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22 de Outubro de 2016

Análise do livro: O segundo tratado sobre o


governo

INTRODUÇÃO

Obra escrita no final do século XVII, “O Segundo Tratado


sobre o Governo Civil”, do John Locke, expressa o
pensamento liberal adotado por Locke e sua posição contra o
governo absolutista (contexto da época), com argumentos que
mostram que o governo emana da comunidade e que, junto
com a lei, deve ser usado para o bem comum.

Os pensamentos de Locke influenciaram eventos importantes


na história, principalmente na Europa e na América. Por
muitos é chamado de teórico da Revolução Inglesa (1688) e
foi a principal fonte de ideias para a Revolução Norte-
Americana (1776), tendo influenciado na Declaração de
Independência e nas constituições estaduais.

Locke se tornou um dos maiores filósofos do liberalismo e da


democracia. E, por isso, deve ser estudado, já que até hoje se
usam muitas de suas ideias, como a da separação dos poderes
(ideia formulada mais claramente por Montesquieu).

O objetivo é desenvolver os principais capítulos do livro


estipulado para o trabalho.

Biografia
John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632 na cidade de
Wringtown, Londres, e morreu em 28 de outubro de 1704 na
cidade de Harlow. Vindo de uma família de classe média e
filho de um comerciante puritano, Locke estudou por seis
anos na escola Westminster School e depois se mudou para o
Christ Church College, de Oxford, ao qual permaneceu
associado por trinta anos desde então.

Desde pequeno mostrou-se crítico da educação religiosa que


recebeu. Era daquele tipo de aluno desrespeitoso aos
professores, que provocava e tirava a atenção dos outros
alunos. Mas isso não significava que era relaxado. Ao
contrário, lia bastante, impressionando-se profundamente
com as ideias de Descartes, e alguns anos depois de formado
passou a lecionar na mesma escola. Não quis seguir a carreira
religiosa, por ter ideias liberais. Tentou medicina, mas sem
muito empenho.

Viajou pelo continente europeu como secretário de “Sir”


Walter Vane e, pouco depois, associou-se intimamente ao
primeiro Conde de Shaftesbury (lider dos “whigs” e opositor
do rei Carlos II no Parlamento), servindo de médico e tutor
da família. Carregado de ideias liberais, se refugiou na
Holanda, retornando para Inglaterra somente no reinado de
Guilherme de Orange.
Como viveu o período de mocidade entre lutas na Inglaterra,
tornou-se contra a violência. Ao mesmo tempo em que as
revoluções políticas espalhavam-se na Europa, pensamentos
intelectuais surgiam cada vez mais, diminuindo a força da
religião e ampliando o interesse pela ciência e pela economia.

Mas isso não significava que Locke não fosse religioso. Seu
pensamento tem base numa incontestável fé, onde todos os
homens foram criados e são filhos de um mesmo Senhor, que
manda na Terra o determina o destino de todos.

Contexto histórico
O livro “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil” de John
Locke foi escrito durante o período da Revolução Gloriosa,
uma época marcante para aqueles que presenciaram essa
revolução e tiveram que superá-la.

A Revolução Gloriosa foi uma revolução em grande parte não


violenta, e que também era chamada de “Revolução sem
sangue”, pela forma pacifica com que ocorreu. Aconteceu na
Inglaterra, entre 1688 e 1689, no qual o rei Jaime II
(católico), pertencente à dinastia Stuart, foi destituído do seu
trono da Inglaterra, Escócia e País de Gales, sendo
substituído por sua filha, Maria II, e por seu genro,
Guilherme, o Príncipe de Orange (ambos protestantes).

Durante seu reinado de três anos, o rei Jaime II tornou-se


vitima da batalha política entre o catolicismo e o
protestantismo, bem como entre os direitos da coroa e os
poderes políticos do parlamento, e por não ser protestante,
suas tentativas de reforma eram vistas como suspeitas.
A questão teve seu ápice quando, em 1688, Jaime II teve um
filho, James Francis Edward Stuart. Até então, o trono teria
passado para sua filha, Maria. Porém a possibilidade de
continuar uma dinastia católica havia surgido. Dessa forma,
lançou-se uma conspiração para depor Jaime II, e substituí-lo
por sua filha e seu marido. Esse, já liderava uma guerra entre
alguns países, e viu a hipótese de adicionar a Inglaterra à sua
aliança.

Em 1689, Jaime fugiu, e o parlamento declarou sua fuga


como abdicação. Assim, o trono foi oferecido a Guilherme e
Maria, como governadores conjuntos.

Foi criado pelo parlamento o “Bill of Rights”, que era um


conjunto de leis que previa uma serie de mudanças de
característica liberal. A partir de então, todos os cidadãos que
fossem acusados de alguma infração, teriam direito a um
julgamento com a presença de um júri. A principal mudança
imposta pelo Bill of Rights foi sobre a relação entre rei e
parlamento, de forma que nenhuma lei parlamentar poderia
ser vetada pelo rei, e após a morte deste, seria o parlamento
quem indicaria o sucessor do trono inglês.

O movimento está mais associado a um golpe do estado, do


que propriamente a uma revolução. Além do mais, foram
poucas batalhas e conflitos deflagrados pela deposição do rei.
A Revolução Gloriosa foi um dos eventos mais importantes
para o Parlamento, pois direcionou o poder em sua direção,
afastando a Inglaterra do absolutismo, tornou impossível a
volta de um monarca católico ao poder e abriu espaço para a
introdução de uma ordem liberal burguesa. Foi um marco na
supremacia do parlamento sobre a coroa.
Capítulo I: Ensaio sobre a origem, os limites e os fins
verdadeiros do Governo Civil

Esse primeiro capítulo revisa de forma sucinta o Primeiro


Tratado sobre o Governo Civil, onde Locke escreve contra as
ideias de Robert Filmer, autor de “O Patriarca”, livro que
aponta motivos para igualar os tiranos aos príncipes
legítimos, como se eles herdassem um direito divino. Em
resumo, Locke expõe quatro pontos principais:

1) Adão não tinha autoridade sobre seus filhos ou domínio


sobre o mundo, nem por direito natural, nem por comando de
Deus;

2) Se ele os tivesse, ainda sim, seus herdeiros não teriam


direito a eles.

3) Se os herdeiros tivessem, na ausência de uma lei da


natureza ou específica de Deus que se permita identificar o
herdeiro legítimo, o direito de sucessão e de governar não
poderia ser determinado com certeza.

4) Mesmo se ele tivesse sido determinado, não se sabe mais


qual a linhagem mais antiga da posteridade de Adão e, depois
de tanto tempo, entre as raças humanas e as famílias do
mundo, nenhuma está acima das outras para pretender ser a
mais antiga e, portanto, aspirar ao direito de herança.

Ao estabelecer esses pontos, Locke pretendia retirar dos


governantes qualquer possibilidade de se aproveitar da
autoridade dada a eles com o uso da força e da violência, se
necessárias, e que tinham como fundamento “os direitos de
prerrogativa privada de Adão e sua autoridade paterna”
(Trecho de “O Patriarca” citado por Locke em seu livro).

Esse uso da força é comparado às atitudes de animais


selvagens, em que o mais forte domina. Como se isso pudesse
justificar para sempre a desordem, a maldade e a rebelião.
“Será preciso descobrir (...) outra origem para o poder
político e outra maneira para designar e conhecer as pessoas
que dele estão investidas, além daquelas que Sir Robert
Filmer nos ensinou” (Segundo tratado sobre o Governo Civil,
p.82).

Para se definir poder político, é necessário que se diferencie,


inicialmente, qual o poder de um magistrado sobre seu súdito
daquele de um pai sobre o filho, de um patrão sobre o
empregado e de um senhor sobre seu escravo.

Poder político, de acordo com Locke, é o “direito de fazer leis,


aplicando a pena de morte ou (...) qualquer pena menos
severa, a fim de regulamentar e de preservar a propriedade,
assim como de empregar a força da comunidade para a
execução de tais leis e a defesa da república contras as
depredações do estrangeiro, tudo isso tendo em vista apenas
o bem público” (Idem, p.82).

Capítulo II – Do estado de natureza

Para compreender corretamente o poder político, antes é


necessário entender como funciona a condição natural dos
homens.
Essa condição implica que seja um estado em que todos são
totalmente livres para decidir suas ações sem ter que pedir
autorização de nenhum outro homem nem depender de sua
vontade. Além disso, um estado de igualdade, sem
subordinação. A menos que seu senhor e amo de todos,
tivesse destacado um acima dos outros.

Por causa disso, os indivíduos tem a obrigação de se amarem


mutuamente. Mas se algum pratica o mal deve esperar sofrer,
pois os outros não tem motivos para dedicar um amor maior
do que aquele que lhe é demonstrado.

Entretanto essa condição natural ou estado de liberdade é


diferente de um estado de permissividade: cada um tem
liberdade total sobre si mesmo, mas não a de destruir
qualquer criatura que se encontre sob sua posse ou ao seu
redor, pois todos os homens são obra de um único criador.
Assim não pode haver uma hierarquia na sociedade.

Somente a punição com pena proporcional a sua transgressão


pode ser usada, mas que seja o bastante para assegurar a
reparação e a prevenção. Sendo que nessa situação um
homem pode adquirir poder (limitado) sobre outro homem.

E já que no estado de natureza cada um tem o poder, é


sensato não determinar que os homens sejam juízes porque,
afinal, são levados pela sua “má natureza, paixão e vingança”
(Segundo tratado sobre o Governo Civil, p.88), que os deixa
longe da possibilidade de punir alguém, já que só trará
confusão e desordem.
Por esse motivo “Deus instituiu o governo para conter a
parcialidade e a violência dos homens” (Idem, p.88). O
governo civil seria a medida ideal para conter as
inconveniências do estado de natureza, que devem ser
grandes com os homens sendo juízes das próprias causas.

A ideia de governo civil não remete a ideia de um monarca


absoluto, de alguém que teria poder para fazer o que quisesse
com seus súditos. “É muito melhor o estado de natureza,
onde os homens não são obrigados a se submeter à vontade
injusta de outro homem: e, onde aquele que julga, se julga
mal em causa própria ou em qualquer outro caso, tem de
responder por isso diante do resto da humanidade” (Idem, p
89).

Mas será que há, ou algum dia houve, homens em tal estado
de natureza? Todos os príncipes e chefes de governos
independentes encontram-se nesse estado. “Pois a verdade e
o respeito à palavra dada pertencem aos homens enquanto
homens, e não como membros de sociedade.”

Com certeza há aqueles que dizem nunca ter havido um


homem em tal natureza. Mas como todo homem não nasceu
para ser solitário e, sim, para viver em sociedade (política) a
fim de suprir suas necessidades para o gênero de vida, não há
como escapar da vida em sociedade, que obriga os homens a
viverem de maneira absoluta conforme as leis da natureza.

Capítulo III – Do estado de guerra

“O estado de guerra é um estado de inimizade e de


destruição” (Segundo tratado sobre o Governo Civil, p. 91)
assim diz Locke. Quando um indivíduo planeja algo contra a
vida de outro indivíduo isso o põe em estado de guerra diante
de tal pessoa. Isso também significa que está expondo sua
vida ao poder do outro, ou seja, o outro também recebe o
direito de tirar a vida daquele que tentou tirar a sua primeiro.
É totalmente justo o motivo de fazer tal ato, já que aquela
pessoa que tentou tirar sua vida se revelou um inimigo de sua
existência e, do mesmo jeito que se pode matar um lobo ou
um leão, pode-se matar uma pessoa dessas, porque homens
assim seguem a lei a força e da violência e agiriam do mesmo
jeito que um animal selvagem: quando tiverem a
oportunidade de te matar, o farão.

Por isso, aquele que tenta colocar outro homem sob seu poder
absoluto, automaticamente entra em estado de guerra com
ele. E este, estando sob o poder da outra pessoa, fica
vulnerável, já que pode ser usado pelo outro para qualquer
situação, inclusive para a destruição. Essa característica
evidencia a vontade de fazer do outro um escravo, que é
obrigado à força e não tem direito à liberdade. Locke diz que
quando um homem está no seu estado de natureza e perde
sua liberdade necessariamente perderá todo o resto, pois a
liberdade é a base de tudo.

É isso que autoriza o homem a matar um ladrão, mesmo que


este não tenha declarado intenção contra sua vida, afinal, não
há garantia de que, depois de ter usado a força para roubar-
lhe o dinheiro, simplesmente irá embora. Há a possibilidade
de que continue se impondo e privasse o indivíduo de todo o
resto.

A diferença entre estado de natureza e de guerra é a mesma


que há entre paz, boa-vontade e inimizade, maldade. O estado
de natureza pode existir com homens vivendo segundo a
razão, sem uma autoridade humana em comum para julgá-
los. Mas a existência da força imposta sobre homens, mesmo
não havendo uma autoridade comum, e o simples fato de não
se ter ninguém para a quem pedir ajuda (como na hora de um
assalto) é o estado de guerra.

A lei deve proteger e reparar o inocente, e quando não se


pode agir de imediato para tentar preservar a própria vida, o
indivíduo tem o direito de se defender, mesmo que seja
necessário matar o agressor, porque este não deixa
possibilidade de se apelar para um juiz comum na terra.

Cessando a força, cessa o estado de guerra entre aqueles, e


ambos são submetidos à lei da sociedade e têm acesso a um
recurso, tendo que reparar o mal cometido e prevenir o mau
futuro. No estado de natureza, não há esse recurso, porque
não existem leis e juízes. Então o inocente ainda tem o direito
de destruir o outro indivíduo, até que o agressor proponha
paz e reconciliação. E mesmo onde haja esse recurso e juízes
estabelecidos, a justiça pode não ser feita corretamente,
dando privilégios para o agressor, mantendo o estado de
guerra.

Pois onde há uma autoridade humana comum, esse estado de


guerra tem que acabar e o juiz decide o resultado da
controvérsia.
Locke cita para suas explicações o seguinte texto bíblico,
característica de estilo dele: “Nada fiz contra ti, mas tu estás
cometendo um erro, lutando contra mim. Que o Senhor, o
Juiz, julgue hoje a disputa entre os israelitas e os amonitas”
(Juízes 11.27). O contexto desse texto mostra quando Jefté
(líder israelita) luta contra o povo amonita. Ele desafia o rei
amonita dizendo que Deus, no céu, julgará qual dos povos
deve vencer a guerra. O povo israelita vence. Isso é uma
simbologia de que Deus, no papel de juiz de todos os homens,
escolheu que o povo de Jefté era mais merecedor do que o
outro.

Com esse texto ele mostra que é necessário que haja um juiz
para julgar, e, quando não há um juiz na terra, deve-se apelar
para Deus.

Mas ele deixa em aberto que cabe aos indivíduos querer


acreditar que Deus poderia julgar os homens ou não, mas que
essa escolha deveria ser feita até o dia do Juízo Final, quando
todos estiverem perante o juiz supremo (Deus).

Capítulo 4 – Da escravidão

O homem, pela sua liberdade natural, deve estar livre de


qualquer poder superior na terra, exceto se há um poder
estabelecido, por consentimento na comunidade civil, que
rege leis decretadas pelo legislativo, de acordo com a
confiança nele depositada.
Essa liberdade é tão necessária e está tão estreitamente ligada
à preservação do homem que não pode ser perdida. O homem
não pode dispor de sua própria vida, nem por obrigação nem
por consentimento próprio. Não podendo se transformar em
escravo de outro homem.

Quando é necessário cumprir uma pena por algum ato feito


contra outro indivíduo, pode-se usar a servidão para tentar
“pagá-la”. Mas se ele acha que a pena imposta pela escravidão
ultrapassa o valor da sua vida, tem o direito de resistir à
vontade de seu senhor e provocar sua própria morte. “Esta é a
perfeita condição da escravidão, que nada mais é que o estado
de guerra continuado entre um conquistador legítimo e seu
prisioneiro”. A condição é que se faça um pacto entre eles,
determinando o limite do poder exercido. Enquanto esse
limite durar, o estado de guerra e a escravidão deixam de
existir.

Capítulo 5 – Da propriedade

Este quinto capítulo está relacionado com alguns aspectos


importantes, como a razão natural, o direito a propriedade, o
trabalho, as formas de utilização da terra etc.

A razão natural, de acordo com Locke, é o direito de


preservação, e desta forma, o direito a comer, a beber e a
todas as outras coisas que a natureza proporciona para sua
subsistência. Segundo ele, foi Deus quem deu a terra aos
filhos dos homens, assim, a toda a humanidade. Supõe-se que
é muito difícil explicar esse direito a propriedade partindo-se
do pressuposto de que Deus deu o mundo a Adão. Essa
suposição tornaria impossível que os homens tenham suas
propriedades.
Deus deu aos homens a razão, para o beneficio de sua vida, a
terra, e tudo o que ela contém para o sustendo e o conforto de
sua existência, as frutas e os animais, que estão sempre
dispostos para o uso do homem, sendo necessário qualquer
meio de apropriação. Todos esses fatores são produções
espontâneas da natureza, devido ao fato de que possuem
originalmente o domínio privado, ou seja, apresentam-se em
seu estado natural.

A terra e tudo o que a ela se envolve pertence em comum a


todos os homens, porém, cada um guarda a propriedade de
sua própria pessoa, sendo que sobre esta ninguém tem
qualquer direito. Pode-se dizer que o trabalho realizado por
seu corpo e por suas mãos são propriedade de cada um.

Sempre que o homem tira um objeto do seu estado natural, e


mistura a isso seu trabalho, e acrescenta algo que a ele
pertence, acaba por torná-lo sua propriedade, pois exclui o
direito comum dos outros homens. O trabalho estabeleceu
uma distinção nítida entre o que agora lhe pertence, e o bem
comum, ele lhes acrescenta algo além do que a natureza havia
feito, e assim, torna-o um direito privado.

Podemos perceber assim, que o fato gerador do direito a


propriedade é o ato de tomar parte qualquer dos bens e
retirá-lo do estado em que a natureza o deixou; o trabalho de
removê-lo do estado comum em que se encontravam, fixa o
direito de propriedade sobre eles. Admite-se que o objeto
pertence àquele que lhe consagrou seu trabalho.

A mesma lei que concede dessa maneira a propriedade,


também impõe limites, pois senão, qualquer um poderia
tomar tudo para si. Diz-se que Deus nos deu tudo em
abundancia e que tudo o que o homem pode utilizar e de tal
forma, retirar uma vantagem sem desperdício, é o que o
trabalho pode fixar como propriedade. O que excede este
limite é mais que a sua parte, e assim, pertence aos outros.
Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem ou
destruíssem.

Quanto à superfície da terra, ao homem é permitido


trabalhar, e dessa forma, plantar, melhorar, cultivar, e utilizar
dos seus produtos, podendo considerá-la sua propriedade.
Ele acaba por limitá-la, separando-a do bem comum. As
melhoras realizadas para seu beneficio indicam um
investimento que lhe pertence, o trabalho. Deus deu a terra
para o uso industrioso e racional, e não para satisfazer os
caprichos daqueles que se metem em problemas. De forma
que, nenhuma cerca pode ser colocada em seu beneficio, pois
assim, os outros se sentiriam lesados, pois estariam
reduzindo a parte dos outros, o que não pode ser feito.

Por exemplo, “em países como a Inglaterra, ou qualquer


outro onde o governo estende sua competência a um grande
numero de pessoas, a quem não falta dinheiro nem emprego,
ninguém pode cercar ou se apropriar de qualquer parcela sem
o consentimento de todos os seus co-proprietários”. Percebe-
se uma ligação entre o fato de cultivar a terra, e de adquirir o
domínio sobre ela, de forma que, um garante o titulo do
outro.

A medida da propriedade natural foi estabelecida através da


extensão do trabalho do homem, e pela conveniência da vida.
Assim, seria impossível que um usurpasse o direito do outro.
Percebemos a importância do trabalho, não só porque é ele
quem transforma o objeto natural, em uma propriedade, mas
também, pois sem o trabalho, a superfície da terra tem pouco
valor.

Locke afirma que cada homem deve ter tanto quanto pode
utilizar, e a regra da propriedade ainda permaneceria válida
no mundo, sem prejudicar ninguém, visto haver terra
suficiente para o dobro de habitantes existentes.

Tudo o que o homem plantava, colhia, armazenava e


consumia antes de se deteriorar, pertencia-lhe por direito,
mas se apodrecesse, ou perecessem antes de serem colhidos
ou consumidos, esta parte da terra, poderia ser considerada
como inculta, e poderia se tornar posse de qualquer outro, ou
seja, seu direito acabava com a necessidade de utilizar estes
bens e a possibilidade de retirar os bens para sua vida.

As nações americanas por sua vez, são ricas em terra e pobres


em todos os confortos da vida, ou seja, possuem solo fértil,
capaz de produzir de forma abundante, servindo como
alimento, vestuário, etc., mas falta trabalho para melhorar
esse solo. Não tem um mínimo das vantagens de que
desfrutamos.

Embora as coisas da natureza sejam dadas em comum ao


homem, este ainda tem em si mesmo a justificação principal
da propriedade, a aquilo que compôs a maior parte do que ele
aplicou para o sustento ou o conforto de sua existência, de
forma que a natureza e a terra apenas fornecem a matéria-
prima, que é menos valiosa.
Nesse contexto, foi estabelecido o uso do dinheiro, que
poderia oferecer a eles alguma coisa duradoura que o homem
poderia guardar sem que se deteriorasse, e assim os homens
poderiam utilizar na troca por coisas necessárias a vida, que
fossem realmente úteis. Assim, o fato de poderem guardar a
quantidade que quisessem não excederia seu limite, pois de
qualquer forma, não iriam se deteriorar.

Capítulo 9: Dos fins da sociedade política e do


governo.

Por que o homem renuncia a sua liberdade- no estado de


natureza- para ser dominado e controlado por um poder

Porque como no estado de natureza, todos são iguais, no


sentido de autonomia política e social, há muitas pessoas que
não respeitariam à igualdade e à justiça. Embora os homens
sejam livres, eles possuem medos e perigos contínuos. Então
para assegurar que a propriedade individual- os bens que
cada um possui- seja preservada; os homens se unem em
comunidades sociais e se submetem a governos. Além disso,
cada um age dessa forma com o objetivo de proteger sua
liberdade. O estado de natureza é carente de muitas
condições, as inconveniências a que todos estão expostos pelo
exercício incerto e irregular do poder que cada homem possui
de punir as transgressões dos outros, faz com que eles
convivam em sociedade, cheia de normas.

Aspectos negativos do estado de natureza

Não existe consentimento geral sobre o que é certo ou errado,


os valores são múltiplos, o que dificulta a padronização de
comportamentos. A falta de integridade no estado de
natureza também prejudica a convivência social, como os
homens são livres, os interesses particulares poderiam
resultar em desordem. Outro aspecto muito importante de se
lembrar é que falta poder para apoiar e manter a sentença
quando ela é justa, assim como a sua devida execução. Dessa
forma, a incerteza do poder que cada homem possui de punir
as irregularidades de outros, faz com que eles busquem
segurança sob leis estabelecidas e tentem garantir sua
propriedade e atributividade, dessa maneira. Falta no estado
de natureza um juiz parcial, que diminua as diferenças, ao
invés disso, cada um é ao mesmo tempo juiz e executor da lei.
Veremos no próximo capítulo, a importância de manter
separado o poder legislativo do executivo. Se cada um, é
parcial no julgamento de causa própria: a paixão e a vingança
os conduzirão a muitos excessos e violência.

Os dois poderes que o homem detém no estado de natureza


são:

-O indivíduo faz o que é conveniente para sua própria


preservação e da sua comunidade (dentro dos limites
autorizados pela lei da natureza). Quando o homem deixa a
sociedade regulamentar através de leis, aquela preservação, a
liberdade individual fica restringida.

-Poder de punir os crimes cometidos contra a lei de natureza.


Porém, ao incorporar a uma sociedade civil, o homem
renuncia esse poder para ajudar o poder executivo da
sociedade, conforme a lei executiva exigir.

Novo Estado: O poder legislativo possui como objetivo


primordial manter o bem coletivo, proporcionar segurança,
paz, enfim atuar em prol de todos que abriram mão da sua
liberdade e confiaram no poder da sociedade para representar
os indivíduos e aplicar as leis estabelecidas - conhecidas pelo
povo. A função do poder supremo no exterior é prevenir ou
reparar as agressões do estrangeiro.

Capítulo 12: Dos poderes Legislativo, Executivo e


Federativo da comunidade civil

O poder legislativo é responsável pela formulação de leis,


prescrição de quais procedimentos a força da comunidade
civil deve ser empregada para preservar a comunidade e seus
membros.

O poder executivo possui como finalidade executar as leis.


Para as leis fazerem sentido na prática, é fundamental a
execução dessas na medida em que são feitas e durante o
tempo que permanecerem em vigor.

Problemas de unificar os representantes do poder legislativo e


executivo

Não convêm as mesmas pessoas que detêm o poder de


legislar, também tenham o poder de executar as leis. Porque
elas poderiam se isentar das leis que fizeram e adequar as leis
a suas vontades. Portanto, para evitar injustiça, o poder
legislativo é dividido nas mãos de vários indivíduos, que se
reúnem para legislar e depois se separam ficando sujeitos às
próprias leis que fizeram. Dessa forma, a eficiência das leis
visa o bem coletivo e não os interesses individuais.

Poder Federativo: função de administrar a segurança interna


da sociedade e do interesse do público.
Conclusão

Conforme podemos verificar após uma análise profunda


sobre o livro, John Locke é um dos maiores filósofos do
liberalismo e da democracia. Influenciou em eventos
importantes na história, principalmente na Europa e na
América. É conhecido como teórico da Revolução Inglesa e foi
a principal fonte de ideias para a Revolução Norte-
Americana, tendo influenciado na Declaração de
Independência e nas constituições estaduais.

Até hoje, usamos muito suas idéias, conceitos e


principlamente, sua visão sobre o liberalismo político.

Bibliografia

LOCKE, John. O Segundo Tratado sobre o Governo Civil.


Tradução: Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Editora
Vozes: Petrópolis, 1994.

Disponível em: http://barbararejani.jusbrasil.com.br/artigos/187974786/analise-


do-livro-o-segundo-tratado-sobre-o-governo

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