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Martim Ghira Campos

O liberalismo – fundamentação filosófica

O liberalismo é a ideia política de maior sucesso no mundo contemporâneo, pois foi a


ideologia com maior longevidade (duradoura ao longo dos anos) e adaptabilidade
(moldável ás circunstâncias):

 A mais comum
 A mais generalizada
 A mais antiga
 Aquela sem a qual não compreendemos todas as outras famílias políticas

Está “geneticamente” ao centro, embora haja tendência para que o coloquem mais à
direita

O liberalismo é a base inspiradora da idade contemporânea, sendo a ideologia que


está na base de todas as outras e que comparativamente a outras alternativas
ideológicas, verificou uma melhor evolução e capacidade de adaptação/mudança

Esta ideologia pode ser democrática ou não, e alarga-se à economia, à política, aos
valores, às culturas, moldando-se às mesmas
Ex: o Liberalismo em Portugal não é igual ao de Inglaterra

Princípios gerais identitários – pilares

1. Liberdade – acreditar na felicidade individual e coletiva baseada na livre


escolha (liberdade de expressão, opinião, etc). A liberdade é a base para a
felicidade, porque quem vive em liberdade conseguirá alcança-la. A liberdade
não é apenas uma escolha política, é uma realização existencial

2. Individualismo – o individuo valorizado como ser humano na sua dignidade,


como pessoa de direitos e deveres. A valorização legar da pessoa humana
contra qualquer constrangimento da sociedade ou político

3. Racionalismo – a humanidade pode conduzir-se no sentido de uma felicidade


coletiva, mas tem de usar necessariamente a razão. A razão é entendimento,
diálogo, consenso. O liberalismo respeita o individuo e a sua razão (não há
obrigação de concordas, mas há obrigação de respeitar)

4. Igualitarismo – todo o homem tem o estatuto político igual: igualdade jurídica


perante a lei, todos somos iguais e todos devemos ter o mesmo estatuto e
oportunidades

5. Universalismo – a cultura liberal é para a espécie humana, não é para o povo


ou para a pátria. Contudo, apesar de aplicável a todo o mundo, devido á
existência de diferenças culturais, sociais etc., pode não acontecer ao mesmo
tempo em todo o lado
Martim Ghira Campos

6. Melhorismo – a ideia de que através do liberalismo, as sociedades caminham


para estados superiores. Ideia de que o liberalismo melhora e desenvolve as
sociedades, elevando as perspetivas de vida, sendo um veículo de
desenvolvimento e realização coletiva, por meio da individual

7. Formalismo – o liberalismo não é a vontade arbitrária de alguém, é o processo


de aprovação de leis escritas. É um formalismo político onde o poder limita o
poder – cada poder tem a sua área de atuação, fazendo-o de acordo com um
quadro normativo (separação de poderes)

8. Minimalismo – Existe pouca intervenção do Estado, diferindo do Socialismo. É


um Estado que ajuda, mas não substitui os indivíduos

Não existe uma data nem um autor para a fundação da ideologia liberal, sendo que a
mesma surgiu primeiro nuns países e só depois noutros. A palavra liberalismo já existia
antes das revoluções, no entanto era apenas um comportamento e não uma opção
política. Só no seculo XVIII é que o liberalismo passa a designar uma corrente política
(um corpo de ideias mais ou menos fluídas, mas com uma definição mais compacta)

O primeiro grande sistematizador das ideias liberais foi John Locke, expondo ao mundo
de uma forma filosófica o que é o liberalismo – uma espécie de legitimação moral do
que havia acontecido após a revolução inglesa que termina em 1689

O objetivo de Locke foi atingir uma conceção cívica da sociedade – “civil society”.
Dividir para limitar o poder, para impedir que surjam usurpações ou absolutismos
(limite do poder pelo poder)

Na base, para Locke, está um estado de natureza, de onde parte a sociedade. Nesse
estado, os homens são intrinsecamente bons e vivem de forma totalmente livre, uma
vez que esse estado não é uma sociedade organizada. Locke sugere então uma
passagem desse estado de natureza (anarquia, violência e conflito) para um estado
político e social (Estado), através de um pacto social entre governantes e governados,
onde os governados abdicam de parte da sua liberdade em troca de segurança por
parte dos governantes.

Chave para a legitimidade do Estado:

a) Derivar da vontade dos cidadãos


b) Atuar limitadamente com poderes repartidos

O Estado somos todos nós, de responsabilidade limitada, visto que os poderes são
repartidos e limitados – executivo, legislativo e federativo (poder das relações
internacionais)
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Revolução Inglesa

Fatores explicativos do pioneirismo liberal britânico

1. Uma sociedade insular de fronteira e de imigração – é uma sociedade que


resulta de uma conquista normanda e de uma fixação de vários povos na ilha,
sendo um caso de “melting pot”. O facto de ser uma ilha tornou-a mais
independente e fê-la ser diferente do panorama geral europeu

2. Um espírito enraizado de reivindicação de direitos e de exigência de partilha de


poderes – o facto de ser uma sociedade mais horizontal, onde os reis tinham
menos poder e onde nunca existiu feudalismo, permitiu a implementação do
liberalismo, uma partilha de poderes e uma reivindicação de direitos desde
muito cedo. Na Magna Carta de 1215 consta uma promessa por parte do Rei de
que todos, incluindo ele mesmo, tinham direito à justiça, sendo que os reis em
Inglaterra nunca mais pudessem reclamar o poder absoluto.

3. Uma economia mercantil de “autorresponsabilização” individual – desde


sempre, a Inglaterra esteve ligada ao comércio, partindo de uma noção de
individualismo

4. Uma Reforma religiosa emancipadora do catolicismo do Antigo Regime –


Henrique VIII separa a Igreja Romana da Igreja Anglicana, deixando de estar
subordinados á arbitragem do papa, que era uma força de contenção e de
ordem

Características principais da excecionalidade britânica:

 Era o único país da Europa onde o Absolutismo de paradigma continental nunca


existiu

 Era o único país da europa onde os sucessivos monarcas nunca foram


“déspotas absolutos” (autoritários, tiranos)

 Era o único país da Europa onde a sociedade, a economia e as mentalidades


liberais antecederam a liberalização política e internacional – a Inglaterra já era
liberal antes de ser um Estado Liberal porque já tinha características de um
Estado Liberal

A revolução inglesa não é feita para derrubar o absolutismo porque ele nunca existiu, é
feita para impedir que o absolutismo se instalasse em Inglaterra. A revolução inglesa
foi uma reação de defesa às tentativas de centralização do poder régio em Inglaterra.

A revolução inglesa não foi radical (sangrenta), mas sim reformista, para garantir que
os ingleses poderiam continuar a ser o que eram desde a Magna Carta, conservando as
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suas liberdades. A revolução não implementa garantias, apenas reafirma garantias que
os ingleses já tinham e que sentiram ameaçadas

Origem da Revolução

No princípio do século XVII, a última rainha da casa dos Tudor (Isabel I) morre sem
herdeiros. Posto isto, Jaime I da dinastia Stuart (Escócia) torna-se rei de Inglaterra. Os
Stuart eram católicos e tinham simpatias absolutistas.

No início do seu reinado, através de um documento (“Petition of Rights”), o povo


inglês pede ao rei que respeitasse aquilo que eram as liberdades e garantias políticas
dos ingleses. O rei recusa-o e:

 Dissolve a Câmara dos Comuns


 Concentra em si o poder de lançar impostos e sentenças que atropelavam o
poder judicial
sendo que durante 11 anos governou numa espécie de ditadura.

Esta dinastia é marcada por uma constante guerra civil, onde o rei tenta centralizar o
poder régio, violando os princípios da Magna Carta e suscitando a revolta no povo
inglês
 Em 1649, o rei Carlos Stuart é executado, sendo declarado ilegítimo, fora da lei
e violador dos princípios impostos pela Magna Carta

Aos olhos da Europa, este acontecimento tratou-se de um Regicídio e a Escócia ficou


sem rei, levando a uma guerra civil entre ingleses e escoceses.

O poder passa para as mãos de Oliver Cromwell, um militar aristocrata que se destaca
porque defende a Inglaterra e durante 5 anos a Inglaterra passa a ser uma república
ditatorial, ainda que lhe tenha sido dada a oportunidade de ser Rei e iniciar uma nova
dinastia.

Quando este morre, não havendo outra hipótese, sobe ao trono Carlos II da dinastia
Stuart, sendo que este não tinha as pretensões absolutistas do pai, mas ainda assim
governava com receio.

 A Câmara dos Comuns é restaurada e em 1679 publica-se a Habeas Corpus Act,


que era uma concessão às liberdades (uma reafirmação da magna carta numa
tentativa de apaziguamento dos ânimos da sociedade inglesa)

A Carlos II sucede-lhe o irmão Jaime II por falta de sucessores, no entanto acaba por
ser condenado ao exilio

Posto isto, William e Mary de Orange dos Países Baixos, são convidados a assumir a
realeza em Inglaterra, algo que trouxe a assinatura do Bill of Rights (1688) – uma
expressão escrita de um contrato político e social entre a Câmara dos Comuns e a nova
dinastia de Orange (uma carta de direitos)
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Em 1689 aceitam o Bill of Rights e participam nesta Glourious Revolution, que é


política e reformista, criando um Estado Liberal

Revolução Americana

Foi um dos acontecimentos mais importantes da história do seculo VXIII. Foi um


episódio importante para a história do liberalismo, do qual resultou um país novo com
um regime republicano e democrático

Esta revolução é o resultado de uma guerra com a Inglaterra e tratou-se da primeira


descolonização vitoriosa. Foi a primeira revolução da era das revoluções de cariz
internacional, uma vez que teve uma grande influência na Europa e tornando-se uma
referência para todas as colónias da América do Sul.

A expressão revolução americana justifica-se, uma vez que não se trata apenas de um
conjunto de colónias que declara independência, mas também da fundação de um país
novo, com um modelo novo e uma sociedade/estado novos, com uma arquitetura
nova. Foi uma novidade radical no continente do Antigo Regime (Europa)

O que define a América da revolução era a liberdade, constitucionalidade, bem-estar


das pessoas e a igualdade

O modelo socioeconómico dos EUA não se identifica com o Europeu (sem feudalismo,
sem senhorialismo e sim um libertarismo que conduziu a um novo mundo de
oportunidades) e a própria sociedade americana, com o passar das gerações, acaba
por perder as suas raízes com a Europa, criando -se um novo espirito de identidade
comum de um “novo mundo”
 Individualismo, Sem fronteiras, Liberdade religiosa e étnica...

O desenvolvimento económico e comercial era governado por Londres e oprimia as


colónias através de impostos:

 Mediava o comércio com as Antilhas e com África, restringindo estas ligações e


proibindo a cunhagem de moeda na América (circulavam libras inglesas que
chegavam á América com impostos)

 Impediam a passagem de colonos pelos Montes Apalaches, com medo do


desenvolvimento das colónias

 Proibiam a produção de determinadas matérias para impedir o


desenvolvimento (algodão)

A partir do século XVIII, os colonos ganham uma consciência comum americana e


ganham interesses que começam a colidir com os interesses ingleses.

No entanto apesar das rivalidades entre colónias, surgem uma noção de espaço
comum, língua comum, cultura comum e valores comuns, nomeadamente a política.
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Divisão cronológica

1. Resistência e Revolta (1763-1774)


2. Guerra, diplomacia e paz (1775-1783)
3. Construção de uma Nação (1776-1781-1787) – após o reconhecimento da
independência das colónias

Em 1763 dá-se o fim da Guerra dos 7 anos entre a Inglaterra e a França, que se deu
devido a pretensões de expansão no território da América do Norte, com uma vitória
inglesa. No final da guerra, a França teve de ceder uma série de territórios à Inglaterra,
tornando-a numa grande potência continental no continente americano. Surge um
grande desafio para a Inglaterra, que acidentalmente irá dar origem à revolução
americana.

Em pouco mais de 20 anos, a demografia duplica devido à massiva migração. Nota-se


uma pretensão de expansão das colónias, no entanto, entregar os territórios novos aos
colonos era aproximá-los da independência.

 Este ano marca um ano de viragem, uma vez que é nele que se coloca um
desafio aos ingleses -> como continuar a governar um conjunto de colónias que
estavam a tornar-se, e tinham condições para se tornar, o centro do Império
Inglês. O centro estava acidentalmente a deslocar-se de londres para o
continente americano.

Para governar estas novas terras e desenvolver o império inglês na américa, eram
necessários fundos, no entanto a guerra trouxe vários custos e os contribuintes
ingleses não queriam contribuir para uma terra que não era deles.
Era necessário aumentar as receitas na América para poder gerir estes territórios ->
IMPOSTOS

Política Britânica na América após a Guerra dos Sete Anos


1763 – Proclamation Act – reservava a nova área conquistada aos franceses para os
ingleses e não para as colónias, de forma a impedir a sua expansão para Oeste. Fixou-
se um exército inglês que era pago pelos próprios colonos

1764 – Sugar Act – imposto sobre o açucar e outras matérias como o ferro, a madeira
e o algodão

1765 – Stamp Act – obrigava ao uso de papel selado inglês na documentação oficial e
ao pagamento de imposto do selo sobre os jornais e revistas que circulavam nas
colónias

1766 – Declaratory Act – a Inglaterra declara-se acima de todos os governos coloniais,


obrigando à obediência ao governo inglês em Westminster

1767 – Townshend Act – entregava aos colonos americanos a obrigação de


sustentarem as forças americana que se estabeleceram na América
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Mais impostos, mais limitações e mais controlo, levaram ao descontentamento dos


colonos, que viam estas imposições como um ataque às suas liberdades, suscitando o
espírito de revolta.

Em 1770 dá-se o massacre de Boston, no contexto de uma revolta civil devido ao


sentimento de injustiça da falta de representação dos colonos amerinos no Governo
de Londres.

Em 1773 dá-se a revolta do Boston Tea Party como resposta ao Tea Act, que obrigava
os americanos a comprar chá à Companhia das Indias Orientais, vendo-se impedidos
de o comercializar.

Esta revolta resultou: (Intolerable Acts – medidas aplicadas)

 no encerramento do porto de Boston,


 pagamento de uma indemnização devido ao chá desperdiçado
 proibição da expansão pelos montes Apalaches
 proibição da reunião exceto com o consentimento do governador da colónia
 etc
Ou seja, os britânicos procederam á limitação dos direitos, liberdades e autonomia
da colónia de Massachussets

Posto isto, os colonos juntam-se no Congresso de Filadelfia (onde se começa a escrever


a constituição), decidem recusar exportar qualquer matéria para a metrópole e
decidem criar um exército liderado por George Washington.

No congresso discutiram-se os direitos dos colonos americanos e defendeu-se que


apenas estes tinham o poder de levantar impostos na America do Norte.

Reiteraram a Declaração dos Direitos de 1774, baseando-se nos princípios da liberdade


e igualdade, declarando que possuíam direitos inalienáveis. Tomaram ainda medidas
mais concretas, como o boicote aos produtos ingleses para atingir a economia da
metrópole.

 Posto isto, abriram caminho para o confronto armado entre as 13 colónias e a


Inglaterra, dando-se início a uma guerra civil que durou 6 anos

Ainda antes do desfecho da guerra, os americanos determinaram-se em afirmar a sua


independência. No segundo Congresso continental em Filadelfia, Thomas Jefferson
assina a Declaração da Independência a 4 de Julho de 1776, texto fundador dos EUA.

 Define-se não só o direito da insurreição, mas também o DEVER da insurreição


(no sentido da cidadania). Esta ficou vista como uma “magna carta” moderna,
que alimentou ainda mais a guerra
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Este texto divide-se em 5 grandes partes:

1) Introdução e explicação das causas


2) Exposição dos direitos e objetivos, contrato social – ideologia liberal
3) Denuncia dos feitos do rei de Inglaterra
4) Denuncia da recusa por parte de Inglaterra
5) Conclusão – declaração final

Os americanos não teriam conseguido vencer as sucessivas batalhas se não tivessem


tido a possibilidade de gerir a guerra através de relações diplomáticas e internacionais,
criando alianças:
 Com França, que queria fragilizar a Inglaterra devido á derrota na guerra
 Com Espanha, que queria manter na sua posse Gibraltar

O fim da guerra da independência dá-se em 1781 na batalha de Yorktown, onde as


tropas britânicas ficam encurraladas. No entanto, muito antes do desfecho da guerra,
já estava a decorrer uma obra política, ou seja, nos anos de guerra já se discutia qual
seria o modelo político a utilizar aquando da independência.

Já independentes, as colónias passam a Estados, que juntos formam uma


Confederação.

A confederação de 1781 era apenas uma liga de solidariedade entre as colónias


consideradas independentes, que tinham entre si um acordo para garantir a paz entre
as colónias, sem existir um governo acima dos Estados, bem como um orçamento
federal ou uma assembleia.
 Embora unidos contra a coroa inglesa, os novos Estados também tinham
rivalidades entre si

Os artigos da Confederação em 1781, não criavam uma federação, apenas criavam


laços políticos entre si. O debate que domina a América opõe Federalistas e Anti-
federalistas (Estadualistas):

 Federalistas (direita) – achavam que esses artigos tinham de ser revistos para
dar um passo em frente, no sentido de criar uma Constituição que desse
origem a um Estado acima dos estados

 Estadualistas (esquerda) – usavam o argumento “libertámo-nos do poder


central de Inglaterra, não vamos voltar a submeter-nos a outro poder central

No dia 17 de Setembro de 1787, os artigos da confederação são substituídos pela


Constituição dos EUA, sendo a constituição mais antiga do mundo ainda em vigor.

É uma constituição fundadora que vai definir a arquitetura da União Federal dos EUA.
É também uma das mais curtas do mundo, que faz o sistema federal funcionar num
“system of checks and balance”.
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Decreta a divisão tripartida de do poder (legislativo, executivo e judicial. Determina


ainda que todos os Estados, independentemente do seu tamanho, têm um voto de
decisão.

O terceiro documento fundador da América é o Bill of Rights, aprovado em 1791,


possuindo 12 artigos dos quais foram aprovados 10 – as 10 primeiras emendas da
constituição americana, que respondem às “reticências” dos estadualistas. Teve como
objetivo redigir mais direitos e garantias para os cidadãos, que estavam em falta na
Constituição. É um equilíbrio entre os dois primeiros documentos.
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A revolução Francesa

A Revolução francesa domina o conjunto das revoluções atlânticas, visto que a Europa
inteira vive um período de sucessivas revoluções. É a mais importante de todas e
começa em 1789

É a revolução francesa que introduz na Europa continental a modernidade política


liberal. É a partir da revolução francesa que a maioria dos estados europeus vão viver
os seus períodos de revolução. A revolução francesa é o sismo político que veio abalar
a Europa inteira.

É à revolução francesa que devemos a maior parte das ideias políticas e até o
vocabulário político que ainda hoje utilizamos, não só os conceitos de constituição,
direitos e garantias, mas também a divisão entre direita e esquerda

A revolução francesa é a mais importante porque ocorreu na maior potência


continental da época (o mais importante e sólido dos Antigos Regimes), sendo a França
uma potência que tinha uma corte que ditava tendências na Europa.
Uma revolução no epicentro europeu tinha de ter obviamente uma enorme influência
internacional

Até ao século XX, contestar a revolução era contestar a herança (os ideais) deixada
pelos franceses, que ocupara grande parte do seculo XIX. A revolução francesa é um
episódio incontornável, porque é a origem de uma nova Europa liberal até finais desse
século

É a revolução mais polémica de todas devido à violência recorrida nela. Dentro do


campo liberal, a direita considera que a revolução tinha ido longe demais, para a
esquerda a revolução passou a vida a ser “confiscada” e era necessário leva-la mais
longe

Segundo Hannah Arendt, foi a Revolução francesa que pôs o mundo em fogo e foi a
partir dela que a atual palavra “revolução” obteve as conotações em toda a parte

Causas Conjeturais e Estruturais da Revolução:

Estruturais (de longa duração):

 A revolução é o produto da longa luta contra um sistema económico típico do


Antigo Regime (feudalismo e senhorialismo), que tinha como base da sua
economia a agricultura

 Na economia do Antigo Regime, a capacidade de sustentar a população é


limitada pelo volume de recursos alimentares. Durante a Revolução Francesa, o
abastecimento era defeituoso, a inquietação da população parisiense, a rutura
de stocks, desencadeiam surtos insurrecionais
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 Havia um excedente de mão-de-obra, uma vez que a revolução demográfica


antecedeu a revolução industrial, tornando as sociedades do Antigo Regime
sobrecarregadas de “seres errantes”

 Estratificação em ordens e hierarquização – uma sociedade muito estática em


termos de mobilidade social. Havia uma barreira social sobre a burguesia que a
impedia de ascender enquanto grupo social que veio a ser líder do liberalismo
na Europa.

 Luta política / resistência contra o próprio antigo regime que vinha de setores
mais ilustrados da sociedade (nomeadamente dos burgueses)
Ex: luta contra a censura a favor da liberdade de expressão, através de uma
esfera pública que contestava o Antigo Regime e eram censurados pelo mesmo

Conjeturais (do imediato, da época):

 Forte impacto que o Iluminismo teve nas ideias políticas – corrente intelectual
que se espalha por toda a Europa a partir de França nos anos 40. Estas ideias
estavam ligadas a um núcleo de intelectuais que vão ser a voz desta revolução

 Grande crise económica (bancarrota financeira) – a balança comercial francesa


torna-se deficitária. Os produtos franceses deixam de conseguir competir com
a revolução industrial inglesa que arranca a todo o vapor e também devido à
falta de colheitas

 A queda do mercado têxtil e o endividamento externo francês, que se devia em


grande parte aos gastos na Guerra dos 7 Anos e à ajuda dada aos americanos
na luta contra a Inglaterra, deixava a economia francesa numa situação
delicada

 Aumento de impostos para recuperar a situação financeira francesa

O processo que vai conduzir a Revolução Francesa começa em 1789, quando o Rei
convoca os Estados Gerais em Versalhes (um ato em si mesmo revolucionário, porque
os estados não eram convocados há 140 anos). Era uma assembleia meramente
consultiva para Luis XVI ouvir o clero, a nobreza e o povo, no entanto mais tarde torna-
se uma assembleia revolucionária – Luis XVI, um monarca feudal, não tinha condições
para contrariar a conjuntura da França.

Luis XVI quis fazer reformas financeiras e anunciou aos Estados Gerais que a França
necessitaria de um empréstimo externo para aumentar a receita. Para além disso, era
necessário aumentar os impostos, sendo que devido a uma rivalidade entre o rei e a
aristocracia, o processo começa. Devido a essa rivalidade, o Rei começa a cobrar-lhes
impostos, uma vez que era o único sítio onde poderia ir buscar dinheiro. Posto isto,
Luis XVI começa a perder o apoio de uma boa parte da aristocracia.
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De seguida, Luis XVI pede aos seus súbditos para apresentarem as suas queixas aos
Estados Gerais, algo que perdeu o controlo pois os pedidos eram intermináveis.

A França enquanto nação, pedia ao rei quatro reivindicações-tipo, que este não
conseguia concretizar:

1) Anualidade dos Estados Gerais – quase como uma assembleia liberal

2) Exigência de uma lei escrita à França – uma constituição que limitaria os


poderes do rei

3) Igualitarismo fiscal – que todos paguem de acordo com os seus rendimentos

4) Noção do voto igualitário – o voto por representante, que daria um cariz liberal
aos Estados gerais e derrotaria facilmente as reformas de Luis XIV

Um mês depois o rei dissolve os Estados Gerais, algo que não vai ser aceite pela nação
francesa. Assim, dia 20 de Junho de 1789, os Estados Gerais autoproclamam-se
Assembleia Nacional Constituinte, impondo uma constituição ao Rei, de maneira a
legislar e desmantelar o Antigo Regime, representando uma pré-revolução. Nesta
proclamação, os constituintes juram não se separar ate formar uma constituição.

Este acontecimento podia ter levado a uma mera revolução liberal, mas no dia 14 de
Julho de 1789 dá-se a Tomada da Bastilha e é a partir daqui que a revolução começa a
escapar do debate político, tornando-se uma revolução social, anonima, sem rosto e
incontrolável.

Esta revolução social leva a um revolucionarismo urbano, dando-se a radicalização


desta revolução: os camponeses assaltam propriedades senhoriais e tomam aldeias,
atos que rapidamente se generalizam em França. Este ato vai dar origem à Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembleia Constituinte em
1789, marcando o momento em que a França deixa de ser um regime absolutista e
passa a ser um regime de liberdades cívicas -> de direitos e garantias reconhecidos à
nação francesa, que até à data nunca tinham existido. A sociedade que se vai formar
rege-se por estes direitos e garantias.

Com esta Declaração, os franceses declaram independência faze ao rei Luis XVI, sendo
que a mesma é completada com a Constituição de 1791 (a primeira constituição
escrita da história da Europa), que consagra a soberania na nação francesa. O rei
mantinha-se, mas deixava de ser soberano e vivia de acordo com uma monarquia
constitucional. Existia apenas uma Câmara, a dos Deputados (representada pelo povo),
sendo que a nobreza, ao contrário de Inglaterra, era o “inimigo”.

Em Outubro de 1791, encerra a Assembleia Nacional Constituinte e entra em funções a


primeira Assembleia Ordinária. Teoricamente, o rei aceita a constituição e jura-a pois
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não tem alternativa, no entanto não concorda com ela uma vez que tem ideias
absolutistas, dando continuidade á revolução.

Dá-se então uma divisão política em duas fações:

 Girondinos (moderados)

 Jacobinos (bases radicais urbanas, provenientes de lojas maçónicas por


exemplo)

A partir deste momento, a revolução começa a desviar-se para a esquerda e a


radicalizar-se, pelo efeito combinado de dois aspetos:

1) Um domínio cada vez maior dos Jacobinos – queriam mais liberdades, mais
direitos, mais conquistas e mais repressão sobre os inimigos da revolução

2) A guerra – a abertura de uma guerra internacional entre as grandes potências


conservadoras e a França, que vai estar em aberto até à era napoleónica. Em
1972 a França entra em guerra com a Áustria. Neste contexto quem “lucra”
mais são os radicais, por serem os que se viram mais para a militarização

Este segundo aspeto dá à França uma mística de nação ameaçada externa e


internamente. Em Agosto de 1792, a ala jacobina faz um golpe de Estado que depõe o
rei e leva ao poder a própria ala, tendo como líder da revolução Robespierre. O rei é
declarado ilegítimo, por se ter virado contra a constituição e ter tentado fugir para a
Áustria. Assim no dia 21 de Janeiro de 1793, Luis XVI, Maria Antonieta e uma série de
aristocratas franceses são guilhotinados em praça pública. Foi através desta revolução
da guilhotina que os democratas invertem a democracia para a tornar num regime
ditatorial.

Em 1794, Robespierre discursa à Convenção Jacobina e faz depender o exercício da


democracia não da liberdade, mas do terror (“o terror é uma virtude”), que ajuda a
aniquilar os inimigos e a impor a sua democracia aos restantes, porque sem terror a
politica não funciona (imposição da vontade geral aos outros, sendo por isso que a
democracia rapidamente se torna numa ditadura).
A revolução inverte-se e os libertadores tornam-se opressores. Os defensores da
democracia pura passam a designar um regime totalitário. Passam a morrer 50000
pessoas por mês na guilhotina. O mal torna-se um bem porque é um instrumento para
governar. A repressão alimenta a repressão e a determinado ponto a revolução acaba
por se revoltar contra os seus próprios revolucionários, porque qualquer um pode ser
acusado.

Em Julho de 1794 morre Robespierre. Entre 1792 e 1794, a França viveu um regime
violento e totalitário. Segue-se, após o período Jacobino, um novo período –
Terminador (o “dia 1” de uma nova república). O processo político é equilibrado e
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volta ao centro através dos girondinos, que tentam afastar os jacobinos do poder e
fundam uma nova constituição que traz um regime republicano – o “Diretório”.

Esta expressão deriva do facto de existir uma assembleia legislativa e o senado, com
uma nova forma de funcionamento de 5 diretores/políticos que detinham o poder
executivo. O Diretório tem como grande objetivo chegar à estabilidade política. Durou
4 anos (95-99) e foi marcado pelo afastamento das fações mais radicais bem como das
camadas populares ligadas à Convenção. Ascenderam os setores moderados, apoiados
pela burguesia que tinha como objetivo firmar as conquistas políticas e sociais
alcançadas com a Revolução e garantir o controlo do poder.

A história deste poder, é uma história de um poder que apesar de bem-intencionado,


bem mais moderado e liberal do que tinha sido a convenção jacobina, era um poder
fraco, que vive à armadilha de todos os poderes que querem situar-se ao centro, num
país que ainda estava em processo revolucionário.
O problema de ser um centro político é que é sempre demasiado conservador para a
direita e demasiado moderado para a esquerda (ameaçado pelos jacobinos à esquerda
e pelos aristocratas à direita, sendo que ambos queriam recuperar alguns dos seus
privilégios). Além disso este período foi marcado por uma forte crise económica, de
especulação e corrupção, assistindo-se à ascensão de uma classe de burgueses
enriquecidos em contraste com a miséria que se verifica em França.

É também um período de instabilidade política, resultante das rivalidades entre fações


opostas e das tentativas contrarrevolucionárias realistas e jacobinas.

Entretanto, começa a emergir um novo nome em França, Napoleão Bonaparte, o mais


jovem general alguma vez visto na Europa, sendo ele que salva o Diretório de
numerosas derrotas militares. Era o homem que vinha continuar ou pôr fim na
revolução. Foi em resultado do golpe de 9 de Novembro de 1799, e da procura de
ordem, que surgiu o Consulado.

Este regime vigorou em França entre esse dia e 18 de maio de 1804. Numa França
cansada de revoluções, períodos de medo e terror, instabilidade económica, politica e
social, o Consulado (dirigido por 3 cônsules entre os quais se destacou Napoleão)
pretendeu garantir a pacificação e estabeleceu uma nova ordem jurídica e
constitucional

O império napoleónico

Napoleão Bonaparte é hoje considerado um dos maiores nation-builders da Europa, de


uma ideia de império, que supera todas as tentativas anteriores de conferir ao
continente europeu alguma unidade política. Para ele, a solução para a diversidade
europeia e para a potencial conflitualidade europeia é a unidade.
Martim Ghira Campos

Em 1792, quando os jacobinos sobem ao poder, Bonaparte é um robespierrista e


quando o poder deles decai, este passa a ser adepto do Diretório.

Dia 9 de novembro de 1799, napoleão sobe ao poder e surge o Consulado. Em 1802,


devido ao seu importante papel, torna-se cônsul vitalício.

O que é o Bonapartismo?

Bonaparte era um realista político e apresenta-se como o gestor da herança


revolucionária e como homem que vai acabar com aquilo que a revolução tem de mais
utópico e anárquico, começando a verdadeira história da revolução, aproveitando o
que é possível de uma ordem “ordeira” e estabilizadora, que dê à França um lugar no
Concerto das Nações europeias. Depois de 10 anos de instabilidade política, Napoleão
vem como salvador da França – uma reconciliação.

O bonapartismo enquanto ideologia política, é uma ideologia de ambição pessoal que


quer reconciliar os franceses em torno de uma ideia de uma França estabilizada e
organizada. É simultaneamente revolucionário e conservador – quer disciplinar a
governação, mas não nega algumas ideias revolucionárias. Por isso, o bonapartismo é
um projeto civil e também militar, porque é através das campanhas militares que ele
vai conciliar a sua França. O bonapartismo é uma ordem conservadora, sendo um meio
termo entre o Antigo regime (que Napoleão não quer) e a revolução (da qual quer
aproveitar apenas o mais proveitoso).
Napoleão é o “Luis XVI num estado militar”, sendo quase como um Rei-Sol de um
estado tentativamente democrático, já que governa diretamente a nação francesa e
com ela comunga os ideias de salvar a França, apesar de ter tido algumas
aproximações de um regime ditatorial para o conseguir. É um monarca, não tendo esse
título, quer praticamente construir uma dinastia.

Em Dezembro de 1804, Napoleão é coroado e auto consagra-se como Imperador,


consagrando também a imperatriz Josefina. Há todo um imaginário que Napoleão quer
recuperar, fazendo uma espécie de encenação para que os franceses o respeitem e o
temam de alguma forma.

O problema de Napoleão era o equilíbrio entre a paz e a guerra, visto que é um regime
que vive da dinâmica militar na Europa. A França napoleónica só esteve em paz
durante dois anos e o regime guiava-se pelas vitórias ou derrotas que conseguia.

Entre 1805-1807, Bonaparte vai vencer sucessivamente os seus principais adversários


– Áustria, Prússia, Rússia. Nesse mesmo ano dá-se a Paz de Tilsit que fez uma divisão
com a Rússia de áreas de influência da Europa

Em Novembro de 1806, antes da Paz de Tilsit, Napoleão decreta o bloqueio


continental, que se trata de um decreto pelo qual os portos europeus (desde São
Petersburgo até Lisboa) ficavam fechados ao comércio com a Inglaterra, optando por
tentar vencê-la economicamente pelo facto de não a conseguir derrotar militarmente.
O problema desse bloqueio, é que não só prejudicava a Inglaterra, mas também os
Martim Ghira Campos

outros estados europeus que necessitavam de negociar com a Inglaterra. Os portos


que sofreram mais com o bloqueio continental foram os portos de Vigo e Lisboa, que
eram fundamentais como entreposto para os ingleses.

Portugal tinha uma velha aliança com Inglaterra, criando-se então um dilema para
D.João VI:

 Ceder a Napoleão significava incompatibilizar-se com Londres, significando a


perda da aliança e praticamente entregar o Império atlântico (Brasil)

 Não cedendo a Napoleão, dão-se as invasões francesas a Portugal, sendo que a


Inglaterra luta ao lado de Portugal. Quando D.João VI vai para o rio de Janeiro,
Beresford e Wellington governam Lisboa

É com o caso Ibérico que o Império napoleónico perde força. Napoleão perdeu milhões
de homens nos anos de guerra na Península Ibérica, sendo que as invasões francesas
foram o princípio e o fim das “Europas de Napoleão”.
Foi na Batalha do vimeiro que napoleão perde pela primeira vez

As Europas de Napoleão Bonaparte

1799-1805: Grande Nação (França) + Repúblicas Irmãs (Itália e Suíça)

1805-1807: Neutralização da Áustria; Substituição do Império pela Confederação de


Reno; Criação do Grão-Ducado de Varsóvia; Divisão da Europa com a Rússia

1807-1812: “Sistema Continental” francocêntrico – para as potencias vencidas


aparecia sempre como uma sobreposição do nacionalismo francês ao nacionalismo
dos outros povos

A derrota final de Napoleão deve-se aos diversos nacionalismos europeus, que


começaram a olhar para Napoleão como um usurpador e não como um libertador. Em
1814 abdica e é exilado na ilha de Elba, sendo que vive exilado apenas uns meses, uma
vez que em 1815 consegue juntar seguidores e fugir da ilha, desembarcando no sul de
França. Recupera o poder num governo de 100 dias, restaura o exército, mas é
derrotado na batalha de Waterloo. Volta a exilar-se na ilha de Santa Helena e morre
em 1821, aparentemente envenenado.

2ª Frequência

A Era do Império: o eurocentrismo, o colonialismo e a ascensão global


dos EUA e do Japão

Estamos nos anos 70 (1871) e as décadas que se seguem são os anos que introduzem
uma nova época na história da Europa e do mundo. Essa época vai atingir o seu auge e
Martim Ghira Campos

consequentemente terminar com a guerra de 1914, e é chamada de Belle Époque – a


era do império.

O objetivo agora é compreender como é que uma civilização como a Europa, culta,
desenvolvida, economicamente sólida, que era o farol do mundo no final do século e
ainda no princípio do século XX, caminhou para a guerra e se deixou aniquilar na IGM.

Essa Belle Époque não conduziu a um século XX de desenvolvimento e paz, na verdade


conduziu a um século que começou da pior maneira, com a IGM

Como é que o século XIX desemboca num muito mais difícil século XX?

Os acontecimentos do século XX devem ser explicados pela decadência da civilização


liberal burguesa, de estratos médios sólidos e do desenvolvimento económico. A
passagem do século XIX para o século XX, é um tempo de massificação, urbanização
acelerada, industrialização acelerada, acompanhadas de instabilidade, incerteza e
angústia acerca do futuro que era desconhecido.

O século XIX foi um século de desenvolvimento, de liberalização, de reforço das


sociedades liberais e burguesas, do mercado livre na Europa. Em oposição, o século XX
é marcado pela depressão, pela guerra, pela tensão internacional. O século XX foi
muito marcado pela opressão civilizacional que não deu paz à Europa desde 14 a 45,
do ponto de vista social, político e económico. O século XIX tem por isso cores mais
simpáticas do que o século XX.

Ao longo do século XIX, desenvolveu-se uma filosofia liberal, humanitária e otimista.


Surgem sistemas políticos liberais que davam voz às nações da Europa, havia um clima
de liberdade e de democracia. Para além disso, havia um sistema económico baseado
na indústria, na finança, na liberdade de comércio que fomentou o desenvolvimento
dos países da Europa. Esta era do império é fundamental para compreender a viragem
entre dois séculos, marcados por dois tempos históricos completamente diferentes
entre si

Para estudar estes anos, é necessário elaborar um retrato geral da europa e do mundo
no final do século. A imagem que pode ser dada da Europa e do mundo é a de uma
sociedade com luzes e sombras, com contrastes fortes, com aspetos positivos e alguns
negativos e de incerteza que se começavam a sentir  um tempo e uma sociedade de
contradições

A Europa de 1900 é a Europa da supremacia do velho mundo sobre o globo, onde


ninguém duvidava que a Europa era o farol do mundo inteiro, que comandava todos os
outros continentes. Era uma Europa que ditava a tecnologia, os regimes da política, os
padrões de moda e de consumo, que estabelecia os valores da filosofia, da cultura e
das mentalidades, que depois eram exportáveis para as outras partes do mundo.

São anos de um apogeu e supremacia europeia, de eurocentrismo. São o culminar de


100 anos de desenvolvimento continuo na Europa, onde mesmo com altos e baixos, a
Martim Ghira Campos

linha evolutiva de desenvolvimento é ascendente  mais desenvolvimento, mais


riqueza, mais liberdade, mais representação dos indivíduos.

Tudo isto justificava o eurocentrismo, a Europa no centro do mundo, no centro do


encontro de civilizações. Nesta época, a Europa era um ideal de vida, um exemplo para
o mundo. A ocidentalização do Sul e do oriente mostram a superioridade europeia
exportada para África e para a Ásia, significando a solidez europeia, que mandava no
mundo e servia de padrão para as civilizações se guiarem.

O desenvolvimento económico e o bem-estar social não chegavam a todos, mas


chegavam à maior parte do ocidente. No entanto, havia um reverso, um clima geral de
incerteza e angústia em relação ao futuro que se começa a viver. A Europa atinge o seu
máximo estádio de desenvolvimento e afirmação no mundo: na filosofia, no
pensamento e na cultura, começa a instalar-se uma sensação de fim de ciclo, de
angústia existencial de vertigem causada pelo próprio desenvolvimento económico.

À superfície a Europa era o melhor dos mundos, seguindo para um mundo


aparentemente sólido, mas que no seu interior já mostrava alguma tensão, que mais
tarde é desencadeada com as guerras.

Imperialismo e Colonialismo

A Belle Époque é também a era do imperialismo e do colonialismo – uma Europa que


domina o mundo e coloniza a África e obriga à abertura da Ásia.

Este imperialismo e colonialismo vão causar reações nos povos colonizados e refletir-
se na Europa através de novas rivalidades imperiais e nacionalistas  O imperialismo
mostra a superioridade europeia, mas é também ele que reacende rivalidades entre
nações europeias, levando à criação de blocos de alianças

A Exposição Universal de Paris (1889), que representava o centenário da Revolução


Francesa, é um exemplo da prosperidade e grandeza da Belle Époque.

Os Europeus não tinham memória da guerra, e embora incerto, sentiam-se contentes


com o presente e com o futuro. Acreditavam que a Europa era indestrutível, que ia
continuar o seu desenvolvimento, progresso e bem-estar.

A era do império é a era da 2ª Revolução Industrial, que introduz novas tendências


positivas, mas também com riscos. É a revolução química, do automóvel, da
eletricidade. Surge o Fordismo que representa a estandardização e a massificação do
consumo. É um mundo mais acelerado e de muito maior vertigem.

No entanto, isto também gerava problemas e desafios no final do século  a


questão social, a conflitualidade operária, a desigualdade económica e uma economia
crescentemente competitiva na Europa, tinham o efeito de acender rivalidades entre
velhas e novas potências europeias, principalmente entre as economias mais
Martim Ghira Campos

desenvolvidas e industrializadas, e as menos, que ficaram atrasadas na era da Belle


Époque.

Existiam 4 Europas:
1) Grandes potências de liderança europeia (Reino Unido, Alemanha e França)
2) Nordeste europeu e Escandinávia
3) Europa do Sul
4) Europa de Leste

A nova rivalidade da Europa vem também da velha Inglaterra e da Nova Alemanha. Em


Janeiro de 1901, morre a rainha Vitória, marcando o início da decadência do grande
império Inglês, passando a hegemonia para a Alemanha. A Alemanha sonha em ser A
potência europeia, uma potência global, daí a sua nova estratégia mundial, a corrida
ao armamento e os altos níveis de desenvolvimento. O desaparecimento da grande
líder europeia, deu lugar à ascensão de novos líderes como o Kaiser Guilherme II

A IGM não acontece por causa disto, mas é necessário recuar às ultimas décadas do
século XIX para compreender como a Europa, aparentemente sólida, na verdade
estava a gerar tensões e desequilíbrios novos no seu interior. O progresso também
provoca dificuldades e tensões.

Aquilo a que hoje chamamos de aldeia global, teve a sua origem na Belle Époque, no
tempo da globalização. A 2ª Revolução Industrial acelerou imenso a globalização
económica.

A Europa mandava no mundo pela sua supremacia a vários níveis, no entanto, afirma-
se que a Europa já não estava sozinha no mundo, visto que este é o tempo em que
outras zonas não colonizadas pelos europeus, começam a ascender económica e
politicamente, começando a ter voz na agenda global, sendo o caso dos EUA e do
Japão – um mundo americano que renasce e um mundo asiático que começa a
afirmar-se.

Tanto o Japão como os EUA, já eram potências regionais, no entanto começam a a


tornar-se potências globais. Isto causou aos europeus um complexo de já não estarem
sozinhos na liderança do mundo e de eventualmente terem que dividir a gerência do
mundo com outras potências.

Após a IGM, os EUA vão ascender como potência global até hoje. A Belle Époque é
muito europeia, mas é também a era da globalização e da ascensão de outras
potências.
A ascensão global dos EUA e do continente Asiático – importantes para os equilíbrios
políticos mundiais

A Belle Époque é eurocêntrica no sentido em que a Europa é o principal continente do


mundo, do ponto de vista científico, cultural e político, sendo o continente que manda
no mundo e que cada vez começava a mandar mais devido ao colonialismo e expansão
na Ásia.
Martim Ghira Campos

O mundo é feito à imagem europeia, no entanto, surgem novas tendências que


mostram que a Europa já não está sozinha no mundo, uma vez que a viragem do
século começava a mostrar um declínio da superioridade europeia com o surgimento
de outras nações que lhe faziam frente, fruto da mundialização.

Do ponto de vista geoestratégico, surgem novas potências, como é o caso da Rússia,


China, Japão e depois os EUA. Os EUA eram uma incógnita para os europeus na época
em que se desenvolviam, vão viver uma segunda guerra civil entre norte e sul, e
através de anexações e compras, vão aumentar significativamente o seu território,
formando uma grande nação.

Resolvida a Guerra Civil americana, começa-se a falar de uma “gilded age”, uma
espécie de Belle Époque americana, remetente para as décadas de acelerada expansão
económica, de industrialização, das ligações territoriais, bancária, agrícola, urbana, etc.
Surge nesta altura um sistema de negócios obscuros, uma ligação entre o
desenvolvimento e o lobbying político, que numa época de reconciliação interna,
suscita a ambição de ter um lugar na globalização e na geoestratégia política,
começando a contestação contra a ideia de eurocentrismo.

No final do século XIX, surge o complexo de superioridade norte americano, surgindo


uma estratégia de afirmação do país, uma espécie de imperialismo no aspeto
económico e de influência geoestratégica e política  uma América global que vai
entrar em rivalidade com a Europa.
Como prova disto  guerra hispano-americana em cuba que acaba por expulsar os
espanhóis, que mais tarde perdem também as Antilhas e as Filipinas. Para além disso
os EUA aproveitam para ter mais influência no México. Por fim, surge a ideia de que o
que estava para sul não era colonizável, mas podia ser expandido para ganhar
influência comercial, levando à criação do estreito de Panamá. Os EUA apropriaram-se
deste e dos países que com ele se ligam, deixando apenas de ter soberania sobre este
canal em 1998,

O Japão vai sofrer uma espécie de americanização, que apesar de ter uma grande
importância no seu desenvolvimento, faz com que perca um pouco da sua identidade.
A era Meiji, onde o Japão conheceu uma acelerada modernização, introduziu-o na
história da globalização, tornando-o numa potência mundial. Com esta ascensão do
Japão, dá-se uma mudança na geoestratégia asiática, verificando-se um declínio da
Rússia e da China.

O Japão mostrou-se ao mundo, começou a exibir o seu poder militar, inicialmente


numa guerra em 1895 com a China, onde através de novas técnicas e recursos
americanos, vence a China. Mas não foi isto que mudou a geoestratégia asiática, foi
sim a guerra internacional dos boxers (sociedade secreta chinesa de nacionalistas, que
achavam que o Japão era uma colónia dos EUA). Esta guerra (nacionalistas VS
ocidentais na china) foi um levantamento armado, xenófobo, contra a influência
ocidental, com apelo a morte aos invasores.
Martim Ghira Campos

Os boxers incendiaram embaixadas ocidentais que estavam na China, o que levou a


uma intervenção ocidental na china, que reuniu 9 nações a partir de 1900. Os boxers
foram vencidos e impôs-se a paz, paz com interesses ocidentais. Com esta guerra, a
China deixa de ser uma monarquia imperial, perdendo a legitimidade que tinha.

Para além da guerra dos boxers, surge ainda uma guerra entre a Rússia e o Japão onde
se disputa a liderança asiática. O Japão vence e torna-se a potência máxima no
extremo oriente.

Mais tarde, o domingo sangrento e a revolução russa, vão ajudar os japoneses e


vencer os russos nos conflitos que tinham. O Japão consolida a sua posição de grande
potência devido a essa vitória e à sua tecnologia. Para além disso, torna-se ainda uma
grande potência naval por causa da batalha de Sushima.

O eurocentrismo tem como a sua maior decorrência a expansão colonial para o


continente africano, por isso existe um laço entre o eurocentrismo e as suas
consequências imperiais e coloniais em África.

A Belle Époque é a época de afirmação ou reafirmação das potências coloniais, sendo


visível através do Africanismo, que entrou em força na agenda dos países europeus.

Vale a pena sistematizar as grandes causas ou razões que conduziram a Europa como
um todo, a lançar-se como um novo ciclo imperial. Porque é que esta é uma era de
império? Quatro grandes razões para a Era do Império:

1) Política / diplomática  o colonialismo ou o imperialismo, são o cenário para


uma nova distribuição das “cartas” na Europa. Era preciso acumular e
consolidar colónias para continuar a ter um estatuto de potência reconhecida
dentro dos equilíbrios de poder. Como dizia Bismarck “era necessário ser
grande lá fora, para ser grande cá dentro”.
O império compensava, potenciava e alargava o poder europeu do ponto de
vista diplomático. Afirmava-se a ideia de que o imperialismo era a
consequência dos nacionalismos europeus e que era natural as potências
europeias quererem colonizar novas áreas pouco exploradas do mundo. O
imperialismo e o colonialismo eram a grande moda diplomática do final do
século.

2) Cultural / mentalidades  O imperialismo deste ponto de vista, era a


consequência natural de uma cultura que se considerava superior e que se
considerava exportável para África e para a Ásia, usando como argumento a
missão de levar a civilização a povos subdesenvolvidos, a missão humanitária, a
obrigação moral do europeu de educar as raças subdesenvolvidas.
A ideia era de que as raças superiores deviam colonizar, dominar, educar e
passar os seus costumes. Para além disso, tinham ainda os argumentos das
missões evangelizadoras de propagar a fé
Martim Ghira Campos

3) Económica  O imperialismo, tal como o colonialismo, é um negócio. No


contexto da segunda revolução industrial, há uma explicação económica que
vem da ideia de que estes dois fenómenos são consequências naturais dessa
mesma revolução, pois precisavam de mercados para escoar os novos produtos
e até ir buscar recursos. A globalização do comércio requeria novas zonas de
comércio

4) Social  O imperialismo era uma saída para diluir a conflitualidade social que
já se fazia sentir nas grandes cidades. Era uma válvula de escape chamada
emigração. O imperialismo permitiu diluir a agitação da questão social operária,
por exemplo.

Pelo conjunto destas razões, podemos afirmar que dos anos 70 até à guerra, existiu
uma guerra de impérios, onde se dá uma busca de novas áreas de implantação pelas
potências europeias, e acontecem tentativas de exercer um domínio formal ou
informal nessas áreas. Os confrontos eram feitos quer entre velhas potências, quer
entre novas potências, para se salvaguardarem em África, de maneira a se afirmarem

O final do Século XIX é fundamental para explicar o século XX. O imperialismo não é
novo, mas este é o último grande ciclo imperial até hoje, sendo fundamental para
explicar o desenho atual de África

Colonialismo e imperialismo não são sinónimos: o colonialismo é a principal expressão


do imperialismo. Todo o colonialismo é imperialista, mas nem todo o imperialismo é
colonialista

Até á Era do Império, a África europeia era sobretudo terra incógnita, eram apenas
estações de abastecimento e não colónias.

A Conferência de Berlim (1885)

As disputas coloniais em África conduzem a um grande Ato de Direito internacional, a


Conferência de Berlim. Nesta conferência, as potências vão decidir como irá ser feita a
divisão de África face às rivalidades imperiais, principalmente às rivalidades anglo-lusas
coloniais

Na Ata Final da conferência sai um novo DIP, passando a vigorar o direito de ocupação
efetiva (necessário ocupar efetivamente com recursos, ocupação militar,
desenvolvimento), deixando de vigorar o direito de descoberta e conquista

Cada potência que se dedicasse a ocupar qualquer território de África, deveria mostrar
a sua intenção e mostrar que tem condições para o fazer, para ocupar efetivamente.
Esta Conferência suou mal às velhas potências, as primeiras a conquistar a costa de
África. Da conferência sai um novo imperialismo

O Ultimatum inglês de 1890


Martim Ghira Campos

A ideia dos ingleses era realizarem em África um domínio contínuo e bastante


alargado, algo que passou pelo controlo efetivo do Egito, sendo muito importante por
causa do Suez a partir de 1898. O Egito ligava-se a um eixo vertical, o eixo do Cairo ao
Cabo, sendo que o sonho imperial inglês passava pelo domínio de um lado ao outro.

Esta ideia de uma África inglesa rivalizava com:

 França (coloca-se na Africa Subsariana)


 Alemanha (começa a estabelecer o golfo da Guiné, nos Grandes Lagos e na
atual Namíbia)
 Portugal

Lisboa olhou para a Conferência de Berlim com um enorme alarme. Angola e


Moçambique eram domínios costeiros e por isso, começaram-se a realizar viagens
exploratórias pelo interior africano, que traziam a noção de Angola à contracosta, ou
seja, um império continuo que se estendia de Angola a Moçambique.

Isto conduz ao célebre Mapa Cor de Rosa, lançado pela Sociedade da Geografia
Portuguesa. Isto era uma pretensão de Portugal de exercer soberania sobre os
territórios entre Angola e Moçambique, ligando o Atlântico ao Indico. No entanto isto
colidia com os interesses ingleses de ligar o Cairo ao Cabo

Conduziu então a um ultimato britânico ao governo de D.Carlos. O governo da rainha


Vitória emite uma nota diplomática, que ameaçava que se naquela mesma tarde as
tropas portuguesas não abandonassem os países entre Angola e Moçambique, o
embaixador inglês abandonaria Lisboa e imediatamente seria declarada guerra.

D.Carlos cede a Inglaterra devido à inexistência de meios militares para confrontar os


ingleses. Isto vai gerar uma grande agitação por parte dos Republicanos, no entanto
até foi feito um bom negócio, uma vez que, apesar de não poderem ocupar o interior,
como compensação, os ingleses teriam de reconhecer as fronteiras de Angola e
Moçambique tal como elas iriam chegar ao Estado Novo.

Expansão para o Oriente

Esta expansão foi mais complicada, porque o Oriente não era uma incógnita. A entrada
dos europeus no extremo e sudeste asiático é um fenómeno de colonialismo
negociado ou imperialismo económico, não tanto como aconteceu em África para a
exploração

A Belle Époque: Luzes e sombras na cultura e no pensamento europeu

Passamos agora a centrar-nos nos acontecimentos, nas ideias, nas modas, no


pensamento  no mundo imaterial da Belle Époque
Martim Ghira Campos

Quando falamos em cultura na Belle Époque, falamos de luzes e de sombras, de uma


oposição ou divisão entre ideias de desenvolvimento, otimismo, culto do próprio
futuro que a Europa estava a construir até aí

As luzes eram os aspetos mais positivos da europa, a europa mandava no mundo,


estava no apogeu, a europa dava de si a imagem de eurocentrismo, uma europa cujo
desenvolvimento material tinha atingido as melhores praticas do mundo que davam
confiança e otimismo à Europa. Todo este desenvolvimento desaparece em 1914

As sombras, correspondem ás novas tensões sociais e políticas, rivalidades


diplomáticas, fruto do progresso, um “fim de festa” (fim de uma boa época). Surge um
sentimento de dúvida, de angústia, de questionamento das próprias certezas em que a
Belle Époque estava fundada. Tudo isto serve de caminho para a guerra, o conjunto
destas peças tornam a guerra de uma possibilidade a uma inevitabilidade.

O passado era certo, mas de repente esse mundo estava a ser revolucionado por
alterações sociais muito rápidas, novas ideias, acelerado desenvolvimento, etc.

Começam a surgir grandes ingredientes culturais como novos valores, novas culturas,
novas modas, dando um fim às velhas convenções e começando o interesse de
experimentar coisas novas

10 novas tendências da Belle Époque:

1) O surgimento de um nacionalismo novo, do ponto de vista mental, com cores


menos positivas que os nacionalismos do século XIX. Um nacionalismo de tom
orgulhoso, xenófobo, militarista, vingativo, de autoridade em relação ao outro.
O nacionalismo começa a mudar de corpo, tornando-se mais aguerrido e
ameaçador, de separação entre povos

2) Nacionalismos mais ideologizados, com ideias como o racismo e o


antissemitismo, que ressuscitam como ingredientes importantes da cultura
europeia

3) A urbanização massiva, com a explosão das cidades, que por um lado é positiva,
mas é também negativa, uma vez que vêm milhares de pessoas para a cidade,
contribuindo para uma desintegração do mundo novo.

4) Sociedade de massas e não de elites, de multidões cada vez mais seduzidas


pela ideia do darwinismo social, a ideia de que a espécie humana é um acidente
natural que por acaso tinha resultado. A sociedade começa a ser vista como um
mundo de sobrevivência, onde apenas sobrevivem os mais aptos, os mais
fortes, os mais ricos, os mais desonestos. Numa sociedade horizontal como era
a grande cidade, não há lugar para todos, por isso uns atropelam os outros. A
velha ideia do liberalismo do bem comum, da felicidade coletiva, começa a
esboroar-se perante os novos desafios e dificuldades do dia a dia.
Martim Ghira Campos

5) As filosofias irracionalistas, nomeadamente a de Nietzsche, o “anti-kant”, que


vem desvalorizar a razão como um obstáculo à afirmação da vontade, do
instinto, do valor de cada um. Começa a olhar para a sociedade europeia como
uma civilização burguesa decadente, adormecida e não adaptada aos novos
tempos, medíocre, efeminada, pouco viril, só se podendo reafirmar não a partir
da razão, mas pela vontade, contra tudo e todos.

6) Falência das verdades científicas, através da ideia da relatividade de Einstein,


que significava o fim da ideia de um cosmos, de um universo como espaço
físico ordenado e finito. A ideia de que não havia ideias exatas, tudo no cosmos
era relativo, uma construção aleatória. Já não há certeza de nada, não há nada
exato

7) Contestação da religião, com a falência da narrativa bíblica, nomeadamente


com a teoria de Charles Darwin, que diz que o Homem é um produto aleatório,
do apuramento da raça símia e que nada tem a ver com Deus. Isto gerou
fenómenos como o ateísmo e a falência da ortodoxia religiosa foi uma
revolução de costumes

8) Floresce o tema da alienação em vários planos (político, social, artístico) que


significa o desenraizamento individual, da alienação económica e filosófica.
Surge uma ideia de “spleen” do homem, de que vivemos de uma maneira
inconsciente, numa época de suicídio e de angústia existencial

9) Multiplicação de vanguardas estéticas, de correntes de experimentação na


arte, todas elas inovadoras e em rutura com os cânones estéticos. A literatura
ganha o gosto pelo realismo descarnado, a arte pelo escândalo.

10) O sufragismo vem revolucionar a igualdade de géneros e permitir que as


mulheres votem, causando um abalo enorme ao velho liberalismo. É a ideia da
revolução do próprio sistema político e de que novas vozes estão a chegar ao
palco político (mulheres, analfabetos etc.) – trata-se de mais uma voz de ruído
ao que já existia

A engrenagem política do apocalipse: as RI e os blocos de alianças na


viragem do século

Os antecedentes da Guerra de 14-18

Para compreendermos o que se passou em Sarajevo, é possível reconstruir o que


Kissinger chama de engrenagem política do apocalipse, uma espécie de máquina das
RI, de alianças e blocos, que dividiu a Europa e a habilitou para a guerra.

Como é que os Europeus caminharam para esse “apocalipse”, sem disso terem
consciência?
Martim Ghira Campos

A Belle Époque, devido à 2ª Revolução Industrial e ao início da globalização, é uma


época de concorrência económica, comercial e política cada vez mais forte entre as
várias potências e regiões da Europa, que começam a impor-se pelos nacionalismos.
Por outro lado, há ainda a rivalidade em África da era do Império. Tudo isto convergiu
para um efeito  o ambiente geral de estabilidade política, acalmia generalizada e paz
internacional, vai acabar por mudar.

Em 1890 começa a contagem decrescente para a guerra, não devido ao Ultimato


Inglês, mas sim porque nesse ano o chanceler Bismarck abandona a chancelaria devido
a rivalidades e incompatibilidades com o novo kaiser alemão.
A saída de Bismarck significou o fim de uma época diplomática – o sistema
bismarckiano. É o início de uma Europa sem Bismarck, em que as tensões
internacionais vão mudar, criando-se alianças, revolucionando a Europa do ponto de
vista diplomático, criando um cenário potenciador de uma guerra.

Há uma Europa de Bismarck e uma pós-Bismarck, e caso este continuasse como


chanceler, possivelmente a guerra não teria acontecido, ou pelo menos, não acontecia
da mesma forma.

Devido á saída de Bismarck da chancelaria, á tentativa de Nicolau II de afirmar o seu


poder na Rússia e a outras causas, as chancelarias europeias optaram pela guerra

Bismarck nunca teria deixado a guerra acontecer, devido ao seu situacionismo, sendo
ele a garantia de paz na Europa (por exemplo, a organização da Conferência de
Berlim).

O que era o Sistema Bismarckiano?

Bismarck montou um complicado sistema de alianças, cujo centro era a Alemanha,


para garantir a paz e evitar o desequilíbrio de poder, garantindo que esta tinha um
poder fundamental nesse sistema.

1879: Alemanha + Áustria (Dúplice Aliança)

Sabia que tinha uma grande importância ter boas relações com a Áustria para construir
um eixo geoestratégico. Significa a reconciliação entre Berlim e Viena. Obviamente a
Áustria inclina-se para a Alemanha não só́ por solidariedade cultural, mas porque
também precisava de um “backup” do lado ocidental devido ás questões de rivalidade
e étnicas com a parte étnica do Imperio.

1882: Alemanha + Itália

A Itália, também unificada pelo mesmo tipo de nacionalismo, tinha várias rivalidades
com ingleses e franceses no mediterrâneo e por isso também este pais vai em busca de
Martim Ghira Campos

alianças para conter o expansionismo francês e inglês.

1887: Alemanha + Rússia (Aliança de Resseguro)

Alemães e russos nunca se deram bem, nem se davam bem - por isso é uma espécie de
segunda Paz de Tilsit. Um acordo entre o kaiser e o czar, que garantia que a Rússia não
intervinha na área de influência da Alemanha e vice-versa. Garantia uma espécie de
afastamento da Rússia e consequentemente a centralização da Alemanha como pilar
fundamental do sistema europeu. Destinava-se a impedir que a Rússia viesse a ter
qualquer amizade diplomática com potências ocidentais. Eram ambas militaristas,
rivais e antissemitas, o que unia um pouco o pan-eslavismo e o pangermanismo.

Assim, conseguia uma centralidade na Europa. Ele era o homem por trás dos
imperadores e que garantia a unidade dos impérios.

A Europa pós-Bismarck

Quando Bismarck sai de cena, para azar da Europa, os seus sucessores não tinham o
mesmo talento diplomático. A saída de Bismarck introduz um antes e um depois,
porque a partir daí instaura-se a nova política do kaiser Guilherme II, com grandes
sonhos para uma nova Alemanha – a Weltpolitik. Para ele, o situacionismo era bom,
mas a Alemanha tinha muito mais para dar, podendo estar acima dos outros e não
apenas ao mesmo nível.

Este Kaiser rodeou-se de chanceleres fracos e esta nova Alemanha, mais expansionista,
vai mudar a Europa do século XIX e a diplomacia. Bismarck era quem garantia um
sistema de paciência e subtileza, sem ele, a política global passa a ser outra.

De 1890 ate 1914, vão se afirmar 6 principais rivalidades:

1) Alemanha VS. França  pela supremacia na Europa ocidental, uma rivalidade


criada pelo expansionismo alemão e pela sede de vingança da unificação

2) Inglaterra VS. Rússia  pelo controlo do Médio Oriente

3) Inglaterra VS. França VS. Itália  pelo controlo do Mediterrâneo e Norte de


Africa

4) Rússia VS. Alemanha  pela supremacia na Europa Ocidental

5) Áustria VS. Rússia VS. Império Otomano  pelo controlo dos Balcãs

6) Inglaterra VS. Alemanha  pela supremacia industrial, naval e comercial na


hierarquia europeia

É neste cenário que se cria um novo sistema de alianças internacionais:


Martim Ghira Campos

1894: França + Rússia  O czar que sobe ao poder em 1894 pretendia ter uma
influência mais europeia. Esta aliança é diplomática e de potencial auxílio militar,
representando um grande pesadelo para a Alemanha (algo que Bismarck sempre
evitou. O que unia a França com a Rússia era o medo do novo kaiser aventureiro. É
uma aliança estratégica e não ideológica

1904: Inglaterra + França (Entente Cordiale)  Após o seu isolamento do continente,


os ingleses voltam para o continente, aliando-se com a França, duas grandes potências
democráticas. É a reconciliação entre duas potências, nunca antes aliadas. Este é outro
golpe no sistema de Bismarck, que nunca teve alianças com a Inglaterra e sempre quis
ter relações pacificas para a afastar

1907: Inglaterra + Rússia  Estabelecem um acordo diplomático e comercial, de


divisão do controlo do Mar do Norte e do Báltico, com fronteira na Dinamarca (Oeste
para Inglaterra e Leste para a Rússia). É sobretudo um acordo diplomático, que tinha
em conta as rivalidades de ambos com o Império Otomano pelo interesse que tinham
nos seus territórios no Cáucaso e no Médio Oriente. Constantinopla, na Turquia, era a
ponte de passagem para o Bósforo, logo suscitava-lhes um grande interesse.

Daqui saem duas grandes alianças:

Tríplice Entente – Inglaterra, Rússia e França (Aliados)


VS
Tríplice Aliança – Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro

Os blocos diplomáticos, políticos e militares da IGM estão alinhados. A pouco e


pouco, estas alianças criam condições suficientes para que qualquer mau episódio
conduzisse a um grande conflito.

O império Otomano e a Bulgária vão aproximar-se mais da Tríplice Aliança, o que vai
puxar os Balcãs (Sérvia) mais para a Tríplice Entente.

Devido a ameaças do Imperio Otomano, a Itália vai acabar por entrar na guerra do lado
da Tríplice Entente (Inglaterra, Rússia e França), dando uma imagem de a Itália ser
pouco confiável

A partir de 1907, a Europa fica dividida entre dois blocos antagónicos e no interior de
cada campo, as rivalidades estão atenuadas. No entanto, entre um campo e o outro, as
rivalidades estão mais violentas, ameaçando a paz europeia, gerando um clima de
desconfiança e inquietação.

Milestones to Armageddon: as crises marroquinas, o detonador


balcânico e as origens da IGM
Martim Ghira Campos

É a primeira vez que assistimos à divisão ideológica da Europa em duas partes, num
alinhamento diplomático de tensão, de conflito político, de acumulação e investimento
em armamentos.

Falamos de um clima de paz armada, numa contagem decrescente para a guerra, no


entanto, os europeus não esperavam que a guerra fosse generalizada.

Primeiro temos de compreender o fracasso da própria comunidade internacional, o


fracasso sucessivo das chamadas de conferências de paz, de desarmamento. As únicas
situações onde aconteceram negociações foi em 1899, 1904 e 1907, o que prova que a
Europa não é capaz de resolver as coisas ordeiramente

Na última conferência, tornou-se muito clara a incompatibilidade entre a Alemanha,


Inglaterra e França, havendo uma profunda divergência entre alemães e ingleses.
Poucos estão dispostos a ceder aos seus interesses, e estas conferências acentuaram o
vazio da arbitragem internacional e a impossibilidade das potências se resolverem
pacificamente entre si.

O problema é que estas potências eram cada vez menos razoáveis e dotadas de uma
agenda unilateral. A tensão diplomática que durante o século XIX fora solucionada, era
agora incapaz de ser resolvida, devido à Europa estar desarmada de capacidade de
dialogar com outras potências.

A partir de 1907, não se tinha a certeza se ia haver guerra, mas fica aberta a
possibilidade de esta acontecer, e não a inevitabilidade

Outro importante milestone, são os confrontos entre França e Alemanha no norte de


África, que constituíram grandes momentos de tensão, em Tanger (1905) e Agadir
(1911)

Em 1905, o Kaiser Guilherme II visita a cidade de Tânger, que acaba na parte francesa
de Marrocos. Marrocos francês era uma área de supervisão francesa, e não uma
colónia, onde residia o islão e existiam bolsas de resistência muçulmana sobre a
Europa.
Existiam conflitos entre as autoridades francesas e essas bolsas de resistência à
presença francesa em Marrocos, e o kaiser, para enfraquecer a imagem francesa e
para ver até onde a França estava disposta a ir, demonstra a sua simpatia à
independência de Marrocos

Isto significa abrir uma espécie de guerra contra a França, embora esse não fosse o
objetivo, era apenas um jogo de teste). A questão resolveu-se com a conferência de
Algeciras em Espanha, que teve sucesso internacional. O mandato francês sobre
Marrocos vinha desde a Conferência de Berlim, que criou um status quo que o próprio
Bismarck tinha feito como obreiro da Europa de Viena. Apenas a Áustria apoiou o
kaiser, sendo que todas as vozes internacionais ficaram a favor dos franceses, sendo
que o kaiser é oficialmente vencido nesta conferência
Martim Ghira Campos

No entanto, ele não desistiu. Em 1911 sucede-se uma nova crise diplomática em
Agadir, quando o kaiser invade a cidade e diz que só liberta Agadir caso fosse
compensado, sendo que a França decide comprar a paz.

Estes dois episódios demonstram aquilo que era um clima de paz armada e de testes
de resistência. Agadir apenas atrasou a guerra, mas não a impediu.

A juntar a este palco, junta-se o detonador balcânico. Os Balcãs eram um barril de


pólvora autêntico, onde dois continentes, diferentes etnias, várias línguas, religiões,
regimes políticos e culturas se encontram. Era uma região internamente dividida, com
várias nações étnico-religiosas que não coincidem com os próprios Estados. Não era
uma zona desconhecida, mas era extremamente olhada pelas potências de fora: O
império turco-otomano tinha um grande interesse nesta pequena área, bem como a
Rússia. Era como uma Jerusalém da época. O controlo dos Balcãs vai gerar uma guerra
dentro da própria guerra

A questão balcânica vai explodir em 1908 quando Viena decide, por meios militares,
anexar parte dos Balcãs, que era a Bósnia-Herzegovina, que era eslava, um pequeno
estado satélite da Sérvia, mas o seu controlo era fundamental para segurar a fronteira
Húngara do império, de maneira a evitar uma possível invasão. Era empurrar o
nacionalismo eslavo-sérvio mais para Leste, sendo que este foi o primeiro passo para
enfraquecer ou suprimir o pan-eslavismo dos Balcãs.

Desde logo, isto vai intensificar o clima de tensão naquela zona e, entretanto, dá-se a
guerra da Liga Balcânica (Sérvia, Montenegro, Bulgária e Grécia) contra o Império
Otomano em 1912. Oficialmente era um tratado defensivo, na medida em que os
estados integrantes se comprometiam a defender-se mutuamente em caso de
agressão, o que não invalidou a criação de uma cláusula secreta que estabelecia a
possibilidade de entrada em guerra caso o status quo dos Balcãs se visse ameaçado.

Estes vão abrir uma guerra com o Império Otomano da qual saem vencedores. A Liga
Balcânica via separar-se por tensões expansionistas entre a Sérvia e a Bulgária, sendo
que a Bulgária vai para o lado da Alemanha e a Sérvia dos aliados.

A comunidade internacional olhava para os Balcãs como um problema local, até ao


momento em que o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, sobrinho do
imperador austríaco, em Junho de 1914 (Sarajevo) arrastou as atenções internacionais
para aquela zona. Este visitava a Bósnia no dia da sua independência para confirmar
que o território era austríaco, sendo assassinado e a Áustria ficando sem
descendência.

Este assassinato vai gerar um problema que não era apenas local, sendo que pela
primeira vez, uma grande potência era aspirada para o conflito dos Balcãs. É a partir
daqui que a tal engrenagem para o apocalipse se vai dar.
Martim Ghira Campos

O assassinato não era peculiar ou escandaloso, visto que se viviam uma moda de
assassinatos. Havia uma espécie de tensão internacional de atentados, sabotagens,
guerra social que já tinha vitimado diversos políticos.

Mas porque é que não foi apenas mais um assassinato? Isto vai acontecer porque em
1914 os decisores europeus estavam inclinados para a guerra e porque os próprios
mecanismos que anos anteriores tinham evitado a guerra, estavam fragilizados

A 5 de Julho, Berlim oferece ao imperador austríaco, seu aliado, aquilo que ficou
conhecido como o cheque em branco – “pode fazer o que quiser” em relação à Sérvia
e à Bósnia, que a Alemanha dará apoio à Áustria. A 22 de Julho, duas semanas depois
de Berlim ter declarado a sua solidariedade pública a Viena, o Imperador austríaco
envia à Servia um ultimato, nos termos do qual Belgrado devia entregar os regicidas e
todos os seus cúmplices à justiça austríaca, para serem julgados em Viena  entregar
os conspiradores da “mão negra”, que significava o desmantelamento da organização
sérvia

A 26 de Julho a Inglaterra sugeriu uma conferência internacional entre a Áustria e a


Sérvia: Inglaterra e França, Alemanha e Itália (dois de cada aliança), mas isto não deu
em nada, visto que a 28 de Julho, a Áustria declara guerra à Sérvia. A partir daqui o
encadeamento das alianças vai entrar em ação.

Encadeamento das alianças:


 A Áustria declara guerra à Sérvia

 A Rússia apoia a Sérvia, como seu irmão eslavo, e declara guerra à Áustria

 A seguir à mobilização geral russa, a Alemanha declara guerra à Rússia e a toda


a Entente

 A França, em solidariedade para com a Rússia, e como pretexto, declara guerra


à Alemanha

 A Inglaterra, quando percebe que a Alemanha abre guerra e provavelmente em


semana se falará do fim da independência da Bélgica e da Holanda, também
declara guerra à Alemanha
Portanto, no espaço de uma semana o conflito emerge. A guerra era considerada a
tensão desejável para resolver todos os problemas europeus. A interpretação da
guerra deve ser considerada multilateral. A IGM é o resultado infeliz de uma
diplomacia inexperiente, que não tinha diante de si a perspetiva de uma eventual
guerra mundial, sendo que a culpa é de todas as potências europeias, cada uma à sua
maneira.

Durante décadas, os historiadores têm vindo a debater sobre quem deve recair a
responsabilidade pela eclosão da IGM. Porém. Nenhum país pode ser responsabilizado
individualmente por essa louca caminhada para a catástrofe. Todas as grandes
potências contribuíram para isto, sendo que todas elas conseguiram contruir uma
Martim Ghira Campos

engrenagem diplomática do apocalipse, embora não estivessem cientes do que tinham


feito.

Epilogo

O século XX nasce com a guerra e recua em termos civilizacionais. A IGM começou na


manhã de 28 de Julho de 1914, a guerra alimentava a expectativa, sendo que se
pensava que iria esclarecer, movimentar os países. A guerra iria ter vencedores, que
viriam a dominar a Europa após esta.

As opiniões públicas em geral eram favoráveis à guerra, tirando alguns setores. O


grosso cidadão anónimo, educado na cultura de fim de século, aceitou a declaração de
guerra como um misto de interesses, de expectativa, de heroísmo, de valentia,
pensando que a guerra seria curta e cirúrgica.

As luzes da Europa apagaram-se quando começou a IGM e só se voltaram a acender


em 45. Talvez não haja uma primeira e uma segunda guerra mundial, mas sim uma
guerra mundial que começa em 14 e acaba em 45, lembrando que a paz armada após
Versalhes é muito bélica

O século XIX é o século de afirmação de uma civilização, independentemente de todos


os acontecimentos, uma espécie de idade da inocência antes da queda. Este mundo
colorido desaparece com o século XX.

A história da decadência da Europa é uma história que começa com a guerra. Por fim,
o século XXI e as sociedades de hoje, têm muito a ver com este século XIX

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