Você está na página 1de 2

John Locke e o individualismo liberal

O século XVII na Inglaterra foi marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento,
controlados respectivamente, pela Dinastia Stuart, que defendia o absolutismo e a
burguesia ascendente, partidária do liberalismo.
Em 1645 eclodiu uma guerra civil, que acabou com Oliver Cromwell assumindo o poder e
acabando com a monarquia.
Mais tarde, a Revolução Puritana instalou a república na Inglaterra e o Parlamento passou
a comandar. Ocorreram alguns feitos como o Ato de Navegação, tendo como resultado, o
fortalecimento naval e comercial da Inglaterra.
Quando Cromwell morreu, uma crise política gerou instabilidade, causando assim a volta
do regime absolutista e o catolicismo.
A Revolução Gloriosa foi quando o Parlamento afastou o Jaime II e quem passou a
comandar a Inglaterra foi o Guilherme de Orange, seguindo o acordo feito com a burguesia
denominado Bill of Rights, o qual garante uma monarquia parlamentarista (limitada).
Ademais, tal acordo garante liberdade religiosa, divisão dos 3 poderes e estado liberal.
Nesse contexto, John Locke, forte opositor da monarquia, que se encontrava refugiado na
Holanda, retorna para a Inglaterra após a Revolução Gloriosa. Locke, além de defensor da
liberdade e da tolerância religiosa, é considerado o fundador do empirismo, doutrina
segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência.
Locke também é conhecido pela Teoria da Tabula Rasa do Conhecimento, a qual critica a
Doutrina das Ideias Inatas, formulada por Platão e Aristóteles. Tabula rasa: o
conhecimento advém da experiência e ideias inatas: o conhecimento nasce com os
homens e independe da experiência.
John Locke em 1689 publica suas principais obras: Cartas sobre a tolerância, Ensaio sobre
o entendimento humano e os Dois tratados sobre o governo civil.
O Primeiro Tratado é a refutação do Patriarca; obra em que Robert Filmer defende o direito
divino dos reis, com base no princípio da autoridade paterna que Adão legará à sua
descendência.
No Segundo Tratado; Locke sustenta a tese de que nem a tradição, nem a força, mas
apenas o consentimento (concordância) expresso dos governados é a fonte do poder
político legítimo. Considera tal tratado como uma justificação da Revolução Gloriosa, onde
fundamenta a legitimidade da deposição de Jaime II por Guilherme de Orange e pelo
Parlamento com base na doutrina do direito de resistência. Segundo o autor, o atual Rei
Guilherme justifica seu título em razão do consentimento do povo.
Juntamente com Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau, John Locke é um dos
principais representantes do jusnaturalismo. Locke afirma que a existência do indivíduo é
anterior ao surgimento da sociedade e do Estado. Na sua concepção individualista, os
homens viviam originalmente num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela mais
perfeita liberdade e igualdade, denominado estado de natureza.
Além do mais, Locke defendia que a propriedade já existe no estado de natureza e,
portanto, é um direito natural que não pode ser violado pelo Estado. O homem era
naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho (a propriedade era
instituída pelo trabalho).
O uso da moeda levou, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre
os homens, afirmando ainda, que o uso da moeda foi o processo que determinou a
passagem da propriedade limitada (baseada no trabalho) à propriedade ilimitada (fundada
na acumulação de dinheiro).
Nesse movimento de complexação das relações sociais e de troca, surge a necessidade
de um Estado a fim de garantir a preservação da propriedade e a proteção da comunidade
frente a possíveis inconvenientes da violação da lei natural de propriedade, isto é, a vida, a
liberdade e os bens. Portanto, o contrato social é um pacto de consentimento, em que os
homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar
ainda mais os direitos que possuem.
Estabelecido o estado civil, o passo seguinte é a escolha do governo, que é feito princípio
da maioria, segundo o qual prevalece a decisão majoritária e, simultaneamente, são
respeitados os direitos da minoria. Na concepção de Locke, "todo o governo não possui
outra finalidade além da conservação da propriedade". Cabe igualmente à maioria escolher
o poder supremo.
Ademais, existe uma clara separação entre o poder legislativo, de um lado, e os poderes
executivo e federativo, do outro, os dois últimos podendo, inclusive, ser exercidos pelo
mesmo magistrado.
Os cinco principais fundamentos do estado civil são: o livre consentimento para o
estabelecimento da sociedade, o livre consentimento para a formação do governo, a
proteção dos direitos de propriedade, o controle executivo pelo legislativo e o controle do
governo pela sociedade.
John Locke ainda afirma que “nenhum governo pode ter direito à obediência de um povo
que não a consentiu livremente”, ou seja, defende, no que diz respeito às relações entre o
governo e a sociedade, que quando o Executivo ou o Legislativo violam a lei estabelecida
e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a que fora destinado,
tornando-se ilegal e degenerando em tirania. A violação deliberada e sistemática da
propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam
o governo em estado de guerra contra a sociedade, e os governantes em rebelião contra
os governados, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania.
O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se da opressão de um
governo tirano como para libertar-se do domínio de uma nação estrangeira.
Essa doutrina do direito de resistência resgatada e revalorizada por Locke no Segundo
Tratado, transformou-se no fermento das revoluções liberais que eclodiram depois na
Europa e na América.
Portanto, na teoria liberal de John Locke, o protagonismo do povo tanto no consentimento,
quanto na preservação de seus direitos, constitui o poder supremo.
Em suma, Locke justificou moralmente, politicamente e ideologicamente a Revolução
Gloriosa e a monarquia parlamentar inglesa, baseando-se nos direitos naturais e no direito
de resistência conferida ao povo.

Você também pode gostar