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Apontamentos sobre o nascimento da Sociologia.

(Ricardo Musse)

A sociologia surgiu, na primeira metade do século XIX, sob o impacto da Revolução Industrial e da
Revolução Francesa. As transformações econômicas, políticas e culturais suscitadas por esses
acontecimentos criaram a impressão generalizada de que a Europa vivia o alvorecer de uma nova
sociedade.

[...] A ambição intelectual da sociologia, a tentativa de compreender, em um registro científico, a


origem, o caráter e os desdobramentos dessa nova sociedade [...], sobretudo, com a pretensão de atingir
um padrão de cientificidade na explicação da vida social equivalente àquele alcançado pelas ciências
naturais.

A sociologia concebe-se, assim, não apenas como a disciplina central no campo das “ciências
humanas”, mas como um saber comparável, em termos de explicação e previsão, às próprias ciências
naturais. Essa posição, no entanto, será contrabalançada, paulatinamente, pela compreensão de que as
determinações das possibilidades futuras da sociedade não podem ser preditas a partir dos modelos do
passado, o que levou a sociologia a situar-se, muitas vezes, como uma perspectiva crítica perante as
relações sociais vigentes.

Nas últimas décadas do século XVIII surgiram, na Europa, dois fenômenos decisivos para a
configuração do mundo moderno: a concentração da produção de bens na “fábrica”, base do sistema
econômico fabril, e a comunidade política de “cidadãos”, livres e com direitos iguais, vinculados ao
Estado-nação.

[...] Os contemporâneos desses eventos nunca entraram em acordo acerca da provável extensão
dessas mudanças. Mas isso não os impediu de vislumbraram prontamente a importância do conjunto de
acontecimentos que deflagraram as transformações econômicas ocorridas na Inglaterra a partir do fim da
década de 1760 e a reconfiguração política iniciada na França em 1789. Tais mudanças foram
percebidas, já à época, como uma reviravolta sem precedentes, como rupturas abruptas, como
“revoluções”, sobretudo por seu contraste com as formas predominantes no passado.

A Revolução Industrial surgiu na Inglaterra. O pioneirismo inglês explica-se pela consolidação, ao


longo do século XVIII, de uma série de fatores: (a) relações econômicas capitalistas que abrangiam não
só o comércio, as finanças e a produção manufatureira, mas inclusive as atividades agrícolas; (b) uma
política governamental orientada para favorecer o desenvolvimento econômico; (c) uma cultura coletiva
que não rejeitava o predomínio do dinheiro, valorizando, por conseguinte, a busca de lucro; (d) um
mercado mundial monopolizado pela supremacia militar e naval da Inglaterra, consolidado pelas práticas
do exclusivismo colonial e do escravismo.

[...] O mundo do trabalho já havia se modificado substancialmente a partir do século XVII,


sobretudo na Inglaterra, com a penetração de relações capitalistas no campo. O cultivo comunal e a
agricultura de subsistência cederam lugar a uma atitude comercial, logo monetária, diante da terra. A
implantação de relações salariais no setor agrário, no entanto, foi uma modificação pequena perante o
que aconteceu na indústria.

Primeiro, a produção deixou de ser uma atividade individual, realizada na própria casa do
trabalhador segundo o ritmo ditado por sua habilidade e capacidade física. Tudo isso, em intervalos de
tempo que lhe permitia dedicar-se a outras tarefas, como a criação de animais e o cultivo da terra.

Os trabalhadores passaram a se concentrar em um só local, em fábricas, cada vez maiores,


intensificando a forma de organização iniciada pela manufatura. O trabalho parcelar tornou-se coletivo,
subordinado a um mecanismo constituído por máquinas capazes de realizar as mesmas operações das
ferramentas e movidas por uma única força motriz.

[...] O modelo em que a produção era realizada por artesões, localizados em seus domicílios, em
pequenos vilarejos, desempenhando simultaneamente vários ofícios, tornou-se rapidamente obsoleto. O
sistema produtivo moderno subdividiu o trabalho entre imensas fábricas, superespecializadas, que
utilizam matérias-primas dos países mais distantes e abastecem com seus produtos os mercados do
mundo inteiro.

[...] O fator que mais abalou as maneiras tradicionais de viver foi a crescente urbanização. A
concentração das fábricas em cidades manufatureiras, devido às facilidades de escoamento da
produção, assim como o incremento de atividades administrativas, educacionais, dos serviços em geral,
incentivou uma maciça transferência populacional. As cidades inglesas tornaram-se, em breve, as
maiores da Europa, um surto de crescimento intensificado pela redução das taxas de mortalidade, que
deram início ao ininterrupto aumento populacional característico do mundo moderno.

https://blogdaboitempo.com.br/2012/11/23/apontamentos-sobre-o-nascimento-da-sociologia

Leia o texto e responda às questões abaixo em seu caderno:

Questão 1

Segundo o texto, quais os eventos podem ser citados como fundamentais e que impactaram o
surgimento da sociologia?

Alguns dos eventos mais marcantes para as transformações ocorridas nas sociedades
europeias do século XVIII e XIX também contribuíram para o surgimento da sociologia. Estão
entre eles a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, o cercamento dos campos, dentre
outros.

Questão 2

Sobre a Revolução Industrial;

a) Quais os fatores que explicam, segundo o texto, o pioneirismo inglês no processo da


revolução industrial?

Relações econômicas capitalistas que abrangiam não só o comércio, as finanças e a produção


manufatureira, mas inclusive as atividades agrícolas; (b) uma política governamental orientada
para favorecer o desenvolvimento econômico; (c) uma cultura coletiva que não rejeitava o
predomínio do dinheiro, valorizando, por conseguinte, a busca de lucro; (d) um mercado
mundial monopolizado pela supremacia militar e naval da Inglaterra.

b) Cite e explique ao menos uma política governamental que, na Inglaterra, contribuiu para o
desenvolvimento econômico e o pioneirismo inglês.

Uma política significativa nesse sentido iniciou-se ainda no século XVI, quando as Leis de
Cercamentos foram sendo editadas no Parlamento inglês, o processo acelerou-se em meados
do século XVIII. Essa alteração consistiu na criação de uma nova mercadoria: a terra. A
paisagem rural inglesa que era caracterizada pelo openfield, passou a ter sua exploração nos
campos fechados e produtores em uma nova forma - cada vez mais burguesa - de entender e
administrar a produção rural.

Questão 3

Segundo Musse, quais as transformações econômicas (no mundo do trabalho e da produção)


que surgiram em razão do surgimento do capitalismo?

A introdução de relações capitalistas no campo foi um primeiro passo. O cultivo comunal e a agricultura
de subsistência cederam lugar a uma atitude comercial, logo monetária, diante da terra.

Logo depois, nas cidades, a produção deixou de ser uma atividade individual, realizada na própria casa
do trabalhador segundo o ritmo ditado por sua habilidade e capacidade física, ou seja, deixou de ser
artesanal.

Os trabalhadores passaram a se concentrar em um só local, em fábricas, cada vez maiores.

O sistema produtivo moderno subdividiu o trabalho entre imensas fábricas, superespecializadas [...] as
cidades inglesas tornaram-se as maiores da Europa, um surto de crescimento.

Questão 4

Cite algumas das transformações políticas no mundo moderno que o autor denomina de
“reconfiguração política iniciada na França em 1789”.

Além das muitas transformações econômicas vividas no mundo desse período, há que se
observar as profundas mudanças políticas: queda de monarquias, surgimento de Repúblicas e
pregações filosóficas e políticas em nome da soberania popular e dos direitos e liberdades
individuais. Em todos esses aspectos a Revolução Francesa aparece no mundo europeu como
um marco, uma reconfiguração sem precedentes.

CONCLUSÃO

Nesse mundo imerso em transformações e sedento por explicações acerca das mudanças, da
percepção do que se perdeu e dos novos caminhos a serem trilhados pelas sociedades, surge
uma ciência, a Sociologia, marcada pela análise das sociedades tradicionais e sua diferença
comparativa com as sociedades modernas.

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