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FRANCISCO e os irmãos peixes

Teatro: Para ser lido ou representado.


Personagens: Francisco de Assis, Pescada, Congro, João e Maria.

FRANCISCO: Paz e felicidade, irmãos! Hoje, encontro-me no sul do Chile, em Puerto


Montt. Aqui chegam os barcos dos pescadores. Eh!... Irmão peixe, como te chamas?
PESCADA: Sou uma pescada... E tu, és turista?
FRANCISCO: Vim à procura de notícias do que está a acontecer nestes mares...
PESCADA: Pois eu vou atrás da minha família...
FRANCISCO: O que lhes aconteceu?
PESCADA: Estão dentro daquele barco... Pescaram quase todo o meu cardume.
FRANCISCO: Muitos anzóis teriam esses pescadores...
PESCADA: Não. Agora são barcos enormes e pescam com redes gigantes.
FRANCISCO: O que fazem esses barcos?
MARIA: As redes são tão grandes que arrastam tudo o que encontram. Destroem o
fundo do mar, onde crescem as algas. Desfazem os recifes de coral… Apanham polvos,
enguias, caranguejos, tartarugas, esponjas, ouriços, estrelas-do-mar... Tudo!
FRANCISCO: E consomem isso tudo?
PESCADA Não, só lhes interessam os peixes grandes como nós as pescadas. Aos
outros, deitam-nos fora, uns ainda vivos, outros, a maioria, já mortos. Pesca de arrasto e
descarte, é assim que chama a essa técnica piscatória.
FRANCISCO: Ah, então também há descarte no mar?!...
JOÃO: E os pescadores artesanais estão a ficar sem trabalho…
PESCADA: Apresento-vos o famoso congro chileno...
FRANCISCO: Também estás à procura da tua família?
CONGRO: Não. Procuro comida.
FRANCISCO: Prateada irmã Pescada e dourado irmão Congro, como pode ter acabado
a comida num mar tão imenso?
CONGRO: As redes levam também a minha comida. Rompem a cadeia alimentar.
MARIA: A vida é como uma cadeia. Cada elo sustenta-se no anterior e sustenta o elo
seguinte. Se se rompe um elo, os outros desaparecem.
CONGRO: O mar onde nadamos está cheio de plantinhas minúsculas, o plâncton. Elas
alimentam-se dos raios do Sol.
PESCADA: Essas plantinhas são comidas por animaizinhos um pouquinho maiores do
que elas, sobretudo pelo krill.
CONGRO: Depois, peixes, focas, pinguins, gaivotas e até baleias alimentam-se desses
camarõezinhos.
JOÃO: Então, o krill come algas, os peixes comem krill, os tubarões comem peixes e...
se falta um elo nessa cadeia, morrem todos.
MARIA: Ora, os barcos de pesca modernos rompem a cadeia.
CONGRO: Mas há outro problema…
PESCADA: O mar está a aquecer por causa das alterações climáticas.
CONGRO: E quando o mar aquece, as algas pequeninas morrem.
PESCADA: Embora sejam tão pequeninas, essas algas também limpam o ar do mundo.
JOÃO: Calcula-se que metade dos gases responsáveis pelo aquecimento global seja
absorvido pelas algas que vivem na superfície dos mares. Elas convertem o ar poluído
em oxigénio limpo.
MARIA: Se as algas morrem, já não podem limpar nada.
CONGRO: E a água dos mares torna-se ácida.
FRANCISCO: Se não mudarmos de economia, em pouco tempo, também nós, os
humanos, não teremos nem caldo nem caldinho, nem pescada nem pescadinha. O mar
vai ficar sem peixes.

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