Você está na página 1de 19

SUMÁRIO

Ideologias modernas (socialismo, anarquismo) e fé cristã……………………….………….3

Liberdade religiosa……………………………………………………………………………………….………..5

Democracia, voto e participação popular………………………………….………………….……….7

Regimes autoritários……………………………………………………………………………….…..…..…..9

Revoluções, guerras, perigos revolucionários e direito de resistir…………….……….10

Liberdade, direitos individuais e estabilidade política……….………………………………..12

República .……………………………………………………………………………………………….…………..15

Escravidão e abolicionismo….…………….………………………………….……...….………………..17

Militarismo………………………………………….………………………………………………………………… 17

Grandes temas……………………………………………………………………………………………………..18

2
Rui Barbosa foi um advogado, jornalista e político brasileiro. Nascido em 1849 em Salvador, morreu em
1923 em Petrópolis. Foi um dos líderes do movimento republicano e uma das vozes mais importantes pela
abolição da escravidão no Brasil. Notabilizou-se pela profundidade dos argumentos e sua grande eloquência
acerca dos grandes temas de sua época.
Os trechos de artigos e conferências abaixo reunidos fazem parte do acervo online disponibilizado pela
Casa Rui Barbosa1:

Ideologias modernas (socialismo, anarquismo) e fé cristã


1. Estou, senhores, com a democracia social. Mas a minha democracia social é a que
preconizava o Cardeal Mercier, falando aos operários de Malines, 'essa democracia
ampla, serena, leal, e, numa palavra, cristã: a democracia que quer assentar a felicidade
da classe obreira, não nas ruínas das outras classes, mas na reparação dos agravos, que
ela, até agora tem curtido'. Aplaudo, no socialismo, o que ele tem de são, de benévolo,
de confraternal, de pacificador, sem querer o socialismo devastador, que, na linguagem
do egrégio prelado belga, 'animando o que menos nobre é no coração do homem,
rebaixa a questão social a uma luta de apetites, e intenta dar-lhe por solução o que não
poderá deixar de exarcerbá-la: o antagonismo das classes.'"
Teatro Lírico. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 1, 1919. p. 81
Descritores: Democracia Social Socialismo Mercier, Désiré Joseph - cardeal
Observações: Trecho da conferência "A Questão Social e Política no Brasil". Autógrafo no Arquivo da FCRB.

2. “[...] a era, que se abre, é a era da questão social, o maior problema com que a
humanidade jamais se mediu. A incógnita do socialismo e da anarquia começa a
assombrar os governos mais fortes, e ameaça desviar da sua linha consuetudinária os
governos mais liberais. Ora, se há, debaixo do céu, um dique bastante sólido para se
opor ao delírio das reivindicações sociais e do anarquismo, é a influência penetrante e
incomparável do evangelho, o gênio perpetuado daquele que disse: Misereor super
turbam. Nem a ciência, nem a filosofia calam na alma das multidões. Só o verbo que da
tradição divina, pode ensinar aos incultos, aos famintos, aos miseráveis o respeito."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 25, t. 2, 1898. p. 103
Descritores: Socialismo Questões Sociais Anarquismo
Observações: Trecho do artigo "A Legação do Vaticano". Não há original no Arquivo da FCRB.

3. Não me agrada, senhores, aqui, este nome de classes. Quisera vê-lo banir da
linguagem política, numa democracia onde me não parecem ter lugar essas expressões
de graduação e antagonismo. Como classes, numa sociedade nivelada, onde os próprios
vestígios da escravidão se vão diluindo na fusão de todas as raças? Como classes, num
regímen de costumes, que reduz todas as distâncias, apaga todas as diferenças, e iguala
todas as condições? Como classes, num estado legal onde os direitos, hierarquias e
dignidade se oferecem a todos os indivíduos, sem acepção de nascimento, cor, ou
herança? Como classes, num gênero de coletividade, cujos membros se não estremam
uns dos outros senão pelas circunstâncias do valor ou da sorte, circunstâncias cegas,

1
http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/scripts/scripts/rui/listafrasesrui.php

3
providenciais, ou caprichosas, que abatem os mais nobres, ou elevam os mais humildes?
O vocábulo soa mal, porque favorece equívocos, invejas, rivalidades, e melhor seria,
destarte, removê-lo de uma aplicação inconveniente."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 1, 1919. p. 10
Descritores: Classes Sociais Sociedade, Classes
Observações: Trecho da conferência "Às Classes Conservadoras". Autógrafo no Arquivo da FCRB.

4. Não é só o proprietário, o industrial, o comerciante. Não é somente o banqueiro, o


armador, o fabricante, o senhor de latifúndios, o dono de minas e estradas. Não. Todos
os que entram para o corpo social como um glóbulo de sangue, uma célula nervosa, ou
um elemento químico no corpo humano, todos esses participam dos elementos
conservadores da comunidade. Grave erro seria o de pormos a uma parte o operário, à
outra as classes conservadoras. Nas classes conservadoras ao lado do patrão está, com o
mesmo direito, o obreiro. Os elementos conservadores da sociedade são o trabalho, este
primeiro que todos, o trabalho, digo, o capital, a ciência e a lei, mantida pela justiça e
pela força. Isto é: a lavoura, a indústria, o comércio, a instrução, a magistratura e as
forças armadas."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 1, 1919. p. 11
Descritores: Corpo Social Elementos Conservadores da Sociedade Sociedade, Elementos Conservadores
Observações: Trecho da conferência "Às Classes Conservadoras". Autógrafo no Arquivo da FCRB.

5. As formas políticas são vãs, sem o homem que as anima. É o vigor individual que faz
as nações robustas. Mas o indivíduo não pode ter essa fibra, esse equilíbrio, essa
energia, que compõem os fortes, senão pela consciência do seu destino moral, associada
ao respeito desse destino nos seus semelhantes. Ora, eu não conheço nada capaz de
produzir na criatura humana em geral esse estado interior, senão o influxo religioso."
Colégio Anchieta. Nova Friburgo, RJ. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 30, t. 1, 1903. p. 393
Descritores: Religião Indivíduo, vigor Homem, consciência
Observações: Trecho do "Discurso no Colégio Anchieta. Palavras à Juventude". Notas no Arquivo da FCRB.

6. Num país onde os interesses políticos se alternassem regularmente no poder, nenhum


deles quereria soberanizar a conveniência, e avassalar a ela as leis. O Evangelho deu a
mais simples, a mais breve, a mais completa declaração dos direitos do homem,
dizendo: 'Não faças a outrem o que não quiseres que te façam.' Esse catálogo de
liberdades, que antes da revolução francesa já perfulgia nos bills de direitos e no direito
consuetudinário dos ingleses, tem a sua verdadeira origem na palavra de Cristo, o
libertador. Os que oprimem, não tolerariam ser oprimidos."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 24, t. 1, 1897. p. 90
Descritores: Declaração de direitos Evangelho Bill de direitos.
Observações: Trecho da 2ª conferência "O Partido Republicano Conservador".

4
Liberdade religiosa
7. o Estado garante direitos, a Igreja determina crenças. Girando cada um deles em sua
esfera não pode haver perturbação nem nos direitos, nem nas crenças, mas declara-se a
desarmonia desde que um dos poderes quer invadir a órbita do outro. A Igreja, na
questão maçônica, não invadiu propriamente os direitos dos cidadãos, pois limitou-se a
legislar sobre a crença: mas como no país os direitos políticos dependem da qualidade
de católico, é evidente que logo que os bispos declararam fora da comunhão a diversos
cidadãos, declararam-nos ipso facto fora da nacionalidade".
Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 2, t. 2, 1872-1874. p. 92
Descritores: Liberdade religiosa Direitos;
Observações: Trecho do artigo "Questão Religiosa. A Liberdade Religiosa".

8. O povo americano, cujos antepassados transpuseram o Atlântico, para sacudir a


tirania da igreja oficial, é moral e politicamente um produto da liberdade religiosa. As
páginas de sua história, a mais grandiosa deste século, foram para nós, os autores da
Constituição republicana, os autores do Decreto de 7 de janeiro, a escritura santa das
aspirações do mundo moderno."
Teatro São João. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 20, t. 1, 1893. p. 63
Descritores: História dos Estados Unidos da América Constituição de 1891 Influência da História dos EUA
Observações: Trecho da "Conferência em favor de 50 Órfãos do Asilo de N. Sª de Lourdes de Feira de Santana".

9. Nunca ocultei que a minha fé houvesse fracassado muitas vezes. Mas também nunca
me senti constrangido em professar, através dessas vacilações, a minha fidelidade à
religião dos meus antepassados. Católico, no entanto, associei sempre à religião a
liberdade, bati-me sempre, no Brasil, entre os mais extremados, pela liberdade religiosa,
fui, no Governo Provisório, o autor do ato, que separou a Igreja do Estado, e com
satisfação íntima reivindico a minha parte na solução constitucional, que emancipou, em
nossa terra, a consciência cristã dos vínculos do poder humano."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 37, t. 1, 1910. p. 60
Descritores: Fé Católico Liberdade Religiosa Separação Igreja e Estado
Observações: Trecho da conferência "Plataforma". Não há original no Arquivo da FCRB.

10. Foi esta a liberdade religiosa que nós escrevemos na Constituição Brasileira. Esta
exclui do programa escolar o ensino da religião. Mas não consente que o ensino escolar,
os livros escolares, professem a irreligião e a incredulidade, nem obsta, quando exigido
pelos pais, ao ensino religioso pelos ministros da religião, fora das horas escolares, no
próprio edifício da escola. Exime o soldado e o marinheiro à observância obrigatória dos
deveres cultuais. Mas não exonera o governo de proporcionar ao marinheiro e ao
soldado, imparcialmente, os benefícios do ministério sagrado. Veda ao Estado o fornecer
a instrução religiosa. Mas não o priva de animar indiretamente as vantagens morais do
ensino religioso, favorecendo com imunidades tributárias as casas consagradas ao culto."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 37, t. 1, 1910. p. 61
Descritores: Liberdade Religiosa Ensino da Religião Instrução Religiosa Separação Igreja e Estado
Observações: Trecho da conferência "Plataforma". Não há original no Arquivo da FCRB.

5
11. As minhas idéias, [sobre liberdade religiosa] são as que, há seis anos, desenvolvi no
Colégio Anchieta, em um discurso aos seus alunos. Daqui as ratifico solenemente. Em
poucas palavras se condensam. Observância da igualdade legal entre todas as crenças.
Imparcialidade em relação a todas, no exercício das funções do Estado. Defesa da
maioria católica nos seus direitos constitucionais, contra as intolerâncias da
irreligiosidade. Proteção das minorias religiosas contra os excessos da maioria.
Benevolência e simpatia para com o desenvolvimento da cultura moral pelos meios
superiores da ação religiosa, guardada invariavelmente, entre todos os cultos, a
neutralidade constitucional."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 37, t. 1, 1910. p. 62
Descritores: Liberdade Religiosa Crenças, igualdade Maioria e Minoria Religiosa Cultos, liberdade
Observações: Trecho da conferência "Plataforma". Não há original no Arquivo da FCRB.

12. A minha reputação de incredulidade, materialismo e ateísmo nasceu da especulação


maligna de adversários sem escrúpulos, em questões onde a minha atitude era
justamente o penhor mais claro da seriedade das minhas crenças morais. Foi por ser um
espírito religioso, que, em 1875, como presidente do Conservatório Dramático, na Bahia,
levantei contra mim as iras da ortodoxia oficial, pronunciando-me pela representação
dOs Jesuítas, de A. Enes; que, então, como antes, como depois, no Diário da Bahia, nas
conferências do Vale dos Beneditinos e na Câmara dos Deputados, tive a honra de ser
um dos advogados mais antigos, ardentes e tenazes da liberdade de cultos; que, em
1877, apoiando-me nas autoridades mais insignes da teologia alemã, defendi nO Papa e
o Concílio, a verdade cristã contra a infalibilidade papal. Combati o jesuitismo com o
Evangelho, o exclusivismo religioso com a palavra de Cristo, o concílio do Vaticano com a
história da Igreja primitiva. E aqui está de onde me veio este sambenito de impiedade,
que faz pena ver meneado contra um velho defensor da liberdade de consciência por um
moço de origem e tendências liberais como o Sr. A. Celso."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 23, t. 1, 1896. p. 293
Descritores: Ateísmo Liberdade Religiosa Religioso Conservatório Dramático, presidente RB
Observações: Trecho de "Cartas de Inglaterra. As Minhas Conversões". Não há original no Arquivo da FCRB.

13. O princípio das igrejas livres no Estado livre tem duas hermenêuticas distintas e
opostas: a francesa e a americana. Esta, sinceramente liberal, não se assusta com a
expansão do catolicismo, a mais numerosa, hoje, de todas as confissões nos Estados
Unidos, que nela vêem um dos grandes fatores da sua cultura e da sua estabilidade
social. Aquela, obsessa do eterno fantasma do clericalismo, gira de reação em reação,
inquieta, agressiva, proscritora. Com uma, sob as formas da liberdade republicana,
assiste o século vinte ao tremendo acesso de regalismo, que baniu do país, em França,
todas as congregações religiosas. Sob a outra se reúnem, na América do Norte, os
prófugos da perseguição ultramarina, e as coletividades religiosas se desenvolvem,
tranqüilas, prósperas, frutificativas, sem a mais ligeira nuvem no seu horizonte."

6
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 37, t. 1, 1910. p. 60
Descritores: Liberdade Religiosa Igreja Francesa e Americana Igreja Americana e Francesa
Observações: Trecho da conferência "Plataforma". Não há original no Arquivo da FCRB.

Democracia, voto e participação popular


14. Quais são os grandes povos, os povos de atividade, os povos de vigor, os povos de
soberania? São os povos, a quem Deus deu quem lhes fale. Um povo, que não tem quem
lhe fale, perde o hábito de ouvir, com o descostume de ouvir, acaba perdendo o ouvido,
e, porque já não ouve, se desaveza de falar, para, ao cabo, perder, também, a fala. No
fim de contas se reduziu a uma pesada massa incônscia e surda-muda; porque, a força
de não escutar nada, se lhe gastou a oitiva e a linguagem, mergulhando-se-lhe a vida na
surdez e na afasia. Ora, trinta anos há que, o povo brasileiro se acha condenado a este
regímen. Na Monarquia havia vozes. A audição popular se exercitava, e, pela audição, se
exercitava a consciência do povo. Por isso, com a Monarquia, se fez o sete de abril, se
logrou o vinte e oito de setembro, se conseguiu o treze de maio, se chegou ao quinze de
novembro. Resgatou-se a nação do colonialismo. Remiu-se da escravidão o trabalho.
Emancipou-se da centralização a vida local."
Juiz de Fora, MG. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 1, 1919. p. 141
Descritores: Povo, vozes Representação Popular Voz do Povo Brasileiro Consciência da Nação Nação, consciência
Observações: Trecho da conferência "Minas Vitoriosa". Autógrafo no Arquivo da FCRB.

15. Dizem que somos uma democracia. As nossas leis nos asseguram o sistema
representativo. Mas sistema representativo quer dizer representação do povo no
governo. Mas democracia quer dizer governo do povo pelo povo. Se não é o povo quem
se governa a si mesmo, então, legalmente, não há governo, e não é governo o que há.
Se o povo não está no governo, e o governo não é a encarnação do povo, nesse caso,
constitucionalmente, isso que governo se nomeia, tanto tem de governo como de moeda
a moeda falsa. A moeda falsa tem pena de cadeia. Os falsos governos, pena de queda.
Queda pela reprovação pública. Queda pelos sufrágios populares. Queda pelo escrutínio
eleitoral."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 2, 1919. p. 52
Descritores: Democracia Governo Falso Governo e Povo
Observações: Trecho da conferência "A Corrupção Política". Cópia datilográfica no Arquivo da FCRB.

16. [...] o povo brasileiro só não responde aos que lhe não falam, só não acode aos que
o não chamam, só não ajuda aos que o não buscam. Se os nossos homens públicos
amassem o seu contacto, e lhe cultivassem a companhia, em vez de a evitarem,
entregando o êxito da sua carreira e a sorte dos seus projetos ao jogo das facções ou
manobras pessoais, a nossa nacionalidade teria desenvolvido os costumes do governo
representativo, o povo não se retrairia, como se retrai, ao trato dos homens de Estado, e
as agitações políticas, tão ordinárias e essenciais nas democracias, não dariam ensejo,
aqui, aos maus governos e seus sequazes, de as criminarem como obra de
conspiradores, ou manejo de revolucionários."
Serrinha, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 3, 1919. p. 51

7
Descritores: Homem Público e o Contacto com o Povo Governo Representativo, cultivo
Observações: Trecho de "A Conferência de Serrinha". Cópia datilografada e revista por RB no Arquivo da FCRB.

17. [...] - cidadãos brasileiros, austeros sertanejos baianos, exercei a todo o custo, e
defendei a todo o transe o vosso direito político, o direito de dardes o vosso voto, o
direito de constituirdes o vosso governo. Defendei-o, sim, defendei-o
intransigentemente, defendei-o indomitamente, defendei-o invencivelmente; defendei-o
com o cabedal, o peito, o sangue; defendei-o como se defendêreis vosso coração, vosso
rosto, vossa alma; defendei-o como se estivésseis defendendo o fruto do vosso trabalho,
o abrigo da família, a existência de vossas esposas e filhos; defendei-o com o sacrifício,
até, de vossa vida, defendei-o até à morte, defendei-o com todas as forças, por todos os
meios e em todos os terrenos, que a lei escrita vos permite, quando vos assegura no
direito de legítima defesa dos direitos."
Alagoinhas, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 3, 1919. p. 47
Descritores: Voto, direito Direito de Votar, defesa
Observações: Trecho de "Conferência de Alagoinhas". Texto datilografado e revisto no Arquivo da FCRB.

18. A grande causa de corrupção eleitoral em nosso País é incontestavelmente o sufrágio


indireto, instituição que, na atualidade, tem sido rejeitada em todas as nações cuja
organização política é digna de servir para modelo a povos livres. O sufrágio indireto
furta ao país o direito de nomear efetivamente os seus representantes, para entregar
esse direito ao eleitorado, sobre o qual o povo não pode exercer influência eficaz, porque
não tem meios de responsabilizá-lo efetivamente pelo desempenho irregular do
mandato, nem recursos coercitivos para obrigá-lo a que o exerça fielmente."
Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 2, t. 2, 1872-1874. p. 273
Descritores: Sufrágio Indireto Fraude Eleitoral
Observações: Trecho do artigo "Representação em favor da Eleição Direta". Não há original no Arquivo da FCRB.

19. No mundo contemporâneo, todos os povos da terra parecem tenderem a nivelar-se


na consciência dos seus direitos, como os corpos sujeitos à lei dos líquidos
comunicantes. Através das suas diferenças em tamanho, adiantamento ou prosperidade,
quase todas as nações do globo respiram, atualmente, na mesma atmosfera de
influências liberais, de aspirações liberais de necessidades liberais.
Cada reinvindicação democrática, suscitada num ponto da superfície terrestre, entra,
para logo, no vórtice de um turbilhão, que a descola, a propaga e a universaliza
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 2, 1919. p. 35
Descritores: Direitos, consciência Povos, identidade
Observações: Trecho da conferência "A Corrupção Política". Cópia datilográfica no Arquivo da FCRB.

20. [...] a última situação (governo Hermes) nos entregou ao regímen da impunidade,
da incompetência e da irresponsabilidade. Com esses três elementos desapareceram
completamente do Brasil a democracia, a república, o governo do povo pelo povo não
quer dizer outra coisa senão que há um só poder no Estado, - a opinião pública - e que
esse poder se exerce pelas urnas, pela imprensa, pela tribuna, e que esse poder se
exercer pelas urnas, pela imprensa, pela tribuna, e que todos os culpados de violação da

8
lei do regímen têm de responder pelos seus crimes, ante esse tribunal da opinião, esse
incorruptível tribunal da consciência dos seus contemporâneos."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 42, t. 2, 1915. p. 230
Descritores: Opinião pública Impunidade, incompetência e irresponsabilidade
Observações: Trecho do discurso "Eleição do Conselheiro Rosa e Silva". Notas taquigráficas no Arquivo da FCRB.

21. No Brasil toda a gente quer eleição direta; quer o Partido Liberal, que a tem como
um dos seus empenhos de honra; quer a fração melhor do Partido Conservador; quer a
multidão flutuante que se agita entre os dous partidos; querem-na todos os nossos
estadistas ilustres; boa parte até da maioria que apóia o gabinete confessa baixinho que
aceita. [...] Todos a adotam, e a reforma todavia não se faz!... Quem é, portanto, que
não quer? Qual é essa vontade privilegiada, capaz neste país de pôr o veto à vontade do
povo inteiro?
Eu só conheço no Brasil uma entidade bastante poderosa, à nossa inércia, para teimar
contra a opinião nacional. É a Coroa! A eleição direta não se faz ainda, por que a Coroa
não a quer!"
Teatro São João. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 2, t. 2, 1872 - 1874. p. 261.
Descritores: Eleição Direta
Observações: Trecho do discurso "Eleição Direta". Não há original no Arquivo da FCRB.

22. É pelas eleições que se evitam as revoluções. Revoluções e eleições são os dois
meios de remover maus governos. O povo que elege, não se revolta: aguarda a
operação eleitoral, para ter governo, que lhe sirva. Mas os que tiram ao povo a eleição,
lhe impõem a revolução."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 3, 1919. p. 212
Descritores: Revoluções e eleições Eleições e Revoluções
Observações: Trecho de "O Manifesto de Rui Barbosa à Nação". Original e cópia no Arquivo da FCRB.

Regimes autoritários
23. Perdendo a sua impersonalidade, convertendo-se em mecanismo de forjar e abater
posições, de servir e destruir indivíduos, o Governo fez da perseguição o seu eixo. E a
perseguição carece de tornar-se cada vez mais perseguidora, para se acautelar contra as
reações possíveis. Uma perversidade arrasta outras, para se defender, ou encobrir [...].
O medo abole a piedade na alma dos déspotas, e extingue-a no coração dos escravos. As
leis morais são ainda hoje as mesmas que na idade das proscrições cesáreas, da qual
escrevia Tácito: 'O temor dissolvera todos os laços da humanidade; e quanto mais cruel
se mostrava a tirania, mais o povo se despia da compaixão.'"
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 19, t. 3, 1892. p. 314
Descritores: Governo, perseguição Medo
Observações: Trecho do artigo "A Moral do Estado de Sítio". Não há original no Arquivo da FCRB.

24. Rejeito as doutrinas de arbítrio; abomino as ditaduras de todo o gênero, militares, ou


científicas, coroadas, ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de
garantias, as razões de estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações

9
hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas;
oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância;
e, quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é,
pela hostilidade radical à inteligência do país nos focos mais altos da sua cultura, a
estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um
oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 23, t. 5, 1896. p. 38
Descritores: Ditadura Oposição Profissão de fé
Observações: Trecho do discurso "Resposta a César Zama". Não há original no Arquivo da FCRB.

25. Não confio em nenhum presidente da república, ainda que meu pai fosse, em
nenhum, para lhe dar uma arma tão perigosa quanto esta, para depositar nas suas mãos
o estado de sítio, considerando-o como limitado unicamente pelo juízo do poder público,
sem nenhum critério material que o definisse positivamente. Porque todos os homens
arrastados pela ambição, dominados pelos interesses, fascinados sobretudo pelo poder,
todos os homens se desencaminham, se estragam, se pervertem sem que nos faltem
exemplos dos espíritos mais altos, mais liberais, mais puros, a quem o fato de empunhar
o poder não tenha deslizado para o arbítrio e a ditadura."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 41, t. 1, 1914. p. 363
Descritores: Presidente de República, desconfiança Estado de sítio Homem Público, ambição
Observações: Trecho do discurso "O Estado de Sítio - IV". Não há original no Arquivo da FCRB.

26. [...] há, sem embargo, um elemento comum a todas as opiniões: o sentimento de
que as sociedades civilizadas não podem continuar à mercê dos interesses imorais e
desorganizadores da força. Não são os governos democratizados os que perturbam a paz
do mundo. Os povos amam o trabalho, anelam a justiça, confiam na palavra, têm no
mais alto grau o instinto da moralidade, aborrecem as instituições opressivas,
simpatizam com o direito dos fracos. A democracia e a liberdade são pacíficas e
conservadoras. As castas, as ambições dinásticas, os regímens arbitrários são os que
promovem a discórdia, a malevolência e a desarmonia entre os Estados. A guerra atual
seria impossível se os povos, e não o direito divino das coroas, dominassem na política
internacional."
Buenos Aires, ARG. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 43, t. 1, 1916. p. 84
Descritores: Democracia Liberdade Regímens Arbitrários Relações Internacionais Política Internacional Povos e moralidade
Observações: Trecho da conferência "Os Conceitos Modernos de Direito Internacional". Cópia no Arquivo da FCRB.

Revoluções, guerras, perigos revolucionários e direito de resistir


27. Os maiores inimigos da tranqüilidade e da sociabilidade humana são o espírito de
revolução e o espírito de guerra: o espírito de revolução, dissolvendo a sociedade
nacional; o espírito de guerra, obstando à sociedade internacional; o primeiro
subvertendo a ordem do Estado; o segundo transtornando a ordem entre os Estados; o
primeiro inspirando o fratricídio entre concidadãos; o segundo impelindo ao fratricídio
entre povos."

10
Instituto Popular de Conferências de La Prensa. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 43, t. 1, 1916. p. 132
Descritores: Revolução e Guerra Guerra e Revolução
Observações: Trecho da "Conferência em La Prensa". Não há original no Arquivo da FCRB.

28. Não que se negue em absoluto, senhores, legitimidade à revolução, nem


legitimidade à guerra. Pelo contrário, a revolução e a guerra podem ser, não só lícitas,
mas honrosas, necessárias, inevitáveis. Mas, tais, só o serão umas e outras, quando
apresentarem o caráter defensivo. Só as revoluções defensivas e as guerras defensivas
podem ter o voto da razão, da justiça e da humanidade. Os cidadãos defendem-se
contra a tirania, esgotados todos os demais meios, com a revolução. Os Estados,
igualmente, se defendem contra a invasão e a conquista, baldados todos os outros
recursos, com a guerra. Instrumentos homicidas como são uma e outra, a guerra ou a
revolução não são de uso legal senão no caso extremo do direito agredido pela força e
colocando por esta no dilema de resistir, ou perecer. Entre as revoluções jurídicas e as
revoluções injurídicas, entre as guerras justas e as guerras injustas a diferença vem a
ser, pois, a mesma que entre a legítima defesa e o assassínio ou a carniceria."
Buenos Aires, ARG. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 43, t. 1, 1916. p. 132
Descritores: Revolução e Guerra, legitimidade Guerra e Revolução, legitimidade
Observações: Trecho da "Conferência em La Prensa". Não há original no Arquivo da FCRB.

29. O povo tem, reconheço, a ondulação do oceano tranqüilo na sua majestade, mas o
oceano também tem tempestades que sacodem impérios e repúblicas, tronos e
democracias, mas que não aniquilam homens, não assassinam cidadãos, não destroem
tipografias. Quando o povo se rebaixa a esses excessos de alucinação e a natureza
humana desce da sua dignidade para se manchar no delito da embriaguez que avilta, o
cidadão, o patriota, o liberal, o democrata se recolhe ao seio da sua consciência,
esmagado sob o peso da dúvida que o faz descrer das suas próprias idéias, e o induz
perguntar se o homem é realmente digno da liberdade, se as nações têm a consciência
do direito, se os povos merecem as instituições de que muitas vezes se orgulham."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 24, t. 1, 1897. p. 204
Descritores: Movimentos populares Povo, excessos
Observações: Trecho do discurso "Resposta ao Senador Domingos Vicente". Não há original no Arquivo da FCRB.

30. Justa é a resistência popular, a reação revolucionária, toda a vez que, esgotados os
meios legais, os meios constitucionais, cerradas todas as válvulas de respeito à
liberdade, já se não ofereça aos que a defendem outro recurso além do apelo às armas,
à força, ao combate em todos os campos contra o arbítrio dominante, única razão das
leis ditadas por um governo alheio ao dever, à humanidade e ao senso comum. Não serei
eu jamais quem venha pôr em questão esse direito natural, que precede a todos os
regimens organizados, e dorme na base de todas as Constituições. Não serei eu quem
levante nunca dúvidas sobre esses foros do povo, da nação, da sociedade a se alçar e
armar contra as prepotências violentas, que a despojarem das condições elementares a

11
uma sociedade cristã, das fraquezas essenciais a uma nação livre, das garantias da
verdade constitucional em uma democracia."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 31, t. 1, 1904. p. 51
Descritores: Resistência popular Revolução Reação revolucionária
Observações: Trecho do discurso "Revolta das Escolas Militares. Situação do Exército". Não há original no Arquivo da FCRB.

31. Não vos podeis servir da crueldade, para fundar a liberdade; porque as barbáries, a
que recorrerdes, não vos permitirão nunca mais licenciar o carrasco, sem vos
entregardes à reação das vinganças acumuladas; e, se desarmardes, o poder ilimitado
irá para as mãos dos adversários, cuja tranqüilidade só se realizará pela vossa
eliminação absoluta. Eis, portanto, a primeira lei do inevitável no jacobinismo: uma vez
evocado, é irreprimível; estabelecido, zombará do arrependimento dos seus iniciadores.
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 24, t. 1, 1897. p. 94
Descritores: Jacobinismo Terror
Observações: Trecho da 2ª conferência "O Partido Republicano Conservador". Não há original no Arquivo da FCRB.

32. [...] a guerra não merece o reconhecimento do gênero humano nem sequer pelos
atos heróicos e virtudes sublimes de que são teatro seus campos. As influências que
elevam os homens a essas alturas da abnegação, a esses gloriosos extremos do
sacrifício, não são os apetites sangüinários do combate: é a preocupação dos direitos e
interesses da paz, o zelo de seus tesouros periclitantes, que cada um dos combatentes
vê periclitar com a guerra. Esses sentimentos, esses afetos, essas nobres qualidades se
inflamam e deflagram na luta armada, que oferece aos ameaçados a ocasião da
resistência ao perigo iminente. Mas o que ilumina essa luta, o que a engrandece, o que a
santifica, é o amor da pátria, o amor da família, o amor da liberdade, o amor de tudo o
que as comoções militares inquietam e aniquilam. Pois bem: esses sentimentos não se
desenvolvem com tanta intensidade em parte alguma como entre os povos pacíficos, as
nações liberais, os governos democratizados."
Buenos Aires, ARG. Obras Completas de Rui Barbosa.V. 43, t. 1, 1916. p. 60
Descritores: Guerra Homem, elevação Direito Internacional
Observações: Conferência "Os Conceitos Modernos de Direito Internacional". Cópia datilografada no Arquivo da FCRB.

Liberdade, direitos individuais e estabilidade política


33. Nas sociedades modernas, o cidadão é o envoltório protetor do indivíduo. Do mesmo
modo como a cortiça, a casca espessa e rija de uma planta, o seu cortiço lenhoso e rude
lhe abriga o melindroso âmago, o tecido vital do cerne, assim as liberdades políticas
protegem os direitos individuais, e a mesma lei que consagra a legítima defesa destes,
implicitamente abrange, como condições inseparáveis, na legítima defesa dos direitos
individuais a legítima defesa das liberdades políticas."
Alagoinhas, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 3, 1919. p. 48
Descritores: Cidadania Direitos Individuais e Liberdades Políticas
Observações: Trecho de "Conferência de Alagoinhas". Texto datilografado e revisto por RB no Arquivo da FCRB.

12
34. O domicílio é a fortaleza do indivíduo. O direito é o presídio do homem. O voto é a
praça de armas do cidadão. Quando ele se encerra em qualquer desses abrigos
invioláveis, e de dentro de um deles opõe a defensiva à ofensiva, a legalidade à
usurpação e a força à força, essa força, em tal caso, [...] a força do que se vê
constrangido a defender-se, é a força conservadora, a força jurídica, a força legal, a
sagrada força da legítima defesa."
Alagoinhas, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 3, 1919. p. 49
Descritores: Voto, direito Cidadão, direitos
Observações: Trecho "Conferência de Alagoinhas". Texto datilografado e revisto no Arquivo da FCRB.

35. O erro na opinião de uns é a verdade na de outros; o erro aos olhos do poder é a
verdade aos da oposição; o erro ao ver da maioria é a verdade na convicção dos
dissidentes. Porventura é sobre uma teoria céptica que assentamos os direitos da
liberdade? Não; é sobre uma delimitação de competência real. Quem será, neste mundo,
o definidor da verdade e do erro? O Estado? Não; porque todos os erros cuja negação
existe nas instituições contemporâneas, têm sido, cada qual a seu tempo, preconizados
pelo Estado em instituições anteriores; todas as grandes verdades, políticas, sociais e
morais, que as constituições modernas encarnam em si, têm passado, uma por uma, na
sucessão dos séculos, pelo duro cadinho da perseguição, exercida pelo Estado, religioso
ou secular, em nome de outra verdade, oposta às de hoje. Secular, ou religioso,
portanto, o Estado não pode ser o árbitro da verdade, o qualificador do erro. Esta
dignidade pertence, pois, à ciência, que não tem organização oficial, cujo processo é a
investigação, cuja luz o debate, cujo meio vital a liberdade. Menos mal vai em permitir
com ela a manifestação de cem erros, do que em autorizar pelo cerceamento dela a
supressão, ainda passageira, de uma verdade só. Nossa convicção inabalável é, logo,
que 'as teorias mais subversivas, enquanto no estado de teorias, demandam refutação, e
não repressão'."
Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 10, t. 2, 1883. p. 17
Descritores: Estado Erro e Verdade
Observações: Trecho do "Parecer sobre a Reforma do Ensino Primário - VI. Liberdade de Ensino".

36. Há, nas instituições livres, dificuldades, que freqüentemente levam da impaciência
ao cepticismo os povos inexperientes, os espíritos superficiais, as inteligências
dominadas pela paixão da lógica, os patriotas sôfregos pela vitória das suas idéias. É que
as formas viris da liberdade respeitam na evolução humana o complexo de elementos
morais que a determinam. Só o despotismo, onde o eixo de toda a política está no
arbítrio de uma vontade, é categórico e simples como uma equação matemática. Mas os
resultados que a autocracia obtém mecanicamente a golpes de autoridade, são efêmeros
e vacilantes; ao passo que o regímen liberal, resolvendo naturalmente as suas crises
como se resolvem as crises de um organismo animado e pensante, abre caminho seguro
às soluções definitivas e fecundas."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 12, t. 1, 1885. p. 5

13
Descritores: Instituições Livres, dificuldades Regímen Liberal, crises Despotismo, resultados
Observações: Trecho do artigo "A Situação". Não há original no Arquivo da FCRB.

37. No dia seguinte às revoluções, a mais profunda necessidade é o amor da estabilidade


no governo; e é pela firmeza que as instituições novas serão capazes de assegurar-lhes
que os povos hão de avaliar a excelência do regime inaugurado. Defendendo, pois,
intransigentemente, a Constituição, devemos evitar com cuidado o escolho da velha
política nacional, isto é, no sentido estéril, mesquinho e perigoso da palavra; da política,
que nos perderia no meio das pretensões de grupos, que não se definem, e dos esboços
de partidos, que ainda não se conhecem."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 18, t. 1, 1891. p. 67
Descritores: Constituição, defesa Governo, estabilidade
Observações: Trecho do discurso "Incompatibilidades Parlamentares". Texto taquigrafado no Arquivo da FCRB.

38. Para assegurar a liberdade pessoal, não basta proteger a de locomoção. O indivíduo
não é livre, porque pode mudar de situação na superfície da terra, como o animal e
como os corpos inanimados. Há liberdades, que interessam a personalidade ainda mais
diretamente, e que são a égide dela. Tal, acima de todas, a liberdade de exprimir e
comunicar o pensamento, sob as formas imprescindíveis à vida intelectual, moral e social
do homem. Dar-lhe a faculdade mais extensa de deslocar-se, retirando-lhe a de pôr em
comunhão as suas idéias com as de seus semelhantes, é infringir-lhe a violência mais
degradante, a coação mais dolorosa, a ilegalidade mais provocadora, o mais insolente
dos abusos de poder."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 20, t. 4, 1893. p. 141
Descritores: Liberdade Individual Liberdade de Pensamento Abuso de Poder
Observações: Trecho do artigo "O Habeas Corpus e a Imprensa". Não há original no Arquivo da FCRB

39. A medida da liberdade, em todos os países, não pode achar melhor critério para se
estabelecer com retidão do que no respeito concedido às crenças da minoria. Um país
onde só a maioria tem garantidos os seus direitos carece essencialmente das condições
mais elementares de um país livre e civilizado."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 36, t. 2, 1909. p. 119
Descritores: Minoria, direito Liberdade, medida
Observações: Trecho do discurso "Arbitrariedades no Piauí". Não há original no Arquivo da FCRB.

40. A célebre Declaração de Direitos do Homem é de 1791. A Declaração americana é de


1776. De 1791 foi a primeira Constituição francesa. A primeira americana foi 1787. De
modo que os Estados Unidos precederam anos e anos a França no regímen das
constituições escritas e na declaração das liberdades humanas. A constituição francesa
tinha a sua ascendência na filosofia do século dezoito e no Contrato Social de Rousseau,
com algumas indigestas reminiscências inglesas, hauridas em Montesquieu. A
americana, com uma estirpe de seis séculos no Tâmisa, venerava a sua primeira
avoenga na Magna Carta, as últimas nas cartas coloniais e nas Constituições das

14
colônias emancipadas, tudo genuína e direta progênie dessa liberdade inglesa, que
nunca se separou da Bíblia e da Cruz."
Colégio Anchieta. Nova Friburgo, RJ. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 30, t. 1, 1903. p. 368
Descritores: Declaração de Direitos Constituição francesa Magna Carta Constituição americana
Observações: Trecho do "Discurso no Colégio Anchieta". Não há original no Arquivo da FCRB.

República
41. Examinai a tradição das ditaduras, particularmente daquelas que a aliança íntima
com a força armada confere o privilégio terrível da impunidade; e apontai-me onde a
encontraste, jamais, sem tremendos e sanguinosos excessos no poder, sem insolentes e
incomensuráveis abusos na administração, sem a exterminação sistemática dos
antagonistas do governo, sem a dissipação infrene dos recursos do Tesouro, sem a
confiscação geral das liberdades do povo. Confrontai, agora, com esses precedentes o
quadro da revolução de 15 de novembro, tolerante, pacificadora, reanimadora. A esse
resultado inaudito não teríamos certamente chegado, se não fora o temperamento
excepcional do povo brasileiro, sua humanidade, sua doçura, seu espírito ordeiro, sua
disciplina moral, sua indiferença às exagerações."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 17, t. 1, 1890. p. 183
Descritores: Ditadura Proclamação da República Revolução de 15 de novembro
Observações: Trecho do discurso "Organização das Finanças Republicanas". Não há original no Arquivo da FCRB.

42. Impor a República pela sua forma, em lugar de recomendá-la pelo valor das suas
utilidades, seria entronizar na política a superstição. As formas, que não corresponderem
ao espírito, à ação viva, à existência interior, são máscaras de impostura. A república é a
democracia e a liberdade na lei. Logo que a forma viola a justiça, oprime o indivíduo, ou
falseia o voto da nação, a república está em contradição consigo mesma. O culto, que
lhe reclamam, seria então o dos falsos deuses. E idolatria, senhores, quer dizer outra
coisa: religião da mentira, idiotice do religionário. Só as más repúblicas a podem ter. A
república verdadeira não quer fanatismos: contenta-se com a devoção refletida e o
entusiasmo inteligente de servidores austeros, francos, intementes no remédio e na
censura. [...] Quero a república justa, a república livre, a república popular. Não sacrifico
a substância à forma: faço questão de harmonizar uma com a outra."
Teatro Politeama. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 24, t. 1, 1897. p. 59
Descritores: República Verdadeira Idolatria na República
Observações: Trecho da 1ª conferência "O Partido Republicano Conservador". Não há original no Arquivo da FCRB.

43. Era um grande cidadão e um grande soldado o Marechal Deodoro. Mas não era um
homem de estado, não tinha a menor ciência do governo dos homens, não podia
compreender e praticar uma constituição, muito menos lançar-lhe os alicerces,
inaugurá-la, penetrar-se da sua verdade, e comunicá-la aos seus atos, ao seu governo,
ao seu tempo. Seria o gênio de um exército, o herói de uma campanha, o braço de uma
revolução. Mas nada o habilitava, para abrir uma era, cujas aspirações tinham por

15
fórmula a associação da liberdade com a ordem e da democracia com a lei. A ocasião era
de calma, paciência e confiança no direito. Não são essas as virtudes da espada feita
poder. A oposição parlamentar, que fora sempre a sua obsessão desde o Governo
Provisório, fê-la saltar da bainha, e a primeira amostra da autoridade republicana em
ação, que tivemos, foi um golpe de estado."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 25, t. 2, 1898. p. 110
Descritores: Manuel Deodoro da Fonseca
Observações: Trecho do artigo "15 de novembro". Não há original no Arquivo da FCRB.

44. Os órgãos de publicidade, que redigi, eram todos eles de política militante; os livros,
que escrevi, trabalhos de atividade pugnaz; as situações em que me distingui, situações
de energia ofensiva ou defensiva. Propugnei ou adversei governos; golpeei ou escudei
instituições; abalei até à morte um regime, e colaborei decisiva e capitalmente no erigir
de outro. Pelejei contra ministros e governos, contra prepotências e abusos, contra
oligarcas e tiranos. Ensinei, com a doutrina e o exemplo, mas ainda mais com o exemplo
que com a doutrina, o culto e a prática da legalidade, as normas e o uso da resistência
constitucional, o desprezo e horror da opressão, o valor e a eficiência da justiça, o amor
e o exercício da liberdade."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 45, t. 2, 1918. p. ñpb
Descritores: Redator Luta Doutrina e Exemplo Política Militante de RB Prática da Legalidade
Observações: Trecho do "Discurso na Biblioteca Nacional". Original no Arquivo da FCRB.

45. O poder não é um antro; é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol.
A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se
consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade,
ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação, têm por
suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se
toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda
encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens
públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo,
do cidadão para com o país."
Obras Completas de Rui Barbosa. V. , t. , . p.
Descritores: Poder, Autoridade e Política Democracia
Observações:Trecho da conferência não pronunciada "A Imprensa e o Dever da Verdade". Arquivo da FCRB.

46. [O Brasil caxingó] Ali é que reina a grande malária. Ali é que se eterniza a essência
da febre amarela. Ali é que esfervilham as lêndeas da doença do barbeiro. Todo esse
Brasil anêmico, opilado, barrigudo, pernibambo, cretino, desnervado, caxingó, sem
memória, iniciativa, atividade, perseverança, ou coragem; toda essa desnaturação da
nossa nacionalidade não vem nem do negro, nem do caboclo, nem do mestiço, nem do
português, cuja energia, revôlta e desordenada, mas viril, agora mesmo nos está
relembrando a têmpera heróica da velha raça. Vem, sim, do mal político, da politicorréia

16
clorótica, enervante, desfibrativa, que entrega a nação a todas as endemias físicas e
morais de um povo sem higiene do corpo, ou d'alma."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 46, t. 1, 1919. p. 1015
Descritores: Brasil caxingó Política, doença Nacionalidade, desnaturação Mal Político
Observações: Trecho da conferência "Às Classes Conservadoras". Autógrafo no Arquivo da FCRB.

Escravidão e abolicionismo
47. Pobre descendência de África, explorada tantas vezes, sempre explorada! Raça
afetuosa e heróica, mas sobre todas inditosa, ora consumida em trabalhos, na produção
de uma riqueza que não quinhoavas, ora vitimada em soldados para a glória de triunfos
que não compreendias, ora escambada em honras heráldicas à vaidade de uma
aristocracia, que te sugava, continuas a circular ainda, moeda inconsciente da tua
própria desgraça, no giro das confusões, das traições, das decepções liberais e
patrióticas, até que de ti venham a fazer, um dia, o instrumento ingênuo do
imperialismo, o escabelo da monarquia, a que só deves a escravidão, contra os
sentimentos democráticos do país, a que deves a liberdade."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 16, t. 1, 1889. p. 176
Descritores:Raça Negra Negros, exploração
Observações:Trecho do artigo "Política da Paz"

48. Pueril engano realmente, senhores, o dos que vêem no abolicionismo o fim de uma
aspiração satisfeita. A realidade é que ele exprime apenas o fato inicial de nossa vida na
liberdade, o ponto de partida de uma trajetória sideral [...]. Nós éramos um povo
acorrentado a um cadáver: o cativeiro. O meio século de nossa existência nacional
demarca um período de infecção sistemática do país pelas influências sociais e oficiais
interessadas na perpetuidade desse regímen de uma vida abraçada à podridão tumular.
Agora, que o tempo acabou de dissolver essa aliança sinistra, vamos encetar a cura da
septicemia cadavérica, do envenenamento do vivo pelo morto; trabalho que nos impõe
os mais heróicos esforços de reação orgânica, e a que há de presidir o signo redentor do
abolicionismo."
Teatro São João. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 15, t. 1, 1888. p. 136
Descritores: Abolição da Escravatura
Observações: Trecho do discurso "Aos Abolicionistas Baianos". Não há original no Arquivo da FCRB.

Militarismo
49. Entre as instituições militares e o militarismo vai, em substância, o abismo de uma
contradição radical. O militarismo, governo da nação pela espada, arruína as instituições
militares, subalternidade legal da espada à nação. As instituições militares organizam
juridicamente a força. O militarismo está para o exército, como o fanatismo para a
religião, como o charlatanismo para a ciência, como o industrialismo para a indústria,
como o mercantilismo para o comércio, como o cesarismo para a realeza, como o
demagogismo para a democracia, como o absolutismo para a ordem, como o egoísmo

17
para o eu. Elas são a regra; ele, a anarquia. Elas, a moralidade; ele, a corrupção. Elas, a
defesa nacional. Ele, o desmantelo, o solapamento, a aluição dessa defesa, encarecida
nos orçamentos, mas reduzida, na sua expressão real, a um simulacro."
Teatro Lírico. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 36, t. 1, 1909. p. 49
Descritores: Instituições Militares Militarismo Exército
Observações: Trecho do "Discurso na Convenção Civilista". Não há original no Arquivo da FCRB.

Grandes temas
50. Sem religião, sem moral, pelo menos, sem educação, sem indústria, sem comércio, o
Estado não subsiste; porque falta-lhe o meio, falta-lhe o ambiente, falta-lhe o objeto de
suas funções, que é estabelecer derredor de tudo isso uma atmosfera de segurança, de
justiça, de paz, onde a satisfação de todas essas necessidades humanas, onde todas
essas manifestações da humana atividade girem e se desenvolvam livremente."
Assembléia Legislativa Provincial. Salvador, BA. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 5, t. 1, 1878. p. 46
Descritores: Estado sem religião, moral, educação
Observações: Trecho do discurso "Liberdade Comercial". Não há original na FCRB.

51. Meu país conhece o meu credo político, porque o meu credo político está na minha
vida inteira. Creio na liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei,
emanação dela, o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades; creio que, neste
regímen, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado pelos
tribunais; creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que esses limites
vêm a ser as suas constituições, por ela mesma criadas, nas suas horas de inspiração
jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão desordenada; creio que a
República decai, porque se deixou estragar confiando-se ao regímen da força; creio que
a federação perecerá, se continuar a não saber acatar e elevar a justiça; porque da
justiça nasce a confiança, da confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do
trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a
respeitabilidade, a duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém,
que o governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da
inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as maiores
liberalidades do Tesouro constituirão sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza
pública; creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder
da razão e da verdade; creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição,
no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível
das capacidades."
Senado Federal. Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 23, t. 5, 1896. p. 37
Descritores: Credo Político Profissão de Fé; Observações: Trecho do discurso "Resposta a César Zama".

52. Não há preconceito mais pernicioso à evolução econômica de um povo que a


ignorância dos que imaginam proteger o trabalho nacional, e aumentar a prosperidade
do Estado, embaraçando, mediante direitos de importação, a entrada livre dos artigos de

18
produção similares aos do país. Batida em toda a parte pela experiência mais
concludente no continente europeu, a superstição protecionista refugia-se ultimamente
no sofisma, tão ilusório quanto ela mesma, de que a liberdade comercial é a política das
nações consolidadas na opulência pela antigüidade da sua riqueza, ao passo que na
proteção aduaneira está o regímen de crescimento juvenil entre os povos, como o
americano, que precisam de criar uma indústria forte, antes de abrir o acesso dos seus
mercados à concorrência adversa."
Rio de Janeiro, DF. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 16, t. 2, 1889. p. 79
Descritores: Protecionismo Liberdade Comercial
Observações: Trecho do artigo "Liberdade Comercial Lição Recente". Não há original no Arquivo da FCRB.

19

Você também pode gostar