. Ser escutado como
pessoa é uma necessidade fundamental para que cada um de nós encontre o seu
equilíbrio emocional, psicológico, espiritual.
Janeiro 2012
O valor da oportunidade
Hoje, talvez nos falte o valor e o sentido da oportunidade, isto é, um porto seguro onde
atracar e, assim, nos abrigarmos das intempéries/crises. Crise refere-se a uma realidade
que está a mudar rapidamente e que nos deixa perplexos e impreparados para enfrentar
o futuro.
A palavra «crise» sugere uma situação trágica, triste e cruel resultado de uma rutura do
equilíbrio e harmonia, provocando um estado de dúvidas e incertezas. Ninguém deseja
passar por uma crise, mas, às vezes, ela é inevitável e, quando aparece, precisa de ser
enfrentada. Mas isto não é nada de novo… Já enfrentámos, ao longo da História, várias
crises, aliás o mundo esteve permanentemente em crise, pois pertence à sua natureza…
Foi o Big-Bang, a evolução das espécies, a conservação do fogo, a invenção da roda, a
teoria heliocêntrica, o computador, a Internet… crises que abriram espaços de acaso, de
incerteza, e perante as quais as pessoas se foram adaptando. Estamos, pois,
constantemente em crise, porque a nossa identidade é dinâmica e narrativa: faz-se,
desfaz-se, refaz-se... Crise – do grego krísis – significa, pela sua etimologia, um
momento decisivo, uma emergência, um risco, mas, simultaneamente, uma
oportunidade de mudança.
A HUMANIDADE E A CRISE
A crise é inerente à condição humana. A primeira crise é a do nascimento. O bebé
praticamente é expulso do ambiente confortável do ventre materno. Fala-se do primeiro
trauma, mas é a condição de possibilidade de conhecer os pais e admirar o mundo e
crescer e construir uma história. A seguir vem a crise da adolescência. Dá-se uma
reconfiguração do cérebro do adolescente, que, perante a turbulência das emoções,
ainda não está maduro para ser seu dono. Já não é criança, mas ainda não é adulto,
constituindo essa crise uma oportunidade para crescer e tornar-se adulto. Depois vem o
casamento e todos já ouvimos falar da crise dos casamentos, momentos que podem
fazer nascer um amor mais maduro… E, por fim, as crises da terceira idade e as
mudanças e limitações inerentes à velhice. O ser humano está permanentemente em
crise e isso é uma oportunidade de mudança.
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1 Powerpoint
e 1 Ficha de Trabalho
sobre o valor da OPORTUNIDADE
Fevereiro 2012
O valor da harmonia
HARMONIA DO UNIVERSO
Desde muito cedo, os nossos antepassados descobriram a necessidade e a beleza da
harmonia. Na mitologia grega, a harmonia era honrada como a deusa que promovia a
conjunção das forças opostas. Os gregos chamavam à harmonia do Universo kósmos,
cuja ideia fundamental era a da «beleza, ordem, arranjo». Também os romanos
chamavam ao Universo mundus, que quer dizer «puro». Ambos viam o Universo como
uma harmonia cheia de beleza e de pureza. A palavra «cosmos» incorpora ainda a ideia
de «adorno». Daí provém a palavra portuguesa «cosmético»: o que embeleza, e que tem
como antónimo caos, abismo, feio, como era tudo antes de Deus criar as primeiras
coisas, segundo a Bíblia.
A PERDA DA HARMONIA
Deus criou-nos numa relação harmónica. A harmonia interior de cada pessoa, a
harmonia entre homem e mulher e a harmonia entre toda a criação foi um desígnio de
Deus no ato de criar.
Porém, devido à desobediência humana, a harmonia oferecida foi destruída. Por isso, há
toda a espécie de males no íntimo das pessoas, nas relações interpessoais e na gestão
dos bens da Natureza. Então, tornou-se necessário restabelecer essa harmonia perdida. E
essa foi a missão de Jesus Cristo.
A PROPOSTA DE JESUS
Jesus anunciou e proclamou o Reino de Deus, um novo paradigma de vida enraizado
nos ideais de liberdade, fraternidade, justiça e harmonia. O Reino de Deus anunciado
por Jesus remete-nos para um estado de paz, harmonia e plenitude, como relatado pelo
profeta Isaías: Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado
do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca
pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o
boi. A criancinha brincará na toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na
toca da serpente (Is 11.6-8). O sentido mais profundo desta harmonia e plenitude
encontra-se na relação entre as diferenças de cada indivíduo: será um tempo onde as
diferenças de personalidades, hábitos e princípios não serão motivos de divergências e
desunião, pois a unidade estará na essência e não na forma. Esse reino começa já no
interior de cada um de nós na medida em que o vivemos e o propomos aos outros.
O DESAFIO DA HARMONIA
Criar harmonia no quotidiano é uma tarefa estimulante e motivadora. E criar harmonia
só é possível quando compreendemos que somos sujeitos amorosos, em busca de paz
com os outros, connosco, com o mundo e com a Natureza.
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e 1 ficha de Trabalho
sobre o valor da HARMONIA
Março 2012
Credibilidade
Nunca como hoje se falou tanto em credibilidade, crédito, débito, confiança, défice e
dívida… A credibilidade foi sempre um atributo essencial nos mais diversos tipos de
relacionamentos.
Podemos afirmar que uma pessoa é digna de crédito quando ela consegue estabelecer
relações interpessoais que inspiram confiança. Vale a pena lembrar que estes termos
nasceram no interior da Igreja Católica e por analogia à nossa relação com Deus.
A palavra «crédito» vem do latim creditus (do verbo latino credere: crer), e significa
«coisa confiada». Assim, «crédito», na sua origem, significa, entre outras coisas, confiar
ou ter confiança. Credibilidade é definida como qualidade de ser crível, acreditável.
CRÉDITO E DÉBITO
Considera-se crédito o direito que tem uma pessoa (credor) a receber de outra um débito
(devedor). Ter débito ou estar em débito significa estar em dívida; e estar com crédito
significa estar com saldo positivo. Esta teoria dos débitos e créditos nasceu no século
XV. E foi criada por um monge franciscano chamado Luca Pacioli para auxiliar os
comerciantes e negociantes de Veneza, que precisavam de gerir as suas economias
crescentes. A partir daí, o mundo nunca mais deixou de usar estes conceitos.
Aplicando os conceitos de crédito e débito à vida, podemos afirmar que o crédito, ou a
credibilidade, é a capacidade de gerarmos confiança à nossa volta. É sempre bom ter
credibilidade, com os amigos, com a família, com os professores, enfim, com o mundo
que nos rodeia. É sempre bom acumular créditos e ter credibilidade, pois nunca
sabemos quando vamos precisar dela. Contudo, não podemos ignorar o cuidado que
devemos ter no seu uso, pois, para construí-la, é necessário anos de esforço, dedicação e
renúncias; mas, para perdê-la, às vezes, basta um gesto, uma palavra, uma atitude.
DÉFICE DE CRÉDITO
A recente crise financeira global obriga as pessoas a prestarem muita atenção ao crédito.
Quando o crédito era fácil de conseguir, algumas pessoas tornaram-se descuidadas e
abusaram dele, não economizando e considerando ter dívidas como uma coisa normal.
O problema surgiu quando tiveram de as pagar e não conseguiram e lá se foi a
credibilidade. Atualmente, e devido à crise de crédito e credibilidade, ter um bom nome
como credor, ter credibilidade, tornou-se subitamente muito importante. Essa atual crise
de crédito e credibilidade financeira alastra-se, também, ao mundo das relações: quantas
vezes as pessoas que nos rodeiam e, sobretudo, aquelas que exercem responsabilidade,
perdem credibilidade e crédito. Torna-se, assim, urgente recuperar a credibilidade, não
só financeira, mas sobretudo a humana.
REVER AS CONTAS
Ao fim de cada dia, todos devíamos fazer uma análise de como vivemos, daquilo que
fizemos em prejuízo ou benefício do próximo, e em nosso próprio prejuízo ou benefício,
isto é, fazermos um registo, um balanço, entre os débitos e os créditos. Fazer este
balanço (outro nome é exame de consciência) não é fácil, porque, quase sempre,
tentamos ocultar de nós mesmos os nossos débitos. Vamos sempre empurrando para
longe, para os outros, as responsabilidades, os débitos, que são obviamente nossos. Mas
só na medida em que formos transparentes e honestos é que nos podemos conhecer,
assumir as nossas falhas e, consequentemente, fazer os necessários acertos e correções.
PRESTAR CONTAS…
Não foi à toa que Jesus Cristo, um dia, falou da necessidade de o administrador prestar
contas da sua administração. Quando pensamos em administração, não é apenas a
administração de negócios, de dinheiro, mas, num sentido amplo, é a administração da
nossa vida, o dia a dia, na família, na escola, no grupo de amigos, e, se não soubermos
administrá-la bem, certamente contrairemos débitos. Deus concede-nos muitos créditos,
muita credibilidade, mas um dia também nos perguntará como é que a administramos.
Lembra-te que a credibilidade abre muitas portas, inclusive aquelas que, por vezes, o
dinheiro não pode comprar e que a credibilidade é um facilitador de relações,
estreitando relacionamentos e solidificando a confiança. Por fim, a credibilidade traz
resultados a curto, médio e longo prazo, facilita o presente, enobrece o passado, além de
deixar uma bela herança para o futuro.
A NOSSA CREDIBILIDADE
A credibilidade não pode ser comprada nem emprestada. Precisamos de construir a
nossa. A credibilidade resulta da capacidade de gerar confiança. A maneira de ganhar
credibilidade é viver honradamente. É justamente na arte de viver e na esfera dos
relacionamentos que reside o cerne da questão da credibilidade.
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sobre o valor da CREDIBILIDADE
Abril 2012
Convívio contra isolamento
A palavra «convívio» deriva do latim cum e vivere, e significa «viver com» ou «viver
junto de». Trata-se, assim, da capacidade de vivermos bem na presença uns dos outros
sem termos de perder as nossas especificidades. Convívio é, então, a capacidade de
vivermos lado a lado, cada um satisfatoriamente para si, sem tentar suprimir as
diferenças um do outro, mas onde eu tenho um respeito absoluto pelo outro, um sujeito
como eu de pleno direito e dignidade.
No convívio pode haver interação, desde que não forçada por uma das partes, e pode
acontecer, inclusive, redução das diferenças e/ou assimilação de traços do outro, desde
que voluntária, isto é, que seja do outro a iniciativa de se modificar, jamais forçada ou
induzida por qualquer meio que viole de qualquer modo e em alguma medida a
liberdade e a consciência do outro.
Dificuldades no convívio
O maior obstáculo para o convívio é o isolamento. Este leva, mais cedo ou mais tarde,
ao egoísmo. O ser humano está hoje mais egoísta do que nunca, talvez por não se sentir
bem nesta sociedade altamente materialista. Então, isola-se cada vez mais, e chega,
inevitavelmente, ao egocentrismo e ao egoísmo.
Apesar de vivermos num mundo globalizado, onde tudo é próximo, a solidão aumenta a
olhos vistos. Os homens vivem perto uns dos outros, mas estão sós. É uma estranha
vizinhança. Perante isto, não é de admirar que surja uma necessidade urgente de
convívio, de vivermos juntos, de comunidade, e é para aí que temos, inevitavelmente, de
evoluir, pois só essa atitude produzirá a nossa realização e felicidade, pois, enquanto
humanos, somos seres de e para a relação.
Ânsia de relacionamentos
As relações interpessoais e o convívio evocam em nós a convivência pacífica e fraterna
que marca a história de homens e mulheres de todos os tempos.
Somos espelho uns dos outros. Nesse sentido, o outro tem características semelhantes às
minhas, problemas mais ou menos idênticos, sentimentos, dores e alegrias análogos.
Penso que o sinal de evolução de uma sociedade e de uma civilização passa pela
capacidade e grau de uma sã convivência. Sendo assim, andamos pouco conscientes do
que realmente somos, do que queremos ser, para onde queremos ir… andamos como
perdidos, adormecidos, resumindo, inconscientes da importância do convívio. A viagem
mais importante que podemos fazer na vida é encontrarmos pessoas pelo caminho e
com elas fazermos caminhada. É urgente repetir isto até que seja entendido: o convívio
não é um acréscimo para sermos perfeitos, é a essência do ser humano. O ser humano,
como indivíduo solitário, não é pessoa, mas só quando vive em comunidade e para a
comunidade, quando serve a alguém, quando ama alguém. Só então é que nasce como
ser humano.
A convivência humana
O grande desejo de Jesus Cristo para a humanidade é a capacidade de vivermos em
comum e em harmonia. O cristão é chamado a organizar-se e a viver em comunidades
fraternas. O saudável convívio – a fraternidade – é o grande projeto de Deus para cada
um de nós. A fraternidade é uma vida nova e criativa com Deus que se realiza mediante
uma convivência harmoniosa entre nós, a natureza e Deus. O grande tema de todos os
tempos e de todas as gerações, a ser buscado constantemente, sem nunca ficar resolvido
por completo, é o tema da convivência humana entre as pessoas; por outras palavras, é o
tema das relações fraternas entre os povos. Assim, o convívio é a passagem da
desigualdade à igualdade, da desunião a união, do individualismo à comunhão fraterna.
A valorização do outro
O convívio é também a valorização do outro, enquanto igual em dignidade e respeito.
Posso aperceber-me de que o outro é diferente de todos os que existiram antes e
existirão depois. Com o tempo, chegarei a conhecer também as suas possibilidades mais
recônditas. Conheço-o, não só pelo que é, mas também pelo que pode e deve ser, como
poderia ser a sua perfeição e a sua autêntica autorrealização. Tenho a capacidade de o
amar e, quanto mais crescer o meu amor, mais desejarei que o outro seja o melhor e o
mais perfeito possível, em suma, que se realize ao máximo; e assim estarei preparado
para o ajudar a realizar-se. Vejo, com uma clareza cada vez maior, que a minha
autorrealização pessoal consiste em ajudar o outro a realizar-se. E isso é o convívio.
Maio 2012
Mãe(ternidade)
Dia 6 deste mês é Dia da Mãe. É uma oportunidade para refletirmos sobre o valor e a
dignidade da maternidade na sociedade contemporânea que promove direitos e
liberdades, mas que evita definir as responsabilidades.
O costume de dedicar um dia por ano a honrar a mãe remonta à Antiguidade romana.
Nesse dia, as mães eram levadas ao templo e coroadas de rosas. No século passado, nos
Estados Unidos da América, Anna Jarvis, abalada com a morte da mãe, iniciou um
movimento para comemorar o Dia da Mãe em toda a América. A ideia foi aprovada em
1913 e, depois, inúmeros países, entre eles Portugal, tomaram a mesma decisão. Em
Portugal, durante muitos anos, o Dia da Mãe foi celebrado no dia 8 de dezembro, festa
da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, tendo mudado depois para o primeiro
domingo de maio.
Ser mãe…
A vocação de mãe é uma vocação de serviço e de amor. Pela maternidade, a mulher
participa no poder divino de transmitir a vida. A força do amor materno deve-se, em
parte, à união de sangue entre mãe e filho durante a gravidez e que depois continua na
amamentação. Desde que a mulher se torna mãe, já não espera nada para si; começa
uma vida nova e a sua alma, a partir desse instante, já não vive para o seu próprio amor.
No filho encontra o sentido da sua vida, o seu único tesouro e a sua última plenitude, a
alegria do seu coração, a alma da sua vida e a coroa da sua esperança. Por tudo isso, ser
mãe é algo que só pode ser entendido por quem sabe dar o devido valor para o que
representa gerar vida em amor. Mãe é símbolo de força, dor, sofrimento, alegria, paz,
com uma capacidade especial, dada por Deus, para cuidar dos filhos desde dentro de seu
ventre até o fim de seus dias.
Os valores da maternidade
A mulher possui qualidades que facilitam e incentivam a maternidade: ternura,
suavidade, capacidade de escutar e de mostrar o carinho de maneira imediata e sensível,
o detetar as necessidades do outro, o saber reconhecer aquilo que é peculiar e próprio de
cada pessoa, o aceitá-las como são, o ver as pequenas coisas concretas que fazem a vida
diária agradável, o atender a essas coisas pequenas, que são tão necessárias para que o
lar seja humano e íntimo. O acolhimento ao outro, a misericórdia sem limites, a abertura
a todos, a preferência pelo mais fraco, o servir a cada um como se fosse o único, o amor
incondicional e desinteressado são alguns valores que estão associados, também, à
maternidade.
Obstáculos à maternidade
Em meados do século xx, o feminismo e a revolução sexual, aliada à difusão dos
métodos anticoncetivos e à descriminação do aborto em alguns países, influíram na
construção de uma identidade e condição feminina cada vez mais separada da
maternidade. O filho, para muitas mulheres, transforma-se num obstáculo para a
realização pessoal, impossibilitando ou dificultando o êxito em várias áreas como o
trabalho, o estudo, a participação social, o divertimento, a política, etc. Os conceitos de
mãe e de mulher excluíram-se mutuamente: ou se é mãe ou se é mulher.
Um dos problemas que hoje se observa é que, embora se tenha superado, em grande
parte, a histórica desigualdade entre o homem e a mulher, promove-se a rivalidade entre
ambos, o que, somado ao individualismo predominante, transformam a maternidade em
algo que deve ser retardado ou até mesmo renunciado. Face a esta mentalidade, torna-se
urgente a reconciliação entre estes dois conceitos (mulher e mãe) na sociedade pós-
moderna e a consequente dignificação e valorização da maternidade se quisermos
assegurar o futuro da sociedade.
Valorizar a maternidade
A Bíblia nunca ordena que todas as mulheres devam ser mães. Contudo, diz que aquelas
que o Senhor abençoa e se tornam mães devem tomar seriamente tal responsabilidade.
Deus quer que as mulheres não desprezem o presente que receberam de Suas mãos, mas
que valorizem e se alegrem todos os dias pelo dom da maternidade e trabalhem para que
os seus filhos também sejam motivo de honra e alegria para si e para Deus.
Antigamente ser mãe era «natural», ou seja, a maternidade era vista como a principal
função e identidade a ser desejada pelas mulheres. Contudo, nos nossos dias, ter uma
carreira ou atividade passou a ser esperado das mulheres e pelas mulheres atirando para
segundo plano a maternidade.
É urgente valorizar as mulheres que decidem ser mães, protegendo-as com
comportamentos e leis que permitam simplificar e dignificar a sua missão. Ao fazermos
tal, estamos a valorizar, também, os pais, os filhos, e a sociedade que amanhã vai ser
habitada pelas crianças de hoje – que na família vão encontrar a primeira base para se
tornarem bons cidadãos e cristãos.
Junho 2012
Retidão
Muitas pessoas não norteiam nem orientam as suas ações pela retidão. Pelo contrário,
vivem no reino do vale tudo.
Vivemos numa época em que muitas pessoas vivem no reino onde não existe nem bem
nem mal, onde é tudo igual, no reino onde é melhor parecer do que ser: para muitos
copiar, roubar, fingir, enganar…, desde que não se seja descoberto, compensa. É o reino
onde os fins justificam os meios e onde viver maquiavelicamente até parece rendível e
útil para não dizer premiado. Investe-se mais no parecer do que no ser… reto, íntegro,
honesto. Viver em (e com) retidão já não é um valor ou uma conduta de vida que se veja
por aí e a que se aspire.
Retidão é…
A palavra «retidão» é muito interessante e singular e está relacionada com outras
palavras como «integridade», «consciência», «honradez», «probidade, «seriedade» e é,
sobretudo, um atributo de Deus. Ser reto é levar uma vida sempre buscando o bem,
tanto próprio como do próximo, não cultivar o desejo de fazer o mal, de prejudicar os
outros, nem buscar o benefício pessoal à custa de outrem.
A falta de retidão
Não só o mundo mas também os cristãos são afetados pela falta de retidão. Muitos
cristãos acham que ser cristão se resume a afirmar ter fé em Jesus Cristo, frequentar a
igreja, e «colecionar» sacramentos… A Palavra de Deus mostra-nos que o padrão de
Deus para a vida dos crentes não se resume ao cumprimento de algumas regras, mas,
sim, a uma vida de integridade e retidão. Na Bíblia, Job é o modelo de retidão, pois é
elogiado por ser um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Deus
ama a integridade e a retidão e tem promessas grandiosas para quem cultiva essas
virtudes.
A busca da retidão
A busca da retidão é uma dimensão fundamental e transversal a toda a humanidade. No
Antigo Testamento, Deus sempre desafiou o povo de Israel a um caminho de retidão
para a construção de uma sociedade mais justa. Houve muitos atropelos à retidão, mas
sempre existiram homens capazes de a preservarem e a proporem. Os próprios castigos
eram pedagogia para fazer voltar o povo aos caminhos da retidão. O povo tinha
consciência da precariedade desse esforço humano e esperava, num futuro que a Deus
pertencia, o verdadeiro «reto e justo». Isso cumpriu-se na pessoa e na mensagem de
Jesus Cristo. Jesus não só foi reto como propôs o caminho da retidão para os seus
seguidores.
Julho/Agosto 2012
Lazer
Atenção: lazer não é sinónimo de não fazer nada. É, pelo contrário, um tempo
importante e necessário, desde que bem entendido, e, por isso, torna-se importante
refletir sobre o lugar e a importância deste valor para os jovens de hoje, isto é, refletir
acerca da passagem do tempo livre à libertação do tempo.
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sobre o valor do LAZER
Outubro 2012
AUDÁCIA
A Audácia sempre soube apresentar, de forma clara e audaz, a mensagem cristã. «Ser
audaz», na vivência cristã e missionária, foi sempre a proposta da revista aos
adolescentes e jovens portugueses.
A AUDACIA DE SER
A palavra audácia deriva do latim «audax» (atrevido, bravo), e de «audere» (atrever-se,
empreender). Assim, audácia implica um impulso de alma que leva a cometer ações
extraordinárias, desprezando obstáculos e perigos. Uma pessoa audaz tem no seu
interior uma forte confiança que a faz traçar novos caminhos, menosprezando e
vencendo o medo de falhar, de modo que vislumbre e desfrute de novos e maravilhosos
destinos. A audácia é a capacidade de acreditar que há valores e traços, marcas e
desafios que não podemos ignorar ou menosprezar, mas, pelo contrário, temos de
abraçar e viver para os podermos partilhar e propor aos outros nossos irmãos. Este é um
caminho, uma opção de vida, que nos dignifica como pessoas e cristãos. Muitos te dirão
que não conseguirás, mas a audácia sussurrar-te-á que serás capaz. Giovanni Papini, um
famoso escritor italiano, inicialmente cético, que mais tarde passou a um católico
fervoroso, disse que «a juventude se reconhece por três sinais essenciais: a vontade do
amor, a curiosidade intelectual e o espírito de audácia».
A AUDACIA DE VIVER
A vivência da mensagem cristã implica sempre algumas dúvidas e incertezas que devem
ser combatidas com audácia, coragem e esperança. A vida ao ritmo da audácia implica
lutas e vitórias, exige a capacidade de carregar a própria cruz da responsabilidade de
uma missão, mas também acena para uma vida feliz e uma paz duradoura. O cristão
deve ser audacioso na forma de entender e viver a sua fé e comprometer-se com os
anseios da humanidade: anseios de liberdade interior, de segurança na fé, de defesa dos
direitos humanos e de promoção de uma vida mais digna para os que se encontram à
margem da sociedade. A audácia é a capacidade para voar mais longe e mais alto,
combatendo, assim, a rotina que paralisa e destrói os sonhos.
A AUDACIA DE FAZER
Não vivemos uma época de mudanças, mas numa mudança de época. O que antes era
certeza servindo como referência para viver, tem se mostrado insuficiente para
responder a situações novas e, até certo ponto, inusitadas, deixando as pessoas perplexas
e indecisas nas suas opções religiosas. Perante este cenário só a audácia e a esperança
nos permitem encontrar alternativas eficazes e significativas, garantes de uma
mundividência cristã com significado. Sem audácia, a vida mantêm-se num comodismo,
num medo e numa inércia frustrantes. A falta de audácia mantém-nos aprisionados às
areias movediças do «sempre foi assim e sempre assim será», aprisionados a
«sistemas», a «esquemas», a «trilhos» e a «propostas» que não enchem nem preenchem
o coração! Audácia é a capacidade de acreditar no desafio do «novo», do «diferente» e
do «inseguro».
AUDACIA E FUTURO
Para o audaz, o futuro é o caminho e o amanhã é o horizonte. Viver com audácia é
recusar avançar sem as «muletas», que até nos podem sustentar e assegurar que não
caímos, mas que nos impedem de correr. Viver com audácia não é uma falsa ou
prejudicial rebeldia, mas, ao contrário, é uma fecunda e nobre capacitação de talentos,
uma assunção de responsabilidades geradoras de liberdade, um viver ao ritmo da beleza
do inconformismo… Viver com audácia é acreditar na força e na libertação dos sonhos
que pautam o nosso peregrinar e nos impedem de cair no imobilismo, no conformismo
ou no situacionismo. Esta foi a vida da revista Audácia.
A revista Audácia foi sempre audaciosa nas suas propostas, vencendo o medo do
imobilismo e da inércia cristã e conseguindo traduzir, numa linguagem jovem e
atraente, a riqueza da mensagem cristã.
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sobre o valor da AUDÁCIA
Podemos definir a eternidade como o que está fora do tempo. A eternidade é a duração
de um ser que exclui todo o começo e todo o fim, bem como toda a mudança ou
sucessão. Bento XVI diz-nos que a eternidade não é «uma sucessão contínua de dias do
calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos
abraça e nós abraçamos a totalidade» do ser, da verdade e do amor. Deus é eterno e
manifesta o seu amor oferecendo a eternidade a todos os seus filhos.
DENTRO DE NÓS…
Deus pôs no nosso coração o anseio pela eternidade. Santo Agostinho dizia: «Criaste-
nos para Vós, Senhor, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar em Vós.»
No entanto, podemos optar pela ótica da eternidade ou da materialidade.
Na ótica da materialidade, a vida tem valor quando se funda nos critérios do ter, do
usufruir, do competir, priorizando o cultivo de critérios apenas temporais: como a
competência, o vigor físico, a aparência, o poder social, político e económico, a posse
de bens materiais.
Na ótica da eternidade, o valor da vida e dos bens da criação parte simplesmente da
consciência de que o fim da vida humana é na verdade o início da eternidade. Por isso
todo o cristão deve pautar a sua vida, as suas escolhas, opções e valores tendo por
critério de vida a dimensão da eternidade. Os valores humanos não são negados, mas
tornam-se relativos diante do valor absoluto que é Deus, a eternidade.
AO RITMO DA ETERNIDADE
Acreditando na eternidade, naturalmente encaramos a morte com realismo e esperança.
Acreditamos que esta vida é como a primeira página de um livro que fica completo na
eternidade. É como se aqui fosse o período que passamos no ventre materno, quando
nascemos, entramos na eternidade. O apóstolo Paulo compara o nosso corpo nesta vida
a uma tenda frágil e temporária, mas afirma que na eternidade receberemos e viveremos
num edifício eterno.
Viver ao ritmo e em função da eternidade muda os nossos valores: os valores mundanos,
embora necessários, tornam-se provisórios. O que era lucro passa a ser considerado
como perda, por causa de Cristo. Assim, devemos viver cada dia preparando-nos para o
último dia. E a única preparação segura para a eternidade com Deus é acreditar e confiar
em Jesus como nosso Salvador, pois somente Ele é o caminho, a verdade e a vida e
ninguém vai ao Pai se não for por Ele. Pelo contrário, quem não acredita nem vive ao
ritmo da eternidade, concentra todas as suas forças, naturalmente, em apegar-se com os
dez dedos ao dinheiro e aos bens materiais; não os repartirá com ninguém e, para os
conseguir, acabará por calcar e atropelar quem se opuser.
JÁ E AINDA NÃO
Uma das tarefas essenciais e prioritárias da Igreja é despertar as pessoas para a sua
imortalidade, ao mesmo tempo que denuncia as amarras do materialismo e confronta os
limites de uma cultura enferma pela ideia de que não existe nada para lá da morte.
A acumulação de bens materiais procura entreter o homem e acaba por roubar-lhe o que
é essencial. Fomos criados para Deus e para viver com Ele e na Sua presença por toda a
eternidade. Se é verdade que no tempo presente estamos confrontados com o mistério da
injustiça, do sofrimento, da dor, da doença, da violência, da agressão, do ódio, do
egoísmo, ao ponto de nos interrogarmos acerca de Deus e da Sua bondade, a Bíblia fala-
nos e chama a atenção para um outro tempo, uma outra era, uma outra dimensão, em
que tudo isso terá o seu termo e em que viveremos para sempre em absoluta bem-
aventurança.
VIAJANTES DA ETERNIDADE
Somos viajantes do tempo e do espaço até à eternidade, onde já não existe tempo nem
espaço! O próprio Criador, que nos fez criaturas, um dia Ele mesmo se fez criatura para
revelar o grande mistério que é a eternidade: o grande encontro com a felicidade plena
onde só reinará a paz, o amor e a plenitude da vida que Deus sonhou para nós nas
origens e que, pelo pecado, impedimos que acontecesse.
Dezembro 2012
Concórdia
O Natal está a chegar e com ele chegam também as luzes, as decorações, as compras, as
prendas e tantas outras coisas que são importantes, mas não essenciais.
Todos os anos anseio que os rituais comerciais da quadra do Natal não nos desviem do
essencial que é a vinda do nosso Deus até nós com o seu amor e com a sua ternura,
desejando encontrar-nos e visitar-nos. Ele vem trazer às pessoas, às famílias e aos povos
o dom de uma nova fraternidade, da concórdia e da paz. Vem acender nos nossos
corações a luz de uma nova humanidade, da compaixão pelos pobres, pelos pequenos e
pelos que sofrem. A contemplação do Deus feito menino, com rosto de ternura, faz-nos
sentir um frémito de alegria que se vive em família e, em certa medida, estende-se a
toda a sociedade, predispondo-nos a construirmos e a vivermos a concórdia.
CONCÓRDIA!?... O QUE É ISSO?
A palavra «concórdia» deriva de duas palavras latinas cum e cordis, que, literalmente,
significam «com (um) coração», uma união de corações. A concórdia é, pois, um
encontro de corações e de vontades que produz unidade, paz e harmonia. Concordar
com alguém é partilhar do mesmo coração, isto é, das mesmas ideias e sentimentos;
discordar, por sua vez, é o movimento contrário.
A concórdia não significa consenso, unanimidade ou acordo. Pelo contrário, a concórdia
é a disposição de viver juntos (família, pessoas, religiões, nações) não obstante as
diferenças e discrepâncias dos membros que compõem a sociedade. O essencial da
concórdia é o amor à convivência pacífica, apesar das tensões, dos conflitos e das
diferenças.
EU PRECISO DA CONCÓRDIA?
Existiram e existem discórdias que produziram e produzem uma quantidade infindável
de atrocidades contra pessoas, animais e meio ambiente.
É de realçar que as discórdias em si mesmas não são más, desde que surjam e estejam
ao serviço de um projeto de melhoria da condição humana. O problema é que, na maior
parte das vezes, elas surgem aliadas a interesses mesquinhos e baixos, provocando
injustiças e sofrimento.
No nosso país, nos últimos anos, fruto das discórdias económicas, políticas e sociais,
todos nós assistimos ao mal-estar de uma sociedade afetada pela crise económico-
financeira, pela falta do precioso bem do trabalho para todos, pela insegurança do
futuro, pelo aumento da pobreza e pelo sofrimento de muitos pobres – uma sociedade
psicológica, cultural e espiritualmente cansada, desiludida, esgotada. Falta-nos uma
visão congregadora e mobilizadora de sociedade que, respeitando as diferenças, nos una
e nos torne mais fortes, capazes de construirmos um mundo mais humano, mais
fraterno, mais justo.
DESEJOS DE CONCÓRDIA
Se é um facto a existência de discórdias, também é real o desejo de concórdia. Nunca,
em nenhum outro tempo da nossa história, se debateu, refletiu e defendeu tanto os
direitos fundamentais do ser humano. Em nenhuma outra época se criaram tantas
organizações e instituições capazes de dar respostas às necessidades mais básicas do ser
humano, procurando resolver conflitos e discórdias, tentando alcançar, assim, a
concórdia e a paz entre pessoas e nações. Nunca os países assinaram tantos acordos de
cooperação e entreajuda. A par das discórdias, está inscrito no coração dos homens a
preocupação pela vida, pela paz, pelo bem-estar, numa palavra, pela Concórdia.
Aspiramos pela sintonia e pelo despertar da concórdia que nos permite encontrar a
unidade dentro de nós mesmos e com as pessoas que nos rodeiam. No fundo, é
desejarmos o Natal e a beleza da sua mensagem: a aspiração de paz, o desejo de
concórdia, o anseio de entendimento entre os povos. É desejarmos que o Natal não seja
só um dia, mas um contínuo e diário projeto de vida.
Janeiro 2013
FÉ
Reaviva o teu crer
Estamos a celebrar o Ano da Fé instituído pelo Papa Bento XVI. São muitas as
iniciativas que, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, pretenderão
reavivar e valorizar o ato de crer.
A DESVALORIZAÇÃO DA FÉ
Um pouco por todo o lado nota-se uma crescente desvalorização da fé, remetendo-a
para o passado ou para pessoas menos informadas e cultas. Muitos pensam que com os
comprovados avanços da ciência, da técnica e da tecnologia, a fé já não é tão necessária
ou tornou-se mesmo supérflua. Por isso, há um grande número de pessoas que não
frequentam a igreja e vivem como se Deus não existisse. Muitos pais, mesmo católicos,
fazem muitos sacrifícios para arranjarem a melhor escola, as mais variadas atividades
extracurriculares, desportivas e culturais, para proporcionarem o divertimento e
crescimento físico e intelectual aos seus filhos. No entanto, descartam o menor esforço
que vise a dimensão espiritual e religiosa, como seja conhecerem e encontrarem-se com
Deus, rezarem, irem à igreja ou frequentarem a catequese. A fé é, assim, facilmente
banida da educação e formação humanas.
O QUE É A FÉ?
A palavra «fé» deriva do termo latino fides, que significa a confiança que depositamos
na palavra de alguém. A fé é a firme convicção de que algo é verdade, sem qualquer tipo
de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos
nesta ideia ou fonte de transmissão. Ter fé, portanto, não é acreditar em qualquer coisa;
ter fé é aceitar como verdadeira a Palavra revelada de Deus, é aderir voluntariamente às
verdades que Deus comunicou à humanidade, sem as aumentar nem as diminuir. Nos
evangelhos, em vez de fé, deparamo-nos, frequentemente, com a palavra «acreditar»,
que significa a situação de quem confia, de quem se apoia numa rocha e de quem se
sente seguro por estar apoiado em alguém mais forte do que ele. Ter fé é crer, confiar,
aderir, amar, relacionar-se, dar crédito, desistir de tudo provar racionalmente, dar o
nosso voto de confiança a Deus. A fé não é cega mas também não é de todo racional;
mas sempre razoável e fundada. Não é irracional, mas sobrenatural. Como
humanamente acreditamos nos nossos amigos, supomos que o alimento não está
envenenado, que os pais nos querem bem, e muitos outros atos de fé humana, muito
mais devemos acreditar que Deus não tem interesse em mentir-nos, antes é Deus de
Verdade e de Amor que nos quer bem, a ponto de morrer por nós em Jesus Cristo, cujo
mistério pascal constitui o centro e cume da nossa fé.
A ALEGRIA DA FÉ
A fé não é nem pode ser um meio para alcançarmos qualquer coisa mas tem de ser um
meio para sermos melhores e mais felizes. A fé é indispensável na vida do cristão pois
permite-nos aprofundar a amizade com Jesus Cristo: uma amizade que vale mais do que
tudo o que existe; mais fiel e segura do que aquela que se pode manter com alguém na
terra; e a que mais nos aproxima de Deus, fonte da vida, do conhecimento e da
felicidade. A fé vivida em alegria proporciona saborear uma serenidade profunda que
nasce do encontro com o Senhor, que nos ama. A fé ajuda-nos, também, a resistir às
adversidades da vida. Deus não nos livra dos perigos e dos males, mas dá-nos a força e
a coragem para enfrentá-los. Além disso, a fé é um estímulo para não pensarmos só em
nós e nos empenharmos na construção de um mundo melhor para todos. Com a fé, a
vida não se torna mais fácil, mas fica seguramente mais alegre.
Conforme prometido na Audácia de janeiro, iremos, neste Ano da Fé, refletir sobre o
valor e a importância da fé na nossa vida. Este mês, falarei do valor e do significado do
Credo.
O Credo é um texto que, com certeza, já aprendeste, e o dizes cada vez que participas na
eucaristia dominical. Ele foi solenemente proclamado no teu batismo. As fórmulas do
Credo foram articuladas pelos apóstolos e pelos seus primeiros sucessores, a fim de que
os cristãos guardassem, de memória, os principais temas da fé revelados por Jesus
Cristo. Importa, agora, não só o proclamar, mas ficar a saber algo mais sobre as suas
origens, o seu conteúdo e significado e suas implicações para a nossa vida.
A FÉ RESUMIDA
O Credo é um dos símbolos mais importantes da nossa fé. A palavra «credo» tem
origem no latim. Credo significa «creio». O Credo é um admirável resumo da fé cristã,
numa fórmula articulada, também chamada «profissão de fé». Através deste texto, a
Igreja, desde as suas origens, exprimiu resumidamente e transmitiu a própria fé, numa
linguagem normativa e comum a todos os fiéis. Os apóstolos compuseram-no e
ensinaram-no para ser o comum denominador de todos os cristãos assim como um
símbolo e sinal, memorável e inviolável, da unidade da fé que nos veio dos apóstolos.
Inicialmente, era usado como proclamação batismal que era enunciada pelos
catecúmenos (novos cristãos), resumindo assim as proposições objeto da fé na qual
estavam a ser batizados. O Credo tem assim, simultaneamente, uma dimensão pessoal e
comunitária.
É SIMBOLO DE COMUNHÃO
O Credo é um símbolo de comunhão, porque, ao recitarmos este texto, reconhecemo-
nos cristãos e em comunhão (comum união) com todas as gerações cristãs que nos
precederam. É a expressão de uma fé comum, a fé da Igreja. A proclamação do Credo
deve criar em nós uma adesão interna, um ato interior de fé, uma afirmação destas
verdades divinas, alegrando-nos de possui-las e preferindo-as a todas as coisas, já que
são elas que nos levam a Deus. Santo Ireneu de Lião (135-202 d. C.) disse-nos que o
Credo «resume a fé que a Igreja recebeu; e esta é a fé, que mesmo dispersa pelo mundo
inteiro, a Igreja guarda com zelo e cuidado, como se tivesse a sua sede numa única casa.
E todos são unânimes em crer nela, como se ela tivesse uma só alma e um só coração.
Esta fé (Credo) a Igreja anuncia, ensina e transmite como se falasse uma só língua…»
(RE)CONHECER O CREDO
O Papa Bento XVI, ao anunciar o Ano da Fé, lançou-nos um duplo desafio: por um
lado, a necessidade de ainda encetar esforços para que o Credo seja mais e melhor
conhecido, compreendido e pregado e, sobretudo, por outro lado, o desafio para que o
Credo seja mais «reconhecido» pelos cristãos. «Com efeito, conhecer poderia ser algo
simplesmente intelectual, enquanto “reconhecer” quer significar a necessidade de
descobrir o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa
existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente – como
sempre foram – luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso
caminho, vida que vence certos desertos da vida contemporânea.»
Março 2013
Água, valor vivificador
O ano de 2013 foi proclamado pela ONU como Ano Internacional da Cooperação da
Água. O dia 22 de março é Dia Mundial da Água. Iremos refletir sobre o valor da água
na nossa vida, no contexto da fé e na importância e simbologia que a água tem nas
religiões.
ÁGUA NA BÍBLIA
São diversos os excertos bíblicos onde a água é vista como sinal da vida, sinal da
presença de Deus que transforma a existência humana. A água, na teologia bíblica,
reveste-se de dois aspetos que parecem contraditórios: um é vida, bênção, sinal da
presença de Deus, imagem da pessoa que se deixa conduzir por Deus e por sua graça. O
outro é caos, morte, destruição e ausência de Deus. Apesar de parecerem contrários, os
dois decorrem da experiência vital do povo de Israel. Exemplos dessa dicotomia são o
dilúvio (Gn 6, 9-8,22) e o batismo (Mt 3, 13-17). No primeiro, a água inunda, destrói e
configura-se como uma força, frente à qual as criaturas pouco valem. No segundo, ela
lava, purifica, redime, é a visibilidade da graça e da bondade de Deus que,
prodigamente, nos sustenta.
A ÁGUA NO CRISTIANISMO
Praticamente todas as igrejas cristãs têm um rito de iniciação que envolve o uso da água,
o batismo, que é uma declaração pública de fé e um símbolo de boas-vindas à igreja
cristã. Quando batizada, uma pessoa é parcial ou totalmente imersa em água que
alternativamente pode ser vertida ou aspergida sobre a sua cabeça. O sacramento tem as
suas origens na Bíblia, onde está escrito que Jesus foi batizado por João Baptista no rio
Jordão. No batismo, a água simboliza a purificação, a rejeição do pecado original. A
palavra grega para «batismo» é baptisma, que se deriva do verbo baptizō, que
etimologicamente significa «imersão», «ato de imergir», «mergulhar». Assim sendo, a
palavra «batismo» compreende a «imersão», a «submersão» e a «emersão», que
significam a regeneração total, um novo nascimento, uma recriação do sujeito. A água
benta, a água que foi benzida na vigília da Páscoa é usada em vários ritos como
bênçãos, dedicações, exorcismos e funerais.
Abril 2013
O valor da Trindade
Desde a criação do universo até os fins dos tempos, a história é dirigida pelo Deus Uno
e Trino, comunhão perfeita do Pai com o Filho e o Espírito Santo. Três pessoas que
estabelecem uma comunhão e união perfeita, formando um só Deus, constituindo,
assim, um perfeito modelo transcendente para as relações interpessoais. As pessoas da
Santíssima Trindade possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, sabedoria,
poder, bondade e santidade, mas certas atividades são mais reconhecidas numa pessoa
do que noutra.
UM MISTÉRIO
Costumamos dizer que a trindade é um mistério. A palavra «mistério» não quer dizer
algo que seja impossível de existir ou de acontecer; mistério é apenas algo que a nossa
inteligência não compreende. Deus é um Mistério, porque a sua grandeza infinita não
cabe na nossa inteligência limitada e finita de criatura. Deus é infinitamente maior do
que nós, por isso não conseguimos compreendê-Lo totalmente. Podemos compreender
alguns factos sobre a relação das diferentes pessoas da Trindade umas com as outras,
porém, no geral, a Trindade é incompreensível à mente humana.
COMUNHÃO NA DIVERSIDADE…
Só Deus é comunhão na diversidade de três pessoas. Podemos dizer que no mistério da
Santíssima Trindade há unidade na Trindade e Trindade na unidade: unidade na
Trindade, isto é, unidade de natureza, de essência, de ser; por isso: um só Deus;
Trindade na Unidade, isto é, trindade de pessoas; por isso: três modos distintos de ser o
mesmo Deus, de o mesmo Deus ser.
Pai, Filho e Espírito Santo são distintos entre si, numa distinção que não provoca
divisão, mas uma comunhão plena. As três pessoas divinas comungam entre si o mesmo
amor, a mesma liberdade e consciência, o mesmo poder e glória, numa comunhão que
não anula as diferenças e que não reprime as distinções. Também a Igreja, à semelhança
da Trindade, é comunhão, embora imperfeita, na diversidade de povos, línguas e nações,
de carismas e dons, de vocações e ministérios.
UM MISTÉRIO EM NÓS…
Criados que somos à imagem de Deus, todos temos dentro de nós a semente e o impulso
da comunhão, mas, quantas vezes, queremos a comunhão na base da imposição de
nossas ideias que obriga todos a pensar e viver do mesmo modo! Quantas vezes as
distinções e diferenças entre nós nos levam à divisão e à discórdia, brigas e guerras!
Não basta acreditarmos e professarmos o mistério da Trindade. É necessário também
deixarmo-nos envolver e moldar pela Trindade. É preciso viver as consequências de
acreditarmos num Deus Trindade, que é comunhão de Amor. Crer nesta realidade
significa aceitar as diferenças entre as pessoas humanas, em todos os aspetos, ao mesmo
tempo que acreditamos num sonho comum de felicidade e de amor plena para todos.
Acreditar na Trindade significa professar que no Deus Trino está a chave para a
superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão, e vislumbrar uma
sociedade, onde do amor e da comunhão dos diferentes resulta uma harmonia geradora
de Vida.
Maio 2013
O valor do Espírito Santo
Depois de termos celebrado o mistério pascal, a Igreja pede a vinda do Espírito Santo.
Em pleno Ano da Fé, importa refletir convosco o valor e o significado do Espírito
Santo.
Todas as vezes que professamos a nossa fé, repetimos: «Creio no Espírito Santo, Senhor
que dá a vida e que procede do Pai e do Filho.» Dizer que acreditamos (cremos) no
Espírito Santo como Senhor e vivificante (Senhor que dá a vida), é dizermos que a vida
que está em Deus Pai e que vem até nós em Jesus Cristo se comunica a cada um de nós
pelo Espírito Santo. E, se repararmos bem nas orações que fazemos, nomeadamente na
Eucaristia, é sempre assim que rezamos: «… ao Pai, no Filho, pelo Espírito»; ou, «ao
Filho, unido ao Pai, na unidade do Espírito Santo». Ao rezarmos assim, estamos a dizer
que o Espírito Santo é a possibilidade da autocomunicação de Deus na nossa história de
todos os dias.
O DESAFIO DO ESPÍRITO
Crer no Espírito é aderir de alma e coração à terceira Pessoa divina, ao amor eterno
entre o Pai e o Filho, Àquele que veio no Pentecostes e que é a alma da Igreja e a alma
da nossa alma. Crer no Espírito é essencial para crescer na fé, na esperança e na
caridade, para que Ele, agindo em nós, nos dê a sua audácia divina, nos faça amar, nos
ensine os caminhos da vida espiritual, gere comunhão e paz, unidade e partilha, nos
ilumine os olhos da alma e do coração, nos divinize. Só o poder da ação do Espírito
pode gerar Cristo em nós e identificar-nos cada vez mais com Ele, como é pela ação do
Espírito que se pode saborear a Palavra, anunciar o Reino, ser-se uma Igreja purificada,
serva e pobre, verdadeiramente evangelizadora.
Junho 2013
Creio em Jesus
Na Bíblia, o nome de uma personagem não é dado ao acaso, ele levanta sempre um
pouco o véu sobre a missão dessa pessoa. É o que acontece também com Jesus. A
palavra «Jesus» significa «Deus salva», «Deus é salvação», indicando, assim, a
identidade e a missão: ser o Salvador.
Os discípulos de Jesus, após a Ressurreição, começaram a utilizar com frequência o
título Cristo para se referirem ao Mestre e eles próprios passaram a ser designados
cristãos. A palavra «Cristo» traduz para o grego o título hebraico Messias: pessoa
consagrada por uma unção de óleo para uma missão particular. Assim, ao nome de Jesus
é acrescentado o de Cristo para expressar que Ele é o Ungido, o enviado do Pai, o
cumprimento vivo de todas as profecias.
UMA PROMESSA
São Paulo diz-nos que «ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho,
nascido de uma mulher» (Gl 4, 4). Cumpre-se, assim, a promessa de um Salvador que
Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso.
Ao longo do tempo, Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher o Seu
Filho Unigénito. Deus escolhe e elege o povo israelita, estabelece com ele uma Aliança
e acompanhou-o progressivamente, intervindo na sua história, manifestando-lhe os seus
desígnios através dos patriarcas e dos profetas. E tudo isto, como preparação da nova e
perfeita Aliança que havia de concluir-se em Cristo. A Encarnação tem a sua origem no
amor de Deus pelos homens: Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo, para que,
por Ele, tenhamos a Vida. A Encarnação é a demonstração, por excelência, do Amor de
Deus pelos homens, já que nela é o próprio Deus quem se entrega aos homens, fazendo-
Se participante da natureza humana.
PROMESSA DE SALVAÇÃO
Após a queda de Adão e Eva no Paraíso, a encarnação de Jesus tem uma finalidade
salvadora e redentora, como professamos no Credo: «Por nós homens e para nossa
salvação, desceu do céu e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e Se
fez homem.» Cristo afirmou de Si mesmo que «o Filho do homem veio buscar e salvar
o que estava perdido» e que «Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas
para que o mundo seja salvo por Ele». A Encarnação não só manifesta o infinito amor
de Deus pelos homens, a Sua infinita misericórdia, a Sua justiça, o Seu poder, mas
também a coerência do plano divino de salvação; a profunda sabedoria divina consiste
na forma como Deus decidiu salvar o homem, ou seja, do modo mais conveniente à sua
natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo. Jesus Cristo, o Verbo
encarnado, não é nem um mito, nem uma ideia abstrata qualquer; é um homem que
viveu num contexto concreto e que morreu depois de ter passado a vida a fazer o bem e
a fazer falar do amor incondicional do Pai.
VERDADEIRO
Jesus é verdadeiro homem, pois de acordo com os Evangelhos, Ele podia ser tocado,
ouvido, e muitas pessoas o viram antes e depois da ressurreição. Ele teve fome, comeu,
sentiu cansaço, dormiu, chorou, sofreu e morreu.
Jesus é Deus. Ele próprio afirmou ser Deus. Os seus discípulos reconheceram,
afirmaram e proclamaram a Sua divindade. Por outro lado, as suas ações sobrenaturais
testemunharam que ele é Deus.
A Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja, em parte Deus e em
parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o
humano. A Igreja, ao longo da História, sempre defendeu e aclarou esta verdade de fé
perante as heresias que a falseavam. Na Encarnação, a natureza humana foi assumida,
não absorvida, por isso, a Igreja sempre ensinou a plena realidade da alma humana, com
as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas,
paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de
Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu.
MODELO E DESAFIO
Vivemos dias de procura, nos quais palavras como «indignação», «revolta»,
«manifestação», «insatisfação» possuem uma ressonância especial nos nossos corações
deixando-nos, muitas vezes, à deriva. Apesar do grande desenvolvimento civilizacional,
a sociedade atual não consegue saciar os legítimos desejos e anseios de felicidade.
Nestes tempos difíceis e desafiantes que vivemos, não podemos perder a fé e a coragem.
Temos de acreditar e viver a fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador, que garante a nossa
felicidade.
A vida cristã é um encontro pessoal com Cristo, que nos desafia a assumirmos a nossa
humanidade, sem perdermos de vista a nossa divindade. Assumimos a nossa
humanidade quando nos comprometemos com os nossos irmãos e labutamos por um
mundo humano e fraterno. Assumimos a nossa divindade quando colocamos os olhos e
o coração em Deus, nosso senhor e Salvador. Nas opções que fazemos, não podemos
esquecer que fomos criados para o que é grande, para o infinito, para Deus!
Julho/Agosto 2013
Maria modelo de fé
Maria foi muito importante na vida de Jesus e deve sê-lo também na nossa vida. Ela é a
cristã autêntica, comprometida com o Reino de Deus, sempre dócil e obediente à
vontade de Deus, modelo de Igreja e modelo para todos os cristãos.
UM MODELO ACESSÍVEL
A vida de Maria não foi fácil, assim como a nossa também não é. Desde que aceitou ser
mãe do menino Jesus, a sua vida tornou-se um mar de surpresas, nem sempre
agradáveis. Começou a andar no fio da navalha entre a aceitação e a rejeição, os
aplausos e a humilhação social. Maria não entendia tudo o que se estava a passar, mas
com uma fé grande, entregou-se nas mãos de Deus, fazendo-se «serva e escrava». Deus
escolheu-a como instrumento ao serviço do seu plano de salvação, uma jovem, virgem,
de origem humilde, porém com um coração puro, repleto de amor e ternura. Razões
pelas quais Maria foi uma mulher de fé e de determinação, um exemplo a ser seguido
por cada um de nós.
FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU
Para todos nós, Maria é modelo de fé e de oração, de contemplação do mistério divino:
é uma mulher obediente à Palavra de Deus, de quem Isabel testemunhou: «Feliz de ti
que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
Maria é modelo de amor e doação: põe-se a caminho para servir a sua prima Isabel que
está prestes a dar à luz.
A Virgem Maria realizou, do modo perfeito, a «obediência da fé», acolhendo a
comunicação e a promessa trazidas pelo anjo Gabriel, acreditando que a Deus nada é
impossível. Durante toda a sua vida a sua fé jamais vacilou. Isabel saudou-a, chamando-
a feliz porque acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor. É
por causa dessa fé que todas as gerações a hão de proclamar bem-aventurada.
ACREDITOU EM JESUS
Maria tem na Bíblia um lugar discreto, mas não menos especial. Ela é sempre vista em
função de Cristo. Maria é a mãe terna que ampara e protege o seu filho e sempre nos
convida a sermos-Lhe fiéis, como referiu nas bodas de Caná: «Fazei tudo o que Ele vos
disser.» Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na
história da salvação, de Belém até o Calvário. Uma presença leve e serena, na maior
parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a
compreender e a servir aos desejos de Deus. A sua presença diante da cruz é sinal que o
amor persevera. Razão pela qual merece dos cristãos um carinho todo especial pelo seu
importante papel na história da salvação. A grandeza de Maria apenas se compreende no
mistério de Cristo e, quanto mais a Igreja o aprofunda, mais compreende a singular
dignidade de Maria e o seu papel na história da salvação.
MARIA – MÃE
Assim como a mãe é, na família, o centro de todo amor, afeto, carinho, bondade, assim
Maria, na Igreja, com sua presença feminina, cria o ambiente de família, o desejo de
acolhimento, o amor, o respeito à vida. A presença de Maria, na Igreja, é uma realidade
tão profundamente humana e santa que desperta nos crentes as preces de ternura, de dor
e de esperança. Assim, Maria é venerada como mãe de Deus, da Igreja e de toda a
humanidade, uma mãe imaculada, pura, santa, mas também uma mãe forte, corajosa,
que assumiu plenamente o seu papel de mulher e de mãe. Maria recebeu de Deus Pai a
missão de gerar, cuidar e educar o Seu Filho até ao dia em que Ele estivesse pronto para
a Missão a que foi destinado. Ela é modelo para todas as mães como exemplo perfeito
de educadora, pois, mesmo sem ter estudado (porque as mulheres da época não podiam
praticar algumas atividades, como, por exemplo, estudar), sem ter conhecimento de
história, geografia, filosofia, ciências, etc., ela tinha em si algo muito mais importante, o
Espírito de Deus, que a fazia a mais sábia de todas as mulheres.
A DEVOÇÃO A MARIA
O carinho do povo por Maria faz com que ela seja louvada de diferentes maneiras e com
diversos títulos. É o cumprimento da profecia que fez no seu cântico do Magnificat:
«Todas as gerações me chamarão bem-aventurada.» O importante é que esse amor não
se reduza a devocionismos ou meras celebrações festivas, mas se concretize na vivência
do evangelho de seu Filho Jesus. A verdadeira devoção a Maria manifesta-se na
imitação das suas virtudes e na vivência dos ensinamentos de Jesus. Venerar Maria
significa, antes de tudo, uma atitude de gratidão, um gesto de carinho e de fé para com
aquela que, numa escuta atenta, soube ouvir a voz de Deus e prontamente se
disponibilizou a acolher o projeto que Deus tinha para ela e para o mundo. Maria é um
modelo de fé para todos nós.
Outubro 2013
Francisco e as JMJ
Nas Jornadas Mundiais da Juventude, Rio 2013, o Papa Francisco convocou-nos para
sermos revolucionários e rebeldes numa cultura de consumismo e desumanização.
Gostaria de realçar alguns dos apelos feitos pelo Papa Francisco durante as JMJ Rio
2013, mesmo correndo o risco de omitir outros importantes. Ele não se cansou de
desafiar os jovens a serem os protagonistas das mudanças sociais, a participarem na vida
e a não serem meros observadores dos acontecimentos. Apelou ao entusiasmo, à
proximidade e à criatividade na prática e na ação da Igreja: «Por favor, não deixem que
outros sejam os protagonistas das mudanças, vocês são os protagonistas do futuro.»
UM PAPA DE PROXIMIDADE
Um dos maiores apelos do papa foi a maneira como se apresentou aos jovens: a sua
simplicidade, a sua proximidade com as pessoas, os seus atos de solidariedade com os
pobres e excluídos. Francisco apresentou-se como um humilde servidor da fé, despojado
de todo o aparato, tocando e deixando-se tocar, falando a linguagem dos jovens e as
verdades com sinceridade. «Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a
Igreja é mãe, e nem vocês nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá
carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa
proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe
que se comunica com seu filho por carta.»
BATER À PORTA
O papa empregou esta expressão várias vezes, em contextos diferentes, para sublinhar a
sua vontade de se encontrar autenticamente com cada um dos jovens em vez de fazer
uma simples visita. Talvez com isso o papa queira apresentar um sinal de que deseja
exercer o seu ministério de forma próxima e acessível e desafia-nos a fazermos o
mesmo. «Aprendi que para ter acesso a vós, é preciso ingressar pelo portal do vosso
imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a
esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho
ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!»; «Quero
bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um
“cafezinho”, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos
filhos, dos avós...»
SAIR
O Papa Francisco pediu aos jovens que saiam às ruas e lutem pelos verdadeiros valores
católicos. Não ficar dentro do Igreja, foi um dos temas que Francisco mais
insistentemente referiu. «Não podemos ficar enclausurados na paróquia, na nossa
comunidade, na nossa instituição paroquial ou na nossa instituição diocesana, quando
tantas pessoas esperam o Evangelho. [...] Não é um simples abrir a porta para que
venham, para acolher, mas sair pela porta para buscar e encontrar. Encorajemos os
jovens a sair.» O papa tem vindo a insistir na necessidade de os jovens saírem de si
mesmos, de um modo de viver a fé cansado e habitual, da tentação de fechar-se nos
próprios esquemas que acabam por fechar o horizonte da ação criativa de Deus e a
abrirem-se à novidade e à bondade que vem de Deus.
MISSIONÁRIOS
O tema das JMJ, «Ide e fazei discípulos entre todas as nações», foi um dos apelos que
os jovens terão retido melhor, tantas vezes foi repetido. O papa desafiou os jovens a
serem protagonistas da missão e da evangelização e a não se deixarem levar pela cultura
dominante ou pelas estruturas sociais. É a eles que cabe fundar os alicerces de um
mundo e de uma Igreja melhores. «Jovens, por favor, não se ponham na “cauda” da
História. Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um
mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de
fraternidade, de solidariedade. [...] Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta
cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo.
[...] Queridos jovens, por favor, não “olhem da varanda” a vida, entrem nela. Deus quer
que sejamos missionários [...] onde Ele nos colocou.»
ESPERANÇA
Ao apelar para a juventude se comprometer, o papa não ignorou o grande risco de
desânimo, tantas vezes presente nos jovens, perante os fracassos e desilusões que podem
encontrar no mundo, mas também neles próprios. Contra isso, só a esperança cristã pode
ser um remédio. «Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às
injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com
pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício.
Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a
confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem
pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem
ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem
precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio "para que todos tenham vida, e vida em
abundância.»
Novembro 2013
O valor da hospitalidade
São suas as palavras latinas que deram origem ao termo «hospitalidade», hospitalitate,
para designar o ato de hospedar, de acolher afetuosamente, e hospitate, a qualidade, a
disposição acolhedora de quem oferece hospedagem, de quem bem recebe hóspedes. É
evidente e sugestiva a raiz etimológica de «hospitalidade», já que partilham da
propriedade comum de acolher a outros e atender às suas necessidades. Levando um
pouco mais longe a ideia, talvez possamos associar a hospitalidade com a partilha de
espaços, recursos ou comodidades, com a oferta de segurança, conforto e proteção, com
a generosidade ou carinho a quem precisa.
A nossa cultura de hoje, hedonista e egocêntrica, que busca unicamente a satisfação dos
indivíduos, rejeita tal valor. Necessitamos, urgentemente, de desenvolver e afirmar uma
nova ética e cultura de hospitalidade.
HOSPITALIDADE NA BÍBLIA
A hospitalidade era um costume amplamente observado em Israel e existem na Bíblia
muitos registos históricos com uma ampla variedade de modos e circunstâncias. A
hospitalidade é definida na Bíblia como um dom (1Pe 4, 9). Abraão teve uma
experiência linda de hospitalidade (Gn 18, 1-16). O escritor da epístola aos hebreus
chega a afirmar: «Não vos esqueçais da hospitalidade, pois por ela alguns, sem o saber,
hospedaram anjos» (Hb 13, 2). Isabel e Maria hospedam-se reciprocamente, partilhando
o lar e o alimento, a trepidação e as alegrias, a fragilidade e a coragem. Ser hospitaleiro
é um dom, é pôr-se ao serviço dos outros e o primeiro a servir foi o próprio Deus,
enviando o Seu Filho único para servir, redimindo!
JESUS E A HOSPITALIDADE
Jesus viveu e valorizou a hospitalidade não só com os discípulos, mas também com os
marginalizados e rejeitados do seu tempo. O Evangelho diz-nos que Jesus visitou a casa
de Marta e Maria, irmãs de Lázaro, a quem Ele bem conhecia. As duas irmãs
hospedaram-no e acolheram-no com carinho, tendo cada uma delas comportamentos
próprios. Marta, provavelmente a mais velha, preocupa-se em preparar o necessário,
para o acolhimento e para a hospitalidade, numa correria para cumprir as tarefas nos
momentos certos. Maria fica sentada ao lado de Jesus e vai apreciando as suas palavras
numa atitude de escuta e de contemplação do que estava ouvindo do Mestre. É bom
hospedar e cuidar bem das pessoas, mas isso tem grande valor quando criamos diálogo,
amizade, relacionamento e valorização das palavras. Por essa razão, o Senhor fez
questão de valorizar a atitude de Maria e criticou a agitação de Marta. Jesus diz-nos que
a hospitalidade e o serviço ao próximo não podem ser dissociados da convivência
fraterna.
A ARTE DE ACOLHER
A hospitalidade é o acolhimento afetuoso de uma pessoa, é uma prática de pessoas que
foram regeneradas pelo Espírito Santo e que frutificam esse ato pelo amor que
transborda em suas vidas. E é por causa disso que Pedro exorta a que a hospitalidade
não deva ser exercida juntamente com a murmuração (1Pe 4, 9). Não existe
hospitalidade acompanhada de uma cara carrancuda! A hospitalidade define-se sempre a
favor do outro. Abstraindo-nos das especificidades inerentes a cada exemplo possível de
hospitalidade, poderíamos formulá-la, de forma genérica, como uma arte de acolher,
uma atitude atenta, disponível e aceitante das necessidades alheias e o poder de as
atender, preencher, ou cuidar.
A ÉTICA DA HOSPITALIDADE
Como manter a hospitalidade nas nossas vidas, nas grandes cidades, entre povos e
países? Entre a ingenuidade perigosa e o medo fechado, existe um caminho intermédio
que é a ética da hospitalidade. Um comportamento que inverte a prática policial que
considera todos como suspeitos até que se prove a sua inocência. A ética da
hospitalidade aposta na credibilidade do outro até que ele a negue. Essa atitude primeira
de acolhimento funda-se no valor do outro e estabelece uma confiança de fundo entre os
humanos. Essa atitude autoriza a entrada do outro no espaço próprio sem reservas ou
desconfianças, ajudando-o a sentir-se seguro, algo que somente ocorre quando se sente
acolhido na casa, na vida e na história. Este é o desafio, é preciso criar uma ética da
hospitalidade elevada à instância de dever, que passa pelo cultivo de um respeito
inviolável pela história do outro, da sua identidade, da sua bagagem cultural, política e
religiosa.
Dezembro 2013
O(s) valor(es) do Natal
Pedi a um amigo e vizinho meu, o Manuel, um adolescente que frequenta o 8.º ano, que
me dissesse o que é para ele o Natal e o que mais valoriza nesta época.
Gostaria de partilhar convosco uma reflexão sobre este texto do Manuel: «Natal! Que
bem que soa a palavra… se bem que, para algumas pessoas, o termo remeta apenas para
presentes cheios de laçarotes e para a satisfação material. Com sinceridade: desconfio
que em cada um de nós mora a imagem de um Natal farto e feliz, recheado de luzes e
brilhos, embrulhos e abundância. Mas são estes os verdadeiros valores do Natal?
O Natal verdadeiro é aquele que é vivido de mãos dadas com os outros, de forma
fraterna, sem solidão; é aquele que é feito de união, de partilha e de amizade; é aquele
que faz do Menino do presépio o centro da celebração. É sentir que, à nossa mesa
haverá sempre lugar para mais um… é acreditar que o mundo pode e deve ser melhor e
que cada Homem terá direito a trabalho, a paz e dignidade!»
NATAL DE HOJE
Mais uma vez o nascimento de Jesus está diante dos nossos olhos. O Filho de Deus, que
se fez homem, nasce entre nós, torna-se Deus connosco, para nos salvar, num gesto de
espantosa solidariedade e numa lição de paz, amor, concórdia e de fraternidade. Porém,
é triste ver um mito do Pai Natal ocupar o lugar do Menino Deus nos festejos natalinos:
um ícone do consumismo, imposto à nossa cultura, desfasado da verdade histórica e dos
valores do Natal. Hoje, Jesus nasce envolto numa mistura de sentimentos e valores que
podem levar-nos à confusão ou ao desinteresse pela celebração do Natal.
O Natal está a perder o seu verdadeiro significado. Hoje o que vemos é um exagero no
consumo, e o tempo que deveria ser dedicado à reflexão e à união familiar é
transformado em mera troca de presentes. As ruas iluminadas, as casas enfeitadas e as
lojas com decorações exuberantes têm em mente apelar unicamente ao consumismo,
mesmo num tempo de crise económica. É pouco, ou quase nada, aquilo que nos lembra
a simplicidade do primeiro e verdadeiro Natal. O Menino Jesus é substituído pelo Pai
Natal dos centros comerciais, rodeado de crianças a ouvir pedidos que nunca poderá
satisfazer. O que todos querem é o que o dinheiro pode comprar. Torna-se muito difícil
não cairmos nesta armadilha, já que todos somos empurrados a desejar os bons e
grandes presentes no Natal. Como nos diz o papa emérito Bento XVI, «na sociedade
consumista de hoje, a época do Natal é, infelizmente, sujeita a um tipo de poluição
comercial que ameaça alterar o seu verdadeiro espírito, caracterizado pela meditação,
pela sobriedade e por uma alegria que não é externa, mas íntima».
FALSO NATAL
Este Natal consumista só cria e perpetua frustrações. É possível sentirmo-nos
insatisfeitos, sós e cheios de tristeza, ainda que rodeados de pessoas; ainda que a
televisão e a sociedade digam que é uma noite feliz. Num rápido olhar pelo mundo e
pelas pessoas vemos corações amargurados, guerras, ódios, injustiças, egoísmo, miséria,
fome, doenças, drogas, desrespeito pela pessoa humana, e damos conta do longo
caminho que ainda há a percorrer até que a mensagem do Natal seja vitoriosa. Perante
isto apodera-se de nós um profundo vazio existencial, ao percebermos que, nesta
celebração, uma das mais importantes do Cristianismo, não estamos a celebrar o Natal,
mas a celebrar o culto ao «deus» consumismo. É uma constatação que dói muito, pois
damo-nos conta da perda dos verdadeiros valores do Natal: união, amor, família,
solidariedade, alegria... Será que não terá chegado o momento de revermos em que
valores estão assentes a nossa vida e a nossa espiritualidade?
A ESSÊNCIA DO NATAL
O Natal é a festa da vida, uma festa alegre, mas não de uma alegria que depende de
determinados presentes. Não de uma alegria falsa, de uma alegria comprada, mas da
alegria vivida na intimidade e no aconchego de Deus que se faz um de nós. É preciso
voltar às raízes, à génese do Natal, à família de Nazaré. É preciso imitar a humildade, a
fé e a disponibilidade de Maria. Jesus poderia ter nascido com tudo o que a sua
dignidade merecia, mas, em vez disso, escolheu nascer na simplicidade de um estábulo.
Os seus primeiros dias de vida foram caracterizados pela pobreza, pela inquietação e
pela fuga, drama que também hoje assola milhões de pessoas. A maravilhosa história de
Deus feito homem para a salvação da humanidade deve ser refletida e meditada de
modo que nos inspire a viver o verdadeiro Natal.
OS PRESENTES DE NATAL
Jesus Cristo foi o maior presente para a humanidade. É por isso que também hoje, no
Natal, se costumam oferecer presentes. Os nossos presentes podem ser os mais variados,
contudo não deve faltar o nosso testemunho de fé, simplicidade e, sobretudo, muito
amor. Estas devem ser as características dos nossos presentes. Escutem a voz do vosso
coração e dos mais sinceros e profundos sentimentos. Façam tudo para que, na noite de
Natal, além dos presentes, não falte uma oração: uma oração espontânea, sincera,
agradecida! Fortalecidos pela fé, deixemo-nos conduzir pelo brilho e pela beleza da vida
que nos aponta o Menino Jesus.
JENEIRO 2014
O VALOR DA INTIMIDADE
Existe uma zona profunda no íntimo de cada um de nós, que deve ser preservada, visto
tratar-se do nosso tesouro sentimental: a intimidade. Ela é um valor muito apreciado,
mas também muito maltratado na sociedade.
FEVEREIRO 2014
O valor da mansidão
A força da mansidão
Atualmente, a mansidão não é um valor muito apreciado. A palavra contém uma ideia
de falta de dinâmica e de ânimo, ou falta de força e virilidade. Embora fraqueza e
mansidão possam parecer semelhantes, não são a mesma coisa. A fraqueza deve-se a
circunstâncias negativas, como a falta de força ou a falta de coragem. Mansidão, pelo
contrário, é o resultado de uma decisão consciente para confiar em Deus e se apoiar
Nele. A mansidão origina-se na força e não na fraqueza. Uma pessoa mansa é serena,
ponderada, prudente e equilibrada; é o contrário de uma pessoa agressiva, ou brava.
Mansidão é saber lidar com o inevitável e construir, com paciência e determinação, uma
ponte entre a guerra e a paz.
Fruto do Espírito
A mansidão, assim como o amor, a alegria, a paz, a paciência, a amabilidade, a bondade,
a fidelidade, o domínio próprio são frutos do Espírito Santo. A mansidão é,
essencialmente, humildade para com Deus e gentileza para com as pessoas. Mansidão é
resultado de uma opção pessoal de confiar na força e poder de Deus – o Espírito Santo –
em vez de pressionar para que as coisas aconteçam ao nosso modo. Ser manso é ser
como Jesus: «Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). O
manso é alguém que espera e confia no Senhor, é alguém que não se entrega à ira, nem
à cólera, é alguém que procura a paz e o bem, e, por isso, será co-herdeiro em Cristo do
reino dos céus.
Modelos de mansidão
A Bíblia apresenta-nos vários modelos de mansidão. Abraão abriu mão dos seus direitos
e deu a Lot a oportunidade de escolher primeiro (Gn 13:8,9). Uma pessoa mansa abre
mão, não briga pelos seus próprios direitos. José, que tinha sido vendido como escravo
pelos próprios irmãos, usou de mansidão quando eles o procuraram, agora como
governante do Egito, para comprar comida (Gn 45). Ainda jovem, David foi ungido para
ser rei de Israel. O rei Saul ficou loucamente ciumento e, por anos, procurou David com
a intenção de o matar. Em duas ocasiões, David teve a oportunidade de matar Saul, mas
a mansidão de David não o permitiu fazer. Moisés é descrito como o homem mais
manso do seu tempo (Nm 12, 3), apesar das inúmeras injúrias que sofreu do seu próprio
povo. Em vez de se irar e revoltar contra o povo, Moisés caía de joelhos em oração pelo
povo. Mas é em Jesus de Nazaré que encontramos o maior modelo de mansidão. Os
Evangelhos são, do início ao fim, a demonstração da sua mansidão. A prova máxima da
mansidão de Cristo é dada no momento da sua paixão.
Março 2014
A felicidade vem de dentro
Ser feliz é o desejo mais profundo do coração humano. Vivemos numa sociedade que
busca e valoriza desenfreadamente a felicidade. Mas o que é a felicidade? O que é
realmente ser feliz? Onde é que o ser humano está a procurar a felicidade?
Em latim, a palavra felix, que dá origem ao termo «felicidade», quer dizer «fértil»,
«frutuoso», «fecundo». Mais tarde, por evolução metafórica, já que o que é fértil é
também propício e favorável, felix tornou-se sinónimo de afortunado, alegre, satisfeito.
A raiz de felix é indo-europeia e está relacionada com a ideia de amamentar, dar frutos.
Acho interessante esta relação, visto poder revelar aspetos importantes sobre o que é
realmente a felicidade. Para a mãe e para o filho, esse é o momento de maior felicidade:
para o filho é a sensação de conforto, proteção, nutrição e para a mãe é uma sensação de
plenitude e fertilidade. A etimologia faz-nos compreender melhor que a felicidade não
vem de fora, mas de dentro. Assim como a mãe gera dentro de si o seu filho, dá-o à luz
e amamenta-o, também nós geramos a felicidade dentro de nós: ela não depende dos
outros, é gerada em nós, está dentro de nós, alimentamo-la e manifestamo-la aos outros.
A felicidade é um momento durável de satisfação, em que o indivíduo se sente
plenamente satisfeito e realizado.
BUSCA DA FELICIDADE
A felicidade é o nosso destino e vocação. Ela é inerente ao ser humano, todos a
buscamos, todos a queremos. Se, por vezes, não a encontramos, é porque a procuramos
no lugar errado ou de forma errada. Nessa busca muitos trilham caminhos mais «fáceis»
ou alternativos com o intuito de serem felizes, mas acabam por se deparar com a
deceção e o consequente arrependimento. Teimamos em buscar fora de nós o que está
bem dentro nós. Santo Agostinho dizia: «Eis que tu estavas dentro de mim e eu te
procurava do lado de fora.» Se a felicidade tende a ser perene e está no essencial, então
ela não pode estar nas coisas efémeras, passageiras e transitórias. Ser feliz é buscar a
felicidade e não ter medo de para isso renunciar ao supérfluo, ao efémero, para
encontrar o essencial, o eterno. O presente pode não nos agradar, mas pode também não
ser motivo de visível infelicidade pela expectativa e esperança que depositamos na
construção de um estado melhor.
FELICIDADE E PRAZER
Prazer não é sinónimo de felicidade. Em certos casos, pode até ser, mas não
necessariamente e nem para sempre. O prazer que traz felicidade no momento presente
pode ser a causa da infelicidade amanhã. A infelicidade costuma ser o resultado, a curto
ou longo prazo, da busca da felicidade a curto prazo e de qualquer maneira. Mas,
também, momentos felizes não são o mesmo que felicidade. Esta mentalidade errónea já
fez vítimas demais. Somos chamados a cultivar a felicidade como um todo e não viver
apenas momentos felizes. Como nos diz o Papa Francisco, «o dinheiro e o poder podem
oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de ser felizes, mas, no final, dominam-
nos e levam-nos a querer ter cada vez mais, a não estar nunca satisfeitos.»
SER FELIZ É…
Diz o psiquiatra Augusto Cury que ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar
de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima
dos problemas e tornar-se autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas
ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada
manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos e saber
falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um «não» e ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta. Uma pessoa só é realmente feliz quando tem o amor de Deus
no seu coração. A pessoa feliz é satisfeita com o que tem, vive bem com as pessoas à
sua volta e está sempre pronta a ajudar o seu irmão. É feliz aquele que, sobre o alicerce
dos seus valores, é capaz de definir o seu projeto de vida e de o transformar em
realidade.
A VERDADEIRA FELICIDADE
Torna-se urgente educarmos os nossos adolescentes e jovens para a felicidade. Bento
XVI deixou-nos um desafio: «Peço-vos que não busqueis uma felicidade limitada,
ignorando todas as outras. Ter dinheiro torna possível ser generoso e fazer o bem no
mundo, mas só isto não é suficiente para tornar a pessoa feliz. Ser grandemente dotado
em algumas atividades ou profissões é algo positivo, mas jamais poderá satisfazer-nos,
enquanto não apostarmos em algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos
fará felizes. A felicidade é algo que todos nós desejamos, mas uma das grandes tragédias
deste mundo é que muitos não a conseguem encontrar, porque a procuram nos lugares
errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade deve ser procurada em Deus.
Temos necessidade da coragem de depositar as nossas esperanças mais profundas
unicamente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no êxito mundano ou nos nossos
relacionamentos com os outros, mas em Deus. Só Ele pode satisfazer a necessidade
mais profunda do nosso coração!»
Vai a www.audacia.org e descarrega a ficha de trabalho e o material multimédia sobre o
valor da FELICIDADE
Abril 2014
O VALOR DA PÁSCOA
PÁSCOA É MUDANÇA
Páscoa (do hebraico pessach) significa «passagem». Para os judeus, é a passagem da
escravidão para a liberdade. Escravos do faraó no Egito, foram libertados por Moisés,
atravessando o mar Vermelho a pé enxuto, conforme narram as Escrituras. Para nós,
cristãos, a Páscoa também é passagem: da morte à vida, do estado de morte provocado
pelo pecado para o estado de vida, na graça de Deus. Celebramos a Páscoa nesta ótica
da vida nova, a nós trazida pelo próprio Jesus. Ele desejou ardentemente celebrar a
páscoa judaica com os discípulos, pois, nessa páscoa, ele transformaria a figura em
realidade e assumiria um novo conteúdo e significado: é o êxodo de toda a humanidade,
da escravidão do pecado para o perdão e a nova e eterna aliança de amor.
PÁSCOA CONSUMISTA
Diante da ditadura do consumismo, a Páscoa tornou-se uma festa comercial que cumpre
uma função imprescindível de aumentar o consumismo e o lucro. São os ovos e os
coelhinhos de chocolate, as amêndoas, os folares, as férias, as viagens… Os símbolos e
o sentido da Páscoa são mercantilizados por uma sociedade materialista e consumista
que olha e reduz tudo a meras trocas de interesse monetário. As reuniões e
confraternizações da família, os alimentos específicos e muitos outros costumes da
páscoa mercantil são importantes e devem ajudar-nos a celebrar a Páscoa, mas não nos
podem desviar do seu principal e essencial sentido.
Hoje, temos uma geração que não entende, nem quer entender, nada do verdadeiro
sentido da Páscoa. Perante isso, devemos comprometer-nos em mantermo-nos fiéis às
nossas origens cristãs e celebrarmos o sentido original, belo e profundo da maravilhosa
celebração que é a ressurreição do Senhor. Que as nossas boas obras e nossas vozes, em
cada canto das nossas cidades, vilas e aldeias, possam levar a alegria do Ressuscitado,
sobretudo aos mais pobres, aos doentes e a todos aqueles que marginalizados pela
sociedade, esperam e necessitam desse anúncio.
PÁSCOA É ALEGRIA
Nesta Páscoa devemos irradiar ao nosso redor a alegria, a esperança e a certeza da
presença de Cristo Ressuscitado na nossa história pessoal. Que se encha o nosso olhar
de luz, como os das mulheres que viram o sepulcro vazio e o Filho de Deus
ressuscitado. Que possamos também nós, numa só fé, exclamar como elas: «O Senhor
Ressuscitou, aleluia!»
Somos testemunhas de ressurreição pela alegria que se expressa num sorriso, numa
consolação, num gesto positivo, numa atitude em favor da vida. Jesus Cristo
ressuscitado é a alegria verdadeira que o mundo não poderá tirar. Vencer a morte,
ressuscitar, abrir as portas do futuro é a máxima alegria de toda a humanidade. A vida
não acaba. O céu não está vazio. Somos esperados pelo Amor. O nosso futuro é a
plenitude da vida, a glória, a eternidade feliz, a visão de Deus, o reencontro de todos que
partiram desta vida. Eis a alegria pascal. Quanta surpresa, quanto arrebatamento, quanta
admiração nos presenteia a festa da Páscoa. A alegria da Páscoa é a alegria da vitória da
vida, do bem, da justiça e do amor. É uma alegria especial porque se refere ao presente e
ao futuro. Uma alegria proveniente da certeza da fé e da esperança que ultrapassa os
horizontes do mundo geográfico e abraça a eternidade.
Maio 2014
Acolhimento será um hábito
Como preservar e viver o valor do acolhimento num mundo que parece cada vez mais
egoísta, individualista e violento e onde a desconfiança parece imperar?
ACOLHER É…
O termo «acolher», do latim accolligere, significa «receber», «atender», «dar crédito a»,
«dar ouvidos a», «admitir», «aceitar», «tomar em consideração»… Acolher é colocar o
outro mais perto de mim. É receber a pessoa tal qual ela é e se apresenta. O acolhimento
está mais no ouvir e menos no falar, mais no receber e menos no fazer. Acolher é, antes
de mais, uma comunicação entre pessoas que, progressivamente, vão entrando em
sintonia, dialogando, expressando-se em gestos, enfim, estabelecendo elos de união.
Quando acolhemos ou recebemos alguém na nossa casa, a primeira atitude prática que
tomamos é a de abrirmos a porta e deixarmos entrar. É deixarmos entrar a pessoa
inteira, nenhuma parte sua fica do lado de fora.
JESUS E O ACOLHIMENTO
A atitude permanente de Jesus foi uma prática de inclusão e não de exclusão, uma
prática de acolhimento. O seu acolhimento misericordioso estendeu-se a todo o tipo de
pessoas, o que lhe valeu até incompreensões e antagonismos por parte daqueles que se
surpreenderam e escandalizaram com o seu testemunho. Há três trechos do Evangelho
que falam do acolhimento de Jesus: o encontro com Nicodemos, a conversa com a
mulher adúltera e o jantar em casa de Zaqueu.
Jesus acolheu sempre, à noite (Nicodemos), ao fim da tarde (Zaqueu) ou durante o dia
(mulher adúltera). Jesus acolheu quem o procurou (casos de Nicodemos ou da mulher)
mas também procura quem quer acolher (com Zaqueu, Jesus faz-se acolhido para depois
acolher). Jesus acolheu pessoas fruto de algo previamente combinado (casos de Zaqueu
ou Nicodemos) ou na sequência de algo imprevisto, de surpresa (caso da mulher). Jesus
revela um espírito de inclusão e abertura a todo o tipo de pessoas (diferentes estratos
sociais, diferentes ligações à religião, diferentes participações na cultura, diferentes
géneros), revela uma total disponibilidade (não há quaisquer limites: de tempo, de
lugar), revela, também, um interesse imenso pelo interlocutor (escutando-o, pondo-se ao
seu nível) e, finalmente, mostra sempre um acolhimento compassivo e compreensivo.
Junho 2014
O valor da diligência
FRUTO DA REFLEXÃO
Uma pessoa diligente é uma pessoa de reflexão. Só quem pensa serenamente nos seus
deveres, na maneira de conjugá-los, nas prioridades que entre eles deve estabelecer, nos
passos necessários para os executar é que possui o controlo da ação e do tempo. Viver
com diligência é saber aproveitar cada dia e não ser uma marioneta puxada aos
solavancos pelas cordas do nervosismo e da imprevidência. A diligência necessita do
solo fecundo da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a
perguntar a nós mesmos: Porque faço isto? Como é que o estou a fazer? Estou a fazer
realmente o que devo e do melhor modo? O homem moderno é pobre em interioridade:
medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que num dado momento
da sua vida, talvez quando já chegou longe demais, se lhe tornem claras, como um soco
na consciência, as palavras de Santo Agostinho: «Corres bem, mas fora do caminho.»
DILIGÊNCIA E FÉ
São vários os passos bíblicos que nos falam sobre a necessidade de diligência na vida
pessoal. Por exemplo, Abraão e Josué foram chamados a serem uma bênção para eles e
para os outros. Aquilo que eles precisariam de fazer, aquilo que estava em poder de suas
mãos, Deus não iria fazer por eles. Mas o imprevisível estaria nas mãos de um Deus que
jamais é poupado em surpresas. O mesmo se passou com Noé. É óbvio que a fé tem de
estar implícita no ato de acreditar, mas Noé não podia facilitar apesar de saber que Deus
iria cumprir. Ele precisou de se antecipar o suficiente porque um barco daqueles não
poderia ser construído em dois dias de trabalho árduo. Ele precisou de medir a distância
no tempo entre o que precisava fazer e o que Deus prometeu. Imaginemos que Noé
tinha acreditado em Deus mas não tinha sido diligente em obedecer-Lhe. Imaginemos
que ele acreditava que no último minuto Deus lhe enviaria um barco ou pararia a chuva.
Que teria acontecido? Muitas vezes queremos responsabilizar a fé pelo que já devia ter
acontecido e não aconteceu, ou, então, forçar a fé a fazer o que compete à diligência. É
importante crer, mas a fé só resultará se for acompanhada dos atos de diligência. Que
Deus nos ajude a desenvolvê-la e a pô-la em prática na nossa vida.
Julho/Agosto 2014
O valor da proteção
Os dias atuais são marcados por várias crises que nos expõem e criam sentimentos de
vulnerabilidade. Sentimo-nos desprotegidos perante os repetidos e constantes ataques
sociais, culturais, económicos, fiscais, religiosos…
É altura de perguntarmos: quem nos protege ou quem nos poderá proteger? Repetimos
as palavras do salmista: «Levanto os meus olhos para os montes: donde me virá o
auxílio?» (Salmo 121) A resposta só poderá ser também a do salmista: «O meu auxílio
vem do Senhor, que fez o céu e a terra. [...] O Senhor é quem te guarda, o Senhor está a
teu lado, Ele é o teu abrigo. [...] O Senhor vela pela tua vida. [...] Ele te protege quando
vais e quando vens agora e para sempre.»
ETIMOLOGIA
A palavra «proteção» vem do latim pro e tegere, que significa, literalmente, «cobrir»,
«tapar (tegere) na frente (pro)». Será, assim, o ato ou efeito de proteger, amparar ou
preservar, a dedicação pessoal àquilo que precisa de auxílio. Poderemos dizer que a
proteção é a garantia de inclusão e abrigo a todos as pessoas que se encontram em
situação de vulnerabilidade e/ou em situação de risco. A proteção poderá assumir várias
vertentes, mas, fundamentalmente, proteger significa prevenir e amparar as pessoas que
correm riscos decorrente das mais variadas situações, tais como a pobreza, a saúde, a
fragilização de vínculos afetivos/relacionais, a discriminação, a guerra, a escravidão, o
analfabetismo, etc.
O PAPA E A PROTEÇÃO
O Papa Francisco tem, por várias vezes, chamado à atenção para a necessidade de
cuidarmos e valorizarmos a proteção. Logo no início do seu pontificado o papa pediu
«respeito por toda a criatura de Deus», «pelo ambiente onde vivemos» e apelou a que se
«proteja carinhosamente» todas as pessoas, «especialmente as crianças, os idosos,
aqueles que são mais frágeis». Dirigiu este pedido essencialmente a quem exerce cargos
de poder: «Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em
âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade:
sejamos “guardiões” da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do
outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o
caminho deste nosso mundo. [...] Quando o homem falha nesta responsabilidade,
quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o
coração fica ressequido.»
Esta preocupação claramente ambiental não é restritiva, mas abrangente, baseando-se
naquilo a que Bento XVI já tinha chamado ecologia humana, ou seja, uma preocupação
ecológica que tem o homem no seu centro. Na opinião do papa, «proteger a criação,
cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da
esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da
esperança».
GUARDIÕES DO OUTRO
No primeiro aniversário do início oficial do seu pontificado, na audiência geral, o papa
voltou a retomar o tema da proteção, apontando S. José como modelo de proteção, de
guardião: «Olhemos para José, que protege e acompanha Jesus no seu caminho de
crescimento “em sabedoria, idade e graça”.» O papa apresentou S. José como modelo
do verdadeiro guardião e protetor, aquele que auxilia o crescimento e o
desenvolvimento sadio do outro.
A PROTEÇÃO DA NUVEM
Durante a travessia do deserto o povo de Israel acreditou que uma nuvem os protegia.
Não era uma nuvem qualquer, era a presença protetora de Deus. A nuvem era o símbolo
real dessa presença divina. A nuvem protegia-os das adversidades do deserto que
atravessavam, dando sombra e frescor. A nuvem também os orientava, colocavam os
seus olhos fixos na nuvem, esperando o seu mover para poderem prosseguir. E, quando
a nuvem parava, o povo acampava para descansar debaixo da sua sombra. Eis o desafio
para também nós nos colocarmos debaixo da nuvem de Deus durante estes tempos
difíceis e conturbados. Debaixo da nuvem, há proteção, há segurança, há esperança, há
um Deus que tudo pode fazer, basta confiarmos Nele, basta descansarmos Nele.
Outubro 2014
O dinheiro como deus
Acreditar em Deus é confiar Nele, mas nós temos substituído a confiança em Deus pela
confiança no dinheiro.
O filósofo italiano Giorgio Agamben afirmou: «Deus não morreu, Ele tornou-se
dinheiro e os bancos tomaram o lugar das igrejas e manipulam e geram a fé. É no
dinheiro que as pessoas depositam a sua esperança. É a ele que aspiram. É nele que
acreditam que está a felicidade, a saúde, a prosperidade e a beleza.»
O CAPITALISMO COMO RELIGIÃO
O filósofo Agamben é discípulo de Walter Benjamin, filósofo alemão e judeu, que, no
século passado, escreveu um artigo intitulado «Capitalismo como religião». Para ele, o
capitalismo é uma religião apenas de culto: sem dogmas nem moral. Esse culto é
realizado mediante o consumo contínuo, no qual todos os dias são de preceito, cuja
liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.
Agamben faz-nos notar que não apenas as estruturas institucionais são geridas
ideologicamente pelo dinheiro, mas também nós, nas decisões do dia a dia, temos a
crença férrea e uma devoção inquebrável no dinheiro. Quantos valores, sonhos e
projetos pessoais e familiares são sacrificados e relegados para segundo, ou mesmo
último lugar, só para satisfazer religiosamente a ânsia de ter mais e mais dinheiro?
A CRISE E O DINHEIRO
Crise e dinheiro são das palavras mais usadas nos dias de hoje. Muitas vezes não são
usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para
fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum
para aceitar. Crise hoje em dia significa simplesmente «devemos obedecer!».
A chamada «crise» já dura há demasiado tempo, e nada mais é senão o modo normal
como funciona o capitalismo selvagem. Pior ainda é que se apregoa que a solução para
sairmos dessa crise passa necessariamente e exclusivamente pelo dinheiro.
A IDOLATRIA DO DINHEIRO
O Papa Francisco tem atacado a economia global por venerar o deus dinheiro: «O
mundo passou a idolatrar esse deus chamado dinheiro... Mas, como cristãos, não
podemos querer esse sistema económico globalizado que nos faz tão mal. Os homens e
mulheres têm de estar no centro (de um sistema económico) como Deus quer, não o
dinheiro.»
No Brasil, por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude, o papa advertiu: «ter
dinheiro pode oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de serem felizes, mas no
final, acaba por nos dominar e levar-nos a querer ter cada vez mais e nunca estarmos
satisfeitos».
Novembro 2014
O valor da segurança
À PROCURA DA SEGURANÇA
A segurança constitui um direito inalienável cada vez mais ameaçado nas sociedades
globalizadas. Essa é a opinião dos portugueses que reconhecem que a segurança é uma
das chamadas «necessidades de sobrevivência»: conclusão que já se pode retirar da
primeira fase do estudo «O que é necessário para uma pessoa viver com dignidade em
Portugal?», que está a ser desenvolvido por uma equipa de investigadores das
universidades Técnica de Lisboa e Católica. O problema é que nesta busca desenfreada
de segurança viramo-nos muitas vezes para o dinheiro, a saúde, os estudos, a profissão,
a fama, a família… Em tempos conturbados e mutáveis como os que vivemos, esses
lugares deixaram de nos poder oferecer segurança e o que oferecem é, muitas vezes,
precisamente o contrário: a instabilidade e a insegurança. Queremos segurança, mas não
a conseguimos experimentar porque talvez a procuramos em sítios e lugares que não a
têm e, por isso, não a podem dar.
EXPERIÊNCIA DA INSEGURANÇA
Vivemos em tempos difíceis em que a humanidade está cada vez mais focada em si
mesma e confiante na sua força e inteligência. Confia somente em si própria e usa meios
e estratégias para se proteger. Mesmo assim, continua desprotegida e vulnerável. Na
maioria das vezes, a falta de segurança resulta de um sentimento de medo: medo de ser
rejeitado, medo de que as coisas não deem certo, medo de ficar só, medo de ficar pobre,
mede de chumbar, medo de ficar desempregado, medo de ficar doente, desempregado,
medo do futuro. Acredito que a segurança, que tanto procuramos e de que
desesperadamente precisamos, somente a podemos encontrar em Deus.
Dezembro de 2014
O valor da gentileza
Estamos a preparar-nos para celebrar o Natal. Tempo em que celebramos um Deus que
se faz presente na história da humanidade e nos convida a fazermo-nos também
presentes nas vidas dos nossos irmãos.
Uma das formas de nos fazermos presentes na vida dos demais é agirmos com gentileza.
Quem não gosta de ser bem tratado? Quem não se sente bem diante de um sorriso
verdadeiro? Atitudes de gentileza, carinho, respeito e atenção fazem toda a diferença. As
pessoas que agem com gentileza, com respeito e consideração são sempre muito
admiradas e fazem com que Deus renasça cada dia.
A GENTILEZA DE JESUS
Falar de gentileza, remete-nos claramente para Jesus Cristo. Durante a sua vida praticou
e viveu como ninguém a gentileza: por onde passava atraía as multidões, não porque
falava com autoridade e poder, mas principalmente porque se interessava pelas pessoas
e as tratava com gentileza, suscitando empatia e sobretudo um forte desejo de estarem
junto dele. Jesus manifestou essa gentileza até e sobretudo aos mais marginalizados e
desprezados da sociedade: as prostitutas, os ladrões, os leprosos, as viúvas, as crianças e
as mulheres. Jesus no seu ministério não só viveu a gentileza como nos convidou a vivê-
la no nosso dia a dia. Foi isso que entendeu Paulo e depois escreveu na carta aos
colossenses: revesti-vos de misericórdia, bondade, gentileza e paciência. A gentileza é,
em essência, o reconhecimento de que somos todos filhos de Deus e de que estamos
todos juntos na aventura maravilhosa que é a vida.
A FORÇA DA GENTILEZA
Diz uma lenda que o sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte. O vento
disse: «Provarei que sou o mais forte. Vês aquele velho que vem lá em baixo com um
capote? Aposto como posso fazer com que ele o tire mais depressa do que tu.» O sol,
então, recolheu-se atrás de uma nuvem e o vento soprou até quase se tornar num
furacão, mas, quanto mais soprava, mais o velho segurava o capote. Finalmente o vento
acalmou-se e desistiu. Então o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para o
velho. Imediatamente ele esfregou o rosto e tirou o capote. O sol disse, então, ao vento:
«A gentileza e a amizade são sempre mais fortes que a fúria e a força.» Como diz o
teólogo brasileiro Leonardo Boff: «Não serão os nossos gritos a fazer a diferença mas
sim a força contida nas nossas delicadas e íntegras ações.»
Janeiro 2015
O valor do (bom) humor
Com o início do novo ano, vêm normalmente os desejos/propósitos, tidos como algo a
conseguir e que promovem uma mudança: amor, êxito profissional, dinheiro,
prosperidade, amizades, saúde normalmente fazem parte dessa lista.
No momento de formular os nossos desejos, não podemos esquecer algo que ajuda, e
muito, a obter cada um deles. É algo simples, fácil e barato: alimentar diariamente o
nosso bom humor.
O HUMOR DE DEUS
Diz o padre Tolentino Mendonça que raramente citamos uma frase bíblica que apela à
alegria e ao bom humor e, no entanto, a Bíblia é uma espécie de gramática do Humor de
Deus. Por incrível que pareça, aquela biblioteca tão séria é também hilariante e está
cheia de risos, embora esta dimensão seja, entre nós, escassamente referida e ensinada.
Há páginas que constituem um puro alfabeto da alegria e muitos momentos que só são
compreendidos por quem soltar uma gargalhada. É pena que o Cristianismo não seja
propriamente conhecido por ser a religião da alegria.
«O Cristianismo seria muito mais credível se os cristãos vivessem em alegria», escreveu
Nietzsche, e não podemos dizer que sem razão. O Evangelho é um convite insistente à
alegria. Por que deveríamos ser ou fazer o contrário? Devemos fazer da alegria e do
bom humor a principal motivação de nossas vidas; uma qualidade espiritual, que vem da
alma e se manifesta nas nossas atitudes, refletindo-se na nossa personalidade.
Fevereiro 2015
Já não escravos, mas irmãos…
Não podemos desviar o olhar dos sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs em
humanidade, privados da liberdade e da dignidade. Se o fazemos, somos cúmplices da
escravidão. Isto nos lembrou o Papa Francisco no Dia Mundial da Paz.
CONTORNOS ATUAIS…
A escravatura, tal como é apresentada nos livros de História, acabou, mas, infelizmente,
existem hoje novas formas desta realidade que a colocam nos níveis mais altos de todos
os tempos. No século XXI há mais escravos do que em qualquer outra época da história
mundial. É a chamada «escravatura moderna». «Milhões de pessoas – crianças, homens
e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em
condições semelhantes às da escravatura», denuncia o papa. A sociedade de hoje assiste
a novas formas de escravatura e desumanidade que tornam urgente uma reflexão sobre a
injustiça de uns viverem desafogadamente, à custa do sofrimento e da míngua de
recursos de muitos seres humanos. Segundo o relatório «The Global Slavery Index
2013», da organização não governamental Walk Free, estima-se que atualmente 28,9
milhões de pessoas são forçadas a viver em regime de escravidão em todo o mundo. A
mesma organização coloca Portugal próximo do fim da lista dos países com mais casos
de escravatura, em 147.º lugar, entre 162 países. Ainda assim, Portugal tem 1368
escravos, segundo o Índice da Escravatura Moderna.
ESCRAVATURA MODERNA
Segundo o Papa Francisco, a raiz destas novas formas de escravatura radica na «rejeição
da humanidade no outro» que conduz à «conceção da pessoa humana que admite a
possibilidade de a tratar como um objeto», como «meio, e não como fim». Entre os
alvos da exploração do ser humano estão as vítimas do trabalho escravo, os migrantes
privados de liberdade e dos seus bens, vítimas de abusos físicos, detidos de maneira
desumana, dependentes de patrões que condicionam a legalidade da sua permanência ao
contrato de trabalho, os escravos sexuais, em particular as mulheres obrigadas a
prostituir-se ou vendidas para casamento, os menores vítimas de «tráfico e
comercialização para remoção de órgãos», ou convertidos em soldados, ou envolvidos
em «atividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas
de adoção internacional».
A pobreza, a falta de acesso à educação, a inexistência de oportunidades de trabalho, as
«redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos», recorrendo até às
«tecnologias informáticas», os conflitos armados, a violência, a criminalidade, o
terrorismo e a corrupção que passa por «membros das forças da polícia, de outros atores
do Estado ou de variadas instituições, civis e militares» constituem igualmente causas
da escravidão, que se verifica «quando, no centro de um sistema económico, está o deus
dinheiro, e não o homem, a pessoa humana». O papa relembra que há indivíduos e
grupos que se aproveitam vergonhosamente desta escravatura, tirando disso partido e
lucro.
MOBILIZAÇÃO MUNDIAL
Perante a dimensão do problema, o Papa Francisco propõe um compromisso global de
«prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra os responsáveis» pelas formas
de escravatura e tráfico humanos. «Por esta razão, lanço um veemente apelo… para que
não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus
irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a
coragem de tocar a carne sofredora de Cristo».
Março 2015
O valor da tolerância
ETIMOLOGIA
A palavra «tolerância» provém da termo latino tolerare, que significa «suportar, sofrer,
manter, persistir, resistir e combater».
Em termos individuais, a tolerância define o grau de aceitação diante de um elemento
contrário a uma regra moral, cultural, religiosa, civil ou física e corresponde à
capacidade de persistir nas nossas opiniões suportando a diversidade.
Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo
social aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são a
norma no seu próprio grupo.
TOLERÂNCIA É RESPEITO
A tolerância é uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e de compreensão
para com suas eventuais fraquezas. A tolerância é a base do respeito mútuo entre as
pessoas e comunidades, e é essencial para construir uma sociedade mundial unida em
torno de valores comuns. É uma virtude e uma qualidade, mas, acima de tudo, a
tolerância é um ato – o ato de se aproximar dos outros e ver as diferenças não como
barreiras, mas como um convite ao diálogo e à compreensão. A tolerância é uma parte
da resposta a estes desafios, ao permitir construir pontes entre as pessoas e abrir canais
de comunicação. Viver a tolerância pode contribuir para resolver muitos conflitos e para
erradicar muitas violências.
Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.
Abril 2015
O valor do martírio
MARTÍRIO É TESTEMUNHO
A palavra «martírio» vem do grego martyria, cujo significado é «testemunho». No
sentido mais cristão ou teológico, «martírio» é o facto de morrer para dar testemunho de
Cristo: por seu sofrimento e por sua morte, a testemunha manifesta a verdade do
testemunho que presta a Cristo e ao Evangelho.
Na Igreja antiga, sujeitar-se ao martírio era dar testemunho público de Jesus Cristo com
o derramamento do sangue. Era seguir a Cristo na radicalidade. Nos períodos de
perseguição, os cristãos eram colocados diante de uma escolha radical: ou negar a fé, ou
perder a vida. Os mártires não tinham dúvida: nenhum bem desta terra, nenhuma
riqueza, nem mesmo a própria vida, valiam mais do que a fé. Cantavam e louvavam a
Deus enquanto eram acusados de «traidores», «criminosos», «antissociais»,
«obstinados», «inimigos de Roma» e «ateus» e atirados às feras, crucificados e
queimados vivos.
Os mártires da história da Igreja tinham muito claro para si que não importava o quanto
sofreriam desde que a fé que professavam fosse conhecida. A morte em si não era o
mais importante no martírio deles, mas as razões que os conduziram a isso. As palavras
de Jesus: «Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-
vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus» (Mt 5, 11-12) ecoaram na mente
de muitos mártires.
O crescimento significativo da Igreja nos primeiros séculos deve-se, em grande parte, à
coragem dos seus mártires. Os mártires eram o orgulho da fé cristã, sendo também um
fator determinante para o crescimento do movimento cristão nos primeiros séculos. A
primitiva comunidade cristã via nos mártires um estímulo à perseverança e novos
intercessores junto com Cristo. A Igreja nasceu e germinou marcada pelo derramamento
do sangue inocente, daqueles que não tiveram medo de dar a vida pela causa da sua fé e
do testemunho de Jesus Cristo. Tanto é verdade que Tertuliano cunhou nesta época a sua
célebre frase: «O sangue dos mártires é a semente da Igreja.»
MARTÍRIO BRANCO
O martírio vermelho dá-se com o derramamento de sangue em nome da fé. No entanto,
a tradição da Igreja também reconhece o martírio branco, que se dá quando alguém
abandona tudo em nome de Cristo porque ama a Deus. É um martírio que não implica
diretamente a morte, mas a mortificação. São fiéis que deixam família, bens, riquezas,
confortos para dedicar a sua vida a Deus; são cristãos que, dia a dia, suam para educar
na fé, enfrentando preconceitos, discriminações e represálias, nas mais variadas partes
do mundo onde ser cristão é incómodo e perigoso. São pessoas, mártires, que entendem
que a vida é gratuidade de Deus e sendo gratuidade, vivem-na como tal. A adesão ao
Evangelho, à pessoa de Jesus Cristo, coloca-nos também diante de uma escolha radical:
concordar com as estruturas e valores da sociedade, que muitas vezes são
antievangélicas, e viver num estado de bem-estar, ou então optar pelo Evangelho e,
assim, opor-se a tudo o que lhe seja contrário. Isso leva, na maioria das vezes e em
muitos países, a um ostracismo social, ou a um martírio branco.
MÁRTIRES PRECISAM-SE
O Cristianismo, portanto, considera os mártires de ontem e de hoje testemunhas fiéis de
Jesus Cristo.
O século XXI necessita de mártires, no sentido etimológico da palavra, isto é,
testemunhas de Jesus Cristo Ressuscitado, o Filho de Deus que encarnou para fazer uma
única revolução: a revolução da cruz e do amor. Este foi o apelo do Papa Francisco aos
jovens, na recente visita à Turquia: «Com a força do Evangelho e o exemplo dos
mártires, sabei dizer não à idolatria do dinheiro, não à falsa liberdade individualista, não
às dependências e à violência; e, pelo contrário, sabei dizer sim à cultura do encontro e
da solidariedade, sim à beleza inseparável do bem e da verdade; sim à vida gasta com
ânimo grande, mas fiel nas pequenas coisas. Deste modo, construireis um mundo
melhor.»
Maio 2015
O valor da fidelidade
Os tempos modernos expõem-nos a diversas circunstâncias nas quais é constantemente
posta à prova a nossa capacidade de sermos fiéis.
Ser fiel nos dias de hoje não é tarefa fácil, sobretudo, num mundo sempre em constante
mudança que faz com que as nossas escolhas e compromissos também sofram pressão
para mudar. Vive-se intensamente o momento presente, mas tem-se dificuldade em
manter viva a intensidade nos compromissos e nas escolhas.
A palavra «fidelidade» tem origem no termo latino fidelis, que significa «atitude de
quem é fiel», de quem tem compromisso com aquilo que assume. A fidelidade é um
hábito bom, uma atividade voluntária e permanente, uma força que inclina a cumprir
com sinceridade e valentia os compromissos adquiridos, as promessas feitas e a palavra
dada. Pode-se defini-la como a adesão voluntária, prática e completa de uma pessoa a
uma causa. No campo das relações a fidelidade é o íntimo compromisso que assumimos
de cultivar, proteger e enriquecer a relação com outra pessoa, respeitando a sua
dignidade e integridade, e garantindo uma relação estável, num ambiente seguro e
confiável, o desenvolvimento integral e harmonioso das pessoas.
FIDELIDADE NA BIBLIA
Na Bíblia, fidelidade é o cumprimento de tudo quanto foi estabelecido na aliança
firmada entre Deus e a humanidade. A causa da fidelidade é sempre o amor de Deus:
amor infinito, amor imenso no qual nunca encontraremos um espaço que nos permita
ser infiel. A fidelidade nasce assim da gratidão do amor de Deus. O nosso compromisso
consiste em retribuir esse amor. A fidelidade a Deus não pode ser abstrata ou
desencarnada, mas terá de estar implicada na nossa vida quotidiana. Assim o
compromisso com a vida, os valores morais e éticos, o civismo, a justiça social, a
dignidade no trabalho, a santidade da família, o respeito aos irmãos e, sobretudo, o
louvor a Deus, através da religião, dá verdadeiro significado à fidelidade a Deus. A
fidelidade é um dos aspetos essenciais do carácter cristão, e não é uma tentativa de o
homem se tornar bom aos olhos das pessoas. Antes, é uma essência que só podemos
obter a partir de uma conversão genuína a Cristo, onde o Espírito Santo se faz presente
dando-nos o sentido necessário para todas as áreas da nossa vida. Só assim conseguimos
ser fiéis: é impossível conseguirmos o exercício da plena fidelidade à Deus sem a
intervenção direta do Espírito Santo.
Junho 2015
O valor da prevenção
É muito conhecido o ditado que diz mais vale prevenir do que remediar. Certamente até
já foi utilizado por alguns de nós. Apesar de muitos o conhecermos, poucos o pomos em
prática.
O mais comum entre nós é pormos em prática um ditado que diz depois da casa
arrombada trancas à porta. Na prática, a ausência de prevenção pode expor-nos a
consequências nem sempre agradáveis – daí o nosso arrependimento por não termos
prevenido.
PREVENIR É ANTECIPAR
A palavra «prevenção» vem do latim praevenire, que é a junção de duas palavras: prae
(«antes») e venire («vir»), e significa literalmente «chegar antes». Então «prevenir»
quer dizer chegar antes do perigo, antecipar, perceber previamente, para minimizar o
risco.
Ações preventivas são ações defensivas que visam prever e minimizar os danos que
podem ocorrer. Quem «chega antes» tem condições de evitar que algo indesejável
aconteça, tomando as medidas necessárias. A prevenção é, antes de tudo, a mais sensata
das atitudes que um indivíduo pode tomar em todos os situações da vida.
FILOSOFIA DE VIDA
Mais do que ações isoladas, a prevenção deve ser uma filosofia de vida. Como diz
Einstein, «uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio previne-o».
A prevenção é um conceito de vida, uma forma de ver as coisas. Ao atuarmos de forma
preventiva, estamos a acender a luz da responsabilidade para com a própria vida a
buscarmos dentro de nós e a pormos em funcionamento o compromisso mais amplo
com a existência.
A prevenção tem relação direta com a sobrevivência. Conhecer e aprender as práticas da
prevenção deve ser algo que desperte a nossa atenção e interesse. A maior parte dos
acidentes ou problemas pessoais ou sociais poderia ter sido evitado se medidas
preventivas, muitas vezes muito simples, tivessem sido adotadas. Prevenir é sempre
melhor e mais barato do que remediar. Exemplo disso é a medicina preventiva.
Em todas as áreas da vida devemos dar muita atenção à prevenção, mas, quando se trata
da nossa saúde, a prevenção deve ser redobrada. Uma grande conquista para a
prevenção de doenças foi a descoberta de vacinas pois elas permitem evitar futuras
doenças. A medicina preventiva é uma especialidade que tem como objetivo prevenir
doenças ou lesões, ao invés de curá-las ou tratar os seus sintomas, visando melhorar a
qualidade de vida de todos.
PREVENÇÃO PRECISA-SE
É necessário adotarmos uma postura preventiva no dia a dia e à nossa volta. Uma vida
feliz não é a que se entrega a paixões passageiras e vazias, mas a uma experiência
existencial centrada no equilíbrio e na dignidade humana. O prazer pelo prazer (o
hedonismo) abre caminho a que nos aventuremos sem precaução e acabemos frustrados
e desiludidos.
Na procura da realização e da felicidade não nos podemos isolar. Por outro lado, muitos
pensam que ser autêntico é assumir tudo, sem medo e sem máscaras ou, então,
identificar-se rapidamente com a onda, a moda ou o momento. Ser autêntico é o
contrário, é ser diferente, é estar ao lado do que é bom e correto, custe o que custar.
Assim, é necessário que fortaleçamos o caráter e a determinação para que, no contacto
com influências desviantes, sejamos mais fortes. Temos muitas das vezes de ter a
coragem de dizer «não». A força de uma pessoa não se mede pela quantidade de
emoções e sentimentos, mas pela capacidade de dominar essas emoções e esses
sentimentos.
Julho/agosto 2015
O valor da benevolência
O DESÍGNIO DE BENEVOLÊNCIA
Deus tem um desígnio de benevolência que não permaneceu no Seu silêncio, mas que o
fez conhecer, entrando em relação com a humanidade, a quem não revelou apenas algo,
mas revelou-se a Si mesmo. Ele não comunicou simplesmente um conjunto de verdades,
mas comunicou-se a Si mesmo. Deus revelou-nos o seu grande desígnio de
benevolência, entrando em relação connosco, a ponto de se fazer Ele mesmo homem.
Para corresponder a esta revelação, não basta a nossa inteligência nem as nossas
capacidades; falta-nos o ato de fé, isto é, a nossa resposta à Revelação de Deus. A
benevolência é o meio com que Deus nos atrai a si, para nos fazer viver em plena
comunhão de alegria e de paz com Ele e entre nós. E, assim, os outros não são, como
afirmava Sartre, o inferno, mas o meio para chegarmos a Deus.
ADN CRISTÃO
No ADN de cada cristão está o amor, na sua forma mais pura, amor em forma de
caridade, de fé e de benevolência. Nós, cristãos, somos chamados a viver no meio de
uma sociedade, em comunidade, estabelecendo relações de dignidade, respeito,
benevolência para com os meus concidadãos, irmãos, cooperando na construção de um
mundo mais fraterno, mais humano, mais justo vivendo e praticando a benevolência. A
nossa identidade é justamente este selo, esta força do Espírito Santo, que todos nós
recebemos no Batismo e que se constitui como o nosso ADN.
Infelizmente em muitos cristãos, que até vão à missa ao domingo, não se vê esta
identidade. Vivemos muitas vezes como pagãos, não obstante sermos cristãos. Somos,
na expressão do Papa Francisco, cristãos mornos, fazendo com que a nossa identidade
se torne opaca e impercetível.
A PRÁTICA DA BENEVOLÊNCIA
A benevolência é o amor não focado no «eu», mas no próximo, no «outro». É um fruto
do Espírito Santo que infunde na alma serenidade, tranquilidade e paz e que nos faz
olhar para os outros com os olhos limpos e descobrir neles muitas coisas belas. É a
atitude que nos torna generosos, que nos ajuda a ir além dos defeitos dos outros,
confiantes de que o bem os supera se soubermos ser pacientes.
O nosso mundo necessita urgentemente de benevolência. Felizmente, com o
desenvolvimento e a afirmação da ciência e da tecnologia, atingimos um nível avançado
de progresso material que não só é útil como necessário. Porém, se comparamos o
progresso material com o nosso progresso interno, ficará bem claro que o nosso
progresso interno é inadequado. Prova disso são os inúmeros exemplos que temos dessa
imaturidade moral: violência, injustiça, guerras, genocídios, etc. É urgente,
desenvolvermo-nos e progredirmos no crescimento interior, humano e espiritual. Os
problemas do mundo, similarmente, não podem ser enfrentados com a raiva ou o ódio
mas devem ser encarados com compaixão, amor e verdadeira benevolência. Cada um de
nós tem responsabilidade por toda a humanidade e por isso é o momento de pensarmos
nos outros como verdadeiros irmãos e irmãs e de nos preocuparmos e querermos o bem-
estar deles. Não uma benevolência financeira mas uma benevolência moral: a
benevolência financeira é muito fácil, basta abrir a carteira, já na benevolência moral
temos de abrir os recônditos da alma, abrir o coração, e entregarmo-nos de corpo e alma
na sua afirmação.
Outubro 2015
O valor do sacrifício
O mundo vive nos dias de hoje a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial.
Todos os dias vemos imagens de milhares de refugiados que fogem da morte. Vêm do
Iraque, Afeganistão, da Síria, Líbia, Etiópia, Nigéria… São pessoas como nós, são
homens, mulheres e crianças. Estão perdidos. Estão de mãos estendidas. Pedem-nos
ajuda: um espaço, o nosso tempo, o nosso amor… Eles sacrificam-se e pedem-nos
sacrifícios… que muitas vezes não estamos dispostos a fazer! Sacrifício é uma daquelas
palavras a evitar a todo o custo, pois provoca medo e até pânico em muitos de nós.
Sacrifício, aparentemente, não rima com felicidade. Com ela rima «facilidade», apregoa
a sociedade materialista em que vivemos.
TORNAR SAGRADO
Etimologicamente a palavra «sacrifício» deriva do latim sacrificius, que é formado pela
palavra sacer (sagrado), mais a raiz do verbo facere (fazer). A palavra era usada em
ambientes religiosos e ligada aos rituais significando o «ato de fazer/manifestar o
sagrado» – ou seja, o ato de passar da esfera do profano para a esfera do sagrado. A
origem da palavra «sacrifício» revela que o seu verdadeiro significado é santificar ou
tornar sagrado. Sacrificar é o ato de (re)significar alguma coisa, dar um novo valor,
elevar a fim de conseguir alcançar um valor maior.
SACRIFÍCIO E AMOR
Tornar sagrada uma ação leva-nos ao compromisso de sermos um Evangelho vivo e
aberto, que pode ser lido por todos em todas as circunstâncias, como nos relembra o
Papa Francisco. Sacrifício implica uma dinâmica de amor, um amor gratuito, alegre e
fiel… até ao fim, como o de Jesus. Falar de sacrifício significa tornar sagrado cada
momento, cada palavra, cada gesto… Como dizia Cirilo de Alexandria, «aquilo que dá
valor a um sacrifício não é a renúncia que ele exija, mas o grau de amor que inspira a
renúncia».
São assim os sacrifícios do padre Douglas Bazi, que são uma interpelação para cada um
de nós. O padre Douglas Bazi estava numa das avenidas principais da capital iraquiana,
Bagdade, quando um carro que vinha em grande velocidade parou junto dele. Raptaram-
no. No Iraque, o rapto de pessoas é um negócio que vale milhões. Os cristãos são
particularmente visados no tráfico de pessoas», conta Paulo Aido, da Fundação Ajuda à
Igreja que Sofre.
Quem não está disposto a fazer sacrifícios voluntários no presente fará sacrifícios
obrigatórios no futuro. Sacrificamos o bom para ter o melhor.
Novembro 2015
O valor da generosidade
O mundo está a tornar-se mais isolado e egoísta. Apesar dos avanços tecnológicos que
permitem vivermos numa aldeia global, onde tudo se sabe e em tempo real, ainda não
fomos capazes de globalizar em tempo real a generosidade. Esse é um desafio que
teremos de abraçar, convencidos de que não somos pessoas isoladas, mas seres de
relação, que precisamos de estar atentos aos outros, às suas necessidades e anseios.
A atenção aos outros ajuda-nos a desenvolver a virtude da generosidade. Em
contrapartida, o egoísmo fecha-nos em nós próprios e torna-nos insensíveis às
necessidades daqueles que nos rodeiam. O instinto de tudo guardar e acumular é
contrário à vida em sociedade e causa muitos sofrimentos e privações; ao invés, a
generosidade, tendência para uma pessoa ser útil, nobre, desprendida e saber
compartilhar, é fundamental para a criação de um mundo mais justo e fraterno.
Grandeza de alma
A palavra «generosidade» deriva do latim generosus, que designa o homem ou animal
que é de boa raça. Portanto, generoso é, antes de tudo, aquele que é de raça nobre e, no
sentido figurado ou moral, aquele que demonstra grandeza de alma e reparte com
largueza. O generoso é aquele que dá algo ou que se dá a si mesmo sem esperar
recompensa; é uma atitude desinteressada e uma partilha espontânea. Ser generoso é ser
livre de si, das suas pequenas covardias, das suas pequenas posses, das suas pequenas
cóleras e dos seus pequenos ciúmes. A generosidade é a capacidade de oferecer ao outro
o que não é dele, doando o que lhe falta porque acreditamos que pertencemos uns aos
outros e que, por isso, somos chamados a viver para e em função do todo. A
generosidade é a virtude do dom, a virtude da doação.
Os jovens e a generosidade
O Papa Francisco não se tem cansado de incentivar e promover a generosidade. No
Brasil, nas Jornadas Mundiais da Juventude, afirmou e pediu para que «encorajemos a
generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-os no processo de se tornarem
protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a
Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes
sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a
memória de um povo». É este património da generosidade que necessitamos de
valorizar e cultivar se queremos um mundo mais justo e fraterno.
UM CORAÇÃO MISERICORDIOSO
A palavra «misericórdia» é composta por duas outras, latinas, que, em português, dão
«mísero» e «coração». Assim, misericórdia é a capacidade de abrir o coração ao
miserável, ao carente, é orientar o coração pela compaixão (paixão pelos/com outros),
atitude que nos abre aos irmãos e que nos faz sofrer com eles. Neste sentido, o grande
misericordioso é Deus, já que faz da história uma história misericordiosa de salvação:
volta-Se para nós, mesmo sem o merecermos, procura-nos e cativa-nos, olhando
misericordiosamente para cada um de nós. Segundo a Bíblia, Deus ama-nos com o
coração de uma mãe. Jesus não se cansou de dizer que cada um tem de ser «próximo»
do seu irmão, como o bom samaritano: «Sede misericordiosos como o vosso Pai do Céu
é misericordioso» e «Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia».
Janeiro de 2016
Dar de comer a quem tem fome
A FOME DE HOJE
A fome não é um problema sem solução ou um facto a que nos devemos resignar. As
suas causas são políticas e económicas, e a principal é a distribuição desigual das
riquezas. Na maior parte dos casos, a subnutrição não é o resultado da impotência
humana perante a Natureza, mas é fruto da desavergonhada apropriação por alguns
daquilo que deveria ser património de todos.
A fome continua a ser a principal causa de morte no mundo. Segundo os últimos
relatórios da ONU, 18 milhões de pessoas morrem de fome por ano e, destas, a cada
cinco segundos, uma criança; e uma em cada quatro pessoas sofre com os efeitos da
insuficiência de nutrientes.
DIGNIFICAR A HUMANIDADE
Nos finais de novembro, participei, mais uma vez, com alunos e colegas professores, na
campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Depois refletimos nas aulas sobre as
origens do flagelo da fome e as formas de a conseguirmos erradicar. Foi unânime a
perceção de que a existência de pessoas com fome é uma das maiores vergonhas da
sociedade contemporânea. E ressoaram as palavras do Papa Francisco, quando recebeu
em audiência os membros da Fundação Banco Alimentar: «Hoje devemo-nos confrontar
com esta injustiça [a fome] e, permito-me dizer, com este pecado: num mundo rico de
recursos alimentares, demasiados são aqueles que não têm o necessário para sobreviver;
e isto não somente nos países pobres, mas sempre mais também nas sociedades ricas e
desenvolvidas… Compartilhar o que temos com aqueles que não têm os meios para
satisfazer uma necessidade tão primária educa-nos à caridade e à misericórdia.» E pediu
que os membros do Banco Alimentar tratem as pessoas não como números, mas como
amigos. «Assim, saberão olhá-los nos olhos, apertar as suas mãos, descobrir neles a
carne de Cristo e a ajudá-los a reconquistar a sua dignidade e recolocá-los em pé.»
Fevereiro de 2016
Dar de beber a quem tem sede
Dar de beber, nem que seja um copo de água fresca, aos pequeninos, além de ser uma
obra de misericórdia corporal, é também um gesto que não será esquecido por Jesus,
como nos diz o evangelista Mateus. Cada pessoa que se encontra na aflitiva situação de
ter sede torna-se um desafio para cada um de nós e interpela a responsabilidade mundial
de quem tem a possibilidade de o saciar. Lembremo-nos que os pequeninos de que Jesus
falava não são só as crianças, mas todos aqueles que clamam por um copo de água e
cujo valor e dignidade é ignorado e a sede não é só a de água, mas também a sede de
tantas outras coisas como a justiça, a paz, a educação. Com efeito, hoje centremo-nos na
sede de água.
A falta de água
Quando olhamos para a Terra vista do espaço, parece ter muita água. Quase três quartos
do planeta são cobertos por oceanos. Mas haverá assim tanta água na Terra? Na
realidade, a camada de água dos oceanos é fina e, por isso, a quantidade de água é
relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de básquete, toda a
água do planeta caberia dentro de uma bolinha de pingue-pongue. E mais: dessa bolinha
de pingue-pongue, quase tudo, 97,5 %, é água salgada. E, desse pouco que sobra, 70 %
é água congelada nos polos, 30 % está debaixo da terra e apenas 0,3 % é água potável,
acessível à população.
MÁ DISTRIBUIÇÃO
Além da evidente escassez de água potável, a que existe está mal distribuída: sobra em
algumas regiões e falta noutras. Várias regiões do mundo, especialmente na África,
estão a viver secas prolongadas que levam, na opinião do Papa Francisco, «ao
aparecimento de certas epidemias como a diarreia e a cólera que aumentam o
sofrimento e a mortalidade infantil», na encíclica Laudato Si’, na qual dedica quatro
parágrafos a analisar o problema da água (29-31). Esta situação é inadmissível pois,
como diz o papa, «o acesso a água potável e segura é um direito humano essencial,
fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas». Hoje a
escassez de água afeta mais de 40 % da população do nosso planeta, segundo a ONU,
que prevê que, até 2025, ou seja, em apenas oito anos, 1,8 mil milhões de pessoas
viverão em países ou regiões com absoluta escassez de água.
Temos de assumir que a água é um bem precioso que começa a escassear. O desperdício
de água é uma injustiça grave.
Março 2016
Vestir os nus
Vestir os nus é uma obra de misericórdia corporal que visa atender uma necessidade
básica do ser humano que é o vestuário. Desde remotamente que o vestuário faz parte
integrante de um direito mais vasto, o direito a um nível de vida adequado, reconhecido
pelo artigo 25.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O vestuário serve para
cobrimos o exterior do nosso corpo e escondermos aquilo que mais amamos e
protegemos: a nossa dignidade, a nossa interioridade.
O REVESTIMENTO DA NUDEZ
O revestimento da nudez não se encontra apenas no início da vida humana e da
passagem da natureza à cultura, mas também tem uma importância significativa na
iniciação cristã, como o denota a antiga prática batismal de colocar uma veste branca
sobre o recém-batizado. A imposição da veste branca no Batismo indica que quem é
batizado recebe a dignidade cristã, recebe a santidade. Esta veste simboliza a prática dos
ensinamentos de Jesus Cristo que devemos fazer para a conservar mais branca do que a
neve e com ela nos apresentemos, um dia, perante Deus. Devem ecoar sempre no nosso
coração as palavras que ouvimos no nosso batismo: «Agora és nova criatura, e estás
revestido de Cristo. Esta veste branca seja para ti símbolo da dignidade cristã. Ajudado
pela palavra e pelo exemplo da tua família, conserva-a imaculada até à vida eterna.»
Abril 2016
Dar pousada aos peregrinos
A cultura do acolhimento
No geral, hospitalidade/acolhimento é tratar os estranhos como iguais, criando espaço
para que eles recebam proteção, provisão e cuidado, dando-lhes assistência e guiando-os
para o seu próximo destino.
Mas nós acolhemos porque também somos acolhidos: cada um de nós, mal vem ao
mundo, torna-se hóspede.
O pobre, o sem-abrigo, o vagabundo, o estrangeiro, o refugiado, o mendigo, aquele cuja
humanidade é humilhada pelo peso das faltas e das privações, das rejeições e do
abandono, do desinteresse e da estranheza, começa a ser acolhido quando eu começo a
sentir como minha a sua humilhação, a sua vergonha; quando começo a sentir que a
deterioração/degradação da sua humanidade é, também, a minha própria
deterioração/degradação.
Hospitalidade, portanto, significa, primeiramente, a criação de um espaço livre onde o
estranho possa entrar e tornar-se um amigo, em vez de inimigo. Acolher o estrangeiro é
mais do que abrir a própria casa ao outro é, mais profundamente, fazer de si próprio a
casa, a morada onde o outro é acolhido: acolher é dar tempo e espaço para o outro, e,
escutando-o, escavamos em nós um espaço interior para ele.
O apelo de Taizé
Recentemente, estive em Taizé com 400 alunos de EMRC da diocese de Viseu. Ali
ouvimos o apelo do Irmão Alois, prior da comunidade: «Hoje são os sírios que afluem à
Europa, amanhã serão outros povos. Não permitamos que a rejeição do estrangeiro se
introduza nas nossas mentalidades, pois recusar o outro é o germe da barbárie. Em vez
de ver no estrangeiro uma ameaça para o nosso nível de vida ou a nossa cultura,
acolhamo-lo como membro da mesma família humana. Assim que os encontros pessoais
se tornam possíveis, os medos dão lugar à fraternidade.»
Maio 2016
Assistir os enfermos
A doença é própria da condição humana e mostra o nosso lado mais frágil, os nossos
limites e incapacidades. A doença, a vida e a morte são conceitos que aparecem unidos e
que nos convidam a refletir sobre o passado, o presente e o futuro e, principalmente,
sobre o sentido último da nossa existência. Assistir quem se encontra numa situação de
limite e fragilidade é, não só uma obra de misericórdia, mas também um imperativo
para os cristãos que são chamados a porem em prática a misericórdia.
Assistir é encontrar-se…
A assistência aos enfermos é muito mais que uma simples visita caritativa, é, antes de
mais, um encontro. Um encontro entre pessoas que partilham a mesma condição
humana, com potencialidades e limites. Curioso é a língua hebraica, para indicar uma
visita ao doente, usar por vezes o verbo ra’ah, que significa «ver», mas este «ir ver o
doente» significa, em sentido mais profundo, «escutar» o próprio doente, encontrar-se
com ele, deixar que seja ele a guiar o encontro, não fazer nada além do consentido por
ele, ater-se ao quadro relacional que ele apresenta.
Podemos, então, intuir que assistir o doente não é só promover as necessidades
essenciais como alimentação, medicação, higiene, roupa… mas possibilitar um
encontro, mais íntimo e pessoal que promova a dignidade, a paz, a tranquilidade, a
espiritualidade… enfim, um encontro que devolva a confiança e a esperança. O que o
paciente mais deseja é recuperar a saúde, daí que seja fundamental e importe devolver-
lhe a confiança na vida: nas suas energias interiores, físicas, psíquicas e espirituais, pois
elas podem atuar como verdadeiros medicamentos.
Junho 2016
Misericórdia é visitar os presos
Visitar aqueles que estão privados da sua liberdade e sedentos de uma palavra de
esperança é uma obra de misericórdia. É afirmar e valorizar a esperança cristã, a
esperança de que um novo recomeço é possível.
O Papa Francisco, nas inúmeras visitas que tem feito a reclusos, não só tem tido
palavras de alento como tem convidado os reclusos a aproveitarem o tempo de reclusão
para abrirem as suas vidas a Deus. Numa cadeia da Bolívia, afirmou que «quando Jesus
entra na vida de alguém, essa pessoa não fica detida no seu passado, antes começa a
olhar o presente de outra maneira, com outra esperança. A pessoa começa a olhar-se
com outros olhos a si própria, a sua própria realidade. Não fica presa ao que sucedeu,
pelo contrário, é capaz de chorar e de encontrar aí a força para voltar a começar. […]
Não existe lugar onde a misericórdia divina não chegue e nem há quem não possa ser
por ela tocado». A nossa visita aos reclusos é, acima de tudo, facilitar o encontro e o
toque com Jesus.
A perda da liberdade
A condenação de uma pessoa à prisão e, consequentemente, à perda de liberdade, é o
resultado do julgamento que a sociedade faz de quem cometeu um delito. E visa afastá-
la do convívio social para proteger a sociedade de novos crimes e dar oportunidade à
pessoa condenada de corrigir-se. Acontece que, ao perder a liberdade, muitas vezes, o
preso perde também a sua dignidade e o sentido de vida. Muitas prisões constituem um
dos piores lugares em que o ser humano pode viver. A prometida reeducação não
acontece e o que ocorre é exatamente o contrário. As pessoas saem “instruídas” para
novos delitos, o que nos deve fazer refletir como é que estamos a reeducar e a reintegrar
estas pessoas.
Visitar os presos, ou ajudá-los na sua reinserção social, é servir os que foram afastados
da sociedade. Há que levar a essas pessoas a nossa proximidade, a nossa compreensão,
os nossos conselhos e, acima de tudo, a nossa oração.
«Quando me visitam pessoas que não me conhecem e não têm qualquer ligação comigo,
sinto-me pequeno e pergunto-me que força é essa que torna as pessoas capazes destes
gestos?» (Zacarias, recluso)
Julho-agosto 2016
Misericórdia: enterrar os mortos
Outubro 2016
O bom conselho é dado
De janeiro a julho, analisámos as obras de misericórdia corporais. Começamos este mês
a refletir sobre as obras de misericórdia espirituais. Dar bons conselhos a quem hesita
ou duvida e por isso se sente dividido é a primeira obra de misericórdia espiritual.
A arte de aconselhar
Todos nós passámos por momentos em que sentimos necessidade de pedir conselho a
alguém. Outras vezes, somos chamados a dar conselhos àqueles que nos são próximos
ou que estão ao nosso lado. Em ambos os casos, trata-se de procurar uma luz, um
sentido, um significado para decisões importantes e que nos deixam indecisos ou
confusos. Sabemos como é importante nos momentos mais delicados da nossa vida
poder contar com conselhos de pessoas sábias e que nos amam.
O conselho é uma ajuda concreta por parte de quem compreende as dificuldades e as
dúvidas do outro em lidar com os seus sentimentos, opções e decisões de vida.
Aconselhar é, antes de mais, olhar para o outro como um irmão e (re)descobrir a
necessidade de dar sentido, esperança, orientação e plenitude à sua vida. Ao bom
conselheiro pede-se capacidade de compreender a situação do outro, imaginação, uma
grande dose de humildade e um elevado grau de confiança.
Não é preciso ser perito em matérias complicadas para dar um parecer sobre um
problema. Só é preciso ter amor à pessoa a quem aconselhamos. Na relação entre as
pessoas, há muitas formas de aconselhar, porém, o essencial está em saber fazê-lo, para
que as atitudes das pessoas, ajudadas por um conselho, encontrem benefício na decisão
que estão a tomar.
O melhor conselheiro
Por meio do conselho é o próprio Deus, com o seu Espírito, que ilumina o nosso
coração, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos
comportarmos, e o caminho que devemos seguir.
O Espírito Santo é o melhor conselheiro: quando O recebemos e O deixamos atuar, Ele
começa imediatamente a tornar-nos sensíveis à sua voz e a orientar os nossos
pensamentos, sentimentos e intenções segundo o coração de Deus. Ao mesmo tempo e
progressivamente, O Espírito Santo dirige o nosso olhar interior para Jesus, modelo do
nosso modo de agir e de nos relacionarmos com Deus Pai e com os nossos irmãos.
Portanto, o conselho é o dom com o qual o Espírito Santo torna a nossa consciência
capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus, segundo a lógica de
Jesus e do seu Evangelho. Neste contexto, um conselheiro é uma pessoa aberta à ação
do Espírito Santo que o leva a sentir empatia pelo outro, a escutar o outro em
profundidade, a apreender as suas potencialidades e debilidades, podendo assim ajudar a
entrever a melhor opção para o seu irmão em Cristo, disse o Papa Francisco na
catequese de 7 de maio de 2014.
É mediante a oração que ficamos sensíveis ao Espírito Santo, que atua em nós e nos
aconselha sobre o que devemos fazer e dizer. Na intimidade com Deus e na escuta da
sua Palavra, começamos a abandonar a nossa lógica pessoal, ditada muitas vezes pelos
nossos medos, preconceitos e ambições, e podemos experimentar as palavras de Jesus
apresentadas no Evangelho de Mateus: «Não vos preocupeis com o que haveis de falar
nem com o que haveis de dizer; ser-vos-á inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis
vós a falar, é o Espírito do vosso Pai que falará por vós.»
O Senhor fala-nos, também, pela voz e o testemunho dos outros. É um dom poder
contar com homens e mulheres de fé que, sobretudo nos momentos mais complicados e
importantes da nossa vida, nos ajudam a iluminar o nosso coração e a reconhecer a
vontade de Deus!
Antes de dares ou receberes um conselho, escuta atenta e humildemente aquele que to
pede ou aquele a quem o dás.
Novembro 2016
Ensinar os ignorantes
O verdadeiro mestre
Segundo a Unesco, existem no mundo 743 milhões de adultos analfabetos, cerca de 11
% da população mundial. É uma realidade demasiada dura que se torna um flagelo
vergonhoso para um mundo que se diz moderno. Ensinar os ignorantes tem de significar
alfabetizar tantas pessoas, que nunca foram à escola ou a abandonaram precocemente…
Para nós, cristãos, ensinar os ignorantes é também evangelizar os que desconhecem
Cristo, o verdadeiro mestre, na certeza de que a fé oferece uma nova visão da vida, que
torna possível ao cristão ver tudo de novo e, a partir daí, reinventar-se e renovar todas as
coisas!
Ensinar é acender uma chama, ajudar o outro a procurar a luz da verdade e a deixar-se
iluminar por ela.
Dezembro 2016
Corrigir os que erram
Corrigir os que erram não é uma tarefa fácil. Na sociedade, por um lado, ninguém gosta
de ser chamado à atenção. Por outro, há uma tendência para não corrigir e deixar andar.
No entanto, corrigir os que erram é necessário: ajuda a formar o cérebro e estrutura a
personalidade. Porém, lembremo-nos que a correção para ser fraterna e misericordiosa,
deve sempre ser feita na hora certa, com as palavras corretas, com sentimentos de
caridade e amor, de modo que a pessoa corrigida perceba o bem que lhe queremos.
Correção na caridade
Corrigir, segundo o verbo grego nouthetein, significa «colocar a mente sobre outro, para
o ajudar a descobrir os seus erros e a evitá-los». Trata-se, portanto, de um olhar e
atenção amorosa, de uma vigilância fraterna sobre o outro, a fim de consertar os seus
eventuais erros. Por outro lado, a palavra «corrigir», na sua origem latina, corrigere
significa e implica «dirigir juntos» e mostra a dimensão partilhada e relacional da
correção, em que um ajuda o outro a orientar a sua vida, na humanidade e santidade.
Não existe correção para o mal: o fim último da correção deve ser sempre o bem e o
modo para lá chegar terá de ser através da caridade. A correção deve ser uma realidade
vivida no amor e na misericórdia que brota de uma verdadeira solicitude pelo bem do
irmão. Como nos diz o Papa Francisco, «não se pode corrigir uma pessoa sem amor e
sem caridade. Não se pode fazer uma cirurgia sem anestesia. A caridade é como uma
anestesia, que ajuda a receber o tratamento e aceitar a correção».
Ganhar um irmão
«Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir,
terás ganho teu irmão» (Mt 18,15). Como nos diz Jesus, a correção fraterna visa ganhar
o irmão e não perdê-lo. A correção fraterna é um impulso para a salvação do outro; é a
capacidade de saber estender-lhe a mão; é emprestar-lhe os olhos para que enxergue a
vontade de Deus, pois, muitas vezes, o erro deixa-nos incapazes de ver, e, na escuridão,
acabamos por magoar-nos nos obstáculos da vida.
Corrigir os que erram, de forma fraternal, é o oposto da indiferença, pois, ao corrigir,
mostro não só que sou responsável pela santidade do meu irmão, mas rompo com o
individualismo que me dissocia do outro e que me leva a pensar apenas em mim e na
minha perfeição individual.
Ao corrigir e ser corrigido, saio da indiferença em que muitas vezes me refugio para me
proteger do duro encontro com o outro. Na missão de corrigir são sábias as palavras do
Apóstolo Paulo: «Corrigi os indisciplinados, encorajai os desanimados, amparai os
fracos e sede pacientes com todos» (1Ts 5, 14).
Janeiro 2017
misericórdia é consolar os tristes
O nosso tempo, marcado pelo progresso e por tantas conquistas, não se livra de ser
também um tempo propício à tristeza e ao desalento. Se estivermos atentos,
encontraremos ao nosso lado muitas pessoas tristes. A vida, por vezes, confronta-nos
com momentos difíceis, em que as lágrimas expressam uma tristeza imensa que nos
pode deixar abalados e desorientados. É precisamente aí que esta obra de misericórdia
se revela muito útil e consoladora.
TRISTEZA
A tristeza é um sentimento caracterizado pela falta da alegria e pode apresentar-se em
diferentes graus de intensidade, variando desde a tristeza passageira, que normalmente
dura alguns minutos ou horas, à tristeza profunda, que pode persistir por vários dias ou
semanas. Vários podem ser os motivos que desencadeiam sentimentos de tristeza, como
a falta de sentido para a vida, uma desilusão amorosa, a perda do emprego, a morte de
um amigo ou familiar e outras situações que nos abalem... A tristeza não é apenas
causada pela sensibilidade e fragilidade humanas, mas, também, pelas injustiças sociais
que nos rodeiam e que nos deixam tristes e desolados.
A ARTE DE CONSOLAR
O verbo grego parakalein, que indica o ato de consolar, significa «chamar para junto de
si», para exortar e consolar. Mediante a consolação tenta-se criar uma proximidade,
fazer «presença junto de» quem está na desolação e na tristeza. Assim, a verdadeira
consolação consiste numa presença capaz de escutar o sofrimento, deixar que seja o
silêncio, o estado de espírito, a sugerir gestos, tempos, movimentos, silêncios, palavras,
olhares, abraços, carícias, distâncias, para poder servir realmente de consolação. Assim
a proximidade, permite a consolação que proporciona conforto em todas as
necessidades, que ajuda a dar sentido ao sofrimento, que contribui para o passo
seguinte, que alerta para a realidade que importa descobrir e viver. Uma tristeza dividida
e partilhada torna-se mais leve e a escuta atenta e a palavra amiga contribuem para o
alívio desejado.
A IGREJA CONSOLADORA
Os cristãos são chamados a olhar as tristezas e mazelas do mundo e entrar nelas com a
ação misericordiosa e consoladora de Deus, a fim de gerar a alegria da salvação. É isso
que pedimos quando na missa, o sacerdote reza em nome de toda a comunidade: «Dai-
nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-
nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo
de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles.»
Não deixemos de consolar aqueles que, perto de nós, trazem um coração entristecido.
Esta obra de misericórdia convida a disponibilizar tempo e vontade para acompanhar
quem experimenta a fragilidade e a tristeza. Por isso, tem gestos misericordiosos para
com os que andam mais tristes à tua volta: algum colega da tua turma, um amigo,
alguém da tua família, um desconhecido com quem te cruzas na rua onde moras e que
precisa do teu sorriso, palavra ou apenas da tua companhia.
Não deixemos de consolar aqueles que, perto de nós, trazem um coração entristecido.
Fevereiro 2017
Misericórdia é perdoar as injúrias
INJÚRIA
A injúria é uma palavra ou ação que leva à indignação e que fere a dignidade da pessoa,
prejudicando a sua reputação e amor-próprio. Todos nós, em algum momento da nossa
vida, já sofremos ofensas, calúnias e injúrias que, não só de feriram gravemente o nosso
coração, provocando feridas emocionais, como produziram também ódios,
ressentimentos e até vinganças. Essas ofensas, além de nos fazerem sofrer, roubam-nos
a serenidade e a paz, interior e exterior. É aí que o perdão pode ter um papel importante.
PERDÃO
Jesus ensina-nos que o perdão não significa atenuar a responsabilidade de quem
cometeu o mal: o perdão absolve, precisamente, aquilo que não é desculpável, aquilo
que é injustificável. O mal cometido permanece como tal, assim como permanecem as
cicatrizes do mal infligido.
O perdão, igualmente, não elimina a irreversibilidade do mal sofrido, mas assume-o
como passado e, fazendo prevalecer uma relação de graça sobre uma relação de
represália, cria as premissas de uma renovação da relação entre ofensor e ofendido.
O perdão não é sinónimo de fraqueza ou ausência de amor-próprio; pelo contrário,
demonstra grandeza de alma e muita coragem. O mais fácil seria «pagar na mesma
moeda», relembrar constantemente o sucedido, mostrar-se continuamente ofendido e
não sair de um registo de vitimização. Mais difícil é fazer um esforço por perdoar e
avançar, mesmo que não se seja capaz de esquecer.
Por tudo isto, o perdão abre um caminho conjunto, de responsabilidade mútua, em que
posso ajudar o outro a emendar-se.
LUGAR DE PERDÃO
Cada um de nós é chamado a ser espaço e lugar de perdão: «Perdoai-vos mutuamente,
como também Deus vos perdoou em Cristo» (Efésios 4, 32). É fundamental que cada
um de nós (re)descubra que foi perdoado por Deus em Jesus Cristo, e isso faz com que o
ato do perdão dado não seja tanto (ou apenas) um ato de vontade, mas a abertura ao dom
da graça do Espírito Santo que nos convida a fazer o mesmo. O perdão, portanto, depois
de concedido, pode (re)abrir a relação, dando lugar à reconciliação. Jesus não se cansa
de nos ensinar a separar o pecado do pecador, a condenar o pecado e a dar novas
oportunidades ao pecador, porque o homem é sempre maior que a sua falha.
O perdão à maneira de Jesus é a possibilidade de um caminho novo que faço, a partir
daí, com aquele a quem perdoo. Quantas pessoas encontramos marcadas por alguém a
quem não querem perdoar e que, por causa desse fardo, continuam presas a uma
situação dolorosa? Ao contrário, na medida em que apaga esses sentimentos vingativos,
o perdão acalma e traz serenidade. Pode demorar tempo a chegar, mas nunca será tarde.
Março 2017
Suportar as fraquezas do próximo
Num mundo que pretende apresentar-se como perfeito, é cada vez mais frequente
existirem dificuldades de relacionamento e aceitação das fraquezas dos irmãos. Não é
por acaso que o Novo Testamento da Bíblia nos exorta, com frequência, a termos
paciência e a suportarmos os outros: «Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos
mutuamente se alguém tiver razão de queixa contra outro» (Carta aos Colossenses 3,
13). O desafio desta obra espiritual é suportar, com mansidão, os que estão próximos de
nós, com todas as suas limitações, fraquezas, defeitos, adversidades e misérias.
Suportar a fraqueza
Esta obra de misericórdia diz respeito a todo o tipo de fraqueza humana: complexos,
vícios, defeitos de carácter, por exemplo. Cada um de nós tem as suas fraquezas,
dificuldades, limites e imperfeições. Alguns destes limites podem ser superados
rapidamente, mas, outros, não. E nem todas as pessoas conseguem lidar com a fraqueza
da mesma forma: algumas são mais lentas e outras possuem limites que não podem ser
facilmente superados e suportados.
A palavra «suportar» parece indicar (negativamente) um peso quando temos de pôr em
prática esta obra de misericórdia. Porém, lembremo-nos que o que deve ser suportado é
a fraqueza do próximo e não a pessoa. Não é nada fácil, especialmente no mundo em
que vivemos, entender que a fraqueza do outro não deve ser considerada um peso, um
obstáculo, mas uma oportunidade para a fraternidade. Quem de nós não se sentiu
incomodado pela debilidade e fraqueza de alguém?
A nossa natureza é limitada, mas pode refletir a força de Deus. Face às fraquezas dos
outros, cada um de nós é chamado a supri-las com as nossas aptidões e qualidades, e,
claro, a superar-se com a ajuda dos outros.
Abril 2017
Rezar a Deus por vivos e defuntos
A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
Na oração expressamos a ligação que existe entre a relação com Deus e a
responsabilidade pelos outros, entre o amor a Deus e a solidariedade para com os
irmãos. Assim como nós vivemos com e pelos outros, também rezamos com e pelos
outros.
A oração, elevada a Deus, não nos dispensa de agir, mas ela é uma força da esperança,
uma expressão da fé no poder de Deus, que é amor e não nos abandona.
Etimologicamente, «interceder» significa «dar um passo entre», «interpor-se», «colocar-
se entre duas partes para tentar construir uma ponte, uma comunicação entre elas». Foi
isto que Jesus fez na cruz.
ORAÇÃO NO SILENCIO
Rezar não é simples: o aborrecimento, a preguiça ou a repetição podem torná-la difícil.
A dificuldade aumenta diante do aparente «silêncio» de Deus. Acresce ainda que, com
frequência, o diálogo com Deus é feito de e no silêncio, o que não é muito gratificante.
Mas, como nos lembra Santa Teresa de Ávila, é no silêncio que nos tornamos
disponíveis, nos abandonamos com confiança e nos aproximamos de Deus. Repetir uma
oração, meditá-la, saboreá-la, vibrar com ela, é construir um diálogo com Deus.
«É hora de nos empenharmos a rezar uns pelos outros para que as obras de misericórdia
corporais e espirituais se tornem o estilo da nossa vida» (Papa Francisco).
Maio 2017
Alunos para o século xxi
Inauguramos este mês um novo itinerário temático. Nos próximos meses iremos refletir
sobre o documento recente do Ministério da Educação, Perfil dos alunos à saída da
Escolaridade Obrigatória, em particular no que toca aos valores ali expostos. Propomo-
nos compreender os principais valores e os caminhos educativos sugeridos.
O documento define dez competências em que se pretende que os alunos estejam
habilitados no final do percurso escolar: 1 – Relacionamentos interpessoais. 2 –
Linguagens e textos. 3 – Informação e comunicação. 4 – Raciocínio e resolução de
problemas. 5 – Pensamento crítico e pensamento criativo. 6 – Desenvolvimento pessoal
e autonomia. 7 – Bem-estar e saúde. 8 – Sensibilidade estética e artística. 9 – Saber
técnico e tecnologias. 10 – Consciência e domínio do corpo. Estas competências
deverão capacitá-los para continuar a aprender ao longo da vida e responder aos
desafios do século XXI.
Na apresentação do documento, a 11 de fevereiro passado, o jurista Guilherme
d’Oliveira Martins apontou que uma das consequências práticas, em sala de aula, que se
espera alcançar é «não aos monólogos, sim à interação»!
Junho 2017
Educação humanista
O recente documento, elaborado pelo Ministério da Educação, define o perfil dos alunos
à saída da escolaridade obrigatória, realçando a importância de um perfil de educação de
base humanista. Iremos, pois, analisar o que significa uma educação de base humanista.
julho/agosto 2017
Desenvolvimento sustentável
Um dos desafios para a educação do presente e do futuro das crianças e dos jovens é o
de os educar treinando as habilidades, as competências e os conhecimentos. Estas três
áreas são necessárias para transmitir valores indispensáveis. O objetivo é promover as
práticas que conduzem ao desenvolvimento sustentável, que trará a erradicação da
pobreza, a equidade e a inclusão. Este desafio foi assumido pelas Nações Unidas,
quando incentivaram os países a adotarem medidas para promover a educação para o
desenvolvimento.
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
A educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) é meio e forma de fazer com que
possamos todos enfrentar os desafios da atualidade: proteção do meio ambiente, respeito
pela biodiversidade, defesa dos direitos humanos e das outras criaturas, por exemplo.
Concretamente em relação aos alunos, a EDS deverá expor e treinar os conhecimentos,
as habilidades e as competências sociais, ambientais, económicos e culturais do
desenvolvimento. A EDS deve sublinhar os conceitos de paz, igualdade e respeito pelos
outros, em que se incluem os ambientes natural e social. Por outras palavras, a EDS
deve incentivar em cada pessoa atitudes sustentáveis, oferecendo conhecimentos,
competências e valores que façam de nós verdadeiros agentes dessa nova mentalidade.
ECOCIDADANIA
A ecocidadania, consequência da EDS, baseia-se numa visão do mundo em que todos
temos a oportunidade de aceder a uma educação e adquirir valores que fomentam
práticas sociais, económicas e políticas de sustentabilidade, contribuindo para um futuro
que compatibilize as necessidades humanas com o uso sustentável dos recursos. Assim,
superamos os efeitos perversos do agir errado, egoísta e consumista, que vão desde a
destruição ambiental até à manutenção ou agravamento da pobreza.
Outubro 2017
ensinar com coerência
O perfil dos alunos que se pretende ter à saída da escolaridade obrigatória aponta a
necessidade de educarmos com coerência. Este objetivo é um dos maiores desafios para
os educadores e para as instituições de ensino.
O que é «coerência»?
Ser coerente significa olhar com tranquilidade para tudo o que somos e fazemos, e
procurar não esconder ou mascarar, de nós mesmos e dos outros, o que verdadeiramente
somos. Ser coerente significa, por um lado, reconhecer as nossas falhas e imperfeições
e, aceitando esses limites, ir procurando mudar, na medida do possível, e, por outro, ir
promovendo as nossas qualidades.
Isto não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, é exigente, pois apela a uma constante
vigilância contra a nossa vontade de pretender agradar, de mentir e de esconder. Ser
coerente consiste em viver e agir seguindo uma série de princípios e valores, que dão
um rumo, um sentido, estabilidade e unidade à nossa vida.
Credibilidade da educação
A coerência traz e dá credibilidade à educação. Quando os educadores expõem
pensamentos, ideias, valores e os praticam, estão verdadeiramente a educar os alunos, a
ajudá-los a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar o seu caminho intelectual,
emocional, profissional e espiritual, que os realize e que contribua para todos
modificarem a sociedade que temos.
Ao viver a coerência, os educadores ajudam os alunos na construção da sua identidade,
do seu caminho pessoal e profissional, do seu projeto de vida, tornando-se cidadãos
realizados, produtivos e éticos.
Novembro 2017
O valor do saber
SABER E CONHECIMENTO
Usamos a palavra «saber» para designar a sabedoria, o conhecimento que alguém
adquire num assunto, tema ou ciência. Uma pessoa adquire o saber, isto é, o
conhecimento sobre algo, por meio da sua experiência, ou seja, do contacto com aquilo
que se conhece, mas, também, pela educação recebida pelo ensino que alguém
pronuncia com o conhecimento prático e teórico de um tema ou realidade. Mas o saber
é, também, uma atividade persistente, uma busca constante e própria dos indivíduos e,
por isso, em todo o tempo e espaço estamos a absorver e a processar a informação que
obtemos na nossa vida quotidiana de modo a sabermos mais, a conhecermos mais, a
sermos mais.
UM NOVO NASCIMENTO
A palavra «conhecimento» no latim tem um significado muito especial; cognotio ou
cognoscere refere-se, também, a um novo nascimento. O conhecimento produz o
nascimento de uma nova realidade, uma nova maneira de ver e agir no mundo, uma
nova mundividência. Por isso, uma geração sem conhecimento e saber é uma geração
sem poder de transformação e de inovação.
Essa questão reflete-se também no relacionamento das pessoas com Deus. Na pós-
modernidade existe uma abertura para se trocar opiniões sobre o que as pessoas pensam
sobre Deus, mas poucos desfrutam do verdadeiro conhecimento Dele. Então, o maior
obstáculo para a nossa geração é ultrapassar as distrações das opiniões para podermos
criar o nosso conhecimento de Deus, que produz necessariamente uma maior presença e
vivência: um novo relacionamento com Ele.
O PODER DO SABER
Quanto mais sabemos, mais poder temos e mais livres seremos, no sentido que quem
sabe mais escolhe melhor, decide melhor, pois possui mais recursos e meios e não se
deixa levar pela primeira impressão dos factos. Como dizia Francis Bacon, «saber é
poder», e Jesus acrescenta que é um poder que liberta. Jesus Cristo disse aos seus
discípulos: «Conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará» (João 8, 32).
O poder da verdade está no conhecimento e na experiência vivencial dela. O mero saber
sobre a verdade, por si só, não liberta e consequentemente a informação sobre Deus
também não transforma nem liberta pois é um saber que gera expectativa sem
esperança. Foi isso que Jesus demonstrou na ultima ceia com os discípulos. Ao explicar-
lhes o que significava a sua paixão e morte, Ele não mostrou apenas o pão e o vinho,
mas distribuiu-os, comeu e bebeu com eles. Por outras palavras, conhecer a verdade
significa experimentá-la, prová-la, degustá-la e digeri-la para que ela possa produzir
frutos abundantes.
Caixa:
«Nós aprendemos:
10 % quando lemos,
20 % quando ouvimos,
30 % quando vemos,
50 % quando vemos e ouvimos,
70 % quando discutimos/debatemos,
80 % quando vivenciamos
e 95 % quando ensinamos.»
(William Glasser)
Dezembro 2017
Árvores solidárias
Sou natural de uma zona do País que foi terrivelmente fustigada pelos incêndios do
passado dia 15 de outubro. As centenas de incêndios que deflagraram nesse dia – o pior
dia de fogos do ano segundo as autoridades – provocaram 45 mortos, consumiram cerca
de 200 mil hectares de floresta (uma área seis vezes superior à de Lisboa), destruíram
total ou parcialmente cerca de 350 empresas, obrigaram a evacuar localidades e a
realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas do nosso país. Estas
tragédias deixaram-nos numa angústia e impotência brutal. Se este flagelo não nos
tocou à porta ou à porta da nossa família, vizinhos ou conhecidos, tocou-nos, com
certeza, na alma ver o sofrimento e a tristeza de tantos irmãos nossos que, de um
momento para o outro, perderam tudo o que tinham amealhado ao longo de uma vida.
Onda solidária
Foi com orgulho que vi o povo português mobilizar-se numa gigantesca onda de
solidariedade recolhendo roupas, mantimentos, eletrodomésticos, móveis... e centenas
de milhares de euros para ajudar a reconstruir a vida daqueles mais afetados,
minimizando assim os estragos. Valha-nos essa presença amiga, quando tudo o mais nos
falhou ou foi insuficiente! Mas, muito há ainda para fazer não só a nível comunitário,
mas, sobretudo, a nível institucional e governativo. Tem de se passar das promessas às
ações, do abandono ao cuidado, da destruição à construção, do afastamento à
proximidade… tem de se ser perito na arte de cuidar e zelar, das pessoas, das empresas
e da floresta pois esta última foi, também, terrivelmente, dizimada pelas chamas.
A árvore e o Natal
Ao pensarmos e ao celebrarmos o Natal, pensamos obrigatoriamente numa árvore de
Natal. A árvore de Natal é um dos principais símbolos da quadra. Na maioria dos locais
onde o Natal é celebrado, a árvore é muito importante e está quase sempre presente.
Significa uma vida nova e promete a vinda de dias mais claros na primavera cheios de
esperança, paz, vida e alegria pois é uma das poucas árvores que sempre se mantêm
verde, mesmo durante o inverno, quando a maioria das árvores perdem as folhas. O
pinheiro de Natal simboliza que é possível, mesmo em situações adversas, manter a fé e
a esperança de que dias melhores virão.
Janeiro 2018
O valor da integridade
Sê grande, sê inteiro
Ricardo Reis, um heterónimo de Fernando Pessoa, descreveu bem, num belíssimo
poema, o que entende por integridade: «Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou
exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago
a Lua toda brilha, porque alta vive.»
Como conseguimos ser inteiros num mundo que nos desafia constantemente a
desintegrarmo-nos e a fragmentarmo-nos? Assiste-se hoje a uma inversão de valores e
parece que ser honesto e íntegro está fora de moda, no entanto, concordo com Ricardo
Reis e entendo que a integridade é um valor cada vez mais necessário e a sua vivência
terá de fazer parte, obrigatoriamente, da nossa vida quotidiana.
Integridade significa agir e viver da maneira inteira, correta, sejam quais forem as
consequências. Quando somos íntegros, estamos dispostos a viver segundo os nossos
valores e as nossas crenças, mesmo que ninguém esteja a ver ou a recompensar.
Fevereiro 2018
Educar na curiosidade
As crianças nascem com uma curiosidade enorme e um forte desejo de conhecer. Como
forma de satisfazer essa necessidade, elas fazem muitas perguntas e aprendem rápido. A
curiosidade é o que as mantém interessadas e com vontade de saber mais. Por isso, o
sistema educativo tem o dever de continuar a fomentar e alimentar esse desejo de
conhecimento, estimulando, implícita e explicitamente, a ânsia dos alunos, educando na
e para a curiosidade.
O poder da curiosidade
Somos curiosos desde o momento que começamos a ver, e, depois, a deslocar-nos e a
explorar o mundo ao redor.
Desde crianças, somos exploradores do mundo e sempre vamos querer saber mais e
mais. Por isso, o papel da escola não é, em absoluto, cortar essa curiosidade, mas
conseguir que esse interesse e essa motivação não se percam pelo caminho educativo.
Se se força a aprendizagem, se se leva o aluno pela mão, essa curiosidade deixa de vir
de dentro e desaparece e ele não aprende, porque o desejo de aprender não nasceu dele,
foi-lhe imposto. A escola deve, pois, potencializar esta curiosidade para que no futuro os
alunos sejam eficientes e criativos.
Março 2018
O valor da cidadania
O perfil desejado para os alunos à saída da escolaridade obrigatória prevê que sejam
capazes de exercitar a cidadania ao longo da vida. Para isso, os educadores apresentam-
lhes princípios e valores universais. E, numa perspetiva prática, habilitam-nos, de modo
a desenvolverem competências para serem cidadãos participativos.
Cidadão e cidadania
As palavras «cidadão» e «cidadania» derivam da palavra latina civitas, que significa
«cidade». Elas indicam o conjunto de direitos e deveres ao qual as pessoas estão sujeitas
em relação à sociedade em que vivem. De facto, o termo civitas evoluiu de civis, nome
dado a todas as pessoas que moravam nas cidades – e que em português se diz
«cidadãos».
A partir desta mesma raiz etimológica, surgiram várias outras palavras na língua
portuguesa, como «civil», «civilização», «civismo»...
Por tudo o dito anteriormente, pode-se dizer que ser cidadão vai além do simples
conceito de ser habitante de uma cidade. Envolve participar ativamente na vida e
organização da sociedade. Ser cidadão ativo é, no ensinamento da Igreja ser «cultos,
pacíficos e benévolos para com todos, em proveito de toda a família humana» (Concílio
Vaticano II, Gaudium et Spes, 74). É, também, não se deixar oprimir ou subjugar a
qualquer interesse mesquinho, mas aceitar o desafio de cumprir os seus deveres e
defender os seus direitos na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Sermos
cidadãos ativos significa estarmos atento aos grandes problemas do mundo e aos
pequenos problemas do quotidiano e dar o nosso contributo, à nossa medida, para a sua
resolução.
Abril 2018
O valor dos relacionamentos pessoais
Relacionamento professores-alunos
Relações interpessoais positivas entre professores e alunos são fundamentais no
processo de aprendizagem pois ambos trocam conhecimentos, impressões, informações,
crescendo com isso.
Por vezes, os professores não conseguem ter uma boa relação com os alunos por
pensarem que demonstrar afetividade e manter a disciplina são atos incompatíveis. No
entanto, isso não é verdade e, por vezes, basta apenas um olhar, um sorriso, para que o
aluno passe a olhar de uma maneira diferente aquele ambiente que lhe poderia parecer
hostil.
Num bom relacionamento o diálogo é a estrada necessária para se chegar ao aluno, pois
só mostrando vontade de o entender e respeitar como pessoa, se é capaz de perceber a
verdadeira identidade do aluno, atrás da sua mascara diária na qual esconde os seus
problemas, ansiedades e preocupações. De facto, o aluno procura demonstrar, através de
palavras e gestos, o que sente e o que necessita naquele momento.
O professor precisa de ter amor ao que faz e a quem ensina. Os alunos, ao sentirem o
amor, o carinho e a confiança que foram depositados pelo professor, esforçar-se-ão para
não o dececionar. Cumprimentar, ter cordialidade e trocar informações são atitudes
diárias muito importantes para a formação e manutenção das relações interpessoais em
ambiente escolar.
Maio 2018
Apostas na tua formação cristã?
Alargar horizontes
Talvez ao contrário do que muita gente sussurra, a religião é prática. Explico-te
brincando com as palavras, mas creio que é fácil entender este exercício: «or-ação»,
«medit-ação», «contempl-ação»; «ador-ação», «voc-ação», «evangeliz-ação», «capacit-
ação», «realiz-ação», «avali-ação», santific-ação»… É por isso que a religião (a
espiritualidade) nos torna mais humanos, e não nos alheia do mundo.
A educação religiosa dá-te conhecimentos e estratégias que te permitem, de forma
autónoma e livre, relacionar-te com Deus, dialogar com Ele e estabelecer um
compromisso para toda a vida. Não se trata de um conjunto de ensinamentos ou de
normas. É uma espécie de treino para esse encontro com Deus, encontro que é um
diálogo entre pessoas livres, que se estimam, a que chamamos oração. E o compromisso
é ter Deus como o Pai comum e viver como irmãos, na única casa que é o mundo.
Junho 2018
O que devemos saber antes dos 12 anos
A necessidade de igualdade
A igualdade entre mulheres e homens é uma questão básica dos direitos humanos e uma
condição de justiça social, sendo igualmente um requisito fundamental para o
desenvolvimento e a paz. A igualdade de género exige que, numa sociedade, homens e
mulheres gozem das mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em
todas as áreas: no acesso à educação, nas oportunidades no trabalho e na carreira
profissional, no acesso à saúde e no acesso ao poder e influência. Para isso é
fundamental que os pais saibam dar o exemplo, partilhando as responsabilidades de
cuidado e as tarefas domésticas, tratando-se com respeito e valorizando o trabalho de
cada um.
Julho/agosto 2018
Quatro desafios para toda a vida
No mês de junho, comecei a mencionar o que devemos saber antes dos 12 anos. Referi
quatro princípios. Acrescento outros quatro.
Autoconhecimento
A adolescência é uma fase marcada por grandes mudanças físicas e psicológicas que
levam, necessariamente, a processos de autoafirmação, autoestima e autoconfiança. Esta
é a idade das infindáveis dúvidas, em que tudo parece confuso e sem sentido. A razão é
que, na adolescência, a vida deixa de ser tão simples como era até então, porque deixas
de ter os pais como quem se preocupa totalmente pelo teu bem-estar e felicidade e
passas a ter de assumir o controlo da tua existência.
Todavia, precisarás sempre da presença e do apoio dos mais adultos, que te
compreendam e ajudem a orientar-te num mundo que parece estar a desabar... E
necessitas de estabelecer algumas certezas, alguns princípios que valem para toda a
gente e por toda a vida.
Escolher a misericórdia
Aos 12 anos, já sabes que a vida é como um caminho, uma viagem. E que a vida,
porque tem alegrias e tristezas, precisa, basicamente, de uma coisa: amor; o qual se
traduz de infindáveis maneiras: proximidade, compreensão, perdão, etc.
Na gramática cristã, a atitude recomendada por Jesus para marcar a vida dos cristãos é
«misericórdia», como Ele diz no Evangelho de S. Lucas: «Sede misericordiosos como
vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36). Misericórdia evoca um comportamento de
ternura. Para Jesus, é claro que Deus está disposto a amar, a proteger e a ajudar, com um
amor imensurável, dando-Se todo por nós. E, por isso, convida-nos a fazer o mesmo.
Crescer misericordiosos como o Pai foi um desejo expresso pelo Papa Francisco na
mensagem para o jubileu da misericórdia dos adolescentes. Para o papa, crescer na
misericórdia significa aprender a ser corajosos no amor prático e desinteressado,
significa tornar-se grande, tanto no aspeto físico, como no íntimo de cada um.
Tu precisas de saber que pôr-se no lugar do outro torna-o mais tolerante e estimula a sua
inteligência emocional. Assim, o adolescente não deve ter medo de lançar-se na
aventura da misericórdia, construindo pontes e derrubando muros, ao mesmo tempo que
socorre os mais necessitados.
Renunciar à violência
A cada 7 minutos uma criança ou um adolescente, entre 10 e 19 anos, morre em algum
lugar do mundo, vítima de alguma forma de conflito armado ou violência coletiva. É
preciso afirmarmos que a violência nunca resolve nada, mas sim o diálogo e a
cooperação. É assim fundamental informar-se, ouvir, conhecer, para melhor desenvolver
a capacidade de argumentação.
Outubro 2018
Tu e a tecnologia
Este mês, quero refletir contigo sobre como podes usar a tecnologia para não correres
nem riscos nem dissabores, mas, pelo contrário, poderes ter nela um instrumento eficaz
para a tua felicidade e para o teu êxito humano e escolar. Para isso torna-se necessário
aprenderes a estar on e off.
Novembro 2018
Tecnologia com segurança
Dezembro 2018
Diferentes e iguais
No dia 3 de dezembro, comemora-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
Muitos de nós, no nosso dia a dia, na família, na escola, nas diversas atividades,
contactamos com pessoas que são portadoras de alguma deficiência. Por vezes, sentimo-
nos um pouco constrangidos diante do diferente. Esse mal-estar diminui e pode até
mesmo desaparecer quando começam a surgir oportunidades de convivência entre
pessoas com e sem deficiência. Verificamos, no entanto, que ainda há muitos tabus e até
algum desprezo, comentários impróprios ou desvalorização para com estas pessoas…
Daí que é extremamente importante que saibas como estar e agir perante
crianças/pessoas com deficiência. Deixo-te quatro princípios que considero importantes
para um relacionamento saudável e inclusivo.
Relacionamentos inclusivos
Na sociedade em geral, e na escola em particular, os relacionamentos com as crianças
portadoras de deficiência devem ser inclusivos. Com atitudes inclusivas, todos
ganhamos e aprendemos a compreender e aceitar os outros; a reconhecer as
necessidades e competências dos colegas; a respeitar todas as pessoas; a construir uma
sociedade mais solidária; a desenvolver atitudes de apoio mútuo; e a criar e desenvolver
laços de amizade.
Janeiro 2019
Nativos digitais: a geração z
Atualmente, a geração Z tem entre 5 e 22 anos. Geração Z porque sucede à geração do
milénio, referida como geração Y.
Fevereiro 2019
Do Homo sapiens ao Homo technologicus
O ser humano converteu-se no que é hoje graças à sua capacidade de criar e usar a
tecnologia. Aqueles que aprendem a usufruir das capacidades dos novos equipamentos e
saberes estão a preparar o futuro, que será tecnológico.
A tecnologia faz parte da história humana. Graças à sua capacidade intelectual, aliada à
sua habilidade tecnológica, o Homo sapiens foi capaz de descobrir e desenvolver
técnicas até então inexistentes, alterando o meio em que vivia. Por sua vez, a conexão
entre tecnologia e espécie humana também tem modificado os hominídeos.
Ao longo de milénios, a evolução humana cruzou-se sempre com a evolução
tecnológica. As pessoas têm sido criadoras de tecnologias, usando-as de modo a
facilitar-lhes – e alterar-lhes – a vida e o trabalho. Os nossos antepassados primitivos
utilizavam objetos encontrados na Natureza como instrumentos que lhes garantissem
uma extensão do corpo. Graças a esses recursos, eles puderam garantir a sua
sobrevivência e lutar, sem desvantagem, contra poderosos obstáculos. Nas últimas
décadas, têm vindo a desenvolver-se a um ritmo exponencial as tecnologias da
informação e as eletrónicas.
Março 2019
A geração Alpha
As crianças atualmente com 9 anos pertencem à chamada geração Alpha, a que
pertencem todos os nascidos depois do ano de 2010.
A expressão geração Alpha foi usada pela primeira vez pelo sociólogo australiano Mark
McCrindle e tem origem na primeira letra do alfabeto grego, o alfa: α. Esta geração, de
acordo com o sociólogo, é formada por pessoas muito mais independentes e com um
potencial muito maior para resolver problemas do que os seus pais e avós. É uma
geração que nasceu e cresceu num contexto global totalmente diferente das anteriores e
muito mais exposta a tecnologias avançadas e, sobretudo, a muito mais informação.
Geração superestimulada
Tu que pertences à geração Alpha já ouviste muitas pessoas comentarem que vocês são
uma geração muito inteligente. Ora, esta perceção advém da vossa constante exposição
a um mundo onde superabundam os estímulos. Uma coisa é ter aprendido a usar, ao
longo da vida, os aparelhos tecnológicos, outra é ter nascido onde isso já existe. Vocês,
os Alpha, mais do que as duas gerações que os precederam, é que são os screenagers –
termo inventado na década de 1990, que mistura ecrã e adolescente –, pois mais do que
nativos digitais, são a geração exposta, mesmo ainda com fraldas, a ecrãs
constantemente ligados à Internet, que os pais usam para vos distrair e educar.
Supercuriosidade
Vocês, as crianças da geração Alpha, são muito mais curiosas, espertas e sensíveis a
tudo à sua volta. Esta curiosidade faz com que a mente trabalhe mais, e tentem superar-
se constantemente. Vocês ensinam eficazmente que, quando deixamos de ser curiosos,
apenas sobrevivemos. Vocês terão um nível educacional superior, visto terem começado
a estudar muito mais cedo. E são as primeiras crianças na História a experimentar um
novo sistema escolar, mais personalizado e híbrido (online e offline), com foco na
autonomia do aluno e no seu processo de aprendizagem que ensina por meio da
observação das situações do quotidiano.
Abril 2019
Os desafios da geração Alpha
Tu, que tens 8, 9 ou praticamente 10 anos, fazes parte da geração Alfa, uma designação
criada pelo sociólogo australiano Mark McCrindle. São uma geração muito mais
independente que a dos teus pais e, até, dos teus irmãos mais velhos. A tua geração
cresce não só habilitada para usufruir das novas tecnologias, mas já com novos
conceitos acerca da vida. Por exemplo, vocês substituem o reino das fadas pelo mundo
virtual; já não creem em mundos cor-de-rosa, mas não deixam de querer ser princesas e
príncipes e ser venerados, recorrendo à exposição em fotos dos vossos atributos e
habilidades.
Os adultos esperam muito de vocês, porque dispõem de mais informação e tecnologia
do que qualquer outra geração. Serão muito arrojados e produtivos no mercado de
trabalho, graças à conectividade proporcionada pela Internet e em virtude da
informatização da tecnologia. Mesmo os que trabalharão em empresas tradicionais e
com cargos convencionais não dispensarão os computadores, alguma robotização e,
sobretudo, será mais natural aderir a tecnologias limpas e sustentáveis, nem que seja
pela urgência na salvaguarda da vida no planeta. E muitos terão profissões que ainda
nem sequer existem.
Imagina a escola como uma comunidade de pessoas em que cada um tem a iniciativa de
se colocar no lugar do outro. Um ambiente onde todos se conhecem a si mesmos, com
os respetivos limites e potencialidades. Uma sociedade onde as pessoas sabem lidar com
as diferenças e estão aptas a compreendê-las e a adaptar-se. Um lugar onde a totalidade
dos intervenientes educativos confia e se compromete empenhadamente com o êxito
pedagógico. Certamente, esta é uma escola que todos gostaríamos de frequentar…
porque leva a sério as competências globais dos alunos.
Formação integral
O raciocínio intelectual é apenas uma parte de ti. No entanto, já deves ter visto ou
vivido alguma situação em que, mesmo tirando boas notas, não foi possível controlar a
dimensão emocional; por exemplo, quando alguém fica tão nervoso antes de um teste
que não consegue pensar com clareza, e por isso, lhe corre mal. Trata-se da falta de
inteligência emocional, que muitas vezes não é suficientemente valorizada, embora se
revista da máxima importância. Toda a gente tem de ser despertada física, psicológica,
cognitiva, social e espiritualmente para se realizar como pessoa.
Junho 2019
Cidadania digital
Vivemos numa sociedade em rede. A tecnologia aboliu todas as fronteiras. Qualquer
pessoa em qualquer parte do mundo pode interagir com quaisquer outras pessoas. Há
uma nova noção do tempo e do espaço. Tudo isto caracteriza o novo conceito de
cidadania digital.
Julho-agosto 2019
Ativistas digitais
A Internet é um espaço privilegiado para a intervenção social, seja para apoiar, seja para
criticar ou censurar pessoas ou organismos.
Outubro 2019
Educar as emoções
Se na tua escola te dissessem que iam ensinar-te o alfabeto das emoções, isso soava-te a
estranho ou agradava-te? A Audácia vai falar deste tema ao longo do novo ano letivo.
Alfabetizar as emoções
Alguém já te aconselhou a desprezar as emoções? Pode acontecer em família, quando
criticam mais do que elogiam; quando protegem das dificuldades e não envolvem nas
tarefas e responsabilidades domésticas; quando não sensibilizam para a bondade das
brincadeiras com os outros e a interação com a Natureza, por exemplo.
Ou pode ter sido na escola, que, durante muito tempo, teve tendência para dar mais
importância à razão do que à emoção. O propósito era transmitir e assimilar saberes. E
os alunos procuravam saber a matéria para ter boas notas e passar de ano. Felizmente,
nenhum de nós é só intelecto, e tampouco vivemos um conflito entre cérebro e coração,
como se um apenas pensasse e o outro só sentisse.
Como poderás já ter concluído ou observado, se desenvolveste, desde a infância, as
emoções, és sensível, alegras-te pelo bem que existe e pelo que fazes, preocupas-te com
o mal que afeta os outros, sobretudo com o que causaste (logicamente, é e faz o
contrário quem não as desenvolveu) e procuras soluções em vez de desistir.
A forma como dominas as tuas emoções contribui para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento da tua personalidade. Para isso é fundamental que pratiques com
frequência estes quatro exercícios: autoconhecimento, autodomínio, automotivação e
solidariedade. E, para os praticar cada vez melhor, não hesites de pedir ajuda e
conselhos na família, escola, paróquia e aos amigos.
Novembro 2019
Medo e coragem
Todos temos medo de algo. Isso pode ser doloroso, se o pavor nos faz perder
oportunidades e experiências que poderíamos ter, como os outros têm. Ou pode ser
apenas uma experiência no caminho do êxito.
Ter medo é um sentimento normal, que faz parte da natureza humana. O medo visa a tua
segurança e bem-estar. Ele ajuda a proteger-te, mantém-te alerta para o perigo e prepara-
te para lidar com ele, caso seja necessário.
O medo pode ser muito intenso ou apenas ligeiro, durar mais ou menos tempo. Sentes
medo porque a ideia de que algo possa ameaçar a tua segurança ou a tua vida faz com
que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam
reações que o caracterizam.
O medo é saudável
Durante as aulas ou, sobretudo, antes de um teste, por exemplo, enquanto estudas, tens
medo de não teres uma boa prestação ou de errares. Com estes sentimento, o teu cérebro
alerta-te para que não te distraias nem deixes de ter o estudo em dia.
Outro exemplo: tens medo das alturas, pois, caso contrário, poderias cair e magoar-te.
O medo só se torna um problema quando te sentes ameaçado de modo exagerado ou
irrealista, perante situações ou objetos que não representam ameaça. Sabes que não há
razão para tanto medo, mas, mesmo assim, não consegues evitar. Por exemplo, sabes
que o escuro não te faz mal, todavia, isso não te reduz a ansiedade, pelo contrário,
aumenta-a.
O medo de fracassar
Na escola, um dos medos mais comuns é o de fracassar, de não teres uma boa nota no
teste, de não passares de ano. Muitos alunos, por causa desse medo ou da pressão dos
pais, aos primeiros fracassos, desanimam e desistem. Isso é mau, pois, muitas vezes,
perdes oportunidades e nem tentas o êxito, porque deixas que a tua cabeça fique cheia
de pensamentos negativos. É preciso acreditares e entenderes que o erro é apenas uma
falha momentânea e que terás sempre a oportunidade de acertares da próxima vez.
Outro dos medos muito comuns é o de não conseguires integrar-te, ser aceite e
mereceres a aprovação dos outros.
Dezembro 2019
Aprender a lidar com a tristeza
Todos nós sentimos tristeza de vez em quando. Às vezes estamos apenas um pouco
abatidos, outras vezes, sentimo-nos mesmo angustiados. Isso depende da razão da
tristeza e da forma como estamos a lidar com ela.
A tristeza é uma emoção básica e normal e, como todas as emoções, ela vai e vem,
aparece e desaparece. Já experimentaste como alguns sentimentos de tristeza duram
apenas uns momentos, e outros podem durar mais tempo. Porém, quando a vences,
voltas a sentir-te com renovado alento e contente. Por isso, é importante que aprendas a
lidar com a tristeza.
De onde vem a tristeza?
A tristeza pode manifestar-se em ti por muitas e diversas razões: quando as coisas não te
correm bem, quando não atinges os teus objetivos, quando não obténs a nota que
esperavas no teste, quando a tua equipa perde o jogo ou quando não és escolhido para
um jogo ou missão que muito querias. Ela também pode aparecer quando alguém te
magoa, te deixa de fora, te desilude ou te diz alguma coisa de que não gostas. Por vezes,
ela pode estar associada à vivência de problemas na família, na escola ou na sociedade
em geral.
Janeiro 2020
A emoção da alegria
O que dirias a quem te perguntasse o que é a alegria? Talvez digas que é uma sensação.
Ou melhor, que é uma experiência, um modo de estar na vida, uma maneira de encarar a
vida.
Sabias que a sensação de alegria não te aparece de maneira misteriosa ou mágica? Ela
resulta do fabrico pelo teu organismo das hormonas chamadas endorfinas. Todavia, o
teu corpo não as fabrica de forma espontânea nem automática. É preciso que o cérebro
dê a ordem. Isto mostra que o ser humano tem a capacidade de realizar aquilo que o
satisfaz e evitar o que lhe desagrada, porque o nosso cérebro está programado para isso.
A alegria é “prima” da felicidade…
A alegria é uma emoção básica e está associada à felicidade. Quando estás alegre,
pensas em coisas boas e positivas e, às vezes, até sentes uma espécie de borboletas ou
formigas no estômago. Mostras um sorriso de orelha a orelha, dás boas e grandes
gargalhadas ou até pulos de alegria... A alegria aparece normalmente quando tens êxito
numa tarefa, obtiveste uma boa nota num teste, ganhaste respeito e admiração,
experimentaste amor e afetos, recebeste uma surpresa agradável... Surge quando
consegues alcançar algo que valorizas e tem a função de te fazer repetir esses
acontecimentos positivos.
Caixa: És alegre?
Tu és alegre quando:
– Reconheces que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e
períodos de crise.
– Deixas de ser vítima dos problemas e te tornas autor da tua própria história.
– Atravessas desertos fora de ti e és capaz de encontrar um oásis no recôndito da tua
alma. – Agradeces a Deus o milagre da tua vida.
– Não tens medo dos teus próprios sentimentos, sabes falar de ti mesmo, tens coragem
para ouvir um “não” e recebes uma crítica, mesmo que injusta.