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Saber global, saberes locais

Evoluções recentes da sociologia da educação


na França e na Inglaterra

Agnès van Zanten


Centre Nationale de la Recherche Scientifique
Fondation Nationale des Sciences Politiques

Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira


Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999.

O objetivo principal deste artigo é contribuir tico do ofício do sociólogo (Mills, 1967; Becker,
para a compreensão dos desenvolvimentos recen- 1970; Gouldner, 1970).
tes da sociologia da educação. Para basear as inter- Portanto, procurando combinar esses três ti-
pretações em uma análise empírica, é útil distinguir, pos de enfoque é que estudarei os principais desen-
de acordo com o ponto de vista do sociólogo nor- volvimentos da sociologia da educação francesa e
te-americano Robert Merton (1968), três tipos de inglesa nos últimos trinta anos. Privilegiei o estu-
enfoque. O primeiro consiste no exame da filiação do comparativo desses desenvolvimentos porque, de
histórica e da lógica interna da evolução das teo- acordo com Schriewer e Kiener (1992), parece-me
rias, dos temas e dos métodos de pesquisa. O segun- que, desse modo, é possível privilegiar o distancia-
do consiste em relacionar as mudanças ocorridas em mento crítico necessário a este empreendimento e
dado campo de produção de conhecimentos com identificar melhor as características estruturais e as
outras, ocorridas no funcionamento da sociedade. condições históricas favoráveis ao desenvolvimen-
O terceiro, finalmente, consiste em estudar as va- to de certas tendências, bem como as especificidades
riações da produção científica em relação com os de cada sociedade e de cada campo científico. A
movimentos internos da organização da sociedade comparação entre França e Inglaterra pareceu-me
científica. Ignorar o primeiro tipo de enfoque seria a mais adequada em razão, ao mesmo tempo, das
negar à sociologia da educação uma certa autono- semelhanças e diferenças existentes entre os dois
mia relativamente aos demais campos de investi- países e do fato de que, entre os dois, existem in-
gação científica e às evoluções sociais. Não levar em fluências mútuas na área da pesquisa que aqui me
conta os outros dois, como acontece freqüentemen- interessa. Além disso, conhecendo melhor, “por
te, leva a limitar excessivamente o trabalho de obje- dentro”, a sociologia francesa, pude valer-me do
tivação, a reflexibilidade necessária ao exercício crí- fato de haver na Inglaterra uma literatura muito rica

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dedicada à análise dos desenvolvimentos internos dos sujeitos de estudo. A partir da expressão “sa-
da disciplina, o que certamente já revela diferenças ber global, saberes locais”, tomada de empréstimo
entre os dois países quanto aos hábitos profissio- ao antropólogo norte-americano Clifford Geertz
nais dos pesquisadores. (1986), vou procurar mostrar que, se a sociologia
Como documentação fundamental para o pri- da educação, como outros ramos da sociologia, per-
meiro tipo de enfoque, optei por concentrar-me nas manece submetida às formas sociais dominantes que
publicações, ou seja, ao mesmo tempo sobre os es- legitimam, tanto no campo escolar quanto no cam-
tudos empíricos, as análises teóricas e os textos de po científico, os mais abstratos conhecimentos, os
síntese difundidos nos suportes científicos (livros, mais distantes da vida cotidiana, os mais associados
revistas). A escolha dessa alternativa deve-se à co- às formas elaboradas de comunicação, observa-se,
modidade de acesso às publicações apresentadas neste último período, uma tendência a revalorizar
nesses suportes, mas se baseia também em uma de- os “saberes locais”, isto é, os conhecimentos antes
finição específica das disciplinas científicas que são percebidos como transitórios, triviais ou subjetivos,
concebidas como redes de comunicação, no interior e descartados como a-sociológicos. Com esse obje-
das quais as publicações desempenham papel essen- tivo em mente, examinarei aqui, rapidamente, as
cial na geração de conhecimentos e na auto-regu- evoluções mais significativas em matéria de teorias,
lação e na reprodução do campo científico (Luh- de temas de trabalho, de métodos e de postura dos
man, apud Schriewer e Keiner, 1992). Não obstan- pesquisadores, na França e na Inglaterra.
te, como indica Polymnia Zagefka (1993), é certo
que manter o foco exclusivamente sobre os produ- As orientações teóricas:
tos da pesquisa apresenta alguns problemas. Essa do global ao local?
focalização é uma forma de avaliação que, dada a
defasagem existente entre a realização de um tra- A evolução da sociologia da educação no cor-
balho de pesquisa e sua disseminação, não permite rer dos últimos trinta anos caracteriza-se, tanto na
trabalhar sobre as tendências mais recentes, e, so- França quanto na Inglaterra, pela transição de um
bretudo, que dissimula o papel que as pressões ins- período em que se afirmam uma, duas ou três teo-
titucionais, as influências pessoais e as dinâmicas rias com pretensão hegemônica para um período
internas do mercado editorial desempenham na sele- mais recente em que se afirmam diversas teorias
ção realizada pelos editores de livros e pelos comitês “de médio alcance”, segundo a expressão de Robert
de leitura das revistas científicas. Para dar uma base Merton (1968), ou de teorias ainda mais locais. Co-
empírica ao segundo tipo de enfoque, examinarei mo tem sido observado por diversos críticos, essa
as conseqüências das evoluções, em termos de pes- avaliação corresponde a um movimento interno da
quisa, sobre as políticas educacionais e a estrutura disciplina: a evidência da incapacidade das teorias
dos sistemas educacionais. Para fundamentar sobre estrutural-funcionalistas ou marxistas clássicas de
fatos concretos o terceiro enfoque, centrarei meu dar conta de toda uma série de elementos essenciais
interesse nos diferentes elementos da organização à compreensão da atividade dos agentes da educa-
universitária, principalmente a evolução da relação ção, e de levar em conta a diversidade de contex-
entre o ensino universitário e a pesquisa, e os efei- tos, de trajetórias, de práticas ou de éticas (Young,
tos do advento de novas gerações de pesquisadores. 1971; Willis, 1977; Apple, 1982; Berthelot, 1982;
Meu interesse central neste artigo é mostrar Coulon, 1988; Derouet, 1992). Não obstante, essa
que, nos últimos trinta anos, ocorreu uma modifi- evolução corresponde também a diversos tipos de
cação importante na definição do conhecimento so- mudanças no contexto social, político e educacio-
ciológico, no sentido de uma abertura mais relevan- nal em que as pesquisas são realizadas. Assim, o
te para as preocupações e as maneiras de proceder aumento da heterogeneidade cultural e da mobili-

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dade social e geográfica da população, o enfraque- onde a relação entre professores e alunos, oriundos
cimento do papel de inculcação ideológica das ins- de meios socioeconômicos diversos, faz com que
tituições, como a família e a escola, e a crise eco- apareçam problemas novos. Além disso, o surgi-
nômica, que caracterizam a evolução das socieda- mento de novas correntes sociológicas explica-se,
des pós-industriais, têm contribuído para diminuir também, pelas transformações internas da comuni-
o poder de enquadramento das ideologias globais dade científica: a criação dos novos centros de en-
e para diversificar os sistemas de valores e as orien- sino e de pesquisa (a Open University e o London
tações teóricas (Dandurand e Olivier, 1987; Van Institute of Education), a participação dos soció-
Haecht, 1990). Ao mesmo tempo, os sistemas edu- logos na formação dos futuros professores nos no-
cacionais têm também sofrido várias transforma- vos departamentos de educação das universidades,
ções: o público de alunos é mais heterogêneo no o aumento do número de estudantes e de professo-
plano social e étnico, e os estabelecimentos escola- res universitários e o desenvolvimento paralelo das
res converteram-se em organizações mais comple- associações e das publicações científicas.
xas e mais difíceis de administrar. Finalmente, essa Na França, essa evolução é mais recente e não
evolução corresponde igualmente a mudanças in- se mostra de maneira tão nítida, uma vez que, ao
ternas no âmbito da pesquisa, tais como a expan- contrário do que ocorreu na Inglaterra, as transfor-
são dos campos disciplinares e a multiplicação do mações da sociologia da educação a partir da dé-
número de pesquisadores ou o estabelecimento da cada de 1980, embora partam também de uma crí-
sociologia como disciplina universitária. tica aos erros e carências dos trabalhos anteriores,
As razões que permitem explicar esse fenôme- não se realizaram sob uma bandeira única, nem se
no e suas características internas são ligeiramente opuseram de maneira tão radical às teorias domi-
diferentes na Inglaterra e na França. Na Inglater- nantes nas décadas de 1960 e 1970, ou seja, à teo-
ra, o surgimento, em princípios da década de 1970, ria da reprodução, de Bourdieu e Passeron (1970),
da Nova Sociologia da Educação de que o livro de à teoria marxista da escola capitalista de Baudelot
Michael Young, Knowledge and control (1971), e Establet (1971) e à teoria da mobilidade social de
constitui o manifesto, mostra-se claramente como Boudon (1973). Escrevendo no final da década de
uma ruptura no campo da sociologia da educação. 1980, Jean-Claude Passeron (1988) conclui por um
Não obstante, a unidade desse movimento resulta desenvolvimento particularmente harmonioso da
mais da reação de uma nova geração de pesquisa- sociologia da educação em relação a outros campos
dores ao domínio exercido pelo estrutural-funcio- da sociologia. Os novos pesquisadores que surgiram
nalismo e, sobretudo, pelo enfoque conhecido pelo na cena científica da década de 1980 valeram-se
nome de “aritmética política”, do que de sua uni- habilmente das pesquisas realizadas na Inglaterra
dade interna. Com efeito, os diferentes analistas como instrumento para legitimar novos enfoques na
desse movimento, ingleses ou franceses, concordam sociologia da educação francesa, sem atacar direta-
a respeito de sua grande heterogeneidade, uma vez mente, na maioria dos casos, os “pais fundadores”.
que ali se misturam enfoques tão diversos quanto, Essas mudanças, como na Inglaterra, sofreram tam-
de um lado, o interacionismo simbólico e a etnome- bém a influência das mudanças nas políticas e nas
todologia e, de outro, os enfoques neo-marxistas estruturas educacionais, sobretudo o desenvolvi-
(Karabel e Halsey, 1977; Banks, 1982; Forquin, mento do ensino médio, a criação das zonas de edu-
1983; Trottier, 1987). Mas esse surgimento expli- cação prioritárias e a descentralização, bem como
ca-se, também, pelas mudanças educativas dessa de mudanças na organização do ensino universitá-
época na qual ocorreu a criação das comprehensive rio e da pesquisa: surgimento de novos pesquisado-
schools, o que sem dúvida favoreceu um certo in- res, expansão da disciplina “ciências da educação”
teresse pelos processos internos dessa instituição, e formação universitária dos futuros professores.

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Os temas de pesquisa: educação, desejosos de, graças aos resultados das


fragmentação e recomposição pesquisas sociológicas, poder envolver os agentes
nessas mudanças e controlar seus possíveis efeitos
Uma das conseqüências importantes desse mo- negativos. Não se pode também descuidar da im-
vimento foi a fragmentação e a recomposição dos portância da pressão exercida pelos novos públicos
temas de pesquisa. Uma das mudanças mais impor- universitários, futuros professores ou professores
tantes quanto a isso, em ambos os países (mas sem- em exercício, para que os temas das pesquisas le-
pre com uma defasagem de tempo entre Inglaterra vem em conta as preocupações cotidianas da “base”
e França), foi a recomposição da problemática das e para que os pesquisadores os auxiliem a superar
desigualdades de escolarização entre as classes so- as crises morais geradas por muitas dessas reformas.
ciais, que teve lugar central no surgimento e nas Embora a diversificação dos temas de pesqui-
primeiras etapas do desenvolvimento da sociologia sa seja um ponto comum, é possível distinguir tra-
da educação. Os estudos nessa área deixaram de se ços específicos de cada um dos dois países. Na In-
concentrar exclusivamente nas desigualdades entre glaterra, podem-se distinguir três grandes períodos
as classes sociais, para incluir também as desigual- que correspondem, grosso modo, a cada uma das
dades entre os sexos e as desigualdades entre alu- três décadas aqui analisadas. No primeiro período,
nos pertencentes a diferentes minorias étnicas. Ob- correspondente à década de 1970, irão desenvolver-
serva-se também, nos dois países, que o tema da se trabalhos sobre o “desvio” e a “resistência” es-
igualdade se transformou, para dar lugar aos temas colar dos alunos e sobre suas estratégias em classe,
da eqüidade e da justiça nos sistemas educacionais. sobre a socialização profissional dos professores e
De maneira mais geral, pode-se afirmar que a im- suas estratégias em matéria de ensino e de discipli-
portância dessa problemática foi minorada pelo sur- na, sobre a escola como organização e sobre o cur-
gimento de outros temas de pesquisa, tais como a rículo. Surge importante debate entre os autores dos
profissionalização dos professores, a socialização primeiros trabalhos, de tendência interacionista, e
escolar dos jovens, o funcionamento das organiza- dos trabalhos mais tardios, de inspiração marxis-
ções escolares, os processos de decisão educativa ou ta, que datam do final da década. No segundo pe-
o papel dos pais no acompanhamento escolar de ríodo, que cobre mais ou menos a década de 1980,
seus filhos. essa dupla influência continuará marcando os tra-
Em parte, essas mudanças se explicam de ma- balhos que se interessam pelas carreiras e pelo tra-
neira interna à disciplina. Os novos enfoques, so- balho dos professores de um ponto de vista subje-
bretudo o interacionismo simbólico e a etnometo- tivo, e pelas micropolíticas no interior dos estabe-
dologia, exigiam que se penetrasse nas comunida- lecimentos escolares. Também nesse período apa-
des locais, nos estabelecimentos escolares e nas clas- rece um número importante de artigos e de livros
ses, e que se estudassem as práticas dos diversos dedicados aos métodos qualitativos.
agentes da educação, e que levavam logicamente a Porém, as rupturas mais importantes no con-
uma diversificação dos temas de estudo (Derouet, texto inglês são as que surgem entre a década de
Henriot-van Zanten e Zirota, 1987). Mas essas mu- 1980 e a de 1990, por várias razões. Primeiro, ob-
danças explicam-se também pela necessidade, que serva-se uma politização muito importante do cam-
as mudanças nas estruturas e no funcionamento das po da sociologia da educação, em conseqüência de
instituições escolares implicaram, de estudar de mais dois fatores totalmente diferentes: a pressão de cer-
perto a prática dos agentes. Na verdade, aqui se tas “minorias”, as mulheres e os grupos étnicos,
juntam os interesses dos pesquisadores, desejosos muito mais presentes nesse período entre os pesqui-
de compreender as implicações dessas mudanças sadores, em conseqüência, entre outros fatores, da
para os agentes, e os interesses dos responsáveis pela expansão da escolarização; e a reação muito forte

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dos pesquisadores às reformas conservadoras do número de pesquisas empíricas. Entre a primeira


final da década de 1980. Segundo, diante do corte edição do manual que escrevi com Marie Duru-
muito importante do financiamento estatal das uni- Bellat, Sociologie de l’école, em 1992, e a segunda,
versidades, e do descrédito, pelo governo conserva- totalmente revista, em 1999, pudemos observar que
dor, das ciências sociais e humanas, sobretudo da o número de trabalhos empíricos duplicou no es-
sociologia, o meio universitário se desagrega (mui- paço de 8 anos. Essa explosão obedece a várias cau-
tos pesquisadores bastante conhecidos, como Andy sas simultâneas: o aumento do número de univer-
Hargreaves ou Georges Whitty, emigram para o sitários e de pesquisadores em ciências sociais, ge-
Canadá, os Estados Unidos, a Austrália ou a Nova rado pela massificação da universidade, uma de-
Zelândia, em busca de melhores salários e melho- manda social muito forte de produção de conheci-
res condições de trabalho) e a sociologia da educa- mentos sobre o sistema educacional, que enfatiza
ção, como disciplina institucional, desaparece quase muitas das angústias sobre o futuro dos jovens e de
totalmente do cenário universitário. Em terceiro toda a sociedade, a maior organização dos meios
lugar, e em conseqüência dos dois primeiros fato- científicos, que teve como conseqüência a multipli-
res, observa-se uma atomização da pesquisa nessa cação de congressos e de publicações, bem como a
área. A sociologia da educação é substituída por expansão e a reestruturação do mercado editorial.
uma série de enfoques temáticos: “policy studies”, Essa explosão do número de pesquisas também foi
“educational management”, “cultural studies”, acompanhada, logicamente, de uma diversificação
“gender studies”, “ethnic studies”, como o demons- importante, marcada, entre outras coisas, pelo sur-
tra, hoje em dia, um simples passar de olhos pelas gimento de inúmeros trabalhos sobre os alunos do
estantes das livrarias inglesas (Forquin, 1997). primário, do secundário e da universidade, dando
Na França, a diversificação temática também seqüência ao livro de François Dubet, Les lycéens
foi muito importante, embora não tão espetacular (1991). Sem produzir o mesmo efeito que na Ingla-
como na Inglaterra. Em um primeiro período, que terra, a multiplicação e a diversificação das pesqui-
corresponde ao final da década de 1970, sobretu- sas contribuiu também para uma especialização in-
do graças à obra e à influência de Viviane Isambert- terna e para a constituição de diferentes subgrupos
Jamati (1990) e de Guy Vincent (1980), aparecem que pouco dialogam entre si.
trabalhos sobre o currículo e sobre os professores,
estes últimos ainda muito influenciados pela pers- Os métodos de trabalho:
pectiva marxista. Num segundo período, que cor- a difusão dos métodos qualitativos
responde à década de 1980, desenvolvem-se traba-
lhos sobre as relações entre a escola e o meio local, A explosão do número de pesquisas em so-
instigados, entre outras coisas, pela política de zonas ciologia da educação e a diversificação teórica e
de educação prioritárias; sobre os estabelecimentos temática resultaram também na modificação dos
escolares; sobre a sala de aula; sobre a relação fa- métodos de trabalho. Em um primeiro momento,
mília-escola. A pesquisa desenvolve-se nessas áre- esse movimento produziu o surgimento ou renova-
as sob a influência indireta das mudanças no fun- ção de interesse pelos métodos qualitativos. A etno-
cionamento das instituições escolares provocadas grafia, enfoque inicialmente desenvolvido para o
pela massificação do ensino médio, pela autonomia estudo de comunidades pré-industriais, de tamanho
dos estabelecimentos e pela política de atribuição reduzido e relativamente isoladas, foi adaptada ao
de novas responsabilidades às coletividades territo- estudo das instituições educacionais nas sociedades
riais (Regiões, Departamentos e Municipalidades). pós-industriais, ainda que não sem dificuldade, co-
O terceiro período, que corresponde à déca- mo já procurei mostrar numa série de artigos so-
da de 1990, caracteriza-se por uma explosão do bre a antropologia da educação norte-americana

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(Henriot-van Zanten, 1987; Henriot-van Zanten e e discutem a utilização desses métodos (cf. Ham-
Anderson-Lewitt, 1992). Porém, outros métodos mersley e Atkinson, 1983; Burgess, 1984; Burgess,
qualitativos, como o método biográfico, conhece- 1985). Importante debate surge particularmente
ram também certa popularidade. A difusão desses sobre a validade e a pertinência do método etno-
métodos explica-se não só por razões científicas, gráfico, ilustrado pela troca de idéias entre Martin
mas também por razões sociopolíticas. Seu surgi- Hammersley e Peter Woods no British Journal of
mento e difusão correspondem às modificações in- Sociology of Education (Hammersley, 1987a; Ham-
troduzidas pelas reformas educacionais em que as mersley, 1987b; Woods, 1987). Por outro lado, os
recontextualizações locais, no nível dos estabeleci- livros do final desse período interessam-se especial-
mentos, e a responsabilidade material e moral atri- mente pelos métodos biográficos, seja para analisar
buída aos agentes da base (diretores e professores) os sujeitos de estudo, seja para analisar o próprio
ocupam lugar muito importante. Isto implica que, pesquisador e o modo como alguém ser ele ou ela
para examinar a realização das reformas, é preciso influencia na pesquisa (Goodson e Walker, 1991;
estudar muito de perto as práticas dos autores e o Delamont, 1992). Na década de 1990, esse entusias-
sentido que dão à seleção de alternativas organiza- mo pelos métodos qualitativos per se desaparece
cionais e pedagógicas, bem como suas característi- pouco a pouco, em razão da politização das pesqui-
cas pessoais (Ball e van Zanten, 1998). Finalmen- sas e do esgotamento desse filão científico e edito-
te, a popularidade desses métodos pode também ser rial diante do deslocamento do meio de pesquisa-
atribuída ao aumento da proporção de mulheres, dores em sociologia da educação. Observa-se, po-
portadoras de uma bagagem mais literária do que rém, certa continuidade por meio de livros como
matemática e científica, e que desenvolveram uma Researching the powerful in education (Walford,
sensibilidade maior para os enfoques qualitativos. 1994), interessado na extensão do método etno-
Vejamos, contudo, de maneira um pouco su- gráfico ao estudo das elites políticas na educação,
perficial, dada a falta de espaço, as diferenças en- dentro do quadro dos novos policy studies.
tre os dois países. Na Inglaterra, a difusão desses Na França, o desenvolvimento dos métodos
métodos começa já na década de 1970. Apoiada nu- qualitativos foi mais lento ao mesmo tempo devi-
ma tradição preexistente de estudos qualitativos, so- do a um meio de pesquisa mais reduzido e de um
bretudo na Universidade de Manchester, na qual se interesse menos importante pelo estudo empírico
realizaram duas famosas monografias de estabele- das realidades educacionais. Não obstante, os últi-
cimentos escolares (o trabalho de David Hargrea- mos anos assistiram ao surgimento de estudos como
ves, Social relations in a secondary school, 1967, e os realizados por Yves Dutercq (1991), Jean-Louis
o de Colin Lacey, High town grammar, 1970) e com Derouet (1992), Bernard Charlot et al. (1992), Jean-
referência à escola de Chicago, surge toda uma sé- Paul Payet (1995), Ana Vasquez e Isabel Martinez
rie de trabalhos que se utilizam das observações em (1996), Bernard Lahire (1996), P. Masson (1999)
sala de aula e das entrevistas com alunos, profes- ou por mim mesma (Henriot-van Zanten, 1990;
sores, pais ou diretores de escolas. Ainda mais im- Henriot-van Zanten, Payet, Roulleau-Berger, 1994;
portante, progressivamente, diante da variedade de Broccolichi e van Zanten, 1997), utilizando mé-
enfoques teóricos e temáticos, é o método quali- todos etnográficos ou etnometodológicos, como o
tativo que vai contribuir para forjar a unidade da trabalho de Alain Coulon (1997) sobre os estudan-
Nova Sociologia da Educação. tes. Também a equipe de pesquisadores de François
Essa centralização nos métodos qualitativos Dubet (Dubet, 1991; Dubet e Martucelli, 1996)
desenvolve-se ainda mais durante a década de 1980 realizou vários trabalhos importantes sobre os alu-
e o princípio da década de 1990. Nesse período, nos, utilizando uma metodologia que eles denomi-
surgem inúmeros manuais e readers que codificam nam “de intervenção sociológica”, inventada ini-

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cialmente por Alain Touraine, que mantém um pa- cesa, nos últimos trinta anos, diz respeito à trans-
rentesco importante com os métodos etnográficos formação da relação entre os pesquisadores e os
nas técnicas utilizadas (entrevistas e observações, sujeitos de estudo. Nas ciências sociais, não existe
mas geralmente de grupos criados pelo pesquisador pesquisa totalmente neutra. Não obstante, a posi-
conforme os objetivos da pesquisa) e na importân- ção do pesquisador pode variar entre um papel de
cia concedida aos sujeitos de estudo como porta- observador o mais neutro possível e outro, de mili-
dores de interpretações da situação que não se ins- tante comprometido com uma causa, ou a um pa-
crevem na ruptura total com as interpretações dos pel de perito ao lado dos responsáveis pela educa-
pesquisadores. ção ou, finalmente, de um intelectual, capaz de cons-
Não obstante, a metodologia qualitativa uti- truir um ponto de vista global sobre a evolução da
lizada pelos trabalhos de sociologia da educação na realidade social. Esse tipo de questão sempre está
França é muito menos sofisticada do que a maio- presente explícita ou implicitamente na pesquisa,
ria dos trabalhos ingleses e, em muitos casos, reduz- mas de maneira ainda mais crucial no caso dos es-
se ao recurso quase exclusivo às entrevistas semi- tudos qualitativos, pelo peso que tem a relação com
diretivas. Observa-se, também, que a reflexão crí- os sujeitos.
tica sobre a utilização dos métodos qualitativos e Na Inglaterra, os sociólogos desempenharam
sobre os problemas de metodologia em geral está importante papel nas reformas da década de 1960,
muito menos desenvolvida (não obstante, cf. De- ao mesmo tempo como peritos e como militantes
rouet, 1991; Vasquez e Martinez, 1998; van Zan- próximos ao partido socialista. Um dos exemplos
ten, 1998). Por outro lado, em comparação com a mais clássicos dessa postura é o de A. H. Halsey,
Inglaterra, os trabalhos de sociologia da educação eminência parda e militante do partido trabalhis-
na França utilizam mais uma combinação de méto- ta, que ao mesmo tempo fomentou a política das
dos quantitativos, sobretudo os inquéritos por ques- Comprehensive Schools e a das Educational Prio-
tionário, e de métodos qualitativos, sobretudo as en- rity Areas (Halsey, 1972). Geralmente críticos quan-
trevistas. Como exemplos recentes dessa orientação to à posição reformista de seus colegas desse pe-
mista, podem ser citados os trabalhos de Georges ríodo, os sociólogos que se inscrevem no movimento
Felouzis, Le collège au quotidien (1994), de Éric da Nova Sociologia da Educação continuaram a
Debarbieux, La violence en milieu scolaire (1996) praticar uma pesquisa freqüentemente “comprome-
ou de Olivier Cousin, L’effet-établissement (1998). tida”, mas comprometida sobretudo com os sujei-
Na França, existe também um sistema de coleta e tos de estudo e não com os dirigentes políticos, com
de tratamento de dados estatísticos muito mais de- respeito aos quais, ao contrário, procuraram afir-
senvolvido do que na Inglaterra, que permitiu ao mar uma posição de autonomia profissional. Mui-
Ministério da Educação, mas também a muitos pes- tas pesquisas das décadas de 1970 e 1980 tomaram
quisadores universitários na década de 1980 e prin- como objetivo, direto ou indireto, acompanhar o
cípio da de 1990, realizar toda uma série de estu- trabalho dos professores, que foram freqüentemente
dos quantitativos importantes sobre as evoluções do associados aos inquéritos. A esse respeito, instau-
sistema escolar. rou-se um debate, no qual intervêm autores norte-
americanos e ingleses, relativo ao método etnográ-
A postura do sociólogo: fico, cuja aparente neutralidade e cujo relativismo
observador, intelectual, sofrem a desaprovação de alguns autores. Esses au-
perito ou militante? tores, dos quais o norte-americano Michael Apple
(1982) é um dos mais famosos, incitam a utilização
Outra série de transformações importantes na desse método como instrumento de libertação dos
sociologia da educação, tanto inglesa quanto fran- grupos oprimidos (mulheres e minorias étnicas) e

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de transformação da realidade social. Na década de l’Education Nationale desempenhando um papel


1990, diante do voluntarismo do governo conser- de avaliação e assessoria no interior da instituição
vador, a questão da relação com os dirigentes vol- (Isambert-Jamati, 1884). Atualmente, essas funções
ta a apresentar-se de maneira aguda: uma maioria da Inspéction Générale ampliaram-se, graças so-
dos pesquisadores que estuda as reformas que apre- bretudo à descentralização que implica um controle
sentam uma óptica liberal adota uma atitude extre- mais próximo das instituições educativas. Não obs-
mamente crítica. Não obstante, um grupo menor, tante, o recurso aos pesquisadores, sobretudo du-
mas atualmente em crescimento, adotou progressi- rante os sucessivos governos socialistas, também se
vamente um papel de perito junto à administração. desenvolveu a partir da década de 1980. Os diri-
Na França, a investigação na área da sociolo- gentes políticos convidaram os pesquisadores a rea-
gia da educação foi sempre matizada de maior ou lizar inquéritos e assessorias antes de lançar as re-
menor dose de militância política e pedagógica. Não formas, e a avaliar seus efeitos. Financiaram tam-
obstante, observam-se também muitas mudanças bém muitas pesquisas independentes, porém sobre
quanto a isso. A sociologia da educação das déca- um tema preciso politicamente importante, em ní-
das de 1960 e 1970, sobretudo La reproduction, de vel nacional ou em nível local. Essa relação apre-
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (1970), foi senta um lado positivo, no sentido de que os pes-
percebida essencialmente como uma crítica pelos quisadores desempenham certo papel na orientação
agentes da educação e por alguns especialistas de das reformas, mas também um lado negativo, já que
ciências sociais. Alain Touraine (Touraine, 1984) a pressão dos dirigentes leva a realizar pesquisas
ou Antoine Prost (1970), por exemplo, censuraram- cada vez mais setorizadas, em tempo menor e com
na por contribuir para o desespero e a imobilidade um objetivo menos de qualidade da pesquisa cien-
profissional dos professores. A sociologia da déca- tífica e mais de mediatização e de influência no cam-
da de 1980, ao contrário, caracteriza-se pelo dese- po político (van Zanten, 1998).
jo de acompanhar o trabalho e a reflexão dos agen-
tes, sem porém adotar necessariamente uma atitu- Conclusão
de classicamente militante mas, antes, advinda de
uma reflexão sobre o benefício mútuo desse tipo de A análise da produção na sociologia da edu-
colaboração. Um fator que se mantém relativamen- cação na Inglaterra e na França mostra que realmen-
te constante é, contudo, a influência difusa, muito te existe, como propusemos no início deste texto,
mais importante na França do que na Inglaterra, uma tendência a revalorizar os saberes locais, isto
exercida pelos pesquisadores de alto nível, que são é, as teorias de médio e curto alcance, os temas da
considerados intelectuais e convidados a dar sua cotidianidade escolar, as metodologias qualitativas,
opinião sobre os temas de interesse social. Não obs- a proximidade com os agentes da base. Não obs-
tante, enquanto antes se solicitava a esses pesqui- tante, essa tendência não é linear. Antes se observa
sadores que dessem sua opinião sobre as “grandes um vaivém entre diferentes movimentos sob a in-
questões”, hoje em dia é sobre os múltiplos aspectos fluência de dinâmicas científicas, mas também po-
da vida cotidiana que os especialistas de ciências líticas e profissionais, ou seja, próprias da organi-
sociais se expressam na imprensa e na televisão. zação do mundo universitário. Por outro lado, se é
A relação com os dirigentes políticos e educa- possível detectar influências globais, também pro-
cionais também se alterou. Durante muito tempo, curamos enfatizar aqui as especificidades nacionais.
essa relação foi muito tênue por razões políticas Não obstante, nosso estudo somente esboçou algu-
(governos de direita, sociólogos da educação ma- mas tendências, que é necessário aprofundar em
joritariamente de esquerda), mas também por ra- outros trabalhos, estendendo esta reflexão a outros
zões organizacionais, com a Inspéction Générale de países. Dessa maneira, será possível realizar uma so-

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Agnès van Zanten

ciologia da sociologia da educação, que permita BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude, (1970). La
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