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POPULISMO
a partir de ensaios e
perspectivas distintas
Clarissa Tassinari
Giancarlo Montagner Copelli
PENSANDO O
POPULISMO
a partir de ensaios e
perspectivas distintas
1ªEdição
ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO:
Os autores
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 13
Anderson Vichinkeski Teixeira
PREFÁCIO 15
Jose Luis Bolzan de Morais
REFERÊNCIAS 95
Anderson Vichinkeski Teixeira
APRESENTAÇÃO 13
APRESENTAÇÃO
Como pode ser sentido desde já, a obra possui altíssima relevância para
pesquisadores, professores e estudantes de Teoria do Estado, Teoria da
Democracia, Direito Constitucional e Ciência Política, podendo ser aplicada tanto
na graduação como na pós-graduação em Direito e áreas afins.
Por fim, reitero a honra e satisfação em abrir esse livro, desejando que
as reflexões produzidas por Tassinari e Copelli possam ter o merecido alcance no
meio acadêmico e logrem sucesso em promover desdobramentos rumo a
ulteriores pesquisas.
PREFÁCIO
Talvez sem nunca deixar de ter sido um dos temas que, em especial
nesta América Latina, corroem nossa experiência político-jurídica, o populismo,
nestes últimos anos parece ter retomado uma força aparentemente submersa,
muito embora, se atentarmos para a história do próprio constitucionalismo
1
16 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Mas, há algo novo, aqui e agora: o uso dos novos meios tecnológicos –
de comunicação em particular - para exponencializar a busca pela conexão direta
com o povo-eleitor, pulverizando as organizações sociais tradicionais da
democracia liberal e esvaziando as estratégias do Estado Liberal de Direito⁴.
1 STANLEY, Jason. Noi contro loro: come funziona il fascismo. Milano: Media Group Spa, 2018
2 LÖWY, Michael. Conservadorismo e extrema-direita na Europa e no Brasil. Revista Serviço Social e & Sociedade, São
Paulo, nº 124, . out./dez. 2015, p. 652-664
3 CEPÊDA. Vera Alves. A nova direita no Brasil: contexto e matrizes conceituais. Mediações – Revista e Ciência Social,
Londrina, v. 23, n. 2, mai./ago. 2018, p. 75-122.
Jose Luis Bolzan de Morais
PREFÁCIO 17
Tais práticas e estratégias têm dado maior visibilidade ao populismo na
sua vertente de extrema direita, cuja particularidade é o ataque ao Estado como
garantidor de direitos civis e humanos, muito além do neoliberalismo que,
nuclearmente, objetiva desmontar o Estado Liberal em sua versão de Estado
Liberal Social, objetivando um poder absoluto, na perspectiva sugerida por
Enrique Krauze⁵.
4 Sobre isso tivemos a oportunidade de publicar: BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis; FESTUGATTO, Adriana. A
Democracia Desinformada. Eleições e fake news. Col. Estado & Constituição. N. 20. Porto Alegre: Livraria do
Advogado. 2020; BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis; FESTUGATTO, Adriana; MOZETIC, Vinicius A. Liberdade
de expressão e direito à informação na era digital. O fenômeno das fake news e o “marketplace of ideas”, de Oliver
Holmes Jr. Rev. Direitos Fundamentais & Justiça. N. 14. 2020. Pp. 331-356; BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis;
LÔBO, Edilene. A democracia corrompida pela surveillance ou uma fakedemocracy distópica. IN: BOLZAN DE
MORAIS, Jose Luis (Org.). A Democracia Sequestrada. São Paulo: Tirant lo Blanch. 2019. Pp. 27-42; BOLZAN DE
MORAIS, Jose Luis; LÔBO, Edilene. Rule of Law, New Technologies and Cyberpopulism. Revista Justiça do Direito.
Vol. 33, n. 3. 2019. Pp. 89-115; LÔBO, Edilene; BOLZAN DE MORAIS, José Luis. News Technologies and the
current communications model in the 2018 brazilian elections. Disponível em: h�ps://siaiap32.univali.br/seer/
index.php/nej/article/view/15532/pdf Acesso: 11 fev. 2020. BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis; LÔBO, Edilene.
New technologies, Social Media and Democracy. Rev. Opinion Juridica. V. 20. 2021. Pp. 253-274; BOLZAN DE
MORAIS, Jose Luis; LÔBO, Edilene; NEMER, David. Democracia algoritmica: o futuro da democracia e o
combate às milícias digitais no Brasil. Rev. Culturas Jurídicas. N. 7. 2020. Pp. 255-276.
5 KRAUZE, Enrique. El Pueblo soy yo. Barcelona/Ciudad de México: Penguin Random House Grupo Editorial,
2018.
ABERTURA
Por que é necessário pensar o populismo hoje?
Clarissa Tassinari
2
20 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
ABERTURA:
Por que é necessário pensar o populismo hoje?
Clarissa Tassinari
6 GRABER, Mark A.; LEVINSON, Sanford; TUSHNET, Mark (Ed.). Constitutional democracy in crisis? New York:
Oxford University Press, 2018.
Capítulo 1
O DISCURSO
POPULISTA E O
DIREITO
Breves considerações a partir de um conceito
para o fenômeno político
CAPÍTULO 1
O DISCURSO POPULISTA E O DIREITO:
breves considerações a partir de um
conceito para o fenômeno político
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
7 TODOROV. Tzvetan. Os inimigos íntimos da democracia. Tradução de Joana Angélica d’Avila Melo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.
8 Como se pode pensar, no Brasil, o Estado Novo de Vargas, de 1937 a 1946.
9 Período por todos conhecido como aquele marcado por um conflito indireto entre Estados Unidos e União
Soviética, entre 1945 e 1991.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 27
democráticas? Ou, a partir desse mesmo enredo econômico, saldo típico da
dependência política dos resultados da economia?
Essas são algumas questões, sem dúvida importantes, mas talvez não as
mais caras a este estudo, entre as muitas possibilidades de abordagem. É que o
populismo, conceituado mínima e introdutoriamente como tentativa de abolir as
distâncias entre o povo e o poder através de um discurso demagógico, fácil de
assimilar e, ao mesmo tempo, difícil ou impossível de ser realizado¹⁰, parece
fragilizar conquistas alinhadas ao Estado de Direito na tentativa de agradar
maiorias. Eis o ponto em que esta possibilidade investigativa se orienta,
buscando, frente a breves apontamentos de base e contexto global, fornecer
horizontes comuns de sentido que permitam enxergar a questão sob o prisma da
atualidade brasileira, remanejando-o, ainda, como um problema jurídico.
12 O Front National é considerado o primeiro partido, com significativa relevância, de extrema direita surgido na
Europa, após a 2º Guerra Mundial. Ver, aqui, STOCKEMER, Daniel e LA MONTAGNE, Bernarde�e. Right
wing Extremism in France – Departmental differences in the votefor the national front. Romanian Journal
of Political Science, v7, n. 2, 2007, p. 45-65, 2007. Disponível em: h�ps://www.ceeol.com/search/articledetai
l?id=173484. Acesso em: 16. jun. 2021.
13 CARVALHO, João. Partidos de extrema-direita e a gestão da crise do asilo na Europa: O caso francês. Relações
Internacionais (R: I), n. 50, p. 57-69, 2016. Disponível em: h�p://www.scielo.mec.pt/
scielo.php?script=sci_ar�ext&pid=S1645-91992016000200005. Acesso em: 21. 02.2019.
14 FREY, Carl Benedikt. OSBORNE, Michael A. The future of employment: how susceptible are jobs to
computerisation?. Technological Forecasting and Social Change, v. 114, p. 254-280, 2017. Disponível em: h�p:/
/www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0040162516302244. Acesso em: 08 set. 2017.
15 Aqui, ver as análises de CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3. ed. Rio de Janeiro,
2002; WEFFORT, Francisco Corrêa. O populismo na política brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003;
MARQUES, Rosa Maria; MENDES, Áquilas. O social no governo Lula: a construção de um novo populismo em
tempos de aplicação de uma agenda neoliberal. Revista de Economia Política, v. 26, n. 1, p. 58-74, 2006.
Disponível em: h�p://www.scielo.br/pdf/rep/v26n1/a04v26n1. Acesso em: 20. 02. 2019. Para contraponto em
relação a Getúlio Vargas; BERCOVICI, Gilberto; MASSONETTO, Luís Fernando. Os direitos sociais e as
constituições democráticas brasileiras: breve ensaio histórico. In: RÚBIO, David Sánchez; FLORES, Joaquín
Herrera; CARVALHO, Salo de. Direitos humanos e globalização: fundamentos e possibilidades desde a teoria
crítica, v. 2, p. 510-528, 2004. p. 515-516. Disponível em: h�ps://adrianonascimento.webnode.com.br/_files/
200000198-3a08e3b02c/Bercovici%20-%20Massone� o.%20Direitos%20Socias%20nas%20Constitui%C
3%A7%C3%B5es%20Democr%C3%A1ticas%20do%20Brasil.pdf. Acesso em: 09. 01. 2019.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 29
Gomes – por “incompletude ou por ‘má’ compreensão, por adesão ou por
rejeição”¹⁶ a atores políticos pinçados em todos os espaços político-ideológicos.
Assumindo-o, portanto, fica ao leitor a advertência de que a proposta, entretanto,
é – a partir de (re)conceituações – a análise do impacto do discurso que sustenta
tal fenômeno político no Estado de Direito, e não o enquadramento, por
características de proximidade, de determinadas lideranças políticas a uma
espécie de conjunto dos populistas. Ou seja, interessa o conceito e o contexto – e não
seus eventuais personagens – para o desenvolvimento desta proposta.
16 CASTRO GOMES, Angela. O populismo e as ciências sociais no Brasil*. Tempo, i, n. 2, p. 31-58, 1996. Disponível
em: h�p://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-2.pdf. Acesso em: 18. 02. 2019.
17 “Heidegger somente entra na problemática hermenêutica das ciências históricas com a finalidade ontológica de
desenvolver, a partir delas, a pré-estrutura da compreensão. Já nós [Gadamer, falando na primeira pessoa do
plural], pelo contrário, perseguimos a questão de como, uma vez liberada das inibições ontológicas do conceito
de objetividade da ciência, a hermenêutica pôde fazer jus à historicidade da compreensão” GADAMER, Hans-
Georg. Verdade e Método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo
Meurer. 10.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2008, p. 400 – colchetes nossos).
3
30 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
25 WOLFF, Francis. A invenção da política. In: NOVAES, Adauto (Org.). A crise do Estado-nação. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
26 WIEVIORKA, Michel. A democracia à prova – Nacionalismo, Populismo e Etnicidade. Tradução de António
Monteiro Neves. Lisboa: Instituto Piaget, 1993, p. 97
27 LACLAU, Ernesto. On Populist Reason. Londres: Verso, 2005.
28 SOUZA, Ricardo Luiz de. Populismo, mobilização e reforma. In: Sociedade e cultura, v. 7, n. 2, 2004. Disponível
em: h�ps://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf/article/viewFile/986/1190. Acesso em: 14. jan. 2019.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 33
portanto, Laclau claramente o projeta como uma bem-vinda – embora não em sua
forma, digamos, pura – tensão entre institucionalismo versus populismo. O caldo
que se forma a partir daí, claro, é uma desvalorização da política, porque a
mudança, seja ela qual for, vai depender da atuação do líder – o indivíduo capaz
de eliminar a distância entre povo e poder de que fala Wieviorka –, observado,
aqui, como o vínculo possível entre o concreto e o desejo, entre a demanda e sua
realização, ocupando o lugar da institucionalidade. Afinal, é justamente isso: o
populismo se opõe às instituições.
29 CANOVAN, Margaret. Trust the people! Populism and the two faces of democracy. Political studies, v. 47, n. 1, p.
2-16, 1999. Disponível em: h�ps://journals.sagepub.com/doi/abs//0.1111/1467-9248.00184?casa_token=jSamPL3-
IuUAAAAA%3AtSeVhvyoMUlqDyrBxJ-Pbm1vC_HZs6QSx3YIdMcVYJ3b52qBMRXWl6Azz7kxqe_k_JWVj4Sd
Zv4H&. Acesso em: 25.jan.2019.
3
34 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
30 Ao presente estudo, entende-se o Estado Democrático de Direito como aquele em que, na visão de Guillermo
O’Donnell, “qualquer que seja a legislação existente, ela é aplicada de forma justa pelas instituições estatais
pertinentes, incluindo, mas não exclusivamente, o Judiciário”. Forma justa “é o exercício de que a aplicação
administrativa ou a decisão judicial de normas legais sejam coerentes em casos equivalentes,
independentemente de diferenças de classe, condição social ou poder dos participantes nesses processos,
adotando procedimentos que são estabelecidos e conhecíveis por todos”, O’DONNELL, Guillermo. Poliarquias
e a (in)efetividade da lei na América latina. In: Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP, n. 5, 1998, p. 41. Disponível
em: h�p://claseabierta.yolasite.com/resources/O%20Donnell,%20Democracia%20Delegativa.pdf. Acesso em: 20
maio. 2017. Além disso, importa também aqui observá-lo como um “novo modelo que remete a um tipo de
Estado em que se pretende precisamente a transformação em profundidade do modelo de produção capitalista
e sua substituição progressiva por uma organização social de características flexivelmente sociais, para dar
passagem, por vias pacíficas e de liberdade formal e real, a uma sociedade no qual se possam implantar
superiores níveis reais de igualdades e liberdades”. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise.
Uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 11.ed., atual. e ampliada. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2014.
31 No sentido wi�gensteiniano da expressão, à luz com as Investigações Filosóficas de Wi�genstein.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1999.
32 Compreendido, aqui, na clássica proposta de José Joaquim Gomes Canotilho, em que as constituições dirigentes
projetam Estados que intervenham ativamente, buscando transformar as sociedades em que esses mesmos
textos constitucionais estão inseridos. As constituições dirigentes, por isso, não são apenas estatais, mas,
também, sociais. Entende-se, ainda, protagonismo é justificado pelo fato de que as “noções de constituição
dirigente, de força normativa da Constituição, de Constituição compromissária, não podem ser relegadas a um
plano secundário, mormente em um país como o Brasil” (STRECK, 2003, p. 259).
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 35
linguístico-hermenêutica³³, de cunho objetificante, e da não existência de um
Estado Social no país até hoje³⁴. Embora Laclau perceba o fenômeno como
importante ingrediente transformador das relações sociais contemporaneamente³⁵,
seu surgimento supõe, na verdade, um empobrecimento do papel da teoria
constitucional. Afinal, nesse viés, a Constituição seria, e não mais que isso, apenas
garantidora do acesso aos mecanismos de participação democrática no sistema.
Nesse recorte, a partir dessa confusa combinação de fatores, o Direito e as
instituições não seriam agentes transformadores no Constitucionalismo
Contemporâneo, âmbito em que o Direito assume elevado grau de autonomia³⁶.
E, justamente por isso, não à toa, a demanda, frustrada, vai esperar do líder, e não
do Direito democraticamente produzido e das instituições por ele balizadas, a
solução à reivindicação.
33 Claramente, adota-se, aqui, a crítica de STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise. Uma
exploração hermenêutica da construção do Direito. 11.ed., atual. e ampliada. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2014.
34 STRECK, Lenio Luiz; BOLZAN de MORAIS, Jose Luis. Ciência Política & Teoria do Estado. 8.ed. rev. e ampl.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.
35 Na edição brasileira de On Populist Reason, Laclau (LACLAU, Ernesto. A razão populista. Tradução de Carlos
Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 20) observa que “quando um projeto de
transformação social profunda começa a ser implementado, ele entrará em choque, em vários pontos, com a
ordem institucional vigente, e esta terá de ser modificada mais cedo ou mais tarde”. O populismo, ao colocar-se contra
as instituições, corresponderia, entre outros fatores, a um fator de transformação social.
36 Como referido no Dicionário de Hermenêutica, o “Constitucionalismo Contemporâneo é um fenômeno que surge
no segundo pós-guerra. Essa expressão foi cunhada no livro Verdade e Consenso para superar as aporias das
teorias neoconstitucionalistas [...] representa(ndo) uma blindagem às discricionariedades e aos ativismos”.
Nesse contexto, não se perde de vista, sobretudo, que o “aspecto material da constitucionalização do
ordenamento consiste na conhecida recepção no sistema jurídico de certas exigências da moral crítica na forma
de direitos fundamentais. Em outras palavras, o Direito adquiriu uma forte carga axiológica, assumindo
fundamental importância a materialidade da Constituição”. É justamente por isso que não se pode afastar o seu
caráter, evidentemente, transformador STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de Hermenêutica. Quarenta temas
fundamentais da Teoria do Direito à luz da Crítica Hermenêutica do Direito. Belo Horizonte: Letramento: Casa do Direito,
2017, p. 37-38.
37 STRECK, Lenio Luiz. A hermenêutica e o acontecer (Ereignen) da Constituição: a tarefa de uma nova crítica do
Direito. In: Anuário do Curso de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2000.
3
36 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
38 Conforme a editorial de política de Universo Online (Por defesa de abate de suspeitos, Wi�el entra na mira da
PGR. Disponível em: h�ps://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/05/10/por-defesa-de-abate-de-
suspeitos-wi�el-entra-na-mira-da-pgr.htm?cmpid. Acesso em: 28. jul. 2019.): “Em diversas oportunidades,
Wi�el defendeu que policiais atirem para matar ao verem criminosos armados, ainda que não haja risco
iminente de confronto - condição necessária para configurar legítima defesa, segundo a legislação atual. Em
novembro, logo após ser eleito, ele afirmou ao jornal "O Estado de S. Paulo" que "a polícia vai fazer o correto: vai
mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro”.
39 Como demonstra farto material disponibilizado. Por todos, a GAZETA. Estatística do caos: violência no Rio é a
que mais aumenta. Levantamento mostra que homicídios tiveram alta de 24%; assaltos, de 40%. Disponível em:
h�ps://www.gazetaonline.com.br/noticias/policia/2018/02/estatistica-do-caos-violencia-no-rio-e-a-que-mais-
aumenta-1014120694.html. Acesso em 10. Jun. 2019.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 37
está, pois, não apenas seu espaço e seu contexto, mas, ainda, a tentativa de
reescrever a Constituição para agradar maiorias.
Seguindo, é bem verdade que esse exemplo não é único, mas é angular,
figurando, aqui, como uma espécie de tipo ideal. Diante do interesse do grande
número e frente à reivindicação, em tese, frustrada – uma vez que a um episódio
sucede outro, e parecem sem fim os cotidianos casos de violência retratados,
sobretudo, em megalópoles, como o Rio –, o modo proposto por seu ex-
governador para enfrentar a violência ignora a inexistência de pena capital no
Brasil, como, ainda, o fato de ser vedada a introdução desse tipo de sanção ao
ordenamento pátrio, uma vez que, ao promulgar o Decreto nº. 678, o Brasil passou
a ser signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, pela qual “não se
pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido” (Art. 4º, 3).
Não à toa, não é reservado aos órgãos de segurança pública (Art. 144,
CF/88), ainda que exerçam o policiamento ostensivo (caso das polícias militares),
o direito de matar⁴⁰. Isso é decisivo. A vida é, ademais, inviolável (Art. 5º, caput,
CF), e ignorar esse pressuposto, incentivando o abate de indivíduos, ainda que sob
o pretexto de combater a criminalidade em níveis alarmantes, é não apenas a
desvinculação da política à Constituição como, ainda, uma tentativa de se
reescrever o texto constitucional que, nunca é demais lembrar, foi
democraticamente elaborado. É dizer: projetar política pública de combate à
criminalidade através do extermínio é discricionariedade para além do permitido
em âmbito executivo e legislativo. É, pois – repete-se –, tentativa de reescrever a
Constituição. Justamente por isso, entende-se que o populismo se projeta reflexivo
também a essa crise – do Direito e da democracia –, mas não se coloca, claro, como
resposta legítima a ela. Ao contrário, agrava-a. Afinal, como se viu anteriormente,
ocorre à margem das instituições, e se dá, portanto, fora do jogo de linguagem⁴¹ que
é o Direito.
40 Por certo não se desconhece as situações envolvendo legítima defesa ou o risco de morte de outrem, sob
ameaça.
41 No sentido wi�gensteiniano da expressão, à luz com as Investigações Filosóficas. WITTGENSTEIN, Ludwig.
Investigações Filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.
3
38 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
42 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso. Constituição, Hermenêutica e Teorias Discursivas. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 87.
43 No âmbito jurídico, tal fenômeno pode ser verificado por um conjunto de critérios indagativos, voltados a
identificar, na decisão do magistrado, um ato de vontade – já verificado na Teoria Pura do Direito de Kelsen. São eles:
primeiro, está o Judiciário diante de um direito fundamental, subjetivamente exigível? Em situações similares,
esse mesmo direito pode ser concedido a toda e qualquer pessoa que o pedir? No mais, é possível transferir
recursos das outras pessoas para fazer aquela ou um grupo feliz, sem violar a isonomia no seu sentido
substancial, já levando em conta toda a força do Estado Social previsto na Constituição? Ver STRECK, Lenio
Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 1 39
mudança, acenam final e pessoalmente à realização da demanda. Sob um certo tipo
de roupagem institucional – porque, de todo modo, é ainda através delas que tais
mudanças se desvelam –, projeta-se uma espécie de reorganização do sentido
constitucional, sobretudo, no que se refere aos indispensáveis mecanismos de
contenção dos excessos do poder do Estado. É, pois, contexto alinhado ao que se
viu: uma promessa de satisfação (Hermet), aproximando povo e poder
(Wieviorka), contra isso que está aí⁴⁴ (Souza), a partir de uma demanda não
satisfeita (Laclau). O impacto de discursos orientados nesse sentido – conclui-se
– acena à fragilização do Estado Democrático de Direito, projetando-se, ainda,
como um problema (também) jurídico.
44 Esse “contra isso que está aí” pode muito bem ser compreendido como “contra a Constituição”, replicando a tese
corrente no imaginário de muitos cidadãos, em que ‘direitos humanos só favorecem bandidos’ ou “direitos humanos
só para humanos direitos”. Ver, aqui COPELLI, Giancarlo Montagner; LIMA, Danilo Pereira. De esquerda ou de
direita, a cartilha é a mesma: a Constituição. Revista Consultor Jurídico. Coluna Diário de Classe. Disponível
em: h�ps://www.conjur.com.br/2019-mar-02/diario-classe-esquerda-ou-direita-cartilha-mesma-constituicao.
Acesso em: 02. Jul. 2019.
Capítulo 2
POPULISMO E
INSTITUIÇÃO
A importância das políticas públicas para a
materialização do Estado Democrático
Clarissa Tassinari
4
42 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
CAPÍTULO 2
POPULISMO E INSTITUIÇÕES:
A importância das políticas públicas para
a materialização do Estado Democrático
Clarissa Tassinari
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
45 TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e ativismo judicial: limites da atuação do Judiciário. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2013.
46 Faz-se menção, aqui, ao texto de Theda Skocpol (autora neoinstitucionalista). SCOKPOL, Theda. Introduction.
Bringing the State back in: strategies of analysis in current research. In: EVANS, Peter B. Evans;
RUESCHEMEYER, Dietrich; ______ (Orgs.). Bringing the State Back. In. Cambridge: Cambridge University Press,
2002.
47 DWORKIN, Ronald. A virtude soberana: a teoria e a prática da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
4
44 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
48 PINHO, Carlos Eduardo Santos. Planejamento estratégico governamental no Brasil: autoritarismo e democracia
(1930-2016). Curitiba: Appris, 2019.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 45
possuem os juristas de apresentarem leituras sobre contextos políticos tão
conturbados como é o caso brasileiro.
49 Fixar bases conceituais para possibilitar posicionamentos críticos sobre os fenômenos é movimento próprio do
método hermenêutico-fenomenológico (Martin Heidegger), que guia a construção deste texto. Por isso, em se
tratando de um texto jurídico, sua redação é orientada pela Crítica Hermenêutica do Direito, de Lenio Luiz
Streck.
50 Não desconheço que há outras importantes abordagens que podem ser feitas em relação ao tema, inclusive sem
a necessidade de abandonar a perspectiva que será desenvolvida neste texto. As diferentes ênfases que se
relacionam ao tema “democracia” possuem grande riqueza conceitual e prática.
4
46 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
51 DWORKIN, Ronald. A virtude soberana: a teoria e a prática da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
52 O’DONNELL, Guillermo. Democracia Delegativa? Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 31, p. 25-40, out.
1991. Disponível em: cleantext_url_ps4o12q205too5080o84os48qptps5q7Texto-2.pdf. Acesso em: 07 jul. 2021.
53 MIGUEL, Luis Felipe. Caminhos e descaminhos da experiência democrática no Brasil. Sinais Sociais, Rio de
Janeiro, n. 33, v. 11, p. 99-129, jan.-abr. 2017. Disponível em: h�p://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/
3daaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073SinaisSociais_SS33_WEB_14_09_17.pdf?MOD=AJPERES&CACHEI
D=3daaa858-e528-4 f0b-b12a-e115803bf073. Acesso em: 07 jul. 2021.
54 DWORKIN, Ronald. A virtude soberana: a teoria e a prática da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p.
I-XV.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 47
operacional. Ou seja, quando compreendemos a democracia como igualdade,
para além da visão que a entende como um valor das sociedades ocidentais, que
consiste na perspectiva substancial dworkiniana, também podemos tratar de
representatividade, do exercício da soberania popular através da capacidade que
é atribuída universalmente aos cidadãos de escolher quem vai, legislativa e
administrativamente, honrar seus interesses na estrutura do Estado (algo
operacional). Por outro lado, como também foi possível observar nos argumentos
de O’Donnell, a existência de instituições típicas de regimes democráticos que
operacionalizarão a intervenção do Estado (como a sua organização em três
Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –, apenas para ilustrar) não seria
suficiente para qualificar como democrática a ideia de estabilidade institucional,
já que seria exigido também um componente de permeabilidade estatal às pautas
e demandas sociais, isto é, um componente material (substantivo) de democracia,
que acaba gerando o retorno à igualdade, demonstrando a circularidade virtuosa
do pressuposto dado à democracia neste texto: democracia como igualdade e
democracia como estabilidade institucional.
Parece, agora, estar ficando ainda mais claro que, de início, o que se está
querendo afirmar é que as condições ótimas da democracia estão relacionadas com a
igualdade no tratamento dado aos cidadãos (sob a perspectiva de assegurar todos
os tipos de igualdade, privilegiando, também, o necessário pluralismo, com
condição do resguardo a minorias), mas também à existência de práticas
institucionais que incorporem valores democráticos. Então, quanto mais o Estado
for permeável – direta e indiretamente – às projeções do povo, compreendido
aqui como “(...) um coletivo de cidadãos-sujeitos de direitos, ligados por esses
direitos e conscientes de compartilhar a mesma experiência de direitos”⁵⁵, mais
democrática será sua intervenção (respeitando-se, é claro, os limites e contornos
institucionais de ação que o próprio constitucionalismo delimita). Não por acaso,
a partir de uma visão mais contemporânea e relacionada ao contexto brasileiro do
tema, Luis Felipe Miguel traça “quatro desafios à edificação da democracia”, que,
numa leitura derivativa, também podemos compreender como alguns
componentes para sua concepção de democracia, com os quais concordamos,
quais sejam: institucionalidade política democrática; inclusão social que gere
55 ROUSSEAU, Dominique. Crise das democracias se deve ao surgimento de uma oligarquia neoliberal. Entrevista
cedida a Vitor Necchi. IHU On-Line: revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 14 nov. 2018.
Disponível em: h�p://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/584622-crise-das-democracias-se-deve-ao-
surgimento-de-uma-oligarquia-neoliberal-entrevista-especial-com-dominique-rousseau#. Acesso em: 07 jul.
2021.
4
48 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
56 Para Luis Felipe Miguel, são quatro os “desafios” à edificação da democracia – que correspondem a seções de
seu artigo: “(1) a implantação de uma institucionalidade política democrática, capaz de conjugar tanto a
soberania popular quanto o respeito às minorias; (2) a inclusão social, com a universalização dos recursos
mínimos para o exercício da autonomia política; (3) a pluralização do debate público, permitindo o exercício
esclarecido dos direitos de cidadania, o que, evidentemente, passa pela democratização dos meios de
comunicação; e (4) a produção do consenso, entre os diversos atores sociais, quanto à adesão às regras do jogo
político democrático”. MIGUEL, Luis Felipe. Caminhos e descaminhos da experiência democrática no Brasil.
Sinais Sociais, Rio de Janeiro, n. 33, v. 11, p. 99-129, jan.-abr. 2017. Disponível em: h�p://www.sesc.com.br/wps/
wcm/connect/3daaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073/SinaisSociais_SS33_WEB_14_09_17.pdf?MOD=A
JPERES&CACHEID=3daaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073. Acesso em: 07 jul. 2021. p. 103.
57 Ciente que o texto de O’Donnell é do ano de 1991, em um período quando o Estado brasileiro acabava de romper
com a estrutura autoritária de governo, bem como do fato de que se trata de argumento publicado há bastante
tempo, a expressão “democracia delegativa” é utilizada aqui para potencializar e atualizar a discussão.
58 O’DONNELL, Guillermo. Democracia Delegativa? Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 31, p. 25-40, out. 1991.
Disponível em: cleantext_url_ps4o12q205too5080o84os48qptps5q7Texto-2.pdf. Acesso em: 07 jul. 2021. p. 26 e
segs.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 49
ainda no presente) por dificuldades democráticas, em grande medida porque a
história democrática brasileira, de forma institucionalmente mais aprofundada,
começa mesmo a partir do constitucionalismo de 1988.
É claro que isso não está apenas relacionado à intervenção estatal – seria
um equívoco sugerir que a premissa de um Estado democrático esteja restrita ao
modo de compreender e avaliar suas intervenções; isto é, existe muito mais o que
59 É sabido que, em termos de teoria constitucional brasileira, a expressão “Casa do Povo” é associada à Câmara
de Deputados (e não ao Congresso Nacional), sendo que o Senado Federal é considerado o representante das
ordens jurídicas parciais (dos Estados-membros). Contudo, para fins de demonstrar o elo entre Estado e povo,
não seria equivocado afirmar que as expectativas democráticas da sociedade são direcionadas, como um todo,
ao Congresso Nacional.
5
50 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Por que, então, políticas públicas são necessárias? Talvez essa seja a
melhor pergunta para mobilizar a relação Estado e gestão da coisa pública. Nessa
problematização, é possível identificar uma polarização interessante entre o que
se espera da intervenção estatal, como obrigações (responsabilidades) e também
como limites, e, com base nisso, o que para ela se projeta como múltiplas
possibilidades. No fundo, o olhar crítico sobre a relação entre Estado, democracia
e políticas públicas fomenta a reflexão sobre o modo de compreender a dinâmica
entre o Direito e a Política. E, nesse sentido, há um elemento fundamental, que
pode dar o start para uma primeira resposta à pergunta lançada: o sentido de
constituição. Indo um pouco mais além nesse ponto: como entendemos o papel
da Constituição brasileira?
60 MATTEUCCI, Nicola. Organización del poder y libertad. Madrid: Editora Tro�a, 1988.
61 PINHO, Carlos Eduardo Santos. Descaminhos do desenvolvimento no Brasil. In: XI ENCONTRO DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA (ABCP), 11., 2018, Curitiba: Universidade Federal do
Paraná, 2018. Democracia e Representação – impasses contemporâneos. Curitiba: UFPR, 2018. Disponível em:
h�ps://www.researchgate.net/publication/327824783_DESCAMINHOS_DO_DESENVOLVIMENTO_NO
_BRASIL Acesso em: 07 jul. 2021. p. 8.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 51
argumentado na primeira parte deste texto, o Brasil optou por uma concepção de
democracia para além de um escopo político, trazendo, na (re)fundação do
Estado, a preocupação com os direitos sociais e com a sua efetivação. E é assim
que juristas, como Lenio Streck, Gilberto Bercovici, Marcelo Ca�oni, Marcelo
Neves, Leonel Severo Rocha e Martonio Barreto Lima, e também outros
importantes autores no plano internacional (como Jürgen Habermas), passam a
compreender as constituições como o elo entre o Direito e a Política – o
documento que alberga intenções políticas e objetivos sociais como norma, como
algo a ser cumprido, e não desviado.
62 WANG, Daniel Wei Liang. Introdução. In: WANG, Daniel Wei Liang (Org.). Constituição e política na democracia:
aproximações entre direito e ciência política. São Paulo: Marcial Pons, 2013. p. 11-18. p. 11.
5
52 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Com isso, é possível visualizar com mais clareza por que as perspectivas
de abordagem sobre a formulação de políticas públicas dialogam com o que se
espera do Estado em regimes democráticos, ainda mais quando se parte da
concepção de que a materialização desse projeto depende da diminuição da(s)
desigualdade(s) no país. Afinal, é da união entre “planejamento governamental”
e “poder infraestrutural” que, conforme Pinho, agrega-se “uma dimensão
estratégica do desenvolvimento”: a incorporação social. Nessa linha, em termos
de avanços institucionais – a partir daquilo que foi previsto como norma –, é
possível afirmar que a Constituição de 1988 representa um elogio à democracia. Pelo
conjunto da obra (extenso rol de direitos, instrumentos de efetivação, relação
equilibrada de poderes, organização dos entes federativos e suas competências
etc.), a Constituição brasileira dá consistência à escolha política por um projeto
democrático garantido institucionalmente, em grande medida através de
políticas públicas. Até porque, para além de tudo isso, a Constituição brasileira
também “(...) abrigou a possibilidade de ampliação da participação social no
Estado”, com a previsão de formação dos conselhos de políticas públicas, arts.
198, 204 e 206⁶⁹. Mas qual o problema, então? É como afirma Luis Felipe Miguel:
“Da regra abstrata à operacionalização, o caminho é conturbado”.⁷⁰
68 PINHO, Carlos Eduardo Santos. Planejamento governamental no Brasil: trajetória institucional, autoritarismo e
democracia em perspectiva comparada (1930-2016). 2016. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Programa de
Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
69 MIGUEL, Luis Felipe. Caminhos e descaminhos da experiência democrática no Brasil. Sinais Sociais, Rio de
Janeiro, n. 33, v. 11, p. 99-129, jan.-abr. 2017. Disponível em: h�p://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/
3daaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073/SinaisSociais_SS33_WEB_14_09_17.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=
3d aaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073. Acesso em: 07 jul. 2021. p. 104.
5
54 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
70 MIGUEL, Luis Felipe. Caminhos e descaminhos da experiência democrática no Brasil. Sinais Sociais, Rio de
Janeiro, n. 33, v. 11, p. 99-129, jan.-abr. 2017. Disponível em: h�p://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/
3daaa858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073/SinaisSociais_SS33_WEB_14_09_17.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID
=3daa a858-e528-4f0b-b12a-e115803bf073. Acesso em: 07 jul. 2021. p. 119.
71 ROUSSEAU, Dominique. Crise das democracias se deve ao surgimento de uma oligarquia neoliberal. Entrevista
cedida a Vitor Necchi. IHU On-Line: revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 14 nov. 2018.
Disponível em: h�p://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/584622-crise-das-democracias-se-deve-ao-
surgimento-de-uma-oligarquia-neoliberal-entrevista-especial-com-dominique-rousseau#.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 55
(democrática) é outra discussão, em certa medida provocada há muito tempo por
Pierre Rosanvallon⁷². Sobre como isto vem gerando uma série de
desdobramentos, é o que nos interessa para este momento. Afinal, é possível dizer
que é do desgaste desse laço entre representados e representantes que emerge o
populismo, como um fenômeno gestado no ambiente político, numa tentativa
radical de aproximar o povo e o poder⁷³.
populismo, da forma como vem aparecendo no atual contexto, joga a luz para a
premissa democrática (compreendida exclusivamente como o papel do povo no
governo), e aceita como opaca a representação política.
79 O’DONNELL, Guillermo. Democracia Delegativa? Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 31, p. 25-40, out. 1991.
Disponível em: cleantext_url_ps4o12q205too5080o84os48qptps5q7Texto-2.pdf. Acesso em: 07 jul. 2020. p. 26.
80 ABRANCHES, Sérgio. Polarização radicalizada e ruptura eleitoral. In: ______ et. al. Democracia e(m) risco: 22
ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 23.
81 O’DONNELL, Guillermo. Democracia Delegativa? Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 31, p. 25-40, out. 1991.
Disponível em: cleantext_url_ps4o12q205too5080o84os48qptps5q7Texto-2.pdf. Acesso em: 07 jul. 2020. p. 26.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 2 57
autoritarismo em direção a um regime democrático: “políticas públicas e
estratégias políticas (...) que incorporem o reconhecimento de um interesse
superior comum na tarefa de construção institucional democrática”⁸¹. No caso
brasileiro, em grande medida, esse “interesse superior comum” está contornado
na própria Constituição. Mais uma vez aparece, então, o elo entre democracia,
instituições e constitucionalismo. Em outras palavras: a falta de institucionalidade
democrática também pode ser compreendida, sob certa perspectiva, como ausência
de Constituição. Não por acaso, com Copelli, temos a noção de populismo
associada, também, às tentativas de “reescrever a Constituição”⁸².
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
82 COPELLI, Giancarlo Montagner. O populismo como problema jurídico: conceito e impactos do discurso
populista no Estado Democrático de Direito. Revista Direito (Mackenzie). 2021. (artigo inédito e aceito).
83 STRECK, Lenio L. Hermenêutica Jurídica e(m) crise. 13. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
5
58 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
POPULISMO E
PRESIDENCIALISMO
DE COALIZÃO
Especifidades do fenômeno político
na História do Brasil
CAPÍTULO 3
POPULISMO E PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO:
Especificidades do fenômeno político
na História do Brasil
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
84 Por todos, refiro-me aqui aos chamados demiurgos do Brasil Moderno, conforme Chico de Oliveira, ao lembrar
palestra de Antônio Cândido no Centro Brasileiro de Estudos e Planejamento, o Cebrap. Entre eles, Sérgio
Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes e Celso Furtado. Ver, aqui, OLIVEIRA, Francisco
de. Diálogo na grande tradição. In: NOVAES, Adauto (org.). A crise do Estado-Nação. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 3 63
que se chamava de voto de cabresto: o coronel local direcionava o esparso
eleitorado, de acordo com seus interesses, trocando resultados políticos por uma
série de benefícios verticalmente a ele alcançados, aumentando seu poder
econômico e, portanto, também seu poder político, como vai bem lembrar Teresa
Sales⁸⁵ em sua tese de livre-docência. Na sua gênese, a República, como se vê, não
pôs o poder público em público. E não por acaso Aristides Lobo, bem lembrado
por Murilo de Carvalho⁸⁶, sobre essa República que não republicanizou, vai dizer que
a população, por ocasião da proclamação, pensou tratar-se de uma parada militar.
Disso tudo, o que se tem é que havia República, claro, mas o grande
número não importava para alcançar ou manter o poder. Aí que uma das
condições de possibilidade para o populismo projetou-se apenas formalmente.
Havia – como sempre houve – crises, com imensos gaps sociais, e uma série de
tensões em uma sociedade absolutamente desigual, sufocada em desejos e
necessidades, mas ainda não havia a emergência da legitimidade do poder por
vontade popular, obstruindo, então, o surgimento deste fenômeno. Faltava algo.
Faltava povo.
85 SALES, Teresa. Trama das desigualdades, drama da pobreza no Brasil. Tese de Livre Docência. Campinas:
Unicamp, 1992.
86 CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo:
Companhia das letras, 1987.
87 WEFFORT, Francisco Corrêa. O populismo na política brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
6
64 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
88 Chamo a atenção, como um possível aprofundamento a esse ponto, ao último capítulo – Filosofia, linguagem e
política: formas de discurso, representação e exclusão social – de MARCONDES, Danilo. Filosofia, linguagem e
comunicação. São Paulo: Cortez, 2000.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 3 65
sintetizava o interesse nacional das massas tardiamente incluídas no processo
político –, encontrava não apenas reflexo na abrangência de interesses espelhada
no líder executivo, mas, mais que isso, um certo obstáculo no regionalismo que
moldava a representatividade legislativa. Aí o imaginário popular que via – e
talvez ainda veja, nessa historicidade que também nos faz ser o que somos – o
discurso deste mesmo líder como o único capaz de canalizar – inclusive à
margem das instituições, em tese, popularmente vistas como enferrujadas
engrenagens garantidoras do atraso nacional – as angústias, os desejos e as
necessidades populares que, no limite, importaram no processo eleitoral que
passava finalmente a legitimar o poder.
89 ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro. São
Paulo: Cia. Das Letras, 2018.
90 NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: Da abertura democrática ao governo Dilma. 1 ed. São Paulo: Cia.
das Letras, 2013.
6
66 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
91 Remeto o eventual leitor à minha tese de doutoramento, em que proponho – especialmente no primeiro capítulo
– o atravessamento da filosofia da linguagem do Segundo Wi�genstein às discussões em torno de uma teoria
do poder nas democracias. COPELLI, Giancarlo Montagner. Construções entre filosofia da linguagem e Teoria
do Estado: o Estado Social como Estado de Direito e seus desafios no Brasil. Tese de Doutorado. São Leopoldo:
Unisinos, 2018.
92 Vai dizer Marcos Nobre: “Ainda que reprimida por décadas de ditadura e por uma cultura política autoritária,
a população pobre e miserável não deixaria de usar o poder de sua mobilização e de seu voto para combater
desigualdades de todos os tipos. Por outro lado, do ponto de vista da elite do poder, passou a ser essencial pelo
menos o controle da velocidade e da amplitude de diminuição das desigualdades [...] Foi assim que o sistema
se preservou sem mudar, fortalecendo sua lógica de travamento de grandes transformações, reprimindo as
diferenças sob uma nova unidade forçada”, NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: Da abertura
democrática ao governo Dilma. 1 ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2013, p. 10-12.
93 RODRIGUEZ, José Rodrigo. Sociedade contra o Estado – duas ondas de democratização radical no Brasil (1988
e 2013): uma interpretação à luz de Franz Neumann. In: STRECK, Lenio Luiz; ROCHA, Leonel Severo;
HENGELMANN, Wilson (Orgs.). Constituição, sistemas sociais e hermenêutica: anuário do Programa de Pós-
graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – Mestrado e Doutorado. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2016, p. 89.
94 Por todos, as crises apontadas por Pierre Rossanvallon, agudizadas por, agora, inéditos contornos relacionados
ao mundo do trabalho. Ver, nesse sentido, ROSANVALLON, Pierre. A crise do estado-providência. Tradução
de Joel Pimentel de Ulhôa. Goiânia: UFG, 1997, e FREY, Carl Benedikt; OSBORNE, Michael A. The future of
employment: how susceptible are jobs to computerisation?. Technological Forecasting and Social Change, v.
114, p. 254-280, 2017. Disponível em: h�p://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0040162516302244.
Acesso em: 08 set. 2017.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 3 67
patrimonializadas e clientelizadas negociações – em torno de políticas públicas,
sobremaneira – entre Executivo e Congresso.
95 ROSANVALLON, Pierre. Temos democracia eleitoral, mas não de exercício [Entrevista] Instituto Humanitas
Unisinos. Disponível em: h�p://www.ihu.unisinos.br/549679-temos-democracia-eleitoral-mas-nao-de-
exercicio-entrevista-com-pierre-rosanvallon. Acesso em: 10 abr. 2016.
96 DWORKIN, Ronald. Virtude Soberana. Tradução de Jussara Simões. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 493.
97 CHEIBUB, José Antonio; FIGUEIREDO, Argelina; LIMONGI, Fernando. Partidos políticos e governadores
como determinantes do comportamento legislativo na câmara dos deputados, 1988-2006. Dados - Revista de
Ciências Sociais, 52, n. 2, 2009. Disponível em: h�p://www.scielo.br/pdf/dados/v52n2/v52n2a01. Acesso em: 20
mar. 2017.
98 CHEIBUB, José Antonio; FIGUEIREDO, Argelina; LIMONGI, Fernando. Partidos políticos e governadores
como determinantes do comportamento legislativo na câmara dos deputados, 1988-2006. Dados - Revista de
Ciências Sociais, 52, n. 2, 2009. Disponível em: h�p://www.scielo.br/pdf/dados/v52n2/v52n2a01. Acesso em: 20
mar. 2017.
6
68 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
99 CHEIBUB, José Antonio; FIGUEIREDO, Argelina; LIMONGI, Fernando. Partidos políticos e governadores como
determinantes do comportamento legislativo na câmara dos deputados, 1988-2006. Dados - Revista de Ciências
Sociais, 52, n. 2, 2009. Disponível em: h�p://www.scielo.br/pdf/dados/v52n2/v52n2a01. Acesso em: 20 mar. 2017,
p. 292 – grifo nosso.
100 MARRAMAO, Giacomo. Poder e secularização. As categorias do tempo. Tradução de Guilherme Gomes de
Andrade. São Paulo: Unesp, 1995, p. 283.
101 ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro. São
Paulo: Cia. Das Letras, 2018, p. 364.
Giancarlo Montagner Copelli
CAPÍTULO 3 69
autonomia tem se mostrado sequestrada pelo patrimonialismo de seus atores),
mas à exclusiva imagem daquelas lideranças capazes de encarnar a promessa –
agora retornando às abordagens e características mais clássicas do populismo –
mítica, demagógica etc.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
POPULISMO E
DISTORÇÕES
INSTITUCIONAIS NO
BRASIL
A dinâmica entre Poderes e os riscos de
sobreposições institucionais à democracia
Clarissa Tassinari
7
72 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
CAPÍTULO 4
POPULISMO E DISTORÇÕES INSTITUCIONAIS NO BRASIL:
A dinâmica entre Poderes
e os riscos de sobreposições institucionais à democracia
Clarissa Tassinari
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com base nisso, este texto busca realizar uma análise exploratória
acerca das práticas institucionais eventuais e das leituras teóricas que possam ser delas
decorrentes, com o potencial e o propósito de materializar, isto é, dar um pouco de
forma e conteúdo, à hipótese aqui ensaiada sobre as tensões vivenciadas entre os
Poderes. Desse modo, os argumentos – ainda em fase de teste, diga-se de
passagem – estão organizados em duas partes, com finalidades específicas:
primeiro, compreender como se chega ao cenário de tentativas de sobreposições
institucionais no Brasil e o que está envolvido nesse debate; e, segundo,
caracterizar esse fenômeno a partir da análise de posturas institucionais (ou
práticas institucionais eventuais) e dos fenômenos delas decorrentes (leituras
teóricas possíveis). Ao final, como considerações finais, serão apresentados alguns
pontos de reflexão ao problema, à luz da democracia e de seus desafios.
102 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p.
155-156.
103 Recentemente, Giancarlo Montagner Copelli publicou um texto na Revista Eletrônica Consultor Jurídico, na
coluna Diário de Classe (espaço destinado aos integrantes do Dasein – Núcleo de Estudos Hermenêuticos),
problematizando a existência de sobreposições entre Poderes. COPELLI, Giancarlo Montagner. Mal-estar
democrático, (não) representação e sobreposição de poderes. Revista Eletrônica Consultor Jurídico, 2021.
Disponível em: h�ps://www.conjur.com.br/2021-jun-26/diario-classe-mal-estar-democratico-nao-
representacao-sobreposicao-poderes Acesso em: 26 jun. 2021.
7
74 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
104 CAENEGEM, Raoul Charles van. Juízes, legisladores e professores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 4 75
mais relacionada a refletir sobre as origens dos sistemas jurídicos (traçando
diferenças entre civil e common law). Entretanto, ainda assim, é possível verificar a
existência de um ponto de contato com a percepção de que a construção de
sentidos no direito tem como palco certas disputas institucionais.
Voltando ao contexto brasileiro, pode-se afirmar que a atuação dos três
Poderes reflete a mobilização de outra relação: as tensões entre Direito e Política.
E esse parece um ponto de partida importante a ser compreendido. A dinâmica
Direito-Política abre um diversificado leque para teorizações. Podemos pensar,
por exemplo, nas contradições (e associações) entre democracia e
constitucionalismo; ou, ainda, nas diferenças existentes na construção da
legitimidade das decisões que constituem cada um desses dois sistemas sociais; e
no contraste entre as competências funcionais das instituições que poderíamos
considerar tipicamente políticas, como é o caso do Executivo e do Legislativo, e
aquelas atinentes às instituições jurídicas, os órgãos do Poder Judiciário. Tudo
isso é possível. E talvez muito mais.
105 Em que pese venha tratando, ao longo deste texto, da relação Direito-Política, considero relevante,
especificamente para este momento quando trato daquilo que funda o Estado, a adotar a distinção entre a
Política e o Político, proposta por autores como Chantal Mouffe. O seguinte trecho do livro de Mouffe justifica
a minha opção: “Se quiséssemos expressar essa distinção de maneira filosófica, poderíamos dizer, recorrendo ao
repertório heideggeriano, que a política se refere ao nível ‘ôntico’, enquanto o político tem a ver com o nível
‘ontológico’. Isso significa que o ôntico tem a ver com as diferentes práticas da política convencional, enquanto
o ontológico refere-se precisamente à forma em que a sociedade é fundada”. MOUFFE, Chantal. Sobre o político.
Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015.
106 Lenio Streck foi quem, de modo inaugural, desvelou a dimensão hermenêutica que atravessa o Direito.
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. 11.
ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2021.
107 BERCOVICI, Gilberto. Soberania e constituição: para uma crítica do constitucionalismo. 3. ed. São Paulo: Quartier
Latin, 2020. p. 14.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 4 77
tampouco como simples documento técnico-burocrático destinado
exclusivamente à organização do poder.
108 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 71.
7
78 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Por fim, quando o Legislativo monopoliza a agenda política apenas para fazer
oposição. Tudo isso podem ser, sim, condutas eventuais. Mas também podem
caracterizar a insurgência de alguns fenômenos, como é o caso, por exemplo, do
populismo, que ganham ares de perenidade quando assentados num discurso de
naturalização. Afinal, tudo isso acaba sendo justificado por sentimentos de
insatisfação, abandono e ressentimento¹⁰⁹, que atingem a sociedade na medida em
que o atendimento de suas demandas é frustrado pela atuação de qualquer um
dos três Poderes. É o que passarei a tratar com mais detalhes na sequência.
109 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 71
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 4 79
supremacia judicial. Nesse sentido, entendo que a concepção de supremacia
judicial no Brasil possui um triplo desdobramento: a tese de que o Judiciário é
fonte exclusiva de construção de sentidos para o Direito, sendo dotado de uma
autoridade interpretativa exclusiva; a ideia de que o Judiciário possui maiores
condições técnicas de avaliar e garantir o atendimento a demandas sociais,
possuindo autoridade política; e a crença de que as instâncias judicias possuem
maior aptidão para resolver as controvérsias sociais, associada à confiança nelas
depositadas, o que, por sua vez, é garantido por uma autoridade simbólica.
Considero, ainda, que o exercício dessas autoridades muitas vezes é consentido
pelos demais Poderes, com o intuito de evitar desgastes eleitorais. Daí a noção de
que a supremacia judicial no Brasil é consentida¹¹⁰.
110 TASSINARI, Clarissa. A supremacia judicial consentida: uma leitura da atuação do Supremo Tribunal Federal a
partir da relação direito-política. Tese de Doutorado. PPG Direito. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2016.
8
80 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
111 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 79.
112 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. p. 62.
113 INCISA, Ludovico. Populismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco.
Dicionário de política. 13. ed. Brasília: Editora UnB, 2010. v.2. p. 981.
114 INCISA, Ludovico. Populismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco.
Dicionário de política. 13. ed. Brasília: Editora UnB, 2010. v.2. p. 985.
115 COPELLI, Giancarlo Montagner. O populismo como problema jurídico: conceito e impactos do discurso
populista no Estado Democrático de Direito. Revista Direito (Mackenzie). 2021. (artigo inédito e aceito).
116 ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de Coalizão: o dilema institucional brasileiro. Dados: Revista de
Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, p. 5-33. 1988.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 4 81
a eleição presidencial e a representação proporcional no Congresso quando o
presidente não possui a maioria, tornando possíveis a efetivação de medidas
governamentais¹¹⁷.
117 AVRITZER, Leonardo. Impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 29.
118 AVRITZER, Leonardo. Impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 29.
119 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 154.
120 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 156-157.
121 AVRITZER, Leonardo. Impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 46.
122 MIGUEL, Luis Felipe. Caminhos e descaminhos da experiência democrática no Brasil. Sinais Sociais, Rio de
Janeiro, n. 33, v. 11, p. 99-129, jan.-abr. 2017. p. 107.
8
82 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Talvez isso não seja nenhuma novidade. E é possível que essa seja ainda
uma construção muito precária. E parece-me que é preciso aprofundar ainda mais
nessa visão sobre o papel do Legislativo nessa dinâmica pautada por disputas e
tensões. Minha intenção, aqui, foi arriscar algum tipo de leitura, e provocar
possíveis compreensões sobre o problema. É, portanto, o argumento que precisa
ser melhor e mais testado, mas, ainda assim, arrisquei expô-lo aqui. Para finalizar:
supremacia judicial, populismo e seletivismo legislativo. A questão, ao final, fica
sendo: quanto de estabilidade institucional e de qualidade democrática esses
fenômenos são capazes de produzir? Talvez esses sejam os maiores desafios da
democracia.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo isso, ao final, gostaria de passar por mais alguns pontos
que me parecem centrais para a discussão proposta, porque revelam importantes
desdobramentos do que foi tematizado ao longo do texto. Parece-me claro que, na
raiz do problema do que venho tratando como tentativas de sobreposições
institucionais está, também, a crise de representatividade. E talvez esse seja o
maior dos desconfortos democráticos pelo qual o Brasil vem atravessando, pelo
descompasso criado entre as expectativas de representação, que se extraem da
voz das ruas, e aquilo que realmente acontece no ambiente institucional.
123 MIGUEL, Luis Felipe. Consenso e conflito na democracia contemporânea. São Paulo: Editora Unesp, 2017. p. 64.
124 MIGUEL, Luis Felipe. Consenso e conflito na democracia contemporânea. São Paulo: Editora Unesp, 2017. p. 65.
8
84 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
é alguém que tem acesso a bens controlados pelo Estado¹²⁵ (...)”. Dito de outro
modo, a sociedade cria imaginários de representatividade, em que o direcionamento
de demandas aos braços do Estado pode ser traduzido no desejo de acolhimento
e proteção, que, na maioria das vezes, não é correspondido ou acaba sendo mal
correspondido pelos Poderes destinatários desse tipo de endereçamento social.
Como consequência, talvez isso permita a existência de exigências sociais com focos
de representatividade itinerantes.
125 MIGUEL, Luis Felipe. Consenso e conflito na democracia contemporânea. São Paulo: Editora Unesp, 2017. p. 66.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 4 85
impulsionadas pela expectativa de equilíbrio institucional que é pressuposta a
Estados democráticos; no fundo, elas dizem respeito a preocupações democráticas.
126 A ideia de legitimidade do Judiciário por reflexividade é extraída da obra de Pierre Rosanvallon.
ROSANVALLON, Pierre. La legitmidad democrática. Imparcialidad, reflexividad y proximidad. Traducción de
Heber Cardoso. Barcelona: Paidós, 2010.
8
86 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
127 ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 155.
DESFECHO
Entre Direito e política, um mal-entendido
democrático e o fantasma do populismo
DESFECHO:
Entre Direito e Política, um mal-entendido democrático
e o fantasma do populismo
128 Varieties of Democracy (V-dem). Disponível em: h�ps://www.v-dem.net/en/. Acesso em: 17 jun. 2021.
Conforme informa o sítio eletrônico em que os dados são informados, o estudo “mede a democracia” a partir de
um conjunto de dados que vai além da simples presença de eleições. O projeto V-Dem distingue cinco princípios
de democracia de alto nível: eleitoral, liberal, participativo, deliberativo e igualitário, e coleta dados para medir
esses princípios.
Giancarlo Montagner Copelli
DESFECHO 89
exatamente – ou mais significativamente – a partir de 2015, como aponta o próprio
relatório. Ou seja, nossa democracia foi (e está) deteriorando-se aos poucos, num
contínuo processo. A outra é que o Brasil – assim como os países que, por
enquanto, formam o “pódio” da (des)democratização no século XXI, não são
realidades isoladas num arquetípico mundo francamente democrático. De acordo
com o estudo, desde 1900, esta seria a terceira onda autocrática no globo, iniciada
em 1994 e que, pelo visto, está ainda longe de seu ápice.
129 Como bem vai lembrar Heiner Bielefeldt, na sua filosofia dos Direitos Humanos. BIELEFELDT, Heiner. Filosofia
dos Direitos Humanos. Fundamentos de um ethos de liberdade universal. Tradução de Danwart Bernsmüller.
São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000.
9
90 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
Intuo que – nos limites que fazem destas linhas mais um esboço
político-filosófico que uma pesquisa de traço estritamente acadêmico e seus
rigores – polarizações e radicalismos como os verificados, não de hoje, no Brasil,
são sugestivos deste cenário, que amplia-se em projeção geométrica na
velocidade das redes. O “poder sem rosto” da horizontalidade democrática não
é mais o “poder dos muitos inominados”, mas, sim, o “poder dos
propositalmente anônimos” para os quais, irremediavelmente, a democracia
falhou.
132 LEFORT, Claude. Pensando o político: ensaios sobre a democracia, revolução e liberdade. Tradução de Eliane
Souza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
133 WOLFF, Francis. A invenção da política. In: NOVAES, Adauto (Org.). A crise do Estado-nação. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
134 “Nas últimas linhas de sua obra sobre Stalin, que a morte não lhe permitiu acabar, Trotski ousou escrever:
‘L’État c’est moi! é quase uma fórmula liberal em comparação com as realidades do regime totalitário de Stalin.
Luís XIV se identificava apenas com o Estado. Os papas de Roma se identificavam com ao mesmo tempo com o
Estado e a Igreja, mas somente durante as épocas do poder temporal. O Estado totalitário vai muito além do
césaro-papismo, pois abarca a economia inteira do país. Diferentemente do Rei-Sol, Stalin pode dizer a justo
título: ‘La Société c’est moi’ ”. LEFORT, Claude. A invenção democrática. Os limites da dominação totalitária.
3.ed. rev. e atual. Tradução de Isabel Loureiro e Maria Leonor Loureiro. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011,
p. 89.
9
92 PENSANDO O POPULISMO: a partir de ensaios e perspectivas distintas
plataformas e do grupo em torno das ideias que emprestam unidade à sigla, para
encarnar o desejo de eventuais maiorias eleitorais que se pressupõem
representativas de todo tecido social.
Como se vê, nessa engrenagem não apenas cada vez mais possível, mas
também mais robusta no avançar do século XXI, a estrutura política sedimentada
nos partidos e seus ideários plurais e representativos vai pouco a pouco
desfazendo-se. Ocorre que, como bem lembra Lefort, afirmar o lugar do poder
como um lugar vazio não significa afirmar a aniquilação do próprio poder. A
democracia horizontaliza – mas não elimina – esse mesmo poder. Isso significa
que o enferrujamento das siglas – os núcleos de poder a projetar alternância nas
democracias – pressupõe sua substituição: saem da arena os partidos como
entidades representativas, e entram rostos como a encarnação desse pretencioso
sentimento nacional formado não apenas pela “voz das ruas”, mas, sobretudo por
uma contemporânea “voz das redes”. O século XXI e suas peculiaridades tecno-
comunicacionais, cada vez mais velozes, tende a ser – muito por isso e no risco
corrido dessas projeções – o século dos populismos¹³⁷.
135 Em alusão à famosa proposição de Francis Fucuyama, sinteticamente expressa na ideia de que o capitalismo e
a própria democracia constituiriam o último degrau da história da humanidade. FUKUYAMA, Francis. O fim
da história e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
136 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
137 Embora por razões nem sempre convergentes, o argumento vai no mesmo sentido de ROSANVALLON, Pierre.
El siglo del populismo: Historia, teoría, crítica. Tradução de Irene Agoff. Galaxia Gutenberg, S.L., 2020
Giancarlo Montagner Copelli
DESFECHO 93
condições de possibilidade, como de resto é a própria democracia. Há aí algo de
evidente: discursos demagógicos e, em alguns casos, também fortemente
contrários ao pacto (re)fundante do país, orientados à obtenção de vantagens
eleitorais ao procurar espelhar demandas institucionalmente não atendidas, só
fazem sentido em ambientes democráticos. Por outro lado, diante da emergência
dessa não apenas possível como, no mais, provável coexistência entre fenômeno e
forma políticos, questiona-se a qualidade da democracia no futuro.
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